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GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À GEOLOGIA

Article · June 2003


DOI: 10.25249/0375-7536.200333S20104

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Carlos Roberto de Souza Filho Alvaro Penteado Crósta


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Revista Brasileira de Geociências Marcelo L. B. Blum et al. 33(2-Suplemento):147-152, junho de 2003

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À GEOLOGIA

CARLOS ROBERTO DE SOUZA FILHO & ALVARO PENTEADO CRÓSTA

Geotecnologia é um conjunto de ciências e tecnologias relacio- 1990, o sensor OPS a bordo do satélite JERS-1 avançou nessa
nadas à aquisição, armazenamento em bancos de dados, capacidade de detecção no espectro SWIR, expandindo a faixa de
processamento e desenvolvimento de aplicações utilizando infor- cobertura da banda 7 do TM e sub-dividindo-a em 3 bandas inde-
mações geo-referenciadas (ou geo-informações). As pendentes. Em 1999, como uma evolução do OPS/JERS-1, foi lan-
Geotecnologias englobam, de forma isolada ou em conjunto, o çado o sensor ASTER, a bordo da plataforma TERRA. O ASTER
Sensoriamento Remoto, a Cartografia Digital, os Sistemas de In- consiste de três sub-sistemas de imageamento independentes, os
formações Geo-Referenciadas, a Aerogeofísica e a Geoestatística. quais coletam dados em 14 bandas individuais no espectro eletro-
É interessante notar que muitos dos desenvolvimentos e avanços magnético: (i) a região do VIS-NIR é coberta com 3 bandas
realizados neste campo se devem a demandas oriundas de diver- espectrais, na resolução espacial de 15m; (ii) a região do SWIR,
sas áreas das Geociências, em particular da Geologia. com 6 bandas, na resolução de 30m; e (iii) e a região do TIR com 5
O Sensoriamento Remoto agrega tecnologias de sensores bandas, na resolução de 90m (único sensor orbital capaz de pro-
imageadores e também não imageadores. Sensores portáteis não porcionar imageamento multiespectral termal - diurno e noturno).
imageadores, denominados espectrorradiômetros, realizam densa Em 2000, entrou em operação o Hyperion, primeiro sensor orbital
amostragem do espectro eletromagnético (com milhares de ban- hiperespectral a bordo da plataforma Earth Observing (EO-1), com
das espectrais de largura nanométrica) e ampla distribuição, abran- 220 bandas entre o VIS-SWIR (0.4 a 2.5µm).
gendo os comprimentos de onda do visível (VIS - visible), do Na faixa do espectro eletromagnético das microondas, onde
infravermelho próximo (NIR – near infrared), o infravermelho de operam os sensores ativos de radar, a evolução tecnológica foi
ondas curtas (SWIR – shortwave infrared) e do infravermelho igualmente destacada. Iniciando com o Seasat em 1978, uma série
termal (TIR – thermal infrared). Esses sensores são críticos para o de radares orbitais entrou em operação nas décadas posteriores.
sucesso das aplicações que envolvem a caracterização espectral Este primeiro sistema orbital de radar foi seguido pelos experimen-
in situ de alvos geológicos e para a simulação da possibilidade de tos com os sistemas SIR-A (1981) e SIR-B (1984), a partir do ôni-
detecção desses alvos por sensores imageadores multiespectrais bus espacial da NASA, que evidenciaram o grande potencial de
de baixa resolução espectral (< dezenas de bandas), de alta resolu- informações geológicas passíveis de obtenção por radares
ção espectral (> 10 bandas) e sensores imageadores hiperespectrais imageadores orbitais de abertura sintética (SAR). Sensores SAR
(várias dezenas a centenas de bandas). passaram a operar rotineiramente a partir de 1991, com o lançamen-
A evolução tecnológica dos sensores imageadores aponta para to do ERS-1 pela agência espacial européia, contando com um
a disponibilidade futura de sensores ultraespectrais, os quais te- radar operando na banda C, com polarização VV e resolução espa-
rão capacidade de adquirir dados em milhares de bandas espectrais cial de 30m. Em 1992 foi lançado o JERS-1 que, além do sensor
e com sofisticação suficiente para reproduzir o comportamento OPS, contava também com um sensor SAR operando na banda L,
dos alvos, como atualmente medidos in situ pelos com polarização HH e resolução espacial de 18m. Estas caracterís-
espectrorradiômetros. Enquanto tal estágio tecnológico não é ticas do JERS-1/SAR, combinadas com um ângulo de visada de
atingido, devemos nos concentrar em obter o máximo benefício da 35º, logo o tornaram uma importante fonte de dados para interpre-
resolução espectral disponível. tação geológica, notadamente em áreas tropicais como a Amazô-
Quanto aos sensores multiespectrais orbitais com cobertura glo- nia. Em 1995, foi lançado o Radarsat-1, que incorporou avanços
bal, há atualmente várias possibilidades de escolha entre aqueles tecnológicos significativos na área de SAR, tais como a possibili-
que operam no espectro de energia refletida e emitida, levando em dade de múltiplas configurações de resolução e ângulos de visa-
conta tanto a necessidade de cada tipo de aplicação, como a da. Em 2002 entrou em operação o Envisat, contando com múltipla
tecnologia disponível. O marco inicial do sensoriamento remoto polarização (VV e HH). A tendência de evolução tecnológica ob-
orbital ocorreu em 1972, quando o primeiro satélite de recursos servada para os radares orbitais aponta para a disponibilidade de
terrestres da série Landsat foi lançado em órbita terrestre, tendo a sistemas multi-polorização e multi-freqüência, de forma similar ao
bordo o sensor Multiespectral Scanner (MSS), com 4 bandas que já vem ocorrendo com os sensores no espectro ótico.
espectrais cobrindo o VIS e o NIR. Em 1982, o sensor Thematic Assim, em cerca de 30 anos, a partir da cobertura de um interva-
Mapper, a bordo do Landsat-4, revolucionou o sensoriamento lo restrito do espectro (VIS-NIR) com 4 bandas espectrais, os
remoto, com a possibilidade de geração de informações em 7 ban- sensores orbitais passaram a cobrir um intervalo bem mais amplo,
das, no VIS e NIR e também no SWIR e TIR. Uma análise do entre o VIS e as microondas, além de passarem a contar com até
programa Landsat feita pela NASA em 2002, por ocasião da cele- centenas de bandas espectrais no caso dos sensores óticos, sig-
bração dos seus 30 anos, revelou o grande impacto nas Ciências nificando um ganho aparente de resolução espectral da ordem de
da Terra, sendo a Geologia uma das grandes beneficiárias. Em 50 vezes. O impacto de um aumento dessa magnitude em resolu-

Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Caixa Postal 6152, 13083-970, Campinas, São Paulo – E-mails: beto@ige.unicamp.br,
crosta@ige.unicamp.br

Revista Brasileira de Geociências, Volume 33, 2003 1


Caracterização dos complexos ortognáissicos arqueanos de Goiás por gamaespectrometria aérea

ção e cobertura espectral tem reflexos diretos na possibilidade de xa entre o VIS e o SWIR, em pixels de 8m, para uma altitude nominal
caracterizar a assinatura espectral de alvos de interesse geológi- de 80m. O OARS tem sido utilizado ainda em plataformas multi-
co, bem como extrair atributos geológicos dos terrenos em geral. propósito, onde é integrado a sensores geofísicos para a aquisi-
Nas microondas, a introdução de sensores orbitais com proprie- ção simultânea de dados magnéticos, gamaespectrométricos e de
dades de multi-polorização e multi-freqüência deverá trazer igual- reflectância espectral, co-registrados.
mente benefícios consideráveis para as aplicações geológicas. Avanços expressivos vêm sendo feitos também em Cartogra-
Obviamente, a identificação de feições geológicas na superfície fia Digital, principalmente com o uso de estereoscopia orbital.
não depende exclusivamente da resolução espectral, mas também Três programas destacam-se nesse segmento: o ASTER, com
da resolução espacial desses sensores. No sensor MSS, a resolu- estereoscopia óptica convencional; o RADARSAT-1, com
ção espacial era limitada a 80m. Em 1982, o sensor TM apareceu estereoscopia por radar interferométrico, e a missão do Shuttle
com uma resolução bem superior, de 30m, a qual foi superada, em Radar Topographic Mission (SRTM), realizada em 2000, também
1986, pelo sensor SPOT, com 10m. Mais de uma década depois, com estereoscopia por radar interferométrico.
em 1999, iniciou-se uma nova era de sensores comerciais de alta O sistema VIS-NIR do ASTER conta com dois telescópios, um
resolução espacial, com o lançamento do sensor IKONOS, que dos quais opera com retro-visada ao longo da órbita do satélite,
passou a proporcionar imagens com até 1m de resolução espacial. com poucos segundos de diferença da visada NADIR, o que per-
Em 2001, a barreira de 1m de resolução foi quebrada, com a coloca- mite a geração de pares estereoscópicos, em comprimentos de
ção em órbita do sensor QuickBird, capaz de ‘enxergar’ objetos onda do NIR. Desses pares, é possível gerar modelos digitais de
com até 61cm x 61cm de dimensão. Assim, em aproximadamente 30 elevação (MDEs) com precisão absoluta de até 7m (vertical e ho-
anos, observou-se um ganho em resolução espacial da ordem de rizontal, com uso de pontos de controle no terreno), precisão rela-
130 vezes. tiva de até 10m (vertical e horizontal, sem pontos de controle), e
Em relação aos sensores imageadores aeroportados, além da bases topográficas compatíveis com escalas 1:50.000 ou de maior
resolução espacial, passível de variação em função da altura do detalhe. O RADARSAT-1, com suas variações em azimute de vi-
vôo, a tendência recente é de uso progressivo de sensores sada, incidência, tamanho de área imageada e resolução espacial,
hiperespectrais, baseados no formato e especificações do sensor tem sido utilizado mundialmente como provedor de MDEs de alta
AVIRIS do JPL-NASA (com 224 bandas entre o VIS-SWIR) - em- resolução espacial (modo Fine – resolução ~10m), o que permite a
bora dados adquiridos por sensores multiespectrais de alta reso- geração de cartas topográficas que atendem a requisitos de
lução, como o GEOSCAN (24 bandas entre o VIS-TIR), proporcio- mapeamento de pelo menos 1:100.000 ou superior. Os dados da
nem bons resultados em aplicações geológicas. Na categoria de Shuttle Radar Topography Mission foram o resultado de uma
sensores hiperespectrais em uso, citam-se o HYDICE (210 bandas missão espacial internacional que envolveu a NASA (National
– VIS-SWIR), o PROBE-1 (128 bandas – VIS-SWIR), o CASI (até Aeronautics and Space Administration), a NIMA (National
