Você está na página 1de 11

ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 

 
Durante 35 anos, trabalhei no Serviço de Inteligência do Estado brasileiro e tive
a oportunidade de conhecer três tipos de agentes: o falso, o profissional, e o ver-
dadeiro profissional de inteligência.
O falso profissional de inteligência é aquele que pensa conhecer tudo, fala mais
do que ouve, gosta de parecer bem informado, faz de conta que domina a doutrina;
mas, ao final, pouco sabe e não sobrevive na atividade por muito tempo.
O profissional de inteligência é bem diferente: conhece o assunto, mas finge não
conhecer, para saber mais; domina a doutrina; boa formação, inclusive cursos no
exterior; fala pouco, sabe guardar um segredo. Entretanto, apesar de preencher
todos os requisitos exigidos para ingressar na carreira, é aquele que apenas cumpre
suas obrigações rotineiras; obedece criteriosamente horário de expediente, mas, ao
fim do mesmo, suas obrigações terminam e só recomeçam no dia seguinte, com a
mesma rotina de trabalho.
O verdadeiro profissional de inteligência possui a mentalidade de inteligência. Vi-
ve 24 horas diárias ligado a tudo o que acontece à sua volta, para não perder deta-
lhes e observar um dos princípios básicos da atividade: a oportunidade. Nele se en-
caixa perfeitamente o Decálogo, que escrevi baseado na obra do especialista Ladis-
las Farago:
1. Acima de tudo, moral elevada, honestidade e genuíno interesse pela ativida-
de;
2. Ser enérgico, zeloso e empreendedor;
3. Pensar com rapidez, saber lidar com as pessoas e coisas, ser bom julgador;
4. Emocionalmente estável; capaz de agüentar firme quando sob pressão. Deve
ser calmo, tranqüilo, tolerante e humilde, para reconhecer e corrigir os erros;
5. Ter espírito de equipe, compreender as fraquezas alheias, sendo razoavel-
mente livre dessas fraquezas;
6. Espírito de colaboração, organização e liderança, jamais fugir da responsabili-
dade dos fatos, mesmo em situação adversa;
7. Discreto, ter paixão pelo anonimato, saber preservar um segredo;
8. Ser ágil, rigoroso consigo mesmo e ousado;

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 1 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
9. Compromisso com a verdade, capacidade de observação e memorização; sa-
ber relatar com lucidez e sem distorções tudo que viu e ouviu;
10.Imune a vaidades, sair dos locais da mesma forma como chegou: sem ser no-
tado por ninguém. Ter sempre mente que reconhecimentos e recompensas
não fazem parte do mundo secreto.
O verdadeiro profissional de inteligência, portanto, é aquele que adquire a men-
talidade de inteligência e consegue sobreviver na atividade por muitos anos, apesar
das incompreensões, adversidade e injustiças que cruzam o seu longo caminho em
busca da verdade e do dado negado.
Aqueles que são credenciados a entrar no com-
plexo da Agência Central de Inteligência (CIA),
nos Estados Unidos, se deparam com um enorme
painel, com a inscrição em letras de ouro: “E CO-
NHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LI-
BERTARÁ” (São João, VIII/32). Alcançar a certeza
da verdade é o principal objetivo de um serviço
de inteligência.
O “spymaster” Allen Dulles escreveu: “Um serviço
de inteligência deve ser predominantemente composto
de civis, mais do que por militares, e sob a direção
civil. O militar convocado para exercer a atividade,
deverá, a partir daquela data, agir com o se fora civil”.
E continua Dulles: “Para criar um serviço central de
Figura 1 - Allen Dulles
inteligência, será preciso colocar em sua direção ho-
mens para consagrar toda sua vida a ele, e não para fazer dele uma ocupação ocasional. A
agência deverá ser dirigida por homens de elite relativamente restrita, que tenham paixão
pelo anonimato e que estejam decididos a se consagrar inteiramente a este trabalho parti-
cular”.
Dulles assinala, com sabedoria, que a atividade de inteligência é o apanágio do
verdadeiro profissional. No entanto, este profissional, às vezes, paga um preço alto
pelo despreparo, desleixo, incompetência, falta de visão e liderança de alguns u-
suários.

