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RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar o Projeto Integrado Coroa do Meio, focando a
qualidade da área reestruturada para abrigar os moradores das palafitas localizadas
sobre a região de manguezal, conhecida como Maré do Apicum. Para tal, foram
realizadas visitas técnicas com aplicação de 150 questionários, levantamentos
bibliográficos, documentais e cartográficos. Através de invasões desde a década de
1970, geradas pelo crescimento urbano, a região vem sofrendo desgaste ambiental.
Grande parte da população estabelecida nesta região veio de outros Estados, com o
intuito de sobreviver basicamente da pesca, abundante na época. Por intervenção
do Ministério Público, a prefeitura de Aracaju criou o Projeto Integrado Coroa do
Meio que, com a retirada desses moradores da área do manguezal, pôde viabilizar
uma forma de melhorar a qualidade de vida dessa comunidade. Além disso,
estavam previstos no projeto a revitalização da área degradada a criação de
quadras de lazer e o Museu do Mangue.
ABSTRACT
The objective of this article was to analyze the Coroa do Meio Integrated Project, with
focus on the quality of the re-structured area in order to receive the inhabitants of
poorly built stilt houses located above the swamp region, known as the Apicum Tide
region. For such, technical visits were conducted with the application of 150
questionnaires, and bibliographic, documental, and cartographic data was gathered.
Due to the swamp invasions that started in the 1970s, a result of urban growth, the
region has been suffering from environmental damage. A great part of the population
that live in that region came from other states with the objective of surviving, basically
from fishing, that was abundant at that time. Due to the intervention of the Public
Ministry, the City Hall of Aracaju created the Coroa do Meio Integrated Project that
removed the inhabitants of that swamp area to accommodate them somewhere else,
providing that community with a better quality of life. Besides that, the revitalization of
the damaged area and the construction of sports and leisure courts as well as the
Swamp Museum were also part of the Project.
1 INTRODUÇÃO
O Bairro Coroa do Meio limita-se ao norte com o Rio Sergipe, a leste com o Oceano
Atlântico, ao Sul com a Zona de Expansão de Aracaju e a oeste com o rio Poxim e a
planície de maré superior onde se localiza o Apicum. O nome do bairro advém do
conjunto de solos criados sobre antigas coroas de depósitos flúvio-marinhos e
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marinhos nas desembocaduras dos rios Poxim e Sergipe e é uma área que faz parte
dos terrenos da Marinha e está sob tutela do Serviço do Patrimônio da União.
Com o interesse de integrá-la ao conjunto urbano da capital, já que era considerada
uma área inóspita e feia, em 1975 a Prefeitura de Aracaju, em nome do então
prefeito, o Engenheiro João Alves Filho requereu junto ao Governo Federal o direito
de uso e de posses com o objetivo de criar um bairro modelo para a cidade de
Aracaju - SE. Ao Escritório Técnico do Arquiteto Jaime Lerner, foi encomendado,
através da EMURB, o planejamento de um programa de ação e investimentos, que
seria viabilizado através da adesão da Prefeitura ao Programa de Complementação
Urbana, o Projeto CURA – Comunidades Urbanas para Recuperação Acelerada, do
Banco Nacional de Habitação (BNH), que tinha como principal objetivo a
recuperação de áreas onde seriam realizadas obras púbicas de caráter social. No
caso da Coroa do Meio ele se chamou Projeto CURA Especial devido à
possibilidade de escolha da região onde seria implantado o bairro, e às intervenções
urbanísticas que iriam ocorrer.
Na concepção da obra, a idéia foi a de que esta deveria ser planejada numa
escala de abrangência maior, incluindo o balneário de Atalaia. Nesse
sentido, um tratamento urbanístico possibilitaria dar continuidade às
tendências que aquela zona da cidade de Aracaju estava assumindo, em
termos de área com fins dominantemente residenciais e de lazer. Em suma,
era preciso que, no aproveitamento da área, a solução valorizasse a
ocupação de toda aquela região. (LERNER apud SEPLAN, 1977).
A Coroa do Meio possuía 479 hectares (hec) urbanizáveis e segundo o projeto, 227
hec seriam previstos para ocupação habitacional; 118 hec para recreação; 91 hec
para sistema viário; 39 hec para serviços e comércio e 4 hec para educação e
centros comunitários. O projeto foi dividido inicialmente em três etapas e
posteriormente foi criada uma quarta etapa.
Seriam necessárias as seguintes intervenções estruturais: sistema viário, drenagem,
contenção, aterro hidráulico, terraplenagem, rede de energia e iluminação pública,
água potável, áreas de recreação, revitalização da Atalaia, educação, posto
telefônico, centro comunitário e através de iniciativa privada, construção de
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Tem início na Avenida Urbano Neto com aterro do mangue que a margeia e se
estende até a avenida Rotary, no bairro Atalaia, com limites à leste passando
principalmente pela rua José Stemberg e av. Aloísio Campos.
Com a implantação do conjunto Jardim Atlântico, teve início a invasão. As primeiras
habitações surgiram há cerca de 30 anos e gradativamente foram sendo
empurradas para o mangue. Em 1992 já apresentava cerca de 1.060 ocupações e
5.300 moradores.
Tinha como objetivo geral elevar o padrão da qualidade de vida da população alvo,
propiciando suporte técnico-social no processo de implantação de infra-estrutura
urbana, aplicando também regularização fundiária e recuperação ambiental,
impedindo inclusive que novas áreas fossem degradadas, além de medidas
educativas para modificar hábitos e costumes através da participação comunitária
em todas as etapas do processo. O tempo previsto para a execução do projeto era
de 30 meses e o início ocorreu em 2001. Os investimentos recebidos foram da
ordem de R$ 7,5 milhões do Governo Federal, por meio do Programa Habitar Brasil-
BID (HBB), e R$ 3,4 milhões da prefeitura. Os recursos foram utilizados para a
construção das casas e toda a urbanização da área. Foram construídas ruas, uma
ciclovia e a avenida Perimetral, que margeia o manguezal onde antes ficavam as
palafitas. Além disso, o projeto fez 2,5 quilômetros de calçamento e reformou a
escola municipal Juscelino Kubitschek e a creche do bairro.
