Inteligencia Competitiva 08

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Inteligência

Competitiva

INTELIGÊNCIA X
INTELIGÊNCIA
INTELIGÊNCIA X ESPIONAGEM
Prof. Lúcio Pinto Moreira

Boas Vindas
No início de nossa disciplina vimos que a atividade
de inteligência competitiva nasceu, basicamento,
com o fim da guerra fria entre Estados Unidos e
União Soviética, face ao expressivo “desemprego
de espiões”. Agora que já conhecemos melhor a
atividade de inteligência competitiva, a legislação
que trata do assunto e, principalmente, a ética
envolvida na atividade, veremos, neste módulo
que, apesar disto, a atividade de inteligência, ou
inteligência competitiva, não se confunde com a
atividade de espionagem.
Bons estudos!

APRESENTAÇÃO
Neste módulo veremos algumas definições de espionagem e alguns conceitos envolvidos
na área, alguns espiões famosos, seja da ficção, seja da realidade, além de um comparati-
vo da atividade com a inteligência competitiva, tanto no desenvolvimento das atribuições,
quanto na ética envolvida.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final deste módulo você deverá ser capaz de:
• Saber o que é espionagem.
• Ter uma clara noção de que a atividade de inteligência competitiva nada tem a ver
com a atividade de espionagem.
• Conhecer alguns espiões famosos, no Brasil, no mundo, real e na ficção.
• Saber diferenciar a ética envolvida em cada uma das atividades.

64 Inteligência x Espionagem
Introdução
Quando se fala em espionagem, de imediato,
alguns nomes e siglas nos vêm à memória:
Mata Hari, famosa espiã holandesa, cujo
nome real era Margaretha Geertruida
Zelle, Jason Bourne, agente americano da
ficção, criado para concorrer com o
britânico James Bond (observem
inclusive a coincidência de iniciais),
Ethan Hunt e, ainda na ficção, os
cômicos Agente 86 e o Inspetor
Clouseau, CIA, agência de inteligên-
cia americana, KGB, agência soviética e
Mossad, agência israelense, dentre outros.

Talvez a melhor forma de se saber o que


é espionagem não seja apresentando
o conceito do termo, mas sim apre-
sentando um exemplo que seja facil-
mente entendível por todos. Quando
o escritor Ian Fleming escreveu seus
romances sobre o agente secreto 007,
provavelmente não imaginasse que James
Bond seria o estrondoso sucesso que é,
sendo, provavelmente, a mais cara das
franquias mundiais.

Ian Fleming nasceu em 1908 e fale-


ceu em 1964. Trabalhou na
Agência Secreta Britânica,
o SIS - Secret Intelligence
Service (Serviço Secreto
de Inteligência), também
conhecido como MI6 (de
“military intelligence”), e
escreveu quatorze livros sobre
o agente 007, assim chamado
por ser um agente que tem licen-
ça para matar (caracterizado pela
designação “00”) e ser o sétimo
agente com esta designação.

Este é o melhor exemplo que me ocor-


re de um espião. Mas, o que isto tem
a ver com o conceito de espionagem?
Tem que o espião é aquele que pratica
a atividade de espionagem.

Agora sim, cabe a pergunta: o que é


espionagem? É a atividade que tem
por objetivo a obtenção de infor-
mações de caráter secreto ou
sigiloso de inimigos, sem a auto-
rização destes.

Inteligência x Espionagem 65
A Espionagem e o Espião
O termo espião é utilizado para designar o agente praticante da atividade de espionagem,
assim chamado por ser aquele que espia. Aurélio define espionar como “1.Espreitar ou
investigar como espião. 2.Espiar”, e o termo espia como “1.Pessoa que às escondidas
espreita as ações de alguém. 2.Sentinela, vigia. 3.Espião”.

Esta prática, normalmente, visa a obtenção de uma vantagem militar, política ou econô-
mica, sendo mais comum no meio governamental (militar ou política) e, normalmente,
quando envolve a área econômica é chamada de “espionagem industrial”.

