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INTERVENÇÕES NO CENTRO

ANTIGO DO RECIFE
Contextualização, Diagnóstico e Análise

PROJETO URBANO DA PAISAGEM


Alunos: Claudia Truppel, Jonathan Pinheiro, Patrícia Paim
BAIRRO RECIFE
Região Metropolitana de Recife.
Municípios limítrofes: Camaragibe,
Breve relato histórico
Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista A chegada das tropas e forças portuguesas a costa
e São Lourenço da Mata. brasileira, culminou na ocupação e construção dos
Área total: 218,843 quilômetros quadrados. primeiros equipamentos na costa do Recife. No início a
População total: 1.653.461 habitantes.
cidade era apenas uma vlia de pescadores, totalmente
Fundação: 12 de março de 1537
dependente de Olinda.
Foi somente após a invasão holandesa ao litoral
Pernambucano, que Recife passou a se desenvolver. Os
Holandeses ocuparam Recife durante o período de
1637 e 1654, construindo diversos equipamentos
urbanos.
A partir do momento que os Portugueses retomaram
Recife, a cidade cresceu como ponto comercial,
tornando-se um importante centro de comércio na
costa nordestina. Isso deu-se ao fato de os portugueses
aproveitarem a infraestrutura urbana deixada pelos
Holandeses.
Principais características
O Bairro do Recife é a mais antiga porção da cidade do Recife. Faz parte do centro histórico da
cidade, em conjunto com os bairros de Santo Antônio, São José e Boa Vista. Do século XVII até o
início do século XX, foi o centro econômico da cidade do Recife e da região açucareira de
Pernambuco. Sede do principal porto colonial do Nordeste, o bairro surgiu como uma pequena
"lingueta", que após sucessivos aterros ganhou a configuração atual de ilha

A partir do final da década de 1930, sofreu um longo processo de esvaziamento econômico e de


degradação das infra-estruturas urbanas, devido ao deslocamento do “centro econômico” para o Bairro
de Santo Antônio. Nele mantiveram-se o grande negócio, principalmente o comércio atacadista, os
serviços financeiros e o comércio externo. O porto também se ampliou, ganhando novas áreas
desocupadas do Bairro. Entretanto, a economia local perdeu de vez a imagem associada ao comércio e
aos serviços de prestígio. Foi a época de ouro da boêmia, dos cabarés, das boates e dos prostíbulos.
A metropolização dos anos 60 e 70 levou a uma descentralização das atividades e a uma redefinição
funcional dos espaços da economia urbana recifense. Dois grandes vetores de expansão residencial e
comercial foram criados: um para o Sul e o outro para o Centro-Oeste, onde se concentraram as
habitações verticais das classes média e alta, seguidas do comércio e dos serviços especializados e de
alto valor agregado. Tal movimento teve forte impacto no centro da cidade, uma vez que funções
tradicionais de CBD foram deslocadas para os vetores de expansão. A tudo isto se soma uma série de
políticas públicas mal-sucedidas que acelerou a degradação da área central nos anos 80 e 70. Devido à
grande crise econômica e à descentralização, o espaço central tornou-se uma área de concentração do
comércio de produtos de primeira necessidade. A centralidade do sistema de transporte favoreceu o
deslocamento das populações de baixa renda para o centro e a conseqüente proliferação de
vendedores ambulantes e camelôs. Apenas em 1976, o centro do Recife passa a ser palco de ações
“revitalizadoras”, que buscavam integrar o desenvolvimento econômico com a preservação das formas
originais.
Contexto e relevância do sítio histórico
Foi criado o “Escritório de Revitalização do Bairro do Recife”, formado, basicamente, pelo
mesmo grupo que elaborou a estratégia de ação para o Centro, e iniciada uma forte
campanha de divulgação dos seus trabalhos. A orientação foi a de conservação dos sítios
históricos, só que fortemente influenciada pelas experiências italianas de revitalização
(CERVELATTI & SCANNAVINI, 1976). Houve o propósito de resgatar a “memória” da
população do Bairro e sua integração ao processo de elaboração dos projetos. Entretanto,
tal postura foi de pouca valia para a reversão do processo de degradação da área.

Em 1992, no momento da elaboração do Plano de Revitalização do Bairro do Recife (PRBR), o


total de área construída do Bairro do Recife era de 523.447 m2 . A “ociosidade” na ocupação
da área construída do Bairro era de 15%, aproximadamente, bastante elevada,
considerando-se que nesta cifra não estava computada a área construída subutilizada.
Cabe ressaltar que parte substantiva da área total construída do Bairro (43%) requeria algum
tipo de obras de recuperação, por não apresentar bom estado de conservação.

