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Sensores ópticos ativos


Tatiana F. Canata¹; Marcelo C. Fu Wei2; José P. Molin3
Dezembro/2019
¹Eng. Biossistemas, Doutoranda em
A coleta de dados de alta densi- ta pelos pigmentos das folhas
Eng. de Sistemas Agrícolas (USP-
ESALQ); tatiana.canata@usp.br
dade na agricultura exige o uso de (Figura 1).
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Eng. Agrônomo, Mestrando em sensores que sejam capazes de dis- A interação entre a luz e a vege-
Eng. de Sistemas Agrícolas (USP- ponibilizar dados úteis ao gerencia- tação permite o cálculo de IV, por
ESALQ); marcelochan@usp.br mento das lavouras, com praticida- exemplo, o Índice de Vegetação
de e custo compatível. No contexto por Diferença Normalizada (NDVI -
3
Professor e coordenador do Labo-
ratório de Agricultura de Precisão
(USP-ESALQ); jpmolin@usp.br
da Agricultura de Precisão (AP) es- do inglês Normalized Difference
ses dados são associados ao solo Vegetation Index), proposto na
Quem somos? ou às plantas, de forma georrefe- década de 1970 e calculado pela
renciada, visando a identificação e seguinte equação:
O Laboratório de Agricultura o entendimento das variabilidades (NIR − Vis)
de Precisão (LAP) pertence espacial e temporal das lavouras. NDVI =
(NIR + Vis)
ao Departamento de Enge-
Índices de vegetação em que: NIR é a refletância em um
nharia de Biossistemas da
USP-ESALQ. A utilização da óptica na agricul- determinado comprimento de on-
tura como forma de sensoriamento da na região do infravermelho
Quais os objetivos? teve início com os sensores image- próximo (entre 760 e 1.500 nm) e o
adores passivos, que utilizam a Vis é a reflectância em um compri-
Oferecer infraestrutura e am- mento de onda da região do visí-
biente de trabalho para as energia solar como fonte de radia-
ção, embarcados em satélites orbi- vel (entre 400 e 700 nm), ambos
atividades e projetos relacio-
tais (imagens de satélite). A utiliza- específicos para cada sensor de
nados ao estudo da variabili- ção dos sensores multiespectrais mercado.
dade espacial das lavouras e embarcados em plataformas aéreas No caso do IV, quanto mais pró-
das tecnologias embarcadas deu origem aos índices de vegeta- ximo do valor 1,0 maior o desen-
ção (IV), largamente utilizados na volvimento da cultura (mais bio-
nos veículos e máquinas agrí-
agricultura, e calculados a partir massa) e quanto mais próximo do
colas. valor 0, mais prejudicada estará a
das leituras de refletância em dois
Onde estamos localizados? ou mais comprimentos de onda cultura (menos biomassa). A reco-
incidentes no objeto-alvo, sendo mendação da utilização da relação
O LAP está sediado no De- entre as bandas do NIR e da borda
que alguns possuem forte associa-
partamento de Engenharia de ção com a biomassa da vegetação. do vermelho (Red-Edge RE) (650–
Biossistemas da USP - De forma geral, as plantas apre- 800 nm) foi difundida para o cálcu-
ESALQ, em Piracicaba-SP. sentam baixa refletância na faixa lo do NDRE (Normalized Index Red
visível do espectro devido à forte -Edge), apenas trocando o valor do
absorção pelos pigmentos fotos- Vis pelo valor do RE na equação.
sintéticos, principalmente nas regi- Este índice normalmente atinge o
ões do azul (~450 nm) e do verme- seu valor máximo em momento
lho (~660 nm). Na região do infra- mais avançado do desenvolvimen-
vermelho próximo (NIR - acima de to da cultura se comparado com o
700 nm) há maior refletância em NDVI. Assim, com o uso do sinal
razão da ausência de absorção des- da borda do vermelho, o fenôme-
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xão com um receptor GNSS (Global Navigation


Satellite Systems). Porém, as limitações operacio-
nais, como a mensuração pontual, desses medi-
dores em extensas áreas inviabilizaram a sua
adoção para os propósitos da AP.
Sensores ópticos ativos

