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JUSTIFICATIVA
A relação da população com o patrimônio na cidade de Anápolis, atualmente, ainda se
encontra fragilizado. A falta de ligação da população com o patrimônio municipal é um reflexo
da realidade do mundo contemporâneo. Essa lógica, denominada por Castriota (2009) como
a lógica da obsolescência programada, busca destruir qualquer quadro de referências
estáveis, substituindo-as constantemente por novos usos, costumes, valores e imagens.
Como consequência disso, existe uma supervalorização do novo em detrimento do antigo,
que revela a história, os costumes e a cultura de um povo. Assim, observa-se que em Anápolis
apenas 10 edifícios são tombados como patrimônio municipal, enquanto outros inúmeros
sofrem com a demolição ou com reformas que os descaracterizam completamente, como foi
o caso da Residência Anapolino de Faria – um dos melhores exemplos de arquitetura moderna
da cidade que passou por reformas e perdeu muitas de suas características originais.
Sendo assim, se faz de extrema importância a discussão e luta pela preservação dos edifícios
remanescentes da história da cidade, que ainda se encontram passíveis de serem
preservados, para que sejam mantidos como parte ativa da cidade. Por esse motivo,
propomos o tombamento do Colégio Auxilium, um edifício que se encontra em bom estado de
conservação, pois continua ativo em suas funções como colégio, e mesmo que não se
encontre preservado com suas qualidades originais, não foi totalmente descaracterizado,
sendo um exemplo notável do Art Déco em Anápolis. Contrapondo-se ao exemplar já tombado
pela cidade – o Colégio Estadual Antesina Santana (lei municipal nº 3.171, dez. 2005) – o
estilo Déco presente no Auxilium se aproxima e utiliza mais generosamente dos princípios do
estilo original, características não tão presentes no Antesina. Além de sua importância
arquitetônica, o colégio adquire forte destaque por ser um membro vivo da memória da cidade.
Desde seu surgimento, em 1937, o colégio faz parte da educação das famílias anapolinas e
é um marco ativo da religiosidade municipal.
Por esses motivos, para a proposta de tombamento do Colégio Auxilium, amparamo-nos nos
seguintes decretos-lei federais: Decreto-lei nº 25, nov. de 1937, que institui a criação do
Serviço de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (antigo SPHAN, hoje
IPHAN) e implanta o tombamento para o conjunto de bens móveis e imóveis, cujo interesse
público de conservação, esteja vinculado a fatos memoráveis da história do Brasil ou por seu
valor excepcional arqueológico, artístico, etnográfico ou bibliográfico; o Compromisso de
Salvador, de out. de 1971, que recomenda a instituição de convênios para restauração e
valorização dos bens culturais com o envolvimento da educação; e da Constituição Federal
de 1988, que responsabiliza os entes estatais para promoção da proteção do patrimônio. Além
disso, amparamo-nos nas leis municipais de nº 2.396, de dez. de 2002, que cria o órgão
municipal de preservação, e o Decreto nº 22.035, de ago. de 2006, que regulamenta a lei nº
2.396, e incumbe ao art. 1º a responsabilidade do Ministério Público pela preservação dos
bens tombados (CHIAROTTI, 2013).
LOCALIZAÇÃO
O edifício está inserido em uma esquina que faz encontro com três ruas, a Quatorze de Julho,
Barão do Rio Branco e a Quintino Bocaiúva, no Setor Central da cidade. A localização do
colégio se faz num espaço de transição, definida pelo passado do setor, entre a principal área
comercial da cidade e os antigos galpões industriais do centro, nas proximidades da linha de
trem da antiga ferrovia da cidade.
Figura 1 e 2 – Localização do Colégio no mapa de Anápolis e na quadra. Fonte: GOOGLE MAPS, 2019.
HISTÓRICO
A história do colégio surge como seguimento ao da Escola Normal de Anápolis. De acordo
com FERREIRA (1979) os pais ansiavam por uma educação que pudesse ser além da
instrução educacional, fosse também religiosa. Após se reunir, um grupo de cidadãos
anapolinos optaram, no dia 28 de fevereiro de 1937, por entregar a Escola Normal à
Congregação Salesiana.
Outro ponto muito forte para fundação da instituição foi a vontade mútua de que o colégio
atendesse apenas meninas. Para os pais e para a sociedade Anapolina, uma escola mista
não condizia com a boa educação que seria dada às garotas.
