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Inteligente e ambicioso, o agente especial Adam

Darling1 (sim, ele já ouviu todas as piadas antes) estava no


caminho certo para a promoção e o sucesso até que seu mau
uso de uma operação de grande destaque deixou uma
pessoa morta e Adam – On the Beach2. Agora ele tem um
novo parceiro, um novo caso e uma nova chance de
ressuscitar sua carreira, caçando um serial killer cruel e
astuto em um remoto resort de montanha no Oregon.

O vice-xerife Robert Haskell pode parecer


descontraído, mas ele é um policial durão e eficiente, e não
está muito empolgado em ver os federais em seu território -
mesmo quando um dos agentes é inteligente, bonito e
provavelmente gay. Mas um corpo massacrado em um
museu nativo americano está fora da liga para o
departamento de sua pequena cidade. Por falar nisso, Adam
Darling, glacial, tenso, está fora da liga de Rob, mas isso não
significa que Rob não vai dar o seu melhor.

1 Querido.
2 Na praia.
Prólogo

Estava frio.

Um frio amargo que feria suas bochechas e fazia seus olhos


lacrimejarem. Até a lua cheia e baixa parecia congelada. Ele se abraçou,
bateu os pés no chão duro e tentou não ansiar por sua casa e sua cama
quente.

Porque essa não era mais a sua casa. Ele e Buck iriam começar
uma nova vida juntos. Longe daqui. Longe das grandes bocas e, mentes
pequenas, as pessoas que não se importavam com seus próprios
negócios porque queriam que você fosse tão miserável quanto eles.

Buck era sua casa agora.

Sim, ele gostou dessa ideia.

Uma coruja piou do alto e ele pulou - e depois riu de si mesmo.

Mas era solitário aqui fora. Nenhuma dúvida sobre isso.


Solitário, quieto e muito escuro. Ao luar, a neve nas montanhas ao
redor parecia prateada, e as pontas das agulhas de pinheiro azul-escuro
pareciam brilhar.

Qualquer um que pensava que havia apenas um tom de preto


deveria tentar se destacar no meio do nada cercado por sombras
inconstantes e luz oscilante.

Ele desejou que Buck se apressasse.


Então ele se preocupou que Buck pudesse ter mudado de ideia.
Sentia-se azarado por deixar esse pensamento se formar, mas Buck
demorou um pouco para mudar seu modo de pensar. Isso não foi uma
coisa fácil para nenhum deles.

Valeria a pena no final.

A coruja desistiu de pedir identificação e voou para a noite.

A lua gelada mergulhou atrás das montanhas.

Ele lambeu os lábios nervosamente. A noite tinha gosto de


neve. Espero que não morra de hipotermia antes que Buck apareça.
Ele bateu as botas mais um pouco no chão duro como pedra e pisou de
um lado para o outro na clareira.

Vamos, Buck. Não faça isso comigo.

Por fim, ouviu o estrondo que se aproximava, de um motor de


caminhonete. Seu coração bateu mais rápido e ele se sentiu um pouco
enjoado de excitação e medo. Era de verdade. Eles iam fazer isso.

Ele sorriu para o brilho branco dos faróis se aproximando.


Capítulo um

– Foi um erro trazer os federais. – Disse Zeke.

Rob achou que era um erro também, mas não tinha sido sua
escolha, e já era tarde demais, então, qual era o ponto em reclamar?
Ele disse: – Feebs.

– O que?

– O FBI. Eles se chamam de feebs agora.

– Eu não me importo se eles se são chamados de porra de


salsichas.

Rob grunhiu.

Do deque de observação do Aeroporto Internacional Rogue


Valley-Medford, assistiram em silêncio quando o voo 477 da Alaska
Airlines aterrissou, percorreu a pista enegrecida pela chuva e taxiou
lentamente em direção ao terminal.

Rob se endireitou. – Vamos.

– Não há pressa. – Zeke continuou a olhar pela janela molhada


e raiada.

O alto-falante anunciava a chegada do voo para o caso de


alguém no pequeno aeroporto não estar prestando atenção, e oferecia
informações sobre a coleta de bagagem para os passageiros que ainda
estavam sentados no avião.
Alguns longos minutos se passaram antes que a escada móvel
estivesse alinhada com as portas do avião. A porta da cabine se abriu.
Por fim, os passageiros começaram a desembarcar.

O estômago de Rob rosnou e ele olhou para o relógio. Já eram


doze e meia e, nesse tempo, levaria cerca de uma hora para ir de
Medford até o resort de Nearby. Ele suspirou interiormente. Tinha sido
uma manhã longa e ia ser uma longa tarde. Disso, ele tinha zero
dúvida.

Zeke disse de repente: – Fodidos Barbie e Ken!

Uma mulher carregando uma maleta saiu do avião. A brisa


chuvosa bagunçou seu longo cabelo pálido. Ela lançou um comentário
por cima do ombro para um homem com uma capa de chuva oliva. O
homem respondeu e a mulher riu.

Rob sorriu sombriamente porque naquele momento Zeke


praguejou. Alto, loiro e elegante em suas capas Ele e Ela, esses dois
pareciam mais como se estivessem fazendo testes para uma série de TV
nova e quente do que a aplicação da lei real. Mas a aplicação da lei
eram eles. Os verdadeiros agentes especiais do FBI vêm de Los Angeles
para oferecer sua sabedoria e experiência.

Sim, era muito chato.

– Vamos lá. – Ele disse de novo, e desta vez ele quis dizer isso.
Zeke soltou um suspiro pesado, mas o seguiu até o Portão de Chegada,
onde Barbie e Ken estavam impacientemente examinando a multidão
que aguardava, o comitê de boas-vindas.
Os espectadores se separaram diante de Rob e Zeke. Não havia
nada como um distintivo de xerife para abrir caminho.

– Agentes Especiais Gould e Darling? – Rob perguntou. Não


que ele tivesse alguma dúvida.

O homem - a altura de Rob, olhos verdes, cabelos loiros curtos


e ondulados - disse secamente: – Sou Darling. Esta é a agente Gould.

– Xerifes. – Disse Gould. Ela tinha um sorriso muito bonito.


Não havia dúvida de quem brincava de policial boa nesse time.

– Agente Especial o quevocêdisse? – Zeke perguntou.

Darling dirigiu um olhar que deveria ter deixado Zeke envolto


em gelo, e Rob preservou seu rosto de pôquer com esforço.

– Eu sou Haskell. Este é o vice Lang. – Rob disse. – Como foi


sua viagem?

– Muito longa. – Darling disse. – Vamos pegar a estrada?

– Eu posso ver como podem confundir. – Zeke interrompeu


com o seu timing sempre habitual.

Darling parecia quase humano quando seu olhar verde


encontrou o de Rob. As sobrancelhas pálidas de Gould se juntaram. –
Desculpe?

Zeke abriu a boca grande novamente. – Eu posso ver como


alguém poderia pensar que você era D...

Rob falou sobre ele. – Paramos no estacionamento em frente ao


terminal. – Ele deu a Zeke uma cutucada dura e útil na direção da
saída. Zeke estremeceu e olhou para ele. – Você tem alguma bagagem?
– Rob perguntou aos federais.

Gould levantou a pasta. Darling não pareceu ouvir a pergunta,


indo direto para as portas que levavam ao chuvoso dia de outubro
cinza.

Eles se amontoaram no SUV da Patrulha Rural, os agentes do


FBI no banco de trás e Zeke no banco da frente. Rob ligou o motor.

– Quanto tempo leva até o resort? – Darling perguntou.

– Não é bem uma hora. Talvez mais na chuva.

– Com você dirigindo, definitivamente mais tempo. – Zeke


disse.

Rob o ignorou, saindo do estacionamento e virando para o


leste.

– Você realmente acha que o nosso DB3 pode ser um dos vics4
do Roadside Ripper5? – Zeke perguntou, olhando para os passageiros.

– É isso que estamos aqui para descobrir. – Disse Gould.

– Qual é a contagem de corpos agora? – Zeke perguntou.

– Acreditamos que temos vinte e uma mortes confirmadas. – A


voz de Gould era agradável. Ela poderia estar discutindo o tempo.

– Quase me candidatei ao FBI. – Zeke disse. – Eu não queria ter


que usar uma fodida gravata o tempo todo.

3 Dead Body – Defunto.


4 Vítimas. (Diminutivo de victim).
5 Estripador do Acostamento.
Rob conseguiu engolir seu bufo. Ele olhou no espelho
retrovisor enquanto se fundia na OR-62 West e brevemente encontrou
os olhos de Darling. A boca de Darling se curvou em um sorriso
sarcástico.

– Desculpe meu francês. – Zeke acrescentou para o benefício de


Gould.

– Pas du tout6. – Gould retornou.

Zeke deu a ela seu maior e mais largo sorriso. Ela sorriu de
volta, mas ele estava perdendo seu tempo. Gould estava tão fora do seu
alcance que ela poderia ter vindo de outro planeta.

Novamente, o olhar de Rob subiu para o retrovisor e


novamente ele encontrou a irônica consideração de Darling. Darling
não piscou, não desviou o olhar.

O verde não deveria ser a cor dos olhos mais rara? Rob poderia
acreditar, no caso de Darling. Ele nunca tinha visto olhos dessa
tonalidade. Talvez Darling usasse contatos.

De qualquer forma... essa era uma consideração muito direta e


muito intensa. Em outras circunstâncias, isso poderia significar
algumas coisas. Mesmo nessas circunstâncias, essa consideração pode
significar algumas coisas. Improvável, mas ainda assim...

Zeke perguntou: – Quantos dessas vinte e uma vics estavam em


Oregon?

– Sete. – Gould respondeu.

6 De maneira nenhuma.
– Mas isso não significa que eles foram mortos aqui.

– Verdade.

– Eles podem ter sido descarregados aqui. Ele está usando a I-5
como seu depósito de lixo, certo?

Darling estava agora direcionando seu olhar de laser para a


parte de trás da cabeça de Zeke. Rob não teria ficado surpreso ao ver o
cabelo de Zeke explodir em chamas, mas isso era sempre um perigo,
dada a quantidade de laca que Zeke usava. Muito mais hairspray do
que caras hetero geralmente gostavam, na opinião de Rob.

– Essa é a teoria atual. – Disse Gould.

Quantos membros há em seu grupo de trabalho? – Zeke


perguntou. – Toda a costa oeste está envolvida, certo?

– É um dos maiores já formados. – Respondeu Gould. – Mesmo


nós não temos certeza do número exato de membros na equipe.

Obviamente não era verdade, mas mais educada do que o seu


parceiro estava claramente tentado a contar a Zeke.

– Vocês estão bem? – Rob perguntou. – Vocês estão com fome?

– Sim, estou com fome. – Zeke disse.

– Tivemos uma parada de duas horas em Seattle. – Disse


Darling. – Nós comemos. E estamos em um cronograma apertado.

Gould olhou para o parceiro. O que ela disse foi: – Deus, é


verde aqui. Nós poderíamos usar um pouco dessa chuva na Califórnia.
– Nós nunca tivemos um homicídio em Nearby. – Zeke disse
com uma borda afiada ao seu tom. – Eu sei que é a mesma velha coisa
para vocês, mas para nós é um grande negócio.

– Não sabemos se temos um homicídio agora. – Disse Rob, com


um olhar de advertência.

Foi desperdiçado, claro.

– Certo. – Zeke disse. – Talvez tenha sido suicídio. Talvez John


Doe tenha se enterrado debaixo daquela pilha de pedras.

Na tarde de domingo, os campistas tinham descoberto restos


humanos enterrados em uma cova rasa coberta de pedras em uma
estrada desmatada da Rota 140. Não exatamente o local do Estripador
da Estrada, mas por alguma razão, Frankie - xerife Francesca McLellan
- decidira chamar os federais só pra ter certeza. O que apenas provava
que grande caso era o Roadside ripper. Importante o suficiente para
que, mesmo em seu canto da floresta, eles tivessem ouvido falar sobre
isso.

Mas as chances de que esse azarado John Doe fosse do


Estripador? Isso parecia muito improvável para Rob.

Mesmo assim, vinte e quatro horas depois, Barbie e Ken do FBI


apareceram à sua porta.
– Há quanto tempo você está no Departamento do Xerife,
delegado Lang? – Gould perguntou.

– Seis anos.

– O que você acha disso?

Não havia nada que Zeke gostasse mais do que falar de si


mesmo, e ele estava funcionando bem. Falando mais que uma matraca.
Agente Gould o manteve alimentado com o comentário ocasional, mas
estava claro para Rob que ela estava apenas conversando - ou talvez
evitando discutir o caso deles.

Seu caso sendo a palavra chave.

Bem, deixe-os tê-lo. Uma das vantagens de trabalhar nos


boonies7 era que ele não tinha que lidar com as besteiras territoriais
que vinham com as maiores agências de aplicação da lei. Não,
obrigado. Na melhor das hipóteses, na opinião de Rob, John Doe era
uma das vítimas do Roadside ripper, e os federais podiam tomar conta
de toda a maldita investigação. Mas, embora ele não tivesse seguido o
caso, a parte que ele havia captado indicava a improbabilidade disso.
John Doe fora encontrado muito longe dos caminhos comuns.

Zeke ainda estava oferecendo os destaques de sua carreira no


Gabinete do Xerife. Gould ainda estava fazendo sons educados. Darling
olhava pela janela do SUV para as árvores altas e úmidas e brilhantes
que cobriam a estrada que conduzia à floresta nacional. Rob apertou o
acelerador e o SUV saltou para frente.

7palavra americana coloquial para deserto ou lugares no meio do nada, longe de qualquer
civilização.
– Nós não temos um necrotério em Nearby. – Chegando em
frente ao Mortuário da Montanha, cinquenta minutos depois, Rob
interrompeu a longa história de Zeke sobre como ele, sozinho, havia
apanhado o bandido de Blue Rock Cove. Zeke lançou-lhe um olhar de
reprovação, mas Rob ignorou-o. – Doc Cooper, o médico legista de
Klamath Falls, tem uma casa de férias aqui em cima, e ele está fazendo
a autópsia.

– Estranho. – Disse Gould. Não estava claro se ela estava se


referindo aos arranjos de autópsia ou à cerca de ferro forjado preto que
fazia o pequeno pátio em frente ao prédio de ripas e tijolos brancos
parecer um cemitério em miniatura.

Rob desligou o motor e soltou o cinto de segurança. Eles saíram


do SUV e atravessaram o portão ornamentado, que se fechou atrás
deles com um barulho não musical. A chuva parara por enquanto. O ar
estava frio e cheirava a pinheiros. Folhas coloridas e encharcadas de
outono estavam coladas à calçada; os degraus brancos de madeira
estavam lisos e molhados.

Quando chegaram à porta dupla de vidro, Frankie abriu a porta


e se inclinou para fora. – Você tomou o caminho mais longo? Eu estava
começando a pensar que você se perdeu.

Antes que Rob pudesse responder - não que ele tivesse se


incomodado -, Zeke disse: – Você não deveria ter deixado a vovó
dirigir.
Frankie o ignorou. Ela assentiu cumprimentando Darling e
Gould. – Agentes. Obrigado por vir em tão curto prazo.

Ela ofereceu uma mão bronzeada e sardenta para Darling, que


a sacudiu, dizendo: – Nós apreciamos o aviso, xerife. Sou o agente
Darling e esta é a agente Gould.

Frankie abriu bem a porta para Gould, que recebeu um olhar


astuto - saltos altos e cabelos arrumados - quando ela passou. –
Percebemos que isso está fora de sua trilha, mas nunca é demais ter
certeza.

Frankie provavelmente nunca usara um par de saltos em sua


vida. Ou pelo menos Rob não conseguia imaginá-la em saltos altos,
muito menos em um vestido. Era uma mulher baixa e corpulenta, de
cinquenta e poucos anos, rosto corado e envelhecido e cabelos crespos
cor de ferrugem. Não foi sua aparência que fez com que Frankie fosse
eleita para quatro mandatos consecutivos de quatro anos como xerife.
Mas, apesar de sua aparência não glamorosa e seu comportamento
brusco, ela era querida e respeitada pelos cidadãos que servira há tanto
tempo.

– Doc Cooper é o médico legista de Klamath Falls. Ele está


fazendo as honras hoje.

– Então nós ouvimos. – Darling disse enquanto Frankie


liderava o caminho através de uma pista de obstáculos de caixões
vazios e urnas cheias de flores de seda. O showroom - se “showroom”
era a palavra certa - cheirava a formaldeído e purificadores de ar, e Rob
ficou contente em saber que não tinham parado para comer.
Uma rajada de ar lavado pela chuva da porta aberta bagunçou
as pétalas de seda e enviou alguns retratos comoventes de crianças
rezando a bater contra as paredes revestidas de nogueira. Era um
ambiente estranho para o lugar, uma mistura desconfortável de
comercial e triste. Um necrotério comum e moderno provavelmente
teria sido menos perturbador.

Até Frankie baixou a voz quando se dirigiu a Rob e Zeke. – Eu


não preciso de vocês dois aqui. Zeke, quero que volte para o escritório.

Zeke imediatamente protestou: – Por que eu? Por que Haskell é


sempre aquele que recebe todas os benefícios?

– Benefícios? Você quer ficar e ver o Doutor cavar John Doe,


seja meu convidado. – Rob disse.

– Vocês, seus dois cabeças de vento, calem-se. – Frankie


grunhiu. – Não há escavação a ser feita. E eu não estou pedindo
voluntários. Eu disse...

– Esta é uma ótima experiência de aprendizado. – Zeke


continuou. – Você está sempre dizendo que precisamos de mais
oportunidades de treinamento.

Frankie começou a balbuciar. Ela conseguiu se controlar e


disse: – Mantenha sua voz baixa! O Sr. Eden tem pessoas na Sala de
Disposição neste minuto.

Zeke parecia tão horrorizado que Rob provavelmente teria rido


- exceto por ter visto as expressões dos dois agentes do FBI.
Claramente, eles pensaram que haviam entrado em um episódio do
Police Squad8! E não era de admirar. Em vez disso, ele murmurou: – O
enlutado, seu idiota.

– Sim, o enlutado. – Disse Frankie, impaciente. – Clientes reais,


vivos. O que você acha que eu quero dizer?

O agente Darling, aproximando-se de uma porta branca com


um cartaz que dizia Apenas Funcionários, disse: – Xerife, nós vamos...

Eles não esperaram para ouvir a resposta de Frankie, o que foi


bom. A porta se fechou atrás de Darling e Gould quando Frankie disse
a Zeke: – Pelo amor de Deus, Zeke, se isso significa muito para você,
você pode ficar. – Ela assentiu com a cabeça para o microfone do
ombro dele. – Mas mantenha seu rádio ligado. Baixo.

Zeke lançou a Rob uma expressão de triunfo, e Rob sacudiu a


cabeça porque não havia competição, como Zeke imaginava. Ele ficaria
feliz em entregar seu lugar na mesa de autópsia a qualquer um que
pedisse. Ele não sabia por que Frankie achava que ele precisava estar lá
em primeiro lugar.

– Mas eu não quero ouvir reclamações, se recebermos uma


ligação.

– Que tipo de telefonema vamos receber? – Zeke murmurou. –


Jack Elkins ficou preso na lama novamente? Ruby Lowe não consegue
encontrar o cachorro dela?

8
– Você me ouviu. – Frankie se apressou para a porta atrás da
qual os agentes haviam desaparecido.

A porta virava para um pequeno conjunto de degraus que


levavam ao andar de baixo. Eles encontraram os agentes na Sala de
Preparação conversando com Doc Cooper.

Doc era alto e esguio, com óculos de arame de ouro e um bigode


branco cheio. Ele era mais velho que Frankie; tinha sido o médico
legista muito antes de Frankie ter assumido o cargo. Ele usava botas de
caubói e dirigia um mustang vermelho. E ele tinha uma maneira
surpreendentemente agradável para com os pacientes, dado que os
pacientes que ele geralmente assistia estavam em mesas do necrotério.

O corpo - mais precisamente, o esqueleto - já havia sido


retirado da grande geladeira de aço inoxidável no fundo da sala branca
estéril e arrumado na mesa de metal do necrotério. A caveira
amarelada - queixo escancarado e órbitas escuras e vazias - sorria
vagamente para a luz branca e sem remorso das luzes do teto.

O dente esquerdo da frente estava lascado.

O ar estava artificialmente frio, e a sala cheirava a produtos


químicos e algo que levantava o cabelo na parte de trás do pescoço de
Rob.

Não foi sua primeira autópsia. Inferno, esse exame de ossos


antigos nem sequer se qualificava como uma autópsia, mas ele sentia
um tipo estranho de pesar. Não pena - porque a morte e a decadência
era o que acontecia com todos no final - mas algo. Algo que ouvira na
TV tarde da noite veio até ele, uma citação de um desses mistérios
ingleses sobre assassinatos em que um detetive mal-humorado andava
por aí resolvendo todos aqueles horríveis assassinatos em casinhas
bonitinhas.

A morte de qualquer homem me diminui.

Algo parecido. De qualquer forma, ninguém mais parecia


particularmente comovido - a menos que o agente Darling realmente
tivesse perdido a cor e não fosse apenas um truque de luz. Entre o ar
frio e o cheiro de produtos químicos, qualquer um poderia se sentir
meio fora.

Zeke respirou fundo. – Bem, merda. – Ele disse suavemente.

Os agentes do FBI ainda estavam falando baixinho com Doc


Cooper, mas Darling olhou para cima com o comentário de Zeke. Seus
olhos encontraram os de Rob.

Desta vez, quando Rob sentiu aquele lampejo de consciência,


ele sabia que não estava imaginando isso. Ele teve que reprimir um
sorriso inadequado. Não era como se isto foi uma ocasião social.

– Bem, vamos começar. – Doc disse. Ele acenou para o


assistente vestido de branco ao lado da porta, e o assistente ligou o
interruptor. Uma escuridão instantânea e pesada desceu sobre a sala.
Apenas a extensão dos ossos na mesa permanecia iluminada naquele
feroz círculo de luz.

– Como você pode ver, apesar do fato de termos um esqueleto


quase intacto, não temos muito com o que trabalhar. – Disse Doc.–
Nenhuma marca pessoal ou identificação de qualquer tipo, e a roupa, o
que resta dela, é coisa barata e genérica. Botas, jeans, camiseta,
jaqueta.

– Quantos anos? – Frankie perguntou.

– Estamos olhando para um homem provavelmente no final da


adolescência ou início dos vinte anos. Você pode ver que as clavículas
não estão completamente fundidas. O esqueleto tem sessenta e nove
polegadas de comprimento, então ele teria cerca de um metro e setenta
e cinco de altura. Não é um cara grande. Não sou antropólogo, mas
acredito que nossa vítima seja caucasiana. Eu não posso estar
completamente certo.

– Quantos anos tem a evidência forense? – Darling perguntou.

Doc chupou as bochechas, pensou, e finalmente anunciou: –


Cerca de vinte anos, eu acho. Um par de décadas pelo menos. Eu
acredito que os ossos são contemporâneos, mas como eu disse, esta
não é minha área de especialização.

As sobrancelhas de Darling se juntaram. – Você tem certeza


que o espécime recuperado é tão velho?

Doc deu-lhe um olhar exasperado. – Estou razoavelmente


certo. O que eu não posso te dizer ainda é como ele morreu. Além de
um dente da frente lascado, não há ossos quebrados. Sem fraturas.
Nada esmagado, nada quebrado. Não há sinais de traumatismo
esquelético. Obviamente, não temos como saber que danos foram
causados a seus órgãos vitais ou tecidos moles, mas não há uma causa
de morte imediatamente aparente.
Gould disse a Darling: – Idade certa e sexo certo. Mas de
qualquer forma...

Darling assentiu.

– Vinte anos. – Frankie disse pensativamente.

– Não me lembro de nenhum caso de desaparecimento de


pessoa com vinte anos. – Disse Rob.

Frankie disse para Doc: – Em 98, qual era o nome daquele


garoto da faculdade que viajou para a floresta e desapareceu?

– Jordan alguma coisa.

– Está certo. Jordan Gaura.

– Você está esquecendo. – Doc disse com satisfação sombria.

– O que estou esquecendo?

– A razão pela qual todo mundo se envolveu tão rápido. Aquele


garoto tinha uma prótese de quadril. Lembro-me disso com muita
clareza porque na época pensei que se os restos dele aparecessem, não
haveria dúvidas sobre quem era. Nosso John Doe está praticamente
intacto. Noventa e cinco por cento do esqueleto foi recuperado no local,
de modo que podemos ver que não havia ossos quebrados antes ou
depois da morte. Inferno, ele ainda tem todos os dentes.

Frankie xingou. – Então não consigo pensar em mais ninguém.

– Isso é uma boa notícia. – Doc disse. – Ele é o problema de


outra pessoa.

Doc e Frankie olharam para Darling e Gould.


– Mas não é nosso. – Darling disse. – A idade da vítima está
certa, mas a sua localização está toda errada. – Ele olhou para Gould.

Gould concordou. – Nós ainda não identificamos o tipo de faca


usada pelo Estripador, mas temos certeza que é algum tipo de faca de
caça com uma lâmina serrilhada. Possivelmente caseira. Esse tipo de
arma deixa sua marca. Na caixa torácica, no esterno, não faltariam
ranhuras, depressões e estrias.

– Acho que não. – Disse Frankie com relutância.

Rob disse: – Ele poderia estar carregando sua identidade em


outra coisa. Uma bolsa. Uma mochila.

Todos os olhos se voltaram para ele.

Rob respondeu seu próprio pensamento. – Exceto que não há


bolsa. Sem mochila.

Frankie disse: – Não.

– Nenhuma bicicleta. – Eles recebiam muitos ciclistas,


especialmente durante os meses de verão.

– A bicicleta pode estar lá fora em algum lugar. – Disse Frankie.


– Alguém poderia ter jogado a bicicleta fora da montanha. Ou alguém
poderia tê-la encontrado ao lado da estrada. Uma bicicleta é o tipo de
coisa que pode ser levada. Especialmente uma daquelas bicicletas de
montanha caras.

Darling disse: – Você provavelmente está procurando por um


fugitivo.

– Se estamos, não é ninguém daqui.


O rádio de Zeke subitamente ganhou vida. A explosão de
estática foi seguida pela voz baixa de Aggie, solicitando sua localização.
Doc pulou e olhou para ele. Zeke pareceu culpado e saiu da sala, mas
voltou um instante depois, apontando para Rob. – Temos que rolar.
Nós temos um 12-16 na I-70 no sentido leste.

Inferno. Um acidente de trânsito. E ninguém mais disponível


para lidar com isso, se eles estavam recebendo a ligação em vez da
polícia do estado. Isso era passível de mantê-los ocupados o resto da
tarde e a noite. Ele lançou um olhar pesaroso para o agente Darling,
que estava franzindo a testa para o esqueleto, completamente alheio à
presença de Rob, de qualquer maneira. Tanto para aquela consciência
imaginária ou conexão ou o que quer que Rob quase se convenceu.

Com um suspiro interior, ele seguiu Zeke da Sala de Preparação


e subiu as escadas até o andar principal do necrotério.

– Você acha que ele está transando com ela? – Zeke perguntou
em um tom que provavelmente poderiam ouvir no refrigerador da sala
de preparação.

Era tentador se fazer de bobo, mas Rob respondeu


honestamente: – Não.

– Você parece bem certo.

Ele provavelmente parecia um pouco confiante nesse aspecto.


Rob encolheu os ombros. Quando Zeke olhou para ele, ele deu de
ombros novamente. – Eles provavelmente têm uma política de não
confraternização no FBI.
– Não, eles não têm. – Zeke disse surpreendentemente. No
olhar de Rob, ele disse: – Eu não estava falando besteira. Eu realmente
pensei em tentar o FBI. Eu só não estava com vontade de trabalhar
com um monte de bundões como o Agente Especial idiota de merda.

– Você tem um jeito real com as palavras, Lang.

– Eu deveria ter lembrado que haveria bebês como a Barbie


também.

Sonhe, Rob pensou. A falta de solteiros elegíveis em Nearby


dera a Zeke uma ideia exagerada de seus encantos masculinos.

– Enfim, que perda de tempo. – Zeke disse, abrindo as portas


de vidro duplo que levavam para fora. O ar encharcado de chuva
cheirava doce e vivo depois do frio com aroma químico do andar de
baixo.

E Rob, pensando no agente Darling encarando sombriamente o


esqueleto na mesa do necrotério, estava inclinado a concordar.
Capítulo dois

– Isso foi uma perda de tempo. – Jonnie disse, seguindo Adam


em sua cabana.

A chuva começou de novo. Ela batia suavemente no telhado,


mas o quarto estava frio e úmido. Havia um termostato no local, ou
eles deveriam confiar em lareiras e fogões de madeira para o calor?

– Geralmente é. – Adam tirou a gravata e pendurou-a nas


costas de uma cadeira de frente para a pequena escrivaninha sob a
pintura das cascatas cobertas de neve. Ele desabotoou o colarinho.

Jonnie sentou-se na beira da cama e tirou os sapatos. – Você


nunca sabe, no entanto. Poderia ter dado resultados. Grant's Pass era
definitivamente um dos nossos. – Ela flexionou os pés com meias,
esticou os dedos, flexionou novamente. Ela tinha pés longos e estreitos.
Como Audrey Hepburn, ela o informou. Ele sorriu fracamente com a
lembrança.

– Grant's Pass está na I-5. Nosso cara gosta de ficar com a I-5.

Ela gemeu. – Que fiasco. Do início ao fim. Eu não posso


acreditar que eles apenas puxaram os restos mortais do chão e os
levaram para a Loucura Mortuária ou como quer que aquele lugar seja
chamado. É óbvio que nunca lhes ocorreu chamar um antropólogo
forense. Eles aniquilaram a cena do crime.

– Eu sei. – Ela estava à toda, e a melhor coisa era deixá-la tirá-


lo do peito. De qualquer forma, ele concordou cem por cento.
– Uma. – Jonnie levantou o dedo indicador. – Uma chance de
processar a cena do crime sem contaminantes. Uma única chance
solitária de recuperar todas as evidências físicas. Fotografar o local da
sepultura, mapear qualquer evidência existente em relação aos restos e
ao terreno, coletar todos os dados necessários - e eles explodiram.

– Eu sei.

– Eles achavam que era Search and Rescue9? Eles achavam que
havia alguma pressa de recuperar os restos mortais? Eles não têm
treinamento? Eles são verdadeiros xerifes, certo? Isto não é uma coisa
de milícia local? Eles têm os uniformes. Eu pensei que ia ter um
derrame quando Doc Adams contou como eles 'processaram' aquela
cena do crime.

Adam sorriu com relutância para a pausa em “Doc Adams”.

– Sem qualquer tecido mole, não podemos saber ao certo se


John Doe foi mutilado da mesma forma que as outras vítimas do
Estripador.

O Estripador esculpiu símbolos no peito de suas vítimas. Carne


e sangue provendo um meio artístico confuso, ninguém tinha certeza
do que os símbolos representavam. A atual teoria amplamente aceita
era de que as linhas irregulares representavam uma cruz e uma flor
incompletas.

– Não, não podemos. – Adam disse. – O que é exatamente o


que eu estava com medo. Mas se os restos do esqueleto são tão antigos
quanto o ME parece pensar, não é provável que este seja o trabalho do

9 Busca e provisão de ajuda para pessoas que estão em perigo ou perigo iminente.
nosso suspeito. Isso não afeta nosso caso. Eles apenas fizeram seu
próprio trabalho mais difícil.

– Você está apenas dizendo isso para me fazer sentir melhor. –


Ela disse sombriamente.

– Não. Se esse era o trabalho do nosso cara, o que o Estripador


estaria fazendo durante esses vinte anos entre este Joe Doe da estrada
madeireira e Jackie Ramos, acabando com seu peito esculpido em
Redding?

– Boa pergunta. – Ela estudou o rosto dele. – Mas você tem


dúvidas. Eu podia ver quando estávamos naquele necrotério
subterrâneo assustador.

– Eu tenho dúvidas, mas não sobre isso. Esse tipo de lacuna não
faz sentido.

Não que os serial killers não entrassem em hiato. O assassino


BTK10 era prova disso. Doença, encarceramento, mudança de local... e
às vezes eles apenas cansam do jogo. Ou morrem. Mas uma pausa de
vinte anos entre as mortes era altamente improvável. E havia muitas
outras anomalias.

Então a pontuação do Roadside Ripper permanecia vinte e um.


FBI zero. Adam suspirou.

– Eu não sabia se ria ou chorava quando eles começaram a falar


sobre o DNA. – Mas Jonnie estava começando a relaxar. Ela parecia
mais cansada do que excitada.

10Dennis Rader é um assassino em série estadunidense, que matou 10 pessoas no Condado de


Sedgwick, entre 1974 e 1991. Foi preso em 2005. Ele é conhecido como O Assassino BTK.
– É uma patrulha rural. Na melhor das hipóteses, uma
subestação. Estou espantado por eles terem se dado ao trabalho de nos
ligar.

Ela não respondeu. Por um segundo ou dois, eles ouviram a


chuva no telhado.

– Isso é uma pintura real? – Jonnie levantou-se da cama e foi


até a escrivaninha para inspecionar a pintura emoldurada de madeira.
Ela deu uma risada incrédula. – Essas são pinceladas. Quando foi a
última vez que você ficou em qualquer lugar com arte real nas paredes?

– Eu acho que arte pode ser um exagero.

– Ponto. Mas quero dizer, uma pintura original real.

Adam sacudiu a cabeça. Ele estudou o interior da cabana de


aluguel. Pinheiro, tapetes tecidos e cortinas xadrez azuis, um fogão e
bancadas de fórmica vermelhas vintage. – Quando você acha que eles
construíram este lugar?

– Os anos cinquenta talvez?

– Eu acho que você está certa. Espero que eles tenham trocado
os colchões desde então.

– Espero que eles tenham mudado os lençóis. – Jonnie voltou


para a cama e ergueu os calcanhares. – Eu não posso acreditar que não
há motel aqui. Vai levar uma eternidade para aquecer essas cabanas.

– Eu posso ir com você e acender o fogo em sua lareira.

– Por favor. Você está falando com uma ex-escoteira.


Não pela primeira vez, ele estava grato por ela não ser uma
daquelas mulheres que tentavam encontrar insinuações nos
comentários mais inocentes. Ele sorriu. – Eu não fazia ideia. Bem,
nesse caso, você quer jantar?

Ela puxou uma revista enrolada do bolso profundo de seu


sobretudo e ergueu a cópia de Bride11.

Adam franziu o cenho para a noiva maquiada rindo na capa. –


Sim, eu ainda não entendo porque casar significa que você não pode
mais jantar.

– Garantir que eu possa me encaixar naquele vestido de noiva


tamanho quatro de Vera Wang é porque não janto mais. Eu mal posso
esperar até que eu possa jantar novamente.

– Chris disse que reservou o Outback Steakhouse12 para sua lua


de mel.

Jonnie riu. – Eu sou totalmente a favor disso. Enquanto estiver


a caminho de Maui. Falando em aeroportos, quando sai o nosso voo?

– Seis e meia da manhã, e é um voo direto para Los Angeles.


Não queremos perder isso. - Poucas coisas o irritavam mais do que o
tempo pedido em voar para o Estado de Washington para se sentar
duas horas em um aeroporto, quando seu destino final era Oregon - e
eles tinham tido muito isso nos últimos meses, encarregados do
trabalho desagradável de determinar qual dos cadáveres

Noiva.
11
12Rede de restaurantes com tema australiano que serve carnes, frutos do mar e comidas típicas
de um steakhouse.
periodicamente descobertos ao longo do Corredor I-5 pertencia ao
Estripador.

Mas esse é o tipo de tarefa que você conquistava quando


estragava tudo tão espetacularmente quanto Adam havia feito quatro
meses antes.

– Diga isso para o tolo e o idiota. Embora, francamente, eu acho


que eles mal podem esperar para nos tirar daqui.

Adam disse: – Oh, eu não sei. Eu acho que você fez uma boa
impressão lá.

Jonnie riu. – Acho que qualquer coisa em uma saia


impressiona. Vejo você de madrugada. – Ela se dirigiu para a porta. –
Não faça nada que eu não faria.

– Como jantar? – Seu sorriso desapareceu quando a porta se


fechou atrás dela. Ele realmente odiava comer sozinho. Dava-lhe muito
tempo para pensar em coisas que ele não gostava de lembrar. O que era
meio irônico quando ele se lembrou de que uma vez ele havia
monopolizado o café da manhã, o almoço e o jantar com a discussão de
seus casos.

Verdade que naquela época ele não estava na patrulha do


necrotério.
Ele checou a cabana e foi forçado a aceitar o fato de que a única
fonte de calor era um fogão que usava pellets13 como combustível. No
momento em que ele esquentaria, seria hora do jantar, e em vez de
deixá-lo queimando e ter uma chance de queimar todo o resort, talvez a
coisa mais simples fosse tomar um banho quente e adiar a espera para
lidar com o fogão até ele voltar naquela noite.

Um banho quente ajudou, apesar que após dois minutos, a


água começou a esfriar. Muito. Adam se enxugou, se vestiu e penteou o
cabelo no lugar.

Ele fez uma careta para o efeito. Bom o suficiente para o


trabalho do governo? Ele teria pensado que isso era engraçado uma
vez. Mas afinal, não era como se ele estivesse indo para uma noite na
cidade.

Na verdade, ele não conseguia pensar na última vez que ele teve
uma noite na cidade.

Ele fechou as cortinas da cabana, arrastou as cobertas da cama


para deixá-la arejar. À luz do abajur, a cabana parecia quase
aconchegante: mantas Pendleton, lamparinas de óleo e as pinturas
antiquadas criavam a impressão de voltar no tempo. O mobiliário
lembrava-o de alguma coisa. Talvez a primeira e única vez que seu pai
o levou para acampar?

13
De qualquer maneira, era só uma noite, e então de volta para
aquecimento central e água quente abundante. Civilização.

Deu uma avaliação final à cabine, pegou o casaco e saiu para


jantar.

A chuva parou de novo. Era um mundo escuro e encharcado de


pinheiros imponentes e sombras profundas. A alguns metros dali, ele
podia ver a luz na cabana de Jonnie. Eles pareciam ser os únicos
hóspedes do resort. Isso era provavelmente normal para outubro. Além
de belas paisagens, esta área não tinha muito a oferecer aos visitantes
entre esportes aquáticos e esportes de inverno.

As agulhas de pinheiro amorteciam seus passos enquanto se


encaminhava para o restaurante à beira do lago. Através das árvores,
ele podia ver as janelas brilhantes e sentir o aroma apetitoso da carne
assada.

Estava muito quieto aqui fora. Tão quieto ele podia ouvir o
regaço da água do lago e o farfalhar da grama. Cada gota parecia
ampliada.

Ele não era nervoso. Não por inclinação e certamente não dado
seu treinamento. Ele sabia como cuidar de si mesmo, tinha toda a
confiança em sua capacidade de cuidar de si mesmo. Mas algo sobre
esse lugar o deixava desconfortável.

Ou talvez ele estivesse pegando o desconforto da xerife


McLellan. Porque ela estava... perturbada. Não alarmada exatamente.
O que quer que a estivesse incomodando não era algo que ela
identificara; ela não podia - ou talvez não estivesse pronta - para
colocar em palavras. Mas Adam não achou que ela estivesse se
sentindo desanimada com um assassinato de vinte anos de idade. Ela
não estava feliz com isso - e ela não esperava por isso -, mas isso não
era o que a preocupava.

Não, ela estava esperando algo muito pior.

E talvez ele estivesse errado, mas não achava que ela tivesse
ficado particularmente aliviada com o resultado daquela autópsia.

O aroma do lago ficou embaçado e flutuou em direção ao


litoral. Este seria um lugar assustador no Halloween.

Ele seguiu em frente. Estava mais longe do restaurante do que


ele pensara. As distâncias enganavam à noite.

Ele não conseguia afastar sua sensação de inquietação. Mas


talvez ele estivesse confundindo o que estava sentindo com algo mais
sinistro. Talvez o que realmente o incomodasse fosse a percepção de
quanto ele sentiria falta de Jonnie. Ela ainda estava planejando se
demitir depois do casamento. O grande dia estava a quatro meses de
distância, mas isso não parecia mais uma distância segura. Ele não
queria perder a parceria. Não apenas porque Jonnie era uma ótima
agente, embora isso certamente fizesse parte. E não porque ela era uma
amiga, embora fosse verdade que ele nem sempre era a pessoa mais
fácil de se conviver. Ele não se juntou ao Bureau para ganhar concursos
de popularidade. Mas Jonnie foi a primeira parceira que ele teve que
ele realmente tinha se conectado. Eles só estavam juntos há quatro
meses, mas formaram uma boa equipe. Eles nem mesmo tinham que
falar para saber o que o outro estava pensando, e não havia nenhum
antagonismo ou rivalidade que ele tinha experimentado com outros
parceiros. Ele gostava dela, ele a respeitava, confiava nela.

Mas ele não conseguiu um voto. Jonnie disse que um agente do


FBI por família era suficiente, então ela se demitiria em fevereiro.

Um prédio de dois andares, branco e desordenado, ladeado por


um pórtico em ruínas apareceu à vista. O Lakehouse ficava na beira da
água, ao lado de um convés longo e baixo que brilhava como ossos nas
luzes da varanda. A falta de luz da lua tornava difícil discernir mais do
que um telhado de cascalho e muito do que guias descreviam como
“charme rústico”.

O Lakehouse Restaurante e Bar estava aberto. Isso era tudo que


Adam se importava. As luzes brilhavam atrás das janelas e a fumaça
prateada entrava no céu noturno negro.

Ele subiu um pequeno lance de escadas. Na placa na janela da


porta da frente lia-se. Estaremos fechados de 15 de outubro a 15 de
março. Boas Festas Te vejo em breve!

A julgar pelos sons dentro, os moradores estavam dando um


afetuoso adeus ao lugar. Ele hesitou. Ele estava pensando em uma
refeição quieta e em alguns drinques. De acordo com a xerife McLellan,
suas únicas outras opções eram uma pizzaria e um bar do tamanho de
uma caixa de fósforos, otimisticamente chamado Marina Grill - embora
se eles grelhassem algo além de queijo e pão, ficaria surpreso.

Adam abriu a porta e entrou para o calor e vozes altas.

Uma menina pequena com uma cabeça selvagem de cabelo


verde-claro cumprimentou-o e perguntou quantos para o jantar.
– Apenas um. – Adam disse.

A garota com o cabelo cor de sereia deu-lhe um olhar de pena,


consultou uma prancheta e chamou-o para segui-la. Ele a seguiu pelo
longo e lotado bar - muitas camisas de flanela, coletes, casacos de caça.
Havia algumas mulheres, mas os olhares sombrios e curiosos que se
encontravam com os dele eram em sua maioria masculinos.

Um homem grande e corpulento, de barba preta e olhos azuis


penetrantes, mediu-o - e virou as costas.

Ele recebia muito isso.

Em uma aldeia do tamanho de Nearby, não haveria mistério


sobre quem ele era e por que ele estava lá. De fato, qualquer um desses
homens bebendo e rindo com seus vizinhos poderia ser o suspeito
responsável pela morte de John Doe na estrada madeireira. O homem
de cabelos prateados usando uma jaqueta de franja e flertando com a
garçonete? Ele deveria ser preso simplesmente por usar franja aos
cinquenta.

Esse era o problema com este trabalho. Você não podia entrar
em um bar sem se perguntar quem estava atrasado com seus
pagamentos de pensão alimentícia, quem estava batendo em sua
esposa, quem estava despejando corpos em estradas secundárias. Era
mais fácil ou mais difícil conviver com as pessoas que você estava
policiando?

Adam viu o delegado Haskell e quase tropeçou no primeiro


degrau de uma pequena escada de transição que levava à sala de jantar.
– Cuidado com o degrau! – A anfitriã de cabelos verdes disse,
atrasada, por cima do ombro.

Haskell estava bebendo o que parecia ser escocês e,


aparentemente, pegava um comentário amigável de seus
companheiros. – Inocente! Não culpado. – Ele protestou, rindo e
balançando a cabeça. Seu olhar passou a deslizar na direção de Adam,
e, embora ele não fizesse exatamente um duplo exame, por um instante
- um instante que pareceu durar muito tempo - seus olhos se
encontraram.

Adam estava ciente de que seu coração estava subitamente


batendo muito rápido e seu rosto estava quente.

Não adiantava fingir que não passou por sua cabeça que
talvez... ele realmente não esperava. As coisas raramente funcionavam
assim para ele nos dias de hoje. E em uma cidade tão pequena como
essa - pequena demais para ser chamada de cidade, na verdade - ele
imaginou que poderia haver alguns obstáculos. Como talvez uma
esposa e filhos.

E ele poderia estar errado. Na verdade, ele provavelmente


estava errado. Ele não era ótimo em pegar esses tipos de sinais. Muito
melhor em ler psicóticos do que homens normais, de acordo com
Tucker.

O último cara que ele queria pensar agora era Tucker.

– Que tal aqui? – Perguntou a recepcionista, parando diante de


uma pequena mesa de canto posicionada sob duas gravuras de Norman
Rockwell.
– Ótimo. – Não era ótimo, porque ele não podia ver Haskell,
agora bloqueado por trás de uma parede de xadrez e jeans. Era a única
mesa vazia, então Adam sentou-se, pegou o cardápio estragado e olhou
fixamente para as páginas manchadas de ketchup.

– Posso pegar algo para você beber? – Perguntou a anfitriã.

– Gin tônico.

– Well gin ok?

Ainda no piloto automático, ele disse: – Claro. – E então,


quando a anfitriã desapareceu, poderia ter se chutado. Ele odiava gin
barato. Odiava qualquer coisa barata, na verdade.

Adam estudou o cardápio mais um pouco. Os arranhões


entraram em foco e ele começou a ler suas opções. Muita carne. Em
algum lugar entre a picanha defumada e o bolo de carne certamente
teria algo que ele gostaria de comer. As autópsias sempre tiravam seu
apetite. Mesmo depois de todos esses anos. Não que houvesse muito a
autopsiar em um conjunto de restos de vinte anos de idade. Isso
realmente não o tornava muito melhor.

A cadeira em frente a ele raspou madeira contra madeira


quando foi arrastada para fora. Haskell - magro, compacto e de ombros
largos - sentou-se. – Oi.

O coração de Adam deu um pulo. – Oi, ele disse.

– Tudo bem se eu me juntar a você?

Era um pouco tarde para perguntar, mas Adam não estava


objetando. – Certo.
Haskell ofereceu sua mão. – Rob. – Ele estava sem uniforme,
vestindo jeans e uma camisa xadrez vermelha. Seu cabelo era escuro e
grosso e, apesar do corte conservador, caía de maneira juvenil em sua
testa. Adam sentiu um pouco mais daquela bela loção pós-barba: uma
mistura de sequoia e frutas cítricas. Discreto e masculino. Como o
próprio Haskell.

– Adam. – Eles apertaram as mãos, e ele gostou da pressão


firme e fácil do aperto de Rob. Ele realmente se cansou de caras que
achavam que esmagar seus dedos provavam que não eram intimidados
por um homem do governo.

– Eu recomendo a picanha defumada. – Rob acenou para o


cardápio.

– Eu acho que estou indo para o frango Alfredo.

– Tudo está bem aqui. – Rob terminou sua bebida. Seus olhos
castanhos encontraram os de Adam e ele sorriu. Ele era um cara bonito
e ele sabia disso. Tudo bem. Adam gostava de autocontrole e gostava de
autoconfiança, sendo ele mesmo confiante e seguro. Pelo menos na
maioria das coisas.

Rob começou:– Há quanto tempo você está com o Bur... - A


anfitriã, que aparentemente estava trabalhando como garçonete,
apareceu com o gim tônico de Adam.

―Ei, Robbie. – Ela disse, mostrando as covinhas.

– Ei, Azure.
Rob e Azure conversaram por alguns momentos antes de Azure
se lembrar de pegar o pedido de Adam. – Boa escolha, ela aprovou o
frango Alfredo. Ela agitou os cílios postiços para Rob e partiu.

Adam bebeu sua bebida.

– Então você faz parte dessa força-tarefa do Roadside Ripper? –


Rob perguntou.

Azure deve tê-lo jogado fora, porque era uma abertura bem
coxa. Ambos sabiam que ele já tinha a resposta para isso. Talvez as
especulações de Adam sobre Rob ainda estarem no armário estivessem
certas. Fácil acreditar em um lugar próximo das florestas. De qualquer
forma, essa não era uma conversa que Adam queria ter. Por muitas
razões, não menos do que era... hora do jantar. Ele respondeu com sua
própria pergunta. – Há quanto tempo você está no departamento do
xerife?

– Gabinete do xerife? Doze anos.

Adam assentiu. Rob parecia estar em seus trinta e poucos anos.


Mais ou menos da sua idade. Um homem no auge de suas habilidades.
Que provavelmente foram desperdiçadas aqui. – Você cresceu
localmente?

– Não. Eu sou de Portland originalmente. Eu mudei para cá


para o trabalho. E o cenário.

Adam sorriu.

– Fotógrafo amador. – Rob explicou.

– Ah.
– E o que você faz quando não está perseguindo serial killers?

– Eu corro.

Rob riu e Adam riu também, embora não estivesse brincando.


Ele não tinha hobbies. Ele corria e ia para a academia. Isso era o mais
perto que ele chegou a um hobby. Quando ele era criança, ele
colecionava aviões modelo antigos. Por um tempo ele esteve
navegando.

E, novamente, pensar no passado não era produtivo.

A conversa murchava. Rob ergueu o copo vazio e, do outro lado


da sala barulhenta, uma das garçonetes o viu e assentiu. Rob apontou
para Adam. A garçonete assentiu novamente. Rob se virou para Adam
e sorriu brevemente.

Adam atormentou seu cérebro por um assunto neutro de


conversação. Ele era muito ruim nessa parte. A outra parte, a parte que
vinha depois - assumindo que você passasse por essa parte - ele era
bom. Não tão bom que isso contasse como um hobby, mas ele
definitivamente gostava disso.

Finalmente ele veio com: – Então você tem um caso frio.

– Sim. Bem... – Rob encolheu os ombros.

Isso surpreendeu Adam. – Não?

– Vinte anos depois e sem identificação? – O sorriso de Rob era


irônico.

– O Gabinete do Xerife não vai investigar?


Não havia como esconder a nota de desaprovação na voz de
Adam, porque o sorriso de Rob diminuiu. – Investigar o que? Um
atropelamento-e-fuga de vinte anos de idade? De qualquer forma, cabe
a Frankie. Xerife McLellan, quero dizer.

Mas. que. Inferno. No entanto, Adam não queria que seu


desgosto com essa abordagem indiferente para a aplicação da lei
atrapalhasse a obtenção de uma transa. – Certo.

– Olha, Rob disse. – Nós faremos o que pudermos, mas não


somos o FBI. Nós não somos nem o PD de Portland. Somos um
pequeno escritório rural, e passamos a maior parte do tempo lidando
com crianças ateando fogo e vandalizando propriedades - ou idiotas
que acham que atirar em esquilos no jardim da frente faz parte do
direito de portar armas. O fato de que nós até ligamos para você deve
demonstrar o quão longe de nossa profundidade estamos com esse tipo
de coisa.

– 'Esse tipo de coisa' é um atropelamento-e-fuga de vinte anos


de idade?

O olhar sombrio de Rob não sorria. – Ok. – Ele admitiu. –


Talvez não tenha sido um atropelamento-e-fuga. Eu nunca soube que
um motorista atropelou e fugiu para enterrar suas - ou sua - vítimas.
Mas não foi o seu cara também. Certo?

– Não. Certo. – Adam disse. Ele nunca havia conhecido uma


vítima atingida e atropelada com força suficiente para matar, ainda que
de alguma forma não quebrasse nenhum osso.

– As pessoas fazem coisas malucas em pânico.


– Isso é verdade.

A profundidade grave e o uso do terreno para esconder o corpo


indicavam pânico e pressa. A localização remota, no entanto, indicava
premeditação.

– Eu ainda não sei por que Frankie imediatamente assumiu que


esse era um dos seus como vocês chamam? Suspeitos.

Adam fez uma careta interiormente. Rob não era tão hostil
como Lang, mas ninguém na força policial gostava do FBI circulando
suas cenas de crime. Não importava que o FBI geralmente tivesse que
ser convidado por alguém no comando; eles não apenas invadiam uma
investigação de homicídios por que queriam. Ele disse de forma
neutra: – Estamos recebendo muito disso nos dias de hoje.

