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O MITO ARTURIANO E SUA CRISTIANIZAÇÃO

NOS SÉCULOS XII E XIII

Adriana Maria de Souza Zierer*

Resumo: A imagem de Artur, um chefe guerreiro bretão (dux bellorum) que derrotou os
saxões antes que seu povo fosse finalmente conquistado pelos inimigos no século VI,
foi apropriada inicialmente pelos anglo-normandos que encomendaram a Geoffroy de
Monmouth a Historia Regum Britanniae (1135-1138), na qual os normandos, os novos
conquistadores da Grã-Bretanha, estão ligados a Artur. Na Historia, Artur se torna um
rei cristão que luta contra os pagãos que queriam invadir a Bretanha. A partir da Baixa
Idade Média, sua figura foi utilizada no Ocidente por diferentes grupos para fortalecer
a monarquia, os nobres e as ordens militares. No século XIII, por influência da Igreja
Católica, os escritores cristianizaram a busca pelo Graal, um dos elementos do mito
arturiano. O Graal, que está relacionado com o caldeirão céltico da abundância, foi
transformado no cálice que Cristo bebeu na Última Ceia e no qual estava contido o seu
sangue, que foi recolhido por José de Arimatéia. Somente o cavaleiro perfeito Galahad
(ou Galaaz), que não possuía pecados, poderia atingir o Santo Graal.
Palavras-chave: Rei Artur. Baixa Idade Média. Mito. Cristianização. Graal.

Abstract: The image of Arthur, a Britannic dux bellorum (military leader) who defeated
the Saxons before his people were finally conquered by those enemies in the 6th century
has been appropriated initially by the Anglo-Normans who ordered Geoffroy of
Monmouth to write the Historia Regum Britanniae (1135-1138) in which the Normans,
the new conquerors of the Great Britain, were connected to Arthur. In the Historia,
Arthur becomes a Christian king who fights against the pagans who wanted to invade
Britain. From the Low Middle Ages on, his figure has been utilized in the West by
different groups to fortify the monarch, the nobles and the chivalry orders. In the 13th
century, influenced by the Catholic Church, the writers Christianized the search of the
Grail, one of the elements of the Arthurian myth. The Grail, which is connected with the
Celtic cauldron of abundance, has been transformed in the cup in which Christ has
drunk in the Last Supper and in which was contained his sang from the Crucifixion,
collected by Joseph of Arimathea. Only the perfect knight, Galahad, who had no sins,
could reach the Holy Grail.
Keywords: King Arthur. Low Middle Ages. Myth. Christianization. Grail

*
Profa. de História Medieval da Universidade Estadual do Maranhão. Departamento de
História e Geografia. Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 141


1. As Origens do Mito Arturiano

O mito arturiano, centrado principalmente na figura de Artur e de seus


cavaleiros e na imagem do Santo Graal, foi utilizado para fins políticos pelos
grupos dominantes na Europa Ocidental na Baixa Idade Média, cada um deles
visando o seu fortalecimento.
De acordo com os historiadores, Artur foi um dux bellorum, isto é, um
chefe guerreiro, vencedor dos saxões em várias batalhas, sendo a mais impor-
tante a Batalha do Monte Badon (c. 516). A primeira obra latina a apresentar
Artur como um dux bellorum é a Historia Brittonum (História dos Bretões) do
galês Nennius. Escrita por volta do ano 800, o capítulo 56 menciona as doze
batalhas vencidas por Artur contra os saxões.
Tendo sido essas batalhas reais ou lendárias, pouco depois, porém, no
próprio século VI, os saxões conseguiram controlar a Bretanha e seus habitan-
tes. Formaram então sete reinos independentes, a heptarquia anglo-saxônica até
a chegada de Guilherme da Normandia, que conquistou a região em 1066, na
Batalha de Hastings. A partir de então, a Bretanha, atual Grã-Bretanha, foi con-
trolada pelos normandos, que eram reis da Inglaterra e senhores feudais na França.
De origem céltica, os bretões sempre viveram em tribos rivais entre si,
sendo cada uma governada por um chefe ou rei, que só tinha importância nos
momentos de guerra. Acreditavam na existência do Outro Mundo e em divinda-
des ligadas a animais sagrados. A falta de união levou-os a serem conquistados
por outros povos; primeiro os romanos (no século I) e depois os saxões, no
século VI.
Embora a Bretanha tenha sido incorporada ao Império Romano, foram
mantidas a língua e a hierarquia célticas apesar da perseguição aos druidas.
Estes exerciam várias atividades como a de juízes, médicos, poetas, recitadores,
além de se dedicarem a funções religiosas e de participarem das guerras. O
motivo da perseguição a eles foi o de que representavam a resistência à domina-
ção romana.
Os romanos construíram o Muro de Adriano para defender as terras
conquistadas dos ataques dos escotos, pictos (povos também de origem céltica
que habitavam respectivamente a Irlanda e a Escócia, considerados inimigos
dos bretões) e saxões. Com o declínio de Roma, no entanto, foi difícil conter as
invasões e os saxões, que agiram inicialmente como federados para proteger os
bretões, acabaram por associar-se aos anglos e jutos e dominaram a ilha.
Após a derrota, muitos bretões fugiram, dirigindo-se à Armórica (ou
Pequena Bretanha) no norte da França. Outros resistiram no País de Gales. Este
é o local de onde surgiu a maior parte das lendas referentes a Artur. Como não
podiam expulsar os novos dominadores, os bretões criaram histórias nas quais o

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seu infortúnio era explicado por motivos mais ou menos mágicos. Artur transfor-
mou-se numa figura de poder excepcional, uma espécie de rei do mundo, capaz
de unir todos os bretões; o símbolo de um redentor que um dia iria voltar e
retomar o controle da Bretanha (MARKALE, 1985, pp. 133-134).
A lenda do rei perfeito foi transmitida oralmente através do tempo, gra-
ças à ação dos bardos, poetas das cortes galesas (do País de Gales) encarregados
de conservar as tradições célticas. Com o passar do tempo, os elementos do mito
sofreram mutações que lhe deram uma configuração propícia a ser utilizada por
diversos grupos dominantes na Europa Ocidental.
“Mito” é uma palavra de difícil conceituação, possuindo vários signifi-
cados. O mito pode ser proveniente de uma história tradicional, exprimindo
uma emoção que satisfaça a comunidade. (KIRK, 1977, pp. 28-29). Além disso,
os mitos possuem funções integradoras, mobilizadoras e esclarecedoras. Um
exemplo de função integradora era a crença dos bretões na existência de Artur e
no seu retorno próximo. A função mobilizadora auxiliava-os a ter esperança no
futuro e a esclarecedora exprimia através da simbologia o desejo do grupo de
união de expulsar os inimigos de suas terras. (Sobre as funções do mito, cf.
GARCIA-PELAYO, 1981, pp. 23-25). Conforme será possível observar, quan-
do as histórias arturianas foram reescritas, adquiriam novos significados.
Nas primeiras fontes latinas sobre os bretões — como em De Excidio et
Conquestu Britanniae (A Destruição Britânica e sua Conquista) (545), do mon-
ge Gildas — a figura de Artur não é mencionada, sendo a vitória do Monte
Badon atribuída ao romano Aurelius Ambrosius. O texto associa a decadência
bretã a seus pecados.
No século VIII, Artur é citado como chefe guerreiro por Nennius, em
Historia Britonum (História dos Bretões), e também mais tarde na obra de
William de Malmesmebury, Gesta Regum Anglorum (século XII), na qual o
túmulo do sobrinho de Artur (Walwen ou Gauvain) é encontrado (BRUNEL,
1997, p. 102).
É interessante observar que, na obra do galês Nennius, a narrativa de
Artur já começou a ser cristianizada. A fonte menciona as doze batalhas vencidas
por Artur contra os saxões e justifica a vitória do chefe guerreiro Artur devido
ao fato de possuir o escudo com a imagem da Virgem Maria, como pode ser
visto abaixo:
A oitava batalha foi na fortaleza de Guinnion, na qual Artur carregou a imagem
de Santa Maria sempre virgem sobre seus ombros; e os pagãos foram
postos em debandada nesse dia. E sob o poder de Nosso Senhor Jesus
Cristo e sob o poder da sagrada Virgem Maria, sua mãe, houve uma grande
mortandade entre eles. A décima segunda batalha foi no Monte Badon no qual
caíram em um dia novecentos e sessenta homens de uma investida de Artur
e ninguém os golpeou exceto o próprio Artur, e em todas as batalhas ele saiu
como vencedor (NENNIUS, 2003, p. 244, grifos nossos)

