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Prevenção

ao
consumo
de

substâncias
psicoativas

Um guia prático
para educadores e
profissionais da saúde

Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de


Substâncias Psicoativas - CEMPRI
Coordenadoria de Saúde Mental - Secretaria Municipal da Saúde
- Prefeitura Municipal de Santos

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras


Drogas - ABEAD PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
PREVENÇÃO AO CONSUMO DE
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

um guia prático para educadores e profissionais da saúde

Denise Conde Magalhães


Marcelo Ribeiro

Ronaldo Laranjeira

Rosane Conde Magalhães

Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de


Substâncias Psicoativas - CEMPRI
Coordenadoria de Saúde Mental - Secretaria Municipal da Saúde -
Prefeitura Municipal de Santos

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas -


ABEAD

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS i


PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
um guia prático para educadores e profissionais da saúde

Realização
Prefeitura Municipal de Santos – PMS
Prefeito Beto Mansur

Secretaria Municipal de Saúde – SMS


Secretário Dr.Tomas Söderberg

Coordenadoria de Saúde Mental – COSMENT


Coordenador Dr. Sidney Costa Gaspar

Apoio de Governo
Secretaria de Comunicação – SECOM
Secretario Tom Barboza

Apoio Técnico do Centro Municipal de Prevenção Primária ao


Uso de Substâncias Psicoativas – CEMPRI
Denise Conde Magalhães
Rosane Conde Magalhães

Coordenação Científica
Dr. Marcelo Ribeiro
Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD - UNIFESP)

Publicação da Prefeitura Municipal de Santos - Secretaria Municipal de Saúde


Rua XV de Novembro, 195 6º andar Centro Santos (SP) CEP 11010-151
Telefones: (13) 3201-5000 Ramal 5517 Fax.: (13) 3216-1266
E-mail:sms@santos.sp.gov.br

Parceria e Supervisão Técnica


Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD)
Rua Botucatu, 390 Vila Clementino São Paulo (SP) CEP 04023-061
Telefone: (11) 5575-1708
website: www.uniad.org.br

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas - ABEAD


website: www.abead.com.br

ii PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


Autores

Denise Conde Magalhães


Psicóloga, Especialista em Dependência Química pela UNIAD-UNIFESP
Técnica do Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de Substâncias Psicoativas -
CEMPRI - Secretaria Municipal da Saúde - Prefeitura Municipal Santos

Marcelo Ribeiro
Psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo
Diretor-Clínico da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD - UNIFESP

Ronaldo Laranjeira
Psiquiatra, Doutor em Psiquiatria pela Universidade de Londres
Professor-Doutor da Universidade Federal de São Paulo
Coordenador-Geral da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas - UNIAD - UNIFESP

Rosane Conde Magalhães


Pedagoga, Especialista em Dependência Química pela UNIAD-UNIFESP
Técnica do Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de Substâncias Psicoativas -
CEMPRI - Secretaria Municipal da Saúde - Prefeitura Municipal Santos

Colaboradores
Neliana Buzzie Figlie
Psicóloga, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo
Coordenadora do Projeto Independência de Prevenção de Álcool e Drogas nas Escolas
Coordenadora do Ambulatório de Uso Nocivo e Dependência de Álcool da UNIAD - UNIFESP

Fátima Rato Padin


Psicóloga, Especialista em Dependência Quimica pela UNIAD-UNIFESP
Coordenadora do Programa de Orientação Sexual e Prevenção ao Uso Indevido de
Drogas do Instituto de Educação Beatíssima Virgem Maria - São Paulo (SP)
Psicóloga do Ambulatório de Adolescentes da UNIAD - UNIFESP

Alessandra Bonadio
Psicóloga, Especialista em Dependência Química pela UNIAD-UNIFESP
Coordenadora do Núcleo de Reabilitação da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Lígia Bonacim Duailibi


Terapeuta Ocupacional, Especialista em Dependência Química pela UNIAD-UNIFESP
Coordenadora do Núcleo de Reabilitação da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Andrezza Fontes
Psicóloga, Especialista em Dependência Quimica pela UNIAD-UNIFESP
Psicóloga do CUIDA / UNIAD - UNIFESP

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS iii


APRESENTAÇÃO

TEXTO

Sidney Costa Gaspar


Coordenador de Saúde Mental – COSMENT

iv PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

PARTE 1: O USO INDEVIDO DE SUBSTÂNCIAS


PSICOATIVAS E AS INTERVENÇÕES POSSÍVEIS 4

DEPENDÊNCIA QUÍMICA 5
O PAPEL DE CADA UM 12
PREVENÇÃO 14
PREVENÇÃO NAS ESCOLAS 19
ACONSELHAMENTO 26
TRATAMENTO 36
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL 38
POLÍTICAS PÚBLICAS 39

PARTE 2: AS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 40

CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 41
ÁLCOOL 42
INALANTES 44
OPIÁCEOS 46
CALMANTES 48
NICOTINA 50
COCAÍNA 52
ANFETAMINAS 54
ECSTASY 56
MACONHA 58
LSD & SIMILARES 60
ANTICOLINÉRGICOS 62
CLUB DRUGS 64
ESTERÓIDES ANABOLIZANTES 66

CONCLUSÕES 68

LEITURA RECOMENDADA 70

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS v


INTRODUÇÃO

O consumo de álcool, tabaco e outras drogas tornou-se uma preocupação


de saúde pública em todo o mundo. Nas últimas décadas, pesquisas no
campo biológico, psicológico e sociológico aumentaram o conhecimento
sobre o assunto e possibilitaram a elaboração de abordagens e métodos
de prevenção e tratamento mais adequados.

Anteriormente, o consumo de substâncias psicoativas era visto a partir


da idéia do ‘tudo ou nada’. O ‘drogado’, o ‘viciado’ ou o ‘alcoólatra’ era
sempre descrito como um usuário pesado e absolutamente dependente
da substância, portador de complicações clínicas decorrentes do uso,
cujo o único tratamento eram prolongadas internações. Muita coisa
mudou desde então.

Sabe-se hoje, que a intensidade e as complicações físicas e psicossociais


do consumo de drogas variam ao longo de um continuum de gravidade.
Desse modo, não existe apenas o dependente de álcool que bebe duas
garrafas de pinga por dia, tem tremores matinais e cirrose hepática. Há
também aquele que bebe dentro dos padrões considerados normais,
mas se acidenta ao dirigir. Estes últimos , inclusive, são os que mais
apresentam intercorrências. Portanto, não basta olhar para o consumo
em si, sem considerar os danos que o mesmo acarreta aos indivíduos e
seus grupos de convívio.

Outra noção importante introduzida nos últimos anos refere-se ao manejo


e ao trato com estes indivíduos. É comum encontrar pessoas que acham
que o dependente de álcool e drogas precisa ‘ouvir verdades’, ser
repreendido e ameaçado. O aparente descaso de alguns dependentes
com sua vida, emprego e família gera revolta e preconceito em muitos.
Tais comportamentos, porém, não estão restritos apenas à vontade, mas

1 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


inseridos em uma complexa rede de fatores biológicos, psicológicos e
sociais, que subtraem do usuário a liberdade de escolher. Isso torna
frases de efeito como “pare agora”, “deixe de usar ou morrerá”, “veja o
que fez com sua vida” absolutamente inócuas. Ao invés disso, é preciso
motivá-lo para a mudança, remover barreiras e ajudá-lo ativamente na
busca por um novo estilo de vida.

Antigamente, apenas o especialista era considerado apto para resolver


tal questão. No entanto, a disseminação do consumo nas últimas duas
décadas (principalmente entre os adolescentes e adultos jovens), as
complicações biopsicossociais envolvidas e necessidade de se
diagnosticar precocemente o problema tornaram os danos causados
pelo consumo de substâncias psicoativas não apenas uma questão de
saúde pública, mas também um desafio ao resgate da cidadania destes
indivíduos.

Eis o objetivo do presente manual: apresentar aos educadores e outros


profissionais o conceito atual de dependência química, familiarizá-los
com as principais substâncias e auxiliá-los na criação e manejo de
estratégias de prevenção compreensivas e pragmáticas.

Toda pessoa é capaz de mudança e qualquer um é capaz de ajudar.


Isso inclui não só os profissionais da saúde especializados, mas também
o médico generalista, o assitente social de empresas, os educadores,
gerentes de RH, empregadores, agentes carcerários, líderes religiosos
e comunitários. Detectar precocemente o surgimento de problemas,
motivar para a mudança e saber encaminhar podem ser feitos por
qualquer pessoa, dentro de sua área de atuação. Não se espera que o
gerente de RH se torne um terapeuta, mas que ao se mostrar mais
compreensivo e interessado pelo problema de seu funcionário
dependente, possa motivá-lo à procura de ajuda com vista à manutenção
de seu emprego. Cada um deve saber sua posição e alcance dentro da

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 2


rede de apoio à prevenção e tratamento dos problemas causados pelo
consumo de álcool e drogas.

Boa vontade, interesse e dedicação são importantes, mas não bastantes.


Tais qualidades devem estar associadas a abordagens objetivas e
afirmativas, baseadas em evidências científicas e dentro de preceitos
éticos e de cidadania. O presente manual não enseja tamanho corpo
teórico. Pretende, por seu turno, ser uma fonte inicial de informação e
capacitação profissional, bem como uma ferramenta acessível para a
disseminação de conhecimento relativo a questão das drogas, visando
a proporcionar aos interessados a tomada de decisão mais adequada
possível.

Marcelo Ribeiro
Coordenador Científico

3 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


PARTE 1

O uso indevido de substâncias psicoativas


e as intervenções possíveis

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 4


[1] DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A dependência é, essencialmente, uma QUADRO 1: FATORES DE RISCO PARA O

relação alterada entre o usuário e o seu SURGIMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

modo de consumo. Todo o consumo


BIOLÓGICOS
de substâncias psicoativas, seja este
* Predisposição genética
lícito ou ilícito, é influenciado por uma * Capacidade do cérebro de tolerar presença

série de fatores que diminuem ou constante da substância.

* Capacidade do corpo em metabolizar a


aumentam o risco de complicações
substância.
agudas e crônicas (figura 1).
* Natureza farmacológica da substância, tais

como potencial de toxicidade e

FATORES DE RISCO dependência, ambas influenciadas pela

via de administração escolhida.


Ao longo da vida, cada um desenvolve
um padrão particular de consumo de
PSICOLÓGICOS
substâncias. Tal padrão, é * Distúrbios do desenvolvimento

constantemente influenciado por uma * Comorbidades psiquiátricas, tais como

ansiedade, depressão, déficit de atenção


série de fatores de proteção e risco.
e hiperatividade, transtornos de
Os fatores de risco envolvidos no
personaliade.
surgimento da dependência são de * Problemas / alterações de comportamento.

natureza biológica, psicológica e social * Baixa reseliência e limitado repertório de

habilidades sociais.
(quadro 1).
* Expectativa positiva quanto aos efeitos das

substâncias psicoativas.
As ações destes fatores, conforme
aparece na figura 1, se influenciam SOCIAIS

* Estrutura familiar disfuncional, com


mutuamente. Desse modo, um fator
problemas tais como violência doméstica,
de risco pode comprometer vários
abandono, carências básicas.
campos da vida ao ser potencializado * Exclusão e violência social.

por outros fatores desfavoráveis ou * Baixa escolaridade.

* Oportunidades e opções de lazer precárias.


causar nenhum ou poucos danos, ao
* Pressão de grupo para o consumo.
ser neutralizado por fatores de
* Ambiente permissivo ou estimulador do
proteção. consumo de substâncias.

5 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
Figura 1: Fatores de proteção e riscos que influenciam o padrão de consumo de psicoativas nos indivíduos.

6
Esta interação determina a evolução do consumo de substâncias em
andamento. É importante ressaltar que nunca um fator de risco isolado
leva à dependência. Ninguém se torna dependente por um único motivo:
é preciso que uma constelação destes fatores haja sobre a história de
uso a fim de conduzi-la ao abuso ou à dependência.

PADRÃO DE CONSUMO
Ficou claro então que a partir de fatores ligados ao indivíduo (biológicos
e psicológicos), à natureza da substância e ao ambiente sócio-cultural,
cada um desenvolve um padrão de consumo de substâncias (figura 2).
Nenhum padrão de consumo de substâncias psicoativas está isento de
riscos (figura 3). Desse modo, o consumo de álcool em baixas doses e
cercado das precauções necessárias para a prevenção de acidentes é
considerado um consumo de baixo risco. O consumo eventual quase

diversas áreas de
dependência sua vida foram
atingidas

dependência

tem problemas
uso
abuso quando
abusivo
consome

uso sem sem


consumo de baixo risco
complicações problemas

Figura 2: Cada um possui um padrão de consumo de substâncias, cuja a intensidade varia


ao longo de um continuum de gravidade. A maior parte dos indivíduos as utiliza sem
experimentar problemas (baixo risco). Uma pequena parte, porém, evolui para a dependência.

7 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


sempre acompanhado de complicações (acidentes, brigas, perda de
compromissos) é denominado uso nocivo ou abuso. Por fim, quando
o consumo é freqüente, compulsivo, destinado à evitação de sintomas
de abstinência e acompanhado por problemas físicos, psicológicos e
sociais, fala-se em dependência.

Freqüência de problemas relacionados ao consumo

Quadrante II Quadrante I
CONSUMO EVENTUAL CONSUMO EM ALTAS QUANTIDADES
ALTA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS ALTA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS

USO NOCIVO DEPENDÊNCIA

intensidade do consumo

Quadrante III Quadrante IV


CONSUMO EM BAIXAS QUANTIDADES CONSUMO EM ALTAS QUANTIDADES
BAIXA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS BAIXA INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS

CONSUMO DE BAIXO RISCO SITUAÇÃO INEXISTENTE

Figura 3: O gráfico acima mostra a relação entre a intensidade do consumo e a incidência


de problemas relacionados ao mesmo. Mesmo o consumo eventual pode estar associado a
problemas (quadrante II). Não existe o consumo em altas doses isento de problemas.

CONCEITO DE USO NOCIVO E DEPENDÊNCIA


A partir dos padrões de consumo e suas complicações é possível
determinar a diferença entre uso nocivo e dependência. O primeiro é
caracterizado pela presença de danos físicos e mentais decorrentes do
uso de substâncias. Geralmente, tal padrão é criticado por outras
pessoas e acarreta conseqüencias sociais para o usuários. No entanto,
não há presença de complicações crônicas relacionadas ao consumo,

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 8


QUADRO 2: DEPENDÊNCIA DE SUBTÂNCIAS PSICOATIVAS - CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

COMPULSÃO OU PERDA DO CONTROLE

Desejo incontrolável de consumir a substância. Geralmente, há fracasso na intenção de se

abster ou consumir controladamente.

AUMENTO DA TOLERÂNCIA

É o aumento crescente do consumo, visando a obter os mesmos efeitos de antes. Com o

tempo, o organismo vai se adaptando à presença constante da substância. O cérebro torna-

se menos sensível aos seus efeitos e o organismo destrói e elimina as mesmas com mais

rapidez. Sinais de tolerância são o aumento da quantidade e / ou freqüência do uso. A

presença isolada de tolerância não fecha critério para dependência.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

A síndrome de abstinência também decorre de adaptações sofridas pelo cérebro, visando a

neutralizar a ação das substâncias sobre om mesmo. Desse modo, quando o consumo

diminui ou cessa, tais adaptações desencadeiam uma série de sintomas de mal-estar e

desconforto físico e mental. Qualquer tipo de droga produz síndrome de abstinência. Os

sintomas psíquicos são os mais comuns: ansiedade, desconcetração, piora da memória,

irritação (‘pavio curto’), impulsividade e fissura.

