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Como lidar com o erro dos nossos pais

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Como lidar com o erro dos nossos pais
COMO LIDAR COM O ERRO DOS NOSSOS PAIS
1ª Edição – 2019

Autor:
Lucas Abrahão
Capa:
Jecson Brito
Projeto Gráfico e Diagramação:
Equipe Promove
Impressão e Acabamento:
Promove Artes Gráficas e Editora
(31) 3486-2696 | www.promoartes.com.br
Agradecimentos

À Deus, nosso amado e bondoso Pai que nos dá pão


e perdão todos os dias. À Jesus Cristo, pela salvação e
ao Espírito Santo pela consolação.
Ao livro de Provérbios, que me resgatou em diversos
momentos e não deixou que eu entrasse em um ciclo
de traumas. À Salomão, por ter sido um exemplo de
jovem que alcançou sabedoria, deixando claro que nós
também podemos alcançá-la.
Ao meu pai, Kelson Abraão, que me ensinou e viveu co-
migo as grandes lições que aprendi em minha vida e, como
todo pai, com qualidades e defeitos, me fez ser um filho
apaixonado e inspirado por ele, assim como ele é pelo meu
avô, Abraão Maciel, nosso patriarca, nosso início.
Às minhas mães, Claudia e Luane, Luane e Claudia.
Que me fizeram um filho realizado ao entrarem comigo,
juntas, no dia do meu casamento, como um episódio
singular da minha vida.
Aos meus “pais”, Maurício e Rosângela, da Igreja
Cristã Sal da Terra, que me adotaram em sua casa, em
Uberlândia, enquanto eu fazia a Escola Plantadores de
Igrejas. Na sala da casa deles comecei a estudar Pro-
vérbios, em 2010, e nunca mais parei.
Aos meus eternos pastores de jovens, Adolfo e
Giselly Norões, que Deus colocou no meu caminho

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Como lidar com o erro dos nossos pais

para me ensinarem o que eu não aprenderia de ou-


tras fontes.
Aos diversos pais e mães que tive, homens e mu-
lheres tementes à Deus, que sempre me aconselham e
oram por mim. A lista é grande, mas espero de coração
que todos se sintam contemplados.
Aos meus companheiros de ministério da Comunida-
de Reviver em Macapá, e à minha querida Eluany, que
junto comigo vai corrigir os erros e transmitir as quali-
dades de nossos pais para as nossas futuras gerações.
À você, leitor.

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Apresentação pelo pai do autor

Tenho o privilégio de apresentar o primeiro fruto de


uma mente jovem, porém altamente reflexiva, leitora
prudente do passado e também conectada ao seu tem-
po. Alguém para quem princípios e valores não são ape-
nas “histórias como nos contaram nossos pais”.
Desde muito cedo, Lucas Abrahão caminha ao meu
lado no ministério pastoral. Primeiros filhos têm a prer-
rogativa de desfrutar da companhia dos pais, enquanto
os caçulas desfrutam mais dos benefícios materiais re-
sultantes do sucesso e veem os pais mais através dos
noticiários do que de momentos a dois!
Assim, sempre o desafiei a ver, ouvir, refletir, ava-
liar e questionar a tudo, inclusive a mim e aquilo que
faço. Não podemos admirar mitos mais que pessoas,
nem podemos nos dar e morrer por uma causa que
é orgânica, quando só a conhecemos pela propa-
ganda. Com Lucas ao meu lado ri e chorei, avancei
e temi, realizei e desconstruí. Graças a Deus, sem as
frustrações de quem quis ser herói. E com as moti-
vações da Graça, vencendo a natureza humana - o
nosso lado bandido. Tudo na dose certa e didática
para meu filho. Parafraseando Pablo Neruda: “Con-
fesso que vivemos!”
O menino, agora escritor, tornou-se um apaixona-
do pela educação, que é hoje sua grande bandeira.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Idealizador de grandes projetos para a igreja local e


para a cidade.
Tudo que posso desejar a você, leitor, é que te-
nha nesse livro uma ótima leitura e faça dele um
bom proveito!

Kelson Abraão
Pastor da Comunidade Evangélica Reviver

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Apresentação pelo autor

Não importa a sua idade, muito menos se é solteiro


ou casado. Não importa se você já tem filhos, um côn-
juge e uma vida estabilizada. Esse livro é para você.
Independente do quanto você já viveu e do quanto
você saiba, mesmo que você não queira, ainda há uma
grande influência dos seus pais sobre sua vida.
Ainda que você tenha perdido seus pais cedo, ou vis-
to um deles deixar a casa para “comprar pão” e nunca
mais voltar, em maior ou menor grau, todos nós temos
que encarar a imagem daqueles que nos geraram.
Essa imagem geralmente é boa e ruim ao mes-
mo tempo. Tem seus pontos positivos e negativos. O
essencial é sabermos lidar com isso. Sabermos lidar
com as qualidades, mas também com os defeitos de
nossos pais.
Ao longo do livro, espero que você tenha um en-
contro consigo mesmo e identifique de coração aberto
aquilo que precisa aprender. Espero do fundo do cora-
ção, que você seja abençoado por essa leitura e que
possamos compartilhar juntos de uma nova fase que
vai começar na sua vida.
Compartilhe comigo! Vou ficar feliz em ouvir a sua
história: lidandocomoserros@gmail.com
Aproveite o livro, e um grande abraço!

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Sumário

Prefácio.................................................................13

PARTE I.................................................15
CONHECENDO NOSSOS HERÓIS... E VILÕES!

Capítulo 1 - Conhecendo um pouco sobre o pai:


Rei Davi...........................................19

Capítulo 2 - Conhecendo os filhos Absalão e


Salomão...........................................25

Capítulo 3 - O choque de Absalão.......................27

Capítulo 4 - A revolta de Absalão........................31

Capítulo 5 - Conhecendo o filho chamado


Salomão.............................................35

Capítulo 6 - O choque de Salomão......................37

Capítulo 7 - Luke, eu sou seu pai........................41

Capítulo 8 - Herói e bandido...............................45

Capítulo 9 - Mais forte que o mundo..................49

Capítulo 10 - Salomão ou Absalão......................53

Capítulo 11 - Alguns erros que Davi cometeu...57


Capítulo 12 - As qualidades de Davi...................61

Capítulo 13 - “Luiz, respeita os oito baixo


do teu pai!”...................................67

Capítulo 14 - Está estreito!.................................71

Capítulo 15 - Salomão expressa sua sabedoria


no livro de Provérbios..................77

Capítulo 16 - Como nossos pais..........................83

PARTE II................................................87
MAS AFINAL... COMO LIDAR COM OS ERROS DE
NOSSOS PAIS?

Capítulo 17 - Reeditando os conceitos em


sua mente.......................................91

Capítulo 18 - O oposto também é verdadeiro...103

Capítulo 20 - Como consigo renovar a


minha mente?.............................109

Sobre o Autor......................................................119
Prefácio

“Ele converterá o coração dos pais aos


filhos, e o coração dos filhos a seus pais.”
(Malaquias 4:6)

Essa é a última palavra descrita no Velho Testamen-


to pelo profeta Malaquias. Uma promessa de conversão
do coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais. A
ação é de mão dupla.
Começa com pais com coração convertido aos filhos,
pois a origem dos filhos está nos pais. Muitos sentimen-
tos entranhados na alma dos filhos tiveram início com o
afeto ou descaso dos pais. Em nossa nação, por exem-
plo, vemos como o abandono físico ou emocional, prin-
cipalmente da figura paterna em relação aos filhos, tem
gerado um senso de inferioridade e orfandade terrível.
Por outro lado, os filhos também precisam se con-
verter aos pais. Através do amor de Cristo precisam
perdoar, compreender e sair do estado de vitimismo e
egoísmo que muitos se encontram. Cogitar que aqueles
que traumatizam também foram traumatizados, os feri-
dos são os que ferem, para assim entender que muitas
vezes pais não respondem aos filhos, e sim repetem
seus pais.
Trazendo como pano de fundo essa grandiosa men-
sagem, está em suas mãos este livro: “Como lidar com

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Como lidar com o erro dos nossos pais

os erros de nossos pais”, escrito pelo meu amigo Lucas


Abrahão. Um homem com uma mente brilhante e um
coração em chamas. Neste livro, Lucas expõe sem más-
caras sua relação com o próprio pai e desfila a sabedo-
ria divina dada a Salomão.
Deixe o livro aberto, mas também seu coração, pois
a promessa se cumprirá: “Ele converterá o coração dos
pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais.”

Drummond Lacerda
Pastor na Igreja Batista da Lagoinha - Belo Horizonte
Professor do Seminário Carisma

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PARTE I
Conhecendo nossos heróis...
E vilões!
Filhos do mesmo pai, mas tão
diferentes!

Eu não sei quantos filhos têm na sua casa, mas


você já observou como em algumas famílias os fi-
lhos são totalmente diferentes? Tem um filho de um
jeito e outro completamente diferente. Um calmo e
outro agitado. Um empresário e o outro hippie. E
perguntamos: Como podem ser tão diferentes se ti-
veram a mesma criação?
Nesse livro vamos estudar a vida de um pai e
dois de seus filhos. O nome do pai era Davi e os fi-
lhos em questão chamavam-se Salomão e Absalão.
Vamos acompanhar como os dois irmãos tomaram
rumos completamente diferentes, mesmo sendo
criados pelo mesmo pai.
Já lhe adianto que um deles foi um príncipe re-
belde, completamente transtornado, afrontou ao
pai e queria roubar-lhe o trono. Enquanto isso, o
outro filho, foi um sábio rei com uma história de
sucesso.
É uma bela jornada. Vamos juntos!

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Capítulo 1
Conhecendo um pouco sobre o
pai: Rei Davi

O nome do pai era Davi. A Bíblia começa a rela-


tar a história de Davi a partir de seus dezessete anos
de idade. Davi foi aparentemente um filho obediente.
Seus irmãos eram bravos guerreiros e participavam do
exército de Israel. Ele, por ser o (aparentemente) mais
fraco, era apenas o entregador de comida, aquele rapaz
que levava a quentinha enquanto os irmãos faziam o
“serviço de homem”.
A vida de Davi era assim: Cuidar de ovelhas e levar
comida para os irmãos. De vez em quando surgiam
algumas aventuras, como o dia em que ele matou um
urso para defender as ovelhas do pai e outro dia em
que ele teve que enfrentar um leão. Tirando isso, era
uma tranquilidade tão grande que ele poderia passar

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Como lidar com o erro dos nossos pais

horas e horas pensando e escrevendo seus poemas


e músicas.
A história de Davi muda quando um homem foi até
à sua casa para orar por seus irmãos, pois Deus esco-
lheria um deles, forte e valente para ser o próximo rei
de Israel. Acontece que após o profeta (homem que
representava Deus na época) ver todos os irmãos de
Davi, percebeu que nenhum deles era o “escolhido”
por Deus.

“Porém o Senhor disse a Samuel: Não


atentes para a sua aparência, nem para
a grandeza da sua estatura, porque o
tenho rejeitado; porque o Senhor não vê
como vê o homem, pois o homem vê o que
está diante dos olhos, porém o Senhor
olha para o coração. Então chamou
Jessé a Abinadabe, e o fez passar diante
de Samuel, o qual disse: Nem a este tem
escolhido o Senhor. Então Jessé fez
passar a Sama; porém disse: Tampouco
a este tem escolhido o Senhor. Assim fez
passar Jessé a seus sete filhos diante de
Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O
Senhor não tem escolhido a estes. Disse
mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os
moços? E disse: Ainda falta o menor, que
está apascentando as ovelhas. Disse,
pois, Samuel a Jessé: Manda chamá-lo,
porquanto não nos assentaremos até
que ele venha aqui.” (I Samuel 16:7-11)

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Assim, Davi foi chamado do pasto para a reunião


que ele não havia sido convidado. E, para a surpresa
de todos, o profeta descobriu que Davi, o menor e mais
fraco, era o escolhido de Deus para ser o novo rei.

“Disse mais Samuel a Jessé: Acaba-


ram-se os moços? E disse: Ainda fal-
ta o menor, que está apascentando as
ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé:
Manda chamá-lo, porquanto não nos
assentaremos até que ele venha aqui.
Então mandou chamá-lo e fê-lo entrar
(e era ruivo e formoso de semblante
e de boa presença); e disse o Senhor:
Levanta-te, e unge-o, porque é este
mesmo.” (I Samuel 16:11,12)

E assim começou a história de Davi, pai de Absalão,


Salomão e outros filhos.

