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Profissional Documentos
Cultura Documentos
ao
consumo
de
substâncias
psicoativas
Um guia prático
para educadores e
profissionais da saúde
Ronaldo Laranjeira
Realização
Prefeitura Municipal de Santos – PMS
Prefeito Beto Mansur
Apoio de Governo
Secretaria de Comunicação – SECOM
Secretario Tom Barboza
Coordenação Científica
Dr. Marcelo Ribeiro
Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD - UNIFESP)
Marcelo Ribeiro
Psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo
Diretor-Clínico da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD - UNIFESP
Ronaldo Laranjeira
Psiquiatra, Doutor em Psiquiatria pela Universidade de Londres
Professor-Doutor da Universidade Federal de São Paulo
Coordenador-Geral da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD - UNIFESP
Colaboradores
Neliana Buzzie Figlie
Psicóloga, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo
Coordenadora do Projeto Independência de Prevenção de Álcool e Drogas nas Escolas
Coordenadora do Ambulatório de Uso Nocivo e Dependência de Álcool da UNIAD - UNIFESP
Alessandra Bonadio
Psicóloga, Especialista em Dependência Química pela UNIAD-UNIFESP
Coordenadora do Núcleo de Reabilitação da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
Andrezza Fontes
Psicóloga, Especialista em Dependência Quimica pela UNIAD-UNIFESP
Psicóloga do CUIDA / UNIAD - UNIFESP
TEXTO
INTRODUÇÃO 1
DEPENDÊNCIA QUÍMICA 5
O PAPEL DE CADA UM 12
PREVENÇÃO 14
PREVENÇÃO NAS ESCOLAS 19
ACONSELHAMENTO 26
TRATAMENTO 36
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL 38
POLÍTICAS PÚBLICAS 39
CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 41
ÁLCOOL 42
INALANTES 44
OPIÁCEOS 46
CALMANTES 48
NICOTINA 50
COCAÍNA 52
ANFETAMINAS 54
ECSTASY 56
MACONHA 58
LSD & SIMILARES 60
ANTICOLINÉRGICOS 62
CLUB DRUGS 64
ESTERÓIDES ANABOLIZANTES 66
CONCLUSÕES 68
LEITURA RECOMENDADA 70
Marcelo Ribeiro
Coordenador Científico
habilidades sociais.
(quadro 1).
* Expectativa positiva quanto aos efeitos das
substâncias psicoativas.
As ações destes fatores, conforme
aparece na figura 1, se influenciam SOCIAIS
6
Esta interação determina a evolução do consumo de substâncias em
andamento. É importante ressaltar que nunca um fator de risco isolado
leva à dependência. Ninguém se torna dependente por um único motivo:
é preciso que uma constelação destes fatores haja sobre a história de
uso a fim de conduzi-la ao abuso ou à dependência.
PADRÃO DE CONSUMO
Ficou claro então que a partir de fatores ligados ao indivíduo (biológicos
e psicológicos), à natureza da substância e ao ambiente sócio-cultural,
cada um desenvolve um padrão de consumo de substâncias (figura 2).
Nenhum padrão de consumo de substâncias psicoativas está isento de
riscos (figura 3). Desse modo, o consumo de álcool em baixas doses e
cercado das precauções necessárias para a prevenção de acidentes é
considerado um consumo de baixo risco. O consumo eventual quase
diversas áreas de
dependência sua vida foram
atingidas
dependência
tem problemas
uso
abuso quando
abusivo
consome
Quadrante II Quadrante I
CONSUMO EVENTUAL CONSUMO EM ALTAS QUANTIDADES
ALTA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS ALTA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS
intensidade do consumo
AUMENTO DA TOLERÂNCIA
se menos sensível aos seus efeitos e o organismo destrói e elimina as mesmas com mais
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
neutralizar a ação das substâncias sobre om mesmo. Desse modo, quando o consumo
não consome substâncias apenas visando ao prazer, mas principalmente para evitar sintomas
de mal-estar.