228 bandas – VIS-NIR), o HyMap (100-200 bandas – VIS-TIR), o Imagery and Mapping Agency), o USDD (United States
AISA (até 288 bandas –VIS-NIR), e os sensores DAIS 7915, DAIS Department of Defense), a DLR (Centro Aeroespacial Alemão) e a
21115, EPS-H (com 79 a 211 bandas entre o VIS-TIR). Da mesma ASI (Agência Espacial Italiana), e que teve como objetivo final a
forma como nos sensores orbitais, os sistemas de radares geração de um MDE de alta resolução da Terra, com o emprego da
imageadores aeroportados são hoje construídos para trabalhar interferometria de radar. Toda a base da SRTM foi constituída na
com multi-frequência, multi-polarização e multi-resolução. Por exem- forma de imagens com amostragem de pixels entre 1 arco-segundo
plo, o SAR a bordo da aeronave EMB -145/R99-B do Sistema de (= ~30 m no Equador) e 3 arco-segundos (= ~90 m no Equador), em
Proteção da Amazônia (SIPAM – antigo ‘SIVAM’), possui multi- latitude e longitude. A base de maior resolução permite a geração
visada, opera nas bandas L e X e em vários modos de resolução de MDEs com precisão compatível com mapas topográficos na
(e.g., 18, 6 e 3 metros), e contempla polarizações HH, HV, VH e VV. escala de pelo menos 1:100.000 ou superior.
Nessa mesma aeronave, existe também um sensor multiespectral, Na maioria dos modelos de análise espacial desenvolvidos em
denominado Multispectral Scanner (MSS), que opera com 11 ou Sistemas de Informações Geo-Referenciadas (SIGs), a principal
31 bandas espectrais distribuídas entre o VIS e o TIR (0.42-12.5mm) proposta é a combinação de dados espaciais para descrever e
e com campos de visada instantânea (IFOV) de 1.25 e 2.5 graus. O analisar interações, de modo a fazer previsões por meio de mode-
SIPAM conta ainda com um sensor denominado HSS a bordo da los prospectivos empíricos que forneçam apoio para a definição
aeronave R98. O HSS é do tipo hiperespectral e dispõe de 50 de sítios com maiores chances de encerrar depósitos minerais. A
bandas entre o VIS e o TIR (0.445-12.08mm). combinação de dados multi-fontes permite reduzir a ambigüidade
Ainda no tocante a sensores passivos aeroportados, há uma de interpretações que normalmente ocorrem na análise individual
convergência de interesses em explorar os não-imageadores de dos mesmos. Os modelos de análise espacial podem ser divididos
perfilamento hiperespectral que operam no VIS-SWIR e no TIR. O em modelos data-driven e knowledge-driven, respectivamente.
TIPS (Thermal Infrared Line Profiling Spectrometer) é um sensor No modelo data-driven os vários mapas de entrada são combina-
baseado no instrumento FTIR (Fourier Thermal Infrared), que dos por diferentes técnicas, tais como, regressão logística, ponde-
registra radiação em cerca de 100 canais compreendidos na faixa ração por evidências (teorema bayesiano), razões de probabilida-
entre 8-13microns, com pixels de 10m (para uma altitude do avião de e redes neurais (inteligência artificial). Os modelos knowledge-
de 100m). A maior parte dos silicatos, incluindo quartzo e driven incluem o uso da lógica booleana (ou lógica crisp), média
feldspatos, e de carbonatos, possuem assinaturas espectrais ca- ponderada, lógica difusa (nebulosa) ou possibilidade fuzzy, e teo-
racterísticas nesse intervalo de comprimentos de onda, motivo do ria da crença de Dempster-Shafer. Cada vez mais, os avanços em
interesse cada vez maior da exploração de sensores termais SIG situam-se não somente em novas técnicas de análise espacial
imageadores e não-imageadores. O OARS (Operational Airborne de dados geológicos e algoritmos matemáticos mas, principalmente,
Research Spectrometer) é outro sensor de perfilagem na conversão desses em códigos computacionais, os quais resul-
hiperespectral que adquire dados em 190 canais espectrais na fai- tam em programas com interação mais simples e amigáveis com o

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Marcelo L. B. Blum et al.

usuário final. Dois software vêm se destacando por cumprirem mesmo formações geológicas.
requisitos simultâneos de robustez e facilidade de uso: o Arc- Exposto este breve panorama do estado da arte das Geotecno-
Spatial Data Modeler e o GEODAS. O Arc-SDM foi desenvolvi- logias em nível mundial, faz-se necessário considerar como as
do por G. Bonham-Carter/L. Kemp (GSC), em conjunto com G. mesmas vêm sendo empregadas e disseminadas no Brasil, bem
Raines (USGS), sob patrocínio dos serviços geológicos do Cana- como de seus benefícios e impactos para o desenvolvimento das
dá e EUA e empresas de mineração. A primeira versão do software ciências geológicas em nosso país. Os objetivos deste número
é disponibilizada gratuitamente no seguinte endereço na Internet: temático são justamente de apresentar este panorama para o Bra-
http://ntserv.gis.nrcan.gc.ca/sdm/. O ArcSDM fornece as ferra- sil. Para tanto, foram enviados convites pelos editores à comuni-
mentas para aplicação de vários métodos de análise espacial na dade atuante na área das Geotecnologias, os quais obtiveram uma
avaliação de favorabilidade mineral, entre os quais a ponderação excelente resposta. Foram recebidos 30 artigos, dos quais 24 fo-
por evidências (WofE – weights of evidence), regressão logística, ram selecionados após criterioso processo de revisão por pares e
possibilidade fuzzy e redes neurais. O GEODAS (Geo Data compõem o presente fascículo. Estes artigos são uma amostra
Analysis System), desenvolvido por Q. Cheng (York University, representativa e abrangente dos resultados significativos que vêm
Canada) em colaboração com G. Bonham-Carter (GSC) e G. Raines sendo obtidos por pesquisadores brasileiros nesse campo das
(USGS), se distingue dos demais SIGs por possuir ferramentas ciências.
únicas de processamento e análise estatística de dados, entre as Dois dos artigos desse volume apresentam uma interessante
quais a interpolação por krigagem e por fractais, regressão múlti- combinação entre caracterização espectral de alvos por meio de
pla, análise de agrupamento, análise discriminante, análise por espectrorradiometria e predição de como esses alvos podem ser
redes neurais, wavelet e U-statistics. Entretanto, é um software de diferenciados em imagens de Sensoriamento Remoto. Almeida
domínio fechado (http://www.gisworld.org/geodas/), disponível et al. e Swalf et al. desenvolveram modelos de prospecção com
apenas às instituições e empresas que custeiam seu desenvolvi- base na assinatura espectral dos alvos de interesse,
mento. respectivamente, para depósitos de Zn-Pb do tipo estratiforme
A Aerogeofísica é um dos ramos das Geotecnologias que expe- hospedados em rochas metassedimentares na região de
rimentou um dos maiores desenvolvimentos nos últimos anos e Porteirinha (MG), e para depósitos de Au encaixados em xistos
contribuiu para o avanço do conhecimento geológico e explora- carbonosos na região de Paracatu (MG). Esses modelos, quando
ção mineral em todos os tipos de terrenos do mundo. Entre os aplicados a imagens do sensor aeroportado GEOSCAN (24
seus desenvolvimentos recentes, destaca-se: (i) a sistematização bandas, entre 450nm e 12.000nm ) para os depósitos de Zn-Pb, e
dos levantamentos magnéticos, gamaespectrométricos, eletromag- a imagens do sensor TM (6 bandas no espectro refletido) para o
néticos (no domínio da freqüência e do tempo), com alta resolução depósitos de Au, produziram bons resultados. No primeiro caso,
e densidade de amostragem (espaçamento de linhas de vôo de foi possível identificar o corpo principal do minério, em função