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Mas Artur só terá papel de destaque na literatura ocidental na
obra de Geoffroy de Monmouth, Historia Regum Britanniae (História
dos Reis da Bretanha) (1135-1138), usada com fins políticos pelos
normandos.
Já nas histórias célticas, Artur e seus companheiros são apre-
sentados como a personificação dos deuses, misturando elementos hu-
manos e divinos. A maioria deles tem o nome ligado a animais, como,
por exemplo, Gwalchmei, falcão de maio, que ficava mais forte ao
meio dia; estes dois aspectos representando seu caráter divino
(MARKALE, 1994, p. 297).
Em galês a palavra arth significa urso. Pode-se fazer uma ana-
logia entre os ursos que hibernam no inverno e o rei que, segundo
algumas lendas, estaria numa caverna. O urso também está relaciona-
do às constelações da Ursa Maior e Menor. Artur também está ligado
aos significados de ar (trabalhador em indo-europeu) e arta (ordem,
proveniente do sânscrito), representando uma espécie de Deus Agri-
cultor e Caçador, que garante a prosperidade.
A primeira obra a apresentar a corte arturiana é o conto céltico
Kulhwch e Olwen, que consta no Mabinogion (conjunto de contos ga-
leses), remontando ao século VII embora tenha sido publicado muito
mais tarde (entre os séculos XIV e XV). A narrativa trata das aventu-
r a s d e K u l h w c h p a r a c a s a r- s e c o m O l w e n , f i l h a d o f e i t i c e i r o
Yspadadden Penkawr. O jovem pede auxílio do rei, seu tio, e dos guer-
reiros deste, sendo vitorioso nas provas (Mabinogion, 1988, pp. 99-
141).
Artur também aparece num poema do século X, Preideu
Annwvyn (Os Despojos do Outro Mundo), em que vai ao Outro Mundo
Céltico em busca do caldeirão da abundância (ZIERER, 2002). Este
assunto foi depois desenvolvido no século XII pelo poeta Chrétien de
Troyes, o qual transforma o antigo caldeirão da abundância no Graal,
objeto capaz de alimentar e curar o tio de Perceval, conforme vere-
mos oportunamente. No poema celta do século X, porém, a expedição
do rei Artur e de seus companheiros em busca do caldeirão da abun-
dância não obtém sucesso e somente o rei e sete dos seus guerreiros
retornam (ELLIS, 1992, p. 26).
O caldeirão da abundância também é recorrente em outros re-
latos célticos, como Pwyll, príncipe de Divet, que também consta no
Mabinogion, remontando provavelmente ao fim do século XI. Contra
um inimigo que desejava vencer, Pwill pede que encha de comida e
bebida um saco, mas este nunca se esgota por mais alimentos que lhe
sejam acrescidos (MABINOGION, 1988, pp. 3-26).

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2. O Uso Político do Mito Arturiano na História dos Reis da Bretanha,
de Geoffroy de Monmouth

A obra que favoreceu a difusão das lendas arturianas na Europa Ociden-


tal, como vimos, foi a Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha)
(1135-1138), do clérigo Geoffroy de Monmouth. Estes relatos já eram conheci-
dos na época, como se pode atestar pela presença de esculturas de Artur e
Guinevere na catedral de Módena, na Itália, antes da obra de Geoffroy (BRUNEL,
1997, p. 102). Porém foi a dinastia anglo-normanda, conquistadora da Inglater-
ra no século XI, a primeira a se apropriar do personagem Artur para fins políti-
cos, com o objetivo de reforçar o seu poder.
Em primeiro lugar tratava-se de valorizar o glorioso passado bretão para
identificar-se com os inimigos, que nunca haviam se conformado com o domí-
nio saxão. Assim, os anglo-normandos nomearam-se como continuadores da
linhagem bretã através de seu mais nobre representante, Artur. Além disso, era
importante ao novo grupo reinante na Inglaterra forjar uma resposta literária ao
rei da França. A Historia Regum Britanniae visava apresentar um outro herói à
altura de A Canção de Rolando, narrativa de caráter guerreiro, cujo personagem
central é ligado à figura de Carlos Magno e conseqüentemente à dinastia
capetíngia (DUBY, 1982, p. 313; 317). Na obra, o monarca francês é apresenta-
do como o único capaz de retomar a Terra Santa das mãos dos infiéis.
Como resposta, Henrique I (1100-1135), vassalo do rei Luís VI, o Gor-
do (1108-1137), e rei da Inglaterra, encomendou a Geoffroy de Monmouth a
história de um rei expansionista, conquistador de trinta reinos e de Roma. Artur,
assim como Rolando, também combatia pela Cristandade ao expulsar os pagãos
da Bretanha: os saxões, escotos e pictos, impondo o cristianismo na região.
A utilização política da obra continuou no governo de Henrique II
Plantageneta (1154-1189) contra o seu suserano e rei da França Luís VII (1137-
1180), ex-marido de Leonor da Aquitânia, a qual casou-se com Henrique II em
1152, aumentando os domínios dos Plantagenetas na França.
Na Historia Regum o monarca bretão portava elementos pagãos e cris-
tãos: uma espada (Caliburn) forjada no Outro Mundo, mas seu escudo Pridwen,
a quem sempre apelava nas batalhas, continha a imagem da Virgem Maria
(MONMOUTH, 1993, pp. 208-209), inspirada na descrição dada por Nennius
na História dos Bretões.
A morte de Artur ocorre devido à traição de Mordret (ou Mordred), que
usurpa o trono quando o tio empreende a conquista de Roma. Até então invencível,
Artur é mortalmente ferido na luta contra o sobrinho, indo a seguir para a Ilha de
Avalon para curar seus ferimentos. A obra de Geoffroy de Monmouth (1993, p.
258) não diz, no entanto, se Artur algum dia retornará, como afirmavam as ve-
lhas crenças:

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O horrível traidor (Mordred) foi morto e com ele milhares de seus soldados (...).
Assistiu-se então a um combate dos mais terríveis; quase todos os chefes dos
dois exércitos caíram com seus homens. (...) É nesta mesma batalha que nosso
ilustre rei Artur foi mortalmente ferido; ele foi então para a ilha de Avalon
para lá ser tratado de seus ferimentos. (grifos nossos)

A incerteza quanto ao destino do rei tem o claro objetivo de “conven-


cer” a população de origem céltica de que Artur não retornaria mais e os
normandos seriam os seus eternos representantes, destinados a dominar a re-
gião.
A conquista dos bretões pelos saxões é justificada por Geoffroy de
Monmouth na História dos Reis da Bretanha como um castigo divino. Com o
domínio saxão, uma série de calamidades se abateu sobre o país como a peste e
a fome. O último rei bretão, Cadwallader, refugiou-se na Armórica (norte da
França) e recebeu dos anjos um aviso para se dirigir ao papa de Roma, onde
morre. A ressurreição dos bretões é prometida para um dia no futuro através da
fé cristã (MONMOUTH, 1993, pp. 259-285).
A suposta descoberta dos túmulos de Artur e Guinevere na abadia de
Glanstonbury em fins do século XII também parece contribuir com a idéia de
que o rei realmente estaria morto, procurando sepultar a idéia bretã de que um
dia conseguiriam retomar o controle da Ilha.
O relato de Geoffroy foi logo colocado em versos pelo trovador normando
Robert Wace no seu Roman de Brut (1155), pois Henrique II queria que as aven-
turas de Artur fossem lidas na corte, inclusive para ele ser indiretamente associ-
ado àquele rei. O autor introduziu a figura da távola redonda e deu ainda mais
destaque à figura de Artur. A pedido ainda do monarca Plantageneta, Robert
Wace escreveu uma obra que relatava as origens normandas da monarquia in-
glesa, o Roman de Rou (BRUNEL, 1997, pp. 103-104).

3. Chrétien de Troyes e o Desenvolvimento de Temas como o Cavaleiro


Cortês e o Graal

Logo a seguir, entre 1162 e 1182, o clérigo Chrétien de Troyes escreveu


uma série de romances em verso, glamurizando a corte arturiana. As aventuras
dos cavaleiros tornaram-se mais importantes que o rei, apresentado como um
mero árbitro das disputas, porém figura indispensável.
Nas histórias de Chrétien, o principal são as façanhas empreendidas por
jovens que devem mostrar a sua habilidade guerreira, refinamento, elegância e
boa educação com as damas. Assim, o poeta descreveu histórias sobre vários
heróis como Lancelot, Ivain, Erec, Gawaine, entre outros. Porém o nobre que

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melhor simbolizava os traços do cavaleiro cortês é Lancelot do Lago, o melhor
herói nas armas. De acordo com a obra O Cavaleiro da Charrete, “quando
Lancelot vem a combate, ele sozinho vale vinte dos melhores” (1991, p. 189). E
ainda: “ele venceu e sobrepujou todos os cavaleiros do mundo. A ele ninguém
pode se comparar!” (1991, p. 194)
Ao mesmo tempo, surge nos poemas em verso do autor o triângulo amo-
roso, pois o melhor cavaleiro do rei o trai com sua esposa, Guinevere, sem que
o monarca saiba e sem ser punido por isso.
Além de desenvolver a temática do amor cortês associada ao mito
arturiano, foi Chrétien quem introduziu a figura do Graal (que mais tarde toma-
ria um sentido profundamente cristão), no romance Perceval. A narrativa trata
do cavaleiro puro que necessita cumprir uma jornada até encontrar o Graal e
curar o seu tio, o Rei Pescador quando perguntasse sobre um misterioso cortejo
que passa a sua frente, no qual o Graal é transportado. Inicialmente Perceval
não faz a pergunta, o que só concluirá ao final da narrativa, quando atinge o
amadurecimento.
Nesta obra inacabada de Chrétien de Troyes, o Graal é uma escudela,
isto é, um prato que alimentava há anos o pai do Rei Pescador (FURTADO,
2003, pp. 29-31), o qual ingeria como alimento somente o seu conteúdo, não
especificado pelo poeta na obra.