SALIÊNCIA DO USO
Com o passar do tempo, o consumo de drogas vai se tornando mais importante do que
REINSTALAÇÃO DA DEPENDÊNCIA
É o rápido retorno dos sintomas listados acima, quando após um período de abstinência o
GRAVIDADE DA DEPENDÊNCIA
Todas as substâncias psicoativas podem levar ao uso nocivo ou à
dependência. Os critérios diagnósticos são claros e objetivos. Mas não
basta detectá-los. É preciso também investigar a gravidade dos mesmos,
pois como já foi dito, cada um tem fatores de risco e padrões de consumo
distintos. Além disso, o uso problemático pode estar acompanhado por
transtornos psiquiátricos, tais como depressão, ansiedade, sintomas
psicóticos e transtornos de personalidade.
ESCOLA
BOM FACULDADE FORMATURA
DESEMPENHO
ESCOLAR
CONSUMO DE ÁLCOOL
TRABALHO
PRIMEIRO EMPREGO MAIS
PROMOÇÃO
EMPREGO QUALIFICADO
CRIMINALIDADE
15 18 20 23 28 32
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS
15 18 20 23 28 32
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS
CENTROS DE EXCELÊNCIA
PESQUISA, ENSINO & TRATAMENTO
INTERNAÇÃO
PROLONGADA
ENFERMARIAS
CLÍNICAS DE TRATAMENTO
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DE
DESINTOXICAÇÃO
AMBULATÓRIO UNIDADE
ESPECIALIZADO COMUNITÁRIA
ÁLCOOL & DROGAS ÁLCOOL & DROGAS GRUPOS DE
AUTO-AJUDA
UNIDADE
COMUNITÁRIA
HOSPITAL-DIA AMBULATÓRIO
DE
SAÚDE MENTAL SAÚDE MENTAL DE
SAÚDE MENTAL
HOSPITAL DE
ESPECIALIDADES HOSPITAL GERAL
PS & ENFERMARIAS PS & ENFERMARIAS
AMBULATÓRIOS
AMBULATÓRIOS DE CADEIAS UNIDADES PARA
EMPRESAS ESCOLAS GERAIS ESPECIALIDADES ALBERGUES E MENORES
PRISÕES INFRATORES
precoces e persistentes.
Informações sobre as principais
* Fracassos acadêmicos
substâncias, seus riscos e
* Vínculos escolares precários
complicações por meio de palestras * Rejeição por colegas desde a infância
foram bastante difundidas. Tal ação * Associação com colegas que consomem
* Alienação e rebeldia
isolada, porém, mostrou-se ineficaz.
* Atitudes favoráveis ao consumo
Crianças tornadas adolescentes
* Início precoce do consumo
possuíam um bom conhecimento
(*)
Hawkins JD, Catalano RF, Miller JY.
sobre o tema, mas os índices de Risk and protective factors for alcohol and
consumo permaneciam os mesmos. other drug problems in adolescence and
early adulthood: implications for substance
Isso fez com que os agentes de abuse prevention. Psychological Bulletin
1992; 112 (1), 64-105.
saúde concluíssem que estratégias
de prevenção bem-sucedidas
precisam ser combinadas, para alcançarem as metas pretendidas.
INDIVÍDUO
gênero, idade, grupos de convívio,
etnia, metabolismo & adaptações
cerebrais, características psicológicas
AMBIENTE AGENTE
tipo de droga, via de administração,
pré-natal, família, colegas, vizinhança,
efeitos agudos e crônicos, potencial
disponibilidade, nível e estrutura
de abuso, freqüência do uso
sócio-econômica
Figura 6: O modelo de saúde pública é o paradigma das ações preventivas. Ela considera
as interações entre os fatores de risco e proteção a partir de três vértices: o indivíduo, a
substância psicoativa e o ambiente sócio-cultural.
3. Estratégias preventivas devem incluir treinamento de habilidades sociais para lidar com a
5. Programas de prevenção deve incluir os familiares sempre que possível. Programas que
envolvem também a família são mais eficazes do que os que atingem o adolescente ou a
família isoladamente.
seus familiares.
comunidade.
10. Quanto maior o risco da população-alvo em questão, mais intensivo e precoce deve ser o
esforço preventivo.
11. Programas de prevenção devem ser específicos para a idade, apropriado para a fase do
Relacionamento familiar
Fortalecer os fatores de proteção entre crianças pequenas, ensinando
aos pais habilidades para melhorar a comunicação dentro da família e
instituir regras familiares consistentes. Os pais precisam ter participação
na vida dos filhos (falar com eles sobre drogas, participar de suas
atividades, conhecer seus amigos, compreender seus problemas e
preocupações).
O ambiente escolar.
