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O FEMINISMO DE MARY WOLLSTONECRAFT

Autora inglesa não muito conhecida no Brasil, Mary Wollstonecraft (1759 – 1797) em sua curta vida
passada em ambiente hostil à intelectualidade feminina, deixou uma obra forte, que trouxe bases para
a luta pelos direitos das mulheres. Nascida de uma família pobre, teve que começar a trabalhar cedo
para se sustentar e à família. Na época, eram poucos os trabalhos permitidos a mulheres de famílias
“respeitáveis” e sendo assim, Mary exerceu cargos de dama de companhia, tutora de moças e
educadora em colégios tradicionais ingleses. Depois de uns poucos anos, decidiu viver de seus escritos.
E se preparou. Aprendeu outros idiomas, para poder trabalhar como tradutora.

Passou uma vida de transgressões, foi viver na França com o pai de sua primeira filha, quando viveu o
terror sob o governo dos jacobinos, voltando para a Inglaterra para fugir da perseguição. Seus primeiros
escritos eram sob um pseudônimo de homem, não assumiu a autoria de seu primeiro livro. Mais tarde,
ficou relativamente famosa por conflitos publicados na imprensa através de debates intensos com o
autor Edmund Burke a respeito da Revolução Francesa. Mais tarde, também polemizou com o já
famoso Jean Jacques Rousseau.

Suas obras refletiam a sua vida, sendo considerada hoje uma fundadora do feminismo. Morreu após
uma infecção decorrente do parto de sua segunda filha, a autora Mary Shelley, criadora de
Frankenstein.

Porque Mary é relevante hoje?

Principalmente por sua precocidade. Naquele tempo, das revoluções políticas, foi que começaram os
primeiros movimentos reivindicatórios das mulheres. A liberdade seria a principal meta, ser livre em
qualquer situação era a meta, numa época de desigualdades de direitos entre homens e mulheres.

O movimento feminista teve ao longo do tempo várias correntes e uma história ligada ao
desenvolvimento da filosofia liberal. Naquela primeira fase do feminismo, da qual Mary é um dos
grandes nomes, já se falava no direito ao voto, à educação e à propriedade das mulheres.

Já se dizia que “os homens nascem livres” e Wollstonecraft dizia que as mulheres também devem ser
livres. Ela pregava que se não pode haver cidadãs, não poderia haver cidadãos, pois excluir metade da
humanidade é uma ordem corrompida.

A ideia é de que os homens se utilizam de argumentos semelhantes para dominar, sejam eles os reis
déspotas ou os maridos. E era preciso acabar com a ideia de serem representantes de Deus. O Rei em
seu território e os maridos representavam o Rei, portanto Deus, em casa.

Ela também questiona e desconstrói a identidade atribuída às mulheres enquanto dominadas,


confinadas, afastadas. Mulheres às quais não era permitido estudar porque a função social delas era
restrita à vida privada, mulheres que eram feitas para casar e serem belas para os homens e deveriam
cuidar exclusivamente de seus atributos físicos, a fim de serem sempre e tão somente… belas.

As mulheres eram consideradas incapazes de exercer a razão, e ao reivindicar esta razão Mary também
reivindica poder responder por seus próprios atos. A liberdade feminina visava manter a sua condição
humana, pois as mulheres sendo livres deixariam de ser meros objetos. Exercer o poder sobre si
mesmas, sobre suas vidas.

Muitos aspectos de sua obra, como a denúncia da infantilização e a crença de que a mulher não era
dotada de racionalidade, apareciam como pautas maiores do feminismo. Defendeu também uma
escola pública mista, que abrigasse meninos e meninas. No entanto, Mary foi muito mais uma
pensadora que ativista, escolhendo pôr em prática na própria vida as ideias que defendia.

Em “A reivindicação dos direitos das mulheres”, livro publicado em 1792, escreveu: “É assim, por
exemplo, que a demanda por educação tem por objetivo exclusivo permitir o livre desenvolvimento da
mulher como ser racional, fortalecendo a virtude por meio do exercício da razão e tornando-a
plenamente independente”.

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