ALÍVIO OU EVITAÇÃO DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

É o consumo regular de substâncias psicoativas visando a evitar os sintomas de desconforto

da síndrome de abstinência. Este é um dos grandes motores do uso continuado: o dependente

não consome substâncias apenas visando ao prazer, mas principalmente para evitar sintomas

de mal-estar.

SALIÊNCIA DO USO

Com o passar do tempo, o consumo de drogas vai se tornando mais importante do que

outras atividades antes valorizadas pelo indivíduo.

ESTREITAMENTO DO REPERTÓRIO DO USO

A associação do consumo ao alívio de sintomas de abstinência, provocam um padrão de uso

previsível e desconectado de ocasiões sociais.

REINSTALAÇÃO DA DEPENDÊNCIA

É o rápido retorno dos sintomas listados acima, quando após um período de abstinência o

usuário decide retornar ao consumo.

9 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


como a síndrome de abstinência, a cirrose hepática, desnutrição, além
de outras. Já a dependência é identificada a partir de um padrão de
consumo constante e descontrolado, visando principalmente a aliviar
sintomas de mal-estar e desconforto físico e mental, conhecidos por
síndrome de abstinência. Freqüentemente, há complicações clínicas,
mentais e sociais concomitantes (quadro 2).

GRAVIDADE DA DEPENDÊNCIA
Todas as substâncias psicoativas podem levar ao uso nocivo ou à
dependência. Os critérios diagnósticos são claros e objetivos. Mas não
basta detectá-los. É preciso também investigar a gravidade dos mesmos,
pois como já foi dito, cada um tem fatores de risco e padrões de consumo
distintos. Além disso, o uso problemático pode estar acompanhado por
transtornos psiquiátricos, tais como depressão, ansiedade, sintomas
psicóticos e transtornos de personalidade.

Por isso, quando sintomas de dependência são detectados é sempre


aconselhável o encaminhamento para profissionais especializados.
Atualmente, o tratamento instituído baseia-se em grande parte na
avaliação da gravidade do quadro. Muitos dependentes, porém, recusam
qualquer tipo de ajuda. Nessa hora, buscar sensibilizá-lo conversando
e se interessando por outras áreas de sua vida (como as listadas na
figura 1), pode ser uma boa oportunidade para ‘quebrar o gelo’, fluir com
a resistência e sensibilizar o usuário para a necessidade da busca por
tratamento.

Outro importante critério de gravidade é o suporte social. Muitos


indivíduos não possuem uma família estruturada e participante do seu
cotidiano, tampouco grupos de convívio capazes de oferecer-lhe ajuda.
Outros, devido ao consumo, perderam emprego, estão mal na escola
ou foram despejados. Desse modo, considerar o suporte social é
importante tanto para o tratamento, quanto para a prevenção.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 10


EVOLUÇÃO DO INDIVÍDUO COM CONSUMO DE BAIXO RISCO
RELACIONAMENTOS
GRUPO DE NAMORO CASAMENTO PRIMEIRO
AMIGOS DA RUA FILHO
FAMÍLIA
RELAÇÕES SAIU PARA
ESTÁVEIS MORAR SOZINHO

ESCOLA
BOM FACULDADE FORMATURA
DESEMPENHO
ESCOLAR
CONSUMO DE ÁLCOOL

1ª BEBIDA 1º BALADAS REDUÇÃO DO


COM PORRE TRÊS CONSUMO PARA
AMIGOS VEZES POR OCASIÕES
SEMANA SOCIAIS
COMPLICAÇÕES CLÍNICAS

TRABALHO
PRIMEIRO EMPREGO MAIS
PROMOÇÃO
EMPREGO QUALIFICADO
CRIMINALIDADE

15 18 20 23 28 32
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS

EVOLUÇÃO DO INDIVÍDUO COM USO PROBLEMÁTICO


RELACIONAMENTOS
GRUPO DE NAMORO FIM DO
AMIGOS DA RUA NAMORO
FAMÍLIA
RELAÇÕES
DISCUSSÕES
ESTÁVEIS
FAMILIARES
ESCOLA
BOM FACULDADE
DESEMPENHO ABANDONO
ESCOLAR DA FACULDADE
CONSUMO DE ÁLCOOL

1ª BEBIDA 1º BEBER BEBER TREMOR PRIMEIRA


COM PORRE DIÁRIO DIÁRIO MATINAL INTERNAÇÃO
AMIGOS CERVEJA UÍSQUE
COMPLICAÇÕES CLÍNICAS
PANCREATITE
AGUDA
TRABALHO
PRIMEIRO ATRASOS DEMISSÃO
EMPREGO NO EMPREGO
CRIMINALIDADE

15 18 20 23 28 32
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS

Figura 4: Evolução do consumo de álcool. No gráfico superior o ambiente ‘moldou o consumo


do indivíduo (consumo de baixo risco). No gráfico inferior, o consumo do indivíduo ‘moldou’
seu ambiente (uso problemático)

11 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


[2] O PAPEL DE CADA UM

Todo cidadão, independetemente da escolaridade, formação profissional


e campo de atuação pode desenvolver ações relacionadas à questão
das drogas, respeitando seus limites. Há uma ampla rede social que
engloba a todos (figura 5). No entanto, é importante que esteja claro o

CENTROS DE EXCELÊNCIA
PESQUISA, ENSINO & TRATAMENTO

INTERNAÇÃO
PROLONGADA
ENFERMARIAS
CLÍNICAS DE TRATAMENTO
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DE
DESINTOXICAÇÃO

AMBULATÓRIO UNIDADE
ESPECIALIZADO COMUNITÁRIA
ÁLCOOL & DROGAS ÁLCOOL & DROGAS GRUPOS DE
AUTO-AJUDA

UNIDADE
COMUNITÁRIA
HOSPITAL-DIA AMBULATÓRIO
DE
SAÚDE MENTAL SAÚDE MENTAL DE
SAÚDE MENTAL

HOSPITAL DE
ESPECIALIDADES HOSPITAL GERAL
PS & ENFERMARIAS PS & ENFERMARIAS

AMBULATÓRIOS
AMBULATÓRIOS DE CADEIAS UNIDADES PARA
EMPRESAS ESCOLAS GERAIS ESPECIALIDADES ALBERGUES E MENORES
PRISÕES INFRATORES

Figura 5: As ações de prevenção, tratamento e reabilitação podem ser realizadas em diversos


ambientes. Todos podem participar de alguma maneira. É essencial saber, no entanto, qual
o planejamento das mesmas, seu objetivo e inserção e como interligá-lo às outras atividades
em andamento no local.

papel que se pretende desempenhar e como conectá-lo às outras ações


em andamento. Infelizmente, existe uma cultura de rivalidade entre
muitos profissionais que atuam nesta área. É comum ouvir dizer que
este tratamento não serve, aquela linha é ineficaz ou que tal método é
ultrapassado. Não há nada mais errôneo e preconceituoso do que isto.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 12


Não existe um local de tratamento, método preventivo ou linha terapêutica
melhor ou pior do que outros. Existem, sim, indivíduos inseridos em
determinadas situações que se adaptam melhor a esta, aquela ou ambas
abordagens. Um dependente de álcool seriamente deprimido pode se
beneficiar da combinação de farmacoterapia e grupos de auto-ajuda,
muito mais do que uma ou outra forma de tratamento isolada. Esse
‘sectarismo preventivo-terapêutico’, ao qual muitos se submetem sem
notar, distancia profissionais, impede o surgimento de redes de apoio
efetivas e acima de tudo, prejudica aqueles que buscam informação ou
necessitam tratamento.

Por isso, o papel de cada um na prevenção, tratamento e reabilitação,


no que se refere à dependência química, começa pela cooperação. Não
adianta pensar em uma ação sem entender o que já está sendo feito
naquela comunidade, quais os potenciais apoiadores do projeto e com
quem é possível se associar nesta empreitada.

Grosso modo, há quatro tipo de ações que podem ser desenvolvidas


dentro das comunidades: prevenção, tratamento, reabilitação e
políticas públicas. Tais categorias não são estanques, tampouco
isoladas. Por exemplo, não faz sentido pensar um projeto de prevenção
de drogas nas escolas sem pensar em uma política de tabagismo dentro
da instituição e de álcool nos arredores. Não é possível pensar em
prevenção sem falar de políticas públicas para o álcool, que inclui,
também, o acesso a tratamentos de qualidade, garantidos pelo Estado.

Isso reforça ainda mais a necessidade de articulação e formação de


redes de apoio entre todas as instituições que atuam nesta área. Mas é
claro, cada um tem suas habilidades, talentos e inclinações pessoais
para uma ou outra área. Desse modo, os princípios que regem as ações
no campo do consumo de drogas serão apresentados a seguir, visando
a direcionar o leitor para aprofundamentos futuros.

13 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


[3] PREVENÇÃO

Prevenção consiste em redução da QUADRO 3: 17 FATORES ASSOCIADOS

AO RISCO DE DEPENDÊNCIA ENTRE


demanda do consumo de drogas.
ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS(*).
Desse modo os programas e projetos
instituídos visam ao fornecimento de * Leis e normas

informações capazes de estimularem (ausentes, rígidas ou dúbias)

* Acesso facilitado ao consumo


nas pessoas a adoção de outros
* Privação econômica extrema
hábitos, resultando na evitação,
* Desorganização social na comunidade
redução ou interrupção do consumo * Fatores fisiológicos

de drogas. (genéticos, bioquímicos, personalidade)

* Consumo de drogas na família

* Práticas e costumes familiares


Durante muitos anos, as estratégias
* Conflitos familiares
preventivas estiveram centradas na * Vínculos familiares precários

educação para a abstinência. * Comportamentos mal-adaptivos

precoces e persistentes.
Informações sobre as principais
* Fracassos acadêmicos
substâncias, seus riscos e
* Vínculos escolares precários
complicações por meio de palestras * Rejeição por colegas desde a infância

foram bastante difundidas. Tal ação * Associação com colegas que consomem

* Alienação e rebeldia
isolada, porém, mostrou-se ineficaz.
* Atitudes favoráveis ao consumo
Crianças tornadas adolescentes
* Início precoce do consumo
possuíam um bom conhecimento
(*)
Hawkins JD, Catalano RF, Miller JY.
sobre o tema, mas os índices de Risk and protective factors for alcohol and
consumo permaneciam os mesmos. other drug problems in adolescence and
early adulthood: implications for substance
Isso fez com que os agentes de abuse prevention. Psychological Bulletin
1992; 112 (1), 64-105.
saúde concluíssem que estratégias
de prevenção bem-sucedidas
precisam ser combinadas, para alcançarem as metas pretendidas.

Atualmente, não se fala em prevenção específica para o consumo de


drogas, mas em estratégias visando ao cuidado de si, ou seja, qualidade

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 14


de vida, na qual o consumo de drogas é um dos aspectos. Nesse sentido,
merecem atenção especial aqueles que possuem fatores de risco para o
consumo. Atualmente, há consenso acerca de alguns fatores que
aumentam sensivelmente o risco de uso nocivo e dependência de álcool,
tabaco e outras drogas (quadro 3). Desse modo, intervenções que
diminuam a ação de tais fatores ou fortaleçam fatores de proteção têm
sido propostas pelos cientistas.

INDIVÍDUO
gênero, idade, grupos de convívio,
etnia, metabolismo & adaptações
cerebrais, características psicológicas

AMBIENTE AGENTE
tipo de droga, via de administração,
pré-natal, família, colegas, vizinhança,
efeitos agudos e crônicos, potencial
disponibilidade, nível e estrutura
de abuso, freqüência do uso
sócio-econômica

Figura 6: O modelo de saúde pública é o paradigma das ações preventivas. Ela considera
as interações entre os fatores de risco e proteção a partir de três vértices: o indivíduo, a
substância psicoativa e o ambiente sócio-cultural.

De acordo com o modelo de saúde pública (figura 6), os problemas com


o consumo de substâncias psicoativas se originam a partir da interação
de fatores de risco (ou ausência de fatores de proteção) agrupados nos
vértices índivíduo - substância - ambiente. Desse modo, ações bem-
sucedidas devem ser elaboradas considendo estes aspectos.

15 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


QUADRO 4: CLASSIFICAÇÃO DAS TIPOS DE PREVENÇÃO
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO.
Há duas classificações correntes. A

QUANTO AO PERÍODO DA AÇÃO


primeira, refere-se ao estágio do
consumo à época das intervenções.
PRIMÁRIA A segunda, mais atual, refere-se ao
Os esforços preventivos estão voltados
público-alvo que se pretende atingir
para o período anterior ao aparecimento

do consumo. Melhor custo-benefício.


(quadro 4).

SECUNDÁRIA Estratégias preventivas podem ser


Se ocupa do estágio no qual o consumo
elaboradas em todos os campos:
de drogas começou a se manifestar. A

ênfase se volta para a identificação e


escolas, empresas, presídios, na
intervenção precoce. comunidade ou ainda como estratégia
de divulgação em massa.
TERCIÁRIA

Dirige esforços para o estágio em que o

consumo de substância já se encontra


Em cada destes locais, o tipo de
presente e consolidado. Esforços intervenção deve estar bem definido.
direcionados para a redução das Por exemplo, uma empresa de
conseqüências ou comportamentos.
transportes pode fazer prevenção
universal (distribuição de folhetos
QUANTO AO PÚBLICO-ALVO sobre dependência para todos os
caminhoneiros), seletiva (palestras
UNIVERSAL
sobre o uso de ‘bolinhas’ e ‘rebites’
Atinge toda a população, sem avaliação do

risco individual, com o intuito de evitar o


para os caminhoneiros do turno da
início do consumo. noite) ou dirigida (grupos de
sensibilização para os caminhoneiros
SELETIVA
que referem uso prévio de ‘rebites’).
Destinada a grupos de maior risco, afim

de evitar ou retardar o início do uso.


PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO
DIRIGIDA Seja qual for o ambiente e o tipo de
Para indivíduos que já apresentam sinais
intervenção escolhidos, alguns
de consumo, visando a interromper a
progressão do uso.
princípios devem ser sempre
observados (quadro 5).

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 16


QUADRO 5: PRINCÍPIOS QUE REGEM AS ESTRATÉGIAS PREVENTIVAS

1. As estratégias devem estar centradas no fortalecimento dos fatores de proteção e redução

dos fatores de risco.

2. Programas de prevenção devem abarcar todas as substâncias, incluindo o tabaco.

3. Estratégias preventivas devem incluir treinamento de habilidades sociais para lidar com a

oferta, aumentar as convicções pessoais e melhorar as competências sociais

(comunicação, relacionamento, auto-eficácia e acertividade).

4. Programas para adolescentes devem privilegiar métodos interativos (grupos, jogos,

excursões, exercícios dramáticos,...) e contar com a participação dos mesmos na

elaboração das ações preventivas, ao invés de palestras e aulas expositivas.

5. Programas de prevenção deve incluir os familiares sempre que possível. Programas que

envolvem também a família são mais eficazes do que os que atingem o adolescente ou a

família isoladamente.

6. Toda a intervenção deve ser permanente, com formação de multiplicadores locais.

7. Programas baseados na comunidade, que incluem campanhas na mídia e políticas de

restrição do acesso ao álcool e tabaco, são mais efetivos se acompanhados por

intervenções na escola e na família.

8. Escolas oferecem a oportunidade de atingir todas as populações, inclusive subgrupos de

adolescentes expostos a maiores riscos, além da possibilidade de atingir também os

seus familiares.

9. Os progamas de prevenção devem ser adaptados à realidade sócio-cultural de cada

comunidade.

10. Quanto maior o risco da população-alvo em questão, mais intensivo e precoce deve ser o

esforço preventivo.

11. Programas de prevenção devem ser específicos para a idade, apropriado para a fase do

desenvolvimento e sensível à linguagem e cultura locais.

