Você está na página 1de 271

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

YUM ARA SOUZA PESSÕ A

O MAR COMO TESTEMUNHA: A modernização do bairro da Barra


(1850 - 1950)

SALVADOR
2017
1

YUMARA SOUZA PESSÔA

O MAR COMO TESTEMUNHA: A modernização do bairro da Barra


(1850 - 1950)

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo, na
Área de Concentração em História Urbana,
Faculdade de Arquitetura, Universidade
Federal da Bahia como requisito para
obtenção do grau de Doutora em Arquitetura
e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Fernandes Cardoso

Salvador, dezembro de 2017


2

Pessôa, Yumara Souza.

P475 O mar como testemunha: a modernização do bairro da Barra (1850 -


1950). / Yumara Souza Pessôa. - Salvador, 2017.
270 f.; il.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Fernandes Cardoso.


Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Arquitetura, 2017.

1. Urbanização - Salvador (Ba) - Modernização. 2. Bairros - Salvador (Ba) -


Arquitetura. I. Cardoso, Luiz Antônio Fernandes. II. Universidade Federal da
Bahia. Faculdade de Arquitetura. III. Título.

CDU 711.4(813.8)
3

YUMARA SOUZA PESSÔA

O MAR COMO TESTEMUNHA: A modernização do bairro da Barra


(1850 - 1950)

Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em


Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia.

Aprovada em _____________________________

Banca Examinadora:

Dr. Luiz Antônio Fernandes Cardoso – Orientador ___________________________


Doutor em Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal da Bahia

Dra. Maria Hermínia Olivera Hernández ___________________________________

Doutora em Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal da Bahia

Dra. Maria do Carmo Baltar Esnaty de Almeida _____________________________


Doutora em Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal da Bahia

Dr. Eugênio de Ávila Lins ______________________________________________


Doutor em História da Arte / Universidade do Porto

Dra. Maria Virgínia Gordilho Martins _____________________________________


Doutora em Artes / Universidade de São Paulo
4

A minha filha Lívia Pessôa,

Por existir em minha vida e


me motivar a seguir em
frente.
5

AGRADECIMENTOS

Correndo o risco de omissão, não posso deixar de agradecer às pessoas que


estiveram presentes neste percurso tão longo de estudos sobre a Barra.
Ao meu Orientador Prof. Luiz Antônio Fernandes Cardoso, por ter se colocado
disponível em assumir uma tarefa já iniciada, e pelo grande respeito com que conduziu
a orientação deste trabalho;
Aos membros da banca de Doutorado, Dra. Maria Hermínia Olivera Hernández,
Dra. Maria do Carmo Baltar Esnaty de Almeida, Dr. Eugênio, de Ávila Lins e Dra. Maria
Virgínia Gordilho Martins, companheiros em estradas acadêmicas na Faculdade de
Arquitetura e na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e na luta em
prol da preservação da história urbana e patrimônio arquitetônico e cultural baiano,
por todas as contribuições a pesquisa;
Ao professor Dr. Marco Aurélio Filgueiras Gomes agradeço por ter me aceitado
(de novo) como orientanda, quase 25 anos depois da minha primeira incursão no
PPGAU-FAUFBA, pela seriedade na condução dos trabalhos, pela convivência
enriquecedora por quase 02 anos, registrando aqui a minha grande admiração por
esse incansável pesquisador da nossa História Urbana e professor que tanto
engrandeceu a nossa Universidade Federal da Bahia;
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
/ PPGAU, pelos conhecimentos compartilhados e aos membros da minha Banca de
Qualificação, Professores Doutores Maria Berthilde Moura Filha, Eugênio de Ávila Lins
e Maria do Carmo Baltar Esnaty de Almeida, pelas valiosas contribuições que me
possibilitaram atentar para novas questões sobre o tema;
Aos funcionários da Pós-graduação e em especial ao secretário Luís Acácio
Moitinho, por toda a gentileza e agilidade em resolver questões burocráticas da
Instituição;
Ao Departamento I - História da Arte e Pintura da Escola de Belas Artes da
UFBA, pela liberação dos meus encargos docentes e administrativos, durante os 04
anos de doutoramento e a bibliotecária Leda Maria Ramos Costa pela realização da
ficha catalográfica;
Aos colegas da turma de Doutorado 2013 e em especial a João Marques, Maria
Simone, João Dannemann, Piero Carapiá, José Carlos Huapaya Espinoza e Ernesto
6

Carvalho, orientandos do Professor Marco Aurélio F. Gomes e participantes dos


encontros quinzenais (entre 2013 e 2015), que com respeito, seriedade e
companheirismo, tanto contribuíram na elaboração desta tese;
Ao amigo arquiteto Francisco Mazzoni e ao geólogo Rubens Antônio da Silva
Filho, pela disponibilização de fotografias dos seus acervos particulares;
Meu agradecimento especial aos amigos, integrantes do Centro de Estudos da
Arquitetura na Bahia/CEAB da Faculdade de Arquitetura da UFBA, pelo acesso
irrestrito do seu valioso acervo bibliográfico e iconográfico, durante o longo trabalho
de pesquisa, iniciado em 1988;
Aos amigos da Associação “Amabarra”, do Coletivo “Rio Vermelho em Ação”,
e dos Grupos do Facebook, “SOS Barra” e “Os Indignados da Barra”, agradeço pelo
diálogo constante e compartilhamento de fundamentais vivências, que reforçaram a
minha convicção de que a Academia deve sempre estar presente na cidade e nas
suas lutas em prol da qualidade de vida urbana;
A minha família, amigos, alunos e colegas de trabalho, que torceram pelo
sucesso desta longa empreitada, meu sincero agradecimento.
7

"E se sonho ainda com as flores que quero em meus caminhos, é porque
acredito no jardim que semeei…” (Cida Luz, 2012)
8

PESSÔA, Yumara Souza. O MAR COMO TESTEMUNHA: A modernização


do bairro da Barra (1850 - 1950). Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

A presente tese trata da história urbana do bairro da Barra, “embrião” da ocupação


portuguesa em Salvador, capital do Estado da Bahia, e mais especificamente, da
análise do papel do poder público e da iniciativa privada na sua modernização urbana
entre 1850 e 1950. Analisa a legislação urbanística, a implantação dos sistemas viário
e de transporte, e as novas práticas socioculturais à beira-mar, que, em consonância
com o ideário modernizador em voga na cidade e no país, contribuíram para a
transformação da Barra de área periférica de caráter rural, em zona residencial da
burguesia soteropolitana, caracterizada pela presença de novas arquiteturas em
vocabulário neoclássico, eclético e decó, grandes avenidas e infraestrutura de
transporte, iluminação, telefonia, água e esgoto. Em um contexto mais abrangente,
aborda o rebatimento na estrutura física do bairro, das “permanências e rupturas” dos
modelos políticos, econômicos, sociais e culturais do Brasil imperial e republicano e
analisa as transformações de um assentamento litorâneo, cujo percurso histórico
esteve intrinsecamente ligado aos mares da Bahia de Todos os Santos e do Oceano
Atlântico, que de caminhos e fontes de subsistência, passaram também a
desempenhar um papel terapêutico, de descanso e/ou lazer e a se constituírem em
cenário cotidiano (e valorizado) para moradores, veranista e visitantes.

Palavras-chave: História Urbana – Modernização Urbana – Arquitetura – Bairros -


Salvador (BA)
9

PESSÔA, Yumara Souza. THE SEA AS WITNESS: The modernization of the


neighborhood of Barra (1850 - 1950). Thesis (Doctorate) - Faculty of Architecture,
Federal University of Bahia, Salvador, 2017.

ABSTRACT

This thesis deals with the urban history of the Barra neighborhood, the "embryo" of the
Portuguese occupation in Salvador, capital of the State of Bahia, and more specifically,
the analysis of the role of public power and private initiative in its urban modernization
between 1850 and 1950 It analyzes urban legislation, the implementation of road and
transportation systems, and new socio-cultural practices at the seaside, which, in
keeping with the modernizing ideas in vogue in the city and in the country, have
contributed to the transformation of the peripheral area bar of rural character, in a
residential zone of the soteropolitan bourgeoisie, characterized by the presence of new
architectures in neoclassical, eclectic and decó vocabulary, great avenues and
transport infrastructure, lighting, telephony, water and sewage. In a more
comprehensive context, it addresses the physical structure of the neighborhood, the
"permanences and ruptures" of the political, economic, social and cultural models of
imperial and republican Brazil, and analyzes the transformations of a coastal
settlement whose historical course was intrinsically linked to the seas of Bahia de
Todos os Santos and the Atlantic Ocean, which also started to play a therapeutic, rest
and / or leisure role and to become a daily (and valued) scenario for locals, vacationers
and visitors.

Keywords: Keywords: Urban History – Urban Modernization - Architecture -


Neighborhoods - Salvador (BA)
10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

F i g u r a 0 1 . Capa. A orla oceânica da Barra em 1948. Vendo-se o Farol da Barra e observando--se


a relação de escala entre o Edifício Oceania e as demais casas da área (Fonte: De aquarela do
Arquiteto Pasqualino Romano Magnavita. Arquivo Pessoal)

Figura 02. Limites administrativos do bairro da Barra em 2016 ..................................................... p. 27


Figura 03. Mapa do Bairro da Barra em 2011 ................................................................................ p. 27
Figura 04. O Bairro da Barra em vista área em 2013, a partir do encontro entre o Oceano Atlântico e a
Baía de Todos os Santos. ............................................................................................................... p. 28
Figura 05. Limites da “Povoação do Pereira” e das terras de particulares no seu entorno, em 1536
.......................................................................................................................................................... p. 31
Figura 06. Estudo de Teodoro Sampaio (1949) sobre a localização de “Vila Velha” no século
XVI.................................................................................................................................................... p. 32
Figura 07. Estudo para localização da “Povoação do Pereira” e delimitação da área de estudo, com
base na análise comparativa entre as Plantas de Teodoro Sampaio, dos Beneditinos e mapa atual do
Bairro da Barra ................................................................................................................................. p. 33
Figura 08. Delimitação da Área de Estudo (em vermelho) sobre Mapa de 1850 ........................... p. 34
Figura 09. Delimitação da Área de Estudo (em vermelho) sobre vista aérea de Salvador em 2017, a
partir do encontro entre o Oceano Atlântico e a BTS. ..................................................................... p. 34
Figura 10. Perspectiva do Projeto de Melhoramentos para a área central de Salvador em 1910, de
autoria do Engenheiro Alencar Lima ................................................................................................ p. 39
Figura 11. Esquema gráfico sobre o percurso do tratamento da questão da Paisagem, em relação a do
Patrimônio Cultural ........................................................................................................................... p. 41
-------------------------------------------------------- CAPÍTULO 01 ---------------------------------------------------------
Figura 12. Projeto de construção de 04 Casas na Avenida Princesa Isabel / “Baixa da Graça” em 1912,
de propriedade de Manoel de Sá Gordilho ........................................................................................ p.54
Figura 13. Projeto de Edificação nova na “Quintas da Barra” em 1905 ............................................ p.55
Figura 14. Projeto de Edificação nova na Rua Barão de Sergy em 1910 ........................................ p.55
Figura 15. A Avenida Oceânica no final dos anos 1920, vista do Farol da Barra............................... p.57
Figura 16. A Avenida Oceânica na década de 1940, já com o Edifício Oceania (1943) .................... p.57
Figura 17. Loteamento “Barralândia” na década de 1940 ................................................................. p.57
Figura 18. Edifício “Barralândia” em 2014........................................................................................ p.57
Figura 19. Publicidade das “Latrinas Unitas” no Jornal “Correio Paulistano”, 1895........................... p.59
Figura 20. “Latrinas Unitas” instalada na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, 1900........................ p.59
-------------------------------------------------------- CAPÍTULO 02 ---------------------------------------------------------
Figura 21. Local do assentamento da “Povoação do Pereira” no século XVI, no Porto da Barra, a partir
do qual se desenvolveu o bairro da Barra. (Desenho da própria autora, com interferências digitais, sobre
mapa-base de 1950) ......................................................................................................................... p.64
Figura 22. “Mapa da Baía de Todos os Santos até a Ponta de Santo Antonio e Barra de Itaparica”,
extraído de Cartas / manuscrito colorido de João Teixeira Albernaz (“Descrição de todo o marítimo da
Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brasil”, de 1640) ........................................................ p.65
11

Figura 23. A “Cidade” e a “Vila Velha” em 1640, em detalhe do “Mapa da Baía de Todos os Santos até
a Ponta de Santo Antonio e Barra de Itaparica”, extraído de Cartas / manuscrito colorido de João
Teixeira Albernaz. .............................................................................................................................. p.65
Figura 24. Salvador durante o ataque holandês de 1624 .................................................................. p.68
Figura 25. Forte de Santo Antônio da Barra em 2014. ................................................................... p.68
Figura 26. Forte de Santa Maria em 2014 ........................................................................................ p.68
Figura 27. Forte de São Diogo em 2014. ........................................................................................... p.68
Figura 28. Igreja de Santo Antônio da Barra em 2014 ..................................................................... p.69
Figura 29. Igreja da Vitória (em reforma) em 2014 .......................................................................... p.69
Figura 30. Igreja da Graça em 2014 ................................................................................................ p. 69
Figura 31. (Recorte de) Prospecto de Julius Naeher. Barra em [18--], observando-se a sua “Trilogia de
Defesa” ............................................................................................................................................. p.70
Figura 32. Edifício Oceania visto a partir da Ilha de Itaparica na BTS, em 2015 ............................... p.70
Figura 33. Edifício Oceania visto a partir do bairro do Rio Vermelho, em 2015 ................................ p.70
Figura 34. Casas e Fortificações da Barra no século XVIII. ............................................................. p.71
Figura 35. Orla oceânica no século XVIII, avistando-se o Forte de Santo Antônio da Barra ............. p.72
Figura 36. Trecho de orla da Baía de Todos os Santos, entre os Fortes de Santa Maria e o de São
Diogo, em 1839.................................................................................................................................. p.72
Figura 37. “O Farol da Barra, no Ano de 1840” ................................................................................. p.73
Figura 38. Caminho ligando Salvador a Vila Velha no século XVI..................................................... p.76
Figura 39. “Caminho de Villa Velha” no século XVI........................................................................... p.77
Figura 40. (Possível) Antigo traçado do “Caminho de Vila Velha” entre o Largo da Igreja da Vitória e o
Porto da Barra ....................................................................................................................................p.78
Figura 41. Os dois caminhos entre a Igreja de Santo Antônio da Barra o Porto da Barra, no último
quartel do século XVIII........................................................................................................................ p.79
Figura 42. Iconografia do século XVIII mostrando o “Caminho para Vila Velha” no trecho conhecido
como "caminho público para a Igreja de Santo Antônio ..................................................................... p.79
Figura 43. Caminho para a Igreja de Santo Antônio a partir do Porto da Barra, em 1858. ............... p.80
Figura 44. Caminho para Vila Velha em 1835, no trecho hoje conhecido como Ladeira da Barra. ... p.80
Figura 45. Forte São Diogo e o “Caminho Público para a Igreja de Santo Antônio no alto do Morro” em
1867 .................................................................................................................................................. p. 81
Figura 46. Imagem do “Caminho público para a Igreja de Santo Antonio” passando pela entrada do
Forte de São Diogo na década de 1950. ............................................................................................ p.82
Figura 47. Escadaria de acesso a Portada do Forte de São Diogo, em 2017.................................. p.82
Figura 48. Portada de acesso ao Forte de São Diogo, em 2017 ...................................................... p.82
Figura 49. Implantação do Forte de São Diogo, outeiro de Santo Antônio da Barra, em 2017......... p.82
Figura 50. Caminho da Aguada ou Caminho da Floresta em 1823. Ilustração de Maria Graham.... p.83
Figura 51. Caminho da Aguada ou Caminho da Floresta em 1823. Ilustração de Maria Graham .... p.84
Figura 52. Imediações da Igreja de Santo Antônio da Barra em 1837 ............................................. p.84
12

Figura 53. Salvador em cerca de 1850, em recorte da Planta de Carlos Augusto Weyll, “Mappa
Topographica da Cidade de S. Salvador e seus subúrbios”........................................................... p. 86
Figura 54. A Barra e suas ruas, em cerca de 1850............................................................................ p.86
Figura 55. Rios da Barra em 1830 .................................................................................................... p.88
Figura 56. Vale do “Rio das Pedras” (“das Pedrinhas” ou “Rio dos Seixos”) em 1884 ..................... p.88
Figura 57. Projeto de continuação de nova muralha de contenção, execução de balaustrada e
escadaria em trecho da orla da Baía até o Farol da Barra, em março de 1879................................ p. 90
Figura 58. Mureta em alvenaria no trecho da orla da Baía de Todos os Santos entre os fortes de Santa
Maria e Santo Antônio, em postal datado de 1911............................................................................ p.90
Figura 59. Vista do Porto da Barra em 1903, a partir do Forte de Santa Maria ............................... p. 91
Figura 60. Projeto da Avenida Sete de Setembro em 1912, no trecho do Corredor da Vitória, a partir
do Campo Grande ........................................................................................................................... p.94
Figura 61. Clube Alemão de Salvador no início do século XX ..........................................................p.94
Figura 62. “Palácio dos Governadores” no Corredor da Vitória, no último quartel do século XIX ... p.94
Figura 63. Corredor da Vitória antes do alargamento da Avenida Sete (1915) .............................. p.95
Figura 64. Corredor da Vitória em 1925 ......................................................................................... p.95
Figura 65. Largo da Vitória em 1915. ........................................................................................... p.97
Figura 66. “Avenida Sete. Ladeira da Barra. Bahia”. 1916. ............................................................... p.98
Figura 67. Ladeira da Barra no início do século XX. ..................................................................... p.98
Figura 68. Avenida Sete de Setembro na altura do Porto da Barra na década de 1920 ................ p. 99
Figura 69. Avenida Sete de Setembro na altura do Farol da Barra no início de 1915. ................... p. 99
Figura 70. Final da Avenida Sete de Setembro (nas imediações do farol da Barra) na década de 1920,
vendo-se a esquerda o monumento comemorativo da conclusão da obra ................................... p. 100
Figura 71. Construção do Iate Clube da Bahia, entre 1935 e 1938. ................................................ p.101
Figura 72. Iate Clube e suas duas ruas de acesso, após 1938 ...................................................... p. 101
Figura 73. Avenida Oceânica em 1923. ...................................................................................... p. 103
Figura 74. Avenida Oceânica em 1923 no trecho do atual Morro Ipiranga.................................... p. 103
Figura 75. Construção da Avenida Oceânica em 1914 nas imediações do atual Morro Ipiranga... p. 104
Figura 76. Avenida Oceânica em cerca de 1930 nas imediações do atual Morro Ipiranga ............ p. 104
Figura 77. Mapa Síntese dos antigos Caminhos e Vetores de Expansão da Barra ..................... p. 105
Figura 78. Espécie de “Gondola” existentes em Salvador no século XIX ....................................... p. 107
Figura 79. Ladeira Graça-Barra (atual Avenida Princesa Isabel) em 1880.......................................p. 110
Figura 80. Elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal, em 1882. ............................... p. 110
Figura 81. Elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal, em 1882............................... p. 110
Figura 82. “Thomson road steamer”, na versão ônibus, composto por uma máquina de tração a vapor
e um veículo de passageiros. ......................................................................................................... p. 111
Figura 83. Os bondes de tração animal ou “bondes de burro” da “Linha Circular” (e outro sem
identificação) em 1888 ....................................................................................................................p. 112
13

Figura 84. Corredor da Vitória em 1885, observando-se os trilhos do bonde e a permanência da


circulação de carroças..................................................................................................................... p. 112
Figura 85. Ladeira da Barra em 1885.............................................................................................. p. 113
Figura 86. Inauguração do bonde elétrico da Companhia Carris Elétricos em 1897 no ramal da cidade
baixa na região do Bonfim. ............................................................................................................ p. 114
Figura 87. Planta do percurso do Bonde da “Linha Circular” em 1910............................................ p. 117
Figura 88. Rua da Graça, esquina com o Corredor da Vitória na década de 1910 ....................... p. 117
Figura 89. Remanescentes do interior da Estação de bondes da “Linha Circular” na Rua da
Graça.............................................................................................................................................. p. 117
Figura 90. Remanescente da fachada da Estação de bondes da “Linha Circular” na Rua da Graça
........................................................................................................................................................ p. 117
Figura 91. Trilhos da “Linha Circular” em 1915, indo em direção ao Largo da Graça..................... p. 118
Figura 92. Fim de Linha do bonde em frente ao Farol, em cerca de 1910. ...................................p. 118
Figura 93. Retorno do bonde pela via margeando a Baia de Todos os Santos ............................ p.118
Figura 94. Planta das Linhas Telefônicas da Cidade de Salvador em cerca de 1910 ................... p. 119
Figura 95. “Estação Telefônica da Graça” em 2014 ...................................................................... p. 119
Figura 96. Detalhe da Planta das Linhas Telefônicas na Barra em 1910 ................................... p. 119
Figura 97. Planta do Percurso das Linhas de Bondes em cerca de 1910 ...................................... p. 120
Figura 98. Detalhe das Planta das linhas de bondes na área da Barra em 1910 ......................... p. 120
Figura 99. Jardim da Graça em 1920 e o agenciamento do espaço urbano de níveis diversos...... p.121
Figura 100. Praça Dr. Paterson (ou Jardim da Graça) na década de 1920, visto a partir da Igreja da
Graça.............................................................................................................................................. p. 122
Figura 101. Palacete Bernardo Martins Catarino (1912), localizado na Rua da Graça ................ p. 122
Figura 102. "Chalé" na Rua da Graça (esquina da atual Rua da Flórida) de 1914 ..................... p. 122
Figura 103. Bonde “Barra 2” na década de 1940, no trecho Campo Grande – Barra.................... p.123
Figura 104. Esquema gráfico com o Percurso das Linhas de Bonde das Companhias “Linha Circular”
e Trilhos Centraes”, que atendiam a Salvador em 1925 .............................................................. p. 124
Figura 105. Ônibus elétrico (“trólebus”), na região do Farol da Barra, década de 1950 ............... p. 125
Figura 106. Planta das Linhas de Bonde em Salvador, 1952......................................................... p. 126
Figura 107. Detalhe de planta das linhas de bonde na Barra em 1925 ......................................... p. 126
Figura 108. Detalhe de planta das linhas de bonde na Barra em 1952 ........................................p. 126
Figura 109. Ônibus (tipo “marinete”) em Salvador a partir das décadas de 1940......................... p. 127
Figura 110. O primeiro “transporte urbano a combustível” de Salvador, na primeira década do século
XX ................................................................................................................................................. p. 127
Figura 111. Automóvel no Farol da Barra em 1920......................................................................... p. 127
Figura 112. Mapa síntese das linhas de transportes púbicos até década de 1950 .................... p. 127
14

-------------------------------------------------------- CAPÍTULO 03 ---------------------------------------------------------


Figura 113. Planta da Ocupação da Barra por volta de 1850, vendo-se os rios e caminhos existentes.
Desenho (à lápis sobre papel manteiga, com interferência digital) feito a partir de Mapa de Weyll, de
cerca de 1850 ............................................................................................................................ p. 130
Figura 114. Praia do Porto da Barra em 1858 ............................................................................... p.131
Figura 115. Ladeira da Barra em 1860............................................................................................ p. 131
Figura 116. Ruas da Barra (e sua convergência para o Largo do Porto) em 1873. ..................... p. 132
Figura 117. Vista de trecho da orla da Barra (tomada das imediações do Farol em direção ao forte de
Santa Maria) na segunda metade do século XIX........................................................................... p. 134

Figura 118. “Vista da Barra tomada do farol em direção ao forte de Santa Maria; na colina ao fundo,
igreja de Santo Antônio e à meia encosta, o forte de São Diogo”.................................................... p.135
Figura 119. Vista da Barra tomada do farol em direção ao forte de Santa Maria, primeira década do
século XX. .................................................................................................................................... p. 135
Figura 120. Sobrado em vocabulário neoclássico, no início da Avenida Princesa Isabel, em
1995.................................................................................................................................................p. 137
Figura 121. Sobrado em vocabulário neoclássico no início da Avenida Princesa Isabel, em
2014................................................................................................................................................ p.137
Figura 122. Detalhe de entrada lateral por escada, antecedida de portão de ferro, do Sobrado em
vocabulário neoclássico no início da Avenida Princesa Isabel, em 2014......................................... p.137
Figura 123. Sobrado de “porão alto” em vocabulário eclético, localizado no início da Avenida Princesa
Isabel, em 1995............................................................................................................................... p.138
Figura 124. Detalhe de pátio com piso em ladrilho hidráulico em Sobrado de “porão alto” em
vocabulário eclético, localizado no início da Avenida Princesa Isabel, em 1995.............................. p. 138
Fotos 125. Detalhe de entrada lateral por escada, antecedida de portão de ferro em Sobrado de “porão
alto” em vocabulário eclético, localizado no início da Avenida Princesa Isabel, 1995...................... p.138
Figura 126. “Solar dos Carvalho” no Largo da Graça, em 2014...................................................... p. 138
Figura 127. Elementos em ferro do “Solar dos Carvalho”................................................................ p. 138
Figura 128. Orla do Porto da Barra na primeira metade do século XIX .........................................p. 139
Figura 129. Orla do Porto da Barra no terceiro quartel do século XIX .......................................... p. 140
Figura 130. Projeto de construção de mais um pavimento em casa na Rua Barão de Sergy, N. 05, em
1910 de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho ..............................................................p. 140
Figura 131. Projeto de construção de 01 Casa na Rua Barão de Sergy, em 1910, de propriedade de
Manoel de Sá Gordilho ................................................................................................................... p.141
Figura 132. Sobrado “de porão alto” no Porto da Barra, Avenida Sete de Setembro, N° 58. ....... p. 142
Figura 133. Detalhe de portão, grades de ferro e piso em mármore bicolor da entrada principal do
sobrado “de porão alto” no Porto da Barra ................................................................................... p. 142
Figura 134. Interior do sobrado “de porão alto”, vendo-se o corredor de acesso ....................... p. 143
Figura 135. Interior do sobrado “de porão alto”, vendo-se as salas e as alcovas (quartos) com
esquadrias com bandeiras de ferro ................................................................................................ p. 143
Figura 136. Interior do sobrado “de porão alto”, vendo-se detalhe do forro em madeira ............... p. 143
Figura 137. Interior do sobrado “de porão alto”, vendo-se a escada em madeira de acesso ao segundo
pavimento ....................................................................................................................................... p. 143
15

Figura 138. Interior do sobrado “de porão alto”, vendo-se detalhe de sótão com telhas transparentes
(claraboia) que ilumina a área da caixa da escada ....................................................................... p. 143
Figura 139. Sala do sobrado “de porão alto”, com abertura para varanda dos fundos. ................ p. 143
Figura 140. Acesso ao sobrado “de porão alto” pela Rua Barão de Sergy ................................. p. 144
Figura 141. Anexos de Serviço ao fundo do sobrado “de porão alto”, com acesso pela Rua Barão de
Sergy ............................................................................................................................................ p.144
Figura 142. Elemento decorativo da varanda do sobrado “de porão alto”, executado em ferro .... p. 144
Figura 143. Edificação em vocabulário Eclético de inspiração neocolonial no Porto da Barra, Avenida.
Sete de Setembro, em 1995........................................................................................................... p. 144
Figura 144. Fachada voltada para Rua Barão de Sergy de Edificação em vocabulário Eclético de
inspiração neocolonial, em 1995 ..................................................................................................... p. 144
Figura 145. Edificação em vocabulário Eclético de inspiração neocolonial, no Porto da Barra em 2014.
........................................................................................................................................................ p. 144
Figura 146. Edificação em vocabulário Eclético de inspiração neocolonial, na Av. Sete, Porto da Barra
em 2015 .......................................................................................................................................... p. 144
Figura 147. Fachada voltada para Rua Barão de Sergy de Edificação em vocabulário Eclético de
inspiração neocolonial, em 2015 .................................................................................................... p. 144
Figura 148. Conjunto de sobrados Neoclássicos na Rua Barão de Sergy, na década de 1990.
........................................................................................................................................................ p. 145
Figura 149. Sobrado Neoclássico na R. Barão de Sergy, em 2014............................................... p. 145
Figura 150. Sobrado Neoclássico na R. Barão de Sergy, em 2014 ............................................ p.145
Figura 151. Casarão Neoclássico na Rua Barão de Itapuã, esquina com Barão de Sergy, na década
de 1990 .......................................................................................................................................... p. 145
Figura 152. Casarão Neoclássico na Rua Barão de Itapuã, esquina com Barão de Sergy, em 2014
........................................................................................................................................................ p. 145
Figura 153. Construção Eclética onde funciona a “Pousada Manga Rosa”, Praça Patriarca da
Independência, esquina da César Zama, na década de 1990 .................................................... p. 146
Figuras 154. Construção Eclética na Rua Barão de Sergy / Praça Patriarca da Independência, esquina
da César Zama ................................................................................................ .............................. p.146
Figura 155. “Casa de oitão” na Avenida Princesa Isabel................................................................. p. 146
Figura 156. Edificação em vocabulário eclético, datada de 1929, Porto da Barra, em 2014........ p. 147
Figura 157. Detalhe de platibanda de Edificação de 1929, Porto da Barra, em 2014 ................... p. 147
Figura 158. Edificação em vocabulário eclético, datada de 1929, Porto da Barra, em 2014........... p. 147
Figura 159. Detalhe de platibanda de Edificação de 1929, Porto da Barra, em 2014.................... p. 147
Figura 160. Edificação em vocabulário eclético, com elementos Art Nouveau, dos primeiros anos do
século XX, Porto da Barra, Avenida Sete de Setembro, N.3659 .................................................. p. 148
Figura 161. Detalhe de esquadrias em madeira e vidros coloridos em estilo art. nouveau na edificação
em vocabulário eclético, no Porto da Barra, N.3659........................................................................ p.148
Figura 162. Vista do Porto da Barra em 1870 ............................................................................... p. 149
Figura 163. Vista do Porto da Barra, a partir do Outeiro de Santo Antônio da Barra em 1885....... p. 149
Figura 164. Vista do Porto da Barra, a partir do Outeiro de Santo Antônio da Barra em 1920....... p. 149
Figura 165. Vista do Porto da Barra em 1930 ............................................................................... p. 149
16

Figura 166. Vista do Porto da Barra em 1950 ............................................................................. p. 149


Figura 167. Edificações em vocabulário eclético no final da Ladeira da Barra, nas imediações do Largo
do Porto, na década de 1930.......................................................................................................... p. 150
Figura 168. Ladeira da Barra e Igreja de Santo Antônio da Barra, vistas da Igreja da Vitória, em cerca
de 1840. ....................................................................................................................................... p. 151
Figura 169. Ladeira da Barra no final do século XIX ....................................................................... p. 152
Figura 170. Ladeira da Barra em 1860 ...................................................................................... p. 152
Figura 171. Edifício em vocabulário neoclássico, onde funcionou o “Hotel Colonial” e antiga pensão
para franceses (hoje sede da Aliança Francesa da Bahia) ........................................................... p. 153
Figura 172. “Mansão “Vila Serena”, na década de 1920, de propriedade de Alfredo Joaquim de
Carvalho, na Ladeira da Barra .................................................................................................... p. 153
Figura 173. Sobrados e conjunto de casas térreas na Ladeira da Barra nos anos 1930.................. p.153
Figura 174. Avenida Princesa Isabel em 1916, na área conhecida como “Baixa da Graça” .......... p. 154
Figura 175. Palacete em vocabulário eclético na Avenida Princesa Isabel ...................................p. 154
Figura 176. Trecho da rua Marquês de Caravelas, na década de 1940 ....................................... p. 155
Figura 177. Detalhe de foto da rua Marquês de Caravelas, observando-se sobrados e casas térreas
..........................................................................................................................................................p.155
Figura 178. Sobrado em vocabulário eclético na Rua Marquês de Caravelas, década de 1990...... p.155
Figura 179. Sobrado em vocabulário eclético na Rua Marquês de Caravelas, em 2014................. p.155
Figura 180. Sobrado em vocabulário eclético na Rua Marquês de Caravelas, em 2014 ................. p.155
Figura 181. Sobrado na Rua Dr. Praguer Fróes ........................................................................... p. 156
Figura 182. Sobrado na Alameda Antunes .................................................................................. p. 156
Figura 183. Sobrado eclético com torre, na Rua Marques de Caravelas ...................................... p. 156
Figura 184. Sobrado eclético com torre, na Rua Marques de Caravelas...................................... p. 156
Figura 185. Sobrado eclético com torre em frente ao Forte Santa Maria ...................................... p. 156
Figura 186. Trecho entre o Forte de Santa Maria e o Farol em 1870............................................ p.157
Figura 187. Trecho entre o Forte Santa Maria e o hospital Espanhol no final do século XIX.......... p.157
Figura 188. Casarões nas proximidades do Farol da Barra nas décadas de 1920/30.................... p. 158
Figura 189. Casarões nas proximidades do Farol da Barra na década de 1940............................ p. 158
Figura 190. Remanescente de Edificação em vocabulário eclético na Av. Sete de Setembro, nas
imediações do Farol da Barra, em 2015 .......................................................................................... p. 159
Figura 191. Remanescente de Edificação em vocabulário eclético, com fachada em estilo “enxaimel”,
nas imediações do Farol da Barra, em 2015................................................................................... p.159
Figura 192. Construções (mais simples) nas imediações do farol por volta de 1870 ..................... p. 160
Figura 193. “Quintas da Barra por volta de 1904. ......................................................................... p. 160
Figura 194. “Quintas da Barra” no início do século XX, vista a partir do atual morro do Cristo
.........................................................................................................................................................p. 161
Figura 195. ““Quintas da Barra” em cerca de 1904 ......................................................................... p. 161
Figura 196. Mapa de ocupação da Barra em 1908....................................................................... p. 162
17

Figura 197. “Quintas da Barra” depois de 1915............................................................................. p.162


Figura 198. Ocupação proletária (choupanas) no Morro do Ipiranga, cerca de 1890 ......................p. 163

Figura 199. “Quintas da Barra” na década de 1920 ....................................................................... p.164


Figura 200. “Quintas da Barra” na Orla Oceânica, na década de 1920, vendo-se ao fundo o morro
Ipiranga, ainda sem edificações. ......................................................................................................p.164
Figura 201. “Quintas da Barra” e sua orla oceânica, na segunda metade dos anos 1930. Observando-
se a manutenção dos casarões e o uso da praia como local de lazer ............................................ p. 165

Figura 202. Edificação em vocabulário Neoclássico da antiga “Pensão Harboard”....................... p. 165

Figura 203. Edificação em vocabulário Neoclássico remanescente da antiga “Pensão Harboard” na sua
fachada da Rua Professor Lemos de Brito ..................................................................................... p.165

Figura 204. Casarão Neoclássico remanescente da antiga “Pensão Harboard” na sua fachada voltada
para a Rua Professor Lemos de Brito ........................................................................................... p. 165

Figura 205. “Quintas da Barra” na Orla Oceânica da Barra em 1908, vista do mar, na altura do Forte
de Santo Antônio da Barra............................................................................................................... p. 166
Figura 206. Casa térrea “de oitão”, com fachada revestida em telha cerâmica, remanescente (em 1995)
da “Quintas da Barra” ................................................................................................................... p. 166
Figura 207. Sobrado remanescente (em 2016) da “Quintas da Barra” e do Loteamento “Barralândia”
na esquina da Rua Alfredo Magalhães........................................................................................... p. 166
Figura 208. Avenida Oceânica na década de 1930. .......................................................................p. 166
Figura 209. Edificações remanescentes (em 1995) da “Quintas da Barra” e do Loteamento
“Barralândia”................................................................................................................................... p. 166
Figura 210. Local da casa térrea “de oitão”, com fachada revestida em telha cerâmica, demolida em
2014, durante as obras de Requalificação da Orla da Barra a cargo da Prefeitura Municipal de Salvador
.........................................................................................................................................................p. 166
Figura 211. Construção da Prefeitura Municipal de Salvador datada de 2015, no lugar da casa térrea
“de oitão”, com fachada revestida em telha cerâmica, remanescente da “Quintas da Barra”...........p. 166
Figura 212. Sobrado remanescente (em 2013) da “Quintas da Barra” e do Loteamento “Barralândia”
Avenida Oceânica, esquina com Rua Alfredo Magalhães ..............................................................p. 166
Figura 213. Terras dos Beneditinos na área de estudo em meados dos anos 1950 ..................... p. 171
Figura 214. Projeto de construção de 06 Casas “Estrada da Graça” em 1901................................p. 173
Figura 215. Remanescentes de “grupo de casas” do início do século XX (possivelmente) para aluguel,
na Avenida Princesa Isabel, na década de 1990 ............................................................................ p.174
Figura 216. Remanescentes de “grupo de casas” do início do século XX (possivelmente) para aluguel,
de propriedade de Augusto César (?) na Avenida Princesa Isabel, em 2016.................................. p. 174
Figura 217. Interferência em 2017 na fachada (para funcionamento de stand de vendas de
empreendimento imobiliário) em “grupo de casas” do início do século XIX ..................................... p.174
Figura 218. Interferência em “grupo de casas” do início do século XIX ......................................... p.174
Figura 219. Demolição de “grupo de casas” térreas do início do século XIX ............................... p. 174
Figura 220. Três remanescentes arquitetônicos do século XIX na Avenida Princesa Isabel em
1995.................................................................................................................................................p. 174
Figura 221. Casa térrea datada de 1909 na Avenida Princesa Isabel........................................... p. 174
18

Figura 222. Projeto de construção de mais um pavimento em 01 casa no Farol da Barra, N. 54, em
1912, de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho ............................................................. p.175
Figura 223. Projeto de construção de 04 Casas na Avenida Princesa Isabel /“Baixa da Graça” em 1912,
de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho......................................................................... p.175
Figura 224. Projeto de construção de 05 Casas na Avenida Princesa Isabel /“Rua Baixa da Graça” em
1913, de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho.............................................................. p.175
Figura 225. Projeto de construção de 14 Casas na Ladeira da Barra (s/n) em 1911, de propriedade de
Manoel de Souza Campos Filho .................................................................................................... p. 175
Figura 226. Detalhe de Planta “Habitação Proletária em Salvador (1890-1930) ”, (vendo-se as 14 casas
de aluguel (“grupo de casas”) construídas por Manoel Campos Filho na Ladeira da Barra, nas
imediações do Largo da Vitória ........................................................................................................p. 176
Figura 227. Projeto de construção de 04 Casas na Barra Avenida em 1913, de propriedade de Júlio V.
Brandão .......................................................................................................................................... p.178
Figura 228. Projeto de construção de 01 casa na Barra Avenida (s/n) em 1911, de propriedade de
Francisco Romão Antunes ..............................................................................................................p.178
Figura 229. Projeto de construção de 02 casas na Barra Avenida em 1913, de propriedade de Francisco
Romão Antunes ...............................................................................................................................p.178
Figura 230. Vila (ou Via) Campos em 1995.....................................................................................p.180
Figura 231. Vila (ou Via) Campos em 2014.................................................................................... p.180
Figura 232. Vila (ou Via) Campos em /2014 ................................................................................. p.180
Figura 233. Vila (ou Travessa) Diná em 1995. .............................................................................. p.180
Figura 234. “Avenida” Artur Neiva em 2014....................................................................................p. 180
Figura 235. Vila Brandão, no final da década de 1930 e início da de 1940......................................p. 181
Figura 236. Vila Bosque da Barra na Barra em 2015..................................................................... p.181
Figura 237. Placa indicativa da “Vila Bosque da Barra”, na Rua Grienfield, em 2015.................... p. 181
Figura 238. Mapa de localização de habitações de baixa renda na Barra. .................................... p.182
Figura 239. Conjunto de casas na década de 1950 ...................................................................... p. 183
Figura 240. Ocupação informal (“favela”) nas imediações de Rua do Bairro da Graça e próximo a
edifício de apartamento (ao fundo) ................................................................................................. p.183
Figura 241. Planta dos Loteamentos de Salvador na década de 1930, segundo informações da
OCEPLAN/PMS ............................................................................................................................ p.186
Figura 242. Planta de Loteamentos na Barra na década de 1930, segundo informações da
OCEPLAN/PMS ......................................................................................................................... p.188
Figura 243. Loteamento de Clemente Mariani ............................................................................... p.189
Figura 244. Loteamento “Jardim Portugal”..................................................................................... p.190
Figura 245. Loteamento de Elisa Brasília Teixeira ..........................................................................p.190
Figura 246. Projeto dos Loteamentos “Boa Vista - Nova América” e “Bella Vista”, em 1931 .......... p.191
Figura 247. Loteamento Vila Nova América (1939) ........................................................................ p.192
Figura 248. Rua Lorde Cochrane, final da década de 1940............................................................. p.193
Figura 249. Trecho da Rua Alameda Antunes, na década de 1940 .............................................. p.193
19

Figura 250. Sistema viário entre a Ladeira da Barra e Barra Avenida implantado para acesso a
loteamentos aprovados na década de 1930..................................................................................... p.194
Figura 251 Loteamento “Barralândia” em 1934 ...............................................................................p.195
Figura 252. O loteamento “Barralândia” na década de 1940......................................................... p. 196
Figura 253. Rua Afonso Celso nos anos 1950................................. ............................................ p. 196
Figura 254. Rua Afonso Celso nos anos 1950................................................................................ p.196
Figura 255. Edifício “Barralândia” na esquina entre a Avenida Oceânica e a Rua Artur Neiva, construído
no final da década de 1930............................................................................................................. p. 196
Figura 256. Entrada do Edifício” Barralândia”, construído no final da década de 1930. .................p.196
Figura 257. Mapa da ocupação da Barra no final da década de 1930............................................p. 197
Figura 258. Edifício Dourado na Graça, Av. Euclides da Cunha. .................................................. p. 198
Figura 259. Edifício Dourado na Graça, Av. Euclides da Cunha. ..................................................... p.198
Figura 260. Edifício Oceania (1943) ............................................................................................... p.199
Figura 261. Edifício Embaixador (1935), Avenida Atlântica,3170, Copacabana, com projetos do
Escritório Freire & Sodré. .............................................................................................................. p.199
Figura 262. Edifício em linguagem Decó na década de 1930 em Copacabana, Rio de Janeiro, com
projeto do Escritório “Freire & Sodré”. ........................................................................................... p.199
Figura 263. Casa em estilo Art. Decó de inspiração naval na Ladeira da Barra .............................p.200
Figura 264. Antiga residência do historiador Edelweiss e posterior sede do Comando do Distrito naval
de Salvador Av. Sete, na altura do Farol da Barra .........................................................................p. 201
Figura 265. Antiga residência do historiador Edelweiss e posterior sede do Comando do Distrito naval
de Salvador Av. Sete, na altura do Farol da Barra ..........................................................................p. 201
Figura 266. Edifícios Elias Batista e Marquês de Caravelas n° 47 e 45, na Rua Marquês de Caravelas
......................................................................................................................................................... p.202
Figura 267. Edifício na Rua Florianópolis, Loteamento Jardim Brasil ............................................p. 202
Figura 268. “Edifício Capela” na Rua Eng. Souza Lima, N° 48/01, tranversal da Rua da Graça
observando-se a mesma tipologia ce 03 pavimentos com varandas de arremate curvo................ .p.202
Figura 269. Rua Tenente Pires Ferreira (Transversal da Ladeira da Barra) vendo-se as janelas tipo
escotilha e cobogó na caixa de escada ......................................................................................... p. 203
Figura 270. Edifício na Rua Lorde Cochrane...................................................................................p.203
Figura 271. Edifício “Ana Maria” na esquina da Av. Marquês de Caravelas e R. Afonso Celso ...... p.203
Figura 272. Em primeiro plano o Edifício “Camila” na Rua Leoni Ramos ....................................p. 203
Figura 273. Avenida Oceânica no final dos anos 1940, vendo-se exemplar de residência moderna (em
primeiro plano) e de edifício decó ao fundo (Edifício “Barralândia”) ................................................p.203
Figura 274. Avenida Oceânica no final dos anos 1940, vendo-se exemplar de residência moderna (em
primeiro plano) e Edifício Oceania, ao fundo .............................................................................p.204
.................................................................. CAPÍTULO 04 ........................................................................
Figura 275. Hospital Português em 1931 .................................................................................... p. 209
Figura 276. Antigo Clube Baiano de Tênis em 1916 ........................................................................p. 209
Figura 277. Trecho de Orla entre o Forte Santa Maria e o de Santo Antônio em 1858. ................... p.210
20

Figura 278. Projeto de “Reforma e Modificação da Fachada” do Hospital da Sociedade de Beneficência


Espanhola ....................................................................................................................................... p.210
Figura 279. Hospital Espanhol e seus anexos em 2010 .................................................................. p.210
Figura 280. Hospital Espanhol, construção em vocabulário eclético em 2014................................. p.210
Figura 281. Pintura retratando a “Quintas da Barra” no início de século XX ............................... p. 214
Figura 282. Pic-nic na Pituba em 1911 ...........................................................................................p.215
Figura 283. Piquenique em Mar Grande, na Ilha de Itaparica em 1913. ......................................... p.215
Figura 284. Ribeira de Itapagipe, 1860. ..........................................................................................p.217
Figura 285 “Empório Industrial do Norte” ........................................................................................p. 218
Figura 286. Estação ferroviária da Calçada em 1912 ...................................................................... p.218
Figura 287. Ribeira nos tempos ainda de veraneio, no final do século XIX .................................. p.219
Figura 288. Orla da Ribeira, na região conhecida como “Enseada dos Tainheiros”, na década de 1940
..........................................................................................................................................................p.219
Figura 289 “Porto da Barra, visto da Igreja de Santo Antônio”, último quartel do século XIX........... p.220
Figura 290. Espécie de “guarda-sol” na “Quintas da Barra” no início do século XX. ..................... p.222
Figura 291. Largo do Farol da Barra por volta de 1924, com seu coreto......................................... p.222
Figura 292. Equipamentos públicos de lazer no Largo do Farol da Barra 1920/24. ........................ p.223
Figura 293. Clube Baiano de Tênis, década de 1940 .....................................................................p.224
Figura 294. Praia do Rio de Janeiro na década de 1920.................................................................p.225
Figura 295. Praia do Rio de Janeiro na década de 1920 ............................................................. p. 225
Figura 296. Praia da Barra, 1923 ................................................................................................... p.225
Figura 297. Projeto de barracas de praia entregue para aprovação em 18/08/1906........................ p.226
Figura 298. Barracas de praia para troca de roupas em 1923 no Rio de Janeiro.......................... p.226
Figura 299. Banho de mar em Publicidade de 1915 ...................................................................... p.227
Figura 300. Roupas e acessórios para os banhos de mar em Salvador em 1937.......................... p. 227
Figura 301. Lazer e Turismo em 1925 em recorte de jornal soteropolitano ..................................... p.227
Figura 302. Publicidade do Bonde exclusivo para banhistas Centro-Barra em 1930.................... p.228
Figura 303. Mulheres de tradicional família baiana na Praia do Porto da Barra, década de 20...... p. 229
Figura 304. Grupo de banhistas na Praia do Porto da Barra”, década de 1920. ........................... p. 230
Figura 305. Veraneio na Pituba em 1920, em manchete de jornal .............................................. p.231
Figura 306. O Edifício Oceania, em Salvador. ............................................................................ p. 232
Figura 307. O Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro. ..................................................... p. 232
Figura 308. Impacto na paisagem da orla atlântica de Salvador, da construção do Edifício Oceania
(década de 1940) ......................................................................................................................... p.232
Figura 309. Impacto na paisagem da orla atlântica do Rio de Janeiro, da construção do Copacabana
Palace Hotel (década de 1920) ..................................................................................................... p. 232
Figura 310. Cassino Atlântico na década de 1930, em Copacabana............................................ p.233
21

Figura 311. Cassino Atlântico (vista aérea) ................................................................................... p. 233


Figura 312. Areal de Copacabana em 1890 .............................................................................. p. 234
Figura 313. Abertura do Túnel Velho em 1892, Rio de Janeiro ................................................... p.234
Figura 314. Avenida Copacabana, em 1906 ............................................................................... p.234
Figura 315. Edifício Oceania visto do farol da Barra .......................................................................p.239
Figura 316. Edifício Oceania visto da Avenida Marquês de Caravelas .........................................p. 239
Figura 317. Fachada Leste do Edifício Oceania .............................................................................p.239
Figura 318. Poço interno do Edifício Oceania em 2008 .............................................................. p.239
Figura 319. Vista área do edifício Oceania em 2011....................................................................... p.239
Figura 320. Planta de Ocupação da Barra em 1950 ..................................................................... p.240
Figura 320. A orla oceânica da Barra em 1950. ...............................................................................p. 240
22

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACBEU - Associação Cultural Brasil Estados Unidos


AHM - Arquivo Histórico Municipal (de Salvador)
APEBA - Arquivo Público do Estado da Bahia
BN - Biblioteca Nacional
BTS - Baía de Todos os Santos
CEAB - Centro de Estudos de Arquitetura na Bahia (da Faculdade de Arquitetura ê
Urbanismo da Universidade Federal da Bahia)
CONDER - Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
EBA/UFBA - Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia
EPUCS - Escritório do Plano Urbanístico da Cidade de Salvador (1938-1945)
FAUFBA - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia
FGM - Fundação Gregório de Mattos
ICBA - Associação Cultural Brasil Alemanha
IGHBA - Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
IMS - Instituto Moreira Sales
PMS - Prefeitura Municipal de Salvador.
UFBA - Universidade Federal da Bahia
23

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 25

CAPÍTULO 1. A LEGISLAÇÃO E A GESTÃO URBANA ...................................... 47


1.1. ANTECEDENTES ............................................................................................ 47
1.2. OS ARRABALDES E A “LEI DE TERRAS” ...................................................... 50
1.3. O TRAÇADO URBANO E A QUESTÃO DOS RECUOS E GABARITOS ...... 54
1.4. OS PARÂMETROS MODERNIZADORES NA ARQUITETURA ....................... 58

CAPÍTULO 2. A FLUIDEZ e UMA NOVA RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA ........ 62


2.1. “VILA VELHA”, UMA ÁREA RURAL ................................................................... 62
2.2. O SISTEMA VIÁRIO ........................................................................................ 73
2.2.1. Os Primitivos Caminhos da Barra .................................................................. 75
2.2.1.1.O “Caminho para Vila Velha” ...................................................................... 75
2.2.1.2. O “Caminho da Floresta” ............................................................................ 83
2.2.1.3. Outros antigos caminhos da Barra ............................................................ 85
2.2.2. As Avenidas da Barra .................................................................................. 91
2.2.2.1. Avenida Sete de Setembro ..................................................................... 92
2.2.2.2. Avenida Oceânica .................................................................................... 102
2.3. O TRANSPORTE PÚBLICO........................................................................... 106

CAPÍTULO 3. A NOVA ESTÉTICA E UM NOVO MERCADO................................. 129


3.1. A “QUINTAS DA BARRA” .............................................................................. 159
3.2. O MERCADO IMOBILIÁRIO E FUNDIÁRIO .................................................. 167
3.2.1. As casas de aluguel ..................................................................................... 171
3.2.2. Os loteamentos ......................................................................................... 184
3.3. OS PRIMEIROS EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS E O VOCABULÁRIO
DECÓ..................................................................................................................... 200
24

CAPÍTULO 4. UMA NOVA ESPACIALIZAÇÃO: A BARRA e sua ORLA ATLÂNTICA


................................................................................................................................. 205
4.1. A QUESTÃO HIGIÊNICA E O PROJETO TERAPÊUTICO À BEIRA MAR
................................................................................................................................. 205
4..2. O DESCANSO E O LAZER ........................................................................... 215
4.3. DUAS CAPITAIS, DOIS MARCOS E UM ÚNICO OCEANO ......................... 231

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 241


REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 247

ANEXOS ............................................................................................................... 265


ANEXO 01. BENS TOMBADOS NA BARRA (e imediações) ..................................266
ANEXO 02. ANTIGOS LOGRADOUROS DA BARRA (e imediações) .................... .270
25

INTRODUÇÃO

O bairro1 da Barra encontra-se assentado no vértice da península onde está a


cidade de Salvador, entre o Oceano Atlântico (ao sul) e o mar da Baía de Todos os
Santos (a oeste), a aproximadamente cinco quilômetros da Praça Municipal,
localizada no centro histórico da cidade, sendo limitado ao Norte com o Corredor da
Vitória, a Nordeste com o bairro da Graça, a Leste com o bairro de Ondina, e tendo
como acessos principais as avenidas Sete de Setembro, Presidente Getúlio Vargas
(ou Avenida Oceânica) e Centenário (Figuras 02 e 03).
Fazendo parte de diversas divisões administrativas de Salvador ao longo do
tempo2 - freguesias, paróquias, distritos de paz, zonas e subdistritos – foi escolhida
para uso nessa tese aquela de “bairro”, que apesar de fora do recorte temporal
privilegiado, pois surgida apenas na Lei Municipal Nº 1038 de 1960, dá uma unidade
ao texto e dialoga com os demais conceitos aqui trabalhados, além do que, não foram
encontradas referências acerca do momento em que a antiga “Vila Velha”, local de
sua ocupação inicial, passou a ser conhecida popularmente e/ou a se denominar
oficialmente de “Barra”, título em decorrência, muito provavelmente, de suas
características específicas de implantação, nas proximidades da entrada da Baía de
Todos os Santos.

1
Por Bairro “entende-se uma unidade de delimitação territorial com consolidação histórica que
incorpora a noção de pertencimento das comunidades que o constituem; que possuiu equipamentos e
serviços de educação, saúde, transporte e circulação, que conferem autonomia ao território; que
mantém relação de vizinhança e que reconhece seus limites pelo mesmo nome” (VEIGA, ET alli, 2012,
p 137).
2
As paróquias eram unidades administrativas baseadas em divisões eclesiásticas da cidade, e até
1911 - quando Salvador passa a dividir-se administrativamente em 11 Distritos de Paz, acrescidos de
mais 05 em 1931 (ARAÚJO, 1992) - eram em número de 10: Paróquias da Sé ou São Salvador, Nossa
Senhora da Vitória, Nossa Senhora da Conceição da Praia, Santo Antônio Além do Carmo, São Pedro
Velho, Santana do Sacramento, Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, Nossa Senhora de Brotas,
Santíssimo Sacramento do Pilar e Nossa Senhora da Penha. Na Lei N°1146 de 1926, a cidade aparece
zoneada em quatro áreas (central, urbana, suburbana e rural) e o Decreto-Lei n° 10.724/38 considera
a existência de um só “Distrito”, o de Salvador, com 24 “Zonas”, o que é alterado pelo Decreto-Lei
n° 141/43 (Estadual), que altera a denominação de “Zona” para a de “Subdistrito”. Em 1948 o
Decreto-Lei n° 701/48 estabelece o limite de “Setores”, regulamentados apenas em 1954 (Decreto
n° 1.335/54 e Lei n° 502 de 12/08/1954) quando o Município de Salvador é dividido em 5 “Distritos”
(Salvador, Nossa Sra. das Candeias, Água Comprida, Ipitanga e Madre de Deus) e o Distrito de
Salvador passa a ter 20 “Subdistritos”. Apenas em 1960 surge a primeira divisão do Município
por bairro, estabelecendo seus limites e dos distritos e subdistritos, na Lei Municipal Nº 1038/1960,
passando Salvador a contar com 32 bairros, que teve seu número aumentado em 2017.
26

Devido à sua pouca largura - resultante de sedimentação de rochas, a exemplo


daquela que formou o “banco de areia de Santo Antônio” – esse local de passagem
para o interior da baía, se constitui em um “portal” de acesso ao porto, que é
denominado de “barra”, acidente geográfico que pode ocorrer no rio ou no mar. Cabe
ainda mencionar que foi em virtude dessa localização estratégica na entrada da
“barra”, que foi instalado pelos portugueses no século XVI, o “padrão de posse” das
terras da Bahia, naquela elevação que que passou para a história como “Ponta do
Padrão” e onde foi construído, para defender a cidade de Salvador e seu porto de
ataques por mar, o Forte de Santo Antônio da Barra (1582), o qual, em virtude de
constantes naufrágios nas suas imediações, recebeu em 1696, o farol que ainda lá se
encontra, depois de algumas modernizações.

A área de estudo apresenta topografia diversa, com trechos de praia (Porto e


Farol) e outros com inúmeros rochedos (entre os fortes Santa Maria e Santo Antônio),
com vales e elevações de 20 a 30 m de altura em relação ao nível do mar
representadas nos morros de Santo Antônio da Barra (22 m), Clemente Mariani (31m)
e Gavazza (34m), que ainda apresentam certa massa vegetal preservada (Figura 04),
e nos morros Ipiranga (35 m) e do Gato (35 m), que se encontram já no limite entre os
bairros da Barra e de Ondina, já totalmente ocupados por residências, e localizados
em frente aos morros “do Cristo” (9 m) e “da Aeronáutica” (35 m). (http://pt-
br.topographic-map.com/places/Ondina-7010438/ acesso 26/10/16).

A Barra é hoje um bairro residencial de classes média e alta, que conta com uma
grande rede estabelecimentos comerciais e de serviços (bares, restaurantes,
shopping center, hotéis e pousadas) voltados para o atendimento a seus moradores
e ao grande número de turistas e frequentadores locais, que buscam a sua orla como
local de lazer, principalmente nos finais de semana, no verão e durante o Carnaval
que ali acontece.

Ao longo dos seus 480 anos de história, o bairro da Barra passou por grandes
transformações físicas, funcionais e sociais, que foram objeto de análise da presente
tese, mais especificamente no período entre 1850 e 1950, e é sobre a construção
dessa narrativa, que trataremos a seguir.
27

Baía de Todos os
Santos

Oceano Atlântico

Figura 02. Limites administrativos do bairro da Barra em 2016. (Fonte Google Maps. Acesso em
20 out. 2016)

Ondina

Morro da Aeronáutica

Figura 03. Mapa do Bairro da Barra em 2011, com suas principais ruas e avenidas e seus limites
administrativos (em vermelho). (Fonte: Google Maps 2011. Acesso 20 set. 2016)
28

Morro do Gato
Morro Ipiranga
Morro de
Clemente
Mariani

Outeiro de
Santo Antônio
da Barra Morro do
Cristo

Morro do
Gavazza

Figura 04. O Bairro da Barra e suas elevações, em vista área de 2013, a partir do encontro entre o
Oceano Atlântico e a Baía de Todos os Santos. (Fonte: Google Maps, acesso em 18 set. 2014)

Dando continuidade às pesquisas iniciadas no ano de 1985, durante a


Disciplina da Graduação em Arquitetura da UFBA, Atelier VII, que trabalhava com
Planejamento Urbano, os estudos sobre a Barra começaram a ser aprofundados em
1988, durante o VI CECRE / Curso de Especialização em Conservação e Restauração
de Sítios e Monumentos Históricos, como forma de contextualização geográfica e
histórica do Forte de São Diogo (1629), então o objeto de intervenção. Durante as
pesquisas, foi observado não só o desconhecimento por muitos soteropolitanos da
existência daquela fortaleza– em posição recuada e menos visível que os Fortes de
Santa Maria (1627) e de Santo Antônio (século XVI) - e da importância histórica do
sítio onde se localizava, o Porto da Barra, como também, a reduzida referência nos
livros ao primeiro assentamento português na nossa cidade, a “Povoação do Pereira”
(1536), se comparada ao vasto acervo sobre a “cidade fortificada de Tomé de Souza”
(1549), construída mais de uma década depois.
Além de estudos pontuais sobre seus monumentos religiosos e militares, e
com exceção da obra de Kátia MATTOSO sobre Salvador no século XIX (1978) - onde
o bairro passa a receber maior atenção, mas ainda sem o protagonismo necessário,
sendo ressaltadas as suas características ainda rurais - a Barra assumiu papel pouco
29

significativo nas publicações de cronistas e autores clássicos da História da Bahia


(VILHENA, 1801 (comentários de Braz do AMARAL, 1969); REIS, 1905; CAMPOS,
1930; SAMPAIO, 1949; ROCHA PITTA, 1950; GORDILHO,1960; EDELWEISS, 1961;
SOUZA, 1971; TAVARES, 1974; CARNEIRO,1978 e SIMAS FILHO, 1978), sendo
tratada apenas como local de desembarque dos fundadores da primeira capital do
Brasil (1549), gerando debates sobre a localização daquela povoação sede da
Capitania da Baia de Todos os Santos que daria origem ao bairro (no Porto, Farol,
Graça ou Vitória), ou quando muito, sendo analisada na sua função de ponto de apoio
da sede do Governo Geral, construída no atual Centro Histórico de Salvador.