– É um fato que as rodovias, as interestaduais, são locais de


despejo populares para corpos.

– Sim. Correto.

– Então, por que Frankie chegou à conclusão de que um único


corpo no meio do nada tinha que ser parte de sua investigação... eu não
entendo.

Adam sacudiu a cabeça. Rob estava principalmente discutindo


com ele mesmo.

Eles vieram até aqui sabendo que era um longo caminho. O


Estripador selecionava suas vítimas cuidadosamente, principalmente
atacando os jovens que trabalhavam ou frequentavam clubes e bares
gays nas cidades e grandes cidades conectadas pela Interestadual 5. Ele
escolheu um segmento vulnerável da população. Vítimas que
dificilmente seriam reclamadas. Vítimas que, mesmo que fossem
esquecidas, a polícia local provavelmente não investigaria as
circunstâncias de seu desaparecimento.

E o Estripador já estava há muito tempo nisso. Sem fim à vista.

Azure apareceu com suas bebidas e o jantar de Adam. A


velocidade com que essa entrada foi entregue não era encorajadora.
Adam comeu de qualquer maneira. Azure, agora flertando com os caras
na mesa ao lado, removeu os copos vazios e partiu.

Rob disse em um tom diferente de voz: – Não que eu me


importe de você estar aqui. – Ele sorriu com um charme deliberado
para Adam e Adam sorriu de volta, aliviado por estarem voltando aos
trilhos. Se ainda houvesse um caso aqui, eles não estariam fazendo essa
dança. Ele não acreditava em se envolver com colegas de trabalho e
membros da equipe. Não depois de Tucker. Não depois da maneira
como esse relacionamento terminou. Nunca mais.

Mas esse não era o caso deles, e ele nunca mais veria o vice Rob
Haskell depois daquela noite.

Ele sorriu de volta e disse: – Ótimo. Porque isso é exatamente


onde eu quero estar.

O sorriso de Rob se alargou.

s
Três drinques e um prato medíocre de frango Alfredo mais
tarde, Adam e Rob voltaram pela grama encharcada e árvores altas até
a cabana de Adam.

As luzes estavam apagadas na de Jonnie, que Adam ficou feliz


em ver. Não que Jonnie tivesse muito a dizer sobre isso. Essa era outra
razão pela qual ele odiava perdê-la como sua parceira. Ele gostava de
manter sua vida particular privada. Eu acho que a palavra é segredo,
ela disse quando o assunto surgiu sobre quem ele estaria trazendo para
o casamento.

Adam se atrapalhou com a chave e Rob riu.

– Você se incomodou em trancá-la?

– A paranoia é boa para a alma.

– Provavelmente não.

– Provavelmente não. – Adam concordou. Ele empurrou a porta


e procurou um interruptor de luz.

Rob passou por ele e, um momento depois, uma das lâmpadas


de mesa se acendeu. – Aqui vamos nós. – Ele sorriu e o triângulo de luz
lançou uma sombra sinistra em seu rosto.

Não seu primeiro rodeio, claramente. Nem mesmo seu


primeiro rodeio nesta cabana. O que estava bem. Não importava para
Adam. Ele estava curioso embora.

– Então você está fora?

Rob, no processo de desafivelar o cinto, riu. Ele puxou seus


jeans e shorts. – Eu estou esta noite.
Sim ele estava.

Adam riu também, tirando o paletó e tirando o coldre de


ombro. Ele não pôde deixar de notar que Rob não estava usando sua
própria arma.

– Você não está armado?

Rob jogou sua própria camisa no estojo do computador de


Adam. – Estou de folga.

Mais uma vez, Adam reprimiu um comentário que poderia


potencialmente prejudicar os eventos atuais. Talvez sua falta de
expressão fosse outra palavra para sobre a força policial porque Rob
sorriu e disse: – Tudo bem. Você vai me proteger, certo?

Ele percebeu que gostava do senso de humor de Rob. – Sim. Eu


protegerei você.

Rob, agora totalmente e, francamente, magnificamente nu,


caminhou até ele e envolveu Adam em seus braços. Ele sussurrou: –
Mas quem vai te proteger?

Adam passou os braços ao redor dos ombros largos de Rob e se


contorceu sugestivamente, pênis contra pênis.

Os ombros de Rob eram largos, os braços musculosos. Suas


coxas eram musculosas também, pressionando contra as de Adam. Ele
tinha um corpo forte e atlético - apertado e tonificado sob a pele como
seda quente. Adam deixou suas mãos vagarem, gostando de tocar,
explorar...

Rob gemeu. – Jesus, há algo sobre um homem que não está de


uniforme.
Isso fez Adam rir. Rob era um cara engraçado. Ele não estava
acostumado a sexo sendo uma coisa leve e brincalhona. Prazer sim,
definitivamente. Também necessidade biológica e alívio do estresse. As
piadas de Rob o pegaram de surpresa - assim como a tentativa de Rob
de beijá-lo.

Ele gostava do cheiro de uísque no hálito quente. Os lábios


carnudos de Rob eram firmes e macios, mas eram muito pessoais.
Demasiado reminiscente de outra pessoa. Ele se esquivou da boca de
Rob, acariciando-o embaixo da orelha, sob a mandíbula, pulando
contra ele novamente, intencionalmente agora. Mais impulso do que
saltar. O que quer que estivessem fazendo, ele queria seguir em frente.

– O que você quer? – A voz de Rob era profunda e áspera. –


Apenas diga. O que quer que seja…

Isso foi generoso. Extraordinariamente generoso. – Você tem


camisinha?

– Uh… sim. Aguente…

– Não indo para qualquer lugar. - Adam parou, respirando com


um chiado quando Rob se abaixou, puxando-o para um ombro
desajeitado e jogando-o sobre a cama. Algo abaixo dele deu um estalo
alto, e o colchão afundou no meio como se estivesse se esvaziando.

A expressão de Rob foi inestimável e Adam começou a rir.

– Finja que você não percebeu isso. – Rob estava rindo também,
caçando seus jeans. Ele encontrou os olhos de Adam, imitando sua
pressa frenética e rasgou a calça jeans em dois, e Adam riu novamente.
Ele não deixou de perceber que, quando Rob pousou na cama
ao lado dele, ele estava perfeitamente certo de sua recepção, divertido e
um pouco convencido. Não era um palhaço, mas não tinha medo de
bancar o palhaço se ele conseguisse o que ele queria.

– Você tem olhos realmente verdes. – Rob comentou. – Eu


posso dizer a cor mesmo sob essa luz.

– Você tem um pau realmente grande. – Adam voltou,


estendendo a mão para ele. – Eu posso dizer o tamanho mesmo se eu...

Foi bom. Apenas o que ele precisava. Exatamente o que ele


precisava.

Adam usava o preservativo e Rob se deixou levar, pernas


peludas apoiadas nos ombros de Adam enquanto ele olhava com olhos
escuros e intensos para o rosto de Adam. Não submisso. Apenas sendo
um bom embaixador. Bem-vindo à Nearby. Venha pelo serial killer e
fique pelo péssimo frango Alfredo.

Se Adam ficasse mais um dia, Rob usaria o preservativo na


próxima vez, e Adam seria aquele que ficaria agradavelmente pregado
no colchão mofado.

Mas se Adam ficasse mais um dia, eles não estariam fazendo


isso de qualquer maneira.
Ele olhou para baixo e o pênis de Rob era enorme, ingurgitado
e corado, empurrando-se carente e ansioso sobre o plano tenso do
abdômen de Rob. Sua pele era inesperadamente branca como neve.
Como se ele não tivesse passado muito tempo no sol. Que, sendo
Oregon, ele provavelmente não o fez.

– Sim, vamos lá. – Rob sussurrou urgentemente. – Traga para


casa.

Algo parecido. Adam não estava escutando. Ninguém nunca


disse nada inteligente durante o sexo. Incluindo ele mesmo. Era tudo
sobre sensação física, principalmente a sua, embora ele esperasse que
fosse bom para Rob também. De longe, parecia que sim.

Adam jogou a cabeça para trás e revirou os quadris. Rob estava


empurrando para trás, combinando seu ritmo com facilidade, e o calor
escorregadio dele era apenas...

– Bom. Tão bom pra caralho. – Adam murmurou. Ele dava


golpes curtos agora, quadris balançando, bombeando furiosamente,
um trabalho de prazer. A base da espinha dele formigou, as bolas dele
apertaram, espere... só mais alguns segundos...

O mundo se encolheu com isso. Um passeio suado e ensopado à


meia-noite, inferno de couro, correndo pela escuridão em direção a...

Oh Deus.

Explosão quente e úmida de liberação requintada. Ele viu


estrelas. Ele sentiu estrelas.

Ele gritou, e em algum lugar na noite Rob gritou de volta.


E a urgência, a necessidade que o conduzia diminuiu, diminuiu
a velocidade, tropeçou para uma caminhada, depois mancou, e depois
parou, tremendo e tonta.

Rob arqueou, gritou novamente... só se transformou em um


yodel. Um yodel?

– Yodel-Aye-EEE-Oooo!

Sim, um yodel. Seguido pelo riso. Esse cara esteve nas


montanhas por muito tempo.

– Jesus, porra de Deus isso foi ótimo. – Rob proclamou


finalmente. Mesmo na escuridão, seus olhos estavam brilhando e seus
dentes estavam brancos. Talvez ele conseguisse transar ainda menos
do que Adam.

Molhado, pegajoso, gasto, Adam caiu ao lado dele. – Você foi


ótimo. – Ele disse, e apertou o ombro de Rob. Ou ele esperava que
fosse o ombro de Rob. Talvez fosse o joelho dele. Suas pálpebras se
sentiram pesadas. O quarto cheirava a sexo e lençóis velhos e Rob. Isso
era um inferno de uma bela loção pós-barba. Ele fechou os olhos.

Quando ele levantou os cílios, estava sob os cobertores fétidos e


a cabana estava quente.

Ficou surpreso por ele ter se permitido adormecer, quanto mais


profundamente o suficiente para não notar Rob acendendo o fogo no
fogão. Ele ficou mais surpreso quando sentiu um toque delicado em
seu pulso. Ele virou a cabeça.

Rob descansava de lado, a cabeça inclinada, traçando um dedo


ao longo dos elos prateados da pulseira de Adam. Seus cílios jogaram
crescentes escuros nas maçãs do rosto.

– Bonito. – Ele levantou a cabeça e encontrou o olhar de Adam.

Adam deu um sorriso.

– Muito… refinado.

Isso provavelmente não foi um elogio. Adam não respondeu.


Rob o estudou. Ele disse devagar:– Você está dizendo que o governo
federal não tem problema com isso?

– Com isso? – Demorou um segundo para que Adam lembrasse


da conversa anterior. – Se você quer dizer que o Bureau discrimina o
pessoal gay, não.

Rob levantou as sobrancelhas. Não convencido? Não


impressionado?

– J. Edgar Hoover deixou o prédio. Muito tempo atrás, na


verdade.

– Sim? Bem, há política oficial e depois há realidade.

Isso era verdade. Nenhum argumento aí. Provavelmente não


havia uma profissão no mundo em que as bases não lutassem para
equilibrar os ideais com a prática.
Ele ficou vagamente desapontado quando Rob se levantou da
cama amarrotada em um movimento rápido e ágil. Ele se moveu ao
redor do quarto, pegando suas roupas e se vestindo.

Adam abriu a boca para dizer... O que? Você pode ficar?


Provavelmente não era uma boa ideia, mesmo que Rob mostrasse
alguma indicação de querer se demorar. O que ele não fez. E Adam
particularmente não queria isso também. Era só que às vezes... depois
do sexo... ele se sentia solitário.

E esta noite em particular. Essas madeiras, a escuridão além


dessas quatro paredes, a quietude antinatural que o fazia temer o
momento em que ele ficaria sozinho com nada além de pensamentos e
lembranças como companhia.

– Então você não está fora? – Ele observou Rob vestir sua
camisa de xadrez vermelho.

Rob olhou para cima, assustado. – Hã? Bem, eu tenho certeza


que não, como você deve ter notado.

– Ok. – Não importava para ele, afinal de contas. A curiosidade


fazia parte da descrição do seu trabalho.

Rob puxou a calça jeans com velocidade eficiente, prendeu o


cinto. – Eu não gosto de pessoas conhecendo o meu negócio. Isso é
tudo. Eu gosto de manter minha vida particular privada.

– Certo. O mesmo aqui.

Rob piscou. – Se vejo algo de que gosto, não me importo de


fazer isso.
Adam sorriu. Ele podia entender isso e tinha sido um encontro
muito agradável. – Estou feliz com isso.

– O prazer foi todo meu. – Rob disse. Então ele sorriu. – Bem,
espero que não, mas muito disso foi meu. – Antes que Adam pudesse
responder a essa bravata inesperada, Rob abriu a porta e entrou no
escuro. Ele disse alegremente: – Boa noite. Não deixe os percevejos
morderem.

A porta se fechou suavemente.


Capítulo três

Prontamente às cinco horas da manhã seguinte, Rob bateu na


porta da cabana de Adam. Adam, parecendo tenso e bem arrumado -
tão bem arrumado que Rob, se ele não o tivesse visto pessoalmente
como um gaio azul, teria adivinhado que nunca tinha se despido na
noite anterior - abriu a porta e franziu a testa em desaprovação.

– Quase na hora, Delegado.

Rob sorriu alegremente. – Bom dia para você também, Darling.

O rosto de Darling ficou ainda mais sombrio. Ele


provavelmente teve uma vida inteira de piadas sem graça como essa.
Ainda. No entanto, quando Rob passou por Adam, ele percebeu que o
agente Gould estava sentada em sua cabana, tomando café instantâneo
e olhando surpresa para eles.

– Uh, desculpe. – Rob disse. – Não levará mais de quarenta e


cinco minutos para chegar ao aeroporto. E a esta hora, numa manhã de
terça-feira, você não estará lidando com longas filas.

– Bom dia, delegado. – Gould disse. Ela colocou a xícara de café


para baixo e pegou o estojo do computador.

– Sim, é senhora. Qualquer manhã que não está chovendo é um


bom dia.

Adam pegou seu sobretudo, deu a Rob um olhar austero e


seguiu sua colega para fora da porta.
Bem inferno. Nenhuma ofensa tomada. Ele imaginou que,
mesmo se tivesse chegado mais cedo, Adam teria sido o mesmo. Um
cara muito cortante, agente especial Darling. E noites como a noite
anterior eram provavelmente uma raridade. Elas eram uma raridade
fora da temporada para Rob também. Isso era falta de oportunidade,
não falta de inclinação. Com Adam... bem, ele provavelmente não
gostava de nada que estragasse o penteado de quinhentos dólares.

Rob suspirou quando ele caiu em formação.

A viagem, como prometido, não levou mais que quarenta e


cinco minutos. Rob foi deixado para seus próprios pensamentos,
pontuado pelo estalo do rádio, enquanto os agentes se aproximavam
silenciosamente no banco de trás. Ficou desapontado por todas as
linhas de comunicação terem sido cortadas entre ele e Adam - não que
houvesse algo que ele quisesse dizer. Se você voltará à área? Não
muito provável. Se eles quisessem tratá-lo como um motorista, que
assim seja.

Quando chegaram ao estacionamento do aeroporto, o agente


Gould disse obrigado e adeus, oferecendo aquele sorriso muito bonito e
atravessando rapidamente a rua até o terminal, sem esperar por seu
parceiro. Inteligente e discreta. Ele gostava disso em uma mulher.

– Tenha um bom vôo para casa. – Rob disse para Adam.

Tendo chegado ao aeroporto com bastante antecedência, Adam


relaxou. Ele parecia cansado, havia sombras sob seus olhos verdes, mas
ele sorriu para Rob. Ele tinha um sorriso atraente e peculiar - apesar
dos incisivos visivelmente afiados - e Rob lamentou novamente que a
noite anterior tivesse sido uma coisa única. Havia um cara em Klamath
que ele via de vez em quando. Ninguém especial. E Adam parecia...
especial. Ou pelo menos diferente de qualquer outra pessoa que Rob
conhecesse.

– Sim, obrigado. – Adam disse. – Obrigado pela ajuda. E ontem


a noite. – Havia uma sugestão de cor em seu rosto, que Rob achou
meio que carinhoso.

– Obrigado. – Ele disse, que infelizmente soou mais indecente


do que ele pretendia.

Adam apenas riu. – Boa sorte, ele disse, e se virou.

Rob considerou essas palavras finais quando Adam atravessou


a estrada e desapareceu pelas portas de vidro. Talvez Adam estivesse
lhe desejando boa sorte com seu caso frio, ou talvez estivesse
desejando-lhe boa sorte por ser o único homem gay dentro de sessenta
quilômetros.

De qualquer maneira, ele provavelmente poderia usar toda a


sorte que pudesse conseguir.

*****

– Diga o que quiser. – Frankie chamou do escritório quando ele


finalmente voltou para a estação por volta das três da tarde. – Há
vantagens em morar em uma cidade pequena.

– Nearby é muito pequena para se qualificar como uma cidade.


– Retrucou Rob. Ele estava apenas sendo rabugento, e não havia razão
para isso. Nenhuma razão para se sentir mal, mas ele se sentia. Sentia-
se assim desde que deixara Darling e Gould no aeroporto. Seu último
chamado - ajudar Jack Elkins a cavar sua picape da lama mais uma vez
- não melhorou seu humor. Não que ele estivesse entediado. Não que
ele se arrependesse de ter escolhido a paz e o silêncio do policiamento
rural ao invés da excitação e o glamour de perseguir os viciados e
prostitutas em Portland. Não havia como negar que ele estava se
sentindo inquieto.

Talvez ele visse seu amigo em Klamath Falls neste fim de


semana.

O bom humor de Frankie não diminuiu. – Às vezes, morar em


uma cidadezinha trabalha a seu favor. Nós com certeza não obteríamos
esses tipos de resultados na cidade grande.

Ela estava acenando com uma pasta de papel pardo, e Rob se


aproximou para se apoiar na porta do escritório. Ele cruzou os braços.
– Significa o que?

Seu sorriso era amplo e estranhamente jovial. – Registros


dentários. Nós combinamos eles com nosso John Doe encontrado na
estrada.

– Já? Você está brincando.

– Não.

– Legal. – Rob aprovou. – Então ele era local?

– Sim. Ele com certeza foi. Dove Koletar. – Ela estava olhando
para ele, assim deveria significar alguma coisa.
Rob olhou por cima do ombro. A estação estava vazia embora.
Zeke tinha avisado que estava doente naquela manhã, e foi por isso que
Rob havia ficado com o serviço de táxi. E Aggie estava de licença
familiar, comparecendo ao funeral do pai em Las Vegas. Ele se voltou
para Frankie. – Quem?

– Dove Koletar. Seus pais costumavam ter as cabanas perto do


lago. Marion vendeu para Sid Lodi depois que Roger morreu.

Rob sacudiu a cabeça. Muito antes do tempo dele.

– Dove era… você sabe. – Frankie disse.

Rob adivinhou: – Não era bem na cabeça?

– Gay.

Agora, Rob entendia o que aquele olhar significativo


significava. Um dos seus. – A mesma coisa na cabeça de algumas
pessoas. – Ele disse facilmente.

Frankie riu profundamente, a risada de fumante. – Naquela


época, com certeza. É por isso que ninguém ficou surpreso quando ele
saiu da cidade.

– Você quer dizer quando ele desapareceu?

– Não. Não, não havia mistério sobre isso. Dove deixou uma
carta. Eu me lembro disso muito bem. Ele deixou uma carta para seus
pais dizendo que ele estava deixando esta cidade caipira para sempre.
Eu me lembro disso particularmente porque o comentário da 'cidade
caipira' irritou todos nós, os caipiras.

– Ele era um fugitivo então?


– Não. Ele tinha vinte e poucos anos. Eu tinha cerca de vinte e
dois anos, e estávamos juntos na escola, então ele era maior de idade.
Dove estava infeliz, e ele não se encaixava. Ninguém ficou surpreso
quando ele saiu. A surpresa foi que ele esperou tanto tempo quanto ele
fez.

– Ele não foi muito longe.

– Não, ele não foi. – Frankie parecia sombria.

– Alguma outra evidência de como Koletar morreu?

Frankie sacudiu a cabeça. – Seus restos mortais estão sendo


transportados para Klamath Falls, onde Doc pode realizar um exame
real. Ele vai trazer um antropólogo forense também.

Rob grunhiu. Antes tarde do que nunca. Ele disse: – Então


temos um caso frio.

– Parece que sim. – Frankie jogou a pasta para sua mesa, e Rob
estendeu a mão para pegá-la. – O que aconteceu com a invasão no
museu?

– Tentativa de invasão. – Rob abriu o arquivo. Não era nada


além do relatório preliminar da autópsia e uma cópia dos registros
dentários. Seu olhar aguçou enquanto estudava as datas nos registros
dentários. – Espere um minuto. Estes são de trinta anos atrás.

– Sim.

– Doc estava errado então? Esse cara desapareceu há trinta


anos?
– Nada de errado com suas habilidades matemáticas. Agora,
que tal a invasão do museu?

– Alguém que não sabia o que estava fazendo tentou arrombar a


fechadura da porta dos fundos. Quando isso não funcionou, eles
tentaram chutar a porta. Foi quando a Sra. Joseph acordou e assustou-
os.

– Ela deveria ter nos chamado ontem à noite quando aconteceu.


Não tenho certeza do que ela acha que poderíamos fazer sete horas
depois.

– Ela disse que sabia que ele não voltaria, e não queria acordar
ninguém quando não podíamos ver nada até a luz do dia.

– Há algo como ser muito atencioso. – Frankie disse.

– Sim. – Rob ficou feliz por a Sra. Joseph não tê-los chamado
no meio da noite. Por muitas razões. E a verdade era que eles não
teriam sido capazes de fazer muito até a luz do dia. O garoto ou as
crianças que tentaram invadir o local já tinham ido há muito tempo
quando ele ou Zeke chegaram ao museu.

De qualquer maneira, o museu era tecnicamente terras


federais, assim qualquer problema era tanto a jurisdição dos guardas
do parque quanto deles. Não que houvesse um excedente de guardas
florestais nos dias de hoje. Não com todos aqueles bons e velhos cortes
do governo.

Frankie franziu a testa, pensando.

Rob disse: – Eles precisam de um alarme naquele lugar.


– Um sistema de alarme custaria mais do que qualquer coisa
nesse museu vale a pena. – Disse Frankie, e isso provavelmente era
verdade. – Você limpou por impressões?

– Eu tentei. Além do fato de que estava chovendo durante a


maior parte da noite passada, muitas pessoas tocaram nessa fechadura.
Eu não consegui nada útil. Fiz um molde da bota do lado de fora da
janela quebrada. Tamanho quarenta e um, botas de caminhada, nada
distinto ou incomum.

Frankie ainda estava franzindo a testa.

– O que? – Rob perguntou.

Ela disse devagar: – Você sabe, Robbie, um dia você vai ser
xerife de Nearby.

– O que? Eu? De jeito nenhum. – Ele sentiu uma genuína


pontada de alarme com a ideia.

– Quem então? Zeke? Aggie? – Frankie sacudiu a cabeça.

– Não é um título hereditário, você sabe. O conselho da cidade


poderia contratar alguém de fora. – Ele jogou o arquivo de Koletar de
volta na mesa cheia de lixo.

– Eles poderiam e provavelmente o fariam se você não


progredir.

– Progredir? – Rob protestou. – Como eu não estou


progredindo?

A carranca de Frankie se aprofundou. – Nem tudo é


brincadeira.
– Eu não acho que tudo é uma piada. – Ele começou a ficar
irritado. – Eu não acho que há algo engraçado sobre uma tentativa de
invasão. Não sei se o plano foi roubo ou vandalismo, mas não estou
rindo. Eu tentei obter impressões digitais. Eu fiz um molde das
impressões de pegadas.

Frankie acenou com a mão rejeitando. – Eu não estou falando


sobre isso.

– Bem, então o que?

Ela balançou a cabeça, como se não valesse a pena responder. –


Marion Koletar está morando em Klamath Falls agora. Ela precisa ser
notificada.

Ele disse secamente: – Tudo bem. – Não havia nada que ele
odiasse mais do que uma notificação. Ter que dar esse tipo de notícia
para um ente querido? Houve um lado brilhante embora. Ele
provavelmente poderia arranjar um encontro com seu amigo enquanto
ele estivesse lá. Talvez jantar juntos. Ou melhor ainda, pular o jantar
completamente.

– Eu quero que você tome a frente nesta investigação.

– Entendido. – Como se houvesse alguma questão? O que


diabos tinha entrado nela?

– E não fique de mau humor.

Agora isso realmente foi desnecessário. Rob abriu a boca,


captou o brilho nos olhinhos redondos e disse: – Bem, Frankie. Você já
disse que conhecia a vítima. Eu acho que talvez eu deva começar
entrevistando você.
Frankie jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada
profunda e alarmante. – Talvez você deva. Não há muito que eu possa
te dizer. Dove não era amigo. Ele não tinha muitos amigos. Tipo
solitário, como eu disse. Ninguém ficou surpreso quando ele decolou.

– E os inimigos? Você disse que todo mundo sabia que ele era
gay. Trinta anos atrás, isso pode não ter corrido bem com algumas
pessoas.

Frankie pareceu pensativa. – Eu não me lembro dele sendo


intimidado na escola. Não mais do que ninguém. Principalmente as
pessoas só o deixavam sozinho. Ele era estranho. Além de ser gay,
quero dizer.

Sim, bem, isso era uma maneira conveniente de olhar para isso.
Rob disse: – Então, sem amigos e sem inimigos? Ele era apenas um
fantasma?

Ela encolheu os ombros. – Você pode dizer isso.

– Você disse que foi para a escola juntos. Havia uma escola em
Nearby?

– Ha! Uma pequena escola vermelha de uma sala? É isso que


você está pensando? Não. Naquela época, as crianças daqui subiam de
ônibus para Klamath Falls, como fazem agora. Fomos ao Haney
Elementary, depois à Haney Middle School e depois à Haney High
School.

Isso foi um alívio. Poderia haver algum tipo de pista lá. Ou pelo
menos uma dica sobre o caráter da vítima. Quem foi Dove Koletar? Ele
precisava de algo mais do que registros odontológicos e lembranças
vagas. – Ok. Vou entrar em contato com a mãe e fazer arranjos para
entrevistá-la.

– Boa ideia. – Frankie disse.

*****

– Você não está me contando nada que eu já não saiba. – Disse


Marion Koletar. – Eu sabia que Dove estava morto. Eu sei há anos que
meu garoto estava morto.

Ela era uma mulher pequena e desbotada, com cabelos


desbotados e olhos desbotados. Olhos secos. Ela não estava
derramando nenhuma lágrima. Sua voz estava cansada, quieta; Rob se
viu inclinado para ouvir melhor toda vez que ela falava.

Não demorou muito para encontrá-la, mas fazê-la responder a


maldita porta? Isso levou algum tempo. Ele tentou bater duas vezes e
depois tentou deixar uma mensagem telefônica. Finalmente ele
estacionou em frente ao prédio onde ela morava e esperou que ela
aparecesse.

E ela parecia tão diferente do que ele imaginou que ele quase
sentiu falta dela quando ela finalmente surgiu, empurrando seu
carrinho de compras. Ele estava esperando alguém mais velha e mais
rica. Afinal, Frankie e Dove tinham sido colegas de turma, e ela
vendera as trinta e quatro cabines à beira do lago por uma pequena
fortuna. Ela não parecia muito mais do que a idade de Frankie, e ela
não parecia ser particularmente abastada a julgar pelo conteúdo de
suas sacolas de supermercado. Uma dúzia de caixas de espaguete Lean
Cuisine e uma jarra de dois litros de ponche de frutas.

– Como assim, senhora? – Ele perguntou. – O que a fez pensar


que Dove estava morto?

Ela deu de ombros. – Ele nunca ligou. Ele nunca escreveu.

Quando ele se identificou, ela pareceu pesar se deveria deixá-lo


entrar ou não. Finalmente ela abriu a porta, e ele entrou no céu de uma
acumuladora. Os jornais estavam empilhados por toda parte. Eles
alinhavam as paredes e formavam torres precárias até o teto.
Numerosas pilhas menores criaram um labirinto de papel em toda a
extensão da sala de estar.

Isso foi levando os eventos atuais para um nível totalmente


novo.

– Você era próxima do seu filho?

– Não. Mas eu ainda acho que uma vez que ele crescesse, ele
teria me contatado. Se ele tivesse vivido.

Ela usava um vestido de casa florido, o tipo de coisa que


ninguém mais usava. Ninguém da idade dela, pelo menos, porque,
novamente, ela não era tão velha assim. Ele olhou para o relógio -
apenas a metade superior aparecia acima das torres dos jornais - ele
tinha que encontrar seu amigo em vinte minutos.

– Você tem alguma ideia de quem poderia querer machucar


Dove?

– Não.
– Você se lembra da data exata em que ele saiu de casa?

– Novembro.

Novembro era uma data exata?

Ela o irritou. Tudo nela irritava-o. Sua maneira vaga, e as pilhas


e pilhas de jornais, e o fato de que ela tinha tomado como garantido
que seu filho estava morto - que ela nunca fez qualquer tentativa de
fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Tudo o irritava. E ele estava
irritado por estar irritado. Se ele não pudesse convocar um pouco de
compaixão, o que dizer de pelo menos seu distanciamento profissional?

Ele só queria sair de lá.

– Você ainda tem a carta que Dove deixou para você e seu
marido?

Marion olhou ao redor da sala cheia de revistas como se


esperasse ver a carta sobre uma pilha de jornais. – Ele deixou uma
carta, ela concordou.– Tenho certeza que está aqui em algum lugar.

– Você tem alguma foto do seu filho?

Outro daqueles olhares duvidosos. – Algum lugar…

Rob suspirou. Marion Koletar não era deliberadamente


obstrutiva, mas ela poderia muito bem ser.

Ele estava fazendo um trabalho meio idiota e ele sabia disso. O


agente especial Darling teria aquele olhar arrogante no rosto dele se ele
estivesse observando essa entrevista. Mas o Agente Especial Darling
não estava aqui, e Rob iria perder o encontro com seu amigo se ele não
fosse muito rápido. Seu amigo não aceitaria gentilmente ser trocado
por “negócios policiais” novamente. Não era como se Rob estivesse
fazendo algum progresso com Marion. Talvez se ele a empurrasse e
continuasse a empurrá-la.

Conte-me sobre o seu filho. Como era o Dove? Essas eram as


perguntas que ele deveria estar fazendo. E se não fosse um caso frio de
trinta anos, ele estaria perguntando. No entanto, esta era uma vítima
cuja mãe não se preocupou em manter uma foto dele. Alguém que
tinha desaparecido do mapa há muito tempo e ninguém jamais
questionou isso, muito menos fez uma tentativa de encontrá-lo. Ele
sentia muito. Genuinamente sentia muito sobre Dove Koletar. A vida
não teria sido fácil para aquele jovem. E nem a morte.

Havia um limite do que você poderia fazer, e essa era uma


batalha dura por todo o caminho.

– Você poderia montar uma lista de amigos do seu filho?

– Oh. Eu... – Sua voz sumiu impotente.

Rob rangeu os dentes e seguiu em frente. – Na verdade, você


poderia montar uma lista de alguém que você possa lembrar que possa
ter sido próximo de seu filho?

– Próximo dele? – Ela parecia alarmada.

– Certo. Amigos. Como queira. Ou não amigos. Qualquer um


que ele não gostasse. Talvez ele tenha tido um encontro com alguém?
Eu sei que foi há muito tempo atrás, mas qualquer um que você possa
pensar. Amigo ou inimigo. Se você pudesse colocar essa lista para mim
e tentar desenterrar algumas fotos - e talvez encontrar a carta que ele
deixou você...
– Por quê? – Ela interrompeu. Ela parecia desnorteada.

– Por quê? Porque estamos investigando a morte dele.

– Mas é muito tarde.

– Eu não tenho certeza do que você quer dizer. É um caso frio,


sim.

– Ele está “morto". – Disse Marion. – É tarde demais para fazer


algum bem. Qual é o objetivo de descobrir tudo isso?

Ele honestamente não sabia o que dizer sobre isso. Porque seu
filho morto merece justiça. Que tal? Porque é o meu trabalho. Não
nobre, apesar da verdade. Porque não é bom para nenhum de nós
quando alguém foge do assassinato. Essa também era a verdade.

Ele se levantou. – Se você pudesse simplesmente juntar essas


coisas para nós, minha senhora?

Ela continuou a piscar para ele sem compreensão. Ele sabia que
ela não iria montar a lista, não encontraria as fotos, não procuraria a
carta. Em poucos dias, ela provavelmente nem se lembraria da visita
dele.

– Sinto muito pela sua perda. – Rob disse.

Assim como Rob imaginou, Marion Koletar não forneceu


nenhuma informação ou material que ele solicitou. Tentou fazer
algumas ligações, mas Marion não atendeu o telefone nem retornou
suas mensagens.

Ele não desistiu. Não imediatamente. Ele solicitou novo exame


da perícia em Koletar. Além de alguns cortes microscópicos na caixa
torácica que poderiam ou não ter sido causados por uma faca, não
havia indicação de como ele havia morrido.

Havia até uma pequena chance de que tivesse sido uma morte
natural, e algum bom samaritano que não podia pagar nenhum
escrutínio público encontrou o corpo e o enterrou.

Okay, certo.

Ele conseguiu cópias de todos os registros escolares de Koletar.


Não havia nada útil lá. A vítima tinha sido um aluno comum - o que era
um feito em si, já que ele normalmente faltava cerca de vinte dias por
semestre. Não é de admirar que seus professores não tivessem nada a
dizer sobre ele. Eles provavelmente não teriam sido capazes de
reconhecê-lo em uma linha.

Ele perguntou ao redor, conversou com as pessoas sobre Dove.


Ninguém além de Frankie parecia se lembrar dele. E ela não parecia se
lembrar muito, exceto que ele não tinha se encaixado e não tinha sido
feliz.

– E o pai dele? – Rob perguntou. Infelizmente, quando algo


acontecia com uma criança, os pais eram os primeiros e óbvios
suspeitos.
– Duvido. – Disse Frankie. – Talvez eles o tenham esbofeteado
de vez em quando. Ele não foi abusado. Não até esse dia e idade. Mais
como negligenciado, eu diria.

– E os amigos? Ele devia ter amigos.

– Não sei se ele tinha. – Disse Frankie.

Rob estava desenhando espaços em branco em todas as


direções. Ele poderia ter continuado empurrando. Mas então vieram os
feriados e a primeira neve da estação, e então os turistas voltaram.
Todo mundo estava ocupado. Até mesmo Frankie perdeu o interesse
no assunto de Dove Koletar.

Ninguém realmente disse as palavras – caso encerrado, mas


quando Rob enfiou a pasta fina de papelão na gaveta mais baixa do
arquivo, ninguém questionou. Ou puxou de novo.

Novembro, dezembro, janeiro.

E então Cynthia Joseph foi assassinada.


Capítulo quatro

– Eu não entendi. – Russell disse. – Por que nós?

Alto, moreno e bonito, Russell poderia ter servido como garoto-


propaganda do moderno FBI. Ele também era esperto. E gentil.
Embora ele não tenha desperdiçado muita dessa personalidade com
Adam.

– Assassinato em propriedade federal. – Adam respondeu. A


maior parte de sua atenção estava na estrada à frente. Estava
começando a nevar. Não forte, entretanto estava acumulando e ele não
estava acostumado a dirigir nestas condições. Nascido e criado na
Califórnia, ele preferia velejar à esquiar. Ele sabia o suficiente para
saber que não tinha pneus de inverno, e todo o treinamento no mundo
não ajudava quando as outras pessoas na estrada eram idiotas.

Não que houvesse muitas outras pessoas na estrada. Bem,


provavelmente uma indicação.

Eles chegaram a Medford naquela tarde, alugaram um carro e


agora estavam a caminho de Nearby. A curadora de um pequeno
museu na orla da floresta nacional foi encontrada abandonada em uma
exposição de índios americanos com a garganta cortada. O xerife
McLellan havia convidado o FBI - e Adam pessoalmente - para a
investigação.
Era difícil saber o que mais incomodava Russell: que o Bureau
fora arrastado ou que Adam fora solicitado. Ele perguntou novamente:
– Por que você? Por que pedir especificamente para você?

– Eu não sei. Eu acho que nós vamos descobrir. – Ele estava


feliz embora. Grato. Doeu que seu Supervisor não hesitara em liberá-lo
da força-tarefa do Estripador, mas francamente foi um alívio sair da
patrulha do necrotério. Não que ele não achasse que eles estavam
fazendo um trabalho útil ajudando a compilar o banco de dados das
vítimas do Estripador para eventual possível processo federal. Era um
trabalho que um agente probatório poderia manipular. Quase tolerável
quando ele se associou a Jonnie. Ele e JJ Russell estavam em
desacordo desde o momento em que apertaram as mãos. Russell se
ressentia da patrulha do necrotério ainda mais do que Adam, e Russell
estava praticamente em estágio probatório. Primeiro escritório. Uma
facilidade do Bureau para um agente que não sabia o suficiente para
perceber o quão pouco ele sabia.

Talvez o que realmente o incomodasse sobre Russell fosse que


ele lembrava muito Adam. Ou pelo menos o eu que costumava ser.

– Se eles são uma subestação, eles são pequenos demais para


lidar com uma investigação de homicídio, e precisam entregá-la à
polícia estadual. Ou para um departamento maior do xerife no
condado. – Disse Russell.

O que era perfeitamente verdade.

– Não há nada sobre isso que justifique trazer o Bureau.

– Assassinato em propriedade federal. – Repetiu Adam.


– Somos de Los Angeles. Este é um caso de Portland, se é de
alguém.

– Eles nos pediram. Eles pediram nossa ajuda. Portland


assinou.

– Porque Portland não acha que vale a pena o seu tempo ou


mão de obra.

Russell provavelmente estava certo sobre isso também. Adam


disse em tom neutro: – Talvez devêssemos esperar para tirar alguma
conclusão.

O silêncio de Russell era de pedra.

Então essa foi a viagem do aeroporto. Demorou cerca de uma


hora. Depois, outros dois minutos até chegarem a Nearby, localizaram
o escritório do xerife entre a biblioteca e o otimisticamente chamado
Centro de Turismo.

Nos últimos meses, Adam esteve em tantos departamentos de


polícia de pequenas cidades e em delegacias de polícia que ele poderia
ter descrito o interior sem nunca ter aberto a porta. Era sempre a
mesma configuração: da delegada feminina frustrada por ser aquela
que atendia os telefones, ao quadro de avisos com os crimes e tragédias
de metrópoles distantes. Fique atento aos problemas... de outras
pessoas. Porque nada de ruim aconteceu nessas pequenas cidades.

Até que aconteceu.

Desta vez, a policial era alta e juvenilmente magra, com o


cabelo escuro amarrado em um rabo de cavalo apertado que seria uma
desvantagem em uma briga de rua. Desde que ela provavelmente
passaria a maior parte de sua carreira fazendo papelada e atendendo
telefones, seu estilo de cabelo provavelmente não era uma
preocupação. Seus olhos se arregalaram ao ver Adam e Russell.

– Frankie! – Ela chamou sem olhar para a identificação que


Russell oferecia.

De um escritório do outro lado do comprido prédio de painéis


de madeira, a xerife McLellan gritou: – Sim?

– Eles estão aqui.

Russell colocou sua identificação de volta. A xerife McLellan


saiu do escritório para encontrá-los. Ela era mais baixa, mais robusta e
mais vermelha do que Adam se lembrava. – Obrigado por vir em tão
pouco tempo, agente Darling.

Sempre era um curto prazo. Ninguém planejava um


assassinato, um sequestro ou um assalto a banco. Adam apertou as
mãos e disse: – Claro, xerife. Este é o agente Russell.

McLellan assentiu um breve olá para Russell. Ela parecia


abatida. Como se ela não tivesse dormido em quarenta e oito horas. O
que era provavelmente exato. Havia bolsas sob os olhos e linhas
esculpidas em torno de sua boca. Ela apontou para o policial da
recepção. – Essa é Aggie. Delegada Hawkins. Você conhece o resto da
equipe. Zeke está entrevistando moradores das casas mais próximas do
museu. Infelizmente, temos várias propriedades de férias, sem
ninguém em casa nesta época do ano. Rob e eu temos repassado as
fotos da cena do crime.
Adam não gostou do jeito que seu pulso deu um chute na
menção do nome do delegado Haskell. Essa era a última coisa de que
ele precisava. Ele gostara de seu encontro anterior, mas tinha sido um
único. Tinha que ser.

– Ajudem-se a tomar um café. – McLellan levou-os ao seu


escritório. – Até agora, a mídia não pegou a novidade. Esperamos que
continue assim.

– Isso não vai durar. – Russell disse. – Algum blogueiro vai se


apossar disso. Alguém vai no Twitter.

Rob estava sentado ao lado da mesa de McLellan. Havia uma


xícara de café e um sanduíche meio comido em um prato de papel
perto do cotovelo. Ele estava debruçado sobre uma seleção horrível de
fotos da cena do crime. Olhando para cima, ele encontrou os olhos de
Adam, acenou com a cabeça e voltou a examinar as fotos.

Isso foi um alívio. Nada para se preocupar com isso. Rob


claramente compartilhou seu desejo de manter as coisas estritamente
profissionais.

Então, por que ele se sentiu tão levemente excitado, Adam não
tinha certeza.

Coisa engraçada: ele não se lembrava de Rob ser tão bonito. Ele
era. Daquela mandíbula forte e quadrada para aqueles expressivos
olhos escuros, ele era, para os padrões de qualquer pessoa, um cara
muito bonito.

– Rob, você conhece o agente Darling. E este é o agente Russell.


– Agente Russell. – Rob olhou novamente para Adam. Sua boca
tremeu levemente quando ele acrescentou: – Darling.

– Quem processou a cena do crime? – Adam perguntou. –


Polícia do estado?

– Isso mesmo. – McLellan disse.

Russell disse: – Xerife, por que uma subestação está tentando


conduzir uma investigação de assassinato? Por que isso não foi
entregue à Medford ou...

– Porque Medford é o condado de Jackson. – Rob disse, e todo


o bom humor sumiu de seu rosto e voz. – Você está no condado de
Klamath. E não somos uma subestação. Nearby é uma aldeia
incorporada. Temos nossa própria carta cívica e fomos reconhecidos
pela legislatura estadual. Frankie é a xerife devidamente eleita desta
comunidade.

Russell ficou vermelho, encontrou os olhos de Adam e desviou


o olhar.

Adam disse: – Qualquer conselho ou assistência que você


precisar, xerife. Diga a palavra. Esta é sua investigação.

– Bom. – Rob disse. – Porque uma maneira de garantir a


cobertura da mídia é convidar o FBI.

– Robbie. – McLellan advertiu.

Rob encolheu os ombros.

– Você nos ligou, lembra? – Adam disse.


– Eu não liguei para você. – Rob disse. – Se tivesse sido por
mim...

– Não, eu liguei para o agente Darling. – McLellan interrompeu.


– Devidamente eleita ou não, estamos fora de nossa profundidade. E a
última coisa que queremos é ter que passar para o Estado ou para o
KPD14.

– Então vamos parar de urinar em árvores e começar a


trabalhar no caso. – Adam disse.

Rob disse brevemente: – Me serve. – Ele empurrou as fotos


sobre a mesa. Suas mãos eram fortes, capazes. Unhas cortadas curtas,
cutículas um pouco irregulares. Adam experimentou uma lembrança
súbita e vívida daquelas mãos acariciando suas costas, acariciando sua
bunda.

Ele engoliu em seco e disse a McLellan: – O corpo está no


necrotério?

– Não. Não dessa vez. Os restos foram transportados para


Klamath Falls.

Adam se voltou para Russell, que disse: – Vou entrevistar o


médico. – Adam assentiu.

Russell queria retornar à civilização o mais rápido possível, e


Adam não o culpava. Russell acreditava que eles estavam em uma
perseguição inútil, e Adam achou que provavelmente estava certo. A
diferença era que ele estava grato pelo intervalo. Russell, por outro
lado, se ressentia de gastar tempo com qualquer coisa que não o

14 Departamento de Polícia de Klamath Falls.


levasse potencialmente à atenção de seus superiores e possível
promoção. Adam entendia. Houve um tempo que ele se sentia da
mesma maneira.

Quando Russell saiu do escritório, Adam pegou as fotos da cena


do crime.

Você se acostuma com elas, é claro. Você não poderia fazer o


trabalho se não conseguisse desenvolver um limiar alto para a dor de
outras pessoas. Não tão alto que você parasse de se importar, mas alto
o suficiente para que pudesse olhar para o massacre de uma mulher
como Cynthia Joseph e não perder o almoço.

Tornava difícil dormir algumas vezes.

Cynthia Joseph tinha cerca de quarenta anos. Uma mulher de


cabelos escuros, com características fortes e não bonitas. É verdade que
seria impossível alguém ficar bonito com a garganta cortada.

Ele abriu a boca e Rob disse secamente: – Ele bateu na cabeça


dela com um metate15. Espero que tenha ela tenha desmaiado.

Espero que sim. Adão disse: – Um metate?

– Pedra de moer portátil.

– Você recuperou uma arma?

15
– Não. – Rob disse. – Achamos que ele usou uma das facas do
museu. Uma vitrine foi quebrada, e parece que uma das facas está
faltando.

– Você sabe a hora da morte?

– Ainda não. Só que ela morreu em algum momento durante a


noite. Ela foi encontrada um pouco depois das nove da manhã de
ontem. – McLellan disse: – Pete Abrams estava entregando propano
aos Josephs. Ele viu a porta do museu aberta e entrou. Ele encontrou
Cynthia. – As linhas no rosto dela ficaram mais pronunciadas. – Nosso
assassino colocou seu corpo em uma dessas exibições...

Ela olhou para Rob, que respondeu: – Diorama16.

– Está certo. Era uma exibição de funeral. Bem, os Modocs17


cremavam seus mortos, então supostamente mostrava o corpo sendo
preparado para a cerimônia.

Rob disse: – Ele largou o corpo dela na pira funerária.

Adam disse pensativo: – Hmm. Ele não acendeu a pira.

– Jesus. – Rob murmurou.

Adam perguntou: – Havia um manequim na vitrine? O que


aconteceu com isso?

– Não. Nenhum manequim. McLellan estava olhando para ele


como se esperasse algum pronunciamento grandioso. Ele não tinha um

16 Diorama é um modo de apresentação artística tridimensional, de maneira muito realista, de


cenas da vida real para exposição com finalidades de instrução ou entretenimento.
17 O Modoc é um povo nativo americano que originalmente viveu na área que é agora o nordeste

da Califórnia e centro-sul do Oregon. Eles estão atualmente divididos entre Oregon e Oklahoma
e estão divididos em duas tribos reconhecidas pelo governo federal, as Tribos Klamath, no
Oregon, e a Tribo Modoc, de Oklahoma.
pronunciamento para ela. Observação inicial talvez. Nada que eles não
teriam notado por si mesmos: que tinha sido um crime de
oportunidade, e que eles estavam lidando com alguém provavelmente
perturbado e desorganizado.

McLellan disse: – Cynthia e sua filha viviam ao lado do museu.


Em outubro alguém tentou invadir o museu e Cynthia assustou-os.
Achamos que isso pode ter acontecido novamente.

– Só que eles não se assustaram desta vez. – Rob disse.

Adam perguntou: – O que há de tão valioso nesse museu?

– Nada. – McLellan encontrou seu olhar e repetiu: – Nada.


Nenhum metal precioso, sem pedras preciosas. Há um par de exibições
de animais empalhados, “dioramas”, alguns mapas, muitas
informações sobre a natureza e a floresta. E há uma coleção de
antiguidades Modoc que pertenciam à família de Cynthia. Taças e
cestas. Trajes, miçangas e penas. Ela doou o lote ao Serviço de Parques
quando se casou com Henry.

– Henry?

– Henry Joseph. Henry e Cynthia eram ambos guardas do


parque. Henry morreu há cinco anos. Cynthia continuou como guia de
turismo e curadora do museu.

– Você disse que tem uma filha? – Adam questionou.

– Tiffany. Dezessete anos. Ela está ficando com amigos em


Klamath Falls neste fim de semana.

– Você disse que acredita que uma faca foi tirada de uma
vitrine. Mais alguma coisa foi tirada do museu?
Rob disse: – É isso que estamos tentando determinar. Parecia
que talvez alguns itens tenham sido removidos. Cynthia pode tê-los
tirado por suas próprias razões. Nós estamos esperando que Tiffany
possa lançar alguma luz sobre isso.

Adam disse lentamente: – Você ainda não falou com ela?

– Estamos trabalhando nisso. Ela não foi à escola ontem e não


sabemos o sobrenome do amigo com quem ela estava hospedada. Aggie
está rastreando-a agora.

Não é bom. Na verdade, suspeito. Embora a tentativa anterior


de um arrombamento oferecesse um cenário alternativo. Um cenário
preferível.

Adam folheou as fotos, considerando as possibilidades. Ele


disse finalmente: – Eu gostaria de andar na cena do crime, se estiver
tudo bem?

– Certo. Essa é a ideia. Rob fará as honras. – McLellan disse


cansadamente.

Rob levantou-se imediatamente, tirou a jaqueta de um gancho


na parede e puxou-o. – Vamos fazer isso. – Ele disse.

Em silêncio, deixaram o escritório do xerife, contornaram a


esquina do prédio e subiram em um SUV branco com a insígnia oficial
do escritório do xerife, verde e dourado. A neve se transformou em
uma chuva lamacenta. O interior do veículo estava frio. Adam podia
sentir o cheiro da loção pós-barba de Rob - aquela mistura de cítricos e
sequoias verdes - e ele ficou desconcertado com o quão familiar
parecia.
Dado que ele não teve nada além de sexo solo desde a noite
com Rob, provavelmente foi uma resposta pavloviana18.

– Assim. Como você esteve? – O olhar de Rob estava no espelho


retrovisor enquanto ele invertia, os pneus largos deixando rastros
profundos na lama nevada e cascalho. – Como está o seu Roadside
ripper?

De fato, o Estripador estava se acalmando ultimamente. Quase


cinco meses desde a sua última morte. Não era seu período de reflexão
mais longo. Isso tinha sido seis meses. Tempo suficiente para fazer
você esperar que ele finalmente tenha pegado o cara errado. Não que
você deveria esperar por isso. O objetivo era sempre pegar o agressor.

– Bom. Ocupado. – Adam disse. – Sinto muito, estarmos nos


encontrando novamente nessas circunstâncias.

A risada de Rob foi curta. – Há alguma outra circunstância em


que tenhamos nos encontrado?

Bem não.

– Você conhecia a vítima?

– Sim. – Era uma palavra batida. – Todo mundo conhece todo


mundo nas proximidades. Cynthia não era apenas 'a vítima' para as
pessoas por aqui.

– Eu percebo isso.

– Não, você não faz. – Rob lançou-lhe um sorriso duro e branco.


– Isso é pessoal para nós. Para você, é apenas outro caso. Não que não

18 Diz-se de uma reação automática ou involuntária.


apreciemos o conhecimento que você traz. Não duvido que você prefira
trabalhar em seu grupo de trabalho de grande importância.

– Você ficaria surpreso.

O olhar de Rob deslizou para o lado. Os limpadores de para-


brisa bateram alguns momentos de silêncio antes que ele dissesse -
parecendo mais amigável: – Você tem um novo parceiro?

– Deus me ajude. – Adam não quis dizer isso em voz alta, mas
quando Rob riu, ele riu também. Ainda. Não profissional. Adam
perguntou: – Você já descobriu a identidade de seu John Doe da
estrada?

Rob meio levantou a mão do volante em saudação ausente


enquanto passavam por alguns homens idosos em chapéus de caubói.
– Sim, claro que sim. – Seu sorriso estava zombando. – Surpreso?

Ele estava sim. Não seria diplomático dizer isso. – Ele era
local?

– Sim. Dove Koletar. De acordo com a lenda local, o único outro


homem gay que já viveu nas proximidades. Seus pais costumavam
possuir as cabanas de acampamento à beira do lago. Ele partiu para a
cidade grande trinta anos atrás. Deixou um adeus para sempre nota e
tudo.

– Um crime de ódio? – Adam perguntou. Se fosse esse o caso,


havia uma boa chance de Koletar ter sido morto por alguém local.
Talvez até alguém ainda morando nas proximidades. Trinta anos era
muito tempo, mas não foi uma vida inteira.
– Isso, provavelmente nunca saberemos. Koletar era o homem
invisível. Ninguém se lembra de nada sobre ele. Até a própria mãe dele
se esqueceu dele.