Estimular e apoiar desempenho acadêmico e o estreitamento dos laços
entre a escola e o aluno, oferecendo a eles maior identidade e capacidade
de realização e reduzindo a probabilidade de abandono escolar.
O ambiente comunitário.
Trabalhar no nível comunitário com organizações civis, religiosas, de
execução de leis e políticas públicas governamentais buscando mudanças
na regulamentação política, esforços de mídia de massa e programas
comunitários amplos. Os programas comunitários devem incluir novas
leis e melhoria das anteriores, restrições à propaganda e zonas escolares
sem droga - todas desenhadas para oferecer um ambiente seguro e
voltado para interações comunitárias.
COMPLICAÇÕES
• CLÍNICAS
USO
PROBLEMÁTICO • PSICOLÓGICAS
• ABUSO • SOCIO-ECONÔMICAS
• DEPENDÊNCIA • TRABALHO
INÍCIO
• ESCOLARIDADE
• IDADE • RELACIONAMENTOS
• MOTIVOS • CRIMINALIDADE
• CONTEXTO • MORTALIDADE
ABANDONO OU REDUÇÃO
(ESPONTANEAMENTE)
Figura 7: A história natural do consumo de drogas. Boa parte dos usuários começa a consumir
substâncias psicoativas durante a adolescência. A maioria abandona ou reduz o consumo
espontaneamente com a chegada da idade adulta. Outra parte evolui para problemas como
o uso nocivo e a dependência, que poderão conduzi-los a complicações biológicas,
psicológicas e sociais. O processo de tratamento é marcado por recaídas e retornos ao
consumo. Ainda assim, todo o dependente é capaz de atingir a abstinência ou reduzir danos
relacionados ao consumo.
aplicadas de maneira
EDUCAÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
combinada. O modelo do Baseado em aulas sobre a ação e conseqüência das
amedrontamento, baseado na drogas, procurando a informação técnica e imparcial.
órgãos deformados e
TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS
dependentes depressivos, tem Pretende, através da melhora das competências
se mostrado ineficaz e deve sociais tornar o jovem mais apto para enfrentar
dificuldades.
ser desencorajado. A
educação voltada para a saúde PRESSÃO DE GRUPO POSITIVA
Formação de líderes capazes de influenciar seus pares
e a qualidade de vida enseja os
para a evitação ou abandono do consumo de drogas.
preceitos do modelo de saúde
pública, sendo por isso o mais EDUCAÇÃO AFETIVA
Entende que jovens emocionalmente saudáveis têm
indicado. Este pode ser
menos riscos de uso problemático de substâncias. .
combinado a outros modelos
(quadro 6). OFERECIMENTO DE ALTERNATIVAS
Pretende oferecer alternativas interessantes e
saudáveis ao consumo de substâncias psicoativas.
É preciso ser flexível na
escolha das estratégias, AÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR
Sugere a escola como aglutinador da comunidade,
considerando a opinião dos família e alunos, favorecendo práticas saudáveis e
membros da comunidade protetoras.
Diagnóstico
O diagnóstico tem por função apresentar à equipe as dimensões atuais
do problema. Ele pode ser feito a partir de levantamentos
epidemiológicos, por meio de questionários anônimos e/ou grupos de
discussão com os alunos, reuniões com pais e líderes comunitários,
além de outras ações.
Monitoramento e avaliação
Nenhum projeto tem valor se seus
resultados não puderem ser
AÇÕES
mensurados, visando à observação PERMANENTES
de falhas, sucessos ou necessidade
de melhorias. Desse modo, a
equipe deve escolher alguns Figura 8: A implantação de um projeto de
prevenção na escola deve começar pela
parâmetros, tais como redução dos construção de uma equipe permanente e
capacitada. O planejamento das ações
incidentes com drogas nas escolas, mistura modelos bem-sucedidos com o
maior proximidade dos alunos com talento e a criatividade dos membros da
comunidade escolar, inclusive os alunos.
os professores, melhoria no Todas as ações devem ser constantemente
monitoradas. Ações permanentes devem ser
relacionamento entre os alunos e instituídas.
entre estes e suas famílias e assim
por diante. Ao final, ações permanentes, tais como programas
curriculares, grupos de discussão, debates ou formação de
multiplicadores devem ser instituídas, com o respaldo de toda
comunidade escolar.
