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Resumo
Neste trabalho é descrita a origem do coeficiente γs1, empregado no cálculo do tempo requerido de resistência ao fogo
(TRRF) das estruturas das edificações, por meio do método do tempo equivalente. É proposto um procedimento mais
adequado do que a tabela constante da Instrução Técnica 8 do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
Palavras-chave: incêndio, segurança, TRRF, resistência ao fogo, ação térmica.
Incêndio natural
Incêndio-padrão
Temperatura
Temperatura (°C)
Elemento estrutural
máxima do (incêndio-padrão)
elemento
estrutural
Elemento estrutural
(incêndio natural)
Instante em
que ocorre a
temperatura
máxima no
elemento Tempo (min)
estrutural
TRRF ou tempo equivalente
O TRRF pode ser determinado por meio de tabelas γs1 – coeficiente relacionado à área de piso do compartimento
que o associam ao uso e dimensões da edificação. Alguns e à altura da edificação;
exemplos são mostrados na Tabela 1. γs2 – coeficiente relacionado ao risco de ativação do incêndio.
Um método mais científico para determinar esse tempo O método do tempo equivalente, portanto, permite
tem por base o método do tempo equivalente (Figura 2), reduzir a ação térmica diante da inclusão de dispositivos
conforme equação 1 (Eurocode 1, 2002; DIN 1998). de proteção ativa, incentivando, pois, o uso desses
te = qfi,k γn γs W K M (1) dispositivos que, reconhecidamente, são mais eficientes
na segurança contra incêndio do que o simples aumento
em que: da resistência ao fogo das estruturas. Mais informações
te – tempo equivalente (min); sobre o método podem ser obtidas em Costa & Silva (2005)
qfi – valor característico da carga de incêndio específica e Silva et al. (2005).
(MJ/m2); O procedimento para o uso do método do tempo
γn – coeficiente adimensional que leva em conta a presença equivalente pode ser encontrado na Instrução Técnica
de medidas de proteção ativa da edificação; IT 08 (2004), do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
γs – coeficiente de segurança que depende do risco de Neste trabalho pretende-se analisar detalhadamente
incêndio e das consequências do colapso da edificação; o coeficiente γs2, sua origem e a forma recomendada pela
W – fator associado à ventilação e à altura do com- IT 8 (2004), e apresentar um procedimento mais adequado
partimento; para sua determinação.
K – fator associado às características do material de vedação
do compartimento [min m2/MJ]; Histórico
M – fator que depende do material da estrutura: M = 1,
Na versão de 1995 do Eurocode 1 (ENV 1991-2-2,
para aço com revestimento contra fogo ou concreto, e
1995), os coeficientes de ponderação γ não eram bem
M = 13,7 v, para aço sem revestimento;
definidos. Apenas um coeficiente era fornecido, para minorar
v – grau de ventilação calculado por meio da equação 2:
a severidade do incêndio, em função dos dispositivos de
proteção ativa; a presença de chuveiros automáticos permitia
Av h
v= (2) multiplicar por 0,6 o valor do tempo equivalente calculado.
At J. B. Schleich, então coordenador da comissão da
revisão do Eurocode 1, propôs coeficientes de ponderação
Av – área total de aberturas verticais (m²);
para determinar o valor de cálculo da carga de incêndio
h – altura média das janelas, em metro (m);
(qfi,d); esses coeficientes consideravam a área do compar-
At – área total do compartimento (paredes, teto e piso,
timento, a altura do edifício e vários dispositivos de proteção.
incluindo aberturas) (m²).
Durante o período de revisão da pré-norma Eurocode 1
O coeficiente γs é determinado por meio da equação 3. (ENV 1991-2-2, 1995), Schleich adiantou, em correspondência
γs = γs1 . γs2 (3) particular enviada ao autor, os resultados de seus estudos –
os novos coeficientes (Silva, 1997). Tais coeficientes foram
incorporados, com pequenas adaptações, à IT 8 (2001),
em que:
conforme Tabela 2.
