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Tamar Herzog

Fronteiras da Posse
Portugal e Espanha na
Europa e na América
Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa


Av. Professor Aníbal de Bettencourt, 9
1600–189 Lisboa – Portugal
Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74
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E-mail: imprensa@ics.ul.pt
Instituto de Ciências Sociais – Catalogação na Publicação
HERZOG, Tamar, 1965-
Fronteiras da posse: Portugal e Espanha na europa e na américa /
Tamar Herzog. -
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2018.
ISBN 978-972-671-544-3
CDU 94(469)

Título original: Frontiers of Possession: Spain and Portugal in Europe and the
Americas
Copyright: Copyright © 2015 by Tamar Herzog
Published by arrangement with Harvard University Press.
Para a edição portuguesa,
© Instituto de Ciências Sociais, 2018
Capa: João Segurado
Tradução: Marta Amaral
Composição e paginação: Ana Cristina Carvalho
Revisão: Levi Condinho
Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.
Depósito legal: 433070/17
1.ª edição: Janeiro de 2018
Índice
Abreviaturas
Agradecimentos
Introdução

Parte I: A definição de espaços imperiais: como a América do Sul se


tornou num território disputado
Capítulo 1: Tradições europeias: bulas, tratados, posse e vassalagem
Conclusões
Capítulo 2: Europeus e índios: conversão, submissão e direitos da terra
Conclusões

Parte II: A definição de espaços europeus: a convenção de Espanha e de


Portugal na Ibéria
Capítulo 3: Lutar com uma hidra: 1290-1955
As partes
O objecto cobiçado
As reivindicações
Capítulo 4: Ilhas em movimento num mar de terra: 1518-1864
Os Montes da Madalena/Lindoso (1773-1864)
Mista e promíscua (1518-1864)
Conclusões
Conclusão
A reconstrução ibérica: as histórias de Espanha e de Portugal
A reconstrução de espaços modernos: a Europa e as Américas
Sul e Norte: escrever histórias imperiais numa idade pré-nacional
Desconstruindo fronteiras
Religar a história e o direito
Desconstruindo os direitos históricos à terra
Bibliografia
Abreviaturas
AC – Actas Capitulares.
ACC – Archivo del Conde de Campomanes, Fundación Universitaria
Española, Madrid.
ACDC – Arquivo da Casa do Exmo. Sr. Duque de Cadaval, Lisboa.
ACEDAL – Archivo de la Casa y Estados de los Excelentísimos Duques de
Abrantes y Linares, Jerez de la Frontera.
ACL – Arquivos da Administração Central.
ADC/L – Academia das Ciências, Lisboa. ADD – Additional.
AGI – Archivo General de Indias, Sevilha.
AGMM – Archivo General Militar, Madrid.
AGN/BA – Archivo General de La Nación, Buenos Aires.
AGN/M – Archivo General de La Nación, Montevideu.
AGOC – Archivum Generale Orden Carmelitarum, Roma.
AGS – Archivo General de Simancas, Simancas.
AHCB – Arquivo Histórico da Casa de Bragança, Vila Viçosa.
AHM – Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
AHME – Arquivo Histórico Municipal de Elvas.
AHMLC – Archivo Histórico Municipal de La Coruña.
AHMO – Archivo Histórico Municipal de Olivenza.
AHMS – Arquivo Histórico Municipal de Serpa. AHN – Archivo Histórico
Nacional, Madrid.
AHP/C – Archivo Histórico Provincial, Cáceres.
AHPM – Archivo Histórico de Protocolos, Madrid.
AHPP – Archivo Histórico Provincial de Pontevedra.
AHPS – Archivo Histórico Provincial de Sevilla, Sevilha.
AHU – Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
AMA – Archivo Municipal de Aroche.
AMAE/M – Archivo del Ministerio de Asuntos Exteriores, Madrid.
AME – Archivo Municipal de Encinasola.
AMM – Arquivo Municipal de Moura.
AMN – Archivo del Museo Naval, Madrid.
AMQ – Archivo Municipal, Quito.
AMRE – Archivo del Ministerio de Relaciones Exteriores, Quito.
AMS – Archivo Municipal de Sevilla, Sevilha.
AMT – Archivo Municipal de Tui.
AMVA – Archivo Municipal de Valencia de Alcántara.
ANC/S – Archivo Nacional, Santiago do Chile.
ANQ – Archivo Nacional, Quito.
ANTT – Arquivo Nacional do Torre do Tombo, Lisboa.
APB – Arquivo Público da Bahia.
APEP – Arquivo Provincial Estado do Pará, Belém do Pará.
AP/LP – Archivo Provincial, La Plata, Argentina.
APMG – Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, Cuiabá.
ARG – Archivo del Reino de Galicia, Corunha.
ARSEMAP – Archivo de la Real Sociedad Económica Matritense de Amigos
del País, Madrid.
ARSI – Archivum Romanum Societatis Jesu, Roma. art. – artigo.
Asign. – Assinatura.
ASPF/R – Archivio Storico della Sacra Congregazione per lEvan
gelizzazione dei Popoli, Roma. ASV – Archivio Segreto Vaticano, Roma BA
– Biblioteca de Ajuda, Lisboa.
BL – British Library, Londres.
BN – Biblioteca Nacional (secção do AGN/BA). BNC – Biblioteca Nacional
de Chile, Santiago do Chile BNE – Biblioteca Nacional, Madrid.
BNL – Biblioteca Nacional, Lima.
BNP – Biblioteca Nacional, Lisboa.
BPE – Biblioteca Pública de Évora, Évora.
BPR – Biblioteca del Palacio Real, Madrid.
BRAH/M – Biblioteca de la Real Academia de la Historia, Madrid.
Bras. – Provincia Brasiliensis e Maragnonensis.
CC – Corpo Cronológico.
CCA – Cámara de Castilla.
CE – Catastro de Ensenada.
CMG – Capitania de Mato Grosso.
CMM – Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Marvão.
Cod. – códice.
CP – Consejo de Pontevedra.
CR – Cámara Real.
CRC – Consejo Real de Castilla.
CU – Conselho Ultramarino. cx. – caixa.
DIV – Divisão. doc. – documento.
Exp. – Expediente.
Fascic. – Fascículo.
FDE – Fundo Direitos Extintos.
FE – Fondo Especial.
GJ – Gracia y Justicia.
GTT – Gavetas da Torre do Tombo.
IG – Indiferente General.
LA – Libro de Acuerdos.
LC – Libro de Cabildo. leg. – legajo.
LH – Limites com Hespanha.
Liv. – Livro.
Mç. – Maço.
MNE – Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa.
MRE – Fondo Ministerio, Sección Reservada.
Ms. – manuscrito.
MT – Mato Grosso.
Nav. – Colección Fernández de Navarrete. n.º – número.
OLV – Olvidados.
PC – Pleitos civiles.
RA – Real Audiencia.
RAEX – Real Audiencia de Extremadura.
RAH – Real Academia de la Historia, Madrid.
RCV – Archivo de la Real Chancillería de Valladolid, Valhadolid.
Res. – Reservados.
RG – Respuestas Generales.
SC – Scritture Riferite nei Congressi.
SG – Secretaria de Governo.
SGU – Secretaría de Guerra.
SMA – Secretaría de Marina.
SOCG – Scritti Originali Riferiti nelle Congregazioni Generali.
STM – Sala Toribio Medina.
TP – Tombo de Provisões, Cartas Régias, Alvarás e Ordens.
Tr – Tratados y Negociaciones, siglo xix , Portugal.
VM/CV – Vicaria Maragonensis, Commune Vicariae
Agradecimentos
Aos arquivistas que me auxiliaram em diferentes lugares e períodos, em
especial a Immaculada Nieves Gálvez, arquivista de Encinasola e Aroche
(bem como de muitos outros municípios na província de Huelva); Catarina
Bucho Machado, antiga arquivista de Marvão; e Isabel Aguirre, do Arquivo
Geral de Simancas – que tudo fizeram para me ajudar, sempre como a
máxima simpatia.
A Miguel de Castro Cancella de Abreu e Bernardo Sá Nogueira, que me
autorizaram a consultar os arquivos da Casa de Cadaval em Lisboa; José
Manuel Zuleta y Alexandro, duque de Abrantes, que me enviou
documentação dos arquivos da Casa e Acervo dos Duques de Abrantes e
Linares; Vasco Luís S. de Quevedo Pessanha, que me facultou o uso da
biblioteca da Quinta do Ferro; e Esther Bertoletti, que facilitou o acesso a
uma cópia da colecção em CD do Projecto Resgate.
À Guggenheim Foundation, à University of Chicago, à Stanford University, à
Fundación Séneca (Región de Murcia), e ao projecto de investigação «Las
fronteras del Imperio español (1659-1812): Procesos de definición, formas de
ocupación del espacio, y sistemas de control del territorio» (HAR2010-
17797), por ajudarem a cobrir os custos da investigação e da escrita.
A Fernando Bouza, Miguel Ángel Melón, Luis Alfonso Limpo Píriz, Heather
Flynn Roller, António Casaca, João Antonio Botelho Lucidio, Manfredi
Merluzzi, Donatella Montemurno, Juan Francisco Pardo Molero e Ângela
Barreto Xavier, por me fornecerem referências fundamentais e cópias de
vários do- cumentos; a Anthony Disney, que disponibilizou informação
referente ao conde de Linhares; a Lucca Scalia, que me ajudou com (alguns)
textos em latim; a José Carlos Vilardaga, Gabriel Darío Taruselli, Guida
Marques, Carmen Margarita Oliveira Alveal, Paulo Possamai, João Augusto
Espadeiro Ramos, e Antonio Terrasa Lozano, que me permitiram ler e citar
os seus trabalhos ainda não publicados; e a Jaime E. Rodríguez e a Anthony
Pagden que, como leitores ao serviço da Harvard University Press, ajudaram
a formular melhor algumas das minhas ideias.
Aos membros da Columnaria (www.redcolumnaria.com), uma rede de
académicos criada em 2004 para fomentar a comunicação e a colaboração
entre investigadores interessados no mundo ibérico, por constantemente me
desafiarem a ultrapassar historiografias nacionais e nacionalistas e a procurar
uma análise que – como a própria rede – se concentre no estudo de locais
específicos, mas sem esquecer a sua inserção em contextos históricos mais
amplos.
Aos meus amigos historiadores Richard White, Emma Rothschild, Simona
Cerutti, Serge Gruzinski, Cécile Vidal, Laurence Fontaine, Nathan Wachtel,
Carmen Bernand, Zacarías Moutoukias, Aude Argouse, António Manuel
Hespanha, Iris Kantor, José Javier Ruiz Ibáñez, Pedro Cardim, Ângela
Barreto Xavier, Stuart B. Schwartz, Carla Rahn-Phillips, Bernard Lavalle, e
Rodrigo Bentes Monteiro, que discutiram comigo diferentes aspectos deste
livro; e à memória muito querida de Mónica Quijada Mauriño.
A Ruth MacKay, Juan Pro Ruiz, António Manuel Hespanha, e Elizabeth
Amann, que leram este texto e me deram conselhos excelentes.
A David Nirenberg e Gaetano Sabatini por me escutarem e responderem de
forma tão sábia e assídua.
A Mafalda Soares da Cunha, amiga e colega, que, com pa- ciência, erudição,
sabedoria e camaradagem reviu a tradução deste manuscrito para português.
E, acima de tudo, a Yuval Erlich, que continua a guiar os meus passos, e a
Alexander e Daniel, que nasceram ao mesmo tempo que este livro e com ele
cresceram. Ainda devo aos Chuchususis uma resposta à razão pela qual
espanhóis e portugueses lutaram tanto por (tantas vezes) tão pouco. Só posso
desejar que um dia, quando forem adultos e a memória deste livro e de sua
mãe forem já ténues, se recordem destas perguntas com o mesmo sentimento
de espanto, surpresa e curiosidade.
Introdução
Este livro analisa a formação territorial de Espanha e de Portugal na Europa e
nas Américas. A forma que ambos os países adquiriram na época moderna,
mais do que determinada por tratados ou confrontos militares, como os
historiadores têm afirmado, foi o resultado final de uma multiplicidade de
acções protagonizadas por uma miríade de agentes que, desenvolvendo várias
missões, definiram os territórios das suas comunidades e estados. Situados
em ilhas de ocupação e rodeados por um mar de terra que consideravam
aberto à sua expansão, agricultores, nobres, religiosos, missionários, colonos,
governadores, autoridades municipais e militares no Velho e no Novo Mundo
exploraram, colonizaram e utilizaram espaços diferentes. Em alto e bom som,
e por vezes com violência, rejeitaram pretensões de vizinhos que queriam
fazer o mesmo, argumentando estar na posse de um direito de preferência.
Mais em cacofonia do que em diálogo, estas trocas envolviam agentes
autorizados a falar pela sua comunidade ou rei – como acontecia com os
governadores, os conselhos municipais e os comandantes militares – mas, na
sua maioria, contaram com a participação de muitos outros que não
dispunham desta autorização. Os confrontos territoriais, conduzidos em
múltiplos sítios por diferentes actores, em várias ocasiões e para diferentes
fins, eram, quase todos, não planeados e não controlados. Ocorriam
espontaneamente quando a situação assim o exigia – quando as várias partes
interessadas pretendiam viajar, recolher frutos, construir cabanas, permitir
que os animais pastassem ou converter e controlar a população local – mas a
sua persistência e mudança ao longo do tempo acabou por reconstruir os
territórios e os direitos. Na Europa, estas acareações entre vizinhos duraram
séculos, adquirindo a topografia das areias movediças, aparentemente
imutáveis mas, na realidade, em constante metamorfose, com as partes, os
seus objectos de desejo e os seus argumentos a alterarem-se profundamente.
Incluíam direitos e títulos antigos que eram comparados e contrastados com
condições sociais, políticas, culturais e económicas em evolução, e cujo
significado lentamente se transformava como resultado das mudanças no
entendimento coevo acerca das formas de aquisição e manutenção da terra.
Nas Américas, os debates sobre quem podia fazer o quê e onde, e como seria
assim definido o terreno comunal, foram mais curtos, mas assumiram uma
grande carga dramática; o território era enorme e a maior parte dos
contemporâneos partia do princípio de que era fértil em grandes promessas.
Além disso, no Novo Mundo, os conflitos territoriais envolviam a presença
de povos indígenas e havia um esforço constante para integrar (ou eliminar)
indivíduos e grupos que os espanhóis e os portugueses consideravam fazer
parte de um horizonte que podia – e que devia – tornar-se seu.
Tradicionalmente, os historiadores que estudaram conflitos territoriais
definiram-nos como disputas de fronteiras. Recorrendo a uma série de
opostos, distinguiram entre fronteiras lineares (definidas por uma linha) ou
zonais (incluindo uma área amorfa), internas (em relação a povos e territórios
domésticos mas não subjugados) ou externas (em relação a potências
estrangeiras), e naturais (dependentes de acidentes naturais, ou que se
definiram «naturalmente» com o tempo) ou artificiais (impostas pelo
exterior). Os historiadores relacionaram o aparecimento das fronteiras
modernas com a consolidação dos estados e sugeriram que a preocupação
com a definição de espaços políticos vinha de cima, à medida que os reis, até
aí principalmente preocupados com a subjugação pessoal, procuraram
territorializar o seu controlo.[1] Estes processos, que ocorreram depois de as
comunidades locais se terem expandido para «o interior» considerado vazio e
este ter passado pela territorialização, ganharam forma nos tratados que os
monarcas assinaram entre si, e nas negociações que mantiveram com as
autoridades locais sobre quem podia resistir, colaborar ou mesmo iniciar e
encorajar estes desenvolvimentos. E em consequência destas trocas entre um
«centro» e uma «periferia», ora de costas voltadas ora colaborantes, as
comunidades locais foram «nacionalizadas».[2] A partir daí, o território
composto por uma multiplicidade de comunidades e de jurisdições diferentes
(militares, fiscais, aduaneiras, sanitárias, eclesiásticas e assim por diante)
passou a ser construído como um espaço único e nacional, que deu origem às
estruturas actuais. A paz de Vestefália (1648) permitiu estes
desenvolvimentos e reconheceu a existência de um sistema de estados, cada
um com a sua soberania territorial.
Estas narrativas, principalmente centradas na genealogia dos estados e das
nações, raramente se questionaram sobre os mecanismos e processos que
inúmeros indivíduos e grupos adoptavam para fazer reivindicações
territoriais, para si, para as suas comunidades e para os seus monarcas.
Também não se interessaram por compreender o que estava envolvido na
repartição do território no período moderno ou como o direito à terra era
construído, negociado e recordado por locais e forasteiros. A maioria dos
autores, insistindo na existência de vários tipos de diferentes jurisdições,
estudou-as separadamente, ignorando muitas vezes o modo intenso como
interagiam. Também mal analisada foi a questão de como, no processo de
apresentação de reivindicações à terra, as identidades mudavam não apenas a
nível dos estados (e das nações) mas também na cena local, onde os
indivíduos se definiam (ou eram por outros classificados) como membros ou
não-membros. Para a historiografia, a questão de como as reivindicações
eram feitas e defendidas e de como eram compreendidas não pareceu
importante, porque era suficiente afirmar que o desacordo entre os locais
convidava à intervenção dos estados ou que os estados tomavam a «posse»
como a base da defesa dos seus direitos. Nestas narrativas, as comunidades
locais foram muitas vezes apresentadas como entidades atemporais e a-
históricas, e os estados retratados como promotores activos da mudança. O
direito, quando era efectivamente introduzido, tinha a presença caricatural de
algo que nem sequer os diplomatas e os estadistas, que por vezes o usavam,
levavam a sério. E raramente se discutiu o modo como os contemporâneos
entendiam a posse e como esta condicionava as suas acções. Particularmente
estranha é a pouca atenção prestada à ligação entre actores privados, por um
lado, e a formação de divisões territoriais, por outro, já que os defensores do
direito natural, tão numerosos na Europa da época, viviam obcecados
precisamente com a questão da formação da propriedade comunal e privada,
que resultava de acordos e desacordos entre indivíduos e grupos ao longo do
tempo. A sua obsessão não seria, em si, reveladora? Não estariam eles a
reproduzir, pelo menos parcialmente, o que observavam a desenrolar-se à sua
volta?
Os historiadores da Europa insistiram em genealogias directas que ligavam o
presente ao passado e davam a primazia às acções régias, por um lado, e aos
interesses económicos que levavam os actores locais a buscar determinados
objectivos, por outro. Por sua vez, os historiadores coloniais sugeriram que
sendo as fronteiras europeias «naturais» por emergirem gradualmente de
processos autóctones, as fronteiras coloniais eram «artificiais» porque
decorriam de uma imposição unilateral das potências coloniais, ignorantes
das realidades locais, num período relativamente curto.[3] Muitos defenderam
que, ao contrário do que acontecia no Velho Mundo, no Novo Mundo as
fronteiras externas apareceram antes de as fonteiras internas da ocupação
terem sido possuídas e integradas. De acordo com estes estudos, a tarefa mais
difícil que os estados pós-coloniais tiveram de enfrentar, portanto, não foi a
necessidade de lutar contra vizinhos externos mas a obrigação de controlar
povos e territórios que lhes eram nominalmente internos apesar de mal
formarem parte das suas entidades políticas.
Estas metanarrativas foram em grande medida seguidas pelos historiadores da
Espanha, de Portugal e dos seus domínios ultramarinos. Apresentaram a
formação territorial da Espanha e de Portugal na Península Ibérica como o
subproduto do processo pelo qual as comunidades cristãs gradualmente se
tornavam estados e se expandiam para sul, eliminando os últimos vestígios da
presença muçulmana (a denominada Reconquista).[4] Entre outras coisas,
estes desenvolvimentos permitiram a criação de um pequeno território que
veio a ser identificado como Portugal. A separação entre ele e o resto da
Península foi definida numa série de acordos bilaterais que, após uma longa
luta militar e política nos séculos xi , xii e xiii , reconheceriam a independência
de Portugal e o distinguiriam de Castela, da qual descendia. O Tratado de
Alcanizes (1267), assinado pelos reis de Portugal e de Castela e que definia
as fronteiras entre os dois reinos, foi um importante passo nesta direcção
porque, na opinião da maior parte dos historiadores, consolidou uma
separação que a partir daí não sofreu grandes modificações.[5] Para os
historiadores de Portugal, esta narrativa afirmava a individualidade do país e
o seu direito a uma existência independente.[6] Para os espanhóis, era
principalmente um episódio lamentável não previsto nem mandatado. Mas
qualquer que fosse o papel que a emergência e a afirmação de Portugal
desempenhasse nas narrativas, muitas vezes nacionalistas, dos séculos xix e
xx , como a fronteira entre Portugal e a Espanha (Castela) era geralmente
considerada um assunto medieval concluído em 1297, os historiadores da
Ibéria dos séculos xv, xvi, xvii e xviii preocuparam-se com as divisões territoriais
apenas quando estas eram violadas (na guerra e no contrabando) ou quando
eram úteis para a construção de histórias transfronteiriças que demonstrariam
que a separação entre os territórios castelhano e português era imposta pelos
estados, perante o desagrado dos habitantes locais, que preferiam ignorá-la.
Os historiadores ibéricos propuseram assim uma história das fronteiras vista
de cima (o resultado da iniciativa régia) ou vista de baixo (a sabotagem que
as comunidades locais delas faziam). Raramente juntaram as duas
perspectivas, sugerindo por isso a existência de uma oposição entre um
centro e uma periferia, em que o consenso apenas ocorria onde e quando os
interesses locais o exigiam. Raramente se interessaram por indagar como foi
implementada a divisão teórica de 1297 ou como, na época moderna, os
indivíduos que viviam em Espanha e Portugal e as suas comunidades
compreendiam, construíam e defendiam o direito à terra, e contribuíam assim
para a formação da fronteira.[7] Também não analisaram como a evolução das
concepções sobre o uso da terra mudou a natureza dos debates territoriais, e
as suas consequências práticas, ou como a memória e o esquecimento
ajudavam nestes processos. A disseminação e a persistência dos conflitos
entre residentes e aldeias de ambos os estados ao longo da fronteira
emergente foram simplesmente ignoradas ou classificadas como
inconsequentes.
Enquanto os historiadores da Ibéria na Europa insistiram na agência régia e
na longevidade de uma fronteira medieval, os historiadores da Ibéria nas
Américas verificaram que a penetração dos espanhóis e dos portugueses no
Novo Mundo era condicionada por uma série de documentos formais, em que
o mais famoso era o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494. Embora
reconhecessem que estes acordos (que incluíam o Tratado de Madrid de 1750
e o de Santo Ildefonso de 1777, entre outros) falharam na resolução da
questão de quem estava autorizado a assumir que zona (ver a Parte I), a maior
parte dos académicos, não obstante, considerou que deles nascera uma
fronteira que os intervenientes podiam respeitar ou ignorar.[8] Deste modo, os
historiadores converteram o passado num conto moral com «bons» e «maus»
actores, em que existiam direitos claros, e passaram a adoptar a posição
portuguesa ou a espanhola, raramente observando como a controvérsia era
vivida em ambos os lados. Sugeriram implicitamente que a questão de quem
tinha direito a que zonas das Américas era clara (quando nunca o foi) ou que
existia uma regra evidente que podia ser adoptada (quando não existia
nenhuma). Limitaram o interrogatório essencialmente ao que acontecia nas
cortes europeias ou nas operações militares e não conseguiram descrever
como as actividades dos indivíduos ou dos grupos residentes no Novo Mundo
contribuíam para a formação de divisões territoriais. Alguns autores
mencionaram as expedições que percorriam o interior do continente
americano, mas quase nenhum as seguiu até ao fim para observar como eram
utilizadas pelos locais e pelos reis para disputar direitos. Muito poucos se
dispuseram a abraçar a complexidade dos processos que conduziram à
ocupação ou a examinar a multiplicidade de agentes e interesses responsáveis
por eles.[9] E embora em anos recentes muitos tenham constatado que a
interacção com os nativos era um factor importante nestes debates territoriais,
a maior parte continuou a distinguir entre uma denominada fronteira exterior
(em relação a outros europeus) e uma denominada fronteira interior (em
relação à população nativa), como se ambas não coincidissem no lugar e no
tempo e não se afectassem mutuamente.[10] Estes autores consideravam o
direito muito irrelevante, porque a «realidade», mais do que as «normas»,
ditava os acontecimentos, e nem eles nem os colegas que trabalhavam a
Península Ibérica estavam dispostos a envolver-se com a legalidade de forma
significativa. Nunca se colocou a questão acerca do que o conflito territorial
entre espanhóis e portugueses de um lado do oceano nos podia dizer sobre o
que acontecia simultaneamente do outro.
Neste livro, interrogo-me como se estabeleceram as divisões territoriais na
Ibéria e nas Américas, através do estudo das interacções entre muitos actores
com interesses variados e diferentes proveniências. Defendo que o meio mais
habitual para a apropriação e para a construção e reconstrução dos espaços
comuns não era o confronto entre entidades preexistentes ou a defesa de
direitos, por parte de determinados povos, contra inimigos vorazes, mas sim a
reivindicação de títulos.[11] Ainda que os conflitos pudessem ser enquadrados
por tratados bilaterais, em ambos os lados do oceano os conceitos da época
acerca de como podia ser alcançado e mantido o domínio sobre a terra (e os
povos) tiveram uma importância estrutural igual. As conquistas armadas
terão permitido a espanhóis e a portugueses a ocupação de determinados
sítios, mas mais perigosa que a guerra era a paz, pois permitia uma
penetração gradual, impossível em alturas de confrontação militar. Por esta
razão, em vez de resolver a disputa territorial, a união de Espanha e Portugal
(1580-1640) exacerbou-a, porque no seu rescaldo era difícil, ou até
impossível, decidir o que fora conseguido por quem. A documentação
histórica sugere que os contemporâneos não perguntavam se as fronteiras
eram lineares ou zonais, internas ou externas, artificiais ou naturais.
Preocupavam- -se essencialmente com a extensão e a natureza dos seus
direitos de uso. Dependendo de quem perguntava, quando e para que fim, o
espaço de que os contemporâneos procuravam apropriar-se podia ser linear
ou zonal, usado em comum ou mantido em exclusivo, consistir em ilhas de
ocupação, em movimento, que seguiam, por exemplo, o itinerário de aliados
nómadas, ou assemelhar-se a corredores que permitiam transitar entre
diferentes sítios de posse, imersos num mar de terra não ocupada.[12] Com a
expansão dos territórios resultante de onde se queria que os animais
pastassem, onde se apanhava fruta, cultivava a terra, construía uma cabana,
explorava uma mina, cobrava impostos ou estabelecia uma missão, a
fronteira de ocupação interna (para assumir o controlo da terra e dos seus
habitantes) coincidia com a fronteira externa (contra vizinhos
«estrangeiros»). Neste processo, o significado e a extensão de «interno» e
«externo», em vez de predeterminados e fixos, foram constantemente
reelaborados. O direito ao território implicava não só identificar a acção (o
que era feito) mas classificar actores (quem eram). Conduziu a frequentes
debates sobre quem era espanhol e quem era português e (no Novo Mundo)
sobre o momento em que os índios se tornavam uns ou outros. Assim, a
definição territorial de Espanha e de Portugal na Europa e nas Américas não
era a consequência da expansão que os súbditos faziam da soberania dos seus
estados ou impérios (como a maior parte dos autores assumiu) ou das
tentativas de associação dos interesses dos locais com o estado (como outros
defenderam). Foi o resultado de procedimentos muito mais multifacetados
que permitiram aos actores definir-se e, ao mesmo tempo, reclamar o
território.[13]
Nesta dinâmica, as leis eram muito importantes. Muitas vezes foram
ignoradas por historiadores que queriam explicar os interesses económicos ou
políticos que motivavam as disputas, mas a questão de como as comunidades
podiam adquirir (ou perder) os seus direitos era, não obstante, essencial para
esses debates. As leis serviam de matriz que permitia aos que desejavam
colher fruta ou cultivar uma certa área interpretar o que eles e os seus rivais
estavam a fazer. A interpretação do uso da violência mostra como as
percepções jurídicas governavam as interacções diárias. A agressão, típica de
muitos confrontos territoriais, podia exprimir uma reacção emocional ou
irracional que perturbava a comunicação entre vizinhos. No entanto, era
igualmente mandatada por uma lógica legal que sugeria que o silêncio
implicava consentimento e que a reacção implicava oposição (ver a Parte I).
Sob este pretexto, a agressão não era necessariamente uma reacção «sem
sentido» (apesar de natural). Era, pelo contrário, performativa porque
transmitia uma clara resposta jurídica ao que os contemporâneos criam ser
desafios legais. Paradoxalmente, os documentos de arquivo sugerem que
quanto mais próximas eram as comunidades e mais fortes os laços que uniam
os seus habitantes, mais provável era a irrupção da brutalidade.
Se aceitarmos este quadro, então as divisões territoriais na Europa e no
ultramar eram o resultado final de processos complexos de apropriação
desenvolvidos por centenas de indivíduos em milhares de interacções diárias.
[14]
O conflito manifestava-se essencialmente em lutas minúsculas em vez de
grandes guerras, acções individuais em vez de tratados formais ou
negociações diplomáticas. Era expresso em actos, palavras, e atitudes que
requeriam interpretação raramente consensual mas que, com o tempo,
estabeleciam certos factos, no terreno e no corpo jurídico. Mesmo quando os
reis desconheciam o que os seus vassalos andavam a fazer, não conseguiam
situar as suas actividades em mapas ou acreditavam na inexistência ou
indefinição de divisões, em geral os locais sabiam que se percorressem
determinados territórios seriam provavelmente deixados em paz, mas se
penetrassem noutros poderiam (embora nem sempre) sofrer repercussões. A
distinção entre o que era e o que não era deles não dependia de documentos
formais conservados em arquivos, de tratados ou mesmo da existência de
marcos de pedra nas fronteiras. Tudo isto seria crucial para observadores de
fora que não conhecessem bem o território. Para os que o conheciam, as
partições eram uma experiência diária, uma espécie de hábito. Instado a
explicar, em 1500, onde se encontravam as divisões entre Vilarinho (em
Portugal) e La Tejera (na Galiza), Álvaro Pires disse «porque sempre viu
estar Portugal de pose».[15] Pedro Rodrigues explicava que o pai lhe contara
onde havia muito tempo se localizavam e que trinta ou trinta e cinco anos
antes, quando levava o gado para o outro lado do rio, fora atacado e os
animais sequestrados. A João Álvares disseram que não atravessasse o rio, e
via outras pessoas a obedecer a esta regra. Gonçalo Anes foi informado por
outros membros da comunidade onde se situavam as divisões, e
experimentou- -as pessoalmente quando vários dos seus animais
atravessaram o rio sem o seu conhecimento ou consentimento. João
Fernandes confessou ter sido o primeiro a trabalhar no outro lado e que os
habitantes de La Tejera imediatamente vieram protestar contra as suas
actividades. Durante estas inquirições, as testemunhas castelhanas relataram
igualmente o que tinham ouvido, o que sabiam e o que experimentavam.
Também disseram que enquanto algumas das suas acções não eram
contestadas, outras provocavam a oposição dos vizinhos. Assim, embora a
maior parte das testemunhas declarasse nada saber de uma demarcação ou
separação formal entre Espanha e Portugal, todas concordavam que,
localmente, as divisões, mesmo que contestadas, seriam bem conhecidas.
Faziam parte de uma realidade com que os fronteiriços coabitavam. Sabiam
que se limitassem a sua actividade a certas terras ficariam, em princípio, bem,
e que se intrometessem noutras seriam assediados, punidos ou atacados, os
seus animais sequestrados, e até poderiam ser multados ou presos.
Observavam outros a obedecer a estas regras ou os pais, familiares ou
vizinhos transmitiam-lhes o que significavam. A maior parte dos
depoimentos compilados por rivais reproduzia estas narrativas locais que, por
um lado, permitiam às testemunhas insistir que nada sabiam de uma fronteira
nem tinham qualquer prova da sua localização e que, por outro, descreviam
detalhadamente onde os habitantes podiam levar o gado a pastar, deambular e
cultivar, e onde não o podiam fazer. Isto era verdade independentemente do
facto de as versões coincidirem com, ou contradizerem, as dos opositores.
Afinal, as pretensões dos monarcas a territórios na Europa e na América eram
apenas a ponta do icebergue. Sob ele existia uma história bastante mais
complexa em que a acção individual e comunitária dirigida à obtenção da
posse, à invocação da prescrição e ao recurso à memória e ao esquecimento
desempenhavam um papel muito importante.
Na maior parte das vezes, a tarefa mais difícil que indivíduos e comunidades
enfrentavam não era a conquista dos adversários mas o recrutamento do rei e
dos funcionários régios para a sua causa. Para garantir o sucesso, muitos
adoptavam argumentos capazes de sensibilizar o monarca. Sugeriam, por
exemplo, que a soberania régia, a justiça e o orgulho estavam em causa,
ameaçavam que mesmo os conflitos de pequena dimensão podiam atear um
enorme incêndio e degenerar numa grande guerra, ou invocavam a
necessidade de prender contrabandistas ou reformar o território. A verdade,
porém, é que qualquer que fosse a desculpa para envolver o rei, o monarca
intervinha (ou não) de acordo com um conjunto de considerações igualmente
complexo. A maior parte dos governantes justificava a resposta à luz das suas
obrigações na preservação da paz («sossego» ou sossiego ), na actuação
como juízes ou na protecção dos vassalos. Ocasionalmente acreditariam no
que lhes contavam ou sentir-se-iam obrigados, por motivos clientelares,
perante um determinado indivíduo ou comunidade. Nas Américas poderão ter
considerado o território importante e poderão ter esperado que lhes trouxesse
grandes riquezas. Mas mesmo quando tinham vontade de intervir esperavam
impor- -se pela mera presença ou confiavam na procrastinação para o conflito
morrer por si. Assim, até nas Américas os reis eram figuras distantes, não
particularmente atentas a desenvolvimentos locais ou com uma opinião clara
sobre eles. Não tinham qualquer memória de acontecimentos passados nem
necessariamente uma visão própria do que deveria ser o futuro.
A minha intenção de criar um relato integrado da construção do território
ibérico moderno – na Europa e nas Américas – levou-me a consultar dezenas
de arquivos e colecções de manuscritos em ambos os lados do Atlântico, em
Espanha e em Portugal e nos seus sucessores na América Latina. À medida
que fui processando a informação, decidi afastar-me da narrativa habitual e
estrategicamente começar a história no Novo Mundo e não no Velho. Os
historiadores da América Latina tradicionalmente referem-se à Europa como
a terra-mãe e consideram a sua história um «precedente» explicativo do
desenvolvimento do colonialismo. Maioritariamente interessados em história
medieval, implicitamente sugerem a irrelevância dos acontecimentos
posteriores em Espanha e Portugal para a história do Novo Mundo, alegando
que nada de importante terá ocorrido e que, de qualquer forma, em nada
afectaria os domínios ultramarinos. Por sua vez, os historiadores da Espanha
e de Portugal, de uma maneira geral, ignoraram o colonialismo ou relegaram-
no para um lugar marginal ou excêntrico dentro da história europeia. Foi
então que me questionei sobre o que aconteceria se artificialmente
invertêssemos as narrativas existentes, e começássemos pela América para
discernir o que nos pode ensinar acerca da Europa. E se considerássemos que
a Ibéria coexistiu em ambos os lados do oceano durante centenas de anos, em
vez de assumir que uma margem deixara de ser importante depois de a outra
nascer? Sugerir que a Ibéria medieval precedeu cronologicamente a América
espanhola e portuguesa moderna é natural; defender que a Europa continuou
a ser a fonte de todas as coisas e que nada recebeu a partir daí não é. Colocar
a Europa em primeiro lugar, pensei, era uma convenção de difícil
sustentabilidade se pretendêssemos observar o que acontecia no Velho
Mundo nos séculos xvi, xvii, xviii e xix . Essa ordem intuitiva seria o resultado
lógico da situação genealógica da história, mas tinha um custo escondido.
Obscurecia a nossa visão porque nos preparava para argumentar que a Europa
afectava as Américas, enquanto esquecíamos o inverso. Encorajava-nos a
pensar nas particularidades do Novo Mundo mas permitia-nos ignorar as
características do Velho. O paradigma terra-mãe-descendência produzia
igualmente uma tendência para a história comparada que estereotipava a
Europa como um espaço ordeiro e natural e retratava as colónias como
caóticas, artificiais e exploradoras. Algumas destas conclusões seriam
justificadas pelo que acontecia no Novo Mundo, mas muitas delas foram
construídas pela própria narrativa historiográfica. Se invertêssemos a
narrativa, talvez pudéssemos reflectir, como se usássemos espelhos
distorcidos, cada lado do oceano no outro, tornando ambos participantes num
espaço unificado e simultâneo. Olhar para a Europa forçar-nos-ia a considerar
o efeito da mudança ao longo do tempo mais dramaticamente do que nas
Américas, mas as Américas aumentariam o sentido de urgência e imediatez.
Ambas sugeririam que a dinâmica entre os funcionários da coroa e os actores
locais era muitíssimo complexa, mas cada uma proporia uma versão diferente
de como ocorria. No que diz respeito ao equilíbrio entre o direito e o caos, a
primazia dada às Américas far-nos-ia considerar até que ponto em ambos os
lados do Atlântico a paz e a violência coexistiram interdependentemente e
não alternativamente. Ainda que sacrificássemos a cronologia, a primazia das
Américas tinha também o potencial de nos libertar de muitas convenções e de
clarificar as formas como indivíduos e grupos nos dois mundos se debateram
com questões e respostas semelhantes, embora por vezes de modo
intensamente diferente.[16]
Começar pela América era, portanto, um meio de acentuar, e até dramatizar,
o esforço para pensar no Velho Mundo e no Novo Mundo como um único
espaço. Distanciava-nos das metanarrativas existentes, e fazia-nos encarar a
coexistência vibrante de ambas as entidades, e não a sua mera coincidência
cronológica. Combino estas preocupações com uma atenção à apresentação e
à escala, e faço as Américas preceder a Europa e introduzir muitas das
questões básicas que procuro estudar. Descrevo as minhas descobertas acerca
do Novo Mundo em largas pinceladas, compilando o meu material
tematicamente de acordo com os actores e os argumentos, e não com o local
ou a cronologia. Perante os conflitos americanos, pergunto por que razão os
tratados não os conseguiram resolver, interrogo-me acerca do significado de
posse, e analiso a extensão e consequências da união e ruptura entre a
Espanha e Portugal. À habitual afirmação de que os tratados eram
importantes demonstro a sua futilidade jurídica e completa incapacidade para
solucionar os pontos em disputa. Respondo também à afirmação teórica de
que a posse se tornou a principal directriz para a aquisição de territórios
ultramarinos, e desmistifico o seu significado e as suas implicações,
interrogando-me acerca do entendimento que dela tinham os actores
contemporâneos e do mo- do como afectava o que diziam ou faziam. A posse
implicava a classificação dos actores como membros de comunidades, e por
isso discuto a maneira como indivíduos e grupos eram identificados como
espanhóis ou portugueses, e o que aconteceu nos sessenta anos em que os
dois países foram súbditos do mesmo monarca. Depois de examinar, no
capítulo 1, de que maneira espanhóis e portugueses dirimiram entre si o
direito à terra segundo as tradições europeias, no capítulo 2 prossigo para a
análise da sua relação com os nativos americanos. Em vez de separar o
assunto da fronteira com os índios da disputa territorial entre a Espanha e
Portugal, demonstro que a conversão religiosa, que acarretava a conversão
cívica, influenciava a atribuição territorial de terra indígena e justificava o
envolvimento maciço de missionários num aparente problema político
secular. Defendo que o direito à terra tanto podia ser assegurado pela
realização de alianças como pela guerra. A violência e a paz eram estratégias
usadas pelos espanhóis e pelos portugueses na subjugação dos povos
indígenas e esta sujeição, por sua vez, tinha implicações territoriais. Que estes
desenvolvimentos implicassem o reconhecimento do direito indígena à terra é
outra coisa. O debate teórico acerca do direito nativo é justaposto aos
acontecimentos no terreno e sugiro que, em vez de uma distinção entre as leis
e a sua aplicação, o que se observava no interior americano era uma divisão
ideologicamente motivada entre uma fronteira interna e uma externa, que
permitia aos actores utilizar diferentes critérios quando tinham de lidar com
rivais europeus ou quando eram confrontados com nativos.
Depois de observar as Américas, na Parte II mudo-me para a Península
Ibérica. Como poderão as aprendizagens que fizemos acerca do Novo Mundo
esclarecer o que sabemos do Velho? Após uma curta introdução que examina
a emergência de Portugal e as questões territoriais que gerou, analiso vários
conflitos individuais na longa duração. Interpreto-os observando de perto os
intervenientes, o objecto cobiçado, e o processo de reivindicação territorial.
No capítulo 3 descrevo conflitos fronteiriços com múltiplos actores, alguns
do outro lado da fronteira em formação, outros não, que, por uma diversidade
de razões, lutaram por vários territórios. A luta terá sido afectada pela
fronteira que gradualmente separava o reino de Castela e de Espanha do de
Portugal mas foi também modificada por alterações nas práticas económicas,
pelo crescimento demográfico e pelo paulatino descrédito das pastagens
comunais. No capítulo 4 observo conflitos que envolveram mudanças
naturais, observações científicas, memória histórica e uma constante
reimaginação do presente e do passado. Questiono como as jurisdições
privadas, religiosas, militares e políticas apoiaram ou se contradisseram umas
às outras, como a incerteza do passado conduziu à busca de soluções
«razoáveis» e como as mudanças de percepção contemporâneas alteraram a
noção do que era aceitável e o que devia ser rejeitado. Todos estes casos
exemplificam a impossibilidade de classificar os conflitos territoriais como
um «simples» confronto entre espanhóis e portugueses ou entre monarcas
rivais.
Nesta parte dedicada à Península Ibérica estou especialmente interessada em
desenterrar de maneira cronológica os conflitos territoriais, e afirmo que as
«tradições europeias» identificadas nas Américas também funcionavam na
Europa. Aqui, todavia, operavam de modo diverso. Os conflitos territoriais
europeus porfiavam durante séculos e experimentaram, por isso, grandes
mutações relacionadas quer com a memória e o esquecimento, quer com as
percepções públicas e com o direito. Mas o ponto de vista americano é útil
para reconsiderar o papel dos diferentes actores e, em particular, a forma
como os camponeses europeus podiam ser imaginados como nativos, e
mesmo bárbaros, ou seja, externos, e não internos, ao Estado. Se o caso
americano pretende ser uma introdução, o caso ibérico propõe uma exposição
ainda mais completa das incertezas do passado. Na minha interpretação, cada
actor e cada grupo fazia uma leitura própria dos acontecimentos e não é
possível aos contemporâneos nem a nós verdadeiramente julgar quem tinha
ou não tinha razão. Os locais remetiam constantemente para um status quo
que todos acreditavam existir, mas cada um possuía uma diferente recordação
do que nele estava preconizado. A passagem de informação de uma geração
para a outra e o permanente apelo à experiência eram, ao mesmo tempo,
mecanismos de preservação e instrumentos de mudança. A pretexto da
continuidade, os territórios controlados pelos portugueses e pelos espanhóis
na Ibéria e a definição de quem eram os seus membros sofreram mutações ao
longo do tempo. Lidas em conjunto, as partes americana e ibérica deverão
esclarecer não só as histórias da Espanha e de Portugal e dos seus domínios
ultramarinos, e não apenas a historiografia acerca da formação de fronteiras,
mas a questão de como escrevemos a história. Assim, concluo este trabalho
com referências a algumas destas questões, observando a divisão da história
ibérica em narrativas espanholas e portuguesas, a justaposição de uma
história europeia a uma história colonial, a narrativa convencional que
distingue a colonização inglesa da espanhola, a tradição de estudos sobre
fronteiras, o papel do direito como estrutura com significado e a
(in)capacidade do passado para fornecer soluções para os conflitos territoriais
do presente.
Ao longo do trabalho refiro-me a Espanha e a Portugal, a espanhóis e a
portugueses, mas estou perfeitamente consciente de que estas entidades e
identidades estavam em eterna evolução e incluíam sítios, indivíduos e
comunidades a quem hoje nega- ríamos tais categorizações. Faço-o por uma
questão de convenção. Fiel aos usos da época, em vez de adoptar designações
como espanhol-americano ou português-americano, na maior parte dos casos
utilizo os mesmos termos (espanhol e português, Espanha e Portugal) para
me referir a indivíduos e entidades no Velho e no Novo Mundo. Recorro à
palavra «Américas» genericamente, mesmo que seja óbvio que, de acordo
com a terminologia actual, este estudo se limita à parte sul do continente. Na
narrativa, muitas vezes atribuo capacidade de actuação a organismos
municipais. Embora possa parecer estranho, era desta forma que as
comunidades ibéricas modernas legalmente definidas como corporações eram
percepcionadas e realmente agiam. Evito deliberadamente estudar o caso de
Olivença/Olivenza, território conquistado em 1801 pela Espanha e nunca
devolvido. Em Portugal ainda há muitas pessoas que o lamentam, e existem
várias associações a exigir a sua devolução.[17] Contudo, do meu ponto de
vista, é um episódio que pertence aos séculos xix e xx e que por isso ocorreu
demasiado tarde para aqui ser incluído. É também um caso altamente atípico,
pois é o único registado de uma conquista militar que persiste apesar de um
acordo diplomático que lhe põe termo. Por razões práticas e para facilitar a
leitura, utilizo os nomes e títulos em português actual no texto mas conservo
a grafia original (muitas vezes caótica) nas notas de rodapé. As citações no
texto serão traduzidas para português, do inglês, do espanhol, do francês e do
italiano. As citações nas notas de rodapé mantêm-se na língua original.
Parte I: A definição de espaços imperiais:
como a América do Sul se tornou num
território disputado
A disputa territorial entre Espanha e Portugal sobre a extensão dos
respectivos domínios ultramarinos era tão antiga quanto a expansão europeia.
Em 1493, pouco depois de Colombo regressar da primeira viagem, os
monarcas católicos receberam duas bulas papais (Inter Caetera) que lhes
confiavam o dever de converter os nativos americanos em troca de certos
direitos em territórios descobertos a ocidente de um meridiano que passava a
cem léguas das ilhas «vulgarmente chamadas Açores e Cabo Verde». Na
altura, o único rival viável de Espanha na expansão marítima era Portugal, e
no ano seguinte os monarcas de ambos os países assinaram o Tratado de
Tordesilhas, confirmado pelo papa em 1506. Nele, acordavam que um
meridiano diferente (desta vez passando a 370 léguas a ocidente do
arquipélago de Cabo Verde) separaria as respectivas zonas de influência.[18]
As terras não pertencentes a cristãos que já estavam ou que viessem a ser
descobertas a leste deste meridiano seriam portuguesas; a ocidente, seriam
espanholas.
Embora o acordo parecesse claro, a sua implementação provocou um debate
constante nas décadas e nos séculos que se seguiram. No início do século xvi
foi pela primeira vez posto seriamente à prova quando os dois monarcas
discordaram sobre quem tinha o direito a descobrir e a possuir as Molucas,
um arquipélago no oceano Pacífico (actualmente na Indonésia).[19] Não só se
tratava de estabelecer factualmente quem tinha descoberto e possuído
primeiro as ilhas, como de determinar (1) se o meridiano acordado em
Tordesilhas circundava o globo, definindo os direitos de Espanha e de
Portugal não apenas no Atlântico mas também no Pacífico; e (2) se, fora este
o caso, as Molucas se localizavam a leste ou a ocidente do meridiano, e se
estavam por isso na esfera de expansão de um ou do outro reino.[20] A decisão
de alargamento do tratado ao Pacífico não provocou conflito; a questão do
posicionamento do arquipélago a leste ou a ocidente do meridiano mostrou-se
impossível de resolver. As duas partes teriam de concordar em termos
jurídicos acerca da interpretação da denominação «Ilhas de Cabo Verde»,
cunhada em Tordesilhas. Tencionavam medir o meridiano desde o ponto
mais central do arquipélago (como a Espanha pretenderia mais tarde) ou do
seu ponto mais ocidental (como insistiria Portugal)? Ainda que concordassem
no ponto (o que não aconteceu), teriam também de identificar a localização
exacta das Molucas em relação à linha. Esta era uma questão científica, numa
época em que nem a forma, nem o tamanho da terra, nem a localização dos
territórios se revelavam consensuais.
Em 1524, especialistas convocados para examinar estas questões e opinar
sobre a pertença das Molucas, à luz de Tordesilhas, não chegaram a acordo.
No Tratado de Saragoça (1529), o rei espanhol consentiu na venda das
Molucas, que insistia serem dele, aos portugueses, que as continuavam a
considerar suas.[21] Embora o conflito tenha terminado num compromisso, as
questões que levantava permaneciam por resolver. Ambos os lados
defendiam que as Molucas eram suas, e ambos estavam conscientes da
importância da afirmação. Afinal, em causa estava não apenas, ou sequer
principalmente, o que acontecia no Pacífico mas o que iria ocorrer no Novo
Mundo.
A questão da interpretação e da implementação de Torde- silhas voltou a
surgir na década de 1530, quando as duas cortes discordaram sobre se o
território conhecido como Rio da Prata (actualmente na Argentina e no
Uruguai, talvez até no Brasil) deveria ser espanhol ou português.[22] A
disputa, altamente teórica nesta fase porque nem Espanha nem Portugal
conseguiam tirar partido efectivo das suas reivindicações, morreu. Não
obstante, era um lembrete amargo de que nada estava estabelecido e nada
estava acordado. Em 1580 reemergiu a esperança numa solução pacífica,
quando Filipe II de Espanha se tornou rei de Portugal. Muitos acreditaram
que o conflito entre as duas potências ficasse resolvido automaticamente com
esta «união», porque o mesmo monarca governava ambos os países. Pelo
menos era a versão espanhola a posteriori , já que insistia que como o direito
à terra e a jurisdição eram régios, o confronto seria impossível enquanto os
dois reinos partilhassem o soberano.[23] Fosse qual fosse a correcção jurídica
desta análise (voltarei ao assunto), no século xviii os espanhóis frisaram que
durante os sessenta anos em que a Espanha e Portugal tinham estado unidos
(1580-1640), o Tratado de Tordesilhas fora «esquecido», e talvez até
anulado.[24] Alguns chegaram a alegar que, consequentemente, durante esse
período os direitos respectivos de Espanha e de Portugal apenas podiam ser
determinados pelas Inter Caetera , as bulas papais de 1493 que traçavam um
meridiano mais favorável a Espanha que o de Tordesilhas. Outros afirmaram
que os territórios de ambos os países estavam de jure separados mas eram de
facto indistinguíveis. Qualquer uma destas reivindicações foi rejeitada pelos
que defendiam que mesmo durante a união o Tratado de Tordesilhas estava
em vigor e Espanha e Portugal mantiveram-se separados. Esta versão era
apresentada sobretudo pelos interlo- cutores portugueses, que viam na união
um risco de confusão maior, e que por isso consideravam particularmente
importante defi- nir que território pertencia a quem.[25] No entanto,
independentemente de onde estava a razão, a disputa reemergiu assim que o
reino de Portugal se separou de Espanha (em Dezembro de 1640). Em 1641,
segundo queixas espanholas, as tropas portuguesas invadiram possessões
castelhanas em Omaguas (no actual Peru). No século xvii a região do
Amazonas assistiu a ataques contínuos de soldados e colonos portugueses a
missões espanholas, sob o pretexto de que estavam ilegalmente em solo
português. No Rio da Prata, os espanhóis conquistaram a portuguesa Colónia
do Sacramento (no actual Uruguai) que, na sua opinião, se localizava em solo
espanhol.[26] Como acontecera na década de 1520, em 1681 e 1682 os
especialistas reunidos para decidir se a Colónia ficava a leste ou a oeste do
meridiano de Tordesilhas discordaram. A questão da implementação de
Tordesilhas continuava em aberto, e ambos os lados eram por isso
encorajados a ganhar pela força o que não conseguiam pelo consenso.[27] O
coração da América do Sul tornou-se num campo de batalha. Os portugueses,
pelo Leste, e os espanhóis, pelo Oeste, e os religiosos, pelos dois lados,
penetraram no interior com o objectivo de tomar posse do território e dos
seus recursos, incluindo populações. Com o tempo a penetração europeia foi
tornando-se mais intensa. No final do século xviii a disputa expandiu-se de
forma dramática e incluiu territórios que fazem actualmente parte do Brasil,
Paraguai, Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e
Bolívia. O Tratado de Utreque (1715), o Tratado de Madrid (assinado em
1750 e cancelado em 1761), o Tratado de Paris (1763), e o Tratado de Santo
Ildefonso (1777) tentaram solucionar os diferendos.[28] Todavia, as questões
que levantavam continuaram por resolver até ao fim do período colonial, e
assombraram os estados latino-americanos muito depois da independência.
A questão da atribuição da propriedade de cada território afligia as cortes
europeias. Exigia negociações diplomáticas, a assinatura de sucessivos
tratados, e uma guerra ou outra. Contudo, e apesar de a história das cortes
estar amplamente estudada, a maior parte dos historiadores raramente se
questionou como indivíduos e grupos se desafiavam em discussões contínuas
e quotidianas acerca da extensão da sua terra. Estes debates não se centravam
nos direitos dos reis ou dos países. Tentavam determinar quem podia seguir
em que estradas e caminhos e onde podiam ser colhidos frutos, construídas
cabanas, descobertas minas, e subjugados índios. Desenrolaram-se por todo o
território contestado, à medida que os contemporâneos procuravam realizar
determinadas tarefas. Envolviam povoadores, religiosos, militares,
governadores e nativos que, perante a necessidade de justificar as suas
actividades, afirmavam quem eram e quais os direitos das suas comunidades.
A primeira parte deste livro analisa as razões do envolvimento destes
diferentes actores nas conversações, as ocasiões em que estas tinham lugar, e
o que nelas era dito. Defendo que os historiadores e os políticos que olharam
para o passado demasiadas vezes e demasiado depressa assumiram que as
alegações feitas por rivais na época moderna representavam a verdade, e não
uma reivindicação. Os que favoreciam a posição espanhola (ou que dela
pretendiam beneficiar) reproduziam o que os espanhóis diziam nos relatórios
que enviavam para Madrid a solicitar a ajuda do monarca nas suas disputas.
Nessas missivas os actores locais eram representados como observadores
passivos de um avanço continuado dos portugueses para territórios espanhóis.
[29]
Os espanhóis, sugeria-se, podiam ter descoberto muitas áreas no século
xvi, mas a incapacidade de as povoar permitira aos portugueses, mais bem
equipados e com mais homens, tomar posse da maioria delas. Os portugueses
viviam de forma intrusiva nessas terras. Ignoravam deliberadamente os
compromissos dos (muitos) tratados assinados, e o seu comportamento era
traiçoeiro, desleal e inaceitável. Desde o século xvii que a ambição os levava a
apropriar-se de vastas regiões no interior americano com o objectivo último
de criar um «poderoso imperio» que abarcaria o continente inteiro, incluindo
as ricas zonas mineralíferas do Peru.[30] «Desejando imitar a glória de
Espanha», a sua expansão foi possível graças à negligência (indolencia) e à
insuficiente atenção que os espanhóis votavam às questões territoriais.[31]
Eram acusações destinadas a captar a atenção régia, mais do que a representar
a verdade, e reflectiam a surpresa espanhola com a expansão portuguesa que
era, realmente, bastante espectacular.
Nos séculos xvi e xvii os portugueses estabeleceram-se em alguns pontos ao
longo da costa atlântica, e gradualmente conseguiram controlar (ou alegaram
controlar) um enorme território, dezenas de vezes superior. Mesmo que
estivessem a seguir a sua interpretação de Tordesilhas ou da lei, e afirmavam-
no amiúde, como alcançaram eles o que os espanhóis não conseguiram? O
facto é que, e os historiadores que justificavam a posição de Portugal iriam
notá-lo, se os espanhóis acusavam os portugueses de mau comportamento,
estes escreviam ao seu rei a apresentar Espanha como um interveniente
extremamente poderoso, que em breve controlaria todo o continente.[32] De
acordo com os portugueses, os espanhóis construíam novas fortificações e
missões nos territórios portugueses, dominavam a navegação fluvial e,
juntamente com os aliados índios, atacavam fortes portugueses em território
português. Descreviam os espanhóis como «intrusos» violentos e acusavam-
nos de ter «costumadas astúcias» e de ser «soberbos».
Argumentavam ainda que as pretensões espanholas aos territórios americanos
eram de uma tão «maliciosa ambição» quanto a sua pretensão ao governo de
Portugal. Todas as tentativas de persuasão falhavam porque os espanhóis se
recusavam a escutar ou a serem convencidos. Faziam interpretações absurdas
dos tratados de paz e eram violentos, incivilizados e cruéis. À medida que os
espanhóis avançavam para o interior, os portugueses imitavam os
caranguejos e recusavam-se a deixar a linha costeira.[33]
Esta troca de acusações foi subindo de tom e alguns espanhóis chegaram
mesmo a defender que os portugueses não eram apenas mentirosos e
traidores, mas também bárbaros. A falta de civilidade era evidente no
incumprimento dos pactos assinados e das ordens régias. Podiam ser
comparados com infiéis. Contrariavam as leis da correspondência humana e
ignoravam preceitos cristãos, conduzindo os seus assuntos como os muftis
otomanos que «inculcavam nos renegados da nossa fé [a] resolução louca de
se voltarem contra a sua origem» ou, pior ainda, seguiam os ensinamentos de
Maquiavel.[34] E se os interlocutores espanhóis acusavam os portugueses de
infidelidade, os portugueses sugeriam que os espanhóis eram heréticos.[35] À
semelhança dos holandeses, tentavam roubar territórios que pertenciam a
Portugal e, tal como estes, distorciam verdades conhecidas e as suas acções
eram «incivis» e ambiciosas.
Violavam os preceitos cristãos que instruíam os fiéis a não cobiçar a
propriedade de outros fiéis.
Ao acusarem-se mutuamente de comportamento desregrado, espanhóis e
portugueses apresentavam-se como vassalos que respeitavam o «direito das
gentes» e os tratados. Qualquer outra insinuação era «calúnia» ou «injúria»
pois sempre tinham actuado com «justiça, equidade e moderação».[36] E como
a conquista das Américas fora alcançada com grande custo, seria contra o
«direito natural», e contra o direito régio (regalía) , não a defender.[37]
A ligação do comportamento político incorrecto com a urbanidade defeituosa
e a heresia integrava-se num repertório de acusações a que os indivíduos e as
comunidades da época moderna recorriam para discutir as violações da lei.
Embora fosse bastante vulgar, demonstrava em que medida o conflito entre
Espanha e Portugal nas Américas era apresentado como uma história do bem
e do mal, dos bons e dos maus. Os historiadores e os políticos nos séculos xix
e xx reproduziram a informação que as fontes arquivísticas incluíam e
adoptaram-na como sua. Assumiram que os documentos reflectiam o que
estava realmente a acontecer no terreno, sem nunca suspeitar que, em vez
disso, registavam afirmações jurídicas e políticas (por vezes inventadas) já
discutíveis no próprio momento em que eram enunciadas.
Em vez de seguir este caminho ou tentar – como outros historiadores fizeram
– descrever as divisões «correctas» ou «verdadeiras» entre as duas potências,
analisarei de que forma a situação legal e política se impôs aos
contemporâneos que, no processo de legitimação das suas actividades
individuais, também criaram um espaço que identificavam como seu. O
entendimento que tinham do que lhes pertencia seria estruturado por tratados
ou guerras, mas dependia sobretudo de tradições europeias que lhes
conferiam certos direitos e das suas relações com os povos indígenas.
Capítulo 1: Tradições europeias: bulas, tratados,
posse e vassalagem
Os critérios que tornavam um território espanhol ou português variavam
consoante o autor, o lugar ou o tempo, mas a maior parte das narrativas da
Idade Moderna mencionava dois tipos principais. O primeiro tipo incluía
documentos formais que sugeriam que em 1493 o papa dera à Espanha certos
direitos, reiterados em 1494 pelo Tratado de Tordesilhas (com algumas
alterações) e confirmados ou questionados em tratados subsequentes (1681,
1715, 1750, 1761 e 1777). O segundo tipo invocava doutrinas jurídicas
derivadas do direito romano e desenvolvidas na Idade Média e na Idade
Moderna, que determinavam que o título dependia da posse.[38] O modo como
dois critérios tão distintos – documentos formais versus doutrina jurídica –
interagiam um com o outro era pouco claro. A maior parte dos intervenientes
alegava, como é óbvio, que os seus direitos se baseavam em bulas, tratados, e
na posse, mas discordavam no que acontecia, por exemplo, quando as bulas
apontavam para uma solução diferente da dos tratados, ou quando os tratados
e a ocupação se contradiziam. Existiam diversas opções para lidar com estes
conflitos. Havia quem argumentasse que direitos concedidos por bulas e
tratados davam título absoluto. Territórios neles mencionados eram espanhóis
ou portugueses se fossem «descobertos», ou seja, encontrados e alcançados
por cada um deles, não sendo necessária qualquer outra acção para tornar a
terra espanhola ou portuguesa.[39] Outros sugeriam, pelo contrário, que as
bulas e os tratados apenas delineavam esferas de potencial expansão e que o
título exigia sempre a posse.[40] Esta segunda interpretação levantava questões
adicionais: o que aconteceria quando a posse fosse tomada em terras fora dos
limites da esfera de expansão legítima? Seria tal posse vazia? O estatuto de
territórios que eram espanhóis de acordo com as bulas, mas portugueses de
acordo com o Tratado de Tordesilhas, era igualmente pouco claro. A
soberania real, e até a concordância em renunciar a certos direitos, poderia
modificar o que o papa, uma autoridade mais elevada, determinara?
A incapacidade para chegar a acordo sobre os critérios permitia aos
interlocutores escolher a solução mais favorável aos seus interesses. Em vez
de constituírem uma cronologia precisa da mudança de argumentos jurídicos
ao longo do tempo, as teorias iam sendo adoptadas e abandonadas de acordo
com o sítio, o período e a necessidade. Os portugueses contavam muito com a
posse, e os espanhóis eram por isso induzidos a defender que a ocupação de
territórios para além da esfera de expansão legítima não tinha qualquer
validade legal.[41] Chegavam a afirmar que a doação papal era suficiente para
adquirir título e que mais nenhum acto, incluindo a descoberta ou a posse, era
requerido.[42] Os espanhóis também sugeriram que as bulas, que lhes davam
um maior território nas Américas do que qualquer outro acordo, eram
preferíveis por terem origem numa autoridade mais elevada. No entanto, se
fosse conforme aos seus interesses, podiam avançar com pretensões
contrárias, defendendo, por exemplo, que a posse tomada fora da esfera de
expansão legítima podia ser válida ao fim de determinado tempo.[43] Com
estratégias semelhantes, os portugueses tanto insistiam na implementação de
Tordesilhas (no caso da Colónia do Sacramento, por exemplo) como
favoreciam a posse.[44] Podiam igualmente sugerir que os seus direitos
dependiam de bulas e que o dever de converter não expirava.[45] Ninguém
podia tomar posse de uma terra que o papa destinara aos portugueses para
converter os seus nativos, mesmo que eles não o tivessem feito. Plenamente
cientes desta instrumentalização, espanhóis e portugueses acusavam-se
mutuamente de invocar Tordesilhas ou de o esquecer de acordo com as
conveniências.[46]
Paralela ao debate sobre a atribuição de território consoante as bulas papais, o
Tratado de Tordesilhas, outros tratados ou a posse, era a complicada
implementação de cada uma destas opções. A doação papal e o Tratado de
Tordesilhas exigiam a determinação do local de passagem do meridiano neles
estabelecido, ou seja, em que ponto das ilhas dos Açores e de Cabo Verde
(mencionadas nas bulas) ou das ilhas de Cabo Verde (mencionadas no
Tratado de Tordesilhas) passaria o meridiano, e como seria medido e
delineado. A implementação das bulas e do tratado implicava ainda saber se
os territórios disputados se situavam a oriente ou a ocidente desse meridiano.
De igual modo, o traçado das linhas de fronteira dependia de uma
concordância dos intervenientes acerca da interpretação de outros
documentos assinados, como o Tratado de Madrid e o Tratado de Santo
Ildefonso. Os entendimentos variavam devido à falta de informação sobre a
geografia do continente e a localização de diferentes rios, povoamentos e
montanhas, mas também por causa do debate constante acerca do que cada
parte conhecia, do que cada uma desejava estabelecer e do que os tratados
realmente determinavam.
A aplicação da doutrina romana sobre a posse não era menos árdua. A
decisão relativa a quem tinha a posse de qual território dependia de
informação difícil de compilar ou simplesmente inexistente. Não se restringia
à interrogação de quem chegara primeiro; era necessário determinar o que
acontecera a seguir. A posse desencadeou também discussões legais acerca
das suas exigências, estabelecimento e manutenção. Requeria a classificação
dos actores como membros da comunidade e sugeria a integração dos índios
nas entidades políticas europeias, para os seus territórios ficarem sujeitos ao
controlo europeu. Ou seja, as bulas, os tratados e as doutrinas não incluíam
respostas, apenas perguntas, e a sua implementação carecia de interpretação
jurídica, determinação científica e compilação de informação.
Os contemporâneos sentiam-se sufocados pela enormidade das incumbências.
Os especialistas cooptados de ambos os lados reconheciam que o problema
era «dificultoso» e «falível». No século xvii explicaram que para traçar o
meridiano estabelecido em Tordesilhas precisavam de chegar a acordo acerca
da forma e do tamanho da Terra (a que não chegaram) e que para saber se
certos territórios estavam a oriente ou a ocidente dele era indispensável um
sistema fidedigno a indicar localizações exactas (ainda inexistente).[47]
Tão hesitantes quanto os teóricos eram os técnicos inquiridos sobre a situação
no terreno. Em questionários, explicavam que conheciam apenas algumas e
parciais áreas. As tentativas de encontrar autoridades que resolvessem em
definitivo as questões falharam. Os mapas e as sugestões sobre onde deveria
passar o meridiano abundavam, mas as visões da geografia do mundo e da
região eram tão diversas que se revelava impossível definir a quais dar
preferência. Os documentos também eram muitos. Em 1681, o secretário da
equipa espanhola que negociava com Portugal produziu uma longa lista de
citações que confirmariam os direitos espanhóis ao Rio da Prata.[48] No
entanto, e embora fosse claro que alguns sustentavam a posição espanhola,
outros não o faziam. Os especialistas portugueses concluíram pela
possibilidade de várias interpretações e aceitaram a necessidade de
informação adicional para resolver totalmente a questão.[49] Em causa estava
o que era conhecido e o que era ignorado, mas igualmente fundamental era
decidir que critérios deveriam ser aplicados e como determinar a fiabilidade
das fontes e das autoridades. Alguns interlocutores defendiam que a melhor
prova de título era um autor português que admitisse os direitos da Espanha
ou vice-versa; outros argumentavam pela maior segurança de autores
pertencentes a partes neutrais. Para alguns, a informação mais antiga era mais
precisa do que a nova. Outros acreditavam, pelo contrário, que as técnicas
modernas de medição e registo produziam melhores resultados do que
narrativas antigas. Debatia-se se a repetição era sinal de exactidão ou
simplesmente consequência da tendência dos autores para se copiarem uns
aos outros. Dever-se-ia adoptar a opinião da maioria ou a solução que
oferecesse menos oposição? Até a natureza da especialidade apropriada era
questionada. As opiniões dos geógrafos sobrepor-se-iam ao conselho de
pilotos que sabiam navegar?[50] Afinal, que informação e que opinião «levou
a vitória» e «ficou vitoriosa e sem contenda»?[51]
Chegados ao século xviii , havia tal quantidade de material acumulado que os
contemporâneos se queixavam da virtual impossibilidade de o manusear. À
consideração estavam o Tratado de Tordesilhas (1494), o acordo alcançado
em Saragoça (1529), os tratados seguintes (1681, 1715, 1750, 1761, 1763 e
1777), os escritos de cronistas e historiadores, diversas narrativas de viagem e
múltiplos mapas, e uma vasta gama de documentação administrativa, judicial,
económica e diplomática.[52] Na década de 1770 todos estes documentos
incluiriam cerca de vinte grandes caixas, dezenas de livros e mais de trinta
mapas. As comissões que estudavam a informação ouviam testemunhos de
especialistas e coligiam opiniões escritas de geógrafos e juristas. Os relatos
de testemunhas no terreno acerca dos rios, do carácter dos habitantes
indígenas e da localização de diferentes sítios eram também levados em
conta. E como o direito à terra envolvia questões de consciência, por vezes
consultavam-se teólogos e religiosos. Em 1795, em Buenos Aires, a
acumulação documental levou o vice-rei Nicolás Arredondo a protestar por
ser forçado a consultar «um número infinito de papéis».[53] No Mato Grosso
as autoridades portuguesas também se queixavam, sugerindo que existiam
demasiados pontos a considerar.[54] Deste modo, as gentes da época debatiam-
se não apenas com as vicissitudes da obtenção da informação necessária, mas
com a maneira como esta deveria ser resumida e processada, a fim de
comparar os seus componentes ou traduzi-los numa única visão.[55] Muitos
esperavam que o progresso científico acabasse por clarificar a maior parte,
senão todas, das questões pendentes.[56] Sugeriam que o que se mostrara
praticamente insolúvel no século xvi , depois da assinatura de Tordesilhas, se
resolveria, por exemplo, num século xviii orgulhoso do progresso e do
iluminismo. Todavia, enquanto alguns depositavam fé na ciência, como se
fosse um antídoto para o caos, outros confiavam na lei. Acalentavam a ilusão
de que se poderia pôr termo ao conflito territorial com mais outro
entendimento e a assinatura de mais um tratado. Defendiam que os acordos
bilaterais criariam «um entrave e um muro que tornaria inquestionável a
soberania» por manifestarem «os limites de um domínio e do outro, assunto
até ao presente não verificável». Resolveriam um desacordo que durante mais
de 250 anos agitara ambas as cortes, com o «corte das raízes que tinham
permitido o crescimento dos ramos maus da dissensão e que faziam os
vassalos experimentar os efeitos fatais da discórdia».[57]
Ou seja, os tratados poriam fim a «borrascas passadas» e garantiriam a
tranquilidade. Formariam uma divisão (raya) que tornaria ambos os
domínios «cobertos e seguros». Os tratados, concebidos como métodos para
garantir a paz, e não como instrumentos de inovação legal, como muitos
historiadores afirmaram no passado, eram, na opinião dos contemporâneos,
soluções práticas que incluíam «concessões de utilidade comum».[58]
Como uma linha imaginária, cientificamente abstracta como a de Tordesilhas
(1494), era cada vez mais tida como impraticável, em 1750, no Tratado de
Madrid, os intervenientes deram preferência à posse. No entanto, a solução
mostrou-se pouco operativa porque as duas potências não conseguiam
acordar em quem possuía o quê e em como demarcar, no terreno, o que
ficava escrito no acordo formal. Assim, em 1777, espanhóis e portugueses
adoptaram outro método, que combinava Tordesilhas com a posse, também
com a separação dos territórios de ambos através de uma faixa de campos
neutrales , propriedade de nenhuma das partes e nos quais nenhuma podia
penetrar. Novos desentendimentos surgiram. A discórdia permanente levou
alguns a advogar a adopção de fronteiras «naturais» em vez de «artificiais».
[59]
As fronteiras naturais limitariam fisicamente a acção humana e estariam
implantadas de tal forma no terreno que nenhuma das partes as ignoraria ou
contestaria. Todavia, o desejo de encontrar uma solução mágica produziu um
pesadelo jurídico. Os tratados foram-se acumulando, os critérios mudando e a
complicação legal cresceu.
Enquanto os cientistas e os técnicos continuavam a discordar acerca de factos
e números, os juristas viram-se enredados em debates sobre significado e
precedência. Um dos desafios mais difíceis a que tinham de responder era se
os tratados subsequentes a Tordesilhas o clarificavam ou, pelo contrário, o
substituíam. Alguns acordos, como o de Madrid de 1750, referiam-se
directamente à questão, mas a maior parte não.[60] O que acontecia a
Tordesilhas depois de os acordos serem assinados? O problema colocou-se
com o Tratado de Utreque (1715), que estipulava a devolução pela Espanha
da Colónia do Sacramento a Portugal, cedendo-lhe «todos os direitos e
acções, sem voltar a perturbar este domínio».[61]
Significaria que os espanhóis implicitamente também renunciavam ao
Tratado de Tordesilhas, que na sua opinião colocava a Colónia sob o seu
controlo? No Tratado de Santo Ildefonso (1777), o abandono de Tordesilhas
foi mencionado apenas a respeito das Filipinas. Dado que o Tratado de
Madrid (1750), que explicitamente «cancelava» Tordesilhas, fora anulado em
1761, implicaria que para tudo o resto Tordesilhas ainda estava vivo, mesmo
depois da assinatura de um tratado em 1777?[62]
Era importante responder se os tratados que preservavam Tordesilhas tinham
de ser lidos em conjunção com ele, não como substituição dele – e por isso os
juristas que trabalhavam para a Espanha e para Portugal discordavam acerca
da sua interpretação correcta.[63] Divergiam também no que os novos tratados
preconizavam para o status quo territorial – mantinham-no ou modificavam-
no? Se a primeira interpretação fosse correcta, um tratado que estabelecesse
que certas áreas eram portuguesas, por exemplo, podia igualmente servir de
prova de que os signatários consentiam que o eram já antes de o acordo ser
assinado. Mas se um tratado servisse para mudar a situação existente, neste
exemplo as inclusões em território português nada provavam, ou sustentavam
o inverso, ou seja, que a zona não era portuguesa antes de o acordo ser
assinado. A questão assumiu particular dramatismo depois do Tratado de
Madrid (1750) ser anulado em 1761. Os territórios incluídos em Portugal,
segundo o tratado, já lhe pertenciam antes de este ser assinado, e deveriam
por isso permanecer na posse portuguesa depois da anulação, ou eram
cedidos a Portugal pelo tratado e, portanto, deveriam ser devolvidos a
Espanha depois de este deixar de existir? As relações entre tratados e
territórios adquiridos na guerra também eram problematizadas. O Tratado de
Utreque, por exemplo, mandatava um regresso ao status quo anterior à
guerra? Em caso afirmativo, qual a natureza desse status quo e quem tinha a
autoridade para decidir o que incluía? Espanhóis e portugueses, raramente de
acordo, debatiam assim, sem fim, se certos territórios eram cedidos,
conquistados ou possuídos, e quem era o seu dono de direito.
Mas mesmo que os intervenientes fossem conclusivos acerca dos critérios
preferenciais e da interpretação dos tratados, ainda havia que demarcar no
terreno o que fora decidido no papel. Este segundo exercício mostrava-se tão
difícil como o primeiro. Os tratados mencionavam com frequência rios,
povoados e montanhas que nunca existiram ou que não se situavam onde os
intervenientes imaginavam.[64] Outros tinham nomes diferentes em espanhol e
em português. O território era enorme e desconhecido e, nas décadas de 1750,
1770 e 1780, os especialistas enviados para as Américas para demarcar as
divisões descritas nos tratados de 1750 e 1777 não chegavam a acordo. O seu
trabalho degenerou em discussões infindas acerca da localização de rios e
montanhas.[65] À semelhança dos que desejavam implementar Tordesilhas,
estes técnicos não conseguiram concretizar e materializar na realidade
americana uma linha teórica e imaginária descrita num documento europeu.
Diante destas dificuldades, se alguns insistiam na nomeação de mais um
grupo de especialistas para examinar os direitos das partes, ou na assinatura
de mais um tratado, outros sugeriam que apenas «a actuação no terreno»
poderia conduzir à aquisição de direitos. Existiam proponentes das duas
posições em Espanha e em Portugal, na América espanhola e na América
portuguesa. O conflito territorial entre Espanha e Portugal, em suma, para
além de um confronto entre vizinhos, encerrava também uma disputa interna
sobre o que era justo e o que era possível. Colocava em campos opostos os
que confiavam que o progresso científico resolveria todas as questões
pendentes e os que acreditavam que a utilização de «princípios incertos
geográficos» para decidir a fronteira era inviável; os que esperavam que os
tratados acabassem com o debate e os que suspeitavam que nunca o
conseguiriam; os que promoviam o conhecimento científico e os que se
sustentavam em informação prática; os que queriam ter razão e os que
queriam estabelecer factos no terreno.[66]
As discussões prosseguiram, acaloradas, à volta do significado de certos
termos e da implementação dos tratados. Os actores locais, entretanto,
empreendiam uma luta diária para obter, alargar e preservar a posse. Se o
faziam na observação do direito romano, compreendendo que o não-exercício
de direitos lhos retirava, ou porque isso melhor se adaptava aos seus
interesses (ou uma combinação dos dois), nunca conseguiremos apurar.
Sabemos é que a partir do século xvii , e com mais intensidade no século xviii , a
atenção dirigiu-se para a justificação da posse.
Os contemporâneos entendiam a posse como um fenómeno abrangente que
permitia a aquisição de direitos através de praticamente qualquer tipo de
actividade.[67] Embora a maioria concordasse que a criação de um povoado
juntamente com o desempenho de actos jurídicos como a concessão de
cargos, a colecta de impostos e a perseguição de criminosos fosse a melhor
forma de tomar posse da terra, muitos defendiam que uma utilização diferente
podia igualmente constituir posse. Por exemplo, enquanto alguns sugeriam
que a posse exigia que se trabalhasse permanentemente a terra, outros
defendiam que o desempenho de actividades sazonais como a pastagem, a
recolha de lenha, ou a caça e a pesca eram suficientes. E sendo a pastagem
uma actividade que constituía posse, a ocupação até podia ser alcançada sem
uma intervenção humana directa. Segundo estas posições, bastava que
animais não supervisionados passeassem por uma área, e que se
demonstrasse, apenas, propriedade sobre eles.[68] Os caminhos habitualmente
percorridos pelas vacas, a sua multiplicação e a sua sobrevivência podiam
assim servir para reivindicar terra, e a luta pela demonstração dos direitos de
propriedade sobre os animais podia ser interpretada como um debate
territorial. Para muitos, a descoberta e a penetração constituíam posse. Outros
advogavam que actos cerimoniais como a inscrição das armas de Portugal
numa montanha também o eram.[69] Muitos concordavam que a navegação e o
comércio fluvial com os nativos podiam estabelecer direitos ao rio e às suas
margens. O mesmo acontecia com rotas terrestres: caminhos descobertos ou
desbravados na floresta eram ao mesmo tempo marcadores de, e mecanismos
para constituir, posse. Isto significava que os que percorriam o interior
americano em busca de escravos e de ouro podiam, a partir daí, identificar- -
se também como conquistadores. Estas actividades e o comércio com os
nativos geravam potencialmente direitos territoriais, e o contrabando, por
exemplo, teria implicações muito mais vastas e importantes do que o seu
significado económico. Podia, de facto, criar bases para reivindicações
territoriais.[70] Como a legalidade da acção era irrelevante, as expedições para
capturar e escravizar índios (quando escravizar era proibido por lei) ou atacar
colónias espanholas (em tempos de paz) podiam gerar direitos. Não era
sequer necessária uma expedição formal dirigida por uma pessoa de
autoridade ou autorizada pelo rei. A penetração territorial era geralmente
aceite e podia ser realizada por qualquer vassalo em qualquer altura.[71]
Como se tivessem lido Pufendorf, os arguentes da época aceitavam assim que
o título podia provir de uma variedade de actividades, consoante o lugar e a
ocasião.[72] Concluíam ainda que a posse não podia depender apenas de um
«acto da mente» e exigia, pelo contrário, que outros compreendessem a
intenção de apropriação e, por extensão, o desejo de exclusão de todos os
outros. Insistiam que o protesto contra a tomada de posse devia ser
manifestado «por actos exteriorizados e visíveis» e, portanto, colocavam
implicitamente a ideia de «comunicação» no centro da posse. O silêncio seria
interpretado como consentimento, a não ser que se provasse que a ignorância,
o medo ou qualquer outra circunstância urgente impedissem o protesto. E
concluíam, à semelhança de Grócio, que «se uma pessoa sabe que a sua
propriedade está na posse de outrem, e permite que aí esteja durante um
período de tempo, sem afirmar a sua pretensão, a não ser que apareçam
razões suficientes para o seu silêncio, interpreta-se que terá abandonado por
inteiro toda a pretensão à mesma».[73]
Devido a estas convicções, e apesar de discordarem em concreto acerca de
que actividades, e em que casos, constituíam título, e normalmente adoptando
a interpretação que melhor lhes servisse, todos os envolvidos anuíam que a
actividade que constituía a posse
(1) tinha de ser desempenhada com a intenção de adquirir direitos, (2)não
podia encontrar oposição (a falta de oposição equivalia a consentimento), (3)
e tinha de ser levada a cabo por pessoas autorizadas a tomar posse em nome
do rei ou da comunidade, fosse por o terem contratado com a coroa ou por
serem seus vassa- los.[74]
Tratava-se de uma replicação de doutrinas originárias do direito romano que,
por esta altura, após sofrerem grande mutação, eram consideradas parte do
direito das nações, ou até do direito natural. Os interlocutores locais
afirmavam com isto que a primeira condição para a posse era o desejo de
apropriação. Seguindo este raciocínio, passavam a distinguir entre actividades
que desejavam expandir territórios (e que podiam, consequentemente,
constituir posse) e todas as outras, conduzidas para outros fins, como o
benefício económico ou os propósitos religiosos (e que não implicavam
direitos territoriais). Tinham de imaginar (ou construir juridicamente) o que
os rivais pretendiam fazer, através da observação do seu comportamento, da
escuta atenta do que diziam ou da recordação de encontros anteriores.
Contudo, porque acreditavam que «o trânsito em território estrangeiro sem
necessidade urgente… é sempre revelador de más intenções», nas Américas,
pelo menos, concluíam que toda a presença devia ser lida como tendente à
ocupação. Aos que pretendiam defender o oposto, acrescentavam, cabia o
ónus da prova: tinham de demonstrar que percorriam o território com outra
intenção em mente.[75] Mas essas alegações eram muitas vezes recebidas com
desconfiança, e espanhóis e portugueses insultavam-se mutuamente de serem
mentirosos.[76] Acusavam os que se diziam mercadores de serem, na
realidade, espiões ou exploradores. Quem explicasse estar no território por ter
discutido com a mulher, por ter desertado, por querer evitar processos
criminais ou por se ter perdido, era informado de que as suas intenções eram,
na verdade, diferentes. Os que apanhavam tartarugas ou grãos de cacau eram
censurados por violar direitos territoriais, por mais que implorassem estar
apenas a lutar pela sobrevivência. O mesmo acontecia com religiosos
suspeitos de esconder outras intenções que não encontrar refúgio ou
converter nativos, ou com comandantes militares a quem eram rejeitadas as
explicações de que perseguiam nativos violentos ou escravos em fuga.
Porque era muito difícil distinguir os «bons» dos «maus», os espanhóis
concluíam – e os portugueses teriam provavelmente concordado – que «era
necessário um grande volume» para descrever todos os «títulos e pretextos
ridículos» que os rivais usavam para disfarçar as suas actividades.[77]
Ainda que estas suspeitas pudessem ser ocasionalmente injustificadas, para
outras alturas abundam provas de tropas enviadas a acompanhar os jesuítas e
a serem secretamente informadas de que a sua verdadeira missão era a
tomada de posse da terra.[78] Os comandantes militares podiam instruir os
seus homens a fingir que se encontravam na zona para recolher frutos
quando, efectivamente, observavam o território e os seus habitantes. Em 1768
um comandante português apanhado na zona de Iguatemi garantiu aos
espanhóis que tinha sido enviado pelo governador de São Paulo para explorar
«os desertos dos seus campos» e «destruir» as «nações infiéis» que tinham
atacado os portugueses.[79] Pedia desculpa pela sua presença e assegurava que
não tinha qualquer intenção de os magoar ou ferir os seus direitos ou os de
Espanha. Os espanhóis responderam-lhe que as suas actividades contrariavam
as «leis da boa fé e da união recíproca», e devia deixar imediatamente a
região. A resposta espanhola foi certeira e afortunada. Mais tarde
descobriram que a expedição portuguesa fora informada, logo após deixar
São Paulo, de que tinha por missão estabelecer-se no rio Iguatemi.
As intenções originais dos que percorriam o território eram tão importantes
quanto as suas mudanças ao longo do tempo. Tomemos o exemplo das
actividades dos residentes de São Paulo (paulistas, muitas vezes também
chamados, correcta ou incorrectamente, bandeirantes) que, com os seus
aliados nativos, viajavam pelo interior americano no final do século xvi , no
século xvii e no século xviii . No século xviii os membros destas expedições eram
considerados por alguns portugueses como os verdadeiros conquistadores do
Brasil.[80] Apesar da imagem (que persiste até hoje), os registos históricos
sugerem que até ao século xviii os paulistas pouco se importariam com o
território.[81] De acordo com as fontes disponíveis, durante o século xvii o seu
principal interesse residia na captura de índios para escravizar e no
estabelecimento de rotas comerciais.[82] A primeira actividade era censurada
pelas autoridades espanholas e portuguesas por ser ilegal, não por violar
direitos territoriais. Só nos finais do século xvii e durante o século seguinte é
que os paulistas passaram a concentrar-se na descoberta e posse de minas.[83]
Foi durante esse período que alguns autores portugueses começaram a
declará-los heróis. Sugeriam que os ataques a missões espanholas, na
realidade inspirados pelo desejo de obtenção de escravos, eram também
motivados por zelo patriótico. Afinal, as missões jesuítas estariam instaladas
em território português.
A primeira condição para a posse era a penetração com intenção de
apropriação; a segunda condição era a posse assumida sem qualquer oposição
– de acordo com a doutrina jurídica, em circunstâncias normais as pessoas
protestavam contra acções que punham em risco os seus direitos. A ausência
de protesto – ou seja, o silêncio – era entendida como consentimento. Como o
acto mais insignificante, não-autorizado e ilegal podia ter significado
territorial e o silêncio podia ser interpretado como consentimento, as pessoas
que viviam em territórios disputados tinham de ser extremamente vigilantes.
Deviam certificar-se de que não ocorria penetração e que, quando ocorria, era
imediatamente desencadeada uma resposta em forma de protesto. Quem vivia
no interior americano estava muitíssimo consciente destas exigências.[84]
Leigos em direito, afirmavam que o seu principal dever era conservar o
território. Tinham de controlar o que os vizinhos faziam e reagir pronta e
violentamente. Contudo, a dificuldade prática em saber o que acontecia no
terreno (e com que intenção) era muitas vezes intransponível. A penetração
ou a fixação de rivais em certas áreas assombrava os contemporâneos, e
circulavam rumores sobre quem estava onde, a fazer o quê. As forças
enviadas para averiguar da veracidade das histórias muitas vezes não
logravam coligir informação suficiente.[85] Facilmente tomavam um rio por
outro ou procuravam o povoado acabado de estabelecer onde ele não existia.
Por vezes demoravam meses até descobrir o paradeiro dos opositores, e o
sucesso dependia da persistência ou da sorte. Os relatos enviados no regresso
dessas missões podiam referir que os rivais tinham já estado na região, mas
que, entretanto, a tinham abandonado ou avançado para outras paragens.[86]
No esforço por coligir informação, ambas as partes recorriam com frequência
ao interrogatório a religiosos e a mercadores que viajavam entre os sítios
onde espanhóis e portugueses se tinham estabelecido. Compilavam
declarações de povoadores, nativos, soldados, desertores, escravos e
criminosos, e estas opiniões eram consideradas importantes apesar de muitos
deles serem socialmente marginais, de lealdade questionável, e os
testemunhos estarem comprometidos por processos complexos de tradução e
mediação.[87] Os indivíduos que entregavam cartas de uma autoridade para
outra, que esperavam por uma resposta, ou que acompanhavam prisioneiros
ou desertores devolvidos à procedência, eram igualmente interrogados, e
eram envidados esforços para interceptar e ler o correio.[88] A informação
podia ser dada de modo voluntário, extraída pela força ou recompensada com
pagamento. A utilização de agentes secretos era suficientemente comum para
permitir ao governador da Colónia do Sacramento (Portugal) vangloriar-se na
década de 1770 de ter uma rede de informadores em Buenos Aires,
Montevideu, e «outras partes que pertencem à Espanha».[89] De acordo com a
sua versão, tinha até fontes confidenciais entre as pessoas mais próximas do
novo comandante espanhol da cidade. A compilação de notícias, no entanto,
não acontecia apenas nas Américas. Continuava para a Península Ibérica e
podia envolver informadores em Sevilha e em Madrid.[90]
Devido à circulação de boatos e à presença de rivais, muitas vezes deduzida a
partir de provas indirectas, como utensílios espanhóis ou portugueses
encontrados entre os nativos, havia sempre que aguardar por mais forças, pela
expulsão de mais povoadores, e pela demolição de mais fortes. O grau de
histeria era tal que, na década de 1770, temendo a espionagem, um
comandante espanhol não permitiu que um mensageiro português entrasse no
seu campo.[91] Embora os portugueses protestassem que o comportamento
contradizia as leis da urbanidade, nessa ocasião o espanhol tinha razão: a
entrega era realmente uma desculpa para enviar um observador. Contudo, os
portugueses concluíram que se os espanhóis reagiam desta forma era porque
tinham algo a esconder. Pouco depois o comandante português proibiu a
entrada de espanhóis no seu campo. Enquanto o governador do Paraguai
(Espanha) concluía que a mudança necessariamente queria dizer que os
portugueses estavam a planear «algo», o português explicou aos seus
superiores que queria manter em segredo o estado lastimoso das tropas,
compostas essencialmente por «negros e mulatos nus». Para desculpar o seu
comportamento, adiantou aos espanhóis que não lhes permitia a entrada por
temer distúrbios. Argumentava que pequenos incidentes podiam, por vezes,
atear um grande incêndio. Mas também havia conclusões baseadas no senso
comum. Por exemplo, os contemporâneos eram de opinião que se os
desertores fossem bem-recebidos no campo inimigo era porque eram espiões;
se regressassem ao povoado que tinham deixado, eram informadores e a sua
deserção um embuste.
Apesar de todos os esforços para coligir informação, vivia-se com a
impressão de que ela escasseava. Tanto os interlocutores espanhóis como os
portugueses queixavam-se de não ter «notícias verificáveis» e de os relatórios
recebidos serem muitas vezes contraditórios, deixando-os em «aflição» e
«confusos».[92] As grandes distâncias, a inacessibilidade e a insuficiente
familiaridade com o terreno, e as más comunicações seriam as culpadas.
Enfatizavam, por fim, que sendo as acções dos rivais «clandestinas», se
tornava impossível protestar contra elas de forma atempada.[93]
Para além da dificuldade em identificar o que a outra parte estava a fazer,
havia a complicação ainda maior de decidir se a actividade merecia protesto.
Era preciso averiguar se infringia os direitos de alguém. A resposta envolvia
critérios científicos e jurídicos e forçava os interlocutores locais – que na sua
maioria não eram políticos, diplomatas, especialistas ou juristas, mas,
simplesmente, soldados, comandantes, governadores, colonos, religiosos,
mercadores ou habitantes nativos – a entrar em debates longos e intrincados
em torno da pertença dos territórios. Quer protegessem os seus interesses ou
representassem uma autoridade, precisavam de esclarecer o que as leis
permitiam fazer. Tinham sobretudo de decidir com urgência o que podia ser
tolerado pelo silêncio e o que exigia protesto imediato.[94] Esta necessidade
obrigava virtualmente todos os que viviam no território porque, de acordo
com o pensamento da época, um «direito supremo» autorizava até indivíduos
particulares a defenderem-se, e ao seu rei, contra a agressão territorial.
Espanhóis e portugueses adoptavam assim a política do mais vale prevenir
que remediar, e protestavam com quanta frequência podiam, mesmo quando
não tinham a certeza da validade dos seus argumentos. Em 1731, por
exemplo, o presidente da audiencia de Quito (no Equador actual) informava
o Conselho das Índias que o governador do Pará (no Brasil actual)
transgredira os tratados de paz com a construção de um forte em território
castelhano. Só depois de protestar é que iniciou a investigação para esclarecer
por que razão, e de que maneira, o território era espanhol.[95]
A rejeição das incursões territoriais implicava, pois, a identificação do que
era seu. Em 1775 o capitão português de Rio Negro primeiro capturou
espanhóis, que acusou de se estabelecerem em território português, e só
depois conduziu um inquérito para «justificar e provar a posse e domínio que
Vossa Majestade tem» nessa área, de maneira a «autenticar» as pretensões
portuguesas.[96] No entanto, neste caso, em vez de confirmarem os direitos
portugueses, os dados compilados por testemunhas estabeleceram que, apesar
das pretensões baseadas numa descoberta, navegação e comércio com a
duração de um século, não era possível especificar que pessoa teria
percorrido aquelas partes antes de 1736. O inquérito afirmava também que os
espanhóis tinham uma presença na área desde pelo menos 1744 e que, por
disso, os portugueses apenas os poderiam ter precedido em oito anos. As
provas confirmavam ainda que os espanhóis tinham possuído esse território
até 1631, quando as suas missões foram destruídas pelos portugueses, e que
desde então tentavam regressar à zona.[97]
Será, portanto, justo concluir que, em vez de provar certezas, como a maioria
dos historiadores assumiu, a maior parte dos protestos obedecia a uma lógica
legalista que sugeria que, se não se objectasse, o silêncio seria interpretado
como consentimento. Sob este pretexto, a certeza expressa em registos
contemporâneos não era necessariamente reflexo de uma crença interior mas
o produto de uma exigência legal. Por essa razão não é de espantar que
embora em certas ocasiões os que enfrentavam tais desafios lamentassem a
ignorância, confessassem a confusão ou exigissem instruções aos monarcas
sobre a forma de procedimento, na maior parte dos casos justificavam de
imediato os seus direitos.[98] Na verdade, até protestavam contra a presença de
rivais em territórios que sabiam ser, e admitiam ser, (ainda) «duvidosos».[99]
As discussões acerca da posse não forçavam apenas os intervenientes a agir.
Encorajavam a produção de registos documentais para provar quem estava
onde e a fazer o quê. Muitas vezes da autoria de indivíduos que procuravam
privilégios ou recompensas em troca dos seus esforços na exploração,
conquista, domínio, conversão, povoamento ou utilização do território, o
registo e a salvaguarda destas provas eram também encorajados pelas coroas,
que desejavam utilizá-las para determinar direitos territoriais. O interesse
régio em provar que os seus súbditos exploravam, conquistavam, circulavam
e subjugavam coincidia assim com os interesses privados dos que
procuravam recompensa. Embora se apoiassem mutuamente e sejam muito
numerosos nos arquivos actuais, estes testemunhos revelavam afinal a
fragilidade da posse que queriam documentar. Muitos descreviam expedições
sucessivas, cada um celebrando o seu sucesso, mas mal produzindo
resultados tangíveis.[100] Mesmo assim, em certas ocasiões podiam tornar-se
instrumentos importantíssimos. O medo de que a produção de documentos
pudesse conduzir à aquisição territorial era claro na correspondência de 1770
entre os comandantes militares espanhol e português, depois de o português
se ter autoproclamado governador de Rio Grande de São Pedro em vez de
Viamonte (Viamão), como até então se chamara a si mesmo. O
correspondente espanhol respondeu com determinação ao desafio.[101]
Expressava dúvida sobre a inocência da mudança de nome, e sugeria que essa
alteração, no futuro, permitiria aos portugueses reivindicar a posse de São
Pedro (que não possuíam). Afinal, defendiam os espanhóis, para que a
expansão ocorresse não havia necessidade de tropas, nem sequer de
povoadores; seria suficiente fazer o que os portugueses faziam, ou seja,
escrever um do- cumento fingindo estar onde não se estava. Por isso, e tanto
quanto o comandante espanhol sabia, o que estava em causa não era uma
mera discussão sobre um título honorífico. O que o comandante português
estava a fazer quando assinava cartas e ordens como se estivesse em São
Pedro era a tomar posse da terra.
Se, por um lado, o entendimento contemporâneo da lei encorajava os actores
a protestar mesmo quando não tinham a certeza dos seus direitos ou quando
as violações aconteciam no papel, mas não no terreno, por outro, empurrava-
os para competirem pela chegada a qualquer território em primeiro lugar. No
século xviii isto era claramente reconhecido, com os espanhóis e os
portugueses a defender que, a não ser que agissem com rapidez, os que
estavam do outro lado os precederiam e adquiririam direitos.[102] Referiam-se
à necessidade de «obrar de facto» e sugeriam que esta política, bem como a
defesa do território de cada um, fazia parte de um «direito natural», que
vinculava ambos os intervenientes.[103] Disto resultava a emergência de um
padrão repetitivo. Sempre que os reis, os seus oficiais ou os actores locais o
consideravam lucrativo, exploravam-se, penetravam-se, usavam-se, ou
povoavam-se novas áreas. Como, de acordo com o entendimento
contemporâneo, estas acções implicavam a afirmação de direitos, os rivais
podiam responder de uma de duas formas: concordar com a expansão,
permanecendo em silêncio, ou opor-se-lhe, protestando. As partes poderiam
entrar então em «negociações», que conduziam quer a «convenções», em que
a potência em expansão extraía dos seus opositores uma «confissão» de que
as actividades eram justificadas, quer a mais protestos.[104]
Lidos em conjunto, os testemunhos da época sugerem, portanto, que, em vez
de haver povoadores não-autorizados a penetrar em territórios pertencentes a
Espanha ou a Portugal, como os historiadores defenderam no passado, o que
geralmente acontecia no interior americano era a incursão gradual de
europeus em áreas de atribuição incerta, talvez ainda não discutida, e muito
menos decidida. Ou seja, não havia territórios espanhóis e portugueses
«perdidos» em que os rivais entravam. Em vez disso, as áreas até aí ignoradas
– porque consideradas demasiado remotas, economicamente inúteis ou hostis
– gradualmente tornavam-se num destino válido para espanhóis e portugueses
mais ou menos na mesma altura. A ocupação por uma potência chamava
normalmente a atenção da outra, o que muitas vezes tornava a posse
simultânea ou, pelo menos, sem uma genealogia clara de quem chegou em
primeiro lugar. Não é então de surpreender que tanto espanhóis como
portugueses considerassem a paz, e não a guerra, a altura mais importante
para a aquisição territorial. A guerra forçava os comandantes militares a
defender o território, mas na paz eram mandatados para conservar e aumentar
a sua jurisdição («sempre no tempo de paz a sua conservação e aumento de
terreno e no da guerra a defesa»).[105]
Como os direitos dependiam da posse, que dependia da actividade, o
território resultante era muitas vezes descontínuo. Não consistia numa linha
ou numa frente ou mesmo numa área amorfa. Era constituído por campos,
quintas, bosques, povoações e as zonas limítrofes, assumindo assim a forma
de um arquipélago, com «ilhas» de ocupação rodeadas por um «mar» de
«terra não-ocupada».[106] O que acontecia ao território entre eles (o mar) era
uma questão; como os contemporâneos definiam as ilhas de ocupação era
outra. A natureza nuclear do território que os europeus possuíam veio à luz
do dia, por exemplo, durante a discussão acerca da Colónia do Sacramento. A
Colónia foi construída, destruída, reconstruída, retomada e devolvida em
várias ocasiões durante os séculos xvii e xviii . Se nas duas cortes da Europa se
lhe referiam como uma unidade sólida e evidente, nas Américas a precisão
dissipava-se. O que significava ceder ou incorporar a Colónia? A Colónia era
o território do seu forte? Incluía uma área limítrofe (um hinterland )? Como é
que esta área limítrofe seria definida? Cedê-lo a Portugal implicaria que o
território entre a Colónia e o povoado português mais próximo fosse também
português? Estas questões, que preocupavam os contemporâneos, requeriam
uma interpretação dos tratados assinados entre as duas potências, mas
também dependiam da doutrina jurídica, bem como de questões de posse: os
homens que estabeleceram a Colónia em 1681 tomaram posse apenas do seu
local ou também dos campos à volta? Em que consistia um local? Como
deveriam ser definidos os seus campos?
O significado da Colónia foi debatido desde 1701 (o tratado de aliança entre
Portugal, França e Espanha), e a Espanha reconheceu os direitos de Portugal
a aí se estabelecer «como era no presente». De acordo com o governador de
Buenos Aires e o vice-rei do Peru, a expressão incluía o sítio construído, mas
não as áreas envolventes. Os portugueses, pelo contrário, argumentavam que
o tratado reconhecia as reivindicações portuguesas a todo o território a norte
do Rio da Prata, incluindo Montevideu e Maldonado (actualmente no
Uruguai) e as missões jesuítas do Paraguai.[107] Embora nenhum acordo
formal tivesse sido alcançado nessa fase (1701), na prática, a construção de
uma guarnição espanhola nas imediações forçou os portugueses a conformar-
se com a interpretação rival. O Tratado de Utreque (1715) também não
definiu o que a Colónia (que a Espanha tinha de ceder a Portugal) significava.
Enquanto os portugueses insistiam na velha leitura, os interlocutores
espanhóis admitiam a possibilidade de várias interpretações. Porém, mesmo
assim, defendiam a prevalência de uma leitura restritiva, que fazia equivaler a
Colónia ao seu forte. Afirmavam que o que devia ser devolvido a Portugal
era o território protegido pelos canhões do forte. Mas mesmo isto não era
suficientemente claro, porque medir a distância que os canhões cobriam
dependia do tipo de canhão, da sua posição, da quantidade de pólvora, do
ângulo a que seriam disparados, e assim por diante.[108] Considerando estas
questões importantes, os comandantes espanhóis pediram ao governador da
Colónia que permitisse aos seus especialistas que participassem nos disparos
que conduziriam à demarcação. O comandante (claro) recusou. Assim,
enquanto nos acordos bilaterais e na correspondência com autoridades locais
os monarcas espanhóis e portugueses insistiam que não havia necessidade de
definir o que a Colónia incluía, os locais lamentavam constantemente a sua
incapacidade para concordar.[109] A discórdia continuou para a década de
1740, com os monarcas a instruir os seus vassalos na preservação do status
quo e a delimitar o território de acordo com isso, e ambos a ignorar as
queixas locais de que, dadas as questões em causa, a tarefa era impossível.
Na prática, os espanhóis continuaram a bloquear a Colónia até à década de
1770, assegurando assim pela força a proeminência da sua interpretação, a
que não conseguiam chegar através da negociação.
Apesar de a guerra em larga escala ser rara no interior americano, o efeito
cumulativo de todos estes factores era a ocorrência diária de escaramuças
entre espanhóis e portugueses. Os diferendos eram desencadeados por
questões como quem enviava os cavalos a pastar onde, quem construía uma
cabana, e quem apanhava frutos. Eram agravados pela incapacidade de
verificação de boatos ou de acção eficaz contra pretensas agressões
territoriais. Os reis ordenavam aos vassalos que mantivessem relações
harmoniosas com os vizinhos, mas em simultâneo exigiam-lhes que
protegessem acerrimamente os direitos régios, «defendendo o terreno
teimosamente». A tensão era contínua. A vigilância era particularmente
importante em alturas de paz porque, «como a experiência demonstrara,
mesmo durante a paz e transgredindo os tratados, os portugueses tentaram
tomar posse da terra sem uma declaração prévia, enquanto oralmente e por
escrito asseguravam aos espanhóis as suas boas intenções».[110]
Nesta dinâmica, o conflito territorial hispano-português caracterizava-se
menos pela violência constante do que por uma interacção entediante de
acção e reacção, desafio e resposta. Indivíduos que não tinham
necessariamente a formação certa ou a vontade correcta viam-se forçados a
um envolvimento no que hoje identificaríamos como uma disputa política e
jurídica. Para viver no interior, colher fruta ou comerciar, converter nativos,
governar e proteger o território, precisavam de informação não apenas sobre
o que estava a acontecer no terreno, mas também, e principalmente, sobre o
que esses acontecimentos significavam. Em certas ocasiões estes indivíduos
confessavam que os direitos territoriais eram assuntos para gabinetes e que
não estavam autorizados a discuti-los. Mas na maioria das vezes continuavam
a debater e a defender os direitos do seu país. Estruturadas como diálogos,
estas conversas eram, não obstante, a múltiplas vozes, numa quase cacofonia
que englobava muitos intervenientes a falar de diferentes lugares, e
envolvendo diferentes sítios e diversos interesses. A confusão reinante era
expressa na comunicação oral, e foi reproduzida na troca de cartas entre
indivíduos e autoridades em locais como Mato Grosso, Santa Cruz de la
Sierra, Colónia do Sacramento, Buenos Aires, Belém do Pará, Quito,
Mainas, Quixos, Chiquitos, La Plata (actual Sucre, na Bolívia), São Paulo,
Rio de Janeiro, Assunção do Paraguai, Lima, Madrid e Lisboa. Embora as
palavras fossem as principais armas da batalha, o seu significado e a sua
importância dependiam não só do que era dito mas também de como era dito.
Cada gesto, cada acção e cada palavra contava. Como cada centímetro e cada
metro de terra.
Muitos interlocutores aprenderam ao ritmo das necessidades e atingiram um
grau de especialização bastante surpreendente. As cartas trocadas entre
comandantes militares espanhóis e portugueses no século xviii , por exemplo,
habitualmente distinguiam entre ocupação em tempos de guerra e posse em
tempos de paz. Faziam apelo às leis das nações, às prescrições e à presunção
legal que convertia o silêncio em consentimento.[111] Destrinçavam violações
contra o «direito natural» de outras que não o eram. Os leigos encarregues
destas questões agiam assim como juristas, mas participavam também no que
hoje identificaríamos como negociações diplomáticas. Por exemplo, os
comandantes militares espanhol e português do Rio Grande assinaram uma
convenção em 1763 sobre as relações bilaterais.[112] Autorizado pelos
superiores, o tratado «determinava e clarificava a extensão das suas
respectivas jurisdições nesta fronteira até que outra decisão fosse tomada
pelos monarcas». Para além das cláusulas habituais a prometer cumprimento,
paz e boas relações, o acordo incluía medidas para uma causa comum contra
ladrões e vagabundos e fixava os limites de cada nação[ sic ] numa quinta
denominada La Tratada. Também consentia, «sem criar um precedente», na
utilização do rio, considerado monopólio espanhol, pelos portugueses. Nos
anos que se seguiram à convenção, que prometiam observar
escrupulosamente, os comandantes declararam a fronteira definida como uma
divisão a sério, queixando-se sempre que era violada, apesar de discutirem
constantemente o que tinha ficado decidido e como devia ser interpretado.[113]
Todavia, ainda que inicialmente fosse uma solução temporária, a convenção
tornou-se performativa. Como autorizara a utilização do rio a ambos os
países, em 1770 os dois comandantes concordaram que a fronteira entre os
postos respectivos passava no meio do rio, que agora partilhavam.[114]
A participação de leigos nestas negociações jurídicas, políticas e diplomáticas
era necessária, mas perigosa. Não só podia modificar a atribuição de
territórios, como aconteceu no Rio Grande em 1763, como podia conduzir à
confusão. Em 1765 o comandante espanhol do Rio Pardo trocou várias cartas
com o congénere português que chefiava o posto no Rio Jacuy, nas quais
protestava contra a penetração clandestina portuguesa em territórios que eram
espanhóis de acordo com o «direito das nações».[115] O comandante espanhol
sugeria que as acções não deviam ter sido ordenadas pelo monarca português,
que desejava observar a paz com a Espanha, e pediu o recuo dos portugueses,
para evitar nuevos disturbios . O comandante português recusou porque,
como explicava, os seus povoadores, cuja presença fora detectada,
penetraram na região em tempo de guerra, ou seja, numa altura em que a
entrada em território inimigo era legítima. Até o seu rei o instruir de outra
forma, tinha de observar o status quo . Paradoxalmente o comandante
espanhol concluiu que a resposta incluía uma confissão de culpa, entre outras
razões porque clarificava que os direitos de Espanha ao território nunca
tinham sido disputados antes da guerra. Rejeitou a interpretação jurídica
portuguesa e sugeriu que se a guerra permitia a entrada de colonos
estrangeiros em novos territórios, a paz ordenava a sua retirada. O seu
objectivo, declarava, não era provocar confrontos, tão-só proteger os direitos
do seu rei. No entanto, durante a correspondência, o comandante espanhol
cometeu vários erros crassos, como admitir aos portugueses – que violavam a
posição oficial de Espanha – que a Espanha não tinha qualquer direito ao
território da Colónia do Sacramento. O comandante português agarrou
alegremente no erro, e agradeceu-lhe uma confissão que Madrid recusava
fazer. Alarmado, o comandante espanhol retratou-se: expressara uma opinião
pessoal acerca da situação pós-1715 (o Tratado de Utreque) e, fosse como
fosse, dizia, os seus comentários não tinham qualquer valor jurídico porque
faziam parte das conversações históricas que examinavam as origens do
conflito e o seu desenvolvimento, e não estabeleciam (nem negavam)
direitos. De modo algo semelhante, em 1775 o governador espanhol do
Paraguai pediu ao comandante do posto português de Iguatemi que
firmassem um acordo de relações pacíficas entre os habitantes de ambas as
províncias. Os portugueses anuíram, mas no rescaldo da conversa tornou-se
evidente que cada um dos lados fazia um entendimento diferente do acordo.
Para os portugueses, o do- cumento incluía um reconhecimento de que o rio
Iguatemi servia de linha divisória (raya) entre os dois domínios; para o
governador do Paraguai não afectava a extensão do território e apenas servia
para deter mais incursões portuguesas.[116] Se para os portugueses incluía uma
licença para usar «o seu lado do rio», para os espanhóis significava que os
portugueses não podiam estender-se para lá do local onde estavam
estabelecidos nem podiam penetrar nas áreas limítrofes (o hinterland ).
A primeira condição para a posse era a intenção de tomar o território e a
segunda condição a ausência de oposição. A terceira condição determinava
que só as acções protagonizadas por vassalos ou indivíduos comissariados
pela coroa produziam título. Devido a este requisito, o conflito pela terra
traduzia-se frequentemente num desacordo em relação ao estatuto de pertença
dos actores, que tinham de ser classificados como vassalos de uma ou de
outra potência para que os seus países obtivessem a posse.[117] Eram questões
presentes desde o século xvi quando emergiu o conflito entre os dois países.
No entanto, a união das coroas de Espanha e de Portugal (1580-1640) tornou-
as ainda mais espinhosas. Era preciso definir o que era a união e como
afectava a vassalagem e o território. De um ponto de vista jurídico, não era
evidente se o Tratado de Tordesilhas continuava operativo ou se ficava
implicitamente anulado durante a união.[118] O estatuto de Portugal também
passou a ser assunto discutível. Estava integrado em Castela, cessando uma
existência independente e uma demarcação territorial separada, ou estava
somente ligado à monarquia, conservando as suas estruturas e território? Para
responder era preciso esclarecer primeiro se, em 1580, Filipe II de Espanha
conquistara ou herdara Portugal. De acordo com a lei, a conquista resultava
em integração, a herança não. O tema era muito controverso.[119] Filipe
reivindicava Portugal por herança, mas impôs a sua visão legal (e moral)
através do poderio militar. A combinação de factores gerou um amplo debate.
Inicialmente Portugal recebeu autonomia e as suas instituições e leis foram
respeitadas (indicando por isso herança), e em 1579, 1581 e 1582 Filipe jurou
oficialmente fidelidade a esta interpretação. Não obstante, nos anos seguintes,
ele e os seus conselheiros insistiram várias vezes que o tratamento resultava
de «graça real» e não de dever real, sugerindo assim que o monarca podia ter
escolhido outra via( i. é. , a conquista). A complexidade era evidente para os
contemporâneos, que criticavam Filipe pela falta de coerência. Se herdara
Portugal, porque o conquistara? Se o conquistara, porque conservava os seus
direitos? E como é que se podia sustentar uma teoria de conquista quando
Portugal não se defendera militarmente?[120]
A resposta não era clara. Em 1619 as Cortes pediram ao rei que garantisse
que os territórios ultramarinos portugueses libertados da ocupação holandesa
fossem considerados portugueses.[121] Evitando um confronto directo, os
conselheiros do rei propuseram-lhe que respondesse que no momento não
tinha outra opção senão torná-los espanhóis porque dependiam do poderio
militar castelhano. Sem as forças espanholas, nem Espanha nem Portugal
seriam capazes de conservá-los. Os conselheiros régios recomendaram
igualmente que o monarca relembrasse as Cortes de que, mesmo que esses
territórios fossem governados por uma coroa diferente, não mudariam de
senhor porque, portugueses ou espanhóis, pertenceriam sempre ao mesmo
monarca. Apenas quando os holandeses cessassem a sua presença seria
possível discutir a quem as áreas, a partir daí, deveriam pertencer. No
rescaldo destas conversações, a questão do que aconteceria aos territórios
ultramarinos portugueses permaneceu por resolver. A partir daí, o estatuto
das zonas descobertas, conquistadas ou reconquistadas, ou possuídas e
repossuídas durante a união ensombrou as relações bilaterais. Particularmente
agudo nas Américas, onde a expansão territorial adquiriu dimensões
espectaculares durante a união, o imbróglio exigia que se decidisse se este
avanço era feito para a coroa de Portugal, para a coroa de Castela, ou em
nome de ambas.[122] A situação jurídica era pouco clara; as circunstâncias no
terreno eram ainda mais turvas. Enquanto a união durou, os súbditos
portugueses foram enviados para descobrir e possuir territórios na parte
alegadamente espanhola das Américas e vice-versa. Podiam agir em nome do
seu rei na sua capacidade de monarca de Espanha e podiam receber apoio das
autoridades em Espanha e em Portugal. Como se poderia saber quem deveria
beneficiar com as suas actividades?
Um exemplo ilustrativo da confusão legal e política causada foi uma
expedição que percorreu o interior da bacia do Amazonas na década de 1630.
A sua história começara umas décadas antes, quando o tribunal real (a
audiencia ) de Quito contratara os serviços de um espanhol para conquistar a
região. Este revelara-se incapaz de desempenhar a tarefa e o tribunal então
indicara um português, e de seguida ordenara ao governador do Maranhão e
Pará (Portugal) que tomasse conta da exploração.[123] Nada aconteceu até
1636, quando um grupo de soldados espanhóis acompanhado de aliados
nativos e de dois franciscanos espanhóis chegou a Belém, nos territórios
portugueses. Quando o governador local, que já recebera de Quito (Espanha)
a comissão para explorar a área, percebeu que tinham viajado do Pacífico
para o Atlântico, organizou uma força exploratória para percorrer a rota no
sentido inverso. Esta expedição, conduzida pelo português Pedro Teixeira e
composta por soldados portugueses, aliados nativos e religiosos espanhóis,
deixou o Pará pouco depois, e chegou a Quito em 1638, onde foi recebida
com grande alegria e celebração pública.[124]
A história tem pouca importância até à década de 1690, quando os
portugueses e os espanhóis se defrontaram no território entre os rios Napo e
Amazonas, cada um reclamando-o como seu. Enquanto os espanhóis
baseavam as suas pretensões numa sucessão de expedições espanholas e no
Tratado de Tordesilhas, os portugueses faziam referência a uma «descoberta
e posse» alegadamente realizada por Pedro Teixeira na década de 1630. O
debate sobre se em virtude da dita exploração os territórios portugueses se
estendiam até ao rio Napo atingiu o zénite no século xviii e envolveu actores
locais e interlocutores em ambas as cortes. Os portugueses, para sustentarem
as suas reivindicações, produziram cópias do que consideravam um acto
formal de tomada de posse e argumentaram que (1) cobria o território em
contenda e (2) fora tomado para a coroa de Portugal.[125] Acrescentaram
também que
Teixeira fora especificamente incumbido de descobrir e tomar posse do
território e que as autoridades espanholas de Quito e Lima estavam cientes
dos seus poderes e consentiram na sua actividade. De acordo com algumas
fontes portuguesas, Teixeira pedira explicitamente à audiencia que tomasse
posse da terra e recebera aprovação. A audiencia poderá ter pensado que
estava a licenciar uma descoberta para a Coroa de Castela – afinal, Teixeira
trazia consigo cartas para o vice-rei do Peru, e o território era espanhol de
acordo com Tordesilhas – mas não foi o que aconteceu. Mesmo que Teixeira
tomasse posse «para o rei Filipe» sem especificar se na sua capacidade de rei
de Espanha ou de Portugal, a sua acção deveria beneficiar Portugal porque
era português.[126] O tratado de paz de 1668 que reconhecia a independência
portuguesa determinava isso mesmo porque adjudicava a Portugal todos os
territórios que possuía antes da revolta de 1640. De forma a demonstrar que o
território até ao rio Napo era seu, os interlocutores portugueses também
identificaram o lugar onde a suposta cerimónia de tomada de posse ocorrera,
situando-a nas margens desse rio.
Os espanhóis do final do século xvii e do século xviii rejeitaram as pretensões.
[127]
Explicaram que ainda que Teixeira tivesse explorado a terra e tomado
posse dela – hipótese que excluíam – as suas acções beneficiavam
necessariamente a coroa de Castela. O facto de ser português era irrelevante
porque durante a união muitos portugueses trabalharam para Castela e vice-
versa. O território que Teixeira alegadamente descobrira estava na esfera de
expansão castelhana de acordo com as bulas papais e o Tratado de
Tordesilhas, e foi descoberto por religiosos que trabalhavam para Espanha. A
hipótese de que a audiencia de Quito permitira a Teixeira tomar posse para
a coroa de Portugal era absurda. Era impensável e, além do mais, ilegal, pois
nem o presidente da audiencia , nem o vice-rei podiam alienar propriedade
régia. A única forma de este território se tornar português era por concessão
régia, mas esta nunca fora dada nem era provável que tivesse sido, porque na
altura em que a notícia da descoberta chegou a Madrid (1641) Portugal já se
rebelara. Seja como for, mesmo que a posse tenha ocorrido e mesmo que as
suas implicações legais pudessem ser verificadas (que não podiam),
acontecera muito mais para leste do que o que os portugueses pretendiam; na
verdade muito mais perto do Pará do que de Quito, e restringia-se a um
pequeno território, não a toda a bacia do Amazonas, como os portugueses
defendiam. Os interlocutores espanhóis também notaram que se esta
expedição tinha alguma importância era porque confirmava direitos
espanhóis ao território. Afinal, a pessoa que primeiro realmente o descobrira
fora o padre Cristóbal Acuña, o franciscano que chegara a Belém e regressara
com Teixeira a Quito.
As reconstruções a posteriori do que acontecera na década de 1630
revelavam-se altamente problemáticas. Não era evidente se o acto formal de
posse apresentado pelos portugueses era autêntico. As suas cópias foram
descobertas quando foi conveniente, e descreviam uma das poucas ocasiões
em que um acto de posse formal fora seguido na América portuguesa. A
narrativa da expedição de Acuña – que em tudo o mais era extremamente
detalha- da – e o relatório apresentado por Filipe de Matos Cotrim, um
português que nela participara, não mencionavam tal acto. Contudo, mesmo
que a cerimónia tenha de facto ocorrido, no século xviii ninguém sabia, ou
tinha maneira de saber, onde tivera lugar. Mas seja no que for que cada um
deseje acreditar, no século xviii a discussão acerca do alcance da expedição de
Teixeira, de meados do século anterior, expunha a importância que algo
aparentemente pouco consequente podia adquirir mais tarde.[128]
As provas da transformação drástica são abundantes. Documentos da década
de 1630 revelam que a audiencia de Quito, em vez de distinguir os
espanhóis dos portugueses, celebrara a chegada de uma expedição que
provava que o Amazonas ligava o Atlântico ao Pacífico.[129] Ao contrário de
outros europeus, este governo colonial não considerava os portugueses uma
ameaça.[130] Exprimira uma única preocupação, o eventual estabelecimento
português na região. Considerava-o perigoso, não por causa da possível
transferência de território de Castela para Portugal, mas pelo hipotético
envolvimento dos portugueses no comércio de contrabando.[131] A
preocupação, todavia, não era suficientemente perturbadora para justificar a
expulsão dos portugueses que chegavam a Quito com a expedição. Muitos
deles ficaram permanentemente nessa jurisdição. O vice-rei do Peru, que
instruiu Teixeira a regressar imediatamente ao Pará por ser muito necessário
à luta contra os holandeses, estava mais preocupado com a segurança do
Atlântico do que com questões de posse.[132] Mas poderia sentir-se alarmado
com a descoberta de uma rota de ligação entre o Leste e o Oeste, por
suspeitar que permitiria o ataque dos portugueses às missões jesuítas para
escravizar os habitantes. O vice-rei talvez não gostasse também da presença
lusa num interior ainda dominado por nações indígenas e não convertidas,
por suspeitar da heterodoxia religiosa dos portugueses. Em 1640 o Conselho
das Índias estudou o caso e apresentou sérias reservas à nova rota.
Argumentava que facilitaria aos portugueses a venda e compra, em territórios
espanhóis, de índios escravizados, contrariando tanto a proibição legal contra
a escravatura nativa como o monopólio comercial espanhol nas Américas.[133]
O relatório de Acuña abordava questões semelhantes. Na sua qualidade de
irmão franciscano, que se juntara à expedição na esperança de descobrir
índios infiéis para converter, queixava-se de no caminho de regresso ao Pará
(1640) os soldados portugueses discutirem com os congéneres espanhóis
sobre se a expedição deveria passar através do rio Negro, onde se cria que
muitos índios podiam ser capturados para uma vida de servidão.[134] Acuña
estava interessado em afirmar não só que o interior do continente podia ser
explorado navegando pelos seus rios como, principalmente, que muitas
nações nativas, com muitos potenciais conversos, aí residiam.[135]
A documentação portuguesa sugeria o mesmo – na década de 1630 as
questões de posse estavam ausentes ou, quando muito, figuravam no fim de
uma lista de prioridades. A maior parte dos interlocutores portugueses
almejava descobrir uma rota que ligasse o Pacífico ao Atlântico e pacificar os
nativos que habitavam nas suas imediações.[136] Muitos mostravam-se
especialmente entusiasmados com as notícias da descoberta de minas de
ouro.[137] A documentação portuguesa revelava ainda que os cinco religiosos
espanhóis que acompanharam a expedição no regresso a Quito, e depois
novamente a Belém, se lhe juntaram a pedido dos portugueses. Longe de se
sentirem preocupados com a presença de espanhóis, os portugueses exigiam a
sua companhia. Sugeriram até que permanecessem em Belém e cuidassem do
bem-estar espiritual dos residentes. Como acontecera em Quito com os
portugueses, a sua chegada à cidade foi celebrada, e foi-lhes autorizada a
fundação de um convento e a formação de noviços.[138]
A reinterpretação que os arguentes do final do século xvii e do século xviii
fizeram do que acontecera na década de 1630 não fora, portanto, determinada
pelo que na verdade ocorrera durante a expedição, mas pelo que sucedera a
seguir: a separação de Espanha e Portugal. Na década de 1640 esta nova
leitura era já evidente na maneira como as autoridades espanholas
consideravam os acontecimentos. Em 1648 o vice-rei do Peru, inquieto com
uma possível adesão dos luso-americanos à rebelião portuguesa, inquiriu por
que razão os religiosos e os soldados espanhóis se tinham envolvido na
descoberta de uma rota sem permissão régia; porque é que os portugueses a
tinham repetido; e porque é que as autoridades de Quito tinham permitido aos
portugueses o regresso, utilizando essa rota.[139] Crítico das decisões de
Alonso Pérez de Salazar, na altura presidente da audiencia de Quito, o vice-
rei rejeitou a sua explicação de que os portugueses eram demasiado
numerosos para ficar detidos na cidade. O vice-rei admitia, contudo, que o
dano causado pela expedição fora imprevisível. O significado do que
acontecera mudara por completo devido à forma como «as coisas se tinham
desenvolvido», ou seja, por causa da sublevação em Portugal.
Outros documentos revelam que até ao final do século xvii a descoberta de
uma rota do Atlântico ao Pacífico era a justificação mais comum para a
realização da expedição. João Filipe Bettendorff, um jesuíta alemão
pertencente à província portuguesa da ordem, reitor do colégio em Belém e
superior das missões no Amazonas, insistiu neste ponto em 1698. Sublinhava
a extrema importância do assunto, porque o itinerário oferecia uma
alternativa mais segura à exportação de prata de Potosí (onde se localizavam
as principais minas de prata do Alto Peru) para Espanha.[140] No entanto, e
reflectindo uma mutação já a ocorrer, no final da sua análise, Bettendorf,
consciente de que a Espanha e Portugal discordavam em relação à extensão
das respectivas possessões no Amazonas, mencionava que Teixeira tomara
posse da terra para a coroa de Portugal.
A emergência de uma explicação territorial para a realização da expedição
poderia ter outras razões. Na década de 1690, por exemplo, o pretexto
territorial permitiu às autoridades do Pará defender que a sua jurisdição
municipal cobria todo o território até ao rio Napo, onde ainda existia uma
demarcação alegadamente colocada por Teixeira.[141] Em resposta a
necessidades locais – principalmente a presença de outros portugueses na
região e o desejo de os subjugar a essa cidade – afirmava-se assim o controlo
de Belém, mais do que a soberania de Portugal, sobre o território. Quaisquer
que fossem as causas da transformação, em meados do século xviii já só
restavam alguns indícios das velhas interpretações para o lançamento da
expedição. Por essa altura, os contemporâneos tinham assumido que se
tratara sempre, e apenas, de uma questão de expansão territorial.[142]
O desejo de evocar o passado para justificar o presente exigia um longo e
moroso esforço de reinterpretação. Para começar, era necessário construir
uma distinção clara entre espanhóis e portugueses, Espanha e Portugal.
Apenas isso esclareceria qual das potências beneficiara com o que
acontecera. Ainda que a distinção fosse evidente no século xviii , a sua
aplicação retroactiva, porém, era extremamente arriscada.[143] No século xviii a
independência portuguesa parecia natural e evidente; na década de 1630 não
o era. Apesar de reconstruções a posteriori , até 1640 ninguém sabia, e talvez
nem sequer suspeitasse, que Espanha e Portugal voltariam a separar-se. No
período precedente, as relações entre as duas entidades ibéricas e os seus
habitantes eram ainda motivo de controvérsia. Por toda a Península Ibérica
fazia-se um debate mais alargado sobre quem eram os espanhóis e no que
consistia Espanha, para esclarecer e construir as relações entre os seus
variados reinos. Explorava-se a capacidade, desejo ou possibilidade de
imaginar o todo peninsular como uma única entidade política ou, pelo
contrário, uma entidade fracturada, dividida em partes mais ou menos
independentes (reinos), cada um com constituição, regime, leis, habitantes e
direitos diferentes. A escolha de uma opção em detrimento da outra tinha
importantes ramificações legais que afectariam profundamente os actores
individuais. Se todos os naturais da Península Ibérica, por exemplo, fossem
membros de uma única comunidade, teriam direitos e obrigações idênticas; se
fossem membros de comunidades separadas, cada grupo teria um conjunto
diferente.[144]
No final do século xiv e no século xv , alarmada pelas perspectivas de unidade,
a maior parte das cortes ibéricas adoptou regras para a definição dos seus
naturais e a sua distinção de todos os outros ibéricos, e instituiu monopólios
locais para a detenção de cargos e benefícios eclesiásticos. A estas políticas
proteccionistas respondeu-se, no século xvi , talvez por influência das
promessas de expansão ultramarina ou pelos confrontos e guerras da
Reforma, com gestos políticos e legais significativos para a construção de
uma Espanha unificada. Iniciaram-se com uma série de decisões que
definiram juridicamente os indivíduos autorizados a emigrar para, e a
negociar com, o Novo Mundo. O monopólio colonial não restringiu o direito
aos castelhanos (como poderia ser esperado, por o Novo Mundo ser
considerado um território castelhano), e, em vez disso, permitiu a «todos os
naturais dos nossos reinos» o gozo desses privilégios. Mas uma vez adoptada
essa medida, a questão de quem era incluído nesta categoria começou logo a
ser discutida. Os naturais da coroa de Aragão insistiram na sua inclusão, de
forma a gozar dos benefícios associados à expansão marítima. De seguida, os
naturais do reino de Navarra, como os aragoneses, pediram que fossem
classificados como «naturais de Espanha».[145] Como consequência, os
aragoneses e os navarros (e, claro, todos os castelhanos) tornaram-se
legalmente «espanhóis», pelo menos em relação à emigração e ao comércio
com o Novo Mundo.
Todavia, os portugueses foram formalmente declarados estrangeiros (não-
espanhóis) na Recopilación de Indias que reproduzia uma decisão datada de
1596 e confirmada em 1614. A decisão foi contestada por vários portugueses
que, como os aragoneses e os navarros, insistiram que eram espanhóis.
Descreviam a Espanha como um corpo composto de vários reinos, e
defendiam que «porque Portugal fazia parte de Espanha e os portugueses
como naturais e verdadeiros espanhóis e como naturais e leais vassalos de sua
majestade, não deveriam no Peru e noutras partes da América Espanhola ser
considerados ou incluídos na condição de estrangeiros». Afinal, «não eram os
portugueses tão espanhóis como os de Navarra, Guipúzcoa, Biscaia, Aragão,
Valência e Catalunha? Embora os últimos sejam espanhóis, eles, como nós,
os portugueses, não são castelhanos. Será credível que sejam mais espanhóis
e vassalos mais leais de Vossa Majestade do que os portugueses?»[146]. Esta
narrativa apresentava Portugal como um participante inteiro e igual na
monarquia hispânica, e defendia que a Espanha, como comunidade, incluía
três partes iguais: Castela, Aragão e Portugal; habitando-as estavam os
«espanhóis castelhanos», os «espanhóis aragoneses», e os «espanhóis
portugueses».[147]
As alegações formais encontraram eco nas petições que mercadores de
origem portuguesa a viver na América espanhola avançaram, e em que
afirmavam que, porque eram portugueses, não deveriam ser incluídos entre
os «estrangeiros» cuja residência e cujo comércio estavam proibidos.[148] As
pretensões eram com frequência apoiadas pelas autoridades espanholas que,
particularmente depois de a união ter terminado, autorizavam essas
interpretações, determinando, por exemplo em 1683, que um português que
emigrara para Espanha antes de 1640 era «espanhol» e não estrangeiro.[149]
Mesmo em 1704, no meio de uma guerra com Portugal (a Guerra da
Sucessão espanhola), algumas autoridades espanholas ainda estavam
dispostas a seguir este entendimento e em classificar os portugueses que
tinham aportado às Índias Espanholas antes de 1641 como não-estrangeiros.
[150]
Ao contrário de portugueses chegados depois do fim da união, estes
portugueses pré-1641 eram totalmente espanhóis.
Muitas das alegações eram proferidas por intervenientes interessados em
legitimar a sua presença e o seu comércio na América espanhola, ou em
busca de outras recompensas. Contudo, encontraram sempre um sustentáculo
na literatura que defendia que Portugal fazia parte de Espanha. Em 1580 o
bispo de Coria, por exemplo, afirmava que os espanhóis e os portugueses
eram tão parecidos na cultura, na língua e no comércio que só a malícia os
poderia distinguir em nações separadas ou em grupos.[151] Em 1581 um jesuíta
espanhol notou que uma guerra entre Castela e Portugal acarretaria uma luta
de «cristãos contra cristãos, católicos contra católicos e espanhóis contra
espanhóis».[152] Em 1616, o português Pedro Barbosa de Luna sugeriu que
Portugal era mais espanhol que Aragão, e em 1628 Manuel Faria e Sousa
insistiu igualmente e ao mesmo tempo na antiguidade de Portugal e na sua
essência espanhola.[153] Para o português Gabriel Pereira de Castro, a escrever
em 1621, a união entre Castela e Aragão reestabelecia a «velha coroa
hispânica» (antiqua Corona Hispaniae) .[154] Em Aragão, Martín Carrillo
afirmava em 1620 que Filipe II fora o « primer rey y señor de toda España »
porque, pela primeira vez, a Espanha também incluía Portugal.[155] Os
vestígios de uma Espanha unida persistiram ao longo do tempo. Durante as
negociações de paz com Portugal na década de 1660 os espanhóis sugeriram
que o seu rei mantivesse a superioridade sobre o duque de Bragança porque,
sendo o primeiro imperador de Espanha, o duque tornar-se-ia rei de Portugal.
[156]
Os dois países continuariam a ser associados a outros níveis, com o
imperador espanhol a ter poderes para nomear indivíduos para cargos em
Portugal e seus domínios ultramarinos, e os naturais a gozar de certos
privilégios em ambas as jurisdições.
A construção fazia sentido, sugeriam os interlocutores, porque a própria
natureza sancionava a união entre Portugal e «os outros reinos da Espanha».
[157]
Afinal, Portugal não estava separado do resto da península por
montanhas, rios ou mares, e as tentativas de unificação do espaço peninsular
eram constantes. O fracasso em garantir a adesão de Portugal era um
acidente, não um resultado propositado. Em 1706 alguns portugueses ainda
consideravam o seu reino «um dos mais notáveis da Espanha», e em 1768
alguns espanhóis insistiam que Portugal era una propriedad que contra el
derecho de la sangre y posesión fora perdida em 1640.[158]
Os debates em torno da questão de quem eram os espanhóis («naturais de
Espanha») acolhiam discussões acerca das vantagens e desvantagens de
construir uma entidade política ibérica em que todos os reinos fossem
igualmente incluídos. Surgiram parti- cularmente em períodos de crises
políticas, económicas e sociais, e empurravam os que rejeitavam as
perspectivas de unificação contra os que as abraçavam por acreditarem que
ajudariam a levar avante os seus objectivos individuais e talvez o bem-estar
do seu reino.[159] Ambos os sectores existiam em Castela e Aragão, e eram até
evidentes em Portugal, onde os apoiantes da completa integração na Ibéria
competiam com rivais que, temendo-a, insistiam que era vital manter um
Portugal separado. As posições dependiam de imperativos económicos e de
ganhos pessoais e eram ainda condicionadas pelo que estava em causa, ou
seja, que privilégios ou deveres podiam ser adquiridos.[160]
Na década de 1640 o lugar que Portugal ocuparia tornou-se particularmente
discutido, depois de o duque de Bragança se declarar rei de um reino
independente. Os historiadores sugeriram durante muito tempo que era
natural que os portugueses apoiassem a independência do seu reino
colocando-se do lado do duque de Bragança e que os espanhóis lhe
resistissem mantendo a lealdade a Filipe. Não obstante, sabemos agora que as
coisas não se passaram exactamente assim. Em vez de depender de um
conceito do que era ou não «natural» ou de opor portugueses a espanhóis, a
resposta aos desenvolvimentos de 1640 foi fundamentalmente guiada pelas
percepções do que era justo e do que era possível.[161] Os contemporâneos
perguntavam-se que posição deveriam escolher; não compreendiam a crise
como «nacional» (como muitos historiadores fariam a partir daí).[162] Nas
décadas de 1640, 1650 e 1660 muitos portugueses emigraram para ou
permaneceram em Espanha e na América espanhola, uns por acreditarem que
a rebelião teria vida curta, outros motivados por lealdade pessoal para com
Filipe, e outros ainda preocupados com o acesso a um conjunto mais alargado
de cargos administrativos, religiosos e militares ou a uma rede mais ampla de
entrepostos comerciais. Posicionaram-se na prática contra a insurreição. Em
Ceuta, Tânger e Macau as guarnições locais expressaram dúvidas sobre se
deveriam juntar-se à sublevação ou negociar com Filipe.[163] Em Angola,
depois de as tropas portuguesas sobreviverem aos ataques holandeses (1641),
os comandantes ponderaram se deveriam aceitar a soberania holandesa,
permanecer leais a Filipe ou colocar-se do lado do duque de Bragança.
A resposta dos portugueses não foi, portanto, automática. Mas a de todos os
castelhanos também não. Corriam rumores de que Buenos Aires considerava
juntar-se à sublevação. Muitos dos seus mais ricos habitantes eram de
extracção portuguesa e o seu modo de vida dependia do sistema marítimo
português. Alguns até sugeriam que a Colónia de Sacramento teria sido
estabelecida pelos portugueses em 1679 e 1680 a pedido dos habitantes de
Buenos Aires à procura de contactos duradouros com o Brasil.[164] Na
Espanha peninsular alguns indivíduos acreditavam que os seus interesses
seriam mais bem servidos pela adesão à sublevação dos Bragança. O mais
famoso era o duque de Medina Sidónia. Em 1641 confessou que decidira
apoiar João, por crer que garantiria a continuação dos «laços que o uniam, e
aos seus vassalos», aos seus «parentes em Portugal». Como cunhado de João
(que se casara com a irmã do duque) e como proprietário de um latifúndio
que incluía a maior parte do Sul de Espanha, Medina Sidónia esperava que a
decisão lhe assegurasse o controlo das suas propriedades e o aliviasse de
impostos.[165] A fim de granjear o apoio dos locais, planeou distribuir
panfletos que enfatizavam as vantagens de se juntarem ao Bragança. O
marquês de Ayamonte, governador da costa da Andaluzia, que também
apoiava João, era suspeito de conspirar para criar uma «República da
Andaluzia» autónoma sob a protecção de Portugal. O duque de Bragança
encorajou- -os a todos, pois tentava recrutar apoiantes entre os espanhóis,
prometendo-lhes em troca diferentes mercês e sugerindo que se se lhe
juntassem se libertariam da tirania, tributos, impostos e outras imposições a
que estavam sujeitos e que «os transformavam em escravos, não em
vassalos».[166] As suas propostas tinham implícita uma visão de uma península
unida; desta vez seria em torno de Portugal, não de Espanha, e conduzida por
João, e não Filipe.
A decisão de apoiar a sublevação e um Portugal separado (e talvez
encabeçando uma entidade política pan-espanhola) ou permanecer leal a
Filipe (e a uma monarquia unificada liderada por Castela e Aragão) era por
isso extremamente complexa. Envolvia questões de lealdade pessoal para
com um monarca mas implicava igualmente correr riscos em relação à forma
como a crise seria resolvida. O medo da repressão terá desempenhado algum
papel.[167] O novo monarca português levou os que não o apoiaram a tribunal,
acusando-os de lesa majestade e rebelião e punindo-os com a expulsão das
ordens militares, o confisco de propriedade e até a morte.[168] E enquanto o
Bragança pressionava os súbditos, o mesmo fazia Filipe. Assim que a notícia
da sublevação chegou a Madrid, o valido, o conde-duque de Olivares,
chamou a nobreza e o clero portugueses residentes na corte para uma reunião.
[169]
Informou as oitenta pessoas presentes da detestable traición cometida
pelo duque de Bragança e pediu ajuda para garantir a sua supressão.
Apresentou o duque como um súbdito ingrato que se erguera contra um rei
«pio e justo» que continuamente o favorecera, e disse esperar que estes
portugueses ajudassem Filipe. Estava disposto a recompensar os que o
fizessem. Até 1668, quando foi assinado um tratado de paz definitivo entre
Espanha e Portugal, a promoção dos portugueses fiéis (ou seja, os que
apoiaram Filipe) continuou, tal como a existência em Madrid de um conselho
régio responsável pela gestão dos assuntos portugueses. A continuidade era,
em parte, uma jogada estratégica para mostrar que o rei espanhol estava
disposto a confiar e honrar os portugueses que lhe eram leais, encorajando
outros que hesitavam a fazer o mesmo.[170]
O intrincado conjunto de considerações que levaria certos indivíduos e
grupos a apoiar os Bragança ou os Habsburgo, uma Espanha unificada ou um
Portugal separado, era particularmente evidente nas Américas, onde o
governador do Rio de Janeiro consultou dignitários locais para saber como
deveria proceder. Os boatos indicavam que teria até contactado as
autoridades de Buenos Aires para as sondar sobre um possível apoio ao Rio
na eventualidade de esta cidade decidir não seguir a sublevação. O
governador terá reconsiderado continuamente a sua posição, oferecendo-se
até em certas ocasiões para se reunir à monarquia de Filipe em troca de
determinados benefícios.[171] Em São Paulo é possível que, em vez de
escolher entre os Bragança e os Habsburgo, os locais tenham desejado coroar
um príncipe seu.[172] Estes desenvolvimentos eram justificados por robustos
laços pessoais com Castela e Espanha – por essa altura, os americanos
portugueses e os americanos espanhóis estavam tão misturados internamente
que era difícil dividi-los em dois grupos distintos – mas havia também fortes
imperativos económicos que explicavam porque é que o Sul do Brasil, em
especial o Rio e São Paulo, quereriam ficar dentro da esfera comercial
espanhola.
A questão de aderir à sublevação portuguesa ou de permanecer leal a Filipe
podia ainda depender de especulações sobre qual dos dois monarcas seria,
por exemplo, mais favorável ao comércio de escravos índios. Na década de
1640 e de 1650, por acreditar que ainda havia apoio à união em algumas
partes da América portuguesa, Filipe enviou emissários a diferentes portos na
esperança de garantir a sua lealdade. Escreveu igualmente a pedir apoio a
dignitários locais e a prometer autorizar uma união ainda mais próxima, com
comunicações directas entre a Espanha e o Brasil. Filipe considerou
igualmente outros métodos, incluindo uma guerra de propaganda e a
organização de uma insurreição luso- -americana contra o duque de
Bragança. Estas ligações sugerem que de facto , embora talvez não de jure , o
Brasil continuou a formar parte da monarquia espanhola até à década de 1660
e talvez até à de 1680, quando a fundação da Colónia do Sacramento tornou
evidente que os interesses dos seus habitantes já não coincidiam com os de
Espanha.[173]
Em meados do século xvii , portanto, indivíduos e grupos tinham de escolher se
deviam favorecer Filipe e a construção gradual de uma única Espanha ou
seguir o Bragança e garantir, pelo menos durante algum tempo, um Portugal
independente. Porque os contemporâneos estavam conscientes de que esta
decisão não dependia das origens, da naturalidade ou mesmo de lealdades
anteriores, a tensão era particularmente elevada, colocando «tudo em
suspenso, entre a suspeição e a esperança».[174] Em vez de distinguir os
espanhóis dos portugueses e automaticamente assumir que os primeiros
apoiariam Filipe e os segundos João, os contemporâneos classificavam os
indivíduos como leais ou desleais, obedientes ou desobedientes. As distinções
eram particularmente claras em Espanha, onde em 1640 o Conselho das
Índias debatia se devia tomar medidas contra os naturais de Portugal que
vivessem em territórios espanhóis.[175] Sublinhando que não havia qualquer
razão para assumir que eram todos «cúmplices», o Conselho afirmava a
injustiça de tratá-los de outra maneira que não vassalos reais. Os seus
membros reiteravam que após muitos anos de união era praticamente
impossível distinguir os espanhóis dos portugueses.
Os esforços para identificar quem apoiava a sublevação (e merecia retaliação)
e quem não apoiava continuaram a partir daí.[176] Em certas ocasiões
produziam suspeições injustificadas e a perseguição de portugueses
possivelmente leais. No entanto, ao mesmo tempo que expressavam o medo
popular, e talvez o ódio, testemunhavam o grau de mistura que efectivamente
existia, com naturais de Portugal que residiam, comerciavam e em tudo o
mais viviam extremamente integrados nos enclaves espanhóis. Como dizia o
governador de Porto Rico em 1641, na sua jurisdição a maior parte dos
portugueses estava tão enraizada no território que podia ser considerada
naturalizada.[177] Em Lima, para o vice-rei era essencial distinguir os
portugueses cuja presença era preocupante de todos os outros que prestavam
serviços ao rei, estavam empregados nos tribunais locais, tinham nascido em
Castela, eram filhos de castelhanos ou estavam casados com castelhanos e
bem adaptados à vida local.[178] O vice-rei confessava que se tivesse agido de
forma diferente, expulsando todos os portugueses, o comércio no porto de
Lima (Callao) cessaria de imediato. «Ninguém odiava a nação portuguesa,
apenas a sua culpa», afirmava.[179] Outros sugeriam que na América
espanhola havia tantos españoles criollos de Portugal quanto espanhóis
aportuguesados em quem não se podia confiar.[180] Não é portanto de admirar
que a maioria das tentativas de identificação de portugueses se registasse em
Buenos Aires, um enclave com uma população portuguesa particularmente
numerosa, com fortes ligações ao Sul do Brasil, e cujos membros não só eram
extremamente prósperos como dominavam a câmara munici- pal.[181]
A lealdade dos indivíduos não podia ser aferida por referência à sua
naturalidade e era difícil certificar a honestidade da sua escolha. Nas décadas
de 1640 e 1650 a deserção de um lado para o outro era extremamente
comum. Oficiais acabados de nomear para navios a caminho de feitorias ou
fortificações portuguesas em África ou nobres portugueses dirigindo-se às
capitais europeias como emissários dos Bragança podiam acabar em Espanha
a protestar a sua lealdade a Filipe.[182] Raimundo, duque de Aveiro, era um
exemplo da radical «conversão». Chegou a desculpar-se por não participar
nas cortes de 1641 que juravam fidelidade à nova dinastia de Bragança
dizendo que se sentia indisposto. Acompanhado da mãe, irmã, e mulher, em
1660 fugiu para Madrid, declarando a partir daí lealdade a Filipe. A sua
mudança de opinião era aberta, mas outros, mesmo na ausência de provas
directas, eram suspeitos de esconder preferência pelo inimigo. O vice-rei do
Brasil, por exemplo, apoiou o duque de Bragança mas, como se sabia que
dois dos seus filhos e a mulher permaneciam leais a Filipe e porque se temia
que pudesse estar a jogar nos dois lados, caiu sob suspeita e foi enviado
acorrentado para Portugal.[183] Assim, não espanta que durante este período o
conde de Linhares (de origem portuguesa) insistisse na genuinidade do seu
apoio a Filipe porque «não se vendeu a ninguém por qualquer preço, e que
em vez disso vinha de toda a boa fé, despida de interesses».[184] Não obstante,
era óbvio que também ele podia ter tido esperança de que a rebelião fosse de
curta duração e que brevemente fosse reinstituído nos seus títulos e
propriedades, na altura arrestadas em Portugal.
A mudança de campo não era monopólio das elites. De acordo com alguns
testemunhos, em 1652 dois majores espanhóis ajudaram os portugueses a
planear o seu ataque a Badajoz, na fronteira espanhola.[185] Em 1655 o
sargento-mor do forte de Salvaterra (Portugal), que secretamente apoiava
Filipe, auxiliou os espanhóis. Em 1659, suspeitas semelhantes foram
levantadas contra outro capitão português que, destituído do cargo militar, se
mudou para Espanha com a família. Convencido de que fizera uma má
escolha, regressou a Portugal em 1663 e voltou a juntar-se ao exército. Os
municípios terão seguido um padrão semelhante. Em 1662, preocupados com
a sobrevivência e não com lealdades abstractas, e talvez favorecendo a união
devido à localização na fronteira, os habitantes de Monforte foram
classificados pela propaganda dos Bragança como traidores por terem dado
as boas-vindas às forças espanholas que invadiram a vila. No mesmo ano,
eventualmente pelas mesmas razões, os habitantes de Cabeço de Vide
declararam lealdade a Filipe na alegre recepção que fizeram ao exército
invasor. Em 1663, havia quem se queixasse de que Elvas, também na
fronteira, estava «cheia de traidores» que «mostravam má vontade» para com
João. Nesse ano, o concelho municipal de Évora, o capítulo da catedral, e a
Inquisição receberam de braços abertos as forças espanholas que os
ocuparam.[186] Alguns enclaves espanhóis terão mostrado semelhante
indecisão, com partes da Extremadura (na fronteira) a apoiar João e alguns
dos seus residentes a jurar-lhe fidelidade em troca de privilégios.[187]
Em resumo, as crises políticas das décadas de 1640, 1650 e 1660 forçaram
indivíduos, famílias, instituições e comunidades a fazer escolhas difíceis. Em
vez de seguir uma nação, apoiavam o príncipe a quem se sentiam
pessoalmente ligados, em quem acreditavam para melhor defender os seus
interesses, e que os conduziria a uma Espanha unificada ou a um Portugal
separado.[188] Era uma disputa civil, talvez política, e até económica, que não
confrontava dois reinos nem posicionava portugueses contra espanhóis. Em
vez disso, atravessava os dois países, e pelo caminho ia redefinindo o que
eram a Espanha e Portugal. É evidente, porém, que a seguir à separação foi
investido um enorme esforço, especialmente do lado português, na
legitimação destes acontecimentos. Adoptou-se uma narrativa que
transformava os espanhóis em estrangeiros vorazes e a união numa ocupação
ilegítima.[189] Se da perspectiva espanhola Portugal permanecia espanhol – na
verdade, em Madrid havia grande dificuldade em aceitar que deixara de ser
assim (a independência portuguesa seria apenas reconhecida em 1668, e
mesmo então com hesitação[190]) – do ponto de vista português Portugal era, e
sempre fora, diferente. Durante este período – da década de 1640 até ao início
do século xviii e para além dele – surgiu uma vasta literatura sob a forma de
panfletos, ensaios e livros, explicando por que razão a rebelião era justificada.
Estes materiais insistiam principalmente na existência separada de Portugal.
Respondiam à necessidade de legitimar internacionalmente (para usar um
anacronismo) D. João mas, mais importante, dirigiam-se ao público interno,
para quem estes desenvolvimentos – a rebelião e a independência – podiam
não ser necessariamente justificados ou sensatos.
Assim, enquanto os arguentes do século xviii podiam imaginar que a
descoberta de Teixeira fora feita para Espanha ou para Portugal, é bastante
possível que da perspectiva dos actores que operavam na década de 1630
tivesse sido feita para os dois em simultâneo. Contudo, o que teria sido
evidente enquanto a união durava já não podia ser mantido depois de ela se
ter desfeito. No século xviii a campanha para legitimar a independência de
Portugal obtivera tanto sucesso que já nem os espanhóis a questionavam. Por
essa altura, também eles, como os interlocutores portugueses, rejeitavam a
possibilidade de uma Espanha unida, assumindo automaticamente que na
década de 1630 ambos os reinos estavam claramente separados, tal como os
seus residentes, e cada um desenvolvia a sua agenda territorial.
A questão de quem era espanhol e de quem era português e por que país fora
tomada a posse, tantas vezes invocada durante a união e no seu rescaldo,
continuou a assombrar a imaginação contemporânea até ao princípio do
século xix . Era particularmente evidente no estatuto dos residentes de São
Paulo que percorriam o interior do continente em busca de escravos, minas e
comércio. Seriam portugueses? A extensa projecção geográfica das suas
actividades poderia beneficiar Portugal? No século xviii , os interlocutores
espanhóis responderam negativamente a estas questões.[191]
Explicaram que durante o século xvii e o início do século xviii São Paulo não
era verdadeiramente súbdita de Portugal. Fora estabelecida por criminosos
enviados da Europa para o Brasil e fora povoada por piratas holandeses,
judeus[ sic ], heréticos e outros delinquentes pertencentes a uma grande
variedade de nações, e muitos dos seus residentes eram também espanhóis.
[192]
As expedições que organizavam podiam ter tido capitães portugueses,
mas os seus membros não eram portugueses. Mais do que súbdita de uma
coroa ou habitada pelos vassalos de um só senhor, São Paulo era «uma
república independente». Mudava de lado conforme desejava e os residentes
reconheceram Filipe II de Espanha em 1583 como seu rei, em 1630 eram
governados por vários senhores e em 1641, quando Portugal se rebelou
contra Espanha, hesitaram entre permanecer leais a Filipe IV ou a prestar
juramento pela nova dinastia dos Bragança. Foi apenas em meados do século
xviii que São Paulo se tornou verdadeiramente portuguesa, e só depois desta
data as acções dos seus residentes puderam gerar direitos para Portugal.
Embora no século xviii os autores portugueses protestassem que o que os
paulistas tinham alcançado no século xvii e no início do xviii podia e devia
beneficiar a coroa de Portugal, é não obstante claro que as fontes
contemporâneas justificavam algumas das pretensões dos espanhóis.
Mencionavam, por exemplo, que a cidade estava teoricamente sujeita ao Rio
de Janeiro, mas admitiam que durante o século xvii era habitada por
indivíduos de lealdade incerta. Muitos de entre eles eram cristãos-novos, cuja
relação com a Holanda era mais forte do que os laços com Portugal. Estas
fontes também citavam queixas, como as verbalizadas em 1740 pelo
intendente de Cuiabá, segundo as quais os paulistas envolvidos em
contrabando bebiam à saúde do rei Filipe V de Espanha, que publicamente
apoiavam. O intendente concluía que os paulistas não eram de confiança
porque eram «castelhanos aportuguesados» ou uma mistura de elementos
portugueses, espanhóis e nativos.[193]
Algumas fontes portuguesas sugeriam que os locais eram rebeldes que
desobedeciam às ordens do rei. O argumento seria um meio de justificar a
incapacidade de sucessivos governadores para os controlar e impedir de
escravizar índios e atacar missões espanholas. Mas por mais instrumentais
que fossem as alegações, muitas continham factos que os historiadores têm
vindo a verificar.[194] Assim, e apesar de no século xx brasileiro a cidade de
São Paulo e os seus bandeirantes terem sido retratados como heróis nacionais
responsáveis pela expansão da pátria, muitos historiadores afirmam agora que
durante os séculos xvi e xvii São Paulo funcionou principalmente como um
enclave nativo, com uma limitada presença europeia.[195] Era habitada por
muitos espanhóis, e procurava nos territórios espanhóis, e não nos
portugueses, inspiração, auxílio e comércio. Os historiadores também
concluíram que a maioria dos bandeirantes estava envolvida não em
expedições de captura de escravos com vista à expansão territorial, mas em
actividades comerciais que seguiam rotas mais ou menos fixas que ligavam o
Atlântico com o Paraguai e o Peru. Os membros das expedições eram
portugueses, espanhóis e italianos, e a iniciativa era apoiada pelas autoridades
locais de ambos os lados. Durante a união das coroas e mesmo depois, São
Paulo floresceu devido à localização estratégica entre dois impérios ligados.
As elites locais do Paraguai, que procuravam desempenhar o mesmo papel e,
no processo, alargar a sua jurisdição na mesma direcção dos paulistas,
ressentiam o sucesso e queixavam-se dele. Mas os inimigos mais poderosos
que os paulistas tinham de enfrentar eram os jesuítas. Os membros da
companhia estenderam gradual- mente os seus esforços missionários às
regiões entre o Paraguai e São Paulo, e ao tentar estabelecer um território
independente de ambos entraram em conflito com os paulistas. Quando as
políticas espanholas que inicialmente encorajavam a comunicação entre o
Atlântico e o Pacífico mudaram e os reis espanhóis decidiram separar as
minas do Alto Peru do Paraguai e do Atlântico, os conflitos regionais
entraram numa escalada. A identificação dos bandeirantes como
«portugueses traficantes de escravos» interessados em aquisição territorial,
que muitos historiadores reproduziram automaticamente desde então, data
deste período. Apareceu primeiro em narrativas jesuítas na década de 1620,
que insistiam que os paulistas não eram mercadores leais que, seguindo a
vontade real, ligavam, através das suas actividades, o Atlântico ao interior
(como a maioria dos vassalos), mas súbditos desobedientes que punham em
perigo a soberania régia.[196] Os jesuítas retratavam os paulistas como
heréticos que se aliavam aos holandeses e aos judeus, os piores inimigos da
monarquia. São imagens que pretendiam angariar o apoio régio para as
missões jesuítas no Paraguai e permitir à ordem um maior controlo sobre a
população nativa. Minimizavam intencionalmente as tensões mais graves na
área, que confrontavam povoadores com religiosos e religiosos com a
jurisdição real. Do lado espanhol justificavam a crescente independência e
militarização das missões no Paraguai, e no lado português pressionavam
pela criação de uma diocese no Rio de Janeiro. Transformaram o que era um
conflito regional num diferendo «nacional», opondo espanhóis a portugueses
e envolvendo a demarcação dos respectivos territórios. No século xviii esta
nova interpretação tornou-se útil não só para os jesuítas como para os
paulistas e a coroa portuguesa. Os primeiros adoptaram-na para justificar a
negação a outros portugueses do direito a explorar e utilizar o interior do
continente. Desde a descoberta de minas, em 1694, argumentavam assim que
(1) eram portugueses e que (2) deviam receber um monopólio sobre as
regiões recém-descobertas. Insistiam na sua «portugalidade» de forma a
assegurar privilégios e a coroa portuguesa usava essa «portugalidade» para
reivindicar territórios à Espanha.
Conclusões
As tradições europeias exigiam assim que os arguentes espanhóis e
portugueses avaliassem o peso relativo e as possíveis interpretações das bulas
papais e dos tratados, mas também os remetiam para doutrinas romanas e
para a ocupação. Para resolver as dúvidas, o conhecimento científico e a
experiência acumulada eram insuficientes e a situação jurídica em si mesma
era altamente complexa e volátil. Nem as bulas nem os tratados nem a
ocupação lhes davam respostas definitivas. A incerteza desencadeava uma
competição por quem devia ocupar que zona, mas principalmente forçava os
intervenientes à vigilância pois era igualmente importante, talvez até mais
importante, certificarem-se de que os rivais não tentariam mudar o status
quo . Este requisito explica o envolvimento de indivíduos sem qualquer
formação em leis, nem necessariamente comissariados pelo rei, em longos
debates acerca de direitos terri- toriais. Explica também por que razão, nas
suas interacções, muitas vezes expressavam certezas que nem sempre
possuíam, e faziam alegações que nem sempre respaldavam. O seu
envolvimento diário com questões de extensão territorial, normalmente
usadas para justificar onde podiam colher fruta, estabelecer-se ou navegar,
resultavam numa cacofonia. Eram múltiplas vozes, umas mais autorizadas
que outras, umas mais conhecedoras que outras, umas mais motivadas que
outras. O debate e o questionamento constantes eram garantidos, bem como o
emprego ocasional da violência, em demonstrações de refutação e desacordo.
E porque apenas acções de vassalos podiam conduzir à aquisição de direitos,
estas dinâmicas também forçaram os contemporâneos a identificarse e a
identificar os seus rivais e a comunidade a que pertenciam. Mas saber quem
era espanhol e quem era português era uma questão extremamente
complicada, certamente durante a união das coroas (1580-1640) e ainda mais
depois.
A extensão territorial dos direitos de cada país e as reivindicações de cada
coroa constituíam, portanto, um assunto multifacetado e profundamente
intrincado para o qual não havia (nem há) respostas claras. A penetração dos
europeus no interior americano era mais do que um alargamento da jurisdição
da comunidade de súbditos ou a cobiça da propriedade alheia. Foi muito mais
caótica, arriscada e destituída de base jurídica firme (todas as alegações
estavam abertas à reinterpretação e todas as ideias e doutrinas podiam ser
defendidas ou rejeitadas) do que os contemporâneos (e os historiadores e
políticos que se seguiram) nos levaram a acreditar.
Capítulo 2: Europeus e índios: conversão,
submissão e direitos da terra
Saber quem era vassalo de que país (e, portanto, que actividades podiam
beneficiar quem) era uma necessidade que se impunha não apenas a
europeus, mas a toda a população indígena que vivia no interior americano.
Para os homens da época, a conversão religiosa implicava uma conversão
cívica e, nesse processo, os nativos iam sendo transformados em cristãos e
em vassalos da potência que os evangelizara. A conclusão era consensual e
evidente e raramente foi discutida ou justificada. Sugeria-se, como por
exemplo em 1652, que os índios que tinham colaborado com os holandeses
eram traidores porque tinham sido baptizados pelos portugueses e por isso
lhes deviam fidelidade.[197] Asseverava-se que a conversão era melhor que a
conquista militar porque a subjugação dos índios «pelas armas sempre
parecera impossível porque mudando de um sítio para o outro e entrando nas
montanhas mais densas, como fizeram quando os procurámos, todos os
esforços são frustrados, as despesas perdidas e muitas vidas expostas a
doenças. A única esperança é que admitam missionários e que estes, usando
da lisonja e de outros esforços, os possam seduzir. Foi assim que
conseguimos fixá-los a um lugar. A conquista por um missionário seria maior
do que por um exército numeroso, mas trata-se do trabalho de Deus, não dos
homens».[198]
Em 1659 aconteceu um excelente exemplo da forma como a conversão
religiosa e a conversão cívica operavam em conjunto, quando as tropas
portuguesas acompanhadas pelo jesuíta António Vieira se encontraram com
um grupo de índios hostis, que esperavam pacificar.[199] A cerimónia começou
com a entrada dos chefes nativos na canoa de Vieira. Apresentaram-lhe uma
imagem de Cristo, que lhes fora oferecida quatro anos antes por missionários
europeus. Mais tarde, nesse dia, celebrou-se missa no exterior de uma igreja,
num altar ricamente ornamentado, na presença, do lado direito, de grupos
indígenas cristianizados, vestidos e armados; do lado esquerdo, de chefes de
grupos ainda não pacificados nos «seus panos bárbaros e arcos e flechas»; e,
no meio, dos portugueses. Vieira falou com os nativos ainda não submetidos
e, recorrendo a intérpretes, informou-os das suas obrigações de responder
com coração limpo e sem segundas intenções («com limpo coração , sem
engano») às questões que iria colocar e de cumprir escrupulosamente o que
tinham prometido. À vez, cada chefe nativo foi interrogado sobre se pretendia
receber a verdadeira fé e ser um vassalo do rei de Portugal, como os
portugueses e os nativos das nações já cristianizadas e avassaladas . Para
explicar o significado disto, os índios convertidos e os portugueses
declararam juntos que a obrigação dos vassalos era obedecer ao rei. Tinham
também de se submeter às leis reais e viver em paz perpétua e inviolável com
todos os outros súbditos. Deviam ser amigos dos que eram fiéis ao rei e
inimigos dos que lhe resistiam. Em troca, gozavam livremente das suas
propriedades e beneficiavam de todos os privilégios que as leis lhes davam.
Cada chefe respondeu afirmativamente e aproximou-se do altar e, depondo
arco e flechas no chão, colocou as mãos nas de Vieira e jurou, «Eu, fulano,
principal de tal nação, em meu nome e todos os mais súbditos e descendentes,
prometo a Deus e a el rei de Portugal, à fé do nosso senhor Jesus Cristo, de
ser (como já sou) de hoje por diante, vassalo de sua majestade e de ter
perpétua paz com os portugueses, sendo amigo de todos os seus amigos e
inimigo de todos os seus inimigos e me obrigo assim a o guardar e cumprir
inteiramente para sempre».[200] O chefe beijou as mãos de Vieira e abraçou os
jesuítas, os portugueses e os índios convertidos presentes na cerimónia.
Seguiu-se um Te Deum , e enquanto os índios recém-aceites largavam arcos e
flechas, os portugueses e os aliados indígenas faziam o mesmo com as suas
armas. Toda a cerimónia foi acompanhado do som de trompetes, trompas e
tambores, e de «um grito contínuo de infinitas vozes» através do qual a
multidão exprimiu a sua alegria em «múltiplas línguas». Foi então elaborado
um documento jurídico que testemunhava tudo o que acontecera. Seguiu-se
uma troca de presentes, e música e dança. Por fim, construiu-se uma grande
cruz que foi adorada por cristãos e gentios. Toda a cerimónia demorou três
dias, e terá envolvido uns 50 chefes índios e os seus 40 000 seguidores.
A doutrina que relacionava a conversão religiosa e a conversão cívica,
amplamente partilhada por espanhóis e portugueses, seria igualmente
adoptada pelas ordens religiosas no interior americano. Permitia-lhes
defender que tinham «aumentado o tesouro real» com a conquista de
numerosas nações indígenas, a fundação de aldeias, e a transformação dos
nativos em seres políticos e cristãos.[201] A partir daí, os missionários
alegavam que os índios que tinham relações amigáveis com os portugueses
implicitamente mudavam de filiação política quando escolhiam residir numa
missão jesuíta patrocinada pela Espanha. Referindo-se, em certas ocasiões,
aos índios convertidos não só como vassalos mas como «espanhóis», os
religiosos insistiam que deveriam ser assim considerados porque a sua
fidelidade e amor ao rei e a sua obediência às ordens régias os tornavam
merecedores do tratamento.[202]
A vinculação da conversão religiosa à conversão cívica era tal que, por vezes,
os missionários defendiam o método como o único meio legítimo de criação
de vassalos índios. O português António Vieira era particularmente eloquente
neste ponto, explicando que o cativeiro e a imigração forçada não alteravam a
lealdade política dos vencidos; se os cativos espanhóis na Argélia
continuavam a pertencer à sua nação, o mesmo se passava com os índios
capturados pelos portugueses.[203] Na segunda metade do século xviii a
associação entre conversão e vassalagem deu origem a novas teorias que
afirmavam que os direitos de Espanha e de Portugal a certos territórios
sancionados por bulas papais ou pelo Tratado de Tordesilhas persistiam
apenas enquanto os índios fossem pagãos. Autorizavam os europeus a
subjugar nativos e seus territórios a
Deus e ao Estado, mas, depois da conversão, os direitos expiravam porque o
território e o povo estavam já domesticados, ou seja, europeizados.[204] A
teoria era veiculada pelos jesuítas espanhóis (e seus simpatizantes) nas
décadas de 1750 e de 1760 e foi desenvolvida para provar que Portugal não
tinha quaisquer direitos ao território a oriente do rio Uruguai. A questão de se
saber se esta terra era portuguesa de acordo com o Tratado de Tordesilhas ou
se o rei a cedera voluntariamente no Tratado de Madrid assinado em 1750 era
de pouca importância perante outra realidade: após a conversão e sua
consequente vassalagem a Espanha, os índios que viviam na região já não
estavam na zona de expansão legítima de Portugal. Outros interlocutores
corroboravam que depois da conversão feita por jesuítas espanhóis, os
portugueses não podiam conquistar ou possuir os índios.[205] Isto supunha que
os autores do século xviii imaginavam os nativos como uma terra de ninguém
(terra nulla) , e defendiam assim que antes da chegada dos europeus e da
subsequente sujeição pelo trabalho missionário, os nativos não pertenciam a
ninguém e qualquer europeu podia tomar posse deles como propriedade
«vaga». Todavia, depois de serem «tomados», ou seja, possuídos, tornavam-
se parte da comunidade política que os convertera e não podiam ser
incorporados por outros europeus. Fazendo equivaler a conversão a uma
forma de agricultura, o que espanhóis e portugueses afinal diziam era que a
conversão podia dar razão a reivindicações territoriais, de uma maneira
semelhante ao improvement inglês.[206]
Assim, a competição entre Espanha e Portugal pela primazia na conversão de
índios era garantida pelas teorias que ligavam esta à vassalagem. Os
missionários eram forçados a persuadir os nativos não só a mudar de crenças
religiosas como a escolher missionários espanhóis ou portugueses como
guias. De acordo com queixas espanholas, os portugueses prometiam
melhores condições, principalmente a presença contínua de missionários nas
aldeias indígenas, e assim conseguiram levar várias nações a submeter-se- -
lhes. Em resposta, em 1735 os jesuítas espanhóis insistiram que os
portugueses não estavam autorizados a desenvolver essas políticas. A
Espanha tinha direitos preferenciais sobre os índios por via das bulas, que a
encarregavam da evangelização. Além disso, como era sabido, embora os
portugueses fossem católicos, não estavam interessados na salvação de almas,
mas no domínio territorial e no lucro económico.[207] Em jeito de reacção, em
1751 o governador português do Mato Grosso queixou-se da ambição
monopolista espanhola à conversão dos nativos. Perguntava que lei divina ou
positiva, que direito ou bula papal, ditava que os índios que viviam naquelas
partes fossem propriedade da Espanha.[208] Admitia o sentido da pretensão se
os portugueses fossem heréticos. Como não eram, e dado que procuravam
converter os índios, porque não deveriam ser autorizados a fazê-lo? Se a
Espanha podia «conquistar índios para Deus», Portugal também podia, e se a
Espanha podia ganhar vassalos e territórios e estender os seus domínios com
o estabelecimento de missões, Portugal também.
Os religiosos, fundamentais para tornar os índios espanhóis ou portugueses,
eram igualmente importantes na transformação de terras nativas em território
europeu. Os jesuítas argumentavam que as suas actividades constituíam
posse, e insistiam que o território das missões era espanhol ou português não
apenas pelo que as bulas papais ou o Tratado de Tordesilhas mandatavam,
mas especialmente porque eles, religiosos, tomavam posse dele para os reis
de Espanha ou de Portugal.[209] Os franciscanos espanhóis também se
vangloriavam, de vez em quando, de que certos rios tinham sido descobertos
e possuídos pelos seus irmãos, e os carmelitas portugueses afirmavam que
tinham «conquistado» territórios para Portugal.[210] Os autores coevos
concordavam com a análise. Identificavam os jesuítas como
«conquistadores» e defendiam que estavam perfeitamente preparados para
submeter o território à Espanha.[211]
A contribuição dos jesuítas para a expansão dos territórios espanhóis era,
aliás, abertamente reconhecida. Em 1776 o marquês de Valdelirios informou
o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol que os homens da Companhia
de Jesus que trabalhavam para a Espanha estavam presentes no Paraguai
desde a década de 1630 e comportavam-se como se o território lhes
pertencesse, e que, por isso, a Espanha adquirira igualmente direitos sobre
ele.[212] Em 1751 o rei português também sugeriu que as actividades dos jesuí-
tas portugueses confirmavam conquistas e posses que já tinha ou estava em
processo de completar, porque as missões «aumentavam a cristandade dos
índios e conservavam os domínios do rei».[213]
Se os missionários e respectivas actividades eram uma razão e uma
justificação para reclamar vassalos e terra, a sua presença no interior
americano era muito importante também de outra forma. Os religiosos viviam
na área disputada e tinham contactos próximos com a população nativa e,
portanto, estavam na posição perfeita para fornecer informação sobre o
paradeiro de potenciais inimigos.[214] Enviavam relatórios aos superiores e
informavam as autoridades acerca das violações territoriais. Coloriam a
informação de acordo com as necessidades e desejos. Os jesuítas espanhóis
muitas vezes retratavam os portugueses como indivíduos motivados pela
ganância («codicia») , que agiam como piratas e se comportavam como maus
vizinhos. A sua actividade contrariava não apenas os direitos da Espanha mas
a lei papal e divina e, ainda por cima, mostravam-se católicos perversos. No
século xvii os portugueses atacaram missões jesuítas e puseram seriamente em
causa os esforços de conversão, por forçarem os religiosos a relocalizar as
suas aldeias e provocarem a fuga de muitos nativos que temiam a sujeição a
Portugal, a deslocação para o Pará (no Brasil) e a subsequente escravização.
Os jesuítas sabiam que os portugueses se justificavam com o argumento de
que a Ordem penetrara na sua jurisdição, e por isso insistiam que não era
verdade. Por um lado, diziam, os portugueses não se importavam com a terra
e a sua jurisdição; por outro, os direitos de Castela à região eram claros
porque se baseavam em bulas papais, no Tratado de Tordesilhas, na
descoberta e na posse. As reivindicações portuguesas a direitos devido à
passagem do tempo eram falsas; o território fora descoberto pela Espanha e
não havia prescrição quando a parte ofendida protestava, como a Espanha
fizera. Os jesuítas espanhóis afirmavam assim que embora não tivessem
interesse na propriedade da terra, o futuro das suas missões dependia da
pertença a Espanha porque a Espanha, ao contrário de Portugal, preocupava-
se com a salvação das almas indígenas.
Os jesuítas espanhóis, testemunhas especializadas que conheciam bem o
território e se preocupavam com quem o controlava, davam conselhos,
incluindo legais e políticos. A partir da década de 1670 participaram em
debates acerca da pertença de determinados territórios, e em 1680, depois de
a Colónia do Sacramento ser estabelecida pelos portugueses numa área que
os espanhóis consideravam sua, instruíram o Conselho das Índias (que tratava
dos assuntos americanos na corte) sobre a forma de resposta.[215] Opunham-se
ao tratado de 1681 que cedia a cidade (depois de conquistada por forças
espanholas) a Portugal e explicavam que a decisão era politicamente perigosa
porque encorajava as ambições territoriais portuguesas.[216] Escreveram
panfletos acerca dos direitos espanhóis ao território e elaboraram mapas da
região que se tornaram instrumentos úteis nas negociações entre as cortes.[217]
Se em certas ocasiões o envolvimento jesuíta pareceu fortuito, mesmo
acidental, noutras assumiu uma forma mais deliberada e contínua. O padre
Samuel Fritz, natural da Boémia, chegou à América espanhola em 1685 e
tornou-se superior das missões jesuítas da região da Amazónia em 1704,
continuando a residir no território até morrer, em 1725. Acreditava na relação
entre as reivindicações territoriais espanholas e a conversão e durante mais de
vinte anos informou constantemente as autoridades de Quito, Lima e Madrid
e os embaixadores espanhóis em Lisboa e Roma sobre questões territoriais.
[218]
Fritz reconhecia que não lhe competia defender ou decidir nada e insistia
que não estava interessado na terra, apenas na salvação das almas, mas
envolveu-se persistentemente na defesa dos direitos territoriais da Espanha.
Opinou acerca da interpretação correcta dos tratados e classificou certas
actividades portuguesas como violações. Foi autor de «notas» sobre a
demarcação entre os dois países, que analisavam linhas de longitude e pontos
por onde passavam, interpretavam o tratado provisional de 1681, e rejeitavam
as pretensões portuguesas a territórios possuídos ao arrepio de acordos ou
licenças formais. Criticava os portugueses por se envolverem na escravização
indígena e afirmava os direitos dos jesuítas aos territórios que tinham
conquistado. Nos frequentes relatórios aos superiores, Fritz descrevia o seu
sucesso no estabelecimento de missões, bem como a hostilidade dos
portugueses que, na sua opinião, estavam apenas interessados em capturar
escravos, desenvolver actividade comercial e recolher cacau.
O envolvimento de Fritz dependia de informação em primeira mão, que
adquiria explorando e vivendo no território, mas citava igualmente
historiadores, geógrafos e juristas. A sua contribuição para a defesa dos
direitos territoriais da Espanha tornou-se numa lenda entre os
contemporâneos. Havia quem o considerasse não apenas um missionário, mas
um cosmógrafo porque, para além de converter entusiasticamente os nativos,
registou e reconheceu o rio Amazonas, procurando a sua origem, medindo
distâncias, descrevendo os rios que nele desaguavam e as montanhas que o
bordejavam, acabando por elaborar um mapa da região, em 1706.[219] O mapa,
enviado para Madrid, foi extremamente útil nas negociações com Portugal
nas décadas de 1730 e 1740.
O envolvimento dos jesuítas espanhóis no conflito fronteiriço estendeu-se a
questões de estratégia. Nas décadas de 1730 e 1740 os religiosos expressaram
a sua opinião sobre a melhor forma de resolução do conflito luso-espanhol: o
envio de tropas ou a tentativa (de mais uma ronda) de negociações.
Advogaram em favor do estabelecimento de povoados no interior e no
armamento dos índios das missões.[220] É igualmente possível que em 1761
tenham sido fundamentais para convencer as autoridades espanholas a anular
o Tratado de Madrid. Os registos indicam que, além da alegação de que
tinham encorajado os «seus» índios a desobedecer à ordem para evacuar o
território que devia ser entregue a Portugal (regressarei a este episódio mais
adiante), compareceram diante das autoridades locais e metropolitanas a
insistir nas dificuldades práticas e na impossibilidade política de
implementação do tratado.[221] Acusavam os portugueses de querer conquistar
todo o continente e defendiam que a cobiça pelo território das missões era
apenas um prelúdio do que Portugal estava verdadeiramente a tentar fazer.
Os jesuítas da província espanhola da ordem seriam particularmente activos,
mas os jesuítas portugueses provavelmente desempenharam um papel
semelhante. A pedido do rei ou por moto próprio escreveram manuscritos que
defendiam os direitos de Portugal à Colónia do Sacramento e à bacia do
Amazonas. Lamentavam que os ministros régios fossem muitas vezes
ignorantes dos direitos de Portugal e instruíam-nos sobre eles, explicando
onde se situava a linha de Tordesilhas e assegurando-lhes que os jesuítas
espanhóis estavam enganados. Tal como os colegas a trabalhar para a
Espanha, os jesuítas portugueses sugeriam que o dever de ajudar
espiritualmente os nativos os forçava a imiscuir-se em assuntos «mais
próprios de soldados do que de padres».[222] Fritz, natural da Boémia, foi
particularmente activo entre os jesuítas espanhóis, mas Aloísio Conrado Pfeil,
seu contemporâneo, amigo e admirador, natural da Suíça, desempenhou papel
semelhante em Portugal.[223] Não só escreveu vários manifestos acerca dos
direitos deste país em relação a França e a Espanha, como elaborou mapas
que, enviados para Lisboa, tiveram especial influência durante as negociações
entre as cortes.
Os religiosos envolviam-se nos conflitos territoriais porque, tal como os
povoadores europeus, os nativos, os comandantes militares e os governadores
desejavam perseguir determinadas actividades sem sofrer concorrência ou
enfrentar desafios. Escreviam e recebiam missivas, correspondiam-se uns
com os outros e com as autoridades de ambos os lados e, de vez em quando,
arriscavam a liberdade ou a vida a defender a sua causa. As actividades de
Fritz podem servir mais uma vez de exemplo. Convalescente em Belém do
Pará (território português) em 1690, foi acusado de espiar para a Espanha e
de estabelecer missões em território português. Segundo Aloísio Conrado
Pfeil, que relatou o incidente ao superior jesuíta em Roma, assim que Fritz –
a quem chamava um santo homem, claramente em sinal de admiração –
chegou à cidade brasileira, começaram a circular boatos de que ocupara
ilegalmente território português.[224] Tomando medidas que, de acordo com
Pfeil, «nunca tinham sido vistas ou ouvidas antes e que contrariavam o direito
das nações, o direito consuetudinário, o direito português e os interesses
reais», o governador do Pará proibiu Fritz de deixar a cidade até o rei poder
ser consultado. Pfeil mostrou estranheza com a decisão do governador, e não
percebeu se este realmente considerava Fritz um explorador em nome da
Espanha ou se apenas expressava uma hostilidade geral contra os jesuítas.
Pfeil criticou Jódoco Peres, o superior da ordem em Belém, por se pôr do
lado do governador sem consultar os confrades. Deduzia que o superior
estaria assustado com a reacção do governador e que talvez acreditasse que,
se lhe obedecesse, defenderia a jurisdição do rei. Mas Pfeil concluía que
Peres agira contra os interesses da Ordem e dos seus vassalos, nomeadamente
os índios de Cambedas, que dependiam de Fritz. Acrescentava que todos os
jesuítas locais concordavam com a análise e acreditavam que Peres cometera
um erro de ofensa grave ao jesuíta geral em Roma e ao católico rei de
Espanha. Os esforços para mudar a decisão do governador, todavia,
fracassaram e Pfeil recomendou que Fritz escrevesse ao monarca português,
em quem confiava, para ordenar a sua libertação. Em síntese, Pfeil
expressava preocupação não só com a salvação das almas indígenas, mas
também com a reputação da Ordem. Temia que os espanhóis seguissem o
(mau) exemplo e prendessem jesuítas a trabalhar para Portugal que,
executando ordens régias, também estivessem comprometidos na expansão
das suas missões no interior americano. Não seria melhor, perguntava,
permitir aos jesuítas que trabalhassem em paz sem os envolver em questões
territoriais? A questão, insistia, não era «mera metafísica». Exigia uma
resposta clara e imediata.
Quando as notícias das provações de Fritz chegaram a Lisboa, o monarca
decretou a sua libertação. O que aconteceu a seguir permanece na sombra. De
acordo com o diário do jesuíta, o governador do Pará ordenou que fosse
devolvido à sua missão por tropas portuguesas. Estas iriam garantir o seu
salvo-conduto, mas na realidade serviriam para protestar contra a penetração
castelhana numa área que os portugueses consideravam sua, e para tomar
posse dela. Segundo narrativas portuguesas, Fritz proibiu os soldados de o
seguir. Queria evitar a presença portuguesa no que defendia ser solo
espanhol. De acordo com uma terceira versão, Fritz convenceu o comandante
das tropas de que as pretensões portuguesas não eram razoáveis. E, numa
quarta versão, respondeu às reivindicações portuguesas afirmando que nada
se ganhava em discutir com ele a ocupação castelhana ilegal porque, como
religioso a trabalhar para a Igreja, não era parte interveniente na discussão.
Seja o que for que tenha sucedido na viagem de regresso, existem abundantes
indicações de que Fritz tinha plena cons- ciência do que estava em causa ao
fazer uma ou outra afirmação. Temendo a intervenção portuguesa nas
missões (presentes e futuras), viajou para Quito para convencer as
autoridades de que o trabalho missionário, bem como os direitos da coroa de
Castela ao território, deveriam ser vigorosamente defendidos.[225] O
governador de Maynas, que encontrou no caminho, sugeriu-lhe que seria
melhor dirigir-se a Lima. Ele assim fez, e chegou à capital vice-real em Julho
de 1692, provocando um verdadeiro espectáculo. Alto e ruivo, vestido como
um peregrino e acompanhado de índios, foi cerimoniosamente despido e de
novo vestido pelo provincial jesuíta, apesar de protestar que queria
permanecer coberto com os andrajos. O conde de Moncloa, vice-rei do Peru,
confessou- -se grande admirador da sua obra, por significar «a libertação,
sozinho, de tantas pessoas da antiga tirania do diabo». Mesmo assim recusou
prestar verdadeira assistência a Fritz. De cada vez que o jesuíta mencionava
os portugueses e as suas políticas expansionistas, o vice-rei respondia que
também eles eram cristãos e católicos. Os portugueses, explicava, eram gente
belicosa e os índios a quem Fritz pregava não representavam nenhum dos
lucros financeiros que outras províncias, cuja defesa também era necessária,
ofereciam.[226] Fosse como fosse, prosseguia o vice-rei, as Américas eram
enormes e tinham espaço suficiente para ambas as coroas se expandirem
como desejassem. Desapontado, Fritz submeteu-lhe uma petição formal, em
que explicava que os jesuí- tas tinham conseguido conquistar o rio Amazonas
e que, apesar desse sucesso espectacular, enfrentavam agora os portugueses
no rio Negro. Necessitavam de ajuda em soldados e apoio financeiro. O
protector dos interesses régios (o fiscal ) concordou, mas na primavera de
1693 o vice-rei decidiu entregar a Fritz um pequeno e muito limitado apoio
financeiro e praticamente nenhuns homens.
Esta tornar-se-ia a resposta mais comum das autoridades espanholas aos
apelos jesuítas. Em 1711, a audiencia de Quito respondeu com tanta má
vontade a pedidos semelhantes que o provincial jesuíta concluiu que não
restavam esperanças de que viesse a apoiar a missão, financeira ou
militarmente.[227] Tudo o que estava disposta a fazer era ordenar ao
governador de Maynas e Quijos, a província espanhola mais próxima da área
em disputa, que defendesse o rio Napo com os seus índios, aprisionando, se
pudesse, quaisquer portugueses que percorressem o território. No entanto, o
governador, que em 1694 se envolvera na exploração e conquista, já não
estava interessado em subjugar índios nem em confrontar portugueses.[228] O
Conselho das Índias criticou-o em 1719 por não o fazer, mas na altura
percebia-se que o encargo era praticamente impossível. Muitos sabiam,
porém, que a inacção era tudo menos inocente. O ano em que o governador
foi enviado para deter os portugueses (1711) foi precisamente o momento em
que os magistrados da audiencia de Quito recusaram dar posse ao seu
primogénito e sucessor (Juan Bautista Sánchez de Orellana) do cargo de
ouvidor (oidor) , alegando faltar-lhe formação jurídica e idade.
O confronto entre Fritz e os portugueses agravou-se nos anos seguintes, em
parte devido ao crescente interesse português no território e em parte porque
esta área, anteriormente da responsabilidade dos jesuítas portugueses, em
1693 fora atribuída à Ordem dos Carmelitas Calçados. A partir de 1697 os
carmelitas portugueses, acompanhados por tropas, tentaram tomar posse do
território que lhes fora destinado. Entraram imediatamente em conflito com
os membros espanhóis da Ordem de Jesus, que defendiam que a área era
espanhola e jesuíta e não portuguesa e carmelita. Fritz, que mais uma vez
compreendia bem o que estava em jogo, pediu que os carmelitas e os seus
acompanhantes atrasassem a tomada de posse para poder trocar cartas com os
seus superiores acerca dos direitos respectivos de ambos os países. Por essa
altura, a familiaridade de Fritz com o jargão judicial e as fórmulas da época
era espantosa. Durante o encontro de 1697 anunciou formalmente ao
comandante português (através de um requerimiento ) quem era («padre
Samuel, jesuíta, missionário da coroa de Castela neste rio»), porque
protestava («porque vós, por ordem do governador do Pará, viestes a estas
províncias acompanhado de tropas entrando mais de 800 léguas do Pará ao
Peru, onde, desde 1688 até agora, eu trabalhei pacificamente como
missionário, para a coroa de Castela sem prejuízo para as conquistas
portuguesas, ou controvérsia, e agora vós vindes com frades carmelitas para
os introduzir aqui como missionários e desta forma expulsar-me desta
missão») e o que exigia («Exijo que não introduzam quaisquer inovações que
prejudiquem o meu trabalho até as duas coroas decidirem os seus respectivos
limites»).[229] Fritz pedia que o comandante português certificasse por escrito
que recebera a admoestação. O oficial, igualmente conhecedor da etiqueta
dos protestos e contraprotestos, respondeu-lhe que fora enviado pelo
governador para dar posse aos carmelitas das missões que lhes estavam
destinadas. Declarou igualmente que apesar de as cortes deverem decidir
sobre os limites de ambos os estados, uma antiga demarcação que fora
estabelecida durante a união das coroas (na expedição de Teixeira)
convencera-o de que o território era português.
Os carmelitas também se envolveram no debate.[230] Explicaram a Fritz a
frivolidade das suas alegações e que estas serviam para aumentar, e não
salvaguardar, territórios espanhóis. Disseram que a interpretação dos graus de
longitude e a direcção da demarcação estabelecida em bulas papais estava
errada e que os portugueses já tinham tomado posse desse território em 1639,
quando Teixeira colocara uma pedra de demarcação, dividindo as coroas. Os
carmelitas não estavam a tentar evangelizar para fora dos seus limites; mas
ele, Fritz, estava umas 300 léguas dentro do território português. Se os
portugueses tinham até aqui concordado com a sua presença, era
essencialmente porque não queriam privar os nativos de condução espiritual
(«pasto espiritual») . Mas agora que os carmelitas estavam instalados e com
vontade de levar a cabo a mesma tarefa, já não era necessária a ajuda jesuíta.
De qualquer forma, Fritz estava em território português com o conhecimento
e o consentimento portugueses; as suas actividades não podiam constituir
ocupação para a Espanha. Seria como se por viver no Pará reivindicasse
direitos a essa cidade. Assim, e enquanto o superior carmelita repreendia
Fritz, recordando-lhe que os missionários deviam converter pessoas, e não
pregar acerca de graus e demarcações, participava na discussão e avisava o
jesuíta de que seria preso se continuasse as suas actividades (ilegais).
Informou-o de que o superior jesuíta do Pará estava do lado dos carmelitas e
que até produzira uma carta nesse sentido, em que explicava a Fritz os seus
deveres como membro da Ordem de Jesus.
Os carmelitas portugueses também enviaram emissários a Quito para discutir
as alegações, e o seu representante aí, Wenceslao Braer, foi bem recebido e
escutado pela audiencia . No entanto, enquanto o superior carmelita pedia a
Fritz que reconhecesse que estava errado e abandonasse o território para que
os portugueses pudessem estabelecer nele missões, Fritz, no seu diário,
contava uma história completamente diferente acerca de uma pretensão
portuguesa falsa de que os índios tinham escolhido aliar-se a eles e converter-
se com eles, bem como acerca da agressão portuguesa que violentamente
forçara a sua evacuação.
Em 1702 Fritz voltou a encontrar-se com os carmelitas, os oficiais e os
soldados portugueses «para discutir os limites destas missões».[231] O
encontro terá terminado com um entendimento que permitia a paz nos anos
seguintes. Mas as hostilidades reiniciaram- -se em 1707, quando os
carmelitas se queixaram ao governador do Pará e ao rei português de que os
jesuítas espanhóis tinham mais uma vez invadido as suas missões. Os
carmelitas pediram ao monarca que construísse um forte porque apenas a
presença de soldados poderia deter o avanço espanhol (sob a forma de je-
suítas), mas o rei respondeu que os carmelitas deviam resolver estas
diferenças sozinhos porque, baseando-se no que os seus conselheiros
sugeriam, acreditava que o problema era gerado não por debates territoriais,
mas por rivalidades entre ordens. Precisamente por essa razão, os
funcionários régios portugueses mantinham também que teria sido muito
mais fácil chegar a um entendimento se os jesuítas portugueses, e não os
carmelitas, estivessem encarregues destas missões. Seguindo este raciocínio,
o Conselho Ultramarino concluía afirmando que embora as questões
territoriais fossem importantes, a salvação das almas indígenas ainda era mais
importante. Era preferível permitir aos jesuítas espanhóis que trabalhassem na
região a não ter aí quaisquer religiosos. Não obstante, enquanto ambas as
cortes sugeriam moderação, no coração da América do Sul os jesuítas
prendiam carmelitas, os carmelitas prendiam jesuítas e as missões eram
fortificadas, abandonadas e destruídas. As tropas espanholas e portuguesas
percorriam o território, trocando prisioneiros e saqueando igrejas.
Apesar de ser o mais conhecido devido à (frenética) actividade, Fritz não era
o único religioso envolvido nestas trocas. Em 1707 o jesuíta espanhol Juan
Bautista recebeu na sua missão tropas portuguesas acompanhadas de um
religioso carmelita.[232] O capitão disse que apenas procuravam fugitivos
escapados da missão carmelita, mas Juan Bautista respondeu insistindo nos
direitos espanhóis.
Os índios que procuravam, dizia, eram espanhóis, tal como o território. O
capitão discordou, argumentando que eram portugueses, tal como a terra. O
conflito escalou nos anos seguintes depois de o governador do Pará ter
ordenado a evacuação de todos os jesuítas (espanhóis) das missões
alegadamente fundadas em território português e a restituição dos seus
índios a Portugal.[233] Os jesuítas responderam informando o governador
acerca dos direitos da Espanha e escrevendo aos seus superiores e às
autoridades vice-reais de Quito. Em resposta, o presidente da audiencia
correspondeu-se com os portugueses, enquanto o Conselho das Índias,
também informado do que acontecera, instruiu o embaixador espanhol em
Lisboa a apresentar um protesto formal.[234]
Com o debate a continuar nas duas cortes, continuaram também as
negociações no interior americano. Os jesuítas enviaram missivas ao
governador português para protestar que as suas missões não se localizavam
onde ele as imaginara e garantindo-lhe que nunca tinham aceite índios que
fossem vassalos de Portugal.[235] Os jesuítas chegavam a oferecer tréguas:
embora o padre superior reconhecesse que não podia discutir os direitos de
Espanha, e ainda que tivesse a certeza de ter razão, estava disposto a deter a
penetração jesuíta na área até receber ordens de Madrid. Esperava que os
carmelitas portugueses fizessem o mesmo. A seu pedido, o governador
português do Pará enviou uma «pessoa capaz» à missão jesuíta onde residia o
superior para discutir os direitos de ambas as potências.[236] O indivíduo
seleccionado, Belchior Mendes e Morais, era um sargento-mor com
«capacidade, valor e prática». Chegou à missão espanhola em 1732 com
«documentos autênticos» que demonstravam os direitos de Portugal ao
território que se estendia do Pará para o rio Napo.
As suas instruções, explicava, eram «para ajustar os limites [entre as duas
coroas] pondo termo aos distúrbios que há já algum tempo põem em
confronto os vassalos das duas monarquias».[237] Se as suas pretensões fossem
aceites, iria imediatamente construir um forte nas margens do Napo,
marcando assim visualmente o território como português. Os jesuítas,
contudo, rejeitaram os planos. Numa carta ao governador português do Pará,
o superior concordava que seria preferível resolver de uma vez por todas os
assuntos, mas também dizia que «não havia aqui qualquer pessoa autorizada
para realizar esta investigação em relação à divisão e demarcação legítima
destas terras para a coroa de Castela».[238] Ele, padre superior, não podia
tomar parte nos debates porque não passava de um «pobre religioso» com
«capacidad corta » e não tinha poderes para falar por Castela. Não obstante,
pronunciou-se directamente sobre a questão territorial. Avisou o sargento-
mor português contra a construção do forte e começou a armar os índios das
missões.
Por esta altura, o presidente da audiencia de Quito voltou a entrar na
conversa.[239] Acusando os funcionários portugueses e os carmelitas de
«quererem inverter e confundir os limites já fixados para a jurisdição de
ambas as monarquias», troçava do governador do Pará por desejar tornar-se
num «legislador de domínios que o sábio julgamento da cadeira apostólica
determinou». O presidente da audiencia sublinhava a posição tomada pelos
jesuítas e invocava as bulas e a posse, defendia que a Espanha e os jesuítas
tinham direitos legítimos na região e pedia que o governador do Pará
controlasse os «seus» carmelitas. As cortes estavam interessadas em
preservar a paz e desejariam certamente uma aliança em vez de um
confronto. Numa segunda carta para o governador português, o presidente
também se opôs formalmente à construção de um forte nas margens do Napo.
Em 1737, quando o novo superior jesuíta soube de um possível ataque
português contra missões espanholas, dirigiu-se à pressa para a área
contestada e esperou a chegada dos portugueses, de armas na mão.[240] As
tropas que chegaram, todavia, alegaram que vinham apenas verificar os
rumores acerca da penetração de jesuí- tas em territórios portugueses. O
superior pediu que definissem o que queriam dizer com «territórios
portugueses». O sargento recusou-se a fazê-lo porque, explicou, não estava
autorizado a envolver-se em tais debates. O jesuíta interpretou a resposta
como uma desculpa. Disse que permitia aos portugueses modificar
constantemente o que reivindicavam como seu. E aproveitando a sua
presença na missão, protestou contra a ocupação de «territórios jesuítas»
pelos carmelitas (portugueses). Os territórios de Castela, defendia, eram
muito mais amplos do que os portugueses, alegavam: iam até Belém. O
governador do Pará respondeu com sarcasmo. Não lhe competia disputar o
estatuto e o significado das bulas papais com base nas quais os jesuítas
argumentavam, mas observava que nos últimos 240 anos os espanhóis nunca
tinham baseado as suas pretensões nas bulas.[241] Porque estariam os jesuítas a
seguir por essa via, agora? Troçando das alegações, o governador português
também perguntava se os ministros e os embaixadores espanhóis sabiam
destas bulas; como é que o papa, que nem sequer podia apropriar-se, em
nome da família, de uma porção de Itália, podia dar tão livremente metade do
mundo à Espanha? A incapacidade das coroas para chegar a um compromisso
nas conversações de Badajoz e Elvas nas décadas de 1520 e 1680, e em
encontros e conquistas subsequentes, demonstrava que as bulas tinham sido
de facto e de jure desprezadas. Os jesuítas não deviam queixar-se dos
portugueses porque, se não fossem estes, a região não teria sido evangelizada,
pois cairia sob a soberania holandesa (herética).
O governador português concluía defendendo que o que ele e os seus
predecessores tinham sugerido como divisão era uma solução moderada, ou
melhor, um compromisso. Os portugueses podiam reclamar um território
muito maior, mas abstiveram-se de o fazer porque queriam manter relações
pacíficas com os espanhóis. Sugeria igualmente que o problema não era a
forma como portugueses e espanhóis se comportavam, mas as ambições dos
jesuítas. O que estava em causa eram actividades missionárias, não direitos
territoriais, e por isso oferecia outra solução: dispunha-se a permitir a
presença de jesuítas «até ao Pará» se não fosse utilizada para fazer
reivindicações territoriais.
Por fim, as teorias que ligavam a conversão à subjugação e as missões à
posse não só intensificavam a corrida para conquistar os nativos como
levantavam constantemente a questão de qual seria a causa mais elevada: a
salvação das almas ou o domínio territorial. Como sugeria o vice-rei do Peru
a Fritz em 1692, afirmava o Conselho Ultramarino português em 1709 e
defendia o governador do Pará em 1737, em termos abstractos o que mais
interessava era apoiar o processo de evangelização, independentemente de
quem o executasse. Contudo, na prática, as implicações políticas do
estabelecimento de missões eram demasiado importantes para serem
ignoradas, e justificavam um crescente embate entre os funcionários régios e
os missionários, que muitas vezes eram considerados piores inimigos do que
potências europeias rivais. Os jesuítas espanhóis eram particularmente bem-
sucedidos na penetração no interior americano e em consequência os
portugueses eram especialmente eloquentes em apresentá-los como os seus
verdadeiros adversários.[242] Na década de 1680 o marquês de Fronteira,
membro do Conselho de Estado português, afirmava, por exemplo, que eram
os jesuítas, e não os espanhóis, que estavam a intrometer-se em território
luso, e apresentava a disputa não como religiosa – que ordem a mando de que
potência deveria converter os nativos –, mas como política, por se tratar de
uma luta pela terra. Acrescentava que no século xvii os jesuítas italianos
tinham ocupado violentamente territórios portugueses sem título ou
permissão, para descontentamento de ambas as coroas.[243]
Para os portugueses, a classificação dos jesuítas como agentes do estado
espanhol justificava acções militares contra eles. Permitia afirmar que os
paulistas, que percorriam o interior em busca de escravos, comércio e minas,
e que atacavam e destruíam missões jesuítas, eram na realidade patriotas
movidos pelo desejo de defender território português contra a agressão
espanhola (sob a forma da Ordem de Jesus).[244] E se a presença jesuíta era
interpretada como uma incursão territorial de uma potência estrangeira, os
portugueses argumentavam que os compatriotas que ajudassem estes
religiosos incorreriam na acusação de crime de lesa-majestade.[245] O
confronto, útil para os portugueses, também ajudava os jesuítas a defender
com êxito a militarização das suas missões. Em consequência, desde a década
de 1630 que os jesuítas organizavam, treinavam, abasteciam e comandavam
tropas nativas. Estas forças foram inicialmente incumbidas de defender as
aldeias dos ataques portugueses, mas, em meados do século xvii , participaram
em compromissos militares noutras zonas, como no Paraguai, Santa Cruz de
la Sierra (actual Bolívia), Colónia do Sacramento e Montevideu (actual
Uruguai).[246] Também exploravam o interior, patrulhavam o campo e
prendiam criminosos.[247]
O envolvimento dos missionários na conversão dos nativos, por um lado
criando a sua vassalagem e por outro assegurando direitos territoriais, gerou
controvérsia. Os missionários eram leais ao estado e queriam defender os
seus direitos territoriais ou estavam apenas interessados na conversão?[248]
Doutrinavam os índios a amar o seu monarca? Estes debates inseriam-se num
questionamento mais generalizado, particularmente evidente no caso da
Companhia de Jesus. Comuns na Europa e nas Américas antes da expulsão
(1759 e 1767) e do desmantelamento (1773) da Ordem, os jesuítas eram
ciclicamente acusados, desde o início do século xvii , de querer formar uma
república própria. Dizia-se que subjugavam os «seus» índios não ao rei, mas
à Ordem, porque em vez de treiná-los para resistir aos inimigos, habituavam-
nos a opor-se às exigências régias. Seriam eles, e não o monarca, os
verdadeiros senhores da terra.[249] As acusações tornaram-se tão frequentes
que na segunda metade do século xvii o representante jesuíta, o procurador ,
em Madrid, queixava-se da impossibilidade de responder a todas.[250]
Motivadas pelo conflito com outras ordens (sobre a forma e a qualidade da
conversão dos nativos) e alimentadas por preocupações relacionadas com o
controlo do trabalho e da tributação indígenas (pretendidos pelos colonos), as
argumentações cruzadas opunham os jesuítas a outros religiosos, aos poderes
eclesiásticos locais, às autoridades seculares locais e reais, e, finalmente à
sociedade em geral. Assim, no interior da América, não só os portugueses se
opunham aos espanhóis, não só cada um deles enfrentava os índios, como
ambos lidavam com pressões sociais, políticas, económicas e religiosas que
favoreciam ou censuravam as diferentes ordens, alternadamente apresentadas
como os melhores aliados ou os piores inimigos.
Os acontecimentos que se seguiram ao Tratado de Madrid (1750)
demonstraram especialmente bem como estas tensões podiam coincidir e
sobrepor-se, agravando-se mutuamente. A execução do tratado requeria a
evacuação de sete missões jesuítas espanholas de um território agora
reconhecido como português. Muitos índios – talvez apoiados pelos jesuítas,
talvez não (o debate continuou[251]) – recusaram-se a abandonar os seus
povoados, e defenderam-nos contra uma força militar mista espanhola e
portuguesa. Os que criticavam os jesuítas estavam convencidos do seu «longo
braço» por trás dos protestos e posterior resistência armada indígena à
evacuação das missões; os que os apoiavam (e os próprios jesuítas)
contrapunham o absurdo das acusações. Nas décadas que se seguiram, a
resistência índia, cujos ecos atingiram a Europa, tornou este debate simbólico
do perigo de permitir que os missionários representassem o estado no
interior, perante as populações nativas e as potências estrangeiras. Os jesuí-
tas terão encorajado os seus índios a desobedecer a ordens reais? Ter-se-lhes-
ão juntado na resistência à expulsão?
O envolvimento da Companhia no Tratado de Madrid é bem conhecido e
começou muito antes de este ter sido adoptado. Desde o final da década de
1740 que os jesuítas enviavam missivas ao rei espanhol e ao seu confessor,
pedindo-lhe que não assinasse o tratado e, depois, criticando-o por ignorar o
pedido. Apelavam à sua consciência, defendendo que os índios convertidos
regressariam aos modos pagãos se as missões fossem desmanteladas ou
entregues aos portugueses.[252] Acrescentavam que o monarca não podia
abandonar unilateralmente índios que eram seus vassalos. De acordo com os
adversários, os jesuítas não só alegavam que o tratado era prejudicial como
sugeriam que o rei fora levado, enganado, pelos portugueses a assiná-lo, e
que não tinha um verdadeiro domínio sobre as Américas nem direito a ceder
o território, que era indígena e não régio.[253]
Desencadeou-se uma grande discussão acerca da legalidade e da sensatez do
tratado, no Paraguai (a zona mais afectada), em várias capitais americanas e
na Europa. Os nativos participaram, protestando verbalmente contra a ordem
de evacuação, defendendo a justeza da sua causa perante os comandantes
militares e os padres que vieram implementá-la, e enviaram missivas às
autoridades em Buenos Aires a insistir que, sendo a terra deles, não podia ser
entregue aos portugueses sem o seu consentimento.[254] As discussões
incluíam uma grande variedade de actores não directamente afectados pelo
acordo. Há documentos que provam, por exemplo, que se travaram debates
em Buenos Aires ao final do dia, entre amigos que se encontravam para
discutir as novidades, durante e depois da missa, e entre funcionários
diversos.[255] Circulavam panfletos e contrapanfletos a desacreditar ou a
defender os jesuítas, a apoiar ou a criticar o rei. A controvérsia estaria tão
disseminada e envolveria tantos indivíduos que punha em causa a autoridade
do governo. Seria essa a impressão, pelo menos, do recém-chegado
governador de Buenos Aires, que em 1767 apresentava a cidade como
infestada de pessoas que questionavam abertamente o comportamento do
monarca («llena de inquietudes y de muchas especies sediciosas») .[256] Na
Europa, a questão, que produziu vasta literatura em França, nos Países
Baixos, em Itália e em Espanha, retratava os jesuítas como paradigma de
infidelidade e deslealdade.[257] De acordo com alguns historiadores, estas
foram as visões pelo menos parcialmente responsáveis pela decisão, primeiro,
de expulsar os jesuítas (de Portugal em 1759; de França em 1764; da
Espanha, da Áustria e das Duas Sicílias em 1767) e, depois, de dissolver a
Ordem (em 1773).[258]
A má reputação dos jesuítas persistiu. Em 1770 o antigo governador de
Buenos Aires acusou o seu homólogo do Paraguai de permitir
voluntariamente o estabelecimento português em território espanhol,
imitando o que os jesuítas, seus mentores e patrocinadores, tinham feito no
passado.[259] Nesse mesmo ano e a centenas de quilómetros de distância, um
capitão português, querendo convencer os «índios espanhóis» das vantagens
da protecção de Portugal, esperava alistar jesuítas fugitivos (imaginários?) na
sua causa escrevendo-lhes cartas a rogar apoio.[260]
A resistência índia e o papel que os jesuítas terão desempenhado na sua
promoção gerava especulação sobre o que sucederia na região. Os jesuítas
voltariam a incentivar os índios? Tentariam construir outra república? Nas
décadas de 1750 e de 1760 circularam muitos rumores de que os exércitos
índios, encabeçados por jesuítas, poderiam invadir territórios portugueses.[261]
Em 1767, funcionários portugueses em Lisboa temiam que alguns jesuítas
espanhóis pudessem penetrar nos domínios portugueses para tentar
influenciar os nativos. Outras notícias apontavam para a possibilidade de os
religiosos estarem novamente a juntar tropas índias ou a procurar unir forças
com os portugueses para lutar contra índios não-convertidos.[262] Os boatos
continuaram mesmo depois da expulsão da Companhia da Espanha e da
América espanhola, e aventavam a hipótese de alguns jesuítas permanecerem
no território e viverem entre os nativos, agindo como chefes locais
(«caciques») .[263] Com o tempo, as histórias tornaram-se fantásticas:
descreviam jesuítas casados com múltiplas mulheres nativas, procriando
muitas crianças, e acumulando muitos vassalos. Tentativas de verificação da
informação em 1772, por exemplo, indicavam que se basearia em meras
suposições. Nesse caso, o relato teria origem num relatório de um índio
aculturado («índio ladino») que vira um branco, que podia ter sido espanhol,
a liderar um grupo de índios infiéis. Como os índios lhe
chamavam« partiro », que na sua língua queria dizer «pai», a testemunha
assumira que era um jesuíta. Mas ainda que os boatos não tivessem
fundamento, é óbvio que depois da expulsão e dissolução da Companhia os
je- suítas continuaram a servir como especialistas. Era-lhes solicitada a
opinião sobre a conservação das missões que tinham deixado, as nações
indígenas que deviam ser subjugadas, as rotas e os povoados que era
necessário criar, e a organização da resistência aos portugueses que, «como
vizinhos desejavam introduzir-se no território ou talvez já o tivessem feito».
[264]
Até ao início do século xix persistiu o medo de os religiosos controlarem
os índios e encorajarem a sua insubordinação.[265]
A disputa territorial entre a Espanha e Portugal envolvia assim a luta pelo
direito, apresentado como privilégio, de converter índios. A conversão era
útil para o estado – que em troca recebia novos vassalos e territórios –, mas
colocava em confronto ordens religiosas rivais e províncias rivais da mesma
ordem, a baterem-se por povos e terra. Os jesuítas que trabalhavam para a
Espanha e os carmelitas que trabalhavam para Portugal, por se localizarem
numa zona especialmente conflituosa, enredaram-se em discussões que
amiúde degeneravam em amargas acusações.[266] Os jesuítas queixavam-se de
que os carmelitas infringiam violentamente a sua jurisdição atacando
missões, capturando e causando suficiente pânico entre os nativos ao ponto
de encorajar muitos deles a buscar refúgio na floresta.[267] Os jesuítas,
prosseguiam, apenas tinham o discurso como arma («su sagrado instituto y
predicación evangélica») , mas os carmelitas eram os chefes armados
(«caudillos») das tropas portuguesas. Os membros da Companhia afirmavam
ainda que os carmelitas não se importavam com a salvação das almas; apenas
almejavam o lucro comercial. Os carmelitas respondiam que a sua actividade
missionária era constantemente prejudicada pelos jesuítas, que penetravam
em territórios portugueses e, portanto, «carmelitas»,[268] e convenciam os
«seus» índios a fugir e a juntar-se a povoados jesuítas, dizendo-lhes que os
portugueses não os protegiam; na verdade, continuavam os carmelitas, os
agressores eram os jesuítas, que procuravam expandir os seus territórios e
assim os territórios do seu estado.
Com jesuítas contra carmelitas, de vez em quando espanhóis e portugueses
sugeriam que o conflito entre os dois países cessaria de imediato se a bacia
do Amazonas fosse missionizada apenas por jesuítas. Apesar de a
colaboração entre as províncias e os países existir – os jesuítas de Lima, por
exemplo, recrutavam a ajuda dos seus congéneres brasileiros para missionizar
índios cujas línguas esses religiosos falavam –, era pouco frequente. Além
disso, em muitas ocasiões, a colaboração prejudicava e não desenvolvia os
objectivos missionários. As autoridades portuguesas, suspeitando que os
jesuítas portugueses pudessem informar o rebanho espanhol de planos para o
atacar, consideravam-nos uma quinta coluna. Preferiam não procurar o seu
apoio, crendo que espiavam para Espanha e que até facilitariam as suas
pretensões territoriais.[269] Mas as rivalidades transfronteiriças eram assíduas.
Ficaram claras, por exemplo, quando no final do século xvii Fritz foi preso em
Belém do Pará pelo superior jesuíta, contra os protestos de alguns (mas não
todos) os seus acólitos. Por outro lado, se os jesuítas não eram todos
necessariamente amigos, os carmelitas não eram necessariamente todos seus
inimigos. Em 1746, um jesuíta (espanhol) recomendou ao superior carmelita
em Lisboa a pessoa de Domingo de Santa Teresa, missionário na aldeia
vizinha.[270] Descrevia-o como «um dos muitos sóis que a ordem carmelita
forneceu ao mundo, iluminando-o com a luz da sua santidade, sabedoria,
doutrina e zelo» e explicava que nos onze anos em que Domingo vivera na
região do Amazonas aumentara os territórios das suas missões com a
conversão de muitos nativos e a reconstrução de aldeias abandonadas.
Expressando uma visão panmissionária que se alegrava com a salvação das
almas e não se preocupava tanto com a expansão territorial, o jesuíta
descrevia as visitas frequentes à região carmelita e a admiração e a
hospitalidade mútuas.
Perante a importância da conversão e as tensões que desencadeava, é
surpreendente que os registos da época mal mencionassem o facto de a maior
parte dos jesuítas e de muitos carmelitas a trabalhar para a Espanha e
Portugal no interior americano serem estrangeiros, incluindo os portugueses
que trabalhavam em territórios espanhóis ou vice-versa.[271] Minimizando-o,
os portugueses identificavam os religiosos estrangeiros – por exemplo,
Samuel Fritz – como castelhanos, devido à lealdade para com Espanha.[272] Os
jesuítas alinhavam no jogo, e referiam-se a si mesmos como barreiras às
excursões portuguesas e explicavam que os nativos nunca viram «qualquer
outro governo ou espanhol» à excepção deles. Fritz (natural da Boémia) e
Juan Bautista (natural de territórios alemães) seguiram o exemplo.
Denominavam os reis católicos como «seus» monarcas e identificavam-se
como «missionários de Castela».
O conflito entre a Espanha e Portugal, em vez de ser nacional (avant la
lettre) ou puramente territorial, abarcava assim, também, rivalidades entre
diferentes ordens religiosas. Obrigava a debater a importância da conversão
relativamente à extensão da soberania real e do território, e a forma e o ritmo
de sujeição dos índios (e das suas terras) aos europeus. Os missionários
deixaram- -se enredar nas discussões porque a sua actividade dependia da
autorização régia e porque esperavam angariar apoio financeiro e militar para
o esforço de conversão. Não estavam autorizados a definir quem deveria
expandir-se para onde, mas frequentemente acabavam por elaborar acerca dos
direitos do monarca e do país que patrocinava ou permitia as suas
actividades. Tornaram-se assim, para além de conquistadores e pacificadores,
conselheiros, diplomatas, juristas e militares.
A participação de religiosos na descoberta, conquista, domínio e conversão
de índios prosseguiu até ao final da década de 1810. Contudo, com o tempo, a
natureza desse envolvimento modificou- -se substancialmente. Se num
primeiro período, em que o «estado» estava quase completamente ausente do
interior americano, fora vital, num segundo período, entre meados e finais do
sé- culo xviii , os esforços de conversão coincidiram com outro modo de
tomada do território e do seu povo. Então, a presença de soldados, cientistas,
povoadores e autoridades cívicas no interior americano aumentou
substancialmente.[273] Muitos foram na esperança de melhorar as condições de
vida. Outros foram enviados para implementar os tratados assinados em 1750
e 1777 pelos monarcas espanhol e português. Um terceiro grupo guarnecia as
fortificações que ambos os países construíram para lidar com a hostilidade de
índios e europeus. Membros de um quarto grupo chegaram ao Novo Mundo
para abraçar projectos «iluministas», motivados pelo desejo de melhorar a
economia local ou compilar informação científica. A crescente presença
europeia foi acompanhada de reformas com o objectivo declarado, pelo
menos em territórios portugueses, de transformar as missões em povoados
geridos pelo estado, ou seja, retirando-as às ordens religiosas e colocando-as
sob a autoridade secular.[274] A «secularização das missões» significou uma
política de integração formal que tornava os nativos vassalos e portugueses, e
produziu a penetração (relativamente) maciça de pessoal administrativo e
militar em áreas onde essa presença fora escassa. Assim, na segunda metade
do século xviii o controlo religioso deu lugar a um novo tipo de conversão, que
sublinhava a fidelidade política e a aculturação indígenas.
Como outros seus contemporâneos, muitos dos indivíduos chegados ao
interior nos séculos xviii e início do xix podiam não se interessar por questões
territoriais, mas a sua presença afectava sobremaneira o conflito. Antes, os
religiosos seriam os melhores, e praticamente os únicos, informadores do que
ocorria no interior. Na segunda metade do século xviii a informação fluía de
muitas outras direcções. Militares, povoadores, administradores, promotores
de actividades económicas, e cientistas transformaram-se gradualmente nos
actores principais da cena política e diplomática. À semelhança dos religiosos
antes deles, informaram as cortes e as autoridades locais de procedimentos,
coligiram informação, e negociaram com os adversários. As suas actividades,
incluindo a exploração e o uso da terra, eram igualmente meios de
reivindicação territorial.[275] Um novo tipo de literatura proliferou. Muitos dos
indivíduos que passaram pelo interior americano escreveram memórias e
diários com as suas experiências e descrições da região.[276] Relataram sobre o
carácter e o comportamento dos índios, os movimentos de tropas inimigas, as
rotas que deveriam ser abertas e os territórios que poderiam ser descobertos.
Desenharam mapas, veiculando a mensagem de que o interior não só era
conhecido e alcançável como podia até ser dominado, juntamente com os
habitantes.
Alguns destes especialistas tornaram-se tão notáveis que foram nomeados
conselheiros formais de reis, e as suas opiniões solicitadas para assuntos
práticos e jurídicos. Em 1747, por exemplo, Jorge Juan e Antonio Ulloa –
enviados para as Américas para acompanhar uma missão científica francesa
especialmente interessada em estudar a forma da terra – escreveram um
ensaio que analisava os direitos da Espanha e de Portugal.[277] Começaram
com a história do conflito desde a doação papal e o Tratado de Tordesilhas, e
continuaram a investigar, validar ou negar as interpretações científicas
propostas pelos especialistas de ambos os lados. Concluindo que,
contrariamente ao que acontecera até aí, o conflito científico podia ser agora
resolvido porque as duas partes estavam na posse de informação suficiente
acerca da região e a ciência se encontrava avançada, Juan e Ulloa mesmo
assim dirigiam-se principalmente à questão do direito por posse, citando os
muitos autores que tinham confirmado as descobertas e a ocupação pelos
espanhóis. Favorável à causa espanhola, a natureza muitíssimo detalhada do
ensaio determinou que se mantivesse em segredo durante mais de duas
décadas. Na década de 1770 os negociadores espanhóis tornaram-no público.
[278]