Objeto de pesquisa durante o Mestrado em Arquitetura e Urbanismo do


PPGAU/FAUFBA entre 1990 e 1996 (não defendido por questões de ordem pessoal),
ao ser retomado em 2013, então como Tese de Doutorado no mesmo Programa de
Pós-Graduação, observou-se que pouca coisa havia mudado no que dizia respeito ao
tratamento da Barra como um sítio de valor histórico, apesar dos trabalhos mais
recentes sobre Salvador de Cid TEIXEIRA (2001), Consuelo Novais Sampaio (2005)
e de Anna Amélia Vieira Nascimento (2007) e da Dissertação de Mestrado de Maria
do Carmo Baltar Esnaty de Almeida (1997), onde encontramos informações preciosas
sobre o bairro, mas dentro de um recorte temporal concentrado no século XIX e três
primeiras décadas do XX e de um contexto espacial mais amplo, como integrante da
Freguesia da Vitória, formada pelos atuais bairros da Vitória, Graça, parte de Brotas
e Rio Vermelho

O mesmo pode ser dito sobre aquelas teses e dissertações que tratam da
Modernização Urbana de Salvador a partir do século XIX e que dão importantes
contribuições sobre o contexto em que se insere o presente estudo, mas com foco em
outros locais da cidade, como o bairro da Sé (PINHEIRO, 1992 e 2011), a área central
(MUÑOZ, 2014) e o Comércio (ALMEIDA, 2014 e ROCHA, 2007) ou, se aproximando
mais geograficamente da Barra, tratam do “Corredor da Vitória” (ARAÚJO, 2004 e
MOTA, 2008).
Dessa forma, a opção em ter a Barra como objeto de pesquisa de Doutorado,
justifica-se pelo mesmo continuar carecendo de estudos mais aprofundados, que não
só valorizem a sua história urbana, como também subsidiem ações de preservação
do seu patrimônio construído e ambiental, em grande risco diante do que se pode
chamar de um novo “surto modernizador”, iniciado em 2013 pela Prefeitura Municipal
30

de Salvador3, em parceria com a iniciativa privada, e que privilegia a especulação


imobiliária, o turismo e os megaeventos.

Inserindo-se assim, nas linhas de pesquisa sobre a modernização urbana do


Brasil e de Salvador, a tese se propõe a preencher lacunas relativas ao rebatimento
desse processo nas áreas periféricas ao centro da cidade e mais especificamente,
identificar os agentes que contribuíram para as alterações da paisagem da Barra ente
1850 e 1950, assumindo-se como hipótese que as mesmas são resultantes da
atuação articulada entre o poder público e a iniciativa privada, no sentido de
materializar naquele bairro os ideais de progresso em voga a partir do século XIX -
através de implantação de infraestrutura viária e transporte público, novas arquiteturas
e práticas sociais à beira-mar - e de criar de novas formas de investimento de capitais.
Através de inventário fotográfico, Revisão Bibliográfica de autores clássicos
acima referidos, e do recuo espaço-temporal da pesquisa até o período colonial
(séculos XVI a XVIII) e ao local da “Povoação do Pereira” (1536-1542) no Porto da
Barra, a partir do qual se desenvolveu o bairro, foi possível estabelecer a sua relação
física e funcional com o centro de Salvador e com as ocupações adjacentes da Graça
e Vitória, criar parâmetros de análise das “permanências e rupturas” encontradas na
paisagem durante o período de estudo (1850-1950) - possibilitando a identificação de
antigos logradouros (toponímia), a análise das manifestações arquitetônicas e
intervenções urbanísticas, como abertura de novas vias, aterramento de lagoas e
braços de mar e canalização de rios - e definir a área de estudo.

A partir desses dados e de análise feitas sobre as Plantas dos Beneditinos


(Figura 05) e de Teodoro Sampaio (Figura 06), delimitou-se a área de estudo dessa
tese (Figura 07), que que foi ampliada da antiga “Povoação do Pereira”, localizada no
Porto da Barra, em direção as igrejas da Graça e da Vitória, fulcro da ocupação inicial
daqueles dois bairros, e em direção ao Farol da Barra, e daí até o “Morro do Cristo”
(Figuras 08 e 09), o que não corresponde portanto, a totalidade dos limites
administrativos atuais do bairro, pelos mesmos terem sido consolidados em momento
posterior a 1950.

3“Projeto de “Requalificação da Orla”, inserido no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano / PDDU


2016 e no processo de Planejamento Estratégico do “Plano Salvador 500”.
31
32

Figura 06. Estudo de Teodoro Sampaio (1949) sobre a localização de “Vila Velha” (antiga
“Povoação do Pereira) no século XVI (círculo azul), indicando, entre outros, a “gambôa onde penetrava
a maré” (C), no local onde se encontra o atual Largo do Porto da Barra. (Fonte: SAMPAIO, 1949, p.30)
33

Figura 07. Estudo para localização da “Povoação do Pereira” e delimitação da área de estudo,
com base na análise comparativa entre as Plantas de Teodoro Sampaio, dos Beneditinos e mapa atual
do Bairro da Barra.
34

Estátua do Cristo

Figura 08. Delimitação da Área de Estudo (em vermelho) sobre Mapa de 1850. Vendo-se a
ocupação ao longo dos caminhos, em azul a “Trilogia de Defesa da Barra” (PESSÔA, 1988) e em
amarelo, os monumentos religiosos. (Fonte: Cópia xerográfica de parte do “Mappa Topographica da
Cidade de S. Salvador e seus Subúrbios” de Carlos Augusto Weyll, cerca de 1850, anexa ao livro de
REBOUÇAS, 1979. Original colorido na Biblioteca Digital Luso-Brasileira, http://bdlb.bn.gov.br/ )

Figura 09. Delimitação da Área de Estudo (em vermelho) sobre vista aérea de Salvador em 2017,
a partir do encontro entre o Oceano Atlântico e a BTS. (Fonte: Foto de Mauro Akin Nassor, em
http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/salvador-vista-das-nuvens/. Acesso em 10 ago. 2017)
35

Apesar de serem utilizadas informações de período anterior, acima justificadas,


e da autora carregar um “olhar contaminado” por vivências contemporâneas na área
de estudo, o recorte temporal privilegiado na tese foi aquele entre 1850 e 1950, não
seguindo portanto, uma periodização usual, baseada na organização política e
administrativa do Brasil e algumas das suas subdivisões (Colônia, Império, República,
“República Velha”, “Estado Novo”, etc.) ou mesmo de etapas de Modernização Urbana
em Salvador, a exemplo de 1850 - 1920 (FERNANDES e GOMES, 1990 e PINHEIRO,
1992), 1890 - 1940 (SILVA SANTOS, 1990), 1890-1930 (ALMEIDA, 1997 e 2014) ou
1849-1930 (SAES, 2007), ou ainda, embasada em critérios bem específicos como os
utilizados por Pedro Vasconcelos (2002), segundo o qual, o nosso período de estudo
seria uma somatória daqueles de “estabilidades e infra-estruturação” (1850/1889) e
de “reformas urbanas e europeização” (1889/1944), adentrando ao início do período
de “migrações e grande expansão” (1945/1969).
Assim, em um procedimento que trata da longa duração como temporalidade
essencial para a compreensão das transformações que se queria estudar no bairro, a
definição dos marcos temporais em 1850 e 1950, atendeu a uma estratégia
meramente formal de abarcar um século de história, pois apesar da promulgação da
extinção do tráfico negreiro e da “Lei de Terras” em 1850, ter sido fundamental, como
veremos, para a compreensão do processo de modernização da Barra, há outros
momentos iniciais mais diretamente a ela relacionados, como a epidemia de cólera
(1855) ou início da circulação do bonde de burro (1870). Mesma analogia pode ser
feita em relação ao recorte final da tese em 1950, uma vez que encontramos em 1943
a data da inauguração do “Edifício Oceania”, importante marco visual e do processo
de mudança da paisagem da Barra, ou ainda no ano de 1949, quando se inaugurou a
primeira Avenida de Vale (a Centenário), que marcaria uma nova forma de intervenção
na cidade, através da aplicação de Planos Diretores, iniciados pelo EPUCS/Escritório
do Plano Urbanístico da Cidade de Salvador (1942-1947).

Para dar conta desse estudo, foram buscados referenciais teóricos em diversos
autores, de acordo com a ideia de que os mesmos deveriam ser “úteis” e se
constituírem apenas em balizadores do percurso da escrita de uma tese que se
ancorava na materialidade urbana e arquitetônica, privilegiando a noção de “desenho”
ou “forma urbana” - expressa em construções, lotes, quadras, ruas e praças e
receptáculos de obras de infraestrutura - na sua relação com a “função”
36

desempenhada por essa “forma”, correspondente nesse caso, ao papel


desempenhado pela Barra em relação ao centro de Salvador como local de diversos
usos ao longo da sua história (abastecimento, veraneio, residência, lazer e turismo).

A noção de “tempos históricos” com “durações diferentes”, onde ocorrem


tempos “entrelaçados”, “continuidades e descontinuidades”, ”tempos longos” e
“tempos curtos” (LE GOFF, 2003; BRESCIANI, 1992; VASCONCELOS, 2002), foi
utilizada para embasar o tratamento da reconstrução histórica dos processos de
modernização da cidade e da Barra, estruturados na “longa duração”, no que ela tem
de “permanências” e de “rupturas”, do contexto político, econômico, social e cultural e
de formas urbanas e arquitetônicas.
Segundo a natureza de seu objeto e o teor de seus objetivos, das principais
temáticas abordadas e recortes espaço-temporais priorizados, foram também
trabalhadas como fontes de construção teórico-metodológica, os livros, artigos, teses
e dissertações, relativas a História da Cidade e do Urbanismo4, no seu diálogo com a
Preservação do Patrimônio Cultural Urbano5, e que se inserem na vertente de
produção historiográfica brasileira centrada na modernização urbana dos séculos XIX
e primeiras décadas do século XX, acrescida daquela outra mais recente, que trata
da análise do urbanismo de viés modernista, praticado entre as décadas de 1930 e
1960.
Sendo a “modernização” entendida como “uma série de processos
tecnológicos, econômicos e políticos, associados à Revolução Industrial”
(HARRISON, 2000, p.6 apud ARAÚJO, 2004, p.12) da Europa, notadamente na
Inglaterra do século XVIII e considerando que a mesma não ocorreu no Brasil e em
Salvador com o mesmo grau de complexidade social e urbana, o conceito será
aplicado nesse estudo como correspondendo ao processo - iniciado nos primeiros
anos do século XIX e que se estendeu até a primeira metade do século XX – durante
o qual se empreenderam esforços no sentido da realização de um “projeto civilizatório”
no qual foram propostos novos hábitos culturais e valores estéticos na arquitetura e

4
Sobre a Historiografia da História Urbana no Brasil, ver, entre outros referenciados: “Cidade &
História”, organizado por Ana Fernandes e Marco Aurélio A. de F. Gomes, 1992; “Cidade e Urbanismo:
história, teorias e práticas”, organizado por Nino Padilha, 1998; “A cidade como história: os arquitetos
e a historiografia da cidade e do urbanismo” de Eloisa Petti Pinheiro e Marco Aurélio A. de Filgueiras
Gomes, 2004 e “Dois séculos de Pensamento sobre a cidade” de Pedro de Almeida Vasconcelos, 2012.
5Sobre Patrimônio Cultural Urbano ver, entre outros referenciados: “Reconceituações Contemporâneas

do Patrimônio”, organizado por Marco Aurélio A. de Filgueiras Gomes e CORRÊA, Elyane Lins (2011).
37

nos espaços públicos e realizadas intervenções na cidade, utilizando-se dos avanços


científicos e tecnológicos, no sentido de dotá-la de melhor circulação e salubridade.
Tendo como referência de base Pedro Vasconcelos (2002), foram privilegiados
como operadores do discurso os agentes políticos e econômicos representados pelo
poder público (Estadual e Municipal) e por aquela parcela da sociedade detentora do
capital, que foi dirigido para a modernização de Salvador, cuja análise foi
fundamentada na produção bibliográfica do Professor Marco Aurélio A. de Filgueiras
Gomes (1990, 2004, 2005 e 2011) e complementada por teses e dissertações que
abordam o tema6.
O estudo abarca assim, dois períodos de modernização urbana em Salvador,
o primeiro relativo aquele conhecido como do “urbanismo sanitarista”, entre 1850 e
1920/30 e o segundo, referente ao “urbanismo modernista”, aplicado entre 1930 e
1960 (GOMES e FERNANDES, 1992).
O primeiro deles é antecedido pelas as obras do governo do Conde dos Arcos
(1810- 1818) que receberam influência de intervenções urbanas realizadas no Rio de
Janeiro no final do século XVIII7, as quais se seguiram as que, além da salubridade e
“aformoseamento” de Salvador, se voltaram também para a melhoria da sua
circulação interna, tendo como modelo o “Plano Haussmann”, executado em Paris a
partir de 1853 e que se caracterizou em linhas gerais, segundo HAROUEL (1990.
p.112):

(...) pela criação de uma vasta rede de grandes artérias que cortam
indistintamente o território da cidade, quer se trate dos bairros mais densos
no centro ou nas zonas periféricas onde a urbanização está por se fazer:(...).
Uma nova estrutura feita de bulevares, avenidas e ruas largas sobrepõem-se
à trama existente, criando uma forte hierarquia entre as vias novas e a maioria

6 Sobre a modernização de Salvador ver entre outros, PINHEIRO,1992 (1850-1920), 2011;


ALMEIDA,1997, 2004 (1890-1930); ARAÚJO, 2004(1930-1949) e MUÑOZ, 2014 (? -1935) e
especificamente sobre o seu “projeto civilizatório”, ver a Tese de Maria do Carmo B. Almeida (2014).
7 Na sequência de graves epidemias que assolaram o Rio de Janeiro em meados do século XVIII foi

proposto o aterramento da Lagoa do Boqueirão - sobre o qual foi inaugurado em 1783 o Passeio Púbico,
que receberia melhorias durante todo o século XIX (Biblioteca Nacional.
http://brasilianafotografica.bn.br/?p=7080 ), ação que passou a servir de referência para as demais
cidades brasileiras: “O ambiente geográfico da cidade tradicional se conformava por morros que
dificultavam o crescimento da cidade assim como a sua adequação com os padrões modernos, e
devido a esta impossibilidade, o governo promoveu uma solução impactante e audaciosa para a época,
fazendo o aterramento da Lagoa do Boqueirão para formar o ‘parterre’ e sobre este construir um
empreendimento integrado, considerando-se obras de infraestrutura (abertura de vias, redes
drenagem, elétrica, abastecimento d´água), edificações (residências, instituições), espaços de
sociabilidade (praças, Passeio Público), arborização e iluminação pública, etc. Uma ação vultosa que
elevou a cidade à condição de uma metrópole moderna, sendo considerada, pelos historiadores, como
a origem das ações iluministas no Brasil”. (SILVA, 2012, apud CARDOSO, 2015, p.70)
38

das vias antigas. Paralelamente adota-se uma política extremamente ativa


em matéria de equipamentos públicos: sistema viário, rede de esgoto,
distribuição de água e gás, mercados cobertos, feiras, prefeituras, colégios,
estações, casernas, prisões, hospitais, espaços verdes.(...) Os principais
objetivos de Napoleão III e de seu prefeito [Haussmann] são fazer
desaparecer a imagem da cidade antiga, velha e insalubre, facilitar a
circulação multiplicando as ligações entre as diferentes partes da cidade,
assegurar a valorização dos monumentos colocando-os no eixo de uma
perspectiva, possibilitar a manutenção da ordem em caso de rebelião.

Posto em prática mais efetivamente nos primeiros anos do século XX, na


primeira gestão de José Joaquim Seabra à frente do Governo Estadual (1912-1916)8,
essa forma de intervenção, conhecida como “urbanismo demolidor”, acarretou,
através de melhoramentos na Rua Chile e abertura da Avenida Sete de Setembro
(Figura 10), grande impacto no tecido urbano da área central de Salvador, assim como
aconteceu em outras capitais brasileiras, como no Rio de Janeiro, durante a reforma
urbana conduzida pelo Prefeito Pereira Passos (1902-1906) e São Paulo, com as
obras do Vale do Anhangabaú (1911-16).
O segundo momento de modernização em Salvador, entre os anos 1920/30 e
1960, foi o da aplicação do “urbanismo modernista”. Com base nas ideias difundidas
pela “Carta de Atenas” (1933) e nas discussões da “Semana de Urbanismo” ocorrida
em Salvador em 1935, foi criado o EPUCS (1942-47), escritório responsável pela
elaboração do Plano Urbanístico para a cidade e que se caracterizou, entre outros
aspectos, pela difusão da arquitetura moderna (e novos parâmetros de implantação
no lote, recuos e gabarito) e pela propostas de zoneamento de usos, com separação
das áreas residenciais, de lazer e de trabalho (SAMPAIO, 2010, p.53) e de abertura
de grandes avenidas – a exemplo do “Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo”
datado de1930 e de autoria do engenheiro Francisco Prestes Maia - por onde
passariam a circular não mais os bondes, mas os automóveis, sendo por isso também
conhecido como um urbanismo “rodoviarista”.
O “Plano do EPUCS” começou a ser viabilizado durante o estabelecimento da
nova conjuntura política e econômica do pós-guerra (1945), sendo a Avenida
Centenário (1949), no limite da nossa área de estudo, a primeira “avenida de vale” a
ser inaugurada, ao que se seguiriam outras ações no sentido da expansão da cidade

8 Na primeira gestão de J.J. Seabra (1912-1916), além de intervenções em direção ao vetor sul, como
a abertura da Avenida Sete de Setembro (1915) e o início da construção da Avenida Oceânica (1923),
foram também executados, entre outras obras, o aterro e modernização do porto e alargamento de
diversas ruas da Cidade Baixa.
39

no sentido oposto da Baía de Todos os Santos e da área onde se encontra a Barra,


ficando, portanto, a análise do “urbanismo modernista”, fora do recorte espaço-
temporal desse estudo.

Figura 10. Perspectiva do Projeto de Melhoramentos para a área central de Salvador em 1910, de
autoria do Engenheiro Alencar Lima, vendo-se a esquina entre atuais Ladeira de São Bento, então
denominada de “Avenida 2 de Julho” (à esquerda) e a Rua Carlos Gomes (à direita). Nota-se também
o compartilhamento das vias por pessoas e por diferentes tipos de transportes, como automóveis,
cavalos, carroças e bondes. (Fonte “Bahia, Histórias & Encantos”, em “Salvador... tempos passados! ”,
em https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ Acesso 24 jan. 2017)

O termo “moderno”, segundo uma visão abrangente, “assinala a tomada de


consciência de uma ruptura com o passado” (LE GOFF, 2003, p. 178) ou ainda aquilo
que reflete as “características e as exigências de uma cultura preocupada com o
progresso” (ARGAN, 1987, apud ARAÚJO, 2004, p. 13) e assim será empregado
nessa tese, como o foi nos textos dos séculos XIX e primeira metade do XX, como um
“elemento inovador”. Sendo de ordem material ou ideológica, essas “inovações”
presentes no ideário da modernização, além das transformações físicas, também
alcançaram as práticas socioculturais, a exemplo da frequência na praia, uma
“invenção” moderna (CORBAIN, 1989) que criou um novo de “espaço de socialidade”
40

(AZEVEDO, 1988), colaborando para a ocupação de áreas litorâneas periféricas de


Salvador, assim como ocorreu no resto do Brasil e do mundo (ZUCCONI, 2009).
No que diz respeito a “Arquitetura Moderna”, que não chegou a ter exemplares
quantitativamente relevantes na Barra no período de estudo, a mesma é diferenciada
nessa tese da manifestação Decó. Apesar de terem em comum o racionalismo,
funcionalismo, formas geométricas definidas, o uso de tecnologias de concreto
armado e vidro e falta de ornamentação, a arquitetura Decó foi aqui considerada como
uma expressão datada9, com elementos compositivos distintos e características
tipológicas específicas10 e não como integrante da chamada “primeira modernidade”,
ocorrida entre 1920 e 1945 (ZEIN, 2012), como um “proto-moderno”, ou como “uma
dimensão da arquitetura moderna” (GALLEFFI,2004, p.33/65).

Outro conceito fundamental para o presente estudo foi o de paisagem, termo


polissêmico, capaz de gerar diferentes aproximações conceituais e metodológicas a
depender do Campo de Conhecimento em que se insere, como Geografia,
Arquitetura, Urbanismo ou Patrimônio Histórico, como bem analisou Rafaela GUEDES
(2012) na sua Dissertação, sendo aqui empregado o de “Paisagem Histórica Urbana”
(Historic Urban Landscape) proposto pela UNESCO em 2011 e que apesar de ainda
não ratificado pelo Brasil, atualiza conceitos geográficos de espaço, território, região
e lugar e amplia a ideia de “Paisagem Cultural” (Figura 11).

O uso desse conceito tornou possível a abordagem da relação Espaço/Tempo,


fundamental para a pesquisa histórica - na qual o espaço é visto como “um subproduto
do tempo”, como um “mosaico de elementos de diferentes eras”, que “sintetiza, de um
lado, a evolução da sociedade e explica, de outro lado, situações que se apresentam
na atualidade” (SANTOS, 1985) - e o uso de noções fundamentais no estudo de
bairros, como “identidade” e “diversidade”, estabelecendo-se assim, a necessária
ponte dessa tese, com a escrita histórica do presente, conforme disposto na
Introdução da Recomendação da UNESCO (Item 11, 2011) sobre a “Paisagem
Histórica Urbana”:

9 Sobre “estilos” e “tipologias” consultar, entre outras referências, LEMOS (1990), REIS Filho (2013),
SANTOS (1981), PEVSNER (1976), ANDRADE Junior (2012) e PEREIRA (2007)
10 A Arquitetura de vocabulário Decó se apresenta de forma mais “maciça” e ainda relacionada com o

terreno, diferentemente da proposta moderna de elevação da construção do solo através de pilotis,


assim como, não apresenta cobertura plana, nem a “planta livre” característica da Arquitetura Moderna,
estando ainda vinculada a um partido arquitetônico pré-estabelecido e mantém o uso de janelas
individuais (X “janelas em fita”).
41

Paisagem Urbana Histórica é a área urbana compreendida como o resultado


de uma estratificação histórica dos valores e atributos culturais e naturais,
que se estende além da noção de "centro histórico" ou "ensemble" para incluir
o contexto urbano mais amplo e a sua localização geográfica. Esse contexto
mais amplo inclui nomeadamente a topografia do local, a geomorfologia,
hidrologia e recursos naturais; o seu ambiente construído, tanto histórico
como contemporâneo; as suas infraestruturas acima e abaixo do nível do
solo; os seus espaços abertos e jardins, os seus padrões de uso da terra e
organização espacial; percepções e relações visuais; bem como todos os
outros elementos da estrutura urbana. Também inclui práticas e valores
sociais e culturais, processos econômicos e as dimensões intangíveis do
patrimônio relacionado com a diversidade e identidade. (...) A abordagem da
paisagem urbana histórica visa preservar a qualidade do ambiente humano,
melhorando o uso produtivo e sustentável dos espaços urbanos,
reconhecendo seu carácter dinâmico e promovendo a diversidade social e
funcional. Integra os objetivos de conservação do património urbano e os de
desenvolvimento social e económico. Está enraizada num relacionamento
equilibrado e sustentável entre o ambiente urbano e natural, entre as
necessidades das gerações presentes e futuras e o legado do passado. (Os
grifos são meus)

Figura 11. Esquema gráfico sobre o percurso do tratamento da questão da Paisagem, em relação
a do Patrimônio Cultural.

Assim, ancorada na ideia de paisagem relacionada com a materialidade


arquitetônica e urbana e a partir dos agentes privilegiados (poder público e iniciativa
privada) e das noções de tempos “longos” e “curtos”, essa tese se apoiou sua narrativa
nas ideias de Estrutura (SANTOS,1992) e de Processo (SANTOS,1985), mais
especificamente relacionadas, com o que se perpetua durante o período colonial, com
42

as “permanências” nas esferas da economia, política, sociedade, arquitetura e


urbanismo, e que serão gradativamente transformadas (“rupturas”) com a
Modernização (nova estrutura), a qual, também enquanto processo, não se dará a um
só tempo, nem em toda a sua abrangência (social, econômica, política e cultural) em
todo o território da cidade de Salvador, nem do bairro da Barra
A partir da ideia de que a História é uma reconstrução narrativa de
determinados fatos privilegiados em detrimentos de outros, a aproximação do objeto
de estudo levou em conta a validade do “método das aproximações múltiplas”, no qual
“cada tipo de fonte exige um tratamento diferente, no interior de uma problemática de
conjunto” (LE GOFF, 2003, p. 46). Adotando-se uma abordagem histórico-crítica de
base qualitativa, a construção argumentativa da tese foi feita através da análise –
síntese e da dedução – comparação, das informações levantadas nas fontes
bibliográficas (primárias e secundárias) e iconográficas, dentro do que se pode
denominar de Método Histórico.

Os procedimentos metodológicos adotados consistiram basicamente, em


pesquisa bibliográfica e iconográfica em Arquivos Públicos locais, na biblioteca
particular e internet, complementada por inventário fotográfico realizado na área de
estudo, durante os anos de 2013 e 2017, ao qual se somou aquele realizado nas
décadas de 1980 e 1990, que passaram a se constituir também em fonte primária, em
virtude do grande número de demolições na Barra, de exemplares arquitetônicos de
valor histórico.

Na pesquisa em fontes primárias, além das “Fallas dos Presidentes da


Província” e da “Relação dos Atos e Despachos da Intendência Municipal de Salvador”
encontrados na Biblioteca do CEAB/UFBA, foram privilegiados no estudo aqueles
instrumentos normativos e de organização administrativa, como as “Posturas
Municipais de Salvador (entre 1897 e 1929) ” e as “Leis e Resoluções do Conselho
Municipal da Capital do Estado da Bahia do anno de 1893” (compiladas em publicação
de 1900), além dos documentos referentes a “Projetos de Construção e Reforma da
Freguesia da Vitória” e as concessões da exploração do transporte público, feito por
bondes, encontrados no Arquivo Histórico Municipal. No que diz respeito às questões
imobiliárias e do solo urbano na Barra (sua propriedade, regulação e uso), foram feitas
pesquisas em leis urbanísticas e projetos de loteamentos arquivados na Biblioteca da
Fundação Mário Leal Ferreira, órgão de Planejamento da Prefeitura Municipal de
43

Salvador e levantados no Arquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia, a “Relação dos


bens immoveis pertencentes ao Patrimonio deste Mosteiro”, que formaram o grande
patrimônio daquela ordem, grande proprietária de terras e de construções na Barra
desde os tempos coloniais.

As fontes bibliográficas secundárias, pesquisadas tanto em suportes físicos


quanto virtuais, consistiram em publicações da historiografia clássica e
contemporânea e em trabalhos do âmbito acadêmico, como artigos, teses e
dissertações, relacionadas com o objeto de estudo.

Quanto as iconografias (desenhos, gravuras, fotografias, mapas, plantas e


material publicitário em jornais), é importante mencionar que as mesmas tiveram papel
fundamental na construção narrativa dessa tese, funcionando muitas vezes como
fontes primárias, ao preencher lacunas bibliográficas, daí porque o grande número
aqui apresentado. Sua análise e datação se utilizou do cruzamento entre dados
visuais e informações textuais, presentes em publicações como “Guia de Arquitetura
e Paisagem de Salvador e Baía de Todos os Santos” (2012) e “História Visual de
Salvador” (TEIXEIRA, 2001) e principalmente, da cronologia detalhada, do contexto
político, econômico e cultural, presente no livro de Pedro Vasconcelos (2002),
“Salvador: transformações e permanências (1549-1999) ”.
Apresentadas ao longo de toda a tese, as mais de trezentas figuras, tem sua
legibilidade decorrente da sua origem, qual seja, em meio digital11, a partir de
fotografias da própria autora ou do escaneamento de documentos encontrados nos
arquivos e bibliotecas pesquisadas, na sua forma original ou em cópias (xerográficas
ou heliográficas), muitos em mau estado de conservação, e da impossibilidade de
retorno as fontes, muitas das quais de difícil e/ou demorado acesso, a exemplo das
que foram disponibilizadas nos anos 1980 e 1990 pelo CEAB (fotos, plantas, mapas,
estudos), que teve seu acervo desmembrado entre a sua sede e a biblioteca da
Faculdade de Arquitetura da UFBA.

11 A Exemplo da Brasiliana Fotográfica Digital (http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/) que reúne


acervos da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles e de páginas de Face book de
iniciativa de leigos e historiadores baianos, tratam do resgate da memória visual de Salvador, a saber:
Guia Geográfico da Cidade do Salvador (http://www.cidade-salvador.com). “Salvador e Bahia... tempos
passados! ” em https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ (Grupo do Facebook criado por
Heraldo Lago Ribeiro em 20 abr. 2014; “Bahia... "Terra do 'já-teve'"(administrado pelo geólogo Rubens
Antônio da Silva Filho, em https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve) e “Amo a História de
Salvador” (administrado por Louti Bahia) em https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-
Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/)
44

Por fim cabe ressaltar que a presença na tese da interferência digital em


imagens antigas e de diferentes formas de expressão gráfica nos mapas, muitas
vezes em um híbrido de desenho digital e manual (papel manteiga e/ou vegetal â lápis
e/ou nanquim), justifica-se pela necessidade, no primeiro caso, de dirigir o olhar do
leitor para determinados pontos e no que se refere ao segundo, pelo fato dos mesmos
já se constituírem em documentos históricos do “representar” arquitetônico e
urbanístico, nesses quase trinta anos de estudo sobre a Barra, podendo (ou não)
adotar-se uma uniformidade/atualização de apresentação, em caso de uma futura
publicação.
Como já referido anteriormente, foi realizado um inventário fotográfico na área
de estudo entre os anos de 2013 e 2017, que, com ênfase no registro das
“permanências” arquitetônicas e de traçado urbano, desconsiderou a prevalência nas
fontes pesquisadas, de imagens e descrições da orla da Barra, ampliando o percurso
(à pé) para abarcar as principais ruas e avenidas do bairro12, sendo ainda registrados
espaços e arquiteturas nos bairros da Graça e da Vitória, integrantes da área
delimitada para estudo, quais sejam os Largos da Vitória e da Graça, Rua da Graça e
Avenida Princesa Leopoldina.

Tendo como referências de leitura visual de espaços urbanos, os trabalhos


J.S. de Belmont Pessoa (2012), Rafaela Mabel Silva Guedes (2012) e Alejandra
Hernández Muñoz (2014), tal procedimento não seguiu à risca entretanto, nenhum
método de “análise morfológica” (Rossi e Aymonino) ou de “apreensão do espaço
urbano” (Kevin Lynch e Elaine Kolsdorf), sendo usados os conceitos de “marcos” e
“percursos visuais”, apenas como balizadoras do inventário fotográfico e da análise
iconográfica, onde as diferentes manifestações arquitetônicas foram tratadas como
elementos compositivos da paisagem e classificadas temporalmente segundo
aproximações formais e plásticas (vocabulário arquitetônico) da feição dominante
(neoclássico, eclético ou decó), e não segundo a sua “tipologia”, ou seja,
características arquitetônicas ou opções formais, que transcendem o conceito de

12Avenida Sete de Setembro, do Largo da Vitória ao Farol da Barra, Avenida Princesa Isabel, do Largo
da Graça ao Porto da Barra, Avenida Oceânica, do Farol ao morro do Cristo e as demais ruas nas suas
imediações e da Rua Marquês de Caravelas, como Barão de Sergy Alameda Antunes, Marques de
Leão e Afonso Celso, além das ruas João Pondé, Tenente Pires Ferreira, Recife e Florianópolis,
respectivamente, nas proximidades do morro de Clemente Mariani e no Jardim Brasil, entre outros
percursos.
45

“estilo” para incorporar na sua análise outros elementos, como materiais, formas e
técnicas, programas e funções (PEREIRA, 2007)
Os dados obtidos pelo levantamento fotográfico e seu cruzamento com
aqueles outros iconográficos e bibliográficos - como os “Projetos de Construção e
Reforma no Distrito da Vitória” encaminhados para aprovação da Diretoria de Obras
Públicas e da Inspetoria de Higiene, entre 1901 e 1917 - possibilitaram não só a
definição da toponímia dos logradouros do bairro (Anexo 03), como principalmente, a
inferência do processo espaço-temporal de sua ocupação, subsidiando assim, a
elaboração de uma cartografia retrospectiva da história urbana da Barra, colocada ao
longo dos capítulos.
Pelo exposto e com vistas a responder à questão central da pesquisa, “o que
deu sustentação às transformações da paisagem da Barra entre 1850 e 1950”, a Tese
se estruturou em quatro capítulos, segundo a materialização naquele bairro do ideário
de cidade moderna e suas “dominâncias”, quais sejam, Fluidez, Estética, Higiene e
“novas espacializações” (GOMES e FERNANDES, 1992, p.53), respaldado na
aplicação de legislação específica.
O primeiro capítulo (A LEGISLAÇÃO E A GESTÃO URBANA) tratará então, do
papel do poder público na elaboração e aplicação de legislação que trata direta ou
tangencialmente das áreas periféricas da cidade, na sua relação de interferência no
desenho da paisagem, através do controle das formas de construção, de dotação de
infraestrutura urbana e concessão de serviços públicos para exploração de
particulares.

No segundo capítulo (A FLUIDEZ e UMA NOVA RELAÇÃO CENTRO-


PERIFERIA), após uma breve análise de aspectos da Barra (então “Vila Velha”)
durante o período colonial, será abordada a questão da “fluidez”, da otimização da
ligação viária do bairro com o centro da cidade, obtida com a abertura e/ou
melhoramento de antigos caminhos e implantação de transporte público.

O capítulo terceiro (A NOVA ESTÉTICA E UM NOVO MERCADO) estudará a


aplicação das regras e modelos de “salubridade” e “estética” presentes nas novas
expressões arquitetônicas no bairro, analisadas na sua relação com investimentos
particulares nos mercados imobiliários e fundiários.

No quarto capitulo (UMA NOVA ESPACIALIZAÇÃO: A BARRA e sua ORLA


ATLÂNTICA) serão estudadas as mudanças na relação sociocultural dos
46

soteropolitanos com a natureza e em especial com as praias da Barra, que criaram


lastro para a criação de um novo mercado voltado para o lazer e o turismo.
Dessa forma, a análise da materialização do ideário modernizador em uma área
periférica ao centro de Salvador, foi o viés pelo qual se buscou reconstruir a história
urbana do bairro da Barra e mais especificamente compreender as transformações da
sua paisagem entre os anos 1850 e 1950, conforme segue.
47

CAPÍTULO 01. A LEGISLAÇÃO E A GESTÃO URBANA

“As regras integrantes do direito legislado do urbanismo expressam uma


determinada concepção sobre a cidade, sobre o que naquele momento se
considera problemas urbanos e sobre a forma de solucioná-los, aí incluindo
o papel que cabe ao Estado exercer” (ARAÙJO, 1992, p. 03).

O presente capítulo procura analisar a legislação aplicada em Salvador, que


trata direta ou tangencialmente das áreas periféricas da cidade, na sua relação de
interferência na transformação da paisagem física e social da Barra.
Foi um longo percurso de formação do arcabouço administrativo e legal para a
gestão da cidade de Salvador e entre todas as leis e seus instrumentos de controle,
normativos, indutivos ou de interferência, gestados ou aplicados entre 1850 e 1950 no
sentido de construção de uma cidade moderna, serão abordados aqueles que se
relacionam com o seu desenho urbano e vocabulários arquitetônicos.

1.1. ANTECEDENTES

Para dar respaldo ao tratamento das questões urbanas no âmbito da Colônia,


a Metrópole dispunha das “Ordenações” - leis portuguesas transpostas para o Brasil
e responsáveis pelas atribuições da municipalidade e que vigoraram até 1917, quando
foi promulgado o Código Civil - e das “Normas Episcopais” que, segundo Murilo MARX
(1987), diante da incipiente legislação governamental, teriam sido as responsáveis
pelo desenho urbano da cidade colonial, uma vez que definiam a localização das
edificações religiosas, ao redor das quais foram formadas aglomerações que deram
início a futuros bairros.
O arcabouço legal contou ainda com textos avulsos, as “Posturas” - que em um
primeiro momento (1549-1650) trataram da concessão de terras, dos modos de
apropriação do solo e de construção1 e das questões relativas a higiene, como a
limpeza urbana, cuidados com as fontes de água e com o fluxo das águas servidas e
pluviais (ARAÚJO, Heloísa. 1992) - posteriormente reunidas em “Códigos de

1 Necessidade de apresentação de projeto e de estar o profissional devidamente registrado junto a


Câmara para exercer a profissão de Construtor na Cidade do Salvador, obrigatoriedade de licença
prévia para edificação, proibição de avanços sobre a rua e a construção de calçadas, entre outras
normas (ARAÚJO, 1992)
48

Posturas” (1831, 1844 e 1920), que perduraram até 1926, quando foram substituídos
por leis e decretos.
No primeiro “Código de Posturas”, promulgado em 1831, eram definidos
parâmetros para as edificações, com clara preocupação higienista, sendo por isso
também um “Código Sanitário” (SIMAS FILHO,1986) cuidando, segundo Heloísa
ARAÚJO (1992) das seguintes questões atinentes à cidade:

Polícia Sanitária - relacionada a alimentos, medicamentos, substâncias venenosas e


“suspeitas”, profilaxia de endemias e epidemias, sepultamento (de pessoas e
animais), limpeza urbana, esgotamento sanitário e pluvial, drenagem;
Polícia das Atividades - cuidava da localização, funcionamento (horário, regularidade,
higiene do recinto e utensílios e fiscalização), qualidade e preço dos produtos
comercializados, licenciamento ou cobrança de “impostos” dos diversos
estabelecimentos da cidade;
Polícia das Construções - tratava da abertura de vias e logradouros das edificações
(abertura de vãos para a rua, balcões e sacadas, andaimes, guarda de materiais,
degraus e escadas de acesso para a rua, conservação, colocação de toldos e guarda-
sóis);
Polícia dos Logradouros Públicos: legislava sobre o uso e conservação das ruas e
praças, plantio ou derrubada de árvores, iluminação pública, abertura, nivelamento e
calçamento de vias e logradouros, identificação de imóveis, ruas e quarteirões,
obrigatoriedade de construção e conservação de calçadas e condutores de águas
pluviais dos diversos terrenos da cidade, trânsito e tráfego de veículos, animais e
africanos (libertos ou escravos) e embarque e desembarque de passageiros e
mercadorias;
Polícia de Pesos e Medidas: tratava de questões relativas a atividade comercial;
Polícia de Plantas e Animais Nocivos: tratava do trânsito de animais e combate a
formigas (que atacavam os jardins urbanos);
Polícia das Águas: legislava sobre abertura de tanques, poços, açudes, criação de
faixas de domínio público no entorno de cursos d’água, livre acesso a poços e fontes
e controle da poluição e degradação ambiental;
Polícia da Atmosfera: controlava a poluição por vapores, fumaças e sonora;
Polícia dos Costumes: buscava exercer controle sobre vestuário e uso de máscaras
nos Carnavais, doença e vícios, algazarras, vozerios ou alaridos, jogos de azar,
49

indecências e obscenidades e realização de eventos, atuando também sobre a


“vadiagem”, danças (lundus, batuques) e ajuntamentos de escravos.

Além dessas atividades, o Código de Posturas de 1831 tratava também da


regulamentação das profissões, da proteção aos recém-nascidos e registro civil de
nascimento e morte, do auxílio às vítimas de incêndio, da venda e porte de
ferramentas de ofício, armas de fogo e armas brancas, venda de armas a escravos,
do controle de migrações, da proteção à propriedade particular e nomeação de
“guardas municipaes”, que eram então os responsáveis pela limpeza das ruas e
praças públicas.
O poder público se responsabilizava então, nas primeiras décadas do século
XIX, por funções administrativas relativas à segurança e garantia da paz e da ordem,
dividindo com a população citadina (e também com a Igreja), através de impostos, a
responsabilidade por determinados serviços urbanos, como coleta de lixo, combate a
incêndio e algumas obras públicas, de menor ou maior porte, que seriam cada vez
mais voltadas ao atendimento dos interesses do capital privado aplicado na cidade.
Entre esses impostos podemos citar a “décima urbana”2 que segundo
HERNÁNDEZ (2009, p. 70) era como se denominava a contribuição anual de taxas
aplicada as cidades marítimas, instituída na Carta Régia de 9 de maio de 1799 e
aplicada na cidade a partir de 1811, e que dizia respeito a realização de atividades
comerciais (como venda de charutos, aguardentes e vinhos), a propriedade de
escravos “de luxo” (que não serviam na agricultura), a produção de açúcar, fumo ou
couro e uso de madeiras na construção de prédios, daí a importância do
Levantamento Cartográfico de Salvador (1844/46) e da delimitação da sua “área
urbana”.
A esse imposto foi acrescido, durante o governo de Francisco José de Sousa
Soares de Andréa (1844-46), a “Contribuição de Melhorias”, através da qual os
cidadãos comuns foram convocados a contribuir com a modernização da cidade,
juntamente com os comerciantes urbanos, diretamente beneficiados (MATTEDI,
1978. p.349), através do financiamento de grandes obras públicas voltadas para o

2 A denominação de “décima urbana” foi substituída por “imposto sobre prédios” (1873), “imposto
predial” (1881), “Imposto Predial Territorial Urbano” (1934) - então já incorporado à competência
privativa do Município - e nos anos 1960, passou a ser conhecido como IPTU, ou seja, “Imposto sobre
a Propriedade Predial Territorial Urbana” (COSTA, A. J. 2004, p. 1, APUD HERNÁNDEZ, 2009, Nota
4. p. 137.)
50

comércio e para a solução das questões de insalubridade, que se agravavam em


Salvador (VASCONCELOS, Sílvio, p. 262).
Recolhidas e aplicadas “com o maior cuidado e zelo pelos próprios
contribuintes, mediante Comissões nomeadas pelo Governo, mas compostas de
pessoas de reputação, que tinham interesse no andamento e acabamento das obras
sob sua responsabilidade” (SIMAS FILHO, vol. 3, 1978, p.400), essas “contribuições”
se direcionaram inicialmente para a área central, zona portuária e vetor norte, onde
estava sendo construído o Canal da Jequitaia:

“He preciso desde já regular a edificação na Peninsula da Boa Viagem, que


ficará ilha perfeita pelo canal, e evitar construcções mesquinhas, e bêcos em
lugar de ruas, detalhando uma cidade formosa, e com boas praças: para isto
deve esta Assembleia autorizar desde já a desapropriação de cinco ou seis
fachas de terreno (...) para detalhar uma boa praça; e mais duas quadras de
60 braças de um lado, um junto ao Canal, senão por terreno devoluto, e outro
(...) para formar mais duas praças menores, com o que muito se aformoseará
a futura cidade, com maior commodidade de seos habitantes. Feito isso e
marcada a marinha em roda de todo este terreno e vedando os aforamentos
dos lugares, que devem pertencer ao publico, todo o resto da edificação se
achará forçada em alinhamento, e não terão nossos vindouros o desgosto de
ver tudo mal feito, como vemos agora. He também preciso regular a
edificação na chamada Calçada, que vai o peior possivel (...) e he preciso
igualmente, alem de que fica dito, tomar posse desde já por conta do governo,
desapropriando, de todo o terreno que pode ser comprehendido pelo canal,
pelas ruas, e pelas casas de um e outro lado de mesmo canal, que tudo isto
deve pertencer ao Governo” (Discurso de Soares Andrea em 1845, APUD
SIMAS FILHO, vol. 3. 1978, p. 383) (os grifos são meus)

O discurso do Governador Soares Andrea ilustra não apenas o ideário de


modernidade em voga, no que diz respeito ao “aformoseamento” da cidade - com
praças arborizadas, ruas alargadas e retificadas e edificações alinhadas – e a solução
dos problemas de higiene, como também o início de uma nova forma de administração
pública e de relação com a expansão da cidade em direção aos seus arrabaldes.

1.2. OS ARRABALDES E A “LEI DE TERRAS”

Segundo Kátia Mattoso (apud RIBEIRO, 2009, p. 35), até 1829, o “termo” da
cidade, tal como havia sido delimitado no século XVI, não sofreu nenhuma
modificação, existindo “grande confusão sobre os limites entre a cidade e o campo e
as autoridades administrativas não sabiam muito bem onde eles estavam” e por essa
51

razão, “todas as portarias referentes à construção de prédios ou casas se aplicavam


tanto à cidade quanto ao seu rossio”, não vendo a gestão municipal razão para
estabelecer seus limites, fato que começaria a mudar com a sua expansão e maior
complexidade das atividades urbanas.
Diante da necessidade de recenseamento populacional e imobiliário, para
controle mais rigoroso da cobrança da “décima” e melhor direcionamento das
intervenções urbanas, começou a ser revista a base espacial de atuação do poder
público em Salvador, que até meados dos oitocentos correspondia a quase totalidade
das 10 paróquias do período colonial3, sendo excluídas por falta de urbanização, “boa
parte da paróquia de N.S. de Brotas (terras que iam até a Pituba) e de N.S. da Vitória
(onde não considerava o Rio Vermelho) ” (MATTOSO, 1992, apud RIBEIRO 2009, p.
36).
Apesar de serem da primeira metade do XIX importantes obras na cidade 4,
entre as quais eram distribuídas a pouca verba existente, é apenas a partir de meados
daquele século que o poder público passará a formular políticas de intervenção
urbana, com os recursos concentrados em poucas obras de maior impacto, realizadas
com a participação direta da esfera privada (SIMAS FILHO, 1978), a criar leis para
adequar Salvador aos parâmetros arquitetônicos e urbanísticos da modernidade e a
organizar sua estrutura administrativa através da criação e/ou reforço de órgãos da
Intendência Municipal, como a Inspetoria de Obras Públicas (1844-46), o Conselho de
Salubridade (1850) e Junta de Higiene (1853), Diretoria de Obras e Diretoria de
Higiene, entre outros, “o que denota a fiscalização que a administração pretendia
exercer sobre a urbanização” (MATTEDI, 1978, p.349).
A administração pública se responsabilizava assim, não só pela normatização
e fiscalização do uso e ocupação do solo e da aplicação do imposto imobiliário, mas
também pelo controle daqueles serviços públicos que começaram a ser demandados
e assumidos por particulares, empreiteiras e firmas construtoras, concessionárias de
transporte e de abastecimento de água e luz, nacionais e estrangeiras, que obedeciam

3 As paróquias eram unidades administrativas baseadas em divisões eclesiásticas da cidade e que


foram substituídas em 1911 por (11) Distritos de Paz (ARAÚJO, 1992). Eram as dez paróquias em
Salvador: da Sé ou São Salvador, Nossa Senhora da Vitória, da qual a Barra fazia parte, Nossa Senhora
da Conceição da Praia, Santo Antônio Além do Carmo, São Pedro Velho, Santana do Sacramento,
Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, Nossa Senhora de Brotas, Santíssimo Sacramento do Pilar
e Nossa Senhora da Penha.
4 O canal da Jequitaia, a abertura da Rua da Vala e obras de segurança da ladeira da montanha, entre

outras. (SIMAS FILHO, vol. 3. 1978, p. 479)


52

a uma legislação específica, a exemplo daquelas relativas aos deveres das


Companhias de bondes, quanto a definição do horário, preço e percurso das diversas
linhas, calçamento e conservação das vias por onde estes passavam, fiscalizados
pelo Engenheiro Fiscal da Diretoria de Obras (Leis e Ofícios Manuscritos encontrados
no Arquivo Público Municipal, relativos aos anos de 1899 e 1914).
Além da cobrança de impostos, o poder público se utilizou ainda dos
instrumentos legais de “desapropriação” e de “regulamentação”, para “estabelecer
algum controle sobre a habitação e outras condições urbanas” e “impedir o
desenvolvimento prejudicial e encorajar a construção com facilidades necessárias”
(ABRAMS,1986, s/p), dirigindo por vezes a expansão de Salvador com a aplicação de
leis de incentivo a ocupação das novas áreas de Salvador, como a isenção do
pagamento da “décima” para aqueles que construíssem em “terrenos baldios ou em
novas ruas” (FRIDMAN e RAMOS, 1992, p. 187).
A ocupação das áreas periféricas de Salvador foi reforçada com a sanção por
D. Pedro II em 18 de setembro de 1850, da Lei nº 601/1850, conhecida como “Lei de
Terras” que criou parâmetros e normas sobre a posse, manutenção, uso e
comercialização de terras no Brasil, principalmente na zona rural, mas que seriam
também utilizados no estabelecimento de nova relação com o solo urbano, através do
sistema de “compra e venda”. Os terrenos que estavam nas mãos de poucos
particulares e da Igreja - por sucessão de doações em sesmarias (produtivas ou
apenas ocupadas), concessões de “cartas de data”, “uso capião”5 ou simples posse
irregular (sem título concedido pela Coroa) de ocupação primária- tiveram então as
suas posses validadas, ficando as “terras devolutas”6 do Império, passíveis de serem
obtidas mediante compra.
Promulgada no mesmo ano que a proibição do tráfico negreiro, essa Lei que
objetivava incentivar a imigração estrangeira para fazer frente a expansão da
produção cafeeira do Sudeste, acabou por possibilitar a criação de um novo mercado
de investimento para a burguesia urbana e para a elite agrária, e a geração de
recursos para os cofres públicos, através da cobrança de taxas e impostos para
registro e demarcação de terras, além da adoção de mecanismos como o da

5 A simples ocupação, geralmente com aquiescência do proprietário, vinculada a um futuro pedido de


legitima posse.
6 A expressão “terras devolutas” passou a designar a partir de 1850 não mais as sesmarias improdutivas

retomadas pela Coroa, mas todas as terras do país que não tivessem título de domínio ou de uso
reconhecido pelo Estado e que não receberam destinação pública.
53

“desapropriação”, que passou a ser usada não apenas no atendimento ao interesse


público, mas também como operação lucrativa, como bem exemplifica o discurso do
Presidente da Província da Bahia em 1851:

Há outra providência administrativa altamente inteligente pela qual


todos os terrenos necessários para as ruas que iam ser abertas, seriam
desapropriadas, para venda depois de feitas as obras e assim poder
o governo recuperar o dinheiro empregado nos melhoramentos
urbanos. (O grifo é meu) (Falla do Presidente da Província em 1851,
sobre a Península Itapagipana, in: SIMAS FILHO, v.3. 1978, p. 383)

O percurso de construção da Salvador moderna “idealizada enquanto cidade


regular, higiênica, funcional, fluída, homogênea, equilibrada, sincrônica e gerida
cientificamente” (GOMES e FERNANDES, 1992, p. 55) esteve ancorado em
instrumentos jurídicos - que tanto interferiram na posse dos terrenos, quanto na sua
forma de ocupação, interdependente do traçado urbano e dos novos vocabulários
arquitetônicos – e na atuação em parceria entre o poder público e a iniciativa privada
na execução de obras públicas.
Segundo CARDOSO (2015, p. 143/144) as primeiras instruções normativas,
relativas ao compartilhamento de obras públicas, entre o Governo Provincial, a
Intendência Municipal e aqueles agentes da iniciativa privada foram criadas através
da Lei nº406 de 1850 e nessa modalidade da “Obra Pública Compartilhada” foram
feitas, entre outras na cidade, obras de abertura e/ou melhorias nas vias de
comunicação no Distrito da Vitória por volta de 1858, tais como as “Estradas” “do Rio
Vermelho”, “do Canella para o Campo Santo” (atual Padre Feijó) e “entre o Rio de São
Pedro e o Campo Santo” (atual Av. Euclides da Cunha) e a ligação do Campo Grande
com a Igreja da Graça, a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Forte de Santo Antônio
da Barra. Posteriormente foram também executadas, mediante “contrato de
arrematação” com o Empreiteiro e Reverendo Edward Parker, a “Estrada Graça-
Barra” (atual Avenida Princesa Isabel), a “2ª Estrada de Santo Antônio, ligando a Igreja
da Vitória à Igreja de Santo Antônio” (atual Ladeira da Barra) e a “Estrada da Vitória”,
dando início a um processo que culminaria com a construção das Avenidas Sete de
Setembro (1915) e Getúlio Vargas (1923), importantes vias de comunicação da Barra
com as demais áreas de Salvador.
54

1.3. O TRAÇADO URBANO E A QUESTÃO DOS RECUOS E GABARITOS

E se dentro das leis modernizadoras que ganharam força em Salvador em


meados do século XIX, encontramos o alargamento e a retificação das ruas como
forma de melhoria da circulação (“fluidez’) através da implantação do serviço de
transporte público por bondes, as normas para a implantação das edificações no lote,
a definição de seus recuos e gabaritos, foram um meio indireto de construção da
volumetria na paisagem, contribuindo, intencionalmente ou não, para a sua
caracterização estética (RAHY, 2012).

A ideia de descolamento da edificação dos limites do lote e ajardinamento


fronteiriço é empreganda durante todo o oitocentos, chegando até o século XX, não
apenas como uma estratégia higienista como também para o “aformoseamento” da
cidade, de embelezamento do espaço público a partir dos espaços particulares, como
observa-se de Parecer da Diretoria de Obras de 30/09/1912 acerca das quatro
construções de propriedade de Manoel de Sá Gordilho a serem construídas na “Baixa
da Graça” (Figura 12): “as casas devem ter jardim nas frentes, estando afastadas 5,00
m do muro com gradil, que por sua vez deve seguir o alinhamento da casa contígua
ao terreno até a extensão de 40,80 m, seguindo depoiis paralelamente ao gradil da
propriedade fronteira e distante do mesmo 13,20 m.”

Figura 12. Projeto de construção de 04 Casas na Avenida Princesa Isabel / “Baixa da Graça” em
1912, de propriedade de Manoel de Sá Gordilho e de autoria do Engenheiro Arthur Santos. (Fonte:
Arquivo MIII GB 0439. “Projetos de Construção e Reforma” depositados no Arquivo Municipal de
Salvador em 30 set. 1912. Fichamento e desenho de Márcio Campos em 26 mai.1992)
55

Mas, mesmo antes da obrigatoriedade de uma nova forma de implantação no


lote, a questão dos alinhamentos foram uma preocupação constante na legislação
urbana, existindo inclusive, uma “Comissão de Obras e Alinhamento da Câmara” no
período entre 1841 e 1870 (CARDOSO, 2015, p.132).

Estando expresso em “Projetos de Alinhamentos”, sua observância foi


determinada na Barra em locais como a Rua da Graça em 1902 (MIII GA 0196),
“Quintas da Barra” (nas imediações do Farol), em 1905, antes portanto da construção
da Avenida Oceânica (1923) e onde a Diretoria de Obras informa que na nova
construção (Figura 13) “deve ser seguido o alinhamento da casa de Guilherme de
Menezes Rocha” (Arquivo MIII GA 0284), na Rua do Bosque da Barra (atual Marquês
de Caravelas) em 1907 (MIII GA 320) e 1916 (MIII GB 0423), na Rua Barão de Sergy
em 1910 (Figura 14), onde é determinado que “o alinhamento da fachada é o do muro
existente” (Arquivo MIII GA 0372) e na “Baixa da Graça” (final da atual Avenida
Princesa Isabel) em 1913 (MIII GB 0484).

Figuras 13. Projeto de Edificação nova na “Quintas da Barra” em 1905, de propriedade Venâncio
Xavier da Costa. (Fonte: Arquivo MIII GA 0284 dos “Projetos de Construção e Reforma” depositados
no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio Campos em 01 jul. 1992)

Figuras 14. Projeto de Edificação nova Rua Barão de Sergy em 1910, de propriedade de Manoel
de Sá Gordilho (Fonte: Arquivo MIII GA 0372 dos “Projetos de Construção e Reforma” depositados no
Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio Campos em 09 jun.1992)
56

Quanto a regulação dos limites mínimos e máximos de altura dos edifícios já


presentes no Código de Posturas de 1920, a mesma é reforçada na Lei N°1146 de
1926, onde são criadas maiores restrições acerca dos recuos e definida a relação
entre o gabarito das edificações e a largura das ruas, parâmetros que segundo
Izarosara RAHY (2012), tinham não só uma preocupação sanitária, como também a
intenção de exercer o controle estético sobre as novas arquiteturas e o espaço urbano,
mantendo uma relação equilibrada entre o adensamento populacional, o conforto
ambiental e a infraestrutura disponível, tanto no centro da cidade, quanto nas áreas
objeto de reformas urbanas, que passaram a ter ruas com largura igual ou superior a
5 metros:

Alinhando-se as duas determinações, conclui-se que na região hoje


considerada área de preservação rigorosa no centro da cidade, com ruas que
em rara situação superaram os12 metros de largura, as edificações sem
recuo poderiam chegar aos 12,5 metros de altura. Na Seção III o tema é a
iluminação e a ventilação, onde se pode verificar que a salubridade dos
espaços também condiciona as alturas e recuos, quando se estabelece
quantas horas de sol que deveriam receber as vias públicas no dia de solstício
de inverno, a fim de que um edifício não impedisse a insolação mínima para
seu vizinho, de meia hora para as vias existentes e de duas horas e meia
para as que fossem abertas futuramente; quando se tratasse de divisão dos
lotes numa quadra o proprietário deveria assegurar afastamentos para a
obtenção de no mínimo três horas de insolação.

(...) para ruas de até nove metros de largura, a altura limite poderia ser duas
vezes maior; para ruas entre nove e doze metros, a altura limite poderia ser
duas vezes e meia maior; para ruas com largura acima de doze metros, a
altura limite poderia ser três vezes maior, nas esquinas tomar-se-ia a maior
medida de rua e alturas maiores poderiam ser analisadas em função de
recuos que somados à largura da rua deveriam ser de nove, doze ou quinze
metros.

Do disposto na Lei, é possível inferir, considerando um pé direito de 3,00 m,


que naquelas avenidas de 12 metros ou mais, eram permitidas construções com altura
superiores a 12 pavimentos (ou 36 metros de altura), a exemplo do “Edifício Oceania”
(1936 -1943) (Figuras 15 e 16), ao tempo que em ruas de menor largura, entre 3,00 e
9,00 metros, só poderiam ser construídas edificações entre dois e seis pavimentos, a
exemplo do “Edifício Barralândia” (Figuras 17 e 18), construção provavelmente do
início da década 1940, e que apesar de estar também localizada na Avenida
Oceânica, tem sua fachada voltada para a atual rua Artur Neiva, de menor largura.

No Decreto-Lei 701/48, que dizia respeito ao Planejamento Urbano elaborado


pelo Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador – EPUCS e no qual o
57

sistema viário por vales e cumeadas tinha papel fundamental, permitindo a expansão
dos limites da cidade, não havia maiores restrições ao gabarito das edificações, o que
será retomado em 1954, mas por razões preservacionistas7, através do Decreto N°
1.335/54, que tratava do limite de altura de 45 metros nas áreas comerciais na Cidade
Baixa, para preservar o frontispício e a encosta verde do centro de Salvador.

