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[5] Teste para tomada do monólito e do céu africano antes de o Sol e a Lua serem adicionados,
usando o conceito de “ponto pivotal” de Colin Cantwell.
FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[6] Dan Richter como Moonwatcher intui um novo uso para o enorme fêmur.
John Alcott, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[7] O ônibus espacial de Heywood Floyd aproxima-se da estação espacial.
Geoffrey Unsworth, “2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[8] William Sylvester como Floyd encontra um grupo de curiosos cientistas russos.
Geoffrey Unsworth, “2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[9] A nave espacial Aries em sua área de pouso. As janelas ainda não haviam sido preenchidas com
imagens da base lunar.
“2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[10] Acompanhado por funcionários da Base Clavius, Floyd examina o monólito lunar.
Geoffrey Unsworth, “2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[11] Sylvester toca o monólito — uma ação que Dan Richter repetirá um ano mais tarde para a
sequência da Aurora do Homem.
Geoffrey Unsworth, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[12] Kubrick trabalha com seus atores sob a costumeira nuvem de fumaça de cigarro.
[13] O nascer do sol sobre o monólito lunar — a segunda tomada de “ponto pivotal” de Cantwell.
“2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[14] Os astronautas recuam diante de um poderoso sinal de rádio.
Geoffrey Unsworth, “2001” FX team, © & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
[22] O controlador de missão Frank Miller dá a notícia de que HAL está cometendo erros.
[23] Poole e Bowman conversam sobre HAL, visível através da janela da cápsula em que eles
estavam, ostensivamente para que ele não os ouvisse — embora HAL esteja lendo os lábios deles.
[24] Visto aqui em um momento mais descontraído, Kubrick com frequência empunhava uma ou
mais câmeras durante a produção. Nessa foto ele tem duas.
[25] Assistindo a um vídeo de dentro da centrífuga durante a filmagem. O cinegrafista Geoffrey
Unsworth está à esquerda de Kubrick e o assistente de câmera John Alcott está atrás.
[26] Poole vai recuperar uma segunda unidade guia da antena supostamente defeituosa.
[27] Imitando uma pose do filme Frankenstein, de 1931, a cápsula de Poole ataca o astronauta no
espaço quando sob o controle de HAL.
[28] Bill Weston como Poole, esforçando-se para reconectar seu tubo de oxigênio, que foi cortado.
Diante das condições de trabalho de Weston, a sensação não era estranha a ele.
[29] Bowman recupera o corpo de Poole, que girava pelo espaço — uma das atuações mais difíceis
de Weston como dublê.
[30] Bowman marcha com uma expressão sombria em direção ao Compartimento do Cérebro de
HAL.
[31] Após desligamento de HAL, seu olho se apaga completamente.
[32] Uma das primeiras tomadas com efeitos mostrando a silhueta do monólito contra a versão de
Doug Trumbull do planeta Júpiter.
[33] Material não utilizado do Portal Estelar no qual a cápsula espacial em alta velocidade (a esfera
branca perto do centro) era vista do lado de fora.
[34] Kubrick enquadra uma tomada no Quarto de Hotel.
[35 e 36] Dullea como Bowman morre e renasce como Filho das Estrelas.
[37] Recorte de uma tomada na qual o Filho das Estrelas se aproxima do planeta Terra.
[38] Com quase doze metros de diâmetro e pesando trinta toneladas, a centrífuga de 2001, vista aqui
de fora, foi um dos maiores e mais caros cenários móveis já construídos.
Michael Benson
2001:
Uma odisseia no espaço
Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke
e a criação de uma obra-prima
tradução
Álvaro Hattnher
Cláudio Carina
Em memória do meu pai, Raymond E. Benson,
2 de novembro de 1924 – 12 de novembro de 2017
Política e religião estão obsoletas.
Chegou a vez da ciência e da espiritualidade.
Vinoba Bhave
1. Prólogo: A odisseia
2. O futurista
3. O diretor
4. Pré-produção, Nova York
5. Borehamwood
6. A produção
7. Na corda bamba
8. A Aurora do Homem
9. Fim de jogo
10. Simetria e abstração
11. Lançamento
12. Resultados
Agradecimentos
Autor
Créditos
Personagens principais
(Em ordem de aparição)
Prólogo:
A odisseia
A falta de sentido da vida faz o homem criar seu próprio sentido.
Stanley Kubrick
***
***
O futurista
INVERNO – PRIMAVERA DE 1964
Não está fora de questão que artefatos dessas visitas ainda existam, ou
que seja mantido um tipo de base (possivelmente automatizada) no
Sistema Solar para facilitar uma continuidade de sucessivas expedições.
Devido ao desgaste e à possibilidade de detecção e interferência pelos
habitantes da Terra, seria preferível não construir essa base na superfície
da Terra. A Lua parece ser uma alternativa razoável.
***
Anos depois de colaborar com Mike Wilson em três filmes no início dos
anos 1960, o diretor cingalês Tissa Liyanasuriya ainda mantinha uma
lembrança vívida de Arthur C. Clarke trabalhando na casa que dividia com
Wilson na Gregory’s Road. Liyanasuriya foi diretor assistente em Ran
Muthu Duwa [A ilha dos tesouros], primeira produção de Mike. Cheio de
ação, com trilha sonora eficiente e cenas submarinas, o longa foi um
tremendo sucesso, tendo atingido um público de mais de 1 milhão de
pessoas entre 1962 e 1963 — aproximadamente um décimo da população
do país. As músicas do filme são populares até hoje. Parece que nenhuma
cópia sobreviveu.
Tissa também trabalhou ainda mais próximo de Mike numa segunda
produção, Getawarayo. Depois de dirigir pessoalmente as cenas de aldeia e
de ser chamado para assumir a cadeira de diretor pelo exasperado produtor
Sheha Palihakkara em várias ocasiões em que Wilson saía do estúdio mais
cedo “para relaxar”, Mike foi generoso e insistiu para que Liyanasuriya
recebesse os créditos como codiretor. Em parte devido a esse impulso
inicial, Tissa iniciou uma longa e destacada carreira como diretor solo.
Getawarayo, que terminava com uma prodigiosa corrida de barcos pela
cintilante superfície esverdeada do lago Bolgoda, estreou em fevereiro de
1964. Também foi um sucesso, ainda que pouco menor do que Ran Muthu
Duwa. E também desapareceu.
Liyanasuriya teve muitas oportunidades de observar Clarke, responsável
pela maior parte do financiamento para os dois filmes, pois o escritório da
Serendib, companhia produtora de Clarke, Wilson e Palihakkara, era bem
ao lado do estúdio do escritor, no andar térreo da casa. Quando as coisas
estavam relativamente calmas, Clarke deixava a porta parcialmente aberta.
Mais de meio século depois, Tissa ainda se lembrava claramente do “tac tac
tac” do teclado da máquina de escrever saindo por aquela porta, e um
“ding” abafado sinalizando o fim de cada linha — esse som há muito
desaparecido da indústria autoral. Curioso para observar o grande homem
trabalhando, ele se posicionava no ângulo certo, espiando discretamente lá
dentro.
“Eu o via começar a escrever assim”, contou Liyanasuriya, debruçando-
se sobre uma máquina de escrever invisível para ilustrar. “Então de repente
ele parava. Pegava os óculos, limpava um pouco, punha-os de volta e
começava a escrever outra vez. Na mesa. Na máquina de escrever. Ele
estava trabalhando naquilo. Então de repente ele se levantava. E andava até
o jardim.”
Alto, com uma calvície incipiente e um jeito severo temperado por
tiradas rápidas e bem-humoradas, Clarke adotou o hábito masculino
cingalês de usar um sarongue de cores vivas, sem camisa, durante o dia, a
fim de se aliviar do calor tropical opressivo. Só que não conseguiu aprender
o jeito de amarrá-lo na cintura, por isso enfiava o tecido dentro do elástico
da cueca. Como resultado, o sarongue começava a cair quando ele andava
até a porta do jardim, o que o obrigava a voltar a enfiar o tecido por baixo
do elástico. “Ele não estava acostumado a usar sarongue”, lembra Tissa
com uma risadinha.
“E lá ia ele para o jardim, onde ficava sua poltrona. Sentava na poltrona
assim”, diz, imitando Clarke reclinado, de pernas abertas, olhando para
cima, perdido em pensamentos. “E ficava olhando para o céu. Pensando.
Pensando. Continuava olhando para o céu por algum tempo, talvez cinco ou
dez minutos. Depois se levantava, entrava correndo na sala e recomeçava a
escrever. Eu gostava muito disso. Ele era adorável, era uma pessoa
realmente adorável.”
***
***
Parou e meditou por um minuto: nada mau. O disco negro era um belo
componente gráfico. Afinal, aquilo era um filme.
Tudo bem, talvez isso seja suficiente — uma espécie de amostra instigante.
Mas como Kubrick vai entender isso, sem qualquer outra explicação?
Digitando uma linha pontilhada abaixo do curto esboço em prosa, Clarke
acrescentou outro parágrafo, remetendo o diretor ao conto “A Sentinela” e
descrevendo em poucas palavras a essência da história, na qual uma equipe
de reconhecimento descobre uma pirâmide de cristal, densa como diamante
e de origem alienígena, que claramente esteve na superfície lunar por
milhões de anos. Quando aberta depois de muito esforço, o sinal que envia
às estrelas é interrompido. “Na discussão decorrente, alguns dos cientistas
decidem, corretamente, que se trata de um monitor — o equivalente de um
alarme de incêndio celestial.”
Em seguida escreveu uma folha de rosto. “Pensei numa boa abertura
para um filme espacial […]. Pode levar a um grande número de situações,
não só à descrita em O fim da infância.”
E também pôs no correio — duas cartas em dois dias.
Capítulo 3
O diretor
PRIMAVERA DE 1964
É raro você obter algo pelo que pagou, mas nunca vai obter nada pelo que não pagou.
Stanley Kubrick
***
***
***
E. M. Forster fala sobre como é lamentável ter de haver uma trama, mas
também o quanto ela é necessária. Quando os primeiros homens das
cavernas se sentaram ao redor de uma fogueira, se o contador de
histórias não mantivesse o interesse, eles iriam dormir ou bateriam nele
com uma pedra. Mas você paga um preço terrível por uma boa trama,
pois no momento em que estão todos atentos, imaginando o que vai
acontecer a seguir, não há muito espaço para eles se preocuparem com
como vai acontecer e por que aconteceu. Um dos truques mais hábeis é
não ter uma boa trama e mesmo assim manter o interesse, seja lidando
com algo inimaginável e tornando-o realista — que é quando a
característica surrealista, fantástica ou onírica do seu livro assume o
controle —, ou chegar tão perto do cerne do fato ou do personagem que
eles se mantêm imóveis como se seu coração não estivesse batendo.
***
Durante suas caminhadas por Nova York — que se estendiam pelo Central
Park, pelo Museu Guggenheim e chegavam até o East River, incluindo
“restaurantes e cafeterias, cinemas e galerias de arte” —, Kubrick explicava
o formato Cinerama a Clarke. Era de uma resolução tão alta que conseguia
transportar a plateia para uma espécie de viagem, por meio da mistura das
palavras “cinema” e “panorama”. Os primeiros filmes em Cinerama foram
lançados em grandes cidades como “espetáculos ambulantes”, com lugares
reservados, com programa impresso e um intervalo, como nos teatros. As
pessoas chegavam a se vestir formalmente para as apresentações.
Tendo discutido extensivamente a questão com o amigo e cinegrafista
Robert Gaffney, Kubrick queria que seu filme fosse uma produção em
Cinerama — a única que utilizava um processo mais novo, exigindo apenas
uma câmera de 65 milímetros e um único projetor. Citou A conquista do
Oeste, que não apresentava apenas um único conjunto de personagens, mas
múltiplas gerações deslocando-se para o Oeste. Com quase três horas de
duração, fora o último épico de grande orçamento da MGM a obter sucesso
comercial, e Kubrick achava que valia a pena tomar o filme como um
modelo, especialmente em vista do escopo que o empreendimento vinha
ganhando. Com cinco seções principais e um epílogo, e sem um
personagem principal, tratava-se mais de um docudrama — apesar de
espetacular — do que de um drama no sentido convencional.
Clarke concordou que a luta de pioneiros para se estabelecer em outros
planetas poderia funcionar como uma espécie de eco futurístico da
exploração do Oeste americano na era espacial. Mas em sua visão, as
viagens interplanetárias eram a única forma de conquista ainda compatível
com a civilização. Nas duas semanas anteriores, os dois chegaram a tocar
no problema de como chamar seu épico espacial. No momento eles
decidiram que o título provisório seria Como o Sistema Solar foi
conquistado. “O que tínhamos em mente era uma espécie de
semidocumentário sobre os primeiros tempos da nova fronteira. Apesar de
termos logo deixado esse conceito para trás, ainda parece uma boa ideia”,
escreveu Clarke em 1972.
Enquanto discutiam, Clarke se referia a uma ideia que já havia
apresentado por escrito — que o verdadeiro paralelo entre o salto da
humanidade para o espaço e algum fato histórico ia muito além da
exploração do Oeste americano, de Cristóvão Colombo ou até mesmo de
Odisseu. A viagem espacial representava um salto evolucionário tão
significativo quanto a transição da vida do mar para a terra, segundo
acreditava — só que a exploração do espaço era um movimento consciente
de uma espécie senciente. “Raramente paramos para pensar que ainda
somos criaturas do mar, que só conseguimos sair da água porque usamos
trajes espaciais cheios de água, a nossa pele, do nascimento até a morte”,
observou Clarke. “Somente as criaturas que se atreveram a sair do mar para
uma terra estranha e hostil foram capazes de desenvolver inteligência.
Agora que essa inteligência está prestes a enfrentar um desafio ainda maior,
pode ser que a Terra não passe de um breve local de descanso entre o mar
de sal e o mar de estrelas.”
Outro ponto levantado por Clarke em suas perambulações por
Manhattan foi que os primeiros usuários de ferramentas não eram humanos,
mas primatas pré-humanos — e que o uso de ferramentas foi sua perdição.
Pois até mesmo as ferramentas mais primitivas obrigaram seus usuários a
desenvolver destreza manual e a alterar a postura — por exemplo, passando
a andar eretos. “A antiga ideia de que o homem inventou ferramentas é
enganosa, é uma meia-verdade. É mais preciso afirmar que as ferramentas
inventaram o homem”, escreveu Clarke em 1962. “Tratava-se de
ferramentas primitivas, nas mãos de criaturas que eram pouco mais que
macacos. Mas elas resultaram em nós — e na extinção final do homem-
macaco que primeiro as utilizou.”
***
A história termina com o narrador mudando seu tom de fastio com o mundo
para descrever “o som mais espantoso que já ouvi na minha vida. Era o
choro agudo de um bebê recém-nascido, a primeira criança na história da
humanidade a nascer em outro mundo que não a Terra”. O título da história
é referência a uma afirmação do visionário cientista espacial russo
Konstantin Tsiolkovsky. “A terra é o berço da mente, mas a humanidade
não pode ficar em seu berço para sempre.”
Finalmente, é claro, “A Sentinela”, que os dois já haviam concordado
que serviria como o principal componente do filme. Referindo-se ao
artefato alienígena do título, a história terminava de forma agourenta.
Agora que seus sinais cessaram, aqueles que têm essa missão voltarão
seus pensamentos para a Terra. Talvez eles queiram ajudar nossa infante
civilização. Mas devem ser muito, muito antigos, e os velhos costumam
ser loucos de ciúmes com os mais jovens.
Nunca mais conseguirei olhar para a Via Láctea sem ponderar de
quais bancos de nuvens estelares os emissários virão. Se me permitirem
uma comparação corriqueira, nós disparamos um alarme de incêndio e
não temos nada a fazer a não ser esperar.
Acho que não esperaremos por muito tempo.
Uma história que nenhum dos dois pensou em incluir nas discussões
daquele mês de maio foi “Encontro no amanhecer”. Publicada pela primeira
vez em Amazing Stories, em 1953, o conto segue uma expedição de
reconhecimento alienígena que chega à Terra pré-histórica, onde descobre
uma primitiva tribo de hominídeos não muito diferentes dos próprios
alienígenas sob certos aspectos, só que num estágio bem anterior de
evolução — “primos selvagens esperando pela aurora da história”. Um dos
três membros da tripulação, Bertrond, fica amigo de um caçador chamado
Yaan, “vestido com a pele de um animal e […] segurando uma lança de
ponta de sílex”. Entretanto, parece que o império galáctico que os enviara
naquela missão está com problemas e a nave é chamada antes de concluir
sua antropologia interestelar.
“Eu esperava que, com nosso conhecimento, pudéssemos tirar vocês da
barbárie em uma dezena de gerações”, diz um agitado Bertrond para um
perplexo Yaan. “Mas agora vocês terão que batalhar para sair da selva
sozinhos, e pode ser que isso leve um milhão de anos para acontecer.”
Deixando algumas ferramentas, inclusive uma faca — “vão se passar eras
até seu mundo construir coisas assim” —, Bertrond e seus colegas partem
em sua nave, decolando “com tanta suavidade quanto fumaça saindo de
uma fogueira”. Ao observar a nave se transformar “numa longa linha
luminosa rumando em direção às estrelas”, Yaan entende de forma difusa
que “os deuses se foram e nunca mais voltarão”. Atrás dele, vê-se um
sinuoso rio passando por planícies férteis “nas quais, mais de mil séculos
mais tarde, os descendentes de Yaan construiriam a grande cidade que
chamariam de Babilônia”.
***
***
Você entende tanto quanto eu (talvez até melhor) o que tudo isso
significa. É simplesmente impossível imaginar uma forma mais efetiva
de promover meu nome. E além do livro da Time […] agora a Life me
pediu um artigo longo sobre satélites de comunicação para uma edição
especial com o dobro do tamanho […]. Com Time, Life e Kubrick parece
que cheguei ao topo de três campos simultaneamente; claro que ainda
preciso corresponder ao último, e ainda existem muitos obstáculos
possíveis, mas me sinto totalmente feliz tendo Stanley como
colaborador. Tanto suas habilidades técnicas como seu senso artístico
são inacreditáveis.
Você nunca consegue ter informações suficientes, e nunca consegue fazer perguntas suficientes.
Máxima de Stanley Kubrick
***
Em carta escrita no dia 23 de maio, Clarke disse a Haldane: “Kubrick é
absolutamente brilhante […] estamos de acordo em tudo”. Estimulado pelas
conversas com o diretor, durante a segunda metade de 1964 sua produção
foi prodigiosa. Continuaram encontrando-se com frequência em vários
locais da cidade para conversar, em seguida Clarke voltava para sua
máquina de escrever elétrica no décimo andar do Chelsea e escrevia. Para
isso, seu combustível consistia em uma dieta de patê de fígado com
bolachas, um repasto perfeito para entupir artérias, às vezes servido por um
novo e questionável interesse, um marinheiro mercante irlandês chamado
Peter Arthurs que morava no andar de baixo.
No dia 12 de junho, Clarke garatujou a seguinte observação em seu
diário: “nb o entusiasmo de Stan por material depois descartado — parte de
sua técnica com autores/atores?”. (“Nb” era nota bene, significando “note
bem”.) Clarke percebera uma prática conhecida pela maioria dos
colaboradores de Kubrick, às vezes capaz de levá-los à beira de um colapso
nervoso, mas capaz também de impulsioná-los aos limites absolutos de suas
capacidades criativas. Em 20 de junho, Clarke relatou: “Terminei o capítulo
de abertura, ‘Visão do ano 2000’, e comecei a sequência do robô”. As duas
partes foram descartadas mais tarde, mas ambas continham elementos que
ressurgiriam no filme. A abertura inicial continha uma descrição de como
os moradores da Terra daquele milênio saberiam, ao olhar para a Lua, que
havia pessoas lá em cima os observando: “Eles se lembrariam de que a
Terra jamais poderia reivindicar alguns dentre eles, como já havia feito com
seus ancestrais desde o começo dos tempos. Eram viajantes que não tinham
conseguido atingir suas metas, mas adquirido a imortalidade do espaço e
encontravam-se agora além de mudanças ou da decadência”. Alguns anos
mais tarde, Kubrick ilustraria esse trecho com a inesquecível cena do
astronauta Frank Poole girando na imensidade negra e silenciosa do espaço
interplanetário com o tubo de oxigênio secionado, sepultado para sempre
em seu traje espacial amarelo-canário.
A “sequência do robô” de Clarke revelou-se um elo perdido entre o
conceito de inteligência artificial mais bem representado pelas histórias de
Isaac Asimov da série Eu, robô de meados do século (1940-1950) — e
pelos zumbidos do robô Robby de Planeta proibido (1956) — e a estrutura
cintilante, elegante e incorpórea de HAL-9000 no produto final. No rascunho
do capítulo, o precursor de HAL é chamado de Sócrates, tem
“aproximadamente o tamanho e a forma de um homem” e caminha sobre
pernas compostas por “uma intricada montagem de amortecedores
deslizantes, juntas e molas de tensão alojadas numa estrutura de barras de
metal. Elas se flexionam e cedem a cada passo em um ritmo hipnótico,
como se tivessem vida própria”. Sócrates não é “mais inteligente que um
macaco brilhante”, mas quando ligado em “modo independente”
transforma-se num autômato individual. Ele também fala, “gerando as
próprias palavras”. Esse primeiro esboço da Inteligência Artificial no filme
passaria por diversas mudanças de nome, e seu QI aumentaria cada vez
mais.
No início de julho, Clarke estava produzindo uma média de 2 mil
palavras por dia. Ao ler os primeiros cinco capítulos, Kubrick se
pronunciou: “Nós temos um best-seller aqui”. Em 9 de julho, Clarke passou
boa parte da tarde mostrando ao diretor como usar uma régua de cálculo:
“Ele ficou fascinado”. No dia 12, Clarke rabiscou a seguinte observação
dialética: “Agora já tenho tudo — menos a trama”. Em 26 de julho,
aniversário de Stanley, Clarke encontrou um cartão-postal em Greenwich
Village que retratava a Terra “se desfazendo inteira, com os dizeres ‘Como
você pode ter um feliz aniversário quando o mundo todo pode explodir a
qualquer momento?’”.
[43] Diretor e roteirista no escritório de Kubrick, Nova York, 1964.
A maior parte disso também foi rabiscada pelo diretor — mas não antes de
Kubrick modificar a citação para “Se puder ser descrito, pode ser filmado”,
acrescentando: “Mais uma vez, implicações que se fazem na redação
criativa”. Era um entre diversos comentários semelhantes.
O radicalismo de Kubrick em relação aos créditos autorais ficou muito
claro numa advertência pública a Terry Southern no outono de 1964,
quando o diretor percebeu que Southern estava recebendo créditos demais
por Dr. Fantástico, e também veio à tona ocasionalmente em seu trabalho
com Clarke. Em um perfil publicado no New York Times de 1966, Kubrick
afirmou: “Nós dois passamos quase um ano no romance. Escrevíamos os
capítulos e passávamos um para o outro. Me pareceu a melhor forma de
abordagem”. Na verdade não existem evidências de que Kubrick tenha
escrito uma única palavra do romance — embora tenha contribuído de
forma inquestionável para o seu conteúdo, e com certeza foi o principal
autor do roteiro, que passou por revisões quase diárias durante a realização
das filmagens.
Depois de ler a produção mais recente de Clarke no dia 7 de setembro,
Kubrick se mostrou entusiasmado. “Estamos em ótima forma”, exultou, e
começou a escrever “um questionário de cem itens sobre nossos
astronautas, coisas como se eles dormiam de pijama, o que comiam de café
da manhã etc.” Dois dias depois Clarke foi para a cama com o estômago
embrulhado e sonhou: “Eu era um robô sendo reconstruído”. Depois de
tomar o café da manhã na cafeteria automática da Sétima Avenida, ele
voltou para o quarto tomado de uma onda de energia, revisou e reescreveu
dois capítulos. Levou-os naquela noite à casa de Kubrick, que estava muito
contente e preparou “um ótimo filé” para Clarke, comentando: “Joe Levine
não faz isso para seus escritores” — referindo-se a um produtor bem
conhecido. Apesar dessa prova de equanimidade, em 29 de setembro Clarke
dormiu mal novamente: sonhara “que a filmagem tinha começado. Havia
um monte de atores ao redor, mas eu ainda não sabia o desenrolar da
história”.
Durante o ano todo, Clarke e Kubrick continuaram a assistir a
incontáveis filmes e a ler muitos livros, sendo que alguns influenciaram de
modo decisivo o conceito que ia surgindo. Um dos filmes era um excelente
curta-metragem em preto e branco indicado ao Oscar, dirigido por Colin
Low e produzido pela National Film Board of Canada. Intitulado Universe
— sem dúvida, fonte do título original de curta vida dos dois —, o filme de
meia hora usava técnicas inovadoras para representar planetas, aglomerados
de estrelas, nebulosas e galáxias. Para conseguir seus efeitos visuais, Wally
Gentleman, colaborador de Low, encheu tanques de solventes com tintas
em suspensão e tintas a óleo, filmando-os com iluminação forte e um ritmo
acelerado de fotogramas, uma técnica que, quando projetada na velocidade
normal, parecia transmitir, com um realismo inaudito, a majestosa flutuação
do cosmo iluminado por estrelas ofuscantes e gás de hidrogênio ionizado e
incandescente. Para Kubrick, que havia sofrido incontáveis horas assistindo
a animações malfeitas e de acabamento rudimentar, o filme canadense foi
uma revelação. O diretor assistiu a Universe inúmeras vezes, estudando-o
minuciosamente, anotando os nomes de Low e Gentleman — apesar de
naquele momento não ter atentado para o narrador do filme, o ator Douglas
Rain, de Toronto.
As pertinentes observações de Clarke em relação às origens humanas
estavam nitidamente surtindo efeito, e a incursão do dramaturgo e escritor
de ciência Robert Ardrey na paleoantropologia, em African Genesis, logo se
tornou outra forte influência. Publicado em 1961, o livro explorava uma
teoria apoiada pelo antropólogo Raymond Dart, mais conhecido por sua
descoberta de fósseis do Australopithecus africanus em 1924 —
considerado o primeiro antepassado humano a andar ereto. Em meados dos
anos 1950, devido à forma rombuda dos ferimentos detectados no registro
fóssil, Dart estava convencido de que a civilização se baseava numa
propensão ancestral à violência. A sobrevivência de nossos ancestrais
simiescos aconteceu por meio do desenvolvimento de armas letais,
argumentou, e deu o título de “A transição predatória do macaco para o
homem” a um artigo seu. O livro de Ardrey apoiava-se solidamente nas
ideias de Dart e se tornou um best-seller internacional de grande influência.
Continha ressonâncias úteis e potenciais com o conto “Encontro no
amanhecer”, de Clarke.
Quando acabou de ler o African Genesis, em 2 de outubro, Clarke
observou: “Topei com um parágrafo impressionante que bem poderia
fornecer o título do filme: ‘Por que a linhagem humana não foi extinta nas
profundezas do Plioceno? […]. Sabemos que se não fosse por uma dádiva
das estrelas, por uma acidental colisão de genes e radiação, a inteligência
teria perecido em algum território africano desconhecido’. Sim, é verdade
que Ardrey está falando sobre mutações de raios cósmicos, mas a frase
‘Uma dádiva das estrelas’ é surpreendentemente aplicável ao nosso enredo
atual”. E os dois mudaram mais uma vez o título provisório para Dádiva
das estrelas.
Kubrick também tinha sua citação favorita de African Genesis:
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Na primavera de 1965, o outrora modorrento escritório da Polaris em
Central Park West foi sacudido por uma hiperatividade. Os desenhos de
Lange eram afixados em quadros de avisos, ao lado de trabalhos, que
chegavam pelo correio, das instalações da Graphic Filmes de Los Angeles,
responsável pela produção To the Moon and Beyond para a Feira Mundial
de Nova York, contratada por Kubrick para produzir projetos de
espaçonaves e bases lunares. Storyboards forravam as paredes de outra sala,
assim como detalhadas representações em cores das cenas planejadas. Estas
incluíam um ônibus espacial em forma de canivete se aproximando de uma
estação espacial em forma de frisbee. Os telefones tocavam o tempo todo e
a fumaça de cigarro pairava no ar enquanto pessoas entravam e saíam com
portfólios de desenhos e pilhas de documentos nas mãos. Em 19 de abril —
uma segunda-feira —, Clarke apareceu para uma visita.
Subi ao escritório com 3 mil palavras que Stanley ainda não tinha lido.
O lugar agora estava zunindo — com umas dez pessoas trabalhando lá,
inclusive dois membros da produção da Inglaterra. As paredes estão
sendo cobertas com imagens impressionantes, e eu me senti bem, como
um pequeno dente na engrenagem dos trabalhos. Um psicótico que
insiste em que Stanley precisa contratá-lo está sentado num banco do
parque em frente ao escritório há umas duas semanas, e às vezes entra
no prédio. Numa atitude de legítima defesa, Stan escondeu uma grande
faca de caça em sua pasta.
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1. Por exemplo, ele quis acrescentar “certificado” antes da expressão “teste de audiência”. [ «« ]
2. Em tradução livre: “Se ligue, fique antenado e caia fora do sistema”. [N. T.] [ «« ]
3. Antarctica: Land of Frozen Time (Chilton Books, 1962). Depois de 2001, Caras se tornou
preservacionista da vida selvagem e personalidade da TV, e acabaria escrevendo setenta livros,
principalmente sobre animais e questões ecológicas. [ «« ]
Capítulo 5
Borehamwood
VERÃO – INVERNO DE 1965
Pode ser que nosso papel neste planeta não seja venerar Deus, mas sim criá-lo.
Arthur C. Clarke
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Enquanto isso, os cenários eram montados em um ritmo vertiginoso.
Masters e Archer combinaram com o diretor de arte John Hoesli que Dick
Frift, um dos melhores mestres de obras da Inglaterra, construiria o interior
da espaçonave com uma complexidade sem precedentes, e o processo já
começava a ocupar os Palcos 2, 3 e 6. Entrementes, o piso do Palco 4 era
desfeito e reforçado para aguentar o peso da imensa centrífuga, então sendo
preparada pela empresa de aviação Vickers-Armstrong, do Reino Unido —
construtora do famoso Spitfire da RAF, que tinha um representante
estacionado no fundo do estúdio, esperando o retorno da Luftwaffe.
A essa altura, a equipe reunida em Nova York trabalhava em harmonia
impecável e também colaborava com Caras, que continuava em Manhattan
naquele período, onde podia interagir mais facilmente com grandes
corporações americanas e obter informações sobre conceitos e projetos
tecnológicos antes do início das filmagens. Só então se mudaria para
Londres. A equipe de quarenta arquitetos, decoradores de cenários,
construtores de modelos e de acessórios de Masters espalhava-se numa
série de oficinas. Juntos, eles projetaram, construíram, mobiliaram e
concluíram uma visão unificada do futuro.
Um dos segredos da mise-en-scène incrivelmente realista, em sua
“aparência” geral, foi essa coordenação entre indústrias produtoras de
tecnologia — que incluía designers industriais de primeira linha como Eliot
Noyes, o arquiteto da identidade visual corporativa integrada da IBM e
também de sua inovadora máquina de escrever Selectric — e a liderança
tríplice do design de produção, com Ordway garantindo uma absoluta
plausibilidade tecnológica baseada em pesquisas e desenvolvimentos
corporativos e governamentais, e Lange combinando tudo com seu vasto
conhecimento de tecnologias espaciais a fim de policiar a aparência dos
cenários e modelos e revestir de estilo todo o conceito visual. “Lange deu
autenticidade para aquilo”, disse Masters.
Se houve uma divisão de autoria nesse projeto tão colaborativo, foi
Masters quem elaborou conceitos cinéticos como os cenários rotativos e
desenhou os interiores e os acessórios, e foi Lange quem fez os exteriores
dos veículos e das estações espaciais, bem como os extraordinários trajes
espaciais do filme. Na verdade, todo mundo trabalhava em tudo junto, com
muita polinização cruzada durante reuniões e discussões. Wally Veevers, o
pioneiro em efeitos especiais, responsável pelas miniaturas de Dr.
Fantástico, supervisionava a produção dos modelos, entre outras coisas. “O
mais estranho foi que todos trabalhamos juntos por tanto tempo que
começamos a fazer projetos da mesma maneira”, lembrou Masters em
1977. “Assim como a era georgiana ou vitoriana são um período, nós
desenhamos 2001 como um período. Criamos um modo de vida, com
detalhes que iam até os garfos e facas. Se tivéssemos de criar uma porta,
fazíamos isso com o nosso estilo.”
Além disso, Masters e Kubrick não se eximiram de usar bons trabalhos
de designers de fora, que só precisavam estar de acordo com a visão que
tinham do como seria o início do século XXI. Isso incluiu dezenas de
poltronas Djinn, curvilíneas e futurísticas, criadas por Olivier Mourgue em
1963, que coloriram o interior monocromático da Estação Espacial Cinco, e
diversos exemplos da “Mesa Tulipa” de Eero Saarinen, de 1957. Cadeiras
reclináveis de cromo e couro de Geoffrey Harcourt também foram usadas
para mobiliar a sala de reuniões da Base de Clavius.
O que complicava tudo era a história, que não parava de mudar. Apesar
da natureza apoteótica do empreendimento — os cenários complexos e
gigantescos, o grande orçamento, o risco que a MGM estava assumindo, o
fato de todo um complexo de estúdios com milhares de funcionários ser
quase inteiramente dedicado à realização de sua concepção —, Kubrick
estava improvisando. Todo o projeto estava na cabeça dele. Numa cabeça
normal, isso seria a receita para um desastre. Mas o que começava a surgir
da cabeça de Kubrick era de fato uma forma de refinamento. Apesar de
todo o caos aparente, o refugo era removido metodicamente, enquanto as
mensagens iam se tornando mais apuradas.
“Não estávamos trabalhando com um cronograma específico, nem
mesmo com um roteiro específico”, explicou Masters. “Nós tínhamos uma
ideia básica — que era, claro, a história de Arthur C. Clarke —, mas nunca
tivemos um roteiro completo. Trabalhamos no filme mudando de ideia
todos os dias sobre o que seria feito no dia seguinte.”
Nós nos reuníamos com Stanley à noite e falávamos sobre o que seria
feito no dia seguinte — como resultado, a coisa toda mudava. O
departamento de produção quase se suicidou. Porque diariamente, quase
tudo que tinha sido planejado era jogado pela janela — nós acabávamos
fazendo algo completamente diferente. E era assim que trabalhávamos,
dia após dia. Tendo superado aquele problema específico, a gente dizia:
“Bem, o que vamos fazer amanhã?”, mas quando chegávamos nesse
ponto, Stanley dizia: “Ora, ora, para o inferno com isso, vamos fazer
alguma coisa realmente interessante”. E a partir disso — de falar, falar e
falar — surgiu algo muito melhor do que o que imaginávamos estar
fazendo.
***
***
***
Doug Trumbull sentia dores agudas causadas por certa abstinência naquele
verão em Los Angeles. Depois de pintar a galáxia rotativa para To the Moon
and Beyond — o filme experimental em Cinerama que impressionou
Kubrick na Feira Mundial de 1964-5 —, ele trabalhou por alguns meses
exatamente no tipo de coisa que adorava, ou seja, desenhando bases
lunares, espaçonaves e plataformas de pouso, que gotejavam como um
fluxo estável de dopamina no cérebro. Mas Kubrick já tinha se mudado para
o outro lado do Atlântico, distanciando-se da Graphic Films no processo e,
com menos trabalho à vista, a empresa de efeitos visuais o demitiu.
Trumbull gostava de ficção científica desde criança, e apesar de ter
montado uma pequena empresa de móveis em Malibu para aumentar seus
rendimentos, não era assim que ele via seu futuro.
Trumbull ligou para Con Pederson, seu antigo empregador, dizendo que
fora muito empolgante trabalhar no projeto espacial. Como ele poderia
entrar em contato com o produtor? Pederson explicou que uma cláusula de
confidencialidade em seu contrato tornava difícil responder àquela
pergunta. Houve uma pausa embaraçosa. Os dois tinham trabalhado bem
juntos em alguns projetos, inclusive em To the Moon and Beyond. “Olha”,
disse Pederson afinal. “Se você for até o escritório, talvez consiga encontrar
o número do telefone do sr. Kubrick escrito no canto do quadro de avisos.”
Trumbull já tinha entrado pela porta dos fundos da Graphic sem passar
pela recepção tantas vezes que aquilo era natural. Por isso, não perdeu
tempo e repetiu seu truque, encontrou o número, levou-o para casa,
calculou que horas seriam em Londres e discou. Kubrick atendeu de
imediato, sem a intermediação de nenhuma secretária, e Trumbull se
apresentou. “Sou um dos ilustradores que trabalhou nos desenhos que você
vem recebendo, gostaria de ir aí trabalhar no seu filme”, falou. Além de
falar de seu trabalho em To the Moon and Beyond, que não durou muito,
Trumbull deu detalhes sobre suas outras qualificações — seus projetos
anteriores estavam em perfeita sintonia com as exigências e os temas de
2001.
“Isso é ótimo”, replicou Kubrick. “Você está contratado, o emprego é
seu […] venha para cá. Eu pago quatrocentos dólares por semana.” A Hawk
Films providenciaria as passagens de avião para ele e a mulher, além de
arranjarem acomodações. Bem-vindo a bordo. Algo mais?