Em 1998, o bairro histórico do Recife foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) e se destaca pela diversidade arquitetônica, com presença de
diferentes padrões urbanísticos em sua área. O local é classificado como um Centro Histórico
de Interesse Arquitetônico Urbanístico e ou Cultural.

Praça da Independência : Igreja Matriz [do Santíssimo Sacramento] de


Santo Antônio : Recife, PE
Ações que culminaram no tombamento histórico do bairro do
Recife e a sua revitalização a partir de 1998

Criado Zoneamento do
A primeira Tentativa de valorização
Bairro e inclusão no
grande reforma Imobiliária
PPSH/RMR (Plano de
do Porto do Recife teve
Decadência do Bairro Preservação dos Sítios
seu início em 1909 Descaracterização do sítio Histórico
Históricos da Região
Metropolitana do Recife)
em 1978

Novo plano de Tentativa de integrar


revitalização em 1993 desenvolvimento com a preservação
com enfoque econômico, das formas originais

histórico e cultural. Manter ambiência local


PRIMEIRA INTERVENÇÃO | INÍCIO SÉCULO XX

Os primeiros projetos - Boa parte do Bairro do Recife, com seus sobrados, ruas enviesadas,
ruelas, arcos, igrejas e outros marcos históricos, foram demolidos para
e polêmicas - para dar lugar a um novo e moderno bairro com "ares europeus". Os
reformar o Porto do sobrados, com 2, 3 e até 4 andares, possuíam um comércio no térreo e
os demais andares eram habitados pela família do comerciante. Com a
Recife começaram a ser
Motivações, Estratégias e Métodos

reforma, que teve início nas primeiras décadas deste século, o cenário
elaborados em 1815 e do bairro mudou significativamente ganhando um traçado influenciado
pelo urbanismo francês do século XIX, principalmente aquele
estenderam-se até implementado por Haussmann.
1908.

O projeto também abrangeu a reforma do Bairro do Recife ou da


A primeira Freguesia São Frei Pedro Gonçalves (nomenclatura administrativa do
grande reforma bairro até as primeiras décadas do século XX) promovendo, junto às
intervenções de melhoramentos portuários, uma significativa
do Porto do Recife teve transformação urbana e social do bairro. Assim, o Recife sofreu a sua
seu início em 1909 primeira grande reforma urbana.
PRIMEIRA INTERVENÇÃO | INÍCIO SÉCULO XX

- Foram alargadas ruas, como a Marquês de Olinda, e criadas outras,


a exemplo da Avenida Rio Branco;

- Aterros foram realizados;

- Foram executados planos de saneamento associados às


ideias sanitaristas da época,
Motivações, Estratégias e Métodos

(no Recife o estado de insalubridade era grave);

A reforma, no entanto, não levou em consideração a conservação do patrimônio


histórico. Prédios de suma importância histórica foram destruídos:

- Igreja do Corpo Santo, construída pelos portugueses na metade do século XVI, nos
primórdios da cidade,
- Arcos da Conceição e Santo Antônio, que davam passagem para a Ponte Maurício de
Nassau.
- Fortes datados do século XVII, como o Forte do Picão construído nos arrecifes em
1614.
- Dos 1.180 prédios do bairro, 205 foram demolidos.

Houve desapropriações e os antigos moradores formaram uma população


marginalizada, ocupando os prédios em ruínas ou erguendo barracos.
PRIMEIRA INTERVENÇÃO | INÍCIO SÉCULO XX
Motivações, Estratégias e Métodos
APÓS A PRIMEIRA INTERVENÇÃO | INÍCIO SÉCULO XX

- Re-apropriação do bairro, com companhias de seguros,


instituições bancárias, organizações de comércio de
importação e exportação;

- Volumoso número de embarcações, com isso o bairro possuía


a presença de marinheiros e meretrizes;

- Grande volume de sujeira causada pela movimentação de


Resultados e Consequências

cargas;

- Afastamento e desinteresse de famílias com boa renda pelo


bairro;

- Pós Guerra, os prédios reformados não foram mais vendidos,


ocorrendo o aluguel para marinheiros e meretrizes;

- Usos das edificações sem levar em conservação, iniciando


processo continuo de degradação do bairro.
IMAGEM
Vista aérea do Bairro do Recife - início da década de 1930
INTERVENÇÕES EM MEIO A DECADÊNCIA | DÉCADAS DE 70 E 80

Na década de 1970 dois novos centros com populações de classe média e alta, estruturas verticais e comércios e serviços especializados surgiram em
diferentes direções da cidade. Bairros como Boa Viagem, Casa Forte, Espinheiro dentre outros nas regiões Sul e Centro-Oeste ganharam força
econômica e fizeram com que o antigo Bairro Central acelerasse um processo de perda populacional, iniciado 40 anos antes.

