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Oliveira Martins contra a emancipação feminina

por José Barreto

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2016.

Oliveira Martins – A Ilustração, Paris, 1888. BNP.

Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894), uma das mentes brilhantes da chamada
geração de 70, proclamava-se orgulhosamente caturra, fóssil e bárbaro em matérias
respeitantes à mulher, seus direitos e sua emancipação. É muito provável que
pretendesse ser irónico quando se atribuía esses qualificativos, fazendo-o em jeito de
provocação, como quem nos dias de hoje se gaba de ser politicamente incorrecto, mas
sem nunca admitir ser realmente incorrecto.

Ditas ou escritas hoje, algumas teses e frases lapidares de Oliveira Martins sobre as
mulheres soariam de forma afrontosa, sendo por isso mesmo regularmente citadas em
livros e teses académicas como documentos da existência de uma mentalidade eivada de
patriarcalismo na elite intelectual do final de oitocentos. Aparentemente, ninguém se
tem interrogado sobre o lugar dessas ideias no sistema de pensamento oliveiriano ou no
quadro mental da época, eventualmente em paralelo com o pensamento de outras
figuras intelectuais da sua geração, como Antero, Eça, Ramalho e Junqueiro, para citar
apenas os seus companheiros do Cenáculo e dos Vencidos.

Para ilustrar esta faceta antifeminista de Oliveira Martins, quiçá insuficientemente


conhecida, passam-se aqui em revista cinco artigos que publicou em vários jornais
durante a década de 1880, abordando temas da chamada questão feminina. O primeiro
artigo é uma recensão do livro de Sergei Stepniak, A Rússia Subterrânea (1882), em
que, a propósito e despropósito do niilismo russo, Oliveira Martins aflora a questão da
instrução feminina. Os dois seguintes são recensões de livros a que a escritora Maria
Amália Vaz de Carvalho ligou o nome: um romance italiano por ela traduzido em 1882
e uma recolha de crónicas suas, dada à estampa em 1886. Os dois últimos artigos foram
publicados em julho de 1888 no jornal lisboeta Repórter, dirigido por Oliveira Martins
(e logo replicados na Província, jornal portuense ainda por ele dirigido), no âmbito de
um debate público sobre instrução feminina, questão que estava então a ser debatida na
Câmara dos Deputados. A lei de criação dos liceus femininos viria realmente a ser
aprovada publicada a 9 de agosto desse ano. Adiante se verá quem sabotou a aplicação
da lei, adiando por quase duas décadas o ensino secundário feminino em Portugal.

Os cinco textos podem ler-se em J. P. Oliveira Martins, Dispersos, organização de


António Sérgio (Lisboa: Biblioteca Nacional, 1924, tomo II, pp. 112-127 e 144-166).

“A Rússia Subterrânea”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1882.

Nesta recensão do livro A Rússia Subterrânea, do revolucionário russo exilado Sergei


Stepniak (uma tradução portuguesa da obra publicada no mesmo ano em Itália),
Oliveira Martins traça um quadro apocalíptico não só do revolucionarismo niilista
russo, como da democracia parlamentar ocidental, para concluir que “a nossa Europa de
hoje parece não poder encontrar paz e ordem senão sob o governo excepcional dos
cesarismos” e, quanto a Portugal, que “a nossa terra pede um abalo que a acorde, uma
ditadura que a chame à vida, impedindo-lhe o resvalar em revoluções e crises superiores
à sua energia de resistência” (pp. 126-127). Tudo o que se baseie no voto popular é
taxado de jacobinismo e demagogia por este inimigo da Revolução Francesa e da
democracia moderna. Como também não acredita em velhos absolutismos baseados em
“princípios de autoridade religiosa”, Oliveira Martins propõe uma revolução “feita de
cima para baixo”, um regime de autoridade estabelecido sobre a base de “um civismo
filosófico” (p. 126). São ideias que, juntamente com outras expressas noutros lugares,
têm levado a considerar-se o autor um precursor doutrinário de ulteriores ensaios
ditatoriais caseiros, bem como, mais remotamente, dos autoritarismos europeus de entre
as duas grandes guerras, neles incluído o Estado Novo do catedrático Salazar.

Na síntese que faz do niilismo russo, Oliveira Martins presta uma atenção especial ao
papel de figuras revolucionárias femininas, como Vera Zassulitch e Sofia Perovskaia,
observando depois que “os rapazes e os velhos, de mãos dadas com as mulheres [...] são
hoje o grande propulsor do niilismo russo” (pp. 118-119). A observação é curiosa,
porque só fica de fora o segmento dos homens no vigor da idade, e mentirosa, porque
não seria difícil elaborar uma longa lista de narodniki, democratas revolucionários e
terroristas místicos russos desse grupo etário masculino, incluindo o próprio Stepniak, já
trintenário. Mas Oliveira Martins vê na participação feminina em organizações
revolucionárias, que considera aberrante, um sinal particularmente significativo e grave
do que se estava a passar não só na Rússia, como um pouco por toda a Europa.