A seguir, algumas ações que podem ser trabalhadas com os alunos em sala de aula,
dentro de programas estruturados pela comunidade escolar.
PROPOSTA DE AÇÕES:
Levar à reflexão :
Informando, desenvolvendo diálogo, definindo limites e resgatando valores
AÇÕES COMPLEMENTARES:
Ações de cidadania
Debates e aprofundamentos sobre os encaminhamentos do Conselho Municipal
Antidrogas, formação de alunos como agentes multiplicadores das informações,
elaboração de regras estabelecidas em conjunto (alunos & Escola)
A FAMÍLIA E A ESCOLA
A família e a escola são espaços onde as experiências das crianças e jovens
são construídas e o papel de ambas embora diferentes, têm em comum a
atitude acolhedora, de inclusão, e observadora de qualquer alteração de
comportamento.
Desse modo, boa parte dos profissionais acabam optando por discursos
distanciados, frios e polarizados: excessivamente moralistas e
autoritários ou demasiado omissos e permissivos. Esquece-se nessa
hora de que existem vínculos de amizade, de parentesco ou institucionais
que permitem diálogos mais francos, personalizados e objetivos. Na
maior parte das vezes, a conversa com um aluno, funcionário ou colega
sobre consumo de drogas não deve ser pautada pela oferta de respostas
e conclusões. Deve, sim, ser um momento para a reflexão, visando a
busca conjunta de soluções objetivas para o problema.
entender que qualquer indivíduo O indivíduo não cogita a mudança. Essa fase é
marcada pela resistência a qualquer orientação.
ao longo da vida passa por
estágios de mudança (quadro 9). CONTEMPLAÇÃO
O indivíduo reconhece o problema (atual ou futuro)
Esse conceito também se aplica
relacionado ao consumo, até cogita a necessidade
aos usuários de substâncias de mudar, mas também valoriza os efeitos positivos
psicoativas. da substância e o quanto gosta e precisa dela.
Uma fase marcada pela ambivalência.
(ação) e começa a se
programar para se
RECAÍDA
CONTEMPLAÇÃO
manter abstinente
(manutenção). A
ambivalência, porém,
PREPARAÇÃO RECAÍDA
sempre o acompanha e
somada aos fatores de
PRÉ-
risco aos quais está CONTEMPLAÇÃO
RECAÍDA
exposto, pode culminar
no retorno ao consumo
MANUTENÇÃO
(recaída).
PRÉ-
CONTEMPLAÇÃO AÇÃO
A recaída é parte CONTEMPLAÇÃO PREPARAÇÃO
integrante do processo de
mudança: mais de 70% Figura 9: O espiral da motivação. A maneira como
dos usuários recaem nos usuário de subtâncias psicoativas considera a
mudança evolui tal qual um espiral: do estágio
primeiros noventa dias de onde não cogita a mudança, passando pela
ponderação dos prós e contras, chegando à
abstinência. Trata-se de preparação, ação e manutenção da abstinência. A
uma etapa crucial: a par- todo instante, a recaída é sempre possível e
normalmente se repete ao longo do processo de
tir dela, o usuário pode mudança. A partir da recaída, o indivíduo pode
retornar a qualquer um dos estágios anteriores, o
retornar a qualquer uma que torna importante uma pronta intervençaõ por
das fases anteriores. Por parte dos profissionais nesse momento.
Uma boa orientação deve seguir três preceitos: [1] identificar claramente
o problema ou situação de risco, sem exagerar ou minimizar; [2] explicar
porque a mudança é importante; [3] propor mudanças específicas,
ajudando o indivíduo a escolher o melhor caminho.
percebe o quanto tem estado clima empático, lhes permite recebê-los com
mais tranqüilidade.
ansioso, irritado, sua vida
desorganizada e seu tempo mal AUTO-EFICÁCIA
exemplo: o aluno foi pego não precisa ‘ouvir verdades’ ou ‘ser convencido’,
mas sim refletir sobre o problema.
bebendo no bar da esquina da
escola. Após a conversa, entre as ROTULAÇÃO
Não há nada mais contraproducente do que rotular
hipóteses e dificuldades
alguém. Muitas vezes, a pergunta “eu sou um
levantadas, estava a sensação do drogado?”, “sou um viciado?” parte do próprio
aluno de que os pais nunca entrevistado. Responder só aumenta a resistência,
além de não ser importante para o curso da
entenderiam se fossem
intervenção. Você não está lá para dizer a ele o
comunicados do ocorrido. Talvez que ele é, mas para ajudá-lo a resolver uma
relacionamento em casa vai indo descobrir, até porque não há culpados, mas pode
haver pessoas dispostas a assumir a
são importantes diferenciais para responsabilidade de resolver um problema atual.
o sucesso das intervenções.