Em 1978 o bairro do Recife foi incluído PPSH/RMR (Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Região Metropolitana do Recife), e dividido em em 6
projetos, sendo cada um em uma ZPR (Zona de Preservação Rigorosa). Além disso, o bairro também foi dividido em 5 ZPA (Zona de Preservação
Motivações, Estratégias e Métodos

Ambiental). A zona de proteção rigorosa seria a área de preservação das características do sítio histórico, enquanto que a zona de proteção
ambiental era um ambiente de mudança entre a área histórica e outras áreas da cidade.

O sítio patrimonial torna-se ainda mais qualificado e passa a ser referência de uma identidade histórica e uma
memória coletiva da sociedade. Com isto, a cidade do Recife aceita seu centro histórico como local representativo
de sua multiculturalidade e história.
INTERVENÇÕES EM MEIO A DECADÊNCIA | DÉCADAS DE 70 E 80

Resultados Alcançados
NÃO FORAM
SATISFATÓRIOS
Na década de 80 a idéia era utilizar o bairro do Recife como local de
escritórios e centro comerciais SEM ALTERAR PADRÕES arquitetônicos Esta recuperação
dos imóveis. ocorreu apenas
Motivações, Estratégias e Métodos

através da pintura
Reativar o antigo bonde, inaugurar um hotel, transformar o 15º andar do das fachadas dos
prédio da prefeitura em um restaurante panorâmico, construir um sobrados,
financiado por
terminal de passageiros marítimos e transformar prédios abandonados parcerias entre o
em habitações coletivas eram algumas das propostas do plano. público e o privado.
Apesar da
O plano de caráter intervencionista visava favorecer a população pobre recuperação das
residente e trabalhadores do Bairro. Os portuários, as prostitutas e os fachadas,
principalmente da
residentes na favela do Rato eram o público alvo e para tanto, foram Rua do Bom Jesus,
indicadas à construção de habitações, restaurante popular e um núcleo algumas idéias não
saíram do papel
cooperativo de capacitação de mão de obra. tornando a
reabilitação do
bairro uma ação
incompleta.
NOVA INTERVENÇÃO - A PARTIR DA DÉCADA DE 90
Novamente interessados em revitalizar a área
central e antiga de Recife, em 1993 a prefeitura
lançou um novo plano para o bairro.
Novo Plano de Revitalização do Bairro do Recife com enfoque econômico,
gerando intensos debates e conflitos de interesses em diferentes grupos da
sociedade :
Motivações, Estratégias e Métodos

Enquanto técnicos da prefeitura do Recife optavam por investimentos no setor


turístico, uma parcela influente da sociedade procurava estimular o
desenvolvimento econômico através das atividades portuárias. A Associação
Comercial de Pernambuco (ACP) afirmava que o caminho para a revitalização do
bairro do Recife não passa pela utilização de armazéns portuários para fins
turísticos e sim, pela garantia de uma infra-estrutura básica ao bairro, com água,
esgoto, iluminação eficiente, segurança, limpeza pública etc.”

Por fim, chegou-se a conclusão que o melhor plano para atrair novos usuários para
o bairro central da Cidade seria focar investimentos em atividades de lazer e
cultura com enfoques modernos, estimulando a diversidade econômica SEM
excluir a atividade portuária. Então, além de conservar o patrimônio histórico e
cultural, o plano tinha como objetivo transformar a economia do Bairro, tornando-o
um centro regional de serviços modernos, de comércio, de lazer e de cultura para a
população da cidade, e centro de atração turística nacional e internacional.
NOVA INTERVENÇÃO - A PARTIR DA DÉCADA DE 90

Para criar essa nova imagem ao bairro, substituindo a imagem de "periferia" a atuação foi mais
efetiva que na década anterior:
- Houve estímulo aos investimentos imobiliários visando tornar o bairro atrativo ao investidor
- Esses estímulos aconteceram mediante priorização de “projetos estruturadores” e permissão de
densificação construtiva.
Motivações, Estratégias e Métodos

- Criou-se o centro de animação cultural, lazer e comércio do pólo do Bom Jesus, que deveria se
tornar o segundo centro de atração turística da cidade (o primeiro permaneceria o Bairro de Boa
Viagem)

