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Em tempos de autocuidado, todo cuidado é pouco

Tempos difíceis, estes. Tempos de isolamento (sim, ainda tem muita gente tomando os cuidados contra a
Covid-19), de tristeza, de desaceleração da vida e de ver o tempo passar. Mas há cuidados com a saúde que
não se pode deixar para depois que a “banda passar”. Vamos fazendo nossa parte.

Sou profissional de saúde bucal e vejo uma falha nos conhecimentos básicos numa das áreas odontológicas
mais sensíveis e sobre a qual muito pouco se conversa. Não se sabe se pelo temor da doença ou por mero
descaso, mas o câncer de boca não entra na esfera de preocupação de muita gente. Até ouvimos coisas do
tipo “mas existe câncer de boca?”

Respondo: sim, existe e é prevenível, diagnosticável precocemente e se detectado em fase inicial tem
grandes chances de cura. Infelizmente, a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados. Mas
vamos lá, vou tentar esclarecer um pouco as coisas.

O câncer de boca já é um problema de saúde pública no Brasil. Mas afinal, o que é esse câncer de boca? É
aquele câncer que pode aparecer em diversos locais da cavidade oral, como os lábios, gengivas, bochechas,
céu da boca, língua e a região embaixo da língua. É o quarto tipo de tumor mais frequente no sexo
masculino, por exemplo, na região Sudeste. Em primeiro lugar, é preciso contar: não é coisa só de idoso,
fumante ou alcoolista. Não se fala mais em idade ou sexo: o risco hoje é mais ligado a fatores e
comportamentos de risco.

Prevenir o aparecimento de um tipo de câncer é diminuir as chances de desenvolver essa doença através de
ações que afastem os chamados fatores de risco. E certos fatores e comportamento são velhos conhecidos
de todos, como por exemplo o uso de tabaco em qualquer forma, sendo o risco ainda mais alto se associado
ao consumo de álcool. O abuso destas substâncias é importante por serem facilitadores para diversos tipos
de câncer, não só os da região da boca. Uma dieta inadequada com muitas gorduras, açúcares e sais podem
trazer vulnerabilidade ao organismo, em se tratando de fontes de radicais livres. A exposição direta aos raios
solares a longo prazo é capaz de, junto a outros fatores, contribuir para o desenvolvimento da doença na
região dos lábios e o risco é agravado nas pessoas de pele clara. Contra este importante fator, se aconselha o
uso de chapéus, camisetas e bonés, especialmente aos que se expõem muito ao sol, seja para trabalho ou
não. O uso de protetores solares e labiais deve ser reforçado e se possível se deve evitar o sol em horários
de maior incidência dos raios. Traumas repetidos sobre os tecidos da boca, más condições dentárias, má
higiene bucal, devem ser resolvidos em tratamentos, pois são outros importantes fatores de risco. Neste
quesito é bom destacar o uso de piercings nesta região, prejudicial e que pode levar a infecções graves e ser
um elemento causador de traumas. Por fim, as lesões preexistentes, como manchas ou verrugas.

Afastar fatores de risco, se possível, e um diagnóstico precoce possibilitam melhores chances de cura. A
detecção de sinais ou sintomas suspeitos pode ser a primeira ou única chance de uma pessoa ser
diagnosticada precocemente. E uma boa notícia é que através do auto-exame, se pode identificar o que seria
um primeiro sinal da doença na boca. O câncer de boca é um dos tipos que podem ser detectados em fase
inicial pela própria pessoa, ao realizar o auto-exame.

As lesões iniciais do câncer de boca são quase sempre indolores, e muitas vezes podem passar
despercebidas. Porém, quando diagnosticado nesta fase, a cura pode aproximar-se dos 100%. Procure um
cirurgião dentista se observar algum sinal (especialmente “algo que não estava lá dias atrás”), como feridas
que não cicatrizam por mais de 15 dias, manchas ou placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua,
gengivas, céu da boca ou bochechas, caroços na região do pescoço, rouquidão persistente. O dentista
poderá avaliar e tomar as medidas que forem necessárias para descartar ou agilizar um diagnóstico que,
caso positivo, será encaminhado para o tratamento médico.
Na rede pública de odontologia da nossa região os profissionais são periodicamente capacitados para o
atendimento aos casos que os procuram, inclusive orientando em como realizar o auto exame diante do
espelho. Também são realizadas campanhas de prevenção e educação como forma de orientação coletiva.
As biópsias podem ser realizadas também pelo SUS, e os procedimentos seguintes dependem dos
resultados. Mas é importante ressaltar que são casos em que o tempo conta a favor de um prognóstico
favorável, com grandes chances de cura.

Portanto, se cuidem, se observem, se previnam.

Bibliografia de referência

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Bucal.
(Cadernos de Atenção Básica, n. 17).

INCA. Câncer de boca. Ministério da Saúde; [acesso 2018 jul 17]. Disponível em:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/boca+/definicao

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