Você está na página 1de 151

 

DICAS PARA ESCRITORES


UM GUIA DESCOMPLICADO
 

Nano Fregonese

Dicas Para Escritores: Um Guia Descomplicado

2ª Edição Revista e Ampliada

Copyright © 2016 by Adriano Fregonese

Todos os direitos reservados.


 

Autor

Adriano “Nano” Fregonese

ATENÇÃO
EU DEIXEI UM PRESENTE VALIOSO PRA VOCÊ

Muito obrigado por ter escolhido esse livro e confiado no


meu trabalho. Saiba que significa muito pra mim. Se
cheguei até aqui, foi graças ao apoio e carinho de toda uma
nova geração de contadores de histórias que apostaram nas
minhas palavras quando eu nem mesmo sabia que isso
poderia se tornar algo tão grande.

Sou grato, de verdade.

Como forma de agradecimento, eu deixei um presente


valioso pra você lá no fim do livro . Lá no final, mesmo,
após o último capítulo. Não deixe de conferir.

Um abraço e boa leitura.


 

ÍNDICE
 

APRESENTAÇÃO

Introdução

DICAS PARA ESCRITORES

Coisas Que Todo Escritor Precisa Fazer

O Mínimo Que Você Precisa Fazer Para Contar Uma História

A Verdadeira Força Da Sua Escrita Está Na Pergunta: Por


Quê?

De Onde Vêm As Ideias?

Como Encontrar Uma História Para Contar?

O Que Significa Ser Original?


Storyline : A Sua Trama Cabe Em Um Tweet ?

Como Criar Personagens Marcantes Com Apenas Uma


Pergunta

Explorando Pensamentos (Ou Como Utilizar Personagens


Pelo Lado de Dentro)

Como Escrever Uma Cena Sem Enrolação

Como Conectar Os Fatos Da História

Navegando Em Águas Desconhecidas: Como Escrever Sem


Estrutura

Além da Muralha: Como Terminar o Seu Livro

3 Dicas da Pulp Fiction Para Melhorar a Sua Escrita

7 Tramas Básicas Para a Sua História

  Como Fortalecer a História Usando o Objetivo

Prólogos: Usar Ou Não Usar?

Engajando Leitores Já No Início

Como Não Engajar o Seu Leitor

Como Ter Uma Rotina De Criação?

Como Ter Concentração Na Hora de Criar Uma História?


Escrever Como Um Profissional Faz Toda a Diferença (Ou
Como O Livro Mais Aguardado do Ano Se Transformou em
Decepção)

Você Não Precisa de Uma Editora Para Ser Profissional:


Escrevendo Para a Amazon

O Que o Seu Leitor Deseja?

Repertório e Emoção

Escritores, Comecem a Jogar Videogame

6 Coisas Que Escritores Devem Aprender Com RPGs

Como Escrever Histórias Longas

Como Escrever Para Crianças

Como Avaliar Um Livro Em 5 Passos

Como Escrever Mesmo Trabalhando 9 Horas Por Dia


(Morando Sozinho e Tendo Que Resolver Várias Coisas Na
Semana)

Livro Vs. Ebook : Nessa Briga Quem Perde é Você

Você Caiu No Conto Do Escritor-Gênio?

E AGORA?
 

INTRODUÇÃO
 

Oi, colega,

Antes de mais nada, obrigado por ter adquirido esse


pequeno livro. Tenho certeza que você encontrará coisas
bacanas por aqui.

Não sei se você já acompanha meu trabalho, por isso vou


me apresentar rapidamente.

Eu sou o Nano Fregonese. Escritor, storyteller , publicitário e


criador da Escola Escrever Viver (procure por
@escolaescreverviver no Instagram ). Estudo e trabalho
com storytelling e técnica criativa desde 2008 e mantenho
um site que traz dicas para pessoas que querem escrever
um livro ou então que precisam criar projetos envolvendo
histórias. Esta obra que você tem em mãos traz alguns dos
meus artigos favoritos do público.

Caso queira conhecer um pouco mais do meu trabalho,


acesse www.nanofregonese.com.br
Boa leitura e um grande abraço!

COMO USAR ESTE LIVRO

A obra que você tem em mãos é fruto de um trabalho de


formiguinha, feito em uma via de mão dupla, graças aos
leitores e amigos que me acompanham há anos. Foi por
causa deles e para eles que esses textos foram escritos...

...só que ficou claro, depois de um tempo, que muitas das


dúvidas dos leitores eram semelhantes. E muitas das
dificuldades eram compartilhadas por um grande número de
pessoas também.

Sendo assim, achei que seria uma boa ideia reunir os meus
textos mais populares em um único documento, prático e de
fácil navegação, para ajudar ainda mais escritores. Foi
assim que este livro nasceu.

Você pode lê-lo de uma única vez, da primeira à última


página, como um guia.

Pode também utilizá-lo como livro de consulta, indo direto


para os temas de seu interesse no momento. Para isso, é só
clicar nos títulos dos capítulos dentro do índice. Todos os
títulos contam com links que levam direto para a página
desejada. Legal, né?
Embora eu tenha ordenado os capítulos em uma sequência
que acredito ser bastante natural, entendo perfeitamente
que cada escritor possui um processo de aprendizado
diferente. Desse modo, fique à vontade para saltar entre as
páginas da forma que achar mais agradável. Sugiro, apenas,
que você comece lendo os três capítulos iniciais, ok?

De resto, aproveite e não esqueça de se divertir. A escrita,


afinal, é um mundo mágico.

DICAS PARA ESCRITORES


 

COISAS QUE TODO ESCRITOR


PRECISA FAZER
 
 

Assuma que você é um escritor de histórias. Não tenha


vergonha. Orgulhe-se do fato.

Um escritor escreve. Então pare de se preparar para


escrever e comece a arranjar tempo para praticar. Todos os
dias.

Estabeleça metas. Mas não esqueça que essas metas


devem ser realistas, ou então você vai desanimar, definhar
e desistir.

Leia. Leia muito. Mas leia como um criador. Analise a


estrutura da história, o ritmo, a criação de personagens e a
construção da cena. O que salta aos seus olhos?

É necessário compreender que há um mercado por trás das


histórias. Compreender que o seu trabalho só será digno de
nota se você criar com o coração é mais necessário ainda.

Começar uma história é um grande feito. Terminar uma


história é divino.

Abra-se para as críticas construtivas. Elas irão ajudar você a


enxergar o seu trabalho de formas inteiramente novas, além
de manter o seu ego sob controle.

Mantenha o ego sob controle. Não permita que ele se


transforme em arrogância cega.
Escrever histórias é uma técnica, mas também uma arte. E
de vez em quando a arte vai carregá-lo por lugares não
planejados. Embarque na jornada.

Aprenda com autores mais experientes. Eles passaram por


dificuldades que você nem imagina.

Ajude os autores menos experientes. Lembre-se de como


você sofreu e de como desejou ter alguém para guiá-lo.

Só escreva quando estiver inspirado. Esteja inspirado todo


dia. É a sua responsabilidade como criativo.

Pesquisa e revisão fazem parte do processo. Não reclame.


Aceite. Faça.

Não se apegue demais às suas histórias. Elas estão


protegidas na sua gaveta, mas foram escritas para serem
lidas.

Viva uma vida que nutra o escritor dentro de você. Brinque.


Descubra. Questione. Imagine.

Saiba que escrever histórias é algo difícil, dolorido, solitário


e muitas vezes ingrato. Mas vale cada gota de suor e cada
lágrima.

Ame criar. Crie com amor.

 
O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA
SABER
PARA CONTAR UMA HISTÓRIA
 

Este texto aqui é antigo. Muito antigo. Resolvi relê-lo mais


para ver se eu falava muita besteira no passado, mas
acabei me surpreendendo com quão útil ele me foi, mais
uma vez.

Então, se você tem vontade de criar uma narrativa e não


sabe por onde começar, dê uma olhada. Talvez o meu eu do
passado possa ajudar.

A VERDADE

Quase todo mundo pode criar histórias. O storytelling não é


exclusividade de gênios talentosos que fazem fortunas com
bestsellers. Embora o talento exerça seu papel, ele pode ser
sobrepujado pela dedicação e trabalho duro.

O que você precisa é de comprometimento.


A primeira coisa a fazer é consumir histórias. Leia, assista a
filmes e séries, escute os causos do tiozinho do bar, leia de
volta. Mas faça tudo isso como um criador. Preste atenção
aos mecanismos e engrenagens por trás daquilo que está
sendo transmitido a você. Quais pontos chamam a atenção?
Existe uma estrutura por trás? Algum personagem se
destaca? Você entendeu aonde quero chegar.

A segunda coisa a fazer é praticar. Escreva, desenhe, narre,


jogue RPG, faça o que quiser, mas se force a contar
histórias. Não tem como escapar. A prática vai te ensinar
coisas que nem décadas de estudo teórico são capazes de
trazer. Pratique até o storytelling virar uma segunda
natureza.

A terceira coisa a fazer — e sobre a qual falarei de forma


mais aprofundada — é conhecer as regras. Sim, polêmica à
vista!

Muita gente diz que conhecer as técnicas de narrativa


prejudica a criação, tira a originalidade, banaliza o artista.
Bullshit. Ninguém está dizendo para você ignorar a sua voz
e seguir uma receita de bolo, mas, até mesmo para ser
original, é preciso conhecer as regras. Ou, então, como você
poderá quebrá-las?

As estruturas narrativas são constantemente aprimoradas,


mas estão por aí desde a época das cavernas. E por um
motivo bem simples: nós percebemos a nossa existência
por meio de uma estrutura de história. Nossa vida é um
apanhado de histórias com começo, meio e fim, cheia de
conflitos e antagonistas. Nada mais justo do que se
aproveitar dessa estrutura para criar livros, filmes,
comerciais, etc.

Conheça as regas.

A PREPARAÇÃO

A criação começa muito antes de você sentar e botar seus


pensamentos no papel.

Alguns storytellers gostam de desenvolver a ideia enquanto


escrevem. Outros fazem resumos enormes, com todos os
detalhes importantes da trama. Há ainda os que ficam no
meio do caminho, anotando elementos chave e deixando
pra descobrir o resto junto com os personagens.

Independentemente do que você queira fazer, tenha


respeito pelo papel da pesquisa. Estude sobre aquilo que
você quer escrever, leia livros sobre o assunto, fale com
profissionais. Preencha a sua mente com matéria-prima e
confie no seu cérebro para criar conexões inovadoras.

Considere ter uma boa noção do clímax da sua trama o


mais cedo possível. Ao saber o destino, fica mais fácil traçar
as rotas até lá e entrelaçar os elementos que tornarão o
clímax não só possível aos olhos do receptor, mas também
inevitável.

Esteja sempre com um caderninho. Einstein disse que suas


melhores ideias surgiram quando ele não estava
trabalhando (a Teoria da Relatividade apareceu quando ele
estava tomando banho). Então mantenha um caderno a
postos.

A ESCRITA

Existe uma penca de livros sobre técnicas criativas por aí,


mas hoje vamos falar sobre o básico: o bom e velho Modelo
Dramatúrgico Clássico.

Este modelo se divide em 3 atos e conta com a presença de


3 elementos cruciais:

   Personagem

   Objetivo

   Conflito

A coisa é simples. Alguém quer alguma coisa e precisa


superar obstáculos para conseguir. Que tal analisar esses
elementos separadamente?
 

PERSONAGEM

O principal recebe o nome de protagonista. É ele quem


possui o objetivo principal da história e sofre o maior
conflito. Deve ser empático e realista. Não pode ser uma
pessoa perfeita, pois isso causa tédio. Sua função é gerar
identificação. O leitor precisa se identificar com o
personagem e com as dificuldades sofridas por ele.

Todo bom personagem é composto de conflitos internos e


externos. A maneira como ele lida com estes conflitos nos
mostra quem ele é.

É possível revelar o personagem contando sobre ele (ou


fazendo outros personagens contarem) ou então mostrando.
Mostrar é sempre melhor. "Atos falam mais que palavras".

Há 4 formas básicas de se mostrar:

   Ação do personagem;

   Fala do personagem;

   Aparência do personagem;

   Pensamento do personagem (esta forma possui uma


capacidade enorme de criar identificação).
Uma história deve combinar e alternar estes métodos.

OBJETIVO

É aquilo que o protagonista quer, o que é vital para ele. Em


toda história é necessário que haja um objetivo principal,
mas podem haver objetivos secundários — tanto por parte
do protagonista como por parte de outros personagens. Os
objetivos secundários são comumente usados em tramas
paralelas.

O objetivo deve ser difícil de obter, já que isso cria emoção


e empatia (afinal, alguém aí já conquistou algo de graça?).
Todavia, não pode ser impossível, sob risco de causar
desinteresse por parte do espectador.

O protagonista deve estar motivado a conseguir o objetivo.


Precisa sentir a questão como caso de "vida ou morte".

Mantenha o objetivo principal bastante claro. Ele é o motor


da história.

Assim que o receptor conhece o protagonista e seu objetivo,


ele enxerga o caminho a se percorrer.

 
CONFLITO

Entre o protagonista e o seu objetivo ficam os conflito.


Simples assim.

Este elemento é o tempero da receita. Sem ele tudo é


chato. Quanto melhor o conflito, melhor será a trama. Nada
ilumina mais o personagem do que uma boa luta.

Não podemos deixar a história com apenas um conflito. Eles


devem ser apresentados em quantidade e crescer de
intensidade ao longo da história. Lembra das fases do Super
Mario? Cada vez que você superava uma, a outra ficava
mais difícil, não é? Aqui a coisa funciona do mesmo jeito.

Os obstáculos não precisam ser necessariamente


explicados, mas devem ser verossímeis. É importante fugir
da gratuidade.

Em algum momento, porém, o conflito deverá ser resolvido


– para o bem ou para o mal. O protagonista consegue ou
não seu objetivo.

SOBRE A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS:

   Cuidado com soluções improváveis, forçadas e baseadas na


coincidência;
   Organização dos conflitos: devem ter uma estrutura
ascendente, ficando gradativamente mais difíceis;

   O Antagonista: é o conflito encarnado num personagem.


Deve ter um Objetivo próprio e verossímil que vá de
encontro ao desejo do protagonista.

OS 3 ATOS

Ato I — Começo

É a introdução da história. Aqui mostramos o protagonista e


o mundo no qual ele está inserido. Surge o objetivo e nada
mais é igual. O mundo vira de cabeça para baixo e a ordem
é abalada. O personagem precisa ir atrás de seu objetivo,
ele precisa agir.

O Ato I termina quando o objetivo e a importância do


mesmo ficam claros na cabeça do leitor. A ação
propriamente dita começa a partir deste momento.

Ato II — Meio

Onde a ação se desenvolve. O protagonista tenta conseguir


seu objetivo, mas se depara com conflitos. É a maior parte
da trama.
Não tenha medo de ser maldoso. Complique a vida do
protagonista. Nada de piedade. Ninguém quer ouvir uma
estória na qual tudo vai bem.

Uma boa forma de alongar e adicionar complexidade à obra


é por meio de tramas paralelas; objetivos secundários e
histórias menores dentro da história propriamente dita.

O Ato II se dirige a um momento no qual o protagonista


precisa se comprometer com o clímax. É a batalha final. O
tudo ou nada. Em caso de sucesso, ele salva a galáxia. Caso
ele falhe, a Estrela da Morte esmagará a Aliança Rebelde.

Seu herói vai topar a parada? Claro que vai.

Ato III — Fim

A conclusão da história, quando o protagonista alcança ou


não o objetivo. Devemos estar prontos a responder a
pergunta: "O Herói consegue o que quer?"

Após darmos a resposta, temos um momento de


descompressão e encaminhamos o fim.

Pode ser longo, como o final de O Senhor dos Anéis ou


absurdamente curto, como o fim de Telma e Louise (o Ato III
corresponde à imagem congelada das duas dentro do
carro... deve durar cinco segundos).

Pronto. Disse o que precisava dizer? Explicou o que


aconteceu aos personagens? Então acabou. Não enrole 😉
 

A REVISÃO

Aqui começa o trabalho sujo. Nunca abandone a revisão, é


ela que vai tornar o seu trabalho memorável.

Revisar não é somente corrigir erros e substituir palavras.


Revisão é dar ordem, adicionar o que está faltando,
melhorar cenas, aprofundar e, principalmente, tirar tudo o
que não for essencial para a estória.

Stephen King tem uma equação bem didática sobre a


segunda versão de suas obras:

2ª Versão = 1ª Versão — 10%

Pense nisso como a lapidação de uma joia.

Você deve ser firme, largar o aspecto criador e assumir o


papel de editor. Não é hora de apego emocional. Difícil
cortar tudo aquilo, né? Eu sei, mas é necessário.

Uma boa dica é aguardar cerca de um mês antes de começa


a editar. Isso ajudará a criar o tão necessário
distanciamento.

 
TAMBÉM É IMPORTANTE

Um storyteller não pode parar aqui. Sugiro a pesquisa de


alguns temas:

   Ponto de Vista;

   Ambientação;

   Showing VS. Telling;

   Sentimentos e Pensamentos do Personagem.

Claro que há muito mais do que isso a se estudar, mas não


dá pra abordar todo o assunto aqui. O aprendizado nunca
termina. Se você quer mesmo ser um contador de histórias,
seja humilde e admita que sempre haverá algo novo a se
considerar.

Analise os mestres, se dedique, leia, escreva, dê duro, mas,


acima de tudo, seja persistente. Ser um contador de
histórias não é fácil, mas vale a pena.

Há algo primitivo e verdadeiro nisso. Algo que nos conecta


ao que há de mais humano em nós. Agora, me conte uma
história...

LIVROS RECOMENDADOS
Como Escrever Um Livro: O Guia Completo (disponível na
Amazon), Nano Fregonese

Book in a Box: Cena e Estória , James McSill e Nano


Fregonese

Desenhando Quadrinhos, Scott McCloud

Escrita Criativa , Renata Di Nizo

Immediate Fiction , Jerry Cleaver

A Jornada do Escritor , Christopher Vogler

Manual do Roteiro , Syd Field

Oficina de Escritores , Stephen Koch

On Writing , Stephen King

Plot & Structure , James Scott Bell

O Poder do Clímax , Luiz Carlos Maciel

Roteiro de Cinema e Televisão , Flávio de Campos

Story , Dave McKeen

Vencendo o Desafio de Escrever um Romance , Ryoki Inoue.

 
A VERDADEIRA FORÇA DA SUA
ESCRITA
ESTÁ NA PERGUNTA: POR QUÊ?
 

Esse texto é um pouquinho diferente dos que eu costumo


escrever. Talvez ele não seja tão direto ou com dicas tão
práticas, mas é algo que cedo ou tarde a gente teria que
abordar, de qualquer forma. Sendo assim...

Você já parou para se perguntar por que você escreve?


Sério. Por que diabos você gasta horas da sua vida
debruçado sobre cadernos de rascunho rabiscando
personagens, cenários e ideias de tramas? Sem falar em
todo o sofrimento que vem junto com o ato da escrita em si
e, claro, da maldita — e mais do que necessária — revisão.

