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OS CAVALEIROS DE CRISTO: A Origem dos Cavaleiros Templários

(Autor) Paulo Christian Martins Marques da Cruz1

(Orientador) Cyro de Barros Rezende Filho


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Universidade de Taubaté/Departamento de Ciências Sociais e Letras, Rua Visconde do Rio Branco, 22,
Taubaté -SP, letras@unitau.br

Resumo – A Ordem Monástico-Militar dos Pobres Cavaleiros do Santo Sepulcro e do Templo de Salomão
[Cavaleiros Templários], criada a partir da necessidade de proteção dos Estados Latinos recém-criados na
Terra Santa após a Primeira Cruzada [1095-99] foram a primeira experiência de monges-guerreiros e seu
advento representou um choque frente à sociedade feudal então estabelecida. Para evidenciar como se
originou tal Ordem, baseou-se em uma pesquisa bibliográfica que abrangesse o histórico dos cavaleiros e
das respectivas conjunturas sócio econômicas dos Estados Latinos fundados da Terra Santa e da Europa
Feudal. Através da pesquisa evidenciou-se que a origem dos Cavaleiros Templários foi possível graças a
um enxerto teológico arquitetado por Bernardo de Claraval, influente monge cisterciense francês. A origem
dos Cavaleiros foi um fator de impulsão para a criação de outras ordens, cujos interesses variavam – em
relação a região – assim como a expansão de suas influências.

Palavras-chave: Reino de Jerusalém, Ordem Monástico-Militar, Cruzadas.

Área do Conhecimento: História Antiga e Medieval [CNPQ - 70502005]

Introdução viram desprotegidos e frente a inúmeros inimigos


islamizados.
A Primeira Cruzada (1095-99), que se Após a Conquista, como aponta Alain Demurger
caracterizou como a maior aventura do Homem (2002, p.31), um pequeno contingente de
Medieval, encontrou seu clímax no episódio aproximadamente 30 cavaleiros, recrutados a
conhecido como a Conquista de Jerusalém, no soldo para defenderem o Santo Sepulcro, a cidade
ano de 1099. Tal conquista foi levada a cabo por e seus bens e dependências encontravam-se
nobres de diferentes regiões da Europa Feudal – então sobre as ordens por volta de 1101 dos
ou em processo de feudalização bastardo. cônegos e se seu prior. Segundo a crônica de
Possuíam então um grande contingente de Alberto de Aix, foi provavelmente entre eles que
Normandos e Francos, liderados por figuras foram recrutados os primeiros templários.
conhecidas como Godofredo de Bulhão e Por volta de 1119, dois nobres cavaleiros de
Tancredo de Hauteville (RUNCIMAN, 2003, nome Hugo de Payns e Godofredo, conde de
p.108). Champagne e Saint-Omer, respectivamente,
Esta fora apenas uma das muitas facetas de um adotaram os votos de pobreza, obediência e
movimento que penduraria até o século XIV, castidade diante do patriarca de Jerusalém e
entretanto, de maneira muito menos religiosa e juraram defender os cristãos que se dirigissem à
muito mais política do que as Cruzadas do século cidade e os locais santos (DEMURGER, 2007,
XII. Com a Conquista de Jerusalém, formaram-se p.31). Para possuírem a autonomia desejada,
quatro Estados Latinos, sendo eles: o Condado de precisavam então ter reconhecida sua
Edessa, do conde Balduino I, o Principado de independência em relação as a Ordens do Santo
Antioquia de Boemundo, e o Reino Latino de Sepulcro e do Hospital - criada em 1113. O voto
Jerusalém, que não possuía um rei e sim um de pobreza pode ser notado a partir do famoso
regente, Godofredo de Bulhão (BARTLETT, 1996, selo dos Templários apontado na Figura 1.
pp.162-163).
Como aponta Jean Flori (2006, pp.22-23), o
recém-fundado reino agora carecia de segurança,
pois boa parte do contingente vindo da Europa
agora tendia a regressar em direção a esta, por
não encontrarem terras e a oferta de riquezas.
Dessa maneira, não somente o Reino Latino de
Jerusalém como os demais Estados Latinos se

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influência por todo Reino Franco e estaria disposto
a colaborar teologicamente que havia se posto em
relação ao então prototemplários: se eram os
milicianos de cristo, ou seja, monges, como
poderiam empregar a prática militar?

