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RESUMO
Para apresentar propostas de trabalho aos docentes alinhadas ao currículo municipal e em
conformidade com a Base Nacional Comum Curricular, a prefeitura de São Paulo desenvolveu
o material Caderno da Cidade Saberes e Aprendizagens, composto por fascículos destinados
aos alunos e professores. O componente curricular de Ciências Naturais apresenta caminhos
possíveis de aplicação de sequências didáticas pautadas no Ensino por Investigação. O presente
trabalho tem como objetivo analisar as atividades práticas presentes no material do 8º Ano dos
Anos Finais do Ensino Fundamental. Trata-se de uma pesquisa exploratória e qualitativa do
tipo documental. Com a análise, foi possível identificar atividades práticas com a utilização de
materiais encontrados facilmente, em espaços fora da sala de aula, com recomendações para
evitar acidentes. A maior parte das atividades encontrava-se no início da sequência didática,
porém poucas apresentavam problemas e apenas duas atividades foram identificadas como
investigativas pelo próprio material.
INTRODUÇÃO
1
Universidade Federal do ABC (UFABC)
284
2
Universidade Federal do ABC (UFABC)
METODOLOGIA
único inteiro, Livro do Professor, quanto à perspectiva de Ensino de Ciências por Investigação
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Presença
de um Tipo de atividade
Título da atividade problema prática Eixos
6 Será que alguém está doente? Sim Investigação Vida, Ambiente e Saúde
A quantidade de material
9 particulado presente no ar Sim Não identificada Matéria, Energia e Suas Transformações
12 Efeito da chuva ácida em vegetais Sim Demonstração Matéria, Energia e Suas Transformações
Leitura
investigativa de
14 Leitura investigativa de imagens Não imagens Matéria, Energia e Suas Transformações
287
16 Montando um motor Stiring Não Não identificada Matéria, Energia e Suas Transformações
poluído é o ar da minha região?” A atividade: “Efeito da chuva ácida nas plantações” levanta a
questão: “quais os efeitos da chuva ácida nas plantações?”; assim como a atividade:
”Investigando o efeito da acidez nos materiais” pergunta: ”quais os efeitos da chuva ácida para
a cidade?”
Das 24 atividades, apenas duas foram classificadas pelo material como investigativas:
“Estetoscópio”, que traz questionamentos que permitem aos estudantes a proposição de um
plano de trabalho com a escolha dos materiais e métodos. As perguntas que guiam a proposição
do plano de trabalho são:” Que tipo de material seria mais adequado para construir a membrana
que entra em contato com o corpo do paciente? “”Que tipo de material seria mais adequado
para construir o tubo? “”Quais os materiais do dia a dia você pode usar para montar esse
aparelho?” Esta atividade apresenta um grau elevado de liberdade intelectual, uma vez que os
estudantes determinam o plano de ação, que segundo Carvalho (2018) uma investigação
apresenta o problema e as hipóteses são discutidas com os alunos que devem buscar como
resolver o problema, que no caso é como construir um estetoscópio.
Sobre a importância da resolução de problemas Cardoso e Scarpa (2018) afirmam que
o Ensino de Ciências por Investigação é pautado na resolução de problemas ou questões, sendo
que o problema é uma situação conflituosa, na qual a resolução não é evidente e que pode ser
solucionado manuseando materiais práticos, com a utilização de lápis e papel ou na discussão
entre colegas e professores. É importante destacar que todas as atividades práticas estão
inseridas dentro de uma sequência didática, que podem apresentar questões a serem
investigadas por diversas estratégias, sendo as atividades práticas uma delas.
Das 24 atividades práticas, praticamente metade (14) recebeu algum tipo de
classificação, enquanto para a outra metade não foi encontrada nenhuma palavra no material
que trouxesse sua especificação. A busca por palavras que as classificam se deu por meio de
estudo do Livro do Professor, na qual foi analisada a atividade prática em si, as recomendações
aos docentes e as perguntas após a apresentação da atividade prática. As palavras encontradas
para classificar as atividades e suas respectivas quantidades em que apareceram foram:
Demonstração (4), Experimento (3), Experiência (2), Dinâmica (1), Atividade investigativa/
Investigação (2), Experimentação (1) e Leitura Investigativa de Imagens (1).
É possível observar a diversidade de tipos de atividades práticas, com predominância
daquelas identificadas como demonstrações, que foram utilizadas em atividades que possuíam
materiais perigosos ou que apresentavam dificuldade em conseguir quantidade para todos os
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grupos, como no caso da demonstração que é necessário um aquário. Como só metade das
atividades foram classificadas a predominância de um tipo de aula prática sobre outra pode ser
modificada. Ou ainda talvez seja possível agrupar as categorias: Experimento, Experiência e
Experimentação, que algumas vezes são utilizados como sinônimos, porém alguns autores
consideram diferenças entre elas. Como Rosito (2008) que considera que experiência e
experimento apresentam significados diferentes, uma vez que para a autora a experiência
depende de um conjunto de vivências. Enquanto o experimento se relaciona com teste, verificar
um fenômeno, colocar à prova ou um ensaio científico, destinado à verificação de um
fenômeno.