Entender o seu porquê é entender quem você é e que tipo


de coisa pode deixar para os outros.

E podemos encaixar esse conceito em tudo o que fazemos.


Vou me usar como exemplo, para variar um pouco.

Eu mantenho um site, bem como uma fanpage no Facebook


e um canal no YouTube. Em comum, temos o fato de as três
coisas tratarem do mesmo assunto: técnicas para criar
histórias.

Agora, por que eu faço isso? Eu não estou cobrando nada


pelo serviço e certamente eu não sou um santo.

Por que, então?

Eu me fiz essa pergunta muitas e muitas vezes até que a


conclusão me ajudou a achar o meu espaço (tanto online
quanto na vida prática).

Eu não repasso o conhecimento que adquiro porque sou um


cara super legal que quer salvar o mundo. Claro que eu
quero um mundo melhor, mas essa não é a primeira coisa
que me vem à cabeça quando sento para escrever artigos.

Eu divido o que eu aprendo com colegas escritores porque


eu entendi que, se eu quiser ter sucesso como autor no
Brasil — que ainda tem um mercado editorial restrito a
poucas pessoas, preferência por estrangeiros e baixo índice
de leitura per capita –, eu preciso ajudar a mudar a
realidade. Eu preciso fazer a minha parte para mostrar às
editoras e ao público que os autores nacionais podem sim
ser bons e profissionais. Que nós temos capacidade de
dominar a técnica da escrita criativa e entregar livros a
altura do padrão internacional. Diacho, podemos entregar
livros melhores.

Então, ao ajudar mais autores, eu acabo me ajudando.


O bom de ser um escritor, é que os outros escritores
parecidos comigo não são meus concorrentes. Eles são
meus aliados. Veja bem, um leitor que compra o livro de
outro autor que escreve no meu gênero provavelmente se
interessará pelos meus livros também.

Assim, eu descobri quem eu sou: um escritor que sabe que


a técnica pode ser seu diferencial e, através dela, ainda
pode conquistar amigos pelo caminho. Além do pessoal que
lê minhas histórias, eu encontrei um novo público: você que
está lendo isso agora.

Você deve fazer esse mesmo exercício.

Por que você escreve?

Se você escreve para alcançar o grande público, deve se


preocupar com o assunto da sua história, com o linguajar
que usa e também em sair de casa e começar a fazer
conexões. Networking será importantíssimo para você.
Comece a frequentar eventos de autores, vá a workshops,
conheça as pessoas das editoras. Acredite quando digo que
tudo isso será tão importante quanto a qualidade da sua
história.

Se você é um escritor mais underground que escreve para


um grupo específico de pessoas, foque no seu público, ao
invés de sonhar com best-sellers. O mercado de nicho é
muito bacana e possibilita um contato legal com os leitores,
cria relações duradouras e pode gerar uma boa base de
fãs... mas você não vai estar na lista dos mais vendidos com
a sua obra voltada para góticos canhotos fãs da Marvel e
que só ouvem Sisters of Mercy. E tudo bem! Garanto que se
a sua história for boa, os góticos canhotos fãs da Marvel e
que só ouvem Sisters of Mercy voltarão para mais.

Já se o seu foco está na autopublicação, tenha certeza de


ter formado um bom mercado. Preocupe-se em construir um
grupo de fãs que de fato esteja interessado no seu livro
ANTES de você gastar R$ 30.000 com editoração,
diagramação e impressão. Caso contrário, você corre o risco
de acabar com uma infinidade de caixas em sua sala de
estar, apenas juntando poeira.

Por outro lado, se você escreve apenas para lidar com os


demônios internos e colocar as coisas pra fora, então você,
mais do que todos os outros tipos, deve conhecer o seu
público: você mesmo. Seja brutalmente honesto e tire o
máximo que puder das horas em frente ao computador.
Como dizia Hemingway, sangre na página.

Contudo, o exercício de se perguntar "por quê?" também vai


te ensinar algo mais importante. Vai te mostrar qual é a sua
essência, o seu motor, aquilo que fará você continuar a
escrever mesmo quando as coisas parecerem difíceis. Você
irá erguer os olhos cansados da tela e vai lembrar...

"Eu faço isso porque acredito que a fé pode mudar a


vida das pessoas". (C.S. Lewis, autor de As Crônicas de
Nárnia)
"Eu faço isso porque quero mostrar como a
meritocracia é fundamental a uma sociedade". (Ayn
Rand, autora de A Revolta de Atlas)

"Eu faço isso porque quero que, daqui a 20 anos, meus


filhos encontrem esses escritos e sintam orgulho do
pai". (João Silva, um autor que faz o melhor possível)

Ao criarmos personagens, nós sempre nos perguntamos o


que os motiva e o que os levará pela jornada da história. Por
que faríamos diferentes com a gente mesmo nessa grande
trama chamada vida?

DE ONDE VÊM AS IDEIAS?


 

Eu gosto de ler biografias e assistir as entrevistas dos meus


autores favoritos. Ver quais foram as influências, traumas e
momentos marcantes que transformaram aquelas pessoas
em grandes criativos sempre me ensina muito.

E se tem uma coisa com a qual a gente sempre acaba se


deparando ao ver esse tipo de conteúdo é com a pergunta:
De onde vêm suas ideias?

Se você está lendo isso, é porque tem interesse em


escrever histórias. Então talvez você mesmo já tenha se
deparado com algum curioso querendo saber de onde VOCÊ
tira as SUAS ideias. Já pensou nisso?

Claro que cada escritor acaba dando uma resposta um


pouquinho diferente, mas se você analisa aquilo a fundo,
percebe que existe algo em comum. Isso acontece porque
as ideias surgem do mesmo lugar. Não importa se você é
um autor de histórias infantis no Brasil ou um escritor de
dramas históricos na China, as ideias de vocês têm a
mesma fonte.

Já sabe qual é?

De onde vêm as ideias, afinal?

De todos os lugares.

Isso mesmo. Tudo o que ocorre ao seu redor, por mais banal
que seja, pode ser matéria-prima para uma ideia.

Tá, eu sei que a resposta parece clichê, então vamos


desenvolver um pouquinho mais.

A mente criativa tem uma forma muito peculiar de


funcionar.
Para desenvolver ideias é preciso exercitar o seu cérebro,
mas você também não pode forçá-lo demais ou acaba
gerando o efeito contrário e ele se fecha. Quem já foi
obrigado a tirar conceitos e ideias em pequenos espaços de
tempo porque o cliente estava ali te olhando com cara
brava sabe do que estou falando.

Você não pode dominar completamente a sua criatividade.


Ela não vai começar a gerar grandes ideias só porque você
mandou. Ela é poderosa e bonita, como um cavalo de raça,
mas, assim como o animal, também pode ser muito
teimosa.

O truque, então, é trabalhar COM ela. Direcioná-la.

Para isso, você precisa alimentá-la bem. E aqui chegamos


no grande ponto do texto que eu quero que você guarde na
memória: para gerar ideias, você precisa de repertório.

Repertório é uma série de informações, emoções, vivências,


gostos, etc que você guarda no seu íntimo. Cada livro que
você lê, cada viagem que faz, cada nova música que te
toca. Tudo isso é repertório e acaba sendo armazenado
naquele grande galpão que você tem na cabeça.

Ao viver experiências interessantes, adquirir conhecimento


e experimentar emoções, você agrega material para a
criação de novas ideias.
Pense na sua imaginação como um laboratório com um
inventor maluco dentro. Absolutamente qualquer coisa pode
ser feita ali, mas, para trabalhar, o inventor precisará de
material. Ele não pode sair do laboratório e correr atrás das
coisas. É você quem precisa fazer isso pra ele.

E você faz isso ao adquirir repertório!

Ficar trancado em casa vivendo uma rotina imutável, lendo


apenas um assunto e ouvindo a mesma música criará uma
gama de materiais muito limitada. O inventor não
conseguirá fazer muita coisa de diferente com apenas
aquilo em mãos.

Para gerar novas coisas você tem que viver novas coisas.
Conhecer pessoas, aprender algo novo, viajar — nem que
seja na maionese.

No fundo, a criatividade nada mais é do que a habilidade de


unir coisas que já existem de formas totalmente novas. Star
Wars ainda é uma história de capa e espada com toques de
ficção científica e faroeste, afinal de contas. A novidade ali
foi a junção inovadora de diferentes referências.

A sua mente — o seu inventor maluco — está mais do que


pronta para trabalhar. Ela vai gerar ideias bacanas. Pode
confiar. Ela só precisa que você faça a sua parte.

Então deixe as páginas de rascunho de lado de vez em


quando e vá aproveitar a vida. Ela está cheia de ideias
esperando por você.

COMO ENCONTRAR UMA


HISTÓRIA PARA CONTAR?
 

Essa dúvida sobre como encontrar uma história para contar


normalmente tem duas origens: ou você tem muitas
histórias em mente e não sabe com qual delas prosseguir
ou está passando por um bloqueio criativo e nenhuma ideia
aparece.

Seja como for, antes de sentar pra criar a sua história, você
precisa perguntar a si mesmo qual é o porquê da sua
criação. Isso realmente vai clarear as coisas na sua cabeça.

Procure enxergar a situação com senso crítico e seja sincero


na resposta. Você está desenvolvendo uma marca?
Investindo em marketing pessoal? Escrevendo um livro? Vai
escrever para prazer pessoal ou quer alcançar um público?
Quer vender bastante ou apenas soltar sua ideia no mundo?
Como você pode imaginar, o seu porquê vai influir muito no
tipo de história que você vai contar.

Caso esteja escrevendo por prazer ou então apenas para


soltar uma ideia, então você precisa ser brutalmente
honesto consigo mesmo. A criação de história aqui serve
apenas para o seu crescimento pessoal, então o objetivo é
entrar em contato com o seu íntimo. Não ligue para o que
os outros acham e crie o que faz o seu coração bater mais
forte (o engraçado desse tipo de criação é que, algumas
vezes, a sua originalidade acaba atraindo interesse de um
grande número de pessoas).

Já se você cria histórias para um público específico, é


importante conhecer esse público. O que ele procura?
Porque acompanha o seu trabalho? Quais assuntos seriam
do interesse dele? Converse com esse pessoal… você vai se
espantar com a quantidade de insights que receberá.

Se você vai criar visando o mercado, a questão fica ainda


mais sensível. É preciso pesquisar sobre o que está na
moda, sobre o que os consumidores estão procurando,
sobre o que está sendo feito no seu gênero de história,
sobre o que já virou lugar comum. Uma passeada pela
seção de mais vendidos da Amazon pode dar uma boa
ajuda.

Agora, se você já tem um monte de ideias e não consegue


se decidir, então precisa de um pouco de foco e também
passar por um processo. Em primeiro lugar, faça uma lista
com todas as suas possíveis ideias, depois use o porquê da
sua criação como um filtro… isso já vai eliminar uma boa
parte dos itens da lista. Feito isso, continue eliminando
ideias até ficar com algumas poucas favoritas. Reflita sobre
elas e escolha a que mais tem a ver com a sua verdade.

Já se você não tem ideia nenhuma para uma história,


mesmo após pensar no seu porquê, então precisa relaxar
um pouco. Procure ler mais, assistir mais seriados, ver
filmes, ouvir música, viajar. Você precisa aumentar o seu
repertório. Preencha o seu armazém mental com referências
e em breve começará a criar interconexões que serão a
semente para ideias originais.

O QUE SIGNIFICA SER ORIGINAL?


 

Quando a gente está conversando com outros criativos e


fala em originalidade, normalmente as pessoas entendem o
termo como ineditismo, inovação. Seria algo
completamente novo e surpreendente que jamais foi
imaginado na história da literatura, teatro, cinema, etc.
Mas não é bem assim que funciona.

A originalidade pode aparecer em cima de uma ideia pré-


existente ou até mesmo meio clichê. A originalidade pode
estar em um ponto de vista. Pode estar no estilo. Pode estar
em uma nova abordagem.

Na verdade, considero esse tipo de originalidade como algo


realmente interessante. Afinal, já temos tantas sementes de
ideias bacanas por aí… por que não podemos aproveitá-las
e regá-las de outros jeitos, formando frutos com sabores
exóticos e inesperados?

Vou ilustrar isso tudo que estou falando com um exemplo:

Recentemente li um livro nacional chamado O Escravo de


Capela , do cineasta e escritor Marcos DeBrito . Eu gostei
bastante da leitura, embora algumas coisas tenham me
incomodado (principalmente em relação ao uso do Ponto de
Vista)… mas não quero fazer uma análise da obra aqui. O
que eu quero é falar sobre a originalidade.

O Escravo de Capela nos joga dentro de uma fazenda de


cana em pleno Brasil Colonial. A fazenda funciona na base
do trabalho escravo e a visão cruel e odiosa dos senhores
de engenho está presente em cada um dos capítulos
sangrentos. Mas o grande lance do livro está nos
acontecimentos sobrenaturais que começam a assombrar a
Fazenda Capela após o assassinato brutal de um jovem
escravo: o Saci Pererê aparece.
Isso mesmo, o Saci Pererê. Mas não é aquele Saci
engraçadinho que você está acostumado. Esse Saci aqui
mata de formas sanguinolentas e sem piedade. Ele é uma
força vingativa da natureza.

O que o autor fez foi rever a lenda do Saci por meio de


lentes sombrias e aterrorizantes. As cenas em que a
criatura aparece dão medo de verdade e é muito bacana
ver como a nossa mitologia pode ser explorada nas mãos de
um bom criativo.

Veja bem, Marcos DeBrito não inventou o Saci. Ele não criou
do zero o grande astro do seu livro. O que ele fez foi utilizar
as características mais conhecidas do famoso personagem
folclórico – como a ausência de uma perna, o gorro
vermelho e até mesmo o cachimbo – de uma forma nova, só
sua.

Se isso não é originalidade, então eu não sei mais o que é!!

Muita gente me pergunta de onde tirar uma ideia para


história. Ora bolas, as ideias estão sempre ao nosso redor.
Ninguém disse que a sua ideia tinha que ser completamente
inédita. Você pode (e deve) procurar inspiração em meio a
obras que já existem por aí e que te atraem.

George Martin criou Game of Thrones depois de se inspirar


em acontecimentos históricos da Guerra das Rosas. J.K.
Rowling criou Harry Potter em parte inspirada pelo mago
Tim Hunter, do Neil Gaiman. O próprio Gaiman criou
Sandman e os Perpétuos após reinterpretar a Teogonia
grega.

Não se preocupe tanto caso não esteja conseguindo


desenvolver uma ideia 100% inovadora. Você pode pegar
coisas emprestadas por aí. Apenas se certifique de fazer
como o Marcos DeBrito e arranjar uma forma de tornar tudo
isso algo seu. Algo só seu!

STORYLINE: A SUA TRAMA


CABE EM UM TWEET?
 

Quando eu me preparo para escrever uma história,


normalmente gasto um bom tempo pesquisando e fazendo
um monte de rabiscos por aí. Aquela coisa clichê, mas que
sempre funciona: anotações em guardanapos, em papéis de
rascunho ou em caderninhos.

Quando sinto que a história começa a ter uma certa


consistência na minha cabeça, aí eu passo a organizar e dar
forma para aquele monte de informações caóticas. E, nesse
momento, tem uma coisa que eu gosto de fazer e que me
ajuda muito na hora de escrever pra valer: o storyline.

Para quem não está familiarizado com o termo, o storyline


seria uma espécie de resumo muito sucinto da sua trama.
Algo que caiba em duas ou uma frase, daí o seu nome.

Em termos bem práticos, fazer um storyline é como contar a


sua história em um tweet!

Tá, Nano, mas por que isso é importante?

Porque o storyline vai te ajudar a focar nas coisas


importantes.

Quando escrevemos um romance, é muito fácil perder o


controle e acabar divagando. Viajamos dentro do mundo
que criamos e apenas ao final é que vamos nos dar conta
que, embora possa haver muita coisa bacana nos nossos
escritos, também tem muita coisa descartável, que não
interessa ao leitor. O storyline serve como um guia que
constantemente nos lembra do que se trata a história. Ele
diz:

"Ei, cara. Não esqueça a essência da sua criação, heim".

Outra função valiosa do storyline é mostrar se a nossa


trama está complicada demais.

Escrever uma história em uma simples linha nunca é fácil,


mas se você estiver achando a tarefa impossível, é bem
provável que a narrativa esteja meio megalomaníaca e
precise ser retrabalhada.

Lembre-se que o leitor, ao ler o seu livro, não tem acesso à


sua mente. Ele não vai poder tirar dúvidas ou conferir as
suas referências. Se a coisa estiver complicada demais,
emaranhada demais, solta demais, a experiência será
comprometida... e ele pode desistir do livro.

Como eu já disse em outros textos, menos é mais. E o


storyline ajuda a gente a segurar a empolgação.

Além de tudo isso, ter um storyline em mãos pode ser


crucial na hora de vender a ideia sobre o seu livro.

Lá fora existe um termo famoso chamado de elevator's


pitch. Fica mais fácil falar sobre ele com uma pequena
historinha.

***

Imagine que você é o autor de Game of Thrones e está em


uma convenção de escritores. Lá tem um monte de gente
criativa, editores, agentes literários e donos de editoras
querendo encontrar bons livros para publicar.

Agora imagine que você está saindo pra almoçar. Você pega
o elevador junto de uma senhora bem vestida e de
expressão simpática.
– Oi — ela diz. — Você também está na convenção? Você é
um escritor?

– Sim — você responde. — E a senhora?

– Eu trabalho para uma editora. Estou procurando um livro


original por aqui. Por acaso tem uma história para me
contar?

Você sente o batimento cardíaco acelerar. A boca fica seca e


uma gota de suor frio escorre pelas suas costas. Você
respira fundo, se recompõe e diz:

– Bom, a minha história é sobre esse reino em luta, com


vários nobres disputando um trono de ferro, mas também
tem uma espécie de zumbis de gelo no norte, ao mesmo
tempo em que uma garota que descende de uma antiga
família que estava no trono quer reconquistar o poder, e
também tem um anão que tem uma relação complicada
com o pai e, falando em pai, tem um jovem bastardo que se
alista em uma patrulha...

Então o elevador chega ao seu destino. As portas se abrem.


A senhora vira pra você e diz:

– Legal, até mais.

E vai embora sem saber de fato sobre o que é a sua


história. A oportunidade perdida para sempre.

***
Entendeu como ter um bom storyline em mãos faz toda a
diferença? Por meio dele você consegue falar sobre a alma
da sua história em poucos segundos e gerar interesse. Uma
vez que as pessoas estejam encantadas pela ideia por trás
da sua história, aí elas vão pedir mais e aí você terá tempo
para entrar em detalhes.

Legal, Nano, entendi. E como eu faço um storyline?

Em alguns simples passos:

1) Antes de mais nada, se prepare para a tarefa. Muito


embora o storyline seja composto de apenas uma frase,
essa frase é difícil pra burro de encontrar. É perfeitamente
normal gastar mais de uma hora testando variações até
finalmente se sentir confortável com algo.

2) Identifique a ambientação. Onde e quando se passa a sua


história? É no futuro distante? Em uma terra mística? Na
Europa do século XI? Se é relevante para a trama, melhor
falar disso desde já.