Altura da edificação
Ocupação/uso
h ≤ 6 m 6 m ≤ h ≤ 12 m 12 m < h ≤ 23 m 23 m < h ≤3 0 m h > 30m
Residência 30 30 60 90 120
Hotel 30 60 60 90 120
Supermercado 60 60 60 90 120
Escritório 30 60 60 90 120
Shopping 60 60 60 90 120
Escola 30 30 60 90 120
Hospital 30 60 60 90 120
Igreja 60 60 60 90 120
23 < h ≤ 30
30 < h ≤ 80
Área de piso do
6 < h ≤ 12
térrea
h > 80
h≤6
compartimento
(m2)
Deve ser lembrado, no entanto, que γs1 é apenas valores K = 0,07 min m2/MJ e M = 1. A limitação inferior do
um dos fatores que compõem o método do tempo equivalente. TRRF via MTE, imposta na IT 8 (2004), também será adotada
Segundo a IT 8, o valor do TRRF calculado por meio do ao se usar a equação 4.
método do tempo equivalente deve ser limitado inferiormente Exemplo 1: Edificação de escritórios com compartimento
pelo valor tabelado do TRRF que é fornecido pela IT 8 de 500 m2, mais de 30 m de altura e W = 0,85.
(2004), em função da altura e uso da edificação, menos 30 O valor de te, ou seja, o TRRF via MTE, determinado
min. O resultado final do TRRF terá, portanto, variação conforme a equação 1 resulta na equação 6.
ainda menor do que o visto nesses gráficos.
A fim de analisar a real influência nos resultados te = 700 . 0,4861 . γs . 0,07 . 0,85 = 20γs (6)
finais de cálculo do TRRF, serão estudados alguns exemplos
de aplicação em casos extremos de presença ou ausência Segundo a Figura 4 e Tabela 6, os valores de TRRF
de características específicas de segurança contra incêndio calculados pela equação 4 são iguais aos determinados
do edifício. Serão adotados, em todos os exemplos, os pela IT 8.
Coef. de segurança
Coef. de segurança
1,6 2
1,5
1,8
1,4
1,6
1,3
1,2 IT 2001 1,4 IT 2001
IT 2004 1,2 IT 2004
1,1
Eq. 4 Eq. 4
1 1
0 30 60 90 0 30 60 90
Altura (m) Altura (m)
Coef. de segurança
2,5 3
2 2,5
2
1,5 IT 2001 IT 2001
IT 2004 1,5 IT 2004
Eq. 4 Eq. 4
1 1
0 30 60 90 0 30 60 90 120
Altura (m) Altura (m)
Tabela 6 Comparações para exemplo 1. Segundo a Figura 5 e Tabela 7, os valores dos TRRF
calculados pela equação 4 são similares aos determinados
Altura IT 8 Equação 4 pela IT. Diferenciam-se, para mais ou para menos, em no
(m) (min) (min) máximo 3 min se comparados à IT 8. Na prática, isso em
30 60 60 nada afeta a segurança.
30,1 90 90
Tabela 7 Comparações para exemplo 2.
79,9 90 90
80 90 90 Altura IT 8 Equação 4
(m) (min) (min)
0 40 41
120 3 40 41
5,9 40 42
90
TRRF (min)
6 40 42
60
12 44 43
30 23 48 45
IT 8 ou eq. 4
29,9 60 60
0
20 40 60 80
Altura (m)
Figura 4 Comparações para exemplo 1 120
IT 8
TRRF (min)
90
eq. 4
60
Exemplo 2: Edificação de escritórios com compartimento
de 500 m2, menos de 30 m de altura e W = 0,82. 30
O valor de te, ou seja, o TRRF via MTE, determinado 0
conforme a equação 1 resulta na equação 7. 0 10 20 30
Altura (m)
te = 700 . 1 . γs . 0,07 . 0,82 = 40 γs (7)
Figura 5 Comparações para exemplo 2.
