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Revista Científica Digital da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas e do PPGCA/UNIFAL

EDIÇÃO ESPECIAL

Serra do Espinhaço: Flora e


Aspectos Fisiográficos

ISSN 2525-4936 Vol. 7, Núm 4 - Dezembro, 2021


Corpo Editorial

Editor Geral: Valdir Sementile - Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas

Editor Executivo: Sebastião Alves Ferreira - Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas

Editores Científicos: Luciana Botezelli - Universidade Federal de Alfenas

Ernesto de Oliveira Canedo Júnior - Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade Poços de
Caldas

Designer Gráfico: Rafael de Souza Mendes da Silva - Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas

Conselho Editorial:

Allan Arantes Pereira - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais

Ana Cristina Alencar Barros Costa Monteiro Leonel - Faculdade Pitágoras

André Luis de Gasper - Fundação Universidade Regional de Blumenau

Anne Priscila Dias Gonzaga - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

César Augusto Bronzatto Medolago - Universidade Federal de São Carlos - Campus Sorocaba

Evandro Luiz Evandro Luiz Mendonça Machado - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

Flávio Elston - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;

Gerson Oliveira Romão - Universidade de São Paulo / Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz

Lázaro Quintino Alves - Faculdade Pitágoras

Luciel Henrique de Oliveira - Fundação Getúlio Vargas

Marcelo Ismar Silva Santana - Universidade de Brasília

Maria Tereza Mariano - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Mário Henrique Terra Araújo - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Mireile Reis dos Santos - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas

Paulo Augusto Zaitune Pamplin - Universidade Federal de Alfenas

Rafael Hansen Madail - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas

Renata Christian de Oliveira Pamplin - Faculdade Pitágoras

Ricardo Reis - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Yula de Lima Merola - Faculdade Pitágoras


Ficha catalográfica

R341 Regnellea Scientia: Revista científica da Fundação Jardim


Botânico de Poços de Caldas, - vol. 7 n.4 (2021) -.–
Poços de Caldas: Fundação Jardim Botânico de Poços
de Caldas, 2021-

Trimestral

ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)

1. Botânica 2.Zoologia
I. Título

CDD:580
CDU:58+59

Fotografia da capa:

Geovane da Conceição Máximo - Serra do Espinhaço

Versão Eletrônica:

jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.br
Apresentação

Revista RegnelleaScientia
É um periódico científico da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, dedicado a
publicações em formato de artigo científico, resenha, nota técnica e revisão bibliográfica. O
nome “Regnellea” é uma homenagem ao botânico Anders Fredrik Regnell.

Missão
Incentivar a produção científica nas áreas ambientais.

Áreas de abrangência
Ecologia, Botânica, Zoologia, Agronomia, Educação Ambiental e Etnobiologia, Gestão
Ambiental, Geologia e Conservação da Natureza.

Submissão
Artigos científicos, resenhas, notas técnicas e revisões bibliográficas, podem ser envia- dos
em qualquer período do ano seguindo as diretrizes para autores. A avaliação é realizada aos
pares e as cegas, o trabalho original tem sua autoria removida antes de ser encaminhado para
um especialista.
Não é necessário que o autor ou coautores possuam vínculo com a Fundação Jardim
Botânico de Poços de Caldas.

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A revista Regnellea Scientia possui periodicidade trimestral eletrônica.

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Parque Véu das Noivas, Poços de Caldas, Minas Gerais, CEP 37704-377.
Anders Fredrik Regnell

NATO IN SUECIA MDCCCVII


DENATO IN CALDISMDCCCLXXXIV
NATURALIS SCIENTIAE
MEDICAEQUE ARTIS
ASSIDUO CULTORI
*
MAECENATI LIBERALI

* Parte do epitáfio em monumento construído pelo governo sueco em 1901, homenageando Anders Fredrik Regnell no
município de Caldas, Minas Gerais, Brasil.
ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)
ISSN 2358-0178 (Versão impressa)

SCIENTIA
Revista Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas e do PPGCA/UNIFAL

Sumário / Contents

Danielle Piuzana Mucida, Bernardo Machado Gontijo, Marcelino Santos de Morais, Luciano
Cavalcante de Jesus França, Matheus Pereira Ferreira, Jussiara Dias dos Santos NARRANDO
A PAISAGEM DO SÉCULO XIX AOS DIAS ATUAIS: GEODIVERSIDADE E
BIODIVERSIDADE DO ESPINHAÇO................................................................................ 139

Anne Priscila Dias Gonzaga & Evandro Luiz Mendonça Machado PAISAGENS E
VEGETAÇÃO DA REGIÃO DO ESPINHAÇO MERIDIONAL.....................................162

Antônio Carlos de Godoy Silva Carneiro, Bianca Massula, Diego Tassinari, Carlos Victor
Mendonça Filho FENOLOGIA DE LEGUMINOSAE HERBÁCEO-ARBUSTIVAS EM
ÁREAS DE CAMPO RUPESTRE NO ESPINHAÇO MERIDIONAL............................186

Cristiane Fernanda Fuzer Grael, Mônica Maciel Guimarães, Thaísa Clara Ornelas Otoni
PESQUISAS COM PLANTAS MEDICINAIS NA REGIÃO DO ESPINHAÇO........... 201

VOL. 7(4) Dezembro/2021


PREFÁCIO

A Serra do Espinhaço é responsável pela divisão entre as redes de drenagem do Rio


São Francisco e dos rios que correm diretamente para o oceano Atlântico, especialmente os
rios Jequitinhonha e Doce. Sendo também divisor de dois hotspots mundiais, o da Mata
Atlântica e do Cerrado, ambientes que abrigam elevada diversidade biológica e estão entre os
mais ameaçados do planeta. Fitogeograficamente a região está inserida um complexo mosaico
de fitofisonomias relativamente bem preservadas, as quais, segundo pesquisas recentes,
abrigam aproximadamente 2/3 das espécies vegetais consideradas ameaçadas de extinção em
Minas Gerais, além da ocorrência de um elevado número de espécies endêmicas.
Desde o século XVII, a região foi intensamente descrita e interpretada por viajantes e
ou naturalistas que vieram ao Brasil atraídos, principalmente, pelas jazidas minerais. Apesar
do foco em minerais preciosos, esses viajantes descreveram em seus cadernos de campo (que
posteriormente vieram a se tornar livros) aspectos de cunho biológico, antropológico,
mineralógico, sociológico, geográfico e geológico do Brasil oitocentista. Dentre os diversos
viajantes que passaram pela região merecem destaque Freireys (1814-1815), Saint-Hilaire
(1817-1822), Martius e Spix (1818), Pohl (1818-1821), Langsdorff (1825), Orbigny (1833-
1834), Bunbury (1834-1835), Gardner (1840) e Von Tschudi (1858), por terem foco em
estudos sobre a flora e efetuado intensa coleta na região.
Atualmente a população na região ainda é predominantemente rural, com perfil
extrativista de recursos florestais para produção de artesanato e de carvão, além de atividades
agropecuárias e de mineração. A exploração extrativista na região representa fonte de renda
alternativa para comunidades tradicionais, comerciantes e empresários, contudo não há
preocupação com uma produção racional, nem com a conservação genética, sendo urgente o
(re)conhecimento desta flora para que sejam elaboradas políticas publicas que visem a
conservação e recuperação destes ambientes, garantindo assim a sustentabilidade ambiental e
socioeconômica.
Contudo, apesar da diversidade e da possibilidade de produtos, serviços e benefícios, a
flora brasileira, em especial a flora do Espinhaço, é pouco conhecida e valorizada. Por esta
razão o Herbário Dendrológico Jeanine Felfili (HDJF) e o Grupo de Estudos em Ecologia e
Biogeografia do Espinhaço (GEEBE) promoveram, nos anos de 2017 e 2018, o I e II
“Workshop da Flora do Espinhaço”, visando aproximar os discentes da graduação, pós-
graduação e profissionais de assuntos relacionados à botânica e ecologia desta região ímpar.
Os eventos contaram com minicursos, treinamentos e palestras, as quais serão apresentadas
neste e em um próximo número especial. Para este número, selecionamos as palestras que
abordaram as características do ambiente, da história natural, bem como trabalhos síntese de
pesquisas realizadas na região.
Desejamos uma boa leitura.

Evandro Luiz Mendonça Machado1 & Anne Priscila Dias Gonzaga2


Docentes da Universidade do Vale do Jequitinhonha e Mucuri,Diamantina, MG
1
machadoelm@gmail.com
2
diaspri@gmail.com
NARRANDO A PAISAGEM DO SÉCULO XIX AOS DIAS ATUAIS:
GEODIVERSIDADE E BIODIVERSIDADE DO ESPINHAÇO

Danielle Piuzana Mucida1, Bernardo Machado Gontijo2, Marcelino Santos de Morais3, Luciano Cavalcante de
Jesus França4, Matheus Pereira Ferreira5, Jussiara Dias dos Santos6
1
Professora Associada, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Curso de Geografia; Pós-
Graduação em Ciência Florestal, Diamantina, MG, danielle.piuzana@ufvjm.edu.br;
2
Professor Associado, Universidade Federal de Minas Gerais, Curso de Geografia; Pós-Graduação em Geografia
e Análise Ambiental, Belo Horizonte, MG, bmgontijo@yahoo.com.br;
3
Professor Adjunto, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Curso de Geografia;
Diamantina, MG, marcelino.morais@ufvjm.edu.br;
4
Doutorando em Engenharia Florestal, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Departamento de
Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, lucianocjfranca@gmail.com;
5
Estudante do curso de Geografia, bolsista PIBIC-CNPQ; Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri, Diamantina, MG; matheus.ferreira@ufvjm.edu.br;
6
Bacharel em Humanidades, Geógrafa, estudante da Especialização em Ensino de Geografia, Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG; jussiara.santos@ufvjm.edu.br.

RESUMO A Serra do Espinhaço apresenta expressiva relevância em atributos naturais e


culturais. Este trabalho objetivou traçar um paralelo entre a importância geológica e ecológica
da Serra do Espinhaço; uma tessitura entre a literatura de viagem do século XIX e relevância
da geodiversidade e biodiversidade da região atualmente. O estudo baseou-se em pesquisas
bibliográficas. A geodiversidade caracteriza-se como toda variedade de aspectos naturais
geológicos e geomorfológicos da potencialidade do patrimônio geológico de uma região. A
biodiversidade, abrange espécies que se desenvolvem em um ecossistema e que podem
subsidiar, eventualmente, planejamentos sobre proteção, conservação e manutenção de áreas
específicas. O olhar mais holístico sobre a Serra do Espinhaço indicou a riqueza dos recursos
naturais presentes em trechos de obras de naturalistas e pelo tombamento de sítios de
geodiversidade. A Reserva da Biosfera confirma a importância da região em biodiversidade.

Palavras-chave: Conservação Ambiental; Geoconservação; Geografia Histórica; Reserva da


Biosfera; Viajantes Naturalistas.

ABSTRACT The Espinhaço Range has an expressive relevance of natural and cultural
attributes. This work aimed to draw a parallel between the geological and ecological importance
of Espinhaço Range, a weaving between 19th-century travel literature and the relevance of the
region's geodiversity and biodiversity today. Bibliographical research-based study.
Geodiversity comprises a variety of natural geological and geomorphological aspects of the
potential of a region's geological heritage. Biodiversity encompasses species that develop in an
ecosystem and can eventually subsidize planning on protecting conservation and maintenance
of specific areas. A more holistic look at Espinhaço Range indicated natural resource richness
present in citations from naturalist books and by the listing of geodiversity sites. In addition,
the Biosphere Reserve confirms the importance of the region in terms of biodiversity.

Keywords: Environmental Conservation; Geoconservation; Historical Geography; Biosphere


Reserve; Naturalists Travelers.
MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

INTRODUÇÃO expansão do conhecimento do ecúmeno


(LOPES et al., 2011). Ao final das
O estudo da história natural ao longo
expedições, os viajantes apresentavam seus
dos séculos XVIII e XIX foi realizado, em
resultados, relatos orais e relatórios escritos
grande parte, por viajantes naturalistas. No
nos eventos, o que diferenciou
Brasil Colônia, até início do século XIX,
significativamente o número de publicações
esses profissionais eram exclusivamente
sobre o território brasileiro ao mundo: entre
súditos da Coroa portuguesa, encarregados
1800 e 1899 mais de 350 documentos foram
de revelar as riquezas e utilidade dos
disponibilizados, enquanto entre 1500 e
recursos naturais. Após 1808, o Brasil
1799, apenas 80 manuscritos (CRIBELLI,
recebeu diversos naturalistas estrangeiros
2014).
de diversas regiões da Europa, empenhados
Apesar do foco em jazidas minerais
na observação e classificação da dinâmica
de muitos naturalistas, estes registraram em
ambiental da paisagem, descrição de
seus cadernos de campo aspectos de cunho
fenômenos naturais e à classificação de
geográfico, ecológico, biológico e
fauna e flora, além de estudos voltados aos
socioculturais do Brasil Colônia e Imperial,
seres humanos. Ligados à nobreza ou a
permitindo, portanto, em Minas Gerais, a
sociedades científicas, percorriam o solo
caracterização e a delimitação da Serra do
brasileiro num esforço conjunto e planejado
Espinhaço e suas margens. Se hoje é sabido
de revelar, colecionar e classificar os reinos
que a Serra do Espinhaço é um grande
naturais da América (LEITE, 1995;
divisor de biomas, além de ser o interflúvio
AMORIM FILHO, 2008; MUCIDA et al.,
de três grandes bacias hidrográficas (bacias
2019).
do rio São Francisco, rio Doce e rio
Entre 1808 e 1830 importante
Jequitinhonha), as bases para sua
testemunho de viajantes naturalistas,
compreensão ecogeográfica, geológica,
expedições científicas e missões artísticas
hidrográfica e geomorfológica começaram
europeias, muitas das quais associadas às
a ser escritas (e descritas) no século XVIII.
Cortes de Dom João VI e Dom Pedro I.
Mesclando em seus relatos descrições
Uma segunda leva de viajantes teve início
fisiográficas e antropológicas, bem como
na década de 1840 com a consolidação do
desenhos e minuciosas aquarelas, estes
império brasileiro e a chegada de Dom
grandes representantes da Ciência Moderna
Pedro II ao trono. Expedições de
lançaram os olhos internacionais de seus
naturalistas, principalmente europeus
governantes ao Distrito Diamantino e suas
ocorreram durante todo século XIX para

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Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

peculiares características ambientais, vinculados à CPRM (Companhia de


paisagísticas e sociais. Pesquisa em Recursos Minerais) e outros
A importância da história ambiental estudos científicos; (iii) análise,
desta região, englobando seus recursos interpretação e descrição obras e das
naturais, culturais e históricos, levou a expedições e contribuições dos viajantes
declaração pela Unesco, em 2005, como naturalistas e; (iv) a confecção do
Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço documento final. A pesquisa documental
(RBSE) (ANDRADE et al., 2015; 2018). teve caráter de coleta de dados primários e
Neste sentido, este trabalho visa traçar um de natureza qualitativa
paralelo entre a importância geológica e Analisou-se a literatura de viagem
ecológica da Serra do Espinhaço: uma disponibilizada na forma de livros dos
tessitura descrita em literaturas de viagem seguintes naturalistas europeus: W.
do Século XIX e sua relevância na Eschwege; J. Mawe, A. Saint-Hilaire, J.
atualidade. Spix e K. Martius, J. Tschudi; R. Burton; V.
von Helmreichen.
MATERIAIS E MÉTODOS
No que concerne aos termos

A base de dados e os procedimentos históricos da divisão territorial

metodológicos adotados no levantamento administrativa ao longo do Século XIX

sobre os aspectos de geodiversidade e foram consultados dicionários geográficos

biodiversidade e de narrativas de históricos (SAINT-ADOLPHE, 2014);

naturalistas viajantes do Século XIX sobre (BARBOSA, 1995) e toponímicos

a Serra do Espinhaço, consistiram em (COSTA, 1970).

pesquisa exploratória e bibliográfica e


RESULTADOS E DISCUSSÃO
análise documental.
A sequência metodológica dividiu- A relevância geológica da Serra do
se em três etapas, nomeadamente: (i) Espinhaço: passado e presente
levantamento bibliográfico; (ii)
Rochedos sobranceiros, altas
levantamento dos aspectos da montanhas, terrenos arenosos e
estéreis, irrigados por um grande
geodiversidade, biodiversidade com número de riachos, sítios os mais
bucólicos, uma vegetação tão curiosa
consultas no SIGEP (Sítios Geológicos e quão variada, eis o que se nos
Paleontológicos do Brasil) e ao GEOSSIT apresenta no Distrito dos Diamantes
(SAINT-HILAIRE, 2004, p. 13).
(Sistema de Cadastro e Quantificação de
Geossítios e Sítios da Geodiversidade)

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MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

O termo Espinhaço foi proposto por Atualmente, a Serra do Espinhaço é


Eschwege para uma porção da capitania das reconhecida na região central do estado de
Minas Gerais como uma região elevada do Minas Gerais e Bahia, com cerca de 1200
Brasil, de direção geral norte-sul e marcos km de extensão, separada em segmentos
geográficos como Pico do Itacolomi (Ouro meridional e setentrional (nas proximidades
Preto), a Serra do Caraça (Catas Altas) e o do paralelo 17° 00’S) e Chapada
Pico do Itambé (Serro). Destaca a Diamantina (território baiano) (KNAUER,
importância da serra como um divisor tanto 2007) (Figura 1). Há ainda as terras altas do
do ponto de vista geológico quanto Quadrilátero Ferrífero, a porção mais
biogeográfico (ESCHWEGE, 2005 [1822], meridional do território.
p.99).

