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Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.

000 Cursos Grátis Pelo Sistema


de Ensino a Distancia – SED
CNPJ º 21.221.528/0001-60
Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº, Fundada
em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira

Apostila 43

Estudo Teológico Sobre Como deve ser a vida Cristão em 81 Partes em 422
paginas

VIDA NAS MÃOS DE DEUS


Parte I
A mensagem do Salmo 31.15

Durante anos e anos o livro dos Salmos tem enriquecido a vida espiritual do povo
de Deus. A razão disso está no fato de nos identificarmos com as lutas e as
vitórias dos salmistas. Muitas das experiências dos salmistas são, de certa forma,
as nossas experiências também. Porém, o que mais tem fascinado os crentes
através dos tempos é a vida espiritual de comunhão com Deus que os salmistas
levavam. Um bom exemplo dessa espiritualidade é a oração de Davi no Salmo 31,
em especial a primeira parte do verso 15 que diz: "Nas tuas mãos estão os meus
dias". Permita-me compartilhar com você esta preciosidade dos Salmos.

Num mundo em que as pessoas estão cada vez mais interessadas em si mesmas,
auto-confiantes, porém (paradoxalmente) confusas e inseguras acerca do dia de
amanhã, em que circunstância poderíamos nos aproximar de Deus e dizer-Lhe
com a mesma convicção de Davi, "Nas tuas mãos estão os meus dias"?
Consideremos três aspectos.

1) Em primeiro lugar, podemos dizer "nas tuas mãos estão os meus dias" quando
dependemos inteiramente de Deus.

Somente alguém que se entrega totalmente aos cuidados de Deus é capaz de


declarar ao Senhor: "Nas tuas mãos estão os meus dias". Somente quem vive em
função do próprio Deus pode dizer e cantar:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 1


De ti, Senhor, careço!
Do teu amparo, sempre!
Oh, dá-me tua bênção!
Aspiro a ti.
(Dependência - NC 120)

Uma das maiores expressões de dependência de Deus é a oração. Ao orarmos


reconhecemos diante de Deus que somos fracos, pequenos e necessitados de
Sua graça e compaixão imensuráveis. O Salmo 31 é uma oração de Davi do
começo ao fim, onde o versículo 15 é ponto alto de sua súplica. É como se Davi
dissesse a Deus: "Nas tuas mãos estão os meus dias porque sem a tua ajuda,
sem a tua proteção e sem a tua providência constante em minha vida eu não
tenho condições de dar um passo sequer". Este anseio de Davi em estar ligado a
Deus também é marcante nos Salmos 42 e 63. Contudo, uma das melhores
ilustrações da oração de Davi no Salmo 31.15 está no pedido de Pedro em João
6. Depois que o Senhor Jesus acabou de proferir o sermão do pão da vida, muitos
que O seguiam se escandalizaram e O abandonaram. Em seguida Jesus se voltou
para os doze e lhes perguntou se também queriam deixá-lO. "Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna; e
nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (Jo 6.68). Observe a
expressão: "Senhor, para quem iremos?". O que Pedro quis dizer foi exatamente
isto: "Não há outra pessoa a quem podemos ir; não há outra pessoa que satisfaça
o anelo do coração" (G. Hendriksen).

Assim oraram Davi e Pedro; assim deve orar todo aquele que crê que "a nossa
suficiência vem de Deus" (2 Co 3.5).

2) Em segundo lugar, podemos dizer como o salmista "nas tuas mãos estão os
meus dias" quando confiamos verdadeiramente em Deus.

Quem depende inteiramente de Deus com certeza confia nEle. Davi confiava no
Senhor de maneira absoluta e incondicional. Observe que o versículo 15 do Salmo
31 é o reflexo da confiança impressa no versículo 14. Enquanto os inimigos de
Davi confiavam nos ídolos e a eles dedicavam suas vidas, o salmista buscava ao
Senhor dizendo: "Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: Tu és o meu
Deus. Nas tuas mãos estão os meus dias...". Havia, ainda, um problema
específico mas o salmista o entregou a Deus: "... livra-me das mãos dos meus
inimigos e dos meus perseguidores" (v15b). Davi faz um jogo de palavras com o
termo "mãos" do verso 15, como se quisesse dizer: "Livra a minha vida das mãos
dos meus inimigos porque a minha vida está nas tuas mãos". Todavia, fosse qual
fosse o problema, era costume de Davi confiar totalmente em Deus para
solucioná-lo.

Será que temos confiado em Deus com a mesma intensidade do salmista? Temos
confiado em Deus a ponto de O deixarmos resolver os nossos problemas? Muitas
vezes permitimos que os nossos problemas pareçam maiores que o nosso Deus.
Não acreditamos que Ele possa resolvê-los de fato, ou então esperamos que Ele

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os resolva ao nosso modo. Não ousamos dizer-Lhe que faça a nossa vontade,
mas Deus, que é poderoso e tremendo, sonda o nosso coração e se entristece ao
ver que não confiamos nEle de verdade.

"Ajuda-me, Senhor, a confiar em ti de tal maneira que eu não carregue comigo


aqueles problemas que já entreguei ao teu cuidado" (W. Kaschel).

3) Finalmente, mas não menos importante, podemos fazer das palavras de Davi,
"nas tuas mãos estão os meus dias", nossas palavras, quando reconhecemos a
direção de Deus em nossa vida.

É interessante notar que Davi faz mais do que crer na existência de Deus. Ele
nem ao menos pede a Deus: "Daqui pra frente dirige a minha vida". Ao contrário, o
que ele faz no verso 15 é "relembrar" ao Senhor que a sua vida está nas mãos de
Deus porque o Senhor já é o seu Deus! (cf. v14). Por isso Davi não precisaria
temer os seus inimigos e perseguidores ou qualquer outra situação de perigo (veja
Salmos 27.3; 46.1-3). A direção de Deus na vida de Davi fazia diferença.

Semelhantemente, quando Deus dirige nosso destino não somos sufocados pelo
desespero e ansiedade (cf. Mt 6.25-34; Fp 4.6; Hb 13.5,6; I Pe 5.7). Quando Deus
dirige a nossa vida somos profundamente gratos a Ele por tudo (I Ts 5.18) e nos
comportamos com maturidade em relação ao próximo. Alguns exemplos desse
último: Por estar ciente da direção de Deus em sua vida foi que Davi poupou a
vida de Saul (I Sm 24). E José do Egito? Sabendo que Deus dirigia o rumo de sua
existência, José deixou para Deus as ofensas de seus irmãos ao invés de fazer
justiça com as próprias mãos. José perdoou seus irmãos porque viu o propósito de
Deus em meio à maldade deles. Davi fez o mesmo com Saul. Nós também
podemos fazer o mesmo com o nosso semelhante se de fato reconhecemos a
direção de Deus em nossa vida.

Um dos piores males existentes no meio do povo de Deus hoje em dia é a falta do
perdão. Esta falta de perdão, por sua vez, é motivada pela falta de compreensão
da direção de Deus. Quando entendermos que é Deus quem dirige as grandes e
as pequenas coisas do nosso viver e não o acaso, a fatalidade, a sorte ou o azar,
e que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28), então nunca
mais teremos problemas em nosso relacionamento interpessoal porque não
teremos mais dificuldade em perdoar quem quer que seja. As pessoas com maior
dificuldade em perdoar são aquelas que não conseguem ver Deus na direção de
suas vidas.

Depender de Deus em tudo, confiar totalmente nEle e ser dirigidos pelas Suas
mãos deveriam ser os nossos maiores ideais todos os dias da nossa vida. Porque
na vida o que realmente deve importar ao servo e à serva de Deus não é se os
sonhos serão ou não realizados, se haverá ou não muito dinheiro no bolso e
saúde para dar e vender durante o ano, mas sim, poder entrar, passar e sair de

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mais um ano com a mesma certeza de Davi: "Nas tuas mãos, Senhor, estão os
meus dias"! Que Deus o (a) abençoe.

Parte 2.
AS TRÊS PALAVRAS QUE TRANSFORMAM UM RELACIONAMENTO

Louvado seja Deus porque um dia Ele nos deu uma família e um lar. Louvado seja
Deus porque mesmo com as lutas, dificuldades e tribulações, Ele também nos dá
força e resistência para superarmos todas as crises e prosseguirmos a nossa vida
em família, com amor e esperança de um futuro melhor.

Nossa oração é que o amor, a graça e a paz do Senhor Jesus estejam reinando
plenamente em sua vida e em seu lar.
Você já pensou que muitas vezes falamos coisas que magoam e entristecem a
Deus e ao nosso semelhante?

Por causa disto, quantos vivem mal relacionados porque não conseguem se
expressar positivamente, isto é, sem agressividades!
Vivem sempre brigando, discutindo, sempre com palavras duras e ríspidas, que só
trazem à tona coisas amargas, produzindo confusão e criando situações bastante
desagradáveis.
O apóstolo Tiago, irmão de Nosso Senhor Jesus Cristo, aprendeu muitas coisas
com relação ao uso da palavra e ele mesmo nos ensina, dizendo o seguinte:
(Ler Tiago 3.1-10)
Conta-se que um rei muito poderoso iria receber um grande amigo em seu
palácio. Então ele foi ao chefe da cozinha e ordenou que preparasse a melhor
comida.
No dia da visita o cozinheiro serviu "língua ao molho madeira", para muitos um
prato muito saboroso e apreciadíssimo.
Passado algum tempo o rei recebeu a visita de um terrível inimigo. Então ordenou
ao cozinheiro que fizesse a pior comida.
Qual foi a surpresa de Sua Majestade ao observar que o cozinheiro preparara o
mesmo prato! "Língua ao molho madeira".
Indignado o rei chamou o cozinheiro e perguntou-lhe:
Como pode, cozinheiro, servir a mesma comida ao melhor amigo e ao pior
inimigo? Eu pedi a melhor refeição para o amigo e a pior para o inimigo e você
trouxe a mesma comida: "Língua"?!
O humilde vassalo respondeu:
É que a língua meu rei, num momento pode trazer paz, alegria, felicidade para
aqueles a quem queremos bem e, em seguida, a mesma língua pode trazer
guerra, tristeza e infelicidade a quem não queremos bem.

Realmente, a Bíblia nos ensina e recomenda que é muito bom conviver com as
pessoas que têm boas palavras em suas bocas. A Bíblia diz no livro de Provérbios
16.24: "Favos de mel são as palavras suaves, doces para a alma, saúde para os
ossos".
Nada custa uma boa e sincera palavra, principalmente se vem antecipada por um

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alegre sorriso.

Até ao receberem um gracioso "olá!", "bom dia!", "como vai?", as pessoas se


sentem felizes e têm um sentimento que estão sendo valorizadas.
Quantos casais têm trocado palavras ríspidas e ofensivas, quebrando um
relacionamento e trazendo conseqüências desagradáveis para a família e para o
lar?
Quantos pais têm ofendido seus filhos, humilhando-os com palavras duras, às
vezes até mesmo diante de seus amigos?
Quantos filhos, preocupados apenas consigo mesmos, entristecem e desonrando
seus pais deixando um rastro de dor e lágrimas?
Quando isto acontecer, devemos, humildemente reconhecer nosso erro e
confessá-lo e, a seguir, pedir perdão.
Daí então transmitir para o semelhante o amor que Deus coloca em nossos
corações, o qual deve ser caracterizado pelas nossas atitudes diárias.
Finalmente, as três palavras que transformam um relacionamento tênue,
enfraquecido pelo rancor, apodrecido pelas mágoas, ofensas e tristezas, as três
palavras que transformam uma inimizade contrária à vontade de Deus por um
relacionamento saudável, carinhoso, amoroso, que se baseia na vontade
soberana de Deus, são:

ERREI!
POR FAVOR, ME PERDOE!
EU TE AMO!

Por que não experimentar estas atitudes ainda hoje?

Parte 3.
COMO VAI SUA FAMÍLIA, PASTOR?

"Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja


uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível,
marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e
apto para ensinar... Ele deve governar bem sua própria família, tendo os
filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe
governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus" (1Tm
3.1, 2, 4, 5b NVI).

O Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil declara que o pastor
deve ter como companheira uma mulher em condições de ajudá-lo no ministério.
Na verdade, o Criador determinou que a auxiliar do homem fosse alguém de
idoneidade (Gn 2.18), além de necessitar aquele que aspira ao episcopado de
uma companheira que lhe complete funções (1Tm 3.2). Assim, casado, deve o
pastor tratar sua esposa e filhos conforme o padrão da Escritura Sagrada (Ef 5.24-
33; 6.4; 1Tm 3.4,5). Diz o Código de Ética que o pastor deve proceder com retidão
em relação à família, prover o sustento, educação, inclusive o tempo entre outras
tantas provisões (1Tm 3.4,5; 1Pe 3.7; Tt 1.6; Lc 11.11,13).

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O pastor deve guardar-se de comentar problemas e frustrações de seu ministério
com os filhos (1Co 4.1-4), e, finalmente, deve reconhecer o que a esposa faz junto
à família. Pois isso é algo essencial, não a envolvendo em atividades da igreja que
a prejudiquem com respeito ao lar (1Pe 3.7).

COMO VAI SUA ESPOSA?

Uma inestimável bênção ou um delicadíssimo problema na vida do pastor é a sua


família. Por esse motivo, vamos começar do começo (assim mesmo: com
pleonasmo): o casamento é alvo de prudência e oração. Não se casa só porque
ela é bonitinha, recita muito bem, toca piano, teclado ou violão angelicamente, ou
tem jeito com as crianças da igreja.
O casamento envolve muita coisa: interesses comuns, convicções firmes e,
sobretudo, amadurecimento. Até porque casamento não é só satisfação de
instintos: é uma aliança que leva em conta a missão (daí a palavra submissão =
"estar debaixo [sub] da mesma missão", cf. Cl 3.18; 1Pe 3.1,5; Ef 5.22,24; 1Pe
1.22; 4.8; Cl 5.13; Rm 15.7).
Necessário é entender que o matrimônio do crente em Jesus Cristo, de modo
geral, e do pastor de modo muito particular, é um ministério debaixo do Espírito.
Se o Espírito Santo orienta, dirige, governa, tudo fica fácil: o amor se sustenta; a
alegria é constante; a paz é verdadeira; a paciência, então, nem se fala; a
benignidade (gentileza e cordialidade ungidas) vicejam; a bondade impera; a
fidelidade não tem manchas; a mansidão é viva e o domínio próprio, posto em
prática, porque esse fato básico: o casamento é um ministério debaixo do Espírito,
submisso ao poder e à vontade de Deus.

Isso quer dizer que os papéis do marido, que é pastor, da esposa, que é sua
auxiliar à altura, serão orientados, regidos pela submissão sem reservas; sem
barreiras, sem condições, sem cobranças. Conhecemos casamento de pastor
pobre com moça rica. Não deu certo porque o interesse dele era no sustento que
o sogro poderia dar. Ouvimos dizer de casamento de pastor com moça descrente
(acreditam?). Já vimos casamento só pelo sexo. Quando o tempo passou e o
amor murchou, ele foi atrás de outra(s)?!
O pastor solteiro deve pedir a Deus que abrevie a escolha da mulher com quem
vai compartilhar a vida, para não levar a fama de leviano, se namora muito, ou
para evitar, até, que o povo fique desconfiado se não namora...

E POR FALAR EM DIFICULDADES...

Mas vamos compreender uma coisa: não é fácil, para a coitadinha, ser mulher de
pastor. Ela tem dificuldades que as outras senhoras da igreja não têm, nem vão
ter jamais (a menos que o seu querido seja chamado para o ministério da
Palavra)!
Uma dessas dificuldades é que ela conhece bem (muito bem, aliás) o santo que
tem em casa. Na verdade, é em casa que se é realmente, onde se tira a máscara,
ou, se preferirem, onde se é ao natural, sem maquilagem. Talvez o pastor seja

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todo-sorrisos na igreja, mas grosseiro em casa, e talvez seja grosseiro porque
está cansado, desapontado, desanimado, com problemas financeiros e pressões
sem conta e de toda ordem.
Mulher de pastor não é "pastora", como dizem aparentemente brincando (na
psicanálise freudiana, isso se chama chiste). Mas poucas mulheres têm uma
carga de responsabilidades tão grande como a de um ministro evangélico. Aliás,
pensando elogiar, alguns irmãos estão colocando fardos, tarefas, deveres que não
são necessariamente dela. Agora, há coisas que ela vê e ouve, que seu esposo
não vê. É a chamada "intuição feminina". Por essa e outras razões de ordem ética,
o pastor deve fazer visitas em companhia da esposa.

A esposa do pastor não pode ser ciumenta. 1Coríntios 13 é um excelente


programa para a esposa do ministro. Mas ela é intuitiva, e pode alertá-lo dos
perigos e tentações. Ouça sua esposa, colega: ela fala com a intuição... e com o
coração.
O pastor que demonstra amar a esposa é um bom exemplo para os homens da
igreja. Namore sua mulher; dê-lhe tempo, pois tem necessidade de intimidade,
não a deixe competir com a igreja pelo tempo do marido.
É bom lembrar que o pastor e a esposa precisam de amigos com quem
confidenciar.

COMO VÃO SEUS FILHOS, PASTOR?

Um evangelista americano disse com muita tristeza que durante muitos anos,
havia viajado em cruzadas para ganhar as almas dos filhos de outros homens, e
havia deixado os filhos à própria sorte. O pastor tem obrigações para com sua
família que são inadiáveis. Não é fácil criar filhos, especialmente quando o tempo
que se tem é gasto quase todo na igreja e no seu trabalho.

Que não se esqueça o pastor que como marido e pai de família é o cabeça da
família. Está na Escritura (Ef 5.23; 1Co 11.3; Gn 3.16b). Se o pastor não for
cabeça da família, as conseqüências serão desastrosas, porque todos os
membros da família sofrerão: a esposa, os filhos, e mais ainda: a geração
seguinte e a seguinte também (cf. Ex 20.5), porque a coisa é sistêmica, e, de
quebra, sofre a igreja.
Você é o provedor da sua família, meu irmão. Está, igualmente, na Palavra de
Deus. Veja o que diz 1Timóteo 5.8 (cf. Gn 2.15; 3.19). O pastor vai ensinar ao filho
o valor do trabalho, e o valor do Dia do Senhor.

Como chefe da família, você, pastor, é pai e mestre. Assim o ensina Provérbios
1.8; 4.1ss; 6.20ss. Ame seu filho, instrua-o e ensine-lhe o valor da disciplina.
Você é também o sacerdote de sua família. Efésios 5.22-33 mostra que o marido
está para a esposa como Cristo para a Igreja. Se Cristo é o sumo-sacerdote da
família espiritual, o marido (nesse caso, um pastor) é o sacerdote da família
terrena. Que bom o pastor poder dizer: "Eu e a minha casa servi(re)mos ao
Senhor".
Leve seus filhos à verdade, pois está na Palavra Santa que "os pais aos filhos fará

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notória a tua fidelidade" (Is 38.19b; cf. Gn 18.19; Dt 6.7), e leve-os à salvação,
para cumprir a ordenança divina em Provérbios 22.6: "Instrua a criança segundo
os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se
desviará deles" (NVI; cf. Dt 6.6,7).

Se seu lar há de ser equilibrado, não tenha medo de corrigir os filhos quando
errarem, pois a Bíblia expressa a saúde da família em 1Timóteo 3.4; Tito 1.6;
Efésios 6.4. Autoridade com amor, porque disciplina sem equilíbrio é
perigosíssima, e amor sem disciplina traz insegurança. O amor, por isso, deve vir
com a necessária disciplina na dosagem certa.

COMO VAI VOCÊ, PASTOR?

Pois é; você é o pastor de sua esposa. E o pastor dos seus filhos. É o pastor que
eles conhecem.
Quais as tarefas de um pastor? A primeira é, sem dúvida, falar a palavra de Deus.
Assim o estabelece Hebreus 13.7 e 2Timóteo 4.2. Pregar a tempo e fora de
tempo; ser um evangelista (2Tm 4.5); ser apto para ensinar (1Tm 3.2).
Guardar as almas que lhe são confiadas como adverte Hebreus 13.17 (cf. Jo
21.15-17; At 20.28). Dentro dessa responsabilidade está o admoestar, o
repreender, e o exortar com paciência (2Tm4.2).
Outros deveres são: ser poderoso na doutrina (Tt 1.9; cf. 1Tm 4.16) e dirigir a
igreja de Deus (At 20.28; cf. 18.20). E, ainda, servir de exemplo é mais uma
responsabilidade (1Pe 5.3; 1Tm 4.12).

Como pastor de sua família, você há de ter três alvos para as questões espirituais:
· Conduzir seus filhos a Cristo;
· Ajudá-los a amadurecer na fé;
· Ensinar-lhes que o serviço cristão ajuda o crente a se renovar e reafirmar suas
convicções.

Na família do pastor, há três princípios de direção:

O princípio do amor expresso em Colossenses 3.14 (cf. 1Co 16.14; 1Pe 4.8). O
amor da família é chamado pelos gregos de storge. Imagine-o sendo somado ao
agape (amor divino) como em Hebreus 13.1 e Efésios 5.25. Billy Sunday, o
evangelista, disse que "se você quer que sua mulher seja um anjo, não a trate
como o demônio". Pura verdade.

O princípio da lealdade aos valores da família, aos princípios cristãos da família,


às pessoas da família. Que não haja, quanto a nós essa acusação: "Salva-nos,
Senhor! Já não há quem seja fiel; já não se confia em ninguém entre os homens.
Cada um mente ao seu próximo; seus lábios bajuladores falam com segundas
intenções" (Sl 12.1, 2 NVI; cf. Pv 20.6). O princípio de lealdade esteve bem
presente na idéia hebréia de clã.

O princípio da mutualidade, em que tudo há de ser feito "no Senhor", que é o filtro

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de nossos relacionamentos:
- Em relação à esposa: "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido
como ao Senhor" (Ef 5.22);

- Com referência ao marido: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (v.25);

- Com respeito aos filhos: "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor..."(6.1);

- Referindo-se aos pais: "E vós, pais, não provoqueis vosso filhos à ira, mas criai-
os na disciplina e admoestação do Senhor"(6.4);

Estando todo o arremate em 5.21: "sujeitando-vos uns aos outros no amor de


Cristo".

Como vai sua família, pastor?

Parte 4.
O PAPEL DO PASTOR NA FORMAÇÃO IDEAL

A busca pela integridade é o ideal e o pré-requisito para o ministério pastoral. Não


podemos conceber que os que se apresentam para a obra do ministério não se
preocupem em crescer em conhecimento e em verdade, agindo de maneira a não
envergonhar o próprio ministério e Aquele que o vocacionou para a obra.

Porém, é necessário estarmos cônscios de que, quando falamos de integridade,


estamos falando tanto da conduta correta quando da disposição para crescer na
conduta correta. Alguns vêem a integridade como algo inerente ao crente de forma
que, quando a pessoa se converte, tem de ser íntegro e sem falhas. Mas, a
santificação é um processo. Não há como imaginar que o indivíduo atingirá o grau
de perfeição da noite para o dia. Isso também vale para aqueles que se
apresentam para o ministério (seja ele pastoral, missionário, educacional, ou
musical) .

Esses vocacionados estão em processo de crescimento e necessitam de apoio,


compreensão e ajuda para se desenvolverem. Os seminários devem preparara-los
da melhor forma possível. Porém, nenhum seminário pode substituir a formação
discipular que o seminarista precisa ter junto ao seu pastor. O exemplo de um
obreiro experiente e experimentado é fator decisivo para a formação completa de
um vocacionado ao ministério.

Nós da Faculdade Teológica Batista de São Paulo desejamos estimular e desafiar


aos pastores que estejam buscando estar cada vez mais próximos aos seus
seminaristas, dando-lhes oportunidade para que estes estejam aprendendo na
prática do exercício do ministério o que fazer e o que não fazer, como se conduzir
e como se portar diante das situações e desafios do ministério.

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Cremos que junto às grandes prioridades do ministério pastoral esta é uma delas:
o de preparar outros para a obra do ministério
(I Tm 1-4 ).

Palavra proferida no 55º retiro da Ordem dos Pastores de São Paulo


Sumaré, 03 a 07 de Janeiro de 2000

OS CURSOS DE TEOLOGIA E O RECONHECIMENTO OFICIAL DO MEC:


"NECESSIDADE E MUDANÇAS"

Nos dias 13 a 17 de Dezembro de 1999 ocorreu o XXXIV Simpósio da ASTE


(Associação dos Seminários Teológicos ), em Engenheiro Coelho, SP. Nesse
encontro foi tratada a questão do reconhecimento dos cursos de teologia pelo
MEC (Ministério da Educação ).

Sob o título, "Currículo Teológico: Confessional e Público", cerca de quarenta


representantes dos mais diversos seminários evangélicos do País estiveram
reunidos com o Dr. Lauro Zimmer, conselheiro do MEC e relator do parecer
241/99 que regulamentou o reconhecimento dos cursos de Teologia. Na ocasião,
o Dr. Zimmer esclareceu muitas dúvidas que ainda pairavam sobre o assunto.

Marcando uma nova etapa entre as três Instituições, a ABIBET, a ASTE e a


AETAL iniciaram um diálogo de intenções e cooperação para que possam
representar os interesses dos seminários a elas filiados. A grande preocupação é
de se entender este momento e de se preparar para o futuro. Muitos seminários
estão buscando informações e alguns estão recebendo propostas de "apoio"
mediante pagamento e troca de favores com políticos. Queremos neste espaço
apresentar alguns pontos sobre o assunto do reconhecimento.

Em primeiro lugar desejamos alertar os seminários para que não sejam


precipitados em buscar ajuda de estranhos que se auto denominam "consultores"
e "facilitadores". Temos recebido notícias de que alguns oferecem o
reconhecimento por quantias que chegam a R$ 30.000,00 ( trinta mil ) reais .
Ninguém pode cumprir isso se o seminário não estiver dentro dos parâmetros do
MEC. Em segundo lugar é necessário que os seminários estejam cientes que o
reconhecimento do MEC irá exigir uma profunda reformulação na estrutura e no
currículo da Instituição. Por exemplo, para que possa cumprir os requisitos da
comissão de inspeção, o corpo docente da Instituição deverá estar habilitado (ter
cursado ou estar cursando) em nível superior (Strictu ou Latu Sensu) na área
específica de atuação, ou seja, pelo menos trinta por cento do corpo docente
deverá ter mestrado ou doutorado em Teologia ou Ciências da Religião,
reconhecida pelo MEC. Não serão admitidos professores com mestrado em outra
área (por exemplo, filosofia) dando aulas em matérias específicas como Teologia
do Antigo Testamento. Com isso, ou o seminário investe na formação de seus
professores ou irá ter dificuldades para montar o seu corpo docente.

Outra situação diz respeito a parte financeira. Todos os professores habilitados

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deverão receber como professores universitários. Isso irá acarretar um aumento
significativo na folha de pagamento da Instituição. Não poderá haver o chamado
"jeitinho" em relação aos professores ( muitos deles sem registro ou recebendo
um valor irrisório pelo seu trabalho ) . Quanto à parte física, as salas deverão ter
metragem específica, a biblioteca terá de ter um número pré determinado de obras
em Teologia na língua Pátria (Português), sendo dirigida por uma pessoa formada
em biblioteconomia, devidamente cadastrada no sindicato para exercer a
profissão.

A lista de assuntos é grande, mesmo o currículo dos seminários não estão


adequadamente preparados diante da nova LDB e necessitarão ser totalmente
reformulados para serem apresentados e aprovados. Isso tudo eqüivale dizer que
a maioria dos seminários deverão passar por um estudo minucioso de suas
condições para saber se vale a pena esta "corrida pelo reconhecimento".

Cremos que o futuro da causa Teológica irá requerer de todos uma mudança de
postura. Este é, sem dúvida, um momento histórico, e necessitamos de seminários
que apresentem propostas sérias, dentro das suas limitações, para contribuir para
a formação Teológica da liderança evangélica do Brasil.

Maiores informações poderão ser obtidas no site da Faculdade Teológica Batista


de São Paulo. www//teologica.br

A OPORTUNIDADE DE SERVIR

O Conselho de Educação Teológica e Ministerial da Convenção Batista de São


Paulo assumiu o programa de Educação Religiosa e Música sacra da Convenção
Batista do Estado de São Paulo. É a primeira experiência em nossa Denominação
de uma Junta que congrega os seminários estaduais gerenciar o programa de
Educação de uma Convenção Estadual.

Aproveitando a reestruturação da máquina administrativa da CBSP, o Pr.


Lourenço Stélio Rega, diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, fez a
proposta do CETM cuidar dos rumos do programa de Educação e Música, no que
foi prontamente atendido. O objetivo era orientar as atividades de capacitação e
liderança do povo Batista no Estado de São Paulo para que as igrejas da
Convenção pudessem ser atendidas por aqueles que estão no ministério de
capacitação de líderes.

Por conta deste objetivo, a Faculdade Teológica batista de São Paulo já realizou
dois Simpósios de Educação e Música, com cerca de oitocentas pessoas que
participaram em dez módulos de treinamento e capacitação. Inicialmente a
procura excedeu todas as expectativas da coordenadoria do evento, que teve de
repeti-lo em duas ocasiões, em Dezembro de 1999 e agora em Abril de 2000.

"Simpósio de Educação e Música Sacra para o próximo Milênio", como ficou


conhecido o evento, contou com a participação de professores da Faculdade e

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ilustres convidados. Dirigiram os módulos os professores Marcos Cunha, David
Howard, Jacira da Silva Lima, Eliane Martinoff, Amorin Leite, Denise Delcorço,
Samuel Torelli, professores da FTBSP e os convidados Pr. Celso Mastromauro,
Missionária Hasel Collins, Elizabeth Zhu da Silva e Daniel José da Silva, líderes de
renome em nossa Convenção. O Pastor Élton de Oliveira Nunes, Deão da FTBSP
e a Administradora da Faculdade, irmã Cybele Gaetani coordenaram os eventos.

Além destas atividades, a FTBSP, na pessoa do seu professor, o missionário


David Howard, montou um grupo de treinamento composto por alunos da
Faculdade para atenderem o pedido de clínicas de treinamento em todo o Estado.

O tempo dirá se a experiência poderá servir de modelo para outras Convenções


Estaduais. No que tange a São Paulo, cremos que está sendo por demais
proveitosa a idéia de capacitar os líderes através daqueles que foram chamados
para isso.

Parte 5.
ISSO NUNCA FOI AMOR...
"O perfeito amor lança fora o medo" (1Jo 4.18)

A cultura helênica expressou com uma variedade de palavras o que é traduzido


em nossa língua como Amor. Os expressivos vocábulos Philia, Storge, Eros e
Agape conceituam aspectos diferentes e profundos desse sentimento por vezes
perturbador, por vezes perturbado.

A leveza da palavra Philia fala do amor de amigo, do amor social, do amor cívico,
ou do amor de afinidade. É a palavra que descreve o companheirismo, o amor
pelo clube esportivo, ou pelos símbolos nacionais; é o amor que expressa a
necessidade de compartilhar algo com alguém: é a Amizade.

Storge, o amor familiar, faz referência ao amor natural dos pais para os filhos, do
tio para o sobrinho, e vice-versa, e envolve reciprocidade, homogeneidade e uma
aliança de sangue e de corações.

Eros é o amor biológico, hormonal, visceral, sensorial, aquele atraído pela beleza,
elegância, graça, pelas formas. É palavra de boa procedência, definindo o aspecto
das diferenças sexuais. O Eros atrai o homem para a mulher e a mulher para o
homem. Fora disso é perversão, pois nunca foi o amor planejado pelo Criador o de
homem por outro homem, de uma mulher por outra mulher, de um adulto
cobiçando sexualmente uma criança, ou de um ser humano tendo como objeto
sexual um animal irracional. Todas essas perversões encontram reprovação na
Escritura Sagrada: Levítico 18.22,23; 20.13,15,16. Eros é o instinto sexual. Paulo
apresenta os reclamos do Eros em 1Coríntios 7.2-5 e 1Tessalonicenses 4.3-8.

Agape é o amor que pode salvar o Eros da perversão porque o transforma e dá ao


amor humano e biológico sua verdadeira dimensão que é a sagrada. É o amor-
que-se-doa, o amor-sacrifício, o amor eterno, imutável e perfeito. Está nos lábios

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 12


de Jesus em João 3.16; Paulo o cita em Romanos 5.5; 1 Coríntios 13; e João, o
Evangelista, o menciona em 1João 4.16,18. Jesus Cristo é o supremo exemplo de
Agape, entrega total para a salvação da esposa que é a Sua Igreja (cf. Ef 5.25-
33).

No entanto, como qualquer outro sentimento, o amor pode ficar enfermo ou


perverso. Em Psicanálise, isso tem nome: Parafilia, caracterizada por anseios,
fantasias ou comportamentos sexuais intensos envolvendo objetos, atividades ou
situações inusitadas causadoras de sofrimento. Apresenta, outrossim, um
significado clínico com prejuízo para as boas relações sociais, bem como em
outras áreas relevantes da vida. Parafilias envolvem geralmente objetos não-
humanos, sofrimento ou humilhação, próprios ou do parceiro, ou crianças ou
outras pessoas sem o seu consentimento.

Estão nas manchetes dos jornais inúmeros e chocantes casos de perversão


envolvendo figuras de autoridade como médicos, professores e religiosos, entre
outros, vitimando inocentes e iludidas crianças e adolescentes. São casos de
Pedofilia, Pederastia e Prostituição Infantil.

PEDOFILIA

Assim se chama o distúrbio de conduta sexual, no qual o indivíduo adulto sente


desejo compulsivo por crianças e adolescentes. Tem caráter homossexual
(quando envolve meninos) ou heterossexual (quando envolve meninas), por
crianças ou pré-adolescentes. Tal perversão ocorre na maioria dos casos em
homens de personalidade tímida, que se sentem impotentes e incapazes de obter
satisfação sexual com mulheres adultas. No entanto, isso não pode ser chamado
de amor...

Indivíduos portadores de Pedofilia podem limitar sua atividade a despir e observar


a criança, exibir-se, ou tocá-la e afagá-la. Essas e outras atividades aberrantes
são geralmente explicadas com desculpas ou racionalizações de que possuem
"valor educativo" para a criança, de que esta obtém "prazer sexual" com os atos
praticados, ou de que a criança foi "sexualmente provocante".

Alguns pedófilos ameaçam sua pequena vítima no sentido de evitar que suas
ações sejam reveladas. Outros desenvolvem técnicas para obterem acesso aos
menores, que podem incluir o ganho da confiança da mãe, e, até, se casam com
uma mulher que tenha uma criança atraente.

Na imensa maioria dos casos, os pedófilos são homens, muitos dos quais são
dados ao alcoolismo ou são portadores de alguma forma de psicose. A idade se
situa entre os 30 e 40 anos. Geralmente, têm forte convicção religiosa,
apresentando ainda a característica de imaturidade e solidão. Isso explica,
possivelmente, a onda de escândalos envolvendo tantos religiosos, como temos
visto ultimamente, mas nunca foi amor!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 13


Há pedófilos em todas as classes sociais. Os mais perigosos são, com certeza,
aqueles em quem a criança confia, como um amigo da família, um dos
empregados da casa, ou aqueles que a criança idealiza por suas funções: um
ministro religioso, um capelão, um professor, um técnico de esportes ou outra
pessoa que tenha, como já observado, função de autoridade. O ato perverso
destas pessoas acima de qualquer suspeita deixa profundas cicatrizes na alma da
criança sob a forma de culpa e de angústia.

O Pe. John McCloskey (www.catholicity.com/mccloskey), diretor do Catholic


Information Center de Washington, tem buscado lidar com a crise que se instalou
na Igreja Romana dos Estados Unidos, e, apesar dos inúmeros casos (que têm
custado milhões de dólares em indenizações) terem ocorrido há muitos anos, tem
afetado uma parte do clero, e causado danos à credibilidade daquela organização
e ao prestígio do seu sacerdócio. Causou espécie, igualmente, verificar-se que a
atitude dos bispos foi simplesmente realizar uma mudança de campo de
ministério, mas não dar tratamento à parafilia. O resultado é que setores
dissidentes do catolicismo norte-americano têm pedido a abolição do celibato
sacerdotal, sobre o qual se tem lançado a culpa dos problemas.

Pe. McCloskey não esconde os fatos, afirma,porém, que não existe uma
"epidemia" de casos na Igreja Romana dos Estados Unidos, mas que esses
eventos (que remontam aos anos 70, na maioria), foram cerca de vinte por ano,
vieram à luz todos ao mesmo tempo, parecendo ser uma avalanche e uma
tendência. Afirma ainda, que casos de homossexualismo têm recebido atenção
dos superiores que mudam os sacerdotes de paróquias, submetem-nos a
tratamento, suspendem-nos das funções e, em sendo ocaso, expulsam-nos
definitivamente do sacerdócio. Geralmente, para evitar um processo civil um
acordo econômico é feito.

HOMOSSEXUALISMO

É outro freqüente caso de Parafilia; perversão segundo a Escritura Sagrada e a


Psicanálise (cf. Lv 18.22; 20.13; Mt 19.4; Rm 1.27-32; 1Co 6.9-11, 18).
Tem-se utilizado a expressão Inversão Sexual para retratar o fato de pessoas que
buscam como objeto sexual um parceiro do mesmo sexo. Por definição, no
entanto, isso nunca foi amor...

O Dr. Gastão Pereira da SILVA, um dos introdutores da Psicanálise no Brasil, diz


em Vícios da Imaginação que "os indivíduos que renunciam a toda atividade
sexual procriadora tomam o nome de homossexuais ou invertidos". A Grécia do V
século a. C. o aceitava, e é normal no Xamanismo e nas rodas de Candomblé. É,
no entanto, uma afirmação ampla que coloca dentro deste conceito aqueles que
fizeram os votos de castidade no sacerdócio das Igrejas Católica Romana e
Ortodoxa, bem como os que optaram pela chamada "vida consagrada" nos
conventos, mosteiros das diversas Ordens religiosas. Por ser ampla, não prestigia
o dom espiritual do celibato segundo os padrões do Novo Testamento (Mt 19.12;
1Co 7.1,8,17). Dá para entender, então, o tremendo conflito deste desvio com o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 14


interesse social e político das diversas nações aliado à pregação moral e espiritual
dos segmentos religiosos.

Em Doentes Célebres, Gastão, bem como Norman WINSKI em A Revolta dos


Homossexuais, registram alguns famosos invertidos sexuais: Júlio César,
Sócrates, Platão, Cellini, Shakespeare, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo,
Verlaine, Nijinski, Proust, Gide, Andersen, Whitman, Byron. Também o afirma D. J.
WEST acrescentando o nome de Tchaikovsky.

A PROSTITUIÇÃO INFANTIL

Não é uma Parafilia, mas, sim, uma monstruosidade. A prostituição é vista na


Bíblia como uma abominação (cf. Dt 23.18; Mc 7.21; Gl 5.19). Sendo de menores,
é execrável, não havendo palavras para descrever esse odioso, porém real fato
em nosso país.

Ela se inicia com muita carência afetiva e dor. Há muito de infantil naquelas
meninas que perderam a infância e a inocência e já são mulheres. A TV mostrou
num documentário uma bonequinha em cima da cama de uma menina prostituída,
estando, ela mesma, agarrada a um ursinho. São meninas mal-amadas na própria
casa paterna, e nas casas onde "trabalham". São extremamente mal-amadas,
razão porque andam à busca de mais afetividade, nunca encontrando essa
afeição.

Consciência da realidade elas têm, sabem onde estão, e o que fazem, mas não
conseguem se libertar. O cafetão representa, em muitos casos, a figura do pai,
com a ênfase no homem poderoso que a protege. O pai que dá o alimento, o
amparo da noite ou do dia, é o homem forte que explora e lucra. Por outro lado, os
homens que se aproveitam sexualmente dessas menores são pervertidos,
enfermos que se aproveitam da debilidade física e emocional dessas garotas, mas
nunca foi amor...

A Escritura Sagrada apresenta passagens que falam periférica mas implicitamente


de prostituição de menores:

"Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais porque das tais é o reino dos
céus" (Marcos 10.14)
"Aquele que escandalizar um destes pequeninos..., melhor seria que pendurasse
ao pescoço uma grande pedra de moinho, e se precipitasse na profundeza do
mar" (Mateus 18.6);
Os evangélicos buscamos repassar os valores cristãos. São valores de qualidade,
de vida moral equilibrada. De modo geral, a nossa juventude não faz parte desse
grupo de comportamento de risco que anda se prostituindo porque são rapazes e
moças guiados por valores. Ninguém foi criado para ser prostituído, mas para
honrar a Deus.

Se isso nunca foi amor, que caracteriza o amor pleno, ungido, abençoador?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 15


Definições, existem-nas aos milhares. Luís de Camões num inspirado soneto
explica que "Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se
sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer". E em todo
o restante do soneto, tentando conceituar o que é o amor diz que é amor e
sofrimento, desprendimento, doação e um paradoxo.

A Palavra Santa, porém, é sempre esclarecedora e ensina que "o perfeito amor
lança fora o medo" (1Jo 4.18), e Paulo, apóstolo, cantando as virtudes do Amor
(Agape em 1Coríntios 13) explica pela intervenção do Espírito Santo que tem as
qualidades da paciência e da benignidade, da ausência do ciúme (que é medo de
perder), administra perfeitamente o orgulho e a soberba, guarda a conveniência
em tudo, é respeitador, portanto, é altruísta, ama a verdade e a pureza de
intenções.

Isso é amor, e se não permear as intenções, pensamentos, palavras e ações é só


barulho, trovão, ruído sem sentido. Basta comparar essas ungidas qualidades com
as Parafilias, e estas serão vistas como as aberrações descritas pela Psicanálise
freudiana, e, mais importante ainda, segundo o coração de Deus, que nos
concede Seu Shalom como inteireza, justeza, plenitude, saúde e paz de mente, de
corpo, de espírito, paz total e integral.

INDICAÇÃO DE LEITURAS

BAPTISTA, Walter Santos. Fora de Padrão. Salvador, Monografia não publicada,


1999.

CHEMANA, Roland (Org.) Dicionário de Psicanálise Larousse-Artes Médicas.


Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1995. Trad. F. F. Settineri.

CUNHA, Jurema Alcides (Org.) Dicionário de Termos de Psicanálise de Freud.


Porto Alegre, Globo, 1970.

"El crimen de la pederastia".


Em: http://www.el-mundo.es/1997/ 06/26/ opinion/ 26N0014.html

LAASER, Mark R. O Pecado Secreto - curando as feridas do vício sexual. Curitiba,


Luz e Vida, 1996. Trad. R. Castilhos.

MASTERS, William H. e JOHNSON, Virginia E. A Conduta Sexual Humana. Rio,


Civilização Brasileira, 1968. Trad. D. Costa.

MCCLOSKEY, Padre John. "La Iglesia de E.U. Sacudida por los Casos de
Pederastia de Sacerdotes". Em:
http://www.catholicity.com/mccloskey/articles/pederastia.html

NAGERA, Humberto et. al. (Orgs.) Conceitos Psicanalíticos Básicos da Teoria da


Libido. SP, Cultrix, 1981. Trad. A. Cabral.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 16


"Parafilias". Em:
http://www.psiqweb.med.br/dsm/sexual4.html

"Pederastia". Em:
http://www.direitovirtual.com/dic/pederastia.htm

"Pederastia: un problema espiritual, además de psicológico". Em:


http://www.servicato.com/varios/mayo2002/
pederastia_un_problema_espiritua.htm

"Pedofilia No". Em:


http://www.pedofilia-no.org/

PEREIRA, Aldo. Dicionário da Vida Sexual, 2 vols. SP, Abril Cultural, 1981.

PEREIRA, Paulo Cunha. Sexologia Aplicada à Psicanálise. Niterói, SPOB, 1998.

QUINTELLA, Ary e DIETERICH, Di. Sexualidade. SP, Saraiva, 1992.

SILVA, Gastão Pereira. Vícios da Imaginação. Belo Horizonte, Itatiaia, 1968.

________. O Homem e o Sexo. BH-SP, Itatiaia, 1971.

VALENSIN, Georges. A Ciência do Amor. 3a ed. Rio, Vecchi, 1947. Trad. G. de


Queiroz.

WEST, D. J. Psicología y Psicoanálisis de la Homosexualidad. Buenos Aires,


Hormé, 1967. Trad. D. R. Wagner.

Parte 6.
QUANDO O RELACIONAMENTO FAMILIAR FICA PREJUDICADO

Introdução:
Família é a convivência de aparentados por laços consangüíneos que vivem em
espaço comum e interagem no relacionamento. A família deixou de ser a célula
mater da sociedade e, segundo o Artigo 266º da nossa Constituição, é a base da
sociedade, tendo especial proteção do Estado, o que soa como um contra-senso
visto que a sociedade, com a parcimônia do estado, desvaloriza e ridiculariza a
família a partir da banalização do casamento, da facilitação do divórcio e da
pornograficalização da sexualidade.
A Palavra de Deus já preceituava tal catástrofe e podemos deferir do Texto
Sagrado, capítulos 29 à 31 e 37 de Gênesis, ensinamentos sobre diversas
situações que prejudicam o relacionamentos familiar, o que veremos a seguir.

Com base no Texto, diríamos que o relacionamento familiar fica prejudicado...

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 17


. Quando o casamento começa errado - Gênesis 29.18.

De acordo com o costume da época, a filha mais velha deveria casar primeiro, vs.
26, o que não foi observado por Jacó e aproveitado por Labão em sagacidade.

Algumas motivações erradas para o casamento são:

a) Paixão; b) Sexo pré-conjugal; c) Gravidez; d) Desejo de maioridade; e)


Libertação do jugo dos pais e f) Situação econômica.

A motivação correta para o casamento é a vontade soberana de Deus para


nossas vidas. Devemos estar resignados ao Senhor se esperamos felicidade no
matrimônio.

O casamento que resiste aos embates é aquele efetivado por Deus em seu
propósito santo e soberano, e aceito por nós em obediência e resignação ao
Senhor, Marcos 10.9.

2. Quando há disputas familiares - Gênesis 29.34 e 30.1.

Tais disputas são motivadas pela ansiedade egocêntrica de possessão e de


domínio. Atualmente muitos casais vivem esta dificuldade devido a questões
salariais ou quando se matem o divisionismo possessivo fomentado pela síndrome
do ter. Quando a propriedade de bens ou a ganância econômica é mais
importante do que o relacionamento conjugal não se constrói convivência em
mutualidade.

A solução para as disputas familiares é a busca da unidade espiritual e a prática


do altruísmo, do doar-se um ao outro, promovendo-se partilha de vida, alegria
produtiva e espiritualidade. Quando nos entregamos de forma amorável ao nosso
cônjuge, os bens seguem a reboque.

3. Quando um dos cônjuges se permite ao adultério - Gênesis 30.3-13.

Jacó não só aceitou a proposta absurda da esposa, de fazer sexo com a serva
para gerar filhos, como tornou-se reincidente no erro. Adultério é pecado. É
comparado a feitiçaria na Bíblia e não pode ser admitido entre servos de Deus. O
adultério banalizou-se na vida de Jacó trazendo grandes problemas, mágoas
incuráveis e marcas profundas para os seus, da mesma forma que amaldiçoa
famílias hoje.

A solução para o adultério é muita conversa, inclusive sobre os anseios sexuais de


cada um, associada a uma relação sexual o mais equilibrada e satisfatória
possível, concomitante ao perdão incondicional dispensado àquele quebrou a trato
da fidelidade conjugal. Vale ressaltar que prazer sexual no casamento não é
pecado, basta lermos Cantares de Salomão.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 18


4. Quando se pratica a prostituição conjugal - Gênesis 30.14-16.

Raquel propõe a Léia comprar uma noite de sexo com Jacó em troca das
mandrágoras colhidas por Rúben. Léia aceitou a proposta absurda e comprou a
noitada com o maridão. O mais estarrecedor é que Jacó aceitou
parcimoniosamente a situação, compactuando com aquele deplorável ato de
prostituição conjugal.

Se queremos evitar esta maldição que muitas vezes se banaliza entre casais,
inclusive cristãos, devemos ter em mente que na relação conjugal, principalmente
no trato sexual, não se troca, vende ou compra nada. Se dá, se entrega
incondicionalmente na busca da realização do outro. Se precisamos comprar o
amor, o carinho, o afeto e o sexo do nosso próprio cônjuge, o divórcio talvez seja
um mau menor.

5. Quando há deslealdade e mentira quanto aos recursos financeiros - Gên.


30.37-43 e 31.20-21.

Jacó demonstrou sagacidade no trato financeiro de sua família e permitiu-se ao


enriquecimento ilícito. Roubou e sonegou ao próprio sogro, conseqüentemente,
logrou de suas esposas e seus filhos e sendo desleal à sua própria consciência, o
que é pior.

Os benefícios materiais e sociais advindos do enriquecimento ilícito são bem


maiores do que os resultantes da honestidade, mas nada além da honestidade
permite aos pais pureza de consciência e integridade na hora de exigir dos filhos
integridade e honestidade diante de Deus e da sociedade. Pais roubadores e
desonestos não tem autoridade moral e espiritual para educarem seus filhos.

Para não sermos engodados e enredados pelo desejo de enriquecimento ilícito


devemos buscar a consciência de que é Deus quem nos sustenta e quem provê
os recursos para suprir todas as nossas necessidades mesmo que com pouco
dinheiro. O nome limpo, a paz de espírito e a integridade que resulta da
honestidade são bens valiosíssimos mesmo para os mais pobres e é a maior
herança que podemos outorgar aos nossos filhos, Provérbios 10.9 e 16.

6. Quando as preferência afetivas são descaradamente declaradas - Gênesis


29.30 e 37. 1-4 e 20.

É impossível não admitirmos, a não ser que sejamos mentirosos, que temos
preferências afetivas em nossas famílias. Nos identificamos mais com
determinada pessoa do que com outra. É uma questão de afinidade, de empatia
entre personalidades e pensamentos, mas isso não pode ser fator determinante
no relacionamento familiar. Temos o desafio de sermos imparciais e de
imprimirmos o mesmo padrão de justiça para todos em nossa família, incluindo
aqueles que melhor se afinam conosco.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 19


A solução, neste caso, não é negar-se ao amor ou a afinidade relacional mas sim,
evitar que as preferências descabidas e desequilibradas, que superprotege um e
abandona o outro, sejam identificadas. A declaração das preferências afetivas
amaldiçoa aquele que não nos desperta empatia ao isolamento e ao rigorismo
justiceiro, o que distorce a personalidade, desperta o desamor no coração e cultiva
ódio mortífero.

7. Quando falhamos no testemunho cristão - Gênesis 31.19.

Jacó fora criado recebendo os ensinamentos de seu pai Isaque, "o Filho da
Promessa", e portanto sabia como deveria agir para com sua família a fim de que,
pelo seu testemunho, pudessem ser abençoados. Jacó falhou. Cometeu os
mesmos erros de seus pais e seu testemunho distorcido influenciou
negativamente a sua família, o que permitiu que no coração de sua mais amada
esposa persistisse a idolatria a ponto dela roubar uma imagem de seu pai, Labão,
para não romper o vínculo com suas origens religiosas.

Devemos assumir o nosso compromisso e o nosso papel como sacerdotes, o


sacerdócio universal, para as nossas famílias. O nosso testemunho não pode ter
outra influência que não seja a de coibir o pecado e desafio à salvação. Não
podemos remediar ou demonstrar conivências com os pecados de nossos
familiares. Cada dia que deixamos passar em falha testemunhal, de certo resultará
em noites de amarguras e lágrimas quando virmos os nossos filhos, esposos e
esposas, nossos familiares em geral, enchafurdados no lamaçal do pecado a
passos largos para o inferno.

Conclusão:

Amados, a família é bênção de Deus para nós. Quando ajustada aos parâmetros
da palavra de Deus é base que fornece solidez à sociedade e faz triunfar o ser,
pois não há sucesso na vida que aplaque a amargura do fracasso na família.

Não podemos permitir que os fatores alistados aqui prejudiquem nossas famílias.
Na família cristã, temente a Deus e fiel a Jesus Cristo não há lugar para disputas
egocêntricas, para adultérios ou para a prostituição conjugal. Tais situações são
pecaminosas e devem ser extirpadas do seio da família. Na família evangélica,
que sabe a maneira correta de iniciar um casamento, não há espaço para
mentiras e desonestidade, para preferências afetivas discriminatórias ou para um
testemunho de esparrela. Somos o sal da terra. Somos o povo da santidade e das
realizações benfazejas e por isso, devemos implantar na sociedade o padrão de
Deus para as famílias a partir da vivência em mutualidade e espiritualidade
contagiantes.

Devemos colocar nossas vidas e famílias no altar para que sejamos


transformados por Deus em instrumentos de bênçãos para nossos lares. Devemos
ser viabilizadores e facilitadores da boa convivência familiar, mesmo que isso nos
exija renúncias doridas ou ruminar das afrontas. Devemos fazer tudo o que for

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 20


possível, até mesmo nos permitirmos à transformações radicais na personalidade
e na ideologia, para que nossos lares vivam motivados pelo amor manifestado por
Jesus na cruz.

Somos, para a nossa família, os promotores do amor que nos possibilita vivermos
em família para o louvor e glória do nosso Deus.

Parte 7.
QUANDO O RELACIONAMENTO FAMILIAR FICA PREJUDICADO
Gênesis 29 à 31 e 37
Introdução:

Família é a convivência de aparentados por laços consangüíneos que vivem em


espaço comum e interagem no relacionamento. A família deixou de ser a célula
mater da sociedade e, segundo o Artigo 266º da nossa Constituição, é a base da
sociedade, tendo especial proteção do Estado, o que soa como um contra-senso
visto que a sociedade, com a parcimônia do estado, desvaloriza e ridiculariza a
família a partir da banalização do casamento, da facilitação do divórcio e da
pornograficalização da sexualidade.
A Palavra de Deus já preceituava tal catástrofe e podemos deferir do Texto
Sagrado, capítulos 29 à 31 e 37 de Gênesis, ensinamentos sobre diversas
situações que prejudicam o relacionamentos familiar, o que veremos a seguir.

Com base no Texto, diríamos que o relacionamento familiar fica prejudicado...

1. Quando o casamento começa errado - Gênesis 29.18.

De acordo com o costume da época, a filha mais velha deveria casar primeiro, vs.
26, o que não foi observado por Jacó e aproveitado por Labão em sagacidade.

Algumas motivações erradas para o casamento são:

a) Paixão; b) Sexo pré-conjugal; c) Gravidez; d) Desejo de maioridade; e)


Libertação do jugo dos pais e f) Situação econômica.

A motivação correta para o casamento é a vontade soberana de Deus para


nossas vidas. Devemos estar resignados ao Senhor se esperamos felicidade no
matrimônio.

O casamento que resiste aos embates é aquele efetivado por Deus em seu
propósito santo e soberano, e aceito por nós em obediência e resignação ao
Senhor, Marcos 10.9.

2. Quando há disputas familiares - Gênesis 29.34 e 30.1.

Tais disputas são motivadas pela ansiedade egocêntrica de possessão e de


domínio. Atualmente muitos casais vivem esta dificuldade devido a questões

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 21


salariais ou quando se matem o divisionismo possessivo fomentado pela síndrome
do ter. Quando a propriedade de bens ou a ganância econômica é mais
importante do que o relacionamento conjugal não se constrói convivência em
mutualidade.

