A16 Internacional
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SEXTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2011
VISÃO
GLOBAL
A prisão de Mladic, um recado para os EUA
Em geral, para a lei internacional ter alguma chance de dissuadir os monstros de amanhã, precisamos que a Casa Branca a apoie praticamente e não retoricamente
●
✽
TIMOTHY
GARTON ASH
ESPECIAL PARA O ESTADO
les finalmente o pega-
E
ram. Não há muitas
boas notícias prove-
nientes da Europa no
momento, mas o fato
de Ratko Mladic estar
sentado numa cela de um tribunal
internacional em Haia é motivo para
uma celebraçãoincondicional. O ho-
mem diretamente responsável pelo
massacre de aproximadamente 8
mil homens e meninos desarmados
em Srebrenica terá hoje de prestar
contas por essa e outras atrocida-
des. Esse é um novo passo adiante
em um dos grandes desenvolvimen-
tos de nosso tempo: o movimento
global rumo à responsabilização.
Um momento pós-1945 de respon-
sabilização internacional muito im-
perfeita, simbolizado pelos julga-
mentos de Nuremberg de líderes na-
zistas e os tratados fundadores da
justiça humanitária internacional,
havia definhado atrás das cortinas
de ferro e das amnésias instrumen-
tais da Guerra Fria. Mesmo os fatos
mais básicos sobre muitas atrocida-
des eram sistematicamente oculta-
dos ou falsificados. Monstros mor-
riam em suas camas, com suas meda-
lhas ainda pendendo do uniforme
no guarda-roupa.
Mas aqueles ideais pós-1945 nun-
ca morreram por completo. Dos
anos 70 em diante, muitas formas
diferentes de responsabilização fo-
ram desenvolvidas, da América Lati-
na à África do Sul e do Sudeste Asiáti-
co ao Sudeste da Europa: comissões
da verdade, investigações judiciais,
abertura de arquivos, a proibição de
pessoas comprometidas ocupar car-
gos públicos, julgamentos domésti-
cos e internacionais.
Todos têm seu lugar próprio, mas
um tribunal internacional é o me-
lhor caminho já descoberto para li-
dar com os mais vis dos vis: aqueles
crivelmente acusados de crimes con-
tra a humanidade. Nos tribunais na-
cionais, há geralmente contorções
Em Benghazi, uma
luta sem controle
contra Kadafi
Rebeldes líbios travam uma batalha que não controlam
●
✽
SUDARSAN
RAGHAVAN
THE WASHINGTON POST
omo parte de sua mis-
C
são na Líbia, os EUA e
seus aliados europeus
lançaram um devasta-
dor ataque aéreo de al-
ta tecnologia, empre-
gando aviões espiões AWACS, aero-
naves não tripuladas e sofisticados
sistemas de satélite. Mas, no centro
operacional de comando dos rebel-
des no leste da Líbia, não há televiso-
res exibindo imagens transmitidas
por satélite nem mapas detalhados
com coordenadas GPS. Eles não têm
nem mesmo uma linha de comunica-
ção direta com seus pares na Otan.
Websfera O melhor da internet
GUARDIAN
Tailândia quer acabar
com tatuagens de Buda
Ogoverno tailandês querproibir
que turistas em visita ao país fa-
çam tatuagens com a imagem de
Buda. Para o ministro da Cultu-
ra,NiphitIntharasombat,osvisi-
tantes tatuam as figuras sagra- tro, alguns moradores devotos já
das “por moda”, e não por moti- apresentaram reclamações for-
vos religiosos. Segundo o minis- mais alegando falta de respeito.
legais e a forte suspeita de uma agenda
político-partidária.
Cortes internacionais, como o Tribu-
nalPenal Internacionalpara a ex-Iugos-
lávia, que detém Mladic, e o Tribunal
Penal Internacional (TPI) também es-
tão abertos a múltiplas objeções. Afora
a lentidão do processo judiciário, que
resultouna morte do líder sérvioSlobo-
dan Milosevic sem ser condenado em
Haia, a maioria dessas objeções se resu-
me à acusação de dois pesos e duas me-
didas.
Por que, gritam muitos sérvios, vo-
cês denunciam somente sérvios, e não
croatas e bósnios? Essa acusação é sim-
plesmente falsa. Além de Milosevic,
Mladic e Radovan Karadzic, o tribunal
condenouo general croata Ante Goto-
vina e está julgando novamente
Ramish Haradinaj, um líder
guerrilheiro albanês koso-
var.
Parcialidade. Por que,
dizem outros, vocês
pegam os peixes
graúdos e deixam
os pequenos na-
dando livremen-
Assim, quando um oficial das forças
rebeldesno frontentrouemcontatonu-
ma manhã recente solicitando ajuda, o
general de brigada Abdulsalam al-Hasi
viu-se diante de poucas opções. Ele foi
até o outro extremo do corredor e pediu
aos conselheiros americanos e euro-
peus em seu centro de comando que or-
denassem um ataque aéreo da Otan – e
então rezou para que eles agissem rápi-
do.