Como objetivos específicos, o Projeto intencionava mobilizar e criar estímulos para a
participação da população alvo através da estruturação de uma comissão de
moradores para acompanhar o desenvolvimento das obras, havendo dessa forma
uma comunicação e inter-relação entre os moradores, deixando-os mais seguros, no
que se refere a ações do poder público em relação as questões sociais. Para isso,
utilizou-se o Programa Moradia Cidadã, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de
Aracaju e coordenado pela SEPLAN.
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A tabela 2 mostra que a maioria dos moradores residiu até 06 anos nas palafitas, e
19,71% dos entrevistados moraram de 10 a 12 anos. Estes moradores possuíam
faixa etária entre 21 e 50 anos.
demora, e 5 (cinco) pelo processo de morar em casas alugadas antes de irem para a
definitiva. Para 55,63% dos entrevistados a casa foi entregue no prazo.
Tabela 3: Processo de Aquisição
Foi trabalhoso ou não Número de %
amostras
Sim 70 49,29
Não 72 50,70
Total 142 100
Fonte: Os autores, Abril/2008.
Outro dado verificado foi a relação entre vizinhos. Como se pode ver na tabela 4,
101 moradores disseram que quase não se relacionam com vizinhos. Na entrevista,
eles se manifestaram em quatro níveis diferentes: às vezes não saem de casa para
se relacionar, pouco se relacionam, quase nunca e não saem de casa. Isso pode ser
supostamente explicado pelo fato de os vizinhos não terem sido mantidos no
processo de mudança, já que deste número, setenta e uma pessoas afirmaram que
a mudança ocorreu. Esse foi um fator importante que não foi levado em
consideração. No caso desses moradores, a relação com a vizinhança se constitui
em um ponto crucial na tentativa de garantir a boa qualidade de vida.
Com base nos dados obtidos, a população se sente satisfeita quanto à qualidade da
casa entregue, se comparada com a moradia na palafita. Essa afirmação foi feita por
52,81% dos entrevistados. O relato é em decorrência das condições precárias em
que viviam anteriormente, como se observa na tabela 5. A maioria dos moradores,
apesar de avaliarem o novo lar como de boa qualidade, reclamou da casa possuir
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somente um quarto e não ter acabamento de piso e reboco interno, como é o caso
do Sr. Luis Carlos, 41 anos, que em sua residência acomoda 5 (cinco) pessoas sem
ter feito nenhum acréscimo de ambiente ao projeto original.
mais um quarto, porque as famílias são compostas por 2 (dois) ou mais membros,
havendo destaque para a família de Solange Santos, 25 anos, com uma família
composta por 12 (doze) pessoas. Isso mostra que para construção dessas
moradias, não foi levada em consideração a estrutura familiar dos moradores das
palafitas. Ainda com relação às reformas, 24 (vinte e quatro) pessoas construíram o
muro, mostrando a necessidade de isolamento e distanciamento.
Quantidade de Número de %
membros amostras
Por família
Apenas um 13 0,86
Dois 9 6,00
Três 28 18,66
Quatro 43 28,66
Cinco 34 22,66
Seis 14 9,33
Sete 7 4,66
Oito 2 1,33
Nove 0 0,00
Dez 0 0,00
Mais de Dez 1 0,66
Total 150 100
Fonte: Os autores, Abril/2008.
Pode-se perceber que, mesmo a prefeitura tendo realizado esses cursos, não surtiu
o efeito desejado, como é o caso do curso de educação ambiental, que não obteve
êxito, tendo em vista que a população continua despejando restos de materiais
diversos na área que compreende o manguezal, contribuindo para a degradação
ambiental.
Houve também o questionamento quanto ao quesito necessidades de morar bem.
62,66% dos entrevistados afirmaram que sentem necessidade de algo e desses, a
principal necessidade foi a segurança com 21 (vinte e uma) indicações, seguidos de
uma casa melhor com 15 (quinze), infra-estrutura com 12 (doze) e escola com 11
(onze). Algumas quadras foram entregues sem calçadas ou até mesmo sem meio-fio
além de na região já haver uma reivindicação por uma escola, mas quando
questionada, a Secretaria de Planejamento afirmou que isso compete à Secretaria
de Educação, o que mostra que há uma falta de comunicação entre os órgãos no
momento do planejamento e implantação do projeto.
No quesito área de uso comum, os moradores reafirmaram haver deficiência na
política de segurança pública. 102 (cento e dois) moradores informaram a falta de
algo. Desses, 20 (vinte), manifestaram necessidade de postos policiais e ronda de
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
vão ser transferidas para o Bairro Santa Maria. Foi observada também a falta de
vasos coletores de lixo ao longo do passeio público que margeia a avenida em torno
do manguezal. Os cursos de capacitação realizados não foram ministrados em
horário adequado à rotina da população.
Ainda de acordo com a avaliação dos autores deste artigo alguns estudos precisam
ser feitos, a exemplo da morfologia das habitações. Nesta pesquisa não foi
analisado o público que hoje reside no atual complexo. Outros pontos importantes
não avaliados são o EIA – Estudo de Impacto Ambiental, que pode ser estudado de
forma mais detalhada em futuras pesquisas e a forma como os antigos moradores
percebem a inserção desse público na área.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS