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NINHO JARDIM

CONDESSA
MARINA
REGOLI CRESPI DICOTOMIA ENTRE
ESPECULAÇÃO E MEMÓRIA
NO BAIRRO DA MOOCA
• Construído em 1933 e inaugurado em 1936, o Ninho Jardim Condessa Marina Regoli Crespi,
situa-se na cidade de São Paulo, no bairro da Mooca.

• Foi concebida para atender os filhos dos trabalhadores do complexo fabril Cotonifício Crespi S.A.,
idealizado pelo empresário e imigrante italiano Rodolfo Crespi em 1897 no bairro da Mooca.

• Passou por diversas transformações ao longo do tempo e sua sobrevivência na paisagem,


resistindo às adequações de uso e à especulação imobiliária, podendo –se dizer que é um
documento físico das mutações urbanas e sociais ocorridas no bairro no decorrer dos anos.
1 | O COTONIFÍCIO CRESPI E O BAIRRO DA MOOCA
Planta geral – Locação dos edifícios que compunham o Cotonifício Crespi no território do bairro.
Fonte: Sara Brasil - http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
Imagem aérea com o perímetro da área de estudo
num contexto mais amplo, em que é possível
identificar as principais vias arteriais que
atravessam a área de estudo e a proximidade com
a via férrea.
Fonte: Autor
1 | Memorial do Imigrante
2 | Estação Bresser do Metrô
3 | Universidade Anhembi Morumbi
4 | Antiga fábrica da Cervejaria Antártica,
tombado em 2016
5 | Estação Mooca – CPTM
6 | Objeto de Estudo – Creche Marina
Crespi
7 | Estádio Conde Rodolpho Crespi –
Juventus
8 | Vila de Casas na Travessa cav.
Rodolpho Crespi
9 | Hipermercado Extra, que ocupa parte
do edifício principal do Cotonifício
Crespi.
10 | Parque da Mooca, onde se situam
atualmente a sede da subprefeitura da
Mooca, uma biblioteca pública, uma
unidade básica de saúde, entre outros
equipamentos públicos.
Universidade São Judas Tadeu
Vista aérea do Cotonifício Rodolfo Crespi.
Fonte: Societá Editrice Italiana (1936, p.270).
O edifício principal do Cotonifício após a conversão em
hipermercado.
Fonte:
https://sampahistorica.wordpress.com/2017/01/09/cotonificio-cre
spi-2/
O edifício principal do Cotonifício após a conversão em
hipermercado.
Foto : Autor
Vista aérea Estádio do Juventus .
Foto: Eliezer dos Santos
Estádio do Juventus em dia de jogo.
Foto: Paolo Enryco
A vila de casas da Travessa Cav. Rodolpho Crespi.
Foto: Antonio Carlos D’Ávila
Travessa Cavalheiro Rodolfo Crespi. Foto de Celiane Duarte.
Fonte: DUARTE (2009)
Exemplar de um conjunto de casas operárias em série presente na área de estudo, na
rua dos Trilhos, em frente ao edifício da Creche Marina Crespi
Foto: Autor
Exemplar de um conjunto de casas operárias em série presente na
área de estudo.
Foto : Autor
2 | ANÁLISE ARQUITETÔNICA
• Projetada pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi, arquiteto imigrado italiano em
1933;

• Pupilo de Camilo Boito, Trabalhou no atelier de Giuseppe Sommaruga, percursor do estilo


Art Nouveau

• Ao desembarcar no Brasil, trabalhou no Departamento de obras públicas de São Paulo,


onde foi responsável pelo projeto de diversas escolas públicas no estado de São Paulo;

• Além da Família Crespi, a elite industrial de São Paulo também comissionou o arquiteto
para seus projetos. Um deles é o Hospital Matarazzo, que atualmente está em obras de
restauro e renovação, projetado pelo arquiteto francês Jean Nouvel.
Igreja de Santa Luzia – Inaugurada em 1922 pelo arquiteto italiano Giovanni
Battista Bianchi e tombada pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico).

Fonte : https://petcivilufjf.wordpress.com/2018/07/09/obra-de-engenharia-
suspende-capela-do-antigo-hospital-matarazzo-a-31-metros-de-altura/
• Originalmente, o edifício possuía três pavimentos: térreo, 1º pavimento e 2º pavimento, sendo parte
deste último pavimento utilizada como terraço descoberto. Em forma de “J”, sua planta é organizada
longitudinalmente por um eixo central de circulação, correspondente aos corredores, que separam as
salas. Na extremidade esquerda, possui três corpos semicirculares salientes. O Acesso principal é
marcado por uma escadaria dupla.

• Apesar do uso de materiais de construção tradicionais, como tijolo aparente e argamassa raspada,
percebe‐se uma tendência de diálogo estético e funcional dos elementos que compõem o edifício ao
Art Deco e ao Racionalismo Italiano, com o despojamento ornamental, forte presença de formas
geométricas simples, composição volumétrica escalonada e janelas amplas e simplificadas e
incorporação da laje de concreto armado, ainda pouco utilizada no período da construção.