Ao chegar em meados de agosto, com cara de garoto vindo da
Califórnia, com um chapéu de caubói e em sua primeira viagem ao exterior,
Trumbull presenciou tanta atividade em Borehamwood que ficou com medo
de ter chegado tarde demais. “Eu tinha 23 anos na época e na verdade não
sabia nada — tinha só uma pequena formação em animação e pinturas de
fundo. Nem entendia muito bem de fotografia. Comprei uma câmera Pentax
antes de ir para a Inglaterra e montei um pequeno quarto escuro em casa, só
para aprender os fundamentos”, relembra.
Mas não havia razão para se preocupar. Havia muita coisa a fazer — a
produção das filmagens com atores ainda nem tinha começado —, e nos
dois anos e meio seguintes ele deixaria de ser um animador novato para se
tornar um dos quatro principais supervisores de efeitos de 2001, deixando
uma marca visual única e inovadora no filme durante o processo.
***
***
Os estúdios de Borehamwood eram estratificados no que dizia respeito a
um sistema de castas imposto pelo sindicato, segundo o qual um designer
não poderia tocar numa chave de fenda para não ameaçar o emprego dos
mecânicos, e cenógrafos não podiam ser vistos desenhando uma planta,
pelos mesmos motivos — ao menos em teoria. Com cara de caubói da
Califórnia, de modos cordiais e com um sorriso cativante, Trumbull era um
tipo sui generis, e logo constatou que seu status de forasteiro resultava em
vantagens enormes. Profissionais de cinema dos EUA só podiam trabalhar na
MGM por causa de um furo no Eady Levy, o programa britânico de subsídios
aos filmes — basicamente, um imposto sobre a bilheteria usado para manter
viva a indústria local que atraía estúdios norte-americanos com substanciais
isenções de impostos. Por causa do Eady, para a maioria dos estúdios de
Hollywood as produções no Reino Unido eram mais baratas que nos
Estados Unidos — um dos motivos, é claro, para Kubrick estar lá, mas
também porque já tinha realizado dois filmes na Inglaterra.
A cláusula do Eady sobre não cidadãos do Reino Unido ou residentes
legalizados limitava a 20% o número de americanos que poderia trabalhar
em 2001. Porém, como de acordo com a Eady ele não precisava fazer parte
do sindicato, Trumbull percebeu que poderia ir diretamente aos chefes de
departamento sem obstáculos burocráticos — por exemplo, chegar no
sujeito que cuidava do maquinário da oficina e encomendar peças para seu
novo suporte de animação. E usou essa liberdade de ação para obter o
máximo de vantagem durante os dois anos seguintes.
Kubrick, é claro, tinha seus próprios macetes, mais abrangentes. Por
causa da distância geográfica, ele logo percebeu que a MGM tinha muitas
limitações para intervir na produção. “Não havia nenhuma interferência da
gerência de estúdio”, lembra-se Trumbull. “Estávamos fazendo coisas
novas o tempo todo. Era como uma roda girando livre, não havia um
cronograma, nem orçamento, nem data de entrega, e íamos resolvendo os
problemas à medida que surgiam. O filme ia sendo rodado. Eles construíam
cenários. Construíam todos os acessórios. Construíam as miniaturas. E
sempre que surgia algum problema, Stanley dizia: ‘Bem, Doug, o que você
pode fazer para me ajudar a resolver isso?’.”
Um dos problemas que ele ajudou a resolver foi a questão das
miniaturas, que estavam abaixo do padrão. Logo depois de Trumbull e
Logan terem montado seu suporte de animação, uma empresa de Londres
chamada Mastermodels produziu um Ônibus Lunar de um metro de
comprimento — a primeira de diversas espaçonaves encomendadas para a
empresa. Só de bater o olho, Trumbull percebeu que não ia dar certo. A
coisa parecia um anúncio de agência de viagem feito de fibra de vidro, não
um produto de engenharia convincente. Tendo trabalhado basicamente
como ilustrador, Trumbull sabia muito bem como usar um aerógrafo e usou
uma técnica multimídia no modelo, que depois foi aplicada a todas as
espaçonaves de 2001.
Por meio de pequenas máscaras — pedacinhos de plástico adesivos para
proteger áreas que não deviam ser pintadas —, ele usou o aerógrafo em
algumas partes da fuselagem, criando um novo exterior cheio de nuances,
parecendo ter sido montado numa fábrica, com vários painéis de metal
unidos com texturas e sombras exclusivas. Foi também a uma loja de
aeromodelismo de Borehamwood e passou a colar pecinhas de kits de
modelos de plástico em vários lugares, aperfeiçoando o Ônibus Lunar e
criando a aparência de um produto tecnológico montado meticulosamente.
Fez pequenos sulcos, acrescentou pequenos painéis e montou antenas.
Quando terminou, o veículo de transporte lunar parecia real e pronto para
voar.
***
Anos depois, o assistente de efeitos visuais Brian Johnson deu sua versão
daquela cisão. “Stanley podia ser bem grosseiro se achava que alguém era
meio inseguro; era muito agressivo com Wally Gentleman e dificultou
muito a vida dele”, explicou. Gentleman também estava passando por
complicações de saúde, e no final do ano voltou ao Canadá para se tratar.
(Ele viveu para ver o ano de 2001.) Sua perda foi parcialmente compensada
pela chegada de Con Pederson, que saiu da Graphic Films, não sem
enfrentar algumas dificuldades.
Mas o novo destino da Discovery agradou Clarke. Enquanto estudava
geometrias planetárias, ele descobriu que Júpiter e Saturno estariam
alinhados como duas bolas de bilhar no ano 2001. Por esse motivo, o
escritor traçou um sobrevoo por Júpiter no rascunho de seu livro e, no
romance publicado, Saturno se tornou o objetivo da Discovery.11
Contudo, depois de meses de tentativas para produzir um conjunto de
anéis realistas, Pederson e os ilustradores do filme se rebelaram diante do
desafio de reproduzir o complexo ambiente de Saturno. As filmagens de
2001: Uma odisseia no espaço já estavam na metade, e eles ainda tinham
muitos outros desafios a enfrentar. Como lembrou Ordway, o diretor
relutou, mas aceitou a volta de Júpiter como destino da Discovery depois de
uma “altercação” com a equipe de efeitos especiais em meados de março de
1966.
Foi um dos raros exemplos de recuo do diretor.
***
Kubrick assistiu a inúmeras tomadas já com atores durante o verão e o
outono de 1965, e espalhou-se a notícia de que o inescrutável gênio criador
de Dr. Fantástico começava a fazer alguma coisa que Hollywood podia
entender — ou seja, estava procurando o elenco de seu próximo filme.
Correram rumores de que o agente de Warren Beatty estava fazendo lobby
para que ele desempenhasse o papel principal. Se isso era verdade, Kubrick
tinha outras ideias. No final de setembro, o filme estava definitivamente
elencado. Não incluía o nome de nenhum ator famoso.
Com Keir Dullea já escalado para interpretar Bowman, o diretor havia se
encontrado com Gary Lockwood semanas antes de embarcar para Londres.
Ex-craque de futebol americano da Ucla que fora expulso por causa de
brigas, Lockwood faria o papel de Frank Poole, o segundo em comando de
Dullea. Além de gostar de beber e de se meter em brigas, Lockwood era um
jogador inveterado, e não tinha disciplina para representar papéis
secundários na Broadway ou em filmes de Hollywood. Tinha interpretado o
papel principal em The Lieutenant, uma popular série de TV. Com uma
impressionante presença física, pensamento rápido e um surpreendente
talento como pintor, Lockwood arranjou emprego como dublê de filmes
logo depois de ser expulso da faculdade, chegando a fazer um pequeno
papel em Spartacus, embora nunca tivesse falado com o diretor. Nos
encontros que tiveram, Kubrick disse a Lockwood que adorava futebol
americano e perguntou por que ele achava que o esporte era tão popular.
“Acho que é uma combinação de xadrez com violência”, respondeu o ator.
O comentário provocou uma grande e surpreendente gargalhada no diretor.
Apesar de estar rodeado por alguns dos melhores atores britânicos em
Elstree, Kubrick queria manter norte-americanos nos papéis principais, e
selecionara dois para personagens relativamente importantes. Robert Beatty,
um canadense que interpretou diversos papéis nos palcos de Londres, faria
o comandante da base lunar, Ralph Halvorsen. Para o dr. Haywood Floyd,
presidente do Conselho Nacional de Astronáutica — personagem central até
a metade do filme —, Kubrick escolheu o californiano expatriado William
Sylvester, presença constante nos palcos de Londres desde o fim da
Segunda Guerra Mundial. Sylvester era um dos atores principais no drama
radiofônico Shadow on the Sun, a produção que chamou a atenção do
diretor enquanto filmava Lolita em 1961.
Outros intérpretes de destaque incluíam o ator inglês Leonard Rossiter
no pequeno papel do cientista russo Smyslov — interpretado com uma
suntuosidade oleosa tão impressionante que Kubrick voltou a procurá-lo
uma década mais tarde, escalando-o como o capitão John Quinn em Barry
Lyndon. Para Elena, outra cientista russa — e a única mulher no filme com
umas poucas falas —, Kubrick optou pela conhecida atriz de teatro
Margaret Tyzack, cujos papéis anteriores nos teatros de Londres incluíam
Lady Macbeth.
Embora a Hawk Films — empresa de Kubrick no Reino Unido, fundada
por ele em 1963 para produzir Dr. Fantástico — tenha anunciado a maioria
dessas escolhas no começo de janeiro, o diretor ficou irritado quando a MGM
quis anunciar o papel principal de Keir Dullea em uma entrevista coletiva à
imprensa em setembro. O fato causou um telegrama irritado a Caras no dia
25, em que o diretor exigiu que seu RP descobrisse por que o anúncio não
havia sido feito pela Hawk. A essa altura Caras era o principal embaixador
de Kubrick na MGM, cuja administração não estava em Los Angeles, mas
em Nova York — assim como seu departamento de publicidade para todos
os EUA, cujo diretor era Dan Terrell.
O telegrama foi seguido por outro um dia depois, após Kubrick ter
ruminado um pouco mais. “É muito inadequado que Bob O’Brien anuncie o
elenco, pois isso me faz parecer um diretor contratado”, reclamou. “Diga
isso de forma diplomática para Dan Terrell e faça um acordo quanto a esse
ponto. De minha parte, não vou fazer pronunciamentos ao estilo de Otto
Preminger a respeito da distribuição.” As mensagens refletiam o momento
de transição da velha escola dos estúdios cinematográficos de Hollywood,
em que diretores de aluguel apenas obedeciam ordens, para o surgimento de
um novo paradigma de diretores autônomos e de produtoras fazendo
acordos de distribuição com estúdios, o que lhes garantia níveis de controle
antes impensáveis.
Outros membros da equipe também continuavam sendo selecionados, e
em 30 de setembro Victor Lyndon — bem conhecido nos círculos
cinematográficos britânicos por sua exuberante forma de se vestir —
informou a Caras que Hardy Amies, o designer de alta costura da Savile
Row, seria responsável pelos figurinos do filme. Famoso como costureiro
da rainha, Amies também tinha um pouco de rainha, mas ganhara fama
como eficiente planejador de assassinatos a sangue-frio: tinha sido chefe da
Seção de Operações Especiais da Bélgica durante a Segunda Guerra,
esquema responsável pela morte de nazistas e seus simpatizantes no
continente.
Embora não tão prestigiada quanto outras parcerias entre diretores e
estilistas notáveis, o que era compreensível — como os modelos de Yves
Saint Laurent para Catherine Deneuve em A bela da tarde, de Luis Buñuel
—, Amies e seu diretor de design, Ken Fleetwood, teriam importante papel
na criação do estilo em 2001. Os trajes masculinos, simples e discretos, com
ternos de cintura justa e detalhes idiossincráticos, foram criados para
parecer futurísticos sem chamar atenção de forma inapropriada. As roupas
femininas — que incluíam os uniformes cor de chiclete das recepcionistas
da estação espacial e os trajes em forma de casulos de colmeia das
comissárias de bordo, com capacetes à prova de choque — foram outra
questão.
“Estávamos retratando um período trinta anos à frente”, relembrou
Amies em 1984. “Para ter alguma perspectiva, observei os últimos trinta
anos para ver o que tinha acontecido no mundo da moda. Para minha
surpresa, percebi que as mudanças foram menores do que imaginava. Por
isso, não achei que as roupas no ano 2001 seriam tão drasticamente
futuristas. O sr. Kubrick aceitou isso.”
O decorador de cenários Bob Cartwright, que se juntou a Masters e
Kubrick em Nova York e agora trabalhava em Borehamwood, compareceu
a uma reunião de produção com Kubrick em que foram discutidas as
tendências dos figurinos para o futuro e outras mudanças sociais em
potencial. “Eu estava cético quanto às principais mudanças na vida
cotidiana de pessoas comuns”, relembra. “Disse que minha filha gostava
muito de animais. Tinha certeza de que em 2001, quando tivesse 46 anos,
ela teria uma filha que também gostaria de bichos de estimação, achava que
essas coisas não mudariam.” Cartwright acredita que a cena em que o
astronauta Heywood Floyd, em órbita, telefona para a filha e descobre que
ela quer um bichinho de estimação de presente de aniversário se originou
dessa observação.
***
***
***
***
4. Mais tarde, Ordway avaliou a peça em 50 mil dólares — pouco menos de 400 mil dólares de hoje.
[ «« ]
5. Kubrick tinha lido o livro de 1962 de Robert Ettinger, The Prospect of Immortality, que introduziu
a criogenia — o congelamento de corpos humanos depois da morte, na esperança de que os avanços
científicos um dia pudesse revivê-los. [ «« ]
6. Em um conto de 1972 intitulado “The Big Space Fuck”, Kurt Vonnegut batiza sua nave espacial,
“com quatrocentos quilos de esperma congelado no nariz”, de Arthur C. Clarke, “em homenagem ao
famoso pioneiro espacial”. Sua missão era engravidar a galáxia de Andrômeda. [ «« ]
7. Para os que se sentirem tentados a observar que os computadores da virada do século já eram bem
menores que os imaginados por Elliot Noyes para 2001, seria bom ver imagens no Google dos
supercomputadores contemporâneos. Assim, vão perceber o quanto Masters, Ordway, Lange e a
empresa estavam certos, baseados na ideia da IBM. [ «« ]
8. Como Kaminsky é assassinado por uma inteligência artificial, o nome é uma espécie de tributo a
um dos principais assessores de Kubrick, o cientista cognitivo e pioneiro em inteligência artificial do
MIT Marvin Minsky. [ «« ]
A produção
DEZEMBRO DE 1965 – JULHO DE 1966
[50] Kubrick com uma pesada câmera Panaflex nos ombros em Shepperton.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
***
Mesmo não sendo um palco de som, por não ser à prova de som, as
dimensões de Shepperton eram grandes o bastante para conter um
ecossistema próprio. Moscas passavam zumbido durante os ensaios com as
câmeras sob a luz dos refletores. No dia 1º de janeiro, Kubrick notou que
uma mosca tinha pousado em um capacete durante uma tomada, avisou a
script girl e o evento foi devidamente anotado no Relatório Diário de
Continuidade. Em outra ocasião, um morcego não parava de adejar entre os
astronautas e o monólito. Estava em busca de moscas lunares, mas acabou
sendo caçado com uma rede por um contrarregra. Quando apanhado, depois
de interromper a produção durante toda a manhã, o morcego mordeu a mão
de seu captor antes de ser levado para fora e solto no ar gelado. Um sistema
de comunicação de “indução magnética” muito badalado foi instalado no
recinto a um grande custo, o que deveria permitir a comunicação em dois
canais entre Kubrick e os atores em trajes espaciais. Ao contrário do que
dizia seu comunicado à imprensa, o dispositivo não funcionou como
anunciado.
Apesar desses problemas, as filmagens foram concluídas antes do prazo,
em 2 de janeiro. Isso ocorreu, em parte, porque muitos diálogos foram
cortados e transferidos para outra cena: o percurso do Ônibus Lunar entre a
base e o local de escavação de Tycho. Rascunhos do roteiro final datados de
novembro mostram uma conversa entre os astronautas diante do monólito
quando discutiam seu propósito, deixando claro também que o objeto logo
seria exposto à luz do sol pela primeira vez em 4 milhões de anos. Indagado
sobre a cor do objeto, um deles teria respondido: “Em um primeiro exame,
o preto sugeriria algo alimentado por energia solar. Mas por que alguém
enterraria um dispositivo movido a energia solar?”. Isso seria esclarecido
quando o monólito emitisse “uma série de cinco sinais eletrônicos intensos”
no final da cena — provocando um paroxismo nos visitantes, que tentavam
proteger os ouvidos, inalcançáveis sob os capacetes. Mas Kubrick, já com
claras intenções de inserir certas ambiguidades no filme, optou por
comunicar essa história somente com imagem e som.
Filmes dramáticos em geral são filmados fora de sequência, e uma série
de cenas mostrando a viagem de Floyd à Lua foi rodada nos dias seguintes.
Tendo deixado as moscas e morcegos de Shepperton para trás, a tropa de
atores, técnicos, maquiadores, assistentes de figurino e assistentes de foco
voltaram para o ambiente mais estéril do Palco 2 de Borehamwood, onde
fora construído um cenário representando a área circular e luxuosamente
almofadada de passageiros de Aries, o veículo de transporte lunar. Lá, uma
comissária de bordo usando um imaculado uniforme branco da Pan Am de
Hardy Amies tenta servir um lanche ao adormecido Heywood Floyd, e
numa série de tomadas de 4 de janeiro, o capitão da Aries, interpretado por
Ed Bishop, tenta extrair informações de seu passageiro VIP. Estão
circulando “alguns boatos sobre um problema em Clavius”, comenta,
referindo-se ao seu destino na Lua. Enquanto isso, a bandeja retangular de
uma refeição líquida com canudinhos sai de seu colo flutuando na
gravidade zero — um efeito obtido com um dispositivo simples e uma linha
de pesca criado por Wally Veevers.
Se tivesse chegado à montagem final do filme, o diálogo entre os dois
teria antecipado um elemento da história já explícito numa cena da estação
espacial a ser filmada mais tarde, ainda em janeiro, mas que seria
introduzido mais cedo no arco narrativo de 2001. No dia seguinte, 5 de
janeiro, eles rodaram um dos poucos momentos humorísticos do filme: um
Heywood Floyd muito sério lendo as instruções do Banheiro de Gravidade
Zero (“aconselha-se que os passageiros leiam antes de usar”), com dez itens
de orientação localizados do lado de fora do banheiro.
***
Era manhã de 6 de janeiro, e Vivian estava muito irrequieta. Ela queria
fazer o que o pai lhe pedira, por isso usava uma blusa nova vermelha, com
babados na manga, mas as luzes que atingiam seus olhos eram muito fortes
— por que elas tinham de ser tããão fortes? —, e o papai estava lá, ao lado
da câmera, não ali, perto dela, e aquele homem segurando uma coisa
grande em cima da cabeça dela dizendo que aquilo servia para captar as
suas palavras, as que vinha tentando lembrar — que se chamava
“microfone” por que era para ouvir. Tudo era muito confuso. A irmã tinha
avisado que seria estranho. Anya já havia passado por isso no dia anterior, e
mesmo com a mãe presente ao fundo, às vezes dizendo palavras de
encorajamento, e apesar de todo mundo ser muito simpático e amigável,
tinha um monte de homens estranhos ao redor, fazendo coisas estranhas
com equipamentos estranhos.
Eles já tinham feito três tomadas, mas pelo que ela observou, ninguém
tinha levado nada embora, e disseram que aquela seria a quarta. Papai tinha
falado corta, bem baixinho, no meio da primeira, mas ninguém cortou nada
que ela pudesse ver, e depois pediu para ela olhar para o lado, em vez de
olhar direto para ele — lá, onde ele estava sentado, bem ao lado da câmera,
no meio das luzes que batiam nos olhos dela, e por isso ela não conseguia
vê-lo. Agora, ele perguntou se ela estava pronta e ela disse que sim, e eles
começaram de novo. Primeiro ela ouviu alguém dizer “vire para o outro
lado”, depois alguém falou “virando”. Em seguida a primeira pessoa disse
“todo mundo em silêncio”, e depois “gravando”, outra pessoa disse
“rápido”. Então uma quarta pessoa chegou perto com uma tabuleta
retangular, com uma espécie de barra no alto que subia e descia, e subia e
descia — fazia um pequeno som, como um “claque” — e depois se afastava
depressa, e o papai dizia: “Alô, querida, como vai você?”.
E ela esperava um pouco, tentando se lembrar da resposta. Finalmente,
ela dizia “tudo bem” — mas ele já tinha começado a dizer outra coisa antes
disso. Então ele disse: “Sinto muito, vamos começar de novo”. E eles
começaram, dessa vez sem tantos cortes e claques. “Triimmmm”, disse o
papai, como um telefone. “Alô?”, ela respondeu. “Alô”, ele disse. E eles
prosseguiram daquele ponto. Ela se lembrou de tudo, de todas as palavras,
até chegarem a Rachel estar no banheiro — esse era o nome da babá dela de
verdade: Rachel — mas aí ela esqueceu o que dizer depois disso. Então
papai falou: “Não, querida, você me pergunta uma coisa, se eu vou voltar
para a sua festa”, e ela falou aquilo, mas muito baixinho, e ele disse: “Fala
de novo. Lembre que a festa é amanhã, e fale direto comigo, bem alto”.
Então ela perguntou se ele vinha. E ele respondeu que sentia muito, mas
que não poderia, porque estava longe e só voltaria para casa dali a um ano
— um ano! —, mas que ela ia ganhar um presente mesmo assim. E
perguntou o que ela queria, e ela pensou sem conseguir se lembrar, por isso
respondeu “Um telefone”. E papai falou, com toda paciência: “Você diz
‘um filhote de coala’”, e ela disse imediatamente, para não esquecer de
novo — “Um filhote de coala” — e ele falou: “Espera eu perguntar de
novo”. E ela fez isso, esperou e depois respondeu, mas aí ele falou: “Diga
de novo, mas agora espera até eu terminar de falar”. E ela falou, e deu tudo
certo.
E quando, por fim, ela levantou e disse “tchau”, e depois o papai disse
“tchau” e falou “corta” de novo — mas dessa vez foi “corta, valeu”, não só
“corta”, depois de tudo isso todo mundo bateu palmas e o papai foi dar um
abraço nela e disse que foi muito bom e que estava orgulhoso dela, e
mamãe também deu um abraço e a levou para casa.
***
***
A cena da Base Lunar de Clavius de 2001: Uma odisseia no espaço tem
sido lembrada como especialmente notável devido aos sofisticados e
complexos cenários da espaçonave. À primeira vista, era somente uma sala
retangular que em nada se distinguia das áreas de reuniões corporativas de
hoje. Mas, apesar de perfeitamente amena e anódina como costumam ser
esses espaços, ela na verdade representava um fascinante exemplo do
perfeccionismo de Kubrick e de sua sofisticada compreensão de técnicas
fotográficas.
O diretor havia insistido para que três grandes paredes sem adornos
visíveis para o espectador fossem as únicas fontes de iluminação do espaço,
mas também que esse trio de retângulos oblongos não apresentasse
absolutamente nenhuma variação de luminosidade. Elas precisavam ser
totalmente uniformes: superfícies ininterruptas de pura luz branca. E isso
não era fácil de conseguir como pode parecer. Eles poderiam simplesmente
usar o recurso tosco de inundar as paredes com excesso de luz até que
ficassem superexpostas. Acontece que isso “estouraria” a cena e a tornaria
impossível de filmar. E quando as luzes das paredes foram rebaixadas para
níveis razoáveis, ficou muito difícil garantir que pontos quentes ou outras
variações tonais sutis não fossem captadas no filme.
Depois de discutir o problema com Kubrick, Unsworth trabalhou com
Masters para criar uma estrutura de difusão de luz simples, porém muito
eficaz. A sala de reunião era basicamente um teto, construído no fundo de
uma estrutura de madeira suspensa por cabos de aço nas vigas do teto do
Estúdio Cinco, com um piso acarpetado de parede a parede feito de uma
densa fibra de nylon. Quanto às paredes, apesar da aparente solidez — no
filme elas parecem blocos lisos de mármore — eram apenas grandes placas
de gel de poliéster translúcido esticadas entre o teto e o piso. Os cantos do
recinto ficavam escondidos por cortinas.
Contudo, só o gel não teria garantido uma iluminação uniforme, e
Masters construiu outra estrutura externa ao redor da sala de reunião, cujo
único propósito era dispersar a luz. Foram montados refletores gigantes,
todos equipados com um único bulbo de tungstênio de poder industrial do
tamanho de um melão, afixado em cima da estrutura do teto externo da sala
de reunião — uma falange retangular de artilharia leve estranhamente
apontada para longe do cenário, focada na estrutura ao redor. Composta de
placas reflexivas, funcionava como uma espécie de fosso de difusão.
Quando todo aquele poder de fogo ricocheteou no ambiente e atingiu o gel,
a luz estava totalmente chapada e eles deram o trabalho como concluído.
Um pequeno milagre na solução de um problema fotográfico, essa foi uma
maneira notável e eficiente de atingir o objetivo de Kubrick de conseguir
uma iluminação absolutamente invariável.
Até então, William Sylvester se mostrara totalmente preparado e
imperturbável. Suas falas no Ônibus Lunar foram enunciadas de forma
relaxada e com uma dicção perfeita. Mas ele deve ter se deixado
impressionar pelos problemas de Beatty de quatro dias antes. Agora os três
atores daquela cena, mais nove figurantes no papel de funcionários da Base
de Clavius, encontravam-se na impecável e opaca lavagem de luz que
banhava a sala de reunião de Masters, onde Sylvester faria o monólogo
mais longo do filme. Para dificultar as coisas, Kubrick estava tão satisfeito
com a precisão geométrica de sua grande tomada — que tinha enquadrado
como uma composição simétrica que se tornaria uma assinatura do diretor,
com o pódio do palestrante no centro e o resto da sala numa equalização
espelhada —, que queria captar a cena toda numa só tomada.
O monólogo de Sylvester era de aproximadamente 280 palavras,
divididas em dezenove sentenças ininterruptas, depois do que ele respondia
a uma pergunta de Sean Sullivan e prosseguia com outras cento e poucas
palavras, totalizando umas 380. Em princípio, todas essas falas numa
tomada de quatro minutos e meio não seriam um grande problema para um
ator experiente. Afinal, em 1959, em Stratford, Sylvester tinha interpretado
Orlando em Como queiram, um personagem com quase tanto a dizer no
momento em que a cortina se abria — e ainda por cima em inglês
shakespeariano. Mas agora ele não tinha outros personagens com quem
contracenar. Não era um diálogo, era um discurso. Ele estava sozinho.
A frase de abertura de Sylvester era: “Não deve ser difícil para vocês
perceberem o potencial extremamente grave de choque cultural e
perturbação social envolvidos nessa situação, se os fatos forem
prematuramente divulgados sem a devida preparação e condicionamento”.
Algumas palavras são difíceis, convenhamos, mas ele não conseguiu dizê-
las. Atrapalhou-se incontáveis vezes, com o número de tomadas
aumentando, uma após a outra, num total de 21, das quais somente cinco
foram consideradas boas para a revelação. As últimas nove se constituíram
numa humilhação ininterrupta e crescente de tropeços inúteis e vamos
tentar outra vez e filmando, até que Sylvester, já visivelmente tremendo e
banhado em suor, disse: “Eu não consigo mais fazer isso. Já chega”. Foi
então ajudado por uma das enfermeiras a descer do pódio e retirado do
recinto.
Para tornar as coisas ainda mais humilhantes, a cena foi assistida por
muito mais gente do que a cena no congestionado Ônibus Lunar: assistentes
de câmera, pessoal de suporte e equipes de som, de figurinos, de
maquiagem e de continuidade. Brian Johnson, o assistente de efeitos
visuais, recorda ter presenciado a cena. Contou que Sylvester “não
conseguiu, tentou o dia inteiro. Simplesmente perdeu a coragem.
Praticamente teve um colapso nervoso. Tremia. Tremia e teve de ser
retirado do set por causa do tremor”. Durante aquela provação, Kubrick se
manteve sentado em sua cadeira bem ao lado da gigantesca câmera
Panavision, perto da parede aberta da sala de reunião. Já tinha se irritado,
em silêncio, com os erros de Beatty alguns dias antes, mas agora se
mostrava inflexível. Ele queria sua grande tomada, era esse seu objetivo.
Embora Johnson tivesse grande respeito por Kubrick, de quem se lembra
com certo carinho, ele caracterizou o incidente como um exemplo “do
quanto Stanley podia ser cruel com seus atores”. Indagado sobre a atitude
do diretor, ele respondeu: “Ele não foi desagradável. Mas simplesmente não
quis deixar passar”.
***
***
***
Kubrick não era o tipo de diretor que pedia para ser chamado só quando
o cenário estivesse iluminado, e que depois se retirava para cuidar de
qualquer outra coisa ou dar telefonemas. Se não estivesse presente durante
o processo de iluminação, invariavelmente calibrava os resultados quando
retornava. A exemplo da cena da sala de reunião da Base de Clavius, a
maioria das cenas de 2001 se caracteriza por uma iluminação fria e
uniforme, quase sobrenatural. Isso não foi fácil de conseguir, e ele e John
Alcott elaboraram uma forma eficaz de determinar se as proporções da
iluminação funcionavam — na prática, a relação entre iluminação direta,
indireta e de outras luzes, ainda que, em vista da iluminação unidirecional
usada nesse caso, esses termos não fizessem tanto sentido. A solução que
encontraram não se baseou em fotômetros, mas em inúmeras fotos em preto
e branco tiradas com uma Polaroide.
No final do período de pré-produção, Alcott realizou vários testes para
calibrar a relação entre o ajuste do diafragma da Polaroide e o das lentes
Nikon. Quando isso foi definitivamente estabelecido, aquelas pequenas
fotos quadradas e instantâneas — que na época requeriam a retirada da
película do negativo à mão e o uso de um bastão molhado para a fixação —
se tornaram a referência mais importante no set sobre como as cenas
filmadas apareceriam na tela. Essa relação de senhor e escravo, entre uma
câmera barata e de produção em série e a caríssima Panavision de 70
milímetros foi extremamente eficaz, comparável ao uso de um alto-falante
barato de automóvel para ouvir uma mixagem feita num estúdio de
gravação.
Quando você olha por uma câmera de cinema, está vendo uma imagem
tridimensional, por isso tem uma sensação de profundidade. Mas quando
observava a foto de sua Polaroide, Kubrick via uma imagem diferente,
bidimensional — era só uma superfície, e o mais próximo do que seria
visto na tela. Muitas vezes, pouco antes de começarmos a filmar, ele
mudava o ajuste, porque não tinha gostado do que viu na Polaroide.
Por esse motivo, durante toda a produção, estima-se que o diretor tenha
tirado 10 mil fotos Polaroide enquanto a luz era ajustada e depois
reajustada, com as posições das câmeras alteradas. As fotos eram
espalhadas por toda parte, como uma espécie de confete de imagens
instantâneas empilhadas nos cantos e varridas pela limpeza da noite.
Somente aquelas consideradas de utilidade direta para continuidade ou
composição, ou para determinar os principais ajustes de exposição, eram
conservadas por Alcott, que as mantinha num álbum ao lado da câmera.
***
Com a centrífuga quase concluída, Marvin Minsky, um dos pioneiros em
inteligência artificial do MIT, fez uma visita a Borehamwood, onde Kubrick
o levou para mostrar o que estava fazendo. Uma questão com que o
contingente da Hawk Films teve de lidar durante a construção da centrífuga
era que os operários da MGM que instalavam as luzes, painéis e tabiques
esqueciam a natureza dos objetos com que trabalhavam e simplesmente
largavam suas ferramentas quando saíam para almoçar. Minsk estava
posicionado na base da centrífuga para apreciar melhor seu magnífico
movimento e Kubrick mandou girar o dispositivo. Com um gemido abafado
e um potente zumbido, trinta toneladas de aço se puseram em movimento.
No meio da rotação, uma pesada chave inglesa se soltou do alto com um
terrível som rascante e caiu de uma altura de doze metros — batendo com
um bam! assustador bem perto dos pés do cientista.
“Eu poderia ter morrido!”, recorda-se Minsky. “Kubrick ficou pálido,
trêmulo, e demitiu o operário do estúdio na hora.” A experiência de quase
morte do cientista imediatamente criou um interessante yin-yang entre fato
e ficção — mais uma vez, rodas dentro de rodas. Foi Minsky quem
recomendou as palavras que compunham o acrônimo HAL, e também quem
sugeriu a Kubrick que os computadores dali a 35 anos poderiam ser tão
avançados a ponto de sofrer disfunções nervosas diante de conflitos
aparentemente insolúveis. E Kubrick deu o nome de “Kaminsky” a um dos
astronautas hibernantes de 2001 em homenagem ao criador da primeira rede
neural autodidata, a SNARC.16 Um astronauta destinado a ser eliminado,
durante o curso de sua missão, por um supercomputador assassino.
***
[58] Reunião na centrífuga com, da esquerda para a direita: Stanley Kubrick, John Alcott, Kelvin
Pike, Keir Dullea, Gary Lockwood e Geoffrey Unsworth.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
Nós podíamos subir junto com a roda. Era um pouco assustador ficar a
dez metros de altura. Era como um parque de diversões. Havia um
mecanismo de argolas imensas para segurar a câmera. Era uma câmera
de 65 milímetros — e também uma câmera sonora, com um grande
microfone acoplado; à medida que subíamos, o movimento era
contrabalançado pelo movimento da roda. Era realmente um pouco
assustador. Nós usávamos cintos de segurança, e podíamos pular fora a
hora que precisássemos. Para descer, bastava pisar nas polias giratórias.
***
Com as trinta bobinas dos projetores presas em seus encaixes por pinças de
fixação contra a gravidade, e cada projetor abrigado em dispositivos de
isolamento de som de paredes grossas, as primeiras tomadas na grande roda
foram feitas em 16 de fevereiro — a chamada sequência da “corrida na
estrada”, em que Gary Lockwood corre socando o ar enquanto a roda gira
ao seu redor. Na montagem final, essas quatro tomadas do astronauta Frank
Poole se exercitando constituem uma demonstração extraordinária de
inovação na arte de filmar. A primeira tomada, mais longa, serviu para
catapultar a plateia a uma estranha e surpreendente região em que “em
cima” e “embaixo” deixavam de ter seus significados usuais.
Nessa primeira visão interna da gigantesca espaçonave Discovery rumo
a Júpiter, a proporção alongada e retangular da bitola de 65 milímetros foi
utilizada com todas as suas vantagens. Vemos Poole vindo em direção à
câmera em posição horizontal, com o rosto à esquerda e os pés à direita,
correndo pelo que parece ser um piso circular infinito. Quando ele passa
correndo, sua posição horizontal muda para a vertical, como se visto por
baixo — mas isso logo se transforma, e sua posição se inverte em relação
ao início da cena: agora Poole está se afastando, os tênis à esquerda, a
cabeça à direita. Durante todo esse tempo, sem nenhum corte ou alteração
na posição da câmera, nosso ponto de vista continua a mudar, sem
interrupções, do que parecia inicialmente uma tomada à meia altura da
parede para uma visão a partir do piso, e em seguida para um vertiginoso
olhar direto para baixo, a partir do teto — ou será que ele está correndo no
teto? A sequência toda lembra uma fita de Moebius e leva o espectador ao
maravilhamento: um tour de force desconcertante com Lockwood correndo
em círculos ao redor da plateia, algo inédito na realidade cinemática.
Ninguém jamais tinha visto nada parecido. Kubrick tinha inventado algo
novo.
Como somente Pike, Alcott e Lockwood podiam estar dentro do cenário
durante a filmagem — e às vezes, quando a câmera estava no carrinho, só
Lockwood —, uma pequena câmera de vídeo foi montada bem ao lado das
lentes da Panavision. Isso permitia a Kubrick acompanhar os
acontecimentos em um monitor de TV de circuito fechado em sua cadeira de
diretor do lado de fora — uma das primeiras vezes que essa assistência de
vídeo foi usada na produção de um filme. Sentado no suporte da centrífuga,
Kubrick se comunicava com Pike e Lockwood por meio de dois
microfones, um ligado no sistema interno da roda e o outro nos fones de
ouvido. O centro de controle da missão de Kubrick, um emaranhado com
gravadores, alto-falantes e fios, tinha um grande alambrado retangular ao
redor para proteger a equipe de uma perene chuva de cacos de vidro e
outros fragmentos. Qualquer um que saísse da zona de proteção tinha de
usar um capacete.
O volumoso monitor de TV de Kubrick tinha uma máscara de fita crepe
para definir os limites do fotograma retangular do filme. Era muito menos
avançado que as telas planas simuladas dentro da roda, mas funcionava.
Além dos microfones e do monitor, o diretor tinha um toca-discos na mesa
à sua frente, e para a sessão de exercícios de Poole, ele escolheu um LP de
valsas de Chopin. Foi a primeira vez que as múltiplas rotações do vinil
giratório — que evocava casais dançando e girando em ritmo triplo — e a
rotação lenta da maquinaria branca e cintilante no espaço foram
combinados dentro do contexto giratório, sem gravidade, rítmico e cinético
de 2001.
No primeiro dia de filmagem eles conseguiram sete tomadas, resultando
em vinte minutos de filme, com 22 giros da roda. Impressionante para uma
primeira tentativa, em especial por terem realizado os dois tipos de tomada:
aquelas em que Alcott e Pike percorriam a roda com a armação de
giroscópios na câmera, e aquelas em que Lockwood estava sozinho dentro
da centrífuga com uma câmera “fixa” num carrinho e o cenário girando ao
redor. Nesta última cena, depois de uma rajada de comandos vociferados
por Cracknell, o assistente de direção, Kubrick se comunicou com
Lockwood, que estendeu o braço e ligou a câmera antes de tudo começar a
girar. De fato, a conhecida litania de filmagem tinha mudado de “rodar
câmera, rodar som” para “rodar câmera, rodar cenário” — com um “Chopin
giratório” no meio. Um interessante conjunto de energias rotacionais
multivalentes.
