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MÊS DA MULHER, VAMOS FALAR DE FEMINISMO E FEMINISTAS?

Algumas pessoas perguntam: -Por que a palavra feminista? Por que não só dizer que você
acredita nos direitos humanos ou algo assim? Porque isso seria um jeito de fingir que não
são as mulheres que têm, por séculos, sido excluídas. Isso seria uma forma de negar que os
problemas de gênero afetam as mulheres. – Chimamanda Ngozi Adichie.

Dando um intervalo em nossos textos marxianos, em meio ao mês em que se comemora o


Dia Internacional da Mulher, ainda no calor de palavras ofensivas e de cunho sexual
proferidas por um representante do povo brasileiro (paulista, em verdade) dirigidas a
mulheres ucranianas fugindo da guerra em seu país, queremos desvendar um pouco deste
movimento tão essencial e que desperta tanto medo nos círculos conservadores machistas.

O feminismo é, como dito, um movimento social. Não apenas social, pois hoje já se tornou
também político, filosófico e que propõe em linhas gerais que haja direitos iguais entre
homens e mulheres, passando pelo fim de padrões patriarcais impostos pela sociedade
tradicional ocidental. São grandes os obstáculos, são inúmeras as resistências, é um vai-e-
vem de avanços e retrocessos. Ademais, a mulher, por muito tempo, foi tida como “sexo
frágil”, sempre em posição inferior em relação aos homens, não desfrutando dos mesmos
privilégios e de acesso a direitos básicos como: ler, escrever, eleger seus representantes,
participar de assuntos políticos e /ou ser candidata. A figura feminina de então era fruto de
construção de uma sociedade patriarcal, na qual suas atribuições eram restritas quase que
apenas aos trabalhos domésticos.
O surgimento do que seria um esboço do movimento feminista pode ter se iniciado
na época dos acontecimentos da Revolução Francesa (1789), pois dali foi emanada a
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. Para contrapor a este documento,
alguns intelectuais da época afirmavam que as mulheres possuiriam os mesmos direitos
que os homens, se opondo à ideia de que aquele conteúdo não serviria para elas.

O movimento feminista começou a ser realmente pautado ainda no distante século


XIX. Com as mudanças causadas pela Revolução Industrial, o cenário começou a mudar,
já que as mulheres foram obrigadas a trabalhar nas fábricas para ajudar no sustento da
família. No entanto, as condições de trabalho tanto para homens quanto para as mulheres
eram as piores possíveis. Isso provocou muita movimentação social e política, pois a classe
proletária exigia melhores condições de trabalho. A partir de então, o feminismo e a luta
pela valorização das mulheres não saíram mais de cena.

Já no final do século XIX e início do século XX o movimento feminista ganhou


força mundial, sobretudo na Inglaterra e Estados Unidos. Nesse período, a luta girava em
torno da igualdade de condições de trabalho nas indústrias, em prol da conquista de
salários e cargas de trabalho idênticas. Ainda, nos Estados Unidos, o movimento das
industriárias ganhou forças e evidenciou mais ainda a pauta feminista. As mulheres
queriam, além de votar, poderem participar da vida política.
O movimento feminista, agora, agregava outras demandas, e a partir daí se
discutiria além do gênero, a raça, etnia e classe social. Mais tarde a discussão vai trazer
demandas sobre cultura, sexualidade, aborto, estupro, empoderamento feminino e o
sepultamento de um ultrapassado sistema patriarcal.
Ao longo de todo esse período e estando consolidado, o movimento feminista
adquire diferentes feições de acordo com as diferentes culturas e históricas. No Brasil, o
feminismo vai contar, por exemplo, com a mineira Lélia Gonzalez, uma de suas mais
importantes representantes e que vai trazer para o debate outras demandas, como o racismo
e o embranquecimento da cultura negra, a que ela chamou de apagamento cultural pelo
discurso predominantemente branco. A partir do hemisfério norte, o mundo
contemporâneo veio a conhecer Angela Davis e sua visão libertária e inclusiva. Seu
pensamento é essencial para a compreensão da posição social da mulher negra, do povo
negro, do povo pobre, do sistema carcerário, bem como nos faz pensar na interseção entre
raça, classe e gênero, tudo sempre movida a um fim: libertação de todos os oprimidos.
Vamos falar um pouco sobre elas nas próximas semanas deste mês...

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