A culpa desse descalabro russo e, bem vistas as coisas, universal seria do naturalismo,
que “invade os costumes das classes cultas, destruindo a fixidez do matrimónio,
atacando o carácter, pondo na família a libertinagem e, no governo, a corrupção venal”;
e também da “fúria de saber”, essa curiosidade doentia que desorganiza o
desenvolvimento intelectual (p. 117).

E vá de ilustrar com uma história moscovita, colhida em conversa de homens viajados:


“Um amigo meu viu em Moscovo, num livreiro, durante o espaço de meia hora, catorze
meninas do melhor mundo virem sozinhas a uma por uma, sucessivamente, comprar a
Nana de Zola, que acabava de chegar de Paris.” Ora, para Oliveira Martins, “essas
leitoras de Zola e consócios não servem para mães; por isso as escolas regurgitam de
médicas, advogadas e professoras de piano, e várias cousas mais.” Não nos detenhamos
sobre esta insólita relação de causa a efeito nem sobre a total falta de rigor estatístico do
verbo regurgitar. Deixemos Oliveira Martins concluir o trecho sobre os malefícios da
instrução feminina, que só abre à mulher péssimos caminhos: “Sábia, a mulher, por
natureza e condição fraca, ou se prostitui ou enlouquece. Por isso na galeria niilista são
tantas as mulheres” (p. 117). “A mulher é por tal modo feita que, uma vez afastada do
lar e da tutela familiar, ou é como um anjo terrível ou como um réptil imundo” (p. 118).
A famosa máxima de Proudhon, em 1848, rezava assim: “Dona de casa ou cortesã, não
há meio-termo para a mulher”. Para Oliveira Martins, seu discípulo, havia uma terceira
possibilidade: o “anjo terrível”, a revolucionária mística.

Resumindo os considerandos de Martins, o niilismo, feminino ou masculino, russo ou


outro, era o sintoma da “hipertrofia cerebral” de uma sociedade em que “há doutores a
mais”, demasiada gente demasiado educada – uma queixa que não se adequava nada à
realidade portuguesa de então, parecendo mais simples desdém da parte de um altivo
autodidata como Oliveira Martins. Segundo ele, a mania da instrução tomara o freio nos
dentes, tornara-se disfuncional e ia acumulando assustadores efeitos perversos: “Os
rapazes não encontram ocupação, as raparigas não se sujeitam a amamentar filhos desde
que beberam o leite da sabedoria. São todas mestras!” (p. 120). A que situação real de
que país se referiria ele?

“O Reino da Mulher”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1882.

Trata-se da recensão por Oliveira Martins da edição portuguesa do romance O Reino da


Mulher (no original: Il regno della donna), publicado por Cordelia três anos antes. A
tradução era de Maria Amália Vaz de Carvalho.

Oliveira Martins suspeita que sob o pseudónimo de Cordelia se esconde uma mulher
não casada (p. 149), com tudo o que para ele ficava implícito nessa situação. Na
verdade, Virginia Tedeschi Treves (Verona, 1849 - Milão, 1916), de quem este foi o
primeiro de uma longa série de romances assinados pelo mesmo pseudónimo, era
casada com um conhecido editor italiano, de quem tinha pelo menos uma filha. Ora, em
O Reino da Mulher¸ Cordelia defendia o lar doméstico como lugar de eleição da
mulher, conservadora mensagem que manteria em toda a sua obra, o que torna ainda
mais incompreensível a suspeita de Oliveira Martins.

Uma mulher romancista era, claramente, um assunto deprimente para Oliveira Martins,
que não via com bons olhos que as mulheres lessem romances, muito menos que os
escrevessem. Censura aquelas esposas “tolinhas” que, apenas casadas (e nunca antes,
presume-se), ambicionam ler “o romance mais moderno”. Nos romances, assim em
geral, diz ele, só há “paixões podres e devoradoras”. E remata: “Platão expulsava os
poetas da República; eu punha fora do reino da mulher todos os romances.” (p. 151).

