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Beto, bom dia

Pra falar das férias dos lindos eu precisaria ter mais informações e não deu tempo de pesquisar
Ah, e antes que eu esqueça
Corrige lá para mim no meu “currículo”, eu estou graduando em C. Sociais e não graduada
Abraço!

Dar, receber e retribuir

Marcel Mauss (1872-1950) e Bronisław Malinowski (1884-1942) foram dois antropólogos


europeus que publicaram, separadamente, por volta dos anos 1922-1923 seus trabalhos que
abordavam costumes e a vida de sociedades da região da Melanésia, Polinésia e noroeste
americano.

Naquelas sociedades (que não são extintas) se pratica trocas de dádivas, presentes materiais e
imateriais, que misturam pessoas e coisas, personificam objetos e criam obrigações (apesar de
parecer em algumas vezes ser ato voluntário, não o é). Dar, receber e retribuir é a forma como se
criam e fortalecem os laços intra e entre sociedades. É universal, é obrigatório, e de uma maneira ou
de outra está presente por todo o mundo deles. A dádiva como é chamada) não é mera atividade de
troca, mercantil, ou um escambo. Tem características que as diferenciam, que as tornam verdadeiras
cerimônias sociais.

A dádiva difere das trocas com finalidade econômica (escambo e as trocas por moedas, o comércio),
pois nestes casos se troca objetos com utilidade entre indivíduos, enquanto a dádiva tem o coletivo
como sujeito – pessoas morais, e nem sempre se busca uma finalidade útil para o bem. Os bens
trocados não tem em si valor ou utilidade, o motivo principal são as obrigações que ali surgem.

Na dádiva se troca riqueza por honra, se troca conceitos, objetos, lugares, pessoas (por casamentos).
Objetos das trocas trazem consigo a “alma”, anima, o “espírito da coisa dada”, podem representar
mesmo uma parte do doador, e gera a obrigação do outro de retribuir, dar algo em troca. Ainda que
não no mesmo momento. Além disso, para os nativos, a recusa em receber algo ofertado ou em
retribuir, não é opção. Uma recusa é levada a sério e pode causar problemas.

Uma lei universal, válida para todos os povos e culturas, a tripla obrigação de dar, receber e
retribuir. E a dádiva se consolida como “rocha humana” que sustenta todo um arcabouço social, por
se tratar de um fato social que envolveria pessoas, grupos, instituições. Para estes povos, possuir é
dar: quanto mais tem, mais se quer liberar, a generosidade é sinal de riqueza.

“A coisa dada tem uma parte de quem dá”.

Há enormes semelhanças entre as nossas tradicionais trocas de presentes. As nossas experiências em


dar e recebê-los, não apenas os físicos, mas apoio, solidariedade, gestos de querer bem, uma oração,
as esmolas e outros atos aparentam também valorizar menos o preço e mais o gesto e o seu
significado.

Para aqueles polinésios, existem mecanismos espirituais que obrigam a retribuir o presente
recebido, seja ele algum objeto, físico ou não.

Para o estudioso Mauss, nesse sistema é “preciso retribuir a outrem o que na realidade é parcela de
sua natureza e substância; pois, aceitar alguma coisa de alguém é aceitar algo de sua essência
espiritual, de sua alma”.

Na tradição cristã, a troca de presentes parece se originar com o nascimento de Cristo, quando os
Reis Magos trouxeram de suas terras os presentes que ofereceram ao recém nascido em troca
justamente do presente dado por Deus.

O espírito de troca está presente em nosso cotidiano e se reforça na época das festas natalinas não à
toa. Mas não fica somente ali. Quem nunca aprendeu com os pais, que ao devolverem vasilhas que
receberam com algum alimento, estas não devem voltar vazias? Quem nunca fez uma visita à casa
de alguma avó, ou tia, sabendo que encontraria esperando mesas postas com quitandas as mais
diversas, e além de comer ainda levariam uma boa quantidade para casa? E as visitas de filhos aos
pais? Não é uma troca de alegrias? Leva-se alegria e se volta com uma maior ainda.

No nosso caso, o dar e receber não necessariamente gera uma obrigação como para as sociedades
estudadas: a resposta de quem ganha uma dádiva, é “obrigado”, o que imediatamente é dispensado
pelo doador com um “por nada”, “não há de que”! E temos ainda o “Deus lhe pague”, quando a
dádiva é tão grande que sozinha a pessoa não consegue retribuir…

De qualquer forma, o que se dá é sempre maior que o que se recebe. E isto é que faz bem ao
espírito.

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