De que mundo vieram os meus pais?


À medida que nos aprofundamos na história da
família de Davi, percebemos que algumas situações
são atemporais. Basta que uma família seja formada
por seres humanos para que ocorram. Observamos
também que Israel, pelo menos no que tange ao
comportamento humano, não é tão longe assim do
Brasil. Conseguimos nos identificar com seus perso-
nagens e suas histórias de vida à medida que passa-
mos a conhecer.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Conhecer a história é um ponto fundamental, espe-


cialmente quando se trata de nossa família. Chegamos,
portanto, no primeiro questionamento fundamental:
Você, leitor, conhece a história de seus pais? Você sabe
onde eles nasceram? O que eles viveram? As dificulda-
des que eles passaram?
Muitos dos problemas que enfrentamos com nos-
sos pais passam por aí. Não sabemos de que mundo
eles são e por isso temos tanta dificuldade em com-
preendê-los. Não sabemos o que eles viveram, por
onde passaram, o que sofreram, e, consequente-
mente, não entendemos seus medos e suas angús-
tias. Um bom exercício para começar uma transfor-
mação na sua relação com seus pais é conhecê-los
urgentemente!
Lembre-se, pois tem muitas coisas que eles gosta-
riam que fossem diferentes, mas a criação e o contexto
que viveram, talvez não permitam mais.
Busque entender o mundo em que seus pais cresce-
ram. Busque entender como foi a relação com os pais
deles. Assim você entenderá o que eles receberam e vai
compreender o que eles repassam para você.
É possível que você perceba que seus pais lhe tra-
tam bem diferente do que foram tratados. Mas, tam-
bém é possível que você veja que eles estão apenas
reproduzindo tudo aquilo que aprenderam, seja de bom
ou de ruim.
Não esqueça, o primeiro passo é:

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Conheça a história dos seus pais

Comece! Dê o primeiro passo e veja como a relação


de vocês irá mudar.

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CAPÍTULO 2
Conhecendo os filhos Absalão e
Salomão

Segundo a Bíblia, Absalão era um dos homens mais


bonitos da sua época. “Sem defeito algum”. Já pensou
em alguém assim? “Esse cara sou eu”, cantou Roberto
Carlos e provavelmente cantaria Absalão.
Além de bonito por fora, era aparentemente boni-
to por dentro. Era cuidadoso, especialmente com sua
irmã, que se chamava Tamar. Absalão gostava tanto de
sua irmã que colocou o mesmo nome na filha.
O nome de Absalão (ab-shalom) significa Pai da
Paz. Esse nome tinha sido escolhido por Davi para
celebrar a união do seu povo, Israel, que viveu por
muitos anos dividido em tribos, para então virar uma
só nação.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

A expectativa que se tinha, portanto, ao redor de


Absalão, era de que ele traria segurança, união e paz.
Absalão, como veremos adiante, não apenas não soube
lidar com as expectativas construídas a respeito de si,
como também foi a total representação do oposto.

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CAPÍTULO 3
O choque de Absalão

Absalão vivia sua vida normalmente, dedicando aos


treinamentos de guerra e a cuidar de sua irmã Tamar.
Vale lembrar que Davi teve inúmeros outros filhos,
com diferentes mulheres, sendo esses meios-irmãos
de Absalão.
Ironicamente, um de seus irmãos chamado Amnom,
mexeu exatamente com Tamar. A Bíblia relata que Am-
non apaixonou-se por sua irmã Tamar, a mesma que
também era irmã de Absalão. Enamorou-se de tal for-
ma que emagrecia e adoecia de tanto desejo. Através
de um plano muito bem elaborado, fingiu-se de doente
e como um lobo em pele de cordeiro chamou a Tamar
para ser sua enfermeira.
Enquanto Tamar cuidava dele, covardemente, Am-
non a atacou e estuprou a irmã que ainda era virgem.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Segundo os relatos bíblicos, após o estupro, Amnon


sentiu nojo de Tamar e a desprezou, expulsando-a de
seus aposentos.
Cabe aqui nosso registro de sensibilidade ao que Ta-
mar viveu, assim como inúmeras mulheres vivem ao
redor do Brasil e do mundo.
Mas, voltemos a analisar a personalidade de Absa-
lão. Como você acha que Absalão reagiu? O que você
acha que ele sentiu?
Absalão, como disse, era profundamente ligado à
sua irmã Tamar, e quando mexeram com ela, esta-
vam mexendo com ele! No primeiro momento Absalão
sentiu muita raiva de seu irmão Amnon, mas não quis
fazer nada por impulso. De maneira impressionante
conseguiu se controlar para não fazer nenhuma bes-
teira irremediável.
Ele pensou, por certo, que Davi, pai dos três envol-
vidos e rei de Israel, saberia a melhor forma de resolver
essa difícil questão. Absalão levou então esse caso a
Davi e disse: Resolva essa situação!
A Bíblia relata que Davi irou-se profundamente ao
saber da notícia, tomado de decepção e perguntou-se:
Como pode ter acontecido isso em minha própria casa?
Todos esperavam que, ao levantar da lamúria, Davi
tomaria alguma atitude. Contudo, por algum motivo,
Davi não teve coragem de repreender a Amnon. Era
o típico político que diante de uma pressão social se
mostra indignado, mas não consegue tomar atitudes na
vida privada para solucionar os problemas.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Absalão deu um tempo para que seu pai tomasse al-


guma atitude. Ele sabia que o choque foi muito grande
e que o melhor era não tomar decisões precipitadas e
esperar que seu pai se manifestasse.
O grande problema é que dois anos se passaram e
Davi não fez nada! O que Absalão esperava de Davi? O
que esperar de um pai diante de uma situação como
essa cometida por um dos seus filhos?
O tempo da espera para uns é um tempo de apa-
ziguamento. Algumas pessoas, com o passar do tem-
po, ficam, aparentemente, mais calmas. Contudo, não
foi isso que aconteceu com Absalão. A cada momento
que se passava, a cada dia, mês e ano, seu coração
ficava mais entristecido, tomado pelo ódio e amargura,
primeiramente de seu meio-irmão, que violentara sua
irmã amada, e também pelo seu pai, que após dois
anos não tomou nenhuma atitude!
Aquele Absalão que era calmo, Pai da Paz, já não
se controlava mais. Ele já estava com ódio do seu
irmão, de seu pai e de todos que se pusessem na
sua frente. O sentimento de Absalão, guardada as
devidas proporções, pode ser comparado ao de uma
criança que fica irada ao saber que seu irmão não
apanhou ou não ficou de castigo, mesmo tendo feito
algo errado.
Tudo o que Absalão queria era que Davi punisse o
seu irmão, que o exortasse, pois desonrara a sua irmã
e a toda família. Houve um misto de desejos no coração
de Absalão, tanto para que o irmão fosse corrigido, mas

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Como lidar com o erro dos nossos pais

também para que o pai agisse. Ele não queria acreditar


que o pai seria omisso...
Como Davi não fez nada, certo dia Absalão chamou
seu irmão Amnon para passear no bosque. Dessa vez,
porém, o lobo era ele, que com tanto ódio matou o ir-
mão e vingou Tamar depois de dois anos.

Resolvido o problema?
Aparentemente o problema estava acabado ali, pois
ele já teria feito justiça com suas próprias mãos. Contu-
do, o problema estava apenas começando, pois agora,
depois de matar Amnon por ter violentado a sua irmã,
Absalão voltou sua ira para Davi que havia sido omisso.
Seu pai seria o próximo alvo.

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CAPÍTULO 4
A revolta de Absalão

“Depois de matar meu irmão, vou


desmoralizar o meu pai.”

Depois de ter matado seu irmão, Absalão não voltou


para sua casa, pois sua sede tinha aumentado e seu
plano de vingança era maior. Ainda não estava comple-
to. Ele decidiu arquitetar contra seu pai e voltou para a
entrada da cidade.
Naquela época as cidades eram cercadas por altos
muros e tinham grandes portas de entrada. Absalão foi
para uma dessas portas, um lugar estratégico, onde ele
teria contato com grande parte das pessoas - súditos
do reino - que viessem de viagem para a cidade.
Ele sabia que todos os que quisessem falar com seu
pai, rei Davi, teriam que passar por aquela porta. Con-

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Como lidar com o erro dos nossos pais

tudo, antes de passar pela porta, ele faria um pedágio,


dizendo: “Por que você está indo falar com o rei? O rei
não resolve problema algum, ele é omisso! Como você
acha que o rei vai resolver seu problema se ele deixou
a própria filha ser estuprada e nada fez?”

- O rei é fraco! Não há rei em Israel.


Então Absalão começou a reunir homens e líderes
políticos das tribos. O filho começou a arquitetar uma
artimanha e um golpe de estado para tirar seu pai do
poder. Ele já não queria apenas vingar a irmã, mas que-
ria tomar o reino do seu pai.
A fim de convencer os habitantes de Israel que o pai
dele era omisso, a Bíblia diz que ele “roubou o coração
do povo”, em uma rebelião contra Davi. Então, após
ter conseguido um apoio considerável, ele juntou seu
exército e marchou em direção ao pai. Ele chamou o rei
Davi para uma disputa. O exército que ganhasse ficaria
com o reino de Israel.
Absalão apenas esqueceu-se de um detalhe: O exér-
cito de seu pai era praticamente imbatível e em pouco
tempo a rebelião estaria dizimada.
Em pouco tempo de combate, toda fúria não foi ca-
paz de fazer com que o exército de Absalão fosse páreo
ao de Davi. Absalão saiu fugido em uma mula, deses-
perado, pois sabia que se fosse pego por algum soldado
de seu pai seria facilmente morto.
Com muita compaixão do filho e na esperança de
que ele se arrependesse, Davi pediu ao seu exército

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Como lidar com o erro dos nossos pais

para que não matasse Absalão. Infelizmente, a ordem


foi dada tarde demais. Absalão ficou preso entre uns
galhos de umas árvores e um arqueiro de Davi acertou
uma flecha que transpassou o coração do filho rebelde.
Assim terminou a história de Absalão. Um jovem bo-
nito, forte, que amava muito sua irmã. Um jovem que
tinha por nome Pai da Paz foi o causador de um tumulto
no reino, e morreu como um inimigo da coroa.

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CAPÍTULO 5
Conhecendo o filho chamado
Salomão

A Bíblia não relata muito sobre a aparência de Salo-


mão, apenas diz que ele teve a responsabilidade de ser
rei muito jovem. Ao assumir como rei, Salomão buscou
a Deus para obter sabedoria, pois se achava muito novo
para conduzir tão grande povo.
Deus olhou do céu a sinceridade e humildade no
coração do rapaz e resolveu atender seu pedido. O Se-
nhor garantiu que ele seria o rei mais sábio e mais rico
de todos que já existiram na face da Terra.
Deus não prometeu, mas Salomão também foi um
dos que mais teve mulheres. É importante frisar que
por força das conquistas territoriais, o rei tinha direi-
to também ao harém de seus adversários derrotados.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Uma realidade histórica e convencional diferente de


nosso tempo.
Salomão era filho de Bete-Seba, uma mulher de ex-
trema beleza, que carregava alguns arrependimentos
por erros do passado.

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CAPÍTULO 6
O choque de Salomão

“Meu pai roubou a minha mãe de outro


homem.”

Guarde em sua memória a história anterior. Pros-


sigamos conhecendo nossos personagens. Imagine
um garoto que tem um ótimo relacionamento com
seu pai. Para esse adolescente o seu pai é seu herói,
é o exemplo, inerrante, totalmente um referencial.
Esse garoto vai para o estádio com o pai, usa a meia
que o pai usa, se imagina vestindo o uniforme de
trabalho do pai, porque quer ser parecido com o pai.
Mas, infelizmente, no meio da adolescência, que por
sinal é a fase onde os conflitos internos se agravam,
esse jovem descobre um erro grave na trajetória de
seu pai.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Ele descobre que quando seu pai conheceu sua mãe,


ela já era casada com outro homem. E não só isso, ele des-
cobre que seu pai moveu céus e terras para dormir com
ela. Seu pai não era apenas bom de espada, mas também
bom de lábia e convenceu a mulher a deitar-se com ele.
Apenas isso já poderia causar um grande choque
na vida desse rapaz. A imagem de seu pai, apenas por
esse fato, já poderia sofrer um grande estrago. Mas a
triste história não parava por aí. O menino descobriu
ainda que, não satisfeito, seu pai mandou matar o en-
tão esposo da sua mãe.
Quanta decepção! Quantos conflitos de valores! Seu
pai, seu herói, antes de tudo, antes do seu nascimento,
cobiçou uma mulher casada e não satisfeito, matou o
marido dela!

