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O mito da mitologia, para Lévi-Strauss, deveria ser explicado a partir de outros mitos,
uma vez que eles operam em cadeias de transformações uns dos outros, não importando
a escolha inicial que se faça para começar a análise mitológico-estrutural. Na sua obra, o
autor escolhe o mito Bororo para começar a análise, enquanto nós apenas
compararemos as semelhanças e diferenças entre alguns contos escolhidos. O método
escolhido pelo autor para a análise pode ser descrito no trecho que segue:
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Assim, a análise chega à conclusão de que nenhum mito é uma versão completa das
coisas, mas fragmentos de uma mesma coisa. Como já dito, pode ser necessário
procurar em outros mitos e também outras culturas, pois podem deixar buracos de
explicação. O modo como os mitos são retomados entre si, através da similaridade de
personagens, mostra como sujeitos e predicados se relacionam. O mito é ele próprio em
o objeto de seu pensamento, pois pensa a si mesmo. Ele não é uma realidade
transcendente, mas o espírito humano em estado bruto.
Para poder analisar o mito presente nos contos de fada, é necessário fazer uma
diferenciação entre ele e o mito em si. O conto de fadas resulta em grande parte do
conteúdo consciente e inconsciente, tendo sido moldado pela mente consciente, do
consenso de várias pessoas, estas que também os consideram problemas humanos
universais, e aceitam as soluções desejáveis obtidas. Se todos estes elementos não
fossem constituintes do conto de fadas, ele não seria contado e recontado por inúmeras
gerações. Ou seja, um conto de fadas deve satisfazer as exigências conscientes e
inconscientes de muitos indivíduos. Há uma concordância geral de que mitos e contos
de fadas falam-nos na linguagem de símbolos que representam conteúdos inconscientes.
Partamos a uma análise mais detalhada de três dos contos de fadas mais conhecidos da
cultura ocidental. No conto da
, o Rei e a Rainha tinham dificuldades
para terem um filho, então quando a princesa nasceu, deram uma festa para festejar seu
nascimento, convidando muitas pessoas. Em algumas versões, eles esqueceram-se de
uma fada; em outras, a fada não é chamada pelo fato do rei não ter mais um prato de
ouro. Cada fada presenteou a princesa e, um pouco antes da última presentear, a fada ±
bruxa - que não foi convidada apareceu. Ela amaldiçoou a princesa, afirmando que esta
morreria ao furar o dedo num tear quando completasse 16 (ou 15, dependendo da
versão) anos. Para evitar que a menina morresse, a última fada então amenizou a
maldição ao falar que ela cairia num sono profundo, durante 100 anos, até que seu
verdadeiro amor a beijasse e a despertasse.
O rei, em vão, proibiu teares no reino inteiro, assim não teria como a maldição
se concretizar. A princesa crescia e se tornava a mais bela e gentil de todas. No dia de
seu aniversário, passeava pelo castelo e encontrou uma escada circular, que dava numa
portinha com uma chave na fechadura. Curiosa, ela gira a chave e entra na sala pequena
e vê uma senhora, com um tear. Como nunca tinha visto aquele objeto, ela fica
interessada e, ao relar, fura seu dedo (que sangra). A princesa então cai no sono
profundo, como todo o reino. A maldição se torna realidade.
A medida que a história passava de homem para homem, uma floresta cresce em
volta do castelo, dificultando seu acesso. Assim, além da princesa só despertar com o
beijo do verdadeiro amor, teria que ser alguém corajoso e forte. Vários tentaram e
sempre fracassavam.
Por ser vaidosa e invejosa, a madrasta manda um guarda matar Branca de Neve e
arrancar seu coração, assim ela voltaria a ser a mais bela de todas. O guarda vê Branca
de Neve e não consegue matá-la, entregando a rainha o coração de algum animal. Ele
ainda avisa o plano da madrasta à Branca, para que ela consiga escapar. A madrasta
então manda prepararem o coração e o come (remetendo a idéia de que ao comer
órgãos, você adquire as características da coisa). Mais tarde pergunta ao espelho quem é
a mais bela, e este fala que Branca de Neve ainda é. Ela então percebe que foi enganada
pelo guarda.