Entre os portugueses havia também este tipo de informadores. Em 1780


Francisco Xavier Mendes de Morais, um traficante de escravos que vivia no
interior desde 1725 e que já em 1775 prestara depoimento acerca da
legitimidade das reivindicações portuguesas sobre o rio Branco, a pedido do
governador do rio Negro escreveu um relatório acerca do território e do seu
sistema fluvial. O documento apoiava as pretensões portuguesas, e passou a
fazer parte delas.[279] Sertanista bem conhecido, considerado um «homem
muito prático nestes sertões», Mendes de Morais sugeria a opinião de outras
pessoas e indicava quem, de entre índios, povoadores e portugueses, conhecia
melhor a zona.
À semelhança dos conselhos de missionários, os documentos elaborados por
estes «especialistas» tornaram-se extremamente influentes, fornecendo às
coroas e às autoridades locais informação científica e factual fundamental
para as respectivas reivindicações. Eram uma nova arma, secular e científica,
na luta pela afirmação de direitos. No entanto, embora a «ciência» fosse
considerada imparcial e universalmente verdadeira, era óbvio que em todos
estes casos fora concebida como um instrumento ao serviço do estado e para
benefício da pátria.[280]
Durante a segunda metade do século xviii não foi apenas a natureza da
presença europeia no interior americano que se alterou profundamente. Os
tratados com índios ainda não subjugados cresceram. Eram, em parte, uma
resposta a teorias que advogavam a «liberdade natural» dos indígenas para
escolher a submissão, ou não, aos europeus. De acordo com elas, apenas uma
convenção recíproca, e não a força nem sequer a conversão, podiam
determinar a sujeição pessoal e territorial. Por outro lado, resultavam de
considerações geopolíticas, porque a passagem da conversão à assinatura de
pactos permitia aos monarcas obter um maior controlo sobre os
desenvolvimentos no interior americano. Daqui saíram novas teorias que
sustentavam que, após o contrato com os europeus, os índios não se tornavam
parceiros nem aliados. Tanto eles como, mais importante, as suas terras,
passavam a ser propriedade da coroa envolvida. Era a esta realidade que se
referiam os autores coevos quando afirmavam que pela sua sujeição a
Espanha, o chefe índio local «deu este território, onde vivia, a nós».[281] Em
1784, quando o capitão indígena Mariano Camaydevena pediu submissão a
Espanha, em vez de a Portugal, as autoridades locais espanholas responderam
com entusiasmo.[282] A adesão a Espanha, sugeriam, não era de pouca
consequência porque depois de Mariano se tornar espanhol, o mesmo se
passava com o seu território. Em 1755, as reformas portuguesas que
concederam aos índios a sujeição não teriam como principal objectivo o bem-
estar indígena. Pelo contrário, terão talvez querido dizer que agora que os
índios que viviam nas antigas missões eram portugueses, as suas terras, por
isso, também o eram. Como as mudanças no alinhamento político indígena
tinham um efeito territorial, é também possível que a chamada conquista
portuguesa das sete missões do Paraguai, em 1801, não tenha sido um
verdadeiro feito militar. Actualmente a historiografia argumenta que afinal
consistiu numa série de negociações com os habitantes que, insatisfeitos com
as condições sob o domínio espanhol, decidiram tornar-se portugueses.[283] O
que teria ocorrido, assim, foi uma conquista pacífica da fidelidade dos
habitantes e não uma tomada violenta da terra.
Nas décadas de 1770, 1780 e 1790, como a submissão aos europeus concedia
direitos sobre as terras, em muitas ocasiões os comandantes espanhóis
acusaram os parceiros portugueses de tomar ou «roubar» os «seus» índios.[284]
Apelidavam as actividades de «pirataria» e afirmavam que os portugueses
invadiam aldeias nativas pertencentes a Espanha, capturavam os habitantes e
mudavam-nos, por vezes em massa, para Portugal. Preocupados com a
perspectiva de perder trabalhadores e povoadores índios, os espanhóis que
protestavam contra as acções estavam igualmente conscientes das suas
implicações territoriais. Os nativos capturados pelos portugueses, diziam,
pertenciam a «nações amigas dos espanhóis», já tinham sido conquistados
pela Espanha, eram vassalos da coroa, ou eram espanhóis plenos. Se se
permitisse aos portugueses que os deslocassem, os portugueses em breve
seriam proprietários de toda a terra.[285] O efeito territorial da luta pelas
populações era particularmente evidente nas queixas que um funcionário
português fez em 1765, de acordo com as quais os espanhóis, usando «boa
política», contratavam amizade com os nativos. O sucesso adversário,
explicava, era prejudicial a Portugal porque ameaçava os seus «domínios e
conquistas».[286]
Os registos históricos clarificam assim que território e populações estavam à
disposição de quem aparecesse, e que ambos podiam ser possuídos e tornar-
se propriedade de uma potência ou de outra. Como o território podia ser
adquirido com a integração de pessoas, a partir daqui ambas as potências
competiram para saber qual delas incorporaria mais depressa mais índios.
Assim, embora nas suas discussões espanhóis e portugueses se
concentrassem em acordos bilaterais e nas doutrinas jurídicas europeias (ver
o capítulo 1), as dinâmicas em acção no interior americano sugeriam que tão
ou mais importante na determinação de direitos era a presença de índios,
aliados ou inimigos. Os nativos podiam, claro, ser possuídos pela conversão
mas, à medida que o século xviii se desenrolou e a presença europeia no
interior se intensificou, muitas vezes tornaram-se alvos cívicos, mais do que
religiosos. Deviam ser tomados, primeiro como aliados e, depois, como
cristãos.
Coincidindo com o desapontamento perante o aparente fracasso do esforço de
conversão e com a convicção de que os nativos prejudicavam, em vez de
facilitarem, a presença europeia, dispondo portugueses contra espanhóis, os
homens da época sugeriam que se os espanhóis recusassem aceitar as
condições de comércio nativas, os nativos ameaçavam tratar com os
habitantes da outra potência. E, se as suas exigências não fossem satisfeitas,
jurariam aliar-se aos inimigos.[287] A decisão de tentar um entendimento
directo com os índios era também frequentemente acompanhada de protestos
contra os seus ataques aos povoados, fortes e quintas europeias, em que
matavam os ocupantes e roubavam o gado.[288] Com a percepção de que os
nativos desenvolviam uma guerra de guerrilha deliberada e injustificada
contra os europeus e os índios aculturados ou convertidos seus aliados,
espanhóis e portugueses concluíam que a terra seria apenas controlada
quando os índios o fossem.
Alguns índios eram hostis e outros não; para os europeus era vital distinguir
os já convertidos dos ainda pagãos e – talvez até principalmente – os amigos
dos inimigos.[289] A maioria acreditava que certos grupos eram «resgatáveis»
e outros não, e passou-se a oferecer a paz aos primeiros ao mesmo tempo que
se fazia a guerra contra os segundos. A forma como estas duas estratégias
funcionavam e a opção por cada uma delas, em conjunto com as actividades
de conversão e de missionação, explicam de que maneira as relações com os
nativos podiam, e muitas vezes acabaram por, influenciar o conflito luso-
espanhol nas Américas.
A maioria dos europeus imaginava a paz com os nativos como uma
transacção bastante simples. Assumiam que a oferta de presentes criava
amizades, e que as amizades garantiam boas relações. A oferta, por vezes
retratada como uma troca, mas essencialmente imaginada como uma doação
unívoca de europeus a índios, forjaria «alianças» que assegurariam o apoio
dos nativos ou, pelo menos, prometeriam a sua não-beligerância. A oferta era
muitas vezes espontânea e envolvia muito poucas pessoas, e podia ser uma
troca material minimal ou dividida em múltiplos episódios durante um longo
período de tempo. Tornou-se tão frequente (e tão dispendiosa) que, pelo
menos do lado espanhol, no final do século xviii regulamentou-se quem
deveria dar presentes e a quem, e quanto deveriam custar.[290] No entanto, as
tentativas de controlo do processo – que se acreditava essencial à segurança e
ao bem-estar – raramente foram eficazes, e os sinais de fracasso não
desencorajaram os que nele participavam. Considerados um investimento de
longo prazo, ninguém esperava que os presentes provocassem milagres
imediatos. Sabia-se que a construção de alianças requeria tempo e que apenas
da repetição nasceria «o amor dos nativos pelos cristãos».[291]
No entanto, e por mais necessária que fosse a paciência, a presença de
europeus rivais aumentava o sentimento de urgência. Não bastava saber que
índios se aliariam com determinada potência; também era fundamental
perceber quais fariam contrato com o inimigo. Nas palavras de um
observador, «a felicidade desta iniciativa não é apenas olhar para o céu [a
capacidade para os converter] mas também para a terra, porque com esta
aliança [com os índios] a conquista do estado do Maranhão ficou completa.
Com os índios ingaybas como inimigos, o Pará podia ser de qualquer nação
estrangeira que se aliasse com eles, e com os índios ingaybas como aliados, o
Pará torna-se seguro e impenetrável a quaisquer potências estrangeiras».[292]
Quanto mais forte era a competição entre os europeus, maior o desejo de ser
amigo dos nativos.
As autoridades locais, estivessem ou não formalmente autorizadas a fazer
alianças, relatavam constantemente aos seus superiores as tentativas de
conquista, através da persuasão, de índios. Abundam os relatórios nos
arquivos espanhóis e portugueses, e demonstram que a realização de alianças
podia ser informal e oral ou extremamente detalhada e documentada, e
reconhecida por notário. Os registos portugueses são muito generosos nestas
questões, descrevendo alguns dos acordos em grande detalhe.[293] Embora
diferissem em função do local, período e partes envolvidas, produziam
narrativas extremamente repetitivas. As histórias normalmente começavam
com a afirmação de que os índios tinham pedido para se encontrar com
europeus e se oferecido como aliados (parte 1: iniciativa nativa). Descreviam
como nos dias seguintes, semanas e até meses e anos, e ao longo de vários
encontros, as duas partes se conheciam (parte 2: as conversações). Mediadas
por índios convertidos ou domesticados, ou por religiosos, envolviam chefes
índios por um lado e missionários europeus, comandantes militares, ou
colonos experientes por outro (parte 3: os intervenientes). Durante as
conversações eram trocados presentes, e os nativos eram informados da
necessidade de fazer a paz, estabelecerem-se permanentemente perto de
europeus, e converterem- -se. Era-lhes dito que, se concordassem, se
tornariam vassalos e ganhariam a protecção real (parte 4: as condições). Na
América portuguesa podiam receber passaportes certificadores da condição
de vassalos ou certidões de serviço , que os protegiam do perigo.[294] O
consentimento nativo era dado verbalmente, com a assinatura dos papéis, ou
usando gestos, por exemplo, abraços e beijos, que os europeus interpretavam
como a comunicação de concordância e aceitação (parte 5: consentimento
nativo).
É difícil determinar como se desenvolveu esta narrativa comum. Não
obstante, a transformação de acontecimentos individuais num argumento
padronizado é clara. Consideremos, por exemplo, o que aconteceu em 1771
junto ao posto português de Iguatemi, na região do Amazonas. Segundo o
relato do comandante militar ao governador de São Paulo, numa manhã bem
cedo trinta índios, liderados por três caciques, cada um com a sua cruz,
chegaram ao forte e pediram para se encontrar com o comandante (um
bandeirante de São Paulo).[295] Responderam alegremente às questões – que
ele colocou «na língua deles» – e ofereceram-lhe a cruz como símbolo de
paz. Retirando-se para conversar com os três caciques, o comandante aceitou
as cruzes, colocou-as no chão e garantiu aos interlocutores que não
precisavam de armas, para além destes símbolos religiosos, para o conquistar
e aos seus soldados. Condicionou a continuação das conversações
(«praticas») ao desarmamento dos índios. O indivíduo que identificou como
principal líder deu a ordem, e os arcos e flechas dos caciques foram
colocados no chão. O comandante português pediu então ao resto dos índios
que se lhes juntassem desarmados. Depois de os abraçar, ofereceu-lhes a paz,
e eles prometeram em nome da «sua nação» não ofender os portugueses,
recebendo garantias de que estes fariam o mesmo. Ambas as partes
concordaram que quando se encontrassem em campo aberto se informariam
uns aos outros que a paz fora estabelecida e que, consequentemente, tinham
de se tratar mutuamente de forma amigável. O comandante também prometeu
aos índios «tudo do que tinham falta» e imediatamente lhes forneceu roupas e
utensílios. Garantiu-lhes que depois de o governador e o rei ficarem ao
corrente do que acontecera lhes dariam presentes adicionais.
Antes de partirem, «muito felizes», os índios fizeram umas perguntas, que o
comandante classificou de «impertinentes». Começaram por querer apurar
«qual era razão por que lhes vinham tomar as suas terras que deus lhes tinha
repartidas para suas vivendas». O comandante respondeu que «lhe não vinha
tomar as terras e que delas não carecia antes vinha buscar a sua amizade que
hera só o que queria». A isto, os nativos responderam que «estava bem e que
isso mesmo queriam eles, para que entre nós não houvesse mortandades que
deus não queria». Por seu lado, o comandante perguntou-lhes se conheciam
Deus, ao que responderam que «tinha derramado na cruz seu sangue pelos
homens». A segunda e a terceira pergunta que os nativos colocaram era se o
governador de São Paulo e o rei eram casados e tinham filhos. Tendo-os
esclarecido, o comandante perguntou-lhes se queriam vir viver com as suas
famílias sob a protecção do rei e entre os portugueses. Se quisessem, afirmou,
comunicaria imediatamente a boa notícia aos superiores e garantiria que
receberiam todas as coisas – roupa e utensílios – de que necessitavam. Os
índios retorquiram que de momento não podiam vir estabelecer-se no forte.
Pouco depois de partirem, a casa de um dos povoadores portugueses foi
atacada. Não era claro que o assalto tivesse sido perpetrado pelo grupo da
visita. Não se podia afirmar, dizia o comandante, e tudo era possível. Estes
nativos eram bárbaros em quem não se podia confiar.
Uma semana depois, chegaram mais sessenta índios ao forte com cruzes na
mão pedindo para falar com o comandante. Convidados a entrar no povoado,
recusaram. Foi necessário recebê- -los lá fora. O comandante relatou que
estabelecera «a mesma paz» com este grupo e dera-lhe utensílios e
marmelada, de que gostavam muito. Contudo, apesar dos esforços, não
deixaram o forte tão contentes como os do primeiro grupo porque eram mais
ambiciosos e «queriam receber tudo o que viam». O comandante concluía
estimando que se fosse investido o esforço correcto, estes nativos se
converteriam ao cristianismo e se tornariam amigos dos portugueses.
Os acontecimentos que o comandante local descreveu tomaram uma
dimensão muito mais fantástica, por um lado, e uma normalidade, por outro,
no relatório que o governador de São Paulo enviou a Lisboa.[296] Insistia na
importância do que ocorrera, mas omitia vários pormenores: que os nativos
tinham com eles cruzes e que, portanto, tinham tido anteriores contactos com
europeus; que perceberam que os portugueses estavam interessados na sua
terra; que a paz era possível mas que ainda não fora estabelecida e que, de
qualquer maneira, não teriam sido conseguidos resultados tangíveis porque
havia a possibilidade de os índios terem atacado os portugueses no dia
seguinte; e que recusavam estabelecer-se nas imediações. Em vez disso,
contou ao rei uma grande história acerca de quatro chefes indígenas que
visitaram os portugueses em busca de auxílio. Para lhes «ir ganhando as
vontades» e obedecendo às instruções régias, os portugueses deram-lhes «um
sortimento de todas as coisas mais atrativas e apetecíveis para eles». Os
índios entregaram as armas aos portugueses. O que ocorrera, insistia o
governador, era de grande importância. Referia-se ao encontro como uma
verdadeira troca diplomática e comparava-a com o que o governador de
Marrocos dissera na corte de Paris em relação à troca de presentes: a
quantidade ou a qualidade dos presentes não era importante; o essencial era a
homenagem e o respeito que comunicavam.[297]
Se esta disparidade de versões for típica, é possível que as «conversações»
com índios não-subjugados fossem mais complicadas, complexas e ambíguas
do que os relatórios padronizados que consultámos nos permitem imaginar.
Enquanto os portugueses sugeriam paz, estabelecimento nas suas imediações
e conversão, os índios respondiam que a paz era possível, mas que
pretendiam permanecer onde os antepassados tinham vivido e onde podiam
sustentar-se.[298] Enquanto os portugueses lhes sugeriam que ficassem na sua
dependência, os índios preferiam manter-se fora, nas suas aldeias. E enquanto
os portugueses relatavam que a paz fora acordada, esta estaria provavelmente
na forja, mas ainda não fora verdadeiramente finalizada. Por volta da década
de 1770, os nativos temiam claramente a ingerência portuguesa nas suas
terras e tê-los-ão até procurado para deter, e não deixar avançar, a penetração.
Poderão ter querido verificar o que os portugueses estavam a fazer e poderão
ter desejado presentes. É evidente que não procuravam ser convertidos ou
tornar-se vassalos. No entanto, fosse como fosse que os nativos
respondessem, desde que não se mostrassem abertamente hostis, os
portugueses concluíam que vinham de «boa fé» . Chegavam a sugerir que
com presentes adicionais seriam encaminhados para uma aliança duradoura.
Em ocasiões raras, a documentação de arquivo sugere que as negociações
eram particularmente longas e complicadas. Na década de 1780, por
exemplo, os portugueses tiveram dezenas de «conversações» com os
chamados índios mura.[299] Inicialmente não acreditaram na promessa de
lealdade e bom comportamento dos nativos, porque suspeitavam que a
verdadeira intenção dos muras, «bárbaros conhecidos», era espiá-los. No
entanto, como não tinham a certeza, deram aos índios alguns presentes e
relataram às autoridades o que consideravam um «bom princípio». Quando os
muras regressaram uns meses depois com tradutores e pequenos presentes, os
portugueses consideraram-nos insignificantes, «coisa pouca».
Desvalorizavam o que os indígenas lhes podiam dar e, ao mesmo tempo,
deram-lhes mais e mais substanciais presentes, e instruíram-nos a trazer as
mulheres na próxima visita. Houve muitas outras reuniões, com os
portugueses a afirmar, como a outros grupos indígenas, que estariam
dispostos a perdoar crimes e insultos se eles, os muras, estivessem dispostos a
tornar-se cristãos e vassalos. Se recusassem, os muras seriam conduzidos «à
sua última ruína». Passaram-se vários meses, com mais trocas pelo meio.
Durante esse período os portugueses viveram particularmente obcecados com
a identificação do líder nativo, cuja promessa comprometeria todo o grupo.
Como apareciam e desapareciam vários líderes, alguns deixando filhos, mães
ou mulheres para trás, outros trazendo membros adicionais, os muras
começaram a confiar nos portugueses, ou assim estes acreditaram. A
confiança não era recíproca: enquanto negociavam com os muras
continuaram a considerá-los «bárbaros» e a apelidar os seus chefes de
«monstros». Suspeitavam que os índios estivessem a negociar com os
espanhóis ou a colaborar com indivíduos perigosos. E embora alguns muras
fossem baptizados e outros colaborassem com os portugueses, o seu pedido
de novas « praticas » foi negado porque o comandante português
condicionou todas as negociações futuras à sua fixação em local designado.
O comandante concluiu que a paz não podia ser alcançada num dia. Seria
gradual e exequível apenas através de uma combinação de afabilidade e rigor.
[300]
Durante as negociações, afirmou, os nativos não deveriam sentir que não
eram de confiança (como na verdade eram considerados), mas também não
deviam sentir que se confiava neles, pois poderiam ser levados a trair.
Também nos territórios espanhóis a chegada a acordo podia ser simples ou
altamente ritualizada, espontânea ou planeada, oral ou escrita.[301]
Normalmente começava com a entrega de presentes, a oferta de missionários
e a troca de prisioneiros, e dependia da mediação de aliados nativos e de
missionários. Parte deste know-how acumulado há muito tempo já estava
compilado e reproduzido nas Ordenanzas de Nueva Población (1573) e
noutras obras que explicavam a necessidade de abordar os nativos com a
troca de presentes, a promoção da conversão e a explicação detalhada dos
poderes do rei e da obrigação de lhe obedecer.[302] Estes textos recomendavam
também que enquanto tinham lugar as conversações os espanhóis detivessem
os filhos dos nativos reféns sob a desculpa de os instruir nos mistérios da fé.
Os comandantes militares, afirmavam, tinham de informar os nativos das
obrigações e dos privilégios da paz, que consistiam no dever de cessar toda a
beligerância contra a Espanha e seus aliados e ser vassalos obedientes. Os
espanhóis fariam o mesmo e, para demonstrar as boas intenções, abraçavam
os chefes nativos e disparavam uma salva de canhão em sinal de alegria,
davam presentes aos índios e partilhavam comida com eles. Os pactos eram
selados com tambores e repetidas invocações do nome do rei.
Como as práticas portuguesas, em alguns locais as conversações com os
nativos eram chamadas «parlamentos», enquanto noutros não tinham nome
especial. Todavia, ao contrário dos portugueses, os espanhóis gostavam
especialmente de celebrar estas alianças nas cidades capitais, muitas vezes
situadas a dezenas de quilómetros. Em 1771, por exemplo, fizeram uma
manifestação pública do que consideravam o seu sucesso, em que «dois
caciques principais» da «nação mocoví» que se apresentaram a uma pequena
guarnição espanhola no interior foram enviados à capital provincial
(Corrientes, na actual Argentina).[303] Aí terão concordado cessar a guerra
contra os espanhóis em troca de alguns presentes. Os espanhóis esperavam
persuadir índios aliados a fazer o mesmo e talvez até a aceitarem a conversão.
De forma algo semelhante, em 1776 o governador de Assunção (no actual
Paraguai), acompanhado das autoridades e câmara municipais (o
« cabildo »), militares e outros «indivíduos distintos», encontraram-se com
um grupo de «infiéis» com quem tinham sido completadas negociações de
paz dois meses antes. Recorrendo a um intérprete, o governador perguntou
aos índios se queriam verdadeiramente estabelecer-se no local que lhes fora
destinado e se desejavam verdadeiramente tornar-se cristãos e observar uma
«paz firme» com a província, os seus habitantes, e todos os cristãos que lá
viviam.[304] Perante a resposta afirmativa, fez uma lista das vantagens,
incluindo os presentes e animais que os nativos receberiam e a promessa de
os instalar num local conveniente. A seguir enunciou as obrigações: a
admissão de padres, o baptismo das crianças e sua educação cristã, com cada
índio a enviar um filho como refém para ser educado pelos espanhóis, a
missão de patrulhamento do território e a actuação dos soldados índios
apenas a pedido e comando do governador.
Apesar dos compromissos cerimoniais, a paz raramente era permanente. Os
europeus culpavam os nativos, apresentando-os como agentes livres que
iniciavam contactos, decidiam o que fazer e facilmente mudavam de lado.[305]
Indo e vindo a seu bel-prazer, os índios nascidos em territórios espanhóis
podiam migrar para domínios portugueses, regressar a Espanha, e mudar-se
novamente para Portugal. Podiam converter-se, desertar das missões,
regressar a elas e desaparecer mais uma vez. Os nativos, diziam os
interlocutores espanhóis e portugueses, alternavam entre um mundo indígena
e uma realidade colonial, e podiam ser amigáveis, tornar-se hostis e
transformar-se novamente em aliados. Como actuavam como amigos ou
inimigos, à vez, de acordo com as necessidades e os desejos, não se podia
confiar neles. Enquanto os europeus estavam empenhados na paz, os índios
não; o «comportamento traiçoeiro» era típico deles. Estas flutuações
constantes forçavam os europeus a ter uma cautela extrema.[306] Era preciso
considerar que, quaisquer que fossem os acordos, era pouco provável que
perdurassem porque os nativos conduziam uma «guerra bárbara contra os
povos civilizados». Para alguns, a conclusão implicava que jamais se podia
confiar nos nativos. Outros sugeriam a necessidade de lhes ensinar o que
significava a paz e o dever de a preservar. Um terceiro grupo resistia por
completo à simples ideia de criar alianças.[307] Os acordos de paz, diziam,
eram prejudiciais. Enquanto limitavam o que os europeus (que os cumpriam)
podiam fazer, permitiam aos nativos (que não os cumpriam) manter o
comportamento traiçoeiro, atacando os espanhóis e as suas propriedades.
Conduziam à submissão espanhola, transformando os que viviam no interior
em «subordinados e tributários do controlo nativo».
Apesar de estas queixas classificarem todos os índios como indignos de
confiança, é não obstante evidente que muitos grupos indígenas eram leais
aos europeus com quem chegavam a um entendimento. Além disso, enquanto
as queixas contra a «inconsistência» indígena coincidiam com a
culpabilização dos nativos, havia muitas provas de que os pactos lhes eram
impostos contra vontade. Os índios eram informados de que consentiam na
amizade e protecção ou sofriam a guerra e a aniquilação.[308] Não havia lugar
a discussões: qualquer questionamento conduziria os europeus a «retirar em
gesto de ruptura», prometendo castigar os índios «com a maior severidade
possível para lhes dar uma lição».[309] A maior parte dos acordos partia do
princípio da superioridade dos europeus e a subsequente subjugação dos
índios. Enunciava clara e cuidadosamente o que estes deveriam fazer e ceder,
mas raramente enumerava os compromissos europeus. E enquanto os
europeus compreendiam o que estes acordos implicavam, e concordavam
entrar neles, é pouco evidente se os índios exercitavam uma escolha ou
verbalizavam o consentimento. Os funcionários portugueses, por exemplo, às
vezes confessavam que adivinhavam, mais do que sabiam, o que queriam os
índios. Na ausência de uma língua comum, confiavam nas acções (que
interpretavam de acordo com os seus próprios desejos) e não nas palavras
nativas.[310]
A documentação nos arquivos sugere igualmente que os comandantes
europeus estavam predispostos a acreditar que os nativos colaborariam, e
rapidamente passaram das conversações à celebração do que consideravam o
seu sucesso. Na maior parte dos casos a aquiescência era assumida e não
comprovada. Era lida na resposta nativa e imaginada pelos europeus que, a
priori , procuravam provar a sua existência. Neste contexto, o consentimento
era apenas uma presunção. Presumia-se que os nativos tivessem concordado
com certas coisas, e esta conclusão actuava na realidade. Em vez de ser uma
manifestação de livre-arbítrio, o consentimento era (como muitas vezes é)
uma construção jurídica e política. Assim, e embora os europeus insistissem
nas Américas, como faziam na Europa, que a vassalagem e a conversão
dependiam de uma decisão pessoal, tanto no Velho como no Novo Mundos a
sujeição religiosa e cívica era normalmente obrigatória.[311] A liberdade, em
resumo, não implicava a capacidade para negociar (como muitas vezes não
implica). Como ficara determinado no (mal-)afamado Requerimiento da
autoria de juristas espanhóis no século xvi para justificar a guerra contra os
nativos, a liberdade expressava essencialmente a possibilidade de escolher
entre a exclusão e a inclusão, a guerra e a paz, e todas as opções conduziam à
destruição de uma ordem (nativa) e à emergência de outra (europeia).[312]
Assim, e embora os historiadores tenham maioritariamente descrito estes
encontros como negociações e a sua conclusão como «tratados», é claro que
tanto na América portuguesa como na espanhola os acordos com os índios
raramente incluíram negociações dignas desse nome ou terminaram com um
entendimento limpo, detalhado e mutuamente comprometedor.[313] Mesmo na
ausência de uma coacção extrema, a escolha dos nativos seria limitada porque
poderiam estar a precisar dos mantimentos que os europeus tinham para
oferecer.[314] Terão colaborado com Espanha ou Portugal por temor à potência
rival ou por ameaças de inimigos indígenas, cujas condições se teriam
alterado pela presença de europeus. Finalmente, poderão ter aderido a estes
acordos por haver neles uma promessa de fim da penetração europeia nos
seus territórios ou de recuperação de terras ancestrais. Mas mesmo quando os
índios chegaram activamente a um entendimento, a documentação da época
sugere que acreditavam poder retirar-se dele em caso de tratamento
incorrecto ou de ganhos diferentes das expectativas.[315] Os nativos
considerariam condicionais os acordos com os europeus porque estes,
entrando nos seus territórios, eram intrusos a quem se deveria exigir um
pagamento (os presentes), e não entidades superiores a quem se deveria
fidelidade. Poderiam também acreditar que tanto a guerra como a paz eram
formas de intercâmbio social. Em qualquer das hipóteses, a alternância nativa
entre a paz e a guerra não indicaria uma mudança de opinião, mas um modo
de interacção praticado pelos índios, que os europeus contemporâneos
compreenderiam melhor do que estariam dispostos a confessar.
As contendas entre grupos indígenas desempenhavam um papel importante
nestas dinâmicas. Existiam desde antes da chegada dos europeus, que as
modificaram com a sua presença, desestabilizando os anteriores equilíbrios.
[316]
A gradual extensão do poder colonial colocaria ainda índios conversos
contra índios pagãos e índios aliados contra não-aliados. Essa hostilidade
entre grupos nativos poderia decorrer da utilização que os europeus faziam
dos índios das missões, tanto nos conflitos uns contra os outros como na sua
relação com grupos ainda não «domesticados». No entanto, os índios também
podiam utilizar os europeus para ganhar proeminência no seu grupo e nas
relações entre grupos. Em qualquer caso, ao longo do período colonial os
europeus tornaram-se, com cada vez maior frequência, mediadores, árbitros
ou mesmo juízes de disputas nativas.[317] Em certas ocasiões empregavam a
política do dividir-para-reinar; noutras tentavam estabelecer a paz entre
grupos diferentes para pacificar a região e assegurar o seu controlo.[318] As
interacções assumiam diferentes formas. Em 1776, por exemplo, o principal
de uma «nação bárbara chamada arauzes» veio em busca de refúgio no forte
português porque, como explicou ao comandante, inimigos nativos queriam
vingar a morte dos seus homens.[319] Pouco tempo depois, dois dos rivais
chegaram ao campo com uma história semelhante. O comandante conduziu
os três ao governador local que, após examinar os antecedentes, decidiu que a
paz devia ser estabelecida. Na presença de um ouvidor geral , do capitão do
forte, do visitador dos jesuítas, do prior do convento de Santo António, do
juiz municipal, e de muitos outros portugueses, os três líderes indígenas
concordaram resolver a disputa. De maneira parecida, no início do século xviii
os espanhóis informaram os lules que só concordariam em assinar a paz com
eles depois de os indígenas «reconciliarem-se sinceramente com os malbalás,
seus antigos inimigos e… perdoarem todas as suas queixas contra eles». Os
malbalás fariam o mesmo.[320] Não será de surpreender, por isso, que em 1790
o cacique Negro, chefe dos pehuenches, se queixasse aos espanhóis contra
outro chefe e grupo nativo, que acusava de estabelecimento numa área que
considerava sua, ou que em 1799 o cacique Guayquilem (dos pampas), se
preocupasse com o ataque dos «guineas» e enviasse representantes para
discutir a defesa com os espanhóis.[321]
Noutros momentos os nativos diziam que eram os europeus, e não eles, que
não eram de confiança. Quando lhes era exigido que se tornassem cristãos e
vassalos, por exemplo, os chefes alegavam que já o eram e que, tendo sido
leais ao rei e amigos dos portugueses, a paz fora quebrada por incumprimento
dos europeus.[322] Como defendia o cacique Lepin em 1770, ele e o seu povo
seriam talvez bárbaros, mas os espanhóis que os atacavam apesar de acordos
anteriores não eram propriamente civilizados.[323] No entanto, embora os
europeus por vezes compreendessem – ou pelo menos registassem – as razões
dos nativos para o rompimento destes acordos e reconhecessem que «nada há
que perturbe mais os índios conquistados do que quebrar e não cumprir as
condições e promessas pelas quais foram sujeitos ao domínio e à
vassalagem», só muito esporadicamente confessavam que eram eles, os
europeus, os culpados.[324] A mera sugestão de que os índios se limitavam a
responder à agressão europeia era inaceitável e a eventual (não) manutenção
da palavra dada pelos europeus afigurava-se irrelevante.[325] Os acordos eram
ditados aos nativos e exigiam a sua completa capitulação e total sujeição, e
em vez de incorporarem um reconhecimento da soberania ou direitos
indígenas, orientavam os processos que resultavam na modificação, remoção,
controlo e desapropriação do mundo indígena.
Os europeus da época insistiam em que a iniciativa de contacto e a
salvaguarda da paz estavam nas mãos dos índios, e por isso podiam
apresentar-se na defensiva. Segundo esta narrativa, reproduzida na
documentação espanhola e portuguesa, os europeus viam-se forçados à
agressão pela belicosidade nativa. Os europeus eram vítimas, não
vitimadores, e pessoas sitiadas; nesta narrativa, a relação entre europeus e
nativos era invertida e afirmava-se que os segundos se estavam a implantar
em terra dos primeiros e a lutar contra uma ocupação legítima europeia.[326]
Os nativos apareciam nos relatórios como povos usurpadores de territórios já
possuí- dos, e ganhos com grande sacrifício, pelos povoadores europeus. O
facto de a presença europeia empurrar muitos grupos indígenas para fora das
suas terras, forçando-os a um exílio permanente, era simplesmente silenciado.
[327]