Como você reagiria se descobrisse algo de


errado sobre o passado do seu pai ou de sua mãe?
Como você reagiria se descobrisse um defeito mui-
to grave de seus pais? Isso já lhe aconteceu? Como
você reagiu?
Lidar com os defeitos de nossos pais não é uma ta-
refa fácil, independente da nossa idade, e por isso acre-
dito que esse livro pode abençoar a sua vida.
Voltemos ao jovem Salomão, que apesar de toda
essa frustração, tomou uma decisão em sua vida: A
decisão de buscar “entendimento”. Ele começou a ver
os pontos positivos e negativos de seus pais, absorveu
as qualidades e deixou de lado os defeitos.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Ele sabia que apesar do passado, seus pais tinham


qualidades e essas qualidades ele queria imitar. Ao mes-
mo tempo, ele não tinha dúvidas que seus pais tinham
defeitos e esses defeitos ele não precisava repetir.
Podemos achar que Salomão agiu assim por inge-
nuidade, pois o certo mesmo era que ele se revoltasse.
Mas não! O próprio Deus disse no livro de II Reis que
Salomão era o homem mais sábio de sua época, “quiçá”
da humanidade. Portanto, o que Salomão fez, as atitu-
des que ele tomou, mesmo sabendo das falhas do pai,
não foram por acaso. Foram por sabedoria.
É dessa sabedoria que precisamos aprender!

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CAPÍTULO 7
Luke, eu sou seu pai

Luke, eu sou seu pai. Essa frase ficou mundialmen-


te conhecida através das telas do cinema. A saga Star
Wars, que reúne multidão de fãs em todo o planeta,
pode ser explicada de diversos aspectos, dentre eles,
como uma história de pais e filhos.
A saga dividida em duas trilogias gira em torno da
história de um pai (I, II, III) e um filho (IV, V, VI). O
pai chamava-se Anakin Skywalker, e trata-se de um
dos personagens mais profundos da história do cine-
ma. Filho de uma escrava, sonhador, ambicioso e alta-
mente habilidoso. Sonhava com um futuro diferente.
A princípio, sua maior ambição era tornar-se um guer-
reiro Jedi e libertar seu povo, mas sua relação com o
poder foi escavando sentimentos outrora escondidos
em seu coração.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

A inquietação do jovem Anakin, ora com sua con-


dição, ora com suas limitações perante a finitude de
sua vida e das pessoas que ele amava, em especial sua
esposa Padmé, o fez render ao convite de “poder ilimi-
tado” ofertado pelo Chanceler Palpatine (o líder que o
filme chama de “lado negro” da Força).
Nas palavras de seu tutor, Obi-Wan, o jovem promis-
sor teria se tornado um ambicioso dominado pelo poder:

“Sua raiva e cobiça pelo poder já


fizeram isso! Permitiu que esse Lorde
Sombrio fizesse sua cabeça. Agora você
se tornou aquilo que jurou destruir.”
(Obi-Wan Kenobi – Star Wars III)

Sua desfiguração começou na alma e deveria ser pa-


rada por alguém. Essa missão recaiu sobre Obi-Wan,
que em uma batalha épica feriu Anakin e o lançou em
um lago de fogo que não o matou, mas atingiu quase a
totalidade de seu corpo.
O jovem promissor, que sonhou um dia ser liber-
tador, estava agora abandonado em meio às chamas,
dominado por ódio e amargura. Seu resgate foi pro-
videnciado pelo Chanceler, que o transformou em um
homem-máquina, única maneira de manter sua sobre-
vivência, mas que lhe custou a liberdade: Anakin volta-
ria a ser escravo.
A segunda trilogia da saga Star Wars conta-nos a
história de Luke Skywalker, um menino órfão, que cres-
ceu separado de sua irmã gêmea e dedicou sua vida

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Como lidar com o erro dos nossos pais

em seu treinamento para tornar-se um guerreiro Jedi.


Seus princípios e valores foram anti-imperialistas, onde
mais tarde encontrou-se com Darth Vader, o homem
máquina, cuja identidade era desconhecida, mas sua
maldade não. No tal encontro, uma das revelações mais
chocantes para aqueles que gostam de filmes de ficção:
“Luke, eu sou seu pai.”
A trama seguiu com a crença por parte de Luke que
seu pai, apesar de ser agora o Darth Vader, não era
totalmente dominado pelo mal. A redenção do pai se
daria pela crença do filho de que ainda havia o bem por
debaixo de uma armadura negra.
E assim aconteceu. Anakin, em seu último ato, le-
vantou-se contra o Chanceler para evitar a morte de
seu filho, ato heroico que custou sua própria vida, mas
lhe coroou a redenção.
O choque de Absalão, o trauma de Salomão, a des-
coberta de Luke. A história bíblica, a vida contemporâ-
nea e a ficção estão cheias de episódios de revelações
estarrecedoras. Encontros dolorosos com a história e
o passado. Retrovisores com imagens traumatizantes.
Mas, acima de tudo, histórias de redenção.
O passado não pode ser desfeito, mas pode ser re-
dimido. Pessoas aprendem com sua história e filhos
aprendem com a história de seus pais. Sejam eles os
heróis, os bandidos, ou os vilões redimidos.

43
CAPÍTULO 8
Herói e bandido

O cantor brasileiro Fábio Correa Ayrosa Galvão, mais co-


nhecido como Fábio Jr, lançou uma música chamada “Pai”
que ficou amplamente conhecida no país, sendo sempre
trazida à tona nos momentos de homenagens aos pais.
Um dos versos que mais me chama a atenção é o da oitava
estrofe que diz: “Pai, você foi meu herói, meu bandido”.
Confesso que quando criança ouvir esse verso me
deixava cheio de dúvidas. Seria um xingamento ao seu
pai? Como pode uma música assim ser considerada
boa? Um bandido no imaginário infantil é um homem
encapuzado, com roupa listrada e uma arma na mão
assaltando a um banco. Como poderia comparar meu
pai com algo assim?
Meu contato mais marcante com essa canção foi
durante uma noite de natal, na casa de meus avós pa-

45
Como lidar com o erro dos nossos pais

ternos, onde vi meu pai passar a madrugada inteira


cantando essa canção no Karaokê como uma oração.

Meu pai teve uma relação conturbada


com meu avô. Sua adolescência foi
marcada por conflitos, ao ponto dele sair
de sua casa, no Amapá, e ser enviado
para um colégio interno, em São Paulo.
Do colégio interno ele decidiu ir para a
rua e começar sua vida de independência
longe de seus pais. Sua relação só foi
reestabelecida anos depois, quando meu
pai já havia saído da faculdade.

Hoje consigo entender perfeitamente esse verso.


Nossos pais são nossos heróis, são nossos espelhos,
pessoas que queremos ser quando crescermos, mas,
como uma força da natureza humana, em algum mo-
mento de nossas vidas, algo que há neles conflita pro-
fundamente com algo que há em nós. Um jeito de ser
deles incomoda profundamente um jeito de ser que
está sendo formado em nós. Talvez o jeito de comer,
falar, conversar e viver deles possa incomodar profun-
damente o jeito de comer, falar, conversar e viver que
há em nós!
Quando crescemos e passamos a observar nossos
pais, a forma como eles tratam os outros, seus negó-
cios, seu casamento, suas escolhas, podemos levar um
choque de frustração, ao vermos nossos heróis sendo
deformados em nosso imaginário ao enganar alguém
em um negócio, a não pagar uma conta, a tratar mal o

46
Como lidar com o erro dos nossos pais

cônjuge, a enveredar pelo caminho de algum vício, ao


agir com violência.

O nosso herói então vira bandido!


Bandido porque na sua visão, de uma hora para ou-
tra, ele rouba a sua privacidade, a sua liberdade, o seu
tempo. Ele (a) invade o seu quarto, te acorda de for-
ma brusca, mexe nas suas coisas, manda você fazer
centenas de tarefas. Bandido porque rouba a imagem
cristalizada que você tinha dele ou dela.
Ele não é mais aquele herói que você idealizou e isso
te machuca profundamente, pois você cresceu com a
ideia de que eles, pais, são perfeitos. Seu desejo era
amarrar o terno do seu pai ou a roupa da sua mãe ao
pescoço e sair voando com a capa deles!
Mas você cresceu e viu que não era bem assim, e
começou a brigar para não ser, por condicionamento,
aquilo que você viu. Começou a brigar consigo mes-
mo para não ser nem de perto aquilo que você assistiu
presencialmente todos os dias. Mas na verdade, o que
te incomoda é a idealização que você fez de que eles
seriam perfeitos!
Você apenas caiu na real e viu que eles são gente.
São pessoas, são de carne e osso. São da Terra e não de
Krypton. De uma hora para outra, nosso Homem Aranha,
que sempre se virou para nos salvar, que jogava suas
teias de proteção, que cuidava de nós e da nossa família,
esse homem veste uma roupa preta e transforma-se em
Venom, começando a ser aquilo que passamos a odiar.

47
Como lidar com o erro dos nossos pais

Particularmente, já vivi esse momento!! Mas, uma


coisa é certa: A mensagem de Deus para nós filhos é
honrar! Não importa a percepção que tenhamos, ela
nunca é plena. Pode ser apenas uma forma de ver a
situação, mas como filhos não vemos toda a verdade.
Além disso, vale lembrar o que Deus disse a Caim quan-
do passou a odiar alguém da sua família:

“O pecado jaz à porta, e sobre ti será o


seu desejo, mas sobre ele deves domi-
nar.” (Gênesis 4:7)

48
CAPÍTULO 9
Mais forte que o mundo

O filme brasileiro “Mais forte que o Mundo” nos con-


ta a história do lutador brasileiro José Aldo de Oliveira
da Silva Júnior. Nascido em Manaus, de família humilde,
o longa retrata a caminhada de José Aldo, o “Scarface”,
de sua infância até tornar-se o dono do cinturão do
UFC em sua categoria, chegando a ficar invicto por dez
anos.
A história retrata com maestria a vida de uma família
marcada pelo alcoolismo, violência familiar e pobreza.
O chefe da família dominado pela bebida não tinha au-
tocontrole, a mãe resignada aguentava a violência por
amor à família, e os filhos ficavam perdidos no meio de
toda essa confusão.
Após anos e anos nesse ciclo vicioso, a mãe de José
Aldo decidiu sair de casa, pedindo o divórcio, e nesse

49
Como lidar com o erro dos nossos pais

momento o jovem Júnior sentiu-se encorajado, inclu-


sive pelo pai, a ir embora de Manaus e tentar a vida
como lutador no Rio de Janeiro. O filme foi se desen-
volvendo em uma trama psicológica onde, ao mesmo
tempo, José Aldo tem que lutar contra seus adversários
no ringue, suas dificuldades financeiras, e ainda contra
seus adversários internos. Ele precisava se resolver com
seu passado e sua história.
De maneira interessante, mesmo com todos os de-
feitos de seu pai, era sempre ele que aparecia em sua
mente, quando precisava tirar força de onde não acha-
va mais existir. O lutador, em uma entrevista, chegou a
afirmar que seu pai era “seu maior incentivador”. Essa
frase me levou a pensar: “Como seria isso possível,
sendo o pai dele um alcoólatra que batia na esposa?”
Lógico! José Aldo tinha aprendido como lidar com os
erros de seu pai.
Sem dúvidas ele não fazia vista grossa aos defeitos,
mas tinha compreendido que não adiantava ficar preso
ao passado naquilo que ele não poderia mudar. Tinha
aprendido também que se ele ficasse aficionado pelos
erros do pai, teria grande chance de repetir. E aprendeu,
por fim, que o pai dele, por mais defeitos que tivesse,
tinha suas qualidades e o tinha legado ensinamentos,
como a história da Sucuri e do Boi:

“Tudo começa no rio... No rio. A sucuri


fica lá, calada, quietinha e, às vezes, a
bicha esta até três... quatro semanas
sem comer, mas ela não afoba. Aí o boi

50
Como lidar com o erro dos nossos pais

vem pra tomar água e a sucuri chega de


fininho, amarra ele, mas não aperta. E
o boi é forte... grandão... começa a deba-
ter e põe força, põe força... e a sucuri vai
aproveitando aquela força, apertando,
apertando... Usa a inteligência.” (Extra-
ído do filme “Mais forte que o Mundo”,
de Afonso Poyart)

Essa história seria marcante para a vida de José Aldo,


especialista em jiu-jítsu, que teria que aprender a usar
a força do adversário a seu favor. Mas a grande lição
que o filme da vida de José Aldo nos ensina é de que “o
grande lutador é aquele que luta consigo mesmo”.

