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1.

As privatizações

O conceito de privatização, numa acepção ampla, consiste na decisão de


Administração abandonar uma actividade económica em proveito do sector
privado.

Estreitando o conceito, pode entender-se privatização como:

a) Transferência total ou parcial da propriedade de empresas e ou bens


públicos para entidades privadas. A natureza pública desses bens ou
empresas tanto pode ser originária como resultar de nacionalizações
anteriores (neste caso fala-se de reprivatizações);

b) Concessão a entidades privadas, mediante contrato, da gestão de


empresas púbblicas ou servíços públicos (exs: a exploração de petróleo ou a
gestão de estabelecimentos de saúde).

c) Contratação de servíços por entidades públicas a entidades privadas


(contracting out ou out sourcing ou subcontratação de servíços públicos a
privados.

d) Abertura à iniciativa privada de sectores anteriormente explorados pelo


sector público em regime de monopólio (exs: as telecomunicações, a
televisão ou a distribuição de energia) – trata-se da remoção de restrições à
iniciativa. Apesar de não se verificar verdaderamente privatização na medida
em que não há alienação da titularidade das empresas públicas, há uma
privatização no sentido de abertura aos privados de um sector de actividade
antes restrito ao sector público.

e) Desregulação sempre que o Estado alivia a carga normativa reguladora de


um sector de actividade na produção ou distribuição de um bem ou um
servíço (exss: regime de preços) permitindo o livre funcionamento das regras
de mercado.

f) Processo de submissão dos servíços ou das empresas públicas a regras de


gestão de natureza privada – entende-se como privatização formal – que se
traduz no mero recurso pelo Estado a formas organizacionais ou a regimes
jurídicos de direito privado, para distinguir da privatização material, que
representa a transferência para o sector privado da propriedade ou gestão
de meios de produção públicos.

Entende-se, assim, que nem todas as formas de privatização implicam que o


Estado abandone o financiamento e mesmo o planeamento dos respectivos
servíços e que, nalguns casos, não se trata de transferência de propriedade
ou de gestão públicas mas de ampliação do papel da actividade privada ao
lado da actividade pública, em concorrência ou conjugação.

1.2. Fundamentos das privatizações

O grande movimento de privatizações começa nos anos 70 e 80,


respondendo a uma lógica crescente de redução do papel do estado na
economia e na vida social. Este movimento é impulsionado pelo
aparecimento de doutrinas neoliberais e neoindividualistas.

Foram apontadas várias razões para a necessidade das privatizações:

1. A ineficiência das empresas públicas, provocada, em parte pelo facto de a


gestão pública sacrificar objectivos económicos – financeiros e comerciais
aos objectivos políticos e sociais – exs: contratação de empréstimos, redução
de tarifas e preços e manutenção de emprego.

2. A necessidade de diminuir o desequilíbrio dos orçamentos públicos,


aliviando-os dos défices de algumas empresas públicas e acrescendo-os das
receitas provenientes da venda do respectivo capital e património;

3. A redução do peso político dos sindicatos (Grã-Bretanha) ou das clientelas


político-partidárias (Itália);

4. A intenção de promover o capitalismo popular, ou seja, a distribuição


popular de capital através da participação neste dos trabalhadores das
empresas a privatizar.

Como se vê, argumentavam-se razões de ordem financeira, económica,


política e ideológica para justificar o movimento de privatizações.
1.3. Privatizações em Moçambique

Ainda em 1989, antes da Constituição de 90 que haveria de consagrar a


abertura à economia de mercado, o Decreto 21/89 já pretendia regular o
novo fenómeno de alienação de partes do sector público a favor de privados.

1.4. Regime jurídico das Privatizações

A lei 15/91 de 3 de Agosto veio definir, de forma clara, identificando as


modalidades de alienação a título oneroso de empresas, estabelecimentos,
instalações, quotas e outras formas de participação financeira do Estado. De
facto, e mais profundamente, esta lei veio regular o processo de
reestruturação empresarial do Estado (art. 3). Definiram-se os sectores de
carácter estratégico que obrigavam á permanencia nas empresas públicas
(art. 4) independentimente de podterior alargamento a ser determnado por
decreto do Conselho de Ministros.