12. A relação custo-benefício deve ser sempre considerada.

17 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


UTILIZANDO OS FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO COMO
ESTRATÉGIA PREVENTIVA

Os principais domínios para intervenções preventivas são:

Relacionamento familiar
Fortalecer os fatores de proteção entre crianças pequenas, ensinando
aos pais habilidades para melhorar a comunicação dentro da família e
instituir regras familiares consistentes. Os pais precisam ter participação
na vida dos filhos (falar com eles sobre drogas, participar de suas
atividades, conhecer seus amigos, compreender seus problemas e
preocupações).

Relacionamento entre colegas.


Focalizar o relacionamento de cada um com os colegas, desenvolvendo
habilidades e competência social, que envolvam melhora da capacidade
de comunicação, melhora de relacionamentos positivos entre colegas e
comportamentos sociais e habilidades para lidar com a oferta de drogas.

O ambiente escolar.
Estimular e apoiar desempenho acadêmico e o estreitamento dos laços
entre a escola e o aluno, oferecendo a eles maior identidade e capacidade
de realização e reduzindo a probabilidade de abandono escolar.

O ambiente comunitário.
Trabalhar no nível comunitário com organizações civis, religiosas, de
execução de leis e políticas públicas governamentais buscando mudanças
na regulamentação política, esforços de mídia de massa e programas
comunitários amplos. Os programas comunitários devem incluir novas
leis e melhoria das anteriores, restrições à propaganda e zonas escolares
sem droga - todas desenhadas para oferecer um ambiente seguro e
voltado para interações comunitárias.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 18


[4] PREVENÇÃO NAS ESCOLAS

A prevenção dos problemas relacionados ao consumo de álcool, tabaco


e outras drogas nas escolas é regida pelas mesmas estratégias e
princípios discutidos anteriormente. Este ambiente receberá maior
destaque neste manual por diversos motivos: a escola, em tese, abriga
todos as crianças e adolescentes de uma comunidade ou município. A
maior incidência do início do consumo de drogas se dá justamente entre
os jovens. Problemas psiquiátricos e comportamentais também
aparecem com mais freqüência neste período. A partir dos estudantes,
é possível atingir sua família e grupos de convívio. Além disso, a escola
é o ambiente onde os indivíduos aprendem as regras dos relacionamentos
sociais fora da célula familiar. Torna-se, por isso, um ambiente propício
para a aceitação das diferenças e para a consolidação de
comportamentos marcados pela cooperação e convívio harmonioso entre
os pares. Para isso, a escola necessita desenvolver políticas que
conduzam seus membros para estes resultados. Com a questão das
drogas, inserida neste contexto, a coisa não poderia ser diferente.

OBJETIVOS DOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO


Um programa de prevenção de drogas nas escolas não deve ter como
meta banir do seu cotidiano o problema com substâncias psicoativas. A
existência do consumo de drogas desde os primórdios da humanidade é
uma das poucas certezas nesta área.

Mais uma vez, os programas de prevenção ao uso de drogas devem


enfatizar a redução dos fatores de risco e ampliação dos fatores de
proteção, com o intuito de minimizar a incidência de novos usuários e a
ocorrência de problemas relacionados ao uso disfuncional dentro e fora
da escola. Não se trata de aceitar o consumo, mas de apresentar à
comunidade escolar estratégias viáveis e sintonizadas com a realidade.

19 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


TRATAMENTO RECAÍDA ABSTINÊNCIA

ABANDONO OU REDUÇÃO PERMANÊNCIA DO


(ESPONTANEAMENTE) CONSUMO

COMPLICAÇÕES
• CLÍNICAS
USO
PROBLEMÁTICO • PSICOLÓGICAS
• ABUSO • SOCIO-ECONÔMICAS
• DEPENDÊNCIA • TRABALHO
INÍCIO
• ESCOLARIDADE
• IDADE • RELACIONAMENTOS
• MOTIVOS • CRIMINALIDADE
• CONTEXTO • MORTALIDADE

ABANDONO OU REDUÇÃO
(ESPONTANEAMENTE)

Figura 7: A história natural do consumo de drogas. Boa parte dos usuários começa a consumir
substâncias psicoativas durante a adolescência. A maioria abandona ou reduz o consumo
espontaneamente com a chegada da idade adulta. Outra parte evolui para problemas como
o uso nocivo e a dependência, que poderão conduzi-los a complicações biológicas,
psicológicas e sociais. O processo de tratamento é marcado por recaídas e retornos ao
consumo. Ainda assim, todo o dependente é capaz de atingir a abstinência ou reduzir danos
relacionados ao consumo.

Além disso, vale lembrar que a maioria dos adolescentes se envolve


com o consumo disfuncional de álcool e drogas circunstancialmente,
abandonando ou reduzindo o mesmo na idade adulta (figura 7). Mais
uma vez, não se trata de condescendência. Não se deve, porém, encarar
a questão com desespero, por meio de atitudes impensadas e
repressivas. Este é um momento para avaliar os fatores de risco e
proteção envolvidos e entender a gravidade da situação, com a finalidade
de tomar a melhor decisão possível, preferencialmente com a
participação conjunta de toda a comunidade escolar. Eis o objetivo maior
dos programas de prevenção de drogas nas escolas: a construção de
um pensamento coletivo sobre o tema.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 20


ESTRATÉGIAS DE AÇÃO QUADRO 6: MODELOS DE PREVENÇÃO AOS

Há diversas estratégias de PROBLEMAS COM DROGAS NAS ESCOLAS.

prevenção de drogas nas


AMEDRONTAMENTO
escolas desenvolvidas Abordagem centrada na informação dos efeitos
( quadro 6 ), que podem ser negativos do consumo.

aplicadas de maneira
EDUCAÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
combinada. O modelo do Baseado em aulas sobre a ação e conseqüência das
amedrontamento, baseado na drogas, procurando a informação técnica e imparcial.

informação centrada nos


TREINAMENTO PARA RESISTIR
malefícios, com exposição de Visa a respaldar o jovem com informações e atitudes

slides de pulmões cancerosos, que o façam resistir às pressões de grupo ou da mídia.

órgãos deformados e
TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS
dependentes depressivos, tem Pretende, através da melhora das competências

se mostrado ineficaz e deve sociais tornar o jovem mais apto para enfrentar
dificuldades.
ser desencorajado. A
educação voltada para a saúde PRESSÃO DE GRUPO POSITIVA
Formação de líderes capazes de influenciar seus pares
e a qualidade de vida enseja os
para a evitação ou abandono do consumo de drogas.
preceitos do modelo de saúde
pública, sendo por isso o mais EDUCAÇÃO AFETIVA
Entende que jovens emocionalmente saudáveis têm
indicado. Este pode ser
menos riscos de uso problemático de substâncias. .
combinado a outros modelos
(quadro 6). OFERECIMENTO DE ALTERNATIVAS
Pretende oferecer alternativas interessantes e
saudáveis ao consumo de substâncias psicoativas.
É preciso ser flexível na
escolha das estratégias, AÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR
Sugere a escola como aglutinador da comunidade,
considerando a opinião dos família e alunos, favorecendo práticas saudáveis e
membros da comunidade protetoras.

escolar e ouvindo especialistas.


EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
Além disso, toda a estratégia Privilegia o auto-cuidado (alimentação, esporte, vida
instituída deve ser reavaliada sexual, combate ao estresse,...), considerando os
aspectos biopsicossociais do cotidiano, sendo o
constantemente acerca da sua
consumo de drogas um tema inserido dentro de um
eficácia. contexto amplo.

21 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


PLANEJAMENTOS DAS AÇÕES
A primeira etapa é a formação de uma equipe permanente, responsável
pelo diagnóstico do problema na escola, planejamento das ações e
monitoramento - avaliação das ações instituídas (figura 7). A equipe
deve contar com membros do corpo docente e administrativo. Os alunos
geralmente não participam desta etapa. Futuramente, aqueles que se
destacarem poderão ser ouvidos pela equipe com regularidade.

A equipe de prevenção deve ser capacitada, a fim de desempenhar melhor


sua função e lidar com situações difíceis que possam desestimular o
andamento do projeto, tais como desinteresse por parte dos alunos ou
mesmo da instituição, problemas com traficantes, além de outros.

Diagnóstico
O diagnóstico tem por função apresentar à equipe as dimensões atuais
do problema. Ele pode ser feito a partir de levantamentos
epidemiológicos, por meio de questionários anônimos e/ou grupos de
discussão com os alunos, reuniões com pais e líderes comunitários,
além de outras ações.

É fundamental que ao final desta etapa a equipe possua um perfil


detalhado sobre as principais substâncias consumidas, a opinião dos
alunos e suas famílias sobre o tema, como a escola trata as questões
de saúde, a visão dos professores e como abordam o tema em sala de
aula (e como poderiam fazê-lo dentro de suas matérias), o mapeamento
da região (número de bares e bocadas), os recursos humanos e
financeiros disponíveis. Igualmente importante: os membros da equipe
sentem-se à vontade para tratar esse tema com os alunos?

Planejamento das ações


Feito o diagnóstico, o próximo passo é planejar as ações. Nesse
vale a pena saber sobre a experiência de outras escolas, buscar auxílio

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 22


de especialistas, utilizar os talentos
e habilidades de cada membro. FORMAÇÃO
DA EQUIPE
Moldadas as ações (grupos de DIAGNÓSTICO
teatro, palestras, discussões CAPACITAÇÃO
PROFISSIONAL
temáticas,...), a implementação das
mesmas deve contar com a
participação ativa dos alunos. Eles
devem opinar e expressar o que PLANEJAMENTO
gostariam de saber e fazer dentro DAS AÇÕES

de cada ação proposta. Enfim,


trata-se de uma fase onde modelos
bem-sucedidos são adaptados pela
criatividade à cultura de todos os
MONITORAMENTO
membros da escola. E AVALIAÇÃO

Monitoramento e avaliação
Nenhum projeto tem valor se seus
resultados não puderem ser
AÇÕES
mensurados, visando à observação PERMANENTES
de falhas, sucessos ou necessidade
de melhorias. Desse modo, a
equipe deve escolher alguns Figura 8: A implantação de um projeto de
prevenção na escola deve começar pela
parâmetros, tais como redução dos construção de uma equipe permanente e
capacitada. O planejamento das ações
incidentes com drogas nas escolas, mistura modelos bem-sucedidos com o
maior proximidade dos alunos com talento e a criatividade dos membros da
comunidade escolar, inclusive os alunos.
os professores, melhoria no Todas as ações devem ser constantemente
monitoradas. Ações permanentes devem ser
relacionamento entre os alunos e instituídas.
entre estes e suas famílias e assim
por diante. Ao final, ações permanentes, tais como programas
curriculares, grupos de discussão, debates ou formação de
multiplicadores devem ser instituídas, com o respaldo de toda
comunidade escolar.

23 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


QUADRO 7: O QUE QUEREMOS PARA A NOSSA ESCOLA?

Os profissionais envolvidos, podem e devem oferecer atividades paralelas, buscando


parcerias com a rede de serviços do município, fazendo com que o indivíduo descubra
novas potencialidades. O tema dependência química, desperta reflexões acerca
das alternativas de saúde e riscos que possam ocorrer com o uso ou abuso de
substâncias psicoativas e deve ser incluído transversalmente na grade curricular.

A escola deve legitimar o direito da criança ou jovem de ter acesso às informações


necessárias e levar o indivíduo à refletir e desempenhar papéis significativos na
definição de políticas públicas direcionadas ao uso de substâncias lícitas e ilícitas no
seu meio ambiente.

A seguir, algumas ações que podem ser trabalhadas com os alunos em sala de aula,
dentro de programas estruturados pela comunidade escolar.

PROPOSTA DE AÇÕES:

Levar à reflexão :
Informando, desenvolvendo diálogo, definindo limites e resgatando valores

Oferecer orientação / aconselhamento


Acolhendo, identificando claramente o problema, praticando empatia, motivando para
a mudança de estilo de vida, envolvendo a família e encaminhando à rede de serviços
do município.

AÇÕES COMPLEMENTARES:

Atividades culturais coletivas


Leitura de notícias, artigos de jornais e revistas, filmes e letras de música, grupos de
discussão, divisão de tarefas, troca de informações, registro de encontros, oficinas
de teatro, leitura e pesquisa.

Ações de cidadania
Debates e aprofundamentos sobre os encaminhamentos do Conselho Municipal
Antidrogas, formação de alunos como agentes multiplicadores das informações,
elaboração de regras estabelecidas em conjunto (alunos & Escola)

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 24


Sugestão de temas
Consumismo, erotização ( vestimenta / comportamento), estilo de vida, exclusão
social, família e seus conflitos, importância do papel social, influência de amigos,
mídia – aspectos positivos e negativos, qualidade de vida, situações de risco,
substâncias psicoativas - classificação e efeitos, nossos modelos ( pais, amigos,
professores...)

A FAMÍLIA E A ESCOLA
A família e a escola são espaços onde as experiências das crianças e jovens
são construídas e o papel de ambas embora diferentes, têm em comum a
atitude acolhedora, de inclusão, e observadora de qualquer alteração de
comportamento.

Quando se cogita o consumo de drogas a partir de alterações do


comportamento, é importante que a observação não venha desacompanhada
das outras duas atitudes, sob pena de se tornar moralista, policialesca e
tolhedora do desenvolvimento dos adolescentes. Desse modo, as alterações
listadas abaixo devem ser encaradas sem alarmismo, dentro do espírito
compreensivo que lhes cabe. Além disso, sua presença nem sempre está
relacionada à presença do consumo de drogas. O melhor caminho é começar
por dificuldades pertinentes da idade e do período do desenvolvimento, para
depois questionar a existência do consumo.

ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO QUE MERECEM INVESTIGAÇÃO:


* Faltas freqüentes no trabalho ou escola
* História de trauma e acidentes
* Depressão e /ou ansiedade
* Disfunção sexual
* Distúrbios do sono

A escola pode informar e orientar seus alunos , porém a questão do consumo,


quando detectado, deverá ser tratado pela escola intrafamiliarmente, refletindo
em conjunto: a postura familiar, o momento atual (desempenho escolar,
atividades, grupos de convívio,...), os limites necessários, o encaminhamento
ao serviço especializado para tratamento e a importância da participação da
família nesse processo.

25 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


[5] ACONSELHAMENTO

As dificuldades que os educadores e outros profissionais não-


especializados encontram ao lidarem com indivíduos que consomem
substâncias psicoativas não se restrigem a avaliação do padrão de
consumo, dos fatores de risco e proteção e da gravidade do quadro.
Muitos sentem-se incapacitados para dar uma boa orientação. Isso
acontece em parte pela falta de preparo e capacitação. No entanto, os
tabus e preconceitos pessoais que envolvem o consumo de drogas e a
idéia de que ‘palavras mágicas’ e ‘colocações maravilhosas’ devam ser
proferidas para ‘libertar’ os indivíduos permeiam o imaginário das pessoas
e acabam por atravancá-las nesta hora.

Desse modo, boa parte dos profissionais acabam optando por discursos
distanciados, frios e polarizados: excessivamente moralistas e
autoritários ou demasiado omissos e permissivos. Esquece-se nessa
hora de que existem vínculos de amizade, de parentesco ou institucionais
que permitem diálogos mais francos, personalizados e objetivos. Na
maior parte das vezes, a conversa com um aluno, funcionário ou colega
sobre consumo de drogas não deve ser pautada pela oferta de respostas
e conclusões. Deve, sim, ser um momento para a reflexão, visando a
busca conjunta de soluções objetivas para o problema.

O aconselhamento é uma estratégia que serve bem para tais situações.