Figura 10: Em cada estágio motivacional há algum grau de resistência e ambivalência quanto à mudança. Ambas, no entanto, são influenciáveis. Desse
modo, as estratégias motivacionais procuram fluir com a resistência e valorizar os aspectos positivos da mudança. O profissional, no entanto, precisa
estar sempre atento para as condutas que aumentam a resistência, fazendo com que os indivíduos optem pela permanência do comportamento atual.
34
O ACONSELHAMENTO A
QUADRO 12: AS ABORDAGENS DE ACORDO
PARTIR DOS ESTÁGIOS
COM O ESTÁGIO MOTAVACIONAL VIGENTE.
MOTIVACIONAIS
O aconselhamento deve PRÉ-CONTEMPLAÇÃO
Essa é uma fase onde não há espaço para
respeitar o estágio motivacional
soluções, mas para reflexão, muitas vezes de
de cada indivíduo (quadro 12) e assuntos que o indivíduo não relaciona com o uso
Internação
Internação
Prevenção Internação
Redução
dirigida
de danos
COMPLICAÇÕES
psicoterapia • CLÍNICAS Outros
Prevenção USO médicos
dirigida PROBLEMÁTICO • PSICOLÓGICAS
• ABUSO • SOCIO-ECONÔMICAS
• DEPENDÊNCIA • TRABALHO
INÍCIO
• ESCOLARIDADE
• IDADE • RELACIONAMENTOS
Reabilitação
• MOTIVOS psicossocial • CRIMINALIDADE
• CONTEXTO • MORTALIDADE
Prevenção
dirigida ABANDONO OU REDUÇÃO
(ESPONTANEAMENTE)
Figura 11: O processo de tratamento. Essa figura não é um roteiro de condutas de tratamento. Apenas ilustra a diversidade de estratégias de
abordagens, cuja existência os educadores e outros profissionais precisam saber. No geral, os casos de dependência são tratados ambulatorialmente.
Frente à recaída, pode-se considerar tanto permanência neste ambiente ou quanto internações focais. Internações longas são exceção. Os que continuam
consumindo podem receber de redução de danos ou indicação de internações compulsórias (doenças psiquiátricas, ameaça a si ou a terceiros,...).
Melhorar o aporte social (moradia assistida,...) e promover a reabilitação psicossocial são etapas essenciais para o sucesso da abordagem escolhida.
Tais instituições podem, ainda, buscar uma interação maior com sua
comunidade, extrapolando sua função instituída para tornar-se também
uma referência local de cultura, lazer, participação política e cidadania.
Ao serem incorporadas e adotadas pela comunidade local, tais espaços
contribuem para o fortalecimento do indivíduo, para aperfeiçoamento de
suas habilidades sociais e práticas, redução do estigma e discriminação
e para a criação de um suporte social mais duradouro.
Desse modo, toda escola e empresa devem possuir uma política clara
acerca do assunto. Por exemplo, como as escolas se posicionam quanto
ao consumo de tabaco pelo corpo docente, discente e de funcionários
administrativos? Quanto aos bares que circudam os locais de ensino, o
que poderia ser feito para conscientizar seus donos a não venderem
álcool para os alunos (em sua maioria menores de idade)? Como se
posicionar quando alguém chega para as atividades alcoolizado ou sob
efeito de outras drogas?
Além disso, qualquer instituição integra uma rede social mais ampla,
cujos rumos são decididos dentro das casas legislativas nos diversos
níveis. Participar da sociedade civil organizada que reivindica leis mais
claras e viáveis para regulamentar a taxação e a venda de álcool e tabaco
também reforça o papel destas instituições como referências comunitárias
e fortalece a postura adotada internamente no tocante ao consumo de
substâncias psicoativas.
As substâncias psicoativas
FARMACOLÓGICA NO CÉREBRO.