1.5. Objectivos

Os objectivos para as privatizações são de naturezas diversas: económicos,


financeiros, sociais e políticos.

a) Económicos – modernização e aumento da competitividade económica,


reforço da capacidade empresarial nacional e desenvolvimento do mercado
de capitais.

b) Financeiros – diminuição dos encargos com sector público, utilização das


receitas das privatizações para amortização da dívida pública, da dívida do
sector empresarial do Estado;

c) Sociais – intenção de promover uma ampla participação dos trabalhadores


das próprias empresas e dos pequenos subscritores na titularidade do
capital das empreas.

d) Políticos – redução do Estado na economia.

Os objectivos desta reestruturação empresarial do estado estão conteplados


no art. 6.
1.6. Processo requerido para a alienação

A alienação total ou parcial das empresas obedece a processos definidos no


art. 8 e será precedida de um diagnóstico do pontecial de reestruturação
(art.9, art. 11 e art. 13)

1.6.1. Participação dos trabalhadores no capital

A alienação total ou parcial de uma empresa pública ou estatal privilegia a


aquisição de participações no capital da empresa pelos seus gestores,
técnicos e trabalhadores moçambicanos até a um total máximo de 20 por
cento (art. 16) sendo que, não poderão adquirir individualmente mais de 10
por cento do capital.

Exceptua-se a obrigatoriedade de limite máximo de 20 por cento nas


condições do art. 16/3.

1.6.2. O investimento estrangeiro nos processos de alienação

A alienação é aberta ao investimento estrangeiro podendo mesmo ser o


capital maioritário (art.18/1) sem prejuízo do acesso ao capital pelos
gestores, técnicos e trabalhadores da empresa. O capital decorrente do
investimento estrangeiro não podera, no entanto, corresponder a 100%
(art.18/3).

1.6.3. A necessidade de adaptação constante à mudança

O art. 23 chama atenção para a necesidade de, progressivamente, o Estado


ir tomando medidas tendentes á introdução e desenvolvimento de um clima
de real competição bem como com vista a evitar o aparecimento de
monopólios privados em consequência das privatizações.

1.7. O Fundo de Privatizações

O produto gerado pela alienação constituirá receita de um fundo próprio a


ser criado pelo Conselho de Ministros (art. 25) e essas receitas terão como
destino prioritário:
a) Estimular o investimento em actividades produtivas e de prestação de
servíços

b) Criação de emprego e introdução de novas tecnologias,

c) Promoção e dinamização de actividade do empresariado nacional de


pequena e média dimensão;

d) Reinvestimento no sector empresarial do Estado.

Verificamos ssim que, na privatização, são aplicados regimes preferenciais e


restrições na aquisição e subscrição de capital.

a) O “capitalismo popular” – a participação dos trabalhadores no capital das


respectivas empresas (regime preferencial).

b) os limites à concetração de capital – (restrição)

c) os limites à participação de capital estrangeiro – (restrição)

d) as acções privilegiadas do Estado (Golden Share) – (Regime preferencial


para o Estado)

Outras leis sobre a matéria:

No seguimento desta Lei 15/91, são de particular importância:

- o Decreto 28/91 de 21 de Novembro – regulamenta, mais


detalhadamete, o quadro legal, critérios e modalidades de privatização das
empresas, estabelecimentos, instalações e participações financeiras do
Estado;

- a Lei 17/92 de 14 de Outubro – clarifica a aquisição de capital por parte


de gestores, técnicos e trabalhadores;

- o Decreto 19/93 de 14 de Setembro – visa criar condições para regular a


situação jurídica de empresas, prática necessária ao processo de
reestruturação do sector empresarial do Estado.
- Decreto 20/93 de 14 de Setembro - estabelece um regime especial
quanto a modalidades e prazos de realização de participações do capital por
parte dos gestores, técnicos e trabalhadores nacionais.

- a Resolução 15/2001 de 10 de Abril – define as linhas gerais da política


de reestruturação do sector empresarial com participações do Estado.