Para Oliveira Martins, todavia, o verdadeiro problema começava antes da leitura de


romances, procedendo logo da literacia feminina. “A mulher sábia é detestável” –
proclama ele (p. 152), novamente na peugada de Proudhon, para quem as mulheres
instruídas se revelavam fatalmente “muito mal-educadas”. À mulher, diz Oliveira
Martins, compete sobretudo ignorar: “A grande qualidade da mulher é saber pelo amor,
saber pelo instinto e pelo sentimento aquilo que lhe compete ignorar.” E vá de se apoiar
em D. Francisco Manuel de Melo, que dissera mais de duzentos anos antes a uma
senhora sua amiga: “Ah! Como folgo de a ver ignorar aquilo que não é razão saber! Mas
que verdadeiramente o saiba!” Pois é, concorda Oliveira Martins: “basta que o suspeite
e o adivinhe – essa é a sabedoria feminina”. Sendo assim, talvez nem se devesse ensinar
as mulheres a ler e escrever, mas sobre esse aspecto o atento cientista social omite aqui
dar opinião. É estranho, porque nos anos 1880 e 1890 houve um assinalável crescimento
do ensino primário feminino em Portugal, fazendo descer a altíssima taxa de
analfabetismo feminino para uns menos bárbaros 78% por volta de 1900. Adiante
veremos o que Oliveira Martins pensava do ensino secundário para raparigas.

Oliveira Martins cita repetidamente neste artigo a Carta de Guia de Casados, obra que
também designa abreviadamente como “o Guia”, uma espécie de bíblia (pp. 149-151,
153-154). Se o seiscentista Francisco Manuel de Melo é a grande fonte portuguesa do
patriarcalismo e do antifeminismo de Oliveira Martins, entre os estrangeiros inspirou-se
em Schopenhauer, Michelet e Proudhon, como veremos.

A recensão do inofensivo romance O Reino da Mulher é, para Oliveira Martins, apenas


um tortuoso pretexto para expor as suas próprias ideias sobre a emancipação feminina.
Ele até concorda com Cordelia, quando ela ataca “a tendência de masculinizar o sexo e
a invenção das mulheres-livres: ministros, advogados, médicos, eleitores de saias”. Isto,
“se a saia não for também banida com o sexo!” ‒ receia Oliveira Martins. Mas o
recenseador não está aqui para comentar o “livrinho” de uma senhora italiana, ao qual
de resto concede, com sobranceria, que é “interessante, sem ser propriamente belo, nem
até poético”. O livrinho de Cordelia viera, porém, sem que se perceba muito bem
porquê, “aguçar a irritação de um caturra contra as extravagâncias do seu tempo” (p.
159). O “caturra”, sinónimo de antiquado e quezilento, é ele próprio, Oliveira Martins,
que o confessa com simulado orgulho. Daí o atacar, a despropósito, uma data de coisas
que o romance seguramente não defende nem sequer insinua. À revelia do presumível
conteúdo do livro, vergasta a “promiscuidade celibatária”, a “libertinagem” e o “amor-
livre”. Dá quase a entender ao leitor desprevenido que Maria Amália Vaz de Carvalho
verteu para português um romance pornográfico. Faz, em contraponto, a apologia do
casamento, definido como a verdadeira liberdade para a mulher e para o homem.

Há uma frase em que Oliveira Martins investe valentemente no paradoxo: “A tutela da


esposa, in manu do marido, é a sagração do amor e a emancipação da mulher” (p. 154).
Emancipação sim, mas nas mãos do marido. Lança depois uma pergunta retórica, que
lhe permite bradar a resposta: “Quererá [a mulher] libertar as paixões e estabelecer entre
os sexos, com o amor-livre, a concorrência? Mas o princípio dessa concorrência é a
força, ó mulheres desvairadas.” Se a mulher quer concorrer com o homem, ficará em
maus lençóis, previne-a o seu bom amigo, tratando-a condescendentemente por tu: “As
regras, a prenhez, o parto fazem-te inválida; és enferma por condição, és histérica...”
Mas a mulher não é apenas uma doente, é também fraca por sua natureza: “Por sobre
enferma, a mulher é débil, no corpo, no espírito. O seu valor está no encanto, na sua
beleza, no perfume com que inunda a casa, nos trilos como de ave com que enche o
ninho, nos sorrisos e canduras com que doira a vida comum.” (p. 157). Recapitulando:
inválida, doente por condição, histérica, física e mentalmente débil, compete à mulher
encher o lar de trilos, perfumes, sorrisos e canduras. Se quiser concorrer com o homem,
a mulher será trucidada. Sabemos hoje tratar-se de uma profecia completamente falsa,
arrasada pela história real do século XX.

Daquilo a que chama “amor-livre”, isto é, a liberdade ou franquia da mulher, traça


Oliveira Martins um retrato de abominação. A mulher livre dos laços do casamento, ou
seja, a “estúpida libertina”, é representada como a mais vil prostituta: “Como na Grécia,
abundam entre nós os celibatários e os rebanhos das rameiras. É essa a liberdade?
Medite porém a mulher e veja como esta franquia é miserável. A liberdade de um órgão
único [refere-se ao órgão sexual] é a escravidão de todos os outros – do cérebro antes de
todos os outros, porque a libertina é estúpida. É a liberdade da abjecção, a franquia no
desprezo, a independência na imundície. Sem esposo, sem filhos, aberto o cinto a
qualquer capricho, a mulher é um pária – menos ainda: o vaso torpe das dejecções
seminais.” (p. 158).