51
CAPÍTULO 10
Salomão ou Absalão

“A escolha está em nossas mãos.”

Ao ler esse livro você verá que a escolha está


em suas mãos. A escolha de ser como Absalão, o
filho que viu os defeitos do pai, onde se revoltou e
entrou em rebelião, ou como Salomão, o filho que
viu os defeitos do pai e transformou tudo que viu
em sabedoria.
Tenho a convicção de que o caminho dessa leitura
para alguns não será fácil. Será um caminho de lem-
branças, dor, angústia, raiva de seu pai ou sua mãe,
mas peço desde já para que o Criador esteja ao seu
lado te ajudando nessa jornada de perdão.
Ao ler todo o livro de Provérbios, podemos ver a
admiração que Salomão tem por seu pai, Davi. Cheguei

53
Como lidar com o erro dos nossos pais

até a perguntar-me se isso não era fruto de ingenui-


dade, mas não, Salomão foi dito pelo próprio Deus: O
homem mais sábio que já existiu. Ele não admirava seu
pai por ingenuidade ou ignorância quanto ao seu pas-
sado, mas por princípios e por honra, ingredientes da
sabedoria!
Salomão encontrou-se com um pai adúltero e as-
sassino!
Absalão deparou-se com um pai omisso, fraco, que
via sua família se arruinar, mas nada fazia.
O que é a sabedoria de Salomão?
A sabedoria de Salomão era a percepção de que
ninguém começa pior do que os que lhe antecede-
ram. A sabedoria dele estava em captar as lições,
ainda que dos erros, entendendo que os erros são
lições ao contrário para nos economizar dor e so-
frimento.
Mas, você pode me dizer: Lucas, meu pai (minha
mãe) foi um fracasso. Se você pensa assim, você já
conseguiu discernir a diferença entre fracasso e suces-
so familiar. Você já identificou a diferença entre o que
ele foi e o que você deseja. Tem pessoas que passam
a vida toda e não discernem sequer a diferença que
você percebeu.
Tenho certeza que não apenas Davi, mas também
nossos pais cometem muitos erros. Talvez os mesmos
que Davi ou outros diferentes. É importante que, du-
rante a leitura desse livro, você consiga identificar erros
de seus familiares que você não gostaria de repetir.

54
Como lidar com o erro dos nossos pais

Salomão ouviu a sabedoria de seu pai e repassou.


Absalão ficou cego com os erros. Há uma escolha a
ser feita!

55
CAPÍTULO 11
Alguns erros que Davi cometeu

1. Davi era ocupado demais e não geria bem o seu


tempo.
2. Davi foi um pai omisso.
3. Davi se envolveu com uma mulher casada.

Davi era ocupado demais:


Davi, como rei de um reino unificado, tinha como
missão governar doze tribos, econômica-política-mili-
tarmente. Imagino a quantidade de trabalho que Davi
tinha para executar. No meio de tantos compromissos,
sua família não foi prioridade.
Essa falha de Davi fez com que ele fosse distante
de sua família e deixasse que a história de seus filhos
passasse ao largo. Ele, atarefado, ficou sabendo do que

57
Como lidar com o erro dos nossos pais

aconteceu com seus filhos e até irou-se, mas não prio-


rizou um tempo para tomar atitudes. Procrastinou em
uma área onde os erros podem ser fatais e foram. O
resultado de sua omissão: dois filhos mortos.

Davi foi um pai omisso:


Davi teve a oportunidade de repreender seu filho
Amnon, e assim salvar a vida dele, mas infelizmente
não o fez. Um crime terrível dentro de sua própria casa!
Um irmão estuprando a irmã e nenhuma repreensão
por parte do pai.
Já que o pai não tomou nenhuma atitude, um dos
filhos decidiu fazer justiça com as próprias mãos.

Davi se envolveu com uma mulher casada:


Davi ficou conhecido como o “homem segundo o co-
ração de Deus”, mas sempre haverá uma ressalva sobre
sua história: Ele se envolveu com uma mulher casada, e
pior, matou o marido dela.
Davi viveu um tempo de vergonha por causa de
seu erro. Ele estava desmoralizado diante de seu povo.
Como ele poderia falar de justiça? Como ele poderia
falar de ética? Como se livrar da profecia que declarava
a espada constantemente contra sua casa?
Davi levou um tempo para refletir sobre o que fez e
após cair em si, chorou e se arrependeu profundamen-
te. Arrependimento que foi aceito por Deus. Aquele que
vê o coração...

58
Como lidar com o erro dos nossos pais

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, por


teu amor; por tua grande compaixão
apaga as minhas transgressões. Lava-
-me de toda a minha culpa e purifica-me
do meu pecado. Pois eu mesmo reconhe-
ço as minhas transgressões, e o meu pe-
cado sempre me persegue.
Contra Ti, só contra Ti, pequei e fiz o que
Tu reprovas, de modo que justa é a Tua
sentença e tens razão em condenar-me.
Sei que sou pecador desde que nasci,
sim, desde que me concebeu minha mãe.
Sei que desejas a verdade no íntimo; e
no coração me ensinas a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei puro;
lava-me, e mais branco do que a neve
serei. Faze-me ouvir de novo júbilo e
alegria; e os ossos que esmagaste exul-
tarão. Esconde o rosto dos meus peca-
dos e apaga todas as minhas iniquida-
des. Cria em mim um coração puro, ó
Deus, e renova dentro de mim um espí-
rito estável.
Não me expulses da Tua presença,
nem tires de mim o Teu Santo Espírito.
Devolve-me a alegria da Tua salvação
e sustenta-me com um espírito pronto
a obedecer.
Então ensinarei os Teus caminhos aos
transgressores, para que os pecadores
se voltem para Ti. Livra-me da culpa

59
Como lidar com o erro dos nossos pais

dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da


minha salvação! E a minha língua acla-
mará à Tua justiça.
Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a
minha boca anunciará o Teu louvor. Não
te deleitas em sacrifícios nem te agradas
em holocaustos, se não eu os traria.
Os sacrifícios que agradam a Deus são
um espírito quebrantado; um coração
quebrantado e contrito, ó Deus, não
desprezarás. Por Tua boa vontade faze
Sião prosperar; ergue os muros de Je-
rusalém. Então te agradarás dos sacri-
fícios sinceros, das ofertas queimadas
e dos holocaustos; e novilhos serão
oferecidos sobre o Teu altar.” (Salmos
51:1-19 – NVI)

60
CAPÍTULO 12
As qualidades de Davi

“Porque aprendi com meu pai...”

Depois de tudo que lemos sobre Davi poderíamos


facilmente pensar que ele não tem qualidade alguma.
Na verdade, temos uma grande tendência a maximizar
os defeitos de tal forma que esquecemos até que as
pessoas têm também qualidades.
É muito fácil pensarmos isso de nossos pais. Devido
à proximidade, os defeitos deles ficam bem expostos e
latentes e a chance de acharmos que eles são apenas
grandes máquinas de erros é enorme. Lidar com os er-
ros de nossos pais também passa por compreender que
eles não são apenas compostos de erros.

61
Como lidar com o erro dos nossos pais

Eles têm qualidades!


Pode ser que no momento de nossa frustração ou
irritação não consigamos ver isso. Estamos cegos pela
tristeza, pelo rancor ou decepção.
Quando comecei a palestrar sobre o tema, minha
fala estava voltada apenas para mostrar os erros de
Davi e como cada filho lidou. Até que um dia, em uma
das reuniões, uma pessoa me perguntou por que eu
também não abordava as qualidades de Davi. Fiquei
pensando por uns dias e pude ver o quanto é ruim ter
uma visão que foca mais nos defeitos de alguém do que
nas qualidades.
Salomão conseguiu separar bem isso. A sabedoria
consiste exatamente em saber discernir. O conceito
de discernir é fundamental para qualquer pessoa.
Saber diferenciar lugares, comportamentos, pessoas.
Colocar cada coisa em seu lugar, retribuir ou atribuir
valor conforme é devido a cada um. Os dicionários
trazem muitas definições para a palavra “discernir”.
Vejamos algumas:

Significado de Discernir: 1 Distinguir. 2 Estabelecer


conveniente diferença (entre coisas ou pessoas). 3 Dis-
criminar. 4 Conhecer. 5 Julgar. 6 Apreciar. 7 Medir. 8
Avaliar bem. 9 Faculdade de discernir. 10 Critério. 11
Juízo. 12 Escolha. 13 Distinção. 14 Apreciação.

Eu não sei como é sua relação com seus pais, mas


realmente espero que esse livro te ajude a lidar com

62
Como lidar com o erro dos nossos pais

eles e um passo fundamental para isso, como disse, é


a percepção de que eles têm qualidades. Muitos filhos
ficam obcecados nos defeitos dos pais e falam desses
defeitos o tempo todo. Em qualquer oportunidade que
tem, trazem à tona os defeitos e aquilo que gostariam
de ver diferente. Ficar pensando dessa forma o tempo
todo é extremamente prejudicial, nos machuca ainda
mais e nos corrói por dentro.
Sou filho de pastor e como já relatei no livro, por al-
gumas vezes, já tive minhas crises com relação ao meu
pai. Em alguns momentos fiquei obcecado por seus de-
feitos. Contudo, tinham alguns momentos em que eu
era desintoxicado desses pensamentos. Com certa fre-
quência ouvia pessoas relatando o quanto admiravam
meu pai e o quanto ele tinha de qualidades, e a maneira
como ajudava aos outros. Esses momentos eram como
tanques de oxigênio para um filho que estava perdendo
o fôlego em um mergulho perigoso.
Voltando nosso olhar para Davi, veremos que ele
teve inúmeras qualidades.

“Conheço um filho de Jessé, o belemita,


que sabe tocar, é forte e valente,
homem de guerra, sisudo em palavras
e de boa aparência, e o Senhor é com
ele.” (I Samuel 16:18)

1. Sabe tocar:
Em algumas versões o texto diz “toca bem”. Isso
demonstra excelência e nos revela que Davi fazia bem

63
Como lidar com o erro dos nossos pais

aquilo que lhe era proposto. Não à toa ele foi convidado
para tocar diante do rei.
De uma forma muito interessante, Salomão deixou
claro que percebeu essa qualidade de seu pai, trans-
formando o exemplo que viu em um conselho para
seus leitores:

“Vês  um  homem  hábil na sua obra?


Esse perante reis assistirá.” (Provérbios
22:29)

2. Forte e valente (homem de guerra):


O texto mostra a força de Davi como uma qualidade.
Além de um exímio tocador de harpa, também sabia
usar a força quando necessário.
Sem dúvidas nossos pais são fortes. À medida que
você conhecer a história deles, conseguirá ver o quan-
to eles são fortes por terem enfrentado tudo o que
enfrentaram.
Lembre-se do primeiro conselho que foi dado: “Co-
nheça a história dos seus pais”. Sem dúvida, depois dis-
so, você começará a exaltar a força deles.

3. Sisudo em palavras:
Essa qualidade mostrava que Davi sabia falar o ne-
cessário na hora certa. Uma das coisas que Salomão
mais ensinou no livro de Provérbios é acerca do falar
ponderado. Seu pai, Davi, era um bom exemplo de
quem sabia o que falar e a forma como falar.

64
Como lidar com o erro dos nossos pais

4. Boa aparência:
Não imagino que essa qualidade se refira apenas
à questão física ou roupas de qualidade, mas à pre-
sença de Davi. Ele passava segurança e credibilidade
aos que lhe viam. Sua aparência já era real, antes
mesmo dele se tornar rei. Sua linguagem corporal já
era de vencedor.

