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A pesca marinha e estuarina do Brasil

no início do século XXI: Recursos, tecnologias,

aspectos socioeconômicos e institucionais

Organizadores

Victoria Judith Isaac


Agnaldo Silva Martins

Manuel Haimovici

José Milton Andriguetto Filho

Belém
2006
ISBN: 85-247-0345-8

Comissão Editorial
Victoria Judith Isaac, UFPA
Agnaldo Silva Martins, UFES
Manuel Haimovici, FURG
José Milton Andriguetto Filho, UFPR

Revisão e normalização: Gianni Fontis Celia

Capa: Luciano G. Fischer

Diagramação e arte-final: Lia Ribeiro

Impresso no Brasil - Printed in Brazil 2006


Gráfica Pallotti, Santa Maria - RS

Patrocínio:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. (EPAGRI)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Universidade Federal do Pará (UFPA)
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Catalogação na fonte: Prof. Enriqueta Graciela Cuartas CRB10/519

P473 A pesca marinha e estuarina do Brasil no início do


século XXI: recursos, tecnologias, aspectos
socioeconômicos e institucionais / organizadores
Victoria J. Isaac … [et al.] – Belém: Universidade
Federal do Pará – UFPA, 2006.
188 p. : il. ; 28cm

Projeto RECOS: Uso e Apropriação dos Recursos


Costeiros. Grupo Temático: Modelo Gerencial da Pesca.

Inclui bibliografia

ISBN 85 - 247 - 0345 - 8


1. Recursos pesqueiros – Brasil. 2. Recursos
marinhos -- Brasil. 3. Projeto RECOS. I. Isaac, Victoria J.

CDU 639.2 (81)


REALIZAÇÃO

Projeto RECOS - Uso e Apropriação de Recursos Costeiros (CNPq/MCT)


Coordenador: Dr. Jorge Pablo Castello
Vice-Coordenador: Dr. Paulo da Cunha Lana

Grupo Temático Modelo Gerencial da Pesca


Coordenadora: Dra. Victoria Judith Isaac
Vice-Coordenador: Dr. Agnaldo Silva Martins

AGRADECIMENTOS

A coordenação do Projeto RECOS, através do Grupo Temático Modelo Gerencial da Pesca, agradece ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsas de
estudo e ao Ministério de Ciência e Tecnologia pelo apoio financeiro ao Projeto RECOS do Programa
Institutos do Milênio. Pela sua contribuição no fornecimento e coleta de dados, o Projeto RECOS agradece
também às seguintes instituições:

Colônias e Associações de Pescadores nos estados participantes


Escritórios regionais e centros de pesquisa do IBAMA
Escritórios regionais da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca-PR
Escritórios regionais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.
AUTORES

Rio Grande do Sul Paraná

DANIELA COSWIG KALIKOSKI CÉSAR SANTOS


Fundação Universidade Federal do Rio Grande Universidade Federal do Paraná
Departamento de Geociências Centro de Estudos do Mar
Caixa Postal 474 Av. Beira Mar, s/n°
96201-900 Rio Grande – RS 83255-000 Pontal do sul – PR
E-mail: danielak@furg.br E-mail: csantos@ufpr.br

DENIS HELLEBRANDT JOSÉ MILTON ANDRIGUETTO FILHO


University of East Anglia, School of Development Universidade Federal do Paraná
Studies Departamento de Zootecnia
Norwich, NR4 7TJ, UK Rua dos Funcionários, 1540
E-mails: d.hellebrandt@uea.ac.uk; 80050-035 Curitiba – PR
dhellebrandt@yahoo.com E-mail: jmandri@ufpr.br

JORGE PABLO CASTELLO PAULO DE TARSO CHAVES


Fundação Universidade Federal do Rio Grande Universidade Federal do Paraná
Departamento de Oceanografia Departamento de Zoologia, Centro Politécnico
Caixa Postal 474 Caixa Postal 19020
96201-900 Rio Grande – RS 81531-980 Curitiba – PR
E-mail: docjpc@super.furg.br E-mail: ptchaves@ufpr.br

MANUEL HAIMOVICI SIDNEY ANTONIO LIBERATI


Fundação Universidade Federal do Rio Grande Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Departamento de Oceanografia Delegacia Federal de Agricultura do Paraná
Caixa Postal 474 Rua José Veríssimo, 420, Tarumã
96201-900 Rio Grande – RS 82820-000 Curitiba – PR
E-mail: haimovici@furg.br E-mail: pesca-pr@agricultura.gov.br

MARCELO CUNHA VASCONCELLOS


FAO, Marine Resources Service Espírito Santo
Fisheries Resources Division
AGNALDO SILVA MARTINS
Viale delle Terme di Caracalla
Universidade Federal do Espírito Santo
00100 Roma, Italia. Departamento de Ecologia e Recursos Naturais
E-mail: marcelo.vasconcellos@fao.org Av. Fernando Ferrari, 514
29075-910 Vitória – ES
PATRÍZIA RAGGI ABDALLAH
E-mail: agnaldo.ufes@gmail.com
Fundação Universidade Federal do Rio Grande
Centro de Estudos em Economia e Meio Ambiente JAIME ROY DOXSEY
Departamento de Economia Universidade Federal do Espírito Santo
Caixa Postal 474 Departamento de Ciências Sociais
96201-900 Rio Grande – RS Av. Fernando Ferrari, 514
E-mail: patrizia@furg.br 29060-910 Vitória – ES
E-mail: jaime@npd.ufes.br
Santa Catarina
Pernambuco
PATRÍCIA SFAIR SUNYE
Centro de Informações de Recursos Ambientais e ANA CRISTINA DE SOUZA VIEIRA
de Hidrometeorologia de Santa Catarina Epagri/ Universidade Federal de Pernambuco
Ciram Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Rodovia Admar Gonzaga 1347, Itacorubi Rua Prof. Moraes Rego 1235
88034-901 Florianópolis – SC. 50670-901 Recife – PE
E-mail: sunye@epagri.rct-sc.br E-mail: anac.vieira@uol.com.br
ANALBERY MONTEIRO Departamento de Pesca
Universidade Federal Rural de Pernambuco Laboratório de Dinâmica de Populações
Departamento de Pesca e Aqüicultura Rua Dom Manoel de Medeiros - s/n, Dois Irmãos
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos 52171-900 Recife – PE
52171-900 Recife – PE E-mail: rlessa@ufrpe.br
E-mail: analbery@nlink.com.br

BRUNO ANDRÉ BEZERRA TAMOS DE OLIVEIRA


Universidade Federal Rural de Pernambuco Maranhão
Departamento de Pesca e Aqüicultura
ALEXSANDRA CÂMARA PAZ
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos
Universidade Estadual do Maranhão
52171-900 Recife – PE.
Campus Universitário Paulo VI – Tirirical CECEN
E-mail: brunoandreoliveira@bol.com.br
Departamento de Química e Biologia
ELTON JOSÉ DA CUNHA 65055-310 São Luís – MA
Universidade Federal Rural de Pernambuco E-mail: alexsandrapaz@yahoo.com.br
Departamento de Pesca e Aqüicultura
ANTÔNIO CARLOS LEAL DE CASTRO
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos
Universidade Federal do Maranhão
52171-900 Recife – PE
Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga
E-mail: ecunha@yahoo.com.br
65085-580 São Luís – MA
JAILSON SOUZA SANTOS E-mail: alec@ufma.br
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Departamento de Pesca e Aqüicultura DARCILEIA RIBEIRO
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos Universidade Federal do Maranhão
52171-900 Recife – PE Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga
E-mail: jailson_s_santos@hotmail.com 65085-580 São Luís – MA
E-mail: darcileiaribeiro@yahoo.com.br
JOSÉ CARLOS ALVES DE SOUZA JÚNIOR
NAYARA BARBOSA SANTOS
Universidade Federal de Pernambuco
Universidade Estadual do Maranhão
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Química e Biologia
Rua Prof. Moraes Rego 1235
Campus Universitário Paulo VI – Tirirical CECEN
50670-901 Recife – PE
65055-310 São Luís – MA
E-mail: zecarlos_alves@hotmail.com
E-mail: nayarabs@yahoo.com.br
MERCIA MARIA DE LIMA
TIAGO RAMOS DIAS
Universidade Federal Rural de Pernambuco Universidade Federal do Maranhão
Departamento de Pesca e Aqüicultura Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos 65085-580 São Luís – MA
52171-900 Recife – PE E-mail: tiagomaranhao@yahoo.com.br
E-mail: merciadimar@yahoo.com.br
ZAFIRA DA SILVA DE ALMEIDA
SAMUEL BEZERRA Universidade Estadual do Maranhão
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Departamento de Química e Biologia
Naturais Renováveis - SUPES/CE Campus Universitário Paulo VI – Tirirical CECEN
Av. Visconde do Rio Branco, 3900 65055-310 São Luís – MA
60055-172 Fortaleza – CE E-mail: zafiraalmeida@ig.com.br
E-mail: samuel.bezerra@supes_ce.ibama.gov.br

PAULO EURICO PIRES FERREIRA TRAVASSOS


Universidade Federal Rural de Pernambuco Pará
Departamento de Pesca e Aqüicultura
Av. Dom Manuel Medeiros s/n, Dois Irmãos ANA LAURA DOS SANTOS SENA
52171-900 Recife – PE Instituto de Estudos Superiores da Amazônia -
E-mail: paulotr@ufrpe.br IESAM
Av. Governador José Malcher 1148
ROSANGELA PAULA TEIXEIRA LESSA 66055-260 Belém – PA
Universidade Federal Rural de Pernambuco E-mail: analaura@prof.iesam-pa.edu.br
BIANCA BENTES DA SILVA ROBERTO VILHENA ESPIRITO SANTO
Universidade Federal do Pará Universidade Federal do Pará
Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo de Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo de
Recursos Aquáticos Recursos Aquáticos
Av. Perimetral, 2651, Bairro Terra Firme Av. Perimetral, 2651, Bairro Terra Firme
66077-530 Belém – PA 66077-530 Belém – PA
E-mail: bianca_bl@yahoo.com.br E-mail: r_vilhena@yahoo.com.br

EDNA MARIA RAMOS DE CASTRO VICTORIA JUDITH ISAAC NAHUM


Universidade Federal do Pará Universidade Federal do Pará
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo de
Campus Universitário do Guamá Recursos Aquáticos
Av. Augusto Correa s/n Av. Perimetral, 2651, Bairro Terra Firme
66750-900 Belém – PA 66077-530 Belém – PA
E-mail: edna@amazon.com.br E-mail: biologiapesqueira@yahoo.com.br
BOLSISTAS E COLABORADORES

ADRIANA FANCHIOTTI MEIRELES – ES LIANDRA CALDASSO – RS


E-mail: afmpsi@bol.com.br E-mail: liandra.caldasso@bol.com.br

ALLAN JAMESSON SILVA DE JESUS – PA LUÍS MAURÍCIO MARTINS BORGES – PR


E-mail: allanjamesson@yahoo.com.br E-mail: lmaumb@hotmail.com;
luismmborges@yahoo.com.br
ANDERSON PEREIRA GONÇALVES – MA
E-mail: andersonpgoncalves@yahoo.com.br MARCIA FUSCALD – RS
E-mail: marciafuscald@yahoo.com.br
CHARLES MICHEL OLIVEIRA – PA
E-mail: cmichel@ufpa.br MARIA CAROLINA ZAMBON – ES
E-mail: mczambon@hotmail.com
CLÁUDIO DYBAS DA NATIVIDADE – PR
E-mail: peru@ufpr.br MICHELLE CARVALHO GALVÃO DA SILVA – MA
E-mail: michelle_galvao@yahoo.com.br
CRISTIANE MONJARDIM – ES
E-mail: cmonjardim@yahoo.com.br MORGANA ALMEIDA – PA
E-mail: morgana_bio@yahoo.com.br
FERNANDA SILVA GONÇALVES – MA
E-mail: fernandasign@yahoo.com.br
PAOLA SILVA – RS
GABRIELLA TIRADENTES PIZETTA – ES E-mail: paola.braga@bol.com.br
E-mail: gabimile@terra.com.br
RICARDO KRUL – PR
GIBRAN TEIXEIRA – RS E-mail: rkrul@ufpr.br
E-mail:gsteixeira2000@yahoo.com.br
SAMARA FEITOSA – PR
E-mail: samarahistoria@yahoo.com.br
LEONARDO BIS DOS SANTOS – ES
E-mail: bisdossantos@yahoo.com.br
SUMÁRIO

Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Pará ............................................................................... 11


Victoria J. Isaac, Roberto Vilhena do Espírito Santo, Bianca Bentes da Silva, Edna Castro
& Ana Laura Sena

Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Maranhão ...................................................................... 41


Zafira da Silva de Almeida, Antônio Carlos Leal de Castro, Alexsandra Câmara Paz, Darciléia Ribeiro,
Nayara Barbosa & Tiago Ramos

Diagnóstico da pesca no litoral do estado de Pernambuco ................................................................... 67


Rosangela Paula Teixeira Lessa, Ana Cristina de Souza Vieira, Analbery Monteiro, Jailson Souza Santos,
Mercia Maria de Lima, Elton José da Cunha, José Carlos Alves de Souza Júnior, Samuel Bezerra,
Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos & Bruno André Bezerra Ramos de Oliveira

Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Espírito Santo ................................................................ 93


Agnaldo Silva Martins & Jaime Roy Doxsey

Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Paraná .......................................................................... 117


José Milton Andriguetto Filho, Paulo de Tarso Chaves, César Santos & Sidney Antonio Liberati

Diagnóstico da pesca no litoral do estado de Santa Catarina ............................................................... 141


Patrícia Sfair Sunye & Telma de Castro Morisson

Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Rio Grande do Sul ......................................................... 157


Manuel Haimovici, Marcelo Vasconcellos, Daniela C. Kalikoski, Patrizia Abdalah, Jorge P. Castello &
Denis Hellembrandt

Síntese do estado de conhecimento sobre a pesca marinha e estuarina do Brasil ................................. 181
Victoria Judith Isaac Nahum, Agnaldo Silva Martins, Manuel Haimovici, Jorge Pablo Castello
& José Milton Andriguetto
PREFÁCIO

A zona costeira brasileira, que se estende por mais de 8.500 km, concentra uma grande diversidade de recursos
renováveis e cerca de 70% da população do país. Zona costeira, aqui, é entendida como uma larga faixa, que
inclui o litoral emerso, águas estuarinas e o domínio das águas marinhas de largura variável, conforme a extensão
da plataforma continental. A progressiva ocupação dessa zona, particularmente acelerada ao longo das últimas
décadas, tem gerado conflitos entre a necessidade de preservação e de desenvolvimento, como também vem
acontecendo em diversas partes do mundo. O acesso e a extração dos recursos pesqueiros têm-se intensificado
aceleradamente, contribuindo para a sobreexplotação, depleção e até colapso da pesca de vários estoques.
Com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil enfrenta hoje o desafio de atender a uma demanda crescente no
consumo de proteínas de origem marinha. A geração dessas proteínas encontra-se ameaçada pela degradação
dos habitats costeiros e, particularmente, pela crescente pressão pesqueira, evidenciada pelo aumento do número
de pescadores, maior quantidade de embarcações e avanços nos recursos tecnológicos, que se refletem tanto na
pesca de pequena como de grande escala.
Tradicionalmente, as pesquisas pesqueiras no Brasil estiveram focalizadas em recursos pesqueiros individuais,
abordando questões como sua biologia, ecologia, dinâmica populacional e dimensionamento de sua abundância,
com escassa ou nenhuma consideração pelas outras variáveis bióticas e abióticas do ecossistema, assim como pelos
componentes sociais, tecnológicos e econômicos. Também as medidas de manejo respondiam a uma visão de
desenvolvimento da pesca, com pouca atenção para a sustentabilidade da produção. Entretanto, a ratificação da
Convenção do Mar pelo Congresso Brasileiro, em 1988, e os compromissos nacionais e internacionais gerados por
esse instrumento jurídico levaram o governo brasileiro a adotar uma política mais incisiva em relação a esses recursos,
o que se refletiu nas determinações do IV Programa Setorial para Recursos do Mar, em 1994, mantidas nos planos
seguintes. Como conseqüência, numa parceria entre vários ministérios, foi lançado o Programa Avaliação do Potencial
Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), que inicia um novo momento na pesquisa
pesqueira nacional, de abordagem mais integrada e voltada à sustentabilidade do desenvolvimento da pesca.
Concomitantemente, na década de 90, a visão desenvolvimentista foi evoluindo, dando lugar a uma concepção
mais preocupada com a conservação, a recuperação dos estoques e com os fundamentos do manejo da pesca.
Essa mudança de enfoque é destacada no documento produzido pela CNIO - Comissão Nacional Independente
dos Oceanos (1998) e, mais tarde e de maneira mais explícita, no documento do Ministério de Ciência e Tecnologia
“Política Nacional de C&T Marinha” (2001), que reconhece o imperativo de assegurar a sustentabilidade dos
sistemas marinhos costeiros brasileiros. Esses antecedentes fundamentaram a inclusão da temática sobre recursos
do mar na chamada do edital do Programa “Institutos do Milênio” (MCT/PADCT/CNPq). Em resposta, um grupo
de pesquisadores de diferentes regiões do país formulou o projeto intitulado: “Uso e Apropriação de Recursos
Costeiros” (RECOS), estruturado no formato de uma rede interinstitucional, que foi aprovado em 2001.
Fazendo uso das capacidades existentes, o trabalho em rede, premissa básica do projeto, promoveu a cooperação
e incrementou as interações entre pesquisadores de diversas regiões do Brasil, o que melhorou o fluxo de
conhecimento, alargando a caracterização e entendimento dos problemas e abrindo novas oportunidades para
formação e capacitação de recursos humanos.
O presente livro reúne artigos produzidos por uma equipe de mais de 50 pesquisadores e representa o primeiro
produto formatado no marco das atividades do Grupo Temático Modelo Gerencial da Pesca - MGP do RECOS. Está
estruturado em oito capítulos, um capítulo para cada um dos sete estados do litoral brasileiro incluídos no projeto e
um capítulo final, no qual são sintetizados dados sobre os estoques explorados, a produção total, a sazonalidade e o
padrão de distribuição geográfica das pescarias, as artes de pesca e as frotas utilizadas, a descrição e quantificação
do esforço e outros aspectos tecnológicos e econômicos da atividade. Foram incluídas também informações sobre a
organização dos pescadores, os sistemas de ordenamento vigente e as políticas públicas implementadas pelo governo,
bem como a descrição dos sistemas de manejo existentes e os conflitos entre os diversos atores envolvidos.
É com muita satisfação, como coordenador do Projeto RECOS, que apresento esta obra, que acredito ser de
utilidade não somente para a comunidade científica e acadêmica, como também para as instituições de gestão,
tomadores de decisão e organizações ambientalistas na busca de melhores soluções para assegurar a sustentabilidade
da pesca no país.

JORGE PABLO CASTELLO


Coordenador Geral do RECOS
Institutos do Milênio (MCT/PADCT/CNPq)
DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

JOSÉ MILTON ANDRIGUETTO FILHO, PAULO DE TARSO CHAVES, CÉSAR SANTOS, SIDNEY ANTONIO LIBERATI

RESUMO: O litoral do Paraná é constituído por sete municípios, com superfície pouco superior a 6.000 km² e população
de 236.000 habitantes. Os pescadores distribuem-se em cerca de 60 vilas, rurais ou urbanas. A pesca sediada no estado
é de pequena escala. Apenas os barcos camaroneiros, baseados no município de Guaratuba, constituem uma pescaria
especializada e empresarial. A plataforma interna é dominada pela pesca de arrasto dos camarões sete-barbas e branco,
este também capturado pela pesca de caceio (deriva) e pela pesca de gerival. O emalhe destaca-se entre as pescarias de
peixe. Os tamanhos de malha variam comumente de 4,5 a 22 cm entre nós opostos, chegando a 60 cm para a captura
de cações. Há uma grande diversidade de outras práticas, algumas de distribuição muito localizada: espinhel, cambau,
lanços de rede, arrastão de praia, irico, cerco fixo e coleta de moluscos e crustáceos. A produção total anual tem
oscilado entre 500 e 2.500 t. Paranaguá e Guaratuba respondem respectivamente por 26% e 64% dos desembarques,
compostos de 27 tipos de recursos pesqueiros, correspondendo a 72 espécies. Nos últimos anos, moluscos, peixes e
crustáceos representaram respectivamente 1%, 26% e 73% do desembarque total. O grupo dos crustáceos é amplamente
dominado pelos camarões, cuja participação dificilmente ficou abaixo de 50%. Entre os peixes, destacam-se os Clupeidae
e Sciaenidae. Os camarões respondem por cerca de 40% da receita total anual, que, em reais (R$) de 2002, oscilava
entre 3,7 e 6,9 milhões no início dos anos 90. Os locais de desembarque são muito pulverizados. As empresas de
pescado e os mercados municipais de Paranaguá e Guaratuba são os principais e concentram a primeira comercialização.
Há mercados comunitários e desembarque de praia em várias localidades. O produto é revendido, sob várias
apresentações, para Curitiba, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Os comerciantes locais
nas vilas rurais constituem outra forma expressiva de escoamento da produção. Os principais tipos de embarcação são
as canoas monóxilas, bateiras, botes e barcos, a maior parte de madeira. O número oficial mais recente é de 930
embarcações, relativamente estabilizado desde 1992, depois de uma queda marcada desde 1987. Um levantamento
em 1995 indicou 749 embarcações motorizadas. O número total de pescadores registrados aumentou mais de 39%
entre 1989 e 1996, chegando a 6.548. Atualmente, o número oficial, reconhecidamente subestimado, é da ordem de
4.200 pescadores. Naquele mesmo período, o número de pescadores filiados às colônias também aumentou, mas o
declínio dos que se mantinham em dia foi mais intenso, recuperando-se em anos recentes para atingir pouco mais de
4.000 em 2002. Parece considerável o número de pescadores sem o registro profissional e filiação às colônias. Várias
vilas e bairros têm associações de moradores com participação expressiva de pescadores. Quanto às relações de trabalho,
predominam amplamente a informalidade e o clientelismo. As normas de manejo pesqueiro com repercussão no Paraná
são o defeso do camarão, o licenciamento para o sete-barbas e a faixa reservada às embarcações de pequeno porte.
Além da legislação pesqueira, várias normas de proteção ambiental se aplicam ao litoral do Paraná, limitando o uso de
recursos florestais pelo pescador. Em relação ao apoio governamental, funcionaram recentemente os programas estaduais
“Paraná 12 Meses”, de fomento ao setor primário, e “Baía Limpa”, eminentemente paternalista. O atual programa de
subsídio ao óleo diesel para embarcações de pesca ainda não está funcionando no Paraná. Verificam-se duas grandes
categorias de conflitos: aqueles internos ao setor, decorrentes do acesso livre e da competição entre escalas e modalidades
de pesca; e os conflitos e contradições externos, como conflitos fundiários e desalojamento de pescadores, conflitos com
órgãos de governo e ONGs em torno de restrições legais e problemas institucionais, além de conflitos de mercado.

CARACTERÍSTICAS GERAIS independente e consideravelmente menor e mais rasa


do que a de Paranaguá, penetrando menos de 15 km
no continente. A Baía de Paranaguá constitui um amplo
AMBIENTE NATURAL
estuário, geológica e geomorfologicamente complexo,
compondo com a Baía de Iguape-Cananéia, no litoral
Resumem-se aqui aquelas características ecológicas dos
sul de São Paulo, um grande sistema estuarino, com
meios aquáticos do litoral do Paraná mais relevantes
diversos corpos d’água interconectados. No Paraná, o
como contexto da atividade pesqueira. O texto baseia- sistema cobre 552 km2 de espelho d’água mais 295,5
se amplamente no artigo de Lana e colaboradores
km2 de áreas vegetadas inundadas (Noernberg et al.,
(2001) e, secundariamente, na compilação feita por
2004) e se compõe das baías de Antonina e Paranaguá
Andriguetto Filho (1999), a não ser quando anotado propriamente dita, de direção leste-oeste, 50 km de
diferentemente. O leitor é remetido a esses dois textos
extensão, uma largura máxima de 7 km e 260 km2; e
para as referências originais.
das baías de Guaraqueçaba, Laranjeiras e Pinheiros,
Fisiograficamente, a zona costeira paranaense é com orientação norte-sul, cerca de 30 km de
recortada pelas baías de Paranaguá e Guaratuba. A Baía comprimento, 13 km de largura e 200 km2 (Figura 1). O
de Guaratuba, no extremo sul da zona costeira, é sistema estuarino se conecta ao mar aberto através de
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 118

três canais, com a entrada principal ao redor da Ilha do até 50 m de largura, em frente aos manguezais. Cerca
Mel. A plataforma costeira adjacente, na área de de 100 espécies de macroalgas bênticas ocorrem na
abrangência do zoneamento marinho, é bastante região, principalmente em costões rochosos expostos e
homogênea quanto a seu ambiente físico, com nos manguezais. Condições ótimas de luminosidade e
profundidade inferior a 30 m e fundos arenosos. nutrientes para o crescimento do fitoplâncton são
O clima da região (Cfa) depende do deslocamento encontradas nas áreas mesohalinas da baía.
norte-sul do giro anticiclônico semipermanente do O complexo estuarino da Baía de Paranaguá foi
Atlântico Sul e da passagem de massas polares frias, classificado por Knopers et al. (1987) como um estuário
principalmente no inverno. Frentes frias de sudoeste parcialmente misturado (tipo B), com heterogeneidade
para nordeste constituem a principal perturbação lateral – os gradientes laterais de salinidade, originados
atmosférica. Os ventos mais freqüentes são os de NE, do aporte de água doce dos rios e canais de maré,
com velocidade média de 4 m/s, mas tempestades de formam microestuários nas porções de maior salinidade
sudeste podem chegar a 25 m/s. A estação chuvosa da baía. A profundidade média é de 5,4 m, e o tempo
típica vai do final da primavera até o final do verão, de residência de 3,5 dias. A salinidade e a temperatura
com três vezes mais chuva do que a estação seca, do médias variam respectivamente de 12 a 29 e 23 a 30oC
fim do outono ao fim do inverno. no verão e 20 a 34 e 18 a 25oC no inverno. As marés são
O interior das baías é margeado principalmente por semidiurnas, com desigualdades diurnas (em quadratura,
marismas e manguezais, enquanto extensas praias pode haver até seis marés altas e baixas por dia). Em sizígia,
arenosas e algumas praias rochosas compõem a linha a amplitude de maré vai de 1,7 m na embocadura a 2,7 m
de costa exposta ao oceano. Na Baía de Paranaguá, os nas porções superiores. A amplitude média de maré é de
manguezais ocupam a maior parte das zonas entremarés 2,2 m. O estado trófico varia de quase oligotrófico, na
(186 km2). Marismas de Spartina alterniflora colonizam zona da desembocadura, durante o inverno, a eutrófico
os baixios como faixas estreitas e descontínuas, com durante o verão, nas porções médias e superiores.

Figura 1. Litoral do estado do Paraná: municípios, principais acessos e feições geográficas. Fonte: IPARDES, 1989.
119 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

Nessas áreas, encontram-se os valores mais altos de de pescadores, rurais ou urbanas, no interior das baías
clorofila-α e nutrientes inorgânicos dissolvidos, durante e na frente oceânica. Essas vilas podem se apresentar
a estação chuvosa. De um modo geral, ao longo dos de várias formas, desde pequenos povoados
eixos leste-oeste e norte-sul da Baía de Paranaguá, há exclusivamente pesqueiros, acessíveis somente por
gradientes bem definidos de energia do ambiente água, até bairros urbanos. A presença de imigrantes
deposicional, salinidade (9 a 34 ‰), pH, nitrogênio, catarinenses é forte, principalmente nas comunidades
fósforo, silício, transparência da água, seston, oxigênio do município de Guaratuba. A Figura 2 apresenta a
dissolvido, clorofila, outros pigmentos, produtividade localização e o tamanho estimado das vilas, segundo
primária e profundidade (2 a 33 m), verificando-se as levantamento feito pelos autores. Foram identificadas
diferenças mais acentuadas entre a Baía de Antonina e originalmente 103 vilas, embora haja diversos outros
o restante do sistema. A distribuição no espaço e no agrupamentos menores de pescadores em meio ao
tempo da maioria das propriedades físico-químicas da tecido urbano da orla sul, nos municípios de Pontal
água se correlaciona bem com os gradientes de energia do Paraná, Matinhos e Guaratuba. Nas áreas urbanas,
e salinidade, além de ser fortemente influenciada pelo pôde-se verificar certo grau de dispersão, mas os
regime de chuvas, principalmente nas seções superiores pescadores, de um modo geral, apresentaram-se
e intermediárias da baía. concentrados no mesmo bairro ou vizinhança, onde
As baías de Antonina e de Paranaguá propriamente dita, nem toda a população é de pescadores. Constatou-
se que 43 das 103 vilas desapareceram ou sofreram
a oeste, são francamente estuarinas, podendo ser
forte redução da população nas últimas décadas, o que
classificadas como estuário homogêneo no inverno e
estratificado no verão. O sedimento de fundo é sugere estarem em vias de desaparecer. O fenômeno
acontece em todos os municípios do litoral.
predominantemente síltico-argiloso com manchas de
Inversamente, há uma dinâmica de concentração
areia, muito mal classificado, e com alto teor de matéria
orgânica. Já a zona nerítica da Baía de Paranaguá, da populacional em algumas vilas, especialmente em
bairros urbanos e nas entradas das baías.
Ilha da Cotinga até a barra, caracteriza-se como uma
área de grande dinâmica e de mistura das águas dos O litoral do Paraná apresenta uma grande diversidade
estuários da Baía de Paranaguá e da Baía das de modalidades de pesca, descritas em parte por Loyola
Laranjeiras na maré vazante. O fundo é de areia fina e Silva et al. (1977), SPVS (1992a e b) e, mais
bem selecionada. É nessa área que se verifica a maior recentemente, por Andriguetto Filho (1999, 2002),
riqueza de espécies de peixes no complexo estuarino. Chaves (2002) e Chaves et al. (2002). De um modo
geral, a pesca sediada no estado é de pequena escala
As demais células do complexo da Baía de Paranaguá
ou “artesanal”, com uma produção ainda não
(Baía das Laranjeiras, Baía de Guaraqueçaba e Baía
corretamente avaliada, mas provavelmente de
dos Pinheiros) são ambientes estuarinos menos
importância mais regional e de menor expressão no
conhecidos cientificamente. A última se comunica com
cenário nacional. Segundo Paiva (1997), entre 1980 e
o estuário de Cananéia pelo Canal do Varadouro.
1994, essa modalidade foi responsável por 92,2% da
Também pouco se conhece sobre as características
produção desembarcada na região. Embarcações
oceanográficas da Baía de Guaratuba e da plataforma
industriais procedentes de outros estados também
continental, cujos fundos, até os 20 m, são constituídos
operam na costa paranaense, mas tais pescarias não
de areia média a grossa bem classificada. A salinidade
serão abordadas aqui.
da Baía de Guaratuba, à entrada, é alta e pouco
variável, em torno de 30 a 32 ‰, e muito variável no A Figura 3 procura mostrar a distribuição das principais
fundo da baía, onde pode atingir valores de 1 a 31‰. práticas de produção. Também estão localizados, como
elementos estruturais da atividade pesqueira, os
PANORAMA GERAL DA PESCA principais pontos de desembarque de pescado e as
sedes das colônias e da extinta cooperativa de pesca.
O litoral do Paraná é constituído por sete municípios: Além das constatações de pesquisa de campo, este
Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, mapa sintetiza as informações encontradas em Loyola
Morretes, Pontal do Paraná e Paranaguá. A região e Silva e Nakamura (1975), Loyola e Silva et al. (1977),
abrange uma superfície pouco superior a 6.000 km² Corrêa et al. (1987), IPARDES, (1989), Rougeulle,
entre o Oceano Atlântico e a Serra do Mar, abrigando (1989, 1993), Martin (1992) e SPVS (1992a e b). Os
uma população humana de 235.840 habitantes segundo ambientes de manguezal, estuário e nerítico
o censo de 2000 (Figura 1). Existem hoje em todos os correspondem, como se poderia esperar, a diferentes
municípios, com exceção de Morretes, cerca de 60 vilas associações ou bases de recursos.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 120

Figura 2. Litoral do estado do Paraná: zonas marítimas e vilas pesqueiras. Fontes: SUCAM – Superintendência de Campanhas
contra a Malária, da FUNASA – Fundação Nacional de Saúde, dados de 1994; Andriguetto Filho, 1999, 2002; Chaves et al., 2002.

Figura 3. Litoral do estado do Paraná: sinopse da pesca. As zonas indicadas para os recursos de ocorrência geral correspondem a
grandes espaços pesqueiros com associações semelhantes de recursos e práticas de pesca. Como indicado, outras práticas podem
apresentar distribuição bastante localizada. Os pontos indicados para a frota de barcos correspondem aos portos de abrigo ou
fundeio permanente. A cooperativa de pesca não mais existe. Fontes: SPVS, 1992; Andriguetto Filho, 1999.
121 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

A plataforma interna, ao longo de toda a costa, é boa parte dos desembarques de praia. Há também um
dominada pela pesca de arrasto de camarão, a mais cais aproveitado para desembarque de traineiras e
importante em volume e valor, voltada para o sete- arrasteiros, inclusive de fora do estado, na área de Ponta
barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e o branco (Litopenaeus do Poço, já no interior da Baía de Paranaguá. Esse ponto
schimitti). Dentre as pescarias de peixe, o fundeio para de desembarque parece importante, mas não foi objeto
cienídeos e cações é o mais difundido e importante. de pesquisa e jamais foi considerado nas estatísticas
Além dessas, há uma grande diversidade de práticas, oficiais. No município de Paranaguá, o desembarque
algumas de distribuição mais localizada, com destaque acontece no mercado municipal e em mais duas ou três
para a pesca do irico1 nas áreas mais setentrionais do grandes empresas ou peixarias, com destaque para a
complexo da Baía de Paranaguá (baías de Laranjeiras Hoshima e São Francisco. Boa parte da pesca
e Pinheiros), e a pesca de cerco fixo de taquaras na desembarcada nas dezenas de vilas ribeirinhas à baía
Baía dos Pinheiros e suas ligações com Baía das acaba sendo escoada por uma daquelas vias na sede
Laranjeiras. Arrastos de praia para tainha e robalo do município. Em Antonina, o pouco desembarque
ocorrem ao longo da costa, embora não sejam se concentra na Ponta da Pita e no mercado.
praticados por todos os grupos de pescadores. As Finalmente, em Guaraqueçaba, há também muita
atividades de coleta de moluscos (ostra e sururu) e pulverização, mas uma boa parte do pescado acaba
crustáceos (siri e caranguejo) são também significativas. escoada pelas vias relatadas para Paranaguá. Uma
O único segmento que se pode classificar de empresarial notável exceção é o camarão-sete-barbas,
e aquele que melhor se caracteriza como uma pescaria desembarcado na vila de Superagüi, cozido e salgado
especializada é o dos barcos arrasteiros de camarão, localmente e escoado por São Paulo.
fortemente inserido no mercado, cujos proprietários,
denominados de armadores, raramente executam a PRODUÇÃO E ESTATÍSTICAS
pescaria eles mesmos. A frota está baseada
principalmente em Guaratuba, com portos também em As informações apresentadas nesta seção foram obtidas
Paranaguá e Pontal do Paraná. da série histórica de estatísticas de desembarque
registrada de 1975 a 1990 pela SUDEPE
(Superintendência para o Desenvolvimento da Pesca)
DESEMBARQUES e de 1991 a 2000 pelo IBAMA. O diagnóstico deve ser
tomado com bastante reserva, uma vez que as estatísticas
PONTOS DE DESEMBARQUE
são pouco confiáveis. Não havendo espaço para uma
análise deste problema, cabe apenas comentar que,
Os locais de desembarque são pulverizados em todos segundo os próprios técnicos do IBAMA, a cobertura dos
os municípios como se poderia esperar, mas há desembarques foi sempre insuficiente, além de oscilar
exceções. No município de Guaratuba, seis ou sete de ano a ano, em parte porque a metodologia também
“salgas”, empresas de pescado do bairro de Piçarras, não foi consistente. Por exemplo, o desembarque nas
mais o mercado municipal, concentram os salgas em Guaratuba, o mais importante do estado, não
desembarques, aquelas principalmente de camarão, este foi computado em todos os anos. Pontos importantes
principalmente de peixe. Há mercados comunitários em como a Ponta do Poço e Superagüi, já citados, nunca
Brejatuba e Coroados, e também desembarque na praia foram amostrados. O mesmo vale para as grandes
nos bairros de Caieiras e Brejatuba, usualmente já peixarias e comerciantes.
comprometido com uns poucos comerciantes locais. Em A produção total de pescado registrada no Paraná tem
Matinhos, o mercado da associação de pescadores oscilado entre 500 e 2.500 t por ano (Figura 4). O
recebe a maior parte do desembarque. Em Pontal do período de baixos desembarques entre 1982 e 1993 é
Paraná, a pulverização é grande ao longo da praia. mais provavelmente um artefato de amostragem do que
Todavia, há concentração de desembarques, um reflexo da realidade. Corresponde, grosso modo,
principalmente de camarão, no antigo porto de travessia ao período de declínio da SUDEPE e à transferência
para a Ilha do Mel, enquanto um comerciante canaliza de suas funções para o IBAMA, entre 1989 e 1991.

1
O irico é o conjunto de larvas e juvenis iniciais de peixes e camarões, com grande dominância de larvas de manjuba, pescado na forma de
lanço ou cerco com rede de filó para ser salgado e seco. É destinado ao mercado nacional e mesmo internacional através de intermediários
paulistas, e apreciado como aperitivo e base para culinária em geral.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 122

Nada indica que tenha havido flutuações Como mostrado na Figura 6, nos últimos quatro anos de
correspondentes de esforço e, como as variações se estatísticas, moluscos, peixes e crustáceos representaram
aplicam a quase todas as espécies de peixes e respectivamente 1%, 26% e 73% do desembarque total.
crustáceos, uma explicação biológica exigiria Entre os peixes, Serranidae e Sciaenidae foram as famílias
considerar um fenômeno ecossistêmico de grande mais comuns, cada uma representada por 12 espécies.
escala, afetando tanto os ambientes de baía quanto Em termos de peso, as famílias Clupeidae e Sciaenidae
os de mar aberto. responderam respectivamente por ½ e ¼ do
Nos últimos três anos, para os quais os desembarques desembarque total de peixes. Cefalópodes representaram
foram discriminados por local, Paranaguá e Piçarras 57% dos moluscos desembarcados, enquanto bivalves
(município de Guaratuba) eram os portos principais, representaram 43%. A partição entre os principais grupos
respondendo por 26% e 64% dos desembarques, de recursos observada na Figura 6 provavelmente
respectivamente. Todavia, Guaraqueçaba contribuiu superestima a importância dos crustáceos, cuja produção
marcadamente para os desembarques de Xiphopenaeus é amplamente dominada pelos camarões branco e sete-
kroyeri, sendo o principal ponto de desembarque para a barbas. De qualquer forma, sua participação em volume
espécie entre 1983 e 1993 (Figura 5). Os desembarques dificilmente deve cair abaixo de 50% do total de
nesse município devem estar bastante subestimados desembarques controlados, representando uma
pelas estatísticas. proporção ainda maior em valor.