Bibliografia:

- Santos, António Carlos et alt., Direito Económico, 5ª edição, Revista


Actualizada Almedina, Lisboa, 2010;

- Moncada, Luís cabral, Direito Económico, 4ª ed., Coimbra Editora,


Coimbra, 2003;

- FERREIRA, Eduardo Paz, Direito da Economia, Lisboa, AAFDL, 2001;

2. Actividade empresarial do Estado

2.1. Noção de empresa estatal

Segundo a lei 2/81 de 10 de Setembro, pelo art. 1 “são empresas estatais


as unidades socioeconómicas, propriedade do Estado que as cria, dirige e
afecta os recursos materiais, financeiros e humanos adequados à aplicação
do seu processo de produção no cumprimento do plano, no sentido de
consolidar e aumentar um sector estatal que domine a economia nacional”
(...) “As empresas estatais realizam a sua actividade no quadro do
cumprimento do plano”.

As empresas estatais, de acordo com este diploma, estavam particularmente


associadas no processo revolucionário em curso, obrigando-se, não só ao
desempenho de funções na área da produção, mas a um conjunto de tarefas
de defesa do modelo socialista (art.º 3), bem como de formação política,
técnica, científica e cultural dos seus trabalhadores (art.º 2).

As empresas estatais gozam de personalidade jurídica (art.º 5) mas não


detêm autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
No campo financeiro, é-lhes concedida, pelo art. 25/1, a possibilidade de
contrair empréstimos a curto prazo.

Esperava-se que as empresas estatais fossem, essencialmente, responsáveis


pelo fornecimento de receitas ao Estado, as quais seriam transferidas em
cada ano para o Orçamento Geral do Estado (art.26/2)

Também as subvenções recebidas do Orçamento de Estado poderiam


ocorrer quando tal se justificasse, necessitando de aprovação do Ministério
das Finanças nos termos da Lei Orçamental aprovada (art.26/3).

A alienação de património só podia ocorrer com autorização do órgão central


do aparelho do Estado que superintendia aquele sector de actividade (art.
27/2).

2.2. Transição de empresa estatal para empresa pública

Como se vê no preâmbulo da lei 17/91 de 3 de agosto (revogada pela lei


6/2012 de 8 de fevereiro), por força da aplicação do programa de
Reabilitação Económica, era necessário alterar o regime jurídico das
empresas estatais dado estar ultrapassado. Defendia-se a introdução de
novos mecanismos jurídicos no sentido de garantir uma maior eficiência e
rentabilidade do sector empresarial público, para além de uma profunda
alteração na gestão das empresas dotadas de capital do Estado.

2.3. Noção de empresa pública

Segundo a lei 6/2012 de 8 de fevereiro, entende-se as empresas pública a


entidade de natureza empresarial criada pelo estado, com capitais próprios
ou de outras entidades públicas e realiza a sua actividade no quadro dos
objectivos traçados no diploma de criação (art.º 1).

A empresa pública institui-se por acto de autoridade (art.º 3/1) e


caracteriza-se, estruturalmente por:

a) Existência directo de uma actividade económica e social;


b) Existência de capital estatuária, garantia dos credores e suporte do seu
equilíbrio financeiro;

c) Aplicabilidade de regras de economicidade e gestão empresarial, quer as


empresas actuem em monopólio, quer em concorrência

d) Aplicabilidade genérica das normas comuns em matéria fiscal, processual


e de trabalho;

e) O direito privado é o direito, genericamente, aplicável aos actos próprios


da actividade da empresa;

f) Reconhecimento de uma ampla autonomia “administrativa, patrimonial e


financeira”.

1.4. Personalidade jurídica

A empresa pública é autónoma face ao Estado. Dispões de personalidade


própria (art.º 2). A personalidade jurídica autónoma, face ao Estado, é a
condição indispensável para que a actividade empresarial se constitua como
actividade principal da empresa e assim se constitua o seu regime jurídico.

A concessão de personalidade jurídica estabelece:

a) Todos os direitos e obrigações necessários à prossecução do seu objecto


(art.2/2).

b) Representação através dos seus órgãos – (Conselho de Administração –


art.º 12).

c) Autonomia patrimonial (art.º 22)

d) Autonomia financeira (art.º 22).

A sua capacidade jurídica não difere-se da capacidade das pessoas


colectivas previstas no Código Civil. Também para as empresas públicas
vigora o princípio da especialidade, nos termos do qual, não podem praticar
actos contrários aos seus fins.
O objecto da empresa pública é sempre definido pela lei e constitu um limite
à sua competência, sendo nulos todos os actos e contratos ptraticados e
celebrados pela empresa, os quais contrariem ou transcedem o seu objecto.