Mas nem tudo transcorreu sem problemas. Em 21 de fevereiro eles
estavam filmando com uma ultragrande-angular quando a Panavision e a
câmera de vídeo se soltaram do carrinho e caíram no chão, quebrando o
sistema de vídeo e atrasando a filmagem em várias horas. A câmera de
vídeo Grundig era primitiva e fixada à Panavision com barbante e fita
crepe, por isso se deslocava facilmente de sua posição correta. O sistema de
comunicação entre o espaço profundo e o controle de solo não era sem fio e
exigia cabos, que passavam por argolas e se enrolavam no tambor da
centrífuga. O conjunto todo tinha de ser girado ao contrário para se
desmaranhar ao fim de longas tomadas. No instante em que a enjoada
câmera de vídeo saía de alinhamento — uma ocorrência comum —,
Kubrick, desesperado para saber o que acontecia lá dentro, disparava
perguntas rápidas a Pike: “Kelvin! O que está fazendo? O que está
acontecendo? Ela está se afastando de você! ”. A voz de Pike respondia, tão
distante quanto a de um astronauta na Lua: “Está tudo bem, Stanley, tudo
bem, tudo bem!”. Houston, não temos nenhum problema. Além disso, uma
Nikon F foi acoplada à Panaflex e Pike tirava fotos regularmente.
Depois da alguns dias de exercícios, Lockwood já tinha corrido muitos
quilômetros com tênis novos quando saiu da centrífuga mancando por causa
de bolhas nos pés. Quando foi até a cidade, começou a notar que, para
qualquer direção que se voltasse, as ruas de Londres pareciam se curvar
para cima, fazendo-o se inclinar ligeiramente para a frente para compensar.
A lógica circular do cenário tinha distorcido seu sentido de realidade
urbana. O calor das luzes e o acúmulo de dióxido de carbono dificultavam a
entrada no cenário. Do lado de fora, a roda girava com o gemido da energia
motora, acompanhado por um constante e desagradável tilintar de pregos
caindo e lâmpadas de tungstênio quebradas. “Era um local de trabalho
assustador”, lembra-se Trumbull. “Refletores de filmagem não gostam de
virar de cabeça pra baixo quando estão quentes. Havia vidro explodindo a
todo momento. Cada vez que a centrífuga dava uma volta nós ouvíamos um
pou! de lâmpadas estourando.”
Com os atores e em geral também a equipe de operadores de câmera
fechados lá dentro, havia o risco de incêndio. A saída pelo piso não era fácil
nem rápida. Uma equipe de bombeiros estava sempre em alerta por perto. O
risco de um súbito curto-circuito era real, por causa da forte corrente
elétrica que passava pelos cabos grossos, das lâmpadas que explodiam, dos
objetos que caíam, dos dutos sinuosos e entrelaçados do ar-condicionado,
da fiação dos projetores e dos materiais inflamáveis que compunham
muitos elementos interiores ao cenário.
Mas eles tiveram sorte.
***
***
O problema de como transmitir à plateia a essência do dilema interior de
HAL chegou a preocupar Kubrick e Clarke por muitos meses, e ainda não
havia sido resolvida nem mesmo quando o filme entrou em produção. No
final de janeiro, Kubrick desperdiçou quase uma semana filmando os
controladores de solo da agência espacial, inclusive o ator britânico-
canadense Neil McCallum olhando direto para a câmera e fornecendo
verborrágicas explicações sobre o defeito de que HAL “pode ser culpado”.
McCallum avisou Bowman e Poole que eles estavam conduzindo um
“estudo de viabilidade” de três dias para uma possível transferência do
controle da espaçonave de HAL para um computador na Terra. O material
deveria ser apresentado como um vídeo recebido por HAL e mostrado aos
astronautas na centrífuga, provavelmente aumentando a paranoia do
computador no processo.
O problema dessa abordagem era que os astronautas eram
essencialmente receptores passivos da tomada de decisão de outros. Além
do mais, eram palavras explícitas, não uma narrativa visual — um erro
elementar de dramaturgia. Nada disso pegou muito bem com Lockwood, e
em meados de fevereiro, quando os dois atores se preparavam para filmar a
sequência com o console de HAL na centrífuga, ele estava convencido de
que havia algo errado na cena. A cena era “um pouquinho redundante e,
sinceramente, um tanto quanto banal”, explicou. “Eu realmente não gostei,
e achei que não estava à altura do que tínhamos feito. E dois sujeitos
brilhantes como Kubrick e Clarke estavam tentando resolver um problema
de forma verbal. O filme que estávamos fazendo era do tipo não muito
verbal.”
De sua parte, Kubrick sentiu que Lockwood não estava entusiasmado.
“Você não está mostrando sua animação de sempre hoje”, comentou o
diretor. Apanhado no pulo, o ator se saiu com uma história bizarra: “Sabe
de uma coisa, Stanley, eu cresci numa cidade do interior, com um monte de
caipiras e gente rude, e sempre fui desobediente na escola”, falou. “Eu
sentava na última fileira, e tinha uma garota bunduda que passava pelo
corredor — calipígia, se preferir —, e era ela quem entregava as provas.17 E
sempre que ela se aproximava de mim eu erguia os olhos e dizia: ‘Oi,
Peggy, que tal uma bimbada?’. Aí eu levantava meu cotovelo direito e ia…”
— cutucou com o cotovelo seu colega de traje espacial, Dullea, que se
divertia, quieto, com toda a performance — “‘Ha, ha, ha.’ Bem, é isso que
eu acho dessa cena de merda.”
Kubrick absorveu a informação em silêncio. Não estava acostumado
com pessoas falando com ele desse jeito. “Derek”, disse o diretor. “Sim,
chefe”, respondeu Cracknell. “Vamos parar por hoje.” Eram onze horas da
manhã.
Lockwood se recolheu ao camarim, sem saber se tinha feito uma
bobagem. Apesar de se sentir mal por ter sido insolente com Kubrick, sua
convicção de que a cena não era adequada permaneceu inalterada. “Acho
que uma parte de mim queria proteger aquele grande filme”, explicou mais
tarde. Apesar de estar preocupado com as potenciais consequências, o ator
começou sua rotina de exercícios diários quando bateram na porta e
Cracknell enfiou a cabeça. “O chefe quer falar com você”, anunciou.
“Certo”, respondeu Lockwood. “Ei, Derek, antes de ir embora: eu fui
demitido?”
“Não sei, cara.”
Lockwood tomou uma ducha rápida, se enxugou, vestiu uma roupa e foi
para o covil particular de Kubrick, um vestiário no segundo andar perto dos
Palcos 6 e 7 que ele usava para reescrituras e ruminações solitárias. “Você é
polonês, não é?” perguntou o diretor, convidando-o a entrar.
“Sou polonês e alemão”, respondeu Lockwood.
“Você prefere schnaps ou vodca?”, perguntou Kubrick.
“Sinceramente, eu gosto de tequila”, disse Lockwood.
“Como você prefere?”
“Num cálice, como conhaque.”
Kubrick serviu uma dose de “uma tequila que não tinha nada de mais”,
como se recorda Lockwood, e foi até uma parede de discos, uma parede
inteira. “‘O que você quer ouvir? Chopin?’. ‘Sim, Chopin está ótimo.
Stanley, antes de falarmos sobre o que aconteceu, eu estou dispensado?’.”
Não, respondeu Kubrick. Lockwood era um bom membro da equipe, e
ele tinha aprendido a prestar atenção quando surgia um problema com uma
pessoa que trabalhava tão bem. Em seguida o diretor se referiu a uma
história em que John F. Kennedy, em visita à Nasa pela primeira vez, viu
um faxineiro trabalhando atrás dos engravatados reunidos. Ao passar pelos
engravatados e ir até o faxineiro, Kennedy perguntou o que o homem estava
fazendo. “Bem, senhor Presidente, estou ajudando a colocar um homem na
Lua”, respondeu o homem. Nunca se sabe quem vai dar uma boa resposta,
observou Kubrick. Em seguida, pediu que o ator explicasse qual era o
problema. Lockwood disse que a série de pequenas cenas que Kubrick e
Clarke tinham escrito para “apertar os parafusos do computador” não “ia
direto ao ponto”. Em sua opinião, eram muito dispersivas. Disse que apesar
de considerar Kubrick o melhor diretor do mundo, tinha de haver uma
maneira melhor de ativar a paranoia de HAL.
Kubrick ouviu com atenção, e quando terminaram seus drinques disse
que sabia que Lockwood gostava de comida de delicatéssen. Daria um
dinheiro a Eddie Frewin, e Eddie o levaria à melhor deli de Golders Green
— o pequeno centro kosher de Londres — para comprar salmão defumado,
peixe branco e pãezinhos. “Depois você vai para casa, e da próxima vez que
nos encontrarmos, quero saber como você resolveria o problema.”
Quando voltou para casa, Lockwood acabou com a comida e pegou um
caderno em espiral. Fez uma lista de tudo o que gostava e do que não
gostava no que tinham filmado, escrevendo sobre o que achava que Kubrick
e Clarke queriam realizar, como estavam tentando fazer aquilo e onde
haviam errado. Em algum momento, naquela mesma tarde, lembrou-se de
que na semana anterior tinha visitado um novo cenário sendo construído no
Palco 1, chamado Doca das Cápsulas. Com sua típica atenção aos detalhes,
Kubrick pedira para o ator ir até lá, vestir um traje espacial e verificar se era
difícil entrar e sair de uma das cintilantes cápsulas espaciais que a empresa
de aviação Hawker Siddeley estava enchendo de botões, telas e controles.
Ao fazer isso, Lockwood de fato constatou um pequeno problema, e
pediu que uma maçaneta fosse instalada diretamente na porta da cápsula. Se
Kubrick não tivesse pedido essa inspeção, o ator não teria sabido das
cápsulas espaciais, muito menos que poderiam abrigar duas pessoas. As
cenas na Doca das Cápsulas estavam previstas para os meses seguintes.
Por volta das nove da noite Lockwood teve uma ideia. Ligou para
Kubrick e disse que achava que os astronautas deveriam encontrar um
pretexto para entrar numa das cápsulas, para se isolarem completamente de
HAL e conversarem em particular. A conversa poderia incluir o
desligamento do computador — e HAL poderia dar um jeito de ouvi-los.
Dessa forma, falou, a plateia ficaria sabendo de tudo que precisava saber, e
HAL poderia se sentir ameaçado por uma complexa perseguição, muito
humana e muito compreensível.
Kubrick ficou entusiasmado ao ouvir aquilo e mandou um carro buscar
Lockwood. Era uma noite de fevereiro, com frio abaixo de zero, mas
quando o ator chegou a Abbots Mead, um fogo rugia na lareira do diretor.
Os dois ficaram em frente à lareira até as primeiras horas da manhã,
bebendo, discutindo e, finalmente, improvisando a cena juntos.
***
***
***
As cenas na centrífuga dominaram fevereiro e março. Como o Palco 4 era
um lugar frio, barulhento e cavernoso, Kubrick pediu um grande trailer para
ficar próximo das instalações. Logo depois da ideia de Lockwood na
cápsula espacial, ele passou a convidar seus atores para irem à sua bolha
aquecida e à prova de som entre as cenas, onde eles improvisavam o que
poderiam dizer um para o outro, sempre fora do alcance da audição de HAL.
Depois de coletar suas ideias, Kubrick mandava transcrevê-las e todas as
manhãs editava as transcrições, pouco a pouco resumindo os diálogos ao
essencial.
Mas ele ainda não tinha imaginado uma maneira plausível de HAL ouvir
os dois no ambiente hermeticamente fechado. Ainda faltavam seis semanas
até a mudança para o cenário da Doca das Cápsulas, mas o diretor não
queria protelar a solução. A proposta de Clarke — de HAL acessar
“geofones nas sondas do trem de pouso” — corria o risco de não ser
compreendida por razões de tecnofobia. Como explicar o que é um
“geofone”, e ainda por cima uma “sonda do trem de pouso”? O filme não
estava sendo feito somente para fanáticos por tecnologia.
Certa tarde, Victor Lyndon chegou ao trailer com alguns documentos. O
produtor associado de Kubrick parecia cada vez mais pálido e tenso nos
últimos dias. Grande parte de seu trabalho havia se transformado na ingrata
tarefa de preencher uma sucessão infindável de apólices de seguro, com a
qualidade dos filmes da Kodak e a revelação dos laboratórios Tecnicolor se
revezando como alvos de críticas aos olhos do diretor. Ao saber que eles
ainda não haviam imaginado como HAL poderia escutar os dois astronautas,
Lyndon olhou para Dullea e Lockwood como se fosse a coisa mais óbvia do
mundo. “HAL poderia simplesmente ler os lábios deles”, falou. Fez-se um
estrondoso momento de silêncio. “Meu Deus, essa é uma grande ideia!”,
exclamou Kubrick. Agora eles tinham a resposta.
No final de abril eles finalmente se mudaram para o cenário da Doca das
Cápsulas para duas semanas de filmagens. Talvez a mais pura expressão da
genialidade de design coletivo de 2001, a garagem da Discovery, com as
três cápsulas espaciais posicionadas entre as portas circulares do
compartimento de descompressão, estava entre as grandes realizações da
colaboração entre Masters, Lange e Ordway. Tudo no cenário era
totalmente utilitário — a união de forma e função da Bauhaus — e o efeito
como um todo era tão puro quanto a física: até mesmo as cores vívidas dos
trajes espaciais se justificavam como a maneira mais rápida de os
astronautas que caminhavam pelo espaço se identificarem uns aos outros.
No dia 6 de maio, Kubrick filmou o diálogo conspiratório de Bowman e
Poole na cápsula espacial em 35 tomadas. Com quase três minutos, acabaria
sendo o mais longo diálogo de 2001. Até hoje, Lockwood a considera sua
maior contribuição individual ao filme.
***
Outro aspecto da história que não estava adequadamente resolvido no
início da filmagem era a questão de como levar Bowman de volta à
Discovery após ter recuperado o corpo sem vida de Poole. Depois de seu
pedido de “Abra o compartimento das cápsulas, HAL”, e a famosa resposta
do computador — “Sinto muito, Dave, receio não poder fazer isso” —, o
único membro humano da tripulação da Discovery, que se esquecera do
capacete na pressa de recuperar Poole, tinha de encontrar outra maneira de
entrar.
Em mais um exemplo de sua busca para assegurar o máximo de precisão
técnica, Clarke e Ordway consultaram diversos pesquisadores da Força
Aérea para obter a confirmação de que um ser humano poderia aguentar
uma exposição ao vácuo do espaço sem proteção pelo curto período
necessário para percorrer a distância entre a cápsula espacial e a nave.
Enquanto verificavam se isso era realmente possível, a maneira como
Bowman reingressaria na nave não estava resolvida.
Harry Lange foi quem concebeu as cápsulas esféricas e antropomorfas
de 2001, mas seus engenhosos braços telescópicos se inspiraram
diretamente nos trabalhos publicados por Marvin Minsky — outro exemplo
da influência do cientista do MIT no filme. Mas ainda que os mesmos braços
que possibilitaram a HAL matar Poole por controle remoto pudessem ser
usados para abrir a porta pressurizada de emergência da Discovery sob
comando de Bowman, como ele sairia da cápsula e entraria na nave no
breve período em que sobrevivesse? Em 10 de fevereiro, Kubrick escreveu
a Clarke contando que tinha uma solução “totalmente convincente”:
Clarke respondeu que já tinha pensado nessa gambiarra e que “está tudo
certo. E também alude a símbolos freudianos, você deve saber”. A
explosiva reentrada de Bowman na Discovery se tornou um dos momentos
cinéticos mais memoráveis de 2001. Interrompe o ritmo imponente do filme
com uma explosão de fumaça que ejeta Dullea como um personagem de
quadrinhos de um quadro de Roy Lichtenstein: “Pow!”. Não havia como
usar um dublê. O ator precisava ser reconhecível, já que havia saído da nave
sem capacete — o erro que legitimava aquela cena.
O cenário da câmara de descompressão era acolchoado, um tubo que
lembrava um ventre inundado por uma luz avermelhada. Construído não
muito longe da centrífuga do Palco 4 e em posição vertical, tinha sete
metros de altura — quase três andares — com uma cápsula espacial
suspensa por correntes amarradas ao teto, com a parte traseira voltada para
o cenário. A cápsula era estável e acessível por uma plataforma inclinada. A
sequência requeria alguns efeitos teatrais da velha guarda. Numa manobra
temerária, Dullea precisava subir no alto da plataforma e ser amarrado a um
arame fino, preso às suas costas por um arreio de couro em volta da cintura
e escondido sob o traje espacial. Depois disso, um arame de mais ou menos
seis metros foi emendado numa corda grossa, com um nó numa posição que
limitava o alcance máximo da queda de Dullea — ou seja, o mais perto que
se podia chegar antes do choque com a câmera no fundo, para depois
ricochetear de volta até a entrada da câmera de descompressão.
Escondido da câmera pelo corpo de Dullea, o arame e a corda estavam
amarrados a outra pessoa — um especialista em voos teatrais do Eugene’s
Flying Ballet, uma companhia famosa por essa técnica. Um assistente de
cena parrudo foi posicionado do lado de fora da plataforma, pronto para
pular assim que o nó tocasse suas mãos enluvadas. Ele forneceria um
contrapeso, revertendo suavemente a queda de Dullea e fazendo-o voltar à
entrada. Se tudo funcionasse como planejado, Dullea flutuaria de forma
convincente em direção à alavanca “Fechar porta de emergência” — o
mecanismo que o salvaria.
Quando eles filmaram a cena, em 16 de junho, Unsworth fez o operador
de câmera Kelvin Pike rodar uma tomada estática de trinta segundos com as
portas da cápsula fechadas — material para Kubrick editar sem emendas
com o que se seguiria — antes de fazer um corte e abrir a porta da cápsula.
Com o coração disparado, Dullea foi posto em posição, segurando-se com
as duas mãos na porta aberta. Ao comando de Kubrick, ele se soltou,
estendeu os braços para a frente e Pike acionou a câmera de novo. Depois
da ordem de “ação”, uma equipe sobre a plataforma disparou uma nuvem
de fumaça pela entrada da câmera e o ator foi solto, desenrolando
rapidamente o arame para mergulhar de cabeça em direção à câmera. Uma
fração de segundo depois, o assistente de cena salvou Dullea de ser
empalado, mas toda a movimentação parece contínua e sem trancos graças
a um sistema de tambores de alumínio e componentes em forma de anéis
equipados com polias. Ao ser ricocheteado para o topo da câmera de
descompressão, Dullea puxou rapidamente a alavanca, fechando a porta e
sorrindo aliviado quando o oxigênio invadiu a câmara de descompressão.
[62] Dullea, pendurado por um fio, fecha a porta de emergência. A Polaroide é provavelmente de
Kubrick.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
***
***
***
Depois de três meses de produção, as pressões logísticas e financeiras
começaram a se avolumar e se tornaram tão urgentes que Clarke perdeu a
paciência com Wilson, que continuava em Londres. “Eu agora estou
lutando para terminar o filme”, escreveu de Colombo em 12 de março —
referindo-se não a 2001, mas à paródia de James Bond de Wilson. “Estou
cansado de toda essa situação, agora que sei o que aconteceu. Não confio
em mim mesmo para escrever a respeito.”
[64] Clarke e Mike Wilson no set do veículo lunar Aries, sob um cartaz que avisa: “Atenção!
Ausência de gravidade”.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
Como amigo íntimo e confidente de Clarke, Caras sabia de sua condição
financeira e de sua necessidade de imprimir o romance depois de dois anos
de trabalho. Atípico de sua parte, Clarke não havia escrito mais nada
importante além de 2001, apenas alguns artigos superficiais para revistas.
Caras tinha poucas ilusões a respeito da fonte dos problemas pecuniários do
amigo. “As relações dele, uma depois da outra, seus relacionamentos mais
importantes, todos se basearam estritamente em sua homossexualidade”,
explicou a Neil McAleer, biógrafo de Clarke, em 1989. “Isso lhe custou
milhões de dólares […]. Ele gastou milhões de dólares nesses
relacionamentos.” Clarke, continuou Caras, “era uma vítima de Mike
Wilson. Era muito grave”. Para piorar ainda mais a situação, o autor não
apenas sustentava Wilson, que era claramente bissexual, mas também sua
família — a esposa Liz, os filhos e até a mãe de Wilson na Inglaterra.
Além disso, a colaboração de Clarke com Kubrick havia muito passara
da fase de troca de ideias peripatéticas. Caras encontrava-se em boa posição
para avaliar o estado de espírito de Clarke durante toda a produção de 2001,
e o que via não era bom. “Acho que ele considerou tudo muito frustrante,
pois não tinha controle de nada. Stanley não tinha tempo para ele”,
explicou. “Clarke nunca deixara de ter controle sobre seus próprios
projetos.” Quando instado a explicar melhor, Caras prosseguiu: “Arthur
nunca se sentiu satisfeito […]. Tenho todos os motivos para acreditar nisso.
Conhecendo as expressões do rosto de Arthur, ouvindo o que ele dizia, dava
pra perceber que Stanley não estava sendo razoável. Percebia pelo pouco
que externava, e eu conheço Clarke, sei que raramente ele dá uma resposta
negativa […]. Arthur tem uma opinião positiva sobre qualquer coisa — é
um sujeito muito positivo. Tenho motivos para acreditar que ele se sentia
desesperado e descontente com a coisa toda”. A respeito da luta de Clarke
para concluir e vender o romance, Caras observou:
Apesar disso tudo, Clarke demonstrava uma grande lealdade a Kubrick, que
lhe enviava repetidos telegramas e cartas a respeito do enredo. Kubrick
lidava com as colossais pressões do dia a dia do cronograma da produção e
com as tensões resultantes do que mais parecia uma improvisação de jazz
em pontos críticos do enredo. Com isso, quase levou Clarke a um colapso
nervoso — algo que o escritor admitiu a Scott Meredith. Em resposta aos
telegramas e cartas, Clarke continuava a acertar e a melhorar a trama do
filme.
Como Lockwood havia intuído depois de ter dado sua ideia sobre a
cápsula espacial a Kubrick no mês anterior, as reações de Bowman e Poole
ao perceberem a disfunção de HAL tinham resultado, como Clark definiu em
carta de Colombo em 11 de março, “em madeira podre desnecessária e
material fóssil de versões anteriores. (Desculpe a metáfora misturada.)”.
Sua comunicação detalhada com o diretor naquele dia resultou numa
intervenção decisiva que reduziu e comprimiu ainda mais a história depois
da ideia de Lockwood. Clarke propôs nove ações para Kubrick filmar ou
utilizar material existente para ilustrar. Nesse momento-chave, no meio das
filmagens, as propostas de Clarke se tornaram um diagrama, que o diretor
seguiu em grande parte, apesar de cortá-las um pouco, incorporando
algumas coisas no diálogo do astronauta na cápsula, que ele ainda não havia
filmado.
Da mesma forma que o diálogo improvisado entre Lockwood e Dullea
fora metodicamente reduzido à sua essência, as sugestões de Clarke
explicitaram e esclareceram a história. Segundo suas sugestões, HAL prevê a
falha na unidade guia da antena da Discovery, tornando necessária uma
caminhada espacial de Bowman para retirá-la. Mas, ao ser testada na Doca
das Cápsulas, a unidade se mostra funcional, e o Controle da Missão
“insinua que o erro pode estar em HAL”.
Bowman e Poole discutem isso com HAL, que “mantém seu diagnóstico
e afirma estar certo. (Sua conversa ouvida na doca das cápsulas aqui?)”.
Kubrick de fato aproveitou isso. Poole sai, então, para sua fatal caminhada
no espaço. “A não ser que eu esteja sofrendo de cegueira de xadrez e não
consiga ver um movimento óbvio, isso parece ser um passo adiante”,
escreveu Clarke. “E também é mais lógico.”
A contribuição de Clarke em Colombo, em março de 1966 — um
período de grande tumulto pessoal e profissional — redefiniu as passagens
da metade de 2001, resultando no filme a que assistimos hoje. Serve como
um claro testemunho do papel fundamental que ele teve durante a produção.
***
Por mais cool que fosse sua atitude no set de filmagem — mais cool que
Steve McQueen —, Kubrick exibia os efeitos das colossais pressões que
sofria ao voltar para casa no final dos longos e sobrecarregados dias de
produção. Suas constantes alterações na história e no conceito estavam
cobrando um preço alto. Todas as atenções recaíam sobre ele no estúdio, e o
diretor não podia mostrar o menor sinal de fraqueza ou indecisão. Porém,
quando estava longe e a salvo, às vezes ele desmoronava. “Eu não sei o que
estou fazendo. Não faço ideia!”, exclamava com o rosto pálido de estresse.
Às vezes ele lutava “com a sensação de ser o animal mais burro
caminhando sobre a Terra”, relembra Christiane. Angustiado quanto à
maneira de abordar uma cena, ele perguntava: “Isso parece certo? Não.
Parece muito pomposo! Estúpido!”.
Ao discutir o projeto com a mulher, Kubrick comentou que estava
trabalhando em “um desses filmes em que a todo momento você pode
pensar: ‘Descobri a resposta’, quando na verdade sabe que não descobriu”.
Elencava pessoas que considerava ignorantes ou desprezíveis e dizia: “Eu
sou exatamente assim. Por que sou tão crítico? Por que acho que sou
melhor! Isso é realmente patético”. Exausto e no limite de suas forças, ele
se obcecava num ator, no trecho de algum diálogo, num deslize da produção
ou num problema técnico. “Isso não dá para fazer”, desabafava. “Como é
que eu achei que poderia fazer isso? Não faço ideia! Eu vou cortar essa
cena toda!” Diante disso, Christiane — uma atriz experiente que lia as
mudanças de roteiro, seguia de perto a evolução do filme e entendia que o
marido estava exausto mas que aquilo fazia parte do processo — às vezes
replicava: “Não, não vai cortar nada! Está muito boa”. Então Kubrick
reconsiderava, ou se apegava momentaneamente à decisão ou descartava o
pensamento — às vezes concluindo a coisa toda dizendo: “Vou ali comer
um hambúrguer”.
“Então, às cinco horas da manhã, de repente ele dizia: ‘Bem, talvez
funcione se eu o deixar entrar primeiro e dizer isso’”, recorda Christiane.
“Ele havia encontrado um jogo intelectual que valia a pena jogar. Acho que
era assim que ele deslindava essas coisas.”
Alguns dias, ao voltar para casa pensando que a coisa toda não fazia
nenhum sentido, depois ficar reescrevendo até o sol nascer e voltar ao
estúdio no dia seguinte para anunciar as mudanças, Kubrick lutava contra
uma profunda sensação de vergonha por ter errado tanto desde o começo, e
por ter mobilizado dezenas de pessoas e muito dinheiro para uma filmagem
ou um cenário que ele achava que iam para um lado, quando de fato (agora
ele percebia) tudo tinha ido na direção totalmente contrária.
Indagada se as coisas eram assim mesmo — se o grande Stanley
Kubrick de fato sentia vergonha de suas muitas revisões e modificações —,
Christiane confirmou.
“Ele se sentia envergonhado?”
“Muito.”
“Mas ele escondia isso muito bem no estúdio.”
“Ele tentava.”
“E conseguia. Eu nunca ouvi o menor…”
“Ele disfarçava. Dava a impressão de não ter dúvidas sobre si mesmo,
sim. Mas tinha. Tinha seus momentos ‘Eu sou um babaca’ o tempo todo.”
***
Visto de fora, o Compartimento do Cérebro de HAL montado no Palco 6
parecia uma estranha instalação de arte — uma estrutura retangular de
quatro andares, tão entrelaçada num emaranhado de canos e braçadeiras
interligados que era difícil discernir seu verdadeiro formato. O exterior de
suporte gradeado era rodeado por cerca de vinte refletores cinematográficos
de 10K espaçados de forma irregular, produzindo uma iluminação de 200
mil watts, tão brilhante que era quase impossível olhar para a grande
estrutura pelo lado de fora sem óculos de sol.
As temperaturas no interior passavam de 32 graus. O compartimento foi
construído com lâminas de metal escuro com centenas de fendas
retangulares espaçadas regularmente sobre um fundo de gel vermelho-
alaranjado. Com refletores projetando luz pelo lado de fora, o cérebro de
HAL brilhava por todos os lados — fazendo o operador de câmera Kelvin
Pike imaginar que estava dentro de uma torradeira. Assim como na cena da
Porta de Emergência, Dullea precisou ficar suspenso por um feixe de cabos
durante boa parte das tomadas, mas nesse caso não lhe foi exigido nada
particularmente acrobático. Ele simplesmente entrava flutuando por uma
escotilha e começava o trabalho, desconectando metodicamente as funções
lógicas superiores de HAL enquanto o computador implorava pela própria
vida.
“Quero que isso seja um assassinato”, disse Stanley a Christiane. Ela se
lembra claramente das origens e da etimologia da cena. “Foi ideia do
Arthur. Stanley só escreveu. Mas ele, Arthur, plantou o conceito de uma
inteligência como algo vivo”, relatou. “Uma inteligência é vida. Se você
fere uma inteligência, ela não consegue aguentar. Sabe que está sendo
ferida.” Ao relembrar a abordagem do marido, Christiane explicou: “Era
muito importante para ele que o computador sofresse enquanto eram
retirados aqueles pedaços e era removida a parte do cérebro. Por isso ele fez
a iluminação tão vermelha, para parecer carne”.
Quanto à canção de HAL, “Daisy Bell (Bicycle Built For Two)”, também
foi uma contribuição de Clarke, inclusive a desaceleração até se tornar
quase incompreensível no fim. A ideia se originou de uma visita que Clarke
fez aos Laboratórios Bell em 1962, onde ouviu os experimentos com
sintetizador de voz de John Kelly em um computador IBM 7094, que faziam
a máquina cantar a proposta de casamento de Harry Dacre, de 1892 — a
primeira música a ser cantada por um computador. Mesmo agonizante, HAL
estava se referindo a um momento importante da história da computação.
Assim como muitos outros cenários de 2001, o Compartimento do
Cérebro era um lugar perigoso. Na manhã de 15 de junho, um “faísca” —
eletricista — subiu no topo da estrutura e estava mexendo num dos enormes
refletores de 10K quando perdeu o equilíbrio e caiu de quase dez metros de
altura, fraturando a coluna. Uma ambulância o transportou rapidamente
para o Barnet Hospital, onde salvaram sua vida. Como naquele momento a
equipe estava trabalhando numa simples tomada a ser inserida depois — de
uma tela de TV acendendo com a mensagem gravada de Heywood Floyd,
supostamente acionada pelos espasmos finais de HAL —, Kubrick
enquadrara a tomada, deixando-a para Pike e Cracknell filmarem, e tinha
ido trabalhar em seu escritório. Um jovem assistente, Andrew Birkin, estava
com ele quando chegou a notícia de que alguém tinha se ferido gravemente.
“Puxa, que coisa terrível”, disse Kubrick, parecendo preocupado. “E isso
estragou a cena?”
Dullea sabia que o estresse pela perda do companheiro astronauta e o
duelo com HAL deixariam sequelas, que o comportamento aparentemente
imperturbável de seu personagem precisaria se deteriorar. Por isso,
preparou-se para a cena no Compartimento do Cérebro revivendo na
memória o intenso desempenho de Burgess Meredith como George na
versão original de 1937 de Ratos e homens, baseado no livro de John
Steinbeck. No final do filme, ao perceber que Lenny (Lon Chaney Jr.), seu
amigo mentalmente perturbado, está para ser morto por uma turba
vingativa, George resolve matá-lo pessoalmente — um tiro de misericórdia.
Mas antes, os dois rememoram uma história em comum: o sonho de terem
seu próprio rancho, com vacas, galinhas e coelhos. Em seguida, com uma
determinação inflexível e evidente tristeza, George atira em Lenny pelas
costas.
Se essa inspiração pode parecer um pouco excessiva e não transparecer
na atuação de Dullea, foi pelo fato de Kubrick ter reduzido em muito a cena
na montagem final. Da forma como chegou aos cinemas, o ator só tem duas
falas enquanto lobotomiza o único ser senciente em um raio de 300 milhões
de quilômetros. “Sim, eu gostaria de ouvir, HAL. Cante para mim.” Na
verdade, a cena foi filmada com muito mais diálogos. Embora o
computador tivesse de longe a maioria das falas — quatrocentas palavras
antes da primeira de Dullea —, o ator tinha oito falas seguidas, totalizando
mais de cinquenta palavras.
A cena do Compartimento do Cérebro foi rodada durante cinco longos
dias, entre 31 de maio e 29 de junho. No último dia, a difícil cena com o
cabo foi concluída, com Kubrick enquadrando um close médio, uma visão
lateral do rosto de Dullea atrás do capacete. A equipe armou um banco para
que o ator se sentasse, permitindo que se balançasse levemente para a frente
e para trás, simulando a falta de gravidade enquanto desalojava com uma
chave de fenda os blocos retangulares de plexiglas representando os
circuitos lógicos e de memória de HAL.
[65] Vista lateral de Dullea no Compartimento do Cérebro. Polaroide parcialmente danificada
provavelmente de Kubrick.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
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[66] Dullea chega no quarto de hotel em seu módulo espacial. Polaroide de teste de iluminação
provavelmente de Kubrick.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
14. O início da produção também foi muito mencionado como o dia 29 de dezembro, mas esse dia foi
usado para ensaios com as câmeras e a iluminação, sem nenhuma tomada. [ «« ]
15. O olho de HAL não era um adereço, mas na verdade uma lente Nikkor da Nikon iluminada por
trás. Consta que às vezes Kubrick pedia a lente, colocava-a numa câmera e a usava para filmar —
mas não para tomadas do ponto de vista de HAL, que eram feitas com outra lente, uma grande-angular
Farchild Curtis de 160º de curvatura. [ «« ]
16. Sigla de Stochastic Neural Analog Reinforcement Calculator [Calculadora Estocástica Neural-
Analógica de Reforço]. Mas você já sabia disso. [ «« ]
17. Calipígia: adjetivo. Que tem nádegas bem conformadas. (Diz-se especialmente de certas estátuas
de Vênus). [ «« ]
18. Essa fala aparentemente descartável foi depois usada pelo cineasta John Landis como título de
seu primeiro roteiro, jamais produzido, e subsequentemente utilizado como gague recorrente na
maioria de seus filmes. Depois foi introduzida por outros autores em inúmeros filmes, programas de
TV e videogames [ «« ]
19. Em inglês, “The quick brown fox jumped over the lazy dog”, frase que contém todas as letras do
alfabeto. [N. T.] [ «« ]
20. Vamos considerar este koan, por exemplo. Ikkyu, o mestre zen, era muito inteligente quando
garoto. Seu professor tinha uma preciosa xícara de chá, uma rara antiguidade. Por acaso Ikkyu
quebrou essa xícara e ficou extremamente perplexo. Ao ouvir os passos de seu professor, escondeu os
cacos da xícara nas costas. Quando o mestre entrou, Ikkyu perguntou: “Por que as pessoas têm que
morrer?”. “Isso é natural”, explicou o ancião. “Tudo tem que morrer e dispõe apenas de um tempo
para viver.” Ikkyu mostrou a xícara quebrada e falou: “Era o momento de sua xícara morrer”. [ «« ]
Capítulo 7
Na corda bamba
VERÃO – INVERNO DE 1966
***
***
Pouco depois dessa provação, que exigiu as restrições oculares que Kubrick
tornaria famosas em Laranja mecânica, chegou o dia de Hamshere ser
equipado com novos dentes, lentes de contato marrons, uma máscara
moldada em látex e um felpudo traje de pelo. Mais ou menos cinco horas de
uma operação invasiva e dolorosa que terminou bem depois do almoço — e
ele nem tinha almoçado. Nos estágios finais, Kubrick, que já tinha
almoçado, chegou para ver Freeborn, que também já tinha almoçado,
trabalhando nos retoques finais em Hamshere — ele fazia os dentes
parecerem mais proeminentes, escovava os pelos desgrenhados do corpo e
coisas do tipo.
“Realmente, está começando a ficar muito, muito bom”, disse Kubrick,
gostando do resultado. Posicionando-se atrás das atividades de Freeborn, o
diretor avaliou o australopiteco recém-construído. De repente lhe ocorreu:
“Keith, como você vai sobreviver a 49 graus?”.
“Não faço ideia, Stanley”, respondeu Hamshere, assustado. Ele não
tinha pensado nisso.
“Tenho uma ótima ideia”, disse Kubrick, depois de algumas
considerações.
“Que ideia, Stanley?”
“Vamos fazer Geordie montar um conjunto de 10K”, falou, referindo-se
a um eletricista e a uma iluminação cinematográfica de 10 mil watts.
“Vamos criar uma área e esperar até a temperatura chegar a mais ou menos
49 graus, aí você se movimenta com esse traje enquanto aguentar, certo?”
“Claro, Stanley”, concordou Hamshere. (“E assim foi feito”, recordou
35 anos mais tarde.) E ele ainda não tinha almoçado.
Durante uma hora e meia corri pra cima e pra baixo com aquela roupa
toda e então desabei. Talvez tenha sido menos tempo que isso. Toda a
borracha começou a se desfazer. No fim ele estava dizendo: “Bem, isso é
totalmente impraticável. Não tem como fazer isso. O período de tempo,
a maquiagem e depois fazer tudo isso em cena”. Mas acho que Stanley
não queria ir até lá, porque realmente detestava viajar.