Figura 4. Evolução anual da produção de pescados desembarcados no litoral do estado do Paraná entre 1975 e 2000, em toneladas.
Fonte: RGP/SUDEPE, depois IBAMA/Paranaguá.

Figura 5. Desembarque anual médio de pescado em toneladas no litoral do Paraná entre 1992 e 1994, segundo o local. Fonte:
RGP/IBAMA/Paranaguá.
123 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

Figura 6. Desembarque anual médio de pescado em toneladas no litoral do Paraná entre 1997 e 2000, segundo a natureza – peixes,
moluscos ou crustáceos. Fonte: RGP/IBAMA/Paranaguá.

CLASSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO destas destacam-se três: uma composta por peixes


e invertebrados, consumidos por 23 espécies (32%);
RECURSOS outra somente por peixes, consumidos por 16
espécies (22%), e a terceira, somente por
Pelo menos 200 espécies de peixes e 40 tipos larvais inver tebrados, consumidos também por 16
são conhecidos para a Baía de Paranaguá (Corrêa, espécies (22%).
1987; FUNPAR, 1997). Os atributos bioecológicos das • Preferências de distribuição terra-mar – das 72
espécies presentes nas estatísticas de desembarque espécies, 40 (55%) têm por preferência de
foram sumarizados nos anexos 1 e 2. Como nas distribuição o ambiente estuarino-costeiro; 16
estatísticas são registrados apenas os nomes vulgares, (22%), o ambiente costeiro; 7 (10%), o ambiente
que às vezes abrangem várias espécies, consideraram- de plataforma; 7 espécies (10%), o ambiente
se todas as espécies pertinentes com distribuição costeiro-plataforma, e 2 espécies (3%) preferem o
geográfica citada para a costa paranaense. ambiente estuarino.
Os dados de desembarque reportaram 27 tipos de
• Preferências de distribuição na coluna d’água
– neste item, 46 espécies (74%) têm preferência
recursos pesqueiros. A partir desses tipos, puderam ser
pelo ambiente demersal; 24 espécies (33%), pelo
identificados 56 nomes populares, os quais representam
ambiente pelágico e 2 espécies (3%) são bento-
72 espécies distribuídas em 19 famílias. Destas,
pelágicas.
destacam-se as famílias Serranidae e Sciaenidae, cada
uma contribuindo com 12 possíveis espécies exploradas
• Ecossistema preferencial – ecossistema costeiro, 32
espécies (44 %); plataforma interna recifal, 14 espécies
no litoral paranaense (anexo 1). O perfil de atributos
(19%); estuário, 12 espécies (17%); plataforma externa
bioecológicos dessas espécies pode ser sumarizado
arenosa, 5 espécies (7%); plataforma interna arenosa,
como segue:
3 espécies (4%); os ecossistemas estuarino costeiro,
• Estratégia de crescimento - 35 espécies (48%) oceano pelágico e plataforma externa recifal cada um
apresentaram uma estratégia de crescimento médio; com 2 espécies (3%).
21 espécies (29%), crescimento lento, e 17 espécies, • Tipo de arte ou pescaria predominante – 32
(23%) crescimento rápido. espécies são capturadas pelas redes de arrasto de
• Comprimento máximo atingido (Lmax) – o Lmax fundo; 23 em rede de emalhe; 20 em linha de mão;
variou de 420 cm para o tubarão-martelo (Sphyrna 20 em espinhel; 10 em rede de cerco; 5 em tarrafa e
lewini) a 9 cm para a manjuba (Anchoa parva). Mais 4 em artes de anzol.
especificamente, 52 espécies (72%) apresentam Lmax
variando de 9 a 99 cm, 16 espécies (22%), de 100 a PETRECHOS E PRÁTICAS
199 cm, e apenas 4 espécies (6%) apresentaram Lmax
maior que 200 cm. A pesca de camarões dirige-se, como já comentado, ao
• Fontes de alimento – para as 72 espécies foram branco e ao sete-barbas e assume três formas: 1) arrasto
registradas seis fontes alimentares, sendo que de fundo, 2) caceia (deriva) e 3) pesca de gerival.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 124

O arrasto de fundo, de portas ou pranchas, é sete-barbas e o branco. Eventualmente, capturam-se


praticado fora das baías em diferentes escalas, de também o camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis
acordo com a autonomia e alcance da embarcação e F. brasiliensis), o vermelho ou santana (Pleoticus
(Figuras 7 e 8). As embarcações menores (canoa, muelleri) e o barba-ruça (Artemesia longinaris). As
bateira/baleeira e bote) operam com apenas uma rede embarcações menores arrastam num raio de uns
(eventualmente duas para os botes maiores), de 3 a poucos quilômetros a partir de seu porto, enquanto
4 braças de boca, e retornam diariamente, pescando os barcos trabalham ao longo de toda a costa.
freqüentemente apenas pela manhã e desembarcando Teoricamente, os barcos poderiam trabalhar mais
na praia, quase sempre em porto individual. Os barcos afastados da praia, mas, em função da distribuição
arrasteiros ou tangoneiros operam com duas redes do recurso, quase todo o arrasto acontece aquém das
de 6 ou 7 braças simultaneamente. O desembarque três milhas. Na porção sul do litoral, a distância
exige cais, acontecendo normalmente diretamente nas máxima de afastamento da costa varia, na média, de
“salgas” ou fábricas. As redes são diferentes para o 5 a 20 km.

Figura 7. Em cima, à esquerda: canoas monóxilas (“de um pau só”) a motor na praia de Brejatuba, município de Guaratuba.
Algumas estão equipadas para arrasto de prancha de camarão-branco, outras para pesca de emalhe (fundeio). Acima: operação de
descarga de camarão-sete-barbas e detalhes do convés de um barco arrasteiro típico (107 HP, 8 t de porão, 11 m de comprimento).
Piçarras, município de Guaratuba. À esquerda: gerival, arrastãozinho ou tarrafinha na posição em que opera. Este é o principal
apetrecho para captura de camarões dentro das baías. Piassagüera, município de Paranaguá.
125 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

A pesca de caceio ou caceia é mais importante na orla tamanho do camarão. Há dois tamanhos mais comuns
oceânica sul, entre Matinhos e Pontal do Sul, mas de malha, 1,5 e 2,5 cm, o menor deles proibido. O uso
também se pratica dentro da Baía de Paranaguá. O do equipamento é extremamente difundido nas baías
“arrastãozinho” é restrito ao interior das baías. As duas paranaenses. É comum se encontrarem 40 a 50 canoas
modalidades são voltadas à captura do camarão-branco. pescando de gerival num mesmo baixio, muito próximas
O caceio consiste em deixar à deriva uma rede de entre si. Esse equipamento é notável pela extrema
emalhar, que pode ultrapassar os 2 km de extensão, facilidade de confecção e uso e pela grande
com malha de 4,5 a 5 cm, presa à embarcação. O acessibilidade ao recurso. Apesar de ser tecnicamente
arrastãozinho, tarrafinha, cambau ou gerival é uma uma rede de arrasto de travessão, o equipamento pode
modificação da tarrafa comum de arremesso para servir ser usado facilmente a partir de uma canoa a remo,
como rede de arrasto de travessão, com cerca de 2 a 3 impulsionada pela maré, igualmente por homens,
braças de boca (Figura 7). A captura fica retida em um mulheres e crianças. Além disso, pode ser usado em
capuz, facilmente substituível, cuja malha seleciona o qualquer profundidade e a qualquer hora.

Figura 8. Em cima, à esquerda: início de lanço de tainha em Pontal do Sul, Pontal do Paraná. A canoa vai estendendo a rede na água
à medida que avança para cercar o cardume. Há décadas atrás, a canoa seria maior, com seis tripulantes, sendo quatro remadores. A
rede teria centenas de braças de comprimento e necessitaria de 40 a 60 pessoas para puxá-la da praia. Acima: cerco fixo de taquaras na
Baía dos Pinheiros, município de Guaraqueçaba. À esquerda: o maior barco arrasteiro de camarão com porto no Paraná, no bairro de
Piçarras, em Guaratuba. A embarcação entrou em operação ao final de 1997 (comprimento de 15 m, motor de 140 HP, porão de 16 t).
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 126

A pesca paranaense é também caracterizada por um é também ocasionalmente admitido, principalmente


grande número de pescadores não ou subapetrechados, para a captura da tainha. Os tamanhos de malha
que trabalham para os apetrechados em troca de uma relatados são de 9 ou 10 cm para o pano central e 20 a
parte da captura ou quinhão. No interior da baía, os 24 cm para os panos laterais.
quinhoeiros freqüentemente possuem um conjunto de As redes de emalhe também podem ser adaptadas para o
apetrechos simples para a pesca de subsistência e alguma arrastão de praia ou “puxado” e para algumas
complementação de renda. Esse conjunto consiste em modalidades de pesca de cerco, caceio redondo e “lance”
uma canoa a remo (“de um pau só” ou piroga, termo ou “lanço”. O caceio-redondo envolve a disposição da
não usado localmente), conjuntos de linha e anzol, um rede em semicircunferência. Quando existe a produção
ou mais gerivais e/ou pelo menos um pano de rede (20 de estímulos sonoros (remo, motor) para a movimentação
m) de malha de 4,5 a 5 cm para a pesca de caceio. Em dos peixes de encontro à rede, a operação (restrita aos
mar aberto, os quinhoeiros parecem não ter apetrechos, estuários) denomina-se “lance batido”. Outra variante é o
trabalhando sempre como empregados. caracol, em que a canoa a motor, puxando a rede, executa
Os pescadores que “têm pesca” podem ter maior ou uma espiral de fora para dentro em torno de um cardume,
menor variedade de equipamentos: uma ou mais estreitando o cerco progressivamente.
embarcações a motor, usualmente da mesma categoria, Outros equipamentos comuns, mas não generalizados,
redes de arrasto de portas ou pranchas e uma grande são os espinhéis, cercos fixos, rede de filó para a
variedade de redes retangulares para a prática de manjuba ou irico e redes de cerco para sardinha. Os
fundeio (espera), caceio (deriva), cerco, cambau e lanço. espinhéis podem apresentar de 20 até 300 anzóis, sendo
Os tamanhos de malha variam geralmente de 4,5 a 22 dirigidos principalmente às espécies de fundo no interior
cm entre nós opostos, podendo chegar a 60 cm para a das baías. As principais espécies capturadas por essa
captura de grandes cações (Tabela 1). As práticas mais arte são badejos, bagres, caranha, miragaia, garoupas,
comuns são as pescas de fundeio e caceio, sendo as salteira, cações, corvina e pescadas. O cerco fixo é uma
malhas 7 a 12 cm as mais difundidas (pescadinha, estrutura confeccionada com taquaras ou varas, em
sororoca e caçonetes). O uso da rede feiticeira, proibido, forma de paliçada, armada em estacas de madeira de

Tabela 1. Tamanhos de malha e espécies-alvo das redes de emalhe, cambau e cerco no litoral do Paraná, como declarados pelos
pescadores. O tamanho é dado em centímetros, medido entre nós opostos com a malha esticada.

MALHA TIPO ESPÉCIES CAPTURADAS


1,5 Cambau Sardinha
4 e 4,5 Caceio Camarão-branco, parati
5e6 Caceio Camarão-branco, parati, pescadinha, robalinho
5 Fundeio Bagre, betara, parati, pescada-branca, pescadinha, tainha, tainhota
6e7 Bagre, betara, caçonete, escrivão, maria-luíza, parati, pescada-branca, pescadinhas
Fundeio
galheteira e membeca, robalo, tainhota
5, 6 e 7 Cambau Parati, pescadinhas membeca e galheteira, robalo, tainhota
7 Betara, caçonete, parati, pescada-amarela, pescadinha-membeca, robalo, sororoca
Caceio
(cavala), tainhota
7e8 Cerco Pescadinha, tainha, tainhota
8, 9, 10 e 11 Bagre, cação, carapeva, corvina, parati, pescada-branca, pescadinhas membeca e
Fundeio
galheteira, robalo, salteira, tainha, tainhota, sororoca
9 e 10 Bagre, caratinga, linguado, perna-de-moça, pescada-olhuda, pescadinhas galheteira
Cambau
e membeca, robalo, salteira, tainha
10 e 11 Caceio Pampo, salteira, sororoca
11 Cerco Tainha
12 Caceio Cação
12 e 13 Bagre, cação, corvina, pescada-amarela, pescadinha, prejereba, robalo, salteira,
Fundeio
sororoca, tainha
14, 16 e 17 Fundeio Bagre, cação, calafate, corvina, linguado, paru, robalo, salteira, sororoca
18, 20 e 22 Bagre, cação, corvina, linguado, miragaia, paru, pescada-amarela, pescada-
Fundeio
membeca, prejereba, raia, robalão
30, 35 Fundeio Cação, miragaia
40 e superiores Fundeio Cação
127 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

mangue, cravadas no fundo e estendendo-se apetrechos ou de tamanhos de malha em função das


usualmente das margens do mangue até vários metros variações na disponibilidade do recurso, principalmente
para dentro de um canal ou baía e que funciona como aquelas de natureza sazonal, como é o caso de
armadilha ou curral para peixes (Figura 8). As principais linguados, cações e pescadas.
espécies capturadas são a tainha, o parati, robalos e A Tabela 2 ilustra a composição qualitativa das capturas
sardinha-charuto. A tarrafa também é comum, com 12
segundo o tipo de apetrecho para o litoral sul. A
diferentes tamanhos de malha, de 2 a 18 cm entre nós
composição das capturas nos últimos anos pode ser
opostos, sendo muito usada na captura da tainha. observada na Tabela 3. Nossas observações e as
Apesar de quase todos se dedicarem à pesca do camarão declarações dos pescadores não corroboram a importância
em alguma das suas modalidades, os pescadores do dos camarões barba-ruça e santana nas estatísticas, que
Paraná não costumam ser especializados, mas pode-se dever a desembarques de embarcações de outros
apresentar estratégias oportunistas de troca de estados nas salgas paranaenses.