Branca de Neve então encontra uma casinha pequena. Como estava cansada,
decide entrar e descansar um pouco. Antes de descansar, ela limpa e arruma a casa. Os
anões retornam a casa e encontram Branca de Neve dormindo em uma das camas. Eles
permitem que ela fique desde que arrume a casa.
A madrasta logo descobre onde Branca de Neve está e tenta, por duas vezes,
produtos que matem Branca, mas os anões sempre conseguiam salvá-la. Na primeira
vez foi uma fita, que ela apertou tanto na cintura de Branca de Neve que a deixou
desacordada. Na segunda vez, foi uma escova de cabelo envenenada. Os anões sempre
alertavam Branca de Neve em relação as armadilhas que poderia cair.
Na terceira vez, a madrasta decide usar uma maçã. Ela envenena metade da
maçã e consome a outra metade, para fazer Branca de Neve acreditar que não tinha
algo. O pedaço que Branca de Neve comeu inchou em sua garganta, a sufocando. Os
anões ao chegarem em casa, vêem Branca de Neve desmaiada no chão, mas não
conseguem achar a causa disso, então supõe que ela morreu mesmo. Com dó de enterrá-
la por causa de sua beleza, a colocam num caixão de vidro.
Um dia, um príncipe passava pela mata e viu a bela princesa no caixão. Pede aos
anões para levá-la ao seu castelo, já que estava apaixonado por ela. Uma versão diz que,
no caminho, a carruagem tropeça numa pedra, fazendo com que o caixão pulasse e o
pedaço de maçã saísse da garganta de Branca, despertando-a. Já a outra diz que o
pedaço de maçã sai com o beijo apaixonado do príncipe. Eles então se casam e vivem
felizes para sempre.
A criança nasce, os pais cuidavam bem dela, até a bruxa malvada ir cobrar a
dívida. A bruxa então pega a criança e dá o nome de Rapunzel, nome da fruta que a
grávida tanto desejava. Rapunzel cresce e vai ficando cada vez mais bela. A bruxa, com
medo que alguém tirasse Rapunzel dela, a tranca numa alta torre, sem portas. Único
modo de entrar seria ela jogando suas tranças pela janela, como se fosse uma corda.
Todo dia a bruxa chegava e gritava para Rapunzel jogar suas tranças. Ela subia e
dava comida para Rapunzel. Um dia, um príncipe estava passeando e ouve Rapunzel
cantar. Apaixona-se pela sua voz, mas não achou uma entrada para a torre. Observou
então a bruxa gritando para que Rapunzel jogasse as tranças e outro dia voltou para
fazer isso. Rapunzel jogou suas tranças para o príncipe, achando que era a bruxa e se
assustou ao vê-lo. Conversaram e ele explicou como estava apaixonado. Ela então diz
que poderiam se encontrar, as escondidas, já que a bruxa era bem ciumenta.
Uma vez, conversando com a bruxa, Rapunzel, distraída, reclama que a bruxa é
mais pesada que o príncipe. Furiosa, a bruxa corta os cabelos de Rapunzel e a leva ao
deserto. Fica na torre esperando pelo príncipe, e solta as tranças, fazendo com que o
príncipe caia. Com a queda, ele machuca seus olhos nos espinhos e fica cego,
caminhando sem rumo, procurando a sua paixão. Anda até chegar ao deserto,
encontrando Rapunzel, que chora. Ao chorar, duas lágrimas caem nos olhos do príncipe,
fazendo com que sua visão retorne. Eles então se casam e voltam ao castelo do príncipe,
sendo felizes para sempre.