A solução para as disputas familiares é a busca da unidade espiritual e a prática


do altruísmo, do doar-se um ao outro, promovendo-se partilha de vida, alegria
produtiva e espiritualidade. Quando nos entregamos de forma amorável ao nosso
cônjuge, os bens seguem a reboque.

3. Quando um dos cônjuges se permite ao adultério - Gênesis 30.3-13.

Jacó não só aceitou a proposta absurda da esposa, de fazer sexo com a serva
para gerar filhos, como tornou-se reincidente no erro. Adultério é pecado. É
comparado a feitiçaria na Bíblia e não pode ser admitido entre servos de Deus. O
adultério banalizou-se na vida de Jacó trazendo grandes problemas, mágoas
incuráveis e marcas profundas para os seus, da mesma forma que amaldiçoa
famílias hoje.

A solução para o adultério é muita conversa, inclusive sobre os anseios sexuais de


cada um, associada a uma relação sexual o mais equilibrada e satisfatória
possível, concomitante ao perdão incondicional dispensado àquele quebrou a trato
da fidelidade conjugal. Vale ressaltar que prazer sexual no casamento não é
pecado, basta lermos Cantares de Salomão.

4. Quando se pratica a prostituição conjugal - Gênesis 30.14-16.

Raquel propõe a Léia comprar uma noite de sexo com Jacó em troca das
mandrágoras colhidas por Rúben. Léia aceitou a proposta absurda e comprou a
noitada com o maridão. O mais estarrecedor é que Jacó aceitou
parcimoniosamente a situação, compactuando com aquele deplorável ato de
prostituição conjugal.

Se queremos evitar esta maldição que muitas vezes se banaliza entre casais,
inclusive cristãos, devemos ter em mente que na relação conjugal, principalmente
no trato sexual, não se troca, vende ou compra nada. Se dá, se entrega
incondicionalmente na busca da realização do outro. Se precisamos comprar o
amor, o carinho, o afeto e o sexo do nosso próprio cônjuge, o divórcio talvez seja
um mau menor.

5. Quando há deslealdade e mentira quanto aos recursos financeiros - Gên.


30.37-43 e 31.20-21.

Jacó demonstrou sagacidade no trato financeiro de sua família e permitiu-se ao


enriquecimento ilícito. Roubou e sonegou ao próprio sogro, conseqüentemente,
logrou de suas esposas e seus filhos e sendo desleal à sua própria consciência, o
que é pior.

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Os benefícios materiais e sociais advindos do enriquecimento ilícito são bem
maiores do que os resultantes da honestidade, mas nada além da honestidade
permite aos pais pureza de consciência e integridade na hora de exigir dos filhos
integridade e honestidade diante de Deus e da sociedade. Pais roubadores e
desonestos não tem autoridade moral e espiritual para educarem seus filhos.

Para não sermos engodados e enredados pelo desejo de enriquecimento ilícito


devemos buscar a consciência de que é Deus quem nos sustenta e quem provê
os recursos para suprir todas as nossas necessidades mesmo que com pouco
dinheiro. O nome limpo, a paz de espírito e a integridade que resulta da
honestidade são bens valiosíssimos mesmo para os mais pobres e é a maior
herança que podemos outorgar aos nossos filhos, Provérbios 10.9 e 16.

6. Quando as preferência afetivas são descaradamente declaradas - Gênesis


29.30 e 37. 1-4 e 20.

É impossível não admitirmos, a não ser que sejamos mentirosos, que temos
preferências afetivas em nossas famílias. Nos identificamos mais com
determinada pessoa do que com outra. É uma questão de afinidade, de empatia
entre personalidades e pensamentos, mas isso não pode ser fator determinante
no relacionamento familiar. Temos o desafio de sermos imparciais e de
imprimirmos o mesmo padrão de justiça para todos em nossa família, incluindo
aqueles que melhor se afinam conosco.

A solução, neste caso, não é negar-se ao amor ou a afinidade relacional mas sim,
evitar que as preferências descabidas e desequilibradas, que superprotege um e
abandona o outro, sejam identificadas. A declaração das preferências afetivas
amaldiçoa aquele que não nos desperta empatia ao isolamento e ao rigorismo
justiceiro, o que distorce a personalidade, desperta o desamor no coração e cultiva
ódio mortífero.

7. Quando falhamos no testemunho cristão - Gênesis 31.19.

Jacó fora criado recebendo os ensinamentos de seu pai Isaque, "o Filho da
Promessa", e portanto sabia como deveria agir para com sua família a fim de que,
pelo seu testemunho, pudessem ser abençoados. Jacó falhou. Cometeu os
mesmos erros de seus pais e seu testemunho distorcido influenciou
negativamente a sua família, o que permitiu que no coração de sua mais amada
esposa persistisse a idolatria a ponto dela roubar uma imagem de seu pai, Labão,
para não romper o vínculo com suas origens religiosas.

Devemos assumir o nosso compromisso e o nosso papel como sacerdotes, o


sacerdócio universal, para as nossas famílias. O nosso testemunho não pode ter
outra influência que não seja a de coibir o pecado e desafio à salvação. Não
podemos remediar ou demonstrar conivências com os pecados de nossos
familiares. Cada dia que deixamos passar em falha testemunhal, de certo resultará

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 23


em noites de amarguras e lágrimas quando virmos os nossos filhos, esposos e
esposas, nossos familiares em geral, enchafurdados no lamaçal do pecado a
passos largos para o inferno.

Conclusão:

Amados, a família é bênção de Deus para nós. Quando ajustada aos parâmetros
da palavra de Deus é base que fornece solidez à sociedade e faz triunfar o ser,
pois não há sucesso na vida que aplaque a amargura do fracasso na família.

Não podemos permitir que os fatores alistados aqui prejudiquem nossas famílias.
Na família cristã, temente a Deus e fiel a Jesus Cristo não há lugar para disputas
egocêntricas, para adultérios ou para a prostituição conjugal. Tais situações são
pecaminosas e devem ser extirpadas do seio da família. Na família evangélica,
que sabe a maneira correta de iniciar um casamento, não há espaço para
mentiras e desonestidade, para preferências afetivas discriminatórias ou para um
testemunho de esparrela. Somos o sal da terra. Somos o povo da santidade e das
realizações benfazejas e por isso, devemos implantar na sociedade o padrão de
Deus para as famílias a partir da vivência em mutualidade e espiritualidade
contagiantes.

Devemos colocar nossas vidas e famílias no altar para que sejamos


transformados por Deus em instrumentos de bênçãos para nossos lares. Devemos
ser viabilizadores e facilitadores da boa convivência familiar, mesmo que isso nos
exija renúncias doridas ou ruminar das afrontas. Devemos fazer tudo o que for
possível, até mesmo nos permitirmos à transformações radicais na personalidade
e na ideologia, para que nossos lares vivam motivados pelo amor manifestado por
Jesus na cruz.

Somos, para a nossa família, os promotores do amor que nos possibilita vivermos
em família para o louvor e glória do nosso Deus.

Parte 8.
OS AMULETOS E A FÉ CRISTÃ

Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA

E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com

O Dicionário Aurélio diz: AMULETO é "pequeno objeto (figura, medalha, figa, etc.)
que, desde a mais alta antiguidade, alguém traz consigo ou guarda por acreditar
em seu poder mágico passivo de afastar desgraças ou malefícios"; FETICHE é
"objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao
qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto"; SUPERSTIÇÃO é
"sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao
conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em
coisas ineficazes". A Enciclopédia Britânica diz que AMULETO é "designação

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 24


genérica de diferentes objetos aos quais se atribui a virtude mágica de guardar ou
proteger quem o porta. Usados tradicionalmente para afastar o azar e trazer
sorte". SUPERSTIÇÃO – "É uma atitude de espírito, crença ou prática mágico-
religiosa para as quais não há explicação lógica e que se baseiam na convicção
de que certos atos, palavras, números ou objetos trazem males, benefícios, azar
ou sorte. As superstições, de modo geral, podem ser classificadas como
religiosas, culturais e pessoais".

Dentre os diversos tipos de amuletos (olho de boto ou do peixe-boi; a ferradura, a


meia-lua, a estrela-de-davi) a figa é o que alcançou maior popularidade. Usada
para combater a esterilidade e o mau-olhado, é representada por uma mão
humana fechada com o polegar entre os dedos indicador e médio. Enfim, amuleto
é uma figura, medalha ou qualquer objeto portátil, qualquer coisa a que
supersticiosamente se atribui virtude sobrenatural para livrar seu portador de
males materiais e espirituais, e para propiciar benefícios nessas áreas.

Ao aceitarmos o senhorio de Jesus, recebemos o Espírito Santo (1Co 6.19 Ef


1.13); nossos pecados são perdoados (Atos 10.43; Rm 4.6-8); somos recebidos
como filhos de Deus (Jo 1.12); se somos filhos, logo somos também herdeiros de
Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm 8.17); passamos da morte espiritual para a
vida espiritual (1 Jo 3.14); somos novas criaturas (2 Co 5.17); o diabo se afasta e
não nos toca (Tg 4.7; 1 Jo 5.18); não estamos mais sujeitos às maldições (Jo
8.32,36); podemos usar o nome de Jesus para curar enfermos e expulsar
demônios (Mc 16.17-18); a salvação nos leva a um relacionamento pessoal com
nosso Pai e com Jesus como Senhor e Salvador (Mt 6.9; Jo 14.18-23); estamos
livres da ira vindoura (Rm 5.91 Ts 1.10), além de fazermos jus a outras
promessas,

Em razão disso, somente o retorno voluntário ao pecado poderá alterar a nossa


situação diante de Deus. O uso de qualquer objeto, seja no corpo, seja em nossa
casa, não melhora em nada a nossa condição de filho, de herdeiro, de abençoado,
de isento das investidas do diabo. Objetos não expulsam demônios, não quebram
maldições, não substituem o poderoso nome de Jesus.

O nome de Jesus não pode ser substituído por um objeto ou um produto


industrializado. O uso de amuletos evidencia não uma atitude de fé, mas de falta
de fé. Deus não opera por esse meio, sejam cordões, pulseiras, pirâmides,
cristais, velas ou qualquer outro produto. A Bíblia não apóia tal prática. A atitude
de fé é o esperarmos no Senhor e nEle confiarmos. Alegremo-nos no Senhor e
Ele nos concederá os desejos do nosso coração (Salmos 23.1; 37.4-7).

A nossa confiança deve ser depositada no Senhor. "Bem-aventurado o homem


que pôe no Senhor a sua confiança" (Sl 40.4). Se dividirmos a nossa fé entre Deus
e os amuletos, estaremos coxeando entre dois pensamentos. Não é esta uma
manifestação de fé, mas de incredulidade, de dúvida nas promessas de Deus. E a
dúvida é inimiga da fé (Mt 21.21). "Abraão não duvidou da promessa de Deus,
deixando-se levar pela incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a

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Deus, estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso
para cumprir" (Rm 4.20-21). Abraão creu na promessa de que seria pai de muitas
nações. Aguardou confiantemente. Não apelou para objetos, amuletos, cordão,
pulseiras, vassoura atrás da porta.

Os amuletos, longe de serem veículos de bênçãos, podem trazer maldições,


porque a fé não está centralizada exclusivamente em Deus. Podemos ler Isaías
13.1 assim: Ai dos que confiam no poder místico dos amuletos, mas não atentam
para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor. O uso de amuletos pelo povo de
Deus equivale a tomar o caminho de volta para o Egito. As nossas superstições
foram deixadas no esquecimento. Não precisamos limpar nossos olhos com óleo
ungido para não vermos as coisas do mundo. Nós, pela ação do Espírito em
nossas vidas, já morremos para essas coisas, para o sistema mundano, para o
pecado. O Espírito que em nós opera não nos permite colocar coisas impuras
diante de nossos olhos (Salmos 101.3).

Os objetos, ou qualquer tipo de material seja sólido ou líquido, do reino mineral ou


do reino vegetal, não servem para aumentar a fé dos cristãos. O que transmite fé,
o que proporciona fé, o que dá origem à fé, é a palavra de Deus (Rm 10.17).
Jesus não distribuiu qualquer tipo de objeto para melhorar a fé de seus ouvintes.
Nos primeiros passos da Igreja, vemos Pedro e demais apóstolos anunciando
insistentemente o Cristo vivo, e falando com paciência dos mistérios de Deus e
das palavras de Jesus. E todos se enchiam de alegria, e milhares aceitavam o
Evangelho. "Disse-lhes Pedro: arrependei-vos, e cada um seja batizado em nome
de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E os que com grado receberam a sua
palavra foram batizados, e naquele dia agregaram-se quase três mil almas" (Atos
2.38-41).

O uso de amuletos é incompatível com a vida cristã e não proporciona


prosperidade material ou espiritual a ninguém. Quem deseja viver uma vida de paz
e de abundância deve buscar "primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33; Jo 10.10). Para viver a sua fé o
cristão não precisa de figas, de cordão de ouro, varinha mágica, porque as
maldições não prevalecem contra nossas vidas. "Como o pássaro no seu vaguear,
como a andorinha no seu vôo, assim a maldição sem causa não encontra
repouso" (Pv 26.2). A maldição nos alcança se não estivermos sob a proteção de
Deus, se não confiarmos nEle, se estivermos em pecado.

A fé cristã rejeita o uso de qualquer objeto com o propósito de obter favores


espirituais ou evitar a influência demoníaca. Do Egito já viemos. Das superstições
já nos libertamos. Do jugo do opressor já estamos livres. Da Babilônia espiritual já
saímos. Cristo quebrou na cruz todas as amarras, grilhões, embaraços; quebrou
os fortes laços que nos prendiam ao mundo das trevas (Gl 3.13). Um irmão
escreveu num fórum de debate: "Deus nos fez livres, livres de contatos físicos
para O sentir, livres de pontos de apoio, para crer, livres de toda e qualquer
espécie de superstição e amuletos, livres para crer num Deus que tudo supre,
tudo faz, tudo opera naqueles que o amam".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 26


Quando estávamos na ignorância espiritual, fazíamos uso de incensos e
defumadores para afastar os maus espíritos. A Bíblia nos dá a receita: "Submetei-
vos, pois a Deus. Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4.7).

"Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres. Estai, pois, firmes e não
torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão" (Gl 5.1).

Parte 9.
QUASE CRENTE
Com freqüência, encontramos pessoas que por simpatia, admiração, situação
conjugal ou outros razoáveis motivos, são assíduos ouvintes, e, mesmo,
participantes da Escola Bíblica, dos cultos, e de outros eventos e reuniões do povo
de Deus. Há quem diga que são "quase crentes".

QUE É SER "QUASE CRENTE"?

É ser nascido em lar cristão, criado na luz do evangelho de Jesus Cristo, afeito às
práticas espirituais, conhecedor até dos fatos doutrinários acerca de Jesus Cristo
e Seu ensino, acostumado ao caminho em que se deve andar, porém sem
convicção, sem certeza e sem determinação.

Ser quase crente é ser apreciador da mensagem do evangelho, ou, como às


vezes é chamado, ser "amigo do evangelho". Título interessante, sugestivo, até,
mas não é realista, pois não retrata o sério problema que o "amigo do evangelho"
é tão perdido quanto o "inimigo do evangelho". Nesse campo, não há meio termo:
ou se é, ou não; ou se é a favor, ou se é contra, como Jesus Cristo mesmo
explicou, "... quem comigo não ajunta, espalha" (Mt 12.30).

Ser quase crente é buscar a moralidade, a ética, o desvio da corrupção, é cavar


masmorras ao vício e, mesmo, levantar templos à virtude, é não pactuar com o
ilegal, o imoral e o indecente, é favorecer e lutar por uma sociedade justa, pela
dignidade moral.

MAS, TALVEZ...

Talvez você seja quase crente porque não tenha entendido o que é o novo
nascimento de que falam os crentes em Cristo. Vamos à Bíblia:

"Havia um fariseu chamado Nicodemos, que era líder dos judeus. Uma noite ele
foi visitar Jesus e disse: - Rabi, nós sabemos que o senhor é um mestre que deus
enviou, pois ninguém pode fazer esses milagres se Deus não estiver com ele.
Jesus respondeu: - Eu afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode ver o
reino de Deus se não nascer de novo. Nicodemos perguntou: - Como é que um
homem velho pode nascer de novo? Será que ele pode voltar para a barriga da
sua mãe e nascer outra vez? Jesus disse: - Eu afirmo ao senhor que isto é
verdade: ninguém pode entrar no reino de Deus se não nascer da água e do

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 27


Espírito. Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem
nasce do espírito é um ser de natureza espiritual. Por isso não fique admirado
porque eu disse que todos vocês precisam nascer de novo" (João 3.1-7).

O evangelista Pr. Billy Graham conta o testemunho de um homem que pela


primeira vez ouviu a mensagem do evangelho num culto evangélico. O sermão foi
simples, e após, o pregador convidou a quem desejasse outras explicações a vir à
frente. Ele foi. Conversou com o pregador por algum tempo, e saiu. Na porta do
templo, um homem lhe perguntou: "O senhor é crente?" Respondeu que sim,
apesar de estranhar a pergunta. O homem com mais ênfase na voz repetiu, "O
senhor é crente?" Ele viu que a coisa era séria, e disse, "Estou tentando ser..." O
homem o pôs a nocaute dizendo: "Já tentou ser um animal qualquer, um
elefante?" Espantou-se. Puxando-o pelo braço, o homem sentou-se com ele e lhe
disse que, por mais que tentasse, nunca se tornaria um cristão, como não poderia
um animal inferior, e repassou-lhe o ensino do Novo Testamento sobre o
evangelho:
* Cristo morrera em seu lugar
* Pagara o castigo dos pecados
* Por isso, o perdão acontecia através de Jesus, e só dEle;
* Pela fé em Jesus como Salvador, viria o novo nascimento.
Ele recebeu a mensagem, e sua vida passou por uma completa reviravolta.

Nascer de novo é isso. Jesus fez algo simples, mas os homens têm complicado
demasiadamente. Paulo disse a um policial, "Crê no senhor Jesus e serás salvo"
(At 16.31) Precisa maior simplicidade? Nascer de novo significa mudança de
atitude quanto ao pecado. Na linguagem da Bíblia isso se chama arrependimento
(cf. Atos 3.19). A realidade é que só podemos mudar de vida, se mudarmos de
atitude. O pecado é um fato, uma terrível realidade na nossa experiência. Observe
o que estas pessoas disseram sobre os seus pecados: "Senhor, afaste-se de mim
pois eu sou um pecador!" Foi Pedro quem o exclamou (Lc 5.8); "Ó Deus, tem pena
de mim, pois sou pecador!" Quem assim se definiu foi um cobrador de impostos
numa história contada por Jesus (Lc 18.13). E Jó explicou sua nova visão de
Deus: "Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus
próprios olhos. Por isso, estou envergonhado de tudo o que disse e me arrependo,
sentado aqui no chão, num monte de cinzas" (42.5,6).

O arrependimento é isso: reconhecimento de que somos pecadores diante de


Deus, tristeza profunda pelo pecado e disposição real de nos afastarmos dele.

OU AINDA...

Talvez você seja quase crente porque não compreenda o que é fé. Se arrepender-
se é dar as costas ao pecado, ter fé é voltar-se para Deus.

Mas fé não é simplesmente crença, porque não é algo puramente intelectual. Fé,
na verdade, é uma escolha. Leia e reflita: "Aquele que crê no Filho não é julgado,
mas quem não crê já está julgado porque não crê no Filho único de Deus" (João

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 28


3.18).

Quem tem fé não entra em julgamento; quem não tem fé já está julgado e
condenado. Quem crê já está absolvido, anistiado, seguro; quem não crê, coitado,
está perdido, apenado e no aguardo de penas maiores. Por isso, é importante
crer.

Fé não é mero sentimento: é certeza de que está salvo, seguro, sem dívidas e
sem dúvidas quanto à purificação de seu passado, quanto às alegrias do presente,
e quanto às esperanças do futuro.

E MAIS...

Talvez você seja quase crente porque admira os princípios do evangelho, mas não
queira se unir a uma igreja local. Você não compreende os privilégios de ser
membro de uma congregação local: a graça de pertencer a uma família de fé; a
graça de amar e ser amado; a graça de trabalharem união pela extensão do
governo de Deus na Terra, porque ser membro de uma igreja não é o mesmo que
ser sócio de um clube recreativo-social-esportivo. Aliás. não faz a igreja campanha
de adesão ao seu quadro de membros: o evangelho não se barateia.

A igreja é um grupo de pessoas, de pecadores perdoados, que trabalham


ativamente para que outras pessoas nas suas famílias, no círculo de amigos ou
desconhecidos venham a conhecer a Jesus Cristo como Salvador, e venham a
crescer no Seu conhecimento e misericórdia.

E POR FIM...

Talvez você seja quase crente porque não entendeu perfeitamente o que seja
"receber ou render-se a Jesus Cristo". Você dirá, "Mas eu sempre tive Jesus em
alta consideração, sou cristão desde o nascimento como toda a minha família..." O
problema é que há toda uma idéia equivocada quando se menciona "aceitar a
Jesus" Parece que Jesus é um pedinte, um rejeitado, que aguarda nosso veredicto
sobre Ele. E isso pode criar um problema: recebê-lo por emoção sem prejuízo
para mudança no modo de viver. Levar Jesus a sério é ligar-se com a Pessoa de
Jesus de um modo único na experiência de vida

As citações foram extraídas da Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem de


Hoje. Barueri, SP: SBB, 2001.

Parte 10.
ISSO NUNCA FOI AMOR...

"O perfeito amor lança fora o medo" (1Jo 4.18)


A cultura helênica expressou com uma variedade de palavras o que é traduzido
em nossa língua como Amor. Os expressivos vocábulos Philia, Storge, Eros e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 29


Agape conceituam aspectos diferentes e profundos desse sentimento por vezes
perturbador, por vezes perturbado.

A leveza da palavra Philia fala do amor de amigo, do amor social, do amor cívico,
ou do amor de afinidade. É a palavra que descreve o companheirismo, o amor
pelo clube esportivo, ou pelos símbolos nacionais; é o amor que expressa a
necessidade de compartilhar algo com alguém: é a Amizade.

Storge, o amor familiar, faz referência ao amor natural dos pais para os filhos, do
tio para o sobrinho, e vice-versa, e envolve reciprocidade, homogeneidade e uma
aliança de sangue e de corações.

Eros é o amor biológico, hormonal, visceral, sensorial, aquele atraído pela beleza,
elegância, graça, pelas formas. É palavra de boa procedência, definindo o aspecto
das diferenças sexuais. O Eros atrai o homem para a mulher e a mulher para o
homem. Fora disso é perversão, pois nunca foi o amor planejado pelo Criador o de
homem por outro homem, de uma mulher por outra mulher, de um adulto
cobiçando sexualmente uma criança, ou de um ser humano tendo como objeto
sexual um animal irracional. Todas essas perversões encontram reprovação na
Escritura Sagrada: Levítico 18.22,23; 20.13,15,16. Eros é o instinto sexual. Paulo
apresenta os reclamos do Eros em 1Coríntios 7.2-5 e 1Tessalonicenses 4.3-8.

Agape é o amor que pode salvar o Eros da perversão porque o transforma e dá ao


amor humano e biológico sua verdadeira dimensão que é a sagrada. É o amor-
que-se-doa, o amor-sacrifício, o amor eterno, imutável e perfeito. Está nos lábios
de Jesus em João 3.16; Paulo o cita em Romanos 5.5; 1 Coríntios 13; e João, o
Evangelista, o menciona em 1João 4.16,18. Jesus Cristo é o supremo exemplo de
Agape, entrega total para a salvação da esposa que é a Sua Igreja (cf. Ef 5.25-
33).

No entanto, como qualquer outro sentimento, o amor pode ficar enfermo ou


perverso. Em Psicanálise, isso tem nome: Parafilia, caracterizada por anseios,
fantasias ou comportamentos sexuais intensos envolvendo objetos, atividades ou
situações inusitadas causadoras de sofrimento. Apresenta, outrossim, um
significado clínico com prejuízo para as boas relações sociais, bem como em
outras áreas relevantes da vida. Parafilias envolvem geralmente objetos não-
humanos, sofrimento ou humilhação, próprios ou do parceiro, ou crianças ou
outras pessoas sem o seu consentimento.

Estão nas manchetes dos jornais inúmeros e chocantes casos de perversão


envolvendo figuras de autoridade como médicos, professores e religiosos, entre
outros, vitimando inocentes e iludidas crianças e adolescentes. São casos de
Pedofilia, Pederastia e Prostituição Infantil.

PEDOFILIA

Assim se chama o distúrbio de conduta sexual, no qual o indivíduo adulto sente

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 30


desejo compulsivo por crianças e adolescentes. Tem caráter homossexual
(quando envolve meninos) ou heterossexual (quando envolve meninas), por
crianças ou pré-adolescentes. Tal perversão ocorre na maioria dos casos em
homens de personalidade tímida, que se sentem impotentes e incapazes de obter
satisfação sexual com mulheres adultas. No entanto, isso não pode ser chamado
de amor...

Indivíduos portadores de Pedofilia podem limitar sua atividade a despir e observar


a criança, exibir-se, ou tocá-la e afagá-la. Essas e outras atividades aberrantes
são geralmente explicadas com desculpas ou racionalizações de que possuem
"valor educativo" para a criança, de que esta obtém "prazer sexual" com os atos
praticados, ou de que a criança foi "sexualmente provocante".

Alguns pedófilos ameaçam sua pequena vítima no sentido de evitar que suas
ações sejam reveladas. Outros desenvolvem técnicas para obterem acesso aos
menores, que podem incluir o ganho da confiança da mãe, e, até, se casam com
uma mulher que tenha uma criança atraente.

Na imensa maioria dos casos, os pedófilos são homens, muitos dos quais são
dados ao alcoolismo ou são portadores de alguma forma de psicose. A idade se
situa entre os 30 e 40 anos. Geralmente, têm forte convicção religiosa,
apresentando ainda a característica de imaturidade e solidão. Isso explica,
possivelmente, a onda de escândalos envolvendo tantos religiosos, como temos
visto ultimamente, mas nunca foi amor!

Há pedófilos em todas as classes sociais. Os mais perigosos são, com certeza,


aqueles em quem a criança confia, como um amigo da família, um dos
empregados da casa, ou aqueles que a criança idealiza por suas funções: um
ministro religioso, um capelão, um professor, um técnico de esportes ou outra
pessoa que tenha, como já observado, função de autoridade. O ato perverso
destas pessoas acima de qualquer suspeita deixa profundas cicatrizes na alma da
criança sob a forma de culpa e de angústia.

O Pe. John McCloskey (www.catholicity.com/mccloskey), diretor do Catholic


Information Center de Washington, tem buscado lidar com a crise que se instalou
na Igreja Romana dos Estados Unidos, e, apesar dos inúmeros casos (que têm
custado milhões de dólares em indenizações) terem ocorrido há muitos anos, tem
afetado uma parte do clero, e causado danos à credibilidade daquela organização
e ao prestígio do seu sacerdócio. Causou espécie, igualmente, verificar-se que a
atitude dos bispos foi simplesmente realizar uma mudança de campo de
ministério, mas não dar tratamento à parafilia. O resultado é que setores
dissidentes do catolicismo norte-americano têm pedido a abolição do celibato
sacerdotal, sobre o qual se tem lançado a culpa dos problemas.

Pe. McCloskey não esconde os fatos, afirma,porém, que não existe uma
"epidemia" de casos na Igreja Romana dos Estados Unidos, mas que esses
eventos (que remontam aos anos 70, na maioria), foram cerca de vinte por ano,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 31


vieram à luz todos ao mesmo tempo, parecendo ser uma avalanche e uma
tendência. Afirma ainda, que casos de homossexualismo têm recebido atenção
dos superiores que mudam os sacerdotes de paróquias, submetem-nos a
tratamento, suspendem-nos das funções e, em sendo ocaso, expulsam-nos
definitivamente do sacerdócio. Geralmente, para evitar um processo civil um
acordo econômico é feito.

HOMOSSEXUALISMO

É outro freqüente caso de Parafilia; perversão segundo a Escritura Sagrada e a


Psicanálise (cf. Lv 18.22; 20.13; Mt 19.4; Rm 1.27-32; 1Co 6.9-11, 18).

Tem-se utilizado a expressão Inversão Sexual para retratar o fato de pessoas que
buscam como objeto sexual um parceiro do mesmo sexo. Por definição, no
entanto, isso nunca foi amor...

O Dr. Gastão Pereira da SILVA, um dos introdutores da Psicanálise no Brasil, diz


em Vícios da Imaginação que "os indivíduos que renunciam a toda atividade
sexual procriadora tomam o nome de homossexuais ou invertidos". A Grécia do V
século a. C. o aceitava, e é normal no Xamanismo e nas rodas de Candomblé. É,
no entanto, uma afirmação ampla que coloca dentro deste conceito aqueles que
fizeram os votos de castidade no sacerdócio das Igrejas Católica Romana e
Ortodoxa, bem como os que optaram pela chamada "vida consagrada" nos
conventos, mosteiros das diversas Ordens religiosas. Por ser ampla, não prestigia
o dom espiritual do celibato segundo os padrões do Novo Testamento (Mt 19.12;
1Co 7.1,8,17). Dá para entender, então, o tremendo conflito deste desvio com o
interesse social e político das diversas nações aliado à pregação moral e espiritual
dos segmentos religiosos.

Em Doentes Célebres, Gastão, bem como Norman WINSKI em A Revolta dos


Homossexuais, registram alguns famosos invertidos sexuais: Júlio César,
Sócrates, Platão, Cellini, Shakespeare, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo,
Verlaine, Nijinski, Proust, Gide, Andersen, Whitman, Byron. Também o afirma D. J.
WEST acrescentando o nome de Tchaikovsky.

A PROSTITUIÇÃO INFANTIL

Não é uma Parafilia, mas, sim, uma monstruosidade. A prostituição é vista na


Bíblia como uma abominação (cf. Dt 23.18; Mc 7.21; Gl 5.19). Sendo de menores,
é execrável, não havendo palavras para descrever esse odioso, porém real fato
em nosso país.

Ela se inicia com muita carência afetiva e dor. Há muito de infantil naquelas
meninas que perderam a infância e a inocência e já são mulheres. A TV mostrou
num documentário uma bonequinha em cima da cama de uma menina prostituída,
estando, ela mesma, agarrada a um ursinho. São meninas mal-amadas na própria
casa paterna, e nas casas onde "trabalham". São extremamente mal-amadas,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 32


razão porque andam à busca de mais afetividade, nunca encontrando essa
afeição.
Consciência da realidade elas têm, sabem onde estão, e o que fazem, mas não
conseguem se libertar. O cafetão representa, em muitos casos, a figura do pai,
com a ênfase no homem poderoso que a protege. O pai que dá o alimento, o
amparo da noite ou do dia, é o homem forte que explora e lucra. Por outro lado, os
homens que se aproveitam sexualmente dessas menores são pervertidos,
enfermos que se aproveitam da debilidade física e emocional dessas garotas, mas
nunca foi amor...

A Escritura Sagrada apresenta passagens que falam periférica mas implicitamente


de prostituição de menores:

"Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais porque das tais é o reino dos
céus" (Marcos 10.14)

"Aquele que escandalizar um destes pequeninos..., melhor seria que pendurasse


ao pescoço uma grande pedra de moinho, e se precipitasse na profundeza do
mar" (Mateus 18.6);

Os evangélicos buscamos repassar os valores cristãos. São valores de qualidade,


de vida moral equilibrada. De modo geral, a nossa juventude não faz parte desse
grupo de comportamento de risco que anda se prostituindo porque são rapazes e
moças guiados por valores. Ninguém foi criado para ser prostituído, mas para
honrar a Deus.

Se isso nunca foi amor, que caracteriza o amor pleno, ungido, abençoador?
Definições, existem-nas aos milhares. Luís de Camões num inspirado soneto
explica que "Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se
sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer". E em todo
o restante do soneto, tentando conceituar o que é o amor diz que é amor e
sofrimento, desprendimento, doação e um paradoxo.

A Palavra Santa, porém, é sempre esclarecedora e ensina que "o perfeito amor
lança fora o medo" (1Jo 4.18), e Paulo, apóstolo, cantando as virtudes do Amor
(Agape em 1Coríntios 13) explica pela intervenção do Espírito Santo que tem as
qualidades da paciência e da benignidade, da ausência do ciúme (que é medo de
perder), administra perfeitamente o orgulho e a soberba, guarda a conveniência
em tudo, é respeitador, portanto, é altruísta, ama a verdade e a pureza de
intenções.

Isso é amor, e se não permear as intenções, pensamentos, palavras e ações é só


barulho, trovão, ruído sem sentido. Basta comparar essas ungidas qualidades com
as Parafilias, e estas serão vistas como as aberrações descritas pela Psicanálise
freudiana, e, mais importante ainda, segundo o coração de Deus, que nos
concede Seu Shalom como inteireza, justeza, plenitude, saúde e paz de mente, de
corpo, de espírito, paz total e integral.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 33


INDICAÇÃO DE LEITURAS

BAPTISTA, Walter Santos. Fora de Padrão. Salvador, Monografia não publicada,


1999.

CHEMANA, Roland (Org.) Dicionário de Psicanálise Larousse-Artes Médicas.


Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1995. Trad. F. F. Settineri.

CUNHA, Jurema Alcides (Org.) Dicionário de Termos de Psicanálise de Freud.


Porto Alegre, Globo, 1970.

"El crimen de la pederastia". Em: http://www.el-mundo.es/1997/


06/26/opinion/26N0014.html

LAASER, Mark R. O Pecado Secreto - curando as feridas do vício sexual. Curitiba,


Luz e Vida, 1996. Trad. R. Castilhos.

MASTERS, William H. e JOHNSON, Virginia E. A Conduta Sexual Humana. Rio,


Civilização Brasileira, 1968. Trad. D. Costa.

MCCLOSKEY, Padre John. "La Iglesia de E.U. Sacudida por los Casos de
Pederastia de Sacerdotes". Em: http://www.catholicity.com/mccloskey/articles/
pederastia.html

NAGERA, Humberto et. al. (Orgs.) Conceitos Psicanalíticos Básicos da Teoria da


Libido. SP, Cultrix, 1981. Trad. A. Cabral.

"Parafilias". Em: http://www.psiqweb.med.br/dsm/sexual4.html

"Pederastia". Em: http://www.direitovirtual.com/dic/pederastia.htm

"Pederastia: un problema espiritual, además de psicológico". Em:


http://www.servicato.com/varios/mayo2002/pederastia_un
_problema_espiritua.htm

"Pedofilia No". Em: http://www.pedofilia-no.org/

PEREIRA, Aldo. Dicionário da Vida Sexual, 2 vols. SP, Abril Cultural, 1981.

PEREIRA, Paulo Cunha. Sexologia Aplicada à Psicanálise. Niterói, SPOB, 1998.

QUINTELLA, Ary e DIETERICH, Di. Sexualidade. SP, Saraiva, 1992.

SILVA, Gastão Pereira. Vícios da Imaginação. Belo Horizonte, Itatiaia, 1968.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 34


O Homem e o Sexo. BH-SP, Itatiaia, 1971.

VALENSIN, Georges. A Ciência do Amor. 3a ed. Rio, Vecchi, 1947. Trad. G. de


Queiroz.

WEST, D. J. Psicología y Psicoanálisis de la Homosexualidad. Buenos Aires,


Hormé, 1967. Trad. D. R. Wagner.

Parte 11.
LEVANDO A SÉRIO A PALAVRA DE DEUS
Texto básico: Lucas 8.5-8, 11, 15

Não podemos levar Deus a sério quando desprezamos a Sua palavra, e não
buscamos conhecê-la. Afinal, Jesus Cristo mesmo exortou, "Errais, não
conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus"(Mt 22.19). Há quem conheça a
Bíblia, mas seja ignorante do poder; há quem conheça o poder, mas é vazio da
Palavra. Talvez alguém seja elogiado pregador, admirado professor da EBD e tem
extraordinário domínio da Bíblia Sagrada, mas conhece o poder de Deus? O fato é
sério.

A Palavra há ser levada a sério porque, afinal, tudo com ela começou: os céus, a
terra, o mar, a vegetação rasteira, as densas florestas tropicais, os primeiros
invertebrados, os peixes, répteis, aves, mamíferos e nós também!

A Palavra há de ser levada a sério porque tudo caminha de acordo com essa
mesma Palavra (cf. Is 55.11), e tudo terminará de acordo com ela (cf. Mt 24.35; Ap
19.11,13). Não podemos esquecer as inúmeras referências à Palavra divina como
em João 5.24; 8.51; 12.48; 14.15,21,23; 17.8,17; Romanos 10.8; Ef 6.17;
Filipenses 2.13-16a; Colossenses 3.16; 1Tessalonicenses 2.13; Hebreus 4.12;
Isaías 40.8; Jeremias 23.29.

Levar a Palavra a sério é amá-la, estudá-la e viver por ela. É tê-la como regra de
fé e prática, de doutrina e ética, de extrair dela (e somente de suas páginas) o que
cremos e como nos conduzir neste mundo.

É orar por um avivamento na Igreja (não é agitação...): é santo fogo num santo
altar, queimando o indesejável em nossas mentes, consciências e ações. É
desejar esse avivamento, essa energização do Espírito Santo e pautá-lo pela
Santa Palavra.

Levar a Palavra a sério é dela alimentar-se (cf. Dt 8.3). Há, aliás, uma bem-
aventurança para quem leva a Palavra a sério em Lucas 11.28: "Bem-aventurados
são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam", disse Jesus. É entendê-la
como a poderosa e temível arma de Deus, pois é a espada do Espírito (Ef 6.17).
Aliás, Jesus a usou para vencer Satanás que O tentava (Mt 4.3, 4, 6, 7, 9, 10)

LEVAR A OBEDIÊNCIA A SÉRIO

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 35


Levar a Palavra a sério é aprender a obedecer nos termos do Salmo 119.66:
"Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos". A esse
propósito, Moody, o evangelista, afirmou que "O mundo está ainda para ver o que
Deus pode fazer com uma pessoa que Lhe está totalmente entregue". Isso
significa que nós precisamos relembrar nossa condição de servos.

Sim; porque ou somos servos de Deus ou servos do Outro; ou andamos


santamente ou caminhamos no pecado (Jô 8.34). Se você ainda é escravo de
certos pecados, o Inimigo toma conta de cada pensamento seu, de cada ação
sua, de cada palavra que profere. Mas se Jesus é o seu Senhor, você tem um
jugo suave e um fardo leve, porque Ele, o Senhor, compartilha a sua carga. Não é
melhor levar a obediência a sério?

Uma área realmente delicada é a questão da obediência. Diz a Palavra de Deus:


"Pois o pecado não terá domínio sobre vós" (Rm 6.14a). No entanto, saímos
arrastando um fardo na alma, um pecado escondido, secreto, particular por
ninguém conhecido. Onde fica a obediência à Palavra que diz que "o pecado não
terá domínio sobre vós"?

Qual o seu pecado, meu irmão? É irritação? A raiva fácil? A lavada e deslavada
mentira? É a deslealdade? A falsidade? A traição? Seu pecado é a cobiça? O
egoísmo? A avareza? Como é você, minha irmã dona de casa, com sua
empregada? Você, irmão empresário, com seus funcionários? É do tipo que acerta
algo com o empregado, e depois dos acordos na Justiça, toma o cheque das
mãos do demitido?

Vamos a Romanos 6.6, "pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele
crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de não servirmos mais
ao pecado".Viu? Deus toma a velha criatura em nós e a prega na cruz. É o grande
favor que Ele nos faz (cf. Rm 6.7).

LEVANDO A ORAÇÃO A SÉRIO

Levar a Palavra a sério é, por todos os meios, e passando sobre todas as


barreiras, manter uma vida de oração.

E não é mesmo? Como levar a Palavra de Deus a sério sem oração, porque orar é
estar com Jesus, andar com Jesus, falar com Jesus, manter comunhão com o
Senhor? E não nos incentiva a Escritura a orar sem cessar? (cf. 1Ts 5.17; Lc
18.1ss; 21.36; Rm 12.12b)

A negligência na oração é coisa antiga. Num livro editado em 1951 pela Junta de
Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, o autor, Pr. Robert Lee,
afirma que "A oração é a maior força no serviço cristão, e a mais negligenciada". E
vemos na Palavra Santa que o Senhor quer
· a oração com fé (Hb 11.6; Mc 11.20-26; cf. Mt 9.27ss);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 36


· que oremos definidamente (Mt 6.7,8; Mc 11.24);
· a oração com submissão;
· e a oração sem hipocrisia, pois hipocrisia é um teatro, mas oração é um ato de
culto (Mt 6.5).

E mais: não há lugar para pressa na oração. Pelo contrário, há princípios


espirituais nela envolvidos: crer, louvar, desejar, pedir e obedecer. É tudo muito
sistêmico. Você começa sua vida com a obediência, e faz o ciclo para chegar à
obediência.

Pois é; quando levo a Palavra de Deus a sério, quando levo a oração a sério, e
peço que Deus tire um defeito meu, uma atitude da velha criatura (que já deveria
estar na cruz), Ele remove esse defeito, essa atitude e coloca no lugar um atributo
Seu:

COMO SOU
Sou egoista
Vivo triste pesaroso
Vivo sobrecarregado e lacrimoso
Já não suporto ninguém, sou um poço de nervosismo
Sou áspero, rude, grosseiro
Sou insensível, coração de pedra
Tenho sido desleal e infiel
Sou irascível e explosivo
Tenho raiva fácil e incrível capacidade de ferir os outros

ELE ME DÁ
Amor
Alegria
Paz
Paciência
Benignidade (Gentileza, Finura)
Bondade
Fidelidade (Digno de Confiança)
Mansidão
Domínio próprio

Ele me dá o fruto do Espírito. Que bênção1 Tudo porque levo a Palavra foi levada
a sério.

Se é o seu caso, peça a Deus que mude seu velho, cansado e viciado coração
pela mente de Cristo (cf. Fp 2.5-7; 1Co 2.16). Se o irmão ou a irmã anda com
Espírito, Ele cria em você o desejo de orar porque Ele é o Espírito de súplicas e
clamor. Ele intercede conosco quando oramos, e por nós (Rm 8.26,27). Oração é
coisa séria. Andrew Murray fez uma impressionante afirmação ao dizer: "Deus
governa o mundo pelas orações dos Seus santos". Sugestiva palavra a de
Spurgeon que declarou: "Satanás nunca cutuca um cavalo morto", mas mexe com

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 37


a igreja porque é viva. Então, esse é um ministério muito especial, e para me
afinar, ajustar e adequar a ele, preciso desejar o que Deus deseja, ver como Deus
vê e amar como Deus ama.

LEVAR A SANTIFICAÇÃO A SÉRIO

Levar a sério a Palavra é buscar a santidade. Deus exige que o Seu povo seja
santo (1Pe 1.16). Afinal, santidade é libertação completa e perfeita do pecado (Rm
6.11,18), e em textos explícitos sobre santificação, diz a Escritura: "Esta é a
vontade de Deus para a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição;...
pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santificação" (1Ts 4.3,7),
e "Segui a paz com todos, e a santificação; sem a santificação ninguém verá o
Senhor" (Hb 12.14, cf. 2Co 7.1; Ef 1.3,4). E diz igualmente, que tem um ponto de
partida: "Mas, andemos segundo o que já alcançamos" (Fp 3.16).

Levar a Palavra a sério é enfatizar a integridade. Que inspirador exemplo de


integridade, o do profeta Daniel (6.1-16). Jogado na jaula dos leões for nele. Por
que fizera algo errado? Não! Porque fizera algo correto: foi justiçado por fazer o
certo. O apóstolo Pedro tem, uma palavra sobre isso na sua Primeira Carta
2.20,21: "Mas que glória é essa, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o
suportais com paciência? Se, porém, fazendo o bem, sois afligidos e o suportais
com paciência, isto é agradável a Deus. Para isto fostes chamados, porque
também Cristo padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas
pisadas". É; integridade tem a ver com santidade. Nos países de língua inglesa há
um dito entre os cristãos: "Wholeness is holiness", ou seja, "Integridade é
santidade".

Santidade é "perfeito amor", aquele de que fala 1João 4.18. É um estado no qual
não podem subsistir a cólera, a malícia, a blasfêmia, a hipocrisia, a inveja, o amor
ao dinheiro, o mundanismo, a carnalidade, o engano, a mentira, as contendas.
Tudo aquilo de que fala Gálatas 5.19-21.

Santidade é uma situação em nós em que Deus é amado, e o coração confia nEle.
Não é perfeição absoluta, pois só Deus é absolutamente perfeito. Não é a
perfeição dos anjos de Deus. Nem a perfeição que nosso primeiro pai possuía
antes da Queda. Santidade é obediência, é uma conta de diminuir, pois
"Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a
sorte de maledicências...", e, "Agora, porém, despojai-vos também de tudo: da ira,
da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca" (1Pe
2.1; Cl 3.8).

Mas é uma conta de somar também: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e
amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão,
de longanimidade" (Cl 3.12). É como ensina Charles Swindoll: "Uma pessoa santa
é aquela que possui um coração sensível para com Deus, e que leva Deus muito a
sério porque tem fome e sede de Deus".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 38


Levar a Palavra de Deus a sério é buscar a pureza nas relações com o outro sexo.
Isso nas relações conjugais, e no trato com o outro no namoro e no noivado. É
pureza para não tratar com leviandade os sentimentos de uma moça ou de um
rapaz. Santidade na vida, por isso. Quem é santo no domingo há de sê-lo
igualmente na segunda-feira, na quinta-feira e no sábado. Jesus não teve uma
vida dividida, esquizofrênica. Ao contrário, João 8.29 nos diz: "Aquele que me
enviou está comigo; ele não me deixou só, pois faço sempre o que lhe agrada"; e
Paulo nos exorta: "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1Co 10.31).

J. Edwin Orr no seu já clássico Plena Submissão menciona exame de pecados:


· Fala em pecados da língua
· Pecados da impureza
· Pecados do espírito.

É a cólera, também chamada de "mau gênio"; é irritação, impaciência, amargura,


ressentimento, exasperação, paixão, raiva e fúria. São as palavras ofensivas: o
sarcasmo, a irreverência, a profanação. É tomar o Nome de Deus em coisa vazia
(Ex 20.7); são, mesmo, as conversas paralelas ao Culto em andamento.

É a crítica. Aliás, há crítica e crítica. Crítica é exercer juízo sobre algo ou alguém
com discernimento, propriedade e conhecimento; e há crítica que fere e destrói. O
problema da crítica ferina, maldosa, é que é feita sem conhecimento do criticado.
Qual a diferença entre o amigo e o inimigo? Ambos falam dos seus defeitos, mas
o amigo fala dos seus defeitos a você, e o inimigo fala dos seus defeitos aos
outros e sem piedade. Qualquer pastor é alvo de crítica, muita crítica, impiedosa
crítica. É uma figura paradoxal, pois é reconhecido por todos que a igreja tem
necessidade de um guia espiritual, porque o Novo Testamento estabelece a
presidência de líder espiritual (Ef 4.11,12; Hb 13.7,17), mas, ao mesmo tempo, há
quem ponha pedras e espinhos para tornar difícil, sacrificial, quase impossível, a
tarefa de um pastor. E isso não vem de Deus.

É a leviandade, a conversa torpe, baixa, inconveniente. É a murmuração. Disse o


Dr. Orr, "Quase toda igreja tem um murmurador, para o qual nada está direito" (p.
62). Por trás do que parece zelo, há muita crítica e baixa condição espiritual (cf. Fp
2.14).

Dr. Orr fala em pecados do espírito: o orgulho (1Pe 5.5). Por incrível que pareça,
há um orgulho ao contrário. O diácono de uma igreja me dizia: "Meu orgulho,
pastor, é não ter orgulho". Tem o quê, então?

A hipocrisia. Jesus a condenou em Mateus 23.28.

É a falta de interesse na oração. Com as conseqüências: falta de interesse em


testemunhar, falta de amor e incredulidade.

O crente espera receber bênçãos, muitas bênçãos. E por que se perde essa

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 39


bênção? Duas respostas: consagração imperfeita e fé imperfeita. Consagração
pela metade é não levar a sério a Palavra. Que bonito e inspirador o que Paulo
disse dos tessalonicenses: "De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na
Macedônia e na Acaia. De vós, fez-se ouvir a palavra do senhor, não somente na
Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares. A vossa fé para com Deus
se espalhou, de tal maneira que não temos necessidade de falar coisa alguma"
(1Ts 1.7,8).

Pois é; a santificação é um projeto de cooperação com Deus e baseado em


Filipenses 2.12,13 e Colossenses 3.12-14: "de sorte que, meus amados, assim
como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na
minha ausência, assim também efetuais a vossa salvação com temor e tremor,
pois Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua
boa vontade".

"Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de compaixão, de


benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos
outros, perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem. Assim
como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós. E, sobre tudo, revesti-
vos de amor, que é o vínculo da perfeição".

Que o Pai Celeste nos ajude neste cometimento

Parte 12.
HISTÓRIA DE UM MILITAR

“1Terminando estas palavras, Jesus voltou para a cidade de Cafarnaum.


2Justamente naquela ocasião encontrava-se doente, e a morrer, o criado dum
oficial do exército romano, a quem este estimava muito. 3Quando o oficial ouviu
falar de Jesus, mandou alguns chefes judeus, muito respeitados, pedir-lhe que
curasse aquele criado. 4 -5Começaram, pois, a rogar-lhe que fosse com eles e
socorresse o homem: Se alguém merece ajuda é ele, porque gosta dos judeus e
até pagou do seu próprio bolso a construção de uma sinagoga para nós. 6 -8Jesus
foi pois com eles, mas, pouco antes de chegar a casa do oficial romano, este
mandou uns amigos dizer-lhe: Senhor, não te incomodes a vir à minha casa
porque não sou digno de tanta honra; por isso nem me julgo digno de ir ao teu
encontro. Diz apenas uma palavra daí de onde estás e o meu criado será curado!
Porque estou debaixo da autoridade de oficiais meus superiores e eu próprio
tenho autoridade sobre os meus homens - basta-me dizer: 'Vão!' e eles vão; ou
'Venham!' e eles vêm; e ao meu servidor: 'Faz isto ou aquilo. 9 -10Jesus,
maravilhado, voltou-se para a multidão e disse: Nunca entre todos os judeus de
Israel encontrei um homem de fé como este. Quando os amigos do oficial
regressaram, encontraram o criado completamente curado!” (Lc 7.1-10, versão O
Livro)
Este é a narrativa do encontro de um militar com Jesus Cristo. Relata o Novo
Testamento que era um capitão do Exército Romano, membro das forças de
ocupação da Palestina. Tinha o posto de centurião, homem que tinha sob seu

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 40


comando tropas de elite, sendo eles mesmos considerados os melhores homens
do Exército Imperial de Roma. O historiador Políbio descreve esses membros da
oficialidade romana, e diz que eram possuidores do dom de comandar, seguros na
ação, dignos de toda a confiança tanto dos superiores quanto dos seus
subalternos, em circunstâncias difíceis estavam dispostos a manter a posição, e,
até, em sendo o caso, a morrer no posto.
O Novo Testamento fala em seis desses oficiais, sendo todos altamente
respeitáveis. Este capitão, no entanto, o comandante da tropa baseada em
Cafarnaum, tem algo de especial na sua personalidade. Algumas coisas o
diferenciam dos outros mencionados nas páginas do Novo Testamento. Uma é
sua atitude pouco comum para com o seu escravo. Sim, tinha ele um escravo
(aliás, a história é, na realidade, sobre seu escravo) que estava enfermo. Aqui
temos, portanto, um dono de escravo, numa época em que escravos eram apenas
bens descartáveis, mas este militar tinha uma grande preocupação com o seu
servo, pelo qual enfrentaria, mesmo, qualquer dificuldade.
Outro fato a observar é que era profundamente religioso. Apesar do seu posto, era
humilde. Era comandante da Companhia de Polícia Militar da cidade de
Cafarnaum, na Galiléia, e se sentia indigno de ir a Jesus Cristo. Pediu, até, a
interferência das autoridades civis judaicas, os vereadores (chamados na época
os anciãos).
Observe-se, ainda, que era homem de uma extraordinária fé.
Verificamos, ainda, na história deste militar, três determinantes de significativa
importância. Será o objeto de nossa reflexão. A primeira delas é a expressão por
ele usada: “Não sou digno”.

Não sou digno” (Lc 7.6)

A expressão foi, “... não sou digno de tanta honra...”, ou como diz outra versão do
Novo Testamento, “Não sou digno de que entres debaixo do meu telhado”. Chama
a atenção que as autoridades civis e religiosas dos judeus, aqueles que tinham
sua terra ocupada, era tido homem em alto respeito e consideração.
Ele não se considera digno de receber a Jesus em seu lar. Faz, até, uma certa
resistência. É humilde, já o dissemos, mas Jesus o declara digno, perfeita e
plenamente digno. Nas Suas palavras “Nunca entre todos os judeus de Israel
encontrei um homem de fé como este. (v.9). O ex-diretor da Polícia Federal
americana (FBI), J. Edgar Hoover, afirma ter observado muito tipo de gente, e
afirmou que o mais sábio, o mais competente, o mais confiável era também o
primeiro a ser humilde. Esse homem é forte, digno, porque é humilde (cf. Pv. 3.5).
Nossa dignidade é algo essencial, não acidental. Somos dignos por causa de
nossa criação divina; é transcendental por vocação nossa dignidade. Sim, somos
chamados à salvação, por isso que somos declarados dignos pelo Senhor. E
mais: nossa dignidade é sobrenatural por causa do novo nascimento em Jesus
Cristo.
O ser humano, então, é uma criatura que tem raízes na ordem natural. Ninguém o
nega, ninguém nega que a nossa constituição química é idêntica à dos outros
organismos, e, com diferença de proporção, a mesma da natureza e do solo onde
pisamos. A Bíblia até exclama, “de um modo tão admirável e maravilhoso” fomos

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 41


formados (Sl 139.14). E, realmente, tanto a ciência quanto a Bíblia Sagrada
concordam que o ser humano é a coroa da criação. E isso porque é uma criação
especial de Deus (Gn 1.27).
Ora, criado por último, o ser humano veio coroar toda a obra criada. Possuindo
uma natureza racional, moral e emocional, fomos criados à imagem espiritual do
Deus Eterno. Somos dotados de uma vontade independente e inteligente, somos
responsáveis pelo que escolhemos, e também responsáveis diante de Deus pelos
nossos atos, como ensina a Escritura (cf. Gn 3.9ss). Aliás, a dignidade do ser
humano está descrita no Salmo 8, salmo que foi lido quando os astronautas
chegaram à Lua pela vez primeira. O Salmo diz, “Ó Senhor, Senhor nosso, quão
admirável é o teu nome em toda a terra, tu que puseste a tua glória dos céus!”
v.1). E mais adiante, ressalta:

“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que
estabeleceste, que é o [ser humano], para que te lembres dele? [nada diante do
universo!] e o filho do homem, para que o visites? [absolutamente nada!] Contudo,
pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe
domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés” (vv. 3-
6).

É assim que a Bíblia descreve você. É descrita, ainda, essa dignidade nossa em
termos de um relacionamento especial, um relacionamento muito particular com
Deus, que torna o ser humano o que é, o que você é.