Oliveira Martins discorre também sobre o divórcio, que não existia ainda em Portugal:
“Como é deplorável que se considere o divórcio ‘um passo no caminho da liberdade’ e a
emancipação da mulher – ó abismo da toleima! – um ideal do prrogrresso
mooderrnno...” (carregando nos rr). Reconhece, todavia, que num Portugal ainda
resguardado da abominação do divórcio, nem tudo são rosas: “Vivemos, é verdade, num
regime de monogamia temperada pelo adultério e pela prostituição.” E qual seria o
remédio para esses “temperos” da monogamia? O divórcio não o é, porque talvez seja
bom para combater o adultério, mas conduz irremediavelmente à promiscuidade,
sinónimo de prostituição: “Contra o adultério propõem o divórcio – e contra a
prostituição? Pois a promiscuidade é o destino aonde o divórcio conduz.” (p. 159). Mas
onde terá visto Oliveira Martins a defesa do divórcio? Não se sabe, mas no romance de
Cordelia é que não foi.

Maria Amália Vaz de Carvalho – Branco e Negro, n.º 18, 2 de agosto de 1896. Hemeroteca Digital.
“Educação da mulher”, A Província, Porto, 17 de julho de 1886.

É uma recensão do livro Cartas a Luísa de Maria Amália Vaz de Carvalho. Casada com
o poeta Gonçalves Crespo, a escritora, que viveu de 1847 a 1921, foi a primeira mulher
a ingressar na Academia de Ciências de Lisboa. Além de poesias e crónicas, publicou
contos, romances, ensaios e memórias. A sua casa funcionou como um salão literário,
frequentado por numerosas figuras do mundo das letras e das artes.

Numa destas cartas a Luísa, Maria Amália – em quem nunca veríamos uma feminista,
mesmo do género mais conservador – defende a submissão da mulher ao marido e
condena o seu envolvimento na política, mundo que acha reservado aos homens.
Oliveira Martins diz que o livro de Maria Amália é bom e são, “sem ser profundo” (p.
145). E mais adiante, sobre a autora e a sua obra: “Maria Amália prova ser mulher até à
raiz dos cabelos, prova que tem essa faculdade feminina de sentimentalizar tudo, até as
cousas mais áridas e custosas, como o dever e a abnegação.” Compreende-se que a
profundidade lhe estivesse vedada: é coisa de homens que, como se sabe, são alheios a
sentimentalismos.

A mulher é uma doente, escrevera já Michelet. Maria Amália concorda, Oliveira


Martins subscreve e observa que esse “estado de doença constitucional” é inconciliável
com as “miragens de uma suposta liberdade” (pp. 147-148). Do que a mulher necessita,
pois, é de um médico – passe a “grosseria” de o dizer a uma escritora, penitencia-se
Oliveira Martins (p. 147). Antigamente, o médico da mulher era Deus; “hoje o seu
médico e o tutor dessa pupila eterna é o homem: o pai, o marido, o filho. Ai da mulher
que não se submeter, dócil e amoravelmente, a cada um destes médicos nos períodos
sucessivos da sua existência!” (p. 148). Apesar do “hoje”, são flagrantes as semelhanças
com um parágrafo do ancestral código de Manu, livro bramânico bimilenário que
Oliveira Martins, aliás, cita como verdade eterna no seu livro Quadro das Instituições
Primitivas: "Na infância, a mulher depende do pai; esposa, depende do marido; viúva,
depende dos filhos. A mulher nunca deve buscar a independência". Nessa sua esquecida
obra de 1883, bem como, por vezes, já no Sistema dos Mitos Religiosos, de 1882,
Oliveira Martins formulou desenvolvidamente muitas das teses que defende nos artigos
aqui em questão. Várias frases que neles se acham foram transcritas quase textualmente
desses dois livros.

A mulher precisa de um protector, que lhe ensine a submissão e a passividade, porque


de outra maneira a mulher não chegará à “compreensão cega, quase instintiva do
dever”, que lhe permitirá vencer as obrigações, as amarguras e as lutas da vida. Ora “um
tal estado de submissão e passividade só é atingível para esses seres impressionáveis,
doentios, mais ou menos histéricos, seres capazes de inteligência aguda, seres dotados
de encanto e meiguice, menores a que se chama mulheres, quando se deixem levar pela
mão de um protector.” (p. 148).
Oliveira Martins acusa Maria Amália de cometer um erro imperdoável quando chama a
Proudhon o inimigo do sexo feminino. Justifica-se dizendo que Proudhon formulou num
livro este maravilhoso hino à mulher: “Reine de grâce, monte sur l’autel” (rainha de
graça, sobe ao altar). O livro em causa, que o artigo de Oliveira Martins não nomeia, é
De la justice dans la révolution et dans l'église (1860), em cujo terceiro tomo Proudhon
tentou sucessivamente demonstrar a “inferioridade física da mulher”, a “inferioridade
intelectual da mulher” e a “inferioridade moral da mulher”. A frase citada por Oliveira
Martins só aparece no final desse tomo, como uma promessa de restabelecimento da
mulher no seu verdadeiro papel, ou seja, ser venerada num altar, após o desejável
esmagamento da utopia da igualdade dos sexos.