Figura 1: Localização da Serra do Espinhaço no contexto da América do Sul, Brasil, e setores


Serra do Espinhaço Meridional, Setentrional e Chapada Diamantina. O mapa de detalhe
apresenta os principais rios e algumas sedes municipais como Diamantina, Grão Mogol e
Lençóis. Fonte: Adaptado de MMA, 2019.

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Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

O Quadrilátero Ferrífero ressalta-se Chapada Diamantina (grupos Paraguaçu e


na paisagem por suas alongadas escarpas, Chapada Diamantina) (DUSSIN, DUSSIN,
de altitudes médias em torno de 1400 – 1995; PEDREIRA SILVA, 1994).
1600 metros com campos rupestres Atualmente a estruturação dos
ferruginosos endêmicos (SCHAEFER et pacotes rochosos é atribuído a um sistema
al., 2016). Rochas metassedimentares empurrões de direção geral norte-sul e
paleoproterozoicas do Supergrupo Minas, vergência para oeste. Isso ocorreu há cerca
caracterizadas por formações ferríferas de 600 milhões de anos atrás, na Orogenia
demarcam o quadrilátero (ROSIÈRE et al. Brasiliana, regionalmente denominado
2005), como as serras do Curral; Moeda, Orógeno Araçuaí, colidiram com o material
Ouro Fino e Caraça. Há, ainda, sequências depositado da Bacia Espinhaço
vulcano-sedimentares do cinturão de rochas (ALCKMIM, 2018) (Figura 2 b,c).
verdes de idade arqueana, do Supergrupo A geologia e a formação territorial
Rio das Velhas, ricas em ouro, importantes promovida pela extração principalmente do
no Ciclo do Ouro no Brasil Colônia aos dias ouro no Quadrilátero Ferrífero e borda leste
atuais. da Serra do Espinhaço Meridional e
O Supergrupo Espinhaço (PFLUG, diamante (Espinhaço Meridional,
1965) caracteriza-se por origem sedimentar, Setentrional e Chapada Diamantina)
com idade de sedimentação entre 1,8 e 1,0 vinculado às rochas, encostas, córregos e
bilhão de anos (DUSSIN, DUSSIN 1995; rios auríferos e diamantíferos deixou
CHEMALE Jr. et al., 2012). Os depósitos marcas e definiu a originalidade das
basais possuem características diversas paisagens desta região. John
dominantemente continentais, Mawe, em 1807, em sua estadia no
representados pelas formações São João da povoamento de Mendanha (distrito de
Chapada e Sopa-Brumadinho (Espinhaço Diamantina) ressalta a importância do rio
Meridional – região de Diamantina) e Jequitinhonha para a extração do ouro e do
formações Resplandecente e Grão Mogol diamante; minerais estes encontrados em
(Espinhaço Setentrional – região de Grão seu leito, em uma massa de cascalho
Mogol) e no Grupo Rio dos Remédios formada por seixos rolados e ligados por
(Chapada Diamantina). Ambientes óxido de ferro. O viajante descreve e relata
transicionais e deltaicos e formações os passos do processo da lavagem do
plataformais são mais expressivos no diamante, ressaltando os seus ambientes de
Espinhaço Meridional (Formação Galho do deposição (MAWE, 1982).
Miguel e Grupo Conselheiro Mata) e

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MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

Figura 2: a) Modelo digital de terreno da porção mineira do Orógeno Araçuaí e áreas


vizinhas com as suas principais feições topográficas; b) Mapa geológico simplificado da
mesma porção do orógeno com a representação das principais assembleias litológicas que
dele tomam parte. C) Corte geológico representativo da estrutura do orógeno, que consiste em
camadas dobradas e seccionadas por falhas de empurrão. Fonte: Alckmim, 2018.

Marcos geográficos são encontrados camadas regulares, como se fossem


construídas, mas que desafia o homem
e descritos por vários naturalistas. Na Serra a construí-las (BURTON, 1983, p.
268).
do Espinhaço Meridional, o mais
importante é, sem dúvida, o Pico do Itambé, Além do Itambé, Saint-Hilaire cita o

amplamente citado além de ser uma fonte Mata-mata: [...] “atravessando a aldeia

iconográfica para Martius (SPIX; [Tijuco, atual Diamantina] na direção N-S,

MARTIUS, 1981) e Tschudi (TSCHUDI, desfrutei ainda uma vez o panorama

2006) e descrito no SIGEP (CHAVES et al., encantador que eu já havia admirado ao

2013). Burton, em 1869, o descreve: viajar para Mata-mata. [...]” (SAINT-


HILAIRE, 2004, p.20). A formação
À sua esquerda erguia-se um pico
maciço, com listas horizontais
quartzítica do Mata-mata ou Montanha da
onduladas; à direita, quase beijando as Maravilha também é descrita por Burton em
nuvens, o chamado morro das Datas
ou Itambé. O horizonte é limitado dos 1869 que dedicou um capítulo à mina de
outros lados por penhascos agrestes,
que parecem contrafortes e de um rio diamante de São João (distrito de São João
imaginário. Aqui e ali uma
protuberância indicadora, com da Chapada, Diamantina). No Quadrilátero

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Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

geomorfológicos, como formas de relevo e


Ferrífero os picos do Itacolomi (Ouro Preto)
seus processos de formação
e do Itabira (Itabirito) foram descritos por
(NASCIMENTO; RUCHKYS;
vários naturalistas e fontes iconográficas
MANTESSO-NETO, 2008). Estudos
para Stephen (ROSIÈRE et al., 2005),
vinculados à geodiversidade podem revelar
Tschudi (2006) e de Martius, encontradas
a potencialidade do patrimônio geológico
nos sítios Flora Brasiliensis e na Biblioteca
de uma região (MEIRA; MORAIS, 2016),
Brasiliana e Guida José Mindlin.
ou seja, características geológicas especiais
No Espinhaço Setentrional, em Grão
que devem ser preservadas e o valor e
Mogol, Virgil von Helmreichen reportou
conceito de um sítio de geodiversidade pode
diamantes lavrados na própria rocha-matriz,
variar de acordo com o potencial para
designada “Pedra Rica” (HELMREICHEN,
ciência, educação, cultura ou mesmo o
2002), os conglomerados diamantíferos que
turismo.
se encontram em rochas basais do
Locais que remontam a história da
Supergrupo Espinhaço. Anos mais tarde,
mineração de diamantes, como a Serra de
Derby esclareceu que a Pedra Rica era um
Sincorá, (BA), Conglomerado
conglomerado, e sem qualquer relação
Diamantífero Sopa (Diamantina, MG);
genética com os diamantes nela contidos.
Morro do Pai Inácio (BA) Morro da Pedra
De tal maneira, permanece desconhecida a
Rica (MG) dentre outros sítios geológicos e
fonte primária responsável de ter
paleontológicos do Brasil foram aprovados,
“abastecido” as rochas secundárias
grande parte já publicado junto ao SIGEP
presentes na região de Grão Mogol
(CPRM) e com propostas de criação em
(CHAVES et al., 2009).
andamento (Quadro 1). Além disso há sítios
Todos estes marcos na paisagem
de geodiversidade cadastrados no
são, atualmente, sítios já publicados ou
GEOSSIT e sítios de valor educacional
sítios-alvo de geodiversidade. A
relevante publicados em formato de artigos
geodiversidade caracteriza-se como toda
(p.e. KUCHENBECKER et al., 2016).
variedade de aspectos naturais geológicos e

Quadro 1: Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP) e de Geodiversidade


(GEOSSIT) já publicados e em análise que se encontram no território da Serra do Espinhaço.
NOME LOCAL DESCRIÇÃO CADASTRO FONTE
Serra de Chapada Beleza paisagística e Pedreira et al.
SIGEP
Sincorá Diamantina, Bahia paleopláceres de diamante (2002)
(Continua)

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MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

Quadro 1 (Continuação)
NOME LOCAL DESCRIÇÃO CADASTRO FONTE
Chaves, Meneghetti
Conglomerado Espinhaço Marco histórico da
Filho (2002);
Diamantífero Meridional, mineração do diamante no SIGEP
Kuchenbecker et al.
Sopa Diamantina, MG Brasil
(2016).
Morro do Pai Chapada Pedreira; Bonfim,
Marco Morfológico SIGEP
Inácio Diamantina, Bahia (2002)
Espinhaço Feição geomorfológica Chaves, Benitez,
Canyon do
Setentrional, de travessia completa da SIGEP Andrade, Sartori
Talhado
Porteirinha, MG Serra do Espinhaço (2009)
Marco estrutural,
Pico de Itabira, Quadrilátero
histórico e geográfico SIGEP Rosière et al. (2009)
MG - Ferrífero, MG
do Quadrilátero Ferrífero
Da lenda do Sabarabuçu
Ruchkys et al.
Serra da Quadrilátero ao patrimônio histórico,
SIGEP (2009); Ruchkys,
Piedade Ferrífero, MG geológico, paisagístico e
Machado (2013)
religioso
Espinhaço Primeira jazida de Chaves, Benitez,
Morro da Pedra
Setentrional (Grão diamantes minerada em SIGEP Andrade, Sartori
Rica
Mogol) rocha no mundo (2009)
Serra do Chapada Registro de um deserto
SIGEP Pereira et al. (2017)
Tombador Diamantina, BA proterozoico
Gruta do Serra do Caraça, A maior e mais profunda
Dutra, Rubbioli,
Centenário, Pico Quadrilátero caverna quartzítica do SIGEP
Horta (2002)
do Inficionado Ferrífero, MG mundo
Imponente relevo
Serra do Espinhaço Chaves, Benitez
Pico do Itambé́ residual na superfície SIGEP
Meridional, MG Andrade (2013)
de erosão Gondwana
Fazenda Cristal, Estromatólitos Srivastava; Rocha
Bahia SIGEP
BA mesoproterozoicos (2013)
Bacia de Quadrilátero Registro fossilífero, e Mello, Bergqvist,
SIGEP
Fonseca Ferrífero, MG depósitos de canga Sant` Anna, (2002)
Serra da Água Joaquim Felício
Vestígios de glaciação SIGEP Karfunkel, Noce,
Fria e (sul), Dequitai (sul-
neoproterozoica GEOSSIT Hoppe, (2002)
Vizinhanças sudeste), (MG)
Mariana,
Mina de História da Mineração; Sítio com autores
Quadrilátero SIGEP
Passagem Metalogenético confirmados
Ferrífero, MG
Paleoambiental; Aprovado e
Bacia do Quadrilátero
Sedimentar; SIGEP disponível para
Gandarela, MG Ferrífero
Estratigráfico descrição
Chapada Espeleológico - gruta de
Gruta do Lapão SIGEP – em análise
Diamantina, BA quartzito
Morro da Santana do Riacho, Estrutural – dobras em
SIGEP – em análise
Pedreira MG bainha
– em análise
Ígneo - Tubo de lava
Morro da Onça Crucilândia, MG SIGEP Ruchkys et al.
komatiítica arqueana
(2011)
Tectônica, uma falha
transcorrente brasiliana
que controla um depósito
Falha da Cata de ouro no quartzito Cavalcanti, Freitas,
Itabirito (MG) GEOSSIT
Branca Paleoproterozoico da Filho, Lima, (2020)
Formação Moeda,
Quadrilátero Ferrífero-
MG.
(Continua)

147
Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

Quadro 1 (Continuação)
NOME LOCAL DESCRIÇÃO CADASTRO FONTE
Espeleologia, uma caverna em
A Gruta da Ouro Preto mármore dolomítico Teixeira-Silva
GEOSSIT
Igrejinha (MG) Paleoproterozoico da Bacia Minas, et al. (2020)
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais
Mineralização de Metalogenia, 1ª Companhia Cavalcanti,
Mariana
Ouro da Mina da Mineradora do Brasil criada durante GEOSSIT Lima; Silva
(MG)
Passagem o Governo Imperial (2020)
Metalogenia , Mineralização de
Ouro Preto Ouro nas Rochas do Supergrupo Cavalcanti et
Mina do Chico Rei GEOSSIT
(MG) Minas do Paleoproterozoico, no al. (2020)
Centro Histórico de Ouro Preto-MG
Fontes: SIGEP, GEOSSIT.

A relevância histórico-ambiental As paisagens sob olhar de um


deste território levou a proposta de criação observador em qualquer porção do espaço
de geoparques vinculados à história geográfico, congregam um conjunto de
geoambiental deste território, como o elementos do meio geobiofísico (rochas,
Quadrilátero Ferrífero, Diamantina, minerais, relevo, solos, biota) em dinâmica
Chapada Diamantina e Serra do Sincorá transformação por processos geológicos,
(RUCHKYS et al. 2008, NASCIMENTO, hidrológicos e atmosféricos. A paisagem é,
RUCHKYS, MANTESSO-NETO, 2008; sobretudo, um conceito de abrangência
PEREIRA et al. 2017) de forma a multidisciplinar e uma poderosa ferramenta
impulsionar o desenvolvimento regional de análise espacial (DANTAS et al., 2015).
nas vertentes econômica, ambiental, social A biodiversidade da região do
e cultural (Quadro 2). Espinhaço atraiu a atenção de naturalistas
desde o período colonial e, em suas obras,
A importância ecológica do Espinhaço
contribuições na análise de paisagem são
Quase parece que a natureza escolheu
muito relevantes. Em um contexto
para a região originária dessas pedras
preciosas os mais esplêndidos campos territorial mais amplo, por exemplo, von
e o guarneceu com as mais lindas
flores. Tudo que até agora havíamos Martius, autor de Flora Brasiliensis, foi
visto de mais belo e soberbo em
paisagens, parecia responsável por uma primeira classificação
incomparavelmente inferior diante do
encanto que se oferecia aos nossos espacializada da vegetação brasileira em
olhos admirados. Todo o Distrito
1824 nas Tabulae Physiognomicae
Diamantino parece um jardim
artisticamente plantado, a cuja Explicatae (SCHMITT, 2015, p. 214), com
alternativa de românticos cenários
alpestres, de montes e vales, se aliam similaridades consideráveis ao atual padrão
mimosas paisagens de ficção idílica
(SPIX; MARTIUS, 1981, pg. 27). de distribuição dos biomas brasileiros
(JOLY et al., 1999). Martius propôs uma
divisão do território brasileiro em cinco
148
MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

zonas fitogeográficas nomeadas por ninfas Ferrífero (centro-norte de Minas Gerais)


do universo mitológico grego: Náiades foram considerados pela UNESCO em
(Floresta Amazônica); Hamadríades 2005, como uma nova biorregião ecológica
(Caatinga); Oréades (as montanhas e o (Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço
Cerrado do Planalto Central); Dríades - 3.210.903,3 hectares) (Figura 3). Em
(Mata Atlântica) e Napéias (as matas de 2019, houve uma ampliação do território
Araucária e os Pampas) (GONZAGA et al., para 10.218.895,20 hectares (Fase II), em
2018). direção ao norte mineiro (ANDRADE et al.,
Regionalmente, a porção meridional 2018) com expectativas de ampliação em
da Serra do Espinhaço e o Quadrilátero futuro próximo para território da Bahia.

