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EDITAL Nº 01/2022 – DIFOR/FUNDAJ

O Restauro como Prática Educacional: projeto de restauro para o Colégio Oliveira Lima
Tema: Este pré-projeto tem como objeto de estudo o imóvel do endereço nº 347 da Rua Barão
de São Borja, no bairro da Boa Vista, centro histórico da cidade do Recife-PE. O imóvel está
localizado no Setor de Preservação Rigorosa (SPR) da Zona Especial de Preservação do
Patrimônio Histórico-Cultural da Boa Vista (ZEPH-08) e, portanto, é preservado em âmbito
municipal, de acordo com a Lei nº 13.957/1979 (PPSH/Recife) e o Decreto nº 11.888/1981.
Além da sua localização em área de preservação do patrimônio cultural, o imóvel é um marco
na paisagem do bairro da Boa Vista e um representante do grupo de colégios tradicionais do
centro da cidade, visto que há mais de um século possui o uso educacional. O estado regular de
conservação da edificação e seus bens integrados é preocupante e uma das motivações para
proposição desse projeto de restauro.
Caracterização do Objeto: No início do século XVII, a ocupação do que viria a ser a cidade
do Recife se concentrava ao sul do Istmo de Olinda (atual bairro do Recife). Em 1639, com o
início do período da invasão holandesa, intensificou-se a ocupação tanto no aludido bairro,
como na ilha de Antônio Vaz (atuais bairros de Santo Antônio e São José). O bairro da Boa
Vista, localizado no que se chamava de continente, foi o último dos 4 bairros do núcleo urbano
antigo da cidade a ser mais densamente ocupado. O mapa de 1763 da Figura 1, indica a
ocupação inicial do bairro da Boa Vista com a representação das ruas mais antigas do bairro e
a ponte que conectava a ilha de Antônio Vaz ao continente. Nesse período, a tipologia
predominante das edificações eram as casas térreas sem recuo e os sobrados estreitos, alongados
e altos, com até 5 pavimentos (REYNALDO, 2017). Essa última tipologia estava localizada nas
ruas mais nobres, como a Rua da Imperatriz, e abrigavam no térreo o uso comercial e nos demais
pavimentos a residência dos comerciantes.
Figura 1 – Bairro da Boa Vista Figura 2 – Ocupação na R. Figura 3 – Lote da Rua Barão de São
no Mapa de 1763 Barão de S. Borja (1848-1875) Borja, nº 347, Mapa de 1906

Fonte: Acervo Rede Memória. Fonte: Biblioteca Nacional. Fonte: Acervo Museu Paulista da USP.
Em meados do século XIX, novas tipologias e formas de morar vão se configurando na cidade
do Recife, principalmente nos arrabaldes, áreas mais afastadas do núcleo urbano central e que
se conformaram ao longo do Rio Capibaribe, um dos vetores de expansão da cidade. O mapa
da Figura 2, que registra o período entre 1848-1875, demonstra esse espraiamento das
edificações no Recife, nessa cartografia já se verifica a existência de ocupação na área onde
está localizada a edificação objeto de estudo.
A implantação do casarão no lote pode ser identificada na cartografia de 1906 (Figura 3), que
demonstra o casarão, com tendência estilística eclética, sem recuo frontal, mas com recuos
laterais e de fundos. Essa característica tipológica da edificação diferencia os modos de morar
desse trecho da Boa Vista, de ocupação mais tardia, do seu núcleo mais antigo, onde
predominam os sobrados e as casas térreas sem recuos. Essas duas últimas tipologias,
paulatinamente, passaram a ser compreendidas como insalubres e inadequadas à moradia,
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ocasionando uma busca dos mais abastados para se instalarem em edificações soltas no lote,
com mais aberturas e mais salubridade (REYNALDO, 2017).
As 16 esculturas existentes na platibanda do imóvel revelam a pompa que marcou a arquitetura
de meados do século XIX. Além dos valores artístico, histórico, cultural e urbanístico, deve-se
destacar o valor que o uso educacional nesse imóvel representa, visto que desde 1915
funcionava no imóvel o Colégio Prytaneu (Figuras 4 e 5), estabelecimento de instrução primária
e secundária para o sexo feminino. Em 1928, o imóvel foi adquirido pelo Governo do Estado
de Pernambuco mantendo o uso educacional com a Escola Industrial Feminina do Recife e,
atualmente, esse uso permanece com a Escola de Referência em Ensino Médio (EREM)
Oliveira Lima.
Figura 4 – Anúncio do Colégio Prytaneu no Diário Figura 5 – Anúncio do Colégio Prytaneu no Jornal
de Pernambuco, em 1920 do Recife, em 1915

Fonte: Memória Biblioteca Nacional. Fonte: Memória Biblioteca Nacional.