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 2 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
O grande general Napoleão Bonaparte, que foi tam-
bém um político genial, disse certa vez: “Todo líder tem
o direito de ser vencido, mas não o direito de ser sur-
preendido”.
O governante que, de público, confessa não saber o
que acontece em seu país ou no seu governo, mal go-
verna, não lidera.
O “spymaster” Allen Dulles escreveu sobre o usuário:
“Freqüentemente é mais difícil fazer uso do produto do
Figura 2 - Napoleão I que arranjá-lo. Os usuários das informações geralmente
começam por deduzir que o relato oficial é falso ou uma
armadilha. Então, quando cruzam esse obstáculo, livram-se do que não gostam e
se recusam a dar-lhe crédito. Finalmente, quando pegam um relatório em que tanto
acreditam quanto apreciam, não sabem o que fazer com ele”.
Yosif Stalin foi informado por Richard Sorge que os alemães preparavam a inva-
são da URSS. Não acreditou. Assim aconteceu com Franklin Delano Roosevelt, so-
bre Pearl Harbor; com Hitler, sobre o Dia D; com Golda Meir, sobre o Yom Kippur;
com George W. Bush, sobre o ataque terrorista às Torres Gêmeas. No Brasil, ape-
sar de sempre negar, o usuário das informações produzidas pela ABIN é o homem
mais bem informado do país.
Sir William Stevenson na obra, “A Man Called Intrepid”, escreve: “A Inteligência
é uma condição necessária para que as democracias possam evitar desastres e,
possivelmente, a destruição total. Em meio a arsenais cada vez mais intrincados em
todo o mundo, os serviços de inteligência são uma arma essencial, talvez a mais
importante. Mas sendo secreta, é também a mais perigosa. É preciso criar, rever e
aplicar rigorosamente salvaguardas que impeçam o seu abuso. Mas, como em
qualquer empreendimento, será decisivo o caráter e a sabedoria daqueles a quem
for confiada. Na integridade dessa tutela se deposita a esperança dos povos livres
na sobrevivência e crescimento”. Somente o verdadeiro profissional de inteligência
é íntegro e capaz.
Allen Dulles acrescenta: “O fato de que o serviço de inteligência é vigilante e que
tem a possibilidade de advertir a tempo, representa um meio preventivo dos mais

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 3 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
eficientes, para eliminar de um inimigo potencial todo o desejo de ataque. Conse-
qüentemente, a criação de tal arma de advertência não deve ser mantida em se-
gredo, mas, ao contrário, deve ser difundida ao público com a condição de que os
meios e os mecanismos permaneçam secretos”.
Não existe serviço reservado de inteligência, e sim, serviço secreto. O termo “re-
servado” usado por algumas agências brasileiras reflete o amadorismo de seus pro-
fissionais, temerosos de terem sobre si a revanche dos vencidos. E a divulgação por
meio da imprensa dos meios que usam para reunir dados foge totalmente aos pa-
râmetros de um verdadeiro serviço de inteligência.
Um estado democrático necessita, para a sua sobrevivência no mundo globaliza-
do, do concurso de vários órgãos de inteligência, civis e militares, em estreita cola-
boração uns com os outros, constituindo uma verdadeira comunidade. Mas o co-
nhecimento produzido deve ser único e difundido por um órgão central a um usuá-
rio competente e capaz de tomar decisões. Se não existe centralização há compro-
metimento.
Presenciei várias vezes, nos meus 35 anos de serviço, agentes de diferentes ins-
tituições, em operações conjuntas, discutirem questões de chefia, a ponto de negar
dados e conhecimentos aos congêneres.
Em uma operação de inteligência a centralização é um princípio fundamental e
não deve ser discutida, em hipótese alguma, principalmente na contra-espionagem,
por ser uma de suas características básicas. A centralização se relaciona diretamen-
te com dois princípios básicos da atividade: segurança e oportunidade.
Em termos de segurança, a centralização evita superposição de missões, o que
deixa o serviço adverso em desvantagem. Certa vez, no Maranhão, a mesma mis-
são de contra-espionagem foi cumprida três vezes por órgãos diferentes, fato que
alertou as forças adversas, que algo de anormal acontecia no ambiente operacional.
Houve um refluxo de ações e o princípio da oportunidade foi perdido.
O verdadeiro profissional de inteligência coloca acima de tudo os interesses de o
seu país; sufoca suas vaidades e não se preocupa com méritos e reconhecimentos.
Acredita no que faz, pois traz dentro de si o próprio credo, e isto lhe basta. Não
precisa de elogios e nem de medalhas, caminha solitário no mundo das sombras,