Para a prática de actos só indirectamente relacionados com o objectivo da


empresa, é necessário a autorização do Governo ou o parecer dos órgãos da
empresa, consoante os casos, e de acordo com os estatutos.

A capacidade jurídica de direito público é aquela que a lei lhes concede ao


determinar a sua competência.

1.5 Autonomia administrativa

A autonomia administrativa determina que as empresas públicas podem


praticar actos administrativos e executórios e que, dos seus actos
(praticados pelos seus órgãos no âmbito das suas competências) não cabe
recurso hierárquico mas só contencioso, para os tribunais administrativos.

1.6 Autonomia financeira

A autonomia financeira assenta na existência de um orçamento próprio,


elaborado pela própria empresa e aprovado pelo Governo. No caso de
Moçambique o artigo 28/1 estabelece que as empresas públicas devem
elaborar, em cada ano económico, orçamentos de exploração e investimento,
a serem submetidos à aprovação do Ministro das Finanças, sob proposta do
ministro da respectiva área de subordinação.

O orçamento não faz parte integrante do Orçamento de Estado nem incide


sobre ele qualquer acto de aprovação parlamentar.

A fiscalização da execução do orçamento compete ao Conselho Fiscal (art.º


16/1 al. a)).

Para poderem ter um orçamento próprio, as empresas públicas têm


competência para cobrar receitas provenientes das suas actividades ou que
lhes sejam facultadas nos termos dos estatutos ou da lei, bem como realizar
as despesas inerentes à prossecução do seu objectivo (art.º 22/1).
1.7 Autonomia patrimonial

A existência de autonomia patrimonial significa que é apenas o património


da empresa que responde pelas suas dívidas (art.º 19/4), excluindo-se os
bens de domínio público sob administração da empresa pública.

O património da empresa pública é o limite da garantia dos credores. Esta


não pode exercer-se sobre os bens do domínio público administrados pelas
empresas, bens esses cuja titularidade é o Estado ou de Outras Pessoas
colectivas públicas. É o caso dos Portos, aeroportos, linhas – férreas, minas,
etc.

Os bens que integram o património da empresa podem ser penhorados e


executados judicialmente bem como podem ser constituídas, sobre eles,
garantias reais de modo a privilegiar determinados credores numa eventual
execução.

No entanto, o regime de autonomia patrimonial das empresas públicas não


permitem a sua falência ou insolvência não sendo possível liquidação por
concurso plena do seu património por iniciativa dos credores.

A liquidação das empresas públicas ocorre por Decreto (art.º 43/1).

Os credores devem ser satisfeitos os seus créditos de acordo com a


graduação de créditos estabelecidos nos termos da lei (art.º 46/1).

A proibição da execução universal não impede a licitude da execução


singular das dívidas com a ressalva de isenção de penhora dos bens
“afectados ou aplicados a fins de utilidade pública”. O critério para se saber
se os bens integrantes do património de uma empresa pública estão ou não
afectos a um fim de utilidade pública, sendo ou não penhoráveis, passa pela
questão de saber se eles têm por função:

- A produção de um rendimento de utilidade económica ou, pelo contrário;

- Possibilitar a normal prossecução do serviço público.

Só no primeiro caso são penhoráveis.


O regime da penhorabilidade dos bens da empresa pública e da sua
oneração por negócio jurídico é, pois, um regime restrito, pois só são
penhoráveis os bens que não estejam afectos a fins de utilidade pública. Aa
afectação a fim de utilidade pública é um limite à alienabilidade e
consequentemente à penhorabilidade do património das empresas públicas.

1.8 Criação e extinção da empresa pública

Nos termos do art.º 3/1, as empresas públicas são criadas por Decreto do
Conselho de Ministros. O número 2 do mesmo artigo refere que que o
Decreto da criação de empresa pública deve aprovar os respectivos
estatutos.

Quanto à extinção das empresas públicas, nos termos do art.º 38 da mesma


lei, ela opera-se segundo três possibilidades:

a) Fusão;

b) Cisão;

c) Liquidação

Qualquer destas três formas de extinção é da competência do órgão que


criou a empresa, mediante o competente diploma legal art.º 39.