3) Identifique o protagonista da sua história, aquele


personagem que tem mais a perder, e diga quem ele é em
poucas palavras. Mas atenção: nada de nomes nesse
momento. Prefira termos mais explicativos como "um
policial aposentado", "um nobre bastardo", "um jovem
bruxinho", "um garoto que não cresce" e coisas do tipo.
4) O que o protagonista deseja mais do que tudo na sua
história? Por quê?

5) Agora pegue isso que você criou e reduza até ficar bem
claro e direto.

Alguns exemplos de storyline:

a) Em uma terra medieval fantástica, um pequeno hobbit


precisa destruir um anel mágico para derrotar o senhor das
trevas.

b) Um professor frustrado de química é diagnosticado com


câncer terminal e decide traficar drogas para conseguir
dinheiro.

c) No congresso americano, um político traído traça um


plano para alcançar o poder a qualquer preço e se vingar
daqueles que o prejudicaram.

Notem que nem de perto os storylines trazem os detalhes


dos personagens ou da trama. Eles também não abordam
as surpresas, reviravoltas e sacadinhas inteligentes que, eu
tenho certeza, você incluirá no seu livro. Eles não servem
para isso.

Storylines são um primeiro passo. Um olhar duro e direto


para o que de mais essencial existe na história. Mas, sem
conhecer o essencial da história, como podemos avançar?

Então, que tal brincar de resumir a trama em um tweet?

COMO CRIAR PERSONAGENS


MARCANTES
COM APENAS UMA PERGUNTA
 

No fim das contas, a história acaba dependendo de um bom


personagem.

É possível que um bom personagem salve um filme ou livro


ruim, mas nem mesmo a melhor trama conseguirá salvar
um personagem chato, desinteressante e sem brilho.

Não adianta. Você precisa investir, especialmente no


protagonista de sua história.

Ok. É bem provável que você já saiba disso. Todo mundo


repete esse tipo de coisa pela internet, mas pouca gente
explica, pra valer, como fazer.
O que eu vou falar aqui não substitui todos os livros de
técnica literária ou as horas de análise prática que você
precisará dedicar para se tornar um grande criador de
personagens, mas com certeza vai ajudar.

Se você é um cara angustiado que realmente quer dar um


toque de vida em seus personagens, mas não sabe por
onde começar… Bom, você veio ao post certo.

A dica para um personagem marcante é: invista em valores.

Qual é o valor do seu personagem? E por valor eu não quero


dizer apenas qualidades ou coisas bacanas e politicamente
corretas. Quando eu digo valor, eu quero que você pense
naquilo que o seu personagem não pode viver sem. Faça
com que ele pergunte a si mesmo:

Qual é a coisa mais importante do mundo para mim?

É isso! A resposta irá revelar qual é a essência do seu


personagem e, a partir dela, você poderá guiar todas as
escolhas dele ao longo da trama.

Veja o Batman lá no início da carreira, no fim da década de


30, antes de se estabelecer todo um cânone para o homem-
morcego. Naquela época podíamos definir o herói por meio
de um único valor: justiça. Tudo o que o Batman fazia era
guiado por um grande senso de justiça.

Legal, mas os tempos mudaram e o público procura por


personagens cada vez mais complexos. O que fazemos
então?

Inserimos mais uma camada de valor.

Nós fazemos o personagem perguntar mais uma vez: qual é


a coisa mais importante do mundo para mim?

Agora temos dois valores. Duas essências.

Muitas vezes esses dois valores vão andar lado a lado e


construir uma dinâmica bacana ao longo da história. Só que
as coisas ficam boas mesmo quando usamos esses valores
para gerar conflito, colocando um em luta com o outro.

Vamos para um exercício prático.

Vou partir do pressuposto que quase todo mundo sabe


quem é Walter White, do seriado Breaking Bad. Um químico
brilhante, pai, bom marido, que nunca recebeu o devido
valor e de repente se descobre com câncer.

Perguntamos pro Walter qual é a coisa mais importante do


mundo. Ele responde: família.

Com esse valor em mente, ele acaba tomando decisões


com o intuito de garantir um bom futuro para a sua família.
Mas a coisa não para aí, não é mesmo?

Nós perguntamos pra ele qual é a outra coisa mais


importante do mundo e ele diz: poder, controle.
Agora temos outro valor para brincar. Um valor que, ao
entrar em conflito com o primeiro, gera os momentos mais
dramáticos da série.

Ao criarmos a luta Família X Poder, vamos descobrindo


quem Walter White realmente é. Ele é Heisenberg.

Entendeu a lógica da coisa? É isso!

Conforme você for ficando mais seguro com a brincadeira,


poderá ir se aventurando em mais camadas de valores e em
personalidades com diferentes níveis de complexidade. O
mais legal disso tudo é que os personagens parecem
trabalhar ativamente na própria construção. Experimente e
veja o que acha.

Depois me diga… qual é a coisa mais importante do mundo


pra você?

EXPLORANDO PENSAMENTOS
(OU COMO UTILIZAR PERSONAGENS PELO LADO DE
DENTRO)

 
 

Um dos grandes diferenciais da literatura é a possibilidade


de se estar muito mais próximo dos personagens do que em
outras mídias. Via de regra, filmes são ótimos para mostrar
o que acontece do lado de fora do personagem. O livro é
ótimo para mostrar o que acontece dentro.

E acredite quando falo que o lado de dentro é mais


importante.

Veja bem, nós consumimos histórias porque queremos viver


novas vidas, sentir novas coisas, experimentar novas
situações. Ninguém lê A Guerra dos Tronos para saber o que
Tyrion faz ou diz. Nós lemos para estarmos lá com ele e
sentirmos o que ele sente naqueles grandes momentos.

Nós queremos uma grande experiência emocional e a


melhor maneira de alcançá-la é por meio dos personagens.

Então por que tanta gente se recusa a explorar os aspectos


internos de seus personagens e acaba escrevendo um
“filme para ler”?

Medo? Insegurança? Desconhecimento? Talvez um pouco de


tudo.

Sempre achei que o truque para explorar o interior de um


personagem era me imaginar como ele — algo como uma
mini sessão de RPG. Tento assumir o seu papel e identificar
sentimentos e suas consequências. Então mostro tudo.
Compare:

A porta do elevador abriu e Fulano saiu para a garagem do


prédio sem tirar os olhos da tela do iPhone. Mal deu dez
passos quando foi jogado contra a parede. De repente
sentiu a lâmina fria contra seu pescoço. Fulano teve medo.

A porta do elevador abriu e Fulano saiu para a garagem do


prédio sem tirar os olhos da tela do iPhone. Mal deu dez
passos quando foi jogado contra a parede. De repente
sentiu a lâmina fria contra seu pescoço.

“Meu Deus”, pensou ele. “Eu vou morrer”.

Imediatamente lembrou da esposa e da filha pequena em


casa, aguardando para jantar.

A boca ficou seca. Suas pernas perderam a força e o


estômago embrulhou. Lutou contra a vontade de vomitar.

Entende o que estou dizendo? No primeiro exemplo eu


apenas contei. No outro eu mostrei.

Mas tem mais ali, certo? Eu sei que você é uma pessoa
atenta e percebeu que, além das reações físicas geradas
por um sentimento, eu inseri algo mais no exemplo. Algo
que faz toda a diferença:

“Meu Deus”, pensou ele. “Eu vou morrer”.


Pensamento. O personagem pensa.

Podemos usar o pensamento como algo instintivo e


reflexivo. Isso gera identificação porque todas as pessoas
agem assim. E como todas as pessoas agem, seu
personagem também deve agir.

Mas dá pra ir além.

É possível realizarmos uma análise mental, um monólogo


interno ou até mesmo um fluxo de consciência.

A análise mental ocorre quando nós, como narradores,


expomos o que o personagem pensa.

O monólogo interno surge quando o personagem exprime


seus pensamentos de forma lógica, quase como se
conversasse consigo mesmo. Em outras palavras, damos
voz às análises, dúvidas e decisões de nosso personagem.
Particularmente acredito que o monólogo interno deveria
ser usado pelo menos uma vez por capítulo, mesmo que de
forma curta.

Por fim, o fluxo de consciência escancara o próprio processo


mental do personagem em uma série de pensamentos que
se sobrepõem e também escorregam para os aspectos mais
simbólicos do subconsciente. Pode ser desarticulado, ilógico
e sem sentido aparente. Imagine mergulhar fundo na mente
de um esquizofrênico e tentar perceber a realidade da
mesma forma que ele a percebe. Desafiador, não? A obra O
Som e a Fúria , do Faulkner, é famosa pelo uso magistral
desta técnica.

Saber como compartilhar a alma de nossas criações é uma


perícia que todo escritor deveria se preocupar em
desenvolver. Ela aproxima o leitor do personagem e
aumenta a identificação; o que acaba por gerar maior
emoção e envolvimento com a obra. No fim das contas,
tudo fica muito mais real e compreensível.

Dê uma espiada na forma como George Martin consegue


nos levar para dentro da mente de seus personagens a
ponto de nos tornarmos cúmplices. Podemos até mesmo
não torcer por aquelas figuras, mas nós certamente as
compreendemos e nos identificamos com elas. E se você
conseguir fazer isso nas suas histórias, eu garanto que os
leitores voltarão para mais!

E aí, o que está pensando agora?

COMO ESCREVER UMA CENA SEM


ENROLAÇÃO
 

 
 

Em primeiro lugar, vale um reforço: cena não é a mesma


coisa que capítulo. Um capítulo pode ser composto de uma
só cena ou então conter diversas delas. Hoje há uma
tendência, com autores super ultra best-sellers, de se
utilizar capítulos curtos — praticamente um capítulo por
cena. Mas, sinceramente, isso vai depender muito do seu
estilo de escrita.

A definição mais simples para cena é...

Algo acontecendo em algum lugar em determinado espaço


de tempo.

Teve quebra no espaço ou no tempo? Então acabou a cena.

Mas não se preocupe tanto com isso ainda. Preocupe-se em


saber para quê serve uma cena.

)    Mover a História

)    Revelar Personagem

)    Revelar Cenário

Se a sua cena não cumpre nenhuma dessas funções, ela


pode ser descartada. Sim, eu sei que dói, mas é para o bem,
acredite.

A sua cena cumpre alguma daquelas funções? Aí sim


estamos começando a conversar.
Para tornar a sua cena mais dinâmica, é interessante tentar
usar pelo menos duas daquelas utilidades que citei, ao
invés de uma só. Chamamos isso de double duty!

O que isso quer dizer, na prática?

Que, ao invés de criar uma cena apenas para revelar um


cenário e/ou personagem, dá para fazê-la mover a história
também.

De repente aquele seu protagonista está no trabalho


quando acaba se irritando com uma colega e "estoura". Ele
berra, ameaçando e xingando antes de finalmente se
desculpar e se acalmar.

Tudo bem, até aqui mostramos que ele é impaciente e dado


a impulsos violentos. Poderia terminar por aí. Mas nós
também poderíamos continuar e fazer diversos colegas
testemunharem o momento de agressividade. Entre esses
colegas, poderíamos ter um psicopata que vê ali a chance
perfeita para cometer um crime e jogar a culpa no
protagonista esquentadinho.

Entende o que quero dizer?

Certo, vimos para quê serve a cena, mas como é a sua


estrutura? O que devemos colocar nela?

Hoje em dia o que se ensina em muitos livros de técnicas e


workshops é o uso da Cena de Ação e Cena de Reação, cada
uma com 3 elementos.
De forma bastante resumida, funciona assim:

Cena de Ação (ocorre no exterior do personagem)

   O personagem tem um objetivo.

   Ele encontra dificuldades para alcançar o objetivo.

   Um grande desastre acontece.

Cena de Reação (ocorre no interior do personagem)

   O personagem reflete sobre o que acabou de acontecer.

   O personagem se vê num dilema: o que fazer agora?

   O personagem toma uma decisão sobre como agir.

É isso. Essa estrutura parece bobinha, mas consegue


encadear cenas em uma sequência lógica e eficiente. Se
você dominar a técnica, pode ter certeza que será bem-
sucedido na sua escrita. Você terminará a história e ela será
agradável a leitor.

Para quem procura um método simples, direto e eficaz,


pode investir sem medo.

Legal, mas essa é a única forma?

Não. Há outras maneiras de se escrever uma cena. Escolas


diferentes que funcionam em maior ou menor grau,
dependendo de cada escritor.
Eu mesmo estou brincando com diversas técnicas e
construindo uma "fórmula" que se encaixa no meu estilo e
que tem como base apenas dois elementos. Já testei
algumas vezes e parece funcionar.

Mas isso é assunto para outras conversas.

Por ora, vamos brincar com coisas acontecendo em um


determinado lugar, em um determinado espaço de tempo!

COMO CONECTAR OS FATOS DA


HISTÓRIA
 

Olha só, dizem por aí que a vida é mais estranha que a


ficção por um motivo: a vida nem sempre faz sentido; já na
ficção tudo precisa fazer sentido. E, pra fazer sentido, os
acontecimentos devem estar conectados. É uma grande
relação de causa e efeito.

Sabe quando você termina um bom livro e começa a refletir


sobre a trama? Você vê que tudo o que ocorreu naquelas
páginas não apenas é lógico como também inevitável. Uma
coisa levou a outra, que levou a outra, que levou a outra até
o único final possível.

Esse é o trabalho do bom escritor e, para chegar lá, só


existem duas maneiras: muita reescrita ou então
planejamento.

A reescrita (e aqui eu quero dizer muita reescrita mesmo)


vai servir para aquele tipo de autor que curte soltar as
palavras no papel e ver aonde elas vão levá-lo. Ele meio que
vai descobrindo a história enquanto a escreve. Muita gente
começou a se referir a esse tipo de escritor como
“jardineiro” de ideias.

Se esse for o seu caso, você vai precisar fazer muitas


leituras, revisões e alterações na sua história. Isso porque
você invariavelmente vai se deparar com becos sem saída,
vai abandonar linhas de histórias, vai criar trechos sem
sentido e outras coisinhas do tipo. Sendo assim, precisará
passar um pente fino no seu manuscrito e começar a
conectar os diversos pontos soltos que irá encontrar dentro
dele. É bem provável que você tenha que criar ou cortar
capítulos também.

Sim, essa solução é trabalhosa, mas é necessária para


garantir uma obra coesa, que vá gerar uma boa experiência
de leitura para o seu leitor.

Já se você for um autor mais estratégico, poderá poupar um


bom tanto de tempo e trabalho com planejamento. Estão
chamando esse tipo de escritor de “arquiteto”.

O escritor arquiteto gasta mais tempo antes da escrita


propriamente dita. Ele reflete muito sobre os possíveis
caminhos da sua história, faz rascunhos, imagina direções e
já vai dando forma ao que vai acabar virando sua trama.
Para isso ele utiliza de seus conhecimentos sobre estrutura
para construir uma grande linha narrativa que vai do Ponto
A ao B, do B ao C e assim por diante.

Eu particularmente gosto de trabalhar com estrutura.


Sempre divido a minha história em 3 Atos e, mais
frequentemente do que não, estabeleço 5 pontos de virada
dentro da história. Tudo isso antes de sentar para escrever a
primeira linha.

Há vezes em que eu planejo mais, criando uma ideia inicial


para cada capítulo do meu livro. Outras vezes eu apenas
estabeleço os pontos cruciais e vou desenvolvendo o resto
ao longo do caminho. Seja como for, pra mim, o
planejamento se mostrou de imenso valor.

Ao planejar a sua história com antecedência você pode


mexer na ordem de cenas, voltar em capítulos iniciais e
colocar informações que vai precisar mais adiante, testar as
relações de causa e efeito. Enfim, realmente diminui o
esforço e é um jeito bem prático de assegurar que os fatos
da sua história estejam interligados.
Para quem nunca experimentou, eu sugiro tentar e ver o
que acontece.

NAVEGANDO EM ÁGUAS
DESCONHECIDAS:
COMO ESCREVER SEM ESTRUTURA
 

Eu realmente acredito em estrutura. De verdade.

Acho que é uma ferramenta valiosíssima para todo escritor,


uma base que dá segurança e ajuda a enxergar adiante
quando a gente se aventura pelas mares bravios da criação.

O conhecimento técnico sobre a construção de tramas seria


como um astrolábio ou sextante. Um amigo confiável que
mostra o caminho.

Dito isso, ouso afirmar que ele simplesmente não funciona


para certas pessoas. Ao invés de auxiliar, ele aprisiona. No
lugar da confiança, ele traz angústias.
O que fazer então? Como ser capaz de escrever uma
história utilizando de estratégia, mas sem se abraçar com
as famosas técnicas de plot?

Usando a lógica e o bom-senso.

Antes de mais nada entenda no que consiste uma história.


O que fez todas as histórias contadas, desde a época das
cavernas até os dias de hoje? Do que elas tratam?

De uma busca.

Todas elas se trazem pessoas buscando coisas e que


precisam superar problemas para conseguir essas coisas.

O que acontece no meio varia de história pra história, mas,


em essência, é isso aí. Pode conferir. A sua história deve ser
sobre isso também. Não existe razão para lutar contra essa
realidade. Use o fato a seu favor.

Uma vez compreendido isso, você pode se sentar, criar um


personagem marcante e nos mostrar a busca dele ao longo
de centenas de páginas.

Uma vez estabelecido qual é o objeto dessa busca, então


cada novo capítulo deve ser um passo na jornada. Às vezes
o personagem conseguirá chegar mais perto do seu
objetivo, às vezes tropeçará e será preciso se reerguer
antes de continuar.
Mas cada página escrita deixa o herói mais próximo do
grande momento da história: o clímax. Aquele instante em
que descobrimos se ele consegue o objetivo ou não, se a
busca é bem sucedida, se teremos um final feliz ou uma
tragédia.

É nessa sequência de momentos, de parágrafos e capítulos


que entra a lógica.

A ficção é muito mais complexa do que a realidade, uma


vez que ela precisa fazer sentido enquanto que a vida
normalmente é uma coisa maluca, sem pé nem cabeça — há
até quem diga que a nossa grande questão existencial é
procurar sentido dentro desse grande caos.

Então, ao escrever, você precisa tomar todo o cuidado


possível para que os acontecimentos narrados se encaixem
uns nos outros, como peças de um quebra-cabeça que vai
se descortinando conforme a história avança.

Em um livro, não há espaço para capítulos inúteis. Em uma


história, não podemos nos dar ao luxo de contar aquilo que
não importa.

Tudo deve estar ligado. Uma coisa leva a outra que leva a
outra que leva a um fim não apenas factível, mas inevitável.

Se você quer escrever sem utilizar estruturas narrativas, se


quer navegar por águas misteriosas, deve ao menos
conhecer o seu barco e a sua tripulação bem o bastante
para lidar com os monstros pelo caminho.

Entenda a essência da história e seja inteligente na forma


de contá-la.

Stephen King disse que nunca usou estruturas. Para ele,


bastava imaginar personagens complexos em situações
terríveis e então observar esses personagens lutando para
escapar.