O socialista e autoproclamado “anarquista” Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865),


misógino notório e inimigo assanhado das feministas, foi também autor da obra
apocalíptica La pornocratie, ou les femmes dans les temps modernes, publicada
postumamente em 1875, em que sistematizava a sua visão negra de um mundo segundo
ele dominado pela mulher e pela “volúpia do amor”, uma alegada ideologia feminina
que contaminara muitos homens, a começar por Rousseau. Oliveira Martins, embora
não possamos estar certos que tenha lido La pornocratie, foi visivelmente beber muita
da sua ciência sobre as mulheres às obras de Proudhon. Sem que talvez o tivesse lido,
Fernando Pessoa seguiu mais tarde os seus passos, pois repetiu nos seus escritos íntimos
sobre as mulheres vários temas proudhonianos. António Sérgio apontava em Proudhon
o mestre de Oliveira Martins, que realmente foi, nomeadamente em matéria de
socialismo, como ambos o entendiam. Curiosamente, tal como Proudhon (lembre-se o
pré-fascista Cercle Proudhon, que agremiou gente como Georges Sorel e Georges
Valois, com o beneplácito paternalista de Charles Maurras), também Oliveira Martins
foi postumamente recuperado pelos reaccionários do Integralismo Lusitano e por
ideólogos do Estado Novo (vd. Paulo Archer de Carvalho, “Oliveira Martins na
(re)visão integralista”, Revista da Universidade de Coimbra, vol. XXXVIII, 1999, pp.
185-201).

“Mulheres-homens”, O Repórter, Lisboa, 11 de julho de 1888.

É a primeira parte de um texto que continuará no dia seguinte no mesmo jornal lisboeta,
O Repórter, que Oliveira Martins em 1888 chegou brevemente a dirigir ao mesmo
tempo que A Província, no Porto. Note-se que Oliveira Martins era um autodidata, não
tendo frequentado a universidade nem sequer acabado o liceu, devido à morte do pai
quando tinha apenas 12 anos. Viria a tornar-se um crítico feroz do ensino liceal
(masculino) então existente em Portugal.

Os dois artigos de Oliveira Martins no Repórter de Julho de 1888 são a sua reacção ao
projecto de lei do ministro José Luciano de Castro que promovia a criação de liceus
femininos em Lisboa, Porto e Coimbra. O projecto fora inspirado pelo deputado
regenerador Bernardino Machado, então o grande entusiasta do ensino secundário
feminino em Portugal. Diga-se que Bernardino Machado publicaria dali a semanas, no
mesmo Repórter (3 de Agosto), uma defesa dos “liceus para mulheres”.

Neste primeiro artigo, cujo título entra logo a matar, Oliveira Martins fala do “sintoma
revelador” que foi a decisão do governo de criar liceus de raparigas. Considera que com
o ensino secundário oficial “se estragam já correntemente as gerações masculinas”.
Mandar as raparigas para os liceus seria contribuir para “fazer das mulheres homens.”
(p. 163). E continua: “...essas raparigas parece a muitos necessário e indispensável fazê-
las doutoras e fazê-las médicas, fazê-las pedagogas e fazê-las advogadas. A criação de
uma burguesia de fêmeas é a cousa mais triste e desoladora desta nossa civilização.” (p.
164). Atente-se neste conceito, burguesia de fêmeas, verdadeiro pesadelo oliveirino.

Note-se, de passagem, que não se trata aparentemente, para o agnóstico Oliveira


Martins, de discutir se o ensino feminino deveria ou não ser confiado à Igreja (embora
nesse ano de 1888 tenha ido a terreiro defender os estabelecimentos de ensino jesuítas,
tão bons que até pais livres-pensadores colocariam lá os seus filhos), ao contrário do
deputado promotor da lei, o futuro maçon e republicano Bernardino Machado, que foi
um estrénuo defensor do ensino laico, em particular para as raparigas.

A mulher, lá por ser instruída e poder até ter um curso superior, não seria mais liberta:
“A mulher doutora não é afinal menos serva do que a mulher que na rudeza dos estados
primitivos lavra o campo, enquanto, refastelado ao sol, de papo para o ar, o homem
contempla ociosamente os espaços. Pobres criaturas fracas, infelizes menores do género
humano, a quem a natureza deu a suave e encantadora missão de nos engrinaldarem
com rosas de carinho e amor a vida atormentada!” (pp. 164-165). Dos trilos de 1882,
passamos assim, em 1888, às grinaldas de rosas. Retenha-se a singular periodização
implícita da história feminina: servidão primitiva da mulher, libertação pelo casamento
e pelo patriarcado, retorno à servidão pela instrução.