Paralelamente às imagens de satélite, também


foram disponibilizados os imageadores multies-
pectrais embarcados em aviões e, mais recente-
mente, em RPA (Remotely Piloted Aircraft) ou
popularmente denominados de drones. No en-
tanto, todos estes produzem imagens digitais,
que necessitam de algum pós-processamento
Figura 1. Refletância de vegetação em função do compri-
para que seja obtido o mapa do índice de vege-
mento de onda tação.
A combinação do domínio da técnica e da
no de saturação tende a demorar mais tempo aplicabilidade em alvos vegetais motivou o de-
para se manifestar. senvolvimento dos sensores ópticos embarcados
em veículos agrícolas. Assim, no final dos anos
Sensores de absorbância 1990 surgiram os primeiros sensores ópticos que
geravam o dado digital georreferenciado da re-
Uma vertente diferente daquela das imagens, fletância do alvo, representando um avanço para
deu origem aos sensores ópticos ativos, com fon- as práticas de AP, pois viabilizava a mensuração
te de luz própria, medindo a absorbância ao in- do IV e a imediata aplicação de N em cereais, ori-
vés da refletância. Os primeiros relatos acerca do ginando o conceito de “aplicação em tempo re-
seu uso na agricultura objetivavam a mensuração al”, ou seja, a mensuração, o diagnóstico, o cál-
indireta do teor de clorofila nas folhas com o in- culo e a aplicação de uma determinada dose com
tuito de prescrever recomendações de adubação o sensor embarcado na máquina que aplica o
nitrogenada. O desenvolvimento dos medidores adubo nitrogenado. Mas, ainda faltava a autono-
portáteis de clorofila (Figura 2) viabilizou a reali- mia com relação à fonte de luz e no início da dé-
zação de leituras instantâneas em campo e tor- cada de 2000 surgiram os sensores com fonte de
nou-se uma ferramenta não destrutiva para a luz própria (ativos), capazes de sensoriar a vege-
avaliação e recomendação de doses de nitrogê- tação eliminando o efeito da luz solar, permitin-
nio (N), especialmente em culturas de cereais. do a sua utilização durante o dia e à noite.
Os sensores ópticos ativos detectam os com-
primentos de onda na faixa do visível, na borda
do vermelho e do infravermelho próximo, de-
pendendo de sua especificação técnica. Os sen-
sores disponíveis comercialmente (Tabela 1 e Fi-
gura 3) se diferem, principalmente, pelo número
e comprimento de onda das bandas espectrais,
área amostral e leitura na forma oblíqua ou verti-
cal.
Alguns desses sensores podem ser portados
manualmente e permitem a coleta de dados para
Figura 2. Medidores portáteis de clorofila: SPAD-502 (Soil representar uma parcela experimental ou um de-
Plant Analysis Development) (A) ClorofiLOG (B) terminado comprimento de fileira de plantas de
uma cultura. No entanto, a origem do desenvol-
Os valores obtidos por esses medidores consi- vimento desses sensores foi baseada na concep-
deram os comprimentos de onda associados à ção de serem portados sobre veículos agrícolas e
atividade da clorofila. Por exemplo, o SPAD utili- dedicados ao diagnóstico e recomendação de
za a faixa do vermelho (650 nm), em que a absor- doses de N, com base no IV de cada ponto de
bância é alta e não afetada pelos carotenóides e coleta. Assim, tais equipamentos permitem a
do infravermelho (940 nm), em que a absorbân- aplicação em tempo real, pois o sensor gera o
cia é baixa. No caso do equipamento ClorofiLOG, dado, que confrontado com um determinado al-
de fabricação nacional, são dois emissores na fai- goritmo de recomendação, gera a dose a ser
xa do vermelho (635 e 660 nm) e um no infraver- aplicada naquele local.
melho próximo com uma interface para a cone- Além do emprego desses sensores em algorit-

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Tabela 1. Sensores ópticos ativos disponíveis comercialmente


Comprimentos
Identificação Sensores Fabricantes Origem
de onda (nm)
A Crop Circle ACS-210 Holland Scientific 590; 880 Norte-americano
B Crop Circle ACS-430 Holland Scientific 670; 730; 780 Norte-americano
C Crop Circle ACS-470 Holland Scientific 670; 730; 760 Norte-americano
D OptRX AgLeader 670; 730; 780 Norte-americano
E RapidScan CS-45 Holland Scientific 670; 730; 780 Norte-americano
F GreenSeeker portátil Trimble 650; 770 Norte-americano
G GreenSeeker Trimble 660; 770 Norte-americano
H Flexum Falker 660; 890 Brasileiro
I N-Sensor ALS Yara 730; 760 Europeu
J CropSpec Topcon 735; 808 Japonês