Exemplo 3: Edificação de escritórios com compartimentação Exemplo 4: Edificação residencial com compartimento de
de 2000 m2, chuveiros automáticos, detecção e brigada 500 m2, sem qualquer dispositivo de proteção ativa e com
contra incêndio e W = 0,85. W = 1,22.
O valor de te, ou seja, o TRRF via MTE, determinado O valor de te, ou seja, o TRRF via MTE, determinado
conforme a equação 1 resulta na equação 8. conforme a equação 1 resulta na equação 9.
te = 700 . 0,4861 . γs . 0,07 . 0,85 = 20 γs (8) te = 300 . 1. γs . 0,07 . 1,22 = 25 γs (9)
Segundo a Figura 6 e Tabela 8, os valores de TRRF Segundo a Figura 7 e Tabela 9, os valores de TRRF
calculados pela proposta USP são similares aos determinados calculados pela proposta USP são similares aos determinados
pela IT. Diferenciam-se, para menos, em no máximo 3 min pela IT 8. São maiores do que os recomendados pela IT 8
para alturas inferiores a 6 m. Na prática, isso em nada em no máximo 1 min. Na prática, isso em nada afeta a
afeta a segurança. segurança.
120
120
TRRF (min)
90
IT 8
TRRF (min)
90
60 eq. 4
60
30
IT 8 ou eq. 4
30
0
20 40 60 80 0
Altura (m) 0 5 10 15 20
Altura (m)
120
120
IT 8
TRRF (min)
90
TRRF (min)
eq. 4 90
60
60
30 IT 8
30
eq. 4
0
0 5 10 15 20 0
20 40 60 80
Altura (m) Altura (m)
A ⋅ (H + 3) Lista de Símbolos
γ s1 = 1 +
105 A – área de piso do compartimento (m²);
1 ≤ γ s1 ≤ 3 Av – área total de aberturas verticais (m²);
At – área total do compartimento (paredes, teto e piso,
incluindo aberturas) (m²);
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. h – altura média das janelas, em metro (m);
NBR 14432: exigências de resistência ao fogo de elementos H – altura da edificação (cota do piso mais elevado) (m);
construtivos das edificações. Rio de Janeiro, 2001. K – fator associado às características do material de vedação
CORPO DE BOMBEIROS da Polícia Militar do Estado de do compartimento [min m2/MJ];
São Paulo. Instrução Técnica n. 08/2001: segurança M – fator que depende do material da estrutura: M = 1,
estrutural nas edificações: resistência ao fogo dos elementos para aço com revestimento contra fogo ou concreto, e
de construção. São Paulo, 2001. M = 13,7 v, para aço sem revestimento;
CORPO DE BOMBEIROS da Polícia Militar do Estado de qfi – valor característico da carga de incêndio específica
São Paulo. Instrução Técnica n. 08/2004: segurança (MJ/m2);
estrutural nas edificações: resistência ao fogo dos elementos te – tempo equivalente (min);
de construção. São Paulo, 2004.
v – grau de ventilação calculado;
COSTA, C. N; SILVA, V. P. O método do tempo equivalente
para o projeto de estruturas de concreto em situação de W – fator associado à ventilação e à altura do com-
incêndio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, partimento;
47., 2005, Olinda. Anais… São Paulo: IBRACON, 2005. γn – coeficiente adimensional que leva em conta a presença
Seção 3, p. 154-167. de medidas de proteção ativa da edificação;
DEUTSCHES INSTITUT FÚR NORMUNG e. V. DIN 18230- γs – coeficiente de segurança que depende do risco de
1: structural fire protection in industrial buildings – Part incêndio e das consequências do colapso da edificação;
1: Analytically required fire resistance time. Berlin, 1998- γs1 – coeficiente relacionado à área de piso do compartimento
05. e à altura da edificação;
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. γs2 – coeficiente relacionado ao risco de ativação do incêndio.
ENV 1991-2-2: Eurocode 1: actions on structures – Part
1.2: general actions – actions on structures exposed to
fire. Brussels: CEN, 1995.