Quadro 2: Propostas de Geoparque CPRM.


GEOPARQUE LOCAL DESCRIÇÃO CADASTRO FONTE
Paleoambiental, História da Nascimento, Ruchkys,
Quadrilátero
MG Mineração, Histórico- CPRM Mantesso-Neto,
Ferrífero
cultural. (2008)
Nascimento, Ruchkys,
Geomorfológico, História da
Diamantina MG CPRM Mantesso-Neto,
Mineração.
(2008)
Geomorfológico, Nascimento, Ruchkys,
Chapada
BA Paleoambiental, Histórico- CPRM Mantesso-Neto,
Diamantina
cultural. (2008)
Geomorfológico,
Serra do
BA Patrimônios Arqueológico CPRM Pereira et al. (2017)
Sincorá
Geológico e Garimpeiro
Fonte: SIGEP.

Nesse contexto da RBSE, as porções do território nacional (FERNANDES et al.,


mais elevadas funcionam como barreiras 2018; NEVES et al., 2018; SILVEIRA et
orográficas que influenciam regiões al., 2016). Entende-se, portanto, as dezenas
biogeográficas. A zona núcleo da reserva de unidades de conservação de proteção
consiste em fitofisionomias do Cerrado – integral no território (parques nacionais,
onde encontram-se os Campos Rupestres estaduais) além de inúmeras outras
(Figura 4.a), que abrigam em torno de 15% categorias de uso sustentável (ANDRADE
da flora vascular do Brasil em menos de 1% et al., 2018).

149
Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

Figura 3: Mapa do território da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE) com


delimitações da Fase I (2005) e Fase II (2019) no contexto do estado de Minas Gerais. Fonte:
Andrade et al., 2018.

150
MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

Além disso, trata-se de região Saint-Hilaire foi um dos naturalistas


irradiadora de drenagens de bacias que mais dedicou-se à variação
hidrográficas federais: Rio Doce (leste), biogeográfica da região. Em seus textos,
Jequitinhonha (nordeste), São Francisco utiliza termos para domínios vegetacionais
(oeste) e Rio Pardo (norte) (Figura 4.b), como: Matas Virgens, Caatingas,
com caráter de teto orográfico regional Carrasqueiros, Carrascos e Campos
(SAADI, 1995). Interessante ressaltar que Naturais, típicos na RBSE, e se comparados
Mawe, em 1807 em visita ao rio Pardo (que às fitofisionomias atuais corresponderiam a
escoa na direção a oeste do povoamento de Florestas Estacionais Semidecíduas e
Capela Velha), considerou a região um Decíduas; Cerradão; Cerrado Denso,
divisor de bacias: Típico, Ralo e Rupestre; Campo Sujo,
Limpo e Rupestre respectivamente
Os regatos a este [leste] dessa cadeia
de montanha lançam-se no (SANTOS et al., 2020). O naturalista
Jequitinhonha; as do oeste vão
desembocar no rio das Velhas, que descreve domínios antropizados chamados
leva suas águas ao São Francisco. Não
dispunha de meios para determinar a
Capoeiras e Campos Artificiais em estágios
elevação das montanhas que eram as diferenciados de sucessão ecológica, que
mais altas do Brasil (MAWE, 1981
[1813], p. 160). contribuem com dados ecológicos,

As literaturas de viagem de biológicos e geográficos subsidiando

naturalistas do século XIX para a região do estudos e estratégias para a conservação dos

Espinhaço ressaltam a relevância do recursos naturais. Neste sentido:

território quanto à biodiversidade. Nota-se


Toda a região se divide em matas e
pela narrativa de Eschwege (2005), por campos. As matas, ou pertencem à
flora primitiva ou são o resultado do
exemplo, a transição entre os biomas atuais trabalho do homem. As primeiras são
as florestas virgens (ou matas
da Mata Atlântica e Cerrado: virgens); as caatingas, cuja vegetação
é menos vigorosa que as destas
últimas, e perdem suas folhas
As regiões ao leste desta cadeia, até o
anualmente; os carrascos, espécie de
mar, são cobertas por matas das mais
florestas anãs, compostas de arbustos
exuberantes. O lado oeste forma um
de 3 a 4 pés, aproximados uns dos
terreno ondulado e apresenta morros
outros; enfim, os carrasqueiros [...],
despidos e paisagens abertas,
que, mais elevados que os carrascos
revestidas de capim e de árvores
formam uma espécie de transição
retorcidas, ou os campos cujos vales
entre eles e as caatingas. Quanto às
encerram vegetação espessa apenas
matas devidas, pelo menos de maneira
esporadicamente. O botânico
imediata, o trabalho do homem, são as
encontra, nas matas virgens, plantas
capoeiras que sucedem às plantações
completamente diferentes daquelas
feitas nas matas virgens, e os
dos campos e o zoólogo acha uma
capoeirões que pouco a pouco
outra fauna, especialmente de aves,
substituem as capoeiras, quando se
tão logo passe das matas, pela Serra do
deixa, durante certo tempo, de cortar
Espinhaço, para os campos.
essas últimas. A palavra campo indica
(ESCHWEGE, 2005 [1822], p.99).

151
Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

resiliência (FERNANDES et al., 2018); em


um terreno coberto de ervas, ou se
quiserem tudo o que não é nem mata territórios de alta fragilidade ambiental
virgem, nem capoeira, nem
carrasqueiro. O campo é natural (FRANÇA, 2018; FRANÇA et al., 2020) e
(campo nativo), quando jamais teve
florestas; é pelo contrário, artificial
com os focos de calor de classes alta e muito
quando as ervas sucederam às matas alta, indicativos de incêndios florestais
destruídas pelo homem.
Frequentemente se vêm nos campos (MENEZES et al., 2019). Estes ambientes
nativos árvores retorcidas, raquíticas,
esparsas ao acaso; essa modificação, demandam estratégias de restauração
porém, não impede os terrenos que a
apresentam de conservar seu nome de ecológica de áreas degradadas condizentes
campos. As caatingas são formas
intermediárias entre os mais altos
com suas peculiaridades bióticas e abióticas
carrascos e as florestas virgens; com fins de conservação da biodiversidade
distinguem-se destas últimas, por
perderem anualmente as folhas de uma das mais ricas vegetações do planeta
(SAINT-HILAIRE, 2000, p. 232-
233). (grifo nosso). (FERNANDES et al., 2018).

O naturalista destaca, ainda, a A diversidade da vegetação

relevância da vegetação de “campo” relaciona-se ao ambiente transicional entre

encontrada em marcos geográficos atuais, os biomas. A biodiversidade encontrada no

um dos principais elementos da vegetação Planalto de Diamantina para áreas ao norte

citados na criação da RBSE, os Campos denota atenção de Tschudi em trajeto entre

Rupestres. Diamantina e Couto de Magalhães de Minas


quando afirma: “Senti-me no meio de uma
Dividindo a província das Minas em paisagem estranha, cercada por uma
duas partes, uma muito montanhosa, a
outra simplesmente ondulada, a Serra natureza bem diferente da floresta virgem”.
do Espinhaço divide-a também em
duas zonas ou regiões vegetais [...] Na copa dessas árvores que não são
igualmente muito distintas: a oriente,
a das florestas, a ocidente a das muito altas [...] Em geral, a vida animal na
pastagens ou campos [ ]. Há mais:
essa mesma cordilheira separa a caatinga é mais variada e animada que na
província das Minas em duas regiões floresta. Em um pequeno espaço, há uma
zoológicas quase tão distintas quanto
as regiões vegetais. As plantas dos variedade muito maior de espécies que na
campos, não sendo as mesmas dos
bosques, não poderiam alimentar os floresta virgem (TSCHUDI, 2006, p.165).
animais que costumamos ver no meio
das florestas, e, aliás, há adaptações
demais nos hábitos e costumes dos
animais para que as mesmas espécies
possam viver igualmente em regiões
que, embora contíguas, apresentam
tão grandes diferenças (SAINT-
HILAIRE, 2011, p. 22).

Os Campos Rupestres são


ambientes extremamente frágeis e de baixa

152
MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

Figura 4: (a) Fitofisionomias e (b) bacias hidrográficas no contexto da RBSE. Fonte: Andrade et al., 2018.

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Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021 MUCIDA, D. P. et al.

De fato, áreas transicionais já foram especificamente na Serra do Espinhaço,


identificadas como especialmente ricas em contribui para que não haja perda da flora
biodiversidade e considerado prioritário autóctone de espécies que a ciência
para ações de conservação (REIS et al., desconhece.
2019). Assim, percebe-se a riqueza de flora
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e fauna relatada pelos naturalistas ao longo
da região da RBSE, que se adaptam e se Foi possível traçar um paralelo entre
complementam, evidenciando uma a importância geológica e ecológica da
variedade de endemismos decorrentes da Serra do Espinhaço sob a luz da literatura de
Serra do Espinhaço e sua importância para viagem do Século XIX e uma
biodiversidade local, bem como a sua caracterização da atual relevância da região,
conservação. notadamente quanto a atributos da
Apesar disso, vários naturalistas geodiversidade e biodiversidade regional.
ressaltavam processos de degradação A Serra do Espinhaço resulta de um
ambiental no território do Quadrilátero território singular como analisado em
Ferrífero e borda leste da Serra do literaturas de viagem de naturalistas do
Espinhaço Meridional, pelo extrativismo século XIX, que destacaram os domínios
mineral do ouro e diamante, supressão da geológicos e vegetacionais e as suas
vegetação nativa por meio de queimadas, relações intrínsecas com os biomas Mata
mudança/desvio de cursos fluviais, uso de Atlântica e Cerrado de aspectos
mercúrio para beneficiamento mineral, socioculturais. Destacam-se os Campos
além de ocorrência significativa de Rupestres, fitofisionomia com grande
espécimes monotípicas invasoras, como o número de espécies ameaçadas e
capim-gordura e a samambaia e que se endêmicas, em um ambiente de baixa
mantém nos dias atuais (MUCIDA et al., resiliência e elevada fragilidade,
2019). Tal fato torna-se importante para o configurando-se, dessa forma, como um
subsídio da criação de Unidades de centro de endemismo mundial.
Conservação, devido a diversidade Como maior identidade
encontrada na região, além de parte dos seus biogeográfica da Serra do Espinhaço, a
caminhos estarem vinculados ao Patrimônio revisão dos limites e do zoneamento da
Histórico e Cultural (GONZAGA et al., RBSE se faz com coerência para incorporar
2018). Ribeiro e Freitas (2010) apontam outras áreas de distribuição deste
que a conservação em países com elevada ecossistema único no planeta. O território
diversidade, como o Brasil e mais da Serra, além de uma área ímpar com
154
MUCIDA, D. P. et al. Regnellea Scientia 7(4):139-161, 2021

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161
PAISAGENS E VEGETAÇÃO DA REGIÃO DO ESPINHAÇO MERIDIONAL

Anne Priscila Dias Gonzaga1 & Evandro Luiz Mendonça Machado2


1
Docente, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Curso de Geografia/Programa de Pós-
Graduação em Ciência Florestal, Diamantina (MG), diaspri@gmail.com;
2
Docente, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Curso de Engenharia Florestal/Programa
de Pós-Graduação em Ciência Florestal, Diamantina (MG), machadoelm@gmail.com.

RESUMO Rica região fitogeográfica, a Serra do Espinhaço Meridional (SdEM), intriga pesquisadores
com sua singularidade e complexidade fisiográfica. O objetivo deste trabalho foi descrever as
variações ambientais e suas decorrentes interações na paisagem. As relações entre os aspectos
fisiográficos e a vegetação foram analisadas por meio de perfis dos diferentes elementos. Na SdEM a
cobertura vegetal é formada pelo ecótone dos biomas Cerrado e Mata Atlântica, com predomínio do
Cerrado na porção à oeste, com grande influência das formações savânicas e campestres. Sendo que à
leste, a vegetação é substituída abrupta ou em gradiente para formações vinculadas à Mata Atlântica,
especialmente as Florestas Estacionais. Essa variação pode também estar relacionada às condições
climáticas, e não apenas aos contatos biogeográficos. Com este trabalho ficou clara a influência dos
aspectos fisiográficos na formação e distribuição da vegetação na paisagem da SdEM, assim como a
relevância da sua conservação e suas espécies da flora.

Palavras chave: Complexos rupestres; heterogeneidade ambiental; distribuição fitogeográfica.

Abstract A rich phytogeographic region, the Serra do Espinhaço Meridional (SdEM), intrigues
researchers due its uniqueness and physiographic complexity. Our objective was to describe how
environmental variations and their interactions resulted in the landscape. The relationships between
physiographic aspects and vegetation were analyzed using profiles of the different elements. In SdEM,
the vegetation is formed by the ecotone of the Cerrado and Atlantic Forest biomes, with a
predominance of the Cerrado in the western portion (savanna and grassland formations). In the east,
the vegetation is replaced abruptly or in gradient to Atlantic Forest formations, especially the Seasonal
Forests. This variation may also be explained by climatic conditions, and not just biogeographic
contacts. This work showed the influence of physiographic aspects on the formation and distribution
of vegetation in the SdEM landscape was clear, as well as the relevance of the conservation of SdEM
and its species of flora.

Keywords: Rupestrian complexes; environmental heterogeneity; phytogeographic distribution.


GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

INTRODUÇÃO recursos naturais e dos impactos de


atividades econômicas, em agosto de 2019,
A Serra do Espinhaço como
a reserva teve sua área expandida em
conhecemos, foi denominada em 1822 por
220%, englobando atualmente parte
Eschwege “Rückenknochengebirge”
considerável do Espinhaço Setentrional
(MUCIDA et al., 2019; MUCIDA;
(MUCIDA; GONZAGA, 2021). A RBSE,
GONZAGA, 2021) e descrita por esse
possui grande importância geológica e
naturalista como uma unidade de relevo
ecológica, sendo uma das maiores
mais elevada, sendo considerada
formações de Campos Rupestres do Brasil,
importante divisor hidrográfico entre as
considerada centro de diversidade e
bacias dos rios Doce e São Francisco
endemismo de espécies (COLLI-SILVA et
(MUCIDA et al., 2019; MUCIDA;
al., 2019; ECHTERNACHT et al., 2011;
GONZAGA, 2021; PEREIRA et al., 2015;
GONZAGA et al., 2021; PEREIRA et al.,
VERDI et al., 2015). Com altitudes médias
2015), é conhecida como uma das regiões
de 1.000 m, esta Serra estende-se
mais ricas e diversas do mundo (COLLI-
longitudinalmente por mais de 1.200 km,
SILVA et al., 2019; GONZAGA et al.,
tendo o Quadrilátero Ferrífero seu limite
2021; PEREIRA et al., 2015; SILVEIRA
ao sul e ao norte adentrando o estado da
et al., 2016).
Bahia (MUCIDA; GONZAGA, 2021). A
A Serra do Espinhaço Meridional
Serra do Espinhaço apresenta uma porção
se localiza na região central do estado de
mais ao norte (a Chapada Diamantina, na
Minas Gerais e compreende área total de
Bahia) e outra ao sul (a Serra do
4.920,25 km2 (VERDI et al., 2015), se
Espinhaço, em Minas Gerais), sendo que
estendendo por aproximadamente 300 km
esta última se subdivide em porção
na direção N-S, desde o Quadrilátero
setentrional e meridional (KNAUER,
Ferrífero (Serra do Ouro Branco) até a
2007; SAADI, 1995).
região de Olhos-D’água (ALMEIDA-
Em 2005 a UNESCO, declara essa
ABREU et al., 2005; ALMEIDA-ABREU;
região como Reserva da Biosfera da Serra
RENGER, 2002;AUGUSTIN et al., 2011;
do Espinhaço (RBSE), uma das sete
CHEMALE JR. et al., 2011). Na SdEM
existentes no Brasil, e com uma área inicial
estão distribuídas as serras do Cipó, Cabral
de 3.200.000 ha (MENEZES et al., 2019;
e o Planalto de Diamantina, e representa
MUCIDA et al., 2019; PEREIRA et al.
um dos principais marcos geográficos do
2015). E devido à sua relevância, e do
estado de Minas Gerais (MUCIDA;
conhecimento incipiente sobre de seus
GONZAGA, 2021).

163
Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

Esta porção apresenta, como um 2005; PEDREIRA, 2005), e por essa razão,
dos seus aspectos geológicos mais importante na manutenção dos recursos
marcantes a presença dos afloramentos hídricos que abastecem esse território
quartzíticos, com marcas deixadas pelos (MUCIDA et al., 2019; PEREIRA et al.
movimentos neotectônicos, de origem 2015; VERDI et al., 2015). Além disso, as
sedimentar que compõem o Supergrupo cachoeiras existentes na região
Espinhaço (MUCIDA et al. 2019; representam relevante atrativo turístico e
PEREIRA et al., 2015). excelente possibilidade para alternativa de
Geomorfologicamente compõe uma faixa renda da sua população (VERDI et al.,
montanhosa com altitude média de 1.250 2015). Por outro lado, o turismo, se
m acima do nível do mar, tendo seu ponto realizado de forma desordenada, a
culminante em torno de 2.060 m no Pico potencial geração de energia hidrelétrica,
do Itambé, município de Serro (NEVES et aliados às atividades de mineração e
al., 2005; PEREIRA et al. 2015; SAADI, extração de areia, colocam a SdEM em
1995). situação de alto risco ambiental
A SdEM possui clima do tipo Cwb (FRANÇA, 2018; FRANÇA et al., 2018;
(subtropical de altitude) segundo a FRANÇA et al., 2019; VERDI et al.,
classificação de Köppen, com verões 2015).
brandos e úmidos e invernos frescos e Os primeiros indícios da ocupação
secos, porém este último podendo ser humana na SdEM remontam à pré-história,
influenciado pelo relevo. As precipitações e estes estão presentes nos diversos sítios
e temperaturas médias anuais variam entre arqueológicos, nas cavernas e suas pinturas
1.250 e 1.550 mm e 18° e 19°C, rupestres encontrados no Espinhaço
respectivamente (VERDI et al., 2015). Os Meridional (FAGUNDES et al., 2020;
solos da SdEM são, em virtude do seu FAGUNDES; GRECO, 2018;
material de origem, geralmente arenosos, FAGUNDES et al., 2017). Com a
rasos e pedregosos (BENITES et al., 2007; colonização dos bandeirantes, a partir do
PEREIRA et al. 2015; VERDI et al., século XVII, a atividade minerária foi a
2015), com presença marcante de principal fonte de recursos financeiros
afloramentos rochosos (PEREIRA et al. nesta região. Porém, com a decadência da
2015; VERDI et al., 2015). mineração no século XIX, a agricultura
A SdEM é um divisor fundamental ganhou espaço na economia da SdEM
entre as bacias dos rios São Francisco, (MARTINS, 2000; PEREIRA, 2005;
Doce e Jequitinhonha (FRAGA et al., VERDI et al., 2015). Atualmente,

164
GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

mineração, agropecuária e extração Assim, o que pode ser observado é


vegetal, especialmente de sempre-vivas que a região apresenta campo fértil para
são as atividades mais relevantes para a pesquisas, abarcando a considerável
economia da região (GUIMARÃES, diversidade geológica, geomorfológica,
2017). Mas o turismo tem sido alternativa pedológica, biogeográfica, histórica e
de geração de renda (ARAÚJO et al., cultural (COUTO; TRAVASSOS, 2018).
2020), esta atividade é incentivada pelo No entanto, poucos são os trabalhos que se
seu rico acervo histórico-cultural, que dedicam a avaliar padrões macro de
incorporados à diversidade de paisagens e variações fisiográficas na região, a fim de
cachoeiras fazem da SdEM grande polo do caracterizá-la como unidade vegetacional.
ecoturismo (SILVA; PEDREIRA, 2005;
MATERIAIS E MÉTODOS
ARAÚJO et al., 2020).
Assim, diante do exposto fica claro Aspectos metodológicos
que a SdEM é de extrema
representatividade no cenário nacional e Os procedimentos metodológicos

internacional, sendo relevante sua adotados na pesquisa sobre as variações

importância na história ambiental vegetacionais das paisagens da Serra do

(englobando seus recursos naturais, Espinhaço Meridional consistiram na

culturais e históricos), tanto que esta tem pesquisa bibliográfica e etapas de campo.

sido foco de estudos científicos desde o O levantamento bibliográfico foi

século XIX, por meio de Missões realizado a partir de publicações, que se

Científicas realizadas por viajantes encontram devidamente citadas, e que

naturalistas (AMORIM-FILHO, 2008; descrevem as paisagens e as variações

GONZAGA et al., 2021; SAINT- vegetacionais da Reserva da Biosfera da

HILAIRE, 2011). E, embora com maior Serra do Espinhaço, especialmente na sua

atenção para as pedras preciosas, esses porção Meridional. Também foram

naturalistas, registraram também em suas consultadas o Manual Técnico da

publicações aspectos biológicos (com Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), bem

ênfase para a exuberante vegetação da como o sistema de classificação do

região), antropológicos, sociais, além das Cerrado (RIBEIRO; WALTER, 2008).

variações geográficas e geológicas Além disso, foram também consideradas as

(LOPES et al., 2011; GONZAGA et al., publicações geradas por projetos de

2021). investigação da flora da Serra do


Espinhaço, como o Plano de Ação

165
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Nacional para a conservação da flora vai do sopé oeste da Serra do Cabral (17º
ameaçada de extinção da Serra do 47’ 34,13” S e 44º 30’ 3,87” W) até o sopé
Espinhaço Meridional (POUGY et al., leste do Pico do Itambé (18º 28’ 33,53” S e
2015). 43º 11’ 58,74” W). O segundo trecho
As pesquisas foram realizadas por escolhido (Figura 1) tem um total de 44
meio dos buscadores Scholar Google, Web Km, estendendo-se do sopé oeste da Serra
of Science e o Portal de Periódicos da do Intendente (19º 1’ 24,03” S e 43º 33’
Capes a partir das palavras chaves: 7,50” W), passando pela Cachoeira do
Vegetação da Serra do Espinhaço, Campos Tabuleiro até o sopé leste da Serra do Sapo
Rupestres, Serra do Espinhaço, Rupestrian (18º 59’ 15,70” S e 43º 21’ 8,31” W).
Fields, Espinhaço Range. Nesta busca foi Para cada um dos trechos foram
utilizada metodologia de associação de registrados os seguintes aspectos
todos os termos nas buscas dos artigos fisiográficos, a saber: (i) distribuição da
(CAPES, 2019; GONÇALVES et al., litologia predominante; (ii) aspectos
2020). Nesta revisão foram incluídos climáticos mais influentes; (iii)
trabalhos de dissertações e teses de distribuição das coberturas pedológicas; e
programas de Pós-Graduação brasileiros (iv) distribuição vegetal no contato
disponíveis nos repositórios institucionais fitogeográfico entre os biomas Cerrado e
e visitas in loco. Mata Atlântica. Para a realização destes
registros foram utilizadas bases
Relação entre aspectos fisiográficos e a
cartográficas de dados digitais vetoriais
vegetação
(formato shapefile), em sua maioria,

Com o intuito de analisar de forma produzidos e disponibilizados por

direta as relações entre os aspectos instituições governamentais via Internet:

fisiográficos e a vegetação ao longo da Instituto Brasileiro de Geografia e

SdEM, foram selecionados dois trechos da Estatística (IBGE) - dados

área de estudo para realização de um perfil planialtimétricos, fitogeográficos,

topográfico e elementos da paisagem da climáticos; Companhia de Pesquisa de

região. Os trechos aqui selecionados foram Recursos Minerais (CPRM) e Companhia

considerados como representativos da de Desenvolvimento de Minas Gerais

variação ambiental e vegetacional (CODEMIG) - dados geológicos

registrados na SdEM. (litologia); Departamento de Solos (DPS)


O primeiro trecho selecionado da Universidade Federal de Viçosa (UFV)

(Figura 1) apresenta um total de 160 Km e - dados pedológicos (tipologia de solos). O

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GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

mapeamento gerado a partir das bases de na figura 2.


dados acima citadas, estão disponibilizadas

Figura 1: Localização da Serra do Espinhaço no Brasil e no detalhe sua distribuição do estado


de Minas Gerais com a localização dos dois trechos avaliados no presente estudo. Fonte: os
autores.

Figura 2: Mapas com a distribuição dos aspectos litológicos (A), climáticos (B), pedológicos
(C) e fitofisionômicos (D) predominantes da região da Reserva da Biosfera da Serra do
Espinhaço (RDSE), com a localização dos dois trechos avaliados no presente estudo. Fonte:
os autores.
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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

RESULTADOS E DISCUSSÃO fitofisionomias (Figura 3) dos dois biomas

Paisagens e vegetação da região do (GONTIJO, 2008). No entanto é possível


espinhaço meridional observar predomínio do Cerrado na porção

A região da Serra do Espinhaço mais à oeste, com grande influência nesta

Meridional (SdEM) é caracterizada como região das formações savânicas e

área ecotonal entre os domínios campestres (Figuras 2D e 4) (MUCIDA;

fitogeográficos do Cerrado e da Mata GONZAGA, 2021; SANTOS et al., 2020;

Atlântica (MUCIDA; GONZAGA, 2021; SILVEIRA et al., 2016). À medida que se

VERDI et al., 2015), ambos considerados avança ao leste da SdEM, essa vegetação é

hotspots de biodiversidade substituída abrupta ou em gradiente para

(MITTERMEIER et al., 2004) por se formações vinculadas à Mata Atlântica

distribuírem em extensas áreas do território (IBGE, 2004, MUCIDA; GONZAGA,

brasileiro, com ampla biodiversidade 2021; SANTOS et al. 2020; SILVEIRA et

florística e faunística, elevados índices de al., 2016; ), especialmente as Florestas

endemismos, e especialmente por serem Estacionais nas áreas de encostas

considerados entre os ecossistemas mais (COELHO et al., 2018; COSTA et al.,

ameaçados do país (MUCIDA; 2021; GONÇALVES et al., 2020;

GONZAGA, 2021; SOS MATA KAMINO et al., 2008; MOURA et al.,

ATLÂNTICA, 2019). 2021) (Figuras 2D e 5).

Na SdEM a cobertura vegetal é


formada por um mosaico de

Figura 3: Vista geral do mosaico fitofisionômico presente na Serra do Espinhaço Meridional


na Área de Proteção Ambiental de Uso Sustentável Rio Manso, em Couto de Magalhães de
Minas. Fonte: os autores.

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GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

Figura 4: Perfil com aspectos climáticos, litológicos, pedológicos, topográficos e


vegetacionais no trecho 1 que engloba a Serra do Cabral ao Pico do Itambé na Reserva da
Biosfera da Serra do Espinhaço. Onde: Aspecto climático: (Q) = Quente - Semiúmido, com 4
a 5 meses secos e temperatura média anual superior à 18ºC; (Sq) = Subquente - Semiúmido,
com 4 a 5 meses secos e temperatura média anual entre 15 e 18ºC; (M) = Mesotérmico brando
- Semiúmido, com 4 a 5 meses secos e temperatura média anual entre 10 e 15ºC; Cobertura
vegetal: (AA) = Cerrado com atividade agrícola; (CS) = Campo Sujo; (C/F) = ecótono
Cerrado/Floresta Estacional Semidecidual; (CR): Campo Rupestre; (FES) = Floresta
Estacional Semidecidual; Cobertura pedológica: (LV) = Latossolo Vermelho; (RL) =
Neossolos Litólicos; (AR) = Afloramento Rochoso; (RQ) = Neossolos Quartzarênicos; (CX)
= Cambissolos; Litologia predominantemente: (QZ) = Quatrzo; (M) = Metapelito; (A) =
Argilito; (X)= Xisto; (O) = Ortognasse; (R) = Rochas ultramáficas. Fonte: os autores.

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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

Figura 5: Perfil com aspectos climáticos, litológicos, pedológicos, topográficos e


vegetacionais no trecho 2 que engloba a Serra do Intendente à Conceição do Mato Dentro na
Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Onde: Aspecto climático: (Sq) = Subquente -
Semiúmido, com 4 a 5 meses secos e temperatura média anual entre 15 e 18ºC; Cobertura
vegetal: (CS) = Campo Sujo; (FES) = Floresta Estacional Semidecidual; Cobertura
pedológica: (LV) = Latossolo Vermelho; (RL) = Neossolos Litólicos; Litologia
predominantemente: (QZ) = Quatrzo; (X) = Xisto; (O) = Ortognasse; (R) = Rochas
ultramáficas; (F) = Filito; (I) = Itabirito. Fonte: os autores.

Essa variação verificada nos Observa-se que ocorre um gradiente sul-


trechos avaliados, podem também estar norte de precipitação e temperatura ao
relacionadas às condições climáticas e não longo de todo Espinhaço (SILVEIRA et
apenas aos contatos biogeográficos. al., 2016). Sendo as porções sul-leste,

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GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

como exemplificado no trecho 2 (Figuras várzea (formadas por Gleissolos e


2B e 5), mais úmidas e com temperaturas Neossolos Flúvicos), onde se encontram
mais amenas, em contrapartida, as porções Matas Ripárias (Figura 6) (COSTA et al.,
norte-oeste são mais secas e quentes, como 2021a, b ; VERDI et al., 2015). Já nas
evidenciado parcialmente no trecho 1 margens de cursos d’água (formadas por
(Figuras 2B e 4). Nitossolos, Argissolos e Latossolos), se
Na porção com maior influência do distribui Florestas Estacionais
bioma Cerrado (trecho 1), a distribuição Semidecíduas e áreas de Cerradão (Figura
das formações florestais estão associadas a 6) (formação florestal do Bioma Cerrado),
solos mais profundos e à maior estas pouco representativas na paisagem da
disponibilidade de água, que são SdEM (GONÇALVES et al., 2020;
frequentemente encontrados áreas de VERDI et al., 2015).

Figura 6: Vista geral de áreas de formações florestais na Serra do Espinhaço Meridional: (A)
Floresta Estacional Semidecidual em encosta no município de Diamantina; (B) Mata Ciliar do
Rio Preto no Parque Estadual do Rio Preto; (C) Interior de um fragmento de Cerradão em
Felício dos Santos. Fonte: os autores.

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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

Em contrapartida, os solos das et al., 2020; PEREIRA et al., 2015;VERDI


demais áreas, de modo geral, são arenosos, et al., 2015), como pode ser observado no
pedregosos, ácidos e com baixa capacidade Trecho 1 (Figuras 4, 7 e 8). Em locais
de retenção de água (SCHAEFER et al., muitas vezes associados a áreas ecotonais
2016; SEMIR, 1991). Assim, as formações (campestres e florestais, sendo muitas
campestres e savânicas da SdEM vezes limítrofe entre as Matas Ripárias),
geralmente, estão associados aos podem ocorrer os Campos Limpos, que são
afloramentos rochosos e, ou Neossolos campos naturais formados por espécies
Litólicos e Quartzarênicos (PEREIRA et herbáceas adaptadas à saturação hídrica em
al., 2015; SCHAEFER et al., 2016), e se locais com Gleissolos e Neossolos
distribuem nestes Campo Rupestre, Flúvicos (Figura 8) (FONSECA, 2020;
Cerrado Rupestre e Campo Sujo (MIOLA VERDI et al, 2015).

Figura 7: Vista geral de áreas de formações campestres sob influência rochosa na Serra do
Espinhaço Meridional: (A) Campo Rupestre Quartzítico na Área de Proteção Ambiental de
Uso Sustentável Rio Manso, em Couto de Magalhães de Minas; (B) Cerrado Rupestre em
Felício dos Santos; (C) Campo Rupestre Ferruginoso no Parque Estadual do Biribiri. Fonte:
os autores.

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Figura 8: Vista geral de áreas de formações campestres na Serra do Espinhaço Meridional:


(A) Campo Limpo Seco em Diamantina; (B) Campos Limpos Úmidos (turfeiras) no Parque
Nacional das Sempre Vivas; (C) Campo Sujo com Campo Rupestre ao fundo em Diamantina.
Fonte: os autores.

Já a porção mais a leste da SdEM Por outro lado, a distribuição da vegetação


(evidenciado especialmente no fim do campestre (Campos Limpos, Sujos e
trecho 1 e ao longo do trecho 2), apresenta Rupestres) é menos expressiva, estando na
de forma mais recorrente Cambissolos e maioria das vezes restrita aos afloramentos
Argissolos, que são mais evoluídos e rochosos e Neossolos Litólicos
favorecem a presença de formações (FERNANDES et al., 2020; PEREIRA et
florestais (Figura 9) (especialmente a al., 2015).
Floresta Estacional Semidecidual, podendo
em alguns locais ocorrer, inclusive,
Floresta Ombrófila) (GONZAGA;
MUCIDA, 2021; PEREIRA et al., 2015).

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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

Figura 9: Vista geral de áreas de formações florestais na Serra do Espinhaço Meridional: (A)
Floresta Ombrófila em Conceição do Mato Dentro; (B) Floresta Estacional Semidecidual sob
afloramento de quartzito (“Complexo Rupestre”) no Parque Nacional das Sempre Vivas; (C)
mosaico floresta-campo: Campos Limpos Úmidos (turfeiras) e das ilhas florestais (“Capões
de mata”) no Parque Nacional das Sempre Vivas. Fonte: os autores.

Aqui cabe relembrar que as chuvas na borda leste do que à oeste,


variações vegetacionais na região Leste da condicionando as formações campestres
SdEM também estão associadas ao fato de aos locais de maior sazonalidade
apresentar ambiente mais úmido que a (GONÇALVES et al., 2020; GONTIJO,
porção mais à oeste (PEREIRA et al., 2008).
2015; SILVEIRA et al., 2016). De fato, As turfeiras, outro ecossistema da
não se pode desconsiderar a influência região, apresentam formações campestres
altitudinal da Serra do Espinhaço, no associadas aos Organossolos, denominadas
alinhamento norte-sul, promovendo efeitos Campos Limpos Úmidos (Figura 8). Estão
orográficos das massas de ar quente e localizadas em altitudes superiores a 1.100
úmidas, ou seja, maior concentração de m, nas cabeceiras dos rios e em áreas de

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GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

depressões de superfícies planas, com al., 2016; COELHO et al., 2017;


drenagem comprometida, elevada acidez FONTES; WALTER, 2011; MOURA et
devido ao acúmulo de matéria orgânica al., 2021; ). Devido à condição do regime
(ABREU-FILHO et al, 2021; HORÁK et de inundação do solo, as plantas dessa
al., 2011; VERDI et al., 2015). Este vegetação apresentam inúmeras adaptações
ecossistema, que constitui importante para sobreviver (FONTES; WALTER,
centros de biodiversidade 2011), o que as torna fisionomias com
multitaxonômicos, são responsáveis pela funções ecológicas potencialmente únicas
regulação do fluxo hídrico das bacias (COSTA et al., 2021a).
hidrográficas, assim como pela estocagem Além disso, os capões tornam-se
de carbono na SdEM (ABREU-FILHO et relevantes, pois os estudos disponíveis
al., 2021; FONSECA et al., 2018; HORÁK indicam que estas ilhas de vegetação,
et al., 2015). Embora ocorram em apenas espalhadas na paisagem, podem conter
1,21% do território da SdEM, este comunidades muito distintas entre si. Desta
ecossistema realiza relevantes serviços forma, não devem ser tratadas como
ambientais para a região (SILVA et al., amostras similares, além disso, podem ser
2013). consideradas fundamentais para a
Intercaladas aos Campos Limpos complementaridade e conectividade da
Úmidos (turfeiras) encontramos ilhas flora regional da SdEM (COSTA et al.,
florestais também conhecidas como 2021a).
“Capões de mata” (Figura 9), formando As escalas das bases de
um mosaico floresta-campo (COELHO et mapeamentos disponíveis não foram
al., 2016, 2017; COSTA et al. 2021 a, b). capazes de indicar a ocorrência dos
Ambientes naturalmente fragmentados, Campos Limpos Úmidos (turfeiras) e das
que estão associadas às florestas úmidas do ilhas florestais (“Capões de mata”), no
Domínio Atlântico (COELHO et al., 2017; entanto, seria inadequado desconsiderar
COELHO et al., 2018; MOURA et al. sua existência e relevância para os padrões
2021; SILVEIRA et al., 2016) e requerem fitogeográficos da SdEM (Figura 8 e 9).
clima e solo específicos para se Os Campos Rupestres que são
estabelecerem. Em geral, são encontradas reconhecidamente como a cobertura
em áreas deprimidas da paisagem vegetal dominante na Cadeia do Espinhaço
fortemente associadas às áreas de Meridional (Figura 7) (COLLI-SILVA et
nascentes e sob a superfície do lençol al., 2019; MUCIDA; GONZAGA, 2021;
freático (BRANT et al., 2021; COELHO et GIULIETTI et al., 1997), ocorrendo nas

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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

porções mais elevadas do terreno, acima de plantas anuais ou de curto ciclo


900 m, caracterizados por um estrato reprodutivo, ou com gemas protegidas na
herbáceo-arbustivo, sob um substrato superfície do solo (BAHIA, 2016;
rochoso, pedregoso, ou ainda em solos GONÇALVES, et al., 2020; RAPINI et
arenosos (GIULIETTI; PIRANI 1988; al., 2008).
GONÇALVES et al., 2020; SILVEIRA et Estas condições e adaptações
al., 2016). As rochas do Supergrupo conferem aos Campos Rupestres elevado
Espinhaço, a oeste do Distrito Diamantino endemismo (COLLI-SILVA et al., 2019;
(trecho 1) apresentam-se GONZAGA et al., 2021). De fato, a Serra
predominantemente quartzíticas (Figuras do Espinhaço Meridional apresenta
2A, 4). Enquanto que na borda Leste do ambientes com ampla heterogeneidade
Supergrupo Espinhaço encontramos tanto microclimática, de altitude e relevo que
formações quartzíticas, como ferríferas podem promover o isolamento entre
(Figuras 2A e Figura 5). populações, favorecendo a especiação
Apresentam composição florística (BÜNGER et al., 2014; FJELDSA;
predominantemente xerófila com diversas LOVETT, 1997; GONÇALVES, et al.,
adaptações morfológicas, fisiológicas e de 2020). Além disso, segundo a teoria
requerimento nutricional que conferem OCBIL, a estabilidade climática imposta
melhores condições de sobrevivência aos Campos Rupestres, favoreceram a
(BAHIA, 2016) associadas a história existência de áreas de endemismo e refúgio
evolutiva das interações entre as espécies e (BARBOSA et al. 2015; COLLEVATTI et
os eventos paleoecológicos ( al. 2009; HOPPER et al., 2021;
GONÇALVES, et al., 2020; QUEIROZ et SILVEIRA et al., 2016)
al., 2018; RAPINI et al., 2008), como por Na Lista de Espécies da Flora
exemplo plantas que possuem raízes com Brasileira (FLORA DO BRASIL, 2020)
forte fixação ao solo ou substrato, com são registradas 6.863 espécies de plantas
tecidos capazes absorver e, ou acumular vasculares nativas para o Campo Rupestre,
cátions, resistência ao estresse hídrico por sentido restrito, (com 174 famílias e 938
meio de folhas adaptadas ao gêneros). E mesmo essa vegetação
armazenamento de água, em algumas apresentando área total de apenas 0,78%
espécies estômatos protegidos, grupos com do território nacional (SILVEIRA et al.,
metabolismo do tipo C4 e CAM 2016) sua flora vascular equivale a 18,52%
(GONÇALVES, et al., 2020). Além disso, de toda a brasileira. Dentre os grupos
é frequente observar grande número de florísticos mais abundantes na vegetação

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GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

dos Campos Rupestres estão as estarem presentes apenas no trecho na


famílias Asteraceae, Poaceae, borda oeste (Figura 4) estes também são
Velloziaceae, Melastomataceae, encontrados na borda leste. Cabe ressaltar
Cyperaceae, Fabaceae, Orchidaceae, que nesta porção ocorrem com maior
Verbenaceae, Bromeliaceae, Cactaceae, frequência das Cangas (Vegetação de
Velloziaceae, Xyridaceae, Droseraceae, Campo Rupestre associadas aos
Eriocaulaceae, e Malpighiaceae (ALVES; afloramentos ferruginosos). Assim, é
KOLBEK, 2009; ANDRADE et al. 1986; importante mencionar que a distribuição
BRANDÃO; GAVILANES, 1990; dos Campos Rupestres foi subestimada,
CONCEIÇÃO; GIULIETTI, 2002; tanto na borda leste, que não foi
CONCEIÇÃO; PIRANI, 2005, representada no perfil (Figura 5), como na
GONZAGA et al., 2021; MESSIAS et al., oeste, haja vista que nesta é notório em
2012; RAPINI et al., 2008; VIANA; qualquer expedição in loco que os Campos
LOMBARDI, 2007). E de acordo com Rupestres (predominantemente quartzitos)
Giulietti et al. (1997) descreveram estas apresentam distribuição superior a captada
famílias como características da Serra do pelo perfil (Figura 2 e 4).
Espinhaço, porém estas estão sujeitas a É também relevante ressaltar que
variações em suas riquezas, devido às na SdEM a existência de microambientes
condições fisiográficas locais altamente gerados pelas variações edáficas
heterogêneas ao longo de toda a SdEM. (diferenças no status nutricional, na
De fato, a distribuição capacidade de retenção de água e nos
fitogeográfica dos Campos Rupestres está níveis texturais e físicos) associados ao
relacionada à diversidade edáfica relevo característico, propiciam o
amplamente determinada pelo relevo local surgimento de um complexo mosaico de
e aspectos microambientais (BENITES et vegetação formado por diversas
al., 2007; SILVEIRA et al., 2016). Sendo, fitofisionomias que têm como aspecto
como referendado pela sua nomenclatura, condicionante as variações no estrato
o principal fator condicionante dessa rochoso. Desta forma, é possível registrar
vegetação os afloramentos rochosos, e em várias porções da SdEM esse estrato
mais especificamente os de litologias rochoso presente desde formações
quartzíticas e ferruginosas (Figura 7 a e campestres e savânicas (como os já
7c). Embora no presente trabalho, devido a mencionados Campos Rupestres ou os
escala utilizada na confecção dos perfis da Cerrados Rupestres) a formações florestais
região, as áreas de Campos Rupestres (como as Florestas Estacionais

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Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021 GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M.

Semideciduais). A estas variações apresentam distribuição mais restrita na


vegetacionais denominaremos a partir de borda leste e por esta razão não foram
agora como Complexos Rupestres captados no perfil deste trecho (Figura 5).
(HOPPER et al., 2021). Este mosaico de fitofisionomias,
Tais complexos são resultantes da especialmente nas regiões dos Complexos
influência tanto de aspectos relacionados Rupestres, contribui para a elevada
ao substrato como aqueles associados ao biodiversidade registrada na SdEM, pois a
clima e relevo, e geram amplas variações coexistência entre ecossistemas tão
na estrutura e composição florística dessa distintos fornece amplas possibilidades de
região. Assim, as fitofisionomias rupestres adaptação ecológica, especiação e
que podem variar desde uma vegetação vicariância (BUNGER et al., 2014).
herbáceo arbustiva, altamente heterogênea, Assim, a atual distribuição das espécies
como Matas Ciliares, Capões e Florestas pode estar relacionada à substituição de
Estacionais Semideciduais sempre táxons ao longo das fitofisionomias,
associados a afloramentos rochosos proporcionando a SdEM diversidade beta
(quartzíticas, areníticas ou ferríferas) e que elevada (ECHTERNACHT et al., 2011;
se distribuem na SdEM nas áreas ecotonais GONÇALVES et al., 2020).
dos biomas do Cerrado e da Caatinga Desta forma o endemismo de
(BAHIA, 2016; CARMO; JACOBI, 2013; espécies vegetais é marcante nesse
RAPINI et al., 2008). ambiente, formando ecossistemas frágeis e
Em escala mais reduzida, de baixa resistência, uma vez que
apresentada por este trabalho, foi possível apresenta parte considerável da flora
notar que na borda oeste a ocorrência estes ameaçada de extinção no estado de Minas
complexos rupestres podem ser atribuídos Gerais (ANDRADE et al., 2015; MMA,
ao que no perfil foi classificado como 2014; PEREIRA et al., 2015). Cabe a
ecótono Cerrado/Floresta Estacional ressalva que além da riqueza florística e
Semidecidual (C/F), uma vez que quando dos endemismos, muitas espécies
sobreposto a faixa de ocorrência desta distribuídas na SdEM são raras (COSTA et
vegetação e sua respectiva cobertura al., 2020; COSTA et al., 2021a, b;
pedológica observamos a esta é de FREIRE et al., 2021; GIULIETTI et al.,
afloramento rochoso (Figura 4), ou seja, a 2009; GRIPP, 2020; MOURA et al., 2021;
vegetação de tal área ecotonal está sob SILVA, 2020). E ainda que haja
rochas, que é a característica principal considerável empenho dos estudos
desta formação. Esses complexos rochosos científicos, lacunas de informações sobre

178
GONZAGA, A. P. D. & MACHADO, E. L. M. Regnellea Scientia 7(4):162-186, 2021

muitas espécies são recorrentes. Desse da Serra do Espinhaço, devem ser


modo, são essenciais o planejamento e a ampliadas. Uma vez que estas buscam
indicação de áreas prioritárias para a proteger de forma integradora essa região
execução de ações voltadas à redução do detentora de rica diversidade sociocultural
risco de extinção das espécies, assim como e de extrema relevância biológica, com
para o direcionamento de pesquisas, áreas consideradas insubstituíveis,
otimizando os recursos destinados à prioritárias para a conservação, e sujeitas a
conservação e aumentando o conhecimento tradição extrativista (mineral e vegetal).
sobre as mesmas (VERDI et al., 2015).
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59-177, 2007.

186
FENOLOGIA DE LEGUMINOSAE HERBÁCEO-ARBUSTIVAS EM ÁREAS DE
CAMPO RUPESTRE NO ESPINHAÇO MERIDIONAL

Antônio Carlos de Godoy Silva Carneiro1, Bianca Massula2, Diego Tassinari3 & Carlos Victor Mendonça Filho4
1
Gerente da Área de Proteção Ambiental Estadual das Águas Vertentes (APAEAV), Instituto Estadual de
Florestas (IEF), Distrito de Milho Verde - Serro (MG), antonioyerab@gmail.com
2
Engenheira Florestal, Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Superintendência de
Licenciamento Ambiental, Contagem (MG), biancamassula@yahoo.com.br
3
Bolsista de Pós-Doutorado, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Pós-Graduação em
Produção Vegetal, Diamantina (MG), diego.tassinari@yahoo.com.br
4
Professor Titular, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Departamento de Ciências
Biológicas, Diamantina (MG), cvmendonca@gmail.com

RESUMO A Cadeia do Espinhaço compreende um conjunto de Serras onde predominam os


campos rupestres, que em apenas 1% do território nacional abrigam 15% da flora do Brasil e
40% dos endemismos. Muitas famílias de plantas possuem seu centro de diversidade nesta
região, dentre elas as Leguminosae. Estudos fenológicos são ainda incipientes para esta
família. O objetivo deste trabalho foi avaliar a fenologia de 14 espécies de leguminosas
herbáceo-arbustivas em áreas de campo rupestre, em Diamantina-MG. As espécies foram
observadas quinzenalmente, de outubro de 2006 a fevereiro de 2009, quanto a queda de
folhas, brotação, floração e dispersão. Os picos de brotação e floração ocorreram na estação
úmida e o pico de queda de folhas coincidiu com o final da seca. A dispersão de frutos esteve
associada com o início ou o final da estação úmida. São apresentadas informações inéditas
sobre a fenologia de leguminosas de campos rupestres.

Palavras chave: Sazonalidade; Clima; Fixação de Nitrogênio; Ecologia; Conservação.