– Todo mundo lida do jeito deles.

Rob fez um som evasivo.

Eles haviam deixado o breve trecho de pequenos comércios que


compunham a aldeia propriamente dita e estavam ganhando
velocidade enquanto se dirigiam para a floresta nacional. Apesar da
chuva fraca, a neve estava acumulada, cobrindo o chão e pulverizando
as árvores. Atrás de muros de abeto e pinheiros, Adam vislumbrou os
telhados e janelas de casas grandes e caras.

– Qual é a população durante todo o ano aqui em cima?

– Um pouco mais de mil e quinhentos. Está encolhendo


constantemente. Durante a temporada de verão, temos mais de cem
mil visitantes por ano.

– O que?

Rob riu de sua expressão. – Nem tudo na mesma semana,


felizmente.

– Cem mil visitantes?

– Este é um local de recreação muito popular no sul do Oregon.

– É? O que diabos eles fazem aqui?

Rob estava claramente divertido com sua ignorância. –


Caminhadas, ciclismo e cavalgadas. Entre outras coisas. As pessoas
vêm aqui para nadar, pescar, canoagem, esqui aquático. Você escolhe.
Se isso pode ser feito na água, eles fazem isso. E muitos invernos vem
pescar no gelo. Não esse ano. Este é um inverno quente.

– Isto é? – Adam duvidou que os limpadores de para-brisa


espantassem a queda de gotas de gelo e gordura.

– Sim. Muito quente.

Eles estavam a apenas cinco minutos da aldeia quando o SUV


desacelerou e Rob saiu da estrada principal. A estrada ainda estava
pavimentada, embora o asfalto estivesse se desgastando. O SUV bateu
alguns buracos de chocalhar os dentes em rápida sucessão.

Rob disse: – Tem o museu à frente.

O museu era uma cabana de troncos emoldurada que ficava em


uma clareira cercada por florestas profundas. Duas cabanas estavam ao
lado da estrutura principal. O edifício principal era construído de
madeira que brilhava quase dourada na luz sombria. Molduras de
janelas, portas e degraus eram todos pintados em cores primárias
brilhantes e adornados com símbolos nativos americanos.

– É pequeno. – Adam comentou.

– Sim. Praticamente uma empresa de uma mulher. Cynthia era


a curadora e a única funcionária. A maior parte do seu tempo era
voluntário. Alguns anos atrás - quando a economia estava melhor e
tínhamos mais visitantes - ela teve ajuda em meio período, mas nos
últimos anos tem sido apenas ela.

– E está no meio do nada.

Rob fez um som que estava em algum lugar entre um bufo e


uma risada. – Isso mesmo, garoto da cidade.
Adam olhou para ele. – Corrija-me se eu estiver errado.
Portland não é a maior cidade do Oregon?

– Sim, é. Fico lisonjeado por você lembrar que sou de Portland.

– Eu lembro. – Ele segurou o olhar de Rob por um instante.

Um banner e uma corda amarelos da cena do crime esticavam-


se através da estrada. Parado ao lado da estrada, um policial estadual
estava se servindo de café de uma garrafa térmica quando se
aproximaram.

O policial e Rob falaram brevemente, e então ele soltou a corda,


e Rob dirigiu e estacionou na pequena área de estacionamento
reservada para os visitantes.

Eles saíram e atravessaram o lote vazio, as botas esmagando a


fina camada de neve.

– Estava nevando quinta-feira à noite? – Adam perguntou.

– Chovendo. Nós não pegamos nenhum rastro utilizável do lote


ou da estrada.

– Talvez ele não tenha dirigido. – Embora fosse um longo


caminho de qualquer lugar para andar.

Os degraus de madeira rangeram desamparados enquanto


caminhavam até a varanda. Rob apontou uma das janelas altas ao
longo do lado da estrutura. A janela estava coberta por uma lona.

– É por onde ele entrou. Nada extravagante. Ele apenas


quebrou a janela. Cynthia deve ter ouvido o vidro se quebrando. Os
Joseph vivem lá. – Rob indicou uma pequena casa branca de um único
andar do outro lado da clareira. – Aqui o som viaja à noite.

Adam estudou a casa. Não era imediatamente visível da


estrada. – Você disse em outubro que houve uma tentativa de invasão?

Rob assentiu, abrindo a porta e segurando-a para Adam. –


Embora isso não prove que isso foi o mesmo cara.

– Você vai querer montar uma lista de todos que já trabalharam


no museu. – Disse Adam.

– Por que nós não pensamos nisso? – O sarcasmo parecia


ampliado, ecoando com no espaço vazio quando eles passaram pela
recepção com sua exibição organizada de mapas e brochuras do NPS.
As narinas de Adam se contraíram com o cheiro de madeira crua, couro
velho e produtos químicos da cena do crime.

– Por aqui. – Rob disse, e eles viraram à esquerda, passando


por uma vitrine alta contendo um manequim de tamanho natural,
usando um vestido cerimonial e uma máscara de urso preto e laranja,
elaborada e feroz. O manequim segurava no alto um bastão pintado
que parecia apontar para o espectador. Vitrine de vidro ou não, a figura
mascarada era bastante intimidante. Os olhos por trás da máscara
cintilavam com alerta vivo.

– Imagine ver isso com o canto do olho o dia todo. – Rob


comentou.

– Talvez ela o considerasse um colega de trabalho. – Adam


olhou para o teto de catedral com suas vigas abertas inclinadas. – Eu
não estou vendo câmeras de vigilância.
Rob disse: – Isso é porque não há nenhuma.

Pelo amor de Deus. Nestes dias e era?

Rob parou na frente de uma canoa apoiada em pedestais a


poucos metros acima do piso brilhante. Atrás da canoa estava a janela
quebrada, agora protegida com lona e fita adesiva pesada.

Adam deu um passo à frente para examinar o vidro quebrado


no chão atrás da canoa, com cuidado para não perturbar nenhum dos
marcadores plásticos da cena do crime.

– Ele precisaria saber que estava à vista da janela da frente de


Joseph. Se este fosse o mesmo intruso, ele certamente perceberia que
havia uma chance de que ela pudesse vê-lo invadir.

– Talvez ele tenha pensado que ele era invisível. Ou talvez ele
não desse a mínima se fosse visto ou não.

Adam assentiu distraidamente. Talvez houvesse um plano.


Talvez esse plano tenha sido levar Joseph para cá por conta própria. –
Por que ela não pediu ajuda? Por que ela veio até aqui sozinha?

Ele estava pensando em voz alta, mas Rob respondeu. – Ela


não estava com medo.

Ele se virou e Rob estava bem atrás dele. Não havia espaço
suficiente para dois homens crescidos neste pequeno espaço confinado.
Eles olharam desconfortavelmente nos olhos um do outro. Rob recuou
e Adam passou pela canoa. Ele estava consciente do calor do corpo de
Rob. Ele se lembrava de como se sentira nos braços de Rob.
Levou um segundo para lembrar do que estavam falando. Ele
disse: – Ela deveria ter estafo. Este era um intruso ousado e agressivo.
Por que ela não estava com medo?

– Ela achou que poderia lidar com a situação.

– Ela achou? Porque essa é a questão. O fator X é o personagem


de Joseph ou o personagem de seu assassino?

Rob ergueu as sobrancelhas. – Talvez ambos. Talvez ela


pensasse que sabia quem era o intruso.

O olhar de Adam se concentrou em Rob. Ele assentiu. – Talvez


ela tenha. Sim. Onde ele deixou o corpo?

– No outro lado do museu. – Rob se virou e Adam o seguiu,


passando por uma exibição de cestas, tigelas e garrafas, e depois uma
parede de mapas e fotos em preto e branco do começo do século XX do
Oregon.

A chuva caía forte agora. Ele podia ouvir batendo contra o


telhado inclinado. A luz através das janelas lançava uma estranha
coloração azul sobre os aposentos e seu conteúdo. Parecia muito mais
tarde do que realmente era. Um crepúsculo artificial.

Rob fez uma pausa, apontando alguns pontos de vermelho


marrom no painel nodoso. – Nós achamos que ela deu a volta nesse
canto, e ele bateu nela usando uma das pedras daquela exibição.

A exibição tratava de dieta e preparação de alimentos. Os


Modocs eram caçadores-coletores que subsistiam de tudo, de ursos
pardos e pelicanos a azevinho e lírios amarelos. Havia lanças de pesca,
arcos e flechas com pontas de ferro, pedras para ferver e pedras de
moer.

– Ele pegou uma pedra em vez de uma flecha ou uma lança.


Disse Adam. – É possível que ele inicialmente não pretendesse matá-
la.

– Ou, no calor do momento, uma pedra parecia menos


complicada.

Adam murmurou reconhecimento. Rob estava certo. A eleição


da arma do suspeito poderia ter sido baseada em algo tão simples
quanto a pedra de moagem sendo a mais próxima da mão.

Rob disse: – Ele a derrubou. Atordoou-a pelo menos. Você


pode ver pelo sangue manchado que ele a arrastou até aqui. Ele
contornou as horríveis manchas no chão de madeira e abriu o caminho
passando por um par de caixas de vidro até o final do prédio.

Esta exposição final era um diorama lindamente concebido. O


piso elevado estava coberto de terra e grama. O cenário pintado
mostrava árvores, lago e cabanas à distância. No centro do diorama
havia uma pira funerária de madeira real empilhada a vários metros de
altura. Muito realista.

O elemento mais irrealista eram os marcadores plásticos da


cena do crime que cercavam a pira. Agora isso era irônico.

Rob disse: – Eu tenho lido sobre isso. O Modoc lavava seus


mortos, envolvia-os em esteiras e os levava de cabeça para fora de suas
casas. O corpo era levado para o terreno de cremação e colocado em
uma pira funerária com a cabeça apontando para o oeste. Deveria ser
onde a entrada do submundo deles estava.

Oeste. A direção do sol poente. Isso fazia sentido.

– O corpo de Joseph estava arrumado de modo que a cabeça


dela apontasse para o oeste?

– Sim. Ele a despiu, mas não foi capaz de envolvê-la na esteira,


então ele apenas colocou sobre ela. Ela estava deitada com a cabeça a
oeste.

Teria sido uma tentativa real de aderir ao ritual, ou apenas uma


piada doentia? Impossível saber. A encenação do corpo sugeria alguém
familiarizado com a cerimônia de morte de Modoc e/ou com o museu.
Dado que este era um museu muito pequeno em uma cidade muito
pequena, era possível que todos em Nearby tivessem visitado o museu
em algum momento ou outro.

Ao observá-lo, Rob disse: – Então essa é a parte em que você


fecha os olhos e um flashback granulado de como o crime foi cometido
chega até você?

Adam sorriu fracamente. – Completo com a trilha sonora em


Theremin19 e efeitos sonoros de cortes? Não.

– Você tem certeza? Porque isso seria conveniente.

– Não seria?

– Viu o suficiente?

19O teremim é um dos primeiros instrumentos musicais completamente eletrônicos, controlado


sem qualquer contato físico pelo músico. Seu nome vem da versão ocidental do nome do seu
inventor, o russo Léon Theremin, que patenteou seu dispositivo em 1928.
– Eu acho que sim.

– Eu quero te mostrar outra coisa.

Eles começaram a voltar para a frente do museu. Adam parou


em uma das vitrines esmagadas. Havia três máscaras semelhantes às
usadas pelo manequim perto das portas de entrada. Misturas antigas e
elaboradas de cedro esculpido e corantes vegetais brilhantes. Elas eram
grandes e seriam muito pesadas e difíceis de usar. Visibilidade seria
nula. Você não podia usá-los caçando ou lutando. Seu propósito teria
que ser apenas cerimonial.

Na extremidade direita havia uma máscara de urso,


semelhante, embora maior que a usada pelo manequim no lobby da
frente. A segunda era de um cachorro ou um lobo, e a terceira parecia
retratar um homem careca com um lábio furado e olhos esbugalhados.

– Do que ele estava atrás aqui?

– Nós achamos que ele pegou uma máscara. – Rob disse. – Isso
é o que parece. Se assim for, ele pegou o cartão com ele. Se ele tomasse
uma, eu não sei porque ele não levaria todas as quatro. Eles são
provavelmente as coisas mais valiosas do museu. Os colecionadores
pagam muito dinheiro por essas máscaras cerimoniais.

Ao lado da vitrine havia um cartaz com papel pardo. Adam se


inclinou para frente para lê-lo.– 'Feitiço do Corvo Risonho'?

Rob encolheu os ombros. – Uma história. Uma lenda dos


Modoc.

Adam leu.
No “local de dança” quando as pessoas do Lago Klamath
dançavam, muitas pessoas estavam lá.

Kemush, Velho dos Antigos, estava lá. Então o Velho Corvo riu
deles, riu quando eles dançaram, e todas as pessoas que dançavam ali
se tornaram pedras.

Lobo Cinza entrou suavemente por cima, vindo do norte. Ali


parou e deitou-se, embora ainda não tivesse chegado à sua casa. Com
toda sua indumentária, naquele local, mocassins com contas nos pés,
pararam e descansaram.

Então o Velho Grizzly20 se aproximou do Velho Lobo Cinzento


enquanto dormia. E o Velho Grizzly roubou de Lobo Cinzento os
mocassins, também os colantes, e os colocou para ir ao local de pesca.

Após isso, o Velho Lobo Cinzento, acordando, jogou o Velho


Grizzly morro abaixo. Ele rolou-o sobre as rochas por tê-lo roubado
os mocassins e as contas também. Assim matou o Velho Grizzly.

Com isso, o povo do Lago Klamath começou a lutar contra os


nortistas porque o Velho Grizzly fora morto pelo Velho Lobo Cinzento.

Então o Velho Corvo riu deles quando brigaram e eles se


tornaram pedras.

Ele olhou para Rob, que estava olhando para ele com uma
expressão estranha. – O que isso significa?

– Você está me perguntando?

– Você disse que está lendo sobre isso.

20 Urso pardo.
– Eu comecei. – Rob disse. – Estamos um pouco ocupados por
aqui, você deve ter notado.

Adam se virou para examinar o conteúdo da vitrine novamente.


– Eu vou te dizer o que ele levou. – Disse ele. – Ele pegou a máscara do
corvo.
Capítulo Cinco

Claro. Era tão óbvio quando você não estava tentando


encontrar uma razão lógica para assassinato e roubo. A certeza quase
impaciente de Adam era irritante. Então Rob disse impassivelmente: –
Sim. Essa é uma teoria.

Como se lesse seus pensamentos – com aquela centelha infantil


de “Você não sabe de tudo!” Adam sorriu. Era um pequeno sorriso, é
verdade, apenas um vislumbre daqueles incisivos brancos e
pontiagudos. Ele disse gravemente: – Oh? Qual é a sua outra teoria?

– Roubo simples. Como eu disse, estes são itens de colecionador


valiosos.

– Como você também disse, por que tomar uma máscara e não
as outras? – E agora Adam não estava se incomodando em esconder
seu sorriso. Ele estava cheio de si, cheio de confiança e superioridade.

– Não faço ideia. – Rob disse secamente. – Por que levar o


cartão descrevendo a máscara, mas não levar aquele cartaz, se estiver
relacionado à máscara?

– Verdade.

Apenas parcialmente amolecido, Rob se virou. – Eu quero


mostrar a você onde achamos que ele encontrou a verdadeira arma do
crime. Embora talvez você decida que foi na verdade um tomahawk21
que ele pegou.

Adam não disse nada. De fato, seu silêncio era tão completo
que Rob desejou ter mantido a boca fechada. O problema era que a
coisa do homem do governo era um pouco intimidante, e Rob não
estava acostumado a se sentir fora de sua liga. Ele também não estava
acostumado a se deparar com um cara que aparentemente poderia
levá-lo ou deixá-lo sem pensar duas vezes. Porque ele deu a Adam um
segundo pensamento. E talvez um terceiro e quarto também.

Ele parou na frente de outra vitrine danificada. Este continha


facas de ferro de diferentes tamanhos e formas. Alguns tinham alças
simples de osso ou madeira. Outros eram esculpidos com desenhos
mais elaborados.

Adam não disse nada, esperando que Rob fizesse as honras,


aparentemente.

Rob disse: – Ele não arrombou todos os expositores, então


acreditamos que as vitrines que ele arrombou tinham itens que ele
queria.

– Isso faz sentido. – Adam disse educadamente.

21
– Cada uma dessas facas corresponde a um desses cartões
descritores. Então ou ele não pegou nada, ou ele pegou o cartão junto
com a faca.

Adam assentiu.

– Por qualquer motivo, ele não quer que saibamos o que ele
levou, embora ele claramente não estivesse preocupado em esconder o
fato de que ele pegou alguma coisa.

– Não parece que ele tivesse pressa. – Adam disse.

– Bem, ele não estaria. Não há ninguém por quilômetros ao


redor. E a filha de Cynthia passava o fim de semana com os amigos.

– Como ele saberia disso?

– Tiffany é uma líder de torcida para o time de basquete, e


Haney High está nos playoffs. As crianças aqui em cima geralmente
ficam com amigos em Klamath quando há um jogo de sexta-feira fora.

Adam pareceu surpreso. – Isso seria de conhecimento comum?

– Sim.

Adam sorriu timidamente. – Pequenas cidades.

Rob sorriu de volta. – Essa é a verdade.

Adam voltou a estudar o expositor quebrado. – Joseph deve ter


mantido um catálogo do conteúdo do museu e sua proveniência.
Devemos poder ver seus arquivos e ver o que está faltando.

– Frankie está trabalhando nesse ângulo. As últimas fotos das


exposições estão desatualizadas. Joseph vendeu alguns artefatos alguns
anos atrás para conseguir financiamento para manter o museu aberto.
E os itens foram movidos. Muitas das anotações de Cynthia são
manuscritas, e Frankie é uma das únicas pessoas que consegue decifrar
sua caligrafia.

Adam começou a dizer alguma coisa, depois pareceu pensar


melhor. – Seria útil checar a casa de Joseph. Acho que ainda não temos
acesso?

– Claro que temos. Nós podemos ir agora mesmo.

Demorou cerca de três minutos para percorrer a extensão


nevada e irregular do museu até a pequena casa branca na borda da
floresta. Adam parecia estar imerso em pensamentos, então Rob o
deixou para ele. O ar da tarde estava amargamente frio, e o rosto de
Adam ficou rosado e a ponta do nariz vermelha. Rob esqueceu sua
irritação. Talvez Adam fosse um sabe-tudo, mas pelo menos ele não era
tão grande quanto seu parceiro.

Embora a terra entre o museu e a casa onde viviam os Josephs


tivesse ficado selvagem, um belo gramado rodeava a casa. Montes de
neve cobriam os canteiros de flores. O mastro de bandeira no centro do
gramado da frente estava vazio.

– O caminhão de Cynthia ainda está na garagem. – Rob disse,


destrancando a porta da frente. – Esta porta foi deixada destrancada.
Não há indicação de que o assassino dela tenha entrado. Não há lama
ou água da chuva no chão, nada fora do lugar, tanto quanto podemos
dizer.
A casa estava escura e silenciosa, o único som era a chuva no
telhado e o relógio passando pacientemente na sala de estar. A
primeira sala do hall de entrada era a cozinha, antiga mas arrumada.

A máquina de lavar louça estava ligada, a luz verde indicava


que os pratos estavam limpos. Uma pequena placa de madeira
queimada acima da geladeira dizia: Um homem viaja pelo mundo em
busca do que precisa e volta para casa para encontrá-lo.

– A felicidade é encontrada em seu próprio quintal. – Adam


disse.

Rob deu-lhe um olhar confuso. Adam assentiu ao sinal.

– Talvez seja verdade. – Rob disse. – Depende do quintal. Seu


quarto é no final do corredor.

O quarto principal dava para o museu. Um conjunto de


persianas estava emaranhado como se tivessem sido abertas com
pressa. A cama estava desfeita. Um par de chinelos descansava no
tapete ao lado da cama. A camisa de um uniforme de Park Ranger
estava jogada no chão.

Rob disse: – Parece que ela correu até lá em sua camisa de


dormir, jeans e jaqueta e botas de uniforme. A pistola ainda está no
coldre, pendurada na cadeira da penteadeira. – Ele se lembrou de
Adam questionando-o naquela primeira noite sobre não carregar sua
arma. Ele não achava que jamais deixaria em casa novamente.

Adam disse: – Mais uma vez, indicação de que ela não temia o
intruso.
– Ela era uma mulher corajosa. – Rob disse. – E se foi o mesmo
cara que tentou quebrar na primeira vez, ela o assustou gritando. Ela
pode ter pensado que era tudo o que precisaria.

Adam perguntou: – Ela realmente disse que o agressor era do


sexo masculino?

– Ela não estava certa. Ela pensou que ele era do sexo
masculino. Ela não o viu de perto. Ele correu no minuto em que ela
começou a gritar.

Adam assentiu. – Suas roupas foram encontradas?

– Na lixeira atrás do prédio.

– Interessante.

– Ou apenas estranho.

Adam encolheu os ombros. – Ou apenas estranho, sim. O


quarto da garota fica do outro lado da casa?

– Está certo. – Rob liderou o caminho. – De qualquer forma,


você pode ver por si mesmo que não há sinais de qualquer distúrbio.

Enquanto caminhavam pela pequena sala de jantar, Adam


parou ao lado da mesa oval para olhar a pequena pilha de
correspondência. Havia uma intimação para o cargo de júri, algumas
contas de cartão de crédito e vários boletins informativos de
organizações como a Modoc Nation “O único governo legítimo do Povo
Modoc do Sul do Oregon e do norte da Califórnia”.

– Ela era politicamente ativa. – O tom de Adam era atencioso.

– Não particularmente.
Adam olhou para cima. – Você não acha? Parece-me que ela
era uma assinante regular.

– Olha. – Rob disse. – Não vá por esse caminho. Ela é a vítima


aqui, e suas crenças políticas são - eram - seu próprio negócio. Ela não
era uma ativista. Ela não era militante. Ela não era uma terrorista.

Os olhos de Adam se estreitaram. – Eu disse que ela era?

– Você tem esse “ah ha!” no seu rosto. Todo mundo sabe que a
missão do FBI mudou depois do 11 de setembro. Vocês são tudo sobre
segurança interna agora.

Na verdade, Departamento de Segurança Interna22 é tudo sobre


segurança interna agora. – Adam soou estranhamente curto. – Estou
tentando entender quem Cynthia Joseph era. Você diz que ela não era
uma terrorista e eu acredito em você. Seus interesses indicam - e eu
não acho surpreendente ou perturbador, a propósito - que ela tenha
uma inclinação para o ativismo.

– Ela não foi morta porque achava que as Tribos Klamath


ficaram com a pior parte em algumas das disputas sobre a água e
nossos outros recursos naturais. Acredite ou não, muitas pessoas
sentem o mesmo.

– Você pode estar certo. Então, novamente, alguns artefatos


nativos americanos foram roubados de um museu, então não é
impossível que a herança cultural e as crenças políticas de Joseph
sejam um fator em sua morte.

22O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, comumente denominado nos
Estados Unidos apenas de "Homeland Security", é um departamento do governo dos Estados
Unidos cuja responsabilidade é proteger o território dos EUA contra ataques terroristas e agir
em caso de desastres naturais.
Rob não podia argumentar com isso. Ele não comprou, mas
não pôde refutar essa teoria. – Justo suficiente. – Ele disse. –
Pessoalmente, acho que estamos perdendo tempo.

As sobrancelhas de Adam se levantaram. Deixou de lado o


boletim da Nação Modoc. – É sua investigação, adjunto.

– Até agora, sim. Acho que vamos nos concentrar mais sobre a
casa.

– Ela estava vendo alguém? – Adam perguntou. – Ela estava em


um relacionamento?

– Não.

– Você parece bem definitivo.

– É uma aldeia. – Rob disse. – Cynthia e Frankie pertenciam ao


Clube das Senhoras. As duas tentaram arrumar um par para a outra - e
as duas não conseguiram chegar a lugar algum com o arranjo.

– Elas eram amigas há muito tempo?

– Ambas cresceram nesta cidade.

Adam disse: – Um lugar onde todos sabem o seu nome? O


quarto de Tiffany deve estar no corredor. – Ele passou por Rob.

O segundo quarto tinha sido feito em tons de rosa, lavanda e


verde menta. Havia muitos travesseiros e bichos de pelúcia. Nenhum
pôster de estrelas do rock ou atores de TV. Uma mochila com livros
escolares encostava-se a uma mesa surpreendentemente arrumada. As
roupas saíam de uma sacola de ginástica na cama bem arrumada.
– Essa é Tiffany. – Rob indicou uma das duas fotos dobradas no
canto de um espelho quadrado sobre a cômoda pintada.

Retrato de uma jovem garota. Tiffany era pequena e fofa, como


um gatinho. Grandes olhos escuros e cabelos escuros e lisos. E aos
dezessete anos, muito, muito jovem.

Adam mal olhou para a foto, sua atenção para o outro


instantâneo. Era velho. Isso ele podia dizer. Nos dias de hoje, as
crianças usavam seus telefones para preservar o momento. Isso parecia
ter tirada de uma daquelas câmeras descartáveis.

– Você reconhece algum dos meninos nesta fotografia?

Rob franziu a testa para a imagem. – O garoto à esquerda é


Terry Watterson. Ele se afogou em Blue Rock Cove há alguns anos. O
garoto à direita é Bill Constantine.

– Que tipo de relacionamento Tiffany teve com Terry?

– Não existia, eu diria. Esta foto tem pelo menos cinco anos.
Tiffany teria doze anos. Terry e Bill teriam dezenove ou vinte anos.

– Que tipo de relacionamento a Tiffany tem com o Bill?

Rob disse secamente: – Eu não acho que haja um


relacionamento.

– Por que não?

– Para começar, Bill é velho demais para ela. Por outro lado, ele
é geeky e tímido, e Tiffany é extrovertida e popular. Ela é uma
estudante de honra. Ela é uma líder de torcida.
– Ela não seria a primeira garota popular que se apaixonou por
um homem mais velho. Ou um geek.

– Não. – Rob foi positivo. – De jeito nenhum.

– Ela manteve a foto por algum motivo.

– Bem, talvez ela tivesse uma queda por Terry. Eu não sei.
Tanto quanto eu sei, ela não está namorando ninguém. Eu não
acompanho a vida social de garotas adolescentes.

Adam não parecia convencido, embora, esperançosamente, não


fosse sobre a parte de não acompanhar as garotas adolescentes. – Esta
será a suíte? – Ele se dirigiu para um pequeno banheiro - também
pintado de rosa - do quarto. Azulejos rosa e pretos, acessórios brancos.
O banheiro cheirava a xampu e sabonetes femininos - e a cara loção
pós-barba de Adam. Uma combinação de fragrâncias que não existiam
na natureza.

Havia um esboço fraco no banheiro. Ele mal mexeu a cortina de


bolinhas de bolinhas rosa.

Rob passou por Adam, notando distraidamente que sua


impressão inicial estava errada. Embora alto, Adam não era realmente
um cara grande. Não um boneco Ken, apesar de ele ser forte e bem
construído. Músculos definidos e resistentes. Rob poderia garantir isso.
Ele emitia uma aura de autoridade e poder. Aquela aura tinha pelo
menos cinquenta por cento de atitude - reforçada por dez por cento de
credenciais azuis e douradas. O resto... difícil dizer, mas era eficaz.

Rob verificou a trava na janela do banheiro. A janela não estava


bem fechada. E o trinco...
Não bloqueado.

Merda. Ele olhou para Adam, que tinha se inclinado para sentir
uma toalha listrada rosa e branca no chão embaixo da pia.

Adam olhou para Rob. – Esta toalha ainda está úmida.

– Você os deixa no chão, elas ficam úmidos. – Rob era um cara


que tinha muita experiência nesse ramo da ciência.

– Ela teria tomado banho para a escola na manhã de quinta-


feira. Esta é a tarde de sábado. Mesmo com o calor diminuído, isso é
mais do que quarenta e oito horas depois.

Rob estava apenas ouvindo metade, ainda pensando na janela


destrancada e não muito fechada.

Um pensamento horrível veio a ele. Bolsa de livros. – Espere


um minuto. – Ele disse, e passou por Adam voltando para o quarto.
Deve ter havido algo em sua voz porque Adam seguiu, silenciosamente
observando enquanto Rob ia para a mesa.

Rob pegou a mochila da Tiffany.

Eles se encararam.

– Ela voltou. – Adam disse.

Esse era o tipo de coisa que fez Rob decidir trocar Portland
pelos amplos espaços abertos. Mas o mal - e isso era o mal, sem dúvida
- não respeitava os limites da cidade ou as linhas do condado.

Rob disse em uma voz que não soava como a dele. – Ela
poderia ter visto tudo. E o assassino poderia tê-la visto.
Havia uma linha branca ao redor da boca de Adam. Rob nunca
tinha visto alguém perder a cor assim. Quando Adam falou, ele parecia
sem emoção, quase frio. – Existe outra possibilidade. Tiffany pode
estar envolvida no assassinato de sua mãe.

Rob abriu a boca, mas Adam estava certo. Não era impossível.
Um garoto na Califórnia havia decapitado sua mãe apenas algumas
semanas antes por importuná-lo para limpar seu quarto. O cérebro
adolescente era uma coisa assustadora.

Ele disse, não discutindo, apenas oferecendo outra


possibilidade: – Ela poderia ter testemunhado o assassinato e fugido.

Adam assentiu. – Sim. Embora seja difícil entender por que ela
não se apresentou, se é esse o caso.

– Talvez ela não possa.

– Significado?

Rob encolheu os ombros. – Ela está ferida?

Adam abriu a boca para apontar o óbvio: não havia nada que
indicasse uma segunda luta. Rob encabeçou ele. – De qualquer forma,
precisamos voltar para a estação.

– O celular dela está aqui? Computador portátil?

Eles realizaram uma pesquisa rápida. O laptop estava na mesa


de Tiffany. Não havia sinal do celular dela.

– Se ela está carregando seu celular, isso nos dá um ponto de


partida. Se pudermos obter uma ordem judicial - e tenho certeza de
que podemos, no caso de um menor desaparecido -, a companhia
telefônica pode tentar rastrear ela. Enquanto sua bateria estiver
carregada...

– Essa é uma ótima ideia. – Rob interrompeu. – Mas você deve


ter notado que a recepção é ruim aqui. Eu não acho que podemos
colocar muita esperança no celular.

Adam admitiu esse ponto com relutância.

Eles deixaram o quarto de Tiffany e caminharam pelos quartos


silenciosos em direção à frente da casa. Adam não disse uma palavra, e
isso foi realmente um alívio. Não que Rob acreditasse que o mundo era
todo sol e pirulitos. Isso não era rotina para ele, e não era uma equação
acadêmica. Ele conhecia essas pessoas. Esta era sua comunidade, sua
casa. Estes eram seus amigos e vizinhos. No mínimo, eles eram sua
carga, sua responsabilidade.

E ele não conseguiu mantê-los seguros.

A fechadura da porta da frente raspou e a porta se abriu. Uma


fenda de luz do dia de inverno emoldurava a entrada. Rob pegou sua
arma, infelizmente ciente de que ele deveria ter aberto a aba, deveria
estar pronto para disparar - ele estava ciente de que Adam estava
fazendo o mesmo, já tinha puxado sua arma.

– FBI. – Gritou Adam com uma ferocidade que levantou o


cabelo no pescoço de Rob. – Se identifique.

Jesus Cristo, ele tinha...? Sim, ele tinha. Rob sabia com
absoluta certeza que em algum momento no passado Adam teve que
atirar para matar.
Ao mesmo tempo, Rob gritou: – Delegado do xerife. Não se
mexa! – Quando a figura alta congelou dentro do hall de entrada.

– Porra! – A voz chocada e zangada de Zeke flutuou pela


escuridão. – Que porra você está fazendo, Haskell?

Boa pergunta. Até aquele instante, Rob não tinha reconhecido o


quão desconfortável ele estava, quão no limite. Não só ele. Adam
também. Na verdade, Adam mais ainda. Assustado. Ambos tinham
ficado assustados, embora houvesse toda a probabilidade de que quem
quer que estivesse do outro lado da porta fosse um policial
companheiro.

– Que porra você está fazendo? – Rob respondeu, abaixando a


arma. Ele notou que Adam foi muito mais lento em ficar de pé e estava
contente. Zeke merecia um bom susto por isso.

– Procurando por Tiffany. – Zeke disse. A brisa perfumada pela


neve rodou pelo corredor. – Aggie finalmente pegou a amiga com quem
Tiffany deveria passar o final de semana. Tiffany alegou que ela estava
voltando com algum tipo de problema no estômago. A mãe dela foi de
carro e a pegou na quinta à noite.

– Por que ninguém na escola sabia disso? Como poderia não


haver um registro disso? – Rob perguntou.

– Como diabos eu deveria saber? Porque os adolescentes nem


sempre seguem as regras? E às vezes os pais também não?

Adam guardou sua arma. – Você disse que, de acordo com a


amiga de Tiffany, Tiffany alegou que estava se sentindo mal. A amiga
não acreditou nela?
Zeke disse amargamente: – Ela disse que esse vírus da gripe
veio em Tiffany de repente. Não, eu não acho que ela acreditasse que
Tiffany estava realmente doente.

– Entendo. – Adam não olhou para Rob.

– Vamos voltar à base. – Rob disse.

– Não há sinal dela aqui? – Zeke olhou de Rob para Adam.

– Há sinais de que ela estava aqui. – Rob disse. – Não há


indicação do que aconteceu com ela ou de onde ela possa ter ido.

– Talvez ela seja nossa criminosa. – Zeke disse.

Rob olhou para ele. Adam havia sugerido a mesma coisa, mas
de alguma forma, ouvir isso de Zeke deixou Rob com raiva. – Esse é o
primeiro pensamento que ocorre a você? Como você acha que uma
pequena garota como Tiffany dominou uma mulher alta como Cynthia
e depois a ergueu para a exibição do enterro? E por que ela faria uma
coisa dessas?

– As crianças são loucas. Olhe para aquele garoto na Califórnia.


Enfim, ela é uma líder de torcida, e todo mundo sabe que líderes de
torcida são todos maníacos homicidas. – Zeke sorriu com cara de
maníaco.

Adam disse: – Se ela não estiver envolvida, ela é uma vítima em


potencial. De qualquer forma, precisamos encontrá-la. – Sua voz plana
e sem emoção recordou Rob do trabalho em mãos.

– De acordo. Vamos voltar ao escritório e informar Frankie.

– O que você achou? – Zeke perguntou.


– Exatamente o que eu disse. Prova de que Tiffany esteve aqui.

Zeke hesitou e, em seguida, precedeu Adam e Rob para o lado


de fora.

*****

Rob estava preocupado com seus próprios pensamentos, de


modo que estava vagamente ciente de que Adam estava ainda mais
quieto do que de costume no caminho de volta para a cidade. Eles
chegaram à estação apenas alguns minutos antes do Agente Russell
telefonar com seu relatório.

– Diga a ele que é melhor que não tente dirigir de volta para cá
esta noite. – Frankie disse a Adam, interrompendo o debate sobre
ativar ou não um Amber Alert23. – Temos gelo negro24 nessas estradas
de montanha nesta época do ano.

– Eu direi a ele. – Adam saiu da sala para telefonar para


Russell. Eles podiam ouvir trechos de uma conversa curta e
profissional, enquanto Russell relatava as descobertas preliminares do
legista. Adam retornou ao escritório de Frankie para transmitir a
notícia de que Cynthia Joseph provavelmente havia morrido pouco
antes da meia-noite de quinta-feira à noite.

– Assim cedo? – Frankie parecia chocada.

23 Um Alerta AMBER ou uma Emergência de Rapto de Criança é um sistema de alerta de rapto


de criança. Tem origem nos Estados Unidos em 1996.
24 Os valores tipicamente baixos de fragmentos visíveis de gelo, neve ou aguaneve ao redor do

gelo negro significam usualmente que as áreas com gelo são praticamente invisíveis para os
motoristas
Adam assentiu. – O golpe na cabeça dela não a teria matado,
mas ela provavelmente estava inconsciente por tudo o que se seguiu.

Rob reconheceu que Adam estava tentando ser diplomático,


consciente do que considerara as sensibilidades da cidade pequena. Ele
perguntou: – O que aconteceu depois?

Adam lançou-lhe um olhar. – Sua garganta foi cortada com


uma faca não muito afiada e não muito limpa. Demorou um par de
tentativas.

– Bem, pelo menos ela não vai ter tétano. – Zeke murmurou.

Todos eles ignoraram isso. Adam disse: – Ela não foi agredida
sexualmente.

– Graças a Deus por isso. – Frankie murmurou agradecendo


quando Aggie encheu sua xícara de café.

Rob disse: – Pouco antes da meia noite. O que significa que


Tiffany poderia muito bem estar em pé e se movimentando pela casa.

– Ela deveria estar na cama se estivesse tão doente. – Disse


Zeke.

– A equipe de cena do crime do Estado precisa voltar para cá e


processar a residência de Joseph. – Adam deixou sua xícara de café de
lado, intocada. – Entre outras coisas, precisamos descobrir quem é sua
operadora de celular para podermos rastrear o telefone da Tiffany.

Frankie gemeu. – Deixe-me resumir. Temos um maluco


assassino à solta e uma garota desaparecida. Isso soa certo?

– E eles podem ser um e o mesmo. – Zeke disse alegremente.


Frankie olhou para ele.

Despreocupado, Zeke tomou um gole de café. Ele fez uma


careta. – Aggie, você sabe que eu tomo açúcar!

– Faça você mesmo! – Aggie gritou da recepção.

Frankie disse: – Pelo menos não é temporada turística. Graças


a Deus pelos pequenos milagres. – E para Adam. – Na minha opinião,
há muitos pontos de interrogação aqui para justificar a ativação de um
Alerta Âmbar. Se estou errada, tenho que viver com isso.

Adam respondeu: – Não acredito que seja um sequestro. Se for,


não acredito que a menina tenha sido retirada da área. Então, de
qualquer maneira...

Rob terminou: – Nós temos que organizar uma busca por


Tiffany enquanto ainda há luz do dia.

Ninguém tinha que dizer em voz alta o que todos sabiam. Se


Tiffany tivesse sido sequestrada, as chances de seu retorno seguro
estavam diminuindo a cada hora. O fato de que este era um cenário
rural e isolado apenas aumentava as chances contra uma vítima
inocente. Frankie virou-se para olhar pela janela com a vista cinzenta e
desalentadora e depois berrou: – Aggie, me consiga a Polícia do
Estado. E então me conecte ao Xerife Clark em Klamath Falls!

– Nisso. – Aggie gritou de volta.

– Claro como o inferno, vai nevar hoje à noite. – Isso foi Zeke.

Rob olhou para Adam. Ele ficou surpreso com o quão sombrio
ele parecia. Adam soou sem emoção quando disse: – Se a garota está
envolvida, há uma forte possibilidade de que ela tenha ajudado. O que
significa que há uma boa chance de ela ter comida e abrigo hoje à noite.

Rob disse: – E se ela não estiver envolvida, há uma boa chance


de que ela congele até a morte.

Frankie disse: – Você não tem filhos, agente Darling?

– Não. – Adam disse.

– Eu pensei assim. Não há nenhuma maneira no inferno que a


menina tenha algo a ver com a morte de sua mãe. Eu apostaria meu
distintivo nisso.

Adam parecia estranhamente sem palavras, e Rob se


surpreendeu dizendo: – No interesse da precisão, você também não
tem filhos, Frankie. Então, é melhor ninguém colocar seu distintivo em
nada até encontrarmos Tiffany e ouvir o que ela tem a dizer.

Adam lançou-lhe um olhar estranho, e Rob desejou que ele


fosse melhor em ler emoção nos olhos do outro cara, porque ele não
tinha ideia do que aquele olhar escuro, quase incerto, significava. Deu-
lhe uma sensação engraçada em seu plexo solar.

Adam já havia voltado sua atenção para Frankie. – Por que


você tem tanta certeza de que a menina de Joseph não está envolvida?

– O instinto de um policial. Eu apenas sei.

– Não. – Adam disse devagar. – É mais que isso. Por que você
sentiu que precisava do apoio do FBI para um simples homicídio?

– É um homicídio em terras federais, por um lado.


– Esse não é o motivo. – Adam disse. Paciente e persistente. Ele
provavelmente era muito bom em seu trabalho. O pensamento não
ocorreu a Rob antes. Talvez porque isso não importasse para ele antes.

Embora ele ainda não conseguisse decifrar a expressão de


Adam, ele conhecia Frankie bem o suficiente para saber quando ela
estava mentindo. Bem, prevaricando, ela teria dito.

– Por que nós? – Adam pressionou.

Frankie pareceu lutar internamente antes de explodir: –


Porque eu não acho que ela é a primeira.

– Não isso de novo. – Zeke gemeu. Foi tudo o que Rob pôde
fazer para não repetir o sentimento. Quando chegou a este ponto, ele e
Zeke estavam em total concordância.

– O primeiro o que? – Adam perguntou.

Zeke estava sacudindo a cabeça. Frankie olhou para Rob.

Adam disse: – Alguém deveria me esclarecer.

Mais uma vez Frankie acenou para Rob, apenas com mais
força.

Rob suspirou. – Em dezembro, uma estudante universitária


que estava hospedada com amigos em um dos chalés de esqui da
floresta alegou que um homem tentou sequestrá-la.

– Raptar ou agredir?

– Raptar.

– Você não parece convencido. – Adam disse.


– Foi uma festa em casa. Estas eram crianças em férias de
inverno. Eles estavam todos bebendo. Muito. Acho que é possível que
um dos caras tenha levado uma piada longe demais.

– Uma piada? – Ali estava aquele olhar de desaprovação.

– Ou talvez tenha sido uma tentativa genuína de agressão


sexual. É impossível saber com certeza. A garota estava assustada, mas
ilesa. E em grande parte incoerente.

Adam disse: – Você verificou o álibi de todos na casa durante o


momento do suposto rapto?

– Puxa, eu nunca pensei nisso. – Rob falou lentamente. – Pena


que você não estava aqui.

O rosto de Adam se apertou.

– Haskell. – Frankie disse em aviso. Se ela estava usando o


sobrenome dele, ela estava genuinamente irritada. Assim como ele.
Talvez não fossem do FBI, mas entendiam o trabalho básico da polícia.

– Sim. – Rob disse. – Nós checamos o álibi de todos na casa. E


desde que todos na casa estavam bêbados, isso não significa muito.

– E em janeiro? – Frankie solicitou.

Rob suspirou e disse: – E na véspera de Ano Novo algumas


garotas voltando para a cabana do lago alegaram que um homem pulou
das árvores e tentou agarrá-las. Ou uma delas. Mais uma vez, o álcool
estava envolvido.

– Se você recebe mais de cem mil pessoas aqui durante as férias,


a agressão sexual não pode ser uma raridade.
– Bem, na verdade, é uma raridade. – Disse Frankie. – Entre
nós, os guardas do parque e a polícia estadual, fazemos um bom
trabalho em manter nossa comunidade segura e protegida.

Eles faziam. Ainda assim, no interesse da justiça, Rob sentiu-se


obrigado a dizer: – Sim, lidamos com assaltos ocasionais, sexuais e
outros. Nós tivemos até que lidar com uma tentativa de assassinato.
Esses dois incidentes foram talvez diferentes.

Zeke gemeu.

– Como assim? – Adam perguntou.

Frankie estava olhando para ele com aquele olhar “vá em


frente!”. – Veja. – Rob disse com relutância: – Em ambos os casos, as
garotas descreveram o agressor usando uma pintura de guerra.

No silêncio que se seguiu, ele pôde ouvir o aparelho de fax


cuspindo papel no aposento ao lado e a voz baixa de Aggie ainda
falando ao telefone.

Adam finalmente disse: – É possível que essas mulheres


tenham confundido lama com uma tentativa de disfarçar algo
diferente?

– Tinta facial camuflada. – Rob concordou. – Eu pensei que era


uma possibilidade. – E ele tinha um provável suspeito em mente
também. Ele não tinha conseguido provar nada contra Gibbs Sandy - e,
de qualquer modo, nunca se convencera de que as garotas eram
testemunhas confiáveis.
– Em ambos os casos, essas garotas descreveram a pintura de
guerra indiana. – Disse Frankie. – Essas foram suas palavras exatas.
Pintura de guerra indiana.

Adam ergueu as sobrancelhas. Talvez na imprecisão política da


palavra – indiana.

Zeke disse: – Três garotos bêbados, dois que, sabemos de fato,


foram ao museu.

– Duas tentativas possíveis de sequestro nos últimos dois


meses. – Disse Adam, pensativo. – E agora a menina Joseph está
desaparecida.

– Espere. – Rob protestou. – Nós dois concordamos que não


havia sinais de luta na casa de Joseph. Ele pensou na janela
destrancada. – Talvez ela tenha visto algo e fugido. Não há indicação de
que Tiffany foi sequestrada. Ela pode nem ter estado no local quando
sua mãe foi atacada. Pelo que sabemos, ela deixou um amigo para um
fim de semana de esqui para ficar com outro. As crianças fazem essas
coisas. Mas mesmo que não seja o que aconteceu, mesmo que o
desaparecimento de Tiffany esteja relacionado à morte de Cynthia,
ainda é um exagero afirmar que isso é parte de um padrão maior de
tentativas de sequestro.

– Verdade. – Adam disse para sua surpresa. – A casa precisa ser


processada. Até que qualquer...

– Xerife Clark na linha um! – Gritou Aggie.

Frankie fez um gesto para que ficassem quietos e pegou o


telefone. – John? Você ouviu? Bem, preciso de ajuda.
Rob olhou para Adam. Adam ofereceu um meio sorriso
estranho e autoconsciente.

– Isso foi tudo que o Agente Russell tinha a dizer? – Rob


perguntou, por falta de um tópico melhor.

– Era tudo o que ele tinha a dizer pertinente à investigação.

Havia volumes não verbalizados por trás daquelas sílabas


cerradas e precisas, e Rob reprimiu um bufo.

No fundo, Frankie era franca e direta ao ponto. Quando ela


desconectou nove minutos depois, ela disse: – Lá vem a cavalaria. E lá
se vai qualquer chance de manter a mídia fora disso.

– Nunca houve qualquer chance de mantê-los fora. – Disse


Adam. – De qualquer forma, podemos usar a mídia a nosso favor.

Zeke disse: – Sim? Então você pode ser o nosso secretário de


imprensa.

– Polícia Estadual! – Gritou Aggie. – Linha dois.

Frankie pegou o telefone, parando para dizer: – Rob, você e


Zeke precisam reunir todos as pessoas disponíveis para ajudar nessa
busca. Não temos tempo para esperar por reforços. De qualquer forma,
o que realmente precisamos é de moradores locais, pessoas que
conhecem a área. Nós não temos muitas horas de luz do dia.

– Entendido. – Rob disse.

– Vamos fazer o que pudermos hoje à noite e, se não a


encontrarmos, começaremos de nov de manhã. Mas vamos encontrá-
la. – Frankie alcançou novamente o telefone.
*****

Eles não a encontraram.

Eles não encontraram nenhum traço de Tiffany Joseph.

Não foi por falta de tentativa. Todo mundo que podia andar
estava procurando pela garota antes mesmo da polícia do estado e os
reforços de Klamath Falls chegarem.

Bert Berkle trouxe seus cachorros e começou a trabalhar na


mata ao redor do museu e na casa de Joseph. Houve muita algazarra e
latidos e correr em círculos, no entanto, os cães não pegaram uma pista
quente. Eles não pegaram nenhuma pista.

– Muita chuva. – Bert disse à Rob. – Muita chuva, muita neve e


muito tempo.

– Ei, você tentou. – Rob disse.

Bert parecia mais severo do que nunca.

Se havia algo de bom em uma situação como essa, era como


uma comunidade unida se reunia em tempos de crise.

Rob notou os homens de Constantine falando com Zeke, e


lembrou-se da teoria de Adam de que Bill e Tiffany tinham algum tipo
de relacionamento.

Ele estudou Bill. Ele não era um garoto de aparência ruim. Na


verdade ele não era criança. Ele tinha que ter vinte e cinco ou vinte e
seis agora. Ele parecia jovem para a sua idade, ainda tão alto e
desajeitado quanto tinha sido quando adolescente. Ele era como uma
versão desajeitada de seu irmão mais velho Dan. Agora Dan era um
cara bonito, e se Tiffany tivesse colocado uma foto de Dan em seu
espelho, ninguém teria questionado. Como seu pai antes dele, Dan
tinha sido um destruidor de corações - embora hoje em dia ele esteja
partindo corações em Springfield. Mas Bill?

Se eles não encontrassem Tiffany em breve, precisariam


entrevistá-lo. Isso ia ser uma conversa estranha. Rob ainda esperava
que eles a encontrassem. Até que ponto uma adolescente poderia andar
nesse terreno e nesse clima? Então, novamente, ela estava fisicamente
em forma, e seus pais tinham sido guardas florestais, o que lhe dava
certas vantagens.

Rob olhou para Adam, que estava praticamente vibrando com


uma tensão nervosa. Ele lembrou a Rob os cães de caça ágeis e
brilhantes de Bert Berkle nos segundos antes de Bert os soltar.

Ele fez uma careta. Incomodava-o o quão consciente ele era de


Adam. Ele notou coisas sobre Adam que ele nunca tinha notado em
outro homem antes. A teimosa onda de listras douradas em seu cabelo
elegantemente cortado. Aquele laço discreto de prata em volta do
pulso. Qual era a história lá? Ele pensou que poderia ser uma pulseira
de alerta médico. Não era; ele checou naquela noite que eles passaram
juntos. As maçãs do rosto de Adam, pelo amor de Deus! Desde quando
ele notou as maçãs do rosto de outro homem?

Mesmo quando ele não estava olhando para Adam, Rob sabia
onde ele estava, com quem ele estava falando, o que ele estava olhando.
Bem, o último não foi difícil porque Adam estava observando
tudo e todos - observando com desconfiança.

E tão pouco quanto Rob gostava, ele não pôde deixar de olhar
para seus vizinhos e amigos através dos olhos de Adam. A aplicação da
lei faz você cínico. Essa era a realidade do trabalho. Boas pessoas
faziam coisas ruins. E as pessoas más escapavam fazendo coisas ruins.

Ele havia se juntado ao escritório do xerife porque estava em


forma, ativo e tinha uma fome de aventura. Ele queria passar algum
tempo ao ar livre e queria fazer algo de bom no mundo. E foi assim que
as coisas funcionaram. Frankie era fácil de trabalhar a maior parte do
tempo. Fora da temporada, a vida era quieta. Nunca monótona. E
durante seus meses ocupados... bem, havia outras compensações. Ele
nunca ficou sem companhia, isso era certeza.

Eles procuraram até as nove da noite e, relutantemente, Rob


interrompeu. A neve estava caindo novamente, como folhas
fantasmagóricas brilhando na escuridão. A temperatura estava caindo.
Era uma má notícia para Tiffany se ela estivesse lá fora, se ainda
estivesse viva. Rob odiava pensar nela assustada e congelada. Ninguém
queria desistir, mas estava escuro e estava ficando perigoso.

– Nós nos encontraremos de volta aqui ao amanhecer. – Rob


prometeu. Ele não gostava de ser o cara que tinha de interromper o
esforço de busca. A maioria dos aspirantes a resgate não eram
profissionais, nem treinados, e ele também era responsável pela
segurança deles.

– E as cabanas à beira do lago? – Adam disse no caminho de


volta para a cidade. – Alguém as verificou?
Rob sacudiu a cabeça. – Se ela voltasse para a cidade, por que
ela se esconderia nas cabanas? Por que ela não veio pedir ajuda?

– Acho que devemos verificar as cabanas.

Estava escuro demais para ler o rosto de Adam. Ele não parecia
estar brincando. – Nesse caso, poderíamos também invadir todas as
casas de férias na área também. Inferno, podemos muito bem fazer
uma busca porta-a-porta de cada casa em Nearby.

– Pode chegar a isso. – Adam disse. – Você não se importa de


eu verificar as cabanas, não é? Eu vou ficar no acampamento de
qualquer maneira.

Rob estava com frio, com fome e cansado. Ele agarrou-se à sua
paciência. – Não, não me importo. Eu vou lá com você. Mas acho que
estamos perdendo nosso tempo.

E sim, eles estavam perdendo seu tempo.