4. A Cristianização do Mito Arturiano em A Demanda do Santo Graal


(Século XIII)

Robert de Boron, em fins do século XII, foi o primeiro autor a


cristianizar o Graal, transformando-o no cálice usado por Jesus na Última
Ceia e que continha o sangue derramado por Cristo na cruz, recolhido por
José de Arimatéia. Este, após várias peripécias, consegue levar o objeto sagra-
do à Bretanha.
O Graal tomou contornos ainda mais nítidos com a prosificação dos
romances de cavalaria efetuada no século XIII. Com inspiração nos preceitos
cristãos, os escribas anônimos da época procuraram dar uma coloração mais
religiosa à busca do Graal, introduzindo no relato a figura do cavaleiro perfei-
to Galaad (ou Galahad), que passava seus dias a orar e jejuar, além de vestir
uma estamenha (túnica de lã com farpas, usada sobre a pele como forma de
penitência).
No romance anônimo do Ciclo da Post- Vulgata da Matéria da Bretanha,
A Demanda do Santo Graal, Galaad (Galaaz, na versão portuguesa) é o cavalei-
ro que nunca teve pecado carnal nem em pensamento. O Graal aparece no início
da narrativa na corte do rei Artur, o que representava uma grande honra:
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E eles estando assim sentados, entrou no paço o Santo Graal, coberto de um
veludo branco; mas não houve um que visse quem o trazia. E assim que entrou,
foi o paço todo repleto de bom odor, como se todos os perfumes do mundo lá
estivessem. E por onde passava, logo todas as mesas ficavam repletas de tal
manjar, qual em seu coração desejava cada um. (A DEMANDA..., 1988, p. 41)

Logo depois o Graal parte e os cavaleiros saem em sua busca. Acompa-


nhado de dois outros eleitos, Persival e Boorz, Galaaz consegue encontrar o
Santo Vaso no Oriente, na cidade de Sarras. Persival (ou Perceval) é o mesmo
cavaleiro do poema de Chrétien de Troyes, mas nesta narrativa o papel principal
cabe a Galaaz. O nome deste último significa homem ‘escolhido’, o ‘puro dos
puros’, o próprio Messias. Simboliza um mundo novo, ou um Cristo sempre
vivo em peregrinação mística pelo mundo (MOISÉS, 1975, p. 31).
No romance ocorre uma analogia entre as três mesas: a mesa da Última
Ceia, a távola redonda e a mesa do Graal. O Graal era ao mesmo tempo um
alimento corporal e espiritual, uma visão indescritível banhada de luz, que as-
cendeu ao céu, juntamente com Galaaz, após a visão dos seus mistérios (ZIERER,
2003, pp. 34-36).
O rei Artur aparece pouco no romance, que trata mais das aventuras dos
cavaleiros da távola redonda para encontrar o que tanto procuram, do que dos
feitos deste rei. Merecem destaque na narrativa: Lancelot, Galvão, Palamades,
Tristão, Erec, o rei Bandemaguz, entre outros, cujas aventuras sobressaem entre
os cento e cinqüenta cavaleiros da távola redonda.
A presença do religioso na narrativa é constante, havendo uma clara
luta entre Deus e o diabo. Deus dirige-se diretamente aos fiéis, impedindo-os de
cometer maus atos, como, por exemplo, quando aparece a Persival uma linda
donzela capaz de encher o seu coração de amor, levando-o a quase realizar o ato
sexual. Repentinamente, o jovem ouve uma voz do Céu e desmaia para logo a
seguir a donzela transformar-se no diabo (A Demanda do Santo Graal, I, 1955,
pp. 373-375). Assim, a interferência divina impediu que um dos cavaleiros elei-
tos cometesse pecado, permitindo que ele continuasse a sua busca vitoriosa pelo
Graal. Os eremitas também têm papel de destaque no relato: através de sua voz,
desvendam os sonhos dos cavaleiros e fazem previsões.
Artur na história é um rei pecador e por seus pecados o Graal, símbolo
de prosperidade e abundância, retirou-se da Bretanha. Interessante observar que
o monarca é ao mesmo tempo nomeado no romance como o “melhor rei do
mundo” (A DEMANDA..., II, 1970, p. 317), talvez significando que todos os
cristãos possuem faltas e necessitam da condução da Igreja para a sua salvação.
A busca do Graal conduz a narrativa, pois os principais cavaleiros saem
para procurá-lo. Porém a maior parte fracassa por ser, assim como o seu rei,
pecadores, segundo a visão do relato. De acordo com o romance, somente aque-
le que fosse o cavaleiro mais puro, que não apresentasse sinais de mácula sexu-

148 O mito arturiano


al, seria capaz de empreender com sucesso a demanda pelo objeto sagrado.
Galaaz é um digno representante da pureza porque em nenhum momento se
sente tentado pelo sexo feminino, nem mesmo quando uma vez uma donzela caiu
de amores por ele e se deitou na sua cama no meio da noite (A DEMANDA...,
1988, p. 99-100). Ao contrário de Persival, no episódio citado sobre a donzela-
diabo, o cavaleiro que usava a estamenha não se sentiu atraído em nenhum
momento e recusou o amor da jovem sem hesitação:

- Ai donzela! Quem vos mandou aqui certamente mau conselho vos deu; e eu
cuidava que de outra natureza éreis vós. E rogo-vos por cortesia e por vossa
honra, que vos vades daqui, porque, com certeza, o vosso louco pensar não
entenderei eu, se Deus quiser, porque mais devo recear perigo de minha
alma do que fazer vossa vontade. (A DEMANDA..., 1988, p. 100, grifo nosso)

É importante salientar que os cavaleiros que saíram na demanda do Santo


Graal não poderiam levar donzelas e nem ter nenhuma aventura amorosa duran-
te a busca, motivo pelo qual são poucos os que conseguem o sucesso na emprei-
tada.
Quanto aos pecadores no romance, consistem na maioria dos comba-
tentes do reino arturiano. Um dos nobres, Erec, comete uma falta terrível, aca-
bando por matar sua própria irmã. O principal cavaleiro de Artur, Lancelot, não
consegue ver o Santo Graal por trair o rei com a esposa deste, Guinevere (ou
Genevra). Lancelot é o oposto simbólico de Galaaz, pois o primeiro é pecador e
o segundo, o representante da pureza na narrativa.
É importante explicar a relação entre eles. Conforme vimos, na tradição
cortês criada pelo poeta Chrétien de Troyes, o cavaleiro mais importante era
Lancelot. Este e Galaaz são parentes na Demanda. Lancelot é pai de Galaaz, por
ter confundido uma vez Elaine, a filha do rei Pescador, com Guinevere. Embora
concebido no pecado segundo a concepção medieval, por ter sido a união fora
do casamento, o jovem é puro e casto, ao contrário de seu pai, que embora bom
cavaleiro nas armas, trai o rei Artur. Por esse motivo, Lancelot é impedido de se
aproximar do Graal na câmara onde este se encontrava no Oriente e tem um
sonho no qual vê a si próprio e a rainha Genevra (Guinevere) queimando no
Inferno (ZIERER, 2004b).
No início da narrativa, um ermitão prevê o que acontecerá na Demanda
com os três cavaleiros perfeitos, Galaaz, Persival e Boorz:

Dos três sem mancha, voltará um e dois outros ficarão; assim se entende que
dos três bons cavaleiros, um voltará à corte para o bom pasto que perderam
aqueles que estavam em pecado mortal. Os outros dois ficarão, porque acharão
tão grande prazer no manjar do Santo Graal, que não o deixarão de modo algum,
pois que o tiveram à vontade (A DEMANDA..., 1988, p. 134, grifo nosso).
Além destes três, durante a demanda, só mais nove poderão ver de novo
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o Santo Vaso, uma analogia aos doze apóstolos de Cristo, na cidade de Sarras, no
Oriente. O fim da narrativa segue a linha da Historia Regum Britanniae; o rei,
ferido de morte por Morderete (ou Mordred), é levado para Avalon. Mais tarde
seu túmulo é encontrado, porém estava vazio. Os inimigos destroem o reino de
Logres (a Inglaterra) e os últimos cavaleiros vivos tornam-se ermitãos. A última
palavra do texto é amen, reforçando o sentido religioso e o fim da aventura
arturiana, com a morte do rei Artur e o retorno do objeto sagrado ao Céu.