ABSTRACT The Espinhaço comprises a set of mountains dominated by rupestrian fields,


which in just 1% of the national territory are home to 15% of Brazil's flora and 40% of
endemism. Many plant families have their center of diversity in this region, among them the
Leguminosae. Phenological studies are still incipient for this family. The objective of this
work was to evaluate the phenology of 14 herbaceous-shrub legume species in rupestrian field
areas in Diamantina-MG. The species were observed every two weeks, from october 2006 to
February 2009, regarding leaf fall, budding, flowering and dispersion. The peaks of budding
and flowering occurred at the wet season and the peak of leaf fall coincided with the end of
the drought. Fruit dispersion was associated with the beginning or end of the wet season.
Inedited information about the phenology of legumes from rupestrian fields is presented.

Keywords: Seasonality; Climate; Nitrogen fixation; Ecology; Conservation.


Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021 CARNEIRO, A. C. G. S. et al.

INTRODUÇÃO ação antrópica, como a extração de


madeira para carvão, uso indiscriminado
O Espinhaço compreende um
do fogo, abertura de pastagens, introdução
conjunto de Serras que se estende por cerca
de espécies exóticas e rústicas, extração de
de 1000 km de comprimento e 50-100 km
espécies usadas no artesanato e como
de largura, com altitudes entre 800 e 2000
plantas medicinais, mineração e garimpo
m, em Minas Gerais e Bahia, onde se
(MENDONÇA FILHO, 2005). Uma das
estabelece um mosaico de comunidades
principais consequências da intervenção
vegetais sob o controle da topografia local,
humana neste ambiente é a aceleração do
da natureza do substrato e do microclima
processo erosivo e consequentemente
(DRUMMOND et al., 2005; MENEZES;
grande perda de solo, causando voçorocas,
GIULIETTI, 2000). Portador de alto grau
assoreamentos de rios e extinção de
de endemismos e espécies raras, o campo
espécies.
rupestre é um tipo fitofisionômico do
A família Leguminosae
Cerrado, predominantemente herbáceo-
compreende cerca de 770 gêneros e mais
arbustivo, com a presença eventual de
de 19.500 espécies (APG IV, 2016;
arvoretas pouco desenvolvidas
LEWIS et al., 2005) distribuídas em seis
(GIULIETTI et al., 1987; RIBEIRO;
subfamílias: Cercidoideae, Detarioideae,
WALTER, 1998).
Duparquetioideae, Dialioideae,
De acordo com Pirani et al. (2003),
Caesalpinioideae e Papilionoideae. É a
este ambiente talvez represente a
família com maior diversidade e número
associação com maior taxa de espécies
de espécies na flora brasileira, sendo
endêmicas da flora brasileira, constituindo-
encontrados 222 gêneros, dos quais 15 são
se no centro de diversidade de numerosos
endêmicos e 2807 espécies, das quais cerca
gêneros de muitas famílias como:
de 1500 são endêmicas (BARROSO et al.,
Compositae, Melastomataceae, Ericaceae,
1991; FLORA DO BRASIL, 2020). Está
Leguminosae ou famílias inteiras como
entre as três famílias mais diversas em
Velloziaceae, Eriocaulaceae e Xyridaceae.
todos os domínios fitogeográficos do
As áreas de campos rupestres possuem
Brasil e nos campos rupestres,
importância ecológica de valor muito alto a
particularmente, são encontrados 45
extremo (COSTA et al., 1998).
gêneros e 534 espécies (GARCIA;
Apesar da reconhecida
DUTRA, 2004; FLORA DO BRASIL,
biodiversidade há vários impactos
2020).
negativos causados principalmente pela

188
CARNEIRO, A. C. G. S. et al. Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021

Muitas espécies de Leguminosae grupo taxonômico tão importante quanto as


apresentam associação com bactérias Leguminosas (DUTRA et al., 2005, 2009;
fixadoras de nitrogênio, como tem sido GUIMARÃES et al., 2016; MADEIRA;
observado em ambientes com condições FERNANDES, 1999).
ecológicas diversas (KIRKBRIDE, 1984; Os objetivos deste estudo foram:
ODEE et al., 2002; SPRENT, 1999) e tem reconhecer os padrões de floração e
potencial para recuperação de áreas frutificação de 14 espécies de leguminosas
degradadas (REZENDE; KONDO, 2001). em uma área de campo rupestre do
A fenologia estuda a ocorrência de Espinhaço Meridional; relacionar os
eventos biológicos periódicos e as causas padrões fenológicos observados com as
de sua ocorrência, em relação a fatores condições climáticas locais.
bióticos e abióticos, e a inter-relação entre
MATERIAIS E MÉTODOS
fases caracterizadas por esses eventos
numa mesma e em diferentes espécies Área de estudo

(LIETH, 1974). Desta forma, o O estudo foi desenvolvido em áreas


conhecimento das fenofases pode servir de campos rupestres localizadas no
tanto como base para a coleta de material Campus JK da Universidade Federal dos
fértil, como para pesquisas de reprodução Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em
de espécies que visam à conservação de Diamantina-MG, nas coordenadas
biomas, importantes para a restauração 18o15”S; 43o36”W, que faz parte da
ecológica (BIONDI, et al., 2007; Cadeia do Espinhaço, em sua porção
BUISSON et al., 2017). meridional (Figura 1).
No Brasil existem vários estudos O clima é caracterizado como
fenológicos em florestas principalmente do mesotérmico, Cwb de Köppen, com verões
Sudeste (LEMOS FILHO; MENDONÇA amenos, sendo a estação chuvosa de
FILHO, 2000; MENDONÇA FILHO, outubro a abril, enquanto a estação seca se
1995; MORELLATO et al., 1989, 2000, estendendo de maio a setembro, sendo
2010; MORELLATO; LEITÃO FILHO, junho o mês mais frio (11,84ºC) e fevereiro
1992) e também no Cerrado (DUTRA, o mais quente (25,33ºC) e com
1987; MANTOVANI; MARTINS, 1988; precipitação média anual de 1250 a 1550
MUNHOZ; FELFILI, 2005). Estudos mm e temperatura média anual entre 18º e
fenológicos em áreas de campos rupestres 19ºC (Figura 1). Foram anotadas as
são raros ou mesmo incipientes (ARRUDA temperaturas médias e os valores de
et al., 2021), particularmente para um precipitação durante o período de estudo,
189
Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021 CARNEIRO, A. C. G. S. et al.

que foram comparados com as normais de 1961 a 1990 (INMET, 2021, Figura 2).

Figura 1: Localização da área de estudo e detalhe do trajeto percorrido mensalmente para


avaliação da fenologia. Fonte: IBGE Biomas 1:250.000; GMTED, 2010; Google Earth, 2006.

Figura 2: Precipitação (barras) e temperaturas médias (linha amarela) de outubro de 2006 a


fevereiro de 2009, no campus JK da UFVJM, Diamantina-MG. A linha azul representa a
última normal climatológica (1961 – 1990). Fonte: INMET, 1992.

190
CARNEIRO, A. C. G. S. et al. Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021

São encontradas áreas escarpadas sol, à topografia, a declividade, o


entremeadas com vales profundos, microclima e a diversidade de substratos
especialmente em formações de filitos. Nas (GIULLIETI; PIRANI, 1988).
beiradas e cristas ocorrem formações Para o estudo fenológico foram
arenosas e de quartzito, onde os solos são selecionadas 14 espécies de leguminosas
pouco profundos, pedregosos e herbáceo-arbustivas, observadas ao longo
cascalhentos, arenosos, ácidos, pobres em de uma trilha pré-estabelecida no Campus
nutrientes e matéria orgânica (GIULIETTI da UFVJM (Figura 1, Quadro 1). As
et al., 1997). Na área de estudo as altitudes espécies foram distribuídas nas subfamílias
variam 1300 e 1400 m.s.m. Caesalpinioideae e Papilionoideae e no
A vegetação encontrada é de campos clado Mimosóide (LPWG, 2017). As
rupestres que compreendem uma diferentes síndromes florais e de dispersão
vegetação heterogênea, formada por um foram caracterizadas segundo FAEGRI;
mosaico de comunidades relacionadas e VAN DER PILJ (1979) e VAN DER PILJ
influenciadas por fatores abióticos, como: (1982).
a disponibilidade de água, a exposição ao

Quadro 1. Lista das espécies de Leguminosae selecionadas para estudo fenológico nas áreas
de campos rupestres localizadas no campus JK da UFVJM, Diamantina-MG. As espécies
assinaladas com asterisco (*) foram também estudadas em campos rupestres ferruginosos no
Parque Estadual do Itacolomi (DUTRA et al., 2009).
Síndrome de
Subfamília/espécie Hábito Cor da flor Polinizadores
Dispersão
CAESALPINIOIDEAE
Chamaecrista choriophylla (Vogel) H.S. Irwin
Erva Amarela Abelhas Autocoria
& Barneby
*Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip Arbusto Amarela Abelhas Autocoria
Chamaecrista debilis (Vogel) H.S. Irwin &
Arbusto Amarela Abelhas Autocoria
Barneby
Senna rugosa (G.Don) H.S. Irwin & Barneby Arbusto Amarela Abelhas Zoocoria
CLADO MIMOSÓIDE
*Mimosa aurivillus Mart. Arbusto Amarela Mariposas Autocoria
Arbustivo-
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Amarela Abelhas Zoocoria
arbóreo
Abarema brachystachya (DC.) Barneby &
Arbusto Branca Mariposas Zoocoria
J.W.Grimes
PAPILIONOIDEAE
Arbustivo-
Andira cf. paniculata Benth. Roxa Abelhas Zoocoria
arbóreo
Centrosema venosum Mart. ex Benth. Erva Lilás Abelhas Autocoria
*Crotalaria micans Link Arbusto Amarela Abelhas Autocoria
Dalbergia miscolobium Benth. Arbóreo Branca Abelhas Anemocoria
Galactia martii DC. Trepadeira Rosa Abelhas Autocoria
*Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw. Erva Amarela Abelhas Autocoria
Zornia latifolia DC. Erva Amarela Abelhas Zoocoria

191
Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021 CARNEIRO, A. C. G. S. et al.

Foram coletadas amostras de sementes, e de observações no campo,


indivíduos férteis, que foram processadas baseando-se na classificação de van der
dentro dos métodos usuais em botânica Pijl (1972) em anemocórica, zoocórica e
(MORI et al., 1989). Exsicatas foram autocórica.
elaboradas e incorporadas ao Herbário da
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM, Herbário As 14 espécies de leguminosas

DIAM). monitoradas são apresentadas no quadro 1


e na figura 3. Destas, apenas quatro
Monitoramento Fenológico (assinaladas com * no quadro 1) foram
também estudadas em campos rupestres
Foram realizadas observações
ferruginosos no Parque Estadual do
fenológicas de pelo menos 5 indivíduos de
Itacolomi (DUTRA et al., 2009), o que
cada espécie, um número considerado
reforça a importância do presente estudo
suficiente para o acompanhamento de
nos campos rupestres quatzíticos.
eventos fenológicos em regiões tropicais
O monitoramento fenológico das
(FOURNIER; CHARPANTHIER, 1975).
espécies de leguminosas indicou que as
Os indivíduos foram marcados,
fenofases observadas estão diretamente
georreferenciados e monitorados
associadas com a sazonalidade climática.
quinzenalmente de outubro de 2006 a
A análise dos dados climáticos (Figura 2),
março de 2008, utilizando-se o método
mostrou que a estação úmida foi irregular
qualitativo direto (EÇA-NEVES;
durante os diferentes anos. O início desta
MORELLATO, 2004). O registro dos
estação em 2006, de outubro a novembro
padrões fenológicos foi realizado ao longo
foi bem úmido, enquanto que, nos demais
de diferentes trilhas no Campus JK da
meses a precipitação foi quase sempre
UFVJM (Figura 1) de acordo com a
inferior à normal climatológica (INMET,
metodologia adaptada de Morellato et al.
1992). Em 2007, particularmente, foram
(1989), Pedroni et al. (2002) e Eça-Neves;
observados sete meses com menos de 60
Morellato (2004).
mm de precipitação, valor que caracteriza
A análise qualitativa das estratégias
um período de seca (MACHADO et al.,
de floração foi realizada de acordo com os
1997).
padrões de Newstron et al. (1994).
O número de espécies com queda
Também foram observadas as diferentes
de folhas apresentou um aumento a partir
síndromes de dispersão dos diásporos, por
de janeiro de 2007, com pico em maio e
meio da análise morfológica dos frutos e
192
CARNEIRO, A. C. G. S. et al. Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021

com algumas espécies perdendo folhas até provavelmente devido aos vários meses
outubro, no final da estação seca. Não foi com precipitação inferior à normal. Este
observada queda de folha no início da padrão de queda de folhas tem sido
estação úmida, de novembro de 2007 a extensivamente descritos para outras áreas
fevereiro de 2008 (Figura 2). Neste ano, o com estações secas pronunciadas, como
pico de queda de folhas foi bem maior, e reportado para a caatinga no nordeste do
atingiu seu máximo em agosto de 2008, Brasil (MACHADO et al., 1997).

Figura 3. Flores e frutos de espécies de Leguminosae monitoradas (A: Chamaecrista


debilis, B: Senna rugosa, C: Mimosa aurivillus, D: Abarema brachystachya, E: Andira cf. paniculata,
F: Centrosema venosum, G: Stylosanthes guianensis, H: Galactia martii) no campus JK da UFVJM em
Diamantina-MG e seus ambientes (I: Campo Limpo; J: Campo Sujo).

A brotação foi um evento constante observado um pico de brotação em março


ao longo do período de estudo. Foi de 2007, ao final da estação úmida.

193
Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021 CARNEIRO, A. C. G. S. et al.

Algumas espécies apresentaram brotação início da estação úmida (VAN SCHAIK et


durante a estação seca: Chamaecrista al., 1993). Pouco se sabe sobre o pico de
desvauxii, Chamaecrista debilis, brotação observado no início da estação
Chamaecrista choriophylla, Crotalaria úmida, enquanto que a brotação na estação
micans e Mimosa aurivillus. Picos menores seca foi relacionada com outros fatores
de brotação foram observados no início da diferentes da umidade. Segundo Borchert
estação úmida 2007/2008, em dezembro e (1983) espécies que brotam neste período
2008/2009, em novembro. Este pico está são caducifólias e ao perderem suas folhas
de acordo com a hipótese de limitação de recuperam o potencial hídrico e iniciam a
água, estabelecida para florestas sazonais, brotação.
que prediz que a brotação aumenta no

Figura 4: Fenologia de Leguminosae herbáceo-arbustivas em áreas de campo rupestre da


Cadeia do Espinhaço, Diamantina-MG, monitoradas de outubro de 2006 a fevereiro de 2009.
a) Queda de folhas e brotação, b- Flores em antese e dispersão de frutos.

194
CARNEIRO, A. C. G. S. et al. Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021

O mesmo padrão fenológico estes autores e está mais associado com


observado para a brotação foi detectado padrões bimodais observados para espécies
para a floração, que esteve também de campo sujo (TANNUS et al., 2006).
associada com a época de maior Observações de longo prazo são
precipitação (Figura 4). A floração tem importantes para detectar diferentes
sido correlacionada com a precipitação e padrões fenológicos em ecossistemas
com a temperatura em ambientes com tropicais (NEWSTRON et al., 1994).
marcada sazonalidade como os campos As espécies de leguminosas de campo
rupestres (DUTRA et al. 2009). Contudo, rupestre analisadas apresentaram diferentes
também foram observadas espécies padrões de floração (Figura 5A, Quadro 2).
florescendo na estação seca, como A maioria das espécies apresentou um
Crotalaria micans, Chamaecrista debilis, período de floração contínuo (40%) ou
Stylosanthes guianensis e Zornia latifolia. subanual (31%), contrapondo ao observado
Foram observados picos de floração em por Dutra et al. (2009) para os campos
abril de 2007 e 2008, no final da estação ferruginosos do Itacolomi, em Ouro Preto-
úmida, o que está de acordo com o MG, que observaram uma maior proporção
observado para leguminosas de campos de espécies com padrão anual de floração.
ferruginosos de Ouro Preto-MG (DUTRA Apenas duas espécies Andira cf.
et al., 2005; DUTRA et al., 2009). paniculata e Dalbergia miscolobium
Contudo, um segundo pico de floração no possivelmente possuem um padrão supra-
início da estação úmida, em outubro de anual de floração.
2007 e de 2008, não foi observado por

Figura 5. (A) Padrões de floração (B) Padrões de frutificação; e (C) síndromes de dispersão
de frutos de Leguminosae herbáceo-arbustivas em áreas de campo rupestre da Cadeia do
Espinhaço, Diamantina-MG.