É preciso crer, então na bondade essencial da pessoa humana, crer na sua


dignidade. É preciso acreditar na nossa dignidade de progresso moral e espiritual,
e na capacidade de amar e de servir. E foi precisamente isso o que Jesus Cristo
viu naquele militar que O procurou. Outra observação a ser feita está nos versos 7
a 9. Ele falou a Jesus assim: “Diz apenas uma palavra” (v. 7a).

Diz apenas uma palavra” (Lc 7.7a)

O capitão sequer pensava em Jesus ir ao seu lar. Nem passou pela sua cabeça.
De Jesus, ele só queria uma palavra. Uma só, e já bastaria!

Acostumado à disciplina militar, espinha dorsal da vida na tropa, sugere a Jesus


que é bastante uma palavra de comando, e tudo estaria resolvido. Na economia
divina, assim acontece, pois, “assim será a palavra que sair da minha boca: ela
não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para
que a enviei” (Is 55.11, ARA). E argumenta com sua atitude em relação aos
subalternos dizendo: “Porque estou debaixo da autoridade de oficiais meus
superiores e eu próprio tenho autoridade sobre os meus homens - basta-me dizer:
'Vão!' e eles vão; ou 'Venham!' e eles vêm; e ao meu servidor: 'Faz isto ou aquilo”
(v.8). Ele sabia o que era comandar. E, nesse ponto, Jesus Se admira: “Jesus,
maravilhado, voltou-se para a multidão e disse: Nunca entre todos os judeus de
Israel encontrei um homem de fé como este” (v. 9). Aliás, duas vezes Jesus Se
admirou. Em outro episódio de Seu ministério, Jesus Se admirou da incredulidade

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 42


(Mc 6.6), mas aqui, diz a Bíblia, Jesus Se maravilhou diante da fé daquele oficial.

A fé é fundamental ao evangelho de Jesus Cristo. Sem ela, não se pode ter uma
verdadeira perspectiva evangélica a ser aplicada ao nosso quotidiano, às nossas
dúvidas, e aos sofrimentos até. Para o cristão, a fé não é aceitação intelectual de
uma teoria. É obediência, é adesão, é atitude, é levar Deus a sério. É completa
confiança em Jesus Cristo. Ele, sim, objeto da fé de quem se intitula cristão.

A autêntica fé compromete aquele que se chama cristão; a verdadeira fé


compromete-o totalmente, unindo-o de modo absoluto, resoluto e arrebatador ao
coração de Deus. Não foi Jeremias, o profeta, que disse: “Seduziste-me, ó
Senhor, e deixei-me seduzir”? (Jr 20.7a).

A fé tem seus efeitos. É uma nova visão do mundo. Quando você tem fé, vê o
mundo diferentemente, com outros olhos. Talvez, mesmo, com outros óculos. Não
mais as lentes escuras em que tudo aparece tenebroso. Agora, você tem uma
nova ótica, uma nova perspectiva. Pela fé, você tem uma nova visão da História, e
porque, como cristão, estamos pessoalmente engajados na História da Salvação
da sociedade e do indivíduo humano, você tem, até, uma nova visão de si mesmo
nesse extraordinário plano divino para os séculos.

Outra relevante determinante surge. Logo no comecinho da história, está dito que
aquele oficial ouviu falar de Jesus.

essoa de Cristo (Lc 7.3a)

O militar ouvira falar de Jesus Cristo. Era Jesus uma figura singular na
História humana. Não é sem razão que a própria História está dividida em
“antes de Cristo” e “depois de Cristo”. Só uma figura ímpar poderia marcar o
tempo de tal maneira. Na palavra de Paulo há uma felicíssima expressão que
diz, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19,
ARA).

Observem: Deus estava em Jesus Cristo reconciliando nós mesmos com


Seu coração. E continua o apóstolo, “não imputando aos homens as suas
transgressões [os pecados]; e nos encarregou da palavra da reconciliação
[com a eternidade]”.

Pois é; esse é o fato central da nossa fé em Cristo. Não precisamos tentar


compreender os mistérios da encarnação (cf. Jo 1.14; 1Tm 3.16; Fp 2.5-7).
Nunca vou entender, talvez na glória eterna, como foi possível Deus
encarnar-se. Não é preciso tentar compreender isso para perceber que Jesus
Cristo é singular. Mas foi o que aconteceu com aquele militar, capitão da
força policial em Cafarnaum. Em Cristo, ele viu o perfeito caráter de Deus;
em Cristo, ele viu Deus em operação; ele viu em Cristo o caminho, e viu a
verdade, e viu em Jesus Cristo, a vida, a plena vida, a vida eterna.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 43


William Gladstone, um pensador, afirmou que “Tudo quanto escrevo, e
penso, e espero se baseia na divindade de Jesus Cristo, a única esperança,
a central esperança de nossa pobre e desviada raça humana.” E, na pessoa
daquele capitão, vemos o objetivo da fé, e a fé é em Cristo Jesus. Na pessoa
de seu servo, o efeito da fé, a restauração. Por isso, diz o texto bíblico:
“Quando os amigos do oficial regressaram, encontraram o criado
completamente curado!” (v. 9b).

É perfeitamente pertinente uma palavra de alento, de encorajamento e de


alerta. Isso porque precisamos de Jesus como referencial na vida. Nós nos
chamamos cristãos. Cristãos que somos, precisamos ser discípulos do
Senhor aprendendo sempre, sempre aprendendo. Que ninguém imagine que,
por ter atingido determinado patamar na carreira profissional, já tem tudo.
Que realizemos o todo da vida no espírito de Jesus Cristo exercendo justiça
quando justiça for necessário, mas sempre com amor, como ensinou São
Paulo: “E tudo o que fizerem que seja com bondade e amor” (1Co 16.14). Até
mesmo na hora de dar voz de prisão, que haja um senso mais elevado de
restauração daquele ser prejudicado pela maldade, pela malignidade que
toma conta deste sistema de coisas.
Que Jesus Cristo possa olhar para cada um e dizer “Não, você é perfeita e
absolutamente digno”, porque dessa dignidade já somos herdeiros
naturais”.

Culto de Ação de Graças do Comandante-Geral da Polícia Militar da Bahia)

Parte 14.
LEVANDO A SÉRIO A MATURIDADE ESPIRITUAL

. a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. ...
E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como
evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.7, 11-13)

A lei estabelece uma idade legal quando a pessoa é considerada madura. Mesmo
quando a pessoa ainda não o seja na sua experiência e vivência. Isso decide uma
série de situações: a idade de votar, a possibilidade de se habilitar como
motorista, e o alistamento militar. Há uma idade própria de aposentadoria, que
determina, pelas nuances que hoje são estudadas, o momento quando alguém
pode ou não se aposentar. A abundância de limites de idade e designações legais
de maturidade nos lembra que os seres humanos alcançamos certos níveis de
maturidade e responsabilidade durante a vida. É normal que assim aconteça. Uma
criança tem seu nível de responsabilidade que não é o mesmo de um adolescente,
de um jovem ou de adulto, de um chefe de família.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 44


O mesmo acontece na vida espiritual. Há alguns crentes em Jesus Cristo que
ainda são criancinhas na fé, e outros há que têm se desenvolvido como adultos
espirituais. Alguns têm mais tempo de evangelho, mas, realmente, têm
permanecido apenas ano após ano fazendo a mesma coisa. Isso ocorre num nível
linear durante quinze, dezoito ou vinte anos. Enquanto há outros que com pouco
tempo de caminhada cristã, cinco ou sete anos, já desenvolveram um tipo de
maturidade na fé, que nos deixa admirados e gratos a Deus.

É difícil, se não impossível, estabelecer a maturidade espiritual sobre uma base de


idade cronológica. Vezes tantas, temos visto jovens que têm uma atitude espiritual
bem madura, e, por outro lado, pessoas com muita idade que não cresceram, não
fizeram por onde crescer ou não o quiseram. Leva anos para um crente acumular
experiências que o amadureçam. No entanto, visto que duas pessoas reagem de
modo diferente à mesma experiência, ou porque uma delas teve mais
experiências que conduziram ao amadurecimento, elas podem ter a mesma idade
cronológica, mas diferentes profundidades espirituais.

aracterísticas da Imaturidade Espiritual

A “criança em Cristo” tem características próprias: É pessoa que teve uma


experiência de conversão, nasceu como filho de Deus, mas ainda não começou a
desenvolver a sua capacidade e a assumir responsabilidades que são da sua
competência, tendo, assim:

Necessidade de instrução nos termos de Gálatas 4.1-3: “Ora, digo que por todo o
tempo em que o herdeiro é menino, em nada difere de um servo, ainda que seja
senhor de tudo; mas está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado
pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à
servidão debaixo dos rudimentos do mundo.”

Ainda crianças em Cristo, trazemos muita coisa lá de fora, coisas a que nos
acostumamos a ter e fazer na vida. E elas vão desaparecendo e nossa linguagem
passa a ser outra. A revista Eclésia trouxe certa feita uma matéria sobre a
linguagem do evangélico, chamada de “evangeliquês”, o jargão usado pelos
crentes. Na verdade, temos um vocabulário próprio. Chamamos muito as pessoas
de “querido” e “querida”, já perceberam. Lá fora, essa coisa de homem chamando
outro de “querido” é coisa meio estranha. Na igreja, é diferente, pois filhos de
Deus como somos, somos irmãos uns dos outros, pertencemos à mesma família
amada do Pai. E nós nos amamos, “porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). A
mencionada revista trouxe uma matéria sobre esse assunto em outra ocasião. É
uma linguagem que vai se apoderando devagarzinho do modo de ser do novo
crente, e começa a substituir os “rudimentos do mundo” de Gálatas 4.3, os
padrões de linguagem mundanos pelos padrões de linguagem de sua nova fé.

Mas não é isso o que faz doutrina, e, sim, a Palavra: o estudo da Palavra, o andar
na Palavra e o viver na Palavra. Quando iniciamos a vida de fé, somos tutelados
como se fôssemos criancinhas. Orientados, supervisionados porque ninguém

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 45


supera a necessidade de instrução, de educação, de aprender sempre coisas
novas. A pior coisa que pode acontecer a alguém é estagnar e dizer “Não tenho
mais coisa alguma a aprender!” Isso pode ser em qualquer campo. Em alguns
campos, as pessoas têm de viver constantemente se atualizando. O médico
precisa fazer cursos, participar de congressos onde são apresentadas técnicas
novas, pois a Medicina está avançando em passos galopantes com novas vitórias.
O mesmo com a Psicanálise em que o profissional precisa ler bastante em sua
área, jamais parar de ler, porque, no mínimo, haverá o relato de uma sessão de
terapia que trará esclarecimento.

É o mesmo com a Palavra de Deus. Já preguei inúmeras vezes sobre João 3.16,
ou sobre o Filho Pródigo, sobre a Ceia do Senhor, e cada vez aprendo coisas
novas porque esse relato não se esgota. No campo de Música, um regente coral
ou de orquestra não pode estagnar no tempo e nunca se atualizar participando de
congressos, de simpósios achando que não precisa mais desses conclaves e das
atualizações que eles trazem. No mínimo, um repertório mais contemporâneo.
Isso acontece com o professor, com o pastor e outros profissionais. Mesmo com a
dona de casa, que sabem que quanto mais livros de culinária tem, melhor, não é
mesmo?

No entanto, são elementos de uma educação mais aprimorada a independência, a


escolha de currículo e um anseio pessoal, o desejo de crescer “na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Na vida e
educação cristãs, o novo crente deve se envolver numa classe onde haja um
estudo sério das Escrituras. Há uma riqueza espiritual muito grande na
experiência coletiva, solidária, podendo falar e ouvindo alguém falar e trocar
experiências, alguém participar com um testemunho. É informação e formação
também, porque a Escritura Sagrada tem respostas para todas as situações da
vida. Ficar em casa para comungar com o televisor (mesmo que diga, “É programa
evangélico!...”), duvido que o irmão ou a irmã receba um aperto de mão ou um
abraço fraternal, ou um beijo santo da tela fria da TV.

Deve-se considerar o problema da instabilidade da fé, ou na expressão de Paulo


em Efésios 4.14: “para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao
redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia
tendente à maquinação de erro.” Três coisas são absolutamente essenciais à fé
livre e pessoal: a Bíblia aberta, o coração aberto e a mente aberta. Faz-se
necessária pesquisa, aliada à análise e comparação, não significando, porém, que
o novo crente ainda inábil, seja jogado ao vento de qualquer doutrina ou idéia. O
crente que constantemente muda de igreja ou de pregador é expressão visível do
texto acima. Ele se vê facilmente perturbado, desapontado e frustrado; duvida de
sua salvação e da sinceridade dos outros; tem reações baseadas na emoção mais
do que nos fatos; sua fé instável e sua fidelidade abalada não merecem confiança.

EVANDO A SÉRIO A MATURIDADE ESPIRITUAL

Estamos agora no terreno próprio dos que decidiram levar seriamente o evangelho

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 46


e se desenvolvem até serem adultos espiritualmente. Há adolescentes, jovens, e,
até, crianças que vivem nessa atmosfera.

A maturidade pode vir em qualquer idade, visto que significa o desenvolvimento


pleno do potencial espiritual. Como crescer, então?

Pondo à parte o que é infantil. É Paulo, em 1Coríntios 13.11, quem enfatiza:


“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como
menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” É
gracioso ver uma criancinha com seus brinquedos; porém, é patético ver uma
pessoa adulta ocupada com brinquedinhos e negligenciando seu trabalho.
Atitudes infantis de egoísmo, de zanga sem motivo, de capricho, de falta de
habilidade de julgamento, má-compreensão de valores, e completa dependência
são algumas das características que não têm cabimento na vida do crente
amadurecido.

Outro modo de buscar o crescimento é cultivando a compreensão. Crianças


reagem mais pelos reflexos que pela razão. Devem ser ensinadas a avaliar e
julgar e comparar. Pois não é que ainda há crentes que estão vivendo pelos
reflexos, e muito preconceito? É aquele a quem Paulo chama de “carnal”, ou seja,
mais movido pelos instintos, pela “carne”, que pelo Espírito (cf. Rm 7.5ss; 8.5ss;
1Co 3.1ss.; Gl 5.17ss)

E, ainda, esforçando-se para ser como Cristo. No dizer de Paulo: “até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado
de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo. ... antes, seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (1Co
4.13,15). Toda pessoa tende a se tornar como alvo ou padrão ou alvo que adota
para si. O teste de um crente amadurecido freqüentemente está na evidência de
uma personalidade semelhante à de Cristo. Se tenta ser como o mundo e seu
sistema de coisas, vai consegui-lo, obtendo semelhança com o novo mestre.

Pelo estudo da Escritura Sagrada é o próximo passo. Assim ensina o escritor da


Carta aos Hebreus: “O alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela
prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal” (5.14).
É isso: o crente em Jesus Cristo não pode se satisfazer com breves práticas
devocionais. Como a criança que ao crescer passa pela fase do “por quê?”, e quer
uma resposta, assim o crente vai entrando na posse do conhecimento da Palavra
de Deus e das verdades doutrinárias. E isso não acontece por acidente, mas pelo
estudo e aprendizagem.

Uma pessoa amadurecida é guiada por objetivos a longo prazo, e não por desejos
imediatos. Por esse motivo, um conceito popular de maturidade explica que “é a
capacidade de adiar o prazer”. É preciso privar-se dos prazeres e desejos
pessoais para que se possa conhecer os maiores prazeres do Reino de Deus.

Parte 15.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 47


A CORAGEM DE PERGUNTAR

Maria das Dores é uma sofredora. Procurou-me em lágrimas, e contou-me que


seu esposo havia falecido algumas horas antes depois de ter recebido uma
fortíssima descarga elétrica no emprego. Contou-me, ainda, que já havia perdido
dois dos seus sete filhos. Um deles era um motorista de táxi que fora assaltado e
assassinado por um meliante travestido de passageiro. O outro havia
desembarcado de um ônibus, e atravessava a rua quando foi atropelado por um
automóvel.
A pergunta da irmã das Dores foi "Por que Deus faz isso comigo?", e nela foi
inserido um profundo senso da injustiça divina em sua vida pessoal. Isso me
trouxe à mente as palavras de Jó:

"Porque as flechas do Altíssimo voltaram-se contra mim, ...Deus desencadeou


contra mim males terríveis ".

Na realidade, a história da irmã Dorinha é paralela à de Jó.

LOGIA POPULAR

1. Na tentativa de lidar com o problema da dor e do sofrimento, diferentes


respostas têm sido sugeridas. Algumas, de modo extremamente linear, sugerem
que nós o merecemos como castigo por nossos pecados. Esta foi a doutrina
ortodoxa de Israel, e são apresentados como exemplos deste modo de teologizar,

"Buscai o bem, e não o mal, para que vivais".


e,

"Nenhuma desgraça sobrevém ao justo; mas os ímpios ficam cheios de males".

Este princípio de retribuição diz que toda dor vem do pecado, seja do nosso
presente pecado, seja de outrem no passado. No entanto, Jó é uma negação
disso, porque ele sofreu todo tipo de calamidade (perdeu sua propriedade, sua
saúde, seus filhos, e o amor de sua esposa ), e "era homem íntegro e reto, que
temia a Deus e se desviava do mal".
No caso da irmã Maria das Dores, também, não pude encontrar base para aplicar
essa abordagem retributiva. Não pude encontrar qualquer explicação para as
mortes brutais e irracionais de três homens tementes a Deus e trabalhadores que
deixaram aquela senhora com filhos pequenos e sem qualquer arrimo. Não, a
abordagem da retribuição não podia ser aplicada a seu caso.
2. Algumas pessoas crêem que o sofrimento é bom em si mesmo, e visto que têm
prazer na dor, a única explicação é que são elas mesmas enfermas. De fato, os
psicanalistas chamam a isso de masoquismo, e ensinam que é uma perversão.
Não era o caso da irmã Dorinha; ela não encontrava qualquer motivo de satisfação
em seu sofrimento, mas estava extremamente machucada e dolorida.
3. Outros querem ver um princípio disciplinador no sofrimento, com isso dizendo
que o Senhor tem que nos punir como um pai pune a um filho a quem ama, pelo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 48


amor desse filho. Fornecem passagens da Escritura como:

"Quem se recusa a bater no seu filho não o ama; se o ama, não hesita em castigá-
lo".

"Feliz o homem que aceita que Deus o corrija e não despreza o castigo do
Senhor".

"porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a
quem quer bem".

Por que no caso de Maria das Dores? De que tipo de disciplina estava
necessitando?
4. E que dizer das pessoas que crêem que a dor não tem existência real? Para os
budistas tudo é ilusão. A única dor é a do desejo, que podemos negar até
entrarmos no Nirvana, dizem. A Ciência Cristã ensina que o sofrimento é
simplesmente o "erro da mente mortal".
Também essa abordagem não encontrou aplicação na vida da irmã Dorinha,
porque o sofrimento estava ao seu lado, no seu coração, mesmo, a dor estava lá,
a ferida estava lá, não era ilusão.

EUS

Onde estava o Eterno quando essas mortes aconteceram? Estaria ausente? Essa
foi a queixa de Jó em 23.3,

"Ah, se seu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegar ao seu tribunal!"

E, embora na mente de Jó Deus fosse tão difícil de ser encontrado, ele acredita
que "ele sabe o caminho por que eu ando; provando-me ele, sairei como o ouro".
Não era essa a queixa de D. Maria das Dores. Ela não acusava o Senhor de estar
ausente. Sua pergunta tinha uma dimensão diferente; ela me perguntou: "Por que
Ele faz isso comigo?" Seu Deus não era um ausente como Jó imaginava, mas
presente embora tremendamente injusto. Na sua teologia, a irmã das Dores
buscava encontrar uma punição por alguma falta não merecida, o que tornava o
Criador culpado de injustiça.
Finalmente eu havia encontrado o ponto: trabalhar com ela de modo que pudesse
ter uma nova visão de Deus. Não era Ele um ausente (ela bem o sabia), mas
pensava a Seu respeito como um Deus injusto. A irmã Maria das Dores teve a
coragem de questioná-lo e queria uma resposta.
O Antigo Testamento fala do Eterno como um Deus de justiça e que exerce o Seu
julgamento; não é um Deus que se caracteriza pela falta de julgamento e de
lógica.

"Justiça e juízo são a base do teu trono".

Também a justiça de Deus (mishpat) O apresenta como salvador,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 49


"E desposar-te-ei comigo para sempre; sim, desposar-te-ei comigo em justiça,
e em juízo, e em amorável benignidade, e em misericórdias" .

Destas passagens e das suas referências, podemos perceber o Eterno como um


Deus de justiça, que ama e que salva. Deus não está ausente, não é injusto, e não
deixaria a irmã das Dores com a sua dor sem resposta e orientação.

IREÇÃO

O que havia acontecido à nossa irmã e a outras pessoas sofredoras é


conseqüência de nossa condição humana. Ocorre com crentes e incrédulos
porque é uma experiência comum a toda a humanidade. A grande pergunta é "por
que sofremos?" ou num tom pessoal, "por que isso acontece COMIGO?"
Provavelmente, o cristão tem um problema mais profundo por causa de sua fé em
Deus, e do conhecimento em primeira mão do Seu amor. ROBINSON fala de um
princípio revelador no sofrimento . É compreensível porque em um sentido a dor
torna possível que a consciência de alguém receba um conhecimento mais
profundo de Deus e do Seu relacionamento com o ser humano. O sofrimento nos
revela um Cristo sofredor, e nos dá percepções (insights) de Sua pessoa como um
amigo sempre presente, e que nos compreende porque Ele mesmo sofreu as
dores pelas quais passamos, e levou sobre Si as que não podemos transportar.
Isso é o que Buttrick chama de "dor como compreensão" de modo a ter
entendimento do mundo natural, da nossa natureza como seres humanos, e da
natureza de Deus.
A grande diferença , então, é de compreensão. Fiéis e infiéis sofrem, mas para os
primeiros "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra",
não construindo uma barreira de proteção ao redor deles, mas dando-lhes
compreensão e entendimento do que está acontecendo. É nesse sentido que Jó
exclama, "De facto, eu mal tinha ouvido falar de ti, mas agora vi-te com os meus
próprios olhos". Sim, a dor como um mal será destruída, permanecendo após a
presença e a consolação de Deus-conosco. A consolação imediata vem do
conforto trazido pela compreensão (insight) e a certeza da constante presença do
Eterno e Vivo Deus.

UTRAS LEITURAS

1. BAKER, Wesley C. More Than a Man Can Take. Philadelphia, Westminster,


1966.
2. FITCH, William. God and Evil. London, Pickering & Inglis, 1967.
3. GERSTENBERGER, E.S. e SCHRAGE, W. Suffering. Nashville, Abingdon,
1977. Trad. John E. Steely.
4. LEWIS, C.S. The Problem of Pain.New York, MacMillan, 1962.
5. MURPHY, Roland E. The Psalms, Job. Philadelphia, Fortress, 1982.

Parte 16.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 50


CORRIDA CRISTÃ
rodução
Cremos que Deus tem pleno controle sobre as nossas circunstâncias. Todas as
situações em que nos envolvemos estão sob o controle de Deus. Ele é soberano!
Por isso, as circunstâncias pelas quais passamos como Igreja, ou individualmente,
conforme cremos, estão debaixo do controle de Deus. O falecimento de um ente
querido que ainda nos afeta está sob o controle de Deus. A perda de um emprego,
a doença que se abate terrivelmente sobre nós, e uma série de circunstâncias
(tais como Paulo descreveu em Rm. 8. 35, 38 e 39) estão sob o controle de Deus.
E assim, toda a nossa vida está sob o controle divino.
O Senhor tem nos chamado para marchar! Ele tem nos desafiado a continuar! As
palavras que Ele tem nos dado, nos estimulam a encarar com seriedade a
continuidade da nossa missão pessoal, bem como a missão da Igreja.
O texto dos primeiros três versículos de Hebreus doze, que trata sobre a “corrida
cristã”, é com toda a certeza aplicável em nossas circunstâncias. Em resumo,
podemos dizer que:
Todos nós temos a obrigação de desenvolver a corrida cristã seguindo os padrões
pré-estabelecidos pelo Senhor. Por isso, a partir destes versículos, devemos fazer
três considerações em relação ao desenvolvimento da carreira cristã:
I – Devemos considerar a “torcida” no desenvolvimento da carreira cristã – v. 1 a
É interessante que após termos uma maravilhosa descrição dos chamados “heróis
da fé” (do capítulo onze), que também realizaram “corridas” marcantes, o autor de
Hebreus os apresenta como componentes de uma estimulante torcida. A figura é
de um estádio, onde a grande carreira cristã se desenvolve. O estádio está
repleto, “com uma nuvem de testemunhas” - os torcedores. Ao mesmo tempo em
que são heróis, são testemunhas e são “nossos torcedores”.
1. Eles são os “santos do passado”, conf. 11.2 e 12.23. São os heróis bíblicos que
conhecemos. Eles foram citados: Abel, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Jacó, José,
Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel, os profetas e
tantos outros. Eles são componentes da torcida.
2. Eles não devem ser confundidos - como alguns o fazem. Eles não são nossos
intercessores, eles não são nossos conselheiros, eles não são os nossos “guias” e
não são “espíritos superiores”. Eles foram pessoas iguais a nós “ ... sujeitos aos
mesmos sentimentos ...” (Tg.5.17).
3. Mas existem outros componentes nessa torcida: os nossos que já se foram –
Raphael, Elza, João, Maria, Maximino, Felipa, José, Rufina, Felipe, Maria, Benício,
Glorinha, Zeferina, Jovina, e mais recentemente, o Roberto, o Adelmo Jr., o
Júnior, e por último, o nosso Domingos. E quantos mais! Certamente cada um de
nós tem uma lista de gente muito querida. Essa torcida é grande! Eles são nossos
“torcedores”. Eles são testemunhas – silenciosas – mas que ainda falam por suas
vidas!
Ora, se temos um grupo tão seleto a nos incentivar, se os temos como exemplo,
pois completaram suas carreiras, como "corredores", temos diante de nós a
responsabilidade de desenvolvermos a nossa carreira cristã seguindo os padrões
pré-estabelecidos.
II – Devemos considerar a “aerodinâmica” no desenvolvimento da carreira cristã –
v. 1 b e 2 a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 51


Nós estamos desenvolvendo a nossa carreira cristã. Mas para desenvolvê-la de
modo adequado, a “aerodinâmica” que a envolve deve ser detalhada:
1. Temos que “desembaraçar-nos” de tudo quanto nos atrapalha. O autor nos faz
ver a figura de um atleta que retira de si tudo quanto pode ser prejudicial no
desenvolvimento de sua carreira. Ele aponta para dois tipos de “roupas” que
prejudicam a carreira.
Em primeiro lugar ele nos diz que devemos abandonar “todo o peso” – algo que
nos prende ao chão e nos impede de avançar. São os conceitos, os valores, os
envolvimentos, as amizades, os questionamentos, a visão da vida, inadequados!
Estes são itens que causam dificuldades no desenvolvimento de nossa carreira.
Não são pecados, mas são peso excessivo que dificultam a nossa carreira. Em
segundo lugar, ele nos diz que devemos abandonar “o pecado que tenazmente
nos assedia”. Pecado é aquilo que desagrada a Deus. É errarmos o alvo
estabelecido para as nossas vidas. Pecado é aquilo que fazemos que fere o
coração de Deus. E nós sabemos em quais áreas somos mais suscetíveis ao
pecado. Eu e você, membros do Corpo de Cristo, temos a necessidade de pedir
ao Pai que sonde a nossa vida e veja se há em nós “algum mal caminho e nos
guie pelo caminho eterno”. Essa avaliação, essa purificação, deve ser constante.
O castigo, Jesus já levou na cruz, mas o nosso Deus quer que o pecado não nos
impeça na carreira cristã!
2. Temos que “correr com perseverança a carreira que nos está proposta”. Qual é
a carreira proposta para a Igreja? Essa carreira é composta de várias facetas.
Ganhar almas? Edificá-las? Integrá-las no Corpo de Cristo? Instruí-las para que
possam pregar a outros? Enviá-las aos campos missionários? Suprir suas
necessidades materiais, físicas, emocionais, sociais e espirituais? São facetas da
nossa carreira como Igreja. Mas qual é a proposta para eu e você
individualmente? Qual é o nosso ministério pessoal? Você e eu fomos
aquinhoados com dons espirituais para que possamos completar a nossa carreira!
Existirão dificuldades, entretanto, temos que desenvolvê-la com perseverança!
A figura é de um atleta que suplanta as dificuldades. Que continua correndo
mesmo nas circunstâncias difíceis. Ele sente os problemas, ele sofre, mas ele
persevera! Ele persevera porque ele olha para alguém especial!
3. Temos que “olhar firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus”. O olhar
do atleta deve estar colocado no alvo, no final da carreira. O olhar do atleta não
deve se dirigir para baixo, para os detalhes do piso ou outras circunstâncias. O
seu olhar deve voltar-se para o alto. Como membros do Corpo de Cristo somos
desafiados, em nossa carreira cristã, a olhar para o primeiro e maior “atleta” de
todos os atletas! Pois Jesus, além de ser o primeiro “atleta”, é também uma das
“testemunhas”. E, Jesus é certamente também, nosso “torcedor”, enquanto
desenvolvemos nossa carreira cristã seguindo os padrões pré-estabelecidos.
III – Devemos considerar o “maior atleta” que desenvolveu a carreira cristã – v. 2 b
e3a
Quando olhamos para outros que estão desenvolvendo suas carreiras cristãs
obtemos resultados enganadores. Todos nós somos falhos. Mas em certas áreas
somos melhores – nos destacamos mais. Nos orgulhamos de nossas boas áreas
e criticamos as áreas falhas dos outros. Ao invés de olharmos para os outros,
devemos olhar para Jesus! O autor de Hebreus nos propõe que, além de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 52


olharmos, “consideremos atentamente” outras verdades em relação ao “primeiro e
maior atleta”.
1. Quem é ele? Ele é Jesus! Ele é o Senhor dos Senhores! Ele é o Rei dos Reis!
Seu nome é sobre todos os nomes! Só no Seu nome há salvação! Só no Seu
nome há libertação! Ele é o “Autor e Consumador da fé”. Ele é o iniciador e o
objetivo final da nossa fé. A fé não é credulidade nem ingenuidade. Ela não é
ilógica nem irracional. A nossa fé em Jesus é a confiança que temos nEle por
causa de Quem Ele é! Nós, cristãos, em meio as circunstâncias difíceis, não
devemos nos guiar por “vistas”, mas pela fé em Jesus!
2. Qual foi a sua corrida? Sua “corrida” foi Sua vinda e Sua vida dada ao mundo!
Sua “linha de chegada” foi o véu do Templo! O véu foi rompido quando Ele conclui
Sua carreira na Cruz do Calvário! Nessa corrida, Ele “em troca da alegria que lhe
estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia ... e suportou
tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo”. Havia “torcida” contrária, uma
torcida oposta à Sua carreira. Uma torcida de pecadores, da qual eu e você
fazíamos parte. A corrida foi “antes da fundação do mundo”. Na Sua corrida Ele
correu só! Ele não sentiu vergonha, mesmo que a cruz fosse símbolo da maldição!
Ele se fez maldito para que eu e você fôssemos “benditos de Deus”! Glória a
Deus!
3. Qual foi o seu prêmio? Seu prêmio foi “assentar-se à destra do trono de Deus”.
Mas o que é maravilhoso é que, ao assentar-se no Seu trono, Ele prometeu a
cada um de nós: “ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim
como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono”(Ap.3.21). A grande
verdade para a Igreja é que "o seu destino é o trono"! Portanto, longe de nós o
desânimo, a tristeza, a incerteza. Desenvolvamos a nossa carreira cristã seguindo
os padrões estabelecidos.
Conclusão – v. 3 b
Ao invés de nos “fatigarmos, ou desmaiarmos em nossas almas” consideremos
que a nossa carreira cristã terminará com bom êxito!
Nós, cristãos sinceros, membros do Corpo de Cristo, devemos considerar não
apenas os “heróis da fé” que formam a “nuvem de testemunhas”; não apenas os
“nossos que já se foram” e completaram as suas carreiras, contribuindo para que
a “carreira cristã” da Igreja se desenvolvesse até este ponto; mas sobretudo,
devemos considerar o “maior atleta de todos os tempos”, o Senhor Jesus Cristo.
Nele, animados e encorajados, desenvolvamos a nossa carreira cristã seguindo os
padrões estabelecidos!

Parte 17.
MENTE DE CRISTO

" Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele
são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido.
Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas
nós temos a mente de Cristo" (1Co 2.16)

Nem todos podem compreender o fato de que Quem nos pode falar acerca de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 53


Deus , Sua Glória e Seus mistérios é o Espírito Santo. Paulo diz haver dois tipos
de pessoas: as psychikói (naturais) e as pneumatikoi (espirituais). Está
completamente fora das possibilidades do homem natural compreender o Espírito,
pois só quem tem a mente purificada pode fazê-lo. Porque o Espírito tomou posse
do crente, em vez da mente natural, possui "a mente de Cristo". "O homem que
possui o Espírito compartilha do divino " (cf. 2Pe 1.4 ). Paulo fez uma afirmação
ousada: "nós temos a mente de Cristo", por essa razão, o homem espiritual não vê
as coisas da perspectiva do mundo, mas do ponto de vista do seu Salvador.
Que acontece, então, quando se tem a mente de Cristo ?

OS MAIOR DESEJO DE SER SANTIFICADO

Compreenda-se que há na salvação três estágios: a conversão ou justificação, a


santificação e a glorificação. No primeiro caso, há perdão dos pecados passados;
no passo seguinte, perdão dos pecados presentes, neste processo de
crescimento. Na glorificação (na glória eterna, já diz o nome), não há pecados
futuros. No processo de sua santificação, há e haverá sofrimento e dificuldades,
mas há e haverá muitas bênçãos expressas, sobretudo, em termos de conforto,
consolação, paz, tranqüilidade, segurança e calma, coragem para a vida, força
para as lutas do testemunhos e do dia-a-dia, que são expressões do poder do
Espírito que tanto busca o crente.
Realmente, o Novo Testamento ensina que o oposto do sofrer não é o não-sofrer:
é receber consolação. Por isso, Jesus nos garantiu que são "bem aventurados os
que choram", não porque começarão a sorrir, não porque transformarão o choro
em vingança, mas porque "serão consolados" .
Certamente, em nosso desejo de maior santificação teremos obstáculos: a
vontade própria não dominada, pois vida santificada significa andar de acordo com
a vontade de Deus. Há uma tendência em nosso coração a buscar o seu próprio
modo de fazer as coisas e viver a vida. É esse jeito próprio que atrapalha nosso
crescimento em santificação. Podemos a isso dar o nome que quisermos:
carnalidade, pecado habitual, orgulho, pecaminosidade, egoísmo, egocentrismo,
qualquer outro título. Isaías 53.6a resume muito bem: 'todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho". Todo o
problema está no egoísmo de nossa natureza. E isso não pode ser perdoado. Tem
que ser crucificado. Como Paulo expressou:

" Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e
a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do filho de Deus, o qual me amou, e
se entregou a si mesmo por mim." ( Gl 2.20 )

Pode ser mais claro o ensino sobre o que temos que fazer com nosso ego?
Outro empecilho é a desobediência, que nasce da vontade não dominada.
Submissão, obediência ao Espírito é absolutamente imprescindível para uma vida
de sucesso: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são os
filhos de Deus." (Rm 8.14). É isso: vida em processo de santificação está em
constante orientação do Espírito Santo !
Incredulidade é outra pedra no meio do caminho da santificação. Não me refiro a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 54


descrentes, mas a quem já professou a Jesus Cristo, quem se rendeu a Ele como
Salvador. Quer dizer, sou crente em Jesus, confio que tem poder para me salvar,
livrar do inferno e das penas eternas, mas não confio que possa me dar poder
para viver?! " Sem fé é impossível agradar a Deus " (Hb 11.6). E é mesmo! Pois a
fé é base da vida espiritual. Daí os constantes desafios à fé, e o pedido dos
discípulos ao Senhor: " aumenta-nos a fé !"

UANDO SE TEM A MENTE DE CRISTO, HÁ O ANSEIO DOMINANTE DE QUE


O NOME E A GLÓRIA DO SENHOR SEJAM HONRADOS EM NOSSA VIDA.

Mesmo que signifique isso prejuízo de qualquer qualidade, a oração do crente em


Jesus Cristo será "Pai nosso, santificado seja o Teu Nome", acrescentando "seja
qual for o preço a pagar". Quem tem esse sentimento vive para que Deus seja
glorificado. Uma coisa é certa: para que isso aconteça, é preciso que Deus seja o
Senhor de nossa vida! Significa submeter o controle de nossa vida a Ele. Há
momentos quando eu quero uma coisa, e Deus deseja outra para mim. Mentimos
tanto no dia a dia quando protestamos confiar em Deus e vivemos ansiosos,
aflitos, alterados, mal-humorados, assustados, atribulados, amedrontados e
culpados. Mentimos quando cantamos "Quero ser um vaso de benção..." desde
que não atrapalhe o horário do jogo, de ver a namorada, do cinema ou da novela
das sete; quando cantamos "Em mim vem habitar, ó vem Jesus..." desde que os
colegas da escola, companheiros da fábrica ou do trabalho não O vejam vivendo
em mim; quando cantamos "Sonda-me, ó Deus, pois vês meu coração..." e
guardamos um lugar em nossa vida onde o Senhor não pode entrar; quando
cantamos "A Ti seja consagrada a minha vida, ó meu Senhor..." e "Minha prata e
ouro toma, nada quero Te esconder..." e não trazemos o dízimo à Casa do
Tesouro, à Igreja, para que haja provisão e mantimento na Casa do Senhor. Os
exemplos de cantar uma coisa e viver outra são quase infinitos, no entanto, um
crente com a mente purificada deseja que o Nome do Senhor seja enaltecido em
sua vida em qualquer circunstância.

UANDO SE TEM A MENTE DE CRISTO, TEM-SE IGUALMENTE O DESEJO DE


VER ODAS AS COISAS DO PONTO DE VISTA DE DEUS.

Ou seja, tudo avaliamos pela balança de Deus, usamos a Sua escala de valores.
Isso diz respeito ao que fazemos, ao que dizemos e, até, ao que pensamos, pois
uma decisão impensada, palavras ou atos sem equilíbrio e ponderação terão
conseqüências funestas. Avaliar as coisas como Deus o faria é sinal de uma vida
que caminha no Espírito. Isso tem a ver com a importante e freqüente pergunta,
"Como saber a vontade de Deus?" Nossa mente é passível de ser afetada por
vontades outras que não a de Deus. Por isso a Bíblia classifica a mente humana
natural de psychikos, de carnal (Cl 2.18), o que significa o estado natural do ser
humano, que nesse plano não pode compreender as obras de Deus.
A mente natural é vaidosa (cf. Ef. 4.17), ou seja, vazia (vaidade =
vacuidade=estado vazio). Veja-se a história do rico sem juízo, o rico de mente
vazia (Lc 12.16-20). A mente natural é corrupta, contaminada (cf. Tt 1.15).
Literalmente podre levando péssimas companhias e palavras torpes.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 55


Por outro lado, a mente dominada pelo Espírito Santo é regenerada (cf. Ef 4.23;
Rm 12.2), quer dizer gerada-outra-vez, refeita. Apesar do pecado, a graça de
Deus agiu e purificou a mente porque as obras do diabo são destruídas (1Jo 3.8).
A mente espiritual, purificada, é equipada por Deus:

" Ora, este é o pacto que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e me seu coração as
escreverei; eu serei o seu Deus; e eles serão o meu povo. "( Hb 8.10 )

É esse intenso anseio de tudo ver e avaliar como Deus o fez indício fortíssimo da
operação do Espírito Santo em uma vida com a mente de Cristo.

UANDO SE TEM A MENTE DE CRISTO, PREFERE-SE MORRER ESTANDO


CERTO A VIVER ERRADAMENTE

O crente que ama o temporal, o terreno, que se preocupa em demasia com o


material olha a morte com terror no coração. Quando passa a viver pelo Espírito,
torna-se indiferente para com o terreno, e se torna mais cuidadoso com a
qualidade de vida. O Novo Testamento ensina que a direção da vida está em
Cristo: Ele é o caminho, é a verdade. As ações do crente são realizadas na base
da vida nova dada por Cristo, o que vale dizer que o irmão/a irmã não mente
porque o código dos Dez Mandamentos diz que não deve mentir, mas porque algo
aconteceu na sua vida: Cristo lhe deu nova vida, e por causa do que Cristo é na
sua vida.
Viver erradamente como crente tem tristes conseqüências, entre outras: perder a
visão missionária porque se desviou da estrada da santificação, e "independência"
e por isso desequilíbrio.

PARA CONCLUIR

Deixamos de receber a benção por falta de anseios. O ex-missionário em nossa


pátria Pr. Boswell contou-nos que quando era pastor nos Estados Unidos realizou
a cerimônia de casamento da filha de uma família bem abonada da igreja e ao fim
do evento recebeu um presente um par de luvas de frio. Morava no Texas onde
não há esse frio que exija o uso de luvas especiais. Por mais de um ano, deixou
de usá-las, até que vindo a primeira oportunidade para fazê-lo, foi calçá-las. O
dedo não entrava porque a luva estava forrada. Tirou o papel que armava a luva e
era uma cédula de 100 dólares; e também no outro dedo, e no outro e nos cinco
dedos daquela luva. E para maior surpresa, o mesmo aconteceu na outra mão,
num total de $ 1,000.00 que ignorava nosso irmão que ali tivesse à sua disposição
todo aquele tempo?!
É verdade: deixamos de receber as bênçãos celestes por falta de desejá-las.
Ninguém se torna espiritual por si mesmo; somente o Espírito de Deus pode
converter alguém numa pessoa espiritual, e sua mente natural na mente de Jesus
Cristo!

Parte 19.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 56


A ORAÇÃO NA VIDA DO CRENTE DO NOVO SÉCULO

Introdução:
A oração é um ato antinatural, visto que desde o nascimento aprendemos as
regras da autoconfiança enquanto lutamos para conquistar a auto-suficiência
necessária para a sobrevivência humana. A oração não faz parte da orgulhosa
natureza humana por contrariar os valores de autoconfiança estabelecidos pala
sociedade corrompida pelo pecado.

Embora a asseveração de Bill Hybels seja verdadeira, na história da igreja vemos


que, mesmo em meio aos períodos de trevas espirituais, a oração é vista como
uma necessidade e não como uma opção. Sempre que nos sentimos acuados
pelo mundanismo ou sempre que percebemos um esfriamento espiritual, nos
dispomos à oração na busca de reavivamento e da unção espiritual necessária
para uma vida cristã vitoriosa.

Na verdade, creio que é justamente esta atitude da igreja em relação a oração que
tem nos causado tanto esgotamento espiritual, bem como tantas frustrações e
aparentes derrotas nas batalhas travadas contra o mundanismo, o relativismo e o
nominalismo evangélico.

Não é de admirar que haja tantos cristãos orpimidos, derrotados e deprimidos


atualmente, visto que abandonamos a "joelhologia", preferindo o emocionalismo
catártico em vez do companherismo diutuno com Deus e com o nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Esta substituição, além de ser uma tremenda burrice, nos
faz perder as bênçãos advindas da presença e da ação do Espírito Santo em
nossas vidas, a partir da oração.

Tudo isto nos leva a refletir sobre a necessidade de a igreja redescobrir a vida de
oração, o que justifica o nosso estudo deste domingo.

I - A Tipologia da oração:

A teologia bíblico-evangélica sempre será nutrida pela oração. Mais que isso, dará
atenção especial à vida de oração, visto ser a teologia inseparável da
espiritualidade. A teologia não se ocupa somente com o Logos, mas também com
o Espírito que revela e aplica aos nossos corações a sabedoria de Cristo.

O reformador João Calvino se referia à oração como sendo a a alma da fé, e


realmente, a fé sem a oração logo perde o vigor. E através da oração que fazemos
contato com Deus. Da mesma forma, é através da oração que Deus se comunica
conosco.

Quando estudamos sobre a oração verificamos que esta prática espiritual e


religiosa assume formas bem divergentes, dependendo do tipo de religião ou
espiritualidade em que se acha. Na verdade, identificamos seis tipos de oração: a
primitiva, a ritual, a de cultura grega, a filosófica, a mística e a profética.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 57


Na oração do homem primitivo, Deus é visto como um ser superior, que escuta e
responde aos pedidos dos seres humanos, embora em geral, ele não seja
considerado onipotente e santíssimo. A oração primitiva nasce da necessidade e
do medo, e, freqüentemente, o pedido visa o livramento dos infortúnios e dos
perigos.

A oração ritual representa uma etapa mais avançada de civilização, embora não
seja necessariamente mais profunda nem mais significativa. Nesse caso, é a
forma e não o conteúdo da oração que traz a resposta. A oração é reduzida a
litanias e repetições que, segundo é comum se acreditar; tem um efeito mágico.

Na religião grega popular a petição era centrada nos valores morais, mais do que
nas necessidades rudimentares simples. Acreditava-se que os deuses eram
benignos, mas não onipotentes. A oração dos gregos antigos era uma forma
purificada de oração primitiva. Refletia, mas não transcendia, os valores culturais
da civilização helênica.

A oração filosófica significa a dissolução da oração realista ou ingênua. Agora, a


oração passa a ser uma reflexão sobre o significado da vida ou a resignação à
ordem divina do universo. Na melhor das hipóteses, a oração filosófica inclui uma
nota de ações de graça pelas bênçãos da vida.

Os dois tipos mais sublimes de oração são a mística e a profética. O misticismo,


no seu contexto cristão, representa uma síntese dos temas neoplatônicos e
bíblicos, mas também é um fenômeno religioso universal. Nesse caso, o alvo é a
união com Deus, que é geralmente retratado em termos suprapessoais. O deus
antropomórfico da religião primitiva agora é transformado num Deus que
transcende a personalidade, sendo ele mais bem descrito como o Absoluto, o
abismo infinito, ou o fundamento e profundidade infinitos de toda a existência. O
misticismo vê a oração como a elevação da mente até Deus. A revelação é uma
iluminação interior mais do que a intervenção de Deus na história, como é o caso
da fé bíblica. Os místicos falam freqüentemente dos degraus da oração ou dos
estágios da oração, e a petição é sempre considerada o estágio mais baixo. A
forma mais sublime da oração é a contemplação, que freqüentemente culmina em
êxtase.

A oração profética significa tanto uma reapropriação como uma transformação do


discernimento espiritual do homem primitivo. Agora, a oração se baseia, não
somente na necessidade, como também no amor. Não é um encantamento nem
uma meditação, mas uma forte expressão espontânea de emoção. Realmente, a
súplica vinda do fundo do coração é a essência da oração verdadeira. A oração
profética envolve a importunação que implora e até mesmo se queixa. Nessa
categoria de religião profética estão não somente os profetas e apóstolos bíblicos,
como também os cristãos que ainda hoje clamam por uma ação efetiva de Deus,
visando transformações na história e na vida dos fiéis. O judaísmo e o islamismo,
nos seus melhores momentos, também refletem a religião profética, embora o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 58


misticismo também esteja presente nesses movimentos.

Devemos tomar muito cuidado com o fenômeno contemporâneo que podemos


chamar de espiritualidade secular. Isto é, a igreja tem se permitido a uma espécie
de misticismo deste mundo, onde a ênfase recai, não em se desligar do mundo,
mas sim em imergir no mundo na busca de prosperidade, de curas milagrosas, de
adivinhações profeteiras e de toda a espécie de egocentrismo e de realizações
antropocêntricas, voltadas para o homem apenas, e totalmente distanciadas de
Deus e da verdadeira devoção. Por certo a espiritualidade secular não é oração,
se a analisamos a partir dos postulados bíblicos.

II - Marcas distintivas da oração cristã:

Na religião bíblica, a oração é considerada tanto uma dádiva quanto uma tarefa.
Deus toma a iniciativa, Ezequiel 2.1-2; Salmo 50.3-4, mas o homem deve
corresponder. Este tipo de oração é personalista e dialógico. Importa na revelação
do mais íntimo do nosso ser a Deus, mas também na revelação da vontade de
Deus para nós, Provérbios 1.23.

Na perspectiva bíblica, a oração é espontânea, embora possa assumir formas


estruturadas. Mas as formas em si devem ser mantidas de modo experimental,
devendo ser deixadas de lado quando se tornam barreiras para a conversação
entre o coração humano e o Deus vivo. A oração verdadeira, no sentido profético
ou bíblico, jorra através de todas as formas e técnicas. Porque tem sua base no
Espírito de Deus, não pode ser limitado a uma caixa sacramental nem a uma
fórmula ritualista.

Na Bíblia, a oração de petição e a intercessão são primárias, embora a adoração,


as ações de graças e a confissão também tenham seu papel. Em todas estas
formas de oração, porém, o elemento de petição também está presente. A oração
bíblica é clamar a Deus das profundezas; é derramar a alma diante de Deus, 1
Samuel 1.15; Salmos 88.1-2; 130.1-2; 142.1-2; Lamentações 2.19; Mateus 7.7-8;
Filipenses 4.6; Hebreus 5.7. Freqüentemente, a oração bíblica toma a forma de
importunação, de súplica apaixonada diante de Deus e até mesmo de luta com
Deus.

Tal atitude pressupõe que a vontade ulterior de Deus é imutável, mas a maneira
de ele escolher a forma de realizar essa vontade depende das orações dos seus
filhos. Ele nos quer como parceiros da Aliança, e não como autômatos ou
escravos. Neste sentido restrito, pode-se dizer que a oração altera a vontade de
Deus. Mas mais fundamental é compartilhar com Deus nossas necessidades e
nossos desejos de tal maneira que possamos ficar conformados de modo mais
pleno com Seu propósito e vontade definitivos.

A meditação e a contemplação têm o seu papel na religião bíblica, não como


estágios superiores da oração, como no caso do misticismo, mas como
suplementos à oração. Em nossa meditação, a atenção não se dirige para a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 59


essência de Deus, nem para a profundidade infinita de toda a existência, mas para
os atos redentores de Deus na história bíblica, culminando na pessoa de Jesus
Cristo. O alvo não é ficarmos mais distante do mundo de tumultos e de confusões,
mas nos apegarmos mais a Deus e ao nosso próximo.

A espiritualidade bíblica tem um lugar para o silêncio, mas o silêncio não deve ser
usado para ficarmos distante da Palavra, e sim para nos prepararmos para ouvir a
Palavra. Em contraste com certos tipos de misticismo, a piedade da fé não procura
transcender a razão, mas quer colocar a razão a serviço de Deus. Uma oração
pode consistir somente de gemidos ou suspiros, ou de gritos e brados de júbilo;
mas não é oração completa nem inteira até tomar a forma de comunicação
significativa com o Deus vivo.

III - Paradoxos da oração cristã:

Devemos observar ainda que a oração no sentido cristão não nega a dimensão
mística, mas também não aceita a idéia de um estágio superior na oração, em que
a petição é deixada para trás. O progresso que ela vê na vida espiritual é da
oração mecânica para a oração do fundo do coração.

Na espiritualidade bíblica ou evangélica, a oração está arraigada tanto na


experiência de se sentir longe de Deus, quanto na sensação da presença de
Deus. É inspirada tanto pela necessidade que se sente de Deus, como pela sua
obra de reconciliação e redenção em Jesus Cristo.

A oração bíblica inclui a dimensão da importunação bem como a da submissão. É


tanto um lutar com Deus na escuridão, como um descanso na quietude. Há um
tempo para reclamar e para se queixar diante de Deus, mas também há um tempo
para se submeter e obedecer. A fé bíblica vê a submissão à vontade de Deus
vindo após a tentativa de descobrir a sua vontade através das súplicas sinceras. A
oração é um implorar a Deus para que ele ouça nossos pedidos e os satisfaça, e
também um entregar-se a Deus, na confiança de que ele agirá no seu próprio
tempo, à sua própria maneira.

A oração cristã é coletiva e individual. Achamos Deus na solidão, mas nunca


permanecemos nesse estado. Pelo contrário, procuramos unir nossos sacrifícios
de louvor e nossas petições e intercessões aos dos irmãos na fé. O homem ou a
mulher de oração pode encontrar Deus tanto na solidão como na comunhão. Até
mesmo na solidão, cremos que a pessoa que faz as suas petições não está
sozinha, mas sim, cercada por uma grande nuvem de testemunhas, Hebreus 12.1,
os santos e os anjos na igreja triunfante.

Somos chamados para apresentar a Deus as necessidades pessoais e individuais,


mas ao mesmo tempo, somos conclamados a interceder por todos os santos,
João 17.20-21; Efésios 6.18, e também pelo mundo em geral, 1 Timóteo 2.1-2. A
espiritualidade bíblica não acarreta em distanciamento dos tumultos do mundo,
mas em identificação com o mundo na sua vergonha e aflição. A petição pessoal

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 60


tornar-se-ia egocêntrica se não fosse mantida em equilíbrio com a intercessão,
adoração e ações de graças.

O alvo da oração não é ficar absorvido na pessoa de Deus, mas transformar o


mundo para a glória de Deus. Ansiamos pela bendita visão de Deus, mas
procuramos ainda mais colocar a nossa vontade, e as vontades de todas as
pessoas, em harmonia com os propósitos de Deus. Oramos, não simplesmente
pela felicidade pessoal nem pela nossa própria proteção, como é o caso da oração
primitiva, mas pela promoção e expansão do reino de Deus.

Conclusão:

A partir destas considerações, qual seria então o propósito as oração para a vida
ada igreja e de seus membros?

Watchman Nee responde a essa questão asseverando que Deus nos concede o
ministério da oração para que possamos saber e entender a sua vontade para as
nossas vidas e para a igreja. Segundo Nee, o cristão que se dedica a oração, bem
como a igreja que incentiva a prática da oração na vida de seus membros,
consegue orar expressando a vontade de Deus para a humanidade.

Quando chegamos neste nível de maturidade cristã, não mais oramos pedindo a
Deus que faça a nossa vontade ou que realize milagres para satisfazer apenas os
interesses humanos, mas sim para pedirmos a Deus que faça tão somente a
vontade dele e que realize tudo aquilo que ele, em sua soberania e presciência,
entender e detrmionar que é o menlhor para nos e para a igreja. Em síntese,
conforme Nee, o mais elevado propósito da oração é permitir que vontade de
Deus seja realizada na Terra.

Além disso, a oração é como um canal do poder de Deus fluindo em nossa vidas,
nos concedendo sua paz e liberando o seu poder predominante para que este se
m,anifeste no mundo através de nossa vidas e das igreja. Qualquer que seja a
manifestação do Espírito de Deus, o poder predominiante e transformador de
Deus é sempre liberado a partir da oração. Cristãos e igrejas que não oram
perdem a sensibilidade em relação as manifestações divinas e o resultado mais
comum que identificamos em suas vidas e a sensação de estarem arrasados,
indefesos, abatidos, maltratados e derrotados.

A oração constante nos confere benefícios espirituais insondáveis. Através da


oraçção somos revestidos de poder e autoridade espiritual, 1 Reis l8.26-39.
também pela oração somos quebrantados pelo próprio Deus para desfrutarmos de
sua presença e para oferecermos uma adoração perfeita e agradável, Jó 16.12;
Salmos 31.12 e 51. podemos ainda afirmar que pela oração somos revestidos de
poder espiritual para a vitória que nos é garantoda nos embates contra Satanás,
Daniel 9.1-19 e 10.1-17.