Além de fornecer aos profissionais uma ação estruturada, também pode
ser útil para a avaliação inicial do usuário, além de já se constituir em
uma atitude terapêutica. Aconselhar não é dizer o que deve ser feito.
As atitudes e autocríticas são ações e propriedades exclusivas dos
indivíduos. O aconselhamento é uma abordagem centrada na
compreensão e no acolhimento, sem furtar das pessoas, em nenhum
momento, a reflexão e a responsabilidade por seus atos.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 26


MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA
O aconselhamento pode ser feito utilizando como abordagem a Entrevista
Motivacional (EM). A EM propõe abordagens que partam da aceitação
das diferenças e da idéia de que dentro de todo o usuário existe sempre
uma prontidão para a mudança, que pode (e deve) ser motivada.

Apesar de ter sido desenvolvida para o tratamento das dependências


químicas, o conceito de motivação para a mudança pode ser aplicada
também situações de prevenção e reabilitação psicossocial. Avaliar a
motivação de um indivíduo faz parte de qualquer abordagem e é essencial
para o planejamento das intervenções futuras.

A idéia de motivar surgiu em oposição a abordagens que pregavam o


confronto e o desafio ao dependente (ultrpassando por vezes os limites
da humilhação) como métodos efetivos, capazes de ‘romper a muralha’
construída pela dependência, que o impedia de se deparar com a
‘realidade’. Esta visão, no entanto, sofreu o seguinte questionamento:
Como passamos a acreditar que um certo tipo de ser humano apresenta
uma condição única que exige que utilizemos confrontação agressiva se
desejamos ajudá-lo? Como se tornou possível, justificável e aceitável
nos valermos de tais táticas hostis para certos comportamentos de
dependência, quando estas mesmas abordagens seriam vistas como
resultado de, no mínimo, um mau julgamento (se não má prática) no
tratamento da maior parte dos outros problemas médicos e psicológicos?

A partir destes questionamentos construíram-se os conceitos que


compõem a teoria da motivação para a mudança, que acredita que a
dependência não é uma condição permanente, assim como a resistência
não faz parte da estrutura de caráter dos indivíduos. Ambas são fluidas
e sujeitas à mudança, A fim de provocá-la nos usuários, uma série de
técnicas estruturadas em sessões foram desenvolvidas, para que o
profissional possa auxiliar melhor os usuários a refletirem sobre o tema.

27 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ESTÁGIOS MOTIVACIONAIS
QUADRO 9: ESTÁGIOS MOTAVACIONAIS
Antes de introduzir as idéias da
teoria da motivação, é preciso PRÉ-CONTEMPLAÇÃO

entender que qualquer indivíduo O indivíduo não cogita a mudança. Essa fase é
marcada pela resistência a qualquer orientação.
ao longo da vida passa por
estágios de mudança (quadro 9). CONTEMPLAÇÃO
O indivíduo reconhece o problema (atual ou futuro)
Esse conceito também se aplica
relacionado ao consumo, até cogita a necessidade
aos usuários de substâncias de mudar, mas também valoriza os efeitos positivos
psicoativas. da substância e o quanto gosta e precisa dela.
Uma fase marcada pela ambivalência.

Os estágios de mudança se PREPARAÇÃO


distribuem ao longo de um O indivíduo reconhece o problema, sente-se
incapaz de resolvê-lo sozinho e pede ajuda. Essa
espiral (figura 9). Em primeiro,
fase pode ser muito passageira, por isso é
aparece aquele que não cogita a indispensável uma pronta abordagem e

mudança (pré-contemplação), encaminhamento.

estágio vulgarmente conhecido


AÇÃO
por negação. Em algum O indivíduo interrompe o consumo e começa o

momento, porém, o usuário tratamento. A ambivalência , porém, o


acompanhará durante todo o trajeto, o que justifica
pode reconhecer que de fato tem
que seja acompanhado periodicamente por um
ou poderá vir a ter problemas com longo período.

seu consumo, mas ainda valori-


MANUTENÇÃO
za demais os benefícios que A manutenção da abstinência será sempre
obtem usando (contemplação). colocada em xeque pela ambivalência e pelos
fatores de risco que o acompanham. É um período
Trata-se de uma fase de
dedicado à prevenção da recaída.
ambivalência, onde os prós e
contras do uso e da abstinência RECAÍDA
Fala-se em lapso, quando o retorno ao consumo
vêm a tona o tempo todo. Mais
dentro de uma situação de abstinência é pontual.
adiante, sentindo o problema e O termo recaída, refere-se ao retorno ao consumo,

não sabendo como resolvê-lo, o após um período considerável de abstinência.


Recair não é voltar à estaca zero. Ao contrário,
indivíduo poderá pedir ajuda
trata-se de uma fase onde o profissional e o usuário
(preparação). Esse estágio pode têm a oportunidade de aprender com os erros, para
evitar recaídas futuras.
ter duração de poucas horas

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 28


ou dias e por isso requer
ação imediata dos
profissionais. A partir
desta ajuda, o usuário PREPARAÇÃO

interrompe o consumo RECAÍDA

(ação) e começa a se
programar para se
RECAÍDA
CONTEMPLAÇÃO
manter abstinente
(manutenção). A
ambivalência, porém,
PREPARAÇÃO RECAÍDA
sempre o acompanha e
somada aos fatores de
PRÉ-
risco aos quais está CONTEMPLAÇÃO

RECAÍDA
exposto, pode culminar
no retorno ao consumo
MANUTENÇÃO

(recaída).
PRÉ-
CONTEMPLAÇÃO AÇÃO
A recaída é parte CONTEMPLAÇÃO PREPARAÇÃO

integrante do processo de
mudança: mais de 70% Figura 9: O espiral da motivação. A maneira como
dos usuários recaem nos usuário de subtâncias psicoativas considera a
mudança evolui tal qual um espiral: do estágio
primeiros noventa dias de onde não cogita a mudança, passando pela
ponderação dos prós e contras, chegando à
abstinência. Trata-se de preparação, ação e manutenção da abstinência. A
uma etapa crucial: a par- todo instante, a recaída é sempre possível e
normalmente se repete ao longo do processo de
tir dela, o usuário pode mudança. A partir da recaída, o indivíduo pode
retornar a qualquer um dos estágios anteriores, o
retornar a qualquer uma que torna importante uma pronta intervençaõ por
das fases anteriores. Por parte dos profissionais nesse momento.

exemplo, após a recaída,


o usuário pode reagir dizendo: “eu bebo, gosto e não me faz mal coisa
nenhuma: as pessoas é que estão botando minhoca na minha cabeça”
(pré-contemplação). Ou então: “voltei a fumar, sei que me faz mal, mas
por enquanto continuarei fumando” (contemplação). Ou ainda: “não

29 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


resisti e bebi, vou ligar para o meu médico agora” (preparação / ação).
Desse modo, a recaída requer grande atenção por parte dos profissionais
envolvidos, pois uma intervenção imediata poderá ser um importante
diferencial para a evolução do caso. Além disso, recair não é voltar à
estaca zero. Ao contrário, é um momento de aprendizado e reflexão,
acerca de como ela se deu, quais as conseqüências que trouxe ao
indivíduo (responsabilidade pelo ocorrido) e que atitudes podem ser
tomadas para sanar os problema causados e evitar recaídas futuras.

ESTRATÉGIAS GERAIS DE UMA ABORDAGEM MOTIVACIONAL


O profissional pode utilizar algumas estratégias para motivar a mudança
nas pessoas. Didaticamente, oito delas podem ser aplicadas de maneira
combinada e serão apresentadas a seguir.

OFERECER ORIENTAÇÃO. A orientação clara estimula a mudança.


Ela deve ser oportuna e moderada, respeitando o estágio de motivação
do indivíduo, sem confronto ou compaixão. Conselhos por si só não
estimulam a mudança, mas sua influência não pode ser desprezada:
estudos demonstram que uma conversa de quinze minutos aumenta as
chances do indivíduo buscar ajuda ou mudar seus hábitos de consumo.

Uma boa orientação deve seguir três preceitos: [1] identificar claramente
o problema ou situação de risco, sem exagerar ou minimizar; [2] explicar
porque a mudança é importante; [3] propor mudanças específicas,
ajudando o indivíduo a escolher o melhor caminho.

REMOVER BARREIRAS. Algumas vezes, a chegada ou a permanência


no tratamento são bloqueadas pela existência de barreiras. Assim,
indivíduos ponderando a mudança podem desanimar frente a
impedimentos práticos, tais como locomoção, horário, lugar para deixar
os filhos e a timidez. Desse modo, uma boa avaliação motivacional inclui
a identificação e a superação de fatores inibidores envolvidos.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 30


PROPORCIONAR ESCOLHAS. Dizer o que deve ser feito pode ser
entendido pelos outros como cerceamento, provocando resistência e
inviabilizando o diálogo. As pessoas devem sentir sua liberdade (e por
conseguinte a responsabilidade) de suas escolhas. Dessa forma, uma
orientação clara deve ser seguida pela discussão das opções de escolha
que o indivíduo possui para efetivá-la, a fim de resolver seus problemas.

DIMINUIR O ASPECTO DESEJÁVEL DO COMPORTAMENTO.


Durante todo o estágio de pré-contemplação e contemplação e durante
alguns momentos do estágio de manutenção é possível identificar
expectativas positivas dos usuários com relação ao consumo de
substâncias. Um aspecto importante do aconselhamento é justamente
avaliar junto com os envolvidos os custos e benefícios do consumo e da
abstinência. Assim, um indivíduo em pré-contemplação talvez não
assuma o consumo ou não o veja como um problema. Mas ao avaliar os
prós e contras, identifique as brigas dentro de casa como um problema.
Eis um ponto de partida para iniciar o aconselhamento.

Mas essa estratégia não se resume à identificação de fatores


incentivadores do consumo. É preciso aumentar a percepção acerca das
conseqüências negativas deste comportamento. Por exemplo, ao
conversar sobre o dia-a-dia do aluno, suas dificuldades e problemas em
casa e entre amigos vão ficando mais claros. Alguns guardam forte relação
com o consumo de drogas e aos poucos podem ir ficando mais nítidos
para este.

Uma outra maneira é atuar sobre as contingências sociais: família,


escola, emprego, amigos. Nesse último caso é importante não confundir
autoridade com autoritarismo e preocupação com compaixão. Há uma
grande diferença ouvir do patrão, “pare de beber ou vai prá rua” e da
escola, “seu jeito não se encaixa aqui”, do que “você tem méritos
reconhecidos e por isso estamos preocupados com seu futuro e

31 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


queremos ajudá-lo, mas se as coisas QUADRO 10: PRATIQUE!

não mudarem teremos que


DEVOLUÇÃO (FEEDBACK)
dispensá-lo do emprego (ou
Aponte para o indivíduo como ele está
transferi-lo de escola)”. naquele momento e como você tem percebido
a evolução de sua vida. Por exemplo, quando
o aluno entra na classe nervoso e reclamando,
PRATICAR EMPATIA. Trata-se da ao invés de responder ao discurso proferido,
essência do aconselhamento. No é melhor apontar como ele está irritado hoje
e oque está acontecendo.
entanto, a empatia não deve ser
confundida com compaixão. O RESPONSABILIDADE

profissional não se identifica com o A mudança é do indivíduo, ele é responsável


por ela, mas há problemas para resolver e o
indivíduo, perdoando ou minimizando
profissional poderá a ajudá-lo se desejar.
o ocorrido. A escuta empática
notabiliza-se principalmente pela INVENTÁRIO
Há muitas maneiras de resolver um mesmo
compreensão das idéias trazidas pela
problema. Encontre com o aluno / funcionário
pessoa e procura refletir com ela a melhor forma de fazê-lo (opções de
escolha).
todas as hipóteses envolvidas na
questão. CONSELHOS EMPÁTICOS
Compreender o ponto de vista da pessoa é
fundamental para a criação de um ambiente
PROPORCIONAR FEEDBACK.
de mudança. Mesmo quando os indivíduos
Muitas vezes, o indivíduo não são “confrontados” com conselhos diretos, o

percebe o quanto tem estado clima empático, lhes permite recebê-los com
mais tranqüilidade.
ansioso, irritado, sua vida
desorganizada e seu tempo mal AUTO-EFICÁCIA

aproveitado. O aconselhamento Todos podem desenvolver capacidades


pessoais para resolver com êxito um
pode devolver-lhe tais percepções.
problema. Por mais difícil que seja a
Por exemplo, mostrar ao aluno que empreitada deve ser estimulada com
esperança e otimismo, sem fugir à realidade.
nos últimos três meses já foi
Por exemplo, o aluno bebeu e foi pego. ‘Dar
chamado na diretoria em seis uma bronca e comunicar aos pais’ é tão
ocasiões (e isso não acontecia errado quanto ‘guardar o segredo’. Refletir
sobre o assunto, propor que ele conte aos pais
antes), pode deixá-lo mais à vontade
e em seguida marcar uma reunião familiar, o
para refletir e mais atento para o torna parte integrante da solução do problema

curso do seu processo de mudança. e não um vilão ou vítima do ocorrido.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 32


ESCLARECER OBJETIVOS. Não QUADRO 11: EVITE!

basta, porém, que a pessoa


CONFRONTO E ARGUMENTAÇÃO
perceba o que está ocorrendo se
Argumentar gera apenas mais resistência. A
não tiver parâmetros de mudança. Entrevista Motivacional objetiva justamente o

Assim, o feedback bem definido oposto: encontrar pontos de atuação conjunta.


Desse modo, a resistência é vista como um sinal
deve ser acompanhado por metas
para uma mudança de foco. Procure questões que
realistas e alcançáveis. Por sejam também um problema para o indivíduo. Ele

exemplo: o aluno foi pego não precisa ‘ouvir verdades’ ou ‘ser convencido’,
mas sim refletir sobre o problema.
bebendo no bar da esquina da
escola. Após a conversa, entre as ROTULAÇÃO
Não há nada mais contraproducente do que rotular
hipóteses e dificuldades
alguém. Muitas vezes, a pergunta “eu sou um
levantadas, estava a sensação do drogado?”, “sou um viciado?” parte do próprio
aluno de que os pais nunca entrevistado. Responder só aumenta a resistência,
além de não ser importante para o curso da
entenderiam se fossem
intervenção. Você não está lá para dizer a ele o
comunicados do ocorrido. Talvez que ele é, mas para ajudá-lo a resolver uma

o melhor a fazer aqui seja situação.

combinar que ele dirá aos pais que


PAPEL DE ESPECIALISTA
a orientadora quer marcar uma Colocar-se como ‘dono da verdade’ por ser

reunião para a semana seguinte, especialista ou ‘mais experiente’ elimina a


possibilidade de cooperação por parte do aluno.
e discutir o assunto com todos ao
mesmo tempo. FOCO PREMATURO
Cada estágio motivacional está pronto para
determinados assuntos. Partindo da pré-
AJUDA ATIVA. A motivação contemplação, os assuntos são amplos e pouco
também passa pelo interesse do relacionados ao consumo, tornando-se mais
específicos conforme a motivação aumenta. Por
profissional no caso. Desse modo,
isso, não adianta forçar no assunto drogas para
ajudar o indivíduo nos alguém que ainda acha que o problema todo é a

encaminhamentos e marcar família. É por ela que a discussão deve começar.

reuniões periódicas para saber


CULPA
como o tratamento ou o Quem é culpado pelo problema? Não resolve nada

relacionamento em casa vai indo descobrir, até porque não há culpados, mas pode
haver pessoas dispostas a assumir a
são importantes diferenciais para responsabilidade de resolver um problema atual.
o sucesso das intervenções.