Tabela 2. Principais componentes das capturas profissionais, segundo a arte utilizada, conforme declarado pelas comunidades no
litoral sul do estado do Paraná. Em algumas categorias (ex.: pescada, camarões), várias espécies estão incluídas.

ARTE DE PESCA CAPTURAS PRINCIPAIS


Arrasto Camarão-sete-barbas, camarão-pistola, camarão-branco, mistura*.
Caceio comum Camarão-branco, cavala ou sororoca (Scombridae), salteira ou guaivira (Carangidae), anchova
(Pomatomidae), pescada, corvina, betara (Sciaenidae), paru (Ephippidae), cação (diversas
famílias), tainha (Mugilidae), mistura*.
Caceio redondo Pescada, pescadinha, camarão, mistura, betara.
Fundeio Linguado (Paralichthyidae), corvina, salteira, betara, cação, bagre (Ariidae), mistura.
Tarrafa Tainha, parati (Mugilidae), garoupa (Serranidae), manjuba (Engraulididae), pescada, robalo
(Centropomidae), sardinha (Clupeidae).
Gerival (=cambau) Camarão no interior das baías.
Espinhel Badejo, garoupa (Serranidae), caranha (Haemulidae), bagres.

(*) Por mistura entende-se um aglomerado de espécies de pequeno porte e baixo valor comercial, freqüentemente
servindo de alimento para o próprio pescador: gerreídeos, carangídeos, alguns linguados, alguns cianídeos, etc.

Tabela 3. Composição específica dos desembarques entre 1997 e 2000 no litoral do Paraná.

RECURSO DESEMBARQUE ANUAL MÉDIO %


(TON)
Camarão-sete-barbas 792 50,3
Camarão-santana 287 18,2
Sardinha-verdadeira 132 8,4
Camarão-branco 58 3,7
Camarão-barba-ruça 50 3,2
Pescadinha-real 32 2,0
Corvina 30 1,9
Guaivira 19 1,2
Sororoca 19 1,2
Pescada-branca 16 1,0
Outros Sciaenidae 14 0,9
Outros 127 8,1

Fonte: RGP/IBAMA/Paranaguá.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 128

FROTA, ESFORÇO E RENDIMENTOS DA PESCA Os principais tipos de embarcações de pesca do Paraná


são apresentados na Tabela 5. Normalmente, as
Não há estatísticas sistemáticas ou quaisquer estudos embarcações são de madeira, embora as haja de fibra.
sobre o esforço de pesca propriamente dito no Paraná. Na terminologia local, enquanto a canoa é “de um pau
Segundo o IBAMA, o número total de pescadores só”, as demais embarcações são “de tábua”. São poucas
registrados para todo o litoral sofreu um aumento as estimativas do tamanho da frota. A Tabela 6 dá uma
importante de mais de 39%, passando de 4.702 para idéia da proporção e distribuição dos tipos de
6.548 entre 1989 e 1996. Em 1991, quando o número embarcações entre alguns municípios. As canoas a remo
oficial total para o litoral era de 5.379, os presidentes são restritas ao interior das baías, logo, mais numerosas
das colônias de pesca de Guaraqueçaba, Paranaguá e em Guaraqueçaba e Paranaguá (Figura 8). Além de seu
Antonina estimavam que algo em torno de 5.000 uso nas baías, as canoas a motor e bateiras são as
pessoas estivesse pescando apenas na Baía de embarcações preferidas nas praias abertas, onde é
Paranaguá, pelo menos na safra do camarão (SPVS, preciso vencer o “tombo” (arrebentação) para sair ao
1992a). Esses números podem estar inflacionados, pois mar (Figura 7). São as embarcações quase que
pode tratar-se apenas de uma estratégia de formalização exclusivas do município de Matinhos e também
trabalhista de não pescadores, em busca dos benefícios freqüentes em Pontal do Paraná. As bateiras de fundo
sociais previstos em lei. Atualmente, o número total de chato, menores, são usadas para a pesca de fundeio e
pescadores do litoral com registro no DPA/SEAP-PR é algumas outras práticas no interior das baías. Botes e
da ordem de 4.200, com os maiores contingentes em barcos exigem porto mais abrigado, e o desembarque
Guaratuba, Guaraqueçaba e Paranaguá (Tabela 4). se faz em cais ou através de pequenas embarcações a
Estima-se que esse número ainda venha a aumentar remo (caíco ou bateirinha). Concentram-se em
em cerca de 30% à medida que pescadores com registro Guaratuba, com menor expressão em Paranaguá e
ainda válido junto ao IBAMA se recadastrem junto à Pontal do Paraná (Figuras 7 e 8).
Secretaria. A população que depende da pesca é O número atual de embarcações de qualquer porte
evidentemente bem maior. A partir de dados da FNS registradas para a pesca junto ao IBAMA é de
(Fundação Nacional de Saúde) de 1994, foi possível 930. Esse número está relativamente estabilizado
estimar a população das vilas ribeirinhas rurais, quase que desde 1992, depois de uma queda marcada entre
exclusivamente composta de pescadores e seus familiares. 1987 e 1992 (Figura 9). Os números do IBAMA
Trata-se da população diretamente envolvida com a tendem a superestimar o tamanho da frota, pois,
captura e as atividades e mercados imediatos na cadeia provavelmente, incluem embarcações não mais ativas
produtiva. Embora bastante grosseira, uma estimativa ou existentes. Assumindo que botes e baleeiras
conservadora indica que aquela população era superior a tenham sido incluídos nas demais categorias na Tabela
11.000 pessoas. Note-se que esse valor pode estar 6, o número total de embarcações motorizadas
subestimado em pelo menos 10 a 20%, pois foram levantado pela EMATER em 1995 seria de 749,
excluídas do cálculo vilas pesqueiras populosas, como os inferior às 959 registradas no IBAMA. A SEAP-PR do
bairros de Caieiras, Piçarras e Mirim no município de Paraná está elaborando um novo registro, que em
Guaratuba, e Vila Guarani em Paranaguá, assim como 2004 contava com cerca de 180 embarcações ativas
quase todo o contingente de famílias de pescadores da baseadas no estado.
orla oceânica de Pontal do Sul a Guaratuba.
A Figura 10 traz uma estimativa da EMATER para
os rendimentos pesqueiros paranaenses em 1995.
Tabela 4. Número de pescadores registrados no DPA/MAPA-PR Sua interpretação deve levar em conta que a
por município. O registro ainda está em processo, assim, os
unidade de esforço foi a embarcação. Em função
números para Antonina e Guaratuba são estimados.
da pesca de barcos e outros atributos fisiográficos,
MUNICÍPIO NÚMERO DE PESCADORES econômicos e mesmo culturais, é de se esperar um
Antonina 700 rendimento notavelmente maior em Guaratuba. No
Guaratuba 900 entanto, surpreende o desempenho de Matinhos,
Matinhos 215 pois se trata essencialmente da mesma pesca que a
Pontal do Paraná 365 de Pontal do Paraná. Adicionalmente, pelo menos
em anos mais recentes, alguns barcos e botes
Guaraqueçaba 1.096
passaram a operar nesse município, e nele se
Paranaguá 1.001
reproduzem alguns dos fatores da produtividade de
TOTAL 4.277 Guaratuba, pelo que se esperariam rendimentos
129 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

ainda maiores que os de Matinhos. As médias para pescas costeiras de melhor rendimento, que se
os demais municípios podem ser coerentes, apenas diluem na baixa produtividade geral da pesca de
lembrando que em Paranaguá e Guaraqueçaba há interior de baía.

Tabela 5. Principais tipos de embarcações de pesca do Paraná e suas características.

TIPO1 CANOA BATEIRA OU BOTE BALEEIRA OU BARCO


ATRIBUTO BALEEIRA

Construção Casco de seção Casco com fundo em Casco com quilha, de Casco com quilha, de
transversal em U e V (com quilha) ou tábuas encaixadas de tábuas coplanares
proa quilhada em V, chato, de tábuas forma coplanar (lisa); popa (lisas), ou imbricadas
monóxilo, ou seja, coplanares (lisas) ou chata, sem porão (“boca (escamadas); popa
feito a partir de um imbricadas aberta”); quando dotado chata. Sempre dotada
único tronco de árvore (escamadas); proa e de casario, este se de porão, convés e
escavado. Pode ser popa agudos encontra à proa. Os casario à ré (instalações
dotado de borda ou (bicudos), sem porão, menores podem ter fundo para a tripulação no
saia. convés ou casario. chato. convés - cabine,
cozinha, beliches).
Comprimento 6 a 8 m (máx. 10 m). Até 12 m de De 7 até 12 ou mesmo 14 Acima de 12 m;
comprimento m podendo ultrapassar os
14 m.
Propulsão Remo, vela ou motor Motor até 30 HP Motor até 36 HP Motor, usualmente
de centro, de 11 a 24 acima dos 100 HP
HP (alguns superiores a
150 HP).
Conservação Usualmente nenhuma Nenhuma ou uma Nenhuma ou caixa de gelo Porão com gelo em
de pescado caixa de gelo barra ou escama
Capacidade Na casa das centenas Até 2000 kg 8000 kg (até 16000)
de quilos
Autonomia Pequena; volta ao Pequena; volta ao Pequena a média; volta ao Grande; viagens de até
porto diariamente. porto diariamente. porto diariamente ou duas semanas.
viagens de poucos dias.
Tripulação 1 ou 2 1 ou 2 1 ou 2 3 ou 4 (até 6)
Equipamentos Nenhum Pode ter guincho. Os maiores podem ter Tangones e guincho.
Nenhum eletrônico. tangones e guincho. Rádio, navegação e
Eventualmente eletrônicos; sonda; às vezes
principalmente rádio. sofisticados.
Área de atuação A remo, no interior das Em todo o litoral, Plataforma sul, de Barra Na plataforma, ao
baías. A motor, em principalmente em mar do Saí até a Ilha do Mel. longo de toda a costa.
todo o litoral, no mar e aberto. Aportam no interior das
nas baías. baías.
1
Os tipos correspondem aos termos usados pelos pescadores locais. Cada tipo admite variantes, principalmente em função
do tamanho, em virtude de os termos não serem aplicados consistentemente pelos próprios pescadores, principalmente se
de vilas diferentes. O termo baleeira, por exemplo, é aplicado às bateiras na Barra do Superagüi. No sul, barco e baleeira
são usados simultaneamente, a as bateiras nem sempre têm “duas proas”.

Tabela 6. Número estimado de embarcações de pesca no litoral do Paraná.

MUNICÍPIO BATEIRA CANOA A REMO CANOA A MOTOR BARCOS TOTAL


Guaraqueçaba 50 380 140 2 572
Guaratuba 140 100 80 55 375
Matinhos 3 - 116 2 121
Paranaguá 10 449 147 4 610
TOTAL 203 929 483 63 1.678

Fonte: EMATER/PR (1995).


J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 130

SOCIOLOGIA E ECONOMIA DA PESCA contribuição relativa dos recursos principais para a receita
total, para os mesmos anos. Correspondentemente ao
ASPECTOS ECONÔMICOS grande volume capturado, o camarão-sete-barbas
contribuiu com quase um quarto da receita total. O
As estatísticas de preço e receita foram descontinuadas camarão-branco sempre foi o recurso de maior valor por
pelo IBAMA no início dos anos 90, e a informação peso, de sorte que a pesca de camarão como um todo
disponível é muito fragmentada, de sorte que pouco se respondeu por cerca de 40% da receita bruta. Embora, à
pode dizer sobre a economia da pesca no Paraná. As época, a corvina correspondesse a 6% dos desembarques
receitas totais em reais (R$) de 2002 para os últimos anos totais contra os 2% atuais, sua grande participação na
em que o dado foi coletado são as seguintes: 1988 – R$ receita total parece duvidosa, pois normalmente é um
6.898.993,00; 1991 – R$ 4.447.712,00 e 1992 – R$ recurso de baixo valor por peso. Finalmente, cabe destacar
3.700.004,00. A Figura 11 procura dar idéia da a importância econômica do caranguejo de mangue.