Figuras 15 e 16. A Avenida Oceânica vista do Farol da Barra, no final dos anos 1920 e na década
de 1940, já com o “Edifício Oceania” (1943) (Fontes: “Amo a História de Salvador”, em
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/
Acesso 26 nov. 2015 e Museu Tempostal / Governo do Estado da Bahia, autor desconhecido, em
TEIXEIRA, 2001, p.08)

Figuras 17 e 18. Loteamento “Barralândia” na década de 1940, com o Edifício de mesmo nome,
construído em frente ao “Morro do Cristo”, em registro de 2014. (Fontes: Guia Geográfico Salvador
Antiga, em http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-oceanica.htm. com acesso em 26 nov. 2015
e registro fotográfico em 20 mai. 2014, Arquivo pessoal)

7A partir dos anos 1960 rompe-se com a estreita relação entre gabarito (altura máxima) e caixa de rua
para adotar outros parâmetros como a taxa de ocupação, o coeficiente de utilização e os recuos
progressivos à medida que se ultrapassem determinadas cotas. Tratando-se das leis mais recentes
que apresentam amplas diretrizes para o desenvolvimento urbano, Lei 3.377/84 – LOUOS
(SALVADOR, 1984), Lei 6.586/2004 - PDDU 2004 (SALVADOR, 2004) e a Lei 7.400/2008 – PDDU
2008 (SALVADOR, 2007), o gabarito de altura é estabelecido apenas para áreas de interesse de
preservação física e ambiental, como a “Área de Borda Marítima” onde encontra-se nossa área de
estudo e áreas adjacentes àquelas classificadas como “Área de Proteção Rigorosa” como a do outeiro
de Santo Antônio da Barra.
58

1.4. OS PARÂMETROS MODERNIZADORES NA ARQUITETURA

Interdependente da legislação urbana, que buscou materializar os ideais de


cidade expressos em modelos físico-espaciais (“desenhos”), onde a arquitetura tinha
papel definidor até os anos 19508, os códigos relativos as construções em Salvador
acompanharam o desenvolvimento da medicina com vistas a resolver questões
concretas de insalubridade, ao tempo que buscaram adequar-se as novas tecnologias
e ideais estéticos das classes dominantes, dentro dos projetos de modernização em
voga entre meados do século XIX e início do XX.
Da análise dos pareceres da Diretoria de Obras Públicas (e sua Seção Técnica)
e da Inspetoria de Higiene (depois Diretoria em 1915), acerca dos “Projetos de
Construção e Reforma no Distrito da Vitória” entre 1901 e 1917 e mais
especificamente nas ruas da nossa área de estudo, pode-se observar que as
exigências higiênicas assim como o detalhamento das especificações, se deram num
crescendo, denotando a fiscalização que o poder público pretendia exercer sobre a
arquitetura e a maior facilidade de importação de certos materiais de construção e
equipamentos por parte das elites soteropolitanas.
Entre as recomendações do início do século XX mais recorrentes e que
permaneceram nas duas décadas seguintes, podemos citar as seguintes
obrigatoriedades, relacionadas com questões de salubridade:

- Impermeabilização do solo com determinação de que “entre as paredes e os


alicerces” devesse haver “uma fiada de alvenaria e argamassa com 20 cm de altura”
(provavelmente para deter a umidade ascendente naquelas construções com paredes
em estuque ou adobe, ainda executadas por volta de 1905) e do piso, “com uma
camada de 15 cm de concreto”, que em 1917 começa a ser definido como tendo traço
de 1:3:5 (resposta da “Diretoria de Higiene” a solicitação de construção de casa térrea
na “Quintas da Barra” de propriedade de José Patrocínio da Silva –MIII GE 617);

8Sobre o processo de modernização urbana de Salvador que se processa a partir de meados do século
XIX e as influências do urbanismo haussmaniano e modernista no que diz respeito ao papel da
arquitetura no desenho urbano, ver Renata Baesso Pereira (2012) e o artigo “Tipologia arquitetônica e
morfologia urbana: uma abordagem histórica de conceitos e métodos”.
59

- Os banheiros no interior das construções conhecidos como “dependências” ou


“cômodos destinados a W.C.”(1914), deveriam “ser revestidos internamente até 1,50m
com placas de azulejo ou reboco de cimento devendo ter ainda aberturas para
iluminação e aeração” (parecer da “Seção Técnica” em 1914sobre de construção de
um galpão com quatro compartimentos de propriedade do Colégio Antônio Vieira, na
“Rua dos Coqueiros”, em MIII GB 0550) ou ainda, terem suas paredes “revestidas
com argamassa de 1:3 de cimento e areia até a altura de 1,50m” (parecer da “Diretoria
de Higiene” em 1917 sobre construção de casa térrea na “Quintas da Barra” de
propriedade de José Patrocínio da Silva, em MIII GE 617). É constante também a
especificação nos pareceres técnicos feitos entre 1905 e 1909, de “Latrina do Sistema
Unitas” (Figuras 19 e 20), que será acrescido da exigência de que o aparelho sanitário
fosse “de louça” e que tivesse “sifão, água e tubo de descarga” [ou “tubo de
desprendimento”] e “caixa automática” (1912). Diante da inexistência de rede de
esgoto na rua, a exemplo da “Rua Baixa da Graça” em 1913, há a indicação de
construção de “fossas higiênicas” (parecer acerca da solicitação de construção de 05
casas térreas de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho / MIII GB 0484);

Figuras 19 e 20. “Latrinas Unitas” no final do século XIX, início do XX, em Publicidade no Jornal
“Correio Paulistano” em 1895 e instalada na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, no Restaurante
“Paladar”, em 1900. (Fontes: http://slideplayer.com.br/slide/10291986/33/images/48/Latrinas+Unitas+-
+1895+Correio+Paulistano,+SP.jpg. e
http://slideplayer.com.br/slide/10291986/33/images/48/Latrinas+Unitas+-+1895+-
+Correio+Paulistano,+SP.jpg . Acesso 09 ago.2017)
60

- Os quartos (“cômodos destinados a dormitórios”) em 1909 deveriam ter 32m²”, ao


que se acrescentou em parecer de 1912, a necessidade de que entre dois quartos
tivessem “janelas voltadas para área livre de 6m² a ser locada entre eles” (parecer da
Diretoria de Obras sobre construção de casa térrea na “Rua do Bosque da Barra” de
propriedade de Domingos Tertuliano da Silva –MIII GB 441), ao tempo em que é
determinado desde 1905, o uso de portas com bandeiras de ferro para facilitar a
aeração, buscando-se assim, eliminar as “alcovas” insalubres da construção colonial.

No que diz respeito a relação entre a arquitetura e o desenho estético da


cidade, observa-se que, além do cuidado com o alinhamento entre as casas e a
determinação de recuo frontal em algumas áreas, a que já nos referimos, havia a
preocupação com o uso adequado de novos elementos de fachada, a exemplo das
calhas para escoamento das águas de chuva que deveriam ficar “por trás da
platibanda” (parecer de 1906 acerca de nova construção na “Rua do Bosque na
Povoação da Barra”), aquele elemento do neoclássico, que como veremos no capítulo
03, será um dos primeiros indicadores da tentativa de modernização da arquitetura na
Barra a partir de meados do século XIX.
Cabe ainda mencionar que até a década de 1930, a elaboração da legislação
urbana em Salvador e a fiscalização das obras, esteve a cargo de Engenheiros que
emitiam Pareceres “de Licenciamento”, “Termos de Vistorias” e de “Aprovação e
Concessão de Serviços Solicitados” e que foram também os responsáveis por projetos
de obras públicas (CARDOSO, 2015, p.132).

É possível citar como exemplos os engenheiros Carlos Augusto Weÿll - que,


contratado em 1841 pela Comissão de Alinhamento e Vistoria da Câmara Municipal,
desenhou em 1851 a “Mappa Topographica da Cidade de São Salvador e seus
subúrbios” – e Francisco Pereira de Aguiar, da Comissão de Obras Provinciais, que
foi responsável por abertura e melhoramentos em vias de comunicação no Distrito da
Vitória em 1856, pela execução do “pavilhão monumental neoclássico" no antigo
Largo do Teatro (atual Praça Castro Alves) em homenagem ao Imperador D. Pedro II
quando da sua visita em 1859 (CARDOSO, 2015, p. 125) e pela reforma em 1916 de
duas casas de sua propriedade na “Baixa da Graça”, segundo os preceitos
modernizadores da época:
61

(...) possa reformar os dois prédios (...) que constará do seguinte:


embelezamento das fachadas chegando os ditos prédios para o alinhamento;
reconstrução interna geral, remodelação do telhado, forros e soalhos novos,
impermeabilização do solo, remodelação da escada, feitura do fogão, latrina
de descarga, reparação do cimento da cosinha, e do quarto do banheiro,
caiação geral e pintura, construção de banheiro no prédio N°10 (...)”. (MIII GB
0608. Arquivo Municipal de Salvador) (os grifos são meus)

E é através da aplicação cotidiana da legislação na gestão da cidade, no


desenho urbano e na definição de padrões arquitetônicos, na realização de grandes
obras de infraestrutura e na implantação de transporte público, ao lado das novas
práticas socioculturais da burguesia emergente, que Salvador começa a se
modernizar e a se expandir em direção as suas áreas periféricas, atingindo em
meados dos oitocentos a Barra, que materializará na sua paisagem, o resultado da
ação dos poderes público e privado, como veremos nos próximos capítulos.
62

CAPÍTULO 02. A FLUIDEZ e UMA NOVA RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA

A geografia da região central de Salvador - localizada às margens da Baía de


Todos os Santos, ótimo ancoradouro ao abrigo dos ventos, com terras agriculturáveis
e abundância de água potável para abastecimento da população e dos navios - e a
facilidade de defesa pela sua implantação no alto da escarpa - depois reforçada com
a execução dos Planos de Fortificações dos engenheiros militares Luís Dias (1549),
Leonardo Turriano (1605) e Jean Massé (1715) - tiveram um papel fundamental no
estabelecimento do governo português nas terras da Bahia no século XVI.

Mas se a topografia acidentada contribuiu para a sobrevivência dos seus


moradores no período colonial, posteriormente criou dificuldades para o crescimento
físico e circulação interna da cidade, que só seriam superadas com o auxílio de
grandes obras de engenharia. As intervenções urbanas que se concentraram na
primeira metade do século XIX, na área central, na zona portuária e em direção ao
vetor norte - a exemplo da execução de aterro e novo cais de atracação no Comércio,
contenção da Ladeira da Montanha, melhoramentos na Rua da Vala e na Boa Viagem
– passaram, a partir daí, a serem feitas também no sentido do vetor sul de Salvador,
onde está localizada a Barra.

Viabilizados por parcerias público-privadas, a construção de túneis e viadutos


planos inclinados e elevadores, o aterramento de depressões e canalização de rios,
as melhorias em antigos caminhos e abertura de novos, assim como a implantação
do serviço de transporte público e de redes de água, luz e esgotamento sanitário,
possibilitaram o adensamento populacional nas áreas periféricas e a otimização da
ligação da Barra com o Centro da cidade, como veremos a seguir.

2.1. “VILA VELHA”, UMA ÁREA RURAL

Segundo autores como J. da Silva CAMPOS (1940), Theodoro SAMPAIO


(1949), Sebastião da ROCHA PITTA (1950), Edison CARNEIRO (1978), Kátia
MATTOSO (1978 e1992) e do livro “Evolução Física de Salvador” (Volume I, 1979)
produzido pelo CEAB/FAUFBA, foi no baixio entre os atuais morros do Gavazza e
63

Clemente Mariani, em frente a atracadouro de águas mansas do atual Porto da Barra,


que foi levantada a Povoação Sede da Capitania da Baia de Todos os Santos, também
conhecida como “Povoação do Pereira”, em função do Donatário Francisco Pereira
Coutinho, havendo entretanto, outros autores que defendem a sua localização nas
imediações do atual Farol da Barra ou ainda nos bairros da Graça e Vitória, como
Borges dos REIS (1905), Wanderley de PlNHO (1959), Walter GORDILHO (1960),
Luís dos Santos VILHENA (apud AMARAL,1969), Gabriel Soares de SOUZA (1971),
Luís Henrique Dias TAVARES (1974) e Diógenes REBOUÇAS (1979).

A adoção nesse estudo do Porto da Barra como local de primeiro


assentamento, justifica-se, como vimos na Introdução, pelo cruzamento de
informações obtidas através da análise de textos e iconografias, acerca da expansão
territorial do bairro (em direção aos atuais bairros da Graça, Vitória e Ondina), e da
forma de ocupação portuguesa no período colonial, caracterizada pelo assentamento
de povoações litorâneas, preferencialmente em local elevado e descortinando o mar
(cidade "em acrópole") ou pelo menos, no alto construir-se a edificação de defesa
(provavelmente erguida, no caso em análise, no outeiro de Santo Antônio da Barra),
com funções precípuas de guarda da costa e de entreposto comercial, requerendo-se
para tanto, acesso fácil ao mar/porto (para abastecimento e transporte), sem matas
interpostas (que existiam no século XVI, entre o porto da Barra e as elevações onde
se assentariam os futuros bairros da Graça e da Vitória), não prescindindo da
existência de água potável, para uso dos povoadores e manutenção das plantações
(Figura 21).

Dessa forma, considera-se como mais acertada, a reconstituição histórica


desses momentos fundacionais, a que diz que Francisco Pereira Coutinho, donatário
da Capitania da Baía de Todos os Santos, aqui chegando em 1536, “se estabeleceu
numa enseada, à sombra da colina, fundando uma vila em torno de uma fortaleza,
provavelmente a torre “já no primeiro sobrado” a que se refere um documento da
época, um simples quadrado de pedras e taipa com alguma artilharia”
(CARNEIRO,1978, p. 23), quando também foram construídas, “casa para cem
moradores” (SAMPAIO, 1960, p.114), provavelmente, naquele primeiro quarteirão
entre a praia e a atual rua Barão de Sergy.
64

Graça

Morro do Gavazza

Vitória

Morro Clemente Mariani

BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Outeiro de Santo Antônio da Barra

Porto da Barra Forte de Santo Antônio

Figura 21. Local do assentamento da “Povoação do Pereira” no século XVI, no Porto da Barra
(em azul), a partir do qual se desenvolveu o bairro da Barra. Em verde possíveis matas existentes, em
morros e baixios, quando da chegada do Donatário em 1536. (Desenho da própria autora, com
interferências digitais, sobre mapa-base de 1950)

Com sua ocupação remontada ao século XVI, ao Porto da Barra e aos limites
da sede da Capitania de Baía de Todos os Santos (1536-1546), que se estendia do
nível do mar até as cercanias da atual Igreja da Graça, a Barra se transformou desde
o início, em ponto de apoio dos fundadores da cidade de Salvador (1549), sendo
referenciada na bibliografia pesquisada (VILHENA, 1801/1969; CAMPOS, 1930;
GORDILHO, 1960; MATTOSO, 1978; ROCHA PITTA, 1950; TAVARES, 1974) como
“Povoação do Pereira” ou “Vila do Pereira”, em alusão ao Donatário Francisco Pereira
Coutinho e como “Vila Velha”, “Povoação de Vila Velha” ou ainda, “Vila Velha da
Vitória”, a partir da construção da cidade de Salvador, denotando assim a sua
preexistência (Figuras 22 e 23).
65

Figuras 22 e 23. A “Cidade” e a “Vila Velha” em 1640, em detalhe de Mapa intitulado “Mapa da Baía
de Todos os Santos até a Ponta de Santo Antonio e Barra de Itaparica”, extraído de Cartas / manuscrito
colorido de João Teixeira Albernaz (“Descrição de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado
vulgarmente, o Brasil”). Observa-se a representação apenas do Forte de Santo Antônio, apesar dos de
Santa Maria e São Diogo já existirem. (Fonte: PORTUGALIAE MONUMENTA CARTOGRAFICA, vol.
IV. Original no Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa. (Em: http://www.historia-
bahia.com/mapas-historicos/baia-todos-santos.htm Acesso)
66

Desembarcados no atual Porto da Barra em 29 de março 1549, juntamente


com o Governador Geral do Brasil Tomé de Souza (que logo se transferiu para o sítio
escolhido para a construção da cidade sede), foi nessa região que ficaram alojados
os fundadores de Salvador e mais especificamente, os “funcionários públicos, os
homens de maior qualidade e os religiosos, à espera da conclusão das obras"
(SAMPAIO, 1949, Livro II, Capítulo 9, p.215, apud Cidade de Salvador, CEB, N°1,
1960, p.23).
Foi lá também que ficaram armazenados os mantimentos, material de
construção, munições de guerra e objetos de “resgate”, mercadorias usadas para
pagamento de soldos e serviços, a exemplo de foices, machados, pentes, tesouras,
roupas, enfim, “toda a preciosa carga dos seus navios até a construção da Casa dos
Armazens na Ribeira” (CARNEIRO, 1978, P.96)
Segundo Edison Carneiro (1978, p.96) os residentes da antiga povoação
contribuíram ainda com as obras de construção da cidade, com o fornecimento de
farinha produzida pela gente de Caramuru1 em Tatuapara (atual Praia do Forte) e pelo
morador de “Vila Velha” Francisco Rodrigues e com a disponibilização de mão-de-
obra para realização de serviços gerais ao Governador, a exemplo daqueles de
marcenaria, feitos por um serrador, escravo de Paulo Dias, consertos de caldeiras,
realizados por Custódio Rodrigues e dos reparos na “fortaleza do Pereira” feitos em
1552 pelo taipeiro Baltazar Fernandes (CARNEIRO, 1978, p.74)
Além de alojamento, armazém e fornecedora de mão de obra dos primeiros
tempos, a antiga sede administrativa da Capitania da Baia de Todos os Santos passou
a partir da segunda metade do século XVI, a desempenhar o papel de abastecedora
da cidade de Salvador - de produtos de seus pomares, lavouras e do pastoreio de
animais domésticos (pombos, galinhas, patos, cabras, porcos, cavalos e jumentos),

11
Personagem fundamental na ocupação do território soteropolitano e na história da Barra, onde foi
grande proprietário de terras, o português Diogo Alvares Correia, o “Caramuru”, naufragou nas
imediações do bairro do Rio Vermelho por volta de 1510, passando a viver com os índios Tupinambás
e ajudando-os no tráfico de pau-brasil com os europeus, principalmente franceses, no local onde hoje
encontra-se o Largo da Mariquita, então conhecido como “Aldeia dos Franceses”. (SAMPAIO, 1949,
Segundo Livro, Capítulo 4, p. 115-116). Com a criação da Capitania da Baía de Todos os Santos,
recebeu terras em doação pelo governo português, sendo entretanto o responsável, segundo
CARNEIRO (1978, p.50), pela destruição da sua sede, uma vez que, tendo ficado impedido de auxiliar
os franceses no tráfico do pau-brasil no Rio Vermelho e em Tatuapara, instigou os índios a
suspenderem o abastecimento e a atacarem sucessivamente a povoação, que foi completamente
destruída por navios franceses, que “incendiaram casas e confiscaram artilharia de defesa" (TAVARES,
1974. p.20), levando a fuga do Donatário Francisco Pereira Coutinho para a Capitania de Ilhéus e
posterior morte pelos índios no seu retorno (1546).
67

de lenha, pescados e subprodutos da pesca da baleia2 - função determinada no


Regimento de fundação do Governo Geral do Brasil e a partir do qual, Vila Velha
passou a fazer parte do “rossio” da cidade de Salvador, ou seja, uma parte do “termo”
- o território sobre o qual se exercia o poder municipal - demarcada junto ao núcleo
urbano e utilizada para a pastagem de animais domésticos, cultivo de lavouras e para
a coleta de lenha.

Dessa forma, a função de abastecimento da antiga povoação já veio definida


pela Metrópole e expressa no Regimento de Tomé de Souza, quando aquele
determinava de forma explícita que "o governador, chegando à Bahia, deveria tomar
posse da "cerca" de Vila Velha, então povoada de vassalos portugueses em paz com
o gentio, repará-la, levantar "outras cercas junto dela, de valas e madeira ou taipal" e
mandar plantar mantimentos, pela gente da armada ou da terra" (Evolução Física de
Salvador, V1,1979, p.38)

Os primitivos moradores de Vila Velha tornaram-se então, segundo Kátia


Mattoso (1978, p. 92), os responsáveis pelo sucesso da implantação definitiva dos
portugueses em terras baianas, seja pela prática na lida com a agricultura, pecuária e
navegação pelas águas da Baía de Todos os Santos, seja pelo fato de que estes
“haviam aprendido a lidar com os indígenas e sobretudo, haviam conseguido
organizar seu espaço nos moldes europeus, erigindo suas capelas da Graça e da
Vitória em torno das quais a vida comunitária se desenvolvia".

Conformando-se assim, durante o período colonial, em um "mundo rural,


vivendo em povoamento disperso, aproveitando da riqueza do solo e da abundância
de água para suas culturas" (MATTOSO, 1978, p.118), com uma população
constituída majoritariamente por “lavradores de mandioca, cultivadores de hortaliças
e árvores frutíferas e pescadores, inclusive de baleias" (IBID), Vila Velha também se
tornou um ponto avançado de defesa do território soteropolitano, representado pela
“Trilogia de Defesa da Barra” (PESSÔA, 1989), formada ainda no início do século XVII
– após a invasão holandesa pelo Porto da Barra (Figura 24) – pelos fortes de Santo

2 A pesca da baleia surgida ainda no século XVI era prática "portentosa na Bahia" nas primeiras
décadas do século XVIII [1724], ocorrendo "desde Junho até Outubro, começando por Santo António,
e acabando por Santa Teresa (...) "ROCHA PITTA (1950, Livro 1, N°72, p.33). Desse animal tudo se
aproveitava, da carne à banha, da qual era extraído o azeite ou “óleo de baleia”, usado na iluminação,
na construção civil (como aglutinante nas argamassas), na impermeabilização de navios e no fabrico
de velas e sabões, sendo tratada em “armações” (engenhos para processamento dos produtos) ao
longo da costa e na ilha de Itaparica.
68

Antônio da Barra (torre de taipa do século XVI, reconstruída em pedra e cal na


passagem para o XVII), Santa Maria (1627) e São Diogo (1629) (Figuras 25 a 27).

Figura 24. Salvador durante o ataque holandês de 1624, mostrando a presença apenas do Forte de
Santo Antônio (à direita) e o desembarque de tropas no Porto da Barra (1). (Fonte: Gravura intitulada
“S. Salvador” de Claes Jansz Visscher que ilustrou folha impressa com as notícias sobre a tomada de
Salvador pelos holandeses, em exemplar do Historisch Museum de Roterdam - Atlas Van Stolk. Em
Http://www.sudoestesp.com.br/file/colecao-imagens-periodo-colonial-bahia. Acesso em 02 ago. 2017)

Figuras 25 a 27. A “trilogia de defesa da Barra”, formada no início do século XVII pelos Fortes de
Santo Antonio, Santa Maria e São Diogo (Fontes: Fotos de Francisco Mazzoni, em 18 set. 2014)
69

Essas edificações militares ao lado daquelas outras religiosas - Igrejas de


Santo Antônio da Barra, de Nossa Senhora da Vitória e de Nossa Senhora da Graça
(figuras 28 a 30) - foram responsáveis pela formação (e/ou manutenção, no caso da
Igreja da Graça) de aglomerados populacionais em seu entorno, que foram sofrendo
alterações físicas e sociais que analisaremos nessa tese e configuraram-se durante
mais de três séculos nos principais marcos visuais da paisagem da orla da Barra
(Figura 31) até a construção do Edifício Oceania (1943) que, apesar da verticalização
do seu entorno a partir da segunda metade do século XX, continua ainda hoje se
sobressaindo com sua robustez arquitetônica (Figuras 32 e 33).

Assim, descrita no século XVII como sendo formada por “algumas casas de
moradores dispersas, a mór parte delias feitas de taipa, cobertas de palha e de cascas
de paus, no meio de suas culturas, entre basto arvoredo fructifero” (SAMPAIO, Roteiro
Geral, p.15) a Barra passará no último quartel do século XVIII (1774) a contar com
“quintas de residência e veraneio, rodeada das casinhas humildes dos pescadores e
roceiros” (CALDAS, apud GORDILHO, 1960, p.73) demonstrando que a área
começava a alterar sua paisagem (Figuras 34 a 37) , mas de forma mais lenta do que
o que se dará a partir de meados do século XIX, quando começam as melhorias nos
sistema viário e a circulação do transporte público.

Figuras 28 a 30. As Igrejas da área de estudo. Igrejas de Santo Antonio da Barra, de N.S. da Vitória
e de N.S. da Graça. (Fontes: registros fotográficos em 10 jun., 23.mai. e 06 set. 2014. Arquivo Pesoal)
70

Figura 31. (Recorte de) Prospecto de Julius Naeher. Barra em [18--], observando-se a sua “Trilogia
de Defesa” (em vermelho) - formada pelos Fortes de Santo Antônio, Santa Maria e São Diogo - e as
Igrejas de Santo Antônio da Barra e da Vitória (em azul). (Fonte: Recorte do Documento “Bahia de
todos os Santos aufgenommen nach der Natur” de Julius Naeher, em Biblioteca Nacional Digital,
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart511913/cart511913.htm Acesso.07 fev. 2015)

Figuras 32 e 33. O Edifício Oceania e sua relação volumétrica com as Igreja e Fortificações da
Barra em 2015. Vistas a partir da Baía de Todos os Santos/ Ilha de Itaparica e do Oceano Atlântico /
bairro do Rio Vermelho (Fonte: Registro fotográfico em 05 jul. e 08 de ago.2015. Arquivo particular,)
Figura 34. Casas e Fortificações da Barra no século XVIII. (“Elevação em prospectiva das Fortalezas na entrada da Barra
da Bahia, ao Sul, vista de terra para o mar, oposta, regulando comparativamente as suas partes”. De Eques Carvalho (João
de Abreu e Carvalho). (Fonte: original manuscrito do Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro em REIS FILHO, 2000, p.
52.)
71
72

Figura 35. Orla oceânica da Barra no século XVIII, avistando-se ao fundo o Forte de Santo Antônio.
Observa-se a falta de ocupação na área e sua paisagem formada por morros, areal e coqueirais (Fonte:
http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-farol.htm. Acesso em 09 set. 2014)

Figura 36. Trecho de orla da Baía de Todos os Santos, entre os Fortes de Santa Maria e o de São
Diogo, em 1839. Pintura em óleo sobre tela de Louis Buvelot (“Vista das Fortalezas da Entrada da
Bahia, tomada da Ponta do Farol”), vendo-se em primeiro plano à direita, o chalé que seria comprado
em 1887 para construção do Hospital Espanhol e ao fundo, o outeiro de Santo Antônio da Barra, com
sua igreja no alto, forte São Diogo a meia encosta e casas térreas ao nível da praia do Porto da Barra.
A esquerda da imagem o forte de Santa Maria e a presença de saveiros no mar. (Fonte. Guia
Geográfico e Histórico Salvador Antiga, http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-forte-santa-
maria.htm. Acesso 17 out. 2016)
73

Figura 37. “O Farol da Barra, no Ano de 1840”, vendo-se o número reduzido de edificações naquela
região e o intenso tráfego marítimo. Gravura intitulada “Cabo de Santo Antonio””, como o viu H.
Wimbles, reproduzindo-o no Mapa do Brasil gravado por J. Rapkin e publicado por John Tallis &
Company, Londres e Nova-York” (Fonte: WILDBERGUER, 1949. p. 236, gravura 55)

2.2. O SISTEMA VIÁRIO

O desenvolvimento de Salvador entre os séculos XVI e XVIII foi possibilitado


entre outros aspectos, por sua localização entre o Nordeste açucareiro e a zona de
mineração de Minas Gerais, dois importantes centros econômicos do período colonial,
sendo seu porto passagem obrigatória de embarcações do comércio de mercadorias
vindas da África, Índia e da China para o Brasil.

Apesar de ter perdido o protagonismo político com a transferência da Capital


do país para o Rio de Janeiro (1763) e da alternância de ciclos de maior ou menor
desempenho das monoculturas que se sucederam (cana-de-açúcar, tabaco,
madeiras, algodão, cacau) no seu Recôncavo e nas Província da Bahia, Salvador
manteve a sua importância econômica como porto importador e exportador de
74

escravos, de produtos de suas lavouras e de bens manufaturados europeus,


constituindo-se em intermediário comercial, político e administrativo entre a metrópole
portuguesa e a sua região de influência.

A economia baseada na atividade comercial agroexportadora e escravocrata,


que viabilizou a expansão urbana de Salvador no período colonial, sofrerá vários
revezes durante o século XIX em decorrência de uma conjuntura adversa, marcada
entre outros eventos, por revoltas populares (Sabinada e Revolta dos Malês em 1835),
queda no preço internacional do açúcar, abolição do tráfico dos escravos (1850) e o
aparecimento das epidemias de febre amarela e cólera (1855).

Mesmo mantendo sua atividade comercial urbana3, Salvador passará a partir


de meados do oitocentos a diversificar a sua economia com a criação de outras formas
de investimentos, muitos deles de origem externa, do sudeste do Brasil ou da Europa,
principalmente da Inglaterra. Abrem-se bancos, implantam-se indústrias (na maioria
têxtil), instalam-se companhias construtoras e firmas concessionárias de serviços
urbanos, começando os capitais privados a serem dirigidos para o financiamento e
execução de obras públicas e para a formação de um mercado imobiliário e fundiário.

Assim, ao lado dos grandes comerciantes e de alguns industriais, que


substituíram em importância econômica e política os senhores de engenho do Brasil
colônia, a elite soteropolitana ao longo do século XIX e primeira metade do XX passou
a ser formada também por banqueiros, empresários e proprietários de terra, ao tempo
que a classe média dos primeiros tempos formada por funcionários públicos, oficiais
militares e pequenos comerciantes - com seus estabelecimentos e/ou seus “escravos
de ganho” que ofereciam diversos serviços (carregadores, carpinteiros, barbeiros,
aguadeiros etc.) ou produtos (alimentos e miudezas em geral) (HOLTHE, 2002, p. 60)
- será ampliada com a participação de maior número de profissionais liberais

3 Em uma cidade onde o mercado de trabalho era reduzido, o comércio permitia a obtenção de uma
renda mínima (para os ambulantes) e obtenção de maiores rendas para os donos de lojas: “A cidade
reunia toda espécie de varejistas e revendedores. Os mais importantes, já se viu, tinham mercearias,
tabernas, padarias e lojas de tecidos e de ferragens instaladas nos bairros centrais. Serviam a uma
população numerosa. Ser proprietário de loja conferia certo prestígio social. Ao lado deles, convivia
enorme quantidade de feirantes e vendedores ambulantes, que expunham em tabuleiros ou barracas,
ou levavam de porta em porta, desde frutas, legumes, peixes, carnes e gêneros de mercearia em geral,
até tecidos e miudezas variadas. Eram livres para fixar seus preços, mas tinham que ter licença para
comerciar, pagando o imposto correspondente. Competia à Municipalidade conceder ou recusar as
licenças, arrecadando depois o imposto – entre quatro e cinco réis – que incidia sobre os ‘tabuleiros’ e
‘caixas’ dos vendedores ambulantes. (...)” (MATTOSO, 1992, p. 494 Apud HOLTHE,2002 p. 125)
75

(médicos, engenheiros, advogados, magistrados) formados inicialmente no exterior e


depois nas universidades baianas. Aos escravos libertos e a população mais pobre
restaram as atividades “braçais” no comércio ambulante e na prestação de serviços
(barbeiros, ferreiros, carpinteiros, pintores de paredes, roceiros, pescadores).

E se anteriormente o centro concentrava todos esses estratos sociais, por volta


de 1850 já se verificava o aumento de deslocamento das moradias das classes mais
abastada em direção aos arrabaldes de Salvador, fazendo-se necessário a realização
de obras públicas que assegurassem a qualidade de vida buscada nas novas áreas e
conferissem a mobilidade (fluidez) necessária àqueles que ainda exerciam atividades
político-administrativas, religiosas ou econômico-financeiras na cidade.

Iniciam-se então melhorias nos primitivos caminhos da freguesia da Vitória, que


culminarão no início do século XX com a abertura de grandes avenidas, ações
diretamente vinculadas aos avanços da engenharia e da tecnologia dos transportes
públicos, aos interesses do capital privado e ao atendimento daqueles privilegiados
que passaram a residir nas áreas distantes do centro.

2.2.1. Os primitivos caminhos da Barra

Os caminhos existentes na Barra em período anterior aos processos de


modernização de Salvador do século XIX foram resultantes das ligações entre os
agrupamentos formados nas proximidades de edificações militares e/ou religiosas e
destes com o centro da cidade, sendo importante referenciar aqueles remanescentes
do século XVI que permaneceram quase que totalmente inalterados (enquanto
traçado) no recorte temporal privilegiado (1850-1950), contribuindo para a ocupação,
expansão e transformação da paisagem do bairro.

2.2.1.1.O “Caminho para Vila Velha”

Além da navegação pela Baía de Todos os Santos, era pelo caminho que
“através de várias aldeias dos índios levava à Vila Velha" (CARNEIRO, 1978, p.117),
que os moradores daquele primeiro núcleo de povoamento português abasteciam
76

Salvador, através das feiras semanais instituídas pelo Governador Tomé de Souza
nas imediações da porta (do Sul) de Santa Luzia (depois São Bento e atual Praça
Castro Alves) e que, segundo CARNEIRO (1978, p.117), em relação à Porta de Santa
Catarina (ao norte), "era mais movimentada e concorrida, e provavelmente mais bem
defendida, por ter acesso mais fácil ao porto, por ficar próxima à feira e por servir às
pessoas que vinham, por terra, da Vila Velha para a Cidade".(o grifo é meu)

Denominado de “Caminho de [para] Vila Velha” pelo menos até o século XVIII
ligava por terra a cidade fortificada de Salvador aquele primeiro povoado, tendo um
percurso correspondente a quase totalidade da futura Avenida Sete de Setembro
(1915), ou seja, partindo da praça Castro Alves e subindo a Ladeira de São Bento,
passava pelo Largo da Piedade, de onde seguia pelo Politeama, Rosário e Forte de
São Pedro, até atingir o Campo Grande, de onde seguia pelo Corredor da Vitória até
o Largo do mesmo nome e daí até o Porto da Barra (Figuras 38 e 39).

Figura 38. Caminho ligando Salvador a Vila Velha no século XVI (em mapa intitulado “Arredores da
Cidade do Salvador entre 1550 e 1570”. (Fonte: MYBC / utmc. Biblioteca CEAB /M1E/04ª)
77

Figura 39. “Caminho de Villa Velha” no século XVI. (Figura intitulada “Arredores da Cidade do
Salvador entre 1550 e 1570”Fonte: SAMPAIO, 1949.)
78

Entretanto, o desenvolvimento do antigo “Caminho de Vila Velha” (ou “Caminho


do Conselho”, segundo SILVA FILHO, 2008) a partir do Largo da Vitória não parece
claro, apesar do geólogo Rubens Antônio ter defendido em sua Dissertação que ele
se dava diretamente do Largo da Igreja da Vitória em direção a Portada do Forte São
Diogo, portanto, em traçado distinto daquele da Avenida Sete de Setembro (Figura
40), conforme afirmação baseada em Silva Nigra (1937, p.221. APUD SILVA FILHO,
2008, p.159):

(...) originalmente, a Ladeira prosseguia mais para o interior, devendo


serpentear por áreas mais elevadas, “pelas cabeçadas das terras”. Isto
significa sua colocação em terreno atualmente ocupado pelo Alto de
Clemente Mariani e pelos edifícios que atualmente fazem frente à ladeira.
Dele, caindo à esquerda, estavam “umas sortes de terras que desciam até o
mar.

Figura 40. (Possível) Antigo traçado do “Caminho de Vila Velha” entre os Largos da Igreja da Vitória
e do Porto da Barra, passando pelo morro onde foi construída residência de Clemente Mariani, em
percurso distinto daquele em que foi implantada a Avenida Sete de Setembro. (Fonte: SILVA FILHO,
2008, p. 160, figura 59, “Diferença de trajetos do início da antiga e da atual Ladeira da Barra”)

Considerando como correta essa afirmação e com base na análise de imagens


do final do século XVIII e primeira metade do século XIX (Figuras 41 a 44), é provável
então que tivesse sido aberta posteriormente uma via em trajeto mais análogo ao da
futura Avenida Sete no trecho que ligava a Igreja da Vitória a Igreja de Santo Antônio
79

e que conhecida como “Estrada de Santo Antonio”, passaria por obras entre 1848 e
1851 (SIMAS FILHO, vol. 3,1978, p.479)

Figura 41. Os dois caminhos entre a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Porto da Barra no
último quartel do século XVIII. Detalhe de Gravura “Elevação em prospectiva das Fortalezas na
entrada da Barra da Bahia ao Sul, vista de terra para o mar, oposta, regulando comparativamente as
suas partes”. De Eques Carvalho /João de Abreu e Carvalho. (Fonte: REIS FILHO, 2000, Nestor. p. 52.
Original manuscrito do Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro.)

Igreja de Santo Antônio da Barra

Forte São Diogo Caminho

Figura 42. Iconografia do século XVIII mostrando o “Caminho para Vila Velha” no trecho
conhecido como "caminho público para a Igreja de Santo Antônio, que se desenvolvia pelo outeiro
de Santo Antônio da Barra, com sua Igreja e forte de São Diogo. Observa-se a ambiência de aldeia de
pescadores (em trabalho em primeiro plano), com saveiros, casas térreas e muita vegetação (Título:
“Outeiro da Barra”. S/data. Fonte desconhecida. Biblioteca do CEAB. 1990)
80

Figura 43. Caminho para a Igreja de Santo Antônio da Barra (seta) em 1858. De fotografia de Victor
Frond. Observa-se o desenvolvimento da área do Porto da Barra, com edificações de dois andares no
Largo e o conjunto de casas térreas geminadas e na testada do lote, em uma implantação de
características coloniais. (Fonte: http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm. Acesso
05 abr. 2014)

Figura 44. Caminho para Vila Velha em 1835, no trecho hoje conhecido como Ladeira da Barra.
Gravura de William-Gore-Ouseley, onde observa-se a via sem calçamento e o muro do cemitério dos
ingleses e ao longe, a igreja de N.S. da Vitória e algumas edificações no seu entorno e ao nível do mar.
(Fonte: http://www.bahia-turismo.com/salvador/barra/cemiterio.htm. Acesso em 17 ago. 2017)
81

Assim, teríamos já no final do século XVIII dois caminhos partindo do Porto da


Barra em direção a Igreja de Santo Antônio da Barra – um em linha reta e outro,
provavelmente mais antigo, à meia encosta passando em frente a portada do Forte
São Diogo (1629), conhecido como “caminho público para a Igreja de Santo Antonio”
e que daí seguia até a Vitória em um percurso que ainda não é possível precisar.

Esse pioneiro “caminho público para a Igreja de Santo Antonio” (Figura 45),
existente ainda na década de 1950 (Figura 46) foi “apagado” após 1867 por obras
realizadas no Forte São Diogo para construção de muros e escadas, (Figuras 47 e
48) e realização de cortes no outeiro de Santo Antônio com vistas a obtenção de dois
platôs (Figura 49) em um dos quais (o mais baixo) foi instalado o Clube Social do
Exército / CIREX que funcionou até o início dos anos 1980 (PESSÔA, 1988),
passando a ligação com a Igreja de Santo Antônio a ser feita apenas pela Ladeira da
Barra.

Forte São Diogo

Figura 45. Forte São Diogo e o “Caminho Público para a Igreja de Santo Antônio no alto do
Morro” em 1867 (em vermelho), partindo da atual praça. Em azul, os dois portões de acesso, estando
o inferior do desenho hoje fechado com alvenaria. (Fonte: cópia heliográfica de planta levantada “por
aviso circular do Ministério da Guerra” em 06 de junho de 1867 e copiado em 09 de julho de 1928 e em
20 de fevereiro de 1957, depositada no Arquivo do Quartel General da 6ª Região Militar do Exército).
82

Figura 46. “Caminho público para a Igreja de Santo Antonio” na década de 1950, passando pela
Portada de acesso ao Forte de São Diogo (1629). (Fonte: AHMS/FGM em
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/
Acesso em 22 abr. 2017)

Figuras 47 e 48. Escadaria de acesso a Portada do Forte de São Diogo. (Fonte: Registro fotográfico
em 05 jan. 2017, Arquivo Pessoal.)

Figura 49. Implantação do Forte de São Diogo, no sopé do outeiro de Santo Antonio da Barra. Em
azul as antigas entradas que davam acesso ao “Caminho para a Igreja de Santo Antônio” e os dois
platôs (cortes no morro) construídos posteriormente (setas vermelhas). (Fonte: Registro fotográfico em
05 jan. 2017, Arquivo Pessoal.)
83

2.2.1.2. O “Caminho da Floresta”

Além do “caminho de Vila Velha” e do transporte marítimo usado nas ligações


com o centro da cidade, com o Recôncavo e demais pontos da costa, o contato por
terra entre o sítio da antiga Povoação do Pereira e a área vizinha da Graça - onde se
instalou Caramuru após a destruição da sede da Capitania (ou talvez mesmo antes
desta) - se dava através do caminho intitulado de "Caminho [ou Estrada] da Aguada"
ou “Caminho da Floresta" (SAMPAIO, 1949, p.35), muito provavelmente pela
existência de uma fonte nas imediações da Igreja da Graça, depois conhecida como
“Fonte de Catarina Paraguassú” e pela vegetação abundante presente entre aquele
alto e a praia (Figuras 50 a 52).
Conhecido posteriormente como “Estrada da Graça”, será sobre o seu traçado
que se construirá no final do século XIX a Avenida Princesa Isabel, principal ligação
entre a praia do Porto da Barra e o Largo da Graça, onde se principiou a ocupação
daquele bairro.

Figuras 50. “Caminho da Aguada” ou “Caminho da Floresta”, em 1823. Ilustrações de Maria


Graham, vendo-se o outeiro de Santo Antônio da Barra, a Igreja de mesmo nome no alto e o forte São
Diogo, na parte baixa. (Fontes: http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm. Acesso
em 13 nov. 2016)
84

Figura 51. “Caminho da Aguada” ou “Caminho da Floresta”, em 1823, em ilustrações de Maria


Graham, feita provavelmente das imediações da Igreja da Graça vendo-se ao longe (à direita) a Igreja
de Santo Antônio da Barra. (Fontes: http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-igreja.htm.
Acesso 13 nov. 2016)

Figura 52. Imediações da Igreja de Santo Antônio da Barra em 1837, vendo-se a vegetação
abundante, provavelmente na área onde se encontra hoje o morro de Clemente Mariani e onde foi
implantada a Avenida Sete de Setembro (“Desenho da Igreja, de 1837, feito por um dos tripulantes da
fragata francesa Vênus, que realizou uma viagem em volta do mundo, entre 1836 e 1839”, em
http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-igreja.htm. Acesso em 13 nov. 2016)
85

2.2.1.3. Outros antigos caminhos da Barra

Completava o traçado viário pioneiro por onde se dará posteriormente a


expansão física do bairro, aquela “estrada nova a sair na costa” (EDELWEISS, 1961,
p. 80) que margeando a Baia de Todos os Santos, ligava o Porto, nas imediações do
Forte Santa Maria, ao Forte de Santo Antônio da Barra e que em 1854 já recebia
“obras de melhoramentos” (ibid.).
As ruas Barão de Sergy, César Zama (“Rua da Alegria”), Barão de Itapuã e
“Rua do Porto” – também conhecida como “Rua da Barra” ou “Rua da Areia”,
provavelmente por não ser calçada e/ou se encontrar em um baixio4, sujeita, portanto,
ao depósito de areia em épocas de “ressaca” do mar - formavam os dois quarteirões
paralelos ao mar que, ao lado da “Rua Baixa da Graça” ( provavelmente o trecho plano
do sopé da atual Ladeira da Barra Avenida / “Caminho da Floresta”, nas proximidades
do Largo do Porto), já eram representados em meados do século XIX como a área de
maior adensamento de construções, denotando o desenvolvimento daquele núcleo
inicial de ocupação de Vila Velha. E tendo a Baía de Todos os Santos e o oceano
Atlântico como limites físicos, as terras do interior da Barra, com seus montes cobertos
de matas virgens, serão ocupadas a partir da “Rua do Bosque da Barra” (futura Rua
Marques de Caravelas), que, se desenvolvendo no vale que circunda o atual Morro
do Gavazza, ao largo do rio de mesmo nome (“Ribeiro do Bosque Quintas da Barra”)
se constituiria na mais antiga ligação terrestre entre as duas orlas do bairro no sentido
Leste-Oeste. (Figura 53 e 54).
A área atualmente conhecida como Porto da Barra, entre os Fortes São Diogo
e Santa Maria, foi, portanto, o centro de ocupação do bairro e de irradiação dos seus
principais caminhos desde os primórdios do século XVI, tendo o seu Largo (depois
denominado de Praça Ramos de Azevedo) sofrido intervenções em data e dimensões
que não se pode precisar até o momento.

4
“(...) O local que atualmente configura o Largo do Porto da Barra, tem cota média de 6,5 metros, o que
o coloca cerca de 2,5 metros acima do nível do contato da areia com o muro de borda da Avenida Sete
de Setembro. É certo que, ainda que não fosse uma área permanentemente alagada, foi efetivamente
um baixio, (...)” (SILVA FILHO, 2008, p. 145)
86

Figura 53. Salvador em cerca de 1850, em recorte da Planta de Carlos Augusto Weyll (“Mappa
Topographica da Cidade de S. Salvador e seus subúrbios”). Vendo-se o adensamento da área central,
a ocupação linear e rarefeita em direção as áreas de expansão do vetor sul, estando marcada (em
vermelho) a área de estudo. (Fonte: REBOUÇAS, Diógenes 1979. Reprodução do Mapa anexa à obra,
de original colorido da Biblioteca Digital Luso-Brasileira, http://bdlb.bn.gov.br/)

R. Bosque da Barra
Caminho da floresta

Caminho de Vila Velha


(atual) R. Barão Segy

R. do Porto
(atual) R. Barão de Itapoã
(atual) R. Cesar Zama

Figura 54. A Barra e suas ruas em cerca de 1850. Demarcada a área de estudo em vermelho, e em
azul, a área de ocupação mais adensada nas imediações do atual Porto da Barra, em detalhe da Planta
de Carlos Weyll (Fonte: Cópia xerográfica de parte do Mapa anexo ao livro de REBOUÇAS, 1979)
87

Sobre as obras para provável aterramento do Largo do Porto da Barra, se


considerarmos a existência de grande “gamboa de pesca” do tempo da Povoação do
Pereira (referenciada em planta de Teodoro Sampaio, anteriormente colocada) e/ou
de um “riachinho” visto por Maximiliano da Áustria em 18605, nos fala Rubens Antônio
(2008, p. 144 e p. 147) citando Antônio Risério (2000) e Teodoro Sampaio (1949).
O autor conclui pela realização de uma pequena intervenção realizada no largo
do Porto (em data ignorada), ao tempo que discorre sobre o percurso daquele curso
de água - possivelmente o “Ribeiro do Bosque” ou “Ribeiro do Bosque Quintas da
Barra”, que foi aterrado nas primeiras décadas do século XX para dar lugar a Rua
Marquês de Caravelas - como indo ao encontro do “Rio dos Seixos” - também
conhecido como “Rio das Pedras” ou “Rio das Pedrinhas” e localizado nas imediações
da “Roça da Sabina” e da atual Avenida Centenário - que foi canalizado no final da
década de 1950, dentro da lógica modernizadora de sujeição do sítio natural às obras
de engenharia executadas em favor da circulação de veículos (Figuras 55 e 56).

Risério (2000, p.62) coloca que o que se pode concluir da feição da Camboa
de Caramuru é tratar-se de uma baixada “por onde antigamente penetrava a
maré, alagando o terreno baixo e arenoso” que teria sido modificada ou
adeqüada, através de cavas, entulhamentos ou de equipamento de palha,
para que se transformasse em uma armadilha eficaz de pesca. Esse autor
coloca que essa estrutura foi “depois coberta pelo aterro e as edificações que
vieram a conformar o Largo da Barra”. Uma reconstituição de Sampaio (1949)
estende essa camboa até a altura da Rua Doutora Pragues Froes, entretanto,
essa região guarda, atualmente, altitude de cerca de 10 metros. Constitui
provavelmente um exagero acentuado imaginar que essa região inteira foi
assoreada e/ou terraplana sem recursos ou registros maiores. Além disso,
dada a escassez de recursos para realizar algo maior, não seria executável.
Mais, imaginando que o tivesse efetivamente feito, não teria como seria tão
fácil e rapidamente suprimida, sem deixar registros. (O grifo é meu)

Ao seu pé [do Outeiro Grande] corria, conforme Nigra (1937), o “Ribeiro do


Bosque”. Esta indicação foi seguida por Sampaio (1949, p.160), que colocou
esse Ribeiro “na distancia de uns tresentos a quatrocentos metros da praia,
no sopé do morro (...) em lugar enxuto, onde o terreno começa a subir, onde
a matta da encosta acabava”. Corria assim “a água de um pequeno ribeiro
que flue para o rio dos Seixos, embora pequena, dava o bastante para a
povoação nascente”. Era o Ribeiro do Bosque, cujo curso seguia
aproximadamente a trajetória descendo pela que atualmente é a Rua João
Pondé, a Alameda Antunes, a Rua Cezar Zama e a Rua Marques de
Caravelas, estando atualmente sob essas desaparecido. ” (O grifo é meu)

5
Conforme descrição feita por Maximiliano da Áustria a Salvador em 1860 e comentada por Frederico
EDELWEISS, (1961, p.77) no seu livro “A Visita de Maximiliano da Áustria à Bahia": “O seu vivo, quase
místico desejo de tomar contato com a nossa terra longe de qualquer etiqueta e gente estranha, levou-
o a escolher para seu desembarque um lugar que nas suas próprias palavras, escolheria um noivo para
o primeiro encontro com a sua prometida: o Porto da Barra, êrmo e poético, então, com o seu riachinho
cortando o Largo de hoje, onde algumas Iavadeiras tagarelas maltratavam roupa suja".(o grifo é meu)
88

Largo do Porto

Ribeiro do Bosque

Rio dos Seixos

Figura 55. Rios da Barra em 1830, observando-se o “Ribeiro do Bosque da Barra” e “Rio dos
Seixos, que após se encontrarem, desaguavam nas imediações da Fazenda Camarão (entre os atuais
morros Ipiranga e do Cristo), recebendo por isso a partir daí o nome de “Rio Camarão” (Detalhe de
“Carta Hydrografica da Bahia de Todos os Santos, na qual está situada a cidade de S. Salvador, Capital
da Província de mesmo nome. Latitude austral da Cidade 12°, e 56᾿. Longetude à Oeste de Pariz, 41.
°, e 59᾿. Desenho de B. Teixeira (?), 1830”, Fonte: Internet)

Figura 56. Vale do “Rio das Pedras” (“das Pedrinhas” ou “Rio Dos Seixos”) em 1884, que após
se unir com o “ribeiro do Bosque” (que vinha da área do Porto da Barra), desaguava nas imediações
da Fazenda Camarão, entre os atuais morros Ipiranga e do Cristo. A área lindeira a esse vale, alagadiça
e com grandes matas remanescentes, foi ocupada inicialmente por habitações informais, a exemplo
daquelas da “Roça da Sabina”. O rio dos Seixos hoje encontra-se tamponado sobre o canteiro central
da Avenida Centenário. (Fonte. Gilberto Ferrez. Acervo do Instituto Moreira Sales / Brasiliana
Fotográfica Digital. http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/bras/2490 Acesso 11 jun. 2015)
89

A cargo dos poderes públicos estadual e municipal respectivamente e com o


objetivo de melhorar a ligação dos bairros da Graça e da Vitória - habitados desde
1821 por ricos comerciantes locais e estrangeiros (SIMAS FILHO, 1978, Vol. 3. pg.
294 e 343) - com a Barra, ainda considerada uma “povoação”, foram realizadas obras
de melhoramentos na “Estrada da Graça” (Barra Avenida) e na “Estrada de Santo
Antonio” (Ladeira da Barra), iniciadas em 1848 e concluídas respectivamente, em
1849 e 1851:

“(...) duas interessantes estradas que seguem para a Povoação da Barra, as


estradas da Graça concluída em 1849 a cargo do Governo Provincial –
“cumprindo agora [1850] com urgência calçar os álveos laterais (...) afim de
evitar damno que deverão causar as agoas da chuva” – e a estrada de Santo
Antonio, “feita de baixo da inspeção da Camara Municipal que a paga”, sendo
ambas construídas “debaixo da direção do súbdito Inglez o Padre Parker, que
mostra bastante interesse pelos melhoramentos daquela parte da cidade não
se poupando á trabalho algum. (...)” (Falla do Presidente da Província
Francisco Gonçalves Martins ANDREA em 1850. In: SIMAS FILHO, vol. 3,
1978, p.479) (os grifos são meus)

Adequando seu sistema viário a uma população residente e veranista que


crescia e que cobrava uma melhor circulação interna e em relação ao Centro da
cidade, foram feitos também em 1854 melhoramentos na via que costeava a Baía de
Todos os Santos, entre os Fortes Santa Maria e Santo Antônio, “para possibilitar o
trânsito de veículos de tração animal” (TEIXEIRA, 2001, n. 1, p..13), ainda charretes
e carroças, uma vez que o primeiro transporte público por “gôndolas” surgiria em
Salvador apenas em 1862 e na Barra no final de 1870, como será detalhado mais
adiante.

A partir da década de 1870, dentro do espírito modernizador de


“aformoseamento” e de adequação dos caminhos a circulação dos bondes e em face
do crescimento populacional do antigo arrabalde e da maior frequência nas suas
praias, foram realizadas obras na orla da Baía de Todos os Santos, como a
continuação da muralha de contensão e execução de muretas em alvenaria e/ou
balaustradas nas imediações do ponto final do “bonde da Barra” no Largo do Farol,
onde seriam também construídas escadas de acesso à praia, a exemplo daquelas do
Porto da Barra (Figuras 57 a 59).
90

Figura 57. Projeto de continuação de nova muralha de contenção, execução de balaustrada e


escadaria em trecho da orla da Baía até o Farol da Barra, em março de 1879. Projeto do Engenheiro
L. Pessôa de Barros (“Projecto para continuação da nova muralha que se está construindo à beira-mar
na Barra d´onde o ponto onde terminou até em frente do gazometro”. Fonte: CEAB. N° 195/ 09)

Figura 58. Mureta em alvenaria no trecho da orla da Baía de Todos os Santos entre os fortes de
Santa Maria e Santo Antônio, em postal datado de 1911. Observa-se postes de eletricidade e parte
da via pavimentada para colocação dos trilhos do bonde (que circulava até o Largo do Farol da Barra)
e a presença de pessoas (no canto esquerdo da imagem), possivelmente contemplando a paisagem.
(Fonte: “Salvador... tempos passados! ” https://www.facebook.com/groups/475176305884533/. Acesso
24 jan. 2017
91

Figura 59. Vista do Porto da Barra em 1903, a partir do Forte de Santa Maria. Em destaque as
escadas de acesso à praia (círculo vermelho). Observa-se a arborização, a existência de algumas
edificações de dois pavimentos e o menor desnível (coberto de vegetação) entre a rua e a praia, em
local onde seriam executadas as balaustradas durante a construção da Avenida Sete de Setembro
(1912-15) (Fonte: http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-porto.htm Acesso 10 abr.2014

Como vimos anteriormente, da análise do mapa de Salvador do Engenheiro


Carlos Augusto Weyll de cerca de 1850, pode-se observar que ao final da primeira
metade do século XIX, além da concentração de casas no Porto da Barra, já estava
formado o sistema viário básico que articulava a Barra as áreas vizinhas da Graça,
Vitória e Ondina - representado pelas Ladeiras da Barra e da Barra Avenida, pela “Rua
do Bosque da Barra” (futura rua Marquês de Caravelas) e pelo caminho que ligava a
área do Porto ao Farol, costeando a Baía de Todos os Santos – sobre qual traçado
serão abertas as novas avenidas e por onde passarão a circular os bondes (depois
automóveis e ônibus), dentro de uma lógica de maior ou menor sujeição ao sítio
natural, de acordo com as tecnologias disponíveis.

2.2.2. As Avenidas da Barra

Os melhoramentos na “Estrada da Graça” (antigo “Caminho [ou Estrada] da


Aguada" ou “Caminho da Floresta") concluídos como vimos em 1849, foram
retomados nos últimos anos do século XIX. Principal ligação entre a Barra e a Graça,
92

enfrentava como veremos a seguir, graves problemas para a circulação do bonde,


sendo necessária uma obra de maior vulto, que foi materializada, entre 1894 e 1899,
na execução do projeto do Engenheiro Hans Schleier, que consistiu no alargamento
da antiga rua para 16 metros, num percurso de 1.910 m de extensão (ALMEIDA, 1997.
PDF. 2016. p. 146). O antigo “Caminho da Floresta”, passou então a denominar-se
Avenida Princesa Isabel, popularmente conhecida como “Ladeira da Barra Avenida”,
assim como o é a “Ladeira da Barra”, no trecho da Avenida Sete que adentra nossa
área de estudo e sobre a qual passo a discorrer.

2.2.2.1. Avenida Sete de Setembro

As melhorias viárias realizadas a partir de meados do século XIX na Barra,


desde o Largo da Vitória até o Porto da Barra e na sua continuação pela Baia de
Todos os Santos até o Farol, serão consolidadas com a construção da Avenida Sete
de Setembro (1915) sobre esse mesmo percurso.
Inicialmente conhecida como “Avenida do Estado” foi implantada, segundo
projeto de Jerônimo Teixeira, desenvolvendo-se entre a Praça Castro Alves até o largo
do Farol da Barra (PINHEIRO, 2011) e no seu trecho inicial derrubou quarteirões
inteiros e acarretou a perda de importantes exemplares da arquitetura civil e religiosa
como a Igreja de São Pedro Velho, o Convento das Mercês e a ala esquerda do atual
Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.
Ícone da modernização de Salvador do início do século XX, a Avenida Sete de
Setembro foi executada durante a primeira gestão do governador José Joaquim
Seabra (1912-16) quando a cidade como um todo viu acontecerem as intervenções
mais significativas que as do século anterior, se mensuradas enquanto capacidade de
transformação do espaço construído e de expansão da malha urbana da cidade no
sentido sul.
Uma vez que o poder público não dispunha de recursos para tão vultuosa obra,
foram empregados para sua construção foram empregados os mecanismos
disponíveis de crédito existentes, primeiramente estrangeiros, através do banco
francês “Credit Mobilier” (MATTEDI, BRITO e BARRETO, 1978, p.253).
93

Sob supervisão do governo do Estado e traçada a “régua e esquadro" sobre o


antigo “Caminho de Vila Velha" esta Avenida no seu primeiro trecho de construção,
correspondente aquele que vai da Ladeira de São Bento ao Forte São Pedro, não
respeitou as construções e tecido pré-existentes, sendo desapropriados mais de 300
imóveis e demolidas igrejas e fachadas de prédios tradicionais, demonstrando a
prevalência naquele momento do urbanismo “demolidor” praticado em todas as
principais capitais do país6.
No seu segundo trecho correspondente ao Corredor da Vitória (antiga Rua Dr.
José Marcelino) continuaram sendo postos em prática os princípios modernizadores
de estética urbana e imperativos de circulação, que implicaram na retificação e
alargamento da via pré-existente (Figura 60) que, em maior ou em menor grau,
afetaram o casario ali construído, conforme atestam os 20 processos que deram
entrada na Diretoria de Obras da Intendência Municipal entre os anos 1913 e 1914,
dos quais 15 diziam respeito a reformas de fachada, justificadas expressamente em 6
destes pelos cortes sofridos em decorrência do alargamento da via: "(...) tendo
demolido a frente de sua casa (...) em obdiencia ao alinhamento traçado pelo Governo
do Estado (...)” (Arquivo MIIIGB 0614. “Projetos de Construção e Reforma”
depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio
Campos em 02 abr.1992).
Os danos ao casario do Corredor da Vitória, já bastante ocupado nesse período
por ricos baianos e estrangeiros, só não foram maiores porque muitas destas foram
construídas ainda no século XIX segundo os padrões de modernidade arquitetônica e
urbanismo “higienista” - que, entre outros aspectos, legislava sobre a necessidade do
afastamento da edificação dos limites do lote, notadamente com a adoção do recuo
mínimo de 3 metros da testada (Figura 61) - e por possíveis adequações do Projeto
original que poupou alguns palacetes a exemplo do “Palácio dos Governadores”7
(Figura 62), que passaram a ficar na testada do lote ou permanecerem com seus

6 Em nome do chamado “Urbanismo demolidor” é que serão feitas no início do século XX as grandes
“cirurgias” nas áreas centrais das cidades portuárias brasileiras, a exemplo do Projeto de Pereira
Passos para o Rio de Janeiro (1902-1906), do Projeto de Saturnino de Brito para Santos (1910) e
daquele outro em Recife (1910-1913).
7 Construído no início do século XIX para residência de rico comerciante de escravos, passou em 1858

a abrigar o Colégio São José e em 1879 foi adquirido pelo governo, tornando-se residência oficial dos
presidentes da província e de governadores (1889) até a década de 1920, quando foi demolido para
dar lugar a construção neocolonial que serviria de sede à Secretaria de Educação e Saúde. Atualmente
a construção abriga o Museu de Arte da Bahia. (https://pt.wikipedia.org/wiki/MuseudeArtedaBahia.
Acesso 20 ago. 2017)
94

recuos originais (Figuras 63 e 64), mas sempre tendo em frente um passeio em pedra
portuguesa com arborização e a caixa de rua com iluminação central através de belas
luminárias de ferro ladeadas pelos trilhos do bonde, modelo de intervenção que seria
adotado em toda a extensão da Avenida Sete até o Farol da Barra.