Oliveira Martins jacta-se, uma vez mais, de ser antiquado em matéria feminina: “neste
nosso modo de ver fóssil e bárbaro” – diz de si próprio, deleitadamente. Em 1882 tinha-
se gabado de ser “caturra”. Hoje declarar-se-ia certamente politicamente incorrecto, o
termo em voga para quem se jacta de ser caturra, bárbaro ou fóssil. “Em vez de se
fazerem doutoras, neste nosso modo de ver fóssil e bárbaro, era melhor fazerem-se
caixeiras, fazerem-se compositoras [tipográficas], fazerem-se boticárias, fazerem-se
tudo, menos essa ridícula contrafacção de homens. O trabalho não afeia a mulher – nem
o homem. O que a afeia, o que dá cabo dessa missão suprema da mulher que é encantar-
nos, o que destrói o seu cunho natural e inevitável – é a paródia da virilidade.” (pp. 165-
166). Curiosamente, o sindicalismo tipográfico da época lutou contra a feminização do
trabalho de composição – que Oliveira Martins aqui admite como um dos poucos
trabalhos adequados para mulheres – com o argumento de que o trabalho feminino, tal
como o infantil, visava o abaixamento geral dos salários, pela concorrência desleal.

Não obstante, a 9 de agosto de 1888 a lei dos liceus femininos foi mesmo publicada. Só
em 1890 se lhe seguiu o “Regulamento dos liceus femininos”, enfim publicado no
Diário do Governo. Mas ficou tudo letra morta: a verba orçamentada em 1890 para a
criação dos liceus femininos foi, inclusive, eliminada em 1892 por um governo de José
Dias Ferreira – por sinal bisavô de uma mulher emancipada que, no início do séc. XXI,
foi ministra das Finanças, dirigente partidária e candidata a primeira-ministra de
Portugal, Manuela Ferreira Leite. José Dias Ferreira justificaria a medida alegando que
os liceus femininos “ainda não foram aceites pela opinião e podem dispensar-se por
agora” (Borges Grainha, A Instrução secundária de ambos os sexos no estrangeiro e em
Portugal, Lisboa, 1905, p. 321). O ministro da Fazenda desse governo que em 1892
eliminou a verba consignada aos liceus femininos chamava-se, note-se bem, Joaquim
Pedro Oliveira Martins e há todas as razões para pensar que terá sido ele o inspirador da
medida. O primeiro liceu feminino em Portugal, o Liceu Maria Pia, só seria criado em
1906, em Lisboa, na Alfama, sendo em 1911 transferido para o Largo do Carmo. Este
liceu mudaria de nome em 1919, para Almeida Garrett, mas em 1926 voltaria a ostentar
um nome feminino – o de Maria Amália Vaz de Carvalho.

“Feminismo”, O Repórter, Lisboa, 12 de julho de 1888.

Continuando com novo título o artigo “Mulheres-homens”, do dia anterior, Oliveira


Martins afirma que a mulher não quer só ser doutora, também deseja meter-se na
política: “Não é só a doutorice, porém, que seduz hoje em dia, por esse mundo fora, o
mulherio mais ou menos irregular, vago e desprotegido que, nas grandes cidades
europeias, enxameia buliçosamente, procurando arranjar-se no meio da concorrência
feroz de uma vida anarquizada. Além da doutorice, é a politiquice.” (pp. 159-160).

A coisa não seria novidade absoluta no mundo, embora mais lhe parecesse uma
anormalidade francesa: “Houve sempre, em todos os tempos, mulheres a quem o
histerismo congénito ao sexo fez Hipácias ou Madames de Staël, Joanas d’Arc ou
Théroignes de Méricourt; e para prova de quanto isto vem de uma disposição mórbida,
basta dizer que é a França, o país nervoso por excelência, que principalmente contribui
para estas extravagâncias.” (p. 160). Repare-se aqui nas expressões “histerismo
congénito” e “países nervosos por excelência”, exemplos dos saborosos psicologismos
oitocentescos com que Oliveira Martins e outras figuras da geração de 70 por vezes
engalanavam o seu preconceito.

