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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Com seu crescimento urbano, a cidade de São Luís - MA apresenta duas áreas de
contrastes: a Península da Ponta D´areia e a Ilhinha. Já no Recife - PE, uma ocupação
irregular se iniciou ficando conhecida como Brasília Teimosa, chamando atenção pela
sua disparidade com seu entorno: o Pina. A escolha dos locais se deu pela importância no
contexto urbano das cidades e por serem pontos de antigo contraste urbano e conflito
social. O estudo aborda a análise de fatores históricos em ambos os casos, de seus dados
socioeconômicos e do uso e ocupação do solo. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica e
documental, visitas técnicas, levantamento físico e fotográfico. Com a realização deste
estudo, percebemos muitas semelhanças nas áreas de contraste urbano em ambos os
casos. A pesquisa levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo
tratados ansiando por um País mais igualitário.
ABSTRACT
With its urban growth, the city of São Luís - MA presents two contrasting areas: the Ponta
D'areia Peninsula and Ilhinha. In Recife - PE, an irregular occupation started being known
as Brasília Teimosa, drawing attention for its disparity with its surroundings: Pina. The
sites were chosen for their importance in the urban context of the cities and for being
points of old urban contrast and social conflict. The study approaches the analysis of
historical factors in both cases, of their socioeconomic data and of land use and
occupation. It used bibliographic and documental research, technical visits, and physical
and photographic surveys. By conducting this study, we noticed many similarities in the
areas of urban contrast in both cases. The research raises questions about how the
Brazilian urban contrasts are being dealt with in the hope of a more egalitarian country.
1 INTRODUÇÃO
Os contrastes urbanos estão cada vez mais presentes nas cidades brasileiras.
Observa-se quase sempre que ao lado de zonas com condições insalubres encontramos
condomínios de alto nível social e econômico. Coexistem bairros nobres sendo
margeados por favelas, palafitas ou moradias sem condições mínimas de infraestrutura.
Este impacto é muito presente em todo o Brasil.
A cidade de São Luís (MA) consolidou o seu crescimento no final do Séc. XX
surgindo assim, duas áreas de contraste urbano: a Península da Ponta D´areia e a Ilhinha.
Já no Recife (PE), no final dos anos cinquenta, uma ocupação irregular se inicia numa
área aterrada para receber uma expansão do Porto (fato que não se concretizou) ficando
conhecida como Brasília Teimosa e chamando atenção pela disparidade com seu entorno,
a região do Pina.
Em São Luís, a Península da Ponta D’areia possui uma relação direta com a praia
e se caracteriza por ser a área mais cara e privilegiada da cidade, tendo presença marcante
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
O estudo aborda a análise de fatores históricos em ambos os contrastes urbanos
(Península e Ilhinha em São Luís - MA e a região do Pina e Brasília Teimosa em Recife
- PE), de seus dados socioeconômicos, sua densidade demográfica e de seu uso e
ocupação do solo.
2.2 ESPECÍFICOS
i.Contextualizar historicamente, socialmente, economicamente e demograficamente
estas áreas de contrastes urbano em São Luís – MA (Península e Ilhinha) e Recife – PE
(Pina e Brasília Teimosa);
ii.Compreender o processo de urbanização nas zonas mencionadas;
iii.Perceber o uso e ocupação do solo nestas áreas.
3 JUSTIFICATIVA
A escolha dos locais decorreu, sobretudo da importância das áreas no contexto
urbano das cidades e por serem pontos de interessante contraste urbano e antigo conflito
social. Assim, podemos compreender os agentes causadores e modificadores do espaço.
4 METODOLOGIA
Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, como artigos
científicos, livros e periódicos. Também se empregou de pesquisa documental para
levantamento de dados sobre registros, fotos, mapas, histórico das áreas, análise de
indicadores sociais e elaboração de mapas para determinar o uso e ocupação do solo em
ambos os contrastes urbanos. Juntamente realizaram-se visitas técnicas, levantamento
físico e fotográfico de parte do parque habitacional em São Luís (MA) e Recife (PE).
A expressão "Península da Ponta D’Areia" foi e está sendo muito utilizada pelo
mercado imobiliário de modo a alavancar ainda mais o preço do metro quadrado de
construção da área, pois a expressão "morar na península" gera uma posição social de
destaque na cidade, elevando assim, o famoso status social.
Ocupando território contíguo, a Ilhinha tem na sua origem os mesmos fatores da
Península (aterro da Ponta D’areia e o represamento do Igarapé da Jansen). A área de
maré/mangue foi ocupada por pessoas humildes, que fizeram suas palafitas e passaram a
morar na localidade, originando assim uma ilha pequena, a Ilhinha.
Um fator de crescimento para a Ilhinha foi a Avenida Castelo Branco, que no
decorrer do crescimento dos seus bairros adjacentes (São Francisco e Renascença), no
final dos anos 80, foi alargada se transformando numa das mais movimentadas e
importantes de São Luís.
A Ilhinha foi-se expandindo internamente, consolidando-se como uma ocupação
permanente, caracterizando-se, porém, pela falta de um planejamento urbanístico
adequado.
Na década de 90, foi construída a ampliação da Avenida Litorânea e a Ilhinha
passou a ter melhores acessos, facilitando assim o fluxo viário de seus moradores com a
praia. Ocorreu na mesma época, a remoção das palafitas encontradas na Lagoa da Jansen
para serem relocadas num conjunto habitacional com uma infraestrutura básica já
implantada (Residencial Ana Jansen). Este residencial presencia o crescimento de
inúmeras palafitas ao seu redor, muitas delas, construídas por famílias que ali pretendem
se estabelecer.
Com o passar do tempo a Ilhinha foi crescendo e se consolidando na vertente
socioeconômica de São Luís. As casas que antes eram de palha, madeira, papelão, deram
lugar às casas de taipa, e, mais tarde, às de alvenaria. Com muita persistência da
comunidade, foi implantado saneamento básico (precário), água canalizada, eletricidade,
pavimentação de ruas e escolas. Abaixo, na figura 1 temos uma vista aérea do contraste
urbano em São Luís – MA.
ocupação nestas áreas que são denominadas de “terrenos da Marinha”. Dessa forma, fica
perceptível que a orla do Pina apresenta sérias implicações de caráter ambiental,
especialmente no que concerne ao uso e ocupação do solo (Silva, 2016).
Um dos projetos de maior impacto na área foi o projeto “Cura Beira-Mar”. O
objetivo era a reestruturação da orla, no sentido de oferecer um “melhor ambiente” para
a população e turistas, entre as modificações propostas estariam o ordenamento do
comércio ambulante, a incorporação de equipamentos de iluminação e de lazer, além da
expansão do calçamento; entretanto, as intervenções promovidas pela Prefeitura
provocaram um desgaste ao ambiente praial, uma vez que resquício de vegetação nativa
foi devastado. Houve uma expansão do estacionamento e alargamento do calçadão,
ocupando, desta forma os terrenos da praia, promovendo um grande rebaixamento da
topografia da faixa litorânea, potencializando o processo erosivo natural (Nunes, 2004).
A medida adotada pela Prefeitura foi à implantação de blocos rochosos em toda extensão
da área erodida, fato este que inviabilizou o uso natural da praia nestes trechos. Esse
processo erosivo e a instalação de blocos rochosos foi muito semelhante ao que aconteceu
com a Península em São Luís.
Naturalmente, com o surgimento de prédios com numerosos pavimentos, fez-se
com que aumentasse o esgoto e o lixo doméstico, o fluxo de veículos, o impedimento da
circulação do vento e sombreamento na praia. Como resultado aumentou-se a demanda
sobre recursos hídricos, desencadeando o aumento da perfuração de poços, além de
sufocar e desvalorizar outros prédios baixos e casas, acentuando a “exclusão social”
(Silva, 2016).
Já em território contíguo, apontada sempre como uma conquista social
permanente, a ZEIS de Brasília Teimosa, demonstra um amplo potencial de habitação
popular e uma posição urbana estratégica. Juntamente com suas qualidades, o local
também apresenta problemas que dificultam o seu desenvolvimento integrado junto à
cidade como a falta de parâmetros específicos de controle e uso do solo urbano e a
inexistência de espaço para o crescimento de moradias.
A falta de áreas verdes e/ou livres para novas habitações promoveram a remoção
de pessoas que ocupavam a beira-mar, para outra região da cidade – no Cordeiro – que
embora tenha propiciado moradia, não foi considerada uma alternativa adequada em
razão da retirada da principal atividade econômica da qual sobreviviam (pesqueira), uma
vez que o deslocamento para o antigo local de pesca e transporte dos pescados ficou quase
inviável para muitos.
8 CONCLUSÃO
Com a realização deste estudo, percebemos muitas semelhanças nas áreas de
contraste urbano: o início do povoamento na Ilhinha (MA) e Brasília Teimosa (PE) como
colônia de pescadores, o fato de expulsão e persistência de ambos moradores, a relocação
dos ocupantes das palafitas para conjuntos habitacionais, localização geográfica
semelhante (forte apelo ao mar), seus baixos indicadores socioeconômicos, seu uso e
ocupação do solo marcado pelo adensamento populacional e moradias populares de baixa
qualidade construtiva.
As várias “relocações” dos ocupantes de palafitas tanto em São Luís como no
Recife nos faz pensar como a arquitetura pode fazer para que a área ocupada
irregularmente não volte a ser povoada. Vimos no Recife uma urbanização onde a
comunidade se fez presente transformando a principal avenida do bairro (Av. Brasília
Formosa) em um ponto turístico gerando emprego e renda a seus moradores. Fato este,
que precisa ser copiado em outras situações semelhantes: fazer a comunidade “abraçar”
o projeto e se tornar parte dele.
Surge um novo modelo de urbanização onde ricos e pobres convivem na mesma
região separados muitas vezes por um muro ou por um elemento natural. Este estudo
levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados. Espera-
se algum dia, a construção de um País mais igualitário, onde haja espaço digno para todos
os seus habitantes.
REFERÊNCIAS
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Teimosa? / Dissertação Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco: CCSA.
Administração.
Melo, A. M. F. (1986) A visão da luta de classe na questão do uso e posse de terra: Brasília
Teimosa, Chão de Estrelas, Acampados do Engenho Pitanga. Monografia (Curso de
Serviço Social) - Universidade Católica de Pernambuco, Recife.
Nunes, F. S. (2004) Avaliação ambiental da orla marítima de Brasília Teimosa, Pina - PE,
em paralelo com a obra de reurbanização, através do monitoramento da fauna e flora
associada aos recifes. 68f. Monografia (Especialização em Ambientes Aquáticos) -
Universidade Católica de Pernambuco, Recife.
Santos, Iannara M. C. (2011) Homem do mar, homem de fé: o catolicismo popular como
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Villaça, F. (1998) Espaço intra-urbano no Brasil. 2ed. São Paulo: Editora Nobel.