195
Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021 CARNEIRO, A. C. G. S. et al.

Quadro 2 Fenograma das espécies de Leguminosae selecionadas para estudo fenológico nas áreas de Campos Rupestres localizadas no campus
JK da UFVJM, Diamantina-MG, monitoradas de Outubro de 2006 a fevereiro de 2009. Legenda: * Flores em antese ☼.
Espécies O N D J F M A M J J
A S O N D J F M A M J J A S O N D J F
* * * * * * * * * * *
Chamaecrista choriophylla
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Chamaecrista desvauxii
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Chamaecrista debilis
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * *
Senna rugosa
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * * *
Mimosa aurivillus
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * *
Stryphnodendron adstringens
☼ ☼ ☼
* * * * * * * *
Abarema brachystachya
☼ ☼ ☼ ☼
*
Andira cf. paniculata
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * *
Centrosema venosum

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Crotalaria micans
☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼ ☼
Dalbergia miscolobium
☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * *
Galactia martii

* * * * * * * * * * * * * * * * *
Stylosanthes guianensis
☼ ☼ ☼ ☼
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Zornia latifolia

Meses do ano O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F

196
CARNEIRO, A. C. G. S. et al. Regnellea Scientia 7(4):186-200, 2021

Quanto à dispersão de frutos foi bimodal tanto de floração quanto de


detectado o mesmo padrão bimodal dispersão ainda não descrito para
observado para a floração, com picos no Leguminosae de campos rupestres,
final da estação úmida, em março de 2007, detectado possivelmente devido às
mas também no início da estação úmida, observações de longo prazo realizadas.
em dezembro de 2007 e outubro de 2008 Estas informações contribuíram para
(Figura 4). Assim como para floração, ampliar o conhecimento sobre a fenologia
foram observadas espécies dispersando desta importante família, ainda pouco
frutos na estação seca, dos gêneros estudada em áreas de campo rupestre.
Crotalaria, Mimosa e Chamaecrista, todas
AGRADECIMENTOS
elas com dispersão autocórica. De fato,
este foi o tipo de dispersão dominante entre À Fapemig pela bolsa de iniciação
as Leguminosae estudadas (57%), seguido científica PIBIC/UFVJM para Bianca
pela Zoocoria (36%) e Anemocoria (7%) Massula.
(Figura 5 b). A maioria das espécies
apresentou um curto período de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

frutificação (50%), sendo também


APG - The Angiosperm Phylogeny Group.
observados períodos de frutificação An update of the Angiosperm Phylogeny
Group classification for the orders and
intermediária a longa, com 28% e 22%,
families of flowering plants: APG IV.
respectivamente (Figura 5 c). Dutra et al. Botanical Journal of the Linnean
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(2009) encontraram uma maior
predominância do padrão de frutificação BARROSO, G. M. et al. Sistemática de
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200
PESQUISAS COM PLANTAS MEDICINAIS NA REGIÃO DO ESPINHAÇO

Cristiane Fernanda Fuzer Grael1, Mônica Maciel Guimarães2, Thaísa Clara Ornelas Otoni3
1
Professora, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Departamento de Farmácia e
Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Diamantina (MG), cris.grael@ufvjm.edu.br;
2
Discente de pós-graduação, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Programa
de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Diamantina (MG), monica.guimaraes@ufvjm.edu.br;
3
Farmacêutica e Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri (UFVJM), Diamantina (MG), thaisa_clara@yahoo.com.br.

RESUMO Este artigo foi organizado de acordo com palestra proferida durante o “I
Workshop da Flora do Espinhaço”, promovido pelo Herbário Dendrológico Jeanine Felfili em
2017. O conteúdo da palestra foi atualizado e tem como objetivo indicar os principais
trabalhos de Etnofarmacobotânica, Etnofarmacologia e Fitoquímica com plantas medicinais
nativas do Espinhaço e adjacências que têm sido desenvolvidos na Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Os estudos são feitos por pesquisadores e
discentes de iniciação científica e de pós-graduação da UFVJM, sendo que alguns desses
trabalhos são realizados em parcerias com pesquisadores de outras instituições.

Palavras-chave: Etnofarmacobotânica; Etnofarmacologia; Fitoquímica; Ensaios biológicos.

ABSTRACT This article was organized according to a lecture given during the “I Workshop
da Flora do Espinhaço”, promoted by the Jeanine Felfili Dendrological Herbarium in 2017.
The content of the lecture was updated and aims to indicate the main works of
Ethnopharmacobotany, Ethnopharmacology and Phytochemistry with medicinal plants native
to Espinhaço and surrounding areas that have been developed at the Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). The studies are carried out by researchers and
scientific initiation and graduate students at UFVJM, and some of these researches are carried
out in partnership with researchers from other institutions.

Keywords: Ethnopharmacobotany; Etnopharmacology; Phytochemistry; Biological assays.


GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4):201-217, 2021

INTRODUÇÃO preparações), além de outras informações


pertinentes para cada caso em particular.
A Etnobotânica é a ciência que
Na maioria desses estudos, os
estuda as relações do ser humano ou de um
conhecedores das plantas medicinais
determinado grupo humano com a
(informantes-chave) são idosos, que
vegetação nativa e cultivada da região na
adquiriram o conhecimento no seu núcleo
qual está inserido. Ou seja, faz a pesquisa
familiar ou, quando jovens, aprenderam
de como o homem emprega certas plantas
com pessoas mais idosas da comunidade.
e para qual finalidade: alimento, remédio,
Alguns levantamentos sobre plantas
condimento, construção, lenha,
medicinais são feitos com base em
ornamentação, obtenção de corantes e
documentos históricos ou em relatos de
outras (ALBUQUERQUE, 2005). A
viagens de naturalistas que estiveram no
Etnofarmacobotânica trata especificamente
Brasil no século XIX. Esses diários de
da Etnobotânica das plantas medicinais.
viagem são ricos em informações sobre as
Assim, envolve levantamentos
plantas medicinais que a população
relacionados apenas àqueles vegetais que
utilizava naquela época. Então, há
são utilizados com finalidade de prevenir
trabalhos atuais que tem por objetivo
ou tratar enfermidades. Nesse tipo de
verificar se aquelas espécies vegetais
pesquisa normalmente são obtidas
descritas ainda são empregadas para fins
informações sobre quais plantas são
medicinais (BRANDÃO et al., 2008a;
empregadas para tratar ou prevenir
CAMARGO, 2008).
determinadas doenças, o(s) nome(s)
Os vegetais aproveitados na
popular(es) da planta, como e quando deve
medicina popular atualmente ou que
ser feita a coleta do vegetal, quais partes ou
apresentam histórico de uso medicinal
qual parte é empregada para a preparação
tradicional precisam ser estudados
do remédio, como é o preparo do remédio
cientificamente sob os aspectos químico e
(garrafada, infusão, tintura etc), se o
farmacológico. Nesse sentido há,
vegetal tem que ser fresco ou dessecado,
respectivamente, as áreas de pesquisa de
como deve ser a posologia (tratamento por
Fitoquímica (ou Química de Produtos
quantos dias, quantas vezes ao dia,
Naturais) e de Etnofarmacologia. A
quantidade empregada em cada
Fitoquímica é responsável pelo
administração), precauções (cuidados que
conhecimento da composição química dos
devem ser seguidos ao fazer o uso das
vegetais, e em especial, pelo conhecimento

202
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

dos metabólitos secundários (ou especiais) estudos etnofarmacobotânico,


que são substâncias que normalmente etnofarmacológico e fitoquímico,
apresentam as atividades biológicas, determinando a identidade inequívoca das
tóxicas ou farmacológicas descritas para o plantas medicinais e dando validade
vegetal. A Etnofarmacologia é uma ciência científica para esses estudos. As exsicatas
de exploração interdisciplinar que consiste depositadas nos herbários são preciosas
em realizar experimentos laboratoriais fontes de informações e de pesquisas sobre
controlados in vitro e in vivo, visando o histórico, a ocorrência geográfica e o uso
observar se há a reprodução da atividade das espécies vegetais medicinais (SOUZA;
terapêutica que é relatada pela população HAWKINS, 2017).
que faz uso do vegetal (BRUHN; RIVIER, Estudos com plantas medicinais
2019). Além disso, tais estudos podem vir nativas do Espinhaço e adjacências têm
a entender os mecanismos de ação dos sido desenvolvidos na Universidade
princípios ativos da planta, identificar o Federal dos Vales do Jequitinhonha e
princípio ativo (ou os princípios ativos), Mucuri (UFVJM) e em parceria com
observar efeitos tóxicos agudos ou pesquisadores de outras instituições.
crônicos causados pelo emprego das Assim, o objetivo deste trabalho é indicar
preparações medicinais, podendo ainda alguns estudos etnofarmacobotânicos,
fornecer outras informações importantes fitoquímicos e etnofarmacológicos que têm
que confirmem ou não o potencial sido realizados na UFVJM e destacar a
medicinal da planta e indique seus efeitos importância de pesquisas nessas áreas do
benéficos ou danosos ao organismo conhecimento.
humano.
QUAL A FINALIDADE DOS
Em todos esses estudos é
ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS DE
imprescindível a identificação taxonômica
PLANTAS MEDICINAIS E
das plantas medicinais, pois, o nome
PESQUISAS
popular não é suficiente para a identidade
ETNOFARMACOLÓGICAS E
botânica, uma vez que plantas de espécies
FITOQUÍMICAS?
diferentes podem ter o mesmo nome
popular e uma determinada espécie vegetal As pesquisas etnofarmacobotânicas
pode ter diversos nomes populares em uma (incluindo levantamentos de plantas
mesma região. Assim, os herbários são medicinais em documentos históricos,
fundamentais na fase inicial de quaisquer como os diários de viagem de naturalistas

203
GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021

europeus do século XIX), tradicionais devido aos registros que


etnofarmacológicas e fitoquímicas de permanecem por escrito em meio físico ou
plantas medicinais podem ser realizadas digital.
com inúmeras finalidades
2 - Resgatar os conhecimentos sobre
(ALBUQUERQUE, 2005; ARGENTA et
plantas medicinais que tiveram suas
al., 2011; BRANDÃO et al., 2008a;
utilidades descritas no passado: É
SEIDEL, 2020). Podem-se destacar pelo
importante consultar os diários de viagens
menos quatro razões principais para esses
dos naturalistas que estiveram no Brasil no
estudos serem feitos:
século XIX e descreveram o uso das
1 - Registrar de forma escrita sistematizada plantas medicinais, especialmente as
ou documentar o conhecimento popular ou nativas. Com esse levantamento associado
tradicional: Geralmente, em uma ao estudo etnofarmacobotânico recente é
comunidade os saberes acerca das plantas possível perceber se plantas que tinham
medicinais nativas ou cultivadas são sua utilidade medicinal no passado
transmitidos entre as pessoas e entre as continuam ou não sendo empregadas
diferentes gerações através da oralidade. A atualmente e ainda, observar se houve
transmissão exclusivamente oral pode ser mudanças com relação a aplicação
frágil em algumas circunstâncias e assim, terapêutica das plantas que são utilizadas
os conhecimentos podem ser “perdidos” ou até hoje.
esquecidos ou ainda alterados com o passar
do tempo. Isso acontece por diversos 3 - Validar o uso medicinal das plantas:

fatores, podendo-se destacar o desinteresse Validar uma planta medicinal é legitimar

de pessoas mais jovens pela cultura local seu uso popular. Os ensaios in vivo e in

tradicional, as mudanças comportamentais vitro envolvidos nas pesquisas

e culturais que são introduzidas em uma etnofarmacológicas têm como alguns de

comunidade e os desmatamentos que seus objetivos, confirmar a atividade

mudam a paisagem diminuindo a terapêutica que a população relata para

ocorrência das plantas medicinais nativas determinadas plantas medicinais e

mais aparentes na região e que podem investigar possíveis efeitos adversos,

colocar determinadas espécies nativas sob contraindicações, interações

o risco de extinção. Dessa forma, as medicamentosas, além de outros. Através

pesquisas etnofarmacobotânicas podem desses estudos é possível observar também

contribuir para perpetuar os saberes se a atividade relatada é devido a um efeito

204
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

placebo, por exemplo. As pesquisas maioria são pesquisas de base que, se


fitoquímicas de extratos vegetais devem apresentarem resultados promissores, os
ocorrer concomitantemente aos seus pesquisadores e instituições envolvidas
estudos farmacológicos. Nesses casos, o poderão planejar experimentos pré-clínicos
ideal é serem analisados extratos mais específicos e direcionados para o
preparados de maneira semelhante e com desenvolvimento de novos agentes
características próximas àquelas dos terapêuticos. A necessidade de se buscar
remédios preparados por raizeiros, novas moléculas para produção de
benzedeiras e informantes-chave. Através medicamentos reside nos seguintes fatos,
da combinação de ensaios biológicos e dentre outros: (a) há patologias que ainda
químicos é possível verificar nos extratos, não tem cura, necessitando de pesquisas
além dos componentes responsáveis pela intensas na busca de terapias; (b)
atividade farmacológica, a presença de atualmente já foi detectada a resistência de
metabólitos potencialmente tóxicos ou alguns microrganismos patogênicos aos
danosos à saúde humana. Os resultados medicamentos que estão no mercado; (c)
obtidos nesses estudos devem ser questões mercadológicas das indústrias
empregados para prezar pela segurança da farmacêuticas, especialmente devido ao
população que faz uso de plantas término de vigência de patentes; (d) é
medicinais, especialmente através da preciso buscar medicamentos que possam
divulgação dos dados científicos de forma curar doenças que até então não eram
acessível para a população leiga, para que conhecidas e estão sendo descritas pela
faça um uso seguro e consciente das ciência; e, de acordo com Quammen
plantas. (2020), muitas dessas doenças são
consequências da interferência do homem
4 - Desenvolver novos medicamentos e
nos ambientes naturais, que de alguma
medicamentos fitoterápicos: Estudos
forma, entram em contato com animais
químicos, farmacológicos e toxicológicos
selvagens ou suas excretas que são
de extratos vegetais são trabalhos pré-
reservatórios naturais dos patógenos. A
clínicos que fazem parte do
globalização e o encurtamento das
desenvolvimento de novos medicamentos.
distâncias físicas e temporais entre os
Muitas vezes essas pesquisas se iniciam
homens, devido aos avanços nos meios de
sem a pretensão ou o objetivo final de
transportes, dentre outros fatores, contribui
produzir novos medicamentos. Em sua