Não é que Oliveira Martins defenda as mulheres ociosas, sabendo pelo provérbio e
suspeitando pela observação que a ociosidade engendra o vício. Honra seja feita, pois,
às mulheres que preferem ganhar a vida trabalhando, porque “a defesa do pudor, o
orgulho da virtude, o nojo pela vida airada são um merecimento”. Proíba-se-lhes,
porém, a doutorice e a politiquice: “Mas as que fazem da doutorice e da politiquice uma
reivindicação, nunca! Mas as que pregam a igualdade dos sexos, os direitos da mulher e
outras patetices crónicas nas sociedades caducas; para essas íamos a pedir dois açoites
com toda a meiguice, com todo o carinho, se a Índia não tivesse dito não batas numa
mulher, nem com uma flor!” (p. 160).
A mulher que estuda achar-se-á com capacidade ou direito para votar, receia bem o
sociólogo Oliveira Martins, mas o pior de tudo virá na sequência disso: “E desde que
tenham a faculdade da escolha pelo voto, não se compreende também porque é que,
sendo eleitoras, deixarão de ser elegíveis.” E assim, “num futuro mais ou menos
distante”, chegar-se-ia à suprema abjecção de “parlamentos mistos” (p. 161). As
mulheres contaminadas pela verborreia política! A visão do horror... Mas para lá se
caminhava, pois tudo o que se passava em Paris era logo macaqueado em Lisboa.
Precisamente, estava anunciado na capital francesa, para 1889, “um congresso
internacional de emancipadoras”. Como essas extravagâncias se alastram infalivelmente
às “cidades excêntricas” por efeito de macaqueação, “é natural que daqui por pouco
tenhamos também as mulheres [portuguesas] a pedirem voto, agora que já têm liceu.”
(pp. 161-162). Liceus femininos ainda não havia em Portugal, nem haveria tão cedo,
mas Oliveira Martins não se enganava, a prazo, quanto à reivindicação do voto.

Na hipótese de isso acontecer, diz Martins, seria quase motivo para fazer a essas
feministas uma “surriada estrondosa”, pois elas “vêm reclamar o que nós desdenhamos,
e querem o direito eleitoral, quando nós o desprezamos, como se vê das abstenções
sempre crescentes” (p. 162). Assim pensava o sociólogo organicista que desprezava o
voto “inorgânico”, opondo-lhe a representação corporativista dos interesses sociais, que
supostamente haveria de temperar o sistema partidarista.

A finalizar, e como que temendo o desperdício dos seus argumentos sisudos em


polémica com as emancipadoras do género feminino, Oliveira Martins desembainha a
arma da troça misógina. Se calhar não era má ideia dar o voto às mulheres:
“Experimentem, minhas senhoras! E, quem sabe, talvez arranjem isso melhor do que
nós, porque a língua foi sempre um dos fortes da mulher” (p. 162). Décadas depois, o
misógino e antifeminista Marinetti defenderia, surpreendentemente, que as mulheres
fossem eleitoras e elegíveis, com o curioso argumento de que seria essa a melhor
maneira de desprestigiar definitivamente o odiado parlamentarismo (veja-se o seu
manifesto intitulado Contra o Amor e o Parlamentarismo, de 1910).

Note-se que o artigo “Feminismo”, mas sem o seu título original, foi republicado no dia
seguinte, 13 de julho, no jornal portuense A Província, juntamente com dois artigos de
outros autores, transcritos de jornais lisboetas, todos sob o título comum de “Instrução
Feminina”. A 14 de Julho, o mesmo diário portuense publicou, ainda a propósito da
“criação dos liceus para raparigas” e sob o título “A mulher”, um excerto do célebre
ensaio “Sobre as mulheres” do filósofo misógino Arthur Schopenhauer (publicado em
1851 na sua miscelânea de ensaios Parerga und Paralipomena). Suspeita-se da mão
escondida de Oliveira Martins, ainda director d’A Província. O jornal, ainda assim,
adverte em preâmbulo que o filósofo alemão “tinha a sua pontinha de telha”, mas que
isso “não lhe invalidava, na maioria dos casos, o bom senso prático e o profundo
conhecimento das cousas e das pessoas.”
*

Em jeito de balanço, podemos observar que o feroz antifeminismo que Oliveira Martins
evidencia nestes textos era muito mais do tipo preventivo do que reactivo, num país em
que o movimento feminista praticamente ainda não tinha posto o pé, a instrução pública
da mulher dava os primeiros passos, o divórcio ainda tardaria mais de vinte anos a ser
legalizado e a chamada emancipação não passava de sonho utópico de uma escassa elite
feminina urbana e letrada. Certamente que, aterrado com a “doutorice” e a “politiquice”
femininas que começavam a surgir por essa Europa, Oliveira Martins desejava alertar as
consciências nacionais, no interesse de se poupar Portugal a semelhantes extravagâncias
ou, ao menos, retardá-las o mais possível, caso fossem inevitáveis (ele não achava que o
fossem). Não deixa, contudo, de ser intrigante a fúria com que o sociólogo arremetia
contra qualquer tímido desejo de melhoria da condição social feminina, que ele via
como um plano inclinado para a libertinagem. Oliveira Martins morreu jovem, em 1894,
com 49 anos. Se tivesse vivido até aos 60 ou 70 anos, não teria certamente deixado de
trovejar contra as suffragettes inglesas do início do séc. XX ou contra as primeiras
organizações feministas que surgiram em Portugal, a legislação republicana de família,
a lei do divórcio ou a reivindicação de voto feminino. Em 1911, teria assistido ao
desolador primeiro voto de uma “doutora” em eleições portuguesas, quando a médica
Beatriz Ângelo conseguiu em tribunal conquistar o seu direito de voto, que a lei não
concedia expressamente às mulheres, mas ainda não lhes negava.