Amados irmãos e irmãs, devemos orar. A luz de Mateus 6.5-13, diríamos que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 61


devemos orar regularmente e em particular, preservando assim uma cultura de
oração em noissas vidas. Devemos orar intensamenmte porém, com sinceridade,
sempre desabafando tudo o que está em nosos corações diante de Deus, mas
procurando o máximo possivel desenvolver o senso de especificidade, como
ensinado por Jesus.

Por fim, vale ressalta que Jesus não nos emsinaou a oração do Pai Nosso,
Mateus 6.9-13; Lucas 11.1-4, para ser transformada em uma ladainha ou para ser
apenas recitada, mas sim como um excelente exemplo de que a oração não é
uma fórmula mágica e simplória da qual nos utilizamos somente em momentos de
desespero. Oração é vida em toda a sua inteireza e amplitude. Oração é trabalho.
É esforço árduo na busca de formatarmos a nossa mente e o nosso espirito à
mente e ao Espírito de Cristo, 1 Coríntios 2.11-16.

Oremos a Deus para que o milagre da oração seja uma realidade em nossas vidas
e igreja. Mas para que isto se torne uma realidade efetiva e incontestável,
precisamos fazer somente uma coisa: ORAR.

Amém

Parte 20.
AMAMOS VERDADEIRAMENTE?

Na maioria das vezes, estamos em nossas igrejas e, com toda alegria, cantamos,
declaramos nosso amor a Deus, mas não nos preocupamos com a pessoa que
está sentada ao nosso lado. Se é alguém desconhecido, nem mesmo
perguntamos o seu nome. Não nos interessamos em saber se ela está precisando
de alguma ajuda, de uma palavra de ânimo ou simplesmente um sorriso sincero.
"Se eu perguntar e ela precisar de ajuda, eu terei que gastar tempo com ela",
"ajudar quem está precisando é tarefa dos pastores da igreja e não minha", são
respostas que, nas maioria das vezes, ouvimos das pessoas.

Em I João 4:20, o autor diz que aquele que disser que ama a Deus e não amar
seu irmão, é mentiroso. Nossas igrejas estão cheias de pessoas deste tipo, dizem
que amam a Deus e viram as costas para as necessidades do próximo.

Amar o próximo não é simplesmente dizer: "eu te amo meu irmão". Amar o
próximo é ter um amor genuíno dentro do coração, um amor que se interessa pelo
próximo, pela pessoa dele e não pelos bens dele. Há muitos que se aproximam de
alguém, simplesmente para se aproveitarem da posição de destaque que essa
pessoa ocupa. É necessário ter um amor não apenas de palavras, mas um amor
prático. Mais forte que nossas palavras, são nossas atitudes.

No capítulo 4 de Gênesis, encontramos a história de Caim e Abel. É uma história


bem conhecida por todos nós. Por causa da inveja, Caim matou o seu próprio
irmão.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 62


"Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele respondeu: Não sei.
Acaso sou eu tutor de meu irmão?" (Gn. 4:9).

Ao contrário do que pensava Caim, nós somos responsáveis pela vida de nosso
irmão. Somos responsáveis por sua vida espiritual. O amor de Deus, que deve
estar dentro de nós, nos leva a um interesse pela vida de nosso irmão. Como eu
posso estar bem comigo e com Deus se meu irmão está passando por algumas
necessidades?

O amor que deve existir na igreja, um amor puro, derramado por Deus, deve
eliminar todo o individualismo e egoísmo que são tão prejudiciais às pessoas.

Quantas pessoas passaram por nossas igrejas e hoje estão no mundo? Quantas
pessoas que você já teve oportunidade de conversar, mudaram de igreja pela falta
de amor que reinava onde elas estavam?

Todas estas pessoas são vítimas da falta de amor e de companheirismo que,


infelizmente, imperam na maioria das igrejas.

Talvez você esteja pensando: "Não, esta culpa não cairá sobre mim pois, eu tenho
muitas amizades".

Será que, com suas muitas amizades você está "fechado" para novas amizades
ou para uma pessoa que não tenha o mesmo nível social que você, ou até
mesmo, para uma pessoa que não seja tão "simpática" como as pessoas do seu
grupo?

Quantas pessoas já fizemos tropeçar em nosso "testemunho" parcial, sem amor?

A verdade é: Matamos a vida espiritual com nossas palavras e atitudes


impiedosas.

"Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus. Quem ama é
nascido de Deus e conhece a Deus". ( I Jo 4:7).

Nós, que somos discípulos de Cristo, eu tenho que amar como Cristo amou.

Creio que está na hora de nos perguntar:

· Como tem sido meu relacionamento com meu irmão?


· Tenho sido pedra viva ou pedra de tropeço?
· Tenho edificado ou destruído?
· Tenho inspirado pessoas com meu testemunho ou desestimulado com minhas
atitudes?
· Tenho amado o meu próximo como a mim mesmo ou tenho demonstrado total
indiferença?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 63


O desejo do meu coração é que você possa influenciar positivamente as pessoas
que estão ao seu lado (dentro e fora da igreja), através do seu exemplo, da sua fé,
e principalmente, através do amor.

Se você tem dificuldade de expressar seu amor, peça a Deus que Ele dará
condições para você.

"O Senhor vos aumente, e vos faça crescer em amor uns para com os outros e
para com todos, como também nós para convosco". (I Ts 3:12).

Parte 20.
ATRAVÉS DA POEIRA

A palavra diácono tem um significado muito simples. Veio transliterada da língua


grega diretamente para a portuguesa. Na língua original, quer dizer "servo". Um
exame de suas raízes (para quem gosta de filigranas lingüísticas) revela algo bem
prosaico: "passado através da poeira" (de dia = por, pelo, pela, e konos = poeira,
pó). Isso mostra como a simplicidade revela a grandeza da função: o diácono não
tem medo de passar através da poeira, se necessário for.

Tudo indica que a função, conquanto se evidencie no Novo Testamento com este
nome, já existia na sociedade hebréia. Moisés tinha os seus auxiliares, porque
seus afazeres extrapolavam a sua capacidade humana. Tinha ele, portanto, um
pugilo de homens que atendiam a segmentos mais particulares do povo de Deus.

Na Igreja Apostólica, atribui-se ao relato de Atos 6 a instituição diaconal. Por ele,


verificamos que a função foi criada para que os pastores fossem assistidos,
havendo quem cuidasse dos misteres materiais da comunidade cristã. O projeto
de trabalho de Deus, portanto, coloca o pastor no ministério da palavra, do ensino
e da oração (6.4), e o diácono na beneficência, assistência e ação social. (6.1-3).
E os dois trabalhando em franca harmonia.

E porque esse é um trabalho de escol, os indicados deveriam ser pessoas de


qualidade espiritual, exemplo para os mais novos e inspiração para todos (6.3) Os
requisitos exigidos dos diáconos são muito claros na Escritura e estão
relacionados em Atos 6.3; e 1Timóteo 3.9-13. O diácono deve ser confiável, cheio
do Espírito Santo, cheio de sabedoria, respeitável, pessoa de palavra, temperante,
não ganancioso, ter uma consciência limpa, irrepreensível, que bem administre os
problemas de sua família, que seja um marido fiel, bom pai, que tenha boa
reputação, prudente, equilibrado, acolhedor, tenha capacidade de ensino, não
levante conflitos, seja tolerante e calmo. E Paulo acrescenta no caso das
diaconisas: não sejam maldizentes (segundo a Nova Tradução na Linguagem de
Hoje, não faladeiras), moderadas, e fiéis em tudo.

Refletiremos sobre essas qualidades, objetivando ter uma visão abrangente,


embora sucinta, do ministério diaconal, auxiliar em tudo do ministério do seu
pastor.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 64


GENTE DE CONFIANÇA

No segmento acima, relacionamos os requisitos exigidos dos diáconos e expostos


na palavra de Deus. Os primeiros estão descritos em Atos 6.3.

Não poderia ser mais claro: o diácono há de ser uma pessoa confiável. Isso
significa ser alguém em cujos olhos você lê caráter, honestidade e olhar sincero. É
uma pessoa em quem não há falsidade. No livro de Jó, a falta de confiabilidade é
coisa própria do ímpio. O capítulo 8, versos 14 e 15 desse livro dizem que "a sua
confiança é como a teia de aranha.

Encontra-se à sua casa, mas ela não subsiste; apega-se a ela, mas ela não fica
em pé".

Muita gente entrou em contato com Jesus e Seu ministério. O Evangelho de João
declara que o Mestre não confiava em todos, como está expresso em 2.24: "Mas
Jesus não confiava neles, pois a todos conhecia". Mesmo na comunidade cristã,
havia pessoas a quem faltava essa abençoada qualidade. É o caso de Diótrefes,
cujo comportamento é censurado e os irmãos alertados por não ser uma pessoa
de confiança, pois "quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal jamais viu a
Deus" (3Jo 9, 11). Paulo também menciona pessoas no meio dos primeiros
discípulos, como é o caso de Alexandre (cf. 1Tm 4.14).

Pois é; um diácono, uma diaconisa há de ser pessoa de altíssima confiança, e que


compreende o alto relevo de sua função no ministério entre o povo de Deus.

CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

A palavra de Deus não faz por menos: o diácono há de ser uma pessoa plena do
Espírito de Deus. Que significa essa expressão tão rica de colorido?

A base para a entendermos está em Efésios 5.18: "Não vos embriagueis com
vinho, em que há devassidão, mas enchei-vos do Espírito". Por incrível que possa
parecer, há um paralelo entre a intoxicação alcoólica e o ser cheio ou pleno do
Espírito. Quando alguém se embriaga, seu andar, seu falar, seu tocar estão
controlados pelo espírito do vinho, pelos seus vapores. Quando alguém está cheio
do Espírito, seu tocar, seu falar, seu caminhar estão controlados pelo Espírito de
Deus.

Sua personalidade, então, faz diferença pela influência altamente positiva sobre as
pessoas para as quais sua vida se torna exemplo de entrega, dedicação e
consagração. É uma pessoa santa, no sentido real da palavra: é uma pessoa
diferente.

Esse diferencial fará o contexto de Efésios 5.18 parecer coisa facílima para o
detentor da plenitude ou enchimento do Espírito, no caso em questão o diácono

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 65


ou a diaconisa. Vai ser fácil:

andar prudentemente (v. 15);

não ser insensato (v. 17);

Falar a modo de louvor (v.19)

Dar graças a Deus por tudo, mesmo as amargas lições da vida (v.20)

Sujeitar-se em amor e no temor de Jesus Cristo a outras pessoas (v.21).


E, ainda,

Ser imitador de Deus (v.1);

Andar em amor (v.2)

Entregar-se como sacrifício a Deus (v.2),


porque tudo isso, e mais se poderia dizer, é ser controlado pelo Espírito Santo.
Isso é ser um diácono ou uma diaconisa em quem habita a plenitude do Espírito
de Deus.

SABEDORIA

Diz-se hochmah em hebraico, e sophia em grego. São palavras interessantes pela


riqueza de conceitos que possuem.

Não foi coisa pequena o Espírito de Deus ter inspirado os apóstolos a colocarem
como requisito para o diaconato a sabedoria. Ao lado da confiabilidade e da
plenitude do Espírito, a sabedoria é uma ferramenta preciosa que dá facilita a
tarefa diaconal como conselheiro e auxiliar do seu pastor.

Um breve exame da presença desta virtude nas páginas do Antigo e do Novo


Testamentos atesta como é relevante:

¨ "Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria..." (Pv. 3.13a);

¨ "A sabedoria é suprema; portanto, adquire a sabedoria... Estima-a e ela te


exaltará; abraça-a, e ela te honrará"" (Pv. 4.7, 8);

¨ "Não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do pleno
conhecimento da sua vontade; em toda a sabedoria e entendimento espiritual" (Cl
1.9);

¨ "Andai com sabedoria..." (Cl 4.5a).

E seguiríamos adiante porque no AT, a hochmah, e no NT, a sophia são

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 66


predicados de quem caminha na vereda dos justos.

RESPEITO É BOM...

O título nada tem a ver com a malcriada reação de algumas pessoas. Realmente,
visa a destacar a próxima qualidade do diácono: sua respeitabilidade.

Chama a atenção o fato de que essa virtude é via de mão dupla: o diácono se faz
respeitar e respeita a quem serve. Recordemos que o dever de respeitar se faz
presente em toda a Bíblia. E como, ao lado do ser servo, são líderes na Casa de
Deus, "o ancião e o homem de respeito são a cabeça", ensina Provérbios 9.15a.
Não ensina a Palavra que "a quem honra, honra"? (Rm 13.7).

Na língua hebraica, a palavra para "respeito" e "honra" é kavod (dbk). É a mesma


que conceitua "intensidade, peso, prestígio, brilho". Kavod é "a glória de Deus", é
o "peso moral" de alguém. Por essa razão, tem aplicação tão adequada a esta
função de servo da comunidade, de líder comunitário, de pessoa a serviço de
Deus e dos santos.

PALAVRA FIRME

A próxima característica do diácono, de acordo com a Palavra Santa, é a firmeza


de sua palavra. É o que destaca a Primeira Carta a Timóteo, capítulo 3, verso 8.
Aliás, é preceito que está na palavra de Jesus Cristo, que disse, e aqui uso a
Bíblia Sagrada em Português Corrente: "Basta que digas 'sim', quando for sim, e
'não', quando for não. Tudo o que passa disso é obra do Diabo" (Mt 5.37). Assim é
o caráter diaconal.

Outra tradução do Novo Testamento usa a palavra "sincero" para expressar o


conceito acima. Palavra interessante esta. Sincero; dizem os especialistas no
assunto que vem do teatro greco-romano. Sentimentos eram expressos com o uso
de máscaras de cera. Se a expressão era de alegria ou de tristeza, usava o ator a
máscara correspondente. No normal, era mostrada a face sem cera (sin + cera),
Ficou claro, não é?

Uma pessoa sincera é a que se apresenta sem máscaras, e cuja palavra é firme.
Mas não se confunda sinceridade com falta de educação. "Eu sou muito franca",
diz alguém, e em seguida faz uma exibição gratuita de má educação social.

Sinceridade tem, realmente, a ver com a operação do Espírito Santo. Sinceridade


endossa o dito anteriormente: a confiabilidade, a plenitude do Espírito, a sabedoria
e a respeitabilidade, apanágios do diácono!

TEMPERANÇA

Nem oito, nem oitenta: temperança. A próxima característica do é sua capacidade


de equilíbrio representada por essa palavra acima. A função diaconal é solicitada

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 67


basicamente com respeito à sua sensibilidade e em estar alerta para com as
necessidades da igreja a que serve. Como auxiliar do seu pastor, o diácono e a
diaconisa são os olhos da igreja para detectar que família ou irmão tem
necessidades especiais e urgentes. O livro dos Atos destaca essas necessidades
particulares ao dizer que as viúvas [dos gregos] "eram desprezadas na distribuição
diária de alimento" (6.1)

Esses homens e mulheres sensíveis e atentos estão investidos daqueles traços


espirituais e éticos, que, aliados ao necessário equilíbrio de uma vida temperante,
os habilitarão ao exercício correto e adequado dessa importante função.

Não esqueçamos que o mesmo apóstolo Paulo que, pela inspiração do Espírito
diz, "os diáconos sejam... não dados a muito vinho" é o que afirma pelo Espírito,
"E não vos embriagueis com vinho, em quem há devassidão, mas enchei-vos do
Espírito". Ao Espírito, pois!

A TENTAÇÃO DE MAMOM

O texto de 1Timóteo 3.8 tem traduções variadas. O objetivo é deixar bem


esclarecido o ensino de Paulo. A segunda edição da RAB diz " Não cobiçosos de
sórdida ganância". A TLH diz "[Os diáconos não devem] ser gananciosos". A
Edição Pastoral deixa bem claro, "[Os diáconos não]... ávidos de lucros
vergonhosos". Em todos os casos, o Apóstolo quer deixar explícito que a inveja, a
avidez, a cobiça, a ganância, o desejo de amealhar pelo amealhar, a ânsia de
ganhar pelo ganhar não combinam com as altas qualidades esperadas do diácono
e da diaconisa batistas.

No Sermão da Montanha, está registrada a palavra de Jesus que diz, "Ninguém


pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro,
ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom
(riquezas)". Palavra mais direta não poderia haver.

O diácono há de ser um desprendido das coisas materiais. Não é um


imprevidente, um perdulário. Não pode ser, no entanto, um sovina, um somítico
porque não é servo do dinheiro, mas faz do dinheiro seu servo para a grandeza do
reino de Deus.

CONSCIÊNCIA LIMPA

Esta característica diaconal é até acentuada no Salmo 24, no qual Davi, o poeta,
faz a seguinte pergunta, "Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de
permanecer no seu lugar santo?" A resposta óbvia, e que nasce do caráter do
próprio caráter de Deus vem a seguir, "O que é limpo de mãos e puro de coração,
que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente".

Não pode ser de outro modo, porque estamos tratando de consciência limpa, algo
que há de ser perfeitamente natural ao caráter cristão. Natural é aquilo que forma

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 68


a essência de algo. A Palavra de Deus salienta que "se alguém está em Cristo, é
nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2Co
5.17). Mas só se está em Cristo; se não possui a mente de Cristo nem vive o estilo
de vida do Mestre, tudo continua como era: na malignidade. A diferença está no
fato que "o sangue de Jesus... nos purifica de todo o pecado" (1Jo 1.7b). Aí, nosso
caráter é todo outro: não somos rancorosos, preconceituosos, invejosos,
irascíveis, fingidos e desleais. Esse é o caráter do diácono e da diaconisa cristãos;
esse é o caráter do cristão, da nova criatura em Cristo, purificada pelo sangue de
Cristo, do que tem a consciência limpa.

NADA A REPARAR

Como ensina o texto de 1Timóteo 3.10: "se [os candidatos a derem diáconos] se
mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato". O que de tão correto e justo não
precisa de reparo, de qualquer justificativa ou explicação é qualificado como
irrepreensível, quer dizer, não merece repreensão.

É; a postura do diácono há de ser absolutamente correta. Não pode ser objeto de


comentário, censura ou observações desairosas por parte de quem quer que seja.
No trato com os irmãos em Cristo, perfeitamente correto; com os descrentes,
cordial e respeitoso.

Diáconos e diaconisas são facilitadores muito especiais da Obra de Jesus Cristo.


Nada que eles façam deve ser para embaraçar, atrapalhar, prejudicar o bom
testemunho e o crescimento do Reino de Deus. Daí, a necessidade de correção
nas palavras, justeza nas ações, boas intenções nos pensamentos porque o que
fizer, mesmo inconscientemente, resultará em benefício ou prejuízo para a Causa
do Senhor, e glória do Seu Nome.

E como, vezes tantas, a única Bíblia a ser lida por certas pessoas é sua vida, tão
somente sua vida, mais necessária se faz a conscientização de que diáconos,
diaconisas.

O DIÁCONO COMO CHEFE DE FAMÍLIA

Segundo a Escritura Sagrada, o diácono deve ser um padrão como chefe de


família. Não pode ser algo menos que isso, pois é uma recomendação bíblica,
além de ser ponto de evidente senso comum. O que o texto sagrado quer deixar
claro é que deve ser o diácono um bom gestor da vida familiar, um exemplo de
marido, deixando esposa e filhos tranqüilos em relação ao presente, e provendo
para o futuro. Uma das clássicas versões do Novo Testamento assim coloca, "o
diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria
casa" (1Tm 3.12 ARA).

A Bíblia Sagrada tem um especialíssimo lugar para a família. O relato do seu


primeiro livro é que Deus a criou debaixo de Sua bênção. A família submissa a
Deus é, portanto, abençoada e abençoadora. Seus filhos são as "flechas nas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 69


mãos do guerreiro" do Salmo 127, e os "rebentos de oliveira" do Salmo seguinte.
Imagine-os no lar do diácono que há de ser, por esse motivo, um exemplo na casa
do Senhor?

BOM MARIDO E BOM PAI

É como diz o texto sagrado: "O diácono seja marido de uma só mulher e governe
bem seus filhos e a própria casa" (1Tm 3. 12). O diácono há de ser amante da
disciplina.

A disciplina, que começa em casa, mantém seu casamento estável e seus filhos
em sujeição. A disciplina mantém sua vida espiritual equilibrada, o que trará como
conseqüência uma consciência tranqüila, um coração alerta do qual procederão
conselhos e ponderações que somente ajudarão a igreja e seu pastor a prosseguir
no seu caminho.

Uma vida conjugal bem ajustada, uma família criada aos pés de Jesus Cristo,
compreensão e carinho entre os familiares, testemunho fiel dos pais, bom
procedimento dos filhos, são basilares para que o mundo veja a diferença que
Cristo faz na vida. Afinal, diz a Santa Palavra que "Se alguém está em Cristo é
uma nova criatura", e as coisas do passado ficaram para trás porque tudo é
novidade de vida.

"...quanto às mulheres..."

Deste modo, Paulo inicia suas instruções com relação às diaconisas. Tudo o que
foi dito aos candidatos homens ao diaconato tem pertinência com respeito às
candidatas. A dignidade é a mesma, por essa razão, "devem ser dignas de
respeito, não maldizentes, ajuizadas, fiéis em todas as coisas" (1Tm 3.11, Edição
Pastoral).

É digno de observação que Paulo faz um especial destaque quando fala das
candidatas a este ministério. Devem ser elas não maldizentes; ajuizadas; fiéis em
todas as coisas.

Esse diferencial tem cabimento, visto que as mulheres cristãs são pessoas tão
especiais que o apóstolo Pedro na sua Primeira Carta, capítulo 3.4 coloca como
qualidade distintiva das senhoras e jovens cristãs "o incorruptível trajo de um
espírito manso e tranqüilo" (VRA) ou, como diz a Edição Pastoral, "o enfeite
inalterável de caráter suave e sereno" O apóstolo é bem claro: é necessário que
as queridas irmãs sejam "respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em
tudo", assim verte a ARA, o que a BSPC coloca como "dignas, não murmuradoras,
pessoas de bom senso e fiéis em tudo".

Realmente, se há um destaque, é porque diaconisas são pessoas especiais.


Purificadas de seus pecados pelo sangue de Jesus, como ensina João, filhas
amadas de Deus, influentes na congregação dos crentes, são, em verdade,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 70


criaturas muito especiais. São senhoras de uma dignidade ou respeitabilidade a
toda prova, não passam adiante o que alguém lhe confidencia, nem aceitam de
primeira o que lhe chega aos ouvidos sobre outros irmãos, por isso não podem ser
maldizentes ou murmuradoras. Equilibradas em tudo o que pensam, dizem e
realizam, quer dizer, temperantes ou de bom senso. Fiéis. Essa é a maior prova
de lealdade ao Mestre e Sua Igreja, à Denominação a quem servem, e à igreja
local onde exercem o ministério da diaconia.

QUE FAZ UM DIÁCONO?

Sim; quais as funções de um diácono numa igreja evangélica? Que é um dos


oficiais da igreja, juntamente com o pastor, já o sabemos. Porém, qual a sua tarefa
básica?

Em outro grupo religioso, o diaconato é um passo para chegar ao sacerdócio. O


seminarista é ordenado diácono, estagia por algum tempo, e vai ascendendo até
ser ordenado sacerdote, quando, segundo a doutrina do grupo, recebe o direito de
fazer a transformação do pão na carne de Cristo e do vinho no Seu sangue, assim
como o poder de perdoar os pecados alheios. A Bíblia, aliás, nada fala sobre
essas práticas.

A Palavra de Deus explica que o diaconato nasceu de uma preocupação social. O


livro dos Atos dos Apóstolos no seu capítulo 6 registra as razões para a instituição
desses oficiais na igreja: o aumento dos novos discípulos, a murmuração de um
segmento que julgava ser preterido na distribuição de "cestas básicas", o desvio
dos pastores de suas funções com a preocupação com a distribuição diária dos
gêneros alimentícios e assemelhados.

A MESA DOS POBRES

O que motiva nossa reflexão ainda é a pergunta "Que faz um diácono?" Segundo
o apreciado mestre e doutrinador batista, Dr. W. C. Taylor, em seu renomado e
esgotado Manual das Igrejas, os diáconos são responsáveis por três mesas:

à A Mesa dos Pobres;


à A Mesa da Igreja;
à A Mesa do Pastor.
A divisão é auto-explicável, pois a Mesa dos Pobres é a ação beneficente que
encontra sua fonte na própria instituição do diaconato. `'E tão somente ir a Atos
6.2, quando homens especiais foram separados para essa tarefa delicada e
especial da assessoria, visitação, triagem e distribuição dos gêneros, ou como
escreveu Lucas "servir às mesas".

A Mesa da Igreja é a celebração memorial da morte de Jesus Cristo, que


periodicamente realizamos. Por ocasião da Ceia do Senhor, nós nos inspiramos e
alegramos, e vivemos a esperança do retorno de Cristo para buscar a Sua Igreja.
Os diáconos cuidam dessa inspiradora tarefa.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 71


Quanto à Mesa do Pastor, refere-se o Dr. Taylor ao cuidado e sensibilidade
especiais que devem ter os diáconos para que o Pastor da igreja e sua família não
passem privações econômicas pelo fato de tantas vezes sofrerem calados
pressões financeiras fazendo-o, vezes tantas, buscar uma segunda fonte de renda
para poder dar dignidade aos seus, adquirir livros, jornais e revistas que lhe sirvam
de instrumental para seu ensino e pregações para o bem de seu rebanho.

Que faz um diácono? Fica alerta para as necessidades de seus irmãos de fé,
sendo ele mesmo o primeiro a ser abençoado.

NOVAS REFLEXÕES

Continuando nossas reflexões sobre a instituição do diaconato, desejamos


lembrar aos irmãos que a palavra diácono e seus derivados ("servir, ministrar",
"serviço, ministério") aparecem cerca de setenta vezes no Novo Testamento.
Basicamente, ser diácono é ser servo ou ajudante. E, embora pareçam palavras
tão diversas, diácono e ministro querem dizer a mesma coisa, vindo a primeira do
grego e a segunda do latim. Assim Paulo descreve o trabalho de Epafras e o seu
próprio (Cl 1.7, 23, 25).

Diácono é, então, um servo. A rigor, alguém que serve a mesa de outro. E nesse
fato está todo o belo sentido espiritual da função diaconal, pois o nosso Deus é o
diácono por excelência, à luz do Salmo 23.5, "preparas uma mesa perante mim..."
E Jesus Cristo, o diácono sem igual, que serve a mesa do Seu povo, como diz
Marcos 10.45, "o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida em resgate por muitos".

TODA UMA HISTÓRIA

Há toda uma história por trás da instituição do diaconato. Está relacionada com o
evento registrado em Atos 6.1-6 (seleção e consagração dos Sete para ajudar os
Doze na distribuição de ajuda às viúvas gregas.

Há quem se perturbe porque Lucas, o escritor dos Atos, não usa a palavra
diácono. Talvez porque não percebam que ele usou o verbo "diaconizar", "fazer o
trabalho de diácono" (= servir) no verso 2, e a palavra diakonia nos versos 1 e 4,
traduzida por "distribuição" e "ministério", respectivamente. Portanto, a ênfase
sobre o serviço social na Igreja apostólica tornou a palavra diácono um termo
especialmente adequado a tais pessoas.

Além disso, era prática dos antigos crentes a chamada "festa do amor" (ágape)
que envolvia dois fatos: a celebração da Ceia do Senhor, e o ministério de
distribuição de alimento e ajuda financeira. Relatos antigos dão conta de que os
diáconos recebiam as ofertas e ajudavam na administração dos elementos da
Ceia.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 72


Hipólito, um dos teólogos da Igreja antiga, fala de diáconos trabalhando com o seu
pastor em funções litúrgicas (culto) e pastorais. Diáconos, diz ele, visitavam os
enfermos, os pobres e os indigentes. Visitavam especialmente viúvas, órfãos e
prisioneiros. Informavam ao pastor, e levavam aos visitados a ajuda da igreja. O
governador da Bitínia, no ano 112, escreveu ao imperador Trajano, e informa que
havia ordenado a tortura de duas mulheres cristãs que eram diaconisas.

Que faziam as diaconisas? Pelo menos, três coisas:

ajudavam no batismo das mulheres;

visitavam as casas de incrédulos (pagãos), onde havia mulheres cristãs;

visitavam as irmãs enfermas, e ajudavam-nas em suas necessidades, e davam


banho quando já em convalescença.
Sem dúvida, há uma tocante e extraordinária história de fé e serviço na instituição
da função diaconal, homens e mulheres ordenados a servir. Por isso, o diaconato,
a diaconia, é o alicerce de todo o ministério da igreja, e a marca da Igreja como
Corpo de Cristo.

DIACONIZANDO

A discussão em João 13.1-5 que dominava a mente e o ambiente dos apóstolos


não era sobre servir e a quem servir. Era sobre quem era o maior entre eles, e, em
conseqüência, quem seria o menor. Jesus lhes dá a suprema lição sobre quem é
o maior e o menor no reino de Deus. É uma lição reversa.

Em seu Celebração da Disciplina, Richard Foster ensina que "como a cruz é o


símbolo da submissão, a toalha o é do serviço". Ora, sendo o contexto de João 13
o de uma festa, alguém tinha, segundo a prática oriental, de lavar os pés dos
outros. Era trabalho de subalterno, e esse era o teor das sempre presentes
discussões dos imaturos, espiritualmente falando, discípulos. Jesus, então, tomou
uma toalha e uma bacia (vv. 4, 5) e redefiniu o significado da grandeza.

Havendo dado o exemplo do que é ser servo, Jesus Cristo chamou os discípulos
para o caminho do serviço (Jo 13.14, 15). Esse é o significado do título desta
reflexão, palavra que criamos com o verbo "diaconizar", agir como diácono, como
servo.

Realmente, ouvir o chamado de Jesus para negar pai e mãe (especialmente


quando já faleceram), casas e terra (especialmente quando não temos bens e
posses) por amor do evangelho é até fácil. Mas ouvir a ordem para lavar pés é
diferente, bem diferente!...

REFLETINDO SOBRE O SERVIÇO

O serviço cristão (a diaconia) tem como medida não o tamanho, mas quanto da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 73


pessoa que o presta há nele envolvido, pois o crente ainda não deu nada
enquanto não der tudo! Observemos Lucas 17.10: "depois de haverdes feito
quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o
que devíamos fazer". Quem é o servo inútil? O que faz apenas o que lhe é exigido;
o que limita o serviço; o que faz diaconia, mas até ouvir a campainha dizendo que
o expediente acabou.

É verdade; há serviço e há serviço. Há serviço sem o espírito do evangelho, e há


serviço cristão. O primeiro é movido pelo esforço humano; o segundo vem do
relacionamento com o Espírito Santo. O primeiro está preocupado com a
aparência; o segundo não faz distinção entre serviço grande e serviço pequeno. O
primeiro espera que a pessoa servida pague com a mesma moeda; o segundo
serve a amigos e a inimigos. O primeiro é temporário; o segundo é um estilo de
vida.

Parte 21.
AS CRISES DO CRISTÃO

"Ó Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor. Não escondas de
mim o teu rosto no dia da minha angústia; inclina para mim os teus ouvidos: no dia
em que eu clamar, ouve-me depressa. Pois os meus dias se desvanecem como
fumaça, e os meus ossos ardem como um tição. O meu coração está ferido e seco
como a erva, pelo que até me esqueço de comer o meu pão"
(Salmo 102.1-4)

O lar é afirmado pelo povo evangélico como unidade básica da sociedade, assim
como o fato de o casal cristão precisar partilhar ideais e ambições semelhantes.
Os cônjuges devem os cônjuges ser maduros emocional, espiritual e fisicamente
falando.

A igreja local (ou em companhia de outras) tem o dever de auxiliar os pais no


preparo de seus filhos para o casamento, de ajudar a família nas crises da vida,
de orientar os lares desajustados, de assistir os enlutados, e de levar os idosos a
encontrarem significado na vida.

A pergunta aqui pertinente é "Há problemas na família cristã? Há crise?" Aliás,


que é crise?

Lemos em algum lugar que o ideograma para crise em chinês é formado por dois
caracteres. O primeiro significa "perigo", e o segundo "oportunidade". Extrai-se daí
a lição que crise é um ponto de perigo e uma oportunidade. Os gregos derivam a
palavra do verbo "separar"(krinein). É um momento decisivo na experiência de
cada um. Entre outros, formatura, casamento, novo emprego, nascimento de uma
criança, conversão religiosa, promoção, vitória num concurso. Ou esses
momentos dolorosíssimos, inesperados que se precipitam sobre uma família e a
deixam em aflição e angústia: um crime violento, um acidente fatal, uma doença
apavorante, a morte de um querido. Sim, crise é perigo e oportunidade, como

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 74


conceituam os chineses, mas pode ser uma experiência de crescimento.
Experiência dolorosa talvez, mas sempre de crescimento. Tiago nos adverte:
"Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias
provações, sabendo que a provação da vossa fé produz a perseverança: e a
perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não
faltando em coisa alguma." (Tg 1.2-4)

E já que ninguém cresce sem dores, a pergunta que o cristão faz diante da crise,
da dor, do sofrimento. Não é "por que, Senhor?", mas "para que, Senhor?" no
espírito de 2Coríntios 7.9. No entanto, sua crise é sua crise e de mais ninguém, e
a de outra pessoa é a dela própria, pois nenhuma crise é igual.

A primeira crise conjugal está em Gênesis 3, como também a primeira crise


espiritual (cf. vv. 12 e 8). A primeira crise familiar encontra-se no capítulo seguinte,
versos 3-5, 8.

É; a família cristã também tem crises que nascem do acúmulo dos problemas de
cada dia que permanecem sem solução.

O LAR DESAJUSTADO

Existem razões sem conta para a disritmia no lar. São situações que não deveriam
ocorrer no lar cristão, mas lamentavelmente acontecem, e a Bíblia aponta as
causas dessas disfunções:

ausência do Senhor como alicerce do lar ( Sl 127.1,2);


ausência de piedade (Is 24.15);
transferência ou ausência de responsabilidade (Gn 3.12; 1Tm 5.8);
falta de autoridade dos pais (Jr 47.3b);
falta de previdência (2Co 12.14b);
insubmissão feminina (Ef 5.22-24; 1Pe 3.1);
desamor masculino (Ef 5.22-29; 1Pe 3.7);
procedimento vergonhoso ou insensato do cônjuge (Pv 12.4; 14.1);
desobediência e falta de afeto (2Tm 3.2,3).
Os terapeutas de família codificam as disfunções na família classificando-as

quanto ao nível inadequado de interação familiar, se há um nível baixo de coesão


ou coesão excessiva, caso em que cada um vive sua vida, ou se é asfixiado pelos
outros,
quanto à distribuição dos papéis e seu desempenho, quando alguém faz o papel
de "duplicata" do outro (filha copiando a mãe), o papel de "eu ideal" (filho mais
velho devendo alcançar o ideal a que o pai não chegou), papel do ëu negativo",
geralmente quando um membro da família é um psicótico ou um parceiro fraco, o
papel de aliado e outros tantos, também.
quanto à hierarquia e ordem do sistema familiar, ou não há normas na família ou
são rígidas demais; ninguém decide na família ou decide inadequadamente.
São as tensões causadas pelas doenças. Não é fácil para uma família viver com

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um problema crônico de saúde. Se a igreja, porém, é vocacionada a servir, uma
crise de saúde é excelente oportunidade para essa ministração, através do
exercício do sacerdócio dos crentes, do ministério da intercessão, do dom de
socorro (dado pelo Espírito Santo). Por isso é imprescindível avisar à igreja, ao
pastor, os casos de enfermidades. Há quem se ofenda, melindre, e fique
indignado porque ficou doente, foi hospitalizado, fez cirurgia e ninguém o visitou, o
pastor não apareceu. Avise! AVISE! Em Tiago 5.14 há duas ordens. Uma para o
Pastor: deve orar pelo enfermo, cobri-lo com a oração e a unção do Senhor; outra
para o doente: deve pedir a presença do pastor. O mundo ensina que "ria e todos
sorrirão com você; lamente-se e todos fugirão de você". E ao contrário do que diz
o provérbio popular: "Quem canta seus males espanta", a atitude do mundo tem
sido: "Quem canta seus males, ESPANTA!" Com o cristão deve ser diferente:
"compartilhe, conte ao irmão; divida sua dor com a igreja". Chore. Está aflito? Ore.
Romanos 12.15 ensina isso, "alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os
que choram" (cf. 1Co 12.26; Hb 12.12; Gl 6.2), e aí você será vencedor sobre a
crise e a dor.

PRONTO: A TRAGÉDIA CHEGOU

Tensões causadas pela tragédia. Há um dia quando a fé dá de frente com o


desastre. Crises são comuns ao ser humano, e o resultado tem sido ansiedade,
pensamento desorganizado, sintomas físicos como fadiga, náusea, sono, choque.
Então, como é a construção de sua casa? Na rocha firme? Na areia enganosa?
Fiquei triste com o caso de uma jovem de uma família cristã. Enfermou, e lhe foi
garantida a cura por uma pretensa "profetisa". A jovem faleceu, e a família
abandonou a igeja.

Fiquei recompensado com o caso do Pr. Dermeval Justino, meu ex-aluno. Morte
inesperada junto com o filhinho mais novo e a cunhada. Mas que força espiritual
na esposa, nos parentes, que estão trabalhando para trazer os familiares do
falecido obreiro (único crente da família com outro irmão) a Jesus.

São as tensões causadas pelas crises do amor (?!) Não há cabimento para
ciúmes na vida do cristão, os quais se originam do medo de perder uma posse e
do sentimento de ser incapaz. Ou a presença da insinceridade e da infidelidade.

O ENLUTADO

O luto é outra importante crise que afeta o cristão. Há crises que não chegam a
todos, mas não a da morte. Josué diz ao povo, "Eis que vou hoje pelo caminho de
toda a terra" (23. 14a), modo eufemístico de dizer: "vou morrer hoje" (cf. 1Rs 2.2);
na Carta aos Hebreus (9.27), "aos homens está ordenado morrerem uma só vez".

Há, pelo menos, três modos de olhar a morte:

com desespero. Bildade a chamou de "rei dos terrores" ( Jó 18.14);


com falsa esperança, como no caso dos reencarnacionistas;

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 76


com absoluta confiança e esperança. É a reação de Jó: "Pois eu sei que o meu
Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida
esta minha pele, então fora da minha carne verei a Deus" (Jó 19.25,26).
Não devemos temer falar da morte. No Antigo Testamento, a morte biológica era
uma certeza aterrorizante: "Certamente morreremos, e seremos como águas
derramadas na terra, que não se podem ajuntar mais" (2Sm 14.14a) "A duração
da nossa vida é de setenta anos... pois passa rapidamente, e nós voamos" (Sl
90.10). "Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua
memória ficou entregue ao esquecimento" (Ec 9.5)

Mas a Nova Aliança vê de modo diferente: Para o crente em Jesus Cristo é


resultado do pecado vencido; é a esperança da ressurreição, como Paulo canta:
"Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é
mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita:
Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, o teu
aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas
graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" (1Co 15. 54-
57).

Não! Não devemos temer falar sobre a morte, mesmo a morte pessoal.

Mas que a crise vem, vem. É a perda do pai, e o despreparo da mãe para a vida
prática tomando providências que nunca havia tomado anteriormente; é a
reorganização das finanças, o corte de despesas; é o dizer "não" aos pedidos dos
filhos. Mas é também o compreender que "a família é uma sociedade que se
desfaz no tempo para se recompor no intemporal", na eternidade (cf. Guitton p.
45). As separações trazidas pela morte nos lembram e às nossas famílias que
elas são instrumentos transitórios que o Criador dispôs no mundo. Desaparece a
família, mas não as existências que a compõem, e mesmo as relações que as
constituem. A morte não separa a família: "E Abraão expirou, morrendo em boa
velhice, velho e cheio de dias; e foi congregado ao seu povo" Gn 25.8).

Disse Sócrates que a essência da filosofia é o preparo para a morte. Davi, o


poeta, antes dele dissera, "O meu coração constrange-se dentro de mim, e
terrores de morte sobre mim caíram. Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me
envolveu" ( Sl 55.4,5), e Hebreus 2.15b tem uma magistral declaração sobre o
medo de morrer: "Com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à
escravidão".

É nesse ponto que chega o paradoxo do evangelho: quando se aceita o fato da


morte, fica-se livre para viver! Não faz sentido para o crente olhar a morte como
cessação. A vida não acaba. Na verdade, acontece uma transição, ou como Jesus
o colocou: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo
teria dito; vou preparar-vos lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo,
para que onde eu estiver estejais vós também". ( Jo 14.2,3 ) e também, "Declarou-
lhes Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 77


viverá" ( Jo 11.25).

John Donne, autor do século 17: "Toda a humanidade tem um só Autor, e um


único volume; quando alguém morre, um capítulo não é tirado do livro, mas
traduzido em um idioma melhor; e cada capítulo deve ser assim traduzido. Deus
emprega vários tradutores; algumas peças são traduzidas pela idade, outras pela
doença, algumas pela guerra, outras pela justiça; mas a mão de Deus opera em
cada tradução; e a sua mão irá encadernar de novo todas as nossas folhas que
foram espalhadas, para aquela Biblioteca onde cada livro ficará aberto um para o
outro".

O IDOSO

O mundo tem hoje, ano 2000, seiscentos milhões de habitantes acima dos
sessenta anos. Hoje, no Brasil, há cerca de quinze milhões vivendo a chamada
"terceira idade", e, no entanto, nossa sociedade é voltada para o moço:
musculação, malhação, festas, a própria arquitetura urbana. A Bíblia, porém,
mostra o cuidado divino nos anos da velhice: "Até a vossa velhice eu sou o
mesmo, e ainda até as cãs eu vos carregarei; eu vos criei, e vos levarei, sim, eu
vos carregarei e vos livrarei" (Is 46.4), e afirma seu valor e dignidade: "O orgulho
dos jovens está na sua força; a honra dos velhos está nos seus cabelos brancos"
(Pv 20.29; 1Tm 5.1,2a). Jovens têm energia física, mas ela se esvai; o idoso
porém, tem a glória de sua idade cantada, como vimos, nos Provérbios.

Cada idade tem seus dons particulares para enriquecer a vida da família e a
sociedade de modo geral: a infância, a adolescência, a juventude, a idade adulta,
o ancião. São partes autênticas e valiosas, e cada idade deve ser vivida dentro
dela mesma: nem menina pintada como moça feita (que moda horrorosa!), nem
senhora querendo ser mocinha (há coisa mais ridícula? ). Que tudo venha
naturalmente, não esquecendo o jovem que um dia será idoso, nem o adulto que
já foi jovem no passado.

O APOSENTADO

A aposentadoria é outro capítulo que pode ou não ser cruciante. No começo é-a-
lua-de-mel com a liberdade, a alegria de poder dispor das horas, a satisfação de
esquecer horários. Mas a lua-de-mel acaba e pode vir a depressão. Quem disse,
porém, que ser aposentado é sinônimo de "colocado no aposento", encostado,
cansado, posto de lado?

A igreja deve ajudar os seus membros a atingir com plenitude suas fases
evolutivas, à medida que se desenvolve em cada passagem da vida. Ajudar o
idoso a não perder sua identidade, sua independência, a conhecer-se a si próprio,
a se abrir para a verdade, a descansar criativa e construtivamente. Que tal uma
segunda carreira? Ou ensinar o que sempre fez na vida profissional? E a
possibilidade de um trabalho voluntário na igreja? Ensinar um artesanato,
bordado, tapeçaria? Precisamos de um jardineiro, de pintores, de profissionais

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 78


outros. Por que não dar da sua experiência voluntária e graciosamente à igreja?
Ser idoso não é encarquilhar-se, não! É devolver a Deus o que de Deus
recebemos. A vista está diminuindo? Diga a Deus: "Senhor, recebe um pouco
mais de meus olhos"; as pernas que suportavam uma caminhada do Farol à Praça
da Sé, hoje não agüentam subir a Ladeira da Barra, diga ao Senhor: "Pai, eis um
pouco mais de minhas pernas". E aí o Senhor vai aplicar ao irmão, a irmã, a
expressão da parábola dos talentos: "Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco
foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor" (Mt 25.23). E se
sua oração tem sido a do Salmo 71.9: "Não me enjeites no tempo da velhice; não
me desampares, quando se forem acabando as minhas forças", a resposta do
Senhor será: "Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como cedro no
Líbano. Estão plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus.
Na velhice ainda darão frutos" ( Sl 92. 12-14a).

"O Topo da Montanha" (Leclercq)


"Quando se escala uma montanha, a paisagem vai se descobrindo pouco a pouco,
e finalmente, quando se chega ao topo, não se encontra mais que pedras e neves,
mas, dali a vista é magnífica. Já não se pode mais subir, se não ir para o céu. O
mesmo acontece com a velhice. Ao longo da vida subimos por centenas de
caminhos, às vezes sinuosos, e pouco a pouco a paisagem se nos foi revelando;
os que mandavam, dirigiam e protegiam nossa juventude desapareceram um após
outros; depois os companheiros de jornadas também desapareceram. O indivíduo
segue em sua caminhada e cada vez está mais só. O que chega à velhice termina
como o alpinista no topo da montanha, e, quando volve o seu olhar, contempla a
vida estendida diante de si mesmo como uma paisagem. Este é o ponto
culminante, mas é também o fim do homem sobre a terra. Não há outra maneira
de avançar senão a de ir para o céu".

É isso mesmo: a família cristã é uma comunidade de vida, de amor, de fé, e uma
comunidade educadora. Precisa de ter objetivos bem definidos, cristã que é:

objetivo em si: "o que o Senhor deseja que minha família faça?"
O meio para atingi-lo: "Como o Senhor quer que minha família faça?"
A avaliação: "como saberemos que foi realizado?
Sendo, portanto, comunidade de vida, amor, fé e pedagógica, na ameaça da crise
a expressão de profunda confiança, e de certeza de estar dentro da vontade do
Pai, há de ser "Deus me fez crescer na terra da minha aflição" Gn 41.52b).

Parte 22.
BEM-AVENTURADOS OS VOSSOS OLHOS... E OS VOSSOS OUVIDOS
Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem, e os vossos ouvidos porque
ouvem" (Mt 13.16)
Na verdade, Jesus está falando da chegada do reino de Deus. Ocorre que as
gerações anteriores viveram com expectativas que não foram cumpridas. Por
exemplo, Daniel 2.37-44 nos apresenta toda uma digressão acerca da esperança
messiânica, que se deu com Jesus Cristo e Seu ministério tão somente. Portanto,
a expectativa tão acalentada no coração do povo hebreu, em Jesus Cristo vai

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 79


encontrar sua culminância, razão porque Ele disse mesmo: "O tempo está
cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho"
(Mc 1.15).

Com essa declaração, portanto, é possível compreender a afirmativa de Jesus


Cristo que serve de base para nossa meditação. Mateus a registrou com as
seguintes palavras: "Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes. Pois
vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram;
e ouvir o que ouvis, e não o ouviram" (Lc. 10.23,24). Deste modo, encontramos na
referência de Mateus uma extraordinária bem-aventurança, e dessa felicidade nós
compartilhamos porque temos a grande ocasião de ter, não só a esperança
realizada, mas, sobretudo, vivida em nossa existência: a chegada do reino de
Deus.

O REINO DE DEUSBem-aventurados os vossos olhos porque vêem, e os


vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16)

Na verdade, Jesus está falando da chegada do reino de Deus. Ocorre que as


gerações anteriores viveram com expectativas que não foram cumpridas.
Por exemplo, Daniel 2.37-44 nos apresenta toda uma digressão acerca da
esperança messiânica, que se deu com Jesus Cristo e Seu ministério tão
somente. Portanto, a expectativa tão acalentada no coração do povo hebreu,
em Jesus Cristo vai encontrar sua culminância, razão porque Ele disse
mesmo: "O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-
vos e crede no evangelho" (Mc 1.15).

Com essa declaração, portanto, é possível compreender a afirmativa de


Jesus Cristo que serve de base para nossa meditação. Mateus a registrou
com as seguintes palavras: "Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós
vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós
vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram" (Lc. 10.23,24).
Deste modo, encontramos na referência de Mateus uma extraordinária bem-
aventurança, e dessa felicidade nós compartilhamos porque temos a grande
ocasião de ter, não só a esperança realizada, mas, sobretudo, vivida em
nossa existência: a chegada do reino de Deus.

O REINO DE DEUS

O conceito de reino de Deus, segundo as Escrituras, é altamente dinâmico,


visto que fala do governo divino sobre todo o universo, e nossos corações.
Mas aprendamos com as Escrituras: não é um reino territorial. É um reino
presente, é verdade! Porque presente nos sinais, e nos milagres realizados
por Jesus Cristo. Mas ao tempo que é um reino já presente, é um reino que
terá seu efetivo cumprimento na Segunda Vinda de Jesus Cristo, a Parousia.
E assim, porque terá sua culminância na Vinda de Cristo, podemos entender
que no reino de Deus plenamente cumprido, dar-se-á a vitória final sobre o
pranto. No Apocalipse está dito:

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"E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus
com os homens, pois com ele habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo
Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda
a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap. 21.3,4).

Ensina-nos a Palavra de Deus que no reino de Deus efetiva e plenamente


realizado, o Pranto já não mais existe. É também a vitória final sobre as
Enfermidades.

Há quem lute com o problema crônico da enfermidade. Há, mesmo, um


problema teológico com a questão das curas. Mas aprendemos com a Bíblia
Sagrada que a vitória final está na realização plena do reino de Deus quando
teremos a Grande Cura que é a ressurreição. E esse é um grande patrimônio
que todos os cristãos compartilhamos sem sectarismo nem qualquer divisão
denominacional. Compartilhamos a suprema esperança da ressurreição final
dos corpos.

Lemos, ainda, acerca da vitória final sobre a Morte. O texto já lido de


Apocalipse diz "e não haverá mais morte" (21.4a). Há muitos outros textos
na Palavra de Deus, entre eles o hino em 1Coríntios 15. 26 que diz: "Ora o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte", e, mais adiante, "E,
quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é
mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que esta
escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está ó morte? O teu aguilhão?
Onde está , ó inferno, a tua vitória?" (vv.54,55; cf. Mt 9.18,19, 23-26; Lc 7.11-
15; Jo 11.25,26 ).

Pois é, vamos ter essa vitória final sobre a morte na realização plena do
reino de Deus.

Podemos seguir com a nossa reflexão, e perceber que é também a vitória


final sobre as Trevas. O profeta Isaías mostra-nos como a humanidade
caminha nas trevas:

"Pelo que o juízo esta longe de nós e a justiça não nos alcança; esperamos
pela luz e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão.
Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não teem olhos
andamos apalpando; tropeçam,os ao meio-dia como nas trevas , e nos
lugares escuros somos como mortos" (Is 59:9,10; Cf. Ef 6.12).

Há quem pregue que o reino de Deus ainda virá. O Novo Testamento assim
não ensina. Pelo contrário, esclarece que o reino já veio, e terá sua
culminância com a volta de Cristo, e, então, o Servo Sofredor da Paixão será
o Rei Conquistador da Segunda Vinda (cf. Is 53:3-7; Lc 22.39-44). Não é o que
diz a Palavra de Deus? Paulo, apóstolo, diz que "O Senhor mesmo descerá

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 81


do céu com alarido, e com voz de arranjo e com a trombeta de Deus; e os
que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro" (1 Ts 4.16; cf. Mt 24.30,31).

A BEM-AVENTURANÇA DO VER

Sim; o Novo Testamento registra uma bem-aventurança de Jesus que não


consta da listagem do Sermão do Monte: "Bem-aventurados os vossos olhos
porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16).

Há uma bem-aventurança no ver. Os versos 16 e 17 dão ênfase ao grande


privilégio dos santos apóstolos porque viam eles o cumprimento de tudo o
que "muitos profetas e justos desejaram ver... e não viram". Aos discípulos,
então, é dado o segredo, o mistério do reino dos céus, e isso é uma dádiva
da pura graça de Deus.

É esse mistério, então, é essa dádiva que é o motivo do anseio de Jó. No


livro de Jó, nos lamentos que ele fazia pela sua situação terrível,
assustadora, dizia : "Porque eu sei que o meu redentor vive, e que por fim se
levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em
minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não
outros, o verão" (vv. 19:25-26). Isso foi reafirmado mais adiante, e para o
nosso crescimento o autor sagrado coloca sua exclamação: "Com o ouvir
dos meus ouvidos, ouvi, mas agora te vêem os meus olhos" (vv. 42:5). E
Jesus Cristo diz: "Bem-aventurados os nossos olhos porque vêem".

Ora, não querer ver a Deus é insensatez! Quem pensaria em algo assim? E
isso equivale a não crer em Jesus Cristo a na Sua missão redentora. Aqui
está a palavra de Jesus: "Aquele que crê no filho tem a vida eterna: mas
aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece" (Jó 3.36; cf. Jr 5.21).

Mas há uma situação reversa: desejar ver a Deus, contemplar o Senhor traz a
marca da esperança. Agora podemos ir ao Sermão da Montanha: "Bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mt 5:8). Para
ver o Senhor, porém, é preciso pureza de mãos, limpeza de coração. Nessa
esperança viveu. Simão, o piedoso homem que aguardava "a Consolação de
Israel" (Lc 2:25-32), e viveu Ana, a idosa profetisa que vivia no templo orando
ao Senhor (Lc 2:36-38).

A Bíblia diz que é preciso olhar para Jesus: "fitando os olhos em Jesus autor
e consumador da nossa fé" (Hb 12:2 a ), e assim foram bem-aventurados os
apóstolos, que se pronunciaram sobre isso. Pedro disse:

"Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo, seguindo as fábulas artificialmente compostas; mas nós ,mesmos
vimos a sua majestade" (2 Pe 1.16);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 82


e João afirmou:

"O que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com nossos
olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da
Vida. (Porque a vida foi manifestada , e nós a vimos e testificamos dela, e
vos anunciamos a vida eterna, que estava com o pai, e nos foi manifestada);
O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais
comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo" (1 Jo 1.1-3).

Pois é; é necessário guardar a esperança, sabendo que ver a Jesus Cristo


equivale a verá Deus (Jô 14:9).

A BEM-AVENTURANÇA DO OUVIR

Voltemos à palavra de Jesus: "Bem-aventurados os vossos olhos porque


vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13:16).

Há, portanto, uma bem-aventurança no ouvir, idêntica à de ver. Mas, se


desejar ver traz a marca da esperança, ouvir traz a marca da obediência,
porque esse é o sentido da palavra ouvir no Antigo Testamento. Sempre que
se encontrar o verbo "ouvir" no Antigo Testamento, ele equivale a obedecer.

É preciso ouvir a Deus; é preciso obedecer ao Senhor. Deuteronômio 15.5


tem esta palavra de Moisés: "Se somente ouvires diligentemente a voz do
senhor teu Deus para cuidares em fazer todos estes mandamentos que hoje
te ordeno". Por esse motivo, é insensatez não ouvir a Palavra de Deus, não
querer saber do Senhor e da Sua Palavra. O testemunho da Escritura
Sagrada a esse propósito esclarece que "O que desvia os seus ouvidos de
ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv 28.9). E, ainda: "Quem vos
ouve a vós , a mim me ouve; e quem vos rejeita avós a mim me rejeita; e
quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (Lc 10.16).

