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Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação


Curso de licenciatura em Letras- Língua Portuguesa
Literatura Infanto-Juvenil

Comentário crítico acerca do conto “A moça


Tecelã” de Marina Colasanti

Discentes: Hayala Cristina Rocha de Araújo


Laís Mores Sindeaux

Docente: Prof. Dr: Marco Antônio

Belém
2022
O conto A moça tecelã, escrito pela autora africana Marina Colasanti, conta a
história de uma mulher que possui um tear no qual tece sua própria realidade de acordo
com suas vontades e é satisfeita. Contudo, um dia ela é envolta por um sentimento de
solidão e decide que quer ter um companheiro, assim, o tecendo. O marido, no entanto,
enxerga o tear da moça tecelã como um instrumento capaz de criar riquezas,
obrigando-a a tecer os seus desejos. Ela, por sua vez, se cansa e resolve destecer seu
companheiro e tudo o que ele já havia lhe pedido para criar, voltando à vida que levava
antes, fato retratado no final do conto, no qual a moça aparece tecendo um novo
amanhecer, uma nova realidade.

A narrativa de Colasanti pode ser considerada como um conto de fadas, uma vez
que, de acordo com a autora Nelly Novaes Coelho, é ligado “à realização interior do
indivíduo, basicamente por intermédio do amor”. Traços de magia e encantamentos
também trazem ao conto características fantásticas, que nos levam a entrar no mundo da
personagem, no qual se inicia de forma leve, com uma narrativa pausada, cheia de
elementos que remetem à felicidade, como a natureza e os pássaros, símbolos de
liberdade. Contudo, a partir do momento em que o homem é inserido no percurso, a
narrativa se torna acelerada, trazendo acontecimentos rápidos, sem intervalos,
remetendo ao leitor um sentimento de angústia e imediatismo.

O tradicionalismo é quebrado em “A moça tecelã”, uma vez que enxergamos um


conto fora dos padrões, visto que se trata de uma mulher que luta pela sua liberdade até
o final. Muitas metáforas são colocadas nas entrelinhas da narrativa, uma delas é o ato
de tecer, que no século XVIII inseriu o público feminino na produção econômica e
promoveu os primeiros “ares” de independência. Logo, o tecer é, no sentido figurado, o
início de um contato com a liberdade da mulher e o seu desfrute, em saber que agora
tudo o que quer está na palma de sua mão, sem que precise de permissões de um
homem.O ato de tecer e desmanchar o tecido significa o poder de reconstrução e
ressignificação da vida.

Colasanti traz em sua narrativa uma escolha excepcional de palavras e uso de


metáforas que destacam a sociedade patriarcal e machista, em que mulheres diariamente
lutam para “tecer” as suas próprias vidas e escolhas, indo contra um sistema que oprime
e cala tantas vozes – o homem tecido, controlador e manipulador, capaz de retirar a
liberdade de agir e de pensar da mulher -. Ao final do conto, a moça, exausta de tanto
tecer a vontade do outro e não sua, resolve desfazer tudo, demonstrando o seu poder de
decisão, assim como muitas mulheres no atual contexto as quais compreendem que a
sua felicidade está acima de qualquer situação de infelicidade.
Desse modo, pode-se inferir que A moça Tecelã é um conto contemporâneo que possui
elementos dos contos de fadas e retrata o caminho de autodescoberta e realização, como
diz Coelho, de uma mulher por meio de uma história ligada ao amor e suas
consequências. Nesse sentido, o conto aborda questões como a autonomia feminina,
inserção de mulheres no mercado de trabalho, e a aquisição de direitos pelas mulheres.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELUQUE, Maria Helena Touro; FERNANDES, Célia Regina Delácio. REENCANTOS E
RESSIGNIFICAÇÕES NO CONTO DE FADAS CONTEMPORÂNEO: UMA ANÁLISE DE
A MOÇA TECELÃ.  Anuário de Literatura, [S. l.], v. 16, n. 1, p. 171-185, 2011.

COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: símbolos, mitos, arquétipos. 2. ed. [S.
l.: s. n.], 2009. 155 p.

COLASANTI, Marina. A moça tecelã. São Paulo: Global, 2004. CIPINIUK,


Alberto.

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