Clube Alemão

Palácio dos Governadores

Figura 60. Projeto da Avenida Sete de Setembro em 1912, no trecho do Corredor da Vitória, a
partir do Campo Grande, com indicação da relação entre o traçado da Avenida e o casario existente.
Em azul os recuos no terreno que possibilitaram a manutenção dos casarões e em vermelho o local do
“Palácio dos Governadores” do qual provavelmente a Avenida foi “desviada”. (“Avenida de S. Bento a
Barra / Planta Parcellar N° 2”, escala 1/500, elaborada pela Companhia de Melhoramentos da Bahia,
em dezembro de 1912. Fonte: mapoteca do CEAB)

Figuras 61 e 62. O Clube Alemão de Salvador no início do século XX, nas imediações dos atuais
ICBA e ACBEU e o “Palácio dos Governadores” no último quartel do século XIX, depois
reconstruído em estilo neocolonial nos anos 1920. Dois exemplos da relação entre a implantação da
edificação no lote e as obras de abertura da Avenida Sete de Setembro, na área do Corredor da Vitória
(Fonte: “Amo a História de Salvador”, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-
By-Louti-Bahia-729832370389489/ acesso em 20 ago. 2017)
95

Figura 63. Corredor da Vitória antes do alargamento da Avenida Sete (1915), observando-se os
recuos frontais das edificações, os trilhos dos bondes e a iluminação pública (postes e luminárias). Em
primeiro plano à direita, a edificação em vocabulário neoclássico, ainda hoje existente e conhecida
como “Solar Cunha Guedes”. (Fonte: http://www.salvador-antiga.com/vitoria/antigas.htm Acesso em 14
jul. 2016)

Figura 64. Corredor da Vitória em 1925. Com o alargamento da Avenida Sete (1915) alguns palacetes
ecléticos passam a ficar no alinhamento da rua. Observar os passeios em pedra portuguesa e com
arborização, a iluminação central e a convivência de duas formas de transporte: o automóvel e o bonde
elétrico. (Fonte: http://www.salvador-antiga.com/index. Acesso em 14 jul. 2016)
96

As obras da Avenida Sete que estavam bastante adiantados em 1913, quase


foram paralisados em 1914 devido a dificuldades financeiras, sendo a sua
continuidade assegurada pelo Governo Estadual que transferiu na época apólices de
pagamento aos subempreiteiros responsáveis pela sua execução, representados pela
“Companhia de Melhoramentos", de propriedade da família Guinle do Rio de Janeiro.
Tal circunstância justificaria a não execução do Projeto inicial e a redução da
largura da avenida no trecho da nossa área de estudo, entre o Largo da Vitória – que
também passou por “aformoseamento” com construção de praça arborizada e reforma
da Igreja para adequação ao estilo neoclássico (Figura 65) - e o Farol da Barra, fato
que garantiu a manutenção do casario existente no início da Ladeira da Barra (Figura
66) e na orla, no trecho de maior ocupação entre os fortes de São Diogo e de Santa
Maria (Figura 67) e dali em direção ao Farol, área menos adensada (Figuras 68 e 69):

A obra foi levada a efeito na etapa final dos trabalhos, quando os recursos
financeiros estavam bastante escassos, disso resultando a alteração do
Projeto respectivo e a redução da largura prevista de 20 (vinte) metros, para
a existente na via pública, com o que não houve destruição do casario
existente e da tradicional lgreja de Santo Antonio da Barra, sita na posição
eminente em que se encontra há mais de trezentos anos (MATTEDI, BRITO
e BARRETO, 1978, p.256).

Cabe ainda ressaltar que, assim como no corredor da Vitória, a Ladeira da Barra
(antigo “Caminho de Vila Velha e depois “Estrada da Barra”) no seu trecho inicial, era
ocupado por residências luxuosas, construídas com recuos e jardins fronteiriços - em
atendimento a legislação vigente e a indicação da Diretoria de Obras em 1852, logo
após a execução das obras de melhoramentos (1848 e1851) – forma de implantação
que, segundo Maria Angela CARDOSO (2015, p. 133 e 134), serviu de modelo para
outras áreas da cidade:

Os recuos (frontal ou lateral) traz a vegetação ao primeiro plano da fachada,


formando o ‘jardim da casa’, e a continuidade do modelo faz o aformoseamento
da rua. Nas ladeiras, surgem os jardins escalonados, resultantes da
acomodação do ‘graide` da rua com a soleira da porta, que segundo o
Engenheiro Francisco de Aguiar, para a Estrada da Barra, “[...] o declive de
deve ser de 6%, o nivelamento da casa feito por patamares com jardins, e se
preciso rebaixar o portão para manter a soleira da porta nivelada com o
passeio” (AGUIAR, 1852). O modelo criado para a Estrada da Barra foi
aproveitado para outras ladeiras da cidade, inclusive aquelas mais antigas e já
ocupadas, onde havia a intenção dos moradores para adaptar suas casas e
aproximar-se dos ideais da salubridade” a exemplo da Ladeira dos Aflitos “onde
a marcação da rua ocorreu posteriormente às edificações e seguiu o modelo
do patamar escalonado para formar o ‘jardim da casa’.
97

Inaugurada em 07 de setembro de 1915, a Avenida Sete tinha um


desenvolvimento de 4.600 m de extensão, com 21 m de largura - exceto como vimos,
na Ladeira da Barra - com 3 m de calçada, contando já em 1916 com 82.800 m² de
asfalto e arborização e “equipada com tubulações para as redes de água, esgoto,
águas pluviais e instalações para a iluminação elétrica” (PINHEIRO, 2011, p.229).
Concluídas as obras, o governo do Estado em acordo com a Intendência
Municipal, "deliberou assumir a responsabilidade pela conservação da Avenida Sete
de Setembro durante 05 anos, cabendo ao Município manter e custear a iluminação
pública" (ibid.).
Margeando a Baía de Todos os Santos e ligando o centro de Salvador até a
Barra, na altura do Farol, a Avenida Sete de Setembro será continuada na sua porção
oceânica pela da Avenida Getúlio Vargas (Figura 70), conforme segue no próximo
item.

Figura 65. Largo da Vitória em 1915. Vendo-se a fachada neoclássica da Igreja de N, S. da Vitória, o
ajardinamento do largo com postes de luz e os trilhos do bonde. Em primeiro plano, à esquerda do
postal colorizado, vê-se um chalé onde funcionava um Hotel. Fonte: https://www.facebook.com/Amo-
a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/. Acesso 04 jul. 2016)
98

Figura 66. “Avenida Sete. Ladeira da Barra. Bahia”, em 1916. Vendo-se o bonde e seus trilhos, a
iluminação central da via e os muros com seus gradis, delimitando os jardins frontais implantados nos
recuos das edificações. Ao fundo, no centro da imagem, as torres da Igreja de Santo Antônio da Barra.
(Postal colorizado. Reprodução em “Amo a História de Salvador” https://www.facebook.com/Amo-a-
Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ acesso 04 jul. 2016)

Figura 67. Ladeira da Barra nas primeiras décadas do século XX, observando-se seus casarões
com recuos ajardinados. (Fonte: https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-
Louti-Bahia-729832370389489/. Acesso 26 nov. 2015)
99

Figura 68. Avenida Sete de Setembro na altura do Porto da Barra na década de 1920, observando-
se a iluminação pública no centro da via, por onde circula carroça, a balaustrada e calçada em pedra
portuguesa, com árvores recém-plantadas. (Fotografia com carimbo R.A. Read.) (Fonte:
http://www.salvador-antiga.com/barra/avenida-porto.htm. Acesso 19 mar.2017)

Figura 69. Avenida Sete de Setembro na altura do Farol da Barra no início de 1915, observando-
se a iluminação pública no centro da via e na calçada de pedra portuguesa, a balaustrada e as novas
edificações do lugar. (Fonte: Internet. Acesso 18 jul. 2017)
100

Figura 70. Final da Avenida Sete de Setembro (nas imediações do farol da Barra) na década de
1920, vendo-se a esquerda o monumento comemorativo da conclusão da obra e o início da Avenida
Getúlio Vargas. Na parte inferior da foto o maciço de vegetação no local onde seria construído o Edifício
Oceania (1939-1943). (Fonte: internet. Acesso 18 jul. 2017)

As vias terrestres da Barra no período colonial foram executadas com maior


dependência da topografia pré-existente, fato que começará a se alterar durante o
processo de modernização urbana do século XIX, quando passarão a serem
empregadas novas tecnologias de engenharia e de transporte, adequando a área aos
novos parâmetros de circulação, em atendimento as demandas dos novos moradores
do bairro e aos interesses dos administradores públicos e do capital privado.
E dentro da lógica de menor sujeição do sistema viário ao sítio natural cabe
ainda mencionar a abertura na década de 1930, de ruas para acesso a loteamentos
nas imediações da Ladeira da Barra, analisados no próximo capítulo, e ao Iate Clube
da Bahia, fundado em 23 de maio de 1935, após Jean Charles Henry Fischer,
Theodoro Selling Junior, Alexandre Robatto, Filho e Walter Taube, comprarem da “A.
Pereira & Cia”, a fábrica de xales desativada que ficava ao nível do mar
(http://yachtclubedabahia.com.br/o-yacht/ Acesso 01 ago. 2016).
101

Aquele clube náutico e social da elite soteropolitana, passaria a ter não apenas
uma, mas duas ruas de acesso, uma em declive a partir da Ladeira da Barra -
“construída a partir de 1938, quando o nível inferior do Cemitério Britânico foi
desapropriado pelas autoridades municipais” (http://www.bahia-
turismo.com/salvador/barra/yacht-clube.htm. Acesso 13 nov. 2016) e outra, a Rua
Visconde de Taunay, aberta em data posterior, que partindo da Praça de mesmo nome
no Porto da Barra, circundava o outeiro de Santo Antônio da Barra (Figuras 71 e 72).

Figura 71. Construção do Iate Clube da Bahia, entre 1935 e 1938. Ainda sem as ruas de acesso
pela Ladeira da Barra e Porto da Barra (Fonte: ”Amo a História de Salvador” em
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/.
Acesso 27 abr. 2016)

Figura 72. Iate Clube e suas duas ruas de acesso, após 1938 (data de inauguração de sua piscina).
Observar a casa de Clemente Mariani no alto à esquerda, os sobrados na Ladeira da Barra e pequenas
edificações na ladeira que dava acesso ao clube. Ao fundo, sobre o outeiro de Santo Antônio da Barra,
a Igreja de mesmo nome. (Fonte: ”Amo a História de Salvador” https://www.facebook.com/Amo-a-
Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/. Acesso 10 abr. 2014)
102

2.2.2.2. Avenida Oceânica

A Avenida Presidente Getúlio Vargas, conhecida como Avenida Oceânica por


correr na costa leste ao longo do Oceano Atlântico, foi a última Avenida aberta na
Barra no período em estudo (1850-1950), materializando a continuação da Avenida
Sete de Setembro a partir do Farol da Barra. Com projeto do seu traçado e
contenções, assim como o desenho e a execução das suas escadas, balaustradas,
obeliscos e demais elementos arquitetônicos e artísticos, a cargo do engenheiro
italiano Filinto Santoro (ANDRADE JUNIOR, 2007), objetivava ligar o Farol da Barra
ao Rio Vermelho, passando pelo atual bairro de Ondina (antigo Loteamento “das
Ondinas”).

Iniciando sua construção em 1914 durante a primeira gestão de J.J. Seabra (1912-
16), só foi inaugurada cerca de dez anos depois, na segunda gestão daquele Prefeito
(1920-1924) (IBID) sendo por isto chamada de “Estrada Eterna” (ARAÚJO, 2004, p.
193). Desenvolvendo-se margeando a costa oceânica, se encontraria nos anos 1940
com a Avenida Amaralina, na altura da Praia da Paciência no Rio Vermelho,
consolidando assim expansão da cidade naquela direção, conforme nos atesta o texto
de SIMAS FILHO (1979, p.00):

A orla marítima que começa do Farol da Barra, ponto final da Baía de Todos
os Santos, começa a ser dotada, como vimos, de vias de circulação
modernas desde o primeiro quartel deste século, com a construção pioneira
da Avenida Oceânica, atual Presidente Vargas - da Barra ao Rio Vermelho -
ainda no Governo Seabra, cabendo aos governos que lhe sucederam
completarem e melhorarem essa via primeira e construírem os acessos até o
ponto final da linha de bondes de Amaralina, que precedeu a Avenida de
mesmo nome. Somente no Governo Mangabeira foi que se cogitou da
chamada estrada, hoje Avenida, ligando Amaralina à Pituba, Itapoã e lpitanga
- Aeroporto.

Da análise de iconografias da época da sua construção podemos observar que


a Avenida foi feita em duas etapas: a primeira em área desapropriada das terras da
Fazenda Camarão, cortando a elevação existente em duas (Morro Ipiranga e Morro
do Cristo) (Figuras 73 e 74) e a segunda a partir daí em direção ao Farol da Barra, no
trecho onde se encontravam já construídos imponentes casarões na área conhecida
como “Quintas da Barra” e que foram “poupados” (ou construídos com conhecimento
prévio) pelo traçado da avenida, que foi implantada em direção a areia da praia.
(Figuras 75 e 76).
103

Figura 73. Avenida Oceânica em 1923 no trecho aberto entre os atuais Morro do Cristo (onde
seria colocada a escultura de Cristo em 1967, à direita da foto) e Morro Ipiranga. (Fonte. “Amo a
História de Salvador”, em https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-
Bahia-729832370389489/. Acesso em 20 jul. 2015)

Figura 74. Avenida Oceânica em 1923 no trecho do atual Morro Ipiranga (à esquerda), vendo-se o
Morro do Gato, no limite com o bairro de Ondina, ainda desabitado (ao fundo). Observa-se a
inexistência de balaustrada e de pavimentação e a presença da iluminação central, a mesma adotada
na Avenida Sete de Setembro (1915). (Fonte: www.delcampe.net. Acesso em 20 jul. 2016) .
104

Figura 75. Construção da Avenida Oceânica em 1914, nas imediações do atual Morro Ipiranga,
vendo-se ao fundo a área conhecida como “Quintas da Barra” (em vermelho) com seus grandes
palacetes (azul). (De Postal colorizado a partir de foto publicada em postal Mello & Filhos, circulado em
1914 Fonte “Amo a História de Salvador, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-
Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/. Acesso em 20 jul. 2015)

Figura 76. Avenida Oceânica em cerca de 1930 nas imediações do atual Morro Ipiranga, vendo-se
ao fundo a ampliação da ocupação na área conhecida como “Quintas da Barra” (em vermelho) e
casarão preservado (azul). (Fonte: “Guia Geográfico da Salvador Antiga”, em http://www.salvador-
antiga.com/barra/oceanica.htm Acesso em 20 ago. 2017)
105

Assim, a Barra que viu seus os antigos caminhos de terra se modernizarem no


século XIX, chegará ao final da década de 1920 com seu sistema viário básico
consolidado (Figura 77), sobre o qual circulará o transporte público, conferindo a
mobilidade necessária a frequentadores, veranistas e moradores, uso reforçado a
partir do final da década de 1930, com o surgimento de loteamentos na orla e no
interior do bairro, nos quais foram abertas inúmeras novas ruas8.

Figura 77. Mapa Síntese dos antigos Caminhos e Vetores de Expansão da Barra.

8
Na Barra Avenida, Alameda Antunes (antiga “Alameda do Bosque”), Rua Dr. Praguer Fróes, Rua Lord
Cochrane e Rua Comendador Bernardo Martins Catarino; na Ladeira da Barra, Ruas Raul Drumond,
Dr. João Pondé, Presidente Kennedy e Tenente Pires Ferreira; entre a Rua da Graça e a Avenida
Princesa Isabel, as atuais ruas Oito de Dezembro e Santa Rita de Cássia e na altura da Avenida
Oceânica e da Avenida Marques de Leão, onde as terras das “Quintas da Barra” foram loteadas em
uma quadrícula, as Ruas Dias D`ávila, Dom Marcos Teixeira, Alfredo Magalhães, Rua Professor Lemos
Brito e Afonso Celso.
106

2.3. O TRANSPORTE PÚBLICO

Salvador cresceu espacialmente entre os séculos XVI e XVIII apresentando um


conjunto de núcleos dispersos por suas colinas e orlas, que passarão a incorporar-se
gradativamente ao centro da cidade, com a melhoria de antigos caminhos e criação
de novos, sobre os quais passarão a circular o bonde, primeiramente com tração
animal e depois eletrificado, meio de transporte fundamental no processo de
integração das diversas frações do território soteropolitano e de estímulo a ocupação
dos seus arrabaldes.

O transporte do período colonial feito a pé, a cavalo, carroças, “cadeiras de


arruar” ou carruagens, passará a partir de meados do século XIX a dividir espaço com
os primeiros veículos de um sistema realmente público na cidade, as “Gôndolas”,
espécies de carruagem que rodava sobre trilhos, puxadas por 02 ou mais cavalos
(Figura 78) e que circularam pela primeira vez em Salvador por volta de 1862 no
“bairro aristocrático do Bonfim” (CARVALHO, 1940, p.13).

O primeiro a obter a concessão desse transporte público em Salvador foi um


cidadão chamado Antônio Filgueiras que em 1845, através Lei Municipal N° 223, “que
dava direito de dez anos de concessão para aqueles que instalassem linhas de
"omnibus" na cidade” (SAES, 2007), recebeu o privilégio de operar com duas linhas,
uma da Cidade Alta até a Barra e a outra, na Cidade Baixa, do Comércio até o Bonfim,
e que deveriam entrar em operação logo após a constituição das empresas, sua
capitalização e encomenda das primeiras peças.
(http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2011/11/bondes-desde-as-
gondolas-ate-os.html. Acesso 16 mai. 2017)

Não tendo obtido sucesso na empreitada, o contrato de concessão foi


transferido em 1849, para Raphael Ariani que importou aquele “imprevisto carro, tirado
a muares, sobre trilhos de aço ou de madeira guarnecida a ferros com rodas de flange”
(CARVALHO, 1940, p.14) e que em 1859, juntamente com seus filhos, Giusto e
Luciano, “formaram a Companhia Posta Baiana, com apoio do influente deputado
provincial Francisco Justiniano de Castro Rabelo e de mais 115 ilustres acionistas da
elite soteropolitana” (SAES, 2007).
107

Figura 78. Espécie de “Gondola” (detalhe em vermelho), durante a Inauguração do Monumento a


Independência da Bahia no Campo Grande, em 2 de julho de 1895. (Fonte. Fundação Gregório de
Matos. In: http://vanezacomz.blogspot.com.br/2015/04/conheca-praca-do-campo-grande-em.html
Acesso em 16 mai. 2017)

Em 1864, as “gôndolas” eram ainda “vehiculos errantes, sem intinerários certos,


sem horários determinados” (IBID, p.14), sendo então substituídas por “bondes-de-
burro”, que com outra configuração de veículo permaneceu movido à tração animal e
ainda tendo como concessionários exclusivos a família Ariane, então representada
pela Firma “Ariani” constituída naquele ano, exclusivamente pelos filhos de Rafael
após a sua morte.

Tal empreendimento não obteve êxito, sendo três anos (1867) depois
incorporado pela “Monteiro & Carneiro” dos empresários Paulo Pereira Monteiro e
Nicolau Carneiro Filho, que já tinham sido sócios de Raphael Ariani (CARVALHO,
1940, op cit.) e que continuaram a atender a Cidade Baixa, entre Água de Meninos e
Baixa do Bonfim (via Calçada e Rua dos Dendezeiros) ao final da qual estava a
Estação dos carros e a estrebaria dos cavalos, percurso depois ampliado até o Pilar
e pouco depois a Conceição da Praia, em atendimento a solicitação feita pela
população.

Ainda desejosos de continuar atuando como concessionário do serviço de


bondes, só que na cidade alta, os dois filhos de Raphael Ariani se juntaram com o
deputado Francisco Justiniano de Castro Rabelo, “que possuía importantes relações
108

políticas com os grupos locais” (SAES, 2007), para fundar em 1869 a “Companhia
Trilhos Centrais”, com o dinheiro recebido da venda da concessão dos serviços da
cidade baixa para Monteiro & Carneiro. O percurso da empresa Trilhos Centrais”
ligava o centro da cidade alta com o Matadouro9, propriedade do Deputado Castro
Rabelo que depois da morte dos irmãos Ariani, assumiu toda a empresa em leilão
organizado em 7 de julho de 1887(SAES, 2007)

Fundada em 1862 pelo engenheiro Antônio Lacerda (1834-1885)10 em 1864 a


partir da Firma “Antônio de Lacerda & Cia” a “Vehiculos Economicos e Transportes
Urbanos” tinha como objetivo atender a população dos bairros nobres da cidade alta
e realizar a ligação desta com a cidade baixa através de elevador da Conceição - do
qual comprou concessão de construção e que receberia posteriormente o seu nome
“Elevador Lacerda”. Sendo a responsável pelo assentamento de trilhos em direção ao
vetor sul, ligando o centro da cidade até a Barra, a “Transportes Urbanos” inaugurou
em 18 de dezembro de 1870 o ramal, entre a Piedade à Graça, que um ano depois já
demandava ampliação, conforme fala de CARVALHO (1940,op.cit): “é desse período
também [1871] a preocupação em se dar continuidade “a linha férrea da Graça até a
povoação da Barra, compreendendo bem as futuras vantagens da maior concorrência
da populacao para aqueles aprasiveis logares".

A empresa, que tinha o Comendador Theodoro Teixeira Gomes como diretor,


enfrentou, entretanto, problemas com a circulação do bonde de burro na ligação entre
a Graça e a Barra em virtude da grande inclinação da Ladeira da Barra Avenida (atual
Avenida Princesa Isabel) – melhorada como vimos, com as obras entre os anos de
1894 e 1899 - conforme apreende-se da descrição feita por Carlos Alberto
CARVALHO (1940, p.57):

9 O “Matadouro” a que se refere o texto talvez seja a área nas imediações do Mosteiro de São Bento,
que ficou conhecida como tal em função a existência de um matadouro público em Salvador no século
XVIII e até o início do século XIX, “na área contígua ao Mosteiro de São Bento, denominada à época
de Hortas de São Bento e situada onde atualmente fica a estação Barroquinha” onde nas proximidades
existiam currais menores onde o gado esperava o abate. O Matadouro público de Salvador foi depois
transferido para as terras do Barbalho (1855) e depois para o Retiro (1873), dentro das ações
higienistas que se desenvolveram na cidade (LOPES, Rodrigo Freitas."Nos Currais do Matadouro
Público: O Abastecimento de Carne Verde em Salvador no Século XIX (1830-1873)", apud Leopoldo
Costa, em http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2013/01/o-primeiro-matadouro-publico-da-
bahia.html Acesso 21/08/17)
10 Antônio Lacerda era proprietário da firma “Antônio de Lacerda & Cia” e sócio diretor da “Fábrica de

Tecidos Todos os Santos”, a primeira a se instalar na Bahia.


109

Quanto ao ramal da Barra, descendo o bonde pela Graça, mereceu da novel


Companhia especial estudo installando-se uma machinaria no alto da atual
Barra-Avenida, para fazer descer ou subir o bonde primeiramente sobre uma
prancha e depois, convenientemente preso a correntes. Esses processos não
deram certo e morreram no nascedouro pois, só por dois ou trez annos se
poude experimentar a sensação do deslisamento do bonde na rampa, preso
a correntes ou sobre a prancha mechanisada. Do que todos da epoca se
lembram é das subidas e descidas a pé enquanto os bondes, um em cima
eoutro em baixo, esperavam o revesamento dos passageiros. Mas não era
isso que pretendia o Commendador Theodoro Teixeira Gomes, nem mesmo
o bonde na prancha, mas o bonde deslisando por gravidade, ao simples
controle de brekl Telo-ia conseguido? Já vimos que não; Estendida a linha
pela rampa da Graça até a Barra, seguindo somente até o largo do Porto,
entendeu o Commendador Teodoro que o bonde, deixando a parelha de
burros no alto da Graça, ao menos na ida para a Barra, descesse deslisando,
como aliás succedia com exito da “Rua Direita do palácio” para o Largo do
Teatro. Na Graça, porém a porcentagem de inclinação era bem outra; não
importava isso do activo gerente de “Transportes Urbanos” e determinou que
um cocheiro tomasse o break e descesse A recusa foi formal; nenhum se
aventurou a experiência; o Commendador irrita-se e resolve subir à
plataforma; toma o governo e faz deslisar o vehiculo. O resultado foi o mais
comico possivel: O carro ganhou velocidade exaggerada, desgovernando
o break; chegando em baixo, salta dos trilhos, cahindo em um Capinzal,
emquanto o “Theodorinho" de calças brancas, frack preto e capacete de
cortiça, remexia-se dentro de uma enorme pôca de lama, para dalli sahir a
custo! E nunca mais o carro deslisou na rampa da Graça. (Os grifos são
meus)

Apesar de não terem sido encontradas imagens relativas a esse sistema de


transporte (“prancha”) pela ladeira da Barra Avenida (Figura 79) acreditamos ter sido
semelhante aquele outro sobre o qual encontramos referência em Portugal em 1882,
na cidade de Braga, região do Minho, pois as fotografias (Figuras 80 e 81) e o texto a
seguir (GOMES, 2012) correspondem em muito a descrição acima, apesar do europeu
ser movido a água e não a correntes como o nosso:

O elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, encontra-se em


funcionamento desde 25 de Março de 1883, sendo actualmente o funicular
mais antigo do mundo em funcionamento utilizando contrapesos de água. O
depósito da cabine que se encontra na parte superior do percurso é atestado
de água para, através da diferença de peso, fazer a outra cabine subir a
encosta, sendo a água esvaziada quando chega ao sopé. A imagem que se
reproduz foi publicada n’O Ocidente, nº. 121, de 1 de Maio de 1882, dois anos
após o início das obras de construção e um ano antes da data da sua
inauguração.
110

Figura 79. Ladeira Graça-Barra (atual Avenida Princesa Isabel) em cerca de 1880. (Fonte: De acervo
digital do Instituto Moreira Sales, R.J. in: http://brasilianafotografica.bn.br/ Acesso em 20 out. 2016)

Figuras 80 e 81. Elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal, em 1882. (Fonte:
http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/2012/03/ Acesso em 08 jun. 2016)

Essas tentativas de vencer a topografia de Salvador levaram também, segundo


João da Silva CAMPOS (1930, p.128), ao surgimento de uma espécie de carruagem
(“carro”) acoplada a uma máquina à vapor (“compressor”) do Sistema Thompson,
importada pelo Advogado Francisco Pereira da Rocha11 e que circulou em Salvador
no ano de 1871, em modelo similar ao que havia estreado em Edimburgo (Figura 82).
Aquela “locomotiva de rodas forradas com borracha galvanizada de grande
grossura” (IBID) estava destinada ao transporte regular de mercadorias e de
passageiros entre o centro da Cidade Alta e os arrabaldes do vetor sul, podendo

11Francisco Pereira da Rocha e Bernardino Ferreira Pires receberam autorização do governo da Bahia
em 17 de junho 1852 para criação de uma empresa para o fornecimento de água potável canalizada
para a Cidade. Instalada em 1º de fevereiro de 1853 com a denominação de Companhia de Águas do
Queimado, iniciou sua operação com 12 chafarizes importados da Europa. (Guia Geográfico Cidade
do Salvador, http://www.cidade-salvador.com/bibliografia/francisco-rocha.htm, acesso 25/08/17)
111

percorrer ruas e estradas sem auxílio de trilhos. Mas, apesar de ter subido e descido
com sucesso a ladeira da Conceição da Praia e de ter excursionado até o Rio
Vermelho (QUERINO, Manoel. 1916, apud BACELAR, 2017), aquele veículo não foi
utilizado em Salvador, nem mesmo em locais problemáticos como a Ladeira da Barra
Avenida anteriormente referida.

Talvez a explicação para este fato esteja na disputa pelo atendimento das
linhas de bondes na cidade alta entre a “Transportes Urbanos” (1864) - de
propriedade Antônio Lacerda, responsável pelas obras da ladeira da Montanha (1867)
e pela construção (1869-73) do elevador “da Conceição” (futuro “Lacerda”) – e a
“Trilhos Centraes” (1869) – de propriedade dos filhos de Raphael Ariane e do
Deputado Castro Rabelo - ou por ter Francisco Pereira da Rocha naquele ano (1871)
um contrato com a província do Rio Grande do Sul para a construção de estrada para
onde levou o inusitado veículo, que em razão do uso de rodas pneumáticas ficou
conhecido como “borracha do Rocha”(BACELAR, 2017).

Figura 82. “Thomson road steamer”, na versão ônibus, composto por uma máquina de tração a vapor
e um veículo de passageiros, em gravura do Jornal britânico The Graphic, em 11 de junho de 1870.
(Fonte: http://www.cidade-salvador.com/urbanismo/road-steamers.htm Acesso em 23 ago.2017)

Segundo SAES (2007), a última empresa operadora do bonde por tração


animal a se instalar em Salvador foi a “Companhia Linha Circular de Carris da Bahia”
(Figura 83) de propriedade dos cariocas João Ramos de Queiroz e Manuel Francisco
Gonçalves, autorizada pela Lei Provincial nº 2.046, de 20 de julho de 1883, para
operar por 50 anos e que em 1897 incorporou a “Vehiculos Economicos e Transportes
Urbanos”, adquirindo a concessão de exploração das suas linhas e todos os seus
bens como o elevador do Taboão e o elevador Lacerda.
112

Primeiro serviço de transporte em grande escala da cidade e sem zona de


atuação previamente determinada como as demais concessionárias, a “Linha Circular”
começou a operar na Sé, Pelourinho e Península de Itapagipe, passando a ser grande
concorrente no mercado, o que foi reforçado com a construção por ela dos Planos
Inclinados Gonçalves (1889) e Pilar (1897), sendo essa Companhia a responsável
pela efetivação do transporte público na área em estudo, provavelmente se utilizando
dos trilhos já instalados em 1870 pela “Transportes Urbanos”, entre a Vitória e a Graça
(Figura 84) e os prolongando pela Ladeira da Barra (Figura 85) em data posterior

Figura 83. Os bondes de tração animal ou “bondes de burro” da “Linha Circular” (e outro sem
identificação) em 1888 (Fonte “Amo a História de Salvador”, https://www.facebook.com/Amo-a-
Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ Acesso em 16 mai. 2017)

Figura 84. Corredor da Vitória em 1885, observando-se os trilhos do bonde e a permanência da


circulação de carroças. (Fonte Fundação Gregório de Matos in: “Amo a História de Salvador,
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/,
acesso em 20 mar. 2016)
113

Figura 85. Ladeira da Barra em 1885, avistando-se a igreja de Santo Antônio da Barra e o muro do
cemitério dos ingleses. Imagem demonstra a convivência entre antigos meios de transporte e o bonde,
dos quais vemos os trilhos em rua já calçada. (De foto de Gaensly. Original em “Os Presidentes da
Província da Bahia” de Arnold Wildberguer, p. 746, Gravura 195. Em http://www.salvador-
antiga.com/barra/igreja-schleier.htm Acesso 05 abr., 2014.)

Do exposto até aqui observa-se os problemas enfrentados pelos bondes à


tração animal para vencer a topografia de Salvador, a imbricada articulação entre o
transporte público horizontal e vertical e a tentativa de seu monopólio pelas empresas
concessionárias desses serviços (iniciada ainda em 1864 por “Antonio Lacerda e
Cia”), ao qual se seguiu a competição para o fornecimento de energia elétrica e
exploração dos bondes elétricos.

Com as intensas disputas pelo poder local a partir da proclamação da


República (1889), os crescentes custos provenientes da manutenção dos animais e
em face das inovações vindas dos Estados Unidos e do Rio de Janeiro, o antigo
sistema de bonde à tração animal e as suas firmas concessionárias passarão por
grandes mudanças.

Apesar de Salvador ainda concentrar uma elite enriquecida pelo comércio e


pelas indústrias emergentes, a necessidade de modernização da cidade com
introdução de novas tecnologias de transporte que demandavam usinas geradoras de
energia e instalação de linhas elétricas para os novos bondes (tramways), exigiu uma
114

maior quantidade de capital, levando ao surgimento de empresas externas que


acabariam por se aliar ou suplantar aquelas outras locais.

A primeira empresa com um projeto de eletrificação de suas linhas foi a


“Companhia Carris Elétricos”, criada em 1895 pelo coronel Antônio Francisco Brandão
e resultante da fusão entre a “Companhia Veículos Econômicos” (1864) e o ramal da
cidade baixa da “Linha Circular” (1883), comprado no ano anterior.

Iniciando a prestação de serviço de transporte público por bonde elétrico em 14


de março de 1897 no trecho entre o Comércio e Itapagipe. (Figura 86) tinha o
fornecimento de eletrificação a cargo desde 1896 da empresa alemã “Siemens &
Halske” que, além de deter a tecnologia, tinha o capital necessário para tal
investimento, mas que já em 1907, transferia seus direitos de negócios para “The
Bahia Tramway, Light & Power Company”, ou simplesmente “Light”, de capital norte-
americano. (SAES, 2007)

Já no final da primeira década do século XX a “Light” conseguia monopolizar o


fornecimento de energia, ficando a prestação do serviço de transporte público também
ao seu encargo na cidade baixa, enquanto que na cidade alta eram a “ Linha Circular”
e “Companhia Trilhos Centrais” que controlavam o tráfego de bondes entre o centro e
os arrabaldes. (SAES, 2007)

Figura 86. Inauguração do bonde elétrico da Companhia Carris Elétricos em 1897 no ramal da
cidade baixa na região do Bonfim (Fonte: Museu da Siemens, em “Salvador tempos passados”.
https://www.facebook.com/groups/47517630588453. Acesso 24 jan. 2017)
115

Apesar da circulação de bondes elétricos desde 1897 na cidade baixa, a


iluminação pública à eletricidade só foi inaugurada em 1903 e em um pequeno trecho
de Salvador (ALMEIDA, 2014, p. 165), mantendo-se ainda por um bom tempo a
iluminação a gás de carvão oferecida desde 1859 pela firma inglesa “Bahia Gas
Company Limited” e sua subsidiária a “Compagnie d'Eclairage”, apesar do seu alto
custo de produção e distribuição12.

A partir de 1909 se acirra a disputa pelo fornecimento de energia elétrica em


Salvador entre a “The Bahia Tramway, Light & Power Company” e a “Companhia
Brasileira de Energia Elétrica” gerida pela empresa carioca “Guinle & Co” -
representante da produtora norte-americana de materiais elétricos, “General Electric”,
que lhe deu suporte desde o início de suas atividades em Salvador - que se
aproveitando dos bons contatos com a elite política e econômica soteropolitana, já
havia conseguido por decreto estadual de 1906 a concessão para exploração
industrial de usina hidrelétrica a ser construída no rio Paraguaçu, no salto de
Bananeiras, município de São Felix. (SAES, 2007).

Após vários litígios envolvendo a má prestação de serviços, a “Bahia Ligh” e


sua subsidiária “Compagnie d'Eclairage”, são encampadas em 1913 pela
municipalidade que por falta de recursos de operação repassa para a “Linha Circular”
de Guilherme Guinle os serviços de iluminação das áreas anteriormente atendidas
pela “d'Eclairage” em 1921 e em 1929, o serviço de transporte da “The Bahia
Tramway, Light & Power Company”. Chegava assim a “Companhia Linha Circular” ao
final da década de 1920, após várias disputas e incorporações, com o monopólio dos
serviços de distribuição de energia elétrica e de exploração das linhas de transporte
da cidade alta de Salvador.

12 Segundo ALMEIDA (2014, p. 165) a iluminação pública a gás de carvão foi autorizada pela
Assembleia Provincial em 1854, mas o contrato para seu beneficiamento e exploração só foi celebrado
em 1858 com o Dr. José de Barros Pimentel, que no ano seguinte já o cedia, com a anuência do
governo, a companhia inglesa criada para este fim, a “Bahia Gas Company Limited”. A substituição dos
lampiões alimentados com óleo de baleia existentes desde 1829 por aqueles a gás, só se iniciará de
fato em junho de 1862 (AUGEL, 1980, p. 236, apud HOLTHE, 2002) com a iluminação da rua na cidade
baixa que ia do Gazômetro na Jequitaia ao Cais Dourado: “O carvão refinado de pedra era importado
da Inglaterra para a Bahia e, após desembarcar no Cais do Carvão (nas proximidades, hoje, do
Moinho), era destilado a seco no Gazômetro e transformado em gás combustível, sendo todo o
processo concebido e conduzido por técnicos ingleses. Por trás do grande negócio que era o comércio
de carvão, no século XIX, esteve o escocês Edward Pellow Wilson, grande “capitalista” que estava
envolvido em todos os grandes empreendimentos locais, sobretudo aqueles que se vinculavam ao
capital estrangeiro”. (IBID). Cabe observar que na Barra, nas imediações do farol também foi instalado
um gazômetro.
116

A “Companhia Linha Circular” (1883) - que absorveu em 1897 a Companhia


“Transportes Urbanos” - dividia desde o último quartel do século XIX com a “Trilhos
Centrais” - criada em 1869 pelos filhos de Rafael Ariane e que desde 1887 passou a
ser de propriedade exclusiva do seu antigo sócio o Deputado provincial Castro Rabelo
– a exploração de todos os ramais da cidade alta e seus arrabaldes e alguns pontos
da cidade baixa.

Mesmo com sua compra em 1905 pela Companhia “Guinle & Co” de Cândido
Gaffrée e Eduardo Guinle e o crescente poderio que a “Linha Circular” assume ao
longo dos anos, foi possível manter o acordo anteriormente firmado, aparentemente
sem maiores conflitos, com a “Trilho Centraes” do deputado Castro Rabelo, que
delimitava duas áreas de atuação, cabendo a esta última a exploração do ramal até o
Barbalho, usado mais para transportes de mercadorias (SAES, 2007) e a “Linha
Circular” a responsabilidade pelo atendimento exclusivo dos arrabaldes das classes
altas em direção ao vetor sul, até o fim do uso daquele transporte.

A “Trilhos Centraes” explorava assim as linhas de bonde que partindo


alternadamente do alto do Plano Gonçalves e da Praça do Palácio, seguia com destino
a Fonte Nova, Rio Vermelho, Retiro, Quintas dos Lázaros, Soledade, Calçada do
Bonfim (até a estrada de Ferro), Brotas e Itapoã, enquanto a “Linha Circular” era
reservado o trajeto que partindo dos mesmos locais do centro, seguia em direção ao
Canela, Graça, Rio de São Pedro, Campo Santo, Barra, Rio Vermelho, Baixa da
Soledade, Tororó, Nazareth, Barris, Preguiça e Santo Antônio. A exploração do
sistema de bonde na cidade baixa em direção norte, ficava a cargo da “Carris
Eléctricos"(1897), que do Largo da Conceição da Praia ia em direção à Ribeira de
Itapagipe, passando pela Boa Viagem, Dendezeiros e Caminho de Areia (Cf. Lei N°
880 de 06/03/1908).

Operando com a energia produzida pelas pequenas usinas termelétricas


provisórias (1906 e 1907) do Canela e da Preguiça, ainda com sobra para transmitir a
terceiros (SAES, IBID), os bondes da “Linha Circular” no percurso Graça – Barra
passavam em 1910, pelo Corredor da Vitória e seguiam pela Rua da Graça, onde
tinha a Oficina dos seus veículos, até o Largo do mesmo nome (Figuras 87 a 91), de
onde bifurcavam em direção a atual Avenida Euclides da Cunha e a Ladeira da Barra
Avenida, por onde desciam até atingir o Porto da Barra, daí seguindo pela orla até o
Farol da Barra (Figura 92), de onde retornava (Figura 93).
117

Figura 87. Planta do percurso do Bonde da “Linha Circular” em 1910, que do Corredor da Vitória
seguia pela Rua da Graça. Fonte:

Figuras 88 a 90. Garagem de Bondes da “Linha Circular” em 1910 e seus remanescentes (interior
e fachada) em 2014, na Rua da Graça, esquina com o Corredor da Vitória. Observar na primeira
imagem, o calçamento em paralelepípedos e a “convivência” entre o bonde eletrificado e o transporte
de cargas feito por burro. (Fontes: “Amo a História de Salvador” https://www.facebook.com/Amo-a-
Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ Acesso 17 mai. 2016 e registro
fotográfico em jul. 2014. Acervo particular)
118

Figura 91. Trilhos da “Linha Circular” em 1915, indo em direção ao Largo da Graça, observando-se
a bifurcação em direção à Rua Euclides da Cunha e a atual Princesa Leopoldina, que a partir da
Avenida Princesa Isabel, chegava até o Porto da Barra. (Fotografia de Américo Simas Filho. Fonte:
Fototeca do CEAB, acesso em 1990)

Figuras 92 e 93. Fim de Linha do bonde da Barra (já eletrificado) em frente ao Farol e seu retorno
pela via margeando a Baia de Todos os Santos, em cerca de 1910. Observa-se que a área ainda
não havia sido urbanizada, o que aconteceria com a construção da Avenida Sete, entre 1912 e 1915.
(Fontes: http://fotonahistoria.blogspot.com.br/2012/11/antigo-bonde-do-farol-da-barra-salvador.htm.
Acesso 27 abr. 2014 e Fonte: FERREZ, 1988, página 116).

Com a melhoria dos caminhos e ao longo dessas linhas de bonde era também
instalada a iluminação pública (inicialmente à gás) e a rede telefônica, cuja Central
ficava em edificação na Rua da Graça, em frente a garagem de bondes da “Linha
Circular”, serviços que garantiram a permanência da população existente em certas
áreas - Corredor da Vitória, Rua e Largo da Graça, Ladeira da Barra e Rua
margeando a costa até o Farol da Barra - que seria ampliada com a construção das
Avenidas Sete e Oceânica e a posterior criação de mais um ramal da “Linha Circular”
(Figuras 94 a 98)
119

Figuras 94 a 96. Linhas Telefônicas da Cidade de Salvador em cerca de 1910 e a estação central
telefônica na Rua da Graça (em rosa), em frente a garagem de bondes da “Linha Circular (em azul)
(Fontes: “General Plan of the Telephone Lines of the City of S. Salvador da Bahia owned by the
Companhia Brasileira de Energia Electrica / Plan Géneral des Lignes Téléphoniques de la Ville de S.
Salvador da Bahia appartenant à la Companhia Brasileira de Energia Electrica”, sobre planta da Cidade
de Salvador em 1905 da C.B.E.E.B. (Fonte: Planta realizada através de Convênio PMS – Faculdade
de Arquitetura - CEAB/UFBA. Mapoteca CEAB. M1B.3. Acesso em 1990; Registro Fotográfico em jul.
2014 (Arquivo Pessoal) e detalhe da Planta das Linhas Telefônicas na área de estudo)
120

Central Telefônica

Garagem da “Linha Circular”

Figuras 97 e 98. Planta do Percurso das Linhas de Bonde das Companhias “Linha Circular”,
“Trilhos Centraes” e “Itapoan” em cerca de 1910 (implantadas e em projeto) e em detalhe a área
de estudo, vendo-se a estação central telefônica na Rua da Graça (em rosa), em frente a garagem de
bondes da “Linha Circular (em azul). (Fonte: “Convênio PMS-CEAB “Linhas de Bondes das seguintes
Companhias “Linha Circular”, “Trilhos Centraes” e “Itapoan” em cerca de 1910, inclusive os Projetos”,
com base na Planta do “Relatório Geral da Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Guinle e Co –
Vol. 1”, encontrado na Mapoteca CEAB, M1B/02. 1990
121

O bairro da Graça - na região compreendida por seu largo e rua de mesmo


nome (Rua da Graça), que fazia a ligação com o largo da Vitória e início da Ladeira
da Barra - tinha sido escolhido, desde as primeiras décadas do século XIX, para
construção dos belos palacetes de moradia de ricos empresários e comerciantes
baianos, como o Comendador Bernardo Martins Catharino, Luiz Tarquínio e Francisco
Pereira da Rocha13, sendo portanto compreensível, o direcionamento, por parte dos
governo e das concessionárias de serviços públicos de Salvador, para aquela região,
das melhorias viárias, implantação de transporte público - inicialmente (1870) através
da linha de bonde-de -burro da “Trilhos Centraes”, a qual se seguiu (1910) o bonde
eletrificado da “Linha Circular” – e importantes obras de urbanização e
embelezamento, como aquelas ocorridas nas imediações da Igreja da Graça, durante
a segunda gestão do governador J.J. Seabra, entre 1920 e 1924 (Figuras 99 a 102)

.
Figura 99. Jardim da Graça em 1920 e o agenciamento do espaço urbano de níveis diversos.
Observa-se os palacetes ecléticos, entre os quais o “Solar dos Carvalho” (em primeiro plano à
esquerda), ainda existente, ao lado daquele do Empresário Luiz Tarquínio, já demolido. Vê-se também,
abaixo da imagem do Postal colorizado, o local da fonte de Catarina Paraguaçu, em nível inferior a
balaustrada. (Fonte: Blog de Rafael Dantas. Acesso em 11 set. 2014)

13Residentes na Graça os empresários Luiz Tarquínio (Salvador, 1844 – 1903) e o Comendador


Bernardo Martins Catharino (Coimbra,1862 – Salvador, 1944) foram grandes industriais em Salvador.
O primeiro deles, prefeito da cidade e conselheiro municipal na década de 1890, fundou em 1891 a
“Companhia Empório Industrial do Norte” e para abrigar os seus funcionários, criou a primeira vila
operária do Brasil, no bairro da Calçada. O segundo criou a “Companhia Progresso União Fabril” que
se tornou uma das maiores empresas do ramo no país com cinco fábricas e três mil operários. Há
também referência a moradia na Graça no ano de 1858 de Francisco Pereira da Rocha, um dos sócios
desde 1852 da empresa de fornecimento de água potável canalizada, intitulada de Companhia de
Águas do Queimado (http://www.cidade-salvador.com/bibliografia/francisco-rocha.htm Acesso 25 ago.
2017).
122

Figuras 100 a 102. Praça Dr. Paterson (ou Jardim da Graça) na década de 1920, observando-se o
grande sobrado (à direita) e ao longe, na Rua da Graça, o Palacete Bernardo Martins Catarino (1912)
e o Chalé" (na esquina da atual Rua da Flórida) mandado construir pelo Inglês Archibald Sommer
em 1914 e demolido em 1956, (Fonte: ANDRADE JUNIOR, 2007, em
http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_fs_vnaj.htm Acesso 18 abr. 2013 e De foto de
Carlos Eugênio Junqueira Ayres, publicada em “Salvador tempos passados”.
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ acesso 24 jan. 2017)

Assim, acompanhando as melhorias na área de estudo e porque não dizer,


também as induzindo, ao percurso desenvolvido em 1910, a “Linha Circular”
acrescentou em 1925, aquele que, passando pelo Corredor da Vitória descia pela
123

Ladeira da Barra, o bonde "Barra-2" (Figura 103), seguindo pela costa até o Farol e
alterou o antigo caminho do bonde “Barra Avenida-4", que descendo a Avenida
Princesa Isabel não mais seguia até o Porto, mas entrava na atual Alameda Antunes,
chegando até a Rua Marquês de Caravelas por onde seguia até a Marques de Leão
e daí até o Farol, encontrando-se então com a outra linha e fechando um anel viário
e de transporte na Barra.(Figura 104).
Assim, as linhas da “ Companhia Linha Circular continuaram atendendo não só
aos moradores e veranista da “Quintas da Barra”, nas imediações do Farol – que ao
tempo das obras da Avenida Sete em 1914 já tinha aberta a “Rua dos Coqueiros” ou
“Coqueiros do Farol” (atual Avenida Marques de Leão) – como também possibilitou a
ampliação da ocupação da área interna da Barra, ao longo do percurso que ligava a
orla da Baía de Todos os Santos àquela oceânica, pela Marquês de Caravelas, onde
já estavam construídas entre 1901 e 1915, respectivamente, 11 e 15 casas, o que
demonstra não só a concorrência de uma população fixa para aquelas imediações
como a necessidade de atende-la com serviços públicos.

Figura 103. Bonde “Barra 2” na década de 1940, no trecho Campo Grande – Barra, (Fonte:
AHMS/FGM in: “Amo a História de Salvador”, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-
Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/pms_pasta.1060.f.2981-bonde-elétrico Acesso27/04/14)
124

Figura 104. Esquema gráfico com o Percurso das Linhas de Bonde das Companhias “Linha
Circular” e Trilhos Centraes”, que atendiam a Salvador em 1925 (Fonte. Mapoteca CEAB, 1990)

No que parece ser um documento de balanço das atividades das companhias


de bondes “Linha Circular” e “Trilhos Centraes” em 1925, encontra-se ao lado da
imagem anterior, um texto que explicita a inter-relação daqueles veículos com os
elevadores, planos inclinados e usinas geradoras de energia – fornecida pela “Guinle
& Co”, dona da “Linha Circular” e dos elevadores e planos inclinados - que seria
gradativamente diminuída com o surgimento dos automóveis e ônibus movidos a
gasolina, apesar de que, até meados do século XX, ainda circularam na Barra os
“trólebus” (Figura 105), transportes públicos com rodas de borracha que aproveitavam
a rede elétrica aérea instalada para os bondes:

O serviço da viação ao cargo destas companhias estende-se por toda a


cidade alta, cuja área é recortada por uma rêde férrea de cerca de 90
kilometros. Para o transporte de passageiros dispõem asduas empresas de
91 carros de primeira classe. O materialrodante abrange ainda 13 carros
agageiros, 6 mortuarios, 14 pranchas para materiais e 5 outros carros
diversos, em um total de 129 vehiculos. As comunicações entre as partes alta
e baixa da cidade são feitas por meio de quatro ascensores, dos quaes dois
125

são planos inclinados. O Elevador Lacerda dispõe de duas cabines, com


capacidade de 16 pessoas cada. O do Taboão tem um camarim para
passageiros e outro para carga. Os carros dos planos Gonçalves e Pilar
podem transportar de cada vez 30 e 20 pessoas, respectivamente. A energia
para o funccionamento de todos os serviços das empresas é adquirida á
Companhia Brazileira de Energia Electrica em altatensão (44.000 volts) e
transformada nas sub-estações de Lapinha para (11.000), Sant´Anna e Graça
(para as voltagens usuaes de distribuição). Em caso de accidente na
installação hydro-electrica ou linhas de transmissão da Companhia
fornecedora entra actividade a estação thermica de soccoro de Preguiça,
cujas machinas, com capacidade suficiente para fazer á carga normal do
trafego, estão sempre de prontidão. O restante da energia é revendido a
terceiros que o utilizam como luz ou força. O capital empregado pelas
Companhias Linha Circular e Trilhos Centraes é superior a 25 mil contos de
reis. Nas varias dependências das mesmas trabalham mais de 1.200
pessoas. O material rodante percorreu durante o ultimo anno cerca de 4
milhões e oitocentos mil quilômetros, fazendo perto de 420 mil viagens e
transportando 52 milhões e setecentos mil passageiros. O movimento dos
quatro ascensores foi de quase 8 milhões de passageiros. As Companhias
são administradas pela seguinte Directoria: Domingos R. de Barros, Cezar
Rabello, Francisco Marques, Anisio Massoura e A.B.Cavalcante. ” (Os grifos
são meus)

Figura 105. Ônibus elétrico (“trólebus”), na região do Farol da Barra, década de 1950. Observa-
se a área já urbanizada com calçadas em pedra portuguesa e balaustrada e na parte inferior da foto, o
antigo gasômetro. (Fonte: TEIXEIRA, 2001, V. 10, p.35. Foto de autor desconhecido. Arquivo Público
do Estado da Bahia, Reprodução fotográfica de Josué Ribeiro.)
126

Os percursos dos bondes na Barra não se alteraram até o início dos 50 (Figuras
106 a 108), mas sim o número de veículos da Companhia “Linha Circular”, pois a
população começou a preferir os ônibus (Figura 109), fazendo com que, de 1949 em
diante “vão diminuindo cada dia os bondes e suprimindo até certas linhas ”
(CARVALHO, 1960, p.88).
Quanto aos automóveis “de motor a explosão” particulares (Figura 110 e 111),
introduzidos em Salvador em 1900 pela família Lanat, estes levariam bem mais de
meio século para deixarem de ser exclusividade dos mais ricos, e para dividirem
espaço com os bondes remanescentes, trólebus e ônibus. (Figura 112).

Figura 106 a 108. Planta das Linhas de Bonde em Salvador, 1952 observando-se a manutenção do
anel de circulação de 1925 em 1952, ligando a Graça, Barra Avenida, Marques de Caravelas, Farol,
Porto, Ladeira da Barra até o Largo da Vitória (Fonte: Foto (e detalhe) em registro de Rubens Antônio
Silva Filho, em https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve/ acesso 07 jul. 2017 e Mapoteca
CEAB,1990.
127

Figuras 109 a 111. Ônibus (tipo “marinete”) em Salvador a partir da década de 1940, o primeiro
“transporte urbano a combustível” de Salvador, na primeira década do século XX (da família do
Engenheiro Henrique Lanat) e automóvel no Farol da Barra em 1920 (Fonte:
Http://www.amoahistoriadesalvador.com/salvador-ja-teve-onibus-eletricos Acesso 22 ago. 2017;
TEIXEIRA, 2001, V. 08, p.12 e 13. Foto de autor desconhecido. IGHB-Ba, Reprodução fotográfica de
Josué Ribeiro e “Amo a História de Salvador” em https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-
de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/, acesso 02 jul. 2015)

Figura 112. Mapa síntese das linhas de transportes púbicos até década de 1950
128

Assim, as linhas de bondes elétricos das primeiras décadas do século XX,


contribuíram, segundo Thales de AZEVEDO (1988) para incrementar o povoamento
e fixar a população na Barra:

até então muito esparsa e de caráter temporário, constituida que era por
veranistas na sua maior parte", funcionado “como verdadeiras linhas
pioneiras de penetração, dentro do espírito então vigente, atingindo a Barra,
Rio Vermelho de Cima e de Baixo, Brotas, Retiro, Liberdade e ltapagipe;
ainda distantes e fracamente ocupados, mas já ligados ao Centro da Cidade
por linhas de bonde, o que evidencia claramente a confiança dos investidores
e do Poder Público em um rápido crescimento da Cidade, fato que não se
verificou se não a partir de 1940 e sobretudo depois de 1950..

Como vimos anteriormente, a família Guinle (do Rio de Janeiro) foi


concessionária da “Linha Circular" que atendia a Vitória, Graça e Barra, responsável
pela exploração de empresa de fornecimento de energia elétrica e também
subempreiteira na construção da Avenida Sete de Setembro através de contrato com
o governo da Província com a sua “Companhia de Melhoramentos”, representando
assim de forma eloquente, a imbricada relação entre o governo e a iniciativa privada
no processo de modernização da Barra, no qual em um segundo momento, passará
a intervir o capital fundiário e/ou imobiliário.

As relações entre a economia, política e interesses pessoais na modernização


da Barra pode ser também exemplificada pela atuação do Sr. Júlio Brandão, morador
com sua família na Ladeira da Barra em 1906, Diretor Gerente da “Companhia Linha
Circular” em 1910 e Intendente em 1912 e 1913 (fevereiro a dezembro de 1912 e de
junho de 1913 a setembro de 1914), quando incentivou ações modernizadoras em
direção ao vetor sul, onde também investiu no mercado imobiliário com a construção
de 4 casas de aluguel na Barra Avenida.

Assim, como grande propulsor de progresso, o transporte por bondes imprimiu


uma nova dinâmica ao meio urbano e funcionou como facilitador e/ou indutor do
adensamento populacional na Barra, na medida em que, ao longo das suas linhas –
para implantação das quais melhoravam-se antigos caminhos e abriam-se novas vias
– eram colocadas infraestrutura de luz, água, dutos de coleta de águas pluviais e
linhas telefônicas, que viabilizariam a modernização do bairro segundo a égide de uma
nova estética urbana e arquitetônica, que será tratada no capítulo a seguir.
129

CAPÍTULO 3. A NOVA ESTÉTICA E UM NOVO MERCADO

Ao se iniciar o século XIX, os arrabaldes da cidade de Salvador, entre Pirajá de


um lado e o Rio Vermelho do outro, configuravam-se apenas em “verdadeiras roças
quase vazias, onde uma população rural tirava proveito das riquezas do solo e da
abundância das águas", possuindo "caráter rural, exclusivamente rural",
(MATTOSO,1978, p. 117 e 118).

A Freguesia da Vitória começaria a ser mais povoada em meados daquele


século, mas de maneira diversa, conforme apreende-se da descrição de
VASCONCELOS (2002, p.202 e 203) feita a partir da análise de Mapa de Carlos
Augusto Weyll (“Mappa Topographica da Cidade de Salvador e seus subúrbios”.
Figura 45, capítulo 1) de cerca de 1850: “o bairro do Canela “aparece em formação”
com “a implantação de prédios residenciais, com amplos jardins”, enquanto o bairro
da Graça “ainda era pouco ocupado”, assim como as atuais ladeiras da Barra e
Princesa Isabel. O Porto da Barra “já apresentava alguma concentração de
habitações, na área entre os fortes de São Diogo e de Santa Maria” e a área do Farol
da Barra ainda não tinha sido ocupada, “por falta de acessibilidade”.

A medida que a elite soteropolitana vai abandonando as freguesias centrais


como local de moradia em direção aos bairros da Vitória e Graça e o bonde começa
a circular pelos caminhos melhorados, a Barra vai gradativamente consolidando a sua
ocupação residencial, empregando uma nova estética urbana e arquitetônica em
consonância com a legislação modernizadora, mudanças que não se deram,
entretanto, de maneira uniforme e há um só tempo em todo seu território.

Como vimos no capítulo anterior, em meados do século XIX já estavam


definidos os principais vetores de ocupação e expansão do bairro, as futuras Avenidas
Sete (no seu trecho da Ladeira da Barra) e Princesa Isabel (Ladeira da Barra Avenida)
e a atual Rua Professor Lemos Brito, a qual se seguiria a Rua Marquês de Caravelas
– aberta após canalização e tamponamento do “Rio do Bosque da Barra”, ocorridos
em datas não levantadas - responsáveis pela ligação da Barra com seus bairros
vizinhos da Vitória e Graça e entre as suas duas orlas (da Baía e do Atlântico),
respectivamente. (Figura 113)
130

Figura 113. Planta da Ocupação da Barra por volta de 1850, vendo-se os rios e caminhos existentes.
Desenho (à lápis sobre papel manteiga, com interferência digital) feito a partir de Mapa de Weyll, de
cerca de 1850).

Da análise das iconografias (apresentadas nos capítulos anteriores) podemos


ainda constatar que os quarteirões entre a praia do Porto da Barra e a Rua Barão de
Sergy eram os mais adensados e se configuravam, na relação arquitetura/lote, como
uma implantação no modelo colonial (Figura 114), qual seja, com casas térreas ou
assobradadas, com coberturas cerâmicas em duas águas, construídas sem recuos,
sobre os limites laterais do terreno e na testada do lote, que assim definiam a via
pública e criavam interiores mal iluminados e mal areados.

Em virtude da vegetação abundante, alta declividade e da tradição de


assentamentos em torno de fortes e igrejas por motivo de segurança, as ocupações
ao longo dos caminhos enladeirados da Barra (Ladeiras da Barra e da Barra Avenida)
se iniciaram nas suas partes altas e baixas, estando assim concentradas as
edificações no início do século XIX nas proximidades das Igrejas da Vitória (Figura
131

115) e da Graça e nas imediações do Porto da Barra, para onde convergiam aqueles
caminhos, estando o morro do Gavazza quase que totalmente desocupado, até o
último quartel do XIX (figura 116)

Figura 114. Praia do Porto da Barra em 1858, vendo-se as casas térreas com telhados em duas
águas e na testada do lote, definindo a rua e no centro da foto, dois sobrados com cobertura em quatro
águas nas proximidades do forte de São Diogo (à esquerda da imagem). No alto do outeiro, a Igreja de
Santo Antônio da Barra. (Fonte: “A Barra, Église Sto Antonio”. Gravura de Jaime Ernest, Em Biblioteca
Nacional Digital. http://bndigital.bn.br/acervo-digital icon1113654_48. Acesso em 07 fev. 2015)

Figura 115. Ladeira da Barra em 1860. Vendo-se no alto a maior concentração de edificações nas
imediações da Igreja da Vitória e que vão rareando ao longo da descida da ladeira. Em primeiro plano
o cemitério dos ingleses e à direita da foto, o morro da residência da família de Clemente Mariani.
(“Cemitério dos Ingleses”. Fonte: Mulock, Benjamin (c.1860). Instituto Moreira Sales
http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/ acesso 07 fev. 2015)
132

Morro do Ipiranga
Morro do Gavazza

Porto
Ladeira da Barra

Figura 116. Ruas da Barra (e sua convergência para o Largo do Porto) em 1873, vendo-se a massa
de vegetação que as envolvia e os morros circundantes, ainda sem ocupação. (Fonte:
http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm Copyright © Guia Geográfico. Acesso 05
abr. 2014)

As demais áreas ao longo da costa e para o interior do bairro tinham ocupação


esparsa (Figura 117), formada por casas de pescadores e sítios de pequenos
agricultores e que haviam passado a conviver a partir do final do século XVIII com as
“chácaras” de veraneio (ou “quintas”, no falar português) das famílias mais abastadas
que residiam no centro de Salvador.

As denominações de “sítios”, “roças” e “chácaras” referem-se a propriedades


de características rurais que podem ser diferenciadas com base em suas dimensões,
proximidade do centro urbano e/ou em questões de ordem cultural. Nesse estudo as
“roças” e os “sítios” tal como referidos nos textos pesquisados, correspondem aqueles
terrenos da Barra de maior dimensão que eram utilizados por uma parcela da
população de menor poder aquisitivo (“rendeiros” ou “foreiros” da terra) para moradia
e realização de atividades produtivas em pequena escala, em lavouras e pequenos
criatórios de animais, ao tempo em que as “chácaras” eram utilizadas para descanso
e lazer durante fins-de-semana ou nas férias dos residentes da cidade, possuindo
menor área de terreno. No nosso recorte espaço temporal encontramos ainda
referência ao termo “Quinta”, designação portuguesa para “casa anexa a terreno de
cultura” situada fora do centro urbano e que, assim como as nossas “chácaras”,
possuíam edificação mais ampla e de melhor qualidade que as dos “sítios” e “roças”,
133

e que na Barra passou a denominar uma área específica da orla oceânica (“Quintas
da Barra”) que será abordada mais adiante.