Essa é a razão porque a Escritura tem esse convite, quase ordem: "

Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso


trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o
que é bom, e a vossa alam se deleite com a gordura. Inclinai os vossos
ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei
um concerto perpetuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi" (Is
55.2,3).

E de Jesus Cristo temos: "Quem tem ouvidos para ouvir ouça" (Mt 11.15).

E que vai dar isso como resultado? O resultado será habitar em plena e
perfeita segurança: "Mas o que me der ouvidos habitará seguramente, e
estará descansado do temor do mal" (Pv 133).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 83


Outra conseqüência de ouvir o Senhor são as palavras certas, justas e
balsâmicas para nossa vida, porque nada melhor pode existir que ter a
palavra de Deus acalentando o nosso coração. Novamente pedindo o
testemunho da Escritura Sagrada: "E o Senhor Jeová me deu uma língua
erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está
cansado: Ele desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que
aprendem" (Is 50.4).

Vemos ainda na palavra de Deus que quando ouvimos e seguimos a Palavra


do Senhor, temos a vida, como Jesus diz em João 5.25: "Em verdade, em
verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que mortos ouvirão a voz do
Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão".

É preciso ouvir a Palavra de Deus, mas, sobretudo, é preciso segui-la.


Entendemos que esta bem-aventurança é claríssima. Fala de ver, de ouvir,
de esperança, de obediência e de fé; esta bem-aventurança fala de reino de
Deus. João 12.20 em diante menciona o desejo que alguns gregos tinham, e
por isso, pediram a Filipe: "Queríamos ver a Jesus!" Reconheciam a
felicidade, a bem-aventurança. Por outro lado, a promessa de Deuteronômio
4:30 é iluminadora: "Então dali buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás,
quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma"(Dt 4.29).

Isso é fé. Paulo acrescenta que "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Cristo"(Rm 1.:17), pois o ouvir tem que ser atualizado (Hb 4:2). Então, a
promessa de Isaías 32.3 será real, perfeitamente real: "E os olhos dos que
vêem não olharão para trás, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos".

O conceito de reino de Deus, segundo as Escrituras, é altamente dinâmico,


visto que fala do governo divino sobre todo o universo, e nossos corações.
Mas aprendamos com as Escrituras: não é um reino territorial. É um reino
presente, é verdade! Porque presente nos sinais, e nos milagres realizados
por Jesus Cristo. Mas ao tempo que é um reino já presente, é um reino que
terá seu efetivo cumprimento na Segunda Vinda de Jesus Cristo, a Parousia.
E assim, porque terá sua culminância na Vinda de Cristo, podemos entender
que no reino de Deus plenamente cumprido, dar-se-á a vitória final sobre o
pranto. No Apocalipse está dito:

"E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus
com os homens, pois com ele habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo
Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda
a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap. 21.3,4).

Ensina-nos a Palavra de Deus que no reino de Deus efetiva e plenamente


realizado, o Pranto já não mais existe. É também a vitória final sobre as
Enfermidades.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 84


Há quem lute com o problema crônico da enfermidade. Há, mesmo, um
problema teológico com a questão das curas. Mas aprendemos com a Bíblia
Sagrada que a vitória final está na realização plena do reino de Deus quando
teremos a Grande Cura que é a ressurreição. E esse é um grande patrimônio
que todos os cristãos compartilhamos sem sectarismo nem qualquer divisão
denominacional. Compartilhamos a suprema esperança da ressurreição final
dos corpos.

Lemos, ainda, acerca da vitória final sobre a Morte. O texto já lido de


Apocalipse diz "e não haverá mais morte" (21.4a). Há muitos outros textos
na Palavra de Deus, entre eles o hino em 1Coríntios 15. 26 que diz: "Ora o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte", e, mais adiante, "E,
quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é
mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que esta
escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está ó morte? O teu aguilhão?
Onde está , ó inferno, a tua vitória?" (vv.54,55; cf. Mt 9.18,19, 23-26; Lc 7.11-
15; Jo 11.25,26 ).

Pois é, vamos ter essa vitória final sobre a morte na realização plena do
reino de Deus.

Podemos seguir com a nossa reflexão, e perceber que é também a vitória


final sobre as Trevas. O profeta Isaías mostra-nos como a humanidade
caminha nas trevas:

"Pelo que o juízo esta longe de nós e a justiça não nos alcança; esperamos
pela luz e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão.
Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não teem olhos
andamos apalpando; tropeçam,os ao meio-dia como nas trevas , e nos
lugares escuros somos como mortos" (Is 59:9,10; Cf. Ef 6.12).

Há quem pregue que o reino de Deus ainda virá. O Novo Testamento assim
não ensina. Pelo contrário, esclarece que o reino já veio, e terá sua
culminância com a volta de Cristo, e, então, o Servo Sofredor da Paixão será
o Rei Conquistador da Segunda Vinda (cf. Is 53:3-7; Lc 22.39-44). Não é o que
diz a Palavra de Deus? Paulo, apóstolo, diz que "O Senhor mesmo descerá
do céu com alarido, e com voz de arranjo e com a trombeta de Deus; e os
que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro" (1 Ts 4.16; cf. Mt 24.30,31).

A BEM-AVENTURANÇA DO VER

Sim; o Novo Testamento registra uma bem-aventurança de Jesus que não


consta da listagem do Sermão do Monte: "Bem-aventurados os vossos olhos
porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16).

Há uma bem-aventurança no ver. Os versos 16 e 17 dão ênfase ao grande

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 85


privilégio dos santos apóstolos porque viam eles o cumprimento de tudo o
que "muitos profetas e justos desejaram ver... e não viram". Aos discípulos,
então, é dado o segredo, o mistério do reino dos céus, e isso é uma dádiva
da pura graça de Deus.

É esse mistério, então, é essa dádiva que é o motivo do anseio de Jó. No


livro de Jó, nos lamentos que ele fazia pela sua situação terrível,
assustadora, dizia : "Porque eu sei que o meu redentor vive, e que por fim se
levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em
minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não
outros, o verão" (vv. 19:25-26). Isso foi reafirmado mais adiante, e para o
nosso crescimento o autor sagrado coloca sua exclamação: "Com o ouvir
dos meus ouvidos, ouvi, mas agora te vêem os meus olhos" (vv. 42:5). E
Jesus Cristo diz: "Bem-aventurados os nossos olhos porque vêem".

Ora, não querer ver a Deus é insensatez! Quem pensaria em algo assim? E
isso equivale a não crer em Jesus Cristo a na Sua missão redentora. Aqui
está a palavra de Jesus: "Aquele que crê no filho tem a vida eterna: mas
aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece" (Jó 3.36; cf. Jr 5.21).

Mas há uma situação reversa: desejar ver a Deus, contemplar o Senhor traz a
marca da esperança. Agora podemos ir ao Sermão da Montanha: "Bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mt 5:8). Para
ver o Senhor, porém, é preciso pureza de mãos, limpeza de coração. Nessa
esperança viveu. Simão, o piedoso homem que aguardava "a Consolação de
Israel" (Lc 2:25-32), e viveu Ana, a idosa profetisa que vivia no templo orando
ao Senhor (Lc 2:36-38).

A Bíblia diz que é preciso olhar para Jesus: "fitando os olhos em Jesus autor
e consumador da nossa fé" (Hb 12:2 a ), e assim foram bem-aventurados os
apóstolos, que se pronunciaram sobre isso. Pedro disse:

"Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo, seguindo as fábulas artificialmente compostas; mas nós ,mesmos
vimos a sua majestade" (2 Pe 1.16);

e João afirmou:

"O que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com nossos
olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da
Vida. (Porque a vida foi manifestada , e nós a vimos e testificamos dela, e
vos anunciamos a vida eterna, que estava com o pai, e nos foi manifestada);
O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais
comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo" (1 Jo 1.1-3).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 86


Pois é; é necessário guardar a esperança, sabendo que ver a Jesus Cristo
equivale a verá Deus (Jô 14:9).

A BEM-AVENTURANÇA DO OUVIR

Voltemos à palavra de Jesus: "Bem-aventurados os vossos olhos porque


vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13:16).

Há, portanto, uma bem-aventurança no ouvir, idêntica à de ver. Mas, se


desejar ver traz a marca da esperança, ouvir traz a marca da obediência,
porque esse é o sentido da palavra ouvir no Antigo Testamento. Sempre que
se encontrar o verbo "ouvir" no Antigo Testamento, ele equivale a obedecer.

É preciso ouvir a Deus; é preciso obedecer ao Senhor. Deuteronômio 15.5


tem esta palavra de Moisés: "Se somente ouvires diligentemente a voz do
senhor teu Deus para cuidares em fazer todos estes mandamentos que hoje
te ordeno". Por esse motivo, é insensatez não ouvir a Palavra de Deus, não
querer saber do Senhor e da Sua Palavra. O testemunho da Escritura
Sagrada a esse propósito esclarece que "O que desvia os seus ouvidos de
ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv 28.9). E, ainda: "Quem vos
ouve a vós , a mim me ouve; e quem vos rejeita avós a mim me rejeita; e
quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (Lc 10.16).

Essa é a razão porque a Escritura tem esse convite, quase ordem: "

Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso


trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o
que é bom, e a vossa alam se deleite com a gordura. Inclinai os vossos
ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei
um concerto perpetuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi" (Is
55.2,3).

E de Jesus Cristo temos: "Quem tem ouvidos para ouvir ouça" (Mt 11.15).

E que vai dar isso como resultado? O resultado será habitar em plena e
perfeita segurança: "Mas o que me der ouvidos habitará seguramente, e
estará descansado do temor do mal" (Pv 133).

Outra conseqüência de ouvir o Senhor são as palavras certas, justas e


balsâmicas para nossa vida, porque nada melhor pode existir que ter a
palavra de Deus acalentando o nosso coração. Novamente pedindo o
testemunho da Escritura Sagrada: "E o Senhor Jeová me deu uma língua
erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está
cansado: Ele desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que
aprendem" (Is 50.4).

Vemos ainda na palavra de Deus que quando ouvimos e seguimos a Palavra

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 87


do Senhor, temos a vida, como Jesus diz em João 5.25: "Em verdade, em
verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que mortos ouvirão a voz do
Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão".

É preciso ouvir a Palavra de Deus, mas, sobretudo, é preciso segui-la.


Entendemos que esta bem-aventurança é claríssima. Fala de ver, de ouvir,
de esperança, de obediência e de fé; esta bem-aventurança fala de reino de
Deus. João 12.20 em diante menciona o desejo que alguns gregos tinham, e
por isso, pediram a Filipe: "Queríamos ver a Jesus!" Reconheciam a
felicidade, a bem-aventurança. Por outro lado, a promessa de Deuteronômio
4:30 é iluminadora: "Então dali buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás,
quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma"(Dt 4.29).

Isso é fé. Paulo acrescenta que "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Cristo"(Rm 1.:17), pois o ouvir tem que ser atualizado (Hb 4:2). Então, a
promessa de Isaías 32.3 será real, perfeitamente real: "E os olhos dos que
vêem não olharão para trás, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos".

Parte 23.
CASAMENTO E A VONTADE DE DEUS

"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o
teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu". (Mt 6.9,10)

Se o namoro há de ser posto sob a vontade de Deus, muito mais o noivado, e


mais ainda o casamento como processo de doação e crescimento.

BUSCANDO A VONTADE DE DEUS NO CASAMENTO - I

A vontade de Deus é que o casal seja maduro para o casamento, pois casamento
não é coisa de menino. Pelo contrário, o que a Bíblia diz, e aqui está no seu
primeiro Livro, é o seguinte: "Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e
unir-se-á a sua mulher, e serão uma só carne." Menino não deixa pai e mãe, mas
o adulto, sim. Só adultos deixam pai e mãe, e se tornam pais e mães. A vontade
de Deus, portanto, é que eles se tornem uma só carne.
A vontade de Deus é que Seu Plano de Organização e Métodos seja praticado no
lar. E sabem qual é o plano de O e M que a Escritura apresenta para o lar? Está
em Efésios 5.22 a 6. 9. Diz aí que Cristo é o cabeça do marido, e o Senhor da
família; diz que o marido é cabeça da mulher e autoridade sobre os filhos; diz que
a mulher é ajudadora, cooperadora bem habilitada do esposo em termos de
autoridade e responsabilidade; e diz que os filhos são sujeitos aos pais. Há uma
hierarquia dentro do lar. Fora disso, queira ou não, discuta, argumente, invente
desculpas, ou vá, até mesmo, pelo que dizem algumas Constituições nacionais,
fora desse padrão de O e M, é problema. Os consultórios de psicólogos, de
terapeutas de família, de psicanalistas, de psiquiatras estão lotados de pessoas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 88


com problemas familiares por causa de um revés na autoridade familiar: o pai não
"manda", quem "manda" é a mãe; nem pai nem mãe "mandam", mas, sim, os
filhos. E deste modo, esse revés dentro faz com que o bolso e a economia de
muitos terapeutas e psicólogos engorde.
Mas isso não é fácil: há necessidade de um "filtro" para que esse padrão seja
colocado dentro do lar. E esse filtro, o filtro de todo relacionamento é Jesus Cristo.
Se você não O tem no lar, é só dor de cabeça. Literalmente! São problemas
psicossomáticos, dores lombares, enxaquecas, dores de coluna, gastrites, colites,
falta de ar, depressão, má disposição, dores estranhas que surgem porque Jesus
Cristo não é o padrão, não é o filtro, não é o Senhor.
A vontade de Deus é que você seja o marido da mulher virtuosa. Veja Provérbios
31.10-31, e quanta coisa de importância fala do marido. Diz que ele é confiante na
esposa, (v.11); homem de influência na palavra, nas ações, nos julgamentos, nos
pareceres (v. 23); é homem reconhecido a Deus pela mulher que Ele lhe deu (v.
29). Afinal, na Escritura está dito de um modo também muito claro que "Casa e
riquezas são herdadas dos pais; mas a mulher prudente vem do Senhor".
A vontade de Deus é que a irmã seja "a mulher virtuosa". Aliás, que extraordinária
mulher essa de Provérbios 31! Que administradora espetacular! Que dona de casa
magnífica! É esse capítulo dos Provérbios um guia para a dona de casa, para a
mulher administradora do seu lar. Tem muita sensibilidade para com o
necessitado (v. 20). É uma negociante sem igual, grande pechincheira para que a
economia doméstica tenha um pouco a mais para empregar em outra coisa (v.
24). É uma boa conselheira (v. 26), é elogiada pelos filhos e pelo marido (vv. 28,
29). É mulher religiosa, piedosa (v. 30). E há muito marido que se orgulha de
descobrir este verso que é Provérbios 31.15: "E quando ainda está escuro, ela se
levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas", e diz para a
esposa "Por que você não faz como a mulher de Provérbios 31.15?" E para a irmã
não ficar por baixo, bem que poderia responder com Provérbios 6.6, "Vai ter com a
formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio".
É vontade de Deus que o marido ame a sua mulher, a ponto de ir para a cruz por
ela, porque Jesus se sacrificou pela Esposa, a Igreja, e foi para a cruz pela Igreja
assim o declara Paulo, apóstolo, em Efésios no capítulo 5.25.
É vontade de Deus que ame de modo a exercer autoridade com humildade, nos
termos de 1Pedro 3.8,9:
Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor
fraternal, misericordiosos, humildes, não retribuindo mal por mal, ou injúria por
injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para
herdardes uma bênção."
Que ame de maneira a cuidar do seu bem-estar espiritual, pois é ele o sacerdote
do seu lar. 1 Pedro 2.9:
Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz",
lembra esse fato que foi tão destacado na vida dos patriarcas: Noé, Abraão,
Labão, Jó. Essa é uma doutrina que Lutero restaurou na Reforma. Como
sacerdote, o irmão há de apresentar seus filhos a Deus, e guiá-los na Sua
Palavra, como em Dt 6.4-9 (Jó 1.5). pelo exemplo (v. 6) e pelo ensino (v.9).

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BUSCANDO A VONTADE DE DEUS NO CASAMENTO - II

A vontade de Deus é que a fé seja praticada dentro do lar, e observada e


transmitida. Ensinar, praticar, observar e transmitir o quê? Diria que a primeira
coisa a observar, praticar e transmitir é o amor integral, e também a esperança, e
diria, mais ainda, o perdão. É preciso ensinar a valorização de cada pessoa em
casa, da netinha à vovó, do vovô ao netinho . Ë preciso observar a boa
comunicação (Rm 10.8-13), e os elevados valores da parte de Deus, Suas ordens
e mandamentos. Por isso, a vontade de Deus é que o casamento, e a família por
extenso, sejam plenos do fruto do Espírito (Gl 5.22,23). Um casamento cristão não
é aquele no qual dois crentes simplesmente se casam. Isso não faz um
casamento cristão, não. Casamento cristão é aquele onde há unidade, e
cooperação, e submissão, e comprometimento, e esforço pela compatibilidade. E
essa unidade começa com a graça de Jesus Cristo. Então, vai valer Efésios 4.5-7,
trecho magistral sobre a unidade da fé.
Não há casamento problemático. O que há, na verdade, são pessoas com
problemas que se casam. E a raiz está no tipo de relacionamento que você tem
com Deus. E aqui vem, igualmente, um padrão para o casamento. Que tal o fruto
do Espírito no casamento? Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio. Que tal colocá-lo no casamento? Amor
não é uma capacidade humana: é fruto do Espírito. Falta alegria nos seu
casamento? E a paz está em baixa no seu lar? Não se exercita mais a paciência
dentro de casa? Nem a benignidade (gentileza, cortesia)? A bondade já foi
embora? E a fidelidade? É difícil a mansidão? O autodomínio?
O milagre no casamento cristão começa quando dois corações procuram o
coração de Jesus Cristo, e quando duas mentes procuram a mente de Jesus
Cristo, e quando dois seres humanos procuram o ser de Cristo, a pessoa de
Cristo, o propósito de Cristo, e o poder do Espírito Santo.
A vontade de Deus é que seu casamento tenha um clima espiritual, e dentro dos
termos de Mateus 18.19,20): "Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra
concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu
Pai, que está nos céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome,
aí estou eu no meio deles." Um estudioso do Novo Testamento explicou que esse
"dois ou três" significa a família (pai, mãe e o filho, ou filhos) reunida em nome de
Jesus Cristo. Quando Jesus Cristo é o Senhor, você olha para sua esposa com
um novo olhar; e quando Jesus Cristo é o Senhor, você olha seu marido com nova
compreensão, mesmo que ele não seja fiel à Palavra de Deus nos termos em que
o Novo Testamento apresenta, mas a Escritura em 1Coríntios 7 diz que a mulher
cristã santifica o marido que não o é, e vice-versa (v. 14).
Quando Cristo é o Senhor, você vê seus filhos com uma nova esperança, e a
família toda vê o futuro com uma nova fé. Mas sem Jesus Cristo vai ficar muito
difícil, terrível e absurda e pensamente difícil o seu lar, o seu casamento, ter
substância e consistência.

Parte 24.
COISAS MELHORES

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 90


"Porém, ainda que falemos desta maneira, meus queridos amigos, temos a
certeza a respeito de vocês. Sabemos que vocês têm as melhores bençãos que
vem da salvação." ( Hb. 6:9 )

Lamentavelmente, somos parte de uma geração de cristãos vitimada por doutrinas


alheias ao evangelho e, até mesmo, antibíblicas; uma geração enganada por
conceitos errados sobre a vida cristã, e que vive numa sociedade de baixos
padrões morais. Daí o desenvolvimento retardado, e o baixo nível de
espiritualidade de tantos crentes. E o problema é que nós nos medimos por nós
mesmos e não queremos usar o metro de Deus. Então, sempre fica faltando
tecido na confecção da nossa vida cristã.
O texto básico diz que são esperadas de nós, de todos nós, de cada crente e de
todos os crentes "coisas melhores, e que acompanham a salvação". Que coisas
são essas que tem deixado de acompanhar a vida de tantos irmãos nossos? Sem
dúvida, devem acompanhar a salvação o amor de Deus e o serviço ao ser
humano. Porque o ser humano é imagem e semelhança de Deus. A salvação
deve ser acompanhada de um entendimento sempre maior e mais claro a respeito
do fato da conversão, e de expressões como "morrer com Cristo" e "ser
crucificado com Ele". Outra coisa a acompanhar a salvação é um desejo de
crescer espiritualmente, fato que modela nossa vida espiritual e há lembretes no
Novo Testamento como:

"Por isso devemos prestar mais atenção nas verdades que temos ouvido, para
não nos desviarmos delas" ( Hb. 2:1 ).

Outro é

"Guardemos firmemente a esperança da fé que professamos , pois podemos estar


certos de que Deus cumprirá as suas promessas. Não abandonemos como alguns
estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões . Ao contrário animemos
uns aos outros e ainda mais agora que vêem que o Dia do Senhor está
chegando." (Hb. 10:23,25 ),

e mais outro,

"Sejam como criancinhas recém-nascidas, desejando sempre o puro leite


espiritual, para que bebendo dele, cresçam e sejam salvos". (1 Pe. 2:2 )

Ou ainda, uma compreensão maior do ato de cultuar, de adorar, de louvar a Deus,


um entendimento da contribuição como ato de louvor; e da educação cristã como
fator de crescimento; e da prática da vida como fator de demonstração do que
Cristo fez, faz, e continuará fazendo diferença em nossa vida.
Essa compreensão é necessária porque é função da igreja produzir crentes
amadurecidos, que cooperem em harmonia para a glória de Deus. E esse
crescimento, que é espiritual, é realizado através de funções exercidas na igreja,
ministradas na igreja, como o culto, a instrução na Palavra, a comunhão fraternal

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 91


(a comunhão dos santos), a contribuição generosa e alegre, e o serviço executado
em amor.
Que é que podemos chamar de "coisas melhores que acompanham a salvação"?

O CULTO

O culto que a Igreja Primitiva praticava é um ato quase esquecido hoje. Um


comentarista do assunto usou a expressão: "é a jóia perdida da Igreja do nosso
século". Ele fez uma crítica muito pesada a respeito do que se anda por aí
chamando de "culto". O que ele quis dizer é que não se sabe o que é o culto, nem
como praticá-lo. Pelo menos muita gente anda fazendo coisa que na Igreja
Apostólica não existia. E, no entanto em Apocalipse 5.2 está dito: "E cantavam em
voz forte:'O cordeiro que foi morto é digno de receber poder, riqueza, sabedoria e
força, honra, glória e louvor'", mostrando que ao cultivar a Deus devemos declarar
sua dignidade. Pois, no culto, adoramos a Deus, e O louvamos, agradecendo-Lhe
as bênçãos que derrama, como a chuva benfazeja, sobre nós, e, no qual, nós
também nos consagramos a Deus.
Davi estava exilado de Jerusalém. É terrível uma pessoa estar exilada. Estava
lendo uma entrevista feita com alguém que ficou por algum tempo exilado do
Brasil, na qual falava sobre o que são as experiências do exílio. Aqui está
retratada a experiência de quem está distante, saudoso, sentindo falta do templo:

"Como o cervo anseia pelas correntes das águas


assim suspira a minha alma por ti, ó Deus.
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.
Quando entrarei e me apresentarei
Ante a face de Deus? (Sl 42.1,2)

O final do verso 5 se refere ao louvor a Deus no Templo porque o louvor pode,


evidentemente, ser praticado em qualquer lugar. No entanto, alguém pode estar
durante todo o culto, e não ter uma experiência de adoração, o que
freqüentemente acontece.
Há muitos conceitos errados sobre o que é culto; muita idéia povoando as
cabeças dos crentes sobre o que é adoração. Há quem pense que o culto é como
uma parada no posto de gasolina. Meu carro está sem combustível, eu paro na
bomba de gasolina, e digo ao frentista: "Encha o tanque!" O homem o faz, e dá
para eu passar uma semana. Volto depois e venho encher o tanque. Venho me
abastecer na igreja. A bateria está descarregada, vou à igreja para me abastecer.
Passo uma semana, nada faço, mas é Domingo, então eu volto para me
reabastecer.
Há quem pense que o culto é como aquele refrigerante que se anunciava como "A
pausa que refresca". "Estou muito abafado, vou à igreja para ver se eu tenho uma
'pausa que refresca'. Venho à igreja para isso".
Tem mais: há quem pense que o culto é um grande encontro de animação, o que
vale é a extensão das orações, é a intensidade das vozes dos participantes. E, na
verdade, em muitas igrejas até se peca por falta de entusiasmo. Não é mesmo?
Até ficamos meio incomodados: canto é arrastado, a Ceia do Senhor parece um

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 92


culto fúnebre.
Em outras igrejas, peca-se por excesso, tornando-se o culto puro emocionalismo,
o que, também, não é o verdadeiro culto. Pelo menos, não nos termos do Novo
Testamento. O que tenho certa dificuldade de aceitar porque a Escritura assim me
ensina: "Portanto, irmãos, fiquem firmes e guardem aquelas verdades que
ensinamos a vocês nas nossas mensagens e nas nossas cartas". (2 Ts 2.15). Um
dia destes, uma jovem entrou aqui na igreja e perguntou se a nossa igreja era
"tradicional" ou "renovada". Dependendo da resposta, creio que ela iria embora ou
ficaria. Respondi-lhe que era uma igreja "tradicionalmente renovada". Ela não
entendeu muito bem o que eu queria dizer, mas ficou no culto todo o tempo, e
graças a Deus por isso. Nossa igreja se renova dia a dia, e pela graça dos céus
são acrescentados novos membros, e os crentes antigos renovam, também, as
suas forças espirituais. Então, nós nos renovamos todo o tempo dentro da tradição
bíblica, foi o que eu quis dizer à jovem. O verdadeiro culto exalta a Deus, e não o
momento; não a experiência, não; mas dignifica, santifica, magnifica o Nome do
Senhor.
Em algumas igrejas a atenção é dada no culto ao pregador. Inteligente, excelente
orador, sermão brilhante, nada tem a ser reparado; admirado, exaltado, porém, e
vou à Palavra, e vejo que isso já aconteceu no passado, "Assim o meu povo se
ajunta em grande número para ouvir o que você tem para dizer, ma eles não
querem pôr em prática o que você diz. "Ele fala bonito"- eles dizem, mas o que
querem é ganhar dinheiro. Para eles você não passa de um cantor de canções de
amor ou um tocador de harpa. Eles ouvem o que você diz, porém não fazem nada
daquilo que você manda." Uns artistas do púlpito, pensam. Isso aconteceu com
Ezequiel, grande orador, mas o povo ouvia por um ouvido e saía pelo outro a
mensagem que ele pregava (Ez. 33.31, 32).
Em outras igrejas, exalta-se, intensifica-se, a atenção é dada ao cântico, que
chamam de "momento de louvor": "Vamos passar ao momento de louvor". Cantam
alguns hinetos, mostram que não compreenderam, não sabem qual é a doutrina
do culto, qual a teologia do culto, porque louvor é tudo o que se faz no culto; é a
preparação em casa, quando o crente se prepara para ir à igreja; quando entra na
igreja, já é louvor; quando o prelúdio toca, é louvor; até os "avisos" são dados
como atos de louvor porque é a comunidade, o Corpo de Cristo reunido para
entender e cumprir o seu programa de trabalho. Há pessoas que não gostam de
"avisos" no culto, eu não vejo problema algum porque como bem colocou um
teólogo chamado J-J. von Almenn em O Culto Cristão que os anúncios são parte
dessa vida comunitária, dessa vida de igreja, como é que a igreja vai saber, e
colocar no seu coração o seu programa se esses anúncios não são passados,
com elegância como procuramos fazer? Isso é igualmente louvor, porque cada
parte do culto é louvor. Sim, louvamos com os hinos, adoramos com as orações,
celebramos com a palavra, louvamos com a vidas, adoramos com o
comportamento, cultuamos com o que falamos e fazemos.
Em outras igrejas, a atenção é dada ao diabo, e fala-se mais no Inimigo-de-
nossas-almas que em Deus. Meu genro é pastor e mora nos Estados Unidos.
Uma igreja que nasceu no Brasil chegou à cidade de Los Angeles onde ele reside.
E passou um culto na TV. Ele nos ligou dizendo ter ficado admirado porque
"estavam entrevistando o diabo no culto". E comecei a refletir, e chegue a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 93


conclusão que era verdade: o diabo está sendo entrevistado em algumas igrejas,
em vez de se falar da Palavra.
Em outras igrejas, é a confraternização. Os métodos da igreja são de uma
atmosfera de festividade mundana, quem sabe uma "festa de largo", até? Beira,
às vezes, a programas de TV?! O louvor é algo que é feito para nós; o pastor é a
figura central, é um ator, ou melhor, um animador de auditório; e o culto é
planejado para divertir, entreter, para passar o tempo. No primeiro momento de
dificuldade, de sofrimento, essas pessoas abandonam essa igreja, e quantos
casos eu pessoalmente conheço de pessoas que deixaram, até, a igreja de Cristo
amarguradas com Deus.
Precisamos das "coisas melhores, e que acompanham a salvação". Precisamos
de respeito pelo "Dia do Senhor". Vimos à igreja para o culto, onde descobrimos
novas percepções, novos horizontes, novas perspectivas do que a vida significa.
Encontramos poder para a vida diária, porque o culto é como a escada de Jacó
(Gn. 28.12). Como eu me impressiono com aquela narrativa que diz que os anjos
de Deus subiam e desciam por aquela escada. Porque eu vejo que o culto é
exatamente isso: o nosso louvor sobe, e a graça de Deus desce pela nossa
escada que é o culto. No culto importa a centralidade de Deus e de Jesus Cristo, e
o povo não pode ficar inativo. Foi isso o que fez a Reforma Protestante. Lutero
levou o povo a cantar na igreja, o que até então não acontecia. Só os clérigos
cantavam; mulher cantar, nem pensar! E cantavam eles o Canto Gregoriano em
latim. Lutero trouxe o canto congregacional, todos passaram a cantar, e ele
passou a escrever hinos baseados na experiência cristã, ou na Escritura Sagrada
como é o hino "Castelo Forte" baseado no Salmo 62.
É isso o que os evangélicos fazemos, e isso está até modificando o ritual da Igreja
majoritária porque na missa o povo está cantando, e cantando hinetos e hinos de
autores evangélicos. Fui a uma celebração de formatura e cantaram "Segura na
Mão de Deus", "Senhor, meu Deus, quando eu maravilhado". É o que acontece
com os grupos carismáticos católicos que cantam os nossos hinetos.
Deus quer de nós as "coisas melhores, e que acompanham a salvação", e, nesse
caso, para o louvor na igreja precisamos de hinos bem ensaiados. Por favor, não
me venham com improviso. Precisamos de instrumentos bem praticados, sem
improvisação, sem arranjos de última hora. Precisamos de hinos de bom gosto
(1Co 14.15; 3.16), e de orações do fundo da alma (Sl 88.2; Pe 3.7), e da palavra
de Deus em lugar central no culto. A pregação é central porque Jesus Cristo a
praticou (Lc 4. 16,17), porque Paulo a ensinou ( I Tm 4.13; I Co 14.1), e nada pode
substituir a pregação porque é o comentário da palavra de Deus que foi lida. E em
Provérbios 29.18d está dito: "Onde não há profecia (proclamação, pregação), o
povo se corrompe" E, ainda: Ó Deus Eterno, na reunião do teu povo, eu contei a
boa notícia de que tu nos salvas. Tu sabes que nunca vou parar de contá-la" (Sl
40.9). E se desejam uma expressão do Novo Testamento, Paulo diz: "Pregue a
mensagem e insista em anunciá-la, no tempo certo ou não. Convença, repreenda,
anime e ensine com toda paciência." (2 Tm 4.2). Talvez até eu possa me
perguntar "Walter, que tipo de culto você está prestando a Deus?" "Que tipo de
música você está fazendo para Deus?"
Há outras "coisas melhores e que acompanham a salvação".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 94


DÍZIMOS E OFERTAS

Romanos 12.8 diz que é um dom espiritual. Por esse motivo, a sua expressão
deve ser alegre, grata, sistemática e sacrificial. A igreja local deve ser o meio de
canalizarmos os recursos monetários para o trabalho do Senhor.
A Bíblia ensina a prática do dízimo, e Jesus até disse que "coisa mais bem
aventurada é dar do que receber" (At 20.35) porque o ato de dar aquece o coração
e satisfaz a nossa alma. Por isso, Jesus nos diz, "Olhai as minhas mãos..." (Lc.
24.39), como disse a Tomé: "Vê as minhas mãos"(Jo 20.27). Porque na cruz, Ele
não fechou as mãos; Jesus Cristo nunca fechou as suas mãos. Não feche as
mãos também, mas, também, não dê sem amor, não dê resmungando, não dê
chorando, não dê lamentando, porque Deus não precisa do seu dinheiro. Dê
alegre, satisfeita e animadamente porque é assim que Ele faz você crescer.
Nós precisamos das "coisas melhores, e que acompanham a salvação". O Dr.
Louis Evans disse com propriedade: "O evangelho é grátis, mas é necessário
dinheiro para fornecer os baldes onde levar a água da salvação". A água da vida é
grátis, mas onde a água vai ser levada precisa ser comprado. E quem é que
compra? É o dinheiro que devolvemos ao Senhor. Contribuir então é um ato de
adoração, como cantar, como orar e como pregar (Sl 96.8). Assim, lembre-se que
entre as "coisas melhores e que acompanham a salvação" está o dízimo, mas
antes dele está "Dar-se primeiramente ao Senhor" conforme aconteceu na
expressão do apóstolo Paulo ( 2 Co 8.5).
Há uma terceira coisa que é instrução.

INSTRUÇÃO

Começamos a vida cristã como criancinhas, tomando o leite espiritual nos


rudimentos da doutrina e da compreensão da graça de Deus, por isso nossa igreja
mantém classe de discipulado e doutrinamento. Temos as classes Valdívio
Coelho, Timóteo, João Marcos e Barnabé, que dão aos discipulados o leite
espiritual nutrindo-os no começo da vida cristã. Mas depois partimos para uma
alimentação um pouco mais substancial. A Escritura diz que "O alimento sólido é
para os adultos" (Hb 5.14a). Depois partimos para um alimento ainda mais sólido,
e esse ensino é importante porque Jesus falou que devíamos pregar o evangelho,
mas, em seguida devíamos levar os evangelizados a guardar todas as coisas que
Ele havia ensinado ( Mt 28.19,20; Jo 6.45).
A igreja apostólica pregou o ensino, a educação religiosa (At 5.42; 8.3). E este
ensino há de ser diligente, com líderes treinados, não pode ser por um neófito que
começou no evangelho agora e já vai passar alguma coisa sem ter muito o que
passar. Os professores devem ser preparados, correto o ensino, bem organizado
e bem preparado, para que não aconteça a condenação que Paulo fez em 1 Tm
6.3-5 : "Mas, se alguém ensina alguma doutrina diferente e não concorda coma s
verdadeiras palavras do nosso Senhor Jesus Cristo e com os ensinamentos de
nossa religião, esta pessoa está inchada de orgulho e não sabe nada. O que ela
tem é um desejo doentio de discutir e brigar a respeito de palavras, isso traz
inveja, brigas, calúnias, desconfianças e discussões sem fim, como costumam
fazer as pessoas que perderam o juízo e não têm mais a verdade. Essa gente

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 95


pensa que religião é um meio de ficar rico".
Precisamos desse acompanhamento da salvação pelas "coisas melhores". E eu
diria que outra coisa a ser levada em conta é a nossa conduta.

A ÉTICA, A CONDUTA

O crente tem muitos inimigos. O primeiro inimigo, pai de todos os outros é o


Diabo. Ele é chamado na Bíblia de "Maligno" (Mt 13.19), de "Demônio" (Lc 4.33), é
"homicida" (Jo 8.44), é o "adversário (I pe 5.8), de "serpente", "Satanás" e
"acusador", (Ap 12.9,10). E Ele nos prova pela tentação, conforme ensina a
Escritura: No entanto, "As tentações que vocês têm de enfrentar são as mesmas
que os outros enfrentam; mas Deus cumpre a sua promessa e não deixará que
sofram tentações além de suas forças. Ao contrário, quando vier a tentação, Deus
dará forças a vocês para suportá-la, e assim poderão sair dela". (I Co 10.13), e
"Portanto, obedeçam a Deus, enfrentem o Diabo, e ele fugirá de vocês" ( Tg 4.7 ).
O mundo. Quando falamos do mundo, não é o cosmos, não é o universo, nem o
planeta Terra. Estamos falando do sistema maligno que impera no mundo, das
opiniões do mundo, dos maus objetivos, das maus companheiros, dos prazeres.
Mas quando o irmão nasceu de novo, quando a irmã se tornou uma nova criatura,
sem prazeres já deixaram de ser os prazeres deste mundo. Vemos porém , que o
mundanismo invade onde o irmão reside, a sua rua, a sua casa, a sua revista
preferida, os programas preferidos na tv, os comerciais, e até, a igreja. Porque o
mundanismo é uma atmosfera, é um ambiente, é uma influência que toma conta
da vida, razão porque temos que nos defender dele, como diz a Santa Palavra,
"Não amem o mundo, nem o que há nele. Se vocês amam o mundo, não amam a
Deus, o Pai. O mundo passa, com tudo aquilo que as pessoas desejam, porém
quem faz a vontade de Deus vive para sempre." (1 Jo 2:15,17). Aí, jovem crente,
moça crente, rapaz crente, senhora crente, você deve se destinguir dos outros
como um diamante que se distingue de uma pedra qualquer. E temos uma bem-
aventurança na palavra de Deus, " Mas guarde entre você mesmo e Deus o que
você crê a respeito desse assunto. Feliz aquele que não é condenado pela
consciência quando faz o que acha que deve fazer!" (Rm. 14:22). Já pensou na
questão das roupas que está usando? A pergunta é se as roupas estão
adequadas para vir ao templo, ou para ir ao parque? Na Escritura Sagrada, lemos
algumas expressões como Apocalipse 1.15, "Ai! Ai da grande cidade que estava
vestida de linho finíssimo, de púrpura e de lã vermelha e enfeitada com jóias de
ouro, com pedras preciosas e com pérolas!". Deixemos para trás o restante, que
não é como o irmão ou a irmã vem, mas vamos até o "guarda as suas vestes". Há
adequação? Vamos à Primeira Carta aos Tessalonicenses, capitulo 5: "e evitem
todo tipo de mal" (v. 22). Fazendo, então, uma paródia à sabedoria popular, "Dize-
me como te vestes, e eu te direi quem és!", posso até me perguntar, "Walter, que
tipo de roupa você está usando para Deus?" E quando falo isso, não estou me
referindo apenas a vir ao templo, não. Quem sabe, a roupa que você usa lá fora,
não deveria usar, porque não fala muito bem da fé que está em seu coração , ou
que você diz ter. Que tipo de roupa você usa na segunda, na terça, na quarta, na
quinta, na sexta e no sábado? Ela se adequa? E o lembrete da Bíblia Sagrada é,
"Procure sempre parecer feliz e satisfeito." (Ec. 9.8) . Se o irmão deseja unção ( o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 96


"óleo sobre a cabeça" ), tome cuidado com as suas vestes.
O Senhor espera de nós as "coisas melhores, e que acompanham a salvação"
porque nós somos diferentes, separados, e reservados para Deus! E desta
maneira, 1 Crônicas 23:13 é esclarecedor porque diz que "Anrão, o filho mais
velho, foi o pai de Arão e Moisés. (Arão e os seus descendentes foram separados
para sempre a fim de tomarem conta dos objetos sagrados, para queimarem
incenso na adoração ao Deus Eterno, para o servirem e para abençoarem o povo
em seu nome." Esse é o seu trabalho, esse é o meu trabalho diante do Senhor,
serviço diante do Senhor, consagrar as coisas santíssimas que Ele nos confiou,
queimar incenso eternamente diante do Senhor, e servi-lo, e abençoar os outros
em nome do Pai para sempre. Essas são as "coisas melhores, e que
acompanham a salvação". Amém.
Parte 24.
COMO TER PÉS FORMOSOS
Isaías 52.1-12; Ezequiel 33.1-9
[TEXTO BÍBLICO: Isaías 52.1-12]
Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, oh Sião; veste-te das tuas
roupagens formosas, oh Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti
nem incircunciso nem imundo. Sacode-te do pó, levanta-te e toma assento, oh
Jerusalém; solta-te das cadeias de teu pescoço, oh cativa filha de Sião.
Porque assim diz o Senhor: Por nada fostes vendidos; e sem dinheiro sereis
resgatados.
Porque assim diz o Senhor Deus: O meu povo no princípio desceu ao Egito, para
nele habitar, e a Assíria sem razão o oprimiu. Agora, que farei eu aqui, diz o
Senhor, visto ter sido o meu povo levado sem preço? Os seus tiranos sobre ele
dão uivos, diz o Senhor; e o meu nome é blasfemado incessantemente todo o dia.
Por isso, o meu povo saberá o meu nome; portanto, naquele dia, saberá que sou
eu quem fala: Eis-me aqui. Que formosos são sobre os montes os pés do que
anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz
ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com
seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do Senhor a Sião. Rompei em
júbilo, exultai à uma, oh ruínas de Jerusalém; porque o Senhor consolou o seu
povo, remiu a Jerusalém.
O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os
confins da terra verão a salvação do nosso Deus. Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá,
não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os
utensílios do Senhor.
Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo; porque o Senhor
irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda.

[TEXTO BÍBLICO -- Ezequiel 33.1-9)

Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:


-- Filho do homem, fala aos filhos de teu povo e dize-lhes: Quando eu fizer vir a
espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus limites, e o
constituir por seu atalaia; e, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 97


trombeta e avisar o povo; se aquele que ouvir o som da trombeta não se der por
avisado, e vier a espada e o abater, o seu sangue será sobre a sua cabeça. Ele
ouviu o som da trombeta e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele;
mas o que se dá por avisado salvará a sua vida. Mas, se o atalaia vir que vem a
espada e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vier e
abater uma vida dentre eles, este foi abatido na sua iniqüidade, mas o seu sangue
demandarei do atalaia.
A ti, pois, oh filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu,
pois, ouvirás a palavra da minha boca e lhe darás aviso da minha parte. Se eu
disser ao perverso: "Oh perverso, certamente, morrerás; e tu não falares, para
avisar o perverso do seu caminho, morrerá esse perverso na sua iniqüidade, mas
o seu sangue eu o demandarei de ti. Mas, se falares ao perverso, para o avisar do
seu caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho,
morrerá ele na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma".

1. INTRODUÇÃO

Confrontada pelos fatos, uma alta funcionária do Senado Federal brasileiro


confessou (em abril de 2001) que houve quebra do sigilo dos votos dos
parlamentares. Durante seu depoimento, um senador descreveu sua luta interna
como sendo um calvário, numa alusão ao sofrimento de Cristo a caminho da
morte. Outros políticos chegaram a referir que o Senado, diante da vergonha
exposta, terá que verter sangue para aplicar a ira da opinião pública.
A presença destas duas palavras -- calvário, sangue -- indica que o vocabulário
cristão clássico foi absorvido pelo mundo político, embora utilizado num contexto
completamente diferente do bíblico.
Ao mesmo tempo, este episódio próprio da elite brasileira é encarada com um
misto de indignação e ceticismo, indignação diante da fratura da imoralidade e
ceticismo diante da ausência de punição aos destruidores da democracia. Quando
a indignação não é aplacada pelo castigo, cresce um certo tipo de relativismo, cuja
dramaticidade resulta em desânimo e desinteresse.
Decorridos estes parágrafos, relacionados à coisa pública, a pergunta inevitável é:
o que tem a ver este prelúdio com o texto proposto, de Isaías 52, lido à luz de
Ezequiel 33?

1. A primeira correlação é esta: os cristãos também fomos tomados de um


relativismo mórbido e visceral, que atinge até mesmo o interior de nossa fé em
Deus. Se o sentido da democracia é a produção da justiça, o sentido da religião é
a fruição do poder gracioso de Deus. O relativismo secular advém da conclusão
de que não existe justiça possível. O relativismo cristão advém da incerteza em
torno da possibilidade de Deus se manifestar de forma concreta e de haver uma
verdade que nos cabe proclamar. Cada vez mais há cristãos, mesmo não o
confessando, a pensar que a revelação divina em Jesus é uma revelação entre
outras e não a revelação. Esta última frase precisa de uma correção, para ficar
assim: cada vez mais há cristãos, mesmo não o confessando, a viver como se a
revelação divina em Jesus fosse uma revelação entre outras e não a única
revelação.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 98


2. A segunda correlação é que os cristãos precisamos ir além daqueles que
alcançam apenas a periferia da mentalidade bíblica, para chegar ao seu centro.
Não basta que se fale em calvário a subir nem sangue a verter. É preciso que os
cristãos contribuamos efetivamente para que mais pessoas entendam o que foi o
Calvário e o que fez e faz o Sangue que ali foi derramado. É preciso que os
cristãos não fiquemos felizes com o verniz religioso de muitas pessoas, mas ante
as confrontemos com a verdade bíblica, de que só há um mediador entre elas e
Deus e que só há um caminho que produz a paz: Jesus Cristo. Se sabemos disso,
devemos empunhar esta bandeira com ânimo e interesse, não com desânimo e
desinteresse; com dedicação e ardor, não com displicência e morna leveza.

2. QUEM SOMOS OS CRISTÃOS?

Isaías 52 e Ezequiel 33 nos ajudam a ver quem somos, como temos sido e como
devemos ser. Sua leitura, no entanto, exige um mergulho na "mente" hebraico-
cristã, pressuposta como sendo a "mente" que devemos ter.
Nós precisamos sempre aplicar os textos bíblicos à nossa realidade para que
tenham vida. Contudo, só os entenderemos se os lermos como os seus primeiros
ouvintes os escutaram. Precisamos nos despir um pouco de nossa mente, para
que possam transformar a nossa mente, renovando-a com os fundamentos da
Palavra de Deus, por mais difíceis (enquanto penosos) que sejam. Sem esta
disposição, por exemplo, não teremos como entender Ezequiel 33, que promete
castigo para todo aquele que contribuir para que um sem-Deus continue como tal.

Precisamos aplicar os textos bíblicos hebraicos à nossa realidade para que


possamos reafirmar, entre outros fatos, quem nós somos.

1. Somos resgatados por Deus.


Comecemos por registrar a informação primordial: nós fomos resgatados por
Deus, pelo preço de sangue (v. 3), de Seu próprio sangue.

Porque assim diz o Senhor: Por nada fostes vendidos; e sem dinheiro sereis
resgatados. Porque assim diz o Senhor Deus: O meu povo no princípio desceu ao
Egito, para nele habitar, e a Assíria sem razão o oprimiu (versos 3-4).

Os hebreus tiveram seu Egito e sua Assíria, e Deus os tirou de lá. Também já
tivemos nossa era egípcia ou nosso tempo assírio. Podemos dizer que somos ex-
oprimidos pelo Egito ou ex-oprimidos pela Assíria, mas agora estamos livres. Não
tenho mais cangas (jugos) sobre nossos pescoços.
Há muitos cristãos que ainda não saíram do deserto e alguns, pior, nem sequer
atravessaram o Mar Vermelho. Há cristãos aprisionados sem razão pela Assíria do
desânimo, do medo, da doença ou da escassez. Mesmo quando estamos sem
dinheiro ou sem saúde, continuamos sendo os resgatados por Deus. O Deus que
nos fez atravessar o rio Jordão a pé nos fará derrubar as muralhas com um sopro.
Muitos olhamos para as muralhas de Jericó como se não soubessem que Deus as
derrubou e ficam perplexos diante da impossibilidade de serem vencidas...

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 99


Eis como devemos viver.

Sacode-te do pó, levanta-te e toma assento, oh Jerusalém; solta-te das cadeias de


teu pescoço, oh cativa filha de Sião (v. 2).

Não somos mais cativos. Não temos mais cangas de ferros sobre nós. A poeira
não é mais a nossa cama. O chão não é o mais o nosso assento.

2. Trajamos a roupa nova da graça


Em lugar de roupas andrajosas de derrotados, devemos nos vestir com roupa de
festa, que é a roupa da graça.

Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, oh Sião; veste-te das tuas


roupagens formosas, oh Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti
nem incircunciso nem imundo (v. 1).

Quando Isaías proferiu estas palavras, Sião era um monturo, mas ele lembra a
fortaleza dela; os guarda-roupas de Jerusalém tinham virado cinzas, mas o profeta
recorda a beleza das roupas sacerdotais.
Pela fé, ele viu Sião restaurada e Jerusalém ataviada.

Pela fé, cada um de nós pode ver sua saúde restabelecida ou a vontade de Deus
manifesta, porque nada nos pode separar do Seu amor. Um dia desses um de
nossos irmãos estava viajando de avião, quando lhe sobreveio o medo de a
aeronave cair. Ao mesmo tempo, sobreveio-lhe a paz, quando concluiu: "Este
avião está nas mãos de Deus, mas, se ele não estiver, eu estou".

Pela fé, cada um de nós pode ver relacionamentos partidos sendo restaurados,
pessoas afastadas de Deus sendo redimidas ou aprender a respeitar a liberdade
do outro, pois até Deus a leva em conta. Alguns, por exemplo, se perguntam se
vale a pena continuarem orando pela conversão de uma pessoa? A resposta é:
"Sim!". Nós oramos, Jesus Cristo bate esperançoso à porta, mas Deus não
violenta a liberdade de quem decide. As vitórias de milhares de pessoas de
mostram que vale a pena. O problema é que a maioria de nós não tem paciência
para orar durante décadas e desiste exatamente no ano em que talvez a pessoa
iria aceitar...

Pela fé, cada um de nós pode ver a prosperidade no seu emprego ou do seu
negócio ou aprender o significado do sucesso segundo a mente de Deus. O fruto
do trabalho é sempre abençoado, mesmo que esta bênção considere as decisões
tomadas. Nosso grande problema é que nós queremos decidir que profissão
seguir, que negócio fazer, sempre por nós mesmos, mas nem sempre estamos
preparados para arcar com as conseqüências de nossas decisões. Há pessoas
que escolhem profissões apenas pelo princípio do prazer que ela lhe dá, sem
considerar sua faixa salarial média; depois querem ficar ricas. Há pessoas que
querem ter prazer e dinheiro, ao mesmo tempo, esquecidas que, por vezes, eles
se excluem mutuamente. Assim mesmo, pela fé cada pode ver sua própria vitória

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 100


profissional ou material, dentro ou fora do horizonte que escolheram, porque a
vitória que Deus dá é diferente do triunfo que o mundo oferece.
O sucesso que o mundo concede como conquista exige a entrega da própria vida;
o sucesso que Deus outorga carece apenas que o cristão compartilhe com Ele
suas escolhas, ansiedades e conquistas. Quando há esta disposição, Ele oferece
algo que ninguém pode oferecer: visão para o exercício da vida profissional e
negocial.

3. Devemos romper em alegria


Se você anda meio triste, talvez insatisfeito com bênçãos ditas incompletas,
sentindo-se a própria ruína, eis o que lhe diz o verso 9:

Rompei em júbilo, exultai à uma, oh ruínas de Jerusalém; porque o Senhor


consolou o seu povo, remiu a Jerusalém. (v. 9)

Este texto faz lembrar a experiência de Paulo e Silas na prisão em Filipos.


Mesmos acorrentados pelos pés, por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e
cantavam louvores a Deus (Atos 16.25).
Você está triste, rompa em júbilo e aguarde. O consolo do Senhor virá. O seu
livramento chegará. Contudo, o consolo virá e o livramento chegará quando você
romper em júbilo. Se você não pode romper em júbilo, é porque ainda não
entregou o seu caminho ao Senhor (Salmo 37.1). Se você preferir cuidar do seu
próprio caminho, cuide. Se você preferir entregá-lo ao Senhor, Ele cuidará.

3. COMO TEMOS ALGUNS VIVIDO?

No entanto, não temos vivido assim. A maioria de nós mendiga vida. Parodiando o
professor Luciano Lopes, podemos dizer que boa parte dos cristãos é um mendigo
assentado sobre um saco, sobre um saco de barras ouro, sobre um saco de
barras de ouro puro.
O profeta Isaías descreve como vivemos muitos de nós.

1. Muitos nos deixamos reescravizar.


Recentemente recebemos, chocados (chocados? será que alguma desgraça
ainda nos choca?), a informação que um navio cheio de crianças africanas,
levadas para serem escravas na Europa, singrava os oceanos. O fato levou o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) a denunciar, numa estatística
conservadora, que 200 mil crianças são vendidas por ano como escravas.
Diante da permanência destes comportamentos cruéis, chegamos a ter vergonha
de nossa humanidade. Este estilo de vida escravizador acaba sendo imposto,
muitas vezes sem que o percebamos.
Em todos os tempos, as nações são governadas por tiranos. Em nosso tempo, há
tiranos visíveis e tiranos invisíveis. Aos primeiros, como Sadam Husseim, nós
combatemos. Aos segundos, nós nos submetemos, às vezes de bom grado. Os
tiranos de nosso tempo, formados por governos, megaempresas e poderosas
redes de comunicação, produzem uma espécie de pensamento único que todos
devemos pensar.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 101


Os tiranos de nosso tempo dão uivos de alegria sobre seus escravos. Deus
mesmo se pergunta: "que farei eu aqui?" (verso 5), antes de desnudar seu braço
diante das nações, mostrando Seu poder libertador das tiranias (verso 10).
Deus não é um tirano, porque Sua marca registrada é o respeito à liberdade
humana. Ele permite, embora não seja Seu desejo, que vivamos uma vida cristã
pobre, escrava da dúvida, subserviente a outros senhores, maculada pelo
desgosto, alquebrada diante das dificuldades.
Ele olha para aqueles que abandonaram o primeiro amor para com Ele e se
pergunta: "que farei eu aqui?" Sim, o que fará Ele com uma vida que não O adora
porque escravizada pelos tiranos da sociedade ou pelos tiranos do coração, que
são os problemas, as dificuldades, os medos, as inseguranças?