Há mais de um século o imóvel abriga atividades pedagógicas, resistindo às mudanças ocorridas
no bairro da Boa Vista nesse período. Segundo Menezes (2015), a competição entre os usos
comercial e residencial no centro histórico do Recife, notadamente nos bairros de São José e da
Boa Vista, tem afastado o uso residencial da área central, principalmente nas tipologias edilícias
mais antigas. Ainda assim, o polígono de preservação da Boa Vista (ZEPH-08) se mantém como
um reduto habitacional das classes sociais menos favorecidas. A permanência das residências
nessa área, portanto, também alimenta a manutenção do uso educacional, considerando que esse
é um uso suporte ao residencial.
Figura 6 – Rua Barão de São Borja, nº 347, em Figura 7 – Rua Barão de São Borja, nº 347, em
1980 2018

Fonte: Acervo DPPC. Fonte: Acervo DPPC.


No que se refere ao imóvel, apesar dos danos nele identificados como: (i) desprendimento do
revestimento; (ii) vidros das esquadrias quebrados; (iii) manchas de umidade; (iv) estado
precário das estátuas da platibanda, e de seu atual estado regular de conservação, nos termos da
integridade física do bem, a edificação mantém preservadas suas características estilísticas e
tipológicas, com alguns pontos descaracterizantes como as aberturas na alvenaria para inserção
de caixas de ar-condicionado, descaracterização da varanda lateral, além de construção de
anexo colado ao edifício preservado.
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Objetivo geral: Elaborar projeto de restauro para o imóvel da R. Barão de São Borja, Nº 347,
buscando utilizar técnicas e métodos que se adequem às necessidades do imóvel. Objetivos
Específicos: (i) adequar o uso educacional existente ao projeto de restauro proposto; (ii)
integrar os estudantes nas etapas da proposta e execução do restauro; (iii) elaborar ações de
educação patrimonial com os estudantes da EREM Oliveira Lima; (iv) difundir a história da
edificação para população da cidade do Recife.
Justificativa: A definição do imóvel em questão para o desenvolvimento de Projeto de
Restauro considerou os danos identificados na edificação, acima apresentados, bem como sua
classificação como Imóvel de Risco 3 (Risco Alto) de acordo com a Secretaria-Executiva de
Defesa Civil (SEDEC), em 20181. Ademais, a relevância histórico-cultural da Escola Oliveira
Lima, além das características artísticas da edificação e a permanência do uso educacional,
foram fatores relevantes para escolha desse imóvel. Contribuíram também o fato do imóvel ser
de propriedade pública, do Governo do Estado de Pernambuco, além da possibilidade de propor
ações de educação patrimonial junto aos estudantes. O projeto a ser desenvolvido, portanto,
pode promover resultados para além do restauro físico da edificação, reverberando na
integração dos estudantes e da comunidade do entorno com a preservação do patrimônio
cultural.
Documentação Gráfica: Consta no Acervo da DPPC, órgão da Prefeitura da Cidade do Recife
(PCR), os seguintes materiais: (i) plantas e cortes do Acervo de Saturnino de Brito no início do
século XX; (ii) fotografias da década de 1970/1980; (iii) fotografias de vistoria em 2018; (iv)
ficha cadastral do imóvel de 1984. Além disso, é possível encontrar vasto material sobre o
imóvel nos jornais antigos disponíveis no site da Biblioteca Nacional, nas cartografias antigas
disponíveis no Museu da Cidade do Recife, entre outros acervos públicos.
Memorial Descritivo: A autora desse projeto é Arquiteta e Urbanista, integrante do Grupo de
Estudo sobre Mercado Fundiário e Imobiliário (Gemfi/UFPE) na pesquisa sobre Mercado
Imobiliário em Centro Históricos (MICH), desde 2014. Desenvolveu como trabalho de
conclusão de curso (TCC) o tema “Santa Casa de Misericórdia: entre a lógica rentista e a
conservação do patrimônio”, dando continuidade a essa pesquisa em sua dissertação de
mestrado analisando, o estado de conservação, de preservação dos imóveis da irmandade e sua
relação com os preços de aluguel praticados no CHR. Entre 2017 e 2021, integrou a equipe
técnica da DPPC, cujas atividades consistiam em: elaboração dos diagnósticos das 33 ZEPH do
município, pesquisa e análise de dados iconográficos e cartográficos, entre outras atividades.
Atualmente, é técnica analista dos processos de licenciamento urbanístico nas áreas de
preservação do patrimônio cultural, analisando projetos de restauro, intervenção e/ou
conservação para edificações protegidas pelo munícipio do Recife.
Referências Bibliográficas
MENEZES, L. R. Habitar no centro histórico: a habitação de interesse social como instrumento
de reabilitação do Centro Histórico do Recife. Recife: Dissertação de Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano. Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), 2015.
REYNALDO, A. As catedrais continuam brancas. Recife: CEPE, 2017.

1
Fonte: Portal de Licenciamento Urbanístico da PCR.

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