5. O Senhor era com ele:


A principal característica de Davi era ser “segundo
o coração de Deus”. Ele adorava ao Senhor e o Senhor
era com ele.
Há também um livro na Bíblia que reflete muitos
pensamentos de Davi, chama-se livro de “Salmos”.
Outra qualidade de Davi que me chama muita aten-
ção é a LEALDADE para com seus superiores.
Aconselho você a dar uma lida na história de Davi
e ver que ele teve, por diversas vezes, a oportunidade
de tomar o reinado de Saul. Entretanto, em momento
algum, ousou afrontar ao seu rei, autoridade constitu-
ída por Deus naquele momento, até que Ele dissesse
o contrário.
Defeitos de Davi? Claro que Salomão os conhe-
cia. Mas ele não podia fazer nada a respeito. Ele
não podia intoxicar-se remoendo as falhas de seu
progenitor. A escolha que ele faz é uma lição para
todos nós:

65
Como lidar com o erro dos nossos pais

Aprender com os erros e exaltar as qualidades!


Salomão sabia que seu pai tinha sido excelente no
que desempenhava. Acredito que todos nós precisamos
fazer isso e quero te encorajar a fazer isso nesse mo-
mento. Pegue uma folha de papel e escreva as qualida-
des de seu pai ou de sua mãe.
Não deixe os defeitos lhe asfixiar. Exalte as qualida-
des. Esse é um passo fundamental para que você não
repita os mesmos erros, como veremos mais a frente.
Nessa sua lista, veja tudo aquilo que seus pais fazem
com excelência e todas as suas qualidades. Exalte
cada uma dessas qualidades e diga para você mesmo
que quer aprender com os erros, mas quer imitar as
boas qualidades.
Acredite em mim, isso com certeza irá lhe ajudar.

66
CAPÍTULO 13
“Luiz, respeita os oito baixo do
teu pai!”

“A humildade dos filhos para com a


história e limitações dos seus pais.”

Luiz Gonzaga, filho de Januário, ficou conhecido na-


cionalmente como o “rei do Baião”. Seu pai, Januário,
trabalhava na roça, mas nas horas vagas gostava de
tocar o acordeão. Foi com seu pai que Luiz aprendeu
a tocar, e sua carreira começou ainda moço, acompa-
nhando seu velho em eventos.
Ao apaixonar-se por uma jovem, filha de um coronel
na sua cidade natal no interior de Pernambuco, Gonzaga
teve que fugir e a vida o levou por diversos caminhos
até tornar-se mundialmente conhecido.

67
Como lidar com o erro dos nossos pais

Conta uma canção do próprio Gonzaga, que um dia,


ao retornar à sua cidade natal, já depois da fama, e
encontrar-se com seu pai, mostrou-se gaboso pelos seus
feitos e conquistas e pela qualidade de seu instrumento
musical. No meio de sua “prosa”, Luiz foi interrompido
por um ancião, o velho Jacó, com a voz da sabedoria,
relembrando ao agora famoso cantor a sua história e
suas raízes. Relembrando a ele a mão calejada do pai e
quem o tinha ensinado seus primeiros acordes.
O gostoso ensinamento da canção é retrata na mú-
sica “Respeita Januário”, a seguir:

Quando eu voltei lá no sertão


Eu quis zombar de Januário
Com meu fole prateado
Só de baixo, cento e vinte, botão preto
bem juntinho
Como nêgo empareado
Mas antes de fazer bonito de passagem
por Granito
Foram logo me dizendo:
“De Taboca à Rancharia, de Salgueiro à
Bodocó, Januário é o maior!”

E foi aí que me falou meio zangado o véi


Jacó:
Luiz, respeita Januário
Luiz, respeita Januário
Luiz, tu pode ser famoso, mas teu pai é
mais tinhoso
E com ele ninguém vai, Luiz

68
Como lidar com o erro dos nossos pais

Respeita os oito baixo do teu pai!


Respeita os oito baixo do teu pai!

(...)

Sabe de uma coisa? Luiz tá com muito


cartaz!
É um cartaz da peste!
Mas ele precisa respeitar os oito baixos
do pai dele
E é por isso que eu canto assim!

“Luí” respeita Januário


“Luí”, tu pode ser famoso, mas teu pai é
mais tinhoso
Nem com ele ninguém vai, “Luí”
Respeita os oito baixo do teu pai!

As chances de superarmos nossos pais são gran-


des, afinal, temos tudo pra isso. Temos à nossa dis-
posição tecnologia, conhecimento e recursos que eles
não tiveram.
Essa condição potencial vai requerer de nós humil-
dade para compreender que, mesmo superando-os, a
história deles e tudo que eles construíram, inclusive
para nós, não pode ser desprezado.
A história bem-humorada da canção, que eu acon-
selho que você ouça, é uma forma de sempre nos lem-
brarmos, por mais que alcancemos sucesso inédito em
nossas famílias, que devemos respeitar a caminhada de
nossos Januários.

69
CAPÍTULO 14
Está estreito!

A Bíblia relata no livro de II Reis uma história bem


interessante sobre conflito de gerações.

“Em outra ocasião, os discípulos dos


profetas sugeriram a Eliseu: Como
vês, o lugar em que moramos, perto
de ti, tornou-se pequeno demais para
nós.  Vamos até o Jordão e ali cada
um de nós cortará um tronco a fim de
podermos construir ali mesmo um
local para reuniões. E Eliseu aquiesceu
dizendo: Ide! Então um deles o
convidou: Queiras vir com teus servos!
E ele respondeu: Irei! Assim foi com
eles. Chegando ao Jordão, puseram-se
a derrubar árvores. Entretanto, quando

71
Como lidar com o erro dos nossos pais

um deles estava cortando um tronco, o


ferro do machado caiu nas águas do rio.
E ele imediatamente gritou: Ah! Meu
senhor! Este machado fora tomado de
empréstimo.  Ao que o homem de Deus
indagou: Onde caiu o machado? E,
imediatamente, outro servo lhe apontou
o lugar. Então Eliseu cortou um galho e
o jogou na direção indicada, fazendo o
ferro do machado subir a tona e flutuar
sobre as águas.  Então disse ao servo:
Pega-o! Ele estendeu o braço e tomou o
machado nas mãos.” (II Reis 6:1-7)

Como é possível observar, os filhos dos profetas (ge-


ração mais jovem) chegaram a Eliseu e disseram: “Eli-
seu, está estreito. Está apertado. Queremos espaço.”
Essa fala é muito comum entre adolescentes e jovens
que sentem o ar rarefeito quando estão no convívio
familiar ou intergeracional.
Sem nenhuma cerimônia, muito menos melindre,
Eliseu virou para os jovens claustrofóbicos e disse:
“Vão”. Naquele momento uma luz de sabedoria brilhou
na mente de um deles que fez um singelo convite: “Por
favor, nos acompanhe”. Mal ele sabia que estava fazen-
do um convite salvador!
Em um dado momento, durante a construção de
suas novas casas, o machado usado por um dos jo-
vens caiu na água. A reação que o jovem teve foi mui-
to familiar e de fácil identificação: “Senhor, o machado
era emprestado!”

72
Como lidar com o erro dos nossos pais

Quem nunca teve um imprevisto com algo empres-


tado de alguém?
Nesse momento de desespero, que além de inter-
romper a obra, ainda geraria prejuízo financeiro, aquele
convidado, Eliseu, perguntou: “Onde caiu o machado?”
Como podemos ver no texto bíblico, através da ação
de Deus na vida de Eliseu, o machado flutuou, foi recu-
perado e a obra recomeçou.
Quem dera se todas as vezes que o machado caísse
de nossas mãos, nós tivéssemos alguém para fazê-lo
flutuar. O que aprendemos com essa história? Aprende-
mos diversas coisas, dentre elas que:

“É comum, com o passar do tempo, o


sentimento de que os ambientes já não
nos comportam mais.”

Muitos adolescentes vivem isso. Jovens também. À


medida que vamos crescendo é comum bater em nós
o sentimento de que a casa dos nossos pais já não nos
comporta mais. É comum achar o ar rarefeito. É comum
sentir-se em um local estreito, contudo... Há uma coisa
que não podemos abrir mão!
O convite que foi feito a Eliseu foi um convite sal-
vador. Mas, além disso, aquele convite foi, na verdade,
uma ação de humildade em um momento de transição
geracional. Em outras palavras, ao convidar Eliseu, o
jovem estava dizendo: “De fato aqui está apertado para
nós. Precisamos habitar e construir nossas casas em

73
Como lidar com o erro dos nossos pais

outro local, mas não podemos abrir mão da sua sabe-


doria e do que Deus faz através de você”.
A segunda lição que aprendemos é que:

“Quando o machado cai... É a experiên-


cia da geração anterior que pode nos
ajudar.”

Confesso que quando casei estava com um senti-


mento muito parecido com o dos jovens profetas do
texto bíblico. Estava na faculdade, trabalhando, tinha
meus hábitos e costumes diferentes da minha família, e
já encontrava na casa de meu pai um ambiente estreito.
Mas, lembro-me nitidamente as ligações que fiz para
meu pai nesses poucos anos de casamento e disse a
senha: “O Machado caiu”.
Nesses momentos não há como se auto socorrer.
Mas há uma enorme graça dispensada nas gerações
anteriores para nos ajudarem, com sua sabedoria e ex-
periência acumulada, a fazer o machado flutuar.
O meu desejo nesse livro é que você, filho, sinta-se
identificado com esses sentimentos. É natural sentir o que
você sente. Mas você não é refém de sentimentos. Seus
sentimentos não podem suplantar sua capacidade de
aprendizado, sua busca por sabedoria e sua humildade.
Quando o sentimento de “estreitidão” bater, lem-
bre-se que é normal, mas de que não é possível ca-
minhar sem a experiência de quem Deus colocou para
te abençoar.

74
Como lidar com o erro dos nossos pais

Esse exemplo que lemos pode ser aplicado para


além das relações pais e filhos, mas também para o am-
biente profissional e religioso. Constantemente somos
tentados a deixar o lugar que estamos e seguir carreira
solo. Em alguns momentos tal decisão é a certa a ser
tomada, em outras é uma grande furada. Para todos
os efeitos, identifique quem são as pessoas que Deus
colocou no seu caminho para que, ao cair o machado
na água, você possa acioná-las.

Abismo de gerações (João Alexandre)

Eu tenho a leve impressão


De que as coisas um dia vão melhorar
Porque do jeito que estão
Não suporto não podem continuar

Quando ele é “sim” eu sou “não”


Se ele é “certeza” eu “sei lá”
E entre nós se abrindo o abismo vai
Das gerações

Já não consigo entender


Esse jeito esquisito de conversar
“Eu tô legal pode crer
Dá um tempo que a vida inda vai rolar”

Sou Fluminense ele é “Flá”


Se eu sou conversa ele é “plá”
E entre nós se abrindo o abismo vai
Das gerações

75
Como lidar com o erro dos nossos pais

Por isso Deus tem que ser pra nós


Ponto de encontro uma mesma voz
Que nos converte um ao outro e nos traz
a paz
Por isso Deus tem que ser pra nós
Ponto de encontro uma mesma voz
Que nos converte um ao outro e nos traz
a paz

Abismos nunca mais...

76
CAPÍTULO 15
Salomão expressa sua sabedoria
no livro de Provérbios

“Aprendendo com os erros de meu pai.”

Ao estudar a história conturbada da família de Sa-


lomão, chego a pensar que os seus provérbios podem
ser lidos nas entrelinhas como um romance sobre sua
família. Cada palavra de sabedoria nos fala, escondida-
mente, de algum caso que sua família viveu. Nos alerta
para seus erros e nos previne de repeti-los. Salomão
alcançou sabedoria porque refletiu sobre os erros de
seus pais. Observou os caminhos e decidiu tirar lições
de tudo que viu e ouviu.
O livro de Provérbios é, portanto, nas suas entrelinhas,
um romance onde Salomão conta a história de sua família
e as lições que, quem sabe até dolorosamente, ele tirou

77
Como lidar com o erro dos nossos pais

dela. Além disso, o livro de Provérbios é a luta de visões,


de seu pai herói, que ele muito exaltou, contra seu pai
bandido, expresso naquilo que não devemos fazer.
Essa é a nossa luta! É ver os erros de nossa família
e escolher: Eu vou ser aquele filho como Cão, que viu
seu pai bêbado, levantou a roupa dele e mostrou sua
nudez: “Vejam aqui os defeitos de meu pai”. Ou se se-
remos um filho como Salomão: “Meu pai tem defeitos,
mas aprendi tanto com ele, que os defeitos dele me
ensinaram a ser um homem sábio!”