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 4 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
apenas para cumprir o seu dever e atuar como um
escudo invisível do Estado e da Nação.
Sobre esse verdadeiro profissional de Inteligência,
William Stephenson, agente secreto britânica na Se-
gunda Guerra Mundial, escreveu:
“Quem é o feliz combatente, que todo homem de-
sejaria ser? É o espírito valente, que condenado a an-
dar junto da dor, da carnificina e do medo, transforma
as adversidades em glorioso triunfo. E de dentro si
traz o próprio credo. E, portanto, não se humilha e
nem se engana em busca de riquezas, honras ou po-
Figura 3 - William Stephenson
sição mundana. E, no calor do combate, mantém a
calma, a estabelecida norma. E o que anteviu, vislumbra agora, da mesma forma”.
Stephenson, é claro, se refere ao verdadeiro profissional de inteligência: aquele
que tem o espírito valente; a coragem e a força para transformar as adversidades
em glorioso triunfo; não busca riquezas e nem se humilha para se manter em car-
gos; jamais perde a fé e a esperança, pois acredita no faz e por acreditar no faz,
sabe o que deve ser feito; apesar das injustiças a que é submetido, “o que anteviu”
(antes da injustiça), “vislumbra agora (depois da injustiça) da mesma forma”.
A espionagem é a inteligência clandestina e o primeiro espião dos estados Unidos
foi Nathan Hale, um professor de Connecticut. Sobre espionagem, ele nada sabia.
Mas, um dia, durante a Revolução Americana, o general George Washington pediu
um voluntário para espionar os ingleses em New
York. Prontamente, ele se apresentou para a missão,
recebeu instruções e preparou-se para partir. Um
amigo tentou dissuadi-lo, afirmando que a espiona-
gem era um ato imoral, inglório, sem honra, sujo e
marginal, que não dignificava a sua profissão de pro-
fessor.
Hale, apesar de espião por acaso, com a simplici-
dade dos verdadeiros profissionais de inteligência
respondeu ao amigo: Figura 4 - Nathan Hale