2. Muitos nos curvamos diante das blasfêmias contra Deus.


Há cristãos consumindo blasfêmias contra Deus, consumindo e aplaudindo,
consumindo, aplaudindo e enriquecendo os que blasfemam.
No Israel antigo, a ruína do povo era uma blasfêmia contra Deus. Hoje, não é
diferente: a ruína espiritual, moral e material do Seu povo é uma blasfêmia contra
o Senhor.
Quando andamos encurvados, permitimos que o nome de Deus seja motivo para
deboche, porque Deus nos fez para olhar de cima e para cima; por isto, o bordão
profético: "Despertem-se. Acordem. Levantem-se." Nós nos encurvamos não só
pelos pesos dos problemas, mas quando deixamos de olhar para Deus.
E aqui podemos ser bem claros. A religião está presente todos os dias nos
programas não religiosos de televisão. Por eles somos inspirados por experiências
de transformação de vidas por Cristo, mas somos também obrigados a telever
ataques, frontais e subliminares, à fé cristã.
Quando este ataque é frontal, nós precisamos da coragem de desligar o aparelho
diante de nós ou trocar de canal. Se não houver nenhum programa que valha a
pena, não podemos ficar diante da televisão como se fôssemos órfãos. Tem gente
que se comporta como uma fossa, prazerosa em receber o excremento da
televisão. Fossa fede. Tem cristão fedendo por absorver tanto excremento. Seu
primeiro amor foi para o espaço. A memória do sacrifício de Cristo na cruz por Ele
é uma vaga lembrança. A recomendação de que deve buscar primeiramente o
Reino Deus e os seus valores, na fé que as demais coisas serão acrescentadas,
foi invertida para: "Deus está nas demais coisas; buscando-as, nós O acharemos".
Certamente não há nenhum entre os ouvintes, mas não posso ter a mesma
certeza quando os ataques ao propósito de Deus para o mundo e seu povo são
discretos, subliminarmente apresentados. Estes são os ataques mais perigosos.
Estes exigem discernimento, muito discernimento, que é, ao mesmo tempo, um
esforço da inteligência humana e um dom de Deus.
Devo dizer que os ataques a Deus não vêm apenas da televisão, mas chegam de
diferentes fontes e frontes. No entanto, é ela que ocupa o centro de nossas casas
e de nosso tempo. Ela é, ao mesmo tempo, uma máquina de paz e uma máquina
de guerra. Ela é, ao mesmo tempo, uma máquina de progresso e uma máquina de
atraso. Seu maior perigo consiste no seu poder de sedução e na impressão que
vende que, ao assisti-la, estamos participando. Há pessoas que perdem horas
demais da sua vida vendo televisão passivamente. Televisão é diversão, mas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 102


deve ser vista criticamente.
Vou ser mais radical. Ver televisão o dia todo, como fazem alguns, é uma espécie
de morte em vida. Ela oferece a aparência de participativa, de interativa, mas traz
tudo pensado. Quando permitimos que pensem pela gente, a mente da gente vai
embotando, emperrando, com uma porta com as dobradiças enferrujadas. Quem
vê televisão demais ri, mas não faz ninguém mais rir.
Talvez alguns se perguntem pela alternativa. Eu digo que há alternativas até para
aquelas pessoas forçadas a viver em casa, por razões de saúde.
Há livros para serem lidos. [Menção à biblioteca da Igreja. Convite a quem quer
ajudar a sua organização.]
Há telefonemas a serem dados. Há cartas a serem escritas. [Desenvolvimento:
ministério de cartas, para pessoas, para pastores, para missionários].
Há orações a serem feitas. Há a Bíblia a ser conhecida e meditada. Há livros a
serem escritos, mesmo sem a perspectiva de serem publicados.
Há o computador a ser dominado.
Há lugares onde se pode ir.
Há carinho a ser dado.
O problema é romper o círculo da inércia e da preguiça.
Pode parecer que esteja pregando contra a televisão, mas estou profetizando
contra o consumo não crítico, o consumo ingênuo da televisão, porque este
consumo mata. Ela não pode ser um deus Moloque, que exige a morte da mente
para ser adorada...
Pode parecer que me desviei do assunto, mas estou recordando que somos muito
importantes para Deus para gastarmos nossas vidas diante de outros deuses.
Estou também relembrando que os valores de Deus devem estar sempre em
nossas mentes e não outros valores. Estou também trazendo de novo à memória
que o prazer de Deus é o nosso prazer. Estou também advertindo que o nosso
compromisso deve ser a Sua defesa, porque a Sua vitória é a nossa. Eis algo do
que não devemos esquecer e que aprendemos com os profetas do Antigo
Testamento: Se o meu Deus é atacado, eu sou atacado. Por Ele se comporta
assim: se o Seu povo é atacado, Ele é atacado.

3. Muitos blasfemamos contra Deus


E aqui chegamos ao aspecto mais dramático, que ocorre quando nós mesmos,
não mais nossos vizinhos ou as personagens da realidade ou da ficção,
blasfemamos contra Deus.
Em coro diremos: nós nunca blasfemamos contra Deus.
No entanto, blasfemamos.

Blasfemamos quando nos comportamos como se não conhecêssemos a Deus.


Pedro é o paradigma deste comportamento, que nós repetimos. Ele viveu com
Cristo, como nós vivemos com o Seu Espírito. Na hora em que admitir ser um
cristão representava uma ameaça para a sua vida, ele afirmou que não conhecia o
seu próprio Mestre. Quando estamos aqui, cantamos altos louvores; muitos,
quando estamos fora daqui, jamais damos sequer um sinal, a mais discreta pista,
de que somos cristãos e que todos os domingos comparecem a uma igreja para
adorar a Deus, o Deus que escondemos nos demais dias da semana. Se, no seu

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 103


trabalho, na sua escola, no seu prédio, no seu clube, na festa da qual você
participa, ninguém sabe que você é um cristão, você está blasfemando contra o
seu Deus. Aliás, Pedro estava precisamente no meio de uma multidão, quando
negou a Jesus.

Blasfemamos quando duvidamos do poder de Deus. Massacrados pela vida, uns


passamos a depender ainda mais de Deus, querendo ver mais de Cristo, como
canta o poeta (no hino 169 do Cantor Cristão), mas outros passamos a nos
perguntar se Deus tem mesmo poder.
Diante do sofrimento, muitos nos comportamos com a mulher de Ló, que
recomendou ao seu marido:
-- Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre.
Jó respondeu:
-- Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos
também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios. (Jó 2.9-10)
Jó fez perguntas a Deus, para entender a razão do seu sofrimento, mas não
duvidou do poder de Deus. Nós devemos perguntar a Ele porque algumas coisas
acontecem conosco. Deus não se importa e vai um dia responder; o que é
blasfêmia é admitir que o Seu poder não nos alcançará, porque a verdade bíblica
é clara: nada nos pode separar do Seu amor, que é o Seu poder para conosco.
Pergunte e espere a resposta.

Blasfemamos quando passamos a considerar o caminho de Deus com um dos


caminhos, não como O Caminho; quando passamos a considerar Jesus um
salvador entre muitos. É precisamente isto que dizem algumas pessoas, mas
cabe-nos perguntar: Que Deus morreu por nós? Só o Deus da Bíblia, em Jesus
Cristo, morreu por nós.
No afã de parecermos politicamente corretos, passamos achar que em religião
vale tudo. Não vale. A solução de nossa vida é o compromisso com Deus, numa
uma solução de compromisso, que querer estar bem com todas as idéias,
ideologias, partidos e religiões. Nós devemos viver pela escolha que fizemos,
respondendo ao convite de Jesus. Por mais que os veículos e os formadores de
opinião o digam, não são todos os caminhos que conduzem ao Pai, mas apenas a
Cruz.

Blasfemamos, portanto, contra Deus quando não levamos Suas promessas e as


Suas exigências a sério.

4. COMO DEVEMOS VIVER?

Como estamos vivendo? Que significado tem tido a fé para as nossas vidas? Que
prazer temos tido em Deus?

1. Este texto de Isaías é um convite a uma vida de alta qualidade. É isto que ele
diz quando pede ao povo para se vestir com trajes esplendorosos. Nós fomos
salvos para viver cheios de alegria, pela plenitude do Espírito Santo em nós.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 104


Se isto está acontecendo, louvado seja Deus. Oremos para que nossas vidas
sejam cada vez mais cheias do Seu Espírito.
Se isto não está acontecendo, somos convidados a acordar. "Desperta! Desperta!"
(verso 1).

2. O profeta pede que sacudamos o pó acumulado sobre nossas vidas. "Sacode o


pó" (verso 2). Talvez aqui resida a falha maior dos cristãos. Nós vamos, aos
poucos, permitindo que o pó do pecado, o pó do desejo de uma adoração sem
compromisso com Deus, o pó do desânimo, vá se acumulando sobre nós.
As pessoas olham para nós e vêem a poeira de um cristão, não um cristão. Deus
mesmo precisa olhar além do pó para nos ver. Nós não conseguimos vê-lO
porque o pó acumulado em nossa visão requer muito colírio ou até, no caso de
alguns, de uma cirurgia.
Os cristãos precisamos tirar continuamente o pó de nossas vidas. Sem este
cuidado, o pó vai se acumular, vai pesar sobre nós e nos vergar (encurvar).

3. Por meio do seu mensageiro, Deus nos dirige a palavra para que nós
reconheçamos a Sua voz. Um cristão é alguém que tem um relacionamento
pessoal com o seu Senhor. Na experiência do povo antigo de Deus, Sua voz não
era mais ouvida e Seu nome não era mais considerado entre as nações vizinhas e
nem mesmo entre Seu próprio povo.
Diante desta quadro, sua promessa é clara: Por isso, o meu povo saberá o meu
nome; portanto, naquele dia, saberá que sou eu quem fala: Eis-me aqui (v. 6).
Saber o nome de Deus significa buscar a Sua vontade e reconhecer quando Ele
fala é discernir a Sua vontade. Em termos práticos, saber o nome de Deus
significa ter novas experiências pessoalmente com o poder de Deus. É ter uma
vida de crescimento com Ele. É praticar a Sua presença.

4. Deus espera que nós proclamemos a salvação, prática que torna belos os
nossos pés.
Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que
faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião:
O teu Deus reina! (v. 7)
Paulo cita este texto, ao perguntar e responder: Como pregarão, se não forem
enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam
coisas boas! (Romanos 10.15)
Esta proclamação deve ser feita com a paixão de um carteiro profissional. Você já
reparou como andam rápido? É porque têm uma tarefa a cumprir. Eles precisam
obstáculos e terminar logo sua empreitada.
Os três verbos da ação do proclamador (anuncia, faz ouvir, diz) indicam o prazer
de proclamar e a insistência em proclamar. Não se trata de cumprir
mecanicamente uma ordem, mas de levar uma mensagem cujo conteúdo se sabe
que é fundamental.
No caso específico, o conteúdo da proclamação, naquele contexto histórico, era:
O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os
confins da terra verão a salvação do nosso Deus. (v. 10)
Em outras palavras, Deus manifestou o seu poder e a salvação de Israel estava

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 105


próxima. Esta certeza deixava apaixonado o mensageiro e fazia com que
corresse, mesmo tendo que superar as montanhas. A beleza da vida cristão
consiste neste proclamar.
No nosso caso, sabemos que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens(Tito 2.11). Como os homens saberão desta manifestação e conhecerão
esta graça, se nós não lhes dissermos? Precisamos levar a mensagem a Garcia,
conforme o artigo escrito em 1899, por Elbert Hubbard:

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha


memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a
Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se
rapidamente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em
alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar
exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo
telégrafo. No entanto, o Presidente [Mac Kinley] tinha que tratar de assegurar-se
da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer?
Alguém lembrou ao presidente: "Há um homem chamado Rowan; e se alguma
pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan".
Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a
incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta,
meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias
saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se
embrenhou no sertão, para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha,
tendo atravessado a pé um país hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas
que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar
é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan
pegou a carta e nem sequer perguntou: "Onde é que ele está?"

Se não entrarmos a mensagem de salvação aos homens, eles não serão salvos.
Como ouvirão que Jesus Cristo é o Salvador e o Senhor, se não há quem lhes
disser?
É por isto que esta proclamação deve ser feita com a disposição de uma sentinela
(atalaia). Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam;
porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do Senhor a Sião
(v. 8).

Como proclamar o Evangelho, que é a forma de termos pés formosos?


Quero sugerir algumas ações ao alcance de todos nós.
A primeira, que todos podem desenvolver, é receber bem a todos os que vêm
aqui. Você pode evangelizar com o seu sorriso, com um abraço, com um olhar,
com interesse real pelo outro. Mas, por favor, sem marketing, mas como algo que
resulta de um desejo, o desejo de ter pés formosos, de quem exulta diante da
verdade.
A segunda, que todos podemos pôr em prática, é adorar a Deus, aqui, de uma
forma que os que estiverem verão a Sua glória. Quando nos deixamos envolver
pela glória de Deus no culto, até o nosso corpo muda. Se o nosso amor por Jesus
Cristo for real, e não algo burocrático, as pessoas quererão este amor para si.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 106


A terceira, que todos podemos exercer, é contribuir financeiramente, para que sua
igreja desenvolva o seu ministério, nesta cidade e onde for necessário. [Chamar
para: Missões Mundiais; missão Casabranca; missionário no Pedro Ernesto;
adoção de missionário]. Não é fácil ser fiel a Deus na área financeira. Se nós
formos esperar que nosso caixa pessoal melhore, fique superavitário, para então
começar a contribuir regularmente, sabe quando isto vai acontecer? Por isto,
tenho sugerido: se a situação está apertada, comece com 1% ou com 2%, com a
meta de chegar a 10 ou 15%, mas comece hoje. Eu disse que todos podem
desenvolver, mas é possível que alguns não tenham mesmo como dar um real
para Deus por meio da igreja. Infelizmente, isto é possível. Mesmo estes podem
cooperar, dedicando parte do seu tempo à Igreja. Um bom conceito que
precisamos desenvolver é o do dízimo do tempo. [desenvolver]
A quarta, que todos devemos nos envolver, é orar apaixonadamente pela
conversão de alguém. Se você não orar por uma pessoa, você não vai falar a ela.
Se você orar, ela estará no seu coração e você buscará meios e formas para
chegar até a ela. Experimente orar por alguém.
Então, surgirão formas. Uma das quais gostaria de ver muita gente participando é
a promoção de um culto em sua casa. [Nossa meta em setembro é efetuar 25
cultos nos lares, um a cada dia. Encontraremos 25 familias dispostas a receber
cerca de pessoas não crentes em suas casas para um culto de proclamação?
Encontraremos 25 pessoas dispostas a pregar? Se você pretende se organizar
para convidar e receber pessoas em sua casa, ponha o seu nome num papel e me
entregue, ou ao irmão Wilson, ou ponha na caixa de sugestões. Se você pretende
se preparar para pregar, faça o mesmo.]

Você não se sente capacitado? Você tem medo de convidar, de falar, de orar?
Não devemos viver como quem foge: Porquanto não saireis apressadamente, nem
vos ireis fugindo; porque o Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a
vossa retaguarda (v. 12).

5. Deus exige que nos comprometamos com a santidade. A última recomendação


que quero destacar diz tudo por si mesma: Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá, não
toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios
do Senhor (v. 11).
O "lá" deste texto é a Babilônia, de onde o povo era convidado a sair. O cativeiro
não era o lugar do povo de Deus. Por causa pecado, para lá fora levado o povo.
Ao voltar, não devia se agarrar a nada que pertencia àquele mundo de pecado.
A recomendação se aplica de modo claro a nós. Nós vivemos no mundo, mas não
podemos nos agarrar aos seus valores. Os nossos "utensílios" são aqueles
santificados por Deus e para Deus.
5. CONCLUSÃO
Nós somos os atalaias de Deus?
Não escolhemos ser ou não atalaias. Nós já o somos, cabendo-nos apenas decidir
como o temos sido.

Parte 25.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 107


CONSTRUINDO CADA DIA:
Reflexões sobre a Terceira Idade

"A glória dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos são os cabelos brancos"
(Pv 20.29)
Dos 65 anos em diante, a vida não é outra coisa senão extensão das atitudes e
comportamentos de quando se tinha vinte, trinta ou, mesmo, cinqüenta anos. Isso
porque nós somos, na realidade, a soma dos anos que vivemos. Garfield, um
pensador, deixou-nos uma iluminada recomendação: Se devemos ter rugas na
fronte, que elas não se formem em nosso coração. O espírito não deve
envelhecer". E no livro dos Provérbios, fala-nos a Bíblia que "a glória dos jovens é
a sua força; e a beleza dos velhos são os cabelos brancos".

ONTEM E HOJE

A verdade é que a vida é uma jornada, uma intensa caminhada. Não gosto do
quadro pretensamente cômico de um programa de TV, cuja personagem
ridiculariza ao mesmo tempo dois tipos de pessoas: o idoso e o surdo. Considero-
o uma falta de respeito, além de passar às gerações mais jovens que o idoso é
objeto de ridículo, indesejável e feio. Uma sociedade que não respeita seus idosos
está fadada à desgraça e ao descaminho. A Bíblia, pelo contrário, ensina, e o faz
com muita propriedade, "Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do
ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor". (Lv 19.32), e ainda "Com os
anciãos está a sabedoria, e na longura de dias dias o entendimento". (Jo 12.12)
Isso que acabei de ler é muito próprio das culturas orientais, onde o idoso é
reconhecido por sua experiência e sabedoria (cf. Pv 16.31; 20.29). O professor
alemão Karlfried Von Durckheim perguntou a um grupo de japoneses o que era
considerado como bem mais precioso no Japão. Eles responderam, "os idosos".

Lamentavelmente, a nossa mentalidade ocidental é extremamente materializada e


massificada, tremendamente coisificada e secularizada. Exatamente o oposto
ocorre nas culturas do Vietnã, do Japão, da China ou da Tailândia. Sim; nem
sempre se trabalha com um idoso construtivamente, que precisa ser aceito, e
estimado e integrado. Então, o idoso há de ser respeitado, e cuidado, e amado
como ser humano. E para o cristão não existe outro caminho, não há outra opção,
senão amar, zelar, cuidar.

No Antigo Testamento, ter muita idade era sinal da graça de Deus; agraciado era
o que tinha muita idade, boa saúde juntamente com riquezas e muitos filhos. E é
por essa razão que Davi, agora feliz membro da terceira idade, exclama no Salmo
37, "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua
descendência a mendigar o pão" (v. 25). Os idosos não eram um fardo para as
famílias, mas a sua sabedoria e experiência de vida eram objeto de respeito, de
reverência e de cuidado. As cidades antigas, fala-nos a história, bem como a
Escritura Sagrada, eram regidas por um conselho de anciãos. Tive a curiosidade
de olhar na Bíblia o que fala sobre isso, e verifiquei a presença dos "anciãos de
Israel", os dirigentes (Ex 4.29; 18.12; Rt 4. 1-3). Aqueles que foram o corpo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 108


administrativo de uma cidade, os legisladores, os vereadores, prefeitos, naquele
tempo eram "os anciãos". Então, a Bíblia fala dos "anciãos de Moabe e de Midiã"
(Nm 22.7), dos "anciãos de Gileade" (Jz 11.5ss), dos "anciãos de Judá" (Sm
19.11), dos "anciãos de Gebal" (Ez 27.9). e sabem o que aconteceu com Roboão,
filho de Salomão, o grande rei de Israel? Roboão, que ficou no lugar de seu pai,
fez uma bobagem: em vez de se assessorar da experiência dos anciãos,

"Ele, porém, deixou os conselhos que os anciãos lhe deram, teve conselho com os
mancebos que haviam crescido com ele, e que assistiam diante dele. E os
mancebos que haviam crescido com ele responderam-lhe: A este povo que te
falou, dizendo: Teu pai fez pesado o nosso jugo, mas tu o alivia de sobre nós;
assim lhe falarás: Meu dedo mínimo é mais grosso do que os lombos de meu pai.
Assim que, meu pai vos castigou com açoites; eu, porém vos castigarei com
escorpiões". (1Rs 12.8,10,11)

Quem conhece a história sagrada sabe o que aconteceu: o reino se dividiu. O


reino do Norte (Samaria) ficou com dez tribos, e o do Sul, (Judá) com apenas duas
tribos, onde Roboão reinou. E o sinal de anarquia social é o registrado como
palavra de alerta pelo profeta Isaías:

"O povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o
menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre". (Is 3.5)

Nossa sociedade está quase na UTI, e o principal sintoma da enfermidade é a


despersonalização , porque a técnica é impessoal, a informática é impessoal. Para
o meu banco não importa que eu fale Walter Santos Baptista, só interessa
394297-7, aí sou conhecido; nosso amigo, o Sr. Leão só me conhece como
031487679-15. A medicina se tornou um conjunto de técnicas, a sociologia
também, a política, a arte, a economia, e dá medo que a teologia, a psicologia
pastoral, o aconselhamento e a administração das igrejas igualmente se tornem
técnicas, não mais que isso!

POR SI E PARA SI

E porque o problema não é ser idoso, e sim, saber sê-lo, fica um pouquinho difícil
precisar o que é um idoso.

A terceira idade pode e deve ser produtiva. Vamos à Escritura Sagrada, e


encontramos esta palavra no Salmo 92:

"Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano. Então
plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice
ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes, para proclamarem que o Senhor
é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça". (vv. 12-15)

Mas isso diz respeito aos justos, aos que foram tornados justos, aos que
conhecem bem de perto a experiência de Isaías 40.29-31:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 109


"Ele dá forças ao cansado, e aumenta as forças aos que não têm nenhum vigor.
Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos cairão, mas os que esperam
no senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão , e
não se cansarão; andarão, e não se fatigarão".

Apenas esses têm a experiência de florescer ainda na velhice. Afinal, esses vão
ter sonhos! Como é linda a palavra de Deus:

"Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne:... os


vossos anciãos terão sonhos..."! (Jl 2.28).

Aí, sim, vão receber bênçãos, muitas bênçãos, e bençãos sem fim prometidas
pelo Senhor como expressa o profeta Zacarias:

"Assim diz o Senhor dos exércitos: Zelo por Sião com grande zelo; e, com grande
indignação, por ela estou zelando. Assim diz o Senhor dos exércitos: Ainda nas
praças de Jerusalém sentar-se-ão velhos e velhas, levando cada um na mão o
seu cajado, por causa da sua muita idade. E as ruas da cidade se encherão de
meninos e meninas, que nelas brincarão, e sereis uma bênção, não temais, mas
sejam fortes as vossas mãos" (Zc 8.2,4,5,13b).

A Terceira Idade foi redescoberta nestes últimos anos. No começo deste século,
quem foi redescoberta foi a criança, a quem ninguém prestava atenção. A partir
daí, desenvolveram-se algumas ciências e artes: a Pedagogia , a Pediatria. Hoje,
desenvolve-se a Gerontologia, a Geriatria, e há um espetacular progresso na
medicina: os antibióticos, as vacinas, os antidepressivos, os transplantes, as
microcirurgias, possibilitando que a maioria das doenças seja debelada, e haja
uma maior extensão de vida. Houve mais avanço nestes quarenta últimos anos
que em todos os quarenta séculos precedentes.

A vida não termina com a juventude: os idosos querem e merecem seus espaços.
Mas saber envelhecer é um grande conforto na jornada desta vida. E se a pessoa,
longe de esperar em Deus e na Sua Providência, se desespera, e não se
conforma com essa fase mais que natural de todo ser vivo, vai se tornar um infeliz,
amargo, azedo, revoltado com o inevitável que aos poucos vem chegando.

PERSONAGENS BÍBLICAS

A Escritura Sagrada nos oferece magníficos exemplos de pessoas que viveram a


plenitude da Terceira Idade. É o caso de Abraão e Sara. Belíssima mulher, o rei
do Egito por ela se apaixonou quando já contava a nossa heroína 65 anos.
Abraão, seu marido, lhe fez um elogio: "Sei que és uma mulher linda!" (Gn
12.11b). Quando Abraão contava os seus 100 anos, e Sara estava com 90, teve
ela conhecimento de que ia ter, o filho da promessa, o filho da alegria e da
esperança. E tão encantada ficou Sara com a futura maternidade que colocou na
criança o nome de Itzhak, "aquele-que-provoca-riso"", "aquele-que-é-razão-para-

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 110


sorrir".

Moisés, o libertador de Israel, aos 40 anos, na meia idade quase, criou um


problema para si próprio: matou um egípcio, e fugiu para os montes de Midiã. Na
terceira idade, aos 80 anos, foi o comandante da retirada dos hebreus do Egito, o
êxodo. Quando estava com 120, chegou a Canaã, dizendo a Bíblia a seu respeito:
"Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; não se lhe escurecera a vista,
nem se lhe fugira o vigor" (Dt 34.7).

Josué, que ficou no lugar de Moisés, aos 85 anos chamou Calebe, e lhe disse: "E
agora eis que o senhor como falou, me conservou em vida estes quarenta e cinco
anos, desde o tempo em que o Senhor me falou esta palavra a Moisés, andando
Israel ainda no deserto; e eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; qual era a
minha força então, tal é a minha força agora, tanto para a guerra, como para sair e
entrar" (Js 14.10,11).

ISABEL, a mãe de João, o Batista; ela e Zacarias, seu esposo, não tinham filhos.
Era a mesma situação de Abraão e Sara. E, em avançada idade, aconteceu com
ela o que acontecera com sara: ficou grávida!

Que gente tão linda! Que vidas inspiradoras! Como Abraão e Sara nos deixaram
uma lição de fé; e como Isabel e Zacarias foram piedosos, como diz Lucas 1.5,6.

CONSTRUINDO CADA DIA

Sim, é preciso construir e fazê-lo diariamente! Achei muito interessante como a


Bíblia se preocupa com o dia a dia. Há pessoas que pensam que a Bíblia é o livro
das nuvens, tão etéreo, tão transcendental que não serve para o viver diário. É
exatamente o contrário! A Bíblia um livro que se preocupa com o dia a dia.
Quando a Bíblia fala do pão nosso (Mt 6.11), como foi que Jesus completou? Com
"dá-nos hoje"! Aliás, já temos o precedente no deserto porque a Bíblia diz que
quando o povo estava no deserto recolhia dia a dia e para cada dia o maná; se
guardasse para o dia seguinte, apodreceria (Ex 16.4). Não é somente o pão, mas
o "mal nosso" deve ser de cada dia. Jesus ensinou: "Não vos inquieteis, pois, pelo
dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o
seu mal" (Mt 6.34). Isso significa que não tenho que ficar naquela angústia do que
é que vai acontecer sexta-feira que vem, ou, mesmo, amanhã. Diz também a
palavra de Deus que a cruz, a nossa cruz deve ser diária. Palavras de Jesus
Cristo: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua
cruz , e siga-me". (Lc 9.23). Mesmo a ação social deve ser cada dia: "Ora,
naqueles dias, crescendo o número de discípulos, houve murmuração dos
helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo
esquecidas na distribuição diária" (At 6.1).

Construir dia a dia! Já existem as Universidades da Terceira Idade funcionando


em várias cidades do país. Ensinando, dando cursos. Então, meu irmão, volte a
estudar, faça um curso! "Mas, pastor, já estou com 72?" Que é isso? Se a vida

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 111


começa aos 40, você ainda está moço?! Volte a estudar! Tenho sabido de
pessoas que têm se formado na mesma turma do neto! Uma senhora até disse:
"Se eu fosse esperar até eu Ester disposta, nunca teria feito nada na vida".
Comece a fazer, e vai gostar; e vai até o fim!

Não se envelhece quando se vive um certo número de anos, mas quando os


ideais são abandonados. Começamos a envelhecer quando os sonhos são
colocados para trás, quando se renuncia à ação! "É preciso viver construindo!
Estou falando de qualidade de vida. Assim, há necessidade de apoio da família,
de ajuda e de apoio e de estímulo e de ação positiva! E a família, a igreja, e
comunidade devem levar o seu idoso ao conhecimento e apreciação de valores.

VALORES

Um grande valor é o conhecimento de si mesmo. Criança não conhece a si


própria; o adolescente não conhece, ainda, a si mesmo; nem o jovem, e, olhem lá,
nem muito adulto, mas o idoso, sim. Os antigos filósofos até recomendavam
"Conhece-te a ti mesmo", e isso vai encontrar eco na Terceira Idade, que tem a
vantagem de ter tempo e espírito disponíveis para fazer auto-análise. O texto de
Eclesiastes 12 é claro:

"Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade,


antes que venham os maus dias,
e cheguem os anos em que dirás:
Não tenho prazer neles;
antes que se escureçam o sol e a lua;
no dia em que tremerem os guardas da casa,
e se encurvarem os homens fortes,
e cessarem os moedores,
por já serem poucos
e se escurecerem os que olham pelas janelas,
e as portas da rua se fecharem;
quando for baixo o ruído de moedura,
e nos levantarmos à voz das aves,
e todas as filhas da música ficarem abatidas;
como também quando temerem o que é alto,
e houver espantos no caminho;
e florescer a amendoeira,
e o gafanhoto for um peso,
e falhar o desejo" (vv. 1-5a).

O texto recomenda a reflexão: "Lembra-te do teu Criador". Isso é relevante, e o


irmão, a irmã que é da Terceira Idade, tem com muita vantagem.

Outra coisa: a palavra de Jesus exorta, "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo"
(Mt 22.39). Pensemos no "amarás... a ti mesmo". É preciso que o irmão se ame; o
idoso se ame. Cuide, portanto, da saúde, do lazer, do senso de humor, aprenda a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 112


sorrir, e, sobretudo, cuide de sua vida espiritual. Torne verdadeiras a fé, a
tolerância, a perseverança. Cuide aparência: busque sempre ser elegante; venha
sempre bonita, minha irmã: cuide dos cabelos, da pele. A sabedoria popular
ensina que "Quem não se enfeita, por si só se enjeita".

Outra lição da vida? Perdoe; perdoe sempre. Um médico, já na Terceira Idade,


disse que "no exercício da medicina aprendi uma coisa: a perdoar sempre; o
sentimento de perdão é a recompensa; é um troféu".

Levante a cabeça! Nunca responda quando lhe perguntarem a profissão:


"aposentado..." Diga, sim, "COMERCIÁRIO APOSENTADO", "FUNCIONÁRIO
PÚBLICO APOSENTADO", "MILITAR REFORMADO", ou o que seja. Lembre-se
de que o irmão e a irmã é o que Giovanni Papini, o escritor italiano na Terceira
Idade, se auto-definiu, "eu sou a reserva da experiência".

E dê muito amor, pois a nossa qualidade de ser depende do amor.. É assim que a
personalidade se enriquece. A criança, qualquer criança, precisa do seu amor,
seja um avô, uma avó para ela; o adolescente que precisa de sua orientação pede
o seu afeto; o jovem que precisa de sua experiência e carinho; o adulto que
necessita do seu conselho. E precisam todas as idades andar juntas. Antes da
jornada do êxodo, queriam os israelitas cultuar no deserto. Narra a Escritura:

"Pelo que Moisés e Arão foram levados outra vez a faraó, e ele lhes disse: Ide,
servi ao Senhor vosso Deus. Mas quais são os que hão de ir? [o faraó não queria
deixar que todos fossem ao deserto cultuar] Respondeu-lhes Moisés: (Nós)
Havemos de ir com os nossos jovens e com os nossos velhos; com os nossos
filhos" (Ex 10.8,9).

Na comunidade cristã, ninguém é discriminado, e se algum dia o irmã/a irmã o for


por alguém, primeiramente perdoe a quem isso fizer, e depois peça a Deus que
ilumine esse coração tão pequeno e mesquinho. Peça que o Senhor dê vida a
essa pessoa para que possa crescer e viver a graça e plenitude da vida em Jesus
Cristo.

Parte 26.
CRISE E PERDÃO NA FAMÍLIA
INTRODUÇÃO:

* Este estudo pressupõe que há falta de perdão nos relacionamentos familiares.


Será que essa pressuposição é verdadeira?
* Se olharmos para as estatísticas de separações entre marido e mulher e entre
pais e filhos (abondono do lar), temos que admitir que o perdão não está sendo
praticado.
* A crise de perdão na família reflete uma crise conjugal.
* A crise conjugal reflete uma crise espiritual. Os nossos relacionamentos
horizontais dependem de nosso relacionamento vertical.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 113


I. A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO:

A. Uma família não pode subsistir sem perdão, pois invariavelmente vamos errar
uns com os outros. O perdão é a possibilidade da convivência.
B. O perdão é um indicador de nossa compreensão do amor de Deus por nós (Cl
3.13b)
C. Todos nós experimentamos ofensas: um amigo que nos trai, um filho ingrato, a
parcialidade dos pais, uma palavra áspera, uma acusação falsa, uma data pessoal
esquecida, a indiferença para comigo de alguém que me é importante. Perante a
ofensa exercemos a escolha. Podemos "perdoar ou tornar-nos ressentidos, amar
ou odiar, estabececer relacionamentos ou rompê-los." A primeira escolha leva-nos
á liberdade constante, uma vida de siceridade e opções . A segunda escolha,
inevitavelmente, leva-nos a uma escravidão dentro de nós mesmos. A primeira
resulta em crescimento espiritual, a segunda, em amargura. PERDÃO É CURA.

II. OFENSAS COMUNS NA FAMÍLIA:

A. Papéis não assumidos.


Maridos - liderança em amor, disciplina dos filhos, direção espiritual, sustento do
lar.
Esposas - submissão e respeito, cuidado da casa, apoio e estímulo para o marido,
orientação aos filhos.
Filhos - honra e obediência aos pais.
Pais - orientação e disciplina firme, amorosa e coerente, amizade, suprimento
emocional, material e espiritual.

B. Negligência às necessidades básicas.


Dos maridos - respeito, realização sexual.
Das esposas - carinho, proteção, atenção e amizade.
Dos filhos - atenção, tempo, amizade.
Dos pais - obediência, boa conduta.

C. Falhas pessoais:
1. Esquecimentos. (datas, promessas, etc)
2. Egoísmo.
3. Ira.
4. Agressões (físicas, verbais)
5. Infidelidade (quebra dos votos conjugais - quais?)

III. O QUE É O PERDÃO?

A. O perdão não é basicamente uma emoção mas uma decisão! É um ato de


minha vontade, não de minhas emoções. (Cl 3.13)

B. O perdão é a decisão de não levantar mais a ofensa perante três pessoas :


Deus, os outros (incusive o ofensor), e eu mesmo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 114


C. Perdão é diferente de absolvição. Absolvição relaciona-se com as
consequências da ofensa, enquanto perdão ralaciona-se com a nossa atitude
(reação emocional) para com a ofensa e para com o ofensor.

D. Perdão é portanto uma questão de obediência a uma ordem do Senhor (Ef


4.32; Lc 17.3-10)

E. Perdão é unilateral; ele não depende dos "méritos" do ofensor. (Ilustr. Coren
TenBoom e o carrasco nazista.

F. Não há limite para se perdoar (Mt 18.21,21)

IV. ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE O PERDÃO:

A. Perdão é uma reação positiva para com a ofensa, ao invéz de uma reação
negativa para com o ofensor. Ofensas são oportunidades para ou perdoar ou ficar
amargurado. Uma reação positiva significa olhar aquela ofensa como
oportunidade para crescer na vida e/ou para refletir as qualidades de Cristo para
com o ofensor.

B. Ao perdoar podemos ver o ofensor como instrumento de Deus em nossa vida.


(Gn 50.15-21).

C. O perdão significa cooperar com Deus na vida do ofensor.

D. Ao perdoar reconhecemos o direito que só Deus tem de julgar. (Rm 12.19).

V. CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE PERDÃO:

A. Consequências Físicas: amargura prolongada causa alguns efeitos físicos tais


como úlceras, pressão alta, descargas de adrenalina (por causa da associação
com a ira) e outras complicações.

B. Consequências Emocionais: depressão é a maior consequência. Uma


amargurar prolongada pode gerar um foco emocional em nossa mente que tira de
nós uma grande dose de energia por causa de força que precisamos para manter
nossas "broncas" contra aqueles que nos ofenderam.

C. Consequências Espirituais: nosso relacionamento com Deus é sensivelmente


prejudicado, visto que estamos em desobediência à Sua Palavra. (Ef 4.31, Mt
18.22,35)
Tudo isso aparecerá inevitavelmente no contexto familiar.

VI. COMO PERDOAR:

A. Decida perdoar.
Primeiro vem a obediência e depois o sentimento.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 115


B. O perdão pode implicar em confrontação. (Mt 18.15)

C. Motive-se no exemplo de Cristo. (Cl 3.13)


Dependa da Sua Graça. (Rapaz crente que perdeu a esposa e o filho baleados e
um assalto ao Banco) - Fp 4.13

D. Busque o bem do ofensor (Rm 12.20). Isso significa, no mínimo, oração, mas
pode significar muito mais.

E. Faça um compromisso com Deus de jamais levantar a(s) ofensa(s) perante Ele,
perante os outros (inclusive o ofensor), e perante você mesmo.

CONCLUSÃO:
Desafio ao perdão!

Parte 27.
DIA DO DESCASO

"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele".

"Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico. Entrai pelas
suas portas com ação de graças, e em seus átrios com louvor; dai-lhe graças e
bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom; a sua benignidade dura para
sempre, e a sua fidelidade de geração em geração".

"O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha
honra? E se eu sou amo, onde está o temor de mim? Diz o Senhor dos exércitos a
vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós
desprezado o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em
que te havemos profanado?"
(Sl 118.24; 100.2,4,5; Ml 1.6,7a)

Não houve erro de digitação no título deste estudo, que talvez quisesse dizer "Dia
do descanso". Antes que se coloque a culpa em nossa eficiente secretária,
queremos esclarecer que o título é proposital. É "Dia do descaso" mesmo! É a
ênfase no que esse dia separado, especial, está se tornando no meio do povo de
Deus. A bem da verdade, o problema não é novo. Isaías, 700 anos a. C. fazia uma
denúncia a esse respeito. Dizia ele:

"Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua
boca e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu
coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens,
aprendidos de cor" (29.13).

E o escritor da carta aos Hebreus, nos dias apostólicos, apelava aos crentes:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 116


"Retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que
fez a promessa; e consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao
amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação, como é costume
de alguns" (10.23-25a).

Mas é lamentável que a igreja como um corpo não cresça coesa, equilibrada, bem
ajustada como uma coluna firme e inabalável porque nem todos freqüentam as
suas oportunidades de serviço, de doutrinamento, de inspiração, de louvor, de
ministério em comum. E isso significa que "Dia do descaso" tornou-se o domingo,
o Dia do Senhor, em lugar do abençoado " Dia do descanso", do repouso e da
santificação.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A história do descanso semanal, aliás, é muito antiga. É até mais antiga que o que
está apresentado na lei de Moisés. Os acadianos, povo que habitou a antiga
Acádia1, antes, até, dos babilônios, tinham apenas um dia de descanso no mês, e
a ele chamavam Shabattu (ou shapattu), que significava "repouso." O repouso
mensal se dava no dia da lua nova, e a partir dele eram contados certos dias
chamados de "dias maus", assinalados por uma série de tabus e proibições.

Alguns séculos mais tarde, os babilônios2 aconselhavam o seu governante, no dia


do descanso, a não comer carne cozida em carvão, nem pão cozido debaixo da
cinza, visto que cavavam um buraco no chão onde colocavam a massa e cobriam
com carvão e cinza.

Os próprios teólogos judeus da época de Jesus criaram normas, leis, regras tantas
que tornaram o dia de descanso um dia de cansaço, com um fardo de inúmeras
proibições. Era proibido o transporte de cargas,3 proibida a compra e venda de
mercadorias,4 proibidas viagens,5 chegando a elaborar quanto se podia caminhar
no dia de descanso, no Sábado: 2.000 côvados, ou seja, aproximadamente 2.000
passos6, era proibida a preparação de alimentos,7 atendimento médico só em
caso de morte (daí a oposição a Jesus quando Ele curava no dia do repouso.8 O
Livro dos Jubileus (1.8-12), literatura extracanônica, menciona que relações
conjugais eram proibidas no dia do descanso, e os essênios (seita que existiu
paralelamente à pregação de Jesus Cristo) até se recusavam a mudar um objeto
do seu lugar, registrando Josefo que lhes era proibido no dia do descanso até ir ao
sanitário?!

A Mishná, parte do Talmude, tem uma lista de 39 proibições nascidas de uma


casuística tão sutil que transformavam o sagrado repouso num peso insuportável.

Que diferença da alegria, da felicidade, da liberdade de se viver na Nova Aliança!


Jesus nos libertou disso quando disse,

"O Sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do Sábado" (
Mc 2,27).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 117


A palavra "sábado"9 significa "repouso, descanso, cessação, parada", e no
hebraico atual, "greve". Sabendo que sábado quer dizer "descanso", vamos reler o
versículo:

"O dia de descanso foi feito por causa do ser humano, e não o ser humano por
causa do dia de descanso".

Ou, ainda:

"A instituição (do repouso) foi inaugurada por causa da pessoa, e não ao contrário,
a pessoa por causa da instituição (do repouso)".

Sim; Jesus nos libertou do peso, do fardo, das cargas tremendas e medonhas,
quando disse, em Mateus 11.28,29 , texto tão amado do Povo de Deus,

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para as vossas almas".

Sim; "e achareis o Sábado, repouso, o shabbath para as vossas almas [em mim]",
ou seja, encontraremos esse shabbath no próprio Senhor Jesus Cristo.

Assim, estamos falando do dia que recebe o Seu Nome: O Dia do Senhor, em
latim Dies Dominica, o Domingo.

O DIA DA RESSURREIÇÃO

Observem que enquanto os outros dias da semana são numerados, dois recebem
tratamento diferenciado: têm nome específico. Um deles é o sétimo dia da
semana, o dia semanal do sábado, como lembrança da fé do Antigo Testamento,
e como memorial da criação da matéria. O outro é o primeiro dia da semana, o
domingo, o Dia do Senhor, como memorial da nova criação em Cristo, e específico
da fé da Nova Aliança.

No Novo Testamento, as referências ao Sábado estão sempre em conexão aos


judeus, tendo à frente o partido dos fariseus, ou em relação ao templo e às
sinagogas. Mas com respeito ao Dia do Senhor, ao Domingo, ao primeiro dia da
semana, as referências são sempre em relação a Jesus Cristo, ao Espírito Santo,
à igreja e/ou aos discípulos. Recordemo-nos de que o fato culminante da vida e da
obra de Cristo Jesus é a ressurreição. Por ela, somos justificados, diz a Palavra de
Deus10, somos regenerados11, e alcançamos uma boa consciência para com o
Pai12. Sem a ressurreição, porém, somos uns iludidos (que estamos fazendo
aqui?), a nossa fé é vazia, e continuamos em nossos pecados, os que morreram
em Cristo estão perdidos, e somos os mais infelizes, os mais miseráveis, os mais
desgraçados de todos os homens!13, E isso tudo se a ressurreição não tivesse
acontecido!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 118


Pois Cristo escolheu exatamente o primeiro dia da semana para ser o dia da Sua
gloriosa ressurreição, e para coroar a obra da salvação, e para vencer a morte, e
nos garantir a imortalidade, e o acesso pleno e livre à graça de Deus Pai! Jesus
ressuscitou no primeiro dia da semana, e durante esse abençoado dia de vitória e
santa alegria, aparece o Mestre ressuscitado a vários crentes, e aos discípulos14.
Passa-se a semana (inclusive o Sábado), e no primeiro dia da semana, Jesus
retorna aos discípulos15, e sela com Sua presença as reuniões do grupo primeiro
de Sua militante Igreja. E, após quarenta dias entre os discípulos aqui na terra,
num primeiro dia da semana, o Espírito Santo desce e batiza a Sua Igreja de
modo maravilhoso e soberano!

É essa é, amados, a aspiração maior, o anseio supremo dos crentes: sentir nos
cultos, nas suas próprias reuniões, a presença de Jesus Cristo, nosso Salvador! É
o que aconteceu hoje, precisamente agora quando neste primeiro dia da semana,
no Dia do Senhor, "reunimo-nos aqui para glorificar o rei Jesus." Não que o crente
seja mais consagrado no Domingo que em outros dias, não! O crente em Jesus
Cristo que leva a sério a vida no Espírito, não pensa assim. Sabe que a segunda e
a quinta-feiras são tão sagradas e especiais para o seu testemunho quanto o
Domingo.

Mas, há bênção e disciplina da parte do Senhor para quem despreza o dia do


descanso transformando-o em "dia do descaso". E está na Escritura:

"O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha
honra? E se eu sou amo, onde está o temor de mim? Diz o Senhor dos exércitos a
vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós
desprezado o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em
que te havemos profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é
desprezível. Mas seja maldito o enganador que, tendo animal macho no seu
rebanho, o vota, e sacrifica ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande
Rei, diz o Senhor dos exércitos, e o meu nome é temível entre as nações." (Ml
1.6,7,14).

Como, também,

"Agora o Senhor diz: ... honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam
serão desprezados" ( 1Sm 2.30b).

A DESONRA

Pois é; o dia do descanso tem sido vezes sem conta desonrado. A própria Bíblia
Sagrada apresenta essas lamentáveis situações quando nós dessacralizamos o
Dia do Senhor. Exemplos: Quando nos apresentamos ao Senhor com adoração
vazia, com o coração distante, quando não há espírito nem verdade em nosso
louvor. E esse é um requisito básico estabelecido por Jesus Cristo mesmo com
respeito ao louvor e adoração ao Pai. "Não", disse Ele, "Deus é Espírito, e é

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 119


necessário [é obrigatório, é mandatório] que os que o adoram O adorem em
espírito e em verdade"16 ? Mas quando é distante, o lamento dos céus está
também na Escritura,

"Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim".17

Que pelo contrário, possamos dizer como o autor da Carta aos Hebreus:
"Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos
lábios que confessam o seu nome"18.

Há uma Segunda situação em que nós subestimamos o Dia do Senhor. É quando,


em nossa adoração, a doutrina não procede da Palavra de Deus. Quando o que
sai do púlpito, ou o que passamos aos outros na Escola Bíblica Dominical, ou em
outros grupos nossos, o que se ensina nasce da nossa própria mente. E Jesus até
falou sobre isso: "Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos
de homens".19 E Paulo, o apóstolo, escreveu largamente sobre esse problema
dentro da igreja cristã:

"Mas o fim desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma
boa consciência, e de uma fé não fingida; das quais coisas alguns se desviaram, e
se entregaram a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, embora não
entendam nem o que dizem nem o que com tanta confiança afirmam".20

Quando dizemos que adoramos, e nosso peito incha de vaidade, de orgulho e de


presunção. Jesus falou também sobre esse grave problema na Casa do Senhor:

"E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas
sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade
vos digo que já receberam a sua recompensa".21

Assim como,

"Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque eles
desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando. Em
verdade vos digo que já receberam a sua recompensa".22

Também o profeta Isaías se expressou ao dizer,

"Seria esse o jejum que eu escolhi? O dia em que o homem aflija a sua alma?
Consiste, porventura, em inclinar o homem a cabeça como junco, e em estender
debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isso jejum e dia aceitável ao
Senhor?"23

E, também, quando nossa oferta é lançada no altar de qualquer modo. Aliás, é


oferta qualquer dada como se fosse um favor que fazemos ao Senhor:

"Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 120


profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é desprezível. Pois quando
ofereceis em sacrifício um animal cego, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu
governador; terá ele agrado em ti? Ou aceitará ele a tua pessoa? Diz o Senhor
dos exércitos. Agora, pois, suplicai o favor de Deus, para que se compadeça de
nós. Com tal oferta da vossa mão, aceitará ele a vossa pessoa? Diz o Senhor dos
exércitos".24

Igualmente, quando vimos ao culto no Dia do Senhor, apenas para ouvir o


pregador, mantendo, porém, indiferença para com nossos irmãos de fé. Inúmeras
vezes esquecemos de que quem deve falar é a Palavra de Deus, não o pregador.
É a "Sindrome de Ezequiel". Está em Ezequiel 33.31,32 (o Senhor está chamando
a atenção do profeta Ezequiel):

"E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu
povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois com a sua boca
professam muito amor, mas o seu coração vai após o lucro. E eis que tu és para
eles [tu, pregador, falando tão bonito, tão bem] como uma canção de amores [uma
canção romântica que a gente gosta de ouvir], canção de quem tem voz suave
[que solos tão lindos tivemos nesta manhã] e que bem tange ["bem toca"] porque
ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra [vêm apenas ouvir uma boa
música e um bom sermão]."

Aliás, como exigem um bom sermão?! É o ouvir pelo ouvir.

Mas também estamos profanando o Dia do Senhor, quando nos domina a


iniqúidade! Vamos a Isaías 59.2:

"Mas as vossas iniqúidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os


vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça".25

E a ordem do Senhor que vamos encontrar em Levítico 10.3 é,

"Disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado
naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Mas
Arão guardou silêncio".

O extraordinário escritor, A. W. Tozer, ensina que para o cristão há coisas que não
podem ser negociadas. Não podemos negociar a tolerância; não podemos
negociar a caridade; não podemos vender a compreensão e a boa vontade, nem a
paciência, e, menos ainda, a santidade. Sim; a santidade não se negocia, seja a
santidade pessoal, a santidade de nossa família, a santidade da igreja, ou a do dia
do descanso. E falar de santidade do Dia do Senhor, de resguardá-lo, de separá-
lo, de observá-lo, é falar de santidade pessoal, porque, como bem lembrou
alguém: "Somente uma pessoa santa pode observar um dia santo."

SEU SIGNIFICADO

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 121


Há um significado religioso, ético e moral no "dia de descanso", no shabbath. Por
inferência, as lições do dia de descanso são aplicadas ao Dia do Senhor, ao
domingo. É o sinal de aliança entre Deus e o ser humano (Ex 31.12-17). Mas uma
aliança que só tem esse sentido espiritual, ético e moral em Jesus Cristo, ou seja,
sinaliza, pontua e enfatiza uma nova relação nossa com a graça de Deus. [ Sem
isso, pode ser feito um dia de irrevência, de apostasia, um "dia de descaso", em
lugar de um dia de descanso. E, se há uma relação com a graça de Deus, o Dia
do Senhor, o dia de descanso é uma resposta nossa de louvor ao Criador (Is
66.23). Sim, é uma ocasião abençoada de despertamento e encorajadamente a
buscar a glória e a honra de Deus. É, igualmente, uma resposta de gratidão a
Deus, e é por isso que o adorador sai abençoado, e o Senhor é glorificado.

Há outras lições: o dia do descanso lembra que você é um ser humano. Por isso,
Jesus Cristo ensinou que "O dia de descanso foi feito por causa do ser humano, e
não o ser humano por causa dessa instituição" (cf. Mc 2.27). Você precisa parar
por um pouco. Até a terra deve descansar ensina-nos o livro do Êxodo (Ex 23.10,
11; cf. Lv 25.2-7); os animais precisam descansar (Ex 23.12). E não se esqueçam
que esse é o significado da expressão yom shabbath, dia de cessação, dia de
parada, de repouso perfeito.

Não somos, porém, escravos do domingo, não! Ele é o dia da liberdade! É o dia
de Cristo! É o dia do nosso Senhor!

O domingo, o dia do Senhor, o dia do descanso é sinal de uma nova criação. E diz
para nós o seguinte: que fomos lavados (1Co 6.11; Ap 7.14), diz que fomos
perdoados (Rm 4.7; Ef 4.32; 1Jo 2.12), diz que fomos justificados por Deus em
Cristo (Rm 3.24; 8.33; 1Co 6.11); diz o domingo, ainda, que nós recebemos o dom
do Espírito Santo (At 1.8; 19.2: Ef 1.13; 1Ts 4.8), e o dom da vida eterna, e somos
herdeiros legais de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo (Rm 8.17; Gl 3.29; Ef
3.6). Diz, também, que somos membros do Corpo de Cristo (rm 12.5; 1Co 6.15;
12.27), e fazemos parte da Igreja Militante, a Noiva de Cristo (Ef 5.23-27; Ap 21.9;
22.17), e que somos participantes de uma nova humanidade (1Co 15.45-49; Ef
2.15), e somos uma nova criação ( 2Co 5.17, 18; cf. Gl 6.15; Ef 2.10; 4.24). Diz,
ainda, o domingo que, pela fé, nós morremos na cruz com Jesus Cristo (Rm 6. 8,
9), e ressuscitamos com Ele (Rm 6.4; Cl 2.12, 13: 3.1-4).

É por essas rezões, amados, que, como o sétimo dia celebra o fim da criação, o
primeiro dia da semana, o Dia-de-Cristo-Jesus, o Dia do Senhor, o domingo
celebra a nova criação no Filho de Deus! E a base, o fundamento, o alicerce
dessa nova criação é a ressurreição. Por isso, o domingo conserva toda a
sacralidade do sétimo dia, e merece a sua santificação. E, adicionalmente, ainda
tem as riquezas espirituais do evangelho da ressurreição de Jesus Cristo. É
memorial dessa ressurreição (Mt 28. 1, 2, 5, 6). Desde o primeiro "Dia do Senhor"
quando se ouviu esse grito dado pelo anjo do Senhor "O Senhor ressuscitou!" até
hoje, meus irmãos (Mt 28.6; Mc 16.6; Lc 24.6,9); desde a primeira experiência de
culto naquele dia; desde a experiência de ver o Senhor ressuscitado no "Dia do
Senhor" (Jo 20.18) até hoje, que cada domingo traz para nós essa mensagem tão

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 122


plena de esperança: "Não temas; eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui
morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da
morte e do hades." (Ap 1. 17b, 18).

Há uma nota de alegria no culto. O irmão pode chamar a este dia do que quiser:
"Dia da ressurreição", "Dia do Senhor", "domingo", é a mesma coisa! Há uma nota
de vitória, pois Jesus Cristo diz "Eu venci!" (Jo 16.33; cf. Ap 3.21; 5.5), e permite
que também o digamos como bem exclamou o apóstolo Paulo: "Mas em todas
estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou". (Rm 8.37;
cf. 1Jo 2.13,14; 4.4; 5.4,5; Ap 2.11).

O "Dia do Senhor" é uma mensagem de esperança, de pura esperança, de


gloriosa esperança. Sim; porque enquanto o Sábado retroage ao início da vida
cósmica e da vida humana, o domingo dirige o nosso pensamento e a nossa
esperança para a consumação do propósito de Deus para a criação, e que há de
ser realizado nos "novos céus e nova terra" (2Pe 3.13; Ap 21.1, 27; cf. Is 65.17;
66.22). Aliás, o domingo é um tipo desse mesmo céu. Já pensaram nisso? O
domingo é um tipo do céu, do descanso dos santos. Em que outro dia da semana
têm os crentes em Jesus Cristo tanto louvor, e tanta boa música, e tantas orações,
e exortação, e oportunidades de servir com seus bens como no Dia do Senhor?
Por essa razão, o salmista só podia exclamar: "Este é o dia que o Senhor fez;
regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Sl 118.24)

Vamos concluir dizendo que o Dia do Senhor é dia de testemunho. Não é,


portanto, uma questão de formalidade, mas de vitalidade, porque é expressão de
uma fé ativa e viva num Salvador Vivo! É memorial de uma experiência nossa de
crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo. É um monumento à
verdade que é Jesus Cristo!

O domingo é Dia da Palavra, por isso, ainda não me converti à substituição do


Culto dominical pelas Sessões de Negócios como algumas igrejas irmãs o fazem.
Talvez seja o único dia em que a família está toda junta, toda reunida, e que tal
fazer desse "Dia da Palavra" a ocasião da reflexão familiar que vezes tantas se
torna difícil durante a semana?

Olhe, meu irmão, para o sétimo dia da semana como celebração da obra criadora.
Não se deixe iludir por aqueles que pregam o legalismo, não! Mas aprofunde o
seu olhar para o primeiro dia da semana, para hoje, o Dia do Senhor, como
celebração da redenção, da libertação, da liberdade dos filhos de Deus (Gl 4.4-
10). O domingo é um monumento construido no tempo. E, ao usar esta expressão,
aproprio-me do pensamento de um filósofo judeu chamado Abraham J. Heschel, e
é citado pelo rabino, Dr. Henry Sobel, e diz que as civilizações pensavam e
pensam em termos de espaço. Daí as grandes e esplêndidas construções que
elas deixaram. Quem não se recorda de ter lido sobre as "Maravilhas do Mundo
Antigo", entre elas: as pirâmides do Egito, o Colosso de Roder, os jardins
suspensos da Babilônia, o farol de Alexandria. Hoje, mesmo, a Torre Eifell em
Paris, o Big Ben em Londres, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. E aí completa o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 123


filósofo dizendo que assim não procedeu o povo israelita: em vez de levantar uma
construção, um monumento em termos de espaço que poderia ser derrubado
como tantos dos mencionados o foram, eles construiram "monumentos no tempo".
Que expressão linda! "Santuários de tempos", que são as grandes festas
mencionadas na Bíblia: Pessach, Shavnot, Iom Kippur, Sucote, ou seja, a Páscoa,
a Festa das Primícias, o Dia do Perdão, a festa dos Tabernáculos, Outro desses
monumentos é o "dia de descanso", o iom shabbath, e dele devemos aprender o
significado de repouso, de honra, de prazer e de alegria.