Figura 3. Sensores ópticos ativos

mos de adubação nitrogenada, outra aplicação


envolve a elaboração do mapa de biomassa pa-
ra o monitoramento do avanço do crescimento
de culturas ao longo de seu ciclo (Figura 4), de
forma simples e rápida, pois no final do percur- Figura 4. Mapa do índice de vegetação interpolado de um
so, o usuário já dispõe do dado com latitude, talhão de cana-de-açúcar de 18 ha com colmos em alturas
longitude e IV em um único arquivo tipo texto, predominantes de 0,20 m (A); 0,40 m (B) e 0,60 m (C)
normalmente na frequência do receptor GNSS agrícola e trabalham com o feixe de luz inclina-
(um ponto por segundo). Outro aspecto impor- do, focando e iluminando uma elipse nas duas
tante é o momento ou os momentos mais apro- laterais do veículo a distâncias que variam de
priados para o mapeamento das lavouras, que 3,0 a 5,0 m do alvo, como área amostral para a
depende do objetivo de sua geração e, em al- aplicação de N com máquinas distribuidoras a
guns casos, coincide com a expressão da maior lanço, com larguras de 30 m ou mais e com ade-
taxa de crescimento vegetativo. Em outros, sim- quada uniformidade transversal, característica
plesmente deve-se esperar a existência de um das máquinas europeias. Os norte-americanos
mínimo de biomassa para gerar os dados de re- foram projetados para que, posicionados verti-
fletância da cultura-alvo e não do solo ou da calmente, escaneiem uma fileira de plantas de
palha. milho a distâncias de 0,30 a 1,50 m do alvo com
Os sensores ativos possuem especificações e a largura do feixe de luz entre 0,40 a 0,80 m.
uma delas é a distância em relação ao alvo. Al- Portanto, deve-se definir quantos sensores são
guns desses sensores tiveram origem na Europa, necessários em função da largura da máquina,
onde a cultura predominante é o trigo e outros no caso de aplicação em tempo real, ou o espa-
foram desenvolvidos nos EUA, tendo o milho çamento entre os sensores ou entre as passadas,
como alvo principal. Assim, no mercado são en- dependendo da cultura-alvo a ser escaneada.
contrados sensores que escaneiam faixas de lar- A origem deste conceito foi a adubação ni-
guras distintas. trogenada com base na biomassa e consequen-
Por exemplo, os europeus são configurados temente, o nitrogênio nela contido, pressupon-
para a montagem sobre a cabine do veículo do uma calibração para cada cultura ou mesmo

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variedade. Tal calibração é um trabalho dedica- Como são sensores de vegetação, também
do, que consiste na obtenção do mapa do IV de são utilizados para a detecção da presença de
uma determinada lavoura representativa. A par- plantas daninhas. Nesse caso, são associados ao
tir do mapa obtido é feita a alocação de pontos comando de aplicadores de herbicida pós-
sobre esse mapa para guiar a amostragem, a emergente em tempo real. No mercado, há
coleta das amostras nesses pontos e a sua carac- equipamentos dedicados a essa finalidade que
terização para a determinação de biomassa e do possuem uma ponta pulverizadora para cada
teor de N contido. A regressão entre o IV e estes sensor. Enquanto outros tem um sensor que co-
atributos gera os dados básicos, que juntamente manda uma válvula associada a uma ponta pul-
com as curvas de calibração de N e as relações verizadora para cada faixa (Figura 6).
entre a biomassa e a produtividade esperada da
cultura, originam o algoritmo ou as recomenda-
ções (Figura 5).

Figura 6. Sensor WeedIt que emite luz vermelha para a


detecção de NIR pela presença de clorofila (A); aplicação
de herbicidas em tempo real, com cinco pontas pulveriza-
doras para cada sensor (B); sensor WeedSeeker que se ba-
seia no NDVI para a detecção da planta (C); aplicação em
campo com uma ponta pulverizadora para cada sensor (D)
Figura 5. Exemplo de calibração e geração de modelo de re-
comendações a partir de sensores ópticos ativos
A utilização dos sensores ópticos ativos na
Para a otimização de tais recomendações é agricultura tem se demonstrado como uma al-
importante que se disponha de outras camadas ternativa ao mapeamento e a análise da variabi-
de dados (mapas) das lavouras, sempre em alta lidade espacial das lavouras, além de ser carac-
resolução, como a dos sensores, de atributos terizada como uma ferramenta promissora à
como teor de argila e de matéria orgânica, a fim elaboração de recomendações, visando a otimi-
de melhorar o algoritmo e a consequente reco- zação do uso de insumos e a redução do impac-
mendação. to negativo no meio ambiente. Há um amplo
Como esses sensores são capazes de estimar espaço na AP para o desenvolvimento de equi-
com boa assertividade a biomassa, outras apli- pamentos e aplicações a partir dos dados dispo-
cações agrícolas têm sido derivadas e já consoli- nibilizados por esses sensores. Além disso, no
dadas. É o caso das aplicações de calda de fun- caso específico do controle de ervas daninhas,
gicida e dessecante em volume variável em fun- há diversas oportunidades para o desenvolvi-
ção da quantidade de biomassa a ser atingida mento de tecnologias visando a diferenciação
pelas gotas; regulador de crescimento, direta- entre as espécies daninhas com o uso da espec-
mente associado ao volume do dossel, o qual é trometria. Porém, o que provavelmente tenha
fortemente relacionado com a biomassa. Esses mais desenvolvimento futuro seja a fusão destes
usos podem, e a lógica diz que devem, ser exe- dados com os de imagens, sempre exigindo um
cutados com a aplicação em tempo real, mas intenso levantamento de características fotos-
essas aplicações devem ser previamente calibra- sintéticas das plantas e um banco de dados ro-
das e validadas experimentalmente. busto.
Laboratório de Agricultura de Precisão
Departamento de Engenharia de Biossistemas
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