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 5 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
“Não estou influenciado pela expectativa de promoção e nem por recompensa
em dinheiro. Eu quero apenas ser útil, e se o meu país reclama por um serviço tão
especial, é imperativo que eu realize tal serviço”.
Hale demonstrava, assim, sua lealdade a nação e, por extensão, a afirmação po-
lítica e jurídica desta: o Estado.
E acrescentou:
“Todo tipo de serviço necessário ao bem público, torna-se honrado”.
Nathan Hale deixava claro o seu profundo sentimento de servir à causa pública.
Alguns brasileiros que, em um passado não distante, exerceram a atividade de
inteligência, hoje negam o passado, provavelmente temerosos da revanche dos
vencidos. Não há motivo para isso, pois se o que realizaram foi para o bem da Na-
ção e do Estado brasileiro, tornou-se honrado.
O verdadeiro profissional de inteligência vive hoje sob o estigma do Serviço Na-
cional de Inteligência (SNI), criado no Governo Castelo Branco, durante um período
de exceção, apenas para produzir conhecimentos necessários ao processo decisório
nacional. Não pretendo discutir se houve ou não deturpação da missão por alguns
profissionais. Quero apenas dirigir-me àqueles que generalizam a instituição como
um todo pelo particular: ato isolado de algum agente. Nesse caso, podemos gene-
ralizar também que todo presidente da República é ignorante, todo político é la-
drão, todo ministro é corrupto, todo policial é bandido. O que verdadeiramente não
é verdade.
A generalização é a maior das injustiças assacadas contra uma instituição.
Em 1935, este homem, Wilhelm Canaris, substituiu o
almirante Conrad Von Patizig na chefia do ABWEHR, a
Inteligência Militar da Alemanha nazista. No primeiro en-
contro com seus oficiais e agentes, Canaris assim se ex-
pressou:
“O ABWEHR deve funcionar segundo as regras do jogo,
admitidas em todos os países. É preciso agir sempre de
conformidade com os direitos do homem, do Direito In-
ternacional e da moral. É necessário que o ABWEHR, te-
Figura 5 - Wilhelm Canaris
nha cavalheiros e não malfeitores; gângsteres sem es-

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 6 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
crúpulos, sem lei e sem fé”.
Vejam que no meio de uma corja de cruéis nazistas assassinos, havia um verda-
deiro profissional de inteligência, merecedor do respeito e reconhecimento de todos
os homens e mulheres do mundo livre. Foi Canaris o primeiro a se opor as atroci-
dades da SS, na Segunda Guerra Mundial, inclusive com o extermínio em massa de
judeus.
Acusado de participar da Operação Valquíria, o complô para matar Hitler, em 20
de julho de 1944, Canaris foi preso e enforcado com corda de violão.
André Brissaud, autor do livro, “Canaris, o Almirante das Sombras, registrou:
“Em 1970, um grupo de velhos subordinados se reuniu com recolhimento, admi-
ração, gratidão e reconhecimento, para celebrar o 25º aniversário da morte do al-
mirante Canaris. Poucos homens, poucos chefes, deixam tais lembranças, tal marca
nos corações”. Almirante Canaris, o príncipe da espionagem alemã. André Brissaud.
Depois de 25 anos, seus subordinados ainda o reverenciavam, lembravam com
admiração, honra e respeito, àquele verdadeiro profissional de inteligência.
Enquanto hoje, alguns chefes que ocupam gabinetes suntuosos e não lideram,
apenas mandam, seus subordinados são capazes de desejar suas mortes para que
sejam logo esquecidos.
Uma máxima histórica revela: “Os homens permanecem vivos enquanto forem
lembrados, e só morrem pelo esquecimento”. Wilhelm Canaris jamais morrerá,
pois nunca será esquecido.
A Inteligência atua na paz e na guerra. É a arma secreta que vence a guerra e
mantém a paz. Sem ela, perdemos a paz e a guerra.
“Uma pessoa, tanto na paz quanto na guerra; pode, por sua leviandade, ignorân-
cia, tagarelice e pendor pela curiosidade, proporcionar ao inimigo invisível, as ar-
mas a serem empregadas contra a sua própria nação”.

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 7 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
O Cel Charles Beckwitt, comandante da Força
Delta dos Estados Unidos, depois da fracassada
tentativa de libertar os reféns na Embaixada
americana no Irã (Operação Garra de Águia),
disse com a sabedoria:
“A Inteligência faz a diferença entre o fracas-
so e o sucesso, entre a humilhação e o orgulho,
entre vidas resgatas e vidas perdidas”.