Alguém querendo algo e enfrentando desafios. Tudo isso


contado em uma sequência de eventos conectada e que
faça sentido.

Simples. E, como todas as coisas simples, difícil pra


caramba de acertar.

Antes de terminar, deixo ainda uma dica final para os que


querem escrever sem estrutura: viva. Viva com grande
atenção. Você verá que as nossas maiores conquistas são
guiadas por uma espécie de estrutura invisível, uma trama
que nos guia rumo a nossos sonhos e desejos. E, se
sentimos isso na própria pele, reproduzir na página não
pode ser tão difícil assim, não acha?

ALÉM DA MURALHA:
COMO TERMINAR O SEU LIVRO
 

Você acordou com uma ideia muito boa para uma história,
daquelas que fazem você se erguer da cama e correr atrás
de papel e caneta.

Você se senta na escrivaninha ou usa qualquer lugar como


apoio e as palavras começam a jorrar no papel. Aquele
personagem que pareceu nascer espontaneamente em sua
criatividade começa a se construir e se desenvolver ao
longo das linhas. Você quase é capaz de enxergá-lo, sentir o
cheiro dele, ouvir a voz.

Conforme as páginas são completadas com frases e frases,


a sua sensação de urgência aumenta. Você precisa escrever
aquilo tudo. Simplesmente precisa. Afinal de contas, a sua
musa inspiradora te fez uma visita e você não pode
desperdiçar a energia que ela trouxe.

Você imagina mundos e culturas e vestes e idiomas e todo


tipo de aventura emocionante para o seu personagem. Tudo
aquilo vai para a página, claro. Talvez você até mesmo
escreva um ou dois contos.
De repente você é um intrépido explorador, passeando por
um mundo selvagem, sentindo prazer a cada nova
descoberta. Você se sente poderoso, sábio e confiante. Você
finalmente está fazendo o que nasceu para fazer.

Mas será que você está certo? Será que não está vendo
uma ilusão?

O explorador dentro de você volta até a sua tribo e divide as


descobertas com os demais membros do clã. Em outras
palavras, você leva a sua ideia até as pessoas em quem
confia. A opinião delas é muito importante.

Você aguarda enquanto elas leem e aí…

Elas adoram. Realmente há algo notável ali.

Isso está ótimo. Você deveria escrever um livro sobre isso — 


elas dizem.

Era o que você precisava. A segurança. A certeza de estar


no caminho certo.

Você pega seu caderno de anotações e volta à exploração,


mais fundo na trilha que abriu. Mas então se depara com
algo assustador. Uma imensa muralha de gelo no meio do
caminho. Você não consegue dar sequer mais um passo
adiante.

Você se sente bloqueado. Toda aquela sua ideia legal


congela dentro da sua cabeça e você não consegue mais
colocar as coisas no papel.

Você trava na hora de escrever o livro.

Conhece a sensação?

Pois é. Todos nos deparamos com esse problema em algum


momento de nossas vidas. E muitos acabam desistindo e
abandonando o ofício. O livro fica sem ser escrito. A ideia
jaz abandonada em um caderno de rascunhos.

Por que tanta gente sofre desse mal e o que fazer para
finalmente ultrapassar a muralha e terminar de escrever
uma obra?

Resposta: as pessoas não se preparam para a expedição.


Elas precisam de um plano.

Veja bem, ter um momento de inspiração é ótimo, ainda


mais se ele acaba gerando uma ideia que promete, mas
você não pode depender dela.

O processo criativo envolve diversas etapas e a conclusão


de um livro exige que você passe por todas elas. Não há
como escapar. Desde o momento mais gostoso até o mais
sofrido, você precisa trilhar o caminho.

A primeira etapa — aquela que você vivenciou como


inspiração — é a mais agradável. É criação pura, sem
comprometimento ou regras. Você simplesmente traz suas
ideias para a existência. Sem julgamentos. Sem estresse
nenhum. E é ali que nascem grandes temas ou sacadas e a
sensação é realmente muito boa. Gostosa de verdade. Mas
a construção de uma história não para por aí. Para um livro
nascer, você vai precisar de muito suor, muito planejamento
e de horas angustiantes e solitárias em frente a uma tela
em branco.

É ao se deparar com isso que muitos escritores travam.

E não é por menos. Escrever um romance é tão assustador


e desafiante quanto escalar aquela muralha de gelo. Se
você ficar lá, aos pés dela, olhando para cima, com certeza
vai tremer.

Para alcançar o topo e ultrapassar a barreira você precisa de


um sistema, de ferramentas e também precisa dividir o
trajeto em partes. Acredite em mim quando digo que fica
muito mais fácil chegar lá se você souber ir do ponto A ao
ponto B, do ponto B ao ponto C e assim all the way up!

Você consegue tudo isso por meio da técnica.

Ao estudar a técnica criativa e utilizá-la como ferramenta


você aproveita tudo de bom que existe naquela sua ideia
inspirada e também consegue colocá-la na forma de
romance, em um livro com começo, meio e fim.

A técnica não é sua inimiga. Ela não vai matar a sua ideia.
Ela vai te ajudar a lidar com ela.
Então, sendo bem direto, é assim que você termina o seu
livro:

)  Estude técnica — leia sobre estrutura e criação de cenas.

)   Divida a jornada — com os conhecimentos que adquiriu


sobre estrutura, defina os pontos principais do seu livro
(10% — 25% — 50% — 75% — 90%, por exemplo). Então vá de
um a outro, com calma, um trajeto de cada vez. Como eu
disse antes, se você tentar ir do chão ao topo da muralha de
uma vez só, você vai desistir, simples assim.

)   Tenha disciplina — você consegue um grande feito ao fazer


uma coisinha de cada vez. Escreva um pouco a cada dia, de
capítulo em capítulo.

)   Aceite a dor — a inspiração é o momento mais gostoso do


processo de escrita, mas depois dela você precisará
enfrentar dores e angústias. Terá que escrever mesmo sem
estar inspirado, passar horas solitárias e abrir mão de
algumas coisas. Aceite. Se você achar que tudo será
maravilhoso como aquele primeiro momento de criação
pura então você irá se decepcionar e desistir.

E pronto. Não tem segredo.

O que faz a maioria das pessoas travarem é o medo e a


dúvida ao se depararem com a muralha. Para vencer, basta
entender que você não precisa escalar aquilo tudo. É só
escalar dez metros hoje, mais dez amanhã, mais dez depois.
Quando menos esperar terá vencido o obstáculo… e o
mundo estará aos seus pés.

Pronto para a escalada?

3 DICAS DA PULP FICTION


PARA MELHORAR A SUA ESCRITA
 

Pulp Fiction foi muito mais do que um baita filme do


Tarantino. Foi um estilo literário do início do Século XX que
acabou por influenciar a indústria do entretenimento até os
dias de hoje.

Impressas em papel barato, feito a partir da polpa da


madeira — daí o termo pulp -, essas histórias traziam temas
fantásticos, assustadores, repletos de aventura e mistério.
Seus autores tinham carta branca para soltar a imaginação,
desde que levassem diversão ao grande público. Entre eles
estão nomes imortalizados e renomados como Robert E.
Howard (de Conan, o Bárbaro ), H.P. Lovecraft (dos mitos de
Chtulhu ) e Edgar Rice Burroughs (de Tarzan e John Carter
de Marte ) — verdadeiros herdeiros das penny dreadfuls
inglesas e de ninguém menos que Edgar Allan Poe, nos EUA.

O que nem todo mundo sabe, porém, é que o Brasil também


possui o seu próprio mestre pulp. Um ficcionista — como ele
prefere ser chamado — que já escreveu mais de 1.500 livros,
mais de 200 HQs e roteiros para muitos filmes do Zé do
Caixão: R.F. Lucchetti.

Ontem à noite eu comecei a ler meu primeiro livro do


Lucchetti, As Máscaras do Pavor . Terminei hoje cedo e, se já
não estava claro, agora não me resta dúvida que o estilo
pulp tem muito a ensinar a todos nós.

É claro que é possível argumentar que os contos estão


datados, com uma linguagem um pouquinho antiquada e
que se apoiam em alguns clichês — na real eles
estabeleceram certas coisas tão copiadas ao longo das
décadas que acabaram por se tornar clichês. Contudo, há
algo tão poderoso por trás da técnica pulp que deveria ser
estudo obrigatório para todo escritor.

Aqui vou abordar 3 pontos que aprendi com a literatura pulp


e com o livro do Lucchetti:

1) Pesquise —  Os autores pulps eram pagos por palavra ou


por livro — o próprio Lucchetti passou por um momento em
sua vida em que recebia o equivalente a R$ 350 por livro
escrito. Isso quer dizer que não havia tempo a perder. Ao
sentar para escrever, era isso o que os caras faziam,
escreviam. Eles não produziam pensando em diversas
versões, correções, experimentos, etc. Eles precisavam
terminar logo aquela história para poder pegar outra. Não
tinha muito espaço para erro. E como você minimiza o erro?
Com pesquisa. Conheça bem o assunto que vai abordar,
guarde os principais pontos e mantenha informação
relevante ao seu alcance. Mas também lembre: a pesquisa é
uma ferramenta, não uma desculpa para você não iniciar a
sua escrita.

2) Tenha Disciplina —  Lucchetti escreve todos os dias, por


pelo menos quatro horas, a máquina. Para ele, além de ser
um prazer, a escrita também é um compromisso.
Estabeleça uma rotina para produzir e se atenha a ela. Fale
para todo mundo que você não está disponível durante
aquele período e não pare para comer, ir ao mercado,
atender ao telefone, ver e-mail ou passear no Facebook.
Durante o seu período de escrita, dedique-se a pesquisar,
planejar sua trama, criar personagens e, claro, produzir.
Faça isso. Todo. Santo. Dia!

3) Keep it Simple —  talvez o grande diferencial da


literatura pulp. Lucchetti chama a si mesmo de ficcionista
porque ele sabe que seu papel é criar histórias, ficção. Ele
não tem arroubos artísticos e não ambiciona ser visto como
um grande intelectual. O que ele quer é que você leia o livro
e entenda cada palavra. Que cada frase ajude o leitor a
avançar em direção à próxima. Capítulos curtos, parágrafos
curtos, frases curtas. Corte o bullshit e escreva o que é
necessário. Lembre-se: a melhor maneira de dizer “o gato
subiu no telhado” é dizer “o gato subiu no telhado”. Parece
moleza, mas como já disse o André Vianco:

Escrever fácil é difícil pra caramba.

E é isso. Se você não conhece muito sobre a pulp fiction,


vale a pena gastar um tempinho pesquisando e se
envolvendo com esses autores que sempre estiveram à
frente de seu tempo. Alguns viveram vidas tão difíceis e
passaram por dificuldades tão grandes que suas histórias
renderiam livros maravilhosos.

Lovecraft foi um jovem prodígio que recitava poesia aos 2


anos de idade. No ano seguinte, seu pai enlouqueceu e ele
passou a ser criado pela mãe. Como criança, estava
constantemente doente e foi diagnosticado com
poiquilotermia, uma doença que fazia sua pele ser sempre
fria ao toque. Ainda jovem, sofreu um colapso nervoso, o
que complicou sua entrada em uma faculdade e o
traumatizou para o resto da vida.

Robert E. Howard começou a escrever aos 9 anos, inspirado


pelos contos de horror que ouvia da avó e fantasiava ser um
bárbaro lutando contra Roma. Preocupou-se em criar um
mesmo universo para suas obras de fantasia, semelhante
ao que a Marvel faz hoje com seus filmes. Criou Conan e a
Era Hiboriana em 1932 (22 anos antes de O Senhor dos
Anéis ). Quando tinha 30 anos de idade, recebeu a notícia
que sua mãe não sairia de um coma e morreria em breve.
Profundamente abalado, foi até seu carro, sozinho, e atirou
na própria cabeça. Antes, porém, escreveu:

Tudo fugiu — tudo está feito, então levem-me à pira. O


banquete acabou, e as lâmpadas expiram.

Lucchetti precisou escrever 1547 livros por encomenda.


Livros que ele não hesita em chamar de besteira, sem
nenhum apego. Escreveu para sobreviver, porque precisava
do dinheiro. Porém, também escreveu 200 livros nos
gêneros que gostava, por amor. Hoje, após uma vida
dedicada ao ofício, começa a ser conhecido por um número
maior de leitores.

Esses e muitos outros autores pulps abriram o caminho,


lutaram, não foram reconhecidos por anos e sofreram
preconceito de “intelectuais”. Mas aprimoraram uma
técnica que sobreviveu ao tempo. E ela está aí, para ser
aproveitada pela gente.

Valorize. Aprenda. Com certeza ajudará você a se tornar um


ficcionista melhor. Comigo foi assim e sou muito grato a
todos esses guerreiros das letras que pavimentaram a
estrada da nossa difícil jornada.
 

7 TRAMAS BÁSICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
 

Se você já leu alguns dos meus textos ou assistiu aos meus


vídeos, é provável que já tenha me visto falar que – no
fundo, no fundo – existe apenas uma única história contada
milhares de vezes:

Alguém quer alguma coisa e precisa superar obstáculos


para conseguir.

Embora eu realmente acredite nisso, também admito que


essa é uma forma de simplificação extrema. Ela é muito útil
para pensar na essência da sua história, mas algumas
pessoas podem encontrar dificuldade em avançar quando
suas tramas começam a ficar um pouquinho mais
complexas.

Pensando nisso, diversos autores ao redor do mundo


trabalharam no desenvolvimento dessa história primordial
até alcançarem algumas tramas-mestre que, teoricamente,
dão o caminho das pedras.
Se você está criando uma história, com certeza ela se
encaixará em alguma dessas opções. Pelo menos é o que
eles dizem.

Já vi por aí livros que falavam de 50 tramas básicas, 20, 10


e assim por diante. Mas, ao fazer um curso sobre Brand
Storytelling, acabei me deparando com o conceito criado
por Christopher Booker de 7 Tramas Básicas Para Marcas.

Embora o conteúdo seja mais voltado para a publicidade,


decidi traduzir o material e dividir com você. Acredito que
seja útil para todo contador de histórias!

Então, aqui vão as Sete Tramas Básicas Para a Criação de


Histórias:

1. Superar o Monstro

Há uma força do mal que ameaça o nosso herói / seu mundo


/ a humanidade. O herói deve lutar e matar esse monstro,
coisa que nem sempre é fácil, mas ele sai triunfante e
recebe uma grande recompensa. Pense em Beowulf ,
Dracula e King Kong .

Vemos esta trama surgindo de vez em quando no mundo da


publicidade. Pense no “monstro” como um obstáculo (muito
raramente um monstro real!) que o herói precisa superar,
geralmente com a ajuda de uma marca.
 

2. Da Miséria à Riqueza

Esta trama é bastante autoexplicativa: no início, o nosso


herói é insignificante e inferiorizado em relação aos outros,
mas algo acontece e ele se eleva, mostra-se como um ser
excepcional. Pense em O Patinho Feio, Aladdin e Superman .

Em termos de marketing, como a descoberta de um produto


/ marca poderia elevar alguém, transformando a sua vida?

3. A Busca

Na Busca o nosso herói precisa partir em uma viagem longa


e perigosa e vai enfrentar todos os obstáculos até que
triunfe. Pense em O Senhor dos Anéis, O Mágico de Oz e
Harry Potter .

Na publicidade, podemos ver o nosso herói canalizando os


valores da marca conforme ele procura fazer o bem e atingir
seus objetivos.

4. Viagem e Retorno

Embora também com base em uma viagem, este tipo de


trama é muito diferente da Busca. Aqui, o herói viaja para
fora do seu “mundo normal”, rumo a um lugar desconhecido
e perigoso. Ele deve então escapar e voltar para a
segurança de sua casa. Pense em Alice no País das
Maravilhas, Procurando Nemo e As Viagens de Gulliver.

Como uma marca poderia levá-lo para um outro mundo?


Você consegue representar a experiência de um produto
através de uma viagem?

5. Comédia

Uma história feita de acontecimentos cômicos,


normalmente envolvendo troca de identidade, mal-
entendidos ou confusão, resultando em algo hilário. Pense
em Sonhos de Uma Noite de Verão, Diário de Bridget Jones
e Quanto Mais Quente Melhor.

A Comédia em publicidade é muitas vezes usada para


mostrar a situação lamentável na qual o seu cliente pode se
encontrar caso não use a sua marca / produto.

6. Tragédia

Esta é a história sem final feliz. Enquanto os outros


arquétipos possuem heróis triunfantes e monstros
derrotados, este terreno toma um rumo diferente e termina
na perda ou morte. Pense em Macbeth, Romeu e Julieta e
Breaking Bad .
Este tipo de trama é mais utilizada em táticas de choque na
publicidade de caridade.

7. Renascimento

Nosso último tipo de trama, o Renascimento, traz o herói


sucumbindo a um feitiço obscuro — seja ele o sono, doença
ou encantamento — antes de quebrá-lo e conseguir a
redenção. Pense em A Bela Adormecida, A Bela e a Fera e O
Jardim Secreto.

Ao aplicar o Renascimento à publicidade, você pode


interpretar “o feitiço obscuro” como sendo um
distanciamento do público em relação à sua marca /
produto. Ou talvez a sua marca seja uma forma de fazer as
pessoas se reconectarem ou se apaixonarem novamente
por algo.

Você não tem que usar esses arquétipos como um guia


engessado, mas é interessante compreender os diferentes
padrões que a narrativa pode seguir e quando e como
podemos usá-los.

Claro, as histórias nem sempre usam uma trama bem


definida. Elas podem ser uma combinação bem complicada
de diferentes arquétipos.
 

COMO FORTALECER A HISTÓRIA


USANDO O OBJETIVO
 

O fim do ano se aproxima (ou pelo menos se aproximava


quando escrevi esse post hehe) e com ele vêm aquelas
boas e velhas metas para o novo ano. É hora de parar e
refletir nas coisas que queremos para o ano que vem, seja
um novo emprego, perder peso, abrir um negócio, viajar ou
qualquer que seja o seu desejo para o ciclo que se inicia.

Sendo assim, eu não vejo um assunto melhor para a ocasião


do que falarmos sobre o Objetivo!

Quando criamos uma história e estabelecemos o nosso


herói, precisamos dar uma jornada a este herói. Ele vê seu
status quo abalado e então sai para o mundo atrás de
alguma coisa capaz de fazer a diferença em sua vida. Talvez
o herói precise destruir um item amaldiçoado para salvar o
mundo, talvez precise conquistar o coração da mulher
amada, talvez deva conseguir dinheiro para o tratamento de
um filho doente. O que quer que seja, é muito importante
que o contador da história dê um objetivo muito claro ao
personagem.

Mas por que devemos fazer isso, Nano?

Por uma série de fatores:

Em primeiro lugar, um personagem que vai atrás de um


objetivo é um personagem ativo. Ele move a história e
mostra personalidade. Nós gostamos de pessoas que
perseguem seus sonhos. Nós nos sentimos bem quando
nosso esforço nos faz conquistar algo que desejávamos.
Assim, quando vemos um personagem que quer muito
alguma coisa e está disposto a perseguir essa coisa, nós nos
identificamos – o que é vital para o sucesso de qualquer
história.