Pois bem, você vive e serve os seis dias seguintes ao Dia do Senhor debaixo da
graça, da sombra, e das bênçãos desse rico, significativo e abençoado
monumento à ressurreição que é o domingo. Não faça do "dia do descanso" um
dia qualquer, um dia relaxado, um dia de descaso! Pelo contrário, dignifique, honre
e santifique o Dia do Senhor! Amém!

1 3o milênio a.C.
2 2o ao 1o milênio a. C.
3 Cf. Jr 17.19-27; Jo 5.10.
4 Am 8.5.
5 Is 58.13.
6 Entre 800 e 900 m (cf. Ex 16.29; At 1.12).
7 Ex 35.3; Nm 15.32.
8 cf. Mt 12.9-13; Lc 13.10-17; 14.1-6; Jo 5.1-16; 9.14ss)
9 Hebr., shabbath.
10 Rm 4.25.
11 1Pe 1.3.
12 1Pe 3.21.
13 1Co 15.17-19.
14 Jo 20.19.
15 Jo 20.26.
16 Jo 4.24.
17 Mt 15.8; cf. Is 29.13a.
18 Hb 13.15.
19 Mt 15.9.
20 1Tm 1.5-7; cf. Cl 2.20-23; Tt 1.10-14; 1Tm 6.3-5.
21 Mt 6.5.
22 Mt 6.15.
23 Is 58.5.
24 Ml 1.7-9; cf. Lv 10.1.
25 Cf. 1.13,15,16.

Parte 28.
DISCÍPULOS OU CONSUMIDORES?
O outro lado da herança de Charles G. Finney

A palavra "evangélicos" tem se tomado tão inclusiva que corre o perigo, de se


tornar totalmente vazia de significado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 124


R. C. Sproul

Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter cinco mil
pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter
doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo. Uma decisão entre
muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me à multiplicação dos pães
narrada em João, 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis
proclamar Jesus como rei, mas Ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte,
Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe
que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (Jo 6.26,30). Sua palavra
acerca do pão da vida afugenta quase todos da multidão (Jo 6.60,66), à exceção
dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que Ele é o Salvador, o que
tem as palavras de vida eterna (Jo 6.67-69).

Jesus poderia ter satisfeito as necessidades da multidão e saciado o desejo dela


de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei e teria o povo ao seu lado.
Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos
certos a ter uma vasta multidão que o fazia por motivos errados. Preferiu
discípulos a consumidores.

Síndrome da porta giratória

Infelizmente, parece prevalecer entre os evangélicos em nossos dias uma


mentalidade bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Muitos,
influenciados pela febre de consumir (inclusive coisas supérfluas), que vem
crescendo nas sociedades capitalistas, tem assumido uma postura de
consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo
encontrou a porta da igreja evangélica. Tem entrado com toda a força, e parece
ter vindo para ficar.

Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou


não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as
necessidades individuais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais
respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno do indivíduo, e tudo existe para
satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e
relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades.

Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das


igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de
liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito
com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, físicas e materiais das
pessoas. E, neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à
medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais
felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar freqüentando as
igrejas.

Numa pesquisa recente feita Instituto Gallup nos Estados constatou-se que quatro

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 125


a cada dez americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem
semanalmente, buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas
familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidente muitos estarão em busca de
uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento
de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades
pessoais. De acordo com a revista Newsweek, um em cada cinco americanos
sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica,
esquizofrenia( etc) durante o curso de um ano. Discordo que todas estas coisas
sejam problemas mentais; muita coisa tem a ver com os efeitos do pecado na
consciência. De qualquer forma, os espertos se aproveitam de estatísticas assim.
Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita no ano
passado por Steve Rabey em Christianity Today.

Cada vez mais cresce o Marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com
um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica
através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido
assustadoramente, abandonando por vez seu propósito inicial de difundir o
Evangelho e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro
qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos estados Unidos pertence a
corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram
caches altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for
Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é
servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o
"cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e
especialmente fazelos sentir-se bem.

Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a
síndrome da porta giratória". As igrejas estão repletas de pessoas buscando
sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações, ou
simplesmente diversão e entretenimento evangélicos; muitas delas estão
simplesmente passeando pelas igrejas, como quem passeia pelas lojas de um
shopping center, escolhendo produtos que lhe agradem. Assim, elas escolhem
igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de
satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão, facilmente quanto
entraram. As pessoas escolhem igrejas onde se sintam confortáveis, e se
esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em
Cristo e no amor para com os outros.

Finney e a mentalidade consumista

Ao meu ver, um dos mais decisivos fatores para o surgimento da mentalidade


consumista na igreja evangélica é a influência da teologia e dos métodos de
Charles G. Finney. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização
ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a
teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney tem, moldado o
moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Bill Bright e de Billy Graham; é o
celebrado campeão de Keith Green, do "movimento de sinais e prodígios", do

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 126


movimento neopentecostal e do movimento de crescimento da igreja.

Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento


teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Crista,
estimado e venerado como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto
que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney, sem qualquer
crítica à sua teologia e à sua metodologia. Meu alvo, neste artigo, não é escrever
extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que
existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos
evangélicos hoje.

Em sua obra de teologia sistemática (Sistematic Teology [Bethany, 1976]), escrita


no final de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney
abraça ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição
moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus
pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão
perde sua justificação (e consequentemente, a salvação) toda vez que peca (p.
46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação
inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de
aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais
surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de
alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de
Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega
ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita
a idéia da justificação com base na obra de Cristo cm lugar dos pecadores (pp.
320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo
nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana.
Para ele, "regeneração consiste em o pecador mudar sua escolha última, sua
intenção e suas preferências; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a
benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao
morrer na cruz (p. 224).

Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande


Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, trocou a ênfase que
havia à pregação doutrinária pela ênfase em fazer com que as pessoas
"tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua
Systematic Theology, ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento
não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É
meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos."

Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro
antigo, defendido por Pelágio no Século IV, que foi condenado como herético pela
Igreja. Ele tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo
semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos maiores
responsáveis pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas.

Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 127


natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a
doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo
nascimento e produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e o
avivamento é resultado de campanhas bem planejadas com os métodos
conceitos.

Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da


operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de
pecado, para então guiá-los a Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos
pecadores por meios psicológicos, com receio de produzir falsas conversões.
Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que
acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões
espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de
reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os
pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isso, introduziu
novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a
prática moderna de se fazer apelos por uma decisão imediata ao final da
mensagem), o uso de quaisquer medidas que provocassem um estado emocional
propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e
denúncias terríveis de pecado e do juízo.

O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são


tremendos. Seus sucessores têm perpetuado esses métodos e mantido as
características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade
humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e
a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às
grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela
teologia e pelos métodos de Finney, têm adotado táticas e práticas em que as
pessoas são vistas como clientes, promovendo a mentalidade consumista.

O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a uma multidão de


consumidores. É preciso reconhecer que as tendências modernas em alguns
quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais
discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que
promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e
pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do
homem, poderá melhorar esse estado de coisas.

Parte 29.
"EM ESPÍRITO E EM VERDADE"

Texto básico: João 4.5-24


A tarefa prioritária da Igreja de Jesus Cristo é celebrar o Seu Nome, adorá-Lo,
cultuá-Lo. O próprio Senhor Jesus Cristo o afirmou em João 4.23,24:

"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai


em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 128


é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade".

Isso significa que tudo o mais na Igreja de Cristo decorre do culto. Quem põe o
culto em segundo lugar na vida já colocou o evangelismo, a ação social, a Escola
Bíblica em quarto ou quinto lugar em sua vida. Ryle bem que afirmou que "O
melhor culto público é aquele que produz o melhor cristianismo particular". Com
absoluta certeza, a adoração é uma fonte de fortalecimento do espírito e de
alimentação da alma. Quando lembramos o que Jesus Cristo fez por nós, isso nos
traz ao culto com o espírito alegre, renovado, reformado, completamente aberto a
receber todas as bênçãos que o esse ato nos vai trazer. É como diz a Bíblia
Sagrada na exclamação de João Batista quando Jesus passava: "Eis o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo" , ou seja, "que tira O NOSSO PECADO!!!"

Quanta seriedade nessa afirmação! Quanta seriedade na afirmação do apóstolo


Paulo ao dizer "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por
nós" ? Coloque o seu nome aí e veja como a declaração fica mais impressionante
do que já é:

CRISTO SE FEZ MALDIÇÃO POR ( seu nome )?!

É o que estamos dizendo com o apóstolo Paulo. Por essa razão, o culto deve se
tornar uma esperança ativa em nossa experiência. O Deus que falou aos profetas
também nos fala hoje; o Cristo que ministrou aos apóstolos também nos ministra
hoje; o mesmo Deus que realizou sinais no passado realiza-os hoje; o Espírito
Santo que agiu e ungiu, unge e age nos dias atuais. Como posso achar que o
culto tem coisa demais ou coisa de menos, que tem música demais, ou sermão
demais, ou o sermão é curto demais, ou demora demais quando penso no que
Cristo fez por mim? Um dos autores preferidos do povo de Deus que o lê com
muito entusiasmo é o falecido Dr. A. W. Tozer, que disse com imensa propriedade:

"Posso dizer com toda a segurança e na autoridade de tudo o que é revelado na


palavra de Deus, que qualquer pessoa que esteja enfadada (com o culto) e dele
desligada não está preparada para ir para o céu".

Que coisa séria disse ele! E afirma ter a autoridade da palavra de Deus. Por isso,
é preciso conferir. A Escritura apresenta a visão do trono da majestade divina:

"Os quatro seres viventes tinham, cada um, seis asas, e ao redor e por dentro
estavam cheios de olhos; e não têm descanso nem de dia nem de noite, dizendo:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, e que é,
e que há de vir" .

É bom saber disso porque nós estaremos na companhia deles cantando de noite e
de dia. Como é que eu vou me enfadar com uma hora e meia de culto aqui na
Igreja, se vou ter toda a eternidade cantando e vendo a face do Senhor?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 129


Foi para cultuar e adorar a Deus que fomos trazidos à fé e à salvação. Deus nos
convoca para a adoração. No entanto, em inúmeros casos, apenas nos divertimos.
Fomos chamados para cultuar, mas fazemos na Igreja paródia de teatro, de circo,
de programa de auditório; somos espectadores, quantas vezes, mas não
cultuantes. E isso é refletido na linguagem que muita gente usa: "Vou assistir o
culto lá na Igreja Tal ou Qual!" Erra duas vezes: primeiro porque disse que vinha
assistir o culto, e segundo porque errou no português, pois queria dizer assistir ao
culto. Ninguém vem, numa igreja verdadeiramente evangélica, para assistir ao
culto, e sim para cultuar: somos parte de um grupo de cultuantes, e não
espectadores de um pregador ou de um coro ou de um solista, ou, ainda,
cantamos para fazer de conta naquele momento quando cantamos os hinos e
hinetos. Cante, irmão! Aliás, verificamos que no domingo de manhã, Deus faz
alguns milagres incríveis em algumas igrejas. Um desses é cantar de boca
fechada. Não sei, não, mas temos ouvido o povo cantando, mas quando olhamos
tem muita gente de boca fechada?! Cante! Mesmo que você pense que é
desafinado, cante! Sabe por quê? Porque para Deus você é um Pavarotti, uma
Jessie Norman, uma Kiri Te Kanawa; Deus vê em você um Plácido Domingo!

Qual o objetivo do culto? William Temple apresentou uma definição de culto. É


essa definição que o Senhor nos fez desenvolver. Ele salientou três propósitos:

a adoração é para despertar a consciência da santidade de Deus;


abrir o coração ao amor de Deus,
e dedicar a vontade ao propósito de Deus.

DESPERTAR A CONSCIÊNCIA
DA SANTIDADE DE DEUS

Este é o primeiro propósito do culto. Um aspecto do culto é encontrado em


Romanos 12.1:

"Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos


corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional".

Falemos, então, do culto racional. Temos primeiramente Isaías 6 que é a história


de um homem que ficou profundamente impressionado, tremendamente
aterrorizado com a manifestação da presença, da glória, da majestade, da
grandeza e da santidade de Deus. Isaías entrara no Templo, e não tinha idéia de
que iria encontrar aquela cena.. Sabia que o Templo era a Casa de Deus, mas
não tinha idéia de que teria uma visão. Encontrou muita gente conhecida quando
chegou no Templo ("Tudo bem, Fulano?" "Como vai você, Sicrano?"), falou com
as mulheres no Pátio das Mulheres (elas não podiam entrar no santuário), era um
dia comum, uma manhã comum, um momento normal na vida Isaías indo ao
Templo. E, nesse dia normal, ele teve uma visão aterrorizante. Estou usando essa
palavra porque a sua exclamação quando viu o Senhor ("Ai de mim!") é mais forte
do que a expressão idêntica em nossa língua. Na língua hebraica, é a expressão

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 130


de uma pessoa que está vendo a morte, diante de um desastre! Mas não havia
qualquer desastre: era a presença de Deus. Sabia, no entanto, que ninguém podia
ver a Deus, pois quem O vê morre! Essa era a doutrina encontrada na Antiga
Aliança: viu a Deus, morreu.. Mas ele pensou em termos profundamente racionais,
utilizou conceitos concretos do campo da lógica, da razão, porque teve um
violento contraste entre Deus, o Criador, e ele Isaías, o ser humano. E a própria
linguagem de Isaías sofreu para expressar a revelação de poucos minutos da
parte de Deus. Ele viu os serafins voando de um lado para o outro, ao redor do
trono, exclamando no seu louvor:

"SANTO, SANTO, SANTO


É O SENHOR DOS EXÉRCITOS!"

Muita gente não se sente à vontade com os atributos de Deus. Talvez por causa
de seus próprios defeitos. E se assim é, que tipo de culto podem essas pessoas
oferecer a Deus? O culto de Caim? Sabem qual é? É o culto que não é das
primícias, o culto realizado de qualquer modo. Voltaremos a falar dele. Será o
culto dos samaritanos, o culto dividido entre Betel e Dã, mas não em Jerusalém?
Será o culto do fogo estranho, não aceito pelo Senhor?

Diante de Deus como estava Isaías, não havia lugar para brincadeiras, nem para
conversinhas (como se percebe em tantas reuniões), não havia lugar para se fingir
que cultua, porque "o nosso Deus é um fogo consumidor". E Jó colocou em seus
lábios essa expressão, tendo sido registrada do seguinte modo: "Com os ouvidos
eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Pelo que me abomino, e
me arrependo no pó e na cinza" . Como cantamos hinos que nem temos coragem
de praticar!

"Vem agora consumir [queremos mesmo que isso aconteça?]


Tudo quanto, ó Salvador,
Quer, altivo, resistir
Ao teu brando e doce amor!"
"Quero ser um vaso de bênção..." [mas há tanto a deixar...]

Outra coisa que aprendemos na Escritura é que Deus é único. A expressão de fé


do judeu até hoje é

"Sch’ma Israel, Adonai Eloheinu, Adonai ehad!",


"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um!" ("O Senhor nosso Deus é o
único Senhor!" ). Não há outro além dEle.

Aprendemos, ainda, na palavra de Deus que Ele é pleno de graça, por isso Ele
nos salva e concede perdão e a salvação em Jesus Cristo. Por todas essas
razões, à luz de tudo o que foi dito até agora, as perguntas que se seguem não
podem ser consideradas impertinentes. A primeira delas é como eu cultuo? Como
você cultua? Que é que me leva a cultuar a Deus? Que o leva a cultuar, meu
irmão? Quais os resultados do culto na minha vida? E na sua vida? Não

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 131


esqueçamos que a verdadeira adoração é sempre medida pelo modo como o
coração responde a Deus. O verdadeiro culto, então, é medido pela transformação
de quem cultua pelo fato de estar na presença de Deus. Mede-se então por uma
nova visão de Deus, por uma compreensão que torna a caminhada diária, as
dores de cada dia, a aventura do dia a dia mais profunda com Deus na minha
vida, com Cristo no meu coração, com o Espírito Santo segurando a minha mão.
O verdadeiro culto incomoda a nossa vida e o modo como temos vivido. Talvez a
expressão-chave para este aspecto do culto, da adoração seja "Louvor
Consciente". E um louvor consciente, um louvor racional, ou como Paulo colocou,
um "culto racional" dá poder à vida porque nele descobrimos quem somos, e,
sobretudo, de Quem somos. Desenvolvemos o senso de identidade como filhos de
Deus, e deixamos que a angústia e o ressentimento vão embora.

Um culto racional edifica a vida em comum, a koinonia. E temos, assim, um


sentido de lugar, um sentido de pertencimento. Eu pertenço a este lugar, eu sou
pertinente neste lugar. Essa é a razão porque quando nos dirigimos aos irmãos
que nos visitam, dizemos: "Se o irmão não tem em Salvador o seu lar espiritual,
procure fazer desta igreja a sua casa", porque queremos que o irmão ou o amigo
que veio de fora, de outra cidade, do interior ou de outro estado, tenha em nossa
cidade o sentido de pertencer a algo, a alguém, a um grupo, a uma família que
esta abençoada comunidade, a koinonia de Deus, e fazer parte desta comunhão
do Espírito Santo, e aí eu sinto que esta Igreja é a família de Deus, e a minha
própria família.

O culto racional, o louvor consciente dá significado à vida. Descobrimos o que é


realmente importante, há um senso de valor. Passamos a valorizar as coisas, a
apreciar as coisas (apreciar é dar preço às coisas, quanto mais preço eu dou,
mais valor elas têm para mim). Outro aspecto do culto é

ABRIR O CORAÇÃO AO AMOR DE DEUS

Vamos falar do culto em espírito. Jesus falou que "os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade" .

O ensino do Novo Testamento é que a Igreja é uma casa, é um templo espiritual


construído para a glória de Deus e para a Sua adoração. E sabem que é
precisamente isso o que Pedro diz na sua primeira Carta? "Vós também, quais
pedras vivas, sois edificados como casa espiritual" . Somos uma casa espiritual,
um templo para a glória de Deus. E diz também este texto que somos "sacerdócio
santo" para oferecer sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo. Sim; a Igreja é uma comunidade de adoração. E diz, ainda, o Novo
Testamento que Deus resolveu fazer de rebeldes obstinados, adoradores,
planejou restaurar o lugar do culto na vida desses rebeldes arrependidos, desses
pecadores salvos que somos nós. Isso implica no fato de que somente anjos
caídos não entendem o sentido do culto; somente anjos decaídos não louvam a
Deus. Os santos anjos juntamente com os santos remidos louvam ao Senhor. É o
nosso dever, é o nosso trabalho, é a nossa missão.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 132


Que falta em nossos dias em relação a essa reverência e temor a Deus? O que
anda acontecendo em muitas igrejas evangélicas é mais show do que
profundidade na palavra. Mas há quem prefira o raso de uma religião infantil à
profundidade do culto racional, do culto em espírito e do culto em verdade. Por
esse motivo, quando o crente está com a sua vida apagada e cheia de
desobediência, e de rebeldia e de pecado, o louvor não sai. Ele não sabe louvar!
Ele pode fazer barulho, ruído, exibição, mas não faz adoração! Não é culto em
verdade, menos ainda em espírito, e muito menos culto racional.

Pelo Novo Testamento verificamos que o culto é uma celebração. É uma


celebração da ressurreição de Jesus Cristo; é uma celebração da salvação; é uma
celebração da vida, e uma celebração dos atos de Deus. E, de fato, a adoração é
um diálogo entre o ser humano que cultua, e Deus, o Criador, que é cultuado.
Vamos a Gênesis 28, e nos versos 10 em diante encontramos a narrativa da
escada de Jacó que é uma metáfora dessa conversa a dois. Realmente, quando
cultuamos estamos levantando como que uma escada de Jacó. Só que vai ser a
"escada de Antônio", a "escada de José", a "escada de Rosa Maria", a escada de
cada um de nós, porque nessa conversa a dois o louvor nosso sobe, os anjos vão
levando a nossa adoração, o nosso reconhecimento, a nossa gratidão; e, nesse
diálogo, Deus fala conosco, e os anjos trazem a bênção. É essa bênção do culto
que procuramos, é nela que vivemos, é com essa bênção que saímos quando as
portas se fecham e já tocou a última nota do prelúdio porque o culto nos
acompanha.

E por falar em tempo, deve ele ser visto como algo sagrado, e como veículo de
adoração. Há duas palavrinhas que vão nos ajudar nessa idéia de tempo. Para
nós tempo é tempo, só temos uma palavra para conceituar isso, mas quando
vamos à Bíblia, descobrimos que os gregos tinham duas palavras para dizer
"tempo": chronos e kairos. Ambas querem dizer basicamente a mesma coisa, mas
os conceitos são diferentes. A que tempo nos referimos quando usamos a palavra
kairos, e que tempo quer dizer a palavra chronos? Quando dizemos cronologia,
estamos falando de chronos, o tempo do relógio, o tempo do minuto a minuto,
hora a hora, amanhã, depois de amanhã, semana que vem, ano vindouro, dia
após dia. É chronos, o tempo do relógio. Kairos, porém, é o tempo que marca uma
crise, um ponto de retorno, seja na história da humanidade, ou seja na nossa
história pessoal. E temos diversos kairos na nossa vida. Vamos pensar na
chamada Semana Santa: quinta-feira de Trevas, sexta-feira da Paixão, sábado de
Aleluia e domingo de Páscoa. Isso é chronos, é o dia a dia; mas quando falamos
daquele momento do Calvário, e, especialmente da ressurreição de Jesus Cristo,
estamos falando do kairos, ponto marcante da história. E tão marcante que a
história se dividiu em antes e depois de Jesus Cristo. Kairos, momento de decisão,
como foi o acontecimento do Calvário, como foi a vitória na tumba, esse momento
de vitória. Por isso, nós confiamos que o centro do tempo, o centro da história é
Jesus Cristo, como diz a palavra de Deus:

"o qual (Jesus) é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 133


porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades;
tudo foi criado por ele e para ele, Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem
todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o
primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque
aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito
a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas
as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus" .

Isso é kairos! E por essa razão não existe Dia das Mães, nem Dia dos Pais, nem
Sete de Setembro que tenha a alegria, o brilho, a glória do Dia do Senhor! Porque
o Dia do Senhor há de ser celebrado "em espírito"! O culto celebra Jesus Cristo;
não celebra o ser humano que nós somos; o culto não celebra nossas dores;
nossas emoções, também não! Mas em Jesus Cristo o ser humano é celebrado
porque Cristo "se fez carne e habitou entre nós" . Celebra o ser humano porque
ele é imagem e semelhança de Deus. Em Cristo, atendemos as nossas dores e
necessidades porque "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as
nossas doenças". Diante de Cristo, depomos as nossas emoções e a nossa razão.
Esse é o motivo porque a palavra-chave para o "culto em espírito" é gratidão.
Deste modo, chegamos à terceira das qualidades do culto:

DEDICAR A VONTADE AO PROPÓSITO DE DEUS

Estamos falando do "culto em verdade", e a palavra-chave para este aspecto é


consagração. Já dissemos anteriormente que há muito tipo de culto que Deus não
aceita. Deus não aceita o "culto de Caim". Em Gênesis 4, os irmãos Caim e Abel
levaram a sua oferta a Deus. Ali está dito que

"trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura atentou o Senhor para Abel e
para a sua oferta, mas para Caim e para sua oferta não atentou".

Por que Deus aceitou a adoração que Abel trouxe, e não aceitou a de Caim?
Porque Abel trouxe das primícias, das primeiras ovelhas que nasceram ele
entregou ao Senhor. Caim, não; ele trouxe qualquer oferta ("trouxe Caim do fruto
da terra", mas não menciona ter sido das primícias). É como muita gente faz, e
isso pontua alguns problemas no oferecimento do culto, como a idéia equivocada
de que Deus é diferente do que a Bíblia diz que Ele realmente é. "A Bíblia diz que
Ele é Santo, mas não acho que seja assim tão santo, não; a Bíblia diz que Deus é
Único, e, no entanto, eu resolvo dividir sua adoração com outros deuses; a Bíblia
diz que Deus é Digno, mas eu acho que há outras coisas que têm tanta dignidade
quanto Ele. Isso tem muito a ver com o Seu caráter: Ele é Santo; e não podemos
brincar com o fato de que nós não somos santos, a não ser que Ele nos dê essa
santidade.

Outro problema no "culto de Caim" é o engano de pensar que a pessoa mantém


automaticamente um relacionamento com Deus quando de fato não o mantém.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 134


Você precisa trabalhar o seu relacionamento com Deus. Não é o fato de que um
dia você foi salvo por Jesus Cristo, e por isso, não precisa fazer coisa alguma
mais porque está tendo automaticamente comunhão com Deus. Você não está
tendo, não, se não mantiver essa comunhão. "Mas eu nasci numa família cristã,
não preciso fazer mais nada porque sou membro dessa família..." É pura ilusão,
você precisa primeiramente nascer de novo e manter comunhão com o Pai.

O terceiro problema no "culto de Caim " é o fato de que ele e muita gente tem
presumido que o pecado não é coisa séria, dá para "tirar de letra", como se diz por
aí. "Eu peco agora, mas peço perdão a Deus e fica tudo resolvido". Diz a Bíblia
que aquele que é salvo não peca costumeiramente. Pode até acontecer de pecar,
mas não é hábito do crente em Jesus Cristo viver no pecado.

Outro tipo de culto que Deus não aceita é o "culto dos samaritanos". O
samaritanismo está em 1Reis 12. É preciso explicar: com Saul o reino de Israel
era um só; com Davi era um só, o mesmo acontecendo com Salomão. Quando
este faleceu, o reino foi dividido, e as tribos do Norte formaram um reino sob o
governo de Jeroboão, denominado reino de Efraim, de Samaria ou de Israel. O
reino do Sul foi formado por apenas duas tribos, que ficaram com o filho de
Salomão, Roboão. Jeroboão, no reino do Norte, decidiu que ninguém precisaria ir
a Jerusalém, onde estava o Templo, para cultuar. Em vez de cultuar no monte
Sião, cultuariam no monte Gerizim. Jesus, na conversa com a samaritana, foi
muito mais além do culto em Jerusalém ou no monte Gerizim, pois declarou que o
Pai Celeste busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Jeroboão
havia ordenado a construção de dois santuários, em Dã e em Betel. Quem
morasse perto de Dã, cultuaria naquele santuário, o mesmo acontecendo com
quem residisse perto de Betel. Nos santuários, colocara as estátuas de dois
bezerros como aquele do deserto referido em Êxodo 32. Esse é o culto que Deus
não aceita porque o samaritanismo é a prática de escolher aquilo de que se gosta
e de que não se gosta. Por exemplo, "eu não gosto da parte tal do culto; mas
gosto desta outra; então, só vou chegar depois". Ou, então, "O pastor hoje foi
longe demais; não devia ter falado daquele jeito"; "Eu não gosto deste ou daquele
hino; não gosto deste hinário novo, prefiro o antigo; não gosto do hinário antigo, só
canto do novo". Isso é samaritanismo.

Ainda outra qualidade de culto que Deus não aceita é o "culto do fogo estranho",
história que está em Levítico 10.1, 2. O altar deveria ser aceso com fogo sagrado,
mas Nadabe e Abiú, sacerdotes filhos de Arão, trouxeram um fogo não autorizado,
mas era fogo com coisas estranhas. E quando nós trazemos coisas estranhas
para o culto do Senhor , Deus não aceita. Isso anda acontecendo em nossos
arraiais com tanta novidade acontecendo nos cultos. É história de sopro: o pastor
sopra e a pessoa cai no chão. Pergunto: para quê? Em que isso alimenta
espiritualmente? Outros falam em derrubar com o paletó?! Joga o paletó na
"vítima" e ela cai no chão. E daí? Para onde leva isso? Isso é irracional, e se não
está na Escritura é fogo estranho! E isso confunde, prejudica e enfraquece a fé. E
de quando em vez aparece uma novidade nas igrejas nossas, e isso traz o
descrédito do evangelho.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 135


O culto racional, o culto em espírito, o culto em verdade se centraliza na Palavra e
na Mesa, pois assim acontecia na época apostólica. Vamos a Atos 2.42,46,47:

"e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas


orações. ...E perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão
em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo
na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam
sendo salvos" .

Que programa de trabalho extraordinário! Isso acontecia porque o culto estava


centralizado na Palavra e na Mesa do Senhor. A palavra, portanto, a profecia, a
proclamação é chamada não só de "doutrina dos apóstolos". como foi dito acima,
mas também de "forma de doutrina", "tradições ", "palavra da vida" "palavra da
verdade, "palavra da fé e da boa doutrina", "modelo das sãs palavras", e ficamos
impressionados com o sem número de passagens que acentuam a importância da
palavra de Deus no culto! Como Moisés que leu a palavra de Deus para o povo, e
como o salmista, e como Josias, e tantos outros! E que alto significado tem a
Bíblia no culto, pois é registro da aliança de Deus conosco, aliança que no culto é
renovada.

Só pode adorar a Deus em espírito e em verdade quem nasceu do Espírito. Só


quem anda com Deus pode render-Lhe culto em espírito e em verdade, pois
adorar no sábado ou no domingo, e viver na segunda, terça, quarta, quinta e sexta
como se Deus não existisse, é falta de respeito ao Criador, é pecado. Só um
coração regenerado, porém, pode cantar um novo cântico. E vemos que a
adoração em espírito e em verdade exige preparo: mente preparada, espírito
preparado, corpo preparado, descansado. A adoração em espírito e em verdade
leva em conta a nossa pequenez e a grandeza de Deus. A adoração racional,
espiritual e verdadeira é aceita por Deus. Na parábola do fariseu e do publicano, o
primeiro se enfatuava e dizia: "Glória a Deus que não sou como esse publicano,
como esses pecadores, como as outras pessoas"; o publicano apenas dizia: "Tem
misericórdia de mim, Senhor, porque eu sou um pecador". Assim é: o primeiro foi
um culto que não passou do telhado; o segundo atingiu o trono da graça de Deus.
O publicano foi ouvido; o fariseu, rejeitado.

O ato de cultuar sem adorar de verdade é uma experiência de hipocrisia.


Imaginemos que naquela experiência de Isaías, quando os serafins começaram a
cantar: "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra está cheia da sua
glória" , um deles dissesse: "Vamos parar com isso, e ir para casa. Vamos
descansar um pouquinho..." "Como teria sido? Parece, no entanto, que isso tem
acontecido com alguns serafins de nossas igrejas. E fazemos menção de uma
palavra de Calvin Coolidge: "É somente quando o ser humano começa a adorar
que principia o seu crescimento"...

É este o nosso verdadeiro sentimento?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 136


Parte 29.
"EM ESPÍRITO E EM VERDADE"

Texto básico: João 4.5-24


A tarefa prioritária da Igreja de Jesus Cristo é celebrar o Seu Nome, adorá-Lo,
cultuá-Lo. O próprio Senhor Jesus Cristo o afirmou em João 4.23,24:

"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai


em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus
é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade".

Isso significa que tudo o mais na Igreja de Cristo decorre do culto. Quem põe o
culto em segundo lugar na vida já colocou o evangelismo, a ação social, a Escola
Bíblica em quarto ou quinto lugar em sua vida. Ryle bem que afirmou que "O
melhor culto público é aquele que produz o melhor cristianismo particular". Com
absoluta certeza, a adoração é uma fonte de fortalecimento do espírito e de
alimentação da alma. Quando lembramos o que Jesus Cristo fez por nós, isso nos
traz ao culto com o espírito alegre, renovado, reformado, completamente aberto a
receber todas as bênçãos que o esse ato nos vai trazer. É como diz a Bíblia
Sagrada na exclamação de João Batista quando Jesus passava: "Eis o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo" , ou seja, "que tira O NOSSO PECADO!!!"

Quanta seriedade nessa afirmação! Quanta seriedade na afirmação do apóstolo


Paulo ao dizer "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por
nós" ? Coloque o seu nome aí e veja como a declaração fica mais impressionante
do que já é:

CRISTO SE FEZ MALDIÇÃO POR ( seu nome )?!

É o que estamos dizendo com o apóstolo Paulo. Por essa razão, o culto deve se
tornar uma esperança ativa em nossa experiência. O Deus que falou aos profetas
também nos fala hoje; o Cristo que ministrou aos apóstolos também nos ministra
hoje; o mesmo Deus que realizou sinais no passado realiza-os hoje; o Espírito
Santo que agiu e ungiu, unge e age nos dias atuais. Como posso achar que o
culto tem coisa demais ou coisa de menos, que tem música demais, ou sermão
demais, ou o sermão é curto demais, ou demora demais quando penso no que
Cristo fez por mim? Um dos autores preferidos do povo de Deus que o lê com
muito entusiasmo é o falecido Dr. A. W. Tozer, que disse com imensa propriedade:

"Posso dizer com toda a segurança e na autoridade de tudo o que é revelado na


palavra de Deus, que qualquer pessoa que esteja enfadada (com o culto) e dele
desligada não está preparada para ir para o céu".

Que coisa séria disse ele! E afirma ter a autoridade da palavra de Deus. Por isso,
é preciso conferir. A Escritura apresenta a visão do trono da majestade divina:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 137


"Os quatro seres viventes tinham, cada um, seis asas, e ao redor e por dentro
estavam cheios de olhos; e não têm descanso nem de dia nem de noite, dizendo:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, e que é,
e que há de vir" .

É bom saber disso porque nós estaremos na companhia deles cantando de noite e
de dia. Como é que eu vou me enfadar com uma hora e meia de culto aqui na
Igreja, se vou ter toda a eternidade cantando e vendo a face do Senhor?

Foi para cultuar e adorar a Deus que fomos trazidos à fé e à salvação. Deus nos
convoca para a adoração. No entanto, em inúmeros casos, apenas nos divertimos.
Fomos chamados para cultuar, mas fazemos na Igreja paródia de teatro, de circo,
de programa de auditório; somos espectadores, quantas vezes, mas não
cultuantes. E isso é refletido na linguagem que muita gente usa: "Vou assistir o
culto lá na Igreja Tal ou Qual!" Erra duas vezes: primeiro porque disse que vinha
assistir o culto, e segundo porque errou no português, pois queria dizer assistir ao
culto. Ninguém vem, numa igreja verdadeiramente evangélica, para assistir ao
culto, e sim para cultuar: somos parte de um grupo de cultuantes, e não
espectadores de um pregador ou de um coro ou de um solista, ou, ainda,
cantamos para fazer de conta naquele momento quando cantamos os hinos e
hinetos. Cante, irmão! Aliás, verificamos que no domingo de manhã, Deus faz
alguns milagres incríveis em algumas igrejas. Um desses é cantar de boca
fechada. Não sei, não, mas temos ouvido o povo cantando, mas quando olhamos
tem muita gente de boca fechada?! Cante! Mesmo que você pense que é
desafinado, cante! Sabe por quê? Porque para Deus você é um Pavarotti, uma
Jessie Norman, uma Kiri Te Kanawa; Deus vê em você um Plácido Domingo!

Qual o objetivo do culto? William Temple apresentou uma definição de culto. É


essa definição que o Senhor nos fez desenvolver. Ele salientou três propósitos:

a adoração é para despertar a consciência da santidade de Deus;


abrir o coração ao amor de Deus,
e dedicar a vontade ao propósito de Deus.

DESPERTAR A CONSCIÊNCIA
DA SANTIDADE DE DEUS

Este é o primeiro propósito do culto. Um aspecto do culto é encontrado em


Romanos 12.1:

"Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos


corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional".

Falemos, então, do culto racional. Temos primeiramente Isaías 6 que é a história


de um homem que ficou profundamente impressionado, tremendamente
aterrorizado com a manifestação da presença, da glória, da majestade, da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 138


grandeza e da santidade de Deus. Isaías entrara no Templo, e não tinha idéia de
que iria encontrar aquela cena.. Sabia que o Templo era a Casa de Deus, mas
não tinha idéia de que teria uma visão. Encontrou muita gente conhecida quando
chegou no Templo ("Tudo bem, Fulano?" "Como vai você, Sicrano?"), falou com
as mulheres no Pátio das Mulheres (elas não podiam entrar no santuário), era um
dia comum, uma manhã comum, um momento normal na vida Isaías indo ao
Templo. E, nesse dia normal, ele teve uma visão aterrorizante. Estou usando essa
palavra porque a sua exclamação quando viu o Senhor ("Ai de mim!") é mais forte
do que a expressão idêntica em nossa língua. Na língua hebraica, é a expressão
de uma pessoa que está vendo a morte, diante de um desastre! Mas não havia
qualquer desastre: era a presença de Deus. Sabia, no entanto, que ninguém podia
ver a Deus, pois quem O vê morre! Essa era a doutrina encontrada na Antiga
Aliança: viu a Deus, morreu.. Mas ele pensou em termos profundamente racionais,
utilizou conceitos concretos do campo da lógica, da razão, porque teve um
violento contraste entre Deus, o Criador, e ele Isaías, o ser humano. E a própria
linguagem de Isaías sofreu para expressar a revelação de poucos minutos da
parte de Deus. Ele viu os serafins voando de um lado para o outro, ao redor do
trono, exclamando no seu louvor:

"SANTO, SANTO, SANTO


É O SENHOR DOS EXÉRCITOS!"

Muita gente não se sente à vontade com os atributos de Deus. Talvez por causa
de seus próprios defeitos. E se assim é, que tipo de culto podem essas pessoas
oferecer a Deus? O culto de Caim? Sabem qual é? É o culto que não é das
primícias, o culto realizado de qualquer modo. Voltaremos a falar dele. Será o
culto dos samaritanos, o culto dividido entre Betel e Dã, mas não em Jerusalém?
Será o culto do fogo estranho, não aceito pelo Senhor?

Diante de Deus como estava Isaías, não havia lugar para brincadeiras, nem para
conversinhas (como se percebe em tantas reuniões), não havia lugar para se fingir
que cultua, porque "o nosso Deus é um fogo consumidor". E Jó colocou em seus
lábios essa expressão, tendo sido registrada do seguinte modo: "Com os ouvidos
eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Pelo que me abomino, e
me arrependo no pó e na cinza" . Como cantamos hinos que nem temos coragem
de praticar!

"Vem agora consumir [queremos mesmo que isso aconteça?]


Tudo quanto, ó Salvador,
Quer, altivo, resistir
Ao teu brando e doce amor!"
"Quero ser um vaso de bênção..." [mas há tanto a deixar...]

Outra coisa que aprendemos na Escritura é que Deus é único. A expressão de fé


do judeu até hoje é

"Sch’ma Israel, Adonai Eloheinu, Adonai ehad!",

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 139


"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um!" ("O Senhor nosso Deus é o
único Senhor!" ). Não há outro além dEle.

Aprendemos, ainda, na palavra de Deus que Ele é pleno de graça, por isso Ele
nos salva e concede perdão e a salvação em Jesus Cristo. Por todas essas
razões, à luz de tudo o que foi dito até agora, as perguntas que se seguem não
podem ser consideradas impertinentes. A primeira delas é como eu cultuo? Como
você cultua? Que é que me leva a cultuar a Deus? Que o leva a cultuar, meu
irmão? Quais os resultados do culto na minha vida? E na sua vida? Não
esqueçamos que a verdadeira adoração é sempre medida pelo modo como o
coração responde a Deus. O verdadeiro culto, então, é medido pela transformação
de quem cultua pelo fato de estar na presença de Deus. Mede-se então por uma
nova visão de Deus, por uma compreensão que torna a caminhada diária, as
dores de cada dia, a aventura do dia a dia mais profunda com Deus na minha
vida, com Cristo no meu coração, com o Espírito Santo segurando a minha mão.
O verdadeiro culto incomoda a nossa vida e o modo como temos vivido. Talvez a
expressão-chave para este aspecto do culto, da adoração seja "Louvor
Consciente". E um louvor consciente, um louvor racional, ou como Paulo colocou,
um "culto racional" dá poder à vida porque nele descobrimos quem somos, e,
sobretudo, de Quem somos. Desenvolvemos o senso de identidade como filhos de
Deus, e deixamos que a angústia e o ressentimento vão embora.

Um culto racional edifica a vida em comum, a koinonia. E temos, assim, um


sentido de lugar, um sentido de pertencimento. Eu pertenço a este lugar, eu sou
pertinente neste lugar. Essa é a razão porque quando nos dirigimos aos irmãos
que nos visitam, dizemos: "Se o irmão não tem em Salvador o seu lar espiritual,
procure fazer desta igreja a sua casa", porque queremos que o irmão ou o amigo
que veio de fora, de outra cidade, do interior ou de outro estado, tenha em nossa
cidade o sentido de pertencer a algo, a alguém, a um grupo, a uma família que
esta abençoada comunidade, a koinonia de Deus, e fazer parte desta comunhão
do Espírito Santo, e aí eu sinto que esta Igreja é a família de Deus, e a minha
própria família.

O culto racional, o louvor consciente dá significado à vida. Descobrimos o que é


realmente importante, há um senso de valor. Passamos a valorizar as coisas, a
apreciar as coisas (apreciar é dar preço às coisas, quanto mais preço eu dou,
mais valor elas têm para mim). Outro aspecto do culto é

ABRIR O CORAÇÃO AO AMOR DE DEUS

Vamos falar do culto em espírito. Jesus falou que "os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade" .

O ensino do Novo Testamento é que a Igreja é uma casa, é um templo espiritual


construído para a glória de Deus e para a Sua adoração. E sabem que é
precisamente isso o que Pedro diz na sua primeira Carta? "Vós também, quais
pedras vivas, sois edificados como casa espiritual" . Somos uma casa espiritual,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 140


um templo para a glória de Deus. E diz também este texto que somos "sacerdócio
santo" para oferecer sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo. Sim; a Igreja é uma comunidade de adoração. E diz, ainda, o Novo
Testamento que Deus resolveu fazer de rebeldes obstinados, adoradores,
planejou restaurar o lugar do culto na vida desses rebeldes arrependidos, desses
pecadores salvos que somos nós. Isso implica no fato de que somente anjos
caídos não entendem o sentido do culto; somente anjos decaídos não louvam a
Deus. Os santos anjos juntamente com os santos remidos louvam ao Senhor. É o
nosso dever, é o nosso trabalho, é a nossa missão.

Que falta em nossos dias em relação a essa reverência e temor a Deus? O que
anda acontecendo em muitas igrejas evangélicas é mais show do que
profundidade na palavra. Mas há quem prefira o raso de uma religião infantil à
profundidade do culto racional, do culto em espírito e do culto em verdade. Por
esse motivo, quando o crente está com a sua vida apagada e cheia de
desobediência, e de rebeldia e de pecado, o louvor não sai. Ele não sabe louvar!
Ele pode fazer barulho, ruído, exibição, mas não faz adoração! Não é culto em
verdade, menos ainda em espírito, e muito menos culto racional.

Pelo Novo Testamento verificamos que o culto é uma celebração. É uma


celebração da ressurreição de Jesus Cristo; é uma celebração da salvação; é uma
celebração da vida, e uma celebração dos atos de Deus. E, de fato, a adoração é
um diálogo entre o ser humano que cultua, e Deus, o Criador, que é cultuado.
Vamos a Gênesis 28, e nos versos 10 em diante encontramos a narrativa da
escada de Jacó que é uma metáfora dessa conversa a dois. Realmente, quando
cultuamos estamos levantando como que uma escada de Jacó. Só que vai ser a
"escada de Antônio", a "escada de José", a "escada de Rosa Maria", a escada de
cada um de nós, porque nessa conversa a dois o louvor nosso sobe, os anjos vão
levando a nossa adoração, o nosso reconhecimento, a nossa gratidão; e, nesse
diálogo, Deus fala conosco, e os anjos trazem a bênção. É essa bênção do culto
que procuramos, é nela que vivemos, é com essa bênção que saímos quando as
portas se fecham e já tocou a última nota do prelúdio porque o culto nos
acompanha.

E por falar em tempo, deve ele ser visto como algo sagrado, e como veículo de
adoração. Há duas palavrinhas que vão nos ajudar nessa idéia de tempo. Para
nós tempo é tempo, só temos uma palavra para conceituar isso, mas quando
vamos à Bíblia, descobrimos que os gregos tinham duas palavras para dizer
"tempo": chronos e kairos. Ambas querem dizer basicamente a mesma coisa, mas
os conceitos são diferentes. A que tempo nos referimos quando usamos a palavra
kairos, e que tempo quer dizer a palavra chronos? Quando dizemos cronologia,
estamos falando de chronos, o tempo do relógio, o tempo do minuto a minuto,
hora a hora, amanhã, depois de amanhã, semana que vem, ano vindouro, dia
após dia. É chronos, o tempo do relógio. Kairos, porém, é o tempo que marca uma
crise, um ponto de retorno, seja na história da humanidade, ou seja na nossa
história pessoal. E temos diversos kairos na nossa vida. Vamos pensar na
chamada Semana Santa: quinta-feira de Trevas, sexta-feira da Paixão, sábado de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 141


Aleluia e domingo de Páscoa. Isso é chronos, é o dia a dia; mas quando falamos
daquele momento do Calvário, e, especialmente da ressurreição de Jesus Cristo,
estamos falando do kairos, ponto marcante da história. E tão marcante que a
história se dividiu em antes e depois de Jesus Cristo. Kairos, momento de decisão,
como foi o acontecimento do Calvário, como foi a vitória na tumba, esse momento
de vitória. Por isso, nós confiamos que o centro do tempo, o centro da história é
Jesus Cristo, como diz a palavra de Deus:

"o qual (Jesus) é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;


porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades;
tudo foi criado por ele e para ele, Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem
todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o
primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque
aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito
a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas
as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus" .

Isso é kairos! E por essa razão não existe Dia das Mães, nem Dia dos Pais, nem
Sete de Setembro que tenha a alegria, o brilho, a glória do Dia do Senhor! Porque
o Dia do Senhor há de ser celebrado "em espírito"! O culto celebra Jesus Cristo;
não celebra o ser humano que nós somos; o culto não celebra nossas dores;
nossas emoções, também não! Mas em Jesus Cristo o ser humano é celebrado
porque Cristo "se fez carne e habitou entre nós" . Celebra o ser humano porque
ele é imagem e semelhança de Deus. Em Cristo, atendemos as nossas dores e
necessidades porque "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as
nossas doenças". Diante de Cristo, depomos as nossas emoções e a nossa razão.
Esse é o motivo porque a palavra-chave para o "culto em espírito" é gratidão.
Deste modo, chegamos à terceira das qualidades do culto:

DEDICAR A VONTADE AO PROPÓSITO DE DEUS

Estamos falando do "culto em verdade", e a palavra-chave para este aspecto é


consagração. Já dissemos anteriormente que há muito tipo de culto que Deus não
aceita. Deus não aceita o "culto de Caim". Em Gênesis 4, os irmãos Caim e Abel
levaram a sua oferta a Deus. Ali está dito que

"trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura atentou o Senhor para Abel e
para a sua oferta, mas para Caim e para sua oferta não atentou".

Por que Deus aceitou a adoração que Abel trouxe, e não aceitou a de Caim?
Porque Abel trouxe das primícias, das primeiras ovelhas que nasceram ele
entregou ao Senhor. Caim, não; ele trouxe qualquer oferta ("trouxe Caim do fruto
da terra", mas não menciona ter sido das primícias). É como muita gente faz, e
isso pontua alguns problemas no oferecimento do culto, como a idéia equivocada
de que Deus é diferente do que a Bíblia diz que Ele realmente é. "A Bíblia diz que

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Ele é Santo, mas não acho que seja assim tão santo, não; a Bíblia diz que Deus é
Único, e, no entanto, eu resolvo dividir sua adoração com outros deuses; a Bíblia
diz que Deus é Digno, mas eu acho que há outras coisas que têm tanta dignidade
quanto Ele. Isso tem muito a ver com o Seu caráter: Ele é Santo; e não podemos
brincar com o fato de que nós não somos santos, a não ser que Ele nos dê essa
santidade.

Outro problema no "culto de Caim" é o engano de pensar que a pessoa mantém


automaticamente um relacionamento com Deus quando de fato não o mantém.
Você precisa trabalhar o seu relacionamento com Deus. Não é o fato de que um
dia você foi salvo por Jesus Cristo, e por isso, não precisa fazer coisa alguma
mais porque está tendo automaticamente comunhão com Deus. Você não está
tendo, não, se não mantiver essa comunhão. "Mas eu nasci numa família cristã,
não preciso fazer mais nada porque sou membro dessa família..." É pura ilusão,
você precisa primeiramente nascer de novo e manter comunhão com o Pai.

O terceiro problema no "culto de Caim " é o fato de que ele e muita gente tem
presumido que o pecado não é coisa séria, dá para "tirar de letra", como se diz por
aí. "Eu peco agora, mas peço perdão a Deus e fica tudo resolvido". Diz a Bíblia
que aquele que é salvo não peca costumeiramente. Pode até acontecer de pecar,
mas não é hábito do crente em Jesus Cristo viver no pecado.

Outro tipo de culto que Deus não aceita é o "culto dos samaritanos". O
samaritanismo está em 1Reis 12. É preciso explicar: com Saul o reino de Israel
era um só; com Davi era um só, o mesmo acontecendo com Salomão. Quando
este faleceu, o reino foi dividido, e as tribos do Norte formaram um reino sob o
governo de Jeroboão, denominado reino de Efraim, de Samaria ou de Israel. O
reino do Sul foi formado por apenas duas tribos, que ficaram com o filho de
Salomão, Roboão. Jeroboão, no reino do Norte, decidiu que ninguém precisaria ir
a Jerusalém, onde estava o Templo, para cultuar. Em vez de cultuar no monte
Sião, cultuariam no monte Gerizim. Jesus, na conversa com a samaritana, foi
muito mais além do culto em Jerusalém ou no monte Gerizim, pois declarou que o
Pai Celeste busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Jeroboão
havia ordenado a construção de dois santuários, em Dã e em Betel. Quem
morasse perto de Dã, cultuaria naquele santuário, o mesmo acontecendo com
quem residisse perto de Betel. Nos santuários, colocara as estátuas de dois
bezerros como aquele do deserto referido em Êxodo 32. Esse é o culto que Deus
não aceita porque o samaritanismo é a prática de escolher aquilo de que se gosta
e de que não se gosta. Por exemplo, "eu não gosto da parte tal do culto; mas
gosto desta outra; então, só vou chegar depois". Ou, então, "O pastor hoje foi
longe demais; não devia ter falado daquele jeito"; "Eu não gosto deste ou daquele
hino; não gosto deste hinário novo, prefiro o antigo; não gosto do hinário antigo, só
canto do novo". Isso é samaritanismo.

Ainda outra qualidade de culto que Deus não aceita é o "culto do fogo estranho",
história que está em Levítico 10.1, 2. O altar deveria ser aceso com fogo sagrado,
mas Nadabe e Abiú, sacerdotes filhos de Arão, trouxeram um fogo não autorizado,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 143


mas era fogo com coisas estranhas. E quando nós trazemos coisas estranhas
para o culto do Senhor , Deus não aceita. Isso anda acontecendo em nossos
arraiais com tanta novidade acontecendo nos cultos. É história de sopro: o pastor
sopra e a pessoa cai no chão. Pergunto: para quê? Em que isso alimenta
espiritualmente? Outros falam em derrubar com o paletó?! Joga o paletó na
"vítima" e ela cai no chão. E daí? Para onde leva isso? Isso é irracional, e se não
está na Escritura é fogo estranho! E isso confunde, prejudica e enfraquece a fé. E
de quando em vez aparece uma novidade nas igrejas nossas, e isso traz o
descrédito do evangelho.

O culto racional, o culto em espírito, o culto em verdade se centraliza na Palavra e


na Mesa, pois assim acontecia na época apostólica. Vamos a Atos 2.42,46,47:

"e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas


orações. ...E perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão
em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo
na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam
sendo salvos" .

Que programa de trabalho extraordinário! Isso acontecia porque o culto estava


centralizado na Palavra e na Mesa do Senhor. A palavra, portanto, a profecia, a
proclamação é chamada não só de "doutrina dos apóstolos". como foi dito acima,
mas também de "forma de doutrina", "tradições ", "palavra da vida" "palavra da
verdade, "palavra da fé e da boa doutrina", "modelo das sãs palavras", e ficamos
impressionados com o sem número de passagens que acentuam a importância da
palavra de Deus no culto! Como Moisés que leu a palavra de Deus para o povo, e
como o salmista, e como Josias, e tantos outros! E que alto significado tem a
Bíblia no culto, pois é registro da aliança de Deus conosco, aliança que no culto é
renovada.

Só pode adorar a Deus em espírito e em verdade quem nasceu do Espírito. Só


quem anda com Deus pode render-Lhe culto em espírito e em verdade, pois
adorar no sábado ou no domingo, e viver na segunda, terça, quarta, quinta e sexta
como se Deus não existisse, é falta de respeito ao Criador, é pecado. Só um
coração regenerado, porém, pode cantar um novo cântico. E vemos que a
adoração em espírito e em verdade exige preparo: mente preparada, espírito
preparado, corpo preparado, descansado. A adoração em espírito e em verdade
leva em conta a nossa pequenez e a grandeza de Deus. A adoração racional,
espiritual e verdadeira é aceita por Deus. Na parábola do fariseu e do publicano, o
primeiro se enfatuava e dizia: "Glória a Deus que não sou como esse publicano,
como esses pecadores, como as outras pessoas"; o publicano apenas dizia: "Tem
misericórdia de mim, Senhor, porque eu sou um pecador". Assim é: o primeiro foi
um culto que não passou do telhado; o segundo atingiu o trono da graça de Deus.
O publicano foi ouvido; o fariseu, rejeitado.

O ato de cultuar sem adorar de verdade é uma experiência de hipocrisia.


Imaginemos que naquela experiência de Isaías, quando os serafins começaram a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 144


cantar: "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra está cheia da sua
glória" , um deles dissesse: "Vamos parar com isso, e ir para casa. Vamos
descansar um pouquinho..." "Como teria sido? Parece, no entanto, que isso tem
acontecido com alguns serafins de nossas igrejas. E fazemos menção de uma
palavra de Calvin Coolidge: "É somente quando o ser humano começa a adorar
que principia o seu crescimento"...

É este o nosso verdadeiro sentimento?

Parte 30.
ESTUDO SOBRE DISCIPLINA FINANCEIRA

Texto: Provérbios 12:1


"Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é
estúpido".

01. DISCIPLINA - instrução - treinamento - sistema de vida

02. A PRÁTICA DA DISCIPLINA NA ÁREA FINANCEIRA


- A desorganização financeira, sempre provoca uma desorganização espiritual!
- A indisciplina é um dos maiores agentes desagregadores da família e da igreja!
- O indisciplinado corre o risco de sepultar a própria vida!