Influenciado por vários pensadores antifeministas, Oliveira Martins foi dos primeiros a
escrever sobre o feminismo em Portugal, ao tempo do aparecimento desse neologismo
no panorama nacional. Os cinco artigos aqui passados em revista, escritos na plena
maturidade do autor, foram, todavia, precedidos por muitas outras considerações,
dispersas pela sua vasta obra, sobre a família, a questão feminina, a libertação ou
emancipação da mulher e a alegada decadência do casamento. Veja-se a sua posição
sobre alguns desses temas já em 1873, com 28 anos de idade, na polémica que manteve
com Júlio de Vilhena (editada postumamente em livro com o título A Idade Média na
História da Civilização, em 1925), em que Oliveira Martins culpava o “feminismo
cristão” de ter destruído as estruturas, para ele modelares, da antiga família romana. Dez
anos depois, no atrás já citado Quadro das Instituições Primitivas, Oliveira Martins
aborda de modo mais sistemático esses tópicos (veja-se o livro I, intitulado “A família”,
muito em particular os capítulos “Sagração da esposa”, “O templo doméstico” e as
“Conclusões”). O que ressalta de todos estes textos é como as posições de Oliveira
Martins sobre a família e o papel nela da mulher e do homem casam perfeitamente com
a sua filosofia política organicista, as suas ideias corporativistas e a sua defesa das
tradições nacionais, do autoritarismo e da ditadura.

Contrariamente a Proudhon, Michelet, Barbey d’Aurevilly e outros autores, para nos


ficarmos pelos patriarcalistas franceses, Oliveira Martins não deixou uma obra
especificamente dedicada à questão feminina ou à refutação do feminismo, mas apenas
escritos esparsos ou trechos de livros. A isso não terá sido alheio o facto já referido de,
no panorama social e cultural português da época, não haver ainda razões prementes
para motivar tal empreendimento. As vagas de antifeminismo aparecem, por regra,
como reacção a prévios movimentos feministas ou avanços da condição da mulher. O
único motivo que o poderia ter incitado a escrever tal obra foi a questão dos liceus
femininos, mas, uma vez aprovada a lei que os criava, em 1888, a sua realização foi
posta de lado pelos governos subsequentes durante dezoito anos – graças também, como
se disse, à acção de Oliveira Martins como ministro da Fazenda do governo de José
Dias Ferreira.

Para além da influência das leituras dos mestres, que outras motivações, eventualmente
enraizadas na sua personalidade, educação e vivência pessoal, terão levado Oliveira
Martins a assumir posições tão extremas, singulares mesmo na sua geração e no seu
meio, contra a alegada ameaça da emancipação feminina? Aqui só poderíamos
embrenhar-nos em conjecturas, que contemplariam a hipotética idealização pelo jovem
Oliveira Martins de um modelo de feminilidade decalcado sobre o paradigma da sua
mãe, a quem se sabe que foi sempre fortemente ligado, mais ainda, presumivelmente,
quando ela enviuvou cedo. Consideraríamos também traços do seu carácter fortemente
autodisciplinado e sisudo (“não era pessoa de risos, desde pequeno”, segundo uma
cronista da família), dotado de um exacerbado sentido do dever e, sobretudo, de
“vigorosos instintos morais”, nas palavras de Moniz Barreto em Oliveira Martins:
Estudo de Psicologia (1892). Marcou-o, no começo da adolescência, o facto de ter
ficado órfão de pai e de ser compelido a abandonar o liceu e ir trabalhar, cultivando-se
por si próprio e fazendo-se precocemente adulto e marido (casou com 19 anos). Na
concepção oliveiriana do amor só entravam, segundo o citado Moniz Barreto, dois
elementos: o instinto animal (algo de “inferior”) e a compaixão. Oliveira Martins
entronizava esta última, que decorria da sua visão da mulher como “um ente digno de
piedade e necessitado de protecção”. E Moniz Barreto observa aqui, sem carregar muito
nas tintas: “Alguma coisa de viril e triste caracteriza esta concepção”.

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Para citação deste texto:

José Barreto, “Oliveira Martins contra a emancipação feminina”, 2016. Acessível em:

https://www.academia.edu/36693109/Oliveira_Martins_contra_a_emancipação_feminina

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