Em segundo lugar, o objetivo estabelece a história. Quando


entendemos exatamente o que é que o herói deseja, nós
passamos a ter algo pelo qual ansiar. Nós temos um chão
sobre o qual nos apoiarmos. Nós instintivamente
entendemos o que é que nos carregará pela jornada da
história. Pensamos/sentimos algo como: Então esse Jedi é o
herói do filme e quer destruir essa tal Estrela da Morte para
salvar a galáxia? Legal, então vou torcer pra isso acontecer.

Em terceiro lugar, o objetivo, quando em conjunto com o


personagem, nos dá uma boa base do que se trata a
história. Poderíamos resumir a trama como a busca do
personagem protagonista pelo objetivo. Simples assim.
Quer ver?

   O Senhor dos Anéis é sobre um hobbit que precisa destruir


um anel amaldiçoado.

   Moby Dick é sobre um capitão de navio que deseja matar


uma enorme baleia branca.

   Rocky é sobre um boxeador pobre e humilde que quer


vencer na vida.

   Nike é sobre um esportista do dia a dia querendo superar


limites.

   Harley Davidson é sobre um cara em busca da liberdade.

Está vendo como o objetivo é importante? Ele deve ser tão


bem construído a ponto de fazer o seu público investir em
toda a sua história. Se ele for fraco ou mal feito, as pessoas
desistirão de ouvir o que você tem para contar.

Ainda bem que temos algumas técnicas capazes de


maximizar a eficácia do objetivo!

Lembra que eu disse que o objetivo estabelece a história?


Pois bem, então use-o para trazer o seu público para dentro
da narrativa o quanto antes. Deixe muito claro o objetivo do
herói nos primeiros capítulos do seu livro ou nos primeiros
minutos do seu filme. Construa a ambientação e, assim que
possível, dê às pessoas algo pelo qual torcer.
Para um objetivo ser poderoso, ele também deve ser vital
para o herói – uma verdadeira questão de vida ou morte.
Caso ele não consiga alcançar o seu objeto de desejo, o
mundo acabará (pelo menos o mundo dele acabará).
Lembre-se que histórias são sobre experiências emocionais,
então deixe a coisa interessante aumentando os riscos.

O objetivo também deve ser difícil de conseguir. Sim, não


tenha medo de fazer o seu herói sofrer. Na vida real, nós
precisamos batalhar muito para cada pequena conquista. Se
é assim na vida, por que seria diferente na ficção? Não
tenha medo de fazer o seu protagonista verter sangue, suor
e lágrimas em sua jornada.

Por fim, você pode criar objetivos paralelos na trama,


apenas não deixe de estabelecer o objetivo do herói como o
central da história. A narrativa é sobre ele, afinal de contas!

PRÓLOGOS: USAR OU NÃO USAR?


 

Essa é uma ótima pergunta. Prólogos e introduções


realmente são uma questão polêmica. Tem gente que adora
fazer e tem gente que odeia.

Via de regra os prólogos não são recomendados pois a


grande maioria dos autores acaba utilizando esse artifício
para soltar um monte de informações sobre o cenário ou
personagens. Em uma obra didática, não há problema nisso;
já em uma obra de ficção, o buraco é mais embaixo.

Veja, informação não é uma coisa dinâmica, não tem


emoção, não tem movimento. Isso cria o risco de o leitor se
entediar logo no início do seu livro (e é por essa razão que
temos tantos leitores que pulam o prólogo).

Você já deve ter ouvido o termo “show don’t tell “, que


significa que os momentos mais importantes de um livro
devem ser mostrados ao invés de contados, não é? Pois
então, o começo do livro é um desses momentos
importantes e utilizar um prólogo descritivo é cair na
armadilha do contar ao invés de mostrar.

Por outro lado, existe uma forma de usar o prólogo e ainda


assim manter o leitor atento! Basta você passar as
informações iniciais por meio de história, não por meio de
informação. Por exemplo: ao invés de DIZER que o seu livro
se passa em um reino fantástico que foi tomado por elfos
fascistas, MOSTRE os elfos tomando o poder… de repente
até mesmo pelo ponto de vista do bondoso rei deposto que
morre ao final do prólogo.
Um cara que é craque nisso é o George Martin, do Game of
Thrones . Ele sempre utiliza um prólogo para informar o
leitor sobre certos aspectos da sua trama, mas ele faz isso
por meio da ação, mostrando coisas acontecendo. Todos os
livros da série começam assim. Caso não conheça os livros
dele, vale a pena dar uma estudada nos prólogos.

Dito isso tudo, se ainda assim a sua obra necessitar de um


prólogo informativo, procure torná-lo o mais rápido e direto
possível, além de inserir um pouco de suspense no meio
dessas informações, ok?

Lembre-se que o leitor ama um livro não pelo que sua


cabeça aprende, mas pelo que o seu coração sente ao
navegar pelas páginas.

ENGAJANDO LEITORES
JÁ NO INÍCIO
 

Uma das partes mais importantes de um livro é o início. E


por início eu quero dizer o comecinho mesmo, aqueles
primeiros dois ou três parágrafos.

Pode não parecer, mas aquelas poucas linhas possuem o


poder de engajar o leitor ou de afastá-lo para sempre da
sua história. Eu sei que parece injusto, afinal, como pode
aquela pequena amostra espantar gente quando há tanta
coisa linda e incrível que você preparou nos próximos
capítulos?

Pois é. É injusto, mas é assim que as coisas são.

Então, ao invés de reclamarmos, que tal aprendermos um


pouquinho sobre como atrair o leitor desde a primeira
palavra?

Vamos começar entendendo por que o início é tão


importante:

Pense no seu comportamento quando você vai selecionar


um livro para leitura.

Se for um exemplar físico, é muito provável que você seja


atraído pela capa e pelo título. Depois, você lê a contracapa,
as orelhas e aí abre na primeira página. Esse é o grande
momento. Você lê o começo do livro e, se a escrita não for
boa, você desiste.

Com ebooks o que ocorre é semelhante. Você é atraído pelo


título, lê a descrição, os comentários dos leitores e aí parte
para a visualização gratuita de amostra que a Amazon e
sites do tipo disponibilizam. Se o texto não estiver legal,
você descarta a obra.

Não é assim?

Você sabe que é.

Então como podemos fortalecer o início e assim aumentar


as chances de termos o livro lido?

COMECE DE UMA FORMA INCOMUM

Quando vemos algo que foge ao padrão de normalidade,


automaticamente somos atraídos para aquela situação. Algo
dentro de nós quer entender e desvendar aquele mistério,
quer pintar a imagem na cabeça e dar algum sentido para
aquilo.

Além disso, a grande maioria das pessoas vive vidas


comuns, rotineiras, sem grandes aventuras. Ao apresentar
algo diferente em seu livro, você oferece a oportunidade do
leitor se tornar outra pessoa e embarcar em uma grande
aventura. Por algumas horas, ele poderá ser um super-herói,
um guerreiro primitivo, uma política influente em um país
machista.

Pense em O Hobbit e em sua frase de abertura:

Numa toca no chão vivia um hobbit.


Ao lermos isso, não conseguimos evitar pensar:

O que diabos é um hobbit? Nunca ouvi falar disso. Quero


saber mais a respeito.

CURIOSIDADE

Esse ponto está ligado ao item anterior, mas nos toca de


maneira ainda mais profunda. De certo forma, coisas
incomuns nada mais são do que caminhos para alcançar a
curiosidade.

Os humanos evoluíram graças ao fato de serem curiosos, de


quererem entender como as coisas funcionam, por fazerem
perguntas e desejarem descobrir o que viria em frente na
grande jornada chamada vida. Então por que seria diferente
nas histórias?

Tente inserir elementos misteriosos já no começo do livro.


Informações que façam o leitor fazer perguntas e imaginar o
que será que acontecerá a seguir. A ideia é fazer com que
ele diga a si mesmo:

Eu tenho que continuar lendo para descobrir como isso se


resolverá. Porque eu preciso descobrir. Eu preciso.

 
 

IDENTIFICAÇÃO

A identificação é um dos aspectos mais importantes da


criação de personagem e da história como um todo.
Inclusive gosto de pensar em personagens como pontes que
permitem alcançar o leitor e puxá-los para dentro da trama.

A meta é criar um personagem com o qual o leitor possa se


identificar a ponto de imaginar a si mesmo em seu lugar.

Normalmente demora algum tempo para construirmos uma


identificação poderosa e envolve emoções e a manipulação
correta de situações através da narração. Contudo, se você
puder gerar algum tipo de identificação já no começo do
livro, terá uma grande vantagem.

Eu sei que isso é bastante difícil, mas existem algumas


técnicas que ajudam. Uma das mais poderosas (e uma das
que mais gosto) é iniciar com alguma injustiça sendo
cometida a alguém. Se você fizer isso corretamente, o leitor
se colocará do lado do personagem injustiçado quase que
automaticamente.

E lembre-se: embora o começo seja uma das partes mais


importantes do livro, você não precisa estar com ele pronto
logo de cara. Nada te impede de terminar a obra toda e
depois voltar para dar aquela lapidada especial na primeira
página! ;]

COMO NÃO ENGAJAR O SEU LEITOR


 

No nosso último texto, falamos um pouquinho sobre o


começo das histórias e sobre algumas técnicas para engajar
o leitor. Mas, como saber o que NÃO fazer é tão importante
quanto saber o que fazer, hoje vamos dar uma olhada
naquilo que você deve evitar ao iniciar o seu livro (na
verdade você deve evitar essas coisas sempre, mas
principalmente nos inícios).

HISTÓRIA PREGRESSA

Eu sei. Eu sei. Você investiu meses e meses na criação dos


personagens. Criou toda uma árvore genealógica, intrigas
familiares, acidentes, traumas e heranças que trouxeram
suas criações até o momento no qual seu livro começa. É
provável que também tenha investido mais um monte de
tempo na construção do cenário, com leis da física próprias
e toda uma sociologia que faz do seu mundo algo único e
inovador.

Eu sei. Você sabe. Por enquanto, isso é o bastante.

Não seja daqueles escritores que vão com muita sede ao


pote e vomitam informação já no primeiro capítulo do livro.
Calma. Você terá centenas de páginas para deixar a sua
criação brilhar. Lembre-se que você não está escrevendo
uma enciclopédia, mas uma história.

Sendo assim, comece onde começa a sua história. Deixe o


passado no lugar dele.

DESCRIÇÃO E MAIS DESCRIÇÃO

Se tem uma coisa que mata a vontade de ler é um livro com


excesso de descrição!

Descrições são importantes, claro, mas há uma forma


adequada de lidar com elas e isso normalmente envolve
inseri-las no meio da ação. Aquele estilo antigo de descrição
dura, loooooonga e puramente informativa é cada vez
menos usada. E por um bom motivo: não é mais necessária.
Nós fomos criados na era da informação. Lidamos com
excesso dela todos os dias. Qualquer dúvida que a gente
possa vir a ter quanto a algo desconhecido, basta uma
rápida consulta no Google e pronto. Não há mais razão para
gastar três páginas descrevendo todos os detalhes de uma
floresta de coníferas. Tenha em mente que as pessoas estão
menos pacientes e um excesso descritivo provavelmente
vai conseguir apenas irritá-las.

AÇÃO SEM MOTIVO

Começar com ação é sempre interessante. Isso movimenta


a história e nos mostra coisas sobre os personagens (afinal,
atos falam mais do que palavras). O ritmo acelerado pode
empolgar o seu leitor e fazê-lo avançar pelas primeiras
páginas de um jeito fluido e natural.

Porém, cuidado com a armadilha.

Alguns escritores, na ânsia de animar o leitor já no início da


história, acabam criando situações cheias de movimento,
mas esquecem de dar uma razão a elas.

Quantas vezes você já viu uma cena de ação acontecer e


depois descobriu que ela em nada agrega à história? Não
revela coisa alguma? Não desenvolve os personagens? Não
tem a menor ligação com a trama? Frustrante, não é?
E o pior é que não há necessidade de fazer isso. Basta
refletir um pouquinho sobre a sua estrutura que eu tenho
certeza que ideias para cenas de ação relevantes vão
aparecer.

E você, consegue lembrar de alguma vez em que pensou


em ler um livro e desistiu por causa de um início
problemático? O que chamou a sua atenção? Essa reflexão
é uma ótima professora, então que tal uma visita à livraria?
;]

COMO TER UMA ROTINA DE


CRIAÇÃO?
 

Essa questão da rotina é uma dúvida que volta e meia


aparece entre os meus leitores e eu entendo que,
definitivamente, é um dos maiores desafios ao se lançar em
um projeto criativo mais longo (como um livro).
Pra começar, eu diria pra você não dar muito ouvido a essa
galera por aí que afirma que consegue desenvolver uma
rotina criativa com a maior facilidade do mundo.

A coisa não funciona assim.

É claro que há exceções e temos alguns raros virtuoses por


aí. Mas não é o que acontece com a grande maioria de nós.

Quando você escuta alguém dizer que consegue produzir


criativamente sem nenhum grande esforço, é bem provável
que se trate do velho conto do escritor-gênio (que você verá
mais adiante, nesse livro).

A minha experiência me diz uma coisa um pouquinho


diferente: a rotina é algo que você estabelece em um
esforço constante, um pouquinho a cada dia.

No começo ela vai parecer estranha e realmente difícil. Você


vai esquecer, vai se sentir desmotivado, vai se preocupar
com outras coisas, vai arranjar milhares de desculpas para
não cumprir as suas obrigações rotineiras. Faz parte. E você
deve insistir mesmo assim.

Após uns 10 dias seguindo a sua rotina (mesmo que seja


aos trancos e barrancos), você irá notar algo fantástico. De
repente vai parecer que tudo aquilo não é mais tão difícil e
se ater à sua produção começará a ser normal.

Mas é claro que existem algumas dicas para passar por esse
processo de forma um pouco menos sofrida. Aí vai o que eu
faria se estivesse no seu lugar:

   Estabeleceria um local de trabalho e produziria todo dia


nesse mesmo local.

   Estabeleceria um horário definido de trabalho, igual todos


os dias. Eu até colocaria na agenda.

   Educaria as pessoas ao meu redor sobre a minha nova


rotina. Isso pode parecer bobinho, mas é crucial para o
sucesso.

   Estabeleceria uma meta diária.

   Teria uma visão de onde quero chegar, antes de começar


(Por ex : quero escrever um romance? Quantas páginas?
Para qual público? Com qual estilo?).

   Não forçaria demais. Eu entenderia que estou em uma


maratona e a forma mais rápida de desistir de uma
maratona é queimar todo o combustível no começo.

E é isso aí.

Aceite que uma nova rotina é algo que você deve construir,
entenda que será difícil no começo mas que, se você fizer a
sua parte, logo estará acostumado e parecerá como uma
segunda natureza.

 
COMO TER CONCENTRAÇÃO
NA HORA DE CRIAR UMA HISTÓRIA?
 

Foco tem se tornado uma coisa cada vez mais rara e


preciosa nesses tempos modernos. Não é pra menos, com
tanta informação, propaganda, luzes brilhantes, gifs de
gatinhos e problemas do dia a dia soltos por aí.

Se você não tomar cuidado, pode ver toda a sua energia e


tempo disponível para a criação de histórias ser devorado
por atualizações de Facebook ou mensagens de grupos no
Whatsapp . Então, como fazer para manter a concentração?

Em primeiro lugar, estabeleça uma meta. Essa meta pode


ser por tempo ou produtividade, mas ela deve ser
respeitada. Se você quer ver um trabalho criativo tomar
forma, você precisa se forçar a seguir a sua meta, ok?

Diga a si mesmo que você não vai levantar da cadeira


enquanto não alcançar o seu objetivo e faça um acordo
interno de manter a sua concentração ao longo desse
processo. Se por acaso você se flagrar viajando na
maionese, tente não ficar irritado, apenas volte novamente
ao estado de concentração e siga adiante.
Em segundo lugar, se livre das fontes de distração. E
quando digo se livrar, é se livrar mesmo.

Desligue o seu celular, ou melhor, deixe-o em outro cômodo


da casa/escritório (no modo silencioso) para que você não
tenha nem que olhar pra ele. Feche todas as abas do seu
navegador. Desconecte da internet. Proíba as pessoas de te
interromperem. Feche as cortinas da sua janela. Assuma o
controle!!!

Entenda que a parte técnica de qualquer trabalho (mesmo


da criação de histórias) tem momentos bastante chatos e,
por isso, sua mente vai procurar uma desculpa para fugir.
Se você se livrar das fontes das distrações, sua mente terá
menos desculpas.

Em terceiro lugar, force até pegar no tranco.

Como expliquei acima, a mente vai procurar uma fuga, mas,


se você forçá-la por um caminho, chegará uma hora em que
ela aceitará a tarefa. Ela compreenderá que será menos
trabalhoso seguir até o final da jornada do que fazer o
caminho de volta e nesse momento você entrará no que
chamamos de momentum, um fluxo poderoso de criação. É
aqui que a magia acontece.

Por fim, entenda que a concentração funciona como um


músculo. Quanto mais você praticar, mais forte ela ficará.
Ainda assim, existirão alguns dias nos quais a coisa será
mais complicada e você sofrerá mais para produzir. Tudo
bem, é assim mesmo. Nem sempre as coisas vão bem. O
importante é sobreviver a esses dias, cumprir a sua meta e
seguir em frente.

ESCREVER COMO UM PROFISSIONAL


FAZ TODA A DIFERENÇA
(OU COMO O LIVRO MAIS AGUARDADO DO ANO

SE TRANSFORMOU EM DECEPÇÃO)

Eu sou um grande nerds. E por isso mesmo eu não pude


resistir ao pitch de Os Senhores dos Dinossauros:

“A união de Guerra dos Tronos com Jurassic Park”

Antes mesmo de ler qualquer coisa a respeito da obra eu já


estava fisgado. Quando vi que o próprio George Martin
havia indicado a obra então, nossa! Corri atrás da imagem
da capa, me impressionei com as ilustrações, li entrevistas
do autor e, claro, encomendei a minha cópia ainda em pré-
venda.
Contei os dias até a entrega. Quando o pacote chegou, fiz
um vídeo de unpacking e babei com a qualidade gráfica. E
então comecei a ler.

E o livro não funcionou pra mim.

Ainda estou insistindo na leitura, mas está cada vez mais


difícil continuar.

Veja bem, eu entendo quem gosta da obra. Afinal, temos


dinossauros e cavaleiros em um mundo fantástico. A
premissa é ótima. Porém, pra mim, a execução ficou
devendo. Muito.

Quero usar essa experiência para reforçar algo que eu digo


há bastante tempo:

Não basta ter uma grande ideia para uma história, é


necessário aprender como contá-la.

A técnica de escrita criativa não é sua inimiga. Ela é uma


ferramenta que agrega valor àquela trama bacana que você
tem na cabeça. Ela serve para aprimorar a experiência do
leitor, não para algemar o escritor.

Mas o que, afinal de contas, desagradou tanto em Os


Senhores dos Dinossauros?