O quarteirão da rua com este nome deveria se


constituir num espaço de concentração de
atividades à semelhança dos bairros de animação
cultural de Nova Orleans, Boston e Amsterdã,
articulando espaços fechados e abertos.
NOVA INTERVENÇÃO - A PARTIR DA DÉCADA DE 90

Em 2012 a Organização das Nações Unidas para a


Além disto, uma série de projetos aconteceu em busca educação, a ciência e a cultura (Unesco) tornou o Frevo
de tornar o bairro do Recife um local de encontro da pernambucano patrimônio imaterial da humanidade.
população:
- Passeios pelos rios;
Motivações, Estratégias e Métodos

- Observações aos prédios históricos;


- Construções de centros comerciais e de serviços;
- Shopping Center de alto luxo
- Apartamentos em antigos armazéns, entre outros.

Todas essas intervenções, compostas também de


atividades de melhoria na infra-estrutura, buscavam
incluir o bairro do Recife no eixo da acumulação do O Paço do Frevo é um espaço cultural dedicado à difusão,
pesquisa, lazer e formação nas áreas da dança e música do
capital pelos investidores imobiliários, tornando o frevo localizado na cidade do Recife. Surgiu através de uma
bairro um espaço cultural de consumo. parceria entre a Prefeitura do Recife, a Fundação Roberto
Marinho, o IPHAN e o Governo Federal.
RESULTADOS DA PESQUISA

A partir do projeto de revitalização do bairro do Recife, bem como de outras áreas urbanas brasileiras, como
Pelourinho em Salvador - BA, pode-se dizer que o no Brasil o conceito de tombamento de áreas históricas é
levado ao sentido mais radical de comércio, na qual pretende movimentar o turismo regional esquecendo-se
da memória que o lugar armazena. Trabalho de Arquitetura e Urbano da Universidade Paulista (UNIP)
Motivações, Estratégias e Métodos

O projeto é falho, ainda, no âmbito da grande pobreza inserida no centro do bairro na Favela dos Ratos. Ao
lado de grandes monumentos como a prefeitura da cidade, a favela ilustra projetos de investimentos
milionários em contrapartida a negligência pública quanto condições de sobrevivência subumanas.

Os resultados mostram que o plano de revitalização do Recife diminuiu a quantidade de imóveis ociosos e
ainda ocorreu um grande incentivo à instalação de atividades comerciais, animação, lazer e cultura no Bairro.
Aspectos positivos e negativos das intervenções, baseados nas teorias estudadas

Dimensões morfológicas, Ambiências e Centralidades


Ambiência
Centralidade
No bairro do Recife após as intervenções efetuadas
O bairro do Recife, deixa de ter centralidade pela falta
durante os séculos, foi notado a característica de centro
de apropriação humana (sem grau atratividade)
histórico, ao mesmo tempo que possui obras de
anteriormente a intervenção.
diferentes dimensões, contrastando com as edificações
neoclássicas francesas, resultantes do primeiro plano
de intervenção; o mesmo pode ser observado na malha
Dimensões Morfológicas viária urbana, sendo algumas vias em asfalto e outros
O objetivo maior das intervenções foi devolver ao Bairro em pedras.
do Recife a característica de lugar, dando nova função O microclima também teve alteração no decorrer dos
ao espaço que estava degradado, porém mantendo sua séculos, pois a ilha foi se desenvolvendo a ganhando
caraterística simbólica de centro histórico e cultural. maior dimensão, e mais concreto e gerando maior
Os novos espaços culturais e comerciais criaram trafego possivelmente alterando a temperatura local.
lugares de interação, levando a comunidade a perceber Analisando os fatores chegamos a conclusão de que a
a existência de locais para desenvolvimento econômico Cidade do Recife possui uma imagem característica de
e cultural. cidade histórica, cheia de cultura e calor.
Imagens
Referências
Transformações em centros históricos - expansão, degradação e recuperação: O caso do Recife Antigo(Brasil)
http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Geografiasocioeconomica/Geografiaurbana/29.pdf

E o bairro do Recife veio ao chão...


http:/logspot.com/2014/01/e-o-bairro-do-recife-veio-ao-chao.html

INTERVENÇÕES URBANAS NO BAIRRO DO RECIFE. Da cidade mercantil à cidade mercantilizada


https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/5480/1/MKLoreto.pdf

Revitalização urbana e a acessibilidade do bairro do Recife


http://redpgv.coppe.ufrj.br/index.php/pt-BR/producao-da-rede/artigos-cientificos/2016/1002-revitalizacao-urbana-e-
acessibilidade-do-bairro-do-recife/file

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