***
Kubrick havia pedido a Clarke para não mostrar o romance a ninguém até
ele ter tempo de revisar o texto. Clarke concordou com relutância, ao menos
diante do diretor. Mas em vista das constantes protelações de Kubrick, o
autor não se sentiu particularmente comprometido, e Scott Meredith passou
a primavera tentando vender o livro para vários editores. No começo de
junho Meredith recebeu uma boa oferta, tanto para a edição de capa dura
como a edição em brochura, de Donald Fine, da Dell Publishing, um
pioneiro desses acordos “capa dura e brochura”. O telegrama de Fine a
Scott Meredith identificava o livro como de autoria de Clarke e Kubrick,
oferecendo 160 mil dólares de adiantamento e uma bela porcentagem nas
vendas. A mensagem de Meredith a Clarke enfatizava a natureza sem
precedentes do negócio, devido à escala do adiantamento e dos royalties. E
assinou o telegrama com “parabéns e uau”.
O valor era substancialmente mais alto do que Scott Meredith estimara,
que só chegaria a 250 mil dólares depois de incluídos vários direitos
subsidiários e direitos para edições em outros idiomas. A oferta da Dell
prometia expandir esse valor quando esses direitos fossem acrescentados.
Se o acordo se concretizasse, Clarke, encrencado financeiramente, receberia
quase 100 mil dólares com seu acordo 60%/40% com Kubrick — cerca de
720 mil dólares em dinheiro de hoje.
Porém, em vez de resolver as aflições fiscais de Clarke, a oferta
precipitou a pior crise entre os dois autores de 2001: Uma odisseia no
espaço. Muito controlador em relação à história que haviam criado juntos
—, por certo a principal razão de não querer que o romance fosse publicado
antes do lançamento do filme —, Kubrick se sentiu traído e irritado por
Clarke ter autorizado Scott Meredith a comercializar o livro. Meredith
respondeu a isso em 13 de junho, escrevendo a Clarke que “a pura verdade
é que havia a opção de mostrar o manuscrito a todos os possíveis
compradores agora ou desistir da publicação”. Enfatizou que as revisões
não seriam necessárias, que os editores “considerariam o livro uma obra-
prima do jeito como está”. Se Kubrick insistisse na revisão, no entanto, a
escolha era ter suas mudanças sugeridas até 15 de julho ou “abandonar as
esperanças no livro”.
A natureza da interação educada, porém furiosa, entre Kubrick e Clarke
naquele verão é apenas insinuada no livro Os mundos perdidos de 2001, de
Clarke, publicado em 1972, em que o autor afirma: “Durante uma de
minhas mais frenéticas argumentações, Kubrick comentou: ‘As coisas
nunca são tão ruins quanto parecem’, mas eu não estava disposto a
concordar”. Outros indícios podem ser encontrados em seu artigo abortado
para a revista Life, em que afirma que Kubrick era “absolutamente
inflexível quando se decidia por algum curso de ação. Lágrimas, ataques
histéricos, amuos, ameaças de processos legais não o desviam um
milímetro. Eu tentei de tudo”. Apesar de Clarke ter escrito dessa forma para
que fosse lido como uma hipérbole, as evidências indicam que sua
colocação pode ser interpretada de maneira absolutamente literal.
Por exemplo, Clarke conhecia muito bem a hipersensibilidade de
Kubrick a respeito de créditos autorais, como demonstrado em suas
afirmações bem públicas em 1964, nas quais minimizou o papel de Terry
Southern no roteiro de Dr. Fantástico. Naquelas circunstâncias, qualquer
implicação de que o romance seria publicado sem o nome de Kubrick na
capa era o equivalente a um tiro de canhão na cara do diretor — mas foi
exatamente o que Clarke fez em uma carta de 15 de junho. Comunicando a
oferta da Dell, ele escreveu que Scott Meredith tinha se desculpado por ter
mostrado o manuscrito (coisa que ele não fez) e concluiu: “Os editores
gostaram tanto do livro que tive a impressão de que manteriam os mesmos
termos se fosse publicado somente com o meu nome. Mas eu detestaria
fazer isso, mesmo se você concordasse — eu considero a sua parte do
conteúdo literário consideravelmente maior que a parcela de 40% a que
você tem direito”.
Em resposta, Kubrick — na ocasião envolvido na filmagem da cena do
Compartimento do Cérebro — finalmente arranjou tempo para uma extensa
série de sugestões de revisão, nove páginas ao todo. Datada de 18 de junho
de 1966, elas continham “algumas sugestões muito precisas e às vezes até
ásperas”, como observou Clarke. No romance, a versão do monólito na
Aurora do Homem era descrito como um “bloco de cristal”. Kubrick exigiu
que “já que o livro vai sair antes do filme, não vejo por que não devêssemos
pôr uma coisa no livro que fosse preferível se tivéssemos conseguido no
filme. Eu queria que o bloco negro fosse de cristal, mas foi impossível fazer
isso. Eu gostaria que o bloco negro estivesse no romance”. Ao ler a
descrição de Clarke do bloco fazendo Moonwatcher tremer como “um
fantoche controlado por fios invisíveis”, a reação de Kubrick ecoou em sua
carta de abril: “A descrição literal desses testes parece totalmente
equivocada para mim. Elimina toda a magia”.
Vários de seus comentários transmitiam o modo como ele pretendia
filmar a sequência da Aurora do Homem. Ao ler a descrição de Clarke
sobre a projeção de deslumbrantes imagens do bloco na mente dos homens-
macacos, e mostrando versões bem alimentadas de si mesmos —
claramente para serem usadas como um chamariz, como o resultado
benéfico de usarem armas —, Kubrick observou:
***
***
Uma das poucas coisas que interessavam Birkin na escola era cartografia.
Agora ele abria mapas da Escócia para fazer um reconhecimento preliminar
no papel, logo acrescentando a eles gráficos com informações sobre
topografia e elevações, que permitiriam avaliar a incidência da luz sobre as
diversas paisagens. Paralelamente, começou a testar helicópteros e a
procurar pilotos. Tinha vinte anos e acabara de ser nomeado produtor-
diretor da segunda unidade aeronáutica de produção cinematográfica por
um dos diretores mais badalados do mundo.
Acabaram optando pelo Alouette, pequeno helicóptero francês, bastante
manobrável e com muito vidro na parte dianteira, pilotado por um francês
destemido chamado Bernard Mayer. Jack Atcheler, o operador de câmera
que contrataram, havia trabalhado com John Ford e Otto Preminger, e
também feito câmera nos dois filmes dos Beatles, Os reis do ié-ié-ié e
Help!. Como ainda não existiam suportes giroscópicos, eles inventaram
uma maneira de prender a câmera em camadas de borracha anti-impacto
que forravam o piso da cabine. Dentro da bolha de vidro apertada só
haveria espaço para três pessoas, uma câmera e uma pilha de latas com
filme.
A produção deveria começar na segunda metade de novembro. Kubrick
queria ver um plano de filmagem e Birkin programou uma série de
sobrevoos baixos — da ilha de Skye, das escarpas das ilhas Hébridas
Exteriores, de Ben Nevis, a montanha mais alta do Reino Unido, e de Loch
Rog Beag, um longo fiorde de água salgada. Apresentou a Kubrick vinte
páginas de anotações detalhadas. Sua metodologia inicial para a escolha de
uma locação era simples: “Pensei em todos os lugares aonde queria ir”.
Outros pontos de interesse apareceriam no caminho, é claro. Um caminhão
de combustível seguiria o helicóptero, encontrando-o em pequenos campos
de pouso nas Highlands.
Nos primeiros dias, o clima estava instável, e Birkin, impaciente para
começar, havia insistido que voassem mesmo assim — “já que dei a ideia,
sentia que tinha de fazer acontecer”. De sua primeira base no noroeste,
passaram a fazer uma série de tomadas baixas sobre Galloway, com rajadas
de vento sacudindo o helicóptero o tempo todo. Consciente de que o amplo
campo panorâmico de seu filme de 65 mm exigia que Mayer chegasse às
altitudes mais baixas possíveis, Birkin experimentou voos rasantes em más
condições. “Se você já esteve em um helicóptero com um ventinho desses,
te digo, é como estar em um brinquedo dos deuses”, recordou. Após três
dias nessa situação, chegaram ao vilarejo de Tarbert, a principal
comunidade na ilha de Harris, nas Hébridas Exteriores, e Atcheler não
aguentava mais.
Naquela noite, ele convidou Birkin para tomar um drinque no bar do
hotel e perguntou quantos filhos ele tinha. Ao ouvir a resposta que esperava
— nenhum — Atcheler disse: “Bem, eu tenho três, e vou te dizer uma
coisa, nenhum filme vale uma vida”.
“Bernard não teria voado se não achasse que era seguro”, protestou
Birkin.
***
***
Embora a maioria dos cenários de 2001 tenha sido desmontada, talvez a
imagem mais extraordinária da produção fosse a que se via bem acima do
Palco 4 em alguns dias de julho e agosto, e no outono de 1966. Era ali que o
dublê Bill Weston andava sobre um cabo nas sequências de passeio espacial
fora da nave (ou atividades extra veiculares, EVA). Assim como nas cenas da
Câmara de Vácuo e do Compartimento do Cérebro — só que agora uns
bons nove metros acima do piso de concreto, sem qualquer margem para
erro —, o cabo era operado pelo Eugene’s Flying Ballet, sob a supervisão
de Eric Dunning, líder do grupo, que fora treinado pelo próprio Arthur
Kirby, o primeiro homem a demonstrar a técnica, em uma sensacional
montagem teatral londrina de Peter Pan, em 1904.
As audaciosas performances de Weston, realizadas sem rede de
segurança, incluíam algumas das cenas mais complexas, física e
tecnicamente, da produção de 2001: Uma odisseia no espaço. Precedendo
em décadas os efeitos digitais, elas constituem um momento extraordinário,
e muito pouco comentado, da história do cinema. Em sua convincente
simulação da gravidade zero, incorporavam e expandiam as técnicas
pioneiras usadas pelo diretor soviético Pavel Klushantsev em seu
docudrama Road to the Stars, de 1958, que Kubrick quase que certamente
estudou. Em seus próprios termos, foram totalmente bem-sucedidas. Com a
câmera sempre posicionada diretamente abaixo de si, Weston podia girar e
manobrar livremente em um eixo horizontal. Era a única maneira de
simular a ausência de peso em um ambiente de estúdio, sujeito à gravidade.
Mais tarde, as cenas receberiam inúmeros elogios, por seu realismo, de
astronautas que haviam realmente caminhado no espaço. (“Sinto que fui ao
espaço duas vezes”, disse o astronauta soviético Alexey Leonov, o primeiro
homem a andar no espaço, depois de ver o filme, em 1968. Preso só por um
fino cordão umbilical, Leonov flutuara livremente fora de sua cápsula
Voskhod 2, na órbita da Terra, apenas três anos antes da estreia de 2001, no
dia 18 de março de 1965.)
Dan Richter, que teve a sorte de testemunhar a cena, faz uma descrição
detalhada em seu livro Moonwatcher’s Diary, de 2002. “Atravessar aquela
porta em direção ao grande palco era como entrar em uma catedral”,
escreveu. “Ao redor, enormes cortinas de veludo preto. Bem no alto,
pendurado em fios de aço invisíveis, o dublê Bill Weston, com um traje
espacial, gira lentamente, como um anjo moderno no abismo negro […].
Por um momento, fico sem fôlego. É deslumbrante. Stanley está com a
enorme câmera de 65 mm, em um grupo com Bryan Loftus, Peter Hannan e
outros membros da equipe.”
Com um queixo quadrado e uma presença impressionante, lembrando o
jovem Clint Eastwood na aparência e na postura — e, ainda assim, com
“uma voz bem-educada e bela, meio de classe alta, mas sem o refinamento
esnobe”, nas palavras de Tony Frewin —, Weston tinha mais de 1,80 metro
de altura e fora criado na Índia, então colônia britânica. Com 25 anos, na
época, havia se tornado dublê depois de “trabalhar como soldado freelancer
na África”. Já havia feito alguns filmes antes de 2001, mas nada
remotamente tão ambicioso quanto. Antes de seus passeios pelo espaço no
Palco 4, ele tivera de vestir uma peruca grisalha e ser o dublê de Keir
Dullea na cena da Câmara de Vácuo, especificamente na tomada em ângulo
reverso por trás de Bowman quando ele é lançado contra a parede e volta
em direção à porta. Também passara horas pendurado em ângulos esquisitos
no teto superaquecido do Compartimento do Cérebro de HAL, para as
tomadas em que o rosto de Dullea não precisava aparecer atrás do capacete.
[73] Bill Weston é lançado da plataforma quase dez metros acima do chão do estúdio.
Àquela altura, Weston usava suas últimas forças para fazer repetidos
crucifixos com os braços. Então, desmaiou. “Eles trouxeram a torre para
dentro e eu fui procurar Stanley”, disse o ex-mercenário. “Eu ia enfiar a
MGM bem no meio do […].” Ele faz uma pausa. “Mas aí o Stanley tinha ido
embora do estúdio e mandaram Victor conversar comigo.” Kubrick não
retornou ao estúdio por “dois ou três dias”, Weston recordou. “Eu me
lembro com certeza de que foram dois ou três dias […]. Eu sei que ele não
apareceu no dia seguinte, e tenho certeza de que não foi no outro também.
Porque eu ia acabar com ele.”
Lyndon conseguiu que Weston ficasse com o “camarim de Elizabeth
Taylor, incluindo uma geladeira com cerveja e outras coisas”. Também
conseguiu “a melhor indenização possível, e Stanley pagaria por ela” — um
grande aumento. Quando Lyndon achou que Kubrick já podia voltar com
segurança ao estúdio, tudo tinha sido perdoado. Mesmo assim, décadas
mais tarde, Weston comentou: “Quando o Stanley estava envolvido, tudo
virava um império da destruição”.
***
***
De sua parte, Dan Richter recorda nitidamente de seu primeiro dia integral
no estúdio no começo de novembro de 1966, depois de um encontro
preparatório inicial com o maquiador Stuart Freeborn e Kubrick em
outubro. Ele havia recebido as chaves de um escritório bastante espaçoso
com uma placa na porta que dizia “Dan Richter, Aurora do Homem”. Ao
entrar, experimentou a sensação desorientadora de não ter uma cópia do
roteiro, nem instruções, nem qualquer plano de trabalho. Depois de passar
um tempo sentado, em meio a um silêncio equivalente à página em branco
do escritor, ele pegou o telefone e ligou para a esposa. “Eu estou sentado
em um escritório”, disse em tom de lamento. “E não sei que diabos está
acontecendo.”
Logo bateram à porta e Richter viu um homem de uns cinquenta anos,
que começava a ficar careca, entrar. “Aqui está, Moonwatcher. Você
provavelmente vai precisar disto”, disse Clarke, entregando-lhe o roteiro de
dezoito páginas de Aurora do Homem. Com sua desconfiança habitual,
Kubrick guardava o resto da história a sete chaves, pelo menos até o
momento.
Richter ficou encantado ao conhecer o autor, que havia lido com grande
prazer, mas lhe disse que não estava certo se faria o papel de Moonwatcher.
Seu acordo com Kubrick era de coreografar a sequência, mas não
necessariamente atuar nela. Os dois conversaram por uns 45 minutos,
durante os quais Clarke mencionou Raymond Dart, o antropólogo que tinha
descoberto os primeiros fósseis de australopitecos em 1924. Ao perceber
que sua caixa craniana era grande demais para um babuíno ou um
chimpanzé, disse Clarke, Dart deduziu que havia desenterrado os restos do
que talvez tenha sido a primeira espécie pré-humana a andar ereta e a usar
ferramentas. Quanto a Moonwatcher, ele era um representante
particularmente astuto da espécie.
Eles também discutiram o livro African Genesis, de Robert Ardrey, que
trouxera a público a obra de Dart, e fora fundamental na concepção da cena
por Clarke e Kubrick. Então Clarke se levantou, apertou a mão de Richter e
lhe desejou boa sorte. Partiria para o Ceilão no dia seguinte, e realmente
precisava ir embora.
21. Na verdade, ele estava pegando um empréstimo do banco de Kubrick em Beverly Hills, com
juros pagos meio a meio com o diretor e o empréstimo garantido também por Kubrick — o que
significa praticamente a mesma coisa. [ «« ]
22. Loftus tem uma lembrança diferente desses acontecimentos. Em sua narrativa, Birkin não se
envolveu, e Kubrick viu o efeito na sala de negativos e o incentivou a fazer os experimentos que
levaram à criação do processo de produção dos Purple Hearts. [ «« ]
Capítulo 8
A Aurora do Homem
INVERNO DE 1966 – OUTONO DE 1967
Nenhum indivíduo existe para sempre; por que deveríamos esperar que nossa espécie fosse imortal?
O homem, disse Nietzsche, é uma corda estendida entre o animal e o super-homem — uma corda
sobre o abismo. Esta será uma causa nobre a servir.
Arthur C. Clarke
***
***
[75] Esquema de projeção frontal da Aurora do Homem, com a câmera posicionada à direita e o
projetor suspenso verticalmente à esquerda, sobre um ângulo espelhado.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
***
Boulat, que não conseguia ver o que produzia, não precisava ter se
preocupado. Seu primeiro lote de Ektachromes revelados continha as
evocativas imagens de alvorecer e pôr do sol que Kubrick usaria, inclusive
no intertítulo. No entanto, à medida que se deslocavam entre as locações, a
agitação de Boulat crescia, agora devido aos sinais evidentes de que sua
assistente, que levara com ele não apenas por causa de suas habilidades
como fotógrafa, estava lançando seu foco não sobre ele, mas sobre Birkin.
Birkin, por sua vez, quando não estava dando em cima de Catherine durante
os longos dias, saía de Land Rover para procurar novas locações, ou
simplesmente se sentava à sombra com uma máquina de escrever e
datilografava um roteiro que estava escrevendo com base no romance
Judas, o obscuro, de Thomas Hardy.
À noite eles se reuniam na barraca de refeições, onde eram servidos
pelos seis nativos que levaram junto para fazer o serviço pesado, e que
dormiam todos na mesma barraca. Os homens de safári de Basie Maartens
subsistiam à base de uma papa feita de grãos — algo semelhante à ração
dada a animais — enquanto os brancos jantavam filés e bebiam vinhos sul-
africanos finos. “Todos nós conversamos e discutimos sobre o apartheid”,
Birkin escreveu ao pai. “Quando eu estava fazendo a lista de comida para o
safári, Maartens, nossa guia, disse: ‘Compra uns quatro ou cinco quilos de
pão de centeio para os pretos, vai durar uns dois meses’.” Após o jantar, o
grupo se reuniu em torno da fogueira do acampamento, enquanto nuvens de
borboletas multicoloridas e mariposas saíam do deserto e se lançavam nas
chamas — pelo que Birkin supôs, porque nunca tinham visto fogo antes.
Um par de barulhentos geradores a gás fazia funcionar uma geladeira cheia
de filmes e um toca-discos, que Birkin usava para ouvir Shostakovich e os
Stones sob as estrelas.
[76] Pierre Boulat e Catherine Gire.
***
Em Londres, Dan Richter tinha recrutado três colegas para ajudá-lo: Ray
Steiner, outro exilado do Teatro Americano de Mímica, Roy Simpson, um
bailarino minúsculo, e Adrian Haggard, um amador sem treino, mas com
uma “liberdade física incomum, que o fazia pular pelas paredes como um
homem-macaco”. Eles partiram da premissa de que seriam os atores
centrais no prelúdio. Enquanto Stuart Freeborn mantinha-se ocupado nos
bastidores, projetando novos métodos para construir fantasias leves e
flexíveis, os três trabalharam juntos, sob a supervisão de Richter, para
descobrir os comportamentos e movimentos capazes de transformá-los em
representantes verossímeis de uma espécie de pré-humanos há muito
extinta.
Richter tinha estabelecido rapidamente um vocabulário de gestos da
parte superior do corpo baseado em chimpanzés e, em parte, na maneira do
gorila Guy de se mover com o peito para a frente. “Eles têm um torso mais
longo em relação à parte inferior do corpo, de forma que, levantando os
ombros e endireitando as costas, você consegue traduzir esse movimento”,
observou Richter. Assim, ele, Ray, Roy e Adrian poderiam se transformar
rapidamente em “chimpanzés com um toque de gorila” — pelo menos da
cintura para cima. Da cintura para baixo, porém, a história era outra. “O
problema eram as pernas humanas, compridas. […] elas simplesmente não
funcionavam, pareciam erradas”, disse.
Richter se acostumara a levar sua Beaulieu para filmar os primatas no
jardim zoológico do Regent’s Park. Um dia, durante uma visita com seus
colaboradores, sentiu que sua observação atenta e próxima de Guy e dos
chimpanzés estava produzindo poucos resultados. Decidiu então fazer uma
visita aos gibões — uma espécie asiática de macaco caracterizada pelos
movimentos rápidos e ágeis que fazem quando pulam de galho em galho.
Dan observou que de tempos em tempos eles desciam ao chão e andavam
rapidamente pela terra, erguendo os braços para se equilibrar.
***
***
Eu coloquei sete ímãs escondidos nos dentes. Que outra pessoa no mundo
além de Stuart Freeborn poderia ter dito essa frase?
Ao longo de todo o processo de desenvolvimento dessas mágicas,
Kubrick aparecia de tempos em tempos para avaliar o trabalho e redobrar
suas exigências. “Eu o via observando tudo”, Freeborn lembrou em uma
conversa com Richter em 1999, “circulando por ali, [fazendo] ‘hummm,
hummm, hummm’. Ele nunca disse: ‘Ah, isso está ótimo’. Nunca, jamais.
Era só ‘hummm, hummm’. E ia embora. Mas eu sei o que ele estava
pensando: ‘Esse merdinha conseguiu fazer isso tudo, e se conseguiu, pode
fazer mais. Vou pensar em alguma outra coisa para ele fazer’. E droga! O
telefone tocava e era ele. ‘Stuart?’, ele dizia: ‘Acabei de ter uma ideia.
Estou incluindo uma cena em que os homens-macacos aparecem com a
mandíbula fechada. Quero vê-los rosnar com os dentes fechados’.” Ele riu.
“Sem qualquer motivo. Ele sabia que era quase impossível fazer aquilo,
porque todas as outras mecânicas dependiam da abertura da mandíbula; era
ela que fazia tudo funcionar. E agora ele quer ver os lábios abrindo sem que
a mandíbula mexa, para que eles possam rosnar. Ele disse: ‘Eu quero vê-los
rosnando’. Ele estava me pressionando, sabe? Eu sabia disso.”
O Império Britânico foi erguido sobre a ideia da obediência cega às
ordens superiores. Subcontinentes inteiros foram subjugados com base
nisso. Freeborn precisou de muito sangue-frio para redesenhar os lábios de
seu homem-macaco depois de tanto esforço, mas tratou de trabalhar no
problema. Projetou uma espécie de acionador de acrílico que era ativado
pela língua e funcionava como uma alavanca interna. Quando a língua o
pressionava, ele acionava o sistema interno de fios ligado aos lábios de
borracha de espuma, expondo os dentes com a mandíbula ainda cerrada e,
assim, produzindo um rosnado de aparência perigosa. Debaixo daquela
careta havia um acúmulo extraordinário de experiência obtida a duras
penas.
Por mais difícil que a demanda fosse, Freeborn nunca dizia não. “Ele
nunca gritou com Stanley, nem nada do tipo. Só sorria amarelo, tolerava e
sofria”, Richter recordou. “Ele ficava muito estressado, e era tão
perfeccionista quanto Stanley. Trabalhava dias e dias para chegar a algum
resultado, e Stanley dizia: ‘Não, não é por aí. Dá para mudar?.
Naturalmente, mudar significava ter de trabalhar dia e noite por mais alguns
dias. Aí ele levava a nova versão para o Stanley ver e o Stanley dizia:
‘Bom, isso está mais perto do que eu quero, mas ainda não é assim. Será
que você consegue fazer desse jeito?’. Acho que qualquer outra pessoa teria
dito: ‘Foda-se essa merda. Vou trabalhar em outro filme’.” Freeborn nunca
fez isso, nem nunca pensou em fazer. O tempo todo ele trabalhava períodos
tão longos que, exausto, caía no sono no carro quando sua esposa, Kathleen,
ia buscá-lo nas primeiras horas da madrugada, ou o levava de volta para
Borehamwood de manhã cedinho.
Ao ver o rosnado do homem-macaco, que Freeborn tinha conseguido
produzir contra todas as expectativas — e contra tudo o que indicavam as
versões anteriores —, será que Kubrick exibiu seus próprios dentes em um
sorriso? Na verdade, ele continuou insatisfeito. Queria ainda mais nuances.
Não queria uma simulação da vida, mas a própria vida. “Então, em um
surto de inventividade, Stuart separou o acionador em duas seções, cada
uma afetando uma metade diferente da boca”, recordou Richter.
***
***
***
***
Além do calor, um dos problemas que logo surgiram quando Richter e seu
grupo começaram a filmar naquele mês de agosto foi a quase asfixia. As
bocas altamente realistas de Freeborn e suas línguas prênseis mantinham os
atores praticamente vedados dentro das máscaras, como Bill Weston em seu
capacete espacial — ao mesmo tempo, seus movimentos exigiam grande
esforço físico. Em consequência, o acúmulo de CO₂ era imediato. “Você
começa a morrer”, Richter lembrou. “É como estar na zona da morte no
Everest. No instante em que você põe a máscara e as luzes acendem, você
começa a morrer. Você realmente só tem alguns segundos até parar de
funcionar.”
Equipes de enfermeiros ficavam de prontidão nas áreas periféricas para
o caso de os atores desmaiarem. Cada homem-macaco tinha que tomar
pastilhas de sal duas vezes por dia. Foram usados tanques de oxigênio para
injetar ar nos trajes e máscaras entre as tomadas, com resultados
insignificantes. As máscaras não deviam ser usadas por mais do que dois
minutos seguidos, e embora fossem facilmente removíveis, na prática era
impossível tirá-las de dois em dois minutos durante a filmagem. Pedaços de
mangueira rígida foram fragmentados e usados para manter as bocas abertas
entre as tomadas, permitindo a entrada de um pouco de ar. Por fim,
Freeborn projetou “um aparato de respiração especializado […] fazendo o
que chamo de schnoggle, uma tampinha especial em formato de concha que
encaixava nas narinas deles, mas era ligeiramente menor do que o nariz —
e tinha dois pequenos tubos que entravam nas narinas […]”. Isso permitia
que a expiração fosse eliminada, melhorando parcialmente o problema. Mas
a inovação veio meio tarde, e na maior parte da Aurora do Homem, o bando
de homens-macacos de Richter pulava para lá e para cá quase em agonia, à
medida que o CO₂ se acumulava e suas células vermelhas transportavam
cada vez mais gás carbônico — e cada vez menos oxigênio — até seus
músculos ficarem tensos.
O homem-macaco David Charkham lembra-se claramente de filmar a
cena em que a tribo de Moonwatcher acorda diante do surgimento
misterioso do monólito e corre para investigar. “Nós tínhamos que acordar,
correr e pular, e aí eu tinha que ir até a pedra e me acalmar, reduzir o ritmo.
Eu estava respirando com dificuldade e minha cabeça latejava. Tinha que
estender a mão e tocar a pedra, e sabe, foi muito difícil. Foi tão difícil não
desmoronar, simplesmente, naquele momento. E ainda iniciar movimentos
contidos e delicados.”
O toque de Charkham no monólito foi incorporado somente depois que
o diretor orientou Richter a fazê-lo. Como a Aurora do Homem foi filmada
inteiramente sem som — em MOS —, Kubrick e Richter conseguiam se
comunicar. A voz de Richter saía de trás da máscara, algo que ele conseguia
fazer sem mover a face de Moonwatcher. Kubrick não avisou Richter que,
nove meses antes, havia pedido a um William Sylvester em traje espacial
para estender a mão enluvada e tocar o monólito no cenário da Anomalia
Magnética de Tycho.
“Eu tinha que ficar de cócoras, e isso cansa muito”, Richter recordou. “E
tinha que controlar meu corpo para que as pernas não tremessem […]. Eu
estendi a mão e sabia que a câmera estava aqui, então não toquei a pedra de
fato; parecia que eu estava tocando, mas não toquei, porque minhas mãos
estavam muito sujas. Eu sabia que haveria muitas tomadas e não queria
começar a sujar a pedra.” Quando viu isso, Kubrick disse imediatamente:
“Não, não, eu preciso que você toque nele”. Ainda no personagem, a voz
abafada de Richter saiu de trás de sua máscara: “Mas vai sujar”. “Não tem
problema”, disse Kubrick, “eles limpam.” Mais tarde, ele mostrou a Richter
a gravação do monólito lunar com Sylvester e disse que queria tentar
igualar aquele gesto humano instintivo.
O animador Colin Cantwell, que tinha chegado após uma contratação
tardia vindo da Graphic Film, em Los Angeles, assistiu à filmagem da cena
do monólito. “Ele estava orientando Dan”, Cantwell recordou sobre
Kubrick. “Só olhando o cenário e de vez em quando falando algo em voz
alta, sabe, ‘Agora se afasta […] Isso!’. Era tão extraordinário e revelador.
Naturalmente, a interpretação de Dan era extraordinária, de altíssimo nível
[…]. E tudo sem falar uma única palavra. Dizer que dava arrepios é muito
pouco […].” Ele riu. “A intensidade daquilo é algo que faz a vida valer a
pena.”
***
***
Certo dia, no final de setembro, Dan Richter e sua esposa Jill foram
convidados para jantar na casa de Kubrick em Abbots Mead, e assistir a
uma projeção da nova comédia de horror de Roman Polanski, A dança dos
vampiros, aquele com a cena do banho de espuma, que Birkin bisbilhotara
das vigas do estúdio no ano anterior. Polanski estava lá, mas Tate, com
quem ele se casaria logo, ficara em Los Angeles. Richter observou que o
pequeno diretor polonês estava “um pouco nervoso” com o que Kubrick
pensaria de seu último trabalho. “Ele não precisa ficar nervoso, o filme é
ótimo”, Richter escreveu. “Todos rimos muito com as piadas
intermináveis.”
Mais tarde eles tomaram café, e Christiane colocou cubos de açúcar
multicoloridos sobre a mesa. Polanski e Richter começaram a tagarelar
sobre como o açúcar poderia ganhar aquela aparência se eles estivessem
viajando de ácido, e como os cubos de fato se pareciam com pequenos
cristais de LSD. Vendo que o anfitrião não fazia qualquer comentário,
Polanski perguntou a Kubrick se ele já havia usado drogas. Ele respondeu
que nunca tinha usado e nunca usaria — não porque tivesse algum
problema em ficar doido, mas porque, desconhecendo a fonte de seu
próprio talento criativo, tinha medo de perder o contato com ela e nunca
mais recuperá-lo. Polanski respondeu que, pelo contrário, as drogas na
verdade estimulavam o processo criativo, e encorajou Kubrick a
experimentar, qualquer hora. Richter observava o diretor discretamente. Em
ocasiões sociais anteriores, ele havia reparado que Kubrick parecia pouco à
vontade, como se tivesse desconfortável quando não estava no comando.
***
***
***
Apesar de sua própria experiência com a novela, ele pode não ter
percebido o quanto a tendência de Kubrick para o sigilo também contribuiu
para aquela situação. De qualquer forma, algum tempo depois do
lançamento do filme, Freeborn recebeu uma carta com o endereço do
diretor no remetente — um acontecimento bastante incomum. Ao abri-la,
ele leu: “Acredito que a frustração mútua que ambos sentimos pode ter me
impedido de expressar adequadamente minha admiração pelo que você
realizou em 2001. Acho que você fez coisas que nunca foram feitas antes, e
que talvez nunca sejam igualadas. Você tem minha gratidão e apreço.
Atenciosamente, Stanley Kubrick”.
Freeborn estava ocupado demais trabalhando em outros filmes para
assistir a 2001 quando o filme foi lançado, e só o viu anos depois.
Refletindo sobre como quaisquer aspirações ao Oscar tinham sido
“completamente dizimadas”, pensou consigo: “Tudo bem, ninguém vai
saber disso mesmo. Mas eu sei o que custou — e não existe um prêmio no
mundo por aquilo”.
Mas o prêmio chegou depois de ter feito outro filme, fomos para Nova
York e eu não tinha visto 2001 àquela altura, e estava passando em
Times Square. Eu pensei: “Quer saber? Vou entrar sozinho e assistir”.
Afinal, eu estava tentando não pensar mais naquilo […]. Então fui lá, e a
sequência da Aurora do Homem começou, e os macacos, e eu pensei:
“Ah, não está tão ruim”. Havia uma família americana atrás de mim, e a
mãe perguntou ao pai: “São macacos de verdade?”. Naturalmente, meus
ouvidos ficaram em pé, e o pai respondeu: “Humm. Sim, querida”.
“Como eles conseguiram fazer com que atuassem desse jeito?” “Ah,
querida, eles recebem um treinamento especial.” E aquilo, para mim, o
momento em que ouvi isso atrás de mim, aquilo valeu mais do que
qualquer outra coisa. Aquilo valeu muito para mim. Eu pensei, é isso aí!
Eu consegui. Sensacional. E isso foi um prêmio mais do que suficiente.
23. Kubrick estava se referindo aos importantes pesquisadores das origens humanas e do
comportamento de primatas, ativos em meados dos anos 1960, Desmond Morris, Edward Wilson, e a
pioneira primatóloga britânica Jane Goodall, cujo trabalho foi documentado em filme para a National
Geographic pelo fotógrafo holandês de vida selvagem Van Lawick. [ «« ]
24. Supermodelos da década de 1960, Jean Shrimpton e Leslie Lawson. [ «« ]
25. Uma das antas tinha morrido ao cair da beirada de um palco alto depois de um estouro causado
por pânico, e Kubrick, percebendo uma oportunidade, tinha pedido que o animal fosse congelado
para ser preservado para a cena. [ «« ]
Capítulo 9
Fim de jogo
OUTONO DE 1966 – INVERNO DE 1967-1968
O ser humano, em uma era profundamente técnica, deve alcançar mais disciplina e controle sobre si
mesmo, e assim se tornar mais parecido com uma máquina. Inversamente, a máquina, para se
comunicar com o ser humano e ampliar seus horizontes, precisa se tornar mais humana. E é assim
que a coisa vai.
Stanley Kubrick
[84] Rara fotografia remanescente da Discovery, de dezessete metros. A câmera à esquerda dá uma
ideia da escala.
© & ™ Turner Entertainment Co. (s17)
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No verão de 1966, Roger Caras mudou-se de volta para Nova York para
ressuscitar o escritório da Polaris Productions. Pretendia trabalhar com a
MGM nas estratégias publicitárias de 2001. Enquanto isso, Clarke retornou
ao Ceilão para “lamber suas feridas” depois do fiasco com a Dell Delacorte.
A mudança de Caras resultou, inevitavelmente, em diversas despesas,
conforme ele negociava aluguéis, contratava uma secretária, fechava
negócios com agências de publicidade e começava a levar gente influente
para almoçar. Isso, por sua vez, foi motivo de reclamações contínuas e
discretas por parte de Kubrick, cujo olhar, quando não estava no visor de
uma câmera, tendia a se fixar no resultado final. Entre outras coisas, o
diretor questionou a necessidade de fazer reuniões durante as refeições, e
sugeriu que marcasse com as pessoas entre as refeições, se possível. Em
uma carta escrita em meados de agosto, também observou que muitas
dessas reuniões envolviam pessoas com quem Caras e a Polaris Productions
já haviam estabelecido “relações sólidas e de interesse mútuo”. Portanto,
escreveu, “não acho que seja o caso de suborno, por mais sutil ”. No
entanto, uma pista da confiança que Kubrick depositava em seu tenente foi
que acabou deixando uma porta aberta: “Se, em sua opinião, isso realmente
couber, então com certeza você tem liberdade para usar seu critério e levá-
los aonde quiser”.
Para que não entendesse mal aquela supervisão, Kubrick elogiou os
resultados de Caras e disse que estava preocupado, antes de tudo, com a
forma como a MGM, que era quem pagava as contas, veria aquilo. Mas após
outros quatro meses de despesas, o diretor sentiu que precisava enviar nova
mensagem a seu vice-presidente. Escrita à mão em papel de carta
personalizado e com a palavra “Confidencial” anotada na parte de cima em
letras maiúsculas, ela continha um breve resumo da filosofia de Stanley
Kubrick sobre o negócio.
“Você precisa aprender a ficar sempre chocado com os valores que as
pessoas pedem”, escreveu. “Quando dão o preço, você tem que empalidecer
e dizer, incrédulo, ‘tudo isso?’. A taxa de 250 dólares que você concordou
em pagar pelos esboços publicitários, e que estou tentando reverter, é
absurdamente alta.” E prosseguiu:
Ele concluiu com “sei que você anseia pelos meus ensinamentos e mantém
um caderno de anotações intitulado As Sagradas Palavras de SK, então não
me sinto mal por passá-los para você. Portanto, a campanha por maior
eficiência em custos começa agora — certo? Ok? Ok. Gaste como se o
dinheiro fosse seu. Parcimoniosamente, Stanley”.