250m ou inferior); (ii) sofisticação e incremento dos aparelhos para da resolução espacial de 5m e espectral de 24 bandas do sensor.
controle da posição e altura do vôo e dos equipamentos geofísicos, Almeida et al., utilizando imagens do sensor TM do Landsat-5
incluindo altimetria a laser; (iii) utilização de sistemas de alta reso- e uma estratégia de processamento orientada para extração de
lução, sensibilidade e freqüência de amostragem; (iv) melhorias informações específicas da paisagem das lagoas do Pantanal da
nos padrões e procedimentos de calibração; (v) incentivo para o baixa Nhecolândia (MS), conseguiram correlacionar o parâmetro
desenvolvimento de técnicas de aquisição e processamento de alcalinidade/salinidade dos corpos d´água com a disposição
dados aerogravimétricos; (vi) avanços no pré-processamento (e.g., das cordilheiras e vazantes, fornecendo importantes subsídios
micronivelamento, proposto por B.R.S Minty em 1991 e que trouxe para a interpretação da gênese deste ambiente. França & Souza
grandes benefícios com a remoção dos ruídos causados pelo Filho, num estudo multi-temporal de imagens TM e ETM+
desnivelamento das linhas de vôo) e processamento (e.g., adquiridas entre 1986 e 2001 sobre a costa leste da Ilha de
deconvolução de Euler para delineamento de estruturas em pro- Marajós, conseguiram mapear áreas progradacionais e
fundidade; terraceamento; índice de favorabilidade para urânio; retrogradacionais, identificar a direção e distribuição espacial
potássio anômalo) de dados; (vii) software potentes e mais amigá- das mudanças, bem como quantificar setores costeiros sujeitos
veis para processamento de dados. à erosão e à acresção.
A aerogeofísica trouxe grandes benefícios, por exemplo, para O número temático traz também contribuições em Cartografia
regiões de clima tropical, como o Brasil, onde os processos Digital. Paradella et al. apresentam resultados sobre a produção
supergênicos induzem à formação de solos espessos e a cobertu- de cartas topográficas por estereoscopia de alta resolução do
ra vegetal impede o acesso a informações sobre o substrato. Além RADARSAT e sua integração com dados do sensor TM – o
disso, em um país com dimensões continentais e forte carência de trabalho demonstrou que a acurácia planialtimétrica dos
mapeamentos geológicos básicos, a análise integrada de dados produtos cartográficos obtidos atendem aos requisitos de
aerogeofísicos e de sensoriamento remoto tem muito a contribuir mapeamentos 1:100.000 e que a tecnologia de RADAR orbital
no avanço do conhecimento geológico do território e na delimita- pode ser utilizada com sucesso para mapeamento de semi-detalhe
ção de áreas potenciais para a ocorrência de depósitos minerais. na Amazônia. A estereoscopia SAR também é o tema do trabalho
A Geoestatística vem se destacando como uma das técnicas de Santos et al., que discutem aspectos relacionados às
modernas de análise e modelagem espacial, cujo emprego tem estereoscopias de radar (RADARSAT) e híbrida (RADARSAT
trazido impactos positivos para diversas áreas das Geociências. & TM/Landsat-5) e suas performances para o mapeamento
Uma das vantagens reside na capacidade da mesma em possibili- geológico na região Amazônica (Carajás). Chaves et al. aborda
tar a elaboração de modelos espaciais, mesmo em situações onde o sinergismo entre dados gerados por vários sensores de radar
a quantidade de informações espaciais é restrita e o objeto de (RADARSAT, JERS-1, GEMS-1/Randambrasil) e imagens do
estudo é caracterizado por heterogeneidades, como o é a maioria TM/Landsat-5, com resultados positivos para o mapeamento
dos corpos mineralizados, reservatórios de hidrocarbonetos e geológico da região de Bezerra-Cabeceiras (GO).