Mas, por Deus, eles checaram cada uma das trinta e quatro
cabanas que não estavam sendo requisitadas para uso pelo Klamath
Falls Search and Rescue. Eles olharam por trás das cortinas de
chuveiro empoeiradas. Eles verificaram armários que cheiravam a
naftalina. Não havia traço de Tiffany.

Rob resistiu ao desejo de dizer eu te avisei. Adam foi incansável


em seus esforços para ajudar na busca. Ele poderia ter ficado na base,
quente e confortável, aconselhando e dando consultoria, que era o que
Frankie o havia arrastado até aqui para fazer. Mas ele estava lá fora,
subindo as encostas e cavando através de árvores e arbustos, frio,
úmido e cansado como as pessoas que realmente conheciam e se
importavam com Tiffany.

– Você quer pegar algo para comer? – Rob perguntou quando


eles tinham fechado a porta na última cabana vazia.

Adam disse com pesar: – Eu ainda tenho alguns relatórios para


arquivar hoje à noite.

O dia de Rob também não acabou, e amanhã chegaria cedo,


mas eles tinham que comer, e tinham que dormir em algum momento.
Ou pelo menos deitar-se. Ele disse: – Eu tenho que voltar para o
escritório. Eu poderia passar mais tarde.

Quando ele jogou isso casualmente, seu coração bateu com


uma mistura de esperança e adrenalina. Ele ficou surpreso com o
quanto ele queria passar a noite com Adam.

Adam disse devagar: – Eu gostaria, mas tenho uma regra para


não me envolver com colegas de trabalho.

Rob deu uma risada incrédula. – Desde quando?

– Desde que me envolvi com um colega de trabalho, e acabou


mal. – O sorriso de Adam era irônico. Ele parecia educado e
arrependido.

Foi inesperadamente doloroso - e pareceu injusto. – O que


diabos foi da última vez? – Rob perguntou.

Adam hesitou. Ele disse ainda calmo, ainda cortês. – Nós não
éramos colegas de trabalho. Seu John Doe não estava conectado ao
meu caso. Estamos trabalhando juntos nisso e não acho que seja uma
boa ideia misturar pessoal com profissional.
– Não precisa ser pessoal. – Rob disse. Ele não queria ser um
idiota, mas seu ego definitivamente estava doendo. Se alguma coisa, a
tentativa de Adam de ser diplomático piorou. – Poderia ser apenas
sexo. Realmente bom sexo. Como da última vez.

– Isso é muito tentador. – Adam parecia menos diplomático


agora e mais irritado. – Não, obrigado.

– Ok. – Rob já se arrependeu de seu comentário anterior. Ele


disse agradavelmente: – Talvez da próxima vez.

– Sim talvez. – Adam se virou.

Sua perda, pensou Rob. Principalmente, parecia a sua própria


perda.
Capítulo Seis

Ele acordou com o eco de um grito.

Os olhos de Adam se abriram e demorou um segundo para se


lembrar de onde ele estava. Ele estava sonhando com Bridget; a
confusão estranha e frenética familiar para chegar até ela a tempo. De
alguma forma, saber como tudo terminou não mudava o horror da
corrida para alcançá-la. Só que desta vez ele estava discutindo com Rob
Haskell sobre sua decisão de se esconder no carro de Conway. O que
diabos Haskell estava fazendo em seus pesadelos, Adam não sabia, e
ele estava começando a questionar quando o grito o acordou.

Por um instante confuso, pensou que fosse Bridget gritando. A


escuridão estava completa e absoluta. A cama não era dele, e o quarto
cheirava a pellets de pinho e fogo e lençóis de mofo. Ele lembrou que
estava no Oregon e que Bridget estava morta há quase um ano.

Teria ele sonhado aquele grito de gelar o sangue?

Foi tão alto. Tão perto.

Adam afastou os cobertores e pegou a pistola no suporte da


cama. A cabana estava fria, apesar do brilho vermelho atrás da grade
do fogão, e o piso de madeira estava frio sob seus pés. Ele encontrou o
caminho até a porta, destrancou-a, abriu-a e ofegou ao ver o ar gelado.
Essa explosão de ar da noite gelada lhe tirou o fôlego e o acordou
completamente.
Nenhuma luz brilhava atrás de cortinas em qualquer cabana. A
neve pulverizava o chão, brilhando misteriosamente à meia luz.

Ele ouviu tensamente. Não mesmo uma agulha de pinheiro


caindo. A quietude era estressante.

Isso era um silêncio natural? Estava quieto demais?

Bem, sim, do ponto de vista dele, estava quieto demais. Como


as pessoas dormiam ainda assim? Ele estava confundindo pesadelos e
culpa pela coisa real?

Arrepios surgiram em seus braços e ombros, e ele estremeceu.


Ele odiava o frio. Ele odiava o silêncio.

Talvez ele devesse se vestir de qualquer maneira.

Nada se moveu na escuridão. Não houve um sussurro de som.

Adam xingou baixinho, fechou a porta e se vestiu rapidamente.


Alguns minutos depois, ele abriu a porta da cabine e saiu do lado de
fora. Não havia lua. A neve cintilante lançava uma surpreendente
quantidade de iluminação - exceto onde a parede de árvores altas
projetava sombras profundas e desorientadoras.

Ele não tinha destino e nenhum plano. Por mais cansado que
estivesse, ele sabia que acabara de dormir pela noite, por isso poderia
muito bem deixar sua mente à vontade.

Não que qualquer coisa que acontecesse nos próximos quarenta


minutos deixaria sua mente à vontade.

O fato de as cabanas ao redor permanecerem escuras era


certamente um indicador promissor de que o grito fora produto de seus
pesadelos. Mesmo assim, ele partiu em direção ao restaurante
Lakehouse, a fina crosta de neve se esgueirando sob os pés.

Ele não encontrou a fonte do grito, mas encontrou pegadas


quando saiu do abrigo das árvores. Muitas pegadas. Na verdade, elas
pareciam estar indo e vindo em todas as direções.

– Que diabos?

Ele não sabia quando as pegadas tinham sido feitas - talvez Rob
ou Zeke tivessem tido melhor sorte com isso. As trilhas estavam se
enchendo de branco suave, mesmo quando ele tentou segui-las no que
parecia ser círculos.

Ele passou pela casa de barcos e depois voltou para sua cabana
e seguiu na outra direção. Não havia sinal de ninguém.

Finalmente, frio e mais cansado do que quando foi dormir,


Adam voltou para sua cabana.

O interior rústico estava confortavelmente quente em


comparação com a noite de neve. Ele jogou mais pellets no fogão e fez
café.

As pegadas não significavam nada por conta própria. E se


realmente houve um grito, por que ninguém mais ouviu?

A verdade é que esse caso estava provocando lembranças ruins.


Havia apenas semelhanças suficientes...

Também havia diferenças importantes, e era nisso que ele


precisava se manter focado.
Ele estudou a decoração do quarto. Era uma cabana diferente
daquela em que ele ficara em outubro. Ele pensou na cama quebrada e
sorriu levemente. Ele desejou agora que ele tivesse deixado Rob ficar.

Rob estava certo. Não tinha que significar nada mais do que
companheirismo e sexo compartilhados. Ambos de que ele precisava
desesperadamente. Sua rejeição a Rob não fazia sentido, já que ele
achava Rob muito atraente. Mais atraente do que ele achou qualquer
um em muito tempo.

Ou talvez esse fosse o problema?

Ele olhou para a pintura sobre a cama e lembrou-se do


comentário de Jonnie sobre “arte real”. Esta era outra paisagem,
apenas o lago era a frente e o centro, e não as montanhas. Ele se
levantou e examinou as pinceladas.

No canto da paisagem havia uma marca preta de assinatura.


DK. Dove Koletar? Rob disse que Koletar era o filho dos donos
originais do acampamento, então era uma possibilidade ele ter sido o
artista. Se fosse esse o caso, se o pintor tivesse tido vinte e poucos anos,
Adam ficou um pouco mais impressionado com a habilidade.

Sentou-se na cadeira ao lado do fogão e pegou a xícara de café.

Talvez Koletar simplesmente tenha tido muito azar. Era


possível. Qualquer um poderia ser uma vítima. Essa era a terrível
verdade. Às vezes, era apenas uma questão de estar no lugar errado na
hora errada.

No caso de Koletar…
Adam estava conjeturando Crime de Ódio. Isso era pensar
como um homem gay versus um investigador. Porque se tivesse sido
um crime de ódio, por que esperar até Koletar sair da cidade?

Havia um certo tipo de predador que gostava de brincar com


sua vítima, e era quase impossível que Koletar tivesse se desentendido
com um deles. Stalker ou psicopata, este criminoso viu sua vítima
escapar e agiu. Geralmente, esse tipo de predador existia em filmes e
livros. O serial killer onipotente, apreciador de vinho, que ouvia música
clássica era uma criação fictícia. Na maioria das vezes, esses
predadores escaparam da captura por causa da natureza
inerentemente aleatória do processo de seleção da vítima, e uma
combinação de sorte e falta de mão de obra e imaginação por parte da
força pública.

Como uma esquete de Monty Python 25 horrível; ninguém


espera um serial killer.

O que não mudava o fato de Koletar ter sido morto depois que
ele tomou a decisão de sair.

Por quê?

Porque alguém não queria que ele fosse?

Olhando para isso a partir dessa perspectiva... bem, isso


mudava tudo.

Ele abriu a lata de possíveis suspeitos e agora todos, de pais a


colegas, tinham de ser considerados igualmente. Se ele estivesse

25 Grupo de comediantes britânicos.


correto, em vez de procurar os inimigos de Koletar, Rob deveria estar
procurando por amigos de Koletar.

Adam considerou isso e engoliu outro gole de café amargo.

*****

– Se você não tiver sido atribuído a um local da grade, venha me


ver. – Frankie estava gritando através de um megafone do palco do
gazebo no pequeno parque no centro da cidade. – Lembre-se, isso é um
esforço de equipe. Não fique vagando sozinho. E se você encontrar
algo, qualquer coisa, entre em contato com o líder da sua equipe
imediatamente. Líderes de equipe, marque e chame.

– Isso vai ser o caos. – Russell vestiu a jaqueta azul com estalos
irritádos. Ele havia retornado a Nearby na primeira luz, junto com
reforços de Medford e Klamath Falls. – Muito terreno para cobrir.
Muitos civis. Muito tempo desde que a garota desapareceu.

Adam assentiu. Russell provavelmente estava certo, mas a


situação não podia ser mudada. O terreno era o que era - e havia muito
disso. E porque havia muito terreno para cobrir, eles precisavam de
todos os voluntários que pudessem conseguir. Os líderes de equipe
eram guardas florestais, policiais estaduais e policiais de cidades
vizinhas, mas não podiam estar em todos os lugares ao mesmo tempo,
e não importava quantas vezes você instruía as pessoas a não tocar em
nada, alguém sempre fazia.
– Ele poderia ter escapado antes que o perímetro fosse
montado.

– Eu não acho que ele vá a lugar nenhum.

Russell ou não o ouviu ou não estava interessado no que Adam


pensava. – Alguém mencionou trazer Portland?

– Até agora temos um homicídio e uma menina desaparecida. –


Disse Adam. – Não é exatamente um caso para o FBI.

– Ainda estamos aqui. – Russell disse. – E como você disse, é


assassinato em terras federais. – Seu olhar azul era desafiador. Esse foi
o padrão de Russell com Adam. Na opinião de Russell - na opinião de
muitas pessoas - a carreira de Adam estava em trajetória descendente,
e Russell parecia sentir que ser parceiro de Adam era um reflexo sobre
ele. Então ele fez o melhor em todas as oportunidades para desafiar ou
se distanciar.

Adam não se importou. Ele estava aliviado por estar fora do


dever do necrotério e feliz de estar realmente investigando alguma
coisa, qualquer coisa novamente. Ele ficou intrigado com a situação de
Nearby. E havia... bem, fique com o caso.

Ele estava esperando que Russell pudesse inventar uma razão


urgente para retornar a Los Angeles. Isso era improvável. Se Russell
fosse chamado, Adam provavelmente também seria chamado de volta.

Ele encontrou o olhar crítico de Russell e disse: – Esse é o


território do departamento do xerife. Estamos aqui em uma situação de
suporte. Não é o nosso caso.
Russell abriu a boca, sem dúvida pronto para discutir esse
ponto, mas Rob, parecendo irracionalmente bem descansado e
enérgico, aproximou-se para falar com eles.

– Vocês dois podem trabalhar ao meu lado ou Zeke. – Ele disse


rapidamente. Ele olhou brevemente para Adam e dirigiu o resto de
seus comentários para Russell. – Você decide. Eu ficaria com alguém
que conhece a área. É fácil se perder nessas florestas e temos muito
chão para cobrir.

– Eu vou trabalhar com você. – Adam disse. O olhar castanho


de Rob voltou-se para ele. Ele assentiu bruscamente.

Russell disse: – Nesse caso, vou ajudar o delegado Lang.

– Bom o bastante. – Rob se virou.

Aparentemente, ele não perdoou Adam por recusar a oferta na


noite anterior - e essa era a razão pela qual Adam não gostava de se
envolver com colegas de trabalho. Quando dava errado, tudo corria
muito mal.

De qualquer forma, eles estavam aqui para fazer um trabalho.


Qualquer outra coisa era muito ruim.

Exceto que ele gostava de Rob. E talvez no fundo de sua mente


ele estivesse esperando que depois que este caso acabasse, uma vez que
ele tivesse sua passagem de avião para casa, talvez... mas parecia que
não.

Isso era realmente melhor de qualquer maneira.

Russell mudou-se para se juntar à equipe de Zeke, e Zeke ficou


tão emocionado quanto Adam imaginava, o que era tão emocionado
quanto Rob. Talvez os dois se ligassem à reclamação sobre seus oficiais
superiores.

Voluntários e policiais foram para o limite do raio de busca,


formaram linhas de busca, a rodada final de instruções foi dada, e a
busca por Tiffany foi retomada, reforçada pelos reforços dos condados
vizinhos. Não havia nada como uma linda garota adolescente
desaparecida para mobilizar as tropas, e o tempo estava do lado delas.
Era um dia ensolarado de fevereiro. A nevasca da noite fora leve e já
começava a derreter em partes.

A dificuldade, é claro, era que eles não sabiam ao certo se


estavam procurando por uma vítima ou um criminoso. Tiffany queria
ser encontrada? Isso permanecia uma pergunta.

O ar estava rarefeito e agudo ao deixar a planície coberta de


vegetação e começou a subir pelas árvores e encostas. Estava quente à
luz do sol, mas isso mudou rapidamente. A neve estava imaculada e
cheia de bolsões sob as árvores e nas fendas e vincos da paisagem. A
temperatura caiu drasticamente enquanto eles trabalhavam devagar
pela encosta da montanha. O ar limpo era revigorante, e era bom
esticar seus músculos e realmente se esforçar.

Cerca de noventa minutos depois, Rob se juntou a Adam. –


Você está bem?

– Bem. – Ele estava. Ele estava em boa forma - ele havia


passado no exame semestral de fitness com cores vitoriosas em janeiro
- e estava gostando de se forçar. Mesmo assim, este foi um inferno de
um treino. Eles iriam começar a perder voluntários em outro
quilômetro ou mais.
Ele empurrou o cabelo úmido para trás e Rob disse: – Seu nariz
está vermelho. Espero que você esteja usando protetor solar.

Adam franziu o nariz. – Isso é do frio, não do sol.

– Frio! – Rob zombou da ideia de que este era um tempo frio,


embora a maneira como a respiração dele pairava no ar não apoiasse
exatamente seu argumento. Tampouco o fato de estar usando a jaqueta
e as luvas pesadas do uniforme. Adam não tinha certeza se ele ainda
possuía um par de luvas. Todo o seu guarda-roupa de inverno consistia
em um par de suéteres de lã, um dos quais ele estava usando agora sob
a jaqueta do FBI. Graças a Deus ele se lembrou de levar jeans e botas.
Esta não era uma jornada que ele gostaria de fazer em terno.

Rob assentiu para a esquerda de Adam. – Esse é Billy - Bill -


Constantine. E à sua esquerda, perto daquele monte de pinheiros, está
o pai dele. – Rob acrescentou de forma neutra: – Você deve estar ciente
de que Buck Constantine é um grande homem por aqui.

Buck Constantine parecia vagamente familiar, embora Adam


levasse alguns segundos para se lembrar de onde o vira antes. O
restaurante à beira do lago. Constantine estava usando o mesmo casaco
ridículo na noite em que Adam jantara lá.

– Quão grande homem? – Ele perguntou.

– A maior parte da terra não desenvolvida por aqui que não é


floresta nacional pertence a Constantine.

– Entendo.

– O que significa que precisamos ter cuidado quando


entrevistarmos Bill sobre Tiffany.
– Estamos entrevistando ele? – Adam não perdeu o nós.

Rob assentiu. – Está parecendo assim. De qualquer forma,


temos que começar em algum lugar. Eu fiz uma checagem na noite
passada. Bill costumava orientar Tiffany.

– Em quê?

– Ciência. Ela reprovou em biologia em seu primeiro ano.

– Interessante.

– Eu imaginei que você pensaria assim.

– Há obviamente uma conexão. Ninguém mantém uma foto que


não signifique nada. – Adam olhou de lado. Rob estava sorrindo. Foi
um sorriso sombrio. – Eu estive pensando embora. É uma foto
estranha.

– O que é? – Rob perguntou.

– A foto de Bill Constantine e o outro garoto. Aquele que se


afogou. Watterson. Não é o tipo de foto que você dá a alguém.

– Assim?

– Então Bill provavelmente não deu essa foto para Tiffany. Ela
provavelmente encontrou em algum lugar e se apropriou para seu
próprio uso.

Rob estava franzindo a testa. – Apropriou? Onde você quer


chegar?

– Eu não tenho certeza exatamente.

Eles ficaram em silêncio quando chegaram a um


derramamento de pedras.
– Você acha que Tiffany tinha uma queda por Bill, e talvez Bill
não soubesse disso? – Rob estava observando Bill. Como se sentisse o
peso do olhar de Rob, Bill olhou para eles. Rob acenou para ele em
saudação.

Conscientemente, Bill assentiu de volta.

– Ele pode ou não ter sabido disso. – Disse Adam. – Eu não


acho que ele deu a ela aquela foto. Você tem um cenário em que ela
quer uma foto dele - supondo que não fosse o garoto Watterson em
quem ela estava interessada -, mas não tem acesso através dos canais
normais.

– Acesso através dos canais normais. – Rob disse maravilhado.


– Isso é fala do FBI? O que aconteceu com o inglês simples? Você quer
dizer que ela não poderia perguntar a ele, então ela roubou de algum
outro lugar?

– Corrito.

– Possivelmente, o alvo de seu interesse emocional não era


igualmente engajado e experimentava reciprocidade? – Rob sugeriu.

– Ah, cala a boca. – Adam disse.

Rob riu. Ele deu um tapinha nas costas de Adam e ficou para
trás para falar com alguns voluntários que estavam começando a ficar
para trás.

Bill estava procurando o caminho de novo. Adam assentiu


educadamente. Ele não culpou Constantine por se sentir
desconfortável. Até mesmo pessoas inocentes começavam a agir
paranoicas quando eram submetidas ao escrutínio da lei.
– Você acha que a encontraremos? – Bill chamou.

– Nós faremos o melhor que pudermos. – Adam respondeu.


Ambiguidade era uma grande parte da descrição do trabalho. Não faça
promessas que você não possa cumprir. Essa era uma das lições que
eles não ensinavam na Academia. Você aprendia isso enfrentando as
famílias enlutadas das vítimas que você não salvava.

– Nós a encontraremos. – Buck Constantine disse severamente.

Seu filho não parecia tranquilo.

– Vamos tentar manter essa linha juntos. – Rob dirigiu.–


Queremos ter certeza de que cobrimos cada centímetro de terreno em
nosso setor.

Todos concordaram. Eles estavam começando a perder


voluntários de sua equipe de oito membros. O terreno era muito áspero
e as pessoas começavam a dizer em voz alta o que Adam pensava em
particular: que não havia como Tiffany ter chegado tão longe. Não à
noite. Não no escuro do campo.

Lamentavelmente, apologeticamente, alguns dos mais velhos e


menos aptos começaram a voltar atrás. O rádio de Rob entrou em vida
e ele parou para atender.

Ele assobiou agudamente. Adam olhou para trás e Rob acenou


para ele.

Adam virou-se para começar a descer a encosta. A combinação


de neve e agulhas de pinheiro não proporcionou muita aderência para
as solas de suas botas de caminhada. Seu pé direito escorregou, as
pedras sob seu pé esquerdo desmoronaram, e a próxima coisa que ele
percebeu foi que ele estava batendo de cara em uma ravina.

Em algum lugar distante, ele podia ouvir Rob gritando.


Aconteceu tão rápido que Adam não teve tempo para muito mais que
um suspiro - principalmente de descrença.

– Merda! – Sua aterrissagem derrubou o vento de seus pulmões


e interrompeu seu protesto. Agulhas de pinheiro e neve suavizaram a
colisão, mas ele viu estrelas. Seus ouvidos e nariz pareciam recheados
de neve e, por alguns segundos atemorizados, temia que fosse sufocar.

– Adam? Adam! – A voz de Rob flutuou para ele. Ele parecia tão
ofegante quanto Adam.

Adam rolou para o lado, ofegando com uma poderosa golfada


de oxigênio. A dor brilhou ao longo de suas costelas, e sua mão
enluvada doía onde ele bateu com força em uma pedra.

Ele limpou a neve do rosto. Alguns flocos cintilantes grudaram


nos cílios dele. – Eu estou bem, ele resmungou.

– Você está bem? – Rob gritou.

– Ótimo! – Adam gritou com mais força. Fantástico pra


caralho. Por que você pergunta?

Ele olhou para cima. A ravina não era tão profunda quanto
parecia quando ele caiu. Talvez doze pés. No máximo. Rob estava
ajoelhado na borda, olhando para ele, os olhos arregalados em seu
rosto alarmado.

– Não tente se mover. Estou descendo.


Alguém deveria dizer a Rob quão bom ele parecia naquele
chapéu de xerife do estilo vagamente ocidental. Então, novamente, ele
provavelmente sabia.

– Não. Estou bem. Fique aí. – Adam chamou. Na verdade, ele


se sentia bem o suficiente para ficar mais indignado com toda a
situação. Por que diabos as pessoas amavam tanto a vida ao ar livre?
Era apenas um acidente fatal após o outro esperando para acontecer.

Outras cabeças estavam surgindo ao lado de Rob quando o


resto da equipe de busca chegou. Ele começou a receber conselhos não
solicitados sobre como subir, mesmo quando Rob avisou a todos para
ficarem longe da borda.

Adam se sentou, e as agulhas e neve que ele confundiu com o


chão da ravina cederam. Ele deixou cair outro pé, aterrissando em seu
cóccix em uma pilha de pedras e escombros.

Isso doeu e ele xingou em voz alta.

– Adam?

– Ainda aqui. – Adam gritou.

E ele não era o único.

Ele respirou fundo. Não pedras e entulho. Ou não apenas


pedras e escombros. Ele havia pousado nos restos apodrecidos de uma
velha mochila.

– Haskell, é melhor você descer aqui. – Ele chamou. Ele ficou


de joelhos e se arrastou para frente.
O afloramento de pedregulhos, raízes de árvores e arbustos
fazia um belo recesso seco e protegido, e naquele recesso havia outra
pilha de farrapos. Trapos e ossos espalhados. Um esqueleto.

Coração batendo, ele se sentou em seus calcanhares. Orifícios


ocos vazios e profundos encontraram os seus.

Rochas e neve caíram, seguidas por Rob, que deu um pulo e


meio deslizou para se juntar a ele.

– Onde diabos...?

– Bem aqui. – Adam disse.

Rob empurrou os atritos para o lado e caiu ao lado de Adam.


Ele colocou a mão no ombro de Adam. – Eu lhe disse para não se
mexer.

Rob era um cara de toques. Um tipo de cara gentil. Mas Adam


percebeu que não se importava que Rob o tocasse. Na verdade, aquele
breve e quente toque era reconfortante. Ele disse rapidamente: – Qual
era o nome do caminhante que desapareceu em 1998? O garoto da
faculdade com a prótese do quadril?

– Algo Jordan. Não, Jordan Gaura.

Adam indicou um artigo que parecia um metal dobrado e um


cogumelo de plástico entre as pedras e ossos espalhados. – Acho que
acabamos de encontrá-lo.

Rob seguiu a linha de visão de Adam até os restos sob a


saliência do pedregulho.
– Droga. – Ele disse. Ele parecia mais cansado do que chocado.
Mas, então, havia apenas tantos possíveis resultados para os
caminhantes desaparecidos por muito tempo nesses bosques. Ele
acrescentou depois de um minuto: – A boa notícia é que não é a
Tiffany.

– Sim. – Adam disse. – A má notícia é que você precisa de uma


equipe de cena de crime aqui. Incluindo um antropólogo forense.

Rob olhou para ele.

Adam disse: – Vamos, Rob. Um corpo talvez. Dois corpos? Sua


floresta está se transformando em um pomar de ossos.

Rob franziu a testa. – Você não pode pensar que isso tenha algo
a ver com Dove Koletar.

– Isso é exatamente o que eu penso.

– O que está acontecendo aí embaixo? – Cabelo prateado e


jaqueta de franjas. O pai de Bill olhou para eles, franzindo a testa. –
Alguém se machucou?

– Espere, Buck. Nós temos uma situação aqui. – Rob disse. Para
Adam, ele disse: – Não vamos tirar conclusões precipitadas. Isso
poderia ter sido um acidente.

– Rob.

– Não temos ideia de como esse garoto morreu. Ele poderia ter
caído e quebrado seu crânio. Naquela época do ano ele não teria neve
para amortecer sua queda.
– Talvez. Seu crânio parece bem daqui. – Adam disse. – Eu não
sou especialista. E você também não é. É por isso que você quer ter um
aqui. ASSIM QUE POSSÍVEL. – Ele segurou o olhar perturbado de Rob
com o seu próprio.

Depois de um momento, Rob assentiu. – De acordo. Ele se


levantou.

Adam sentiu por ele. Ele realmente sentia. Apesar de toda a sua
atitude indiferente, Rob se importava com as pessoas a quem ele estava
encarregado de servir e proteger. E embora esse crime - se fosse um
crime - não tivesse acontecido no tempo de Rob, ele levaria isso a sério.
Ele disse: – E você tem que proteger este local.

Rob assentiu com cansaço.

Adam levantou-se, estremecendo, e Rob disse: – Tem certeza


de que está bem?

– Sim. Eu caí no meu orgulho.

Rob sorriu fracamente. – Eu tenho que dizer, eu nunca vi


alguém parecer tão digno no ar.

Adam bufou e apressadamente enxugou o nariz. Rob riu.

Aquele era o único humor na situação, e nenhum deles sorria


enquanto subiam de volta ao topo da ravina. Não foi uma escalada
difícil, mas Adam estava começando a pensar em um longo banho
quente e um confortável colchão - nenhum dos dois estava esperando
por ele na cabana do acampamento.

Rob caminhou descendo a encosta até o rádio em busca de


reforços.
– Você teve sorte. – Disse Bill. – O que você achou lá embaixo?
– Ele se inclinou sobre a borda e seu pai agarrou sua jaqueta.

– Que diabos está fazendo? Você não viu apenas o que


aconteceu aqui?

Bill se libertou, lançando um olhar ressentido para o pai. Ele


olhou para Adam. – É Tiffany?

– Não.

O alívio de todos parecia genuíno. Claro que algumas pessoas


eram melhores atores que outras. Adam tinha muita experiência com
isso.

– Você e Tiffany eram amigos? – Adam perguntou. Ele manteve


sua expressão e tom simpático. Mesmo assim, Bill pareceu vagamente
alarmado.

– Quero dizer, eu a conheço. – Ele disse. – Eu costumava ser


tutor dela.

– Você consegue pensar em alguém para quem ela correria se


estivesse em apuros?

– Eu não a conheço muito bem.

A pressa de Bill de se distanciar de Tiffany era compreensível


nas circunstâncias. Sua postura defensiva e sua incapacidade de
manter o olhar de Adam podiam indicar uma manobra, ou podiam
indicar extremo desconforto ao ser questionado pelo FBI. E em todo
caso, não era a hora nem o lugar para tentar entrevistá-lo.
– Ainda estamos indo em direção ao pico? – Um dos outros
membros da busca perguntou.

– Eu não sei. – Adam respondeu.

– A escalada é muito mais difícil a partir de agora. Eu não


acredito que essa garota poderia ter chegado tão longe.

– Ela poderia, disse a única mulher em sua equipe de busca. –


Se ela tivesse que fazer.

– Por que ela teria que fazer isso? – Buck Constantine disse.

Ninguém tinha uma resposta para isso. Na verdade, ninguém


falou muito sobre qualquer coisa. Principalmente eles estavam
assistindo Rob. Ele estava de costas para eles, então não havia muito
para ver. Um par de pesquisadores encontrou locais de descanso em
madeira caída. Cantil foram passados de um lado para outro.

Depois de um minuto ou dois, Rob subiu de volta para onde


eles esperavam.

– Vamos começar a descer. – Anunciou ele. – O que eu estava


prestes a lhe dizer antes que o agente Darling decidisse seguir sua
própria linha de investigação é que uma das equipes que procurava no
sul encontrou o que parece ser o celular de Tiffany.

Esta informação enviou uma onda através do círculo de


pesquisadores restantes.

– Eu tenho dito isso desde o começo. – Disse o velho


Constantine. – O que estamos fazendo aqui quando, com certeza, ele a
arrastou até a rodovia? Ninguém ficaria esperando para ser pego.
– Se soubéssemos exatamente onde procurar, não
precisaríamos de todos vocês. – Rob disse secamente. – Vamos nos
mexer. Precisamos de todos focados nesse quadrante. – Ele encontrou
o olhar questionador de Adam e assentiu afirmativamente.

Rob ficou para trás para marcar a ravina e registrar suas


coordenadas, enquanto Adam e o resto do grupo começaram a recuar.
Eles estavam todos se movendo muito mais rapidamente agora que
eles tinham certeza - com ou sem razão - que Tiffany nunca esteve lá
em cima. O problema com uma busca como essa era tanto o predador
quanto a presa estavam tentando superar possíveis buscas, o que
muitas vezes significava fazer a última coisa que alguém esperaria.
Coisas estúpidas. Coisas perigosas.

Quando Rob falou com Adam, ele disse: – Nós devemos ter
uma equipe de cena do crime aqui dentro de algumas horas.

– Bom.

– Constantine está certo. O cenário mais provável é que ela foi


arrastada para a rodovia.

– Ela não foi arrastada para a rodovia. Ela não foi arrastada
para nenhum lugar. – Adam disse. – Quem cortou a garganta de
Cynthia Joseph estaria coberto de sangue. Não há sangue na casa de
Joseph. Nós dois concordamos que ninguém entrou depois dela. Ela
pode ter fugido e depois foi capturada e sequestrada. Ou ela pode ter
sido cúmplice.

Rob lançou-lhe um olhar sombrio. – Você realmente acha que


ela estava nisso.
– Eu não sei. Acho que a decisão repentina de voltar para casa
naquela noite não parece boa.

– Isso é completamente circunstancial.

– Sim. Mas você e eu sabemos que as evidências circunstanciais


são tão válidas quanto evidências diretas.

Rob grunhiu.

Eles continuaram em silêncio, marcados apenas pelo baque de


suas botas e pelo vento nos pinheiros. Lá de cima, a vista do vale era
espetacular e dava a Adam uma melhor compreensão de como a
maioria das casas e residências se espalhava. Nesta terra de neve e
pinheiros “vizinho” era mais conceito que realidade.

Rob disse a contragosto: – Você não está muito mal para um


garoto da cidade.

– Obrigado. – Adam sorriu e, depois de um segundo, Rob sorriu


também. Seus sorrisos se desvaneceram com o súbito estalo de tiros.
Capítulo Sete

Alguns metros à frente, o resto do grupo de busca parou de


andar e começou a olhar em volta.

– A menos de um quilômetro de distância. – Norris Peterson


gritou.

– Isso é semi-automática. – Adam disse quando Rob falou em


seu rádio.

– Quem está atirando? – Rob exigiu. Ele não tinha certeza se


seria capaz de ouvir a resposta pelo trovão do seu coração. Sua boca
estava tão seca que era difícil tirar as palavras do céu da boca. – Aqui é
o delegado Haskell. Estamos ouvindo tiros...

A voz de Zeke interrompeu. – Rob, estamos sob fogo.

Que diabos? Houve um tem que Ndarby havia sido um lugar


agradável, tranquilo e pacífico para viver e trabalhar. Agora estava se
transformando em uma zona de guerra. – Você está…? Tem certeza de
que não é um caçador idiota?

– Claro que sim, tenho certeza! – Zeke retornou.

Rob xingou. – De onde? De que direção os tiros estão vindo? –


Ele rapidamente desdobrou seu mapa. – Qual é a sua posição?

– Pico da Viúva. Alguém está lá em cima com uma porra de um


rifle de assalto atirando em nós.
Os tiros soaram pequenos e distantes no rádio, comparados
com o eco de rachadura e rolagem de seu contraponto da vida real.

– Temos que tirar esses civis da montanha. – Disse Adam.

Rob assentiu distraidamente, tentando se coordenar com os


outros líderes de equipe. Todo mundo estava batendo nos rádios ao
mesmo tempo. Ele estava vagamente ciente de Adam correndo pela
encosta, mandando todos para o abrigo das árvores, e foi um alívio
saber que pelo menos ele tinha apoio sólido e sensível à mão. Agora ele
precisava de todo o apoio que pudesse conseguir.

– Zeke, alguém foi atingido? Ferido? – Ele perguntou.

Houve uma explosão de estática. – Negativo. – Zeke disse.

O alívio deixou Rob fraco.

– Precisamos de todo mundo fora desta montanha agora. Mova


isso! – Adam falou. Como diabos ele conseguiu soar tão calmo - como
se ele fizesse isso todos os dias?

Essa permissão oficial parecia ser o que todo mundo estava


esperando, porque os membros da busxa restantes começaram uma
descida apressada, desacelerada pelo terreno. Graças a Deus por isso.
Graças a Deus por Adam.

Rob estava calculando quanto tempo demoraria para atravessar


o cume, quando Adam subiu de volta, agachando-se ao lado dele.

– Eles estão presos? – Adam perguntou. – Eles podem se


retirar?
Rob sacudiu a cabeça. Eu não sei. – Zeke, tire seu grupo daí. –
Ele ordenou.

A voz de Zeke veio pelo rádio com clareza repentina e


exasperada. – Eu gostaria de fazer isso, Haskell. Estamos presos.
Entendeu?

– Deus, droga. – Adam murmurou.

– Entendido. – Rob respondeu tanto a Adam quanto a Zeke.

– Delegado Haskell? Aqui é o vice-xerife Sargento Laird com


Medford.

Ao mesmo tempo, outra voz explodiu: – Este é o vice-diretor


O'Neill do xerife de Klamath Falls. Estamos nos movendo para
interceptar.

Ele olhou para Adam em alarme. Movendo-se para interceptar?


Esses cowboys acham que estavam jogando Xbox? Tudo o que ele
precisava era que o grupo de civis de Zeke fosse pego em fogo cruzado
interterritorial.

Adam estava franzindo a testa por causa dessa troca. – Isso não
se encaixa. – Ele disse.

– Uh… sim. Bem, conte para o babaca com o rifle.

– O que você quer fazer? – Adam perguntou.

Rob teve que sufocar uma onda de algo assustadoramente


próximo ao riso histérico. Adam estava perguntando a ele? Como
diabos ele deveria saber o que fazer em uma situação como esta?
Coisas assim não aconteciam em seu mundo.
Ele apontou para o mapa. – Este é o pico da viúva. Esta é a
posição de Zeke. Aproximadamente. E aqui estamos nós.

Adam encontrou seus olhos. – Você quer tentar dar uma volta
no atirador? Varrer por trás?

Rob respirou fundo. Ele assentiu com força. – Eu quero. Sim. –


Ele dobrou o mapa novamente. – Não é muito um plano, mas é tudo o
que tenho. Parece-me que Medford e Klamath Falls fornecerão toda a
distração que precisamos. O que eu sei com certeza é que eu preciso ir
até lá antes que alguém seja morto.

Ele estava pensando rapidamente. Ele conhecia bem a área - ele


tinha tirado muitas fotografias aqui ao longo dos anos - a neve os
atrasaria. Dez minutos? Talvez quinze? Mesmo assim, ele e Adam eram
a melhor chance de reforços de Zeke.

– Certo. – Adam assentiu. – Vamos fazer isso.

Ele parecia ter pensado que era um plano perfeitamente


razoável. – Pistolas contra um rifle de assalto. – Rob se sentiu obrigado
a apontar.

Para sua surpresa, a boca de Adam se contorceu em um sorriso


frio. Ele se levantou, dizendo: – Tudo o que importa é quem segura a
pistola.

*****
Eles fizeram um bom tempo e, em doze minutos, alcançaram a
crista atrás do Pico da Viúva e começaram a descer. O esforço físico - o
gasto útil de toda aquela adrenalina - e o tempo para pensar ajudaram
Rob a recuperar seu equilíbrio. Ele não estava feliz, mas a raiva e a
determinação haviam substituído seu medo de que ele não estivesse
preparado para lidar com essa crise. Alguém tinha que lidar com isso.
E por Deus, parecia que teria que ser ele.

Ele estava apenas feliz por ter Adam como apoio. Dessa forma,
pelo menos um deles talvez sabia o que estava fazendo.

O declive era escorregadio com agulhas de pinheiro, pedras


soltas e terra molhada. A neve derretera onde a luz do sol atravessava
os galhos das árvores. A maior parte da encosta estava na sombra
profunda e ainda havia gelo em fendas afiadas de rocha. Mesmo assim,
eles se moviam rapidamente, mantendo cerca de quinze metros entre
eles.

O vento que soprava por cima da neve e dos pinheiros parecia o


oceano. Os espaços entre os tiros eram maiores agora. Toda vez que
Rob esperava que o impasse acabasse, outro estalo de tiros separava o
vazio destruído pelo vento.

Depois de várias centenas de metros, pararam para recuperar o


fôlego. Abaixo deles havia uma grande cabana de madeira num vale
verdejante pontilhado de altos pinheiros. Os telhados de metal de
alguns edifícios afastados brilhavam sob a luz do sol indecisa.

Rob fez um gesto para Adam. Quando Adam se juntou a ele, ele
entregou seus binóculos. Adam pegou os óculos.
Rob disse baixinho: – Esse é o lugar de Sandy Gibbs. Ele é o
que você pode chamar de nossa noz de sobrevivência local. O tipo que
eles terão de pegar-minha-arma-de-meus-dedos-mortos-frios.

Adam estudou a propagação abaixo deles. – Você acha que


Gibbs é nosso atirador?

– Eu acho que há uma boa chance.

– Ele tem armas armazenadas lá?

– Oh inferno sim. Não duvido que ele tenha um maldito arsenal


lá. Minha preocupação é que ele também possa ter Tiffany.

As sobrancelhas pálidas de Adam se juntaram. – Tiffany?

– Talvez. Talvez ele fosse cortejar à moda antiga. Não consigo


pensar em nenhum outro motivo para fazer isso.

– Você acha que esse Gibbs sequestrou uma adolescente e


assassinou sua mãe?

– Ele é racista. Completamente. E ele se vê como um homem de


montanha moderno. Eu sei que provavelmente soa como um exagero,
mas eu posso ver como matar uma mulher nativa americana e levar sua
filho se encaixa em seu roteiro de filme.

Adam ficou em silêncio, pensando. – Talvez. – Ele disse. – É


possível. Ele não parecia convencido. – O corpo de Cynthia Joseph foi
encenado. Artefatos do museu foram roubados. O tipo de agressor que
você está falando não se importaria com nenhuma dessas coisas.

– Você saberia mais sobre isso do que eu. Eu posso te dizer que
Gibbs tem um histórico de assediar mulheres, especialmente mulheres
jovens. Nada importante, nada sério, ele é apenas antipático e
persistente.

Adam franziu a testa, possivelmente com a ideia de assédio


desagradável e persistente não ser sério. – Talvez. – Ele disse
novamente, mas ele ainda parecia cético. – Aqui está outra teoria.
Gibbs notou que a floresta estava cheia de policiais e pulou para a
conclusão de que estávamos aqui por ele.

Os olhos de Rob se estreitaram, considerando essa teoria. –


Talvez.

– A paranoia faz parte do perfil.

– Isso pode ser verdade. Você também tem que admitir que esta
é uma grande coincidência.

– Eu não chamaria isso de coincidência. Eu chamaria isso de


causa e efeito. – Adam devolveu os binóculos de campo. – Se Gibbs é o
atirador, ele tem uma torre de atirador montada em algum lugar ao
longo daquela linha de árvores.

Rob virou os óculos para as árvores maduras, com vista para a


encosta que levava do planalto do vale até as encostas da floresta
abaixo. Enquanto observava, ele captou um brilho metálico nos galhos
de uma alta posição. Luz do sol em um cano de arma. – Boa suposição.
Dez horas.

– Um ou mais atiradores?

– Parece apenas um. Eu não posso ter certeza.

– Parece um. Qualquer movimento de baixo?


– Negativo. Isso não significa que eles não estão a caminho.

– Verdade. Como você quer lidar com isso?

Rob disse lentamente: – Ele não vai ficar lá para sempre. Ele
estará voltando à Terra mesmo que seja apenas para rearmar. Mais
provavelmente, ele vai cavar um cerco. Eu digo para chegarmos a essa
cabana e esperamos por ele.

―Hmm. – Adam franziu a testa.

– Nós poderíamos terminar isso rápido e sem ninguém se


machucar. Ele não estará nos esperando. E teremos a chance de
procurar por Tiffany.

O rosto de Adam se virou para o dele. – Nós não temos um


mandado para procurar naquela cabana.

– Nós temos uma causa provável. Ele está atirando na polícia.


Quanto mais causa provável precisamos?

– Eu vou te contar o que não precisamos. Outro Ruby Ridge.

Rob tinha onze anos na época de Ruby Ridge. Ele mal se


lembrava dos detalhes. O que ele lembrava era que agentes do governo
haviam ultrapassado e presumivelmente pessoas inocentes haviam
morrido. Adam teria mais ou menos a mesma idade, mas
aparentemente Ruby Ridge era uma ferida no FBI.

– Esta não é a mesma situação. Quero dizer, não é paralelo.

Isso não pareceu tranquilizar Adam. – Se acabarmos tentando


processar Gibbs pela morte de Joseph - depois de entrarmos sem
mandado - você sabe tão bem quanto eu que qualquer coisa que
encontrarmos será inadmissível.

Isso era verdade. Adam estava olhando para a figura maior.


Esse era provavelmente o caminho do FBI. Rob disse: – Sabe de uma
coisa? Se pudermos salvar a vida dessa garota, não me importo com o
resto. Eu vou lidar com o resto quando chegar lá.

– Rob… – Adam esfregou o punho contra a testa.

– Me escute. – Rob disse. – Poderíamos esperar por um


mandado e, enquanto isso, Gibbs vai se barricar naquela cabana.
Talvez com Tiffany presa lá dentro com ele. Ou talvez ele esteja sentado
em sua torre de franco-atirador, e nós ficamos aqui esperando que
todos os outros se posicionem, e então o KPD traga um negociador
treinado até aqui para tentar conversar com ele por algumas horas. Ou
talvez alguns dias.

Adam sacudiu a cabeça. Ele estava enfraquecendo, e Rob


continuou falando. – Pelo que sei de Gibbs, acho que estamos olhando
para um longo impasse e, eventualmente, de qualquer forma, vamos
ter que atirar nele ou jogar gás na cabine e entrar atrás dele. A menos
que ele se mate primeiro - e mais alguém com ele.

Depois de um momento, Adam disse: – Você tem um plano ou


vamos apenas quebrar uma janela e entrar para esperar?

Rob ergueu os binóculos de campo mais uma vez e estudou a


cabana. – Meu plano só se estende até nós, descendo até lá e
interceptando-o no caminho de volta para a cabana.

– A caminho da cabana ou dentro da cabana?


Rob baixou os óculos. Ele olhou para Adam. – Nós tocamos de
ouvido. – Não era tão imprudente como provavelmente soou para
Adam. Um ou dois caras que sabiam o que estavam fazendo poderiam
entrar na cabine e derrubar Gibbs antes que ele soubesse o que o
atingiu. Talvez não fosse o jeito que eles fariam no FBI. Não era
protocolo, mas Adam não estava executando este caso. Ele disse a si
mesmo que ele e Russell estavam lá para oferecer apoio e backup,
conforme necessário. E o que Rob precisava era... ele encontrou o
intenso e escuro olhar de Adam... provavelmente injusto perguntar.

– Gibbs mora sozinho? Sabemos com certeza que não há outros


ocupantes naquela cabine?

– Gibbs é um solitário. Se houver mais alguém lá, é a Tiffany.

Adam balançou a cabeça, embora não estivesse claro se ele


estava negando a possibilidade de que Tiffany estava na cabine ou no
plano de Rob em geral.

Era difícil para ele. Rob podia ver isso. Ele já conhecia Adam
bem o suficiente para saber que Adam preferia o protocolo. Justo.
Protocolo existia por um motivo. Mas os bandidos não jogavam pelas
mesmas regras, e com ou sem Adam, Rob estava indo lá e pegando
Gibbs.

Ele não disse isso. Ele não tentou pressionar Adam. E não só
porque suspeitava que não iria bem.

Adam disse com relutância: – O tipo de ataque que você está


considerando pode ser a melhor aposta em uma situação como essa.
Gibbs não estará esperando por isso. Nem mais ninguém. Estaremos
sozinhos e, se algo der errado, um ou os dois estarão sujeitos a morte.

Em outras palavras, era uma grande chance para assumir por


um cara que você mal conhecia. Rob continuou a observar Adam,
esperando que ele decidisse.

Adam suspirou. – Ok.

Os olhos de Rob se arregalaram. – Sim?

Adam franziu o cenho. – Sim. Afirmativo

Rob sorriu e colocou a mão sobre o coração. – Agente Darling,


acho que posso estar apaixonado.

Adam fez um barulho irônico. – Se Gibbs é metade do maluco


de sobrevivência que você acha que ele é, ele provavelmente tem aquele
lugar cheio de armadilhas. Você percebe isso, certo?

– Sim. – Rob enfiou seus óculos de campo em sua mochila. –


Não caia em nenhuma armadilha.

– Se eu fizer, você será o primeiro a saber. – Adam disse


sombriamente, e Rob riu.

Eles fizeram os últimos vinte metros em suas barrigas, e esses


três minutos foram os mais longos da vida de Rob. No meio da ampla
clareira que formava o aceiro ao redor da cabana, ele começou a pensar
sobre o que aconteceria se Gibbs olhasse para trás e os visse. Este lento
movimento fez com que parecessem patos. O suor irrompeu em suas
costas e ombros, e era tudo o que ele podia fazer para não apressar,
mesmo sabendo que o movimento seria a coisa mais provável para
chamar a atenção de Gibbs. O que realmente o assustou foi o
pensamento tardio de que ele poderia matar Adam.

Aquela jaqueta azul e dourada do FBI não se parecia com


qualquer tipo de vegetação neste lugar, e de alguma forma o fato de
Adam ter voluntariamente colocado a si mesmo e sua maldita jaqueta
em perigo mortal tornava tudo pior.

Mas então eles estavam em segurança atrás da cabana e de


costas em seus pés. Havia uma braçada de madeira no convés inferior
que percorria o comprimento do prédio, como se Gibbs tivesse trazido
lenha quando notara o grupo de busca subindo a montanha.

– Que tipo de veículo Gibbs possui? – Adam perguntou, com as


mãos apoiadas nos joelhos enquanto recuperava o fôlego. O rastejar
através do aceiro não foi rápido. Foi extenuante.

– Uma Pick up e um snowmobile.

– Ele provavelmente os colocou em um desses prédios


distantes. Precisamos ter certeza de que ele não chega até eles.

Adam se endireitou, levantou o pé para subir na varanda e Rob


segurou seu braço. – Veja. Ele apontou para um fio quase invisível de
fios ao longo da borda do convés. Uma extremidade estava presa a um
prego. A outra estava enfiada em uma pilha de latas de torta
enferrujadas empoleiradas casualmente na extremidade do convés.

Adam amaldiçoou suavemente.

Rob disse: – A boa notícia é que sabemos como chamar sua


atenção, se quisermos. – Ele passou por cima do fio.
Adam seguiu, ainda parecendo envergonhado. Ele sacou a
Glock e disse secamente: – Você vai para a esquerda. Eu cobrirei a
direita.

Rob disse: – Permita-me. – Ele deu um chute rápido e duro na


porta. A porta, que acabou por ser destrancada, explodiu em pedaços
de armação quebrada e afundou nas dobradiças.

Adam passou por ele, indo para a direita e varrendo a sala com
a eficiência do livro de regras. Rob foi para a esquerda, seguindo o
exemplo. Fazia muito tempo desde que ele tinha feito algo assim - bem,
ele nunca tinha feito nada parecido com isso - e seu coração estava
batendo, seu cérebro zumbindo com adrenalina.

Adam já havia se mudado para o quarto ao lado. – Limpo. – Ele


disse.

No ninho de atirador, Gibbs começou a atirar novamente. A


boa notícia era que ele ainda estava atirando contra a encosta da
montanha, por isso era improvável que os tivesse visto. A má notícia
era que ele ainda tinha muita munição.

– Ele tem um lançador de granadas caseiras em seu quarto. –


Adam chamou.

– Eu acho que é verdade sobre o tamanho da arma de um


homem. – Rob ligou de volta.

– Nenhuma granada.

– Geralmente é assim.

A cozinha em que ele estava era tão comum que era quase
decepcionante. Um pote de feijão estava queimado no fogão. Pratos
limpos secos em um rack no balcão de madeira. Poderia ter sido como
qualquer cabana de aluguel, exceto pela foto de Osama Bin Laden
pregada na geladeira servindo como alvo. Isso era um item de
colecionador.

Gibbs parou de disparar novamente.

– Haskell, você precisa ver isso.

Rob saiu da cozinha e seguiu a voz de Adam até o que parecia


ser uma grande despensa ou sala de estoque. Perto do canto da sala
havia um alçapão aberto.

Adam olhou para dentro do quarto ou dos quartos abaixo. –


Parece que ele está construindo um abrigo contra bombas.

Rob se juntou a ele. – Ou uma masmorra.

Eles se entreolharam.

Rob se agachou. – Tiffany? – Ele chamou.

Não houve resposta. Uma corrente de terra fria pareceu subir


pela abertura.

– Eu vou dar uma olhada.

Ele meio que esperava que Adam se opusesse. Adam assentiu


bruscamente. – Tenha cuidado.

Rob desceu a escada de metal e encontrou-se no que parecia ser


uma adega muito antiga. Ele ligou a lanterna. O feixe luminoso
destacava uma lanterna de querosene pendurada na parede e
prateleiras do chão ao teto com ainda mais jarros de água e enlatados.
Não havia nada de particularmente sinistro, a menos que um
suprimento vitalício de SpaghettiOs 26 tivesse algum significado
sombrio.

– Ela não está aqui. – Ele disse.

Adam respondeu, mas Rob perdeu. Algo chamou sua atenção.


Uma pá encostava-se a uma das prateleiras. Rob se adiantou para
investigar e percebeu que havia confundido o brilho cinza de um saco
de lixo com a parede de pedra no espaço formado entre os lados de
duas prateleiras.

– Espere um minuto. – Ele disse. – Acho que pode haver uma


porta aqui… – Ele puxou o saco de lixo para o lado e com certeza havia
uma abertura na parede, embora porta fosse um exagero.

– Que diabos… – Ele olhou para cima. – Eu acho que ele está
cavando um túnel. Através da abertura escura ele gritou novamente. –
Tiffany?

Ele ouviu um ruído fraco e indefinível que poderia ter sido uma
resposta - ou o vento de inverno encontrando seu caminho através das
madeiras rangentes que sustentavam o telhado.

Rob segurou a lanterna alta. Sua própria sombra assomava


contra a superfície irregular da rocha e da terra. – Eu vou seguir este
túnel.

26
Adam não respondeu. Ou talvez Rob tenha perdido sua
resposta. Sua atenção estava no buraco negro que se aproximava dele.
Ele procedeu com cautela. Ainda bem que ele não era claustrofóbico...
Pelo menos ele não achava que era claustrofóbico. Talvez ele fosse no
momento em que se arrastasse para fora de entre as paredes úmidas de
terra e pedra que formavam uma passagem tão estreita que ele tinha
que virar de lado para passar por partes dela.