A diferenciação de propriedade e uso dessa áreas semi-rurais pode ser


observada tanto na descrição da Barra no último quartel do século XVIII (1774) como
“cheia de quintas de residência e veraneio, rodeada das casinhas humildes dos
pescadores e roceiros” (CALDAS, apud GORDILHO, 1960, p.73) quanto em anúncio
de jornal do ano de 1846, transcrito por Pierre VERGER (1981, p.30):

Vende-se uma rocinha na povoação da Barra com arvoredo que consta de


60 pés de coqueiros, mangueiras, cajueiros e com capim plantado para
sustentar anualmente e com fartura dois cavalos, sofrível casa de morar toda
reparada de novo, quase toda forrada e soalhada, contendo duas salas, uma
varanda, quatro quartos, dispensa e casinha com fogão de vapor; tendo em
frente da casa um pequeno jardim, cocheira, estrebaria espaçosa para três
animais e casa para pretos, fonte d'água para beber, com casa para banho
de bica tudo novo e pintado recentemente: quem a quizer comprar falar com
J. de Mello Pacheco - Troca-se também por algum prédio na cidade de igual
valor.

Desse anúncio pode-se ainda observar a valorização dada a presença de água


potável e ao pomar, as características da edificação sede da “rocinha” – que apesar
dos inúmeros cômodos e benfeitorias era considerada “sofrível”, talvez por não
corresponder aos ideais estéticos do período e a “qualidade” do ambicionado “prédio
na cidade” ou nos bairros da Graça e Vitória - e a manutenção de antigas práticas
como o uso do braço escravo para funcionamento da propriedade e de cavalos para
o transporte de pessoas e mercadorias, que permaneceriam por um bom tempo,
mesmo depois da proibição do tráfico negreiro (1850) e da circulação do bonde na
Barra.
Frederico EDELWEISS (1961, p.77) descreve bem como se dava a ocupação
da orla do bairro da Barra em 1860 em relação a Vitória, seu Largo e início da Ladeira
da Barra, “onde existiam luxuosos casarões”:

Ao afastar-se daquele “aristocrático bairro" em direção à Barra as


construções iam rareando e gradativamente, do Porto - área de maior
concentração de edifícios, inclusive de dois andares, denotando a sua maior
urbanidade - ao Farol, iam assumindo caráter eminentemente rural com
casas mais simples espalhadas em meio a vegetação.
134

Figuras 117. Vista de trecho da orla da Barra no início da segunda metade do século XIX (tomada
das imediações do Farol em direção ao forte de Santa Maria) observando-se a simplicidade das casas
dos sítios e roças existentes naquele trecho e sobre o morro o chalé que seria comprado (em 1889)
para abrigar o Hospital Espanhol. (Fonte: De postal Mello & Filhos, em “Amo a História de Salvador”
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/,
acesso em 05 abr.2014)

Essa forma de ocupação da Barra, que conseguia reunir em um mesmo lugar a


salubridade obtida pelos “bons ares” e pela proximidade de cursos d’água (não
poluídos) e as facilidades de abastecimento - encontradas nos quintais urbanos, com
seus pomares, lavouras de mandioca, legumes e criatórios de aves – ao lado da
adoção de novos vocabulários arquitetônicos e formas de implantação no lote das
residências dos estrangeiros e empresários baianos no Corredor da Vitória e na
Graça, foi responsável não só pela boa resposta da Freguesia da Vitória a grave
epidemia de cólera de 1855 - “Dentre as paróquias menos castigadas pelo cólera
poderíamos citar a da Vitória, bairro aprazível, onde predominavam as chácaras e
habitado, sobretudo, pela classe alta da Cidade” (ATHAYDE, 1985) – como também
pela criação de um grande estoque de terras, imprescindíveis para a implantação de
um bem sucedido mercado imobiliário e fundiário, no lastro da modernização urbana
viabilizada por investimentos públicos e privados, que se processaria a partir de
meados do século XIX em direção ao vetor sul da cidade de Salvador.
135

Durante a segunda metade do século XIX e primeiras décadas do XX, antes


do loteamento de grandes áreas nos anos 1930, os antigos sítios passarão a ter novos
proprietários e suas antigas casas serão substituídas por outras (Figuras 118 e 119)
que adotavam a nova estética “modernizadora” e “civilizatória”, expressa nos
vocabulários arquitetônicos do Ecletismo, do Decó e do Modernismo.

Figura 118. Vista do trecho de orla entre o Farol e forte de Santa Maria em 1884. Observa-se o
chalé onde seria construído o Hospital Espanhol (azul), o conjunto de casas térreas em frente ao Forte
Santa Maria (vermelho) e a partir daí, ao longo da costa, as edificações dos sítios e/ou casas de
pescadores (amarelo e verde). (Fonte: Fotografia de Marc Ferrez em http://www.salvador-
antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm/Copyright] © Guia Geográfico - Fotografias antigas de Salvador
BA. Acesso 08 abr.2014)

Figura 119. Vista da orla da Barra tomada do Farol em direção ao forte de Santa Maria, primeira
década do século XX, observando-se a substituição de antigos sítios por grande palacete eclético.
(Em verde) (De postal Mello & Filho, em “Amo a História de Salvador”, https://www.facebook.com/Amo-
a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ Acesso em 08 abr. 2014).
136

Com exemplares em Salvador desde o início dos oitocentos, a arquitetura da


corrente “historicista”(ou “revivalista”) era caracterizada pela utilização de estilos
arquitetônicos do passado, escolhida uma única referência na sua relação com a
função a ser desempenhada - a exemplo do uso do Neogótico em igrejas e do
Neoclássico em edifícios que denotavam poder público ou particular – ou tendo vários
elementos misturados em uma mesma edificação, assumindo nesse caso, a
denominação de arquitetura Eclética.

O Neoclassicismo, inspirado nas formas da Antiguidades greco-romana e do


Renascimento, com seu pórtico central, frontões triangulares e colunatas, foi o “neo”
mais difundido no Brasil, através da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e da
atuação de arquitetos como Grandjean de Montigny e Louis Léger Vauthier, sendo
considerado o estilo oficial do Império (1822-1889), com aplicação em Salvador em
edifícios como o da Associação Comercial de Salvador (1817). Já o Ecletismo, com
inspiração também em modelos importados da Europa, foi a estética da República
Velha (1889-1930), não só empregada em exemplares arquitetônicos do poder público
como o Palácio Rio Branco (1912), mas também do poder econômico, nas moradias
burguesas no Corredor da Vitória, Graça e Barra, recebendo Salvador grande
influência dos construtores italianos como Filinto Santoro e Rossi Batista entre 1910
e 1920 (ANDRADE JUNIOR, 2007).

Os estilos historicistas (“neos”), como o neoclássico, neobarroco, neogótico,


neorromânico, neocolonial, entre outros, e a manifestação eclética na arquitetura
soteropolitana, “com referências simultâneas às diversas vertentes histórico-
geográficas da arquitetura européia, como o barroco francês ou o renascimento
italiano” (ANDRADE JUNIOR, 2007) passarão a conviver a partir da década de 1930
com aqueles outros vanguardistas (ou anti-tradicionalistas) relacionados com o Art
Nouveau, Art Decó e com a arquitetura moderna.
Todos eles, cada um a seu tempo ou concomitantemente, introduziram novas
estéticas e apesar de usarem formas do passado, tanto a arquitetura historicista como
a eclética, introduziram inovações tecnológicas (estruturas de ferro, cimento, concreto
e vidro) e higiênicas (uso de calhas e dutos, latrinas e fossas sépticas) que
possibilitaram uma nova relação com os recuos da rua e limites do lote, em um
processo de supressão das alcovas escuras e úmidas das casas do centro colonial,
137

em conformidade com os avanços na medicina e com a mudança na crença de que


era pelo ar que se transmitiam as epidemias (MELLO,1991).
Encontramos na Graça e início da Avenida Princesa Isabel, imóveis que
adotaram essas novas estéticas arquitetônicas e forma implantação no lote (Figuras
120 a 125), assim como uma construção, o “Solar dos Carvalho” (Figuras 126 e 127)
que se utilizou de elementos da “arquitetura de ferro”, característica do modelo de pré-
fabricação da Revolução Industrial europeia dos séculos XVIII e XIX e símbolo da
modernização urbana no Brasil.
As peças pré-moldadas em ferro (fundido ou forjado) ou cobre, importadas em
partes ou no todo, após escolha em catálogos, foram empregadas em Salvador na
construção de poucas residências, como no “Palacete Amado Bahia” na Ribeira e no
chalé do inglês Archibald Sommer, na Rua da Graça, e mais em equipamentos
públicos - coretos, chafarizes, abrigos de bondes (na Praça Municipal), mercados,
Estação Ferroviária (da Calçada), no Relógio (“de São Pedro”) e nos postes e
lampiões instalados na Avenida Sete de Setembro em 1915 – e em elementos
arquitetônicos para atendimento a legislação higienista - “bandeiras” das portas,
“gateiras” (ou “óculos”, gradeados ao nível da rua nas casas de “porão alto”), calhas
e tubulações (em “folhas de flandres” e cobre) - ou para modernização estética,
mediante o uso de gradis, portões, lambrequins e mãos-francesas.

Fotos 120 a 122. Sobrado em vocabulário neoclássico, no início da Avenida Princesa Isabel,
observando-se acesso lateral e portão de ferro antecedendo escada. (Fonte: Registros fotográficos de
1995 e 06 de set. 2004, Arquivo pessoal)
138

Fotos 1123 a 125. Sobrado de “porão alto” em vocabulário eclético, localizado no início da Avenida
Princesa Isabel. Detalhe de pátio com piso em ladrilho hidráulico e entrada lateral por escada
antecedida de portão de ferro. Observar os toldos em vidro e mãos-francesas em ferro sobre as portas,
de inspiração art nouveau. Imóvel demolido após 1995. (Fonte: registro fotográfico de 1995. Arquivo
pessoal)

Figuras 126 e 127. “Solar dos Carvalho” no Largo da Graça com elementos em ferro (colunas, gradis
e lambrequins). (Fonte: Registro fotográfico em 06 de ago. 2014. Arquivo Pessoal)
139

Assim, na área de ocupação mais antiga e de maior adensamento entre o


Largo do Porto da Barra, Rua Barão de Sergy e Barão de Itapoã, (Figuras 128 e 129)
atendendo a legislação higienista e “aformoseadora” imposta pelo poder público, as
intervenções consistiram até a década de 1920 basicamente em reformas de fachada
para inserção de elementos da arquitetura neoclássica - como platibandas (com seus
pináculos e calhas), apliques em gesso, vidros (jateados) nas janelas e portas com
bandeiras de ferro para facilitar a iluminação e ventilação – ou acréscimo de mais um
pavimento nas casas térreas (Figura 130), mantendo-se entretanto a ocupação do lote
e o partido arquitetônico colonial, no máximo acrescentando-se novos espaços para
cozinha e banheiro. Em raros exemplos (que não encontramos registro imagético,
nem alcançaram o presente), nos poucos terrenos ainda vazios nas imediações do
Porto da Barra buscou-se a libertação da construção em relação aos limites do terreno
através de recuos primeiramente em apenas um dos lados (Figura 131) e depois em
ambos, ao que se seguiu o afastamento da fachada das vias públicas, gradativamente
demarcadas por calçamento e passeios. (REIS FILHO, 2013, p. 44 a 49).

Figura 128. Orla do Porto da Barra na primeira metade do século XIX, observando-se a ocupação
com casas na testada do lote, definindo a rua, ainda sem calçamento. À direita da foto vê-se o Forte
de Santa Maria. (Fonte: De postal antigo, em “Bahia, Histórias e Encantos”,
https://www.facebook.com/amoahistoriadesalvador Acesso em 26 mai. 2015)
140

Figura 129. Orla da Porto da Barra no terceiro quartel do século XIX, observando-se as casas
térreas ao lado de sobrados com platibandas e a presença dos trilhos do bonde em rua calçada e
arborizada. (Fonte: “Bahia, Histórias e Encantos”, https://www.facebook.com/amoahistoriadesalvador
Acesso em 26 mai. 2015)

Figura 130. Projeto de construção de mais um pavimento em casa na Rua Barão de Sergy, N. 05,
em 1910, de autoria de Custódio Bandeira em propriedade de Manoel de Souza Campos Filho, dado
entrada em 13/12/1910 (Fonte: Arquivo MIII GA 367. Projetos de Construção e Reforma depositados
no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Marco A. Rodrigues em 09 jun.1992)
141

Figura 131. Projeto de construção de 01 Casa na Rua Barão de Sergy em 1910, de propriedade de
Manoel de Sá Gordilho, observando-se único recuo lateral e a manutenção de quartos sem iluminação
e ventilação natural (alcovas), ao tempo que já são introduzidos no corpo da casa o “banheiro” e a
“latrina”, atendendo a determinação expressa na legislação. (Projeto de autoria não identificada, dado
entrada em 22/09/1910) (Fonte: Arquivo MIII GA 0372. Projetos de Construção e Reforma depositados
no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio Campos em 26 mai.1992)

Importante referenciar nessa área da orla do Porto da Barra, um sobrado “de


porão alto” remanescente do início do século XIX e que se sobressai dos demais da
sua quadra por ter a fachada principal recuada em relação a rua (Figuras 132 a 142)
e que parece ser um belo exemplar do período de transição/adequação entre a
arquitetura colonial e aquelas do período imperial, conforme nos diz REIS FILHO
(2013, p.40).

Um novo tipo de residência, a casa de porão alto, ainda “de frente da rua”,
representava uma transição entre os velhos sobrados e as casas térreas.
Longe do comércio, nos bairros de caráter residencial, a nova fórmula de
implantação permitiria aproximar as residências da rua sem os defeitos das
térreas, graças aos porões mais ou menos elevados, cuja presença era
muitas vezes denunciada pela existência de óculos ou seteiras com gradis de
ferro, sob as janelas dos salões. Nesse caso, para solucionar o problema do
desnível entre o piso da habitação e o plano do passeio, surgia uma pequena
escada, em seguida à porta de entrada. Essa, com puxadores de cobre e com
duas folhas ornadas de grandes almofadas, abria-se sobre um pequeno
patamar de mármore, quase sempre com desenhos de xadrez em preto e
branco. Após a escada, a proteger a intimidade do interior da vista dos
passantes, ficava uma porta em meia altura, geralmente de vidro ou de
madeira recortada.
142

Apesar de manter o partido interno predominante em casas do período


colonial - com suas salas sem ventilação natural interligadas por um grande corredor
lateral ligando a parte frontal ao fundo, com pisos e forros de madeira - apresenta
bandeiras de ferro sobre as portas e uma claraboia no hall da escada (que não se
pode afirmar se foi colocada em época posterior ou não) que subtendem uma
adaptação a legislação higienista do século XIX.

Elementos como portão e grades de ferro e piso em mármore bicolor da


entrada principal, a platibanda e seus pináculos, o lambrequim de ferro da varanda
dos fundos e os vidros coloridos das esquadrias, denotam também uma atualização
do repertório estético. Apesar da existência de porão, o mesmo não apresenta
abertura para a rua por óculos ou “gateiras” em ferro, podendo o mesmo ter sido
fechado em época posterior.

Ocupando todo o lote entre a orla da Avenida Sete de Setembro e a Rua Barão
de Sergy, tem nessa última a sua entrada de serviço, onde existe hoje uma construção
de data imprecisa, mas que poderia estar em local de horta ou em substituição a uma
anterior construída para colocação de banheiro e latrina e/ou cozinha.

Figuras 132 e 133. Sobrado “de porão alto” no Porto da Barra, Avenida Sete de Setembro, N° 58
e detalhes do portão e grades de ferro e piso em mármore bicolor da entrada principal (Fonte: Foto de
Chico Mazzoni, em 18 set. 2014 e Registro fotográfico em 10 de jun. 2014. Arquivo Pessoal)
143

Figuras 134 a 136. Interior do sobrado, vendo-se o corredor de acesso, as salas e as alcovas (quartos
sem iluminação natural), esquadrias com bandeiras de ferro e detalhe do forro em madeira. (Fonte:
Registro fotográfico em 10 de jun. 2014. Arquivo Pessoal)

Figuras 137 a 139. Interior do sobrado, vendo-se a escada em madeira de acesso ao segundo
pavimento e detalhe de de sótão com telhas transparentes / clarabóia que ilumina a área da caixa da
escada. Sala com abertura para a varanda do fundo (Fonte: Registro fotográfico em 10 de jun. 2014.
Arquivo Pessoal)

Figuras 140 a 142. Acesso ao sobrado pela Rua Barão de Sergy, onde se encontram anexos de
serviço e varanda com elemento decorativo em ferro, característicos de inovações estéticas do século
XIX (Fonte: Registro fotográfico em 10 de jun. 2014. Arquivo Pessoal)
144

Vizinha a esse sobrado, encontramos um outro exemplar ocupando todo o


estreito terreno e com fachadas também voltadas para as duas ruas, só que em estilo
eclético de inspiração “neocolonial” e que na década de 1990 já havia recebido
reforma para adaptação a estabelecimento comercial, com criação de uma garagem
com acesso pela rua Barão de Sergy, entre outras alterações que continuaram
ocorrendo até os dias atuais, descaracterizando a parte térrea da edificação (Figuras
143 a 147)

Figuras 143 e 144. Edificação em vocabulário Eclético de inspiração neocolonial, no Porto da


Barra, Avenida. Sete de Setembro e fachada voltada para Rua Barão de Sergy (Fonte: Registro
fotográfico em 1995. Acervo Pessoal)

Figuras 145 a 147. Edificação em vocabulário Eclético de inspiração neocolonial, na Av. Sete,
Porto da Barra e fachada voltada para Rua Barão de Sergy (Fonte: Registro Fotográfico em 18 set.
2014 e Fotos de Chico Mazzoni em 29 nov.2015)
145

Do levantamento fotográfico realizado, é possível observar na rua Barão de


Sergy e na sua continuação até a rua Barão de Itapoã a permanência de exemplares
de arquitetura com vocabulário neoclássico (Figuras 148 a 152) e eclético (Figuras
153 e 154), assim como, em data posterior ao nosso período de estudo, a grande
substituição dos exemplares arquitetônicos da “baixa da Graça, não sendo hoje
encontrados construções dos séculos XIX e primeira metade do XX, a exeção de uma
casa “de oitão” que parece ter sido de ocupação anterior, com telhados em duas
águas, implantação na testada da rua, ocupação de todo o cumprimento do terreno e
escada de acesso lateral (Figura 155)

2 1 2

Figuras 148 a 150. Sobrados Neoclássicos na R. Barão de Sergy em 1990 e 2014. (Fonte: Registro
fotográfico na década de 1990, em 26 ago. e 29 mai. 2014. Acervo pessoal)

Figuras 151 e 152. Edificação neoclássica preservada (externamente), na rua Barão de Itapoã,
esquina com a Barão de Sergy. (Fonte: Registro fotográfico da década de 1990 e em 10 jun. 2014.
Arquivo Pessoal)
146

Figuras 153 e 154. Casarão eclético na esquina entre as Ruas Barão de Sergy e César Zama, na
altura da Praça Patriarca da Independência no início da década de 1995 e em 2014, já com novo anexo
superior. (Fonte: Registro fotográfico na década de 1990 e em 10 jun. 2014. Acervo pessoal). Encontra-
se referência (não confirmada) de que o antigo casarão foi construído no final de 1860, para o
governador da Bahia (Em https://www.expedia.com.br/Salvador-Hoteis-Pousada-Manga-
Rosa.h4609919.Hotel-Reservas, acesso 26 abr. 2016)

Figura 155. “Casa de oitão” na Avenida Princesa Isabel (“Baixa da Graça), já bastante
descaracterizada na sua fachada (Fonte: Registro fotográfico em 26 ago. 2014. Arquivo Pessoal)

Dessa forma, por estarem em área mais adensada, poucas serão as novas
construções, constituindo-se a maioria dos projetos encaminhados à Diretoria de
Obras da Intendência Municipal nos primeiros anos do século XX, em reformas para
adequação das residências aos preceitos estéticos e higiênicos (Figuras 156 a 161) e
a novos usos comerciais1, demonstrando a necessidade de serviços que atendessem

1 Padarias, quitandas, pequenas lojas de armarinho, curtume (na Ladeira da Barra em 1901), farmácia
(na Avenida Princesa Isabel em 1904), “estabelecimento comercial" (no Porto da Barra em 1907) e
açougues, na Rua Barão de Sergi em 1909 e na Rua da Graça entre 1909 e 1914, segundo os “Projetos
de Construção e Reforma”, encaminhados à Diretoria de Obras da Intendência Municipal para
Construção e Reforma na Freguezia da Vitória.
147

a uma população de residentes, não mais só de veranistas, que se fixaria nessa


localidade e naquelas outras que surgiriam às margens dos caminhos no sentido dos
trilhos do bonde.

Figuras 156 e 157. Edificação em vocabulário eclético, no Porto da Barra, com datação de 1929 na
platibanda (seta). (Fonte: Registro fotográfico em 26 ago. 2014. Arquivo Pessoal)

Figuras 158 e 159. Edificação em vocabulário eclético, no Porto da Barra, com datação de 1929 na
platibanda (seta). (Fonte: Registro fotográfico em 18 set. 2014. Arquivo Pessoal)
148

Figuras 160 a 161. Edificação em vocabulário eclético, com elementos Art Nouveau, dos
primeiros anos do século XX, Porto da Barra, Avenida Sete de Setembro, N.3659, e detalhes das
esquadrias com elementos art nouveau e vidros coloridos, no imóvel onde funciona a Pousada
“Hotel Village Novo” (Fonte: Registro fotográfico de Chico Mazzoni em 18 set. 2014 e da autora em 26
ago. 2014).

Embora existentes desde o século XIX em poucos exemplares, construídos ou


reformados em estilo neoclássico, é a partir da década de 1910 que o Ecletismo se
tornará a linguagem arquitetônica preferida pelo poder político e econômico,
representado pelos novos industriais, pela burguesia vinculada a plantações de fumo
do Recôncavo e de cacau do sul da Bahia (comercial), a bancos (financeira) e/ou ao
mercado de terras e imóveis.

Buscando suprimir as características ligadas ao passado colonial português, a


arquitetura eclética buscou referência (muitas vezes simultâneas) em diversas
vertentes histórico-geográficas da arquitetura europeia (ANDRADE JUNIOR, 2007),
como o barroco francês, o renascimento italiano, a cultura mourisca ou alemã, essa
última presente no estilo “fachwerck” ou “enxaimel”, que reproduz o sistema estrutural
em madeira utilizando-se de marcações em massa de gesso nas fachadas, mantendo-
se a inclinação do telhado de cidades de clima frio.

Assim, em áreas de ocupação consolidada como na orla do Porto, a


modernização de estilo arquitetônico se dará através de acréscimos neoclássicos e
nos terrenos livres surgem os “chalés”, “bangalôs", residência “apalaçada" (ou
“palacete”), “mansão", “vivenda”, “solar", “villa” ou “vileta" (AZEVEDO, Parecer, 1982).
(Figuras 162 a 166)
149

1870

1885

1920

1930
3030

1950

Figuras 162 a 166. Transformação da Paisagem da área do Porto, vista a partir do Outeiro de
Santo Antônio da Barra entre 1870 e 1950 (Fonte: em 1870, montagem de 02 fotografias de
Guilherme Gaensly (http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-porto.htm ); em 1885, Registro de
Rodolfo Lindemann(http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm);em1920
http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm ); em 1930 (“Velhas Fotografias”, página
188) e em 1950 (http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm) Acesso em 05 abr. 2014)
150

Um bom exemplo das mudanças arquitetônicas naquela área de primeira


ocupação do bairro, foi a edificação no Largo do Porto da Barra nos anos 1920/30, na
da Avenida Princesa Isabel, de sobrado eclético, vizinho de conjunto de casas de
mesma linguagem no início da Ladeira da Barra (Figura 167) e sobre o qual
encontramos o depoimento do historiador Heraldo Lago Ribeiro (”Salvador...tempos
passados!”. https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ Acesso 24
jan.2017):

Localizada no final da ladeira da Barra e em frente ao largo do Porto, era a


residência de D. Alina Gordilho Corrêa Ribeiro. Lembro muito dela e ficava
impressionado com o tamanho da mesma que na sua lateral, ocupava grande
parte da Av. Princesa Isabel. Até uma capela existia na mesma, onde eram
realizadas as cerimônias religiosas da família. Nos anos 70 (se não estou
enganado) foi demolida para a construção de um hotel, (...)

Figura 167. Edificações em vocabulário eclético no final da Ladeira da Barra, nas imediações do
Largo do Porto, na década de 1930, vendo-se em primeiro plano a casa da família Gordilho Corrêa
Ribeiro, no local onde foi construído o “Praiamar Hotel”. (Fonte: “Salvador...tempos passados! ”
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ acesso 24 jan.2017)
151

Nas áreas onde encontramos os padrões finais de uma ocupação inicialmente


rural e semi-rural, presente nas chácaras de moradia ou veraneio das elites
tradicionais e da nova burguesia baiana (trechos das orlas da Baía de Todos os
Santos e do Oceano Atlântico), naquelas de topografia mais acidentada (Avenida Sete
no trecho da Ladeira da Barra e Avenida Princesa Isabel), alagadiça e/ou com a
presença de densa vegetação (Rua Marquês de Caravelas), a densificação
populacional e construção de novas arquiteturas estiveram diretamente relacionadas
coma a execução de obras viárias e implantação de transporte público.

No caso da ladeira da Barra, o seu trecho intermediário continuou pouco


ocupado durante o século XIX em virtude da sua implantação entre a escarpa do mar
- ocupada pela fábrica de xale no nível da praia, pelo cemitério dos ingleses e pelo
outeiro de Santo Antônio da Barra – e os terrenos disponíveis, ocupados em grande
parte pelo outeiro da família de Clemente Mariani (Figura 168 a 170) o que só
começaria a ser alterado com as melhorias que culminaram com a construção da
avenida Sete de Setembro (1915)

Figura 168. Ladeira da Barra e Igreja de Santo Antônio da Barra em cerca de 1840, em vista da
Igreja da Vitória. (Fonte: http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-igreja.htm. Acesso 09 set. 2014)
152

Morro de Clemente Mariani


Caminho na Ladeira da Barra

Fábrica de Xale

Figura 169. Ladeira da Barra no final do século XIX, vendo-se caminho (à esquerda), a fábrica de
xales (ao nível do mar) e o cemitério dos Ingleses. No círculo, casarões na área encosta em frente ao
morro de Clemente Mariani. (Fonte: Fotografia de painel em exposição permanente no Cemitério dos
Ingleses. Registro fotográfico em 20 fev. 2017. Arquivo Pessoal)

Figura 170. Ladeira da Barra em 1860, vendo-se em detalhe os casarões nas imediações do cemitério
dos Ingleses e da Fábrica de Xale de Propriedade de “Pereira & Cia” (ao nível do mar). Observa-se
a inexistência (à direita) da rua que passaria pelo forte de São Diogo e do outro acesso pela Ladeira
da Barra, subtendendo o acesso ao empreendimento apenas pelo mar (Fonte: Fotografia de Benjamim
R. Mulock, em http://www.salvador-antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm, Acesso em 06 mai. 2014 )
153

No seu trecho inicial sempre mais adensado devido à proximidade do largo da


Vitória – ponto de entroncamento entre a Ladeira da Barra, Rua da Graça e Corredor
da Vitória - e por onde o bonde passava desde 1870 - foram construídos casarões em
diferentes estilos (Figuras 171 e 172) e nas áreas disponíveis mais abaixo da ladeira
encontramos além desses, casas térreas construídas no lado da praia, provavelmente
para aluguel (Figura 173). No início da década de 1940 a ocupação se dará em
direção ao reverso da escarpa com a construção nos loteamentos que serão
implantados na parte alta e baixa da região, como veremos mais adiante.

Figuras 171 e 172. Edifício em vocabulário neoclássico, onde funcionou o “Hotel Colonial” e antiga
pensão para franceses (hoje sede da Aliança Francesa da Bahia) e Mansão “Vila Serena”, na década
de 1920, de propriedade de Alfredo Joaquim de Carvalho, localizada no início da Ladeira da Barra.
Fontes e http://123i.uol.com.br/condominio-b8bbc88cd.html. Acesso 30 ago. 2017)

Figura 173. Sobrados e conjunto de casas térreas (em vermelho) na Ladeira da Barra nos anos
1930. Observando-se ao alto a densa vegetação do Morro de Clemente Marani. (Fonte: CEAB/UFBA)

O trecho da Avenida Princesa Isabel conhecido como “baixa da Graça”


apresentava nas primeiras décadas do século XX ainda uma ocupação rarefeita com
poucas edificações em meio a extensa área verde (Figura 174), assemelhadas as
chácaras dos séculos XVIII e XIX, situação que tenderá a alterar-se com a
consolidação do transporte público e com a implantação de loteamentos nas suas
imediações década de 1930, passando a mesma a contar com belíssimos chalés
(Figura 175)
154

Figura 174. Avenida Princesa Isabel em 1916, na área conhecida como “Baixa da Graça”, trecho
plano mais próximo do Largo do Porto, apresentava a permanência de edificação com vocabulário do
período colonial, com telhado em duas águas e ainda na testada do lote (azul), nas proximidades de
outra eclética (vermelho). (Fonte: Internet, Arquivo FJC)

Figura 175. Palacete em vocabulário eclético na Avenida Princesa Isabel, onde funciona
Pousada “Dom Quixote” (Fonte: Registro fotográfico em 26 ago. 2014. Arquivo Pessoal)

Da análise dos exemplares remanescentes na Avenida Marquês de Caravelas


(antiga Rua Bosque da Barra) (Figura 176) desocupada até época posterior, podemos
afirmar que, assim como no Porto da Barra, o vocabulário arquitetônico escolhido para
as novas edificações a partir da metade do oitocentos foi o do ecletismo, só que com
outra forma de implantação no lote, apresentando pelo menos um recuo lateral e/ou
frontal naquelas construídas na testada do lote (Figuras 177 a 180) e demonstrando
a concorrência de uma população fixa deslocando-se para as áreas internas do bairro,
encontramos as solicitações de construção de 15 casas na Rua Bosque da Barra
(atual Marquês de Caravelas), nos primeiros anos do século XX.
155

Figura 176. Trecho da Rua Marquês de Caravelas (em vermelho), na década de 1940, vista do alto
da Rua Lord Cochrane com morro do Gavazza ao fundo. (Fonte: recorte de fotografia publicada em
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/. Acesso 17 mar. 2017

1 2

Figura 177. Detalhe de foto da Rua Marquês de Caravelas, observando-se os sobrados e casas
térreas. (Em vermelho os remanescentes encontrados e abaixo colocados) (Fonte: Fototeca CEAB)

1 1 2

Figuras 178 a 180. Sobrado em vocabulário eclético na Rua Marquês de Caravelas, em 02


momentos de intervenção na sua arquitetura e sobrado eclético na Rua. Marquês de Caravelas
(Fonte: Registro Fotográfico década de 1990 e 26 ago. 2014, Acervo pessoal)

As ruas transversais entre as Avenidas Princesa Isabel, na sua parte mais


plana (Figuras 181 e 182) e Marques de Caravelas (Figuras 183 a 185), também foram
feitas construções nos mais diversos vocabulários arquitetônicos, em muitos dos quais
encontravam-se telhados de 04 águas ou com diferentes níveis, fachada em
“enxaimel” e vários e que podemos chamar de estilo Missões (ou neocolonial hispano-
156

americano ou mexicano) com torre circular com telhado de beiral, parede com
superfície irregular , entrada em arco ogival em voga nas cidades brasileiras nos anos
30).

Figuras 181 e 182. Sobrados na Rua Dr. Práguer Fróes e na Alameda Antunes (Fonte: Registro
Fotográfico em 2014).

Figuras 183 a 185. Sobrados ecléticos com torres na Rua Marques de Caravelas e o terceiro na
Avenida Sete, em frente ao Forte Santa Maria (Fonte: Registro Fotográfico em 2014)
157

De ocupação mais rarefeita ao longo de todo o período de estudo, talvez em


virtude pela estreita faixa de terra disponível entre o Morro do Gavazza e o mar e/ou
da grande área ocupada pelo Hospital Espanhol, o trecho compreendido entre os
fortes Santa Maria e Santo Antônio da Barra não teve suas edificações
“modernizadas”, mas em virtude de sua simplicidade construtiva (Figura 186), foram
substituídas por outras que atendessem aos preceitos estéticos e higiênicos das
moradias do século XIX e a nova paisagem urbana presente na melhoria das vias por
onde circulava o “Bonde da Barra”, arborização e construção de muretas,
balaustradas e escadarias de acesso à praia. (Figuras 187 a 191)

Figura 186. Trecho entre o Forte de Santa Maria e o Farol em 1870. Observar ocupação nos moldes
colônias, com casas com telhados de duas águas, térreas e geminadas (na maioria) no limite da rua
na beira da praia. Foto de Guilherme Gaensly (Fonte: Fototeca do CEAB/UFBA, acesso 1990)

Figura 187. Trecho entre o Forte Santa Maria e o hospital Espanhol no final do século XIX. Vendo-
se as edificações na base da ladeira de acesso ao Hospital Espanhol. Fonte: Fototeca do CEAB/UFBA,
acesso 1990)
158

Figura 188. Casarões nas proximidades do Farol da Barra nas décadas de 1920/30, denotam o
maior adensamento da região. Observa-se a Avenida Sete com sua balaustrada e arborização sobre o
morro o Hospital Espanhol já na sua configuração eclética (azul). (Fonte: “Amo a História de salvador
by Louti Bahia, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-
729832370389489/ Acesso em 29 nov. 2015)

Figura 189. Casarões nas proximidades do Farol da Barra na década de 1940. (Fonte: Fotografia
postada por Cláudio Sabak em 26/11/2015 na página “Salvador...tempos passados!
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ Acesso 29 nov. 2015)
159

Figuras 190 e 191. Remanescentes de Edificações em vocabulário eclético na Av. Sete de


Setembro, nas imediações do Farol da Barra, em 2015. Observa-se o telhado da primeira (com
camarinhas) e o estilo “enxaimel” na fachada da segunda (Fonte: Registro fotográfico 29 nov. 2015.
Acervo Pessoal)

Pelo exposto, podemos observar que os vocabulários arquitetônicos presentes


na Barra durante o século XIX exemplifica a análise feita por Sônia Gomes PEREIRA
(2007) para um processo que se deu em todo o Brasil no seu período de modernização
urbana:

É possível observar na prática arquitetônica do século XIX um conjunto muito


mais complexo, em que vários elementos estão imbricados: a persistência de
formas e técnicas coloniais; a necessidade de novos programas e funções; a
incorporação de materiais importados; a diversificação dos agentes; os novos
processos de formação profissional de arquitetos e engenheiros; além da
sincronicidade de várias linguagens formais.... Portanto, em lugar de uma só
feição dominante, coexistem técnicas, programas e estilos do passado e do
presente, evidenciando a permanência da tradição colonial, entrelaçada no
desejo de modernização e na necessidade de construção imaginária da nova
nação.

3.1. A “QUINTAS DA BARRA”

Com a sequência de obras na orla da Baía de Todos os Santos iniciadas em


1854 e que culminaram com a inauguração das Avenidas Sete de Setembro (1915),
ao lado da circulação do bonde, a ocupação na Barra se consolida como vimos, na
região entre os Fortes de Santa Maria e Santo Antônio (Farol).
Na altura do Largo do Farol onde antes havia casas simples de roceiros e
pescadores (Figura 192) e que passou a ser ponto final do bonde, encontramos já em
1870 (Foto de Gaensly, em “Velhas Fotografias”, p. 16), um aglomerado de casas que
passou a ser conhecido como “Quintas da Barra”.
160

Figuras 192. Construções (mais simples) nas imediações do farol por volta de 1870. (Fonte: AHMS
/ FGM: In “Amo a História de Salvador, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-
By-Louti-Bahia-729832370389489/ acesso em (29/11/15)

A ocupação dessa orla oceânica se deu inicialmente com a construção, ao lado


de chácaras pré-existentes, de casarões com tipologia e forma de implantação no lote
no modelo colonial, qual seja, casas com telhados em duas águas, algumas com
empenas revestidas com telhas cerâmica (para proteção), edificadas na testada do
lote, definindo o arruamento em dois caminhos, um beirando a praia onde seria aberta
a Avenida Getúlio Vargas e outro interno, no local da atual Avenida Marquês de
Caravelas (Figura 193 a 195). Iniciava-se assim nos primeiros anos do século XX, a
ocupação da “Quintas da Barra” que passaria a ser buscada como alternativa ao
adensamento do Porto da Barra. (Figura 196)

Figura 193. “Quintas da Barra” por volta de 1904, vendo-se suas edificações ecléticas, chácara
remanescente (em azul) e caminho de terra em direção ao Farol(Fonte: Fototeca do CEAB, 1988)
161

Figura 194. “Quintas da Barra” no início do século XX, vista a partir do atual morro do Cristo, onde
podemos observar em primeiro plano formas de ocupação tipo chácara. (Fonte: Fototeca do CEAB,
1988)

Figura 195. “Quintas da Barra” em cerca de 1904, com muro e edificações no alinhamento da rua
sobre a qual seria aberta a Avenida Oceânica, vendo-se ao fundo, à direita morro da antiga fazenda
Camarão (atual Morro Ipiranga). (Fonte: “Antigo aspecto da Praia do Farol da Barra. Fonte FERREZ,
Gilberto... Fototeca do CEAB/UFBA)
162

Figura 196. Mapa da ocupação da Barra em 1908, vendo-se em destaque a área da “Quintas da
Barra” (Estudo sobre Planta relativa a Salvador em 1900, realizada pelo CEAB/UFBA na década de
1990).

A medida que vai se “aformoseando” o Largo do Farol, abertas as Avenidas


Sete e Oceânica e o bonde passa a ser eletrificado, as casas existentes vão sofrendo
reformas modernizadoras e outras vão sendo construídas nas mais variadas
manifestações do ecletismo, com recuos em relação aos limites do terreno,
consolidando uma área residencial de luxo (Figura 197).

Figura 197. “Quintas da Barra” depois de 1915, vendo-se as melhorias urbanas no Largo do Farol e
alguns sobrados reformados em vocabulário neoclássico. (Fonte: http://www.salvador-
antiga.com/barra/antigasfarol.htm. Acesso 13 jan.2015)
163

O gradativo melhoramento na área da “Quinta da Barra” não conseguiu,


entretanto, alterar a visão de visitantes e estudiosos da cidade como o sociólogo
Donald PIERSON, que considerava em 1936 aquela área como um “subúrbio” de
Salvador, juntamente com Mata Escura, Engenho Velho, Federação, Garcia, Retiro,
Alto do Abacaxi, Alto das Pombas, Estrada da Liberdade, Estrada de Rodagem,
Cabrito, Cruz do Cosme, Matatú Pequeno, entre outros (PIERSON, 1936, p. 45). Tal
afirmação deve-se muito provavelmente a abordagem do seu estudo (“Distribuição
espacial das classes e das raças na Baía”) e da presença de nas imediações do Morro
Ipiranga de habitações proletárias (Figura 198), que assim como as demais
localidades referidas, eram “habitados predominantemente pelos pretos e mestiços
escuros”. (Ibid., p.46), em oposição aos “altos” da Vitória, Canela e Graça e do “bairro
praiano da Barra”, onde a população era quase que inteiramente de brancos, com “um
número limitado de mestiços espalhados entre eles”.

Figura 198. Ocupação proletária (choupanas) no Morro do Ipiranga, em cerca de 1890, vendo-se
ao fundo a ocupação denominada “Quintas da Barra” (em vermelho), nas proximidades de sítio ainda
remanescente na área (em azul). (Fonte: G. Gaensly & R. Lindemann. Velhas Fotografias, página 16)
164

. O alto padrão de construção e acabamento dos imóveis, a rejeição inicial aos


“prédios de apartamentos” e/ou a arquitetura moderna, ao lado da recessão causada
pela segunda guerra mundial (1938 - 1945) levando a perda de poder econômico de
algumas famílias soteropolitanas e inviabilizando a compra de novos imóveis e/ou
levando a dotação de novos usos aos existentes, talvez justifiquem a permanência na
paisagem da porção oceânica da Barra durante a primeira metade do século XX de
arquiteturas em linguagem eclética (Figuras 199 a 201), muitas das quais chegaram
até nossos dias. (Figuras 202 a 212)

Figura 199. “Quintas da Barra” na década de 1920, observando-se a iluminação da Avenida


Oceânica, os palacetes ecléticos e (à direita da foto) grande área arborizada e murada, provável
remanescente de implantações semelhante à das antigas chácaras. (Fonte: Fototeca do CEAB, 1998)

Figura 200. “Quintas da Barra” na Orla Oceânica, na década de 1920, vendo-se ao fundo o morro
Ipiranga, ainda sem edificações. (Fonte: Fototeca do CEAB, 1998)
165

Figura 201. “Quintas da Barra” e sua orla oceânica, na segunda metade dos anos 1930.
Observando-se a manutenção dos casarões e o uso da praia como local de lazer. (Fonte: Fototeca do
CEAB, 1998

Figuras 202 a 204. Edificação em vocabulário Neoclássico onde funcionou a antiga “Pensão
Harboard”, na Rua Afonso Celso, esquina com Rua Professor Lemos de Brito, onde observa-se a
fachada principal e as adequações posteriores a estabelecimentos comerciais (Fonte:
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ e Registro fotográfico, em 2014. Arq. Pessoal)
166

“Quintas da Barra” em 1908

1995 2016

Década de 1930

1995

2014/15 2013
Figuras 205 a 212. Remanescentes da “Quintas da Barra” e do Loteamento “Barralândia” (de
1908 a 2015) (Fontes:Fototeca do CEAB, Registro fotográfico em 1995 e em 17 dez. 2016, Fototeca
CEAB, em 1995, 04 dez. 2014, em 18 nov.2015 e em 30/07/2013. Arquivo Pessoa e fotos de 1908 e
década de 1930 eml)
167

No período entre as duas grandes guerras (1918-1935) a orla oceânica


continuará sendo ocupada por edificações de alto padrão construídas para moradia
ou aluguel, numa nova forma de aplicação do capital da burguesia soteropolitana
(mercado imobiliário) que culminará com a implantação dos loteamentos (mercado
fundiário) dos anos 1940 onde serão construídos os primeiros prédios de
apartamentos dentro de um novo processo de modernização urbana.
.

3.2. O MERCADO IMOBILIÁRIO E FUNDIÁRIO

A abertura e melhoramento das vias e espaços públicos, a implantação de


infraestrutura de água, luz, esgoto, telefonia e do sistema de transporte, que
materializaram a expansão da cidade e ocupação do vetor sul, não prescindiram
obviamente, do suporte físico, da terra, que no caso da nossa área de estudo tem sua
propriedade remontada ao século XVI.

As terras do atual bairro da Barra recebidas de Portugal pelo donatário Pereira


Coutinho, por Caramuru e alguns poucos particulares2, foram passando através de
doação ou compra para a Ordem Beneditina, que se tornaria já no início do século
XVII a sua grande proprietária, chegando a possuir em 1930 entre a Graça e Barra,
557 terrenos foreiros, 521 deles com construções, sendo 169 dessas sobrados e 327
casas térreas. (Códice 347, AMSB, 1931, 423f. apud HERNÁNDEZ, 2009, p. 118),
além das benfeitorias públicas (24 ruas e 03 praças) feitas em suas áreas foreiras
naqueles bairros (HERNÁNDEZ, 2009, p. 117)

Instalada em Salvador desde 1581, a Ordem Beneditina teve como “dote


funcional” bens que iriam se multiplicar com doações de particulares 3 além daquelas

2 As terras da Capitania da Baía de Todos os Santos (1536), correspondiam aquelas da Povoação sede
e a uma parte da sesmaria do Donatário Francisco Pereira Coutinho, se limitando com aquelas
recebidas por Francisco de Azevedo e Paulo Dias Adorno (ao norte, onde hoje se encontram os bairro
de Ondina e Garcia, respectivamente) e Affonso Rodrigues (a leste, a partir do Largo da Vitória em
direção ao Centro) e com as dos colonos portugueses Fernão Dolores, Pedro Affonso bombardeiro e
Sebastião Aranha, localizadas na altura da atual Ladeira da Barra.
3 A primeira doação para aquela Ordem de que se tem notícia foi aquele referente as terras da sesmaria

de Caramuru, feita ao Mosteiro da Graça em 1586 por sua viúva Catarina Paraguaçu em troca de
missas:"(...) Possue mais o Mosteiro huma sorte de terrenos limites de N. Snra. da Victoria athé Santo
Antonio da Barra, com quatrocentas braças de largo e quinhentas de cumprido de duas varas e meya
cada huma braça, as quaes deo de sismaria o Governador Francisco Pereira Coutinho a Diogo Alvares
168

do Governo Geral e da Câmara, o que criou um grande patrimônio temporal


constituído de bens móveis e imóveis de uso próprio e propriedades dentro e fora da
cidade, tais como casas, fazendas, sítios, engenhos, além de recursos obtidos com
foros, laudêmios, aluguéis, dinheiro de venda dos produtos das suas fazendas e da
atividade de empréstimo de dinheiro a juros (HERNÁNDEZ, 2009, p.49).

Além das doações que ainda receberiam ao longo dos anos por toda Salvador
- a exemplo das terras de Francisco Affonso Condestável (em São Bento e nos
Barris), Gabriel Soares de Souza (na cidade baixa, entre a Conceição da Praia e a
Vitória), Padre José de Lima (na ladeira do Alvo) e Dom Francisco de Souza (Hospício
de Monte Serrat e terras anexas, entre outras “terras e terrenos avulsos, sitos em
diversos pontos da cidade” - os padres beneditinos do Mosteiro de Nossa Senhora da
Graça também compraram (em troca de missas) terras na Barra no final do século
XVI, a exemplo daquelas que haviam sido de Antonio Borges: “Nesta mesma terra se
comprehendem tambem os sobejos que compramos aos mesmos Testamenteiros de
Antonio Borges por 350 missas que o mosteiro mandou dizer (...)” (Rellação dos bens
imóveis pertencentes ao Patrimonio deste Mosteiro, Livro 298, item 17, p.08).

Se na época da Capitania a concessão de sesmarias (com intensão povoadora)


era direito do donatário, com a instituição do Governo Geral, a doação de terras a
particulares ficará à cargo do governo, através da concessão de “datas de terra”
(extinta apenas no Código Civil de 1917) que tinham o objetivo de estimular a
ocupação de novas áreas, tanto na área rural como nos arrabaldes das cidades.
Tal instrumento possibilitou uma exploração mais diversificada em pequenas e
médias propriedades conhecidas como sítios que, diferentemente dos latifúndios
monocultores (cana-de-açúcar, algodão, cacau, café ou gado) - que exigiam o
emprego de grandes capitais para o desbravamento da terra, para aquisição de
escravos e posteriormente de maquinários - empregava menos recursos e mão-de-
obra, sendo geralmente de natureza familiar, tornando-se assim muito úteis para a

(...) a qual doou a este Mosteiro, com o encargo de huma missa rezada em cada hum mez, e duas
cantadas a memoria do Dito Diogo Alvares chamada D. Catharina Alvarez Caramuru em 16 de julho de
1586, como consta da sua doação (...)”.(Rellação dos bens imóveis pertencentes ao Patrimonio deste
Mosteiro, Livro 298, item 16, p.07). A partir daí forma muitos os proprietários - a exemplo de Francisco
Affonso Condestável e as terras em São Bento e nos Barris - que doavam terras em testamento à Igreja
em troca da “salvação da alma” e perdão dos pecados - obtidos através do recebimento temporário de
orações, missas ou procissões - ou de outros benefícios como “ajuda, sustento ou a satisfação de
determinadas necessidades materiais específicas, podendo ser uma pensão por vida ou, simplesmente,
roupas, calçados e alimentos” (HERNÁNDEZ, 2009, p.63)
169

ocupação de áreas distantes do centro urbano e no assentamento futuro dos


imigrantes que chegariam em substituição aos escravos.
Com a abertura dos portos (1808) e posterior Independência da metrópole
portuguesa (1822/23) os agentes econômicos se tornaram mais diversificados e
apesar da manutenção da influência dos senhores de engenho e comerciantes locais,
os estrangeiros, notadamente ingleses, começaram a se fazer presentes, dominando
a navegação, o comércio exterior (VASCONCELOS, 2002, p. 185 e 186) e
influenciando nas novas regras de moradia e de convívio social.

Além da permanência do capital comercial, começou a atuar também o capital


financeiro nacional e internacional (VASCONCELOS, 2002, p. 187), que desde o fim
do tráfico negreiro em 1850 passará a ser aplicado em “em funções não produtivas
em direção ao controle e propriedade do solo urbano em Salvador”
(NASCIMENTO,2007, p.179) e na “compra de imóveis, ou mesmo construção de
imóveis iguais, em ruas de casas semelhantes” (NASCIMENTO, 2007, p.71), tendo
tais operações sido respaldadas (após pressões) pelo governo imperial através da
promulgação da “Lei de Terras” (N° 601 de 18/9/1850).

Dando início a privatização do território - com a delimitação de áreas de lotes,


demarcação e registro da propriedade das terras (FRIDMAN e RAMOS, 1992, p. 187)
– essa Lei legitimava antigas práticas como o sistema de “aforamento”4, tentando
impedir a manutenção do instrumento de “uso capião”, aquela simples ocupação
(geralmente com aquiescência do proprietário) vinculada a um futuro pedido de
legitima posse (ibid.).
Abre-se assim a possibilidade para um novo sistema de acesso à terra através
da “compra e venda”, principalmente do grande número de “terras devolutas”
(VASCONCELOS,1989, apud VASCONCELOS 2002, p. 210), quais sejam, aquelas
que não tinham dono e que não eram de interesse do governo para realização de
obras públicas, ao tempo que tentava-se romper com o monopólio religioso

4 “Foro” era o pagamento anual feito ao proprietário (“senhorio”) pelo “foreiro” ou “enfiteuta” pelo uso
das suas terras para construção e/ou cultivo. O “foreiro” tinha assim, o direito de uso e gozo dos imóveis
construídos e das terras cultivadas, mas as mesmas não eram de sua propriedade, podendo quando
muito, aliená-las a terceiros, o que, quando se dava por “negócio jurídico oneroso", obrigava o foreiro
alienante ao pagamento de “Iaudêmio” ao senhorio. Mas esse processo de alienação de uma terra ou
bens foreiros só era possível se o proprietário não quisesse exercer o seu direito, assegurado por lei,
de preferência na reintegração da plenitude do domínio (A Grande Salvador: Posse e Uso da
Terra,1978, p. VI-1).
170

(FRIDMAN, 1999:49, apud VASCONCELOS, 2002, p.210), que no caso da Barra e da


Ordem Beneditina se dava tanto através do “aforamento” de suas terras (Figura 213)
quanto no recebimento de aluguéis em casas de sua propriedade.
As terras arrendadas pelos beneditinos à terceiros na Barra foram utilizadas
como área de cultivo, conforme apreende-se de documentos datados de 1766, onde
lê-se que “toda esta terra se acha arrendada a varios inquilinos que n`eIIa tem suas
roças, ou quintaes, menos alguma que he steril e infructifera e a que ocupa a pequena
fabrica do Mosteiro de N. Snra. da Graça e sua cerca (...)" (“Relação dos bens
immoveis pertencentes ao Patrimonio deste Mosteiro”, Livro 298, item 19, p.09) e de
1815, onde estava expresso que a Igreja de N. S. da Graça tinha “contrato de locação
de uma roça, com Roberto Francisco de Jesus, aberto em 1809” (IBID)
No que diz respeito ainda a capitalização da propriedade imobiliária e/ou
fundiária dos Beneditinos da Igreja da Graça encontramos referência aos aluguéis
recebidos entre os anos de 1890 e 1910 tanto de suas “casas de aluguel” (“Relação
dos bens immoveis pertencentes ao Patrimonio deste Mosteiro”, Livro 298, p.05) como
dos seus terrenos “foreiros”, ocupados com construções de maior ou menor qualidade.
Segundo Maria Brandão (1978, p.125), a prevalência desse sistema de
“aforamento” em Salvador fez com que o morador, mesmo quando dono da sua casa,
raramente fosse proprietário do solo, sendo simplesmente ““foreiro” ou “rendeiro",
conforme o caso ou simplesmente “morador” de terras de terceiros”. Assim, “ter” uma
casa “significava, para seu titular, ter a propriedade da edificação, da “benfeitoria" e
não do lote” (IBID), havendo ainda o caso daqueles que moravam em casas das quais
não eram proprietários e que pagavam aluguel ao foreiro do solo, que por sua vez
pagava o foro ao dono do lote ou diretamente ao proprietário.
Assim, as terras de Salvador se manterão durante o período de estudo (1850-
1950) pertencentes basicamente a ”algumas ordens religiosas, a poucos proprietários
individuais e à Prefeitura" (BRANDÃO,1978, p.00).
Quanto ao mercado imobiliário – que só se estruturará realmente na cidade na
década de 1960 (ibid.) - esse dará seus primeiros passos na Barra no início do século
XX, através da construção por alguns poucos particulares de casas para venda ou
aluguel, ao qual se seguirá na década de 1930 o loteamento dos seus terrenos.
171

Figura 213. Terras dos Beneditinos na área de Estudo em meados dos anos 1950 vendo-se (em
vermelho) a delimitação da área de estudo e no círculo (azul) as terras da Ladeira da Barra que fizeram
parte das doações do século XVI aos colonos portugueses Fernão Dolores, Pedro Affonso bombardeiro
e Sebastião Aranha. (“Planta Parcial da Cidade do Salvador Bia. Destacando-se as terras foreiras aos
Mosteiros de S. Bento e N. Senhora da Graça”, Planta em escala 1/5000. “Reprodução do mapa feito
pelo monge Paulo Lachenmayer em meados do século 20 sobre a Povoação do Pereira, sede da
Capitania da Baia de Todos os Santos e terras de particulares no seu entorno” (In: http://www.cidade-
salvador.com/http://www.cidade-salvador.com/seculo16/vila-pereira.htm Acesso 05 abr.2014)
Copyright © Guia Geográfico - Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, História e Evolução
Física, Iconografia)

3.2.1. As casas de aluguel

Segundo os projetos encaminhados, entre 1901 e 1915, à Diretoria de Obras


da Intendência Municipal para construção e reforma na Freguesia da Vitória (Arquivo
Público Municipal de Salvador, M III GA e GB), os primeiros “investidores” do mercado
imobiliário da Barra eram nela residentes, sendo suas primeiras iniciativas voltadas
172

para construção de imóveis de aluguel para a classe média, em terrenos de sua


propriedade e onde provavelmente tinham levantadas suas moradias, conforme
segue:

Augusto Cezar (?)


- 06 Casas térreas na “Estrada da Graça (1901)
Henrique Simões Coimbra
- 02 Casas térreas no Bosque da Barra (1911)
Eduardo Diniz Gonçalves
- 02 Casas térreas no Bosque da Barra (1911) – na atual Rua Eduardo Diniz
Gonçalves, antiga Travessa Miguel Bournier pequena rua na Barra, paralela à atual
Marques de Caravelas.
Manoel de Souza Campos Filho (morador em 1913 no Largo da Vitória N° 98)
- 01 casa de 2 pavs. na Rua Barão de Sergy (1910) (reforma provavelmente em sua
residência, acréscimo de mais 01 pavimento)
- 01 casa de 3 pavs. no Farol da Barra, N° 54 (1912) (reforma provavelmente em sua
residência (?), acréscimo de mais 01 pavimento)
- 14 Casas térreas na Ladeira da Barra (1911)
- 04 Casas na Avenida Princesa Isabel /“Baixa da Graça” (1912)
- 05 Casas na Avenida Princesa Isabel / “Rua Baixa da Graça” (1913)
Manoel de Sá Gordilho
- 01 casa de 1 pav. na Rua Barão de Sergy (s/n) (1910) (provavelmente sua
residência)
- 04 Casas de 2 pavs. na Avenida Princesa Isabel /“Baixa da Graça” (1912)
- 02 Casas de 2 pavs. na Avenida Princesa Isabel / “Baixa da Graça” (1915)
Francisco Romão Antunes
- 01 casa de 1 pav. na Barra Avenida (s/n) (1911) (provavelmente sua residência)
- 02 Casas térreas na Avenida Princesa Isabel (1913)
- 02 Casas na Alameda Antunes (1913)
Júlio Brandão
- 04 Casas de 2 pavimentos na Barra Avenida (1914)
Francisco Pereira de Aguiar
- 02 Casas térreas na Baixa da Graça (1916)
173

Pode-se observar que as solicitações de novas construções feitas entre 1910


e 1916 por moradores do bairro correspondem a um grande número de unidades por
projeto encaminhado a Diretoria de Obras, geralmente casas térreas e geminadas,
tipo “porta e janela”, algumas com “porão alto” e platibandas, o que subtende serem
para aluguel.

Entre os projetos encaminhados entre 1911 e 1913, 17 localizavam-se na


Avenida Princesa Isabel, provavelmente ter ocupação mais rarefeita e ter passado por
melhoramentos (alargamento concluído em 1899), provável razão também para a
solicitação do Senhor Augusto César (?) para construção em 1901 no mesmo local
(“estrada da Graça”) de 06 casas (Figura 214).

Do inventário fotográfico realizado naquela ladeira da Barra Avenida (Figuras


215 a 219) é possível supor que essas referidas edificações corresponderiam aquelas
03 remanescentes (demolidas em julho de 2017) não tendo sido possível, entretanto
afirmar de se foram de fato as únicas construídas ou se as outras 03 previstas em
projeto, teriam sido demolidas para dar lugar a “Vila Brandão”, casa de moradia da
família do Antropólogo baiano Thales de Azevedo (demolida em 2016).

Figura 214 Projeto de construção de 06 Casas “Estrada da Graça” em 1901, de propriedade de


Augusto César (?), de autoria (ilegível), dado entrada em 10/07/1901 (Arquivo MIII GA 180. Projetos de
Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Marco
A. Rodrigues em 13/07/1992)
174

Figuras 215 e 216. Remanescentes de “grupo de casas” do início do século XX (possivelmente)


para aluguel, na Avenida Princesa Isabel. Observar na primeira foto, à direita, o portão de ferro e
mureta da “Vila Brandão”. (Registro fotográfico na década de 1990 e em 17. Mai. 2016. Acervo pessoal)

Figuras 217 a 219. Processo de demolição (em 2017) de remanescentes de “grupo de casas” do
início do século XIX na Avenida Princesa Isabel, para construção de prédio de apartamentos
intitulado “Jazz” (Fontes: Registro fotográfico em 26 de janeiro, 02 de maio e 30 junho de 2017. Arquivo
Pessoal)

Na mesma localidade e em frente as três casas referidas, encontra-se também


um outro remanescente (descaracterizado) de casa térrea com três janelas datada de
1909 - mas que pode ser de implantação anterior, uma vez que existia o hábito desde
o século XIX de datação nas platibandas ao fim de construções ou de reformas
(Figuras 220 e 221)

Figura 220 e 221. Três remanescentes arquitetônicos do século XIX na Avenida Princesa Isabel
em 1995, dos quais permanece em 2016 apenas aquela casa térra datada de 1909 que aparece em
primeiro plano. (Fonte: Registro fotográfico em 1995 e em 18 jun. 2016. Arquivo Pessoal)
175

No local denominado como “baixa da Graça” (trecho plano da Avenida Princesa


Isabel) nas proximidades do Largo do Porto da Barra, também foram concentradas
casas de aluguel muito provavelmente em virtude das obras da Avenida Sete de
Setembro que atrairia um maior número de residentes, sendo Manoel de Souza
Campos Filho - morador em 1910 na rua Barão de Sergy e em 1912 nas imediações
do Farol – o maior investidor nesse mercado da Barra na primeira década do século
XX (Figuras 222 a e 224), tendo inclusive dado entrada em 1911 no projeto de
construção de 14 casas (Figura 225), duas “de frente para a Rua da Garça” e as doze
restantes “no alinhamento de rua projetada no terreno” (Arquivo MIII GB 0400.
Projetos de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador)
referenciadas na Dissertação de Antônio Cardoso (1991) (Figura 226) e que
provavelmente deram origem ao local depois conhecido como Vila Brandão.