Figura 1 – Dois cavaleiros dividem o mesmo


cavalo como voto de pobreza, segundo a regra de
São Bento.

A relação com tais ordens mostrou-se


conflituosa em um inicio pouco promissor dos
cavaleiros. Ao analisarmos a situação da cidade Figura 2 – São Bernardo de Claraval retratado em
no período, notaremos que a Ordem do Santo uma iluminura do século XIII.
Sepulcro estaria responsável pelas práticas
litúrgicas, por sua vez a Ordem do Hospital Em 1128, o Papa Honório II convoca o Concílio
trabalharia no viés assistencialista, sobrando de Troyes, a fim de resolver a questão de tais
dessa maneira um espaço para uma entidade que cavaleiros, entre outros assuntos teológicos.
tomasse a frente das ações militares. Diante de tal Bernardo é então eleito secretário do concílio que
oportunidade, tais cavaleiros buscaram então conta com a presença de Hugo de Payns e outros
Balduino II, Rei de Jerusalém e ofertaram-lhe cavaleiros. Para ter legitimada sua existência,
sobre a possibilidade da criação de uma Ordem Bernardo de Claraval consegue como resultado
independente na cidade que recrutaria cavaleiros não só o reconhecimento da Ordem dos
a fim de defender a Terra Santa (BORDONOVE, Cavaleiros Templários, mas a divulgação de seu
1975, p.23, tradução livre). A proposta foi Elogio da Nova Cavalaria em que demonstra,
prontamente aceita por Balduino, pois este carecia entre outras coisas que a prática militar frente o
de forças militares, cedendo aos cavaleiros uma fiel era apenas um malecídio para a então
sala em seu palácio, a antiga mesquita de Al-Aqsa nascente Ordem Monástico-Militar
e, segundo a lenda, antigo Templo de Salomão, o (BARTHÉLEMY, 2010, pp.342-343).
acrônimo estava criado, Templários (DEMURGER, Os Cavaleiros Templários, segundo Malcolm
2007, p.34). Barber [1995, pp.7-8], agora reconhecidos,
Em 1120 os Templários eram uma realidade na passaram a receber doações e encontravam-se
Terra Santa, mas não na Europa. Faltava-lhes o apenas subordinados ao papa, o que lhes dava
precioso reconhecimento da Igreja, o que fazia grande autonomia para recrutar novos cavaleiros
com que estes apenas atraíssem um numera na Europa e possuírem seus próprios domínios, já
reduzido de homens e não contraíssem vultosas sendo reconhecidos por seu manto branco e sua
doações, como já faziam os irmãos do Hospital. A cruz pateada vermelha, como demonstra a Figura
década em questão igualmente é de dificuldade 3.
em relação aos Estados Latinos, Balduino II e o
Templo, tendo Hugo como grão-mestre, então
buscam sanar seus problemas na Europa
(BARBER, 1995, p.9).
Para tanto, como apresenta Philippe
Contamine [1980, p.170, tradução livre], Hugo de
Payns busca o auxílio de seu primo, o monge
Bernardo de Claraval, um influente monge
cisterciense (Vide Figura 2) que espalhava sua

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Para tanto, pautou-se em trabalhos
consagrados sobre os templários como de
Malcolm Barber e Alain Demuger, este último
docente honorário da Paris I Partheon-Sorbonne.
Além do detalhista trabalho de Steven Runciman,
bibliográfica básica para análise do Movimento
Cruzadista.