5. O Mito Arturiano e seu Uso pelos Grupos Dominantes na Europa


Medieval Ocidental

A aparição de Artur nos primeiros romances corteses possui um parale-


lo com a visão de rei entre os celtas. Para estes, a função do rei era a de dar,
exercer a largueza, estando submetido a uma série de interditos e obrigações.
Em várias narrativas é descrito que o rei céltico deve servir à comunidade e
conceder dons, sem poder recusar, mesmo sem saber do que se trata. No século
XII, a obra Policraticus, do clérigo Jean de Salisbury, também propõe um mo-
delo de rei que governa seguindo os desejos da comunidade, a Universitas.
Policraticus foi o primeiro tratado político medieval, tendo sido escrito
para o rei Henrique Plantageneta. A sociedade é apresentada como um corpo,
cuja cabeça é o rei, mas deve ser auxiliado pela Universitas, isto é, a comunida-
de organizada representada pelos nobres. A corte é vista como local de transmis-
são policrática do poder, isto é, espaço onde o soberano não governa sozinho,
mas necessita dividir o seu poder para reinar (DUBY, 1982, p. 291). Se o rei
agisse como um tirano, poderia até ser deposto pelos membros da Universitas.
Além disso, deveria ouvir o conselho dos oratores para melhor tomar as deci-
sões do reino (DUBY, 1982, p. 290).
A adoção do mito arturiano na Europa Ocidental era de interesse dos
grupos dirigentes: nobreza, rei e clero. Para os nobres era relevante porque seu
papel de destaque na narrativa convergia com o objetivo de se tornarem inde-
pendentes do rei, como fez o próprio Henrique Plantageneta, que era ele próprio
um nobre, vassalo do rei da França, Luís VII.
Para os reis representava um incentivo a mais no seu processo de cen-
tralização, já que apareciam positivamente como elemento de união de toda a
nobreza. Embora apresentados de forma secundária nos romances, tinham neles
o papel de árbitros e, com o desenvolvimento das cidades e os impostos que
estas geravam, estavam na prática se fortalecendo cada vez mais. Já em fins do
século XII, a cavalaria se torna uma ordem extremamente associada ao poder
régio, com um mesmo sistema de valores, mérito e ofício (DUBY, 1982, p. 328).
Muitos nobres instalaram-se na corte e passaram a depender do rei, embora, no
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imaginário dos romances, a unidade dos cavaleiros fosse mais poderosa que o
monarca (MARTIN, 1996, p. 300).
A Igreja por sua vez vinha, desde as Cruzadas, tentando controlar a
violência da nobreza, visando aplacar a agressividade dos nobres secundogênitos,
que haviam sido excluídos das heranças e que provocavam guerras feudais em
busca de terras. Neste sentido, no século X instituiu a Paz de Deus (proibição de
ataques aos camponeses, clérigos e mercadores) e no século seguinte a Trégua
de Deus (proibição de lutas alguns dias da semana e em certas datas litúrgicas).
No contexto de falta de terras aos nobres, a Igreja e os poderes constituídos
estimularam ainda as lutas para fora da Europa contra os muçulmanos para reto-
mar a Terra Santa, e dentro da Europa as Cruzadas contra aqueles considerados
como hereges (ex: Cruzada contra os Albigenses) e a Reconquista na Península
Ibérica contra os mouros.
A Igreja, enquanto instituição que se considerava responsável pela sal-
vação dos cristãos, indicava ainda as normas corretas que todo cristão deveria
seguir para atingir o Paraíso na outra vida, através da freqüência às missas,
doações aos pobres e entrega de bens aos clérigos.
Por isso, influenciados pelo pensamento cristão, os escritores de A De-
manda do Santo Graal transformaram o principal cavaleiro do relato num cris-
tão perfeito e a busca do Graal em uma aventura religiosa. O estudioso Pauphilet
(1999, pp. 53-84) enfatizou que a obra sofreu influência dos preceitos da Ordem
Cisterciense, seguidora da regra de São Bento e que teve como um de seus
maiores elementos a figura de Bernardo de Claraval ou S. Bernardo (1090-1153).
Este religioso foi um dos grandes impulsionadores das Cruzadas e das Ordens
Militares, como os templários, os monges-cavaleiros surgidos no século XII
que se dirigiram ao Oriente contra os muçulmanos nas Cruzadas.
No romance fica claro que os clérigos pretendiam diminuir de vez os
elementos pagãos da saga arturiana, substituindo-os por símbolos cristãos. O rei
Artur, embora pecador, é obediente ao clero, aceitando de volta a adúltera Genevra
para não ser excomungado (A DEMANDA..., 1970, p. 449). Através desta obra,
portanto, também os oratores pretendiam o controle das camadas dirigentes e
de toda a sociedade.
Como vimos, a transformação de um simples chefe guerreiro num mito
de rei perfeito ganhou, ao longo dos séculos, uma complexidade que tornou
adequada a sua utilização por vários grupos que compunham o estrato dominan-
te da sociedade medieval, cada um deles visando fortalecer e consolidar o seu
poder.
Desde os primeiros relatos latinos, é possível perceber que a figura do
herói esteve associada a elementos cristãos, como no caso da História dos
Bretões em que Artur carrega nos ombros o escudo com a imagem de “Maria
sempre Virgem” (NENNIUS, 2003, cap. 56).

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Mais tarde, buscando justamente o fortalecimento de um grupo que as-
cendeu ao poder, os anglo-nomandos na Inglaterra, Artur deixa de ser guerreiro
sob a pena de Geoffroy de Monmouth e se transforma num rei cristão invencível,
com a missão de expulsar os “pagãos” do seu reino, os escotos e pictos, também
de origem céltica, e os saxões.
Durante o próprio século XII, os nobres, como, por exemplo, o conde
Felipe de Flandres, patrono do poeta Chrétien de Troyes, encomendou manus-
critos ao poeta. Nessas obras, conforme foi mencionado, a figura dos cavaleiros
da távola redonda ocupa um papel mais importante que o do rei, o que represen-
tava um desejo da nobreza em mostrar a sua independência contra a nascente
centralização do poder régio, especialmente na Inglaterra e França.
No século XIII, com a colocação da saga arturiana em prosa, nos cha-
mados romances em prosa ou novelas de cavalaria, foram fundidas duas ima-
gens do ciclo arturiano: o rei Artur, um rei visto por todos como o melhor rei do
mundo, mas que, ao mesmo tempo, possui uma falta terrível por ser considerado
um pecador; e um objeto que dá prosperidade ao reino e que dele se afasta
devido aos pecados do rei e de sua população: o Santo Graal. Proveniente das
antigas crenças pagãs sobre a abundância infinita de alimentos, o Graal será o
representante cristão da prosperidade de Artur e este objeto somente poderá ser
resgatado por um cavaleiro puro, a antítese de seu próprio pai, Lancelot, um
adúltero, e do rei Artur, um pecador. Estas imagens contribuíam com uma idéia
de moralização dos costumes na sociedade medieval, uma vez que pregavam a
adoção dos ideais cristãos.