Enquanto os índios classificados como «redimíveis» podiam ser abordados


com propostas de alianças, a caracterização de outros como inimigos e
bárbaros constituía um prelúdio à justificação da guerra. A violência estava
particularmente normalizada na América portuguesa, onde desde 1655
existiam procedimentos regulamentados para autorizar a «guerra justa»,
praticada até ao final do século xviii .[328] Requeriam uma queixa formal às
autoridades locais, em que se defendia a violência como a única resposta
apropriada à beligerância nativa. A maior parte dos relatórios continha
narrativas repetitivas sobre ataques de índios aos portugueses ou aos seus
missionários, obstrução do seu movimento no interior americano, aliança
com os seus inimigos ou ataque aos seus amigos.[329] Os habitantes de São
Luís, por exemplo, sugeriam em 1679 que os índios conhecidos como
tremeberes, outrora seus amigos e a quem tinham tratado bem, tinham-nos
mesmo assim atacado, causando a perda de vidas e de propriedade.[330] Em
1726, os índios tapuias, que resistiam violentamente à conversão, foram
identificados como membros de um grupo «bárbaro» e «insolente» que só a
guerra disciplinaria e subjugaria.[331]
Perante as queixas, as autoridades abriam uma investigação judicial e
apresentavam os resultados a uma Junta das Missões ou a uma comissão local
(algumas permanentes, outras ad hoc ) que estudavam o material e ouviam a
opinião de diferentes autoridades, normalmente o governador, o bispo ou o
vigário, o ouvidor e os provinciais das ordens religiosas encarregados da
actividade missionária. As investigações raramente produziam provas
conclusivas sobre o que acontecera e quem era responsável, e os membros da
comissão habitualmente dividiam-se sobre o modo de procedimento.[332] Por
vezes suspeitavam que as testemunhas eram, na realidade, partes interessadas,
fosse por terem sofrido hostilidades ou por conseguirem lucrar com a guerra.
Também não tinham a certeza sobre quem deveria sofrer as consequências, se
grupos inteiros se apenas os indivíduos responsáveis, e o que deveria
acontecer quando a violência fora motivada pelo mau comportamento
português. Em termos legais, a guerra era apenas justificada se lançada contra
um inimigo que atacara ou ocupara injustamente o território português e que
não estava disposto a compensar os danos infligidos ou a reverter a situação
criada. Estas linhas de orientação eram muitas vezes interpretadas na
América portuguesa dos séculos xvii e xviii como justificativas de uma guerra
preventiva contra um inimigo com probabilidades de atacar no futuro. O
canibalismo e outros «pecados contra a natureza» eram também invocados
como razões para uma guerra justa, assim como o ataque a missionários. No
século xviii outro pretexto era a quebra de pactos e o assalto a nações
indígenas amigas ou aliadas. Para fortalecer o argumento a favor da guerra,
os luso-americanos podiam pontualmente retratar episódios violentos
isolados como uma única e grande «guerra sangrenta» que os índios
desencadeavam contra os europeus e que exigia, por isso, uma resposta ampla
e severa.[333]
Apesar de a declaração de guerra pelo simples desejo de extensão de
território ser ilegal, muitas vezes faltarem provas, e os membros das juntas
estarem constantemente divididos, a maior parte das comissões autorizava a
guerra. Temendo tais consequências, em algumas ocasiões os reis
portugueses reservaram para si a decisão final, ordenando que só as guerras
em legítima defesa pudessem ser localmente sancionadas.[334] No entanto, a
centralização da tomada de decisões em Lisboa era pouco prática, e noutras
alturas esta política foi invertida e as comissões locais autorizadas a declarar
todas as guerras, com a aprovação régia exigida apenas a posteriori .
A hesitação sobre quem, e em que caso, podia declarar guerra manteve-se ao
longo do período moderno, e sucessivos monarcas portugueses favoreceram
uma ou outra política. A única coisa que permaneceu constante foi o
imperativo de que a guerra declarada sem se seguirem os procedimentos
existentes era ilegal. A ilegalidade significava que os índios capturados
deviam ser libertados e que quem os capturara devia ser censurado. Insistia-
se na formalidade por se temer que a inexistência de regras levasse qualquer
português a armar-se a seu bel-prazer e a lançar-se nas guerras que melhor
lhe aprouvessem. A tentação de o fazer, comentava-se amiúde, era demasiado
grande. Uma guerra justa não envolvia apenas o aniquilamento de rivais e a
libertação das suas terras e propriedades, justificava a captura e a
escravização. Para limitar as guerras e distinguir as necessárias das outras, era
vital, portanto, instituir procedimentos formais. No entanto, se nas Américas
crescia a pressão para punir os índios, em Lisboa crescia a tendência oposta.
Chegados à década de 1770, o Conselho Ultramarino Português estava já
disposto a rejeitar as queixas de que os índios se envolviam em violência
gratuita. Como é que os nativos podiam ser acusados de matar habitantes de
São Paulo com «a maior dissimulação e alevozia» quando se sabia bem que
os paulistas tinham «assassinado» muitos milhares deles?[335] A memória
dessas atrocidades justificava a crença nativa de que Portugal, «uma nação
assassina dos seus ascendentes», era seu inimigo mortal. Os portugueses não
precisavam de fazer a guerra; precisavam de mostrar que as suas intenções
eram, agora, diferentes.
Nos territórios espanhóis não existiam mecanismos formais a autorizar a
guerra. A violência contra os povos indígenas estava teoricamente banida
desde meados do século xvii , quando a monarquia instruíra os seus agentes a
passar da «conquista» à «pacificação». Na prática, todavia, campanhas
identificadas como «guerras justas» e que produziam, como na América
portuguesa, expropriação e escravidão, eram lançadas contra os índios que os
espanhóis classificavam como particularmente selvagens e hostis ou rebeldes.
[336]
As campanhas, denominadas correrías , entradas ou expediciones ,
tinham normalmente uma organização local e por vezes seguiam as
recomendações de juntas locais. Como na América portuguesa, era
especialmente no interior que se situava o entusiasmo pela guerra, ligado ao
desejo de forçar os índios a uma escravidão de facto , senão de jure . Mas,
como na América portuguesa, nem sempre o que era advogado localmente
encontrava apoio externo. Em 1797, por exemplo, os residentes de Santa
Rosa (no actual Paraguai) pediram autorização para lançar a guerra contra um
grupo de índios que, diziam, atacava constantemente os seus povoados.[337]
Advogavam que se mudasse a política que autorizava a guerra defensiva mas
não a ofensiva. Os funcionários régios responderam-lhes que a violência
devia ser exercida em último recurso e somente se os nativos atacassem
primeiro. Em 1805 os habitantes de Sauces (actual Bolívia) quiseram castigar
os índios que os teriam atacado, e defenderam que era o único método
possível de garantir a sua conversão, preservar a fronteira, e «assegurar e
aumentar as conquistas». A honra do rei estava também em causa: preservar a
sua soberania significava agir contra os rebeldes que atacavam os seus
súbditos. «Porque os bárbaros não só se tornaram donos dos seus domínios
mas também destruíram os seus vassalos e as suas propriedades com uma
perseguição muito sangrenta», era vital que os espanhóis lhes dessem uma
lição.[338] E era necessária uma reacção que defendesse os aliados nativos,
cuja preservação era mandatada pelo «derecho de gentes» , leis régias e a
«honra» da bandeira espanhola. Os aliados cumpriam de boa-fé o seu
«contrato heróico» com os espanhóis e, portanto, estes deviam igualmente
cumprir, oferecendo-lhes protecção. O que era preciso, em resumo, era uma
«expedición geral» protagonizada por soldados profissionais, e não
voluntários. O comandante militar local concordou, sublinhando a maldade
dos ataques indígenas e a impossibilidade de chegar a um acordo com eles. A
audiencia de La Plata (actual Sucre, na Bolívia), todavia, vacilou. O tribunal
e a junta que nomeou para examinar a questão procuraram informação
adicional sobre as causas da rebelião nativa. A preparação para a guerra
continuou e as negociações prosseguiram. A situação melhorou o suficiente
para que a audiencia decidisse que não era necessária uma «guerra
ofensiva a fuego y sangre» . Mantiveram-se algumas das hostilidades, mas
eram «típicas de situações de fronteira», exigindo apenas uma «resposta
ordinária», ou seja, um castigo moderado.
Quer autorizassem formal, quer implicitamente, a guerra, espanhóis e
portugueses insistiam que a violência era um meio para produzir a
obediência, não o extermínio.[339] Era uma estratégia desenhada para garantir
uma submissão completa e total e, assim, seria apenas usada contra índios
que não podiam ser pacificados de outro modo. E como a guerra era
considerada um método para obter a paz, em Portugal, pelo menos, as
mesmas comissões que fiscalizavam o início da guerra podiam também ser, e
de facto muitas vezes eram, encarregues de negociar e declarar a paz. Os seus
membros examinavam e sancionavam a violência e os entendimentos,
campanhas militares e manobras pacíficas, e muitas vezes envolviam-se na
parte cerimonial dos acordos. Podiam recomendar aos actores locais que
evitassem certas áreas, para não provocar os nativos, ou dar instruções que
assegurassem as boas relações – ou pelo menos a não-beligerância – entre
colonos, missionários e povos indígenas.
A guerra era um meio de produzir paz e a quebra da paz produzia guerra. No
interior da América do Sul a paz e a guerra estavam em constante alternância.
Eram considerados dois instrumentos legítimos para atingir e manter o
controlo, que espanhóis e portugueses usavam de acordo com as
circunstâncias do caso, lugar, período e intervenientes. A convicção de que
alguns índios eram particularmente bárbaros e excepcionalmente hostis aos
europeus justificava violentas campanhas contra eles. A garantia de que
outros sabiam acomodar-se ao colonialismo permitia-lhes escolher a paz.
Para distinguir os que mereciam castigo dos que podiam ser pacificados, os
europeus tinham de estabelecer que grupos nativos existiam, quem eram os
seus membros, e quem os dirigia. A tarefa era extremamente árdua, e os
governadores, missionários, membros de comissões, povoadores e
comandantes militares envolvidos em fazer a guerra e em oferecer a paz
muitas vezes discordavam acerca dos grupos e chefes com quem estavam a
lidar.[340] Será que o cacique identificado como «comandando muitos índios
em Charcas (actual Sucre), Potosi e Santa Cruz» (todos na actual Bolívia)
seria realmente responsável por todos estes grupos? Seria provável que
influenciasse as suas decisões? E qual era a relação entre os diferentes grupos
(«tolderías») que percorriam o rio da Prata? Formavam uma nação («cuerpo
de nación») ou estavam divididos em clãs («bordas») que se aliavam na
guerra, mas que eram inimigos na paz?
No desejo de identificar os grupos e os chefes, mas confrontados com um
mundo que mal compreendiam, espanhóis e portugueses introduziram
condições nos seus acordos com os nativos que respondiam a estas questões.
Estipulavam, por exemplo, que o índio que fizera a paz seria, no futuro,
reconhecido como o «cacique principal» das Pampas e «cabeza» de uma
«nueva republica» , que governaria a partir daí.[341] Em 1791, da mesma
maneira, sugeriram que o líder índio com quem os espanhóis tinham firmado
um acordo seria instituído como «capitão general e governador da tribo»,
condição que os outros índios supostamente aceitaram. Para consagrar os
poderes recém-doados, em Espanha os líderes nativos podiam receber título e
pessoal de comando; em Portugal eram promovidos como líderes hereditários
e recebiam cartas oficiais de nomeação e distinções militares.[342] Índios
particularmente úteis podiam assim ser gradualmente transformados de
líderes de uma aldeia em líderes de nações inteiras ou de indivíduos que
detinham cargos militares menores a «principais» com condecorações
militares. No final deste processo, o que acontecia era que em vez de terem
sido as autoridades de um grupo a chegar a um entendimento com os
europeus, o grupo e as suas autoridades eram instituídos pelos acordos. Em
consequência, os pactos que reconheciam as partes contraentes como válidas
estavam, na verdade, a torná-las válidas, ou pelo menos era nisso que os
europeus acreditavam. Ou seja, em vez de reproduzirem uma realidade
preexistente, os acordos com os nativos actuavam sobre a realidade. A guerra
e a paz eram exemplos performativos que afectavam, mais do que
reconheciam, as relações sociais.[343]
As mudanças sociais internas e a etnogénese que daí decorria significavam
que era pouco claro se os espanhóis e os portugueses usavam os índios para
consolidar a expansão ultramarina ou se, ao invés, os índios os utilizavam
para ganhar proeminência e controlo sobre outros nativos – ou ambos. O que
é evidente é que em vez de existirem vários grupos discretos em colisão ou
em acordo, como tantas vezes foi descrito, o confronto entre os nativos e os
europeus formou e re-formou ambas as partes.
O estudo da conversão e da criação de alianças demonstra que os índios
podiam ser cristãos ou pagãos, vassalos ou estrangeiros, aliados ou inimigos,
e que a sua classificação de uma ou de outra forma afectava os direitos
europeus. Implicaria isto, então, que os nativos tinham a posse, ou direito,
dos territórios onde viviam? Apesar da ideia de que depois de os índios se
tornarem vassalos ou aliados também a sua terra o passava a ser sugerir uma
resposta positiva, nem sempre foi o caso. Na imaginação coeva, a questão dos
direitos face a outros europeus distinguia-se das relações que uniam os
europeus aos nativos. Por isso, embora espanhóis e portugueses pudessem
incorporar o direito nativo à terra nas suas disputas uns com os outros,
podiam também negá-lo, ou pelo menos negar as suas implicações, quando
lidavam com os nativos.
O direito nativo à terra era central nos debates dos séculos xvi e xvii em torno
dos direitos dos europeus no Novo Mundo. Após um breve período em que
os espanhóis e os portugueses disputaram o direito ao título baseando-se em
doações papais, alguns académicos ibéricos, de que o mais famoso seria
Francisco Vitoria, desviaram a argumentação da decisão arbitrária de um
poder universal (o papa) para um «direito natural», no qual iria assentar uma
nova ordem «internacional».[344] Segundo Vitoria, os direitos dos índios e o
modo como os europeus interagiam com eles deveriam ser determinados por
regras que, apresentadas como universais e permanentes, tinham origem nas
tradições europeias inspiradas no direito romano tal como fora preservado e
utilizado na Europa medieval e moderna.[345] Partindo desta ideia, os europeus
procuraram identificar, seleccionar, controlar e mudar esta lei «natural» para
que servisse o seu sentido de justiça e os seus interesses. Elaboraram então
uma grande quantidade de doutrinas que, apesar de justificarem o domínio
europeu das populações e das terras nativas, também lhe impuseram
importantes limitações.[346] Nas próximas páginas dedico-me à evolução e
consequências concretas destas doutrinas, e descrevo as suas implicações
teóricas e práticas à medida que foram sendo usadas na acareação entre a
Espanha e Portugal nas Américas.
A contribuição de Vitoria foi vital para modificar os termos do debate, mas a
sua principal preocupação continuava a ser a distinção entre «guerra justa» e
«guerra injusta». A primeira podia produzir resultados legais, como domínio
sobre pessoas e suas propriedades, a segunda não. Vitoria ancorava a justeza
da guerra no «direito natural» e não na autoridade papal, como outros antes
dele haviam feito. Defendia, assim, que as violações da liberdade de viajar,
estabelecer-se, comerciar e pregar eram (os únicos verdadeiros) motivos que
justificavam a guerra. Embora isto fosse muito revolucionário, em
retrospectiva, a maior novidade legal introduzida na transição da Idade Média
para a Idade Moderna, e que iria ter uma enorme influência nos debates
acerca do Novo Mundo, não residia na crescente identificação do direito
europeu com o direito natural – e, portanto, universal –, mas na questão do
que este direito natural incluía e como deveria ser interpretado.
Este direito natural, sabemo-lo agora, evoluiu lentamente durante o final da
Idade Média, e a sua maior mutação ocorreu muito antes de os europeus
chegarem ao Novo Mundo. O ponto de partida foi uma grande diferença entre
o direito privado e o direito público; o ponto de chegada, a sua surpreendente
semelhança. Eis a história de como aconteceu. Durante a Idade Média
vigorava um entendimento generalizado entre os juristas do direito romano
de que enquanto os direitos de propriedade privada mudavam
constantemente, os direitos das comunidades e dos reis, não. Como a
propriedade dependia da posse, a descoberta e a ocupação das coisas que
pertenciam a ninguém podia dar título na esfera privada (direitos de
propriedade). No entanto, a regra não se aplicava na esfera pública, em que
propriedade comum e a jurisdição não dependiam da posse. A prescrição (a
aquisição de título pela passagem do tempo) também não se aplicava porque
a posse pública de terras, bem como a jurisdição, nunca poderiam prescrever.
[347]
Consequentemente, os que ocupavam terra pública ou usurpavam a
jurisdição de terra pública não ganhavam título pela passagem do tempo. Ao
contrário da propriedade privada, o espaço político era imutável, fixo e
rígido. Exprimia uma ordem natural, mandatada por Deus e apoiada pela
Igreja.
Era este o consenso na Alta Idade Média; todavia, a partir de meados do
século xiv , os juristas europeus, inspirados pela busca de novos princípios
morais que justificassem a emergência de uma ordem económica e política
modernas, lentamente começaram a questionar estes pressupostos. Usaram
conceitos romanos sobre a propriedade privada para criar doutrinas acerca de
fronteiras e jurisdições públicas. Transpondo argumentos das relações entre
indivíduos para as relações entre príncipes e estados, os juristas do Ius
Commune foram gradualmente apresentando o espaço político também como
uma expressão da experiência vivida e das actividades daqueles que nele
residiam. Centraram-se na maneira como os humanos modificavam o
território e não como obedeciam a divisões pré-ordenadas, e sugeriram que,
tal como a propriedade privada, as divisões políticas também assentavam no
acordo entre indivíduos e grupos. Acabaram a identificar propriedade com
jurisdição, e chegaram à conclusão de que ambas podiam ser adquiridas de
modo semelhante.
A expansão europeia, coeva ou posterior a estas discussões, adicionou-lhes
novas dimensões, convertendo-as em normas gerais e alargando-as a
populações e a espaços não-europeus. A genealogia deste segundo
desenvolvimento inicia-se habitualmente em 1516, quando Thomas More, na
esteira dos debates que se realizavam pela Europa, sugeriu que as
comunidades sobrepovoadas dedicadas a actividades agrícolas pudessem
estabelecer uma colónia em territórios onde os nativos «têm mais solo do que
aquele que podem cultivar».[348] Não só a expansão era legítima como seria
«uma causa muito justa de guerra» porque ninguém tinha o direito de
«impedir outros de vir e possuir uma parte do seu solo, do qual não faziam
uso, mas que deixavam sem trabalho e sem cultivo; visto que cada homem
tem pela Lei da Natureza um direito a tal porção da terra, conforme
necessário à sua subsistência». Por permitirem às comunidades, e não aos
indivíduos, a ocupação de terra não usada, e por implicarem não apenas a
aquisição de propriedade privada mas a constituição de novas soberanias, as
afirmações de More abriram caminho ao colonialismo. Foram adoptadas e
desenvolvidas por Alberico Gentili, que defendeu em 1588 que Deus não
criou o mundo para que ficasse vazio.[349] A tomada de lugares vazios, de cuja
existência não duvidava e que podiam ser descobertos e ocupados, era por
isso não só uma possibilidade como um dever. Era mandatada por um
«direito natural» que «abominava» o vácuo e ordenava o seu preenchimento.
Em jeito de profecia, Gentili admitia que a identificação do que era e do que
não era ocupado seria uma questão muitíssimo complicada. A Itália estaria
desocupada devido ao pequeno número de habitantes? E as Américas sob a
Espanha, também? Hugo Grócio interveio no debate e insistiu na
apresentação da divisão do mundo como consequência da actividade humana
e não de uma ordem natural. Em 1609 escreveu que toda a propriedade,
incluindo a terra – privada e pública – nascia da ocupação.[350] Defendia que o
que não podia ser ocupado pertencia a ninguém (e afirmava com isto a
liberdade dos mares, para que a Companhia das Índias Orientais Holandesas,
que representava, pudesse comerciar na Ásia), e sugeriu em 1625 que a terra
abandonada, na qual incluía baldios não-cultivados, não tinha um verdadeiro
proprietário. Grócio abriu igualmente caminho à prescrição na propriedade
pública, afirmando que a necessidade de erradicar a guerra e garantir a
resolução pacífica de conflitos entre soberanos obrigava a que tanto a
propriedade como a jurisdição públicas da terra pudessem prescrever. Em
1672 Samuel Pufendorf acrescentou mais um termo à equação, com a
insistência de que o direito civil, e não o natural, é que determinava que
ocupação produziria título.[351] A única condição verdadeiramente imposta aos
humanos pela natureza era a necessidade de garantir que a actividade que
constituiria ocupação comunicaria suficientemente bem o acto de tomada de
posse e a intenção de dar uso às coisas possuídas. Ao contrário de Gentili e
de Grócio, Pufendorf afirmava que embora os indivíduos não pudessem
nunca apropriar-se de mais do que aquilo que conseguiam usar, porque os
seus direitos estavam contingentes da ocupação, as comunidades podiam
possuir regiões que não ocupavam por inteiro. Não obstante, concordava que
a prescrição existia para a propriedade privada e pública, tanto para a
propriedade como para a jurisdição. Sugeria até que a sua implementação era
mais importante no domínio público do que na esfera privada, porque se o
objectivo da prescrição era preservar a paz, «as posses públicas não podem
ser perturbadas sem maior confusão e perigo do que as privadas».
Assim, a partir do século xvii , a questão legal que a maior parte dos europeus
se colocava em relação às Américas não se prendia com o direito dos nativos
– que reconheciam estar presentes – mas com a ocupação de terras.
Começaram por definir o que significava a ocupação (válida) e, por
implicação, em que casos estava ausente. Examinaram as actividades dos
nativos e sugeriram que a falta de ocupação propriamente dita implicava que,
não obstante a sua presença, os territórios estavam vazios. Em vez de
respeitarem títulos passados, os europeus passaram a ajuizar se certos
territórios estavam «vazios» de acordo com os padrões que estabeleciam,
concluindo depois que tal era o caso e que estavam por isso abertos à (sua)
penetração. A decisão retirava a legitimidade da posse a muitos grupos
indígenas, por a posse ser considerada insuficiente. Permitia argumentar que
alguns europeus, como os espanhóis, eram conquistadores porque se
apropriavam do território e da jurisdição de índios «avançados» e
sedentarizados, que usavam o território «devidamente», enquanto outros –
por exemplo, os ingleses – eram povoadores porque penetravam nos
territórios de tribos nómadas que ainda estavam «vazios». Mais tarde, a
decisão sustentou também a pretensão de que enquanto alguns europeus
ocuparam a América apropriadamente, que por isso se tornou «deles», outros,
seus concorrentes, não o fizeram.
A necessidade de identificar a ocupação e a sua ausência gerou longos
debates, e as respostas variaram de lugar, tempo e autor.[352] Em meados do
século xvii , no Peru, Juan Solorzano Pereira, por exemplo, afirmava que a não
ser que um território nunca tivesse sido habitado ou tivesse sido
completamente abandonado pelos que lá tinham residido, nunca poderia ser
considerado completamente vazio.[353] Contudo, se a terra ocupada não podia
ser possuída, a terra que estivesse fisicamente abandonada e «inculta» podia
ser cedida à primeira pessoa ou comunidade que a encontrasse e ocupasse
«como um prémio pelos seus esforços». Nessa altura já era óbvio que os
espanhóis tinham infringido essa norma. Solorzano apelou por isso à
prescrição, defendendo que os monarcas católicos tinham adquirido os
direitos da terra e a soberania nas Américas principalmente devido à sua boa-
fé e à passagem do tempo. Outros autores espanhóis mantiveram, pelo
contrário, que enquanto os direitos da terra privada dependiam da posse e do
uso e que cessavam quando estes também cessavam, esse nunca fora o caso
das terras pertencentes a comunidades, cujo título nunca poderia prescrever.
[354]
Estes autores explicavam que era o que se passava na Europa, onde
estava interdito a qualquer nação estrangeira o estabelecimento em territórios
desertos. Fazendo eco de preocupações semelhantes às de Pufendorf,
defendiam que a regra deveria aplicar-se às Américas. As implicações do
raciocínio eram claras: as potências estrangeiras não podiam estabelecer-se
nos territórios espanhóis do Novo Mundo devido ao seu (relativo) não-uso.
[355]
O mesmo raciocínio, porém, potencialmente protegeria os índios, cujas
terras «vazias» os espanhóis não poderiam possuir. Para garantirem que a
lógica não era extensível aos índios, outros autores defendiam que a Espanha
formava uma única comunidade, e que todos os seus territórios no Novo e no
Velho Mundo eram espaços «internos» que podiam ser por eles, espanhóis,
possuídos independentemente do uso. Afirmavam ainda que as sociedades
indígenas, pelo contrário, eram constituídas por muitas entidades políticas
separadas. Consequentemente, enquanto os territórios entre os enclaves
espanhóis não estavam abertos à posse, mesmo que fossem ermos, as terras
vazias entre diferentes repúblicas índias podiam e deviam ser ocupadas.
Estes debates, ligados a interesses específicos e orientados para a legitimação
de determinadas pretensões e actividades, eram frequentemente apaixonados.
Envolviam acusações e contra- -acusações e o uso constante do sarcasmo. Os
ingleses criticavam os espanhóis por tentarem possuir terras já detidas por
nações civilizadas, como os aztecas ou os incas. Os espanhóis
ridicularizavam os ingleses por defenderem que a sua parte das Américas
estava vazia, já que era absurdo manter que os nativos não tinham noção de
propriedade; pela sua condição de humanos, todos os indivíduos sabiam o
que era seu.[356] Os autores espanhóis também diziam que mesmo na Europa
muitos não tinham a ligação à propriedade ou o tipo de ocupação que os
ingleses exigiam aos nativos, e rejeitavam a reivindicação de que os europeus
podiam conservar as suas terras não-usadas, enquanto os nativos não.
Os debates acerca do direito nativo à terra provocavam diferendos não só
entre europeus e nativos, mas também, e talvez principalmente, entre os
próprios europeus. Comprometiam diferentes potências coloniais e tinham
repercussões internas. A relação entre desenvolvimentos internos e externos
era especialmente óbvia no Treatises on Government de Locke. O autor
buscava um método que (1) justificasse a perda da posse dos ingleses pobres
e o ataque aos baldios, concomitantes com a conservação da propriedade dos
terratenentes (em Inglaterra); e (2) criticasse as actividades da Espanha e da
França (no Novo Mundo) ao mesmo tempo que legitimava a perda da posse
dos índios americanos em favor dos ingleses.[357] A fórmula criada era
engenhosa. Haveria uma distinção entre diferentes tipos de ocupação e entre a
Europa e as Américas. De acordo com Locke, enquanto algumas espécies de
ocupação, principalmente empreendimentos agrícolas que «melhoravam» (e
assim transformavam) a terra, instituíam a posse, outros usos, como a
recolecção e a caça, não o faziam; se nas Américas a ocupação era instituída
por um «direito natural» que requeria o uso constante do território, na Europa
– onde existiam leis civis – os direitos podiam também depender de títulos
legais. Ao apresentarem a apropriação como uma actividade que punha o
homem em confronto com a natureza, e não com os outros homens, autores
como Locke concluíam que tanto no Velho como no Novo Mundo as terras
comunais, os baldios, eram territórios deixados num estado de natureza e,
portanto, eram irracional e insuficientemente usados.[358] A sua abundância na
Europa, onde, na verdade, eram a forma mais comum e tradicional de
propriedade, tornava-se irrelevante. Igualmente inconsequente era a questão
de se saber se os nativos americanos usavam a terra da forma como Locke (e
outros) descreviam ou se a sua estereotipagem como caçadores e recolectores
era mais um desejo do que um reflexo da realidade.[359]
Por um lado, estes argumentos eram revolucionários; por outro resultavam,
como que destilados, de discussões anteriores. Baseavam-se numa convicção
antiga (vinda do direito privado) de que os direitos das terras dependiam do
uso e que a mão-de-obra merecia compensação.[360] Os autores da
Antiguidade Clássica eram unânimes na defesa da propriedade como uma
instituição criada pelo homem, que emergira da adopção da agricultura. Os
caçadores não detinham propriedade, mas os pastores tinham propriedade nos
seus animais e os agricultores desenvolviam propriedade na terra. A maior
parte dos autores medievais e modernos concordava com estas noções.[361]
Deus dera ao homem a terra para que satisfizesse as suas necessidades.
Assim, toda a propriedade de terras estava condicionada pela sua utilização
devida. Estes autores faziam do cultivo um dever religioso, e insistiam que a
detenção da propriedade implicava a prestação de um serviço ao bem público.
Durante a Reconquista medieval estas tinham sido as visões dominantes em
Espanha e Portugal. A construção legal ibérica desse processo, em vez de
assentar na reclamação de território pela vitória numa guerra justa (contra os
muçulmanos), baseava-se na afirmação de que as terras conquistadas estavam
vazias e por isso abertas à recuperação da posse.[362] Os códices legais
castelhanos do século xiii (Siete Partidas) reproduziam estes entendimentos,
afirmando que o primeiro mandamento de Deus aos homens era que
povoassem a terra, o que incluía o direito a multiplicarem-se e a cultivarem o
solo. A posse podia ser alcançada pela força ou pelo exercício de uma «arte»
ou uma ocupação.[363] Também em Portugal variados sentimentos e
percepções de crise – a abundância de terra vazia e uma quebra demográfica
nos séculos xiv e início do xv – provocaram uma renovada insistência na
relação entre os direitos da terra e o cultivo. A Lei das Sesmarias de 1375
(confirmada em 1446, 1521 e 1603), por exemplo, obrigava à expropriação
em casos de deficiente uso da terra, e embora a sua implementação tenha sido
assolada por dificuldades, há muitas provas de tentativas (nem sempre bem-
sucedidas) de desenvolvimento de mecanismos que impusessem a exigência
de trabalhar a terra ou de permitir a sua transferência para outros que a
trabalhassem.[364] A partir daí, as relações entre o uso e a posse foram
continuamente afirmadas. Em Espanha, muitos autores insistiram na
obrigação de os reis premiarem quem cultivava a terra dando-lhe título, e
castigarem quem abandonava o cultivo, forçando-o a utilizar a terra ou a
entregá-la.[365] Como acreditavam que o bem-estar do estado dependia da
agricultura, que a agricultura dependia do esforço humano e que a mão-de-
obra, e não a terra, é que produzia riqueza, estes autores identificavam o
trabalho como propriedade.[366] Propunham que cada comunidade designasse
magistrados especiais para inspeccionar a terra a fim de assegurar que não
fosse abandonada ou insuficientemente trabalhada. Viam na agricultura uma
metáfora para a transformação do território e dos homens e consideravam- -
na a mais importante das actividades humanas.
Para os autores dos séculos xvii e xviii a agricultura distinguia povos
civilizados de povos selvagens. No Portugal moderno, a crença de que a
agricultura ligava os indivíduos à terra mais fortemente do que qualquer outra
actividade económica era predominante e também aí a sua existência era
considerada o elemento que melhor distinguia os civilizados dos não-
civilizados.[367] Quando confrontados com a perspectiva de abolir o dever de
cultivo como moeda de troca pela posse, em 1642, alguns autores
portugueses defenderam que a adopção da medida comportaria um grave
risco, pois a ligação da propriedade ao uso era uma componente essencial do
bem-estar económico do reino.[368] No século xviii os académicos ibéricos
também concordavam que o melhor uso para a terra era a agricultura e
opunham-se aos privilégios tradicionalmente concedidos aos pastores.[369]
Como Locke, questionavam a lógica económica de permitir às comunidades
que mantivessem grandes terras comunais, e defendiam a necessidade de
privatizá-las, por acreditarem que apenas a propriedade privada garantiria
suficiente incentivo ao cultivo. A redistribuição de terra abandonada ou
pouco usada era também abordada, e era frequente o desacor- do sobre se
deveria ser dividida pelos sem-terra ou concedida a quem soubesse como
melhor a trabalhar.
Estas ideias afectavam a legislação e a prática. Na Espanha dos séculos xvii e
xviii encontraram um amplo eco em campanhas que identificavam a quebra
demográfica como uma das principais razões para o declínio económico e
que por isso advogavam a necessidade urgente de dar uso aos territórios
vazios.[370] Estas campanhas fomentaram vivas discussões acerca do uso e do
abandono da terra. Como nas Américas, em Espanha o uso era normalmente
equivalente a agricultura, e a pastorícia classificada como «perda» que não
conduzia a qualquer melhoria. Também aqui se explicava que a terra deixada
no seu estado não cultivado ou como baldio nunca era uma opção informada
ou razoável, mas uma negligência intencional, quase criminosa. Forçar as
comunidades ou os proprietários privados a usar a terra ou a cedê-la a outros
que a povoariam era justificado pela afirmação de que os donos que não
cultivavam a sua terra não tinham absolutamente quaisquer direitos. Afinal,
recebiam-na na condição de a cultivarem: «Durante séculos estas terras não
têm dado frutos. Os seus donos não tiveram, nem têm, no presente, nem
podem ter, qualquer utilidade nelas para além do que poderiam ter em
domínios situados em espaços imaginários.»[371] A convicção de que o rei
podia intervir na ordem legal ajudava. Defendia-se que isso era,
precisamente, o significado de soberania: o poder superior do rei permitia-lhe
distribuir propriedades e território de acordo com a necessidade do público, e
abolir direitos existentes e criar outros. A partir daí, o cultivo e o povoamento
da terra através da criação de novos povoados (muitas vezes chamadas
«colónias») eram retratados como uma acção patriótica «mais gloriosa, útil e
segura do que a conquista de terras distantes».[372]
A associação entre o uso e os direitos era comum no Velho Mundo. A sua
transformação numa doutrina igualmente poderosa no domínio público,
iniciada na Europa medieval (onde os juristas do Ius Commune
gradualmente adaptaram os conceitos do direito privado de propriedade aos
conceitos de direito público de território político e escolheram a prescrição
em detrimento dos direitos antigos), foi acelerada pela expansão europeia. O
colonialismo encorajou os europeus a ampliar o conceito de terras não-culti-
vadas privadas e os direitos de propriedade com a criação de uma teoria sobre
a terra não-cultivada e a sua jurisdição pública. Com um início tímido no
Velho Mundo, a teoria iria produzir um efeito dramático nas Américas. Por
todo o mundo atlântico, mais ou menos ao mesmo tempo, havia indivíduos e
comunidades a cruzar esta ponte conceptual e legal. E apesar de muitos
destes desenvolvimentos serem por hábito identificados com a aventura
colonial inglesa, emergiram num espaço europeu ainda não dividido por
tradições nacionais. A sua presença foi registada, por exemplo, nos tribunais
coloniais de Quito (actual Equador), que reconheciam os direitos que as
comunidades nativas tinham «à terra dos seus antepassados». Todavia, em
vez de reconstruir títulos pré-colombianos, estas sentenças jurídicas estavam
já a reproduzir doutrinas europeias que determinavam que os direitos
dependiam da ocupação.[373] Os juízes de Quito dispunham-se a reconhecer os
«títulos antigos» apenas das comunidades que tivessem continuamente
habitado e cultivado os seus territórios. Recusavam fazê-lo nos casos em que
os nativos tivessem abandonado ou utilizado a terra de outras maneiras que
não a pastagem e o cultivo. O importante, assim, era determinar quem estava
presente na terra e o que nela fazia, não o título original segundo um direito
pré-colonial. Os juízes afirmavam deste modo que os direitos nativos eram
condicionais e não permanentes, contingentes e não absolutos. Apenas
poderiam ser mantidos se os seus possuidores continuassem a cultivar e a
usar a terra.
Os reis espanhóis seguiram o exemplo. Ordenaram que todas as comunidades
índias recebessem a terra de que necessitavam para a sua subsistência, mas
condicionaram a concessão. A terra seria indígena apenas enquanto os
nativos precisassem dela. Depois, reverteria para a coroa e seria redistribuída.
Foram então instituídas campanhas periódicas (chamadas composiciones )
para verificar que território era e não era ocupado.[374] Faziam eco das visões
de Solorzano e Locke e assinalavam a chegada de uma nova era, em que a
terra seria propriedade não daqueles que a tinham «primeiro», mas daqueles
que a tinham usado «melhor».
Na América portuguesa terão ocorrido processos semelhantes. Apesar de a
maior parte dos historiadores ter assumido que os territórios eram
«conquistas» e que aos nativos, povos vencidos, eram negados todos os
direitos à terra, ou que eram «virgens» ou «desocupados», a documentação da
época inclui variadas indicações de que o estatuto legal da terra indígena era
muito mais complicado.[375] Durante a união entre a Espanha e Portugal, por
exemplo, Filipe II reconheceu o direito nativo à terra, e em 1680 (depois do
termo da união), o monarca português, ordenou o fim de toda a distribuição
de terra a povoadores europeus que pudesse retirar a posse aos nativos, os
«primários e naturais senhores» do solo. Ordens de 1755 e 1758
mencionavam a obrigação de reconhecer e levar em conta o direito indígena à
terra, e em 1808 o rei decidiu que os índios deviam ser devolvidos às terras
retiradas em «guerra justa». É também evidente que, independentemente da
posição da coroa ou das ordens decretadas, muitos intelectuais portugueses
concordavam com os congéneres espanhóis em que até os povos vencidos
conservavam direitos ao seu território. Seguindo as doutrinas do Ius
Commune e do direito canónico, insistiam que era isto o que o direito natural
determinava, e identificavam-no como o procedimento correcto e justo.[376]
Mas ainda que os nativos tenham conservado pelo menos alguns dos seus
títulos e direitos, desde a década de 1690, ou até mais cedo, na prática, as
sesmarias portuguesas no Novo Mundo foram condicionadas pelo uso, e a
ausência deste podia ser motivo para reapropriação e redistribuição.[377] As
concessões eram teoricamente restritas em tamanho de acordo com a suposta
capacidade do beneficiário para cultivar o solo e não podiam prejudicar
terceiros. E embora se dirigissem à detenção privada de terra, e não à
detenção pública, eram também aplicadas a comunidades índias. Formuladas
como doações dependentes da boa vontade régia, estas sesmarias permitiam
aos índios permanecer nas terras ancestrais enquanto continuassem a cultivá-
las.
Consequentemente, é possível que de facto (embora não de jure ) as
diferenças entre os que respeitavam os direitos nativos à terra (espanhóis) e
os que não respeitavam (ingleses e portugueses) não fossem particularmente
grandes.[378] Se em abstracto ironizavam e se criticavam mutuamente, em
concreto os habitantes destas potências faziam ligações entre o uso e os
direitos que retiravam a posse a muitos nativos. Espanhóis e ingleses
defendiam que os índios deviam ser deixados ao nível da subsistência, o que
significava que podiam (na verdade, precisavam) de possuir a terra necessária
para sobreviver, mas que não tinham qualquer direito a acumular propriedade
ou a viver de rendas. Em nome da equidade, apontavam a injustiça de não dar
aos índios a terra de que precisavam. Contrapunham o erro de dar-lha em
demasiada quantidade; impediria a subsistência de outros grupos que,
porventura, a utilizariam de modo mais apropriado. A distância entre a crítica
e a criminalização era extremamente curta e significativa. No fim do processo
colonial, não só os nativos americanos tinham sido destituídos da posse como
o facto era apresentado como culpa sua. Eram castigados pela negligência,
um pecado que os obrigaria a emendar-se.
O colonialismo foi uma das causas deste desfecho; a reorganização geral dos
regimes fundiários foi outra. De ambos os lados do oceano os
contemporâneos procuravam alterar as estruturas vigentes das maneiras que
lhes pareciam mais «razoáveis». Se a «razoabilidade» era o motivo ou a
desculpa, nunca o saberemos – estariam os dois presentes, talvez –, mas é
evidente que em vez de respeitar os títulos e direitos existentes, o que os
intelectuais, juízes, litigantes, administradores, religiosos, povoadores e
militares da Idade Moderna, de um e do outro lado do Atlântico, fizeram foi
discutir como os mudar, sabotar ou abandonar por completo. Era como se
estivessem dispostos a reinventar o contrato social e a base legal da
propriedade (como acabariam por fazer) dando novas vestes a antigas teorias.
O debate em torno da terra, da posse e da jurisdição era por isso não só legal
como moral, religioso e político. Confrontava os indivíduos e os estados
cujos interesses estavam em desacordo mas, mais importante, penetrava na
sociedade a um nível muito profundo. Não era exclusivamente representado
por intelectuais; participava nas interacções quotidianas, sempre que os
indivíduos discutiam entre si os direitos das terras e as autoridades
procuravam legitimar ou não as suas interpretações.
Perante estes desenvolvimentos, não será surpreendente que no interior
americano os arguentes do século xvii , xviii e início do xix descrevessem
títulos e direitos como se existissem no vácuo. Invocavam direitos
concedidos por bulas, tratados ou a posse, e muitas vezes fingiam esquecer-se
de que o território era, na verdade, indígena. A presença de índios era, claro,
óbvia, e preocupava a maioria, mas não deveria impedir os europeus de
adquirir jurisdição e território. Pelo contrário, quanto mais belicosos fossem
os índios, maior a tendência para considerar as suas terras objecto de
expansão legítima. Quanto maior número de nativos resistisse, mais os seus
territórios seriam retratados como espaços infinitos e sem limites,
personificadores de tudo quanto era desordenado e perigoso, por não ser
cristianizado nem civilizado, e ser hostil – por outras palavras, tudo quanto
estava vazio e exigia eliminação e transformação.[379]
Os direitos nativos eram discutidos no interior sul americano, normalmente,
só para apoiar ou negar os direitos dos europeus.[380] Nas décadas de 1750 e
1760, a decisão do monarca espanhol de reconhecer certos territórios como
portugueses no Tratado de Madrid foi muito criticada. O acordo exigia o
abandono de sete missões, e alguns autores teriam aventado – os boatos são
mais do que as provas – que a decisão era injusta e ilegal.[381] Injusta porque
colocava um enorme fardo nos índios, que sempre tinham sido súbditos leais
e obedientes da Espanha, forçando-os a abandonar aldeias para um exílio que
os expunha a perigos físicos e morais ( i. e. , religiosos). Ilegal porque ia
contra a promessa real de inalienação do território ou, alternativamente,
porque a terra cedida não era régia: pertencia aos jesuítas (que primeiro a
tinham descoberto, conquistado e possuído), ou aos nativos. Confundindo a
propriedade com a jurisdição, de acordo com a segunda perspectiva os índios
possuíam a terra desde tempos imemoriais.[382] Nunca tinham sido
conquistados, mas tinham-se sujeitado a Espanha voluntariamente. Concluía-
se então que os índios, e não o rei, eram os «verdadeiros, absolutos e
legítimos donos» do território. Por essa razão, este só podia ser cedido se os
chefes índios concordassem.[383]
Embora a discussão nas décadas de 1750 e 1760 fosse até certo ponto
excepcional, a instrumentalização dos direitos nativos e a sua subordinação às
necessidades europeias era contínua. Indivíduos que quisessem atacar os
jesuítas estavam dispostos a afirmar que estes tinham tomado terras indígenas
de forma ilegal: os índios eram proprietários porque «o direito da natureza» e
o «direito das nações» determinava que a terra pertencia aos primeiros
habitantes e ocupantes, independentemente de quem eram e do que faziam
com ela.[384] Para fundamentar as ambições de Portugal, outros sugeriam que
a falta de oposição das «nações índias» que viviam no território implicava o
consentimento na sua ocupação e o reconhecimento das reivindicações
portuguesas.[385] Os espanhóis também defendiam que depois de certos grupos
nativos se lhes terem aliado, os seus territórios eram «integrados nesta
província por reversão, sendo que eram agora vassalos do nosso monarca e
senhor natural a quem deram o seu juramento de fidelidade e subordinação».
[386]
Noutras ocasiões, salientavam que enquanto os nativos fossem infiéis
tinham «domínio e posse» temporal da terra. Assim que se tivessem
convertido, contudo, as terras tornavam-se parte do território da nação
responsável pela evangelização.[387]
A ideia de que alguns índios pudessem ter certos direitos foi também
defendida em várias alianças feitas com nativos. A maioria relacionava-se
com a paz, a vassalagem, a prevenção de crimes, direitos comerciais e a
conversão, e podia incluir um reconhecimento de que a terra por eles ocupada
desde o «tempo dos seus antepassados» ficaria na «sua posse, que já a
tinham».[388] Os pactos podiam determinar, pelo contrário, que os nativos
reteriam a posse da terra, mas o rei obteria um «domínio superior» sobre ela.
[389]
Alguns acordos diziam que os índios que «se consideravam como tendo
direitos à terra» agora a cediam a Espanha.[390] Em ocasiões raras, outros
entendimentos chegavam a demarcar um espaço indígena que os europeus
prometiam não invadir.[391] As alianças com os nativos podiam também
permitir aos índios liberdade de estabelecimento, desde que a escolha não
interferisse com a actividade espanhola ou penetrasse nos «domínios
habituais» espanhóis.[392] Mas, na maior parte das vezes, os pactos que
mencionavam os direitos da terra confirmavam, ainda que implicitamente, a
perda de posse indígena. Obrigavam ao estabelecimento de índios em novas
missões ou aldeias, produzindo o abandono de facto do anterior habitat que,
não ocupado nem usado, seria potencialmente aberto à expansão europeia.
Não só os grupos nativos foram recolocados, como segundo a maioria dos
acordos, os territórios que lhes eram destinados não iriam ser
verdadeiramente deles. Eram terras entregues por concessão régia apenas
depois da submissão e como consequência dos acordos com os espanhóis ou
os portugueses. A duração da concessão estava condicionada à lealdade
indígena.[393] Os portugueses mostravam-se particularmente firmes neste
ponto, e sugeriam que mesmo os índios que permanecessem nos seus
territórios ancestrais o fariam por concessão régia. Não eram os proprietários
originais e donos dessa terra; possuíam-na porque o rei os protegia, como a
qualquer outro vassalo.[394] Como um procurador de um grupo indígena
escrevia em 1735, «pelo direito natural e comum… o domínio era adquirido
pelo primeiro ocupante, que é porque sucessivos decretos reais e leis
mandatavam que a posse pelos índios da terra que os seus antepassados
[ «mayores» ] ou os gentios de que descendiam ocupavam devia ser
preservada sem perturbar os seus sucessores, que recebiam instrução na fé
católica e verdadeira e se submetiam ao soberano; mas se algumas terras não
estivessem ocupadas, ou bárbaros as tivessem despovoado, continuando a sua
idolatria cega e escapando à conversão e à sujeição aos reis, estas podiam ser
ocupadas por outros».[395]
É justo dizer, portanto, que independentemente das teorias, dos diferendos
entre portugueses e espanhóis, e das alianças, quase nenhum registo coevo
indica que os direitos indígenas pudessem ser um impedimento à expansão
europeia. Ao rejeitar alegações de que a jurisdição de Portugal era pouco
óbvia em certas áreas, por ainda estarem ocupadas por «nações índias
bárbaras», em 1797 um comandante português afirmava que era impensável
que a presença de índios impedisse as potências europeias de serem donas do
território.[396] Não só era contra o «direito público» e o «direito das gentes»
que exigia apenas uma ocupação «geral» e não «privativa», como, fora esse o
caso, nenhum europeu seria alguma vez dono do que quer que fosse nas
Américas. A Espanha certamente não seria capaz de deter a penetração de
outros europeus, porque «a maior parte do seu vasto território era ocupada
por antigos e selvagens habitantes». De modo semelhante, em 1805
interlocutores espanhóis sugeriam que mesmo depois da promessa de não
entrada em certos territórios, contida no acordo feito com os índios, os
avanços espanhóis não deviam ser travados. Qualquer outra solução seria
absurda e ilógica.[397] As velhas demarcações podiam certamente ser
transgredidas se fossem necessários novos territórios e se os que vivessem
neles fossem selvagens sem uma fixação permanente à terra, mantendo-a
inculta. Como um professor de Direito Natural da universidade de Buenos
Aires defendia no início do século xix , a criação de fronteiras demarcadoras
da terra possuída por cada comunidade e a rejeição da penetração estrangeira
eram coisas naturais.[398] Todavia, a ocupação da terra relacionava-se com a
necessidade humana básica de residência e subsistência, e tinha de ser justa e
racional. Nenhuma nação podia ocupar e demarcar para povoar e cultivar um
espaço demasiado grande para ela; tal comportamento constituiria uma
usurpação. Os povos que considerassem o seu território demasiado pequeno
podiam ignorar «velhas fronteiras» e estabelecer-se e ocupar terra não-
cultivada e despovoada para além dos seus domínios originais. Era
particularmente verdade se a terra fosse apenas percorrida por tribos
selvagens que não precisavam dela. Como se tivessem lido a Frontier
Thesis de Frederick Jackson Turner, os observadores da época afirmavam
que as divisões existentes entre actuais inimigos estavam destinadas a
desaparecer como parte de um processo que culminaria na conversão e
civilização de toda a humanidade.[399] Explicavam igualmente que as
fronteiras eram «todas as terras que são desconhecidas e ocupadas por
bárbaros e os nossos pertences continuam sempre a estender-se com o
povoamento de novas missões e quintas que são estabelecidas mais à frente
com o interesse [de ter] boas pastagens e terreno fértil, como tem sido sempre
o caso desde que este continente foi pacificado».[400] Por outras palavras, e
como terá comentado um capitão espanhol em 1599, o objectivo final era
assegurar «mais, mais, mais e mais».[401]
Estas posições minimizavam a importância dos acordos territoriais com os
nativos, assim interpretados como temporários e práticos e não como finais e
obrigatórios. Embora existisse um conflito territorial entre espanhóis e
portugueses e entre cada um dos ibéricos e os índios, o segundo conflito
podia ser ignorado e classificado como «interior» e não «exterior» (como
ainda o é hoje). Esta taxonomia permitia que os espanhóis e os portugueses (e
os seus sucessores actuais) incorporassem o direito nativo à terra nos seus
conflitos uns com os outros mas o negassem, ou pelo menos negassem a
maior parte das suas implicações, quando lidavam com os nativos.[402]
Conclusões
Embora os direitos de propriedade nativos pudessem ser ignorados e
diminuídos, espanhóis e portugueses reconheciam que a não ser que
pacificassem a população local, fizessem com ela acordos, a convertessem ou
a exterminassem, nunca se tornariam senhores do Novo Mundo. Alternando
sempre entre a guerra e a paz conforme julgavam ser a melhor estratégia, os
ibéricos codificaram a sua relação com o mundo indígena a um nível
espantoso. Os missionários, convictos de que a conversão religiosa acarretava
uma mutação cívica, tornaram-se agentes da expansão territorial. As suas
actividades, que consistiam na descoberta, conquista, ocupação e tomada de
posse de terras e seus habitantes, e na respectiva defesa contra potências
estrangeiras, granjeou-lhes amigos e inimigos. Divididos por ordens e em
províncias, os religiosos, muitas vezes de origem estrangeira, competiam,
criticavam e lutavam uns com os outros, e enfrentavam povoadores e
comandantes militares europeus no esforço de confirmação dos direitos da
sua ordem e do seu rei. Qualquer que fosse a posição tomada, porém, todos
os europeus envolvidos concordavam numa coisa: nada podia ou devia
impedi-los de se expandirem tanto quanto pudessem.
É portanto justo dizer que os europeus que coabitavam nas Américas
reivindicavam partes dela como suas. Como indíviduos, em grupos, ou em
expedições sancionadas pelo estado, penetravam em novas áreas motivados
por fins económicos ou políticos ou inspirados pelo zelo missionário. A
chegada de uma potência normalmente provocava a chegada da outra,
levando assim a uma concorrência sobre quem cresceria, para onde, e quão
depressa. Todos os actores afirmavam que as suas acções eram justificadas,
ao contrário das dos seus adversários, mas o certo é que as bulas, tratados e
doutrinas que citavam não continham nenhuma indicação clara de quem
tinha, ou não tinha, razão. Os reis podiam acreditar que a situação nas
Américas era estática – na verdade, insistiam constantemente na preservação
do status quo e no apelo a bulas e a tratados, que pensavam encerrar
soluções óbvias –, mas no interior do continente ninguém era capaz de
determinar o que significavam estas coisas e como podiam ser defendidas.
A conversão, a criação de alianças e a guerra foram mecanismos que
simultânea ou separadamente puderam ser utiliza- dos para controlar os
habitantes indígenas e a sua terra. Cruciais para garantir o bem-estar dos
colonos locais e o sucesso da sua iniciativa, estes mecanismos também
operavam – muitas vezes em silêncio – na transformação dos nativos em
contrapontos em função dos quais os debates entre europeus eram travados,
perdidos ou ganhos. Os religiosos, os povoadores e os militares que lutavam
pelo direito, apresentado como dever, de assimilar religiosa e politicamente
os nativos terão cuidado das suas almas ou cobiçado a sua mão-de-obra, mas
assumiram também, claramente, que a adesão indígena a um país ou a outro
garantiria os seus direitos fundiários. Os nativos eram a verdadeira terra
nullius que esperavam possuir e, neste processo, tanto reconheceram como
ignoraram as suas pretensões. Mas os indígenas também perseguiam as suas
agendas. Ainda que relativamente parcos, os registos disponíveis são
esclarecedores. Demonstram que os indígenas podiam usar espanhóis e
portugueses nas suas lutas uns com os outros ou para ganhar proeminência
local. Podiam iniciar contacto com os ibéricos para perceber os seus planos e
talvez receber os presentes que tantas vezes distribuíam. Por mais cuidadosos
que fossem os encontros, porém, absorveram os nativos num furacão humano
que iria virar o seu mundo de pernas para o ar.
Distinguir territórios espanhóis de portugueses, em suma, era um assunto
intrincado sem resolução fácil, porque, entre outras razões, não reflectia um
estado permanente, mas uma dinâmica, um processo aberto com muitos
actores, múltiplas possibilidades e, frequentemente, numerosas e
contraditórias justificações. Na documentação do período é evidente a noção
de urgência, mesmo de competição. São também claras as constantes
tentativas para ordenar o que parecia (e que, de facto, muitas vezes era)
intensamente caótico. A necessidade de conhecer e controlar o que estava a
acontecer no interior empurrava os protagonistas e os observadores num
esforço desesperado de compilação, sistematização e compreensão. No
entanto, a tarefa era algo inglória. Faltava conhecimento, e a capacidade de
processamento e digestão da informação era escassa.
As divisões territoriais eram o efeito colateral de muitas tensões diferentes
produzidas por muitos actores com objectivos diversos. A narração da
história do confronto espanhol e português nas Américas como um conto
sobre negociações entre cortes e diplomatas é extremamente enganador.
Enganadora é, igualmente, a separação da luta entre europeus do conflito que
os opunha aos nativos e que dividia estes internamente. Assumir que um dos
lados era justificado e o outro não afigura-se também ilusório. Será uma
reprodução fiel do debate da época, mas essas reivindicações têm de ser lidas
em conjunto não só com os interesses imediatos, mas também com os
ditames das normas políticas e jurídicas. Se desejarmos analisar como os
homens da Idade Moderna se defrontaram e porque conseguiram obter
determinados resultados é essencial compreender como imaginavam o seu
direito à terra.
Parte II: A definição de espaços europeus: a
convenção de Espanha e de Portugal na
Ibéria
Os conflitos territoriais ibéricos – iniciados na Idade Média, mas
essencialmente desenvolvidos durante o período moderno e, portanto, coevos
das disputas nas Américas – permitem uma compreensão complementar da
forma como os homens da época encaravam e defendiam os seus direitos e
construíam os seus territórios comunais. Estes conflitos foram, em parte,
precedentes explicativos do que ocorreu no Novo Mundo, mas na maior parte
das vezes demonstraram como, ao longo do tempo, as discordâncias sofreram
um processo de mutação que só terminou no século xix ou mesmo no início
do xx . O seu valor acrescentado, portanto, reside na capacidade de esclarecer
o pano de fundo do colonialismo e de mostrar como os conceitos utilizados
do outro lado do oceano agiram na longa duração. As disputas ibéricas
servirão, então, para acrescentar dimensões às questões que já colocámos, e
serão uma imagem, verosímil, mas não exacta, do que aconteceu no Novo
Mundo.
Os conflitos entre Espanha e Portugal na Península Ibérica começaram nos
séculos ix e x com a criação de Portugal como unidade administrativa;
continuaram ao longo da sua separação gradual de Leão e Castela e da sua
afirmação como reino independente nos séculos xii e xiii .[403] Os séculos xix e
xv assistiram a múltiplos confrontos, desde guerras civis a crises de sucessão,
passando por conflitos internacionais, mas a relação de Portugal com os
outros reinos ibéricos acabaria por estabilizar durante algum tempo. Entre
1580 e 1640 (durante a união das coroas) foi drasticamente modificada, e em
1640 seria novamente alterada, depois de o duque de Bragança se declarar rei
de Portugal.
Espanha reconheceria oficialmente a pretensão à soberania apenas em 1668,
depois de quase três décadas de guerra. A partir daí, e embora repleta de
desafios e de conflitos armados nos séculos xviii e início do xix , a história de
ambos os países passou a caracterizar-se essencialmente por tentativas de
definição do que um e outro detinham, onde começavam e onde terminavam.
A maior parte dos historiadores que estudaram a emergência de Portugal
como uma unidade política separada descreveu-a como um efeito secundário
do processo através do qual as comunidades cristãs do Norte da Península se
expandiram para sul, com a denominada Reconquista. A luta contra os
muçulmanos conduzira à formação, cristalização e territorialização de vários
reinos que, por integrarem novos territórios, teriam tido de redefinir as suas
relações e as suas fronteiras.[404] De acordo com esta narrativa, do século ix
ao século xv a fronteira militar contra os muçulmanos foi seguida de uma
fronteira de ocupação gerida por povoadores cristãos, que lentamente
penetraram nas áreas agora abertas ao seu uso. Inicialmente eram terras
esparsamente povoadas e principalmente controladas por nobres poderosos,
pelas ordens militares e pela Igreja. No entanto, após a ocupação se ter
tornado suficientemente densa, apareceu igualmente uma fronteira política.
Seria definida pela guerra, por tratados ou por ambos, e defendida por reis
que impunham e depois alargavam as suas jurisdições. No período moderno
os vários reinos da Península (Portugal, Castela, Aragão, etc.) eram já
unidades identificáveis. A fronteira entre Castela e Portugal cresceu a partir
destes desenvolvimentos. Nos séculos xii e xiii foi exaustivamente discutida,
mas só seria concretizada em 1297, quando ambos os monarcas assinaram o
Tratado de Alcanizes, onde se identificava que comunidades pertenceriam a
qual coroa. Como aconteceu noutros locais da Ibéria, a fronteira constituída
por vários enclaves (maioritariamente castelos e mosteiros que pertenciam às
ordens militares) transformou-se, daí em diante, numa zona de constante
expansão e, mais tarde, numa linha demarcadora do que eram agora duas
entidades políticas diferenciadas.[405] O acordo de 1297 persistiu no tempo,
fazendo da fronteira entre Espanha e Portugal «a mais antiga fronteira da
Europa».[406]
Estas conclusões, que reflectiam desenvolvimentos políticos, diplomáticos e
militares importantes, não conseguiram descrever o modo como uma
fronteira extremamente imprecisa e altamente teórica definida num tratado se
materializou no terreno. No início, a maior parte do debate entre os monarcas
espanhol e português concentrara-se na questão de quais comunidades fariam
parte de qual reino. O assunto foi particularmente debatido até Alcanizes, e
prosseguiu depois, e apesar, da assinatura do tratado. Depois de 1297, a
transformação do que Alcanizes determinava numa realidade concreta
significava a necessidade de identificar comunidades e os seus habitantes,
territórios e a sua ocupação. Era também preciso considerar se a mudança ao
longo do tempo (na projecção territorial de diferentes povoados, nos modos
distintos de usar o território, na dependência uns dos outros, e na subjugação
a reis, nobres ou Igreja), influenciava estas questões, e como. Os homens da
época imaginavam o território como um espaço constituído por ilhas de
ocupação num mar de terra; tinham de decidir se um terreno abandonado
pertencia a uma comunidade, a várias, ou a nenhuma. Estas discussões
lançavam localidades vizinhas umas contra as outras, e envolviam a Igreja, as
ordens militares, os funcionários régios, e uma multiplicidade de indivíduos
que, por serem residentes, proprietários, detentores de cargos, criadores de
animais, contrabandistas ou crentes destas comunidades, se achavam
directamente envolvidos na decisão de que territórios deveriam pertencer ou
serem usados por quem. Daqui resultou um diálogo (ou ausência dele) a
muitas vozes, extremamente complexo, entre uma enorme variedade de
actores com uma grande diversidade de interesses. Estes iam desde a garantia
da subsistência às questões das liberdades municipais, passando pelos direitos
senhoriais, pelos privilégios eclesiásticos e pela jurisdição régia, por
exemplo. A honra e a vergonha eram frequentemente invocadas, tal como as
relações familiares e de amizade, as alianças e as rivalidades. Assim, embora
a separação entre Espanha e Portugal fosse sendo afirmada (ainda que, em
determinadas ocasiões, questionada), só no século xix , ou início do xx , é que
as fronteiras se consolidaram na forma que hoje conhecemos. O aparecimento
de Portugal como unidade separada foi, portanto, paulatino, e a sua
legitimidade e as suas fronteiras foram constantemente negociadas, postas em
causa e reafirmadas ao longo da Idade Média e da Idade Moderna, até à
época contemporânea.
A necessidade de criar, identificar e fixar as jurisdições municipais, para
demonstrar a existência de uma fronteira entre estados, levaram alguns
historiadores a sugerir que até ao século xviii ou xix as fronteiras ibéricas eram
principalmente um assunto local, e não régio. Estes autores distinguem uma
história da formação de fronteiras a partir de baixo de uma história de
formação de fronteiras a partir de cima, e sugerem que os processos de
construção territorial «local» e «nacional» eram separados, provavelmente até
antagónicos, uns dos outros. A colaboração entre um «centro» e uma
«periferia» seria apenas garantida quando os interesses de ambos coincidiam.
Nesses casos, normalmente produzir-se-ia a nacionalização da fronteira,
porque para interessar o Estado pelos seus conflitos, e como consequência da
sua intervenção, os locais acabavam por também assumir uma identidade
como nacionais.[407] Pelo contrário, as fronteiras estabelecidas contra desejos
locais seriam ignoradas e subvertidas. Estas descrições, ainda que em parte
correctas, pressupunham que as comunidades locais e os seus limites eram
fixos e que os reis ou os estados eram chamados para representar os seus
interesses, ou comprometê-los, perante potências estrangeiras. No entanto, os
registos históricos indicam que as dinâmicas territoriais eram
substancialmente mais complexas, já que a extensão das comunidades
mudava permanentemente ao sabor de quem eram os seus membros e do que
procuravam alcançar. Um território definido para pastagem era diferente de
um território criado para funções agrícolas ou para a cobrança de impostos. O
território podia expandir-se ou contrair-se com a passagem do tempo e com
as mudanças ulteriores na comunidade ou na forma como o direito à terra era
entendido, construído ou defendido. Estas mutações constantes envolviam
uma diversidade de agentes, interesses e dinâmicas; alguns eram locais,
outros régios e outros até globais (como o ataque gradual aos baldios e o
início da consagração da propriedade privada). No processo de reivindicação
de direitos, as comunidades também se autodefiniam, distinguindo os
habitantes, os territórios e os direitos de usufruto dos dos vizinhos do outro
lado – mas também do mesmo lado – da fronteira. E, em vez de algo vindo
«de cima» ou vindo «de baixo», ocorreu uma interacção muito complexa
entre diferentes actores sociais que, ao mesmo tempo que defendiam os seus
interesses particulares e eram influenciados por práticas e ideias, tradicionais
e modernas, também definiam, e até defendiam, o seu espaço comum.
Os debates europeus partilhavam muitas características com os desenrolados
do outro lado do Atlântico. Como acontecia no Novo Mundo, no Velho
Mundo a maior parte das discussões territoriais concentrava-se na posse. As
dinâmicas desencadeadas eram semelhantes, pois implicavam que certas
actividades, como a utilização do território e a prática de actos jurisdicionais,
deviam ser lidas não apenas como garantias de sobrevivência mas como um
meio de provar, ou até apresentar, reivindicações territoriais.[408] O opositor
podia concordar com tais actos permanecendo em silêncio; na maior parte
dos casos opunha-se-lhes com protestos verbais ou reacções violentas. Tanto
no Velho como no Novo Mundo, a dependência da posse requeria também
que os coevos distinguissem as acções que significavam a apresentação de
pretensões territoriais e que mereciam protesto daquela que não o mereciam.
No entanto, ao contrário do que acontecia nas Américas, na Europa não se
partia do pressuposto de que todas as incursões territoriais tinham como
objectivo a aquisição de direitos. Esta diferença foi evidente em 1601, por
exemplo, quando os habitantes de Badajoz viram a sua entrada com gado na
jurisdição de Elvas ser tolerada e reconhecida como característica das boas
relações entre vizinhos, e não entendida como uma agressão territorial.[409] De
modo semelhante, em 1691 alguns galegos expressaram o desejo de cultivar
exclusivamente uma terra, até aí usada em conjunto com os vizinhos
portugueses, e foram acusados de infringir um acordo, não de desafiar o
status quo .[410] Em 1696, a entrada de autoridades portuguesas em território
espanhol para prender uma pessoa acusada de contrabando foi gerida como
um incidente diplomático, não como uma discussão sobre a jurisdição e o
território.[411] Da mesma forma, em 1716, a entrada de habitantes de
Monsaraz em Alconchel para recolher bolotas foi duramente rejeitada pelos
donos da propriedade em causa e pelos guardas aduaneiros espanhóis.[412]
Todavia, o caso foi tratado como roubo, e não como uma tentativa de
expansão territorial. Estas ocorrências teriam provocado confrontos nas
Américas, mas não o fizeram na Europa: o que as distinguia não era o
praticado, mas como o praticado era entendido. Precisamente por essa razão,
na Europa, mas não nas Américas, os estrangeiros podiam cultivar um pedaço
de terra num território que alegadamente não era seu sem sofrer oposição, a
não ser que essa actividade fosse entendida como uma intenção de
estabelecer, não os seus direitos de propriedade privados, mas os direitos da
sua comunidade ou do seu reino.
A dependência da posse também explicava o grau de violência que estes
conflitos por vezes atingiam de ambos os lados do oceano. Em vez de ser
gratuita ou puramente emocional e irracional, a agressão era ditada pela
doutrina jurídica, que fazia equivaler o silêncio ao consentimento e aceitava a
violência como um método perfeito para comunicar o desacordo. O mesmo
papel legal tinham a memória e o esquecimento. A prática imemorial que os
homens da época invocavam podia ser genuinamente antiga, mas era do
ponto de vista jurídico que se tornava importante, pois mudava o ónus da
prova. Ao invés da «simples» posse, a posse imemorial não admitia prova em
contrário.[413] Considerada um elemento fundamental que garantia
estabilidade legal (quando esta era exigida), a imemorabilidade constituía
uma presunção a que os juristas chamavam juris et de jure . Servia para
preservar a paz, não para distinguir o que era verdadeiro do que era falso.
Ainda que as conquistas militares na Europa e na América tenham tido um
papel no aumento e na redução do controlo territorial, a maior parte das
mudanças ocorriam durante a paz e resultavam das acções praticadas
recorrentemente pelos diferentes membros da comunidade. Os tratados terão
enquadrado estas dinâmicas – o de Alcanizes certamente ajudou a definir as
fronteiras na Ibéria – mas, como aconteceu nas Américas, tinham de ser
implementados, interpretados e materializados no terreno, e acabavam por
levantar mais questões do que as respostas que ofereciam. Assim, e embora
os homens da altura, na Europa, lamentassem o facto de as questões
territoriais não estarem suficientemente resolvidas nos tratados que
reconheciam a independência de Portugal em 1668, ou que puseram termo à
guerra em 1715, também admitiam que estes, em geral, não resolviam
necessariamente as suas divergências. Como aconteceu com a Colónia do
Sacramento, Verdoejo, por exemplo, podia ser retida por a sua inclusão no
tratado ter sido errada, e a entrega dos castelos de Noudar e Piconha (Galiza)
aos portugueses podia ser atrasada até as partes chegarem a um consenso
acerca do que estas unidades incluíam e qual era o seu território. A união
com, e a secessão de, Espanha agravaram os conflitos de ambos os lados do
Atlântico. Enquanto a união durou, as divisões territoriais existentes não
foram particularmente respeitadas; depois de terminar, apurar onde antes se
localizavam ou quem agira em nome de que estado tornar-se-ia uma tarefa
intrincada, quase impossível.
Os monarcas do século xviii procuraram melhorar o conhecimento do
território e timidamente começaram a intervir na sua administração.[414]
Enviaram delegados para realizar censos em cidades, aldeias e senhorios,
descrever rios, montanhas e estradas, e elaborar mapas. Contudo, mesmo no
final do século xviii , e mesmo na Europa, algumas partes dos territórios e
grande troços das fronteiras permaneciam relativamente desconhecidos,
inacessíveis e mal controlados.[415] Era o momento oportuno, diziam alguns
espanhóis, de descobrir não apenas o Novo Mundo mas também o Velho.[416]
Estas preocupações coincidiram com pedidos de reforma da economia e de
melhoramentos no bem-estar geral da população.[417] Dando-lhes resposta, na
segunda metade do século xviii , a corte espanhola concebeu planos para
revitalizar a província da Extremadura, na fronteira com Portugal.[418]
Tornaram-na um símbolo da luta da coroa para consolidar simultaneamente o
que os historiadores identificaram como uma fronteira interna (de ocupação)
e uma fronteira externa (em relação aos vizinhos), e que, no entender dos
ministros do período, estavam interligadas. Afirmavam mesmo que a não ser
que a Extremadura deixasse de ser um «deserto», a fronteira nunca ficaria
completamente segura. Em Portugal, a percepção em relação ao Alentejo era
semelhante, e a sua desolação social e económica era explicada por guerras
constantes.[419] Estas chamadas de atenção coincidiam, pelo menos em
Espanha, com um desejo de reforma agrícola e a luta contra as pastagens e os
baldios, e exprimiam alarme perante a eventualidade de a fronteira ser
abandonada pelos espanhóis e povoada pelos portugueses.[420] A partir daí,
sugeria-se mesmo que o repovoamento da área era um objectivo mais
glorioso, útil e importante do que a conquista de terras estrangeiras.[421]
Apesar destas semelhanças importantes que explicam e enquadram a forma
como espanhóis e portugueses conduziram os respectivos interesses
ultramarinos, existiam diferenças cruciais, dependentes das condições de
ambos os lados do oceano. Nas Américas, os confrontos entre espanhóis e
portugueses e entre estes e os nativos eram de vida relativamente curta. Na
maior parte dos casos tinham começado apenas vinte, trinta ou quarenta anos
antes, a ocupação era precária, não permanente, e a presença europeia e as
alianças com os nativos estavam sempre em mudança, concretizando-se e
desfazendo-se com o tempo. No Novo Mundo era também evidente o esforço
europeu em apagar a história mais longa do continente. Recomeçavam-na
com a sua chegada, fazendo da conquista um momento de fundação, e não de
destruição.[422] Mas se o tempo nas Américas ainda era relativamente curto, na
Península os conflitos podiam ser (e muitas vezes eram) extremamente
antigos e podiam durar, nalguns casos, até seiscentos anos. A longevidade
implicava a sua profunda complexificação. A tentação de fossilizar estes
confrontos, assumindo-se que desde que persistissem seriam sempre as
mesmas pessoas, umas contra as outras, a disputar os mesmos pedaços de
terra pelas mesmas razões, esvai-se perante uma análise mais detalhada, que
demonstra que não era isto que acontecia (ver em particular o capítulo 3).
Como órgãos vivos, os conflitos territoriais transformavam-se ao sabor da
evolução ou mutação das partes, das alianças e rivalidades realinhadas, da
saída ou entrada em cena de outros intervenientes. Os objectos em contenda,
as alegações e os termos de acordo e desacordo também sofriam múltiplas
alterações. O cenário ibérico mostrava não só de onde vinham os conceitos
implementados nas Américas como o que podia acontecer às disputas quando
persistiam. Era um excelente exemplo de como os confrontos territoriais se
assemelhavam às areias movediças – sempre a mudar de local e de forma,
mas aparentemente estáveis e imutáveis.
A história ibérica também ajuda a esclarecer o papel de diferentes
argumentos e percepções na construção e reconstrução das divisões
territoriais. Em nenhum dos lados do Atlântico o direito conseguia fornecer
uma solução clara e todas as partes juravam obediência a um status quo que,
em conjunto, mal conseguiam identificar. Na Península, porém, existia uma
tendência maior e mais habitual para se procurar refúgio e justificação na
história (como se chegou aqui, e o que isso implica). Mas mesmo perante um
passado que assumiam familiar, e confiando nos seus direitos imemoriais, os
homens da época descobriram que a história nem sempre estaria do seu lado.
As referências a tempos distantes e a antigas lealdades e dependências
repetiam-se, e produziam uma densidade de direitos, tradições e costumes
que, em vez de resolver diferenças, as agravavam. Os actores eram assim
obrigados a debater-se com a mudança ao longo do tempo, distinguindo
mutações consideradas consequenciais das outras, e discutindo o seu
hipotético significado. A incapacidade de concórdia levava-os a fazer troça
uns dos outros, mas principalmente reforçava os desentendimentos. A visão
que cada um tinha do passado era tão disputada quanto a interpretação do
presente.
A inaptidão para chegar a um acordo em relação ao que acontecera no
passado mais ou menos remoto garantia a eternização das disputas, mas a
verdade é que durante o período em que os conflitos europeus tiveram lugar
as atitudes em relação à propriedade e à jurisdição foram radicalmente
modificadas. Este processo (que culminaria na invenção da propriedade
privada e da jurisdição estatal como hoje as conhecemos) também se traduziu
numa nova concepção do território.[423] Enquanto as perspectivas mais antigas
concebiam a propriedade e o território como derivados de uma ordem
universal divina, de que os animais e as coisas participavam, a versão mais
nova, nascida no medievo tardio e na Idade Moderna, valorizava a agência
humana. Enquanto o direito anterior se centrava principalmente em situações
e não em direitos, e os seus juristas insistiam tanto na continuidade quanto
num forte pluralismo que permitia a muitos gozar ao mesmo tempo de
diferentes tipos de relações com a mesma terra, a ordem emergente enfatizava
os direitos e a mudança em detrimento do tempo, e procurava identificar e
unir todos os privilégios num único dono individual ou num único soberano.
Este pensamento, desenvolvido por filósofos e moralistas nos séculos xiv e
xv, transvasou para o mundo jurídico nos séculos xvi e xvii e tornou-se
dominante no século xviii . As mudanças permitiram aos contemporâneos ir
assumindo que os desejos e os acordos humanos constituíam a ordem, e não
reflectiam, passivamente, o seu mero reconhecimento. A partir daí, os juristas
do final do século xvii e do século xviii deixaram de inquirir sobre a situação
objectiva existente para passarem a tentar explicar como o homem constituiu
o seu domínio sobre as coisas em função das suas necessidades e dos seus
desejos. A propriedade e o domínio, em resumo, eram agora apresentados
como projecções das aspirações humanas, descartáveis e mutáveis em vez de
certos e permanentes. O homem tornou-se senhor dos seus actos, e a
propriedade passou a ser retratada como natural (parte da natureza do
homem), absoluta (apenas sujeita à sua vontade e não a limitações externas),
e global (por incluir todas as faculdades e acções). Deste modo, os indivíduos
e as comunidades adquiriram uma nova compreensão do que os ligava à terra.
Na Ibéria, na fronteira espanhola e portuguesa, estas alterações filosófico-
jurídicas eram também perceptíveis, e muitas vezes provocaram novos
confrontos. Enquanto na Idade Média a maior parte dos interlocutores frisava
os costumes imemoriais que congelavam o passado e concebiam o espaço
como naturalmente dado, nos séculos xvi, xvii e xviii começaram a empregar
uma visão mais voluntarista do território, que sugeria que as divisões também
(ou principalmente) dependiam de acordos. Este desenvolvimento foi lento;
em muitas ocasiões terão coincidido concepções voluntaristas e naturalistas.
Todavia, com o tempo, instalou-se a noção consensual de que os direitos à
terra eram criados por acordos entre indivíduos e comunidades. Esses
desenvolvimentos deram aos contemporâneos meios intelectuais, políticos e
jurídicos para questionar o status quo e justificar a mudança. E até a
imemorabilidade alterou a sua natureza. Com efeito, nos séculos xvii e xviii os
autores já sugeriam que as persistências no tempo resultavam de acordos, não
da expressão automática de uma ordem natural. Os costumes perderam o seu
carácter indefinido e atemporal de hábitos iniciados num passado
desconhecido por actores desconhecidos. Eram agora identificados por certos
acordos que os teriam instituído. Em consequência, mesmo os costumes
imemoriais passaram a ter um momento inicial claro e um conteúdo
específico. Entretanto, nas Américas, a posse – que começara por ser um
método para provar o títu- lo – tornou-se igualmente uma poderosa
ferramenta para introduzir mudança. Se até então fora compreendida como
um meio para assumir, e não apenas manter – como, teoricamente, na Europa
–, o controlo sobre terras e pessoas, a partir desse momento dava expressão à
capacidade humana para modificar, em vez de respeitar, o que existira
anteriormente.
O exemplo peninsular é igualmente útil para analisar a participação dos
«nativos» em conflitos territoriais. Os nativos, muitas vezes tratados como
objectos, eram, claro está, uma componente essencial das discussões travadas
no Novo Mundo. Se nos debates peninsulares a sua presença nunca foi
registada, o motivo principal é porque na Europa tais caracterizações não
eram aplicadas. Mas o que aconteceria se considerássemos os indivíduos que
viviam perto da fronteira, na Ibéria, como um grupo separado, distinto,
classificado e estereotipado?
Nos séculos xviii e início do xix era assim que os funcionários régios em
Lisboa e Madrid e nas capitais provinciais da Corunha, Viana e Sevilha os
representavam. A fronteira, diziam, era um território caótico, ao mesmo
tempo mal conhecido e de difícil acesso e controlo.[424] Parecia tão remoto,
que em 1640 os funcionários régios espanhóis comparavam a zona junto a
Portugal com a fronteira americana, igualmente estrangeira.[425] A distância
abria os conflitos fronteiriços aos boatos: «A longa distância entre aqui e
Lisboa», argumentava o governador da Galiza em 1703, «confundira as
notícias».[426] Apesar de não ser propriamente um sertão caótico,
descontrolado e desconhecido, como foi o caso americano, a fronteira
europeia era, não obstante, um espaço considerado perigoso porque, entre
outras coisas, os seus habitantes não tinham respeito pela lei régia e porque a
ausência do monarca era mais pronunciada que a sua presença.[427] Os
fronterizos – que adquiriram então um estatuto próprio – foram a partir daí
representados como um subgrupo de habitantes rurais cujas actividades
afectavam não apenas os seus interesses mas os interesses dos seus estados.
Inventados e classificados como diferentes pelos funcionários do rei, eram
agentes livres em decisões e acções e o seu comportamento, que não podia
ser regulado, facilmente provocava conflitos «verdadeiros» que poriam em
risco as relações entre as cortes. De acordo com estas perspectivas, os
fronteiriços eram primitivos, selvagens e obstinados. Eram rústicos, gente
simples que agia com paixão e não com razão. Incapazes de compreender a
gravidade ou as implicações do seu comportamento, a sua proximidade de
uma fronteira em processo de definição fazia-os particularmente
ameaçadores. As suas acções eram, por vezes, tão atentatórias contra o
Estado que os funcionários os consideravam, não como compatriotas com os
quais se podia conversar de forma razoável, mas como estranhos com uma
cultura diferente, uma racionalidade distinta e um conjunto de objectivos
diferenciados.[428] Era, portanto, vital submetê-los aos mais altos interesses do
Estado impondo-lhes acordos que, beneficiassem-nos ou não, se destinavam,
antes de mais, a promover o bem-estar dos reinos.[429]
Ao essencializarem os fronterizos , como se existissem antes mesmo de a
fronteira ser definida, os contemporâneos minimizavam a responsabilidade
dos conflitos territoriais na sua caracterização como membros de um grupo
distinto. Os interlocutores do início do século xix estavam especialmente
determinados em discriminar os habitantes das fronteiras, defendendo que
sendo de fora, eles, funcionários régios, conheciam e compreendiam o
território e as suas necessidades muito melhor que os locais. Os fronterizos ,
afirmavam, até negligenciavam o território. O uso (comum) que faziam da
terra não constituía real posse, nem podia melhorar o território. Deste modo,
como os fronteiriços não garantiam a jurisdição territorial nem o progresso
económico, os oficiais régios concluíam que podiam (e deveriam) ser
expropriados.
Assim, e embora em nenhum destes debates os fronteiriços tenham sido
comparados aos índios, muito do que era dito contra eles sugeria orientações
semelhantes. No início do século xvi os rústicos europeus tinham servido de
referência para compreender os índios – em 1517 o governador de Hispaniola
perguntou aos colonos se os índios eram comparáveis aos camponeses
europeus, e em 1537 Francisco de Vitória fez a comparação para concluir
que, como os camponeses, os índios eram também (parcialmente) seres
humanos racionais – mas nos séculos xvii e xviii o contrário era igualmente
verdade.[430] Nessa altura, abertamente admitida ou silenciosamente sugerida,
as Américas eram uma metáfora usada para descrever os camponeses
europeus.[431] Em 1568, em Espanha, dizia-se que «nenhumas Índias… têm tal
necessidade de padres como o reino das Astúria». Os jesuítas que
trabalhavam no Sul de Itália, Alemanha e França queixavam-se de que as
pessoas que desejavam doutrinar eram idênticas aos índios: pagãs, selvagens
e incultas. E, como os índios, ou pior, não possuíam qualquer organização
social ou política.[432] As Índias, diziam os religiosos, estavam em todo o lado,
incluindo na Europa.
O caso ibérico serve, finalmente, como lugar para reexaminar a distinção que
a maior parte dos historiadores intuitivamente tem feito entre fronteiras
internas de ocupação e fronteiras externas em relação a vizinhos. Esta divisão
bifocal, extremamente poderosa nas descrições académicas do Novo Mundo,
tem origem nos historiadores medievalistas que escreveram que a Europa
cristã domesticara o seu hinterland antes de se expandir externamente para a
conquista de novas regiões, confrontando, convertendo, aculturando e
integrando novas populações, e constituindo (e definindo os limites de) novos
estados.[433] Os historiadores da Península Ibérica seguiram o exemplo e
descreveram como, após o estabelecimento da ocupação interna, emergiram
novas fronteiras políticas. Por seu lado, os historiadores das Américas
sugeriram que no Novo Mundo estes processos aconteceram ao contrário.
Mas se a posse dava também direitos em relação a adversários do «exterior»,
como poderia distinguir-se dos processos de definição da comunidade do
«interior»? Se a aquisição territorial exigia uma clarificação das comunidades
que existiam e de quem as constituía, quando lhes era destinado um espaço
onde viver, como é que os desenvolvimentos internos podiam distinguir-se
dos externos? É igualmente evidente que a questão que provocava conflitos
territoriais não era necessariamente a presença ou não de indivíduos no
terreno. As comunidades poderiam existir há muito tempo, e poderiam ter
utilizado as áreas à sua volta por muitos anos, sem qualquer contestação da
parte dos vizinhos. O que causava disputas territoriais não era a presença em
si, mas a questão de se saber se os que estavam presentes desejavam
percorrer, pastar ou plantar, em exclusivo ou em partilha, aquela terra. A
resposta dependia não apenas do que era realmente feito, mas da forma como
as intenções eram interpretadas (ver o capítulo 1). E com o tipo de uso em
permanente mutação, produziam-se novos conflitos e, em consequência,
também novos tipos de fronteira em relação aos vizinhos.
De forma a compreender os acontecimentos na Península Ibérica e sugerir
como podem enriquecer o nosso conhecimento das Américas (e vice-versa),
nos capítulos que se seguem analiso em detalhe vários estudos de caso que,
em conjunto, demonstram que os conflitos territoriais europeus são mais
complexos do que parecem à primeira vista. Apresento o seu
desenvolvimento ao longo do tempo, e estou particularmente interessada em
mostrar como os argumentos se alteraram e como os intervenientes, sempre
em variação, lutaram por diferentes territórios por uma diversidade de razões,
ao mesmo tempo que adoptavam e abandonavam, incessantemente, diferentes
explicações. Aproximar-me-ei tanto quanto possível dos experiências vividas,
mas regresso à cronologia, para observar disputas específicas à medida que se
desenvolvem desde a Idade Média até à contemporaneidade. A minha
intenção é que esta Parte II seja lida em conjunto com a parte americana, e
não como uma introdução ou uma conclusão dela. O meu objectivo não é
comparar um lado do oceano com o outro. Em vez disso, pretendo
demonstrar como a aproximação destes dois casos modifica o nosso
conhecimento de cada um.
Capítulo 3: Lutar com uma hidra: 1290-1955
Um dos exemplos mais claros de como os conflitos europeus sofreram
alterações ao longo do tempo é o confronto que opôs as comunidades
vizinhas de Aroche, Encinasola (na actual Andaluzia), Moura, Noudar,
Barrancos e Serpa (no actual Alentejo) durante seis séculos e meio. Visto
habitualmente como um efeito secundário da reorganização e redistribuição
do território entre Espanha e Portugal de 1283 e 1297, o conflito é
efectivamente mencionado nesta altura pela primeira vez. Opôs Aroche a
Moura, e ambas a Noudar, e incidiu sobre o uso de certos espaços.[434] As
tentativas de demarcação destas áreas, definidas nas fontes como «território
em disputa» e depois como «Campo de Gamos», que distinguiam o território
de Moura do de Aroche e de Noudar, foram abortadas em 1311 porque os
representantes do rei castelhano, que deveriam julgar os direitos dos
intervenientes – principalmente os títulos das ordens dos Templários
(responsáveis por Serpa), dos Hospitalários (responsáveis por Moura) e de
Avis (responsáveis por Noudar) – acabaram por não comparecer.[435] O
diferendo era intenso, com os habitantes das localidades a assaltarem
propriedades e a atacarem e a matarem-se uns aos outros. Apesar da ausência
castelhana, os comissários portugueses questionaram testemunhas e
analisaram um livro que alegadamente incluiria a «antiga» demarcação
(tombo) de Moura e a sua distinção de Aroche. As declarações sugeriam que
a pretensão de Aroche ao Campo de Gamos era fabricada, já que era «bem
sabido» que este território pertencia a Moura. Como os autos não incluíram
um reconhecimento das pretensões avançadas pela comenda de Noudar, a
ordem de Avis, encarregue de equipar e governar o seu castelo, começou a
povoar a região, atraindo, entre outros, naturais de Castela.[436]
É possível que em 1312 o rei Jaime II de Aragão tenha sido instituído como
árbitro na disputa, que nesse momento já incluía, para além da definição dos
limites municipais, a questão da pertença de Serpa e Moura a Portugal, como
Portugal sugeria e Castela contestava (posição que talvez explicasse a
ausência dos delegados régios castelhanos em 1311), e de Aroche a Castela,
como Castela defendia e Portugal discordava.[437] Se tivesse acontecido, essa
arbitragem não teria tido outros resultado senão a insistência de que Moura e
Aroche se tratassem mutuamente como «vizinhos» e não como inimigos. Em
1315, depois do fracasso de novas negociações, houve uma sugestão para
reavivar antigos acordos que permitiam a todas as povoações vizinhas usar
conjuntamente o território contestado.[438] Em 1332, representantes dos reis
castelhano e português, dos concelhos locais, de Sevilha (cuja jurisdição
municipal incluía Aroche e Encinasola) e da ordem de Avis (encarregada de
Noudar) encontraram-se para identificar as suas fronteiras de acordo com
« hombres ancianos » e « livros de particiones ».[439] Os representantes locais
actuaram como queixosos e os delegados régios assumiram o papel de juízes
para arbitrar as pretensões rivais. As testemunhas apresentadas por Moura
afirmaram ter ouvido aos seus anciãos que num passado remoto, quando as
três comunidades pertenciam a Castela, indivíduos investidos de autoridade
colocaram pedras de delimitação das respectivas jurisdições municipais.[440]
Agora, ainda que o território estivesse partido em dois, essas divisões não
eram respeitadas porque os habitantes de Aroche estavam constantemente a
infringi-las, em episódios violentos como o sequestro de animais, o incêndio
de casas e ataques a homens, mulheres e propriedades. Depois de Noudar e
do seu castelo serem despovoados (na década de 1320), sem já temerem
oposição, os residentes de Aroche teriam intensificado o uso deste território.
Moura argumentava que havia uma violação de direitos claros, mas as
testemunhas de Aroche sustentavam a teoria oposta. Segundo elas, nunca
tinham existido divisões bem definidas. O que tinha existido eram várias
tentativas fracassadas de estabelecimento de uma separação. Perante o
insucesso, estava permitida a todos a utilização conjunta do território. Fora
esse, aliás, o costume desde a refundação de Aroche como enclave cristão
(por volta de 1255). Só na década de 1290, quando os cavaleiros de Avis
chegaram, acompanhados de tropas, é que expulsaram os habitantes de
Aroche da antiga posse. No início do século xiv , embora continuassem a
clamar pelos seus direitos, os habitantes de Aroche já não se atreviam a
utilizar essa terra.
Todos concordavam que, remontando ao tempo em que as quatro
comunidades (Aroche, Moura, Noudar e Serpa) estavam sob jurisdição
castelhana, o conflito pusera em confronto os Templários (com tutela sobre
Serpa) e os Hospitalários (com tutela sobre Moura) com Sevilha (com tutela
sobre Aroche), e só mais tarde envolvera Noudar (e a ordem de Avis).
Caracterizado por uma violência extrema ocasional, incluía a busca constante
de uma solução negociada. Em 1346 e 1353 estavam marcados novos
encontros para discutir a partição. Depois de os delegados do rei castelhano,
de Sevilha e de Aroche não aparecerem, os representantes de Moura, Noudar
e Serpa pediram aos comissários portugueses que pronunciassem que
«houvessem os termos sem contenda por aqueles lugares que as suas
testemunhas depuseram que era seu».[441] Os magistrados recusaram,
explicando que estavam apenas investidos do poder de decidir uma divisão
em conjunto com os juízes espanhóis, e não sozinhos. O conflito arrastou-se e
na década de 1420 o rei português recomendou que Moura e Noudar
adoptassem um acordo amigável sobre o uso do Campo de Gamos (e talvez
também de uma área identificada como La Rossiana). O objectivo da solução
não era dividir ou demarcar o território, mas permitir aos cidadãos de ambas
as comunidades o seu uso comum, com Moura a pagar uma taxa a Noudar.
[442]

