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CÓDIGO: 31124
DATA DE ENTREGA:
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A ESCOLA METÓDICA
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Inserida num período de assunção do método científico e da sua aplicação à História, de
acordo com o que já era feito com as ciências naturais, a Escola Metódica impõe a
investigação científica, isentando-a de qualquer especulação filosófica. Para evitar os
impulsos instintivos que marcaram a prática dos historiadores, em meados do século XIX,
a Escola Metódica baseia-se na racionalidade dos factos, através de um processo abstrato9
de escolha, seriação e organização de documentos, seguido pela sua crítica externa
(erudição) e interna (hermenêutica). Desta forma, procura reagrupar os distintos factos
isolados em quadros gerais conceptuais, ligando-os por dedução ou analogia. Para Ch.
Langlois e Ch. Seignobos, a história continua a ser a menos metódica das ciências, facto
que, em prol da sua certificação, coloca a objetividade como principal preocupação face
à natural e intrínseca subjetividade do trabalho do historiador. Tal subjetividade não é,
para Cristiano Arrais, “sinónimo de incerteza, irrealidade ou erro”, mas, alicerçado na
reconstrução do real, o discurso sobre o acontecido10.
A Escola Metódica é acusada, sobretudo pela Escola dos Annales, de conceber
um discurso servidor dos interesses de um determinado regime11; de excessiva
dependência em documentos escritos e testemunhos voluntários12; e de um certo
privilégio concedido aos factos políticos, diplomáticos e militares, em detrimento dos
económicos, sociais e culturais13. Numa época em que se buscava a profissionalização da
história, a Escola Metódica deparou-se com a crítica daqueles que viam a história não-
política ser excluída desta nova disciplina académica14.
Sobre as críticas feitas ao peso dado aos documentos na construção da obra
histórica, por parte de autores como Langlois e Seignobos, Cristiano Arrais considera que
este facto não deve ser entendido como um fim para o conhecimento histórico, “mas como
um meio indispensável para a história”15, no qual é admitida a intervenção do historiador
na construção do facto histórico que, pela sua natureza, é dotado de caráter problemático.
O documento ganha, na Escola Metódica, especial atenção pelo facto, deste, proporcionar
a distinção entre a verdadeira história, dos profissionais, e aquela, dos ensaístas, ou seja,
entre ciência e literatura16. Desta forma, Cristiano Arrais considera que a abordagem da
obra Introdução aos Estudos Históricos, aos problemas da história como disciplina
académica, é mais profunda do que os seus críticos a interpretam. Por isso, o historiador
considera que esta obra deve ser lida “com um olhar mais compreensivo que aquele
legado pela geração que lhe sucedeu”17.
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BIBLIOGRAFIA
LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo:
Editora Renascença, 1946.
1
Apesar de denominada de positivista, a Escola Metódica não é uma doutrina, mas sim uma escola
histórica, de caraterísticas únicas e que se mantém à margem dos postulados de Auguste Comte e John
Stuart Mill. Apesar de existirem metódicos positivistas, nem todos os positivistas são metódicos. “Foi
erradamente que se classificou e ainda se classifica a escola histórica, que se impõe em França entre 1880
e 1930, de corrente «positivista».(…) Na realidade, os adeptos da escola metódica não tiraram a inspiração
do francês Auguste Comte, mas do alemão Leopold Von Ranke”. BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As
Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990, pp.112-113.
2
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990,
p. 97.
3 BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990,
pp.115.
4
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 1.
5
H.I. Marrou citado por ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como
problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 1.
6
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 2.
7
Febvre citado por ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como
problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 2.
8
“Já muitos pensadores, que, em sua maioria não são historiadores de profissão, buscaram a história
como objeto de suas meditações, procuraram encontrar «similitudes» e «leis; alguns chegaram mesmo a
acreditar que haviam descoberto «as leis que presidem ao desenvolvimento da humanidade» (…) A
filosofia da História, por não ter sido cultivada apenas por homens bem informados, prudentes e de
vigorosa e sadia inteligência, caiu em descrédito”. LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos
Estudos Históricos. São Paulo: Editora Renascença, 1946, p.5.
9
Cf. LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo: Editora Renascença,
1946, p.152.
10 ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
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12
“Que nunca se façam colecionadores de factos, ao acaso, como dantes se fazia pesquisadores de livros
nos cais. Que nos dêem uma História não automática, mas sim problemática”. FEBVRE, Lucien – Combates
pela História. Lisboa: Editorial Presença,1989, p.49.
13
“… preocupam-se com a crosta aparente do seu globo, da sua esfera político-diplomática… Deveremos
censurá-los, por isso? Eles, não. Os homens, não. Uma tradição, talvez”. FEBVRE, Lucien – Combates pela
História. Lisboa: Editorial Presença,1989, p.68.
14 Cf. BURKE, Peter – A Escola dos Annales (1929-1989). A Revolução Francesa da Historiografia. S.Paulo:
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