33 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


EMPATIA

CONFRONTO AUTO-EFICÁCIA PRÓS &


FOCO CONTRAS
PREMATURO
REMOÇÃO DE
ROTULAÇÃO BARREIRAS
AMBIVALÊNCIA
COMPORTAMENTO MUDANÇA
ATUAL
CULPA RESISTÊNCIA
ORIENTAÇÕES
POSIÇÃO DE DIRETAS
ESPECIALISTA AJUDA
ATIVA DISCREPÂNCIA
ARGUMENTAÇÃO

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


OPÇÕES DE
ESCOLHA

Figura 10: Em cada estágio motivacional há algum grau de resistência e ambivalência quanto à mudança. Ambas, no entanto, são influenciáveis. Desse
modo, as estratégias motivacionais procuram fluir com a resistência e valorizar os aspectos positivos da mudança. O profissional, no entanto, precisa
estar sempre atento para as condutas que aumentam a resistência, fazendo com que os indivíduos optem pela permanência do comportamento atual.

34
O ACONSELHAMENTO A
QUADRO 12: AS ABORDAGENS DE ACORDO
PARTIR DOS ESTÁGIOS
COM O ESTÁGIO MOTAVACIONAL VIGENTE.
MOTIVACIONAIS
O aconselhamento deve PRÉ-CONTEMPLAÇÃO
Essa é uma fase onde não há espaço para
respeitar o estágio motivacional
soluções, mas para reflexão, muitas vezes de
de cada indivíduo (quadro 12) e assuntos que o indivíduo não relaciona com o uso

tentar conduzi-lo rumo ao estágio de substâncias. É preciso oferecer escutar os


problemas, remover barreiras, oferecer opções e
de ação e manutenção. Desse
criar boas expectativas. O confronto é o maior
modo, não adianta propor aliado da resistência e por isso não deve acontecer.

soluções para as quais as


CONTEMPLAÇÃO
pessoas não estejam Esse é um momento para discutir os prós e contras
preparadas: alguém de permenecer como está ou mudar de atitude. É
importante desenvolver discrepância, ou seja,
contemplando a mudança não
ficando como está, será possível conquistar seus
aceitará verdadeiramente deixar objetivos futuros? Trata-se um período dedicado

de fumar maconha só proque à análise dos riscos e acentuação das


potencialidades inerentes, visando a superar a
você o aconselhou a fazê-lo, mas
ambivalência que atravanca o processo.
provavelmente concordará em
discutir melhor o assunto em PREPARAÇÃO
O compromisso com a mudança não é eterno,
novos encontros.
tampouco sinal de sucesso por si só. Nessa hora
de remover barreiras e ajudar ativamente a busca

Desse modo, um bom por ajuda. O interesse e apoio pela iniciativa do


indivíduo são fundamentais.
aconselhamento consiste em
utilizar as ferramentais certas e AÇÃO
É a hora de se preocupar com a implementação
adequadas para o estágio
de um plano, analisando-o e incentivando o
motivacional em questão. Mais indivíduo a seguir em frente. É um momento que
uma vez, vale lembrar que o requer grande dedicação por parte do profissional.

aconselhamento não é mostrar


MANUTENÇÃO
o caminho a seguir. Essa escolha A manutenção bem-sucedida culmina na

é do indivíduo. Cabe ao construção de um novo estilo de vida, um jeito de


ser mais responsável e autônomo. Isso leva tempo
profissional refletir ativamente
e está sujeito a recaídas. Cabe ao educador se
qual o melhor forma de fazê-la interessar e estimular periodicamente o andamento

para chegar ao objetivo desejado. do processo de tratamento de seus alunos.

35 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


[6] TRATAMENTO

Não é o propósito deste manual apresentar o tratamento do uso nocivo


e da dependência química em todas as suas facetas, por ser este um
tema relacionado aos profissionais da saúde especializados. No entanto,
algumas informações acerca do tratamento podem nortear o
aconselhamento e as ccondutas dos educadores, profissionais da saúde
generalistas e outros profissionais.

Para a maioria dos casos, o aconselhamento pode ser considerado o


início do tratamento. Abordagens motivacionais bem conduzidas na
escola, nas empresas, nos ambulatórios e hospitais gerais aumentam
significativamente as chances do indivíduo buscar ajuda especializada.
Além disso, como muitos relutam em aceitar seu consumo de substâncias
como causador de danos à saúde ou não os relacionam ao uso de
drogas, a identificação do problema ou a primeira procura por ajuda
acontecem sempre nestes fora do ambulatório do especialista. Deste
modo, a rede social exerce um papel fundamental para o diagnóstico
precoce e o monitoramento do processo terapêutico.

Há diversos tipos de locais e linhas de tratamento específicos, cujas


indicações são complexas e dependentes de avaliação especializada.
No entanto, é importante que os outros profissionais saibam da existência
de tal diversidade. Muitos acreditam que a internação é o melhor
caminho. Atualmente, porém, o ambulatório é considerado a primeira
opção, sendo tão ou mais eficaz que a internação (inclusive entre os
dependentes graves). Além disso, estratégias de reabilitação psicossocial
e suporte médico, psicológico e social potencializam sua eficácia. Desse
modo, cabe ao educador identificar e encaminhar os casos o mais breve
possível e acompanhar se o aluno e sua família estão envolvidos e
participando das consultas.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 36


37
Ambulatório
TRATAMENTO RECAÍDA ABSTINÊNCIA

Internação
Internação

ABANDONO OU REDUÇÃO PERMANÊNCIA DO Ambulatório


(ESPONTANEAMENTE) CONSUMO

Prevenção Internação
Redução
dirigida
de danos
COMPLICAÇÕES
psicoterapia • CLÍNICAS Outros
Prevenção USO médicos
dirigida PROBLEMÁTICO • PSICOLÓGICAS
• ABUSO • SOCIO-ECONÔMICAS
• DEPENDÊNCIA • TRABALHO
INÍCIO
• ESCOLARIDADE
• IDADE • RELACIONAMENTOS
Reabilitação
• MOTIVOS psicossocial • CRIMINALIDADE
• CONTEXTO • MORTALIDADE
Prevenção
dirigida ABANDONO OU REDUÇÃO
(ESPONTANEAMENTE)

Figura 11: O processo de tratamento. Essa figura não é um roteiro de condutas de tratamento. Apenas ilustra a diversidade de estratégias de
abordagens, cuja existência os educadores e outros profissionais precisam saber. No geral, os casos de dependência são tratados ambulatorialmente.
Frente à recaída, pode-se considerar tanto permanência neste ambiente ou quanto internações focais. Internações longas são exceção. Os que continuam
consumindo podem receber de redução de danos ou indicação de internações compulsórias (doenças psiquiátricas, ameaça a si ou a terceiros,...).
Melhorar o aporte social (moradia assistida,...) e promover a reabilitação psicossocial são etapas essenciais para o sucesso da abordagem escolhida.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


[7] REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a reabilitação


psicossocial é “um processo que oferece a indivíduos prejudicados ou
incapacitados por alguma doença mental a oportunidade de alcançar
seu nível ótimo de funcionamento na comunidade. Isso inclui tanto
melhorar competências individuais, quanto introduzir mudanças no
ambiente”.

Os transtornos relacionados ao consumo de álcool e drogas são uma


doença mental e a escola e o local de trabalho, ambientes importantes
para o cotidiano destas pessoas. Desse modo, os profissionais locados
nestes ambientes são fundamentais para o processo de remoção de
barreiras que impede a plena integração de um indivíduo na sua
comunidade e de barreiras que impedem o pleno exercício de seus
direitos, da sua cidadania.

Não há uma regra de como as escolas e empresas podem contribuir


para a reabilitação social de seus membros. Identificar, aconselhar e
apoiar o processo de mudança já é um passo importante. De igual
importância são as estratégias de prevenção e programas que facilitam
o retorno dos indivíduos as suas atividades.

Tais instituições podem, ainda, buscar uma interação maior com sua
comunidade, extrapolando sua função instituída para tornar-se também
uma referência local de cultura, lazer, participação política e cidadania.
Ao serem incorporadas e adotadas pela comunidade local, tais espaços
contribuem para o fortalecimento do indivíduo, para aperfeiçoamento de
suas habilidades sociais e práticas, redução do estigma e discriminação
e para a criação de um suporte social mais duradouro.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 38


[8] POLÍTICAS PÚBLICAS

Qualquer esforço preventivo, terapêutico ou reabilitador perde em eficácia


e qualidade quando não está inserido e embasado por uma política
pública consistente. As políticas de controle para o consumo de álcool,
tabaco e outras drogas devem ser consideradas tanto do ponto vista
nacional, estadual e municipal, quanto local.

Desse modo, toda escola e empresa devem possuir uma política clara
acerca do assunto. Por exemplo, como as escolas se posicionam quanto
ao consumo de tabaco pelo corpo docente, discente e de funcionários
administrativos? Quanto aos bares que circudam os locais de ensino, o
que poderia ser feito para conscientizar seus donos a não venderem
álcool para os alunos (em sua maioria menores de idade)? Como se
posicionar quando alguém chega para as atividades alcoolizado ou sob
efeito de outras drogas?

Uma maneira de atender a estes questionamentos é abrindo a discussão


para todos os envolvidos, por meio de grupos de estudo, palestras,
debates internos, votações, além de outros instrumentos de participação,
culminando na elaboração de texto normatizador das condutas da
instituição acerda do tema.

Além disso, qualquer instituição integra uma rede social mais ampla,
cujos rumos são decididos dentro das casas legislativas nos diversos
níveis. Participar da sociedade civil organizada que reivindica leis mais
claras e viáveis para regulamentar a taxação e a venda de álcool e tabaco
também reforça o papel destas instituições como referências comunitárias
e fortalece a postura adotada internamente no tocante ao consumo de
substâncias psicoativas.

39 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


PARTE 2

As substâncias psicoativas

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 40


QUADRO 13: CLASSIFICAÇÃO DAS
[1] CONCEITO E SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS QUANTO À AÇÃO

FARMACOLÓGICA NO CÉREBRO.
CLASSIFICAÇÃO
DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO
Atuam inibindo globalmente o funcionamento do
Substâncias com potencial de
sistema nervoso central, provocando sonolência,
abuso são aquelas que podem relaxamento muscular e incoordenação motora.
desencadear no indvíduo a auto- Álcool, inalantes, ópio e derivados (heroína,
Dolantina, metadona), calmantes
administração repetida, que
(benzodiazepínicos e barbitúricos)
podem resultar em compulsão
e sintomas de abstinência.
ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO
Atuam estimulando globalmente o funcionamento
Tais substâncias podem ser do sistema nervoso central, provocando aumento

classificadas quanto à origem, da vigília, tensão muscular e inquietação motora.


Nicotina, cafeína, cocaína, anfetaminas.
ação farmacológica (quadro 13)
e status legal. Quanto à origem PERTURBADORES DO SISTEMA NERVOSO
Atuam em diversas regiões do sistema nervoso
aquelas provenientes de plantas
central, provocando perturbações no curso e forma
ou fungos são denominadas do pensamento, alterações de orietação do tempo
naturais (maconha, cocaína, e espaço, bem como da percepção com o
surgimento de ilusões e alucinações aditivas e
álcool, tabaco). As obtidas em
visuais.
laboratório a partir de uma Maconha, ecstasy, LSD, DMT (Chá do Santo

molécula natural, são Daime), mescalina (peiote), anticolinérgicos (lírio,


Bentyl, Artane).
semi-sintéticas (heroína),
enquanto as sintéticas
(anfetaminas, ecstasy, LSD) são totalmente fabricadas em laboratório.
Quanto ao status legal, as substâncias podem ser classificadas em lícitas
e ilícitas.

Entre o público leigo há um certo consenso de que o lícito e o natural são


sinais de inofensividade. O álcool e o tabaco (naturais e lícitas) são as
que mais trazem à saúde do usuário. Esse é um ponto importante para a
discussão em sala de aula ou nas empresas. A seguir as principais
substâncias serão apresentadas a partir de sua ação farmacológica.

41 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ÁLCOOL
SEDATIVO, NATURAL E LÍCITO

O álcool é uma substância lícita, obtido a partir fermentação ou destilação


da glicose presente em cereais, raízes e frutas. O álcool está presente
em quase todas as culturas e participa plenamente do cotidiano da
humanidade. É também a substância que mais causa danos à saúde,
causa dependência e possui um quadro de abstinência que pode levar
ao óbito, se não tratada. Por outro lado, consumo diário em baixas
doses é protetor contra doenças cardiovasculares, mas essa prática não
deve ser estimulada como ‘método preventivo’.

Estudos brasileiros apontam que boa parte dos estudantes do ensino


fundamental e a imensa maioria dos estudantes do ensino médio
experimentam bebidas alcoólicas antes do términos destes ciclos. Dessa
forma, o álcool (ao lado do tabaco) devem ser as subtâncias a merecerem
maior atenção por parte dos educadores e outros profissionais.

AÇÃO NO CÉREBRO
O álcool ingerido é absorvido rapidamente por qualquer mucosa do trato
gastrintestinal (da boca ao intestino). No cérebro, começa atuando como
ansiolítico, provocando um quadro de euforia e bem estar. O aumento
da dose, porém, leva à depressão do sistema, causando sonolência.
sedação, incoordenação motora e relaxamento muscular. Doses
extremamente elevadas podem levar ao coma.

O início dos efeitos da ingestão do álcool está condicionado a diversos


fatores. A presença de alimentos no estômago diminui a velocidade de
absorção. Bebidas frisantes e licorosas são absorvidas com maior
rapidez. A velocidade da ingestão também interfere: quanto mais rápido
se bebe, mais prontos e intensos serão os efeitos.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 42


DANOS À SAÚDE QUADRO 14: INTOXICAÇÃO AGUDA
O álcool tem ação tóxica direta PELO ÁLCOOL

sobre diversos órgãos. As


EFEITOS FÍSICOS:
complicações mais freqüentes são
* aumento da diurese
as gastrites, úlceras [estômago] ,
* redução dos reflexos
hepatite, esteatose (fígado
* marcha cambaleante
gorduroso), cirrose [fígado] , * náuseas e vômitos
pancreatite [pâncreas] , demência, * overdose: coma, devido à ação

anestesia e dor e diminuição da do álcool nos centros cardíaco e

força muscular nas pernas respiratório do cérebro.

(neurites) [sistema nervoso] e


EFEITOS PSÍQUICOS:
doenças do coração, com risco de
* desinibição e euforia em baixas
infarto, hipertensão e derrame
doses, evoluindo para a sedação,
cerebral [sistema circulatório]. O conforme o aumento da dose.
álcool também aumenta o risco de * Afeto instável, podendo alternar

câncer no trato gastrintestinal, na episódios de euforia,t risteza,


choro, irritação e impulsividade.
bexiga, na próstata, garganta e
* Prejuízos da memória, atenção
outros órgãos.
e concentração.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
Inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Os
tremores de extremidade e lábios são os mais comuns, associados a
náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos mais
graves evoluem para convulsões e estados confusionais, com
desorientação temporal e espacial, falsos reconhecimentos e alucinações
auditivas, visuais e táteis (delirium tremens).

A dependência, com surgimento da síndrome de abstinência, aparece


alguns anos após o uso diário e intenso de álcool, acometendo indivíduos
com mais de vinte anos. Desse modo, este não é um quadro muito
observado nas escolas. Nestes ambientes os educadores devem estar
mais atentos para o uso nocivo.

43 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


INALANTES
SEDATIVO, SÍNTETICO E LÍCITO

Com exceção do éter e do


QUADRO 15: INALANTES MAIS
clorofôrmio, utilizados como COMUMENTE ENCONTRADOS
anestésicos gerais, os inalantes não
possuem qualquer finalidade SOLVENTES
Tolueno
médica e apesar de serem vendidos
Acetona
livremente, seu consumo é
Benzeno
criminalizado.
ANESTÉSICOS
Éter
Os inalantes são hidrocarbonetos
Clorofórmio
de grande volatilidade.
Halotano
Cotidianamente, são utilizados
como solventes e combustíveis, COMBUSTÍVEIS

presentes em aerossóis, vernizes, Butano (gás de isqueiro)

tintas, propelentes, colas, esmaltes


e removedores (quadro 15). Um dos inalantes mais conhecidos, o lança-
perfume, é uma mistura de cloreto de etila, éter, cloroformio e uma
essencia aromatizante.