Depois de seu retorno a Colombo, a saúde de Clarke piorara muito, e em
meados de dezembro ele teve uma disenteria violenta, que engatou em uma
dengue, deixando-o de cama com febre e muito debilitado. Ficaria nesse
estado o resto do mês. Mais tarde descreveu a doença para Kubrick como
“uma gripe elevada à décima potência”. Antes disso, contudo, ele havia
produzido os três primeiros de uma série de artigos promocionais de revista
destinados a despertar atenção para a existência de 2001. Eles seriam pagos
pela MGM e publicados pouco antes do lançamento do filme. Esses artigos
promocionais, que não seriam assinados, eram um modo que Kubrick
encontrou tanto de canalizar dinheiro na direção de Clarke quanto de
mantê-lo sob controle.
No começo de 1967, o acordo de Scott Meredith com a Dell ainda não
estava morto, e podia ressuscitar a qualquer momento, já que o editor havia
indicado que continuava interessado, ainda que com uma proposta de
adiantamento cada vez menor. Em um esforço para manter as coisas nesse
pé, Kubrick dizia, de tempos em tempos, que estava trabalhando nas
revisões do manuscrito sempre que possível. Além de conseguir
pagamentos para os artigos de Clarke, ele também cuidou para que as
garantias de empréstimo do autor fossem aumentadas sempre que ele
pedisse; e já havia tentado acalmar seu colaborador ao lhe ceder, de sua
porcentagem do adiantamento, um valor que cobrisse a diferença entre o
que Clarke teria recebido originalmente e o que receberia quando o diretor
finalmente aprovasse a publicação do romance.
No começo de janeiro, Kubrick sentou-se para responder as diversas
cartas de Clarke acumuladas durante as semanas anteriores. Depois de
elogiar os rascunhos dos artigos e perguntar sobre a saúde de seu
colaborador, disse que andava assoberbado com questões e problemas de
produção, e fez um relato de seu progresso: “Estamos conseguindo tomadas
magníficas, mas é tudo como um jogo de xadrez de 106 movimentos com
dois adiamentos”. Também compartilhou — em caráter confidencial — que
a data de estreia provavelmente passaria para outubro “na melhor das
hipóteses”, escrevendo: “os atrasos que causaram o adiamento também
drenaram muito do meu tempo, o que também atrasou meu trabalho com o
romance”.
Sei que você está muito preocupado com isso, mas é uma daquelas
situações em que não há escolha. Tenho certeza de que tudo vai dar certo
no final. Estou sem opções agora. Não quero que o romance seja
publicado de um jeito que me pareça inacabado. Continuo trabalhando
nele, um pouco a cada noite, embora algumas noites da semana eu
chegue em casa tão exausto que mal consigo pensar direito.
***
Durante toda a produção de 2001, a tendência de Kubrick para o sigilo e sua
relutância em compartilhar trechos do filme — ou mesmo fotos de
filmagem — com o departamento de publicidade e promoções da MGM
elevaram muito a pressão sanguínea dos executivos do estúdio. Caras,
inevitavelmente, sofreu as consequências das críticas vindas do quartel-
general do estúdio na Sexta Avenida.
No início de dezembro de 1965, as filmagens nem haviam começado, e
Mort Segal, assistente de Dan Terrell, principal executivo de publicidade e
propaganda da MGM, já estava dando bronca em Caras por que Kubrick não
lhe enviava os materiais usados para despertar o interesse da imprensa pelos
futuros lançamentos. Entre eles estaria o próprio roteiro — cuja distribuição
o diretor proibiu terminantemente, mantendo-o restrito a um pequeno
círculo de pessoas, mesmo na fase em que o revisava diariamente. Por volta
de fevereiro de 1966, com a filmagem já bastante adiantada, o próprio
Terrell interveio, declarando que o estúdio estava “muito desgostoso” com a
“relutância de Stanley” — nesse caso, sua recusa em permitir que os stills
do filme saíssem de Borehamwood.
Os motivos de Kubrick eram claros. Ele não sabia quanto tempo ainda
levaria para finalizar o filme, e não queria que outros diretores e produtores
roubassem o projeto de seus cenários e espaçonaves e lançassem filmes ou
séries de TV baseados neles antes da estreia de 2001. Também não estava
totalmente certo sobre como seria o enredo final, e não queria dar pistas da
trama antes de ela estar completamente resolvida. Em geral, sua atitude
instintiva era simplesmente manter os projetos em segredo até que fossem
lançados — algo que Clarke já havia descoberto.
Mas a MGM estava injetando uma porcentagem considerável do total de
seu orçamento de produção no projeto, e ainda que a tendência de Robert
O’Brien, o presidente do estúdio, fosse ceder aos impulsos dos diretores nos
quais acreditava, o estúdio não estava acostumado a trabalhar assim. No dia
10 de outubro, a situação chegou ao ponto de ebulição quando Terrell ouviu
dizer, de fonte duvidosa, que um sócio do agente de Keir Dullea tinha visto
mais de uma hora de filmagens de 2001 — material supostamente vetado
aos próprios executivos de alto escalão do estúdio — e achara o que viu
apenas “Ok”. Ao convocar uma reunião com Caras, Terrell exigiu mais
informações, e disse que seria simpático se a mesma cortesia fosse
estendida a O’Brien.
Diante disso, Caras “se fez de bobo” — como relatou em um críptico
telex de 37 palavras em que resumia a acusação de Terrell, começando com:
“Confidencial algumas pessoas muito irritadas na MGM”. Isso causou uma
resposta alarmada e imediata de Kubrick. Claramente exasperado, ele citou
um maldoso colunista de fofocas de Hollywood cuja especialidade era
descrever maquinações do mundo do cinema:
Caras rapidamente enviou uma segunda mensagem, mais longa. “Eu disse a
ele que não sabia de nada e que duvidava muito que tivesse acontecido”,
escreveu, perguntando se Kubrick queria que ele fizesse telefonemas para
investigar a história a fundo. O diretor respondeu: “Por favor, me mande
por escrito hoje os detalhes completos e tudo o que aconteceu em sua
reunião com Terrell”.
Escolha seus adjetivos com cuidado […]. Não gosto da ideia das queixas
deles ganharem corpo. Por favor, detalhe exatamente como foram suas
respostas […]. Acho que teremos que pensar em como lidar com esse
tipo de jogo, mas primeiro quero um relato completo. Por favor, seja
totalmente factual. Se você tiver sido pego desprevenido pela hostilidade
deles, e se tiver dado a impressão de ser culpado, por favor me diga, se
isso for verdade. Tente escrever uma peça da reunião.
Naquela noite Kubrick ligou para O’Brien — que ele sempre chamava de
“Bob, o garotão”, embora nunca na sua cara — para explicar que Terrell
tinha recebido uma informação errada, e o episódio se encerrou sem
maiores consequências. No entanto, o incidente expôs claramente uma
tensão subjacente, que voltaria a estourar no rosto de Cara em menos de um
mês. Convidado a passar no escritório de Terrell no dia 3 de novembro, ele
descobriu, ao chegar, que Clark Ramsey, chefe da divisão do estúdio em
Los Angeles, participaria da reunião. Na ocasião, a sequência da Aurora do
Homem ainda estava por ser filmada e a data de entrega de 2001 tinha sido
empurrada para a segunda metade de 1967, embora Kubrick soubesse que,
muito provavelmente, ficaria para mais adiante. Após um preâmbulo
relacionado à inconstância da data de lançamento — discussão que Caras
evitou, dizendo que era melhor que a data fosse decidida entre Kubrick e
O’Brien — Terrell voltou-se para seu casus belli.
[86] Presidente e CEO da MGM.
Entendo que ele queira ser o gerente de divulgação de seu próprio filme,
mas não vejo como conseguiria achar tempo para fazer isso enquanto
está em produção, e se ele esperar até o fim do filme para assumir seus
deveres, será tarde demais. Sinto uma absoluta frustração por não poder
tomar decisões sobre stills, matérias e displays. Meu departamento é tão
bom quanto qualquer outro na indústria, se não o melhor, e estão nos
negando as ferramentas de que precisamos para trabalhar […]. Eu acho
impossível acreditar que não haja nenhuma foto que possamos usar. Esse
é mais um exemplo de que está sendo negada à MGM a oportunidade de
proteger seus 7 milhões de dólares.
Uma última coisa: eles não foram desagradáveis comigo e não tenho
qualquer reclamação sobre a maneira como fui tratado. Eu não quero
que pareça que eles tenham sido agressivos ou desagradáveis. Não
foram nenhuma dessas coisas, mas foram firmes e não deixaram margem
para dúvidas.
Apesar da ressalva final, no dia 17 de novembro Kubrick enviou uma
resposta estrondosa diretamente para Terrell. “Suas observações são tão
imprecisas e hostis, e tão surpreendentes, que eu mal sei como reagir”,
escreveu. “Tenho muita dificuldade de imaginar por que você estaria
impaciente a ponto de adotar a tradicional postura de colocar o
departamento de publicidade contra o produtor. Com certeza nada do que eu
disse ou fiz poderia justificar tamanha hostilidade.”
Em seguida, passava a responder às reclamações do executivo uma a
uma. A seriedade com que via as acusações de Terrell pode ser medida pelo
fato de sua resposta se estender, assim como a carta de Caras, por sete
páginas datilografadas em espaço simples — algo extremamente raro para o
diretor, que costumava transmitir suas opiniões em uma página, ou menos.
Apenas cinco semanas antes do lançamento de 2001, em abril de 1968, a
revista Variety publicou uma reportagem sobre o início tardio da campanha
publicitária do filme, sugerindo que isso poderia afetar suas perspectivas de
sucesso. Os anúncios, observaram, não continham nenhuma fotografia,
apenas ilustrações. Depois de apresentar as explicações da MGM sobre
porque isso seria uma boa estratégia, o artigo aventava uma teoria, logo
abaixo de um parágrafo em que citava Dan Terrell: “Há também rumores
amplamente divulgados, mas negados pela Metro, sobre a possibilidade de
os stills não terem sido utilizados (e a própria campanha ter atrasado além
do normal para um filme desse porte) porque era preciso aprovar tudo com
o diretor Stanley Kubrick, que estava ocupado dando os toque finais no
filme”.
Embora a matéria não mencionasse a fonte dos boatos, o texto lembrava
muito os comentários que Terrell fizera um ano antes.
***
Durante o extenuante fim de jogo de 2001, que se estendeu por dois anos, a
importância de Doug Trumbull no filme cresceu de forma inexorável. Ele
chegou sabendo usar um aerógrafo, mas com pouco conhecimento de
fotografia. Sairia de lá como um dos poucos profissionais de efeitos visuais
ópticos verdadeiramente inovadores do mundo. Além de ser uma atividade
colaborativa, fazer filmes envolve solucionar muitos problemas. Assim
como Masters, Trumbull tinha talento para as soluções: criava uma atrás da
outra, em rápida sucessão. Era intuitivo, preciso; quando seus resultados
não eram bons, eram excelentes, e quando não eram excelentes, eram
extraordinários.
Assim como havia feito com a maioria de seus principais criativos,
Kubrick empregou com Trumbull uma técnica de extração de ideias
originais semelhante à que usou com Stuart Freeborn. Quando via algo de
que gostava, ele guardava o elogio para si e redobrava a exigência. E
embora Trumbull às vezes resmungasse, sempre voltava com alguma coisa
melhor. Em resposta às restrições inigualáveis de 2001 — e à maneira
autocentrada, mas fundamentalmente benigna, com que Kubrick
administrava recursos e tempo — o lema de Trumbull parecia ser “faça
certo, depois faça melhor, e daí faça tudo de novo”. Em muitos aspectos, ele
se tornou o especialista em efeitos de Kubrick.
No começo de 1967, a sequência do Portal Estelar consistia nas
estranhas e interessantes imagens feitas com água e óleo que Kubrick
filmara em Manhattan, em 1965, e nas paisagens Purple Hearts
fluorescentes que Birkin e Loftus haviam produzido com o helicóptero e as
matrizes de separação de cores. Mas o espaço entre a chegada de Dave
Bowman a Júpiter e sua entrada na misteriosa suíte de hotel sem portas de
Tony Masters se parecia com o tempo estendido entre os refrões nas
improvisações do jazz: a intenção era evocar seja lá quais fossem as
perplexidades de espaço-tempo abstratas, nada figurativas, que pudessem
estar à espreita “Além do infinito”. Cada um dos instrumentistas de imagem
de 2001 podia entrar e se revezar na criação do que, para todos os efeitos,
eram linhas melódicas solo, com ideias construídas sobre ideias como
acordes aumentados, estendidos e claves múltiplas se desdobrando em
rápida sucessão — sempre no campo visual, é claro. Como Coltrane
inclinando-se em direção ao microfone depois de Miles ter tocado,
Trumbull pensou que aquela era a sua vez.
Quando ainda estava na Graphic Film, ele tomara conhecimento de uma
técnica de efeitos visuais pioneira, inventada pelo animador John Whitney,
de Los Angeles, que combinava movimentos de câmera de controle
automatizado com camadas de quadros giratórios de imagens. O processo
de Whitney criava curtas de animação complexos e variados. Mais
conhecido pela sequência de créditos que criou para Um corpo que cai, de
Hitchcock, em colaboração com Saul Bass, designer gráfico de Hollywood,
Whitney fizera experiências deixando o obturador da câmera aberto
enquanto os quadros se movimentavam suavemente sob a lente, às vezes
em combinação com luzes estroboscópicas — uma técnica que produzia
efeitos cinéticos, abstratos, às vezes pontilhistas, geralmente sobre uma
superfície plana. Seu sistema ligava a câmera às artes-finais
mecanicamente, por meio do controle do tempo de exposição. Ele chamou
sua invenção de Slit Scan. Interessante como artefato histórico, o trabalho
de Whitney não envelhecera muito bem.
Embora Kubrick estivesse satisfeito com seu material de Manhattan e
também com os filmes Purple Hearts, ainda não sentia que a incipiente
sequência do Portal Estelar estava variada o suficiente. Então convocou
uma reunião e desafiou sua equipe de efeitos a criar outras maneiras de
ilustrar a viagem alucinante de Dave Bowman. Em resposta, várias técnicas
foram tentadas, incluindo o uso de espelhos giratórios e outros truques
destinados a criar algo interessante; na opinião de Trumbull, contudo, “era
tudo horrível”. O diretor também ressuscitou em Borehamwood sua técnica
de produzir efeitos especiais com óleo de banana e tinta; segundo Con
Pederson, porém, faltava às novas imagens, misteriosamente, a qualidade
mágica do material rodado em 1965, e quase nada foi aproveitado.
Então, um dia, Trumbull teve uma “espécie de epifania”. Ele se lembrara
“de John Whitney e do negócio da fotografia raiada”. Se fosse ampliada
com movimentos de aproximação da câmera e controle de foco, Trumbull
percebeu, a técnica de Whitney poderia ser adaptada para produzir uma
sensação de movimento cinético através do espaço. Usando o suporte da
Polaroide em seu stand de animação, ele fez um teste grosseiro e
improvisado da ideia, cortando uma fatia de 25 centímetros de papel-cartão
preto e colocando um fragmento de arte final atrás dele. Com o obturador
da Polaroide aberto, ele moveu lentamente a câmera para a frente, na
direção do corte, ao mesmo tempo que mantinha a imagem em foco nítido.
O resultado foi um plano abstrato metamorfoseado “em um ângulo
estranho. E era um corredor de luz”, ele disse. “Um lado de um corredor da
luz.” A imagem confirmou sua intuição de que se ele repetisse o movimento
com ligeiros deslocamentos da câmera, poderia espelhar o efeito em outras
partes do quadro e usá-lo para criar formas quase arquiteturais. A etapa
seguinte seria fazer a coisa toda se mover. Se conseguisse aquilo — e
fizesse as imagens espelhadas fluir em sentidos opostos a partir do centro
do quadro —, o efeito final poderia ser de corredores incandescentes de
dois lados que pareceriam estar vindo bem na direção do espectador. Se
fosse feito da forma certa, poderia produzir o efeito de montanha-russa
cósmica que eles buscavam.
Trumbull limpou o teste com fixador e disparou pelo corredor, e Kubrick
examinou-o ainda secando, enquanto ele explicava sua ideia. “Acho que
podemos fazer o Portal Estelar desse jeito”, concluiu. “Ok, entendi. Do que
você precisa?”, perguntou Kubrick. Ele geralmente tinha dificuldade de
antever algo, a menos que visse uma fotografia — exatamente o que Doug
havia levado. “Ele entendeu completamente que poderiam ser padrões,
cores, luzes, qualquer coisa”, lembrou-se Trumbull. “E que daria para
dobrar em dois lados […] ele percebeu instantaneamente. Eu disse: ‘Bem,
preciso que Wally me construa um trilho e preciso de algumas placas de
vidro gigantes para fazer isso funcionar’. E ele disse: ‘Tudo que você
precisar. Qualquer coisa que precisar. Pode fazer. Está aprovado’.”
O primeiro sucesso de Trumbull permitiu-lhe construir um edifício — de
fato, uma cidade — sobre as fundações assentadas por Whitney. Ele
projetou novas metodologias que permitiam uma sensação fílmica sem
precedentes, a de saltar para a frente através de um espaço aparentemente
real e tridimensional, ainda que inteiramente sintético e abstrato. Com a
ajuda de Veevers, ele montou uma câmera em um trilho e controlou seu
movimento com um parafuso de “rosca sem fim” — basicamente um
parafuso de quase cinco metros sem porca — preso a um motor Selsyn. Isso
tudo era acoplado mecanicamente a outro controlador, que regulava a lente
da câmera e mantinha o foco constante à medida que ela se movia por um
eixo vertical na direção da imagem da fotografia cada exposição.
Para dar uma explicação simples de como o método funciona, acho que
todo mundo já viu, alguma vez, uma fotografia de longa exposição das
ruas de uma cidade à noite, na qual não se enxerga nada além das faixas
vermelhas e brancas de luz criadas pelo movimento dos carros enquanto
o obturador estava aberto. Você não vê os carros em nenhum lugar; em
vez deles, vê uma exposição acumulada de carros. Se, enquanto essa
mesma fotografia estivesse sendo feita, todos os carros ficassem
acendendo e apagando os faróis rapidamente, em vez de deixá-los
acesos, você veria na foto uma série de pontos e traços. Se você
expandisse isso e pegasse não somente um ponto de luz, mas uma barra
de luz — um tubo fluorescente, por exemplo — e o movesse em direção
à câmera enquanto o obturador estivesse aberto, você criaria um plano
de exposição em vez de uma linha. Então, modulando essa luz —
ligando-a ou desligando-a, ou mudando os padrões na frente dela —
você criaria uma exposição acumulada que poderia ter conteúdos
razoavelmente complexos.
***
Até hoje Trumbull se admira do que ele e seus colegas conseguiram fazer
em Borehamwood, do final de 1966 até o começo de 1968. “Todo dia de
trabalho no filme eu sentia que estava trabalhando em um evento muito
extraordinário, incomum, que estava contribuindo e que era, de alguma
maneira, algo realmente importante”, disse. “Era como ir à igreja todo dia.”
Ele notou que, com sua técnica, a trajetória de Bowman pelo espaço-tempo
tornou-se, em si, o resultado de um grande avanço no entendimento da
relação entre os dois elementos no contexto do filme.
Uma observação que fez sobre a maneira gradual de Kubrick pensar
reverberaria em seu próprio trabalho por cinco décadas. Conforme ele e
Loftus apresentavam material para o diretor, a sequência da viagem de
Bowman foi mudando gradualmente do equivalente cinematográfico de
uma terceira pessoa para uma primeira pessoa. A estratégia original tinha
sido mostrar o módulo de Bowman durante sua viagem através do Portal
Estelar, com ângulos reversos revelando as reações do astronauta ao longo
do caminho. “E isso fazia parte da transformação evolutiva da direção de
Kubrick”, observou Trumbull. “Uma tomada reversa ou por cima do ombro
não estava de acordo com a ideia de permitir ao público tornar-se aquela
personagem […]. Isso era terceira pessoa. Ele queria em primeira.”
No fim, Kubrick manteve as reações de Bowman por meio de um
punhado de fotogramas congelados do astronauta reagindo com surpresa e
horror diante das visões brilhantes do lado de fora de sua janela, e eliminou
por completo as tomadas do módulo. No entanto, o rosto de Bowman
aparece na tela tão rapidamente que é quase subliminal, e não interfere na
sensação de primeira pessoa do público, de estar participando da viagem.
Também vemos tomadas em macro de seu olho piscante, a córnea e a pupila
transmutadas em tons de verde, laranja e amarelo pelo efeito Purple Hearts,
o que o torna tão abstrato quanto suas visões ostensivas. Essa evolução da
ênfase no processo de direção, diz Trumbull, transformou o Portal Estelar
em “dezessete minutos ininterruptos de material experimental”.
É difícil superestimar a importância do Portal Estelar na trajetória de
2001. Após duas horas de realismo fotográfico perfeitamente realizado, a
sequência lança o filme em um novo domínio de experiência audiovisual
puramente subjetiva, boa parte dela inteiramente abstrata e não figurativa.
Mesmo hoje a sequência não parece datada. Apesar de toda sua força, as
imagens contemporâneas geradas por computador não suplantaram ou
superaram de fato as abstrações obtidas com a técnica de Trumbull, as
imagens cosmológicas do Projeto Manhattan de Kubrick, e as paisagens
planetárias Purple Hearts de Loftus. Mesmo revista à luz plena das
descobertas em efeitos visuais das últimas cinco décadas, a sequência do
Portal Estelar é tão espetacular hoje quanto era em 1968, quando 2001 foi
lançado. E isso não é pouca coisa.
No ano de 2001, ponderando sobre o caráter algo lisérgico da viagem
cósmica de Bowman, Arthur C. Clarke — um abstêmio convicto que se
contentou a vida inteira em apreciar as projeções da própria imaginação —
disse que desconfiava que alguns de seus criadores poderiam ter se
entregado ao uso de determinadas substâncias destinadas à expansão da
mente enquanto trabalhavam no projeto. Ao ser questionado sobre isso,
Trumbull foi categórico:
***
À medida que aumentava a pressão para Kubrick entregar seu filme, que
estava ostensivamente atrasado e com o orçamento estourado, sua
fascinação por métodos de aperfeiçoamento de eficiência crescia e se
aprofundava. Da mesma forma que pedira a seu pessoal de efeitos especiais
que fosse além do que já se conhecia, e descobrisse algo desconhecido,
agora ele questionava seu próprio processo para otimizar o fluxo de
trabalho em 2001. Anos mais tarde, Trumbull ainda acharia isso
“fascinante, porque Stanley era, eu acho, um gênio. Ele vivia frustrado com
a inépcia dos reles mortais. E passava todos os finais de semana lutando
para tentar melhorar as coisas, descobrir um jeito melhor de organizá-las,
sistemas melhores, comunicação melhor, sei lá o quê”.
As folgas de fim de semana, fiscalizadas pelo sindicato da indústria
cinematográfica da Inglaterra, eram parte de seu problema — embora
possam ter evitado que ele, e possivelmente outros, se matassem por
excesso de trabalho. Em todo o caso, depois de passar vários fins de semana
aflito, o diretor voltava, na segunda-feira, com um Novo Plano. Um deles
foi anunciado durante um período de pico de pressão em 1967, quando
Kubrick fazia malabarismos para acomodar as demandas dos esforços
multicâmera, multimodais e multimidiáticos dos efeitos visuais, e as
exigências da sequência Aurora do Homem, período criativo de uma
fertilidade como jamais ocorrera na história do cinema. Em pé na sala de
projeção, na frente da sua junta interna de criadores de imagem e homens-
macacos iniciantes, Kubrick queixou-se de que as pessoas continuavam
chegando a ele com explicações longas e ineficazes que poderiam ser
resumidas em poucas palavras. Adotando um sotaque britânico erudito, ele
se lançou no solilóquio estéril de um cenógrafo: “Stanley, você recorda
quando estávamos no cenário da ponte, e tínhamos aquela coluna que era
meio, tipo, de uma espécie de roxo, e você disse algo do gênero:
‘Realmente deveria ser outro tom?’”.
Então, passou para um nova-iorquês exagerado: “Quer tinta azul?”. E de
volta ao sotaque britânico fino: “Bem, sim, Stanley, é o que estou tentando
dizer. Quero tinta azul”. Kubrick volta para sua voz normal: “Muito bem, eu
não quero ouvir o resto dessa baboseira. Só quero ouvir a parte da tinta
azul. E todo mundo nesta produção vai começar a falar do mesmo jeito, e
vamos usar inglês simplificado. Não fale comigo a menos que possa dizer o
que quer dizer em três ou quatro palavras. Não é” — volta para o sotaque
britânico — “‘Stanley, seria possível fazermos uma requisição de pregos
amanhã porque creio que vamos precisar deles para…’. Eu não quero ouvir
essa merda! Você precisa de pregos? Só quero ouvir isso.”
E daquele dia em diante — pelo menos por uma semana, mais ou menos
— toda a equipe do filme se encaixou na diretriz. Se ele precisasse de mais
troços para fazer um treco se transformar no bagulho que queria, Trumbull
passava na sala de Kubrick e dizia: “Preciso de mais daquele negócio”. E
todo mundo fazia a mesma coisa. Quando questionado se faziam isso sem
rir, Trumbull respondeu: “Sim, a sério. Absolutamente sério. Tudo bem. A
gente adorava o Stanley. Então não era um grande problema. A gente
entendia o problema dele. Ele estava frustrado, e a gente faria de tudo para
satisfazê-lo”. O esforço logo arrefeceu, é claro. “Ele queria otimizar a
comunicação humana e se livrar de erros, ambiguidades, mal-entendidos e
enganos”, observou Trumbull. “As pessoas não conseguem fazer isso.”
Outro plano de eficiência nasceu da aquisição, por Kubrick, de uma
tecnologia então nova e badalada, o gravador de microcassete, que ele
começou a usar para ditar suas notas a qualquer momento do trabalho. “Ele
ficava murmurando ordens, mudanças, ou ideias naquela coisa
constantemente”, recordou Trumbull. “Estava apaixonado pelo gravador.”
Quando Trumbull ia até ele, por exemplo, e anunciava: “Preciso de troços
novos”, em perfeito dialeto simplificado, instantaneamente o fiel gravador
Phillips Norelco de Kubrick surgia em cena, e o diretor repetia: “Novos
troços para Doug”. Mais tarde, sua secretária transcreveria o dialeto dos
colaboradores, produzindo uma lista de pedidos de compras. O resultado: o
retrato da ordem e da produtividade.
A partir de então, Kubrick insistiu para que a equipe fizesse o mesmo —
e, como estímulo, forneceu gravadores para todos. Não havia secretárias
para fazer as transcrições, porém, e todo mundo tinha de fazer as suas
próprias no fim do dia. Por várias semanas, isso se transformou de medida
de eficiência ostensiva em adiamento indolente das transcrições — não sem
algumas cenas hilárias na sala de projeção, diante dos olhos de águia do
diretor perfeccionista. “Um dia, na hora dos copiões, sabíamos que haveria
aquele sermão de rejeição”, recordou Trumbull. “Então, três de nós nos
reunimos e gravamos declarações para tocar durante a sessão. A primeira
era ‘Eu não gosto’. A outra: ‘Também não gosto’. O terceiro cara diria: ‘É,
acho que temos que refilmar tudo imediatamente, não acham?’.” Ele riu.
“Sabíamos que ele não levaria a mal. Nós o adorávamos, sabíamos que
estávamos fazendo um bom trabalho e que não éramos um fracasso. Então
nem ficamos constrangidos. Disso tudo surgiu um tipo de camaradagem.”
Ainda assim, à medida que a tensão aumentava e a insistência de
Kubrick na perfeição absoluta cobrava seu preço, algumas pessoas da
equipe de efeitos começaram a esperar a sessão de copiões com temor. Era
considerada falta especialmente grave quando qualquer pessoa, à exceção
do próprio Kubrick, apontava uma falha, fazendo um colega voltar ao
começo do jogo. De qualquer maneira, o diretor sempre pegava tudo, e um
dia Trumbull e Jim Dixon, o operador de câmara de animações, se
encheram. “Por um lado, tínhamos orgulho da qualidade do trabalho, das
poucas coisas que passavam pelo crivo de Kubrick”, disse Trumbull. “Por
outro, havia a tensão, a agonia, o trabalho duro e infindável de refazer as
coisas mil vezes.”
Cansados dos “redont’s”, eles compraram em uma loja de artigos
esportivos uma pistola de largada, carregada com um tiro de festim
extremamente barulhento, do tipo usado em estádios. Quando o projetor
começou a funcionar na manhã seguinte, e os resultados de seus esforços
foram submetidos mais uma vez ao olhar extremamente crítico do diretor,
eles esperaram pelo inevitável. Quando Kubrick ordenou que uma das
sequências de efeitos de Trumbull fosse refeita mais uma vez, Dixon
levantou-se de sua poltrona com um ar ameaçador. “Quem foi que fodeu a
tomada dessa vez?”, gritou, irritado. Trumbull se levantou também. “Você
está me prejudicando”, disse friamente. Ao que Dixon sacou a arma, mirou
contra o peito de Trumbull e disparou. Um som ensurdecedor ecoou no
ambiente fechado.
Trumbull desabou sobre o assoalho do teatro da sala às escuras. Todos se
levantaram de um pulo, horrorizados. Trumbull apertou o peito. Se agitou,
gemendo. Estremeceu, gemendo ainda mais. Por fim, ergueu o corpo e
sentou-se.
Kubrick começou a rir.
***
***
***
Então ele fez uma sessão [de gravação], mas eu teria cuidado com o que
falar a esse respeito […] foi bem difícil. Foi uma época difícil para
Frank, seus nervos estavam à flor da pele, e Stanley causava isso nas
pessoas. Quer dizer, sabe quantas pessoas tiveram esgotamento nervoso
durante o filme? Você já descobriu isso? Um monte de gente. Stanley
costumava aterrorizar as pessoas sem fazer absolutamente nada.
***
[89] Charleen Pederson, à esquerda, e Christiane Kubrick com suas esculturas de alienígenas.
Simetria e abstração
AGOSTO DE 1967 – MARÇO DE 1968
Certas ideias temáticas são melhores de sentir do que de explicar. Prefiro que o filme entre no
subconsciente em vez de ser classificado pela mente consciente com exposições verbais específicas.
Stanley Kubrick para o jornal The Toronto Telegram
***
Uma das transições que ainda não estavam resolvidas quando Cantwell
chegou era o movimento de Bowman do espaço “real” da órbita de Júpiter
para a hiper-realidade do Portal Estelar. Os storyboards mais antigos tinham
concebido um corte físico, real, em uma das luas de Júpiter como a entrada.
Outra ideia era que Bowman encontrasse um monólito gigante orbitando o
planeta, e se aproximasse em sua cápsula. Depois de ver seu próprio
reflexo, ele estenderia um dos braços da cápsula para tocá-lo — fazendo
eco, assim, às ações de William Sylvester e de Dan Richter — e descobriria
que ele era a entrada do Portal Estelar. Nenhuma abordagem tinha se
mostrado facilmente realizável, porém, e nem sequer parecido adequada nos
desenhos.
Outro problema era como mostrar a circunstância que fizera o monólito
enviar seu sinal para Júpiter, antes de mais nada, colocando em curso,
assim, toda a segunda metade da história. Kubrick já tinha levantado essa
questão com Trumbull na primeira discussão importante que tiveram, no
cenário da Anomalia Magnética de Tycho, em Shepperton, dois anos antes.
No roteiro, o monólito era um dispositivo movido a energia solar, e ele
deveria ser ativado quando exposto à luz solar pela primeira vez em 4
milhões de anos. Mas como mostrar isso? Julgou-se que a sequência era
difícil demais para ser realizada em Shepperton, e ela foi deixada para a
pós-produção.
No final de 1967, Stanley e Christiane faziam sessões de cinema
regularmente em sua casa em noites de fins de semana para o círculo de
amigos mais próximos do diretor, e Cantwell começou a ficar por lá depois
do filme para comer alguma coisa. Durante uma série de discussões
informais entre Kubrick e Cantwell naquele outono, a conversa voltou-se
para o uso da simetria em Ingmar Bergman, especialmente em seu filme A
fonte da donzela, de 1960, que havia impressionado Cantwell pessoalmente
porque, embora a maioria das tomadas fosse assimétrica e extremamente
composta, algumas cenas essenciais apresentavam um equilíbrio quase
perfeito. Isso animou Kubrick — já um entusiasta de Bergman — a projetar
o filme novamente, e os dois retomaram o assunto. De acordo com
Cantwell, eles concordavam que as simetrias de Bergman serviam como
marcadores simbólicos. “Nós conversamos, e sugeri que tínhamos uma
oportunidade de usá-las da mesma maneira que Bergman”, lembrou
Cantwell. “Poderia haver momentos em que aquele afastamento da simetria
serviria, então, como uma ênfase não verbal, um poste de amarração para as
pessoas prenderem suas experiências juntas em pontos pivotais.”
Certamente, o gosto de Kubrick pela simetria e seu interesse por
Bergman antecediam suas conversas com Colin Cantwell. Mas há motivos
para acreditar na alegação do animador de que os misteriosos alinhamentos
do filme, entre o Sol, a Lua e os satélites de Júpiter — sempre dispostos ao
longo do eixo vertical ou horizontal do totem central de 2001, o monólito
— foram influenciados por aquelas discussões tardias. E elas, por sua vez,
com certeza foram catalisadas pela sequência épica de abertura em que a
Terra se ergue; anterior à chegada de Cantwell, ela já exibia um eclipse do
Sol pela Terra, visto do ponto de observação privilegiado da Lua. (Se o
mesmo alinhamento celestial fosse visto da superfície da Terra, ele teria
sido um eclipse lunar, com a sombra da Terra passando sobre a Lua. Como
foi mostrado da Lua, era um eclipse solar.) Seguindo a sugestão de
Trumbull, a sequência tinha sido orientada com o levantar da Terra na parte
superior, posição que enfatizava a simetria inerente ao alinhamento.
Com essa sequência e as discussões sobre Bergman em mente, Cantwell
passou a produzir duas das tomadas mais intensamente simbólicas de 2001.
Filmadas no stand de animação, elas se espelhavam intencionalmente. A
primeira era uma visão aparentemente em ângulo baixo do monólito, tendo
ao fundo uma das paisagens de nuvens no deserto do Namibe capturadas
por Pierre Boulat e o Sol se erguendo acima do objeto retangular. Uma lua
crescente fechava a composição, no alto. Kubrick acabaria por montar essa
imagem na sequência da Aurora do Homem, não uma, mas duas vezes —
primeiro por cerca de cinco segundos, no final do encontro dos homens-
macacos com o monólito, e depois como um flashback de dois segundos, no
momento em que Dan Richter pensa em pegar um osso e começar a bater
em outros ossos com ele.
A segunda era uma composição virtualmente idêntica, dessa vez
mostrando o monólito lunar e o Sol em posições idênticas, só que agora
com uma Terra crescente acima. Embora muita gente na plateia não tenha
percebido, em princípio a segunda tomada resolveu o problema que
Kubrick tinha discutido com Trumbull em Shepperton — ou seja, como
revelar que o sinal de rádio do monólito fora acionado e enviado a Júpiter
quando o Sol o atingiu. E, de fato, ela foi inserida no filme no momento em
que William Sylvester e os outros astronautas lunares recuam diante do
poderoso sinal do monólito.
As tomadas emparelhadas de Cantwell tinham uma estética que
lembrava cartas de tarô, e eram bem mais simples de fazer do que pareciam.
Em ambas, o monólito era simplesmente uma folha de papel couché preto
cortada em ângulos abruptamente inclinados e colocada sobre
transparências de 20 × 25 cm (na primeira, do céu no Namibe, na outra, de
um campo estelar). A Lua e a Terra crescentes foram acrescentadas com
animações adicionais. Assim como na tomada da ocultação da Terra, o Sol
era uma lâmpada halógena posicionada atrás de um buraco cortado em
alumínio preto. Chamadas de “Upblock Um” e “Upblock Dois” no jargão da
Sala de Guerra, as tomadas oferecem uma ilustração muito clara sobre
como, em montagem cinematográfica, contexto é tudo. As sequências de
ação real que precediam cada uma delas davam à plateia uma percepção
sobre a escala e a importância do monólito. A segunda inserção rápida da
tomada na Aurora do Homem assinalava o poder do objeto sobre a
imaginação de Moonwatcher, à medida que ele gradualmente intui a
possibilidade de usar uma arma. Embora poderosos como imagens
autônomas, os “pontos pivotais” simétricos de Cantwell adquiriam sua
relevância daquilo que lhes rodeava — incluindo a tomada de abertura da
ocultação da Terra.
No caso da montagem de Moonwatcher, ela também permitiu a Kubrick
realizar a promessa implícita em sua rejeição da solução que Clarke
escrevera para a cena — na qual o monólito era visto manipulando o
homem-macaco como se ele fosse “um fantoche controlado por cordas
invisíveis”. Em junho de 1966, o diretor havia respondido: “A descrição
literal presente nessas tentativas parece-me completamente errada. Ela
elimina toda a mágica”. Sua nova solução — essencialmente uma tentativa
de criar mágica — era um exemplo de como algumas sequências de 2001
funcionaram quase como uma rejeição da abordagem do romance. (No
entanto, também era uma ilustração cinematográfica da famosa Terceira Lei
de Clarke: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível
da mágica”. Aqui, como em outros momentos, é possível que Kubrick tenha
tido uma compreensão mais intuitiva dos princípios de Clarke do que o
próprio autor. De sua parte, entretanto, Clarke observou, em 1969, que ele e
Kubrick quiseram conscientemente “aludir à mágica, a coisas que a
princípio não poderíamos entender naquele estágio de nosso
desenvolvimento”.)