Figura 9. Número total de embarcações a motor registradas no POCOF – IBAMA de Paranaguá entre 1985 e 1995. Fonte:
IBAMA – POCOF Paranaguá.

Figura 10. Produção de pescados por município do litoral paranaense, em toneladas por ano, relativamente ao número de pescadores
e ao número de embarcações. Fonte: EMATER/PR (1995).
131 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

As vias de primeira comercialização estão descritas com Sul e Rio de Janeiro. O camarão, por exemplo, pode sair
certo detalhe em Andriguetto Filho (1999), para o conjunto inteiro, descabeçado (cauda) ou descascado. Quase todas
do litoral, e, em Chaves (2002), para o município de as empresas de Guaratuba dispõem de máquinas
Guaratuba. Como já comentado em relação aos pontos descascadoras. A capacidade instalada declarada é
de desembarque, há alguns atacadistas locais (salgas e considerável, sendo mais um indício de que os
peixarias) em alguns municípios. A Tabela 7 apresenta os desembarques são grandemente subestimados pelas
maiores. Há diversas outras peixarias de médio e pequeno estatísticas oficiais. Note-se que todas as empresas, com
porte, além de negócios informais. Todos, comumente, uma exceção, têm capacidade individual superior ao total
revendem o produto congelado, sob várias apresentações, anual estimado de desembarques. Pelo menos uma das
para Curitiba, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do salgas de Guaratuba exporta camarões diretamente.

Figura 11. Receita bruta média por recurso para os anos de 1988, 1991 e 1992, em reais (R$) de 2002. “Outros” são recursos que
contribuíram com menos de 1,2% da receita total. Fonte: RGP/IBAMA/Paranaguá.

Tabela 7. Principais empresas de processamento de pescado no litoral paranaense e respectivas capacidades de estocagem.

EMPRESA MUNICÍPIO CAPACIDADE INSTALADA


(t/ANO)
Hoshima & Cia Ltda Paranaguá 20.000
Pescados Pontal do Sul Pontal do Paraná 3.650
Impescal Ltda Guaratuba 36.500
Guarapesca Guaratuba 11.000
Pescados Dulce Guaratuba 400
Pescados Chico Guaratuba 7.300
Pescados Perez Guaratuba 7.300
Pescados J. Satiro Guaratuba 11.000
Pescados V. Fernandez Guaratuba 3.150
TOTAL DO PARANÁ - 100.300

Fonte: SEAB/DERAL (1999).


J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 132

Outra forma provavelmente bastante expressiva de a essas dinâmicas aparentemente contraditórias ainda
escoamento da produção é aquela feita pelos são mal compreendidos no Paraná. A inadimplência
comerciantes locais nas vilas rurais e peixarias menores do início dos anos 90 pode ser associada a um
nos bairros urbanos, que intermedeiam a venda da movimento de desprestígio e abandono das colônias,
produção para distribuidores e grandes consumidores, já que a conjuntura institucional trabalhista e de
como restaurantes em Paranaguá, Curitiba, São Paulo proteção aos recursos pesqueiros naquele período
e cidades do litoral catarinense. Muitas peixarias e esvaziou sensivelmente seu papel. Por diversas razões,
atacadistas de Curitiba e estados vizinhos se abastecem as colônias paranaenses, até hoje, não têm assumido
diretamente com alguns desses comerciantes, neste caso nenhum papel na gestão pesqueira, nem diretamente,
usualmente levando o produto em gelo. Apenas em nem enquanto representação de categoria. A partir de
Superagüi, como já apontado, existe uma atividade 1996, quando se inicia o pagamento do seguro-
importante de salga de camarão, destinado a São Paulo, desemprego no Paraná, as colônias recuperam a
o que pode ter mudado nos últimos dois ou três anos função de intermediárias entre o pescador e seus
com o advento da energia elétrica na vila. O último direitos, e, como conseqüência, a inadimplência cai
destino é a venda direta ao mercado local e ao turista, fortemente (Figura 13). No Paraná, todos os processos
principalmente no verão, pelos mercados comunitários de aposentadoria e benefícios (seguro-desemprego,
e um sem-número de peixarias e “bancas” espalhadas auxílio-doença, salário-maternidade) hoje passam
em todos os municípios. pelas colônias, que aproveitam para exigir a filiação
Em todos os casos, salvo os de menor escala, há e o pagamento das mensalidades em troca da
também a comercialização de pescados provenientes tramitação (Figura 14). Desta forma, o número de
de outras localidades, principalmente de Santa filiados em dia volta a se aproximar do número total,
Catarina e mesmo do exterior, como é o caso do e o número de colônias continua aumentando no
salmão de cultivo chileno. estado. No litoral, assim que o município de Pontal
do Paraná desmembrou-se do de Paranaguá, há
ASPECTOS SOCIAIS alguns anos, iniciou-se o movimento para a
transfor mação em colônia da associação de
A evolução do número de pescadores filiados às pescadores já existente. Embora o processo não tenha
colônias entre 1989 e 1996 é apresentada na Figura sido concluído, a associação já está funcionando como
12. Assim como o número de pescadores então colônia, tendo satisfeito as exigências do Ministério do
registrados junto ao IBAMA-PR, esse número também Trabalho. Por outro lado, nossas observações até o
aumenta consideravelmente. Por outro lado, no momento sugerem que é considerável o número de
mesmo período, o declínio dos que se mantêm em pescadores, principalmente mais jovens, sem nem
dia é ainda mais intenso, recuperando-se em anos mesmo o registro profissional obrigatório e muito
recentes (Figura 13). Os processos sociais subjacentes menos filiação às colônias.

Figura 12. Número de pescadores filiados às colônias de pesca em cada município do litoral do Paraná até março de 1996. A escala
da direita refere-se ao número total. Fonte: IBAMA – POCOF Paranaguá.
133 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

Além das colônias, cabe citar a existência de uma Quanto às relações de trabalho, predominam
pequena associação de pescadores em Paranaguá. Por amplamente a informalidade e o clientelismo. As regras
outro lado, várias vilas e bairros têm associações de de distribuição do quinhão variam com o sistema de
moradores com participação expressiva, às vezes pesca (Andriguetto Filho, 2002), mas, diante das
dominante, de pescadores, principalmente nos mudanças sociais das últimas décadas, sempre levaram
municípios de Paranaguá e Guaraqueçaba. A a uma intensificação das relações clientelistas e à
organização social tem sido estimulada pela EMATER e concentração da renda nas vilas de pescadores
por ONGs e prefeituras no litoral, além de ser exigida (IPARDES, 1989; SPVS, 1992a; Andriguetto Filho, 1999;
por lei para que alguns benefícios sejam concedidos, Borges et al., 2004). Atualmente, mesmo nos casos em
como é o caso do Programa Paraná 12 Meses (ver que as frações da partilha são iguais, o proprietário dos
adiante). Assim, embora não haja estudos formais equipamentos freqüentemente não trabalha. Na maior
avaliando o grau de organização comunitária, é seguro parte dos casos, nas vilas não urbanas, os principais
afirmar que este não é negligenciável. proprietários dos equipamentos são também os

Figura 13. Número de pescadores em dia com as colônias de pesca em cada município do litoral entre 1989 e março de 1996, e em
fevereiro de 2002. A escala da direita refere-se ao número total. Fonte: IBAMA – POCOF Paranaguá e colônias.

Figura 14. Número de pescadores que requereram o seguro-desemprego em 2001 e 2002 na época do defeso. Fontes: Folha de
Guaratuba (28/3/02) e colônias.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 134

comerciantes locais, que intermedeiam a venda da Uma normatização que tem sido bastante discutida desde
produção pesqueira para os distribuidores nos centros o início dos anos 90 refere-se à delimitação de faixas
urbanos maiores. Em uma grande vila do litoral norte, costeiras para o arrasto demersal conforme o tamanho
por exemplo, todo o camarão-sete-barbas e boa parte das embarcações. Em princípio, a portaria em vigor
do branco são inter mediados por apenas 3 estabelece que os barcos pesqueiros, as embarcações de
comerciantes, ex-pescadores, dois dos quais parentes maior porte e alcance, arrastem apenas além das três
próximos. É interessante notar que dois daqueles milhas. As demais embarcações não têm limitações. Em
comerciantes ocupam ou já ocuparam cargos públicos anos recentes, todavia, tem havido pressão para que o
no município. Ainda nas vilas não urbanas, os mesmos limite seja recuado para uma milha, e para que a pesca
inter mediários são freqüentemente os únicos de canoas seja limitada a uma milha (provavelmente para
distribuidores locais de produtos industrializados. É que as redes de caceio não interfiram com o arrasto). O
comum a venda pelo sistema “de caderneta”, que trecho a seguir, tomado da edição de 28/9/01 da Folha
representa um endividamento permanente para os de Guaratuba, revela os atores e conflitos:
membros da vila, mas também a garantia da “Barcos pesqueiros só após 3ª milha. A proposta
subsistência na entressafra. Finalmente, as para que embarcações de arrasto de camarão com
embarcações motorizadas dos comerciantes também capacidade superior a 10 toneladas pudessem arrastar
são meios importantes de transporte, quando não entre a 1ª e a 3ª milhas está paralisada. Representantes
únicos, principalmente em casos de emergência. Nos da Associação de Pescadores de Pontal do Paraná e
bairros urbanos, a situação parece apresentar-se Colônia de Matinhos não aceitaram o limite de restrição
abrandada, mas de qualquer forma os atacadistas de de uma milha para as canoas. Como não houve
pescado ou “salgueiros” são proprietários dos maiores consenso, a portaria não será modificada, valendo o
e melhores barcos, freqüentemente possuindo mais de limite da terceira milha. Pescadores de Guaratuba
um. Por outro lado, nem todos eram pescadores ou chegaram a paralisar a travessia de ferry-boat para
tinham tradição familiar pesqueira. No caso particular reivindicar a redução da 3ª para a 1ª milha.”
da pesca de barcos, a legislação que exige a
formalização do embarque e desembarque do Cabe ainda citar que, já a partir do fim da década de 70,
tripulante é freqüentemente desconsiderada para evitar o arrasto de fundo e o cerco de sardinhas foram proibidos
o recolhimento de obrigações sociais. pela SUDEPE no interior das baías, por demanda do
próprio setor pesqueiro, devido à suposta queda de
rendimentos que provocam em outras formas de pesca.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Em relação às linhas de apoio, têm funcionado os
programas estaduais “Paraná 12 Meses”, de fomento
As normas de manejo pesqueiro que têm tido ao setor primário em geral, e “Baía Limpa”,
repercussão no Paraná são aquelas referentes ao defeso eminentemente paternalista. Adicionalmente, algumas
do camarão, ao licenciamento para o sete-barbas e à prefeituras investiram na construção de mercados para
faixa reservada às embarcações de pequeno porte. comercialização de pescados. O “Paraná 12 Meses”
As espécies controladas são a sardinha e o camarão- financia freezers, pequenos motores, apetrechos e
sete-barbas. Segundo o IBAMA, o número de licenças benfeitorias domésticas, como instalações sanitárias.
permanece inalterado desde 1998, mas não foi possível Cada comunidade deve definir suas demandas junto
determinar quantas estão em vigor. Os pescadores com a Emater. Todavia, o programa parece pouco
demandam novas licenças, e muitos estão trabalhando divulgado e difundido no setor pesqueiro. O “Baía
sem elas, reclamando das multas. Limpa” remunera o pescador para exercer trabalho de
coleta de lixo em meio expediente durante três dias por
Quando de suas primeiras edições, o defeso sofreu forte
semana, período em que não deverá pescar. O
oposição no Paraná. À medida que os resultados se
programa esteve em andamento apenas nos municípios
fizeram sentir, principalmente sobre o camarão-branco
de Guaraqueçaba, Guaratuba e Paranaguá. A
e particularmente a partir de 1998, quando os períodos
remuneração varia entre meio e um salário mínimo por
foram diferenciados entre mar aberto e interior da baía
mês, acrescido ou alternado com uma cesta básica.
e determinados com a participação dos pescadores, o
instrumento passou a contar com o apoio da classe. O O programa de subvenção federal e isenção do ICMS
defeso no interior das baías dura dois meses, de 15 de do óleo diesel para embarcações de pesca ainda não
dezembro a 15 de fevereiro. Em mar aberto, são três está funcionando no Paraná porque o governo do estado
meses, a partir de primeiro de março. não estabeleceu as regras para a isenção junto à
135 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