6. Considerações finais

Conforme foi demonstrado, a cristianização do mito arturiano nos sécu-


los XII e XIII auxiliou o fortalecimento do rei, cujo poder estava em processo de
centralização a partir desta época. Artur, seja através de Geoffroy de Monmouth
ou de autores anônimos, assume uma importância fundamental nos relatos, sen-
do capaz de derrotar populações não-cristãs e de impor o seu poder a vastas
regiões, sendo considerado, nos relatos do século XIII, tanto um pecador (carac-
terística de todos os humanos, segundo o pensamento cristão), como o “melhor
rei do mundo”.
Já outras sagas arturianas, especialmente as construídas por Chrétien de
Troyes, enfatizaram o caráter agressivo e independente da nobreza em seu
desejo de ser mais forte que o rei, uma vez que naquelas aventuras o mais
importante era a busca de façanhas pelos jovens cavaleiros. Por fim, as narrati-
vas arturianas reforçaram os preceitos cristãos no século XIII ao apresentar
como cavaleiro ideal um jovem puro e casto, Galaaz, que por este motivo era o
152 O mito arturiano
único capaz de encontrar o Santo Vaso. A ida do Graal ao Céu, no fim do roman-
ce A Demanda do Santo Graal, representa ainda que o objeto sagrado só
estaria ao alcance dos humanos na outra vida, desde que estes fossem conduzi-
dos no caminho correto pela representante de Deus na terra, a Igreja Católica,
assim como Galaaz pautou suas ações.
Desta forma, o mito arturiano beneficiou os diversos grupos dominantes
da sociedade medieval ocidental, motivo pelo qual ele se propagou no tempo, daí
a importância em estudá-lo nos dias de hoje para a compreensão das estruturas
mentais e políticas da Idade Média.

Anexos: Elementos arturianos e/ou célticos e sua cristianização

Quadro 1: ARTUR
HISTORIA BRITTONUM (História Guerreiro invencível. Vence os inimigos com
dos Bretões) (Ano 800) (Anônimo) ajuda do escudo com imagem da Virgem Maria
HISTORIA REGUM BRITANNIAE Rei cristão invencível. Vence com a ajuda da
(História dos Reis da Bretanha) (1135- Virgem no seu escudo. Derrota os "pagãos" e
1138) (Geoffroy de Monmouth) 30 reinos não- cristãos.
LA QUESTE DEL SAINT GRAAL Re i c r is t ã o p e c a d o r. A ind a c o m t r a ç o s d e
(A Demanda do Santo Graal) (1215- guerreiro invencível. Graal dá prosperidade ao
1250) (Anônimo) reino.

Quadro 2: Do Caldeirão da Abundância Céltico ao Graal Cristão:


principais obras

CALDEIRÃO DA ABUNDÂNCIA GRAAL

Significado: alimentos que nunca se esgotam num Significado: objeto capaz de garantir plenitude material e
recipiente com traços mágicos. espiritual.

PREIDEU ANNWVYN (os despojos do outro PERCEVAL, de Chrétien de Troyes (século XII): escudela
mundo) (anônimo, século x): artur e seus homens que alimentava o pai do rei pescador, tio de perceval. o
tentam pegar o caldeirão no outro mundo céltico e cavaleiro puro deve desvendar a aventura.
fracassam.

PWILL, PRÍNCIPE DE DYVET (conto celta da LA QUESTE DEL SAINT GRAAL, de Robert de Boron
obra anônima M abinogion - remonta ao fim do (fim do século XII): cálice bebido por cristo na última ceia e
século XI): um saco não se enchia de comida por com seu sangue recolhido na cruz por José de Arimatéia,
mais alimentos que se colocasse ali. encontrado por Perceval.

DEM ANDA DO SANTO GRAAL, anônimo do século


XIIi: reelaboração do texto de Boron. Graal como cálice
com o sangue de cristo, somente pode ser encontrado pelo
cavaleiro puro e sem pecados, Galahad, acompanhado por
seus dois companheiros, Perceval e Boorz

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154 O mito arturiano


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