CLASSIFICAÇÃO
DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO
Atuam inibindo globalmente o funcionamento do
Substâncias com potencial de
sistema nervoso central, provocando sonolência,
abuso são aquelas que podem relaxamento muscular e incoordenação motora.
desencadear no indvíduo a auto- Álcool, inalantes, ópio e derivados (heroína,
Dolantina, metadona), calmantes
administração repetida, que
(benzodiazepínicos e barbitúricos)
podem resultar em compulsão
e sintomas de abstinência.
ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO
Atuam estimulando globalmente o funcionamento
Tais substâncias podem ser do sistema nervoso central, provocando aumento
AÇÃO NO CÉREBRO
O álcool ingerido é absorvido rapidamente por qualquer mucosa do trato
gastrintestinal (da boca ao intestino). No cérebro, começa atuando como
ansiolítico, provocando um quadro de euforia e bem estar. O aumento
da dose, porém, leva à depressão do sistema, causando sonolência.
sedação, incoordenação motora e relaxamento muscular. Doses
extremamente elevadas podem levar ao coma.
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
Inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Os
tremores de extremidade e lábios são os mais comuns, associados a
náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos mais
graves evoluem para convulsões e estados confusionais, com
desorientação temporal e espacial, falsos reconhecimentos e alucinações
auditivas, visuais e táteis (delirium tremens).
AÇÃO NO CÉREBRO
A ação dos solventes é pouco conhecida, tendo em vista a variedade de
produtos existentes e a freqüente associação entre solventes e poliabuso.
Clinicamente funcionam como depressores centrais. Seus efeitos
intensos e efêmeros determinam um padrão de uso marcado por vários
episódios de consumo de modo continuado (rush).
INTOXICAÇÃO AGUDA
Atrofias cerebrail e cerebelares são possíveis em usuários crônicos,
produzindo sintomas de empobrecimento intelectual e incoordenação
motora permanentes. A benzina é metabolizada pelo fígado, que a converte
em substâncias capazes de causar danos aos nervos periféricos. Isso
provoca quadros de anestesia, dor e perda da força muscular nos
membros. Pode haver ainda insuficiência renal crônica, hepatites tóxicas,
complicações gastrointestinais (náuseas, vômitos, dores abdominais
difusas e diarréia) e respiratórias (pneumonites químicas, tosse,
broncoespasmos,...).
AÇÃO NO CÉREBRO
O cérebro produz substâncias opióides, responsáveis pela modulação
do prazer e da dor. Os derivados do ópio agem justamente sobre esse
sistema. Quando consumidos de forma prolongada, acabam provocando
desequilíbrios no sistema opióide cerebral, evoluindo com tolerância e
síndrome de abstinência.
dependência. * Diarréia
* Dilatação das pupilas (midríase)
* Espasmo e dor muscular
Uma vez instalada, síndrome * Aumentos dos batimentos cardíacos
aparece poucas horas após a * Febre e calafrios
EFEITOS AGUDOS
A redução da ansiedade é o efeito procurado por aqueles que utilizam
BDZ. No entanto, qualquer modo de consumo traz como efeitos colaterais
algum prejuízo da atenção e da memória. Isso pode piorar o desempenho
na escola e no trabalho, bem como expor os usuários a acidentes
automobilísticos ou no manuseio de equipamentos.
DANOS À SAÚDE
SINTOMAS FÍSICOS
O consumo por muitos anos de BDZ * Tremores
EFEITOS AGUDOS
A nicotina é um estimulante leve do cérebro. A absorção ocorre pelos
capilares do pulmão ou pela
mucosa da boca, atingindo o
QUADRO 22: EFEITOS AGUDOS DO
sistema nervoso central pela
CONSUMO DE NICOTINA
circulação sanguínea.
* Aumento da vigília
Nos primeiros episódios de uso, * Elevação discreta dos batimentos
cardíacos
alguns efeitos como náuseas,
* Elevação discreta do humor
tonturas e o formigamento
* Diminuição do apetite
sobressaem, para depois * Sensação de relaxamento
desaparecerem. Após o
desenvolvimento de tolerância aos efeitos desagradáveis, o consumo
produtos produz aumento do estado de vigília e uma elevação discreta
do humor, com sensação de relaxamento (quadro 22). Esses efeitos
prazerosos tendem a diminuir, conforme o consumo vai se repetindo,
até o surgimento da dependência.