DAVI FOI MUITO OCUPADO

SALOMÃO DESCOBRIU QUE HÁ TEMPO PARA


TUDO QUE É PROPÓSITO (PRIORIDADES)

“Tudo tem o seu tempo determinado, e


há tempo para todo o propósito debaixo
do céu. Há tempo de nascer, e tempo
de morrer; tempo de plantar, e tempo
de arrancar o que se plantou. Tempo
de matar, e tempo de curar; tempo de
derrubar, e tempo de edificar. Tempo
de chorar, e tempo de rir; tempo de
prantear, e tempo de dançar. Tempo de
espalhar pedras, e tempo de ajuntar
pedras; tempo de abraçar, e tempo de
afastar-se de abraçar. Tempo de buscar,
e tempo de perder; tempo de guardar, e
tempo de lançar fora. Tempo de rasgar, e

78
Como lidar com o erro dos nossos pais

tempo de coser; tempo de estar calado, e


tempo de falar. Tempo de amar, e tempo
de odiar; tempo de guerra, e tempo de
paz. Que proveito tem o trabalhador
naquilo em que trabalha? Tenho visto
o trabalho que Deus deu aos filhos dos
homens, para com ele os exercitar. Tudo
fez formoso em seu tempo; também pôs
o mundo no coração do homem, sem
que este possa descobrir a obra que
Deus fez desde o princípio até ao fim.”
(Eclesiastes 3:1-11)

Nos dias de hoje ouvimos muito sobre a falta de


tempo, mas como o próprio Salomão nos disse: “Não
há nada novo”. Na sua época, o homem mais sábio do
mundo já ouvia a falta de tempo como uma desculpa
para a não realização de atividades importantes. Salo-
mão não se rendeu à desculpa que os homens de sua
época já davam.
No livro de Eclesiastes, também escrito por Salomão,
o autor deixou claro uma verdade: Há tempo para tudo.
Falta de tempo não pode ser desculpa para deixarmos
de fazer nada, principalmente familiarmente. Há e deve
haver tempo para tudo.
Salomão descobriu que há tempo. Há um dom
dado por Deus a todos os homens: 24 horas. E com-
pete a cada um de nós “despertar esse dom”. Remir
o tempo como diria o apóstolo Paulo, anos depois de
Salomão.

79
Como lidar com o erro dos nossos pais

Contudo, Salomão fez um adendo: Há tempo para


todo propósito. Propósito neste texto nos passa a ideia
de prioridade, organização, planejamento. Se for pro-
pósito, se for importante, se for digno, encontraremos
tempo para fazer. Há tempo para todo propósito!
Precisamos aprender a organizar nosso tempo. Um
tempo desorganizado pode frustrar as pessoas que es-
tão ao nosso redor. Se tivermos nosso tempo desorga-
nizado poderemos frustrar nossa família, nossos cônju-
ges, nossos amigos e nosso corpo ministerial. Seremos
sempre aquelas pessoas dando a desculpa da falta de
tempo, enquanto que há milhares de anos atrás Salo-
mão já disse: Se for prioridade (propósito), há tempo!
Às vezes lemos esse ensinamento de forma fria,
como se Salomão fosse aquele homem velho, barbudo,
dando lições de moral para todos, e esquecemos que
esse livro foi escrito por um sábio, mas humano!
Esse texto mostra claramente a luta interna de Sa-
lomão lutando contra o bandido que ele presenciou,
onde por falta de prioridades em sua administração do
tempo, teve sua família arruinada. Mas, principalmente,
deixando vencer o coração sábio que tira ensinamento
de tudo na vida.

DAVI FOI OMISSO

SALOMÃO DESCOBRIU QUE: FILHOS DEVEM SER


CORRIGIDOS.

80
Como lidar com o erro dos nossos pais

Em Provérbios 13:24 Salomão disse:

“O que não faz uso da vara odeia seu


filho, mas o que o ama, desde cedo o
castiga.”

Ele sabia que seu pai tinha sido omisso. Ele sabia
que seu pai deveria ter corrigido a Amnon, quando es-
tuprou sua irmã, Tamar. Mas seu pai não o fez!
Ele sabia que se Davi tivesse corrigido a seu ir-
mão, ele não teria morrido, muito menos Absalão te-
ria se revoltado.
Ele sabia e imagino que se contorcia por esse des-
leixo de Davi, mas ele era incapaz de desonrar seu pai!
Não era ele o escolhido por Deus para ensinar ao seu
genitor os ensinamentos, pois parte dessa missão foi
dada ao profeta Natã e à própria vida. Cabia, portan-
to, a Salomão apenas o processamento dos erros e a
transformação em sabedoria, e mais que isso: Sabedo-
ria compartilhada! Esses e tantos outros ensinamentos
que podemos observar no livro de Provérbios.
Davi ensinou, seja na teoria ou na prática. Seja com
exemplo positivo ou negativo. Não importa a maneira,
Salomão foi capaz em compreender a lição e transfor-
mar em sabedoria.

81
CAPÍTULO 16
Como nossos pais

Escrito por Belchior na interpretação de Elis Regi-


na, a canção “Como os nossos pais” ficou imortaliza-
da na história da Música Popular Brasileira. A música
retrata a história de alguém que, aparentemente, no
passado, participou de algum movimento de revolu-
ção, mudanças e transformação, sofrendo violência
e perseguição. Com o tempo alguns foram sofrendo
por essa causa:

Por isso cuidado, meu bem


Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens

83
Como lidar com o erro dos nossos pais

Enquanto que outros foram desistindo da luta, aco-


modando-se e até mesmo mudando de lado.
A música de Belchior demonstra a decepção de um
jovem, agora adulto, contra sua própria geração, ao
perceber que mesmo com todos os esforços, o sistema
continuava o mesmo:

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

E o pior, muitos jovens tinham vendido suas convicções:

Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando o vil metal

O autor da música está decepcionado e a decepção


dele tem fundamento.
Temos uma grande facilidade de mesmo perceben-
do os erros de nossos pais, cometermos as mesmas
práticas. Acredite, isso é mais comum do que você
imagina. Identificar os erros de nossos pais é apenas

84
Como lidar com o erro dos nossos pais

o começo, mas não é a garantia de que faremos dife-


rente. Para fazer diferente é preciso reeditar conceitos
em nossa mente.
Vamos abordar mais adiante a chance de repetirmos
atitudes dos nossos pais, inclusive aquelas que nos in-
comodam bastante.

“Minha dor é perceber


Que apesar de termos feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais.”

85
PARTE II

Mas afinal...
Como lidar com os erros de
nossos pais?
Aprendendo o método
do filho sábio

Chegamos a uma parte muito especial desse li-


vro. Depois de tudo que você já leu, muito prova-
velmente, você já saiba quais são os erros de sua
família e os defeitos que você gostaria de evitar.
Mas de forma prática, como isso pode ser feito?
Nos próximos capítulos vou trazer alguns ensi-
namentos práticos para que você consiga não ape-
nas lidar com os erros das gerações anteriores, mas
aprender com eles e ter um futuro de êxito. A isso
eu chamei de Método do Filho Sábio, que na verda-
de é muito mais uma percepção do que a Bíblia nos
ensina do que uma criação contemporânea.
Prepare-se, pois você receberá ferramentas im-
portantes para construir um novo futuro!

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho


a vosso respeito, diz o Senhor, pensamentos de
paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.”
(Jeremias 29:11)

89
CAPÍTULO 17
Reeditando os conceitos em sua
mente

Porque é tão difícil de mudar os comportamentos


que identifico como danosos? Olhando para a história
de Salomão, páginas atrás, parece muito fácil identifi-
car os erros de nossos pais e fazer diferente, mas na
prática não é, pois requer muito esforço e dedicação de
nossa parte.
Entenda uma coisa: Nosso cérebro é programado
para reagir nas mais diferentes situações. Essa progra-
mação geralmente é feita quando somos crianças, atra-
vés daquilo que vemos e ouvimos dos nossos pais ou
das pessoas que nos criaram.
Os doutores Teresa Aubele, Doug Freeman, Lee
Hausner e Susan Reynolds dedicaram suas vidas es-

91
Como lidar com o erro dos nossos pais

tudando o funcionamento do cérebro e a lógica da


tomada de decisões. Uma grande parte de seu tra-
balho pode ser acompanhada no livro “How to train
your brain to get rich”, lançado no Brasil com o título
“Mentes Milionárias”, onde os autores abordam o pa-
drão de comportamento do cérebro na tomada de de-
cisões financeiras, mas cujo princípio serve para todas
as áreas de nossas vidas.
Temos uma grande tendência a repetir aquilo que
vimos e ouvimos!
Você já observou como em determinadas famílias
vemos erros acontecendo sucessivamente, de geração
para geração? Não é raro ver casos onde o pai foi alcoó-
latra e o filho enveredou pelo mesmo caminho, ou onde
o pai (mãe) era atolado em dívidas e os filhos cresce-
ram compulsivos, ou casos de traição/divórcio que se
repetem em todas as gerações da família.
Em grande parte desses casos a sucessão de erros
ocorre pelo fato da capacidade que nosso cérebro tem
de repetir aquilo que aprendemos, e se não tomarmos
cuidado, de forma idêntica, seja para o certo ou para
o errado.
Muitos jovens de minha igreja me perguntam so-
bre maldição hereditária ou “espíritos familiares”, um
tema que não pretendo abordar nesse livro, apesar
de crer que em alguns casos os comportamentos re-
almente podem ser influenciados por espíritos que
atormentam a vida das pessoas. Se acredito na Bí-
blia, também acredito na ação de demônios, orques-

92
Como lidar com o erro dos nossos pais

trados por Lúcifer, com o objetivo de matar, roubar e


destruir (João 10:10).
Contudo, creio que na maioria dos casos, mais do
que maldições hereditárias, as famílias vivem um pro-
cesso de “condicionamento mental”. Os filhos assistem
seus pais (heróis) agindo de uma determinada maneira,
sem dúvidas, ao crescerem, a menos que haja uma re-
programação, os filhos vão agir da mesma forma.

Quais são os principais erros de seus pais?


Relacionamento familiar?
Vícios?
Administração financeira?
Adultério?
Divórcio?

Quais erros constantes marcam a sua família?


Não é raro ouvirmos jovens chegarem aos aconse-
lhamentos e dizerem:
- Na minha família todos são viciados em álcool.
- Na minha família, desde meu tataravô, todos se
divorciaram.

E, às vezes, por mais que a pessoa não queira, sem


ao menos se dar conta está indo pelo mesmo caminho.
Podemos expulsar todos os espíritos imundos e fazer
inúmeros programas de libertação, mas se não dermos

93
Como lidar com o erro dos nossos pais

condições para que as pessoas reprogramem seus pen-


samentos acerca de diversos assuntos, suas vidas serão
sempre as mesmas.

Você sabia que...?


Seu conceito sobre família já está estabelecido em
sua mente? Não estou me referindo de um conceito
bonito, que você possa recitar para que outros ouçam.
Mas de fato aquilo que você acredita dentro de você, no
seu consciente mais profundo.
Dentro de você já está programada a forma como
você vai cuidar da sua esposa ou do seu esposo.
Dentro de você já está programada a forma como
você vai cuidar dos seus filhos.
Dentro de você já está programada a forma como
você lida com o seu tempo.
Dentro de você já está programada a forma como
você lida com o seu trabalho e com suas finanças.
Tudo isso foi programado durante sua infância, sem
você nem perceber.
Foi programado através de inputs que podem ter
sido originados de seus pais, de frases que você ouviu
e de fatos que você presenciou.
Certa vez, lembro-me que ouvi de uma criança
que ela nunca iria casar, pois ela tinha observado que
seu tio sempre sofria com mulheres, e ela não queria
sofrer. Na opinião dela, mesmo criança, “mulher só
dava trabalho”.

94
Como lidar com o erro dos nossos pais

Você pode pensar que é exagero, mas infelizmen-


te não é. A menos que haja uma renovação na mente
dessa criança, ela crescerá pensando de fato que um
casamento traz sofrimento e que mulheres dão apenas
trabalho. Assim como uma criança que cresce em um
lar saudável, no tempo certo, buscará envolver-se em
relacionamentos saudáveis sem traumas, pois viu que é
possível se ter uma família e ser feliz.
Não quero ser determinista e dizer que somos escra-
vos daquilo que vemos e ouvimos quando crianças, mas
pesquisas apontam uma forte tendência para a repeti-
ção de comportamentos. Contudo, acredito fortemente
(caso contrário não estaria escrevendo este livro) que
temos condições de, em qualquer momento de nossas
vidas, pararmos para identificar nossos conceitos acer-
ca de vida, finanças, família, trabalho e buscarmos uma
renovação de nossas mentes.
Além do esforço intelectual de reprogramar concei-
tos, acredito também na ação do Espírito Santo que nos
auxilia nessa caminhada.

