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TEORIAS E CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS:

CÓDIGO: 31124

DOCENTE: Maria do Carmo Teixeira Pinto

A preencher pelo estudante

NOME: Alberto Manuel de Sousa Pais

N.º DE ESTUDANTE: 2002740

CURSO: Licenciatura em História

DATA DE ENTREGA:

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A ESCOLA METÓDICA

A Escola Metódica, reconhecida por alguns, de positivista1, surge e desenvolve-


se em França, durante o período da III República, cujos princípios fundamentais assentam
na investigação científica e no distanciamento das possíveis especulações filosóficas,
promovendo a objetividade absoluta do domínio da história, através da aplicação de
“técnicas rigorosas respeitantes ao inventário das fontes, à crítica dos documentos, à
organização das tarefas na profissão”2. Esta intenção de dotar à história o status de
ciência positiva difundida, principalmente, por G. Monod, através da publicação da
Revista Histórica, em 1876, e pelos historiadores Ch. Langlois e Ch. Seignobos, estende-
se ao ensino e começa a ser objeto de crítica, essencialmente a partir de 1940.
Na tentativa de alcançar a objetividade e conhecer a verdade da história, a Escola
Metódica estabelece quatro prossupostos essenciais: relatar apenas aquilo que ocorreu;
constituir uma visão imparcial dos acontecimentos, dissociando o sujeito e o objeto do
conhecimento; a existência da história em si mesma, por isso a estrutura é acessível ao
historiador; a ação passiva do historiador face ao facto histórico de forma a limitar-se à
reunião de dados fundamentados em fontes seguras reveladoras da verdade, evitando
qualquer tipo de especulação filosófica.
Estes procedimentos constituíram objeto de duras críticas, por parte do grupo dos
Annales, que se resumiam a sublinhar que a Escola Metódica só prestava atenção aos
documentos escritos, acentuava o acontecimento (num curto espaço de tempo),
privilegiava os factos políticos e receava empenhar-se no debate e na interpretação3.
Muitos foram os críticos como, por exemplo, Collingwood que a definiu como “história
de cola e tesoura”4 ou H.I. Marrou que considerava que, esta, reduzia o papel do
historiador, numa abordagem da história como um conjunto de factos extraídos dos
documentos, afirmando: “o historiador encontra os documentos e depois procede à sua
«toilette»”.5
O historiador Cristiano Arrais, em análise à obra “Introdução aos Estudos
Históricos”, considera que, a mesma, revela ambiguidades e contradições do método
histórico e da sua institucionalização no campo das ciências humanas,6 geradas pela ação
redutora ao campo dos factos e dos documentos oficiais, ou seja, à história diplomática7.
A forma como é entendido o documento torna-se fundamental para Ch. Langlois e Ch.
Seignobos, autores que privilegiam uma reflexão, sobre o método histórico, separada dos
fundamentos filosóficos que o envolvem, evitando a controversa Filosofia da História8.

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Inserida num período de assunção do método científico e da sua aplicação à História, de
acordo com o que já era feito com as ciências naturais, a Escola Metódica impõe a
investigação científica, isentando-a de qualquer especulação filosófica. Para evitar os
impulsos instintivos que marcaram a prática dos historiadores, em meados do século XIX,
a Escola Metódica baseia-se na racionalidade dos factos, através de um processo abstrato9
de escolha, seriação e organização de documentos, seguido pela sua crítica externa
(erudição) e interna (hermenêutica). Desta forma, procura reagrupar os distintos factos
isolados em quadros gerais conceptuais, ligando-os por dedução ou analogia. Para Ch.
Langlois e Ch. Seignobos, a história continua a ser a menos metódica das ciências, facto
que, em prol da sua certificação, coloca a objetividade como principal preocupação face
à natural e intrínseca subjetividade do trabalho do historiador. Tal subjetividade não é,
para Cristiano Arrais, “sinónimo de incerteza, irrealidade ou erro”, mas, alicerçado na
reconstrução do real, o discurso sobre o acontecido10.
A Escola Metódica é acusada, sobretudo pela Escola dos Annales, de conceber
um discurso servidor dos interesses de um determinado regime11; de excessiva
dependência em documentos escritos e testemunhos voluntários12; e de um certo
privilégio concedido aos factos políticos, diplomáticos e militares, em detrimento dos
económicos, sociais e culturais13. Numa época em que se buscava a profissionalização da
história, a Escola Metódica deparou-se com a crítica daqueles que viam a história não-
política ser excluída desta nova disciplina académica14.
Sobre as críticas feitas ao peso dado aos documentos na construção da obra
histórica, por parte de autores como Langlois e Seignobos, Cristiano Arrais considera que
este facto não deve ser entendido como um fim para o conhecimento histórico, “mas como
um meio indispensável para a história”15, no qual é admitida a intervenção do historiador
na construção do facto histórico que, pela sua natureza, é dotado de caráter problemático.
O documento ganha, na Escola Metódica, especial atenção pelo facto, deste, proporcionar
a distinção entre a verdadeira história, dos profissionais, e aquela, dos ensaístas, ou seja,
entre ciência e literatura16. Desta forma, Cristiano Arrais considera que a abordagem da
obra Introdução aos Estudos Históricos, aos problemas da história como disciplina
académica, é mais profunda do que os seus críticos a interpretam. Por isso, o historiador
considera que esta obra deve ser lida “com um olhar mais compreensivo que aquele
legado pela geração que lhe sucedeu”17.