DANOS À SAÚDE
O consumo de cigarro causa contração arterial e facilita o surgimento
de placas de gordura, predispondo o usuário à hipertensão, infartos do
miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (derrames). Atua nos
alvéolos pulmonares, levando à destruição e substituição dos mesmos
por cavidades aéreas incapazes de realizar trocas gasosas (enfisema).
Está associado a doenças como bronquites, asma, infecções das vias
aéreas. Aumenta o risco de câncer em diversos órgãos, tais como
pulmão, garganta e estômago. Aumenta a acidez gástrica, predispondo
o aparecimento de gastrites e úlceras.
23).
COCAÍNA REFINADA (“PÓ”)
Produto final do refino da cocaína, inalada
A rapidez do pico de ação, a ou diluída em água para uso endovenoso.
aceleração do pensamento,
EFEITOS PSÍQUICOS
inquietação, aumento do estado de * Euforia e bem-estar
vigília e inibição do apetite. As * Aceleração do pensamento e curso da
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA E
EFEITOS FÍSICOS
SENSIBILIZAÇÃO
* Aumento da reqüência cardíaca e da
Dois fenômenos se desenvolvem a pressão arterial
partir do uso continuado: a * Elevação da temperatura corpórea
* Aumento do ritmo intestinal
síndrome de abstinência,
* Tremores
marcada por fissura , ansiedade,
* Aumento do tônus muscular
inquietação, irritabilidade e piora da * Dilatação da pupila
concentração e sensibilização, * Sudorese
DANOS À SAÚDE
A via de administração da cocaína pode causar uma série de danos, tais
como [inalada] sangramentos e destruição da mucosa nasal, [fumada]
lesões térmica, fibrose e pneumonias, [injetável] infecções de pele,
endocardites (infecções das válvulas cardíacas), abscessos pulmonares
e cerebrais, infecção pelos vírus da hepatite e do HIV.
quadro semelhante ao da
EFEITOS PSÍQUICOS
cocaína (quadro 26). Efeitos * Euforia e bem-estar
indesejáveis, tais como * Aceleração do pensamento e curso da
EFEITOS AGUDOS
QUADRO 27: EFEITOS AGUDOS DO
Sua ação desencadeia um quadro
CONSUMO DE ECSTASY
de euforia e bem-estar, sensação
de intimidade e proximidade com * Euforia e bem-estar
* Desinibição e fala solta
os outros. Outros sintomas são
* Aumento da libido
anorexia, taquicardia, tensão * Sensação de proximidade com
maxilar, bruxismo e sudorese. os outros.
* Sintomas de ansiedade e pânico
Sintomas ansiosos, depressivos
* Persecutoriedade
e psicóticos podem aparecer, * Aumento do trabalho cardíaco
especialmente em indivíduos * Elevação da temperatura do corpo
predispostos a estas doenças. * Dilatação das pupilas
As principais complicações
ameaçadoras à vida relacionadas
ao consumo de ecstasy são hipertensão, edema agudo de pulmão,
complicação clínica
PRODUÇÃO DE
mais associada ao uso CALOR PELO
AMBIENTE
de ecstasy. AMBIENTES
FECHADOS,
LOTADOS E SEM
REFRIGERAÇÃO
ambientes de consumo
desta substância são FIGURA 12: A hipertermia. A incapacidade do corpo
em perder calor para ambientes muito aquecidos
casas noturnas
aumenta em demasia sua temperatura e o coloca
fechadas e lotadas e sua viabilidade em risco.
com pouca
disponibilidade de
água. Estes ambientes aquecidos impedem que o corpo lance mão
com sucesso de seus mecanismos para perder calor, resultando em um
super-aquecimento deste (hipertermia).
EFEITOS AGUDOS
O LSD (e seus similares) é capaz causar distorções perceptivas: realça
cores e contornos de objetos e altera a recepção de sons, num sinergismo
de sensações (“cores ganham sons, sons ganham cores”). Há prejuízo
da discriminação do tempo e espaço (minutos precem horas) e ilusões
visuais e auditivas. O pensamento encontra-se acelerado e o humor
tende à exaltação. Idéias de grandeza e poder são comuns. A “viagem”
pode ser sentida como prazerosa e agradável, mas podem deixar o usuário
extremamente amedrontado: quadros de ansiedade, pânico e agitação
psicomotora (bad trips) podem ocorrer. Idéias deliróides de grandeza,
místicas ou persecutórias podem colocar os usuários em situações
desagradáveis ou de perigo iminente (por exemplo, parar um veículo com
a força do pensamento, fazer falsos julgamentos, fugir de perseguições
imaginárias, além de outros).