A ideia ainda deixava aberta a questão da transição da órbita de Júpiter
para o Portal Estelar. Chegando a Júpiter, Bowman deveria sair da
Discovery em sua cápsula e aproximar-se — o que seria extraordinário. Mas
e daí? De novo, as simetrias-pivô de Cantwell ajudaram a oferecer uma
solução. Trumbull já tinha desenvolvido uma derivação de sua máquina de
Slit Scan que transformava uma arte-final plana representando Júpiter em
uma forma realista, aparentemente tridimensional. Sua Máquina de Júpiter
envolvia montar projetores duplos em um estúdio, ligando-os a uma faixa
de material refletor em formato de arco. Essa faixa era uma versão curvada
de uma fenda. Os projetores foram carregados com duas imagens de Júpiter
aerografadas por Trumbull, uma para cada hemisfério. Quando a traquitana
inteira girava — os projetores, o arco refletor e a câmera, tudo ligado pelos
motores Selsyn — a pintura de Trumbull metamorfoseava-se magicamente
em um espaço que parecia tridimensional, à medida que era recriado quadro
a quadro pelo crescente que virava. Hoje isso seria chamado “texturização”
e produzido digitalmente.
Tendo chegado a uma versão convincente de Júpiter, Trumbull e
Cantwell trabalharam juntos no cortejo de luas do planeta. Projetando
versões das luas aerografadas por Trumbull sobre esferas brancas — uma
versão menos sofisticada da Máquina de Júpiter — eles fotografaram cada
uma delas em diversas fases. Então Cantwell usou a câmera de animação
para fazer experimentos com representações do sistema joviano. Todos os
satélites de Júpiter orbitam no mesmo plano e, no final de outubro,
Cantwell concebeu uma vista a partir do equador do planeta. “Mais uma
vez, buscamos a simetria no ponto mais importante”, afirmou. Dispondo as
luas em uma linha vertical, ele posicionou o próprio planeta Júpiter no
fundo. Se os alinhamentos do Sol, da Terra e da Lua abriam 2001,
sinalizavam o poder do monólito e marcavam o começo do segundo ato do
filme, esse novo arranjo celestial seria a âncora da extremidade oposta
desse eixo, dando início ao surreal e metafísico capítulo final do filme.
Deixando um intervalo em sua cadeia de luas jovianas, Cantwell passou
a filmar um monólito “bebê” de quase dois metros girando contra um fundo
de veludo preto, que parecia desaparecer e reaparecer no espaço profundo.
“Apenas iluminamos o objeto e o filmamos em um palco com um motor
que o fazia girar como um espeto de churrasco”, contou. “O bloco preto foi
filmado de forma a se encaixar em um ponto específico da tela, e outros
elementos foram projetados como um storyboard.” No arranjo final, o
monólito giratório era o eixo horizontal de uma cruz, com uma fila de cinco
luas servindo como eixo vertical, e Júpiter embaixo. Uma peça de
simbolismo neocristão tinha penetrado no filme, quase por osmose.29
Como a fileira de luas lembrava a tela de uma máquina caça-níqueis, a
cruz celeste de Cantwell logo foi apelidada de Fifty Free Games [Cinquenta
Jogos Grátis] no jargão do Salão de Guerra. Enquanto o colega trabalhava
na tomada, Trumbull havia feito uma sequência nova de Slit Scan que
parecia surgir da escuridão. No começo, filamentos de luz quase
subliminais pulavam sobre o espectador, crescendo por oito ou dez
segundos até um nível caleidoscópico —, efeito que ele reforçou usando
“um pequeno motor de aceleração para que a coisa continuasse indo cada
vez mais rapidamente”. A velocidade variável produziu um efeito
semelhante à ampliação neurotransmitida de estímulos característica da
experiência psicodélica.
Ao ver a tomada Fifty Free Games de Cantwell — que considerou
“Brilhante!” —, Trumbull carregou-a em um dos projetores da sala de
projeção, colocou a tomada com sua nova técnica no outro, e ele e Cantwell
experimentaram fazer uma espécie de mixagem ao vivo com dois
projetores, chegando finalmente à conclusão de que, se a câmera de
animação pudesse simplesmente ser inclinada para cima, afastando-se do
crucifixo joviano de Cantwell e subindo para a escuridão, a nova tomada de
Trumbull poderia entrar em cena, abrindo de fato o Portal Estelar.
Eles tinham descoberto como levar David Bowman para “além do
infinito”.
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[91] Paisagem urbana alienígena, um dos últimos trabalhos de Doug Trumbull em 2001.
***
Isso foi desonesto? Höllger-North sempre achou que aquele era o plano de
Kubrick desde o começo. “Durante todo o tempo ele estava tentando liberar
os direitos das trilhas provisórias e então, como pretexto, chamou Alex para
compor a trilha; sempre achei que isso não era justo”, disse ela. “Kubrick
conseguiu liberar os direitos e Alex nunca foi informado disso — nós
fomos ver 2001 em Nova York e ficamos muito surpresos ao perceber que a
música de Alex não estava no filme — nem uma nota.”
Entretanto, um vislumbre do diretor abalou sua avaliação a partir de
janeiro de 1968. Ao chegar à sua casa para uma conversa tardia, Cantwell
encontrou Kubrick deprimido, o que não era comum. Enquanto faziam
sanduíches, “havia alguma coisa na cabeça dele”, recordou. “Ficamos lá,
sentados em silêncio. Ele disse: ‘Acabei de despedir meu quarto
compositor. Estou começando do zero. De volta ao início do jogo’. E: ‘O
que fazer, e em quem pensar, no tempo que ainda nos resta’. Àquela altura,
é claro, eu estava totalmente identificado com a extensão do que ele tentava
fazer. Ele disse: ‘Estava até cogitando se deveria entrar em contato com os
Beatles’.”
Diante dessa frase — enunciada com ironia, mas evidentemente pedindo
a seu visitante séria consideração — Cantwell absorveu “aquilo por um
instante e lhe disse exatamente o que achava. ‘Não, não valeria a pena’”.
Não há motivos para supor que a ideia de Kubrick de chamar os Beatles
fosse algo mais que algo aleatório naquele momento. Em todo o caso,
Cantwell ficou preocupado com a gravidade da situação. “O que Stanley
transmitia era um desapontamento profundo”, disse. “Para Stanley, isso não
seria motivo para ficar arrasado. Tinha de ser resolvido, não poderia
enfraquecer o filme. E era uma mistura de tristeza, urgência,
arrependimento e adrenalina, de ‘Qual é o caminho a partir daqui?’. Tudo
isso estava no mesmo pacote. Ele expressava de maneira muito discreta a
enorme intensidade de seus sentimentos.”
***
***
***
Como Terry Southern descobriu, poucos assuntos eram mais tensos para
Kubrick do que a questão dos créditos. Dan Richter recorda-se de uma
discussão com o diretor perto do fim de seu trabalho em Borehamwood.
Convocado para uma reunião no final de setembro, ele chegou e viu
Kubrick em pé atrás de sua mesa, “fingindo parecer ocupado” mas
“obviamente nervoso com alguma coisa”. Depois de desviar para outro
assunto, não relacionado — e que, Dan percebeu imediatamente, não era o
motivo da conversa —, fez-se uma pausa incômoda. Richter interrompeu.
“Qual é o problema, Stanley?”, perguntou.
“Bem, Dan, tenho que acertar seu crédito com você, e estou com um
problema”, respondeu o diretor.
“Qual é o problema? Sou o coreógrafo da Aurora do Homem”, observou
Richter, confuso.
“Bom, eu só posso lhe dar um crédito”, Kubrick respondeu. “Então
quero lhe dar o quarto crédito do elenco. Você pode ficar com esse ou com
o crédito pela coreografia, mas não pode ficar com os dois.” Sopesando a
afirmação, Richter perguntou o motivo. “Bem, Dan, isso daria a você mais
de um crédito. E eu sou o único com mais de um crédito. Então você vai ter
que decidir.”
Apesar de ter feito o papel de Moonwatcher, não havia ocorrido a Dan
que ele pudesse receber crédito pela participação no elenco. Sempre se vira
como coreógrafo. Decidiu facilitar o que, obviamente, era uma situação
constrangedora. “Bom, fico com o crédito no elenco”, disse. “Todo mundo
sabe que fiz a coreografia da Aurora do Homem.”
“Achei que você ia dizer isso”, replicou Kubrick. Mas ele ainda parecia
ansioso. “Fica realmente bom para você assim?”, perguntou. “Pode
acreditar, Stanley, gosto da ideia de ser uma estrela”, disse Richter. Eles se
levantaram e apertaram as mãos. E o nome de Richter aparece logo depois
de Dullea, Lockwood e Sylvester nos créditos de 2001, de forma bastante
apropriada.
Indagado, décadas mais tarde, o que ele achava que Kubrick teria dito se
sua resposta fosse que não apenas merecia ambos os créditos, como tinha
trabalhado muito duro por eles, Richter respondeu: “Ele não teria me
ouvido”.
***
***
Lançamento
PRIMAVERA DE 1968
Não posso fazer nada pelas coisas quando elas estão indo bem, mas posso quando não estão.
Stanley Kubrick
***
***
Dois anos depois de Clarke insistir pela primeira vez que estava pronto,
Kubrick finalmente deu sinal verde para a publicação do romance. Depois
de um leilão entre editoras que sabiam da existência do texto há pelo menos
esse tempo, no dia 20 de março Scott Meredith conseguiu arrancar da New
American Library uma oferta de 130 mil dólares — 30 mil a menos do que
teria conseguido com a Dell dois anos antes. Ainda assim, descontada a
porcentagem de Kubrick, Clarke ganharia o equivalente a mais de meio
milhão de dólares hoje. O suficiente para saldar suas dívidas e ainda sobrar.
Nenhuma possibilidade de revisão tinha sido oferecida ao diretor depois
da leitura inicial em junho de 1966, e as sugestões que Kubrick fizera não
foram incorporadas. Ele também não apareceu como coautor, embora
concordassem em incluir na página de rosto a frase “Baseado em roteiro de
Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke”. Na lista incompleta de mudanças que
propôs, Kubrick tinha perguntado se era possível usar a palavra “estepe”
para designar uma área atingida pela seca; se era possível encontrar abelhas
nessas condições; e se era possível dizer que os leopardos “rugem”. No
livro editado, as abelhas zumbem por cima de uma estepe povoada por
leopardos que rugem. “Quando Stanley aprovou o livro para publicação,
absolutamente nenhuma palavra havia sido mudada”, Clarke observou para
Jerome Agel, editor de The Making of Kubrick’s 2001, em 1970. “Parece
que há o jeito certo de fazer as coisas, o jeito errado e o jeito de Stanley.”
Algumas correspondências reveladoras entre Clarke e dois velhos
amigos no decorrer de 1967 e 1968 fornecem um retrato interessante do
escritor às vésperas da estreia mundial de 2001. Uma delas foi com seu
colega escritor de ficção científica Sam Youd, que escrevia sob o
pseudônimo de John Christopher e também era representado pela agência
literária de Scott Meredith. A outra foi com o cientista de foguetes Val
Cleaver, engenheiro-chefe da Divisão de Foguetes da Rolls Royce.
Em junho de 1967 Clarke colocara Youd a par do fracasso de seu acordo
com a Dell, detalhando, com uma satisfação teatral, as dívidas que contraíra
em consequência (ele fala em 50 mil dólares) e concluindo com: “Fora isso,
sra. Lincoln, tudo vai bem, não tenho dúvida de que 2001 acabará sendo
publicado, e não estou tão chateado; o filme será fantástico”. Youd
respondeu com um reconfortante: “Tenho certeza de que ressurgirá um
contrato, nos mesmos moldes de antes, quando chegarmos perto do
lançamento do filme. Se entendi, você vai ganhar uma boa fatia dos lucros
dele?”. Ao que Clarke respondeu: “Não, eu não tenho nenhuma
participação no filme, caramba”. A resposta de Youd foi de incredulidade e
indignação.
***
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Tirando Penelope Gilliatt, que descreveu 2001 na The New Yorker como
“um tipo de grande filme, e um esforço inesquecível”, os principais críticos
de cinema de Nova York fizeram fila para malhar o filme, principalmente
nos artigos publicados naquela manhã. No Times, Renata Adler escreveu
que a produção era “algo entre hipnótico e incrivelmente tedioso”,
acusando-a de “se deleitar com o próprio QI”. (Vale dizer que, em um
trecho, ela elogiava os “macacos carnívoros que parecem reais”.) Na The
New Republic, Stanley Kauffmann chamou 2001 de “uma grande
decepção”, afirmando que o filme era “tão sem graça que até empana nosso
interesse pelo engenho técnico, por causa do qual Kubrick permitiu que o
filme ficasse tão sem graça”. No Village Voice, que estava no auge de sua
influência na época, Andrew Sarris declarou que 2001 era “um fracasso
completamente desinteressante e a demonstração mais condenatória da
inabilidade de Kubrick de contar uma história de maneira coerente e com
um ponto de vista sólido”.
Apesar de o cineasta ter sentido seu desdém muito antes, Pauline Kael,
uma das críticas de cinema mais consagradas e influentes do país, esperou
quase um ano para detonar Kubrick. Em um artigo para a Harper’s que nem
se preocupou em considerar 2001 por si só, Kael chamou o filme de
“monumentalmente prosaico”, acusou-o de ser “lixo disfarçado de arte” e
definiu-o como uma “besteira motivacional sobre como nos tornaremos
deuses por meio do uso das máquinas”. Ela chegou a acusar o diretor de
plágio por causa das similaridades entre a sequência do Portal Estelar e a
obra do cineasta experimental Jordan Belson — uma acusação parecida
com dizer que Kandinsky plagiou Malevich porque ambos eram pintores
abstratos.
Não sabemos o que a editora supervisora Maggie Booth dissera a
Kubrick ou a seus colegas depois da primeira exibição em Culver City,
menos de duas semanas antes. Mas ela deixou sua impressão em todas as
produções do estúdio por mais de três décadas, então podemos ter certeza
de que seu ponto de vista era levado em consideração. No dia 4 de abril, a
opinião geral na MGM era a de que o filme era um desastre épico, e algumas
pessoas chegaram a dizer que ele afundaria o estúdio. O contrato de
Kubrick dava a O’Brien o direito de solicitar mudanças que, caso
questionadas pelo diretor, seriam submetidas a um teste de reação de
espectadores. Mas depois do apoio inabalável dos quatro anos anteriores,
esse tipo de confronto estava fora de cogitação. De qualquer forma, em 4 de
abril, Kubrick já tivera várias oportunidades torturantes de analisar o que
inquietava a plateia, e de contar as pessoas que deixavam o cinema antes do
final do filme. O teste de reação já estava feito, e os resultados eram
evidentes.
O filme estava sendo exibido diariamente em Washington e Nova York,
e as críticas negativas chegavam aos montes — ainda que amenizadas por
algumas positivas. Tomou-se a decisão de fazer cortes no filme. Os
participantes da reunião de corte na sede da MGM na Sexta Avenida, no dia 4
de abril, incluíam Kubrick e os executivos mais importantes do estúdio,
como O’Brien; o diretor de publicidade e propaganda Dan Terrel; o vice-
presidente e supervisor-geral de vendas Morris Lefko; e o presidente da
MGM International Maurice Silverstein, cujo sobrinho havia fornecido a
primeira reação dos espectadores abaixo de 35 anos prevista por Victor
Davis. No dia seguinte, Kubrick e Ray Lovejoy encontraram-se em um
estúdio de edição no porão do prédio da MGM e passaram a noite
trabalhando. A edição continuou por todo o fim de semana e terminou no
dia 9.
Como cópias de 70 mm com trilha sonora óptica já haviam sido
distribuídas em oito cinemas, as edições de Kubrick tinham de se limitar a
trechos em que o impacto no som do filme seria mínimo — uma situação
pouco convencional e nem de longe ideal. Como resultado, a geniosa
composição “Gayane Ballet Suite (Adiago)”, de Aram Khachaturian, que
toca nas primeiras cenas da viagem da Discovery a Júpiter, precisou ser
editada. Mas o efeito foi sutil. No dia 9, uma lista de cortes foi enviada às
franquias de cinema Loews e Uptown Theaters, à Warner em Los Angeles e
também a cinemas em Boston, Detroit, Houston, Denver e Chicago, que
começariam a exibir 2001 em 10 ou 11 de abril. Depois de anos de exatidão
torturante e minuciosa em relação a todos os aspectos da produção, cortes
cruciais em 2001: Uma odisseia no espaço estavam sendo delegados a oito
projetistas desconhecidos, que trabalhavam em mesas de corte amadoras,
usadas para acrescentar marcações no início dos rolos — pelo menos até
que fossem providenciadas novas cópias.
De acordo com uma citação anônima de um executivo do estúdio em um
rascunho não publicado do livro The Making of Kubrick’s 2001, editado por
Jerome Agel em 1970, os funcionários do mais alto escalão da MGM
“estavam todos presentes até o final da decisão dos cortes, mas nenhum
ficou para a parte prática”. Kubrick insistiu para que essa parte fosse
retirada do livro. O texto continuava, citando o executivo:
Esse trecho do texto passou, mas em seguida vinha outra, que Kubrick
vetou: “Ele não parecia feliz em fazer as edições — cortes —, mas eu posso
estar enganado. Com certeza eu tive a impressão de que ele cortou as partes
que menos seriam notadas na projeção”. Kubrick defendeu suas mudanças
no livro, com comentários rabiscados. Sobre as reuniões de edição: “Não é
verdade. Nenhum executivo da MGM sugeriu que o filme fosse cortado”.
Sobre estar infeliz por ter de fazer cortes no filme: “É besteira, a fonte nem
se identificou. É mentira”.
Para ser justo com o executivo anônimo — que disse, de fato, que
poderia estar enganado —, todas as evidências sugerem que, em 4 de abril,
Kubrick já havia reconhecido totalmente a necessidade dos cortes. Isso
inclui o que ele dissera a Christiane na estreia da noite anterior. A
infelicidade de Kubrick pode ter vindo da preocupação em como faria isso,
considerando a necessidade incomum de que todos os cortes de som fossem
indetectáveis, já que estavam permanentemente ligados às imagens.
Quanto à afirmação categórica do diretor sobre a MGM não ter sugerido
os cortes, com certeza está errada, e reflete sua determinação de não deixar
vazar, além de um pequeno grupo de pessoas, nenhuma evidência da real
influência do estúdio nisso. Como disse Roger Caras, totalmente leal a
Kubrick, em 1989: “Kubrick negaria qualquer coisa, não importa o que
fosse, qualquer coisa que refletisse de forma menos que sensacional na
persona mítica de Kubrick”.
Os cortes, feitos na Moviola do relações-públicas Michael Shapiro,
totalizaram cerca de dezenove minutos, ou mais ou menos 12% do tempo
original do filme. Incluíram a remoção da cena de corrida de Dullea, que
havia causado vaias e assovios no dia três — uma cena redundante, de
qualquer forma, já que as primeiras visões do interior da Discovery
apresentavam Lockwood fazendo exatamente a mesma coisa. Também foi
retirada uma repetição longa, quase integral, das preparações de Bowman
para a saída da Discovery, dessa vez conduzidas por Poole — o que
supostamente reduziria o choque causado por sua morte subsequente.
Outros trechos editados incluíram um pedido de HAL para repetir a
mensagem de controle da missão, que mostrava seu mau funcionamento;
partes da cena do monólito lunar; uma sequência em que HAL desliga a
conexão de rádio de Poole logo antes de matá-lo; e alguns detalhes na
sequência da Aurora do Homem.
Dois intertítulos novos foram adicionados. Um deles, logo antes da
primeira visão da Discovery, dizia: “Missão Júpiter 18 meses depois”. O
outro, “Júpiter, e para além do infinito”, sinalizava os dois últimos atos do
filme: o Portal Estelar e o Quarto de Hotel. Finalizando, Kubrick incluiu
uma breve reprise da cena do pôr do sol sobre o monólito, de Cantwell,
logo antes da epifania do uso do osso como arma.
As mudanças foram controversas para alguns. Uma carta do estudante
de cinema Jon Davison, da Universidade de Nova York, para o The New
York Times em 28 de abril atacava a MGM pelas edições e pelos “intertítulos
sem importância”. Davison escreveu que “o trabalho magnífico de Stanley
Kubrick foi massacrado; o triste resultado dos abusos com os quais a crítica
o bombardeou […]”. Concluiu: “A humilhação completa dos cortes
malfeitos e do ritmo inconstante agora está sendo vista por plateias ainda
mais confusas do que as que viram o original. O mais confuso de tudo é a
MGM, cuja falta de confiança artística em seu próprio filme o fez cortar o
***
Ele continuava: “Um crítico profissional às vezes fica preso à sua própria
necessidade de categorias, convenções e cânones convenientes […]. É o
mantenedor do familiar, o promotor do status quo”. Clarke ficou tão
extasiado que escreveu uma carta a Gelmis do Chelsea, em 6 de maio.
Apesar de não ser crítico de cinema e nem ter assistido à versão cortada, um
espectador que não se convenceu foi ninguém menos que Fred Ordway, que
comparecera à estreia em Washington e contara 52 pessoas indo embora. Já
perturbado pela mudança de ideia de Kubrick a respeito de seu projeto do
Museu Espacial Internacional, talvez Ordway não estivesse no estado de
espírito ideal para assistir ao filme. Sua carta de oito páginas corridas para
Kubrick, em 9 de abril, exalava irritação pela obscuridade de 2001 e
continha uma avaliação negativa extraordinariamente detalhada e
abrangente. Vindo de um dos colaboradores mais próximos de Kubrick, é
um documento notável.
***
Resultados
PRIMAVERA DE 1968 – PRIMAVERA DE 2008
Existem duas possibilidades: ou estamos sozinhos no universo ou não estamos. Ambas são
igualmente aterrorizantes.
Arthur C. Clarke
***
Ele não estava errado. 2001 levou toda a contracultura dos anos 1960 aos
cinemas do mundo todo, inspirando festas alternativas organizadas por suas
figuras mais proeminentes. Indagado a respeito do filme em 1968, John
Lennon respondeu: “2001? Vejo toda semana”. No ano seguinte, David
Bowie lançou “Space Oddity”, o single que apresentou seu alterego Major
Tom ao mundo — uma referência clara a 2001. Mas é claro que todo
mundo que estava remotamente interessado em viagens espaciais e
tecnologia também viu o filme.
Depois de ter tido tempo para se recuperar de sua primeira reação,
Clarke falou com sinceridade sobre o destino de suas narrações em
voiceover. “Stanley foi muito sábio ao perceber que, apesar de tornar o
filme mais simples e claro, o uso daquelas narrações seria intolerável”,
disse a Joseph Gelmis — o crítico do Newsday que havia reavaliado
publicamente sua própria crítica inicial. “Teria destruído grande parte do
mistério.”
[94] Clarke em uma de suas raras visitas aos Kubrick, no fim dos anos 1970.
Algumas semanas após a estreia, Clarke percebeu que gostava muito dos
debates causados pelas ambiguidades deliberadas de 2001. Às vezes, ficava
por perto das saídas dos cinemas só para ouvi-los. “O filme tem criado mais
controvérsia que qualquer outro que eu possa imaginar”, disse a uma
estação de rádio de San Francisco, em maio de 1968. “Eu me divertia muito
ficando do lado de fora dos cinemas e ouvindo os espectadores saindo e
discutindo até chegarem à Broadway […]. E isso é legal. Queremos que as
pessoas pensem, e não necessariamente que pensem da mesma maneira que
nós.”
Ao ser questionado se estávamos começando a ser desumanizados pela
ampla propagação da tecnologia, Clarke respondeu: “Não, acho que
estamos sendo super-humanizados”.
***
Meio século mais tarde, e quase duas décadas depois do ano de seu título, a
influência de 2001 ainda está tão presente que não há como superestimá-la.
A mistura cinematográfica de especulação com base científica, design,
tecnofuturismo e abstração cinematográfica caleidoscópica uniu arte e
ciência de maneira nunca vista antes. Considerando unicamente o design, as
influências de 2001 ainda podem ser vistas no cinema, na publicidade e na
tecnologia. Seu impacto no discurso contemporâneo inclui a sempre
presente referência a HAL em discussões sobre inteligência artificial. A
composição Assim falou Zaratustra, de Richard Strauss, está tão associada
ao filme que é difícil considerá-la fora da histórica abertura do Sol
nascendo sobre a Terra e a Lua. Zaratustra já foi muito utilizada como
referência a 2001, inclusive no filme Muito além do jardim, de 1979,
dirigido por Hal Ashby, em que Peter Sellers, no papel de Chauncey
Gardener, um homem simplório de meia-idade, sai de casa pela primeira
vez ao som do arranjo funk da música, que rendeu um Grammy ao
compositor brasileiro Eumir Deodato.
Referências mais recentes incluem homenagens óbvias em vários
episódios de Mad Men, incluindo um chamado “O monólito”; repetidas
menções na série Os Simpsons, de Matt Groening (em um episódio, Bart
joga um pincel atômico para cima e ele se transforma em um satélite); o
filme A fantástica fábrica de chocolate, dirigido por Tim Burton em 2005,
que inclui trechos da cena de Dan Richter com seus agitados companheiros
homens-macacos (o monólito transforma-se em uma barra de chocolate); e
uma homenagem à sequência final no filme biográfico The Beach Boys:
Uma história de sucesso, de 2015, que conta a história de Brian Wilson e
foi dirigido por Bill Pohlad. Esses e outros exemplos confirmam o poder
continuado que o filme tem de afetar a cultura contemporânea —
certamente um sinal de que se trata de uma obra-prima.
Além das referências óbvias, a validação épica do gênero ficção
científica que 2001 trouxe foi o pontapé inicial para todos os filmes de alto
orçamento e carregados de efeitos especiais que o seguiram, marcando o
fim do faroeste enquanto gênero predominante em Hollywood e sua
substituição por histórias passadas em cenários mais amplos — como
Kubrick e Clarke haviam previsto em suas primeiras conversas em Nova
York em 1964. Entre as primeiras respostas cinematográficas, ironicamente,
estava o filme Solaris, lançado em 1972 e dirigido pelo russo Andrei
Tarkovsky. Apesar de ele ter criticado 2001 publicamente em 1968, a
estação espacial em formato de roda, a inteligência alienígena não corpórea
e as questões metafísicas apresentadas em Solaris entregam uma clara
influência do antecessor — mesmo que sua intenção tenha sido filmar uma
espécie de contestação. Apesar de ser um filme que vale a pena assistir e de
ter sido bem recebido no Ocidente, Solaris tinha suas falhas, e o próprio
diretor declarou mais tarde que o considerava um fracasso, ou seja, acabou
tendo problemas tanto com 2001 quanto com sua própria réplica.
No cinema norte-americano, o poder visual e a excelente bilheteria de
2001 criaram uma forte tendência no financiamento de projetos por
Hollywood. De Contatos imediatos de terceiro grau às franquias Star Wars
e Alien — e até filmes bem mais recentes, como Avatar, de James Cameron,
e Interestelar, de Christopher Nolan —, uma série de filmes considerados
marcos da história do cinema foram influenciados e tornaram-se possíveis
graças às conquistas de Kubrick e Clarke. Ao ser questionado se algum
grande momento o inspirara a trabalhar com cinema, Cameron, diretor dos
dois filmes mais rentáveis da história, não deixou dúvidas.
Steven Spielberg, por sua vez, chamou 2001 de “o big bang” que inspirou
sua geração de diretores. E, no final dos anos 1970, George Lucas
comentou o filme com um tom de humildade. 2001, disse, é o “filme
definitivo de ficção científica”. E continuou: “Vai ser muito difícil aparecer
alguém que faça um filme melhor, na minha opinião. Considerando as
questões técnicas [Star Wars] é comparável, mas, pessoalmente, acho 2001
muito superior”.
Mais recentemente, Lucas passou a ficar quase sem fala quando lhe
perguntavam sobre 2001. “Eu não tenho certeza […] de que teria coragem
de fazer o que Stanley fez”, disse no documentário Standing on the
Shoulders of Kubrick. “Eu não sei se eu teria — estou tentando juntar
coragem para fazer algo como o que ele fez.”
***
***
Tem alguém que dirige o filme. Ninguém dirige efeitos visuais. Sabe,
não é adequado levar crédito pelas duas coisas. O Stanley se envolveu
extraordinariamente na direção dos efeitos visuais. Não há dúvida sobre
isso. Ele ficava no set explicando para o operador de câmera o que
precisava ser feito nas filmagens de miniaturas. Isso é dirigir efeitos
especiais. Tudo bem, não vou negar. Mas ele não projetou nem criou os
efeitos. Havia uma equipe inteira para isso. É como dizer que ele fez o
figurino ou qualquer outra coisa. Então foi muito inadequado, e eu
deixei passar porque não queria ficar causando polêmica na imprensa,
nem na indústria, nem nada do tipo.
***
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***
Arthur C. Clarke ainda viveu por quase dez anos depois da morte de
Kubrick. Apesar de ter escrito mais nove livros depois de 2001 — incluindo
três que deram continuidade à história da Odisseia no espaço, e dividiram a
crítica —, sua obra mais conhecida continuou sendo a narrativa épica que
os dois produziram juntos durante quatro anos intensos de colaboração,
entre 1964 e 1968.
Em 1984, uma continuação de 2001 baseada em seu livro 2010: Uma
odisseia no espaço 2 foi lançada pela MGM. Dirigido por Peter Hyams e
chamado 2010: O ano em que faremos contato, o filme apresentava Roy
Scheider como ator principal e Keir Dullea e Douglas Rain repetindo os
papéis de Dave Bowman e HAL. Aceitável como entretenimento, não foi
considerado excepcional.
Em 1988, Clarke foi diagnosticado com síndrome pós-pólio, uma
doença neurológica degenerativa, e passou boa parte de suas duas últimas
décadas em uma cadeira de rodas. Isso não pareceu afetar os ânimos de um
homem cuja curiosidade e fascínio pelo universo só eram comparáveis à
própria habilidade em transmiti-los com uma linguagem clara e concisa. Em
1994, Kubrick enviou-lhe uma carta pedindo desculpas por não poder
participar da gravação de This Is Your Life, um programa biográfico sobre o
autor. “Você é merecidamente o escritor de ficção científica mais conhecido
do mundo”, o diretor observou. “Você fez mais que qualquer um para nos
oferecer uma visão da humanidade deixando o berço da Terra em direção ao
nosso futuro nas estrelas, onde inteligências alienígenas podem nos tratar
como um chefe poderoso ou, possivelmente, como o Poderoso Chefão.”
Em 1998, o Palácio de Buckingham anunciou a intenção da rainha
Elizabeth II em nomear Clarke um Cavaleiro Celibatário — a honraria mais
antiga, datada do tempo do rei Henrique III, no século XIII. A homenagem
acabou sendo adiada a pedido de Clarke, para que ele pudesse limpar o
próprio nome depois de um tabloide britânico, The Sunday Mirror, acusá-lo
de pedofilia. As acusações do jornal estavam embasadas em frases
duvidosas atribuídas ao próprio Clarke, que negou veementemente tê-las
dito. Quando a polícia do Sri Lanka solicitou as fitas da suposta entrevista,
porém, elas não foram disponibilizadas. Uma investigação policial posterior
concluiu que a acusação era infundada. O The Mirror publicou um pedido
de desculpas, depois do qual o escritor decidiu não processar o jornal por
difamação.
Arthur C. Clarke foi sagrado cavaleiro em 26 de maio de 2000. Assim
como sua deficiência física, o episódio não foi capaz de mudar sua natureza
esperançosa e otimista, nem de interromper sua missão vitalícia de entender
e descrever a condição do ser humano dentro de um vasto e misterioso
universo, tudo na prosa repleta do otimismo clarkeano, um dos motivos de
sua fama mundial.
Não se pode negar que o escritor tivesse certa tendência à megalomania
— na verdade, ele fazia piadas com isso, mandando um e-mail que ele
chamava de “Egogram” [Egograma] para os amigos todo ano no inverno.
Quando falava de seu papel em 2001: Uma odisseia no espaço, porém, ele
era curiosamente humilde. “Eu diria que 2001 tem 90% de imaginação de
Kubrick, cerca de 5% de genialidade da equipe de efeitos especiais e talvez
5% de contribuição minha”, disse, em 1970. Foi um comentário
incrivelmente autodepreciativo, e totalmente em desacordo com as
evidências. Talvez ele estivesse pensando em Terry Southern.
Quando lhe perguntaram, no ano de 2001, se estava decepcionado com o
fato de a grande visão da expansão humana pelo sistema solar que ele e
Stanley Kubrick haviam imaginado não haver se concretizado, Clarke
pensou por um momento e respondeu que realmente não estava; ele
comentou sobre as explorações robóticas que haviam aberto o Sistema
Solar para os olhos humanos depois de séculos de especulação. Muito mais
havia sido conquistado do que ele imaginara ver em vida, disse. Alguns
anos depois, ele falou mais sobre o assunto, escrevendo: “Temos o
privilégio de viver na maior era de exploração já vista no mundo”.
Em seu último “Egograma”, enviado em janeiro de 2008, Clarke
ponderou sobre os eventos de seu nonagésimo ano. Apesar de a mensagem
ser animada, como sempre, ficou evidente que ele percebia que algo estava
para acontecer. “Eu tive uma carreira diversificada como escritor,
explorador subaquático, promotor do espaço e popularizador da ciência”,
escreveu. “De todas essas, eu quero ser lembrado principalmente como
escritor — alguém que tenha entretido leitores e, com sorte, expandido um
pouco suas mentes.”
“Acho que outro escritor inglês — que, coincidentemente, também
passou boa parte da vida no Oriente — expressou isso muito bem. Então
permitam-me concluir com essas palavras de Rudyard Kipling:
33. Embora mais material ao estilo “Projeto Manhattan” tenha sido filmado sob um forte esquema de
segurança de John Alcott em Borehamwood, pouco dele parece ter sido utilizado. [ «« ]
34. Se o que lhe dei foi prazer / Pelo pouco que aqui fiz eu. / Que eu descanse tranquilo nesse
anoitecer / Que em breve também será seu. / Se tiver algo a perguntar / A quem deixou o mundo para
trás, / Pode meus livros vasculhar / E não precisará mais nada buscar.” [ «« ]
Agradecimentos
No Orfeu de Cocteau, o poeta pergunta o que deve fazer. “Impressione-me”, dizem a ele.
Pouquíssima arte moderna faz isso — certamente não no sentido de uma grande obra de arte que te
faz pensar em como pode ter sido feita por um mero mortal.
Stanley Kubrick
Como é de esperar num filme tão espantoso, muitos escritores dividem meu
fascínio por 2001: Uma odisseia no espaço. Menos previsível é o
sentimento de fraternidade que prevalece entre aqueles que escreveram
sobre como o filme foi feito, e eu não poderia ser mais grato a eles pelo
apoio que me deram conforme eu tentava entender a história de 2001.
Ninguém foi mais indispensável do que Dave Larson, que se tornou meu
consultor oficial e grande interlocutor. Tendo passado quase duas décadas
pesquisando 2001 nos mínimos detalhes, Dave é provavelmente o maior
especialista do mundo no filme. Essa observação não é minha e sim de
Doug Trumbull, dita de forma categórica enquanto me aconselhava a
procurá-lo. (Desde então, tive várias oportunidades de confirmar a opinião
de Doug.) Um cavalheiro e um intelectual, Dave graciosamente me deu
acesso a seu volumoso arquivo de 2001 — um formidável conjunto de
pastas contendo inúmeras fotografias e contatos de negativos, sem falar na
correspondência rara e demais documentos indisponíveis em outros lugares.
Dave também transcreveu dezenas de fitas de entrevistas que conduziu
entre 2001 e 2006 com pessoas que trabalharam no filme, a maioria delas
não mais entre nós. Depois de me ajudar em infinitas consultas por e-mail,
ele então leu o manuscrito deste livro, checou dados e me deu sugestões
valiosas. Para nossa alegria, ele trabalha agora no seu próprio livro sobre
2001, que promete ser memorável.
Não menos importante para este projeto foi Don Shay, fundador e editor
da revista mais importante da indústria sobre efeitos especiais, a Cinefex.
Antes mesmo da primeira edição, de 1980, Don embarcou na tarefa de
entrevistar veteranos de 2001, visando um livro sobre os efeitos visuais do
filme. Em vez disso, ele fundou a revista, mas continuou gravando
depoimentos dos principais envolvidos. O resultado desse esforço se
materializou numa edição de abril de 2001 da Cinefex, onde publicou uma
obra-prima da história oral chamada “2001: Uma cápsula do tempo”. Ao ler
essa edição espantosa em 2017, procurei Don, que não apenas me deu
acesso à íntegra das entrevistas, como me enviou as transcrições originais.
Por ser de uma era anterior aos computadores pessoais, ele nunca as havia
digitalizado.
Como era de esperar, esse material contém uma mina de ouro que Jon e
Jody Duncan, coautora da matéria, não conseguiram espremer no artigo. E
eu seria eternamente grato apenas por essa gentileza, mas ainda há mais.
Naquele março, Don — um tarimbado editor com mais de quatro décadas
de experiência em traduzir a linguagem cinematográfica para a prosa — se
ofereceu para ler os capítulos do meu livro conforme eu ia escrevendo. As
sugestões que me deu em seguida foram sempre diretas, substantivas e no
ponto. A contribuição de Don a este livro foi significativa e eu o agradeço
por isso.