Sem soltar spoilers, vamos por partes:

 
 

PERSONAGENS

Game of Thrones ficou famoso não por causa de dragões,


white walkers e guerras entre famílias antigas. É claro que
tudo isso é muito legal, mas teria pouco valor se não
tivéssemos personagens interessantes e muito bem
trabalhados. Ao longo da série, somos apresentados a
figuras com as quais nos identificamos, torcemos ou até
mesmo odiamos, mas, em todos os casos, nós conseguimos
compreendê-las. É possível entrar na cabeça delas e olhar o
mundo através de seus olhos. E isso faz toda a diferença.

George Martin é um mestre na construção de personagens e


na forma como eles são apresentados ao leitor. O grande
diferencial de sua obra está aí.

Victor Milán, autor de Os Senhores dos Dinossauros , não é


George Martin. Seus personagens carecem de profundidade,
não nos convencem e, em dados momentos, chegam a ser
extremamente irritantes (não é, Princesa Melodia?). Seus
objetivos não são bem construídos e eles não nos saltam
aos olhos como seres reais. São, para usar um termo do
meio literário, “sacos de ossos”.

O que podemos aprender com isso?

Que personagens são a alma da história. Como escritor,


você deve se preocupar em compreendê-los, partilhar de
seus sonhos, angústias, medos e objetivos. Eles merecem
uma grande parcela de esforço em sua construção e
respeito em sua execução.

Um personagem bem construído vai falar com você, dizer o


que deseja e para onde quer ir. E você deve escutá-lo. O
maior erro que um escritor pode fazer é forçar um
personagem em um rumo que ele não tomaria.

EXCESSO DE DESCRIÇÃO

Antigamente, descrições longas e detalhadas eram


necessárias. Afinal, não havia internet e o acesso a
informação era limitado. Desse modo, quando um escritor
falava de um ornitorrinco, ele precisava descrever o
ornitorrinco em detalhes para que o leitor não ficasse no
escuro.

Hoje não é mais assim. Caso o leitor realmente faça questão


de saber algo nos mínimos detalhes, ele pega o celular e
usa uma coisinha chamada Google. Hoje, a gente quer que
a coisa flua.

E descrições em excesso travam a história.

Sério, fazia tempo que eu não lia um livro com tantas


descrições quanto Os Senhores dos Dinossauros . Eu sei que
obras de ficção científica e fantasia pedem por um pouco
mais de detalhes, mas aqui o autor passou um pouquinho
da conta. Ele gasta muita energia — e páginas e páginas — 
falando sobre as roupas e armaduras e cor dos olhos e
enfeites de cabelo e… enfim, você entendeu.

Prejudicou bastante a minha experiência de leitura.

O que podemos aprender com isso?

Que descrições são necessárias, mas devemos buscar


formas de usá-las sem diminuir o ritmo da narrativa. Um
jeito de se fazer isso é sempre se perguntar: “eu preciso
mesmo detalhar isso aqui?”.

Quanto mais você conseguir inserir a descrição no meio da


ação, melhor. Leitores amam ação.

Você já parou para se perguntar por que as pessoas gostam


de ler diálogos? Porque diálogo é ação. É algo acontecendo.
É dinâmico e move a história adiante.

Descrições são estáticas.

TRAMA

É importante situar o leitor dentro de sua história. O que


está acontecendo? Quem quer o quê? Como a coisa
avança?

De certa forma, uma trama bem resolvida gera um resumo


apurado da história.

O Senhor dos Anéis é sobre um cara comum que quer


destruir um anel mágico e assim derrotar o senhor das
trevas.

Guerra dos Tronos é sobre uma série de conflitos entre


casas nobres enquanto um antigo mal desperta no norte.

Star Wars é sobre um Jedi que quer livrar a galáxia do


domínio de um império opressivo.

Sobre o que é Os Senhores dos Dinossauros ?

Tive dificuldade em compreender a trama geral e também


em descobrir quais são os objetivos dos personagens e o
que os move adiante naquele mundo — esse probleminha,
diretamente ligado à falha na criação de personagens, vem
nos incomodar aqui também. Está vendo como as peças se
conectam?

Dá para notar que Milán criou um cenário grandioso em sua


cabeça, mas ele não soube expressar isso em termos de
trama. Ele quis passar complexidade por meio de palavras
difíceis, mistérios e uma penca de personagens centrais. O
resultado acabou sendo confuso.
O livro poderia ter um ritmo muito mais agradável caso ele
simplificasse, cortasse personagens e tivesse um objetivo
bem claro em mente.

O que podemos aprender com isso?

Que menos é mais e que, antes de partir para a


complexidade, é bom ter certeza que se compreende muito
bem sobre o que é a sua história.

TENSÃO E CONFLITO

Não adiante negar, conflito é o motor da história. Ninguém


quer ler um livro onde tudo dá certo. Nós queremos desafios
e sangue e suor e lágrimas. Queremos coisas acontecendo e
uma trama que avance. Queremos conflitos que façam
sentido dentro do universo criado.

Muitos capítulos de Os Senhores dos Dinossauros são


desperdiçados com nada acontecendo. Pelo menos nada de
muito relevante. Temos capítulos inteiros compostos por
fofoquinhas, sem grandes perigos ou significados para a
história.

Em outros momentos nos deparamos com lutas e


obstáculos, mas os personagens são tão magnânimos que
não chegamos a temer por eles.
Há bons momentos, no entanto. A cena que abre o livro,
com uma grande batalha entre cavaleiros de dinossauros é
interessante e diverte — o que mostra que Milán tem o
conhecimento técnico necessário para um bom livro. Talvez
seu erro tenha sido em complicar demais. Se ele tivesse
feito um livro mais enxuto e direto, o resultado teria sido
outro.

O que podemos aprender com isso?

Que histórias são sobre conflitos — internos e externos. Caso


as coisas estejam muito calmas na sua trama, então algo
está errado. Um olhar crítico, capítulo a capítulo, e uma
edição implacável podem fazer maravilhas para consertar
uma história morna. Mas eu bem sei que é mais fácil falar
do que fazer!

Os Senhores dos Dinossauros se revelou uma ótima ideia


que não foi aproveitada em todo o seu potencial. Um
exemplo de como um investimento técnico poderia gerar
um resultado final melhor.

Claro que nem tudo está perdido. Como eu já disse, a ideia


é muito boa e Milán imaginou um cenário bastante rico. Eu
tenho certeza que muita gente vai curtir a obra, muito em
função da criatividade de seu escritor. E tudo bem, isso é
mais do que válido. Mas não podemos fechar os olhos e
simplesmente ignorar os deslizes técnicos.
Tem um ditado que afirma que sábio é quem aprende com
os próprios erros e mais sábio ainda é quem aprende com
os erros dos outros. Tenho certeza que Milán está lendo as
críticas ruins que tem recebido e usando-as para se tornar
um escritor melhor.

A gente pode fazer o mesmo!

VOCÊ NÃO PRECISA DE UMA


EDITORA
PARA SER PROFISSIONAL:
ESCREVENDO PARA A AMAZON

Quando a Amazon anunciou que ia implementar o KDP


(Kindle Direct Publishing) – seu serviço de auto publicação
digital – no Brasil, eu lembro de ter sido tomado por
sentimentos conflitantes. Por um lado eu estava realmente
empolgado com a ideia de ter uma ferramenta daquele
tamanho ao meu dispor, mas, por outro, eu estava muito
preocupado de que se eu testasse aquilo, de alguma forma
eu seria um autor menor.

Pois é, havia (e ainda há) esse pensamento por aí. Tinha


muita gente – autores, leitores críticos, consultores e donos
de editoras – que me diziam que o KDP da Amazon não era
um caminho viável. Que se eu entrasse naquela onda, as
minhas portas estariam fechadas no mercado tradicional.

Eu era mais novo e bem menos experiente. Então, o que eu


fiz?

Eu gostaria de dizer que a famosa ousadia e curiosidade da


juventude falaram mais alto e que eu me joguei de cabeça
na aventura.

Mas a verdade é que eu tomei o caminho do covarde.

Eu deixei o medo prevalecer.

Eu não publiquei nada por lá.

Shame on me!

Mas a vida segue e eu continuei meu caminho. Estudei.


Conheci gente. Aprendi pra caramba. Só que sempre
mantive um olhar atento ao novo universo de ebooks que
crescia ao meu redor.

Como um voyeur, eu acompanhava tudo de longe, sem


nunca me envolver de verdade.
Até que tudo isso mudou radicalmente e eu vou te falar o
porquê:

COMECEI A TRABALHAR COM PUBLICIDADE

Em 2014 eu mudei alguns rumos da minha vida e abracei


de vez a publicidade como parte de mim. Como resultado
tive noites de sono mais curtas, um consumo de café em
progressão geométrica e uma crise renal, mas também
conheci gente que pensa diferente, que enxerga o futuro
com outros olhos e que está interessada em fazer as coisas,
em deixar a sua marca por aí, ao invés de esperar. É uma
cultura diferente daquela com a qual eu estava acostumado
e chamou a minha atenção para o que estava acontecendo
com criativos ao redor do Brasil e do mundo.

Hoje eu me considero um escritor – e uma pessoa – muito


mais completa e certamente o convívio com gente legal tem
uma imensa parcela de valor nisso tudo.

COMECEI A LER EBOOKS

Pode parecer inacreditável, mas eu não tinha prazer com a


leitura digital até o ano passado. Eu me sentava em frente
ao monitor e lia arquivos em pdf meio que na marra, me
forçando a concluir a leitura. Não era a mesma sensação de
me esparramar no sofá com uma caneca de café ao lado e
um livro cheiroso no colo.

Aí eu deixei de ser mão de vaca e resolvi fazer as coisas


direito.

Com um iPad mini e livros no formato mobi e epub, a coisa


mudou totalmente de figura. Eu simplesmente me apaixonei
pelas possibilidades do dispositivo, como sublinhar com um
toque, mudar a luminosidade e a cor de fundo, alterar
tamanho da fonte e o espaçamento entre linhas. Enfim, era
outra coisa. Descobri até que minha leitura estava mais
rápida, o que me fez ler mais livros por mês e me levou ao
terceiro ponto…

EU APRENDI COM AS HISTÓRIAS DOS OUTROS

Lendo o dobro do que eu normalmente lia por mês, eu


comecei a expandir minha cabeça e a absorver ideias
novas. Ideias de pessoas que construíram o próprio caminho
como autores ou empreendedores de algum tipo. Essas
pessoas queriam controle criativo sobre aquilo o que
criavam e por isso se dedicaram a construir a própria
carreira, sem a interferência (para melhor ou para pior) de
intermediários, como editoras.
É claro que o caminho não é fácil e também não é adequado
para qualquer um. Mas eu senti uma grande identificação
com todas aquelas histórias, como se eu fizesse parte
daquela tribo. Até o estilo de escrita de ebooks (sim, tem
diferença) condizia mais com a minha maneira de escrever.

Aí a ficha caiu.

Aí eu resolvi chutar o balde e embarcar na onda da Amazon.

Olha só o que eu aprendi…

A RESPONSABILIDADE É MUITO MAIOR.

Você deve procurar formas de editar, corrigir e adequar a


sua obra ao público-alvo. Até a capa será sua
responsabilidade (demorei pra aprender essa parte, mas já
estou com um designer fera mexendo nisso). Escorregue
nesse quesito e a crítica vai te matar. Bastam alguns
comentários com nota baixa lá na área de avaliações do seu
livro e já era. Sério. Então tenha o triplo de atenção e
cuidado com o produto final.

A VELOCIDADE É DE IMPRESSIONAR.
Se você também já assinou contrato com editoras
tradicionais, então sabe que tudo demora muito tempo. São
meses até eles avaliarem seu original, depois mais um
tempão para correção, aí testes e mais testes, aí se escolhe
uma data de lançamento, depois muda-se a data, nesse
meio tempo pode acontecer algum problema de calendário
que adia tudo, até que, um ano (ou dois, ou três) depois, a
sua obra é finalmente publicada.

Com o KDP da Amazon a coisa é absurdamente veloz e você


pode ter um livro à venda algumas horas após a sua
conclusão. Além disso, a plataforma oferece um monte de
relatórios bacanas sobre os seus resultados.

Não é magia. É tecnologia.

VOCÊ PRECISA SER AINDA MAIS PROFISSIONAL

Como você viu até aqui, publicar na Amazon é fácil e rápido,


o que não quer dizer que deve ser feito sem se pensar
muito a respeito.

Em uma editora tradicional, existe gente que avalia o seu


livro, sugere alterações, corrige, adequa… em outras
palavras, tem gente que torna a sua obra mais profissional.
Longe de uma editora tradicional, todo esse trabalho será
seu.

Isso quer dizer que você terá que aprender sobre edição,
sobre gramática, sobre leitura crítica e, sim, sobre
marketing. Sem falar no grau de desprendimento que você
terá que desenvolver para avaliar sua obra de maneira
imparcial.

Não é pra todos. Tem autor que quer apenas focar na escrita
e se dedicar a produzir o melhor livro possível, e tem todo o
direito de pensar assim. Não há um certo ou errado nesse
caso.

Mas, se você quer maior liberdade, se a independência fala


alto no seu âmago, então a autopublicação na Amazon (ou
similares) é uma ótima saída.

Antes de terminar esse texto, porém, eu quero passar


adiante uma pérola de sabedoria que serviu para me
inspirar e para me manter com os pés no chão:

O que separa as obras nessa nova era da literatura não é o


fato de serem ou não publicadas por uma editora, mas o
fato de serem ou não produzidas de forma profissional.

Agora é fácil publicar um livro, mas a imensa maioria das


obras jamais chegará a ser lida por ninguém. Ficará no
limbo do espaço virtual, abandonada e esquecida. Não por
não ter uma editora, mas por não ser profissional.

Então, se você quer trilhar o caminho do autor


independente, aprenda o máximo possível, contrate bons
profissionais para fazer o que você não faz, pague por uma
boa capa e nunca pare de se aprimorar. Essa é a sua
responsabilidade e a sua obrigação. Leve a sério.

De resto… o mundo é seu. Vá tomá-lo!

O QUE O SEU LEITOR DESEJA?


 

Você já parou para se perguntar por que as pessoas leem


livros de ficção? O que elas procuram? O que, afinal, o seu
leitor deseja?

A resposta é a mesma pra todo mundo:

Uma poderosa experiência emocional.

Pronto.
Esse texto vai ser curto porque a coisa é simples mesmo.
Não há razão para complicar. Você apenas precisa aceitar
essa verdade, fazer uso dela, explorá-la, e tudo vai ficar
mais fácil e mais gostoso... tanto pra você quanto para o
seu leitor.

Nós lemos para sentirmos medo, paixão, ansiedade, alegria


e toda a gama de emoções ao alcance do ser-humano. E
tudo isso na segurança e conforto da nossa poltrona!

Por isso, é vital que você entenda a importância de se


transmitir corretamente uma poderosa experiência
emocional ao seu leitor.

Preparei um vídeo explicando um pouquinho melhor esse


conceito. Para assistir, é só clicar aqui !

REPERTÓRIO E EMOÇÃO
 

Todo criativo sabe, ou pelo menos suspeita de forma


instintiva, que a base para o seu ofício está no repertório
que ele cultiva ao longo da vida. As informações,
experiências, curiosidades, cultura e conhecimentos que ele
captou agora lhe servem como matéria-prima. Já falei um
pouquinho sobre isso nesse vídeo .

Contudo, não podemos esquecer a razão principal que faz


as pessoas lerem um livro ou assistirem a um filme: a busca
por uma poderosa experiência emocional. Sim, é a emoção
que guia a vida das pessoas e é a emoção que guia as
histórias. Esqueça essa falácia de que o homem é um ser
majoritariamente racional (se isso fosse verdade, não
existiriam médicos fumantes). Nós somos risos, lágrimas,
angústias, medos e superação.

Durante a folga de final de ano (era fim de 2015) eu pude


ler mais um livro sobre técnica narrativa voltada à escrita e
me deparei com o autor afirmando algo bastante parecido.
Deixo aqui o ensinamento com vocês:

Um elemento fundamental e impossível de se ensinar, uma


ferramenta essencial de um escritor, é a cultura, os
conhecimentos gerais, uma experiência de vida rica e
variada. O escritor que possui um conhecimento extenso
das obras de Platão, Shakespeare, Tolstói, Dostoiévski,
Proust e Hemingway, para citar apenas uns poucos, conta
com um recurso valioso de tramas, situações dramáticas,
percepções de natureza humana, metáforas requintadas e
outros usos brilhantes de linguagem.
Em sua essência, no entanto, um romance é emoção.

-Albert Zuckerman, Writing The Blockbuster Novel

E aí, como você tem utilizado o seu repertório?

Informar e trazer conhecimento é importante, mas não


esqueça de tocar o coração do seu leitor.

Cultura e sentimento. Lembre-se disso!

ESCRITORES, COMECEM A JOGAR


VIDEOGAME
 

Esta é uma adaptação do texto de Tom Farr. Leia o original aqui .

Há algum tempo eu venho pensando que os escritores do


futuro precisarão estar muito ligados aos games. Da mesma
forma como o cinema causou grandes mudanças no jeito de
se escrever literatura, eu acredito que o mesmo acontecerá
com os videogames. E então eu me deparei com esse texto
muito bacana. Para dividir a ideia com um maior número de
pessoas, resolvi traduzir os pontos principais e adicionar um
ou outro comentário.

Em primeiro lugar, vale dizer para todos que não possuem o


hábito de jogar, que os games se desenvolveram ao longo
das décadas e estão dando cada vez mais importância para
a narrativa. Mas, mesmo antes dessa revolução, os games
que se tornaram imortais já tratavam de histórias. Super
Mario é um conto sobre um encanador que deve salvar uma
princesa, afinal de contas. Então, aí vai uma listinha de
coisas que você pode aprender com os videogames.

6 COISAS QUE ESCRITORES PODEM APRENDER COM


VIDEOGAMES

Escritores são, antes de mais nada, contadores de histórias.


Eles precisam aprender com todos os meios possíveis e os
videogames não são exceção. Nem só de livros, filmes e
seriados de TV é feito o storytelling.

1. Construção de mundos
Mundos são essenciais nos games. Desenvolvedores gastam
meses — por vezes anos — construindo o cenário da história.
O mundo do jogo deve ser interessante e estimular o
jogador a explorá-lo, a conhecê-lo a fazer dele sua casa.
Lembro quando eu jogava The Matrix: Path of Neo . Eu
gostava de apagar todas as luzes da sala e então ligar o
Playstation. A sensação era a de que eu estava entrando de
fato na Matrix e que aquilo era a minha realidade
verdadeira. Nerdice, eu sei!

Escritores podem aprender como criar uma experiência de


imersão mais poderosa para os leitores ao fazer do cenário
um elemento vital da história. Harry Potter não seria a
mesma coisa sem Hogwarts.

Se você quer criar uma experiência de imersão para a sua


audiência, você precisa gastar um tempo se dedicando a
criar o mundo da história.