Não é aplicável a extinção de uma empresa pública pelas regras aplicáveis à


dissolução e liquidação das sociedades nem pelos estatutos de falência e
insolvência art.º 38/2.

1.9. Órgãos das empresas públicas

Os órgãos das empresas públicas são:

a) Conselho de administração – até cinco elementos, incluindo o


respectivo presidente e dois administradores não executivos, dos
quais um indicado pela tutela financeira e outro pelos trabalhadores.
O seu presidente é nomeado e exonerado pelo Conselho de Ministro;
os restantes membros são nomeados e exonerados por despacho do
ministro ou dirigente do órgão de tutela sectorial art.º 12/3 e 4.
O conselho de Administração é o órgão executivo com “todos os poderes
necessários para assegurar a gestão e o desenvolvimento da empresa (art.º
13).

b) Conselho Fiscal – com três membros, nomeados pelo Ministro que


superintende a área das Finanças, ouvido o Ministro ou dirigente do
órgão de tutela sectorial (art.º 15/1e 2).

Competências (art.º 16/1).

1.10. A intervenção do governo

O estatuto de autonomia das empresas públicas impede um controlo de


ordem hierárquica. O controlo governamental exerce-se através da tutela e
superintendência, figuras compatíveis com autonomia da entidade
controlada. Os poderes são os da intervenção e da fiscalização (mas não em
poderes de orientação da entidade controlada).

Os poderes de tutela são só os que estão previstos na lei, não se


presumindo. Na relação hierárquica, pelo contrário, o Estado pode intervir
com todos os poderes que decorrem de uma relação especial de sujeição (era
o caso das empresas estatais- Lei 2/81, art.º 1/1 “ O Estado que as cria,
dirige e afecta os seus recursos materiais...”).

1.11. Regime de tutela e superintendência

Art.º 1 – “ As empresas públicas criadas pelo Estado, com capitais próprios


ou fornecidos por outras entidades, realizam a sua actividade no quadro dos
objectivos traçados no diploma de criação”.

Art.º 25 – “A gestão das Empresas públicas deve ser conduzida de acordo


com a política económica e social do Estado...”

Este regime consolida-se, em particular, através da presença do Conselho de


administração, do representante do Ministério das Finanças ou da Comissão
Nacional do Plano, garantindo-se, assim a prossecução das finalidades
gerais da política económica constantes do planeamento.
A superintendência demonstra-se, igualmente através da necessidade de
aprovação governamental de orçamentos, relatório anual, balanço e
demonstração de resultados, participações noutras empresas e
financiamentos, origem e aplicação de fundos.

A superintendência governamental exerce-se, pois:

- a priori – exs: subscrição de participações financeiras (art.9)

- a posterior – exs: aprovação conjunta pelos Ministros ou dirigentes dos


órgãos de tutela sectorial e ao ministro que superintende a área das
finanças, dos orçamentos anuais (art.º 28/1) ( que depois remete aos órgãos
da respectiva tutela sectorial e financeira ( nᵒ 2)).

- Através de poderes de orientação – exs: “As empresas públicas criadas pelo


Estado, com capitais próprios ou fornecidos por outras entidades públicas,
realizam a sua actividade no quadro dos objectivos socioeconómicos do
mesmo (art.º 1); “A gestão das Empresas públicas deve ser conduzida de
acordo com a política económica e social do Estado...” (art.º 25/1).

Se olharmos para a Lei 6/2012 de 8 de fevereiro, identificaremos os meios


e os momentos em que se estabelece uma relação prática e obrigatória, na
sequência do regime de tutela e superintendência entre a empresa pública e
o Estado.

- no momento da sua criação – art.º 1 e art.º 3/1.

- subscrição de participações financeiras para constituição de empresas


mistas , mediante aprovação do Ministro que superintende a área das
Finanças, ouvido o Ministro ou dirigente do órgão de tutela sectorial da
respectiva empresa – art.º 9.

- na aprovação do regulamento interno da empresa pelo Ministro ou


dirigente do órgão de tutela sectorial da respectiva empresa, mediante
parecer favorável do Ministro que superintende a área das finanças – art.º
8/1
- na nomeação e exoneração do presidente do Conselho de administração
pelo Conselho de Ministros e na nomeação e exoneração dos restantes
membros pelo Despacho do Ministro ou dirigente de tutela sectorial – art.º
12/3 e 4.