No século xv , Serpa, inicialmente envolvida nestas discussões, desaparece


dos registos, e estreia-se um novo concorrente, Encinasola. Os primeiros
sinais de uma querela entre Encinasola e Noudar datam da década de 1450,
quando o guardião do castelo de Noudar sequestrou animais que, pastando no
Campo de Gamos sem licença ou pagamento de taxas, pertenciam aos
habitantes de Encinasola. Em 1488 Encinasola rejeitou as acusações
portuguesas de que não tinha qualquer direito a usar esse espaço e pediu
ajuda a Sevilha. Daí recebeu uma decisão judicial que lhe reconhecia os
direitos e que continha instruções para não permitir a ninguém a entrada no
território sem o consentimento dos seus proprietários. Ao mesmo tempo,
Encinasola apelou a Sevilha contra Aroche.
As autoridades desta comunidade, dizia, negaram ilegalmente aos habitantes
de Encinasola a possibilidade de utilizar um território identificado como «la
Contienda» (La Contenda), que sempre tinham possuído, bebendo a sua água,
cortando a sua lenha e usando as suas pastagens.[443] Os juízes de Sevilha
voltaram a favorecer Encinasola, mas restringiram os direitos dos seus
habitantes à pastagem e à recolecção, proibindo a vedação do território para
objectivos agrícolas. Neste período reemergiram problemas entre Noudar e
Moura porque os habitantes de ambas mudavam e removiam constantemente
as pedras de fronteira; mais uma vez registaram-se tentativas (falhadas) de
demarcação.[444] Em 1493, os concelhos de Moura e de Noudar, desta feita
com queixas de «agressão castelhana», convocaram delegados régios.
Todavia, os esforços envidados por estes não produziram quaisquer
resultados.[445] Em 1503, os habitantes de Moura entraram armados na
jurisdição de Aroche, destruíram bens e removeram pedras de fronteira em
seu favor. Os habitantes de Aroche responderam com o envio de uma força
militar que destruiu a nova demarcação e restabeleceu a antiga. Perante a
repetição assídua dos episódios, no ano seguinte ambos os monarcas
decidiram intervir. Nomea- ram procuradores para determinar onde ficava a
fronteira e para libertar os indivíduos presos e os animais confiscados durante
as hostilidades.[446] Mas, aparentemente, sem êxito.
Em 1510 os habitantes de Moura dirigiram-se outra vez ao rei, protestando
que os vizinhos de Encinasola violavam a sua jurisdição, plantando e
trabalhando a terra no seu território.[447] Foi enviado um emissário régio para
compilar informação e visitar o terreno, acompanhado de um contingente de
150 homens. Os testemunhos que ouviu afirmavam que os castelhanos
estavam a cultivar num território disputado, que antes fora usado para
pastagem por ambos («terra da contenda pasto mistiquo») . Ordenou a
evacuação dos agricultores castelhanos porque as terras se localizavam em
território português. Como os habitantes de Moura referiam, a penetração dos
castelhanos não só era recente como vinha acompanhada de pretensões de
exclusividade, que negaria aos portugueses o uso da própria terra. Sotto
voce , reconheciam que tinham chegado a um modus operandi com Aroche
(que utilizava o território principalmente para pastagem) e que, apenas vinte
ou trinta anos antes, os habitantes de Encinasola, ao praticarem nele o cultivo
de cereais, tinham interrompido esse entendimento e desfeito o delicado
equilíbrio. Os protestos de Moura contra estes desenvolvimentos eram
acompanhados da rejeição do direito de Encinasola ao território. A povoação
castelhana afirmava que outrora fora uma aldeia na dependência de Aroche e
que, como tal, beneficiava dos mesmos privilégios que esta em relação a
Moura.[448]
Em 1517, 1528 e 1538 ocorreram novas hostilidades.[449] Enquanto Moura
acusava os habitantes de Aroche e de Encinasola de modificar o status quo ,
Sevilha queixava-se ao rei dos portugueses, e pedia a protecção das duas
comunidades. Os comissários régios nomeados em 1537 para resolver o
conflito não conseguiram concordar com uma partição justa e em 1542
preparavam-se novas negociações. Desta vez, diante do diferendo, « como ha
muy gran tiempo que dura entre ellas sin se poder acabar ni determinar
hasta ahora », os representantes dos dois monarcas estavam determinados a
chegar a um acordo. Este exprimiria um compromisso ( concordia ou
concordata ) e não a justiça, e dividiria os territórios contestados entre as
comunidades vizinhas, reservando a parte mais disputada, agora identificada
como La Contienda/Contenda e distinguida, pelo menos em parte, do Campo
de Gamos, para o uso comum – insolidum – de Aroche, Encinasola e
Moura.[450] A decisão, extremamente longa e detalhada, incluía normas
relativas à administração desta propriedade comum, em especial dirigidas à
sua conservação, e que proibiam actividades que pudessem vir a constituir
posse exclusiva, como o cultivo da terra ou a construção. O acordo esclarecia
que Encinasola tinha direitos iguais de uso, mas não jurisdição, e que
nenhuma das três comunidades deveria considerar o terreno como «seu». Os
juízes recusavam-se assim a dividir o território entre Castela e Portugal ou a
torná-lo comum a ambos os reinos, e declararam-no «Castela para
castelhanos, Portugal para portugueses». De forma a permitir a coexistência
pacífica das duas jurisdições, mandataram Aroche para representar a
jurisdição castelhana e punir os espanhóis que infringissem o entendimento, e
Moura de fazer o mesmo com os portugueses. O acordo foi elaborado uns
anos após o Tratado de Saragoça, que punha fim ao conflito das Molucas
(1529), e foi confirmado pelos monarcas pouco depois. Em 1543, para
assegurar a paz, os reis castelhano e português perdoaram os crimes
cometidos na fronteira e ordenaram uma compensação monetária às vítimas.
Nos anos, décadas e séculos que se seguiram à sua adopção, o tratado de
1542 tornou-se um documento fundacional, constantemente invocado por
todas as partes como o cânone pelo qual La Contienda/Contenda deveria ser
governada, e como a prova (muitas vezes, a única) de que pertencia, em
comum, a Encinasola, Aroche e Moura.[451] O documento incluía instruções
específicas acerca da administração do território, e as três comunidades
reportavam-se-lhe amiúde para justificar as suas actividades ou censurar as
dos seus rivais. Não sabemos de que forma foi inicialmente cumprido, mas a
partir da década de 1620 até ao final do século xix (e até depois), as
autoridades de Aroche, Moura e Encinasola fizeram visitas regulares ao
território e castigaram os indivíduos que violavam as normas.[452] As
inspecções intensificaram-se no século xviii . A preocupação inicial fora o
corte de ramos verdes para alimentar porcos (proibido pelo acordo), mas a
partir da década de 1740 serviram para perseguir os que utilizavam a terra
para fins agrícolas e, a partir dos anos de 1780, para se oporem à construção
de diferentes estruturas e muros.[453] As inspecções eram levadas a cabo por
homens armados, e incluíam juízes locais, vários vereadores e, em
determinadas ocasiões, mais umas centenas de pessoas. Ocorriam durante a
noite ou de madrugada, e confiscavam animais ou destruíam culturas ou
estruturas ilegalmente erguidas. Como La Contienda/Contenda podia apenas
ser usada pelos habitantes de Aroche, Encinasola e Moura, as inspecções
verificavam não só a legalidade das actividades como a identidade dos
actores. Para facilitar a tarefa, desde a década de 1710 era requerida prova de
vecinidad aos que utilizavam o terreno.[454] Em geral as visitas decorriam sem
grandes sobressaltos, mas por vezes desencadeavam-se confrontos violentos
que justificavam a intervenção de funcionários régios e de embaixadores que,
reproduzindo queixas locais, exigiam a actuação das autoridades municipais
para garantir o status quo .[455]
Os três municípios conduziam as inspecções anualmente ou no seguimento
de uma notícia de abusos específicos. A partir da década de 1730 as
actividades de Encinasola despertaram uma oposição considerável. Não só as
suas autoridades actuavam com maior frequência e talvez de forma mais
severa, como Moura e Aroche repetiam que o tratado de 1542 dava a
Encinasola direitos de usufruto, e não jurisdição. As suas autoridades não
podiam conduzir inquéritos ou punir violadores. Porém, quanto mais Aroche
e Moura insistiam na acusação, mais propensos se mostravam os funcionários
de Encinasola a contestá-la, visitando La Contienda/Contenda com a vara da
justiça erguida.[456] As quezílias eram violentas e frequentes e lançavam os
juízes de Aroche – em teoria as únicas autoridades castelhanas que podiam
actuar legitimamente em La Contienda/Contenda – contra os de Encinasola.
No entanto, se o exercício de jurisdição por parte de Encinasola desencadeou
uma tensão forte, a sua intenção de castigar não só criminosos espanhóis
como também portugueses passou despercebida. Em meados do século xviii ,
aparentemente, ninguém considerava La Contienda/Contenda castelhana ou
portuguesa conforme a identidade dos actores, como mandatava o tratado de
1542. Em vez disso, todas as partes pareciam concordar que era um território
misto, onde todos os juízes – desde que tivessem jurisdição – podiam agir
contra todos os violadores.[457] Por essa altura os agentes mais comuns em La
Contienda/Contenda eram delegados de Encinasola, e os prevaricadores mais
comuns eram habitantes de Barrancos. A aldeia ficava mesmo ao lado do
território, mas não possuía quaisquer direitos sobre ele.[458]
Encinasola começou por justificar as suas iniciativas com a necessidade de
salvaguardar o tratado de 1542, que garantia a paz entre vizinhos. No entanto,
na década de 1780 as suas autoridades indicavam que as inspecções também
visavam o bem-estar do Estado. La Contienda/Contenda era um território
« yermo y despoblado », rodeado de terreno difícil, que servia de « coto y
asilo » a criminosos, desertores e contrabandistas. A presença dos juízes de
Encinasola, agora muitas vezes acompanhados de guardas reais que
combatiam o contrabando, era assim essencial para travar as actividades
ilegais.[459] A comunidade retratava a sua missão como um dever, que opunha
vassalos pobres, mas leais, a poderosos senhores do crime « enemigos de la
naturaleza humana » e « cuyos hechos publican el ateísmo de sus
conciencias por haber vuelto enteramente la espalda a su creador », e
afirmava perseguir os habitantes de Barrancos, que além de desrespeitarem o
tratado de 1542 tinham transformado a sua povoação num refugium
peccatorum , um refúgio para pecadores.[460] A partir de finais do século xviii ,
portanto, e para justificar a militarização extrema, as inspecções levadas a
cabo por Encinasola eram apresentadas como um meio para prender
criminosos e salvaguardar La Contienda/Contenda.[461]
Ao mesmo tempo que prosseguiam as hostilidades entre os habitantes de
Encinasola, Aroche, Moura e Barrancos (Noudar encontrava-se já
completamente despovoada[462]), continuavam as tentativas de alcançar um
entendimento que garantisse a ordem ou permitisse, por consenso, que
infringissem o tratado de 1542.[463] Em 1760, 1762, 1768 e 1779 os
habitantes de Encinasola e de Aroche explicaram que era necessário limpar o
terreno – a vegetação estava tão densa que os animais, ao pastar, arriscavam-
se a ser devorados por lobos – e que, uma vez limpo, a sua utilização para
fins agrícolas afigurava-se lógica e oportuna. Pediam autorização régia para
cultivar. Os pedidos demonstravam o desejo aberto de violar o acordo de
1542, que proibia tal uso. Responderiam a pressões vindas de baixo, que
procuravam uma sanção legal para uma prática seguida havia muito. Os
proponentes afirmavam que as mudanças solicitadas melhorariam as rendas
municipais e permitiriam às duas comunidades pagar os impostos ao rei.
Defendiam ainda que a lei ordinária, que proibia a transformação das
pastagens em terra arável, não podia ser aplicada em La Contienda/
Contenda, pois esta não era um território «normal». O acordo de 1542
instituía nela um regime jurídico especial, não subordinado ao direito
castelhano geral. Aroche e Encinasola sublinhavam a pobreza local, a
ausência de recursos e de solo fértil, e apelavam a uma solução urgente.
Mencionavam também que a inexistência efectiva de uma fronteira entre
Espanha e Portugal e de um cultivo permanente na zona propiciavam a
frequência de roubos e outros excessos . As tentativas de envolvimento de
Moura nestes pedidos ao monarca castelhano saíram sempre goradas. Aroche
e Encinasola atribuíam o silêncio ao facto de a comunidade portuguesa
possuir terra agrícola suficiente e não precisar de mais. Mas a recusa das
autoridades de Moura em secundar as vizinhas contrastava com o cultivo que
os seus habitantes regularmente faziam em La Contienda/Contenda,
praticando de facto o que Aroche e Encinasola solicitavam de jure .
A partir da década de 1750 as sugestões de divisão de La
Contienda/Contenda entre os municípios rivais tornaram-se comuns.
Contudo, seria apenas no início do século xix que receberiam apoio
considerável na corte espanhola.[464] Mas, ao contrário do que acontecera até
aí, esse apoio já não se baseava na necessidade de corrigir a ordem pública;
em vez disso, assentava no dese- jo de melhor aproveitar a terra, que, de
acordo com os padrões da época, tinha de ser privatizada. O uso conjunto
fora uma solução difundida no passado, mas a sua continuação era agora
apodada de extremamente prejudicial – causava brigas entre vizinhos,
permitia a presença de elementos indesejáveis e o não cultivo de terrenos
férteis. No início do século xix dizia-se que a pastagem (a principal actividade
em La Contienda/Contenda) era «desperdício» por restringir o
desenvolvimento de terra arável. Os funcionários régios espanhóis concluíam
pela urgente partição do território entre Espanha e Portugal, não pela
necessidade de fixar a fronteira mas pela possibilidade de dividir o terreno em
lotes, para depois serem vendidos ou entregues a proprietários individuais.[465]
Em 1803 nomearam-se delegados para discutir estas questões, e o início das
conversações bilaterais ficou marcado pelos debates acesos em torno da
partição.[466] Alguns espanhóis propuseram uma divisão em terços, que
caberiam em parte igual a Encinasola, Aroche e Moura. Outros ripostaram
com o argumento, não da extensão de terra, mas do seu valor. Alegou-se
também que os direitos de Aroche e de Moura eram diferentes dos de
Encinasola, pois enquanto as duas primeiras gozavam de usufruto e
jurisdição, a terceira não possuía jurisdição.[467] Destas ideias nasceu uma
proposta espanhola de divisão do território em dezasseis partes, com seis a
serem dadas a Aroche, outras seis a Moura, e apenas quatro a Encinasola.[468]
Do lado português surgiram também várias recomendações. Inicialmente o
comissário defendeu a partição em metades, porque a população de Moura
era muito maior que a de Aroche e de Encinasola juntas, e porque tinha o
dobro dos animais a pastar em La Contienda/Contenda. Por essa razão,
possuía, de facto , mais de metade dos direitos de usufruto. A ideia foi
rejeitada, e o comissário português sugeriu outra solução: a hipótese de
Encinasola não ter quaisquer direitos em relação a Moura (e a Portugal) em
virtude de o seu usufruto ser efeito secundário da dependência de Aroche. Os
títulos de Encinasola, portanto, deveriam ser definidos pelas suas autoridades
com as de Aroche e de Espanha, não com as de Moura e de Portugal. A corte
portuguesa comunicou ao embaixador espanhol em Lisboa que a manutenção
do desentendimento aconselhava o abandono do tratado de 1542, e que o
melhor seria traçar uma nova linha que dividisse o território conforme as
fronteiras «naturais».
Enquanto os comissários na fronteira, os embaixadores nas cortes e os reis se
acusavam uns aos outros de procrastinação intencional, os habitantes locais
faziam os possíveis por impedir a divisão. Na sua opinião prejudicaria as três
comunidades « porque reunido este terreno produce… utilidad común a
todas y dividido tocaría a cada una muy corta porción de el ».[469] Em 1805 e
1806 pediram que o acordo de 1542 fosse preservado e solicitaram a
aprovação de um novo, que restabelecesse de modo mais eficiente as suas
relações. Segundo o comissário espanhol, certificaram-se de que Lisboa daria
aos seus delegados ordens que tornariam impossível a adopção de um acordo.
Em 1808, Aroche, Encinasola e Moura trocaram várias cartas sobre La
Contienda/
Contenda.[470] Interessada num debate travado entre naciones cultas , Aroche
propunha um encontro com Moura para decidir « lo que se conceptúa más
oportuna » para os seus residentes. No entanto, apesar de várias reuniões
terem sido planeadas, foram todas canceladas. Encinasola discutiu com
Aroche a culpa do fracasso, e se a comunidade – que não tinha jurisdição –
deveria ser convidada. As trocas foram extremamente azedas. As autoridades
de Encinasola esperaram mais de quarenta horas em La Contienda/ Contenda
e acabaram por perceber que as congéneres não iriam chegar. Indignadas,
perguntaram-se se os outros dois municípios estariam a fazer pouco delas.
Aroche negou-o, agastada. Moura manteve a distância e explicou em duas
curtas cartas que, dada a situação política (a invasão napoleónica e a
constituição de juntas de governo locais), as suas autoridades estavam
demasiado ocupadas com assuntos urgentes para se preocuparem com o
modo como deveria ser gerida La Contienda/Contenda. Testemunhos
indirectos, contudo, sugerem que antes de 1813 os três municípios chegaram
a um acordo acerca da divisão do território em parcelas e da atribuição destas
a habitantes individuais.[471] Em 1816, 1834, 1863 e 1865 as três comunidades
voltaram a coincidir na inten- ção de violar o tratado de 1542, principalmente
através da autorização de utilização de La Contienda/Contenda para fins
agrícolas.[472] Não surpreenderá, por isso, que num dicionário geográfico
espanhol de 1847 La Contienda/Contenda aparecesse descrita como um
território fértil pertencente a Moura, Encinasola e Aroche, mas não a Espanha
nem a Portugal.[473]
O comissário espanhol nomeado em 1885 para dividir o território concordou
parcialmente com esta descrição. Troçando do interlocutor português, por
defender que a questão envolvia a jurisdição de Espanha e de Portugal,
afirmou que La Contienda/ Contenda não era nem uma coisa nem outra.[474]
Durante este período, os três municípios sustentaram que La Contienda/
Contenda era um território «neutral» que, em vez de sujeito à lei espanhola
ou portuguesa, se pautava por um regime jurídico próprio. A colaboração
entre os concelhos continuou até ao início do século xx[475]. Em 1893 e 1894
Espanha e Portugal concordaram em dividir La Contienda/Contenda e a
partição foi incluída no tratado de fronteira de 1926. A contestação, todavia,
manteve-se. Apenas em 1932, quando os territórios de Aroche e de
Encinasola foram separados e demarcados e, em 1955, quando os marcos
fronteiriços entre os dois países foram por fim colocados, é que um conflito
que durara 650 anos formalmente terminou.[476]
Se a situação em La Contienda/Contenda mudou profundamente ao longo do
tempo, o mesmo aconteceu com as más relações entre Aroche e Encinasola.
Particularmente tensos entre 1591 e 1637, os conflitos entre as duas
comunidades terão começado muito antes (talvez em 1485) e persistido por
muito tempo.[477] O desacordo mais importante centrava-se na questão da sua
indivisibilidade desde «tempos imemoriais», partilhando assim território e
jurisdição (como Encinasola defenderia), ou não (como Aroche pretenderia).
A resposta tinha consequências. Se a primeira interpretação fosse a correcta,
então, apesar da aparente separação em dois povoados diferentes, cada
comunidade podia utilizar o território da outra como se fora seu. Os juízes
municipais e régios que estudaram esta questão proclamaram várias vezes
que as duas comunidades partilhavam efectivamente direitos de usufruto, mas
não de jurisdição. Obstinadamente, Encinasola esforçou-se por obter
reconhecimento do seu direito de jurisdição sobre os dois territórios; Aroche
bateu-se por que esse direito se restringisse a cada uma das comunidades:
Encinasola teria jurisdição sobre Encinasola, Aroche sobre Aroche. A má
comunicação durou séculos, e em certas ocasiões foi marcada por extrema
violência, como por exemplo em 1629, quando os juízes de Encinasola,
acompanhados por homens con armas en forma de guerra , entraram no
território de Aroche e executaram vários actos de jurisdição, como a prisão de
uns quantos indivíduos, o desarmamento de outros e os maus- -tratos aos
restantes.[478]
Encinasola começara por insistir no exercício de jurisdição apenas em
Aroche, mas no século xviii as pretensões estenderam-se a La
Contienda/Contenda. Isto talvez justifique a resposta tão violenta de Aroche
às inspecções que a localidade vizinha aí conduziu. Aroche acreditava que
não se tratava de tentativas inocentes de protecção de La
Contienda/Contenda, mas de acções com motivos e projecção muito mais
alargados. A determinação legal de que Aroche e Encinasola partilhavam
direitos de usufruto, mas não de jurisdição, explicaria também o precoce
acesso de Encinasola a La Contienda/Contenda pois sugeria que, não obstante
quaisquer outras considerações, se Aroche podia usar o território, Encinasola
também podia. O comissário português estaria certo quando concluiu que,
pelo menos originalmente, os direitos de Encinasola eram derivativos e não
independentes. O desacordo entre Aroche e Encinasola arrastou-se no tempo
e atingiu um tal nível que em 1757 as autoridades da primeira tentaram
capturar os juízes da segunda que entraram em La Contienda/Contenda com a
sua vara de justicia erguida.[479] Os magistrados de Encinasola conseguiram
escapar, mas regressaram no dia seguinte com uma trintena de homens
armados.
Durante este período, e em paralelo com o que estava a acontecer em La
Contienda/Contenda e entre as comunidades castelhanas de Aroche e
Encinasola, também se intensificou o confronto entre Aroche, Encinasola e a
portuguesa Noudar pela posse do Campo de Gamos. Em 1642, depois de se
declarar a favor de Filipe IV e não de D. João IV, o conde de Linhares foi
extirpado da comenda de Noudar, que permaneceu vaga até ser reatribuída ao
duque de Cadaval em 1684.[480] Testemunhos a posteriori sugerem que
durante o período de vacância e da guerra (1640-1668), Noudar e Campo de
Gamos eram usados por todos, mas que em 1674, talvez num prelúdio da sua
reatribuição, a ordem de Avis envidou esforços de demarcação do território.
[481]
As diligências realizadas nesse ano, com o principal objectivo de
distinguir Moura de Noudar, identificaram e demarcaram igualmente a terra
da contenda , ou seja, um território disputado. As autoridades de Encinasola
– que nunca foram convidadas a juntar-se à acção, por Noudar sempre ter
negado os seus direitos no Campo de Gamos – chamaram-lhes tentativas de
«renovar a demarcação» e consideraram-nas nulas e vazias. Recusaram
aceitar o que ficou decidido e, em vez disso, procuraram recolher
testemunhos acerca « los parajes y sítios por donde de tiempo inmemorial a
aquella parte iban los linderos que demarcaban la división de uno y outro
reino ». O conselho municipal votou então por colocar marcos fronteiriços
entre Encinasola e Noudar onde, de acordo com a investigação, se
localizariam antes de os portugueses os terem supostamente removido para
novo local.[482]
Em 1675 realizaram-se, assim, duas demarcações do Campo de Gamos. Uma
foi conduzida pelos portugueses de Noudar e a outra pelos castelhanos de
Encinasola. Cada uma ignorava a outra e cada uma reclamava a sua validade
absoluta. A primeira dividia Noudar de Moura e de Castela; a segunda
distinguia Encinasola de Noudar, e Castela de Portugal. No início de 1676,
com este resultado incerto, um juiz português regressou ao território para
demarcar o fim do Campo de Gamos e o início da «terra da contenda».[483]
Encinasola, contudo, voltou a não ser convidada para a tarefa; em 1678 as
suas autoridades – que discordavam da distinção que os portugueses faziam
do Campo de Gamos relativamente a La Contienda/Contenda – realizaram
outra demarcação na presença de vários vecinos de Portugal .
Pouco depois, representantes do duque de Cadaval tomaram posse da
comenda. Em 1686 notaram que onde se erguiam « antiguamente » várias
casas e um castelo, restavam somente algumas muralhas e uma igreja.[484]
Mas se Noudar e o seu castelo estavam completamente despovoados,
Barrancos, que começara por ser uma pequena aldeia na sua dependência, era
agora próspera e sede de poderes anteriormente situadas em Noudar (como o
juiz, o tabelião, etc.). Na opinião dos homens do duque, entre 1642, quando
foi esvaziada, e 1686, quando foi retomada, a comenda de Noudar perdera
muito valor e território. Os portugueses de Moura eram os principais
violadores dos seus direitos, quando começaram a usar o Campo de Gamos
como se fosse seu.[485] Os habitantes de Barrancos também penetravam nas
propriedades, tratando toda a jurisdição como domínio público, e não
privado. E os espanhóis beneficiaram do caos, com a usurpação de grandes
pedaços de terra.
Nesse período, os habitantes locais também não chegaram a acordo em
relação à extensão de La Rossiana (Ruciana, Rocianas), outro bocado de terra
que, pertencente a Noudar, fazia fronteira com Encinasola. Em 1688, depois
de inspeccionar o território e de ouvir testemunhas de Encinasola e de
Noudar, um juiz português concluiu «pouca clareza havia do sitio verdadeiro
por onde a dita defeza partia com as terras do conselho de Anzinazolla».[486]
Devido à «pouca consideração» do território contestado, dividiu-o ao meio.
Todavia, em 1693 o duque de Cadaval contestou esta partição, argumentando
que fora «malfeita», por ignorar a antiga demarcação, datada de 1607, e ser
prejudicial à sua comenda. Afirmava ainda que o juiz português agira dessa
forma por receber subornos.[487] Convidada pela Mesa da Consciência, a
quem o duque apelara, para se juntar às diligências, Encinasola recusou. As
suas autoridades explicaram que depois de a paz ser restabelecida (1668) um
juiz português tentara demarcar o território unilateralmente e, em resposta,
Encinasola «renovara» os marcos fronteiriços de acordo com a sua
localização em 1640 (antes da guerra).[488] Como os habitantes de Noudar se
recusavam a reconhecer a validade destas divisões, as autoridades de
Encinasola repetiram a mesma demarcação na sua presença. Embora o
concelho de Noudar tenha concordado com tudo o que aconteceu, os seus
membros defenderam que não tinham qualquer autorização para proceder a
uma partição formal e assim recusaram-se a assinar os papéis. Concordaram,
não obstante, que o pedazo em conflito seria, entretanto, utilizado por ambas
as comunidades.
Realizou-se então uma terceira demarcação em La Rossiana, e Encinasola
apresentou a um juiz português documentos relacionados com os seus
direitos. O juiz visitou o território e retirou-se, sem proferir uma decisão ou
produzir um relatório escrito. Em 1688 era esta a situação, quando um novo
juiz, enviado pelo rei português para pôr termo à discórdia e « mala
vecindad », sugeriu (e Encinasola aceitou) que, perante a ausência de provas
claras de quem tinha e não tinha razão, e dado que as diferenças entre os
intervenientes eram pequenas («era corto el interés») , seria melhor adoptar
um compromisso para dividir a área equitativamente entre as duas
comunidades. Os habitantes de Encinasola não gostavam particularmente
deste resultado porque todo o território era por direito seu, mas estavam
dispostos a aceitá-lo para « evitar las diferencias y estar en quieta y pacífica
paz ». Um cidadão de Barrancos e outro de Encinasola fizeram então um
juramento e, com o juiz, passaram à demarcação do território.
Em resumo, os procedimentos de 1688 representaram uma boa solução,
administrada com «justiça» e «Cristandade». Alguns indivíduos mal-
intencionados de Noudar e Barrancos, porém, conspiraram para convencer o
duque do contrário. Persuadiram- -no de que Encinasola subornara o juiz e
que fora por isso capaz de, ilegalmente, adicionar à sua jurisdição uma vasta
porção de terra pertencente a Noudar.[489] Encinasola ripostou, lembrando que
a demarcação de 1688 fora feita por um juiz português que seguira os
procedimentos correctos. Além disso, se alguma das partes se sentia
prejudicada, poderia apelar a um tribunal régio ordinário, não à Mesa da
Consciência, à qual cabia fiscalizar os interesses das ordens militares (e,
portanto, os de Avis). Fosse como fosse, Encinasola não podia ser
interveniente na questão porque apenas Sevilha tinha legitimidade para isso.
A Mesa da Consciência decidiu de outro modo, e em 1700 deu ao duque o
direito a remarcar o território, o que foi feito em 1703.[490] A posteriori ,
Encinasola argumentaria que esta nova divisão se realizara à discrição do
árbitro, e que a privara de grande parte da sua jurisdição. Pediu ajuda a
Sevilha e encarregou-se imediatamente da restauração dos marcos
fronteiriços no local onde alegadamente estariam em 1688 – que seria o
mesmo local, e por isso o correcto, de antes da guerra de 1640.[491]
Todas as partes apelavam à demarcação de 1607, considerada consensual. No
entanto, mostravam-se completamente incapazes de concordar no que essa
demarcação continha. A contestação prosseguiu. Em 1716 Encinasola voltou
a pedir ajuda a Sevilha e a intervenção do rei espanhol.[492] As suas
autoridades explicavam que durante a Guerra da Sucessão Espanhola (em que
Espanha e Portugal se tinham defrontado entre 1703 e 1715), os castelos de
Noudar e Barrancos tinham sido ocupados por forças espanholas e a
devolução a Portugal, em 1715, reavivara a contenda porque ninguém estava
de acordo com o que fora a situação antes da guerra. As divergências acerca
do que deveria ser devolvido a Portugal e o que deveria permanecer espanhol
(segundo o Tratado de Utreque de 1715) eram acesas. Num jogo de gato e
rato, os vizinhos de Barrancos (que agora claramente assumiam o papel da
despovoada Noudar), acompanhados de representantes do duque de Cadaval,
relocalizaram os marcos fronteiriços ( límites y mojones ); os habitantes de
Encinasola fizeram o mesmo.[493] Desencadearam-se confrontos violentos. A
certa altura, relatavam queixosos portugueses, as autoridades de Encinasola,
escoltadas por cerca de duzentos homens armados, tentaram intrometer-se na
demarcação de um juiz português. Embora para evitar o « tumulto y pelea
que se iba encendiendo » o magistrado e os seus homens se tenham retirado,
o rei português – que defendia a legalidade e a necessidade da demarcação –
exigiu que os espanhóis a permitissem, baseada em « una setencia que se
pronunció com conocimiento de causa oídas las partes » por uma autoridade
competente (a Mesa da Consciência). Em 1716 as autoridades régias
espanholas responderam com um pedido ao rei português para que garantisse
a obediência à divisão de 1688, já que fora adoptada com o consentimento de
todas as partes. As autoridades portuguesas contrapuseram um papel da
autoria do duque de Cadaval que rejeitava a interpretação.[494] O Conselho de
Estado espanhol acreditava que o principal obstáculo ao acordo era o duque,
e sugeriu que o embaixador em Lisboa falasse com ele em privado, para lhe
assegurar que os seus interesses não seriam postos em causa, mesmo que o
território fosse declarado castelhano.[495] O duque respondeu e forneceu o
ministro dos Negócios Estrangeiros português de numerosos documentos.[496]
Mas as diligências pararam logo a seguir porque o ministro confessou-se
demasiado ocupado para ler os papéis e o embaixador espanhol esperou que a
não-resposta ditasse a morte natural do assunto, como aparentemente terá
acontecido.
A querela entre Encinasola e Noudar desapareceu dos registos régios, mas os
conflitos violentos entre Moura e Noudar por causa do Campo de Gamos
continuaram a ocupar os habitantes locais e a corte portuguesa. Desde o
século xvi que uma sucessão de investigações judiciais concluía que a terra
pertencia a Noudar (e a Barrancos) e que Moura estava autorizada a usá-la
por virtude de um acordo de 1516 reconfirmado em 1605 com o anterior
senhor da comenda, o conde de Linhares.[497]
Os arquivos indicam que a disposição era em si mesma um compromisso
(uma «transação, concerto e amigável composição») entre rivais que
discordavam constantemente dos seus direitos e cujas relações desde o século
xiv eram ensombradas por uma série de processos judiciais. O entendimento
de 1516, que permitia a Moura usar o Campo em troca de pagamento, deveria
pôr cobro à disputa. No entanto, tal como o ocorrera com o acordo de 1542, o
de 1516 abriu caminho a uma renovada discórdia. Nos anos que se lhe
seguiram o que fora exactamente transferido para Moura tornou-se uma
questão contestada. Seria o acordo limitado no tempo ou permanente?
Incluiria todo o Campo de Gamos ou apenas parte dele? A jurisdição também
era transferida? E quem teria o direito de aí recolher o dízimo? Poderia
Moura adquirir direitos através da prescrição? Novos embates judiciais em
1673, 1688, 1691, 1692, 1694, 1699, 1702, 1795, 1709, 1715-1717, 1730 e
1808 concluíram com a afirmação de que o Campo de Gamos era de Noudar.
[498]
Contudo, quanto mais o duque insistia que era seu, mais os habitantes de
Moura o contradiziam.
No século xviii os habitantes de Noudar e de Barrancos entraram na discussão,
para dizer que mesmo que o Campo pertencesse a Noudar não era
propriedade privada do duque e sim domínio público.[499] Os debates teriam
precedentes; é possível que já em 1594 os habitantes de Noudar acusassem o
seu senhor, o conde de Linhares, de abusar dos seus privilégios ao demarcar o
território como se fosse domínio privado e não uma propriedade comum. Tê-
lo-ão também questionado em 1600, quando convidou indivíduos para
trabalhar nas suas terras incultas, que os habitantes de Moura e Noudar
afirmavam ser pastagens comuns, e não propriedade privada.
As partes
Os historiadores têm tido a tendência de retratar a querela entre Aroche,
Encinasola, Serpa, Moura, Noudar e Barrancos como uma oposição de
municípios espanhóis a municípios portugueses, ou como uma recusa destas
comunidades de fronteira em aceitar uma divisão imposta por vontade régia.
Todavia, é evidente que os conflitos que ocorreram de 1290 a 1955 eram
muito mais complexos que isso. Aroche e Encinasola poderão ter enfrentado
Serpa, Moura, Noudar e Barrancos, mas desafiaram- -se constantemente
umas às outras, e o mesmo aconteceu com as comunidades portuguesas. Os
desentendimentos remontavam ao período em que todas pertenciam a
Castela, e embora alguns dos arguentes sugerissem um agravamento após a
atribuição a reinos diferentes, eram vozes relativamente raras. Sem conceder
grande relevância à submissão a diferentes monarcas, a maior parte dos
interlocutores locais realçava, como explicação para a eternização do
conflito, os processos que permitiam a municípios dependentes (Barrancos
dependente de Noudar; Encinasola de Aroche; Noudar talvez dependente de
Moura; Encinasola e Aroche dependentes de Sevilha) obter uma autonomia
relativa que, entre outras coisas, os forçava a redefinir os seus territórios
como separados uns dos outros e impedia assim que antigos parceiros
usassem a sua terra.[500] Os registos em arquivo sugerem igualmente que
Aroche e Moura (em lados diferentes da fronteira) terão mostrado mais
vontade de cooperar do que, por exemplo, Aroche e Encinasola (ambos em
Castela). A colaboração cobria múltiplas áreas e durou um longo período. No
final do século xiii Aroche e Moura concordaram no uso conjunto de La
Contienda/Contenda, contra as ordens de Sevilha. Em 1510 alcançaram novo
entendimento sobre o uso comum de certas áreas.[501] Ambas aceitavam o
tratado de 1542, e Moura apenas recorreu da decisão de conceder a
Encinasola direitos de usufruto. No início do século xvii a comunidade
portuguesa, aliás, posicionou-se ao lado de Aroche contra Encinasola, quando
a primeira desejou provar em Sevilha que a sua jurisdição era distinta e
separada.[502] No século xviii Moura usou repetidamente Aroche como canal
de comunicação com Encinasola, para marcar e cancelar reuniões. Mas,
mesmo que aliada de Aroche contra Encinasola, confrontou-a em certos
temas como a gestão diária de La Contienda/Contenda. Por outro lado,
enquanto as hostilidades entre as duas comunidades castelhanas eram
contínuas e cobriam questões muito mais essenciais ao seu quotidiano do que
La Contienda/Contenda, como a partilha, ou não, de direitos de usufruto e de
jurisdição em todo o lado, havia uma permanente tentativa de chegar a
entendimento que permitisse aos respectivos habitantes, por exemplo,
infringir o tratado de 1542 e usar La Contienda/Contenda para a agricultura,
um desejo que Moura poderá não ter partilhado.[503] Moura e Noudar também
se digladiaram amiúde acerca do uso e jurisdição no Campo de Gamos, mas
os arquivos sugerem que, ao mesmo tempo, estavam intimamente ligadas: a
maioria dos capitães do castelo de Noudar e a maior parte dos religiosos que
aí trabalhavam, bem como os indivíduos que arrendavam terras do senhor
local, eram de Moura.[504] Barrancos, por seu lado, teoricamente dependente
de Noudar, estava mais próxima de Encinasola do que da comunidade
portuguesa.
Sevilha, cuja jurisdição municipal se estendia a este território, por vezes
participava nas discussões. Contudo, ainda que habitual- mente se
posicionasse do lado de Aroche e de Encinasola contra o que considerava
ameaças externas, também se lhes opunha em muitas outras questões. Haverá
mesmo razão para crer que antes da adopção do acordo de 1542 Aroche e
Encinasola tinham os seus problemas mais graves com Sevilha, e não com as
povoações portuguesas vizinhas. No final do século xiii Sevilha proibiu
Aroche de autorizar os vizinhos de Moura a usar a sua jurisdição, e advertiu-a
de que não lhe competia decidir quem possuía direitos de usufruto.[505] As
quezílias terão prosseguido depois de Sevilha instituir a sua jurisdição como
um território único para propósitos de pastagem, recolecção e consumo de
água potável. Este desenvolvimento jurídico, que criou uma comunidad de
montes y pastos , significava que todas as comunidades sob a égide de
Sevilha tinham de partilhar os seus baldios com todos os habitantes dessas
comunidades. A imposição de terrenos de pastagem comum sevilhanos foi
extremamente controversa. Em 1453, por exemplo, o concelho de Cumbres
de San Bartolomé (uma povoação da zona) queixou-se a Sevilha de que os
habitantes de Encinasola usavam o seu território, mas que Encinasola proibia
os de Cumbres de San Bartolomé de fazer o mesmo. Nesse mesmo ano, o
concelho de Aroche protestou que os vizinhos de Fregenal tinham roubado
mais de duzentos animais que os habitantes de Aroche tinham deixado a
pastar no seu território.
O crescimento demográfico e a guerra de sucessão de Castela (1475-1479)
apenas exacerbaram estes conflitos.[506] Contudo, em Aroche, a obrigação de
excluir Moura dos terrenos de pasto e de admitir, pelo contrário, todos os
habitantes de todos os municípios sevilhanos não teria provocado tanta
contestação não fora o facto de durante o período muçulmano as três
comunidades (Aroche, Moura e Noudar) pertencerem a Beja, e partilharem
entre si as respectivas pastagens.[507] Em 1253 Aroche já estava formalmente
sujeita a Sevilha, e Moura e Noudar continuavam sob a alçada de Beja. No
início as três comunidades continuaram a usar conjuntamente as suas
propriedades comuns. Sevilha, porém, competindo pela hegemonia contra
Beja e desejando estabelecer autoridade sobre o seu território recentemente
instituído, restringiu gradual- mente estas práticas, e insistiu, como por
exemplo em 1290, que Aroche excluísse os seus antigos parceiros. A
subordinação a Sevilha, em resumo, mexia e interferia em estruturas
existentes e acarretava novas obrigações.[508] No século xvi cerca de metade
da actividade económica de Aroche baseava-se na pecuária, e a proibição do
acesso de Moura e a concomitante imposição do acesso de todos os outros
sevilhanos às suas pastagens era desconfortável para a comunidade. Todavia,
a determinação de Sevilha foi particularmente pesada para Encinasola, cujo
modo de vida dependia totalmente da criação de gado. Neste contexto, o
acordo de 1542 podia ser lido como um tratado contra, e não a favor de,
Sevilha, o senhorio jurídico. Reconhecia os direitos exclusivos de Aroche e
de Encinasola a usar importantes terrenos para pastagem que de outra forma
teriam de partilhar com habitantes de outros municípios sevilhanos, e
protegia-as da intervenção de Sevilha nos terrenos que tradicionalmente
partilhavam com Moura, mas não com Cumbres de San Bartolomé ou
Frenegal, por exemplo. De uma forma algo enviesada, o acordo de 1542
legitimava assim as reivindicações que Aroche já fizera no final do século xiii
a Sevilha, quando afirmara ter capacidade para estabelecer contratos com os
municípios vizinhos e partilhar os seus terrenos de pastagem com quem quer
que achasse adequado. Assim sendo, o documento de 1542 não só era uma
solução sensata que recorria a mecanismos tradicionais de estabelecimento da
paz (a partilha de territórios contestados) como era um tratado que
consagrava os entendimentos e necessidades locais. Foi adoptado, não em
colaboração com Sevilha, mas, principalmente, apesar de, e contra, Sevilha.
Se as alianças e as divisões locais eram extremamente complicadas, a
configuração de actores não o era menos. Em meados do século xv Serpa
desapareceu por completo e Encinasola fez a sua estreia. Pouco depois,
surgiu Barrancos, com Noudar a despovoarse gradualmente até se tornar
numa aldeia-fantasma, funcionando de facto , ainda que não de jure , não
como uma comunidade viva e próspera, mas como o domínio privado de um
senhor.[509] Em meados do século xviii a violenta oposição entre Encinasola e
Barrancos era um reflexo paradoxal das mudanças económicas, sociais e
políticas a ocorrer, como o crescimento de certas comunidades e a
reorientação das suas economias. Várias hipóteses ajudarão a explicar a
rivalidade: os habitantes de Barrancos seriam os que mais violariam o tratado
de 1542; por a comunidade não o integrar, era mais fácil a Encinasola
perseguir os seus habitantes do que tentar diligências jurisdicionais contra
Aroche e Moura, que lhe negavam o direito a actuar; como Noudar deixara
de existir, Barrancos tomara o seu lugar de principal protagonista na
fronteira; o duque de Cadaval, dizia-se, estaria por trás do conflito; ou,
finalmente, Barrancos e Encinasola opor-se-iam porque estavam mais
próximas uma da outra, e ambas viviam um crescimento demográfico e
económico significativo.
Todavia, a violência e a assiduidade das escaramuças eram particularmente
impressionantes precisamente por os habitantes destas duas comunidades
estarem unidos por antigos e actuais laços familiares e de amizade. Tinham
uma história comum que remontava ao início do século xiv , quando os
senhores de Avis permitiram ou encorajaram a imigração de castelhanos para
o seu território.[510] A política foi tão bem-sucedida que os arquivos de
1493/1494 indicam que nessa altura a maioria dos habitantes de Barrancos
eram castelhanos vindos, principalmente, de Encinasola e de Cumbres de San
Bartolomé.[511] Durante um inquérito realizado nesse ano, a maior parte
afirmou que a sua vila se localizava em solo português. Como sofressem uma
enorme pressão para mudar o depoimento, e defenderem que era castelhana,
queixaram-se ao comissário português de que em Encinasola habitualmente
os classificavam como « malhechores de la tierra contra Castilla ». Diziam
ainda que muitos dos seus parentes e compatriotas tentavam convencê-los a
modificar as declarações para não arriscar um castigo, que implicaria a perda
das propriedades que tinham em Castela. O comissário castelhano e o
tabelião também os pressionaram, acusando aqueles que professavam
lealdade ao rei castelhano, por terem lutado por ele em Málaga e em Granada,
de estarem agora a traí-lo, e merecerem por isso a morte. Circulavam
igualmente boatos de que após a partida dos comissários régios a guerra
estalaria entre vizinhos, com Barrancos a ser atacada por Encinasola e
queimada até não restar pedra sobre pedra. Os rumores provocaram a
dissensão de muitos barranquenhos que, ironicamente, encontraram refúgio
em Castela.
As atas do inquérito de 1493-1494 – o mesmo ano em que os monarcas de
Castela e de Portugal assinaram dois tratados na cidade de Tordesilhas, o
primeiro para dividir o Atlântico em esferas de influência e o segundo para
distribuir territórios ao longo da costa africana – indicam que a presença de
castelhanos em Barrancos transformou o território e afectou direitos.[512]
Noudar despovoava-se lentamente e Barrancos foi assumindo o seu lugar,
controlando a sua jurisdição e gozando dos seus direitos. A partir daí, passou
a entrar em confronto directo com Aroche e Encinasola, que antes de chegada
dos habitantes castelhanos a Barrancos podiam usar quase livremente o
território de Noudar. Os barranquenhos, em resumo, não só estabeleceram os
direitos de Portugal ao território, como pretendera a ordem de Avis, como, e
talvez principalmente, limitaram o que os espanhóis – seus vizinhos, amigos
e parentes – podiam fazer. Não surpreende, portanto, que os
desenvolvimentos não fossem apreciados pelos familiares e antigos
compatriotas, com quem continuavam a ter ligações próximas, indo e vindo
da nova povoação. No entanto, se durante o inquérito de 1493 os castelhanos
acusavam os barranquenhos de traição, os portugueses também suspeitavam
deles e sugeriam que, apesar das declarações favoráveis a Portugal, no íntimo
continua- vam leais a Espanha.[513]
Desde 1493, então, os habitantes de Barrancos seriam formalmente
classificados como portugueses, mas até ao final do sé- culo xviii o estatuto da
comunidade e de quem nela vivia continuaria a ser disputado, reafirmado e de
novo discutido. A sua ambiguidade seria novamente revelada em 1641,
depois de o duque de Bragança se declarar rei de Portugal. A marcar o
primeiro conflito militar entre espanhóis e portugueses no que viria a ficar
conhecido como a Guerra da Restauração, no fim desse ano Barrancos foi
atacada por forças portuguesas.[514] O ataque, que destruiu a vila, justificar-se-
ia por os habitantes, devido aos laços estreitos com Castela, serem a favor do
rei Filipe III (de Portugal) e se terem pronunciado contra D. João, o duque de
Bragança. Teria sido também motivado por o comendador, Miguel de
Noronha, o conde de Linhares, ser de questionável lealdade para com João.
Com efeito, acabou por apoiar Filipe, perdendo assim, entre outras coisas, o
controlo sobre Noudar.[515] Como em 1493, embora o comandante militar
tenha proibido os habitantes locais de procurar refúgio em Castela, sob pena
de serem banidos como traidores, muitos barranquenhos, desesperados,
fugiram para Encinasola, onde foram recebidos de braços abertos. As fontes
da época explicavam que não tinham alternativa. Estariam condenados a
viver nos campos «como ciganos», sem que os seus pedidos de clemência e
juras de fidelidade à nova dinastia de Bragança, e as «lágrimas das suas
mulheres e crianças inocentes», fossem ouvidos. Aos seus compatriotas em
Encinasola, todavia, contaram uma história diferente. Afirmaram ter sido
sempre leais a Filipe e, por essa razão, terem ido notificando os espanhóis do
que as forças «rebeldes» do duque de Bragança andavam a fazer.[516]
A destruição de Barrancos foi um episódio minúsculo numa guerra de saques
que formalmente durou vinte e oito anos (1640-1668). Como vila portuguesa
sob a tutela da ordem de Avis, no momento-chave nas mãos de um nobre
português que se colocou ao lado de Filipe contra o duque de Bragança, a sua
invasão por forças portuguesas terá tido motivações políticas e estratégicas.
Mas teve também explicações locais.[517] Pelo menos um terço das forças que
destruíram Barrancos foram recrutadas em Moura, rival tradicional e aliado
íntimo. Entre os que a saquearam haveria gente com muito a ganhar. Além de
participarem na pilhagem, tinham razões para crer que, com Noudar
despovoada, a eliminação de Barrancos lhes permitiria a utilização livre do
Campo de Gamos.[518] Se esta interpretação for correcta, o ataque a Barrancos
seria parcialmente explicado não por referência a reis e a países, mas por
referência a pastos e a propriedades. A interpretação é sustentada por
investigação actual que afirma que a Guerra da Restauração foi
principalmente uma luta entre vizinhos que, tirando partido do confronto
geral, procuraram pilhar-se mutuamente.[519] Não faltam exemplos disto. Em
1641, o comandante militar português ordenou aos cidadãos de Moura que
devolvessem a Aroche as ovelhas que tinham roubado. A comunidade
também procurava lucrar com a nova situação política de outras maneiras.
Nesse mesmo ano perguntou ao novo monarca português se, apesar da
guerra, era ainda necessário obedecer à concordata de 1542.[520] O rei
respondeu que não era.
No século xviii os coevos ainda se espantavam que, como em tempos
anteriores, a maior parte dos barranquenhos fosse de origem castelhana e
tivesse ligações mais estreitas a Castela do que a Portugal. Muitos tinham
nascido em Encinasola, enquanto outros, por laços familiares, estavam
ligados a ela ou detinham propriedades em ambos os lados da fronteira.[521] A
influência mútua entre Encinasola e Barrancos levou um barranquenho a
sugerir em 1796 que a sua vila era, «situada na raia de que é metade neste
reino e a outra no de Hespanha, composta por tanto de moradores de ambas
as Nações».[522] No processo judicial que se abriu nesse ano, a presença em
Barrancos de imigrantes espanhóis de primeira e segunda gerações,
maioritariamente oriundos de Encinasola, era bastante clara.
A rivalidade entre Encinasola e Barrancos, concentrada no uso ilegal de La
Contienda/Contenda, podia ser portanto entendida como um conflito familiar
ou uma birra entre amigos e parentes que usavam territórios de ambos os
lados da fronteira, mas que discordavam com frequência sobre a forma de
organizar e reorganizar as suas relações. A dicotomia entre «espanhóis» e
«portugueses», de um lado da fronteira e de outro, é assim desmontada, pois,
pelo que os arquivos da época nos permitem perceber, os interesses privados
ou de grupo terão desempenhado um papel maior nestas dinâmicas. Os
interesses privados e de grupo eram, no entanto, fundamentais. Os registos
documentais concentra-se nos municípios rivais e nas suas acções. Seguindo
o direito espanhol e português, dizem que as vilas eram corporações que
podiam actuar, e muitas vezes actuavam, em defesa da sua jurisdição. A
insistência na iniciativa comum era igualmente justificada pela natureza dos
privilégios defendidos, colectivos e não individuais. O gozo dos privilégios
dependia da existência de comunidades, que tinham direitos desde tempos
imemoriais, e os indivíduos que queriam usar La Contienda/Contenda
precisavam de se envolver numa acção comunitária e não individual. Ao
fazê-lo, tornavam os lugares, e não as pessoas, nos protagonistas das suas
querelas. Não obstante, uma análise detalhada ao que acontecia mostra que
mesmo quando se dizia que os municípios tinham actuado, as suas
actividades eram iniciadas, executadas e concluídas por pessoas que, no
essencial, estavam a proteger os seus próprios interesses. Estes indivíduos
deixavam os seus porcos comer bolotas e beber água, apanhavam lenha,
plantavam campos, construíam cabanas, realizavam inquéritos judiciais, ou
recorriam à violência em nome de propósitos que talvez beneficiassem outros
membros da comunidade, mas que não eram necessariamente motivados por
tais preocupações.
Os registos da época esclarecem ainda que nem toda a gente participava de
forma igual nestas actividades, e que muitos, questionados sobre determinada
ocorrência, remetiam-se ao silêncio. Os que escolhiam depor podiam fazê-lo
em nome da sua comunidade ou em apoio de reivindicações rivais. As
preocupações com a propriedade privada também terão desempenhado um
papel importante. Em 1488, por exemplo, Encinasola (a comunidade
enquanto corpo jurídico) poderá ter lutado por direitos no Campo de Gamos
porque alguns dos seus habitantes (como indivíduos privados) tinham aí terra.
[523]
Desconhece-se o apoio municipal que estes habitantes terão evocado, mas
o debate que se seguiu foi feito em torno dos seus direitos e não dos
privilégios da sua comunidade.
Quando se aperta o escrutínio à iniciativa comunal, torna-se evidente a
centralidade da acção individual. Foi assim na discórdia entre Encinasola,
Aroche, Barrancos e Moura, e também noutros lados. Na década de 1530, por
exemplo, os habitantes de Vinhais (Trás-os-Montes) queixaram-se às
autoridades régias de que os juízes locais, que eram anualmente eleitos,
motivados por interesses privados, recusavam-se a inspecionar as
demarcações comunais ou a assegurar que os galegos não as violariam, como
era seu dever.[524] Em 1795, noutro episódio revelador, vários habitantes de
Barcia de Mera, na Galiza, protestaram junto do juiz régio contra o tabelião,
por este ter aberto uma disputa com uma vila vizinha sem o seu
consentimento ou poder.[525] Para estes habitantes era particularmente
ofensivo o facto de o tabelião querer forçá-los a pagar o custo do pleito, que
acontecera sem a sua concordância. Mas ao recusarem pagar, as suas
propriedades foram arrestadas e o tabelião e os seus aliados ameaçaram-nos.
Estas dinâmicas eram típicas tanto entre municípios do mesmo lado da
divisão política como entre comunidades de cada um dos lados. O grau
variável de actividade em anos diferentes e a transição da condenação da
agricultura para a condenação da pastagem poderão ser lidos não apenas
como uma expressão de mudanças ao longo do tempo, mas como indicadores
de possíveis mutações na identidade dos actores dentro de cada comunidade e
no que pretendiam alcançar. É, portanto, possível que a insistência na
iniciativa municipal, contida nos registos históricos, fosse acima de tudo uma
ficção. Afinal, a agência municipal, autorizada pela lei e talvez recomendada
por considerações políticas, era principalmente um meio de os indivíduos se
relacionarem com os direitos, colectivos e não particulares, comunais e não
privados. O modo de representação comunitário poderá ter contribuído para
reduzir a uma única essência os debates, originando uma insistência nos
lugares em detrimento dos actores, mas carregava consigo as vontades e os
actos de uma multiplicidade de indivíduos, que perseguiam os seus próprios
interesses.
Para além dos municípios, havia outros intervenientes colectivos (porventura
com outros tantos interesses) igualmente importantes nestas quezílias, como
as ordens militares dos Hospitalários (Moura), dos Templários (Serpa) e de
Avis (Noudar), e vários nobres (o conde de Linhares e o duque de Cadaval)
que, formalmente instituídos como comendadores da ordem de Avis,
tratavam o território de Noudar como domínio privado. Defendiam-no contra
invasões de comunidades vizinhas (espanholas e portuguesas), e debatiam-se
com os seus próprios súbditos, de quem discordavam sobre as partes que
cabiam ao domínio privado e as que pertenciam ao domínio público. Outros
indivíduos terão influenciado os acontecimentos nos terrenos contestados.
Em 1785, por exemplo, Encinasola apontou um dedo acusador a um frade
que vivia no convento de La Tomina, adjacente a La Contienda/Contenda,
argumentando que não só encorajava violações das leis como era
pessoalmente responsável por desacatos que provocaram uma morte, vários
feridos e a tomada da vara de justiça de Encinasola.[526] La Tomina era
retratado como um sítio desordeiro controlado por padres ímpios que
desrespeitavam o acordo de 1542. No entanto, o convento era igualmente o
lugar onde Aroche, Encinasola e Moura se encontravam para discutir as suas
relações e concertar iniciativas. Francisco Mendes, habitante de Barrancos,
era outro protagonista que, segundo alguns, usara La Contienda/Contenda
ilegalmente.[527] Encinasola identificou-o como inimigo feroz, apelidando-o
de poderoso contrabandista e senhor do crime, de baixa condição, com guerra
deliberada montada contra a vila. Mendes organizara uma coligação contra
Encinasola e dirigirase ao tribunal régio de Sevilha, onde afirmara que as
autoridades da vila não tinham qualquer jurisdição sobre ele em La
Contienda/ Contenda. Mesmo se tivessem, continuava, habitualmente
excediam os seus poderes. Explicara que a reacção da comunidade às suas
actividades podia apenas fazer sentido à luz da animosidade do tabelião local,
que o queria arruinar. A rivalidade entre Mendes e os habitantes de
Encinasola era, segundo provas indirectas, incrivelmente complexa. Mendes
terá usado La Contienda/Contenda ilegalmente e ter-se-á envolvido em
contrabando maciço, como afirmava Encinasola, mas era também um
residente rico e poderoso. Era feitor do duque de Cavadal e, nessa
capacidade, teria acumulado poder e inimigos. Serviu como escrivão, o que
talvez despertasse a antipatia do tabelião de Encinasola, que via nele um
concorrente por clientes e influência. Além disso, era casado, aparentemente,
com uma mulher natural de Encinasola e tinha laços próximos com muita
gente que aí vivia.[528] Os indivíduos que agiam em nome de Encinasola
estavam conscientes de todas estas ligações. Afirmavam que as suas
reivindicações (justificadas) eram rejeitadas porque Mendes tinha tantos
amigos, parentes e aliados na jurisdição que se tornava quase impossível
proceder contra ele. É, portanto, plausível que a querela entre Mendes e
Encinasola (ou melhor, as pessoas que podiam falar, naquele momento, em
nome de Encinasola) tenha sido um episódio na luta contra o duque (que, à
excepção desta disputa, parecia ter desaparecido) ou uma discórdia entre
vizinhos e parentes ou, talvez, as duas coisas.
Os protagonistas da discórdia passavam por mutações importantes, que lhes
atribuíam novas jurisdições e reinos, os sujeitavam ou libertavam de
senhores, e lhes permitiam evoluir demográfica, social e politicamente. Os
alinhamentos locais eram profundamente complexos e estavam em constante
evolução. E a reacção régia, longe de ser imutável, reflectia toda esta
impermanência. Nestes conflitos, eram constantes os apelos à intervenção do
monarca, mas a maior parte indicava que os habitantes de municípios rivais,
bem como os seus senhores, se dirigiam instrumentalmente ao poder central
porque acreditavam na sua capacidade para atender recursos. Do século xiv
ao século xviii , após os pedidos, os reis por vezes enviavam delegados para
mediar os conflitos. Porém, em vez de representarem os interesses dos seus
reinos ou monarcas, estes homens eram instituídos como juízes, para tomar
decisões depois da audição de testemunhas, da consulta de do- cumentos e da
proclamação de uma sentença. Perante desacordos entre as diferentes facções
ou provas insuficientes, muitas vezes abdicavam das suas tarefas e deixavam
o contencioso por resolver. Como o envolvimento régio tinha como fim a
garantia da paz, e não a protecção de interesses individuais ou sequer
colectivos, só quando o direito não oferecia, repetidamente, soluções é que
estes delegados acabavam por concordar em agir como árbitros e adoptar
compromissos não ditados pela justiça, mas apostados na reconciliação.
Quando acreditavam que o conflito demorava demasiado tempo ou quando
temiam que pudesse agravar-se afirmavam que os «bons vizinhos» deviam
encontrar forma de resolver diferenças, e forçavam as partes a dividir o
território contestado ou a partilhar o seu uso. A intervenção dos enviados
régios, como juízes ou como árbitros, era concebida como a mediação de
alguém de fora, cujas iniciativas eram favoravelmente acolhidas precisamente
por partirem de pessoa superior aos habitantes locais e externa ao debate.
O papel dos reis (ou dos agentes reais) como mediadores exteriores ao
conflito confirmava-se noutros casos. Em 1701, por exemplo, os habitantes
de Riomanzas (em Espanha) discordaram dos vizinhos de Guadramil (em
Portugal) por causa das pastagens e da recolecção num certo território situado
perto de ambas.[529] O Conselho de Estado espanhol, que recebia queixas
locais, começou por ordenar ao corregidor de Zamora uma visita ao
território para investigar os direitos das partes e emitir provisões que
assegurassem « la quietude de los naturales ». Depois desta medida, « no
obstante reconociendo no era suficiente para evitar los nuevos acidentes que
puede atraer el mantener unos y otros sus pretensions y derechos », as
autoridades reais sugeriram uma reunião de ministros locais na raia, para
examinar velhos documentos e ouvir os intervenientes, e chegar a um asiento
y concordia que garantisse as boas relações entre as duas comunidades.
Também isto fracassou (de acordo com os espanhóis porque os portugueses
se recusaram a «clarificar a verdade») e a violência continuou. O Conselho de
Estado passou a negociar directamente com a corte portuguesa.
Na maior parte das ocasiões os monarcas intervinham com o envio de juízes,
mas por vezes a intermediação régia era canalizada através de embaixadores
que comunicavam, muitas vezes reproduzindo literalmente, as queixas locais.
[530]
Os embaixadores podiam colaborar com os esforços de mediação, mas no
século xviii habitualmente aconselhavam o monarca a nada fazer porque,
considerando estes conflitos de reduzida importância, esperavam que
morressem por si. Contudo, o rei interferia nessas questões essencialmente
com o envio de delegados ou com a nomeação de embaixadores, mas através
de tribunais regulares que julgavam disputas que directa ou indirectamente
envolviam direitos territoriais. A má utilização de um território por vizinhos
também podia ser considerada um assunto civil a resolver entre indivíduos ou
comunidades (e não uma questão diplomática ou política acerca da
apropriação de terra de um reino por outro), e os tribunais régios estavam
dispostos a escutar e a julgar estas queixas.[531] Encinasola, Aroche, Noudar e
Barrancos, como comunidades, e os seus habitantes, como indivíduos, muitas
vezes pediam estas intervenções, apelando ao tribunal de Sevilha. Mendes, o
já mencionado, fê-lo. O duque de Cadaval preferia apresentar a queixa à
Mesa da Consciência, e Encinasola criticava-o por isso, afirmando que a
deveria ter levado a outro tribunal.[532]
O recurso a tribunais régios em semelhantes conflitos «internacionais» (para
usar um anacronismo) era extremamente comum noutros casos. Em 1753, por
exemplo, os habitantes de Cambedo (em Portugal) pediram à audiencia da
Galiza que supervisionasse uma demarcação formal entre eles e Bousés e As
Casas dos Montes (ambas na Galiza), argumentando não existir nenhuma.[533]
As comunidades espanholas responderam que os limites entre si e os seus
vizinhos eram claros e que o pedido português se dirigia apenas à conquista
de terra que não lhes pertencia. Os magistrados pediram a ambos os lados que
apresentassem provas. O protelamento da questão levou a que Cambedo e As
Casas chegassem a um convenio pacifico que permitia o uso comum. Em
1761 reemergiu o desacordo. A litigância continuou até pelo menos 1767. Em
nenhum destes casos, em que os tribunais régios julgaram conflitos
potencialmente atentatórios dos direitos régios (territoriais), se disse aos
juízes (nem estes concluíram) que extravasavam a sua jurisdição. Ninguém
avançou alegações de extraterritorialidade ou de jurisdição (local) imprópria.
O importante não era de quem dependiam os juízes – de qual rei e de qual
reino – mas a sua capacidade para realizar um julgamento em representação
da «lei», ainda a-nacional e ainda comum aos habitantes de ambos os países.
Paradoxalmente, no momento em que os reis estavam prontos para afirmar a
sua soberania, demonstrando que não só podiam administrar a justiça como
modificar a lei e afectar os direitos, os habitantes locais, que durante tantos
séculos insistiram na participação do seu monarca, argumentavam agora que
eram eles, e não os reis, os verdadeiros e únicos senhores dos seus destinos.
O objecto cobiçado
Os diálogos a inúmeras vozes produzidos por estas interacções eram
extremamente multifacetados. Envolviam uma grande variedade de actores
que mudavam constantemente, e que iam modificando posições e alianças.
Na fronteira, mais do que um único conflito, perduravam querelas que, como
uma hidra, resistiam à redução simplista de um conflito entre habitantes
locais e reis ou entre habitantes de dois reinos. No entanto, a complexidade e
a transformação ao longo do tempo eram evidentes não apenas na construção
e reconstrução de rivalidades, mas na forma como se definiam os objectos em
disputa. Inicialmente, o desacordo aplicava-se a um território genericamente
classificado como «terra em disputa». Muito mal definidos, em breve esses
espaços eram referidos como «Campo de Gamos», «La Contienda/Contenda»
e «La Rossiana» (também chamadas «Rocianas» e «Ruciana»). Os
municípios e partes envolvidos tratavam-nos como entidades identificáveis e
estáveis, todavia é evidente que discutiam amiúde o significado, o conteúdo,
o início e o termo dessas unidades. Ou seja, a controvérsia não era apenas
sobre quais os animais que podiam pastar no Campo de Gamos; era, afinal,
sobre o que se entendia por Campo de Gamos. De uma só vez, os conflitos
questionavam e instituíam os objectos de interesse. Por isso, muitas vezes
descambavam em debates acerca da existência ou ausência de disputa sobre
determinada parcela. A confusão era tal que em 1493, por exemplo, os juízes
enviados pelos reis castelhano e português para decidir a partição não
conseguiram chegar a acordo sobre o local onde se deveriam encontrar.[534]
Habitualmente as reuniões realizavam-se no terreno contestado, mas como
deveria ser ele identificado? Os representantes de Moura protestaram que Val
Queimado, onde as negociações tinham começado, não fazia parte de «La
Contienda/Contenda» mas sim, claramente, da jurisdição privada de Moura, e
pediram aos magistrados que mudassem a audiência de lugar. O comissário
português consentiu e transferiu as sessões para o sítio indicado por Moura. O
congénere castelhano recusou-o, dizendo que o que precisavam de resolver
era precisamente a questão de qual era o território contestado, e não deviam,
portanto, aceitar como um dado adquirido o que como tal era identificado.
Num exemplo semelhante, em 1603 e 1605 os habitantes de Encinasola,
Aroche e Noudar discordaram do uso de certos pedaços de terra que, segundo
alguns, eram partilhados, e, segundo outros, privados.[535] Mesmo o acordo de
1542 não era totalmente claro acerca do que era o quê. Definia «La
Contienda/ Contenda» como incluindo vários territórios distintos, como Pae
Joannes, Val Queimado, as terras de Santa Maria, e o Campo de Gamos. Não
obstante, era claro que por essa altura a maior parte dos habitantes acreditava
que o Campo de Gamos era adjacente, e não interno, a La
Contienda/Contenda, ou que talvez parte dele fosse dentro de La
Contienda/Contenda e outra não.[536] Os conflitos eram performativos e com o
tempo o Campo de Gamos foi efectivamente dividido numa parte declarada
propriedade de Noudar (em relação à qual continuou a contestação entre
Noudar e Moura, e, em Noudar, entre os habitantes e o seu senhor) e outra,
denominada La Contienda/Contenda (e disputada entre Moura, Aroche e
Encinasola, com o ocasional aparecimento de Barrancos como herdeira da
antiga Noudar).[537] Em meados do século xviii o conflito acerca de Rossiana
desaparece dos registos arquivísticos.
À medida que a identidade e o comportamento dos arguentes iam mudando,
redefinindo o território que cobiçavam, as suas exigências também se
transformaram. Ao mesmo tempo que discutiam principalmente direitos de
uso, alguns contemporâneos também queriam demarcar as suas aldeias, para
as distinguir de modo claro das dos seus vizinhos. O uso e a demarcação
influenciavam-se mutuamente, como é óbvio – o uso podia conduzir à
demarcação e a demarcação podia permitir o uso – mas eram conexões,
embora possíveis, não necessárias, pois o uso podia facilmente existir sem
demarcação e a demarcação não garantia direitos de usufruto. Em paralelo,
indivíduos e grupos levantavam questões acerca da forma de distinção dos
terrenos comuns dos privados. E embora a pastagem e a recolecção fossem
esporadicamente contestadas, em especial quando era previsível que
prejudicassem ou danificassem o território ou restringissem o seu uso – a
verdadeira discussão era provocada pelo corte de lenha e pelo cultivo da
terra. As árvores cortadas seriam irreparáveis, e a agricultura exigiria uma
definição precisa do território e da posse exclusiva, e por isso, mais do que a
pastagem ou a recolecção, causavam os conflitos e motivavam as
contestações.
À medida que a identidade e o comportamento dos arguentes iam mudando,
redefinindo o território que cobiçavam, as suas exigências também se
transformaram. Ao mesmo tempo que discutiam principalmente direitos de
uso, alguns contemporâneos também queriam demarcar as suas aldeias, para
as distinguir de modo claro das dos seus vizinhos. O uso e a demarcação
influencia- vam-se mutuamente, como é óbvio – o uso podia conduzir à
demarcação e a demarcação podia permitir o uso –, mas eram conexões,
embora possíveis, não necessárias, pois o uso podia facilmente existir sem
demarcação e a demarcação não garantia direitos de usufruto. Em paralelo,
indivíduos e grupos levantavam questões acerca da forma de distinção dos
terrenos comuns dos privados. E embora a pastagem e a recolecção fossem
esporadicamente contestadas, em especial quando era previsível que
prejudicassem ou danificassem o território ou restringissem o seu uso – a
verdadeira discussão era provocada pelo corte de lenha e pelo cultivo da
terra. As árvores cortadas seriam irreparáveis, e a agricultura exigiria uma
definição precisa do território e da posse exclusiva, e por isso, mais do que a
pastagem ou a recolecção, causavam os conflitos e motivavam as
contestações.
A questão menos abordada – apesar de ser, afinal, a mais importante – e
menos esclarecida era se os territórios disputados eram espanhóis ou
portugueses. É significativo, por exemplo, que o acordo de 1542 que
sancionava o uso comum de La Contienda/ Contenda não a tenha resolvido.
Os direitos dos habitantes locais foram divididos, mas os dos reis
mantiveram-se intocados: segundo as suas disposições, o monarca castelhano
e o monarca português asseguravam a conservação intacta do seu domínio,
como se o território nunca tivesse sido disputado ou dividido. Como
referimos atrás, La Contienda/Contenda deveria ser Portugal (e apenas
Portugal) para os portugueses, Castela (e apenas Castela) para os espanhóis.
Os habitantes terão começado por observar a regra, mas em meados do século
xviii as autoridades de Encinasola estenderam a sua jurisdição a violadores
portugueses. A partir daí, La Contienda/Contenda tornou-se espanhola e
portuguesa. A mudança, mais tarde adoptada por outros agentes, aconteceu
de modo informal, sem autorização, talvez mesmo sem aviso. Todavia,
afectou profundamente os direitos dos monarcas. No fim do século xviii , e
mais claramente no seguinte, até os delegados reais afirmavam que La
Contienda/Contenda era partilhada por ambos os países ou que não pertencia
a nenhum. Tornou-se extraterritorial, ou um pedaço de terra neutral entre
duas potências rivais.
As reivindicações
Aroche, Encinasola, Moura, Noudar, Barrancos e Serpa principiaram por
defender as causas respectivas por referência a costumes imemoriais.
Afirmavam que muitos anos de usufruto e uma longa sucessão de tentativas
de divisão do território tinham produzido certos hábitos que instituíam
direitos e que estes deviam ser salvaguardados. Algumas das afirmações
baseavam-se em documentos existentes em arquivos locais e régios, mas a
maioria dependia da declaração de testemunhas que recordavam
determinados acontecimentos ou remetiam para a descrição feita pelos seus
antepassados. As testemunhas levavam a sério a noção de tempos
imemoriais. Afirmavam que ninguém se recordava da forma e da razão da
emergência do conflito ou do que acontecera a seguir. Era evidente, contudo,
que o esquecimento e a recordação serviam certos fins e constituíam um meio
de obtenção de resultados favoráveis. Diferentes membros de diferentes
comunidades produziam assim narrativas diversas, por vezes completamente
opostas. As histórias que cada um contava podiam ainda ser profundamente
contraditórias. Para que o uso fosse imemorial (como todos pretendiam),
tinha de ser contínuo e consensual. Ora a constante incapacidade para
demarcar a terra e a longa contestação demonstravam que não era. Os
homens da época, afirmando e condenando, ao mesmo tempo, os seus
direitos, insistiam, acima de tudo, na continuidade, ainda que mais fictícia
que real. Referiam-se a um status quo elusivo que existira (diziam) até
recentemente, ao mesmo tempo que confessavam a sua violação em múltiplas
ocasiões. Fingiam que era consensual (quando nunca o fora) e que, por existir
no passado, deveria perdurar no presente, apesar das profundas alterações na
identidade dos habitantes, nos territórios em disputa e nos objectivos que
tinham para eles.
Como estas alegações não conduziam a lado nenhum, no século xvi o acordo
de 1542 que estabelecia as relações entre Moura, Aroche e Encinasola em La
Contienda/Contenda tornou- -se a base de todas as futuras negociações. É
pouco claro se isto aconteceu porque sancionava um compromisso, em vez de
fazer «justiça», se porque representava o único acordo que as partes em
conflito alguma vez lograram alcançar, se porque as três comunidades – cujos
arquivos foram destruídos[538] – conservavam cópias dele, ou se, até, porque
se invocavam as instruções nele contidas de cada vez que La
Contienda/Contenda era inspeccionada e os seus violadores castigados. Uma
coisa é certa: chegados ao século xvii , o documento de 1542 já não era posto
em causa. Guardado e recopiado, era defendido por habitantes locais e
autoridades régias, e transformara-se numa espécie de mito fundacional. Com
a sua adopção, a maior parte dos confrontos passou a desenrolar- -se em
torno dos seus significados e formas de implementação. A sua importância
era tal que havia quem se lhe referisse como um tratado.[539] E embora os
intervenientes rivais continuassem a apresentar a sua respectiva posse como
«imemorial» com os mesmos argumentos anteriores a 1542, era evidente que
o acordo transformara por completo os direitos e as alegações destas
comunidades. Todas as partes apontavam para 1542 como um momento
original (e já não imemorial, no sentido de não-recordado) e para uma
iniciativa humana deliberada que, num movimento conjunto, instituíra, mais
do que reconhecera, a realidade. Ou seja, no período que se seguiu a 1542, no
centro dos argumentos jurídicos passou a estar, já não o uso consuetudinário,
de emergência natural e espontânea, mas um acordo que, embora inicialmente
imposto, acabaria por ser aceite por todas as comunidades envolvidas.
O acordo de 1542 pairava ainda no ar no século xix , quando os comissários
nomeados pelas duas coroas, que se consideravam emissários de potências
soberanas, fizeram repetidos apelos à sua execução.[540] Contudo, enquanto
nos séculos xvi e xvii o documento conseguira servir de baliza ao que se podia
ou não fazer, em meados do século xviii a sua viabilidade já não era evidente.
O uso partilhado de um território pertencente a dois estados ao mesmo tempo
fora talvez uma boa solução à data da adopção, mas já não o era no final do
século xviii ou no início do xix . Os habitantes locais continuaram a votar a
favor de uma posse comum, argumentando que a eventual emergência de
conflitos poderia ser resolvida através de acordo amigável. No século xix
mantinham-se fiéis a essa parte do documento, que sobrepunha a propriedade
comunitária e a jurisdição mista à propriedade e jurisdição privadas, e a
pertença a dois reinos à pertença a um só. Mas as autoridades discordavam,
bem como os reis e os seus ministros. Por essa altura, o destino da terra
comum em relação à terra privada, do usufruto em relação à propriedade e da
pastagem em relação à agricultura estava já decidido. Nos debates que se
travavam em Espanha e em Portugal desde o século xvii , intensificados no
século xviii , muitos defendiam que o progresso económico obrigava à divisão
da propriedade comunal em lotes e a sua venda a trabalhadores agrícolas, que
adquiririam assim a posse permanente.[541] A propriedade comum passou a ser
apresentada como uma herança de uma idade das trevas e a agricultura e a
propriedade privada como símbolos de um futuro cobiçado. Estes
reformadores defendiam que a terra tinha de ser atribuída, não a quem a usara
no passado, mas quem a usaria melhor no futuro. Se muito poucos apoiavam
a propriedade comunal, ainda menos defendiam a pastagem, que a maioria
assumia impedir o progresso económico.[542] As tradições jurídicas que, ao
longo dos séculos xvi , xvii e xviii , favoreciam a pastagem foram sendo
gradualmente abolidas. Portugal e Espanha começaram a deixar para trás uma
economia assente na pecuária e na recolecção para se tornarem territórios de
cultivo intenso, a necessitar de enclosures . Os homens da época
argumentavam que os desenvolvimentos salvariam os pobres, reavivariam a
economia e enriqueceriam o Estado. No final do século xviii e no início do xix
as petições locais para conservar La Contienda/Contenda como uma
pastagem comum foram rejeitadas, não por se acreditar que a posse comum
produzisse desordem ou pela exigência de fixação de uma fronteira entre
Espanha e Portugal, mas principalmente porque os terrenos comuns e a
pastagem impediam a terra de atingir o seu potencial absoluto.[543] Deu-se
uma curiosa inversão: os funcionários régios passaram a insistir numa
intervenção onde durante muitos séculos tinham estado ausentes, e os locais,
que constantemente tinham apelado a essa ajuda, rejeitaram a sua presença.
Se em períodos anteriores os vizinhos de Aroche, Encinasola, Moura, Noudar
e Barrancos lutavam uns contra os outros, agora juntavam-se para travar o
envolvimento dos reis, quais intrusos indesejáveis.
Estes desenvolvimentos poderão explicar a habitual insistência dos
historiadores em retratar a fronteira como uma invenção régia construída,
debatida e decidida contra os desejos locais.[544] Será talvez uma projecção
fiel do que ocorreu no final do século xviii e início do xix , e da união dos
habitantes locais contra a intervenção dos estados. Mas, como interpretação,
era uma invenção moderna. Uma história mais longa da fronteira mostra que
as únicas pessoas que lutaram, resistiram e insistiram na manutenção de
divisões foram os habitantes locais, não os reis. Em geral, durante muitos
séculos os reis pareceram desinteressados em estabelecer ou identificar
fronteiras (desde que os conflitos entre os locais não descambassem em
demasiada violência), e os habitantes locais, alegando observar o status quo
sem inovar, revelaram-se verdadeiramente empenhados na definição dos
lugares de pastagem, cultivo, recolha de lenha e detenção de criminosos. As
querelas que mantinham uns com os outros exigiam vigilância e iniciativas
constantes. Em determinadas ocasiões reinava tamanha animosidade que os
coevos acreditavam que os fronterizos sentiam uma aversão natural uns
pelos outros e eram « naturalmente guerreiros contra sus vecinos ».[545] Isto,
todavia, não nega a importância dos pactos locais. Como acontecia nas
Américas, também na Europa a violência e a paz eram mecanismos
alternativos que se complementavam, mais do que se contradiziam. No meio
das maiores altercações, os habitantes muitas vezes procuravam alcançar
consensos, que vinham sancionar compromissos que permitiam a
comunidades rivais dividir o território ou usá-lo em conjunto. Em algumas
partes da fronteira estes pactos locais foram alcançados relativamente cedo e
persistiram por muito tempo. Um bom exemplo são as relações bilaterais
entre Valencia de Alcántara e Marvão. Num período semelhante (1313-1906)
ao dos conflitos entre Aroche, Encinasola, Moura, Noudar e Barrancos, a sua
história começou quando, após um prolongado período de diferendo acerca
da divisão dos seus territórios, as comunidades, com a autorização dos
respectivos monarcas, assinaram um documento de concordia y
compromiso .[546] Este possibilitava aos habitantes usar a sua jurisdição quase
indistintamente para pasto, abastecimento de água potável e recolha de frutos
e plantas, mas proibia actividades que exigissem um domínio exclusivo,
como o cultivo e a construção. Perante o fracasso das tentativas de
demarcação de 1351, 1455, 1488 e 1519, o acordo, inicialmente adoptado
como solução temporária, tornou-se permanente.[547] Os arquivos municipais
não contêm registo da sua forma de funcionamento nos séculos xvi e xvii mas,
no século xviii , a sua sobrevivência era particularmente notada, em especial
pelo concelho de Valencia, que elaborava minutas mais extensas e detalhadas
do que as de Marvão. Sempre que surgiam dúvidas acerca da inclusão de
determinados terrenos e actividades no acordo, os municípios negociavam
um com o outro.[548] Juravam respeitar e assegurar o respeito dos seus
habitantes pelo documento para que, por exemplo, não utilizassem o território
de modo abusivo, praticando nele actos, como o cultivo, que exigissem uma
posse exclusiva.[549] A obediência ficava garantida com as visitas regulares
das autoridades de Valencia e Marvão ao território.[550] Ambas apelavam
constantemente ao acordo e honravam de perto a sua implementação e, acima
de tudo, insistiam na aquiescência régia. Durante o século xviii , sempre que os
funcionários régios espanhóis infringiam as disposições bilaterais, ao
sancionar os habitantes de Marvão que usavam o território espanhol
principalmente para pastagem, as autoridades de Valencia vinham em auxílio
dos vizinhos. Defendiam as suas actividades, legais perante a lei municipal e
a lei real e garantes da paz e da harmonia entre vizinhos.[551] Na década de
1850, quando os comissários espanhóis e portugueses se reuniram para fixar
todas as questões fronteiriças pendentes entre os dois países, concluíram que
apesar de dúvidas antigas acerca da partição entre Valencia e Marvão,
nenhuma sobrevivia à data; tudo fora sanado por acordos locais.[552] Os
acordos sobre o uso conjunto, e os pedidos entre as duas comunidades, e ao
Estado, para que fossem respeitados continuaram até 1868. A insistência na
sua observação para a manutenção da paz também continuou.[553] Em 1906 a
jurisdição de Valencia e Marvão, Espanha e Portugal, foi finalmente dividida
e ambas as comunidades receberam um território exclusivo a cada uma.
Em todos os arquivos se encontram indicações para concordatas locais, que
ultrapassavam todos os outros acordos e desacordos. De facto, até existiam
entre Aroche, Encinasola, Moura, Noudar e Barrancos. É difícil avaliar a
qualidade do seu funcionamento e por que razão gerariam melhores
colaborações numas ocasiões do que noutras. A imagem que temos do que
aconteceu é determinada pelos arquivos, e estes, indubitavelmente,
privilegiam o conflito em detrimento do acordo. A menção de acordos é feita,
normalmente, porque são infringidos, e não porque são respeitados. A prática
do registo dependeria de muitos factores, mas o seu efeito sobre o estudo que
fazemos do passado é particularmente evidente no caso de Marvão e
Valencia, cujas relações eram bem explicadas e descritas pela segunda e não
tanto pela primeira.
As práticas locais poderiam ser diferentes, mas diferente poderia ser também
a importância que cada município deu ao documento e a variabilidade das
suas relações com os guardas régios que o infringiriam. Como a
documentação de Valencia é mais abundante, o que hoje sabemos refere-se
apenas à forma como as autoridades espanholas terão transgredido o acordo.
Fica por esclarecer se as portuguesas o fizeram e se ocorreram outras
quezílias, registadas com menos vontade. Mas se as relações entre Marvão e
Valencia eram diferentes das existentes entre Aroche, Encinasola, Moura,
Noudar e Barrancos, eram, ao mesmo tempo, surpreendentemente
semelhantes. Em ambos os casos, as tentativas de clarificação da situação
legal falhavam porque mesmo no século xiv os contemporâneos discordavam
quanto ao significado e à extensão de um status quo que todos fingiam
adoptar. As várias interpretações do passado, como deveria ser restaurado, e
como afectava o presente, conduziam à violência, e a violência a acordos. A
concordância, todavia, exigia uma implementação. Nessa fase, os
acontecimentos seguiram um caminho distinto em cada um destes conflitos,
possivelmente porque as dificuldades não estavam nos acordos abstractos,
mas na sua concretização detalhada e quotidiana.
Os acordos locais podiam ser respeitados ou não, contestados ou
pacificamente seguidos, utilizados pelos municípios uns contra os outros ou
em conjunto contra o rei. Contudo, depois de o direito (na forma de posse
imemorial) não conseguir resolver o conflito, e depois de o compromisso (o
acordo de 1542) já não poder ser legitimamente mantido, os homens da época
voltaram- -se para a razão e a ciência. Em meados do século xviii afirmavam
que os conflitos que lançavam Encinasola, Aroche, Moura, Noudar, Serpa e
Barrancos umas contra as outras teriam origem num «tempo obscuro»
impossível, agora, de penetrar. Em vez de tentar percebê-la ou de procurar
documentos ou testemunhas que elucidassem os direitos dos intervenientes,
os arguentes sugeriam que se examinasse a situação no terreno. Em 1750
Antonio de Gaber concluiu que La Contienda/Contenda era originalmente
espanhola.[554] Dizia que era um erro frequente, apesar de vulgar, considerar
os terrenos de pasto comuns como territórios que pertenciam a todos os que
tinham direitos de usufruto, ou a ninguém. Explicava que como durante mais
de duzentos anos os habitantes locais o tinham usado indistintamente,
poderiam ter esquecido a quem verdadeiramente pertencia, dando-lhe um
novo nome (La Contienda/Contenda) e pensando que o acordo de partilha
implicava a abdicação dos reis espanhóis do direito de sua posse. Tudo se
justificaria pela relutância das autoridades locais em exercer jurisdição, por
temerem conflitos. No entanto, continuava Gaber, por mais razoáveis que
fossem, estas conclusões eram incorrectas. La Contienda/Contenda não era
um terreno comum, nem era uma terra de ninguém. Pertencia claramente a
Espanha porque se localizava no seu território. As suas autoridades
permitiam que estrangeiros (camponeses portugueses) a usassem através da
hospitalidad . O acordo de 1542 apoiava esta interpretação porque distinguia
usufruto (para pastagem e recolecção, que eram permitidas), de posse (que
não era), proibindo actividades como o cultivo e a construção. O acordo
assegurava que ninguém podia reclamar direitos sobre La
Contienda/Contenda, e por isso definia o usufruto, não os direitos de
propriedade. Para Gaber, esta era a interpretação devida, conforme ao direito
das gentes e ao direito natural e divino. Era igualmente a solução correcta
segundo as leis das monarquias espanhola e portuguesa, e a conclusão mais
razoá- vel. No que a Gaber dizia respeito, La Contienda/Contenda era apenas
um exemplo, um protótipo, entre muitos. A fronteira com Portugal, afirmava,
muitas vezes incluía territórios habitualmente usados por vários municípios.
Para cada um deles os habitantes locais não sabiam explicar como e quando
nascera a situação, mas Gaber dizia que certamente se deveria sempre à
tolerância espanhola perante o abuso português. Terminava declarando ser
fundamental não registar o que os habitantes pensavam – afinal, tudo o que
faziam era repetir o que os antepassados contavam – mas descobrir o que a
natureza e o bom senso indicavam. Nas palavras do comissário espanhol
encarregado de dividir o território em 1803, «a geografia» demonstrava que
La Contienda/Contenda era terra espanhola porque, situada fora da actual
raya e dentro do territorio de España , era contígua à jurisdição de Aroche e
de Encinasola, não de Moura. Estes factos indisputáveis, e as « tradiciones de
los mayores del país » e outras « fuertes presunciones » significavam que
apenas a violenta usurpação feita pelos portugueses fronterizos , « cuya
época se pierde en la obscuridad de los tempos » poderia ter produzido a
actual situação.[555] O comissário especulava que a irregularidade teria
principiado durante o reinado de Isabel de Castela ou mesmo dos seus
antepassados (no século xv , ou antes). Aventava uma explicação para a
escolha da data – os monarcas, preocupados com as guerras contra os
mouros, não se importariam com os seus direitos em relação a Portugal –,
mas a verdade é que na altura em que o comissário escrevia, a Reconquista e
os reinos anteriores aos dos Reis Católicos eram vistos como pal- co de
constantes e importantes reorganizações territoriais, para além de conflitos
políticos endémicos e de um caos social e económico generalizado.
Se alguns arguentes apelavam ao bom senso, outros inspiravam- -se na
história. O comissário português para a divisão de 1804 seguia esta última via
e sugeriu que Encinasola, até 1399 dependente de Aroche, tinha assim
direitos derivativos a La Contienda/ Contenda, e não independentes. A
ocorrer, a partição deveria ser compensada por Aroche e por Espanha, não
por Moura e por Portugal. Um primeiro comissário espanhol respondeu a este
argumento dizendo que a alegada dependência, mesmo que tivesse existido,
era irrelevante, já que expirara muito antes da adopção do acordo de 1542.
Um segundo comissário espanhol, contudo, inverteu o argumento. Na sua
versão, Moura, e não Encinasola, é que não possuía quaisquer direitos.[556]
Moura fora fundada na Idade Média por habitantes de Aroche, e a sua
cedência a Portugal no final do século xiii transferira para este país apenas a
localização da povoação, não o seu hinterland . Defendia que era uma
interpretação fundamentada num livro chamado Historia eclesiástica de la
ciudad y obispado de Badajoz , publicado em 1670. Juan Solano de
Figueiroa Altamirano, o seu autor, considerava Mora (Moura) um enclave
espanhol dependente do bispado de Badajoz.[557] Explicava que Moura fora
fundada pelos gregos em 1221 a. C., que durante a época romana fora
reconstruída pelos habitantes de Aroche, que lhe chamavam Aroche la
Nueva, e que durante as guerras civis romanas ambas lutaram juntas sob a
denominação comum de «Aroche». Tomada pelos mouros, fora libertada por
Afonso Henriques, que agradeceu aos cavaleiros que o tinham ajudado
mudando-lhe o nome para Moura. Conquistada e reconquistada em várias
ocasiões posteriores, fora definitivamente ganha por Afonso, o Sábio , de
Castela, que a transmitira à filha Beatriz, a rainha consorte portuguesa. O
comissário dizia que outras provas afirmavam que em 1257 e em 1294 Moura
era castelhana ou que se situava em território disputado. Finalmente, como
Moura dependia de Aroche, os seus direitos eram derivativos e não
independentes. Essa situação continuara depois da sua passagem para
Portugal. A disputa entre os dois municípios pelos direitos de usufruto em La
Contienda/Contenda começara quando Aroche recusara permitir a Moura a
pastagem, devido à sua inclusão no reino de Portugal. Não só Moura não
tinha quaisquer direitos a La Contienda/Contenda, como o seu próprio
território fora obtido através da usurpação a Aroche. Os juízes que
elaboraram o acordo de 1542 teriam, portanto, errado por não levarem em
conta esta longa história. No entanto, concluía o comissário, o erro não
precisava de afectar a discussão presente, a não ser que o rei decidisse, por
vontade própria e por sua graça, conceder esta terra de La
Contienda/Contenda a Portugal.
Trata-se da tentativa mais audaz de imaginar o início de um conflito cujos
primeiros episódios, mesmo no século xiv , resistiam à reconstrução. Apesar
de ter sido rejeitada pelo rei, que não a considerou relevante, este tipo de
narrativa histórica teria de esperar pela década de 1880 para passar a ser
ridicularizada. Até lá, e confrontado com a recordação portuguesa de que
Portugal cedera Aroche a Castela, em 1306, o comissário espanhol ripostou
afirmando lembrar-se de um tempo ainda anterior, em que Portugal não
existia.[558] Fechando o círculo, o passado mostrava-se insuficiente para
fornecer soluções, e os contemporâneos tinham no presente a sua única
alternativa. Declaravam assim que os direitos existiam porque sempre tinham
existido e continuavam a existir. Perante a passagem do tempo e a agitação
política e económica, ninguém deveria esperar que demonstrassem os seus
direitos a não ser pela observação da sua posse. Que não soubessem quando
começara, que a tratassem de forma a-histórica, assumindo-a imutável, que
não tivessem prova da sua existência, e que fossem constantemente
desafiados pelos seus adversários – nada disso tinha já importância.[559]
Capítulo 4: Ilhas em movimento num mar de terra:
1518-1864
A multiplicidade de intervenientes em constante movimento, a contínua
mutação do território disputado, a par das alterações frequentes das
reivindicações, estavam igualmente presentes noutros conflitos. Em alguns
deles – como o que aqui apresentamos em primeiro lugar, relativo à ilha de
Verdoejo – o que estava em causa eram problemas que surgiam, em parte, de
mudanças na paisagem, nomeadamente em resultado do aparecimento e do
desaparecimento de ilhas. No entanto, por mais naturais que fossem as
mudanças, a forma como eram detectadas, compreendidas e valorizadas
implicava uma reflexão complexa sobre o território, os direitos, a adesão e a
pertença a determinada entidade política. O modo como os indivíduos e as
comunidades se relacionavam com o que os rodeava e como tentavam dar
sentido ao que era natural, ao que era histórico, ao que era tradicional e
convencional e ao que era científico tornava-se também evidente no segundo
caso escrutinado – a divisão dos Montes da Madalena (para os espanhóis) ou
do Lindoso (para os portugueses) entre comunidades rivais. No terceiro e
último caso que aqui trazemos, os homens da época estavam principalmente
empenhados em compreender o que consideravam uma irregularidade
extrema: a existência de povoados «mistos» e «promíscuos», com residentes
pertencentes a ambos os países e sem atribuição territorial clara. A
reimaginação que faziam do seu passado para modificar o seu presente é
hoje, diríamos, um dos legados mais importantes dos conflitos territoriais.

Verdoejo (1683-1863)
De acordo com os registos que chegaram até nós, em 1683 reacendeu-se uma
querela entre comunidades ao longo do rio Minho, rio que, como se sabe,
separa o Sul da Galiza do Norte de Portugal. Nessa data, as autoridades
eclesiásticas não conseguiram acordar acerca do destino dos dízimos que os
pescadores que lançavam as redes a partir de Verdoejo, um pequeno banco de
areia no meio do rio, deveriam pagar.[560] Os frades do mosteiro jesuíta de
Sanfins, em Portugal, diziam que a ilha estava em «terras de Portugal» e que
existia um «muito velho costume» a este respeito, e por isso os tributos eram-
lhes devidos. O abade de Caldelas (em Espanha) retorquia que o território
nunca fora português, e que na altura era claramente galego, porque o rio, que
antes correra entre a Espanha e a ilha, separava agora esta de Portugal.[561]
Após vários episódios violentos, com delegados de ambos os países a discutir
entre si e a tentar forçar os pescadores a pagar, o mosteiro pediu a assistência
do monarca português, que deu instruções às autoridades de Viana do Minho
para investigar o caso. O abade, a quem o rei ordenou que se apresentasse
perante o corregedor, apareceu acompanhado de um advogado português.
Recusou-se a discutir «matéria de propriedade», que não cabia nas suas
competências, mas afirmou que em relação à tributação das actividades
piscatórias a resposta era evidente. A ilha era contígua à sua paróquia e,
portanto, fazia parte do seu território. Consequentemente, quem quer que
fossem os pescadores, se aí lançavam redes deveriam pagar-lhe. Embora os
arquivos não contenham nenhuma indicação de como terá terminado o
processo, em 1684 o abade vangloriou-se de o ter ganho, graças à decisão
favorável do corregedor de Viana.[562] Não sabemos se estas afirmações eram
correctas, mas a verdade é que pouco tempo depois o mosteiro voltou a
requerer a intervenção real. O embaixador português em Madrid queixou-se
ao Conselho de Estado espanhol de que o abade de Caldelas procurava alterar
as disposições existentes, sem direito ou razão.[563] O abade usava a violência
para garantir o seu sucesso e ameaçava, segundo o diplomata português, que
«esta pesca, que pertencia a Portugal», se tornaria castelhana. Como as
pequenas disputas entre vizinhos podiam provocar a guerra entre coroas, era
essencial, concluía, respeitar a «posse imemorial» gozada pelo mosteiro e
pela coroa de Portugal. O abade deveria pôr termo a toda a perturbação.
Os funcionários espanhóis começaram por concordar com esta análise, mas
mudaram de opinião quando receberam um longo relatório do governador da
Galiza, que dizia que o problema era mais complicado do que parecia.[564]
Dezasseis testemunhas de mayor excepción tinham-no informado de que
antes da guerra (1640) tanto portugueses como galegos pescavam ao longo da
costa da ilha, cada um pagando o dízimo à paróquia do país de origem
respectivo. Durante a guerra (1640-1668) as tropas espanholas estacionadas
na ilha proibiram os portugueses de a usar, mas após o restabelecimento da
paz (1668), o costume anterior prevalecera. Assim, a situação só mudara uns
anos antes, quando o mosteiro tentara arrecadar o dízimo também dos
espanhóis. Daqui decorreram confrontos violentos, incluindo várias mortes.
Enquanto o governador de Valença do Minho, a povoação portuguesa mais
próxima, insistia com o seu congénere de Tui (do outro lado do rio) que como
o território era português os dízimos eram devidos ao mosteiro, o espanhol
respondia que o assunto seria resolvido de forma amigável se se adoptasse a
sentença do juiz de Viana, que favorecera o abade. O governador da Galiza
também declarava que, independentemente do pagamento de dízimos, a ilha
era espanhola porque o rio mudara de curso, fazendo-a quase contígua da
Galiza e distante de Portugal. Mesmo que em tempos o mosteiro tivesse tido
direitos, a natureza, e não os espanhóis, retirara-lhos, e reatribuíra-os a
Espanha. De acordo com a lei, seria esta a leitura certa; de acordo com o bom
senso, também. Qualquer outra solução permitiria aos portugueses ter um
bastião no lado espanhol do rio, o que seria inaceitável. A questão seria
encerrada, sugeria, se se visitasse a área e observasse a corrente do rio.
Verdoejo era extremamente pequena (cerca de um oitavo de légua de
comprimento e um tiro de mosquete de largura) e de poca estimación , e
por isso, em 1684 e 1685, a maior parte dos membros do Conselho de Estado
espanhol recomendou deixar cair o assunto. A solução jurídica poderia ser
evidente – de acordo com a lei, as alterações nos rios afectavam tanto os
direitos de propriedade como a jurisdição –, mas não havia razão para insistir
com os portugueses se estes também não insistissem. Apenas um conselheiro
duvidou da viabilidade da solução porque acreditava que os portugueses não
a iriam aceitar. Propôs um acordo formal que reconhecesse os direitos
espanhóis. O rei rejeitou-o e ordenou ao abade que evitasse futuros
confrontos com os portugueses.[565] Mas ao mesmo tempo que o instava a
manter relações pacíficas, encarregava-o explicitamente de defender os seus
direitos, ou seja, de cobrar o dízimo.
Em Fevereiro de 1691 o embaixador português em Madrid voltou a levantar a
questão de Verdoejo.[566] Desta feita, menos interessado em dízimos do que na
jurisdição, acusou as autoridade de Tui de entrarem ilegalmente na ilha que,
de acordo com ele, era portuguesa. Os juízes de Tui tinham prendido a pessoa
que cobrava os dízimos para o mosteiro de Sanfins e, nos dias seguintes,
percorreram o território com a vara da justiça erguida. O rei português não
cobiçava territórios que não eram seus, mas não estava disposto a ceder o
que, por direito, lhe pertencia. O embaixador pedia que o monarca espanhol
assegurasse a cessação imediata destas penetrações territoriais e que as
autoridades de Tui fossem punidas. Verdoejo, explicava, fora em tempos
parte de Portugal continental. As alterações na corrente do Minho tinham-na
transformado em ilha, mas mesmo assim era portuguesa de acordo com os
tombos de 1538 e 1548. Até 1640, apenas a usavam pescadores portugueses;
entre 1640 e 1668 (durante as Guerras da Restauração), usavam-na espanhóis
e portugueses; depois do fim das hostilidades (1668), persistira o segundo
costume. Os dízimos eram sempre pagos ao mosteiro, os direitos
alfandegários eram sempre cobrados por funcionários portugueses, e os juízes
de Sanfins visitavam a ilha com as varas erguidas. O abade de Caldelas fora
encorajado a desafiar este status quo pelo seu amo , Rodrigo Antonio,
residente em Tui e feitor da condessa de Regalados, que vivia em Madrid e
cujos avós tinham sido donos da ilha. O embaixador não atribuía qualquer
importância à eventual localização de Verdoejo mais próximo da Galiza do
que de Portugal: os rios mudam muitas vezes de curso, mas ninguém alguma
vez sugerira que estas alterações naturais afectavam a pertença destes
territórios e a respectiva jurisdição.
Em 1691, portanto, um debate em torno dos dízimos evoluiu para um conflito
acerca da jurisdição. A alteração do tema central da disputa seria subscrita
também pelos espanhóis, que nesse mesmo ano se queixaram de que os juízes
portugueses imaginavam ter jurisdição sobre a ilha (o que não era verdade). E
essa suposição manifestara-se já na tentativa de prender o cobrador de
impostos de Rodrigo Antonio Falcón, marquês de Bendaña, o dono legítimo
do território em litígio, que vivia em Espanha.[567] O Conselho de Estado
espanhol pediu informação acerca do que estaria exactamente em causa e
mostrou-se alarmado com a ameaça de uso da violência proferida por
Portugal. O rei português ordenou às suas forças militares que em
circunstância alguma permitissem a presença de autoridades espanholas na
ilha, e os espanhóis aconselharam o governador da Galiza a preparar-se para
a guerra.[568] A partir de Tui, o bispo escreveu que o verdadeiro nome da ilha
era Caldelas, não Verdoejo.[569] Como o rio Minho, que dividia os dois reinos,
passava agora entre a ilha e Portugal, Verdoejo (ou Caldelas) era claramente
espanhola. Qualquer pessoa que visitasse o território, como ele mesmo o
fizera pouco antes, confirmaria este facto óbvio, mas existiam confirmações
escritas. Os arquivos locais continham pelo menos duas cartas de 1321 que o
atestavam. Verdoejo estava também incluída numa descrição de 1528 do
bispado de Tui, data em que fora arrendada pela diocese a um munícipe da
cidade. Desde tempos imemoriais que os juízes de Tui, não de Portugal,
exerciam aí jurisdição. Em 1640, a ilha pertencia a Pedro Gómez de Abreu,
que a passou ao familiar Antonio Falcón de Sotomayor, e à data da morte
deste tornou-se propriedade de seu filho, Rodrigo Antonio Falcón, marquês
de Bendaña. De acordo com testemunhas locais, o recente envolvimento
português fora provocado pela fúria contra o cobrador do marquês, que se
recusara a vender-lhes um salmão.
Nenhum dos actores que prestaram declarações em 1691 se recordava de
quando começara o conflito, mas todos admitiam que, no ano que se seguiu à
assinatura do tratado de 1668 (que marcava o fim das Guerras da
Restauração), pescadores espanhóis e portugueses já discutiam quem podia
pescar o quê e onde. As rivalidades foram resolvidas amigavelmente, e o
marquês de Bendaña gozava, pois, da posse em paz e sossego. Todavia,
algures na década de 1680 (durante o mandato de Juan Francisco Pacheco
Téllez-Girón, quarto duque de Uceda, como governador da Galiza) os
portugueses começaram a desafiar este status quo . Mas se em Tui os juízes
e o bispo assumiam a gravidade do conflito e exigiam a atenção régia
imediata, o governador da Galiza desdramatizava. Os incidentes reportados
pelas autoridades de Tui não eram importantes, as autoridades portuguesas
tinham prometido assegurar que os distúrbios não voltariam a acontecer, e,
acima de tudo, acreditava que a sua mediação pessoal seria suficiente para
apaziguar os ânimos.[570] Em 1693, contudo, o Conselho de Estado espanhol
decidiu de outra forma. Recomendou ao rei que enfrentasse a controvérsia
com uma negociação directa com a coroa portuguesa.[571] O Conselho
confessava abertamente que a ilha não era importante e que as questiúnculas
com ela relacionadas seriam provavelmente motivadas pela ganância dos
envolvidos. Mas, mesmo assim, exprimia preocupação com a possibilidade
de a querela levar, como quase aconteceu, os dois países à beira da guerra. E
como os portugueses pediam não apenas o impedimento do abade para cobrar
dízimos e das autoridades de Tui para exercer jurisdição, mas também do
marquês de Bendaña para cobrar impostos senhoriais na ilha, o Conselho de
Estado determinou que as únicas pessoas afectadas por um acordo seriam as
que tinham interesses na ilha – o abade, o proprietário, e os juízes de Tui. Por
essa razão, nem o Conselho nem o rei deveriam estar preocupados com o
modo de conclusão do caso. A única coisa que interessava era assegurar que
terminasse.
Frustrado com a procrastinação, em 1694 o mosteiro de Sanfins voltou a
tomar o assunto em mãos e moveu um processo contra o abade de Caldelas
na audiencia da Galiza, onde o acusou de atacar a sua imemorial posse de
dízimos.[572] O convento não foi demovido da sua posição, e o abade também
não. Retorquiu que a ilha era usada desde tempos imemoriais pelos cidadãos
de Tui e que pertencia a um espanhol (Don Rodrigo Antonio Falcón, marquês
de Bendaña). Os depoimentos de testemunhas locais confirmaram ambas as
pretensões (muito) contraditórias, e alguns galegos apoiaram o mosteiro,
enquanto alguns portugueses ajudaram o abade. O mosteiro apresentou
documentos que indicavam que no século xvi a ilha fazia parte das suas
propriedades, fosse porque as suas autoridades o tinham declarado em
testamento ou porque o tinham atestado em procedimentos que originaram a
elaboração de um tombo (ou apeo ). A acompanhar as diligências ia uma
cópia, datada de 1691, da tomada formal de posse. No entanto, como diriam
no século xix os negociadores espanhóis, os documentos apresentados pelos
portugueses provavam pretensões e não títulos ou direitos. Atestavam que
desde a década de 1520 o mosteiro defendia que a ilha era sua e que as
jurisdições vizinhas em Portugal e o rei português concordavam. O que os
espanhóis pensavam do assunto ficava na obscuridade.
O mosteiro apelava a uma longa sucessão de precedentes e acusava os seus
rivais de «grande violência e desrespeito»; por seu turno, o abade dizia que
não obstante direitos antigos a ilha era espanhola por estar geograficamente
dependente de Espanha. Desconhecia quando o rio mudara de curso, mas
tanto ele como as suas testemunhas afirmavam que desde 1580, ou até antes,
a ilha fora assim considerada, referindo-se-lhe como Caldelas e não
Verdoejo. A litigação prosseguiu e o secretário de estado português
apresentou ao embaixador espanhol em Lisboa alegações e vários
documentos que demonstravam os direitos de Portugal.[573] A argumentação
girava em torno das questões da soberania real, não dos dízimos ou da
jurisdição, e repetia o que os portugueses já antes tinham reivindicado,
insistindo no facto de as mudanças naturais não afectarem as fronteiras dos
Estados. O secretário de estado atribuía a «confusão» sobre o estatuto da ilha
à união e desunião de Espanha e Portugal e defendia que a permissão que os
portugueses davam aos espanhóis de aí pescar era um gesto de amizade, sem
intenção de concessão de título. Declarava ainda que os espanhóis
confundiam deliberadamente o debate com a identificação de Caldelas, uma
ilha realmente deles, com Verdoejo, que não o era. Os funcionários espanhóis
consideraram o assunto sub judice e responderam que não podiam actuar até
a audiencia da Galiza comunicar a sua decisão. Todavia, quando este
tribunal espanhol finalmente proferiu uma sentença, em 1695, concedeu ao
mosteiro um desagravo cautelar sob a forma da posse provisória de todos os
dízimos, e a cidade de Tui e os conselheiros reais reagiram furiosamente. O
tribunal, alegavam, não tinha qualquer jurisdição para estabelecer se a ilha
era portuguesa ou espanhola, e com esta decisão efectivamente transferia o
título para o mosteiro e para Portugal.[574] Por causa das implicações
territoriais, a audiencia da Galiza nunca deveria ter estudado o caso, mas, em
vez disso, deveria ter perguntado ao rei como pretendia proceder.
Paradoxalmente, como se tudo não tivesse acontecido em favor do mosteiro,
mas contra ele, o secretário de estado português concordou com as
autoridades de Tui, protestando contra a intervenção de um tribunal espanhol
em assuntos que extravasavam sua jurisdição.[575] O rei português ameaçou
tratar todos os espanhóis que entrassem na ilha como inimigos empenhados
em retirar a posse aos portugueses e concluiu que não havia espaço para
negociação. A seu ver, o caso era claríssimo. A única coisa que admitia era o
reconhecimento espanhol de que a ilha era sua.
A audiencia da Galiza defendeu a decisão tomada fazendo notar que o
desagravo cautelar não afectava juridicamente nem a posse nem os direitos de
propriedade, para já não falar da jurisdição dos Estados.[576] O direito das
partes, explicavam os juízes, estava longe de ser óbvio porque era difícil
encontrar uma forma de identificação da ilha e estabelecer se seria idêntica
àquela que os documentos e as testemunhas descreviam, e se o rio teria
realmente mudado de curso. Os magistrados acreditavam que como esta
incerteza produzia distúrbios, seria melhor que ambos os reis enviassem
comissários para resolver amigavelmente as questões da «maneira habitual».
De regresso à mesa das negociações, no final de 1696 o embaixador
português em Madrid e o Conselho de Estado espanhol tentaram chegar a
uma solução. No entanto, embora todos expressassem um desejo inequívoco
de paz, cada um insistiu na manutenção das suas propostas originais,
claramente contraditórias. Diferiam acerca da prova legítima e das suas
consequências e do método e dos critérios a empregar. Os portugueses
pretendiam reconstruir a situação legal e preservar antigos direitos. Os
espanhóis respondiam que seria suficiente enviar engenheiros para verificar
onde passava o rio.[577] A questão, afirmavam, não era o que teria acontecido
num passado remoto, mas o que a justicia y razón ditavam no presente. Na
sua opinião, e no caso em apreço, o direito intervinha não para confirmar o
que existira (os direitos antigos) mas para enquadrar como deveria mudar
(reconhecendo as mutações no curso do rio). As deliberações foram
acompanhadas da notícia de que a situação na fronteira continuava a
deteriorar-se e que os habitantes locais insistiam numa resposta às suas
exigências.[578]
Passaram quase vinte anos até a ilha de Verdoejo ser novamente discutida.
Desta vez foi-o como subproduto das negociações sobre a implementação do
Tratado de Utreque. O documento, assinado em 1715, estipulava que as duas
monarquias deveriam reganhar as «fortalezas, castelos, cidades, lugares,
territórios e campos que tinham antes da guerra» ( i. e. , a Guerra da Sucessão
Espanhola, 1701-1713, em que Portugal entrou em 1703). Apesar de muito
poucas localidades serem especificamente mencionadas no tratado como
exemplos desta restituição, entre elas estava a «ilha de Verdejo [ sic ]» que a
Espanha, depois de ter ocupado com forças militares durante a guerra,
prometia devolver a Portugal.[579] Não é muito claro por que razão esta
pequena ilha constou no tratado, ao lado, por exemplo, da Colónia do
Sacramento. Mais, segundo interlocutores locais, depois de o documento ser
assinado, os portugueses que viviam nas proximidades, argumentando que
Verdoejo era deles, começaram a usá-la e a proibir os espanhóis de o fazer.
[580]
Instado pelas autoridades locais galegas sobre a forma de responder a
estes desafios, o Conselho de Estado espanhol a princípio respondeu que as
instruções do tratado eram claras e deviam ser seguidas. No entanto, depois
de informado pelo governador da Galiza sobre o que acontecera nas décadas
de 1680 e 1690, o Conselho afirmou que a inclusão da ilha entre os territórios
portugueses a ser devolvidos pela Espanha poderia ter sido um erro. A ilha
não era verdadeiramente portuguesa antes de a guerra ter começado. E, não o
sendo, apesar das obrigações espanholas inscritas no documento, não deveria
ser cedida. O tratado estipulava «restituição», não a tomada de novas terras.
O que aconteceu a seguir continua por apurar. É possível que a expulsão dos
jesuítas de Portugal em 1759 e a subsequente transferência do mosteiro de
Sanfins para mãos privadas, bem como os posteriores abandono e destruição,
tenham permitido ao abade espanhol a renovação das suas pretensões.
Sabemos que o destino de Verdoejo voltou a ser discutido em 1859, quando
as autoridades de ambos os países nomearam uma comissão conjunta para
resolver todas as questões fronteiriças pendentes.[581] O comissário português
clarificou que os direitos deveriam ser determinados de acordo com a posse
privada e que o Tratado de Utreque era prova do título português (como
acontecia nas Américas, onde os tratados eram interpretados como provas).
Explicou que, à data, em vez de uma, Verdoejo consistia em várias ilhas.
Ficava assim por esclarecer se os direitos que correspondiam a Portugal
deveriam ser transpostos para uma, várias, ou todas elas. A confusão era
ainda maior por muitas destas mudanças não serem realmente naturais, mas
provocadas pelo homem, e pelo que as comunidades ribeirinhas tinham
construído nas margens. Em 1864, numa decisão salomónica, o tratado que
fixava as fronteiras entre Espanha e Portugal declarou que do «grupo de ilhas
chamado Verdoejo» três ilhas tornar-se-iam espanholas e duas portuguesas.
[582]

Verdoejo: as partes
O conflito em torno de Verdoejo começou por envolver o mosteiro de
Sanfins, em Portugal, e o abade de Caldelas, em Espanha. Mais tarde
juntaram-se-lhes o Conselho de Estado e o bispo de Tui, e o governador de
Valença do Minho. Embora em várias ocasiões estas diversas autoridades
coordenassem actividades e se apoiassem mutuamente, noutras actuavam de
modo independente e perseguiam objectivos distintos. A jurisdição
eclesiástica do convento e do abade não dependiam de divisões seculares, e
durante este período muitas vezes divergiam profundamente, o que permitia
às autoridades religiosas de um lado da fronteira ter jurisdição do outro lado.
Da mesma maneira, não havia qualquer razão para as autoridades locais se
preocuparem com dízimos. No entanto, pouco depois de começar o
confronto, estas duas questões, bem como a da subjugação política a Espanha
ou a Portugal (mais uma vez, não necessariamente relacionadas)
emaranharam- -se, com as autoridades locais aparentemente a apoiar as
pretensões eclesiásticas e vice-versa, e os reis, em especial o rei de Portugal,
a intervir no debate para defender a sua soberania. O motivo pelo qual os
soberanos e as instituições ligavam a cobrança do dízimo ao exercício da
jurisdição municipal, e a razão que os levava a considerá-los relacionados
com a sujeição política a um reino, nunca eram explicados. Mas, não obstante
o que a lei ditava (nomeadamente que estes assuntos eram distintos), em
relação a Verdoejo, pelo menos, os diferentes intervenientes, embora
almejando diferentes resultados, encontraram aliados uns nos outros.
Os pescadores também tomaram posição. Nos arquivos eram retratados como
sendo forçados a pagar impostos; na realidade, eram eles que decidiam se
deviam concordar, reconhecendo assim legitimidade à autoridade a quem
pagavam. A decisão de seguir uma estratégia ou outra poderá não ter sido
sempre completamente livre, mas os seus resultados eram performativos. O
pagamento podia reconhecer, ou mesmo constituir, título à terra, e a sua
ausência podia ser entendida como um acto de perda de posse. Os pescadores
também tomavam partido ao concordar vender peixe ou defender cobradores
contra o ataque de rivais. Os governadores da Galiza apresentaram-se
consistentemente como observadores externos que tinham de reportar às
autoridades régias o que acontecera, e tentavam apaziguar a população local
impondo a sua autoridade pessoal. No entanto, nos relatórios para Madrid
também tomavam partido, ofereciam soluções e executavam actividades
administrativas, militares e judiciais que modificavam a situa- ção no terreno.
À medida que o conflito se foi desenrolando, em vez de meros observadores
neutrais, foram-se tornando actores. O mesmo se passou com os monarcas;
sugeriram que a sua soberania estava em causa e mostraram-se dispostos –
especialmente o português – a arriscar o embate militar para afirmar que a
ilha minúscula era espanhola ou portuguesa, como se a decisão resolvesse de
uma vez por todas (e não podia resolver) o direito de cobrar o dízimo e de
percorrer a ilha com a vara de justiça erguida.
A ausência de um interveniente pairava, pesada, em todo o processo: quem
eram, e onde estavam, os donos da ilha? Os documentos espanhóis e
portugueses mencionavam constantemente a sua existência e afirmavam que
a propriedade privada podia ser afectada por estas discussões, visto que as
decisões de pertença por vezes podiam indicar se os proprietários podiam
cobrar impostos, arrendar partes da ilha, e assim por diante. No entanto, a
documentação revela que os próprios direitos de propriedade eram
contestados. Em 1696, o embaixador português em Madrid referia que em
1520 o mosteiro de Sanfins vendera a ilha de Verdoejo a Leonel de Abreu,
senhor da Casa de Regalados.[583] A transacção fora confirmada na década de
1540, na transferência do mosteiro para a ordem jesuíta. Os registos coevos
também indicam que depois da morte do dono original a propriedade passou
para vários dos seus sucessores, mantendo-se na família até Pedro Gomes de
Abreu, português a viver em Salvaterra (Galiza), se ter oposto à insurreição
portuguesa de 1640, mudando-se para Madrid e declarando lealdade ao rei
Filipe de Espanha.[584] Gomes de Abreu seria assim classificado em Portugal
como rebelde, e a administração da Casa de Regalados, bem como os seus
bens, direitos e propriedades reverteram para a coroa, que nomeou como
novo senhor o governador do Minho, concedendo-lhe, entre outras coisas, a
posse de Verdoejo. Os portugueses declararam que estas circunstâncias
provavam que os Abreu tinham perdido todos os direitos à ilha. Os
espanhóis, porém, afirmaram que não era bem assim. Diziam que Pedro
continuava a ser o dono da ilha e que transmitira os seus direitos ao familiar
Antonio Falcón de Sotomayor, habitante e senhor de Parderrubias, que depois
os transferiu para o filho, Rodrigo Antonio Falcón de Ulloa, desde 1692
marquês de Bendaña.[585] Perante estas narrativas contraditórias, é provável
que nas décadas de 1680 e 1690 (quando se iniciou a discussão acerca de
Verdoejo), um dos pontos da discórdia entre espanhóis e portugueses fosse
precisamente a identidade do proprietário legítimo da ilha. Os Regalados
(apoiados por Tui e Espanha) continuaram a reivindicar direitos, e os
portugueses a sugerir que não tinham nenhuns. As discussões explicariam o
que aconteceu na ilha na década de 1680, não muito tempo depois de a paz
entre os dois países ser restabelecida (1668). De acordo com autores da
época, os Regalados teriam usado o abade de Caldelas para afirmar as suas
pretensões porque, se a ilha fosse espanhola, a versão de que fazia ainda parte
do património da Casa poderia ganhar, e conseguiriam assim recuperar a sua
propriedade. Porém, se os portugueses obtivessem o reconhecimento de que a
ilha pertencia aos seus reinos, a sua recuperação seria impossível, já que os
portugueses lhes negavam quaisquer direitos. Outras fontes indicavam que a
interpretação dos Regalados seria justificada, quando diziam, por exemplo,
que entre os que promoviam localmente a causa espanhola estava um certo
Rodrigo Antonio, um «poderoso munícipe de Tui» e feitor de uma senhora
identificada na documentação como «a condessa de Regalados», que nessa
altura vivia em Madrid e que, de acordo com os portugueses, desejava
«recuperar a propriedade da ilha que pertencera aos seus avós». Se o
«Rodrigo Antonio» mencionado nas fontes portuguesas era o mesmo
«Rodrigo Antonio Falcón de Sotomayor» da documentação espanhola, então
talvez não fosse o proprietário da ilha (como alguns espanhóis sugeriam)
mas, em vez disso, a administrasse para a Casa de Regalados espanhola, que
lutava pelo reconhecimento da ilha como parte do seu património. Rodrigo
Antonio poderia, em alternativa, ter sucedido aos Regalados como dono, e ser
agora defendido por uma condessa que temia um confronto com ele sobre
propriedades familiares, a que ele chamava suas.
A questão de quem era dono de Verdoejo e de como a união e a desunião das
coroas teria afectado direitos privados adicionava, assim, uma outra camada
de complexidade a um conflito que já envolvia dízimos, jurisdição e sujeição.
A propriedade era importante e os homens da época que sugeriam esta
interpretação sentiam-se desconcertados com o silêncio de Rodrigo Antonio
Falcón de Ulloa e da condessa de Regalados. Insinuavam que teriam
preferido agir indirectamente, recorrendo a agentes. Fosse qual fosse o caso,
em 1716 o seu silêncio era criticado por funcionários espanhóis que não
conseguiam compreender a falta de defesa da causa. Afinal, já na década de
1690, se não mais cedo, era evidente que os portugueses os tinham privado da
terra, bem como dos seus frutos, madeira, e peixe, todos arrendados a um
português, que a partir daí usara a ilha como sua.[586]
Durante os anos em que durou o conflito, o tamanho diminuto do território e
a sua total insignificância não pareceram merecer grande preocupação. É
difícil explicar a proeminência desta pequena ilha. O envolvimento dos
jesuítas, o recrutamento do governador da Galiza para a causa das autoridades
de Tui, a eficácia das redes de relações dos seus proprietários, ou a sua
importância fundamental para a economia local, apesar da desatenção que
esse facto merecia a Lisboa e a Madrid, poderão ajudar a explicar o mistério.
Evidente é que o grupo de pressão português conseguiu interessar a coroa
bem cedo, e os habitantes galegos demoraram bastante tempo a chamar a
atenção das suas autoridades reais. Inicialmente os soberanos esperaram que
a inexistência de acção fosse a melhor estratégia. Mesmo depois de se
comprometerem com o assunto, os funcionários régios espanhóis agiram, não
como partes interessadas, mas como observadores externos, ou juízes. A sua
actuação, sugeriam, era necessária para impedir a guerra, mas o rei não tinha
qualquer interesse – não era parte – na contestação. A forma como o conflito
terminasse era-lhes indiferente. O importante era que terminasse.

Verdoejo: o objecto cobiçado


Entre 1683 (data da primeira documentação do conflito) e 1863 (data da sua
resolução), o objecto do litígio, a ilha de Verdoejo, mostrou-se difícil de
identificar e sofreu mutações substanciais. Os coevos acreditavam que
originalmente Verdoejo fizera parte do território português, tornara-se ilha
localizada junto da margem portuguesa, e, sendo transformada pelas águas,
fora transferida para Espanha. Inicialmente haveria apenas uma ilha. Em
meados do século xix havia várias, talvez cinco. Verdoejo poderá ter tido dois
nomes diferentes, como os espanhóis afirmavam, ou Caldelas poderia ser
uma outra ilha, como defendiam os portugueses. Embora existissem muitos
registos e muitos testemunhos tivessem sido compilados, a maioria não
fornecia resposta clara a estas questões. A solução, por isso, permanecia em
disputa mesmo entre os habitantes locais que, embora afirmassem a sua
certeza, não sabiam datar as transformações que relatavam nem estavam
dispostos a reconhecer que em certas ocasiões não sabiam como identificar o
território que cobiçavam na documentação que possuíam. A confusão era
tanta que na década de 1690 a audiencia da Galiza notou que o principal
problema que os juízes enfrentavam não era a descoberta de títulos antigos,
mas a identificação do território a que se referiam. A ilha de Verdoejo
mencionada na documentação do século xvi seria a mesma que Portugal
agora identificava? Teria entrado, desde aí, em mutação? De que forma? A
situação era tão complicada que em 1691, quando funcionários régios
espanhóis receberam queixas de que os portugueses reivindicavam jurisdição
sobre uma pequena ilha no rio Minho, onde habitantes dos dois países
colhiam ervas aromáticas e plantavam trigo, imediatamente concluíram que
Verdoejo estava novamente a causar sarilhos.[587] Muitos factores o
indicavam: uma ilha que, de acordo com os habitantes locais, era espanhola,
entre outras coisas, por ser contígua à Galiza; o uso dela que os portugueses
tinham começado a fazer após a assinatura da paz, em 1668, com o
concomitante impedimento dos espanhóis, a quem capturavam animais,
cobravam multas e destruíam culturas; e ainda as mudanças naturais no curso
do rio, que levara a ilha para mais perto da Galiza do que de Portugal. Ora,
apesar de todas as semelhanças, o território então disputado era outra ilha
(chamada Canosa), e não Verdoejo.
Se o objecto de desejo se alterava, mudava também o que se esperava dele.
Inicialmente, o Conselho de Estado sugerira que a questão de Verdoejo
envolvia «direitos de pesca».[588] No entanto, à medida que os acontecimentos
se desenrolaram, tornou-se óbvio que o conflito sobre dízimos eclesiásticos
se transformara noutros, sobre a jurisdição municipal e a sujeição política, e
talvez até sobre a propriedade privada. Conceptualmente diferenciados e não
necessariamente interdependentes (os dízimos dependiam da sujeição
eclesiástica, e não política, e podiam ser pagos a uma paróquia de um país
estrangeiro), de facto , mesmo que não de jure , estes aspectos
influenciavam-se profundamente uns aos outros. Em regiões como esta, a
influência mútua era particularmente intensa, seja por as atribuições políticas
e eclesiásticas terem mudado ao longo dos anos, com a reorganização das
dioceses e das suas extensões, seja pelas modificações ocorridas na fronteira.
[589]
Os desafios lançados pelas autoridades eclesiásticas provocaram um
enorme envolvimento local, e justificaram a intervenção de poderes seculares
e até do Estado. Tanto os residentes locais como os monarcas procuraram
comprometer os proprietários da terra, que eram na sua maioria absentistas.
Os eclesiásticos, as autoridades locais e outros indivíduos envolvidos na
quezília perseguiam interesses próprios, mas em várias ocasiões encontraram
excelentes aliados uns nos outros. Estas coincidências permitiram-lhes ligar
os dízimos ao exercício da jurisdição local e à propriedade, e a propriedade à
sujeição política. Assim, não obstante o que a lei ditasse, a protecção da
jurisdição eclesiástica também significava a defesa territorial e vice-versa. O
mesmo acontecia com os direitos de usufruto e a propriedade privada, e até
com os direitos senhoriais. Não só os interesses privados conseguiram
mobilizar agentes na fronteira e autoridades nas capitais, convertendo um
conflito sobre um território pequeno e insignificante num grande assunto
internacional (ao ser incluído no Tratado de Utreque), como os arguentes
sugeriram que se o território era detido por um espanhol e se os dízimos eram
cobrados por Caldelas, tudo indicava que Verdoejo era, então e realmente,
espanhol. E o contrário era também verdade: se se tratava de Espanha, o
abade podia cobrar dízimos e o marquês de Bendaña e os Regalados
conservavam os seus direitos. Num típico problema irresolúvel – «quem
nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?» –, os homens da época agiam
conforme as suas convicções, que dependiam da experiência diária e não de
doutrinas jurídicas (que estipulavam o oposto).
A sobreposição de direitos de propriedade, cobrança de impostos, jurisdição e
submissão talvez também explicasse por que razão espanhóis e portugueses,
nas suas discussões, recorressem a tribunais locais. O mosteiro de Sanfins
começou por se dirigir ao juiz português de Viana e depois à espanhola
audiencia da Galiza. O abade de Caldelas e a cidade de Tui concordaram que
ambos tinham jurisdição, nunca assumindo (até ser demasiado tarde) que
eram incompetentes para decidir nesses assuntos. Os conselhos régios e o
monarca espanhol pareceram concordar, recusando-se a considerar o
envolvimento judicial como uma maçada, até se tornar claro que realmente o
era. Era como se, desde que a propriedade e os impostos, e até a jurisdição
local, fossem objecto de discussão as justiças régias ( audiencia da Galiza) e
locais (corregedor de Viana), pudessem intervir. Só quando a jurisdição dos
reis estava em causa, a intervenção lhes era vedada. No entanto,
demonstrámo-lo aqui, a divisão artificial de um assunto em partes distintas e
jurisdições diferentes era insustentável. Afinal, devido precisamente à
coexistência destes diferentes aspectos, que os coevos reputavam
intimamente relacionados, é que o desagravo cautelar concedido pela
audiencia podia produzir a efectiva transferência do território para Portugal
(e tê-lo-á feito).
A história de Verdoejo ilustra bem a que ponto a luta pela terra podia ser
compreendida como, e confundida com, a luta pela população. Os dízimos
eram cobrados a indivíduos conforme o local onde executavam as suas
actividades e de acordo com quem eram. Fosse como fosse, o que se discutia
não era necessariamente que terra pertencia a quem, mas quem pagaria
impostos, e a que autoridade. Exigia-se assim que os indivíduos que
utilizavam o território reconhecessem legitimidade a certas autoridades, e que
estas conseguissem classificar as populações sujeitas à sua jurisdição.

Verdoejo: as reivindicações
Durante os séculos em que decorreram estes debates, os intervenientes não
conseguiram concordar com o que acontecera no passado, mas coincidiram
na sugestão de que a união das coroas de Espanha e de Portugal, bem como a
ruptura de 1640, tinham sido transformativas, por terem afectado a atribuição
do território. No início do século xviii , a Guerra da Sucessão Espanhola, com
o posicionamento de forças militares espanholas na ilha, teria provocado uma
alteração semelhante. Em ambos os casos, em vez de autorizar a aquisição de
novos territórios (que não autorizavam), estas mudanças aumentaram a
confusão reinante, permitindo a espanhóis e a portugueses adquirir direitos
por vezes complementares e outras vezes opostos. A documentação de
arquivo também indica que a pesca era mais bem tolerada do que o exercício
da jurisdição por não exigir a ocupação ou a exclusão de outros utentes.
Existiam pedidos constantes de regresso à situação anterior à união ou à
guerra, mas não existia qualquer sintonia acerca de qual teria sido essa
situação. Os apelos à imemoriabilidade eram repetitivos, mas os registos
arquivísticos somente podiam provar reivindicações, nunca títulos ou
direitos. As testemunhas opinavam, mas as declarações esclareciam que os
residentes em ambos os lados do rio usavam a ilha em conjunto, sem que
nenhum tivesse direitos privativos e nenhum proibisse o outro de a gozar. Foi
no momento em que um dos lados começou a pedir a exclusividade que o
outro respondeu com a violência. E embora nunca cheguemos a saber quem
iniciou as provocações, a documentação da época mostra que após a eclosão
era muito difícil, senão impossível, deter os embates. As reivindicações
produziam respostas que conduziam a mais reclamações. A dinâmica garantia
a continuação das hostilidades, simbólicas – percorrer o território com varas
da justiça erguidas – ou nem tanto. A paz alternava com o conflito, não por as
partes ocasionalmente concordarem, mas pela necessidade pontual de acção.
E a acção era performativa e juridicamente significativa; não importaria quem
realmente cobrava o dízimo, mas a quem seria permitido fazê-lo de forma
pacífica.
Enquanto os portugueses baseavam as suas alegações em direitos adquiridos,
os espanhóis insistiam especialmente em que a decisão dependia da
observação da natureza. Mesmo que Verdoejo tivesse sido, em tempos,
portuguesa, as alterações no curso do rio poderiam tê-la tornado espanhola. O
que estava em jogo não era a simples adesão às fronteiras naturais, mas sim
as consequências legais decorrentes das alterações nelas ocorridas ao longo
do tempo. Os juristas do Ius Commune discutiam estas questões já no século
xiii . No século xiv, Bartolus de Saxoferrato examinou-as de forma muito
eloquente, defendendo que embora os rios fossem divisores úteis, as
mudanças naturais no seu curso poderiam afectar os títulos legais, com a
adição ou a subtracção de terra a proprietários ribeirinhos.[590] Ele e outros
especialistas do Ius Commune , principalmente preocupados com direitos de
propriedade, sugeriam que, se as alterações fossem suficientemente lentas e
produzissem novos costumes e novas formas de compreender a paisagem
modificada, teriam um possível efeito na jurisdição. Esta doutrina,
largamente aceite entre os especialistas, vinha parcialmente reproduzida na
legislação castelhana que determinava, por exemplo, que a terra que
gradualmente se acumulava de um lado do rio se tornava propriedade e
sujeita à jurisdição dos que tinham aí direitos.[591] Da mesma forma, novas
ilhas que se materializassem no rio deveriam ter um proprietário conjunto, a
não ser que se encontrassem mais perto de uma margem do que da outra,
situação em que pertenceriam ao vizinho mais próximo. No final do século
xviii , estas asserções foram incluídas em O Direito das Gentes de Emer de
Vattel e faziam parte do corpo crescente de um direito internacional a
despontar. Por essa altura Vattel não mostrava qualquer dúvida de que as
mutações afectassem (sempre) a jurisdição. Concluía também que, mais do
que fixas ou claras, as fronteiras naturais eram maioritariamente
«indeterminadas» (territoria arcifinia) .[592]
Os intervenientes na polémica sobre Verdoejo poderão ter adoptado uma
posição ou outra, de acordo com o que lhes era conveniente, mas a falta de
consenso revelava, para além de interpretações diversas da ordem legal
existente, outras preocupações contemporâneas do debate. No princípio do
século xviii , a preferência por direitos e títulos antigos que fossem
permanentes era tida como legítima, mas as mudanças naturais, consideradas
inevitáveis, eram também bem aceites. No entanto, cada vez mais os
primeiros foram perdendo terreno para as segundas. À medida que
chegávamos ao fim da Idade Moderna, um número crescente de autores
defendia que em vez de respeitar os direitos existentes, os contemporâneos
deviam examiná-los e, se necessário, modificá- -los. Foi o que aconteceu nas
Américas em relação aos direitos nativos, e na Península Ibérica, onde
«justiça e razão» no presente se tornaram mais poderosas do que as
ocorrências no passado. Assim, a vontade de implementar a interpretação dos
juristas do Ius Commune , segundo a qual as mudanças naturais no curso do
rio podiam pôr em causa direitos antigos, era particularmente forte, num
século concentrado na mudança e não na continuidade. Todavia, enquanto
Verdoejo se tornava uma espécie de incidente internacional e necessitava de
atenção régia permanente, a discussão de casos semelhantes, como Canosa,
não mereceu grande destaque. É difícil explicar porquê. Ambas as ilhas eram
pequenas e insignificantes e ambas eram usadas em comum pelos habitantes
do rio Minho. Em ambos os casos, qualquer decisão acerca do seu uso era
considerada, por extensão, uma determinação sobre a jurisdição e a
soberania. No entanto, se em Canosa o conflito se centrava na pastagem por
oposição à agricultura, provavelmente com uma linha de fractura entre os
criadores de animais e os cultivadores, e não entre espanhóis e portugueses,
em Verdoejo a controvérsia era muito mais complexa e envolvia muitos
outros actores e interesses. Em consequência, era provável que se arrastasse
durante muito tempo e apresentasse um grande obstáculo à paz. Contudo, é
igualmente possível que a maior divergência entre os conflitos não fosse a
trama mas as personagens: em Canosa, eram agricultores anónimos; em
Verdoejo, eram um mosteiro jesuíta, um abade espanhol e uma família nobre.
Verdoejo e Canosa não seriam os únicos exemplos em que a natureza
impunha, ou oferecia, uma desculpa para reimaginar divisões existentes. Em
meados do século xviii surgiram problemas semelhantes na fronteira
espanhola-portuguesa na foz do rio Guadiana, cujo leito, constituído por
« arena movediza », permitia que a sua configuração sofresse constante
alteração.[593] Durante um período de tempo relativamente curto, as ilhas
apareciam e desapareciam, abriam-se e fechavam-se novos caminhos de
acesso e alguns canais tornavam-se tão estreitos ou baixos que impediam a
passagem de determinadas embarcações. A maneira como estas mutações
moldavam e tornavam a moldar os direitos das partes era acaloradamente
debatida. Estavam em causa direitos de pesca e de navegação, de cobrança de
impostos e de jurisdição (quem deveria cobrar impostos sobre essas
actividades, quem impediria a entrada de piratas e quem controlaria o
comércio). Em 1764, num esforço para estabelecer a sua jurisdição, o
funcionário alfandegário português de Castro Marim chegou a uma das ilhas
reivindicadas pelos espanhóis a bordo de um navio com pavilhão português, e
ordenou aos pescadores e seus clientes que obedecessem às suas ordens. Os
habitantes locais disseram que as acções portuguesas se baseavam no facto de
a ilha ter antes pertencido a Portugal, mas explicaram que, entretanto, tinham
ocorrido mudanças naturais no curso do rio, colocando-a mais perto de
Espanha e, por isso, tornando-a espanhola («com la mutación de la misma
canal , se han mudado também naturalmente los limites») . Os funcionários
régios espanhóis fizeram dos pescadores representantes dos interesses de
Madrid e instruíram-nos que insistissem nos direitos espanhóis e
desobedecessem ao funcionário português. Afirmavam que essa seria
resposta suficiente aos desafios do funcionário, sem necessidade de envolver
Lisboa. Em 1764, e novamente em 1840, os espanhóis defenderiam assim
que as alterações naturais produziam novas divisões; os portugueses
negariam as pretensões, e insistiriam que a «violência do rio» nunca poderia
destruir os seus «direitos de domínio».[594]
Os Montes da Madalena/Lindoso (1773-1864)
O estudo dos confrontos que envolviam as comunidades vizinhas de Lindoso,
Compostela, Trasportela e Manín, no Norte de Portugal e no Sul da Galiza,
ilustram ainda outra faceta das polémicas territoriais, nomeadamente a crença
de que na ausência de provas claras ou determinação jurídica, a razão serviria
de antídoto. Segundo os arquivos, o conflito iniciou-se em 1773, quando os
habitantes do Lindoso se queixaram ao seu rei de que um grande grupo de
galegos armados entrara nas suas vinhas nos Montes da Madalena,
perseguindo e ferindo indivíduos que laboravam nelas.[595] As tentativas para
chegar a um entendimento através da mediação dos governadores locais
português e galego, «por forma a ser desnecessário ocupar os tribunais com
algo que podia ser atendido tão facilmente», falharam. O comandante militar
português informou o monarca do que ocorrera e expressou frustração e
receio de que os habitantes do Lindoso recorressem à violência. Essa reacção,
declarava, seria justificada, porque estariam a defender as suas propriedades e
terra cobiçada pelos adversários, mas não deixaria de ser lamentável. Em
resposta, as autoridades régias portuguesas, que temiam que a agressão
conduzisse à intensificação da violência, insistiram que apenas seria
autorizada a autodefesa, e instruíram os habitantes a alcançar um acordo que
garantisse a harmonia entre vizinhos.[596] Madrid também foi informada, e os
funcionários régios espanhóis ordenaram uma investigação que apurasse a
causa dos recontros. Obtiveram a resposta esperada: a culpa era dos
portugueses.[597] De acordo com o governador da Galiza, o território não
estava demarcado. Não obstante, era em geral reconhecido que a fronteira
entre os dois países se localizava no rio Cabril, onde as autoridades
espanholas cobravam impostos e prendiam contrabandistas e onde os
portugueses colocavam os seus soldados durante as guerras. Recentemente,
contudo, os portugueses do Lindoso tinham começado a cultivar um território
chamado La Magdalena (Madalena) a leste do rio, do lado espanhol. Agiam
como se fossem os donos da terra (que não eram) e usavam em privado o que
era comum (o uso agrícola, como temos referido, era entendido como uma
tentativa de privatizar terras comuns), e tentavam anexá-la à sua comunidade
e ao seu reino (aos quais não pertencia). Daqui nasceram escaramuças que
incluíram confisco, destruição de propriedade, multas e até uma morte. Os
portugueses proibiram oficialmente as autoridades municipais galegas de
aceder à zona ribeirinha, e os espanhóis responderam negando aos
portugueses o direito a trabalhar as terras que consideravam sua propriedade.
Ambas as partes sentiam-se seguras dos seus direitos, e ambas apelaram a um
anterior status quo . No entanto, as provas compiladas em 1774
demonstraram que já em 1538 as comunidades vizinhas disputavam
territórios. Nesse ano do século xvi , por causa das disputas, os portugueses
demarcaram unilateralmente a terra, sem conhecimento ou consentimento
espanhol.[598] Poderia realmente ter sido esse o ponto de partida: testemunhos
datados de cerca de dez anos antes (1527) sugeriam que o Lindoso estava
quase completamente despovoado (não tinha mais de 41 habitantes) e o seu
castelo abandonado e em ruínas.[599] No entanto, apesar de os arquivos
revelarem a antiguidade do conflito e a sua eventual coincidência com o
repovoamento do Lindoso, os habitantes locais negavam-nos. Datavam as
primeiras hostilidades de meados do século xviii e afirmavam que os seus
rivais é que tinham resolvido inovar, terminando, portanto, um longo período
em que todos se regiam por acordos tácitos e informais.[600] Com ataques
físicos que provocaram mortes, confiscos, destruição de colheitas e multas, os
portugueses (de acordo com os espanhóis) ou os espanhóis (de acordo com os
portugueses) conseguiram expandir o seu território. Em 1777, 1778 e 1779
deflagraram novos confrontos e novas tentativas de negociação. Os fracassos
levaram nesse último ano o embaixador de Portugal em Madrid a emitir uma
queixa formal, que reproduzia versões locais de que o território era, e sempre
fora, português, por ser possuído e laborado pelos habitantes do Lindoso, que
o usavam para pastagem e nele cultivavam uvas. Desesperados por paz de
espírito, os habitantes estavam dispostos a financiar o custo da demarcação,
mas precisavam do consentimento dos espanhóis e estavam com dificuldades
em o obter.[601] Ou seja, solicitavam uma declaração régia espanhola que
afirmasse onde passava a fronteira de acordo com vestígios antigos o que,
necessariamente, favoreceria Portugal.
O governador da Galiza nomeou então um auditor de guerra (uma espécie
de juiz militar) e um engenheiro para inspeccionar o território, interrogar as
testemunhas, examinar os documentos e desenhar mapas.[602] Sugeriu ainda ao
seu monarca que considerasse um inquérito com três áreas distintas: (1) O
território seria realmente necessário para o Estado? A sua extensão e a sua
utilidade justificariam os conflitos? (2) O território seria importante para
assuntos militares, ou seja, por razões estratégicas? (3) As demarcações,
práticas e documentação existentes poderiam esclarecer os direitos dos
intervenientes?
Para responder à primeira questão, o governador observou o mapa que
ilustrava como o terreno era tão montanhoso que mal servia para qualquer
fim útil. Do ponto de vista do Estado, concluía, era de muito pouco interesse,
na verdade quase nenhum. Quanto à segunda questão, os assuntos militares, o
rio Cabril podia servir como uma boa linha de defesa contra invasões. Seria
por isso sensato adoptá-lo como fronteira entre os dois países. Em relação à
última questão, os direitos das partes, dizia não existir nos arquivos locais
qualquer prova dos pontos de passagem da fronteira. Todavia, havia muitas
indicações de que o território contestado pertencia a Espanha: as divisões ao
longo do rio eram naturais e habituais, e as defesas portuguesas, localizadas
na outra margem, também sugeriam que já antes os portugueses
consideravam o rio a verdadeira linha de separação.
Apesar destas observações, os habitantes não conseguiam concordar acerca
dos seus direitos nem decidir o que acontecera entre eles. Em Dezembro de
1779 tentou-se apurar o que ocorrera em Outubro, mas os resultados da
averiguação divergiram. Os portugueses afirmavam que os galegos tinham
atacado e prendido um trabalhador e destruído muitas colmeias e vinhas, de
que os portugueses eram donos[603]. Os espanhóis replicaram que apenas havia
a salientar a detenção de um português como vingança pelo sequestro de seis
a oito cabeças de gado pertencentes a habitantes de Compostela. As
discussões, repetidas de cada vez que eclodiam hostilidades, permitiam aos
representantes dos dois países acusar- -se mutuamente de desinformação, ou
até de dolo. Cada um insistia na culpa do outro e defendia a urgência de uma
nova demarcação que reflectisse os seus direitos e autenticasse as suas
pretensões.[604] Se era demasiado difícil atingir legítimos y perpétuos límites ,
pelo menos poderia ser desenhada uma línea provisional para, em jeito de
compromisso, dividir o território.
Novos episódios sucederam-se em 1798, quando o governador da Galiza
relatou que após um período de paz, em Janeiro desse ano, o alcalde
ordinario de Trasportela, em Espanha, acompanhado de vários homens,
chegara à ponte sobre o rio Cabril, que assinalava « la división que se
observa desde tiempo inmemorial » entre a sua comunidade e o Lindoso.[605]
Perante o seu desejo de substituir as cruzes e as pedras demarcadoras da
fronteira, de acordo com a costumbre antiquísima que o encarregava de
fazê-lo anualmente, os juízes e a população do Lindoso interferiram na
cerimónia, lançando fogo ao lado espanhol do rio e maltratando os membros
do grupo. Os habitantes de Trasportela afirmavam que os problemas ao longo
da fronteira tinham começado apenas em 1775, quando os portugueses do
Lindoso começaram a exceder os seus limites, constantemente abusando, e
chegando a matar um dos seus habitantes. De acordo com estas queixas, os
galegos apenas aspiravam a continuar a usar as suas proprias tierras , que os
portugueses agora queriam ocupar para plantío . Enquanto Madrid se
correspondia com as autoridades na Galiza, os portugueses alvitraram duas
medidas paralelas: a convocatória de uma reunião conjunta para discutir a
fronteira e a publicação de éditos que proibissem fronterizos de invadir os
domínios dos vizinhos.[606] Foi nomeado um juiz português para investigar as
queixas dos espanhóis, que concluiu que os residentes do Lindoso (e não os
galegos) eram os verdadeiros proprietários da terra a leste do rio e que tinham
sido forçados a abandoná-la por causa da violência galega.[607] Os insultos
espanhóis eram «graves, frequentes e intoleráveis», a ponto de impedirem os
habitantes do Lindoso de trabalhar a terra mais fértil que possuíam; era
necessária uma nova demarcação. Esta teria de confirmar o que os
portugueses exigiam, por «não ser justo que este reino perda um terreno que
sempre foi seu próprio».
Os confrontos continuaram em 1789, 1790, 1791 e 1803, principalmente com
portugueses ou espanhóis (dependendo de quem relatava) a invadir os
terrenos da outra parte. Enquanto os portugueses diziam que a terra era sua e
acusavam vários vizinhos de Trasportela de cortar árvores e arbustos que lhes
pertenciam, os espanhóis argumentavam que o território disputado fazia parte
de regalengos (reguengos) espanhóis, reservados para uso de vassalos
espanhóis, e apenas de vassalos espanhóis.[608] Declaravam ainda que os
portugueses, pela força, pretendiam tornar-se donos do que, por lei, não lhes
podia pertencer («a fuerza de brazo haceres dueños de lo que no pude
pertencerles») . Os habitantes de Compostela, perante a opção de perder as
montanhas vitais para a sua sobrevivência ou arriscar a vida na batalha para
as proteger, requereram a intervenção do seu soberano. Assim, enquanto os
portugueses apontavam os espanhóis como a parte responsável, os espanhóis
respondiam que as queixas portuguesas procuravam esconder o facto de
serem eles os verdadeiros vilãos. Em 1803, o nível de violência era tal que
grupos armados patrulhavam constantemente o território, deliberadamente
recolhendo lenha, fazendo fogo, destruindo propriedades e prendendo os que
aí encontrassem a trabalhar, de forma a manifestar publicamente os seus
direitos de posse e de usufruto.
Embora os actores de ambos os lados da fronteira defendessem que a
violência era um meio de alcançar ganhos adicionais e era exercida
especialmente como método de expansão ilegítima, na maioria dos relatos
ficava claro que a violência procurava expressar preocupação com o que os
opositores andavam a fazer ou a comunicar queixas. Nesta disputa, percorrer
e cultivar o território não eram actividades naturais e acidentais,
desenvolvidas apenas quando e como eram necessárias. Terão tido resultados
tangíveis, provendo ao sustento, mas, para os homens da época, eram na
essência reveladoras de intenções territoriais. O mesmo se aplicava à
violência, motivada pela frustração, pelo medo ou pela animosidade, mas que
também era uma forma de protesto e de desautorização do que os adversários
tentavam realizar. Todos os intervenientes tinham consciência dos seus actos,
e todos presumiam o mesmo dos rivais.[609] Nos Montes da Madalena, pelo
menos, muitas vezes as actividades realizadas pelos adversários foram
acusadas de não serem verdadeiramente imprescindíveis e de serem, em vez
disso, performativas. Pretenderiam marcar publicamente uma posição. Não
haveria outra explicação para o facto, por exemplo, de os rivais insistirem no
plantio de pequenas vinhas onde nunca conseguiriam vingar, ou em percorrer
o território quando não tinham necessidade. A acusação de que os oponentes
«inovavam» também era performativa. Ainda que todos continua- mente
afirmassem o respeito por um status quo consensual, os registos
contemporâneos indicavam que da década de 1770 à de 1800 nada do que
acontecia no território era genuinamente novo. Antes de começarem os
confrontos, o acordo entre rivais era uma ideia, talvez uma aspiração ou um
horizonte; não reflectia de forma precisa ou correcta as experiências locais. A
insistência na acusação de inovação era, assim, uma ferramenta jurídica
importante porque os direitos imemoriais exigiam o exercício prolongado e o
consenso. Argumentar o contrário, ou seja, sustentar que as partes tinham
sempre discordado, arruinaria todos os direitos e títulos que os litigantes
procuravam determinar. No entanto, à medida que as provas se acumulavam
em relação a Madalena, ia-se percebendo que a maior parte das quezílias
tinha origem na passagem da pastagem, que podia ser realizada
simultaneamente por membros de diferentes comunidades, para o cultivo, que
necessitava de um território determinado e usado de modo privativo. Essa
transição poderá ter ocorrido por incitamento de certos indivíduos: os
espanhóis podem ter sido levados a agir pelo padre português da sua paróquia
e os portugueses pelo governador do castelo do Lindoso, ali próximo.[610]
As autoridades régias espanholas e portuguesas, cuja intervenção era pedida
pelos habitantes locais para garantir o seu modo de vida e a paz, hesitaram
sobre o que deveriam fazer.[611] No final de 1791 os funcionários espanhóis
foram informadas de [612]que os conflitos eram motivados por « un odio tan
antíguo », que muitas vezes cresciam para um « estado de verdadeira
guerra » ou para « contendas sangrentas y discórdias », e concluíram que o
assunto exigia uma consideração séria.[613] Sem provas conclusivas sobre os
direitos de cada uma das partes, o ministro de estado espanhol analisou as
várias informações que lhe chegaram. Desprezou a reivindicação portuguesa
de que a posse de terra e a constru- ção de uma capela, pelos portugueses, era
reveladora. Afinal, dizia, de acordo com a lei, a posse de bens imóveis
(bienes raíces) num país estrangeiro não afectava a jurisdição ou a
vassalagem, e a capela indicaria que se o território estava espiritualmente sob
a jurisdição de Portugal, temporalmente não podia estar senão sob a de
Espanha. O comportamento dos juízes portugueses, prosseguia o ministro,
demonstrava que não consideravam o território português, ao recusarem-se a
investigar crimes aí cometidos. As pretensões portuguesas podiam ser, assim,
facilmente refutadas; os títulos espanhóis, pelo contrário, eram sólidos. A
divisão feita por rios era habitual, e o Cabril estabelecia limites naturales .
Os ministros espanhóis cobravam impostos e prendiam contrabandistas a
leste do rio, os donos de gado portugueses pagavam aí impostos e, em estado
de guerra, os portugueses armavam as suas defesas do lado ocidental.
Convencidos de que o conflito teria origem na memória incorrecta dos limites
existentes entre os dois reinos antes de se separarem (1640), os funcionários
espanhóis concluíam que a Madalena era apenas um exemplo em muitos.[614]
Várias aldeias galegas sofreram o mesmo destino, pois muitos pontos ao
longo da fronteira não possuíam demarcação ou registo de alguma vez ela ter
existido. A memória local era igualmente pouco fiável. Os vizinhos destas
aldeias declaravam não se recordar de onde terminava a sua jurisdição ou não
saber como teria mudado ao longo do tempo. Tudo o que as personas
ancianas vecinas podiam asseverar era que a demarcação entre os dois
reinos era incierta . Os documentos também eram lacunares. A maioria
datava dos séculos xiv e xv e reproduzia acordos locais entre nobres para
delimitação de domínios senhoriais, não acordos entre entidades municipais
ou estados.[615]
À medida que se acumulavam as queixas em relação à ausência de
demarcação precisa entre a Galiza e Portugal, os funcionários espanhóis
começaram a pedir ao monarca que « se determinen y fijen los limites de los
terrenos contenciosos ».[616] O soberano aderiu ao conselho e acordou com o
homólogo português o envio de comissários para resolver as questões. No
entanto, em 1806, assim que se iniciaram as conversações, emergiram
diferentes interpretações da missão dos delegados.[617] O espanhol desejava
demarcar todas as « parajes y terrenos » ao longo da fronteira que geravam
dúvidas. O português ripostou que esses poderes se limitavam a uma área que
identificava como «Monte de Lindoso», e a que os espanhóis chamavam «La
Magdalena». O espanhol aventou que, na ausência de documentos autênticos
que clarificassem a situação legal, deveriam adoptar uma demarcação que
seguisse a fronteira natural ditada pelo rio Cabril. O português respondeu
com a apresentação de uma demarcação (tombo) de 1538, e insistiu que os
geógrafos preferiam estabelecer divisões ao longo dos cumes montanhosos, e
não dos rios. O espanhol contestou as conclusões, argumentando que os rios
eram mais fixos que os cumes das montanhas, praticamente inacessíveis e
muitas vezes contestados. Também afirmou que « razones científicas y
convincentes » e geográficas indicavam que La Magdalena era espanhola por
estar mais próxima de comunidades galegas, de onde era de mais fácil acesso
do que do Lindoso, cujas incipientes estradas e longínqua localização a
tornavam muito distante. Estes critérios, dizia, eram sólidos. Eram certamente
mais fiáveis que o uso comum ou as alegações contraditórias dos habitantes
locais, que não conseguiam pôr-se de acordo sobre quem, e desde quando,
podia utilizar o território. O « carácter sencillo de estos fronterizos
gallegos » não os tornava muito conscientes das implicações da autorização
de trabalho nas suas terras dada aos seus vizinhos. Assim, mesmo que
tivessem consentido nesse uso, nada ficaria provado. Afinal, era do
conhecimento geral que os habitantes destas aldeias galegas dependiam de
Portugal para as suas necessidades mais básicas, incluindo alimentares. E,
finalmente, o delegado espanhol dizia que a demarcação portuguesa de 1538
era inútil porque fora conduzida apenas pelos portugueses, sem a presença de
todos os interessados. A estas alegações o comissário português contrapôs
que o rio Cabril era demasiado pequeno para constituir uma fronteira sólida,
que os cumes das montanhas eram preferíveis, que a distância entre o
território em litígio e os seus donos por direito era irrelevante, que não havia
necessidade de uma estrada do Lindoso para a Madalena porque o uso que os
portugueses faziam dessa zona não necessitava de nenhuma, e que a
demarcação de 1538 não requeria legalmente a presença de espanhóis porque,
em vez de vir inovar, servira para reconhecer o que já existia.
Perante a falta de acordo e a persistência dos confrontos, em 1821 foram
nomeados novos comissários. Também eles fracassaram.[618] Em 1856 voltou
a reunir-se uma delegação hispano-portuguesa. Os seus membros
principiaram por repetir o que os interlocutores de 1804-1807 tinham dito.
Contudo, embora divergissem completamente acerca de quem tinha razão,
coincidiram na identificação dos habitantes locais como gente simples que
desde tempos imemoriais vivia em rivalidade, no ódio e na discórdia, que
prejudicavam os seus interesses particulares e constituíam uma afronta à
«civilização europeia», afligiam espanhóis e portugueses «honrados» e
desacreditavam a «autoridade superior» de ambos os governos.[619] Este
«insignificante e desabitado monte», declaravam, não era um terreno valioso,
como os habitantes locais defendiam, e não merecia a atenção que lhe tinha
sido concedida. Os comissários de meados do século xix , procurando
reconhecer e reformar a fronteira, e sentindo-se livres para agir como
pretendiam, assumiam que sabiam e compreendiam o que era preciso.
Observaram o território, passaram em revista as melhores fronteiras naturais
e discutiram as divisões que melhor serviriam os interesses de ambos os
Estados. A solução que procuraram adoptar era natural e conveniente, em vez
de legal ou justa.[620] Todavia, concordando em abstracto sobre o método a
empregar, discordaram constantemente acerca dos resultados concretos.
Como a razão não fornecia uma resposta consensual, acabaram por atingir
um compromisso. Em 1864, decidiram dividir o terreno em partes iguais
entre Espanha e Portugal.[621]

Madalena/Lindoso: as partes
Os intervenientes no conflito dos Montes da Madalena (ou Lindoso) eram
difíceis de identificar e de seguir. A documentação régia mencionava amiúde
algumas aldeias e lugarejos, identificados como Lindoso (em Portugal),
Compostela, Trasportela e Manín (na Galiza) mas, entre eles, apenas Lindoso
aparecia constantemente como actor, confrontando alternadamente os
residentes dos outros lugares, identificados como tal ou simplesmente
classificados como gallegos . As quezílias com Compostela tendiam a
centrar-se em actividades que os vizinhos do Lindoso eram acusados de
desenvolver no território. Os incidentes com Trasportela eram sobretudo
motivados pela defesa da jurisdição local, e tinham lugar quando os juízes da
povoação galega visitavam o território e nele colocavam cruzes como «um
costume antiquísima» («costumbre antiquísima») estipulava, ou quando aí
realizavam outros actos jurisdicionais.[622] Manín apareceu apenas uma vez,
em 1803, com uma menção semelhante à de Compostela. Não sabemos se
estas diferenças eram reais e se apontavam para discórdias distintas. Mas,
apesar da extrema pequenez e da pobreza das três aldeias galegas, como no
início do século xix o comissário espanhol afirmou, e de a gente simples que
aí residia ser dependente de Portugal, os seus rivais insistiam em que os
espanhóis sabiam muito bem o que faziam ou, pelo menos, sabiam as
consequências das suas acções quando percorriam o território ou destruíam as
vinhas. Os registos notam igualmente que muitos diferendos, especialmente
com Compostela, e talvez com Manín, poderão ter envolvido a pastagem e a
recolecção, em oposição ao cultivo, e não se baseavam na identidade galega,
espanhola ou portuguesa, dos actores. É igualmente possível que durante este
período Manín e os outros povoados próximos, embora classificados como
galegos, fossem na realidade aldeias mistas, com residentes espanhóis e
portugueses e com a jurisdição partilhada de facto entre os dois países.[623]
Havia também repetidas alegações de que o comandante militar do castelo do
Lindoso incentivava os portugueses a actuar, armando-os e treinando-os, e
registava algumas das suas queixas, canalizando-as depois para as
autoridades superiores. Em 1803 o comandante foi acusado de participar no
debate, ao colocar guardas no território em litígio, numa manifestação pública
de que era português.[624] Desconhecemos se o fez para defender os interesses
dos habitantes do Lindoso ou o território português; o protagonismo era
óbvio, embora intrigante para os seus contemporâneos.
A maior parte da informação acerca dos conflitos em Madalena tinha origem
na correspondência com o monarca, e por isso os funcionários régios eram
representados como agentes importantes na compilação de informação e na
negociação na corte. O seu envolvimento coloriria os acontecimentos,
colocando «galegos» contra «portugueses». Contudo, a tendência poderá ter
sido encorajada pelos habitantes locais, que afirmavam que o território
contestado não era municipal, mas do rei (realengo) , e por isso aberto a
todos os vassalos, mas não a estrangeiros. Por outras palavras, para se
habilitarem ao seu uso, ao contrário do que aconteceu noutros sítios, os
habitantes não tinham de ser vecinos (membros das comunidades locais)
mas naturales (membros do reino, ou seja, espanhóis).[625]
Consequentemente, ao contrário do que sucedia em La Contienda, Campo de
Gamos, e Rossiana, onde a pertença à comunidade municipal importava, tal
como a acção municipal, em Madalena o essencial era a classificação dos
indivíduos como espanhóis ou portugueses.
As preocupações com a propriedade real poderão não só ter apresentado o
conflito como sendo entre reinos, e não entre municípios, como incentivado a
intervenção régia. Talvez a insistência em distinguir espanhóis de
portugueses fosse, paradoxalmente, causada pelo elevado grau de mistura, e
pela genuína dificuldade em decidir quem era quem, quem vivia onde, e que
interesses defendia, com a grande probabilidade de Manín ser uma povoação
mista. Não obstante, a resposta régia terá sido determinada e moldada pela
espantosa acumulação de queixas relativas a desacatos ao longo da fronteira
galaico-portuguesa. Nas décadas de 1780, 1790 e 1800 registaram-se com
frequência incidentes entre os portugueses de Monforte e Lama e os
espanhóis de El Ríos.[626] Do ponto de vista dos funcionários régios, as
quezílias, muitas vezes degenerando em confrontos violentos, eram
discussões menores acerca do lugar onde as autoridades deviam fazer a troca
de criminosos, por exemplo, com uma parte a defender que a localização
correcta era um quarto de légua, umas 138 varas ou mesmo um tiro de
piedra ou de fusil de distância do sítio que os adversários sugeriam.[627] Por
mais pequenas que fossem, as refregas eram alarmantes e temidas, já que
podiam descambar para hostilidades maiores. Nas décadas de 1740, 1750 e
1780 ocorreram conflitos semelhantes entre Puebla de Sanabria e diferentes
po- voados pertencentes à jurisdição de Chaves.[628] Também aqui a área em
litígio era extremamente pequena e a culpa atribuível à passagem da
pastorícia para a agricultura.[629] O conflito entre vizinhos era talvez também
explicado por o território ser castelhano, e por a sua propriedade privada
pertencer, desde tempos imemoriais, a vários portugueses, que o herdaram de
antepassados. O avolumar de queixas sobre discórdias na fronteira entre a
Galiza e Portugal era acompanhado de boatos constantes relativos a
confrontos adicionais e a desacordos. Todos juntos conspiravam para
apresentar os conflitos de fronteira como episódios, não ocasionais e locais,
mas frequentes e globais.[630] Essa apreciação terá encorajado o monarca
espanhol a tomar uma posição que resolvesse todos os diferendos. O debate
em relação aos Montes da Madalena foi assim, ao mesmo tempo, elevado e
vulgarizado. Madalena seria transformada num «caso típico» a precisar de
resposta padronizada.
Madalena/Lindoso: o objecto cobiçado
Os arquivos indicam que a área contestada tinha o comprimento de metade de
légua e, como afirmava o governador da Galiza, absolutamente nenhum valor
para o Estado e talvez um valor limitado para os habitantes locais. Estes
defendiam consistentemente a colocação de colmeias, mas referiam a extrema
pobreza para permitir bons vinhos, considerando a terra melhor para
pastagem. Identificada pelo nome, os Montes da Madalena, porém, eram
chamados Monte de Lindoso em Portugal, pelo menos segundo o comissário
português do início do século xix . Menos consensual era o que abarcava e
quais os seus contornos. Tratava-se de uma região montanhosa, de difícil
acesso, difícil de controlar e raramente usada. As discussões coincidiam
principalmente na questão da caracterização de Madalena como espanhola ou
como portuguesa, e quais os vassalos que, por isso, a podiam usar livremente.
Sotto voce , todavia, envolviam igualmente as intensões de alguns usarem
para propósitos agrícolas o que outros julgavam terra comum. A agricultura
era considerada transformativa por exigir outro tipo de posse, que implicava a
privatização de terras comuns. A discórdia nos Montes da Madalena também
contemplava um debate que opunha a jurisdição secular à jurisdição
eclesiástica (ou seja, se a capela implicava, ou não, jurisdição local ou régia)
e questões militares (que fronteira seria mais fácil defender). Enquanto alguns
interlocutores (principalmente portugueses) tinham vontade de juntar todas as
questões e assumir que a resposta a uma implicava uma solução para as
outras, outros (principalmente espanhóis) rejeitavam as ligações e explicavam
que as jurisdições municipal, régia e eclesiástica eram diferentes, e que a
propriedade privada não era equivalente a terrenos comuns. Era por isso
emblemático que o conflito em Madalena fosse principalmente estruturado
como um diálogo acerca da jurisdição, da sujeição, e dos direitos de usufruto,
entre interlocutores que, talvez propositadamente, minimizavam o facto,
muito importante e evidente, de a principal acusação entre habitantes locais
ser a privatização ilegal de terras comuns ou reguengos.