A inalação dessas substâncias ocorre em várias partes do mundo,


sobretudo entre crianças e adolescentes de países subdesenvolvidos ou
por populações marginalizadas de países industrializados. Estão entre
as mais usadas por estudantes de escolas públicas brasileiras.

AÇÃO NO CÉREBRO
A ação dos solventes é pouco conhecida, tendo em vista a variedade de
produtos existentes e a freqüente associação entre solventes e poliabuso.
Clinicamente funcionam como depressores centrais. Seus efeitos
intensos e efêmeros determinam um padrão de uso marcado por vários
episódios de consumo de modo continuado (rush).

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 44


INTOXICAÇÃO AGUDA
Doses iniciais trazem ao usuário uma sensação de euforia e desinibição,
associada a tinidos e zumbidos, incoordenação motora, risos imotivados
e fala pastosa. Com a continuação do uso, surgem manifestações cde
depressão do SNC: confusão mental, desorientação e possíveis
alucinações visuais e auditivas. A terceira etapa acentua a depressão
central, com redução do estado de alerta, piora da incoordenação motora
e das alucinações. A intoxicação pode atingir níveis ainda mais profundos,
com estado de inconsciência, convulsões, coma e morte.

Os inalantes também são depressores cardíacos (ação miocárdica direta)


e respiratórios. Arritmias decorrentes do uso agudo já foram relatadas.
Traumas relacionados à incoordenação e distraibilidade decorrentes da
intoxicação são maiores nessa população.

INTOXICAÇÃO AGUDA
Atrofias cerebrail e cerebelares são possíveis em usuários crônicos,
produzindo sintomas de empobrecimento intelectual e incoordenação
motora permanentes. A benzina é metabolizada pelo fígado, que a converte
em substâncias capazes de causar danos aos nervos periféricos. Isso
provoca quadros de anestesia, dor e perda da força muscular nos
membros. Pode haver ainda insuficiência renal crônica, hepatites tóxicas,
complicações gastrointestinais (náuseas, vômitos, dores abdominais
difusas e diarréia) e respiratórias (pneumonites químicas, tosse,
broncoespasmos,...).

45 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


OPIÁCEOS
SEDATIVO
NATURAL, SEMI-SINTÉTICO E SINTETICO
LÍCITO E ILÍCITO

Considerando o seu modo de obtenção, os opiáceos podem ser divididos


em três classes: a morfina, a codeína (Elixir Paregórico) são opiáceos
naturais extraídos da planta Papaver somniferum, conhecida por papoula.
A partir de modificações na molécula foi possível a obtenção de opiáceos
semi-sintéticos, de ação ou duração prolongadas, como a heroína e a
metadona. Já a meperidina (Dolantina), propoxinefo (Algafan) e
fentanil (Inoval) foram totalmente em laboratório (sintéticos).

Os opiáceos são possuem apresentações na forma de comprimidos,


ampolas, em pó e supositórios. Desse modo, todas as vias de
administração são possíveis: oral, inalado, fumado, injetado ou como
supositório. No Brasil, o consumo de opiáceos é pouco freqüente,
encontrado mais entre profissionais da saúde (acesso aos derivados
sintéticos) e em regiões portuárias.

Os opiáceos possuem utilidade indiscutível para Medicina, especialmente


no alívio de dores intensas e refratárias (câncer) e na anestesia. Algumas
substâncias como a heroína, não possuem indicação médica, sendo
seu uso considerado um ato ilícito.

AÇÃO NO CÉREBRO
O cérebro produz substâncias opióides, responsáveis pela modulação
do prazer e da dor. Os derivados do ópio agem justamente sobre esse
sistema. Quando consumidos de forma prolongada, acabam provocando
desequilíbrios no sistema opióide cerebral, evoluindo com tolerância e
síndrome de abstinência.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 46


EFEITOS AGUDOS QUADRO 16: SINAIS E SINTOMAS DE

O uso de opiáceos produz um INTOXICAÇÃO POR OPIÁCEOS

quadro de analgesia, sedação e


EFEITOS PSÍQUICOS
sensação de euforia e bem-estar. * Sensação de euforia e prazer
Intoxicações mais graves podem * Onirismo ensimesmamento

evoluir com sedação excessiva e


EFEITOS FÍSICOS
piora do padrão respiratório. A * Pupilas contraídas (miose)
* Torpor
overdose dos opiáceos é
* Inibição da tosse
caracterizada por miose * Redução da ritmo respiratório
* Empachamento e prisão de ventre
pronunciada, depressão respiratória
e coma (quadro 16). COMPLICAÇÕES
* Overdose: coma e falência
cárdio-respiratória
DEPENDÊNCIA
Os opiáceos são capazes de induzir
QUADRO 17: SÍNDROME DE
dependência de forma rápida, com
ABSTINÊNCIA POR OPIÁCEOS
desenvolvimento de tolerância e
sintomas de abstinência intensos. * Ansiedade

A freqüencia e a dose média de * Inquietação psicomotora


* Ereção de pêlos
consumo, bem como a via de
* Sudorese
administrção interferem sobre o * Lacrimejamento
início e a intensidade da * Rinorréia

dependência. * Diarréia
* Dilatação das pupilas (midríase)
* Espasmo e dor muscular
Uma vez instalada, síndrome * Aumentos dos batimentos cardíacos
aparece poucas horas após a * Febre e calafrios

interrupção do uso, com ansiedade


e irritabilidade importantes, ereção
dos pelos, sudorese, lacrimejamento, aumento da freqüência cardíaca,
cólicas, diarréia profusa e dores pelo corpo. O alívio só é obtido com a
administração de um opiáceo de substituição.

47 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


CALMANTES
SEDATIVOS, SINTÉTICOS E LÍCITOS

Os calmantes são substâncias QUADRO 18: BDZ MAIS COMUNS


lícitas de indicação médica. Há
ALPRAZOLAM Apraz, Frontal
duas classes principais: os
BROMAZEPAM Lexotan
barbitúricos e os benzodiazepínicos
CLORDIAZEPÓXIDO Psicosedin
(BDZ). Os primeiros são utilizados CLONAZEPAM Rivotril

como anestésicos e para o CLOXAZOLAM Olcadil


DIAZEPAM Valium
tratamento da epilepsia
FLUNITRAZEPAM Rohypnol
(fenobarbital). Já os segundos são FLURAZEPAM Dalmadorm
utlizados no tratamento da LORAZEPAM Lorax
MIDAZOLAM Dormonid
ansiedade e episódios de insônia.
NITRAZEPAM Sonebom
Os BDZ são comuns em nosso
meio (quadro 18 ) e por isso esta
seção será totalmente dedicada a eles.

As pessoas começam a tomá-los por indicação médica ou por intermédio


de alguém da família ou amigos que os utilizam. O uso indevido destes
medicamentos atinge especialmente as mulheres em idade escolar,
período em que sintomas depressivos e ansiosos aparecem com mais
freqüência. Os calmantes os aliviam inicialmente, mas o
estabelecimento da dependência, os fazem ressurgir com mais
intensidade do que antes, associados aos sintomas de desconforto da
abstinência.

EFEITOS AGUDOS
A redução da ansiedade é o efeito procurado por aqueles que utilizam
BDZ. No entanto, qualquer modo de consumo traz como efeitos colaterais
algum prejuízo da atenção e da memória. Isso pode piorar o desempenho
na escola e no trabalho, bem como expor os usuários a acidentes
automobilísticos ou no manuseio de equipamentos.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 48


O uso abusivo pode levar a intoxicações
agudas ( quadro 19 ), que vão da
QUADRO 19: INTOXICAÇÃO
sonolência e incoordenação motora à AGUDA POR BDZ

confusão mental, coma e, raramente,


* Sedação
parada respiratória.
* Marcha instável
* Tonturas

DEPENDÊNCIA * Visão embaçada


* Fala pastosa
Há dois de usuários de BDZ: [1] aqueles * Piora da atenção
que os utilizam em doses terapêuticas, * Fadiga
* Hipotensão
sem nenhum ou poucos prejuízos em
* Insuficiência respiratória
suas funções; e [2] os que consomem
* Coma
calmantes em grandes quantidades e
de maneira compulsiva. O primeiro
QUADRO 20: SÍNDROME DE
grupo costuma apresentar sintomas de ABSTINÊNCIA POR BDZ

abstinência psíquicos (quadro 20), que


SINTOMAS PSÍQUICOS
podem resultar, por exemplo, na piora * Insônia
do rendimento escolar. Já o segundo, * Desconcentração
* Prejuízo da memória
pode apresentar sintomas físicos e
* Mal-estar psíquico
sérias complicações (quadro 20). * Irritabilidade
* Inquietação / Agitação

DANOS À SAÚDE
SINTOMAS FÍSICOS
O consumo por muitos anos de BDZ * Tremores

pode causar danos à cognição, em * Suor excessivo


* Palpitações
especial à memória, algumas vezes de * Náuseas / Vômitos
modo definitivo. Aqueles que o utilizam * Sintomas gripais
* Dores de cabeça
abusivamente estão ainda mais
* Dores musculares
expostos. Além disso, boa parte dos
usuários possuem doenças COMPLICAÇÕES
* Convulsões
psiquiátricas (depressão e ansiedade).
* Desorientação no
Deste modo, é fundamental detectar os tempo e no espaço
que fazem o uso indevido de BDZ e * Alucinações

encaminhá-los para tratamento.

49 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


NICOTINA
ESTIMULANTE, NATURAL E LÍCITO

A nicotina é um estumulante encontrado nas folhas da planta Nicotiana


tabacum. A queima das folhas promove a liberação do estimulante e
outras quatro mil substâncias, entre estas o monóxido de carbono e o
alcatrão. Essas últimas são as responsáveis pela toxicidade do produto.

A idade média do início do consumo é entre treze e quatorze anos. Cerca


da metade dos que experimentam cigarro se tornam dependentes.
Estima-se ainda que 60% dos que fumam por mais de seis semanas
fumarão pelos próximos trinta anos. O cigarro diminui em média 25%
da expectativa de vida dos fumantes. O consumo da substância é o
maior causador de mortes passível de prevenção do mundo.

EFEITOS AGUDOS
A nicotina é um estimulante leve do cérebro. A absorção ocorre pelos
capilares do pulmão ou pela
mucosa da boca, atingindo o
QUADRO 22: EFEITOS AGUDOS DO
sistema nervoso central pela
CONSUMO DE NICOTINA
circulação sanguínea.
* Aumento da vigília
Nos primeiros episódios de uso, * Elevação discreta dos batimentos
cardíacos
alguns efeitos como náuseas,
* Elevação discreta do humor
tonturas e o formigamento
* Diminuição do apetite
sobressaem, para depois * Sensação de relaxamento

desaparecerem. Após o
desenvolvimento de tolerância aos efeitos desagradáveis, o consumo
produtos produz aumento do estado de vigília e uma elevação discreta
do humor, com sensação de relaxamento (quadro 22). Esses efeitos
prazerosos tendem a diminuir, conforme o consumo vai se repetindo,
até o surgimento da dependência.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 50


DEPENDÊNCIA
QUADRO 22: SÍNDROME DE
Com o estabelecimento da ABSTINÊNCIA DA NICOTINA
dependência, o fumante se torna
* Ansiedade
mais tolerante aos efeitos do
* Inquietação
cigarro, mas sofre com sua falta. * Insônia
Pode haver irritabilidade, * Desconcentração
* Dor de cabeça
ansiedade, insônia, sintomas
* Fissura
depressivos, mas principalmente
fissura.

DANOS À SAÚDE
O consumo de cigarro causa contração arterial e facilita o surgimento
de placas de gordura, predispondo o usuário à hipertensão, infartos do
miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (derrames). Atua nos
alvéolos pulmonares, levando à destruição e substituição dos mesmos
por cavidades aéreas incapazes de realizar trocas gasosas (enfisema).
Está associado a doenças como bronquites, asma, infecções das vias
aéreas. Aumenta o risco de câncer em diversos órgãos, tais como
pulmão, garganta e estômago. Aumenta a acidez gástrica, predispondo
o aparecimento de gastrites e úlceras.

51 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


COCAÍNA
ESTIMULANTE, NATURAL E ILÍCITA

A cocaína é um alcalóide obtido QUADRO 23: FORMAS DE CONSUMO


das folhas da planta Erythroxylon MAIS COMUNS DA COCAÍNA

coca. Atinge o sistema nervoso


FOLHAS MASCADAS
central após ser absorvida pela Nos países andinos é a forma mais popular
mucosa do nariz (inalada), pelas de consumo. As folhas são mascadas até

vilosidades intestinais (ingestão a formação de bolo, que é depositado na


bochecha. A cocaína vai sendo liberada
oral) ou pelos capilares
na saliva e absorvida pelo organismo. As
pulmonares (fumada). Pode folhas de coca, por sua baixa concentração

ainda ser injetada diretamente na de cocaína (0,5 - 2%) são consideradas


plantas medicinais. Pode ser consumida
circulação venosa.
também na forma de chá.

Pode ser consumida por qualquer PASTA DE COCA


É um produto intermediário da fabricação
via, oral, inalada, injetável ou
da cocaína refinada. Por sua natureza
fumada, dependendo da alcalina pode ser fumada, em geral isturada
apresentação escolhida(quadro com tabaco ou maconha.

23).
COCAÍNA REFINADA (“PÓ”)
Produto final do refino da cocaína, inalada
A rapidez do pico de ação, a ou diluída em água para uso endovenoso.

intensidade e a duração do efeito


CRACK
causado por uma substância
Resultado da mistura de cocaína refinada
química estão relacionados a sua e substâncias alcalinas, como o
capacidade de gerar bicarbonato de sódio. O aquecimento
desta mistura provoca precipitação de
dependência. A cocaína refinada
cristais de cocaína. São fumados em
leva cerca de 15 minutos até seu cachimbos.
pico de ação, que dura até 45
minutos. Já as formas fumadas
e injetáveis têm ação imediata, mais intensa e efêmera (5 minutos),
sendo por isso mais ocasionadora de dependência.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 52


EFEITOS AGUDOS QUADRO 24: EFEITOS DA AÇÃO

O consumo de cocaína provoca AGUDA DA COCAÍNA

aceleração do pensamento,
EFEITOS PSÍQUICOS
inquietação, aumento do estado de * Euforia e bem-estar
vigília e inibição do apetite. As * Aceleração do pensamento e curso da

alterações do humor são variáveis: idéias, produzindo a sensação de um


pensamento livre e objetivo, capaz de
da euforia (desinibição, fala solta)
discorrer qualquer assunto.
a sintomas de mal-estar psíquico * Redução da fadiga e da fome.
(medo, ansiedade e inibição da * Irritabilidade e impulsividade.

fala). A overdose é a complicação * Sintomas depressivos ao encerramento


do uso, geralmente com forte desejo
clínica mais importante, atingindo
de consumir mais (fissura).
todos os usuários (quadro 24). * Ansiedade, sensação de pânico e
perda do controle

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA E
EFEITOS FÍSICOS
SENSIBILIZAÇÃO
* Aumento da reqüência cardíaca e da
Dois fenômenos se desenvolvem a pressão arterial
partir do uso continuado: a * Elevação da temperatura corpórea
* Aumento do ritmo intestinal
síndrome de abstinência,
* Tremores
marcada por fissura , ansiedade,
* Aumento do tônus muscular
inquietação, irritabilidade e piora da * Dilatação da pupila
concentração e sensibilização, * Sudorese

caracterizada por tiques e


COMPLICAÇÕES
movimentos repetitivos na vigência * Sintomas psicóticos agudos
do consumo, além de sintomas * Overdose

paranóides, conhecidos por nóia.