Em 31 de maio de 1937, chega a Anápolis as Filhas de Maria Auxiliadora, as irmãs Tereza
Quadrus e Zita Lanna, que receberam do então diretor Luiz C. de Godoy a Escola Normal de
Anápolis. E, em 1938, é fundada a Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora sob a direção
da Irmã Vírginia Miraca (MUSEU VIRTUAL DE ANÁPOLIS, 2019).
CARACTERÍSTICAS DO EDIFÍCIO
A década de 1930 trouxe inúmeras transformações não só para Anápolis, mas para todo o
estado de Goiás. No governo de Vargas, diversas medidas de Estado passam a levar, aos
poucos, infraestrutura para o interior do Brasil. Como parte desse processo, a instauração da
estrada de ferro, com ponto terminal em Anápolis, além da construção da nova capital
estadual, Goiânia, proporcionaram à cidade o acesso à um número maior de produtos e
informações (VARGAS, 2013). Além disso, Vargas define como estilo oficial do governo o Art
Déco, ou Estilo de 25, como representativo da modernidade brasileira. Assim, a nova capital
goiana é construída seguindo este modelo de modernidade, o que traz essas influências
também para Anápolis.
Corroborando essa informação, Borges (2006, p. 30) vai afirmar que o Art Déco “foi um canal
importante de expressão da modernidade, interessado em renovar os referenciais estéticos,
tendo como base as noções de progresso e desenvolvimento tecnológico”. Ainda segundo
Borges (2006), pode-se pontuar algumas características do Estilo de 25, que podem ser
observadas no Colégio Auxilium:
I. Inserção Urbana Tradicional – respeito ao tecido urbano tradicional pré-existente da
cidade, não rompendo a morfologia das quadras.
II. Volumetria, jogos volumétricos e espaciais – obras que se conformam em um volume
único, com implantação seguindo os limites dos lotes e quadras, raramente não
seguindo esse princípio; volumes rígidos com a predominância de cheios sobre os
vazios, geralmente interrompidos pelo emprego de escalonamentos ritmados, que
enfatizam a verticalidade e possuem um caráter ascensional; cuidadoso tratamento de
suas fachadas e espaços internos, buscando a riqueza formal e espacial.
III. Estilização dos elementos ornamentais e decorativos – possui um maior despojamento
ornamental, se comparado com estilos anteriores, reflexo das questões em voga como
a racionalidade, economia e funcionalidade. Todavia, a questão decorativa é um dos
atributos básicos do Art Déco, através de esculturas e relevos, fazendo referência a
motivos antropomorfos, fitomorfos ou ao maquinismo, força e movimento – sendo esse
último o aplicado ao edifício. Essas referências acabam contribuindo para o uso de
formas e linhas geometrizadas e o emprego de simetria nas fachadas.
IV. Artes e Ofícios aplicados à arquitetura – aplicação de detalhes feitos artesanalmente
como carpintaria nos interiores, da serralheria, uso de vitrais e de diferentes texturas
de materiais nas fachadas, priorizando o desenho, o detalhe e a coerência estética da
obra arquitetônica.
Figura 9 – Foto do pátio interno da instituição. Figura 10 – Foto do pátio interno da instituição.
REFERÊNCIAS
BORGES, M. S. Quarteirão sucesso da cidade: o Art Déco e as transformações
arquitetônicas na Fortaleza de 1930 e 1940. 2006. Tese (Mestre em Arquitetura) Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: Conceitos, Políticas e Instrumentos.
São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009. 380p.
CHIAROTTI, Tiziano Mamede. Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Anápolis:
dos tombamentos à lei nº. 2.936/2002. In: Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de
Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2. Anápolis, GO, 2013.
COLÉGIO AUXILIUM. Disponível em: < http://www.colegioauxilium.com.br/>. Acessado em:
25 abr. 2019.
DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937. Brasil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0025.htm>. Acessado em: 26 abr. 2019.
FERREIRA, Haydée Jayme. Anápolis sua vida, seu povo. Brasília: Centro Gráfico Senado
Federal, 1979.
GOOGLE MAPS. Disponível em: < https://www.google.com.br/maps?hl=pt-BR&authuser=0>.
Acessado em: 26 abr. 2019.
MUSEU VIRTUAL DE ANÁPOLIS, Colégio Auxilium. Disponível em:
<http://www.museuvirtual.ueg.br/conteudo/historia/imagens/colegio_auxilium/historia00_histo
rico.html>. Acessado em:10 maio. 2019.
VARGAS, Lucas Gabriel Corrêa. O estilo Art Déco e o Antigo Fórum da cidade de Anápolis-
GO. In: Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de
Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2. Anápolis, GO, 2013.