Analisando esses contos, nota-se que muitos elementos são comuns, repetindo-se
em várias histórias: o fato das personagens serem mais conhecidas pela sua função, em
vez do nome (rainha, rei, princesa, fada, bruxa, etc.); suas qualidades serem comuns em
todos os contos (as heroínas sempre belas e gentis, os príncipes valentes e fortes, o vilão
sempre malvado) e a repetição das personagens. Essas personagens são construídas de
modo que a criança consiga se projetar em vários, não apenas em um.
É interessante ver como a figura do conto popular, ou ³de fadas´ possui em outras
culturas, se possui diferença entre os temas existentes em sua ³moral´ ou se são
semelhantes. Utilizando-se de lendas de diversos continentes, faremos uma comparação
entre a origem do Sol para diversos povos. Primeiramente, uma lenda senegalesa, onde
um mito cósmico pretende estabelecer as diferenças de ambos os corpos astrais e se
propõe a explicar de uma maneira muito simples, embora carregada de conotações
míticas e emblemáticas as grandes diferenças entre a Lua e o Sol. O brilho, o calor e a
luz que se desprendem do astro-sol impedem que sejamos capazes do olhar fixamente.
Em compensação, podemos contemplar a Lua com insistência sem que os nossos olhos
sofram mal algum. A lenda senegalesa nos explica que isso ocorre, pois, em certa
ocasião, estavam banhando-se nuas as mães de ambas as luminárias (sol e Lua).
Enquanto o Sol manteve uma atitude carregada de pudor, e não dirigiu o seu olhar nem
um instante para a nudez da sua progenitora, a Lua, em compensação, não teve reparos
em observar a nudez da sua antecessora.
Um mito indígena a respeito da origem do Sol refere-se a um moço forte e bonito que
vivia entre os Tucuna, (e que se chamava Sol), que um dia
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Há três mil anos, não existiam explicações científicas para grande parte dos fenômenos
da natureza ou para os acontecimentos históricos. Portanto, para buscar um significado
para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram uma série de histórias,
de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente, através da literatura oral.
Todos os mitos relatados referem-se à mesma ênfase (se interligam pelo tema) em
explicar o inexplicável, isto é, ou seja, tentar compreender algo de acordo com as suas
próprias condições culturais, sem embasamento na questão cientifica, e sim no
tradicional, o senso-comum.
Para concluir nosso trabalho, uma última análise sobre um conto de Uganda para
explicar sobre como os mitos se espalharam sobre o mundo, a partir de uma explicação
também mítica. Havia dois animais, um rato e um gato, que eram amigos e trabalhavam
juntos e guardavam os produtos frutos de seu trabalho. Mas o gato mudou o esquema e
o rato sugeriu que colocassem o leite em uma igreja, após observar um processo de cura
do leite pelas mulheres da tribo. A partir desse momento, eles começaram a guardar o
leite em uma sacola de couro para fermentar, precisando de um local de
armazenamento. Como não confiavam um no outro, esconderam a sacola em uma igreja
construída pelos europeus. O rato comeu o queijo produzido por eles durante várias
noites e inventava nomes de parentes de sua família que seriam batizados na igreja,
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Quando o gato viu que não havia mais queijo, o rato já tinha desaparecido, fugindo para
cabanas, entrando em santuários, indo com caravanas nômades até as pirâmides,
passando pelas cidades, andando pelas mesquitas e passeando por mercados árabes. No
porto, dentro de navios, começa a tecer cordões para não se esquecer das suas viagens e
dos mitos de cada lugar. Em uma tempestade, que carrega seus cordões e histórias
mundo afora, que conhece finalmente os mitos do mundo inteiro. Assim, podemos
entender que os mitos espalharam-se pelo mundo através de pessoas, que, viajando pelo
mundo, levaram as histórias ouvidas, mostrando a pessoalidade da visão de mundo e
dos significados sociais existentes e inculcados em cada uma delas.
Bibliografia
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos. = !: 9 (ca.
Edart, 1982.
Trabalho
Análise Estrutural
Antropologia Contemporânea 1, ministrada pelo
prof. Dr. Piero de Camargo Leirner