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BIBLIOGRAFIA

ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como


problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 1-6. [Consult. 5 abril 2022].
Disponível em www.revistas.ufg.br/emblemas/article/view/11389/7489

BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações


Europa-América, 1990.

BURKE, Peter – A Escola dos Annales (1929-1989). A Revolução Francesa da


Historiografia. S.Paulo: Editora UNESP, 1992.

FEBVRE, Lucien – Combates pela História. Lisboa: Editorial Presença,1989.

LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo:
Editora Renascença, 1946.

1
Apesar de denominada de positivista, a Escola Metódica não é uma doutrina, mas sim uma escola
histórica, de caraterísticas únicas e que se mantém à margem dos postulados de Auguste Comte e John
Stuart Mill. Apesar de existirem metódicos positivistas, nem todos os positivistas são metódicos. “Foi
erradamente que se classificou e ainda se classifica a escola histórica, que se impõe em França entre 1880
e 1930, de corrente «positivista».(…) Na realidade, os adeptos da escola metódica não tiraram a inspiração
do francês Auguste Comte, mas do alemão Leopold Von Ranke”. BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As
Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990, pp.112-113.
2
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990,
p. 97.
3 BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé – As Escolas Históricas. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990,

pp.115.
4
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 1.
5
H.I. Marrou citado por ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como
problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 1.
6
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 2.
7
Febvre citado por ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como
problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 2.
8
“Já muitos pensadores, que, em sua maioria não são historiadores de profissão, buscaram a história
como objeto de suas meditações, procuraram encontrar «similitudes» e «leis; alguns chegaram mesmo a
acreditar que haviam descoberto «as leis que presidem ao desenvolvimento da humanidade» (…) A
filosofia da História, por não ter sido cultivada apenas por homens bem informados, prudentes e de
vigorosa e sadia inteligência, caiu em descrédito”. LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos
Estudos Históricos. São Paulo: Editora Renascença, 1946, p.5.
9
Cf. LANGLOIS, Ch. V.; SEIGNOBOS, Ch – Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo: Editora Renascença,
1946, p.152.
10 ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em

linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 3.


11
“… responderei que então obras que, por definição, silenciam este facto de capital importância, obras
que parecem apresentar sistemas abstratos de diplomacia (elas mesmo consideradas como seres
abstratos) como traduzindo os sentimentos unânimes, as ideias, as vontades e os interesses dos grupos
nacionais em cujo nome esses diplomatas falam, escrevem, agem, estas obras, passam à margem do
verdadeiro problema, do único problema que vale a pensa ser posto.” FEBVRE, Lucien – Combates pela
História. Lisboa: Editorial Presença,1989, p.49.

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12
“Que nunca se façam colecionadores de factos, ao acaso, como dantes se fazia pesquisadores de livros
nos cais. Que nos dêem uma História não automática, mas sim problemática”. FEBVRE, Lucien – Combates
pela História. Lisboa: Editorial Presença,1989, p.49.
13
“… preocupam-se com a crosta aparente do seu globo, da sua esfera político-diplomática… Deveremos
censurá-los, por isso? Eles, não. Os homens, não. Uma tradição, talvez”. FEBVRE, Lucien – Combates pela
História. Lisboa: Editorial Presença,1989, p.68.
14 Cf. BURKE, Peter – A Escola dos Annales (1929-1989). A Revolução Francesa da Historiografia. S.Paulo:

Editora UNESP, 1992, p.19.


15
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 5.
16 PROST citado por ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como

problema. Emblemas. [Em linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 4.


17
ARRAIS, Cristiano Alencar - Escola Metódica e o conhecimento histórico como problema. Emblemas. [Em
linha] vol. 1, nº 2, 2006, p. 5.

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