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CORRECÇÃO DO TESTE
1. Neste soneto é bem claro o contraste – mais aparente do que efetivo – entre dois
tempos: o passado e o presente.
Assim, ao contrário do presente, tempo no qual o poeta experimenta uma saudade, uma
tristeza e uma revolta profundas (“ao som dos ferros”), o passado é apresentado como um
tempo não muito feliz, mas, comparado com o presente, parece um tempo de felicidade (“É tão
triste este meu presente estado/ que o passado por ledo estou julgando”), daí o “eu” lírico
afirmar “Eu cantei já”: o sujeito poético cantou cheio de esperanças no futuro («confianças»).
No presente, porém, tem consciência de que qualquer esperança de felicidade é em vão.
No entanto, essa aparente felicidade do passado, analisada à distância do presente, o que
lhe confere objetividade, não é mais que um engano (“Cantei, mas se alguém pergunta
quando: / Não sei, que também fui nisso enganado”), pois percebe agora que os seus sonhos
foram apenas ilusões.
2. No primeiro verso, “Eu cantei já, e agora vou chorando”, encontramos, ao nível
semântico, uma antítese. Esta figura de estilo permite fazer contrastar o passado e o presente
na vida do sujeito poético – o passado, tempo de esperanças, de ilusões; o presente, tempo de
provações e de infelicidade (“ferros”) –exprimindo, assim, a dimensão muito acentuada do
estado de alma do sujeito lírico, que é de uma saudade de um tempo irrecuperável, mesmo que
ele tenha sido só aparentemente de felicidade.
3) Na última estrofe, o sujeito poético interroga-se e culpabiliza o mundo (v. 12) e o destino
enquanto entidade decisiva e mais responsável pelo seu infortúnio e pela mudança que a sua
vida sofreu. Esse infortúnio já era sentido pelo poeta no passado (“cantava, mas já era ao som
dos ferros.”), mas torna-se mais intenso no presente (“É tão triste este meu presente estado”).
Deste modo, o sujeito poético reforça, neste último terceto, que não é responsável pelo
seu sofrimento, sendo vítima duma Fortuna inclemente e inexorável: “a Fortuna injusta é mais
que os erros”.
4) Este texto é um soneto, composição clássica constituída por um total de catorze versos
dispostos em duas quadras seguidas de dois tercetos. O esquema rimático é abba, abba nas
quadras e cde, cde nos tercetos, sendo, portanto, a rima interpolada e emparelhada nas
quadras, e cruzada nos tercetos. Quanto à métrica, os versos são decassilábicos heroicos:
acentos na sexta e décima sílabas métricas («Fizeram-me cantar, manhosamente),»).
Deste modo, esta composição poética pertence à medida nova, que reúne os tipos de
métrica do dolce still nuovo importados de Itália para Portugal no século XVI, dos quais se
destaca o verso decassilábico.
Assim, em contraste com formas poéticas tradicionais em medida velha como o vilancete em
redondilha maior ou em redondilha menor, a medida nova está associada às formas poéticas de
origem italiana e renascentista, entre as quais o soneto, considerado um modelo lírico ideal no
Renascimento, que Camões cultivou com mestria e virtuosismo.