DANOS À SAÚDE
A via de administração da cocaína pode causar uma série de danos, tais
como [inalada] sangramentos e destruição da mucosa nasal, [fumada]
lesões térmica, fibrose e pneumonias, [injetável] infecções de pele,
endocardites (infecções das válvulas cardíacas), abscessos pulmonares
e cerebrais, infecção pelos vírus da hepatite e do HIV.

53 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ANFETAMINAS
ESTIMULANTES, SINTÉTICAS E LÍCITAS

As anfetaminas foram os primeiros QUADRO 25: PERSPECTIVA


estimulantes desenvolvidos em HISTÓRICA DAS ANFETAMINAS

laboratório (quadro 25). Devido


As anfetaminas foram sintetizadas
a sua capacidade de causar
na década de trinta. O propósito era
dependência é considerada um
o tratamento do transtorno de déficit
medicamento de venda controlada.
de atenção e hiperatividade, então
Geralmente, há dois perfis de
denominado hiperatividade ou
consumo: em baixas doses para
disfunção cerebral mínima.
melhorar o desempenho social ou Atualmente têm indicações para o
perder peso e em altas doses, tratamento da transtorno de déficit de
visando aos efeitos euforizantes da atenção e hiperatividade, da
substância. Na primeira situação, narcolepsia e da obesidade com
os indivíduos ficam expostos a restrições1.
esforços e atividades
desnecessárias, resultando em Nos últimos vinte anos, anfetaminas

estresse e fadiga. A tentativa de modificadas têm sido sintetizadas


em laboratórios clandestinos para
abandonar ou diminuir o uso resulta
serem utilizadas com fins não-
em depressão e letargia. Meninas
médicos. A mais conhecida e
em idade escolar, preocupadas
utilizada no Brasil é a 3,4-
com a aparência e o desejo de
metilenedioxi-metanfetamina
perder peso se enquadram nesse
(MDMA), o ecstasy, uma
grupo.
metanfetamina inicialmente
identificada com os clubbers e suas
Indivíduos interessados nos efeitos festas, conhecidas por raves.
euforizantes da substância podem
atingir padrões de abuso, conforme
a tolerância se desenvolve. Sedativos como álcool e benzodiazepínicos
são utilizados com freqüencia a fim de combater a insônia provocada
pelo uso desregrado.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 54


EFEITOS AGUDOS QUADRO 26: EFEITOS AGUDOS DO

As anfetaminas produzem um CONSUMO DE ANFETAMINAS

quadro semelhante ao da
EFEITOS PSÍQUICOS
cocaína (quadro 26). Efeitos * Euforia e bem-estar
indesejáveis, tais como * Aceleração do pensamento e curso da

ansiedade e pânico, inquietação, idéias, produzindo a sensação de um


pensamento livre e objetivo, capaz de
irritabilidade, tremores, tiques,
discorrer qualquer assunto.
bruxismo, labilidade do humor, * Redução da fadiga e da fome.
cefaléia, calafrios, vômitos, * Irritabilidade e impulsividade.

sudorese e pressão de fala * Sintomas depressivos ao encerramento


do uso.
podem aparecer. Cristais de
* Ansiedade, sensação de pânico e
metanfetaminas, como o ice ou perda do controle
o cristal (desconhecidas no
EFEITOS FÍSICOS
Brasil), são fumadas em
* Aumento da reqüência cardíaca e da
cachimbos de vidro, podendo
pressão arterial
também serem injetadas ou * Elevação da temperatura corpórea
inaladas. Os sintomas * Aumento do ritmo intestinal
* Tremores
euforizantes e estimulantes são
* Aumento do tônus muscular
intensos sendo comum o
* Dilatação da pupila
surgimento de e sintomas * Sudorese
psicóticos durante o consumo.
COMPLICAÇÕES
* Sintomas psicóticos agudos
DEPENDÊNCIA * Overdose
A síndrome de abstinência
chega a atingir cerca de 90% dos
usuários de anfetamina. O quadro se caracteriza por fissura intensa,
ansiedade, agitação, redução da energia, lentificação, sintomas
depressivos e exaustão.

55 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ECSTASY
ESTIMULANTE E ALUCINÓGENO, SINTÉTICO E ILÍCITO

O ecstasy é uma anfetamina modificada, cuja conformação lhe confere


propriedades estimulantes e alucinógenas. A substânica foi descoberta
no início do século XX, classificada como moderadora do apetite, mas
não chegou a ser comercializada. Nos anos setenta suas propriedades
psicotrópicas fizeram com que fosse utilizada dentro de sessões de
psicoterapia, ganhando as ruas a partir de então.

Inicialmente, apareceu associado ao público jovem e frequentador de


casas noturnas e festas ao som de música eletrônica, denominadas
raves. O ecstasy (MDMA) é habitualmente consumido em tabletes ou
cápsulas, contendo cerca de 120mg da substância. A duração dos efeitos
é 4 a 6 horas e o pronto desenvolvimento de tolerância torna pouco
provável o desenvolvimento de dependência.

EFEITOS AGUDOS
QUADRO 27: EFEITOS AGUDOS DO
Sua ação desencadeia um quadro
CONSUMO DE ECSTASY
de euforia e bem-estar, sensação
de intimidade e proximidade com * Euforia e bem-estar
* Desinibição e fala solta
os outros. Outros sintomas são
* Aumento da libido
anorexia, taquicardia, tensão * Sensação de proximidade com
maxilar, bruxismo e sudorese. os outros.
* Sintomas de ansiedade e pânico
Sintomas ansiosos, depressivos
* Persecutoriedade
e psicóticos podem aparecer, * Aumento do trabalho cardíaco
especialmente em indivíduos * Elevação da temperatura do corpo
predispostos a estas doenças. * Dilatação das pupilas

As principais complicações
ameaçadoras à vida relacionadas
ao consumo de ecstasy são hipertensão, edema agudo de pulmão,

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 56


convulsão, colapso
cardiovascular,
PRODUÇÃO DE CALOR PELO CORPO
traumas e hipertermia. ESFORÇO FÍSICO, AUMENTO DO METABOLISMO
PELA AÇÃO DO ECSTASY, ROUPAS, NÃO-
Essa última é a INGESTÃO DE BEBIDAS GELADAS

complicação clínica
PRODUÇÃO DE
mais associada ao uso CALOR PELO
AMBIENTE

de ecstasy. AMBIENTES
FECHADOS,
LOTADOS E SEM
REFRIGERAÇÃO

Por ser um estimulante,


o ecstasy aumenta o
trabalho do corpo,
produzindo calor e
aquecendo o CALOR LOCAL > CALOR DO CORPO
O CORPO NÃO CONSEGUE PERDER CALOR PARA
organismo. Alguns dos O MEIO AMBIENTE E ACABA ATINGINDO
TEMPERATURAS INCOMPATÍVEIS COM A VIDA.

ambientes de consumo
desta substância são FIGURA 12: A hipertermia. A incapacidade do corpo
em perder calor para ambientes muito aquecidos
casas noturnas
aumenta em demasia sua temperatura e o coloca
fechadas e lotadas e sua viabilidade em risco.
com pouca
disponibilidade de
água. Estes ambientes aquecidos impedem que o corpo lance mão
com sucesso de seus mecanismos para perder calor, resultando em um
super-aquecimento deste (hipertermia).

Um dos efeitos da exposição do organismo a temperaturas incompatíveis


com a vida é a degradação das proteínas musculares, que passam à
circulação sanguínea, e, devido ao seu tamanho acabam retidas na
filtração dos rins, ‘entupindo’ estes órgão e causando insuficiência renal,
incompatível com a vida. As convulsões são outra complicação
decorrente da hipertermia. Orientar sobre estes os riscos e as maneiras
de evitá-la é um modo eficaz de reduzir danos entre esta população.

57 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


MACONHA
ALUCINÓGENO, NATURAL E ILÍCITO

A maconha é a droga ilícita mais QUADRO 27: APRESENTAÇÕES MAIS


consumida em todo o mundo, COMUNS DO CÂNHAMO.

sendo a mais utilizada por


MACONHA
estudantes brasileiros. Suas
Mistura de brotos e folhas da planta
apresentações ( quadro 27 ) são cannabis sativa, contendo cerca de 3 a
provenientes da Cannabis sativa, 5% da substância ativa.

um arbusto da família das


HAXIXE
Moraceae, conhecida pelo nome de
Preparação mais apurada, utilizando
cânhamo. apenas o óleo que envolve os brotos
fêmeos, ricos em THC (15%).

A dependência de maconha está


HAXIXE OIL
entre as dependências de drogas
Através de depuração, é possível a obter-
ilícitas mais comuns: um em dez se uma resina com concentrações de até
daqueles que usam maconha na 30% de THC.

vida se tornam dependentes em


APRESENTAÇÕES HÍBRIDAS
algum momento do seu período de
O cultivo caseiro ou em estufas,
4 a 5 anos de consumo pesado. associada à engenharia genética, tem
pr oduzido plantas com altas
AÇÃO NO CÉREBRO concentrações de THC. O mais
conhecido em nosso meio é o skunk
A resina que recobre os brotos
(30%).
fêmeos Cannabis sativa contém 60
alcalóides conhecidos como As apresentações acima são consumidas
canabinóides. Eles são os principalmente pela via inalatória
(fumada), em cigarros ( baseados) ou
responsáveis pelos seus efeitos
cachimbos (maricas).
psíquicos da planta, sendo o Delta-
9-THC o mais potente. Sabe-se
hoje que existem receptores canabinóides no cérebro específicos para o
THC, bem como um suposto neurotransmissor para os receptores
endógenos, denominando-o anandamida.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 58


EFEITOS AGUDOS QUADRO 28: EFEITOS AGUDOS DO

Os efeitos da intoxicação CONSUMO DE MACONHA

aparecem após alguns minutos


EFEITOS PSÍQUICOS
do uso. Déficits motores (por ex., * Letargia e sonolência
prejuízo da capacidade para * Euforia, bem-estar e relaxamento

dirigir automóveis) e cognitivos * Risos imotivados


* Aumento da percepção de cores, sons,
(por ex., perda de memória de
texturas e paladar
curto prazo) costumam * Sensação de lentificação do tempo
acompanhar a intoxicação. Além * Afrouxamentos da associações

disso, consumo de maconha * Prejuízo da concentração e memória

pode desencadear quadros


EFEITOS FÍSICOS
temporários de natureza ansiosa, * Hiperemia das conjuntivas (olhos
tais como reações de pânico, ou avermelhados)
* Aumento dos batimentos cardíacos
sintomas de natureza psicótica.
* Boca seca
* Retardo e incoordenação motora
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS * Piora do desempenho para tarefas
A dependência é uma das motoras e intelectuais complexas
* Broncodilatação
complicações crônicas do uso de
* Tosse
maconha, apesar de não atingir
* Aumento do apetite (‘larica’)
a maioria de seus usuários. Os
sintomas de abstinência mais COMPLICAÇÕES
O consumo de maconha em indivíduos
relatados são irritabilidade,
predispostos está associado ao
nervosismo, inquietação, fissura aparecimento de sintomas psicóticos, em
e sintomas depressivos, insônia, alguns casos definitiva.

redução do apetite e cefaléia.

O consumo prolongado e intenso de maconha é capaz de causar preju-


ízos cognitivos envolvendo vários mecanismos de processos de aten-
ção e memória. O uso em indivíduos predispostos pode desencadear
quadros psicótivos similares à esquizofrenia. Quanto ao aparelho
reprodutor, há redução reversível do número de espermatozóides.

59 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


LSD E SIMILARES
ALUCINÓGENOS, NATURAIS E SINTÉTICOS E ILÍCITOS

Os alucinógenos consistem numa QUADRO 29: ORIGEM DO LSD E


variedade de compostos capazes OUTROS ALUCINÓGENOS SIMILARES

de alterar percepções e sensações,


DIETILAMIDA DO ÁCIDO LISÉRGICO
sendo utilizados pela humanidade
O LSD é sintetizado a partir da ergotina, uma
desde a pré-história. No mundo substância produzida pelo fungo ergot

contemporâneo adquiriram maior (Claviceps purpurea) a partir da fermentação


de grãos de centeio.
popularidade durante os anos
sessenta e setenta. O LSD é o mais
MESCALINA
conhecido. Ele é sintetizado em A mescalina é um alcalóide encontrado em

laboratório, a partir de um alcalóide um cacto chamado peiote ( Lopophora


williamsii), comum nas regiões fronteiriças
(ergotina) produzido por um fungo
do México e E.U.A.
(ergot), ao fermentar grãos de
centeio. PSILOCIBINA
Alcalóide extraído dos cogumelos do gênero
Psilocibe, encontrados inclusive no Brasil.
No Brasil, o alucinógeno DMT,
Os mais conhecidos, porém, são os
encontrado nas folhas da chacrona
chamados cogumelos sagrados do México
(quadro 29), é consumido nos rituais (Psilocibe mexicana), presente nos rituais

religiosos do Santo Daime. O chá maias e astecas.

é milernamente utilizado por tribos DIMETILTRIPTAMINA (DMT)


amazônicas e chamado pelos incas O DMT é um alcalóide extraído de diversas

de ayahuasca (vinho da alma). plantas amazônicas, entre elas a semente


do yopo (Anadenanthera peregrina ), as
raízes da jurema (Mimosa hostilis), as folhas
O LSD é a substância psicotrópica da chacrona ( Psychotria viridis ), além de
mais potente: doses de 50 dezenas de outras.

microgramas produzem efeitos com


4 a 12 horas de duração. É utilizado
preferencialmente pela via oral ou sublingual, na forma de micropontos
ou gotas. Outras substâncias alucinógenas possuem efeitos similares
ao LSD, classificadas em quatro categorias: [1] LSD-similares:

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 60


mescalina e psilocibina, [2]. prováveis LSD-similares: DMT, [3].
prováveis LSD-similares, com outras propriedades: ecstasy (MDMA)
e [4]. não-LSD-similares: anticolinérgicos e o D9-tetrahidrocanabinol
(maconha).

EFEITOS AGUDOS
O LSD (e seus similares) é capaz causar distorções perceptivas: realça
cores e contornos de objetos e altera a recepção de sons, num sinergismo
de sensações (“cores ganham sons, sons ganham cores”). Há prejuízo
da discriminação do tempo e espaço (minutos precem horas) e ilusões
visuais e auditivas. O pensamento encontra-se acelerado e o humor
tende à exaltação. Idéias de grandeza e poder são comuns. A “viagem”
pode ser sentida como prazerosa e agradável, mas podem deixar o usuário
extremamente amedrontado: quadros de ansiedade, pânico e agitação
psicomotora (bad trips) podem ocorrer. Idéias deliróides de grandeza,
místicas ou persecutórias podem colocar os usuários em situações
desagradáveis ou de perigo iminente (por exemplo, parar um veículo com
a força do pensamento, fazer falsos julgamentos, fugir de perseguições
imaginárias, além de outros).

COMPLICAÇÕES
O LSD e similares são estruturalmente semelhantes à serotonina, seu
provável elo alucinógeno. A rápida tolerância para os efeitos dos
alucinógenos LSD-análogos e sua longa duração impedem que estas
substâncias induzam os indivíduos ao uso repetitivo ou à dependência.
No entanto, o consumo pode desencadear quadros psicóticos agudos e
prolongados (normalmente em indivíduos predispostos), quadros
depressivos e exacerbar doenças psiquiátricas prévias. Casos de
hipertermia já foram relatados. Outra complicação aguda são os
flashbacks, ou seja, o ressurgimento dos sintomas na ausência da
intoxicação. Eles podem durar de alguns segundo a horas, acompanhados
de sintomas ansiosos agudos. Não há relatos de overdose.