De quem foi essa ideia mesmo?

A luz da cabana se desvaneceu. Ele continuou se movendo.

Um par de pedrinhas caiu do teto baixo e atingiu o chão na


frente dele.

Não é a mais estável das passagens. O que quer que Gibbs


estivesse fazendo aqui, não estava cumprindo o código de construção,
isso era certo.

– Tiffany?

Ele parou. Sem aviso, ele chegou ao fim do túnel. Ele olhou
incrédulo para uma parede sólida de rocha e raízes e sujeira.

Ela não estava aqui.

Por alguns minutos ele estava convencido de que a


encontrariam. Ele estava errado. Ela não estava aqui - não havia
indicação de que ela já estivera aqui. Na verdade, não havia razão para
pensar que ela já havia subido a montanha.

Então, por que diabos Sandy Gibbs estava sentado em sua torre
atirando em um grupo de busca?
Ele percebeu que não podia ouvir se Gibbs ainda estava
atirando ou não. Na verdade, ele não podia nem ouvir Adam.

Rob se virou no estreito túnel e começou a voltar pelo caminho


por onde tinha vindo. Ele havia percorrido várias centenas de metros,
mas ainda podia ver a luz no fim do túnel reunido no porão,
iluminando todas aquelas latas de pimenta, milho e feijões cozidos.

– Ela não está aqui. – Ele chamou. – O túnel tem apenas 500
metros de comprimento. É um beco sem saída.

Mais uma vez sem resposta de Adam.

Merda. Adam estava no escuro por algum motivo?

Rob ficou tão empolgado com a ideia de que Tiffany poderia ser
uma prisioneira neste buraco no chão, que ela poderia estar ferida,
morrendo... Ele tinha esquecido que Gibbs ainda era um perigo real e
presente.

Ele puxou o telefone e mandou uma mensagem silenciosa.


Limpo?

Não vai. A barra azul parou na metade da tela. Mensagem não


enviada.

Dado que Rob estava parado em um buraco no chão, cercado


por montanhas onde a recepção não era confiável na melhor das
hipóteses, isso realmente não significava muito.

Ele chegou ao porão. Nenhum sinal de Adam. Ele ouviu.

Silêncio. Isso era provavelmente um bom sinal. Uma coisa é


certa: afastar Adam não seria um processo silencioso.
Rob entrou na escada. Uma mão no corrimão, um pé no
primeiro degrau, ele olhou para cima e congelou enquanto olhava para
o cano de uma M4.

O buraco negro do cano da carabina do atirador não era mais


vazio do que os olhos observando-o por cima da mira da arma.

– É um beco sem saída para você, com certeza. – Disse Sandy


Gibbs.

Rob descolou a língua e disse: – Isso seria um grande erro.

– Porque...

Adam silenciosamente se materializou atrás de Gibbs,


colocando sua Glock contra o templo de Gibbs. – Porque eu vou
explodir sua porra de cabeça. – Sua voz era calma e não havia dúvida
de que ele queria dizer cada palavra.

O choque de Gibbs foi acompanhado pelo alívio de Rob. Por um


instante infernal, ele pensou que Gibbs conseguira de alguma forma
eliminar Adam, apesar do fato de não ter ouvido nenhum tiro.

– Abaixe sua arma. – Adam disse. Gibbs concordou. – Mãos na


sua cabeça e cruze seus dedos juntos.

Gibbs soltou uma torrente de obscenidades, cuja essência


parecia ser a Constituição que concedia ao homem o direito de proteger
sua casa e sua propriedade por quaisquer meios necessários...

– Não se preocupe. Você terá seu dia no tribunal, idiota. –


Adam trancou as mãos em seus punhos e o arrastou de volta da
abertura do porão.
No momento em que Rob subiu o resto do caminho até a
escada, Gibbs estava de bruços no chão de sua sala de estoque, as mãos
trancadas atrás da cabeça, ainda protestando contra seu direito de
portar armas.

– Desde quando a floresta nacional é sua propriedade privada?


– Rob quase algemava Gibbs. – É melhor você rezar para que ninguém
tenha se machucado lá fora. – Ele resistiu à tentação de bater a cabeça
de Gibbs contra o chão algumas vezes. Por alguns segundos ele ficou
tão assustado quanto pôde se lembrar, e não era um sentimento que ele
gostava.

Sandy continuou amaldiçoando todos, de Frankie ao


presidente, sua voz ficando mais rouca e rouca.

– Qualquer coisa? – Adam perguntou a Rob, ignorando o


barulho e a espuma acontecendo a seus pés.

Rob sacudiu a cabeça. – Não. Não há sinal de que ela estivesse


lá embaixo.

– Agora sabemos. – Adam disse, o que foi certamente muito


mais agradável do que eu lhe disse.

Reforços chegaram, e por algum tempo Rob foi mantido muito


ocupado com uma breve reunião e instruções - embora breve era um
equívoco, se alguma vez houve um. Quando finalmente conseguiu falar
com Frankie, havia todo tipo de rumores malucos circulando: o
subcomandante Haskell encontrara um esconderijo de armas sob a
cabana de Gibbs, não, o agente do FBI havia capturado um terrorista
doméstico, que era o motivo real de sua chegada em Nearby.
– Apenas me diga que a garota está segura. – Frankie exigiu. –
Diga-me que você a encontrou.

– Negativo. Ela não está aqui. Não há sinal dela.

– Então o que diabos você estava fazendo? – Frankie gritou, e


em todo o tempo que Rob a conhecia, era o mais próximo que ele
chegara de ouvir seu som frenético.

Ele tentou explicar mais uma vez o que eles estavam fazendo.

– E Gibbs? Ele fugiu?

– Claro que não, ele não fugiu. Eu já te disse que ele está sob
custódia.

Houve uma explosão de palavras inteligíveis, e então Frankie


disse claramente: – De volta à base... temos problemas piores.

Problemas piores?

Rob sentiu o olhar de alguém. Ele olhou para cima. Do outro


lado da sala, Adam observava-o. Ele disse nitidamente em seu rádio: –
Entendido. Que problema é pior?

A voz de Frankie era dura. – Temos outra garota morta.


Capítulo Oito

Tanto para nunca ser capaz de encontrar um policial quando


você precisava de um.

As ruas - a rua - de Nearby estavam lotadas de veículos oficiais


e do governo. Onde quer que você olhasse, havia um homem ou uma
mulher de uniforme. Longe de tranquilizar os cidadãos, a presença
policial parecia aumentar a tensão e a ansiedade.

Embora duas, possivelmente três mulheres mortas, em quase


dois dias, provavelmente tivesse algo a ver com as pessoas que estavam
nas vizinhanças sentindo-se sitiadas.

– Isso precisa ser enviado para cima o mais rápido possível. –


Russell disse a Adam quando eles se reconectaram na área de busca.
Ao longe, eles podiam ver o museu e os técnicos da cena do crime indo
e voltando entre seus veículos e a casa de Joseph. A propriedade estava
sendo revistada de trás para a frente, por causa de cabelos, fibras,
qualquer coisa que pudesse dar uma pista do que havia acontecido com
Tiffany.

– Isso não é de nossa alçada. – Adam respondeu. Francamente,


era a última coisa que ele queria. Se o Escritório Local de Bend fosse
trazido, seria apenas uma questão de tempo até que a Autoridade
Residente de Portland estivesse envolvida, e então ele e Russell
voltariam para Los Angeles.
– Temos um suposto terrorista responsável pelas mortes de três
mulheres...

Isso foi um salto mesmo para Russell. – Aguente. Primeiro de


tudo, Tiffany ainda pode estar viva. Na verdade, há todos os motivos
para acreditar que ela ainda está viva.

– Todas as razões? Me dê uma.

– Vamos começar com o fato de que não há corpo. Em segundo


lugar, suspeito de terrorismo? De que chapéu você tirou esse coelho?

O olhar azul de Russell cintilou.

Todas as semanas de aturar a atitude de desprezo de Russell


estavam chegando ao auge. Adam não se permitiu reagir ou responder
ao desafio constante de Russell de sua autoridade. Ele se esforçou para
mantê-lo profissional e impessoal em todos os momentos, e ele era
geralmente muito bom nisso, mas de repente ele percebeu o quanto ele
não gostava de Russell.

E quanto Russell não gostava dele.

Era pessoal, e agora que ambos sabiam que era pessoal, seria
difícil evitar que as rachaduras aparecessem.

Russell disse: – O chapéu em que Sandy Gibbs estava gritando


doutrinas contra o governo depois de passar algumas horas tentando
nos matar? Que tal esse coelho fora daquele chapéu?

Nesse momento Rob gritou de seu SUV: – Adam, você está


comigo?

– Adam? – Repetiu Russell.


Não havia razão para que Rob - o delegado Haskell - não o
chamasse pelo primeiro nome. O rosto de Adam aqueceu do mesmo
jeito.

– Estarei aí em um minuto. – Adam gritou. Para Russell, ele


disse: – Este não é o momento nem o lugar para começar a jogar o peso
do governo federal ao redor. Nós não temos jurisdição aqui. Este não é
o nosso caso.

– Precisa ser o nosso caso. – Disse Russell.

Oh. Certo. Agora fazia sentido. Russell estava começando a ver


o potencial de criação de carreira da situação em Nearby. Bem, boa
sorte com isso. Levaria um monte de manobras de relações públicas
para transformar um eremita antissocial como Sandy Gibbs em um
movimento político.

O segundo assassinato era um assunto diferente. Adam estava


preocupado com o segundo assassinato. E quando ele pulou no SUV, as
palavras de Rob não fizeram nada para tranquilizá-lo.

– Zeke ainda não sabe. Frankie vai contar para ele. A garota
morta é Azure Capano.

– Azure? – O nome era vagamente familiar.

– Ela é - foi - a anfitriã do restaurante Lakehouse. Ela e Zeke


namoravam e terminavam por alguns anos.

– Eles estavam namorando ou separados agora?

– Separados. – Rob lançou-lhe um olhar sombrio. – Zeke vai


levar isso a sério.
Talvez. Ou talvez Zeke fingisse levar a sério. Ele não disse em
voz alta. Ele sabia que Rob ficaria chocado e provavelmente com raiva
de tal sugestão. Adam sabia que ele possuía uma visão de mundo
cansada. Esse era o problema com sua linha de trabalho. Você não
podia deixar de suspeitar de todos. Até as pessoas mais próximas a
você. Adam era um garoto tímido e quieto, mas sempre que se atrasava
ou deixava de telefonar quando deveria, seu pai o acusava de tudo, de
se esgueirar e encontrar garotas - o que na verdade era bem engraçado
- a embarcar numa carreira de delinquência juvenil.

Zeke tinha achado Adam um idiota, embora gostasse da


preocupação de Rob por seu colega adjunto.

Na verdade, ele achava que Rob era um cara muito decente. Ele
ficara impressionado com a maneira como se comportara na
montanha. Este não era apenas mais um dia no escritório. Rob ficou
surpreendentemente calmo sob fogo. Adam havia conhecido muitos
policiais da cidade grande que não estavam tão calmos quando as balas
começavam a voar.

É verdade que a decisão de Rob de explorar o túnel sob a cabine


de Gibbs indicava uma tendência impulsiva. Ele provavelmente era
muito mole. Um homem poderia ter falhas piores.

– Um casal de policiais de Medford a encontrou no lago. – Rob


estava dizendo.

O coração de Adam afundou. – Onde no lago?

– Perto do restaurante. Ela estava flutuando meio embaixo da


doca.
– Você ainda não tem a hora da morte, suponho? – O SUV
bateu em um buraco e Adam estremeceu com a lembrança da coleção
de contusões do dia. E parecia que o dia ia ficar muito pior.

Rob lançou-lhe um olhar incrédulo. – Você supôs certo. Algum


momento durante a noite. Isso eles poderiam dizer. – Ela estava nua e,
seu rosto ficou ainda mais sombrio. – Sua garganta estava cortada.

*****

Rob estava certo. Zeke não recebeu bem a notícia da morte de


Azure.

Às quatro horas da tarde de domingo, Sandy Gibbs estava


esfriando numa cela de prisão, a busca por Tiffany mudara para o sul,
antropólogos forenses estavam escavando os restos que Adam
descobrira e Frankie dera sua primeira entrevista coletiva.

Nearby estava começando a parecer a capital do crime do


noroeste.

Logo depois que os senhores da imprensa - ou pelo menos o


Medford Mail Tribune, o Klamath Falls Herald and News e o Nearby
Nickel - foram dispensados, Adam se encontrou com o Gabinete do
Xerife de Nearby para um conselho de guerra.

Os técnicos da cena do crime ainda estavam penteando a casa


de Joseph. Até agora não havia indicação de que Tiffany tivesse feito
parte do jogo sujo.
– Bem, não há como ela ter saído em um fim de semana de
esqui. – Disse Frankie. – Acho que podemos eliminar essa teoria de
uma vez por todas. Nossa melhor aposta agora são os cães de Bert
Berkle e as equipes que procuram a área de Back Bend. – Ela limpou a
garganta. – Nós só temos as descobertas preliminares no caso de
Azure, mas temos que considerar as semelhanças entre o caso dela e o
de Cynthia.

– Havia uma conexão entre Azure e as Josephs? – Adam


perguntou.

– Não que eu saiba. – Frankie disse. – É uma cidade pequena.


Todos se conhecem. Então, dessa forma, acho que há uma conexão.

– Azure e Tiffany não se davam bem. – Zeke disse. Seus olhos


ainda estavam vermelhos. Caso contrário, ele parecia composto. –
Quando eles estavam no time de líderes de torcida. Azure disse que
Tiffany era uma criança mesquinha e mimada.

– Azure tinha quantos anos? – Adam perguntou.

– Dezenove anos. – Zeke disse.

Zeke provavelmente estava no meio de seus 20 anos. Não que


isso significasse muito. Zeke parecia um pouco jovem para a sua idade
e Azure, pelo menos do que Adam conseguia se lembrar, parecera
madura.

– Ok. – Frankie mexeu em alguns papéis na frente dela. – Bem.


– Ela olhou para Zeke. – Zeke, talvez você devesse tirar a tarde de
folga.
– O inferno! – Zeke retornou calorosamente. – Eu não estou
indo a lugar nenhum.

– Tudo bem então. Faça do seu jeito. – Frankie limpou a


garganta. – Tanto Azure quanto Cynthia Joseph tiveram suas
gargantas cortadas. Cynthia foi nocauteada primeiro. Azure caiu
lutando. A arma usada em Cynthia era opaca e enferrujada. A arma
usada em Azure era extremamente afiada, e isso é tudo o que podemos
dizer.

Rob sugeriu: – A morte de Cynthia foi um crime de


oportunidade. Alguém foi à caça de Azure.

Frankie assentiu. – É assim que parece para mim também. Ela


olhou para Adam.

Adam concordou. – Isso não exclui o mesmo agressor.

– Eu acho que é verdade.

– Ou. – Rob disse. – Alguém poderia estar tentando fazer com


que parecesse o mesmo infrator.

– Sim. – Adam estudou as fotos da cena do crime e pregou na


parede do escritório de Frankie. A parede da cena do crime
artisticamente arranjada era a contribuição de Aggie. Havia várias
fotografias perturbadoras da garota com o cabelo de sereia flutuando
no lago. Enquanto isso, ao fundo, ele podia ouvir Aggie na recepção
fazendo o melhor que podia para acompanhar a enxurrada de
telefonemas que entravam.

– Azure foi agredida sexualmente? – Adam perguntou.

– Nós não temos essa informação ainda.


– Ela estava nua. Assim. – Ele realmente queria que Zeke fosse
para casa. Isso era duro o suficiente para eles sem Zeke sentado lá
lutando para controlar seu rosto e respiração. Simplesmente não havia
esse tipo de espaço para sensibilidade em uma investigação de
homicídio.

Rob disse: – De acordo com você, houve uma tentativa de


encenar o corpo de Cynthia. Mas não houve qualquer tentativa de
encenar a cena do crime de Azure. Ela foi deixada flutuando na água.

– Se houve uma tentativa de encenar o corpo. – Adam disse: –


Eu posso ter interrompido isso.

– Você? Como?

– Eu ouvi o que soou como um grito por volta das três e meia da
manhã. Eu fui até o lago, dei uma olhada ao redor. Eu não vi nada.
Ainda estava escuro. – Ele não queria dar desculpas. Ele estava com
raiva e doente pensando nisso.

Houve um silêncio e Rob disse: – Por tudo que você sabia,


poderia ser uma coruja.

Adam deu-lhe um olhar impressionado. Rob tinha instintos


bondosos. Adam sabia que ele não ouvira uma coruja. Ele ouvira um
grito. Ele se convencera de que sonhara com isso.

– O que você estava fazendo às três e meia da manhã? – Zeke


exigiu.

– Eu não estava acordado. Qualquer som que eu ouvi me


acordou.
– E você não achou que deveria ligar para ninguém? Que você
deveria ter investigado totalmente?

– Eu não tinha certeza do que tinha ouvido. Passei quarenta


minutos olhando ao redor. Não houve sons nem movimento. Eu pensei
que poderia ter sonhado com isso.

Zeke zombou: – Você tem muitos sonhos ruins?

– Eu tenho. Sim.

Isso deixou até Zeke sem um retorno.

– Agente Darling não foi o único a ficar no lago. – Rob disse. –


Nenhum de nós teria lidado de forma diferente, Zeke. E isso não teria
feito diferença para Azure. Se ela ainda estivesse lutando, Adam teria
visto ou ouvido alguma coisa.

– Ela ainda não estaria lutando depois daquela ferida. – Adam


disse.

Os olhos de Zeke se encheram de lágrimas novamente - boa


parte disso era raiva, na opinião de Adam. O que não tornou seus
sentimentos menos poderosos ou reais.

Frankie disse: – Acho que precisamos tentar entender o que


liga essas vítimas. Porque tem que haver alguma coisa.

– Vou lhe dizer o que as liga. – Zeke disse. – Eles são vítimas de
um serial killer.

Frankie fez uma careta para ele em advertência. – O que


precisamos fazer é encontrar Tiffany.
Zeke olhou para ela. – Você acha que Tiffany assassinou sua
mãe e depois foi atrás de Azure?

– Eu não disse isso!

– Eu acho que você está certa. – Adam interveio. – Acho que


encontrar a Tiffany tem que continuar sendo uma prioridade. A
segunda morte muda as coisas significativamente. Nós ainda
precisamos entender o que liga os assassinatos de Cynthia Joseph e
Azure Capano. Estas são duas mulheres de diferentes idades, origens,
profissões, aparência.

– Vitimologia. – Zeke disse com conhecimento.

– Bem, tudo bem. Sim.

O reconhecimento de Adam pareceu enfurecer Zeke


novamente. – Você não é profiler27.

– Não, eu não sou. De qualquer forma, isso é televisão. Não há


tal posição no FBI. Mas eu sei...

Zeke o interrompeu. – Por que ele está aqui mesmo? Por que
estamos ouvindo-o? Eu pesquisei esse idiota. Você sabe qual foi seu
último grande caso? Um sequestro. E a vítima morreu porque ele fodeu
tudo. Real.

Isso o pegou de surpresa - embora realmente não devesse. Hoje


em dia, quando alguém com uma combinação de curiosidade,
persistência e habilidades rudimentares de internet pode descobrir
qualquer coisa sobre alguém.

27 Alguém que cria perfis dos criminosos.


A maior surpresa foi Rob, que estava repentinamente de pé,
com as mãos apoiadas na mesa enquanto se inclinava para o rosto de
Zeke. – Estamos ouvindo-o porque ele é o único aqui que tem uma
pista do que fazer nessa situação. Por que você está com tanto medo de
ouvir o que ele tem a dizer?

– Rob…

Se Rob ouviu, ele não deu sinal. Todo o seu foco estava em
Zeke, que bateu em sua cadeira quando saltou.

Zeke rugiu de volta: – O que diabos isso quer dizer?

– Exatamente o que parece. Se você não pode lidar com isso,


você precisa ir para casa.

– Eu posso lidar bem com isso. O que eu não consigo suportar é


todos vocês agindo como se eu não pudesse lidar com isso!

– Sentem-se vocês dois! – Frankie gritou. Ela bateu na mesa. –


Ainda estou fazendo essa investigação e estou pedindo ao agente
Darling por seu conselho. É por isso que ele está aqui.

Ainda com raiva, Rob lançou um rápido olhar para Adam, e


Adam não pôde deixar de oferecer um sorriso rápido e incerto. Ele não
conseguia se lembrar de alguém que saltou para sua defesa daquele
jeito.

Não que ele precisasse de alguém pulando em sua defesa pelo


caso de Conway.

Rob pareceu abruptamente lembrar-se de si mesmo. Ele


parecia um pouco desconfortável antes de lançar a Zeke um último
olhar hostil.
Zeke olhou de volta para ele.

– Vocês dois idiotas vão se sentar? – Frankie pediu. – Na


verdade, não foi um pedido.

Zeke pegou a cadeira. Rob sentou-se.

– Olha. – Adam disse para Zeke. Ele tentou manter o tom


neutro. – Eu não faço parte da Unidade de Análise Comportamental,
mas todo agente especial do FBI é treinado para lidar com uma
infinidade de situações, incluindo crimes violentos. Aconselhar e
auxiliar a aplicação da lei é uma parte regular do que fazemos. – Ele
olhou para Frankie. – Se você quiser chutar isso para o Escritório de
Portland, eu entendo. Enquanto isso, você precisa prosseguir com a
investigação. Você sabe tão bem quanto as primeiras quarenta e oito
horas são importantes.

– Vá em frente. – Zeke disse. – Conte-nos sobre as vítimas.

Adam sacudiu a cabeça. – Não é assim que funciona. Você


conhecia as vítimas. Vocês três conheciam essas mulheres. Vocês
precisam começar a agrupar essas informações para que possamos
analisar o que temos. Como você faria em qualquer caso de homicídio.

Rob disse: – Nós nunca lidamos com um caso de homicídio.

– Nós sabemos disso. – Frankie disse sombriamente.

Rob e Zeke se voltaram para encará-la.

Adam disse: – Desde que você falou sobre isso, eu não acredito
que você tenha me chamado porque pensou que este escritório não
poderia lidar com o assassinato de Cynthia Joseph. Você poderia ter se
voltado para Klamath Falls ou Medford para qualquer apoio que você
precisasse. Você queria que eu voasse até aqui porque sabia que eu
estava trabalhando no caso do Estripador. Eu penso que consciente ou
inconscientemente, você suspeita que você tem um serial killer em suas
mãos.

Encontrando o olhar incrédulo de Rob, Frankie disse


impaciente: – Eu sou a única que está prestando atenção por aqui?

– No quê? – Rob exigiu.

– Os fogos, os animais mortos. – Ela olhou para ele. – Símbolos


pagãos rabiscados na parede de uma igreja. Pelo amor de Deus, Zeke.
Você assiste a todos esses programas policiais. Diga à ele.

Rob balbuciou, aparentemente incapaz de acreditar no que


estava ouvindo. – Espere um minuto. Nós tivemos algum vandalismo,
sim. E, sim, muitas dessas crianças têm armas antes de estarem
prontas. Inferno, todo mundo por aqui tem uma arma.

– Você não vê porque não quer ver. – Frankie disse.

– Zeke também não vê!

Talvez não, mas o que Frankie dizia fazia sentido para Adam.
Ele sentiu desde o início que Frankie sabia que algo estava errado em
seu pequeno lugar, e uma coisa que ele aprendeu ao longo dos anos foi
confiar em policiais quando se tratava do que estava acontecendo em
sua vizinhança.

Zeke não disse nada. Ele estava olhando para Frankie com a
mesma intensidade, como se estivesse lendo os lábios.

– Eu tenho esperado muito tempo para o outro sapato cair. –


Frankie disse. – Quando o corpo de Dove apareceu, pensei que fosse
isso. Mas eu estava errada. Errada sobre Dove. Não errada sobre o
resto.

Ela acreditava nisso. Toda palavra. E Adam podia ver que, por
mais que Rob quisesse argumentar, descartasse o que estava ouvindo,
ele tinha muito respeito por Frankie. Ela conhecia seu trabalho e ela
conhecia sua cidade. Ele olhou para Adam.

– Ela pode estar errada. – Ele disse.

Adam assentiu. Ela podia estar errada.

Duas mulheres assassinadas em três dias indicavam que ela


também poderia estar certa.

– Ok. – Rob disse. – Então vamos começar a puxar tudo o que


temos de cada uma dessas mulheres.

– E aquele idiota do Gibbs? – Zeke perguntou. – Quando nós o


questionamos?

Adam olhou para Rob.

Rob disse a contragosto. – Não encontramos nada em sua


cabana.

– E a polícia do Alasca não encontrou nada na primeira vez que


revistaram a casa de Robert Hansen. – Disse Zeke.

– Quem diabos é Robert Hansen? – Frankie exigiu.

– O Açougueiro Baker. – Zeke respondeu.

Frankie sacudiu a cabeça. Rob disse: – Quando você se tornou


um especialista em serial killers?
– Você acha que é o único por aqui que sabe como fazer o
trabalho?

– Não. –Rob segurou seu temperamento com esforço óbvio.–


Só estou dizendo que não acho que podemos tirar conclusões
precipitadas sobre Gibbs.

– O inferno que nós não podemos! Ele é a única aberração por


aqui que se encaixa no perfil.

– Nós não temos um perfil ainda. – Disse Adam.

Zeke parecia pronto para pular de novo e começar a bater no


peito. Frankie disse: – Acho que um período de reflexão pode ser uma
boa ideia para todos. Vamos deixar o Sr. Gibbs relaxar em uma cela por
um tempo. Temos muito o que cobrar quando chegar a hora.

Esse era o processo devido da vida real. Praticidade versus


ideais. Adam disse: – É muito cedo para saber se Gibbs está envolvido
ou não. O que queremos evitar é questioná-lo com uma suposição de
culpa.

– Não? Ok. Obrigado por explicar as técnicas básicas de


interrogatório. – Disse Zeke.

Adam suspirou interiormente.

– Nós temos informações sobre os roubos de museus. – Disse


Frankie. – Aggie e eu estamos passando pelos registros de Cynthia.
Parece que dois itens foram tirados: uma grande máscara de madeira
em forma de cabeça de corvo e uma faca. A máscara seria muito
valiosa. Vale vários milhares de dólares.
– Há um mercado saudável para antiguidades roubadas. –
Disse Adam. – Mas não acredito que a máscara tenha sido vendida.

– Se fosse esse o caso, todas as máscaras teriam sido roubadas.


– Rob concordou. – Esse louco teve tempo de arrumar o corpo de
Cynthia em um diorama; ele com certeza teve tempo de levar o resto
das máscaras para fora do museu.

– Então o que? – Zeke perguntou.

Frankie disse com relutância: – A faca não era tão valiosa. No


entanto, de acordo com as anotações de Cynthia, a alça da faca roubada
também foi esculpida na forma de um corvo.

Zeke parecia em branco. – Com o que estamos lidando? – Ele


disse. – Alguns homem pássaro maluco?

– Eu tenho lido sobre lendas de corvos. – Rob disse.

– Você tem lido lendas sobre corvos? – Zeke disse. Até Frankie
pareceu surpresa.

A expressão de Rob estava envergonhada. – Eu verifiquei


alguns livros da biblioteca ontem à noite, isso é tudo. O agente Darling
imaginou que a máscara perdida era um corvo. – Ele deu de ombros,
sem olhar para Adam.

– Bem, o que você descobriu? – Frankie perguntou.

– Nada. As máscaras foram criadas para se assemelhar a certos


animais considerados sagrados ou poderosos. Às vezes, acreditava-se
que as máscaras tinham poderes mágicos.

– Poderes mágicos! – Exclamou Frankie.


– Só estou dizendo a você o que eu li. Há muitas lendas e
histórias sobre abutres - e corvos - mas nada que realmente se encaixe.
Em algumas culturas eles são azarados ou precursores da morte. Eles
se alimentam de carniça, então às vezes são vistos como mediadores
entre os mortos e os vivos. Não é assim de acordo com as histórias das
Tribos Klamath. Essas são principalmente histórias de criação. Nas
lendas dos Modoc são trapaceiros, brincalhões. Mas isso não significa
que eles não sejam os heróis da história.

– Você não está olhando profundamente o suficiente. – Zeke


disse.

– Eles são assustadores. – Disse Adam. Zeke deu uma risada


severa. Adam o ignorou. – Eles são um pássaro de aparência
ameaçadora. Pode ser algo simples assim.

– Vá em frente. – Frankie disse.

Adam ainda estava formulando seus pensamentos. – Suponha


que você esteja certa e o assassino de Joseph é o mesmo homem que
atacou ou tentou sequestrar as meninas em dezembro e janeiro. Ele foi
descrito como vestindo uma pintura de guerra, o que para mim indica
que é alguém que se identifica com a cultura nativa americana e que
está desenvolvendo sua persona.

– Sua persona? – Zeke questionou. – Como o quê? Ele está se


tornando um super vilão?

Rob disse: – Eu vejo o que você está dizendo. Ele está


evoluindo.

– Sim. Ele está. Ele está criando um... auto conceito.


– Ele está inventando enquanto vai junto. – Zeke disse.

– Eu acho que está correto.

– Eu quero dizer você.

– Cale a boca, Zeke. – Frankie parecia estar pensando. Ela


balançou a cabeça. – Isso tem que ser um estranho. Nós teríamos
notado alguém assim. Alguns loucos com um fetiche de corvo.

Rob disse: – Um estranho não saberia sobre o museu.

– Você disse que muitas pessoas passam por aqui durante as


férias. – Adam disse: – Mesmo assim, acho que é alguém local. O tipo
de incidentes que você mencionou no outro dia: vandalismo, mutilação
animal, incêndios... isso é clássico. É um serial killer em rodinhas de
treinamento. Este é alguém que tem testado os limites por um tempo.

– Macho. – Rob disse. – Caucasiano.

– Provavelmente. Neste caso, quase certamente.

– Jovem. – Frankie disse.

– Isso vai ser relativo.

– Dos vinte e poucos anos até os trinta. – Ela aprovou com


grande certeza.

Zeke disse: – Ele não está andando por aí usando uma camiseta
I Love Corvos. Ele lançou a Adam um olhar desafiador. – Você não
precisa estar no FBI para saber tanto.
Não, você só tinha que assistir alguns episódios de Criminal
Minds28. Se isso fosse um programa de TV, Zeke seria o suspeito. Adam
disse apenas: – Muitas dessas suposições foram desafiadas nos últimos
anos.

– Temos uma boa notícia. – Disse Frankie. – Ou talvez uma boa


notícia não seja a palavra para isso. O telefone recuperado perto de
Echo Falls é definitivamente da Tiffany. Está muito destruído; parece
que ela - ou alguém – o derrubou nas pedras perto da cachoeira. A
Polícia Estadual está fazendo o que pode para recuperar seus dados.
Zeke, quero que você tenha outra conversa com a amiga com quem
Tiffany deveria passar o fim de semana. Algo sobre essa história não
fica bem comigo.

– Eu ficarei feliz. – Zeke empurrou a cadeira para trás e se


levantou.

Frankie olhou furiosa para ele. – Vá devagar, Zeke. Azure não é


a única vítima. Tiffany é uma vítima também, até sabermos o contrário.

Depois que Zeke saiu do escritório de Frankie, Rob disse: – Ele


precisa tirar uma folga pessoal, Frankie. Ele é um canhão solto.

Frankie olhou para Rob sem emoção. – Eu não posso poupar


ninguém, Robbie. Zeke é um bom policial. Ele é apenas jovem. É uma
situação temporária.

Rob não parecia vendido. Frankie empurrou uma pilha de


arquivos. – Temos os arquivos pessoais de todos que já trabalharam no

28Seriado onde um esquadrão de elite do FBI estuda as maiores mentes criminosas,


antecipando seus próximos passos, antes que eles ataquem novamente. A fim de identificar as
motivações dos criminosos e detê-los, cada membro da equipe usa a experiência que possui.
museu. Vamos ver se algum nome aparece em nós. – Então ela
levantou a cabeça e gritou: – Aggie! Precisamos de mais café aqui.

Já passava das sete quando terminaram de ler os arquivos, e


pareceu a Adam que praticamente todas as crianças de Nearby tinham
trabalhado no museu uma vez ou outra. Azure havia trabalhado lá dois
anos atrás, e Tiffany continuava trabalhando lá, embora não
oficialmente. Terry Watterson trabalhara no museu no verão em que se
afogara em Blue Rock Cove.

– E quanto a Bill Constantine? – Adam perguntou. Ele ficou


pensando sobre aquela foto no espelho da Tiffany. Ela era uma garota
bonita e popular, mas não parecia haver ninguém especial em sua vida.
Nem mesmo um cartaz de Justin Bieber decorou as paredes cor de rosa
de seu quarto. A única dica de... bem, romance seria uma palavra muito
forte... era uma foto muito antiga de dois garotos: um morto e o outro
com quem todos insistiam que Tiffany nunca poderia estar envolvida.

Ele sabia em primeira mão o quão errado todo mundo poderia


estar.

– Billy? Não. – Frankie disse definitivamente.

– Por quê? Ele é gay?

– Billy? Não que eu saiba.

– Não. – Rob disse.

Frankie bocejou e se espreguiçou. – Rapazes, acho que


precisamos encerrar a noite. Por que vocês dois não vão comer alguma
coisa e fechar os olhos um pouco, e me encontrar de volta aqui amanhã
de manhã?
– Por que você não vai descansar um pouco, Frankie? – Rob
replicou. – Você não foi para a cama na noite passada. Aggie disse que
você ainda estava aqui quando ela chegou esta manhã.

– Eu quero saber o que Zeke descobriu quando ele entrevistar a


amiga de Tiffany. De qualquer forma, tenho que esperar para ouvir do
Doc Cooper. Ele prometeu que ligaria esta noite com o relatório da
autópsia de Azure. Vocês dois vão-se embora.

Adam tentou se lembrar da última vez que alguém lhe disse


para – ir embora. A verdade era que ele estava começando a sentir
como se alguém o tivesse jogado de uma montanha - o que não era
muito longe da verdade. Ele não tinha certeza se não tinha quebrado
uma costela. Mesmo que ele não tivesse, ele estava faminto, exausto e
sentindo-se desagradavelmente ligado com muitas xícaras de café
ruim. Levaria um tempo para ele se descontrair, e alguns drinques
estavam no topo de sua lista de prioridades, já que todas as outras
coisas de que ele gostaria - começando com um banho quente e
terminando com Rob - não estavam na agenda.

– Obrigado, acho que vou encerrar a noite. – Ele disse.

– Aprecio toda a sua ajuda hoje, agente Darling. – Disse


Frankie distraidamente, procurando os arquivos que haviam deixado
espalhados sobre a mesa.

O andar principal da estação estava apagado e estranhamente


silencioso após o barulho e a atividade do dia. Aggie ainda estava na
recepção. Ela não respondeu ao “Boa noite” de Adam, olhando
melancolicamente para o espaço enquanto ele passava por ela e saía
pela porta da frente.
A luz de neblina difundia a escuridão. O que sobrara da neve se
transformou em lama cinzenta.

– Ei! – Rob chamou atrás dele.

Adam parou na passarela de madeira. A noite estava clara e


fria, e sua respiração subia na frente dele, misturando-se com a de Rob.

Rob perguntou: – Onde está seu parceiro?

Adam sentiu um lampejo de desapontamento. O que ele


esperava? Ele disse: – Um palpite? Apresentando uma queixa oficial. –
Ele estava cansado demais para se importar como isso soava.

O sorriso de Rob estava desequilibrado. – Ele me parece um


cara com muitas reclamações. Isso pode demorar um pouco. Por que
você não vem ao meu lugar para o jantar?

Exausto como estava, o coração de Adam saltou com a


perspectiva de jantar com Rob. Ele hesitou e, ao ver sua hesitação, Rob
disse: – Olhe, não leve a mal. Eu respeito que você não quer se
envolver com um colega de trabalho, mas ainda podemos jantar juntos,
não podemos? Colegas de trabalho jantam juntos.

– Claro. – Diabos sim, e a cautela instintiva de Adam foi


facilmente descartada quando ele pensou em incontáveis refeições
gastas com Jonnie - e com Russell -, embora ele realmente tivesse
gostado das refeições com Jonnie.

Vendo que ele estava vacilando, Rob persuadiu: – Um banho


quente. Uma refeição quente. Uma cama confortável - no quarto de
hóspedes. Você não se oporia a isso, certo?
Adam fez o seu melhor para permanecer estoico, mas depois do
dia que ele teve? Lágrimas de gratidão não seriam erradas diante de
tamanha generosidade. Ele admitiu: – Não, claro que não.

– E nós sempre podemos conversar sobre o caso, se isso vai


fazer você se sentir melhor.

Rob estava brincando com ele. Flertando com ele? Adam sorriu
incerto. – Verdade.

– E então podemos estar de volta ao trabalho brilhando e cedo


amanhã de manhã.

– Sim. Isso seria...

Céu? Tipo isso.

– Vê como isso foi fácil? – Rob disse. – Decisão mais fácil que
você fará hoje à noite.

Era difícil dizer na luz granulada, mas Adam pensou que Rob
piscou.
Capítulo nove

Eles estavam correndo com cafeína e adrenalina o dia todo,


então não era de admirar que Adam estivesse quieto no caminho de
Nearby. Espero que seja apenas isso. Espero que ele não esteja
lamentando sua decisão de passar a noite?

Rob tinha sido principalmente sincero. Ele não ia tentar seduzir


Adam - embora ele fizesse um frango parmesão médio, e se as coisas se
movessem naquela direção, ele com certeza não iria se opor.

Ele era atraído por Adam desde o início. Isso era química
sexual. Agora ele estava começando a gostar de Adam, querendo saber
mais - tudo - sobre Adam. Isso era algo diferente, algo perigoso. Rob
não estava recuando.

Quando eles dobraram a curva e a casa apareceu, Adam deu um


longo suspiro. – Você está aceitando subornos. – Ele disse, e Rob riu.

Era uma casa incrível. Talvez não tão incrível, mas com o
salário de um xerife, sim. Muito fantástico. Um resort de 2900 metros
quadrados de montanha e uma casa cercada por montanhas altas e
floresta profunda. Janelas panorâmicas gigantescas e longas varandas
rústicas observavam a vista panorâmica. E tudo estava completamente
mobiliado. Os proprietários anteriores tinham usado principalmente
como um aluguel de férias.
– Quando o mercado imobiliário caiu, muitas pessoas estavam
vendendo suas segundas residências e propriedades de férias pelo que
pudessem conseguir. – Disse Rob. – Eu tive sorte.

– Eu diria que sim.

A garagem tinha sido construída na encosta abaixo da casa.


Rob bateu no controle remoto, a luz interior acendeu e a porta se abriu
devagar. Eles entraram dentro do espaço cavernoso.

Eles saíram do SUV e subiram as escadas, e Rob abriu a porta


para a mudroo 29 . Eles tiraram suas botas e casacos, Adam
estremecendo quando ele tirou a jaqueta azul do FBI.

– Você está bem? – Rob perguntou.

– Eu deveria ter pegado uma muda de roupa no acampamento,


– Adam admitiu. – Eu acho que posso ter caído em uma pilha de
merda de urso.

Rob sorriu. – Então aquele urso estava usando uma bela


colônia. De qualquer forma, você pode pegar um par de jeans e eu vou
jogar suas coisas na lavanderia.

– Ok. Obrigado.

– A cozinha é por aqui. – Rob liderou o caminho.

– Bom. – Adam murmurou. E era. A cozinha tinha bancadas de


granito branco, iluminação embutida, pisos de madeira escura e uma
vista aberta para os outros aposentos.

29 Sala para se deixar casacos pesados e botas sujas de lama e neve. Mud = Lama, Room = Sala.
– Isso é... eu acho que meu apartamento caberia dentro de sua
cozinha. – Disse Adam. – Você mora aqui sozinho?

– Só eu e sete anões.

Adam riu.

– Você deve ter um bom salário. – Rob disse.

– Eu tenho. – Adam admitiu. – Eu nunca estou em casa. Esse é


o problema real. Não que seja um problema. – Ele desceu a longa
planta da cozinha e sala de jantar para a sala de estar com seus tetos
altos, vigas abertas e pisos reluzentes.

– Agora isso é uma lareira.

– Quartzo e pedra de campo.

Adam assentiu para o estojo de armas vazio. – Não é um


caçador, eu presumo?

– Só com uma câmera. – Rob assentiu para a fileira de


fotografias emolduradas ao longo da parede revestida de painéis.

Adam se aproximou para examinar a galeria de fotos, e Rob


sentiu uma estranha sensação de insegurança. Mesmo em suas meias e
jeans rasgados, Adam tinha um certo ar. Austeridade? Autoridade?

Adam disse, pensativo: – Eu estava prestes a dizer que isso é


mais um resort de luxo do que uma casa. Você não se sente isolado
aqui?

– Eu não sinto falta de Portland. Mesmo se eu fizesse, é apenas


algumas horas de distância. Eu tenho amigos em Klamath Falls, então
às vezes eu passo o fim de semana lá. Depois, há o aeroporto em
Medford. – Rob encolheu os ombros. – Eu gosto da paz e do silêncio.
Não me importo com a minha própria companhia.

Adam olhou mais de perto para um estudo de Blue Rock Cove.


– Estes são todos seus?

– Sim.

Adam lançou-lhe um olhar rápido e surpreso. – Elas são muito


boas. Quer dizer, eu não sou um especialista, mas acho que alguém
diria que elas são de qualidade profissional.

– Obrigado. Não é fácil ganhar a vida como fotógrafo. A menos


que você queira passar seus fins de semana tirando fotos de casamento.

– E você gosta de passar seus fins de semana caminhando nas


montanhas.

– Oh, eu também gosto de fazer outras coisas. – Rob disse com


um sorriso deliberadamente perverso.

Adam sorriu também. Rob achou que ele parecia um pouco


inseguro. Inquieto? Ele olhou para os retratos emoldurados em níquel
e disse: – Preto e branco.

– É a minha fase Ansel Adams30.

Adam fez um som de reconhecimento.

Rob suspeitou que as coisas estavam prestes a ficar difíceis e ele


disse: – Deixe-me mostrar-lhe o banheiro.

Ele liderou o caminho para o andar de cima e para o seu


quarto. O quarto principal era outro aposento enorme, pintado em tons

30 Um fotógrafo americano conhecido pelas fotografias em preto e branco.


terra neutros. Havia molduras ao redor das grandes janelas e cortinas
em um tom de vermelho que Rob nunca teria escolhido, mas não
queria gastar dinheiro para substituir. Felizmente, ele fez a cama
naquela manhã e não deixou a cueca caída no chão.

Adam ficou em silêncio e Rob adivinhou o que ele


provavelmente estava pensando. – Há uma ducha no banheiro de
hóspedes, mas a única banheira é aqui, e acredito que depois da queda
você gostaria de mergulhar em água quente por um tempo.

Ele empurrou a porta e gostou da expressão de Adam. O


banheiro era ridiculamente parecido com um spa, com azulejos
aquecidos enormes, toques de madeira, um enorme box de vidro
grande o bastante para todo o escritório do xerife, uma banheira de
imersão ao lado de imensas janelas panorâmicas e uma pia dupla. A
coisa toda.

– Isso é… – Adam sacudiu a cabeça.

– Eu sei. Louco. Eu vou deixar você para isso. Você pode deixar
suas roupas na porta. Eu volto com uma bebida. Gin e tônica ok?

Ele não achou que Adam o ouviu. Rob recuou, fechou a porta e
desceu para fazer um gim-tônica muito forte. Quando ele voltou, ele
bateu educadamente na porta e abriu-a.

– Você quer companhia aí?

Adam estava apenas entrando na banheira. Ele olhou por cima


do ombro, corou. – Er...

Ele estava muito bem equipado. Sem dúvida. Uma flecha reta e
limpa projetando-se de um arbusto macio e dourado. Bolas do
tamanho de ameixas perfeitas aninhadas embaixo. Lindo. Rob parou
de sorrir, parou de admirar, incapaz de olhar além das feias contusões
negras e azuis que manchavam o torso e o traseiro de Adam. – O que...
por que diabos você não disse alguma coisa?

– Sobre...? – Adam olhou para baixo para si mesmo. – Oh. – Ele


fez uma careta. – É apenas contusão. Nada com risco de vida.

– Contusões? Você tem contusões.

– Eu acho. Eu nem sequer as senti até agora. Eu poderia aceitar


essa bebida embora. – Sentou-se cautelosamente na água quente e
recostou-se, fazendo uma careta. – Deus. Isso é... – Ele sorriu para
Rob.

O coração de Rob deu um salto inesperado. Na verdade,


provavelmente estava mais perto de uma roda de carroça. Algo sobre
aquele sorriso pontudo e descuidado e a maneira como os olhos verdes
de Adam se enrugavam nos cantos. Ou talvez tivesse a ver com a
largura dos ombros e o comprimento do pescoço. Então, novamente,
talvez fosse algo sobre Adam sentado sem reclamar por quantas horas
de reuniões e debates depois de cair de uma montanha do caralho?

Seja lá o que diabos era, Rob foi vendido.

– Aqui. – Ele empurrou a bebida em Adam, e Adam pegou o


copo e bebeu metade dele em um gole.

– Uh...

Adam piscou. – Você os faz fortes.

– Eu ia dizer. Mas eu acho que se você está bebendo, beba de


verdade. – As palavras estavam saindo de sua boca. Rob não tinha
ideia do que ele estava dizendo. Ele ainda estava lidando com esse
desenvolvimento inesperado em seus sentimentos pelo agente especial
Darling. Adam.

Não. Não é um bom desenvolvimento.

– Eu não estou objetando. – Adam inclinou o copo na direção


de Rob em uma saudação e tomou outro longo gole. Ele fechou os olhos
e inclinou a cabeça para trás. Ele tinha um bom perfil. Provavelmente
muito afiado, esculpida demais para se adequar às ideias de boa
aparência masculina da maioria das pessoas, mas Rob achou que ele
era, bem, lindo.

Os olhos de Adam se abriram. Sua boca se curvou. – Não se


preocupe. Eu não vou escorregar e me afogar.

Rob riu, embora aquela imagem casualmente sentida parecesse


um soco no peito. – Você vai sentir falta de uma boa refeição se você
fizer isso. Você tenha sua imersão e eu vou começar o jantar.

– Você não precisa se preocupar muito. – Adam fechou os olhos


novamente.

– Sem problemas. – Rob pegou as roupas de Adam e saiu do


aposento fumegante.

s
Que tipo de tolo passava toda a sua vida jogando em campo e
depois se apaixonava por um cara que passava pela cidade? O cara que
ele não poderia ter, esse era o cara que ele queria?

Isso não era apenas tolo. Era louco.

Rob jogou as roupas de Adam na máquina de lavar. Ele tirou os


peitos de frango e empurrou-os no microondas para descongelar.
Descascou os legumes, despejou-os em uma panela com azeite e sal
marinho.

Ele se serviu de uma segunda bebida.

Um beco sem saída emocional completo. Era para isso que ele
estava indo. Ah, ele provavelmente poderia levar Adam para a cama
novamente. Ele certamente tentaria. Ele sabia que Adam ainda estava
atraído, ainda interessado. Ele não queria estar. Mas você sempre
soube. Agora o sexo não seria suficiente. Para Rob.

Sua boca ficou seca com a ideia de pegar Adam. Empurrar seu
pênis no traseiro de Adam, seu rabo apertado e ouvindo Adam gemer
de prazer. Gemendo, grunhindo e pedindo-lhe mais.

Talvez à noite.

Ou ter Adam dentro dele novamente. Suas pernas pareciam


fracas com a lembrança.

Sim. Ou. Ambos. Sim. Sexo seria... fantástico. E frequente.

Mas foi apenas o ponto de partida. Agora, pela primeira vez em


sua vida, ele estava pensando, desejando tudo o que poderia - deveria -
vir depois. Companhia. Cuidando.
Ele colocou a bebida para baixo e cavou o kit de primeiros
socorros debaixo da pia na mudroom. Todos esses cortes e contusões.
Por mais leve que fosse o vislumbre dos ferimentos de Adam, ele os
experimentara visceralmente, como se a dor de Adam fosse sua.

Como poderia ser? Ele mal conhecia Adam. No entanto, de


alguma forma, parecia que ele o conhecera a vida toda.

E falando de Adam, ele estava de molho por cerca de vinte


minutos agora. Rob subiu as escadas, ouviu brevemente a porta do
banheiro. A água estava correndo, então Adam ainda estava consciente
e vivo.

Ele voltou para a cômoda e tirou um par de shorts, jeans,


camiseta, camisa de flanela. Flanela xadrez verde, porque Adam ficaria
bem com isso. Ele gostou da ideia de ver Adam vestindo suas roupas.

Jesus. Cristo. Recomponha-se. Você não quer fazer isso.

Ao passar pela cômoda, ele teve um vislumbre no espelho, e ele


parecia de olhos arregalados e alarmado. E falando em precisar de um
banho...

Ele bateu na porta do banheiro e Adam disse imediatamente. –


Sim?

Rob não pôde evitar. Ele abriu a porta, colocou o pacote de


roupas no longo balcão de granito. – Você quer outra bebida?

O rosto de Adam estava corado pelo vapor e seu cabelo estava


molhado e enrolado em pontas. – Er… claro. – Ele disse. E então: –
Sim, porque não?
Ele segurou seu copo em direção a Rob, mas Rob sabia que se
ele fosse até lá, ele iria se ajoelhar e beijar Adam, e mesmo se Adam o
deixasse, era impossível garantir Adam dormindo no quarto de
hóspedes. Então ele disse: – Deixe isso. Vou trazer um copo limpo.
Nada é bom demais para você.

Ele disse em tom de brincadeira e Adam riu. O fato era que Rob
queria dizer isso.

Ele desceu, pegou outra bebida para Adam, entregou-a com


apenas um mínimo vislumbre de Adam. Os mamilos de Adam eram
castanho-rosados, todos os pelos do corpo eram de um ouro pálido, e
ele tinha uma sombra surpreendentemente pesada de cinco horas.
Bem, oito e meia da noite.

Ele fechou a porta com firmeza, tirou as próprias roupas


imundas, colocou-as no cabide do closet, tirou jeans limpos e uma
camisa que ele sabia que parecia quente.

Pelo menos de acordo com seu amigo em Klamath Falls. Shane.


Shane era um cara legal e o sexo era ótimo, mas Rob nunca sentiu uma
fração do que sentia por Adam. Ele sabia desde o início que nunca o
faria, e talvez de uma forma que fizesse parte da atração.

O que fez sua reação a Adam ainda mais perturbadora.

Ele tomou banho no banheiro de hóspedes e depois voltou para


preparar o jantar.

Ele estava apenas colocando o frango no forno quando ouviu


Adam descer, e seu coração acelerou.
– Isso foi ótimo. – Adam disse. – Obrigado. Eu me sinto cem
por cento melhor.

Rob virou para olhar, engoliu em seco com a visão de Adam em


sua camisa xadrez verde - os olhos de Adam eram lindos - e disse: –
Sente-se. O jantar estará pronto em cerca de quarenta e cinco minutos.

– Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar?

– Não. Sob controle. – Disse Rob.

Adam caminhou até o balcão, estudando a variedade de tigelas


e pratos. – Você tem certeza que isso não é muito problema?

– Não. Nós temos que comer, certo? Você quer outra bebida?

Adam riu conscientemente. – Melhor não. Você


definitivamente os torna fortes. Eu estou realmente sentindo o
zumbido.

– Isso é de não comer o dia todo.

– Provavelmente.

Bem, inferno, eles provavelmente poderiam manter a conversa


educada pelo resto da noite.

Por favor, passe o sal.

Com prazer.

Obrigado.

Você é muito bem-vindo.

Dado o pouco tempo que eles tinham - Rob tinha - ele decidiu
dirigir por cima do sinal de Não Ultrapasse.
– Do que Zeke estava falando antes? Aquele caso de sequestro
em que a vítima morreu.

Adam ainda estava sorrindo - ironicamente - mas o


relaxamento fácil desapareceu de seu rosto. – Aquele que eu fodi
regiamente?

– Não leve a sério nada que Zeke diga. Ninguém mais faz.

– Zeke não está sozinho em sua avaliação.

Ele sabia quando Adam estava de guarda ou cauteloso porque


começava a falar como o agente do FBI. Como ele estava narrando um
documentário.

– O que aconteceu?