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Caracterização dos complexos ortognáissicos arqueanos de Goiás por gamaespectrometria aérea

O uso de Sistemas de Informações Geo-referenciadas na de unidades litológicas e de feições estruturais, com


prospecção de recursos minerais é o tema de cinco artigos neste detalhamento compatível com as escalas de 1:250.000 e 1:100.000.
número temático. Moreira et al. comparam o desempenho de O artigo de Blum et al. também recupera e retrabalha dados
vários métodos de análise multi-critério de dados geológicos e aeroradiométricos obtidos na década de 1970, neste caso pelo
de radiometria gama, na predição de áreas potenciais à ocorrência Projeto Aerogeofísico Brasil-Canadá (PGBC), e registra a
de minerais radiativos no planalto de Poços de Caldas. Entre os importância da gamaespectrometria na delimitação de complexos
métodos comparados, os que apresentaram os melhores granitognáissicos arqueanos de Goiás, dificultada em campanhas
resultados em relação a 48 ocorrências minerais utilizadas como de mapeamento geológico em virtude dos poucos contrastes
controle, foram a ponderação por evidências, possibilidade fuzzy- litológicos. O uso integrado de dados de sensoriamento remoto,
pah (processo analítico hierárquico) e o modelo com média aerogeofísicos e geológicos na definição de novas ocorrências
ponderada. Rocha et al. abordam métodos similares, mas de mineralizações uraníferas na região de Lagoa Real é o tema
aplicados à prospecção regional de depósitos de Pb-Zn na bacia do artigo de Pascholati et al.. Trata-se de dados do Projeto
de Irecê (BA). Os autores utilizam dados mutli-fontes e derivam Aerogeofísico São Timóteo, de 1979, que foram re-processados
diversos mapas evidenciais baseados em um modelo exploratório e analisados em conjunto com imagens TM/Landsat-5. Os
calcado em cinco fatores, entre os quais o geoquímico foi o que resultados apresentados permitiram propor um novo quadro
melhor prognosticou os depósitos de interesse com base na geológico-estrutural para a região de Lagoa Real, bem como
análise espacial knowledge-driven (possibilidade fuzzy) e data- detalhar as principais estruturas de controle dos depósitos e
driven (WofE). Também na Bahia, na região da Folha de Itaberaba, apontam para a possibilidade de novas ocorrências de urânio
Nóbrega & Souza Filho utilizaram um banco de dados multi- na porção nordeste da área estudada, associadas a zonas de
propósito e dados de ocorrências de diversas commodities cisalhamento de direção NW-SE. O artigo de Castro et al. mostra
minerais, para gerar mapas de favorabilidade desses recursos como esta abordagem integrada de imagens de sensoriamento
com o auxílio das redes neurais, fazendo uso da tecnologia de remoto orbital do Landsat-5 /TM e dados do Projeto
inteligência artificial. Considerando o uso ainda elementar dessa Aerogeofísico Serra do Mar Sul, de 1978, pode contribuir para o
técnica em prospecção mineral, os resultados foram interessantes, detalhamento das principais feições litoestruturais da porção
mas de difícil interpretação face à ausência de uma quantidade central dos terrenos pré-Ordovicianos de Santa Catarina. Tal
maior de depósitos e ocorrências conhecidas. Silva et al. abordagem permitiu reconhecer feições estruturais relacionadas
apresentam uma técnica inovadora para análise espacial de dados, às orogêneses Brasiliana e Rio Doce) e sugerir sua importância
denominada razões de probabilidade. A técnica, aplicada a dados no condicionamento de eventos tectono-magmáticos do
aerogeofísicos, apontou novas áreas com potencial para Paleozóico. A caracterização das assinaturas gamaespectromé-
