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LÍNGUA, DISCURSO E
TRADUÇÃO
19 DE JANEIRO DE 2022
FADULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Índice
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I. Tradução
Inglaterra Vossa Inglaterra
I
[ ] Enquanto escrevo, seres humanos altamente civilizados estão a voar sobre mim, a tentar
matar-me.
Eles não sentem qualquer inimizade por mim enquanto indivíduo, nem eu por eles. [ ] Estão
‘apenas a cumprir o seu dever’, como se costuma dizer. A maioria deles, [ ] não tenho dúvidas, são
homens bondosos e cumpridores da lei que jamais sonhariam cometer um assassinato na sua vida
privada. Por outro lado, se algum deles tiver sucesso em rebentar-me em pedacinhos com uma
bomba bem lançada, certamente [ ] não há de dormir pior por isso. [ ] Está a servir o seu país, algo
que tem o poder de o absolver do mal.
Não é possível ver [ /-se] o mundo moderno como ele é a menos que se reconheça a força
esmagadora do patriotismo, da lealdade nacional. Em certas circunstâncias [ ] pode colapsar, em
certos níveis de civilização nem sequer existe, mas enquanto força positiva não há nada que se lhe
equivale (equivalha). A Cristandade e o Socialismo internacional são fracos como palha em
comparação [ /com ela]. Hitler e Mussolini ascenderam ao poder nos seus respetivos países em
grande parte por terem conseguido compreender este facto e os seus opositores não.
Para além disso, é preciso admitir que as divisões entre uma nação e outra são fundadas em
diferenças reais de perspetiva. Até recentemente considerava-se apropriado fingir que todos os seres
humanos são muito parecidos, mas a verdade é que qualquer pessoa capaz de usar os olhos sabe que
a norma do comportamento humano difere enormemente de país para país. Algo que pudesse
acontecer num país não poderia acontecer noutro. O expurgo de junho promovido por Hitler, por
exemplo, jamais poderia ter acontecido em Inglaterra. E, no que diz respeito aos povos ocidentais, os
ingleses são altamente diferenciados (distintos). Há uma espécie de reconhecimento dissimulado
deste facto no desagrado que quase todos os estrangeiros sentem relativamente ao nosso nacional
modo de vida. Poucos europeus aguentam viver em Inglaterra e até os americanos costumam sentir-
se mais em casa na Europa.
Quando se regressa a Inglaterra vindo de qualquer país estrangeiro, tem-se imediatamente a
sensação de estar a respirar um ar diferente. Logo nos primeiros minutos dezenas de pequenas coisas
conspiram para provocar esta sensação. A cerveja é mais amarga, as moedas mais pesadas, a relva
mais verde, os anúncios são mais notórios. As multidões nas grandes cidades, com os seus rostos
ligeiramente intumescidos, os seus dentes tortos e modos gentis, são diferentes de uma multidão
europeia. De seguida, é-se engolido pela vastidão de Inglaterra e perde-se por um momento a
sensação de que a nação inteira tem um só traço característico. Será que existem realmente nações?
Não seremos nós quarenta e seis milhões de indivíduos, todos diferentes? E a diversidade, o caos! O
barulho dos tamancos nas vilas fabris de Lancashire, o vaivém dos camiões na Great North Road, as
filas no lado de fora dos Centros de Emprego, o retinir das mesas de pinball nos pubs de Soho, as
solteironas pedalando até à Sagrada Comunhão através do nevoeiro das manhãs de outono – isto tudo
(tudo isto / todas estas coisas) não são meramente fragmentos, mas antes fragmentos característicos,
da paisagem inglesa. Como é possível encontrar um padrão nesta confusão toda?
Mas conversem com estrangeiros, leiam livros ou jornais estrangeiros, e [ ] serão trazidos de
volta à mesma ideia. Sim, existe algo de distintivo (distinto) e reconhecível na civilização inglesa. É
uma cultura tão individual quanto a de Espanha. [ ] Está de alguma forma presa (ligada) a pequenos-
almoços pesados e domingos tristonhos, cidades enevoadas e estradas sinuosas, campos verdes e
marcos de correio vermelhos. Tem um sabor próprio. Para além disso, é contínua, estende-se ao
futuro e ao passado, há algo nela que persiste, como numa criatura viva. O que poderá a Inglaterra de
1940 ter em comum com a Inglaterra de 1840? Mas também, o que se tem (o que têm vocês) em
comum com a criança de cinco anos cuja fotografia a nossa (vossa) mãe tem sobre a lareira? Nada,
exceto que por acaso somos (são) a mesma pessoa.
E acima de tudo, [ ] é a vossa civilização, são vocês. Por mais que a odeiem ou se riam dela,
jamais serão felizes longe dela por muito tempo. Os suet puddings e os marcos de correio vermelhos
permearam na vossa alma. Boa ou má, é vossa, vocês pertencem-lhe e, deste lado da sepultura, nunca
se livrarão das marcas que esta (esta; -) vos deu.
Entretanto, Inglaterra, juntamente com o resto do mundo, está a mudar. E, como tudo o resto
(o resto; -), só pode mudar em certas direções, que até um certo ponto podem ser previstas. Não quer
isto dizer que o futuro é fixo, meramente que certas alternativas são possíveis e outras não. Uma
semente pode germinar ou não, mas, dê por onde der, de uma semente de nabo nunca nascerá uma
hortaliça. É, por isso, de extrema importância tentar determinar o que Inglaterra é, antes de adivinhar
qual o papel que Inglaterra pode desempenhar nos grandes eventos que estão a acontecer.
II. Comentário
(Moltmann)
Referências
Moltmann, Friederike. “Generalizing Detached Self-Reference and the Semantics of Generic One.” Mind &
Language, setembro de 2010: 440-473. PDF. 4 de janeiro de 2022.
“Pronouns: One, You, We, They.” English Grammar Today - Cambridge Dictionary,
https://dictionary.cambridge.org/pt/gramatica/gramatica-britanica/pronouns-one-you-we-they.
Villarinho, Clara Nóvoa Gonçalves. “Sujeito Nulo No Português Brasileiro: Elementos Para Sua
Análise a Partir De Situações Experimentais.” Http://Www.pgletras.uerj.br,
http://www.pgletras.uerj.br/linguistica/textos/livro02/LTAA02_a06.pdf.