61 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ANTICOLINÉRGICOS
ALUCINÓGENOS, NATURAIS E SINTÉTICOS E LÍCITOS E ILÍCITOS

Os anticolinérgicos têm QUADRO 30: ANTICOLINÉRGICOS


procedência natural (chá de lírio) ou (NATURAIS E SINTÉTICOS)

sintética (biperideno, triexafenidil)


TROMBETEIRA, SAIA BRANCA OU LÍRIO
( quadro 30 ). As apresentações
Planta do gênero Datura, encontrada em
naturais são ingeridas na forma de todo o mundo. cujas sementes são ricas
chás, enquanto as sintéticas, estão em atropina e escopolamina.

disponíveis no mercado em
MANDRÁGORA E BELADONA
comprimidos para o tratamento do
Conhecidas na Idade Média como ervas
mal de Parkinson. de bruxaria, a mandrágora (Mandragra
officinarum) e a beladona (Atropa
belladonna) são ricas em iosciamina,
Apesar de pouco conhecidos pelos
atropina e escopolamina.
profissionais da saúde em geral,
anticolinérgicos como o triexifenidil APRESENTAÇÕES SINTÉTICAS
(Artane) chegam a ser a terceira Os anticolinérgicos sintéticos mais
utilizados de modo abusivo em nosso meio
droga mais consumida entre
são os medicamentos destinados para o
meninos em situação de rua em
tratamento do mal de Parkinson, como o
algumas capitais do Nordeste triexifenidil (Artane) e o biperideno
brasileiro. Nas outras regiões, seu (Akineton); para o alívio de espasmos
musculares ou intestinais (antidiarréicos),
uso é bem menos freqüente.
como a diciclomina (Bentyl) e os colírios
para dilatação de pupilas, a base de
AÇÃO NO CÉREBRO atropina e escopolamina.
Em ambas as categorias as
substâncias responsáveis pelos
efeitos alucinógenos são a atropina e a escopolamina. Em doses
terapêuticas produzem os efeitos físicos esperados pela Medicina. Em
doses elevadas, porém, são capazes de causar perturbações psíquicas
intensas, principalmente alucinações e delírios, em geral visões de bichos
e pessoas, além de sensação de perseguição e experiências de cujo
místico. Os efeitos podem durar de dois a três dias.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 62


EFEITOS AGUDOS QUADRO 31: INTOXICAÇÃO AGUDA

Conforme o afirmado, os POR ANTICOLINÉRGICOS

anticolinérgicos atuam
EFEITOS PSÍQUICOS
principalmente produzindo * Euforia e exaltação
alucinações e delírios. Esses * Alucinações

sintomas dependem muito da * Delírios

personalidade do indivíduo, assim


EFEITOS FÍSICOS
como do local e das * Boca seca
características do ambiente onde * Pupilas dilatadas (midríase)

o usuário se encontra. * Aumentos dos batimentos do coração


* Dificuldade para evacuar
* Dificuldade para urinar
Tais sintomas psíquicos são
acompanhdos por alterações COMPLICAÇÕES

físicas, tais como, dilatação das * Hipertermia


* Convulsão
pupilas, boca seca, aumento dos
* Retenção de urina
batimentos do coração, * Paralisia dos intestinos transitória
diminuição da mobilidade
intestinal e dificuldade para
urinar. Doses elevadas podem
desencadear hipertermia (pele quente e seca, como vermelhidão facial
e do pescoço), confusão mental (delirium anticolinérgico) e possibilidade
de convulsões.

DEPENDÊNCIA
Os anticolinérgicos não induzem quadros de dependência, sendo suas
complicações agudas a principal preocupação acerca do consumo destas
substâncias.

63 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


CLUB DRUGS
AGRUPAMENTO DE VÁRIAS CLASSES DE DROGAS

As club drugs são substâncias com QUADRO 31: CLUB DRUGS


diferentes propriedades psicoativas:
sedativas (GHB, nitratos), MDMA (ecstasy)

estimulantes (metanfetaminas LSD

como o 4MTA, PMA e PMMA) e GHB

alucinógenas (ecstasy, LSD, Quetamina (Special K)

quetamina, 2CB e 2-CT-7). O ponto Nitratos (poppers)

em comum entre todas estas foi a 2CB & 2-CT-7

popularização de seu consumo nos 4MTA

anos oitenta e noventa dentro dos PMA & PMMA

ambientes de música eletrônica: Anfetaminas & metanfetaminas

dance clubs, raves e trances.

No Brasil, além do ecstasy e do LSD já comentados anteriormente, o


uso da quetamina e em menor proporção do GHB e dos nitratos (gás
hilariante) foram relatados em ocasiões isoladas e por isso serão
comentados a seguir. Outras substâncias como as anfetaminas
modificadas 4MTA, PMA, PMMA (metanfetaminas) e os alucinógenos
desenvolvidos em laboratório (2CB e 2-CT-7) são consumidas em pontos
isolados dos E.U.A. e Europa, sem importância local.

QUETAMINA
A quetamina é um anestésico que não deprime a respiração e os
batimentos cardíacos, sendo utilizada nos anos sessenta como
anestésico infantil. Sua ação alucinógena, porém, acabaram por
restringi-lo ao uso veterinário.

Em baixas doses produz sedação leve, pensamentos oníricos, lentificação


psicomotora e sensação de euforia e bem-estar. Naúses e vômitos são

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 64


freqüentemente relatados. Sintomas paranóides podem ser observados
em alguns indivíduos. A sedação pronunciada pode expor os usuários a
riscos. Ao contrário da maior parte dos psicodélicos, a quetamina pode
causar dependência.

GHB
O GHB (gama-hidroxibutirato) foi utilizado como anestésico nos anos
60 e em seguida como suplemento alimentar por fisiculturistas nos anos
oitenta. O GHB é um sedativo, com apresentações líquidas e em pó.

Ele é utilizado normalmente diluído em água e os efeitos são semelhantes


aos do álcool, com relaxamento muscular, desinibição e euforia. Doses
elevadas causam tonturas, incoordenação motora, náuseas e vômitos e
rebaixamento do nível de consciência. O GHB é extremamente potente:
mesmo em pequenas dosagens pode causar sedação profunda e coma.
Dosagens mais elevadas podem ser fatais. A combinação de GHB com
álcool é extremamente perigosa, levando ao coma com mais facilidade.
Como a apresentação líquida tem concentrações indeterminadas, a
chance uma overdose acidental aumenta. Apesar de ainda pouco
estudada, há relatos de síndrome de abstinência severas, com duração
de vários dias.

NITRATOS
Os nitratos (óxido nitroso) são formas gasosas alucinógenas, capazes
de causar analgesia, euforia e sedação leve. Suas propriedades são
conhecidas desde o século XVIII, denominado “gás hilariante”.

Apesar de seguro quando utilizado com fins médicos, o gás hilariante


pode causar complicações quando utilizado fora desse âmbito. Usuários
pesados podem apresentar depleção de vitamina B12. Acidentes durante
o consumo, compulsividade e sufocação já foram relatados.

65 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


ESTERÓIDES ANABOLIZANTES
SUBSTITUTOS SINTÉTICOS DA TESTOSTERONA

Os esteróides anabolizantes são


QUADRO 31: COMPLICAÇÕES GERAIS
substâncias similares à
RELACIONADAS AO CONSUMO DE
testosterona, desenvolvidas em ANABOLIZANTES

laboratório para a reposição deste


* Nervosismo
hormônio em indivíduos que
* Irritação
apresentam déficit do mesmo por * Agressividade
alguma razão. * Problemas no fígado (hepatite, câncer)
* Acne grave
* Problemas sexuais
A testosterona é responsável pelo
* Problemas cardivasculares
aparecimento das características * Diminuição da imunidade
sexuais masculinas. Além disso
sua ação contribui para o aumento
QUADRO 32: COMPLICAÇÕES DO
da massa muscular. Tal
RELACIONADAS AO CONSUMO DE
característica faz com que muitos ANABOLIZANTES NO HOMEM
esportistas utilizem anabolizantes
* Redução dos testículos
sintéticos visando a acelerar o
* Diminuição do número de
crescimento da musculatura.
espermatozóides
* Impotência
O padrão de consumo nesses * Infetilidade
* Calvície
casos chega a execeder em mais
* Desenvolvimento de mamas
de cem vezes as doses médicas
* Aumento da próstata
habituais. Além disso, tais atletas * Dificuldade e / ou dor para urinar
combinam inadivertidamente várias
marcas, inclusive anabolizantes de
uso veterinário, sobre os quais não se tem nenhuma idéia acerca dos
riscos em humanos. Desta maneira, o consumo ilícito de tais substâncias
expõe seus usuários a uma série de danos à saúde (quadros 31 - 34),
além de não haver estudos comprovem que os mesmos aumentam de
fato a massa, a força e a resistência muscular.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 66


COMPLICAÇÕES CLÍNICAS

O Centro Brasileiro de
QUADRO 31: COMPLICAÇÕES
Informações sobre Drogas RELACIONADAS AO CONSUMO DE
Psicotrópicas (CEBRID) ANABOLIZANTES NA MULHER

afirmaque além das complicações


* Pêlos faciais
gerais (quadro 31), outros efeitos
* Alterações ou ausência do ciclo menstrual
podem ser observados, de acordo * Aumento do clitóris
com o sexo e a idade dos usuários * Voz grossa

(quadros 32 - 34): No homem, há * Diminuição dos seios

redução dos testículos, diminuição


de espermatozóides, impotência, QUADRO 32: COMPLICAÇÕES DO

infertilidade, calvície, RELACIONADAS AO CONSUMO DE


ANABOLIZANTES NOS JOVENS
desenvolvimento de mamas,
dificuldade ou dor para urinar e * Maturação precoce da estrutura

aumento da próstata. Na mulher, esquelética (baixa estatura)


* Início precoce da adolescência
nota-se crescimento de pêlos
faciais, alterações ou ausência de
ciclo menstrual, aumento do clitóris, voz grossa, diminuição de seios.
Alguns desses efeitos são
irreversíveis, ou seja, mesmo na ausência do anabolizante não há retorno
dacondição normal. No adolescente, pode haver maturação esquelética
prematura e puberdade acelerada, levando a um crescimento raquítico
e baixa estatura.

Ainda segundo o CEBRID, qualquer usuário pode vivenciar um ciúme


doentio, ilusões, sentimentos de invencibilidade, distração, confusão
mental e esquecimentos. Em alguns casos, há distorção da percepção
corporal, tendo a falsa sensação de musculatura pouco desenvolvida.
Usuários, freqüentemente, tornam-se clinicamente deprimidos quando
param de tomar a droga, perdem a massa muscular que adquiriram e
ficam, por isso, mais propensos ao uso continuado (dependência).

67 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


CONCLUSÕES

O propósito deste manual é deixar os educadores e outros profissionais


da saúde mais preparados para construir e implementar estratégias de
prevenção relacionadas ao consumo de álcool, tabaco e outras drogas.
No entanto, está longe de ser um documento pronto e completo. Ele
pretende apresentar aos interessados os pontos fundamentais, os quais
todos devem considerar durante o planejamento e a construção de tais
estratégias. Pretende igualmente, apontar a capacitação profissional,
como a melhor forma aliar afinco e boa vontade à técnica e eficácia.

Vale ressaltar que o escopo do manual é a prevenção, cujo objetivo


maior é evitar (ou ao menos retardar) o início do consumo de substâncias
psicoativas. Essa é a abordgem que traz o melhor resultado e custo-
benefício quando bem sucedida. Para isso, muito além do debate
informado sobre o consumo de drogas, é preciso trabalhar em vários
domínios, visando a transformar o ambiente de convívio (escolas,
empresas, comunidade,...) em um fator de proteção para alcançar esta
meta.

Desse modo, dentro do ambiente escolar e das empresas, as estratégias


devem incluir também a estruturação de rotinas (horários, atividades,
establecimento das funções e papeis de cada um); a criação de espaços
para a participação dos alunos e empregados na vida das instituições e
nos programas de prevenção; além de aproximar e valorizar a família
como agente legitimador deste processo. Acima de tudo, é essencial
analisar e se preciso modificar o ambiente institucional: escolas e
empresas possuem um significado dentro das comunidades que os
cercam. É necessário, cada vez mais, que estas se apropriem destes
papeis e o extrapolem, tranformando-se em referenciais e disseminadores
de saúde e cidadania para os membros e afins.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 68


As outras ações, tratamento, reabilitação e políticas públicas, foram
descritas sucintamente, com intuito de alertar que todas estas encontram-
se conjugadas, influenciam e são influenciadas por qualquer abordagem
preventiva que se pretenda conduzir.

O presente manual se encerra aqui, esperando ter contribuído para a


melhora do conhecimento acerca da prevenção ao uso indevido de
substâncias psicoativas e despertado em seus leitores a necessidade
de se aprofundarem cada vez mais no tema, por meio de novas leituras
e de capacitação profissional. Uma ação mais complexa e ampla do
que se imagina, mas exequível e ao alcance de todos.

69 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


LEITURA RECOMENDADA

A seguir, algumas fontes de informação que podem ser utilizadas, para


atividades em salas de aula e empresas, para melhorar o planejamento
de estratégias e aprimorar as informações forneceidas por este manual.

PARA DISCUSSÃO COM ALUNOS E / OU FUNCIONÁRIOS


Esmeralda do Carmo Ortiz. Esmeralda - porque não dancei. São
Paulo: Editora SENAC; 2001.

Lídia Rosenberg Aratangy. Doces venenos. São Paulo: Editora Olho


D’água; 2000.

Maria de Lourdes Zemel & Maria Eliza de Lamboy. Liberdade é poder


decidir. São Paulo: FTD; 2000.

Ronaldo Laranjeira, Flávia Jungerman & John Dunn. Drogas - maconha,


cocaína e crack. São Paulo: Editora Contexto; 2001.

Ronaldo Laranjeira & Ilana Pisky. O alcoolismo. São Paulo: Editora


Contexto; 2001.

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID)


& Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID).
Livreto informativo sobre drogas psicotrópicas. São Paulo: OBID/
SENAD; 2003. Disponível online no site do CEBRID.

PARA APROFUNDAR O CONHECIMENTO SOBRE O TEMA


Jandira Masur & Elisaldo Carlini. Drogas - subsídios para uma
discussão. São Paulo: Brasiliense; 1986.

Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD). Um guia para a família.


Brasília: SENAD; 1999. Disponível online no site da SENAD.

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 70


PARA PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE
Griffith Edwards, E. Jane Marshal & Cristopher Cook. O tratamento do
alcoolismo - um guia para profissionais da saúde. Porto Alegre:
ARTMED; 1999.

Neliana Buzi Figlie, Denise Getúlio de Melo & Roberta Payá. Dinâmicas
de grupo aplicadas no tratamento da dependência química - manual
teórico e prático. São Paulo: Roca; 2003.

Projeto Diretrizes. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem,


diagnóstico e tratamento. São Paulo: CREMESP/AMB; 2003.

Sérgio Dário Seibel & Alfredo Toscano Jr. Dependência de drogas.


São Paulo: Editora Atheneu; 2002.

SITES INTERESSANTES
Os sites abaixo contém textos informativos e publicações sobre drogas
gratuitos e disponíveis online.

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID)


www.cebrid.epm.br

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD)


www.uniad.org.br

Associação Brasileira de Estudos do Álcool, e outras Drogas (ABEAD)


www.abead.com.br

Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)


www.senad.gov.br

Site “Álcool e Drogas sem Distorção”, do Hospital Israelita Albert Einstein


www.einstein.br/alcooledrogas

71 PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


Produção Gráfica
Nome

Capa & ilustrações


Marcelo Ribeiro

Impressão & acabamento


Nome

PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS


Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de Substâncias Psicoativas
Coordenadoria de Saúde Mental - Secretaria Municipal de Saúde -
Prefeitura do Município de Santos

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


Universidade Federal de São Paulo

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas


PREVENÇÃO AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

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