• Tais características definem um processo de modernização arquitetônica, sobretudo quando


comparadas ao “ecletismo” e “neoclassicismo” que o precederam. Dessa forma, apesar de o edifício
não se tratar de uma obra em todos os aspectos alinhada ao movimento moderno, é possível
reconhecer traços modernizadores em relação ao que vinha sendo produzido no âmbito da arquitetura
paulista ou mesmo da arquitetura brasileira.
Prédio da Creche Condessa Marina Crespi,
visto a partir da Rua João Antonio de Oliveira.
BARDI, 1981, p. 63
Vista posterior do edifício. Foto fornecida
pela Sra. G. Bianchi (apud. Samoni,
Debenedetti, 1981, p.126)
3 | CRONOLOGIA CONSTRUTIVA
1936 a 1960:
• A creche do cotonifício Crespi

1970:
• Associação Montessori
• Fundação Ninho Jardim Marina Regoli Crespi – Creche conveniada com a
prefeitura

2010:
• Abandono
• Negociação de venda e demolição para transformação em prédio de
apartamentos
• Início da demolição / Pedido de tombamento
• Ocupação por movimento de moradia

2014:
• Desocupação

2017:
• Aprovação do pedido de tombamento pelo DPH
O edifício do Ninho Jardim Marina Crespi
após a instalação do instituto Maria
Montessori, onde se pode perceber a
ampliação posterior no segundo
pavimento. Foto Antonio Carlos D’Ávila
(apud. Blay, 1985, p.270).c
Período em que se incia a demolição do prédio, após
acordo de venda do terreno à Bergamo
Incorporadora S/A.
Foto : Francisco Saragiotto - 2010
Foto : Francisco Saragiotto - 2010
Foto : Francisco Saragiotto - 2010
Foto : Francisco Saragiotto - 2010
Foto : Francisco Saragiotto - 2010
O edifício durante a ocupação.
Fonte:http://gaspargarcia.org.br/noticias/bairro-da-mooca-entre-
especulacao-e-memoria/
O edifício durante a ocupação.
Fonte: Veronica S. Pereira, 12/11/2013.
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Foto : Cássia Yebra- 2017
Vista da esquina das Ruas João Antônio de Oliveira e Rua dos trilhos.
Foto: Autor
Vista a partir da rua dos Trilhos. Um muro alto contorna todo o perímetro do terreno e
mantém o prédio da creche oculto à vista do pedestre.
Foto: Autor
4 | DIRETRIZES DE PRESERVAÇÃO
Diretrizes do processo de tombamento (2017):

• Proteção da volumetria externa a edificação, como a escadaria dupla central,


a marquise, os pilares, os vãos de janelas e os corpos semicirculares salientes, além dos
revestimentos de fachada, com os tijolos aparentes e a argamassa raspada;

• Reposição das esquadrias em conformidade com o desenho original;

• Os acréscimos de área construída não precisam obrigatoriamente ser


recuperados, sendo permitida a demolição destes espaços de modo a preservar
apenas o pavimento térreo e o primeiro andar, previstos no projeto original de 1934.
5 | MAPEAMENTO DE DANOS
7 | PROPOSTA DE NOVO – RECONVERSÃO DO EDIFÍCIO EM UM CENTRO
COMUNITÁRIO PARA O BAIRRO DA MOÓCA
• Abrir o edifício à população, propondo um novo uso de forma a reintegrá-lo à dinâmica
urbana atual do bairro;

• Resgatar a memória e a conscientização dos moradores do bairro para sua história, de forma
a promover a sensação de pertencimento e identidade como meio de preservação e
conservação do edifício;

• Restaurar, além da materialidade, o significado do edifício para o bairro e sua relação com os
moradores e seu entorno;

• Promover interação social e senso de comunidade aos moradores do bairro – pequenos


eventos;
• Foi criado um pequeno pavilhão anexo que otimiza a ocupação das áreas livres do terreno e abriga atividades complementares às do interior
do edifício : refeitório para a cozinha comunitária, auditório com palco reversível, voltado para a praça cênica e um café voltado à rua dos
Trilhos.

• O pavimento superior foi pensado como uma praça elevada, que poderá abrigar diversas atividades ao ar livre.

• Junto a este pavilhão também foi posicionada uma torre de elevador que dá acesso a todos os níveis do prédio, garantindo acessibilidade a
pessoas com necessidades especiais.

• A praça elevada será coberta com uma pérgula composta por estrutura mista de metal e madeira laminada de malha hexagonal, que cria uma
ocupação orgânica do espaço ao redor do prédio e se funde com a densa massa arbórea existente no terreno, além de utilizar a luz natural
para criar um jogo de sombras sobre estes novos espaços.

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