Madalena/Lindoso: as reivindicações
Todos os intervenientes na discussão aludiam aos critérios habituais que
envolviam o uso imemorial, bem como aos desafios e respectivas respostas.
Mas, perante a radical oposição das versões, tornava-se difícil esclarecer o
que desencadeava e punha termo a desacordos específicos. Vários dados
sugerem que a utilização agrícola gerava mais conflitualidade do que a
pastagem e a recolecção, e por isso a crescente pressão sobre a terra terá
desempenhado um papel nestas dinâmicas, a par da agência de certos
indivíduos, como eclesiásticos e militares, que convenciam os seus vizinhos a
desafiar o status quo . De forma a apoiar as suas pretensões, os habitantes
locais e as autoridades reais procuravam documentação que estabelecesse a
localização das divisões no passado para, em geral, concluírem que estas já
não existiam, ou que reflectisse divisões assentes em direitos e jurisdições
senhoriais. A memória oral também não era perfeita, e os habitantes
atestavam especificamente que nada sabiam, que nada tinham ouvido ou visto
de antigas delimitações formais. As provas em relação à posse não eram
particularmente úteis, já que, por norma, afirmavam que era comum e não
privativa, e que por isso não poderia ser usada para reivindicar direitos. Se o
uso conjunto fora introduzido pela tolerância (como defendiam os espanhóis)
ou pela incapacidade portuguesa em lhe resistir (como os portugueses
alegavam), não importava, porque em termos jurídicos era consensual ou era
contestado, e a maioria das provas apontava para ambas as hipóteses,
consoante as partes intervenientes, a época e os interesses em jogo.
Se este caso revela alguma coisa, é o reflexo exacto de uma realidade
misturada em territórios considerados remotos e de utilização relativamente
esporádica. A «confusão» e o «esquecimento» podiam também ser
intencionais, pois permitiam mudanças no status quo ou o apoio a mais
reivindicações. Possibilitavam igualmente que algumas testemunhas
adoptassem uma posição ambígua, porque frequentemente dependiam dos
adversários para o seu modo de vida. Os funcionários régios espanhóis
enfrentavam o que consideravam um caos total, desprovidos de instruções de
procedimento. Transformaram um caso particular num exemplo de
fenómenos frequentes e insistiram em resolvê-los todos. No entanto, para
atingir (e sustentar) tal grau de abstracção precisavam de evitar a
especificidade do local e do tempo e elaborar princípios gerais. Entre outras
coisas, deviam abandonar a discussão acerca de direitos baseados em provas
jurídicas e privilegiar o senso comum. Contudo, ainda que os comissários
régios de ambos os lados esperassem que a razão produzisse conclusões
semelhantes nos dois campos, tal não aconteceu. Partilhavam a convicção de
que sabiam e compreendiam mais do que os habitantes locais. Concordaram
em ignorar o que lhes diziam e, em vez disso, preferiram observar o território.
Não obstante, espanhóis e portugueses chegaram a um impasse, travando
debates infindáveis já não sobre os critérios a aplicar, mas sobre as suas
implicações concretas. Usavam a razão para suprir ou mesmo substituir o que
os documentos e as testemunhas não lhes podiam dar, e apelavam à
capacidade de mudança em vez da salvaguarda da situação existente.
Discutiram sobre as melhores fronteiras naturais e as linhas que melhor
serviriam os interesses militares dos Estados. Nas suas mentes, mais do que
legal ou justa, a demarcação tinha de ser natural e conveniente. Porém,
quando também a razão fracassou, não oferecendo uma solução consensual,
os comissários acabaram por adoptar um compromisso e dividiram o
território ao meio. Ao fim e ao cabo, independentemente da sua relação com
o passado ou com o presente, com a tradição ou com o senso comum,
concluíram que a missão de uma fronteira era dar certezas e assegurar a paz.
Mista e promíscua (1518-1864)
A história documentada das três aldeias de Santiago, Rubiás e Meaus, na
fronteira entre a Galiza e Trás-os-Montes, começa em 1518, quando o
procurador do conde de Monterrey interpôs um processo criminal contra os
governadores dos castelos da Piconha e de Montalegre, pertencentes ao
duque de Bragança.[631] O procurador acusava os dois homens de terem
cometido uma série de ofensas contra a jurisdição do seu senhor e contra
Espanha. No julgamento que se seguiu, um juiz espanhol e um juiz
português, agindo em conjunto, ouviram provas acerca das «diferenças entre
Portugal e a Galiza» que provocavam desordens na fronteira. De acordo com
o procurador do conde de Monterrey, os dois governadores invadiam
constantemente a Galiza acompanhados de homens armados com « bandera
tendida según estilo de guerra pregonada » e a gritar «Portugal, Portugal».
Assediavam o merino , o administrador do conde, queimando-lhe a casa,
roubando-lhe as propriedades e, em várias ocasiões, ameaçando matá-lo.
Incendiaram os seus arquivos, que guardavam documentos cruciais para a
defesa da jurisdição dos condes e para a gestão das suas contas. Como o
administrador tinha o apoio dos vassalos do conde na Galiza, estas acções
provocaram confrontos públicos. À medida que se avolumava a lista de
queixas contra os dois governadores portugueses, incluindo acusações de
repetidas violações da jurisdição do conde, o rapto de habitantes locais com
posterior pedido de resgate, roubos, etc., outros espanhóis juntaram-se ao
barulho, contando como tinham sido aprisionados, insultados e maltratados
por estes funcionários e seus colaboradores. Todos pediam aos juízes que
castigassem os delinquentes e exigiam compensação pelas perdas sofridas.
Enquanto os queixosos insistiam na reprimenda exemplar, o procurador do
duque de Bragança refutava todas as acusações. Explicou que os
governadores reagiam apenas aos excessos já cometidos pelo conde e pelos
seus funcionários, já que tinham prendido, sem causa, vários portugueses em
território português. Os governadores ressentir-se-iam especialmente da
alegação de que a aldeia de Santiago não se encontrava sob a sua jurisdição.
Afinal, pertencia ao duque e era «quase totalmente em Portugal».
Tanto a acusação como a defesa esclareciam que os incidentes se deviam a
um conflito entre o conde e o duque em relação à extensão dos respectivos
domínios. «Para castigar o passado e remediar o porvir», os juízes decidiram
tomar medidas extremas. Em vez de tentar deslindar quem tinha razão, quem
iniciara o desentendimento e quem lhe ripostara, proferiram uma « sentencia
de concordia y paz ». O veredicto ordenou ao conde e ao duque que
dispensassem os homens envolvidos nos confrontos de todas as suas
responsabilidades, e lhes retirassem, para o resto da vida, os cargos, exilando-
os da jurisdição. Como as provas sugeriam que ambas as partes tinham culpa
e que os agressores e as vítimas mudavam constantemente de papéis, e
porque eram todos vizinhos e parentes « que no puedan vivir los unos sin los
otros ni los otros sin los unos », os juízes também perdoaram a todos os
outros indivíduos envolvidos. A seguir determinaram que Santiago, Rubiás e
Meaus pertenceriam a ambos os senhores, e instruíram as autoridades locais a
colaborar umas com as outras. Proibiram o conde e o duque de recrutar
habitantes locais para a sua causa e decretaram que os territórios dedicados à
pastagem e à recolecção seriam comuns e pertenceriam igualmente às três
aldeias e à jurisdição do conde e do duque, «como tinha acontecido antes».
Por último, mas não menos importante, embora declarassem que os que se
encontravam sob jurisdição do duque eram «portugueses» e os que estavam
sob jurisdição do conde eram «espanhóis», como os habitantes locais eram da
jurisdição de «ambos senhorios e reinos», autorizavam-nos a importar bens
do outro reino sem pagar impostos, e isentavam-nos de serviço militar para
não terem de lutar contra os vizinhos.
Esta decisão judicial criou um compromisso híbrido. Sujeitava as três aldeias
a dois senhores e a dois países, mas dividia os residentes em espanhóis e
portugueses, vassalos do conde e súbdi- tos do duque. A decisão de 1518,
talvez justificada pela incapacidade do juiz para determinar os direitos das
partes ou encontrar outra solução aceitável, criou uma situação extraordinária
que mesmo os contemporâneos, no século xvi , consideraram surpreendente.
Nas décadas de 1520 e 1530, por exemplo, afirmavam que era
completamente impossível distinguir quem era galego e quem era português,
pois os membros de ambas as comunidades viviam e «misturavam-se» juntos,
e «um era tomado pelo outro».[632] Afirmavam igualmente que, ao mesmo
tempo que reorganizava relações locais, o acordo de 1518 não lograra
clarificar as implicações territoriais, nada determinando em relação a onde
deveria passar a fronteira entre essas comunidades e outros enclaves de
Espanha e de Portugal. Os observadores do século xvi também confirmaram
que dentro de cada aldeia a jurisdição dependia da identidade do cabeça de
casal, não da geografia. Assim, em vez de divididas numa parte espanhola e
numa portuguesa, cada uma das três aldeias era um espaço pontilhado de
casas ora galegas ora portuguesas, organizadas de forma acidental, sem um
padrão claro. Como ilhas de jurisdição num mar de terra pouco nítida, as
casas portuguesas estavam sob obediência da lei e das autoridades
portuguesas e as residências galegas sob obediência da lei e das autoridades
espanholas. A maneira como os indivíduos eram atribuídos a casas e as casas
a países não estava documentada, mas frequentemente deduzia-se que após a
atribuição a identificação era consensual e permanente. Também não era
claro o estatuto das ruas que uniam as casas umas às outras e os campos que
rodeavam as povoações.
A estranha situação resultante da decisão de 1518 não foi facilmente tolerada.
Em 1540, 1563, 1564 e 1579 os habitantes locais queixaram-se de que as
autoridades espanholas ignoravam as divisões feitas pelo « uso y costumbre »
e tentavam ilegalmente implementar a jurisdição ordinária espanhola nas suas
aldeias, por exemplo prendendo um português.[633] Ameaçavam que a menos
que os acordos fossem respeitados, os portugueses também os violariam,
como o juiz de Montalegre já começara a fazer. A obediência à decisão de
1518, insistiam, permitia-lhes viver « quietos y sosegados », garantindo
igualmente boas relações entre os seus reinos. A partir daí, durante os séculos
xvi , xvii e xviii , repetiram-se muitas vezes alegações semelhantes, sempre feitas
pelos residentes das aldeias. A maior parte fazia eco do desejo de proteger um
regime jurídico particular, como em La Contienda, e, com o tempo, a decisão
de 1518 tornou-se uma espécie de documento fundacional. Foi muito
copiado, lido e citado como demonstração, tanto da causa e da justificação
desta particularidade, quanto do que ela implicava. No século xvii , o trecho
mais cobiçado e reivindicado do documento era a declaração que tornava os
vizinhos «tanto espanhóis como portugueses» e as suas comunidades
«mistas». Os habitantes locais gostavam também da conservação de
privilégios adicionais dependentes desta fundição, principalmente a isenção
de pagamento de impostos e de serviço militar.
A condição de Santiago, Rubiás e Meaus, essencialmente considerada um
assunto menor que envolvia privilégios jurídicos extraordinários, foi levada à
atenção dos reis em 1717. Após a Guerra da Sucessão Espanhola, em que o
castelo de Piconha foi ocupado por tropas espanholas, o ministro dos
Negócios Estrangeiros português pediu ao embaixador espanhol em Lisboa
que garantisse a sua devolução a Portugal, juntamente com Santiago, Rubiás
e Meaus.[634] O embaixador português em Madrid explicou que, temendo
hostilidades, os habitantes das três aldeias « se hicieron a la parte de
Galicia » durante a guerra, mas agora, com a paz, deviam voltar a juntar-se a
Portugal. Isto era, escreveu ele, o que os habitantes de Montalegre, a cuja
jurisdição pertenciam, e a Casa de Bragança, que sobre eles tinha senhorio,
exigiam. Tinham tentado garantir o regresso apelando ao governador da
Galiza, mas este recusara-se a conceder a petição. Viam-se por isso forçados
a pedir a intervenção régia. Em apoio da reivindicação o embaixador em
Madrid apresentava «documentos autenticados» que, na sua opinião,
provavam que o castelo e as aldeias sempre tinham sido portugueses. No
entanto, entre eles figurava a decisão de 1518, que dizia outra coisa. Como os
tratados de paz de 1668 (que punha termo à Guerra da Restauração) e de
1715 (depois da Guerra da Sucessão Espanhola) não mencionavam o castelo
de Piconha ou as aldeias de Santiago, Rubiás e Meaus, o Conselho de Estado
espanhol ordenou ao capitão geral e à audiencia da Galiza que
investigassem o assunto.
Embora não saibamos o que se sucedeu, queixas datadas de 1723 sugerem
que «os limites» entre Rubiás e Montalegre eram «confusos», causando
perturbações locais. Tentativas de os esclarecer terão fracassado, e em 1793
persistiam as dúvidas sobre essa localização.[635] Em 1730, o escrivão das
honras de Montalegre incluiu jurisdição sobre as três aldeias que, de acordo
com registos coevos, «estão dentro no reino da Galiza misticamente».[636] Em
1756, a Casa de Bragança tomou posse do local misto – couto misto – e, em
1788, fez o mesmo em relação ao castelo de Piconha – agora completamente
em ruínas – que os seus representantes declaravam ser na Galiza, não em
Portugal.[637] Quando inquiridos, por exemplo em 1753, como se dera esta
confusão, os habitantes locais confessavam a sua ignorância.[638] A única
coisa que podiam relatar era a situação no presente. Descreveram como as
três comunidades tinham, por si só, eleito um juiz local para supervisionar as
disputas civis e como a jurisdição criminal fora repartida entre os juízes da
Galiza e de Portugal, que agiam em conjunto ou perguntavam ao arguido se
pretendia ser castigado num ou no outro reino. Estes testemunhos referiam
ainda que a construção de casas novas pelos residentes das três aldeias os
obrigava a declarar formalmente se queriam o domicílio sujeito a Espanha ou
a Portugal. Estas narrativas foram confirmadas em 1786, quando o censo dos
habitantes locais falhou. Os funcionários consideraram completamente
impossível distinguir entre os 150 habitantes quem era português e quem era
galego. O distrito, explicaram, era comum a ambas as coroas, e os juízes
criminais de ambos os países tinham de actuar em conjunto contra
delinquentes, a não ser que estes fossem apanhados numa casa classificada
como totalmente portuguesa ou completamente espanhola. Em 1786 havia
ainda um juiz localmente eleito que supervisionava a litigação civil, mas, de
acordo com algumas queixas, os residentes podiam investir-se da condição de
espanhóis ou de portugueses a seu bel-prazer. Apenas precisavam de fazer
um brinde, normalmente durante a sua cerimónia de casamento, à saúde de
um ou de outro monarca.[639] E embora a subjugação política dependesse das
casas (havia casas portuguesas e casas galegas, e é possível que estivessem
marcadas com um P se fossem portuguesas e um G se fossem galegas), a
maior parte das construções incluía dois lados distintos, um catalogado como
galego e o outro como português. Isto permitia aos vizinhos encontrar refúgio
na parte que melhor se adaptava aos seus interesses, conforme as
circunstâncias de cada caso. Em 1786, os residentes de Santiago, Rubiás e
Meaus gozavam ainda de outros privilégios. Podiam importar e exportar os
seus animais e bens de um reino para o outro sem pagar taxas, e estavam
isentos de serviço militar. Enquanto de acordo com a decisão de 1518 a
sujeição a dois senhores e a dois reinos poderia ser apresentada como
duplicadora de obrigações, em 1786 e 1791 sugeria-se que libertava os
habitantes locais de todos os deveres, porque de facto (mesmo que não de
jure ) viviam independentes de ambas as coroas – « no pertenecen ni a uno ni
a otro reino » –, eram neutros em relação a ambos, e o território era refúgio
para criminosos e contrabandistas, e até rebeldes.[640]
Esta liberdade pessoal pesava directamente sobre as questões territoriais. Não
só a partição entre os três municípios e territórios envolventes era pouco
clara, como mesmo antes de a decisão de 1518 ser adoptada persistiam
questões acerca da extensão de terra que cada senhor governava.[641] As
dúvidas intensificaram-se a partir daí. No século xviii , a maior parte dos
interlocutores afirmava que como os residentes viviam «em confusão», em
comunida- des que eram «meio galegas meio portuguesas», o terreno também
era misto. Em consequência, concluía um juiz português em 1796, não havia
qualquer interesse em preparar um mapa da fronteira nesta área «devido à
confusão [em relação] aos povoadores deste reino e da Galiza».[642] A
incapacidade para fixar divisões no terreno ficou também evidente em 1819,
quando as autoridades de Espanha e de Portugal discordaram em relação ao
exercício da jurisdição, tributação, e serviço militar no território.[643] A
constante oscilação dos habitantes locais na sua sujeição pessoal a um país ou
a outro tornava os debates territoriais ainda mais complicados.
Em 1819, desconcertados com a estranha situação, os delegados dos
monarcas espanhol e português encontraram-se para remediar o que
entendiam como uma grave desordem. De forma a introduzir alguma medida
de legalidade, em vez de autorizar os habitantes locais a escolher livremente
o Estado a que pertenciam, planearam elaborar listas que determinassem
quem era quem, de uma vez por todas.[644] Proibiram espanhóis e portugueses
de residir na mesma casa e insistiram que, no futuro, os espanhóis seriam
julgados em assuntos civis e criminais de acordo com as leis espanholas por
juízes espanhóis, o mesmo princípio aplicando-se aos portugueses. Do
mesmo modo, crimes cometidos em casas galegas estariam sob jurisdição
espanhola e os cometidos fora seriam examinados pelo primeiro magistrado
que sobre eles se debruçasse. Todos os indivíduos que não fossem habitantes
permanentes de Santiago, Rubiás e Meaus não teriam direito a aí residir. E
embora quem fosse continuasse a gozar de isenção de pagamento de
impostos, de taxas aduaneiras e de serviço militar, passaria a desembolsar um
pequeno tributo a ambos os soberanos, em reconhecimento pelo senhorio
comum. Sem fazer uma referência directa a questões territoriais, a decisão
sugeria a continuação teórica da situação anterior. Identificava o território dos
Estados de acordo com a sujeição das casas, tornando-o descontínuo, com
ilhas de jurisdição num mar de terra mista, ou assumia como mista toda a
jurisdição, ao mesmo tempo espanhola e portuguesa.
Apesar dos esforços de esclarecimento, a documentação de meados do século
xix indica a persistência da confusão. Os residentes locais continuavam a ser
autorizados a escolher a sua adesão política conforme lhes apetecesse, mas
agora faziam-no de modo formal, declarando as intenções perante a
autoridade local, na presença de um notário, com cópias do acto deixadas nos
arquivos. Teoricamente passava a ser possível preparar listas indicativas de
quem era quem; na realidade é pouco claro se essas listas alguma vez foram
elaboradas, e sabe-se que muitas casas incluíam indivíduos de diferentes
sujeições.[645] Além disso, enquanto alguns residentes se identificavam como
portugueses e outros como espanhóis, os coevos observavam que muito
provavelmente não se consideravam nem uma coisa nem outra, e que não
obstante as declarações oficiais, os privilégios especiais impediam-nos de ser
verdadeiramente espanhóis ou realmente portugueses. Não tinham qualquer
vontade de conceder que algumas partes das suas comunidades (casas) eram
território português enquanto outras eram território espanhol. Em vez disso,
afirmavam que toda a jurisdição era «mista».
Se os locais aceitavam esta realidade como normal e lucrativa, em meados do
século xix os funcionários régios em Madrid e Lisboa discordavam.[646]
Rejeitavam a ideia de que alguns indivíduos e aldeias fossem
«independentes» ou mistos, e culpavam a condição pela transformação do
território num porto seguro para indivíduos fora-da-lei. Não compreendiam a
maneira como a estranha situação se instalara, mas tinham a certeza da
necessidade de lhe pôr fim. Em 1864 comissários dos dois países começaram
a trabalhar para implementar esta decisão. Concordaram tornar espanholas as
três aldeias, em troca de enclaves que a partir daí seriam considerados
oficialmente portugueses.[647] No que viria a ser o seu último acto de graça, as
autoridades de ambos os estados permitiram aos habitantes decidir se
queriam pertencer a uma ou outra nação. A maioria dos habitantes de
Santiago e Rubiá declarou-se portuguesa; os de Meaus declararam-se
espanhóis.

Misto e promíscuo: as partes, o objecto cobiçado, as reivindicações


Se inicialmente os habitantes de Santiago, Rubiás e Meaus discordavam
sobre quem eram, quem os governava e o que era o seu território, os
documentos existentes nos arquivos indicam que por volta do século xvi
descobriram uma resposta que satisfazia interesses e resolvia o assunto. A
solução, porém, não pacificava os seus vizinhos nem estava de acordo com as
intenções das autoridades municipais ou régias. O termo «desordem» era
usado por todos os que, de fora, assistiam à situação; contudo, durante os
séculos xvi , xvii e mesmo xviii , as acusações que os poderes exteriores faziam
da perversidade reinante nestas aldeias não eram suficientemente poderosas
para justificar a alteração dos privilégios locais, considerados sacrossantos.
Só em meados do sé- culo xix é que os funcionários régios de ambos os lados
da fronteira demonstraram ter o poder e a vontade de intervir no status quo
para regularizar o que, aos seus olhos, era profundamente extraordinário. Para
tal deviam afirmar a soberania dos estados e a sua capacidade para modificar
a ordem jurídica e eliminar privilégios. Mas, se a autoridade para actuar era
indispensável, a vontade também o era. Esta última era justificada pela
percepção de irregularidade da situação de Santiago, Rubiás e Meaus, e da
necessidade de a corrigir. Era igualmente sintoma dos tempos que se viviam e
de como os especialistas do século xix procuravam reconstruir, talvez até
reimaginar, o seu passado. Começaram por tentar explicar as origens da
confusão que «descobriram». Não encontraram qualquer rasto documental
que os ajudasse a atingir o objectivo ou testemunhos locais que iluminassem
o seu caminho; assim, procuraram razões e pistas no entendimento que
tinham do passado e do presente.[648] Em 1819 (para reconstruir as instituições
locais após as invasões napoleónicas) e na década de 1850 (para decidir sobre
a fronteira entre Espanha e Portugal), apelaram a um tempo distante, que em
parte conheciam, em parte adivinhavam, em parte imaginavam.
Argumentavam que de acordo com «velhas tradições» as três comunidades
de Santiago, Rubiás e Meaus deviam ter originalmente pertencido à Casa de
Lemos e Monterrey (em Espanha). Sugeriam que no século xiv , ou talvez já
no xv , depois de a Casa de Bragança adquirir jurisdição sobre os castelos de
Piconha e Portelo, os seus oficiais teriam tentado expandir os seus poderes
também para este terreno.[649] Daqui teriam resultado os reiterados conflitos
entre os dois senhores feudais e respectivos funcionários. Depois, quando as
duas coroas se separaram em 1640, as três aldeias teriam permanecido em
território galego; à data da abolição dos domínios feudais em Espanha (em
1811 e novamente em 1823), teriam ficado sujeitas à coroa espanhola. Os
observadores do século xix concluíam assim que numa disputa entre senhores
de filiação política diferente, a confusão entre reinos era apenas natural.
Entendiam este caso como confuso apesar de a decisão de 1518 ter
indicações claras do contrário: nela instituía-se uma justaposição de duas
jurisdições que coexistiriam sem se misturar, porque se identificavam os
súbditos de um senhor como espanhóis (e o seu território ou as suas casas
como espanhóis) e os do outro como portugueses. Por outras palavras, a
fusão terá ocorrido, não pelo que ordenava a decisão de 1518, mas pelo que
se lhe seguiu. Como em La Contienda, se inicialmente portugueses e
espanhóis viveram lado a lado sem necessariamente perder a sua
individualidade, durante o final do século xvi e os séculos xvii e xviii os coevos
começaram a considerar as três aldeias como misturadas ou completamente
independentes, ou seja, não pertencentes, simultaneamente, nem a Espanha
nem a Portugal. Em vez de Espanha para os espanhóis e Portugal para os
portugueses como no princípio, no final do período moderno a percepção
vigente era a de que todo o território estava sujeito a ambas as potências ou a
nenhuma. E a exemplo do que acontecera com La Contienda, a transformação
deu-se calma e informalmente. Não foi sancionada por uma decisão judicial
ou política, mas pela interpretação e reinterpretação que os locais deram aos
seus privilégios, e pela autorização para o fazer que as potências vizinhas e os
monarcas lhes conferiram. A transformação foi subversiva e performativa; no
final do processo, no século xix , os observadores notavam com espanto que o
estatuto pessoal também afectava a lealdade para com um rei e a sujeição
territorial. Ligavam este resultado (que abominavam) ao feudalismo (que
também odiavam). E sugeriam que: «à sombra» de tempos feudais, os
residentes das três aldeias «não obedeciam a qualquer lei, ora se
reivindicando como portugueses, ora como espanhóis, segundo as
circunstância e a origem, outras vezes não sendo nem uma coisa nem outra».
[650]

Quando classificavam o que observavam (e de que não gostavam) como


feudal revelavam mais do século xix do que do passado. Na altura em que
esta discussão se desenrolava, a maior parte da desordem e do caos era
geralmente catalogada como um resquício de antigas práticas que, por serem
arbitrárias e irrazoáveis (e, por isso, segundo as noções da época, feudais),
deviam ser destruídas, ou pelo menos descartadas, em nome do progresso.
Tornar Santiago, Rubiás e Meaus relíquias de um passado que impedia o
desenvolvimento fazia parte de um discurso modernizador e sem visão
histórica.[651] Não interessava que o que existia no território não fosse
medieval na origem, mas sim o resultado de um conceito do século xvi e das
transformações operadas nos séculos xvii e xviii . Também não era relevante
que o acordo tivesse sido impulsionado, adoptado e garantido por
camponeses humildes, e não por poderosos senhores feudais. E, todavia,
enquanto os funcionários espanhóis e portugueses do século xix
consideravam intolerável a situação das três aldeias, os habitantes locais
continuavam a reivindicar a normalidade. Em Abril de 1855, por exemplo, os
residentes de Santiago, Rubiás e Meaus, agora formalmente identificadas
como «couto misto das duas coroas», pediram a intervenção do monarca
português na sua capacidade de titular da Casa de Bragança contra as
autoridades municipais de Montalegre. Estas prescreviam-lhes o pagamento
de taxas aduaneiras, como se fossem estrangeiros, quando na realidade
estavam «sujeitos à coroa de Portugal estando o também à de Hespanha».[652]
E em 1862, quando os vizinhos das três povoações compreenderam que as
negociações entre as duas coroas se encaminhavam para uma solução que iria
«extinguir» o regime especial, protestaram.[653] A conclusão de que o couto
misto era pouco apropriado «pela sua inconveniência com o sistema político
que hoje rege as duas nações» não chegava, diziam, para justificar a
eliminação de privilégios locais imemoriais. Concediam até que se a situação
não se adequava às exigências contemporâneas, a dissonância podia ser
corrigida com uma ligeira modificação da estrutura existente, não com a sua
destruição. Entendiam que a melhor solução seria dar, e não retirar, mais
independência e prerrogativas aos habitantes locais. De facto, era até
aconselhável conceder-lhes o estatuto recentemente recebido pelo pequeno
estado de Andorra. Em 1857, a perspectiva de uma possível adjudicação do
couto misto a Espanha provocou o protesto dos vizinhos em Portugal, que
defenderam a imprescindibilidade da terra para a sua sobrevivência, com a
pastagem e a recolecção.[654] A separação do território de Santiago, Rubiás e
Meaus de Portugal, diziam, instituiria uma divisão onde antes nenhuma
existira. Por que razão iria Portugal renunciar a um território ao qual tinha
direitos e domínio iguais aos de Espanha? Por que razão não poderiam
continuar a usar os pastos que sempre tinham usado?
A apresentação de Santiago, Rubiás e Meaus como um resquício do passado
feudal justificava e explicava a eliminação da sua ambiguidade. Mas a
pretensão de que a sua situação era excepcional era também uma ferramenta
importante. As pastagens comuns, até aí a forma mais frequente e legítima de
uso de terra, nos séculos xviii e xix foram reimaginadas como anomalias
ilegítimas. Santiago, Rubiás e Meaus sofreram uma transformação
semelhante. Famosas porque diferentes, eliminadas porque extraordinárias,
não obstante era claro que o seu estatuto teria sido muito mais normal do que
os agentes do Estado central do século xix se dispunham a admitir. Em 1764,
por exemplo, de acordo com alguns autores, as aldeias de Manín, Villameá e
Vilariño eram misturadas como Santiago, Rubiás e Meaus.[655] E existiam
outros tipos de mistura. Na década de 1530, por exemplo, os habitantes de
Vilar de Perdizes foram formalmente isentos de se submeter à lei e à
tributação portuguesas porque eram originários de Espanha. Este privilégio
particular era encarado como a confirmação da sua independência de ambos
os países e do dever de obedecer apenas às suas autoridades locais. Também
existiam muitas «aldeias promíscuas», com habitantes espanhóis e
portugueses, e pertencendo metade a Espanha e metade a Portugal. As mais
famosas eram os três enclaves de Soutelinho, Cambedo e Lamadarcos. Perto
de Chaves, situavam-se parcialmente num país, parcialmente noutro, com a
fronteira por vezes atravessando o interior de casas ou até dividindo quartos e
salas, permitindo assim que alguns edifícios tivessem uma porta em Espanha
e outra em Portugal.[656] Eram povoações de origem desconhecida,
mencionadas em 1526 e 1530, entre outras coisas, como locais com grande
movimento de contrabando. Ao contrário do couto misto , as aldeias
promíscuas eram extraordinárias devido à localização geográfica, não ao
regime jurídico. Não tinham privilégios especiais e cada um dos estados tinha
total jurisdição na porção e população que lhe pertencia. Em 1764 Almeida
foi dividida em duas secções, a portuguesa e a espanhola.[657] O mesmo
aconteceu com Rihonor/Rio de Onor, que já no século xiii era em parte em
Portugal e em parte em Leão, mas possivelmente povoada de ambos os lados
por castelhanos.[658] Em 1347, as tentativas de demarcação do território terão
falhado, e é provável que em certo momento os habitantes espanhóis tenham
abandonado a «sua» parte, e se tenham mudado para Portugal. Isto enfureceu
o senhor local espanhol, que pediu o seu regresso, bem como o reembolso
dos impostos que, devido à debandada, em vez de lhe pagarem a ele,
pagavam ao senhor local português.[659] Em 1385, as autoridades nobres e
eclesiásticas teriam chegado a um acordo que permitia à aldeia ser realmente
meio espanhola e meio portuguesa. O acordo seria questionado pelo conde de
Benavente, um nobre português que, mudando-se para Espanha, obtivera esse
título e muitas propriedades ao longo da fronteira, perdendo, em troca, posses
e títulos como senhor de Bragança português. O conde de Benavente tentou
depois expandir o controlo para o lado português da fronteira, anteriormente
seu, mas entrou em confronto directo com a Casa de Bragança, a nova dona.
Seguiram-se confrontos constantes entre os senhores e seus vassalos, até que
em 1451 ambos concordaram aderir ao status quo . Todavia, disputavam
amiúde as disposições do acordo.
O diferendo prosseguiu pelo século xvi e possivelmente pelo xvii . A situação
ter-se-á resolvido, com a colaboração dos residentes dos dois países, apesar
da sujeição a diferentes senhores e monarquias. Em meados do século xix esta
extraordinária circunstância levou os comissários portugueses a concluir que
os habitantes da parte portuguesa, pelo menos, viviam em relativa liberdade e
autonomia, sem sujeição a nenhum dos Estados. Julgando-os mal civilizados,
numa existência excepcional que não satisfazia nenhuma das obrigações que,
como cidadãos, tinham para com os seus países, os funcionários concluíam
que a conjuntura era intolerável.[660] Explicavam que a parte portuguesa tinha
umas trinta e três casas e que a espanhola tinha apenas oito «mas quando
convém a uns ou a outros mudam de bairro e de nação», assumindo-se
alternadamente como espanhóis ou portugueses. Eram «incivilizados» e
viviam de um «modo excepcional» sem cumprirem nenhum dos deveres para
com a sua nação, como o serviço militar e a tributação, e não obedeciam às
autoridades. Era, portanto, vital, finalizavam, que a aldeia fosse dividida entre
as duas potências «pois interessa a ambos os Estados, que não continuem
estas aberrações sociais com as quais sofrem os bons costumes, e as
obrigações dos povos para com as suas autoridades». Quanto mais não fosse
– o território de Rihonor/Rio de Onor era estéril e de pouco valor económico
–, a divisão da aldeia em duas partes claras acabaria com a presente
«promiscuidade», indesculpável, e isso seria já uma grande vitória.
Rihonor/Rio de Onor foi nessa ocasião chamado couto misto , e
implicitamente comparado a Santiago, Rubiás e Meaus, mas mesmo assim
sobreviveu à comissão de fronteira da década de 1850. E hoje continua a ter
uma existência mista.
Conclusões
A divisão entre Espanha e Portugal, na Europa, foi emergindo através de uma
série de desenvolvimentos que implicaram a actividade de múltiplos agentes.
Na defesa de interesses próprios, esta multidão de actores também construiu
uma fronteira. Os exemplos que escolhi estudar demonstram a complexidade
dos procedimentos que dependiam da rivalidade ou da colaboração entre
vizinhos do mesmo ou do outro lado da fronteira, influenciados por processos
económicos, sociais, legais e políticos. A luta centrava-se nos direitos de
usufruto – seria esse o caso mais típi- co – mas as questões de jurisdição,
cobrança de impostos, sujeição eclesiástica e outras estavam sempre
presentes. A acumulação de reivindicações, tantas vezes concorrentes ou
mesmo contraditórias, era tão acentuada que a busca de respostas claras,
embora constante, na maioria dos casos redundava em fracasso. Todos os
intervenientes se referiam a um passado que consideravam evidente, mas
nenhum conseguia reproduzir a certeza em termos jurídicos. Já não existiam
documentos ou já não havia memória; os vários lados do conflito tinham
recordações divergentes ou reivindicações, todas plausíveis, opostas. Em
1754 um observador comentava que as partes, afinal, não conseguiam
apresentar nada «sem mais prova ou documento que a sua asserção».[661]
Os habitantes locais, preocupados com o que os adversários estariam a fazer e
com o que desejariam atingir, reagiam aos desafios com violência ou com a
ameaça de violência. Queixavam-se às autoridades mais elevadas de serem
mais fracos e menos preparados para defender os seus direitos, e do
aproveitamento que os inimigos faziam da sua benevolência. Aludiam à
infracção de um status quo , e argumentavam que a contestação era nova,
pois até recentemente os direitos imemoriais tinham sido respeitados. Porém,
tanto estas alegações como as respostas dos rivais esclareciam que o passado
era tão disputado quanto o presente. A passagem do tempo podia talvez
introduzir o esquecimento, mas na maior parte dos casos permitia a mudança.
Sob o disfarce da continuidade, o tempo não era só um factor histórico, era
uma ficção jurídica e política cuidadosamente utilizada para recordar certas
coisas e esquecer outras.
A caixa de Pandora, depois de aberta, não podia ser facilmente fechada – o
desafio conduzia a uma resposta que conduzia a mais interrogações. As
infindáveis cadeias de provocação e reacção decorreriam de motivos sociais e
políticos, mas principalmente impunham-se às partes através de uma doutrina
jurídica em que o silêncio equivalia a consentimento, e o protesto a
desacordo. Esta doutrina explicava a persistência no tempo de tantos conflitos
e como diferentes episódios podiam estar dependentes uns dos outros, apesar
de mudanças radicais nos actores, nos alinhamentos, nos objectos cobiçados,
nos objectivos e nas justificações dadas. A doutrina esclarecia, finalmente,
por que razão era tantas vezes difícil atingir uma solução. À medida que a
disputa se desenrolava, a conjuntura tornava-se tão emaranhada que o único
desenlace viável era o uso conjunto da terra ou a divisão entre rivais.
Estes conflitos, chamados dúvidas , refertas ou contendas ,
desenvolveram-se conforme os usos, as populações, os locais ou os períodos
implicados. Seriam influenciados pelo clima político geral ou por condições
específicas, como mutações locais na economia e na sociedade e na forma
como indivíduos, grupos e comunidades avaliavam e entendiam certos
terrenos, e como imaginavam os seus direitos. Iniciar-se-iam de um dos
lados, desencadeados por um único indivíduo, ou envolveriam numerosos
actores, de múltiplos lados. Oficialmente poriam em disputa municípios
empenhados na defesa de direitos comunais. Na realidade, normalmente
precisavam da intervenção de indivíduos ou grupos particulares que tinham a
ganhar (ou a perder) com o desenlace. Estes indivíduos e grupos podiam
pedir às respectivas aldeias que agissem em seu nome, mas em várias
ocasiões actuaram sem procurar o consenso local ou apesar da sua
inexistência. Noutras, as autoridades municipais intervieram a posteriori ,
autorizando o que já fora alcançado (ou perdido).
A rivalidade e o confronto permanentes não impediram a colaboração entre
os indivíduos, os grupos e as comunidades litigantes. Muitos eram familiares
e amigos; outros partilhavam pastos, festividades, altares e mercados.[662] As
relações não prejudicavam necessariamente a competição; pelo contrário,
intensificavam-na. Em certos momentos, a maior proximidade aumentava a
probabilidade de desavença. Encinasola e Barrancos eram disso um óptimo
exemplo: as suas comunidades e autoridades pelejavam amargamente, apesar
de a maior parte dos barranquenhos ser originária de Encinasola, ou ter aí
casado, ou possuir propriedade na sua jurisdição. Não faltavam outros
exemplos. Em 1500, Pedro Rodrigues testemunhou que os habitantes de
Vilarinho (em Portugal) tinham inicialmente permitido aos espanhóis de La
Tierra que plantassem no seu território, por serem seus familiares.[663]
Todavia, sabia que tinham lutado entre si durante mais de duzentos anos, por
vezes com violência, atacando propriedades e pessoas. Na ilha de Canosa, as
mesmas autoridades que em 1691 se queixavam de que os portugueses
proibiam os espanhóis de usar o território, também testemunhavam que os
portugueses, apelando à caridade espanhola, se comportavam como se
«pertencessem ao mesmo bispado e reino e como se ambos fossem do mesmo
dueño ». Muitos estavam casados e estabelecidos em Espanha, onde eram
considerados súbditos, embora, de acordo com os detractores, mais com o
corpo do que com a alma.[664]
É por tudo isto errado afirmar, como alguns historiadores fizeram, que a
fronteira entre Espanha e Portugal foi imposta por monarcas a habitantes
locais.[665] Não só os vizinhos se interessavam muito pelos pontos de
passagem dessas divisões, ao contrário (até certa medida) dos reis, como até
durante centenas de anos persistiram nas suas exigências, numa permanente
elaboração daquilo que desejavam atingir. Ainda em 1760 e 1780 as
incursões territoriais seriam definidas pelos reis como um assunto civil que
colocava em confronto indivíduos facilmente apaziguáveis se os danos
fossem sanados.[666] Os casamentos e o comércio de uns com os outros, a
amizade e a associação, a participação nas mesmas procissões religiosas
(como alguns historiadores acertadamente notaram) não impediam
necessariamente uma rivalidade feroz. Amiúde, a proximidade fazia-os
digladiar-se de maneira tão amarga, criando múltiplos conflitos essenciais ao
seu modo de vida, mas que, do ponto de vista das cidades capitais e da corte,
mais não eram que meros incidentes vulgares de pouca consequência.
Assim sendo, a história da construção da fronteira entre Espanha e Portugal
não deve ser narrada como o crescente protagonismo do Estado contra os
desejos locais. Não deve ser também contada como a gesta de uma aliança
fortificada entre o Estado e as comunidades, que conduziu à sua
nacionalização. Alguns conflitos terão lançado espanhóis contra portugueses,
e outros poderão ter levado os homens da época a adoptar tais identidades,
estratégica ou honestamente. Contudo, as divisões existiam habitualmente
noutros campos, como por exemplo no uso diferente dado ao território, ou
entre os membros de comunidades durante processos de dependência ou
autonomia da sua povoação em relação a outra.
A concretização e a negociação da fronteira, em resumo, demoraram centenas
de anos a completar. O notário português Mendo Afonso de Resende, que
descreveu partes da sua história na década de 1530, descobriu que, das
setenta aldeias que visitou, pelo menos vinte e duas estavam envolvidas em
graves conflitos com os seus vizinhos em Espanha e muitas outras relatavam
a contínua perda de território.[667] A incerteza terá continuado a partir daí; em
meados e finais do século xviii autores coevos relatavam, por exemplo,
frequentes contendas ao longo da fronteira e em áreas onde a sua localização
era desconhecida ou totalmente irrelevante.[668] E embora desde então a
presença de conflitos e acordos fosse contínua, ainda em 1854 os
funcionários espanhóis referiam a inexistência de qualquer entendimento
entre Portugal e a Espanha acerca das suas fronteiras. Apenas existiam
«demarcações privadas» entre aldeias que serviam para limitar a sua
«propriedade particular» e, por extensão, o Estado.[669]
Como hidras, os conflitos territoriais permitiam aos rivais passar da busca da
afirmação de direitos legais para a adopção de um compromisso, do sonho do
que era justo para a concepção do que seria eficaz, até se questionarem sobre
a forma como a história fundara e afectara os seus direitos. Estas alterações
por vezes reflectiam mutações sociais, económicas, políticas e legais;
contudo, relacionavam-se igualmente com o modo como os contemporâneos
recordavam (ou esqueciam) o que ocorrera e como imaginavam (ou
reimaginavam) os seus títulos. Na comparação com os antepassados e na
distinção dos outros, os actores também se refaziam. Ainda hoje assim é.
Enquanto estava a concluir a investigação para este livro, os habitantes de
Valença do Minho, protestando contra a decisão de encerrar as urgências
hospitalares locais, penduraram um milhar de bandeiras espanholas no seu
município, cantaram «Viva España!» e colocaram sinais que diziam «Valença
é Espanha». A manifestação, que sinalizava o abandono em que Portugal os
colocava, e destinada a atrair a atenção dos meios de comunicação e a
provocar a reacção do governo, era também uma forma de exprimir gratidão
ao presidente da câmara da vizinha Tui, que os convidara a usar as urgências
dessa cidade.
Tratou-se de um incidente menor, de poucas consequências, entre municípios
que durante quase duzentos anos se opuseram na disputa por uma pequena
ilha (Verdoejo) no rio Minho, que os separava e ligava, mas a discussão que
desencadeou nas redes sociais parece-me muito reveladora da persistência de
certas representações nos imaginários nacionais de Portugal e de Espanha.[670]
A maior parte dos leitores portugueses que comentou estes factos reagiu com
espanto.[671] Num blogue de um jornal português expressavam simpatia pela
má sorte dos compatriotas, mas sentiam-se ofendidos com as referências a
Espanha. Sem compreenderem bem a ironia do protesto, afirmavam que o
comportamento de Valença era uma traição merecedora de castigo, pois
violava a soberania de Portugal. Imagens do passado, especialmente da união
e desunião entre Espanha e Portugal, assomavam nestes comentários. Um
leitor mencionava a batalha de Aljubarrota, ganha pelos exércitos do rei de
Portugal em 1385. Outros sugeriam que também existiam traidores em 1640,
quando Portugal declarara a sua independência de Espanha. Perguntavam-se
como era possível que os antepassados tivessem lutado para se libertar da
ocupação estrangeira, quando nesse preciso momento os descendentes
pareciam querer voltar a sujeitar-se à potência vizinha. Outro leitor
mencionava Olivença, conquistada pelas forças espanholas em 1801 e nunca
devolvida. Enquanto os leitores portugueses reagiam a estes
desenvolvimentos reafirmando a independência nacional em relação a
Espanha, os espanhóis concentravam-se na hipotética reunião de
Espanha e Portugal.[672] Muitos advogavam a solução, através de uma união
de iguais, e a transformação de Portugal numa das várias regiões autónomas
dentro de Espanha, ou da constituição de uma nova federação que, como nos
tempos romanos, se chamaria «Hispania». A reunião, dizia a grande maioria
de comentadores espanhóis, seria no interesse de ambos os Estados, mas
restabeleceria igualmente uma realidade histórica, existente no passado e
ainda evidente (se impone) no presente. Um leitor citava Luís de Camões e
perguntava se castelhanos e portugueses não seriam todos espanhóis
(«castellanos y portugueses , que españoles somos todos») ? Para os
espanhóis, como no passado, a união e a desunião com Portugal eram ocasião
para discutir a existência de uma Espanha, única ou plural, unida ou dividida.
As relações entre Madrid e Barcelona, Santiago de Compostela e Vitoria,
diziam alguns, não eram substancialmente diferentes das que ligavam Madrid
e Lisboa. Outros afirmavam os laços históricos que uniam Portugal à Galiza,
mas não à Espanha. Afinal, não era Portugal a « Galicia del sur » ou a Galiza
o « Portugal del norte »? Esqueciam que a fronteira também unificava e
separava os residentes do Alentejo e os da Extremadura, para mencionar
apenas mais um exemplo, e sugeriam assim que a integração propriamente
dita seria a união de Portugal e da Galiza, e não de Portugal e de Espanha.
Afirmavam até que os residentes de Valença deveriam ter usado bandeiras
galegas, e não espanholas, porque a sua admissão nas urgências hospitalares
de Tui dependia da Xunta de Galicia e não das autoridades de Madrid.
Nestas discussões, a existência da fronteira também importava, e os
interlocutores portugueses aludiam constantemente ao estatuto particular dos
fronterizos . Estariam mais próximos dos vizinhos do outro lado do que dos
seus Estados? Ou, pela posição geográfica e experiência histórica, tenderiam
a ser mais patrióticos? Os espanhóis aventavam que as fronteiras eram
«muros artificiais» que exprimiam os interesses dos Estados, não dos
habitantes locais. No entanto, quando alguns leitores recordavam aos
compatriotas que « los pueblos ibéricos hemos estado unidos más tiempo de
lo que hemos estado separados », outros afirmavam que Espanha e Portugal
eram diferentes e que, o que a história separara, os interesses políticos e
económicos jamais poderiam unir. O fantasma de Alcanizes também ergueu a
cabeça. De acordo com alguns, « el país más antíguo de Europa… es
Portugal , que se mantiene sus fronteras desde hace siglos» . Quando a
«Espanha» fora criada, somente no século xviii (uma provável referência aos
decretos de Nueva Planta que, após a Guerra da Sucessão Espanhola,
aboliram os privilégios políticos locais e unificaram o direito público de
Espanha, e que os actuais nacionalistas catalães identificam com o momento
em que a «Espanha» lhes foi imposta), Portugal já existia havia seiscentos
anos. Uma união entre os dois países poderia ser tentada, mas, defendiam, a
história já ensinara que nunca iria durar.
Conclusão
Na Península Ibérica e nas Américas as divisões territoriais foram sendo
criadas através de processos complexos que envolveram uma multiplicidade
de agentes e uma diversidade de interesses. Indivíduos, comunidades e
grupos procuraram definir os espaços onde podiam desenvolver certas
actividades com a exclusão – e a inclusão – ocasional de outros. Inventaram e
reinventaram títulos e direitos de acordo com as suas necessidades e
capacidades, e com as necessidades e capacidades dos seus vizinhos. As suas
acções guiaram-se pelo entendimento que tinham do que estava certo, do que
era justo, do que era possível e do que era eficaz. Com reacções espontâneas
ou com planos cuidados, embrenharam-se em diálogos a múltiplas vozes
acerca do que faziam, de como o faziam e do que diziam. As categorias que
estruturaram a afirmação de direitos ao território procederiam de teorias
jurídicas eruditas, mas representavam o modo como as coisas eram ou
deveriam ser. As histórias ouvidas e as lealdades ou as deslealdades
imaginadas por todos os intervenientes, enquanto membros de famílias,
grupos e comunidades, desempenhavam também um importante papel.
Foram processos diários, nascidos tanto da necessidade de saber onde pastar
e circular livremente, quanto de apurar que grupos e que territórios indígenas
pertenciam a quem, que acabaram por consolidar direitos e definir
comunidades. Suscitaram, igualmente, a criação de fronteiras, a partir daí
apresentadas como antigas e naturais ou políticas e artificiais. Por vezes os
monarcas participavam nestas discussões. Mesmo ausentes, a sua presença
pairava sobre os homens da época, que apelavam aos seus tribunais ou
requeriam a intervenção dos seus embaixadores. Os reis eram também
implicitamente envolvidos quando os actores se identificavam como seus
vassalos e nessa qualidade reivindicavam determinados direitos. Apesar das
omissões dos tratados e da ineficácia das negociações entre cortes, a imagem
régia, senão mesmo a longa mão do rei, estava quase sempre presente nestes
conflitos.
Estamos perante histórias bem mais caóticas e individualiza- das do que as
narrativas habituais acerca da formação de Estados, do desenvolvimento de
fronteiras e da afirmação nacional nos permitem perceber.
Na Ibéria, as disputas mantiveram-se durante centenas de anos, o que
permitia uma considerável alteração dos intervenientes, das reivindicações e
dos objectos em contenda. A história tinha aí um papel importante. Com
frequência, os coevos aludiam a um passado remoto e a direitos antigos que
justificariam, em teoria, as pretensões que apresentavam. Embora incapazes
de ligar o presente ao passado ou de provar que determinadas lembranças
eram legítimas, a memória e o esquecimento eram, não obstante, importantes,
não para garantir a permanência, mas como meio de possibilitar a mudança.
Nas Américas, os diferendos eram tendencialmente mais curtos do que na
Península Ibérica, e a imemorialidade que invocavam muito mais próxima no
tempo – na verdade, podia ter acontecido umas décadas antes –, mas o
território cobiçado era muito maior e muito mais promissor. Enquanto os
monarcas esperavam que as quezílias na Europa morressem por si, ou agiam
nelas, não como partes interessadas, mas como juízes a adjudicar direitos, nas
Américas tomavam como suas as queixas locais. Haveria uma percepção de
que as discussões na Europa eram de pouca consequência, ao contrário das do
Novo Mundo. Assim, se na Ibéria as cortes pareciam impacientar-se com
conflitos locais em torno de terras consideradas pouco interessantes, em que
pouco estava em causa, nas disputas americanas envolviam-se activamente.
Residirá aqui a explicação para o principal protagonismo dos municípios na
Europa, e para a actuação de indivíduos em nome do rei ou do país, nas
Américas. O achatamento e a simplificação dos múltiplos níveis de jurisdição
da Ibéria num conceito mais moderno de sujeição e a maior participação régia
nas colónias gerou a tendência – por isso mais pronunciada nas Américas do
que na Europa – para retratar os diferendos territoriais como um desafio de
«espanhóis» contra «portugueses». Com efeito, na América, se ignorarmos a
omnipresença de religiosos (normalmente de origem estrangeira), e a
existência de uma população nativa contra a qual ambos os grupos se
definiam, os conflitos pareciam muitas vezes mais «nacionais». Na maioria
envolveriam naturales (membros da comunidade-reino) ou vassalos, e não
vecinos (membros da comunidade-município).[673] No entanto, no processo
de discussão de direitos, a categoria de espanhol e de português muitas vezes
metamorfoseava-se. Não só os indivíduos eram coagidos a ser classificados
num ou noutro grupo – um processo muito mais complicado do que os
conceitos contemporâneos nos permitem imaginar –, não só os religiosos
estrangeiros foram «nacionalizados», como, para a expansão acontecer, a
espanidade e a portugalidade tiveram de ser redefinidas, de modo a
incorporar os nativos. Nas Américas, pacificados e catalogados como
membros da commonwealth espanhola ou portuguesa, ou completamente
eliminados, os nativos eram a autêntica terra nullius , o verdadeiro objecto
que deveria ser controlado. Contudo e paradoxalmente, a arrumação dos
povos indígenas numa estrutura europeia, em vez de os defender, acelerou a
sua expropriação e destituição. No final, eram retratados como indivíduos
indolentes, que por justiça e razão não deveriam ter qualquer direito à terra
dos antepassados. Esta narrativa, actualmente identificada com o
colonialismo e dotada de influência decisiva nos desenvolvimentos do Novo
Mundo, encontrou eco na Península Ibérica. Os homens da época acusaram
os seus compatriotas raianos de selvajaria, e acabaram por concluir que
também eles não tinham qualquer direito à terra, já que o uso comum das
terras e a pastorícia não conduziam ao progresso.
De ambos os lados do oceano, os entendimentos e desentendimentos locais
desempenharam um grande papel na determinação da extensão dos Estados.
As tentativas dos reis para instituir acordos bilaterais que enquadrassem o
debate (ou terminassem com ele) foram mais frequentes nas Américas do que
na Europa. Todavia, a maior parte deles também fracassou no Novo Mundo.
Os tratados eram negociados à distância e consistiam em abstracções.
Exigiam interpretação e a interpretação exigia consentimento. E este
raramente aparecia. A posse era igualmente omnipresente nos dois lados do
Atlântico. Quando a constituíam como elemento base para o título, os
indivíduos, as comunidades e as autoridades eram forçados a discutir os seus
direitos na procura de pasto, na recolecção ou no estabelecimento de
povoados. A posse exigia que defendessem aquilo que acreditavam ser seu ou
que queriam tornar seu, principalmente através do protesto, mesmo violento,
contra as actividades dos rivais. Estas discussões contínuas eram mais
comuns do que a guerra, e a paz era mais perigosa do que um confronto
bélico; tanto de um ponto de vista prático como legal, a lenta penetração que
as relações amistosas possibilitavam era mais substancial e mais permanente
do que qualquer avanço alcançado num confronto militar. No entanto,
enquanto na Europa todos os interlocutores fingiam aderir ao status quo
com a defesa do que já era, alegadamente, seu (mesmo quando não era), nas
Américas a posse era também invocada como meio de aquisição de novos
territórios.
Em ambas as margens do oceano, as «pessoas simples» envolvidas nestes
debates eram bem versadas na linguagem dos direitos territoriais e da
jurisdição. Esta familiaridade com o que eram, na realidade, doutrinas
jurídicas complexas afectava o seu comportamento e dava-lhe significado. A
influência do direito na forma como os conflitos se desenvolviam era enorme,
porque os princípios jurídicos básicos (acção e reacção, consentimento e
protesto, a necessidade de interpretar não apenas o que era feito, mas a
intenção com que era feito, além da obrigação de classificar os actores como
membros de comunidades específicas) eram bem conhecidos e aceites por
todos, a ponto de não necessitar de justificação ou prova. Como se
formassem parte do pacto social ou fossem «uma economia de convenções»,
eram ideias que incluíam ferramentas culturais utilizáveis pelos diversos
actores na prossecução dos seus objectivos e na interpretação do que os
adversários estariam a fazer, mesmo quando discutiam infindavelmente as
implicações e a implementação desses princípios.[674] Como o direito era
muito importante, todos os envolvidos em debates territoriais produziam e
reproduziam provas a fim de legitimar o seu comportamento. No entanto, os
documentos que nos foram deixados registam principalmente reivindicações,
e não títulos. As doutrinas jurídicas explicariam, até justificariam, os
acontecimentos, mas a própria lei era incapaz de resolver as diferenças. Ou
seja, a invocação constante de direitos enquadrava a discussão, mas não a
solucionava. E a análise histórica também não conseguiu agir como antídoto
para o caos.
Não havia diferenças substanciais entre o entendimento espanhol e o
português destas questões. Ambos se referiam às mesmas doutrinas de Ius
Commune e jamais foi mencionada uma distinção entre as duas tradições,
entre outros motivos porque todos viam o seu sistema jurídico como
universalmente verdadeiro e obrigatório[675]. Todavia, existia uma
especificidade portuguesa, mais pronunciada na Europa, que era a abundância
de tombos , ou seja, de descrições (também compreendidas como listas ou
enumerações) do território. Durante o período moderno, e muito
especialmente no século xvi e com renovado vigor no final do século xviii , os
monarcas e as diversas instituições portuguesas enviavam delegados para
todos os cantos do reino para compilar e fixar no papel aquilo de que eram
proprietários.[676] O interesse em enumerar os bens régios resultou na
produção de centenas de tombos, e explica como os arquivos reais
portugueses ficaram conhecidos como Torre do Tombo. Ao listar
propriedades, bens e vassalos, os delegados régios visitavam diferentes
comunidades e acabavam por demarcar o seu território e, como efeito
secundário, a fronteira com Espanha. O mesmo acontecia a nível local. Os
municípios, obedecendo a ordens do soberano, passaram a preparar listas das
suas propriedades e das suas jurisdições.[677] O esforço não tinha em vista as
relações bilaterais com a potência vizinha, mas nos séculos xvii , xviii e xix os
tombos ajudaram as comunidades e a coroa portuguesas a lutar na Europa
pelas suas pretensões, de outra forma indocumentadas. Estas diferentes
autoridades apresentavam os tombos como uma reflexão autêntica e fiável
do passado, e por isso prova inquestionável dos seus títulos. No entanto,
apesar do importante e reiterado uso político, os juristas portugueses
apontavam a fragilidade jurídica dos tombos . Explicavam que em
circunstâncias normais eram produzidos especialmente onde existiam, ou
eram esperados, conflitos, não onde reinava o consenso e a paz. Afirmavam
que registavam informações locais sobre a situação jurídica, de acordo com a
parte interessada. Eram listas que continham «uma lembrança do que se fez,
com o fim de ficar constando autenticamente para o futuro».[678] Como
guardiães de certas memórias, não havia qualquer razão para confiar nos
tombos mais do que nos conhecimentos originais que aí eram registados.
Afinal, se um estivesse incorrecto ou falso, o outro também estaria. Dito de
outro modo, em vez de provar títulos e direitos, os tombos só testemunhavam
que as reivindicações feitas no momento já tinham sido invocadas no
passado.
Mas, independentemente do valor ou do modo de utilização dos tombos, os
arquivos sugerem que na época, de ambos os lados do Atlântico, se afirmava
que a terra cobiçada, desde que pouco povoada ou usada, era, por essa razão,
passível de ser tomada. Para a maioria dos coevos, uma fronteira «interna» de
colonização – que desejavam eliminar – coincidia com a chamada fronteira
exterior que os separava de comunidades estrangeiras, já que era seu desejo
ocupar os arredores «vazios» que provocavam o conflito. Como o que estava
em causa nas Américas era maior e o mar de terra (teoricamente) vazia
também mais vasto, a concorrência entre actores era aí muito mais evidente,
assim como a pressa em ocupar e em controlar povos e territórios. Mas, à
semelhança do que se passava na Península Ibérica, em vez de uma
genealogia clara que distinguia quem chegara primeiro, na maior parte dos
casos a presença de um encorajava a presença do outro; as incursões
ocorriam frequentemente em simultâneo, ou quase. E se estas dinâmicas
ocupacionais enquadravam o que acontecia no território, também constituíam
e consolidavam as partes adversárias. Não só exigiam a identificação dos
espanhóis e a sua distinção dos portugueses (uma tarefa particularmente
árdua durante a união das coroas e no seu rescaldo), como classificavam os
indivíduos como membros de comunidades municipais e como vassalos de
determinada coroa. Distinguiam que comunidades dependiam de quem e a
que jurisdição pertenciam. Nas Américas, estas forças criaram importantes
processos de etnogénese entre os nativos americanos, e na Europa originaram
um grupo híbrido de camponeses que nos séculos xviii e xix seria classificado
como incluindo um protótipo típico, identificado (e discriminado) devido à
sua condição de fronterizo .
A acumulação de intervenientes, interesses, actividades e jus- tificações
resultou num sistema extremamente dinâmico e aberto, que envolvia
indivíduos e grupos que não representavam necessariamente um estado, mas
que, mesmo assim, acabaram por construí-lo e defini-lo. Na qualidade de
agricultores, juízes, povoadores, colonos, mercadores, religiosos, militares,
cientistas ou indígenas, uma grande variedade de contemporâneos viveu
profundamente envolvida nestes conflitos, que afectavam o seu quotidiano e
definiam o seu território. Para a maioria, conhecer o seu espaço legítimo não
era uma questão política ou diplomática. Era uma informação necessária para
definir o que podiam, ou não, fazer. A fronteira resultante de tudo isto, longe
de ser mecânica, artificial ou imposta de cima ou de baixo, era um organismo
vivo.[679] Podia unir indivíduos e comunidades de um lado ao outro, ou do
mesmo lado, e podia levá-los à discórdia. Mas, acima de tudo, mudava
constantemente, na medida exacta em que as actividades e as aspirações das
partes também se alteravam. A fronteira na Ibéria, por isso, não seria a mais
velha da Europa, como alguns terão afirmado, mas a fronteira americana
também não era tão nova como outros defendiam.
A reconstrução ibérica: as histórias de Espanha e de
Portugal
A história espanhola e a história portuguesa são muitas vezes escritas
ignorando-se, ou opondo-se, uma à outra.[680][681] O pressuposto geral é que
apesar das origens comuns, depois da criação de Portugal, na Baixa Idade
Média, os dois países tomaram caminhos diferentes, autorizando-nos, e talvez
até forçando-nos, a tratá-los de forma separada. O período da união (1580-
1640) é representado como um momento excepcional, acarinhado por uns e
abominado por outros. Para a maioria dos portugueses, 1640 é um momento
crucial porque afirma a separação dos dois países como natural e necessária.
E essa percepção é sublinhada com a adopção da ideia de que as fronteiras
entre Espanha e Portugal são «as mais antigas da Europa», rejeitando-se
qualquer sugestão de que tenha havido uma trajectória ibérica importante
experimentada em conjunto.[682] Para a maioria dos espanhóis, o hábito de
ignorar Portugal ecoa preconceitos profundamente enraizados que vêm do
período moderno e foram amadurecidos no contemporâneo. Sugerem que
embora Portugal seja um vizinho com o qual Espanha partilhe um passado, é,
ainda assim, irrelevante para explicar como Espanha emergiu, se consolidou e
se expandiu.[683] Os académicos estrangeiros que trabalham sobre estes países
tendencialmente imitam estas opiniões. Identificam o hispanismo
principalmente com Espanha e a América espanhola, excluindo Portugal, e
quando se designam iberistas, como alguns dos colegas que trabalham sobre
a Península Ibérica, fazem-no em especial para desmontar a existência
histórica de Espanha, não para a estudar ao lado de
Portugal.[684]
Contudo, desde o final dos anos 60 e mais comummente a partir das décadas
de 80 e 90, alguns historiadores, mais frequentemente em Portugal do que em
Espanha, começaram a questionar estas metanarrativas. Desfizeram
gradualmente o retrato anterior e afirmaram que Espanha e Portugal se
consolidaram lado a lado, sempre fortemente ligados entre si. Realçaram
simetrias esquecidas de um passado comum antigo e medieval (a conquista
romana, a invasão muçulmana, a Reconquista, e a lenta formação dos reinos
cristãos), e relembraram gritantes semelhanças depois da separação, na época
da expansão, na formação do estado moderno, nas invasões napoleónicas, nas
revoluções liberais e nas ditaduras e democratizações do século xx . Viraram
ao contrário a narrativa que apresentava a união das coroas como uma
ocupação estrangeira e a sublevação de 1640 como uma libertação nacional.
Concluíram que muitos portugueses apoiaram a união e que a independência
de Portugal em meados do século xvii resultou da rebelião de um grupo de
nobres que, preocupado com o seu bem-estar, conseguiu recrutar, obter ou
forçar a colaboração de outros.[685]
A aceitação da interligação das histórias espanhola e portuguesa tem sido um
processo lento. Alguns académicos começaram por tentar uma história
comparativa; apenas numa segunda fase se aventuraram a escrever uma
história integrada que apresentava ambos os países como protagonistas dos
mesmos acontecimentos e desenvolvimentos. Esta leitura histórica, ainda que
influente entre os académicos que estudaram a união das coroas e por isso se
encontram dispostos a considerar a Ibéria como a unidade de análise, é ainda
extremamente marginal entre os que se debruçam sobre outros períodos,
talvez com excepção de alguns medievalistas e dos estudos sobre minorias
islâmicas e judaicas.[686] Não obstante, um estudo conjunto de fontes
espanholas e portuguesas torna evidente que mesmo no final do século xvii e
nos séculos xviii , xix e xx o desenvolvimento das duas potências foi, até certo
ponto, interdependente. À medida que cruzei a fronteira entre arquivos
espanhóis e portugueses e arquivos hispano-americanos e luso-americanos,
encontrei as alegações, visões, e preocupações que identificara do outro lado.
Os conflitos que estudei sugerem que os indivíduos, as comunidades e os
reinos podiam ser violentamente opostos em certas questões, mas que todos
as discutiam, referindo-se ao que acreditavam ser um pensamento comum
acerca da justiça, dos direitos, da ordem e da desordem. A interpretação do
seu significado dependia de quem o fazia, e de onde se encontrava. Mas não
dependia necessariamente da sua identidade enquanto espanhol e português.
Em vez de chamar a atenção para as diferenças, todos os interlocutores aqui
estudados assumiam que pertenciam a uma única comunidade, em que as
normas, os costumes, e os entendimentos eram partilhados. Recordavam um
passado em que estavam unidos, até misturados, e tinham consciência da
natureza acidental da separação. Eram convicções ligadas a uma memória
histórica persistente em certas comunidades ou em certos grupos; seriam
motivadas pela crença de que a Cristandade era uma fonte normativa
importante, aceite por ambos; pela dependência dos dois de um sistema
jurídico inspirado no direito romano; ou mesmo pela noção de que teriam
partilhado uma consuetudo hispaniae anterior à sua separação. Qualquer
que fosse a razão do sentimento de algo comum a uni-los, os registos que
analisei nunca indiciaram que a divisão entre espanhóis e portugueses fosse
necessariamente significativa.[687] Se, em determinadas ocasiões, a separação
em reinos era importante, não era por cada um ter a sua história, a sua
trajectória de independência, uma cultura separada, uma existência distinta,
ou um conjunto de normas diferenciadas, mas por os interesses do seu rei, ou
dos seus habitantes, serem diferentes, mesmo opostos, aos do(s) outro(s).
Estas divisões existiam igualmente no seio de ambos os países; nalgumas
situações adquiriram proeminência, noutras foram completamente ignoradas.
Havia, claro está, variações entre as maneiras como os membros de ambas as
comunidades levavam à prática a herança comum. Como mencionámos no
capítulo 2, enquanto os portugueses delineavam cuidadosamente a guerra, os
espanhóis ocupavam-se a planear a paz. Porém, tanto quanto posso dizer, os
habitantes dos dois países exercitavam ambos os métodos de modo
semelhante e para fins semelhantes. No Portugal peninsular produzia-se
muito mais documentação relacionada com a terra do que em Espanha. No
entanto, os tombos registavam comportamentos que também eram
significativos em Espanha.
As histórias que encontrei nos arquivos indiciam igualmente que durante os
períodos medieval e moderno nem Espanha nem Portugal eram entidades
predefinidas. Não só se uniram e separaram, como as perspectivas de unidade
e de separação estavam constantemente na recordação e no horizonte dos
seus habitantes (e ainda hoje isto será verdade). O ponto em que cada uma
começava e acabava, e quem eram os nativos respectivos, era outra questão
muito debatida, com indivíduos, comunidades e territórios a mudar de mãos e
as identidades e as alianças extremamente fluidas. Em vez de pensar nestes
dois países como objectos já existentes que entravam em conflito um com o
outro, lentamente comecei a vê-los como entidades em processo de
construção e influenciadas, entre outras coisas, pela relação dinâmica que as
ligava. Não haveria forma, pensava eu, de reconstruir a Ibéria como ela
costumava ser? De perguntar como uma fronteira entre Espanha e Portugal
fora sendo esculpida e justificada ao longo do tempo, em vez de assumir que
era natural ou inevitável?
O estudo de uma Ibéria comum, em vez da história de uma Espanha e de um
Portugal separados, restauraria uma narrativa que no período moderno, antes
do triunfo do Estado-nação, os coevos adoptaram como sua. Durante a união
das coroas, e mesmo no seu rescaldo, muitos contemporâneos acreditavam na
existência de uma Hispania constituída por uma tripla aliança entre
Portugal, Aragão e Castela. Defendiam que os espanhóis e os portugueses
partilhavam uma cultura e, até certo ponto, uma língua, uma geografia e uma
história e acalentavam constantemente, ou temiam, planos para que se
reunissem. Outros sentiam o contrário e disputavam não tanto a união, mas a
preeminência entre os reinos, perguntando-se quem deveria preceder quem,
ou deter mais privilégios. Após a separação, Espanha e Portugal, e os
espanhóis e os portugueses, continuaram a estar estreitamente associados.[688]
As visões de uma Espanha unida persistiram, assim como a possibilidade de
os espanhóis se tornarem portugueses ou os portugueses espanhóis.[689]
Continuou a indiferença pela identidade dos agentes, já que os governadores
locais podiam usar os [690]serviços e a ajuda dos portugueses em Espanha, e
dos espanhóis em Portugal.[691] Os residentes de ambas as potências buscavam
inspiração uns nos outros e frequentemente perguntavam-se porque seriam os
vizinhos bem-sucedidos onde eles falhavam.[692] Não é, por isso, muito
surpreendente que na segunda metade do século xviii um autor anónimo
pudesse concluir que «os portugueses são genericamente entendidos como
espanhóis porque são compatriotas da mesma península, religião e costumes
e por causa disso… são todos reputados e tidos como sendo da mesma nação,
sem qualquer diferença, especialmente se comparados com outras nações,
que são todas como muito diferentes e absolutamente diversas».[693]
Consequentemente, é possível defender que o maior desafio enfrentado pela
dinastia de Bragança, chegada ao poder em 1640, fosse a legitimação da
ruptura com Espanha. Ainda que o seu êxito tenha sido, de certa forma,
espectacular, em vez de afirmarmos que era absolutamente natural, talvez
fosse altura de perguntarmos – como alguns historiadores começaram já a
fazer – de que modo teve lugar este processo de separação, e por que razão,
quando, e até que ponto foi bem-sucedido.[694]
A reconstrução de espaços modernos: a Europa e as
Américas
Se as histórias espanhola e portuguesa são frequentemente contadas em
separado, as histórias da Europa e das Américas também o são. Por hábito
atribuídas e localizadas em campos académicos distintos, até recentemente a
maior parte dos historiadores da Europa tendia a ignorar a experiência
colonial da época moderna ou a tratá-la como marginal e, por isso,
inconsequente para a história europeia. Por seu lado, os historiadores
coloniais pagavam tributo à história europeia, que consideravam antecedente
necessário para explicar o império, mas limitavam o exame a assuntos
específicos ou a períodos de importância particular. Apenas um punhado
deles se mantinha a par da mais actual historiografia da «metrópole» e,
desses, nem todos consideravam seriamente a possibilidade de os europeus
terem sofrido processos de mudança marcantes.[695] Comparavam-se assim
práticas medievais europeias com práticas modernas americanas. Devido a
este contraste desequilibrado, muitos chegavam à conclusão de que o Velho e
o Novo Mundo eram radicalmente diferentes. Também aqui, nas últimas três
ou quatro décadas alguns historiadores sugerem que os dois mundos estavam
ligados por um Atlântico com uma história própria, que uma nova
historiografia imperial tem procurado descrever. Todavia, os proponentes da
história atlântica muitas vezes entenderam a sua tarefa como um exercício em
história comparativa, que contrastava as colónias com a sua metrópole.[696]
Não conseguiram escrever uma história integrada em que ambos os lados do
oceano fossem participantes num mundo interligado.[697]
Que aconteceria se tentássemos escrever tal história? Se reconstruíssemos as
entidades policêntricas existentes no passado imaginando-as como redes, sem
um centro claro ou periferias evidentes, mas, em vez disso, muitos pontos
focais unidos uns aos outros de diferentes maneiras e graus?[698] Se
seguíssemos por essa via, descobriríamos que o Velho e o Novo Mundo
podiam ser comparados e contrastados como tantas vezes o são, mas que
poderiam também servir para esclarecer o que ocasionalmente tomamos
(apressadamente) como certo.[699] Os efeitos da mudança ao longo do tempo e
os usos da memória, bem como a invocação de um passado muito antigo,
serão exemplos do que a Europa nos poderia ensinar acerca do Novo Mundo;
a brevidade da memória, o curto tempo da ocupação, e a dimensão do
conflito permitir- -nos-iam compreender por que razão os debates americanos
eram especiais. Juntos, ambos os lados do oceano afirmariam a precariedade
da imemorialidade e a medida em que o status quo era, ao mesmo tempo,
invocado e inventado. O estatuto dos nativos em ambas as margens também
poderá ajudar-nos a compreender como os contemporâneos reagiam à
presença de elementos que consideravam internos, mas estrangeiros. Por
outras palavras, ao observar a América a partir da Europa, e a Europa a partir
da América, obteríamos uma melhor perspectiva de ambas.
Se seguíssemos este raciocínio, também aqui estaríamos a adoptar visões da
época como nossas. Durante o período moderno as tensões num dos lados do
oceano produziam tensões no outro.[700] A suspeita de que os espanhóis
cobiçavam o Portugal peninsular, ou de que não se podia confiar nos
portugueses, influenciava o modo como eram encaradas e compreendidas as
respectivas actividades ultramarinas. Os indivíduos circulavam entre um
reino e o outro e vários tornaram-se especialistas de ambos. O Tratado de
Utreque (1715) unia ambos os lados do Atlântico ordenando, por exemplo, à
Espanha que devolvesse a Portugal, por um lado, Verdoejo e Noudar (na
Ibéria) e, por outro, a Colónia do Sacramento (no Novo Mundo).[701] A
necessidade de defender a sua terra ocasionalmente conduzia os indivíduos
na Ibéria e nas Américas a procurar uma solução global que resolvesse todas
as disputas.[702] Alguns adoptaram uma visão transatlântica, e não-europeia ou
americana, afirmando que este era um mundo unificado, em que – nos termos
usados por António Manuel Hespanha – um Antigo Regime também existia
nos trópicos.[703]
Sul e Norte: escrever histórias imperiais numa
idade pré-nacional
Em anos recentes, vários autores chamaram a nossa atenção para a
necessidade de transformar o estudo dos impérios da era moderna também
numa história global, talvez até conectada.[704] Não obstante, trilhando
caminhos mais conhecidos, muitos historiadores coloniais continuam a
concentrar-se na relação com uma metrópole-terra-mãe ou a comparar um
Atlântico com o outro. Justapõem um império britânico a um Atlântico
britânico, um império francês a um Atlântico francês, e assim por diante para
os casos holandês, espanhol ou português.[705] Afirmam implicitamente a
existência, nesse período, de esferas nacionais, direito nacional e cultura
nacional, refutando, ao mesmo tempo, a presença deles na Europa. Alguns
sublinham até que as identidades nacionais europeias foram, em grande
medida, formadas durante a expansão europeia, e efeito dela. A
transformação de ingleses, escoceses e irlandeses em britânicos, ou a
unificação dos originários de diferentes reinos da Espanha em espanhóis
aconteceria primeiro nas colónias, onde as identidades políticas nacionais (ou
protonacionais) floresceram e ganharam concretização.[706]
Deste posicionamento resultam muitas histórias imperiais escritas de costas
voltadas umas para as outras. Realizam-se importantes esforços de
comparação, mas ainda não é comum analisar os vários domínios coloniais
modernos em conjunto, ligando não apenas as suas histórias (como nas
comparações) mas as suas historiografias, questionando como a sua
segmentação por especialistas nacionais influenciou o modo como hoje
reconstruímos o passado.[707] Que aconteceria se considerássemos que os
europeus modernos partilhavam muito mais do que aquilo que lhes
reconhecemos, e que os seus Estados eram muito mais polivalentes e
compostos do que as narrativas nacionais dos séculos xix e xx nos deixam
conceber?[708] Que ocorreria se salientássemos a importância da sua herança
intelectual, religiosa e cultural comum (não fazendo tábua rasa das
diferenças) que lhes permitia, sem falar necessariamente a mesma língua,
discutir certamente as mesmas coisas?[709] E se, ao estudarmos a Espanha e
Portugal, estivéssemos conscientes do trabalho de investigação dos
académicos da América inglesa ou, inversamente, utilizássemos a
historiografia espanhola e a portuguesa na descrição de desenvolvimentos
noutros locais?
Quando escrevia este livro tive sempre presente a habitual comparação entre
o modelo de império espanhol e o modelo de império britânico. Na sua forma
mais estereotipada e caricatural, a comparação sustenta que o colonialismo
britânico foi uma aventura pacífica em que agricultores tomaram posse de
terra vazia e trataram os índios como nações estrangeiras, e em que o
comércio foi a preocupação central.[710] Esta abordagem pretende que as
práticas espanholas, pelo contrário, integraram violentamente os índios na
comunidade, ao mesmo tempo que os marginalizaram e desapossaram da sua
religião e dos frutos do seu trabalho. As diferenças, dizem-nos, não tinham
origem nas condições encontradas por cada potência no terreno, mas
dependiam de costumes e práticas locais (nacionais?) que, na Europa, se
sobrepunham às semelhanças. Embora ao longo dos anos tenha sido proposta
uma versão muito mais matizada e interessante desta comparação, de acordo
com a maioria dos historiadores, a Espanha e a Inglaterra, e os seus impérios,
eram substancialmente diferentes.[711] Seria esta distância, perguntei-me, tão
vasta quanto os historiadores afirmavam, ou dever-se-ia igualmente ao
desenvolvimento de historiografias separadas que colocaram diferentes
questões e procuraram respostas de maneiras diversas? O que aconteceria,
indaguei, se nos distanciássemos do modo como os homens da época
moderna acusavam e faziam troça uns dos outros, e se evitássemos a
dependência excessiva das tradições historiográficas nacionais? Poderíamos
dissipar algumas destas distinções?[712]
Para responder a algumas destas questões, neste trabalho mantive uma
conversa silenciosa com a bibliografia relativa à América do Norte inglesa (e,
em menor grau, francesa). Em vez de comparar o Norte com o Sul, como fiz
com a Espanha e Portugal, a Europa e as Américas, tentei colocar às minhas
fontes questões que tiveram origem na minha familiaridade com essa outra
bibliografia, esperando que me fornecesse importantes pistas. A adopção de
uma tradição historiográfica estrangeira na investigação levou-me a concluir
que se puséssemos as mesmas questões e utilizássemos as mesmas fontes, na
maior parte das vezes acabaríamos por verificar que o que os espanhóis e os
portugueses pensavam e faziam não era assim tão radicalmente diferente do
que pensavam e faziam os seus rivais do Norte. A experiência espanhola,
mais precoce no tempo se considerarmos o seu ponto de partida, terá
estabelecido um precedente para o colonialismo, como muitos historiadores
acertadamente argumentaram, mas a historiografia da América inglesa e
francesa poder-nos-ia também ensinar a observar a América Latina de
maneira nova.
Aludamos a um exemplo: é facto conhecido que em 1690 John Locke
defendeu a ligação entre a propriedade e a actividade produtora.[713] Os que
cultivassem uma terra abandonada ou insuficientemente trabalhada,
misturando a sua mão-de-obra com o solo, criariam um novo objecto sobre o
qual adquiririam, por isso, direitos. Aplicando o raciocínio às colónias
americanas, John Locke concluía que, como os nativos não melhoravam a
terra, não tinham qualquer direito a ela, nem podiam proibir a sua ocupação e
uso por outros. Esta história é recordada por todos, mas muito menos
conhecido é o facto de quarenta anos antes, em 1648, Juan de Solórzano
Pereira, ao analisar os direitos da Espanha no Novo Mundo, sugerir que
dependiam da primazia espanhola na «procura, encontro e ocupação» do
território. Os índios habitá-lo-iam, mas os seus títulos, afirmava, tinham
expirado porque o «abandonaram, deixando-o por cultivar». Fazia parte do
direito natural e do direito das gentes, concluía, dar tal terra ao primeiro
verdadeiro ocupante, em recompensa pela sua «indústria», ou seja, pela sua
diligência ou capacidade para mais e melhores realizações.[714]
Invoco Locke e Solórzano juntos, não por estar interessada em quem chegou
primeiro ou em segundo lugar a estas conclusões, ou por me preocupar com a
originalidade da análise de Locke; o que quero sugerir é que ambos ligavam o
uso correcto aos direitos, ambos afirmavam que o conhecimento do território
e o trabalho eram um método para adquirir título, e que ambos assumiam que
a categorização de uso insuficiente ou impróprio poderia ser genericamente
aplicada a certas situações, como a dos nativos americanos, que os
estereotiparia como perdulários ou, pelo menos, candidatos desadequados à
transformação de «desertos» em jardins férteis.[715] Além disso, embora os
dois autores, profundamente envolvidos na legitimação da aventura colonial,
se preocupassem muito com o que aconteceria no ultramar, sabiam que as
questões que colocavam tinham origens e ramificações na Europa. Como os
seus outros contemporâneos, em vez de buscar títulos existentes ou afirmar a
validade de «direitos históricos», mostravam-se fundamentalmente
interessados no modo como estes poderiam ser modificados.
Este debate transatlântico, que envolveu muitos outros interlocutores
importantes e que atravessou toda a Europa (como vimos no capítulo 2), fez-
me ponderar que aquilo que hoje identificamos como britânico, espanhol ou
português (ou francês ou holandês, para nomear apenas dois exemplos
adicionais) poderá ter sido mais cosmopolita do que o que até aqui
imaginámos. A história jurídica e intelectual ligava diferentes partes da
Europa, tal como as suas «repúblicas das letras», mas é claro que os
intelectuais, juristas, administradores, povoadores, colonos, soldados e
mercadores estavam também empenhados em diálogos semelhantes.[716] Em
vez de ingleses essencialmente preocupados com a terra e espanhóis e
portugueses principalmente concentrados no controlo da mão-de-obra, os
indivíduos e as comunidades pertencentes às três potências relacionavam o
trabalho com a terra, sugerindo também que a sua competência para dominar
o Novo Mundo dependia tanto dos acordos que faziam entre si como da sua
relação com os povos indígenas. Esta relação foi gerida com uma alternância
entre a guerra e a paz conforme o tempo e o lugar, e com o controlo da
imagem dos nativos e da sua «perigosidade». Todavia, qualquer que fosse a
estratégia escolhida pelos europeus, o objectivo final era estender e legitimar
a sua presença.[717] E embora acabasse por resultar na morte e na destruição
do mundo indígena, estas preocupações garantiram que europeus e nativos se
redefiniram constantemente e que passaram por importantes processos de
mudança e de mutação durante todo o período colonial.[718]
Decorrente deste tipo de interrogações, ao escrever este livro estive
constantemente a perguntar-me se também em Espanha e em Portugal o
discurso de imperium e dominium teria coincidido com uma exigência de
desenvolvimento e progresso. Contra a habitual afirmação de que os tratados
com os nativos eram bastante raros, examinei e expliquei como operavam.[719]
A familiaridade com a bibliografia sobre a América inglesa também me levou
a ver mais claramente de que maneira os agentes europeus, preocupados com
o controlo da terra, ligavam a conversão e a assinatura de tratados a
reivindicações territoriais, e defendiam que a evangelização e as alianças não
só transformavam os povos indígenas em cristãos e súbditos como serviam
para a apropriação das suas terras.[720] A ligação explicava a luta renhida pelos
índios, que forneciam a desejada mão-de-obra e cuja sujeição justificava a
posse.[721]
Como noutras partes das Américas, os espanhóis e os portugueses passaram a
classificar os índios como povos sob o domínio de uma potência ou de outra,
ou pelo menos defenderam que eram neutrais ou independentes e, portanto,
«pertenciam» a ninguém. Nestas circunstâncias, a divisão dos índios em
pagãos ou cristãos, incivilizados ou domesticados, inimigos ou amigos,
tornou-se numa ferramenta justificadora e fundacional em relação aos nativos
e aos outros europeus.[722] Assim, embora os ingleses, os espanhóis e os
portugueses acusassem com frequência os índios de serem «inconstantes» e
pouco merecedores de confiança, também aventaram, em várias ocasiões, que
as combinações que estabeleciam com eles não tinham qualquer efeito formal
até os europeus as reconhecerem e formalizarem nos acordos bilaterais que
faziam entre si. E ainda que o senso comum nos levasse a acreditar que a
realização de alianças implicitamente reconhecia o direito nativo à terra, ou
mesmo a soberania, não era necessariamente este o caso. Presos à
fundamental dicotomia entre civilizados e bárbaros, e entre a ocupação
apropriada e desadequada da terra, britânicos, espanhóis e portugueses
coincidiam quando concluíam na inevitabilidade do domínio europeu, por os
europeus serem mais valorosos, mais bem governados e, provavelmente,
mais respeitadores do mandato divino, agora também integrante do direito
natural e do direito das gentes, para ocupar o que estava «vazio».[723]
A bibliografia acerca da América inglesa foi igualmente muito útil para
determinar o papel da diplomacia local de fronteira na América Latina
colonial. Percebi que os acordos que os povoadores adoptavam eram, em
teoria, soluções práticas e transitórias, mas muitas vezes convertiam-se em
acordos permanentes e obrigatórios, transformadores substanciais da
paisagem jurídica e ocasionalmente recebidos com descontentamento pelas
autoridades mais elevadas. Havia múltiplos agentes envolvidos nestas
dinâmicas, que dependiam de questões religiosas, económicas, políticas e
sociais. Todos os interlocutores pareciam aludir a um status quo , por todos
respeitado, mas de conteúdo raramente consensual. Ainda que estruturadas
por tratados, as conversações versavam essencialmente sobre a ocupação,
mergulhando os arguentes nas dinâmicas complicadas que descrevi.
Assim, embora seja verdade que os ingleses e os seus defensores acusassem
os espanhóis de abandonar a terra ou de trabalhá-la de maneira insuficiente,
retratando, em oposição, a sua colonização como uma actividade assente no
comércio e na produção, e não na violência e na conquista,[724] e embora os
espanhóis, em resposta, troçassem dos ingleses por fingirem que a sua parte
das Américas estava vazia e que os seus habitantes não tinham noções de
propriedade,[725] a discussão não reflectia necessariamente as convicções nem
as realidades respectivas. Em determinados momentos, o específico sistema
jurídico britânico terá separado os ingleses dos outros europeus, mas
actualmente sabemos que a common law estava profundamente enraizada
em tradições europeias, que o direito canónico também era importante nas
Ilhas Britânicas e que, em debates sobre o império, os britânicos apelavam ao
direito romano, que afirmavam reflectir um direito das gentes, ou mesmo um
direito natural.[726]
Desconstruindo fronteiras
Para além das historiografias da Espanha e de Portugal, da Europa e das
Américas, e da América inglesa, espanhola e portuguesa que me
acompanharam na escrita desta obra, contei com a bibliografia acerca da
formação de fronteiras. Há muito que essa literatura disponibiliza uma série
de categorias opostas para definir as fronteiras: lineares ou zonais, internas ou
externas, naturais ou artificiais, impostas pelo Estado com aquiescência ou
resistência locais. Todavia, nenhuma me parecia útil para analisar os casos
que estudei. Estes conflitos, que por vezes envolviam uma linha que não
podia ser transposta, na maior parte das ocasiões incluíam uma contestação
sobre áreas muito grandes, como – no caso americano – todo o interior de um
continente, escassamente dominado de ambos os lados por pequenas ilhas de
ocupação. Cada querela, local, data e interveniente tinham uma forma
própria. Algumas vezes o pomo da discórdia estava na identificação de rotas;
noutras, as disputas acompanhavam o paradeiro de grupos humanos (nativos)
à medida que se moviam no espaço. Os homens da época, em lugar de
inquirir pela localização ou a forma da fronteira, procuravam determinar qual
a parte do território que podiam utilizar, e de que modo o podiam fazer; a
posse mudava em consonância. A recolecção normalmente produzia um
padrão territorial diferente da pastagem, que por sua vez era distinto da
agricultura. Esse padrão mudava também se em causa estivesse uma aliança
com um grupo indígena, alguma actividade missionária, a ocupação por
colonos ou o estabelecimento de um forte militar.
Diante desta complexidade, passei a considerar o meu objecto de estudo não
uma fronteira ou um limite, mas um «território». Esperava que isso
descrevesse melhor o que interessava aos intervenientes do que os conceitos
ligados a divisões provavelmente inexistentes ou pouco importantes. A
distinção entre fronteiras «internas» e «externas» igualmente se me afigurou
problemática. Nos casos que analisei, a luta pela ocupação da terra e pelo
controlo dos seus habitantes (a chamada «fronteira interna») coincidiu e foi
simultânea com a fixação da fronteira em relação aos vizinhos (a denominada
«fronteira externa»). O inverso também era verdadeiro, porque a luta contra
os vizinhos motivava ou justificava a ocupação. Em vez de uma expansão
interna e depois externa (como descreveram os historiadores da Europa), ou
de um movimento oposto (como afirmaram os historiadores da América
Latina), os dois processos foram contemporâneos, porque, quaisquer que
fossem as pretensões dos interessados, nenhuma fronteira externa podia ser
reclamada de jure ou existir de facto sem um hinterland de ocupação, e
nenhuma ocupação podia ser pacificamente efectivada se os vizinhos não
concordassem com ela. Externo e interno também coincidiam de outras
formas. A expansão territorial exigia a classificação dos actores como
membros da comunidade ou como estrangeiros; a identificação de indivíduos
e grupos como internos e como externos, em vez de existir a priori , foi,
portanto, simultânea com a construção das distinções territoriais. Ou seja, ao
contrário de um processo de territorialização lenta das comunidades (como a
literatura descrevera), as comunidades e os territórios foram sendo
construídos contemporânea e interdependentemente.
A divisão entre fronteiras naturais e artificiais pareceu-me igualmente pouco
proveitosa. Por um lado, os historiadores já demonstraram que as fronteiras
naturais foram uma construção artificial feita por decisões arbitrárias, nunca
ordenadas ou prescritas pela própria natureza.[727] Por outro, os académicos
que insistiram em fronteiras «naturais» na Europa e «artificiais» nas colónias
idealizaram uma dicotomia entre divisões territoriais de emergência lenta e
indígena (na Europa) e de imposição rápida, unilateral e externa (nas
colónias).[728] Para a justificar, conceberam uma ilusão, pois nem a Europa
que descreviam nem as colónias que imaginavam alguma vez existiram. Na
Península Ibérica, a formação territorial deu-se com a intervenção de poderes
centrais e a imposição de normas; nas colónias deveu-se à agência de uma
multiplicidade de actores e de interesses locais. Por mais que as potências
coloniais pretendessem resolver estas questões com a assinatura de tratados,
esses documentos não explicavam ou determinavam necessariamente como
eram praticadas as disposições no terreno.[729] Afinal, a extensão e a forma
que os territórios adoptavam dependiam mais da interacção humana do que
de divisões estáveis e formais. A sua história ainda está à espera de ser
reescrita ou, pelo menos, recontada.[730]
Estes problemas interpretativos decorrem, em certa medida, do habitual
entendimento de que a formação de fronteiras é o culminar de uma série de
processos políticos, diplomáticos ou militares. Porém, como tentei
demonstrar, as disputas territoriais implicavam um grupo bem mais alargado
de actores e interesses, e envolviam considerações com dimensões
económicas, sociais, políticas, legais e religiosas. Eram afectadas por
mudanças constantes nas identidades das partes, nas alianças, nas terras que
cobiçavam e nas justificações que invocavam. A história da formação de
fronteiras, bem como a história diplomática, política e militar, deverá tornar-
se, também, numa história social e legal. Na fronteira entre a Espanha e
Portugal, na Ibéria e no ultramar, a política e a diplomacia (e muitas vezes a
guerra) não eram actividades obrigatoriamente sancionadas pelo Estado.
Comprometiam uma vasta gama de intervenientes que negociavam e
moldavam os contornos físicos daquilo a que chamavam seu.
Religar a história e o direito
O direito era muitíssimo importante em todos estes processos. A maior parte
das palavras da época que aqui usei não foram proferidas por juristas. Muitos
dos interlocutores seriam analfabetos, vivendo em pequenas aldeias, em
territórios que alguns dos seus contemporâneos apodavam de remotos e
perigosos. Com frequência, estes actores eram caracterizados como pouco
civilizados e acusados de comportamento espontâneo e irracional.
Não obstante, para quem estava familiarizado com a doutrina do direito
romano, o que diziam e faziam era surpreendentemente reconhecível.[731] É
pouco claro como terão encontrado e absorvido conceitos jurídicos tão
complexos e matizados. Alguns tê-los-ão estudado na universidade, mas a
maioria teria tido contacto com eles através da vivência na comunidade,
observando o comportamento de outros, escutando histórias acerca do que
estava certo e do que estava errado, do que poderia ser bem-sucedido e do
que estava condenado ao fracasso. Esses relatos vulgarizariam o que os
juristas afirmavam, mas acreditava-se que veiculassem um direito divino,
natural até, herdado de tempos antigos e comum à humanidade inteira.[732] As
vidas de todos os homens eram conduzidas de acordo com estas normas e as
suas iniciativas têm de ser compreendidas no contexto deste sistema
particular, em que os actos e as alegações possuíam significados específicos.
[733]

Se compreendermos estas regras, que estruturavam as interacções na era


moderna, perceberemos por que razão os actores faziam determinadas coisas
de determinadas maneiras, e por que motivo evitavam outras. Ajudar-nos-ão
a distinguir o que defendiam por obrigação jurídica do que expressavam
como opinião particular. Poderemos distinguir as reacções emocionais e
instintivas às invasões territoriais, das exigidas por uma doutrina que
afirmava que o silêncio era consentimento. E reconheceremos que ainda que
a memória se tenha desvanecido em certas ocasiões, a imemorialidade foi
constantemente invocada por ser uma poderosa ferramenta jurídica. Assim,
passaremos a ver certas acções, como a cobrança de impostos, como
pretensões à posse, e não necessariamente como provas dela, e os tombos
portugueses como pretensões escritas a direitos, e não como provas de título.
Desta perspectiva, a história da formação de Espanha e de Portugal na Europa
e nas Américas deixará de ser apenas um conto moral sobre quem estava
certo e quem estava errado – como foi, em geral, estudada – e passará a ser
uma oportunidade para compreender como os homens da época imaginavam
a sua relação com a terra e procuravam comunicá-la a outros.[734]
Se, por um lado, já é altura de levar o direito a sério, por outro também é
tempo de abandonar os constantes apelos a um alegado fosso entre a «lei» e a
«prática».[735] Baseiam-se numa concepção muito limitada do direito, que o
faz equivaler a legislação e a assumir que esta possa existir
independentemente de outras fontes jurídicas, sem necessitar de
interpretação. Ora, o direito em geral, e o direito da época moderna em
particular, era um assunto completamente diferente. Até ao século xviii a
legislação era uma fonte jurídica muito secundária, e derivava essencialmente
do dever régio de julgar conflitos, não da sua capacidade para dirigir ou
inovar.[736] Mais importantes do que as ordens reais eram os mandamentos de
Deus expressos no direito canónico e ensinados pelo clero. O direito
consuetudinário era igualmente vital, pois dependia de normas sociais
impregnadas, em grau surpreendente, do que os juristas medievais de direito
romano preconizavam. A prática judicial, a justiça e a equidade eram
princípios orientadores, não a legalidade. Se levarmos em consideração estes
factores, se compararmos as ordens dos reis com as estipulações da igreja e
as instruções da doutrina e dos costumes, espantar-nos-emos com o fervor
com que a maior parte dos homens da época tentava obedecer ao direito.
Faziam-no na Europa e nas Américas, porque as colónias nunca foram esse
espaço de libertação da lei e dos tratados outrora descrito por Carl Schmitt.
[737]
Como é óbvio, os coevos escolhiam a interpretação e preferiam a fonte
que melhor lhes servia. Contudo, o seu sistema legal permitia-o e, na
verdade, ainda hoje assim é. Apesar das nossas esperanças ou ilusões, o
direito raramente fornece respostas firmes. Orienta e estrutura debates e serve
para possibilitar a interacção humana, não para defini-la. Como um jogo de
futebol, providencia um campo, um árbitro, jogadores e regras para cumprir,
mas nenhum destes elementos garante o resultado da partida, ou quem
vencerá e quem perderá.
Desconstruindo os direitos históricos à terra
A lei era uma das vias pelas quais as pessoas imaginavam os seus direitos; a
outra era a história. Actualmente, quando discutem as fronteiras, muitas
comunidades referem os seus direitos históricos ao território.[738] Enumeram
determinados factos que alegadamente apontam para o direito ao título,
salientam a importância de uma ocupação terminada e defendem a
necessidade de a recuperar. Comparam o presente caótico com um passado
em que os direitos dos queixosos seriam evidentes e consensuais. No entanto,
os conflitos que estudei no Velho e no Novo Mundos demonstram que o
passado era tão polémico quanto o presente. Cada parte defenderia que os
seus direitos eram claros, mas nem a lei nem os adversários reconheciam
essas pretensões. Todos os actores se referiam sempre a um status quo , mas
todos se mostravam completamente incapazes de concordar em que consistia.
Até certa medida isto acontecia porque a lei permitia várias interpretações
legítimas, ainda que contraditórias. Por outro lado, a terra podia ser usada por
mais do que uma comunidade, mesmo que de maneiras diferentes, e a própria
pertença à comunidade estava em transição. Mas, essencialmente, as
alegações dos intervenientes demonstravam a constante mutação da própria
situação jurídica. Dependentes da ocupação, da posse e do uso, mais do que
de tratados ou de guerras, os direitos à terra eram fluidos e não- -fixos,
condicionais e não-absolutos. A recordação e o esquecimento davam cor a
estas experiências, e em diferentes momentos revelavam o que acontecera,
em diferentes matizes. Não eram só as circunstâncias que mudavam, eram
também o significado e o valor normativo diversos que a sociedade escolhia
dar-lhes.
Os historiadores da Europa têm descrito em grande detalhe como a
propriedade privada, por um lado, e a jurisdição territorial dos estados, por
outro, foram inventadas no século xvii , amadurecidas no século xviii e se
tornaram sacrossantas no século xix . Nesse processo, a propriedade e a
territorialidade foram redefinidas. Não contingentes nem dependentes do uso,
no século xix tornaram-se permanentes e, em vez de presas a uma série de
requisitos limitativos da utilização, incluindo considerações acerca do bem
comum, tornaram-se incondicionais.[739] Extremamente poderosos durante o
período moderno, os argumentos que sustentavam direitos com referência a
guerras justas, à conversão, à civilização ou mesmo ao desenvolvimento e ao
progresso desapareceram.
A dificuldade em ligar o presente ao passado era talvez mais notória na
América Latina, onde os novos estados nascidos no início do século xix
adoptaram o princípio de uti possidetis , pelo qual cada um conservaria o
território que era seu durante o período colonial.[740] Após o acordo, as novas
entidades políticas – que se reciclaram como herdeiras de um passado
colonial – esforçaram-se por defender as suas reivindicações territoriais com
referência ao que ocorrera no período moderno. Para justificar as missões
arquivísticas ao estrangeiro e a organização de arquivos locais e nacionais, as
suas elites partiam do pressuposto básico de que o passado era claro.[741] A
realidade, todavia, provou que estavam erradas.
Os diferendos que emergiram assim que tentaram esclarecer fronteiras
incluíam muitas das questões levantadas pelos arguentes da época moderna,
nomeadamente se se deveria dar preferência aos tratados e aos decretos
régios em detrimento da ocupação, e qual a forma da sua implementação e
posterior apuramento de resultados concretos. E cobriram outras questões
fundamentais, como a definição precisa das unidades coloniais existentes no
passado e o seu modo de reconstrução no presente, e quem lhes pertencia, e o
que fazer com territórios e povos completamente externos ao sistema
imperial.[742]
Se os direitos são títulos, a história é o estudo da mudança ao longo do
tempo. Se tornarmos os primeiros estáticos perante as constantes alterações
da história, necessariamente classificá-las-emos a todas como irrelevantes ou
inconsequentes. Aceitaremos assim, como historicamente válida, a dicotomia
teórica entre comunidades que eram fixas e originais, e cujas terras são
actual- mente detidas pelos herdeiros legítimos dos que primeiro as
ocuparam, e aquelas constituídas por membros imigrantes, que entraram em
territórios estrangeiros e os ocuparam pela violência. Embora tais distinções
sejam a resposta apropriada e há muito devida ao discurso modernizador que
no final dos séculos xvii , xviii e início do xix permitiram a reorganização dos
direitos em nome da civilização e dos «melhoramentos», confundem um
debate filosófico e ideológico com uma realidade histórica. Os direitos
históricos poderão integrar o que alguns chamaram justiça correctiva ou
compensatória, mas são, ao mesmo tempo, um oximoro. Desempenharão um
importante papel político, mas não podem fazer parte da história.
Em última instância, o que o estudo dos conflitos espanhóis e portugueses na
era moderna sugere é que nem a história nem o direito eram capazes de dar
respostas definitivas. A história, como é hoje praticada, será uma ocupação
humilde. Os economistas e os cientistas políticos desejam prever o futuro
(mesmo quando fracassam), os médicos propõem curá-lo (mesmo quando
não conseguem), e os antropólogos convidam-nos a compreender o «outro».
Tudo o que os historiadores fazem é defender que as coisas eram mais
complicadas do que aparentam. Desfazem as narrativas históricas e procuram
demonstrar como foram construídas, por quem, e com que propósito.
Testemunhas da constante instrumentalização do passado para desacreditar
ou apoiar certas reivindicações, esperam que o seu trabalho possa esclarecer
visões alternativas sobre o que aconteceu. Deixam para trás o estudo das
genealogias, que defende o presente como inevitável, e sugerem que houve
estradas que não foram percorridas, possibilidades que não foram exploradas.
A sua tarefa principal, hoje, não é explicar como aqui chegámos, mas aquilo
que perdemos durante a viagem.
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American Research Press, 1992.
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Nacional, 1967.
Zeller, Gaston. «Histoire d’une idée fausse». Revue de synthèse , 11-12
(1936): 115-131.
[1]
Lucien Febvre, «Frontières: Le mot et la notion», in Lucien Febvre, Pour
une histoire à part entière (Paris: SEVPEN, 1962), 11-24; Malcolm
Anderson, Frontiers: Territory and State Formation in the Modern World
(Cambridge: Polity Press, 1996); Daniel Nordman, Frontières de France: De
l’espace au territoire xvie-xixe siècle (Paris: Gallimard, 1998); Daniel Power e
Naomi Standen, Frontiers in Question: Eurasian Borderlands, 700-1700
(Nova Iorque: St. Martin’s Press, 1998); e Daniel-Erasmus Khan, «Territory
and boundaries», in The Oxford Handbook of the History of International
Law, orgs. Bardo Fassbender e Anne Peters (Oxford: Oxford University
Press, 2012), 225-249. Para o caso de Espanha e de Portugal, ver, por
exemplo, Amélia Aguiar Andrade, «A estratégia dionisina na fronteira
noroeste», Revista da Faculdade de Letras: História, série ii, 15(1) (1998):
163-176; e Leontina Ventura, «A fronteira luso-castelhana na Idade Média»,
Revista da Faculdade de Letras: História, série ii, 15(1) (1998): 25-52.
[2]
Peter Sahlins, Boundaries: The Making of France and Spain in the Pyrenees (Berkeley: University
of California Press, 1989), 164 e 276. Sahlins também aborda algumas destas questões nas páginas 63-
102. Justapõe limites estatais e propriedade privada na página 95. Acerca da territorialização das
comunidades locais, ver as páginas 156-157. De modo algo semelhante, o artigo de Iria Gonçalves,
«Entre a Peneda e o Barroso: Uma fronteira galaico-minhota em meados de Duzentos», Revista da
Faculdade de Letras: História , série ii , 15(1) (1998): 63-76, defende que a fronteira era ignorada
pelos habitantes locais desde que os monarcas não estivessem envolvidos numa guerra longa. Quando
os monarcas se confrontavam, os habitantes locais – ligados entre si por laços familiares, de amizade e
económicos – tornavam-se «nacionais» e lutavam uns contra os outros.
[3]
Robert Cornevin, «Les questions nationales en Afrique et les frontières nationales», Revue
française d’histoire d’Outre-Mer, 68(1-4) (1981): 251-262; e Alastair Lamb, «Studying the Frontiers of
the British Indian Empire», Journal of the Royal Central Asian Society, 53(3) (1966): 245-254.
[4] José María Cordero Torres, Fronteras hispánicas: Geografía y historia, diplomacia y
administración (Madrid: Instituto de Estudios Políticos, 1960), 97-112; José Antonio Maravall, Estado
moderno y mentalidad social (siglos xv a xvii) (Madrid: Revista de Occidente, 1972), 87-160; Ana
Rodríguez López, La consolidación territorial de la monarquía feudal castellana: Expansión y
fronteras durante el reinado de Fernando III (Madrid: CSIC, 1994); Miguel-Ángel Ladero Quesada,
«Reconquista y definiciones de frontera», Revista da Faculdade de Letras. História, série ii, 15(10)
(1998): 655-691, 655-657; e Amélia Aguiar Andrade, A Construção Medieval do Território (Lisboa:
Livros Horizonte, 2001).
[5] Miguel-Ángel Ladero Quesada, «La formación de la frontera de Portugal y el tratado de
Alcañices (siglos xii-xiii)», Boletín de la Real Academia de la Historia, 194(3) (1997): 425-458; Manuel
González Jiménez, «Las relaciones entre Portugal y Castilla durante el siglo xiii», Revista da Faculdade
de Letras. História, série ii, 15(1) (1998): 1-24, nas páginas 2 e 14; Joaquim Veríssimo Serrão,
«Conferencia de Clausura: España y Portugal ante el siglo xxi», Sexto Congreso de Economía Regional
de Castilla y León. Actas (Zamora, 1998) (Valhadolid: Junta de Castilla y León, 1998), 132-140, na
página 136; Leontina Ventura, «A fronteira luso- -castelhana na Idade Média», Revista da Faculdade
de Letras. História, 15(1)
(1998): 25-52, 51; e Vicente Ángel Álvarez Palenzuela, «Relations between Portugal and Castile in the
Late Middle Ages (13-16 Centuries)», E-Journal of Portuguese History, 1(1) (2003).
[6] A explicação destes processos dividiu os historiadores entre os que sugeriam que a separação de
Portugal era natural e os que concluíam que combinava factores sociais, políticos e históricos, e que era
voluntária, e não inevitável. Ver, por exemplo, Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, História de
Portugal desde o Começo da Monarchia até ao Fim do Reinado de Affonso III (Paris: Aillaud e
Bertrand, 1875 [1846-1853]); e José Mattoso, Identificação de um País: Ensaio sobre as Origens de
Portugal (1096-1325) (Lisboa: Estampa, 1985).
[7] Amândio Jorge Morais Barros lamenta esta negligência em «Problemas de fronteira na zona de

Olivença em meados do século xv», Revista de História, 13 (1995): 59-68, 59, e defende ser vital que
estudemos as «flutuações mais ou menos profundas» pelas quais a fronteira passou depois de
Alcanizes. José Luís Martín Martín sugere igualmente que se estude o assunto em «Conflictos luso- -
castellanos por la raya», Revista da Faculdade de Letras: História, série ii, 15(1) (1998): 259-274.
Martín Martín também insiste na multiplicidade de indivíduos e interesses com um papel em tais
dinâmicas.
[8] María Rosa de Muñoz, «La Guerra de Sucesión en el Río de la Plata y las consecuencias del
Tratado de Utrecht», Revista Lotería, 338-339 (1984): 114-129; Luís Ferrand de Almeida, Alexandre
de Gusmão, O Brasil e o Tratado de Madrid (1735-1750) (Coimbra: Universidade de Coimbra, 1990);
e El Tratado de Tordesillas y su época. Congreso internacional de historia, 3 vols. (Madrid: Sociedad
«V Centenario del Tratado de Tordesillas», 1995). Ver também María Eugenia Petit-Breuilh
Sepúlveda, «Comportamientos hispanoportugueses en los territorios limítrofes de América durante los
conflictos bélicos», in Propaganda y mentalidad bélica en España y América durante el siglo xviii, org.
David González Cruz (Madrid: Ministerio de Defensa, 2007), 95-119.
[9] Uma excepção é Rafael Chambouleyron, «Plantações, sesmarias e vilas: Uma reflexão sobre a
ocupação da Amazônia seiscentista», Nuevo Mundo Mundos Nuevos,
https://nuevomundo.revues.org/2260. Rafael Straforini, «A formação territorial brasileira nos dois
primeiros séculos de colonização», Geo, UERJ, 18(1) (2008): 63-90, examina as várias formas como os
geógrafos brasileiros explicaram a formação territorial do seu país.
[10] Lía Quarleri, Rebelión y guerra en las fronteras del Plata: Guaraníes, jesuitas e imperios
coloniales (Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 2009), 70-71; Alberto José Gullón Abao,
La frontera del Chacó en la gobernación del Tucumán (1750-1810) (Cádis: Universidad de Cádiz,
1993), 70 e 76; e Guy Martinière, «Les stratégies frontalières du Brésil colonial et l’Amérique
espagnole: Notes introductives», Cahiers des Amériques Latines, 18 (1978): 45-68.
[11]
Antonio Stopani, La production des frontières: État et communautés en Toscane (xvie-xviiie
siècles) (Roma: École Française de Rome, 2008). Embora principalmente centrado nas fronteiras
«internas», o trabalho de Stopani é uma ferramenta essencial para reconstruir a forma como se deu a
apropriação territorial a nível local.
[12] Tamar Herzog, «The meaning of territory: colonial standards and modern questions in Ecuador»,
in Globality and Multiple Modernities: Comparative North American and Latin American Perspectives,
orgs. Luis Roniger e Carlos H. Waisman (Brighton: Sussex Academic Press, 2002), 162-182. Ver
também A Search for Sovereignty: Law and Geography in European Empires, 1400-1900, Lauren
Benton (Nova Iorque: Cambridge University Press, 2010).
[13]
Benton, A Search for Sovereignty…, 284 e 298-299.
[14]
Jean Gottman, The Significance of Territory (Charlottesville: University Press of Virginia,
1973), 123; e Michael R. Redclift, Frontiers: Histories of Civil Society and Nature (Cambridge, MA:
MIT Press, 2006), 23.
[15] «Copia do auto das demarcações de Villarinho e Teixeira que por inquirições de Portugal e
Castela se determinarão», 24-4-1500, in «Documentos sobre a demarcação de limites entre a Hespanha
e Portugal 1803», AHM/ DIV/4/1/10/10.
[16] «Il panorama europeo, se viene contemplato nello specchio della cultura giuridica indiana, si
presenta con i suoi elementi centrali e fondamentali, mentre sfumano o scompaiono del tutto le
asprezze di contrasti veri o presunto che appartengono solo ad aspetti marginali della storia europea, e
più ancora alla storiografia europea dell’Ottocento e del Novecento. Ecco dunque perché, a mio parere,
fra altre ragioni altrettanto valide, lo storico del diritto europeo deve impegnarsi a indagare le opere dei
giuristi indiani: per contemplare in esse, come in uno specchio, e per comprendere meglio, le linee
fisionomiche essenziali del diritto europeo». Manlio Bellomo, «Perché lo storico del diritto europeo
deve occuparsi dei giuristi indiani?», Rivista internazionale di diritto comune, 11 (2000): 21-32, 32.
[17] Gustavo de Matos Sequeira e Rocha Júnior, Olivença (Lisboa: Portugália Editora, 1924);
Ricardo Rosa y Alberty, A Questão de Olivença: Por quê Olivença não Pertence à Espanha (Lisboa:
Grupo Amigos de Olivença, 1960); e Carlos Eduardo da Cruz Luna, Nos Caminhos de Olivença
(Estremoz: Edição de Autor, 2000). Aquilo que o território de Olivença abrangia na época moderna,
antes da sua tomada por Espanha, foi discutido, por exemplo, em «Dudas sobre términos y mojones que
separan Olivenza de varias aldeas de Castilla», 20-11- -1466; «Llamamiento del concejo a todos los
vecinos para defender la villa ante temor de incursión de los de Alconchel», 18-2-1514; e «Autoridades
de Alconchel y Olivenza dirimen amistosamente los pleitos entre sus vecinos y anulan acciones
judiciales por ello», 13-3-1514, demarcação datada de 5-4-1532; todos em AHMO, Leg. 1, Carpetas 40,
50, 51 e 61.
[18] O Tratado de Tordesilhas gerou uma bibliografia infindável. Ver, por exemplo, El Tratado de
Tordesillas y su proyección. Segundas jornadas americanistas. Primer coloquio luso-español de
historia ultramarina, 2 vols. (Valhadolid: Universidad de Valladolid, 1973); e Antonio Rumeu de
Armas, El Tratado de Tordesillas: Rivalidad hispano-lusa por el dominio de océanos y continentes
(Madrid: Mapfre, 1992).
[19]
António Dias Farinha, «A fixação da linha de Tordesilhas a oriente e a
expansão portuguesa», e Mariano Cuesta Domingo, «La fijación de la línea
de Tordesillas en el extremo oriente», ambos em El Tratado de Tordesillas y
su época, vol. 3, 1477-1482 e 1483-1517; e Consuelo Varela, «Los
problemas de frontera en el Maluco», in A União Ibérica e o Mundo
Atlântico: Segundas Jornadas de História Ibero-Americana (Lisboa: Edições
Colibri, 1997), 341-351.
[20]
Mais tarde, o debate em relação à Ásia envolvia não apenas as Molucas
mas também Macau e as Filipinas: Juan Bautista Gesio, «Discurso sobre la
isla y ciudad de Macao», AMN, Nav. xviii, fls. 408r-410r, doc. 80; e Juan de
Zúñiga, «Carta del comendador mayor de Castilla... con fecha de 27-12-1578
sobre la erección del obispado de Macao», AMN, Nav. xviii, fls. 63r-v, doc.
15.
[21]
Cópias do Tratado de Saragoça com a data de 22-4-1529 existem no
AHN, Estado 4626 e 2842. A sua importância duradoura está bem patente,
por exemplo, em «Voto dos comissários do sereníssimo príncipe de
Portugal», datado de 1681, AHN, Estado, livro 677, fls. 180r-v; e Francisco
Inocêncio de Souza Coutinho para marquês de Grimaldi, Madrid, 16-1-1776,
AHN, Estado leg. 2842, apartado 1. AGS, Estado 367, 368, e 371, contêm
ampla documentação acerca da discussão de 1524.
[22] Consulta de 15-11-1530, AGI, IG, livro 137, cédulas datadas de 17-2-1531, 18-3-1531, e 31-8-
1531, AGI, IG, 422, livro 15, e carta sem data do embaixador Hurtado de Mendoza para o monarca
português e a resposta do rei (sem data), AGI, Patronato 28 e 41, respectivamente. Ver também «Copia
de ciertos capítulos de la carta que don Luis Sarmiento escribió a Su Majestad el 11-7-1535», e cédula
real de 13-6-1554, ambas reproduzidas em Campaña del Brasil: Antecedentes coloniales (Buenos
Aires: Archivo General de la Nación, 1931), vol. 1, 5-6 e 6-8. AGS, Estado 369 e 377, que contêm
ampla documentação respeitante aos planos portugueses para descobrir, e talvez conquistar e ocupar, o
Rio da Prata em 1531 e 1554. Estas questões são descritas em Analola Borges, «El tratado de
Tordesillas y la conquista del Río de la Plata», in El Tratado de Tordesillas y su proyección, vol. 1,
345-356.
[23] «Como desde esta época fueron ya vasallos de un mismo soberano los españoles y portugueses
habitantes de la América meridional, no se cuidó ni hubo necesidad de celar la observancia del tratado
de Tordesillas e indistintamente hacían unos y otros los descubrimientos, conquistas y poblaciones en
aquella parte.» Vicente Aguilar y Jurado e Francisco Requena, «Historia de las demarcaciones en la
América entre los dominios de España y Portugal», Madrid, 1797, AHN, Estado 3410-2, punto 311.
[24] Marquês de Valdelirios para o marquês de Grimaldi, Madrid, 11-3-1776, AHN, Estado 4371, 8-
9. Ver também marquês de Valdelirios para Pedro Cevallos, Buenos Aires, 12-5-1761, AGN/M,
Archivos Particulares, Caja 333, Colección Mario Falcao Espalter, Carpeta 4.
[25] «No tempo da união das duas coroas em que poderá cessar a controvérsia de elas foi tão forçoso
o direito da divisão dos domínios que cada uma se conteve nos seus limites sem que se permitisse
fraude ou usurpação de uma ou de outra parte o que se observam tão abertamente que contendendo
neste mesmo tempo castelhanos e portugueses sobre as ilhas dela linhas não obstante que todos
obedeciam a um mesmo governo, foi tão poderosa a razão de conservar distinto o direito de cada reino,
que por que não cedesse um a outro, se deixaram contender ambos sobre ação dos seus estados.»
«Papel que fés o marquês de Fronteira», in «Pareceres do Exmo. marquês de Fronteira conselheiro de
estado sobre... a fundação da Nova Colónia», provavelmente datado de 1680, BPE, Cod. cxvi (2-12), n.º
1, fls. 4r-8r, nos fls. 6v-7r. Ver também «Discurso em que se mostra as varias opiniões que se acham
nos aa. sobre a linha da demarcação entre as conquistas de Portugal e Castela», anónimo, Elvas, 24-11-
1681, BPE, Cod. cxvi (2-12), n.º 2, fls. 3v e 19v-20r; e marquês de Lavradio para Martinho de Mello e
Castro, Lisboa, 12-2-1781, AHU_ACL_CU_059, cx. 3, d. 220.
[26] A disputa em torno da Colónia de Sacramento deu origem a uma imensa bibliografia. Considerei
as seguintes obras muito úteis: Antonio Bermejo de la Rica, La Colonia del Sacramento: su origen,
desenvolvimiento, y vicisitudes de su historia (Toledo: Editorial Católica, 1920); Luís Ferrand de
Almeida, A Diplomacia Portuguesa e os Limites Meridionais do Brasil (1493-1700) (Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1957), vol. 1, 111-285; e Jaime Cortesão, Tratado de Madri: Antecedentes;
Colónia do Sacramento, 1669-1749 (Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1954). Ecos destes debates
podem ser encontrados em «Notícia e justificação do título e boa fé com que se obrou na Nova Colónia
do Sacramento», anónimo, sem data (c. 1681), BA, Cod. Ms. 51- VI-48, fls. 117r- -146r; e «Parecer de
grandes letrados sobre a fundação da Nova Colónia de Buenos Aires», Lisboa, 7-9-1680, BA, Cod. Ms.
50- V-39, fls. 587r-89v.
[27] O tratado de 1681, bem como a opinião das equipas espanhola e portuguesa, aparece

reproduzido em Campaña del Brasil, vol. 1, 311-315 e 320-343.