O episódio sublinha um dilema ines-
capável com o qual o exército rebelde se
depara. Depois de mais de três meses de
impasse, a luta dos rebeldes para tirar
Muamar Kadafi do poder depende qua-
Felipe Corazza
JERUSALEM POST
Site quer enviar íntegra
da Torá para o Twitter
O site da Jewish Publication So-
cietylançou umdesafioambicio-
so para seus frequentadores que
também usam o Twitter: enviar
o texto integral da Torá para a
rede de microblogs usando frag-
mentosde140 caracteres.O pro-
jeto tem início no dia 7.
te? Isso é verdade, mas inevitável. Não
se pode julgar todas as dezenas de mi-
lhares de responsáveis, em diferentes
graus, pelos horrores de qualquer dita-
dura. Seria melhor se fosse o contrário:
pegar o pequeno e deixar o grande esca-
par? Essa foi a acusação mais ácida con-
tra a desnazificação no fim dos anos
40. Quando só se puder pegar alguns
peixes, eu digo: peguem-se os graúdos.
Depois, há a objeção “por que vocês
processam fulano, mas não sicrano?”
Por que Milosevic e o liberiano Charles
Taylor, mas não Than Shwe, de Mian-
mar, ou Bashar Assad, da Síria? Para
esses há várias respostas. Uma é: se não
se totalmente de uma força da Otan que
eles não controlam e insiste na afirma-
ção de que seu mandato se restringe à
proteção dos civis.
Algumas semanas atrás, a coordena-
çãoentreosrebeldeseaOtaneravirtual-
mente inexistente. Os comandantes re-
beldes reconhecem que, desde então, a
situação melhorou. Mas os principais
oficiais do comando rebelde dizem que
o nível ainda insuficiente de coordena-
ção e a falta de recursos significam que
eles são excluídos das principais deci-
sões relacionadas a uma guerra que eles
mesmos iniciaram.
“Contatamos eles por meio de sua
central de comunicações”, disse Hasi.
“Não existe uma linha direta.” Os ofi-
ciais rebeldes queixam-se do fato de a
Otan não ter designado um oficial de
ligação para o centro de comando.
Funcionáriosda Otan dizemquea de-
cisão de manter certa distância em rela-
ção aos rebeldes é intencional. “Para
nós, o importante é não contrariar nem
prejudicar o mandato da ONU”, disse
um representante da Otan em Bruxelas,
falando sob condição de anonimato.
“Não podemos agir como a força aérea
(dosrebeldes)”,disseofuncionário. “Is-
so começou com um levante popular e
precisa se desenvolver nestes mesmos
termos, de maneira natural.”
As queixas do alto escalão do coman-
do rebelde são feitas num momento em
LOS ANGELES TIMES
Serviço online mapeia
homicídios na Califórnia
As áreas com maior incidência
decrimesviolentosemLosAnge-
les,noEstadoamericanodaCali-
fórnia,agora estão mapeadas em
umserviçoonlinecriadopelojor-
nal Los Angeles Times. Os dados
da polícia alimentam em tempo
real o “mapa dos assassinatos”.
se pode pegar todos os assassinos isso
não significa que não se deve pegar ne-
nhum. Outra é: talvez o TPI devesse
estar processando sicrano também. E
uma terceira: respostas diferentes
nem sempre significam dois pesos e
duas medidas.
Se um(a) líder transpõe a marca
mais extrema que o qualifica a uma acu-
sação por crimes contra a humanida-
de, ele(a) deveria ser em qualquer par-
te e sempre passível de acusação num
tribunal internacional. Mas se seus cri-
mes passados ficam aquém desse pa-
drão muito exigente, há espaço para
compreensões locais. Se o líder consen-
tiu numa negociação pacífica para en-
cerrar uma ditadura, essa boa conduta
deve ser levada em consideração.
Por exemplo, é um grande erro
que o líder da lei marcial polo-
nesa Wojciech Jaruzelski,
que não foi culpado de cri-
mes contra ahumanida-
de e tentou fazer
emendas ajudando
a transição da Po-
lônia para a de-
mocracia em
1989, ainda es-
CARLINHOS MÜLLER/AE
queaOtan intensificasuacampanhaaé-
reacontra asforçasdeKadafi natentati-
va de romper o impasse. As linhas de
frente avançam e recuam rapidamente,
expandindo-separa áreas na regiãooes-
te do país. A Otan anunciou que amplia-
rá em mais 90 dias o prazo de sua mis-
são na Líbia. Mas, sem trazer à Líbia for-
çasterrestres,aOtanpodese verobriga-
da a recorrer cada vez mais às informa-
ções dos rebeldes para coordenar ata-
ques precisos.