“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas


misericórdias de Deus que se ofereçam
em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus; este é o culto racional de vocês.
Não se amoldem ao padrão deste mundo,
mas transformem-se pela renovação
da sua mente, para que sejam capazes
de experimentar e comprovar a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.”

95
Como lidar com o erro dos nossos pais

(Apóstolo Paulo, em sua carta aos


cristãos que moravam em Roma)

Precisamos buscar a renovação de nossas mentes. O


texto de Paulo aos romanos deixa claro uma verdade:
Não podemos ter os mesmos conceitos desse mundo.
Aquilo que pensamos sobre família, namoro, casamen-
to, finanças, emprego, e diversos outros temas não podem
ser de acordo com o padrão mundo de ser. Muitos erros
que nossas famílias cometeram derivam desse modelo de
pensamento. Precisamos ter nossas mentes renovadas.
Gosto de ler alguns versículos ao contrário, pois re-
forçam para mim algumas lições. Observe o exemplo de
Romanos 12:1-2:

1) Para que sejam capazes de experimentar e com-


provar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
2) Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente.
3) Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de
Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.

O texto lido em ordem inversa deixa claro que


para se experimentar a vontade de Deus, precisamos
ter nossa mente renovada. Não é possível que eu
experimente a vontade de Deus pensando como o
mundo pensa.
Fique alerta! Se você pensa como o mundo sobre te-
mas como família, dinheiro, trabalho, casamento, você

96
Como lidar com o erro dos nossos pais

está correndo um grande risco de não experimentar a


vontade de Deus.
Muitos jovens têm chegado frustrados às nossas
igrejas, perguntando o motivo de ainda não terem ex-
perimentado da vontade de Deus. Quando vamos con-
versar com eles, vemos algo óbvio: A programação de
suas mentes é totalmente incompatível com os valores
do Reino! Eles ainda pensam tudo ao contrário do que
Deus ensina. Eles podem até não ter culpa disso, po-
dem apenas ter sido ensinados assim...
Como é muito comum em nosso país, pode ser que
o filho tenha aprendido com o próprio pai que “mulher
é como um objeto”, “que homem bom é homem pe-
gador”, que “você tem que ter uma mulher em casa e
várias na rua”. Ou até mesmo a filha aprendido com a
mãe ou com algum exemplo próximo que “homem ne-
nhum presta”, “que não se deve amar a ninguém”, “que
homem bom é homem que tem dinheiro pra bancar” e
inúmeras outras lições danosas.
Além disso, o uso do álcool geralmente começa
dentro de casa, quando os pais celebram “o primeiro
copo” dos filhos ou a primeira ida a uma casa de pros-
tituição. Mesmo a pessoa, ou você, não tendo culpa
de tudo isso que aprendeu de errado, em algum mo-
mento da vida é necessário que se tenha um encontro
de renovação com a Palavra de Deus para que seus
conceitos sejam mudados.
Por mais que falemos da boca pra fora, o nosso cé-
rebro e a nossa natureza nos trai. No impulso não fa-

97
Como lidar com o erro dos nossos pais

zemos aquilo que falamos para os outros fazerem, mas


fazemos aquilo que está armazenado no mais profundo
de nossa alma.
Você não é o que fala para os outros que você é,
Você não é o que você tenta fazer,
Você é o que você pensa!

“Como o homem imagina em sua


alma, assim ele é.” (Provérbios 23:7)

Salomão descobriu um segredo! Ele sabia que


para não cometer os mesmos erros de seus pais,
não deveria apenas AGIR diferente, mas sim PEN-
SAR diferente.
Para ser sincero, não acredito que seja possível agir
por muito tempo diferente daquilo que pensamos. Nós
somos o que pensamos! Grave bem essa frase:

Pensamentos conduzem a sentimentos.


Sentimentos conduzem a ações.
Ações conduzem a comportamentos.
Comportamentos geram hábitos.

Essa frase é famosa em diversas palestras, inclu-


sive em outras versões, com mais ou menos pala-
vras, mas o principal que ela nos ensina é que não
há como mudar minhas AÇÕES, sem antes mudar
meus PENSAMENTOS. Como disse, nosso cérebro
nos trai e faremos aquilo que estamos programados

98
Como lidar com o erro dos nossos pais

automaticamente para fazer, a menos que mudemos


essa programação.

Por exemplo:
O filho cresce vendo o pai brigar e ameaçar sair de
casa. Ele observa que assim sua mãe fica com medo e
a briga termina.
Ao crescer, no meio de uma discussão com sua es-
posa, esse filho, agora marido, vai ser traído por seu
cérebro e buscará uma solução automática para acabar
com aquela discussão:
- Vou sair de casa!

Aquela frase nem estava programada, nem era real-


mente um desejo verdadeiro dele, mas foi a forma que o
garoto aprendeu. É a programação que está dentro dele.
Existem muitos e muitos exemplos que eu poderia
citar, mas não quero correr o risco de ser simplista,
ou de citar um exemplo infeliz e fazer você perder o
foco no mais importante: No ensinamento que você
está recebendo.
Conta-se que certo homem resolveu tirar férias e
acampar com sua família à beira de um rio com o obje-
tivo de renovar suas energias, devido ao desgaste sofri-
do nos negócios e na correria da cidade grande, a única
tarefa era de passar todo o tempo pescando.
 Um belo dia, quando procurava um lugar para jogar
seu anzol, aproximou-se de outro acampamento onde

99
Como lidar com o erro dos nossos pais

um velho morador da região pescava e ficou ali ob-


servando por algum tempo como ele fazia (se havia
alguma técnica para pescar). Mas uma coisa o deixou
intrigado: O velho, toda vez que pegava um peixe, o
media com a mão, de modo que os peixes maiores que
a palma da mão, ele simplesmente os soltava de volta
para o rio. Os peixes que fossem menores que a sua
mão aberta ele os guardava.
Curioso, o homem se aproximou do velho e foi logo
perguntando: “Bom dia amigo! Desculpe incomodá-lo,
mas estive observando o senhor e estou muito intri-
gado em saber por que guarda os peixes menores do
que seu palmo de mão e solta de novo no rio os peixes
maiores que pega?” E o velho calmamente respondeu:
“É simples meu jovem, é que este é o tamanho de mi-
nha frigideira.”
Sempre rimos de histórias assim e pensamos que são
absurdas, mas infelizmente não são. Não adiantaria o
observador dizer para o pescador que ele poderia cortar
os peixes grandes pela metade. Não iria adiantar, pois o
pescador PENSAVA do tamanho de um palmo. Era ne-
cessário que ele mudasse primeiro em sua mente.
Em muitos casos somos assim. Tentamos mudar
nosso comportamento sem mudar nosso pensamento
a respeito.
Tentamos ter uma boa família sem mudar o que
pensamos de errado sobre família.
Tentamos ter negócios bem-sucedidos sem mudar
o que pensamos de errado sobre negócios e finanças.

100
Como lidar com o erro dos nossos pais

Tentamos ser diferentes de nossos pais, sendo


que pensamos exatamente como eles pensam e nos
ensinaram, ou seja, será impossível obter um resul-
tado diferente.
O autor americano T. Harv Eker, conta a história de
um senhor idoso que tinha tudo para ser bem-sucedi-
do financeiramente, mas sempre em um determina-
do momento decisivo algo dava errado. Ao conversar
de perto com esse senhor, o autor descobriu que ele,
apesar de todo o estudo que tinha, inclusive de seu
MBA, estava carregando consigo a programação ne-
gativa que seu pai havia lhe passado e por isso não
conseguia prosperar.
Veja a forma do cérebro: Em determinados casos,
um ensinamento dado pelos pais ou por alguém de
destaque para você fica tão fixado que anos de estudo
talvez não consigam remover.

101
CAPÍTULO 18
O oposto também é verdadeiro

“Quero ser tudo, menos parecido com


meus pais.”

Assim como temos uma facilidade para repetir os


ensinamentos e as programações dadas por nossos
pais, algumas pessoas têm uma ação contrária. Elas
decidem, consciente ou inconscientemente, em hipóte-
se alguma se parecerem com os pais.

Cria-se uma revolta absalônica!


O pai é um omisso, o pai é um desastrado, a mãe
não é um bom exemplo, os pais são endividados, os
pais não são felizes no casamento, e etc. Para essas
pessoas, ouvir que “você se parece com seu pai” ou
“você se parece com sua mãe” é uma grande ofensa!

103
Como lidar com o erro dos nossos pais

Pois, para elas o pai ou a mãe é o bandido que roubou


suas vidas.
Já presenciei alguns amigos que tinham vergonha
dos pais e eu também vivi isso por um tempo. Eu na
verdade sentia raiva, pois pelo fato de ser filho de pas-
tor, eu sempre era observado na escola. Na minha men-
te, a vocação do meu pai estava roubando a minha li-
berdade, estava trazendo todos os olhares para cima de
mim e por isso, se me perguntassem o que eu gostaria
de ser, eu responderia que tudo, menos pastor!
Alguns filhos têm raiva dos pais porque eles são
pobres, e por serem pobres estão roubando algumas
oportunidades que poderiam ocorrer. Oportunidade de
viajar de férias, comprar coisas caras, e estar no mes-
mo nível social que os outros amigos.
Alguns filhos têm raiva dos pais por terem divorciado,
outros têm aversão aos pais pelas dívidas e acabam se
tornando controlados ao extremo, avarentos!
Como lidar com os erros de nossos pais?
A pergunta central do livro começa então a ser res-
pondida, pois estamos discernindo como lidar com os
erros de nossos pais.

1) Devemos buscar o equilíbrio.


O que Salomão nos ensinou é que não existe nin-
guém que não tem nada a ensinar de bom, e nenhum
defeito que devemos evitar cometer. Seus pais tiveram
falhas, mas ainda assim, no seu livro de Provérbios, Sa-
lomão exaltou o ensinamento de seu pai e de sua mãe.

104
Como lidar com o erro dos nossos pais

2) Não devemos focar apenas nos erros de


nossos pais ou deixar que um erro anule todas
as qualidades que eles têm.
Muitas vezes nossos pais se esforçam para acertar
na maioria das coisas, mas têm defeitos, que a nosso
ver, são irreparáveis. Por conta desses defeitos ficamos
bloqueados e travados para ver as qualidades que eles
têm. Lembre-se que os defeitos que você identificar de-
vem ser transformados por você em sabedoria, e os
erros devem ser evitados!

3) Não fique obcecado ou cego pelo ódio!


Sinto lhe informar, mas quanto mais você remoer e
retroalimentar suas angústias e mágoas com seus pais,
mais aumentam a chance de você ser lançado aos ex-
tremos: Ou ser completamente o oposto ou ser com-
pletamente igual.
Um amigo meu viu seu pai agredindo sua mãe fisi-
camente. Ele ficou extremamente decepcionado. Com o
tempo foi surgindo um ódio em seu coração e de tanto
ele retroalimentar, seu coração já estava tomado pela
violência como o do pai. Certo dia, ele tentou matar seu
pai e foi conduzido à prisão.
Eu lhe pergunto: Será que era isso que ele queria?
Ele não estava no início indignado com a violência?
Como ele se tornou tão violento quanto o pai?
A resposta é: Ele ficou obcecado pelo erro do pai. O
ódio o cegou para as boas referências e lhe fez pagar

105
Como lidar com o erro dos nossos pais

com a mesma moeda, sendo exatamente igual aquilo


que ele não queria ser.