COMPLICAÇÕES
O LSD e similares são estruturalmente semelhantes à serotonina, seu
provável elo alucinógeno. A rápida tolerância para os efeitos dos
alucinógenos LSD-análogos e sua longa duração impedem que estas
substâncias induzam os indivíduos ao uso repetitivo ou à dependência.
No entanto, o consumo pode desencadear quadros psicóticos agudos e
prolongados (normalmente em indivíduos predispostos), quadros
depressivos e exacerbar doenças psiquiátricas prévias. Casos de
hipertermia já foram relatados. Outra complicação aguda são os
flashbacks, ou seja, o ressurgimento dos sintomas na ausência da
intoxicação. Eles podem durar de alguns segundo a horas, acompanhados
de sintomas ansiosos agudos. Não há relatos de overdose.
disponíveis no mercado em
MANDRÁGORA E BELADONA
comprimidos para o tratamento do
Conhecidas na Idade Média como ervas
mal de Parkinson. de bruxaria, a mandrágora (Mandragra
officinarum) e a beladona (Atropa
belladonna) são ricas em iosciamina,
Apesar de pouco conhecidos pelos
atropina e escopolamina.
profissionais da saúde em geral,
anticolinérgicos como o triexifenidil APRESENTAÇÕES SINTÉTICAS
(Artane) chegam a ser a terceira Os anticolinérgicos sintéticos mais
utilizados de modo abusivo em nosso meio
droga mais consumida entre
são os medicamentos destinados para o
meninos em situação de rua em
tratamento do mal de Parkinson, como o
algumas capitais do Nordeste triexifenidil (Artane) e o biperideno
brasileiro. Nas outras regiões, seu (Akineton); para o alívio de espasmos
musculares ou intestinais (antidiarréicos),
uso é bem menos freqüente.
como a diciclomina (Bentyl) e os colírios
para dilatação de pupilas, a base de
AÇÃO NO CÉREBRO atropina e escopolamina.
Em ambas as categorias as
substâncias responsáveis pelos
efeitos alucinógenos são a atropina e a escopolamina. Em doses
terapêuticas produzem os efeitos físicos esperados pela Medicina. Em
doses elevadas, porém, são capazes de causar perturbações psíquicas
intensas, principalmente alucinações e delírios, em geral visões de bichos
e pessoas, além de sensação de perseguição e experiências de cujo
místico. Os efeitos podem durar de dois a três dias.
anticolinérgicos atuam
EFEITOS PSÍQUICOS
principalmente produzindo * Euforia e exaltação
alucinações e delírios. Esses * Alucinações
DEPENDÊNCIA
Os anticolinérgicos não induzem quadros de dependência, sendo suas
complicações agudas a principal preocupação acerca do consumo destas
substâncias.
QUETAMINA
A quetamina é um anestésico que não deprime a respiração e os
batimentos cardíacos, sendo utilizada nos anos sessenta como
anestésico infantil. Sua ação alucinógena, porém, acabaram por
restringi-lo ao uso veterinário.
GHB
O GHB (gama-hidroxibutirato) foi utilizado como anestésico nos anos
60 e em seguida como suplemento alimentar por fisiculturistas nos anos
oitenta. O GHB é um sedativo, com apresentações líquidas e em pó.
NITRATOS
Os nitratos (óxido nitroso) são formas gasosas alucinógenas, capazes
de causar analgesia, euforia e sedação leve. Suas propriedades são
conhecidas desde o século XVIII, denominado “gás hilariante”.
O Centro Brasileiro de
QUADRO 31: COMPLICAÇÕES
Informações sobre Drogas RELACIONADAS AO CONSUMO DE
Psicotrópicas (CEBRID) ANABOLIZANTES NA MULHER
Neliana Buzi Figlie, Denise Getúlio de Melo & Roberta Payá. Dinâmicas
de grupo aplicadas no tratamento da dependência química - manual
teórico e prático. São Paulo: Roca; 2003.
SITES INTERESSANTES
Os sites abaixo contém textos informativos e publicações sobre drogas
gratuitos e disponíveis online.