Adam olhou para o balcão de granito, depois lançou a Rob um


olhar engraçado e quase incerto. – Bridget Conway era a filha de
dezessete anos de um rico fazendeiro de Bakersfield. Ela foi levada da
escola uma manhã e o Bureau foi trazido. Eu era o Agente Especial
Responsável. Os sequestradores exigiram um milhão de dólares pela
sua libertação. Essa era uma quantia facilmente acessível a Tom
Conway, então ele conseguiu juntar a entrega do resgate muito
rapidamente.

– Mas os sequestradores não libertaram Bridget?

Adam suspirou. – É um pouco mais complicado que isso. O que


não entendemos era que Bridget foi cúmplice em seu próprio rapto. Na
verdade, há uma forte possibilidade de que a ideia original fosse dela.
Ela estava vendo um jovem que sua família não aprovava - em parte
porque ele era velho demais para ela, e em parte porque Paul Douglas
tinha um registro criminal juvenil.

– Garotas vão para essa merda de menino mau. – Rob disse.

– Elas vão? Bem, eu acho que algumas garotas fazem. Eu acho


que Bridget fez. De qualquer forma, Bridget e Douglas prepararam esse
esquema para conseguir dinheiro do pai para que pudessem fugir
juntos. Mas eles precisavam de ajuda para conseguir, e assim Douglas
trouxe um amigo com o nome de Gary Black. Black era um bandido
idiota. Isso é realmente fora do ponto. Tudo isso está além do ponto.
Eu só estou te dando o plano de fundo.

– Vá em frente. – Rob disse.

– Os sequestradores deram ordens para que a polícia não fosse


trazida.

– Claro.

– Mas Conway ligou para o Bureau primeiro e nós – eu. – Adam


parou. – Eu vou te dar a versão abreviada. Quando chegou a hora de
fazer o resgate, insisti que usássemos dispositivos de rastreamento no
carro de Conway.

– Isso seria a coisa mais inteligente a fazer.

O sorriso de Adam estava distraído. – Obrigado, Rob.


Infelizmente, o equipamento de rastreamento deu curto no sistema
elétrico no carro de Conway. O alternador falhou, o carro morreu e
Conway ficou preso na estrada no meio da noite, sem meios de contatar
os sequestradores. Ele perdeu a entrega do resgate completamente.

– Inferno.
Finalmente os sequestradores ligaram para Conway em seu
celular. Conway explicou a situação. Ele disse que tinha o dinheiro, ele
ainda queria fazer a troca, e eles deveriam vir e pegar o resgate. E
assim eles fizeram.

Rob estava observando o rosto de Adam. – Conway estava


sozinho?

– Não. Ele deveria estar, mas não. Eu insisti em me esconder no


banco de trás.

– Até agora eu não vejo você fazendo escolhas que ninguém


mais teria feito.

– O sequestrador chegou em uma motocicleta para pegar o


dinheiro. As coisas não estavam indo conforme o planejado, então ele
já estava abalado. E então Tom o reconheceu como Paul Douglas...

Rob sabia o que estava por vir. Que provavelmente era como
Adam se sentira naqueles segundos finais, enquanto tudo se
desenrolava naquele trecho solitário da estrada.

– Douglas entrou em pânico e tentou atirar em Tom. Eu atirei


em Douglas. Quando Douglas não voltou com o dinheiro, Black
também entrou em pânico, executou Bridget e tentou fugir do estado.

– Jesus.

– Ele é a única pessoa que não estava na estrada naquela noite.


– Adam suspirou.– Talvez eu tenha outra bebida.

– Essa é uma história horrível. – Rob disse. – Mas eu não vejo


como você é culpado por qualquer coisa que aconteceu.
– Sim, bem, tudo se resume a como Conway, como muitos pais,
preferiria morrer a perder a filha. Ele argumentou contra o sistema de
rastreamento, e ele argumentou contra eu estar no banco de trás do
carro. Nós - eu - convenci ele. E acabei estando errado.

– Não do ponto de vista da maioria das pessoas.

– Do ponto de vista da família Conway. E provavelmente do


ponto de vista de Bridget. Eu prometi a eles que iria trazer Bridget de
volta em segurança. Eu prometi a eles que, se fizessem do meu jeito, ela
estaria em casa sã e salva.

– Você não acha que talvez Bridget e seu namorado fossem um


pouco culpados pelo que aconteceu?

– Bridget era uma criança e, independentemente de seu papel


no sequestro, era minha responsabilidade levá-la para casa em
segurança. Eu não fiz isso. E parte do motivo pelo qual eu falhei foi que
não era suficiente para mim trazer Bridget de volta. Eu queria pegar
seus sequestradores. Eu queria o crédito. Eu queria outra estrela de
ouro. Essa é a verdade.

– Estrela de Ouro?

Adam fez uma careta. – Outra carta de recomendação.

O cronômetro disparou. Foi um alívio afastar-se da dor no


rosto de Adam. Rob virou-se para o fogão, despejou o molho marinara
sobre o frango, polvilhou com queijo e o empurrou de volta ao forno.

Ele disse: – Acho que entendo agora porque você acredita que
Tiffany poderia estar envolvida no assassinato de sua mãe.
– Eu achei que havia uma forte possibilidade no começo. Apesar
do fato de que Joseph estava despojada, não parecia haver um
elemento sexual para o assassinato dela. A morte de Azure não se
encaixa.

– A menos que Tiffany seja uma serial killer.

– Isso é muito difícil de acreditar. – Adam disse. – Há


assassinos em série adolescentes. Não muitos, e eles são
principalmente do sexo masculino.

– Mas você acredita que Frankie está certo? Nós temos um


serial killer em nossas mãos? Apenas não Tiffany.

– É muito cedo para dizer. Nós não sabemos se Azure foi morta
pelo mesmo criminoso. Não parece que a mesma arma foi usada.

– Agora você está pensando como um menino da cidade. – Rob


disse. – Eu acho que é provável que o assassino de Cynthia levou a faca
para casa, limpou, poliu e afiaou. Ele não levou para ter como
lembrança, isso eu garanto.

Adam pareceu surpreso. – Este é um bom ponto. Eu estava


pensando que ele consideraria a faca como uma relíquia, um objeto
sagrado, mas poderia ser tanto uma arma quanto um objeto sagrado.

– Ninguém por aqui deixaria uma faca perfeitamente boa


enferrujada e inútil.

– Você provavelmente está certo sobre isso.

– Ainda é difícil acreditar que temos um serial killer correndo


por aí. – Ou talvez ele simplesmente não quisesse acreditar. Rob não
tinha certeza.
Adam disse: – Os assassinos em série não são propriedade
exclusiva das grandes cidades.

– Se a Tiffany não estiver envolvida, onde ela está? Você acha


que ela está morta? – Ele odiava pensar assim. Ela era uma boa cidadã.
Tipo de uma espertinha, mas de bom coração e útil. Se ela tivesse sido
morta, ele esperava que tivesse sido rápido, que - como sua mãe - ela
nunca soubesse o que a atingiu.

Adam disse, cansado: – Se ela está morta, não sei por que não
temos um corpo. Não houve tentativa de esconder Joseph ou Azure.
Por que esconder Tiffany?

– Eu também não sei. – Rob disse. – Acho que devemos


esquecer isso por enquanto. Vamos apenas ter uma noite tranquila.
Uma boa refeição, um par de bebidas, um bom sono.

Adam sorriu com o que parecia ser um alívio genuíno. – Isso


soa como uma ótima ideia para mim.

Durante a meia hora seguinte, eles conversaram basicamente


sobre nada. Rob perguntou a Adam se ele gostava de esquiar. Adam
não gostava. Ele perguntou a Rob se ele gostava de navegar. Rob não
gostava. – Mas temos muitas pessoas aqui com veleiros durante o
verão. – Sugeriu.

– Eu costumava ter um barco. – Disse Adam.– Eu não teria


tempo para velejar agora mesmo.

– Todo mundo precisa de folga. – Rob disse.

Adam franziu a testa como se este fosse um conceito alienígena.


Eles se mudaram para filmes e livros. Acontece que nenhum
deles assistiu muita TV ou teve muito tempo para ler ficção. – Acho
que o último filme que vi foi um filme de James Bond. – Admitiu
Adam.

– Eu gosto de musicais da Disney. – Disse Rob. –


Especialmente aqueles com princesas. Pequena Sereia? Pocahontas?
Isso é ótimo.

Adam deu-lhe um olhar engraçado e ele sorriu. – Só brincando.

– Você é bem criança.

– Eu posso ser sério também. – Disse Rob.

Adam encontrou seus olhos e depois desviou o olhar.

Então era esse tipo de conversa. O tipo de conversa que você faz
em um primeiro encontro, exceto que não era um encontro.

Rob serviu o frango com macarrão. Eles comeram em frente à


lareira, sentados em lados opostos do longo sofá de couro. Rob falou
para Adam ter outra bebida. Ele achou que era um bom sinal que ele
não precisava se esforçar muito. Adam estava razoavelmente relaxado
àquela altura, ou tão relaxado quanto provavelmente jamais chegara.

– Isso foi ótimo. – Adam deixou o prato de lado e deu um


suspiro profundo e apreciativo. – Muito obrigado.

Rob sacudiu a cabeça. – Sou um cozinheiro passável. Você


simplesmente não recebe muitas refeições caseiras.

– Verdade. – O olhar de Adam ficou especulativo. – É difícil ser


gay em uma cidade pequena?
– De certa forma, claro. Eu não trago muitos caras para casa
para jantar. Deixe-me colocar dessa maneira.

– Com cem mil visitantes por ano, você não deve sentir falta de
companhia.

– Não, nunca senti falta de companhia. – Rob disse. – Isso não


significa que eu não escolha com quem eu passo tempo.

– Não. Eu não estou implicando nada.

– Sugerindo, no entanto. – Rob deu-lhe um sorriso duro e


brilhante. – Nunca senti necessidade ou desejo de me estabelecer.

– Certo. Estabelecer-se não é para todos.

– Não porque eu não gostaria. Eu nunca encontrei o cara certo.

– Às vezes isso é verdade também.

– E você? Você disse que se envolveu com um colega de


trabalho e acabou mal?

– Eu sinto como se estivesse fazendo toda a conversa. – Adam


sorriu. Foi um sorriso de você está invadindo meu espaço. – Estou
interessado em você. O que te fez entrar no escritório do xerife?

Rob afastou o prato e aproximou-se de Adam, fechando um


pouco daquela distância forrada de couro. Adam inclinou a cabeça,
reconhecendo a abordagem de Rob. Sua boca se curvou.

Rob disse: – Eu não sei. Eu precisava de um emprego. Você


acha que as pessoas são perguntadas por que querem se tornar um
contador ou um piloto?
– Ninguém quer te matar por ser um contador. Exceto talvez no
tempo do imposto. Se você for para a lei, há pessoas que querem você
morto só porque você é um policial. Por isso, é natural se perguntar por
que alguém pode escolher esse caminho.

– Por que você se juntou ao FBI?

– Meu pai estava no FBI. – Adam hesitou. – Eu admirava muito


meu pai quando estava crescendo. Eu acho que queria ser igual a ele.

Rob disse cautelosamente: – Seu pai ainda está por aí? – Ele
gostou do jeito que o rosto de Adam parecia à luz do fogo. Seu cabelo
parecia dourado, seus olhos brilhavam, o bracelete de prata brilhava.
Rob achou o bracelete encorajador. Era simples e discreto, mas parecia
insinuar um outro Adam inteiro. Um Adam que poderia não se opor se
Rob se inclinasse para frente e o beijasse.

– Ele está. Eu vejo menos dele agora do que quando ele estava
com o Bureau. – A boca de Adam se curvou ironicamente. – Eu gosto
do meu trabalho e sou bom nisso. Eu não tenho nenhum
arrependimento. Não consigo pensar em nada que prefira fazer.

Rob esticou o braço ao longo das costas do sofá de couro e


Adam sorriu para ele. – Você gostaria de outra bebida? – Rob
perguntou.

Adam moveu a cabeça em negação. – Se eu tiver outra bebida,


você terá que me levar para a cama.

– Eu vou levar você para a cama.

Adam riu.
A mão de Rob se fechou no ombro de Adam e ele o aproximou.
– Venha cá. – Rob sussurrou.

Ele viu algo passar pelos olhos de Adam. Dúvida? Hesitação.


Adam inclinou o rosto e seus lábios roçaram. Tentativos. Doce. Um
beijo muito mais cauteloso do que Rob estava acostumado. Tímido?
Algo derreteu em seu peito e ele beijou Adam novamente, muito
gentilmente, como se Adam fosse uma jovem nervosa que ele precisava
conquistar e ganhar.

Adam tinha gosto de álcool, e ele cheirava a xampu de Rob e


sabonete de Rob, que não deveria ser erótico, mas de alguma forma
era. Sua boca se curvou por baixo de Rob, seus lábios inesperadamente
macios. Ele gostava dessa abordagem, ele gostava de ser beijado. Rob o
beijou novamente, ainda gentil, ainda cortejando. Eles respiraram
juntos em harmonia fácil. Rob podia sentir o coração de Adam batendo
contra o seu próprio e os cílios de Adam piscando contra seus olhos.

Rob gostava de beijar - ele queria beijar Adam na primeira


noite e não perdera o fato de que Adam não queria ser beijado - isso
era ainda melhor do que imaginara. Ele usava toda a habilidade e
delicadeza que tinha, e sentiu o momento em que Adam parou de
pensar e simplesmente se rendeu.

A mão de Adam pousou levemente na base do crânio de Rob, e


ele aplicou um pouco de pressão por conta própria. Mais…

Rob deu-lhe mais beijos, mais quentes, mais duros, beijos


molhados. Adam o beijou de volta abertamente com fome e febril. Ele
deslizou de costas, puxando Rob com ele. E lá estavam eles, tendo uma
boa e velha sessão de amassos bem ali no sofá enorme de Rob em sua
sala de estar mobiliada.

Todas as boas intenções de Rob voaram pela janela.

– Jesus, eu te quero muito.

Adam afastou a boca e ofegou: – E o quarto de hóspedes?

– Podemos fazer isso no quarto de hóspedes, se você quiser.

A risada de Adam foi ofegante, sua mão livre se atrapalhou com


o zíper de Rob. – Não, se vamos fazer isso, vamos fazer.

Isso soou como se houvesse uma chance de que ele mudasse de


ideia, e Rob não perdeu tempo em rasgar suas roupas - praticamente
literalmente - e então se lembrou de proteção. Ficou surpreso que ele
quase se esqueceu. Quando foi a última vez que isso aconteceu?

– Tempo.

Adam levantou a cabeça. – O que...?

Rob saiu da sala, subiu as escadas, desceu o corredor e entrou


em seu quarto. Ele vasculhou a gaveta do quarto e desceu correndo as
escadas. Enquanto corria pelo piso aberto, viu Adam sentado no sofá,
lindamente nu, com a expressão de alguém que perdeu seu ônibus.

Rob bateu no peito e soltou um grito de Tarzan enquanto


pulava para o sofá.

O queixo de Adam caiu. Ele levantou uma perna instintiva e


defensiva, e isso foi quase o fim dos procedimentos da noite.
– AAAHHHH AH AH AH aa owww! - Rob aterrissou meio em
cima de Adam, que observara seu avanço com surpresa e
incredulidade.

Adam ofereceu um estrangulado: – Uhhhh...

– OW. – Rob repetiu. Ele levantou, estudando a pegada em seu


peito. – Isso dói.

– Você é louco. – Adam ainda parecia espantado, mas ele estava


começando a rir. – Você é o cara mais louco que já conheci. Que eu não
tive que prender.

– Seus pés são armas mortais.

– Você tem sorte que o chute não chegou onde quase aconteceu.
– Adam ainda estava divertido. Ele se sentou, balançando as pernas no
sofá.

Rob observou-o com desânimo. – Onde você vai?

O sorriso de Adam se torceu. Ele disse em tom de desculpa: –


Acho que talvez o quarto de hóspedes seja uma boa ideia.

Rob pegou sua mão e beijou-a. – Ei. Não faça isso. – Ele beijou
a parte de trás da mão de Adam novamente, e sentiu o menor tremor
dos dedos de Adam. – Você não quer fazer isso. – Ele acariciou o pulso
de Adam, sentindo o pulso martelando.

Adam engoliu em seco. Seus cílios cintilaram. Tremularam?


Seja como for, estava se desarmando como o inferno. – Não é uma
questão de querer, mas eu acho que...
– Pare de pensar. – Rob disse a ele. Ele beijou a pele sensível do
cotovelo interno de Adam, deu-lhe um puxão e Adam sentou-se ao lado
dele nas almofadas, como se suas pernas tivessem cedido.

– Temos um dia cedo amanhã. – Adam disse fracamente.

Rob beijou seu ombro. A respiração de Adam soou engraçada.


Rob beijou a curva de seu pescoço, acariciou-o embaixo da orelha.
Adam fez um som suave, muito perto do gemido da imaginação de
Rob.

Rob disse: – Adam, escute, você ainda pode passar a noite no


quarto de hóspedes. Mas não é isso que eu quero, e não é o que você
quer, e por que não deveríamos ter o que queremos?

Adam estava olhando para ele de lado, ainda respirando as


leves e rasas inspirações e expirações.

Rob beijou-o com força sob o queixo, beijou-o no canto da boca


tão firme, que estremeceu.

– Está com você. – Rob disse. – Você decide.

Adam se virou e sua boca cobriu a de Rob.


Capítulo Dez

Ele acordou várias horas depois para o luar brilhante e uma dor
de cabeça.

Rob ainda estava profundamente adormecido, roncando


baixinho, tranquilamente do outro lado da cama king size.

Adam levantou-se, tentando não mexer o colchão, e encontrou


o caminho para o banheiro em forma de spa em busca de aspirina. Ele
apertou o interruptor da parede, estremecendo com a luz forte,
encontrou uma garrafa no armário e engoliu três comprimidos -
esperançosamente aspirina - lavando-os com água escorrida da pia. Ele
jogou água no rosto e olhou para o reflexo de olhos vermelhos. Ugh.
Ele estava machucado e dolorido. Algumas das dores eram mais
agradáveis do que outras, mas todas garantiam que ele estaria
dormindo pouco pelo resto da noite.

Ele não era muito de dormir estes dias de qualquer maneira.


Na verdade, ele sempre teve problemas para desligar o cérebro. O
álcool realmente não ajudava, porque na metade da noite ele acordava
com os olhos arregalados e cérebro zumbindo como agora.

Ele desligou as luzes e voltou para o quarto onde Rob


continuava seu sono despreocupado.

Adam sentiu uma onda de diversão afetuosa. Bom para Rob.


Ele ganhou uma boa noite de sono. A memória de Adam da noite
estava embaçada. Ele se lembrava de ter ficado agradavelmente
surpreso com o quão atento e inventivo Rob fora. Na verdade, ele não
estivera com ninguém que estivesse sintonizado com o que queria
desde... bem, muito tempo.

De fato, se Rob não morasse na parte de trás do Grande Além,


Adam seria tentado a começar a pensar que talvez houvesse uma
possibilidade de... o quê?

Por sua própria admissão, Rob não era o tipo de “A partir deste
dia em diante".

Ao passo que Adam. Bem, ele era um agente do FBI. A primeira


palavra do lema do Bureau era a fidelidade. Fidelidade, bravura e
integridade. Não havia nenhum futuro nisso, mas era difícil não ceder
ao desejo de rastejar de volta para a cama e deixar-se acalmar e
consolar pela presença de Rob. Ele continuou a estudar o monte
dormindo ao lado do trecho vazio de lençol onde ele estava deitado.

Sim, seria muito fácil cuidar de Rob.

Adam atravessou para as janelas e olhou para fora.

Desse ponto de vista, Nearby parecia uma vila alpina em um


dos filmes de Rob da Disney. Havia um filme da Disney ambientado
em uma vila alpina?

Frankie deve ter finalmente ido para casa porque não parecia
haver uma lâmpada brilhando em toda a cidade. Na verdade, não
parecia haver uma luz no mundo inteiro. Não que estivesse escuro. O
reflexo da lua e da luz das estrelas na neve iluminava as montanhas e a
floresta em uma luz prateada sobrenatural.
Ele estremeceu. Havia uma beleza severa e quase dolorosa
nisso.

Algumas outras casas de veraneio pontilhavam a encosta


intocada. Havia muito espaço entre eles para que ninguém estivesse
respirando no pescoço de qualquer outra pessoa.

Enquanto observava, notou um brilho pálido movendo-se na


casa no cume em frente à casa de Rob.

No instante seguinte, desapareceu. Talvez tenha sido um


reflexo?

Adam esperou, observando.

Ele estava ficando entediado e frio quando viu o único ponto


brilhante se movendo no nível superior.

Luz fantasma? Ele sorriu sombriamente. Não, com certeza que


era um feixe de lanterna.

Ele tentou pensar em uma boa e legítima razão para alguém


estar andando na ponta dos pés em sua própria casa usando uma
lanterna.

Talvez a energia estivesse desligada?

Ele olhou para o relógio ao lado da cama. Os números


iluminados liam quatro e meia.

A energia não estava fora do outro lado do vale. Isso não


significa que não estava naquele lugar. Mesmo assim, o que alguém
estaria fazendo e rastejando às quatro e meia da manhã?

Concedido, ele estava de pé e rastejando ao redor.


Ele assistiu a luz morrer novamente.

O que está rolando?

Talvez nada. Dada a rápida taxa de homicídios na cidade de


Nearby, parecia valer a pena conferir.

Ele voltou para a cama e sentou-se no colchão.

– Rob? – Ele disse baixinho.

Rob interrompeu o ronco médio, acordando. ― Hmm? Estou


ouvindo!

– A casa em frente a esta. Alguém mora lá?

Rob ficou em silêncio por alguns segundos, processando. –


Viver lá? – Ele repetiu.– É uma propriedade alugada.

– Alguém está se movendo por dentro com uma lanterna.

Depois de um momento, Rob jogou as cobertas para trás, rolou


para fora da cama e foi até as janelas. Ele disse finalmente: – Você
poderia estar vendo um reflexo dos faróis.

– Não há carros na estrada.

Rob ficou em silêncio, olhando pela janela. – Eu não vejo nada.

– Ficou escuro antes que eu te acordasse. Eu a assisti a mudar


de sala em sala no andar de baixo e depois novamente no andar de
cima.

Rob virou de volta para a janela. Adam se juntou a ele. As


janelas da propriedade de férias permaneciam solidamente em branco.

Rob disse: – Você quer dar uma olhada?


O alívio foi substancial. Adam estava preparado para diversão
ou exasperação. – Eu gostaria. Sim.

– Ok. Vamos ver o que está acontecendo lá. – Rob virou da


janela. – Acho que devemos andar. Levará um pouco mais de tempo
para chegar até lá, mas quem estiver na casa não nos verá ou ouvirá.

Vestiram-se rapidamente, Rob emprestando a Adam um suéter


preto, uma jaqueta escura e um par de luvas de lã. Então eles se
armaram e se dirigiram para a noite fria.

A crosta de neve rangia suavemente sob as botas enquanto


corriam pela estrada. À frente, a casa de aluguel continuava a dormir
sob as vigas de nuvens.

Adam sabia que ele não tinha imaginado aquela luz furtiva. Ele
estava com medo de que quem quer que estivesse por trás disso tivesse
ido embora há muito tempo, quando chegaram à estrada longa e
escorregadia.

Cinco minutos depois da corrida, Rob, ligeiramente à frente,


parou tão de repente, que Adam bateu nele. Rob agarrou seu braço,
firmando-o. – O que… a… porra… é… isso? – Ele sussurrou. Ele estava
olhando para o cume acima deles.

Adam olhou para cima e seu coração pareceu parar por alguns
segundos cruciais.

Olhando para eles, parecendo que poderia ter sido esculpida a


partir da meia-noite, estava uma figura alta, negra e alada.

Alada.

Como com... asas.


Adam tentou envolver sua mente em torno desse
desenvolvimento, assegurando-se de que não eram asas de verdade,
mesmo quando seus olhos incrédulos examinavam os detalhes de cada
pena preta brilhante. Elas com certeza pareciam asas de verdade.

Rob parecia se recuperar de seu choque inicial. Ele disse em voz


alta e clara: – O que você deveria ser? – Epuxou sua arma.

A figura recuou, desaparecendo de vista.

Adam viu tudo, da mesma maneira que ele tinha visto se


desdobrar do banco de trás do Porsche de Tom Conway naquela
estrada deserta em Bakersfield. Intuição? Instinto? Ele não sabia como
ele sabia. Ele apenas sabia.

Ele disse com urgência: – Rob, temos que chegar a essa casa.
Ele não veio de lá. Ele está atrás de quem está lá.

Rob já estava na metade da subida, com a pistola na mão,


lutando por uma posição segura. Ele disse por cima do ombro: – Então
encontre ela. Ou quem quer que esteja lá. Esse cara é meu.

Eles não deviam se separar. Mas não havia tempo para discutir,
e se por algum acaso Tiffany estava escondida naquela casa de aluguel,
ele tinha que chegar até ela primeiro. Por que diabos eles não tinham
trazido um rádio? Esses pensamentos inundaram o cérebro de Adam
quando ele correu pela estrada, duas vezes quase perdendo o equilíbrio
em trechos de gelo, correndo para a casa escura e silenciosa.

Deus, tenha cuidado, ele pensou. Havia luz; luz gelada e


prateada, mais romântica do que útil. Isso é tudo que ele precisava. Um
tornozelo torcido ou quebrado. Mas as palavras foram realmente
destinadas a Rob. Rob percebeu o que ele estava lidando? Ele entendia
o perigo?

Ele bateu em outra poça gelada, seu pé escorregou e ele foi com
ele, patinando alguns centímetros antes de recuperar o chão sólido. Ele
correu. Finalmente chegou à casa e subiu silenciosamente os degraus
cheios de neve até a varanda da frente. Ele atravessou a varanda e
tentou a porta da frente.

Estava trancada. Teria sido surpreendente se não tivesse


estado. Ele seguiu para as portas deslizantes alguns metros abaixo.
Também bloqueada. Com um cabo de vassoura de madeira preso nos
trilhos por segurança. Ele tentou espiar através do vidro. As cortinas
haviam sido puxadas através delas.

Ele não queria entrar em pânico, se fosse Tiffany dentro. E ele


não queria ser baleado por algum proprietário desesperado. Ele desceu
as escadas e deu a volta, quase caindo sobre uma fogueira de metal
escondida sob a neve. A colisão de suas canelas com a tampa de metal e
o acidente subsequente causaram uma grande confusão. Nenhuma luz
se acendeu, nenhuma cortina se abriu. A casa ficou teimosamente
imóvel.

Talvez ela já tivesse fugido.

Esse era um pensamento desanimador.

Ele tentou as duas grandes janelas no primeiro andar. Ambas


estavam trancadas. Ele foi até a porta dos fundos e começou a procurar
entre os animais de enfeites entre a relva e descascados que povoavam
as floreiras embutidas. Ele atacou algumas vezes antes de notar uma
pequena pedra pintada.

Ponto.

Por que os donos de imóveis imaginavam que esses


esconderijos decorativos não passavam de um convite ao roubo, ele
nunca entenderia. Naquela noite, ele estava apenas grato ao ouvir o
som reconfortante de metal em resina. Abriu a caixa das chaves,
levantou-se e foi abrir a porta dos fundos.

A porta se abriu silenciosamente para uma longa varanda vazia.

Adam fechou suavemente a porta, trancou-a e sacou a arma.


Carregando com pouca carga, ele se moveu silenciosamente pelo
carpete e subiu a estreita escada de madeira.

A casa estava fria e cheirava a tinta e tapete novo. Cheirava


desabitada, e ele começou a se perguntar se havia cometido um erro.

Ele alcançou o próximo nível e encontrou-se em uma cozinha.


Havia meia persianas nas janelas. O luar se espalhava pelos topos,
destacando um abridor de lata e uma lata de sopa vazia de Campbell na
ilha, no centro da cozinha.

– Tiffany? – Adam chamou. – Aqui é o Agente Especial Darling.


Eu estou com o FBI e estou armado. Por favor, mostre-se.

Nada.

Ele manteve a voz calma, tentando soar tranquilizador. – Não


queremos que ninguém se machuque hoje à noite.
Um assoalho rangeu. Ele levantou sua arma. A porta estava
vazia. Mesmo assim, ele podia sentir a presença dela, sentir um
elemento pulsante e vivo na escuridão. Perto.

– Não há nada a temer. – Adam disse. – Ninguém quer te


machucar.

Concedido, o fato de que ele estava apontando uma Glock no


que ele supôs era sua direção geral provavelmente não era
reconfortante. Mas ele não tinha como saber se ela também estava
armada ou não, se ela era outra vítima inocente ou um cúmplice, se era
mesmo Tiffany com quem ele estava falando.

– Podemos acabar com isso agora. – Adam disse. – Levante as


mãos e saia devagar. Eu vou contar até três. Um. Dois.

Gritando, ela voou da escuridão como uma aparição em um


filme de terror. Faca levantada, olhos selvagens em seu rosto branco,
cabelos emaranhados.

– Jesus. – Aconteceu tão rápido e o som que ela fez foi tão
horripilante que ele não sabia por que não atirou nela. De alguma
forma, ele viu seu terror pelo que era e conseguiu abaixar sua arma e
agarrar seu pulso antes que ela pudesse cortá-lo.

Ela era forte e selvagem. Não era páreo para ele, porém, e a faca
do açougueiro caiu no chão de ladrilhos. Envergonhadamente, ela
continuou a gritar repetidamente. Se havia palavras, elas eram
ininteligíveis.
– Eu não vou te machucar. – Adam continuou dizendo. Ele
duvidava que ela pudesse ouvi-lo sobre seus gritos. – Você está bem
agora.

Ela não estava bem. Ela estava enlouquecida com tudo o que
ela tinha passado. Ela se contorceu em seu aperto e gritou no topo de
seus pulmões, os olhos olhando para ele, mas claramente vendo outra
coisa. Finalmente, em uma mistura de desespero e pena, ele envolveu
ambos os braços em volta dela e a abraçou com força. Seus gritos
sufocaram e ela ficou mole.

Por um momento ele teve medo de que ela literalmente


morresse de medo, mas não. Quando ele a abaixou no chão, ela estava
desmaiada. Sob a camisa rasgada e suja de flanela, seu coração ainda
batia forte.

– Adam? – Rob gritou do andar de baixo.

– Aqui em cima! – O alívio passou por ele. Até aquele instante,


ele não tinha percebido o quão preocupado ele estava com Rob, o
quanto de sua mente estava ocupada com o que poderia estar
acontecendo com Rob.

As botas de Rob subiram as escadas. – Que diabos? Eu podia


ouvir gritos através do cume.

– É Tiffany. – Adam disse. – Ela está em choque.

Rob os alcançou. – É a Tiffany. – Ele parecia surpreso, embora


também tivesse adivinhado a verdade antes. Vou telefonar para uma
ambulância. – Ele pegou o celular.
– Eu não sei como ela conseguiu chegar até aqui, mas ela está se
escondendo nesta casa.

– Eu acho que faz mais sentido que ela corra em direção a casas
e pessoas ao invés da floresta.

Adam assentiu distraidamente. Dada a oportunidade, por que


ela não correu para a cidade? O que havia na aldeia de Nearby que a
assustava?

– Eu perdi aquele bastardo do homem-pássaro na floresta. Ele


teve muita vantagem inicial. Você acha que ela viu quem matou
Cynthia?

– Ela com certeza viu alguma coisa. – Adam disse.

Rob disse severamente: – Uma coisa nós sabemos com certeza.


Sandy Gibbs não é nosso cara. – Ele se virou para falar em seu celular.

*****

– Bem, vocês meninos tiveram uma noite movimentada. –


Frankie disse quando Adam chegou ao escritório do xerife muito mais
tarde na segunda de manhã. Ele tinha esperado com Rob até Tiffany
ter sido transportado para o hospital, então Rob o levou de volta para o
acampamento onde tomou banho, fez a barba, checou seu e-mail e
retornou telefonemas antes de ir até o escritório da xerife.

Como ele tinha visto Rob apenas algumas horas antes, Adam
ficou desconcertado com a forma como o pulso dele saltou quando ele
o viu perto da máquina de café. Rob segurou a jarra em investigação.
Adam assentiu.

Ao observá-lo, Frankie disse: – Acho que não devo perguntar


como vocês dois conseguiram trabalhar juntos às cinco horas da
manhã.

– Deus ajuda, quem cedo madruga. – Rob disse. – E não, você


não deveria perguntar.

Frankie levantou as mãos. – Não quero mesmo saber.

– Como está Tiffany? – Adam perguntou. – Qualquer mudança?

– Os médicos estão dizendo que ela está em profundo choque


emocional. Ela está sob forte sedação. – Respondeu Frankie. – E
ninguém está disposto a se comprometer quando vamos ser capazes de
questioná-la.

Isso não parecia promissor.

– E em outras notícias. – Frankie continuou: – Sandy Gibbs me


diz que está planejando processá-lo.

– Eu?

– O governo federal em geral, e você e meu vice em particular.

– Deixe-o processar. – A expressão de Rob era insensível. Ele


carregou duas canecas, entregando uma para Adam e encostou-se ao
batente da porta do escritório de Frankie.

– Eu tenho que concordar. – Adam disse. – No minuto em que


ele abriu fogo contra nossas equipes de busca com um rifle de assalto,
qualquer posição legal que ele pudesse ter se tornou instável. – Mesmo
assim, não era uma boa notícia. E não seria saudado como uma boa
notícia pelo seu Supervisor. Este seria o segundo cidadão em menos de
um ano que estava ameaçando Adam com uma ação legal.

– Acho que há espaço para negociação. – Disse Frankie.

Meio gole, Rob fez uma pausa. – O que exatamente isso


significa?

– Isso significa que eu acho que há espaço para negociação.

Rob abriu a boca e Frankie disse: – Ele diz que tem


informações para nós sobre o nosso assassino.

Houve um breve e agudo silêncio. – Deixe-me ver se entendi, –


Rob disse. – Você está sugerindo que nós façamos um acordo com ele?

Frankie revirou os olhos. – Agora, não fique todo espinhado até


ouvir o que tenho a dizer.

– Estou ouvindo.

Frankie olhou para Adam. – Isso também diz respeito a você.

Adam não planejava ir a lugar algum. Ele disse suavemente: –


Tudo bem. Continue.

– Ele diz que não atirou primeiro.

– Besteira. – Disse Rob.

Frankie olhou para Adam. – Eu acho que é besteira também.


Mas... nós não estávamos lá. – Adam admitiu.

Rob parecia indignado. Mas era a verdade. Adam e Rob não


estavam na equipe de Zeke. Eles não podiam dizer com certeza quem
havia atirado primeiro.
– Ele diz que alguém tentou matá-lo. E ele diz que não é a
primeira vez.

– Merda. – Disse Rob. Evidentemente, a besteira não podia


cobrir esse grau de mentira. – O que Zeke diz?

– Zeke foi até Portland para dar a notícia sobre Azure à sua
família. Eu vou falar com ele sobre isso quando ele voltar. Aqui está a
coisa. Eu não acho que Gibbs esteja mentindo.

– O que? – Rob parou de se apoiar na moldura da porta e se


endireitou.

– Eu não quero dizer sobre ontem. Eu não sei sobre ontem, –


Frankie disse. – Eu reconheço medo genuíno quando vejo nos olhos de
um homem, e acredito que alguém tentou matar Gibbs no passado.
Talvez não ontem, mas acho que parte do motivo pelo qual ele reagiu
do jeito que ele fez foi por causa dessas tentativas do passado.

Adam disse: – Xerife, Gibbs tem um arsenal de armas ilegais


naquela cabine dele. Ele abriu fogo contra agentes da lei, agentes
federais e civis inocentes. Ele ameaçou atirar em Rob, e eu não tenho
dúvidas de que ele teria feito tudo para atirar em mim ou em qualquer
outra pessoa em seu caminho também.

– Mas ele não atirou em ninguém. Apesar de todo aquele


tiroteio, ninguém levou um tiro. A única lesão foi uma torção no
tornozelo, e Bobby Kane desmaiou quando correu para o tronco de
uma árvore.

– Ele tem uma mira ruim. – Rob protestou. – Como isso é uma
defesa legal?
– Haskell, você vai se sentar e abrir os ouvidos? O fato é que a
equipe de busca de Zeke estava invadindo a propriedade de Gibbs.
Ninguém conversou com Gibbs, ninguém o avisou do que estava
acontecendo. Não é como se ele estivesse acompanhando os eventos
atuais. – Frankie se desviou da objeção de Rob antes que ele pudesse
expressá-la. – Eu sei. Ele não tem telefone. Isso não nega seus direitos
de propriedade. A história de Gibbs é que ele viu um homem armado
subindo a encosta e que o homem atirou nele. Agora, se alguém atirou
nele, eu não sei. Sua história é que ele estava apenas tentando assustar
seu possível atacante.

– Essa é a história mais idiota que já ouvi!

Frankie olhou para ele com uma simpatia amarga. – Eu não


estou negando que acho que Gibbs é um pouco louco. Mas eu acho que
ele está dizendo a verdade como ele sabe. Ele acredita que alguém
estava tentando pegá-lo. Tem tentado pegá-lo há anos. E ele confundiu
os esforços de busca de ontem por um ataque frontal completo.

– Anos!

Adam disse: – Por que alguém sairia para pegar Gibbs?

Havia um brilho engraçado nos olhos de Frankie. – Ele diz que


viu nosso assassino. E que o assassino sabia que ele o viu.

– Estou confuso. – Adam disse, e isso era um eufemismo. –


Como esse assassino poderia estar atrás de Gibbs por anos quando
Cynthia Joseph foi morta apenas quatro noites atrás?

– É isso. – Frankie disse. – Gibbs não está falando sobre quem


matou Cynthia. Ele está falando sobre o nosso outro assassinato.
Rob levantou a cabeça. – Que outro assassinato? Ele está
falando sobre o caminhante morto? Ou Dove Koletar?

– Não. Bem, talvez. Eu me perguntei sobre aquele primeiro.


Mas não, Gibbs está falando sobre Jordan Gaura.
Capítulo onze

―Hmm. – Isso foi tudo o que Adam disse. O que era meio
chato - assim como seu tom de voz pensativo. Como se nada disso fosse
uma grande surpresa.

Rob disse: – Como diabos muitos assassinos deveriam estar


morando localmente?

Adam disse: – O Noroeste do Pacífico produz mais do que sua


parcela de serial killers. Eu acho que é muito cedo para ter o relatório
do Médico Legista sobre Gaura?

– Você acha certo. Eles nem terminaram de escavá-lo. – Disse


Frankie. – Eu acho que não faria mal falar com ele embora. Certo?
Gibbs, isso é.

– Qual é o negócio? – Rob perguntou.

Frankie parecia em branco.

– O negócio que você quer atacar com Gibbs? Nós


abandonamos todas as acusações em troca do nome do assassino de
Gaura?

– Eu não prometi a ninguém qualquer acordo. – Disse Frankie.


– Mas você deveria considerar o fato de que é uma maneira de tirar o
seu... agente Darling e você do gancho. E talvez tenhamos algumas
informações de que precisamos.
Adam encontrou os olhos de Rob. – Eu não me importaria de
ouvir o que ele tem a dizer.

– Eu não me importo de ouvir o que ele tem a dizer. – Rob


disse. – Mas eu não sou a favor de nenhum acordo. Na minha opinião,
Gibbs é louco e precisa ser trancado. Ele é um perigo para a sociedade e
para si mesmo.

– Eu não tenho tanta certeza que um bom advogado de defesa


não poderia bater esse argumento em sua bunda. – Disse Frankie. –
Mas é sua cabeça no bloco de desbastamento. Por que você não fala
com o Gibbs e depois vê como se sente?

*****

Um café da manhã exíguo e uma noite no colchão irregular em


sua cela haviam colocado Gibbs em um estado de espírito
comunicativo. Cooperativo ou não, ele não era um espécime atraente,
mas Rob estava predisposto a não gostar de alguém que apontasse um
rifle na cara dele.

Gibbs era um homem de um metro e cinquenta e cinco, cabelos


ruivos e calvo e olhos de uma cor marrom avermelhada que lembrava a
Rob um rato branco. A semelhança do rato foi reforçada pelo hábito
nervoso de Gibbs de contrair o nariz.

– Eu realmente não vi seu rosto. – Gibbs cobriu. – Mas era Bert


Berkle. Estou certo disso.

– Bert Berkle? – Rob repetiu em descrença.


Gibbs ergueu o queixo desafiadoramente. – Está certo. Sua
linha de propriedades ao sudoeste corre ao longo da minha. Ele
costumava caçar naquele caminho.

– Sim, eu sei. – Rob disse. – E eu também sei que vocês dois


estão brigando por essa linha de propriedade nos últimos vinte anos.

Adam perguntou: – Se você não viu o rosto de Berkle, como


tem tanta certeza de que era ele?

– Ele era um homem grande, do tamanho de Berkle. Ele era um


caçador. E quando ele me viu, ele decolou pela propriedade de Berkle.

– Como diabos isso prova alguma coisa? – Rob perguntou. –


Berkle não é o único homem grande neste condado, ou o único
caçador, ou o único caçador que vagueia pelos bosques.

– Diga-nos o que você lembra do assassinato de Jordan Gaura,


Sr. Gibbs. – Adam disse.

– Oh, agora é senhor Gibbs. – Respondeu Gibbs maldosamente.


– Não pense que não vou me lembrar de você, senhor homem do
governo.

– Estamos perdendo nosso tempo. – Rob disse para Adam. –


Ele está cheio de merda.

– Eu não estou! – Gibbs disse. – Estou lhe contando o que vi.


Você simplesmente não quer acreditar, é tudo.

Sempre paciente e persistente, Adam disse: – O que


exatamente você viu?

– Bem, eu não vi tudo. – Admitiu Gibbs.


– Você está brincando. – Rob disse sarcasticamente. – Adam
lançou-lhe um olhar impaciente.

– Vá em frente. – Adam disse. – Comece do começo. Você se


lembra da data? A que horas do dia foi?

– Era noite. Eu lembro disso. Não me lembro do dia. Foi antes


do garoto desaparecer obviamente.

Rob suspirou.

Gibbs disse: – Como diabos eu deveria lembrar que dia foi? Foi
há vinte anos atrás.

– Não foi há vinte anos. Foi dezessete anos atrás. – Rob disse. –
E se você não chegar a alguma informação convincente muito rápido,
eu estou saindo por aquela porta.

Adam deu-lhe um olhar longo e nivelado.

E Rob deu-lhe um olhar longo e nivelado de volta, porque isso


era um completo desperdício de tempo, Adam percebesse ou não.

– Eu os ouvi antes de ver qualquer coisa. – Disse Gibbs. – Eu


não queria ver, porque pelos sons, eu temia que fosse um par de bichas
fazendo suas coisas. Mas então o grande homem se levantou. Ele
estava de costas para mim e estava escuro nas árvores, mas o luar
brilhava e pude ver que ele segurava uma grande faca.

Gibbs separou as mãos.

– Você pode descrever a faca? – Adam perguntou.

– Sangrenta. Eu podia ver que a lâmina estava preta de sangue.


O sangue escorria dela. Eu não vou esquecer isso.
– Que tipo de faca? – Rob perguntou com o que ele sentia ser
uma grande restrição.

– Uma daquelas facas KA-BAR31, eu acho. Ele estava respirando


pesado. Eu estava com medo de me mexer. Eu pensei que meu coração
ia explodir. Ele se abaixou e limpou a faca na grama, e então enfiou-a
no cinto.

– Você podia ver que ele estava usando cinto, mas você nunca
viu o rosto dele?

– Eu não vi o cinto dele. Eu só sabia o que ele estava fazendo. O


que mais ele estaria fazendo? Por um tempo ele estava apenas
ajoelhado respirando com dificuldade, como eu disse, e então se
levantou e empurrou e arrastou o corpo até que ele pudesse jogá-lo no
barranco. E então ele jogou a mochila da criança também. Talvez
houvesse um saco de dormir ou algo assim. Eu não me lembro agora.

– Vá em frente. – Adam disse.

– Ele ainda estava lá parado olhando para o barranco, e achei


que seria uma boa ideia sair correndo. Então comecei a recuar bem
quieto e bem devagar. Mas ele deve ter ouvido alguma coisa porque ele
se virou e estava olhando diretamente para mim. E eu estava olhando
diretamente para ele.

– Mas você não podia ver o rosto dele?

31
– Ele estava em pé nas sombras. Mas eu sei que ele me viu. E ele
sabia que eu o vi porque ele se virou e correu.

Rob disse: – Mas você não o viu. Na verdade, não.

– Eu vi o suficiente.

– Por que você não falou nada? – Adam perguntou. – Por que
você não relatou o que viu?

Gibbs riu desagradavelmente. – Você acha que alguém teria


acreditado em mim? De jeito nenhum. Eles teriam dito que eu o matei
e que eu estava tentando encobri-lo.

– Parece uma teoria viável para mim. – Rob disse.

– Veja! – Gibbs apontou para Rob. – É o que eu quero dizer.

– Mas se você acreditou que este homem o reconheceu, deve ter


percebido que sua vida estava em perigo?

– Não há muito perigo. – Rob disse. – Porque ele ainda está


aqui dezessete anos depois.

– Ele tentou me matar. – Disse Gibbs. – Mas ele tem que fazer
parecer um acidente. E eu sou inteligente. E eu tenho cuidado.

– Sim, você é um gênio. – Rob disse.

– Delegado Haskell. – Adam disse.

– Agente Darling. – Rob retrucou. – Explique-me por que esse


assassino gigante de facas não matou o sr. Gibbs no local? Ele estava
armado e ele com certeza tinha motivo. Mas ele se vira e corre. Por
quê?
– Ele não sabia se eu estava armado ou não. Eu estava armado e
estava tateando meu rifle.

Rob se virou para Adam. Adam disse: – Há mais alguma coisa


que você gostaria de acrescentar, Sr. Gibbs?

– Eu quero fazer um acordo. Eu não vou processar você e o


assistente aí se você deixar cair todas as acusações contra mim.

Rob riu. – Sem chance.

– Infelizmente, não é tão simples assim. – Adam disse. –


Primeiramente, várias agências estavam envolvidas no tiroteio de
ontem, e o tipo de acordo que você está solicitando exigiria que cada
uma delas assinasse. Isso é improvável que aconteça. Na verdade,
posso assegurar-lhe agora, isso não vai acontecer. Em segundo lugar,
independentemente de seus motivos, você abriu fogo contra civis e
policiais, o que deu ao delegado Haskell e a mim motivos razoáveis
para vasculhar sua propriedade - e então descobrimos várias armas
ilegais, incluindo um lançador de granadas.

– Eu fiz isso sozinho!

– E em terceiro lugar. – Rob interrompeu. – Sua história é total


besteira.

– O inferno é! Eu estou dizendo exatamente como foi. Bert


Berkle matou aquele caminhante, e ele matou a índia, e ele matou
aquela cadela de cabelo verde e ele está tentando me matar. E eu vou te
dizer outra coisa. Um homem tem o direito de proteger sua
propriedade. E as pessoas por aqui entendem isso. E eles também não
gostam do governo federal se intrometer onde não é desejado. Então
pense nisso antes de tentar me levar ao tribunal, Haskell.

*****

– Isso foi uma perda de tempo. – Rob disse. Eles devolveram


Gibbs - protestando em voz alta contra a violação de seus direitos civis
- à sua cela, e reportaram-se a Frankie. Ou teria relatado se Frankie
não estivesse no telefone com Doc Cooper.

– Não tenho tanta certeza. – Adam disse. – Eu acreditei em sua


história. Bem, nem tudo. A parte de onde ele se deparou com o vizinho
jogando o corpo de Gaura no barranco - isso soava genuíno.

– Isso é porque você não conhece Berkle. Ou a história entre


esses dois.

– Eu entendo que há uma disputa sobre as linhas de


propriedade.

– Disputa não é a palavra. Feudo é a palavra. A contenda de


sangue seria mais precisa.

– O que não muda o fato...

– Não, isso não muda o fato, porque não há fatos. Há uma


acusação de alguém em merda legal que tem uma pontuação para
resolver. Eu vou te contar outra coisa. Aquela coisa toda sobre pensar
que ele tropeçou em bichas fazendo suas coisas na floresta. Isso foi
destinado a mim. E talvez a você também. Com certeza não seria
destinado a Berkle.

Adam franziu a testa. – A hostilidade de Gibbs é irrelevante.

– Eu não vejo como você pode dizer que é irrelevante. É a força


motriz em sua vida. Mas tudo bem. Eu sei que temos que conversar
com Berkle. Então vamos ver o lado dele da história.

– Não vá a lugar algum ainda. – Frankie chamou.

Rob entrou em seu escritório. – Notícias?

– Temos o relatório da autópsia de Azure.

Rob ficou feliz por Zeke não estar no escritório para isso. – E?

– Ela não foi agredida sexualmente. Doc acredita que é o


mesmo assaltante. Canhoto, usando uma...

– Canhoto? – Rob interrompeu. – O assassino de Cynthia era


canhoto? Você não mencionou isso antes.

– Eu não disse? – Frankie perguntou inocentemente. – Bem,


talvez eu tenha pensado que seria uma boa ideia manter certos fatos
em segredo.

– Dos seus próprios investigadores? – Frankie tinha seu próprio


jeito de fazer as coisas, mas isso parecia excêntrico.

– Um dos meus investigadores é canhoto. – Observou Frankie.

Rob levou um momento incrédulo para encontrar sua língua. –


Zeke? Você acha que Zeke... – Ele olhou para Adam e ficou chocado ao
ver uma expressão de algo como aprovação em seu rosto.
– Shhh! – Frankie disse bruscamente. – Não há necessidade de
explodi-lo na atmosfera. O problema é que o Doc diz que Azure fez uma
luta real. Ele recuperou o que chamou de “quantidade significativa” de
evidências de DNA debaixo das unhas dela.

Adam disse: – Vai levar tempo para obter os resultados do


laboratório.

– Podemos não precisar de resultados de laboratório. – Disse


Frankie. – Doc tem certeza de que quem matou Azure vai usar um feio
arranhão por alguns dias. Então, acho que vamos realizar um concurso
de beleza local e convidar os cavalheiros do Nearby para participar.

– E se um cavalheiro não quiser participar? – Rob perguntou.

O sorriso de Frankie era frio. – Eu acharia isso muito suspeito,


não é?

– Você viu meu parceiro? – Adam perguntou quando eles


estavam saindo do escritório para dirigir até a casa de Berkle.

– Não me diga que você perdeu este também. – Rob disse.

– O agente Russell dirigiu-se a Medford. – Aggie ofereceu.

Adam verificou seu celular. – Ele não me deixou uma


mensagem. Ele disse por quê?

– Não. – O telefone tocou, Aggie amaldiçoou amargamente


todos os repórteres em todos os lugares, e estendeu a mão para ele.

– Talvez ele tenha voado de volta para Los Angeles. – Rob disse
enquanto eles caminhavam para a luz do sol. A maior parte da neve
restante havia derretido. Havia poças profundas em todos os lugares,
refletindo surpreendentemente céu azul e nuvens brancas. A manhã
parecia limpa e recém lavada. O que foi meio surpreendente, dado o
início sombrio do dia.

A noite tinha sido legal embora. Ele não pôde deixar de olhar
para Adam e sorrir.

Adam disse: – Por mais que Russell não goste dessa tarefa, ele
não iria embora sem me informar. E se ele tivesse sido chamado, eu
também teria sido chamado de volta.

– Você checou suas mensagens telefônicas? – Rob odiava a


ideia de que Adam pudesse ser chamado de volta. Mas se ele fosse
chamado de volta ou não, mais cedo ou mais tarde Adam estaria
deixando o Nearby.

De repente, o sol não parecia tão brilhante quanto alguns


segundos antes.

– Sim. Acabei de verificar minhas mensagens e verifiquei meu


e-mail hoje de manhã. Não há nada de ninguém, incluindo Russell.

– Então não se preocupe. Ele voltará.

Adam assentiu, embora claramente insatisfeito.

Eles subiram no SUV de Rob e Rob ligou o motor. – O lugar de


Constantine está a caminho de Berkle. Nós podemos parar lá no
caminho de volta, se você quiser conversar com Bill.

– Ele não tem um emprego?


– Meio período. É mais um hobby, eu diria. Mesmo que Buck
não tivesse feito fortuna no mercado imobiliário, ele se casou com
dinheiro.