Observe que a inteligência competitiva visa a obtenção de informação sobre os concor-


rentes, no entanto, neste caso as informações são disponibilizadas pelos próprios concor-
rentes, sob a forma de dados. Só para relembrar, os dados são trabalhados e convertidos
em informações que, por sua vez, se transformam em inteligência (competitiva).

Uma observação interessante sobre o tema é que nenhum governo admite que prati-
que espionagem, todos os órgãos responsáveis pela atividade possuem nomes respeitá-
veis, como Serviço Secreto de Inteligência (MI6 - military intelligence, inglês), Agência
Central de Inteligência (CIA americana), Comitê de Segurança do Estado (KGB - Komitet
Gosudarstveno Bezopasnosti, na antiga União Soviética), o Instituto para Inteligência e
Operações Especiais (Mossad israelense), dentre outras.

Observe que nenhum dos nomes possui o termo “espionagem”. Entretanto, todos os
governos admitem que praticam a contra-espionagem, ou seja, “eu não espiono ninguém,
mas o meu inimigo me espiona. Portanto, preciso tomar medidas para proteger minhas
informações secretas”.

66 Inteligência x Espionagem
E, porque esta preocupação dos governos em
passarem a imagem de que não espionam? Vamos
relembrar o conceito: espionar é obter informações
de caráter secreto ou sigiloso de inimigos, sem
a autorização destes. E, para isto vale qualquer
negócio: a ficção copia a realidade, o “00” do agente
007 significa que ele tem “licença para matar” no
desempenho de suas atribuições.

Não é raro que as atividades de espionagem envolvessem o sequestro e assassinatos de


pessoas que eram consideradas como ameaça ao país. A atividade frequentemente envol-
ve interesses que não podem ser admitidos publicamente, motivo pelo qual não se vê
uma “Agência Americana de Espionagem” ou “Comitê Russo de Espionagem”. Afinal, qual
governo gostaria de admitir que sequestra pessoas ou pratica assassinatos, ainda que “em
nome da pátria”?

O desmantelamento da União Soviética e o rápido declínio do comunismo levaram ao


consequente final da guerra fria e, como já vimos, a um “desemprego em massa de espi-
ões”. Entretanto, a atividade de espionagem não cessou no mundo. Atualmente os servi-
ços de informações e de espionagem se preocupam, principalmente, com organizações
terroristas e com o tráfico de drogas.

Pode-se dizer, portanto, que as atividades de espionagem e de inteligência competitiva


“tiveram a mesma raiz”, entretanto, transformaram-se em “ramificações diferentes” da
mesma árvore. Ou seja, ambas têm como finalidade a coleta de informações, diferencian-
do-se nos métodos utilizados para tal.

Enquanto que a espionagem utiliza-se de métodos muitas vezes escusos, para coletar
informações do inimigo (e, algumas vezes, até dos “amigos”) sem autorização destes, a
inteligência competitiva coleta dados que são disponibilizados (publicados) pelos concor-
rentes, faz um tratamento destes dados e os transforma em informação.

PARA REFLETIR
Logicamente que a ética envolvida em ambas as atividades não poderia ser a mesma, pois,
como sabemos, ser ético é “Ser honesto em qualquer situação - é a virtude dos negócios”.
Por tudo que já vimos, não parece ser um pouco difícil que um espião que tenha “licença para
matar” possa ser ético?

Mas a realidade é que mesmo o espião tem sua ética própria. O mesmo autor da citação
acima também disse que “ser um profissional ético nada mais é do que ser profissional
mesmo nos momentos mais inoportunos.” (DIAS, Bruno). Portanto os profissionais da
espionagem também possuem sua ética, só que ela difere da ética do profissional de
inteligência competitiva aplicada ao meio empresarial, como já vimos no módulo “A Ética
Inteligente”.

Inteligência x Espionagem 67
Ser ou não ser (Ético)?
Logicamente, se nenhum governo admite praticar a espionagem, como vimos, parece
óbvio que não encontraremos, em nenhum lugar um “Código de Ética dos Espiões”. Pois
se os espiões nem ao menos existem. No máximo, o que poderia haver seria um “Código
de Ética dos Contra-Espiões”, já que a atividade de contra-espionagem é admitida pela
maioria dos governos.