Figura 222 e 223. Projeto de construção de mais um pavimento em 01 casa no Farol da Barra, N.
54 e de 04 Casas na Avenida Princesa Isabel /“Baixa da Graça”, ambos em 1912 e de propriedade
de Manoel de Souza Campos Filho, de autoria não identificada, (Fonte: Arquivo MIII GB 434. Projetos
de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de
Marcos A. Rodrigues em 27 mai.1992 e )

Figura 224. Projeto de construção de 05 Casas na Avenida Princesa Isabel /“Rua Baixa da Graça”
em 1913, de propriedade de Manoel de Souza Campos Filho, de autoria de Rosalvo C. dos Santos,
dado entrada em 11/04/1913 (Fonte: Arquivo MIII GB 0484. Projetos de Construção e Reforma
depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Marco A. Rodrigues em 27
mai. 1992)
176

Figura 225. Projeto de construção de 14 Casas na Ladeira da Barra (s/n) em 1911, de


propriedade de Manoel de Souza Campos Filho, de autoria de Rosalvo dos Santos, dado entrada
em 31 ago. 1911 (Fonte: Arquivo MIII GB 0400. Projetos de Construção e Reforma depositados no
Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio Campos em 01 jun.1992)

Via Campos

14 casas de aluguel

Figura 226. Detalhe de Planta “Habitação Proletária em Salvador (1890-1930) ”, vendo-se (indicado
por setas) aquelas na Barra: a Via Campos (na atual Rua César Zama) e as 14 casas de aluguel (“grupo
de casas”) construídas por Manoel Campos Filho na Ladeira da Barra, nas imediações do Largo da
Vitória. (Fonte: CARDOSO, 1991, p.141)
177

Assim como Manoel Campos Filho5, esses pioneiros empreendedores


imobiliários eram membros da elite econômica, política e/ou cultural soteropolitana, a
exemplo Manoel de Sá Gordilho6, residente também na rua Barão de Sergy (1910),
de Júlio Brandão, morador da Ladeira da Barra (1909) e construtor de casas na Barra
Avenida (Figura 227) e que foi Intendente de Salvador entre 1912 (fevereiro a
dezembro) e 1914 (junho de 1913 a setembro de 1914) e diretor de Companhia de
Bonde e de Francisco Romão Antunes, que loteou em 1935 terras de sua propriedade
nas imediações da Rua Lorde Crochrane, onde residia, e que em sua homenagem
passou a denominar-se de “Alameda Antunes” (Figuras 228 e 229).

Encontra-se também referência ao Engenheiro Francisco Pereira de Aguiar,


responsável por volta de 1856 junto a Comissão de Obras Públicas Provinciais pelas
obras no Distrito da Vitória (CARDOSO, 2015, p.125) que também deu entrada em
11/01/1916 a um projeto de reforma de duas casas térreas (números 08 e 10) na
“Baixa da Graça”, que não é possível precisar se seriam ou não para aluguel, mas que
então atendiam a todas as diretrizes construtivas e estéticas que ele mesmo
fiscalizava (Arquivo MIII GB 0608. Projetos de Construção e Reforma depositados no
Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de Márcio Campos em
03/04/1992):

“Possa reformar os dois prédios (...) que constará do seguinte:


embelezamento das fachadas chegando os dois prédios para
o alinhamento; reconstrução interna geral, remodelação do
telhado, forros e soalhos novos; impermeabilização do solo;
remodelação da escada, feitura nova do fogão, latrina de
descarga, reparação do cimento da cosinha, e do quarto do
banheiro, caiação geral e pintura, construção de banheiro no
prédio N° 10, (...)”

5
Manoel de Souza Campos Filho, falecido em 1931, era filho e sucessor do Comendador Manoel de
Souza Campos (1838-1910) sócio majoritário, juntamente com Horácio Urpia Júnior (1842-1916), da
“Companhia Salinas da Margarida”, uma Sociedade Anônima criada em 20 de março de 1891 -
responsável pela extração de sal na localidade de mesmo nome no recôncavo baiano até a década de
1960 - e que reunia “cerca de 150 sócios entre os nomes mais prestigiados do empresariado baiano”
(http://gvces.com.br/salinas-da-margarida-ba-terra-do-sal?locale=pt-br, acesso 29/06/16)
6
Manoel Sá Gordilho era membro da família Gordilho, muito conhecida na Bahia, pelo renomado
médico e professor Adriano Alves de Lima Gordilho (1830-1892).
178

Figura 227. Projeto de construção de 04 Casas na Barra Avenida em 1913, de propriedade de Júlio
V. Brandão, de autoria de (ilegível) dado entrada em 18 dez.1913 (Fonte: Arquivo MIII GB 540. Projetos
de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e desenho de
Marcos A. Rodrigues em 06 mai.1992)

Figura 228. Projeto de construção de 01 casa na Barra Avenida (s/n) em 1911, de propriedade de
Francisco Romão Antunes, de autoria de Arthur Santos, dado entrada em 26/12/1911 (Arquivo MIII GB
0413. Projetos de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e
desenho de Márcio Campos em 29 mai. 1992)

Figura 229. Projeto de construção de 02 casas na Barra Avenida em 1913, de propriedade de


Francisco Romão Antunes, de autoria de (ilegível) dado entrada em 18/12/1913 (Arquivo MIII GB 540.
Projetos de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal de Salvador. Fichamento e
desenho de Marcos A. Rodrigues em 06 mai.1992)
179

Assim, além dos projetos para as classes média da população anteriormente


referidos e apesar de, segundo Luiz Antônio Cardoso (1991, p. 144), já estar delineado
desde 1890 o “projeto de segregação espacial da cidade, institucionalizado no Código
de 1926” que destinava “toda a zona sul e sua orla oceânica para os segmentos mais
abastados da população de Salvador, restando aos segmentos mais pobres os
terrenos situados à norte do centro da capital”, na Barra também foram construídas
casas de aluguel para as classes proletárias, então um rentável investimento.

A retomada do crescimento populacional de Salvador após a grave epidemia


de cólera de 1855 que se deu em virtude da imigração de escravos libertos oriundos
do Recôncavo e da diminuição do índice de mortalidade, graças, entre outros
aspectos, ao progresso da medicina e adoção de medidas sanitárias (dotação
gradativa de infraestrutura de água encanada, esgoto, limpeza urbana e afastamento
para a periferia de construções e atividades insalubres como curtumes e cemitérios)
criou as bases para o surgimento do mercado “de aluguel”, realizado através da
ocupação dos casarões abandonados no centro ou de construção de imóveis para
esse fim nas áreas desocupadas e periferia da cidade.
Diante dessa realidade se fez necessária a construção de um número cada vez
maior de moradias para vários estratos da sociedade soteropolitana, que no caso das
unidades proletárias, se concentraram na freguesia da Vitória, segundo o “Mapa de
Distribuição da Habitação Proletária em Salvador (1870 e 1930)” (CARDOSO,1991,
p. 141) nas áreas do Garcia, Fazenda Garcia, Federação e nas imediações do Porto
da Barra, “originalmente uma zona de moradia de pescadores” (IBID, p. 140), pois a
orla atlântica do Farol da Barra até a Pituba, passando por Ondina, Rio Vermelho e
Amaralina, ficaram “reservados para balneários e casas de veraneio da burguesia
soteropolitana” (IBID) e nas décadas de1930/40 para construção de loteamentos, a
exemplo da “Barralândia” e “Cidade das Ondinas”, como veremos mais adiante.
. Podemos referenciar a partir dos nossos estudos e inventário fotográfico que
além da “Via Campos”, localizada nas imediações do Porto da Barra (na atual Rua
César Zama) (Figuras 230 a 232), foram construídas a “Avenida Artur Neiva” (Figura
233) nas proximidades da Rua de mesmo nome (na altura do Morro do Cristo na orla
atlântica), a “Vila (ou Travessa) Diná” (Figura 234) na Marquês de Caravelas (entre as
ruas Lord Cochrane e Alameda Antunes) e a Vila Brandão” nas proximidades da Igreja
da Vitória (figura 235).
180

Formando grupos de casas térreas, geminadas, tipo “porta e janela” abertas


para uma estreita rua essas “avenidas” ou “vias”, foram construídas muito
provavelmente para os operários da fábrica de xales – existente até a década de 1930
na enseada abaixo da Ladeira da Barra e/ou para atender aos trabalhadores
domésticos das residências que foram sendo construídas na Barra.

Figuras 230 a 232. Vila (ou Via) Campos em 1995 e em 2014 (Fonte: registro Fotográfico de 1995 e
em 10 jun.2014. Arquivo pessoal)

Figuras 233 e 234. Avenida” Artur Neiva, já bastante descaracterizadas em 2014 e Vila (ou
Travessa) Diná (em 1995) (Fonte: registro Fotográfico em 29 mai.2014 e em 1995. Arquivo pessoal)
181

Figura 235. Vila Brandão, no final da década de 1930 e início da de 1940, localizada na encosta da
Igreja da Vitória, no início da Ladeira da Barra, vendo-se nas proximidades os casarões da área e
abaixo o Iate Clube da Bahia, no local onde ficava a fábrica de xale. (Fototeca do CEAB, 1990)

Foram encontradas ainda durante o inventário fotográfico realizado entre 2014


e 2017, indicações (sujeitas a futuras pesquisas em cartografias e documentos
históricos) de ocupações de baixa renda num local conhecido como “Palmeiras”,
localizado entre a Rua de mesmo nome e a Rua Greenfield, a qual possui um
agrupamento de casas denominadas de ‘Vila Bosque da Barra” (Figuras 236 e 237)
hoje conhecida como “Travessa Greenfield”. Esse conjunto de casas térreas -
geminadas e no limite frontal do lote, faz supor sua origem como “avenida” no tempo
em que a Rua Marques de Caravelas ainda era conhecida como “rua do Bosque da
Barra” – construídas, muito provavelmente, no mesmo padrão construtivo das demais
habitações de aluguel para população de baixa renda na Barra (Figura 238).

Figuras 236 e 237. Vila Bosque da Barra na Barra em 2015, localizada em uma travessa da rua
Greenfield. (Fonte: Registro Fotográfico em 2015. Arquivo pessoal)
182

Figura 238. Mapa da localização de habitações de baixa renda na Barra no período de estudo,
vendo-se (em azul) a Fábrica de xales implantada à beira mar no século XIX (interferência digital sobre
Mapa década de 1960)

Cabe ainda mencionar que a consolidação do novo mercado fundiário e


imobiliário, entre o qual o da habitação proletária formalizada, ao lado da ocupação
da orla da Barra pelas classes mais abastadas de Salvador, levou a relocação dos
moradores de menor poder aquisitivo, que, transformados (ou não) em mão-de-obra
para veranistas, residentes e/ou comerciantes da Barra, passaram a ocupar, em
edificações precárias, os morros próximos a antiga moradia a beira-mar (Figura 239)
- que depois seriam ocupados pela burguesia7 - os vales (alagadiços e insalubres,
antes da urbanização das avenidas de vale dos anos 1950) e os terrenos baldios “nas
escarpas, atrás das casas mais pretensiosas“ (PIERSON, 1936, p.46) (Figura 240)
locais de onde serão expulsos à medida que eram urbanizados, em um processo
conhecido por “invasão” que se espalharia por toda a cidade.

7 O atual morro Ipiranga, antiga Fazenda Camarão limítrofe da nossa área de estudo e ocupado desde
as décadas de 1960/1970 por residências de alta renda, exemplifica bem o que foi a sucessiva
relocação e precarização da moradia da população de menor poder aquisitivo das orlas de Salvador
conforme nos fala PIERSON em 1936 (p.45): “(...) os altos dos ricos correspondem , em geral, as áreas
residenciais dos brancos e dos mestiços mais claros, enquanto os vales dos pobres e as regiões
adjacentes correspondem grandemente às áreas residenciais da parte mais escura da população”.
183

Figura 239. Conjunto de casas na década de 1950, que pela relação com o Morro Ipiranga (com
algumas casas proletárias em meio a vegetação, à esquerda da foto) e o Edifício Barralândia (no alto
da foto) parece corresponder ao final da atual Avenida Centenário, no local conhecido como “Roça da
Sabina”, onde encontramos a “Avenida” Artur Neiva. (Fonte: Arquivo Público Municipal de Salvador,
internet)

Figura 240. Ocupação informal (“favela”) nas imediações de Rua do Bairro da Graça e próximo a
edifício de apartamento (ao fundo) (Fonte: http://www.agendartecultura.com.br/livro-e-
leitura/professora-ufba-lanca-livro-mario-leal-ferreira/ acesso 02 set. 2017)

Assim, pode-se observar que o bairro da Barra também materializou no recorte


temporal privilegiado a “distribuição espacial de classes e raças” de que nos fala
PIERSON (1936) e que será reforçada com a construção de loteamentos para as
classes média e alta, que serão implantados a partir do final da década de 1930.
184

3.2.2. Os loteamentos

Se as intervenções do início do século XX a partir do Centro de Salvador e que


atingiram a Barra, tiveram influência do Urbanismo Haussmaniano (1853-1882) no
que ele teve de realização de grandes intervenções urbanas sob a égide da fluidez,
higiene e estética e de reprodução dos capitais imobiliários, os loteamentos
construídos nas áreas periféricas a partir de meados dos anos 1920 podem ser
encarados como resposta técnica ao crescimento urbano e resposta social a
reprodução dos modelos burgueses (PANERAI, CASTEX e DEPAULE, 2013) e a
instalação de um mercado fundiário iniciado com a promulgação da “Lei de Terras”
em 1850.
Forma de parcelamento do solo para venda, os primeiros loteamentos de
Salvador datam de 19258 e se concentraram no vetor norte, sob responsabilidade do
poder público em Mont Serrat9 e da “Companhia Comércio Imóveis e Construções” na
Avenida Dendezeiros no bairro do Bonfim (SALVADOR, 1976).

Proliferando por toda a cidade a partir daí os loteamentos se inserem em novo


processo econômico (“compra e venda”) iniciado em 1850 com a “Lei de Terras” e
que, atrelado ou não a construção imobiliária, representavam a nova forma de
investimento daquela burguesia soteropolitana que havia se tornado a grande
proprietária de terras em Salvador no lugar das antigas ordens religiosas

Na sua grande maioria a cargo de particulares, individualmente ou reunidos em


Companhias foram concebidos segundo a lógica capitalista de maior aproveitamento
do terreno e reforçando a relação com a natureza, tiveram inspiração nas “Cidades
Jardins” e em balneários europeus, pelo menos no nome (SALVADOR, 1978, Tabela
1, Folha 1): “Cidade Jardim Balneária de Amaralina” (1932)10, “Cidade Balneária de
Ondina’ (1932) a cargo da Companhia “Magalhães e Cia”, “Boulevard Suíço” (1932),
“Parque da Graça” (1933), na atual Avenida Euclides da Cunha e “Vila Jardim Vitória”

8
De autoria do engenheiro Teodoro Sampaio e pensado desde 1915/19, o Loteamento “Cidade da Luz”
de propriedade de Joventino Silva, que deu origem ao atual bairro da Pituba, só foi aprovado pela
Prefeitura Municipal de Salvador em 1932
9 Com projeto de Américo Furtado Simas, o novo bairro de Montserrat, oriundo de uma antiga chácara

e pensado para hospedar os imigrantes (SIMAS, vol. 4, 1978, p. 98) propunha uma nova urbanização
da península de Itapagipe (PETTI, p. 256.)
10 Antiga fazenda Alagoas (devido a existência de lagoa no local), foi comprada por José Álvares do

Amaral que a rebatizou como “Amaralina”, corruptela do sobrenome de sua esposa Maria Amélia
Amaral.
185

(1934) no bairro de mesmo nome, o que representava o direcionamento de aplicação


do capital tanto nos vazios de bairros residenciais da elite soteropolitana quanto no
sentido de ocupação das novas áreas oceânicas remanescentes de antigas fazendas,
acessíveis através das novas avenidas.

Dos 68 loteamentos aprovados em Salvador na década de 1930 (Figura 241)


a grande maioria estava sob responsabilidade de investidores individuais, sendo
apenas um de propriedade do poder público (Prefeitura), o do terreno vizinho ao
cemitério de Brotas, estando 11 deles a cargo das seguintes Companhias
Construtoras e/ou Incorporadoras: “Companhia Comercio Imoveis Construtora” ou
“Companhia Commercial e Constructora" - responsável também por obras na Ladeira
da Montanha e pelo loteamento no Bonfim em 1925, possuía 03 na década de 1930 -
a “Magalhães & Cia" - responsável pelas obras da Avenida Sete de Setembro teve
sob sua responsabilidade o “Loteamento das Ondinas”, a “Companhia Imóveis e
Construções - Urbânia”, a “Companhia Construtora e Urbanismo”, “Sociedade
Comercial e Imobiliária Rossi e Solari”, “Caixa Econômica Federal”, “Sociedade
Amparo dos Operários”, “Instituto Aposentadorias e Pensões dos Bancários” e “Caixa
Aposentadoria e Pensões Ser. Urb. Ba-Se", com 01 loteamento cada.

Importante observar que a “Urbânia- Companhia de Imóveis e Construções” foi


transformada na "Urbânia Companhia Nacional de Seguros”, uma Sociedade
Anônima, constituída oficialmente em 30 de dezembro de 1944 11 por membros de
famílias ilustres baianas - Gordilho, Joaquim de Carvalho, Martins Catarino, Corrêa
Ribeiro, Suerdik, Tarquínio, Moskoso, Ballalai, Lanat - entre os quais médicos,

11“(...)
Diretoria: Diretor-Presidente, Dr. Augusto Casar Viana Neto, brasileiro, viúvo, médico, residente
e domiciliado à Avenida 7 de Setembro (Edifício Oceania, apartamento n° 95), nesta Capital; Diretor
Vice-Presidente: Antônio Carlos Osório de Barros, brasileiro, casado, comerciante, residente e
domiciliado à Avenida 7 de Setembro n° 384, nesta Capital; Diretor-Secretário: José Joaquim de
Carvalho, brasileiro, casado, comerciante, residente e domiciliado à Avenida 7 de Setembro, n° 456,
nesta Capital; Suplentes da Diretoria, Carlos Joaquim de Carvalho, brasileiro, casado, comerciante,
residente e domiciliado à Avenida 7 de Setembro, n° 361, nesta Capital; Augusto Marques Valente,
brasileiro, casado, medico, residente e domiciliado à Avenida 7 de Setembro n° 540, nesta Capital;
Eduardo Martins Catarino, brasileiro, solteiro, proprietário, residente e domiciliado à Rua da Graça n°
21, nesta Capital; 2. Conselho Fiscal, Dr. Eugênio Teixeira Leal, brasileiro, casado, bacharel, residente
e domiciliado à Avenida Princesa Isabel n° 125, nesta Capital; Antônio Osmar Gomes, brasileiro,
casado, comerciante, residente e domiciliado à Avenida Araújo Pinho n° 26, nesta Capital; Erico Sabino
de Sousa, brasileiro, casado, comerciante, residente e domiciliado à Praça Carneiro Ribeiro, n,° 10,
nesta Capital; Suplentes do Conselho Fiscal, Amerino Simões Portugal, brasileiro, casado,
comerciante, residente e domiciliado à Avenida Araújo Pinho n° 49, nesta Capital; Dr. Bráulio Xavier da
Silva Pereira, brasileiro, casado, médico, residente e domiciliado à Rua São Raimundo n° 40, nesta
Capital; Dalmo da Silva Costa, brasileiro, solteiro, comerciante, residente e domiciliado à Avenida
Marques de Leão n° 66, nesta Capital.(...) (DOU de 30/12/1944)
186

advogados, empresários e/ou proprietárias de terra e investidores no mercado


imobiliário como Dr. Eugênio Teixeira Leal, Dr. Bráulio Xavier da Silva Pereira e Miguel
Calmon du Pin e Almeida, moradores na antiga freguesia da Vitória, o que denota não
só a manutenção da característica social de ocupação do bairro durante a primeira
metade do século XX como também a relação entre a iniciativa privada e a sua
transformação urbana.

Encontra-se ainda referência nessa década a duas outras firmas que parecem
terem atuado mais em construções na área central de Salvador, a “S.A. Construtora
Comercial e Industrial do Brasil”, responsável pelo prédio da Agência de Correios e
Telégrafos (1933/1935-37) e a “Construtora Christiani Nielsen”, que parece ter
monopolizado o mercado de obras institucionais, realizadas em vocabulário
modernista, quais sejam: Elevador Lacerda (1929-30), Instituto de Cacau (1933-36),
Creche Pupileira (1935) e Instituto de Educação da Bahia (1937-39) (AZEVEDO,
Paulo Ormindo de, apud SCHLEE, Andrey e FICHER, Sylvia, 2008)

Figura 241. Planta dos Loteamentos de Salvador encaminhados para a Prefeitura na década de
1930. (Em cor, loteamentos na área de estudo) (Fonte: SALVADOR, PMS/ OCEPLAN / Órgão Central
de Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos. Outubro de 1976)
187

No caso específico dos loteamentos da Barra nos anos 1930 (Figura 242), eles
estiveram na sua grande maioria a cargo de particulares, individualmente ou reunidos
em Companhias, a saber:

- Francisco Romão Antunes (1935) - Entre as atuais ruas Lord Crochrane, Alameda
Antunes, Marquês de Caravelas e Avenida Princesa Isabel (Em local onde já havia
construído duas casas térreas em 1913)

- Augusto U.R. Santos (s/d) – Rua Teixeira Leal, transversal da Rua da Graça.

- João Magalhães (1938) – Rua Tenente Pires Ferreira, início da Ladeira da Barra.

- Clemente Mariani (s/d) – Transversal da Ladeira da Barra, na área das atuais ruas
Raul Drumond, João Pondé e Presidente Kennedy, lindeiras ao morro onde construiu
sua residência.

- Otacílio Nunes de Souza (1938) – Rua 08 de Dezembro.

- (?) -“Jardim Portugal” (s/d) - nas imediações da Rua Oito de Dezembro. (Não foi
executado, encontrando-se ainda remanescente de mata, segundo googleearth 2016)

- Aurino de S. Teixeira (s/d) – “Avenida Angélica Teixeira”, localizado no Morro do


Gavazza, nas imediações da atual Rua Greenfield

- Eliza Brasília Teixeira (1937) –entre a Av. Princesa Isabel e Rua Oscar Carrascosa.

- Maria Teixeira Ribeiro de Sá (1938) –“Jardim Brasil”, formado pelos três


quarteirões definidos pelas ruas Recife, Aracaju e Belo Horizonte, limitadas
ortogonalmente pelas Ruas Maceió e Belém do Pará, que junto com a Rua São Luiz
define mais um quarteirão.

- A. F. de Souza (s/d) – Rua Florianópolis (no “Jardim Brasil”).

- Geoge M. Dudef (s/d) – 06 quadras limitadas pelas ruas Artur Neiva (onde foi
construído o Edifício “Barralândia”) e Marquês de Caravelas, ortogonais a Avenida
Oceânica e Rua Miguel Bournier.

- Manoel de Souza e outros (1939) – “Barralândia”, de traçado ortogonal (a partir do


Largo do Farol da Barra), formado pelas Rua Afonso Celso e Avenidas Almirante
Marques de Leão e Atlântica e ruas Dias D´Ávila, Dom Marcos Teixeira, Alfredo
Magalhães e Professor Lemos Brito.
188

Figura 242. Planta Geral de Loteamentos na área de estudo nos anos 1930 e seus proprietários.
(Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do. OCEPLAN / Órgão Central de Planejamento. Estudo de
Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos. Outubro de 1976)
189

O loteamento de Clemente Mariani (Figura 243) - localizado nas imediações da


Ladeira da Barra e do morro onde encontra-se a residência da família daquele
empresário baiano12, na área das atuais ruas Raul Drumond, João Pondé e Presidente
Kennedy– foi aprovado em 1956 com 30 lotes da C.I.R. (PMS, 1977, apud
VASCONCELOS, 2002, p. 329) e o “Jardim Portugal”, nas imediações da Rua Oito de
Dezembro, apresentado em 1965 (Figura 244) nunca foi executado, encontrando-se
no seu lugar remanescente de mata (Googleearth, acesso em 29 jun. 2016)

Os dois loteamentos restantes estiveram a cargo da “Companhia Imóveis e


Construções - Urbânia”, que loteou uma área no início da Ladeira da Barra (1933) e
da “Companhia Comercio Imoveis Construtora” ou “Companhia Commercial e
Constructora", que além de um loteamento no Matatu (1935) e da ampliação do
Loteamento “Jardim Brasil” (1951) – nas proximidades do qual foi proposto o
loteamento da Senhora Elisa Brasília Teixeira ( Figura 245) - foi a responsável pela
execução do Loteamento “Vila Nova América” aberto ao lado daquele outro
denominado “Barralândia”.

Rua 8 de
Dezembro

Figura 243. Loteamento de Clemente Mariani (Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do.
OCEPLAN / Órgão Central de Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de
Loteamentos. Outubro de 1976)

12 Clemente Mariani Bittencourt (Salvador, 1900 - 1981) foi um empresário e político baiano.
Banqueiros, advogado, professor e jornalista, participou ativamente da vida política e econômica do
país durante décadas, tendo sido deputado federal, ministro da Educação ministro da Fazenda e
presidente do Banco do Brasil. https://pt.wikipedia.org/wiki/Clemente_Mariani acesso 20/10/17)
190

Figura 244. Loteamento “Jardim Portugal”. (Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do. OCEPLAN
/ Órgão Central de Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos.
Outubro de 1976)

Figura 245. Loteamento de Elisa Brasília Teixeira na atual Rua Oscar Carrascosa (1937) entre a
Avenida Princesa Isabel e o “Jardim Brasil” (1938). (Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do.
OCEPLAN / Órgão Central de Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de
Loteamentos. Outubro de 1976)
191

Da análise “Planta para divisão em lotes e arruamentos” dado entrada para


aprovação em 1931 do “Projeto dos Loteamentos “Boa Vista - Nova América” e “Bella
Vista” (Figura 246), encontramos referência, além da área do Loteamento “Vila Nova
América” a “Avenida Angélica” (o mesmo conjunto de lotes alinhados denominados
em 1939 de “Avenida Angélica Teixeira“), a “propriedade do Ilmo Cel. Alfredo Borges
de Barros”, lindeira a Ladeira da Barra Avenida (na sua parte alta) e a lote (ou casa?)
da Santa Casa da Misericórdia e por fim, a “Perímetro [...] pertencente ao Sr. Alberto
M. [Morais] M. [Martins] Catharino”, ambos identificadas na legenda, mas não
localizadas na Planta.

Figura 246. Projeto dos Loteamentos “Boa Vista - Nova América” (em vermelho) e “Bella Vista”,
em 1931, com indicação de ruas (até a altura da Barra Avenida), conjunto de casas e lotes não
identificados como o próximo a lagoa (em amarelo) (“Planta para divisão em lotes e arruamentos das
Villas BÔA VISTA – NOVA AMÉRICA e BELLA VISTA de propriedade da” Cia de Commercio Immoveis
e Construcções”. Escala 1/000. 1931) (Fonte: (Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do. OCEPLAN
/ Órgão Central de Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos.
Outubro de 1976)
192

O loteamento “Vila Nova América” (Figura 247), a cargo da “Companhia


Comercio Imoveis Construtora”, que foi executado em 1939 nas imediações da atual
Rua Afonso Celso (antiga “Coqueiros do Pharol”), foi não só responsável pela abertura
da Rua (semicircular) Engenheiro Milton Oliveira, como incorreu em grande
interferência na topografia da área, como a escavação do morro do Gavazza e
aterramento de uma lagoa existente ao lado de um grande lote de terra, do qual não
foi possível identificar o proprietário.

Figura 247. Loteamento Vila Nova América (1939) vendo-se (em verde) a Rua Afonso Celso (antiga
“Coqueiros do Pharol”), grande lote pré-existente (em amarelo) e local de lagoa aterrada (em verde) e
a “Avenida Angélica Teixeira” (em azul). A Rua circular (“Rua C”) é a atual Rua Engenheiro Milton
Oliveira e a “Rua B” do antigo loteamento na parte do morro do Gavazza, continua com esse nome até
hoje (seta vermelha) (Fonte: SALVADOR, Prefeitura da Cidade do. OCEPLAN / Órgão Central de
Planejamento. Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos. Outubro de 1976)

O investimento no mercado imobiliário na Barra iniciados como vimos, ainda na


primeira década do século XX com a construção de imóveis de aluguel em terras de
particulares como Francisco Romão Antunes tiveram continuidade na década de 1930
nos loteamentos nas mesmas áreas onde já haviam investido ou em outras novas.
Assim encontramos nos anos 1940 o loteamento já consolidado daquele
investidor entre as Ruas Lorde Cochrane e Alameda Antunes (Figuras 248 e 249), ao
tempo em que começam a serem implantados aqueles outros nas áreas desabitadas
da Ladeira da Barra, onde foi necessária a abertura de ruas (Figura 280).
193

O investimento no mercado imobiliário na Barra iniciados como vimos, ainda na


primeira década do século XX com a construção de imóveis de aluguel em terras de
particulares como Francisco Romão Antunes tiveram continuidade na década de 1930
nos loteamentos nas mesmas áreas onde já haviam investido ou em outras novas.
Assim encontramos nos anos 1940 o loteamento já consolidado daquele
investidor entre as Ruas Lorde Cochrane e Alameda Antunes (Figuras 248 e 249), ao
tempo em que começam a serem implantados aqueles outros nas áreas desabitadas
da Ladeira da Barra, onde foi necessária a abertura de ruas (Figura 250).

Figura 248. Rua Lorde Cochrane, final da década de 1940. Vendo-se os sobrados com recuos e
jardins frontais e ao fundo a Rua Marquês de Caravelas, na parte baixa do Morro do Gavazza. (Fonte:
(Fonte. Heraldo Lago Ribeiro. Em “Salvador...tempos passados!
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ · Acesso 17 mar. 2017)

Figura 249. Trecho da Rua Alameda Antunes, transversal entre a Avenida Princesa Isabel e a Rua
Marquês de Caravelas, na década de 1940. (Fonte: Fonte “Amo a História de Salvador by Louti,
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/
acesso 17 mar. 2017)
194

Loteamento Clemente Mariani


Morro de
Clemente Mariani Loteamento Jardim Portugal

Loteamento de João Magalhães


Morro do Gavaza
Loteamento de Octacílio Nunes de Souza

Outeiro de Sto. Antônio

Rua 8 de Dezembro

Rua Raul Drummond

Rua Dr. João Pondé


Rua Presidente Kennedy

Rua Tem. Pires Ferreira

Figura 250. Sistema viário entre a Ladeira da Barra e Barra Avenida implantado para acesso a
loteamentos aprovados na década de 1930. (Fonte: interferência digital sobre Foto da década de
1950. Fototeca CEAB, 1998)

A produção do espaço urbano em Salvador passaria então, a partir desse


momento e mais intensamente nas décadas de 40 e 50 do século XX – quando
aumentam o número de edifícios de apartamentos para classe média e loteamentos
que deram entrada na Prefeitura (respectivamente 70 e 50) (VASCONCELOS, 2002,
p.276), de uma “pequena e lenta produção imobiliária” (FERREIRA, MEDEIROS,
QUEIROZ., 1990, p. 179) neocapitalista - cujo agente era o próprio usuário, tendo a
terra seu valor de uso - para uma “intensa produção imobiliária e aumento da procura
de imóveis para alugar e comprar”’(FERREIRA, IBID), ao lado da “formação de um
mercado de terras e de uma intensa produção fundiária” (FERREIRA, IBID ),cujo
agente era o loteador passando a terra a ter valor de mercadoria (FERREIRA et alli,
1990, p. 178).

Em direção a orla atlântica, o loteamento “Barralândia” (Figura 251 e 252)


implantado em 1938 aproveitando o tecido urbano pré-existente na “Quintas da Barra”
(do início do século), materializava o deslocamento dos modelos culturais,
195

arquitetônicos e urbanísticos da Europa (Portugal, Inglaterra, França e Itália) para os


Estados Unidos da América, já presentes nas discussões técnicas durante a “Semana
de Urbanismo” realizada em Salvador em 1935.
Naquele grande loteamento da Barra, com ruas arborizadas e calçadas de
paralelepípedos, foram mantidas algumas edificações do início do século XX,
principalmente, como vimos, na área lindeira a Avenida Getúlio Vargas, e construídas
outras, geralmente casas de dois pavimentos, nas novas ruas Marques de Leão e
Afonso Celso (Figuras 253 e 254). Lá também começarão a serem construídos,
durante os anos 1940, os primeiros edifícios residenciais, como aquele “Barralândia”
em alusão ao nome do loteamento, (Figuras 255 e 256), consolidando o processo de
ocupação da área (Figura 257), que começaria a ser mais verticalizada, apenas a
partir dos anos 1970.

Avenida Angélica Teixeira

Figura 251. Orla oceânica em 1934 vendo-se o Loteamento “Barralândia” (amarelo), o corte no moro
do Gavazza (em azul) para implantação do loteamento Vila Nova América (1931-1939) na atual Rua
Engenheiro Milton de Oliveira e o conjunto de casa denominado “Avenida Angélica”. (Fonte: Fototeca
do CEAB/ UFBA)
196

Figura 252. O loteamento “Barralândia” na década de 1940, vendo-se a esquerda da foto a Rua
Afonso celso, no centro a rua Marques de Leão (com a presença de terreno vazio, com coqueiros) e
ao fundo o edifício “Barralândia” (Fonte: https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-
Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/)

Figura 253 e 254. Rua Afonso celso nos anos 1950, vendo-se as casas de dois andares e a
construção do primeiro edifício residencial na rua. (Fonte: Fototeca do CEAB/UFBA)

Figuras 255 e 256. Edifício Barralândia na esquina entre a Avenida Oceânica e a Rua Artur Neiva,
construído no final da década de 1930. (Fonte: Registro Fotográfico, 15. mai. 2014. Arquivo pessoal)
197

Figuras 257. Ocupação da Barra no final da década de 1930, vendo-se o loteamento ““Barralândia”
(em vermelho) e o Edifício de mesmo nome (em azul)

Iniciava-se então um novo momento para o urbanismo soteropolitano (de viés


progressista) a cargo do “Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador”
(EPUCS), comandado pelo urbanista Mário Leal Ferreira e depois pelo Arquiteto
Diógenes Rebouças entre 1942 e 1947. Encarregado de elaborar estudos e sugestões
às autoridades locais sobre uma série de intervenções (iluminação pública,
saneamento, transporte, moradia, etc.), objetivava inserir a cidade em um novo
processo modernizador cujos reflexos no bairro da Barra começaram a ser sentidos
com a construção dos primeiros edifícios residenciais plurifamiliares.
A empresa baiana “Cia Brasileira de Construções” aberta em 1936, primeira
construtora e incorporadora baiana, dos engenheiros Carlos Costa Pinto de Pinho e
Frederico Espinheira de Sá e do arquiteto Arézio Fonseca foi a responsável pela
construção do pioneiro “Edifício Dourado” (Figuras 258 e 259), marco da arquitetura
residencial soteropolitana em linguagem Decó, edificado para a família de Heitor
Dourado entre 1936 e (25 de julho) 1938, localizado na Graça e que contou com
projeto arquitetônico do próprio Arézio Fonseca (Em:
(http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/em-acao-inedita-ipac-promove-tombamentos-de-
predios-modernistas-e-art-deco-na-bahia. Acesso 21/02/16. 12:15)
198

Foi também essa mesma Firma, já com o capital ampliado e transformada em


sociedade anônima sob a denominação de “Cia. Brasileira Imobiliária e Construções
S/A”13 a responsável pela construção do Edifício Oceania (1936-1943) (Figura 260)
para o qual a construtora contratou o Escritório carioca “Freire & Sodré” responsável
por várias edificações residenciais em estilo “art decó” na capital da República na
década de 1930 (Figuras 261 e 262).
Construído na esquina do Loteamento “Barralândia” o “Edifício Oceania” foi
escolhido como residência do Dr. Augusto Casar Viana Neto, Diretor-Presidente da
Companhia "Urbânia Companhia Nacional de Seguros”, que lá morava em 1944 no
apartamento n° 95 (DOU de 30/12/1944), o que exemplifica o público alvo do
empreendimento.

Figuras 258 e 259. Edifício Dourado na Graça, Av. Euclides da Cunha em 2014 e 2017 (Fontes:
Registro fotográfico eme 24 jun. 2014, arquivo pessoal e em
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2014/02/edificio-oceania-o-mais-belo-art-deco.html
acesso 02 set. 2017)

13
Tendo como acionista majoritário um dos antigos sócios fundadores, o engenheiro Carlos Costa Pinto
e Pinho - sobrinho e filho adotivo do comerciante, exportador de cacau e grande colecionador de arte
da Bahia Carlos de Aguiar Costa Pinto - a “Cia Brasileira de Construções” contou com a colaboração
de importantes profissionais como engenheiro civil e especialista em cálculo de estruturas em concreto
armado, Carlos Espinheira de Sá, entre 1937 e 1954 e o arquiteto Hélio de Queiroz Duarte entre 1938
e 1944, possuindo já em meados dos anos 1940 uma filial em São Paulo (SCHLEE, Andrey e FICHER,
Sylvia, 2008).
199

Figura 260. Edifício Oceania em 2015 (Fonte: (http://www.portalradioreporter.com.br/2015/10/30/ipac-


aprova-projeto-de-reforma-do-edificio-oceania-em-salvador/. Acesso em 31 nov. 2015)

Figuras 261 e 262. Edifícios em vocabulário Déco, em Copacabana, no Rio de Janeiro, década de
1930, com projetos do Escritório Freire & Sodré, o “Edifício Embaixador” (1935), Avenida Atlântica,
3170 (“Arquitetura inspirada nos grandes transatlânticos da época. Com observatório/torre de comando
(elemento com escotilhas na cobertura”) e Edifício n/id. (Fontes:
https://www.artdecoriodejaneiro.com/edificio-embaixador/ acesso 01 set. 2017 e
https://www.facebook.com/RioCasasePrediosAntigos/photos/pcb.781691148644734/7816662986472
19/?type=3&theater. Acesso 02/09/17))
200

3.3. OS PRIMEIROS EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS E O VOCABULÁRIO DECÓ

Na área de estudo encontramos poucos exemplares da arquitetura em estilo


Decó14 (Figuras 263 a 265), talvez por não ter sido o mesmo bem assimilado pelas
elites soteropolitanas - apegada a seu passado colonial (PESSÔA, 2017) ou no
máximo as manifestações de status das mansões, chalés e palacetes ecléticos do
início do século XX – sendo mais empregadas em residências unifamiliares de classe
média em regiões como o bairro do Barris, mais próximo ao centro, e depois nos
edifícios plurifamiliares da Barra inicialmente também voltados para aquela parcela da
população.

Figura 263. Casa em estilo Art. Decó de inspiração naval. Av. Sete de Setembro, Ladeira da Barra,
10/06/14 (Fonte: Registro fotográfico em 10 jun. 2014.Acervo pessoal)

14 A classificação de Arquitetura Decó não é algo unânime, sendo para alguns denominada de “proto
moderna” (LACHER, 2002) ou mesmo de “modernista”, a exemplo de Paulo Ormindo de Azevedo
(Apud, SCHLEE e FICHER, 2008) ao listar aqueles primeiros exemplares da décadas de 1930 em
Salvador: o Elevador Lacerda (1929-30); o Instituto de Cacau (1933-36), a Creche Pupileira (1935), a
Agência de Correios e Telégrafos (1933/1935-37), a Estação de Hidroaviões (1937-39)) e o Instituto de
Educação da Bahia (1937-39). Na nossa tese adotaremos a ideia de arquitetura decó, que adotando
uma nova linguagem técnica (concreto armado) e formal era “caracterizada por linhas aerodinâmicas,
inspiradas no expressionismo alemão (streamline) ou por linhas secas e geometrizadas (ziguezague),
por vezes com forte ênfase decorativa (afrancesada e marajoara) (CONDE, ALMADA, 1997. p. 12,
apud SCHLEE e FICHER, 2008) - ou ao contrário, com limpeza ornamental e sobriedade obtida com a
aplicação do “pó de pedra” - e ainda aquelas que se aproximava do estilo “naval”, com janelas tipo
escotilha e varandas arredondadas.
201

Figuras 264 e 265. Antiga residência do historiador Edelweiss e posterior sede do Comando do
Distrito naval de Salvador Av. Sete, na altura do Farol da Barra (Fonte: Foto de Chico Manzoni em 18
set.2014 e registro fotográfico em 29 nov. 2015)

Além desses dois ícones da arquitetura Decó (“proto-moderna” ou


“modernista”, como preferem alguns autores), associada nos diversos estados do
Brasil principalmente ao longo das décadas de 1930 e 1940, a uma ideia de
progresso e de desenvolvimento (como já havia sido o ecletismo do final do século
XIX e primeiras décadas do XX) encontramos na Barra, outros edifícios residenciais,
a exemplos daqueles na Avenida Marquês de Caravelas e imediações (Figuras 266 a
272), nos novos loteamentos nas imediações da Ladeiras da Barra e da Barra Avenida
e na orla oceânica, como aqueles “Barralândia” e “Oceania” já referidos.
Inicialmente mais baixos, com 3 pavimentos em média, foram construídos
inicialmente com estrutura de ferro e cimento (“cimento armado”), possuindo ou não
elevadores, mas geralmente com varandas de arremate curvo e usando como
revestimento externo o pó de pedra” bem ao gosto da Arquitetura Decó.
Assim como nas diversas capitais brasileiras, os edifícios de apartamentos
foram símbolos de progresso e avanço técnico, de uma modernização que nas
décadas de 1930 e 1940 se afastava do modelo de cidade de matriz europeia e
passava a vincular-se aquelas dos Estados Unidos, além de garantir uma maior
rentabilidade que as casas de aluguel construídas até então, “inclusive por permitir a
sobreposição de unidades numa mesma gleba, em vários pisos. ” (VILLA, 2004),
sendo o mercado de construção civil explorado por membros das classes mais
abastadas tanto como empreendedores individuais quanto através de Firmas
constituídas.
202

Figura 266. Edifícios Elias Batista e Marquês de Caravelas na Rua Marquês de Caravelas, n° 47 e
45, primeiros prédios de apartamentos que se construíram na Marquês de Caravelas. Há de se notar
o gabarito dos mesmos três andares, pois na época não era permitido ultrapassar a altura do morro
que lhe fica atrás, o Morro do Gavazza. (Fonte: Registro fotográfico em 26 ago. 2014. Acervo Pessoal)

Figuras 267 e 268. Edifício na Rua Florianópolis, noLoteamento Jardim Brasil e “Edifício Capela” na
Rua Eng. Souza Lima, N° 48/01, tranversal da Rua da Graça observando-se a mesma tipologia de três
pavimentos com varandas de arremate curvo. (Fonte: Registro fotográfico em 26 abr.2014 e 09 out.
2014 Acervo Pessoal)
203

Figuras 269. Edifício de inspiração decó, na Rua Tenente Pires Ferreira (Transversal da Ladeira da
Barra) vendo-se as janelas tipo escotilha e cobogó na caixa de escada (Fonte: Registro fotográfico em
25 jul. 2015, arquivo pessoal)

Figuras 270 e 271. Edifícios na Rua Lorde Cochrane e Edifício “Ana Maria”, esquina Av. Marquês de
Caravelas e Rua Afonso Celso. (Fonte: Registro fotográfico em 26 ago. 2014 e 29 mai. 2014 Acervo
Pessoal)

Figura 272. Em primeiro plano o Edifício “Camila” na Rua Leoni Ramos (transversal da Avenida
Oceânica) (Fonte: Registro fotográfico em 25 jul. 2015, arquivo pessoal)
204

A Barra chega assim ao final da primeira metade do século XX, apresentando


uma paisagem onde podiam ser encontrados em maior número os exemplares
arquitetônicos do ecletismo tardio, alguns poucos na expressão da art déco e mais
raros ainda aquele “modernista de orientação corbusieana, da denominada “escola
carioca”” (SCHLEE e FICHER, 2008) (figuras 273 e 274), denotando a dificuldade da
elite soteropolitana em se desapegar de modelos tradicionais de residências, o que
só começaria a ser rompido a partir da construção daqueles primeiros edifícios mais
altos ocupados pela classe média, em um novo surto de modernização da área de
estudo que extrapola nosso recorte temporal e que teve como um dos atrativos a
“descoberta” das vantagens da moradia nas proximidades do mar, desfrutadas pela
elite soteropolitana nos séculos XIX e início do século XX, como veremos a seguir.

Figuras 273. Avenida Oceânica no final dos anos 1940 vendo-se ao fundo o “Edifício Oceania” e em
primeiro plano casa em estilo moderno (no local onde hoje está o Barracenter) (Fonte: Fototeca do
CEAB/UFBA, 1998)

Figura 274. Avenida Oceânica no final dos anos 1940, vendo-se exemplar de residências modernas
(em primeiro plano) e de edifício decó ao fundo (Barralândia). (Fonte: Fototeca do CEAB/UFBA)
205

CAPÍTULO 4. UMA NOVA ESPACIALIZAÇÃO: A BARRA e sua ORLA ATLÂNTICA

O século XIX, de fato, configurou alguns tipos fundamentais


da paisagem atual. Entre outros, nos deixou as estações
ferroviárias e os estabelecimentos industriais, as galerias
comerciais e as lojas de departamento, os bairros de edificação
pública e as orlas marítimas” (ZUCCONI, 2009, p.14). (O grifo
é meu)

Se o mar teve papel fundamental na colonização e desenvolvimento econômico


das cidades brasileiras, como primeiro caminho de ligação entre os diversos
assentamentos litorâneos e destes com o exterior e como fonte de abastecimento
alimentar e de combustível para iluminação (através do uso do óleo da baleia), o seu
uso como local de depósito de dejetos ocasionou, entre outros aspectos, graves
problemas de salubridade a medida que as áreas centrais das cidades portuárias iam
se adensando.
Ao se iniciar o século XIX, com uma maior circulação de ideias, locais e
estrangeiras, acerca de novas formas arquitetônicas e urbanas, práticas socioculturais
e higiênicas, ao lado do surgimento de novos meios de transporte, alteraram
gradativamente a relação do citadino com a natureza, levando as orlas a adquirirem
um outro uso e significado, dentro da lógica de “dispersão urbana” (ZUCCONI, 2009)
e de reprodução de capital, presentes nos diferentes momentos do processo
civilizatório e de modernização urbana.

4.1. A QUESTÃO HIGIÊNICA, A NATUREZA E O PROJETO TERAPÊUTICO À


BEIRA-MAR

Na primeira metade do século XIX, a manutenção da arquitetura (implantada


sem recuos, gerando cômodos sem ventilação e insolejamento), estrutura urbana
(com ruas estreitas e sinuosas) e hábitos higiênicos (despejo de água servida nas ruas
e dejetos nos mares e rios) do período colonial, continuava gerando problemas de
salubridade na área central de Salvador, agravados pela inexistência e/ou ineficiência
de serviços públicos de fornecimento de água potável, esgotamento sanitário e coleta
de lixo.
206

O fornecimento de água potável foi, segundo ALMEIDA (2014, p 163) um ponto


crítico enfrentado diariamente ao longo de boa parte da história de Salvador, pois até
o surgimento das fontes e chafarizes públicos dentro do perímetro urbano,
alimentados pela Companhia do Queimado (1852) e da implantação de uma rede
hidráulica mais eficiente no final do oitocentos, grande parte dos soteropolitanos
dependia diretamente de poços, cisternas e cacimbas abertas nos seus quintais e do
serviço dos “aguadeiros”, que vendiam a água em vasilhames próprios (potes ou
“barris”), com preço controlado pela municipalidade para evitar a especulação por
parte dos comerciantes. Os rios e lagoas eram usadas em maior parte para a lavagem
de roupas e para a irrigação das hortas e roças.
No que diz respeito a limpeza urbana (coleta de lixo e sua remoção para
localidades distantes da área central) e ao esgotamento sanitário, foi instituído em
1864 um “Plano de Asseio da Cidade” sob responsabilidade de concessionário
particular que entretanto, segundo Maria do Carmo ALMEIDA (2014, p. 164), não
obteve sucesso, notadamente na Cidade Baixa, nas zonas do Porto e do Comércio,
sendo em 1870 autorizado pelo governo que em toda área que recolhesse a décima
urbana, fossem contratados modernos serviços de canalização “para escoamento
das matérias escrementicias, urinarias e agoas servidas, pelo systema adoptado
em Londres, Rio de Janeiro e Pernambuco” (RELATORIO..., 1870, p. 22, apud
ALMEIDA, 2014, p.164).
Além da modernização gradativa da infraestrutura urbana e hábitos sanitários
nas áreas mais densamente ocupadas do centro e zona portuária, respaldada em
legislação específica1, outra solução encontrada para os problemas de insalubridade
foi a ocupação de áreas periféricas de Salvador, segundo novo modelo arquitetônico,
que já vinha sendo adotado no Corredor da Vitória e Graça pelas classes mais
abastadas, locais e estrangeiras.
Teriam sido essas novas arquiteturas e formas de implantação no lote (não
mais formando um conjunto de casas geminadas, mas sim envoltas por jardins e
sujeitas aos ares marinhos) ao lado da ocupação rarefeita em outras áreas como a

1
“As primeiras medidas de cunho ambiental e salubrista foram regulamentadas no Código de Posturas
do Governo Provincial da Bahia e Câmara Municipal de Salvador, para um horizonte alargado, entre
1829 e 1859. Para isso, foi criado o Conselho de Salubridade de modo a comandar as ações, fazer
funcionar as medidas e estabelecer punições. O Conselho de Salubridade era vinculado à Escola de
Medicina e Saúde Pública e ao corpo de médicos do Hospital dos Ingleses” (CARDOSO, 2015, p. 143).
207

Barra e o Rio Vermelho, as responsáveis pela resposta mais satisfatória da Freguesia


da Vitória a grave epidemia de cólera de 1855 “que atingiu e devastou na sua trajetória
várias Províncias de Império” (ATHAYDE,1985, p. 15):

Um dia a cidade como que se “tropicalizou”. Seus moradores europeus como


que se deram conta de que havia vantagens em não morar num bairro
lisboeta transplantado para estes climas. E as ruas e casas ao redor do
Terreiro de Jesus e do Largo do Pelourinho foram perdendo o seu “status” de
local da próspera burguesia enriquecida, morando em sobrados geminados,
de baixa aeração, sem qualquer área verde ao seu redor. Ficou para a história
o testemunho das dificuldades de adaptação, conjugado com a persistência
pioneira. Sobretudo, a partir da grande epidemia do cólera, em 1855, a
Cidade do Salvador como que “descobriu” as vantagens de morar nas
cumeadas batidas de sol e “viração”, e nos altos do Corredor da Vitória, da
Graça e da Barra. Ao tempo em que ia, embora mais lentamente, ganhando
condição urbana áreas antes somente identificadas como latifúndios,
próximas ao urbano da primeira cidade do Brasil. Solares que vinham da
colônia, no que, hoje se identifica como “centro histórico”, como sejam o Paço
do Saldanha e os Sete Candeeiros, competiam com largas casas nas ruas
que se abriam do Campo Grande de São Pedro, para o Sul. (TEIXEIRA, 2001,
N. 1, p. 11) (Os grifos são meus)

Teria havido assim, segundo Johildo ATAYDE (1985) no seu trabalho “Salvador
e a Grande Epidemia de 1855”, um paralelo entre o “sucesso” daquela epidemia e as
condições higiênicas e populacionais das diversas paróquias da cidade em meados
do século XIX2, ideia que muito provavelmente criou um lastro para os investimentos
públicos e privados em direção ao vetor sul e para o início da segregação sócio
espacial na cidade.

Segundo o referido autor, na freguesia do Pilar, a disseminação da doença,


seria justificada pela “proximidade do porto e o movimento comercial alí existente: a
precariedade das residências, geralmente úmidas e abafadas: enfim, o próprio
conteúdo social da paróquia, habitada, sobretudo, por escravos e elementos de
camadas sociais menos favorecidas” (ATHAYDE, 1985, p.16) e na paróquia da
Penha, que a princípio causaria surpresa pela mesma localizar-se nos arrabaldes,
“longe portanto dos focos iniciais da enfermidade e não oferecendo, na época,

2 Além da epidemia de “cólera morbo“ de 1855 – que “ aqui chegou pelo navio português “Imperatriz”,
vindo do Pará, região já infectada por galera portuguesa vinda do Porto” (Falla do Presidente da
Província 1415/ 1856, p.06, APUD, ATHAYDE, 1985, p.15) - as condições urbanas de Salvador foram
propícias para o surgimento de mais duas outras graves epidemias que assolaram a cidade no século
XIX: a varíola, com manifestações desde o século XVI e a febre amarela, que, vinda de Pernambuco
(GORDILHO, 1960, p.62) já havia causado muitas mortes em 1686 e que retornou em 1850, através
de um navio proveniente de Nova Orleans (MATTOSO, 1992, p 56).
208

grandes facilidades de comunicação com o centro urbano” (IBID), a grande


mortandade foi atribuída “principalmente, à precariedade das habitações, à presença
de pântanos, à obstrução das valas que serviam de esgoto as águas da chuva,
etc.”(Relatório da Comissão de Hygiene Pública (7IV) 1856, p. 31, APUD ATHAYDE,
op cit.) e por nela se localizar “um cemitério, anexo ao Hospital de Mont Serrat, e no
qual eram sepultados os estrangeiros - homens do mar na grande maioria - atacados
pela cólera” (IBID).

A partir de então e com mais intensidade, o poder público passou a incentivar


a ocupação das áreas periféricas através de leis, como a de 1857 relativa a isenção
da “décima urbana” (imposto sobre imóveis urbanos) para aqueles que lá
construíssem (FRIDMAN e RAMOS, 1992, p. 187), da execução de obras viárias e de
infraestrutura e implantação de transporte, ao tempo que reforçava o afastamento do
centro e isolamento espacial de equipamentos (curtumes, matadouros, cemitérios e
hospitais) e atividades (enterramento em igrejas) consideradas insalubres.
Assim, ao lado do Leprosário (ou Lazareto) construído ainda em 1758 no atual
bairro de Ondina (GORDILHO, 1960, p.64) – provavelmente aquele mesmo da
“Estrada de São Lázaro” na Federação, identificado em 1829 como “Hospital São
Lázaro” (AUGEL, 1971, p.58) - e dos cemitérios do Campo Santo (1836) e “dos
Estrangeiros”, Alemães e Suíços (1851) na Federação e “dos Ingleses” (1839) na
Ladeira da Barra, a freguesia da Vitória, e mais especificamente a área de estudo,
passou a contar com hospitais voltados para as comunidades de ingleses,
portugueses e espanhóis, residentes em Salvador.
Além do cemitério “dos ingleses” na Ladeira da Barra, foi encontrada também
referência (AUGEL, 1971, p.58) a um Hospital na freguesia da Vitória projetado em
1815 e dirigido pelo médico cirurgião inglês Robert Dundas (1791-1871) e que
atendeu os súditos ingleses entre 1819 e 1842. Inicialmente instalado no bairro do
Garcia para atender aos tripulantes da Marinha Mercante inglesa, o pequeno hospital
foi depois transferido para um prédio no Campo Grande, pertencente ao Sr. E. P.
Wilson e por fim para a Barra, onde ocupou propriedade da família Patterson, na Rua
D´Alegria, nas imediações do Porto da Barra. Ficando sob direção do Doutor
Alexander Ligertwood Paterson e depois de seu irmão John, também médico, passou
a ser conhecido como a "casa do doutor inglês", sobre a qual não foram encontradas
iconografias ou outras referências textuais. (PATERSON, JOHN LIGERTWOOD.
209

Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930).


http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/patjohli.htm Acesso 17 out.
2017)
Quanto ao “Hospital Português”, segundo Maria do Socorro Targino
MARTINEZ (2007), o mesmo foi inaugurado em 1866 no Bonfim, a partir da “Real
Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro” criada em 1º de
janeiro de 1857, mudando-se em 1931 para o início da atual Avenida Princesa Isabel,
em local onde permanece até hoje, após várias reformas e ampliações. Instalado
inicialmente no Palacete de José de Sá (Figura 275), tinha como vizinho de frente da
rua o “Clube Social Baiano de Tênis”, construído em 1916 (Figura 276), o que
representava o avanço da ciência médica e o quanto aquele equipamento urbano
havia perdido de caráter de instituição caritativa e de local (isolado) onde se ia para
morrer, longe dos olhos da sociedade.
.

Figuras 275 e 276. Palacete onde funcionava o Hospital Português em 1931 e o Clube Baiano de
Tênis em 1916, localizados um em frente ao outro, no alto da Avenida Princesa Isabel. (Fontes: Matéria
de jornal, “Lembrança da Inauguração da nova Séde do Hospital Português. Bahia. 7-?-931” e
fotografia, em “Salvador...tempos passados! ” 27 de setembro de 2016.
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ Acesso 16 mar. 2017)

Fundada em 1885, a “Real Sociedade Espanhola de Beneficência” teve sua


primeira sede onde hoje é o Campo da Pólvora, na área central da cidade, tendo dois
anos depois sido relocada para um chalé na Barra, em um morro em frente ao Forte
de Santa Maria (Figura 277), comprado em leilão por seus 124 membros
(http://www.hospitalespanhol.com.br/instituicao/plonearticlemultipage.2006-09-
19.788639257. Acesso 31 out. 2013)

Após sucessivas reformas e ampliações, entre as quais aquela de 1917, feita


em linguagem eclética, proposta pelo Arquiteto Alberto Borelli, formou-se o “Hospital
210

Espanhol”, instalado no alto de um morro, a cavaleiro do mar da Baía de Todos os


Santos (Figuras 278 a 280), adotando a “mesma tipologia de implantação dos
equipamentos dessa natureza no período: sítios elevados e afastados das zonas de
ocupação mais consolidada e de grande ventilação” (Guia de Arquitetura e Paisagem,
2012, p.413).

Figura 277. Trecho de Orla entre os Fortes Santa Maria e o de Santo Antônio em 1858,
observando-se a ocupação esparsa da área e o chalé sobre o morro, onde seria implantado o Hospital
Espanhol. (Fonte: De Litografia de Victor Frond, 1858, em http://www.salvador-
antiga.com/barra/antigas-seculo19.htm Copyright © Guia Geográfico - Fotografias antigas de Salvador
BA, acesso 08 abr. 2014)

Figura 278. Projeto de “Reforma e Modificação da Fachada” do Hospital da Sociedade de


Beneficência Espanhola, em 1917. De autoria do Engenheiro Alberto Borelli, encaminhado para
aprovação em 09 abr.1917 (Arquivo MIIIGB 0614 do Arquivo Municipal de Salvador. Croquis do
Arquiteto Márcio Campos em ficha de 02 abr. 1992)
211

Figuras 279 e 280. O Hospital Espanhol, construção em estilo eclético (vermelho) e seus anexos
posteriores, em 2010 e 2014 (Fonte: face book e Foto de Chico Mazzoni, em 18 set. 2014. arquivo
pessoal)

Dessa forma, os hospitais Português e Espanhol denotam não só o


atendimento a legislação higienista e a nova relação entre a saúde e os “bons ares”
(marinhos), como também a união (e auto segregação) que se dava entre as diversas
comunidades de estrangeiros que já na primeira metade do oitocentos buscaram a
freguesia da Vitória como local de veraneio ou moradia.
Não podemos afirmar, entretanto se nesses dois equipamentos de saúde foram
prescritos ou não os banhos de mar (ou de rio) em consonância como “projeto
terapêutico” que surgido na Inglaterra em meados do século XVIII (CORBIN, 1989,
p.81) começou a se difundir por todo o mundo no século XIX, nem se a maior
proximidade da praia fez com que o Hospital Espanhol se constituísse o em um
“hospital de banho”, clínica especialmente projetadas na Europa para oferecimento de
tratamentos de banhos de água salgada.

Como vimos, a freguesia da Vitória não tinha unidade urbana e se o Corredor


da Vitória e Graça eram ocupados por novas moradias burguesas, a Barra ainda se
encontrava em meados dos oitocentos com o aspecto rural a que já nos referimos,
constituindo-se então em local de descanso e/ou cura, em um espaço de
materialização do projeto de modernização higienista da cidade
É certo, entretanto, que o mar de Salvador a partir do século XIX assumiu outros
papeis além daqueles de transporte e subsistência desempenhados nos primórdios
212

da ocupação litorânea, dando-se início a prática de nele banhar-se, que, por diversas
razões, atravessaria o período da tese (1850-1950) chegando até os nossos dias.

Não que a praia até o século XIX fosse “desprezível ou ignorada” (AZEVEDO,
1988, p.08), apenas temida na sua relação com mar e suas profundezas
desconhecidas, tanto concreta como simbolicamente (CORBIN, 1989) sendo por isso
apenas desfrutada pelo citadino enquanto “moldura” de atividades de lazer. E mesmo
para aqueles, como marinheiros e pescadores, que faziam uso frequente da praia para
locomoção ou trabalho árduo - “de preparação para a pesca, de reparo das
embarcações e das redes, um lugar de convívio com iguais, o caminho para o mar em
que penetra para alcançar a canoa e a jangada e para lançar a rede, a tarrafa, o
munzuá, a armadilha de peixes, e para armar a camboa” (IBID, p.09) – não era hábito
molhar-se no mar, sendo que muitos deles nem sabiam nadar (IBID)

A prática profilática ou curativa do “banho-de-mar" ou “banho salgado”, usado


como “conveniente para a saúde, para o tratamento da clorose ou anemia das jovens
e alguns outros males, devido à riqueza da água marinha em iodo e outros princípios
minerais” (AZEVEDO, 1988, p.10), se estendia também as águas dos rios e das fontes
hidrominerais que, passaram a receber estruturas denominadas “Estâncias”
(hidrominerais) que ao lado das práticas medicinais, atraíram atividades mais
requintadas vinculadas ao lazer e materializadas no Grand Hotel e seu Cassino3.