ocorrência de mineralizações auríferas em BIFs do greenstone tricas dos granitóides do Grupo Brusque e do seu uso potencial
belt Rio das Velhas, na região do Quadrilátero Ferrífero. Seoane na prospecção regional de depósitos auríferos é outro resultado
et al. propõem um método para a prospecção de rochas significativo. Este foi também o tema do artigo de Fornazzari
ornamentais auxiliada por SIGs no Estado de Pernambuco. Os Neto & Fonseca, que utilizam dados re-processados do mesmo
autores utilizaram o índice de atratividade econômico-geológica Projeto Aerogeofísico Serra do Mar Sul para determinar
e obtiveram uma boa correlação entre a generalização dos assinaturas gamaespectrométricas de áreas de alteração
depósitos conhecidos mediante esse índice e as áreas seleciona- hidrotermal relacionadas às mineralizações auríferas em filões
das pela integração e modelagem de dados geofísicos e de de quartzo em granitóides do Grupo Brusque em Santa Catarina.
sensoriamento remoto em SIG. Da mesma forma que Dantas et al., os autores destacam a
Ohara et al. apresentam procedimentos para a análise importância do reprocessamento de dados aerogeofísicos
integrada em SIG de dados do meio físico da região do alto- antigos por meio de técnicas modernas e o seu impacto na
médio Rio Paraíba do Sul (SP) e resultados sobre o zoneamento extração de informações geológicas relevantes para a exploração
geoambiental e a carta de aptidão física para a implantação de mineral. Cainzos et al. abordam a análise espacial integrada de
obras viárias na região. dados gravimétricos e aeromagnéticos na caracterização e no
No artigo de Castro et al. um banco de dados geográficos foi detalhamento das principais unidades geológicas da porção
desenvolvido e aplicado na elaboração de mapas da centro-oriental de Cuba. Por meio de técnicas de processamento
morfodinâmica costeira e sensibilidade ambiental ao e modelagem bi-dimensional de dados gravimétricos, magnéticos
derramamento de óleo na costa do estado do Rio Grande do e geológicos, os autores lograram estabelecer os limites entre
Norte. as unidades oceânicas (associação ofiolítica e arco vulcânico) e
No que concerne a Aerogeofísica, o processamento e análise a unidade continental da Plataforma das Bahamas, bem como o
de dados, integrados ou não a outros dados geológicos e de detalhamento composicional do Arco Vulcânico Cretácico, que
sensoriamento remoto, são assuntos centrais de oito constitui a unidade de maior expressão nesta porção de Cuba.
contribuições deste número temático. Dantas et al. abordam a Madrucci et al. estabeleceram as bases do modelo hidrogeol-
questão da extração de informações geológicas a partir de dados ógico de um aqüífero fraturado em rochas pré-cambrianas da
aerogeofísicos antigos, por meio da aplicação de técnicas região leste do estado de São Paulo, empregando informações
modernas de processamento. Neste caso, trata-se do Projeto obtidas a partir de dados de sensoriamento remoto orbital e
Aerogeofísico Seridó, de 1973, do qual haviam se perdido os aerogeofísicos. Integrando esses dados, os autores interpretaram
dados digitais originais. Os autores recuperaram os dados e analisaram os elementos estruturais da área de estudo,
radiométricos dos canais de K, U e Th por meio da digitalização relacionando-os à produtividade de poços existentes por meio
dos perfis analógicos referentes à Faixa Seridó, na Província da análise espacial em ambiente SIG. No artigo de Silva et al.,
Borborema. Apesar da limitação, a aplicação de técnicas de dados aerogeofísicos de alta resolução (magnéticos,
processamento e visualização permitiu aos autores a cartografia gamespectrométricos e de condutividade) adquiridos sobre o