O centro de comando fica dentro de
um edifício térreo numa grande área de
propriedade do governo. Em uma das
extremidades do corredor fica a ampla
sala de Hasi; na outra, fica a sala onde
trabalham os conselheiros ocidentais.
Hasidisse que aequipeocidentalcon-
tacommembrosdosEUA,daGrã-Breta-
nha, da França, da Espanha e do Catar, a
maioria dos quais parece ter uma linha
de comunicação direta com funcioná-
rios da Otan em Bruxelas. Acredita-se
também que haja, na base com os rebel-
des, funcionários da CIA e soldados do
destacamento de operações especiais
da Grã-Bretanha, da França e de outros
países aliados.
Os analistas de Hasi fazem e recebem
telefonemas de todas as partes da Líbia,
reunindo informações sobre a movi-
mentação das forças de Kadafi, o núme-
rodemortoseascondiçõesdesuasmor-
tes, e os pedidos por combustível e ou-
Veja a íntegra das notas. blogs.estadão.com.br/radar-global
AMERICANA
US$ 1 mil
é quanto uma casa de apostas
pagará a cada dólar pela vitória
de Paris Hilton nas eleições pa-
ra a presidência dos Estados
Unidos. O valor é o mesmo caso
o ator Will Smith vire presidente
FONTE: PADDY POWER
O ESTADO DE S. PAULO
teja – como um homem muito idoso
– em julgamento por aquelas faltas
passadas.
A escolha mais difícil viria se um
líder como Muamar Kadafi, da Líbia,
que aterrorizou seu povo e certa-
mente merece se processado, jogas-
se um papel tipo Jaruzelski numa
transição negociada. Mas não há si-
nais disso. Alguém argumentará se-
riamente que a única coisa que impe-
de Kadafi de abdicar do poder é o
recente mandado de prisão contra
ele pelo TPI? No restante do mundo,
a acusação de dois pesos duas medi-
das é dirigida principalmente con-
tra o Ocidente, e, em especial, con-
tra os Estados Unidos. De ditadores
latino-americanos aos atuais gover-
nantes da Arábia Saudita, os amigos
tirânicos de Washington safaram-se
com crimes – assim reza o indicia-
mento popular – enquanto seus ini-
migos são passíveis de assassinato.
Nos últimos 60 anos, houve muitos
exemplos individuais desses pa-
drões duplos. Enfaticamente, não
acho que a eliminação de Osama bin
Laden pertença a essa lista. Sim, em
algum mundo ideal, Bin Laden esta-
ria sentado numa cela em Haia, no
mesmo corredor que Mladic, Kadafi
e outros. Mas alguém seriamente
acredita que se poderia confiar nos
serviços de segurança paquistane-
ses para entregar Bin Laden a um
tribunal internacional?
Em geral, para a lei internacional
ter alguma chance de dissuadir os
monstros de amanhã, precisamos
que os Estados Unidos a apoiem pra-
ticamente e não apenas retorica-
mente. Isso significa aplicar a lei in-
ternacional a si mesmos e não só a
outros. Para comemorar a prisão de
Mladic, os Estados Unisdos deviam
ingressar no TPI. / TRADUÇÃO DE CELSO
M. PACIORNIK
✽
É PROFESSOR DE ESTUDOS EUROPEUS NA
UNIVERSIDADE OXFORD E ESCRITOR
tros tipos de auxílio. Eles tentam se
certificar da veracidade e precisão
das informações e, no caso de uma
emergência, como a ameaça de um
ataque iminente por parte das forças
do governo, eles alertam Hasi, que
repassa a informação aos conselhei-
ros ocidentais.
Em Nápoles, Itália, um funcioná-
rio do quartel-general operacional
daOtandisse queas informaçõestra-
zidas pelos rebeldes chegavam até o
altocomando daaliança.“Váriosalia-
dos contam com representantes
seus junto aos rebeldes e estão traba-
lhando com o Conselho (Nacional)
deTransição”, disse ele, referindo-se
ao corpo estabelecido pelos líderes
da oposição na capital de facto, Ben-
ghazi.
Isso, porém, pode mudar. O repre-
sentante disse que a Otan debatia a
possibilidade de enviar uma equipe
de ligação a Benghazi. Por enquan-
to, Hasi e outros comandantes rebel-
des líbios insistem que a Otan não
os está ouvindo com a devida aten-
ção nem partilhando com eles infor-
mações sigilosas que a aliança ob-
tém de outras fontes. / TRADUÇÃO DE
AUGUSTO CALIL
✽
É CHEFE DO ESCRITÓRIO DO
‘WASHINGTON POST’ NA ÁFRICA
estadão.com.br
SLATEST
Compartilhar senha de
site será crime nos EUA
O Estado do Tennessee dá mais
um passo contra o compartilha-
mento de informações online. A
partir do próximo mês, usar a se-
nha de outra pessoa – mesmo
com autorização – para acessar
sites de entretenimento será
considerado um ato criminoso.