Secretaria da Fazenda. O DPA/MAPA já habilitara 84 equipamentos passivos de pesca, especialmente das


embarcações até 2002, mas o setor pesqueiro no estado redes de fundeio. As traineiras freqüentemente pescam
não tem exercido pressão para que o incentivo vigore, o dentro da Baía de Paranaguá, apesar da proibição. O
que é um bom exemplo de sua passividade política. conflito se intensifica porque as grandes embarcações
Além da legislação pesqueira, as normas de proteção não respeitam o limite de três milhas da costa, e se
ambiental em geral são particularmente importantes para estende aos órgãos de fiscalização, que são
a atividade pesqueira no Paraná. Além das medidas de responsabilizados pelos pescadores locais.
proteção para formações vegetais do Código Florestal, 2. Conflito entre os barcos arrasteiros de camarão locais e
praticamente todo o arsenal jurídico de proteção ambiental as demais modalidades de pesca de plataforma no
brasileiro e paranaense se aplica ao litoral do Paraná Paraná. Entre essas, a mais importante também é o
(Andriguetto-Filho, 1993; Cubbage et al., 1995). Em arrasto de camarão pelas embarcações de menor porte,
particular, há mais de 14 Unidades de Conservação mas também a pesca de peixes com redes de fundeio e
federais e estaduais no litoral, embora a maioria exista de camarão-branco com redes de caceio ou deriva. Este
apenas no papel. O atual quadro jurídico limita fortemente, conflito, de certa forma, reproduz o anterior no âmbito
pelo menos em tese, o uso de recursos florestais pelo local. O problema se agrava porque não há categorias
pescador, dificultando atividades como a construção de discretas reconhecidas de embarcações de arrasto
canoas e apetrechos. O mesmo vale para algumas situações segundo o tamanho, e a legislação não explicita com
de pesca, notavelmente aquelas a que estão sujeitos os clareza quais categorias devem respeitar o limite espacial
pescadores de mais baixa renda. A situação se abrandou de três milhas. Por outro lado, mesmo as embarcações
um pouco nos últimos anos com o esvaziamento do assim de maior alcance alegam que a produção de camarão-
chamado Decreto Mata Atlântica e com a liberação da branco e sete-barbas além das três milhas é
caça de autoconsumo. Essa atividade é amplamente antieconômica. Não há estatísticas ou estudos para apoiar
praticada pelos pescadores e aparenta ter importância a decisão. Este conflito é grave, como atestado pelas
como fonte alimentar e de renda, pelo menos no litoral situações de ameaça armada entre grupos de pescadores
norte (Andriguetto Filho et al., 1998). (corte de cabos e ameaças com armas de fogo).
3. No caso particular da pesca seqüencial do camarão-
CONFLITOS branco, capturado em diferentes épocas enquanto
juvenil, dentro das baías pelo pescador de menor
escala, e, enquanto adulto, na plataforma pelos
Duas grandes categorias de conflitos podem ser
arrasteiros comerciais, estabelece-se uma competição
distinguidas na pesca do litoral paranaense (Andriguetto
direta. O conflito é explicitado pelos pescadores de
Filho, 1999):
mar aberto, que reclamam da perda de produção
• Conflitos internos aos sistemas de produção pesqueira: devido à captura de juvenis e adultos imaturos dentro
decorrentes do acesso livre e da competição entre das baías. As opiniões são divididas, variando desde
escalas e modalidades de pesca. o desdém pelos “artesanais” que usam o gerival, até
• Conflitos e contradições com o exterior: conflitos a solidariedade, pois “o pessoal de dentro também
fundiários e desalojamento de pescadores, conflitos com tem de sobreviver”. É preciso lembrar que a pesca
órgãos de governo e ONGs em torno de restrições legais com gerival é uma situação de livre acesso, inclusive a
e problemas institucionais, pressão do mercado. não pescadores, o que agrava a situação.
4. No plano institucional, verificam-se conflitos mais ou
CONFLITOS INTERNOS AOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO PESQUEIRA menos abafados em relação à função das colônias de
pescadores. De um lado, se aprofundam as divergências
Os conflitos internos à pesca resultam da competição
políticas entre os próprios pescadores em torno da
pelos recursos entre diferentes grupos de interesse ou
colônia, ou seja, estas deixam de ser fator de associação
escalas de pesca.
para serem de cisão. Exemplo disso é a criação de
1. Conflito entre pescadores paranaenses e grandes associações de pescadores independentes em
barcos de outros estados (“roseiros” ou arrasteiros de Paranaguá e em Pontal do Paraná, que têm sido
camarão-rosa, arrasteiros de porta e parelha para entidades mais ativas nas negociações com os órgãos
peixes demersais e traineiras de sardinha). Estes são de governo. De outro lado, os pescadores mais ligados
responsabilizados pelos pescadores paranaenses, de à colônia, ou os mais antigos, que a conheceram em
menor escala, como degradadores ambientais, períodos melhores, se ressentem da perda, para o
depletores dos recursos e destruidores de governo, de poder e autoridade para a auto-gestão.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 136

CONFLITOS E CONTRADIÇÕES COM O EXTERIOR OCEAN MANAGEMENT, 8 th , 1993, New Orleans.


Proceedings… New Orleans: Amer Society of Civil Engineers.
O conflito entre a proteção ambiental à biodiversidade p. 2354-2368.
continental e a pesca de menor escala manifesta-se ANDRIGUETTO FILHO, J.M., 1999. Sistemas Técnicos de Pesca
principalmente no interior das baías, em particular no e suas Dinâmicas de Transformação no litoral do Paraná, Brasil.
litoral norte, em função das unidades de conservação. 254 p. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento)
Do lado da “proteção” estão os órgãos ambientais e Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba.
ONGs ambientalistas, apoiadas pelo discurso político ANDRIGUETTO FILHO, J.M., 2002. Sistemas técnicos de pesca
“ecológico” e pela opinião pública de Curitiba, que no litoral do Paraná: caracterização e tipificação. In: RAYNAUT,
valoriza a Mata Atlântica e a Serra do Mar pelos aspectos C. et al. (Ed.). Desenvolvimento e Meio Ambiente: em busca
estéticos e preservacionistas. da interdisciplinaridade. Curitiba: Ed. UFPR. p. 195-211.
ANDRIGUETTO FILHO, J.M.; KRÜGER, A.C.; LANGE,
Como seria de esperar, o mesmo conflito é mais intenso
M.B.R., 1998. Caça, biodiversidade e gestão ambiental na
quando se trata das normas de proteção ao recurso
Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil.
pesqueiro, embora não haja ONGs atuando nesta Biotemas, Florianópolis, v. 11. n. 2. p. 133-156.
esfera. Os pescadores usualmente burlam as normas,
BORGES, L.M.M.; MAULIN, G.C.; ANDRIGUETTO FILHO,
pois as percebem como ineficazes e injustas. No
J.M., 2004. Analysis of income sources of fishers’ families on
entanto, caem em contradição, pois executam práticas the coast of the state of Paraná, Brazil. In: INTERNATIONAL
que eles próprios condenam em discurso, em particular COASTAL SYMPOSIUM, 8th, 2004, Itajaí. Journal of Coastal
o uso de malhas proibidas, a pesca com fisga à noite e Research, v. special, n. 39, 2004.
o uso da rede feiticeira. Um aspecto relevante do
CHAVES, P.T.C., 2002. A pesca artesanal na plataforma do
conflito é que a grande maioria dos pescadores não estado do Paraná, entre a Baía de Guaratuba e o estuário do
diferencia os órgãos ambientais e suas atribuições rio Saí-Guaçu: uma abordagem ictiológica e social. In:
(IBAMA, IAP – Instituto Ambiental do Paraná e BPFlo RELATÓRIO FINAL. Curitiba: Fundação Araucária. 48 p.
– Batalhão da Polícia Florestal, da Polícia Militar, que CHAVES, P.; PICHLER, H.; ROBERT, M., 2002. Biological,
tem jurisdição também sobre a pesca). technical and socioeconomic aspects of the fishing activity
Uma outra ordem de conflitos se expressa na pressão in a Brazilian estuary. Journal of Fish Biology, v. 61, suppl.
A, p. 52-59.
fundiária exercida sobre os pescadores em áreas
urbanas, seja pela simples evolução do preço da terra CORRÊA, M.F.M., 1987. Ictiofauna da Baía de Paranaguá e
(especulação imobiliária) e omissão governamental, seja adjacências (litoral do estado do Paraná - Brasil): levantamento
por iniciativas dos governos municipais para atender e produtividade. 396 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia) -
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
aos interesses imobiliários e turísticos (e.g. mediante
aumento de impostos). Como resultado, os pescadores CORRÊA, M.F.M.; ABSHER, T.M.; BARLETTA, M.; GOMES,
acabam por abandonar as áreas tradicionalmente G.M.; DUTKA-GIANELLI, J., 1987. Produtividade pesqueira
ocupadas na orla marítima. É preciso lembrar que nas para a região de Guaraqueçaba - Paraná - Brasil. In:
RELATÓRIO FINAL. Pontal do Sul: Projeto CONCITEC. 36 p.
áreas urbanas os terrenos de marinha podem passar
do Serviço de Patrimônio da União para a jurisdição CUBBAGE, F.; ANDRIGUETTO FILHO, J.M.; SILLS, E.;
do município e serem regidos pelo Plano Diretor MÜLLER, M.V.Y.; MOTTA, M.N.J., 1995. Legal and
administrative frameworks for managing coastal environmental
Municipal. O desalojamento tem sido um dos fatores
conservation units in the state of Paraná, Brazil: a review. Forest
para o abandono da pesca no Paraná. De qualquer
Private Enterprise Initiative Working Paper, n. 56. 35 p.
forma, os desalojados freqüentemente acabam por
ocupar posses em áreas marginais de mangue e restinga, FUNPAR, 1997. Estudo de impacto ambiental (EIA) de uma usina
termelétrica na Baía de Paranaguá e do porto de desembarque,
gerando problemas de favelização e infra-estrutura
subestação e linha de transmissão associados. In: RELATÓRIO
urbana. Um outro efeito independente da urbanização
técnico. Curitiba: Companhia Paranaense de Eletricidade.
é a perda dos “portos” pesqueiros, ou seja, do acesso à
orla pelos pescadores, problema particularmente grave IPARDES, 1989. APA de Guaraqueçaba: caracterização sócio-
econômica dos pescadores artesanais e pequenos produtores
no bairro de Piçarras, em Guaratuba.
rurais. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico
e Social. Curitiba: Secretaria de Estado do Planejamento e
REFERÊNCIAS Coordenação Geral; Fundação Édison Vieira. 87 p.
KNOPPERS, B.A.; OPITZ, S., 1984. An annual cycle of
ANDRIGUETTO FILHO, J.M., 1993. Institutional prospects particulate organic matter in mangrove waters, Laranjeiras
in managing coastal environmental conservation units in Bay, Southern Brazil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 27,
Paraná State, Brazil. In: SYMPOSIUM ON COASTAL AND n. 1, p. 79-93.
137 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

KNOPPERS, B.A.; BRANDINI, F.P.; THAMM, C.A., 1987. INTERNATIONAL COASTAL SYMPOSIUM, 8th, 2004, Itajaí.
Ecological studies in the bay of Paranaguá. II. Some physical Journal of Coastal Research, v. special, n. 39, 2004.
and chemical characteristics. Neritica, v. 2, n. 1, p.1-36.
PAIVA, M.P., 1997. Recursos pesqueiros estuarinos e
LANA, P.C.; MARONE, E.; LOPES, R.M.; MACHADO, E., marinhos do Brasil. Fortaleza: EUFC. 286 p.
2001. The subtropical estuarine complex of Paranaguá Bay,
ROUGEULLE, M.D., 1989. Pescas ar tesanais de
Brazil. In: SEELIGER, U.; KJERFRE, B. (Eds.). Coastal marine
Guaraqueçaba. In: DIEGUES, A.C. (Org.). Pesca artesanal:
ecosystems of Latin America. Berlin: Springer. p. 131-145.
tradição e modernidade. III Encontro de Ciências Sociais e o
LOYOLA E SILVA, J.; NAKAMURA, I.T., 1975. Produção de Mar, Programa de Pesquisa e Conservação de Áreas Úmidas
pescado no litoral paranaense. Acta Biológica Paranaense, v. no Brasil, São Paulo. p. 281-288.
4, n. 3-4, p. 75-119.
ROUGEULLE, M.D., 1993. La crise de la pèche artisanale:
LOYOLA E SILVA, J.; TAKAI, M.E.; VICENTE DE CASTRO, transformation de l’espace et destructuration de l’activité - le
R.M., 1977. A pesca artesanal no litoral paranaense. Acta cas de Guaraqueçaba (Paraná, Brésil). 410 p. Thèse (Doctorat
Biológica Paranaense, v. 6, n. 1-4, p. 95-121. em Géographie), Univ. de Nantes, Nantes, 1993.
MARTIN, F., 1992. Étude de l’ecosystème mangrove de la baie SPVS, 1992a. Diagnóstico da Situação Físico-Biológica e
de Paranaguá (Paraná, Brésil): analyse des impacts et Sócio-Econômica da Região de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil.
propositions de gestion rationnelle. 289 p. Tese de Doutorado In: RELATÓRIO Técnico. Curitiba: SPVS - Sociedade de
- Univ. Paris VII, Paris. Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental.. 281 p.
NOERNBERG, M.A.; LAUTERT, L.F.C.; ARAÚJO, A.D.; SPVS, 1992b. Plano Integrado de Conservação para a Região
MARONE, E.; ANGELOTTI, R.; NETTO JR., J.P.B.; KRUG, de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Curitiba: SPVS - Sociedade
L.A., 2004 Remote sensing and GIS Integration for modeling de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental/TNC/
the Paranaguá Estuarine Complex – Brazil. In: IBAMA. 129 p.
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 138

ANEXO 1
IDENTIFICAÇÃO DOS “TIPOS COMUNS ” DESEMBARCADOS NO LITORAL DO PARANÁ.