Figura 6 - Cel Charles Beckwitt


É preciso, no entanto, que os incautos e des-
preparados usuários dos serviços de inteligên-
cia entendam o valor de uma informação no processo decisório nacional.
Muitos homens, governantes e governados, não querem compreender o formidá-
vel valor desta arma secreta que, tantas vezes, no decorrer da História, tem se re-
velado superior aos mais terríveis meios de combate.
Um presidente do Brasil assinou uma medida provisória, extinguindo o Serviço
de Inteligência do Estado brasileiro, motivado por uma simples questão pessoal e
puro capricho. Não sabia ele, entretanto, que assinava ali a sua própria sentença de
destituição do poder. Ao ser inquirido, por jornalistas, sobre como governar sem
informação, respondeu demagogicamente que a imprensa seria o seu serviço de
informações.
O grande senador e tribuno romano, Marco Túlio Cícero, sempre afirmava que a
“História é a mestra da vida”. Provavelmente, se esse presidente fosse bem asses-
sorado e conhecesse um pouco mais de História Geral,
teria pensado mais antes de tão intempestivo gesto. A
própria “mestra da vida” se encarregou de ensiná-lo,
algum tempo depois. Vejamos.
O grande Napoleão Bonaparte possuía vários profis-
sionais de inteligência trabalhando diretamente para
ele. Joseph Fouché, diretor da Suretê, encarregava-se
da Inteligência de Segurança; o Cel Renê Savary cuida-
va da Inteligência Estratégica e Tática, também chama-

Figura 7 - Jospeh Fouché

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 8 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
da Inteligência de Combate; Karl Schulmeister espionava.
Napoleão foi derrotado na Batalha de Leipzig ou Batalha das Nações e enviado,
junto com a sua Guarda, para o exílio na ilha de Elba, no mar Mediterrâneo. Antes
de partir, exclamou com convicção: “Eu voltarei!”. Frase plagiada na Segunda
Guerra Mundial pelo general americano, Douglas MacArthur, ao deixar as Filipinas,
acossado pelos japoneses.
Napoleão foge realmente da ilha de Elba. O jornal parisiense “Le Moniteur” a-
companha sua marcha de volta à capital, por meio de manchetes:
Manchete do dia 9 de março de 1815: “O MONSTRO DEIXOU O LOCAL DE EXÍ-
LIO”,
Manchete do dia 13 de março de 1815: “O USURPADOR SE APROXIMA DE PA-
RIS”.
Manchete do dia 19 de março de 1815: “NAPOLEÃO ÀS PORTAS DE PARIS”.
Manchete do dia 21 de março de 1815: “ONTEM, SUA MAJESTADE IMPERIAL,
NAPOLEÃO BONAPARTE, ENTROU EM PARIS. NADA PODE SUPERAR A ALEGRIA U-
NIVERSAL”.
O jornal mudou de opinião porque seus editores ficaram com medo de uma rea-
ção do imperador. O verdadeiro profissional de inteligência não teme falar a verda-
de, mesmo àquela que seu usuário não deseja ouvir; ainda que lhe custe o cargo. É
melhor a consciência tranqüila do dever cumprido, do que a permanência intranqüi-
la em um cargo, sustentada por uma informação forjada.
O general Reinhard Gehlen, chefe do Serviço de Inteligência Militar alemão do
Leste europeu, um verdadeiro profissional de inteligência, foi demitido por Hitler,
porque teve a coragem de informar que ele estava
perdendo a guerra, e a perderia mais depressa se
continuasse agindo com estava.
O valor de Gehlen foi reconhecido pelo inimigo a-
mericano. Levado aos Estados Unidos, depois do con-
flito, fundou a Organização Gehlen, que, mais tarde,
se transformou no Serviço Federal de Informações
(BND) da Alemanha Ocidental.

