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Sibila desejava ver o marido coroado rei. Não era, porém, a vontade dos
Hospitalários. Guido era uma espécie de "novo rico", por assim dizer, e não
comungava da simpatia da Ordem de Malta. Por outro lado, Geraldo de
Ridefort, o mestre dos Templários, e outro cavaleiro, Reinaldo de
Châtillon, apoiavam a rainha no desejo de coroar Guido. Então, mesmo
contra a vontade dos hospitalários, Guido de Lusignan tornou-se rei de
Jerusalém, ao lado de Sibila.
A notícia de que Jerusalém havia sido tomada pelos muçulmanos caiu como
uma bomba na Europa. Não se admitia que a terra onde vivera Jesus
estivesse sob domínio dos pagãos. Uma nova cruzada foi organizada, agora
por três reis: Frederico Barba-Ruiva, Filipe Augusto e Ricardo Coração de
Leão. Foi a mais bem organizada de todas as cruzadas. Todavia, o jogo de
interesses acabou por miná-la pouco a pouco, levando os cruzados a um
novo fracasso.
É claro que essa tensão entre vida monástica e secular geraria alguns
problemas práticos. Exemplo: a castidade era lei para todos os membros.
Mas como vivê-la? O cilício não poderia ser usado, porque era prejudicial à
saúde física. Como guerreiros, os Templários precisavam ser homens
fortes e totalmente aptos a uma batalha. O jejum monástico também
estava fora de cogitação. Era necessária uma alimentação suficientemente
nutritiva. São Bernardo de Claraval, com a clarividência típica de um
grande santo, soube encontrar a solução: uma alimentação frugal; nem
muito leve, nem muito forte. Ademais, os Templários não podiam ser
recrutados desde a infância, porque não era possível prever se aquele
menino seria um bom cavaleiro. Havia um teste entre os adultos. Por isso,
como no caso de Hugo de Payens, os Templários eram geralmente viúvos.
Como fosse uma época em que a expectativa de vida não era muito grande
— Ricardo Coração de Leão, por exemplo, morreu aos 42 anos —, existiam
muitos rapazes nessa situação.
A lenda criada por Vincenza dizia que o líder dos Pobres Cavaleiros de
Cristo havia dado um prazo de um ano para a morte de seus inimigos. Nota:
Guilherme de Nugaret já estava morto na época. Ora, não se pode atribuir
uma maldição a quem já havia falecido. Clemente V, por sua vez,
encontrava-se moribundo. Sua morte repentina não era, pois, imprevisível.
O inusitado na história seria tão somente o falecimento de Filipe IV, aos
46 anos de idade, devido à queda de um cavalo, após um derrame. Em que
pese a veracidade ou não da lenda, no entanto, trata-se simplesmente de
um suspense inofensivo. Todos os cronistas do período haviam se
posicionado a favor de Jacques de Molay. Estavam convencidos de que era
inocente das acusações e vítima de um conluio. Por isso, não há por que se
preocupar.
Muito diferente é o caso da Maçonaria. 450 anos após o trágico fim dos
Templários, quando não existia qualquer dúvida a respeito da
determinação de Clemente V para que os extinguissem, surge a teoria de
que a Ordem de São Bernardo era, pasmem, uma sociedade secreta. Foi o
início do que podemos chamar de Templarismo.
Ramsey contava que "as palavras de guerra que os cruzados diziam uns
para os outros para resguardá-los das surpresas dos sarracenos, que
frequentemente surgiam entre eles para matá-los", eram, na verdade, os
segredos transmitidos pelo pacto de honra com os Cavaleiros de São João
de Jerusalém. Detalhe: os Cavaleiros de São João de Jerusalém não eram
os Templários, mas os Hospitalários. Ramsey nunca disse algo sobre a
Ordem de São Bernardo de Claraval. Os Templários apareceram depois.
Ademais, a essa fantasia absurda, o chevalier escocês acrescentou o culto
às deusas Ceres, Ísis, Minerva, Diana etc. Isso dava um simbolismo maior à
Maçonaria. Não é por acaso que os três primeiros graus dos maçons têm
nomes de pedreiros e os 30 restantes — os graus filosóficos — recebem
nomes de cavaleiros cruzados.
Que resta a dizer, então, sobre O Código da Vinci, de 2003? Ora, evidentemente, não
precisamos explicar mais nada sobre a farsa criada por Dan Brown, a não ser a criminosa
inserção do Opus Dei no meio da confusão. Dan Brown fez aquilo tão somente para criar
uma caricatura grotesca da obra fundada por São Josemaria Escrivá e, assim, afastar as
pessoas de qualquer coisa relacionada ao Opus Dei. Quem conhece o trabalho admirável
dos numerários, super-numerários e outros membros da Prelazia, sabe o quão importante
é a Obra para a Igreja nos dias de hoje. Cilícios dilacerantes só existem na cabeça de
escritores medíocres. Somente um contumaz inimigo da Igreja Católica para inventar
tamanha mentira como a desse filme. O descalabro chega a um nível tão absurdo, que Dan
Brown comete a gafe imperdoável de colocar um monge albino como membro do Opus Dei,
quando o carisma dos filhos de São Josemaria Escrivá é exclusivamente a vida secular:
"Amo os religiosos, e venero e admito suas clausuras, seus apostolados, seu afastamento
do mundo — seu contemptus mundi —, que são outros sinais de santidade na Igreja. Mas
o Senhor não me deu vocação religiosa, e desejá-la para mim seria uma desordem" [8].
Em suma, são esses os principais mitos em torno da Ordem dos Templários. Devido à
perda de seus arquivos, durante a invasão dos muçulmanos à Ilha de Chipre, uma lacuna
foi aberta na vida e obra dos Pobres Cavaleiros de Cristo. E isso sempre será uma
oportunidade imperdível para teóricos da conspiração e, como se viu, carreiristas e
charlatães inimigos da fé.