Outro que prestou inestimável ajuda durante o processo foi Neil
McAleer, biógrafo oficial de Arthur C. Clarke. A própria definição de um
mensch, Neil me enviou não apenas suas muitas entrevistas com amigos e
parceiros de Clarke, conduzidas entre 1988 e 1990, mas também as fitas
originais, já que parte do material não havia sido transcrito. O trabalho de
Neil, conforme preparava sua magistral biografia de Clarke no início dos
anos 1990, inevitavelmente esbarrava em assuntos que ele não poderia usar
em um livro oficialmente aprovado pelo biografado e o fato de que ele
confiou o material a mim sem hesitar, material esse fundamental para
entender partes obscuras da história, diz muito sobre sua integridade. Ele
seguiu acompanhando meu projeto de perto e respondendo minhas muitas
dúvidas com alegria e rapidez. Recomendo sua biografia Sir Arthur C.
Clarke: Odyssey of a Visionary, publicada recentemente em edição revista.
Como se não bastasse esse baú de tesouros, em 1999 o mímico
americano Dan Richter — que mais encarnou do que interpretou
Moonwatcher, o principal símio de 2001 — conduziu cerca de trinta
entrevistas com pessoas envolvidas diretamente na produção. A pesquisa
foi aproveitada em seu Moonwatcher’s Memoir — um divertido e excelente
livro publicado em 2002 —, e quando passei dois produtivos dias o
entrevistando em Provincetown em agosto de 2016, perguntei se ele tinha
guardado as transcrições. Ele tinha, e como Don e Neil, imediatamente as
entregou a mim. Logo descobri que os veteranos de 2001 se abriram para
este insider de maneiras que eles provavelmente não se abririam para um
pesquisador de fora, e as entrevistas de Dan, entregues a mim com
generosidade incondicional, provaram-se um presente inestimável.
Outros apoiadores insubstituíveis deste projeto foram Christiane
Kubrick, a inteligentíssima viúva de Kubrick; seu atencioso e sincero irmão
Jan Harlan; e o inimitável Tony Frewin, assistente pessoal de longa data de
Stanley. Todos me julgaram digno de sua confiança e por isso sou grato a
eles. Este livro não é uma hagiografia, mas os três compreenderam que um
projeto como este não vale nada se não for honesto e confiaram que eu seria
justo. Eu acho que fui e agradeço a amizade e a fé deles em mim.
Quanto a Doug Trumbull, que conheci há mais de dez anos, quando
estávamos trabalhando com Terrence Malick para ajudá-lo a criar as
sequências cosmológicas de A árvore da vida, ele foi um inabalável
apoiador e defensor de meu trabalho em geral e deste projeto em específico,
e me sinto honrado por sua amizade. Sarah Lazin, minha inestimável
agente, me ajudou a transformar um conceito inicialmente rudimentar em
algo que acredito ser mais focado e preciso e depois levou minha proposta
às melhores editoras do ramo, com excelentes resultados. Julia Conrad, sua
antiga assistente, foi cândida e incisiva em suas críticas ao meu projeto
inicial e certamente este livro ficou melhor graças a isso. Antes, Eric
Himmel, meu amigo de longa data, me encorajou a seguir com o projeto.
Assim como outro bom amigo, o escritor e showman cultural Ren Weschler.
Sou grato a todos.
Meu editor na Simon & Schuster, o cuidadosamente justo e receptivo
Bob Bender, tolerou minha certa flexibilidade com os prazos e foi paciente
ao me salvar de mim mesmo inúmeras vezes enquanto negociávamos as
diversas fases da edição. Suas sugestões sensatas e seu infalível instinto
para ritmo e tom ajudaram este livro de inúmeras maneiras. Sua assistente,
Johanna Li, foi um modelo de profissionalismo imperturbável durante todo
o processo. Assim como Alison Forner, a diretora de arte que respondeu às
minhas inúmeras sugestões de design com paciência e flexibilidade. E
Jonathan Evans, o diretor de copidesque, aceitou com paciência minhas
revisões de última hora e garantiu que minha escrita saísse concisa e clara.
Sou grato a eles pela experiência e tato com que cuidaram do livro.
O escritor Richard Boyle, que mora no Sri Lanka, gentilmente me deu
acesso a seu arquivo de material relacionado ao amigo Mike Wilson, e
também sou grato a Damani, filha de Mike, por sua amabilidade e seus
insights. Também preciso agradecer a Ashley Ratnavibhushana, o célebre
historiador e crítico de cinema srilankês, por sua ajuda inestimável no
contato, em minha quarta viagem ao Sri Lanka em 2016, com as figuras
mais importantes da indústria cinematográfica do país. Além disso, minha
dívida se estende a Nalaka Gunawardene e Rohan de Silva, assistentes de
longa data de Clarke, bem como ao conhecido astrofísico Kavan
Ratnatunga, amigo de Clarke, e ainda a Angie Edwards, sua sobrinha.
O Stanley Kubrick Archive da University of the Arts London me
forneceu materiais inestimáveis durante a escrita deste livro. O arquivista
sênior Richard Daniels e a assistente do arquivo Georgina Orgill me
direcionaram a materiais relevantes, foram além do esperado me
encaminhando informações importantes e fizeram de tudo para que minha
experiência no arquivo fosse positiva. Sou grato a eles e a seus colegas pela
gentileza e profissionalismo.
Da mesma forma, os papéis de Arthur C. Clarke arquivados no Steven F.
Udvar-Hazy Center do National Air and Space Museum abriram uma janela
crucial para os métodos e meditações de Clarke durante os quatro anos em
que ele trabalhou no filme e no romance. Martin Collins, curador do centro
de História Espacial do NASM, merece um elogio particular por ter
transportado esses documentos do clima tropical de Colombo para um
armazém de temperatura controlada perto de Dulles, onde eles estarão
preservados para pesquisadores.
O ex-assistente de Kubrick e depois ele mesmo um diretor premiado
Andrew Birkin, também conhecido como o Ladrão de Kokerboom, me deu
uma visão privilegiada e incisiva da produção de 2001, acompanhou
regularmente o andamento do livro e me cedeu imagens importantes de seu
arquivo pessoal. Piers Bizony, autor de dois livros pioneiros e
indispensáveis sobre o filme, me apoiou durante todo o projeto, fornecendo
informações, ideias, imagens e também me encorajando. Um conhecido
escritor de assuntos aeroespaciais, Piers chegou ao assunto muito antes de
mim, o iluminando com sua inteligência inquisitiva. O autor da melhor
biografia de Kubrick, Vincent LoBrutto, também me ajudou com suas
fontes. O escritor Gerry Flahive, de Toronto, gentilmente dividiu comigo
parte de sua pesquisa sobre o ator canadense Douglas Rain, a voz de HAL. E
Cristopher Frayling, autor de uma excelente monografia sobre o designer de
produção Harry Lange, respondeu às minhas dúvidas com a paciência de
um acadêmico.
O escritor Andy Chaikin, meu coconspirador geek de longa data para
assuntos espaciais e proeminente historiador das missões Apollo, me deu
força durante todo o caminho. Foi ele quem me ajudou a entregar o
manuscrito a Tom Hanks, com resultados gratificantes, e estou em dívida
com ambos. Meu antigo amigo Jill Golden e o talentoso editor de cinema
David Tedeschi fizeram o livro chegar a Martin Scorsese; agradeço aos três.
Carter Emmart, o mago do planetário de Hayden, é um dedicado estudioso
da obra-prima de Kubrick e Clarke, a que assistimos juntos em 2012 pela
enésima vez. A maneira com que Carter manipula as imagens no domo do
planetário de Hayden, remetendo a um guitarrista improvisando com o
universo, foi a primeira vez desde que assisti a 2001 que me senti
transportado para o lá fora, entre as galáxias. E ainda assim suas projeções
são um lembrete de que nosso planeta continua a ser o destino mais belo do
espaço sideral.
Jernej Gregorič, meu amigo e agente das minhas exposições, e Natalie,
sua talentosa esposa, me abrigaram sem hesitar em sua residência londrina
durante a pesquisa para o livro, apesar das distrações associadas a criar duas
lindas crianças. Nace Zavrl, teórico de cinema de Liubliana, me indicou o
historiador Billy Brooks, que me ajudou com a pesquisa adicional num
prazo apertado; sou grato a todos. E Matthew Flowers, meu galerista
londrino, me colocou em contato com Christiane Kubrick, um entre vários
favores pelos quais sou grato.
A grande jornalista Diane McWhorter, minha parceira de cinema no ano
em que passei no MIT, me deu dicas e conselhos antes que eu iniciasse
minha pesquisa em Dulles. Seu próximo livro, uma biografia sobre Wernher
von Braun, vai reescrever nossa compreensão desta controversa figura.
David Mikics chegou no fim do processo com sugestões úteis; seu livro
sobre Kubrick será publicado em breve. E Stuart Swanson, meu chapa de
tantos anos, me deu as chaves para um escritório limpo e bem iluminado no
seu QG corporativo local, pedindo em troca apenas algumas impressões do
meu trabalho fotográfico. Escrevi este livro confortavelmente instalado na
Amicus Pharma de Liubliana e agradeço ao gerente Zeljko Čačić — cujo
vinho que trazia de Belgrado ajudou nos longos dias de trabalho — e a toda
bem-humorada equipe da Amicus pela amizade e paciência.
Quando se trata de paciência bem-humorada, no entanto, ninguém
supera minha maior apoiadora em tudo por mais de duas décadas, minha
extraordinária esposa Melita Gabrič, que dá um novo significado a uma
frase derivada do inglês, mas inteiramente eslovena: “da best”. Ela é.
Por fim, meu parceiro de vida foi meu pai, Ray Benson, que mesmo
enquanto seu corpo começava a ceder à gravidade de 93 órbitas ao redor do
Sol, manteve a mente afiada e expansiva pela qual era conhecido. Quando
perguntava sobre sua saúde, ele imediatamente mudava o assunto para o
progresso do meu livro. Sua coragem estoica e sua fé inabalável em mim
não diminuíram a dor de perdê-lo no dia 12 de novembro de 2017. Essas
páginas são dedicadas à sua memória.
Michael Benson
Liubliana, Eslovênia
Janeiro de 2018
Termos para busca
A pesquisa para este livro veio de um vasto leque de fontes primárias, com
destaque para os papéis de Arthur C. Clarke no Steven F. Udvar-Hazy
Center do Smithsonian National Air and Space Museum, em Chantilly,
Virgínia, e para os domínios aparentemente infinitos do Stanley Kubrick
Archive na University of the Arts London. Outras fontes primárias
importantes incluem o volumoso arquivo privado do pesquisador David
Larson, com seus papéis e documentos sobre figuras como Frederick
Ordway, Doug Trumbull e Stuart Freeborn, entre outros, e inestimáveis
entrevistas originais e não editadas cedidas gentilmente por Dave, Don
Shay da revista Cinefex, Dan Richter (Moonwatcher) e Neil McAleer,
biógrafo de Clarke. Além disso, o arquivo pessoal do jornalista londrino
Richard Boyle, que mora no Sri Lanka, iluminou a relação de Clarke com
Mike Wilson, seu parceiro nos anos 1950 e 1960.
Ampliados pelos acervos de Dave Larson e Richard Boyle, os amplos
arquivos de Clarke e Kubrick me permitiram criar um documento de 313
páginas intitulado “Grande Síntese da Linha do Tempo”, repleto de citações
vindas de cartas, telegramas e telexes, entre outros. De muitas maneiras,
esse documento serviu como espinha dorsal do livro e certamente foi a
fonte de muitas conclusões apresentadas aqui.
Como é de esperar, 2001: Uma odisseia no espaço recebeu muita
atenção ao longo dos anos, e um grande número de fontes secundárias foi
consultado, entre as quais destaco The Lost Worlds of 2001 (Nova York:
Signet, 1972), do próprio Arthur C. Clarke; o inestimável e amplamente
ilustrado The Making of Kubrick’s 2001 (Nova York: Signet, 1970), de
Jerome Agel; o excelente Moonwatcher’s Memoir: A Diary of 2001: A
Space Odyssey (Nova York: Carroll & Graf, 2001), de Dan Richter; a
excepcionalmente completa biografia de Vincent LoBrutto, Stanley
Kubrick: A Biography (Nova York: Donald I. Fine Books, 1997); a não
menos completa e ponderada Visionary: The Odyssey of Sir Arthur C.
Clarke (Baltimore: The Clarke Project, 2010), de Neil McAleer, publicada
anteriormente como Arthur C. Clarke: The Authorized Biography (Chicago:
Contemporary Books, 1992); a antologia de ensaios do próprio Clarke,
Greetings, Carbon-Based Bipeds! (Londres: Voyager; HarperCollins, 1999),
abrangendo toda a sua carreira; e enfim os belamente ilustrados e
pesquisados 2001: Filming the Future (Londres: Aurum, 1994) e The
Making of Stanley Kubrick’s 2001: A Space Odyssey (Colônia, Alemanha:
Taschen, 2014), de Piers Bizony.
As notas a seguir dão, na sua maior parte, a fonte de citações diretas.
Portanto, várias conclusões fora das aspas nessas páginas não estão
necessariamente ligadas aos indivíduos citados. Nesses casos, no entanto, a
ausência de citações não deve ser tomada como prova de mera ausência.
Fatos e observações fora das aspas invariavelmente partiram de meu
trabalho com essas fontes, incluindo as entrevistas que eu mesmo conduzi.
Suficiente dizer que, conforme escrevia, regularmente empreendi um
exercício de autointerrogação a respeito de várias conclusões e declarações,
cujo objetivo era garantir que elas viessem de fontes primárias (incluindo
três conversas longas com o próprio Arthur C. Clarke no início dos anos
2000), e, fortuitamente, empreendi também um diálogo contínuo, e às vezes
vigoroso, com muitas das pessoas que de fato trabalharam com Kubrick e
Clarke em 2001: Uma odisseia no espaço.
Podemos pensar que ninguém vivo hoje está em posição melhor para
refutar ou apoiar minhas interpretações sobre os eventos transcorridos entre
1964 e 1968 em Nova York e nos estúdios da MGM em Borehamwood, ao
norte de Londres, do que aqueles que de fato trabalharam no filme. Embora
isso seja verdade, há uma exceção: Dave Larson, consultor deste projeto,
que, para além da inestimável contribuição durante o processo de escrita,
também aceitou gentilmente conferir o manuscrito final em busca de erros
factuais ou de interpretação. Isso posto, é claro que todos os erros nestas
páginas são meus e apenas meus.
Capítulo 1: Prólogo: A Odisseia
Capítulo 2: O Futurista
Capítulo 3: O Diretor
É raro você obter algo pelo que pagou: Anthony Frewin, “The Sayings,
Maxims & Aphorisms of Chairman Stanley”, compilação sem data
enviada por Frewin ao autor por e-mail, 22 de setembro de 2016.
cujo nome era uma fonte de fascínio para o diretor: no início dos anos
1990, Anthony Frewin, assistente de Kubrick, o questionou a respeito do
título, confirmando que ele se originou de uma brincadeira em
anagramas com o nome “Lovejoy”, e que Kubrick era “fascinado por
esses nomes ingleses diferentes”. Anthony Frewin para o autor, e-mail
de 24 de julho de 2017.
“para qualquer pré-estreia que vocês possam considerar”: Ray Lovejoy
para “Mr. Fenson”, Cinerama, 13 de abril de 1964.
Em resposta à sua pergunta: “Notes for a Dutch Magazine”, c. 13 de abril
de 1964 (sem data, mas junto a outros documentos daquela data no
Kubrick Archive, University of Arts London). O nome da revista é
desconhecido.
“Mais do que isso e eles vão pensar” […] “Vi navio afundei o mesmo”:
Frewin, “Chairman Stanley”.
ele disparou onze cartas […] Uma semana depois, em 6 de abril: todas as
cartas estão no Kubrick Archive, UAL.
o Segundo filme em faturamento daquele ano: Vincent LoBrutto, Stanley
Kubrick: A Biography (Nova York: Donald I. Fine Books, 1997), p. 244.
um pouco maníaco por controle: Caras para Stanley Kubrick, 3 de
novembro de 1966.
Kubrick apreciara os elogios de seu trabalho por Forbes […] “negócio de
homenzinhos verdes”: Christiane Kubrick, entrevista pelo autor, 22 de
outubro de 2016.
“Ah, Stanley, pelo amor de Deus!” […] “você não pode andar por aí desse
jeito” […] “Acho que deve ser coisa de inglês” […] “Não, Stanley” […]
Mais tarde, ela se lembrou da desavença: Christiane Kubrick, entrevista
pelo autor, 5 de junho de 2016.
tornava os humanos incólumes ao calor: informações em “Shadow on the
Sun” coletadas do Radio Times, da BBC, n. 1979, 12 de outubro de 1961;
Jon Ronson, “Citizen Kubrick”, The Guardian, 27 de março de 2004.
bons livros resultam em filmes ruins: Frewin, “Chairman Stanley”.
“estranha e com cabeças de hidra”: roteiro de Dr. Fantástico datado de 31
de março de 1963, Kubrick Archive, UAL.
“Eu ficava chateada”: Christiane Kubrick, entrevistada pelo autor, 22 de
setembro de 2016.
ficou evidente que Shaw também era fã de ficção científica […] “o primeiro
filme de ficção científica que não seja considerado um lixo” […] Shaw
sugeriu que ele lesse Arthur C. Clarke: Christiane Kubrick, entrevistada
pelo autor, 5 de junho de 2016. A recomendação de Clarke feita por
Shaw também é sustentada na linha do tempo de Clarke em “Son of Dr.
Strangelove”, o esboço de seu artigo não publicado para a revista Life,
datada de 22 de setembro de 1966, no Sir Arthur C. Clarke Papers,
Smithsonian Institution National Air and Space Museum, Steven F.
Udvar-Hazy Center, Chantilly, VA.
“Você precisa ler isso” […] “Nós precisávamos nos revezar para ficar
acordados”: Christiane Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho de
2016.
“no fundo, Stanley era um camponês” […] “Você vai rir” […] “‘Eu quero
fazer um filme’”: Caras, entrevistado por Dan Richter, 7 de setembro de
1999.
“Fantástico. A propósito”: Caras, entrevistado por Neil McAleer, 19 de
setembro e 21 de outubro de 1989.
“Por que você está passando por tudo isso? ” […] “‘É, mas pelo que sei ele
é meio maluco’” […] “‘Na verdade não, ele mora no Ceilão’”: Caras,
entrevistado por Richter, 7 de setembro de 1999.
“Puxa vida, você poderia fazer a gentileza de entrar em contato com ele? ”:
Caras, entrevistado por McAleer, 19 de setembro e 21 de outubro de
1989.
o voo teve que ser postergado não por horas, mas por dois dias: Clarke
para Meredith, 11 de abril de 1964.
“Seu impressionante virtuosismo técnico”: Arthur C. Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”, esboço não publicado, 23 de janeiro de 1967.
onde se misturava com: Neil McAleer, Visionary: The Odyssey of Sir
Arthur C. Clarke (Baltimore: Clarke Project, 2010), p. 143.
“adorável escritório no trigésimo segundo andar”: Clarke para Youd, 19 de
junho de 1964.
“Foi estranho voltar a Nova York”: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
Kubrick chegou na hora certa: LoBrutto, Stanley Kubrick, 261.
“um nova-iorquino […] de estatura media e de poucas palavras”: Clarke,
“Son of Dr. Strangelove”.
“certa aparência boêmia”: Jeremy Bernstein, “How About a Little Game”,
New Yorker, 12 de novembro de 1966.
“inteligência pura” […] “Kubrick apreende novas ideias” […] “Por favor,
diga a Wernher”: Clarke”, “Son of Dr. Strangelove”.
“Eu nunca disse nada, porque (a) eu não acreditei”: Arthur C. Clarke,
Astounding Days: A Science Fictional Autobiography (Nova York:
Bantam, 1989), p. 183.
“em camera”, como definiu Caras: Caras, entrevistado por McAleer.
“Stanley tinha uma grande capacidade de concentração”: Christiane
Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho de 2016.
“Com pesar” […] “Isso é uma falta de generosidade”: Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”.
“Desde o começo” […] “Quando conheci Stanley”: Arthur C. Clarke, The
Lost Worlds of 2001 (Nova York: Signet, 1972), p. 29.
oito horas de conversa: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
“Talvez a pessoa mais inteligente”: Stanley Kubrick: A Life in Pictures,
documentário dirigido por Jan Harlan, (Burbank, CA: Warner Bros.
Home Video, 2001).
a chaminé do incinerador, no telhado: cenário baseado em The Making of
Stanley Kubrick’s 2001: A Space Odyssey, de Piers Bizony (Colônia,
Alemanha: Taschen, 2014), p. 17.
O estúdio estava abarrotado: descrição com base em “How About a Little
Game”, de Bernstein.
“A preocupação com equipamentos de alta-fidelidade”: as anotações nas
margens de Kubrick vêm do esboço anotado de “How About a Little
Game”, artigo de Jeremy Bernstein para a New Yorker, em 12 de
novembro de 1966, enviado por JB ao autor em 8 de setembro de 2016.
“Toda vez que passo por uma sessão com Stanley”: Agel, ed., Making of
Kubrick’s 2001, p. 136.
“Não sou fácil de ser controlado”: Arthur C. Clarke, entrevistado por
McAleer, 25 de novembro de 1989.
“Falar com Arthur era realmente como falar com um tiozão”: Christiane
Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho de 2016.
“Eu estava trabalhando na Time-Life durante o dia”: Jeremy Bernstein,
“Out of the Ego Chamber”, New Yorker, 9 de agosto de 1969.
“exclamou angustiado: ‘O que você está tentando’”: Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”.
“estar usando ideias” […] “Ainda passando cada minuto de folga com
Stanley K.”: Clarke para Mike Wilson, 14 de maio de 1964.
75-6. “Um enredo muito bom é um pequeno milagre” […] Quando os
primeiros homens das cavernas se sentaram ao redor de uma fogueira
[…] “Por causa do formato do cinema”: transcrição do diálogo entre
Heller e Kubrick, 14 de maio de 1964, Kubrick Archive, UAL.
“restaurantes e cafeterias”: Arthur C. Clarke, Report on Planet Three and
Other Speculations (Londres: Corgi, 1973), p. 247.
Tendo discutido extensivamente a questão: LoBrutto, Stanley Kubrick, p.
289.
Clarke concordou que a luta: Arthur C. Clarke, “Rocket to the
Renaissance”, Greetings, Carbon-Based Bipeds!, Collected Essays,
1934-1998, ed. Ian T. Macauley (Nova York: St. Martin’s, 1999), p. 211.
Mas em sua visão, as viagens interplanetárias: ibid., p. 37.
“O que tínhamos em mente era uma espécie de semidocumentário”: Clarke,
“Son of Dr. Strangelove”.
“Raramente paramos para pensar que ainda somos criaturas”: Clarke,
“Rocket to the Renaissance”, p. 216.
“A antiga ideia de que o homem inventou ferramentas”: ibid., p. 218.
“da névoa das palavras”: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
“todo um microcosmos de criaturas vivas”: Arthur C. Clarke, “Before
Eden”, em The Collected Stories (Londres: Victor Gollancz, 2001).
Antes de começarmos, gostaria de dizer uma coisa: Arthur C. Clarke, “Out
of the Cradle, Endlessly Orbiting”, Dude, março de 1959.
“A Terra é o berço da mente”: Tsiolkovsky, Vestnik vozdukhoplavaniia.
Agora que seus sinais cessaram: “The Sentinel”, em Agel, Making of
Kubrick’s 2001, pp. 15-23.
80-1. “primos selvagens esperando pela aurora” […] “numa longa linha
luminosa rumando” […] “nas quais, mais de mil séculos mais tarde”:
Arthur C. Clarke, “Encounter in the Dawn”, publicado pela primeira vez
em Amazing Stories, junho/julho de 1953.
“É impossível” […] “Isso é coincidência demais”: Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”.
O episódio não durou mais que: Stanley Kubrick para US Air Force Colonel
Jacks, 17 de junho de 1964.
82-3. “Esse foi o OVNI mais espetacular” […] “E foi assim que Stanley viu
seu primeiro satélite artificial” […] “o fato de não ter sido mencionado
no Times”: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
Clarke não gostava de se envolver muito: corroborado por Clarke para
Koch, 26 de fevereiro de 1961, e por comentários feitos ao autor, por
Clarke, em 2002.
Embora o contrato final assinado incluísse: detalhes do contrato, cópia em
Clarke Papers, Smithsonian, 28 de meio de 1964. Os signatários são
Clarke e Louis Blau como presidente da Polaris Productions.
84. MGM seguiam regras inflexíveis: Koch para Clarke, 26 de fevereiro de
1961.
85-6. “O acordo é complicado” […] “Stan, que é uma bola de fogo” […]
“Se ficar sabendo sobre esse acordo” […] “Você entende tanto quanto
eu” […] “Tentarei mandar algum dinheiro”: Clarke para Wilson, 22 de
maio de 1964.
Capítulo 5: Borehamwood
“Pode ser que nosso papel neste planeta”: Clarke, Report on Planet Three,
p. 145.
“Eu não quero me envolver”: Frewin, entrevistado pelo autor, 11 de
novembro de 2016.
Aquilo chamou a atenção de Tony […] “O único jeito de fazer meu pai”:
Frewin, entrevistado por Richter, 29 de junho de 2000.
“Não me incomodaria em trabalhar aqui”: Frewin, entrevistado pelo autor,
11 de novembro de 2016.
“Será que esse faxineiro não devia ir limpar outro lugar?” […] “Escuta,
desculpe” […] “Eu sou Stanley”: Frewin, entrevistado por Richter.
“Puxa, você tem uma coleção de livros” […] “Bem, um dos problemas”
[…] “Sabe de mais algum pintor” […] “Sim, eu li alguns romances”
[…] Quanto aos extraterrestres […] “Eu estou precisando de um”:
Frewin, entrevistado pelo autor, 11 de novembro de 2016.
os custos consideravelmente altos do complexo […] já era em si um alto
custo financeiro: Lo-Brutto, Stanley Kubrick, p. 271.
“Eu gostaria que você fizesse uma peça” […] “Mas gostaríamos de fazer”
[…] “Vamos fazer nesse formato” […] “Depois vai levar um mês” […]
“Ah, certo, vamos” […] “Meu Deus” […] “Bem, tem quase”: Shay e
Duncan, “2001: A Time Capsule”; Masters, transcrição da entrevista a
Shay.
pesava mais de duas toneladas: peso e localização atual em
<http://londonist.com/london /secret /see-the-original-monolith-from-
2001-a-space-odyssey>.
“Pode arquivar” […] “Parece um pedaço de vidro” […] “Então vamos
fazer um preto”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”; Masters,
entrevistado por Shay.
“Não consigo imaginar como os agentes de seguro”: Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”.
“humanoide incrivelmente bonito e gracioso”: esboço do roteiro de 2001, 7
de junho de 1965.
“lutando muito para impedir Stan”: Clarke, Lost Worlds, p. 37.
“belas adormecidas”: esboço do roteiro de 2001, 14 de dezembro de 1965.
A expressão deveria ter sido usada pelo astronauta Frank Poole em
conversa com Dave Bowman, mas não apareceu na versão final do
filme. Jan Harlan, cunhado de Kubrick, usou a expressão “picolés
humanos” para descrever os mesmos elementos.
“Encontrei um furo que me deixou” […] “Você pode construir” […] “Esse
elemento de suspense”: Clarke para Kubrick com anotações do último, 4
de agosto de 1965.
É inacreditável quanto tempo se demora […] “Prefiro apresentar um
resultado não específico”: Ibid.
“deu autenticidade para aquilo”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
Se houve uma divisão de autoria nesse projeto: ver citação de Ordway em
Frayling, 2001 File: Harry Lange, p. 56.
“O mais estranho foi”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“Nós não estávamos trabalhando com” […] Nós nos reuníamos com
Stanley: ibid.; Masters, entrevistado por Shay.
“Para captar isso, nós tínhamos uma câmera” […] “Acho que estou
vendo!”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“A essa altura eu já estava transpirando”: Masters, entrevistado por Shay.
“estar fazendo uma piada com aquilo”: Frayling, 2001 File: Harry Lange,
p. 32.
modelo em escala de um foguete V-2: do manuscrito original e não editado
de Making of Kubrick’s 2001, de Agel, uma história que Kubrick não
consegue, visivelmente, negar em suas revisões datadas de 1º de
fevereiro de 1970; Arthur C. Clarke também refere-se ao incidente em
suas notas para um ensaio sobre 2001 datado de novembro de 1967.
“eles dizem que um computador com a complexidade”: Caras para Kubrick,
27 de julho de 1965.
“Os desenhos de Athena da IBM são inúteis”: Kubrick para Caras, 29 de
julho de 1965.
“razoavelmente grandes, planas e retangulares”: John Pierce, relatório da
Bell Labs, 29 de junho de 1965.
“quase independentes” […] “Vamos olhar pela estrada” […] Vamos supor
que: Ordway para Eugene Riordan, 24 de agosto de 1965.
“um veículo bem mais experimental do que o visualizado” […] “como uma
pesquisa experimental e em desenvolvimento”: Ordway para Riordan,
26 de outubro de 1965.
Os termos por trás do acrônimo: Ordway sugeriu que Minsky criasse o
acrônimo, em Ordway, entrevistado por Larson, 14 de agosto de 2003.
“A heuréstica é composta por”: Marvin Minsky, entrevistado por David
Stork, em David G. Stork, ed., HAL’s Legacy: 2001’s Computer as Dream
and Reality (Cambridge, MA: MIT Press, 1997), p. 27-8.
“Se quisermos, podemos fazer do ‘acidente’”: Clarke para Kubrick, 12 de
outubro de 1965.
“Uma noite (ou seja qual for o ciclo do sono de Poole)” […] “O
computador responde ‘Não’” […] “mesmo quando jogavam inspirados”
[…] “subitamente, o computador pergunta sobre o paradoxo” […]
“Computador tenta convencer Bowman”: notas “The Computer” por
Stanley Kubrick, Kubrick Archive, UAL.
“Se você for até o escritório” […] “Sou um dos ilustradores” […] “Isso é
ótimo”: Doug Trumbull, entrevistado por Larson, 7 de maio de 2001;
Trumbull, entrevistado pelo autor, 1º-2 de setembro de 2016.
“Eu tinha 23 anos na época”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“Wally era muito científico”: Trumbull, entrevistado pelo autor.
“Doug ficava andando”: Gentleman, entrevistado por Shay.
“Wally falou: ‘Nós podemos arranjar’”: Trumbull, entrevistado pelo autor.
“Um milhão de fontes aleatórias”: Gentleman, entrevistado por Shay.
“pequenos acrônimos estranhos” […] “Ficávamos no”: Shay e Duncan,
“2001: A Time Capsule”.
“autônomas 24 horas por dia” […] “Na verdade, era”: Trumbull,
entrevistado por Larson.
A cláusula do Eady sobre não cidadãos do Reino Unido: LoBrutto, Stanley
Kubrick, p. 202.
“Não havia nenhuma interferência da gerência do estúdio”: Trumbull,
entrevistado pelo autor.
“discorrendo sobre a beleza”: Frayling, 2001 File: Harry Lange, p. 73.
“Nós deveríamos concluir”: Gentleman para Raymond Fielding, 29 de
novembro de 1965.
“Passei toda a minha carreira” […] Eu gostava muito de Kubrick como
pessoa: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“Stanley podia ser bem grosseiro se achava”: Brian Johnson, entrevistado
pelo autor, 3 de fevereiro de 2017.
depois de uma “altercação” com a equipe: Ordway, entrevistado por
Larson.
Além de gostar de beber e de se meter em brigas: Gary Lockwood,
entrevistado pelo autor, 11 de setembro de 2016.
“Acho que é uma combinação de xadrez”: Lockwood, entrevistado por
Justin Bozung, Shock Cinema, n. 42, 2012.
“É muito inadequado que Bob O’Brien”: Kubrick para Caras, 26 de
setembro de 1965.
Seção de Operações Especiais: David Lister, “Queen’s Tailor Hardy Amies
Was a Wartime Hitman”, Independent (UK) on-line, 23 de agosto de
2000.
Embora não tão prestigiada: algumas observações valiosas sobre Aimes
foram adotadas por Lauren Cochrane, “2001: A Space Odyssey —The
Fashion Power of Designer Hardy Amies”, Fashion blog, The Guardian
(US), 28 de novembro de 2014.
“Estávamos retratando um período”: Hardy Amies, Still Here: An
Autobiography (Londres: Weidenfield and Nicholson, 1984), s.p.
“Eu estava cético quanto às principais mudanças”: Bob Cartwright,
entrevistado por Larson, 4 de março de 2001.
“saiu de lá perplexo” […] “Os atores na extremidade”: Clarke para
Wilson, 10 de setembro de 1965.
A mudança de perspectiva era muito grande: a descrição do set deriva da
transcrição da entrevista de Masters concedida a Shay.
“Dentro de mais ou menos seis semanas”: Clarke para Wilson, 10 de
setembro de 1965.
“A Terra é o berço da mente”: Tsiolkovsky, Vestnik vozdukhoplavaniia.
“Por sua aparência externa”: Arthur C. Clarke, Childhood’s End (Nova
York: Ballantine Books, 1953; Nova York: Del Ray Books, 1990), p.
171. As citações se referem à edição da Del Ray.
“Stanley ligou falando de outro”: Clarke, Lost Worlds, p. 38.
“era de […] Entidades de Máquinas” […] “Senhores da galáxia” […]
“Em um tempo curto”: esboço do roteiro de 2001, 9 de dezembro de
1965.
“de repente, estalou — Bowman” […] “Stanley ligou novamente mais
tarde”: Clarke, Lost Worlds, p. 38.
Parecia exatamente um bebê ainda não nascido: devo esse insight a Robert
Poole, especificamente “2001: A Space Odyssey and the ‘Dawn of
Man’”, em Stanley Kubrick: New Perspectives, ed. Tatjana Ljujic, Peter
Kramer e Richard Daniels (Londres: Black Dog, 2014), pp. 182-3,
embora considerando o Childhood’s End, de Konstantin Tsiolkovsky, e
Lennart Nilsson, discordo de Poole e não acredito que a ilustração tenha
sido a única progenitora do Filho das Estrelas.
“removidos cirurgicamente”: “The Drama of Life Before Birth,” Life, 30 de
abril de 1965.
“chamou a atenção do diretor”: Ivor Powell para Caras, 26 de maio de
1966, solicitando aquela edição da Life.
“Voltando a pensar sobre o romance”: Clarke, Lost Worlds, p. 38.
“Stanley, nós tivemos uma mudança de circunstâncias” […] “Trumbull,
caia fora” […] “Tudo bem, estou indo”: cena composta por duas
narrativas: Trumbull, entrevistado por Larson e Trumbull entrevistado
pelo autor.
“Stan resolveu matar”: Clarke, Lost Worlds, p. 38.
“Minha experiência cinematográfica” […] “Preste atenção, Stanley” […]
“Depois disso, ele ficou furioso” […] “Ele é um sujeito muito legal”:
Cartwright, entrevistado por Larson.
cem metros cúbicos de uma areia especialmente fina: comunicado de
imprensa, sem data, da Hawk Films, meados de janeiro de 1966.
Foram testados diversos tipos de madeira […] foram produzidos algo como
14 monólitos […] “Ele ficava assim” […] “Foomp! Ficou coberto de
pó” […] “Foi inacreditável”: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”;
Masters, entrevistado por Shay.
“Vamos ter que fazer”: de Ordway, em Frayling, 2001 File: Harry Lange,
p. 75.
Capítulo 6: A produção
Nunca deixe seu ego se interpor: Frewin, “Chairman Stanley”.
“Meu Deus, como eram bons”: Ivor Powell, entrevistado pelo autor, 20 de
setembro de 2016.
“Lá está ele”: esboço do roteiro de 2001, 9 de dezembro de 1965.
Apesar de um registro excelente: ibid.; Relatório Diário de Continuidade,
17 de dezembro de 1965.
No dia 1º de janeiro, Kubrick notou que: ibid., 1º de janeiro de 1966.
Em outra ocasião, um morcego […] Um sistema de comunicação de
“indução magnética”: comunicados à imprensa da Hawk Films, sem
data, meados de janeiro de 1966.
“Em um primeiro exame, o preto” […] “sinais eletrônicos intensos”: as
citações são do esboço do manuscrito de 2001, sem data; ou, então,
datadas de 13 de outubro de 1965.
“alguns boatos sobre um problema”: esboço do manuscrito de 2001, 9 de
dezembro de 1965.
Era manhã de 6 de janeiro: todos os diálogos são do Relatório Diário de
Continuidade, 6 de janeiro de 1966.
Depois de cumprimentar o ator: chegada de Dullea com base nas descrições
fornecidas por Powell, entrevistado pelo autor.
feito uma viagem a Roma: comunicado à imprensa da Hawk Films, sem
data, meados de janeiro de 1966.
Desde o início: todos os diálogos do ônibus lunar são do Relatório Diário
de Continuidade, 13 de janeiro de 1966.
“Realismo é bom, mas interessante é melhor”: Frewin, “Chairman
Stanley”.
O monólogo de Sylvester era de aproximadamente: Toda a cena do diálogo
na sala de reunião da Base de Clavius retirada do Relatório Diário de
Continuidade, 13 de janeiro de 1966, e das páginas do esboço do
manuscrito de 2001; ou então datado de 13 de outubro de 1965.
“Eu não consigo mais” […] “não conseguiu” […] “Ele não foi
desagradável”: Johnson, entrevistado pelo autor.
Kubrick estava “fora de si” […] “Ele está usando drogas?” […] “Mas nós
vamos anunciar” […] “meu Deus, meu Deus” […] “Tudo de que
Stanley precisasse”: Caras, entrevistado por Richter, 7 de setembro de
1999.