2. Histórias guiadas por conflito

Todo contador de histórias sabe que o conflito é o motor de


toda trama. Sem conflito, não há livro. O mesmo ocorre nos
games. Na verdade, é o conflito que faz os jogadores
quererem jogar, pra começo de conversa. A ideia de
derrotar um mal que assola o mundo ou então proteger uma
garotinha em meio a um apocalipse zumbi é irresistível e
trará as pessoas para mais.
O roteiro de games é um ótimo exemplo de como manter
sua história focada em conflito.

3. Personagens complexos e marcantes

Eu gostei muito de Diablo III . A trama é bacana, a mitologia


interessante e os personagens tem sua própria história. Eu
jogava com o Bárbaro e, a certa altura do jogo, uma
personagem que tentávamos ajudar acabou tendo o pior
destino possível. Recordo que foi preciso parar por um
momento e me recuperar emocionalmente do choque antes
de continuar. Afinal de contas, aquela personagem confiava
em mim. Ela dependia de MIM! O envolvimento foi no nível
pessoal. Por quê? Porque era uma personagem bem
construída.

Isso serve para dizer que, conforme os games evoluem, a


profundidade dos personagens também evolui. Roteiristas e
escritores querem criar personagens inesquecíveis, que
gerem conexões nesse nível pessoal ao qual me referi
acima.

4. Explore emoções

Se você realmente quer jogar um leitor dentro da história,


você precisa apelar para as emoções. Muitos roteiristas de
games já perceberam isso e nos presenteiam com cenas
cheias de drama e angústia que ressoam nas nossas
emoções mais básicas como amor, raiva, frustração,
coragem, etc.

Qualquer história que queira engajar sua audiência deve


mergulhar nas emoções dessa audiência.

5. Histórias que tratam de resolução de problemas

Em toda história o protagonista se depara com um


problema e passa o resto da trama tentando resolvê-lo. Ao
longo do caminho ele encontra problemas menores que
também devem ser solucionados para que ele possa seguir
adiante.

Videogames são essencialmente sobre resolução de


problemas. Muitos games, aliás, trazem verdadeiros quebra-
cabeças que devem ser resolvidos pelos jogadores antes de
se avançar na história.

Quando você escreve um livro, uma das melhores formas de


manter sua trama indo para frente é criar problemas e
deixar o protagonista descobrir formas de lidar com eles. E
nada de soluções óbvias. Você deve criar problemas que
obriguem o seu protagonista a raciocinar fora da casinha
para que seu público não adivinhe o que vai acontecer.

 
6. Escreva com seu público em mente

A melhor estratégia que um contador de histórias pode


aprender com os games é a de criar uma trama com um
público específico em mente.

Desenvolvedores de games passam muito tempo bolando


um jogo que eles esperam que muitas pessoas comprem e
joguem por horas e horas. Eles querem que a experiência
seja boa. Eles querem que esse mesmo público volte para o
próximo jogo — e uma das formas de aumentar as chances
disso acontecer é conhecendo seu público, seus gostos e
preferências.

E não é exatamente assim para nós, escritores?

6 COISAS QUE ESCRITORES


DEVEM APRENDER COM RPGS
 

Eu sou um escritor. Eu conto histórias na forma escrita. Esta


foi a maneira que eu escolhi para transmitir as tramas que
crio na minha cabeça. É para isso que eu escrevo, não
porque sou apaixonado pela língua portuguesa ou pela
gramática, por figuras de linguagem, construções
semânticas, etc, etc.

Veja bem, não há nenhum problema com as pessoas que


amam profundamente a linguagem — e em especial a
escrita. Eu apenas não sou uma delas.

Eu escrevo para contar histórias. Simples assim.

Claro que quero contar a melhor história possível para o


meu público e por isso tento sempre me empenhar no
aprendizado da escrita, mas a essência do que eu faço está
na história.

Sou apaixonado pela possibilidade de criar histórias. E se


teve algo na minha vida que me mostrou o quão incrível
esta criação pode ser, foram os jogos de RPG.

Comecei a jogar em 1994, com 11 anos de idade. Um amigo


me apresentou o incrível mundo cheio de elfos e guerreiros
e magia e necromantes e dragões do Dungeons & Dragons
e foi o que bastou para eu ser fisgado. Com o tempo eu fui
da fantasia do D&D para o drama e politicagem de Vampiro:
a Máscara para o horror de Chtulhu para os exercícios de
futurologia de Cyberpunk e de volta à fantasia em uma nova
edição do D&D .

O RPG sempre fez parte da minha vida.


Para quem nunca ouviu falar desse tipo de jogo (o jogo de
verdade, não as versões computadorizadas), o RPG é uma
história que se conta conjuntamente, de forma colaborativa.
Cada jogador assume o papel de um personagem enquanto
que um jogador especial veste o manto do Mestre — uma
espécie de diretor e roteirista que controla todo o universo,
com exceção dos personagens dos jogadores.

O RPG me é tão caro porque, no fim das contas, possui


apenas um objetivo: contar uma história bacana entre
amigos.

Ao final da sessão de jogo, se tudo der certo, o grupo terá


vivido uma trama divertida, emocionante, dramática, cheia
de aprendizados e momentos marcantes. Todos terão
crescido. E por todos eu digo personagens e jogadores. Não
duvide nem por um segundo que o que você vive na mesa
de jogo é real.

Jogar é como entrar na Matrix, só que em sua própria


imaginação.

Ao jogar RPG você vive uma história. E é por isso que eu


acho que o jogo pode ser um grande aliado para escritores.

Então, quero dividir com vocês algumas coisinhas que


aprendi ao jogar e que me ajudaram a me tornar um
escritor melhor:

 
1 - Criação de Personagens

Para jogar RPG é necessário criar um personagem, alguém


em quem você se transformará durante algumas horas
semanais. Talvez seja um Senhor da Guerra bárbaro, talvez
um vampiro com problemas de consciência. Não importa. O
que importa é que, para ser divertido jogar com ele, você
precisará criar um vínculo emocional. Precisará desejar o
que ele deseja, sofrer com suas derrotas e vibrar com suas
conquistas. Você precisará se identificar com ele e enchê-lo
de vida.

E não é assim nos livros?

O escritor precisa desenvolver a habilidade de se colocar no


lugar dos personagens que cria e enxergar o mundo por
seus olhos. E que melhor forma de praticar tal coisa do que
com divertidas sessões semanais entre amigos?

Alguns personagens são marcantes e entram para a


história. Outros são rapidamente esquecidos. Ao jogar
bastante você começa a notar os ingredientes que
constroem um personagem marcante. Depois é usar o que
aprendeu e aplicar no seu livro.

2 - Ponto de Vista
Um jogador de RPG controla apenas o seu personagem. Ele
está limitado às habilidades, conhecimentos, perícias e
percepção apenas daquele personagem. Ele não pode se
meter nas cenas dos outros personagens e muito menos
confundir aquilo que o jogador sabe com o que o
personagem sabe. O compromisso com a interpretação faz
parte de um bom jogo de RPG.

O escritor que praticou esse tipo de exercício encontra


muito mais facilidade na hora de usar Ponto de Vista em
seus livros.

Aos escrever um capítulo pelo Ponto de Vista de um


personagem, o escritor não pode extravasar a percepção
daquele personagem sem assumir o risco de criar uma
quebra na concentração do leitor. Essa limitação é um dos
principais obstáculos para muitos autores, mas é superada
de forma mais natural por jogadores de RPG. Afinal, eles
fazem isso como hobby.

Quer ver como um jogador de RPG manda muito bem


quando o assunto é Ponto de Vista? Leia um livro de George
Martin (Game of Thrones ). O velhinho é jogador de RPG e
sua habilidade com Pontos de Vista é exaltada no meio
literário.

3 - Criação de Mundos
Toda história precisa de um cenário e no RPG não é
diferente. Na verdade, os cenários dos jogos são um dos
principais atrativos. Embora os jogos tragam uma base
bastante rica, os jogadores que assumem o papel de Mestre
são incentivados a personalizar a coisa toda de acordo com
seu grupo. Depois de certo tempo, a gente começa a
desejar fazer mundos cada vez mais ricos e complexos. E é
maravilhoso de ver como eles ganham vida, modificam e
são modificados pelos personagens.

Alguns jogos de RPG são especialmente zelosos quanto à


construção de cenário e trazem dicas e técnicas
valiosíssimas para qualquer criativo. Se você quer aprender
como se faz, talvez a resposta esteja em um livro de RPG
(como este) e não em um livro com técnicas de escrita
tradicional.

4 - Prática de Estrutura

Uma das atribuições do Mestre é criar o “roteiro”, um


esqueleto da aventura que o grupo construirá em conjunto.
Cabe a ele dar ritmo, gerar acontecimentos interessantes
para manter todos envolvidos e pensar em obstáculos a
serem sobrepujados pelos heróis.

Ao preparar uma aventura de RPG, você se força a pensar


em termos de estrutura, imaginando os pontos mais
importantes da história e refletindo sobre onde inseri-los.
Contudo, os “roteiros” de RPG possuem uma característica
muito especial: eles precisam ser passíveis de alteração,
abertos o bastante para que a história seja modificada de
acordo com as ações tomadas pelos jogadores. O que nos
leva ao nosso próximo ponto.

5 - Prática da Criação Instintiva

As histórias construídas em sessões de RPG são formadas


em tempo real, com a atuação do grupo todo, e isso
ocasiona mudanças constantes. O mestre deve ser maleável
e permitir que os personagens ajam com liberdade e
contribuam para a obra, mas ele também precisa ser ágil
para criar de forma instantânea.

Veja bem, é muito comum que, durante o jogo, os jogadores


decidam fazer coisas que o Mestre não previu enquanto
escrevia o “roteiro”. Isso levará a história por novos rumos.
E é bom que isso aconteça, é uma das graças de se jogar
RPG. Um mestre que obrigue os jogadores a seguirem um
rumo pré-determinado não estará fazendo seu trabalho
direito.

Para garantir a alegria, o Mestre deve aprender a criar pelo


instinto e ter raciocínio rápido. A única forma de se fazer
isso é praticando e praticando e praticando. Quanto mais se
joga, melhor fica o jogo. E melhor fica o mestre. E melhor
fica o escritor. Esta habilidade, uma vez desenvolvida, ajuda
a vencer o tão temido bloqueio de escritor.

6 - Melhorar Repertório

Finalmente, jogar RPG vai ajudar a aumentar o seu


repertório. E, como eu já disse neste vídeo, repertório é
essencial para qualquer criativo.

Os jogos de RPG abordam assuntos interessantíssimos e


ajudam a abrir a cabeça para muitos temas e livros. Ao
jogar, você vai querer saber mais sobre história, cultura
medieval, mitologia, religião, ciência e, claro, técnica de
construção de histórias.

Por isso, se você nunca jogou RPG, dê uma chance.


Converse com entusiastas do jogo por aí — eles estão
espalhados por todos os cantos. Veja o que a experiência
pode fazer pelo escritor em você.

Já se você costumava jogar e parou porque a vida adulta


não te dá mais tempo livre, pense neste texto como um
incentivo para retomar o hobby. No fim das contas, a gente
nunca terá tempo se não nos dermos tempo. Transforme o
seu encontro semanal com amigos ao redor da mesa em
uma prioridade.
E se você joga… bom, então você sabe bem do que estou
falando. Role um d20!

COMO ESCREVER HISTÓRIAS


LONGAS
 

Quando a gente resolve se aventurar pela escrita, é comum


começarmos por contos e histórias mais curtas. E não há
problema nenhum nisso. Eu mesmo sou muito fã de
novelas… concordo com o Edgard Allan Poe, que dizia que
elas possuem o formato perfeito para uma história escrita,
pois o leitor consegue terminá-la em uma só paulada.

Porém, com o tempo, também é comum que aquele desejo


de se desafiar e dar um passo além fique cada vez mais
forte. O escritor começa a ansiar por um romance, por
vencer esse desafio.

Isso é ótimo.

Eu acredito que todo escritor devia escrever pelo menos um


romance na vida. A experiência é diferente de qualquer
outra coisa que você possa provar. É difícil, frustrante,
empolgante, revelador e absurdamente recompensador.
Você descobrirá aspectos seus como artista que nunca
suspeitou que tivesse.

Dito isso, sim, pode ser bem complicado até você pegar o
jeito.

Ao estudar os princípios básicos do storytelling e da


estrutura de histórias, a gente consegue enxergar a sua
aplicação em uma história curtinha. Mas, quando vamos
para um história mais longa, a sensação que fica é a de que
não temos tanto conteúdo pra preencher aquele monte de
páginas.

A gente até vê o personagem e sua jornada… seu objetivo e


alguns obstáculos no meio do caminho. Mas ainda assim
parece que o que temos não é suficiente para um romance.
E provavelmente não é suficiente mesmo.

O que fazer então?

Sendo curto e grosso: inserir mais jornadas que


complementem a jornada central.

Uma história longa pede por mais personagens, com


subtramas e objetivos secundários.

Vou dar um exemplo, pra facilitar:


No meu livro Mortos-Vivos & Dragões eu tenho um
personagem principal, o Valentin. A jornada dele sempre
esteve bem clara para mim e é ele quem simboliza a
mensagem central que eu queria passar (e também é ele
quem sofre a maior transformação). Seria possível contar a
história apenas com a jornada desse personagem, mas isso
deixaria o livro muito curto.

O que eu fiz?

Eu coloquei mais dois personagens na parada: Manara e


Gawrghonite .

Cada um deles tinha sua própria jornada, com seu próprio


objetivo. Contudo, essas jornadas complementavam a
jornada do Valentin. Elas fortaleciam a ideia geral da trama
e aprofundavam a experiência.

Ah, Nano, mas eu não quero colocar mais personagens.

Então você precisa criar objetivos secundários para o seu


protagonista. Ele continuará tendo um grande objetivo
central, mas, também contará com outras coisinhas que
precisa alcançar pelo caminho. Talvez o seu protagonista
precise lidar com coisas como uma doença, um
relacionamento que está ruindo, com a falta de dinheiro,
com a morte de um parente… tudo isso enquanto busca o
sucesso como músico.
O objetivo central seria o sucesso, mas, para chegar lá,
seria necessário colocar a casa em ordem em outras searas
também.

Entende o que quero dizer?

Se você quer se aventurar pela escrita de obras mais


longas, essa é a dica mais prática que posso te dar. Coloque
em ação e eu tenho certeza que as coisas ficarão mais
fáceis.

COMO ESCREVER PARA CRIANÇAS


 

Ultimamente alguns dos meus leitores têm me perguntado


sobre como escrever para crianças.

Muito embora eu goste bastante de livros na categoria YA


(Young Adult) e acredite que todos devemos ler livros
infantis de tempos em tempos, esta não é uma área em que
eu tenha especial contato – ou habilidade. Contudo, ao
longo dos anos eu tive a sorte de reunir alguns
ensinamentos que, acredito, podem ser bastante úteis para
quem quer trilhar esse caminho cheio de magia e
descobertas.

Vamos começar esclarecendo algumas coisas:

Muita gente acredita que as tramas voltadas a crianças


devem ser simplificadas de alguma maneira, como se elas
não fossem capazes de compreender estruturas como os 3
Atos (começo, meio e fim).

Isso é besteira.

O storytelling está ligado à nossa espécie desde o princípio


das formações sociais. Nós sobrevivemos até aqui, em
grande parte, graças à nossa habilidade de contar/ouvir
histórias. É como uma segunda natureza. Tão natural
quanto correr ao ver um leão vindo em nossa direção ou
salivar ao sentir o cheiro de uma fruta suculenta. Nós
compreendemos a nossa existência nesse mundo por meio
de histórias.

Por isso, não se engane: crianças são perfeitamente


capazes de acompanhar uma narrativa com começo, meio e
fim.

Não há porque não aplicar aqui o conhecimento que você


adquiriu sobre histórias de forma geral.

Dito isso, livros que têm a criançada como público-alvo


precisam, sim, de uma atenção diferenciada em certos
pontos.
Em primeiro lugar, faça um exercício de empatia e se
coloque no lugar de uma criança.

A maneira como ela enxerga as coisas ao redor é bem


diferente. Muita coisa ainda é novidade e o que pareceria
ordinário para um adulto, para ela pode ser um grande
mistério. O mundo ainda é um lugar de maravilhas a ser
explorado.

Pense também em quais são os principais medos e desafios


para pessoinhas daquela idade. Talvez a escola ainda
assuste. Quem sabe ter que ficar longe da mãe durante oito
horas diárias seja uma grande luta. Use a sua imaginação
para descobrir quais temas são relevantes para o seu
público e pense em formas interessantes de abordá-los.

Não se preocupe muito caso algumas coisas lhe pareçam


clichê ou comuns. Lembre-se que você já teve décadas de
experiência de vida – sem contar milhares de filmes, livros e
seriados de TV na bagagem –, mas que quase tudo parecerá
inovador para um infante.

Mostre um mundo de extremos: preto e branco, bem e mal,


luz e trevas. Ainda não é a hora de se explorar tons de
cinza. E nunca esqueça: os bandidos nunca devem vencer…
ao menos ainda não.

Os personagens devem gerar identificação, o que muitas


vezes significa protagonistas crianças ou com
características infantis. Mas muito cuidado nesse ponto:
personagens crianças não são pequenos adultos bobos. Eles
são ativos, engraçados e perfeitamente capazes de realizar
grandes feitos.

Todos temos qualidades e defeitos. Até mesmo os heróis.

A magia existe e explica muitas coisas!

Coisas assustadoras de vez em quando são bem-vindas,


mas elas jamais devem tocar no corpo da criança.

E já que estamos falando sobre o que NÃO fazer… nunca,


jamais, em hipótese alguma use o seu livro para dar uma
lição de moral ou uma bronca na criançada. Elas vão
perceber o seu intuito e não vão gostar nem um pouquinho.

Também não faça com que os adultos sejam os


responsáveis por resolver todos os problemas dos heróis
infantis. Eles podem guiar e ajudar, mas permita que os
protagonistas lidem com obstáculos e os superem por conta
própria.

Além disso tudo, tenha em mente que crianças ainda não


possuem uma grande capacidade de concentração. Por isso,
você terá que caprichar ainda mais na edição.

Exclua toda frase que não servir para avançar a trama.

Nada de diálogos muito longos.

Mantenha a ação, mantenha o movimento.


Palavras simples. Parágrafos curtos.

Muito, mas muito cuidado com excessos descritivos.

Procure manter um mesmo ponto de vista ao longo de toda


a história.

Quando fizer uma mudança no espaço ou no tempo (ou uma


mudança entre capítulos), analise se a transição está fácil
de ser captada. Se não estiver, retrabalhe. A criança deve
ser capaz de entender de onde veio e para onde está indo.

Bom, essas são apenas algumas dicas sobre a maravilhosa


e encantadora arte de se escrever para o público infantil.
Claro que elas não exaurem o assunto – e nem têm a
pretensão disso –, mas acredito que sirvam como uma base
sobre a qual trabalhar.

O conselho mais importante que posso deixar é o de


realmente se colocar no lugar de uma criança lendo o seu
livro. Faça esse exercício ao longo da sua escrita e a
construção ocorrerá de forma muito mais segura.

Procure ler livros infantis também. Assim você entrará no


clima certo e aprenderá formas de se abordar os assuntos
que agradam a esse público.