[28] Alguns destes tratados estão reproduzidos em Alejandro del Cantillo, Tratados, convenios y
declaraciones de Paz y de comercio (Madrid: Imprenta Alegría y Charlain, 1843); e Carlos Calvo,
Colección completa de los tratados, convenciones, capitulaciones, armisticios y otros actos
diplomáticos (Paris: Durand, 1869). A versão portuguesa foi publicada em José Carlos de Macedo
Soares, Fronteiras do Brasil no Regime Colonial (Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio, 1939).
[29] Joseph Dibuja para José de Gálvez, Quito, 18-7-1776, ANQ, FE 37, vol. 102, n.º 3754-16, fls. 29r-
32v, no 31r; a opinião de Joseph de Molina, Río Grande de San Pedro, 18-2-1772, AGN/BA, IX-15-7-
15, por exemplo, ponto 45, fl. 271r; ponto 46, fls. 271v-273r; e ponto 55, fl. 273r; e «Usurpaciones
hechas por los portugueses en dominios de España en América meridional desde que se concluyó el
tratado de límites de 1750 hasta hoy día», rascunho, sem data, e sem assinatura no AHN, Estado 3410.
[30]
Carta não assinada, datada de Sevilha, 20-2-1691, ANC/S, Jesuitas, vol. 197, pieza 2, fls. 12r-
14v; «Representación del cabildo de Tucumán al marqués de Valdelirios», Tucumán, 6-4-1752,
reproduzida em Campaña del Brasil, vol. 2, 45-51, 48-49; e Lázaro de Ribero para o vice-rei Antonio
Olaguer Feliz, Santa Rosa del Paraguay 24-3-1798, AHN, Estado 3410, n.º 13.
[31] Vicente Aguilar y Jurado e Francisco Requena, «Historia de las demarcaciones de límites en la
América entre los dominios de España y Portugal», Madrid, 1797, AHN, Estado 3410-2, pontos 301,
304, e 307.
[32] «Minuta para el bando que el Excmo. señor Marqués de Lavradio debe mandar publicar»,
AGN/BA, IX.4.3.7; «Déduction dans laquelle on démontre les notoires objets des pernicieuses
transgressions du dernier traité faites par la cour de Madrid», anónimo, 1768, BA, 54-XIII-16 n.º 154;
«Compêndio histórico dos fatos político... como que os castelhanos manifestaram o seu caráter nas
negociações e nas guerras com Portugal (1750-1773)», manuscrito anónimo e sem data, AGN/BA,
IX.4.3.7, n.º 25, IV; Joseph Marcelino de Figueiredo, «Compêndio substancial dos últimos atentados e
irrupções que os comandantes espanhóis tem acumulado nos domínios de Portugal», Rio Grande de
São Pedro, 30-1-1774, AGN/BA, IX.4.3.7, n.º 37, VI; José César de Meneses para Martinho de Melo e
Castro, Recife, 29-11-1776, AHU_ACL_CU_015, cx. 125, d. 9500; e marquês de Lavradio para
Martinho de Mello e Castro, Lisboa, 12-2-1781, AHU_ACL_CU_059, cx. 3, d. 220.
[33] «Mas contentasse de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos», Fray Vicente de
Salvador, «Livro primeiro do descobrimento do Brasil», Bahia, 20-12-1627, ANTT, Manuscritos do
Brasil, n.º 49, fls. 5v-8r, no fl. 6v.
[34] «Esta máxima tan reprobada en tiempo de paz entre todos los príncipes cristianos solo reaprende
en el pleno del machiavalismo y en las zahúrdas o mezquitas del otomano consistorio en dónde los
muftíes inculcan a los renegados de nuestra religión la insana resolución de revolverse contra su
origen», Carlos Morphy para Luis Antonio de Souza, Assunção do Paraguai, 18-9-1770, AGN/ BA,
IX.4.3.6. Ver também Juan Guardia, «Relación de las horrendas maldades que hicieron los portugueses
judíos de Brasil a los indios del Paraguay», Córdoba de Tucumán, 6-10-1629, BRAH/M, Jesuitas, vol.
cix, n.º 6. Em 1775, os espanhóis acusaram os portugueses de se comportarem «contra la buena fe de
que hacen alarde las naciones cultas», Miguel de Tejada para Joseph de Alvisuri, Río Grande de San
Pedro, 23-11-1775, AGN/BA, IX-15.7-15, n.º 27, fls. 306r-v.
[35] José Marcelino de Figueiredo para o marquês do Lavradio, AHN, Estado 4553, nos. 1 e 2; e José
Miralles, «História militar do Brasil desde o ano 1549 em que teve princípio a fundação da Cidade do
Salvador da Bahia de Todos os Santos até o de 1762», 1762, APB, Colonial, 626-7, fls. 80v, 82v, 83v-
84v, e 11v-112r. Este texto foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 22
(1900): 4-213.
[36] Cayetano Pinto de Miranda Montenegro para Lázaro de Ribera, Vila Bela, 30-6-1797, AGI,

Estado, n.º 15 (1d), e a resposta de Ribera, a seguir.


[37] Carta do Abade Maserati para o rei, datada de 30-12-1680, AGI, Charcas 260, fls. 35r-v.
[38]
Acerca do papel do direito romano na expansão europeia, ver Bernardino Bravo Lira, Derecho
común y derecho propio en el Nuevo Mundo (Santiago do Chile: Editorial Jurídica de Chile, 1989); e
Aldo Andrea Cassi, Ius commune tra vecchio e nuovo mondo: Mari, terre, oro nel diritto della
conquista (1492-1680) (Milão: Giuffrè Editore, 2004).
[39] Juan Baltasar Maziel, De la justicia del tratado de límites de 1750 (Buenos Aires: Academia
Nacional de la Historia, 1988 [1760]), 71-98.
[40] Juan Nuix, Reflexiones imparciales sobre la humanidad de los españoles en las Indias (Madrid:

Joachin Ibarra, 1782), 159-183. Ver também Julio Valdeón Baruque, «Las particiones medievales en
los tratados de los reinos hispánicos. Un posible precedente de Tordesillas», in El Tratado de
Tordesillas y su proyección, vol. 1, 21-32; e Anthony Pagden, «The struggle for legitimacy and the
image of empire in the Atlantic to c-1700», in The Origins of Empire: British Overseas Enterprise to
the Close of the Seventeenth Century, org. Nicholas Canny (Oxford:
Oxford University Press, 1998), 34-54, e 49.
[41]
Jorge Juan e Antonio Ulloa, Disertación histórica y geográfica sobre el meridiano de
demarcación (Madrid: Instituto Histórico de la Marina, 1972 [1749]), 9, 22, 27, 54, 96-97, e 167.
[42]
Recopilación de Indias (promulgada em 1680), livro 3, título 1, lei 1
(citando cédulas do século xvi); e Juan de Solórzano y Pereira, Política
Indiana (Madrid: Compañía Ibero-Americana de Publicaciones, 1972
[1648]), livro 1, capítulo 11, pontos 3-6, nas 1008-1109. Ver também
Alfonso García Gallo, «El título jurídico de los reyes de España sobre las
Indias en los pleitos colombinos», in «Memoria del IV Congreso
Internacional de Historia del Derecho Indiano», número especial, Revista de
la Facultad de Derecho de México, 26 (101-102) (1976): 130-156, 142-145 e
147-152.
[43]
Maziel, De la justicia..., 93 e 135-136; e Solórzano y Pereira, Política
Indiana, livro 1, capítulo 1, pontos 9-5 e 20-23, nas 109-110 e 112.
[44]
«Voto dos comissários do sereníssimo príncipe de Portugal», AHN, Estado, livro 677, fls. 174r-v;
Sebastião de Veiga Cabral, «Representação estudiosa e útil para as majestades grandeza de vassalos de
Portugal», Abrantes, 20-9-1711, BRAH/M, Ms. 9-5556; e «Noticia e justificação do titulo e boa fé com
que se obrou na Nova Colónia do Sacramento», anónimo e sem data (c. 1681), BA, cod. Ms. 51-VI-48,
fls. 117r-146r, no fl. 39. Ver também André Ferrand de Almeida, A Formação do Espaço Brasileiro e o
Projecto do Novo Atlas da América Portuguesa (1713-1748) (Lisboa: Comissão Nacional para as
Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001).
[45]
A importância das bulas para as teorias imperiais portuguesas, em
especial no final do século xv e no início do xvi, foi descrita em Giuseppe
Marcocci, A Consciência de um Império: Portugal e o Seu Mundo (Séculos
XV-XVII) (Coimbra: Universidade de Coimbra, 2012).
[46]
«Aprobación del padre Juan de Andosilla al discurso que formó el capitán Joseph Gómez Jurado
cerca de la línea de la demarcación», Madrid, 10-11-1680, 9 BPR, Ms. II/2821, fls. 58v-60r, no fl. 60r.
[47] Informe de Alonso de Vaca, Sevilha, 9-8-1680, AGI, Charcas 260, fls. 74r-75r, fls. 74r-v. Ver
também W. G. L. Randles, «Portuguese and Spanish attempts to measure longitude in the sixteenth
century», The Mariner’s Mirror, 81(4) (1995): 402-408.
[48] «Papeles tocantes a las conferencias que hubo entre los ministros de su majestad y los del rey de
Portugal, 1681», AHN, Estado, livro 677, fls. 127r-137v.
[49] «Resposta sobre os papéis dos geógrafos em ordem a defenderem o direito da Nova Colónia do
Sacramento», Lisboa, 11-11-1680, em «Pareceres do Exmo. marquês de Fronteira conselheiro de
estado», provavelmente datado de 1680, BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 1, 15v-16v; «Discurso em que se
mostra as varias opiniões que se acham sobre a linha da demarcação entre as conquistas de Portugal e
Castela», anónimo, Elvas, 24-11-1681, BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 2; e «Sentença dos comissários
portugueses sobre a Nova Colónia do Sacramento», Elvas, 21-1-1682, BPE, cod. ciii (2-16), fls. 64r-
65v.
[50] «Parecer de Tomás Durán, Sebastian Caboto y Juan Vespucci», Badajoz 15-4-1524, AGI,
Patronato, 48r, 14.
[51] «Discurso em que se mostra as varias opiniões que se acham sobre a linha da demarcação entre
as conquistas de Portugal e Castela», anónimo, Elvas, 24-11- -1681, BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 2.
[52] «Dictamen de la junta formada a consecuencia del real orden de 3-6-1776... para examinar
varios puntos relativos a... ajustar y determinar los límites de los dominios de España y Portugal en la
América...» (1777), BPR, Ms. II/2855, fls. 53r-77v; Consulta de 16-12-1776, AHN, Estado, 4443/1, n.º
2; e Vicente Aguilar y Jurado e Francisco Requena, «Historia de las demarcaciones en la América entre
los dominios de España y Portugal», Madrid, 1797, AHN, Estado, 3410-2, prólogo.
[53] «Informe del virrey Nicolás de Arredondo a su sucesor don Pedro Melo de Portugal y Villena
sobre el estado de la cuestión de límites entre las cortes de España y Portugal», 1795, AGN/M, Museo
Histórico, Caja 206, Carpeta 30, 2.
[54] «Instrução que ao General João d’Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres deixou o seu
antecessor e Irmão Luiz d’Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres» (pós-1788), APMG, livro C-03,
doc. 03, fls. 53v-57v, no fl. 54v.
[55]
João de Abreu de Castelo Branco para o rei, Belém, 18-9-1739, AHU_ ACL_CU_013, cx. 22, d.
2082; e Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres para Martinho de Melo e Castro, Vila Bela, 10-
8-1780, AHU_ACL_CU_010, cx. 21, d. 1285. Ver também Iris Kantor, «Cartografia e diplomacia:
Usos geopolíticos da informação toponímica (1750-1850)», Anais do Museu Paulista , série v, 17(2)
(2009): 39-61, 39-41 e 49-50; e Nuria Valverde e Antonio Lafuente, «Space production and Spanish
imperial geopolitics», in Science in the Spanish and Portuguese Empires , 1500-1800 , orgs. Daniela
Bleichmar, Paula de Vox, Kristin Huffine e Kevin Sheehan (Stanford: Stanford University Press, 2009),
189-215, nas 189 e 210.
[56]«Toda esta grande obra depende de las operaciones astronómicas y sería indecoroso que en el
siglo de las ciencias dudasen todavía dos naciones cultas del modo infalible de señalar los parajes por
donde debe pasar el meridiano de demarcación convenido en el tratado de Tordesillas.» «Memoria del
Marqués de Grimaldi sobre límites con el Brasil 1776», AGN/M, catálogo de livros del Fondo
Documental ex Archivo y Museo Histórico Nacional, livro 72, fl. 1R, e pontos 16, 26, 79-81; ponto 80.
Cópias adicionais deste manuscrito podem ser encontradas em AGN/BA, BN 180, Exp. 785, fls. 1r-
31v, AGN/BA, BN 354, Exp. 6169; e BN 384, Exp. 6598; e em BRAH/M, 9-1663, Colección Mata
Linares, vol. 8, fls. 59r-129r. A medida em que os intervenientes consideravam a questão científica, e
não política, é também descrita em André de Almeida, A Formação…, 66-68.
[57]
«Estableciéndose una línea divisoria de los terrenos que en este nuevo
orbe debían poseer ambos monarcas, se fabricaban una valla y muro que
hacían incontrastable la misma garantía de nuestro soberano y por la cual no
solo quedaban manifi estos los límites de una u otra dominación asunto que
hasta entonces se había conceptuado inverifi cable sino que dirimidas todas
las discordias que por más de 250 años habían agitado ambas cortes se
cortaba al mismo tiempo la raíz de que habían brotado las funestas ramas de
tantas disensiones y ponía sus vasallos a cubierto de que experimentasen en
adelante los fatales efectos de la discordia.» «Breve y exacto diseño de la
justicia del tratado de límites celebrado entre las majestades Católica y
Fidelísima en 13-1-1750», anónimo, 20-6-1760, AMN, 0115, Ms. 0124/004,
fl. 152v. Maziel, De la justicia..., 123-124, tinha esperanças de que o Tratado
de Madrid pusesse termo ao conflito: «Con esta soberana mira formaron
acordes una línea divisoria que, dirigida por los más firmes y seguros
linderos, manifestaba sin equívoco los territorios de una y otra jurisdicción.»
Outros sugeriam que os tratados bons não provocavam qualquer desacordo
acerca da sua implementação: «Realização e execução do tratado de outubro
de 1777 entre Portugal e Espanha», sem data e não assinado, AHM/
DIV/2/1/1/27. Ver também marquês de Lavradio para Martinho de Mello e
Castro, Lisboa, 12-2-1781, AHU_ACL_CU_059, cx. 3, d. 220; e marquês de
Valdelirios para Pedro Cevallos, Buenos Aires, 12-5-1761, AGN/M,
Archivos Particulares, Caja 333, Colección de Documentos de Mario Falcao
Espalter, Carpeta 4.
[58]
«Parecer a rainha de Castela sobre a Guerra dos limites da América»,
anónimo e sem data, BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 17, fl. 2v.
[59]
As fronteiras naturais «sirvan perpetuamente de términos naturales fijos y
permanentes pues los mojones, linderos y marcas y otras señales que se erijan
serían siempre poco subsistentes y muy fáciles de destruir, derribar y mudar
de los sitios donde se coloquen». «Dictamen de la junta formada... para...
determinar los límites de los dominios de España y Portugal en la América»,
BPR, Ms. II/2855, fls. 53r-77v, no fl. 75r. Ver também Luís António de
Sousa para Martinho de Melo e Castro, Rio de Janeiro, 15-8-1775, AHU_
ACL_CU_023-01, cx. 30, d. 2713; João Pereira Caldas para Martinho de
Melo e Castro, Pará, 19-2- -1776, AHU_ACL_CU_013, cx. 75, d. 6279; e
Demetrio Ramos Pérez, «‘Línea’ y ‘frontera’: De Tordesillas a la
borbonización delimitadora», Boletín de la Real Academia de la Historia ,
191(2) (1994): 197-214, nas páginas 208-210.
[60] O tratado de 1750 foi o único a referir-se directamente a esta questão nos seguintes termos: «El
presente tratado será el único fundamento y regla que en adelante se deberá seguir para la división y
límites de los dominios en toda la América y en Asia; y en su virtud quedará abolido cualquier derecho
y acción que puedan alegar las dos Coronas, con motivo de la bula del Papa Alejandro VI, de feliz
memoria, y de los tratados de Tordesillas, de Lisboa y Utrecht, de la escritura de venta otorgada en
Zaragoza, y de otros cualesquiera tratados, convenciones y promesas; que todo ello, en cuanto trata de
la línea de demarcación, será de ningún valor y efecto, como si no hubiera sido determinado en todo lo
demás en su fuerza y vigor. Y en lo futuro no se tratará más de la citada línea, ni se podrá usar de este
medio para la decisión de cualquiera dificultad que ocurra sobre los límites, sino únicamente de la
frontera que se prescribe en los presentes artículos, como regla invariable y mucho menos sujeta a
controvérsias.» Afirmava ainda (art. 3) a primazia da ocupação efectiva sobre Tordesilhas: «Tratado
firmado en Madrid, 13-1-1750», (Buenos Aires: Imprenta del Estado, 1836), art. 1, nas 3-4.
[61] «Su majestad católica no solamente volverá a su majestad portuguesa el territorio y Colonia del
Sacramento... sino también cederá en su nombre y en el de todos sus descendientes, sucesores y
herederos toda acción y derecho que su majestad católica pretendía tener sobre el dicho territorio y
colonia... a finque el dicho territorio y colonia queden comprendidos en los dominios de la corona de
Portugal... como haciendo parte de sus estados, con todos los derechos de soberanía, de absoluto poder
y de entero dominio, sin que su majestad católica, sus descendientes, sucesores y herederos puedan
jamás turbar a su majestad portuguesa... en la dicha posesión.» «Tratado de Paz y amistad ajustada
entre España y el Portugal en Utrecht a 6-2-1715», reproduzido in Cantillo, Tratados…, 164-169, art. 6,
na 166.
[62] «Tratado preliminar sobre los límites de los estados pertenecientes a la corona de España y
Portugal... San Lorenzo, 11-10-1777» (Buenos Aires:
Imprenta del Estado, 1836), art. 21, na 13.
[63] Consulta do Conselho Ultramarino, 13-8-1717, reproduzida em Documentos Históricos:
Consultas do Conselho Ultramarino, Rio de Janeiro-Bahia, 1716-1721 (Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, 1952), vol. 97, 58-64, na 62; o protector dos interesses régios no Consejo de Indias em 21-7-
1742, AGI, Quito 15, e Francisco Inocêncio de Souza Coutinho para o marquês de Grimaldi, Madrid,
16-1-1776, AHN, Estado legajo 2842, apartado 1. Estas questões são igualmente abordadas em
«Memoria sobre la línea divisoria de los dominios de SM y del rey de Portugal en la América
meridional», 30-5-1805, anónimo, BRAH/M, 9-1723, Colección Mata Linares, vol. lxviii, fls. 697-714,
nos fls. 703r-v.
[64] Fernán Núñez para o conde de Floridablanca, 19-11-1779, AHN, Estado 4443, n.º 2; e Feliz
Azara, «Memoria sobre el último tratado de límites con Portugal, celebrado en 1777», Madrid, 15-5-
1805, AHN, Estado 3410-2.
[65] Manuel Ferreira para Diogo de Mendonça Corte Real, Pará, 22-11-1753, AHU_ACL_CU_013,
cx. 34, d. 3206 e 3292; Juan Francisco de Aguirre, «Narración histórica de la línea divisoria y juicio
imparcial...», Assunção do Paraguai, 17-5-1792, AHN, Estado 3385-1, especialmente em 5-23; e
«Instrução que ao General João d’Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres deixou o seu antecessor e
Irmão Luiz d’Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres (pós-1788)», APMG, livro C-03, doc. 03, fls.
53v-57v. Ver também Manuel Lucena Giraldo, «Ciencia para la frontera: Las expediciones de límites
españolas, 1751-1804», Cuadernos hispanoamericanos. Los complementarios, 2 (1988): 157-173; e
Lucena Giraldo, Laboratorio Tropical. La expedición de límites al Orinoco, 1750-1767 (Caracas:
Monte Ávila, 1993).
[66] Consulta do Conselho Ultramarino, 13-8-1717, reproduzida em Documentos Históricos, vol. 97,
58-64, na 64; e «Memoria sobre la línea divisoria de los dominios de SM y del rey de Portugal en la
América meridional», 30-5- -1805, BRAH/M, 9-723, Colección Mata Linares, vol. lxviii, fls. 697-714,
no fl. 703. Ver também Demetrio Ramos Pérez, «Los criterios contrarios al tratado de Tordesillas en el
siglo xviii, determinantes de la necesidad de su anulación», in El tratado de Tordesillas y su proyección,
vol. 2, 163-193.
[67] Conde de Bobadella para Pedro Cevallos, Rio de Janeiro, 29-2-1762, AGN/ BA, IX.4.3.5;
marquês de Valdelirios para o marquês de Grimaldi, Madrid, 11-3- -1776, AHN, Estado 4371, p. 33;
Luís de Vasconcelos e Sousa para Martinho de Melo e Castro, Rio de Janeiro, 21-7-1785,
AHU_ACL_CU_059, cx. 4, d. 239; Juan Carlos Bazán, «Examen jurídico y discurso historial sobre...
los confines de los reinos de Castilla y Portugal... en el Río de la Plata», sem data, BNE, Ms. 3042, fls.
42r-101v, no fl. 91r; o rei para Andrés de Robles, Madrid, 25-7- -1779, AMRE/MRE/R/G.1.2.1,G-46,
doc. 19, fls. 161-62v; e Carlos Morphy para Luis Antonio de Souza, Assunção do Paraguai, 18-9-1770,
e a sua resposta, São Paulo, 17-7-1771, ambos em AGN/BA, IX.4.3.6. Ver também Eva Botella
Ordinas, «¿Era inevitable 1808? Una revisión de la tradición de la de cadencia española», Revista de
Occidente, 326-327 (2008): 47-68; e Iris Kantor, «Soberania e territorialidade colonial: Academia Real
de História portuguesa e a América portuguesa (1720)», in Temas Setecentistas. Governos e
Populações no Império Português, org. Andréa Doré e Antonio Cesar de Almeida Santos (Curitiba:
UFPR/SCHLA, 2009), 233-249, nas 236-237.
[68] Por vezes, a questão da propriedade destes animais podia tornar-se muito contestada. Foi o caso,
por exemplo, no Rio da Prata, onde os portugueses, os espanhóis, os missionários e os povos indígenas
frequentemente disputaram o direito a capturar e utilizar gado que alegadamente descendia dos seus
animais ou que tinha escapado aos seus donos legítimos: Helen Osório, «Guerra y comercio en la
frontera hispano-portuguesa meridional – capitanía del Rio Grande, 1790-1822», in Conflictos,
negociaciones y comercio durante las guerras de independencia latinoamericanas, org. Raúl O.
Fradkin (Piscataway, NJ: Gorgias Press, 2010), 167-195, nas 169 e 178-179. A importância deste gado
«selvagem» para a economia local foi estudada em Helen Osório, O Império Português no Sul da
América: Estancieiros, Lavradores e Comerciantes (Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2007), 130-141. Ver também José María Ots Capdequí, El régimen de la tierra en la América
española durante el período colonial (Ciudad Trujillo: Universidad de Santo Domingo, 1946), 25.
[69] O que os contemporâneos raramente mencionavam era o papel dos actos formais de posse.
Embora saibamos que tais actos, muito discutidos e debatidos na literatura sobre o Novo Mundo,
fossem por vezes desempenhados, estavam, na sua maioria, ausentes no interior espanhol-português.
Acerca da tomada de posse formal, ver Francisco Morales Padrón, «Descubrimiento y toma de
posesión», Anuario de estudios americanos, 12 (1955): 321-380; Arthur S. Keller, Oliver J. Lissitzyn, e
Frederick J. Mann, Creation of Rights of Sovereignty through Symbolic Acts, 1400-1800 (Nova Iorque:
Ams Press, 1967); e Patricia Seed, Ceremonies of Possession in Europe’s Conquest of the New World,
1492-1640 (Cambridge:
Cambridge University Press, 1995).
[70] Carta a Dionisio Martínez de la Vega, Madrid, 12-12-1736, AGI, Quito 374.
[71]
Consulta do Consejo de Indias, Madrid, 13-6-1715, AGI, Quito 103, doc. 4, fls. 15r-26v; e
Solórzano y Pereira, Política Indiana, livro 1, cap. 9, pontos 115 e 116, n.º 91.
[72] Samuel von Pufendorf, Of the Law of Nature and Nations, trad. J. Spavan (Londres: L.
Lichfield, 1710 [1672]), livro 4, cap. 4, pontos 1, 2, e 4; e Karl Olivecrona, «Appropriation in the state
of nature: Locke on the origins of property», Journal of the History of Ideas, 35(2) (1974): 211-230,
nas 216-217.
[73] Hugo Grotius, On the Law of War and Peace, trad. A. C. Campbell (Londres: Boothroyd, 1814
[1625]), livro 2, cap. 4, n.os 3 e 5. Segundo Carol M. Rose, «propriedade» não é uma «coisa», mas uma
relação definida pelo que uma pessoa pode fazer e os outros não. Não só implica comunicação, como
Grócio e Pufendorf já tinham sugerido, mas um entendimento partilhado sobre o significado de certas
coisas. Exige imaginar uma situação que não pode ser vista ou afirmada de outro modo, e que é
cultivada através da narração de histórias, de alegorias e de metáforas, que justificam as acções dos
donos de propriedade e persuadem os outros a aceitá-las. Assim, no cerne da propriedade está a
necessidade de persuasão constante, do próprio e dos outros. A persuasão e a imaginação são cultural e
socialmente ligadas e, por isso, a propriedade também o é: Carol M. Rose, Property and Persuasion:
Essays on the History, Theory and Rhetoric of Ownership (Boulder, CO: Westview Press, 1994), 5-6 e
269-270.
[74] Francisco Bruno de Zavala para Jose Custodio de Sá y Jaria, Estancia de San Borja, 10-11-1768,
AGN/BA, IX.4.3.6; «Memoria sobre la línea divisoria de los dominios de SM y del rey de Portugal en
la América meridional», 30-5- -1805, anónimo, BRAH/M, 9-1723, Colección Mata Linares, vol. lxviii,
fls. 697-714; e Juan Carlos Bazán, «Examen jurídico y discurso historial sobre... los confines de los
reinos de Castilla y Portugal... en el Río de la Plata», sem data, BNE, Ms. 3042, fls. 42r-101v, no fl.
93r.
[75] «Reflexiones hechas a los artículos de la carta escrita por el gobernador de Chiquitos al Excmo.
señor virrey», sem data e sem assinatura, AGN/BA, BN 297, Exp. 4704.
[76] Hernán Rodríguez Castelo, org., Diario del padre Fritz (Quito: Studio 21, 1997), 86; «Noticias
recibidas en Cádiz por el navío de registro nombrado
Nuestra Señora de Begoña... el 12-8-1755», Biblioteca Universitaria de Valencia, Tomo de Varios, Var.
348 (10 bis), fl. 1v; Carlos Morphy para Francisco Bucareli y Ursua, Assunção do Paraguai 19-1-1768,
e declaração de Gonzalo Gómez, Assunção do Paraguai, 10-4-1768, AGN/BA, IX.4.3.5, fls. 5r e 21r-
22r; Lourenço Pereira da Costa para Fernando da Costa de Ataíde Teive, Barcelos, 19-7-1765, APEP,
cod. 156, doc. 37; declaração de Antonio Franza, Iguatemi, 30-12-1767, em «Real orden para que los
gobernadores del Tucumán y Paraguay estén a las de este gobierno», AGN/BA, IX.4.3.5, fl. 13r;
interrogatório elaborado por Juan Francisco Gómez de Villajufre y de Arce em 26-5-1775, ANQ, FE
30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v; e Manuel Antonio Flores para Josef de Gálvez, Santa Fé, 28-2-
1779, AHN, Estado 4554, n.º 1. Ver também Ângela Domingues, When the Amerindians Were Vassals:
Power Equations in Northern Brazil (1750-1800) (Nova Deli: TransBooks, 2007), 197.
[77] «Apenas bastaría un tomo tan grande como el sobre dicho para escribir las ridiculeces de los

títulos y pretextos cuando llegaban a ser descubiertos... unos de estos decían que la causa de su arribo a
las tierras y partes del rey de Castilla era el haber a sus mujeres en no sé qué malos latines para ellos
indeclinables que el uno le había quitado la vida a él y el otro a ella; y que por eso habían puesto tierra
por medio y se pasaban a tierras y ciudades de castellanos. Otros con la misma falta de verdad decían
que habiendo salido de su casa al monte, sin advertirlo se había internado en el tanto que queriendo
después volver a salir no había sabido y que desatinado de andar de aquí para allá al cabo había ido a
parar en los dominios de España cuando menos lo pensaba ni mucho menos lo deseaba o pretendía...
otro explicaba que en el Brasil era monedero falso que tuvo que huir, o por envidia y mal querencia del
gobernador... innumerables mentiras»: «Papel del señor regente de Buenos Aires sobre la línea
divisoria de los reinos de España y Portugal», BRAH, 9-1663, fls. 42-57, n.º 1, fls. 47r-v. Algo
semelhante em Martinho de Mello e Castro para Luis de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres,
Lisboa, 13-8-1771, APMG, CMG-SG, livro C-18, Estante-01, ponto 7.
[78]
Rodríguez Castelo, Diario del padre Fritz..., 95; Francisco Barreto para Antonio Cattami, Rio
Pardo 6-11-1764, e Lourenço Pereira da Costa para Fernando da Costa de Ataíde Teive, Barcelos, 19-7-
1765, APEP, cod. 156, doc. 37.
[79] Carlos Morphy para Francisco Bucareli y Ursua, Assunção do Paraguai 19-1-1768, e declaração
de Gonzalo Gómez, Assunção do Paraguai, 10-4-1768, AGN/BA, IX.4.3.5, fls. 5r e 21r-22r.
[80]
Estas reivindicações apareceram logo na década de 1720: «Requerimento dos oficiais do senado da
câmara de São Paulo, ant. 26-10-1725», AHU_ ACL-CU_023-01, cx. 7, d. 750. Na de 1760, a imagem
dos paulistas como conquistadores estava já firmemente estabelecida: cópia de «Instruções dadas pelo
secretário de Estado dos Negócios do reino conde de Oeiras ao governador e capitão-geral da capitania
de São Paulo no ofício de 26 de Janeiro de 1761», AHU_ACL_CU_023-01, cx. 23, d. 2221. Os
comandantes locais espanhóis estavam conscientes destas interpretações: Carta do governador de São
Paulo para o governador do Paraguai (1769), AHU_ACL_ CU_023-01, cx. 26, d. 2458.
[81] John Hemming, Red Gold: The Conquest of the Brazilian Indians (Southhampton: Camelot
Press, 1978), 238-282; Richard M. Morse, org., The Bandeirantes: The Historical Role of the Brazilian
Pathfinders (Nova Iorque: Alfred A. Knopf, 1965): John Manuel Monteiro, Negros da Terra: Índios e
Bandeirantes nas Origens de São Paulo (São Paulo: Companhia das Letras, 1994); e Alfredo Ellis
(Júnior), O Bandeirismo Paulista e o Recúo do Meridiano: Pesquizas nos Documentos Quinhentistas e
Setecentistas Publicados pelos Governos Estadual e Municipal (São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1934).
[82] Cédula real de 12-9-1628, «Relación de los agravios que hicieron algunos vecinos y moradores
de la villa de San Pablo... saqueando las aldeas de los padres de la compañía de Jesús, Bahia, 10-10-
1629», e Consulta do Consejo de Indias, 23-3-1638, todos reproduzidos em Campaña del Brasil, vol. 1,
8-30. O argumento de que os paulistas estavam interessados em escravos, e não em território, era quase
contemporâneo: «Memoria sobre la línea divisoria de los dominios de SM y del rey de Portugal en la
América meridional, Mayo 30, 1805», BRAH/M, 9-1723, Colección Mata Linares vol. lxviii, fls. 697-
714. Ver também Synésio Sampaio Gomes, Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas (Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 1991), 58-59.
[83] Os interlocutores espanhóis discutiram esta transformação; ver, por exemplo, Vicente Aguilar y
Jurado e Francisco Requena, «Historia de las demarcaciones de límites en la América entre los
dominios de España y Portugal», 1777, AMN, Ms. 283, pontos 341-342 (também disponível em AHN,
Estado 3410-2). Ver também Richard M. Morse, org., From Community to Metropolis: A Biography of
São Paulo, Brazil (Nova Iorque: Octagon Books, 1974), 15-17.
[84] Carlos Morphy para Luis Antonio de Souza, Assunção do Paraguai, 18-9-1770, AGN/ BA,
IX.4.3.6; Jose Monteiro de Noronha para Manoel Bernardo de Mello e Castro, Barcelos, 14-1-1762,
APEP, cod. 122, doc. 1, fl. 1r; e «Instrução que ao General Luiz Albuquerque de Mello Pereira e
Cáceres deixou seu Antecessor Luiz Pinto de Souza Coutinho», Vila Bela, 24-12-1772, APMG, livro
C-03, doc. 03, fls. 34v-53, no fl. 48v.
[85]
Dois relatórios de Philippe Sturm, Boca del rio Tucutú, 18-9-1775 e 19-
11-1775, APEP, cod. 294, doc. 6, 20-22, e APEP, cod. 294, doc. 7, nas 25-
27; «Instrucción a que deben arreglarse los gobernadores de Mainas, Quijos y Macas para franquear
los informes que se necesitan», Joseph Dibuja, 22-2-1770, ANQ, FE 30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-
275v; Joachin Alos para Nicolás Arrendondo, Assunção do Paraguai, 13-6-1790, e o «Expediente sobre
los medios de verificar el reconocimiento en el río Paraguay... 1790», ambos em AGN/BA, IX.4.4-1.
Ver também Manoel Fernandes Thomaz, Observações Sobre o Discurso que Escreveu Manoel
D’Almeida e Sousa em Favor dos Direitos Dominicais da Coroa , Donatários e Particulares
(Coimbra: Real Imprensa da Universidade, 1814), 95-114.
[86]
Carta de Sebastián Félix de Mendiola, Assunção do Paraguai, 13-6-1682,
AGI, Charcas 262, e o governador do Pará para o secretário da Marinha e do
Ultramar, Pará, 14-1-1777, AHU_ACL_CU_013, cx. 76, d. 6370.
[87]
Heather Flynn Roller, «River Guides, Geographical Informants, and
Colonial Field Agents in the Portuguese Amazon», Colonial Latin American
Review , 21(1) (2012): 101-126.
[88]
Manuel Bernardo de Melo de Castro para Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, Pará, 5-5-1761, AHU_ACL_CU_013, cx. 49, d. 4445; Luís Pinto de
Sousa Coutinho para Martinho de Melo e Castro, Vila Bela, 29-11-1771,
AHU_ACL_CU_101, cx. 16, d. 957; Pedro de Cevallos para Juan de Pestana
e Juan Manuel Campero, Buenos Aires, 15-6-1765 e 12-6-1765, AGN/BA,
IX.4.3.5; o governador do Paraguai para Nicolás Arrendondo, Assunção do
Paraguai, 8-2-1792, AHN, Estado 4555, n.º 16; e o governador interino do
Maranhão e Pará para Diogo de Mendonça Corte Real, Pará, 16-8-1755,
AHU_ACL_CU_013, cx. 39, d. 3618.
[89] Francisco José da Rocha para marquês de Pombal, Colónia, 9-4-1776, AHU_ACL_CU_012, cx.
7, d. 618.
[90] Francisco de Tejada, Sevilha, 16-8-1626, AGI, Charcas 260, fls. 47r-v, no fl. 47v.
[91]
Luís António de Sousa para Martinho de Melo e Castro, São Paulo, 28-8-1773,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 29, d. 2636; José Custódio de Sá para Agustín Fernando de Pinedo,
Iguatemi, 16-7-1775, incluído na carta de José Custódio de Sá e Faria para Martinho Lopes de
Saldanha, Iguatemi, 20-7-1775, AHU_ACL_CU_023-01, cx. 30, d. 2707.
[92] Francisco Antonio de Argumosa Cevallos para o rei, San Lorenzo de la Barra, 9-1-1739, em
«Copia de la respuesta dada por el padre Agustín de
Castañares... a Francisco Antonio de Argumosa», 12-12-1738, ANC/S, jesuitas 197, pieza 9, fl. 60r, fl.
62r; e Luís Antônio de Sousa para Martinho de Melo e Castro, São Paulo, 28-8-1773,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 29, d. 2636.
[93] Carta de Carlos Morphy para Jose Custódio de Sá e Faria, Guacacainimi, 14-12-1765, AGN/BA,
IX.4.3.5 (também publicada em Campaña del Brasil, vol. 3).
[94] Luís António de Sousa para Carlos Morphy, AHU_ACL_CU_023-01, cx. 26, d. 2458; e João
Henrique Bohn para Juan José de Vertiz, Rio Grande, 23-11-1775, AHU_ACL_CU_059, cx. 3, d. 192.
[95] Dionisio Alcedo y Herrera, Quito, 28-5-1731, AGI, Quito 374.
[96] «Auto de inquirição de testemunhas para justificação da posse e domínio do rio Branco pela
coroa de Portugal, 1775», AHU_ACL_CU_013, cx. 74, d. 6261.
[97] José Custódio de Sá e Faria para Martinho de Melo e Castro, São Paulo, 20-9-1774,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 30, d. 2677.
[98] O governador do Mato Grosso para o governor de Santa Cruz, Vila Bela, 22-10-1761, AGN/BA,
IX.4.3.5; Lazaro de Ribera de Cayetano Pinto de Miranda Montenegro para o governador do Paraguai,
Vila Bela, 30-6-1797, e a resposta do seu congénere espanhol, Assunção do Paraguai, 7-9-1797,
AGN/BA, IX.4.4.1.
[99] Já em 1672 o duque de Cadaval defendia que, por lei, cada parte podia tomar posse do que
talvez duvidasse ser seu, mas que também duvidasse ser do outro: «Voto, parecer e consulta do duque
de Cadaval sobre a nova povoação que se devia fazer no Brasil», Lisboa, 5-5-1672, cit. in Virgínia Rau
e Maria Fernanda Gomes da Silva, Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao
Brasil (Coimbra: Universidade de Coimbra, 1955), vol. 1, n.º 304, nas 233-234. Para grande pena
minha, não pude consultar o documento original porque este arquivo, localizado em Muge, Portugal,
está actualmente sob o controlo de um colega que se recusa a partilhá-lo com outros. Ver também carta
do vice-rei do Brasil para o secretário da Marinha e do Ultramar, Rio de Janeiro, 21-7-1785,
AHU_ACL_CU_059, cx. 4, d. 239.
[100] Tamar Herzog, «Conquista o integración: Los debates en torno a la inserción territorial
(Madrid-México, siglo xviii)», in Les sociétés de frontière. De la Méditerranée à l’Atlantique (xvie-xviiie
siècle), orgs. Michel Bertrand e Natividad Planas (Madrid: Casa de Velázquez, 2011), 149-164.
[101] Joseph Marcelino de Figueiredo para Joseph de Molina, Rio Grande de San Pedro, 26-7-1770,
AGN/BA, IX.4.3.6; e Joseph de Molina para Juan Joseph de Vertiz, San Pedro, 24-2-1774, AGN/BA,
IX.4.3.7.
[102] O governador de São Paulo para o secretário de Estado, São Paulo, 13-2-1769,

AHU_ACL_CU_023-01, cx. 26, d. 2458. Ver também «Noticias recibidas en Cádiz por el navío de
registro nombrado Nuestra Señora de Begoña que retornó del Callao de Lima... el 12-8-1755», que
reproduz uma informação anónima assinada Lima, 5-3-1753, Biblioteca Universitaria de Valencia,
tomo de varios, Var. 348 (10 bis), fl. 2r.
[103] Instruções dadas ao governador João Pedro da Câmara pelo seu antecessor conde de Azambuja,
Vila Bela, 8-1-1765, APMG, livro C-03, doc. 03, fls. 28-34v, fls. 30-31, pontos 13 e 15-16.
[104] Antônio de Sousa para Martinho de Melo e Castro, São Paulo, 21-4-1771,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 27, d. 2551.
[105] «Relatório do ex. governador da Nova Colónia António Pedro de Vasconcelos sobre as
questões dos limites no Rio da Prata», Lisboa, pós-1750, AHU_ACL_CU_012, cx. 5, d. 454. Ver
também Joseph de Molina, Río Grande de San Pedro, 30-10-1773, AGN/BA, IX.15.7.15, fls. 277v-
282v.
[106] Herzog, «The meaning of territory...»; e Juan Carlos Garavaglia, «Frontières des Amériques
ibériques», Annales HSS, 58(5) (2003): 1041-1048. Ver também Benton, A Search for Sovereignty... As
missões eram também «ilhas» no meio de um «mar» de terra não dominada: Quarleri, Rebelión y
guerra..., 114.
[107] Paulo César Possamai, A Vida Quotidiana na Colónia do Sacramento: Um Bastião Português
em Terras do Futuro Uruguai (Lisboa: Livros do Brasil, 2006), 67-93; e Paulo César Possamai, «De
núcleo de povoamento à praça de guerra: a Colônia do Sacramento de 1735 a 1777», Topoi, 11(21)
(2010): 23-36.
[108] Memorando com resumo da carta do governador de Buenos Aires, estudado no Consejo de
Indias em 1722, AGI, Charcas 264.
[109] «Apuntamiento de secretaría», Madrid, 4-7-1716, AGI, Charcas 263; Bruno de Zavala, Buenos
Aires, 30-3-1731, AGI, Charcas 265; «Parecer do marquês de Fronteira sobre a paz com Castela»,
Lisboa, 31.7-1713, citado em Rau e Gomes da Silva, Os Manuscritos..., vol. 2, n.º 177, 120; «Carta
dando parecer sobre a expedição do governador do Rio de Janeiro a Montevideu e acerca dos direitos
de Portugal sobre aquela região», 2-6-1724, AHU_ACL_CU_059, cx. 1, d. 2; e «Cuatro informes
hechos al Excmo. señor don Pedro Cevallos virrey de las provincias del Río de la Plata», anónimo e
sem data, BPR, Ms. II/2844, fls. 1r-64r, fls. 46v-47r.
[110] «Vivir con una constante vigilancia a eludir cualquiera intención que formen para dañar los
dominios del rey sin confiar por la paz que subsiste entre las cortes de Madrid y Lisboa respecto a la
experiencia que se tiene de que sin embargo de ella y en transgresión de los tratados han intentado
apoderarse de estos dominios no tan solo sin haber hecho declaración alguna, sino antes asegurando por
escrito y de palabra observar la constante paz». Joseph de Molina, Río Grande de San Pedro, 30-10-
1776, AGN/BA, IX.15.7.15, fl. 277v.
[111]
A correspondência entre Jose Custódio de Sá e Faria (português) e Carlos Morphy (espanhol)
datada de Dezembro de 1765 e Janeiro de 1766 é um exemplo disso: AGN/BA, IX.4.3.5. Outros são as
trocas entre os comandantes de La Plata e de Mato Grosso em 1768, AGI, Lima, 1054; e os
comandantes na fronteira da Colónia de Sacramento, por exemplo, em AGN/BA, IX.4.3.7, n.º 37.
[112] Convenção celebrada na povoação de Río Grande de San Pedro em 6-8-1763 entre Joseph de
Molina e Antonio Pinto Carneiro, AGN/BA, IX.4.3.5. O acordo entre comandantes militares podia
também referir-se a questões específicas como a restituição de escravos: «Convenio de 22-1-1770 entre
el gobernador de Colonia de Sacramento y San Carlos sobre la restitución de esclavos», AGN/ BA,
IX.4.3.6. Ver também Renaud Morieux, «Diplomacy from Below and Belonging: Fishermen and
Cross-Channel Relations in the Eighteenth Century», Past and Present, 202 (2009): 125-183; e
Morieux, Une mer pour deux royaumes: La Manche, frontière franco-anglaise xviie-xviiie siècles
(Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2008).
[113]
Registos arquivísticos incluem um caderno reproduzindo a
correspondência entre os comandantes militares nos anos que se seguiram a
um desses acordos: «Livro de órdenes que se dieron en el cuartel de Río
Grande a diferentes soldados», AGN/BA, IX.4.3.5. Ver também «Livro de
correspondencia con los comandantes portugueses desde 9-1-1771 hasta 2-3-
1774», AGN/BA, IX.4.3.6.
[114]
Joseph Marcelino de Figueiredo para Joseph de Molina, Río Grande de
San Pedro, 26-7-1770, AGN/BA, IX.4.3.6. Também noutros casos, os
comandantes espanhóis e portugueses referiam-se a estes acordos mútuos
como verdadeiros pactos que não podiam ser ignorados: Joseph de Molina,
Río Grande de San Pedro, 18-2-1772, AGN/BA, IX.15.7.15.
[115]
Carlos Morphy para José Custódio de Sá e Faria, Guacacainimi 14-12-
1765, 23-12-1765, e 5-1-1766; e José Custódio de Sá e Faria para Carlos
Morphy, 18-2- -1765 e 30-12-1765; todos em AGN/BA, IX.4.3.5.
[116]José Custódio de Sá e Faria para Martim Lopes Lobo de Saldanha, Iguatemi, 20-7-1775,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 30, d. 2706. As diferentes interpretações eram evidentes na maneira como
cada um dos lados chamava ao que acontecera. O espanhol sugeria que em causa estavam «puntos que
deberá tratar el capitán don Manuel García Barazavalcon el brigadier Joseph Custódio de Sa y Faria».
O português chamava-lhe «convénio feito entre Agustín Fernando de Pinedo capitam geral da província
do Paraguai e José Custódio de Sá e Faria».
[117]
Sobre estas categorias, ver Tamar Herzog, Defining Nations: Immigrants
and Citizens in Early Modern Spain and Spanish America (New Haven, CT:
Yale University Press, 2003). Embora nos séculos xvi e xvii a vassalagem
fosse clara- mente distinta da naturalidade (nativenness), de facto, pelo menos
nas Américas, as duas tendiam a ser confundidas e misturadas. Ver texto para
mais detalhes.
[118]
Vicente Aguilar y Jurado e Francisco Requena, «Historia de las
demarcaciones de límites en la América entre los dominios de España y
Portugal», 1777, AMN, Ms. 283, pontos 310-311.
[119]
J. H. Elliott, «The Spanish monarchy and the kingdom of Portugal, 1580-
1640», in Conquest and Coalescence: The Shaping of the State in Early
Modern Europe, org. Mark Greengrass (Londres: Edward Arnold, 1991), 48-
67, nas 48-52 e 63-65; António Manuel Hespanha, «As cortes e o reino. Da
união à restauração», Cuadernos de historia moderna 11 (1991): 21-56;
Rafael Valladares Ramírez, Portugal y la monarquía hispánica, 1580-1668
(Madrid: Arco Livros, 2002), 15; e Pedro Cardim, «La jornada de Portugal y
las cortes de 1619», in La monarquía de Felipe III: Los reinos, orgs. José
Martínez Millán e María Antonietta Visceglia (Madrid: Fundación Mapfre,
2008), vol. 4, 900-946, nas 903, 911, e 917-918.
[120] «Cierto no es fácil de saber cuál fue el pretexto (el fin bien lo conoció el mundo) de las armas
que el rey don Felipe el prudente introdujo en este reino, porque sus historiadores o confusos o
simulados no nos lo dan a entender. Y digo así; ¿si lo heredaba para qué lo conquistó? ¿Si lo conquistó
por qué afirma que lo heredaba? ¿Por qué quiere llamar conquista lo que no se defendió por armas? ¿Y
por qué llamará derecho lo que no obedeció a las leyes? De esta misma ambigüedad nace sin falta la
duda del autor, esa que le mueve a escribir que este reino fue conquistado solo en nombre y no el
efecto». Francisco Manuel de Melo, Ecco polytico responde en Portugal a la voz de Castilla y satisface
a un papel anonymo ofrecido al rey don Felipe Quarto sobre los intereces de la corona lusitana
(Lisboa: Paulo Craesbeck, 1645), BNC/STM, A-36-7 (22), fls. 6r-v.
[121] «Las conquistas pertenecientes a estos reinos no ceden sino a portugueses y que cuando se tome
algo con ayuda de otras... naciones se entregue luego a portugueses.» «Papeles históricos portugueses y
españoles», BL, ADD. Ms. 20846, fls. 65v-66r.
[122]
Arthur Cezar Ferreira Reis, Limites e Demarcações na Amazônia
Brasileira: A Fronteira com as Colônias Espanholas (Belém: Secretaria de
Estado da Cultura, 1993 [1948]), vol. 2, 14-15; Sebastião Pagano, «O Brasil e
suas relações com a coroa de Espanha», Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo, 59 (1961): 215-232; Stuart B. Schwartz, «Luso-
Spanish relations in Habsburg Brazil, 1580-1640», The Americas, 25(1)
(1968): 33-48; Luiz Felipe de Seixas Corrêa, «O governo dos reis espanhóis
em Portugal (1580-1640): Um período singular na formação do Brasil»,
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 155(385) (1994): 732-
748, nas 741-742; e Nicholas Bomba, «The Hibernian Amazon: A struggle
for sovereignty in the Portuguese court, 1643-1648», Journal of Early
Modern History, 11(6) (2007): 447-474.
[123]
D. Filipe II para conde de Estêvão de Faro, 5-3-1619, e para o governador
do Pará Francisco Coelho de Carvalho, 26.9-1623, AHU_ACL_CU_ 009, cx.
1, d. 28, e AHU_ACL_CU-009, cx. 1, d. 60; e carta deste governador para
Antonio Moniz Barreiros, 27-11-1623, AHU_ACL_CU_ 009, cx. 1, d. 65.
[124]
«Memorial presentado en el real consejo de las Indias acerca del des-
cubrimiento del río de las Amazonas que se hizo en el año de 1636 por el
padre Cristóbal de Acuña de la compañía de Jesús», AGI, Quito, 158,
reproduzido em Francisco de Figueroa e Cristóbal Acuña, Informes de
jesuitas en el Amazonas, 1600-1684 (Iquitos: Monumento Amazónica, 1986),
102-107; Alonso Pérez de Salazar para o rei, Quito, 18-11-1638, conde de
Chinchón para o rei, Lima, 20-1-1639, e «Información del licenciado don
Alonso Pérez de Salazar, presidente de Quito», Quito, 19-5-1639, todos em
BA, cod. Ms. 51.V.41, fls. 1r-4r, 13r-14v, e 21r-24v, respectivamente. O
envolvimento das autoridades portuguesas na expedição vem descrito em
Jácome Raimundo de Noronha para Pedro Teixeira (pós-1636),
AHU_ACL_CU_009, cx. 1, d. 110; e Consulta de 29-8- -1637,
AHU_ACL_CU_009, cx. 1, d. 114, fl. 3r. Ver também M. Jiménez de la
Espada, «Viaje del capitán Pedro Teixeira aguas arriba del río de las
Amazonas (1638-1639)», Boletín de la Sociedad Geográfica de Madrid, 9
(1880): 209-231; Bernardo Pereira de Berredo, Annaes Históricos do Estado
do Maranhão (Iquitos: Monumenta Amazónica, 1989), 288-293 e 296-323;
Tamar Herzog, «La política espacial y las tácticas de conquista: Las
‘Ordenanzas de descubrimiento, nueva población y pacificación de las
Indias’ y su legado (siglos xvi-xvii)», in Felipe II y el oficio de rey: La
fragua de un imperio, orgs. José Román Gutiérrez, Enrique Martínez Ruiz e
Jaime González Rodríguez (Madrid: Sociedad Estatal para la
Conmemoración de los Centenarios de Felipe II y de Carlos V, 2001), 293-
303; e Herzog, «La Política espacial y su aplicación: Las ‘Ordenanzas de
descubrimiento, nueva población y pacificación de las Indias’ y las tácticas
de conquista (siglos xvi-xvii)», in Actas del XI Congreso Internacional de
Ahila 17-22 de Setembro de 1996 (Liverpool: Ahila-University of Liverpool,
1998), vol. 1, 30-47.
[125] «Auto da posse do Rio do Ouro, no Estado de Maranhão, pelo capitão-mor Pedro Teixeira no
ano de 1639», Pará, 26-8-1639, GTT, II, 11-17, vol. 1, n.º 606, nas 935-938. A tradução espanhola
pode ser encontrada em AGI, Quito 158. Foi reproduzida em Figueroa e Acuña, Informes de jesuitas...,
137-141. Existe uma tradução em inglês em George Edmundson, «Introduction», in Journal of the
Travels and Labours of Father Samuel Fritz in the River of the Amazon between 1686 and 1724
(Londres: Hakluyt Society, 1922), series ii, vol. 51, 30-43, nas 34-35. Na imaginação popular, Teixeira
continua a ser um dos conquistadores mais importantes do Amazonas; ver, por exemplo, Anete Costa
Ferreira, A Expedição de Pedro Teixeira: A sua Importância para Portugal e o Futuro da Amazônia
(Lisboa: Ésquilo, 2000), 19-20; e Reis, Limites e Demarcações..., vol. 2, 12.
[126] «Ofício respondendo a pretensão dos padres castelhanos em ampliar os seus domínios na
fronteira do Grão Pará», Belém, 28-11-1737, AHU_ACL_ CU_013, cx. 20, d. 1920.
[127] Juan e Ulloa, Disertación histórica..., 128-131 e 145-147; carta de Juan Bautista Julián para o

governador do Pará, Laguna, 8-9-1732; informação fornecida por Pablo Maroni ao presidente da
audiencia de Quito em 13.6-1733; por Nieto Polo, procurador dos jesuítas em Madrid, em 30-8-1741; e
por Joseph María Maugeri, Jesuíta, Madrid, 30-8-1741, todos em AGI, Quito 158.
[128] A percepção era contemporânea: «Dissertation qui détermine tant géographiquement que par
les traites faits entre la couronne de Portugal et celle d’Espagne quels sont les limites de leurs
domination en Amérique, c’est à dire du côté de la rivière de la Plata», sem data (c. 1740?) e sem
assinatura (Luis de Cunha?), ADC/L, Serie Azul, Ms. 19, fls. 162r-179r, nos 164v-165r.
[129]
Cristóbal de Acuña, «Memorial que dió el padre Cristóbal de Acuña...» in
«Expediente del Gran Pará 1615/1740-1754», AGI, Quito 158, fls. 43r-47r,
também reproduzidos em Figueroa e Acuña, Informes de jesuitas..., 43-44; e
Berredo, Annaes Históricos..., 299-302. Em 1648 o vice-rei do Peru referia-
se a esta rota como um «nuevo perniciosísimo camino»: «Relación del estado
en que dejó el reyno del Perú el Excmo. Sr. Marqués de Mancera (Lima, 8-
10-1648)», reproduzido em Memorias de los virreyes del Perú, org. José
Toribio Polo (Lima: Imprenta del estado, 1899), 1-66, nas 61-63.
[130] Consulta de 31-1-1617, AGI, Charcas 260, fls. 830r-v, no fl. 830r. Comparar também com
«Testimonio de autos sobre la arribada de franceses en Cartagena de Indias, procedentes del río
Marañón 1615-1616», in «Expediente del Gran Pará 1615/1740-1754», AGI, Quito 158, nas 1-34.
[131] Alonso Pérez de Salazar para o rei, Quito, 18-11-1638, BA, Cód. 51-V-41, fls. 1r-4r, fls. 2r-v,
também reproduzidos em Lucinda Saragoça, Da «Feliz Lusitânia» aos Confins da Amazónia (1615-
1662) (Lisboa: Edições Cosmos, 2000), 302-306; e «Relación del estado en que dejó el reyno del Perú
el Excmo. Sr. Marqués de Mancera (Lima, 8-10-1648)», reproduzido in Memorias de los virreyes del
Perú..., 1-66, na 63.
[132] «Relación del estado en que el conde de Chinchón deja del gobierno del Perú al señor virrey
conde de Mancera (Lima 26-1-1640)», in Relaciones de los virreyes y audiencias que han gobernado el
Perú (Madrid: Imprenta y Estereotipía de M. Rivadeneyra, 1871), vol. 2, 65-128, nas 113-114. Ligando
a preocupação com a presença portuguesa à preocupação com a predominância de indivíduos que eram
«poco seguros en las cosas de la fe católica y judaizantes» existia também a cédula datada de 17-10-
1602, reproduzida em Manuel Josef de Ayala, Diccionario de gobierno y legislación de Indias, org.
Marta Milagros del Vas Mingo (Madrid: Ediciones de Cultura Hispánica, 1988), n.º 4, na 114; e
«Relación de Luis de Velasco, virrey del Perú dada a su sucesor el conde de Monterrey sobre el estado
del mismo», Lima, 28-11-1604, em Relaciones de los virreyes y audiências…, vol. 2, 3-28, na 19. As
actividades de Teixeira contra os holandeses foram descritas em
Mathias C. Kiemen, The Indian Policy of Portugal in the Amazon Region, 1614-1693 (Nova Iorque:
Octagon Books, 1973), 24; e Berredo, Annaes Históricos…, 292.
[133] Consulta del Consejo de Indias, Madrid, 28-1-1640, BA, cod. 51-V-41, fls. 25r-26v, também
reproduzidos em Saragoça, Da «Feliz Lusitânia»…, 320-322.
[134] «Memorial que dio el padre Cristóbal de Acuña», AGI, Quito 158, fls. 43r-47r; e «Os padres
Cristóvão d’Acuña e André d’Artieda requerem aos oficiais da Armada... que não alonguem mais a sua
permanência no rio Negro», 1639, reproduzido em Saragoça, Da «Feliz Lusitânia»…, 349-351.
[135]A expedição (também) desencadeou um conflito entre as ordens religiosas para apurar qual
deveria ganhar jurisdição sobre o território, com os jesuítas a pedir exclusividade em virtude da
descoberta e da ocupação: «Capítulo tercero: Misión de los Omaguas, Jurimaguas, Aysuares... y otras
naciones desde Napo hasta el Rio Negro», documento sem data e sem assinatura, BPE, cod. cxv (2-15),
n.º 10.
[136]
«Regimento do governador do Maranhão Jácome Raimundo de Noronha
para o capitão-mor do Pará Pedro Teixeira (pós-1636)», Pedro Teixeira para
o rei, Maranhão, 29-5-1637, e consulta do Conselho Ultramarino, antes de
29-8- -1637, AHU_ACL_CU_009, cx. 1, d. 110, 112, e 114; e «O general
Pedro Teixeira faz uma descrição detalhada sobre o que encontrou, no
decurso de sua expedição», Quito, 2-1-1639, BA, Ms. 51-IX-28, fls. 5r-8,
também reproduzido em Saragoça, Da «Feliz Lusitânia»…, 309-312. Ver
também Maurício de Heriarte, «Descrição do estado do Maranhão, Pará,
Corupá e rio das Amazonas 1662-1667», reproduzido em Francisco Adolfo
de Varnhagen, História Geral do Brasil, antes da Sua Separação e
Independência de Portugal (São Paulo: Melhoramentos, 1975 [1854-1857]),
vol. 3, 171-190; Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraíso. Os Motivos
Edênicos no Descobrimento e Colonização do Brasil (São Paulo: Companhia
das Letras, 2010 [1959]), 160; e Heidi V. Scott, Contested Territory:
Mapping Peru in the Sixteenth and Seventeenth Century (Notre Dame:
University of Notre Dame Press, 2009), 122-124.
[137]
Relatório de Phelipe de Mattos Cotrim, membro da expedição, Lisboa,
24-10-1645, cit. in Rau e Gomes da Silva, Os Manuscritos..., vol. 1, n.º 80,
40-41; e Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 27-8-1645, AHU_
ACL_CU_013, cx. 1, d. 58.
[138]
Petição de Pedro de la Rua, Lisboa, 23-9-1645, anexada à Consulta do
Conselho Ultramarino, Lisboa, 24-6-1646, AHU_ACL_CU_013, cx. 1, d. 61.
[139]
«Relación del estado en que dejó el reyno del Perú el Excmo. Sr.
Marqués de Mancera (Lima, 8-10-1648)», in Memorias de los virreyes del
Perú..., 1-66, na 63.
[140] João Felipe Bettendorff, Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do
Maranhão (Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 1990 [c. 1698]), 50-51 e 59-60.
[141] Manuel-Maria Wermers, «O estabelecimento das missões carmelitanas no Rio Negro e nos
Solimões (1695-1711)», V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros (Actas) (Coimbra:
Comissão Organizadora do Colóquio 1965), vol. 2, 527-572, 540.
[142] José Monteiro de Noronha, Roteiro da Viagem da Cidade do Pará até as Últimas Colônias do
Sertão da Província (1768), org. Antonio Porro (São Paulo:
USP, 2006), pontos 104-110, nas 50-51.
[143] Tamar Herzog, «Una Monarquía, dos territorios: La frontera entre españoles y portugueses,
España y Portugal durante (y después) de la Unión», in España y Portugal en el mundo, org. Carlos
Martínez Shaw e José Antonio Martínez Torres (1580-1668) (Madrid: Polifemo, 2014), 139-155.
[144] Herzog, Defining Nations..., 64-118.
[145] Inicialmente, não era claro se os naturais da coroa de Aragão estavam incluídos entre os

naturais da Espanha: Demetrio Ramos Pérez, «La aparente exclusión de los aragoneses de las Indias:
Una medida de alta política de don Fernando el Católico», Estudios (1976): 7-40; Juan María Morales
Álvarez, Los extranjeros con carta de naturaleza de las Indias durante la segunda mitad del siglo xviii
(Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1980), 22-24; e Joseph de Veitia Linaje, Norte de la
contratación de las Indias occidentales (Buenos Aires: Comisión Argentina de Fomento
Interamericano, 1945 [1672]), 328-329. Os portugueses, que igualmente tentaram uma inclusão
semelhante, foram, não obstante, rejeitados: Recopilación de Indias, lei 28, título 27, livro 9, definia os
naturais de Espanha como incluindo «naturais dos nossos reinos de Castela, Leão, Aragão, Valência,
Catalunha, Navarra, Maiorca e Menorca», mas não de Portugal. Ver também Tamar Herzog, «Can you
tell a Spaniard when you see one? ‘Us’ and ‘them’ in the early modern Iberian atlantic», in Polycentric
Monarchies: How Did Early Modern Spain and Portugal Achieve and Maintain a Global Hegemony?,
orgs. Pedro Cardim, Tamar Herzog, José Javier Ruiz Ibáñez e Gaetano Sabatini (Brighton: Sussex
Academic Press, 2012), 147-161.
[146]
«Siendo Portugal parte de España, y los Portugueses tan naturales y tan verdaderos españoles y tan
naturales y leales vasallos de su majestad, no los deben en el Perú y más partes de las Indias
occidentales los jueces ejecutores interpretar ni incluir en la cédula real de los extranjeros» e «¿no son,
señor, los portugueses tan españoles como los navarros, provincianos de Guipúzcoa, vizcaínos,
aragoneses, valencianos y catalanes? Que aunque estos dichos son españoles, como nosotros los
portugueses, también como nosotros no son castellanos. ¿Son por ventura los dichos más españoles y
más leales vasallos de vuestra majestad que los portugueses?» Lourenço de Mendonça, «Suplicación a
su Majestad Católica... en defensa de los portugueses», Madrid, 1630, fls. 1, 8v-11r, 12v, 16v-18v, e
57v. Este texto foi estudado in Pedro Cardim, «‘Todos los que no son de Castilla son yguales.’ El
estatuto de Portugal en la monarquía española en el tiempo de Olivares», Pedrables , 28 (2008): 521-
552; e in Pedro Cardim, «De la nación a la lealtad al rey. Lourenço de Mendonça y el estatuto de los
portugueses en la Monarquía Española de la década de 1630», in Extranjeros y enemigos en Ibero-
américa. La visión del otro. Del imperio español a la Guerra de Independencia , org. David González
Cruz (Madrid: Sílex, 2010), 57-88. Gostaria de agradecer a Pedro Cardim por facilitar o acesso a uma
cópia deste documento. Ver também Maria da Graça A. Mateus Ventura, Portugueses no Peru ao
Tempo da União Ibérica. Mobilidade , Cumplicidades e Vivências (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa
da Moeda, 2005), vol. 1, 72-73, 76-77, e 242-269
[147] «Españoles portugueses», «españoles castellanos», e «españoles aragoneses»: Lourenço de
Mendonça, «Suplicación a su Majestad Católica del Rey Nuestro Señor, que Dios guarde, ante sus
reales consejos de Portugal y de las Indias en defensa de los portugueses», Madrid, 1630, fls. 16v-17r e
21v. No fl. 57v, Lourenço de Mendonça sugeria que «la unión de los reinos y monarquía de vuestra
majestad, que principalmente depende de estas tres coronas de Castilla, Portugal y Aragón unidas y
hermandades, que son la cuerda de tres hijos, que dice el espíritu santo que teniéndolos juntos y bien
unidos, es dificultosa de romper». Chama a estas três coroas juntas a «España».
[148]
Diego Marques em 17-5-1629 e Juan de Sosa Brito em 14-10-1676, de
acordo com AGI, IG, leg. 1536. Ver também Yvone Dias Avelino, «A
naturalização de mercadores-banqueiros portugueses para o exercício do
comércio na América dos Áustrias», Revista de História (São Paulo), 42(86)
(1971): 389-415; Ventura, Portugueses no Peru…, vol. 1, 72-73, 76-77, e
242-269; Jean-Frédéric Schaub, Portugal na Monarquia Hispânica (1580-
1640) (Lisboa: Livros Horizonte, 2001), 46-48; e Tamar Herzog, «Nosotros y
ellos: Españoles, americanos y extranjeros en Buenos Aires a finales de la
época colonial», in Ciudades en conflicto, orgs. José I. Fortea e Juan E.
Gelabert (Valhadolid: Junta de Castilla y León, 2008), 241-257.1, 72-73, 76-
77, e 242-269; Jean-Frédéric Schaub, Portugal na Monarquia Hispânica
(1580-1640) (Lisboa: Livros Horizonte, 2001), 46-48; e Tamar Herzog,
«Nosotros y ellos: Españoles, americanos y extranjeros en Buenos Aires a
finales de la época colonial», in Ciudades en conflicto, orgs. José I. Fortea e
Juan E. Gelabert (Valhadolid: Junta de Castilla y León, 2008), 241-257.
[149]
Parecer do bispo governador do Consejo de Estado, Madrid, 3-3-1683,
BPR, Ms. II/2760, fls. 250r-251v.
[150]
«Instrucción que han de observar los virreyes, presidentes,
gobernadores... con los naturales del reino de Portugal formada por el
licenciado don Manuel de Gamboa y Alsedo fiscal del Consejo de Indias con
el motivo de la presente guerra... publicada en 30-4-1704», AGI, Charcas
263.
[151]
«Tan unos en el trato, en la lengua y comercio que si no es la malicia
nadie puede hallar vanidad de nación, bando ni parcialidade», Carta do bispo
de Coria para «governadores portugueses», Coria, 13-4-1580, ADC/L, Serie
Azul, Ms. 474, 11-32, 13-14.
[152]
«Cristianos contra cristianos, católicos contra católicos, españoles contra
españoles», Carta de Pedro de Rivadeneira para Gaspar de Quiroga, Toledo,
16-2-1580, reproduzida em Vicente de la Fuente, ed., Obras escogidas del
padre Pedro de Rivadeneira (Madrid: M. Rivadeneyra, 1868), 589.
[153]
Pedro Barbosa de Luna, Memorial de la preferencia que hace el reino de Portugal y su consejo al
de Aragón y de las dos Sicilias (Lisboa: Geraldo de Vinha, 1627), fl. 14v; e Manuel Faria e Sousa,
Epítome de las historias portuguesas (Madrid: Francisco Martínez, 1628).
[154] Esta fonte é citada por Pedro Cardim, Portugal Unido y separado. Felipe II, la unión de
territorios y el debate sobre la condición política del reino de Portugal (Valhadolid: Instituto
Simancas, 2014), 204.
[155] «Pues no se ha visto en ningún tiempo desde el principio del mundo [a España] tan poblada, tan
rica, tan adornada de suntuosos edificios, ricos templos e ilustrada de hombres doctos, en todo género
de letras, artes y oficios mecánicos que son los que ennoblecen una provincia y reino y así con razón se
pueden llamar los reyes philippos, los más dichosos y bien afortunados de cuantos ha habido en
España», Martín Carrillo, Annales y memorias cronológicas. Contienen las cosas más notables así
eclesiásticas como seculares sucedidas en el mundo señaladamente en España desde su principio y
población hasta el año 1620 (Huesca: Viuda de Juan Pérez Valdivieso, 1622), fl. 415r. Ver também fl.
414v.
[156] De acordo com este plano, Portugal também estaria submetido a Espanha nas relações externas,
principalmente na guerra e na paz, e foram feitas provisões específicas para sujeitar o Brasil a Espanha,
não a Portugal. Os naturais de Espanha podiam fazer comércio na Ásia como se fossem portugueses, os
benefícios eclesiásticos em Portugal seriam apresentados alternadamente pelo rei português e espanhol,
a Inquisição em Madrid podia estudar apelos contra as decisões dos tribunais inquisitoriais de Portugal,
e o último apelo de todas as sentenças que envolviam naturais dos dois reinos seria adjudicado ao rei
espanhol, a partir daí instituído como imperador da Hispânia: «Proposiciones de ajustes entre Castilla y
Portugal en favor del duque de Braganza», documento sem data e sem assinatura, BRAH, Ms. 9-1070,
fls. 209r-210v. O rei espanhol como imperador é mencionado no fl. 210v.
[157] Consulta do Consejo de Estado, 23-12-1665, BNE, Ms. 12020, fls. 8r-16v.
[158] «Um dos mais notáveis reinos de Espanha»: Antonio Carvalho da Costa, Corografia
Portuguesa e Desripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal (Lisboa: Valentim da Costa
Deslandes. 1706), vol-1, 1; e Pedro Cermeño para o conde de Aranda, 13-7-1768, AHN, Estado leg.
4389, n.º 6.
[159] «Razões contra a união que se pretende fazer do reino de Portugal ao de Castela e suas
responsas em junho de 1638», BPE, cod. cix (1-13), n.º 3; Ana Isabel López-Salazar cod. Ms, «La
cuestión de la naturaleza de los ministros del santo oficio portugués. De las disposiciones legislativas a
la práctica cotidiana», Hispania. Revista española de historia, 71(239) (2011): 691-714, cita na página
695 uma opinião a favor desta unificação e nas páginas 696-698 a opinião contrária, que defende a
separação.
[160] Cardim, Portugal Unido y separado…
[161] «Parecer do bispo capelão-mor sobre a mercês a fazer... ao marquês de Montalvão», Lisboa, 1-
11-1649, cit. in Rau e Gomes da Silva, Os Manuscritos…, vol. 1, n.º 144, 86. Ver também Charles R.
Boxer, Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola, 1602-1686 (Londres: University of
London, 1952), 144-152; Rafael Valladares Ramírez, «El Brasil y las Indias españolas durante la
sublevación de Portugal (1640-1668)», Cuadernos de historia moderna, 14 (1993): 151-172, nas 155-
161 e 171; Rodrigo Bentes Monteiro, O rei no Espelho.
A Monarquia Portuguesa e a Colonização da América, 1640-1720 (São Paulo: Editora Hucitec, 2002),
33-72; Edval de Souza Barros, Negócios de Tanta Importância: O Conselho Ultramarino e a Disputa
pela Condução da Guerra no Atlântico e no Índico (1643-1661) (Lisboa: Universidade Nova de
Lisboa, 2008), 96-103; Stuart B. Schwartz, «The Voyage of the Vassals: Royal Power, Noble
Obligations, and Merchant Capital before the Portuguese Restoration of Independence», American
Historical Review, 96(3) (1991): 735-762; e Antonio Terasa Lozano, «De la raya de Portugal a la
frontera de guerra: Los Mascarenhas y las prácticas nobiliarias de supervivencia política durante la
guerra de la Restauração», in Las redes del imperio: Élites sociales en la articulación de la Monarquía
Hispánica, 1492-1714, org. Bartolomé Yun Casalilla (Madrid: Marcial Pons, 2009), 227-253.
[162] «Manifiesto en que se justifica no haber faltado a su obligación don Fernando Tellez de Faro
aunque estuvo en Portugal desde que se levantó aquel reino hacia el año de 1659», BNE, Ms. 8686, fls.
23r-31v.
[163]
David Birmingham, A Concise History of Portugal (Cambridge: Cambridge University Press,
1993), 47-48; Valladares, Portugal y la monarquía hispânica…, 42; e Leonor Freire Costa e Mafalda
Soares da Cunha, D. João IV (Lisboa:
Círculo de Leitores, 2006), 105.
[164] Consulta do Consejo de Indias, 8-5-1680, in «Expediente sobre el desalojo de los portugueses...
y demarcación de las dos coronas por lo tocante a la Colonia del Sacramento años de 1687 a 1680»,
AGI, Charcas 260.
[165]
«Aquel tiempo era muy bueno para no perder los parientes de Portugal y para asegurar
nuestros estados y excusarnos de las vejaciones y tributos que pagaríamos.» Este episódio gerou muita
correspondência e interesse. Ver, por exemplo, «Copia del papel que dio el duque de Medina Sidonia
en 21-9-1641 y lo que Su Majestad le respondió», AHN, Estado 3028, Exp. 18.
[166]
«Deseando evitar el derramiento de sangre cristiana, muertes, robos,
destrucciones de lugares y haciendas y los más daños y pérdidas que la guerra
trae consigo y liberar y aliviar las dichas ciudades, villas y lugares y sus
moradores de ellos de los grandes arruinaciones, tiranías, tributos, pechos e
imposiciones... con que son apremiados y destruidos tratan los más como
esclavos que como vassalos.» D. João IV para os habitantes de Castela,
Lisboa, 9-7-1641, BNE, Ms 721, fls. 67r-68r. João prometia que «queriendo
ellos gozar de la paz que hasta ahora hubo debajo de mi dominio y amparo
los recibiré por naturales portugueses... y no se darán oficios, beneficios y
jurisdicciones, encomiendas o rentas alguna en las dichas ciudades, villas y
lugares de Castilla y León sino a los naturales de ellos sin que se pueda dar
por título alguno a portugueses sino los castellanos y con estos admitidos a
todos las honras, dignidades, oficios, beneficios, encomiendas de estos reinos
de Portugal promiscuamente con los portugueses naturales de ellos y cesarán
las aduanas y derechos de los puestos secos y mojados de reino a reino de los
lugares que tomaren mi voz y estuviesen a mi obediencia».
[167]
Rafael Valladares Ramírez, «De ignorancia y lealtad. Portugueses en
Madrid, 1640-1670», Torre de los Lujanes , 37 (1998): 133-150; e Fernando
Bouza Álvarez, «Entre dos reinos, una patria rebelde. Fidalgos portugueses
en la monarquía hispánica después de 1640», Estudis 20 (1994): 83-103, nas
85-86 e 88-90.
[168]
Costa e Cunha, D. João IV... , 110 e 113-114; Mafalda de Noronha
Wagner, A Casa de Vila Real e a Conspiração de 1641 contra D. João IV
(Lisboa: Edições Colibri, 2003); e Maria Paula Marçal Lourenço, A Casa e o
Estado do Infantado , 1654-1706 (Lisboa: Universidade de Lisboa, 1995),
30-32.
[169]
«Discurso que hizo el conde-duque de Olivares a portugueses que se
hallaron en la corte al tiempo de la sublevación de Portugal 12-12-1640»,
BRAH/M, Ms. 9-1070, fls. 213r-214r.
[170]
Valladares, Portugal y la monarquía hispânica…, 53-54.
[171] Id. ibid., 42.
[172] Aureliano Leite, «Amador Bueno, sua vida e, em especial, o seu papel dentro da capitania de S.
Vicente do estado do Brasil, nos acontecimentos da restauração da monarquia portuguesa»; e Afonso
de E. Taunay, «A reintegração de S. Paulo no império colonial português, em 1641 e o episódio de
Amador Bueno da Ribeira»; ambos in Congresso do Mundo Português (Lisboa: Comissão Executiva
dos Centenários, 1940), vol. 7, parte 2, 549-567, e vol. 9, parte 1, 265-288; e José Carlos Vilardaga,
«São Paulo na órbita do império dos Filipes: Conexões castelhanas de uma vila da América portuguesa
durante a União Ibérica (1580- -1640)» (tese de doutoramento, Universidade de São Paulo, 2010), 352-
363.
[173]
Guida Marques, «L’invention du Brésil entre deux monarchies. Gouvernement et pratiques
politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibérique (1580-1640)» (tese de doutoramento, École
des Hautes Études en Sciences Sociales, 2009), 470-471.
[174] «Aquí todo es estar suspensos, entre el recelo y la esperanza», o marquês de Mancera para o
rei, Lima, 22-7-1641, cit. in Fernando Serrano Mangas, La encrucijada portuguesa: Esplendor y
quiebra de la unión ibérica en las Indias de Castilla (1600-1668) (Badajoz: Diputación Provincial de
Badajoz, 1994), 95.
[175]
Consulta de 27-12-1640, AGI, IG 761. Algo semelhantes eram duas
cédulas reais com data de 7-1-1641, AMQ, Colección de Cédulas Reales,
1601-1660, 316-318. O sentimento popular, contudo, poderá ter decidido de
outro modo: Stuart Schwartz, «Panic in the indies: the portuguese threat to
the spanish empire, 1640-1650», Colonial Latin American Review, 2(1-2)
(1993): 165-187.
[176] «Relación del estado en que dejó el reyno del Perú el Excmo. Sr. Marqués de Mancera (Lima,
8-10-1648)», in Memorias de los virreyes del Perú..., 1-66, nas 18 e 60; e «Relación del estado en que
deja el gobierno destos reynos del Pirú el conde de Salvatierra, Marqués de Sobroso, al Excmo. señor
virrey, conde de Alva de Aliste y Villaflor», in Memorias de los virreyes del Perú..., 1-75, na 45;
«Autos contra don Domingo Veiga y Vaca, Portugués.... Año de 1652-año de 1658», carta do vice-rei
conde de Alva Aliste para o rei, datada de Lima 26.81658, ambos em AGI, Lima 60, n.º 40, e cédula
real à audiencia de Quito, 5-10-1648, AGI, Quito 209, lib. 3. A desunião com Portugal também
explicava e justificava a perseguição de muitos portugueses, que eram acusados de criptojudaísmo pela
Inquisição: Harry E. Cross, «Commerce and orthodoxy: A Spanish response to Portuguese commercial
penetration in the viceroyalty of Peru, 1580-1640», The Americas, 35(2) (1978): 151-167; Stanley M.
Hordes, «The Inquisition as economic and political agent: The campaign of the Mexican Holy Office
against the Crypto-Jews in the mid-seventeenth century», The Americas, 39(1) (1982): 23-38; e Alonso
W. Quiroz, «The expropriation of Portuguese New Christians in Spanish America, 1635-1649», Ibero-
Amerikanisches Archiv, nova série, 11(4) (1985): 407-465.
[177] «Los portugueses que hoy se hallan en la isla los más naturalizados por vuestra majestad son
tan afectos a su real servicio, y aún los de menos raíces que aquí se hallan de paraje, que no ha parecido
convenir proceder con ellos con desconfianza, siendo bien no hacerle a vuestra majestad de vasallos
enemigos.» O governador ao rei, San Juan de Puerto Rico, 22-6-1641, AGI, Santo Domingo, 156, cit.
in Serrano Mangas, La encrucijada portuguesa..., 138. Ver também 139.
[178] «Relación del estado en que dejó el reyno del Perú el Excmo. Sr. Marqués de Mancera (Lima,
8-10-1648)», in Memorias de los virreyes del Perú..., 1-66, nas 18 e 60. Ver também Serrano Mangas,
La encrucijada portuguesa..., 95.
[179] «No se aborrece la nación, sino la culpa y que solo se trata de prevenir y preservar el riesgo que
puede haber estando junta tanta gente»; citado em Serrano Mangas, La encrucijada portuguesa..., 142.
Ver também 144.
[180] «Son dichos portugueses afectos a su nación y no a vuestra majestad ni a los castellanos.» Eram
«enemigos dentro de casa»: Pedro Fernández de Castro y Velasco para o Consejo de Indias, Buenos
Aires, 18-2-1683, AGI, Charcas 261, fls. 283r-4v, nos fls. 283r-v.
[181] Reunião da Câmara Municipal de 24-11-1631, in Acuerdos del extinguido cabildo de Buenos

Aires (Buenos Aires: Archivo General de la Nación, 1909), vol. 7, livros 4-5, 283-287. Ver também R.
de Lafuente Machain, Los portugueses en Buenos Aires (siglo xvii) (Madrid: Tipología de Archivos,
1931), 106-107; Jorge Daniel Gelman, «Cabildo y élite local: El caso de Buenos Aires en el siglo xvii»,
Revista latinoamericana de historia económica y social, 6(2) (1985): 3-20, 4; e Herzog, «Nosotros y
ellos…». Redes sociais e familiares que ligavam os indivíduos na América portuguesa e espanhola
foram igualmente descritas em Vilardaga, «São Paulo…», 347-349.
[182] «Manifiesto en que se justifica no haber faltado a su obligación don Fernando Tellez de Faro
aunque estuvo en Portugal desde que se levantó aquel reino hacia el año de 1659», 6-6-1659, BNE, Ms.
8686, fls. 23r-31v. Ver também Costa e Cunha, D. João IV..., 105.
[183] Terrasa Lozano, «De la raya de Portugal…».
[184] Esta citação aparece na sua (não datada) «Relación de servicios», actualmente no ACEDAL.
Gostaria de agradecer ao duque de Abrantes por me ter enviado uma cópia. A esperança de que a
rebelião tivesse uma vida curta era evidente na petição do conde para pagar a media anata sobre o título
de nobreza de que o seu primogénito fora investido, «quando ele recuperar estas propriedades»
existentes em Portugal: «Grandeza y títulos, Linares, condado de», 13-4-1643, e «Carta de privilegio
del rey Felipe IV», Madrid, 28-9-1666, ambos no ACEDAL.
[185] Príncipe D. Pedro para Dinis de Melo de Castro, Lisboa, 2-3-1668, BA, 51.VI.12, fl. 173; e
Jorge Penim de Freitas, O Combatente durante a Guerra da Restauração: Vivência e Comportamentos
dos Militares ao Serviço da Coroa Portuguesa, 1640-1668 (Lisboa: Prefácio, 2007), 104-106.
[186] Serrano Mangas, La encrucijada portuguesa..., 38-39 e 154; Teresa Fonseca, «The municipal
administration in Elvas during the Portuguese Restoration War (1640-1668)», E-Journal of Portuguese
History, 6(2) (2008): 1-15, 13; e carta da Inquisição de Évora para D. Filipe IV, 24.5-1663, BNE, Ms.
2390, fl. 291.
[187] Fernando Cortés Cortés, Militares y Guerra en una tierra de frontera: Extremadura a
mediados del siglo xviii (Mérida: Editora Regional de Extremadura, 1991), 28; e Fernando Cortés
Cortés, «Estremadura Espanhola, 1640-1688: Conselhos e cargos concelhios face aos alojamentos
militares», Penélope 9/10 (1993): 99-111, 99, 104-105, e 110-111.
[188]
A bibliografia acerca deste assunto é muito abundante. Ver, por exemplo, Luís Oliveira
Andrade, História e Memória: A Restauração de 1640: Do Liberalismo às Comemorações Centenárias
de 1940 (Coimbra: Minerva, 2001); e Fernando Dores Costa, «Interpreting the Portuguese War of
Restoration (1641- -1668) in a European context», E-Journal of Portuguese History, 3(1) (2005).
[189] Sebastião de Veiga Cabral, «Representação estudiosa e útil para as majestades grandeza de
vassalos de Portugal», Abrantes, 20-9-1711, BRAH/M, Ms. 9-5556, por exemplo, capítulo 1, parte 1.
[190] Algumas das dificuldades de admissão da derrota espanhola e da independência portuguesa
estão descritas em BPR, Ms. II/2825, e BRAH/M, Ms. 9.1070. Em 1665 o Consejo de Estado espanhol
ainda sugeria que não havia nada de natural na separação de Espanha e Portugal: Consulta do Consejo
de Estado, 23-12-1665, BNE, Ms. 12020, fls. 8r-16v.
[191] «Memoria del Marqués de Grimaldi sobre límites con el Brasil 1776», AGN/M, catálogo de
livros del ex Archivo y Museo Histórico Nacional, Livro 72, ponto 5. Cópias adicionais deste
manuscrito podem ser encontradas em AGN/BA, BN 180, Exp. 785, fls. 1r-31v, in AGN/BA, BN 354,
Exp. 6169 e BN 384, Exp. 6598, e em BRAH/M, 9-1663: Colección Mata Linares, t. 8, fls. 59r-129r.
[192] «Por muchos años estuvieron sustraídos del dominio de Portugal, viviendo como republicanos
en su país libre». Marquês de Valdelirios para o marquês de Grimaldi, Madrid, 11-3-1776, AHN,
Estado 4371, 59-64, na 59. O argumento de que os paulistas viviam «sustraídos de toda autoridad, sin
ley ni religión» até se sujeitarem à soberania do Brasil, no início do século xviii, surge na «Memoria
sobre la línea divisoria de los dominios de SM y del rey de Portugal, 30-5-1805», BRAH/M, 9-1723,
Colección Mata Linares, vol. lxviii, fls. 697-714, fls. 706r-v. Ver também «Informe do bispo de Buenos
Aires dirigido ao papa sobre as tropelías practicadas pelos portugueses de São Paolo», Buenos Aires,
30-9-1637, reproduzido em Jaime Cortesão, org., Jesuítas e Bandeirantes no Tape (1615-1641):
Manuscritos da Coleção Angelis (Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1969), 281-282; Vincente
Aguilar y Jurado e Francisco Requena, «Historia de las demarcaciones en la América entre los
dominios de España y Portugal», Madrid 1797, AHN, Estado 3410-2, pontos 340-341; e Rafael Ruiz,
«The Spanish-Dutch war and the policy of the Spanish crown toward the town of São Paulo»,
Itinerario, 26(1) (2002): 107-125, nas 118-119.
[193] «Brindar a saúde de Philippe V e a darem publicas vivas por el rei de Espanha», Manoel
Rodrigues Torres para Luís Mascarenhas, Cuiabá 20-8-1740, AHU_MT_ cx. 2, d. 136, citado em
Francismar Alex Lopes de Carvalho, «Lealdades negociadas: Povos indígenas e a expansão dos
impérios ibéricos nas regiões centrais da América do Sul (segunda metade do século xviii)» (tese de
doutoramento, Universidade de São Paulo, 2012), 517 e 529-530.
[194] «A vila de São Paulo há muitos anos que é república de per si, sem observância de lei nenhuma,
assim divina, como humana... assim que me parece inútil persuadi-los a que façam serviço a vossa
majestade, porque são incapazes, e vassalos que vossa majestade tem rebeldes, assim em São Paulo,
donde são moradores, como no sertão, donde vivem o mais do tempo e nenhuma ordem do governo
geral guardam, nem as leis de vossa majestade»: Governor Antônio Luís Gonçalves da Câmara
Coutinho em 1692 de acordo com Laura de Mello e Souza, «Vícios, virtudes e sentimento regional: São
Paulo, da lenda negra à lenda áurea», Revista de História, 142-143 (2000): 261-276, 263. Ver também
Luiz dos Santos Vilhena, Recompilação de Notícias da Capitania de S. Paolo (Bahia:
Imprensa Official do Estado, 1935 [1802]), 31-32 e 36-38.
[195] Jaime Cortesão, Rapôso Tavares e a Formação Territorial do Brasil (Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, 1958); Affonso d’Escragnolle Taunay, História Geral das Bandeiras
Paulistas (São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo, 1924-1950); e Sérgio Buarque de Holanda,
Caminhos e Fronteiras (Rio de Janeiro: José Olympio & Prolivro, 1975). Ver também Janice Theodoro
e Rafael Ruiz,
«São Paulo, de vila a cidade: A fundação, o poder público e a vida política», in História da Cidade de
São Paulo. A Cidade Colonial, orgs. Antonio Arnoni Prado et al. (São Paulo: Editora Paz e Terra,
2004), vol. 1, 69-113, nas 86, 99-101, e 108-112; e Vilardaga, «São Paulo»..., 281-363.
[196]
«Relación de los agravios que hicieron algunos vecinos y moradores de la villa de San Pablo»,
Bahia, 10-10-1629, reproduzidos in Campaña del Brasil , vol. 1, 9-24; e «Auto das penas de
excomunhão e rigoroso procedimento, intimados pelo padre Diogo de Alfaro comissário do santo
oficio, contra os portugueses de São Paulo», datado de 19-2-1638 e 1-3-1638, e carta do Padre Diogo
de Boroa, 4-3-1637, todos reproduzidos em Cortesão, Jesuítas e Bandeirantes… , 143-148 e 169-170.
[197] ANTT, «Manuscritos do Brasil», livro 1116, n.os 55 e 56, fls. 604 e 610. Ver também «Parecer
de António Rodrigues da Costa sobre a conquista do Maranhão», pós-1707, AHU_ACL_CU_009, cx.
11, d. 1098; e Juan e Ulloa,
Disertación histórica..., 147-148.
[198] «Los países no conquistados son unas selvas y montañas de difícil tránsito, y los llanos muy
húmedos, cenagosos y ardientes, por lo que no pueden mantenerse largo tiempo en ellos los españoles.
Las naciones que allí habitan son bárbaros, no cuidan de cubrir su desnudez, y sus casas son tan pobres
que nada pierden aunque se las quiten, porque con cuatro palos y unas hojas de árboles en pocas horas
fabrican otras en el lugar que les parece. Reducirlos por armas se ha tenido siempre por imposible,
respecto de que con mudarse de un lugar a otro e internarse en lo más espeso de la montaña, como lo
han hecho en las ocasiones que se les ha buscado, quedan frustradas las diligencias, perdidos los gastos
y expuestas muchas vidas por las enfermedades que se contraen. Y es la única esperanza que admitan
misioneros, y que éstos, con halagos y otras industrias, los atraigan, que ha sido el modo con que se han
logrado las reducciones que van referidas, y será mayor la conquista de un misionero que la que puede
hacer un numeroso ejército, pero ésta es obra de Dios y no de los hombres.» Conde de Superunda.
Relación de Gobierno, Perú (1745-1761), org. Alfredo Moreno (Madrid: CSIC, 1983 [1761]), 214.
Algo semelhante era a opinião do vice-rei Vertiz: «Memoria de Vertiz», Buenos Aires, 12-3-1784,
reproduzida em Memorias de los virreyes del Río de la Plata (Buenos Aires: Editorial Bajel, 1945),
144.
[199] Bettendorff, Crônica da Missão..., 140-143.
[200] Id. ibid., 141.
[201]
«Petición de respuesta a la que presentó el padre Diego de Urena
procurador... en el pleito que tenemos con los padres dominicos...», 19-5-
1684, ARSI, «Manuscripta antiquae societatis pars i. assistentiae et
provinciae, provincial nr. et Quito», n.º 18, fls. 14r-v; Rodríguez Castelo,
Diario del padre Fritz..., 101-102; «Votos do padre António Vieira», 12-7-
1694, BA, 51-V-45, fl. 3r; Manuel Mariano de Echeverría, Quito, 11-7-1771,
ANQ, Gobierno 24, Exp. 9 de 14-7- -1771, fl. 3r; e carta de Bernardo Pereira
de Berredo, Colégio de Santo Antão, 14-6-1749, reproduzida em Bernardo
Pereira de Berredo, Annaes Historicos do Estado do Maranhão, ci-ciii, na
ciii. Já em 1917 Herbert Bolton reconhecia a importância dos missionários
como (1) exploradores e agentes diplomáticos, (2) defensores da fronteira, (3)
agentes que defendiam uma maior expansão da fronteira, e (4) agentes
responsáveis pela integração dos índios na commonwealth espanhola: Herbert
E. Bolton, «The mission as a frontier institution in the Spanish-American
colonies», American Historical Review, 23(1) (1917): 42-61.
[202]
«Estos indios de esta nación deben ser tratados no como otros indios sino
como españoles porque su vida, obras, fidelidad y amor que tienen a vuestra
majestad y obediencia a sus gobernadores acudiendo a todo cuanto se les
encarga del real servicio con grande puntualidad.» Pedro Baigorri para o rei,
Buenos Aires, 15-3-1656, reproduzido em Jaime Cortesão, org., Jesuitas e
Bandeirantes no Itatim (1596-1760) (Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,
1952), 273-275, nas 274-275. Algo semelhante era a carta do vice-rei de
Lima para o bispo de Misque, Lima, 25-10-1765, AGN/BA, IX.4.3.5; e
declaração de Alonso Vaca, em «Razón de lo que parece... sobre la población
que los portugueses intentan hacer 50 leguas adentro del río Marañón», 1677,
BRAH/M, Jesuitas vol. clxxxvii , n.º 23 antiguo, 29 moderno.
[203]
«Voto do padre António Vieira sobre as dúvidas dos moradores de São
Paulo acerca da administração dos índios», Bahia, 12-7-1694, in António
Vieira, Escritos Históricos e Políticos , org. Alcir Pécora (São Paulo:
Martins Fontes, 1995), 429-444, nas 429-430, e Vieira, Carta n.º lxxxvi para D.
Afonso VI, 11-2-1660, reproduzida em Luiz Felipe Baêta Neves, org.,
Transcendência , Poder e Quotidiano: As Cartas de Missionário do Padre
Antônio Vieira (Rio de Janeiro: Atlântica Editora, 2004), 346-363, na 346.
[204] «Habiendo dichos indios de sus libres hechose voluntarios vasallos de España (aun cuando sin
duda hubieran sido de dentro la línea de Portugal y pertenecientes a la conquista de los portugueses)
España en aceptar su libre y voluntario vasallaje no pasó la línea ni se entremetió en los derechos de
Portugal; porque no conquistó a dichos indios, sino que ellos que no estaban obligados a someterse
voluntariamente ni a España ni a Portugal ni a seguir los cálculos de la línea de Alejandro VI usando de
su libertad se sujetaron al dominio de España... Porque el derecho de conquistar dentro de los límites,
aunque dudosos, no lo tenían sino a favor de la fe y mientras dentro de aquellos términos controvertidos
había infieles que convertir y conquistar; luego habiendo ya llegado los portugueses a los términos de
los indios guaranís, chiquitos y moxos después que estos son cristianos y después de que ellos libre y
espontáneamente se sujetaron a España, ya aquí debe parar y acabarse el derecho de conquista que
habían los portugueses en otro tiempo»: «Ruegan los padres misioneros... al padre confesor del rey
considere algunos cargos de la conciencia de su majestad que resultan de la ejecución del real tratado
[de 1750]», anónimo, sem data, ANC/S, Jesuitas, vol. 197, fls. 109r-110v, nos fls. 109v-110r.
[205] Estes índios «no han conocido otros conquistadores, que los padres de la compañía de Jesús de
la corona de Castilla, y aunque todas las naciones que pueblan aquel vasto espacio se entregaron al
yugo del vasallaje de los reyes de Castilla antes que al de algún otro príncipe, y que así no hay razón, ni
fundamento por dónde pueda introducirse el derecho de conquista, ni de posesión en ellos a favor de los
portugueses.» Juan e Ulloa, Disertación histórica, 147-148.
Ver também 135-136 e 165-166.
[206] Devo esta formulação a Anthony Pagden.
[207] «Ni tienen aquí qué predicar los políticos, que pues aquellas tierras están en poder de católicos

y tienen misioneros, cualesquiera que sean poco importa estén sujetas al dominio de Portugal o al
dominio de Castilla, ya que no tiene que esperar la real hacienda provecho alguno, antes bien mucho
gasto de su recuperación; porque según lo dicho cada cual puede claramente echar de ver que
permaneciendo aquella región en poder de los portugueses, aunque católicos, a más de que irán cada
día más y más extendiendo sus crueldades pretensiones y dominio hasta introducirse en lo más interior
del Perú, de la perdición de tantas almas que acontece estando en poder de los portugueses del Pará, no
puede no seguirse un cargo gravísimo a los reyes católicos de Castilla a quienes lo sumos pontífi ces
hicieron donación de estos reinos de América con condición de que promoviesen con todos los medios
posibles la conversión de los infieles.» Andrés de Zárate, «Relación de la misión apostólica que tiene a
su cargo la provincia de Quito de la compañía de Jesús en el gran río de Marañón», 3-10-1735, AGI,
Quito 158, fls. 246r-257v, nos fls. 256r-v.
[208] «¿Por qué ley divina o positiva o por qué título pertenecen a los misioneros castellanos los
indios, que habitan estos desiertos? ¿Tienen acaso algún decreto de la santísima trinidad, o alguna bula
pontificia, para que ellos solos puedan
[209] «Relazione dello stato delle missioni dei gesuiti nel Paraguay, Chile e Tucuman», 16-5-1661,
ASPF/R, SOCG, vol. 257, fls. 184r-185v, «Notizie circa lo stabilimento de pp gesuiti nel Paraguay»,
anónimo, sem data, ASPF/R, SC, vol. 1, fls. 98r-111r; «Relação de algumas coisas tocantes ao
Maranhão e Grão- -Pará escrita pelo padre Luis Figueiroa», sem data, BRAH/M, Jesuitas vol. cix, n.º
73. Ver também Magnus Mörner, The Political and Economic Activities of the Jesuits in the La Plata
Region: The Habsburg Era (Estocolmo: Biblioteca e Instituto de Estudos Ibero-Americanos, 1953), 72;
Francisco Mateos, «Avances portugueses y misiones españolas en América del Sur», Missionalia
hispánica, 5(14) (1958): 459-504, nas 486-487; Basílio de Magalhães, Expansão Geográfica do Brasil
Colonial (São Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1978), 155-164; Guy Martinière,«Frontières
coloniales en Amérique du sud: Entre «Tierra Firme» et ‘Maranhão’ (1500-1800)», Cahiers des
Amériques Latines, 17 (1978): 147-181, nas 171 e 174; F. M. Renard Casevitz, Th. Saignes, e A. C.
Taylor, Al este de los Andes: Relaciones entre las sociedades amazónicas y andinas entre los siglos xv y
xvii (Quito: Abya-Yala, 1988), vol. 2, 136-140; e Jans-Jürgen Prien, «O papel dos jesuítas portugueses
no Brasil entre 1549 e 1640», in A União Ibérica e o Mundo Atlântico. Segundas Jornadas de História
Ibero-Americana (Lisboa: Edições Colibri, 1997), 217-240.
[210]
Petição de frei Domingo de Brieva, não datada, e decisão real de
aprovação do pedido datada de 30-10-1642, AGI, Quito, 7; «Memorial
presentado en el real consejo de las Indias acerca del descubrimiento del río
de las Amazonas», AGI, Quito 158; e Consulta do Conselho da Fazenda,
Lisboa 13-3-1618, AHU_ ACL_CU_009, cx. 1, d. 19. Ver também Mariano
Cuesta Domingo, «Descubrimientos geográficos durante el siglo xviii : Acción
franciscana en la ampliación de las fronteras», Archivo Ibero-Americano ,
52(205-208) (1992): 293-342; e Maria Adelina Amorim, Os Franciscanos
no Maranhão e Grão Pará. Missão e Cultura na Primeira Metade de
Seiscentos (Lisboa: CLEPUL e CEHR, 2005), 135 e 146.
[211] A correspondência datada de 1760-1761 entre os governadores de Santa Cruz de la Sierra
(espanhol) e Mato Grosso (português), incluída em AGN/ BA, IX.4.3.5, faz alusão a estas questões.
Ver também o governador do Paraguai para Nicolás Arrendondo, Assunção do Paraguai 8-2-1792,
AHN, Estado 4555, n.º 16; e Juan Carlos Bazán, «Examen jurídico y discurso historial sobre... los
confines de los reinos de Castilla y Portugal... en el Río de la Plata», s. d., em BNE, Ms. 3042, fls. 42r-
101v, fls. 55r e 91r.
[212] O marquês de Valdelirios para o marquês de Grimaldi, Madrid, 11-3-1776, AHN, Estado 4371,
39-40.
[213] «Aumento da cristandade nos índios, como também para a conservação... de meus domínios
por aquela parte do sertão»: «Instruções régias públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça,
capitão-geral do estado do Pará e Maranhão (1751)», reproduzidas em J. Lúcio de Azevedo, Os
Jesuítas no Grão Pará, Suas Missões e a Colonização (Lisboa: Livraria Editora, 1901), 348-356, nota
F, art. 21 na 352. Ver também «Parecer do procurador da coroa para o príncipe regente Dom Pedro
sobre as missões religiosas... nas capitanias do Maranhão e Pará», Lisboa, antes de 9-5-1671,
AHU_ACL_CU_ 013, cx. 2, d. 143; e Andrés de Barros, Vida do Apostólico Padre Antonio Vieyra da
Companhia de Jesus (Lisboa: Nova Oficina Sylviana, 1746), livro 1, 93-95.
[214] Carta não assinada enviada para o marquês de Valdelirios, San Nicolás, 1-12-1757, AHN,
Estado 3706; Relatório sem data de Diego Altamirano, reproduzido em Campaña del Brasil, vol. 1,
361-366; João de Maia da Gama para o rei, Belém, 15-8-1723, AHU_ACL_CU_013, cx. 7, d. 650;
Matias da Costa e Sousa para António Duarte de Barros, Belém, 11-8-1736, AHU_ACL_CU_013, cx.
19, d. 1736; e André da Piedade para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Maranhão, 4-1-1760,
AHU_ACL_CU_009, cx. 39, d. 3842. Ver também «Informe del padre Francisco Ruiz, Jesuita», e o
debate que se lhe seguiu em 1708, «Relación del estado de las misiones del Marañón o Mainas a cargo
de la compañía de Jesús por Andrés de Zárate», Quito, 30-10-1735, e Ángel María Manca para Miguel
de Villanueva, Puerto de Santa María, 13-12-1740, todos em AGI, Quito 158.
[215]
«Razón de lo que parece por los informes... sobre la población que los portugueses intentan
hacer 50 leguas adentro del río Marañón, 1677», BRAH/M, Jesuitas vol. clxxxvii, n.os 23 antiguo, 29
moderno. Os jesuítas também participavam no debate científico da década de 1680 em torno da
correcta localização do meridiano de Tordesilhas: Francisco Potrey para Francisco de Amolaz, Madrid,
27-12-1690, AGI, Charcas 261, fls. 607r-608r.
[216] Juan de Andosilla para o Consejo de Indias, Madrid, 18-11-1680, AGI, Charcas 260, também
reproduzido em Campaña del Brasil..., vol. 1, 301-302.
[217]
«Extracto de lo que resulta del expediente que se vió en el consejo acerca de la visita que hizo
el doctor don Diego de Riofrío y Peralta... de las misiones que están en los ríos Napo y Marañón», AGI,
Quito 158, fls. 147r-154r, especialmente 152v-153v. Ver também Inácio Guerreiro, Os Tratados de
Delimitação do Brasil e a Cartografia da Época (Lisboa: Chaves Ferreira Publicações, 1999), 19-25.
[218]
Informe do padre Samuel Fritz, 23-3-1721, AGI, Quito 158, fls. 14v-17v.
As actividades de Fritz estão descritas no seu diário (Rodríguez Castelo,
Diario del padre Fritz). Ver também M. Jiménez de la Espada, org., Noticias
auténticas del famoso río Marañón (1738), um número especial do Boletín de
la Sociedad Geográfica de Madrid, 26-32 (1889-1892), reeditado como
Paolo Maroni, Noticias auténticas del famoso río Marañón, org. Jean Pierre
Chaumeil (Iquitos: Instituto de Investigación de la Amazonía Peruana, 1988);
e «Apuntes acerca de la línea de demarcación entre las conquistas de España
y Portugal en el Río Marañón», in «Capítulo tercero: Misión de los
[219]
André Ferrand de Almeida, «Samuel Fritz and the mapping of the Amazon», Imago Mundi, 55
(2003): 113-119; André Ferrand de Almeida, «Samuel Fritz revisited: the maps of the Amazon and
their circulation in Europe», in La cartografia europea tra primo Rinascimento e fine dell’Illuminismo,
orgs. Diogo Ramada Curto, Angelo Cattaneo e André Ferrand de Almeida (Florença: Olschki, 2003),
133-153; e Camilla Loureiro Dias, «Jesuit maps and political discourse: the Amazon river of Father
Samuel Fritz», The Americas, 69(1) (2012): 95-116.
[220] Informação dada por Paolo Maroni ao presidente de Quito em 13-6-1733; Tomás Nieto Polo,
procurador da ordem em Madrid em 30-8-1741; bem como as suas cartas para Joseph de la Quintana,
3-7-1743; todas em AGI, Quito 158.
[221] Nicolás de Millinedo, «Relación instructiva del origen y conclusión del tratado de límites y de
todos los accidentes que impidieron su ejecución hasta que se pensó en anularle», AHN, Estado 3386; e
«Representación hecha al virrey del Perú sobre los inconvenientes que resultan a la corona del tratado
del año de 50», Córdoba del Tucumán, 1751, ANC/S, Jesuitas, vol. 197, pieza 14, fls. 123r- -133v.
Muitos destes documentos foram reproduzidos em Documentos relativos a la ejecución del tratado de
límites de 1750 (Montevideu: Instituto Geográfico Militar, 1938) e nos Anais da Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro, 52 (1958).
[222] Jose Monteiro de Noronha para Manoel Bernardo de Mello e Castro, Barcelos, 14-1-1762,
APEP, cod. 122, doc. 1, fl. 2r.
[223] Aloysio Conrado Pfeil, «Compêndio das mais substanciais razões e argumentos que
evidentemente provam que a capitania chamada do Norte situada na boca do rio das Amazonas
legitimamente pertence a coroa de Portugal», Pará, 1-4-1700, BA, 51-VI-11, fls. 151r-166r; e Aloysio
Conrado Pfeil, «Anotação contra incoerentes pontos no tratado da justificação formada pelos
plenipotenciá- rios na corte real de Lisboa e impressa em 1681», sem data, BA, 51-VI-11-II, fls. 168r-
173r. Outra cópia está incluída em BA, 51-V-22. O mapa da autoria de Pfeil foi mencionado em Jódoco
Peres para o geral da ordem em Roma, Coimbra, 27-8-1685, ARSI, «Manuscripta antiquae societatis
pars i. assistentiae et provinciae», Bras. 26, fl. 112r. Os portugueses poderão tê-lo usado em
negociações em Utrecht: Nelson Sanjad, «As Fronteiras do ultramar: Engenheiros, matemáticos,
naturalistas e artistas na Amazônia, 1750-1820», in Artistas e Artífices e a Sua Mobilidade no Mundo
de Expressão Portuguesa. Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte (Porto:
Universidade do Porto, 2007), 431-437, na 431. Ver também Serafim Leite, «As primeiras cartas dos
jesuítas do Brasil para o conhecimento da América (1549-1562)», in Novas Páginas de História do
Brasil (Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1962), 184-191; e Max Justo Guedes, «A cartografia
da delimitação das fronteiras do Brasil no século xviii», in Cartografia e Diplomacia no Brasil do
Século XVIII (Lisboa: Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997), 10-
38, na 14.
[224] Aloysio Conrado Pfeil para o jesuíta geral em Roma, Colégio Santo Alexandre, Pará, 27-2-
1691, ARSI, «Manuscripta antiquae societatis pars i. assistentiae et provinciae», Bras. 9, fls. 361-368v,
ponto 8, nos fls. 365v-366r. Ver também João Felipe Bettendorff, «Informação a Sua Majestade sobre o
sucedido no Maranhão em fevereiro de 1684», BPE, cod. cxv (2-11), fls. 77r-80v; e Bettendorff,
«Informação dos missionários da companhia de Jesus do estado do Maranhão hoje assistentes nesta
corte», 1685, BPE, cod. cxv (2-11), fls. 84r-86v; e Wermers, «O estabelecimento»..., 528-530 e 553.
[225] «Capítulo tercero: misión de los Omaguas, Jurimaguas, Aysuares... y otras naciones desde
Napo hasta el Río Negro», sem assinatura, sem data, BPE, cod. cxv (2-15), n.º 10, 20r-37r.
[226] Id. ibid., 23r.
[227] «Ninguna esperanza hay de que tomen con empeño su alivio alegando que las cajas reales no
están para gastos y que es muy difícil el remitir gente a países tan distantes y clima tan puesto al de la
sierra»: id. ibid., 57r.
[228] Tamar Herzog, «La empresa administrativa y el capital social: los Sánchez de Orellana (Quito,
siglo xviii)», in Sociedad, administración y poder en el siglo xviii: Hacia una nueva historia
institucional, org. Juan Luis Castellano (Granada: Universidad de Granada, 1996), 381-396, nas 382-
384 e 289-290 e Tamar Herzog, «¿Letrado o teólogo? Sobre el oficio de la justicia a principios del siglo
xviii», in Fallstudien zur spanischen und portugiesischen Justiz (16-20. Jahrhundert), org. Johannes
Michael Scholz (Francoforte: Vittorio Klostermann, 1994), 697-714. Acerca de Sánchez de Orellana
em geral ver Tamar Herzog, Upholding Justice: State, Law and the Penal System in Quito (Ann Arbor:
University of Michigan Press, 2004), 72-88, 111, 136-138, 144, 149, e 178.
[229]
Requerimiento do padre Fritz para Joseph Antunes da Fonseca, 20-4-1697, e a resposta que
recebeu em 22-4-1697, ambos anexados à Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 12-11-1697,
AHU_ACL_CU_013, cx. 4, d. 340.
[230] «Relação da jornada do Solimões e Río Negro por frei Vitoriano Pimentel», datada de 7-9-1705
e reproduzida em João Renôr F. de Carvalho, «Presença e permanência da ordem do Carmo no
Solimões e no Rio Negro no século xviii», in Das Reduções Latino-Americanas às Lutas Indígenas
Actuais: IX Simpósio Latino-Americano do CEHILA, Manaus, 29-7 a 1-8-1981 (São Paulo: Ed.
Paulinas, 1982), 175-190, nas 181-190. Ver também Wermers, «O estabelecimento...».
[231] «Sobre los términos de estas missiones»: Rodríguez Castelo, Diario del padre Fritz..., 132.
[232] Juan Bautista Santa María Mayor para Samuel Fritz, Yurimaguas, 26-12-1707, e carta de
Sebastián Luis Abad, ambas incluídas na informação fornecida pelo padre Francisco Ruiz e debatida
em Quito em 1708, AGI, Quito 158, fls. 6r-7v.
[233] Alexandre de Souza Freire para Juan Bautista Julian, Pará 12-12-1729, AGI, Quito 158.
[234]
Dionisio de Alcedo para Alexandre de Souza Freire, Quito, 3-4-1731 e 23-5-1731; carta do
procurador das missões em Mainas e Marañón ao presidente de Quito, Quito 28-5-1731, e vista fiscal e
consulta, 20-10-1732, todas em AGI, Quito 158. Ver também Dionisio Alcedo y Herrera para
Alexandre de Souza Freire, Quito 28-5-1731 AGI, Quito 374.
[235] Juan Bautista Julián para o governador do Pará, La Laguna, 5-10-1730, anexada à carta de João
de Abreu de Castelo Branco para o rei, Belém, 18-9- -1739, AHU_ACL_CU_013, cx. 22, d. 2082.
[236] «Certidão dos capítulos do regimento referente aos limites de ocupação dos territórios pelos
missionários portugueses e espanhóis», Belém, 18-10-1731, AHU_ACL_CU_013, cx-13, d. 1207.
[237] «Para dejar de esta manera ajustados los límites y poner fin a los disturbios que de algún tiempo

a esta parte pasaron entre los vasallos de ambas majestades.» Melchior Mendes, La Laguna, 6-9-1732,
AGI, Quito 158, fls. 13r-v.
[238] «Porque para la dicha averiguación no se hallaba persona autorizada para intervenir de parte de
la corona de Castilla en la división y demarcación legítima de estas tierras.» Esta resposta jesuíta a
Mendes foi também reproduzida na carta de Juan Bautista Julián para o governador do Pará, La
Laguna, 8-9-1732, AGI, Quito 158, fls. 14r-15v. Ver também Requerimiento feito por Juan Bautista
Julián a Melchior Mendes, AGI, Quito, 158, fls. 16r-v.
[239] Dionisio Alcedo y Herrera para Souza Freire, Quito, 3-4-1731 e 23-5-1731, anexada à carta de
João de Abreu de Castelo Branco para o rei, Belém, 18-9-1739, AHU_ACL_CU_013, cx. 22, d. 2082.
Ver também Dioniso Alcedo y Herrera para Paolo Maroni, Quito, 28-5-1733, seguido da informação
fornecida por Paolo Maroni em 13-6-1733, AGI, Quito 158, fls. 29r-30r e 31r-32v; e a resposta do vice-
rei, Lima, 14-4-1733, AGI, Quito 158, fls. 26r-28v.
[240] Requerimiento de Andrés de Zárate para Joseph Ferreira de Mello, San Ignacio de los Pebas,
24-1-1737, AGI, Quito 158, fls. 144r-v; e informação dada pelo padre Andrés de Zárate, Madrid, 28-8-
1739, AGI, Quito 158. Ver também Ferrand de Almeida, A Formação..., 38.
[241] «Ofício respondendo a pretensão dos padres castelhanos em ampliar os seus domínios na
fronteira do Grão Pará», Belém, 28-11-1737, AHU_ACL_ CU_013, cx. 20, d. 1920.
[242] Ordens reais datadas de 5-3-1732 e 8-5-1732 para o governador de São Paulo, conde de