De qualquer forma, dada a ausência mencionada, tudo o que podemos fazer é usar a
imaginação para fazer um paralelo entre a ética da inteligência competitiva (que já vimos
no módulo “A Ética Inteligente”) e uma provável ética da espionagem.

Desta forma, elaboramos o quadro a seguir, com objetivo de tentar formular um compa-
rativo entre as duas atividades.

Ética da Inteligência Competitiva Ética da Atividade de Espionagem


(Segundo Passos) (Suposição)

Se nenhum governo admite praticar a espio-


Continuar aumentando o reconhecimento e o nagem, a profissão “não existe”. Logo, não
respeito da profissão. há que se falar em “reconhecimento e respei-
to da profissão”
Se o espião não existe, não precisa obedecer
às leis. O próprio conceito da atividade já pres-
Obedecer às leis aplicáveis no âmbito nacional
supõe um desrespeito às leis: “obtenção de
e internacional.
informações de caráter secreto ou sigiloso de
inimigos, sem a autorização destes”.
Identificar-se, e à organização, antes da reve- Um outro nome pelo qual o espião pode ser
lação de informações importantes por outras chamado é “Agente Secreto”. E, se é secreto,
partes envolvidas. não tem que se identificar.
Aqui sim, parece haver uma coincidência de
Respeitar todos os pedidos de confidencialida-
valores. Repetindo o que foi dito anteriormen-
de das informações.
te, “se é secreto”, há que ser confidencial.
Evitar conflitos de interesse no cumprimento
do dever.
Prover recomendações e conclusões honestas e
realistas na execução do dever. Os demais itens do Código de Ética dos
Profissionais de Inteligência Competitiva não
Promover este código de ética internamente na me parecem aplicáveis aos que se dedicam à
organização, com os contratados, e em toda atividade de espionagem.
profissão.
Aderir fielmente à política, objetivos e diretrizes
da organização

Como se vê, ainda que os profissionais que se dediquem à atividade de espionagem


possuam uma ética (mesmo que não formal), esta não se confunde com a ética dos
profissionais de Inteligência Competitiva.

Encerrando, vale lembrar que, além da ética, uma diferença é marcante entre as duas
atividades: a Inteligência Competitiva produz informação por meio da coleta e tratamento
de dados obtidos de maneira legal, já que são tornados públicos, na maioria das vezes,
por seus próprios detentores (ex.: Balanço Patrimonial publicado pelo meu concorrente)
enquanto que a espionagem se caracteriza pela “obtenção de informações de caráter
secreto ou sigiloso de inimigos, sem a autorização destes”.

68 Inteligência x Espionagem
Síntese
Neste módulo tivemos oportunidade de conhecer um pouco da atividade que poderia ser
chamada de “mãe” da Inteligência Competitiva, a espionagem. Parafraseando as grandes
personagens dos filmes de espionagem, não dá para saber mais pois “se eu te contasse
mais, teria que te matar”.

Fora as descontrações, vimos ainda que a atividade de espionagem não é admitida pela
grande maioria dos governos. Desta forma, tudo o que encontra é história, ou seja, fato
acontecido há tempos e, portanto, não passível de julgamento (a não ser pela história),
ou ficção.

E, também, vimos que as atividades de Inteligência Competitiva e de espionagem possuem


uma mesma “raiz”, no entanto, as duas não se confundem, pois, apesar de terem o
mesmo objetivo (obtenção de informações), utilizam métodos totalmente diferentes para
conseguir tal objetivo.

Por fim, pudemos verificar que, mesmo que a atividade de espionagem não possua um
código de ética formal, foi possível traçar um paralelo entre a ética envolvida nas duas
atividades, o que permitiu verificar, com maior clareza, que as mesmas não se confundem.

No próximo módulo, Produzindo Inteligência, veremos um pouco sobre os ciclos de produ-


ção de inteligência, ou seja, como fazer inteligência? No próximo módulo talvez tenhamos
a resposta a esta pergunta.

Até lá e bons estudos.

Referências
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Inteligência x Espionagem 69
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FUMEC VIRTUAL - SETOR DE Produção de Infra-Estrututura e Suporte


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