Figura 8 - Reinhard Gehlen

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 9 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
Para falar mais um pouco sobre a espionagem, nada me-
lhor do que Sun Tzu, autor do primeiro Manual de inteligên-
cia clandestina da História.
Sun Tzu com sapiência escreveu: “Se você conhece o ini-
migo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado
de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o
inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derro-
ta. Se você não conhece nem o inimigo e nem a si mesmo,
Figura 9 - Sun Tzu
perderá todas as batalhas”.
“Apenas o governante esclarecido e o general criterioso usarão as mais bem do-
tadas inteligências do exército para a espionagem, obtendo, dessa forma, grandes
resultados”.
Alguns fracassos da inteligência moderna resultam da inexistência de governan-
tes esclarecidos e de generais criteriosos, que não sabem distinguir o falso profis-
sional do verdadeiro profissional de inteligência.
Sun Tzu vai além: “Nos espiões repousa a capacidade de movimentação de um
exército. O que capacita o sábio monarca e o bom general a atacar e a conquistar,
e a realizar coisas além do alcance dos homens comuns é a previsão”.
Como prevenir sem conhecer antecipadamente? Como conhecer antecipadamen-
te sem um bom serviço de inteligência? Como ter um bom serviço de inteligência
sem o verdadeiro profissional de inteligência? Perguntas que só podem ser respon-
didas por um presidente esclarecido e um general criterioso, que sabem reconhecer
o valor de um conhecimento oportuno.
O coronel Walter Nicolai, o primeiro chefe do Serviço Imperial Alemão de Infor-
mações, escreveu:
“O Serviço de Inteligência tem que ser sempre reduto de
cavalheiros. Quando isso deixa de acontecer tudo está fa-
dado ao fracasso”.
Rudyard Kipling anotou em sua obra:
“Não onde os esquadrões se reúnem.
Não onde as baionetas brilham.
Figura 10 - Walter Nicolai

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 10 
 
ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
Não onde as balas sibilam ao passar sobre a linha de fogo.
Não onde os feridos estão.
Não onde as nações perecem mortas, no jogo limpo da guerra.
Esse não é lugar para um espião.
Kipling apenas se esqueceu de acrescentar: onde os esquadrões se reúnem, as
balas sibilam, os feridos estão e as nações perecem no jogo limpo da guerra, por lá
já passaram os espiões e preparam o caminho para os esquadrões, livrando-os das
balas, salvando os feridos e evitando que sua nação pereça no jogo limpo da guer-
ra. Assim, o jogo sujo da guerra tornou-se honrado, porque foi jogado em benefício
de um Estado e de um povo.
O verdadeiro profissional de inteligência é um grande homem. Segundo Frank
Farley, um especialista no assunto, o grande homem deve possuir as seguintes ca-
racterísticas: CORAGEM, GENEROSIDADE, HUMILDADE, NOBREZA, SENSO DO DE-
VER, ESPÍRITO DE SACRIFÍCIO E PERSONALIDADE VIBRANTE.
”O GRANDE HOMEM é aquele exige pouco dos outros e muito de si mesmo”.
Confúcio escreveu um texto dedicado ao grande homem:
“O GRANDE HOMEM É O HOMEM LIVRE. PARA LUTAR CONTRA A TIRANIA, ELE É
CAPAZ DE ABANDONAR TUDO. MORRER SE FOR PRECISO”.
“O GRANDE HOMEM TEM A CORAGEM DE DIZER E FAZER O QUE É CERTO. CON-
TRA A FORÇA USA A RAZÃO”.
“O GRANDE HOMEM TEM A OBRIGAÇÃO MORAL DE LIBERTAR A TODOS DA O-
PRESSÃO, DE DEFENDER SEM MEDO A LIBERDADE, MESMO QUE ISTO LHE CUSTE
O EXÍLIO, A PRISÃO OU A MORTE.
Esta História a um tributo é um grande homem, um ver-
dadeiro profissional de inteligência, MÁRCIO PAULO BU-
ZANELLI, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteli-
gência (ABIN). Um líder. Um amigo. Que Deus seja a sua
luz neste mundo enigmático e sombrio, solitário e sem
glória, onde apenas sobrevivem os verdadeiros profissio-
nais de inteligência.

Professor Raimundo Teixeira de Araújo  Página 11 
 

Você também pode gostar