“Preciso que você refaça isso” […] “Certo, me mostre o que você”:
Johnson, entrevistado por Larson, 19 de junho de 2003.
“Wally, arquive o seu treco”: Johnson, entrevistado pelo autor.
todas as bobinas caíram: Trumbull, entrevistado pelo autor.
“Acho que ele via as coisas de modo diferente” […] ele mudava o ajuste:
Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“Se ele não fosse diretor”: Michel Ciment, “Working with Stanley
Kubrick-John Alcott”, the Kubrick Site, <www.visual-
memory.co.uk/amk/doc/0082.html.175>.
“Faça isso com seis”: lembranças da dinâmica no set entre Unsworth-
Alcott-Kubrick por Johnson, entrevistado pelo author.
“Geoffrey, por que está tão pensativo” […] “Sabe, Roger” […] “Você
sabia disso?”: Caras, entrevistado por McAleer.
“Eu poderia ter morrido!”: Minsky, entrevistado por Stork, HAL’s Legacy, p.
24.
“Pronto, senhor”: Relatório Diário de Continuidade, 9 de janeiro de 1966.
“girada como um relógio”: notas da reunião de operações da câmera
centrífuga, 15 de janeiro de 1966.
Nós podíamos subir junto com a roda: Shay e Duncan, “2001: A Time
Capsule”.
“Kelvin! O que está fazendo?”: Kelvin Pike, entrevistado por Larson, 3 de
março de 2003.
Depois de alguns dias de exercícios: Caras ao colunista Louis Sobol, 23 de
fevereiro de 1966.
“Era um local de trabalho assustador”: Trumbull, entrevistado por Larson.
não conhecia uma droga recreativa: Frewin, entrevistado pelo autor.
“Eu sentia que aquilo não era nada sólido” […] “Ele jogava, mas nunca
ganhava muito”: Christiane Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho
de 2016.
A certa altura, John Kelly […] “Era muito simples” […] “Um brigão de
bar” […] “Ele tinha a mesa de bilhar mais linda” […] “Como você
consegue ser assim?” […] “Ele era o epítome”: Gary Lockwood,
entrevistado pelo autor, 11 de setembro de 2016.
“pode ser culpado” […] “estudo de viabilidade”: o diálogo é do Relatório
Diário de Continuidade, 26 de janeiro de 1966.
“um pouquinho redundante”: Gary Lockwood, entrevistado por Larson, 8
de dezembro de 2003.
“Você não está mostrando sua animação” […] “Sabe de uma coisa,
Stanley, eu cresci” […] “Vamos parar por”: Lockwood, entrevistado
pelo autor.
sua convicção de que a cena não era: Lockwood, entrevistado por Bozung.
“Acho que uma parte de mim” […] “O chefe quer falar com você” […]
“Sinceramente, eu gosto de tequila”: Lockwood, entrevistado pelo
autor.
“Sim, Chopin está ótimo”: Pete Thornton, “Gary Lockwood and Keir
Dullea—2001: A Space Odyssey Interview”, Front Row Reviews, 1º de
dezembro de 2014, <www.frontrowreviews.co.uk/features/keir-dullea-
and-garylockwood-2001-a-space-odyssey-interview/31914>.
“Bem, senhor presidente, estou ajudando”: Lockwood, entrevistado por
Larson.
“apertar os parafusos do computador” […] “ia direto ao ponto”:
Lockwood, entrevistado pelo autor.
considerar Kubrick o melhor diretor: Lockwood, entrevistado por Bozung.
“Depois você vai para casa”: Lockwood, entrevistado pelo autor.
muito humana e muito: Lockwood, entrevistado por Bozung.
noite de fevereiro, com frio abaixo de zero: Lockwood, entrevistado pelo
autor.
mesmo se todos estivessem no mesmo: Heather Downham esboçou esse
cenário em um contexto um pouco diferente no documentário 2001: The
Making of a Myth, dirigido por Paul Joyce, 2001. (Warner Bros. Home
Entertainment Group, DVD).
“como tentar escrever Guerra e Paz”: Kubrick utilizou essa comparação ao
longo de sua carreira; como exemplo, ver o vídeo com sua mensagem
para o D. W. Griffith Lifetime Achievement Award, em
<www.youtube.com/watch?v=tBYJJzpxH9Q>.
“Minha atitude era de reverência” […] Que ele, Kubrick, se sentia um
pouco culpado: Keir Dullea, entrevistado por Richter, 1º de abril de
2000.
“maior filme de todos” […] “Você consegue acreditar nisso?”: Lockwood,
entrevistado por Richter.
“Stanley era muito mais” […] “Ele precisava de gente”: Bizony, The
Making of Stanley Kubrick’s 2001, p. 371.
Em meio a tudo isso, Clarke: descrição do esforço de Clarke em concluir o
filme de Wilson, em Clarke para Blau, 19 de março de 1966; Clarke para
Wilson, 27 de março de 1966.
“geofones nas sondas”: Clarke para Kubrick, 3 de março de 1966.
“HAL poderia simplesmente ler os lábios”: Lockwood, entrevistado por
Bozung.
“Meu Deus, essa é uma grande ideia!” […] sua maior contribuição
individual: Lockwood, entrevistado pelo autor.
“Abra o compartimento das cápsulas, HAL” […] “Sinto muito, Dave”:
filme 2001: Uma odisseia no espaço, dir. Stanley Kubrick, Metro-
Goldwyn-Mayer, 1968.
Depois de abrir a escotilha: Kubrick para Clarke, 10 de fevereiro de 1966.
“está tudo certo”: Clarke para Kubrick, 13 de fevereiro de 1966.
a movimentação parece contínua: a técnica de voo com cordas é de Peter
Brook’s Production of A Midsummer Night’s Dream (Woodstock, IL:
Dramatic, 1974), p. 79.
Unsworth fez Pike alterar a velocidade: Relatório Diário de Continuidade,
20 de junho de 1966.
“Por que você se dispôs”: Keir Dullea, entrevistado pelo autor, 4 de
setembro de 2016.
cujo sotaque cockney, como observou Dullea: ibid.
a sequência foi concluída […] “Feliz aniversário, Frank”: Relatório
Diário de Continuidade, 7 de março de 1966.
“Sinto muito, Frank, acho que você não”: ibid., 27 de março de 1966.
Kubrick quis mostrar de forma sutil: análise da partida de xadrez auxiliada
pela ruptura em Bill Wall, “2001: A Chess Space Odyssey”, Chess.com,
última atualização em 22 de junho de 2007,
<www.chess.com/article/view/2001-a-chess-space-odyssey>; também
Murray S. Campbell, “‘An Enjoyable Game’: How HAL Plays Chess”,
em Stork, HAL’s Legacy, p. 75.
“contribuição extraordinária e brilhante”: Stanley Kubrick para Ingmar
Bergman, 9 de fevereiro de 1960.
“A próxima vez que o operador de som se atrasar”: Andrew Birkin,
entrevistado pelo autor, 10 de novembro de 2016.
“Se você não consegue me explicar” […] O que ele queria era a verdade:
Bryan Loftus, entrevistado por Richter, 16 de novembro de 1999.
“Olha isso, Bryan”: Loftus, entrevistado pelo autor, 22 de setembro de
2016.
“Stanley tomou água da torneira”: Johnson, entrevistado por Larson.
Fumante inveterado desde os doze: Christiane Kubrick, entrevistada pelo
autor, 5 de junho de 2016.
um limite autoimposto de 46 quilômetros por hora: Caras, entrevistado por
Richter; Clarke, Lost Worlds, p. 47.
ser corajoso era uma coisa estúpida: Caras, entrevistado por Richter.
“Nunca entre numa briga justa”: Bernstein, entrevistado pelo autor, 17 de
outubro de 2016.
“Eu agora estou lutando” […] Na semana passada pedi […] “Tudo que
ganhei”: Clarke para Wilson, 12 de março de 1966.
ele simplesmente não queria que o livro: Frewin, entrevistado pelo autor.
“As relações dele, uma depois da outra” […] “Acho que ele considerou
tudo muito” […] Na verdade ele não conseguia terminar: Caras,
entrevistado por McAleer.
quase levou Clarke a um colapso nervoso: Clarke para Meredith, 16 de
março de 1966.
“em madeira podre desnecessária” […] “insinua que o erro pode estar em
HAL” […] “mantém seu diagnóstico” […] “E também é mais lógico”:
Clarke para Stanley Kubrick, 11 de março de 1966.
“Eu não sei o que estou fazendo” […] “Por que sou tão crítico?” […]
“Isso não dá pra fazer” […] “Vou ali comer um hambúrguer” […]
“Tinha seus momentos ‘Eu sou um babaca’”: Christiane Kubrick,
entrevistada pelo autor, 22 de setembro de 2016.
As temperaturas no interior passavam de: a temperatura foi estimada por
Bill Weston, entrevistado por Larson, 19 de dezembro de 2001.
dentro de uma torradeira: Pike, entrevistado por Larson, 3 de março de
2003.
“Quero que isso seja um assassinato” […] “a fim de parecer carne”:
Christiane Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho de 2016.
“Puxa, que coisa terrível”: Birkin, entrevistado pelo autor.
“Sim, eu gostaria de ouvir, HAL”: 2001: Uma odisseia no espaço, Kubrick,
dir.
O melhor momento de Dullea […] “Escute, Dave. Eu realmente sinto” […]
“Cale-se, HAL” […] “Dave, sabe que acabei” […] “Sim, é verdade
HAL”: Relatório Diário de Continuidade, 29 de junho de 1966.
“não poderiam servir como base”: Tony Frewin (ed.), Are We Alone?: The
Stanley Kubrick Extraterrestrial Intelligence Interviews, Londres: Elliott
& Thompson, 2005, p. 11.
“uma das poucas ideias ruins de Stanley Kubrick”: citado por Arthur C.
Clarke em seu prefácio para Frewin, Are We Alone?, p. 7.
Na primeira resposta, em fevereiro: Sagan para Caras, 9 de fevereiro de
1966.
“alta frequência de citações”: Sagan para Caras, 10 de março de 1966.
não poderia haver nenhum controle editorial: Caras para Sagan, 15 de
março de 1966.
“um extraterrestre numa garrafa”: Christiane Kubrick, entrevistada pelo
autor, 15 de janeiro de 2016.
“A situação é mais ou menos”: Caras para Craig W. Moodie Jr., 29 de julho
de 1965.
“uma série de calombos” […] “esse piso vai brilhar”: Caras para Masters,
6 de agosto de 1965.
“Por que não usar um quarto francês?”: Masters, entrevistado por Shay.
Os oito dias passados no quarto de hotel: além do Relatório Diário de
Continuidade, de 23 de junho de 1966, devo esses insights a David
Larson, que estudou cuidadosamente as fotografias dessas atividades,
Larson para o autor, por e-mail, 19 de agosto de 2017.
“Interpretação muito boa!”: Relatório Diário de Continuidade, 24 de junho
de 1966.
“Stanley, você se importa” […] “Certo, tudo bem”: Dullea, entrevistado
pelo autor, 4 de setembro de 2016; Thornton, “Gary Lockwood and Keir
Dullea”.
“Muito bom”: Relatório Diário de Continuidade, 24 de junho de 1966.
Vamos considerar este koan: “Zen Koans”, <AshidaKim.com>,
<www.ashidakim.com/zenkoans /zenindex.html>.
“uma pequena contribuição”: Thornton, “Gary Lockwood and Keir
Dullea”.
“Soube que considera”: Stanley Kubrick para David Wolper, 15 de
dezembro de 1966.
Qualquer tecnologia muito avançada: citação tão difundida que uma fonte
única é praticamente imaterial, mas está em “Sir Arthur C. Clarke,
Visionary, Died on March 18, Aged 90,” The Economist, 27 de março de
2008.
“O conteúdo da lição ganha” […] “Acho que a introdução de armas”:
Kubrick para Clarke, 11 de abril de 1966.
“Por favor, não venha aqui”: Kubrick para Clarke, 19 de abril de 1966.
Clarke respondeu: Clarke, Lost Worlds, p. 46.
Uma carta de seu agente: Meredith para Clarke, sem data, cerca de 17-18
de abril de 1966.
“um espetáculo espantoso” […] “exibido apenas em poucos cinemas”:
Clarke, Lost Worlds, p. 46.
“pura força de resolução de Stanley”: Michael Herr, Kubrick, Nova York:
Grove Press, 2000, p. 61.
Clarke saiu com Roger Caras: Clarke, Lost Worlds, p. 46.
“daquele pateta do George II”: Birkin, entrevistado pelo autor.
“rapazes de Kubrick”: Powell, entrevistado pelo autor.
Um dia, por exemplo […] Birkin lia todos os roteiros […] “Estou
interessado” […] Birkin foi convocado para um “fantasma” […] “Será
uma invasão” […] “O que ele disse?” […] “Eu não acredito que não
exista um deserto” […] “Eu sei onde tem um deserto” […] “Essa pode
ser a sua chance” […] “Certo. Vá até lá e” […] “Eu queria que
parecesse mágico” […] “Ah, oi, Andrew” […] “Muito bem, senhores”:
Birkin, entrevistado pelo autor.
“pensamos: ‘Esse é um bom começo’” […] “Nossa, companheiros, ah,
meu Deus” […] De repende Kubrick se aproximou, intrigado: Masters,
entrevistado por Shay; história confirmada por Bill Weston, entrevistado
por Larson, 19 de dezembro de 2002.
“Tudo bem, a gente pode filmar”: Shay e Duncan, “2001: A Time
Capsule”,
“pequenas coisas de plástico” […] “Conseguimos um bom resultado” […]
O problema é que os personagens: ibid.; Stuart Freeborn, entrevistado
por Jordan R. Fox, c. 1976.
“um assistente muito esperto” […] Mas a pior parte foram […]
“Realmente, está começando a ficar” […] “Não faço ideia, Stanley”
[…] “Vamos fazer Geordie” […] “Claro, Stanley” […] Durante uma
hora e meia corri: Keith Hamshere, entrevistado por Richter, 11 de
novembro de 1999.
O telegrama de Fine a Scott Meredith: Fine para Meredith, 5 de junho de
1966.
“parabéns e uau”: Meredith para Clarke, 5 de junho de 1966.
O valor era substancialmente mais alto: Meredith para Clarke, sem data, c.
17-18 de abril de 1966.
Kubrick se sentiu traído e irritado: ver, por exemplo, Meredith para Clarke,
13 de junho de 1966, e Kubrick para Clarke, 12 de julho de 1966.
“a pura verdade”: Meredith para Clarke, 13 de junho de 1966.
“Durante uma de minhas mais frenéticas”: Clarke, Lost Worlds, p. 47.
“Lágrimas, ataques histéricos, amuos”: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
“Os editores gostaram tanto”: Clarke para Kubrick, 15 de junho de 1966.
“algumas sugestões muito precisas” […] “já que o livro vai sair” […] “um
fantoche controlado por” […] “A descrição literal desses” […] “Esta
cena sempre me pareceu” […] “Acho que é um capítulo muito”: Clarke,
Lost Worlds, pp. 47-8.
“Eu forcei Stanley”: Clarke to Tom Buck, 22 de junho de 1966.
“Ele está trabalhando umas vinte horas por dia”: Clarke para Alfred
Lansing, 22 de junho de 1966.
Por fim, no dia 4 de julho: Clarke, linha do tempo para “Son of Dr.
Strangelove”.
“É possível que eu largue tudo”: Clarke para Willson Hunter, 5 de julho de
1966.
Existem evidências claras: Wilson para Clarke, 11 de março de 1986; ver
também Clarke, “Son of Dr. Strangelove”, e carta de Stanley Kubrick
para Caras avisando sobre um possível processo, 15 de agosto de 1966.
“um impressionante anúncio de”: Clarke, Lost Worlds, p. 49. Mais a
respeito dos gastos da Dell, carta de Clarke para Sam Youd, 14 de junho
de 1967.
uma oferta de adiar o recebimento: Kubrick para Clarke, 12 de julho de
1966.
“não discutir nada com Arthur”: Kubrick para Caras, 15 de agosto de
1966.
“segurando suas lágrimas corporativas”: Clarke, Lost Worlds, p. 49.
Em meados de setembro, Clarke se retirou: Clarke para Blau, 14 de
setembro de 1966.
Por fim ele localizou […] “Você não pode ir embora!”: Birkin, entrevistado
pelo autor.
“Bem, eu realmente sinto muito, Stanley”: Johnson, entrevistado pelo autor,
3 de fevereiro de 2017.
“Ainda não temos o projeto” […] “algo que parecia uma moeda” […]
Mesmo desenhadas às pressas: Birkin, entrevistado pelo autor.
“Eu diria que Tony Masters foi com certeza”: Trumbull, entrevistado pelo
autor.
Trabalhando com a nova máquina: Loftus, entrevistado pelo autor.
surgiu depois de Wally Gentleman ter mostrado: Gentleman, entrevistado
por Shay.
que não tinha a mesma autoconfiança […] “O que você está sugerindo?”:
Birkin, entrevistado pelo autor; ver também Birkin, entrevistado por
Justin Bozung para a TV Store Online, 1º de abril de 2015.
Loftus tem uma lembrança diferente: Bryan Loftus para o autor, e-mail, 14
de setembro de 2017.
Agora ele abria mapas […] Acabaram optando pelo Alouette […] Birkin
programou uma série de sobrevoos: Birkin, entrevistado pelo autor;
documentos sobre o planejamento das tomadas fornecidos por Birkin ao
autor, 3 de novembro de 2016.
Apresentou a Kubrick vinte páginas: Birkin, entrevistado por Bozung, Blog
TV Store On-line, 1º de abril de 2015,
<http://blog.tvstoreonline.com/2014/09/2001-space-odyssey-interview-
series_23.html>.
“Pensei em todos os lugares” […] “já que dei a ideia” […] “Se você já
esteve em um helicóptero” […] “Bem, eu tenho três” […] “Você está
arriscando a minha vida” […] “Não se preocupe. Eu vou ficar de bico
fechado” […] “Assim, depois de ficar meio desanimado”: Birkin,
entrevistado pelo autor.
Kubrick comentou discretamente: Clarke para Youd, 21 de outubro de 1967.
John Esam, que seguira a trilha beatnik […] Em fevereiro de 1966, tornou-
se: Andrew Phillip Smith, “John Esam Obituary”, The Guardian, 11 de
setembro de 2011.
“Eu conheço um mímico” […] chegara a ser o artista principal […] Em
comparação com a mímica europeia […] “parecia o lugar onde as latas
de lixo” […] “um cara despenteado”: Dan Richter, entrevistado pelo
autor, 23 de agosto de 2016.
“Dan, eles não podem parecer homens”: Dan Richter, Moonwatcher’s
Memoir: A Diary of 2001: A Space Odyssey, Nova York, Carroll & Graf,
2002, p. 4.
Richter respondeu imediatamente […] Um exemplo clássico de convenção
[…] “Seu problema é que” […] “acabaria contratando uma pessoa
famosa” […] “escritoriozinho despretensioso” […] “Ele era
corpulento” […] “Bem, tudo isso me parece” […] “Eu só preciso de
vinte minutos” […] meio burro, agressivo e paranoico […] “uma
estupidez” […] “rude, intrometido, hesitante” […] “Ah, maravilhoso!”
[…] “um bichinho nervoso, delicado” […] “Bom, já vi o suficiente”
[…] “O personagem faz o que quer” […] Agora Kubrick afogava
Richter com perguntas […] “Não dá” […] Kubrick pediu-lhe que
escrevesse: Richter, entrevistado pelo autor.
“Atravessar aquela posta”: Richter, Moonwatcher’s Memoir, p. 13.
“uma voz bem-educada e bela”: Frewin, entrevistado pelo autor, 21 de
setembro de 2016.
“trabalhar como soldado freelancer na África” […] Kubrick havia
rejeitado a ideia […] diretriz que o dublê logo tratou de burlar […]
Dada a complexidade das tomadas […] Uma das primeiras sequências
[…] Kubrick insistiu que Weston usasse […] ele desceu de cabeça […]
Chicoteando 180 graus para a frente […] caiu, girando […] “Se tivesse
sido” […] “Uma das melhores coisas do Stanley” […] Uma das
tomadas de Weston […] “Aquilo me divertiu” […] “recitava o alfabeto
de trás” […] “porque ainda estava apavorado” […] “Na primeira vez
em que saí” […] “temos que tirá-lo de lá” […] “e eu fui procurar
Stanley” […] “camarim de Elizabeth Taylor” […] “Quando o Stanley
estava envolvido”: Weston, entrevistado por Larson.
A cena mais complexa […] Tanto Weston quanto a câmera se moveriam
[…] No alto de sua plataforma […] Weston usou o anel de alumínio:
Ibid.
“Um dia desses ele vai matar”: Weston para Larson após uma entrevista
formal, em 19 de dezembro de 2002, conforme contado por e-mail de
Larson para o autor, 14 de dezembro de 2016.
“Fui parte de um grupo que fez história” […] “Eu simplesmente me vi
transbordando” […] “É realmente a história da mosca azul”: Weston,
entrevistado por Larson.
“meio que pegando o bonde andando”: Pederson, entrevistado por Debert.
“um garfo em um restaurante”: Birkin, entrevistado pelo autor.
“Esse veio antes ou depois de Nero?”: Birkin, entrevistado por Bozung.
Ele havia recebido as chaves […] “Aqui está, Moonwatcher” […] Os dois
conversaram por uns 45 […] Partiria para o Ceilão no dia seguinte:
Richter, entrevistado pelo autor; Richter, Moonwatcher’s Memoir, pp.
17-21.
Certas ideias temáticas: Gilmour, “For the First Time, Kubrick Explains
His Space Odyssey”.
“estágios finais e tentando juntar forças” […] “Ele não estava
desperdiçando tempo, estava focado” […] “Tudo tinha que ter essa
excelência”: Cantwell, entrevistado por Larson.
“fundamentalmente em ângulos retos” […] “maravilhosamente
utilizáveis”: ibid.
“um pequeno kit […] Exatamente como uma peça de arte bruta”: Cantwell,
transcrição da entrevista a Shay.
“Há o tempo todo um nível de abstração” […] Não daria a sensação de
efeitos especiais: Cantwell, entrevistado por Larson.
“Tudo o que você puder descrever, eu consigo filmar”: Clarke, “Son of Dr.
Strangelove”.
“Este é, realmente, um filme de Stanley Kubrick”: Fala de Arthur C. Clarke
em evento promocional na MGM, 4 de abril de 1968,
<www.youtube.com/watch ?v =HEEtfhxLQbw>.
“Nós conversamos, e sugeri”: Cantwell, entrevistado por Larson.
Em ambas, o monólito era: descrições dos recortes dos monólitos de
Cantwell, transcrição da entrevista a Shay, 17 de agosto de 1979.
“um fantoche controlado por cordas”: Clarke, 2001: A Space Odyssey, p.
12.
“A descrição literal presente nessas”: Clarke, Lost Worlds, p. 47-8.
“Qualquer tecnologia suficientemente avançada”: As Leis de Clarke foram
amplamente promulgadas. Ver “Clark’s Three Laws”, Wikipedia,
<https://en.wikipedia.org/wiki/Clarke %27s_three_laws>.
“aludir à mágica”: Clarke, entrevistado por Gelmis, Camera Three.
e no final de outubro, Cantwell concebeu: cronograma determinado pelo
resumo de Stanley Kubrick da discussão com o Departamento de Efeitos
Especiais, 20 de outubro de 1967.
“Mais uma vez, buscamos a simetria” […] “Apenas iluminamos o objeto
e”: Cantwell, entrevistado por Larson.
“um pequeno motor de aceleração”: Shay e Duncan, “2001: A Time
Capsule”.
que considerou “Brilhante!”: Trumbull para o autor, e-mail, 26 de junho de
2017.
“provavelmente trabalhou cerca de cem horas” […] “pirataria da visão”:
Cantwell, entrevistado por Larson.
“Os créditos iniciais estariam” […] “os sóis de Frasconi não deveriam
aparecer” […] “Ele apareceria com uma nova narração” […] “Arthur
se expressava com muita sutileza”: ibid.
Em fevereiro, pedira a Caras: Stanley Kubrick para Caras, 12 de fevereiro
de 1967.
“Eu descreveria sua qualidade”: Stanley Kubrick para Benn Reyes, 17 de
julho de 1967.
“perfeita, pois ele tem a exata medida”: Stanley Kubrick para o produtor
musical Floyd Peterson, 21 de agosto de 1967.
Embora inicialmente achasse a interpretação de Balsam: Stanley Kubrick
para Caras, 18 de agosto de 1966.
“uma expressão aduladora, condescendente, neutra”: Agel (ed.), Making
of Kubrick’s 2001, p. 119.
“um homem encantador”: “Who’s Behind Hal?”, Toronto Telegram, 15 de
maio de 1968.
“Estou constantemente ocupado” […] “Bem, acho que não resta dúvida”:
2001: A Space Odyssey, Kubrick, dir.
“Kubrick sentou-se a um metro de distância do ator”: em Terry O’Reilly,
Voices of Influence, CBC Radio, 21 de janeiro de 2012,
<www.cbc.ca/radio/undertheinfluence/voices-of-influence-1.2801871>.
fazendo pequenas revisões ao longo: folheto de narração de Doug Rain, 27
de novembro de 1967, Kubrick Archive, UAL.
para manter o tom calmo que era necessário: 2010 Odyssey Archive
(MMXOA) (blog),
<http://2010odysseyarchive.blogspot.si/2015/01/douglas-rain-immortal-
voice.html>.
“um pouco mais preocupado” […] “mais categórico”: Gerry Flahive para
o autor, e-mail, 9 de setembro de 2017; as citações são de sua pesquisa
no Kubrick Archive, UAL.
“Lamento muito por tudo”: Kubrick Archive, UAL.
“difíceis de definir” […] “se livrado completamente da suspeita” […]
“Você está trabalhando no relatório psicológico”: Stanley Kubrick
(dir.), 2001: A Space Odyssey.
Kubrick fez Rain cantar, murmurar e recitar: transcrição da cena “Kill
HAL?”, claquete 734-1, Kubrick Archive, UAL, gentilmente enviada por
e-mail por Flahive para o autor, 15 de setembro de 2017.
Usando um novo dispositivo analógico: Wendy Carlos, “The Eltro Mark II
‘Information Rate Changer’”, última atualização em julho de 2008,
<www.wendycarlos.com /other/Eltro-1967>.
a força acumulativa da cena atingiu Cantwell: Cantwell, entrevistado por
Larson.
“A morte é infligida como uma ação fora do tempo”: Michel Chion,
Kubrick’s Cinematic Odyssey, trad. de Claudia Gorbman, Londres: BFI,
2001, p. 115.
“Eu estava acostumado com Stanley” […] “Stanley tirou o capacete”: De
Wilde, entrevistado pelo autor.
“O artista, como o Deus da criação”: James Joyce, A Portrait of the Artist
as a Young Man, Nova York: B. W. Heubsch, 1916, p. 252.
“Favor informar disponibilidade”: Caras para General Biological Supply
House, 31 de maio de 1966.
fora precedido por um telegrama de Ivor Powell: Powell para Caras, 26 de
maio de 1966.
“Não podemos oferecer cotações”: General Biological Supply House para
Caras, 2 de junho de 1966.
Moore, que ajudara Stuart Freeborn […] tinha feito certo nome ainda
como: Pam Warner, “Variety Is the Spice of Life to Liz Moore”,
Advertiser and Reporter, 29 de junho de 1967.
“Originalmente, seria muito mais complexo”: Shay e Duncan, “2001: A
Time Capsule”.
“Se você observar os autômatos”: Johnson, transcrição da entrevista a
Shay, 3 de agosto de 1979.
“fornecida por Geoff Unsworth”: Trumbull, entrevistado pelo autor.
com cerca de 40 mil watts de luz de fundo: Shay e Duncan, “2001: A Time
Capsule”.
Stanley filmou vários movimentos: Trumbull, entrevistado por Shay.
“o operador saiu correndo e berrando”: o incidente foi descrito em Piers
Bizony, 2001: Filming the Future (Londres: Aurum, 1994) conforme
citado em “Making the Starchild in 2001: A Tribute to Liz Moore”,
2001Italia.It (blog), <www.2001italia.it/2013/05/making-starchild-in-
2001-tribute-to-liz.html>.
“Eu disse: ‘Você já viu um alienígena’” […] “Ele dizia: ‘Não consigo criar
nada’” […] “No instante em que conseguimos imaginar”: Christiane
Kubrick, entrevistada pelo autor, 5 de junho de 2016.
“Tive uma ideia” […] “Havia visto um padrão pontilhado”: Shay e
Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“Quero fazer algumas imagens de alienígenas” […] “Percebi que não
poderia”: Richter, Moonwatcher’s Memoir, pp. 136-7.
“um rabino ligeiramente cínico”: Clarke, “Son of Dr. Strangelove”.
“perfeitamente” […] “produzir circunferências perfeitas” […] Colamos as
bolinhas pelo corpo: Shay e Duncan, “2001: A Time Capsule”.
“acho que, de certa forma, era muito bom”: Freeborn, entrevistado por
Fox.
“E assim um conjunto de lâmpadas” […] “Montei uma maquininha de Slit
Scan bem interessante” […] “Vamos ter que parar”: Trumbull,
entrevistado pelo autor.
“Se é tão surreal e louco” […] “Seria ótimo se eu conseguisse pensar em
alguma” […] “Eu queria ter talento”: Christiane Kubrick, entrevistada
pelo autor, 5 de junho de 2016.
Nascido em 1904, ele saiu da pobreza rural de Montana: a história de
Robert O’ Brien é de Anne McGonigle, entrevistada pelo autor, 30 de
agosto de 2017; Carole Beers: “Robert H. O’Brien; Former Head of
MGM Made His Home Here”, Seattle Times, 10 de outubro de 1997;
Leslie Eaton, “Robert H. O’Brien, 93, MGM President in ’60s”, New York
Times, 11 de outubro de 1997.
O épico de três hora Doutor Jivago, de David Lean […] Nenhuma despesa
foi poupada […] Com uma invernal Moscou erguida: Melanie Williams,
David Lean, Oxford: Oxford University Press, 2016), p. 184-5.
tinha cerca de 500 mil ações […] duas batalhas caras: “Investment:
Newest Life of Leo the Lion”, Time, 1º de setembro de 1967; Eaton,
“Robert H. O’Brien”.
“Eles estavam muito nervosos — e estavam corretos”: Christiane Kubrick,
entrevistada pelo autor, 22 de setembro de 2016.
ocorreu por sugestão da MGM: Chion, Kubrick’s Cinematic Odyssey, 24;
“The Odyssey of Alex North”, Robert Townson, encarte do CD Ales
North’s 2001: Unused Soundtrack Score (Varese Sarabande VSD 5400),
2003.
“extático diante da possibilidade de”: Merkley, “‘Stanley Hates This But I
Like It’”.
“não poderia aceitar a ideia de compor parte”: Burlingame, “A Lost
Masterpiece Rediscovered”, <www.alexnorth2001.com/ABOUT_THE
SCORE.html>.
A MGM lhe pagaria 25 mil dólares, mais despesas: Benjamin Melniker para
Stanley Kubrick, 12 de dezembro de 1967.
Uma orquestra de noventa músicos […] Foram programadas sessões de
gravação: Philip G. Jones para Stanley Kubrick, 11 de dezembro de
1967.
orquestrado “Bach Goes to Town”: Frewin para o autor, e-mail, 15 de
outubro de 2017.
“Tínhamos um apartamento, uma cozinheira e um carro”: Merkley,
“‘Stanley Hates This But I Like It’”.
“Trabalhei dia e noite”: Burlingame, “A Lost Masterpiece”.
“Ele chegou em uma ambulância”: De Wilde, entrevistado pelo autor.
“Estive presente em todas as sessões”: Merkley, “Stanley Hates This But I
Like It”.
“Ele fez algumas sugestões muito boas”: Schwam e Scorsese, The Making
of 2001, p. 130.
“Ele olhou para mim, eu olhei para ele”: De Wilde, entrevistado pelo
autor.
“é uma música maravilhosa” […] “Stanley odiou esta parte, mas eu
gosto!”: Merkley, “‘Stanley Hates This But I Like It’”. Questiono a
afirmação de Merkley de que a intenção da peça em questão não era
substituir Assim falou Zaratustra. Na frase anterior, Brant identifica
especificamente como a peça de abertura, citando os tímbalos.
“É uma merda”: comentário de Con Pederson a Dave Larson depois de
uma entrevista formal de Pederson, 4 de abril de 2003; confirmada em e-
mail de Pederson para o autor, 9 de novembro de 2017.
O resto do filme iria “utilizar efeitos de respiração”: Kate McQuiston,
We’ll Meet Again: Musical Design in the Films of Stanley Kubrick, Nova
York: Oxford University Press, 2013, p. 132.
“Cumpri minha obrigação” […] “os direitos de uso para as trilhas
provisórias”: as observações de North estão na biblioteca Margaret
Herrick na Academy of Motion Picture Arts and Sciences, Los Angeles.
Mas nesse caso, como em todos os outros, O’Brien confiou em seu
julgamento […] Embora eu e ele víssemos o filme com muita atenção:
Michel Ciment, Kubrick, Nova York: Holt, Rinehart, and Winston, 1983,
p. 177.
“Durante todo o tempo, ele estava”: Merkley, “‘Stanley Hates This But I
Like It’”.
“havia alguma coisa na cabeça dele” […] “‘O que fazer, e em quem
pensar’” […] “Para Stanley, isso não seria motivo para ficar”:
Cantwell, entrevistado por Larson.
Até ali, a contribuição de Gaffney para 2001 […] Quero imagens em
Monument Valley: LoBrutto, Stanley Kubrick, pp. 288-9.
“mais imóvel que uma pedra” […] “Eu sabia que você ainda ia me matar”
[…] “Você pilota e eu fico de radar” […] “Ele quase me matou”: ibid.,
p. 290-1.
O diretor respondeu que, olhando em retrospectiva : Birkin, entrevistado
pelo autor.
“Isso era muito ousado, assim como tudo”: Cantwell, entrevistado por
Parson.
“a gente se divertiu” […] o prólogo documental: De Wilde, entrevistado
pelo autor.
“Eles eram filhos da floresta” […] “Você passa a maior parte do tempo”:
Clarke para Kubrick via Reyes, 31 de outubro de 1967.
“Desde que a consciência surgira”: em folheto de “Narration”, Kubrick
Archive, UAL, 22 de janeiro de 1968.
“Narração precisa redução drástica”: Kubrick para Clarke via Reyes, 22
de novembro de 1967.
“Acabei de retornar turnê de palestras”: Clarke para Kubrick, 23 de
novembro de 1967.
“Lamento pela narração”: Kubrick para Clarke via Reyes, 23 de novembro
de 1967.
“uma prosa nova e extravagante”: Clarke para Kubrick, 25 de novembro
de 1967.
“Devo confessar que tenho a impressão”: Kubrick para Clarke, 27 de
dezembro de 1967.
“não quero dissabores nem atrasos”: Clarke para Meredith, 31 de
dezembro de 1967.
“Parece que não vamos conseguir chegar”: Kubrick para Clarke, 23 de
janeiro de 1968.
“É impossível apressar”: Clarke para Kubrick, 29 de Janeiro de 1968.
“fingindo parecer ocupado” […] “obviamente nervoso” […] “Bem, Dan,
tenho que acertar seu crédito” […] “Bom, fico com o crédito no
elenco” […] “Fica realmente bom para você assim?” […] “Pode
acreditar, Stanley”: Richter, Moonwatcher’s Memoir, p. 142.
“Ele não teria me ouvido”: Richter, entrevistado pelo autor.
“Todos estavam largando o filme” […] “Não, não estou preocupado
porque tenho Doug” […] “Esse foi um dos maiores desafios” […] “Eu
era extremamente contrário” […] “Olha, Stanley, faz o que você
quiser” […] “Bom, vou fazer assim mesmo” […] “Foi um momento
difícil” […] “de uma complexidade épica” […] “Eu me lembro
vagamente de uma discussão”: Trumbull, entrevistado pelo autor.
“Muitos anos se passaram”: Con Pederson para o autor, e-mail, 7 de
setembro de 2017.
“uma outra sacanagem” […] “Nos meus últimos dias” […] “E sempre
faltava um cartão”: Trumbull, entrevistado pelo autor.
Em vez disso, ele mandou Louis Blau: Blau para Joseph Youngerman, 27 de
fevereiro de 1968.
“membros de sua equipe marcando sua participação na produção de 2001:
Uma odisseia no espaço”, fevereiro de 1968.
“Como você sabe, tudo terminou”: Kubrick para “Jimmy”, 7 de março de
1968.
capa
Rodrigo Corral
preparação
Amanda Zampieri
Marta Garcia
Teté Martinho
revisão
Rafaela Biff Cera
Huendel Viana
tratamento de imagens
Carlos Mesquita
versão digital
Antonio Hermida
Josué de Oliveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
——
Benson, Michael (1962-)
2001: Uma odisseia no espaço: Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a
criação de uma obra-prima: Michael Benson
Título original: Space Odyssey: Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke, and the
Making of a Masterpiece.
Tradução: Álvaro Hattnher e Cláudio Carina
São Paulo: Todavia, 1ª ed., 2018
496 páginas
ISBN 978-85-93828-56-0
CDD791.43
——
Índices para catálogo sistemático:
1. Cinema: Ensaios 791.43
todavia
Rua Luís Anhaia, 44
05433.020 São Paulo SP
T. 55 11. 3094 0500
www.todavialivros.com.br
Como nasce o novo
Nobre, Marcos
9788593828591
344 páginas