– Geralmente parece funcionar assim. Eu estive pensando sobre


o garoto Watterson. Existe alguma possibilidade de que sua morte não
tenha sido um acidente?

Ele realmente tinha um jeito de soltar aquelas bombas


desagradáveis. Adam tinha uma imaginação sombria, isso era certo.
Rob disse: – Eu não penso assim. Nunca houve qualquer sugestão de
que não tenha sido um acidente.

– Como isso aconteceu?

– Há um pedregulho gigante em Blue Rock Cove. As crianças


mergulham no lago. Não importa quantas vezes você posta avisos, as
crianças sempre acreditam que são invencíveis. De qualquer forma,
Terry pulou da rocha, bateu a cabeça e se afogou.

– Ele estava sozinho quando o acidente aconteceu?

– Não. Houve testemunhas. Um monte de crianças viu isso


acontecer. Bem, eu não deveria dizer 'crianças', porque esses idiotas
eram todos da faculdade, e todos bebiam. E antes que você pergunte,
Billy Constantine e Zeke estavam entre eles. Zeke cresceu nas
proximidades. Ele e Terry eram melhores amigos.

Ele esperou que Adam fizesse a próxima pergunta - sempre


haveria uma próxima pergunta com Adam - tudo o que Adam disse foi:
– Deve ser muito mais silencioso por aqui agora que a Tiffany foi
encontrada e as equipes de busca e salvamento foram para casa.
– Sim. – Rob disse. – Agora só temos que nos livrar desses
assassinos em série, e a vida pode voltar ao normal.

Para sua surpresa, Adam lançou-lhe aquele sorriso raro e


pontudo e disse: – Mas parece-me que talvez os serial killers sejam
normais para Nearby.

– Oh, tristeza. – Rob disse, e Adam riu.

*****

Bert Berkle criava e treinava os melhores cães rastreadores no


condado. De fato, algumas pessoas disseram que ele criava os melhores
cães do estado. Rob gostava de cachorros - eles sempre tinham beagles
em casa quando ele estava crescendo - mas ele não pagaria vinte e
quatro mil dólares por nenhum cachorro. Berkle parecia ter uma vida
decente, então aparentemente havia pessoas suficientes dispostas a dar
dinheiro por um cão.

– Você não tem medo de cachorros por acaso? – Rob perguntou


enquanto estacionavam na frente da grande cabana de cedro de um
andar. A cabine era boa o suficiente. O valor da propriedade real estava
naquela vista deslumbrante à beira do lago e no cais privado. –
Alergia?

Adam ergueu as sobrancelhas. – Eu? Não, eu gosto de


cachorros.

– Bom.
Uma brisa fresca atravessou o lago e transformou a água azul
agitado com as penugens brancas quando saíram do SUV. Eles subiram
a calçada de madeira e os cachorros nos canis atrás da casa começaram
a latir. Soava como uma matilha de caça em pleno grito.

– Imagine ouvir isso à noite. – Adam observou.

– Sim. Felizmente o vizinho mais próximo está lá. – Rob


apontou para a montanha onde eles estavam procurando apenas no dia
anterior. Um helicóptero circulava lentamente a área aproximada do
complexo de Sandy Gibbs, como a imprensa estava chamando.

– Eles não estão exatamente tropeçando um no outro.

– Não, mas você conhece o velho ditado “não é grande o


suficiente para nós dois?” Bem, o condado não é grande o suficiente
para esses dois.

Eles pisaram na varanda e Rob bateu na porta de cedro.

Não houve resposta.

– Sua caminhonete está estacionada sob a garagem. Ele


provavelmente está na parte de trás. – Rob disse. – A menos que ele
esteja no lago. – Ele liderou o caminho de volta para os degraus e ao
redor do lado da cabana para os canis na parte traseira.

Ele tinha estado aqui algumas vezes - geralmente para pedir a


ajuda de Berkle quando algum campista ou caminhante se perdia.
Tudo parecia o mesmo. Filas de casas de cachorro altas e imaculadas,
várias corredores compridos e fechadas, um grande celeiro de metal,
um trailer de cachorro e uma cabine preta de caminhão semi adornado
com uma mulher nua na porta.
– Aqueles não são pastores alemães. – Observou Adam,
quando se aproximaram da casa com os cães de cor fulvo de cabelos
curtos.

– Belga Malinois32. – Rob disse. – Eles se parecem muito com


pastores.

– Eles são mais alertas e mais inteligentes do que Pastor


alemão. – Disse Berkle, saindo de uma das casas. Ele trancou o portão
atrás dele. – Melhor cachorro para busca também.

Ele era uma montanha de homem. Ombros grandes, braços


grandes, barba preta grande, grandes olhos azuis. Ele parecia
intimidante, embora Rob não conseguisse pensar em um caso em que
Berkle jamais tentara intimidar ou usar a força. Ele manteve-se
principalmente, embora fosse regular no bar do Lakehouse Restaurant
durante os meses de verão. Mas então praticamente todo mundo era
um regular, dado que era o único restaurante real em quase quarenta
quilômetros.

– Bert, este é o agente Darling do FBI. Ele está nos ajudando a


investigar o assassinato de Cynthia Joseph.

Berkle assentiu secamente para Adam. Para Rob, ele disse: –


Ouvi dizer que você encontrou a garota Joseph. Ela vai ficar bem?

32
– Esperamos que sim. – Rob disse, e a expressão severa de
Berkle pareceu aliviar.

– E você finalmente conseguiu a custódia de Sandy Gibbs?

– Bem, é sobre isso que nós queremos conversar com você. –


Rob disse. – Estivemos questionando Gibbs e ele apresenta uma
história que achamos que precisamos investigar.

– Ok. – Berkle disse cautelosamente. Ele olhou de Rob para


Adam.

Adam disse: – Você pode esclarecer a situação entre você e o


Sr. Gibbs, senhor?

As sobrancelhas negras de Berkle se juntaram. – A situação? –


Ele repetiu para Rob.

– Gibbs fez algumas alegações muito sérias. – Rob disse.

– Sobre o que?

– Sobre um incidente há vários anos. – Adam disse.

Berkle o ignorou, esperando Rob falar. Rob disse: – Gibbs está


afirmando que você matou aquele andarilho que desapareceu em 98.

O queixo de Berkle caiu. – Ele disse o que? E eu faria isso por


quê?

– Por que você acha que ele faria tal alegação, senhor? – Adam
perguntou.

Provavelmente deficiente em situações sociais, Adam. Então,


novamente, ele era um cara que usou a palavra “primeiramente” com
uma cara séria, então Rob ia dar-lhe toda a folga que ele precisava. Ele
parecia severo e sério enquanto esperava que Berkle respondesse.

– Eu vou lhe dizer por que ele inventou tal alegação. – Berkle
disse a Rob. – Ele quer minha terra. Ele está atrás da minha terra nos
últimos vinte anos. Então ele inventou essa história da carochinha
sobre algo que ele provavelmente fez sozinho.

Adam disse: – Ele afirma que você tentou matá-lo ontem.

Berkle olhou para Rob e gesticulou em direção a Adam em uma


espécie de gesto fútil “você está brincando comigo?”.

– Se você pudesse responder a pergunta, Sr. Berkle. – Rob


disse.

– Que pergunta? Ele não está me fazendo nenhuma pergunta.


Ele está me acusando de assassinato.

– Não estou acusando você de nada, senhor. – Adam disse. – É


nosso trabalho acompanhar essas alegações.

Rob fez uma nota mental para verificar o compartimento da


bateria quando ele conseguisse Adam em casa naquela noite, porque se
um cara soava como um robô...

– Eu não matei o caminhante. – Disse Berkle. – Eu não matei


ninguém.

Adam não parecia impressionado. – O que você faz para viver,


senhor?

– Como você pode ver, eu crio cachorros.


Adam indicou a cabine preta do caminhão semi estacionado ao
lado do celeiro. – Você também dirige um grande equipamento?

– Não. – Berkle respondeu relutantemente. – Eu costumava.

– Qual rota você usa para dirigir?

– Eu dirigi por todo o país.

Adam assentiu sem compromisso. – E você viveu na área…


quanto tempo?

– A minha vida inteira. Claro que mais que Sandy Gibbs,


Diabos. Eu comprei essa propriedade em 95. – Berkle disse a Rob: –
Você sabe onde eu estava ontem. Eu estava com a equipe de busca ao
sul, procurando a garota Joseph. Meus cachorros acharam o celular
dela. Meus cachorros.

– Eu sei. – Rob disse, e apesar do melhor esforço, ele sabia que


ele parecia apologético.

Sabia porque Adam deu a ele um olhar frio e crítico antes de


dizer: – Você se importa se dermos uma olhada nas instalações,
senhor?

– Sim, eu me importo! Que porra você acha que está


procurando?

Boa pergunta. Tiffany foi encontrada. Adam achava que eles


iam descobrir uma faca ensanguentada embaixo de uma das camas de
cachorro? De qualquer forma, Rob estava quase certo de que a figura
que ele tinha visto na noite anterior não era Berkle. Embora o homem
de asas estivesse em pé numa colina olhando para eles, ele não parecia
tão grande e corpulento quanto Berkle parecia agora.
Apesar do fato de que ele acreditava que Adam estava fora do
caminho - e que ele, Rob, teria que viver com essas pessoas muito
depois de Adam voltar para a cidade grande - ele se sentiu compelido a
perguntar: – Você se importaria de nos dizer onde você estava? Sábado
de manhã cerca de três horas?

– Aqui. Na cama!

– E quinta à noite?

– Na cama. Em casa.

– Alguém pode verificar isso?

O brilho de Berkle desapareceu. De repente ele riu. – Sim.


Certo. Pergunte aos cachorros. Eles vão atestar por mim. Não, melhor
ainda, fale com o meu advogado, idiota!

Ele empurrou através deles, caminhando em direção à casa.

Rob olhou para Adam, que estava massageando distraidamente


o ombro e olhando para Berkle.

– Isso com certeza poderia ter sido melhor. – Rob não pôde
deixar de dizer.

– Tudo correu bem.

– Tudo bem?

Adam lançou-lhe um olhar rápido e surpreso. – Sim.

– Vamos, Adam. Você sabe tão bem quanto eu que Berkle não
foi quem vimos naquela colina na noite passada. Você pode imaginá-lo
se vestindo como um pássaro gigante?

– Não.
– Não. Nós apenas irritamos o melhor rastreador no condado. E
para quê? Isso foi uma completa perda de tempo.

– Não, não foi.

Rob olhou para ele. – Como você vê isso?

Adam encontrou seu olhar, olhos verdes brilhando com


convicção. – Ele é nosso cara, Rob.
Capítulo Doze

Rob preservou um formidável silêncio todo o caminho de volta


para o SUV.

Mas uma vez que eles estavam dentro do veículo e fora do


alcance da escuta, ele disse - claramente exercendo autocontrole. –
Você quer me explicar porque você acha que Berkle, que não tem sido
nada além de útil para a investigação, é nosso cara, mas Gibbs “Quem
tentou nos matar e todos os outros naquela montanha ontem”, é de
alguma forma uma testemunha confiável contra ele?

– Ele está mentindo. Tudo fora de sua boca era uma mentira.

– Mesmo que isso fosse verdade, e eu não tenho certeza de


como você acha que poderia saber, baseado em cinco minutos de
conversa, você já concordou que não era Berkle na noite passada. E se
há algum maluco correndo por aí vestida como um corvo que não está
envolvido nesses assassinatos...

– Eu não estou falando sobre os assassinatos de Cynthia Joseph


ou Azure. Eu estou falando sobre o assassinato de Gaura.

– O assassinato de Gaura é um caso frio.

– Sim. Dois - três - assassinatos diferentes. Dois casos


diferentes, Adam disse. – Na verdade, acho que o assassinato de
Koletar pode estar ligado ao assassinato de Gaura.
Rob olhou para ele. – Você acha que estamos lidando com dois
serial killers.

– Sim.

– Adam, você é provavelmente a minha pessoa favorita no


mundo, então não leve isso a mal. Você é louco.

O que foi louco foi que ele até registrou o comentário sobre a
pessoa favorita no mundo. Adam disse pacientemente: – Você mesmo
sugeriu a mesma coisa não faz muito tempo.

– Eu estava brincando!

– Não, você não estava.

Rob franziu o cenho para ele. – Ok, de acordo com Gibbs, quem
você parece pensar ser uma testemunha tão confiável, Berkle é
responsável por todos os assassinatos.

– Gibbs é um idiota. – Adam disse sucintamente. – Eu não acho


que ele seja uma testemunha confiável. Eu acredito que ele nos deu um
relato razoavelmente precisa de sua própria experiência pessoal na
floresta naquela noite.

– Dezessete anos atrás!

– Ninguém esqueceria uma experiência como essa.

Rob sacudiu a cabeça. – Dois serial killers?

– Tecnicamente, tem que haver mais de dois assassinatos para


se qualificar para o assassinato em série. – Disse Adam. – Mas acho
que o Corvo está apenas começando. Berkle... ele está lá fora há algum
tempo, e seus bosques - ou o lago - podem esconder mais corpos do
que você imagina.

Rob fez uma careta. – Não o chame de 'o Corvo'. – Ele disse. –
Não dê a ele um maldito nome. Imagine se algum repórter se apossar
disso!

– Desculpa.

Eles ficaram em silêncio, ouvindo os cães latindo nos canis


atrás da casa.

– Isso não é apenas um palpite. – Adam disse. – É uma questão


de logística. Olhe para este lugar. Não há ninguém por milhas ao redor.
Ele podia fazer qualquer coisa para qualquer um e ninguém veria ou
ouviria. Além disso, Berkle tem um trabalho que lhe permite rondar
áreas remotas do campo, inquestionáveis. E se eles questionarem? Ele
está treinando cães de rastreamento. – Ele tentou reprimir o pequeno
arrepio que o próximo pensamento lhe causou. – Cães de caça.

– Você não pode pensar...

– Eu não sei, Rob. Eu sei que ele tem um grande trailer fechado
para transportar esses cães ao redor. Ele pode dirigir em estradas
rurais puxando essa coisa atrás de si e, novamente, ninguém faria
perguntas. E antes disso, ele era um caminhoneiro. A nação inteira
poderia ter sido o seu terreno de caça. Por que não dizer qual era o seu
caminho?

– Ele fez!

– Todo o país não é uma resposta real. Ele não queria dizer. Por
quê?
Rob franziu a testa, olhando pela janela, os dedos tamborilando
no volante. – Berkle não gosta de você. Isso pode ser muito do que você
pegou.

– Eu sei que ele não gosta de mim. – Adam respondeu.


Lembrou-se de Berkle desde a primeira noite em que chegou a Nearby,
em outubro. Entrou no restaurante Lakehouse, olhou diretamente para
Berkle, e Berkle olhou de volta para ele e virou as costas. Como se ele
soubesse exatamente quem e o que Adam era. – Ninguém gosta do
FBI. Há mais do que isso.

– Ele tem a idade certa para o assassinato de Koletar, eu acho.


Mas então, a metade da população de Nearby também. Que diabos
seria o motivo dele?

– Satisfação psicológica de algum tipo. Seja o que for, isso não


fará sentido para nós. Talvez ele roube suas vítimas. Talvez ele seja um
matador de luxúria

– Gaura e Koletar eram homens.

– E os homens nunca sentem desejo por outros homens?

O olhar de indignação de Rob teria sido divertido em outras


circunstâncias. – Bert Berkle não é gay!

– Existe uma Sra. Berkle?

– Não. Não há ninguém, homem ou mulher, na vida de Berkle.


Eu te disse, ele é um solitário.

– Essa incapacidade de formar relações é um indicador clássico.


Rob, eu não posso te dizer por que alguém como Berkle se transforma
em assassino. Abuso infantil? Talvez ele tenha um cromossomo extra.
Talvez ele tenha um parafuso solto. Quem sabe? Provavelmente nunca
encontraremos o que o desencadeou, embora tenha que haver algum
tipo de gatilho.

Rob deu outra daquelas exalações exasperadas.

– Nós o pegamos desprevenido. – Adam disse. – Ele nunca


esperou cair em suspeita, muito menos ser questionado. Isso não vai
acontecer novamente. E, a propósito, isso é outro indicador - o quão
rápido ele ameaçou com o advogado.

– Ele não estava com medo. Ele estava com raiva.

– Ele ficou ofendido. – O sorriso de Adam foi cáustico. – Nós


espetamos o ego dele. Todo esse tempo ele tem pensado que ele era tão
esperto, tão esperto, enganando a todos. E então chegamos e ele
percebe que não é tão inteligente quanto pensava.

Rob murmurou: – Vou te contar uma coisa. Estamos sentados


aqui conversando no jardim da frente por tempo suficiente. – Ele ligou
o motor do SUV e eles se aproximaram e voltaram devagar pela
estrada.

– Precisamos aprender tudo o que pudermos sobre Berkle. –


Disse Adam. – Incluindo sua antiga rota de condução de caminhões.

Rob sacudiu a cabeça, mas não discutiu.

*****
A casa de Constantine parecia como se alguém houvesse pego
uma mansão antebellum 33 e a jogado no meio da floresta. Uma
estrutura branca grande e imponente, com colunas altas, varandas
amplas e enormes janelas, a casa parecia estranha, quase grotesca em
seu cenário de pinheiros e montanhas nevadas.

Mas então o que você poderia esperar de um cara que usava


camurça com franjas em público?

– É muita casa. – Comentou Adam, fechando o paletó contra o


vento frio que soprava das montanhas.

– Sim, é. – Rob disse. – Buck construiu para Mary. Ela só


morou lá por alguns anos. – Ele fez uma careta. – Câncer. Foi bem
difícil para os garotos.

– Buck também, imagino?

– Certo. Claro. – Rob olhou para Adam, considerando isso. –


Faça-me um favor e tente ser mais diplomático com os Constantine do
que com Berkle, ok? Eu gosto do meu trabalho. Eu quero manter isso.

Adam disse calmamente: – É uma investigação de assassinato,


Rob. Chegar à verdade nem sempre é discreto.

Talvez tenha sido a brisa fria que trouxe rosa para as bochechas
de Rob. Talvez tenha sido outra coisa. Ele disse: – Isso é verdade. No

33
entanto, esta ainda é minha - nossa - investigação. Você está aqui em
uma capacidade de suporte, lembra? Então, eu decidirei quando e se
não estamos bem.

Isso foi mordaz o suficiente. Adam assentiu. Rob assentiu de


volta. Eles subiram os largos degraus brancos em silêncio. Rob tocou a
campainha.

Depois de um momento ou dois, as portas duplas se abriram


silenciosamente. Adam esperava um mordomo de libré ou, pelo menos,
uma empregada doméstica. Mas Buck Constantine estava diante deles,
vestido com uma jaqueta azul e calças de couro. Ele não estava
fumando. Ele carregava o que parecia ser um copo de martini. E isso
parecia incongruente com os cenários montanhoso e antebellum.

– Rob. – A surpresa de Buck era evidente. Ele olhou para Adam.


– E… desculpe, eu esqueci o seu nome.

– Este é o agente Darling. – Disse Rob. – Podemos entrar,


Buck?

– Claro. – Buck se afastou, gesticulando para eles entrarem. –


Nós ouvimos que a garota Joseph foi encontrada. Como ela está? Ela
foi questionada?

– Ela está passando por tratamento médico agora. – Rob disse.


– Esperamos questioná-la em breve.

– Eu só posso imaginar o que aquela pobre garota passou. Nós


podemos conversar na biblioteca. – Buck liderou o caminho através de
um salão ridiculamente grande - piso de mármore, teto alto com
painéis decorativos, molduras de gesso e três retratos de família em
tamanho natural - para um estúdio formal. Ou, de acordo com Buck,
sua biblioteca, embora não houvesse nenhum livro até onde Adam
pudesse ver.

O estúdio era decorado em madeira escura e veludo verde.


Pinturas sombrias de nativos americanos adornavam as paredes,
embora Adam achasse que a maioria das pinturas mostrava as tribos
dos índios das Planícies e da Floresta Oriental, e não os povos
indígenas do sul do Oregon.

– Posso pegar alguma coisa para vocês beberem? Café? Chá?


Algo mais forte? – Ele ergueu o copo de martini. – Eu não costumo
começar a beber tão cedo, mas tem sido uma semana estressante para
todos nós.

– Não, obrigado. – Rob disse. – Bill está em casa?

Buck ergueu as sobrancelhas prateadas.– Billy? Não por que?

– Temos algumas perguntas de rotina para fazer, só isso.

Adam disse: – Sr. Constantine, você sabia da relação entre seu


filho e Tiffany Joseph?

Embora ele sentisse a irritação no olhar de Rob, o foco de


Adam estava em Buck enquanto ele tentava interpretar aquelas
miríades de microexpressões fugazes. Não era surpresa. Não tinha
medo. Sem raiva ... alguma coisa. Nojo? Desprezo? Uma emoção forte e
definida, que foi instantaneamente suprimida.

– Não. Eu não sabia. Porque não há uma.

Rob tirou o olhar do perfil de Adam e voltou sua atenção para


Buck. – Você tem certeza sobre isso? Nós temos razão para acreditar...
– Absolutamente não. – Buck disse. – Não houve
relacionamento. Ela é uma criança, Billy é um homem.

– Um jovem homem. E ela é uma garota bonita. Ele costumava


ensiná-la em biologia. – Apontou Rob.

– Ele ensinou metade dos adolescentes em Nearby. Isso não


significa que alguma vez houve algo inapropriado acontecendo.

O tom de Buck era casual, até mesmo engraçado, como se a


ideia fosse totalmente ridícula. Certamente o primeiro e mais provável
problema que Cynthia Joseph teria com qualquer ligação romântica
entre a filha e Bill seria que ele era muito velho.

Uma garota de dezessete anos concordaria? Adam pensou em


Bridget. Nem todas as vítimas estavam dispostas.

– Não, claro que não. – Rob estava dizendo.

– Billy é um gênio quando se trata de ciência. Eu não sei de


onde ele tirou isso. Não de mim, não de sua mãe. Dan nunca
demonstrou interesse em ciência.

– Eu sei. – Rob disse. – Eu me lembro quando ele ganhou essa


bolsa para a Oregon Health and Science34.

– Exatamente. Ele gosta desse tipo de coisa. Explicações. Ele


teria feito um bom professor.

– Bill tem uma namorada? – Adam perguntou.

Ao mesmo tempo, Rob sugeriu: – Mas talvez Tiffany tivesse


uma queda por Bill?

34 Universidade de Saúde e Ciência de Oregon.


– Não. – Buck disse, e Adam não tinha certeza se estava
respondendo a Rob ou a si mesmo.

Recuou com a mensagem no duro olhar castanho de Rob. Ele


estava extrapolando? Sim, provavelmente. Essa era a mistura difícil de
pessoal e profissional. Tão fácil e descontraído quanto Rob era
enquanto trabalhava, ele ainda era um policial, e um bom, e ele não
precisava ou queria que Adam tentasse fazer o seu trabalho para ele.

Adam ofereceu um olhar de desculpas e engoliu sua próxima


pergunta. Rob disse: – Quando você está esperando Bill em casa?

– Ele não trabalha em horários regulares. Ele entra quando eles


precisam dele.

– Certo. Você vai deixá-lo saber que gostaríamos de falar com


ele quando ele tiver um momento?

Buck assentiu. Ele parecia infeliz e cauteloso.

– Vamos nos ver. – Rob disse.

Rob bateu com força na porta do SUV e disse: – Que parte


desta é a minha investigação que você não entendeu, Darling?

– Concordo. Eu fui com excesso de zelo. – Adam disse.

– Isso é grande de você. – Rob enfiou a chave na ignição. O


motor rugiu em vida irritável.

Rob parecia estranhamente chateado. Mesmo assim, Adam não


pôde deixar de perguntar: – Qual é o grande segredo em relação a Bill
Constantine?

Rob franziu a testa. – Do que você está falando?


– É óbvio que há alguma coisa acontecendo, alguma informação
que você está ciente, mas ninguém discute abertamente. Uma bolsa de
estudos que ele aparentemente não utilizou, uma carreira esperada que
ele não seguiu, um trabalho de meio período que ninguém quer falar.

Rob ficou olhando. – Jesus. Estou começando a pensar que


você é um maldito robô.

A profundidade de sua raiva desconcertou Adam, perturbou-o


um pouco. Ele não podia ver a razão para isso.

Rob disse: – Essa é a diferença entre o modo como as políticas


do governo e a maneira como as pessoas reais se policiam. Eu moro
aqui. Eu me preocupo com essas pessoas. Eles são meus vizinhos e
meus amigos. Ao contrário de você, não consigo fazer as malas e sair
quando tudo acabar. Eu tenho que ficar aqui. Viver com sua dor e suas
perdas. E eu não quero acrescentar nada a isso, se não for preciso. Você
pode entender isso?

– Claro que eu entendo isso.

– Não precisamos atropelar todos sob nossas botas.

– Saltos…

– Nós não temos que marchar como se fosse lei marcial e tratar
a todos como um suspeito.

Adam abriu a boca e Rob interrompeu: – E mesmo que todos


sejam suspeitos, uma coisa que sei, mesmo que não seja do FBI, é que
você pega mais moscas com mel do que com vinagre.

Picado, Adam disse: – Isso é ótimo se você está tentando pegar


moscas. Estamos tentando pegar um assassino.
– Engraçado. – Os olhos de Rob estavam frios. – Vou lhe contar
qual é o grande segredo de Bill Constantine. Depois que sua mãe
morreu, ele teve um colapso. Ou seja qual for o termo médico
adequado para isso. Ele abandonou a faculdade, perdeu a bolsa de
estudos e foi hospitalizado por um tempo. E agora ele está trabalhando
em um trabalho de merda, porque a alternativa é ficar em casa o dia
todo assistindo seu velho acabar com uma garrafa. Ok? Eu sei que você
estava esperando por algo muito mais profundo e sombrio. O garoto
tem problemas, e a maioria das pessoas sente muito por ele. A maioria
das pessoas tem o fato de que todos nós temos nossas fraquezas,
nossas vulnerabilidades. – Rob estava olhando quando terminou: –
Não podemos todos ser agentes especiais bem sucedidos do governo!

Adam não teve uma resposta. Não era verdade. Ele tinha uma
resposta. Ele era a última pessoa a julgar alguém como Bill. Ele não
tivera um colapso após o caso de Conway, mas estava próximo, e por
um tempo ele estivera tomando Xanax como balas de menta e vendo o
conselheiro do departamento regularmente. Então sim, ele entendia
tudo sobre fraqueza e vulnerabilidade.

Mas ele não podia explicar isso para Rob, não quando Rob
estava olhando para ele com aquela mistura de desprezo e desgosto.
Além disso, claramente não se tratava apenas de Bill Constantine, e
como ele não podia dizer a Rob o que ele queria ouvir... talvez fosse
preferível ser considerado um robô frio do que alguém com medo de
ter uma chance de estar errado. Em se machucar.

Adam fez uma careta. – Peço desculpas. Eu sei que eu


ultrapassei.
– Você fez. Sim. E a próxima entrevista que conduzirei será sem
você.

Isso doeu ainda mais do que o resto, e Adam não teve uma
resposta.

Rob deve ter sentido que ele ganhou a rodada porque, sem
outra palavra, ele colocou o SUV em marcha e eles começaram a voltar
para a cidade.

Adam havia se acostumado com a costumeira simpatia de Rob,


e o silêncio fazia com que o caminho fosse duas vezes mais longo. Ele
quase pediu desculpas novamente. Mas não era realmente um pedido
de desculpas que Rob estava procurando. Ou talvez fosse. Rob fez
questão de dizer como nunca lhe faltou companhia, do quanto gostava
de estar em campo. Talvez ele estivesse apenas procurando que Adam
rastejasse. Nesse caso, ele poderia continuar procurando. Ponto
tomado. Vá em frente.

Eles ainda não estavam falando quando chegaram ao escritório


do xerife. Adam viu seu carro alugado estacionado na frente, então
Russell retornou de sua misteriosa viagem a Medford. Ótimo.

Enquanto caminhavam pelas portas da frente, Aggie olhou para


cima e disse baixinho: – Problema. – Ela parecia estar falando com
Adam.

– Já era hora de vocês dois voltarem para casa. – Frankie


chamou. – Venha e diga olá. Nós temos companhia.
Através da porta do escritório de Frankie, Adam podia ver parte
do rosto de Russell. Ele estava sorrindo para alguém do outro lado da
sala, e os nervos de Adam se apertaram ainda mais.

O que diabos estava acontecendo?

Ele se endireitou mentalmente, passou pela porta e encontrou a


pequena sala cheia de jaquetas do FBI azuis e douradas. Russell estava
sentado na cadeira habitual de Rob na frente da mesa de Frankie. Um
homem grande e loiro, um estranho para Adam, mas imediatamente
reconhecível como o agente responsável, estava ocupando uma boa
parte do local. E uma mulher - Jonnie - estava sentada na outra
cadeira, de frente para Frankie.

O prazer instintivo de Adam ao ver Jonnie foi encoberto pela


percepção de que algo estava muito errado - confirmado pelo breve e
perturbado sorriso de saudação de Jonnie.

– Olha o que eu tenho. – Frankie disse naquele mesmo tom de


jovialidade forçada. – Peço ao FBI uma pequena ajuda e, antes que
perceba, tenho metade dos avaliadores de perfil de Quantico ocupando
todas as cadeiras do meu escritório. – Ela apontou para Rob. – Esse é o
meu segundo no comando, Robert Haskell. E eu acho que você já
conhece o agente especial Darling.

– Não. – O homem loiro disse. – Eu não conheço o agente


Darling. Eu já ouvi falar dele. – E claramente foi tudo mal. Seu sorriso
era de alguma forma mais alarmante do que as caretas de outras
pessoas.
Jonnie disse: – Adam, este é o chefe da unidade, Sam Kennedy.
– Ela não tossiu quando disse Chefe da Unidade, mas as palavras
pareciam ficar na garganta.

E não é de admirar. Sam Kennedy era uma lenda. O tipo de


lenda que os Agentes Especiais Responsáveis contavam aos pequenos
subordinados que não comiam vegetais. O próprio bicho-papão da
Repartição.

Ele também era BAU35, o que era confuso. O que Jonnie estava
fazendo com o BAU? O que Jonnie estava fazendo aqui?

Kennedy estava vestido casualmente: um suéter volumoso sob


a jaqueta azul e dourada do FBI. Não importava. Ele era uma das
poucas pessoas no mundo que você poderia tentar e tentar imaginar nu
e ainda assim não iria difundir a ameaça.

– Senhor. Adam disse.

– Agente. – Kennedy disse. Seus olhos azuis pareciam lascas de


gelo. – Eu entendo que você está tentando, sozinho, executar uma
investigação sobre um serial killer.

O que…?

Adam olhou para Russell. Russell ergueu as sobrancelhas como


se fosse uma pergunta educada.

– Não. Esse não é o caso. – Ele podia sentir o olhar de Rob, e


seu rosto ardia quando ele se perguntou de repente se era o caso. Se era
a opinião geral da xerife que ele ultrapassou os limites. Certamente foi

35 Unidade de Análise Comportamental.


a opinião de Rob meia hora atrás - e ninguém estava falando em nome
dele agora.

Kennedy disse: – Xerife McLellan, você tem um escritório onde


eu possa falar com o agente Darling em particular?

Os olhos de Frankie encontraram os de Adam. Ela parecia com


pena dele. – Você pode usar nossa sala de interrogatório. Terceira
porta da sala principal.

Adam se virou. Ele não podia olhar para Rob. Ele saiu do
escritório de Frankie e caminhou até a sala onde ele e Rob haviam
interrogado Gibbs naquela manhã - foi só naquela manhã? - ouvindo
os passos medidos dos pés de Kennedy atrás dele.

Ele sentiu... bem, principalmente ele apenas se sentiu


entorpecido. Oco. Ele não podia acreditar que isso estava acontecendo.
Ele sabia, com absoluta certeza, que estava prestes a ser demitido e,
embora pudesse ver que havia cometido uma série de equívocos -
começando por não perceber que Russell era um inimigo sério -, ainda
não conseguia entender como ele chegara nessa posição.

Sua boca estava seca, havia um bloco de gelo em sua barriga e


ele estava desesperadamente com medo de parecer que ia chorar. Ele
não ia chorar. Ele não iria mostrar nada se pudesse evitar.

A porta da sala de interrogatório fechou. Kennedy disse: – Se


você tem algo a dizer por si mesmo, agente, agora seria a hora.

Adam se virou para encará-lo. Ele se forçou a soar nítido e sem


emoção. – Agente Gould e eu estivemos aqui em outubro na patrulha
do necrotério para o Roadside Rip.
– Eu já sei tudo isso de Gould. – Kennedy interrompeu. – Eu
quero saber o que diabos você pensa que está fazendo usurpando a
autoridade de um escritório do xerife local e assumindo a investigação
de assassinato deles?

– Eu não fiz tal coisa. Estamos aqui para ajudar a xerife


McLellan a pedido dela.

– Você está aqui. – Disse Kennedy. – Seu parceiro tem tentado,


sem sucesso, envolver o escritório regional para que vocês dois possam
retornar aos seus próprios trabalhos e responsabilidades. E você tem
recusado constantemente. Verdade?

Adam engoliu em seco. – Não completamente.

Kennedy riu. Não foi um som agradável. – Por curiosidade,


qual parte disso não é verdade?

– Só estamos aqui há noventa e seis horas. Não é como se...

– E noventa e seis horas repletas de ação. Houve vários esforços


de busca e resgate, um segundo assassinato, um tiroteio com um
terrorista doméstico, e agora você começou a interrogar suspeitos em
casos de homicídio.

– Senhor...

– Já que você gosta muito de policiamento local, agente


Darling, sugiro que se candidate a um cargo no escritório do xerife nas
proximidades.

Boom. Feito. Corte rápido e limpo da cabeça do corpo. Ele mal


sentiu isso.
Ele olhou para Kennedy. Kennedy olhou para trás, com o rosto
duro e implacável. Ele parecia estar esperando por algo.

Oh. Certo. O distintivo e a arma de Adam. E provavelmente seu


laptop também, parando para pensar nisso. Ele não conseguia se fazer
alcançar sua identidade. Ele estava com medo que sua mão pudesse
tremer. Mas não foi só isso. Ele havia trabalhado toda a sua vida - o
Bureau era toda a sua vida...

Kennedy levantou uma sobrancelha. Um bastardo gelado até o


fim. Ele espalhou suas mãos. – Nada? – Ele perguntou. – É isso aí?
Essa é a extensão do que você tem a dizer por si mesmo?

Adam olhou sem compreender. Espere. Não acabou?

Ele disse: – Eu não fui voluntário para vir até aqui. A xerife
McLellan pediu nossa ajuda, e é isso que estou tentando fornecer. É um
pequeno escritório, eles têm recursos limitados e, sim, eu fiz tudo que
me pediram para fazer. Eu pensei que era por isso que eu estava aqui.

– Mesmo? O agente Russell acredita que você está aqui porque


você formou uma... amizade com o delegado Haskell. De fato, suas
palavras foram tornou-se um nativo.

Russell estava prestando mais atenção do que Adam percebeu.

Ele disse: – Eu não sei o que significa tornar-se um nativo.

– Percebo que você não está negando que você e Haskell têm
um relacionamento fora do seu profissional.

Quando Adam olhou nos olhos de Kennedy, percebeu algo


totalmente inesperado. Inesperado, mas possivelmente encorajador.
Kennedy era gay. E ele suspeitava que parte da antipatia de Russell por
Adam se devia à orientação de Adam. Era o único ponto em que Adam
tinha a simpatia de Kennedy - mas era uma grande.

– Haskell e eu não tivemos um relacionamento antes de vir para


cá. E eu não sei se nossa amizade durará além desta tarefa. Não foi por
isso que desencorajei Russell a abandonar esse caso e retornar a Los
Angeles. Desde o início, o caso era mais complicado do que parecia.
Agora estou convencido de que é verdade.

Kennedy voltou a parecer entediado e impaciente. – Sim. Sim.


Você acha que descobriu um serial killer. Dois assassinatos, uma
tentativa de encenação do corpo, e todo mundo acha que eles têm um
serial killer em suas mãos.

Adam disse educadamente: – Na verdade, senhor, acho que


podemos ter dois serial killers em nossas mãos.

Os olhos de Kennedy se estreitaram. Ele estudou Adam.

– Tudo bem. – Ele disse finalmente. – Vamos ouvir isso.


Comece do começo. E seja bom.
Capítulo Treze

– Você é um merda – Rob disse a Russell.

Russell ficou vermelho e começou a protestar. Frankie disse em


alerta: – Robbie.

Rob a ignorou. – Saia da minha cadeira. – Ele disse.

Russell obedeceu, irritado, e Rob sentou na cadeira. Ele esticou


as pernas, recostou-se e olhou para a agente Gould. – De volta de sua
aposentadoria antecipada, entendi?

– Ei. – Disse Gould. – Eu estou do lado de Adam.

– Oh, isso é legal! – Russell disse.

Gould não parecia impressionada. – Ninguém gosta de um


traidor, JJ.

– Então, estamos claros, não estou tomando partido. – Disse


Frankie a Russell. – Mas você não tem sido uma grande ajuda. Eles
podem mandar você para casa com minha bênção.

Russell fez um som incrédulo, em algum lugar entre um estalo


e um hmpf. – Bem. Eu não sabia que estava sentado com o fã-clube de
Darling. Eu vou esperar lá fora.

– Faça isso. – Rob disse. – Na verdade, tente o meio da rua.

Gould bufou. O olhar de Frankie estava desaprovando. Rob não


se importou de qualquer maneira. Ele estava preocupado com Adam -
quando ele saiu do escritório, parecia que ele havia recebido uma
sentença de morte - e estava doente com o pensamento de que Adam
poderia estar voltando para casa esta tarde. Era cedo demais. Muito
cedo. Eles ainda precisavam de sua ajuda. Eles precisavam dele.

Rob precisava dele.

Ficou ali imóvel, zangado, ferido, enquanto Frankie e Gould


conversavam. Ele não tinha ideia sobre o que.

Finalmente, ele voltou a ouvir Gould perguntar: – A garota


ainda está sedada?

– Falei com o médico logo antes de você chegar. Ele disse que
ela pode não ser de muita ajuda, mesmo quando ela estiver de pé e se
movendo novamente. Ela pode não lembrar de nada.

– Transtorno de Estresse Pós-Traumático. – Disse Gould com


sabedoria. – Isso é ruim. Ela é sua melhor testemunha.

– Sim. Pobre garota.

– Ela tem outra família?

– Há uma tia do lado de seu pai.

A porta da sala de interrogatório ainda estava fechada. Rob


olhou para o relógio. Quinze minutos e contando.

Frankie e Gould continuaram conversando. Rob continuou a


ouvir o silêncio da sala onde Adam estava. Não completamente
silencioso. Ele podia ouvir o murmúrio de vozes. Eles não estavam
exaltados, então isso era algo.

– Começaremos às nove da manhã de amanhã. – Disse


Frankie. – Acabamos de notificar todos os nossos moradores. Até agora
todos foram muito cooperativos. Pelo menos no telefone. Vamos ver
quem aparece quando o exame começar.

– Se isso fosse LA, você seria esbofeteada com um processo de


direitos civis antes da primeira camiseta cair. – Disse Gould.

– Mas não é LA. – O sorriso de Frankie foi presunçoso. – E


qualquer um que se recuse a jogar terá alguma explicação para fazer.

– Você não pode forçar as pessoas a participar disso. – Rob a


avisou.

– Não, não posso. – Seu sorriso desapareceu com a


aproximação de passos. – Zeke. Como foi?

Zeke parou na porta. Ele parecia abatido, os olhos vermelhos


como se ele não tivesse dormido em dias, seu cabelo normalmente
penteado, amarrotado. Ele olhou para Gould sem interesse ou
curiosidade. Rob suspeitava que ele nem mesmo a visse.

– Como você pensava. Eu não podia nem dizer a eles quando


nós poderemos liberar o corpo dela para que eles possam enterrá-la.

– Eu sei. – Frankie disse simpaticamente. – É uma coisa


terrível. Terrível.

Zeke disse: – Vou tirar o resto do dia, tudo bem, Frankie? Eu


não vou ser de qualquer utilidade para ninguém hoje. Eu estou batido.
Eu não dormi desde... – Ele parou.

– Claro, claro. – Frankie disse. – Você vai para casa e descanse


um pouco. Nos vemos amanhã de manhã. Vamos dizer nove horas?
– Sim. Tanto faz. – Zeke afastou-se da moldura da porta como
se precisasse de um impulso extra para se manter de pé. Ele partiu sem
falar com Aggie, que deu um boa noite simpático atrás dele - apesar do
fato de que eram apenas duas e meia da tarde.

– Agora não fique olhando para mim. – Frankie disse à Rob.

– Nove horas? – Rob repetiu. – Então ele não saberá com


antecedência que você planeja examinar todos os homens da cidade?

– Que tipo de xerife eu seria se eu tivesse favoritismos com meu


próprio departamento?

– Você quer que eu tire minha camisa? – Rob perguntou. – Eu


ficarei feliz em... Inferno, não precisa esperar. Eu vou despir agora.

Frankie estava sem vergonha. – Isso não seria um tratamento


especial para a agente Gould e eu? Mas não, eu sei que você não matou
ninguém, Robbie. Até agora. O que significa que eu acho que gosto de
favoritismo algumas vezes. – Ela piscou.

Rob sacudiu a cabeça e levantou-se. Ele estava muito inquieto


para ficar ali por mais tempo esperando ouvir o que iria acontecer com
Adam. Não era como se ele não soubesse em breve.

Ele foi até o escritório, sentou-se à escrivaninha e começou a


separar a correspondência. Não que ele normalmente recebesse muitos
e-mails. O que ele conseguiu, começou a se acumular nos últimos dias.

Havia alguns folhetos para cursos de treinamento, um catálogo


de armas, uma– denúncia anônima sobre um cachorro latindo de
alguém que tinha esquecido que estava sendo anônimo e usou seu
próprio endereço de retorno, e um grande envelope marrom como
aqueles usados para correspondência e documentos legais. O endereço
vacilante no canto superior esquerdo dizia M. Koletar.

Os ânimos de Rob saltaram e ele abriu o pacote. Algumas fotos


caíram no desktop. Nada mais. Ele balançou o envelope, verificou
dentro. Não havia nota.

Ele pegou a primeira foto. Era de um menino de dezoito ou


dezenove anos. Ele era magro e usava um daqueles cortes de cabelo
planos, do tipo infantil. Tipo legal de uma maneira desalinhada. Ele
parecia estar mostrando a tatuagem em seu peito magro. Para os olhos
de Rob, a tatuagem parecia amadora, caseira. Consistia em duas
figuras. A figura da direita parecia um triângulo no final de uma vara.
Talvez devesse ser uma flor? A figura da esquerda parecia uma cruz
com triângulos presos às três barras superiores. Então, talvez um
símbolo religioso? Ou uma árvore?

Ou apenas o esforço de alguém que não conseguia desenhar


muito bem?

O garoto, presumivelmente Dove, sorria com um dente lascado


e insolente para a câmera. Era o rosto de alguém que a vida chutou nos
dentes mais de uma vez - mas que ainda esperava que essa bota fosse
diferente.

Estudando essa confiança juvenil e descabida, Rob sentiu uma


pontada de tristeza. Ele pegou a segunda foto. Dois garotos, braços em
volta do pescoço um do outro, numa camaradagem casual e pateta. Um
menino era Dove. O outro…

Ele era familiar?


Rob franziu a testa e virou a foto.

Dove e Buck. Agosto de 1983.

Rob assobiou silenciosamente. Buck? Agora isso era um


choque. Ele nunca havia percebido que Buck Constantine era outra
coisa senão cem por cento odiosamente heterossexual.

E é claro que um abraço não significava que esses dois tinham


sido nada além de amigos.

Exceto... Rob virou a foto para trás, estudando o rosto de Buck.


Havia algo em suas expressões. Uma felicidade corajosa e hesitante?

Rob franziu a testa, segurando a fotografia em direção à luz.


Trinta anos foi muito tempo e Buck não se parecia em nada com o
garoto que ele fora uma vez. Ele ainda usava o cabelo no mesmo
comprimento. Naquela época, tinha sido mais escuro e mais grosso. O
rosto da foto era mais redondo, mais macio. O corpo era
surpreendentemente encorpado. Muscular.

Alguém bateu na moldura da porta. Rob olhou para cima para


ver Adam em pé em seu escritório.

– Ei. – Ele deixou cair a foto, levantou-se e depois se perguntou


o que planejava fazer. O que ele queria fazer era abraçar Adam, mas
Adam era... Adam. E eles não estavam realmente em uma base de
abraçar no local de trabalho. Rob estava infelizmente consciente
daquela discussão estúpida no caminho de volta do lugar de
Constantine. Por que ele estava tão bravo? Ele até chamou Adam de
robô.
Adam não era um robô, e ele parecia preocupantemente
cansado, esgotado. Aplainado. Como se alguém ou algo tivesse sugado
toda a vida e energia dele.

– Você está…? – Rob estava com medo de terminar a pergunta.

Adam deu um sorriso torto. – Não. Eu ainda estou empregado.

– Bem, inferno. Claro! – Rob disse, como se todos não


estivessem pensando que a cabeça de Adam estava no bloco de corte.

– Eu acho que eu posso até ter um ganho um tapinha nas costas


de Kennedy por colocar as peças juntas de Gaura.

– Sem trocadilhos?

Por que ele disse isso? Por que ele sempre teve que fazer uma
piada idiota? E era pior com Adam. Ele estava sempre bancando o tolo
em torno de Adam.

Adam pareceu surpreso e deu uma risada fraca. – De qualquer


forma, Russell e eu estamos voando de volta para Los Angeles amanhã
de manhã. Então eu queria dizer adeus.

– Adeus? – Rob repetiu, como se nunca tivesse ouvido a palavra


antes. Não como se ele não soubesse que estava vindo. Mas ainda
parecia um choque, a surpresa horrível de alcançar a escuridão e tocar
um fio elétrico.

E Adam não disse nada. Como se também não soubesse o que


fazer.

– Então é isso? – Rob disse.


Adam respirou fundo. – Não. Eu também queria me desculpar
novamente. Eu sei que provavelmente... cruzei algumas linhas. Me
desculpe se eu pareço insensível.

– Você estava bem. – Rob disse rapidamente. – Eu só estava…


eu não sei. Sentindo-me desorientado.

Adam deu outra daquelas risadas indiferentes. – Sim,


provavelmente não. Mas a BAU ofereceu toda a sua ajuda e recursos
para Frankie. Kennedy é uma lenda no Bureau, a situação aqui tem seu
interesse, então você vai ter um apoio sério agora.

– Ótimo. – Feliz, feliz, alegria Alegria. Mais federais. Só que


desta vez nenhum deles seria Adam.

– Assim. De qualquer forma. – Adam esticou a mão como se de


repente se lembrasse de que isso fazia parte do ritual.

Eles apertaram. Rob ficou surpreso ao perceber que os dedos


de Adam estavam gelados.

– Ei, espere um minuto. – Rob disse, ainda segurando a mão de


Adam.

Adam esperou, sua expressão quase cautelosa.

– E o jantar?

– E isso?

– Você está preso com eles a noite toda, ou você está livre para o
jantar?
Adam libertou a mão dele. – O jantar não foi discutido. – Ele
disse. – Acho que é seguro assumir que não estamos todos nos
espremendo no Marina Grill.

– Bom. Então jante comigo. É a sua última noite aqui, vamos


passar isso juntos.

A expressão de Adam se iluminou. Então seu prazer


desapareceu. – Eu teria gostado disso, mas acredito que você está
trabalhando hoje à noite. – Ele disse a Rob. – É assim que soa para
mim.

– Eu tenho algumas coisas para terminar, sim. – Rob disse. –


Mas Frankie está apostando tudo na sessão de “venha e mostre” de
amanhã. Se Kennedy pensa que está nos pagando horas extras para se
sentar e pensar em casos frios, ele está em choque. De qualquer forma,
eu estou batido. Meu turno começou às quatro e trinta e cinco desta
manhã. Eu estou tendo uma noite cedo. – Ele acrescentou
corajosamente: – Com você.

Adam fez aquela coisa trêmula e desconcertante com seus cílios


antes de encontrar o olhar de Rob diretamente. Seu sorriso foi triste. –
Se você acha que pode manejar isso, então sim. Eu gostaria de jantar.

Rob sorriu. – Eu posso manejar isto. Eu vou buscá-lo no


acampamento e podemos passar a noite na minha casa. A que horas é o
seu voo?

Adam parecia apologético. – Oito.

Rob não se importaria se fossem seis. Ou quatro. Ele se sentiu


alegre novamente e cheio de otimismo. – Não se preocupe, eu vou te
levar de volta ao acampamento com tempo de sobra. Ele foi tentado a
se inclinar para frente e beijar Adam. Isso provavelmente seria
empurrar as coisas. Ele sabia que Adam ainda estava parcialmente
sintonizado com o som de Kennedy e Gould falando no corredor do
escritório de Frankie.

– Eu vou te ver às cinco. – Rob prometeu. – Não se atrase.

– Er, você está me pegando. Lembra?

– Verdade. – Rob sorriu. – É um encontro, Darling.

Às dez para quatro, Rob percebeu que Bill Constantine nunca


tinha aparecido na estação ou telefonado. Sabendo o que ele sabia
agora sobre Buck - ou pelo menos o que ele suspeitava saber -, sentia
ainda mais urgência em falar com Bill.

Nas últimas horas ele estava lendo suas anotações sobre o caso.
Principalmente, ele se concentrou no possível papel de Zeke, porque
achava as suspeitas de Frankie perturbadoras. Mas quanto mais ele
olhava os relatórios de homicídios sobre Cynthia e Azure, mais positivo
ele estava de que Frankie estava enganada em suas suspeitas.

Zeke era um idiota e provavelmente o que costumavam chamar


de porco chauvinista, mas Rob nunca tinha visto qualquer indicação de
que ele fosse violento contra as mulheres. Na verdade, era irritante o
modo como suas numerosas ex-namoradas continuavam a andar na
esperança de reconquistá-lo. A única garota que já teve a supremacia
com ele era Azure, e eles tinham estado separados por anos. Era difícil
acreditar que, depois de todo esse tempo, Zeke de repente fosse para o
fundo do poço e a matasse.

Certamente não havia motivo para ele matar Cynthia Joseph,


muito menos de um jeito tão horripilante. E a noção de um roubo a um
museu que deu errado não se encaixava porque Zeke não estava
particularmente necessitado por dinheiro, e mesmo se tivesse sido,
provavelmente teria vendido uma de suas motos, algo que ele sempre
estava falando sobre fazer.

Inicialmente, Rob desconfiara do fato de que Zeke já havia


trabalhado no museu. Até que ele percebeu que naquela época haveria
mais turistas visitando Nearby, e Zeke teria visto isso como uma boa
maneira de conhecer garotas. Se reunir com meninas sempre teria sido
- e continuava a ser - uma prioridade para Zeke.

A única coisa que incomodava Rob era a ideia de Adam de que


talvez houvera mais na morte de Terry Watterson. Mas ele havia
procurado o antigo relatório de acidentes de Terry Watterson, e não
havia mistério sobre isso. Watterson saltou da rocha, bateu a cabeça e,
infelizmente, ninguém percebeu que estava em apuros até que fosse
tarde demais.

Pode até ser a razão pela qual Zeke não bebia. E considerando o
quanto ele era antipático, isso era provavelmente uma coisa boa.

Quanto à ideia de Zeke se vestir como um corvo gigante - ou


seja lá o que diabos esse traje deveria ter sido - não. De jeito nenhum.
Zeke consideraria isso totalmente embaraçoso. Nunca em um milhão
de anos Zeke se vestiria como o gêmeo malvado de Big Bird - e tão
assustador quanto aquele momento em que Rob olhara para cima e
vira aquela... coisa olhando para ele - era assim que Zeke o via. Gêmeo
do mal do Big Bird. Ele praticamente podia ouvi-lo agora. Zeke
pensaria que isso era ridículo.

Então não. Frankie poderia hospedar sua festa de peitos nu


amanhã. Zeke não estaria caindo em sua rede.

Quem quer que tenha feito isso possuía um tipo de cérebro


completamente diferente.

E não apenas de Zeke. De praticamente todo mundo. Este era


um indivíduo seriamente perturbado, e teria que haver outros sinais.
Haveria uma história. Um padrão.

É por isso que ele tinha problemas com a teoria de Adam sobre
Bert Berkle.

Berkle era outro que ele não conseguia imaginar vestindo um


traje de penas e pulando pela floresta.