Assim, entre os novos tipos edilícios surgidos na Europa do século XIX


(ZUCCONI, 2009) como as estações ferroviárias, os estabelecimentos industriais, as
galerias comerciais e lojas de departamento, estes equipamentos serão inseridos no
contexto de reformas urbanas modernizadoras das cidades brasileiras nas primeiras
décadas do século XX, como forma de incentivo ao turismo balneário, inaugurando
“novas sociabilidades urbanas”, que representariam “um capítulo importante na
história dos divertimentos sociais no Brasil”, conforme nos diz Valéria Lima Guimarães
(2000):

3 Surgidos no Brasil no período do Império, os cassinos foram postos na clandestinidade em 1917,


voltando a serem liberados por Getúlio Vargas em 1934. Proliferando a dezenas pelo Brasil,
funcionaram até 1946 quando foram mais uma vez proibidos pelo então presidente General Eurico
Gaspar Dutra (http://port.pravda.ru/cplp/brasil/29-06-2009/27334-cassinosbr-0/. Acesso 10/11/13).
213

(...). Os cassinos eram ambientes luxuosos voltados para atrair a fina flor da
sociedade nativa e os abastados turistas que visitavam as principais capitais
da nação, os balneários, serras ou nossas estâncias hidrotermais (...) onde
se instalaram importantes hotéis-cassinos. Dessa forma, esses sofisticados
complexos de diversão e lazer que conjugavam funções de entretenimento,
hotelaria e restauração proporcionaram a fundação ou deram um grande
impulso no desenvolvimento de muitos de nossos destinos turísticos.

No caso da Bahia, podemos citar como exemplo desse tipo de cidade balneária
(de “balnear”, relativo a banhos) aquelas de Cipó e sua Estação Hidromineral - “um
dos primeiros hospitais termais das Américas” (LAZERINI, 2009), construída em 1928,
a partir da permissão para a exploração industrial das suas águas termais – e a de
Itaparica, que mais próxima da capital baiana, passou na década de 1930 a constituir-
se também em local de veraneio, sobrepujando antigas áreas como Bonfim, Barra e
Rio Vermelho, que começaram a ter maior urbanização e a serem buscadas como
local de residência:

Itaparica” é hoje [1939] uma cidade em pleno desenvolvimento. "Estancia


hidro - mineral e balnearia". Possibilidade turisticas. Água milagrosa da Fonte
da Bica. Não tem igual. Grande consumo, que já se vai extendendo até outros
Estados. Ruas modernas, jardins interessantes, são o encanto de todos os
veranistas que desde Novembro enchem a maravilhosa ilha, todos os seus
povoados, até Caixa Prego, no extremo sul. (...) (Revista BAHIA: Tradicional
e Moderna, 1939. p.44 e 56)

Possuindo o privilégio de contar, além do mar da Baía de Todos os Santos,


com o atrativo medicinal de suas fontes hidrominerais e dos seus manguezais, para a
prática de banhos de argila (talassoterapia), a Ilha de Itaparica era procurada como
estação de cura e repouso, sendo a sua sede administrativa oficializada como
“Estância Hidromineral” em dezembro de 1937.

Durante o seu período áureo na década de 50, quando foi construído o “Grande
Hotel de Itaparica” (1954) que recebia grandes apresentações artísticas e por onde
circulavam ricos e famosos de todos o país, passou a ser conhecida como a “Europa
dos Pobres”, local onde se desfrutava de uma “nova socialidade” vinculada ao lazer e
ao turismo.

Então, como nas cidades termais francesas de Biarritz, Vichy e Aix-le Bains, os
“lugares para cura do corpo” (ZUCCONI, p. 167-196) no Brasil irão transformando-se
ao longo do século XX também em “cidades consagradas ao lazer” (IBID), como lugar
de encontro e diversão e não apenas de cura.
214

As orlas de Salvador distantes da área comercial foram desde o século XVIII


locais de práticas sociais ao ar livre como passeios, cavalgadas e os chamados
piqueniques. Descritos por Thales de Azevedo (2016, p. 24) como excursões “de
família, de parentela ou de amigos, colegas ou vizinhos a algum lugar aprazível, nos
arredores ou arrabaldes das cidades” os piqueniques eram realizadas geralmente aos
domingos ou dias santos entre o nascer e o pôr-do-sol , em locais abertos sombreados
por árvores como jardins e parques públicos (a exemplo do Campo Grande e Passeio
Público no século XIX) ou a beira-mar, na Barra, Rio Vermelho, e até na ilha de
Itaparica (Figuras 281 a 283) “em torno de uma área limitada de terreno marcada por
uma esteira ou pela vegetação rasteira, para conversar, cantarolar, comer e beber”.
Segundo Kátia Mattoso (1992, p. 444), outro lugar “muito escolhido para
piqueniques era a Vitória, que só na década de 1830 começou a ser mais habitada”,
passando então aquelas reuniões campestres a serem realizadas também nos jardins
dos novos palacetes, em uma extensão dos encontros nas salas de visitas ou jantar,
só que com menos formalidade.

Figura 281. Pintura retratando passeio à região da “Quintas da Barra” no início de século XX,
vendo-se o casario existente e o transporte feito ainda por charretes. (Fonte: “Bahia...Terra do “já-teve””
https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve , acesso 16 jun. 16)
215

Figura 282. Piquenique na Pituba, em 1911. (Fonte: “Bahia...Terra do “já-teve””


https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve, acesso 16 jun. 16)

Figuras 283 Piquenique em Mar Grande, na Ilha de Itaparica em 1913. (Fonte: Foto de Edward Carl
Greve, em escâner do geólogo baiano Rubens Antônio da Silva Filho. Acervo Particular. Disponibilizado
em 03 fev. 2017 )

4.2. O DESCANSO E O LAZER

“(...) A separação entre cidade e natureza instaurada pela cidade industrial


do século XIX teve consequências mais amplas, em particular, o
procedimento difuso de levar algumas atividades sociais para fora da cidade,
em lugares considerados próprios ao descanso e lazer. (...). Na segunda
parte do século XIX, a burguesia e a parte mais rica das classes médias
tinham começado a construir casas de férias em áreas externas à cidade e
frequentavam algumas estações termais ou balneárias famosas”. (SECCHI,
2009, p. 202).
216

Por motivos de saúde, de cura orgânica e/ou psicológica, por repouso ou


necessidade de afastamento da rotina diária de trabalho, consolida-se outra prática
social existente em Salvador desde o século XVIII, o veraneio, buscado “pelos
estamentos superiores da sociedade, pelos profissionais e altos funcionários públicos”
(AZEVEDO, 1988, p.10) em povoações periféricas ao centro da cidade, geralmente
no período de férias escolares, entre os meses de dezembro e fevereiro, a exemplo
daquelas do Rio Vermelho4 e da Barra no vetor sul e das existentes na península
itapagipana, ao norte, sobre o qual encontra-se a seguinte descrição de SIMAS FILHO
(Vol. 3, 1978):

“(...) No Natal e Ano Novo época em que da mesma forma que durante a
estação estival, o bairro se tornava o ponto preferido por todos. Há então
grande procura de casas e até as mais humildes ficam entulhadas de gente
da cidade que prazerosamente abandona suas residências para mudar de
ares e gozar das delicias de uma casa de campo. (...)”

A orlas da Ribeira (Figura 284), Bogari e Penha, entre outras, distantes 13 km


ao norte do centro da cidade e banhadas pela Baía de Todos os Santos, foram
ocupadas inicialmente por aldeias de pescadores e tornaram-se ao longo do século
XIX local de residência e veraneio das famílias de classe alta baianas, assim como
ocorreu no Bonfim, Praia Grande, Periperi, Itacaranha e em Escada, que antes da
Segunda Guerra Mundial (1938-1945) e até a década de 1950 quando começa a ser
ocupado por moradores de classe baixa, eram refúgios da burguesia industrial e
latifundiária de Salvador. (Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social
– CIAGS / EAdministração – UFBA. Delimitação de Bairros de Salvador.)

4O bairro do Rio Vermelho é contemporâneo da Barra (“Povoação do Pereira”) na ocupação litorânea


de Salvador no século XVI. A partir da sua relação fundacional com a “Aldeia dos Franceses” (localizada
nas imediações do atual Largo da Mariquita) onde os índios tupinambás, liderados por Caramuru
contrabandeavam pau-brasil com corsários franceses, tem uma história urbana semelhante à da Barra
se observarmos sua relação com o mar, usos como área de veraneio e residencial e por terem sido
ambos objetos de grandes transformações decorrentes do processo de modernização de Salvador
ocorrido a partir de meados do século de XIX.
217

Figura 284. Ribeira de Itapagipe em 1860. (Fonte: “Amo a História de Salvador”,


https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489
acesso 08 abr. 2014)

Assim, as antigas áreas de pesca e mariscada e de sítios produtores de


alimentos para consumo próprio ou abastecimento das capitais brasileiras do século
XIX, começarão a ter sua paisagem física e social alterada por aqueles veranistas5
que alugavam casas de moradores ou construíam outras – para descanso ou
tratamento de doenças – a exemplo do que acontecia nas praias por todo o país e
também nas montanhas (a exemplo de Petrópolis e Friburgo, no Rio de Janeiro), na
proximidade de fontes de água hidrominerais, como em Itaparica ou termais, como
em Caxambu, Minas Gerais ou na beira de rios, a exemplo de Recife, onde veraneava-
se em áreas rurais:

No Recife as casas grandes dos sítios com seu caráter rural, eram usadas,
sobretudo como casas de veraneio, nas quais os moradores, sem se
afastarem muito dos seus sobrados citadinos, iam passar as festas e tomar
banho de rio”. O gosto recifense pelas estações de banho parece ter se
iniciado já na segunda metade do século XVIII e o atual bairro do Poço da
Panela surgiu confirmando essa hipótese, quando em 1746 grassando uma
febre epidêmica em Pernambuco causando um grande número de vítimas,
“concluíram os médicos já em 1758, em vista do bom resultado colhido em
diversas experiências, que era de grande vantagem para debelar o mau uso
dos banhos do Capibaribe. (MELLO, 1978, “Canoas de Recife: um estudo de
micro história urbana”, Apud MELLO, 1991, p.85)

5Na Europa os membros da população flutuante e eventual de áreas frias (de inverno), no campo ou
montanhas, eram conhecidos como “invernistas”, enquanto que por todo o Brasil, os frequentadores
das águas quentes das praias do litoral eram denominados de “veranistas”, pois geralmente buscavam
ausentar-se da cidade para “veranear”, nos meses de dezembro a fevereiro, ou seja, no verão.
218

Em Salvador, à medida que a Península de Itapagipe vai se estabelecendo


como sede das indústrias baianas6 (Figura 285), construídas principalmente nas
proximidades da via férrea (Figura 286) e à beira mar (CARDOSO, 2011), o veraneio
e a moradia das classes abastadas deslocam-se cada vez mais em direção à
freguesia da Vitória, materializando assim a característica sócio espacial que a
configurava como “primeira área tipicamente proletária de Salvador”, uma vez que
concentrava entre 1870 e 1930, 48% das habitações de baixa renda de Salvador
(CARDOSO, 1991, p.84), dado que seria incorporada no zoneamento feito pelo Plano
Urbanístico do EPUCS (1943) no qual a área era classificada como “Zona de Uso
Misto, entre Residencial Satélite e Industrial”(ibid.).

Figuras 285 e 286. “Empório Industrial do Norte” e Estação ferroviária da Calçada em 1912
(Fontes: [DCFH - Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS e [Centro de Estudos da
Arquitetura Baiana], em CARDOSO 2011)

E se os melhoramentos do início do século XIX se concentraram na área do


Comércio e em direção ao vetor norte, o mesmo continuará recebendo intervenções
urbanas ao longo do oitocentos e primeira metade do XX, que viabilizaram a sua
função industrial, a ligação com o centro da cidade - sendo aí instalada como vimos
as primeiras linhas de bonde (Figura 287) - e embelezaram sua orla (figura 288), assim
como aconteceu na Barra ao longo das Avenidas Sete de Setembro e Presidente
Getúlio Vargas.

6 Além dos moinhos, serrarias, curtumes, fundições e dos estaleiros, as fábricas implantadas na
Península de Itapagipe entre o final do século XIX a meados do XX totalizaram 112 entre as quais
encontravam-se aquelas indústrias têxteis, de sabão e velas, calçados, algodões medicinais, cal,
fósforos, caixas de papelão, pregos, móveis, vidros, ladrilhos, de beneficiamento de fumo (charutos e
cigarros), de cacau e de borrachas, produtos alimentícios como pão, café, chocolates e bombons,
bebidas, conservas e doces (CARDOSO, 2011) Entre as fábricas nessa localidade é importante
referenciar a de Luiz Tarquínio, “Companhia Empório Industrial do Norte” (e sua Vila Operária), a
“Companhia Progresso”, a “Fábrica Paraguaçu” e a fábrica de vidros e cristais “Fratelli Vita”.
219

Figuras 287. Ribeira nos tempos ainda de veraneio, no final do século XIX, vendo-se o trilho do
bonde que até lá chegava. (Fonte: “Bahia, História e Encantos, em Amo a História de Salvador”
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/
Acesso jan. 2017)

Figura 288. Orla da Ribeira, na região conhecida como “Enseada dos Tainheiros”, na década de
1940 e onde foi construído em 1939 o Hidroporto, primeiro aeroporto de Salvador (Fonte: “Amo a
História de Salvador” https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-
729832370389489/ Acesso jan. 2017)
220

Ao tempo que Itapagipe vai se adaptando a um novo uso e população


relacionados com a indústria e os bairros do Canela, Vitória e Graça vão consolidando
seu uso residencial, a Barra permaneceria ainda até o último quartel do século de XIX
com uma ambiência de local de veraneio (Figura 289):

“Do outeiro de Santo Antônio rumo sul, a vista se espraia pelo Porto da Barra
e ruas adjacentes, abarcando-as de relance, ao fortim de Santa Maria e à
entrada da própria barra com o forte - farol da antiga pontado Padrão e a ilha
de Itaparica, do outro lado. São esses os limites extremos da paisagem. Claro
que o mar riscado de múltiplos caminhos e de alguns saveiros está presente.
(...). Na fralda do outeiro, o revelim São Diogo como que vela, desse recanto,
a restinga onde querem alguns historiadores, teria nascido Vila Velha. Mais
abaixo, indo sempre à esquerda, a curva da praia espreguiça-se até os
arrecifes de Santa Maria, com a fortificação que lhe monta. (...) no atual largo
da Barra, o estendal verdoengo é de capim; além, pelas vertentes dos morros
suavemente sucedendo-se, crescem árvores de um verde escuro, que
também descem aos quintais. E no vale, na tarde em declínio, a
contemplação de uma paisagem impregnada de silêncio, isenta de vozerio
desumano, de músicas banais, de construções grotescas, e de quantos
prejuízos, aviltantes e mortais, viriam de roldão com o progresso.
Objetivamente, notar, no quadro em mira, a ambiência de arrabalde para
veraneio, com as ruas por acaso alinhadas paralelamente, e as casas, todas
térreas, mostrando telhados de duas águas a parecer que se curvam na
borda dos beirais”. (Godofredo Filho, em REBOUÇAS, 1979, p.50) (o grifo é
nosso)

Figura 289 “Porto da Barra, visto da Igreja de Santo Antônio”, último quartel do século XIX, em
pintura de Diógenes Rebouças (Fonte: REBOUÇAS, 1979, página 51)
221

E mesmo nas regiões onde eram construídas casas de moradia, a exemplo da


“Quintas da Barra” a que já nos referimos, essa configuração de “arrabalde de
veraneio” ainda demorará a ser alterada, permanecendo por muito tempo as áreas
litorâneas da Barra buscadas para realização de atividades de lazer (familiares ou
coletivas) que seriam viabilizadas pela gradativa melhoria do transporte público por
bonde e/ou pela circulação dos primeiros automóveis, como se apreende dos textos
relativos ao ano de 1905 de Hildegardes VIANNA (1983, p.35):

Porém o clímax foi a missa campal realizada na Quinta da Barra, (...). Missa
seguida de um pequenique. O comércio não abriu neste dia. O povo se
espalhou do Camarão ao Farol da Barra. Para se avaliar a quantidade de
gente que foi até lá, registramos o movimento de 23.482passageiros nos
bondes da Linha Circular, sem incluir os que trafegaram em carros
particulares, inclusive a partida especial de 10 bondes”. (...) “O carro,
acessível em outras cidades, entre nós era considerado luxo. Quem nas
cerimônias ditas protocolares usava e abusava do carro dava provas de
lordeza. Fora destas ocasiões demonstrava pedantismo ou prodigalidade.
Pois se havia o bonde tão gostoso, tão pitoresco, que até servia para
autoridades visitantes darem belos passeios aos arrabaldes. Sem querer falar
no bondinho sem teto que entrava em ação nas noites de lua, levando as
famílias até a Barra para um passeio espairecedor. Se andar de bonde era
novidade, avaliem o resto.

A medida que as Avenidas Sete de Setembro (1915) e sua continuação na


Getúlio Vargas (1923) foram sendo inauguradas começou-se a observar também a
prática do footing - “passeio das damas e mocinhas da “sociedade” pela avenida Beira-
Mar”, (AZEVEDO, OP. CIT. p.25) - que já ocorria no Centro de Salvador na elegante
Rua Chile e de outras atividades relacionadas a praia, como a simples contemplação
do mar (Figura 290), ao tempo que eram também construídos equipamentos públicos
de lazer no Largo do Farol da Barra (Figuras 291 e 292), ponto final das linhas de
bonde desde o último quartel do século XIX e local de encontro dos soteropolitanos
para atividades ao ar livre e para participação em festividades, conforme
mencionamos anteriormente.
222

Figura 290. Espécie “guarda-sol” (para contemplação da praia) na “Quintas da Barra” no início
do século XX. (Fonte: Em “Salvador... tempos passados!
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ Acesso 24 jan. 2017)

Figura 291. Largo do Farol da Barra e seu coreto (em cimento armado), no gramado do Forte de
Santo Antônio da Barra, por volta de 1924. (Fonte: Fototeca do CEAB/UFBA, acesso década de 1990)
223

Figura 292. Equipamentos públicos de lazer no Largo do Farol da Barra em 19224. Vendo-se ao
fundo palacete eclético construído à beira mar na orla da Baía de Todos os Santos. (Fonte: Em “Amo
a História de salvador by Louti Bahia, https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-
By-Louti-Bahia-729832370389489/ acesso em 27 abr. 2014)

Cabe ressaltar, que as práticas sociais anteriormente mencionadas (pic-nic,


footing e veraneio) foram até os anos 1930 hábitos de uma minoria rica ou burguesa
que podia se dar ao luxo do “descanso” do trabalho (no caso de comerciantes,
funcionários públicos ou industriais) ou simples “ócio”, pois segundo GRAEFF (1979,
p.107), durante muito tempo a ideia de lazer esteve “sobrecarregada de significados
negativos, que lhe atribuíam as classes ricas", sendo considerada “prática condenável
e até mesmo pecaminosa" em se tratando do trabalhador, que “deveria ser mantido
sempre ocupado para que não se fosse embriagar na taberna ou ficasse por aí
vagabundeando e nutrindo maus pensamentos”. Logicamente que por trás dessas
ideias havia razões econômicas ligadas a produtividade, uma vez que era então o
trabalhador livre o pilar da acumulação de capital da burguesia, comercial ou
industrial, assim como os escravos foram a base da economia colonial.

E se por um lado o reconhecimento legal da jornada de trabalho de no máximo


8 horas (1918) foi um ganho importante depois de muita luta, por outro o “não-trabalho”
(ROLIM, 1989, p.40) e o direito ao lazer - aquele ““vazio" improdutivo, que se aceita
com o objetivo de restaurar as forças dos operários afim de que possam continuar
trabalhando, produzindo e gerando lucro” (IBID, p. 51) – não só garantia a
224

produtividade, como criava um novo mercado de investimento de capital no Brasil,


entre os quais o “turismo de massa” (BOYER, 2003). Assim, ao mesmo tempo que os
espaços públicos e as praias vão sendo ocupados por uma maior parcela da
população, as elites soteropolitanas passarão a auto segregar-se em clubes
exclusivos onde realizavam suas festas (garden-party) e solenidades, disputavam
partidas de britch ou praticavam esportes como o tênis, natação e vela. São exemplos
desses espaços burgueses em Salvador localizados na área de estudo o “Clube
Baiano de Tênis” (1916) (Figura 293), o “Yatch Club da Bahia” (1935)7 e “Associação
Atlética da Bahia” - existente em 1924 quando da visita de Umberto de Savoia,
príncipe herdeiro do trono alemão e que parece ter sido reconstruído em cerca de
1941 pelo Arquiteto Diógenes de Almeida Rebouças (1914-1994) - construídos
respectivamente na Graça, no início da Avenida Princesa Isabel, na Rua Barão de
Itapuã nas imediações do Porto e na enseada entre os outeiros da Vitória e de Santo
Antônio da Barra, abaixo do Cemitério dos Ingleses na Ladeira da Barra.

Figuras 293. Sede do Clube Baiano de Tênis na década de 1940, na Avenida Princesa Isabel, vendo-
se ao alto a direita a Igreja da Graça (Fonte: “Bahia, Histórias e Encantos, em
https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ ,
acesso em 27/04/2014)

7 Com o objetivo de criar um espaço para construir e guardar barco e depois como referência em
esportes náuticos, como vela, natação e pesca, em 23 de maio de 1935 é fundado o Iate Clube da
Bahia, após os estrangeiros, Jean Charles Henry Fischer, Theodoro Selling Junior, Alexandre Robatto
Filho e Walter Taube comprarem da empresa portuguesa “Alves Pereira & Cia” a fábrica de xales
desativada à beira-mar, sendo sua piscina inaugurada em 17 de julho de 1938, “com a bênção do
Arcebispo Dom Augusto Álvaro da Silva”. (http://yachtclubedabahia.com.br/o-yacht acesso 01/08/16)
225

A praia, inicialmente temida e depois usufruída apenas de forma contemplativa


(Figuras 294 a 296), passará a ser buscada nos primeiros anos do século XX, também
como lugar de banhos de mar (recreativos e não mais curativos), hábito visto
inicialmente pelas elites como “uma distração imoral, própria de um povo sem
educação” (CORBAIN, 1989, p.71) mas que se consolidará como a forma de lazer
mais acessível no Brasil, sendo por isso também explorado comercialmente.

Figuras 294 e 295. Praias do Rio de Janeiro na década de 1920, observando-se na segunda foto a
presença de algumas pessoas em “trajes de banho” sentadas na areia e no mar, ao lado de outras
formalmente vestidas, denotando a convivência de dois hábitos de lazer em um mesmo espaço. (Fonte:
Internet. Fotografias publicadas por Jorge Moutinho no Grupo “Fotos Antigas de Todas as Regiões
Brasileiras”, acesso em 25 mar. 2016)

Figura 296. Praia da Barra, 1923. Observar os trajes da moça, indicando o uso da praia como local
de contemplação e não como de banho-de-mar. Ao fundo, o Forte de santo Antonio da Barra. (Fonte:
Internet. Face book, página de Lika Muniz, original não identificado, acesso 30 nov. 2017)
226

Em Salvador podemos citar como exemplo dessa afirmação a solicitação feita


à Diretoria de Obras do Município em 18 de agosto de 1906 pelo Sr. Augusto Pereira
Morais relativa a instalação e exploração de barracas de praia (com projeto J. Barroso)
na Barra e no Rio Vermelho (Figura 297), provavelmente semelhantes aquelas
existentes no Rio de Janeiro (Figura 298): “(...) com o objetivo de estabelecer, durante
as estações balneares (...) barraquinhas de madeira, sem alicerce, para serviço dos
banhistas, que quizerem dellas se utilizar mediante um modico aluguel, que lhes dará
direito a lavagem, guarda e concerto das respectivas roupas (...)" (MIII GA 0299.
Arquivo Municipal de Salvador, 1992)

E se no século XIX a frequência na praia era de manhã muito cedo, de forma


“individual ou em pequenos grupos discretos, evitando um pouco serem vistos ou se
exporem ao olhar de estranhos e desconhecidos” (AZEVEDO, 1988, p. 10; 2016, p.
35) no início do século XX começa a surgir um “mercado da praia” que passará a ser
explorado comercialmente, através do aluguel de barracas e venda de roupas e
acessórios (Figuras 299 e 300) e também pelas concessionárias do serviço de bondes
que além dos passeios “turísticos” para os arrabaldes (Figura 301) criarão na década
de 1930 uma linha de bonde exclusiva para banhistas, partindo do centro até a Barra
(ibid., p. 15) denotando a lucratividade no atendimento a demanda cada vez maior de
acesso as orlas daquele bairro (figura 302).

Figuras 297 e 298. Projeto de barracas de praia em Salvador, entregue para aprovação em
18/08/1906 e barracas de praia para troca de roupas existentes no Rio de Janeiro em 1923. (Fonte:
Projeto de barracas de praia entregue para aprovação em 18/08/1906. Croquis do Arquiteto Márcio
Campos em ficha de pesquisa “Projetos de Construção e Reforma depositados no Arquivo Municipal
de Salvador”. 30/06/1992 e imagem da internet / Face book (n/id)
227

Figuras 299 e 301. Banho de mar na Baía de Todos os Santos em 1915, na praia, nas Pedreiras
[entre a Conceição e o Unhão]; Publicidade de roupas e cabaças usadas como cantil de água ou boia,
anúncio de roupas e acessórios para os banhos de mar em Salvador em 1937 e bondes especiais
para lazer e turismo em 1925 em recorte de jornal soteropolitano. (Fonte: "Terra do 'já-teve'". Acesso
07 mar. 2016; “Populares de A Tarde”. Jornal “A Tarde” microfilmado, 20/11/1937. Biblioteca Pública
do Estado da Bahia em 01 dez. 2015 e postagem de Rubens Antônio no Face book em Acesso
07/03/16)
228

Figura 302. Publicidade do Bonde exclusivo para banhistas Centro-Barra em 1930. (Fonte:
AZEVEDO, 1988, página 15)
229

Diante do aumento da frequência na praia e dos banhos-de-mar (Figuras 303


e 304) o governo através da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia ,na
Portaria de 10 de dezembro de 1936 (DOU 24 de setembro de 1937 em “Bahia... Terra
do Já teve”, acesso 24 jun.2017), procurou disciplinar o uso das orlas em Salvador,
definindo tanto as praias propícias – “Amaralina, Rio Vermelho, Ondina, Barra,
Jaqueira, Unhão, Canta Gallo, Bôa Viagem, Mont`Serrat, Porto do Bomfim, Poço
(Bogary), Penha e Porto dos Tainheiros” - como zelando pela segurança dentro do
mar, além de criar restrições para a presença de animais e “esportes terrestres” na
areia, sendo também proibida a circulação de banhistas “sem camisas na via pública
(isto é ruas e passeios)” ou seu “estacionamento” em amuradas ou balaustradas, o
que denota que a sociedade soteropolitana não tinha ainda de fato se “modernizado”
em relação àquela forma de lazer e que a mesma continuava causando tanto
constrangimento, quanto no tempo dos ingleses do século XIX, “que com tais práticas
ainda mais faziam crescer a sua fama de excêntricos (AZEVEDO, 2016, p. 35).

Figura 303. “Mulheres de tradicional família baiana na Praia do Porto da Barra”, década de 1920.
(Fonte. “Salvador...tempos passados! ” https://www.facebook.com/groups/475176305884533/ acesso
16 mar. 2017) (Fonte. RIBEIRO, Heraldo Lago. “Salvador...tempos passados! ” Página administrada
pelo Historiador Heraldo Lago Ribeiro. 7 de junho de 2016 · (acesso 16/03/17)
230

Figura 304. Grupo de banhistas, crianças e adultos na Praia do Porto da Barra”, década de 1920.
Reunidos para competições esportivas e um banho de mar, a convite do “Grupo Náutico da Barra”.
(Fonte. CADENA, Nelson. “Domingo na Barra. 24 de setembro de 2012”,
http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2012/09/24/domingo-na-barra/ Acesso em 23 ago.
2017

Assim, enquanto a península de Itapagipe se “proletarizava”, atraindo para lá


as fábricas8 e os seus trabalhadores, a Barra se “aburguesava” - afastando da beira-
mar os antigos moradores (pescadores e roceiros) e deslocando a prática do veraneio
para áreas cada vez mais distantes do processo de urbanização do litoral, que atingiria
Ondina e Rio Vermelho, após a construção da Avenida Getúlio Vargas (Figura 305).

A orla da Barra, a partir dos anos 1930, passará a atrair cada vez mais, os mais
altos estamentos da sociedade soteropolitana que lá construirão suas residências, ao
tempo que verá gradativamente, ser consolidada o uso das suas praias para o lazer
de todo e qualquer integrante da população que tivesse acesso ao bonde, em um
processo urbano muito semelhante ao da ocupação de Copacabana no Rio de
Janeiro, como analisaremos a seguir.

8 Sobre a industrialização e transformações espaciais na península de Itapagipe do fim do século XIX


e meados do século XX, consultar Luiz Antônio Fernandes CARDOSO, em “Entre vilas e avenidas:
habitação proletária em Salvador na primeira república”, FAUFBA, 1991 e CARDOSO, C. R. C.
Arquitetura e Indústria: A Península de Itapagipe como sítio industrial da Salvador Moderna. 1897-1947.
2004. (Dissertação de Mestrado em Teoria e História da Arquitetura da Escola de Engenharia de São
Carlos / USP), aqui referenciada como artigo com o título “As fábricas na península Itapagipe como
sítio industrial da Salvador Moderna”.
231

Figura 305. Veraneio na Pituba em 1920, em manchete de jornal. (Em “Bahia...Terra do “já-teve”
https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve Acesso em 12 ago. 2017)

4.3. DUAS CAPITAIS, DOIS MARCOS E UM ÚNICO OCEANO

Além de questões concretas de insalubridade do centro da cidade, da


propriedade do solo das áreas periféricas nas mãos das camadas mais alta da
sociedade e do uso da infra estruturação do espaço (abertura de avenidas e
implantação do transporte público) para motivar e viabilizar a aplicação do capital nos
mercados fundiário e imobiliário, os bairros de Copacabana e da Barra tem suas
histórias urbanas também vinculadas a construção de dois elementos de forte impacto
na paisagem das suas orlas atlânticas e que materializaram em última análise a
articulação entre o capital público e o privado no processo de modernização que se
deu a partir do início do século XX.
232

Inaugurados com 20 anos de diferença, o Hotel Copacabana Palace e o Edifício


Oceania (Figuras 306 e 307) funcionaram como “catalisadores urbanos” (ZUCCONI,
p.114), como elementos indutores de ocupação humana – como já haviam sido as
igrejas e fortificações no período colonial e as estações de trem e fábricas ao longo
do século XIX – e de mudança da configuração física e social das áreas onde foram
construídos (Figuras 308 e 309).

Figuras 306 e 307. O Edifício Oceania, em Salvador e o Copacabana Palace Hotel, no Rio de
Janeiro. (Fontes http://salvador-circuitobarra.blogspot.com.br/2010/04/o-gabarito-de-nossa-orla.html
acesso 09/09/2013) (original em cor) e https://www.google.com.br/search?ie=UTF-
8&q=copacabana+palace&fb=1&gl=br&hl=pt-
BR&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=li&biw=1366&bih=624&sei=AMItUqLgD5Gc9QSF2ICACg#facrc
=_&imgdii=_&imgrc=VARqXRlQcBpWEM%3A%3BBiD1D-
FEzBHfeM%3Bhttp%253A%252F%252Ffarm4.static.flickr.com%252F3118%252F3238780715_e8b55
fb9c3.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.flickriver.com%252Fphotos%252Frbpdesigner%252F323
8780715%252F%3B500%3B375, acesso 09/09/2013).

Figuras 308 e 309. Impacto na paisagem das construções nas orlas atlânticas de Salvador e do
Rio de Janeiro do Edifício Oceania (década de 1940) e do Copacabana Palace Hotel (década de
1920). (Fontes: http://ama2345decopacabana.wordpress.com/planejamento-urbano/processo-de-
urbanizacao-em-copacabana/
233

Como em Salvador, a sociedade carioca passava por grandes transformações,


estabelecendo novos padrões de comportamento e vida saudável, representados em
Copacabana na prática dos banhos-de-mar e do veraneio e já no início do século XX,
ao lado do uso residencial que começava a se consolidar, na criação de um mercado
de lazer de luxo expresso na construção de hotéis e cassinos, a exemplo do Cassino
Atlântico (Figuras 310 e 311) e do Copacabana Palace, ambos construídos na década
de 1920, na Avenida Atlântica.

Figuras 310 e 311. Cassino Atlântico (fachada e vista aérea) na década de 1930, localizado na
Avenida Atlântica, Rio de Janeiro. (Fontes: http://copacabana.com/cassinos-em-
copacabana/#.UoYyjMQ3vfI e http://copacabana.com/cassinos-em-copacabana/#.UoYyjMQ3vfI
(acessos em 13 nov. 2013)

Importante mencionar que Copacabana até final do século XIX era um grande
areal, uma estreita faixa de terra apertada entre o Oceano Atlântico e as montanhas
do litoral carioca (Figura 312) e de acesso muito difícil, sendo necessário para lá
chegar, transpor ladeiras íngremes e tortuosas, a pé ou em antigas carroças, que
atendiam aos poucos banhistas ou hóspedes da casa de saúde do Dr. Figueiredo de
Magalhães (CARDOSO, 1989, p.94)

A efetiva integração do bairro com o restante da cidade se dará depois da


abertura em 1892 do “Túnel Velho” (Figura 313) ligando o bairro a Botafogo e
posteriormente, do Túnel do Leme aberto em 1906 e por onde passarão a circular na
Avenida Copacabana (Figura 314), a linha de bondes da Companhia Ferro-Carril
Jardim Botânico. A Botanical Garden Rail Road que monopolizava o transporte de
234

carris do centro do Rio para a zona sul, até Botafogo, foi a responsável direta pelo
insucesso de outras empresas em explorarem o transporte para Copacabana.
(CARDOSO, 1989), sendo a ganhadora de intensa batalha judicial que durou 20 anos
com outras duas outras pretensas concessionárias do serviço, a Empresa
Copacabana (1872-1880), do Conde de Lages e Francisco Teixeira de Magalhães e
a Duvivier & Companhia (1883- 1890), de Alexandre Wagner, proprietário de terras na
região e antigo sócio daquela outra malograda empresa (CARDOSO, 1989).

Figuras 312 e 313. Areal de Copacabana em 1890 e a abertura do Túnel Velho em 1892. (Fontes:
http://ama2345decopacabana.wordpress.com/planejamento-urbano/processo-de-urbanizacao-em-
copacabana/ e http://ama2345decopacabana.wordpress.com/planejamento-urbano/processo-de-
urbanizacao-em-copacabana/)

Figuras 314. Avenida Copacabana, em 1906 (à direita da foto), observando-se (à esquerda) o trecho
de orla onde seria aberta a Avenida Atlântica e construído o Copacabana Palace. (Fonte: DECOURT,
Andre. Copacabana, mudanças urbanas de 1906 – 1922. Em
http://www.rioquepassou.com.br/2007/04/09/copacabana-mudancas-urbanas-de-1906-1922/ (postado
em 09/04/2007). Acesso em 13 nov. 2013)
235

Semelhante a Salvador, a exploração do transporte por bonde para


Copacabana teve estreita ligação com a infra estruturação do espaço, com o mercado
de terras, concessionárias de transporte e Empresas de Construções Civis,
responsáveis por arruamentos na região desde 1891 (CARDOSO, 1989), podendo ser
citado como exemplo Alexandre Wagner, grande proprietário de terras em
Copacabana, que foi sócio da “Empresa Copacabana” e dono da “Duvivier e
Companhia”.

Essa articulação entre tantas esferas de serviços públicos e interesses privados


ainda teve como componente a vinculação da área de Copacabana a uma outra forma
de investimento, o turismo balneário, como podemos apreender dos textos a seguir:

“(...). Desde 1872, o mordomo da casa imperial – Conde de Lages - e o Dr.


Francisco Teixeira de Magalhães pleiteavam o privilégio pelo período de 50
anos e outras vantagens para estabelecer na costa de Copacabana
“edificações apropriadas para banhos e um novo arrabalde ligado ao centro
da cidade por carris de ferro por tração animada. [Sic] ” (CARDOSO, p.91) (O
grifo é nosso).
“(...). Finalmente, a 4 de novembro de 1874, pelo decreto n° 5.785, o Conde
de Lages e o Dr. Magalhães receberam a concessão para implantar a linha
de carris para Copacabana, onde também deveriam estabelecer uma estação
balneária e diversas edificações. (...) (CARDOSO, p.92) (o grifo é nosso).
“(...) Duvivier & Cia assinaram contrato com a municipalidade, no dia 28 de
março de 1883, “para construção, uso e gozo, durante 30 anos, de uma linha
de carris de ferro por tração animada [sic] ligando o centro da cidade às praias
da Saudade e de Copacabana” (BERGER, Paulo e Eneida. História dos
Subúrbios: Copacabana. Prefeitura do Distrito Federal, s/d, p.55, apud
CARDOSO, p.96). Pelo contrato, a linha não poderia correr paralela aos
trilhos da Companhia Jardim Botânico, salvo acordo, e os concessionários se
obrigavam a fazer diversos melhoramentos na cidade e a manter, durante o
prazo de concessão um estabelecimento balneário em Copacabana”
(CARDOSO, p.96) (o grifo é nosso).

Dessa relação entre o centro antigo e a periferia, no que diz respeito mais
diretamente a materialização de novas formas de economia, expressa na concessão
das linhas de bonde (ao invés de trens), na aplicação do capital imobiliário e na
implantação de áreas de lazer de luxo, o exemplo de Copacabana vai ao encontro do
que ocorreu em outras cidades europeias do século XIX, na sua relação com o mar,
a exemplo de Nice, como nos diz ZUCCONI (p. 27):
236

“(...) Nice pertence a categoria de cidade beira-mar, mesmo não pertencendo


àquelas interligadas ás rotas comerciais. Com essas últimas, porém, ela tem
em comum uma tendência de expansão que se afirmar prevalentemente na
segunda metade do século XIX quando, graças ao trem, começam a fazer
parte, de maneira constante, de uma rede de relações à longa distância. A
estrada de ferro teve, de fato, um papel muito importante, mesmo que a
posteriori aqui como em outros lugares, o sucesso tem como base a
interligação ferroviária, a qual, por sua vez, contribuirá na sua expansão
quantitativa. Neste caso, antes se cria a demanda, que será satisfeita
somente após a implantação do sistema de transporte; esse último, portanto,
não é o fator primário de crescimento. Tanto as cidades portuárias como as
ville d´eau se consolidam, no decorrer do século XIX, segundo uma precisa
fisionomia, ao ponto de tornarem-se eficazes testemunhas do próprio tempo.
Todos os novos centros de água do Mediterrâneo compartilham mais tarde,
de uma característica dualística comum: a nova cidade comercial e
residencial normalmente realizada em uma região plana, não tem nada em
comum com o velho núcleo marítimo, com seu aspecto labiríntico e
mediterrâneo, que deu o nome à implantação ” (Os grifos são meus)

De autoria do arquiteto francês Joseph Gire, o hotel Copacabana Palace, de


propriedade (até 1989) da família Guinle residente no Rio de Janeiro, foi inspirado no
Hotel Negresco (1913) de Nice e no Carlton (1911) de Cannes9, contando além dos
quartos, com recepção, restaurante, salão de festas, sala de espetáculos e salões de
jogos do cassino, rouparia dos funcionários, padaria, pâtisserie, adega, áreas de
serviço (depósitos de bagagens e de água quente), terraços, sala de banquetes,
cabelereiro, cômodo para “guarda talheres”, teatro com camarotes e “galeria de
comunicação entre o hotel e o cassino” (http://oglobo.globo.com/rio/as-plantas-
originais-do-copacabana-palace-8496314), em programa arquitetônico semelhante ao
do “Edifício Oceania na Barra”, onde os quartos foram substituídos por unidades
residenciais unifamiliares, como veremos mais adiante.
Assim como a construção do hotel da família Guinle em Copacabana esteve
em imbricada relação com a concessão de transporte público e com o mercado
fundiário e imobiliário, onde estiveram envolvidos o governo e particulares, é relevante
mencionar caso semelhante ocorrido em Salvador nesse processo de ocupação da
orla oceânica que, além de ter relação com a propriedade de terras, como aconteceu
na modernização da Barra, dizia respeito ao lazer balneário e a aprovação pela Lei
Municipal de N° 142 de 21/05/1895 do loteamento “Cidade Balneária das Ondinas”
(no atual bairro de Ondina) no mesmo dia em que uma outra lei licenciava o loteador

9 O Hotel Copacabana Palace apresentava no desenho original da sua fachada três cúpulas, que,
entretanto, não chegaram a serem construídas, assim como vários ornamentos clássicos que foram
retirados na década de 1940, em uma tentativa de modernização exterior.
237

Sr. Bibiano Ferreira Camposo a explorar uma linha de bonde que serviria ao balneário.
(SALVADOR, Leis e Resoluções do Conselho Municipal da capital do Estado da Bahia
do Anno de 1895. Salvador Litho-Typographia Tourinho, 1900. p.31/2. APUD.
ALMEIDA, 1997, p.142)
Cabe lembrar ainda a presença da Família Guinle em Salvador e a continuação
por ela dos investimentos em transporte público, de obras viárias e de construção civil,
a partir de sua instalação em terras baianas em 1883, sendo responsável entre outras,
por ações que interferiram na estrutura urbana da Barra, quais sejam exploração das
linhas de bonde em direção ao vetor sul através da propriedade da “Linha Circular de
Carris da Bahia” e da “Trilhos Centraes”, responsável pelo “Bonde da Barra” e abertura
da Avenida Sete de Setembro (1916) através da sua “Companhia de Melhoramentos
da Bahia” que em parceria com o governo consolidaria a ligação da Barra e por onde
circularia o bonde (N°2) até a altura do Farol da Barra em trajeto ampliado quando da
conclusão da Avenida Presidente Vargas na sua orla oceânica.
E é dentro dessa lógica de articulação entre o governo e a iniciativa privada e
de implantação de equipamentos “indutores” de ocupação do território e de
valorização de terras, que se construirá o Edifício Oceania entre 1937 e194310.
Implantado na “esquina” entre as orlas do Oceano Atlântico e da Baía de Todos
os Santos, no local conhecido como Largo do Farol da Barra, foi construído utilizando
novas tecnologias e materiais importados, tendo seu projeto arquitetônico sido
elaborado em 1937 pelo escritório carioca “Freire & Sodré”.
Construído pela empresa baiana “Cia. Brasileira Imobiliária e Construções S/A”,
dos engenheiros Carlos Costa Pinto de Pinho, Frederico Espinheira de Sá e o
arquiteto Arezio Fonseca (Inventário DOCOMOMO-Brasil/Arquivo PPGAU-UFBA/
2007 in: acesso 03/05/14), demorou bastante tempo até ser inaugurado, muito
provavelmente em virtude dos problemas causados pela Segunda Guerra Mundial
(1938-1945) que entre outros aspectos, inviabilizou a importação de produtos para

10 Não há unanimidade entre autores pesquisados acerca das datas do projeto, período de construção
e data de Inauguração do Edifício Oceania. Segundo Lígia Lacher GALEFFI (2004, p.47) o período
entre a elaboração do projeto e a inauguração foi entre 1932 e 1942. Para BIERRENBACH (2011) e
para o Guia de Arquitetura e Paisagem de Salvador e BTS (2012) foi inaugurado 1944, sendo o Início
do projeto em 1937 (aproximadamente) e das obras em 1939 (BIERRENBACH, 2014). Já segundo
material de divulgação do IPAC, órgão responsável por seu tombamento provisório (em 2008) o edifício
foi inaugurado em 10 de agosto de 1943 (data que ostenta hoje na sua fachada), tendo projeto
arquitetônico datado de 1932, elaborado pelo escritório Freire & Sodré, começando a ser construído
em 1936. (Publicação de 01/06/2010. Em http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/em-acao-inedita-ipac-
promove-tombamentos-de-predios-modernistas-e-art-deco-na-bahia. Acesso 24/02/2017
238

sua construção como o “cimento Portland”, então fundamental para a execução da


estrutura em concreto armado.
. Com 12 andares e em estilo Decó, o “Edifício Oceania” era destinado a atender
uma clientela da sociedade baiana com alto poder aquisitivo e que não tinha rejeição
ao novo estilo de residência plurifamiliar inaugurado pelo pioneiro Edifício Dourado
localizado na Graça.
De uso misto, além dos seus 48 apartamentos residenciais - distribuídos nos
08 pavimentos superiores, com dois, três e quatro quartos, desenvolvidos em torno
de um pátio central e todos com vista para o mar (Figuras 315 a 319) - subsolo,
garagem e 05 elevadores, tinha ainda na proposta original, loja, sobreloja e auditório,
cinema, casa de chá e restaurante e um cassino em dois pisos, interligados por
escada em espiral, que entretanto não chegou a funcionar em virtude da proibição do
jogo no Brasil em 1946. (http://www.portalradioreporter.com.br/2015/10/30/ipac-
aprova-projeto-de-reforma-do-edificio-oceania-em-salvador/30 de outubro de 2015.
Enviado por Márcio Correia Campos. Acesso em 31. 11. 15).
Notabilizado por ter sido um dos primeiros edifícios a utilizar concreto armado
e a possuir grande altura, sendo por isso considerado na época da sua construção
como o “primeiro arranha-céu da Bahia”11 (Publicação: 01/06/2010. Em
http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/em-acao-inedita-ipac-promove-tombamentos-de-
predios-modernistas-e-art-deco-na-bahia. Acesso 24/02/2017), o “Oceania” possui,
apenas três fachadas sendo a quarta “cega”, o que nos leva a supor que a sua
implantação (ocupando todo o lote de antiga residência) levava em conta um
desenvolvimento urbano da orla oceânica de Salvador, semelhante àquela de
Copacabana e sua Avenida Atlântica, com altos edifícios geminados, de frente para o
mar, o que de fato nunca aconteceu.

11 O Oceania possui a mesma altura do Edifício Comercial “Sampaio Moreira” inaugurado em 1924 no
vale do Anhangabaú em São Paulo, em estilo eclético e de autoria dos arquitetos Christiano Stockler e
Samuel das Neves. Com 50 metros de altura figurou como o mais alto edifício da cidade de São Paulo,
até a inauguração do Edifício Martinelli em 1929, que foi “considerado o “protótipo” dos arranha-céus
de São Paulo, erguido em uma época em que os edifícios da cidade possuíam no máximo quatro
pavimentos. (ARQUITETURA DE SÃO PAULO 30/11/14. "Um gigante de 12 andares em 1924!" (Em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_Sampaio_Moreira)
239

Figuras 315 e 316. Edifício Oceania visto do farol da Barra e da Avenida Marquês de Caravelas,
observando-se a quarta fachada em “parede cega” (Registro fotográfico em 04 dez. 2014 e 18 nov.
2015. Arquivo Pessoal)

Figura 317. Fachada Leste do Edifício Oceania, observando-se a quarta fachada em “parede cega,
subtendendo possível verticalização da orla atlântica da Barra, a exemplo do ocorrido com
Copacabana, Rio de Janeiro (Registro fotográfico em 18 nov. 2015)

Figuras 318 e 319. Poço interno do “Edifício Oceania” em 2008 e 2010 (Fonte: Foto de Roberto
Nascimento / IPAC. C. 2008, em http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/bem/edificio-oceania/# e
http://salvador-circuitobarra.blogspot.com.br/2010/05/claraboia-do-ed-oceania.html. Acesso 24 fev.
2017)
240

Do exposto até aqui sobre a história urbana da Barra e em especial da sua orla
atlântica em relação àquela outra do Rio de Janeiro, e considerando a presença em
Salvador dos empreendedores da Família Guinle, é possível concluir que o
investimento de capitais e a articulação entre interesses públicos e privados não
conheceram fronteiras e que o Edifício Oceania não só marcou a paisagem da
Barra(Figuras 320 e 321), como também materializou no espaço urbano, a
convivência (nem sempre pacífica) entre os usos residenciais e de lazer vinculados a
praia, que permanece até hoje.

Figura 320. Planta de Ocupação da Barra em 1950

Figura 321. A orla oceânica da Barra em 1950, vendo-se as residências unifamiliares, o primeiro
edifício na Rua Afonso Celso (no alto à direita), o Edifício Oceania e o Farol da Barra, marcos visuais
da área de estudo. (Fonte: “Amo a História de Salvador”. https://www.facebook.com/Amo-a-
Hist%C3%B3ria-de-Salvador-By-Louti-Bahia-729832370389489/ , acesso em 18 set. 2014)
241

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As cidades brasileiras, ao longo do século XIX e primeiras décadas do século


XX, testemunharam diversos processos de transformação de ordem política e
econômica, que influenciaram nas suas dinâmicas urbanas e formas de gestão
pública. O emprego de novas tecnologias de construção, transporte e infraestrutura,
os novos vocabulários arquitetônicos e vivências sociais, distintos daqueles do
período colonial, buscaram atender ao discurso progressista e civilizatório e ao
redirecionamento da aplicação dos capitais da burguesia emergente.

Em Salvador, a partir de meados do oitocentos, o poder público começou a se


organizar administrativamente, a elaborar leis e a realizar intervenções urbanas, que
objetivavam não só a adequação da cidade ao ideário de modernidade em voga, que
privilegiava a higiene, a estética, a “fluidez” e a ocupação das áreas periféricas, como
também, atender aos interesses dos detentores do poder econômico, local e externo.

Foi o período que passou para história como “modernização urbana” e que
esteve presente na cidade em dois momentos, que perpassam o recorte temporal
(1850-1950) privilegiado nesse estudo.

No primeiro deles, entre 1850 e 1920/30, foi posto em prática o “urbanismo


sanitarista”, focado no saneamento das áreas centrais e na adequação das
edificações e espaços públicos aos novos preceitos de higiene e estética
(“aformoseadora”), presentes na abertura de avenidas, na arborização de praças e
construção nas áreas periféricas (“arrabaldes”), de palacetes neoclássicos, chalés
ecléticos, casas e edifícios em linguagem decó.

Em um segundo momento, à partir de 1930/40 e até os anos 1950/60, foi


aplicado o urbanismo denominado de “modernista”, que engendrado em Salvador
durante a “Semana de Urbanismo” (1935) e materializado gradativamente à partir das
propostas urbanísticas elaboradas pelo Escritório do Plano da Cidade de Salvador /
EPUCS (1942-47), se caracterizou por uma visão global e interdisciplinar, respaldada
em dispositivos teóricos bem definidos e que, aplicando a linguagem da Arquitetura
Moderna, propôs, entre outras intervenções, uma maior articulação entre os bairros e
a expansão da cidade, através de um sistema de grandes avenidas de vale.
242

Cabe ressaltar que nesses dois modelos urbanísticos, esteve presente a


questão da “fluidez”, da melhoria da circulação urbana, expressa em ações voltadas
para a modernização do sistema viário, da infraestrutura (de água, iluminação e
esgotamento sanitário) e do transporte público, feito por bondes, no primeiro deles, e
por ônibus e automóveis, no segundo.

Diretamente vinculada a expansão de Salvador, do seu centro em direção as


periferias, a estratégia do poder público em parceria com a iniciativa privada, posta
em prática no período entre 1850 e 1930, através da execução de grandes obras e da
concessão de exploração de serviços públicos, não só ocasionou importantes
transformações urbanas, como também aquelas de ordem econômica, uma vez que
atendeu aos interesses de agentes do mercado imobiliário e fundiário, representados
por firmas construtoras e empresas loteadoras.

O grande número de novas edificações, para venda ou aluguel, e de


loteamentos voltados para as parcelas mais altas da sociedade soteropolitana,
viabilizados pela promulgação da “Lei de Terras” (1850) - que permitiu a compra pelos
detentores do capital, de terras públicas sem uso (“devolutas”) - e pela implantação
de transporte público e infraestrutura (água, luz, esgoto e telefonia), materializaram a
segregação sócio espacial que seria reforçada durante o período de modernização de
Salvador, da qual a Barra se tornou um exemplo concreto.

Concentradas inicialmente nas áreas centrais, nas imediações do porto na


Cidade Baixa e em direção ao vetor norte (Bonfim, Ribeira, Itapagipe), as intervenções
urbanas passaram a ser dirigidas, em meados do oitocentos, para o vetor sul e em
particular para a freguesia da Vitória, onde pessoas influentes, ricos comerciantes e
empresários baianos e estrangeiros, tinham começado a construir suas casas de
moradia, na Vitória e na Graça.

Ao lado de novas formas de implantação no lote (com recuos, pátios e jardins


particulares) e do uso de novos vocabulários arquitetônicos (neoclássico e eclético) -
distintos daqueles dos três séculos anteriores e seguindo os modelos exteriores com
suas inovações tecnológicas, higiênicas e estéticas - os primeiros indícios da
modernização da freguesia da Vitória são encontrados nas melhorias dos seus antigos
caminhos, as quais se seguiu a implantação do sistema de transporte por bondes,
243

primeiramente de tração animal e depois eletrificados, modernização essa, que só se


efetivaria na Barra no final do século XIX e início do século XX.

Com sua origem no século XVI, vinculada à sede da Capitania da Baia de


Todos os Santos, a Barra apresentou durante o período colonial, uma ocupação
esparsa, em meio a densa vegetação, com aglomerados no entorno de seus
monumentos religiosos e militares e sítios e casas de pescadores espalhados por sua
orla, que passaram a ser ocupadas por alguns poucos veranistas no final do século
XVIII.

O Porto da Barra, território fundacional do bairro, foi o primeiro a sofrer


interferências na sua paisagem, não só por ter residentes de maior poder aquisitivo,
como também pela sua ligação com os altos da Vitória e da Graça, através do
“Caminho para Vila Velha” e da “Estrada da Floresta”, futuras avenidas Sete de
Setembro e Princesa Isabel. Com maior adensamento e ainda apresentando uma
configuração colonial (casas geminadas, com cobertura em duas águas e ocupando
todo os limites dos lotes estreitos), recebeu, em cumprimento a legislação vigente,
adaptações aos modernos preceitos de higiene e estética, expressos, entre outras
determinações, na construção de latrinas e banheiros e na colocação na fachada de
elementos do vocabulário clássico, como calhas e platibandas.

E se foram os moradores de classe alta da Barra os responsáveis individuais,


no final do século XIX e início do XX, pela implantação do mercado de casas de
aluguel em seus terrenos no bairro, serão os mesmos, que passarão a atuar, ao lado
de outros representantes da iniciativa privada local, nacional e/ou estrangeira -
individualmente ou reunidos em Instituições Bancárias, Companhias de Seguro,
Construtoras ou Concessionárias - no financiamento e/ou execução das obras de
infraestrutura urbana (abertura de avenidas, calçamento de ruas e esgotamento
sanitário), no fornecimento de serviços públicos, mediante “concessão” (transporte,
iluminação, telefonia e abastecimento de água) e na implantação de grandes
loteamentos (a partir dos anos 1930), diretamente relacionados com as
transformações da paisagem da Barra, naquele período de transição entre a
modernização de viés “higienista” e aquela outra “modernista”.

Diretamente vinculadas a implantação e melhoria do sistema viário, que se


configuraria em vetor de expansão do bairro, foram ocupadas no período em estudo,
244

as áreas do interior do bairro - como aquela do “Bosque da Barra”, correspondente a


região cortada pela atual rua Marquês de Caravelas - e adensadas, mediante
loteamento das terras, aquelas outras ao longo das Avenidas Princesa Isabel
(alargada em meados do XIX), Sete de Setembro (1915) e Oceânica (1923).

As orlas da Barra, tanto da Baía de Todos os Santos, quanto a do Oceano


Atlântico, buscadas inicialmente como local de cura, de descanso (nos veraneios) ou
lazer - expresso nas cavalgadas, piqueniques e passeios de bonde, aos quais se
seguiram os “banhos-de-mar” - serão transformadas ao longo da primeira metade do
século XX em áreas residenciais, a partir da circulação do bonde até o Farol da Barra
(1870), implantação de infraestrutura de água, luz e telefonia e loteamento das
grandes áreas disponíveis, principalmente naquela área conhecida como “Quintas da
Barra (início do século XX), depois loteamento “Barralândia” (início dos anos 1940).

Foi naquela porção do território onde mais claramente se pode observar a etapa
final do percurso de modernização da Barra, com a transformação gradativa da
ocupação nos moldes coloniais - onde casas térreas ou assobradadas, construídas
no entorno de equipamento defensivo, definiam as ruas e limitavam o espaço público
– e oitocentista - com seu novo vocabulário arquitetônico (eclético ou decó) e forma
de implantação no lote - por outra, resultante de nova relação com a terra urbana
(loteamento) e onde serão construídas edificações uni ou plurifamiliares, ao longo de
avenidas e ruas geometrizadas, em consonância com os preceitos do “urbanismo
modernista”.

O “Edifício Oceania” (1937-1943), marca na paisagem da Barra esse processo


de modernização e a prevalência, concomitantemente, dos usos residencial e de lazer
(onde as praias tiveram papel fundamental), que passaria a ter o bairro, a exemplo do
que havia acontecido no Rio de Janeiro nos anos 1920, com o “Copacabana Palace
Hotel”, ambos resultantes da articulação entre as forças políticas, sociais e
econômicas, que atuaram no sentido da melhoria e consequente valorização do
espaço urbano, de imóveis e terrenos em direção as áreas periféricas, através da
realização de investimentos em obras públicas.

O paralelo entre as histórias urbanas dessas duas capitais e a presença em


ambas da família carioca Guinle - concessionária de linha de bonde no Rio de Janeiro
e proprietária do “Hotel Copacabana Palace” e que também atuou em Salvador e na
245

sua orla oceânica, através da propriedade da Companhia de bonde “Linha Circular”,


que servia a Barra, e da participação na “Companhia de Melhoramentos” responsável
pela construção da Avenida Sete de Setembro, principal vetor de comunicação do
bairro com o centro - expressa não só a circulação de ideias modernizadoras no país,
como também a do capital, que através dos seus representantes, se tornaria cada vez
mais o “desenhador” de cidades e responsável pela segregação sócio espacial, que
no caso em estudo, se deu através da substituição de pescadores, sitiantes e
veranistas, por uma população de classes mais abastadas.

Os aspectos do processo de modernização de Salvador - relacionados a


dotação de “fluidez”, através da melhoria do sistema viário e implantação de transporte
público, observância nas novas construções dos preceitos de “higiene” e “estética” e
desenvolvimento de novas práticas sócio culturais relacionadas com suas orlas - se
rebateram na transformações da paisagem da Barra entre 1850 e 1950, tanto de forma
abrangente quanto específica, se considerarmos o Porto, local de ocupação primeira
(e mais adensada) como um “centro” (de características coloniais) a partir do qual o
bairro de expandiu em direção a suas áreas “periféricas”, de ocupação mais rarefeita,
no “miolo do bairro” (entre as avenidas Princesa Isabel e Oceânica) ou na orla da Baía
de Todos os Santos, em direção ao oceano atlântico.
Dessa forma, na abordagem temática e espaço-temporal privilegiada na tese,
se pode observar a presença (ou rebatimento) de um processo histórico mais
circunscrito, ocorrendo de acordo com outro mais abrangente e ao término do qual, a
Barra se constituiu em uma “nova espacialização” de Salvador, assim como a orla
oceânica o foi daquele bairro.
Estruturando sua narrativa de forma mais abrangente, tanto no texto como nas
análises iconográficas, a presente tese procurou não só refletir sobre as
transformações na paisagem da Barra entre 1850 e 1950, como também criar lastro
para futuros desdobramentos da pesquisa e para a abertura de novos e necessários
campos de investigação, que dessem conta dessa importante paisagem histórica
urbana - cuja aplicação do conceito urge ser avaliada pelos órgãos de preservação –
a exemplo de estudos acerca das tipologias arquitetônicas, da atuação das empresas
concessionárias de serviços públicos e de construção civil, do papel da “vista pro mar”
para o mercado imobiliário soteropolitano e da segregação sócio espacial em áreas
de orla, entre outros.
246

Apesar de ainda ser possível encontrar hoje na Barra remanescentes da sua


história urbana - no traçado das suas ruas, nas (cada vez menores) áreas verdes dos
seus morros, nos monumentos religiosos e militares, nos (raros) exemplares de
arquitetura em vocabulário neoclássico, eclético e decó e nas práticas sócias
relacionadas as orlas e suas praias - a permanência da articulação entre a iniciativa
privada e o poder público, intermediado (ou não) por legislação urbanística
(tendenciosa), que privilegia a atividade turística, o entretenimento e um mercado
imobiliário especulativo e de alto luxo, vem colocando em sério risco a preservação
da sua paisagem.