- na integração de um representante indicado pela tutela financeira – art.º


12/1.

- na aprovação e alteração pelo Conselho de Ministros dos estatutos da


Empresa – art.º 3/3.

- na nomeação dos membros do Conselho Fiscal pelo ministro que


superintende a área das finanças, ouvido o Ministro ou dirigente do órgão de
tutela sectorial – art.º 15/2.

- nas dotações e outras entradas patrimoniais do Estado e das demais


entidades públicas destinadas a reforçar os capitais próprios - art.º 20/2.

- na emissão de obrigações que carecem de autorização do Ministro que


superintende a área financeira – art.º 23/1.

- no momento da fusão, cisão ou liquidação da empresa pública – art.º 39.

- na autorização da entidade competente para a criação, para a


transformação de uma empresa pública em sociedade anónima ou por
quotas – art.º 51.

1.12. A gestão económica da empresa pública.

Os princípios da gestão das empresas são os da economicidade, eficiência e


planeamento.

a) economicidade

O princípio da economicidade exige o lucro empresarial, ou seja, o


excedente. Os preços praticados pela empresa devem ser superiores aos
preços de custo. Ficam salvaguardadas as situações em que seja necessário
o apoio financeiro do Estado (preços políticos) sempre ue a empresa
desempenhe uma função económica eminentemente social (exs; transportes
públicos) ou pretenda, através dela, aumentar o volume de exportações art.º
25/2 al. b). Isto significa que, quando o Estado impõe às Empresas públicas
missões que se afastam da sua gestão normal deve atribuir-lhes as
necessárias compensações financeiras de modo a não comprometer o seu
equilíbrio. Mas as subvenções para cobertura de défice de exploração devem
ser, sempre, consideradas, excepcionais.

O lucro tem destino legal, o de contribuir para a auto-suficiência da


empresa (art.º 25/2alb)). O autofinanciamento é composto pelo valor das
amortizações e dos excedentes líquidos de exportação e o lucro da empresa é
o saldo líquido, diferença entre proveitos e custos de produção.

No caso de empresas públicas com actividades não lucrativas, isto não


significa que a gestão não respeite o princípio da economicidade. A noção de
economicidade é mais ampla do que a do lucro. Por economicidade deve
entender-se a manutenção do equilíbrio financeiro, ou seja, a cobertura dos
custos pelas receitas.

Temos, portanto, empresas comerciais e industriais lucrativas e empresas


públicas de serviço público não lucrativas embora funcionando em termos
moderadamente empresariais.

b) Eficiência

Este princípio obriga a um aproveitamento racional dos meios humanos e


materiais, minimizando os custos de produção (art.º 25/2al.f)). É o
corolário do princípio da economicidade que possibilita criar as condições de
rentabilidade das empresas.

O planeamento

Este princípio visa a perspetivação racional da gestão da empresa anual e a


médio prazo. Pretende-se que os seus órgãos se habituem a calcular
racionalmente as suas decisões de acordo com a conjuntura económica
racional e internacional. Requer-se uma capacidade de estabelecer
estratégias de gestão (art.º 26al.b)).
1. 13. O direito aplicável às empresas públicas

As empresas públicas em Moçambique regem-se pela Lei 6/2012, pelos


estatutos respectivos e, no que em ambos não estiver regulado, regem-se
pelas normas de direito privado (art.º 47/1).

As empresas públicas que explorem serviços, assegurem actividades de


interesse fundamental (exs: defesa nacional) ou que exerçam a sua
actividade em regime de exclusividade (monopólio) podem ser objecto de um
regime especial de direito público (art.º 47/2). Este regime pode comportar
a atribuição àquelas empresas de prerrogativas de autoridade,
características de um regime de direito administrativo. É o caso de as
empresas públicas que, ao abrigo deste regime, têm competência legal para
declarar a expropriação por utilidade pública de certos terrenos, para cobrar
taxas, etc.

Assim sendo, os actos e contratos das empresas públicas investidas de


especiais prerrogativas de autoridade ao abrigo de um regime de direito
público, são actos e contratos administrativos e são da competência do
Tribunal Administrativo para o julgamento de litígios com eles relacionados
(art.º 48/2).