Até onde ele podia ver, o único motivo real para suspeitar de
Berkle era que ele tinha oportunidade e não gostava do FBI.

Ok, e testemunho ocular.

Mas testemunho ocular de uma fonte altamente não confiável.

Adam tinha tanta certeza embora.

Essa certeza foi convincente. Mas isso provavelmente se deveu


mais à força da personalidade de Adam do que a sólida evidência
contra Berkle.
Berkle nunca demonstrou interesse suficiente em seus
companheiros humanos, então parecia improvável que ele se
incomodasse em matá-los.

Rob pegou a foto de Dove Koletar e Buck Constantine,


estudando-a à toa. As pessoas mudavam muito em trinta anos...

Esta era outra peça do quebra-cabeça que não fazia sentido.


Não que ele não pudesse usá-la para montar um cenário viável para o
assassinato.

O único garoto gay da cidade acabou não sendo o único garoto


gay. Buck o matara para manter sua vida dupla em segredo.

Exceto por que matar Dove depois que ele decidiu deixar
Nearby? Sua saída não significaria que o problema fora resolvido?

Ah. Mas e se Dove não estivesse saindo? E se Buck o tivesse


assassinado e escrito o bilhete para fazer parecer... Não. Isso estava
ficando complicado demais. Esse era o território daqueles programas
de TV sobre assassinatos em casinhas bonitinhas onde as caixas de
flores eram regadas com o sangue dos habitantes locais.

Não. Dove estava saindo. Então, por que matá-lo? Por que
matá-lo então?

Porque o assassino não queria que ele fosse?

Rob considerou o assassinato de Dove deste novo ângulo.

Ok. Talvez. Exceto que era difícil imaginar Buck Constantine


tão apaixonado, tão desesperado que cometesse assassinato. Ele nunca
havia parecido particularmente emotivo para Rob.
Ele também nunca lhe pareceu particularmente gay.

Não que Rob fosse um grande crente em gaydar. Sim, às vezes a


sexualidade era óbvia e às vezes não tão óbvia, mas você ainda sabia. E
às vezes você não tinha ideia. Mas Buck... Rob estaria disposto a
apostar dinheiro que não havia um osso gay - ou tesão - no corpo de
Buck.

E ainda aqui estava a prova.

Frankie bateu na porta entreaberta. – Pegue seu casaco.


Estamos levando o FBI para jantar. Eles acham que temos dois serial
killers em nossas mãos e querem conversar sobre os casos.

– Não eu. – Rob disse. – Eu tenho planos.

– Robbie, você é meu segundo em comando. Eu quero você lá


esta noite. Esses caras já acham que somos um bando de idiotas bobos.
Nós precisamos impressionar

Rob olhou por cima do ombro dela e gritou: – Noite, Agente


Kennedy!

Frankie deu um pulo, virou-se para ver o corredor vazio e


voltou-se para Rob. Sua expressão era azeda. – Droga, Haskell.

Rob sorriu. Ele não estava brincando, quando ele disse: – Estou
acordado desde quatro e trinta e cinco anos no serviço, xerife. Vou falar
com Bill Constantine e depois vou tirar o resto da noite. Então coloque
isso no seu cachimbo e fume, Frankie.

Ela olhou com raiva para ele. Ele a encontrou com calma.
– Eu suponho que você acha que eu não vou saber o que você
vai levantar esta noite?

– Agora você está me fazendo corar. – Rob disse. – Minha mãe


costumava bater primeiro.

Quando Frankie começou a tremer, ofereceu-lhe a foto de Dove


e Buck. – Esse parece com Buck Constantine para você?

Frankie tirou a foto. Franzindo a testa, ela examinou. Seus


olhos se arregalaram. – Onde você conseguiu isso?

– A mãe de Dove Koletar mandou para mim.

– Onde ela conseguiria isto?

Rob encolheu os ombros. – Nenhuma ideia. É Constantino?

– De jeito nenhum. – Frankie encontrou seus olhos. Ela parecia


espantada. – Este é Buck Berkle.

– Buck Berkle? Você quer dizer Bert Berkle?

Frankie assentiu. Ela estava olhando para a foto novamente. –


Meu Deus. – Ela murmurou. – Então eu acho que era verdade.

– Bert Berkle, que rastreia os caminhantes desaparecidos para


nós? Aquele Bert Berkle?

Outro aceno ausente de Frankie.

– Então por que diabos diz Buck no verso dessa foto? – Rob
exigiu.

– É assim que nós o chamávamos. Esse era o apelido dele na


escola. Buck Berkle. Ele era o capitão do time de futebol.
– Berkle foi? Bem, por que ninguém o chama de Buck agora? –
Rob questionou. Ele se sentiu ofendido por essa informação vital ter
sido ocultada.

– Por que ninguém me chama de Peaches36? – Frankie replicou.


– Ninguém mantém o apelido de colegial.

– Uh… verdade. Ainda. Eu não posso acreditar que esse é


Berkle. – Embora, quando Rob tirou a foto de Frankie, ele teve que
admitir que o garoto com Dove se parecia mais com Berkle do que com
Constantine. Ele nunca tinha visto Berkle sem barba antes. Isso foi o
que inicialmente o havia confundido. – Você está dizendo que ele era o
capitão do time de futebol? Isso não parece Berkle.

– Ele era diferente naquela época. Bem, mais ou menos. Ele


sempre foi meio solitário, mas não como ele é agora. Fora um garoto
cujos pais lhe deram uma surra em todas as oportunidades. Aquela
mãe dele era uma peixeira.

O que quer que isso significasse. – Então Berkle foi - é - gay? –


Isso foi um choque. Embora, pensando nisso, ele podia acreditar mais
facilmente em Berkle do que em Constantine.

– Eu... havia rumores sobre ele. – Frankie disse. – Ninguém


acreditou neles. Mas eu não posso acreditar - porque, ele costumava
intimidar Dove. Ele costumava empurrá-lo ao redor. Eu o vi empurrá-
lo uma vez.

Quando ela olhou para cima, seus olhos estavam assustados. –


Todo esse tempo. – Ela sussurrou.

36 Pêssego.
Capítulo Quatorze

Adam estava se barbeando quando ouviu a batida na porta da


cabana.

Ele largou a navalha - estava quase tudo arrumado para o voo


de volta para casa, então não precisaria desperdiçar nem um minuto da
manhã com Rob - e abriu a porta.

Jonnie estava na varanda da frente. Seu sorriso era hesitante.


Desvaneceu-se com a expressão de Adam.

Ele se virou e ela o seguiu para dentro.

– Adam…

– Quando você ia me contar? – Ele perguntou por cima do


ombro. Ele encolheu os ombros em uma camisa limpa.

– Espere um minuto. – Jonnie disse. – Se você acha que isso foi


algo que eu tenho guardado de você, você está errado. Kennedy falou
comigo sobre ingressar na BAU não muito depois de termos sido
parceiros. Eu recusei. Eu gostava de trabalhar com você e estava saindo
depois do casamento.

– Por que você não me disse que Kennedy se aproximou de


você?

– Qual teria sido o objetivo?

Ele franziu a testa. – Eu acho isso óbvio.


– Eu estava recusando um trabalho para o qual ambos sabemos
que você daria um olho. E teria me incomodado muito saber que fui
convidada para participar do time de Kennedy e você não.

Adam corou. – Eu ficaria feliz por você. Você não acredita


nisso?

– Sim, você teria. E você teria insistido em que eu tomasse a


posição também. E eu não queria isso. Eu estava feliz onde eu estava.

– Patrulha de necrotério?

– Oh, vamos lá, Adam. – Jonnie parecia irritada. – Gostei de


trabalhar com você. E eu gosto de morar no sul da Califórnia e Chris
também. Nenhuma dessas coisas influenciaria sua decisão, mas elas
influenciaram a minha. E eu planejei me demitir de qualquer maneira.

Ele terminou de fazer os botões da camisa. – Mas aqui está


você.

– Sim. – Ela respirou fundo. – Verdade. Porque quando chegou


a hora, eu não estava pronta para ficar em casa o dia todo e não
conseguia pensar em nada que eu achasse tão satisfatório ou
desafiador quanto trabalhar para o Bureau. E aconteceu que Kennedy
ainda tinha uma posição em seu time. Mas o decisivo foi que Chris está
sendo transferido para Quantico. Então isso fazia sentido por vários
motivos. Ela disse mais calma, mas ainda sinceramente: – Eu ia contar
a você quando voltasse. Eu não tinha ideia de que iríamos acabar
trabalhando no mesmo caso.

– Não estaremos. Russell e eu estamos sendo mandados para


casa amanhã.
Jonnie mordeu o lábio. – Eu sei. É tudo culpa do Russell. Se
Sam mantivesse você, ele teria que manter Russell, e ele odeia
delatores. – Ela acrescentou com um toque malicioso: – Esse é o lado
positivo. Russell tinha tanta certeza de que seria convidado a ficar.
Você deveria ter visto o rosto dele quando Sam disse que não era
necessário.

Adam imaginou isso e sorriu com relutância.

Observando-o, Jonnie disse: – Sam é difícil de ler, mas acho


que ele está impressionado com o quanto você levou esse caso sozinho.

– Ele deve ser bom em esconder seus sentimentos então. E não


foi sozinho. Eu não teria chegado a lugar algum sem o Haskell.

– Sim, delegado adjunto Haskell. – Murmurou Jonnie. Ela


sorriu para ele e Adam cedeu e sorriu de volta, embora com relutância.
– Eu tinha a sensação de que havia mais coisas lá do que bam-bam-
obrigado-madame.

– É assim que você e Chris chamam isso?

Ela riu. – Para o registro, eu amo ser casada. Eu acho que todo
mundo deveria se casar.

– O maior número de vezes possível.

Ela riu novamente. – Você acha que...?

– Não. – Adam disse. – Relacionamentos de longa distância não


funcionam. E nenhum de nós está em posição de se mudar.

– Você falou sobre isso?

– Claro que não.


Ela ergueu as sobrancelhas delicadamente arqueadas. – Você
não acha que vale a pena discutir?

– Só nos conhecemos há alguns dias.

– Chris sabia o dia em que nos conhecemos. Eu sabia… bem,


demorei um pouco mais. – Ela checou seu telefone. – Eu tenho que ir.
Estamos jantando com o McLellan. Mas estamos bem?

Adam assentiu.

Ela andou até ele e beijou sua bochecha. – Nós conversaremos


depois, ok?

– Claro.

Ela hesitou no limiar. – Noite, Adam.

– Boa noite.

Quando a porta se fechou atrás dela, ele teve um pensamento


desagradável. Ele foi até a janela e ficou observando sua figura alta e
pálida caminhando de volta pelas árvores. Ele esperou até vê-la entrar
em sua cabana e fechar a porta.

Ele relaxou e voltou para o banheiro, onde ele espirrou a loção


pós-barba que Rob parecia gostar tanto.

Foi legal Jonnie tentar amenizar a decepção de ser mandado


para casa no meio de um caso que ele havia trabalhado do zero.

Ele tinha certeza de que ela estava errada sobre Kennedy estar
impressionada embora. Pelo menos de qualquer maneira favorável.

– Deixe-me ver se entendi a situação corretamente. – Dissera


Kennedy, quando Adam terminou de explicar suas razões para
acreditar que não apenas um, mas dois possíveis assassinos em série
estavam trabalhando em uma pequena e remota comunidade de
resorts. – Você foi originalmente trazido para investigar a possibilidade
de um John Doe pertencer ao Roadside Ripper. Você estava tentando
verificar ou descartar a inclusão dessa vítima no caso que o Grupo de
Trabalho do Estripador está tentando construir?

– Correto.

– E você descartou o John Doe?

Adam hesitou. Kennedy não gostou da hesitação.

– Sim ou não?

– Nós o descartamos. – Adam disse.

Kennedy olhou para ele por um longo momento.


Inesperadamente, ele sorriu. Bem não. Aquela expressão sombria de
sua boca não podia ser chamada de sorriso. Ele continuou a observar
Adam como se ele fosse um espécime em uma lâmina de microscópio.
– Mas?

– Eu pensei que era altamente improvável. – Disse Adam. – A


evidência física não sustentava nenhuma outra conclusão. E um
intervalo de trinta anos entre os assassinatos... Ele balançou a cabeça.

– Você achava que havia uma pequena possibilidade de que


isso fosse uma morte de origem. – Kennedy falou com uma satisfação
estranha e inquietante.

– Eu… – Adam realmente não tinha ideia de como responder


isso. Isso certamente passou pela sua cabeça, mas ele acreditava - e
continuava acreditando - que a teoria era exagerada.
Dito isto, todo serial killer teve que começar em algum lugar. E
a primeira vítima era especial por vários motivos. Ou porque o
predador o conhecia pessoalmente ou porque o predador o observou e
perseguiu por um período de tempo. A primeira vítima era muitas
vezes a mais significativa e importante para o assassino. Os
assassinatos subsequentes foram frequentemente uma tentativa de
reencenar o primeiro.

Você nunca esquecia o seu primeiro.

– Não há provas suficientes para apoiar essa teoria. – Disse


Adam.

– Mas é nisso que você acredita em particular.

– Suspeito. – Adam disse. – Não há provas suficientes para


apoiar a crença.

Kennedy assentiu pensativo. Ele disse finalmente, como se


entregasse um julgamento final e ressentido. – Você é cauteloso, mas
tem excelentes instintos.

Talvez fosse um elogio, e Adam apreciava Jonnie dizendo que


ele provavelmente teria sido mantido, se não fosse por Russell. Isso
não mudou o fato de que ele não estava sendo mantido.

Uma coisa sobre a qual Jonnie estava errada: ele nunca quis
investigar serial killers. Ele teria assumido o emprego BAU se tivesse
sido oferecido a ele, mas ele teria tomado qualquer trabalho para sair
da patrulha do necrotério e voltar para uma investigação real. Era
irônico que ele tivesse desembarcado no meio de duas investigações de
assassinato em série, e ele teria gostado de ver esses casos gêmeos até o
fim. Mas ele também ficaria feliz em nunca mais ouvir as palavras
“serial killer”.

Ele colocou sua navalha e a garrafa de loção pós-barba em sua


bolsa, enfiou a bolsa na mochila. Rob deveria estar aparecendo a
qualquer momento.

Assim que o pensamento se formou, houve uma batida rápida e


amigável na porta da cabine. Ele foi atender.

Seu celular tocou. Alto. Imperativo. O dever chama.

Ele abriu a porta e o céu caiu.

*****

A dor o empurrou de volta à consciência.

Não a batida de uma cabeça que parecia pronta para se dividir


em duas, embora também houvesse isso, tornando mais difícil pensar,
entender.

Isso era muito pior. Um corte vivo e brilhante de seus ombros


até o comprimento de seus braços. Tanta dor que o confundiu, entrou
em pânico. A luta piorou muito, e ele teve que parar, acalmar-se, tentar
resolver o que havia acontecido, o que ainda estava acontecendo.

Ele estava nu. Humilhante. Fechado na escuridão.


Aterrorizante.
Ele estava com frio. Congelando. Uma ausência de luz próxima
e sufocante. Um vazio frígido e arejado que cheirava a serragem.
Produtos químicos. Animais. Animais antigos e novos. Cães

Sim, ele podia ouvir cachorros latindo por perto.

Canis. Berkle

Ele estava no celeiro na casa de Berkle. O pânico inundou-o.


Adam começou a lutar de novo, e a dor que queimava através de seus
braços e ombros expandiu-se horrivelmente. Ele gritou.

Não. Pare. Pense. Respire.

Enquanto você estiver respirando, você ainda está bem.

Ou talvez não. Mas ele ainda estava vivo. Adam parou de se


debater, forçou-se a respirar fundo, a fazer um balanço. Seus pulsos
estavam firmemente amarrados, braços erguidos acima de sua cabeça.
Suas mãos pareciam entorpecidas. Isso era falta de circulação, e era
uma má notícia. Seus braços pareciam pesados. Seus ombros doíam. A
dor diminuiu quando ele ficou na ponta dos pés - e ficou agonizante
quando ele abaixou os calcanhares. O que ele tinha que fazer, porque
ninguém poderia ficar na ponta dos pés para sempre.

Lágrimas picaram seus olhos e ele piscou ferozmente. Ele se


afogaria se não fosse cuidadoso. Apenas continue respirando.
Pensando.

Berkle tinha que saber que ele não poderia se dar bem com
isso. Ele sabia disso, certo? Ele não podia ser arrogante o suficiente
para pensar que poderia sequestrar um agente do FBI, com
impunidade.
A escuridão não era absoluta. Era cinzenta nas bordas e havia
linhas fracas de amarelo como se as luzes brilhassem do lado de fora do
celeiro. Essa seria a entrada principal.

Ele fez um giro cuidadoso. Havia outro esboço fraco de luz do


outro lado do celeiro. Outro possível ponto de saída, se ele tivesse a
chance.

Ele teve que abaixar os calcanhares novamente, respirando


soluçando enquanto os músculos de seus ombros e braços estavam
apertados.

Onde estava Berkle? Quanto tempo ele tinha antes de Berkle


voltar? Isso era até onde ele deixou seus pensamentos correrem. Se ele
pudesse libertar as mãos...

Seus dedos pareciam salsichas. Ele tentou mexer neles, sentir


ao longo do… nylon... plástico… zip ties cortando seus pulsos. Liso.
Escorregadio. Arestas duras. Abraçadeiras? Zip ties? Ele não conseguia
imaginá-los, muito menos descobrir como desfazê-los.

Tinha que haver alguma maneira embora...

Respire.

Pense.

Os cachorros latiram mais alto. Uma voz profunda falou com


eles. Passos moíam o cascalho. Ele ouviu o deslizamento metálico de
um parafuso, o estrépito da armação de metal e o som estridente da
porta do celeiro sendo aberta.

Ele levantou as solas de seus pés novamente, dando a seus


braços um pouquinho de alívio. Através do borrão de lágrimas, ele
podia ver parte da lua, os cantos e cercas reluzentes das gaiolas de
cachorros, e uma silhueta negra que parecia preencher o quadrado da
porta.

A porta do celeiro se fechou novamente com um estrépito que


soou como o trovão que seguiu um relâmpago.

Adam manteve o olhar fixo na escuridão, esperando que ele se


separasse. Passos lentos e deliberados se aproximaram, e ele
reconheceu que Berkle sabia exatamente o efeito que isso causara em
sua vítima, que havia aperfeiçoado sua técnica ao longo do tempo.

– Eu acho que eu acertei um nervo. – Adam disse.

Sem resposta. O cabelo arrepiou em sua nuca. O silêncio


aumentou a incerteza e a incerteza acrescentada ao medo da vítima.
Não que Adam estivesse incerto. Ele sabia o que ia acontecer com ele.
Salvo um milagre, ele seria morto. Horrivelmente.

Porque ele não tinha ilusões - não estava distraído com a falsa
esperança de que, se cooperasse, não lutasse, pudesse ser poupado -
ficaria livre para pensar em como garantir que Berkle não escapasse. Se
ele morresse esta noite, ele queria ter certeza de que ele era a última
vítima de Berkle.

Caberia a Rob, e Adam tinha fé em Rob. Tinha fé no que Rob


sentia por ele. Ele podia reconhecer isso agora. Foi um conforto. Talvez
fosse uma loucura, mas saber o quanto Rob se importaria se não
conseguisse, tornava mais fácil encarar o fato de que ele provavelmente
não conseguiria.
Ele lamentou que ele não tivesse deixado Rob saber, tinha
resistido em admitir até para si mesmo, que ele sentia o mesmo.

Ele tinha que se certificar de que ele deu a Rob o que ele
precisaria para fazer terminar o caso. Se ele pudesse marcar Berkle de
alguma forma, machucá-lo... porque se Berkle não aparecesse amanhã
para o concurso de beleza de Frankie, isso iria atrair uma atenção
indesejada para ele. Foi idiota de Berkle deixar as pernas de Adam
livres. Ele ia aproveitar ao máximo isso.

E Rob teria toda a ajuda de que precisava, porque Sam


Kennedy acreditava em Adam e até reconhecia que ele poderia estar no
caminho certo.

Ele estava mentalmente preparado, mas o ataque que saiu da


escuridão ainda passara por sua guarda. Ele tinha que continuar
girando, dançando com as pontas dos pés e, com os braços amarrados,
sua mobilidade era limitada. Berkle se lançou para frente e houve uma
chama quente nas costelas de Adam. Ele gritou e chutou - e ele chutou
com força. Seu pé tinha conectado, mas era com a metade inferior da
anatomia de Berkle. Pessoalmente satisfatório, mas não para o que
Adam estava querendo.

Ele ouviu a respiração de Berkle. – Você fodido. – Berkle disse.


Ele chegou a Adam novamente, cortando indiscriminadamente, com
paciência e violência que Adam ousou revidar. Adam atacou
novamente, e a lâmina cortou seu tornozelo e canela.

Ele gritou. Mas ele conseguiu esse chute também, embora sem
a força que queria. Ele pensou - esperou - ele bateu no peito de Berkle,
mas talvez não forte o suficiente para deixar uma contusão. – Má ideia.
– Ele engasgou.

Realmente, foi. Berkle não estava acostumado a ninguém


revidar. Esse foi o seu erro.

O problema era que mesmo esse esforço havia desgastado


Adam. Ele estava tonto e cansado - perdendo sangue provavelmente ou
talvez em choque. Ou ambos. O corte em suas costelas ardia como um
filho da puta. Seus braços pareciam que estavam sendo arrancados.
Suas mãos estavam latejando como um pedaços de carne. Seus pés
estavam machucados e doloridos quando ele tropeçou na
circunferência em miniatura de sua prisão.

Ele tinha que ter tempo para recuperar o fôlego. Ele engasgou:
– Me fale sobre isso. Você deve querer conversar.

Nada.

– Todos esses anos e ninguém sabendo o quão inteligente você


é? Não os policiais. Não os federais. Claro que você quer conversar.

Ele podia ouvir a respiração de Berkle. Mais perto do que ele


pensara. Isso enviou um arrepio por sua espinha.

– Me fale sobre o primeiro. Me fale sobre Dove.

Isso teve uma resposta.

Berkle rosnou: – Seu pedaço de merda. Você acha que pode


falar comigo sobre Dove? Você?

Desta vez, Adam pegou o brilho da lâmina arqueando-se em


direção a ele. Instintivamente, ele levantou-se e virou-se - e fez a
descoberta de que suas mãos estavam presas em algum tipo de gancho.
Um gancho de carne? Os laços que prendiam seus pulsos deslizaram e
se esticaram contra o metal. Não o suficiente para partir, infelizmente.

Ele continuou chutando, ferozmente, indiscriminadamente, e


pensou que ele roçou o rosto de Berkle, pensou ter sentido a maciez
eriçada de sua barba. Ele sentiu Berkle se afastar novamente, dar
espaço a ele.

Por que ele não acendeu a luz? Por que eles estavam fazendo
isso no escuro? O que Berkle não queria ver? Ele gostava desse jeito?
Ou foi o fato de que Adam estava lutando para tirá-lo de seu caminho?

– Se você se sentia assim, por que você o matou? – Adam


esticou as pontas dos dedos, tentando sentir o contorno do gancho. Aço
curvo. Sim, era um gancho, e isso significava que, pelo menos em
teoria, ele poderia levantar as mãos sobre o final. Ele precisava pegar
um pouco de elevação, alguma elevação. – Dove era apenas uma
criança. Você o esfaqueou bem no coração.

– Não diga o nome dele!

– Dove. – Adam gritou. – Dove Koletar.

– Deus maldito. Eu precisei. Eu tive que fazer. – Berkle gemeu.


– Ele sabia como era, ele sabia disso.

Ele se aproximou como uma lâmina de colheitadeira, tirando o


braço da escuridão, cortando de um lado para o outro.

Desta vez Adam estava pronto. Desta vez, em vez de chutar


Berkle de volta, ele o usou como trampolim. Seu pé direito pousou na
coxa de Berkle e ele saltou o mais alto que pôde, esticando os braços
para a frente.

Para seu alívio atônito e extático, ele passou a ponta do gancho


e caiu no chão empoeirado do celeiro. No instante seguinte, ele se
levantou e foi para a porta. Seus braços pareciam troncos mortos e seu
equilíbrio estava desligado, mas a esperança desesperada lhe dava
jatos.

Ele caiu contra a porta, com os dedos pesados procurando a


tranca.

Berkle, depois de um instante incrédulo, estava bem atrás dele


quando os dedos escorregadios de Adam deslizaram o ferrolho. Ele se
abaixou e Berkle atingiu a porta de metal com tanta força que a lâmina
de sua faca a perfurou. Adam abriu a porta, por uma fração de
segundo, levando a faca de Berkle com ela.

Adam correu do celeiro, correu pela fileira de gaiolas altas - os


cães estavam enlouquecendo - quando Berkle soltou a faca e foi atrás
dele.

Corra.

Mas enquanto seus pés descalços batiam no chão congelado, ele


estava trabalhando na logística e percebendo que nunca iria conseguir.
Ferido, machucado, com os braços amarrados na frente dele e jogando-
o para fora, ele era muito lento.

Muito devagar…

E se Berkle soltasse os cachorros? E se Berkle tivesse um rifle?

Não. Não pense sobre isso.


Ele continuou correndo, continuou tropeçando bêbado, mal
sentindo as pedras e o gelo cortando seus pés. Quando avistou as luzes
vermelhas e azuis rodopiando na escuridão, subindo a colina e
correndo em direção a eles pela estrada vazia, ele pensou estar
alucinando.

Ele correu na direção deles, na direção da estrada. – Ei! – Ele


gritou sem fôlego para as palavras serem transportadas.

Tão longe. Eles estavam tão longe...

Berkle, por outro lado, estava logo atrás. Ele não era rápido,
mas era rápido o suficiente, dadas as numerosas desvantagens de
Adam.

Adam continuou cambaleando.

As luzes dispararam em direção a eles, agora perto o suficiente


para Adam distinguir dois ou mais veículos, um SUV na frente,
correndo em sua direção. Colocou uma explosão final de velocidade,
tropeçando no pequeno aterro e alcançando a larga estrada rural. Ele
levantou as mãos em súplica. Ele não tinha mais fôlego para gritar.

Uma mão dura cavou em seu ombro, girando-o ao redor,


jogando-o no chão. Adam bateu na calçada. Ele bateu o fôlego fora
dele. Atordoando-o. Ele podia sentir o gosto do seu próprio sangue e da
neve suja. A noite estava viva com som. Sua própria respiração
ofegante - e também a de Berkle – freios, gritos para parar, vozes... Ele
podia sentir o cheiro de borracha queimada e a fumaça de cachimbo
nas roupas de Berkle. Até aquele momento, ele sempre gostou do
cheiro de tabaco para cachimbo. Cerca de um centímetro do nariz havia
uma rachadura no asfalto da estrada. Através daquela pequena fissura
- descolorada de cor ao luar - crescia uma flor silvestre.

– Largue sua arma. – A voz era profunda, feroz. Familiar. Não


era familiar. Rob?

Uma mão fechou no cabelo de Adam, arrastando-o para cima.


Ele estremeceu contra a dor, meio cego pelo clarão dos faróis, as barras
vermelhas e azuis halogênicas piscando. Sim, Rob, posicionado atrás
da porta aberta do seu SUV, arma virada na direção de Adam. Em
Berkle, quem estava usando Adam como escudo.

Não que Berkle planejasse ir embora. Sua estratégia de saída


seria infligir tanta dor e dano quanto possível por qualquer meio
disponível.

– Berkle. – Rob disse: – Último. Aviso.

– Diga adeus. – Berkle disse a Adam. Ele parecia calmo,


relaxado.

Adam fechou os olhos. A noite de inverno explodiu em


disparos.
Capítulo quinze

– Espero que você esteja brincando. – Disse Adam.

Ele estava encostado em um monte de travesseiros na cama de


Rob. Ferido, machucado, enfaixado - e ainda a coisa mais linda que
Rob já tinha visto.

Não era um bom paciente embora. Isso com certeza.

– Eu não vejo como você acha que vai usar um garfo. – Rob
indicou as mãos ainda vermelhas e inchadas de Adam.

– Você está certo como o inferno que não é me alimentando.

Era terça-feira à tarde. Adam havia sido liberado do Klamath


Falls Medical Center apenas algumas horas antes. Ele começou o dia
sendo entrevistado pela polícia local e pelo FBI sobre os eventos da
noite anterior. Ele dera um relato tranquilo e preciso, e talvez ele
estivesse tão calmo quanto parecia.

Isso fazia um, deles.

Rob não dormira em quarenta e oito horas. Ele não tinha


certeza se algum dia relaxaria o suficiente para dormir novamente. Na
noite anterior, ele passou sentado ao lado da cama do hospital de
Adam observando cada aumento lento e tranquilo do peito de Adam.
Mesmo que não tivesse medo de deixar o lado de Adam... não
conseguia fechar os olhos sem se ver esvaziando a pistola em Bert
Berkle.
Berkle não lhe dera uma escolha. Não havia dúvida de que ele
teria matado Adam, e quando ele falhou, não havia dúvida de que ele
esperava que Rob e a xerife matassem Adam por ele. Rob não se
arrependeu de sua escolha. Ele nunca esqueceria o horror de ver Adam
tropeçar na noite, encharcado de sangue - ou a visão de Berkle
perseguindo-o, sem pressa e intencional, com a faca na mão e óculos de
infravermelho no lugar. Todos os policiais do sul do Oregon poderiam
tê-lo cercado e Berkle não se importaria. Ele era como um animal
selvagem, cheirando sangue. Seu único objetivo era matar Adam - ou
morrer tentando.

Então não. Rob não se arrependeu. Ele estava profundamente


agradecido por ter um bom olho, uma mão firme e ter registrado
fielmente todas aquelas horas no alcance da arma, embora nunca
tivesse imaginado que teria que colocar seu treinamento em prática.
Ele teria matado cem Bert Berkle para salvar Adam. Mas quando ele
abriu fogo ontem à noite... algo mudou dentro dele. A vida nunca
voltaria a ser como era. Ele não poderia ter explicado como ou por quê.
Mas era como a primeira vez que você via borboletas cobrindo carniça.
Ou notava anjos brancos como a neve em um cemitério.

Isso soava estúpido e sentimental, e não era o que ele queria


dizer. Ele não sabia o que sentia. Só que valeu a pena para ter Adam
sentado ali, inteiro e um pedaço. Principalmente inteiro. Ele mal
conseguia flexionar os dedos e não conseguia levantar os braços sem
que os músculos tremessem, mas ele tivera sorte. Nenhum dano no
nervo, de acordo com os médicos. Ele só precisava de descanso e um
pouco de tempo para se recuperar.
Nenhum dos quais estava em sua natureza. Ele planejava voar
de volta para Los Angeles no dia seguinte.

– Bem, se você não está com fome. – Rob disse.

Adam pareceu indignado. Ele olhou impotente para a bandeja


que Rob preparara. O delicioso aroma de alho e orégano emanava da
lasanha. Lasanha de mercearia, mas ainda assim.

– Você sempre pode tentar lamber o prato. – Rob sugeriu


solícito.

– Você é um biruta, Haskell.

– Ninguém mais diz “biruta”. – Rob disse a ele. Sentou-se na


beira da cama, amigavelmente perto de Adam, e pegou o garfo. – Ah,
vamos lá. Deixe alguém cuidar de você, para variar. Não vai te custar
nada.

Adam lançou-lhe um olhar incerto. – Não é isso.

– Mesmo? O que é? – Rob usou o garfo para partir um pedaço


de lasanha. Ele levantou o garfo para os lábios de Adam e Adam franziu
o nariz e deu uma mordida. Ele mastigou, engoliu em seco.

– Veja, não tão ruim. – Disse Rob.

– Não, é bom. – Adam lambeu o lábio inferior conscientemente.

Rob sorriu fracamente. Não é um cara fácil de conhecer, Adam.


Mas Rob estaria disposto a tentar. Ainda estava disposto. Que não ia
acontecer.

Quando Adam perguntou a Rob como ele havia adivinhado que


Berkle o havia arrebatado, Rob lhe mostrara as fotos de Dove Koletar.
Adam estudou as fotos por um longo tempo e depois pediu a Rob que
levasse Sam Kennedy de volta ao hospital. Quando Kennedy chegou -
usando a expressão de alguém que sabe que é o seu trabalho para
alegrar o ferido na fila -, Adam pediu a Rob para lhe mostrar as fotos
de Dove Koletar.

Como Adam, Kennedy havia estudado as fotos por muito


tempo.

– O que? – Rob perguntou, finalmente, irritado com todo o


mistério. – O que vocês estão olhando?

– Tatuagens de Koletar. – Adam disse. – É cuneiforme para


pássaros.

– Oh. Isso é interessante. – Rob sabia que não deveria se


surpreender que a mente de Adam já estivesse de volta ao trabalho,
voltando a perseguir o próximo homem.

– Esses também são os símbolos que o Estripador na Estrada


esculpe no peito de suas vítimas.

– Talvez. – Kennedy tinha advertido. – Não podemos ser


positivos ainda. Mas… – Ele olhou para Adam pensativamente. – Eu
acho que você está correto.

Alguma cor voltou ao rosto de Adam. Ele sorriu para Rob,


embora Rob não tivesse participação em nada disso. Não no mundo
dele. Eles foram bem vindos a isso.

Depois disso, Kennedy e Adam tiveram uma pequena e


agradável conversa sobre serial killers e, finalmente, Kennedy ofereceu
a Adam um lugar na equipe BAU. Ou melhor, ele havia dito que uma
posição estaria chegando e ele queria que Adam a considerasse. E
Adam disse que ele faria. Ele ainda estava meio sonolento com
analgésicos, mas Rob não tinha dúvidas de que Adam aceitaria o
emprego, e se LA parecesse muito distante, Quantico se sentia como o
fim da Terra.

Olá adeus. Quando Adam abriu os olhos naquela manhã e viu


Rob sentado ao lado de sua cama, ele deu um sorriso cansado e moveu
os dedos na direção de Rob. Parecia o começo de alguma coisa. Mas ele
estava sorrindo para Rob depois que Kennedy lhe ofereceu um
emprego, e esse foi definitivamente o fim das esperanças de Rob.

Enquanto isso... – Abra. – Rob disse.

Adam deu-lhe um olhar muito oprimido e abriu.

O celular de Rob tocou. Ele abaixou o garfo, levantou-se e


atendeu a ligação de Frankie.

A notícia não era boa.

Seu rosto deve ter mostrado isso, porque quando ele voltou ao
lado da cama de Adam, Adam disse: – O que há de errado?

Bill Constantine se matou na noite passada.

– O que? – Adam se sentou, quase derrubando a bandeja. Ele


tentou salvá-la, mas suas mãos ainda não estavam cooperando, e ele
derrubou o copo de água. – Inferno. Como? O que aconteceu?

Rob levantou a bandeja com a lasanha agora encharcada da


cama e a colocou no chão. Ele precisou de alguns segundos para
controlar seu rosto. – Eden o encontrou esta manhã.
– Eden... – Adam repetiu em dúvida, observando-o.

– Ed Eden. Ele é o diretor do Mortuário da Montanha, onde Bill


trabalhou nos últimos dois anos. Ele chegou na terça-feira e encontrou-
o na sala de preparação. Bill estava deitado na mesa de autópsia de
metal. – Rob se levantou. – Bill estava usando a máscara de corvo
roubada do museu e uma… peça de penas de corvo. Como asas
gigantes. Ele gesticulou vagamente para seus próprios ombros.

Ele podia ver Adam pensando, colocando dois e dois juntos. –


Como ele fez isso?

Rob disse categoricamente: – Ele se apunhalou no coração com


a faca de corvo que ele roubou.

Adam soltou um longo e lento suspiro. – Eu não sabia que ele


trabalhava no necrotério.

Rob disse: – Há uma razão para algumas das crianças por aqui
o chamarem de Billy estranho.

– Eu nunca ouvi ninguém o chamar assim.

– Azure o chamou assim. Aqui estava uma coisa estranha. –


Rob sentiu pena de Bert Berkle, mas Bill Constantine tinha sido tão
fodido quanto ele. Ele matou pessoas, arruinou vidas. Então, por que
Rob se sentiu... do jeito que ele se sentia? Como ele poderia ter feito
algo, feito mais.

Adam disse pensativo: – Frankie e sua busca por striptease.

– Ele deve ter entrado em pânico. – Rob concordou.

– Eu imagino que sim. Seria o DNA dele sob as unhas de Azure.


– Frankie diz que Buck está jurando que vai processar. Ele
afirma que, mesmo que Bill roubasse os artefatos, ele nunca teria
matado ninguém.

– Isso é de se esperar.

Era isso? Provavelmente. Reconhecer que alguém que você


amava era insano seria bastante difícil. Acreditar que eles eram capazes
de assassinato?

– Ele estava lá na autópsia de Dove. Você pode não ter notado


ele. Ele estava ajudando Doc Cooper.

Os olhos de Adam se estreitaram, mas não houve


reconhecimento. Ele assentiu.

– Eu planejei parar e falar com ele ontem à noite. – Rob disse.–


Se eu tivesse...

– Eu estaria morto. – Adam disse.

Os olhos de Rob brilharam para ele.

– Ouça, Rob. Você não pode salvar a todos. – Adam disse


calmamente. – Eu sei o que você está sentindo agora, mas é a verdade.
E se eu não disse isso antes, obrigado por salvar minha vida.

– Ele estava doente. – Rob disse. – Eu sei disso. Ele deixou uma
carta de nove páginas para Tiffany explicando tudo, mas parece que é
apenas um monte de bobagens. Parece que talvez ele tenha pensado
que a mãe dela estava impedindo que eles ficassem juntos. Mas isso é
um palpite. É tudo trabalho de adivinhação porque Frankie diz que
Tiffany recuperou a consciência na noite passada, mas ela ainda não se
lembra de nada. Ou diz que ela não faz.
– Isso é provavelmente a melhor coisa que poderia acontecer
com ela. – O tom de Adam foi evasivo. Mas então ele suspeitava que
Tiffany tinha uma queda por Bill uma vez. Essa era outra coisa sobre a
qual eles provavelmente nunca saberiam a verdade.

– Bill escreveu naquela carta que, quando viu o esqueleto de


Koletar, soube que havia sido assassinado e não conseguia tirá-lo da
cabeça. Ele ficou obcecado com a morte e morrendo.

Adam disse quase gentilmente: – Você não vai entender isso,


você sabe. Você não vai encontrar lógica na loucura.

– Sim, eu sei. – Era difícil dizer isso em voz alta, mas Adam
provavelmente era a única pessoa para quem ele podia admitir isso. –
Eu sinto que deveria ter feito algo mais.

– Você fez o que pôde com os fatos disponíveis para você no


momento. – Adam estendeu o braço trêmulo. – Venha cá. – Ele disse.

Toda essa simpatia de Adam fez Rob se sentir tolo, mas ele se
juntou a ele na cama, e foi tranquilizado e consolado pela força do
braço que envolvia seus ombros.

Eles ficaram lá por algum tempo. Tão longo e tão quieto que ele
pensou que talvez Adam tivesse adormecido, mas quando ele olhou
para cima, Adam estava franzindo a testa para o espaço.

Ele ouviu a si mesmo dizer: – E se você não fosse?

As sobrancelhas de Adam se juntaram. Ele abriu a boca. Ele


disse: – E se você for a Los Angeles?
– O negócio é que eu tentei morar em uma cidade. Não é para
mim. – Rob sorriu. – De qualquer forma, não vai ser LA por muito
tempo, né? Vai ser a Virgínia. Quantico...

– Eu não sei. Espero que sim. – Adam disse hesitante. – Mesmo


se eu não fizesse o trabalho BAU... O que eu faria aqui? Digamos que
eu tentei conseguisse uma transferência para Portland. Mesmo que
tivessem uma abertura, mesmo que eu pudesse entrar lá - e não sei o
que posso fazer. Eu provavelmente não posso. Ainda seria muito ir e
voltar.

– Não tão longe quanto Quantico. Ou até LA.

– Não.

Rob olhou pela janela. – Não. Eu sei que isso não é justo. Seria
loucura não aceitar o emprego. Você está trabalhando para isso,
esperando por isso. E agora está aqui. – Ele tentou brincar: – De
qualquer forma, acho que não posso em sã consciência pedir para você
morar na capital de assassinos em série do Oregon.

– É muito para pedir a um homem do governo. – O esforço de


Adam no humor foi igualmente fraco. Ele disse: – Eu não acredito em
relacionamentos de longa distância. Mas… talvez pudéssemos tentar.

– Relacionamento a distância. Isso não é uma contradição em


termos?

– Sim. – Adam disse um pouco amargamente. – Mas nós


poderíamos tentar.
Rob se afastou dele com cuidado. Ele não queria machucar
Adam. Não de maneira alguma. Nunca. – É por causa do colega com
quem você se envolveu? O relacionamento que acabou mal?

– Sim. – A boca de Adam se torceu. – Eu tenho que assumir


minha parte da responsabilidade. Nós estávamos tendo problemas.
Ambos éramos ambiciosos, ambos preocupados com nossas carreiras.
Eu em particular. Ele foi transferido para Washington. Estado, isso é. E
nós concordamos que poderia ser bom para nós termos um pouco de
tempo separados, um pouco de espaço. Mas… eu nunca tive dúvidas de
que iríamos resolver isso. Eu pensei... Mas ele ligou na primeira
semana e disse que conheceu outra pessoa. Que ele sabia que esse era o
cara.

– Como ele poderia saber disso? – O que Rob estava pensando


foi, a primeira vez que te conheci, eu sabia que você era o cara. Uma
rua de mão única, parecia. – O outro cara sentiu o mesmo?

– Eu acho que ele sentiu. Eles ainda estão juntos. – Adam disse:
– Então eu não tenho muita fé a longa distância. Mas nós poderíamos
tentar. Não é o ideal, mas eu... me importo com você. Eu não sei como
isso aconteceu tão rápido. Nós não nos conhecemos realmente. E é isso
que eu quero dizer. Devemos ir devagar, nos conhecer muito melhor
antes de nós... – Sua voz se arrastou.

Aceite, Rob disse a si mesmo. É a melhor oferta que você terá.


É a única oferta que você terá.

Ele ficou desanimado ao ouvir-se dizendo: – Tudo bem. Mas o


melhor cenário é que, eventualmente, vamos ter essa conversa
novamente, certo? Mais cedo ou mais tarde estaremos de volta neste
momento?

Adam esfregou a testa. – Eu não sei. Nós nos conhecemos todos


os cinco dias. Estamos discutindo... bem, o que estamos discutindo?

– Nos aposentarmos juntos em cerca de vinte anos? – Não foi


muito engraçado embora.

Adam parecia aflito. – Eu não posso recusar esse trabalho, Rob.


Eu tenho que pegar. Esse tipo de oportunidade só acontece uma vez. Se
vier em tudo.

– Eu sei.

– Mas isso não significa que eu não possa ter uma vida pessoal.
Os aviões voam nos dois sentidos em todo o país.

– Sim. Eles fazem.

– Nós poderíamos descobrir algum tipo de cronograma. Não


será fácil, mas se for importante para nós dois, podemos fazê-lo
funcionar.

– Sim. Nós devemos ser capazes de fazer isso.

– Nós não temos que decidir isso agora. – Disse Adam. – Certo?

– Certo. – Rob assegurou.

Mas ele sabia - ambos sabiam - que a decisão já havia sido


tomada.
Epílogo

Um homem viaja pelo mundo em busca do que precisa e volta


para casa para encontrá-lo.

Aquela tinha sido a mensagem na parede de Cynthia Joseph, e


talvez houvesse alguma verdade nisso, mas quando a porta da frente de
Adam se fechou atrás dele e ele largou a mochila, ele não estava
procurando muito além de um banho e um bom sono.

Ele ainda se sentia frustrantemente fraco, e o esforço de


carregar sua própria bagagem o deixara tremendo e encharcado de
suor. Essa foi provavelmente a razão de sua depressão inexplicável.

Não totalmente inexplicável. Ele já sentia falta do Rob.


Seriamente.

Ele estava feliz por estar em casa, é claro. Grato pelo sol e pela
ausência de neve, feliz pela paz e privacidade. Mas certamente o lar era
mais do que um suprimento de água quente, toalhas limpas e um lugar
seguro para dormir.

Claro que era. E um dia ele iria recapturar esse... sentimento


que ele teve com Rob.

Uma coisa em que ele não acreditava - nunca acreditara - era


que havia apenas uma pessoa certa para qualquer um. Almas gêmeas?
Ele não acreditou nesse conceito. Mas não havia como negar que ele
sentiu algo por Rob que ele nunca experimentou com mais ninguém.
Nem mesmo com Tucker, que ele sempre pensara como aquele que
escapou.

O que ele acreditava - aprendera da maneira mais difícil - era


que o timing era tudo. A vida não garantia segundas chances. Às vezes
você só tinha uma chance.

Foi por isso que ele ficou tão feliz - sim, feliz - por esse trabalho
com o BAU. Por que ele tinha que aceitar isto. Por que ele não pôde,
não devia recusar esta oportunidade. Kennedy estava lhe oferecendo
sua vida de volta. Ele estaria no caminho certo mais uma vez.
Reputação restaurada, reintegrado no futuro. O trabalho seria
desafiador e absorvente - e ele estaria fazendo isso com Jonnie em vez
de Russell.

Exceto.

Exceto que ele estaria perseguindo serial killers. Algo que ele
nunca quis fazer. Fascinante, talvez, mas ele não tinha certeza se
conseguiria outra boa noite de sono.

E ele estaria morando na Virgínia, a quilômetros de distância


de Rob.

O que não mudou o fato de que quase qualquer um que ele


conhecesse saltaria para essa chance. Russell iria pular nisso. Russell
provavelmente estaria disposto a matá-lo por isso. Na verdade, Russell
provavelmente estava pronto para matá-lo em princípios gerais.

Bem, ele não teria que aguentar Russell por muito mais tempo.

Se ele aceitasse o trabalho.


E é claro que ele aceitaria o emprego. Seria irresponsável não
fazer isso. Até mesmo Rob dissera que seria louco não aceitar.

Sam Kennedy não perguntaria duas vezes. Esta era uma oferta
única. Era pegar ou largar.

O problema era que ele não conseguia afastar a sensação de


que, ao assumir a posição no time de Kennedy, estava passando por
outra e mais importante oportunidade. Uma chance de algo que era
ainda mais raro do que a chance de se tornar um dos caçadores de elite
de Kennedy.

Adam pegou uma garrafa de gim, serviu uma bebida com


cuidado e foi até a janela, olhando para o brilho das luzes. O frenético
piscar de uma cidade que nunca dormiu.

Ele tomou um gole de sua bebida e pensou no retiro de neve de


Rob, onde as luzes vinham das estrelas.

Já passava das dez. O que Rob estava fazendo agora?


Preenchendo uma montanha de papelada provavelmente. Talvez
tomando uma bebida no Marina Grill? Ou talvez ele tenha decidido
visitar seu amigo em Klamath Falls.

Agente Darling, acho que posso estar apaixonado.

Adam sorriu. Seu sorriso desapareceu. Ok, mas você não pode
simplesmente ... seguir seu coração.

Você poderia?

Não foi assim que ele foi criado.


Ele sabia o que seu pai diria se dissesse que estava jogando fora
tudo pelo que trabalhara, tudo que conseguiu. Ser aceito no FBI era a
única coisa que ele fez que deixou seu pai orgulhoso.

Seu pai era um velho solitário com uma parede cheia de


elogios, uma esposa que se importava mais com a criação de poodles, e
duas crianças que estavam ocupadas demais tentando imitar seus
sucessos para encontrar tempo para telefonar para casa entre feriados
oficiais e importantes.

Seria “jogar fora”, se você percebesse que suas prioridades


mudaram?

Ele largou a bebida e pegou o celular. Não doeria ligar. Para


dizer oi? Obrigado novamente por salvar minha vida.

O telefone tocou e tocou. E tocou.

Era tarde demais.

O suor irrompeu na testa de Adam. Suas palmas estavam


molhadas. Estive aqui e fiz isso. Ele pressionou rediscar e o telefone
começou a tocar de novo.

Eu sei que você quis dizer isso. Você não pode ter mudado de
ideia já.

O telefone atendeu e Rob - soando não mais longe do que o


quarto ao lado - disse:– 'Lo?

Demorou um momento para Adam encontrar sua voz. Ele


realmente ficou abalado por um momento. – Eu acordei você?
Houve uma pausa antes de Rob dizer em um tom de voz muito
diferente. – Eu não pensei que eu estaria ouvindo de você novamente.

Isso deu outra sacudida ao sistema nervoso de Adam. Teve seu


adeus sido definitivo? Ele pensou no aeroporto. Tinha sido um pouco
estranho com as distrações de outras pessoas, bagagem e horários. –
De modo nenhum?

– Bem, eu estava esperando um cartão de Natal. – O tom de


Rob era triste. – Então isso é definitivamente um bônus.

Adam disse: – Mas quando falamos esta manhã, eu disse que…


deixaria você saber como estavam as coisas.

– Sim, você disse. – Rob disse. Ele parecia gentil, como se


estivesse humilhando Adam.

Adam voltou a pensar no café e na torrada apressados que


haviam compartilhado naquela manhã. Pareceu cinco minutos. E
pareceu uma eternidade.

Rob estava certo. Isso não ia funcionar.

Adam disse: – Cheguei em casa cerca de vinte minutos atrás.

– Sim? Você teve um bom voo?

– Estava tudo bem. Eu pensei que estava voltando para casa.


Antes de atravessar essa porta, pensei que tinha tudo o que queria. Eu
tinha tudo o que queria.

– E então você percebeu que foi roubado? – Rob estava


brincando, mas seu coração não parecia estar nele.
Adam respirou fundo - parecia que ele estava indo para o
mergulho alto. – Quando entrei por essa porta, percebi que a única
coisa que realmente quero - preciso - não está aqui. Porque você não
está aqui.

Silêncio.

Adam engoliu ruidosamente. – Eu quero...

Ao mesmo tempo, Rob disse: – Eu não posso...

Ambos pararam. O silêncio era excruciante.

Adam disse: – Vá em frente.

– Eu te interrompi. Continue.

– Certo. Bem. E se eu cometi um erro?

– Você cometeu?

Rob não estava facilitando isso, mas por que ele deveria? Ele
colocou tudo lá, colocou na linha, e Adam basicamente disse que sua
carreira precisava vir em primeiro lugar. Então, sem mais cobertura,
sem mais equívocos, sem mais rede de segurança.

– Sim. – Adam disse. – Acho que cometi um grande erro.

O silêncio do outro lado parecia vivo, elétrico. – Então o que


você está dizendo, Adam?

– Eu estou dizendo que se você quis dizer as coisas que você


disse ontem

– Eu quis dizer cada palavra.

– Então eu quero tentar. Eu quero fazer isso funcionar.


Rob disse lentamente: – Bem, eu não acho que vou ser feliz
morando em Los Angeles ou Virgínia ou onde quer que acabemos, mas
eu não acho que vou ser feliz sem você também. Assim...

– Então eu sinto o mesmo. – Adam correu porque Rob não


deveria ser sempre o único a fazer concessões, ceder terreno. – E como
você disse, você já tentou viver na cidade. Não foi um bom ajuste. Eu
acho que posso dar uma chance aos espaços abertos.

Houve outra daquelas pausas desconcertantes antes de Rob


dizer, quase tocando a incerteza: – Tem certeza, Adam?

– A única coisa de que tenho certeza é que onde quer que você
esteja, é onde eu pertenço. – Adam olhou para o relógio. – É depois das
dez. Não sei se posso conseguir um voo hoje à noite, mas...

– Experimente.

– Vou tentar.

Rob disse: – É cerca de uma hora daqui até o aeroporto. Estou


procurando minhas chaves agora.

– Talvez você devesse esperar para ouvir se eu vou conseguir


pegar o voo noturno.

– Não importa. – Rob respondeu. – Seja qual for a hora que


você chegar aqui, estarei esperando.
Sobre o autor

Uma voz distinta na ficção gay, a autora premiada JOSH


LANYON escreve sobre mistério gay, aventura e romance há mais de
uma década. Além de numerosos contos, novelas e romances, Josh é o
autor da série aclamada pela crítica Adrien English, incluindo The Hell
You Say, vencedor do prêmio USABookNews de 2006 pela GLBT
Fiction. Josh é um vencedor do Eppie Award e quatro vezes finalista do
Lambda Literary Award.

Nota de Tradução:

Para quem se interessar, Josh Lanyon é pseudônimo da autora


americana Diana Killian.

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