Através da observação do Quadro 1, é possível perceber ainda predominância de
atividades práticas relacionadas aos conteúdos pertencentes ao eixo: Matéria, Energia e Suas
Transformações, seguido do eixo: Vida, Ambiente e Saúde. Com a menor quantidade de
atividades práticas, temos o eixo Cosmos, Espaço e Tempo que apresentou apenas 3 atividades
práticas. Assim é possível observar que as atividades práticas presentes no Caderno, assim
como os conteúdos, não são distribuídas de maneira igualitária entre os eixos de conhecimento,
porém existe articulação e integração entre eles, como é definido pelo Currículo da Cidade
(2017). Na qual o conhecimento deve ser abordado de maneira integrada e articulada entre as
diferentes áreas que compõem a disciplina de Ciências Naturais (SÃO PAULO, 2017).
Os materiais utilizados para as atividades práticas são fáceis de encontrar como: pote de
vidro, bexiga, tesoura, elástico, fita adesiva, canudinho, canetas coloridas, papel sulfite, garrafa
de plástico, corante alimentício, termômetro, entre outros; confirmando a ideia de que não é
necessário um laboratório para a realização de atividades práticas de ciências. Das 24 atividades
foram encontrados poucos materiais que não fazem parte do nosso cotidiano, mas que podem
ser encontrados em comércios especializados que foram: papel de tornassol azul, enxofre em
pó e indicador de pH.
O material apresenta preocupação com a prevenção de acidentes, uma vez que possui
recomendações em destaque com cuidado ou atenção no caso de atividades que representem
algum tipo de risco. As recomendações encontradas foram: cuidado com o uso de lâmpadas
incandescentes para evitar queimaduras; preparo da sala para circulação dos estudantes;
sugestão de demonstração em atividades que os estudantes pudessem se machucar, como o
cuidado o fogo, aquecimento e produção de ácido sulfúrico, que deve ser neutralizado com
carbonato de cálcio antes do descarte; cuidado ao cortar com estilete latas de refrigerante e de
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atum, para evitar cortes; cuidado com a exposição a níveis de som muito elevados; cuidado com
possíveis doenças e restrições alimentares (diabetes e intolerâncias alimentares) dos estudantes
ao aplicar atividade que envolveu experimentação de alimentos. Foi encontrada apenas uma
atividade prática: "Investigando sensações térmicas 1 e 2" que não apresentou recomendações
ou cuidados, apesar de a atividade incluir o uso de água quente pelos estudantes, que devem
mergulhar uma das mãos. Uma sugestão de revisão ao material é informar uma temperatura
aceitável a fim de evitar queimaduras, em caso de uso e termômetro ou recomendar ao docente
que verifique com cuidado se temperatura está adequada para a atividade antes de fazer a
distribuição aos alunos.
estudo podem ser diversos, a adequação ao espaço ocorre na relação com o foco da análise
[...]”.
CONCLUSÃO
Foi possível identificar que os materiais de utilização para as atividades práticas são
fáceis de serem encontrados, a maior parte das atividades está localizada no início da sequência
didática, o que favorece a investigação e o caderno conta com atividades práticas para serem
realizadas fora da sala de aula. Existe preocupação em relação à prevenção de acidentes, sendo
encontrada apenas uma atividade com potencial risco sem a devida recomendação. Possui
poucas atividades que apresentam a inserção de problematizações, predominam as atividades
práticas pertencentes ao eixo Matéria, Energia e Suas Transformações. O Caderno da Cidade
apresenta predominância de demonstrações. Foi identificado pelo próprio material apenas duas
atividades práticas investigativas, que apresentam questões a serem resolvidas com a
manipulação de materiais, sendo que uma delas o grau de liberdade intelectual é alto, uma vez
que os estudantes propõem os materiais e métodos que consideram mais adequados. Porém,
como nem todas as atividades foram classificadas pelo material é possível identificar sete
atividades que apresentam questões a serem resolvidas de maneira investigativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MEC, 2017.
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Investigativas. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v.
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CARVALHO, Anna. M. P. Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino por
Investigação. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Minas Gerais, v.18,
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GIL, Antônio. C. Método e Técnicas de Pesquisa Social: 6.Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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LIMA, Daniela. B.; GARCIA, Rosane. N. Uma investigação sobre a importância das aulas
práticas de Biologia no Ensino Médio. Cadernos de Aplicação, Porto Alegre, v. 24, n. 1,
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ROSITO, Berenice, A. O ensino de ciências e a experimentação. In: MORAES, R (Org.)
Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas. Porto
Alegre: EdiPUCRs, 2008.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Caderno da Cidade: Saberes e
Aprendizagens: Ciências Naturais. 8° Ano. Volume Único. Livro do Professor. São Paulo:
SME, 2018.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Currículo da Cidade, Ensino
Fundamental, Componente Curricular: Ciências Naturais. São Paulo: SME, 2017.
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