Sarzedas, ANTT, Papéis do Brasil, cod. 6, fls. 27r e 7r; «Ofício respondendo a pretensão dos padres
castelhanos em ampliar sus domínios na fronteira do Grão Pará», 28-11-1737, AHU_ACL_CU_013 cx.
20 d. 1920; «Parecer do conselho ultramarino ao rei sobre as novas missões que os padres castelhanos
da companhia de Jesus e os religiosos do Carmo têm realizado no estado do Maranhão», Lisboa, 6-3-
1739, AHU_ACL_CU_009, cx. 25, d. 2554; Marco António de Azevedo Coutinho para Francisco
Pedro de Mendonça Gorjão, Lisboa, 15-9-1748, reproduzida em A. Reis, Limites e Demarcações..., vol.
2, 113-116, nas 114-115; e António Rolim de Moura Tavares para Diogo de Mendonça Corte Real,
Vila Bela, 20-3-1757, AHU_ACL_CU_010, cx. 09, d. 543.
[243] «Os padres da companhia das províncias de Itália sem titulo nem permissão alguma ocupavam
muitas terras sobre o rio da Prata da repartição deste reino, com tal poder e violência que se opunham a
castelhanos e portugueses.» «Papel que fés o marquês de Fronteira», in «Pareceres do Exmo. marquês
de Fronteira conselheiro de estado sobre as diferenças que houve entre as cortes de Lisboa e Madrid
sobre a fundação de Nova Colónia», provavelmente datado de 1680, BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 1, fls. 4r-
8r, no fl. 7r.
[244]
«Noticia e justificação do titulo e boa fé com que se obrou na Nova Colónia do Sacramento»
(circa 1681), BA, cod. Ms. 51-VI-48, fols-117r-146r, em fol. 141, e Eduardo Neumann, «Fronteira e
identidade: confrontos luso-guarani na Banda Oriental 1680-1757», Revista Complutense de Historia
de América, 26 (2000): 73-92, 76 e 83.
[245] Thomé Joaquim da Costa Corte Real para António Rolim de Moura, Lisboa, 22-8-1758,
APMG, CMG-SG, Livro C-18, Estante-01, carta 2, fls. 19r-29v, fls. 19r-v.
[246]
«Informe e justificação jurídica do uso de armas de fogo pelo índios,
apresentados pelos jesuítas do Paraguai», 1639, reproduzido em Cortesão,
Jesuítas e Bandeirantes... , 302-314; «Relación y carta del Pedro de Orduña
del avance de indios al fuerte portugués y victoria que ganaron en 7-8-1680»;
«Copia de la certificación auténtica que don Baltasar García Ros sargento
mayor del presidio de Buenos Aires dió sobre las operaciones y servicios de
los cuatro mil indios de guerra», Buenos Aires, 15-6-1705; e «Relación de lo
que hicieron los indios que tienen a su cargo los religiosos de la Compañía de
Jesús... en servicio de su majestad... años 1704-1705», anónimo, sem data;
todos em ANC/S, Jesuitas, vol. 197, pieza 1, fls. 2r-5v; pieza 3, fols 15r-16v;
e pieza 7, fls. 43r-53v. Ver também Magnus Mörner, The Political and
Economic Activities... , 118-120 e 147-148; e Constancio Eguía Ruiz, «El
espíritu militar de los jesuitas en el antiguo Paraguay español», Revista de
Indias , 5(16) (1944): 266-319.
[247]
Informação dada pelo padre Andrés de Zárate, Madrid, 28-8-1739, AGI, Quito 158; e cédula
de 7-8-1679, reproduzida em cédula real de 12-9-1628; e «Relación de los agravios que hicieron
algunos vecinos y moradores de la villa de San Pablo», Bahia, 10-10-1629; todas reproduzidas em
Campaña del Brasil, vol. 1, 75-76.
[248] «Consiguieron los portugueses el quedar hechos dueños de aquellos países sin contradicción,
porque los padres de la compañía española no defendían el país, sino principalmente las almas de
aquellas naciones que tenían a su cargo y como en la retirada de los que los habitaban tenían logrado
completamente su intento, cesaba el motivo que les subministraba justa causa de oponerse a los
designios de los portugueses y así desde entonces empezaron éstos a establecerse como absolutos
dueños en aquellas tierras.» Juan e Ulloa, Disertación histórica..., 161-162.
[249] «Petición de respuesta a la que presentó el padre Diego de Ureña procurador... en el pleito que
tenemos con los padres domínicos», 19-5-1684, ARSI, «Manuscripta antiquae societatis pars i.
assistentiae et provinciae», Provincial nr. et Quito n. 18, fls. 14r-v; «Expediente promovido por don
Pedro Estevan Dávila gobernador de las provincias del Río de la Plata con los padres jesuítas», AGI,
Charcas 28, R. 4, N. 49; «Información de la enemiga y aversión que don Alonso de Mercado y Villa
Corta tiene a la compañía de Jesús», Santiago del Estero, 1661, ANC/S, Jesuitas, vol. 194, n.º 6, fl. 95r;
«Memorial impreso presentado al supremo Consejo de Indias por el provincial de la compañía Jaime
Aguilar en defensa de sus missiones», 1730, e «Memorial impreso presentado al supremo Consejo de
Indias por el procurador Gaspar Rodero en defensa de las misiones del Paraguay», 1743, ambos em
ANC/S, Jesuitas, vol. 193, nos. 5 e 6; e o concelho de Belém para o rei, Belém, 12-4-1657,
AHU_ACL_ CU_013, cx. 2, d. 106. Ver também Prien, «O papel dos jesuítas...», 238-240; e Dauril
Alden, The Making of an Enterprise: The Society of Jesus in Portugal, Its Empire and Beyond, 1540-
1750 (Stanford: Stanford University Press, 1996), 21-23.
[250]
54 «Pedro Vermudo de la Compañía de Jesús procurador general en esta corte de las
provincias de las Indias», manuscrito sem data (c. 1673), ANC/S, Jesuitas, vol. 194, pieza 7, fls. 104r-
106v.
[251]
55 Pedro de Cevallos para Ricardo Wall, San Borja, 15-2-1759 e 30-11-1759 (que pensava
que os jesuítas eram responsáveis) e marquês de Valdelirios para Pedro de Cevallos, San Nicolás, 9-1-
1760 (que discordava), todos reproduzidos em Campaña del Brasil, vol. 2, 267-270, 275-277, e 286-
293. Ver também José María Mariluz Urquijo, «Clima intelectual rioplatense de mediados del
setecientos: Los límites del poder real», in Maziel, De la justicia..., 15-55, 30-34; José María Mariluz
Urquijo, «La historiografía rioplatense sobre el Tratado de Madrid (1750-1850)», in El Tratado de
Tordesillas y su época, vol. 3, 1637-1651; Félix Becker, «La guerra guaranítica desde una nueva
perspectiva: Historia, ficción e historiografia», Boletín Americanista, 32 (1982): 7-37; Juan Molina
Cortón, «El tratado de límites de 1750 y la intervención jesuíta», Cuadernos de investigación histórica,
16 (1995): 199-223; e Quarleri, Rebelión y guerra..., 16-19.
[252]
56 «Ruegan los padres misioneros de los indios Guaranís al padre confesor del rey considere
algunos cargos de la conciencia de su majestad que resultan de la ejecución del real tratado [de 1750]»,
sem assinatura, sem data, ANC/S, Jesuitas, vol. 197, fls. 109r-110v; e Joseph Cardiel, «Declaración de
la verdad contra un libelo inflamatorio impreso en portugués contra los padres jesuitas misioneros del
Paraguay y Marañón», Pueblo de Borja, 14-9-1758, BRAH/M, 9-1663: Colección Mata Linares, t. 8,
fls. 1-35.
[253]
57 «Breve y exacto diseño de la justicia del tratado de límites celebrado entre las majestades
Católica y Fidelísima en 13-1-1750», anónimo, 20-6-1760, AMN, 0115, Ms. 0124/004, fls. 152v-153r e
164v.
[254] Félix Feliciano da Fonseca, «Relação do que aconteceu aos demarcadores portugueses e
castelhanos», Lisboa, pós-1753, 5-6, cit. in Domingues, When the Amerindians Were Vassals, 193;
«Nicolás Ñenguirú’s letter to the governor of Buenos Aires (1753)», reproduzido e traduzido em
Kenneth Mills e William B. Taylor, orgs., Colonial Spanish America: A Documentary History
(Wilmington, DE: Scholarly Resources, 1998), 263-267; e as cartas reproduzidas em Barbara Ganson,
The Guaraní under Spanish Rule in the Río de la Plata (Stanford: Stanford University Press, 2003),
191-199.
[255] «Informe de Baltasar Maziel al gobernador Bucareli», in Maziel, De la justicia..., 201-204;
Joseph Cardiel, «Declaración de la verdad contra un libelo inflamatorio impreso en portugués contra
los padres jesuitas misioneros del Paraguay y Marañón, Pueblo de Borja, 14-9-1758», BRAH/M, 9-
1663: Colección Mata Linares, t. 8, fls. 1-35; «Copia de una carta respuesta que dio don Juan del
Campo y Cambroneras castellano... a don Alexandre de Bique capitán europeo... en ocasión que le
comunicó un librito portugués con el título «Relación abreviada de la república que los religiosos
jesuitas de las provincias de Portugal y España establecieron en los dominios ultramarinos de las dos
monarquías...», 20-8- -1758», BA, Ms. 20.208; «El gobernador [Francisco Bucareli] da cuenta de
algunas noticias relativas a la conducta y carácter de don Miguel de la Rocha», Buenos Aires, 1769,
ANC/S, Jesuitas, vol. 161, pieza 5, fls. 61r-66v; e Francisco de Paula Bucareli y Ursua para o Consejo
de Indias, 14-4-1768, AGN/BA, IX.32-1, Exp. 4.
[256] Francisco Bucareli y Ursua para o conde de Aranda, Buenos Aires, 6-9-1767, ANC/S, Jesuitas,
vol. 160, pieza 1, fls. 1r-2v.
[257]
A literatura da época acerca destas questões é enorme. Ver, por exemplo, «Relazione abbreviata
della repubblica che i Gesuiti della provincia di Portogallo e di Spagna hanno stabilita ne domini che le
due sopradette corone possiedono nel America», anónimo, sem data, ASV, Fondo Gesuiti, vol. 2;
Relation abrégée concernant la république que les religieux, nommes jésuites, des provinces de
Portugal et d’Espagne, ont établie dans les pays et domaines d’ outre-mer de ces deux monarchies et de
la guerre qu’ils ont excitée et soutenue contre les armées espagnoles et portugaises (Amesterdão: Aux
Depans de la Compagnie, 1758); Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, Le gouvernement du Paraguay
sous les Jésuites: Ouvrage ou l’on expose les moyens que les Jésuites ont employés pour maintenir leur
royauté dans le Paraguay (Madrid, 1771); e I gesuiti accusati e convirti di spilorceria (Veneza: Gino
Bottagrissi, 1760). A defender a inocência dos jesuítas havia a «Verdad desnuda oprimida contra la
calumnia artificiosamente divulgada», anónimo, sem data, BPE, cod. cxvi (2-12) n.º 19-1; e «Protesto
anônimo de um padre da companhia. . . a acusação de infidelidade ao rei», Assunção do Paraguai, 10-
5-1653, reproduzida em Cortesão, Jesuítas e Bandeirantes no Itatim..., 113-119.
[258] Maria Regina Celestino de Almeida, «Os vassalos d’el rei nos confins da Amazônia: A
colonização da Amazônia Ocidental, 1750/1798», Anais da Biblioteca Nacional, 112 (1992): 63-85, 68.
[259] «Copia de algunos capítulos de la carta instructiva que el teniente general don Francisco
Bucareli y Ursua dejó a su partida a estos reinos al mariscal de campo don Juan José de Vertiz», 15-8-
1770, ANC/S, Jesuitas, vol. 160, pie- za 18, fls. 82r-200r, fl. 84v.
[260] «Traducción al castellano de la carta original que escribió Antonio de Silveira Peyxoto», 14-9-
1770; declaração de Antonio Silveira, Pueblo de Candelaria, 25-10-1770; e Francisco Bruno de Zabala
para Joseph de Vertiz, Pueblo de Candelaria, 25-10-1770, todos em AGN/BA, IX.4.3.6.
[261] Joseph de Andonaegui para Luis García de Vivar, Buenos Aires, 10-1-1750, AGN/BA,
IX.3.8.2; e Francisco Xavier de Mendonça Furtado para João Pedro da Câmara, Lisboa, 2-5-1767,
APMG, CMG-SG, Livro C-18, Estante-01, carta 15, fls. 45r-v.
[262] Manuel Fernández para Nicolás Arrendondo, 5-9-1791 e 7-9-1791, AGN/ BA, IX.1.4.3.
[263] Francisco Feijo y Noguera para Juan Joseph de Vertiz, Pergaminho, 8-5-1772, e a declaração
de Felipe Baquero, Buenos Aires, 13-5-1772, AGN/ BA, IX.1.5.6.
[264] «Oponerse y contener a los portugueses que como vecinos quieren introducirse o puede lo estén
ya.» «Capítulo cuarto del interrogatorio por que fue examinado el regular expulso Carlos Abrisi»,
ANQ, FE 30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v, fol 87r-v.
[265] AGN/BA, IX.23.2.4 e IX.23.2.5, contêm informação acerca destas suspeitas.
[266] Acerca das percepções dos carmelitas sobre este conflito, ver Manuel Maria Wermers, A
Ordem Carmelita e o Carmo em Portugal (Lisboa: União Gráfica, 1963), 213-246, nas 230 e 245;
Andre Prat, Notas Históricas sobre as Missões Carmelitanas no Extremo Norte do Brasil: Séculos XVII
e XVIII (Recife: Convento do Carmo, 1941), 30-42; Eduardo Hoornaert, «As missões carmelitanas na
Amazônia (1695-1755)», in Das Reduções Latino-Americanas às Lutas Indígenas Actuais: IX Simpósio
Latino-Americano do CEHILA, Manaus 29-7 a 1-8-1981 (São Paulo: Ed. Paulinas, 1982), 161-174;
Emanuele Boaga, Como Pedras Vivas:... Para Ler a História e a Vida do Carmelo (Roma: Litografia
Principe, 1989), 204; e Wilmar Santin, «Missões carmelitas nos rios Negro e Solimões», Carmelus, 55
(2008): 59-87, 59-60.
[267] Consulta do Consejo de Indias, Madrid, 13-6-1715, AGI, Quito 103, doc. 4, fls. 15r-26v; e
«Relación del estado de las misiones del Marañón o Mainas a cargo de la compañía de Jesús por
Andrés de Zárate», Quito, 30-10-1735, AGI, Quito 158. As ordenanças dos carmelitas do Maranhão e
Pará, datadas de 1728, confirmam parcialmente esta imagem: AGOC, VM/CV 1714-1740, II
Maranhão, Commune I, doc. 3. Proibições semelhantes repetidas em 1737: AGOC, VM/
CV 1714-1740, II Maranhão, Commune I, documento não numerado, datado de 21-10-1737. Tal como
os relatórios de frei António de Araújo, 10-9-1735 e de frei Tomas Jordão, 12-9-1743, AGOC, VM/CV
1741-1752, II Maranhão, Commune I, documentos não numerados.
[268]
Requerimento de Antonio de Ade, carmelita, reproduzido por Joseph Pinheiro Marques em
21-12-1707 e incluído na informação fornecida pelo padre Francisco Ruiz, AGI, Quito 158, fls. 5r-4v; e
«Relação da jornada do Solimões e Rio Negro por frei Vitoriano Pimentel», 7-9-1705, reproduzida em
Renôr de Carvalho, «Presença e permanência...», nas 181-190.
[269] Thomé Joaquim da Costa Corte Real para António Rolim de Moura, Lisboa, 7-7-1757 e 22-8-
1758, APMG, CMG-SG, livro C-18, Estante-01, carta 1, fls. 9-17v, fl. 17r, ponto 20, e carta 2, fls. 19r-
29v, fl. 21r; e Aloysio Conrado Pfeil para o jesuíta geral em Roma, Colégio São Alexandre, Pará, 27-2-
1691, ARSI, «Manuscripta antiquae societatis pars i. assistentiae et provinciae», Bras. 9, fls. 361-368v,
ponto 8, fls. 365v-366r, fl. 366r. Ver também Marques Mörner, The Political and Economic
Activities..., 61 e 89; e Leandro Tormo Sanz, «Las diferencias misionales a uno y otro lado de la línea»,
in El Tratado de Tordesillas y su proyección, vol. 2, 81-92, na 84.
[270] «Si la indita religión carmelitica es la fecunda madre que en sus hijos da, y ha dado, en todos
siglos al mundo tantos otros soles que con las luces de su santidad, sabiduría, doctrina y celo han
ilustrado el fi rmemente de la iglesia.»
[271] «Lista dos padres jesuítas missionários que servirão na província jesuítica de Quito», 1755,

AHU_ACL_CU_071, cx. 1, d. 13; Francisco Xavier de Mendonça Furtado para Sebastião José, Pará,
28-11-1757, AHU_ACL_CU_013, cx. 43, d. 3927; e Petições de Giuseppe da Natividade e André de
Piedade, datadas de 1744 e 1745, AGOC, VM/CV 1741-1752, II Maranhão, Commune I, documentos
não-numerados. Ver também Alden, The Making of an Enterprise..., 267-271; Mörner, The Political
and Economic Activities..., 168-169; Juan Molina Cortón, «El tratado de limites»..., 208; Ganson, The
Guaraní..., 31; Almeida, A Diplomacia Portuguesa..., vol. 1, 56-57; P. Lázaro de Aspurz, La
aportación extranjera a las misiones españolas del patronato regio (Madrid: Consejo de la Hispanidad,
1946); Pierre Delattre e Edmond Lamalle, «Jésuites wallons, flamands, français missionnaires au
Paraguay, 1608-1767», Archivum Historicum Societatis Iesu, 15 (1946): 98-176; e Miquel Batllori,
«Algunos aspectos internacionales de la compañía de Jesús en el Nuevo Mundo» e «Los jesuitas en el
Brasil: La aportación italiana», ambos no seu Del descubrimiento a la independencia: Estudios sobre
Iberoamérica y Filipinas (Caracas: Universidad Católica Andrés Bello, 1979), 77-84 e 85-100.
[272] Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 12-11-1697, AHU_ACL_ CU_013, cx. 4, d. 340;
Rodríguez Castelo, Diario del padre Fritz..., 86 e 110; «Relação da jornada do Solimões e Rio Negro
por frei Vitoriano Pimentel», datada de 7-9-1705, reproduzida em Renôr de Carvalho, «Presença e
permanência», 185; e Juan Bautista Julián para o governador do Pará, La Laguna, 5-10-1730, AHU_
ACL_CU_013, cx. 22, d. 2082. O autor também sugere que o carmelita «también ejerce de médico con
los dolientes, de ameno padre con los menesterosos, de juez con los delincuentes y de aventajado
maestro con los ignorantes.» Certificado de Carlos Bretano, San Joaquín de Omaguas, 1-6-1746,
copiado por António Jose Ribeiro, notário apostólico em Lisboa, AGOC, VM/CV 1741-1752, II
Maranhão, Commune I.
[273] Ángel Sanz Tapia, El final del Tratado de Tordesillas: La Expedición del virrey Cevallos al
Río de la Plata (Valhadolid: V Centenario del Tratado de Tordesillas, 1994); Guedes, «A cartografia da
delimitação...», 26-27; e Renata Malcher de Araújo, As Cidades da Amazónia no Século XVIII: Belém,
Macapá e Mazagão (Porto: FAUP, 1998), 19-38 e 67. A «substituição» da experiência jesuíta pela
experiência científica é estudada em Nicholas Richard, «Une géographie post- -jésuite au xviiie siècle»,
in Voyages dans l’Amérique Méridionale, 1781-1801, org.
Félix de Azara (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2009), vii-lxiv.
[274] Domingues, When the Amerindians Were Vassals...; e M. R. Celestino de Almeida, «Os
vassalos d’el rei...», 65 e 68. Embora nada de semelhante ao Directório português tenha sido
implementado nos territórios espanhóis é, não obstante, evidente que ocorreram processos de
secularização, centralização e assimilação semelhantes por volta da mesma altura ou talvez algumas
décadas mais tarde: Guillermo Wilde, Religión y poder en las misiones de guaraníes (Buenos Aires:
Editorial SB, 2009), 265-267. A passagem de um discurso eclesiástico para um secular sobre o «outro»
é estudada em Guillermo Wilde, «Orden y ambigüedad en la formación territorial del Río de la Plata a
fines del siglo xviii», Horizontes Antropológicos, 9(19) (2003): 105-135, nas 109-112.
[275] ANQ, FE 106, 6342-1, fls. 178r-217r; e Lázaro de Ribera para Santiago Liniers, San Nicolás
de los Arroyos, 25-4-1808, AGI, Estado leg. 80, n.º 107/4.
[276] Diego de Alvear y Ponce, «Diario de la segunda partida de demarcación de límites entre los
dominios de España y Portugal», 1783, BNL, C414; Vicente Aguilar y Jurado e Francisco Requena,
«Historia de las demarcaciones de límites en la América entre los dominios de España», 1777, AMN,
Ms. 283; «Diario da viagem que... Francisco Xavier de Mendonça Furtado... a fês o Rio Negro»,
reproduzido em Reis, Limites e Demarcações..., vol. 2, 276-290; e «Relación de viaje que de la capital
de Santa Fe de Bogotá... hizo a las montañas de los Andaquines y misiones de los ríos Caqueta y
Putumayo... don Sebastián Joseph López Ruiz», Santa Fe, 30-9-1783, AMRE/MRE/R/G-1.2.2, G-47,
n.º 18, fls. 62r-83r. Ver também Manuel Lucena Giraldo, org., Ilustrados y bárbaros: Diario de la
exploración de límites al Amazonas (1782) (Madrid: Alianza Editorial, 1991).
[277] Jorge Juan e Antonio Ulloa eram oficiais da Marinha encarregues pelo rei de Espanha de
acompanhar a missão científica francesa que visitou o vice- -reinado do Peru entre 1736 e 1744. Em
1749 escreveram a Disertación histórica y geográfica sobre el meridiano de demarcación (Madrid:
Instituto Histórico de la Marina, 1972). Ver também Luis J. Ramos Gómez, El viaje a América (1735-
1745) de los tenientes de navío Jorge Juan y Antonio Ulloa y sus consecuencias literarias (Madrid:
CSIC, 1985); Luis J. Ramos Gómez, Época, génesis y texto de las Noticias Secretas de América de
Jorge Juan y Antonio de Ulloa (Madrid: CSIC, 1985); Antonio Lafuente e Antonio Mazuecos, Los
caballeros del punto fijo: Ciencia, política y aventura en la expedición geodésica hispanofrancesa al
virreinato del Perú en el siglo xviii (Madrid: CSIC, 1987); e Herzog, Upholding Justice..., 221-226.
[278] Correspondência entre Antonio de Ulloa e o marquês de la Regalía, AGS, Marina 712, fl. 151;
e «Notas sobre la disertación geográfica e histórica sobre el meridiano de demarcación entre las
coronas de España y Portugal impresa por orden de su majestad por Jorge Juan y Antonio de Ulloa,
Madrid, año de 1748 o 1749» e uma nota para Julián de Arriaga, San Lorenzo, 15-10-1775, ambos em
AHN, Estado leg. 4546, n.º 1. Ver também Luis J. Ramos Gómez, «Jorge Juan y Antonio de Ulloa y el
meridiano de Tordesillas: La disertación histórica y geográfica (1747-1776)», in El Tratado de
Tordesillas y su época, vol. 3, 1561-1592.
[279] Roller, «River Guides...», 111-112. O relatório original, intitulado «Memória», encontra-se no
Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro, lata 288, Mç. 5, pasta 5. Ver também Graça Almeida
Borges, «Entre a diplomacia e a cartografia: o «tratado» de Francisco de Seixas e a soberania
portuguesa na América», in Em Terras Lusas: Conflitos e Fronteiras no Império Português, orgs.
Márcia Motta, José Vicente Serrão e Marina Machado (Rio de Janeiro: Universidade Federal
Fluminense, 2013), 55-80.
[280] Juan e Ulloa, Disertación histórica..., 10. Ver também Neil Safier, Measuring the New World:
Enlightenment Science and South America (Chicago: University of Chicago Press, 2008); e Wilson
Martins, «Um agente secreto da coroa portuguesa na Amazônia: Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-
1815)», Bulletin des Études Portugaises et Brésiliennes, 46-47 (1987): 171-183.
[281] Francisco Requena para José García de León y Pizarro, 17-12-1783, AHN,
Estado 4677-1, n.º 7
[282] Joseph García de León Pizarro para Antonio Caballero y Góngora, 18-4-1784, Juan Joseph de
Villalengua para José de Gálvez, Quito, 18-6-1784, e Francisco Requena para José García de León
Pizarro, Egas, 17-12-1783, todos em AHN, Estado 4677-1, n.º 5.
[283] Wilde, Religión y poder..., 267 e 287-290; e Elisa Frühauf Garcia, «De inimigos a aliados:
Como parte dos missionários repensou o seu passado de conflitos com os portugueses no contexto das
tentativas de demarcação do tratado de Madri», Anais de História de Além-Mar, 8 (2007): 123-137.
[284] O interrogatório elaborado por Juan Francisco Gómez de Villajufre y de Arce, 26-5-1775, e as
declarações que se lhe seguiram, ANQ, FE 30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v; Francisco Requena para
Manuel da Gama Lobo de Almeida, 10-10-1791, AHN, Estado 4611; Joseph Dibuja para Diogo Luís de
Barros e Vasconcelos, Quito, 24-2-1776, AHU_ACL_CU_013, cx. 76, d. 6348; e Manuel da Gama
Lobo de Almada para Martinho de Melo e Castro, Fortaleza da Barra do Rio Negro, 22-7-1791,
AHU_ACL_CU_020, cx. 16, d. 608.
[285] Joaquín Alos para Nicolás Arrendondo, Assunção do Paraguai, 19-9-1791, AHN, Estado 4387,
n.º 5. Ver também «Autos formados a consecuencia de una real cédula para que se informe a su
majestad sobre la conducente a la provincia de Mainas», ANQ, FE 30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v,
fls. 87r-v; declarações recolhidas na povoação de San Joachim de Omagua em 26-5-1775, ANQ, FE 30,
vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v, fls. 95v-107v; e Juan Francisco Gómez de Arce para Joseph Dibuja,
Omagua, 12-10-1775, ANQ, FE 30, vol. 83, n.º 3226, fls. 80r-275v, fls. 108r-113r. Para a resposta
portuguesa, ver, por exemplo, Feliz José Souza para Francisco José Teixeira, Forte El príncipe de la
Vera, 23-11-1784, AHN, Estado 4436, n.º 10.
[286] Francisco Rodrigues para o governador do Pará, Barcelos, 24-4-1765, APEP, cod. 151, doc.
131. Ver também Joaquim Tinoco Valente, Barcelos, 5-12- -1764, APEP, cod. 155, doc. 9. A relação
entre controlar (ou aniquilar) índios e a aquisição territorial foi estudada em Rafael Chambouleyron e
Vanice Siqueira de Melo, «Índios, engenhos e currais na fronteira oriental do estado do Maranhão e
Pará (século xvii)», in Em Terras Lusas: Conflitos e Fronteiras no Império Português, orgs. Márcia
Motta, José Vicente Serrão e Marina Machado (Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense,
2013), 231-259.
[287] Informação fornecida por Joachin Fernández de Bustos, ANQ, FE 111, vol. 264, doc. 6492, fls.
167r-240r. Ver também Wilde, Religión y poder..., 296; e Elisa Frühauf Garcia, As Diversas Formas de
Ser Índio: Políticas Indígenas e Políticas Indigenistas no Extremo Sul da América Portuguesa (Rio de
Janeiro:
Arquivo Nacional, 2009).
[288]
«Informação de Francisco Caldeira Castelo Branco Lara para que se averigúe acerca das questões
que apresenta», Pará, 10-11-1618, AHU_ACL_ CU_009, cx. 1, d. 21; petição de Melchor Ruiz del
Mármol, 1681, ANQ, Gobierno 7, Exp. 5 de 5-5-1681; petição de Manuel de Laviano, Quito, 14-5-
1711, ANQ, FE 9, vol. 22, n.º 701, fl. 71r; Bernardo Pereira de Berredo para o rei, Belém, 10-8- -1721,
AHU_ACL_CU_009, cx. 13, d. 1316; petição de Pablo Noa, ANQ, Indígenas 42 Exp. 25 de 2-11-1729;
petição de Felipe Romero, discutida na audiencia de Quito em 17-5-1754, ANQ, Gobierno 17, Exp. 4
de 9-5-1754; Diego de Sala para Francisco Bucareli y Ursua, Buenos Aires, 5-7-1768 e 3-9-1768,
AGN/BA, IX.11.5.6; Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres para Martinho de Melo e Castro,
Vila Bela, 25-5-1773, AHU_ACL_CU_101, cx. 17. d. 1026; e o concelho municipal de Rio Grande de
São Pedro para o rei, Viamão, 23-9-1771, AHU_ACL_CU_019, cx. 2, d. 171. Ver também Hal
Langfur, «Moved by Terror: Frontier Violence as Cultural Exchange in Late-Colonial Brazil»,
Ethnohistory 52(2) (2005): 255-289; e Martha Bechis, «Ángulos y aristas de la guerra por las vacas en
los comienzos del siglo xviii: ‘Divertimentos’ asesinatos y rivalidades jurisdiccionales», in Piezas de
etnohistoria del sur sudamericano (Madrid: CSIC, 2008), 53-80.
[289] Richard Slatta, «Spanish colonial military strategy and ideology», in Contested Grounds:
Comparative Frontiers on the Northern and Southern Edges of the Spanish Empire, orgs. Donna J. Guy
e Thomas E. Sheridan (Tucson: University of Arizona Press, 1998), 83-96; Guillermo Boccara,
«Génesis y estructura de los complejos fronterizos euro-indígenas. Repensando los márgenes
americanos a partir (y más allá) de la obra de Nathan Wachtel», Memoria Americana, 13 (2005): 21-52;
Hal Langfur, The Forbidden Lands: Colonial Identity, Frontier Violence, and the Persistence of
Brazil’s Eastern Indians, 1750-1830 (Stanford: Stanford University Press, 2006), 24-30; Sara Ortelli,
Trama de una Guerra conveniente: Nueva Vizcaya y la sombra de los apaches (1748-1790) (Cidade do
México: Colegio de México, 2007); Martha Bechis, «La participación de la capitanía general de Chile y
del virreinato del Río de la Plata en la génesis de la «‘nación Pehuenche’», in Piezas de etnohistoria,
141-164; e Christophe Giudicelli, «Identidades rebeldes: Soberanía colonial y poder de clasificación:
sobre la categoría calchaquí (Tucumán, Santa Fe, siglos xvi-xvii)», in América colonial:
Denominaciones, clasificaciones e identidades en América colonial, orgs. Alejandra Araya e Jaime
Valenzuela (Santiago: PUCC/Universidad de Chile, 2010), 137-172.
[290] Decreto de Pedro Melo de Portugal, Buenos Aires, 20-10-1797, BRAH/M, 9-1666, fls. 35r-
36v.
[291] Manuel Fernández para o vice-rei Arredondo, 7-9-1791, AGN/BA, IX.1.4.3. Ver também
Almir Diniz de Carvalho Júnior, «Índios cristãos: A conversão dos gentios na Amazônia portuguesa
(1653-1769)» (tese de doutoramento, Universidade Estadual de Campinas, 2005), 41 e 54.
[292] «Por este meio acresceram a coroa e estados seus porque os que conseguiram ver a felicidade
desta empresa, não só com os olhos em o céu, senão também em terra tem por certo que com ela se
acabou de conquistar o Estado do Maranhão, porque com os Ingaybas por inimigos seria o Pará de
qualquer nação estrangeira que se confederasse com eles, e com os Ingaybas por vassalos e por amigos
fica o Pará seguro e impenetrável a todo o poder estranho.» Bettendorff, Crônica da Missão..., 143. Ver
também Almeida, «Os vassalos d’el rei...», 70; Barbara Ann Sommer, «Negotiated settlements: Native
amazonian and Portuguese policy in Para, Brazil, 1758-1798» (tese de doutoramento, University of
New Mexico, 2000); Mary Karasch, «Rethinking the conquest of Goias, 1775- -1819», Americas, 61(3)
(2005): 462-492; e Nádia Farage, As Muralhas dos Sertões: Os Povos Indígenas no Rio Branco e a
Colonização (São Paulo: Paz e Terra, 1991).
[293] Diogo de Mendonça Corte Real para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Lisboa, 1-6-
1756, AHU_ACL_CU_020, cx. 1, d. 44; informação enviada por Felipe Sturm, Boca do rio Tacutu, 19-
11-1775, AHU_ACL_CU_013, cx. 75, d. 6279, também reproduzida em APEP, cod. 294, doc. 7, 25-
27; e João Pereira Caldas para Martinho de Melo e Castro, Barcelos, 21-6-1785, AHU_ACL_ CU_020,
cx. 9, d. 380.
[294] «Passaporte del capitam geral de Mato Grosso João de Albuquerque de Mello Pereira e
Cáceres», 29-7-1791, AHN, Estado 4548.
[295] João Martins Barrosto para Luís Antônio de Sousa, Iguatemi, 30-1-1771, AHU_ACL_CU_023-

01, cx. 27, d. 2553.


[296] Luís Antônio de Sousa para Martinho de Melo e Castro, São Paulo, 21-4-1771,
AHU_ACL_CU_023-01, cx. 27, d. 2553.
[297] «Lembrando-me daquela celebre reposta que um embaixador de Marrocos deu na corte de Paris
a quem lhe notou haver oferecido ao rei umas poucas peles de onça e de marroquim, ce n’est pas, lhe
disse ele, la quantité ni la qualité de ces présents qu’il faut regardé; c’est l’impression qu’ils portent de
l’hommage et des respects que je vins rendre au monarque à qui je les présente. Tout ce qu’il-y-a de
plus précieux est au-dessous de la grandeur du Roy.» Luís Antônio de Sousa para Martinho de Melo e
Castro, São Paulo, 21-4-1771, AHU_ ACL_CU_023-01, cx. 27, d. 2553.
[298]
Sobre a escuta e o entendimento da voz nativa a partir dos registos europeus, ver a
maravilhosa reconstrução em Daniel K. Richter, Facing East from Indian Country: A Native History of
Early America (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2001), por exemplo, na 150, e Tamar
Herzog, «Dialoging with Barbarians: what Natives said and European responded in eighteenth-century
Portuguese-America», in Meanings of Justice in British and Iberian America: Settler and Indigenous
Law as Counterpoints, 1600-1825, Brian P. Owensby e Richard J. Ross. (Nova Iorque: NYU Press, em
imprensa).
[299]
«Notícias da voluntária redução de paz da feroz nação do gentio Mura nos anos de 1784, 1785 e
1786», Boletim de Pesquisa da CEDEAM, 3(5) (1984): 17-87. Suspeitas semelhantes terão sido
igualmente dirigidas a outros: Chambouleyron e Siqueira de Melo, «Indios, engenhos e currais», 244-
245.
[300] «Porque não sendo isto obra de um dia, pouco a pouco, com brandura e com rigor, poderão
chegar ao ponto desejado.» João Baptista Mardel para João Pereira Caldas, Nogueira, 26-7-1785, em
«Notícias da voluntária redução de paz da feroz nação do gentio Mura nos anos de 1784, 1785 e 1786»,
Boletim de Pesquisa da CEDEAM, 3(5) (1984): 17-87, na 45. Ver também João Pereira Caldas para
João Baptista Mardel, Barcellos, 4-4-1786, no mesmo boletim nas 62-63.
[301] «Tratados que deberá observar con este superior gobierno el cacique Callfilqui», AGN/BA, BN
189, Exp. 1877; «Instrumento judicial hecho en el río de los Engaños de las noticias que dieron los
indios infieles Omaguaes», AHN, Estado 4500/1; Joseph Dibuja para José de Gálvez, Quito, 18-7-1776
e 16-4-1777, ANQ, FE 37, vol. 102, n.º 3754-16, fls. 29r-32v, e ANQ, FE 40, vol. 108, n.º 3855-15, fls.
31r-35v.
[302] «Ordenanzas de Nueva Población», reproduzidas em Francisco Morales Padrón, Teoría y leyes
de la conquista (Madrid: Ediciones Cultura Hispánica, 1979), 489-518, art. 138-148 nas 515-518; e
Bernardo de Vargas Machuca, Milicia y descripción de las Indias (Madrid: Victoriano Suárez, 1892
[1599]), vol. 2, livro 4, 12-13. Existe uma tradução em inglês deste livro: Bernardo de Vargas
Machuca, The Indian Militia and Description of the Indies, org. Kris Lane (Durham, NC: Duke
University Press, 2008)
[303] «Excmo. señor gobernador y capitán general... doy parte cómo llegaron al pueblo de San
Fernando dos caciques principales de nación Mocoví», 1771, ANC/S, Jesuitas, vol. 159, pieza 7, fls.
35r-37v.
[304] «Si verdaderamente desean establecerse en el lugar de los Remolinos, de esta jurisdicción, y si
es su ánimo abrazar la santa fe de Jesús Cristo, y guardar en todo tan santa religión, como así mismo
observan una firme paz con la provincia, sus estantes y habitantes y con cuantos cristianos habiten esos
parajes y naveguen el río a cuyas márgenes se han de estabelecer» e «Es forzoso se instruyan de las
obligaciones a que quedan afectos en correspondencia de la amistad y paz que les promete la provincia
de sus contribuciones y costos, a fin de que en ningún tiempo se rompa ésta y sea perpetua». «Tratado
entre el cacique Etasurim y el gobernador y capitán general de Asunción, Ángel Ernando de Pinedo,
Asunción, 1-6-1776», reproduzido em Lidia R. Nacuzzi, «Los cacicazgos del siglo xviii en ámbitos de
frontera de Pampa-Patagonia y el Chaco», in De los Cacicazgos a la ciudadanía: Sistemas políticos en
la frontera, Río de la Plata, Siglos XVIII-XX, org. Mónica Quijada (Berlim: Gebr. Mann Verlag, 2001),
23-77, apêndice iv, 74-77, nas 74 e 76.
[305] Vargas Machuca, «The defence of western conquests», in The Indian Militia..., 248; Manuel
Bernardo de Melo de Castro para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Pará, 9-4-1763 e 20-6-1763,
AHU_ACL_CU_013, cx. 54, d. 4913 e d. 4948; «Declaración de tres indios que acaban de llegar
desertados con cuatro chinas del Río Pardo, 10-4-1775», AGN/BA, IX.4.3.7; e Monteiro de Noronha,
«Roteiro da viagem», ponto 74, na 42. Ver também Gabriel Darío Taruselli, «De conchabados a
bandidos: Alianzas y traiciones en el mundo rural bonaerense durante el siglo xviii», Comunicação não
publicada apresentada nas V Jornadas de Investigadores del Departamento de Historia, 2-3 Setembro
de 2004, Mar del Plata, Argentina.
[306]
«Que vivan con más cuidado y vigilancia al cumplimiento de su obligación para que en lo
sucesivo no sean sorprendidos tan vilmente de esta canalla.» Diego de Sala para Francisco Bucareli y
Ursua, Buenos Aires, 5-7-1768, AGN/ BA, IX.11.5.6.
[307] Estas duas últimas opções eram mencionadas em Lázaro de Ribera para José de Espínola, Santa
Rosa, 28-1-1797, AGI, Estado 81, n.º 15 (1b); e «Presentación a Lázaro de Ribera, gobernador
intendente de Paraguay por los oficiales vecinos y comandantes de las tropas auxiliares», s. d., AGI,
Estado 81, n.º 15 (1a).
[308] As negociações entre o «cacique infiel Cumbay» e Jorge Michel em 1806, AGN/BA,
IX.24.04.06, fl. 6r; e Francisco Xavier de Mendonça Furtado para António Rolim de Moura, Lisboa,
18-6-1761, APMG, CMG SG, Livro C-18,
Estante-01, carta 5, fls. 32r-35r, fls. 34r-v.
[309] «Y no conformándose en la práctica de todo lo que contienen, después de haberles esforzado y
persuadido a su condescendencia, los hará retirar a su campo en señal de rompimiento y los castigará
con la mayor severidad posible para su escarmiento.» «Capítulos que debe proponer Manuel Pinazo a
los indios aucas para convenir en el paz que solicitan, Buenos Aires, 8-5-1770», reproduzidos em
Nacuzzi, «Los cacicazgos», apêndice ii, 70-71, na 71.
[310]
«Só por ações se percebe pretenderem descer.» O director da Vila de Serpa datado de 24-9-1786
em «Notícias da voluntária redução de paz da feroz nação do gentio Mura nos anos de 1784, 1785 e
1786», Boletim de Pesquisa da CEDEAM, 3(5) (1984): 17-87, nas 84-85.
[311]
José Antonio Maravall, La teoría española del estado en el siglo xvii (Madrid: Instituto de
Estudios Políticos, 1944), 321-330 e 358-359; e José-Manuel Pérez Prendes Muñoz de Arraco, «Los
criterios jurídicos de Cristóbal Colón», in «J. M. Pérez Prendes Muñoz de Arraco, Pareceres (1956-
1998)», org. Magdalena Rodríguez Gil, edição especial, Revista de Historia del Derecho, 7 (1999) (2):
1035-1062, nas 1045-1046.
[312]
O requerimento, usado pelos espanhóis no século xvi, informava os índios da doação papal e, «por
ende, como mejor puedo vos ruego y requiero que entendáis bien esto que os he dicho, y toméis para
entenderlo y deliberar sobre ello el tiempo que fuere justo, y reconozcáis a la Iglesia por señora y
superiora del universo mundo y al Sumo Pontífice, llamado Papa, en su nombre, y al Rey y a la reina,
nuestros señores, en su lugar, como superiores e señores y reyes de estas Islas y Tierra Firme… y
consintáis y deis lugar que estos padres religiosos vos declaren y prediquen lo susodicho. Si así lo
hicieres, haréis bien y aquello a que sois tenidos y obligados. Si no lo hicieres, o en ello dilación
maliciosamente pusieres… con la ayuda de Dios yo entraré poderosamente contra vosotros y vos haré
guerra por todas las partes y maneras que yo pudiere, y vos sujetaré al yugo y obediencia de la Iglesia y
de Sus Altezas, y tomaré vuestras personas y de vuestras mujeres e hijos y los haré esclavos, y como
tales los venderé y dispondré de ellos como Su Alteza mandare, y vos tomaré vuestros bienes, y vos
haré todos los males e daños que pudiere, como a vasallos que no obedecen ni quieren recibir a su señor
y le resisten y contradicen. Y protesto que las muertes y daños que de ello se recrecieren sea a vuestra
culpa, y no de Sus Altezas, ni mía, ni de estos caballeros que conmigo vinieron…». Diego de Encinas,
Provisiones, cedulas, capitulos de ordenanças, instrucciones, y cartas, libradas y despachadas en
diferentes tiempos por sus Magestades de los señores Reyes Catolicos don Fernando y doña Ysabel, y
Emperador don Carlos de gloriosa memoria, y doña Iuana su madre, y Catolico Rey don Felipe, con
acuerdo de los señores Presidentes, y de su Consejo Real de las Indias, que en sus tiempos ha avido
tocantes al buen govierno de las Indias, y administracion de la justicia en ellas (Madrid, 1596) IV, fls.
226-227.
[313]Abelardo Levaggi, Paz en la frontera: Historia de las relaciones diplomáticas con las
comunidades indígenas en la Argentina (siglos xvi-xix) (Buenos Aires: Universidad del Museo Social
Argentino, 2000); Abelardo Levaggi, Diplomacia hispano-indígena en las fronteras de América:
Historia de los tratados entre la monarquía española y las comunidades aborígenes (Madrid: Centro
de Estudios Políticos y Constitucionales, 2002); Eugenia A. Néspolo, «Los tratados escritos con las
sociedades indígenas en los bordes del río Salado durante el siglo xviii: Un análisis desde el derecho de
gentes», Memoria Americana. Cuadernos de etnohistoria, 12 (2004): 237-276; e Carlos Lázaro Ávila,
«Conquista, control y convicción: El papel de los parlamentos indígenas en México, el Chaco y norte -
américa», Revista de Indias, 59(217) (1999): 645-673.
[314] Joseph Dibuja para José de Gálvez, Quito, 18-7-1776, ANQ, FE 37, vol. 102, n.os 3754-16, fls.

29r-32v; Manuel Guzmán para Feliz José de Souza, Exaltación, 21-9-1784, AHN, Estado 4436;
«Certificado de Don Manuel Mariano de Echeverría», ANQ, Gobierno 24, Exp. 9 de 14-7-1771, fls. 3r-
5r; «Requerimento do índio principal da aldeia de Mortigura da nação Aruaquizes Apolinário
Rodrigues para o rei», antes de 9-3-1757, AHU_ACL_ CU_013, cx. 42, d. 3841; negociações entre o
«cacique infiel Cumbay» e Jorge Michel, AGN/BA, IX.24.04.06, fl. 4r; e João Martins Barrosto para
Luís Antônio de Sousa, Iguatemi, 30-1-1771, AHU_ACL_CU_023-01, cx. 27, d. 2553
[315]
Bettendorff, Crônica da Missão..., 56; e ANQ, Criminales 156, Exp. 6 de 9-10-1793. Ver
também Taruselli, «De conchabados a bandidos...»; e Carvalho, «Lealdades negociadas...», 227-228 e
233.
[316] Petição do jesuíta Pedro Joseph Melanesio, 8-10-1751, ANQ, FE 15, vol. 42, n.º 1583, fls.
135r-6v; e Cristovão da Costa freire para o rei, Belém, 15-3-1712, AHU_ACL_CU_013, cx. 6, d. 482.
Ver também Cecilia Sheridan, «Social control and native territoriality in Northeastern New Spain», in
Choice, Persuasion, and Coercion: Social Control on Spain’s North American Frontier, orgs. Jesús F.
De la Teja e Ross Frank (Albuquerque: University of New Mexico Press, 2005), 121-148, nas 125-129;
e Langfur, The Forbidden Lands..., 217-225.
[317] Manuel Fernández para Nicolás Arredondo, 5-9-1791, AGN/BA, IX.1.4.3.
[318] Marquês de Avilés para Joseph Francisco de Amigorena, Santiago de Chile, 14-3-1797, e
marquês de Sobremonte para Nicolás Arrendondo, 15-5-1792, ambos em AGN/BA, IX.11.4; Pedro
Antonio Cervino, Buenos Aires, 25-6-1804, AGN/ BA, BN 189, Exp. 1882; «Autos de don Antonio de
la Peña sobre informe a España», Quito, 11-7-1771, ANQ, Gobierno 24, Exp. 9 de 14-7-1771; e conde
de São Miguel para o secretário de estado Diogo de Mendonça Corte Real, Vila Boa, 12-12-1755,
AHU_ACL_CU_008, cx. 13, d. 775.
[319] João Maia da Gama para o rei, São Luís de Maranhão, 9-7-1726, AHU_ ACL_CU_009, cx. 15,
d. 1525.
[320] «Tratado entre el gobernador Urizar y los Lules», reproduzido em José Miranda Borelli,
«Tratados de paz realizados con los indígenas en la Argentina (1597-1875)», Suplemento
Antropológico, 19(2) (1984): 233-284, nas 245-246.
[321] Manuel Fernández para Nicolás Arredondo, 10-11-1791, AGN/BA, IX.1.4.3; e Juan Francisco
de Ecala para marquês de Avilés, Frontera del Monte, 7-10-1799, AGN/BA, IX.1.4.6.
[322] Bettendorff, Crônica da Missão..., 140-141.
[323]
«No haríamos mucho caso de dios ni del rey cuando la palabra que les habíamos dado en
nombre de ambos la habíamos quebrantado sin dar ellos motivo alguno.» Joseph Vaguer para Juan José
Vertiz, Fuerte de San Joseph, 29-6-1770, AGN/BA, IX.1.5.2. Ver também conde dos Arcos para o rei,
Vila Boa, 10-2-1751, AHU_ACL_CU_008, cx. 6, d. 466.
[324] «No hay cosa que más altere al indio conquistador, que quebrarle las condiciones y palabras y
no cumplírselas, con las cuales se han sujetado al dominio y vasallaje.» Vargas Machuca, Milicia y
descripción..., vol. 2, livro 4, 57.
[325] O interrogatório e as declarações de Fernando de Santillán e Jorge Ichel em AGN/BA,
IX.23.2.5, Cuaderno 1, fls. 23v-24v e 27r-v.
[326] Petição de Pedro Antonio Cervino, Buenos Aires, 25-6-1804, AGN/ BA, BN 189, Exp. 1882.
[327] «Presentación a Lázaro de Ribera... por los oficiales, vecinos y comandantes de las tropas
auxiliares», sem data, AGI, Estado 81, n.º 15 (1a).
[328] Abílio da Costa Brochado, «O problema da guerra justa em Portugal», Rumo. Revista de
Cultura Portuguesa, 1 (1946): 41-59; Beatriz Perrone-Moisés, «A guerra justa em Portugal no século
xvi», Revista da SBPH, 5 (1989/1990): 5-10; Alida C. Metcalf, «The Entradas of Bahia of the Sixteenth
Century», The Americas, 61(3) (2005): 373-400; Márcia Eliane Alves de Souza e Mello, «Desvendando
outras Franciscas: Mulheres cativas e as ações de liberdade na Amazônia colonial portuguesa»,
Portuguese Studies Review, 13(1) (2005): 1-16; Márcia Eliane Alves de Souza e Mello, Fé e Império:
As Juntas das Missões nas Conquistas Portuguesas (Manaus: Universidade Federal do Amazonas,
2007); António Manuel Hespanha, «Luís de Molina e a escravização dos negros», Análise Social, 25
(2001): 937-960; e Marcocci, A Consciência de um Império..., 281-333.
[329] Conde de Sabugosa para o rei, Bahia, 23-6-1726 e 18-5-1734, AHU_ ACL_CU_005, cx. 27, d.
2468, e cx. 47, d. 4220; Rodrigo César de Meneses para o rei, Cuiabá, 28-3-1728,
AHU_ACL_CU_010, cx. 1, d. 24; Luís Barbosa de Lima para o rei, Pará, 2-10-1732,
AHU_ACL_CU_013, cx. 14, d. 1329; e João de Abreu de Castelo Branco para António Guedes
Pereira, Belém, 9-9-1738, AHU_ACL_CU_013, cx. 21, d. 1982.
[330]
«Sendo nossos confederados e amigos recebendo todo... em nossas terras, casas e fazendas
com toda afabilidade socorrendo de todo o necessário que por eles nos era pedido e debaixo desta
aliança terem feito grandes extorsões, mortes e roubos.» Inácio Coelho da Silva para o príncipe regente,
Pará, 20-4-1679, AHU_ACL_CU_013, cx. 2, d. 178.
[331] João de Maia da Gama para o rei, Belém, 23-10-1726, AHU_ACL_ CU_013, cx. 10, d. 863.
[332]
«Parecer do frei Clemente de São Joseph, comissário provincial de Santo Antônio e membro
da junta das missões», in Autos da Devassa Contra os Índios Mura do Rio Madeira e Nações do Rio
Tocatins (1738-1739), introd. Adélia Engrácia de Oliveira, transcrição Raimundo Martins de Lima
(Manaus: Universidade do Amazonas, 1986), 97-111; e Bettendorff, Crônica da Missão..., 217-218.
[333] Pedro Puntoni, A Guerra dos Bárbaros: Povos Indígenas e a Colonização do Sertão Nordeste
do Brasil, 1760-1720 (São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000), 77-81.
[334]
«Ley... de 9-4-1655 sobre os índios do Maranhão», Anais da Biblioteca Nacional 66(1): 25-
28; e «Instruções régias públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça», in J. L. de Azevedo,
Os Jesuítas no Grão Pará..., 348-356, nota F.
[335] Rascunho de «Instruções do secretário de estado Martinho de Melo e Castro para o governador
e capitão-geral de São Paulo Luís Antônio de Sousa», Lisboa, 22-4-1774, AHU_ACL_CU_023-01, cx.
29, d. 2661.
[336]
A mudança de «conquista» para «pacificação» foi inscrita nas
«Ordenanzas de Nueva Población» de 1573, reproduzidas em Morales
Padrón, Teoría y leyes..., 489-518, que no artigo 20 proibiam o uso da guerra
e no artigo 29 instruíam que as descobertas não deviam ser chamadas
«conquistas» porque deviam desenrolar- -se com «paz e caridade.» A maioria
destas regras foi reproduzida na Recopilación de Indias, a principal
compilação da legislação colonial, livro 4, título 1, leis 6 e 10. De jure
proibidas, de facto algumas guerras tiveram lugar: petição do jesuíta Pedro
Joseph Melanesio, 8-10-1751, ANQ, FE 15, vol. 42, n.º 1583, fls. 135r-6v;
petição de Miguel Hernández Bello, Quito, 13-7-1979, ANQ, FE 150, vol.
343, n.º 8216, fls. 44r-47v; carta de Juan José de Sarden para o vice-rei,
Fuerte de Monte, 4-11-1780, AGN/BA, IX.1.4.6; e carta para Luis García de
Vivar, Buenos Aires, 16-9-1754, AGN/BA, IX.3.8.2. Ver também Silvio
Zavala, Los esclavos indios en Nueva España (Cidade do México: El Colegio
Nacional, 1967); David Block, Mission Culture on the Upper Amazon:
Native Tradition, Jesuit Enterprise, and Secular Policy in Moxos, 1660-1880
(Lincoln e Londres: University of Nebraska Press, 1994), 33; Cecilia
Sheridan, Anónimos y Desterrados: La contienda por el «sitio que llaman de
Quauyla», xvi-xviii siglos (Cidade do México: CIESAS, 2000), 17 e 77-78; e
Paul Wojtalewicz, «The junta de missões/ junta de misiones: A comparative
study of peripheries and imperial administration in eighteenth-century Iberian
empires», Colonial Latin American Review 8(2) (1999): 225-240.
[337]
A sua petição ao governador, sem data, e carta de Lázaro de Rivera para José de Espínola, Santa
Rosa, 28-1-1797, AHN, Estado 3410, n.º 13.
[338]
«Atendiendo que el bárbaro no solo se ha hecho dueño de los dominios sino también se ha
excedido a destruir los vasallos y sus haciendas... con la más sangrienta persecución»: petição de Rafael
Torrico, Laguna, 17-1-1805, in AGN/ BA, IX.23.2.5, Cuaderno 1, fls. 42r-45r, fls. 43r-v; Diego
Velasco para Ramón Pizarro, La Laguna, 19-1-1805; Ramón Pizarro para Marqués de Sobremonte, La
Plata, 25-1-1805; Vicente Rodriguez Romano, La Plata, 7-7-1808, AGN/BA, IX.23.2.5, Cuaderno 1,
fls. 45v-123v, e Cuaderno, 8 (não numerado).
[339] Sobre a forma como a paz e a guerra podiam coincidir, e como as duas se relacionavam com a
conversão, ver também Marcocci, A Consciência de um Império..., 252-265
[340] Ramón García Pizarro para marquês de Sobremonte, La Plata, 25-8-1806, AGN/BA, IX.24.4-6,
Exp. 39; Pedro Antonio Cervino, Buenos Aires, 25-6- -1804, AGN/BA, BN 189, Exp. 1882;
«Expedición para contener las irrupciones de los indios infieles de las fronteras de la cordillera de los
Sauces», AGN/BA, IX.24.4.8, Exp. 50; Joaquin Alos para Nicolás Arrendondo, Assunção do Paraguai,
19-9-1791 e 19-1-1793, AHN, Estado 4387, n.º 4, e Estado 4548; e Martín Boneo para Joaquín de
Aosmino, Assunção do Paraguai, 14-10-1790, BRAH/M, 9-1663, fls. 36-41.
[341] «Tratados que deberá observar con este superior gobierno el cacique Callfilqui», AGN/BA, BN

189, Exp. 1877, parcialmente reproduzido em Levaggi, Paz en la frontera, 135; e Levaggi, Diplomacia
hispano-indígena..., 240-241.
[342]
«Tratado entre el gobernador Urizar y los Malbalaes», reproduzido em Borelli, «Tratados de
paz...», 243-244; Francisco Coelho de Carvalho para o rei, 28-2-1624, AHU_ACL_CU_009, cx. 1, d.
79; e «Carta Patente de principal», dada por Francisco Xavier de Mendonça Furtado em 6-10-1752,
petições de Ignacio Coelho, Francisco de Souza de Menezes, e Luís de Miranda para o rei, as três
datadas de 15-3-1755, e Sebastião José de Carvalho e Mello para o Conselho Ultramarino, 15-3-1755,
todas citadas em Mauro Cezar Coelho, «De guerreiro a principal: Integração das chefias indígenas à
estrutura de poder colonial, sob o diretório dos índios (1758-1798)», in Actas do Congresso
Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: Poderes e Sociedades, Lisboa, 2 a 5 Novembro de
2005, 6, disponível em http://cvc.instituto-
camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/mauro_cezar_coelho.pdf. Ver também Farage, As Muralhas dos
Sertões..., 160-163 e 170.
[343]Neil L. Whitehead, «Tribes make states and states make tribes: Warfare and the creation of
colonial tribes and states in northeastern South America», in War in the Tribal Zone: Expanding States
and Indigenous Warfare, orgs. R. Brian Ferguson e Neil L. Whitehead (Santa Fé, NM: School of
American Research Press, 1992), 127-150; Guillaume Boccara, «Antropología política en los márgenes
del Nuevo Mundo: Categorías coloniales, tipologías antropológicas y producción de la diferencia», in
Fronteras movedizas: Clasificaciones coloniales y dinámicas socioculturales en las fronteras
americanas, org. Christophe Giudicelli (Cidade do México: CEMCA, 2010), 103-135, nas 119-120;
Christophe Giudicelli, «¿»‘Naciones de enemigos?’: La identificación de los indios rebeldes en la
Nueva Vizcaya (siglo xvii)», in El gran norte mexicano: Indios, misioneros y pobladores entre el mito y
la historia, org. Salvador Bernabéu Albert (Sevilha: CSIC, 2009), 27-57; Alexandra V. Roth, «The
xebero ‘indios amigos’: Their part in the ancient province of Mainas», in Resistencia y adaptación
nativas en las tierras bajas latinoamericanas, org. María Susana Cipolletti (Quito: Abya-Yala, 1997),
107-122; Garcia, As Diversas Formas..., 138-139 e 227-265; e Puntoni, A Guerra dos Bárbaros..., 60-
61, 68-69, e 77.
[344] Francisco de Vitoria, Relecciones sobre los indios y el derecho de guerra (Madrid: Espasa-

Calpe, 1975 [1538]). Ver também Anthony Pagden, «Dispossessing the barbarian: The language of
Spanish thomism and the debate over the property rights of the American Indians», in David Armitage,
org., Theories of Empire, 1450-1800 (Aldershot: Ashgate-Variorum, 1998), 159-178; Anthony Pagden,
Lords of All the World: Ideologies of Empire in Spain, Britain, and France, c-1500-c-1800 (New
Haven, CT: Yale University Press, 1995), 46-62, nas 47-49; Rolena Adorno, The Polemics of
Possession in Spanish American Narrative (New Haven, CT: Yale University Press, 2007); Joshua
Castellino e Steve Allen, Title to Territory in International Law: A Temporal Analysis (Aldershot:
Ashgate, 2003), 42-55; e Christopher Tomlins, Freedom Bound: Law, Labor, and Civic Identity in
Colonizing English America, 1580-1865 (Nova Iorque: Cambridge University Press, 2010), 115-120,
131-134, 143, e 148.
[345] Martin Kintzinger, «From the late middle ages to the peace of Westphalia», in The Oxford
Handbook of the History of International Law, orgs. Bardo Fassbender e Anne Peters (Oxford: Oxford
University Press, 2012), 608-627, 613, e 618; e Marti Koskenniemi, «Histories of international law:
Dealing with eurocentrism», Rechtsgeschichte, 19 (2011): 152-176. Ver também Robert A. Williams,
The American Indian in Western Legal Thought: The Discourses of Conquest (Oxford: Oxford
University Press, 1990), 6-7; e Lauren Benton e Benjamin Straumann, «Acquiring empire by law: From
Roman doctrine to early modern European practice», Law and History Review, 28(1) (2010): 1-38.
[346] Andrew Fitzmaurice, «Discovery, conquest, and occupation of territory», in The Oxford
Handbook of the History of International Law, 840-861, 841; e Andrew Fitzmaurice, Sovereignty,
Property, and Empire, 1500-2000 (Cambridge:
Cambridge University Press, 2014).
[347] Paolo Marchetti, De Iure Finium: Diritto e confine tratardo medioevo ed età moderna (Milan:
Giuffrè Editore, 2001), 73-4, 96-111, e 185-181; e Castellino e Allen, Title to Territory..., 29-89.
[348] Thomas More, Utopia, tradução de Gilbert Burnet (Dublin: R. reilly, 1737 [1516]), 60-61.
[349]
Alberico Gentili, De Iure Belli libri tre, tradução de John C. Rolf (Oxford: Clarendon Press,
1933; reimpressão moderna da edição de 1612 [1588]), livro 1, capítulo 17, 80-81.
[350] Hugo Grotius, The Freedom of the Seas or the Right Which Belongs to the Dutch to Take Part
in the East Indian Trade, tradução de Ralph van Deman Magoffin (Nova Iorque: Oxford University
Press, 1916 [1609]), capítulo 2, 11-12, capítulo 5, 24-30, 34, e 39, e capítulo 7, 47-60; e Grotius, On the
Law of War, livro 2, capítulo 2, 4, 11, e 17, e capítulo 4, 1-3 e 8-9.
[351]
Pufendorf, Of the Law of Nature, livro 4, capítulo 4, 1, 2, 4, 6, 9, e 13, e capítulo 6, 3 e 4 e
capítulo 12, 7-9 e 11. Ver também Olivecrona, «Appropriation...», 216-217.
[352]
Emilio Bussi, La formazione dei dogma di diritto private nel diritto commune (diritti reali e
diritti di obbligazione) (Pádua: Cedam, 1937), 22-30; e Paolo Grossi, Il dominio e le cose: Percezioni
medievali e moderne dei diritti reali (Milão: Guiffrè, 1992).
[353] «Y verdaderamente para las islas y tierras que hallaron por ocupar y poblar de otras gentes, o
ya porque nunca antes las hubiesen habitado o porque si las habitaron se pasaron a otras y las dejaron
incultas, no se puede negar que lo sea y de los más conocidos por el derecho natural y de todas las
gentes, que dieron este premio a industria y quisieron que lo libre cediese a los que primero lo hallasen
y ocupasen y así se fue practicando en todas las provincias del mundo, como a cada paso nos lo enseña
Aristóteles, Cicerón, nuestros jurisconsultos y sus glosadores» e «los lugares desiertos e incultos
quedan en la libertad natural y son del que primero los ocupa en premio de su industria»: Solórzano y
Pereira, Política Indiana..., livro 1, capítulo 9, pontos 13-14 e 18-19 nas 90-92.
[354] Nuix, Reflexiones imparciales..., 138-144.
[355] Botella Ordinas, «¿Era inevitable 1808?...»; Eva Botella Ordinas, «Debating empire,
investigating empires: British territorial claims against the Spaniards in America, 1670-1714», Journal
for Early Modern Cultural Studies, 10(10) (2010): 142-168; e Eliga H. Gould, «Entangled histories,
entangled worlds: The english- -speaking Atlantic as a Spanish periphery», American Historical
Review 112(3) (2007): 764-786, nas 770-772.
[356] Nuix, Reflexiones imparciales..., 145-149.
[357] John Locke, Two Treatises of Government (Londres: Black Swan, 1698), segundo tratado,
capítulo 5, pontos 27-51, especialmente pontos 31-32. Os tratados de Locke foram estudados por
muitos autores. Estes livros revelaram- -se muito úteis para o meu trabalho: C. B. MacPherson, The
Political Theory of Possessive Individualism: Hobbes to Locke (Oxford: Clarendon Press, 1962); e
James Tully, A Discourse on Property: John Locke and His Adversaries (Cambridge: Cambridge
University Press, 1980). Ver também Paolo Grossi, An Alternative to Private Property: Collective
Property in the Juridical Consciousness of the 19th Century, tradução de Lydia Cochrane (Chicago:
University of Chicago Press, 1981); J. M. Neeson, Commoners: Common Right, Enclosure, and Social
Change, England, 1700-1829 (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), 15-109 e 313-319;
Laura Brace, «Husbanding the earth and hedging out the poor», in Land and Freedom: Law, Property
Rights, and the British Diaspora, orgs. A. R. Buck, John McLaren e Nancy E. Wright (Burlington, VT:
Aldershot 2001), 16-17; Laura Brace, The Idea of Property in Seventeenth-Century England: Tithes
and the Individual (Manchester: Manchester University Press, 1998), 164; James Warren Springer,
«American Indian and the law of real property in colonial New England», American Journal of Legal
History, 30(1) (1986): 25-58, 45-46; James Muldoon, Canon Law, the Expansion of Europe and World
Order (Aldershot: Ashgate, 1998), capítulos 4 e 6; e Tamar Herzog, «Did European law turn
American? Territory, property and rights in an Atlantic World», in New Horizons of Spanish Colonial
Law: Contributions to Transnational Early Modern Legal History, orgs. Thomas Duve e Heikki
Pihlajamäki (Francoforte: Vittorio Klostermann-Max Planck, 2015).
[358]
«El hombre, después de haber disputado con las fierras el dominio de la naturaleza sujetó las unas
a obedecer el imperio de su voz y obligó a las demás a vivir escondidas en la espesura de los montes, y
como rompiendo con su ayuda los bosques y malezas que cubrían la tierra, supo enseñorearla y hacerla
servir a sus necessidades» e «el oficio del labrador es luchar a todas horas con la naturaleza, que de
suyo nada produce sino maleza, y que solo da frutos sazonados a fuerza de trabajo y cultivo»: Gaspar
Melchor de Jovellanos, «Informe de la Sociedad Económica de Madrid al Consejo de Castilla en el
Expediente de la Ley Agraria», Madrid, 1795, reproduzido em Gaspar Melchor de Jovellanos, Escritos
Económicos, org. Vicent Llombart (Madrid: Real Academia de Ciencias Morales y Políticas, 2000),
185-359, 304, e 381.
[359]Barbara Arneil, John Locke and America: The Defense of English Colonialism (Oxford:
Clarendon, 1996), 16. Ver também Wilcomb E. Washburn, «The moral and legal justifications for
dispossessing the Indians», in Seventeenth-Century America: Essays in Colonial History, org. James
Morton Smith (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1959), 15-32, nas 23-24; Wilbur R.
Jacobs, Dispossessing the American Indian: Indians and Whites on the Colonial Frontier (Nova Iorque:
Charles Scriber’s Sons, 1972), 111; John E. Kicza, «Dealing with foreigners: A comparative essay
regarding initial expectations and interactions between native societies and the English in North
America and the Spanish in Mexico», Colonial Latin American Historical Review, 3(4) (1994): 381-
397, nas 389 e 392; George Raudzens, «Why did Amerindian defense fail?: Parallels in the European
invasions of Hispaniola, Virginia and Beyond», War in History, 3(3) (1996): 331-352, nas 343-344;
Jean M. O’Brien, Dispossession by Degrees: Indian Land and Identity in Natick, Massachusetts, 1650-
1790 (Cambridge: Cambridge University Press, 1997), 6-7; Bernard W. Sheehan, Savagism and
Civility: Indians and Englishmen in Colonial Virginia (Cambridge: Cambridge University Press, 1980),
5; e Stuart Banner, «Why Terra Nullius?: Anthropology and property law in Early Australia», Law and
History Review, 23(1) (2005): 95-131.
[360] Tully, A Discourse on Property..., 65-68, 80, e 100; e Paschal Larkin, Property in the

Eighteenth Century with Special Reference to England and Locke (Nova Iorque: Howard Fertig, 1969),
53-66.
[361] José Calvet de Magalhães, História do Pensamento Económico em Portugal da Idade Média ao
Mercantilismo (Coimbra: Boletim de Ciências Económicas, 1967), 3-4 d 11; Manuel J. Rodríguez
Puerto, «Derecho natural, propriedad y utilidad en el humanismo jurídico», Ius Fugit, 5-6 (1996-1997):
491-503 e 510-525, nas 499-500 e 518.
[362] Ignacio de la Concha y Martínez, La «presura»: La ocupación de tierras en los primeros siglos
de la reconquista (Madrid: CSIC, 1946); e Virgínia Rau, Sesmarias Medievais Portuguesas (Lisboa:
Presença, 1982 [1946]), 34-35.
[363] Ao mencionarem a «arte», os homens da época provavelmente referiam-se à necessidade de
explorar o potencial máximo da terra ou, na linguagem da era moderna, de «melhorá-la»; «Acrescentar
et amuchiguar et fenchir la tierra fue el primero mandamiento que Dios mando al primero home et
mugger depues que los hubo fechos» (lei 1); «Acrescentando et criando el pueblo su linaje et labrando
la tierra et sirviendose della asi como diximos en las leyes antes desta, son dos cosas que por se
amuchigua la gente et se puebla la tierra segunt Dios mando. Mas aun hi ha otra cosa que deben facer
los homes para ser el mandamiento complido, et esto es que se apoderen et sepan ser señores della. Et
este apoderamiento viene en dos guisas: la una es arte et la otra fuerza. Ca por seso deben los homes
conocer la tierra y saber para qué será más provechosa et adobarla et endereszarla por mestria segunt
aqueso, et non la deben despreciar deciendo que non es buena;... et faciendo esto se apoderaran de la
tierra, et servirse han de las cosas que son en ella... segunt mandamiento de Dios» (lei 6): Siete
Partidas, Partida ii, título 20, leis 1 e 6.
[364]
Rau, Sesmarias Medievais..., 87; e Carmen Margarita Oliveira Alveal, «Converting land into
property in the Portuguese Atlantic world, 16th-18th century» (tese de doutoramento, Johns Hopkins
University, 2007), capítulo 1.
[365] A obrigação régia era «cuidar de que cada uno labre su tierra, y que la labre bien, porque
también conviene a la república, cuyo curador es vuestra majestad... y aunque no sea en España toda la
tierra de vuestra majestad... lo es por lo universal para dirección de los dominios particulares a pública
utilidad... que toda la tierra fue de la república originalmente y si se repartió a cada uno, fue de intento
y para comodidad de la labor y se les dió para que la labrasen como en enfiteusis, como dije que nos la
dió dios, cuyos mayorales son los reyes.» Pedro de Valencia, citado em Carmelo Viñas y Mey, El
problema de la tierra en la España de los siglos xvi-xvii (Madrid: CSIC, 1941), 164. Ver também
Thomas Kenneth Niehaus, «Population problems and land use in the writing of the Spanish arbitristas:
Social and economic thinkers, 1600-1650» (tese de doutoramento, University of Texas at Austin,
1976); Manuel Martín Rodríguez, Pensamiento económico español sobre la población: De Soto a
Matanegui (Madrid: Pirámide, 1984); Maravall, Estado moderno..., vol. 2, 325-339; e David E.
Vassberg, «The Tierras Baldías: Community property and public lands in 16th century Castile»,
Agricultural History, 48(3) (1974): 383-401, nas 384-385 e 393-394.
[366] Melchor de Jovellanos, Informe de la Sociedad Económica, 8 e 12-13. Ver também Viñas y
Mey, El problema de la tierra, 164 (citando Juan de Mariana, De rege et regis institutione [Toledo:
Apud Petrum Rodericum typo. Regium, 1599]) e 147.
[367] Magalhães, História do Pensamento Económico..., 11, 137-139; Armando de Castro, O
Pensamento Económico no Portugal Moderno (de Fins do Século xviii a Começos do Século XX)
(Lisboa: Ministério da Cultura e da Ciência, 1980), 38-40; e José Vicente Serrão, «O pensamento
agrário setecentista (pré- -fisiocrático): Diagnósticos e soluções propostas», in Contribuições para a
História do Pensamento Económico em Portugal, org. José Luís Cardoso (Lisboa: Dom Quixote,
1988), 23-50. Ver também Richard Drayton, Nature’s Government: Science, Imperial Britain, and the
«Improvement» of the World (New Haven, CT: Yale University Press, 2000), 50-51.
[368] ANTT, Cortes, Mç. 13, fls. 21-22
[369] Francisco de Peralta, «Relación de lo que han informado los corregidores... acerca del remedio
que se tendrá para la conservación de la labranza y crianza», manuscrito sem data (século xvii?) BNE,
Ms. 9372, fls. 31r-40v; e Pragmática en que se declara los que han de ser hermanos de la Mesta y en
la forma que pueden traspasar y vender las dehesas (Madrid: Juan de la Cuesta, 1609). Ver também
Márcia Maria Menendes Motta, Direito à Terra no Brasil: A Gestação do Conflito 1795-1824 (São
Paulo: Alameda Casa Editorial, 2009), 28-45.
[370] Tamar Herzog, «Terres et déserts, société et sauvagerie: De la communauté en Amérique et en
Castille à l’époque moderne», Annales HSS 62(3) (2007): 507-538, nas 525-528. Ver também Vicente
Palacio Atard, Las «nuevas poblaciones» andaluzas de Carlos III: Los españoles de la ilustración
(Córdova: Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Córdoba, 1989); Jordi Olivera Samitier, Nuevas
poblaciones en la España de la ilustración (Barcelona: Fundación Caja de Arquitectos, 1998); e Juan
Helguera Quijada, «Los despoblados y la política de colonización del reformismo ilustrado en la
cuenca del Duero», in Despoblación y colonización del Valle del Duero, siglos viii-xx, IV Congreso de
Estudios Medievales (Ávila: Fundación Sánchez Albornoz, 1995), 375-411.
[371]
«Pues ni han tenido ni tienen ni pueden tener por el orden regular en ellas más utilidad, que lo
que pudieran figurarse en unas posesiones situadas en los espacios imaginários.» Nicolás de Arriquibar,
Recreación política: Reflexiones sobre el amigo de los hombres en su tratado de población
considerando con respecto de nuestros intereses (Vitória: Tomás de Robles y Navarro, 1779), 236.
[372]
«Un reino podría formarse de solo estos desiertos espantosos y su reconquista sería más
gloriosa, útil y segura, que la de países distantes.» Arriquibar, Recreación política..., 235. Ver também
Joaquín Navarros, «Plan de repoblación para el lugar de Zarapuz en el reino de Navarra», 1778,
ARSEMAP 25/11.
[373] Tamar Herzog, «Colonial law and ‘native customs’. Indigenous land rights in colonial Spanish
America», The Americas, 63(3) (2013): 303-321.
[374] As composiciones latino-americanas foram estudadas por muitos autores. Ver, por exemplo,
Cristina Torales Pacheco, «A note on the composiciones de Tierra in the jurisdiction of Cholula, Puebla
(1591-1757)», in The Indian Community of Colonial Mexico: Fifteen Essays on Land Tenure,
Corporate Organizations, Ideology, and Village Politics, orgs. Arij Ouweneel e Simon Miller
(Amesterdão: CEDLA, 1990), 87-102; e Donato Amado Gonzáles, «Reparto de tierras indígenas y la
primera visita y composición general, 1591-1595», Histórica 22(2) (1998): 197-207. Ver também
Recopilación de Indias, livro 4, título 12, leis 15-21. O seu funcionamento em relação às comunidades
nativas foi exemplificado em petição de Salvador Ango Pilainlade Salazar, cacique, Otavalo, 3-12-
1692, ANQ, Tierras 18, Exp. 15-12-1692, fl. 1v; e petição de Juan Guaytara, cacique, Quito, 15-3-
1712, ANQ, Tierras 34, Exp. 15-3-1712, fls. 2r-v.
[375] Vânia Maria Losada Moreira, «Nós índios, índios nós senhores de nossas ações...: Direito de

domínio dos índios e cristandade em conflito (Vila de Nova Benavente, capitania do Espírito Santo,
1795-1798)», in Em Terras Lusas: Conflitos e Fronteiras no Império Português, orgs. Márcia Motta,
José Vicente Serrão e Marina Machado (Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2013), 231-
259. Ver também Carlos Castilho Cabral, Terras Devolutas e Prescrição (Rio de Janeiro: Jornal do
Commercio, 1943), 38, e Manuela Carneiro da Cunha, Os Direitos do Índio: Ensaios e Documentos
(São Paulo: Editora Brasiliense, 1987), 32 e 58-63.
[376] «Voto do padre Antonio Vieira... sobre o governo espiritual e temporal dos índios do Brasil»,
Bahia, 12-7-1694, BA, 51-V-45, fl. 5r; «Voto do padre Antonio Vieyra sobre as dúvidas dos moradores
de São Paulo a cerca da administração dos índios», 12-7-1694, BA, 51-V-45, fls. 5r-10r; «Informação
do modo com que foram tomados e sentenciados por cativos os índios do ano de 1655 feita pelo padre
Antonio Vieira», BA, 49-IV-23, fls. 115r-136r, fl. 116v. Algumas destas opiniões foram reproduzidas
em Vieira, Escritos Históricos e Políticos..., 429-444.
[377] Márcia Maria Menendes Motta, Nas Fronteiras do Poder: Conflito e Direito à Terra no Brasil
de Meados do Século XIX (Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 1998); Motta,
Direito à Terra no Brasil..., 15-16 e 81 e 129; Márcia Maria Menendes Motta, «The sesmarias in
Brazil: Colonial land policies in the late eighteenth century», E-Journal of Portuguese History, 3(2)
(2005); Ruy Cirne Lima, Pequena História Territorial do Brasil: Sesmarias e Terras Devolutas
(Brasília: ESAF, 1988); Nelson Nozoe, «Sesmarias e apossamento de terras no Brasil colônia», Revista
Economia, 7(3) (2006): 587-605; José Ribamar Bessa Freire e Márcia Fernanda Malheiros, Os
Aldeamentos Indígenas do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: EDUERJ, 1997), 67-68 e 70; Alveal,
«Converting land», capítulo 5.
[378] Patricia Seed, American Pentimiento: The Invention of Indians and the Pursuit of Riches
(Minneapolis: University of Minnesota Press, 2001); e John H. Elliott, Empires of the Atlantic World:
Britain and Spain in America, 1492-1830 (New Haven, CT: Yale University Press, 2006).
[379] Langfur, The Forbidden Lands..., 42-47, 68, e 170; Amy Turner Bushnell, «None of These
Wondering Nations Has Ever Been Reduced to the Faith». Mission and Mobility on the Spanish-
American Frontier», in The Spiritual Conversion of the Americas, ed. James Muldoon (Gainesville:
University Press of Florida, 2004), 142-168, na 142; e Christophe Giudicelli, «La raya de los pulares:
Institution d’une frontière indienne coloniale au sein du Valle Calchaquí (1582- -1630)», in Les indiens
des frontières coloniales: Amérique australe, xvie siècle/ temps présent, orgs. Jimena Paz Obregón
Iturra, Luc Vapdevila e Nicolas Richard (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2011), 27-57. Ver
também A. J. R. Russel-Wood, «Frontiers in colonial Brazil: Reality, myth and metaphor», in Latin
American Frontiers, Borders, and Hinterlands: Research Needs and Resources, org. Paula Covington
(Albuquerque: General Library-University of New Mexico, 1990), 26-61, nas 36-54; e Herzog, «Terres
et déserts».
[380]
Carlos de Araújo Moreira Neto, «Índios e fronteiras», Revista de Estudos e Pesquisas
(Brasilia), 2(2) (2005): 79-87; e Daniel Clayton, «The creation of imperial space in the Pacific
Northwest», Journal of Historical Geography, 26(3) (2000): 327-350, 334.
[381] «Ruegan los padres misioneros de los indios guaranís al padre confesor del rey considere
algunos cargos de la conciencia de su majestad que resultan de la ejecución del real tratado [de 1750]»,
anónimo, sem data, ANC/S, Jesuitas, vol. 197, fls. 109r-110v; e Baltasar Maziel, «Informe de Baltasar
Maziel al gobernador Bucareli», Buenos Aires, 19-10-1769, reproduzido em Maziel, De la justicia...,
201-204
[382]
«El derecho natural de los indios... a los bienes inmuebles adquiridos con su propio trabajo y
la propia industria, en la tierra donde ellos nacieron y poseyeron de tiempo inmemorial sus antepasados
y abuelos.» Manuel Arnal, «Injusticia de la causa paraguaya», tradução de Cayetano Bruno e
reproduzido em Maziel, De la justicia..., 187-200, na 189.
[383]
Félix Feliciano da Fonseca, «Relação do que aconteceu aos demarcadores portugueses e
castelhanos», Lisboa, pós-1753, 5-6, citado em Domingues, When the Amerindians Were Vassals...,
193; e «Estos papeles dan noticia con más extensión del estado en que se hallaba la expedición de los
pueblos el día 15-2.de este año», BPE, cod. cxvi (2-12), n.º 16.
[384] «Riduzione di tatto e di ragione», manuscrito anónimo, sem data, ASV, Fondo Gesuiti, vol. 4,
ponto 2.
[385] Luís António de Souza para Carlos Morphy, São Paulo, 17-7-1771, AGN/ BA, IX.4.3-6.
[386] «Se reintegraron a esta provincia por derecho de reversión todos aquellos campos, como que

son vasallos de nuestro monarca y señor natural y han prestado palabra de fidelidad y subordinación.»
Joaquín de Alós para Nicolás Arredondo, Assunção do Paraguai 8-2-1792, AHN, Estado 4555, n.os 9-
42, fl. 5.
[387] Juan Carlos Bazán, «Examen jurídico y discurso historial sobre... los confines de los reinos de
Castilla y Portugal... en el Río de la Plata», sem data, BNE, Ms. 3042, fls. 42r-101v, fl. 96r.
[388] «Primeramente, que por cuanto ocupan estos territorios que han poseído sus antepasados en los
cuales como criados en ellos gozan de buena salud... se les ha de dejar y mantener en dicha posesión,
que han tenido, sin despojarlos de ellas, por dárselas a otros nacionales». Levaggi, Paz en la frontera...,
82.
[389] «Que como manteniendo su majestad a todos los indios... en la posesión de las tierras que
comprenden, ha conservado siempre sobre éstas el dominio alto que como a soberano dueño de todo le
corresponde». Ibidem, 152.
[390] «Considerándose con derecho a los terrenos que hacen la confluencia de dichos ríos... cedieron
en la posesión de ellos para el establecimiento del mismo fuerte». Ibidem, 163.
[391] «Sobre las hostilidades de los indios chiriguanos de la cordillera de Sauces por parte de las
fronteras de Tomina en el distrito de la intendencia de Charcas 1805», AGN/BA, IX.23.2.5, Cuaderno
1, por exemplo, a investigação desenvolvida em Pueblo Real de San Pedro Larabuco em 3-1-1805,
incluindo o interrogatório e as declarações de Fernando de Santillán..., fls. 23v-24v, e Jorge Ichel, fls.
27r-v.
[392]
«Respecto a que la extensión de estas campañas es dilatada, y que franquea su utilidad, a todas las
naciones de indios que las pueblan sin perjuicio de nuestros usuales territorios, siempre que se
contengan en los que les son a ellos proporcionados». Levaggi, Paz en la frontera, 127.
[393]
«Para cuando hayan dado buenas pruebas de su fiel vasallaje al rey...
observando buen correspondencia con todos los españoles.» Jerónimo
Matorras em 29-7-1774, reproduzido em Nacuzzi, «Los cacicazgos», apendix
III, 71-74, na 71.
[394]
Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 12-2-1716, AHU_ACL_
CU_013, cx. 6, d. 515; «Instrução da rainha para D. António Rolim de
Moura», Lisboa, 19-1-1749, APMG, Livro C-03, Doc. 01, fls. 3-8, fl. 6,
ponto 19; Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 8-2-1731,
ahu_acl_cu_023-01, cx. 7, d. 756; e João de Abreu Castelo Branco para o rei,
Pará, 16-1-1746, AHU_ACL_CU_013, cx. 28, d. 2676. Percepções
espanholas semelhantes são descritas em Joaquín Alos para Nicolás
Arrendondo, Assunção do Paraguai, 26-10-1792, AHN, Estado 4548; e
Lázaro de Rivera para José de Espínola, Santa Rosa, 28-1-1797, AHN,
Estado 3410, n.º 13.
[395] «Por derecho natural y común el dominio de las cosas se adquiere al primo capiente el cual por
cédulas y leyes municipales de estos reinos está mandado guardar a sus pobladores y particularmente a
los indios para que se les conserve la posesión de aquellas tierras que hubiesen estado ocupando sus
mayores o los gentiles de quienes proceden, sin perturbar a los sucesores que hubiesen recibido la
católica enseñanza de nuestra verdadera fe y la sujeción a nuestro soberano, con los recomendables
privilegios que a no se hallare que hubiesen estado ocupando tierras algunas o las despoblasen los
bárbaros siguiendo su ciega idolatría y huyendo el reducirse al gremio cristiano y sujeción de los
católicos y gloriosos reyes de España y se poblasen otros convertidos aún que estos no hubiesen
ocupado tierras algunas»: Protector de Indios, ANQ, Tierras 47, Exp. de 1735, fl. 2v
[396] «Creo que V. E. no quiere en este lugar hacer dependiente el dominio de la corona portuguesa
en una ocupación privativa porque si tal fuese su mente y la tácita consecuencia que envuelven aquellas
palabras, además de ser opuestas a los principios del derecho público y de las gentes, que solo
requieren una ocupación general, que puerta no abriría que a todas las naciones para entrar por los
vastos dominios de la corona Española, muchos de los cuales solo están ocupados por sus antiguos y
silvestres habitadores?» Lazaro de Ribera de Cayetano Pinto de Miranda Montenegro, Vila Bela, 30-6-
1797, a resposta do seu congénere espanhol datada de Assunção do Paraguai, 7-9-1797, e a sua segunda
carta, Mato Grosso, 21-11-1797, todas em AGN/BA, IX.4.4-1. Pode ler-se uma segunda cópia em
AHN, Estado 3410, n.º 13. A citação é da carta datada de 21-11-1797.
[397]
«Ni puede ser otra cosa porque si el fin principal de esta conquista es
propagar el evangelio a más de no ser decente a nuestra corte la reducción a
límites, sería estrechar la puerta a la civilización queda a conocer al enemigo
las ventajas de nuestra religión.» Bonifacio Biscarra para o presidente da
audiencia, Lagunas, 19-1-1805, AGN/BA, IX.23.2.5, Cuaderno 1, fls. 45v-
48r, no fl. 47r.
[398]
«Los hombres necesitados de fijar alguna residencia en la tierra, para
poder cultivarla y alimentarse de ella, se vieron también precisados a marcar
y señalar la área que ocupaban para precaverse de que otros no se
introdujesen y apoderándose de ella los privasen de los frutos y productos
que les pertenecen. He aquí el origen de las fronteras... resulta de las reglas
antecedentes que para ocupar un país y reducirlo a propriedad nacional la
ocupación debe ser justa y racional. Si no lo fuese sería un desojo y los
ocupantes llevando consigo el carácter de tiranos y usurpadores no podrían
ampararse en el derecho de gentes, porque serían acreedores a ser tratados
como ladrones y bandidos por los habitantes de las naciones circunvecinas...
el derecho de ocupación pura está reglado por los principios de la inmutable
justicia natural, que a nadie le es dado traspasar. La naturaleza ha criado la
tierra para que los hombres la cultiven y se sustenten de ella. No habiendo
producido nada en vano ha dado derecho a todos para ocuparla y
distribuírsela con moderación y justicia, sin daño de otros; pues que el globo
tiene extensión y capacidad bastante para que ninguna sociedad quede sin
alguna parte... ninguna nación debe ocupar un espacio tan dilatado de tierras
que ella no sea capaz de poblar y cultivar. En tal caso es manifiesto que
perjudicaría a otros la ocupante, privándolos del lugar necesario para su
población y que para alimentar su ambición frustraría los fines de la
naturaleza y su autor, haciéndose refractaria del derecho natural y
autorizando con el hecho a sus vecinos para que se opusiesen a la usurpación
que se haría a todo el género humano... por las mismas razones los pueblos
que están en sus confines estrechados pueden poblar y ocupar algún terreno
que se halla inculto y desierto entre tribus salvajes que ni lo necesitan ni lo
cultivan ni lo ocupan y poseen permanentemente o con residencia fija... es en
virtud de este principio que se justifica la ocupación que hace el gobierno y
los habitantes de nuestro país de los terrenos despoblados que hay fuera de
las antiguas fronteras, y por los cuales se suelen encontrar tribus errantes de
salvajes que sin fijar residencia ni domicilio en un lugar determinado
pretenden el señorío de tales parajes, recorriéndolos con sus chozas, las
cuales mudan de una parte a otra... por vivir de este modo no cultivan la tierra
como es consiguiente, ni quieren tener arraigo alguno; viven solo del robo.»
Antonio Sáenz, Instituciones elementales sobre el Derecho Natural y de
Gentes (Buenos Aires: Facultad de Derecho y Ciencias Sociales, 1936
[1822]), 178-182.
[399] Frederick Jackson Turner, «The significance of the frontier in American History», in The
Frontier in American History (Nova Iorque: Dover Publications, 1996) [1920], 7-26.
[400] «Porque en lo substancial se llaman fronteras todas las tierras incógnitas ocupadas por los
bárbaros y nuestras pertenencias siguen siempre extendiéndose con la población de nuevas misiones y
de las estancias que se van estableciendo más adelante por el interés de los buenos pastos y fértiles
terrenos, como siempre se ha ejecutado desde la pacificación de este continente.» Carta do presidente
da audiencia de La Plata para o vice-rei, La Plata, 25-1-1805, AGN/BA, IX.23.2.5, fl. 123r. Miguel
Télez Menses para o marquês de Sobremonte, San Rafael, 8-12- -1806, AGN/BA, IX.11.4.5, inclui
uma visão semelhante da fronteira.
[401] «A la espada y el compás, más y más y más y más.» Este ditado aparece na contracapa da obra
de Bernardo de Vargas Machuca Milicia y descripción de las Indias (primeira edição) publicada em
Madrid por Pedro Madrigal em 1599.
[402]
Herzog, «The meaning of territory...»; e Jeremy Adelman e Stephen Aron, «From borderlands
to borders: Empires, Nation-States, and the peoples in between in North American History», American
Historical Review, 104(3) (1999): 814-841, na 815 e 838. Ver também Bartolomé Clavero, «Original
Latin American Constitutionalism», Rechtsgeschichte, 16 (2010): 25-28.
[403] Mattoso, Identificação...; e José Mattoso, org. História de Portugal (Lisboa: Círculo de

Leitores, 1994 e 1995), vols. 2-4. Ver também António Henrique Oliveira Marques, History of
Portugal (Nova Iorque: Columbia University Press, 1972), vols. 1 e 2.
[404] Cordero Torres, Fronteras hispânicas: Geografia, diplomacia y administración (Madrid:
Instituto de Estudios Políticos, 1960), 97-112; Rodríguez López, La consolidación y la monarquia
feudal castellana: Expansión y fronteras durante el reinado de Fernando III (Madrid: CSIC, 1994); e J.
Torres Fontes, «La evolución de las fronteras peninsulares durante el gran avance de la Reconquista
(c.1212–c.1350)», in Historia de España Menéndez Pidal (Madrid: Espasa, 1990), vol. 13 (1), xiii–lvi.
[405] Ladero Quesada, «La formación de la frontera de Portugal y el tratado de Alcañices (siglos xii-
xiii)», Boletín de la Real Academia de la Historia, 194 (3) (1997), 425-458, mais particularmente em
449-457; Rita Costa Gomes, «A construção das fronteiras», in A Memória da Nação, orgs. Francisco
Bethencourt e Diogo Ramada Curto (Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1991), 357-382, na 371; e
Andrade, A Construção...
[406] Ladero Quesada, «Reconquista y definiciones de frontera», Revista da Faculdade de Letras.
História, 15 (10) (1998): 655-691, na 689; e Manuel Martínez Martínez, Olivenza y el tratado de
Alcañices (Olivença: Ayuntamiento de Olivenza, 1997), 9. Enquanto alguns afirmaram que a fronteira
se formou no século xiii e que por isso é a mais antiga da Europa, outros notaram que todos os conflitos
que ocorreram desde então não tiveram importância: Isabel Braga, Um Espaço, Duas Monarquias:
Inter-relações na Península Ibérica no Tempo de Carlos V (Lisboa: Universidade Nova de Lisboa,
2001), 103, citando Romero Magalhães. No entanto, a historiografia mais recente dividiu a evolução da
fronteira em três etapas: a reconquista, os tratados, e as contendas. Defende que a última foi a mais
longa e, apesar do senso comum, provocou mudanças substanciais: José Luís Martín Martín, «La tierra
de las ‘contiendas’: Notas sobre la evolución de la raya meridional en la edad media», Norba. Revista
de Historia, 16 (1996-2003), 277-293.
[407] Sahlins, Boundaries...; e José María Imízcoz Beunza, «De las fronteras de la comunidad a las
redes de la nación: construcción de identidades y de exclusiones en la vieja Europa», in Les sociétés de
fronteire: De la Méditerranée à l’Atlantique, orgs. Natividad Planas e Michel Bertrand (xvie-xviie siècles)
(Madrid: Casa de Velázquez, 2011), 107-124.
[408]
Marchetti, De Iure Finium..., 96-180. Ver também Manoel de Almeida
Sousa, Tractado Pratico e Critico de Todo o Direito Emphyteutico (Lisboa:
Impressão Regia, 1814), vol. 2, n.os 1222-1223, 1227, e 1230, nas 279-283; e
Thomaz, Observações Sobre o Discurso..., 39-44 e 95-102. No final do
século xviii, estes conceitos eram defendidos como naturais e, portanto, como
parte do direito internacional: Emmer de Vattel, The Law of Nations or the
Principles of Natural Law Applied to the Conduct and the Affairs of Nations
and Sovereigns, trad. Charles Fenewick (Washington DC: Carnegie Institute
of Washington, 1916 [1758]), livro 2, capítulo 11.
[409]
Carta de Badajoz, 15-4-1601, AHME, TP 1584/82, vol. 1, fl. 190r. Ver
também a sua carta datada de 30-7-1614, AHME, TP 1587/82, vol. 4, fl. 27r.
O rei, todavia, sugeriu que tal tolerância não era aconselhável: Ordem Régia,
Lisboa, 31-10-1603, AHME, TP 1586/82, vol. 4, fl. 147.
[410]
Consulta do Consejo de Estado, 4.4.1701, que reproduzia a opinião do
Consejo de Castilla em «El Consejo de Estado con oficio del enviado de
Portugal sobre los daños que los vecinos de La Guardia recibían de los
portugueses de Seixas», Madrid 10-3-1701, AHN, Estado leg. 1778, Exp. 15;
também reproduzido em «Con consulta del de Castilla sobre los daños que
los vecinos de La Guardia experimentaban de los portugueses de Seixas»,
Madrid, 4-4-1701, AHN Estado leg. 1788, Exp. 18.
[411]
O Consejo de Estado em 5-6-1696 in AGS, Estado 4042. Algo
semelhantes eram as opiniões do Consejo de Estado em 26-3-1697 in AGS,
Estado 4043, e do Consejo de Castilla em 7-5-1594, AGS, CRC leg. 480,
Exp. 2.
[412]
10 «El Consejo de Estado con la carta de V. M. se ha servido remitirle del gobernador de
Badajoz y comandante interino de Extremadura sobre los excesos cometidos por portugueses en aquella
frontera y prisión que había hecho de diez de ellos», Madrid, 26-12-1716, AHN, Estado leg. 1791, Exp.
51; e «El consejo de estado con carta del gobernador de Badajoz... sobre los excesos cometidos por
portugueses y prisión que había hecho de diez de ellos», 26-12-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 32.
O relatório enviado pelo concelho de Tui era semelhante, 24-11-1784, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2. A mesma atitude seria adoptada pelos habitantes locais em 1799, quando cerca
de cinquenta e quatro portugueses armados penetraram em território espanhol, roubando trigo e centeio:
O duque de Frias para Mariano Luis de Urquijo, Lisboa, 23-5-1799, e Luís de Pinto de Souza para o
duque, Lisboa, 22-5-1799, in «Portugal. Excesos cometidos por los portugueses en el lugar de Vindóla,
corregimiento de Ledesma, y en otros pueblos de la frontera. Año de 1799», AHN, Estado leg. 4444.
[413]
Thomaz, Observações..., 38 e 44.
[414] «Instrucciones para la formación de itinerarios y reconocimientos de la frontera de Portugal y
Extremadura», 1797, AGMM, 5-3-4-2; Domingo Antonio Taboada para Juan Ignacio de Ochoa, San
Marín, 40.4.1757, AHMLC, RA (en organización), número provisional 1091; Joseph Gabriel,
«Descripción geográfica... desde la plaza de Badajoz por la frontera de Portugal y provincias
confiantes de Castilla, 25-4-1801», AGMM, 5-5-7-11; «Ofício do conde de Oeiras dirigido ao conde de
Lippe enaltecendo as qualidades de conhecedor das fronteiras de Castela», Lisboa, 9-8-1762, AHM/
DIV/4/1/23/021; Pedro Folque, Caetano Paulo e José Dias, «Projecto da defesa do terreno anexo a
fronteira de Espanha que decorre entre o ribeiro de Maravão», (1797), AHM/ DIV/3/01/02/03;
«Descrição topográfica das comarcas fronteiras da província de Minho oferecida a Real Sociedade
Marítima de Lisboa por Custodio José Gomes de Villasoas», 3-12-1800, e «Instrução geral relativa ao
reconhecimento de toda a fronteira e costas marítimas do reino», 28-7-1802, ambos em AHM/
DIV/4/1/14/11; e «Instrucción dada a los ingenieros destinados al levantamiento del plano de la
frontera de Galicia confinante con Portugal por el ingeniero en jefe Francisco Villarroel, Tui, año de
1801», AGMM, 3-1-7-1.
[415]
Costa, Corografia Portugueza..., vol. 1, III; Pedro Moreau, «Proyecto y reconocimiento de las
fronteras Extremadura, Castilla la Vieja con el reino de Portugal», San Lorenzo el Real, 16-11-1735,
AGMM, 5-5-5-15, fol. 4r; e Joseph de Gabriel, «Relación detallada de la clase y número de los ríos,
arroyos y torrentes, sus puentes y direcciones de los caminos de los pueblos desde la plaza de Badajoz
y provincia confinantes», 20-3-1801, AGMM, 5-5-7-10.
[416] «Instrucción dada a los ingenieros destinados al levantamiento del plano de la frontera de
Galicia confinante con Portugal por el ingeniero en jefe Francisco Villarroel, Tui, año de 1801»,
AGMM, 3-1-7-1. Ver também Rui Miguel C. Branco, «Da carta topográfica do reino à carta
chorographica do reino: Políticas e modelos cartográficos em Portugal (1788-1852)», Penélope, 26
(2002): 31-59, na 31; e Rui Miguel C. Branco, O Mapa de Portugal: Estado, Território e Poder no
Portugal de Oitocentos (Lisboa: Livros Horizonte, 2003), 85-89.
[417] A bibliografia acerca destas questões é especialmente abundante. Ver, por exemplo, Niehaus,
Population Problems...; Martín Rodríguez, Pensamiento económico español...; e Herzog, «Terres et
déserts»...
[418] Real provisión... en que se contiene el fuero de población de la nueva villa de Encinas...
provincia de Extremadura con inserción de las once reglas generales de población establecidas para los
despoblados de la propia provincia a consulta del consejo, año 1779 (Madrid: Imprenta de Pedro Marín,
1779), disponível em AHN, Consejos 4084. Ver também Felipe Lorenzana de la Puente, «Extremadura,
siglos xvii–xviii: La frontera como condicionante político», Revista de Extremadura, 7 (1992): 49-70.
[419]
Os historiadores têm afirmado que os estado da Extremadura e do
Alentejo foi muito afectado pela proximidade da fronteira: Rui Vieira,
Centros Urbanos no Alentejo Fronteiriço: Campo Maior, Elvas e Olivença
(de Inícios do Século XVI a Meados do Século XVII) (Lisboa: Livros
Horizonte, 1999), 250-255; Félix Sancha Soria, La guerra de restauración
portuguesa en la Sierra de Aroche (1640-1645) (Huelva: Diputación de
Huelva, 2008); Fernando Cortés Cortés, Militares y Guerra en una tierra de
frontera: Extremadura a mediados del siglo xviii (Mérida: Editora Regional
de Extremadura, 1991), 17-24; João dos Santos Cosme, Elementos para a
História do Além-Guadiana Português (1640-1715) (Mourão: Câmara
Municipal de Mourão, 1996), 131-133; e Teresa Fonseca, «The Municipal
Administration in Elvas during the Portuguese Restoration War (1640-
-1668)», E-JPH, 6(2) (2008), 6. Os coevos concordavam: António Henriques
da Silveira, «Racional discurso sobre a agricultura, e população da província
de Alem-Tejo» in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de
Lisboa para o Adiantamento da Agricultura, das Artes e da Indústria em
Portugal e Suas Conquistas (Lisboa: Oficina da Academia Real das Ciências,
1789), vol. 1, 41-122; e Domingo Vandelli, «Memoria sobre a agricultura
deste reino e das suas conquistas», in Memorias Económicas da Academia
Real das Ciências de Lisboa para o Adiantamento da Agricultura, das Artes
e da Industria em Portugal e Suas Conquistas (Lisboa: Oficina da Academia
Real das Ciências, 1789), vol. 1, 164-175.
[420]
«Reconocimiento y visita de la frontera de Castilla y Portugal... por el coronel e ingeniero en jefe
Pedro Moreau y en segundo Juan Amador Courter en presencia y con asistencia del ilustrísimo Felipe
Dupuy comandante general de esta provincia, Ciudad Rodrigo, 12-7-1735», AGMM, 5-5-5-14, fls. 3r–
v.
[421]
«Un reino podría formarse de solo estos desiertos espantosos y su
reconquista sería más gloriosa, útil y segura, que la de países distantes».
Arriquibar, Recreación política..., 235.
[422]
Herzog, «Colonial Law...».
[423] Paolo Grossi, «La proprietà nel sistema privatistico della seconda scolastica», in La seconda
scolastica nella formazione del diritto privato moderno. Incontro di studio. Atti, org. Paolo Grossi
(Milão: Giuffrè Editore, 1973), 117-222; e António Manuel Hespanha, «O jurista e o legislador na
construção da propriedade burguesa», Análise Social, 61 (1980): 211-236. Ver também Teofilo F. Ruiz,
«Fronteras: De la comunidad a la nación en la Castilla bajo medieval», Anuario de estudios medievales,
27(1) (1997): 23-42.
[424] Sobre estes pontos, ver também Albert Silbert, Le Portugal méditerranéen à la fin de l‘Ancien

Régime (Paris: SEVPEN, 1966), vol. 1, 166-171; e Eusebio Medina García, «Orígenes históricos y
ambigüedad de la frontera hispano-lusa (La Raya)», Revista de estudios extremeños, 62(2) (2006): 713-
723, na 717.
[425] «La corte y el ejército de España estaban en la mayor ignorancia sobre Portugal que parecían
tan extranjeros como lo habría sido uno del Nuevo Mundo.» «Memoria militar sobre Portugal». AHN,
Estado leg. 4389.
[426] Estes rumores levaram o governador, em 1703, a queixar-se de lhe ter sido posta três vezes a
mesma pergunta e de afirmar, por duas vezes, que não existiam incidentes de qualquer espécie na
Galiza: «El consejo de estado con carta del príncipe de Barbanzón satisfaciendo al informe que se le
pidió», Madrid, 29-3- -1703, AHN, Estado leg. 1765, Exp. 44. O governador sugeria que «debe creer
que la larga distancia que hay hasta Lisboa habrá confundido las noticias que da Capicelatro [o
embaixador espanhol em Lisboa] pues él ha procurado siempre la unión entre unos y otros»: «El
consejo de Estado al señor conde de Frigiliana... con motivo de lo que el Príncipe de Barbanzón ha
informado cuanto a las refriegas que se ha supuesto hubo por aquella frontera entre castellanos y
portugueses», Madrid, 5-4-1703, AHN, Estado leg. 1790, Exp. 105. Ver também o Acuerdo do Consejo
de Estado, 8-2-1703, AHN, Estado leg. 1790, Exp. 8; e «El consejo de estado con carta del Marquéz de
Villadarias informando de las refriegas que se dijo haber habido por la parte de Ayamonte entre
castellanos y portugueses, Madrid, 3-2-1703», AHN, Estado leg. 1765, Exp. 20.
[427] A. J. R. Russel-Wood, «Frontiers in colonial Brazil: Reality, myth and metaphor», in Latin

American Frontiers, Borders, and Hinterlands: Research Needs and Resources, org. Paula Covington
(Albuquerque: General Library-University of New Mexico, 1990), 26-61.
[428] Luigi Nuzzo, «A dark side of western legal modernity: The colonial law and its subjects»,
Zeitschrift für Neuere Rechtsgeschichte, 33(3-4) (2011): 205-222, nas 206-207.
[429] «El consejo de estado con consulta del de Castilla sobre las diferencias que se han suscitado
entre vecinos del lugar de Río Manzanas del reino de Castilla y los de Guadramil del de Portugal»,
Madrid, 28-9-1701, AHN, Estado leg. 1788, Exp. 52; e «El consejo de estado con consulta suya y dos
del de Castilla, que la una acompaña otra del de Guerra sobre las diferencias que hay entre vecinos de
los lugares de Río Manzanas y Santa Cruz del reino de Castilla y los de Guadramil del de Portugal»,
Madrid, 3-11-1701, AHN, Estado leg. 1778, Exp. 53.
[430] Anthony Pagden, The Fall of Natural Man: The American Indian and the Origins of
Comparative Ethnology (Cambridge: Cambridge University Press, 1982), 200; e «Vitoria on the Justice
of the Conquest», reproduzido em Parry e Keith, New Iberian World..., vol. 1, 290-323, ponto 22.
[431] Luigi Nuzzo, Il linguaggio giuridico della conquista: Strategie di controllo nelle Indie
Spagnole (Nápoles: Jovene Editore, 2004), 21-215; e Pagden, The Fall of Natural Man..., 97-98.
[432] Adriano Prosperi, «‘Otras Indias’: Missionari della contrarriforma tra contadini e selvaggi», in
America e apocalisse e altri saggi (Pisa: Istituti editoriali e poligrafici internazionali, 1999), 65-87;
Jennifer D. Selwyn, A Paradise Inhabited by Devils: The Jesuit’s Civilizing Mission in Early Modern
Naples (Aldershot: Ashgate 2004), 17, 95-96, 127, e 131; Dominique Deslandres, «Mission et altérité:
Les missionnaires français et la définition de l’autre au xviie siècle», Proceedings of the French Colonial
Historical Society, 18 (1992): 1-13, nas 1, 6, e 9-11; e Dominique Deslandres, «Exemplo aeque ut
verbo: The frenchjesuit’s missionary world», in The Jesuits: Cultures, Sciences, and the Arts, 1540-
1777, orgs. John W. O’Mally, Gauvin Alexander Bailey, Steven J. Harris e T. Frank Kennedy
(Toronto: University of Toronto Press, 1999), 258-273, nas 258, 261, e 266. Ver também Herzog, «Can
You Tell».
[433] Archibald R. Lewis, «The Closing of the Medieval Frontier, 1250 to 1350», Speculum, 33
(1958), 477-483; Richard E. Sullivan, «The medieval monk as frontiersman», in The Frontier:
Comparative Studies, orgs. William W. Savage e Stephen I. Thompson (Norman: University of
Oklahoma Press, 1979), vol. 2, 25-49; e Robert Bartlett, The Making of Europe: Conquest,
Colonization, and Cultural Change, 950-1350 (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1993).
[434] «Carta a respeito dos direitos de pastagens entre as terras vizinhas de Portugal e Castela», 11-9-
1290, ANTT, Gavetas, xviii, 3-22, pp. 299-301. Juntamente com Serpa e Noudar, Moura foi concedida
pelo rei Afonso X à sua filha Beatriz, a rainha consorte portuguesa. Ainda é discutida se esta doação
implicava a tomada de direitos privados e senhoriais ou se instituía jurisdição régia. Contudo, a maioria
dos historiadores concorda que o Tratado de Alcanizes (1297) resolveu a questão, ao declarar
portuguesas as três povoações. Uma cópia da carta de doação, datada de 4-3-1283, pode ser encontrada
em ACDC, cx. 20, 70-657, suplemento n.º 595, fls. 71r-72r. Acerca dos privilégios de Noudar antes de
se tornar portuguesa, ver o certificado notarial datado de 25-4-1304 [1267], ACDC, cx. 20, 70-657,
suplemento n.º 595, fls. 44v-45r. Os primeiros momentos deste conflito foram estudados em Florentino
Pérez-Embid, La frontera entre los reinos de Sevilla y Portugal (Sevilha: Ayuntamiento de Sevilla,
1975).
[435] «Doação de Noudar à Ordem de Avis», ANTT, Chancelarias Régias (Dinis), livro 3, fl. 47;
«Composição feita entre os moradores de Moura e Arronches, 15-5-1304», ANTT, Gavetas, III, 5-13;
«Informação pela qual constava que os procuradores de el-rei d. Dinis tinham estado presentes na
contenda entre o concelho de Sevilha e Arronches de Castela com os de Moura e Noudar, 1-6-1311»,
ANTT, Gavetas, XVIII, 7-12; e «Inquirição feita a respeito dos termos dos conselhos de Sevilha e de
Arronches e dos concelhos de Moura e Noudar, 3-11-1346», ANTT, Gavetas, XX, 14-1.
[436] Luis Adão da Fonseca, «Fronteiras territoriais e memórias históricas: o caso da Comenda de
Noudar da Ordem de Avis», in Las órdenes militares en la península ibérica, orgs. Ricardo, Izquierdo
Benito e Francisco Ruiz Gómez (Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2000), vol. 1, 655-681.
[437] «Carta de composição entre os moradores das vilas de Moura e Aroche para que hajam de
vizinhar uns com os outros», 1314, ANTT, Gavetas, III, 5-13.
[438]
«Carta pela qual el-rei Dinis dava poder a Aparício Domingues e a João
Lourenço para verificarem as contendas a respeito dos termos do concelho de
Aroche e o concelho de Noudar e Moura», Lisboa, 9-9-1315, ANTT, Gave-
tas, XVIII, 3-23.
[439]
«Processo que Gomes Martins e João Lourenço fizeram por causa da
contenda sobre os termos entre Moura e Aroche e Noudar e Monsaraz», 24-2-
-1332, ANTT, Gavetas, XVII, 9-8. Uma outra cópia deste documento
encontra-se em «Registro dos privilégios, leis e liberdades dos moradores da
vila de Noudar», ACDC, cx. 20, 70-657, suplemento n.º 595, fls. 49v-74v.
[440]
Os historiadores dataram esta demarcação mais antiga da década de 1270:
Francisco García Fitz, «Conflictos jurisdiccionales, articulación territorial y
construcciones militares a finales del siglo xiii en el alfoz de Sevilla: La
Sierra de Aroche», Archivo Hispalense, 230 (1992): 25-51, nas 40-42.
[441] «Inquirição feita a respeito dos termos dos conselhos de Sevilha e de Arroches e dos concelhos
de Moura e Noudar», 3-11-1346, ANTT, Gavetas, XX, 14-1, citação no fl. 3v; e «Instrumento pelo qual
constava que os procuradores de Moura e Noudar tinham ido a aldeia de São Veríssimo para aí
determinarem as dúvidas que havia entre os termos de Moura e de Sevilha e de Aroche», 1-3-1353,
ANTT, Gavetas, XVIII, 5-31.
[442] «Adiamento por 10 anos da demanda entre o concelho de Moura e a vila de Noudar sobre a
divisão dos termos destes lugares», 1427, ANTT, Ordem de Avis-Papéis diversos e Tombo das
comendas, Mç. 10, n.º 849.
[443] María Antonia Carmona Ruiz, «La explotación ganadera en la frontera luso-española: La
«contenda».de Moura, Nódar, Aroche y Encinasola», Revista da Faculdade de Letras. História, 15(10)
(1998): 242-257, 249-252.
[444]
No início da década de 1420, o conde de Linhares, comendador de Noudar, compilava
documentação relativa à fronteira e aos seus direitos: ACDC, cx. 20, 70-657, suplemento n.º 595, fl.
75r. Em 14-5-1491, realizou-se uma demarcação: ANTT, Chancelaria de Dom Sebastião e Dom
Henrique, privilégios, livro 13, fl. 265; e ANTT, Gavetas, XIV, 5-23.
[445] «Instrumento de vários documentos e de uns artigos pertencentes à inquirição que se tirou a
respeito da contenda entre Portugal e Castela sobre as demarcações e termos das vilas de Noudar e
Moura com Ancinasola e Aroche», 22-2-1493, ANTT, Gavetas, XVIII, 2-1; «Inquirição que se tirou a
respeito do termo de Noudar e de Ansina Sola», 20-2-1493, ANTT, Gavetas, XV, 23-8; e «Inquirição
que se tirou a respeito da aldeia de Barrancos que Castela dizia ser sua, mas que era pertença de
Portugal», 16-3-1493, ANTT, Gavetas, XIV, 5-2. Ver também ANTT, Gavetas, XIV, 5-7 e 5-21.
[446]
«Concordata do rei Manuel com o rei de Castela para que nomeassem cada um o seu
representante para resolver as dúvidas da contenda entre as terras de Moura e Noudar e Aroche e
Sevilha», 29-8-1504, ANTT, CC, parte II, Mç. 8, doc. 116. Ver também «Autos sobre términos entre la
villa de Aroche y la de Mora en el reino de Portugal», AGS, CCA, Diversos 42, doc. 29, fls. 140r-143v.
[447] «Auto de inquirição a respeito da vinda dos castelhanos aos termos de Moura para lavrar e
semear», 2-11-1510, ANTT, Gavetas, XIV, 5-13.
[448] Declaração de João Fernandes Bacias em «Auto de inquirição a respeito da vinda dos
castelhanos aos termos de Moura para lavrar e semear», 2-11-1510, ANTT, Gavetas, XIV, 5-13.
[449] «Carta que escrivou João da Fonseca, juiz de fora de Moura... em que da conta como na vila de
Moura tem havido varias contendas com os castelhanos», Moura, 12-6-1517, ANTT, CC, parte i, Mç.
22, n.º 9; «Inquirição que se tirou a respeito dos limites entre a vila de Moura e a de Arronches», 1528,
ANTT, Gavetas, XIV, 5-9; «Carta da câmara de Moura representando ao rei as violências que os
moradores de Ansina Sola, reino de Castela fazem naquela vila», Moura, 27-4-1538, ANTT, CC, Parte
I, Mç. 61, doc. 57; «Autos da demarcação da vila de Moura», 29-7-1537, ANTT, Gavetas, XIV, 7-2; e
«Autos principiados en 11-12-1537... para arreglar los términos de la villa de Mora, de Portugal con los
de Encinasola y Aroche, de España», AMS, Sección I: Archivo de Privilegios, Carpeta 94, Exp. 320.
[450] «Processo da contenda de Moura com Ansina Sola e Aroche acerca de suas confrontações e
outras coisas», 12-3-1544, ANTT, Gavetas, XVIII, 8-2; e «Sentença dada a respeito da demarcação das
vilas de Arronches, Moura y Encinasola», 1542, ANTT, Gavetas, XVIII, 9-8. Ver também «Copia de la
ejecutoria que se guarda en el Archivo de la villa de Aroche por la cual se declara la concordia hecha en
el año de 1542», AGMM, 5-3-4-4. O acordo de 1542 foi reproduzido em Máximo Ramos y Orcajo,
Dehesa de la Contienda: Origen, historia y estado actual: Derechos de Aroche, Encinasola y Moura:
Proyectos de división (Lisboa: Typographia Franco-Portuguesa, 1891 [1890]), 27-69. As negociações
de 1542 deixaram um rasto em cartas de Luís Afonso e Pedro de Mascarenhas para o rei português, 14-
8-1542, 25-9-1542, e 16-10-1542, ANTT, CC, Parte i, Mç. 72, docs. 88, 120, e 138. Algumas destas
questões foram também tratadas em CC, Parte I, Mç. 75, doc. 95, e parte ii, Mç, 240, doc. 29, e na
Gaveta, XVII, 8-1, e XVIII, 2-19. Ver também «Visto da sentença de liquidação sobre os danos que os
moradores das vilas de Moura, Aroche, Encinasola e Figueira fizeram uns aos outros», 1543, ANTT,
CC, Parte ii, Mç. 74, doc. 44; «Carta e declaração para as pessoas que o imperador Carlos V mandava
para determinar os limites das vilas de Moura, Aroche e Enzina Sola», 21-6-1543, ANTT, Gavetas,
XVIII, 2-19; «Carta de perdão de certas mortes que el-rei d. João III deu aos moradores das vilas de
Moura, Aroche e Ansina Sola», 1543, ANTT, Gavetas, XVII, 8-1; e «Amojonamiento con Portugal»,
1550, AMA, leg. 435.
[451] Logo em 1589 e repetidamente desde então, não foi invocada mais nenhuma prova documental
para justificar os direitos das três povoações: «Contienda. Informaciones y diligencias que hace por
comisión de SM... sobre la dehesa que se llaman la Contienda y se encuentra entre Encinasola, Aroche
y Mora», San Lorenzo, 9-5-1589, AMAE/M, Tr 282/003, n.º 0431; «Extracto de la información hecha
por el asistente de Sevilla... acerca de la pertenencia de la propiedad de la dehesa de La Contienda»,
Sevilha, 7-8-1589, in AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431; Antonio de Gaber, «Relación que
individualmente se expresa puerto por puerto los ríos, arroyos, barrancos y mojones que dividen... la
línea de demarcación que divide España y Portugal», 24-7-1750, AGMM, 5-3-4-4 e 3-5-2-3, ponto 2.
Este último documento foi transcrito em María Cristina Hevilla, «Reconocimiento practicado en la
frontera de Portugal por el ingeniero militar Antonio Gaber en 1750», Biblio 3W. Revista bibliográfica
de geografía y ciencias sociales, 6(335) (2001), disponível em http://www.ub.es/geocrit/b3w-
335.htm#N_1. Ver também a petição de Francisco Javier Tinoco y Castillo para Godoy, Príncipe de la
Paz, 6-9-1801, AMAE/M, Tr 283/004, n.º 0431, e o resumo anónimo das suas alegações, San
Idelfonso, 17-9-1801, AMAE/M, Tr 283/004, n.º 0431.
[452]
As actividades de Moura são descritas, por exemplo, na petição de
Cristóbal de Santiago, sem data, inserida com os registos de 1701, AMA, AC,
leg. 9, reunião municipal datada de 7-10-1797, e os vários «Autos de posse
que a câmara de notável villa da Moura tomou da contenda», datados de 30-
4-1798, 11-5-1799, 24-5-1801, 5-6-1802, 11-5-1803, 5-4-1804, e 31-5-1805,
AMM, B/A/01/014, fls. 26r, 56r, 79r-v, 125r-v, e 176r, e AMM, B/A/01/013,
fls. 65v-66v, nos fls. 66r, 89v, e 152r. Provas para o envolvimento de Aroche
podem ser encontradas, inter alia, em «El concejo de Encinasola con el
concejo de Aroche», 1625, AHPS, RA, 233/1 (nueva numeración: 29298),
fls. 667v-668r; «Autos de la contenda», correspondendo a 1711, 1723, 1727,
1728, 1729, 1732, e 1734, em AMA, leg. 453, e AMA, AC, leg. 12; «Autos
contra los lusitanos en la Contienda por cortes, año de 1727», AMA, leg.
1133; reunião municipal datada de 26-8-1747, AMA, AC, leg. 14; e
«Denuncia sobre rompimiento de tierras en la dehesa de la Contienda
contra... vecinos de Encinasola», 1765, AMA, leg. 1143. Devido à frequência
das suas intervenções, as actividades de Encinasola deixaram registos
abundantes. Ver, por exemplo, reuniões municipais datadas de 12-2-1697, 1-
2-1680, 4-10-1689, 14-9-1692, 12-2-1697, 1-2-1698, 10-12-1731, 20-12-
1732, 28-2-1733, 21-12-1734, 13-12-1735, 21-12-1736, 21-12-1737, 19-12-
1741, 22-12-1742, 22-12-1743, 29-12- -1744, 22-12-1745, 17-12-1747, 17-
12-1748, 22-12-1749, 4-12-1750, 2-3-1751, 20-4-1754 e 22-11-1755, AME,
AC, legs. 3, 6, 7, 8, 9, e 10; e «Causa escrita de daños causados en la dehesa
de la Contienda contra los vecinos de la villa de Aroche», 1757, AME, leg.
228.
[453] A prática do ramoneo, o corte dos ramos mais pequenos das árvores de forma a alimentar
animais em tempo de escassez de pastagem, foi mencionada em María Antonia Carmona Ruiz,
Usurpaciones de tierras y derechos comunales en Sevilla y su «tierra» durante el siglo xv (Madrid:
Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación, 1995), 65.
[454] Reunião municipal de Encinasola, 29-3-1767, AME, AC, leg. 13; decreto do juiz municipal de
Aroche, datado de 4-10-1711, e os procedimentos que se lhe seguiram, em AMA, leg. 1132; opinião de
Francisco Vázquez Banda, pro- curador de Aroche, em «Denuncia contra Eugenio González Barbudo»,
Aroche, 12-3-1754, AMA, leg. 453, fls. 5r-6v; e declaração de Josef Noguera, Encinasola, 22-9-1787,
em «Causa de denuncia, 1787», AME, leg. 749. Esclarece-se, entre outras coisas, que existia um
mercado para certificados roubados e contrafeitos e que as três comunidades muitas vezes discutiam os
procedimentos adequados para reconhecer os indivíduos como vizinhos (vecindad). Acerca da vecindad
local e direitos de uso, ver Herzog, Defining Nations..., 17-42.
[455] O conde de Frigiliana para o Consejo de Estado, Madrid, 3-12-1696, e o Consejo de Estado,
Madrid, 8-1-1697, ambos em AGS, Estado leg. 4043; «El Consejo de Estado con un oficio del enviado
de Portugal», Madrid, 13-5-1700, AHN, Estado leg. 1766, Exp. 63; «El Consejo de Estado con consulta
del de Castilla sobre instancia del envido de Portugal en orden a la controversia suscitada entre la villa
de Encinasola de estos reinos y la de Moura del de Portugal», Madrid, 2-5-1700, AHN, Estado leg.
1766, Exp. 60; e «El Consejo de Estado con consulta del de Castilla sobre instancia del enviado de
Portugal», Madrid, 17-6-1700, AHN, Estado leg. 1781, Exp. 16.
[456] Reunião municipal datada de 23-9-1757, AMA, AC, leg. 15; carta de Jose Antonio de Olivéria
Damásio para Luís da Cunha Manuel, Beja, 16-2-1761, AHM/ DIV/1/06/23/01; e Josef Adrian Leal,
representando Emanuel Patricio Janeiro e outros, vizinhos de Moura, AME, leg. 228, fls. 14r-19v. Em
22-1-1760, por exemplo, a visita a La Contienda começou com uma afirmação de que as três povoações
tinham a mesma faculdade para punir, prender, e processar os que desrespeitassem a concordata:
reunião municipal nessa data, AME, AC, leg. 11.
[457]
Isto poderia ser um desenvolvimento recente, porque provas datadas de
1625 e 1641 sugeriam que Aroche e Moura inicialmente aderiram ao
mandato original que tornava La Contienda Espanha para os espanhóis, e
Portugal para os portugueses: «El concejo de Encinasola con el concejo de
Aroche», 1625, AHPS, RA, 233/1, fls. 667v-668r; e «Capítulos que deram os
procuradores da villa de Moura nas cortes... de 1641», petição n.º 9, ANTT,
Cortes, Mç. 12, fls. 141r-142r e 146v. Este último documento foi reproduzido
em João Cosme, Elementos para a História do Além-Guadiana Português
(1640-1715) (Mourão: Câmara Municipal de Mourão, 1996), 249-250.
[458]
«Encinasola, año de 1787. Causa de denuncia contra varios vecinos y
ganados del lugar de Barrancos reino de Portugal», AME, leg. 228.
[459]
«Auto del cabildo para que se pase a evacuar ciertas diligencias del real
servicio», Encinasola, 6-3-1785, em «Papeles y documentos relativos... al
famoso pleito... por Francisco Méndez de nación portugués, vecino de
Barrancos», AME, leg. 228, fls. 1r-4v; Município de Encinasola, 9-3-1785,
AME, leg. 228, fls. 5v-6v, e declarações de testemunhas que se seguiam nos
fls. 7r-9v; petições de Blas de Andrade para o município de Encinasola,
AME, leg. 228, fls. 25r-28r, 29r-30v, e 31r-36r; certificado de Ambrosio
González Lechuga, datado de 10-8-1785, AME, leg. 228, fls. 44r-49v;
«Autos sobre el cordón hecho en la raya de Portugal en virtud de real orden,
año de 1786», AME, leg. 739, decreto datado de 23-9-1787; e a declaração de
Joseph Marques Novalio em «Causa de denuncia, 1787», AME, leg. 749. Ver
também Miguel Ángel Melón Jiménez, Los tentáculos de la hidra:
Contrabando y militarización del orden público en España (1784-1800)
(Madrid: Sílex, 2009), 171, 213-215, e 231.
[460]
Petição de Encinasola, sem data, AME, leg. 228, fls. 55r-72r, nos fls. 57r
e v. Embora este viesse a tornar-se no retrato mais insistente de Barrancos
como santuário para criminosos, estas alegações já estavam presentes no
início do sé- culo xvii, quando advogados ao serviço de Aroche sugeriram
que Barrancos era um lugar onde os «hombres más facinerosos» tanto de
Espanha como de Portugal encontravam refúgio: «Por el concejo, justicia y
regimiento de la villa de Aroche en el pleito con la villa de Encinasola», sem
data (1631?), AMA, leg. 1131, articulo 4, fl. 224r. Em 1734, 1757, e 1760
Barrancos foi novamente identificada como uma fortaleza para
contrabandistas: Reuniões municipais de 19-9-1757 e 22-1-1760 e carta de
Aroche para Encinasola, datada de 26-9-1757, AME, AC, leg. 11. Entre
outras coisas, esta caracterização poderia ter origem no facto de no século xv
Noudar ser declarada «couto de homiziados», isto é, um local que acolhia
como povoadores criminosos condenados. Este privilégio, que remontava a
1424, foi continuamente confirmado no século xvi e novamente em 1673:
João Augusto Espadeiro Ramos, «Fronteira e relações de poder: Noudar e
Barrancos no Antigo Regímen» (dissertação de mestrado, Universidade de
Évora, 2012), 17-18. Ver também Margarida Garcez Ventura, «Os coutos de
homiziados nas fronteiras com o direito de asilo», Revista da Faculdade de
Letras. História, série ii, 15(1) (1998): 601-626.
[461] Dois «proceso verbal de denuncia», datados 1798 de 1797, ambos em AME, leg. 228.
[462] Tomada de posse datada de 8-6-1686, ACDC, cx. 19, 67-635, n.º 2628
[463] Reuniões municipais de Aroche datadas de 26-6-1760, 12-11-1762, e 27-1-1779, AMA, AC, leg.
15 e 16; e reuniões municipais de Encinasola datadas de 26-7-1760 e 14-12-1762, AME, AC, leg. 11 e
12. Ver também petição de ambos os concelhos datada de 10-12-1768, reproduzida em ordem régia
datada de Madrid, 29-11-1780, e a documentação anexa, todas em «Testimonio y demás diligencias
sobre la tasación de granos y su cobranza de la dehesa de la contenda», AMA, leg. 453; reunião
municipal, 5-5-1798, as cartas trocadas entre Moura, Aroche, e Encinasola, e a reunião que teve lugar
em La Tomina em 29-9-1798, AMM, B/A/01/013, fls. 91r-92v e 100v-2v.
[464]
«Memorial de Francisco Javier Tinoco y Castillo para Godoy, Príncipe de la Paz», datado de
Fregenal, 6-9-1801, AMAE/M, Tr 283/004, n.º 0431; relatório da audiencia, Sevilha, 30-6-1789, e
vista fiscal, sem data, ambos em AME, leg. 228, fls. 88r-93r e fls. 94r-95v. Ver também o resumo
anónimo das alegações de Tinoco, datadas de San Ildefonso, 17-9-1801, AMAE/M, Tr 283/004, n.º
0431.
[465] Francisco Rojas y Soto para o Intendente General da Extremadura, 10-3-1800, em «Diligencias
practicadas sobre la dehesa de La Contienda, año de 1802», AMAE/M, Tr 283/003, n.º 0431; carta de
Manuel Rada, Ayamonte, 3-10- -1802, AMAE/M, Tr 283/003, n.º 0431; e o memorando anónimo
datado de Aranjuez, 19-1-1803, e dirigido ao Príncipe de la Paz, AMAE/M, Tr 283/004, n.º 0431.
[466] Estas questões estão descritas em AMAE/M, Tr 283/004, n.º 0431; e AMAE/M, Tr 282/002, n.º
0431. Parte da discussão entre os dois commissários foi reproduzida em Ramos y Orcajo, Dehesa de la
Contienda, doc. n.º 1, nas 71-75.
[467] Opinião de Bartolomé de Rada y Santander, 7-11-1803, citada num resumo inserido em
AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431.
[468] Carta de Francisco Fersen datada de 26-6-1804 e citada num resumo (sem data); o rei para
Francisco Fersen, Madrid, 5-7-1804, citado num resumo (sem data); e decisão régia datada de 18-6-
1805 e dirigida a Joseph Gabriel, mencionada noutro resumo sem data; todos incluídos em AMAE/M,
Tr 282/002, n.º 0431.
[469] Petição sem data de Aroche e resposta régia datada de 6-7-1804, citada num resumo (sem data)
inserido em AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431. Algo semelhante era o apelo dos representantes de
Encinasola, 16-7-1802, em id. ibid. O comissário espanhol afirmou em 1804 que «Algunos granjeros y
dueños de ganado tanto de la villa de Aroche en España como de la de Mora en Portugal,
acostumbrados a disfrutar de la dehesa de La Contienda como si fuera propia, recelosos de las
providencias que puedan producir la actual empresa de demarcación de límites repugnan la partición de
dicho terreno, los de Aroche no se atreven a manifestar abiertamente su modo de pensar, los del partido
de Mora lo propalan sin rebozo y es positivo que unos y otros están de acuerdo; estos últimos por
medio de sus diputados han intrigado en Lisboa y obtenido subrepticiamente la orden indicada de 10-
10-1803 relativa a la división de La Contienda por la mitad y es igualmente cierto que su verdadera
pretensión es que el terreno subsista en el estado de contienda para cuyo efecto dirigen sus intrigas a
que el asunto se vuelva un pleito ordinario interminable»: carta de Francisco Fersen datada de 26-6-
1804 e citada num resumo (sem data) inserido em AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431.
[470] Inventário datado de 11-2-1808, ACDC, cx. 18, 66-633, n.º 944; cartas de Aroche para Moura
datadas de 6-9-1808, Encinasola para Aroche, 16-9-1808, 21-9-1808, e 23-10-1808, Aroche para
Encinasola, 27-10-1808, e Moura para Aroche, 9-9-1808 e 19-9-1808, todas em AMA, leg. 453; cartas
de Aroche para Encinasola 11-9-1808, 19-9-1808, e 20-9-1808, Encinasola para Aroche, 16-10- -1808,
e documentos relacionados, em «Autos formados en virtud de oficio del ayuntamiento de la villa de
Aroche sobre el aprovechamiento de la dehesa de la Contienda, 1808», AME, leg. 228.
[471] «Florencio López Regalado y consortes, vecinos de Encinasola... sobre el repartimiento de
tierras de la Contienda, 1813», AHPS, 565/5.
[472] «Autos formados en virtud de oficio del ayuntamiento de la villa de Aroche sobre el
aprovechamiento de la dehesa de la Contienda, 1808», AME, leg. 228. Ver também Pérez-Embid, La
frontera, 153-157; Ramos y Orcajo, Dehesa de la Contienda, 9-10 e 77-99; e Félix Sancha Soria, «Los
archivos municipales de Aroche y Encinasola como fuentes para el estudio de la Contienda», Actas de
las I Jornadas Transfronterizas sobre la Contienda hispano-portuguesa (Aroche: Escuela Taller
Contienda, 1996), vol. 1, 53-69, nas 61-62.
[473] «Merece particular mención la dehesa llamada de la Contienda; es un terreno fertilísimo...