4) Não alimente a síndrome do Conde de


Monte Cristo, se você quiser acertar, que seja
pela motivação certa e não para provar nada
para ninguém.
O livro “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre
Dumas, conta a história de um homem que é preso
injustamente e que ao fugir da prisão conseguiu uma
grandiosa fortuna. Seu objetivo era voltar à sua cidade
para se vingar de todos que lhe acusaram.
Muitas vezes identificamos aquilo que nossos pais
fazem de errado e decidimos fazer o correto para pro-
var a eles que somos capazes:
- Vou ser rico para mostrar ao meu pai que adminis-
tro as finanças melhor que ele.
- Vou ser feliz no casamento para mostrar pra minha
mãe que eu sei como ser uma esposa, diferente dela.
- Não vou ter nenhum tipo de vícios para provar aos
meus pais que eles são fracos e não conseguem ter
domínio próprio.
Cuidado com esse tipo de pensamento, pois era exa-
tamente o que Absalão dizia acerca de Davi:

“E Absalão dizia: A sua causa é válida


e legítima, mas não há nenhum repre-
sentante do rei para ouvi-lo. E Absalão
acrescentava: Quem me dera ser desig-

106
Como lidar com o erro dos nossos pais

nado juiz desta terra! Todos os que ti-


vessem uma causa ou uma questão le-
gal viriam a mim, e eu lhe faria justiça.”
(II Samuel 15:3-4)

Por mais corretas que sejam suas atitudes, elas não


são nobres se a motivação for errada. Você não deve
buscar uma mudança na sua vida para provar nada
para ninguém, nem para o seu passado, nem para os
seus pais, nem para quem te humilhou. Você tem um
encontro com o seu futuro. Libere perdão, aprenda o
que tem que aprender e siga a sua vida.

107
CAPÍTULO 20
Como consigo renovar a minha
mente?

Esse ensinamento vale para todas as áreas da


nossa vida. Nesse livro estamos abordando especifi-
camente a relação entre pais e filhos, mas as lições
podem facilmente ser aplicadas na relação patrão-em-
pregado, líder-liderado, pastor-discípulo e muitas ou-
tras relações sociais.
Como consigo mudar minha mente? Como consigo
reprogramar aquilo que penso sobre diversos temas?

1) Perdoando os seus pais:


Pode parecer algo muito difícil, pois eu não sei o que
eles fizeram ou que dor eles te causaram, mas eu sei
que você precisa perdoar. Quando você perdoa, você

109
Como lidar com o erro dos nossos pais

fica livre da mágoa e da dor. Lembre-se do que falamos


bem no início do livro: Você deve analisar a história de
seus pais. Tente entender o que os levou a se compor-
tarem dessa maneira.
Lembre-se que assim como você, eles também es-
tão sujeitos a condicionamentos fortíssimos e precisam
passar por uma renovação de mente.

“Você me diz que seus pais não te


entendem, mas você não entende seus
pais.” (Dado Villa-Lobos/Renato Russo)

2) Orando por eles para que Deus faça a obra


na vida deles também:
A Bíblia é clara quanto ao poder da oração, nos con-
vocando inclusive a orar por nossos inimigos, quanto
mais por nossos pais. Tenho certeza que à medida que
você for orando por eles, suas emoções e sentimentos
serão curados também.

3) Buscando sabedoria de Deus:


Uma grande lição que Salomão nos deixou é a da
nossa incapacidade de governar e nos autogovernar-
mos. Precisamos da ajuda e da graça de Deus para
que nossa mente seja alcançada pela Sua sabedoria e
para que nossa mente seja renovada. Peça para Deus
lhe ajudar nessa caminhada, pois você tem muito pela
frente e precisa da sabedoria Dele.

110
Como lidar com o erro dos nossos pais

Veja a oração de Salomão em II Crônicas:

“Dá-me, pois, agora, sabedoria e co-


nhecimento, para que possa sair e en-
trar perante este povo; pois quem po-
deria julgar a este tão grande povo?”
(II Crônicas 1:10)

O apóstolo Tiago, em minha opinião o Salomão do


Novo Testamento, também acrescentou:

“Se alguém de vós necessita de sabedo-


ria, peça-a a Deus - que a todos dá libe-
ralmente, com simplicidade e sem recri-
minação - e ser-lhe-á dada.” (Tiago 1:5)

Além de pedir a Deus em orações, uma das princi-


pais formas de adquirir a sabedoria de Deus é através
da leitura da Bíblia, um livro que lhe mostrará erros e
acertos de grandes homens. Devemos evitas os erros, e
os acertos podemos tomar como exemplos.

4) Identificando pensamentos negativos que


você herdou:
Pode parecer algo complicado de se fazer, mas na
verdade não é. Requer de você apenas observação e
sinceridade com você mesmo. Tente analisar bem den-
tro de você quais os conceitos nitidamente errôneos
que você adquiriu sobre os mais variados assuntos.

111
Como lidar com o erro dos nossos pais

5) Identificando falha e erros recorrentes em


sua família:
É muito importante que você faça uma lista de erros
de sua família que você não quer cometer. Escreva se
forem vícios e quantas pessoas passaram por isso. Faça
o mesmo para adultério, divórcio, dívidas, e inúmeros
outros casos que te aflijam.

6) Lutando constantemente contra esses


pensamentos e essas programações:
Lembre-se! O seu cérebro tentará lhe trair, pois ele
está acostumado a fazer as coisas com as programações
antigas. Geralmente estas programações “automáticas”
são ativadas em momentos de pressão e impulso. Nem
muito pensamos, e quando vemos já reagimos, nem
sempre da melhor forma.
Alguns exemplos de pensamentos e programações
negativas que temos que lutar contra:

• Lutar contra pensamentos machistas, que tra-


tem as mulheres como escravas do lar. Facil-
mente o homem entra em um relacionamento
achando que a mulher deve fazer tudo aquilo
que o homem mandar, indiscriminadamente. Até
pensa que a mulher não tem direito de sair, ter
amigas e viver sua vida, obrigando-a a um cár-
cere privado.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

• Lutar contra pensamentos promíscuos, de que


homem bom é homem que “pega todas”. Muitos
homens não conseguem se dar bem em um re-
lacionamento porque não tiveram exemplos de
relacionamentos duradouros. As relações pre-
senciadas sempre foram de curto prazo e rega-
das de promiscuidade. Muitos filhos foram “ini-
ciados” no sexo pelo próprio pai, e assim olham
as mulheres apenas como objetos sexuais.

• Lutar contra o pensamento de que casamento


só é dor de cabeça. Talvez você tenha ouvido
isso ou presenciado um relacionamento que te
levou a acreditar assim. Por isso, toda vez que
você está engajando em um relacionamento
mais sério, sua mente e corpo começam a tra-
var e sem perceber você vai desistindo daquele
relacionamento. Sua mente está te sabotando.
Você está com medo de casar e viver situações
traumáticas como presenciou na família ou em
pessoas próximas.

• Lutar contra o pensamento de que traição é nor-


mal e é uma válvula de escape. Você pode ter
crescido em um ambiente onde a traição era algo
comum e infelizmente isso ficou arraigado em
sua mente. Você não larga o seu relacionamento
estável, mas também não é fiel. Sempre procura
opções extraconjugais para “aliviar o stress”.

113
Como lidar com o erro dos nossos pais

• Lutar contra o pensamento de que dinheiro é


ruim. Muitas vezes crescemos ouvindo de nossos
pais de que dinheiro é algo ruim e nosso cérebro
retém essa informação. O seu cérebro quer te
afastar de coisas ruins, logo não permitirá que
você acumule grandes quantidades de dinheiro.
Ele vai te sabotar! Não precisa nem o “devora-
dor” entrar em ação, pois como num piscar de
olhos o dinheiro terá derretido de suas mãos.

• Lutar contra o pensamento de que dinheiro é a


coisa mais importante na sua vida. Muitos filhos
aprenderam com os pais que o mais importante
era gerar dinheiro. Com dinheiro se compra pre-
sentes e a esposa fica feliz, com o dinheiro se com-
pra presentes e viagens para os filhos. Ao crescer
seu foco estará todo em conseguir dinheiro.

• Lutar contra o pensamento de que um vício (dro-


gas ou bebida) é uma forma de fugir das situa-
ções. Você não pode aceitar como programação a
ideia de que o álcool ou uma droga vai aliviar sua
dor e seus problemas. Você aprendeu com Salo-
mão a encará-los e com a ajuda de Deus vencer!

Faça a sua lista de “pensamentos negativos” que


você deve lutar contra! Peça ajuda ao Espírito Santo
para que Ele te conduza nessa jornada através da reno-
vação de sua mente.

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Como lidar com o erro dos nossos pais

Descobrindo outros temas que você tem que lutar


contra:

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“Agora que vocês purificaram as suas


vidas pela obediência à verdade, visando
ao amor fraternal e sincero, amem
sinceramente uns aos outros e de todo o
coração.” (I Pedro 1:22)

115
Como lidar com o erro dos nossos pais

O objetivo principal
Qual o objetivo de tudo isso? Qual a razão de identi-
ficar os erros dos meus pais e saber como lidar? Quais
as razões pela qual eu devo renovar a minha mente e
não pensar mais como o sistema do mundo me ensina
a pensar?
A razão é simples e está expressa no livro de I Pe-
dro, versículo 22: “AMAR”.
Todo esse processo de renovação da sua mente, de
identificação, de cura, tem o propósito do amor.
Deus quer profundamente que você ame seus pais.
Independentemente do que eles fizeram, da dor que
eles te causaram, do abandono ou da presença incômo-
da, você deve amá-los!
Eu sei que isso pode parecer completamente difí-
cil para você hoje, mas com o tempo Deus vai traba-
lhando em sua vida e você verá o perdão e o amor
surgindo em seu coração. O amor não folga com a
injustiça. Você não vai deixar de ver os defeitos dos
seus pais, mas também não será machucado por eles.
Você estará livre para não cometer os mesmos erros,
mas também para celebrar os acertos e para comemo-
rar as vitórias!
Ame e seja livre!
Talvez você esteja pensando que já perdeu as opor-
tunidades de fazer diferente.
Talvez você ache que nunca mais vai conseguir rea-
tar o relacionamento com seus pais.

116
Como lidar com o erro dos nossos pais

Ou talvez você pense que nunca vai conseguir se


libertar desses ensinamentos negativos e que ficará
preso ao fracasso para sempre.
Eu quero lhe dar a boa notícia: AINDA HÁ
TEMPO!
Se esse livro chegou até você é porque Deus tem
uma obra a realizar na sua vida. Deus é o melhor exem-
plo de cuidado e carinho, seja de pai ou de mãe! Ele diz:

“O Senhor responde: Será que uma


mãe pode esquecer o seu bebê? Será
que pode deixar de amar o seu próprio
filho? Mesmo que isso acontecesse,
eu nunca esqueceria vocês.” (Isaías
49:15 - NTLH)

A Bíblia também diz que Ele é um bom Pai e que dá


boas dádivas aos filhos. O bom presente que Ele nos
deu foi Jesus para morrer por nós e nos livrar de todo
pecado e toda culpa. Se você decidir chamar Jesus para
morar em seu coração, Ele te libertará de todo ódio,
raiva, angústia e tristeza que possam habitar dentro de
você e te libertará para uma vida de amor.
Pode até ser que você tenha ótimos pais, mas ainda
assim sinta um vazio enorme, e esse vazio só pode ser
preenchido por Deus.
Peça nesse momento, independente de onde você
esteja, de como você esteja vestido, ou da situação
que se encontra, peça para Jesus morar em seu cora-
ção e mudar a sua vida. Ele lhe dará o Espírito Santo

117
Como lidar com o erro dos nossos pais

que é a força que você precisa para lutar contra o


sistema desse mundo e manter sua alma purificada.
Que você seja profundamente abençoado de hoje
em diante e que viva, dia após dia, o caminho do AMOR
e do PERDÃO.

“Portanto, agora nenhuma condenação


há para os que estão em Cristo Jesus.”
(Romanos 8:1)

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Sobre o Autor

Em 2009, com 17 anos, Lucas Abrahão, foi um dos


fundadores do Seven - Movimento Estudantil Cristão.
Movimento este de evangelismo e engajamento social
nas escolas do estado do Amapá.
Em 2010 foi aluno da Escola Plantadores de Igrejas,
em Uberlândia/MG.
Em 2011 foi enviado para um trabalho missionário
com jovens estudantes na cidade de Yeovil, Reino Unido.
Consagrado ao Ministério Pastoral em 2015, Lucas
Abrahão faz parte do conselho de líderes da Comunida-
de Reviver no Amapá.
Professor e Gestor Público por formação, já foi Se-
cretário Municipal de Desenvolvimento Econômico
(2017) e Assistência Social (2018) do município de Ma-
capá (AP). Além da temática de conflito de gerações,
também aborda temas como Espiritualidade,Empreen-
dedorismo Social, Cidadania, Relevância Cristã e Políti-
cas Públicas.

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