Que o presente estudo possa contribuir para alterar o rumo desse novo “surto
modernizador”, que compromete a “habitabilidade” e o necessário equilíbrio entre o
crescimento urbano e a qualidade de vida de moradores e usuários, daquela que foi
o embrião da ocupação do território soteropolitano e que encontra no seu mar, a
testemunha das grandes transformações por que passou nesses últimos 480 anos.
247

REFERÊNCIAS

ABRAMS, Charles. O Uso da terra nas cidades. (Cópia xerográfica de texto


datilografado extraído da publicação “Cidades, a Urbanização da Humanidade” de
Charles Abrams et alli. Distribuído durante o “Seminário sobre Salvador”. FAUFBA.
27.05.86)

AB´SABER, Aziz Nacib. O sítio da Cidade do Salvador. In: Coleção Estudos


Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142 p. datilografados. (p.
11)

ALMEIDA, Maria do Carmo Baltar Esnaty de. A Victória na “Renascença Bahiana”;


a ocupação do distrito e sua arquitetura na Primeira República (1890-1930).
Salvador, 1997. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBA. 294 p. il.
https://archive.org/details/victoria_201602 (acesso 02/03/17)

________ . As Vitrines da Civilização: A Modernização Urbana do Bairro


Commercial da Cidade da Bahia (1890 – 1930). Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura,
Universidade Federal da Bahia. Orientação Prof. Dra. Odete Dourado Silva Tese de
Doutorado. 2014. PPGAUFBA. 323 p. il. (Pdf)
https://drive.google.com/file/d/0B0B8tsznngiMc0RJV09XcmJOT2M/view (acesso
01/01/2017)

“Amo a História de Salvador” (página administrada por Louti Bahia, criada em


setembro de 2015) https://www.facebook.com/Amo-a-Hist%C3%B3ria-de-Salvador-
By-Louti-Bahia-729832370389489/

ANDRADE, Adriano Bittencourt. Geografia de Salvador / Adriano Bittencourt


Andrade, Paulo Roberto Baqueiro Brandão. 2.ed. – Salvador: EDUFBA, 2009. 160 p:
il;

ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira de. A Influência Italiana na Modernidade


Baiana: O caráter público, urbano e monumental da arquitetura de Filinto
Santoro. 2007. Revista Eletrônica 19&20. In:
http://www.dezenovevinte.net/artedecorativa/ad_fs_vnaj.htm (Acesso 18/04/2013)

_________. A REDE DE ASCENSORES URBANOS DE SALVADOR: DO


GUINDASTE DOS PADRES AOS DIAS DE HOJE. s/d. em
portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/.../VI_coloquio_t5_rede_ascensores_urbanos.pd
f (acesso 23/08/2017)

ARAÚJO, Anete Regis Castro de. Espaço privado moderno e relações sociais de
gênero em Salvador: 1930 – 1949. Salvador, 2004, 326 f. (Tese Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura. Universidade Federal da Bahia.
Salvador. Orientadora Ana Fernandes)
248

ARAÚJO, Heloísa Oliveira de. INVENTÁRIO DA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA DE


SALVADOR: 1920-1966. (As Novas Regras do Jogo para o Uso e o Abuso do
Solo Urbano). Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Orientação
Antônio Heliodório Lima Sampaio. Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal
da Bahia. Salvador, Bahia. Outubro de 1992. (478 p. datilografadas e ilustradas.).

ARAÚJO, Ricardo Alexandre dos Santos. RUPTURAS E PERMANÊNCIAS: UM


ENSAIO SOBRE A GEOISTÓRIA DO VALE DO SÃO FRANCISCO. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Minas Gerais. Orientador: Professor Dr. Ralfo Edmundo da Silva Matos. Belo
Horizonte,2009.
(http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/MPBB-
87JM64/ricardo_santos_dissertacao.pdf?sequence=1 acesso 24/02/17)

ATHAYDE, Johildo Lopes de. Salvador e a Grande Epidemia de 1855. Centro de


Estudos Baianos, Nº 113. Publicação da UFBA. Salvador, Bahia. 1985

A TARDE - “Populares de A Tarde”. Jornal. Microfilme de 20/11/1937. Acesso em


01/12/2015)

AUGEL, Moema Parente. Visitantes estrangeiros na Bahia oitocentista. São


Paulo: Cultrix, 1980.

______. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Bahia: Fundação Cultural do Estado da


Bahia. 1982(258p)

AZEVEDO, Aroldo de. Fisionomia da Cidade do Salvador. In: Coleção Estudos


Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142 p. datilografados. (p.
49 – 54)

AZEVEDO, Thales. A Cidade do Salvador no começo do Século XIX. In: Coleção


Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142 páginas
datilografadas. (p. 69-75)

______. Povoamento da Cidade do Salvador. Salvador: Editora Itapuã, 1969.

______. A Praia: espaço da Socialidade. Centro de Estudos Baiano da Universidade


Federal da Bahia. N°134, 1988 (40p Il)

AZEVEDO, Paulo Ormindo de. A Praia: espaço da Socialidade. Prefácio. –


Salvador; EDUFBA, 2016. 2ª edição. 100 p.

BACELAR, Jonildo da Silva História dos Thomson Road Steamers. Em Guia


Geográfico Cidade do Salvador. http://www.cidade-salvador.com/urbanismo/road-
steamers.htm Acesso 23/08/17

BAHIA. Companhia Estadual de Desenvolvimento Urbano. A Grande Salvador:


Posse e Uso da Terra. (Projetos Integrados). Governo do Estado da Bahia. Secretaria
de Saneamento e Desenvolvimento Urbano. (Projetos Integrados). Salvador, Bureau
Gráfica. 1978
249

BAHIA: Tradicional e Moderna. (Revista / Diretor: ARISTÓTELES GOMES


Secretario: LAUDEMIRO MENEZES). N-1. Salvador, abril, 1939. PUBLICAÇÃO DA
DIRETORIA DE CULTURA E DIVULGAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA REDAÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO: secretaria de educação CORREDOR DA VITORIA S. SALVADOR
BAHIA — BRASIL N.º avulso 2$000 Assinatura (4 números)9$000 / 5107 — Est. de
Artes Graphicas C. Mendes Júnior, Rua Riachuelo, 192 Tel. 22-6238. Rio dê Janeira
Impressão em papel Couché ExtraNacional "Klabin” (pdf. Em:
http://memoria.bn.br/pdf/165174/per165174_1939_00001.pdf. Acesso 20/10/2016)

“Bahia...Terra do “já-teve”” ‹https://www.facebook.com/groups/bahiaterradojateve›


(Grupo público administrado por Rubens Antônio Silva Filho)

Biblioteca Digital Luso-Brasileira ‹http://bdlb.bn.gov.br/›

Biblioteca Nacional Digital ‹http://bndigital.bn.gov.br›

BIASIN, Olívia. Olhares estrangeiros: impressões dos viajantes acerca da Bahia


no transcurso dos oitocentos. Em: A larga barra da baía: essa província no contexto
do mundo / Milton Moura (org.) - Salvador: EDUFBA, 2011, página 18.

BIERENBAH, Ana Carolina de Souza. As faces privadas e públicas das


arquiteturas modernas de Salvador. III ENAMPARQ. Encontro da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. (“arquitetura,
cidade e projeto: uma construção coletiva”). São Paulo. 2014. (In:
http://anparq.org.br/dvd-enanparq-3/htm/XFramesSumarioST.htm. Acesso em
07/06/16)

________ . Fluxos e influxos. Arquiteturas modernas, modernização e


modernidade em Salvador na primeira metade do século XX. Arquitextos, ano 12,
dez. 2011 (ISSN 1809-6298)
(Em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.139/4158. Acesso em
24/02/2017)

Brasiliana Fotográfica Digital (http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/)

BONAMETTI, João Henrique. PAISAGEM URBANA: BASES CONCEITUAIS E


HISTÓRICAS. In: TERRA E CULTURA, ANO XX, Nº 38 107.
http://web.unifil.br/docs/revista_eletronica/terra_cultura/38/Terra%20e%20Cultura_38
-10.pdf

BOYER, Marc. História do turismo de massa / Marc Boyer; tradução Viviane


RIBEIRO. – Bauru, SP: EDUSC, 2003. 170 p.; 21 cm. – (coleção Turismo)

BRANDÃO, Maria David de Azevedo. Estrutura Física, Organização Social e


Dinâmica do Crescimento de Salvador. In: Coleção Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas
da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142 p. datilografadas. (p.97-112)

________ . O último dia da criação: mercado, propriedade e uso do solo em


Salvador. In: Habitação em Questão (Organizado por Lícia do Prado Valadares).
Zahar Editora. Rio de Janeiro, 1978, pg. 125
250

BRESCIANI, Maria Stella M. As Sete Portas da Cidade. Em ESPAÇO E DEBATES,


v. 34, 1991 (p. 10-15).

________ . Permanência e Ruptura no Estudo das Cidades. Em: “Cidade & História
- Modernização das Cidades Brasileiras nos séculos XIX e XX” (Organizado por Ana
Fernandes e Marco Aurélio de A. de Filgueiras Gomes) Salvador. UFBA/ Faculdade
de Arquitetura. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. ANPUR, 1992 (303 p), pg. 11

CADENA, Nelson. Domingo na Barra. 24 de setembro de 2012. Em


http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2012/09/24/domingo-na-barra/
Acesso em 23/08/17

CALMON, Francisco Marques de Góes. Vida econômico-financeira da Bahia -


Elementos para a História de 1808 a 1899. Imprensa Oficial do Estado. Bahia, 1925.
Reimpressão. Salvador. Fundação de Pesquisa. CPE, 1978

CAMPOS, João da Silva. Tradições Bahianas (Separata da revista do Instituto


Histórico e Geográfico da Bahia, N°56, 1930. Seccção Graphica da Escola de
Aprendizes Artífices. Bahia.

________. A Cidade do Salvador: Uma Reconstituição Histórica. s/data. R.J.


5ªEdição
________ . Fortificações da Bahia. Publicações do Serviço do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional/SPHAN, Nº 7. Ministério da Educação e Saúde. Est. de Artes
Gráficas C. Mendes Júnior, Rio de Janeiro,1940

CARDOSO, Ceila Rosana Carneiro. As fábricas na península Itapagipe como sítio


industrial da Salvador Moderna. 2011. arquitextos132.06ano 11, maio 2011. Em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.132/3894. Acesso 23/08/17

CARDOSO, Elisabeth Dezouzart e VAZ, Lilian Fessler. Luta pelo Espaço Urbano: A
Questão “da Copacabana”. In: Cadernos PUR/UFRJ. Ano III. N° 1, Jan/Abr 1980 –
Rio de Janeiro: Gráfica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (P.91 a 104).

CARDOSO, Luiz Antônio Fernandes. Entre vilas e avenidas: habitação proletária


em Salvador na primeira república. Salvador: FAUFBA, 1991. Dissertação de
Mestrado no Programa de Pós-Graduação da FAUFBA.

_______. Habitação proletária em Salvador na virada do século: um novo campo de


exploração. In: PADILHA, Nino (org). Cidade e Urbanismo: história, teorias e
práticas. Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBA, 1998.

CARDOSO, Maria Ângela Barreiros. Campo Grande de São Pedro e imediações:


origem do jardim público e da arborização urbana em Salvador da Bahia / Maria
Ângela Barreiros Cardoso.2015. 200f.: il. (Em:
https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/20878, pdf)

CARNEIRO, Edison. A Cidade do Salvador [1549] - Uma Reconstituição Histórica.


Gráfica Econômico e Administração Ltda. Salvador,1978 (2ª edição). 171p.
251

CARVALHO, Anna Dias da Silva. O Crescimento Recente da Cidade do Salvador.


In: Coleção Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142
p. datilografadas. (p. 77- 89)

CARVALHO, Carlos Alberto. A Locomoção da Cidade Através dos Tempos.


(Palestra no Instituto Geographico e Historico da Bahia na semana commemorativa
do Tricentenario da Expulsão Hollandeza na Bahia, em XXIII de Maio de
MCMXXXVIII). Escola de Aprendizes Artífices. Bahia. 1940.

Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social – CIAGS / EAdministração


– UFBA. Delimitação de Bairros de Salvador. Disponível
em:http://www.gestaosocial.org.br/conteudo/nucleos/aguas/Apresentacao%20Socied
ade%20Civil%20-%20Delimitacao%20de%20Bairros.pdf. Acesso em 25/06/2011.

CHOAY, Françoise. Destinos da cidade européia: séculos XIX e XX. Tradução Ana
Fernandes. Revista RUA N. 06. PPGAU/FAUFBA. 1996) in:
http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rua/article/view/3110. Acesso: 30/03/2014

Cidade do Salvador: aspectos geográficos, históricos, sociais e antropológicos.


In: Coleção Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142
p. datilografadas.

Cipó: Paraíso das águas termais. Quinta-feira, 8 de julho de 2010


http://wwwminhaterracipopd.blogspot.com.br/

CIRCULAR da “Companhia Linha Circular de Carris da Bahia” para a Intendência


Municipal, tratando dos abrigos de bonde, datada de 16/03/1899. Fundo: Intendência
/Série: Ofícios recebidos pela Intendência / ano: 1899

CORBIN, Alain. O Território do Vazio - A praia e o imaginário ocidental. Tradução


Paulo Neves. São Paulo. Companhia das Letras. 1989

COSTA, Cacilda Teixeira da. Arquitetura do Ferro no Brasil – “Residues of a


dream world””. (Cópia xerográfica de Texto datilografado entregue no Congresso
sobre Restauração de Bens Móveis. II Sessão, 3ª Comunicação). Belo Horizonte.
1987

COUTO, Edilece Souza. “A Bahia não se desnacionaliza”: modernidade,


civilidade e permanência dos costumes na Salvador republicana. Em: A larga
barra da baía: essa província no contexto do mundo / Milton Moura (org.) - Salvador:
EDUFBA, 2011. Página 56.

DIÁRIO OFICIAL. Transcrição da Ata de Constituição da Urbânia Companhia


Nacional de Seguros S.A. publicada no Diário Oficial da União de 30/12/1944.
In: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2674820/pg-9-secao-1-diario-oficial-da-uniao-
dou-de-30-12-1944, acesso em 29/06/16)

ECO, Humberto. Como se faz uma Tese. (Tradução Gilson Cesar Cardoso de Souza)
- São Paulo: Editora Perspectiva S.A.,1988. (Coleção Estudos, n.85).
252

EDELWEISS, Frederico. A visita de Maximiliano da Áustria à Bahia. Centro de


Estudos Baianos, N° 43 (15 de agosto de 1960). Publicação Salvador - Bahia. Oficinas
Gráficas da Imprensa Oficial da Bahia. 1961

Evolução Física de Salvador. Centro de Estudos da Arquitetura da Bahia (CEAB).


Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBª,1979. Volume 1 (1549- 1650) e Volume
2 (1651 – 1800), il. (Estudos Baianos Nº 12)

FALLA do Presidente da Província dirigida à Assembleia Legislativa - 1851(1° março)

FERNANDES, Ana e GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras. Idealizações Urbanas


e a Construção da Salvador Moderna: 1850-1920. In: Cidade & História /Organizado
por Ana Fernandes e Marco Aurélio A. de Filgueiras Gomes. Salvador: UFBA /
Faculdade de Arquitetura / Mestrado em Arquitetura e Urbanismo; ANPUR, 1992. /
Seminário de História Urbana, 1, Salvador, 21-23 de novembro de 1990. (Páginas 53
a 76)

________ . A Pesquisa recente em história urbana no Brasil: percursos e


questões. Em: Cidade e Urbanismo: história, teorias e práticas. Nino Padilha (org.) –
Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBA, 1998. Página 13

FERREIRA, Angela, MEDEIROS, Anita e QUEIROZ, Luiz de A. Momentos


Históricos da Produção e da Configuração do Espaço Construído em Natal.
1992. In:

FERREZ, Gilberto. Bahia: velhas fotografias 1858-1900. Rio de Janeiro: Kosmos;


Salvador: Banco da Bahia Investimentos, 1988.

_______ . As Cidades do Salvador e Rio de Janeiro no século XVIII. Album


iconográfico Comemorativo do bicentenário de transferência da sede do governo do
Brasil. Rio de Janeiro, 1963.

FLEXOR, Maria Helena Ochi; SCHWEIZER, Peter José. Península de Itapagipe:


patrimônio industrial e natural / Maria Helena Ochi Flexor, Peter José Schweizer,
organização. – Salvador: EDUFBA, 2011. 250 p.: il.

FRIDMAN, Fania e RAMOS, Carlos Alexandre F. A História da propriedade da terra


no Brasil. In: Cidade & História / GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras e
FERNANDES, Ana. (org.). Salvador: UFBA/ Faculdade de Arquitetura, Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo; ANPUR, 1992. 330 p. (Seminário de História Urbana, 1,
Salvador, 21-23 de novembro de 1990), página 187

GALEFFI, Lígia Maria Larcher. Princípios Compositivos nas Linguagens


Arquitetônicas Déco desde a leitura de algumas obras do acervo soteropolitano.
Cadernos PPG-AU/UFBA. V. 3, n. 1 (2004) Cadernos 3, p. 65 (PDF. 08/06/2004,
14:44. P. 33 a 53) https://portalseer.ufba.br/index.php/ppgau/article/view/1411/957
(acesso 27/05/2016, 21:10)
253

GARZEDIN, Maria Aruane Santos. Espaços livres urbanos, paisagem e memória.


Em: Reconceituações contemporâneas do patrimônio. GOMES Marco Aurélio A. de
Filgueiras e CORRÊA, Elyane Lins (Org.) – Salvador: EDUFBA, 2011. 254 p. –
(Coleção ArquiMemória; v.1), página 171.
GODOFREDO FILHO. A influência do Ecletismo na Arquitetura Baiana. p, 16 a
27.http://www.portaldasmissoes.com.br/uploads/empreendimentos/0000412_IPHAN
%20S%C3%A3o%20Miguel%2019.pdf. Acesso em 29/08/2017)

GOMES, Carlos. ELEVADOR DO BOM JESUS DO MONTE JÁ TEM 129 ANOS!


(http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/2012/03/. Blogue do Minho: Espaço de
informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do
Minho e Galiza 25 de março de 2012, acesso 08/06/16)

GOMES Marco Aurélio A. de Filgueiras e PINHEIRO, Eloisa Petti (Org.). A cidade


como história: os arquitetos e a historiografia da cidade e do urbanismo. Projeto
gráfico e editoração: Gabriela Nascimento. – Salvador: EDUFBA, 2004. 223 p.

GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras. Escravismo e cidade - Notas sobre a


ocupação da periferia de Salvador no século XIX. In: RUA: Revista de Arquitetura
e Urbanismo. UFBA. Faculdade de Arquitetura. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo.
V. 3. N 415. 1990, pg. 09

_______ . Cultura Urbanística e Contribuição Modernista. Brasil, Anos 1930-


1960. In: cadernos PPG-AU/FAUFBA / Universidade Federal da Bahia, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. – Ano 3 edição especial, (2005) - Marco Aurélio A. de
Filgueiras Gomes (Org.). – Salvador: PPG-AU/FAUFBA, 2005. (p.11 a 29)

______ . Preservação e urbanismo: encontros, desencontros e muitos desafios.


Em: Reconceituações contemporâneas do patrimônio. GOMES Marco Aurélio A. de
Filgueiras e CORRÊA, Elyane Lins (Org.) – Salvador: EDUFBA, 2011. 254 p. –
(Coleção ArquiMemória; v.1), página 129.

GOITIA, Fernando Chueca. Breve História do Urbanismo. Lisboa. Editorial


Presença Ltda. Tradução de Emílio Campos Lima. s/d.

GOOGLE MAPS. 24.02.17. https://www.google.com.br/maps/@-13.0213054,-


38.5311644,1512a,20y,41.33t/data=!3m1!1e3

GORDILHO, Walter. Contribuição ao Estudo da Evolução Urbana da Cidade do


Salvador. In: Coleção Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia,
1960. 142 p. datilografadas. (p. 53-68)

GRAEFF, Edgard de Albuquerque. Cidade e Utopia. Editora Vega S. A. Belo


Horizonte, 1979 (128 p il)
254

GUEDES, Rafaela Mabel Silva. A cidade alta como paisagem: Repensando a


conservação do Centro Histórico de João Pessoa / Rafael Mabel Silva Guedes.
Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Orientação Maria Berthilde
Moura Filha. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba, 2012. 175f: il.

Guia Geográfico da Bahia http://www.guiageografico.com/salvador.htm

Guia Geográfico da Cidade do Salvador. http://www.cidade-salvador.com

Guia 1 da Arquitetura Moderna em Salvador - Anos 30/60. DOCOMOMO


Brasil/Bahia In: http://www.munduruku.com/docomomo/guia01.php?map=2 (acesso
09/08/16)

GUIMARÃES, Valéria. Algumas reflexões sobre a proibição dos jogos de azar no


Brasil. http://historiadoesporte.wordpress.com/2012/12/15/algumas-reflexoes-sobre-
a-proibicao-dos-jogos-de-azar-no-brasil/

HAROUEL, Jean-Louis, 1945 - História do Urbanismo. / Jean-Louis Harouel;


tradução Ivone Salgado. - Campinas, São Paulo: Papirus, 1990 (Série: Ofício de Arte
e Forma)

HERNÁNDEZ, Maria Hermínia Olivera A administração dos bens temporais do


Mosteiro de São Bento da Bahia / Maria Hermínia Olivera Hernández. – Salvador:
EDUFBA, 2009. 219 p.: il.

HOLTHE, Jan Maurício Oliveira van. Quintais Urbanos de Salvador: Realidades,


Usos e Vivências no Século XIX. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo. Universidade Federal da Bahia. Orientação Odete Dourado. Bahia 2002
(em https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/12504/1/dissertacao_cd.pdf; acesso
08/08/2017)

ÍNDICE Analítico-Alfabético da documentação do Arquivo do Mosteiro de São Bento.


Livros-Guia N° 1 e 2

IPAC. Sistema de Informação do Patrimônio Cultural da Bahia / SIPAC. (Em:


http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/bem/edificio-oceania/# acesso em 24/02/2017)

IPAC. http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/municipio/salvador/ (acesso 13/07/2015, 13:53)


Ipac aprova projeto de reforma do Edifício Oceania em Salvador. 30 de outubro
de 2015. Em http://www.portalradioreporter.com.br/2015/10/30/ipac-aprova-projeto-
de-reforma-do-edificio-oceania-em-salvador/Acesso 24/02/2017)

IPHAN. Poligonal de Proteção da Barra.


(http://iphanba.blogspot.com.br/2015/06/poligonal-de-protecao-da-barra.html, Acesso
14/09/16)

LAZZERINI, Fabio T. Termalismo no Brasil.


http://termalismobrasil.blogspot.com.br/2009/10/estancias-hidrominerais-do-
brasil.html outubro de 2009. (Acesso em 04/11/13)
255

LE GOFF, Jacques. História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão.


[ET al.] - 5ª Ed. – Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003.

Leis Municipais http://www.sucom.ba.gov.br/category/legislacoes/louos/

LEI Municipal N° 880 - Regulamento relativo as “emprezas de Carris Urbanos da


Capital do Estado Federado da Bahia”, datada de 06/03/1908. (Manuscrito a bico de
pena em papel com timbre da Intendência)
LEIS e Resoluções do Conselho Municipal da Capital do Estado da Bahia do anno de
1893 - sob N°s 1 a 39. Bahia; Litho- Typographia - TOURINHO – 1900

LEME, Maria Cristina Silva e PACHECO, Regina Sílvia. A questão fundiária,


imobiliária e os serviços urbanos: conceitos, referenciais teóricos e
dissertações recentes. In: Cidade & História, 1992.

LEMOS, Carlos A.C. A casa brasileira / Carlos A.C. Lemos. – São Paulo: Contexto,
1989. – (Repensando a história)

MAPA Topográfico da Barra. (http://pt-br.topographic-map.com/places/Ondina-


7010438/ acesso 26/10/16)

MARTINEZ, Maria do Socorro Targino. Livro resgatará história dos 150 anos.
http://www.hportugues.com.br/hospital/noticias/2007/janeiro/livro-resgatara-historia-
dos-150-anos(Entrevista, 00 de janeiro, 2007)

MARX, Murilo. Estado, Igreja e Espaço Urbano à Portuguesa. Comunicação (4) no


Seminário. IV Sessão do dia 28.08. 1987. (apostila datilografada)

MASI, Domenico de. Em Busca do Ócio. (Tradução de Marco Antonio de Rezende)


em: Veja 25 Anos: Reflexões para o Futuro. Editora Abril S/A. 1993. 239 p. il: Páginas
40 a 49. (Parte integrante de Veja Edição 1306. Patrocínio Institucional da
Organização Odebrecht. Setembro 1993).

MATTEDI, Maria Raquel Mattoso; BRITO, Marusia Rebouças de e BARRETO, Sueli


Santos. Salvador: O processo de Urbanização de Salvador. Salvador, 1978.
(Páginas 340 a 364 - cópia xerográfica de texto datilografado) (publicado em BAHIA.
Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia. Fundo de Pesquisas. Habitação e
urbanismo em Salvador. Salvador: SEPLANTEC, 1979. s/d.)

MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Bahia: A Cidade do Salvador e seu mercado no


século XIX. Coleção Estudos Brasileiros. São Paulo: Hucitec Ltda. Salvador:
Secretaria Municipal de Educação e Cultura, 1978

__________ . Testamentos de Escravos Libertos na Bahia no Século XIX - uma


fonte para o estudo das Mentalidades. Centro de Estudos Baianos da UFBA, N° 85.
Salvador, 1979

__________ . Bahia, Século XIX: Uma Província no Império. Editora Nova


Fronteira S.A. Rio de janeiro, 1992
256

MEDEIROS, Ethel Bauzer. O Lazer no Planejamento Urbano. Fundação Getúlio


Vargas. Cadernos de Administração Pública, 82. Instituto de Documentação. Rio de
Janeiro, 1971

MELLO, Virgínia Pernambucano de. Água vai! História do Saneamento de


Pernambuco (1537-1837), 122 p.il. Cia Pernambucana de Saneamento. Série
Ensaios – Antecedentes, Volume 1. 1991.

MOTA, Luciana Guerra Santos. Corredor da Vitória: Uma discussão em torno dos
valores contemporâneos / Luciana Guerra Santos Mota. Dissertação de Mestrado
em Arquitetura e Urbanismo. Orientação Dr. Paulo Ormindo David de Azevedo.
Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, 2008. 182 p.: il. (PDF) Acesso
05/09/2015)

MUNÕZ, Alejandra Hernández. Os espaços públicos do Centro de Salvador:


origens, processos transformações até 1935 / Alejandra Hernández Muñoz. Tese
de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Orientação Dra. Esterzilda Berenstein de
Azevedo. Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, 2014. 175f.: il.

NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez freguezias da cidade do Salvador:


Aspectos sociais e urbanos do século XIX / Anna Amélia Vieira Nascimento. –
Salvador: EDUFBA, 2007. 372 p.: il. – (Coleção Bahia de todos)

NÓR, Soraya, Paisagem Cultural. In: Leituras Paisagísticas: teoria e práxis n.4 /
Carlos Terra, Rubens de Andrade, Jeanne Trindade (Organizadores). – Revista
Leituras Paisagísticas: teoria e práxis n.4 (2013) -- Rio de Janeiro: RIO BOOK´S, 2013.
208p.: Il. 15X22cm (páginas 19 a 31)

OFÍCIO da “Compagnie d’Eclairage da Bahia”, datado de 04/05/1914, referente a


colocação de animais nos postes da viação

OFÍCIO N° 046 da Secção Especial de Gaz e Eletricidade da Intendência Municipal,


enviado ao Intendente Municipal em 27/10/1914, referente ao aumento das passagens
de bonde

OFÍCIO N° 82 da Companhia Commercial e Constructora, de 5/02/1914, referente à


revisão do contrato para alargamento da Ladeira da Montanha

OFÍCIO N° 014 da Companhia d’Eclairage da Bahia, datado de 04/06/1914 referente


ao asfaltamento do Corredor da Vitória

OFÍCIO N° 142 da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, de 03/12/1914,


referente a material importado retido na Alfândega do Porto de Salvador

OFÍCIO N° 035 da Bahia Tramway Light and Power Company, datado de 11/09/1914,
referente ao problema de combustão dos automóveis no calçamento público

OFÍCIO N° 116 da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, em 27/01/1914,


referente a material importado retido na Alfândega de Salvador
257

OFÍCIO da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia em 4/11/1914, referente à


redução do preço das passagens de bonde

OLIVEIRA, Francisco. O elo perdido. (Salvador: breve histórico antes da


industrialização, p. 17 a 40). s/d. (198?) (Texto datilografado).

PADILHA, Nino. (Org.) Cidade e Urbanismo: história, teorias e práticas. –


Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBA, 1998.
PANERAI, Philippe, CASTEX, Jean, DEPAULE, Jean-Charles. Formas Urbanas: A
Dissolução da Quadra. 2013

PARECER N°10/82 de Thales de Azevedo acerca da “Proposta de tombamento


estadual do Palacete Comendador Bernardo Martins Catharino. Processo
00002/82 – CEC / Conselho Estadual de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura.
06 de julho de 1982. (Datilografado e transcrito na Revista do IPHAN, N° 19/1984)

PEIXOTO, N. B. Paisagens urbanas. São Paulo: SENAC/ Ed. Marca D’Água,1996.

PEREIRA, Honório Nicholls. Tendências contemporâneas na teoria da


restauração. Em: Reconceituações contemporâneas do patrimônio. GOMES Marco
Aurélio A. de Filgueiras e CORRÊA, Elyane Lins (Org.) – Salvador: EDUFBA, 2011.
254 p. – (Coleção ArquiMemória; v.1), página 101.
PEREIRA, Renata Baesso. Tipologia arquitetônica e morfologia urbana: uma
abordagem histórica de conceitos e métodos. 146.04ano 13, jul. 2012. In:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.146/4421 (acesso 04/01/17)

PEREIRA, Sônia Gomes. A Historiografia da Arquitetura Brasileira no Século XIX


e os conceitos de Estilo e Tipologia. In:19&20 – A revista eletrônica de
DezenoveVinte. Volume II, n.3, julho de 2007. Texto publicado no
site:http://www.dezenoveveinte.net/arte%20decorativa/ad_sgp.htm. (Acesso em 09
de julho de 2007)

PESSOA, J.S. de Belmont. A História Urbana através da Análise Morfológica: um


Estudo de Niterói. 2012. (PDF. Acesso em 16/06/2014)

PESSÔA, Yumara Souza. Histórico do Forte São Diogo. Parte do Trabalho Final do
VI Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Sítios e Monumentos
Históricos. FAUFBA. Salvador. 1988

PEVSNER, Nikolaus. A História dos Tipos de Edifícios. Londres. Architectural


Press, 1976.

PIERSON, Donald. Distribuição Espacial das Classes e das Raças na Baía.


(Especial para “Revista do Arquivo Municipal”, p. 39 a 49). 1936. (xérox de texto
datilografado, entregue na Disciplina “Estudos Brasileiros”, ministrada por Cid Teixeira
na EBA/UFBA em 1970)
258

PINHEIRO, Eloísa Petti. Intervenções Públicas na Freguesia da Sé em Salvador


de 1850 a 1920. Um estudo de Modernização Urbana. Dissertação de Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Novembro de 1992. 145
p. il (datilografado)

__________ . Europa, França e Bahia: difusão e adaptação de modelos urbanos


(Paris, Rio e Salvador) / Eloísa Petti Pinheiro. – 2 ed. – Salvador: EDUFBA, 2011.
366 páginas ilustradas. In:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/5377/1/Europa%20Franca%20e%20Bahia_2
ed_RI.pdf. Acesso 09/09/2016) ou SciELO books. EDUFBA, 2011, 268 p. (acesso em
24/08/17)

PINHO, Wanderley de. Salões e Damas do Segundo Reinado (1849-1889). 3ª


edição (ilustrada). Livraria Martins Editora. São Paulo. 1959

PROCESSO N°1702/36 referente ao Forte São Diogo. Pasta PN/122 (Próprios


Nacionais)

PROJETOS encaminhados à Diretoria de Obras da Intendência Municipal para


Construção e Reforma na Freguezia da Vitória. ARQUIVOS MIII GA e GB, do
Arquivo Público Municipal de Salvador. (Fichas para Pesquisa desenvolvida pelo
Professor Marco Aurélio Filgueiras Gomes, intituladas “Projetos de Construção e
Reforma Depositados no Arquivo Municipal de Salvador” e realizadas pelo arquiteto
Márcio Campos em 1992)

Projeto de Revitalização da Orla. http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/projeto-de-


revitalizacao-para-orla-inclui-9-trechos-e-custo-estimado-de-r-111-milhoes/
(12/06/2013) (acesso 04/07/2017)

QUERINO, Manuel. A Bahia de Outrora (Prefácio e Notas de Frederico Edelweiss)


Coleção Estudos Brasileiros. Série 1. Autores Nacionais. Volume 3. Livraria Progresso
Editora. Salvador. 1946

RAHY, Izarosara Borges. VERTICALIZAÇÃO E PAISAGEM URBANA. III Seminário


Internacional Urbicentros. Salvador, 22 a 24 de outubro de 2012. Universidade Federal
da Bahia. 2012. In: http://www.ppgau.ufba.br/urbicentros/2012/ST311.pdf (acesso em
fevereiro 2014)

RANGEL, Tauã Lima Verdan. Comentários às Recomendações da UNESCO sobre


a salvaguarda da Paisagem Histórica Urbana
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-as-recomendacoes-da-
unesco-sobre-a-salvaguarda-da-paisagem-historica-urbana,54943.html (acesso27/
05/16)

REBOUÇAS, Diógenes. Salvador da Bahia de Todos os Santos no Século XIX.


Diógenes REBOUÇAS (pintura documental e textos) e Godofredo Filho (notícias e
notas). Pedro Calmon (apresentação) e Thales de Azevedo (introdução). São Paulo:
Praxis Artes Gráficas Ltda. Salvador, Bahia, maio de 1979. Texto bilíngue – português
– inglês. 125 p.: il.
259

REIS, Borges dos. História do Brasil (Curso dos Gymnasios e Lyceus) 1a parte
(séculos XVI, XVII e XVIII). Bahia. 1905 e 2a parte (Século XIX). Bahia. Litho-
Typographia Reis & C. 1905

REIS Filho, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil / Nestor Goulart Reis
Filho. – 12.ed. São Paulo: Editora Perspectiva. 2013.

_________ . Imagens de Vilas e Cidades do Brasil colonial. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, FAPESP, 2000. (Livro Fac-
símile de Mapas da Biblioteca Nacional)

RELAÇÃO dos bens immoveis pertencentes ao Patrimonio deste Mosteiro. Mosteiro


de São Bento, Livro 298. (Item 16, p.07) (manuscrito a bico de pena)

RELAÇÃO de Documentos impressos (Atos e Despachos da intendência Municipal


de Salvador)

RELAÇÃO de Documentação da Secretaria do Governo a partir de 1889 (Seção de


Arquivo Republicano)

RELATÓRIO da Directoria de Obras Publicas Municipaes, assinado pelo Engenheiro


Fiscal do Serviço de Bondes da “Bahia Tramway Light and Power Company” e
encaminhado à Intendência Municipal em 14/08/1908, tratando de “irregularidades”
no serviço de bondes.

RIBEIRO, Alexandre Vieira. A cidade de Salvador: estrutura econômica, comércio


de escravos, grupo mercantil (c.1750 – c.1800) Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em História Social, IFCS - UFRJ. Orientador: Antônio
Carlos Jucá de Sampaio. Rio de Janeiro. Maio/2009. In:
http://teses2.ufrj.br/Teses/IFCS_D/AlexandreVieiraRibeiro.pdf (acesso em
23/04/2014)

RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem Cultural e Patrimônio - Rio de Janeiro:


IPHAN/COPEDOC. 2007.p.152; 16X23cm (Pesquisa e Documentação do IPHAN:1)
http://pt.scribd.com/doc/125888845/Paisagem-Cultural-e-Patrimonio-Rafael-Winter-
Ribeiro#scribd (acesso 04/04/2016, 17:16)

ROCHA PITTA, Sebastião da. História da América Portuguesa. (Prefácio e Notas


de Pedro Calmon) Clássicos Jackson, Vol. 30. Gráfica Editora Brasileira. São Paulo,
1950.

ROLIM, Liz Cintra. Educação e Lazer - A aprendizagem permanente. Série


Educação em Ação. Editora Ática. São Paulo, 1989.

ROLNICK, Raquel. História Urbana: História na Cidade? In: Cidade & História,
1992. pg. 27
260

SAES, Alexandre Macchione. Modernização e concentração do transporte urbano


em Salvador (1849-1930). (Artigo publicado Revista Brasileira de História v.27 n.54
São Paulo dez. 2007 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
01882007000200012&lng=pt&nrm=iso. Acesso 21/08/2017

SALVADOR. Decreto-Lei 701 de 09 de março de 1948. Dispõe sobre a divisão e


utilização da terra na zona urbana da cidade, regula o loteamento de terrenos na
mesma zona situada e dá outras providências. Salvador: Prefeitura Municipal de
Salvador, cópia encadernada do acervo da Biblioteca da Fundação Mario Leal
Ferreira. Consultado em fev. 2011.

SALVADOR. Lei 1.146 de 19 de junho de 1926 (que regula as construcções,


reconstruccções, accressimos e modificações de prédios). Bahia Imprensa Official do
Estado, 1927 escaneada e disponível em PDF
https://archive.org/stream/codigodeobras-salvador-1926/obras#page/n15/mode/2up
(03/09/17)

SALVADOR, Collecção de Instrucções, Resoluções e Regulamentos.


Complementar as dos anos de 1893 a 1900. Bahia, Litho-Typographia Tourinho,
1901.

SALVADOR, Prefeitura da Cidade do. OCEPLAN / Órgão Central de Planejamento.


Estudo de Disponibilidade de Terras. Inventário de Loteamentos. Outubro de
1976. Município de Salvador (1932 – Set / 1976). Planta Geral DT -001/01. Tabela I.
Loteamentos. Folhas 1 a 4. Anexo do Plano de Desenvolvimento Urbano –
PLANDURB. (Série Estudos Informativos 2. 205 p.) Fonte: Plantas da Cidade (DMER,
DEP e Cruzeiro do Sul) complementado com Plantas de Loteamentos. (Escala
1:20000)

SALVADOR. Posturas municipais 1897 a 1929. Anotadas em encadernação


intitulada “Concelho Municipal, Registro de Posturas”. Consultado em jan. 2011 no
Arquivo Histórico Municipal, Fundação Gregório de Matos, Prefeitura Municipal de
Salvador.

SALVADOR e a Baía de Todos os Santos. Guia de Arquitetura e Paisagem =


SALVADOR y la Bahía de Todos los Santos.Guía de Arquitectura e Paisaje – Ed.
Trilingue. – Sevilla: Consejeria de Obras Públicas y Vivienda, Dirección General de
Rehabilitación y Arquitectura, 2012. 712 pp. Il. Fot.col.y n; 26 cm + Plano guia de
arquitectura. – (Guias de Arquitectura) Coordina: Eugênio de Ávila Lins y Mariely
Cabral de Santana. Participan: Ministério das Cidades (Brasil), Governo do Estado da
Bahia (Brasil), Ministério de Assuntos Exteriores y Cooperácion, AECID (España).
Texto trilingue português – espanhol – inglês. ISBN (España) 978-84-7595-282-6.
ISBN (Brasil): 978 - 85 – 61458 – 54 – 6

“Salvador e Bahia ... tempos passados!” (Página do Face book criado e


administrado por Heraldo Lago Ribeiro em 20 de abril de 2014.
https://www.facebook.com/groups/475176305884533/) (acesso 24/01/17)
261

SAMPAIO, Antônio Heliodório Lima. Formas Urbanas: cidade real & cidade ideal –
contribuição ao estudo urbanístico de Salvador. Salvador: Quarteto Editora /
PPG/AU, Faculdade de Arquitetura da UFBA,1999. (432 p.: Il.)

_________. 10necessárias falas: cidade, arquitetura e urbanismo / Heliodorio


Sampaio. - Salvador: EDUFBA; Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, 2010. 252 p.: Il

SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no


século XIX / Consuelo Novais Sampaio. – Rio de Janeiro: Versal, 2005. Il.

SAMPAIO, Theodoro. História da Fundação da Cidade do Salvador. (Obra


póstuma) Tipografia Beneditina Ltda., Bahia,1949 (il).
_________ . A Cidade do Salvador: sua fundação na Baía de Todos os Santos.
In: Coleção Estudos Baianos, Nº 1, Oficinas da Imprensa Oficial da Bahia, 1960. 142
p. datilografadas. (p. 15-28)

SANTOS, Mário Augusto da Silva. Crescimento urbano e habitação em Salvador


(1890-1940) RUA: Revista de Arquitetura e Urbanismo/ UFBA. FAUFBA. Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo, V.3. N. 4/5.Salvador. 1990, pg. 20 – 29 (tem versão em PDF
acessada em 03/05/2014)

SANTOS, Milton. Espaço & Método. São Paulo: Nobel, 1985 (Coleção Espaços)

__________. A Cidade e o Urbano como espaço-tempo. In: Cidade & História, Ana
Fernandes e Marco Aurélio A. de F. Gomes (Org.) Salvador: UFBA / Faculdade de
Arquitetura, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo; ANPUR, 1992.p.241

SANTOS NETO, Edson Fernandes D´Oliveira. Estância hidromineral de Cipó: um


balneário no Sertão da Bahia / Edson Fernandes D´Oliveira Santos Neto. – Salvador:
EDUFBA, IPAC, 2013. 205 p.: il.

SANTOS, Milton. O Tempo na Filosofia e na História. Coleção ”Documentos”. Série


Estudos sobre o Tempo. USP. Instituto de Estudos Avançados. 1992 (entrevista –
cópia datilografada. p. 19 a 25)

___________ Novas e Velhas Ocupações na Salvador Republicanas (1890-1930).


Salvador: UFBA: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, 1990 (Comunicação
apresentada no Seminário de História Urbana. p.255. (Datilografado)

___________ Crescimento Urbano e Habitação em Salvador (1890-1940). Em


RUA: Revista de Arquitetura e Urbanismo Salvador / Universidade Federal da Bahia,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Salvador: Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo. V.1, N.1, 1988. (Semestral) p. 20

SANTOS, Elisabete; PINHO, José Antônio Gomes de; MORAES, Luiz Roberto Santos
e FISCHER, Tãnia (org.). O Caminho das Águas em Salvador: Bacias
Hidrográficas, Bairros e Fontes. – Salvador: CIAGS/UFBA; SEMA, 2010. 486p.: il.-
(Coleção Gestão Social) (https://www.passeidireto.com/arquivo/11211691/caminho-
das-aguas. Acesso 16/03/2017)
262

SECCHI, Bernardo. A Cidade do Século Vinte. [Tradução e notas Marisa Barda] -


São Paulo: Perspectiva, 2009 – (Coleção Debates; 318).

SCHLEE, Andrey e FICHER, Sylvia. Bahia – um outro modernismo: paralelo e


escamoteado. 2º Seminário DOCOMOMO N-NE. Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, junho de 2008. (In:
http://www.docomomobahia.org/AF_Andrey%20Rostenhal%20e%20Sylvia%20Fiche
r.pdf

SILVA FILHO, Rubens Antônio da. A integração de recursos históricos aos


geológicos no resgate da construção paleogeomorfológica e paleovisual
litorânea - o caso de Salvador, Bahia. Bahia / Rubens Antonio da Silva Filho. –
Salvador: O Autor, 2008. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia.
PPPG - IGEO. Geologia, 2008. 342 p. il.

SIMAS FILHO, Américo. Evolução Física de Salvador nos Séculos XIX e XX.
Volume 3 (1800-1889) e Volume 4 (1889-1975). (Minuta de texto inédito). Centro de
Estudos da Arquitetura na Bahia/ CEAB, Faculdade de Arquitetura da Universidade
Federal da Bahia, 1978. (Minuta de texto inédito)

___________. Salvador no Século XIX - O Governo do Conde dos Arcos.


Conferência proferida na Universidade Católica. Texto extraído da Apostila “A Cidade
do Salvador, Antes e Depois da Independência” do mesmo autor e distribuído no
Seminário sobre Salvador. Faufba (27.05). 1986

SIMÕES Junior, José Geraldo. O ideário dos engenheiros e os planos realizados


para as capitais brasileiras ao longo da Primeira República. Em Arquitextos, 090.
03ano 08, nov. 2007 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.090/190
Acesso 02/08/2017

SIPAC. http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/municipio/salvador/ Acesso 09/08/16)

Sistema de Informação Municipal de Salvador/ SIM. In:


http://www.sim.salvador.ba.gov.br (accesso: 23/04/2014)

SOUSA, Anderson de Jesus. Delimitação de Bairros de Salvador. 2007. Centro


Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social – CIAGS / Administração – UFBA
/ Edital MCT/CNPq/CT - Hidro/ CT-Agro / Fundação Onda Azul - CONDER -EMBASA
/ SEMARH – SRH/CRA / SEPLAM - SMA – PMS (Apresentação Pública) in:
http://pt.slideshare.net/andersondejesussousa3/apresentacao-sociedade-civil-
delimitacao-de-bairros (acesso 23/04/14)

SOUSA, Francisco das Chagas de Loiola. Diálogos com Michel de Certeau sobre
Pesquisa nas Ciências Humanas. In: Revista Crítica Histórica Ano II, Nº 3,
Julho/2011 ISSN 2177-9961181 (pdf. De Revista Crítica Histórica, v. 1, p. 181-194,
2011).

SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. 4ª ed. São Paulo.
Cia Editora Nacional/ Ed USP. 1971
263

SPHAN, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Bens Tombados e


Processos de Tombamento em andamento (Atualização em 25/11/2016). Em
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/2016-11-25_Lista_Bens_Tombados.pdf
(Acesso em 22/10/17)

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Salvador, Centro Editorial e


Didático da UFBA, 1974.

TEIXEIRA, Cid. Salvador: História Visual. – Salvador: Correio da Bahia, Salvador;


Impressão Gráfica Santa Helena, 2001. 272p.: Il. (Livros 1- Visão Geral da Cidade; 4
– Da Praça Municipal à Piedade; 5 – da Piedade ao Campo Grande; 6 – Do campo
Grande à Barra; 7 – Do Comércio à Ribeira; 8 - Transportes Coletivos e 10 – Fortes e
Praias)

UNESCO: RECOMENDAÇÕES SOBRE A PAISAGEM HISTÓRICA URBANA (Paris,


maio de 2011). 2014. 08 p. Em: http://psamlisboa.pt/wp-
content/uploads/2014/03/UNESCO_RECOMENDACAO.pdf (acesso 26/05/2016) e
http://docplayer.com.br/12978655-Unesco-recomendacoes-sobre-a-paisagem-
historica-urbana-preambulo.html (acesso 14/09/2016)

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Salvador: transformações e permanências


(1549-1999) / Pedro de Almeida Vasconcelos. - Ilhéus: Editus, 2002. 456p.: il.

___________ . Processos e formas sócio – espaciais das cidades: propostas


para avançar no debate. In: Estudos sobre dinâmica territorial, ambiente e
planejamento / Sylvio Bandeira de Mello e Silva, Pedro de Almeida Vasconcelos et alli
– João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2011. (p.07 a 28)

____________. Dois séculos de Pensamento sobre a cidade / Pedro de Almeida


Vasconcelos. – 2. ed. – Salvador: Edufba; Ilhéus: Editus, 2012. 618p.

____________. AS METAMORFOSES DO CONCEITO DE CIDADE. Mercator,


Fortaleza, v. 14, n. 4, Número Especial, p. 17-23, dez. 2015.ISSN 1984-2201 © 2002,
Universidade Federal do Ceará. )

VASCONCELOS, Sílvio, (p 54) SciELO. 2015.


www.scielo.br/pdf/mercator/v14nspe/1984-2201-mercator-14-04-spe-0017.pdf

____________. A CIDADE, O URBANO, O LUGAR - Revistas


USP.2016.In:www.revistas.usp.br/geousp/article/download/123359/119695PDF.celos

VEIGA, Elba Guimarães; CASTRO Cássio Marcelo Silva, OLIVEIRA, Anderson


Gomes de BULHÕES Adalberto, SAMPAIO, Vitória Regia; FARIAS Aline; CARDOSO,
Carlos Henrique; AFONSO, Leonardo Dias. O Processo de Delimitação dos Bairros
de Salvador: Relato de uma Experiência. RIGS / revista interdisciplinar de gestão
social; jan. / Abr. 2012 / v.1 n.1 p. 131-147 / ISSN: 2317-2428 /copyright@2012 /
www.rigs.ufba.br. In: http://www.rigs.ufba.br/pdfs/RIGS_v1n1_art7.pdf (accesso:
23/04/2014)
264

VERGER, Pierre. Notícias da Bahia - 1850. 1981. Salvador: Editora Corrupio, F. C.


Ba. 1981.

VIANNA, Hildergardes. Breve notícia sobre acontecimentos na Bahia no início do


século XX. Salvador: Centro de Estudos Baianos da UFBA. Nº 99, 1983 (68 p)

VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Vol. I / Livro I (Comentários de
Braz do Amaral) Editora Itapuã, Bahia, 1969.

VIANNA, Marisa. “...vou pra Bahia”: Cidade do Salvador em Cartões-Postais


(1898-1930). – Salvador: Bigraf, 2004. 230p.: il.

VILLA, Simone Barbosa Em ação inédita, IPAC promove tombamentos de prédios


modernistas e art déco na Bahia. Publicação: 01/06/2010. Em
http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/em-acao-inedita-ipac-promove-tombamentos-de-
predios-modernistas-e-art-deco-na-bahia. Acesso 24/02/2017)

WILDBERGUER, Arnold. Os Presidentes da Província. 1949 (Biblioteca do CEAB)

ZEIN, Ruth Verde. Brutalismo. / Ruth Verde Zein. 06 de dezembro de 2012


(http://www.archdaily.com.br/br/01-84215/quando-documentar-nao-e-suficiente-
obras-datas-reflexoes-e-construcoes-teoricas-ruth-verde-zein.(acesso 24/11/2014)

ZUCCONI, Guido. A Cidade do Século XIX. / Guido Zucconi [Tradução e notas


Marisa Barda] - São Paulo: Perspectiva, 2009 – (Coleção Debates; 319). (205 pg. Il.)
265

ANEXOS
ANEXO 01. BENS TOMBADOS NA BARRA (e imediações)

Com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e a promulgação do Decreto - Lei Federal N°25 em 1937, Salvador, a
primeira capital do país, contando ainda com grande número de exemplares arquitetônicos do período colonial, foi objeto dos primeiros tombamentos federais,
alguns dos quais na Barra e suas imediações (Graça e Vitória), que foram posteriormente ampliados por aqueles nas esferas estadual, através do Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia / IPAC-BA (1967) e municipal, através da Fundação Gregório de Matos.

EDIFICAÇÃO NOME DADOS PROTEÇÃO


Torre de taipa construída entre 1583 e FEDERAL (IPHAN)
1587, e reconstruído em pedra e cal,
entre 1591 e 1602, em forma hexagonal. Livros do Tombo Histórico e das Belas
FORTE de SANTO ANTONIO Entre 1696 e 1702 recebe a sua forma Artes
(Ou Farol da Barra) atual, sendo o farol instalado em 1839. Tombamento Federal - Processo nº 155-T-
38 em 24/05/1938
Foto. Arquivo pessoal End. Praça Almirante Tamandaré, s/nº,
Farol da Barra, Barra
Construído em 1627 em alvenaria de FEDERAL (IPHAN)
pedra e cal, possui a fachada sul da casa
do comando revestida de telhas Livro do Tombo Histórico e no das Belas
cerâmica, tratamento impermeabilizante Artes
FORTE de SANTA MARIA encontrado em sobrados baianos de Tombamento Federal - Processo nº 155-
todo o período colonial. T-38 em 24/05/1938
End. Avenida Sete de Setembro, s/nº,
Foto.Lázaro Menezes
Praça Amigos da Marinha, Porto da
/IPAC Barra
A fundação da igreja ocorreu por volta FEDERAL (IPHAN)
dos últimos anos do século XVII, na Vila
Velha, primeiro assentamento com fins Livro do Tombo das Belas Artes
IGREJA DE de colonização na cidade. Tombamento Federal - Processo nº 122-T-
SANTO ANTONIO DA BARRA 38 em 17/06/1938 (inclui todo o seu
End. Avenida Sete de Setembro, Praça acervo, de acordo com a Resolução do
Santo Antônio da Barra, Ladeira da Barra Conselho Consultivo da SPHAN, de
Foto. Arquivo pessoal 13/08/1985, referente ao Processo
Administrativo nº 13/85/SPHAN)
FEDERAL (IPHAN)
Ermida construída em 1536 e edificada
como igreja e mosteiro entre a segunda Livro de Belas Artes
IGREJA DA GRAÇA metade do século XVII e grande parte do Inscrição:149 Data:27-6-1938
XVIII
O tombamento inclui todo o acervo
Foto. Arquivo pessoal
FEDERAL (IPHAN)

Morro localizado na Avenida Sete de Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico


Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Setembro, (Ladeira da Barra), voltado e Paisagístico
OUTEIRO DE SANTO ANTONIO DA BARRA, para a Baía de Todos os Santos e onde Tombamento Federal - Processo nº 464-T-
no Subdistrito de Vitória foi erigida a Igreja de Santo Antonio da 52 em 14/07/1959 (em que foi apensado o
Barra. Processo 1128-T-84 do Forte São Diogo).
Foto: de tela de Alberto
Valença, 1938. Arquivo
Pessoal
FEDERAL (IPHAN)
Palacete eclético com elementos em
ferro. Tombado em abril /1980 (Processo N°
SOLAR DO CARVALHO 984/ 1978) inclusive suas áreas externas

End. Avenida Princesa Leopoldina nº 2.


Foto. Arquivo pessoal
Edifício de meados dos oitocentos, com FEDERAL (IPHAN)
fachada em linguagem neoclássica
SEDE DA ALIANÇA FRANCESA implantado com recuos dos limites do Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. Nº 549,
(Antigo Hotel Colonial; Pensão Francesa) lote, em terreno com declive. de 04/12/1981 (Processo: 975-T-1978)

End. Av. Sete de Setembro, nº 401.


Foto: do face book
Aberto em 1839, foi inicialmente ESTADO (IPAC/BA)
construído para o sepultamento de
ingleses, passando “a atender a todas as Livro do Tombamento dos Bens Imóveis
pessoas não católicas, principalmente Tombamento Estadual - Decreto nº
“CEMITÉRIO DOS INGLESES” protestantes e judias, entre estrangeiros 2.457/1993 em 20/09/1993 (Processo de
de várias regiões. ” (SIPAC/BA) origem: 003/87) Entorno protegido, raio
de 200 m.
End. Avenida Sete de Setembro, nº
3346, Ladeira da Barra
Localizado no sopé do outeiro de Santo ESTADO (IPAC/BA)
Antônio da Barra, foi construído em
1629, quando passou a compor junto Livro do Tombamento dos Bens Imóveis
com os Fortes de Santo Antônio e Santa Tombamento Estadual - Decreto nº.
FORTE de SÃO DIOGO Maria a “Trilogia de Defesa da Barra. 8.357/2002 em 05/11/2002 (Processo de
origem 005/82 e anexo ao Processo 1128-
End. Praça Visconde de Taunay, s/nº, T-84-do outeiro de Santo Antônio da
Foto. Lázaro
Menezes/IPAC Barra Barra). Entorno protegido - Raio de 200 m.
ESTADO (IPAC/BA)
Construído entre 1937e 1944
Livro do Tombamento dos Bens Imóveis
Tombamento Provisório em 31/01/2008
EDIFÍCIO “OCEANIA” Processo nº 0607070001120/15

End. Rua Almirante Marquês de Leão,


Foto:Roberto
nº. 46, Barra
Nascimento / IPAC
Existente em 1621, foi reedificada em FEDERAL (IPHAN)
1666 e em 1809, quando o frontispício
passou a se voltar para o continente. Em Livro do Tombo Histórico
1910 sua fachada foi novamente Tombamento Federal - Processo nº 1528-
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA modificada com acréscimo de elementos T-05. Tombamento provisório em 2007 e
do neoclássico. definitivo em 2014
As “Inscrições lapidares da Igreja da
Vitória” possui Tombamento Federal
End. Praça Rodrigues Lima, s/n, Largo segundo Processo nº 122-T-38 de
da Vitória 17/06/1938) inscrito no Livro do Tombo
Foto. Arquivo pessoal
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico
Obra do artista italiano Pasquale De MUNICIPAL / FGM
Chirico, a estátua, foi inaugurada em
Monumento ao Cristo Nosso Senhor 24/12/1920 no atual morro da O tombamento em 29/03/2017 (segundo a
(Ou Cristo Salvador) Aeronáutica e transferida em 1967 para Lei de Preservação ao Patrimônio Cultural
sua atual localização (“Morro do Cristo”). do Município / Lei 8.550/2014)
(*) Fontes: VASCONCELOS (2002), Salvador e a Baía de Todos os Santos: Guia de Arquitetura e Paisagem (2012), IPAC/BA – SIPAC
(http://www.ipac.ba.gov.br/patrimonio-material/bens-tombados,acesso 24/02/17) e IPHAN / Atualização em 25/11/2016
(http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/2016-11-25_Lista_Bens_Tombados.pdf , acesso em 22/10/17). Fotografias do IPAC/Ba e arquivo da autora.
ANEXO 02. ANTIGOS LOGRADOUROS DA BARRA (e imediações)

2017 Em período anterior Observações

Avenida Sete de Setembro / Corredor da Vitória Caminho para Vila Velha / Caminho do Conselho / Rua Dr. -
José Marcelino
Na altura da Igreja de Santo
Avenida Sete de Setembro / Ladeira da Barra Caminho para Vila Velha / Caminho do Conselho / Estrada Antônio, bifurcava, recebendo o
(Entre os Largos da Vitória e do Porto da Barra) da Barra / “Ladeira do cemitério inglês” (1901) / “Ladeira de nome de “Caminho público para a
Santo Antônio da Barra” (1902) / “Rua Ladeira da Barra Igreja de Santo Antonio da Barra”,
(1917) hoje desaparecido
Avenida Sete de Setembro Rua do Porto / Rua da Areia (1913/1915) -
(Entre o Largo do Porto da Barra e o Forte Santa Maria
Avenida Sete de Setembro
(Entre o Forte Santa Maria e o Forte de Santo Antônio - -
da Barra (Farol)
Região entre as Avenidas
Oceânica e Marques de Leão,
Avenida Presidente Getúlio Vargas / Avenida Oceânica “Quintas da Barra” (1905) onde depois foi implantado o
loteamento “Barralândia”, que
incorporava a Rua Afonso Celso.

Avenida Princesa Isabel / Barra Avenida Caminho (ou Estrada) da Aguada / Estrada da Floresta /
(Entre a Graça e o Largo do Porto da Barra) “Estrada da Graça” (1901) / Ladeira da Graça à Barra (1902)
/ Barra Avenida (1911)
Parte plana da Av.Princesa Isabel,
“Rua Baixa da Graça” (1904) a partir da Alameda Antunes em
direção à Rua Barão de Sergy
Avenida Princesa Leopoldina Ladeira da Graça -
Rua Marquês de Caravelas Rua do Bosque / Rua do Bosque da Barra (1901) -
Rua Alameda Antunes Alameda / Alameda do Bosque -
Rua Eduardo Diniz Gonçalves Travessa Miguel Bournier Transversal da atual Rua Miguel
Bournier
Identificação a partir de Edifício de
Rua Augusto Frederico Schmith Rua Christa D´Ouro (1914) mesmo nome, na Rua Augusto
Schmith, N° 139, na altura do
Shopping Barra
Rua Afonso Celso Rua dos Coqueiros / Rua Coqueiros do Farol -
Conjunto de lotes alinhados, no
alto do Morro do Gavazza e
Rua das Palmeiras “Avenida Angélica Teixeira” representadas no “Projeto de
Loteamento Vila Nova América”
em 1931 e 1939.
Rua César Zama Rua da Alegria -
(?) Rua da Lama (1901 / 1906 / 1914) -
Largo do Porto da Barra / Praça Azevedo Fernandes Porto de Santa Maria (1724) -
Largo da Vitória Praça Rodrigues Lima -
Largo da Graça Praça Dr. Patterson -
Praça Patriarca da Independência Praça Patriarca da Independência Entre as Ruas Barão de Sergy e
César Zama, na altura do Porto
Praça em frente ao Forte São
Praça Visconde de Taunay - Diogo (hoje apenas espaço para
circulação de veículos)
Em frente à igreja de mesmo nome
Praça Santo Antônio da Barra - (formada apenas por árvore e área
gramada, sem equipamentos
públicos)

* A Praça Patriarca da Independência e as Ruas Barão de Sergy, Barão de Itapoã e Rua da Graça, mantiveram suas denominações do século XIX inalteradas.
* A sede da Capitania da Baía de Todos os Santos, localizada no Porto da Barra (1536), é referenciada na bibliografia pesquisada como “Povoação do Pereira”
ou “Vila do Pereira”, em alusão ao Donatário Francisco Pereira Coutinho, passando a ser conhecida como “Vila Velha” ou “Povoação de Vila Velha” ou ainda
“Vila Velha da Vitória” a partir da construção da cidade de Salvador (1549).

* A toponímia é resultante de pesquisa bibliográfica e iconográfica e de endereços constantes nos “Projetos de Construção e Reforma no Distrito da Vitória”
encaminhados para aprovação da Diretoria de Obras Públicas e da Inspetoria de Higiene, entre 1901 e 1917.

Você também pode gostar