propio de las villas de Moura en Portugal, Encinasola y Aroche y los habitantes de estas poblaciones no
solo aprovechan con sus ganados los pastos y bellota, sino que también siembran lo que mejor les
parece, causándose en esto el deterioro del arbolado... este terreno ni pertenece a España ni a Portugal.
Las municipalidades de las tres villas expresadas tienen en el mismo... la jurisdicción y cuando alguna
de ellas ha tratado de cortar aquellos abusos se han suscitado contestaciones de difícil y grave
resolución que solo fuera dado determinar de conformidad de ambos gobiernos»: Pascual Madoz,
Diccionario geográfico estadístico-histórico de España y sus posesiones de ultramar (Madrid:
Tipográfico Literario Universal, 1847), vol. 2, 591.
[474] Ramos y Orcajo, Dehesa de la Contienda..., 16.
[475] «Don Fidel Seviano y Calzada en nombre de los ayuntamientos de Aroche y Encinasola...
contra la demanda del ministerio de hacienda hecha 12-10-1903 por la que se declara enajenable la
dehesa de la Contienda», AME, leg. 23; e James Sidaway, «Signifying Boundaries: Detours around the
Portuguese-Spanish (Algarve/Alentejo-Andalucía) Borderlands», Geopolitics, 7(1) (2002): 139-164,
149.
[476] Convenio de límites entre España y Portugal de 29 de junio de 1926 (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1928), preâmbulo e art. 7, 13, e 14. Este tratado foi traduzido para inglês e publicado como
«Spain and Portugal: Boundary Convention Signed at Lisbon, 29-6-1926», League of Nations-Treaty
Series, 105 (1863) (1928).
[477] «El concejo de Encinasola con el concejo de Aroche», 1603, AHPS, RA, 282/1; «El concejo de
Encinasola con el concejo de Aroche», 1625, AHPS, RA, 233/1; «Ejecutorias ganadas por esta villa a la
de Aroche en la real audiencia de Sevilla», AME, leg. 236; «Memorial ajustado... del pleito que el
consejo de Encinasola sigue contra el consejo de Aroche», «Pretensión de las partes sobre el
conocimiento de los delitos... que cometen los vecinos de Encinasola en el término de Aroche«, e «Por
el concejo, justicia y regimiento de la villa de Aroche en el pleito con la villa de Encinasola», os três
em AMA, leg. 1131; e um rascunho de um resumo destes processos, sem título, sem assinatura, e sem
data, AMA, leg. 448.
[478]
O procurador de Aroche, sem data, em «El concejo de Encinasola con el concejo de Aroche,
1625», AHPS, RA, 233/1, fls. 756r-757r. Ver também «Juan Garcia Ronquillo en nombre de Aroche y
del consejo de Moura», in «Ejecutorias ganadas por esta villa a la de Aroche en la real audiencia de
Sevilla», AME, leg. 236.
[479] Reunião municipal data de 23-9-1757, AMA, AC, leg. 15.
[480] Alvará datado de 15-3-1684 e documentos relacionados, ACDC, cx. 19, 67-635, n.º 2676; e
petição do duque datada de 9-1-1692, ACDC, cx. 19, 67-635, n.º 2696. O decreto que retirava a posse
ao conde de Linhares, datado de Lisboa 31-12-1642, pode ser encontrado em BNP, Ms. cx. 201, Doc.
115. Ver também ANTT, Chancelaria da Ordem de Avis, Liv. 17, fls. 410v, 411, e 460. É possível que
os herdeiros do duque de Linhares (filho do conde de Linhares) tenham contestado este resultado,
pedindo na década de 1690 a devolução da comenda à família: Ramos, «Fronteira e relações...», 48-49.
[481] Ordem datada de Lisboa, 10-11-1674, e os procedimentos que se seguiram em Noudar em 4-
12-1675 e dias seguintes, ACDC, cx. 19, 68-648, n.º 2598. Estes desenvolvimentos foram mencionados
em ANTT, Chancelaria da Ordem de Avis, livro 17, fls. 5v e 114v.
[482] Provas indirectas destes procedimentos podem ser encontradas na primeira página de AME,
AC, leg. 3, livro 1688. Foram também mencionadas na carta de Manuel de Torres para Juan de
Elizondo, Sevilha, 13-10-1716, AHN, leg. 1768, Exp. 12; e «Resumen... de todo lo ocurrido hasta el
día de la fecha sobre las controversias entre vasallos de S M de la villa de Encinasola y de los del rey de
Portugal del Castillo de Nodar y lugar de Barrancos» (c. 24-10-1716), em «El Consejo de Estado con
un resumen... de lo ocurrido... sobre la demarcación de límites entre la villa de Encinasola de este reino
y el Castillo de Nodar y lugar de Barrancos del de Portugal», Madrid, 24-10-1716, AHN, Estado leg.
1768, Exp. 17. Ver também «El Consejo de Estado, con carta del Marqués de Capecelatro diciendo
ejecutará lo que se le ha ordenado cuanto a la dependencia de la villa de Encinasola», Madrid, 1-12-
1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 30. A questão sobre se «renovação» era o mesmo que «inovação»,
como Encinasola defendia, foi discutida também noutros casos. Por exemplo, «El concejo de San
Cibrián de Ardón con el concejo de Zillanueva sobre apeo y amojonamiento de los límites de los
términos de ambos concejos, 1762-1766», RCV, PC, Pérez Alonso (OLD) 326/4.
[483] Procedimentos datados de 19-3-1676, ACDC, cx. 19, 68-648, n.º 2598.
[484] Tomada de posse datada de 8-6-1686, ACDC, cx. 19, 67-635, n.º 2628.
[485] ACDC, cx. 19, 68-648, n.º 2598.
[486] Demarcação datada de 31-1-1688, ACDC, cx. 19, 68-644, nos. 2690 e 2630; demarcação
realizada em 19-1-1688 to 20-1-1688, em «Autos do tombo e medição e demarcação da defeza da
Ruciana», 15-7-1702, ACDC, cx. 20, 70-658, n.º 6214, fls. 21r-32r; e carta de Sevilha para o marquês
de Grimaldi, datada de 18-2-1716, em «El Consejo de Estado con una carta de la ciudad de Sevilla y
otras que cita de la villa de Encinasola sobre haber pasado portugueses a hacer nuevo deslinde de
términos en ella», Madrid, 15-2-1703, AHN, Estado leg-1790, Exp. 26.
[487] Provisão para o duque comendador das comendas de Noudar e Barrancos para a medição,
demarcação e tombo dos bens da comenda (1700)». ANTT, Chancelaria da Ordem de Avis, Liv. 22, fl.
65; e «Autos do tombo e mediação e demarcação da defeza da Ruciana», 15-7-1702, ACDC, cx. 20,
70-658, n.º 6214.
[488]
O município de Encinasola, 14-11-1693, 5-6-1694, 9-6-1697, 19-6-1702, e 23-12-1702, e a
sua carta para o juiz demarcando o território, datada de 23-12- -1702, em «Autos do tombo e mediação
e demarcação da defeza da Ruciana», 15-7-1702, ACDC, cx. 20, 70-658, n.º 6214, fls. 11r-15r, 32r-33r,
43r-45r, 70v-71r, 77r-v, e 78r-v.
[489] «No obstante que al duque de Cadaval se le informó siniestramente cuanto a que mediante
haber sobornado la villa a dicho juez quedó perjudicada su encomienda en gran parte de tierra que se
agregó [Encinasola] a su término»: Carta de Encinasola, em «El Consejo de Estado con una carta de la
ciudad de Sevilla y otras que cita de la villa de Encinasola sobre haber pasado portugueses a hacer
nuevo deslinde de términos en ella», Madrid, 15-2-1703, AHN, Estado leg. 1790, Exp. 26.
[490] «Provisão para o duque comendador das comendas de Noudar e Barrancos para a medição,
demarcação e tombo dos bens da comenda», 1700, ANTT, Chancelaria da Ordem de Avis, livro 22, fl.
65.
[491]
«El Consejo de Estado con una carta de la ciudad de Sevilla y otras que cita de la villa de
Encinasola sobre haber pasado portugueses a hacer nuevo deslinde de términos en ella», Madrid, 15-2-
1703, AHN, Estado leg. 1790, Exp. 26.
[492] «El Consejo de Estado con carta de la ciudad de Sevilla... sobre lo ejecutado por portugueses
contra los límites de ambos reinos y jurisdicción de la villa de Encinasola», Madrid, 18-3-1716, AHN,
Estado leg. 1791, Exp. 89. Estas queixas conduziram a uma ordem de investigação do caso: «Don
Manuel de Torres regente de Sevilla... sobre la averiguación de los confines entre Castilla y Portugal
por parte de Encima Sola», Sevilha, 13-10-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 12; o município de
Encinasola, 20-7-1716, AME, AC, leg. 4; e carta de Manuel de Torres para Juan de Elizondo, Sevilha,
13-10-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 12.
[493] «Provisão ao duque de Cadaval para tombar as terras da sua comenda de Noudar e Barrancos
(1716)», ANTT, Chancelaria da Ordem de Avis, livro 24, f. 77 e o município de Encinasola, 20-4-
1716, AME, AC leg.4.
[494] «Resumen... de todo lo ocurrido hasta el día de la fecha sobre las controversias entre vasallos

de S.M. de la villa de Encinasola y de los del rey de Portugal del Castillo de Nodar y lugar de
Barrancos» (circ. 24-10-1716), em «El consejo de estado... sobre la demarcación de límites entre la
villa de Encinasola de este reino y el Castillo de Nodar y lugar de Barrancos del de Portugal», Madrid,
24-10-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 17. Ver também «El consejo de estado, con carta del
Marqués de Capecelatro diciendo ejecutará lo que se le ha ordenado cuanto a la dependencia de la villa
de Encinasola», Madrid, 1-12-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 30.
[495] «Si la dificultad que pueda ocurrir en esto es la influencia del duque de Cadaval por el interés
en su encomienda podrá dar a entender que no tiene dificultad el que las tierras que tocaren a su
encomienda queden pendientes de ella, aunque estén en territorio de Castilla, pues no solo en esta
encomienda se verifica esta práctica»: O Consejo de Estado na sua Consulta, datada de 24-10-1716,
AHN, Estado leg. 1768, Exp. 17.
[496] «El consejo de estado con carta del Marqués de Capecelatro dando cuenta de lo que le expresa
aquel secretario de estado sobre la dependencia de Encinasola», Lisboa, 28-1-1717, AHN, Estado leg.
1773.
[497]
Petição do município de Moura, 2-3-1673, e documentos relacionados, ANTT, Casa do
Infantado, Mç 1059; e dois certifiados com data de 1 e 2 de Março, 1691, em ACDC, cx. 19, 68-648,
n.º 2595. Ver também ACDC, cx. 19, 68-648, nos. 2640, 2598, 2599, 2691, e 2714, e cx. 20, 69-653,
nos. 4032, 4139, 4144, e 3648.
[498] O município de Moura em 2-3-1673, carta régia datada de 12-4-1673, e opinião do juiz, 2-2-

1764, em «Moura 1665-1677», ANTT, Casa do Infantado, Mç. 1059. Ver também ACDC, cx. 19, 68-
648, n.º 2598.
[499] Petição da duquesa de Cadaval, datada de 26-2-1812, decisão do corregedor de Avis, datada de
17-9-1820, e procedimentos contra Jose Damiel, residente de Santo Aleixo (Moura) pelos oficiais da
comenda, datada de 28-9-1825, todos em ACDC, cx. 19, 68-648, n.os 2641, 2751, e 2599, e cx. 18, 66-
629, n.º 2048. Para os episódios datados de 1594, ver «Parecer do desembargo do paço sobre o
desacato havido na comenda de Noudar por causa dos marcos que o conde de Linhares ali colocou», 8-
6-1594, reproduzido em João dos Santos Ramalho Cosme, O Alentejo a Oriente d’Odiana (1600-
1640): Política, Sociedade, Economia e Cultura (Lisboa: Cosmos, 1994), 217-218; e «Instrumento de
justificação sobre a demarcação da vila de Noudar, 1593», ANTT, CC, parte iii, Mç. 22, doc. 52. Ver
também Ramos, «Fronteira e relações...», 29-34.
[500] Estes processos aconteceram do mesmo lado da fronteira, ou do outro lado. Os exemplos de
Sevilha, Aroche e Encinasola demonstravam como funcionavam no seio do mesmo reino. Um exemplo
algo semelhante de território não dividido entre comunidades que reorganizavam as suas relações está
em «El concejo y vecinos de la villa de Alcazarén con el de Mojados sobre deslinde y amojonamiento
de la raya divisoria, 1807», RCV, PC, Fernando Alonso (OLV) 608/3.
[501] «Auto de inquirição a respeito da vinda dos castelhanos aos termos de Moura para lavrar e
semear», 2-11-1510, ANTT, Gavetas, XIV, 5-13.
[502] «Juan Garcia Ronquillo en nombre de Aroche y del consejo de Moura», in «Ejecutorias
ganadas por esta villa a la de Aroche en la RA de Sevilla», AME, leg. 236; e o procurador de Aroche,
sem data, em «El concejo de Encinasola con el concejo de Aroche, 1625», AHPS, RA, 233/1, fls. 756r-
757r.
[503] Reuniões municipais datadas de 26-6-1760, 12-11-1762, e 27-1-1779, AMA, AC, leg. 15 e 16;
e reuniões municipais datadas de 26-7-1760 e 14-12-1762, AME, AC, leg. 11 e 12. Ver também petição
de ambos os municípios datada de 10-12-1768, reproduzida em ordem régia datada de Madrid, 29-11-
1780, e a documentação anexa em «Testimonio y demás diligencias sobre la tasación de granos y su
cobranza de la dehesa de la contenda», AMA, leg. 453.
[504]
Ramos, «Fronteira e relações», 42-44.
[505]
«Carta a respeito dos direitos de pastagens entre as terras vizinhas de
Portugal e Castela», 11-9-1290, ANTT, Gavetas, XVIII, 3-22.
[506]
Manuel González Jiménez, «Conflictos fronterizos en la sierra de Aroche:
El pleito de Barrancos (1493)», Actas das I Jornadas de História Medieval do
Algarve e Andaluzia (Loulé: Câmara Municipal de Loulé, 1987), 349-359;
Carmona Ruiz, «La explotación ganadera...», 248-249; Félix Sancha Soria,
La guerra de restauración portuguesa en la Sierra de Aroche (1640-1645)
(Huelva: Diputación de Huelva, 2008), 44; e Cosme, O Alentejo..., 33-34, 37,
e 55. Ver também José Luis Martín Martín, «La tierra de las «contendas»:
Notas sobre la evolución de la raya meridional en la edad media», Norba.
Revista de historia, 16 (1996-2003): 277-293, na 292.
[507]
João Luís de Lima e Silva de Sousa, «Contendas entre vilas e seus termos
na fronteira portuguesa nos séculos xiii-xvi», Boletim do Instituto Histórico
da Ilha Terceira, 37 (1979): 41-59, 43; García Fitz, «Conflictos
jurisdiccionales...», 38 e 47-50; Carmona Ruiz, Usurpaciones de tierras...,
45-46 e 52-53; Carmona Ruiz, «La explotación ganadera...», 242-245; e
Sancha Soria, La guerra de restauración..., 69.
[508]
María Antonia Carmona Ruiz, La ganadería en el reino de Sevilla durante la baja edad media
(Sevilha: Diputación de Sevilla, 1998), 375 e 456-457; Carmona Ruiz, Usurpaciones de tierras..., 53 e
75. Acerca da comunidad de pastos em geral, ver David E. Vassberg, Tierra y sociedad en Castilla:
Señores, «poderosos» y campesinos en la España del siglo xvi (Barcelona: Crítica, 1986), 83-89.
[509]Os registos datados da década de 1680 demonstram que, por essa altura, Noudar já não existia.
O representante do duque de Cadaval, que tomou dela posse em 1686, notava que «onde antiguamente»
se localizavam várias casas e um castelo apenas restavam algumas defesas e uma igreja. Barrancos,
pelo contrário, prosperava: A tomada de posse datava de 8-6-1686, ACDC, cx. 19, 67-635, n.º 2628.
Este processo de abandono poderá ter começado entre meados e finais do século xv, quando se tornou
claro que Noudar poderia ter funções militares mas Barrancos desempenhava a parte economicamente
mais activa. Em 1527-1532 Barrancos tinha 73 habitantes e Noudar seis; em 1580 os números eram
145 e 12; em 1708, 350 e 50; e em 1798, 265 e sete: Ramos, «Fronteira e relações», 20-21 e 36-40.
[510] Fonseca, «Fronteiras territoriais...»; Carmona Ruiz, «La explotación ganadera...», 253;

González Jiménez, «Conflictos...»; e Amândio Jorge Morais Barros, «Uma contenda a norte da
‘contenda’ alguns aspectos das relações fronteiriças entre Portugal e Castela na idade média», Revista
da Faculdade de Letras. História, série ii, 15(1) (1998): 323-364, 330-331. A imigração espanhola para
Barrancos poderá ter continuado pelo século xix: María Victoria Navas Sánchez-Élez, «El río Guadiana
lazo de unión entre España y Portugal: El caso de su margen izquierda», Actas de las I Jornadas
Transfronterizas sobre la Contienda hispano-portuguesa (Aroche: Escuela Taller Contienda, 1996),
vol. 1, 85-98, na 95.
[511] «Inquirição que se tirou a respeito da aldeia de Barrancos que Castela dizia ser sua, mas que era
pertença de Portugal», 16-3-1493, ANTT, Gavetas, XIV, 5-2.
[512]
Foram assinados dois tratados em Tordesilhas em 4 de Junho de 1494. O mais famoso ocupava-se
da divisão do Atlântico em esferas de expansão potencial, ao traçar uma linha imaginária de pólo a
pólo. Foi acompanhado de um segundo tratado que dividia as rotas marítimas e as terras de África,
relativamente bem conhecida, mas ainda não possuída na sua totalidade. Acerca dos dois tratados, ver
Luís Adão da Fonseca, «Portugal e o Mediterrâneo, entre Castela e Marrocos: A formação da fronteira
marítima nos séculos xiv-xv e a noção de espaço político descontínuo», População e Sociedade, 17
(2009): 53-60, nas 53 e 55. Ambos os tratados poderão ter tido um antecedente no Tratado de
Alcáçovas (1479) no qual, inter alia, Portugal reteve o controlo sobre certas partes de África, já ou
potencialmente sob o seu poder, e a Espanha recebeu as Canárias «ganadas y por ganar»: «Tratado de
paces entre las coronas de Castilla y de Portugal firmado en Toledo a 16-3-1480», Boletín de la Real
Academia de la historia, 38 (1901): 325-329, cláusula viii, na 327. Principalmente centrado nas rotas
para África, este tratado não definiu nem estabeleceu a navegação para ocidente, razão pela qual era
necessário o outro Tordesilhas. A coincidência entre o processo em Barrancos e os tratados poderia não
ser fortuita: o comissário enviado pelo monarca português para investigar Barrancos tinha o poder para
resolver não apenas este conflito, mas todos os que existiam entre Espanha e Portugal, incluindo a
jurisdição em África. Esse poder incluía o seguinte: «Praticar e assentar, concordar e formar tudo o que
a ele parece razão e justiça assim sobre a terra que jaz entre os cabos de Bojador e de Nam; como isso
mesmo sobre as pescarias que fazem e vão e enviam fazer os naturais e súbditos dos sobreditos rei e
rainha de Castela... que faz entre os ditos cabos de Nam e de Bojador que é terra e mar em que assim
pelas bulas dos Santos Padres como pela nova capitulação e reformação das pazes se não pode tratar
negociar nem pescar sem nossa autoridade e especial licença sob certas penas nas ditas bulas e
capitulação con- teúdas. E outrossim lhe damos mais o dito poder e autoridade que possa assentar,
compor, concordar e capitular tudo o que a ele dito doutor parece razão e justiça acerca das Enxovias
que são em terra d’Africa do que é da nossa conquista dos reinos de Fez e cousas que de tudo o que dito
é dependem e a forem anexas e conexas for dito facto consentido, outorgado e firmado, assentado e
capitalado seja firme, estável e duradoiro para sempre. E prometemos por nossa fé real de o havermos
por rato e gato e de o guardarmos inviolavelmente e de nunca em tempo algum irmos contra ele em
parte nem em todo em juízo nem fora dele directa nem indirecta por nos nem por outrem sob obrigação
de todos nossos bens asi da coroa dos nossos reinos como patrimoniais que para ela obrigamos e
especialmente hipotecamos.» Poder do rei português para o Doutor Vasco Fernandes, Lisboa, 3-2-1492,
em «Inquirição que se tirou a respeito do termo de Noudar e de Ansinasola», 20-2-1493, ANTT,
Gavetas, XV, 23-8.
[513]O juiz português que conduziu a investigação sugeriu que «são castelhanos e pouco amigos do
proveito destes reinos e fazem mais perda nestes reinos que proveito»: «Instrumento de vários
documentos e de uns artigos pertencentes à inquirição que se tirou a respeito da contenda entre Portugal
e Castela sobre as demarcações e termos das vilas de Nodar e Moura com Anzina Sola e Aroche», 22-
2-1493, ANTT, Gavetas, XVIII, 2-1, reproduzido em GTT, vol. 8, 52-105, na 68.
[514] «Relação do que sucedeu na vila de Moura e seu termo no ano de 1641», reproduzido em
Cosme, Elementos para a História..., 331-342, nas 332-333. O original encontra-se na BNP, Res. cod.
6687.
[515] Miguel de Noronha era um de vários importantes nobres portugueses que optaram por esta via e
cuja traição – retratada pela propaganda dos Bragança – era inegável e colossal. Fora governador de
Tânger (1624-1628) e vice-rei da Índia (1629-1635) e parente do marquês de Villarreal e do duque de
Caminhas, dois homens proeminentes culpados de traição e executados por D. João IV. Em troca da
sua lealdade para com Filipe, foi-lhe concedido um título para o primogénito (o primeiro duque de
Linhares) e vários cargos administrativos potencialmente lucrativos, e foi-lhe permitido chamar-se não
só conde de Linhares, conforme ao seu título anterior, mas também conde-marquês de Villareal. No
entanto, os contemporâneos suspeitaram que estes feitos ficavam aquém do que perdera. Ele mesmo
poderia ter concordado, sugerindo nos seus vários testamentos que a maior parte das suas propriedades
continuava em Portugal e que desde 1640 não as podia usar, tendo ficado em Castela «sem sequer um
maravedí». Confessava não saber o que acontecera a Noudar e Barrancos mas, na sua petição (sem
data) por um rendimento anual do rei explicava ter conhecimento de «quemando los portugueses y
despoblando mis lugares como se ha visto en Barrancos raya de la Extremadura». Passou 1637-1642
em Madrid, primeiro como membro e depois como presidente do Conselho de Portugal. Foi
considerado para o cargo de vice-rei do Brasil, e em 1642 reassumiu uma carreira militar, a comandar
galés em Itália e em Espanha, até morrer em Abril de 1656. Informação acerca do conde de Linhares
pode ser encontrada em Anthony Disney, «On Attempting to Write an Early Modern Biography: My
Encounter with the Life of Dom Miguel de Noronha, Fourth Count of Linhares (1588-1656)», Indica,
29(2) (1992): 89-106; Anthony Disney, The Portuguese in India and Other Studies, 1500-1700
(Burlington, VT: Ashgate, 2009), capítulos 7, 9, e 12; F. Bouza Álvarez, «Entre dos reinos», 84-87 e
100-101; e F. Bouza Álvarez, Papeles y opinión: Políticas de publicación en el siglo de oro (Madrid:
CSIC, 2008), 131-133. Miguel de Noronha deixou vários testamentos: AHPM protocolo 4786, fls.
210r-296v e 483r-509v, por exemplo, fls. 484v, 492r-v, e 504r. Ver também a petição de Fernando de
Noronha, seu primogénito, ao Conselho de Castela e a sua consulta datada de 22-10-1670, AHN,
consejo 7180/39; e «Relación de servicios de don Miguel de Noroña», ACEDAL. Gostaria de
agradecer ao duque de Abrantes o envio de uma cópia deste documento. Os contemporâneos sugeriam
que «Ao Linhares satisfizeram, deixando-o chamar conde de Gijon, pequeno lugar de Astúrias, nas
ribeiras do mar Cantábrico; da qualidade não tirou mais que a verdade de se manifestar por neto de
Dom Affonso, antigo conde de Gijon, filho de Dom Henrique o bastardo, honra que ninguém lhe
duvidava antes, nem invejou despois, em cujo troco perdeu em Portugal vinte mil cruzados de renda,
bons lugares, e nobres comendas»: Francisco Manuel de Melo, Tácito Portuguez, orgs. Afrânio
Peixoto, Rodolfo Garcia e Pedro Calmon (Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1940), 97.
[516] O concelho de Encinasola, 28-6-1641, 30-6-1641, e 12-7-1641, AME, AC, leg. 1, fls. 26r-28v.
Estas versões encontraram apoio em relatórios dos habitantes de Santo Aleixo, uma aldeia de Moura,
que disseram existir indicações de que durante a guerra os barranquenhos deram «mensagens secretas»
aos castelhanos: este relatório datava de 1644 e era citado em Bento Caldeira, Aldeia Heróica: Santo
Aleixo da Restauração (Lisboa: Colibrí, 1997), 27. Uma sugestão semelhante foi feita por Luís de
Meneses, História de Portugal Restaurado (Lisboa: João Galvão, 1679), vol. 1, 216.
[517]
Acerca do carácter local da Guerra da Restauração ver, por exemplo, Jorge Penim de Freitas,
O Combatente durante a Guerra da Restauração: Vivência e Comportamentos dos Militares ao
Serviço da Coroa Portuguesa (1640-1668), (Lisboa: Prefácio, 2007) 266-269; e João Cosme, «A
solidariedade e a conflitualidade na fronteira portuguesa do Alentejo (séculos xiii-xviii)», População e
Sociedade, 6 (2000): 83-100, na 90.
[518]
Estas esperanças poderão ter sido frustradas. Em 1642, Moura queixava-se de que devido à
guerra os seus habitantes não podiam usar este território: «Item e memorial das defezas e propriedades
que estão perdidas no termo desta vila que se não cultivam nem aproveitam por razão das guerras»,
ANTT, Cortes, Mç 12, fls. 169r-170v; também reproduzido em Cosme, Elementos para a
História..., 266-286.
[519] Freitas, O Combatente..., 266-269; e Cosme, «A Solidariedade...», 90.
[520] «Capítulos que deram os procuradores da vila de Moura nas cortes... de 1641», petição n.º 9,
ANTT, Cortes, Mç. 12, fls. 141r-142r e 146v. Este do- cumento foi reproduzido em Cosme, Elementos
para a História..., 249-250.
[521] Declaração de Pedro López Catano e Esteban Martín de Castro em «Encinasola, año de 1787.
Causa de denuncia contra varios vecinos y ganados del lugar de Barrancos reino de Portugal», AME,
leg. 228, fls. 19v-22v e 87r-90r. Ver também certificado de Encinasola, 8-10-1788 nos fls. 81r-83v; e
certificado notarial datado de 13-9-1787 e as várias notificações que a audiencia de Sevilha enviou em
Fevereiro de 1790, em «Causa de denuncia, 1792», AME, leg. 749. Em meados do século xix, os
naturais de Encinasola formavam o maior grupo populacional de Barrancos: Ramos, «Fronteira e
relações...», 133.
[522] ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Habilitações, Mç. 165, Doc. 4036, fls. 1, 2, 8, 100, e 108-
114.
[523] Carmona Ruiz, «La explotación ganadera...», 250-252.
[524] «Auto que se fez a respeito da demarcação entre Portugal e Galiza por mandado de el-rei d.
João III», Vinhais, 1-6-1538, ANTT, Gavetas, XIV, 5-15.
[525] «Los vecinos de Barcia de Mera Manual Mosquera y consortes contra Manuel Antonio de
Otero escribano sobre exceso, 1795», ARG, RA 9144/26.
[526] Vários certificados passados por Ambrosio González Lechuga, datados de Agosto de 1785,
AME, leg. 228, fls. 40v-43v; reunião municipal, 5-5-1798, as cartas trocadas entre Moura, Aroche, e
Encinasola, e a reunião que se realizou em La Tomina on 29-9-1798, AMM, B/A/01/013, fls. 91r-92v e
100v-102v; e «Autos formados en virtud de oficio del ayuntamiento de la villa de Aroche sobre el
aprovechamiento de la dehesa de la Contienda, 1808», AME, leg. 228. La Tomina, actualmente em
ruínas, foi fundada na década de 1680 e, em 1709, foi concedida à Congregação dos Clérigos Regulares
dos Doentes, cuja principal função era cuidar dos moribundos.
[527]
Estas confrontações foram descritas em múltiplos relatórios, todos em AME, leg. 228, por
exemplo, reunião municipal 9-3-1785, fls. 5v-6v, e a declaração de testemunhas que se seguiram nos
fls. 7r-9v; e «Papeles y documentos relativos... al famoso pleito... por Francisco Méndez de nación
portugués, vecino de Barrancos», AME, leg. 228.
[528] ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Habilitações, Mç. 165, doc. 4036, fls. 75 e 81-82. Ver
também Ramos, «Fronteira e relações...», 147-148.
[529] «El consejo de estado con consulta suya y dos del de Castilla... sobre las diferencias que hay
entre vecinos de los lugares de Rio Manzanas y Santa Cruz del reino de Castilla y los de Guadramil del
de Portugal», Madrid, 3-11-1701, AHN, Estado leg. 1778, Exp. 53; e «El consejo de estado con
consulta del de
Castilla sobre las diferencias que se han suscitado entre vecinos del lugar de Rio Manzanas del reino de
Castilla y los de Guadramil del de Portugal», Madrid, 28-9-1701, AHN, Estado leg. 1788, Exp. 52
[530]
O conde de Frigiliana ao Consejo de Estado, Madrid, 3-12-1696, e o Consejo de Estado,
Madrid, 8-1-1697, ambos em AGS, Estado leg. 4043; «El consejo de estado con consulta del de Castilla
sobre instancia del enviado de Portugal en orden a la controversia suscitada entre la villa de Encinasola
de estos reinos y la de Moura del de Portugal», Madrid, 2-5-1700, AHN, Estado leg. 1766, Exp. 60;
Consulta do Consejo de Castilla, Madrid, 17-6-1700 e 17-4-1697, ambos resumidos em «El Consejo de
Estado con consulta del de Castilla sobre instancia del enviado de Portugal», Madrid, 17-6-1700, AHN,
Estado leg. 1781, Exp. 16; «El Consejo de Estado con un oficio del enviado de Portugal», Madrid, 13-
5-1700, AHN, Estado leg. 1766, Exp. 63; «El Consejo de Estado... sobre la demarcación de límites
entre la villa de Encinasola de este reino y el Castillo de Nodar y lugar de Barrancos del de Portugal»,
Madrid, 24-10-1716, AHN, leg. 1768, Exp. 17; e «El Consejo de Estado con carta del Marqués de
Capecelatro dando cuenta de lo que le expresa aquel secretario de estado sobre la dependencia de
Encinasola», Lisboa, 28-1-1717, AHN, Estado leg. 1773.
[531] «El monasterio de Melón con Gonzalo Ojea vecino del lugar de Perdices sobre apropiar el coto
de Villamayor al reino de Portugal, 1573», ARG, RA 569/13; e «Los vecinos de Alcobazas (Portugal)
Bartolomé Domingues y consortes con los vecinos de Azoreira... sobre comunes en Allariz (Ourense)»,
1631, ARG, RA 2501/8. Semelhante era também «Juan das Agras con vecinos de Castro Liveiro sobre
pastos, 1594», ARG, RA 26601/27.
[532] Ambrosio Spinoza, procurador de Encinasola em 19-6-1697, em «Autos do tombo e mediação
e demarcação da defeza da Ruciana», 15-7-1702, ACDC, cx. 20, 70-658, n.º 6214, fls. 43v-45r. A Mesa
da Consciência e Ordens era um tribunal encarregado de supervisionar assuntos relacionados com a
Igreja, as ordens militares e as universidades. Entre outras coisas, administrava as três ordens militares
(Cristo, Avis e Santiago) incorporadas em 1551 na coroa portuguesa. De acordo com o procurador, se o
duque pretendia apelar de uma decisão tomada no estilo e na forma ordinária por um juiz, tinha de se
dirigir a um tribunal de apelo ordinário, e não à Mesa.
[533] «Los vecinos del lugar de Bousenses... sobre excesos en deslinde de los montes de los Vidos a
pedimento de los vecinos del lugar de Canvedo (Portugal), 1753», ARG, RA 9135/9.
[534]
«Instrumento de vários documentos e de uns artigos pertencentes à inquirição que se tirou a
respeito da contenda entre Portugal e Castela sobre as demarcações e termos das vilas de Nodar e
Moura com Anzina Sola e Aroche», 22-2-1493, ANTT, Gavetas, XVIII, 2-1; e «Inquirição que se tirou
a respeito do termo de Noudar e de Ansina Sola», 20-2-1493, ANTT, Gavetas, XV, 23-28.
[535] Decreto real, Lisboa, 9-10-1603, ANTT, Chancelaria de Filipe II, Doações, Liv. 10, fl. 299. O
conflito em 1603 e 1605 é mencionado brevemente numa carta que Manuel de Torres escreveu a Juan
de Elizondo, Sevilha 13-10-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 12; e «Resumen... de todo lo ocurrido
hasta el día de la fecha sobre las controversias entre vasallos de S. M. de la villa de Encinasola y de los
del rey de Portugal del Castillo de Nodar y lugar de Barranco» (c. 24-10- -1716), em «El consejo de
estado... sobre la demarcación de límites entre la villa de Encinasola de este reino y el Castillo de
Nodar y lugar de Barrancos del de Portugal», Madrid, 24-10-1716, AHN, Estado leg. 1768, Exp. 17.
[536]
Ramos, «Fronteira e relações...», 27.
[537]
Carmona Ruiz, Usurpaciones de tierras, 134, identificava o conflito como envolvendo «Campo de
Gamos», também denominado «La Contienda». Não obstante, documentos contemporâneos sugeriam
que os dois não eram idênticos ou que pelo menos foram sendo gradualmente distinguidos. Acerca do
crescimento inicial e posterior contracção da área contestada, ver García Fitz, «Conflictos
jurisdiccionales...», 44.
[538] Os arquivos de Aroche e Encinasola foram completamente destruídos pelo fogo na Guerra da
Restauração, e na década de 1690 Moura queixou-se de que os seus arquivos eram dificilmente
legíveis: concelho de Encinasola, 14-11-1693, 5-6-1694, 9-6-1697, 19-6-1702, e 23-12-1702, e a sua
carta ao juiz que demarcava o território datada de 23-12-1702, em «Autos do tombo e mediação e
demarcação da defeza da Ruciana», 15-7-1702, ACDC, cx. 20, 70-658, n.º 6214, fls. 11r-15r, 32r-33r,
43r-45r, 70v-71r, 77r-v, e 78r-v; «Alvará autorizando a vila de Moura a copiar os seus arquivos»,
Lisboa, 2-8-1697, reproduzido em Cosme, Elementos para a História..., 379-380; e cópia de uma carta
não datada de Moura para Aroche e as deliberações de Aroche em 7-7-1699, AMA, AC, leg. 9.
[539] Carmona Ruiz, «La explotación ganadera...», 242.
[540] Não é, portanto, de surpreender que os historiadores também o tenham feito, estudando o

conflito entre Aroche, Encinasola, Moura, Serpa, e Noudar até à década de 1540 como se nada de
importante tivesse acontecido desde aí: José Avelino da Silva e Matta, «Annaes de Moura ou
apontamentos históricos para a topographia mourense», 1855, AMM, 193-202; Sebastião Lopes
Calheiros Meneses, Noticia sobre a contenda de Moura: Alguns documentos: Conclusões: Nota de 19-
9-1805, tratado de 14-10-1542 que se tem denominado a concordata: Planta da contenda de Moura
(Lisboa: Imprensa Nacional, 1889), 3; Pérez-Embid, La frontera...; e Navas Sánchez-Élez, «El río
Guadiana...», 94.
[541] Estas questões foram tratadas exaustivamente em cartas, panfletos e ensaios da época. Os
seguintes foram-me muito úteis: Francisco de Peralta, «Relación de lo que han informado los
corregidores de Castilla la Vieja y Nueva, La Mancha, Extremadura y Andalucía acerca del remedio
que se tendrá para la conservación de la labranza y crianza», manuscrito sem data, BNE, Ms. 9372, fls.
31r-40v; Arriquibar, Recreación política...; «Discursos políticos del Marqués de Monte-Real ministro
del Consejo de Castilla» (sem data, cerca 1752-1769), BPR, Ms. II/3496, discurso 12, fls. 36v-38v, a
cidade de Cáceres em 31-5-1800, em «Proyecto de población de la nominada villa de Balbanera en la
provincia Extremadura», AHN, Consejos 4060, por exemplo, nos fls. 224v-225r; Antonio Henriques da
Silveira, «Racional discurso sobre a agricultura, e população da província de Alem-Tejo» e José
Ignacio da Costa, «Agronómica relativa ao concelho de Chaves», ambos em Memorias Económicas da
Academia Real das Sciencias de Lisboa para o Adiantamento da Agricultura, das Artes e da Industria
em Portugal e Suas Conquistas (Lisboa: Oficina da Academia Real das Ciências, 1789), vol. 1, 41-122
e 351-398. Ver também Castro, O Pensamento Económico..., 38-40; e Serrão, «O pensamento
agrário...».
[542] Paradoxalmente, quando a Mesta (honrado concejo de la mesta), o organismo oficial
encarregado de supervisionar os pastos, foi criado no século xiii, foi visto como um agente
modernizador porque privilegiava a comercialização da lã e o comércio de longa distância em
detrimento da produção local e de uma economia de subsistência. Contudo, nos séculos xvii e xviii, foi
reimaginado como uma instituição conservadora e, para os reformadores, tornou-se no símbolo das
«leis bárbaras» que «preferiam as ovelhas aos homens» e o inimigo do progresso. O principal problema
era que as regras defendidas pela Mesta proibiam as enclosures e impunham restrições aos proprietários
que não podiam gozar livremente das suas terras. A partir daí, tornou-se responsável pelo atraso
agrícola da Espanha e pelo declínio económico mais geral: Melchor de Jovellanos, Informe de la
Sociedad Económica..., 5-6, 23-24, e 148. Vários manuscritos apresentados à Sociedad de Amigos del
País, de Madrid, em 1777 e incluídos em ARSEMAP, leg. 15, Exp. 1, também discutiam estas
questões, tal como o famoso Pedro Rodríguez de Campomanes, Memorial ajustado del expediente de
concordia que trata el honorable Concejo de la Mesta con la diputación general del reino y provincia
de Extremadura, com introdução de Miguel Ángel Melón Jiménez (Cáceres: Caja de Extremadura,
2006 [1783]). Ver também Javier M. Donézar Diez de Ulzurrun, Riqueza y propiedad en la Castilla del
Antiguo Régimen (Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación, 1996), 160-171; e
Gonzalo Anes, «Agricultura y ganadería en el siglo de las luces», in Cultivos, cosechas y pastoreo en la
España Moderna (Madrid: Real Academia de la Historia, 1999), 93-104.
[543] «Nota apresentada pelo conde del Campo de Alange embaixador de sua majestade católica
dirigida ao governo de sua alteza real o príncipe regente, 19-9-1805», reproduzida em Meneses, Noticia
sobre a Contenda..., 31-36, na 34.
[544] Isabel Testón Núñez, Carlos Sánchez Rubio e Rocío Sánchez Rubio, Planos, guerra y frontera:
La raya luso-extremeña en el Archivo Militar de Estocolmo (Mérida: Gabinete de Iniciativas
Transfronterizas-Junta de Extremadura, 2004), 8.
[545] José Cornide, Descripción circunstanciada de la costa de Galicia y raya por donde confina con
el inmediato reino de Portugal, hecha en el año de 1764, ed. x. L. Axeitos (Corunha: Edición do
Castro, 1991 [1764]), 151.
[546] «Composição feita entre as vilas de Marvão e Valência de Alcântara», 12-12-1313, ANTT,
Gavetas, XV, 23-5. Ver também Possidónio Mateus Laranjo Coelho, Terras de Odiana: Medobriga,
Ammaia, Armenha, Marvão (Marvão: Câmara Municipal de Castelo de Vide e Marvão, 1984), 86-91.
[547] «Demarcação feita por inquirição entre a vila de Marvão e a vila de Valença de Castela», 8-2-
1455, ANTT, Gavetas, XIV, 5-1; «Carta testemunhável a respeito das dúvidas dos termos entre Marvão
y Valença», Marvão, 20-1-1488, ANTT, Gavetas, XVIII, 5-29; e «Autos de vistorias que fizeram
judicialmente os oficiais das câmaras das vilas de Marvão e Valença, sobre as demarcações e divisões
dos termos destas duas vilas», 22-9-1519, ANTT, CC, parte II, Mç. 84, doc. 163. O acordo tornou-se
permanente em 1585 e foi novamente ratificado em 1682: «Treslado dos compromissos das nobres
villas de Marvão y Valencia». Gostaria de agradecer a Juan Carlos Corchero Ramajo, consejal de
cultura do concelho de Valencia de Alcántara por me enviar uma cópia deste documento.
[548] Reuniões municipais, 6-8-1763 and 20-8-1763, AMVA, LC 1763, fls. 120r-v e 128r-129v; e
registos de uma reunião conjunta de ambos os municípios datada de 18-8-1763 e reproduzida em
CMM, 01-057, Vereações 1763-1764, fls. 25r-v.
[549] Reunião municipal, 23-2-1725, AMVA, LC 1725, fls. 28r-29r.
[550] Reunião municipal, 7-12-1805, AMVA, LC 1805, fls. 168r-v.
[551] Em 1758, por exemplo, o concelho de Valencia sugeriu que os guardas alfandegários espanhóis
(guardas del resguardo de la renta) não podiam apreender cavalos pertencentes a Marvão, que
pastavam no território de Valencia: carta de Ramón de Larumbes datada de Badajoz, 7-5-1758, copiada
para os registos da reunião municipal, 19-5-1758, AMVA, LC 1758, fls. 92r-96r. Intervieram também
em 1760 e 1766 para assegurar a libertação de cabras e dos seus pastores: reunião municipal, 2-12-
1760, AMVA, LC 1760, página não numerada; e reunião municipal, 11-12-1766, AMVA, LC 1766,
fls. 11r-112v.
[552] José Baptista Barreiros, «Delimitação da fronteira luso-espanhola», O Distrito de Braga.
Boletim Cultural de Etnografia e História 3(3) Fascic. i-ii (1964): 1-97, 21.
[553] Reunião municipal, 24-6-1868, CMM, 01-113, Vereações 1868, fls. 24r-25r.
[554] Antonio de Gaber, «Relación que individualmente se expresa puerto por puerto los ríos,
arroyos, barrancos y mojones que dividen... la línea de demarcación que divide España y Portugal», 24-
7-1750, AGMM, 5-3-4-4 e 3-5-2-3, ponto 2; e notas datadas de Badajoz 21-7-1750, provavelmente da
autoria de Antonio de Gaber e incluídas em «Copia de los papeles citados en esta relación», AGMM, 5-
3-4-4, nota 1. Estes documentos foram transcritos em Hevilla, «Reconocimiento practicado...».
[555] «Esta circunstancia, las tradiciones de los mayores del país y otras inferencias fundadas que
expresara a su tiempo inspiran fuertes presunciones de que esta dehesa fue primitivamente de España y
es una usurpación violenta de los fronterizos portugueses, cuya época se pierde en la obscuridad de los
tiempos según parece fue una resulta de las porfiadas y continuadas guerras durante los reinados de la
reina doña Isabel de Castilla y sus antecesores en que las expediciones contra los moros... distrajeron la
atención de la superioridad de este rincón de tierra de tan poca atención al parecer»: «Borrador y
expediente de La Contienda», manuscrito anónimo e sem data, provavelmente da autoria do comissário
espanhol Francisco Fersen, em AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431, parte iii. Ver também a sua carta
datada de 26-6-1804 e citada num sumário, sem data, inserido em AMAE/M, Tr 282/002, n.º 0431.
[556] Carta de Joseph Gabriel para Pedro Cevallos, Badajoz, 16-2-1805, e documentos que o
acompanham, AMAE/M, Tr 133/003, n.º 0207.
[557] O mesmo livro também reivindicava Serpa como um município espanhol porque, ao lado de
Moura, Cáceres, Badajoz e Trujillo, pertencera a Castela até 1294: cópia da página relevante desse
livro, autenticada por Manuel de Silva, tabelião, Badajoz, 9-2-1805, em AMAE/M, Tr 133/003, n.º
0207.
[558] Ramos y Orcajo, Dehesa de la Contienda..., 14.
[559] Alegações feitas em 4-7-1802 por Encinasola, em «Diligencias practicadas sobre la dehesa de
La Contienda, año de 1802», AMAE/M, Tr 283/003, n.º 0431.
[560] «Resumen de lo que ha pasado en la raya de Galicia entre gallegos y portugueses sobre la
pertenencia de una isla sita en el río Miño que llaman de Berdoejo o Caldelas», AHN, Estado leg. 872.
[561] «Copia da petição que deu em Lisboa el reitor da companhia de Jesus da cidade de Coimbra», e
«Lo que respondió el abad de Caldelas cuando el corregidor de la comarca de Viana le citó», ambos em
AHN, Estado leg. 1752, Exp. 20.
[562] Carta do duque de Uceda, Corunha, 24-12-1684, AHN, Estado leg. 872.
[563] Carta do embaixador português, Madrid, 4-8-1684, reproduzida em «El consejo de estado con
un papel del enviado de Portugal sobre el embarazo que se ofrece en las fronteras de Galicia», Madrid,
17-8-1684, AHN, Estado leg. 1752, Exp. 18.
[564]
«En consejo de estado, con carta del duque de Uceda y papeles que envía sobre una
controversia entre gallegos y portugueses tocante a la pesca del Miño», Madrid, 11-11-1684, AHN,
Estado leg. 1752, Exp. 19. O Consejo continuou a defender esta posição no ano seguinte: a sua consulta
datada de 27-1-1685, AHN, Estado leg. 1752, Exp. 20.
[565] «En consejo de estado, con carta del duque de Uceda y papeles que envía sobre una
controversia entre gallegos y portugueses tocante a la pesca del Miño», Madrid, 11-11-1684, AHN,
Estado leg. 1752, Exp. 19; e carta do duque de Uceda, Corunha, 24-12-1684, AHN, Estado leg. 872
[566] Joseph de Faria para o conde de Chinchón, Madrid, 10-2-1691, em «El consejo de estado con
una memoria del enviado de Portugal sobre que las justicias de Tui ejercen jurisdicción en una isleta
del reino de Galicia que pertenece a la corona de Portugal», Madrid 17-7-1691, AHN, Estado leg. 1771,
Exp. 2. Ver também consulta do Consejo de Estado datada de 21-7-1691, AHN, Estado leg. 1771, Exp.
1; e «Informação sobre a insola de Verdoejo sita no rio Minho a qual pertence à coroa de Portugal»,
sem data e sem assinatura, AHN, Estado leg. 872-2, e a documentação anexa, datada de 1694.
[567] Jacinto de Aruz Ossorio para o rei, Tui, 18-6-1691, e os processos judiciais anexos datados de

Tui, 14-5-1691, em «El consejo de estado con una consulta y carta del alcalde de la ciudad de Tui sobre
excesos que cometen portugueses en aquella jurisdicción», Madrid, 21-6-1691, AHN, Estado leg. 1771,
Exp. 1.
[568] «Al conde de Puñonrrostro y obispo de Tui», rascunho de cartas datadas de 17-6-1691 e 21-6-
1691, AHN, Estado leg. 872; Manuel de Semanat para o rei, Lisboa, 31-7-1691 e 21-8-1691, e as
respostas do ministro português dos Negócios Estrangeiros, datadas de 31-7-1691 e 18-8-1691, todas
em AHN, Estado leg. 872.
[569] Anselmo Gómez de la Torre para o Consejo de Estado, Tui, 4-10-1691, e os documentos
anexos, AHN, Estado leg. 872.
[570] Conde de Puñonrrostro, Corunha, 28-10-1691, AHN, Estado leg. 872.
[571]
«El consejo de estado con una memoria del enviado de Portugal», 15-7-1693, AHN, Estado
leg. 872; «El consejo de estado con un resumen de todo lo que ha pasado en la raya de Galicia entre
portugueses y gallegos», 10-9-1693, AHN, Estado leg. 872; e rascunho da Consulta de 10-9-1693,
AHN, Estado leg. 872.
[572] «El licenciado don Gabriel Tavares, relator de la real audiencia de este reino dará a
continuación de este decreto relación del pleito que litiga en dicha audiencia el colegio de padres de la
compañía de Coimbra en el reino de Portugal con el abad de Caldelas», Corunha, 22-8-1694, e «El
consejo de estado con carta del conde de Palma y relación que acompaña del pleito pendiente en la
audiencia de La Coruña», 7-9-1694, ambos em AHN, Estado leg. 872. Uma cópia dos documentos
apresentados pelo mosteiro também pode ser encontrada em MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 529r-534r.
[573] «El Consejo de estado con dos cartas de don Manuel Semanat y papeles que remitió», 29-7-
1694, e os documentos anexos, AHN, Estado leg. 872; e «Informação sobre a insola de Verdoejo sita
no rio Minho a qual pertence à coroa de Portugal», manuscrito anónimo sem data em AHN, Estado leg.
872.
[574] «Cabeza de proceso y testigos ante Diego Iñigom juez ordinario sobre que el juez ordinario del
coto de San Fins rompió la jurisdicción de SM», Tui, 13-7-1695, e «El consejo de estado con carta de la
ciudad de Tui, una consulta suya (de 7-9-1694) y otra de Castilla sobre la pertenencia de la isla de
Caldelas o Berdoejo», 9-2-1696, ambos em AHN, Estado leg. 872 que também contém numerosas
representações feitas pela cidade de Tui, o seu bispo, e o governador da Galiza. «Ni verisímilmente
parece puede haberle [pleito] sobre esta isla en la audiencia de La Coruña porque siendo la duda sobre
si esta isla toca al reino de Portugal o al de Galicia no parece que tribunal de ningún reino pueda ser
competente para esta determinación»: Consulta do Consejo de Castilla, sem data, AHN, Estado leg.
872.
[575] Carta de Manuel de Semanat, Lisboa, 14-2-1696, AHN, Estado leg. 872.
[576] Carta da audiencia da Galiza ao rei, 4-10-1695, AHN, Estado leg. 872; Consulta do Consejo de
Castilla datada de 20-2-1696 e parcialmente reproduzida em «El consejo de estado con consulta del de
Castilla y carta de don Manuel de Semanat», 17-3-1696, AHN, Estado leg. 872.
[577] Carta do embaixador datada de Madrid, 8-5-1696, incluída na informação enviada pelo conde
de Frigiliana ao rei, Madrid, 8-5-1696, e a sua carta de 22-10- -1696, ambas em AGS, Estado 4043; e
consultas do Consejo de Estado, 10-7-1696, 25-9-1696, e 13-11-1696, AGS, Estado 4042 e 4043. O
marquês de Villafranca e o marquês de Mancera, por exemplo, insistiam que os exames das situações
da ilha e do rio eram «circunstancias muy esenciales» no processo decisório: a opinião deles está na
Consulta de 13-11-1696, AGS, Estado 4043
[578] Em Março de 1696, por exemplo, o Consejo estudou a representação do reino da Galiza e a
cidade de Tui, pedindo que o conflito fosse finalmente resolvido: Petição de Miguel de Araujo,
deputado do reino da Galiza e consulta do Consejo de Estado, 25-9-1696, e representação da cidade de
Tui, 26-5-1696, AGS, Estado 4043.
[579] O Artigo 5 do Tratado de Utreque de 1715 determinava: «Las plazas, castillos, ciudades,
lugares, territorios y campos pertenecientes a las dos coronas, así en Europa como en cualquiera parte
del mundo se restituirán enteramente y sin reserva alguna; de suerte que los límites y confines de las
dos monarquías quedarán en el mismo estado que tenían antes de la presente guerra. Y particularmente
se volverán a la corona de España las plazas de Alburquerque y la Puebla con sus territorios... y a la
corona de Portugal el castillo de Noudar con su territorio, la isla de Verdejo y el territorio y Colonia de
Sacramento», Cantillo, Tratados..., 165-166.
[580]
Marquês de Risbourg para Miguel Fernández Durán, Corunha, 3-5-1716, uma nota
anónima inserida na documentação citada indicando a resposta dada ao governador em 13-5-1716, «El
consejo de estado con dos cartas del marquês de Risbourg», Madrid, 12-9-1716, o marquês de Risbourg
para o marquês de Grimaldi, Corunha, 2-8-1716 e «Auto de cabeza de processo», Tui, 18-6-1716, e as
declarações seguintes, AHN, Estado leg. 1769, Exp. 46. Cópias de muitos destes documentos também
podem ser encontradas em AHN, Estado leg. 1791, Exp. 107, e AHPP, AMT, LA 1716, Asign. 837, fls.
117r-122r.
[581]
José Baptista Barreiros, «Delimitação da fronteira luso-espanhola», O Distrito de Braga. Boletim
Cultural de Etnografia e História II, fasc. i-ii (1964): 83-170, 79, 82-84, 88-90, e 138 (daqui em diante
Barreiros, «Delimitação da fronteira» [1964a]).
[582] «Tratado de límites desde la desembocadura del Miño hasta la unión del río Caya con el
Guadiana entre España y Portugal... 1864», in Treaties Series. Treaties and International Agreements
Registered or Filed and Recorded with the Secretariat of the United Nations (Nova Iorque: Nações
Unidas, 1991), vol. 1288, II-906, nas 243-261, art. 1, p. 245 e anexo i em 262-265.
[583] «El conde de Frigiliana dice como los portugueses se han apoderado de la isla de Verdoejo»,
Madrid, 30-4-1696, um texto da autoria do embaixador português em Madrid, e «Resumen de lo que ha
pasado en la raya de Galicia entre gallegos y portugueses sobre la pertenencia de una isla sita en el río
Miño que llaman de Berdoejo o Caldelas», AHN, Estado leg. 872. Ver também «Traslado do
enfezamento em fateusim perpetuo feito a Leonel de Abreu de Regalados», testamento do abade do
mosteiro datado de 27-1-1540, e «Translado da posse da ínsua de Verdoejo dada a dona Maria mulher
de Leonel d’Abreu em seu filho», 5-12-1548, MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 529r-230r, 530v-531v, e
533r- -534r.
[584] Pedro Gómez (Gomes) de Abreu foi um dos primeiros nobres portugueses a seguir este
caminho. A sua chegada a Madrid foi festejada e recebeu o título de conde de Regalados. Embora tenha
morrido pouco depois (em 1642), continuou a simbolizar tanto a lealdade como a traição extremas,
dependendo do interlocutor: José Augusto Carneiro, Notícia Histórica e Genealógica dos Abreus de
Regalados, Apresentada à Academia Real das Ciências de Lisboa (Barcelos: Typographia Barcellense
de Augusto Soucasaux, 1905), 13-14, 28-30, e 87-91; Celia Rodríguez de Maribona y Álvarez de la
Viña, marquesa de Ciadoncha, «Los caballeros portugueses en las órdenes militares españolas»,
Arquivo Histórico de Portugal, 5(1) (1943): 237-330, 275-276, 289-291, e 294-295; conde de Ericeira,
História de Portugal Restaurado, org. António Álvaro Dória (Porto: Livraria Civilização Editora, 1945
[1710]), vol. 1, 149; e Luis Vilar y Pascual, Diccionario histórico, genealógico y heráldico de las
familias ilustres de la monarquía española (Madrid: Imprenta de D. F. Sánchez, 1859), vol. 1, 395-406.
A genealogia da família na década de 1640 está incluída em AHN, Caballeros-Calatrava, Exp. 1062,
expediente de Gaspar Gómez de Abreu.
[585] Anselmo de la Torre para o Consejo de Estado, 4-10-1691, e o processo em Tui em 8-9-1691,
AHN, Estado leg. 872; e «Auto de cabeza de processo», Tui, 18-6-1716, e as seguintes declarações,
reproduzidos em AHN, Estado leg. 1769, Exp. 46. Cópias desta documentação também se encontram
em AHN, Estado leg. 1791, Exp. 107, e AHPP, AMT, LA 1716, Asign. 837, fls. 117r-122r. María de
Abreu e Noronha, neta de Leonel de Abreu, casou-se com Fernando de Sotomayor, conde de Crecente
e Señor de Cala de Soutomayor na Galiza, a partir daí unindo os Abreu com os Sotomayor: Costa,
Corografia Portugueza..., vol. 1, 245-246.
[586]
«¿Cómo fue la intrusión de portugueses en la isla que llaman de Caldelas 23 o 24 años ha y
cómo se les consintió y disimuló la introducción en ella o si hubo reclamación de los interesados
Falcones?», Consulta do Consejo de Estado, 12-9-1716, AHN, Estado leg. 1769, Exp. 46. Outra cópia
desta consulta encontra- -se em AHN, Estado leg. 1791, Exp. 107.
[587] Francisco Castro Viejo para o marquês de Astorga, La Guardia, 29-4-1699, e a informação
elaborada em La Guardia, 24-4-1691, anexa a «El consejo de estado con consulta suya y otra del de
Castilla sobre las vejaciones que padecen los vecinos de la Guardia causados por los de Seixas,
jurisdicción de Portugal», Madrid, 15-1-1700, AHN, Estado leg. 1781, Exp. 2; «El consejo de estado
con una memoria del enviado de Portugal sobre que las justicias de Tui ejercen jurisdicción en una
isleta del reino de Galicia que pertenece a la corona de Portugal», Madrid 17-7-1691, AHN, Estado leg.
1771, Exp. 2; «El señor conde de Frigiliana para que pase oficio de queja con el enviado de Portugal
sobre las molestias causadas a los vecinos de la Guarda por los de Seixas, jurisdicción de Portugal»,
Madrid, 23-1-1700, AHN, Estado leg. 1766, Exp. 43; Diego de Manrique Corte Real, Madrid, 4-3-
1701, em «El consejo de estado con oficio del enviado de Portugal sobre los daños que los vecinos de
La Guardia recibían de los portugueses de Seixas», Madrid, 10-3-1701, AHN, Estado leg. 1778, Exp.
15; e «Consulta del de Castilla sobre los daños que los vecinos de La Guardia experimentaban de los
portugueses de Seixas», Madrid, 4-4-1701, AHN, Estado leg. 1788, Exp. 18.
[588]
«El consejo de estado con carta del duque de Uceda y papeles que envía sobre una controversia
entre gallegos y portugueses tocante a la pesca del Miño», Madrid, 11-11-1684, AHN, Estado 1752,
Exp. 19.
[589]
Até 1381, a área entre os rios Minho e Lima, actualmente em Portugal, encontrava-se sob a
jurisdição da diocese de Tui: Maria Filomena Andrade, «Entre Braga e Tui: Uma fronteira diocesana de
duzentos (o testemunho das inquirições)», Revista da Faculdade de Letras. História, série ii, 15(1)
(1998): 77-98; e José Luis Martín Martín, «Problemas de límites en las diócesis vecinas de Castilla y
Portugal en la Edad Media», in Das begrenzte Papsttum: Spielräume päpstlichen Handelns Legaten-
delegierte Richter-Grenzen, orgs. Klaus Herbers, Fernando López Alsina e Frank Engel (Berlim: De
Gruyter, 2013), 169-196.
[590] Bartolus de Saxoferrato, Tractatus Tyberiadis seu de fluminibus: Liber 1-3: De alluvione, de
insula, de alveo; Tractatus de insigniis et armis (Turim: Bottega d’Erasmo, 1964), também disponível
de forma abreviada em https://dspace.nwu.
ac.za/bitstream/handle/10394/8600/Du_Plessis_PJ_Appendix%28Book%29. pdf?
sequence=9&isAllowed=y. Ver também Nordman, Frontières de France..., 114-121; e Marchetti, De
Iure Finium..., 185-191. Acerca da recepção do Ius Commune em Portugal e Espanha, ver José María
Font Rius, «La recepción del derecho romano en la Península Ibérica durante la edad media», Recueil
des mémoires et travaux publiés par la Société d’Histoire du Droit et des Institutions des Anciens Pays
de Droit Écrit 6 (1967): 85-104 ; e Bartolomé Clavero, Institución histórica del derecho (Madrid:
Marcial Pons, 1992), 5-56.
[591] Siete Partidas, Partida III, título 28, leis 26, 27, e 28.
[592] Vattel, The Law of Nations..., livro 1, capítulo 22, n.º 102.
[593] «Copia de la representación hecha por Don Joseph Quintana sobre poner corriente y navegable
el estero o caño que desde la playa de Ayamonte corre hasta la de San Miguel y Barra del Terrón»,
Ayamonte, 8-9-1741, em «Copia de los papeles citados en esta relación perteneciente al estero
navegable o brazo del río Guadiana en la Playa de Ayamonte», AGMM, 5-3-4-4; Antonio de Gaber,
«Relación en que distintamente y por partes se explican los puertos que sirven de demarcación y línea
que divide los reynos de España y Portugal en la Provincia de Andalucía», AGMM, 5-3-4-4; carta de
Joseph Quintana Cevallos, Ayamonte, 24-11-1764, Palacio para Joseph Quintana, Madrid, 7-12-1764, e
um memorando da autoria do marquês de Grimaldi, Palacio, 10-12-1764, em «1764 asuntos de pesca»,
AGS, SMA, 0264. Relacionando o que acontecia no Minho com o que se passava em Ayamonte temos
«El consejo de estado con carta de don Domingo Capecelatro», Madrid, 19-12-1702, AHN, Estado leg.
1755, Exp. 44.
[594] «Actas de la comisión mixta compuesta de los comisarios de los gobiernos de España y
Portugal para esclarecer... la propiedad y dominio del islote formado recientemente en la
desembocadura del Guadiana», Vila Real de Santo António, 12-6-1840, AMN, Ms. 1800, Miscelánea
doc. 29, fls. 80r-89r. Em causa estava também a distinção entre mudanças causadas pelo homem e
mudanças naturais: ver, por exemplo, «Expediente sobre el río Miño, 1757», AGS, SGU 3376, e o
mapa 20/97 que o acompanhava. Os contemporâneos insistiam assim em que as mudanças que
afectavam direitos tinham de ser «naturais», e não causadas pelo homem: «mutaciones que
naturalmente y sin industria alguna producen las circunstancias del terreno y aguas»: «1764 asuntos de
pesca», AGS, SMA, 0264.
[595]
Carta de Sebastián Rubin para Félix Oneille, Valença do Minho, 24-2-
1773, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; carta de João de
Almeida e Melo para o marquês de Pombal, Porto, 29-7-1773, e a carta do juiz de fora de Barea
que a acompanhava, datada de 7-7-1773, ambas em AHM/DIV/1/06/38/01.
[596]
O marquês de Pombal para João de Almada de Tello, Lisboa, 4-8-1773,
AHM/DIV/1/11/02/12, doc. 2, pp. 14-15.
[597]
«Al marquês de Casatremanes, San Lorenzo 21-10-1773» e «Extracto
sobre la dependencia del Monte de la Magdalena», AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2.
[598] «Treslado da certificação da Torre do Tombo da demarcação de o concelho de Lindozo com el
reino de Galiza», in «Documentos sobre a demarcação de limites entre a Hespanha e Portugal, 1803»
AHM/DIV/4/1/10/10.
[599] Suzanne Daveau, «Caminhos e fronteira na serra da Peneda. Alguns exemplos nos séculos xv e
xvi e na actualidade», Revista da Faculdade de Letras. Geografia, série i, 19 (2003): 81-96, na 87.
[600] José Francisco Barbosa Pereira para Aires de Sá e Melo, 17-3-1778, AHM/ DIV/1/09/01/35.
[601] O embaixador para o conde de Floridablanca, Aranjuez, Maio, 1779, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2.
[602] Conde de Floridablanca para Pedro Martín Cermeño, Aranjuez, 19-5-1779, e as respostas deste
último, Corunha, 29-5-1779 e 21-7-1779, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2.
[603] O embaixador português para o conde de Floridablanca, Madrid, 4-12-1779; A resposta de
Floridablanca datada de Palacio, 9-12-1779; «Sumario respectivo a las contiendas que han habido entre
portugueses residentes en Lindoso y Gallegos y que resulta de ella conviene la demarcación», 27-6-
1780; e ordem enviada a Pedro Martín Cermeño, Aranjuez, 3-5-1780; todos em AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2; e queixa do embaixador português, 18-5-1803, resumida em «Extracto del
expediente», AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1.
[604] Pedro Martín Cermeño para o conde de Floridablanca, Corunha, 10-3-1789, e a informação
anexa perante o juiz ordinário de Trasportela, 18-1-1789, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º
0207/2; Antonio Feliz de Contreiras da Silva para a rainha, Porto, 10-11-1789, MNE LH, cx. 6 (n.º
1123), fls. 83r-85v; Pedro Martín Cermeño para o conde de Floridablanca, Corunha, 8-4-1790,
AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2, a informação judicial que a acompanhava, Trasportela,
10-3-1790; e David Calder para Luís Pinto de Sousa Coutinho, Viana, 24-6-1790,
AHM/DIV/1/11/02/12. Ver também rascunho de uma resposta para o embaixador português, 5-11-
1791, com a investigação judicial levada a cabo em Trasportela em 23-9-1791, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2; Juan Antonio Bringas para Pedro Martín Cermeño e «El caballero Carvallio e
Sampayo para o conde de Aranda», 22-3-1792, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2;
«Extracto del expediente», «Al señor conde del Campo de Alange», Aranjuez, 10-4-1804, «Según
minutas del 16,17 y 18 de Julio 1804», manuscrito anónimo, sem data, e conde del Campo de Alange
para Pedro Cevallos, Lisboa, 21-4-1804, AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1; e queixa do
embaixador português, 18-5-1803, resumida em «Extracto del expediente», AMAE/M, Tr 132/001
(1754/1807), n.º 0207/1.
[605] Pedro Martín Cermeño para Floridablanca, Corunha, 10-3-1789, e a informação anexa perante
o juiz ordinário de Trasportela, 18-1-1789, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2.
[606] Cartas de Luís Pinto de Souza para José Pedro de Câmara, Viana, 30-4-1789, e Luís Pinto de
Souza para João de Souza, Lisboa, 11-9-1789, AHM/ DIV/1/11/02/12, doc. 4, p. 15, e doc. 6, pp. 20-
22.
[607] António Feliz de Contreiras da Silva para a rainha, Porto, 10-11-1789, MNE, LH, cx. 6 (n.º
1123), fls. 83r-85v.
[608] Pedro Martín Cermeño para Floridablanca, Corunha, 8-4-1790, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2, e a informação judicial que a acompanhava,
Trasportela, 10-3-1790; e David Calder para Luís Pinto de Sousa Coutinho, Viana, 24-6-1790,
AHM/DIV/1/11/02/12; rascunho de uma resposta para o embaixador português, 5-11-1791, com a
investigação judicial levada a cabo em Trasportela em 23-9-1791, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792),
n.º 0207/2; e Juan Antonio Bringas para Pedro Martín Cermeño e «El caballero Carvallio e Sampayo
para o conde de Aranda», 22-3-1792, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; queixa do
embaixador português, 18-5-1803, resumida em «Extracto del expediente», AMAE/M, Tr 132/001
(1754/1807), n.º 0207/1.
[609] O embaixador português sugeriu, por exemplo, que em 1803 os espanhóis podiam ter apanhado
lenha e destruído colmeias apenas para certificar os seus direitos de posse e uso: queixa do embaixador
português, 18-5-1803, resumida em «Extracto del expediente», AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º
0207/1. Em 1807 os comissários portugueses mesmo assim insistiram que «O que tem sido a causa de
moverem os ambiciosos fronteiros galegos sanguinolentas desordens pretendendo com estas
obstinadamente usurpar pelo direito da força o que por justiça lhe não deve pertencer»: Joaquim José de
Almeida e Raymundo Valeriano para o rei, Viana do Minho, 14-9-1807, MNE, LH, cx. 2 (n.º 1119),
fls. 70r-75r, no fl. 70r.
[610] Os espanhóis, todavia, afirmaram que o padre lhes pedira que mostrassem caridade para com os
vizinhos portugueses, partilhando com eles a terra: Rascunho de uma resposta para o embaixador
português, 5-11-1791, com a investigação judicial realizada em Trasportela em 23-9-1791, AMAE/M,
Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; e Juan Antonio Bringas para Pedro Martín Cermeño e «El
caballero Carvallio e Sampayo» para o conde de Aranda, 22-3- -1792, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2; «Extracto del expediente» e «Al señor conde del Campo de Alange»,
Aranjuez, 10-4-1804, «Según minutas del 16,17 y 18 de Julio 1804», manuscrito anónimo, sem data, e
conde del Campo de Alange para Pedro Cevallos, Lisboa, 21-4-1804, AMAE/M, Tr 132/001
(1754/1807), n.º 0207/1.
[611] Luís Pinto de Souza para Joseph Pedro da Câmara, Viana, 30-4-1789, e «Memoria do
embaixador do Portugal sobre as desordens ultimamente cometidas pelos vassalos de s. m. católica nos
domínios del s. m. fidelíssima», Madrid,
[612] -6-1789, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2, resposta real para o embaixador, Madrid,
14-7-1789, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; e Pedro Martín Cermeño para o conde de
Floridablanca, Corunha, 21-7-1789, 12-8-1789, e 6-10-1789, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º
0207/2. Ver também a queixa do governador do castelo de Lindoso, datada de 7-2-1791, e Diogo de
Carvalho e Sampayo para o conde de Floridablanca, Aranjuez, 21-5- -1790, AMAE/M, Tr 132/002
(1720/1792), n.º 0207/2.
[613] Ventura Caro, Orense, 18-4-1791, conde de Floridablanca para o embaixador português, San
Lorenzo, 20-10-1791, Juan Antonio Bringas para Pedro Martín Cermeño, e «El caballero Carvallio e
Sampayo» para o conde de Aranda», 22-3-1792, todos em AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º
0207/2.
[614] «Extracto del expediente», «Al señor conde del Campo de Alange», Aranjuez, 10-4-1804,
«Según minutas del 16,17 y 18 de Julio 1804», manuscrito anónimo sem data, e o conde del Campo de
Alange para Pedro Cevallos, Lisboa, 21-4-1804, AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1. Ver
também processos em Villar, 15-7-1802, em anexo à carta de Julián de Araujo para Pedro Cevallos, El
Ríos, 21-8-1802, AMAE/M, Tr 133/004, n.º 0207.
[615] «Certificación dada por el escribano de cámara Manuel de Carranza», mencionada num
«extracto» incluído em AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1.
[616] «Al señor conde del Campo de Alange», Aranjuez, 10-4-1804, AMAE/M, Tr 132/001
(1754/1807), n.º 0207/1.
[617] Pedro Cevallos para o conde de Campo de Alange, 6-11-1806, e Tomás de Rifa para Pedro
Cevallos, Verim, 16-10-1806, «Copia traducida del português» da carta de Raymundo Valeriano da
Costa Correa para Tomás de Rifa, Cuartel de Lindozo, 27-6-1806, Tomás de Rifa para Pedro Cevallos,
Orense, 15-7-1807, «Extracto del expediente», «Conforme la resolución puesta en la anterior se pasa
oficio en 9-4 al embajador de Portugal», e rascunho de uma carta datada de Palacio, 20-7-1806,
AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1. Ver também Raymundo Valeriano da Costa para
Antonio de Araujo Azevedo, sem data (1806), MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 340r-341r; Tomás Rifa e
Manuel de Otermin, «Reflexiones... después de haber examinado en concurrencia de los señores
comisionados... por s. m. fidelísima don Raymundo Valeriano de Costa Correa y don Joaquim Josef de
Almeida los puntos por dónde éstos pretenden avanzar la línea divisória», Compostela, 27-6-1807,
MNE, LH, cx. 2 (n.º 1119), fls. 65r-69r; e Joaquim Jose de Almeida e Raymundo Valeriano para o rei,
Viana do Minho, 14-9-1807, MNE, LH, cx. 2 (n.º 1119), fls. 70r-75r, n.º fl. 70r. O tombo de 1538 foi
reproduzido em MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 327 e 333r-337r.
[618] «El juiz ordinário João Domingues Duoro al senhor doutor corregedor da comarca de Viana»,
Lindoso, 25-8-1821, MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 319r-320v; e memorando anónimo, sem data, em
português, MNE, LH, cx. 6 (n.º 1123), fls. 77r-80v.
[619]
«Desde muy antiguo han engendrado y mantienen cada día más vivos y tenaces los
sentimientos de odiosa rivalidad y de discordia que animan recíprocamente a los vecinos de Lindoso y
a los de esta parte del Cabril, con notable perjuicio de sus intereses bien entendido, afrenta de la
civilización europea, aflicción de españoles y portugueses honrados y manifiesto descrédito de la
suprema autoridad de ambos gobiernos»: «Copia de proyecto de memoria sometido a la superior
aprobación del secretario de estado y del despacho», reproduzido em Barreiros, «Delimitação da
fronteira» (1964a), 144. Ver também Barreiros, «Delimitação da fronteira luso-espanhola». O Distrito
de Braga. Boletim Cultural de Etnografia e História, III (3), Fascics. I-II (1964): 1-97, 43 e 45-68 (a
partir daqui Barreiros, «Delimitação da fronteira» [1964b]).
[620]
Instruções para Raimundo Valeriano da Costa Correa e Joaquim José de Almeida, os
comissários portugueses, Lisboa, 9-9-1806, Barreiros, «Delimitação da fronteira» (1964b), doc. 70, 42,
que defendia que a demarcação tinha de ser «a mais justa que for possível, e mais natural, e
conveniente».
[621]
«Tratado de límites desde la desembocadura del Miño…1864», in Treaties Series, vol. 1288, II-
906, nas 243-261, art. 4 nas 245-246.
[622] Pedro Martín Cermeño para o conde de Floridablanca, Corunha, 10-3-1789, e a informação
judicial em anexo perante o juiz ordinário de Trasportela, 18-1- -1789, ambos em AMAE/M, Tr
132/002 (1720/1792), n.º 0207/2.
[623] Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, «A fronteira difusa entre Trás-os-Montes e a Galiza ou
as povoações místicas de Santiago, Rubiães e Meãos», Brigantia, Revista de Cultura, 17(3/4) (1997):
3-13, 11, nota 42; e Cornide, Descripción circunstanciada..., 150.
[624] «Extracto del expediente», «Al señor conde del Campo de Alange», Aranjuez, 10-4-1804,
«Según minutas del 16,17 y 18 de Julio 1804... Excmo. Señor», manuscrito anónimo, sem data, e o
conde del Campo de Alange para Pedro Cevallos, Lisboa, 21-4-1804, AMAE/M, Tr 132/001
(1754/1807), n.º 0207/1.
[625] Herzog, Defining Nations...
[626]
Carta de Joseph Bernardino Romero Figueroa para o conde de Floridablanca, El Ríos, 15-1-1789,
AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; cartas de Julián de Araujo para Pedro Cevallos, El
Ríos, 21-8-1802 e 11-11-1803, AMAE/M, Tr 133/004, n.º 0207, e Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1;
carta de Julián Araujo para Pedro Cevallos, El Ríos, 4-1-1804, AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º
0207/1; e carta de Galcevan Villalba para Pedro Cevallos, Corunha, 22-11-1802, AMAE/M, Tr
133/004, n.º 0207.
[627] Ventura Caro para o conde de Floridablanca, Corunha, 21-1-1792, e a investigação levada a
cabo em 12-10-1791, em anexo, AMAE/M, Tr 133/003, n.º 0207.
[628] Carta de Diego, bispo de Cartagena para o marquês de Ensenada, 1-4-1753, e petição sem
assinatura e sem data dos cidadãos de Tejera, AMAE/M, Tr 132/001 (1754/1807), n.º 0207/1; Antonio
Arada para o cardeal de Molina, Puebla, 21-11- -1743, cardeal de Molina para o marquês de Villarias,
Madrid, 8-12-1743, decisão real, comunicada pelo marquês de Lara para o marquês de Villarias,
Madrid, 29-4- -1745, a resposta do ministro dos Negócios Estrangeiros português, sem data e sem
assinatura (original e tradução em espanhol), cartas do marquês de la Candia para o marquês de
Villarias datadas de Lisboa, 8-6-1745 e 17-8-1745, ordem real para o marquês de la Candia, San
Idelfonso, 16-9-1745, e uma nota datada de 8-9-1745, assinada pelo marquês de Lara, em «Año de
1742 hasta 1746-Portugal límites. Correspondencia con el marquês de la Candia sobre límites y pastos
del lugar de la Tejera, jurisdicción de la Puebla de Sanabria, reino de Castilla con los vecinos de
Soutelo del reino de Portugal», AMAE/M, Tr 133/004, n.º 0207; carta do marquês de Ouvizal, San
Idelfonso, 28-8-1784, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; carta de Joseph António do
Valle para Manuel Jorge Gómez de Sepúlveda, Bragança, 31-7-1784, representação sem data das partes
interessadas ao governador, e a informação judicial que se seguiu (Bragança, 30-7-1784), AMAE/M, Tr
132/002, n.º 0207.
[629]
Carta de Felipe Jorge Montexino para Francisco António Real, Tejera, 16-1-1757, em «Año de
1742 hasta 1746-Portugal límites. Correspondencia con el marqués de la Candia sobre límites y pastos
del lugar de la Tejera, jurisdicción de la Puebla de Sanabria, reino de Castilla con los vecinos de
Soutelo del reino de Portugal», AMAE/M, Tr 133/004, n.º 0207.
[630] O embaixador espanhol em Lisboa relatou estes rumores que circulavam na corte portuguesa:
Joseph Caamaño para o conde de Floridablanca, Lisboa, 3-4-1791, AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792),
n.º 0207/2.
[631] «Auto que el rei mandara fazer pelo ouvidor da Galiza e o corregedor da comarca de Beira
respeito dos limites entre Portugal e Galiza, 16-3-1540», ANTT, Gavetas, XIV, 5-12. Ver também Luis
Manuel García Maña, La frontera hispano-lusa en la provincia de Ourense (Ourense: Boletín
Avriense, 1988), 42; e Isabel Vaz de Freitas Cardoso, «Viver e conviver em terras raianas na Idade
Média», Revista da Faculdade de Letras. História, série ii, 15(10) (1998): 476-482.
[632]
«Vivem misturados galegos e portugueses, hunos metidos por outros e
não acerta divisam entre hunos nem outros, soamente uma casa de Portugal
jaz metida entre as de Galiza e as de Galiza entre as de Portugal»: citado em Braga, «A fronteira
difusa...», 8; e em Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Um Espaço , Duas Monarquias: Inter-
relações na Península Ibérica no Tempo de Carlos V (Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2001),
113-114. Ver também João Gonçalves da Costa, Montalegre e Terras de Barroso: Notas Históricas
sobre Montalegre e Freguesias do Concelho e Região de Barroso (Montalegre: Câmara Municipal de
Montalegre, 1987), 134-143.
[633]
AHN, Estado leg. 1785-26, inclui muitas referências a estes episódios.

[634] «El consejo de estado con carta del marquês de Capecelatro... en orden a que se le restituya el
Castillo de Piconcha y tres lugares que les pertenecen en los confines de Galicia», Madrid, 3-8-1717,
AHN, Estado leg. 1773. Ver também rascunho de uma decisão datada de 19-8-1717, «El consejo de
estado con oficio del embajador de Portugal instando en la restitución del Castillo de Piconcha con tres
lugares que nombra y supone pertenecen a aquel reino», Madrid, 19-8- -1717, e a cópia datada de 15-6-
1716 de uma concordata de 1538 [1518] relativa aos três lugares, todos em AHN, Estado leg. 1785,
Exp. 26.
[635] AHCB, FDE, N.N.G. 1312, Ms. 1504, fls. 166r-171v.
[636] «Auto de reconhecimento da serventia do ofício d’escrivão das honras do termo de Montalegre
em que entram os três lugares mistos Santiago, Rubiães, e Meãos de como pertencia a sereníssima Casa
e Estado de Bragança», 5-8-1730, MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 639r-641v.
[637] «Auto de posse do couto misto dos lugares de Santiago de Rubiães, Rubiães, e Meãos que en 4-
6-1756 tomou o desembargador Antonio Paes Teixeira Cabral ouvidor da comarca da cidade de
Bragança em nome da sereníssima senhora dona Maria Princesa do Brasil e duquesa de Bragança»,
MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 642r-643r; e tomada de posse do castelo de Piconha por Miguel Pereyra
de Barros, 6-10-1788, AHCB, FDE, N.N.G. 1312, Mss. 1504, fl. 3r.
[638] Catastro de Ensenada, San Juan de Randin, 1753, AGS, CE, RG, L217, 075, fls. 73r-86r, 74r.
[639] «Tem a liberdade de se constituírem espanhóis ou portugueses, bebendo um copo de vinho a
saúde do Monarca de quem querem ser vassalos, e depois com esta mesma cerimonia vão erigir dois
lares na casa que andem habitar para assim escaparem aos procedimentos, que de qualquer dos reinos
se quisera ter contra eles, fugindo ora para este ora pra aquele lar oposto as justiças que os buscam»:
Diogo Inácio de Pina Manique a Aires de Sá, Lisboa, 27-3-1786, reproduzido em J. R. dos Santos
Júnior, «Povoações mistas da raia trasmontano-galaica e inquérito que ás mesmas fez em 1786 o
corregedor e provedor da comarca do Porto Francisco de Almada e Mendonça», in Quarto Congresso
Celebrado na Cidade do Porto de 18 a 24 de Junho de 1942 (Porto: Imprensa Portuguesa, 1943), vol.
8, 404-425, na 406. Ver também conde de Floridablanca para o conde de Fernan Nuñes, San Lorenzo,
15-11-1785, reproduzido em ibidem, nas 409-410.
[640]
Joseph Caamaño para o conde de Floridablanca, Lisboa, 3-4-1791,
AMAE/M, Tr 132/002 (1720/1792), n.º 0207/2; Diogo Inácio de Pina
Manique para Aires de Sá, Lisboa, 27-3-1786, o certificado de Manoel Jose
Gomes Pereyra, Santiago de Rubiães, 24-12-1785, e conde de Floridablanca
para o conde de Fernan Nuñes, San Lorenzo, 15-11-1785, todos reproduzidos
em Dos Santos Júnior, «Povoações mistas», 405-410. O termo «rebeldes» foi
mencionado no relatório de Francisco de Almada e Mendonça, Porto, 7-1-
1786, na p. 412. Ver também Barreiros, «Delimitação da fronteira» (1964a),
124 e 139.
[641]
«Demarcação feita em 17-7-1538 da vila de Montalegre, dos castelos de Portello e de Piconha e
das aldeãs anexas que são Santiago de Rubiães, Rubiães, Meãos, e Tourein que partem com a Galiza»,
MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), fls. 626r-632v.
[642]
José Maria Amado Mendes, Trás-os-Montes nos Fins do Século XVIII Segundo um
Manuscrito de 1796 (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995), 403-404.
[643]
Certificado de Julián de Castro y Rodríguez, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 125r-129r,
principalmente n.ºfl. 128r.
[644]
Sobre desenvolvimentos semelhantes em relação a estrangeiros, ver Herzog, Defining Nations...,
82-91.
[645]
Declaração de testemunhas reproduzidas em Barreiros, «Delimitação da fronteira» (1964a),
123; e opinião de José María Ozorio Cabral, datada de 2-10-1859, a petição de 20-12-1857 dos
residentes das três aldeias, e despachos de 31-12-1825, 6-6-1826, e13-5-1826, todos em MNE, LH, cx.
1 (n.º 1118), documentos 10, 11, 5, 6, e 7.
[646] Memorando anónimo, sem data, em português, MNE, LH, cx. 6 (n.º 1123), fls. 77r-80v; e

memorando elaborado por Luiz Augusto Pinto de Soveral, Madrid, 12-3-1858, MNE, LH, cx. 3 (n.º
1120), fls. 104r-105r, nos fls. 104v-105r.
[647] «Tratato de límites desde la desembocadura del Miño... 1864», in Treaties Series, vol. 1288, II-
906, nas 243- 261, arts. 7, 8, 11, e 27 nas 246-247 e 251.
[648] No século xix, as três comunidades partilhavam um arquivo de que cada uma tinha uma chave, e
eram necessárias as três chaves para o abrir. «Abriéndose han reconocido un montón de papeles y
legajos de más o menos folios en idioma español y português» essencialmente respeitantes a
desacordos entre o conde de Monterrey e o duque de Bragança: certificado de Julián de Castro y
Rodríguez, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 125r-129r, principalmente no fl. 128r; relatório elaborado
por Luiz Augusto Pinto de Soveral, Madrid, 12-3-1858, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 104r-105r; e
representação pela junta e concelheiros da paróquia de São Martinho de Pedroso, distrito de Vila Real,
concelho de Montalegre, em 10-6-1857, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 115r-117r.
[649] Os historiadores actuais afirmam que o processo poderá ter acontecido ao contrário: as três
comunidades que já se encontravam sob a Casa de Bragança poderão ter apelado ao conde de
Monterrey de modo a libertarem-se desta sujeição: García Maña, La frontera hispano-lusa..., 34-39.
[650]
«A sombra de antigos direitos feudais sem obedecer a lei de espécie alguma; ora são
portugueses ora espanhóis, segundo as circunstâncias ou origem; outras vezes não são nem uma nem
outra cousa»: relatório elaborado por Luiz Augusto Pinto de Soveral, Madrid, 12-3-1858, MNE, LH,
cx. 3 (n.º 1120), fls. 104r-105r, nos fls. 104r-v.
[651]
Abelardo Levaggi, «La propiedad medieval ante la codificación moderna», Iacobus. Revista
de estudios jacobeos y medievales, 13-4 (2002): 447-466, 452; e Kathleen Davis, Periodization and
Sovereignty: How Ideas of Feudalism and Secularization Govern the Politics of Time (Filadélfia:
University of Pennsylvania Press, 2008), 23-47.
[652] MNE, LH, cx. 1 (n.º 1118), doc. n.º 10, assinado por vinte e dois residentes de Rubiás, dez de
Santiago, e vinte e cinco de Meaus.
[653] «Os moradores das três povoações de Santiago, Rubiães e Meãos que formam o antiquíssimo
couto denominado misto», Couto Mixto, 2-7-1862, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 88r-v.
[654]
Representação pela junta e concelheiros da paróquia de São Martinho de Pedroso, 10-6-1857,
MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 115r-117r. Ver também «António Joaquim Gonçalves Pereira,
administrador do concelho pede certificado sobre los autos de força nova da junta da paroquia de
freguesia de São Martinho de Padrozo, Couto Mixto», 8-4-1859, MNE, LH, cx. 3 (n.º 1120), fls. 118r-
122v.
[655] Braga, «A fronteira difusa...», 11, nota 42; e Cornide, Descripción circunstanciada, 150.
[656] Os «pueblos promíscuos» foram estudados em García Maña, La frontera hispano-lusa..., 110-
115.
[657]
Memorando anónimo, sem data, em português, MNE, LH, cx. 6 (n.º 1123), fls. 77r-80v; e um
memorando elaborado por Luiz Augusto Pinto de Soveral, Madrid, 12-3-1858, MNE, LH, cx. 3 (n.º
1120), fls. 104r-105r, nos fls. 104v-105r. Ver também Melón Jiménez, Los tentáculos de la hidra...,
119.
[658] Barreiros, «Delimitação da fronteira», (1946a), 122; Jorge Dias, Rio de Onor: Comunitarismo
Agro-Pastoril (Porto: Instituto de Alta Cultura, 1953), 43-78; e Joaquim Pais de Brito, Retrato de
Aldeia com Espelho (Lisboa: Dom Quixote, 1996), 27-39.
[659] José Luís Martín Martín, «Conflictos luso-castellanos», 265, citando ANTT, Leitura Nova,
Paces, fls. lxii-lxiiii.
[660] «Estes aldeões, são mui pouco civilizados, e vivem de um modo excepcional deixando de

satisfazer a alguns deveres para com a sua nação, como por exemplo, não concorrer para o serviço
militar... nas contribuições directas, não seguiam pelo rol que dá a autoridade, mas por arbítrios entre
eles, apontando a soma exigida»: citado em Brito, Retrato de Aldeia..., 34. O resto das citações está na
página 36.
[661] A resposta do ministro dos Negócios Estrangeiros português, sem data e sem assinatura
(original e sua tradução em espanhol), em «Año de 1742 hasta 1746-Portugal límites. Correspondencia
con el marquês de la Candia sobre límites y pastos del lugar de la Tejera, jurisdicción de la Puebla de
Sanabria, reino de Castilla con los vecinos de Soutelo del reino de Portugal», AMAE/M, Tr 133/004,
n.º 0207.
[662]
Adriano Vasco Rodrigues, «Relações históricas entre Guarda e Salamanca», Revista Altitude,
ano iii, 2 série, n.os 7-8 (1982-1983): 5-13; Julieta Araújo, «Relações de fronteira na Idade Média: a
transumância», Revista da Faculdade de Letras. História, série ii, 15(10) (1998): 230-240; Rui Cunha
Martins, «O jogo de escalas hispano-português», in Identidad y representación de la frontera en la
España medieval (siglos xi-xiv), orgs. Carlos de Ayala Martínez, Pascal Buresi e Philippe Josserand
(Madrid: Casa de Velázquez-Universidad Autónoma de Madrid, 2001), 75-87; Rui Rosado Vieira,
Centros Urbanos no Alentejo Fronteiriço: Campo Maior, Elvas e Olivença (de inícios do século xvi a
meados do século xvii) (Lisboa: Livros Horizonte, 1999), 46; e Braga, Um Espaço, Duas Monarquias...
[663]
As suas declarações datam de 1803 em «Auto das demarcações de Villanho e Teixeira que por
inquirições de Portugal e Castela se determinarão», 24-4-1500, AHM/DIV/4/1/10/10, fl. 3.
[664]
«Y tener estos repúblicos en la raya los que se casan y avecindan solo con el cuerpo que el corazón
los tienen siempre en la pátria»: carta de Salvador Martínez de Castro, Tabagón 15-11-169,1 em «El
consejo de estado con una memoria del enviado de Portugal sobre que las justicias de Tui ejercen
jurisdicción en una isleta del reino de Galicia que pertenece a la corona de Portugal», Madrid 17-7-
1691, AHN, Estado leg. 1771, Exp. 2.
[665]
García Maña, La frontera hispano-lusa..., 12; Fonseca, «Fronteiras territoriais...»; Testón Núñez,
C. Sánchez Rubio e R. Sánchez Rubio, Planos, guerra y frontera..., 8; e Cosme, «A solidariedade...»,
97. José Luis Martín Martín, «Conflictos luso-castellanos...», 273, defende, pelo contrário, que a
fronteira tinha múltiplas facetas: por vezes era definida, outras era confusa, mas era sempre instável. Os
poderes políticos tentavam controlá-la, mas os grupos humanos que habitavam estas regiões e os seus
interesses na protecção de direitos de pastagem ou agrícolas eram normalmente a razão que explicava
os confrontos.
[666] Francisco Xavier Lardizabal para Luis da Cunha Manuel, 23-8-1760, AHM/ DIV/1/06/17/36.
[667] Braga, Um Espaço, Duas Monarquias..., 106-114 e 372-375.
[668] Antonio Gaber, «Relación en que distintamente y por partes se explican los puertos que sirven
de demarcación y línea que divide los reynos de España y Portugal en la Provincia de Andalucía», in
«Varios reconocimientos practicados en diversos tiempos en la frontera de Portugal, 1750», AGMM 5-
3-4-4; Manuel del Olmo, «Memoria sobre las diferentes calidades de tierra que hay en Extremadura
revista examinada y después acordada por la clase de agricultura», Badajoz, 16-4- -1776, ARSEMAP,
leg. 8, n.º 12; e «Plan de campaña contra Portugal (1767)», «Memoria militar sobre Portugal», e
«Informe del brigadier Cermeño Pedro, director de ingenieros al conde de Aranda», 13-7-1768, AHN,
Estado leg. 4389.
[669] «Ningún convenio celebrado por los gobiernos respectivos ha señalado antes de ahora la línea
de separación de los dos territorios; la cual se halla entretanto determinada tan solo por los
amojonamientos privados de los pueblos que sirven a la vez de deslinde de la propiedad particular de
cada uno y de indicación del alcance de la jurisdicción soberana de las dos naciones»: «Instruções
dadas aos comissários de sua majestade católica encarregados da demarcação da fronteira entre
Espanha e Portugal», Madrid, 18-11-1854, reproduzido em Luiz Teixeira de Sampayo, org.,
Compilação de Elementos para o Estudo da Questão de Olivença: Perda desta Praça e Diligências
para a Reaver (Lisboa: Associação dos Amigos do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, 2001), 231-234, na 231.
[670] As actuais relações e possível integração de Tui com Valença foram analisadas em Filipe Lima,
«As dinâmicas territoriais no espaço de fronteira na fachada atlântica peninsular: a eurocidade
Valença/Tuy», Cuadernos: Curso de Doutoramento en Geografia, 4 (2012): 75-86.
[671] «Valença será espanhola até que as urgências voltem a abrir», «Bandeiras espanholas en
Valença contra fecho do SAP», e comentários dos leitores, jornal Público, 6 e 7 Abril 2010.
[672] «Banderas españolas para protestar por los recortes sanitarios en Portugal», «Manifestación
«española» en la localidad portuguesa de Valença», «Para esto, más nos valdría ser gallegos»,
«Estamos dispuestos a ir a Lisboa con las Banderas», «Cinco pueblos de Portugal piden usar un
hospital de Vigo», «Donde se funda la raya», e «Bandeiras espanholas», e comentários dos leitores,
jornal El País, 5, 7, 8, e 9 Abril 2010.
[673] Herzog, Defining Nations...
[674] Luc Boltanski e Laurent Thévenot, On Justification: Economies of Worth, trad. Catherine
Porter (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2006 [1987]). Ver também François Eymard-
Duvernay, Olivier Favereau, André Orléan, Robert Salais e Laurent Thévenot, «Pluralist integration in
the economic and social sciences: The economy of conventions», Post-Autistic Economic Review,
34(30) (2005): artigo 2.
[675] Herzog, Defining Nations..., 166-169; e Bartolomé Clavero, «Lex Regni Vicinioris: Indicio de
España en Portugal», Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, 58(1) (1983): 239-298.
[676] Andrade, A Construção..., 98.
[677] «Tombo dos proprios e direitos do concelho desta villa de Serpa feito por mandado de sua
magestade pello licenceado Bartolomeu Castel Branco», 1625, AHMS, A/1E-0, fls-196r-197r.
[678] O texto é: «Um tombo é uma descrição de bens, e direitos; daqueles se declara a medida e
confrontação, destes a natureza e origem. Um tombo pois não é mais que uma lembrança do que se fez,
com o fim de ficar constando autenticamente para o futuro; e em consequência tudo quanto ali se acha
escrito, não merece maior crédito depois disso, do que tinha antes de lá se escrever. Se um auto por
tanto foi mal feito, uma medição errada, uma declaração contra a verdade; auto, mediação e declaração
ficam sempre e eternamente mal feitos, errados e mentirosos, como eram antes de se lançarem no
tombo.» Thomaz, Observações..., 143. Ver também 124-135; João Pedro Ribeiro, Observações
Históricas e Criticas para Servirem de Memorias ao Systema da Diplomática Portugueza (Lisboa:
Typografia da Academia das Ciências de Lisboa, 1798), 56; Sousa, Tractado Pratico..., vol. 2, n.os 1214
e 1217, 275-276; e Alberto Carlos de Menezes, Pratica dos Tombos, e Medições, Marcações dos Bens
da Coroa, Fazenda Real, Bens das Ordens Militares ou Comendas (Lisboa: Imp. Régia, 1819).
[679] Victor Prescott e Gillian D. Triggs, International Frontiers and Boundaries: Law, Politics, and
Geography (Leiden e Boston: Martinus Nijhoff, 2008), 7.
[680] Antonio Sáez-Arace, «Constructing Iberia: National traditions and the problems of a peninsular
history», European Review of History, 10(2) (2003):
[681] -202.
[682] Sidaway, «Signifying boundaries...», 144-145; e Xosé-Manoel Múñez, «The Iberian Peninsula:
Real and imagined overlaps», in Disputed Territories and Shared Pasts: Overlapping National
Histories in Modern Europe, orgs. Tibor Frank e Frank Hadler (Basingstoke: Palgrave, 2010), 329-348.
[683] Já em 1767 alguns espanhóis se queixavam da crença espanhola de que Portugal nunca pudera

resistir à sua hegemonia: «Memoria militar sobre Portugal» (1767), AHN, Estado leg. 4389.
[684] Víctor Martínez-Gil, El naixement de l’iberisme catalanista (Barcelona: Curial, 1997).
[685]
Vitorino Magalhães Godinho, «1580 e a Restauração», in Ensaios sobre a História de
Portugal, vol. ii (Lisboa: Livraria Sá Costa Editora, 1968), 255-291.
[686] Uma excepção notável é Marcocci, A Consciência de um Império.
[687] B. Clavero, «Lex Regni Vicinioris».
[688]
«Informação do Conselho Ultramarino sobre os serviços prestados por D. Francisco Rodrigues
Salvaterra, castelhano de nação, no período de 1649 a 1660», Lisboa, pós-1660, AHU_ACL_CU_015,
cx. 7, d. 622; e «Requerimento de um castelhano que servia desde 1619 nas armadas na guerra de
Pernambuco», Pernambuco, 18-9-1650, AHM/DIV/2/1/1/3.
[689] Manuel de Melo Godinho Manso para o rei, São Paulo, 29-8-1724, AHU_ACL_CU_023-01, cx.
4, d. 419; Manoel Rodrigues Torres para o rei, Cuiabá, -8-1740, AHU_ACL_CU_101, cx. 2, d. 136;
Manoel Rodrigues Torres para Luíz Mascarenhas, Cuiabá, 20-8-1740, AHU, MT, cx. 2, d. 136; Carlos
Morphi para Julián Arriaga, Assunção do Paraguai 22-9-1770, AGI, Buenos Aires, 539, citado em
Carvalho, «Lealdades negociadas...», 530; e Juan de Escandón, citado em Quarleri, Rebelión y
guerra..., 192, nota 33.
[690]
[691]
Osório, O Império Português..., 65; David Graham Sweet, «A rich realm of nature destroyed:
The Middle Amazon Valley, 1640-1750» (tese de doutoramento, University of Wisconsin, 1974), vol.
1, 301-313; e Arthur Cezar Ferreira Reis, «Estrangeiros na Amazónia no período colonial», Ocidente.
Revista Portuguesa, 64(299) (1963): 185-190.
[692] Fernando Costas Castillo, «Informe sobre el estado del comercio de España y Portugal... a los
directores generales de rentas del reino», Badajoz, 9-4-1769, Biblioteca Municipal de Olivença,
manuscrito, fls. 26r- 38r.
[693] «Se han visto infinitos ejemplares de dispensas de dicho tiempo por especial gracia de los reyes
de España en donde se entiende genéricamente por españoles los portugueses, como pátrios de una
misma península, religión y costumbres y que para este merecimiento y consentimiento son entre todos
reputados y tenidos por de una misma nación sin diferencia alguna, a respecto de la que ha para con las
demás naciones en las cuales esté asentada y practicada la gran diferencia de extranjeras absolutamente
diversas.» «Razón... que puede ofrecer sobre concesiones de naturaleza de estos reinos», sem data,
anónimo, AGS, GJ 873. Em 1797, Rafael Antúnez y Acevedo sugeriu que os portugueses eram
«verdaderamente españoles»: Rafael Antúnez y Acevedo, Memorias históricas sobre la legislación y
gobierno del comercio de los españoles con sus colonias en las Indias Occidentales (Madrid: De
Sancha, 1797), 270-272.
[694] Ana Cristina Nogueira da Silva e António Manuel Hespana, «A identidade portuguesa», in José
Mattoso, org., História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993), vol. 4, 19-37. Ver também
Cardim, Portugal Unido y separado...
[695] Karen Ordahl Kupperman, Indians and English: Facing off in Early America (Ithaca: Cornell
University Press, 2000), defende a necessidade de os historiadores da América colonial estarem mais
atentos aos desenvolvimentos relacionados com as questões sociais e culturais na historiografia inglesa.
Acerca da tendência para considerar as mudanças entre os índios, mas ignorar as ocorridas entre
europeus, ver, por exemplo, Gregory H. Nobles, American Frontiers: Cultural Encounters and
Continental Conquest (Nova Iorque: Hill e Wang, 1997), 19-56.
[696] David Armitage, «Three concepts of atlantic history», in The British Atlantic World, 1500-
1800, orgs. David Armitage e Michael J. Braddick (Basingstock: Palgrave, 2002), 11-27.
[697] Gurminder K. Bhambra, «Historical sociology, international relations and connected histories»,
Cambridge Review of International Affairs, 23(1) (2010): 127-143; e Sanjay Subrahamanyam, Mugals
and Franks: Explorations in Connected History (Nova Deli: Oxford University Press, 2011).
[698] Pedro Cardim, Tamar Herzog, José Javier Ruiz Ibáñez e Gaetano Sabatini, orgs., Polycentric
Monarchies: How Did Early Modern Spain and Portugal Achieve and Maintain a Global Hegemony?
(Brighton: Sussex Academic Press, 2012).
[699] John H. Elliott, History in the Making (New Haven, CT: Yale University Press, 2012), 175-183.
[700]
O governador e capitão-geral da Galiza em 7-4-1681, reproduzido por Antonio Eiras Roel,
org., Actas de las juntas del reino de Galicia (Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 1994), vol.
10, documento 108-D; e relatório sem data nem assinatura em AHN, Estado leg. 4389, n.º 5.
Preocupações semelhantes vinham expressas na carta de Pedro Cermeño para o conde de Aranda, 13-7-
1768, AHN, Estado leg. 4389, n.º 6.
[701]
O Artigo 5 do Tratado de 1715 determinava: «Las plazas, castillos, ciudades, lugares, territorios y
campos pertenecientes a las dos coronas, así en Europa como en cualquiera parte del mundo se
restituirán enteramente y sin reserva alguna; de suerte que los límites y confines de las dos monarquías
quedarán en el mismo estado que tenían antes de la presente guerra. Y particularmente se volverán a la
corona de España las plazas de Alburquerque y la Puebla con sus territorios en el estado en que se
hallan al presente, sin que su majestad portuguesa pueda pedir cosa alguna a la corona de España por
las nuevas fortifi caciones que ha hecho aumentar en dichas plazas; y a la corona de Portugal el castillo
de Noudar con su territorio, la isla de Verdejo y el territorio y Colonia de Sacramento.» Cantillo,
Tratados..., 165-166.
[702]
«Ofício dos plenipotenciários Portugueses em Viena, dirigido ao marquês de Aguiar», Viena, 24-
11-1814, «Nota de Pedro Cevallos, secretário de estado espanhol para o marquês de Aguiar», Madrid,
28-11-1814, e «Ofício de José Luís de Sousa ao marquês de Aguiar», Madrid, 14-12-1814, todos
reproduzidos em Sampayo, Compilação de Elementos..., 57-60, 63-67, e 93-97.
[703]
António Manuel Hespanha, «Antigo Regime nos trópicos?: Um debate sobre o modelo político do
Império colonial português», in Na Trama das Redes, orgs. João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa
(Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010), 43-94.
[704] Jorge Cañizares-Esguerra, Puritans Conquistadors: Iberianizing the Atlantic, 1550-1700
(Stanford: Stanford University Press, 2006); e Gould, «Entangled histories...». Ver também Lauren
Benton, Law and Colonial Cultures: Legal Regimes in World History, 1400- 1900 (Cambridge:
Cambridge University Press, 2002).
[705]
Elliott, History in the Making..., 205-207.
[706] Nicholas P. Canny, «The origins of empire: An introduction», in The Origins of Empire..., 1-
33, 24-25; Linda Colley, Britons: Forging the Nation, 1707- 1837 (New Haven, CT: Yale University
Press, 2005 [1992]), 132-133; Mark L. Thompson, «‘The predicament of Ubi’. Locating authority and
national identity in the seventeenth-century english atlantic», in The Creation of the British Atlantic
World, orgs. Elizabeth Mancke e Carole Shammas (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005),
71-92, 87; J. M. Rodríguez-Salgado, «Christians, Civilised and Spanish: Multiple identities in
sixteenth-century Spain», Transactions of the Royal Historical Society, 8 (1998): 233-251, 239-240 e
244; Henry Kamen, Empire: How Spain Became a World Power, 1492-1763 (Nova Iorque: Harper
Collins, 2003), 331-333; e Irene Silverblatt, Modern Inquisitions: Peru and the Colonial Origins of the
Civilized World (Durham, NC: Duke University Press, 2004), 19-20. Ver também Edward W. Said,
Culture and Imperialism (Nova Iorque: Vintage Books, 1994), 35 e 42.
[707] Herbert E. Bolton, «The epic of greater America», American Historical Review, 38(3) (1933):

448-474. Embora seja muitas vezes interpretado como um apelo à escrita de uma história comparativa
das Américas, este artigo, que reproduz a comunicação que Bolton, então presidente da American
Historical Association, apresentou aos seus membros, defende o estudo de uma América não definida
pelas suas unidades nacionais. A crítica a esta perspectiva encontra-se em Lewis Hanke, org., Do the
Americas Have a Common History?: A Critique of the Bolton Theory (Nova Iorque: Alfred A. Knopf,
1964).
[708] Bernard Bailyn e Philip D. Morgan, Strangers within the Realm: Cultural Margins of the First
British Empire (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1991).
[709] Colin Steele, English Interpreters of the Iberian New World from Purchas to Stevens (1603-
1726) (Oxford: Dolphin Book, 1975); e Fitzmaurice, Sovereignty...
[710] Patricia Seed, American Pentimento: The Invention of Indians and the Pursuit of Riches
(Minneapolis: University of Minnesota Press, 2001). James Lang, Conquest and Commerce: Spain and
England in the Americas (Nova Iorque: Academic Press, 1975), sublinha as diferenças entre um
império espanhol baseado na conquista e um inglês baseado no comércio. Robert A. Williams, The
American Indian in Western Legal Thought: The Discourses of Conquest (Oxford: Oxford University
Press, 1990), distingue um discurso espanhol católico acerca do império de um discurso protestante.
Mais recentemente, Christopher Tomlins defende que a Inglaterra desenvolveu um discurso particular
que, contrariamente a outros países europeus, cada vez deu mais atenção «à posse de território com a
exclusão dos seus habitantes» e assim «transformou a terra, em detrimento do povo, no principal
objecto da atenção do colonizador»: Tomlins, Freedom Bound..., 132-133. Na sua opinião, ocorreu uma
passagem das discussões paneuropeias (no século xvi) para um particularismo inglês (no século xvii).
[711]
John H. Elliott, Empires of the Atlantic World: Britain and Spain in America, 1492-1830
(New Haven, CT: Yale University Press, 2006).
[712]
38 Ken MacMillan, Sovereignty and Possession in the English New World: The Legal
Foundation of Empire, 1576-1640 (Cambridge: Cambridge University Press, 2006), 4-14. Ver também
Elliott, Empires of the Atlantic World..., 185.
[713] Locke, Two Treatises..., Segundo Tratado, capítulo 5, pontos 27-51, especialmente pontos 31-
32.
[714]
Solórzano y Pereira, Política Indiana..., livro 1, capítulo 9, pontos 12 e 13. A versão original é:
«y verdaderamente para las islas y tierras que hallaron por ocupar y poblar de otras gentes, o ya porque
nunca antes las hubiesen habitado o porque si las habitaron se pasaron a otras y las dejaron incultas, no
se puede negar que lo sea y de los más conocidos por el derecho natural y de todas las gentes, que
dieron este premio a industria y quisieron que lo libre cediese a los que primero lo hallasen y ocupasen
y así se fue practicando en todas las provincias del mundo, como a cada paso nos lo enseña Aristóteles,
Cicerón, nuestros jurisconsultos y sus glosadores» e «los lugares desiertos e incultos quedan en la
libertad natural y son del que primero los ocupa en premio de su industria». No século xvii, industria era
identificada como «a diligência e facilidade com que cada um faz algo com menos trabalho do que
outros». Numa perspectiva comparativa, designava os que mais sabiam e produziam: Sebastián de
Covarrubias Orozco, Tesoro de la lengua castellana o española, org. Felipe C. R. Maldonado (Madrid:
Editorial Castalia, 1995 [1611]), 666. No entanto, é possível que em meados do século xviii designasse
simplesmente «o domínio ou as capacidades em qualquer arte ou profissão»: Real Academia Española,
Diccionario de autoridades (Madrid: Editorial Gredos, 1990 [1732]), vol. 2, 257.
[715]
Jacobs, Dispossessing the American Indian..., 111; e Arneil, John Locke and America...,
16 e 21.
[716]
Acerca de conversas sobre impérios, ver, por exemplo, April Lee Hatfield, «Spanish colonization
literature, Powhatan geographies, and English perceptions of Tsenacommacah/Virginia», Journal of
Southern History, 69(2) (2003): 245-282; e Gould, «Entangled Histories...».
[717] Wesley Frank Craven, «Indian policy in Early Virginia», The William and Mary Quarterly, 3.ª
série, 1(1) (1944): 65-82, 74-77; e Gregory Evans Dowd, War under Heaven: Pontiac, the Indian
Nations, and the British Empire (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2002).
[718] Richard White, The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes
Region, 1650-1815 (Cambridge: Cambridge University Press, 1991); e Kupperman, Indians and
English...
[719] Charles Gibson, «Conquest, capitulation, and Indian treaties», American Historical Review,
83(1) (1978): 1-15. Ver também Lawrence Kinnaird, Francisco Blanche e Navarro Blanche, «Spanish
treaties with Indian tribes», Western Historical Quarterly, 10(1) (1979): 39-48. Até à data, a afirmação
de que o contrário poderia ser verdadeiro está principalmente centrada nos casos do Chile e da
Argentina.
[720] Francis John Ebert, «The Anglo-French boundary dispute in colonial New York from 1713-
1763» (dissertação de mestrado, Stanford University, 1947), 2-6, 12-13, 16-17, 22-28, 49-50, 55-59,
67, 70-71 e 84; W. Stitt Robinson, The Southern Colonial Frontier, 1607-1763 (Albuquerque:
University of New Mexico Press, 1979), 25, 188-190, 193-197 e 202-225; Thompson, «‘The
predicament of 7 Ubi», 87-91; e Kathleen DuVal, The Native Ground: Indians and Colonists in the
Heart of the Continent (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2006), 7-8.
[721]
Sobre a forma como os ataques aos índios das missões espanholas não só forneciam mão-de-
obra como serviam para enfraquecer as reivindicações espanholas e o seu domínio, ver, por exemplo,
Alan Gallay, The Indian Slave Trade: The Rise of the English Empire in the American South, 1670-
1717 (New Haven, CT: Yale University Press, 2002), 197.
[722] Já em 1953, Roy Harvey Pearce, Savagism and Civilization: A Study of the Indian and the
American Mind (Baltimore: John Hopkins University Press, 1967 [1953]), sublinhava a importância da
conversão para os colonos ingleses e as implicações territoriais que decorreriam dela.
[723] Sheehan, Savagism and Civility..., 1; Arneil, John Locke and America..., 14, 30-31, e 38-39; e
Stuart Banner, How the Indians Lost Their Land: Law and Power on the Frontier (Cambridge, MA:
Harvard University Press, 2005), 7.
[724] Arneil, John Locke and America..., 9; Vattel, The Law of Nations..., livro 1, capítulo 7, 37-38.
Ver também Botella Ordinas, «Debating empire...».
[725] Solórzano y Pereira, Política Indiana..., livro 1, capítulo 9, ponto 24, 93; e Nuix, Reflexiones
imparciales, 145-149.
[726] MacMillan, Sovereignty and Possession..., 10-14, 17-48, e 178-207; Fitzmaurice,
Sovereignty...; e Anthony Pagden, «Law, colonization, legitimation, and the European background», in
The Cambridge History of Law in America, orgs. Michael Grossberg e Christopher Tomlins
(Cambridge: Cambridge University Press, 2008), 1-31. Ver também James Muldoon, «John Marshall
and the rights of Indians», in Latin America and the Atlantic World: El Mundo Atlántico y América
Latina (1500-1850): Essays in Honor of Horst Pietschmann, orgs. Renate Pieper e Peer Schmidt
(Colónia: Böhlau Verlag, 2005), 67-82, 80-82.
[727] G. Zeller, «Histoire d’une idée fausse», Revue de synthèse, 11-12 (1936): 115-131; e Nordman,
Frontières de France, 10-11.
[728] Michiel Baud e Willem Van Schendel, «Toward a comparative history of borderlands»,
Journal of World History, 8(2) (1997): 211-242, 237-240; Michiel Baud, «Fronteras y la construcción
del estado en América Latina», in Cruzando Fronteras: Reflexiones sobre la relevancia de fronteras
históricas simbólicas y casi desaparecidas en América Latina, orgs. Gustavo Torres Cisneros, et al.
(Quito: Ediciones Abya-Yala, 2004), 41-86, 69; e Prescott e Triggs, International Frontiers..., 52.
[729] Daniel Nordman, «Problématique historique: Des frontières d’Europe aux frontières du
Maghreb (xixe siècles)», in Profils du Maghreb: Frontières, figures et territoires (xviiie-xxe siècle) (Rabat:
Université Mohammed V, 1996), 25-39, na 29.
[730] Para questões semelhantes, ver Graham Burnett, Masters of All They Surveyed: Exploration,
Geography, and a British El Dorado (Chicago: University of Chicago Press, 2000), principalmente
258-264.
[731] Benton e Straumann, «Acquiring empire»..., 35.
[732] Os juristas do Ius Commune também defendiam que estas doutrinas, que elaboraram,
pertenciam ao ius gentium: Marchetti, De Iure Finium..., 218-222.
[733] Clifford Geertz, «Local knowledge: Fact and law in comparative perspective», in Local
Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology (Nova Iorque: Basic Books, 1983), 167-234.
[734] Rose, Property and Persuasion..., 5-6 e 169-270.
[735] Tamar Herzog, «Nombres y apellidos: ¿cómo se llamaban las personas en Castilla e
Hispanoamérica durante la época moderna?», Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und
Gesellschaft Lateinamerikas, 44 (2007): 1-36; e Herzog, «Colonial law...».
[736] Jesús Vallejo, Ruda Equidad, Ley Consumada: Concepción de la Potestad Normativa (1250-

1350) (Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1992).


[737]
Carl Schmitt, The Nomos of the Earth in the International Law of the Jus Publicum
Europaeum, trad. G. L. Ulmen (Nova Iorque: Telos Press, 2003 [1950]).
[738] Norman Hill, Claims to Territory in International Law and Relations (Londres: Oxford
University Press, 1945), 81-90; Alexander B. Murphy, «Histo- rical justifications for territorial claims»,
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Territorial Rights (Dordrecht: Springer, 2005), 25-46.
[739] Michael R. Redclift, Frontiers..., 27-30. Ver também Richard Tuck, «The making and
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Press, 2003), 143-170, nas 157-158.
[740] Suzanne Lalonde, Determining Boundaries in a Conflicted World: The Role of Uti Possidetis
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29-89. Ver também Jorge I. Domínguez com David Mares, Manuel Orozco, David Scott Palmer,
Francisco Rojas Aravena e Andrés Serbin, «Boundary disputes in Latin America», Peaceworks
(Washington, DC: United States Institute of Peace, 2003), 21.
[741] Raúl A. Molina, «Los conflictos de límites y las primeras misiones diplomáticas en archivos

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Madrid, «Las fronteras entre Chile y Argentina», Revista chilena de historia y geografía, 156 (1988):
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universitaria, 54 (1956): 10-40, 13; José María Egas, El principio del uti possidetis americano y
nuestro litigio de fronteras con el Perú (Guayaquil: Imprenta Municipal, s. d.), 9. Para uma perspectiva
comparada, ver Tetz Rooke, «Tracing the boundaries: From colonial dream to national propaganda», in
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2006), 123-139; e Michel Foucher, L’invention des frontières (Paris: Fondation pour les Études de
Défense Nationale, 1986), 179-183.
[742]
Herzog, «The meaning of territory...».

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