TIPO NOME VULGAR FAMÍLIA ESPÉCIE


Anchova Anchova Pomatomidae Pomatomus saltatrix
Anequim Anequim Lamnidae Isurus oxyrinchus
Badejo-branco Epinephelus niveatus
Badejo-amarelo Mycteroperca interstitialis
Badejo-de-areia Mycteroperca microlepis
Badejo Badejo-ferro Serranidae Mycteroperca venenosa
Badejo-quadrado Mycteroperca bonaci
Badejo-mira Mycteroperca rubra
Badejo-tigre Mycteroperca tigris
Bagre-amarelo Bagre-amarelo Cathorops spixii
Bagre-cinza Bagre-cinza Ariidae Netuma barba
Bagre-urutu Bagre-urutu Genidens genidens
Azeiteiro Carcharhinus porosus
Cação Cação-frango Carcharhinidae Rhizoprionodon lalandei
Tubarão-martelo Sphyrna lewini
Camarão-branco Penaeus schmitti
Camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri
Camarão Penaeidae
Camarão-ferro Xiphopenaeus kroyeri
Camarão-pistola Penaeus schmitti
Scomberomorus brasiliensis
Cavala
Cavala Scombridae Scomberomorus cavalla
Sororoca Scomberomorus brasiliensis
Corvina Corvina Sciaenidae Micropogonias furnieri
Garoupa-senhor-de-engenho Acanthistius brasilianus
Garoupa-gato Alphestes afer
Garoupa Garoupa-pintada Serranidae Epinephelus adscensionis
Garoupa-verdadeira Epinephelus guaza
Garoupa-são-tomé Epinephelus morio
Oligoplites palometa
Guaivira Guaivira / Salteira Carangidae Oligoplites saliens
Oligoplites saurus
Paralichthys triocellatus
Paralichthys patagonicus
Linguado Linguado Paralichthyidae
Paralichthys isosceles
Paralichthys orbignyanus
Anchoa lepidentostole
Anchoa filifera
Anchoa lyolepis
Anchoa parva
Manjuba Manjuba Engraulidae
Anchoa spinifer
Anchoa tricolor
Anchoviella brevirostris
Cetengraulis edentulus
Oveva Oveva Sciaenidae Larimus breviceps
Menticirrhus americanus
Papa-terra Betara / Papa-terra Sciaenidae
Menticirrhus littoralis
Parati-guaçu Mugil curema
Parati-olho-de-fogo Mugil gaimardianus
Parati Mugilidae Mugil curvidens
Parati Mugil incilis
Mugil curema
Paru Paru / Enxada Ephippidae Chaetodipterus faber
Peixe-espada Peixe-espada Trichiuridae Trichiurus lepturus
Peixe-galo Selene setapinnis
Peixe-galo Carangidae
Galo-de-penacho Selene vomer
Balistidae Balistes carolinensis
Aluterus heudelotti
Aluterus monoceros
Peixe-porco Peixe-porco
Monacanthidae Aluterus schoepfi
Monacanthus ciliatus
Stephanolepis hispidus
Pescada-galheteira Cynoscion microlepidotus
Pescada-amarela Cynoscion acoupa
Pescada-branca Cynoscion leiarchus
Pescada Pescada-maria-mole Sciaenidae Cynoscion striatus
Pescada-cambucu Cynoscion virescens
Pescada-membeca Macrodon ancylodon
Pescada-banana Nebris microps
Sphyraena guachancho
Pescada-bicuda Bicuda / Barracuda Sphyraenidae
Sphyraena tome
Pescadinha Pescadinha Sciaenidae Isopisthus parvipinnis
Centropomus parallelus
Robalo Robalo Centropomidae
Centropomus undecimalis
Sardinha-verdadeira Sardinha-verdadeira Clupeidae Sardinella brasiliensis
Tainha Tainha Mugilidae Mugil liza
139 DIAGNÓSTICO DA PESCA NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ

ANEXO 2
CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DESEMBARCADAS NO LITORAL DO PARANÁ POR SEUS ATRIBUTOS AMBIENTAIS – PRIMEIRA PARTE.

ESPÉCIE FAMÍLIA NOME LMAX CRESCIMENTO FONTES DE DISTRIBUIÇÃO


VULGAR (CM) ALIMENTO TERRA-MAR
Pomatomus Plataforma-
saltatrix Pomatomidae Anchova 130 Médio Peixes Costeiro
Isurus oxyrinchus Lamnidae Anequim 400 Lento Peixes Plataforma
Carcharhinus
porosus Carcharhinidae Azeiteiro 130 Lento Piscívoro Estuarino-Costeiro
Mycteroperca Badejo-
interstitialis Serranidae amarelo 84 Lento Piscívoro Estuarino-Costeiro
Epinephelus Badejo- Costeiro-
niveatus Serranidae branco 120 Lento Piscívoro Plataforma
Mycteroperca Badejo-de-
microlepis Serranidae areia 145 Lento Peixes e crustáceos Estuarino-Costeiro
Mycteroperca Peixes e moluscos
venenosa Serranidae Badejo-ferro 100 Lento (lulas) Estuarino-Costeiro
Mycteroperca rubra Serranidae Badejo-mira 80 Lento Piscívoro Estuarino-Costeiro
Mycteroperca Badejo-
bonaci Serranidae quadrado 150 Lento Peixes e crustáceos Estuarino-Costeiro
Mycteroperca tigris Serranidae Badejo-tigre 101 Lento Piscívoro Estuarino-Costeiro
Bagre- Moluscos e
Cathorops spixii Ariidae amarelo 30 Rápido crustáceos Estuarino-Costeiro
Moluscos e
Netuma barba Ariidae Bagre-cinza 100 Lento crustáceos Estuarino-Costeiro
Detritos e
Genidens genidens Ariidae Bagre-urutu 35 Lento invertebrados Estuarino-Costeiro
Menticirrhus Betara / Papa- Vermes e
americanus Sciaenidae terra 50 Médio crustáceos Costeiro
Menticirrhus Betara / Papa- Vermes e
littoralis Sciaenidae terra 48 Médio crustáceos Costeiro-Estuarino
Sphyraena Bicuda /
guachancho Sphyraenidae Barracuda 200 Lento Peixes e crustáceos Costeiro-Estuarino
Bicuda /
Sphyraena tome Sphyraenidae Barracuda 45 Médio Peixes e crustáceos Costeiro-Estuarino
Rhizoprionodon
lalandei Carcharhinidae Cação-frango 70 Lento Piscívoro Costeiro
Camarão-
branco / Costeiro-
Penaeus schmitti Penaeidae pistola 24 Rápido Detritívoro Plataforma
Xiphopenaeus Camarão-
kroyeri Penaeidae ferro 14 Rápido Detritívoro Estuarino-Costeiro
Xiphopenaeus Camarão-
kroyeri Penaeidae sete-barbas 14 Rápido Detritívoro Estuarino-Costeiro
Scomberomorus Costeiro-
cavalla Scombridae Cavala 184 Lento Piscívoro Plataforma
Scomberomorus Cavala / Costeiro-
brasiliensis Scombridae Sororoca 125 Médio Piscívoro Plataforma
Crustáceos,
Micropogonias poliquetos e
furnieri Sciaenidae Corvina 75 Médio moluscos Estuarino-Costeiro
Galo-de-
Selene vomer Carangidae penacho 50 Médio Peixes e crustáceos Costeiro
Alphestes afer serranidae Garoupa-gato 33 Médio Crustáceos Costeiro
Epinephelus Garoupa- Caranguejos e Costeiro-
adscensionis Serranidae pintada 61 Lento peixes Plataforma
Garoupa-são- Peixes e
Epinephelus morio Serranidae tomé 125 Lento invertebrados Plataforma
Garoupa-
Acanthistius senhor-de-
brasilianus Serranidae engenho 60 Médio Piscívoro Plataforma
Garoupa- Costeiro-
Epinephelus guaza Serranidae verdadeira 120 Lento Piscívoro Plataforma
Guaivira /
Oligoplites saliens Carangidae Salteira 50 Médio Peixes e crustáceos Costeiro-Estuarino
Guaivira /
Oligoplites saurus Carangidae Salteira 50 Médio Peixes Estuarino-Costeiro
Oligoplites Guaivira /
palometa Carangidae Salteira 35 Médio Peixes e crustáceos Costeiro-Estuarino
Paralichthys
triocellatus Paralichthyidae Linguado 26 Médio Crustáceos e peixes Plataforma
Paralich
patagonicus Paralichthyidae Linguado 50 Lento Peixes Costeiro
Paralichthys Peixes e
isosceles Paralichthyidae Linguado 30 Lento cefalópodes Costeiro
Paralichthys
orbignyanus Paralichthyidae Linguado 88 Lento Peixes Costeiro-Estuarino
continua...
J.M.ANDRIGUETTO FILHO, P.T.CHAVES, C.SANTOS & S.A.LIBERATI 140

... continuação

ESPÉCIE FAMÍLIA NOME LMAX CRESCIMENTO FONTES DE DISTRIBUIÇÃO


VULGAR (CM) ALIMENTO TERRA-MAR
Anchoa
lepidentostole Engraulidae Manjuba 11 Médio Plâncton Estuarino-Costeiro
Anchoa filifera Engraulidae Manjuba 13 Médio Plâncton Costeiro
Anchoa lyolepis Engraulidae Manjuba 12 Rápido Plâncton Costeiro
Anchoa parva Engraulidae Manjuba 9 Rápido Plâncton Estuarino
Anchoa spinifer Engraulidae Manjuba 24 Médio Plâncton e peixes Costeiro-Estuarino
Anchoa tricolor Engraulidae Manjuba 11 Rápido Plâncton Estuarino-Costeiro
Anchoviella
brevirostris Engraulidae Manjuba 10 Rápido Plâncton Costeiro-Estuarino
Cetengraulis
edentulus Engraulidae Manjuba 16 Médio Plâncton Costeiro-Estuarino
Larimus breviceps Sciaenidae Oveva 31 Médio Camarões Costeiro-Estuarino
Mugil curvidens Mugilidae Parati 27 Médio Iliófago Costeiro
Mugil incilis Mugilidae Parati 40 Médio Iliófago Estuarino-Costeiro
Parati-guaçu/
Mugil curema Mugilidae Parati 45 Médio Iliófago Estuarino
Parati-olho-
Mugil gaimardianus Mugilidae de-fogo 45 Médio Iliófago Estuarino
Chaetodipterus Invertebrados
faber Ephippidae Paru / Enxada 91 Médio bênticos Costeiro-Estuarino
Trichiurus lepturus Trichiuridae Peixe-espada 234 Médio Peixes Costeiro-Estuarino
Peixes e
Selene setapinnis Carangidae Peixe-galo 60 Médio crustáceos Costeiro
Invertebrados
Aluterus heudelotii Monacanthidae Peixe-porco 35 Rápido bênticos Costeiro
Invertebrados
Aluterus monoceros Monacanthidae Peixe-porco 76 Rápido bênticos Costeiro
Aluterus schoepfi Monacanthidae Peixe-porco 61 Rápido Algas Costeiro
Balistes Invertebrados
carolinenses Balistidae Peixe-porco 61 Rápido bênticos Costeiro
Monacanthus
ciliatus Monacanthidae Peixe-porco 20 Rápido Algas e crustáceos Plataforma
Stephanolepis Invertebrados
hispidus Monacanthidae Peixe-porco 28 Rápido bênticos Costeiro-Estuarino
Pescada- Camarões e
Cynoscion acoupa Sciaenidae amarela 110 Médio peixes Estuarino-Costeiro
Pescada-
Nebris microps Sciaenidae banana 40 Médio Camarões Costeiro
Pescada- Camarões e
Cynoscion leiarchus Sciaenidae branca 60 Médio peixes Estuarino-Costeiro
Cynoscion Pescada- Crustáceos e
virescens Sciaenidae cambucu 115 Médio peixes Costeiro-Estuarino
Cynoscion Pescada- Camarões e
microlepidotus Sciaenidae galheteira 92 Médio peixes Estuarino-Costeiro
Pescada- Camarões e
Cynoscion striatus Sciaenidae maria-mole 60 Médio peixes Costeiro-Estuarino
Macrodon Pescada- Camarões e
ancylodon Sciaenidae membeca 45 Médio peixes Estuarino-Costeiro
Isopisthus Pescadinha;
parvipinnis Sciaenidae Tortinha 25 Médio Camarões Costeiro
Centropomus Peixes e
parallelus Centropomidae Robalo 72 Médio crustáceos Estuarino-Costeiro
Centropomus Peixes e
undecimalis Centropomidae Robalo 140 Médio crustáceos Estuarino-Costeiro
Sardinella Sardinha-
brasiliensis Clupeidae verdadeira 25 Rápido Plâncton Plataforma
Mugil liza Mugilidae Tainha 80 Rápido Iliófago Estuarino-Costeiro
Mugil platanus Mugilidae Tainha 100 Rápido Iliófago Estuarino-Costeiro
Tubarão- Peixes e
Sphyrna lewini Carcharhinidae martelo 420 Lento Caranguejos Plataforma

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