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Marcelo L. B. Blum et al.

greenstone belt Rio das Velhas, Quadrilátero ferrífero, foram


realçados com técnicas de processamento digital e forneceram
uma melhor compreensão do controle litológico e estrutural dos
depósitos auríferos da região.
Dois artigos tratam do uso de Geoestatística aplicada à
geologia e à exploração de petróleo. Remacre & Zaparolli
abordam o uso da modelagem estocástica por simulação
plurigaussiana para reproduzir atributos geométricos complexos
de um reservatório. Esta técnica, cujo desenvolvimento
representa uma das fronteiras atuais do conhecimento científico
nessa área, permite que, a partir de variáveis sobre a distribuição
de litofácies em um reservatório e da aplicação de funções
gaussianas aleatórias, se possa estabelecer o modelo geológico
mais adequado à caracterização do reservatório. Silva et al.
ilustram o uso da transformada wavelet na integração espacial
de dados geofísicos obtidos a partir de poços (de pouca
representatividade em área e alta densidade vertical) e de dados
de levantamentos sísmicos (de grande representatividade em
área ou volume e baixa densidade vertical). Os autores empregam
esta técnica na filtragem dos dados de perfis de poços,
compatibilizando-os com a escala de aquisição dos dados
sísmicos e permitindo, com essa transferência de escala, a análise
integrada desses dados de natureza complementar para a
modelagem de fluxos em reservatórios.
O confronto entre o que é disponível atualmente em
Geotecnologias de forma global e o panorama de como as
mesmas têm sido utilizadas no Brasil, revelado nos artigos
apresentados pela comunidade nesse número temático,
demonstra nitidamente que as pesquisas desenvolvidas e em
desenvolvimento nos país encontram-se na fronteira do
conhecimento científico e tecnológico, o que é uma importante
realização nesse campo da ciência nacional.

Agradecimentos Os editores vêm expressar, em nome da


Sociedade Brasileira de Geologia e da Revista Brasileira de
Geociências, os seus agradecimentos às instituições e
pesquisadores que contribuíram para a publicação deste número
temático em Geotecnologias Aplicadas às Geociências. Também
agradecem às empresas e instituições que contribuíram com
seu apoio financeiro, de fundamental importância na publicação
das ilustrações a cores, essenciais na apresentação de resultados
das aplicações de geotecnologias. Colaboraram na obtenção
destes apoios os Drs. Iran F. Machado, Adalene Moreira Silva,
Waldir R. Paradella e Washington F. Rocha, aos quais
agradecemos pelo empenho.
A qualidade técnico-científica deste fascículo se deve ao
criterioso trabalho, e indispensável colaboração, de numeroso
grupo de consultores, especialistas nas diversas áreas, e que
atuaram com rigor na revisão dos artigos submetidos. Assim,
ao Corpo de Revisores, listado na abertura deste fascículo, os
nossos profundos agradecimentos.
Aos pesquisadores em Geotecnologias que submeteram
artigos para publicação neste número temático, o nosso
reconhecimento pelo excelente trabalho de pesquisa que vêm
desenvolvendo e pelo esforço na promoção e difusão do
conhecimento nessa área.
Finalmente, os editores-convidados manifestam o seu profundo
agradecimento ao Prof. Dr. Hardy Jost, pelo estímulo à organização
deste temático, bem como pelo incansável apoio e desmedido
esforço que possibilitou a sua publicação.

Revista Brasileira de Geociências, Volume 33, 2003 5

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