Resultados

Observou-se que a origem dos Cavaleiros


Templários está relacionada a conjuntura de
escassez de material militar após a Conquista de
Jerusalém.
Sua afirmação teológica esteve ligada então a
figura de Bernardo de Claraval, primo de Hugo de
Figura 3 – Imagem romanceada de Jacques de Payns, primeiro grão-mestre, o qual se esforçou
Molay, último grão-mestre templário a trajar o através do Concílio de Troyes para que os
uniforme da Ordem: manto branco com a cruz templários obtivessem seu reconhecimento em
vermelha. relação a Igreja, estando, assim, subordinados
apenas ao papa.
Em pouco tempo, os Templários passaram a Com tal reconhecimento, a ordem pôde começar
acumular riquezas, que por sua vez baseavam-se a desenvolver-se militar e economicamente, sendo
em diversas atividades econômicas como o um dos principais agentes então da Segunda
empréstimo de dinheiro a juros e o serviços Cruzada (1147-1149).
bancários em geral. Multiplicaram-se seus
castelos na Península Ibérica e envolveram no Discussão
processo da Reconquista com vultosas doações
dos reis desta região (BORDONOVE, 1975, p.70, Mostra-se cada vez mais importante o estudo
tradução livre). Sua organização diferenciava-se da História Medieval e seus aspectos com a
da linha cisterciense como aponta Demuger (2007, reaproximação em nosso tempo do Ocidente e
p.156), estes se organizavam entre abadias e Oriente, sendo neste período em que os primeiros
priorados, já os templários adotaram uma divisão contatos mais sistemátizados com o Exremo
administrativa em três níveis: Centro (Jerusalém), Oriente se deram.
as províncias (Portugal, Provença, Flandres, etc.) Os Templários foram, como aponta o professor
e as comendas locais, cidades e abadias Demuger, a primeira experiência de Ordem
(DEMUGER, 2007, pp.156-157). Monástico-Militar, ou seja, monges guerreiros que
Ao tempo da Segunda Cruzada (1147-1149), através de um excerto teológico, colocaram em
liderada por Luís V, Rei da França e Conrado III, discussão toda uma sociedade trifuncional já
do Sacro Império Romano Germânica e aclamada instalada numa Europa desde périplos do século
por São Bernardo de Claraval, os Templários são IX e X.
só passaram a legitimar suas ações monástico- Logo, dado ao distanciamento físico e temporal,
militares na Terra Santa, como assistiram ao foi escolhida a pesquisa bibliográfica, que apontou
surgimento de outras Ordens como as Ibéricas e – com poucas variações de datas – a uma
os famosos Cavaleiros Teutônicos. Fora neste afirmação objetiva quanto a formação dos
momento que os Cavaleiros Templários Cavaleiros Templários como sendo um resultado
mostraram mais força e representatividade que as pós cruzadista.
demais Ordens, passando a espalhar seu poder e
influência pelo Oriente Médio e Europa. (BARBER,
1995, p. 39, tradução nossa). Conclusão

Aponta-se com clareza que a Ordem Monástico-


Metodologia Militar dos Cavaleiros Templários originou-se em
1118, pela iniciativa de Hugo de Payns e
Foi utilizada como metodologia a pesquisa Godofredo de Saint-Omer, tendo seu
bibliográfica que buscou abranger as conjunturas reconhecimento junto a Igreja em 1128, no
que propiciaram o surgimento da Ordem Concílio de Troyes, graças ao esforço de Bernardo
Monástico-Militar dos Templários, tanto sobre o de Claraval, que redigiu seu código de conduta e
aspecto cruzadista como da cidade de Jerusalém. seu elogio

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Referências

- BARBER, Malcolm. The New Knighthood: A


History of the Order of the Temple. New York:
Cambridge University Press, 1995.

- BARTHÉLEMY, Dominique. A Cavalaria: Da


Germânia antiga à França do século XII.
Campinas-SP: Unicamp, 2007.

- BARTLETT, W.G. História Ilustrada da Cruzadas.


Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

- CONTAMINE, Philippe. La Guerre au Moyen


Age. Paris: Presses Universitaires de France,
1980.

- DEMURGER, Alain. Os Templários: Uma


cavalaria cristã na Idade Média. Rio de Janeiro:
Difel, 2007.

- _______. Os Cavaleiros de Cristo: Templários,


Teutônicos, Hospitalários e outras Ordens
Militares na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2002.

- FLORI, Jean. Jerusalém e as Cruzadas. In: LE


GOFF, Jacques & SCHMITT, Jean-Claude.
Dicionário Temático do Ocidente Medieval, v. 02.
São Paulo: EDUSC, 2002: pp.7-24.

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