Interessante notar como muito do que eu disse aqui


também se aplica à escrita destinada a adultos. Acho que só
reforça o argumento que somos todos contadores de
histórias, afinal, não importando nossa idade.
Caso tenha gostado do conteúdo e esteja decidido a seguir
como um escritor para crianças, busque maiores
informações sobre o assunto. Entenda que diferentes faixas
de idade terão diferentes necessidades e peculiaridades... e
que talvez você precise explorar um pouquinho até achar o
seu nicho.

Mas não há problema algum nisso. Na verdade, tenho


certeza que será uma brincadeira gostosa e cheia de
aventuras.

Boa viagem à Terra do Nunca!

COMO AVALIAR UM LIVRO EM 5


PASSOS
 

Recentemente me perguntaram como eu faço para avaliar


um livro. Como eu faço para saber se ele é mesmo bom ou
ruim e se tem algo a me acrescentar?

Olha só, a questão é um pouco complexa, pois sei muito


bem que existe uma alta carga de subjetividade aí.
Contudo, se tem uma coisa que a “história das histórias”
nos mostra é que, há, sim, uma certa lógica que nos revela
se um livro vale a pena ou não.

Sendo assim, usando essa lógica como apoio e levando em


conta o que eu acho que há de mais importante ao
consumir uma história (a Experiência do Usuário), concluí
que sigo um roteirinho na hora de fazer análise. Aí vai, para
quem achar válido:

1. Comece pela ideia.

É boa? Criativa? Original? Dá vontade de ler mais a


respeito?

2. Avalie como a ideia é executada no aspecto macro


(trama).

O livro flui ou é travado? Os personagens geram empatia? A


trama empaca? Como são os pontos de virada? A história
prende?

3. Avalie como a ideia é executada no aspecto micro


(capítulos).
Como eles começam e terminam? Você sente a tensão? Há
possibilidade de conflito no ar? Há muita variação de ponto
de vista no mesmo capítulo? Como o autor faz descrições?

4. Junte tudo, prestando muita atenção nos melhores


e piores destaques do livro.

Como foi a sua experiência como leitor? Como usuário


daquela história? Boa ou ruim? Esqueça os detalhezinhos e
preste atenção no livro como um todo. Qual é o gosto que
fica na sua boca?

5. Aprenda.

Pegue o livro que você acabou de ler e estude tudo o que


funcionou, tudo o que você achou positivo. Depois faça o
mesmo com todos os aspectos negativos. Afinal, você não
vai querer cometer aqueles mesmos erros, não é? 😉

E é isso! Nesse vídeo eu falo sobre o assunto de uma forma


um pouquinho mais detalhada.

COMO ESCREVER MESMO


TRABALHANDO 9 HORAS POR DIA
(MORANDO SOZINHO E TENDO QUE RESOLVER

VÁRIAS COISAS NA SEMANA)


 

Olha só, essa dificuldade é bem comum no nosso país,


infelizmente. Por aqui nós ainda estamos abrindo caminho
para a escrita como profissão e, por isso, acabamos tendo
que conciliar nossa produção com outras atividades.

Realmente não há um caminho fácil e essa vida exige certos


malabarismos, mas tenho algumas dicas que podem tornar
o processo um pouco menos sofrido. Tenha em mente que
essas são coisas que funcionaram (e que funcionam) pra
mim, quando me vejo sem tempo ou energia para
escrever… o seu caso pode ser diferente, então fique à
vontade para adaptar essas dicas como achar melhor, ok?

Pra começar, confira a sua agenda e veja onde há um


tempinho vago para escrever. Uma hora pra produção seria
o ideal.

Eu sei que muita gente reserva a noite pra escrever, mas a


minha experiência diz que isso não é bom pra grande
maioria das pessoas. Após um dia de trabalho e estresse, é
provável que você esteja destruído e por isso não
conseguirá produzir direito. O que recomendo, então, é
acordar uma hora mais cedo e já sentar pra escrever, antes
de qualquer outra coisa.

Ao cumprir a sua tarefa mais importante do dia logo de


cara, você ficará mais energizado e motivado… e não
precisará se preocupar com outros percalços que podem
aparecer com o passar das horas.

Eu sei que acordar cedo é chato, mas o esforço realmente


compensa.

Outra coisa é manter o hábito. Não adianta reservar um


horário pra escrever só de vez em quando. Tem que ser todo
dia. Tipo um ritual. Isso vai te mostrar que o livro está
ganhando corpo, avançando, chegando perto do final. E isso
também ajuda a motivar.

Você também deve eliminar as distrações. Reservou aquela


horinha pra escrita? Então é pra escrita. Nada de e-mail,
nada de redes sociais, nada de conferir as notícias
rapidinho.

Se você fizer tudo isso, então terá 5 horas semanais de


escrita (isso se você não quiser escrever nos finais de
semana). Supondo que você escreva cerca de 500 palavras
em uma hora, terá 2.500 palavras semanais. São 10 mil
palavras em um mês. Em 5 meses a primeira versão da sua
obra estará pronta. Meta alcançável, certo?
Você também pode arranjar pequenos espaços a mais na
agenda pra escrever, o que aceleraria o processo todo. Mas
essas sessões extras devem sempre complementar a sua
rotina diária. Não é trocar a escrita matutina por essa
sessão extra, é somar. Aquela produção logo cedo deve ser
sagrada pra você, combinado?

Vai por mim, eu sei que nos primeiros 10 dias será um


inferno e você vai querer morrer, mas depois acostuma e
vai tranquilo.

Espero que essas pequenas dicas possam ajudar. Eu já sofri


isso na pele e conheço bem essa dor, mas com força de
vontade e foco dá certo. Se eu consegui, você certamente
consegue também! =)

LIVRO VS. EBOOK:


NESSA BRIGA QUEM PERDE É VOCÊ
 

Li um texto muito bom da Camila Cabete sobre essa


briguinha que existe entre entusiastas dos livros físicos e fãs
de livros digitais e resolvi levantar algumas questões.

Ao que parece, a venda de ebooks na Amazon dos Estados


Unidos caiu, pela primeira vez, desde o lançamento do
formato. Este fato fez um bocado de gente sair soltando
fogos por aí e celebrando o “fim” do tão terrível ebook.

Em primeiro lugar, celebrar a queda da venda de livros, em


qualquer que seja o formato, é de uma estupidez tremenda.

Em segundo lugar, essa queda não quer dizer que os


ebooks vão acabar.

Vamos analisar os pontos com calma.

Quando o formato do livro digital foi anunciado, muita gente


torceu o nariz, com medo de que o já difícil mercado do livro
tradicional entraria em colapso.

Eu me incluo nesse grupo.

Demorei muito para finalmente dar uma chance ao ebook


porque, para mim, existia toda uma mística por trás das
páginas de papel, do cheiro do livro, da textura da capa.

Mas aí chegou um ponto em que eu finalmente me rendi. E


isso ocorreu por vários motivos: falta de espaço físico em
casa, preço mais em conta, possibilidade de conhecer novos
autores que não tinham vez em editoras tradicionais,
facilidade de entrega (como sou ansioso, adoro essa história
de ter o livro no meu iPad com apenas um clique) e
experiência de leitura.

Sim, experiência de leitura.

Desde que abracei o ebook tenho lido uma quantidade


maior de livros e de forma muito mais rápida. Consigo
sublinhar os trechos que mais gosto com um movimento do
dedo indicador e depois encontro esses trechos com grande
facilidade.

É perfeito para os livros de não-ficção.

Para os de ficção, ainda prefiro os livros físicos. Eles me


ajudam a relaxar, a me desconectar e a ter uma experiência
sensorial diferente. É uma espécie de meditação.

Assim eu vi que livros físicos e digitais não precisavam


competir, mas poderiam se complementar no que dizia
respeito a atender minhas necessidades como leitor.

E é por isso que acho muito estúpido celebrar a queda dos


ebooks.

As pessoas que estão felizes pelo movimento descendente


das vendas dos livros digitais parecem não entender que
não são os ebooks que estão se retraindo, mas os leitores.

Essa queda de vendas quer dizer que há menos gente lendo


– ou interessada em ler. E isso, pra quem trabalha com a
escrita, é uma droga. Isso afeta a todos nós, quer você
publique de forma digital ou física.

No fim das contas, somos escritores. Devemos nos importar


mais com o conteúdo dos livros do que com a forma como
são distribuídos ou lidos.

Mas calma que nem tudo é desgraça.

Esse lance de ter menos gente comprando livros digitais nos


Estados Unidos não quer dizer que a indústria vai entrar em
crise ou acabar. Nada disso. É apenas um movimento
normal de um mercado maduro que agora encontrou seu
equilíbrio.

Os americanos consomem muitos livros. Muitos. Não vou


nem comparar com o Brasil porque nisso a gente perde de
lavada. E, quando os ebooks apareceram, os americanos
embarcaram na brincadeira de cabeça.

Faça a experiência: entre na Amazon dos EUA e veja os


números de comentários, avaliações e vendas. Depois
compare com a Amazon aqui do Brasil.

Os americanos estão na nossa frente e isso é inegável. O


que aconteceu agora é que, após anos com um mercado
crescendo sem parar, a coisa deu uma estagnada. Devemos
ficar de olhos nos números dos próximos anos, claro, mas
eu duvido que o ebook acabe. Duvido mesmo!
E outra: aqui no Brasil nós estamos longe de chegar no nível
americano de leitura ou venda de livros. Ainda temos muito
para crescer antes de pensarmos em quedas. Nosso
mercado editorial digital ainda é infante e cheio de falhas, e
temos que trabalhar juntos para consertá-las.

O ebook pode ser um grande aliado. Ele facilita o acesso a


leitura, dá espaço a novos autores e até mesmo resgatou
um formato literário que andava bastante esquecido devido
à relação custo X benefício de sua produção em formato
físico – a novela.

Bom, já estou me alongando mais do que pretendia. O que


quero dizer com isso tudo é que nós, amantes de livros, não
devemos tomar lados. Não devemos torcer pelo livro digital
ou pelo livro físico, mas pelo livro… em qualquer forma que
ele exista. O que precisamos fazer é trabalhar em prol da
leitura, estimular mais gente a vir nessa onda, treinar
escritores e lutar para garantir livros mais baratos e
acessíveis a todos.

Estamos todos no mesmo barco, afinal de contas.

VOCÊ CAIU NO CONTO DO


ESCRITOR-GÊNIO?
 

Atenção: é provável que esse texto te ofenda ou


acabe com os seus sonhos. Se for o caso, leia até o
fim… ele foi feito pra você.

A escrita é linda, não é mesmo? Uma forma de arte superior


que permite que você expresse seu intelecto supremo e
coloque pra fora toda a complexidade imaginativa e
gramatical que acumulou ao longo de uma vida de
sentimentos, reflexões e paixões ardentes.

Você sempre soube que era um escritor. Alguém destinado a


grandes coisas. Alguém que seria admirado pela sua visão
única de mundo.

Você não precisa de técnica. Você não precisa de alguém


lhe dizendo como ou quando escrever. Você escreve quando
está inspirado e ponto final.

Com você, a arte é real.

Se você se identificou com o que escrevi acima, tome


cuidado. Abra os olhos e volte para o mundo real, pois você
caiu no conto do escritor-artista-gênio.
Chega a ser engraçado a quantidade de pessoas no Brasil
que realmente acredita que a escrita é uma arte diferente
de todas as demais e que, por isso mesmo, não exige
técnica ou comportamento profissional.

Para muitos postulantes a autores nacionais, se você estuda


técnica, você está indo contra a arte. Se você escreve com
metas, você está indo contra o impulso criativo. Se você
pensa no seu leitor, você está prostituindo o seu deus
interior.

Não ria, é sério… eu já ouvi isso.

Não à toa o Brasil é um dos países onde o meio literário


mais sofre.

Temos poucos leitores. Temos uma massa de escritores que


não busca se profissionalizar. Temos apenas um punhado de
autores que consegue viver de escrita… e, o que é ainda
pior, esses autores são massacrados pelos tais intelectuais
das palavras.

Mas isso não é culpa inteiramente nossa, já que existe uma


propaganda malandra que visa nos fazer crer que a escrita
realmente é uma coisa para poucos talentosos.

A escrita não é para qualquer um. A escrita é para pessoas


que alcançaram outro nível. Os escritores são inteligentes,
cultos e enxergam a vida de uma forma própria. Eles tem
um dom que nasceu com eles e que os torna aptos a
sentarem a bunda na cadeira quando bate a inspiração e
sair dali com uma obra-prima pronta para tocar corações e
almas. Escritores são messias, deuses, x-men !

Isso é um monte de besteira, claro. Mas a ideia nos é


vendida descaradamente há muito tempo e, água mole em
pedra dura… você sabe o resto.

Mas por que isso?

Simples. Pra valorizar o passe.

É do ser-humano procurar algo para adorar. E esse algo não


pode ser qualquer coisa. Tem que ser um ícone, um ser
diferenciado.

Pense nos pôsteres de artistas que os jovens colocam em


suas paredes… Kurt Cobain, Janis Joplin, Stones. Essas
figuras são maiores que a vida. Elas flutuam em um nível
totalmente diferente.

Com os escritores-gênios a lógica é parecida.

Ao propagar a ideia de que escritores são talentos natos,


praticamente selecionados pelos deuses, os grandes
fazedores de dinheiro colocam esses caras em um patamar
de valor muito maior. E com um valor maior, temos preços
de livros mais caros, filas em livrarias para pegar
autógrafos, maiores chances de vender os direitos para o
cinema e por aí a coisa vai.
É só você pensar… o que parece mais atraente ao
romântico, um cara que escreveu um livro sozinho em um
quarto de hotel barato após um coração partido ou um cara
que estudou técnica por anos, escreve diariamente com
metas, edita e reedita sua obra até ela estar pronta?

Entende o que estou dizendo?

É tudo um faz de conta.

O problema é que esse faz de conta alimenta sonhos de


uma forma irresponsável.

Veja bem, em NENHUMA arte é possível alcançar a


excelência sem muito treino e estudo. Existe uma técnica
para tocar um instrumento musical, existe uma técnica na
pintura, existe uma técnica até nas artes marciais. Por que
seria diferente com a escrita?

Claro que dá pra você desvirtuar essas técnicas e criar algo


novo. E isso é encorajado. Só que até mesmo para quebrar
as regras você precisa conhecer as regras antes.

Eu não estou dizendo que você não pode ignorar toda a


técnica e escrever do seu jeito. Eu não estou dizendo que
você não pode usar a página em branco só pra colocar pra
fora as suas angústias. Eu não estou dizendo que você não
pode escrever pensando apenas em você e que se dane o
público.
Claro que você pode fazer tudo isso. Diacho, eu faço tudo
isso de vez em quando, já que tenho uma quedinha pela
escrita underground.

Mas o que não dá pra fazer é escrever assim e depois ficar


reclamando nos fóruns e grupos de Facebook que o seu livro
está empacado e que os leitores são todos uns ignorantes.

Eles não são ignorantes… talvez eles só não gostem do que


você escreveu.

Se você quer escrever para poucos (ou para você mesmo),


vá em frente e entenda que você não vai viver de escrita – e
não fique chorando a respeito.

Se você quer escrever para um público, então você precisa


levar a experiência de leitura dele em consideração e se
esforçar para entregar uma obra que ele vá apreciar. E aqui
entra a técnica.

A técnica não é sua inimiga, ela é uma ferramenta.

Ela não vai sugar a sua criatividade. Ela não vai te tornar
menos inteligente. Ela não vai ser uma mancha de vergonha
sobre a sua face.

Na pior das hipóteses ela vai te mostrar o porquê de certas


coisas funcionarem… aí você pode desvirtuar tudo e criar a
sua própria técnica, mas dessa vez por causa da sua
sabedoria, não da ignorância.
Mas, Nano… e esses escritores famosos que nunca usaram
técnica? E a J.K. Rowling, que escrevia no cafezinho,
tadinha?

Claro que temos talentos por aí. Sempre teremos, em todas


as áreas. Mas isso não é desculpa para você não fazer tudo
o que está ao seu alcance para ser melhor.

Poe usava técnica, assim como Machado, assim como


Gaiman, assim como Palahniuk (pô, esse cara tem até um
site voltado pra técnicas).

E quanto à J.K., é verdade que ela sofreu um bocado antes


de dar certo, mas você sabe que após o terceiro livro ela
contou com uma equipe de escritores técnicos para ajudá-
la, não sabe? Ah, não? Bom, agora você sabe.

Quando olhamos de perto, ninguém é tão divino quanto a


publicidade quer nos fazer crer.

Cuidado com o conto do escritor-artista-gênio. Não deixe


que ele fique no caminho do seu sucesso.

Continue escrevendo com o coração, apenas adicione suor,


estudo e trabalho duro ao processo.

 
 

E AGORA?

Você acabou de ter contato com um pouquinho do que é


necessário para ser um escritor.

Eu espero que este pequeno livro tenha sido de grande


ajuda nesse sentido. Espero que agora você esteja se
sentindo um pouco mais tranquilo e um tanto quanto
motivado a seguir na jornada.

Eu espero que, após ler todas estas páginas, você tenha


encontrado a certeza de que realmente é um escritor e que,
mais do que querer, você irá escrever o seu próprio livro.

Porque tudo começa com um compromisso. Um


compromisso consigo mesmo. Quando você diz...

Eu posso. Eu vou.

E se esse é o seu caso, eu quero fazer alguns pedidos.

O primeiro é que você confira a página


@escolaescreverviver lá no Instagram . Temos uma
comunidade muito legal de escritores crescendo por lá a
cada dia e, com toda a certeza, você encontrará algo de útil
nas nossas dicas diárias.

O segundo pedido é que você dê uma olhada no meu


outro livro , chamado Como Escrever Um Livro: O Guia
Completo . Ele é a evolução natural deste livro que você
acabou de ler, engrandecendo a experiência com muitas
dicas e técnicas que respeitam o processo de aprendizado
do autor iniciante. Caso você realmente esteja focado em
avançar sua carreira, o Guia Completo é uma excelente
pedida. Saiba mais sobre ele aqui:
https://www.amazon.com.br/dp/B06W9J747Y

É isso aí, agora é pegar tudo o que você aprendeu e partir


para a prática.

Não espere mais. Arregace as mangas, aponte o lápis e vá


em frente... com foco, força de vontade e um coração leve.

Boa escrita!

UM BÔNUS VALIOSO PRA VOCÊ

Além de ter livros sobre escrita, eu também produzi um dos


melhores e mais completos cursos do país sobre o assunto,
segundo os próprios alunos.
Já são milhares de novos escritores formados por essas
aulas, tanto no Brasil quanto no exterior, com uma taxa de
aprovação acima de 98%. Sendo assim, hoje tenho a
certeza de que construí algo de real valor.

E eu quero dar isso pra você, COM UM GRANDE DESCONTO.

Se você realmente tem interesse em se aprofundar nos


estudos e na carreira de escritor, acesse
nanofregonese.com.br para saber mais ou clique AQUI e
aproveite o preço especial para leitores.

Veja mais dicas e textos do autor em


nanofregonese.com.br
 

Você também pode gostar