205
GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021

para o rápido espalhamento dessas doenças Quando os trabalhos forem conduzidos em


contagiosas, originando pandemias. comunidades tradicionais (ribeirinhas,
O conhecimento tradicional ou quilombolas e outras) é recomendado um
popular sobre plantas medicinais e os contato prévio com os líderes comunitários
registros históricos sobre os usos e é necessário documentar o aval que eles
terapêuticos da vegetação nativa podem derem para o desenvolvimento da pesquisa
servir de base para o desenvolvimento de na localidade. O ingresso em terras
pesquisas fitoquímicas e indígenas para a realização da pesquisa
etnofarmacológicas, visando à validação necessita de autorização prévia da FUNAI
das plantas medicinais ou ao - Fundação Nacional do Índio (FUNAI,
desenvolvimento de novos medicamentos 1995).
(ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006). Já, os projetos de estudos
Por outro lado, há um interesse na pesquisa etnofarmacológicos que envolvem animais
de extratos de plantas medicinais ou de vertebrados em seus experimentos devem
plantas úteis para uma série de outras ser submetidos previamente à avaliação
atividades biológicas que não somente por um Comitê de Ética no Uso de
aquelas atividades terapêuticas relatadas; Animais (CEUA) (BRASIL, 2008).
isso ocorre, pois, os extratos vegetais são As pesquisas que realizam coletas e
misturas complexas de constituintes transporte de amostras vegetais tanto para
químicos para os quais outras aplicações se fazer a herborização e identificação
podem ser detectadas. taxonômica, quanto para a preparação de
extratos, devem ter o registro no Sistema
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS
de Autorização e Informação em
As pesquisas Biodiversidade (SISBio). É importante
etnofarmacobotânicas, etnofarmacológicas observar se a coleta será feita em reserva
e fitoquímicas devem ser conduzidas nos ambiental ou em seu entorno. Se assim for,
limites determinados pela legislação é necessário o pesquisador obter
vigente. autorizações de coletas junto aos órgãos
Assim, os estudos que envolvem competentes, tais como, o Instituto
seres humanos, mesmo que sejam somente Estadual de Florestas (IEF), no caso de
realizadas entrevistas com os informantes- coleta a ser realizada em área estadual, ou
chave, devem ser submetidos à apreciação o SISBio no caso de realização de
de um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) atividades científicas em unidades de
antes de seu início (BRASIL, 2002).
206
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

conservação federais (BRASIL, 2014; IEF- comunidade, sem revelar identidades,


MG, 2017e 2019). como uma forma de reconhecer e valorizar
Em 2015, foi publicada a Lei o saber popular (PATZLAFF; PEIXOTO,
13.123 que dispõe sobre o acesso ao 2009).
patrimônio genético, sobre a proteção e o
EXEMPLOS DE ESTUDOS COM
acesso ao conhecimento tradicional
PLANTAS MEDICINAIS E ÚTEIS
associado e sobre a repartição de
benefícios para conservação e uso REALIZADOS POR

sustentável da biodiversidade (BRASIL, PESQUISADORES DA UFVJM


2015). A partir de então, todas as
O município de Diamantina (MG)
investigações científicas, que acessam
está localizado no Complexo do Espinhaço
conhecimento tradicional relacionado às
e apresenta uma vasta flora nativa e
plantas medicinais e as pesquisas
diversificada contendo espécies endêmicas
etnofarmacológicas e fitoquímicas sem fins
e adaptadas às fitofisionomias de Cerrado,
lucrativos e que usam extratos vegetais,
incluindo os campos rupestres (SILVA;
devem ser cadastradas no Sistema
PEDREIRA; ABREU, 2005). Dessa forma,
Nacional de Gestão do Patrimônio
pesquisas com a flora nativa têm sido
Genético e do Conhecimento Tradicional
desenvolvidas na UFVJM.
Associado (SisGen), antes da divulgação
de qualquer resultado do estudo através de Estudos Etnofarmacobotânicos
artigos científicos, livros, seminários, etc.
É eticamente recomendável que, ao Trabalhos de levantamento

final da pesquisa Etnobotânica, sejam etnofarmacobotânico têm sido feitos em

realizadas ações que caracterizam o regiões localizadas no Complexo do

“retorno” sistematizado da pesquisa para as Espinhaço e adjacências, como por

comunidades envolvidas, tais como: exemplo, em São Gonçalo do Rio das

eventos com a apresentação oral dos Pedras e em Milho Verde (ambos os

resultados, valorizando publicamente o distritos pertencentes ao município de

conhecimento popular local; entrega dos Serro-MG) e em comunidades no

resultados impressos para os líderes município mineiro de Araçuaí

comunitários; nas publicações científicas é (MALAQUIAS, 2012; OTONI, 2018). A

importante incluir um agradecimento Tabela 1 apresenta alguns exemplos de

especial aos informantes-chaves e à plantas que foram citadas por informantes

207
GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021

chave nos trabalhos realizados. Imagens Ecologia, dentre outras. Vale destacar que,
das exsicatas de seis espécies são essas espécies vegetais carecem de estudos
apresentadas no Apêndice 1. fitoquímicos e etnofarmacológicos. Assim,
Há espécies que foram encontradas é imprescindível o incentivo e
e foram citados seus usos medicinais nas financiamento público para o
duas regiões: Serro (no Espinhaço) e desenvolvimento de pesquisas dessa
Araçuaí (adjacente ao Complexo do natureza. Outro fator importante que
Espinhaço); já, outras plantas eram justifica esse tipo de estudo é o seu
utilizadas somente em uma das regiões. relevante papel na valorização e,
Isso pode indicar conjuntos de saberes consequentemente, na preservação da flora
diferenciados entre as duas regiões, o que nativa local.
pode ser reflexo de diferenças culturais ou
Estudos Etnofarmacológicos e
do endemismo e da distribuição
Fitoquímicos e avaliação de outras
diferenciada das espécies (ocorrência mais
atividades biológicas
aparente em uma região em detrimento da
outra); porém, essa é uma hipótese que Na Tabela 2 estão selecionados e
ainda merece ser investigada. Nesses apresentados resumidamente alguns
levantamentos observou-se que os exemplos de estudos etnofarmacológicos e
informantes-chave (raizeiros, conhecedores fitoquímicos realizados na UFVJM com
de plantas nativas, benzedeiras) em sua espécies vegetais, bem como, exemplos de
maioria, eram pessoas idosas. Observa-se algumas pesquisas com extratos de plantas
que estas regiões tem sofrido com a medicinais com o objetivo de analisar
intervenção humana em sua paisagem outras atividades biológicas além das
natural, o que interfere na distribuição das atividades terapêuticas relatadas.
plantas medicinais. Dessa forma, esses são
alguns fatores que justificam essas
pesquisas que tem por objetivo registrar de
forma sistematizada o conhecimento
popular para que esses saberes não caiam
no esquecimento e sejam fonte para outras
pesquisas em diferentes áreas do
conhecimento, tais como Botânica,
Farmácia, Medicina, Antropologia,

208
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

Tabela 1: Exemplos de plantas medicinais citadas por informantes-chave em levantamentos


etnofarmacobotânicos realizados em comunidades localizadas no Complexo do Espinhaço e
adjacências.
Município de
inserção das
Família/ Nomes comunidades Observações/ citações
Uso medicinal
espécie populares em que as pelos naturalistas*
espécies foram
citadas
Conde de Castelnau,
Aristolochiaceae
Langsdorff, Saint-Hilaire
Aristolochia Mil-
Araçuaí citam Aristolochia spp ou
gigantea Mart. homens, Dor muscular
Aristolochia cymbifera
(Figura 1B) Milhome
Mart. & Zucc
Asteraceae
Achyrocline satureioides Calmante;
(Lam.) DC Macela problemas Serro Burton
(Figura 1A) estomacais
Bunbury, Martius, Saint-
Hilaire; em Araçuaí, a
espécie Baccharis
Baccharis cripa Dispepsia;
myriocephala DC. é
Spreng. Carqueja problemas Serro
conhecida como carqueja,
hepáticos
usada como depurativo
do sangue.
Bignoniaceae
Jacaranda caroba
(Vell.) DC Carobinha, Depurativo;
Serro Martius, Saint-Hilaire
(Figura 1D) Caroba vermífugo

Cactaceae
Cereus jamacaru DC.
Mandacaru Anticaspa Araçuaí Cactácea endêmica
(Figura 1C)

Fabaceae
Copaifera langsdorffii Copaíba, Burton, D’Orbgni,
Cicatrizante Araçuaí e Serro
Desf. Pau d´óleo Martius, Saint-Hilaire

Problemas
Senna occidentalis (L.) Burton, Langsdorffii,
hepáticos,
Link Fedegoso Araçuaí e Serro Martius, Saint-Hilaire,
intestinais;
purgativo
Burton, Langsdorffii,
Stryphnodendron Cicatrizante;
Martius, Pohl, Saint-
adstringen (Mart.). Coville Barbatimão infecção Araçuaí e Serro
Hilaire
de garganta
Dom
Rubiaceae Palicourea Depurativo;
Bernando,
rigida Kunth diurético; Serro Martius, Saint-Hilaire
Douradinha
(Figura 1E) inflamação
do Campo
Remijia ferruginea (A.St.- Febre;
Hil.) DC. problemas Burton, Martius,
Quina Araçuaí e Serro
(Figura 1F) estomacais; Saint-Hilaire
vermífugo
* A indicação das citações feitas pelos naturalistas está de acordo com: Brandão et al. (2008b,
2012a, 2012b), Brandão (2015) e Saint-Hilaire (2009).

209
GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021

Tabela 2: Estudos etnofarmacológicos, fitoquímicos e avaliação de atividades biológicas realizados na UFVJM com extratos de espécies
vegetais da Cadeia do Espinhaço.
Usos
Família/ Nomes populares Resultados de Estudos Outras atividades biológicas
Estudos Etnofarmacológicos
Espécie populares* relatados na Fitoquímicos avaliadas
literatura*
Cumarinas, mono-, sesqui- e
Asteraceae Diminuição da expressão
triterpenos (AVELAR-
Ageratum Analgésico; de citocinas pró-inflamatórias por
Enxota, FREITAS et al., 2015; Controle de insetos (AVELAR-
fastigiatum anti- linfócitos (AVELAR-FREITAS
Mata-pasto GONÇALVES FREITAS et al., 2013; TAVARES
(Gardner) R.M. inflamatório et al., 2015;
et al., 2011; et al., 2012)
King & H. Rob. SOUZA et al., 2019)
SOUZA et al., 2019)
Controle de insetos, alelopática
Derivados de ácido quínico,
Pseudobrickellia Arnica do Analgésico; (herbicida, inibição de germinação
Inibição da produção de citocinas flavonoides, mono-, sesqui-,
brasiliensis campo, anti- de sementes), antimicrobiana
pró-inflamatórias por linfócitos di- e triterpenos (ALMEIDA
(Spreng.) R.M. Arnica do inflamatório; (CARDOSO et al.,2020; RIBEIRO
(ALMEIDA et al., 2017) et al., 2017; AMORIM et al.,
King & H. Rob. mato cicatrizante et al., 2016; TAVARES et al.,
2016)
2012)
Digestivo; Controle de insetos, alelopático
Bignoniaceae
tratamento de (herbicida, inibição de germinação
Jacaranda Caroba, Compostos fenólicos,
doenças de sementes), antioxidante
caroba (Vell.) A. Carobinha --- esteroides (BENTO, 2013)
sexualmente (BENTO, 2013; TAVARES et al.,
DC.
transmissíveis 2012)
Burseraceae Almecegue
Protium ira, Anti-
heptaphyllum Almíscar inflamatório; Controle de insetos (SINCURÁ et
--- ---
(Aubl.) selvagem, cicatrizante al., 2017)
Marchand Breu
(Continua)

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Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

Tabela 2 (Continuação)
Usos
Família/ Nomes populares Resultados de Estudos Outras atividades biológicas
Estudos Etnofarmacológicos
Espécie populares* relatados na Fitoquímicos avaliadas
literatura*
Erythroxylaceae
Galinha-
Erythroxylum Extração de Alcalóides, compostos
choca, Antioxidante (OLIVEIRA et al.,
suberosum A.St.- pigmento --- fenólicos, triterpenos
Mercúrio 2015)
Hil. (OLIVEIRA et al., 2015)
do campo

Fabaceae
Eriosema Anti- Atividade antiproliferativa de
campestre var. inflamatório; linfócitos associados a Flavonoides e terpenos
Pustemeira ---
macrophyllum tratamento de inflamação (SANTOS et al., 2016)
(Grear) psoríase (SANTOS et al., 2016)
Fortunato
Amarelinho Antídoto Antracenosídeos, compostos
Senna rugosa Antimicrobiana (antibacteriana,
, Raiz contra mordida --- fenólicos, esteroides,
(G. Don) Irwin antifúngica e antiprotozoária),
preta, Unha de cobra; triterpenos
& Barneby antitumoral (CUNHA et al., 2020)
de boi vermífugo (CUNHA et al., 2020)
* Nomes e usos populares têm como fonte as referências indicadas nessa tabela e/ou as seguintes referências: Brandão et al. (2008b, 2012a,
2012b, 2015) e Saint-Hilaire (2009).

211
GRAEL, C. F. F. et al. Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021

Ageratum fastigiatum (enxota ou conhecimento da composição química de


mata-pasto), Pseudobrickellia brasiliensis plantas nativas úteis e para avaliar a
(arnica do campo ou arnica do mato), e potencial aplicação de extratos (ou
Eriosema campestre var. macrophyllum constituintes químicos desses vegetais)
(pustemeira) têm sido submetidas a como agentes antimicrobiano,
avaliações etnofarmacológicas in vitro e antioxidante, antitumoral e herbicida.
estão sendo observados resultados que Naturalistas europeus, que
corroboram o uso popular dessas plantas estiveram no Brasil no século XIX citaram
para tratamento de inflamação. E, em em suas obras a presença e a utilidade
estudos fitoquímicos feitos com extratos dessas espécies que têm sido estudadas. O
polares (que se assemelham aos remédios naturalista francês Auguste de Saint-
preparados por raizeiros: garrafadas, Hilaire fez registros da enxota ou mata-
extratos hidroalcoólicos), é possível pasto (A. fastigiatum), do mercúrio do
observar a ocorrência de classes de campo (E. suberosum) e da caroba (J.
metabólitos secundários que apresentam caroba), esta última também citada por
atividade anti-inflamatória relatada na Burton e pelo médico e botânico alemão
literatura (SIMÕES et al., 2018). Dessa Carl Friedrich Philipp von Martius
forma, a UFVJM tem contribuído para a (BRANDÃO et al., 2012a; BRANDÃO et
pesquisa básica dessas espécies vegetais, al., 2012b; SAINT-HILAIRE, 2009
dando sustentação para que estudos mais [1828]). O inglês Richard Francis Burton
elaborados sejam realizados com o fez referência ao breu ou almecegueira (P.
objetivo de validar o uso medicinal dessas heptaphyllum) (BRANDÃO et al., 2012a;
plantas medicinais. BRANDÃO, 2015). Essas e outras
Foram realizadas pesquisas com espécies necessitam de mais pesquisas para
extratos de vegetais nativos da região para confirmar sua aplicação medicinal ou
avaliar sua atividade contra insetos vetores indicar outras potenciais utilidades.
de doenças e contra insetos que são
CONSIDERAÇÕES FINAIS
considerados praga para cultivos,
indicando que esses extratos podem ter No século XIX, Saint-Hilaire
potencial para serem utilizados no controle indicou a necessidade de que o governo,
de insetos prejudiciais à saúde humana e à através de homens instruídos, fizesse um
economia. Destacam-se ainda as pesquisas estudo das plantas medicinais utilizadas no
que tem sido feitas na UFVJM para melhor território brasileiro para verificar quais

212
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

seriam seguras e teriam realmente a C.F.F. Chemical constituents of leaves


Pseudobrickellia brasiliensis (Spreng.)
atividade terapêutica relatada e quais
R.M. King & H.Rob. (Asteraceae).
seriam ineficazes ou tóxicas (SAINT- Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, v. 18, p. 408-414, 2016.
HILAIRE, [1830] 1975). Os dizeres de
Saint-Hilaire continuam ecoando no século ARGENTA, S.C.; ARGENTA, L.C.;
GIACOMELLI, S.R.G.; CEZAROTTO,
XXI: ainda se faz necessário colocar em V.S. Plantas medicinais: cultura popular
prática mais pesquisas acerca das plantas versus ciência. Vivências, v.7, n.12, p.51-
60, 2011.
nativas, para que possamos conhecer
melhor nossa biodiversidade, sua aplicação AVELAR-FREITAS, B.A.; ALMEIDA,
V.G.; SANTOS, M.G.; SANTOS, J.A.T.;
medicinal e fornecer dados para que o uso BARROSO, P.R. ; GRAEL,
terapêutico das plantas seja comprovado, C.F.F. ; GREGÓRIO, L.E.; VIEIRA, E.R.;
MELO, G.E.B.A. Essential oil from
seguro e consciente. Destaca-se que a Ageratum fastigiatum reduces expression
UFVJM tem fornecido sua contribuição of the pro-inflammatory cytokine tumor
necrosis factor-alpha in peripheral blood
nesse sentido. leukocytes subjected to in vitro stimulation
with phorbol myristate acetate. Revista
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216
Regnellea Scientia 7(4): 201-217, 2021 GRAEL, C. F. F. et al.

Apêndice 1: Imagens das exsicatas das espécies (A) Achyrocline satureioides (Lam.) DC, (B)
Aristolochia gigantea Mart., (C) Cereus jamacaru DC., (D) Jacaranda caroba (Vell.) DC,
(E) Palicourea rigida Kunth e (F) Remijia ferruginea (A.St.-Hil.) DC. Fonte: acervo do
Herbário Dendrológico Jeanine Felfili.

217

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