No caso das empresas públicas que se regem pelo direito privado, há que
notar a excepção feita quanto ao regime de superintendência, aos órgãos e á
inaplicabilidade da falência. Segundo Cabral Moncada, estas restrições
conduzem á atribuição de um estatuto de liberdade legal em vez de
autonomia privada, pelo menos quanto á parte nuclear da respectiva
actividade

1.14. Accionariato do Estado

Muitas vezes o Estado acede á titularidade de títulos de participação no


capital de empresas privadas. Isto ocorre pelas diversas razões: compra e
venda, sucessão legitimária, doação, etc., ou por meio de direito público. O
Estado transforma-se, assim, em accionista e a personalidade jurídica da
empresa de direito privado mantém-se já que a empresa continua a ser o
titular dos restantes bens e direitos integrados no património.

O estado assume, assim, o papel de sócio maioritário ou não, numa


empresa que se mantém de direito privado.

Mas, a intenção do Estado também se manifesta neste particular com o


objectivo de utilizar estas empresas como instrumento dos fins públicos.

Se o estado é maioritário, passa a controlar a empresa. Mesmo sendo


minoritário, opta, muitas vezes, por nomear gestores e administradores por
parte do Estado, dotados de poderes especiais como os e suspender a
executoriedade ou de vetar as deliberações sociais. Não nos esqueçamos que
a titularidade de parte do capital da empresa privada não priva o Estado dos
seus poderes de ius imperium.

Por outro lado, a posse de acções especiais da empresa podem dar-lhe ainda
especiais direitos enquanto accionista.

Quais as possíveis intenções do Estado ao pretender controlar estas


empresas privada?

Segundo Cabral Moncada o estado pode fazê-lo com duas intenções:

a) para controlar preços e assim garantir uma receita fiscal ou,

b) aplicar á empresa as directivas da política económica do Estado com vista


á prossecução do interesse público.

Ao controlar, de um modo ou do outro, as empresas privadas através do


princípio da fungibilidade das formas jurídicas, o qual permite a
prossecução de fins públicos por meios jurídicos de direito privado, desde
que estes sejam capazes de responder às exigências das tarefas
administrativas.

1. 15. As sociedades de capitais públicos e as de economia mista

Deve estabelecer-se uma diferença na análise entre:


- as empresas em que todas as acções pertencem ao estado ou outras
entidades públicas;

- as empresas em que só uma parte das acções, maioritária ou não, pertence


ao Estado.

As primeiras denominam-se sociedades de capitais públicos e as segundas


são sociedades de economia mista. Destaca-se como diferença
fundamental a existência de uma assembleia-geral dos sócios/accionistas
com os poderes inerentes nas sociedades de economia mista, o que não
existe nas sociedades de capitais públicos. Nestas, o órgão correspondente
é, normalmente de nomeação governamental destinado a assegurar o seu
controlo. As sociedades economia mista estão muito mais próximas do
direito privado e mais impermeáveis ao controlo governamental.

O Decreto 46/2001 de 21 de Dezembro, cria o instituto de Gestão de


participações do Estado o qual tem por finalidade a gestão, coordenação e
controlo de participações do Estado nos diferentes tipos de sociedade

Poderemos assim concluir, segundo Afonso Vaz, o sector público


empresarial integra as empresas públicas, as sociedades de capitais
públicos e as sociedades de economia mista.

Bibliografia:

- Santos, António Carlos et alt., Direito Económico, 5ª edição, Revista


Actualizada Almedina, Lisboa, 2010;

- Moncada, Luís cabral, Direito Económico, 4ª ed., Coimbra Editora,


Coimbra, 2003;

- FERREIRA, Eduardo Paz, Direito da Economia, Lisboa, AAFDL, 2001;

- FRANCO, António L. Sousa, Noções de Direito da Economia, 1.º


volume, Lisboa AAFDL.

- Lei 2/81, de 10 de Setembro;


- Decreto 22/87 de 21 de Outubro;

Lei 6/2012 de 8 de Fevereiro;

Lei 17/91 de 3 de agosto – revogada pela lei 6/2012;

Decreto 46/2001 de 21 de Dezembro.

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