03. HÁ TRÊS TIPOS DE INDISCIPLINA NA ÁREA FINANCEIRA


A - Indisciplina na aquisição dos bens
- dinheiro tem um espírito - 1 Tim. 6:10
- dinheiro é fruto de trabalho - 2 Tes. 3:8
- a riqueza de um não pode custar a pobreza do outro - 2 Cor. 8:13

B - Indisciplina na administração dos bens


- gastar mais do que ganha - cartões, cheques especiais, etc - Lc.14:25-30
- deixar-se dominar pela compulsão de compra - Mat, 6: 25 - 34
- não pensar no amanhã com bom senso e critério cristão - Tg 4: 13- 15

C - Indisciplina no uso dos bens


- acumular riquezas para si mesmo- Mat. 6:19-21
- negar o envolvimento de Deus - 1 Tim. 5:8
- ser dominado pela avareza - Lucas 12:15

04. POBREZA
- não é uma condição natural na vida do homem - João 10:10; 2 Cor. 8:9
- não é um mal hereditário - Deut. 28: 1-14
- não faz parte da economia de Deus - Ageu 2: 8

Pobreza - é o resultado da indisciplina que desvia o coração da prática da


obediência - Is. 1: 19

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 145


Parte 30.
HÁ UMA BATALHA NA TUA MENTE

Muitos cristãos estão perdendo a batalha contra o inimigo nos lugares celestiais,
porque ainda não tem ganho a batalha em sua mente. Não podemos conquistar as
fortalezas espirituais em lugares celestiais, sem que primeiro tenhamos
conquistados as fortalezas espirituais que satanás tem levantando em nossas
mentes.

"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
todo o teu entendimento (mente) e de todas as tuas forças". Mc 12.30

Para Deus, é muito importante como está a tua mente. Não haverá progresso se
nossa mente não se colocar em harmonia com Deus.

De todos os seres criados, o homem é o único que tem capacidade de pensar,


porque é o único que foi feito à imagem e semelhança de Deus.

Se desejamos cumprir este primeiro mandamento, temos que prestar atenção à


situação de nossa mente. É impossível poder amar ao Senhor com toda a nossa
mente se uma parte dela, todavia, não se submete à Sua vontade. "O homem de
coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos". Tg. 1.8; outra versão
diz: "O homem de mente dobre é um homem com mente dividida". A inconstância
espiritual que observamos em muitos cristãos é resultado de uma mente dividida.
Com uma parte tenta agradar a Deus e, com outra, tem comunhão com o sistema
deste mundo.

"A vós também que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento (mente)
pelas vossas obras más". Cl. 1.21.

Paulo nos diz claramente nas escrituras que , antes de sermos salvos, nossa
mente estava em inimizade com Deus, ao pensar independentemente de Deus.

O que o homem faz é consequência do seu pensamento. "Viu o Senhor que era
grande a maldade do homem na terra e que toda a imaginação dos pensamentos
de seu coração era má continuamente". Gn 6.5.

Embora o homem tenha sido reconciliado com Deus por meio do sangue de Jesus
Cristo, precisamos decidir que nossa mente tenha pensamentos que nos levem a
manter uma vida de comunhão com Deus.

Se queremos agradar a Deus, tem que haver uma transformação em nosso modo
de pensar e atuar.

"Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, e éramos por natureza filhos da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 146


ira como também os demais". Ef. 2.3

Temos que entenderque a carne por si só não pode fazer nada, sem que primeiro,
receba ordem de sua mente, que foi a primeira que desejou e cobiçou.

O cristão tem a vantagem de poder controlar seus pensamentos porque tem a sua
disposição a vida de Deus, a Palavra e o Espírito Santo. Se tua mente não está
em comunhão com Deus, estará em comunhão com o mundo.

"Pensai nas coisas que São de cima, e não nas que são da terra". Cl. 3.2

Deus espera que as pessoas que nasceram de novo coloquem sua mente nas
coisas do espírito. É o poder da ressurreição em nós que nos capacita a dirigir
nossas mentes para as coisas de Deus.

Quando a Bíblia diz: pense nas coisas lá de cima, não está dando uma sugestão,
mas uma ordem.

Não vamos controlar nossos desejos e impulsos da carne se primeiro não


tivermos o controle dos pensamentos que os ativam.

A Bíblia diz como o homem pensa em seu coração indicando que quem controla
sua mente terminará controlando também o seu corpo.

Note que não podemos amar a Deus, com o nosso corpo, sem que tenhamos
amado com a mente.

"Ora, este é opacto que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as
escreverei; Eu serei o seu Deus". Hb 8.10

Hoje vivemos um novo pacto oqual foi instituído com a morte e ressurreição de
nosso Senhor Jesus Cristo.

Este pacto é superior ao quefoi instituído com Moisés no Sinai, porque promete
uma transformação radical na pessoa que aceita.

Esse pacto se realiza à medida que a pessoa permite que Deus coloque Suas leis
em nossa mente.

Note como é importante receber a Palavra de Deus em nossa mente para que a
mesma seja escrita em nosso coração.

Lembre-se que Deus não faz nada em tua vida que você não deseje.

Quando há uma decisão de colocar a Palavra de Deus em primeiro lugar, Deus a


coloca em tua mente e a escreve em seu coração.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 147


Alguns ficam se perguntando: "Será possível que um cristão possa sofrer qualquer
influência de santanás em sua vida?".

Há muitos cristão que vivem uma fantasia espiritual dizendo: "Se eu ignorar o
diabo, ele vai me ignorar também. Santanás não pode entrar em nosso espírito,
mas pode atacar nossa mente", por isto Paulo diz: "Não deis lugar o diabo". Ef
4.27

Tiago diz: "Resisti ao diabo e ele fugirá de vós" . Tg 4.7

Satanás sabe que você jamais negará sua fé no Senhor Jesus Cristo, não pode
entrar no seu espírito, por isso, tenta atingir sua mente.

Satanás conhecemuito bem o funcionamento da mente humana. Sabe que se


conseguir manter sua fortaleza na mente do cristão, quatro coisas acontecerão:

O espírito não tem liberdade de expressão;


A pessoa não tem paz em seu relacionamento e comunhão com Deus;
Sua mente será um instrumento para fazer o corpo pecar;
Não há autoridade espiritual para lutar contra as obras do diabo.
Percebe a importância de entender o funcionamento da mente da pessoa que é
nascida de novo?

A mente é o campo principal da batalha dos filhos de Deus, ali se decide a vitória
ou a derrota, se caminho em santidade ou caminho na carne, se terá um corpo
sadio ou enfermo.

Aquele que ocupa o maior tempo em tua mente, será quem terá controle para
levar vantagem em seu reino. Você decide se é Deus ou o diabo.

Por que tenho lutas? Esta é uma das muitas perguntas que muitas pessoas
sinceras se fazem, quando descobrem que a vida cristã nem sempre é um jardim
de rosas. Às vezes as pessoas não entendem este conflito, e têm optado por
separar - se do serviço de Deus, porque satanás tem convencido que não são
salvas, porque se fossem salvas não teriam tantas lutas.

Meu propósito é conscientizá-lo da importância de renovar, santificar e ter uma


mente de vitória. Lembre-se que Deus fez todas as provisões para que não haja
derrota em tua vida cristã.

Você pode ter vitória na batalha de tuamente, pois isto foi designado por Deus.
Deus deseja que cada um dos Seus filhos tenha uma mente livre de toda
influência satânica, a qual possa ser usada para pensar os pensamentos de Deus.

Parte 31.
LEVANDO A SÉRIO A FRATERNIDADE CRISTÃ

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 148


"Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações. Estai sempre
preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a
razão da esperança que há em vós" (1Pe 3.15).

Não é fácil a questão do relacionamento humano. Os antigos romanos até diziam


que "O homem é o lobo do homem". É célebre a afirmação de um filósofo
existencialista contemporâneo, o francês Jean-Paul Sartre: "O inferno são os
outros". Em nossos dias, o brasileiro Autran Dourado observou que "Todo dia
alguém crucifica alguém".

Felizmente há quem tenha fé nas boas relações humanas, e, mais ainda, no


relacionamento fraternal, como Agostinho, que foi pastor da cidade de Hipona no
norte da África, o qual afirmou que "Nada é tão duro e férreo que não se possa
vencer com o fogo do amor". A palavra de Jesus ao referendar Levítico 19.18,
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22.39), encontra eco no apóstolo
Paulo ao recomendar aos crentes da comunidade romana, "Amai-vos
cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos
outros" (Rm 12.10) e "Vós, irmãos... servi-vos uns aos outros pelo amor" (Gl 5.13).

Repetindo e fazendo uma ressalva: não é fácil a questão do relacionamento


humano, mas se torna ajustada, encaminhada e equilibrada tal questão quando há
o diferencial Deus, Que nos tornou, pela salvação em Cristo Jesus, Seus filhos, e
criou a família de fé na qual somos irmãos que devem aprender a se amar. Afinal,
"Aquele que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas; não sabe para
onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos" e, "Nisto são manifestos os
filhos de Deus, e os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus,
nem aquele que não ama a seu irmão" (1Jo 2.11; 3.10).

Entendamos: para o Antigo Testamento, para a cultura hebréia, o próximo, o


semelhante era o igual. Os termos de Levítico 19.18 deixam claro esse fato: "Não
te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor" (cf. Pv 3.28; Jr 22.13).

Amar o próximo tinha como contrapartida odiar o inimigo. Assim o refletem Êxodo
15.6 e Levítico 26.8: "A tua destra, ó Senhor, é gloriosa em poder; a tua destra, ó
Senhor, despedaça o inimigo"; "Cinco de vós perseguirão a cem, e cem de vós
perseguirão a dez mil, e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós".

Jesus e os apóstolos, porém, estendem o significado: "Amar ao próximo como a si


mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios", disse um escriba ao Mestre,
que aprovou a sua exclamação (cf. Mc 12.33). "Cada um de nós agrade ao seu
próximo no que é bom para edificação", enunciou Paulo (Rm 15.2), precisamente
na linha de João que deixou a exortação, "Aquele que não ama a seu irmão a
quem viu, como pode amar a Deus a quem não viu?" (1Jo 4.20b).

O SER HUMANO E SUAS DIMENSÕES

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 149


O fato é que qualquer reflexão, qualquer digressão ou teoria sobre relações de
fraternidade deve ser iniciada com uma reflexão acerca da pessoa humana.

Nós apresentamos um conjunto de dimensões. A primeira, mas não


necessariamente, é a biológica, que nos apresenta nua e cruamente ser vivo
composto de carne, osso, pele, sangue, unhas, cabelos, vísceras e hormônios.

A dimensão metafísica nos leva a ter sonhos, anseios, aspirações e a pensar no


nosso destino. Nossa dimensão psicológica é movida por pulsões positivas e
negativas, impulsos de vida e de morte, sentimentos, afetos (no sentido de tudo o
que nos afeta: saúde boa ou má, amor, esperança, alegria, sucesso, progresso,
fracasso, mal-estar, medo, ódio, violência, derrotas, angústia). A dimensão
espiritual nos leva a refletir sobre como nos vemos diante de Deus. E, nesse
ponto, vem a pergunta do Salmo 8, "Que é o homem mortal para que te lembres
dele?" (v.4). Parece não ser muita coisa ou coisa alguma. Os conceitos são tão
rasteiros, por vezes.

Napoleão Bonaparte expressou que "Devemos rir do homem para não


precisarmos chorar por ele". O jornalista e teólogo britânico do século 19, Sidney
Smith definiu: "O homem é um animal que faz trocas. Nenhum outro animal faz
isso. Um cão não troca um osso com outro cão". Pascal, para expressar a
fragilidade da pessoa humana e, apesar disso, sua capacidade de pensar e tomar
decisões, declarou: "O homem é uma vara que pensa". E Carlyle, o historiador e
ensaísta, se espantou: "Somos o milagre dos milagres, o grande e inescrutável
mistério de Deus".

"Que é o homem mortal para que dele te lembres?" Ou como colocou um teólogo
a Jesus, "Quem é o meu próximo?" (Lc 10.29).

Fazemos julgamento todo o tempo. Julgamento influenciado por vários motivos.


Temos idéias previamente estabelecidas que nos orientam: feio, bonito, rico,
pobre, negro, branco, doutor, analfabeto, pessoa de bem, marginal, amigo,
inimigo, e por aí prossegue. Há uns trinta anos, os naturais do Sudeste e do Sul
do Brasil chamavam os do Nordeste para cima de nortistas (que falta de
referência, faz favor?!). Hoje, o nordestino (qualquer um) no Rio de Janeiro é
paraíba, e em São Paulo, esse mesmo nordestino (de qualquer estado) é baiano).
Aliás, a falta de referência é crônica! Quem não tem teve a ventura de nascer
nesta "pátria amada, idolatrada, salve, salve!" é gringo. Rotulamos as pessoas
como nortistas, paraíbas, baianos, gringos, tabaréus, caipiras, mulatos, portugas,
crioulos, índios, tradicionais, renovados, coroas, gatos e gatas, cucarachas, do
Primeiro Mundo, do Terceiro Mundo (o Segundo Mundo, aliás, acabou).

Criamos paredes entre as pessoas, compartimentos para as pessoas,


marginalizamos, e não entendemos que todos, além de espaço, precisamos de
comunidade. Pois o contrário de marginalizar é reconciliar. E a Nova Aliança
ensina que Deus "nos deu o ministério da reconciliação" (2Co 5.18), pelo qual, as

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 150


barreiras são ultrapassadas, pois "desta forma não há judeu nem grego, não há
servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo
Jesus" (Gl 3.28). Santo ministério da reconciliação! Abençoado ministério!...

Porque é assim com Jesus. Enquanto o povo fazia separação, Ele curava pobres
(Jo 9.1-8), e curava ricos (Mt 9.18,19); Ele condenou os altamente religiosos (Mt
23.27), mas aceitou convite de um deles para uma refeição (Lc 7.36). Esteve com
publicanos, pecadores (Lc 5.30) e marginalizados (Jo 4.1-43). Jesus sempre, e até
agora, acolhedor, mesmo com os seus carrascos por quem orou: "Pai, perdoa-
lhes, pois não sabem o que fazem" (Lc 23.34).

O sentido da pessoa humana é uma especialidade da Bíblia Sagrada. Outras


filosofias e ideologias não o vêem assim. A exemplo do hedonismo, cujo bem
supremo é o prazer que deve regê-lo. Eclesiastes 2.1-3,8 e 1Co 15.32 refletem
essa idéia. O utilitarismo busca igualmente o prazer, mas sacrifica o ser humano
individual seu o prazer pelo do grupo. O relativismo diz que é inútil tentar descobrir
uma norma significativa para o comportamento ético.

Perceberam que todos usam o ser humano para os seus propósitos? Só o


evangelho de Jesus Cristo responde satisfatoriamente as angustiantes e morais
questões da pessoa humana: "Eu me conheço? (Quem sou eu?) Conheço o meu
irmão? (Quem é o meu próximo, o meu irmão?) Conheço a Deus? (Quem é
Deus?)

UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA

Se falamos da necessidade de conhecer a Deus e de conhecer a meu próximo, o


meu irmão; se falamos de integração em Deus e de integração em nosso irmão,
estamos falando de relacionamento puro e autêntico. A fé estabelece as relações
com Deus. É a coluna fincada no solo para alcançar o céu, referência à relação
vertical. A ação marca as relações com o irmão. São os braços abertos para o
sentido social, a relação horizontal.

A enorme questão é que no mundo cibernético em que vivemos, o ser humano


tem se tornado um problema. Há gente demais, preconceito em excesso, ódio que
transborda, violência fora de controle. As máquinas querem dominar o mundo. Já
nem somos conhecidos pelo nome?! O meu banco só me conhece se eu digitar
um código alfanumérico no caixa eletrônico e em outros atendimentos. Pronto!
Virei uns meros algarismos e letrinhas que nem foram escolhidos por mim...

Como é diferente o mundo da Bíblia Sagrada... Como é distinta a aventura de fé


do evangelho... A minha revelação ao meu irmão é um convite para que o meu
irmão se revele igualmente a mim. Isso é o que se chama acolhimento mútuo.
Para levar a sério a fraternidade cristã, preciso ver como a Bíblia se expressa
sobre o mútuo acolhimento:

"Sujeitando-vos uns aos outros" (Ef 5.21);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 151


"Cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3b);

"Não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que
é dos outros" ((Fp 2.4);

"Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual...
esvaziou-se a si mesmo..." (Fp 2.5-7);

"Cada um, como bom administrador dos bens de Deus, ponha à disposição dos
outros o dom que dele recebeu" (1Pe 4.10 BSPC).

Mas como posso dar acolhimento total se não estou crucificado na cruz formada
pelo tronco da relação vertical com o Salvador e dos braços da relação horizontal
com o meu irmão? Se ela não me marca, não me atinge, não me impressiona?
Como fazê-lo se o fruto do Espírito não nasceu em mim, não amadurece dentro do
meu ser? Se não tenho amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade,
mansidão, compreensão e autodomínio? Como receber meu irmão se minha
antipatia é evidente, minha condenação é silenciosa (às vezes explícita) e meus
juízos mal esclarecidos? Assim fazendo, a comunhão não se aprofunda e o
coração não pode ser sensível, e não trato com seriedade assunto tão relevante.

Jesus resumiu os Dez Mandamentos em um só dividido em duas partes: A


primeira é o nosso caminhar com Deus em amor; a segunda é o nosso proceder
entre os homens em amor. Isso quer dizer que quando a relação vertical é correta,
as relações no plano horizontal têm tudo para serem absolutamente ordeiras e
igualmente corretas. Quando nossa experiência do amor de Deus é diária,
constante e transformadora, nossa capacidade de relacionamento fraternal será
crescente, e com toda a naturalidade estendemos a mão de ajuda e dispomos o
ouvido para ser amigo e confidente.

Jesus não nos autoriza a ser mais irmão de uns que de outros, a ser seletivos em
nossa fraternidade. Como era expressiva a vida de relacionamentos fraternos da
Igreja Apostólica... Paulo usa freqüentemente a expressão "uns aos outros":

"Nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente


somos membros uns dos outros" (Rm 12.5);

"Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns


para com os outros segundo Jesus Cristo" (Rm 15.5);

"Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um
considere os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3).

Quer dizer que a igreja é uma comunidade terapêutica, uma comunidade de ajuda
de grupo. Deus, na Sua sabedoria, concedeu essa característica à Igreja de
Cristo, coisa que a psicologia e a psicanálise só vieram a descobrir nos dias de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 152


hoje. Para levar a sério a fraternidade cristã, é imprescindível que se reconheça a
igreja como essa abençoada comunidade de cura, perdão e interesses mútuos.

PROBLEMAS

Nem todos têm consciência de que correm soltos e livremente dentro das igrejas
certos problemas que são unicamente de ordem espiritual e demonstram
imediatamente uma relação desajustada com Deus.

Problemas de aspereza, cobiça, vaidade, amargura, ira, cólera, vingança,


soberba, presunção, rancor, maledicência, hipocrisia, irritabilidade, intolerância,
inconstância, egoísmo, falsa humildade, displicência, petulância, malícia, engano,
fingimento, inveja e assemelhados (cf. Pv 20.22a, Gl 5.18ss.Ef 4.31; 1Pe 2.1)
buscam uma comunidade de ajuda, de apoio, de terapia, buscam relações
fraternas. Para estes, a Igreja de Jesus Cristo há de estar pronta, habilitada,
solícita, contrapondo a cada sentimento negativo um outro de ordem positiva
como a afabilidade, a sinceridade, honestidade, desprendimento, prudência,
compaixão, veracidade, paciência, discrição, tolerância, bondade, perdão,
esperança, equanimidade, equilíbrio, serenidade, docilidade e todo o já
mencionado fruto do Espírito (cf. Pv 20.22b; Ef 4.32; Gl 5.22,23). Leon Tolstói, o
festejado romancista russo, com muita propriedade exclamou que "Não se pode
ser bom pela metade".

Porém, como bem explicitou Edmund Burke, um estadista inglês: "Há um limite em
que a tolerância deixa de ser uma virtude", mesmo pelo bem do relacionamento
fraternal. Vezes sem conta, os esforços para boas relações fraternais são de
conciliação ou reconciliação.

Quando surge a oportunidade de confronto, verifica-se o acima dito presente de


Deus. Isso pelo fato de ser um estímulo para tirar o irmão da mediocridade ou
para encorajá-lo a sair de algum extremo.

Porém, quem disse que é fácil confrontar? Fácil é ser irônico, crítico e cáustico.
Confrontar é basicamente ser simples no que se fala, empático nas atitudes e
honesto nas respostas. Confrontar é seguir o ensino apostólico, "Falai a verdade
cada um com o seu próximo" (Ef 4.25b), pois se confronta construindo, edificando.
No dizer do outras vezes citado Agostinho, "A verdade é doce e amarga; quando é
doce, perdoa; quando é amarga, cura".

PHILADELPHIA E AGAPE

O poeta inglês John Donne observou que "Homem algum é uma ilha inteiramente
à parte; cada homem é uma parcela do continente, uma partícula da terra firme".
O apóstolo Paulo já mencionara em Romanos 14.7 algo no mesmo teor
acrescentando o fator Jesus Cristo (cf. v. 8), ao dizer, "Nenhum de nós vive para
si, e nenhum de nós morre para si". Essa expressiva palavra paulina faz-nos
concluir que Cristo estabelece a diferença na compreensão da natureza humana,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 153


e no relacionamento de amizade, transformando-o em relação fraternal. Não foi
assim na comunidade cristã da cidade de Roma? O capítulo 16 da Carta aos
Romanos traz uma colorida lista de crentes. Nesse rol de membros, havia judeus,
gregos e romanos, homens e mulheres, pessoas da alta classe social, palacianos,
libertos e escravos, idosos e jovens. Havia, até, uma visitante (v.1). Todos
receberam do apóstolo Paulo uma palavra de apreciação e gratidão.

Paulo mostra nesse texto como o relacionamento humano, amigo e fraternal é


uma teia delicada e frágil. Pode ser rompida esta teia por algo grave ou,
paradoxalmente, por coisas mínimas. Mas essa relação fraterna se fortalece
quando alicerçada na honestidade, na confiança, no respeito, no sacrifício, no
querer o bem e no bem-querer!

O relacionamento fraterno está calçado no amor fraterno, no philos, que é o "amor


entre amigos", e no adelphos, palavra grega que quer dizer "irmão". Nesse amor
de irmãos, estão envolvidos sentimentos vários: a responsabilidade, o cuidado, o
respeito ao ser humano, seu conhecimento, e o desejo de melhorar e aprimorar
sua vida e suas circunstâncias.

É dele que fala Jesus quando diz "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt
22.39). Há nele uma experiência de solidariedade, de sincronismo, de sintonia, e
se baseia, também, no fato que, apesar das diferenças, somos todos iguais.
Diferentes em talento, intelecto, experiências e conhecimento; iguais, porém, em
dignidade, e destino natural e sobrenatural.

Quando essas palavras de Jesus e apostólicas sobre amor e relações fraternas


foram pronunciadas e escritas, a vida humana era muito difícil. A mulher não tinha
valor, nem a criança, e menos ainda o escravo. Mas o evangelho trouxe para
todas as categorias um vínculo de fraternidade nunca visto e expresso pela
palavra agape.

É agape o amor-doação, o amor-entrega, dádiva, sacrificial, compromisso, o amor-


aliança, o amor-pacto (cf. 1Jo 2.7-11; 3.14).

CONCLUINDO

De tudo o que foi dito, a conclusão é que diante do nosso irmão, se queremos
levar a sério a fraternidade cristã, precisamos ter como Jesus um olhar de fé.
Nosso olhos nus, humanos vêem primeiramente a pessoa e fazem uma avaliação
mental. É o olhar dos sentidos que pode dar um falso juízo ou um julgamento
superficial. Jesus, porém, acreditava nas pessoas e nos seus projetos.

Devemos ter um olhar de inteligência, pois quando passamos a conhecer a


história do nosso irmão, entramos em contato com o seu espírito e sonhos mais
profundos.

Precisamos ter, sobretudo, o olhar de Deus: vê-lo como Deus o vê. Nesse caso,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 154


no entanto, só a obra do Espírito Santo, a Quem nos entregamos. O poema a
seguir foi escrito por Michel Quoist:

Diante de mim, Senhor, eis o outro.


Devo olhá-lo "em si"
além de minha simpatia ou antipatia
além de minhas idéias ou de suas idéias
além de meu comportamento ou do comportamento dele.

Devo permitir-lhe que exista diante de mim


tal como é em seu ser profundo
sem forçá-lo ao ataque ou à defesa.
Devo respeitá-lo em seu direito de ser outro
sem querer tomá-lo para mim
impor-lhe minhas idéias
rebocá-lo atrás de mim.

Diante dele devo ser pobre


E não esmagá-lo
E não humilhá-lo
E não obrigá-lo ao reconhecimento.

Pois ele é único, Senhor,


e, portanto, rico,
rico de uma riqueza que eu não possuo
face à qual sou eu o pobre que devo bater à sua porta
despojado e desprovido,
para no íntimo do seu coração,
vislumbrar teu rosto, ó Cristo ressuscitado,
que me sorris e me convidas.

Parte 32.
LEVANDO A SÉRIO O EVANGELHO

"Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de


todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Pois nele se descobre
a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé" (Rm
1.16,17)

Nosso tema é a glória do evangelho de Cristo. Paulo, o apóstolo, escrevendo esta


Carta aos crentes de Roma, menciona o desejo de ir àquela cidade que sediava
uma forte comunidade cristã. Está ele pronto a compartilhar com aqueles crentes
o evangelho porque sabia que nesse evangelho residia o poder. O evangelho dá
significado à vida, é fato, e, no entanto, a humanidade põe de lado a mensagem
sempre atuante, benéfica e abençoadora desse evangelho de Jesus.

Em alguns círculos, o evangelho é, apenas, mais uma religião com rituais,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 155


dogmas, regras, e tudo o mais necessário para "se chegar a Deus". Vejam se não
é essa a idéia que passam nos programas de entrevista, quando colocam lado a
lado líderes religiosos de cada religião, de cada grupo, de cada seita, e no meio
deles um ministro do evangelho, como se o evangelho de Jesus Cristo fosse
apenas mais um caminho entre tantos outros caminhos.

Esse não é o evangelho do reino de Deus, que se distingue por algumas


características que são muito exclusivas, e que não se encontram em qualquer
outra mensagem que tenha o nome de "mensagem espiritual".

UM EVANGELHO DE PODER

A Palavra de Deus declara que o evangelho de Cristo é um evangelho de poder.


Paulo explica porque tanto deseja ir à cidade de Roma, capital do Império. Não
havia para o apóstolo qualquer razão intelectual, nenhuma razão social pela qual
alguém do seu quilate devesse se envergonhar de fazer do anúncio de Jesus
Cristo a coisa mais importante de sua vida. Porque para ele, como cidadão
romano, como homem de cultura, como líder do seu povo, como mestre na
religião judaica, para ele, Paulo, o evangelho era algo distinto, diferente de tudo o
mais, era uma glória! Paulo não tem senso de reserva, não considera sua
pregação como sendo uma ilusão. Pelo contrário, está pronto a desafiar as
filosofias, as ideologias, os deuses de Roma porque sabe, e o sabe muito bem,
que o poder de Deus que operava na proclamação das grandes e boas notícias de
Cristo, tem a capacidade de transformar vidas. Conversávamos com um irmão
sobre pessoas que entram numa igreja em andrajos, mas sentem o toque do
Espírito Santo, e no domingo seguinte já estão com uma roupa diferente. Usada,
mas limpa. E crescem, até socialmente, porque houve um progresso espiritual.
Paulo não tem vergonha de apresentar este evangelho que transforma vidas.

Para os mestres do judaísmo, a Lei era considerada poder. Aliás, o evangelho


anunciado por Jesus era, até, motivo de escândalo para estes mestres por causa
da crucificação. Para os gregos, o evangelho era uma verdadeira loucura. Mas
Paulo em Coríntios 1.23 : "Nós pregamos a Cristo crucificado". Eles podiam pregar
o que quisessem, "nós pregamos a Cristo que é escândalo para os judeus, e
loucura para os gregos". No entanto, Paulo era homem de cultura: cultura judaica,
cultura grega, cosmopolita, viajado, que sabia entrar e sair nos lugares; Paulo
sabe, também, o que é e o que não é o evangelho de Jesus Cristo. Não é um
produto de sonhos, não é uma utopia. Folheei um livro-álbum sobre utopias.
Quantas já surgiram neste mundo, e tantas e tantas outras estão surgindo ainda
hoje. Não se iludam: as utopias tomam conta do imaginário das pessoas. Mas o
evangelho não é uma utopia, palavra que significa "lugar nenhum", lugar que não
existe.

O evangelho não é um sistema de pensamento competindo com outros. Há um


violento choque de ideologias campeando no mundo. Uma diz uma coisa, e a
outra diz diferente; uma prega uma coisa, e a outra vem com outro tipo de
pregação. O evangelho não quer competir com qualquer ideologia. Ele é o poder.

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É o poder do Pai a serviço da misericórdia, a serviço do amor, do favor, da graça
de Deus; é o poder para a salvação. E esse conceito de salvação é tão amplo, tão
extenso que inclui muita coisa. Um dos conceitos de salvação é sanidade, outro é
perdão de pecados, e , ainda, restauração, mas o conceito maior de salvação é
integridade, inteireza, restauração de tudo aquilo que o pecado maculou e
destruiu.

UM EVANGELHO PRÁTICO

Ele nos ajuda a viver. Diz a Escritura Sagrada: "Pois para mim o viver é Cristo, e
morrer é lucro" (Fp 1.21). Quem vive no padrão do evangelho é feliz, tem senso de
futuro, sabe o que é o amanhã, sabe o que quer na vida. O evangelho dá um
objetivo. Essa questão de objetivo, de alvo, de propósito é todo um capítulo
também, porque há quem tenha como objetivo de sua vida a família: "Respondeu
Jesus: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos, porém tu vai e anuncia o reino
de Deus" (Lc 9.60). Vou viver para a minha família, tudo vou fazer para a minha
família, não tenho outro interesse a não ser a minha família, e mais ninguém. É
um exclusivismo tão grande que só posso pensar nas quatro paredes do meu lar,
e então a minha família é o meu alvo na vida.

Há quem ponha o objetivo de sua vida no dinheiro: "Então [Jesus] lhes disse:
Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; a vida de um homem não consiste na
abundância dos bens que ele possui" (Lc 12.15), ou, ainda:

"Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa. Também tive grandes
manadas de vacas e ovelhas, mais do que todos que houve antes de mim em
Jerusalém. Amontoei prata e ouro, e jóias de reis e das províncias; provi-me de
cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de
música de toda a sorte. Engrandeci-me, e sobrepujei a todos os que houve antes
de mim em Jerusalém. Em tudo isto perseverou comigo a minha sabedoria." (Ec
2.7-9).

Os jornais da TV passam quase 60% de notícias econômicas. Vejam se não o é,


comecem a anotar as notícias da TV, de qualquer canal, e vejam se a matéria
principal não é a taxa, índice, aumento, greve porque não se teve aumento,
passeata por causa de não-sei-lá-o-quê, e para fazer a separação entre um bloco
e outro, índices. Só se fala em dinheiro?! Mas isso é próprio de uma sociedade
capitalista, não é mesmo? É natural que o povo (não o de Deus, por favor...)
queira fazer isso. O povo de Deus não tem como objetivo o dinheiro.

Há quem o faça no trabalho, "E agora, vós dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal
cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos", como tambem:
"Tudo o que desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração
de alegria alguma. O meu coração se alegrou por toda a minha obra, e esta foi a
minha porção de todo o meu trabalho. Olhei para todas as obras que as minhas
mãos fizeram, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e vi

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que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo
do sol." (Tg. 4.13; Ec 2.10, 11).

É, aliás, um grande mérito, o trabalho dignifica; o trabalho honesto é algo


extraordinário, ninguém deve ter medo de trabalhar. Há um mandamento para
trabalhar: "Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho" (Ex 20.9). O trabalho
como consagração ao Senhor, e essa sempre foi uma das bandeiras que um dos
reformadores levantou: o trabalho como uma chamada de Deus. Mas, há quem
seja ergólatra (palavra que inventei, significando "o adorador e cultuante do
trabalho"). Com ela quero traduzir a tão utilizada palavra inglesa workoholic ("ébrio
de trabalho") criada pelo Dr. Wayne Oates do Seminário Teológico Batista do Sul
dos EE UU. O ergólatra chega antes de todos no trabalho; quando começa o
expediente, já está trabalhando, deu avanço a todo o seu trabalho; na hora do
almoço precisa adiantar certo trabalho, leva o relatório pra ler enquanto estiver
almoçando; descansar é, naturalmente, perda de tempo, então ele volta para o
trabalho; quando todos vão embora, ele fica mais um pouquinho; e ao ir para casa,
não pode ser por menos, tem que levar trabalho para fazer em casa. Essa é a
pessoa que se intoxica de trabalho, o workoholic. Fez do trabalho o seu alvo.

Mas o alvo supremo do ser humano há de ser aquilo que a Escritura ensina:
"temer a Deus e observar os seus mandamentos", por isso o evangelho de Jesus
Cristo nos ajuda a viver. Sou capaz de dizer que muita gente aqui, se não todos,
aprenderam a viver depois que conheceram o evangelho de Jesus.

Aprendo, ainda, com a palavra de Deus que o evangelho nos ajuda a morrer. O
trabalho é completo: ajuda-nos a viver, e também a morrer. Alguém afirmou que a
vida inteira é uma preparação para a morte. Desde cedo, já começamos a nos
preparar para isso. Afinal, o Salmo 89 tem essa palavra: "Que homem há que viva
e não veja a morte, ou que livre a sua alma do poder da sepultura?" (v. 48). Todos
estamos incluídos nisso, e apesar de querermos adiar a morte (porque o desejo
de viver é grande, visto que Deus nos fez para a vida e não para a morte), apesar
das medicinas tradicionais, ou das terapias alternativas, e dos transplantes, e dos
oceanos de dinheiro que são gastos em pesquisas, o fim é o mesmo: "Que
homem há que viva e não veja a morte?" Pode-se adiar mas não escapar.

A Bíblia ensina que há duas mortes: a morte física, que todos conhecem. Todos já
experimentamos na família a dor da separação, da morte física. Ensina a Bíblia,
no entanto, que existe a morte eterna, e que essa é terrível. A primeira, já
passamos por ela. A segunda, sim, é tenebrosa ao pé da letra, porque caracteriza
a separação eterna do Criador. E se salvação é luz, não ter salvação são as
trevas. O estranho de tudo é que as pessoas se preparam para tudo, mas não se
preparam para morrer. Há gente se preparando para o vestibular, e para a vida
profissional ou na universidade ou como aprendiz de uma profissão; há gente se
preparando para o casamento, há gente se preparando para a aposentadoria.
Todo mundo se prepara para alguma coisa, menos para o grande momento.
Muitos fazem seguro de vida (tenho o meu também). Mas graças a Deus, tenho
seguro de morte, o que tantos não têm, que é o evangelho de Jesus Cristo no

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coração, a salvação! Aliás, essa expressão "seguro de vida" é meio atrapalhada
mesmo. Dizem que no final do século passado, uma companhia de seguros
européia estabeleceu uma filial na China. Os chineses não conheciam o conceito
de "seguro de vida". Foi uma enchente de pessoas querendo fazer seguro, e, na
verdade, foram os melhores negócios da companhia em toda a sua história,
porque as filas eram quilométricas. Então, aconteceu a primeira morte, e foi um
quebra-quebra nos escritórios porque pensavam que pagando o seguro ninguém
morreria.
O evangelho de Jesus nos prepara para o momento final, e nos dá segurança
para a eternidade.
UM EVANGELHO QUE TRANSFORMA
Que coisa extraordinária! Parece que para muitas pessoas a palavra salvação não
significa muito. Para Paulo,seus ouvintes e leitores, no entanto, essa palavra
produzia uma imagem muito clara porque significava, como significa, libertação.
Libertação de uma situação de desespero. Vejam em Êxodo 15.2: "O Senhor é a
minha força , e o meu cântico; ele me foi por salvação. Este é o meu Deus,
portanto eu O louvarei". O evangelho é libertação, e a razão porque salvação
significa pouco para muita gente é por causa do conceito muito pequeno que têm
desse glorioso fato. É o procurar ser salvo de fora para dentro, é buscar a
mudança da sociedade como o faz certa teologia, que pregava a salvação pela
mudança das estruturas da sociedade. Não é assim que diz o evangelho.

Jesus Cristo ensinou que Deus pode transformar a pessoas de dentro para fora.
Vamos à Palavra de Deus. Em João 3.7: "Não te maravilhes de eu te dizer:
Necessário vos é nascer de novo", "Olhai para mim, e sereis salvos, vós todos os
confins da terra; pois eu sou Deus, e não há outro" (Is 45.22). Fiquei horrorizado
passando perto do Parque da Cidade (em Salvador) onde há um display que gira
e muda a mensagem. Nele estava:

BEBA PITÚ,

que é a marca de um aguardente (a palavra, contrariamente ao que ensina a boa


gramática, é acentuada nessa marca de bebida) : que mensagem horrorosa!

Em poucos segundos, o comercial virou, e do outro lado havia:

LEITE ALIMBA.

Isso é o evangelho! O evangelho transforma PITÚ em LEITE; transforma cachaça


em água; muda bêbados em cidadãos sóbrios; ladrões são recuperados;
prostitutas são purificadas; drogados se tornam santos! BEBA PITÚ LEITE
ALIMBA.

Isso é "nascer de novo", e o evangelho são essas boas notícias, excelentes novas
de Deus em Cristo! É uma mensagem de extraordinária salvação pelo amor que é
sua fonte, pelo que custou que foi o sangue de Jesus Cristo derramado no
Calvário, e pelo resultado fora do comum que é a vida eterna.

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O evangelho de Cristo é de poder, o poder de Deus, a ação de Deus. É um poder
que transforma prisioneiros dos desejos, dos instintos, de si próprios, das
pressões da sociedade em pessoas que passam a viver a liberdade dos filhos de
Deus.

O evangelho de Jesus é um evangelho de amor, e a Bíblia declara que "Deus é


amor". Mas o evangelho exige fé. Você crê? É nesse ponto que você precisa
entrar com a sua parte: o receber pela fé esta mensagem do evangelho de amor
de Jesus Cristo "para a salvação de todo aquele que crê".

Parte 33.
LEVANDO A SÉRIO O REINO DE DEUS

"Depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o
evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus
está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho"
(Mc 1.14,15).

Jesus dá início a Seu ministério terreno. Durante trinta anos fora preparado na
escola da graça de Deus, formado no discernimento profético, e no ideal
inabalável de Sua missão. Agora proclama: "Chegou afinal a hora, o governo
soberano do senhor está entre vós. Mudai os vossos corações e sentimentos,
acreditai e confiai na maravilhosa notícia de que Deus ama, cuida e salva!"

Há conceitos que são basilares para a compreensão da mensagem de Jesus


Cristo: o conceito do reino de Deus, o do arrependimento, o da fé e do significado
do evangelho. Afinal, esse reino chegou, o evangelho está entre aí, e Jesus
encoraja ao arrependimento e à confiança absoluta e exclusiva.O REINO DE
DEUS Há muito o que dizer sobre o reino de Deus, ou "reino dos céus", como
Mateus prefere reverente e eufemisticamente chamar. O reino de Deus não tem
qualquer mistério: significa que Deus é rei. Seja o ser humano obediente ou não,
Deus é rei. O que a pessoa faça influencia a sua posição no reino, mas não
modifica o fato do reino de Deus.

O assunto era tão dominante na mensagem de Jesus que Seu primeiro sermão
teve-o como tema (Mc 1.15), e Suas últimas reflexões falaram do reino (cf. At 1.3).
O reino de Deus é o governo de Deus no coração da pessoa humana, na sua
vontade, no seu intelecto, no seu ser total, e assim: é moral, não nacionalista; é
espiritual, não material; é atual, não ideal ou abstrato. É uma realidade presente,
ou seja, Deus exerce Sua soberania agora, mas é uma esperança futura (Deus
reinará no fim quando subjugará toda oposição a Seu reino.

O governo de Deus na vida é algo de tamanha substância que Jesus o apresenta


como um tesouro sem comparações (Mt 13.44-46). Por isso é dádiva, mas é
exigência; é concessão e dom, mas custa o que se tem para nele entrar (Mt 6.33).

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"ARREPENDEI-VOS..."

O outro conceito central é o do arrependimento, que não é algo tão fácil como às
vezes pensamos. A palavra grega usada para isso é metanóia, que literalmente
significa "mudança de mentalidade". E, na verdade, não pode gaver reino de Deus
sem quebrantamento de coração, ou seja, o governo de Deus se faz no coração
arrependido.

D. James Kennedy em seu Verdades que Transformam, diz que a doutrina do


arrependimento é muito estranha porque por si mesmo o arrependimento não
salva ninguém, mas ninguém pode ser salvo sem que arrependa. Por outro lado, a
Bíblia dá uma importância considerável a esse assunto tanto que no Antigo
Testamento é conceituado como um "retorno" (a Deus, t'shuvah), e no Novo
Testamento como, como vimos, como "mudança de mente".

Porém, por que o povo não se arrepende? Porque perdeu de vista o real
significado do pecado, que hoje virou algo sem importância, e se esqueceu que
sua natureza se torna aviltada, depravada, e diferente do que Deus tinha em
propósito para a humanidade. O povo não se arrepende porque perdeu de vista a
santidade de Deus; não ergue os olhos para contemplar a glória e a majestade do
Senhor.

Arrependimento é uma palavra muito rica: é a palavra que abre os céus para nós,
e ninguém pode pronunciar-se verdadeiramente arrependido sem o Espírito Santo
dar apoio.

Arrependimento é a palavra que traz o pecador de volta para a casa de Deus,


razão porque Jesus começou Seu ministério de pregação com ela. É a palavra
que não pode ser dita no inferno, e, ao revés, no céu, ninguém precisa usá-la.

"... CREDE NO EVANGELHO"

Vamos falar de fé, que foi outro dos conceitos destacados por Jesus. Ele não
disse, "arrependei-vos e crede no evangelho"? Que diz a Sagrada Palavra sobre
crer e fé? Vamos a Efésios 2.8, 9: "Pois é pela graça que sois salvos, por meio da
fé - e isto não vem de vós, é dom de Deus - não das obras, para que ninguém se
glorie" (EC). Com o arrependimento, você resolveu abandonar a vida passada e
os pecados; você já escolheu o caminho, e esse caminho não é fácil, é verdade.

Pois o passo seguinte é a fé. Observe: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus,
porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e
que é galardoador dos que o buscam" (Hb 11.6). Diz Hebreus 11 também que "Foi
por ela que os antigos alcançaram bom testemunho" (v. 2). Há, em seguida, uma
lista de heróis da fé, tais como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José,
Moisés, Raabe, juizes e profetas, os justos do Antigo Testamento. Em todos os
casos, fala o autor da Carta aos Hebreus do profundo sentimento de confiança, de
fé. Sabe por quê? Porque "sem fé é impossível agradar a Deus", e aí está pelo

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fato de que Jesus conclamou ao arrependimento e a essa fé. A fé inicia a vida
cristã. Inicia e sustenta o caminhar do crente. Há uma história passada num dos
países da antiga Cortina de Ferro. Diz que dois soldados entraram numa
congregação evangélica armados de metralhadoras. Com vozes iradas,
interromperam o culto dizendo que os que estivessem dispostos a renunciar a fé e
a Cristo deveriam passar para o lado direito do santuário, e seriam liberados. Uma
parte da congregação mudou de lugar. Os soldados mandaram que se fossem. A
maior parte da congregação permaneceu no pequeno templo. As portas foram
fechadas, e os soldados disseram: "Nós também somos crentes. Viemos para ter
comunhão com vocês, mas primeiro queríamos livrar-nos dos hipócritas".

Fé não é aceitar de qualquer maneira uma verdade sobre Deus: é engajar-se.


Veja bem: não há cidade tão "religiosa" quanto Salvador. Até no nome é a Cidade
do Salvador à margem da baía de Todos os Santos (e alguém acrescentou, e de
todos os Orixás). É uma cidade que poreja religião: na "Colina Sagrada" do
Bonfim, nas lavagens das escadarias das igrejas tradicionais, nos Altos e Baixas
da sua área urbana, nos centros dedicados a algum aspecto assim chamado
"religioso", num simples acarajé (dedicado aos erês) a marca do animismo, num
caruru (votado a Cosme e Damião), o sincretismo.

E, no entanto, não existe cidade tão de Deus, do Deus da Revelação, do Deus da


revelação em Jesus Cristo, do Deus da fé e da graça., porque não há
engajamento com Cristo Jesus.
E, deste modo, religião é festividade popular, folclore, festa de largo, bebida,
cachaça, exploração, comércio, mas não a fé. É mesmo: "sem fé é impossível
agradar a Deus"

Jesus não foi confuso quando falou de fé: "O tempo está cumprido, e o reino de
Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.14,15). Ter fé é
crer; crer é ter fé. A fé vai levá-lo à graça divina, e a graça vai levá-lo a Cristo, e
então, "se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas, já passaram,
tudo se fez novo" (2Co 5.17).

Nas Escrituras, arrependimento e fé jamais são separados. Não pode haver


arrependimento verdadeiro sem fé, nem fé genuína sem arrependimento. Então,
crer no evangelho é o mesmo que tomar a palavra de Jesus Cristo, crer que Deus
é exatamente Aquele que Jesus disse que era; é crer que Deus ama o mundo de
tal modo que fará qualquer sacrifício para nos atrair a Ele.

Jesus requer conversão, e seus três elementos são o arrependimento, a fé e a


regeneração. Não podemos yer paz com Deus nem paz com os outros, nem
mesmo paz dentro de nós mesmos, enquanto não fizermos algo acerca dessa
terrível realidade chamada pecado. É nesse ponto que Jesus Cristo faz o convite
porque o reino de Deus chegou, a eternidade invadiu o tempo, em Jesus Cristo,
Deus e Seu amor e Sua salvação invadiu o mundo. Qual a sua resposta ao
convite de Jesus?

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Hebreus 12.2 ("olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé,
o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a
ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus") nos indica Jesus Cristo
como Aquele em Quem a fé deve nascer, e que há de levá-la por toda a
eternidade. Diz ainda que Jesus suportou a cruz, e o fez com alegria por nós, por
você. Completa o pensamento dizendo que toda autoridade Lhe foi concedida, e
agora está no trono de poder.

Jesus suportou a cruz, por isso nosso olhar se volta para o Calvário. Mas está
sentado no trono, motivo porque nosso olhar se volta para a Sua glória. Qual a
sua reação? Vai levar a sério o reino de Deus?

Parte 34.
LEVANDO A SÉRIO A FAMÍLIA

"Sejam os nossos filhos, na sua mocidade, como plantas bem desenvolvidas, e as


nossas filhas como pedras angulares lavradas, como as de um palácio. Estejam
repletos os nossos celeiros, fornecendo toda sorte de provisões; as nossas
ovelhas produzam a milhares e a dezenas de milhares em nossos campos; os
nossos bois levem ricas cargas; e não haja assaltos, nem sortidas, nem clamores
em nossas ruas! Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Bem-aventurado
o povo cujo Deus é o Senhor." (Sl 144.12-15)

Tenho ainda na minha mente a profunda impressão do nascimento de minhas três


filhas: o momento quando a notícia do nascimento de cada uma havia sido
passada aos parentes e amigos, aquele momento especial de ver Ariete na
maternidade logo que nasceu a primeira, a segunda, e a terceira; o momento
emocionante de ver Adriana Carla pela primeira vez no bercinho, de ver Patrícia
Fernanda, e de ver Renata Paula.

A Bíblia diz que os filhos são herança de Deus, mas ao tempo que o são,
representam uma responsabilidade para nós porque são o nosso vínculo com o
futuro, que depende do que vamos fazer do nosso presente, e do presente dessas
pequenas criaturas. Por outro lado, estão os nossos filhos sendo preparados para
esse futuro? Só temos que abrir no Salmo 144, e observar como seria o caso dos
filhos nossos num mundo de prosperidade e paz.

OS FILHOS NUM MUNDO DE PAZ E PROSPERIDADE (Sl 144. 12-15)

No Salmo 127.3-5 encontramos uma conceituação dos filhos como uma bênção
de Deus: "Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o
seu galardão. Como flechas na mão dum homem valente, assim são os filhos da
mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão
confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta".
A ênfase que queremos dar é quanto à qualidade de pessoas que devem ser os
nossos filhos, e o tipo de mundo em que devem viver. Por isso, no Salmo 144, o
poeta clama a Deus, descrevendo o tipo de vida que deseja para o seu país, e,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 163


sem dúvida, é a visão que também temos para o nosso querido Brasil. Ele queria
filhos saudáveis num mundo igualmente saudável, e é por essa razão que ele
canta:
"Sejam os nossos filhos, na sua mocidade, como plantas bem desenvolvidas, e as
nossas filhas como pedras angulares lavradas, como as de um palácio. Estejam
repletos os nossos celeiros, fornecendo toda sorte de provisões; as nossas
ovelhas produzam a milhares e a dezenas de milhares em nossos campos; os
nossos bois leve ricas cargas; e não haja assaltos, nem sortidas, nem clamores
em nossas ruas! Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Bem-aventurado
o povo cujo Deus é o Senhor."

Esse é o retrato do país que ele estava vendo à sua frente, e pelo qual igualmente
sonhamos.
Os filhos chegam à juventude como uma planta num jardim (v. 12). Observem
detalhadamente os nossos jardim à frente e ao lado do templo, e verão como
estão viçosas as plantas depois de receberem o dedo profissional do irmão
Glicério, e o trabalho diário do seu auxiliar limpando, podando, cuidando, tirando
as ervas daninhas com todo zelo e empenho. Os filhos têm que crescer e se
fortalecer, e o ambiente do lar há de conduzir ao desenvolvimento, e as nossas
filhas serão como as colunas no templo, Jaquim e Boaz, "beleza e força" é o
significado dos seus nomes.
Nos versos seguintes (3 a 15), o poeta apresenta o ambiente que deseja para seu
país: desejava para Israel prosperidade e paz. Diz que o povo que tem essas
caracterísitcas é abençoado, e, sobretudo, é abençoada a nação que tem a Deus
como o seu Senhor. Que mundo herdarão os nossos filhos? No tempo de Davi, os
filhos estavam acostumados a ver os pais indo para a guerra, e até a ir. Por isso,
Davi fala num mundo onde não há grito de alarme nas ruas (v. 14b). Tenho muita
pena do nosso país: hoje há ameaças, violência contra a mulher e contra a
criança, seqüestros, frustração, graves problemas econômicos, e isso não é culpa
da juventude; a responsabilidade é nossa em criar um mundo reto e pacífico, justo
e perfeito, e o segredo de tudo está em ser Deus o Senhor (v. 15).

O ELEMENTO ESSENCIAL (Ef 6.1-3)

O mundo ideal de prosperidade, segurança e paz exige disciplina, e elemento


essencial à disciplina é o respeito à autoridade. A primeira autoridade que se deve
aprender a obedecer é a
dos pais. Quem de criança aprende a fazê-lo não tem problemas com outras
autoridades ao longo da vida.
A Bíblia é profunda na sua simplicidade e brevidade. Assim, diz: "Vós, filhos, sede
obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo" . Não há necessidade de
um imenso tratado para falar sobre as razões para obedecer aos pais. Paulo
apenas diz é justo", é algo de ordem moral. Na verdade, a criança se sente segura
quando aprende a obedecer, e se sente amada quando lhe fazem obedecer.
Teologicamente falando, obedecer aos pais é expressão de obedecer a Deus.
Além disso, os filhos devem honrar a seus pais. Obediência e honra estão
relacionados mas são diferentes. Na língua hebraica, kabod é a palavra que

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significa "honra" e "glória". Mas vem de uma raiz que quer dizer "dar peso",
"avaliar", "aquilatar ". Tanto serve para designar a "glória de Deus", quanto a
"honra de alguém" . A honra é o "peso" que alguém tem, sua importância, seu
valor, e, daí, a atitude de reverência para com ela. Com o mandamento, há
promessa de vida longa, pois a honra aos pais era elemento primário na
preservação do país, visto que qualquer sociedade que fecha os olhos à
obediência aos pais está fazendo germinar a semente de sua destruição.
Deuteronômio 31.12,13, por sua vez, ressalta a instrução na lei de Deus: "Disse
mais o Senhor a Moisés: Falarás também aos filhos de Israel, dizendo:
Certamente guardareis os meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e
vós pelas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos
santifica."
Realmente, nossos filhos são herança de Deus, razão porque devem ser
instruídos em nossa herança espiritual. Nesse texto há uma ordem para que a Lei
seja lida na Festa dos Tabernáculos com o propósito de que os filhos ouvissem
dos pais, e aprendessem a respeitar, honrar, reverenciar a Deus.
E nós, que temos feito? Os costumes da família devem refletir a sua herança
espiritual. Que lugar tem a Bíblia na sua família? Está no altar? Tem sido lida? Os
pais devem lê-la para os filhos pequenos, e dar oportunidade aos maiores para
que a leiam. Há crianças, adolescentes e jovens, que deixam de encará-la como
deve ser porque os pais e professores da EBD não a tornam viva e interessante.
Deus na família. Alceu Amoroso Lima deixou uma página interessante no seu livro
Idade, Sexo e Tempo: "A infância sem Deus é a cultura precoce da crueldade e
violência; a adolescência sem Deus é o Calvário de pais e mestres; a mocidade
sem Deus é a negação da própria mocidade com degeneração e libertinagem; a
maturidade sem Deus é a vida sem sentido; a velhice sem Deus é a morte em
vida, ou pior, o ridículo".
A Falta da Família "Uma criança pode ser um encanto,
Mas se lhe faltar a família, falta-lhe uma razão para ser criança.

Um jovem pode ser excelente,


Mas se lhe faltar a família, falta-lhe um complemento fundamental.

Um homem pode ser um gênio,


Mas se lhe faltar a família, será um gênio desencontrado.

Uma mulher pode ser um anjo,


Mas se lhe faltar a família, falta-lhe uma das asas... que diziam que anjo tinha.

Um velho pode ser um sábio,


Mas se lhe faltar a família, falta-lhe a razão para continuar envelhecendo.

Um homem sem nenhuma espécie de família não existe..


E, se existe, não é feliz! (Adapt.)

Parte 36.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 165


LEVANDO A SÉRIO A SALVAÇÃO DA FAMÍLIA
Gênesis 12.1-3

Nossa reflexão se dá em torno da seriedade da salvação da família. Uma das


redes de televisão tem repetido anos após ano uma campanha cujo tema é
"Criança-Esperança". É em nome da esperança que apelamos a que façamos a
nossa parte para a salvação das crianças, pois quando isso acontecer, teremos
famílias salvas e o mundo transformado.

PERGUNTANDO

Nossa pergunta: que significam os valores espirituais para você, meu irmão,
minha irmã?

* Onde está Deus em sua vida? Se estiver em segundo lugar, seu filho verá a
Deus exatamente desta maneira.

* Que são os valores espirituais para você? Se a igreja está em segundo


plano na sua vida, é desse modo que seu filho, sua filha, seu adolescente, a
verá também.

* Que é a fé para você? Se tem um valor secundário, assim o seu filho a


entenderá.

*E a salvação? É algo importante, ou encarada como coisa de ordem


inferior? Seu filho há de ver a salvação como coisa dispensável, não olhará
para o sacrifício de Jesus Cristo com a dimensão que tem, pois nunca vai
entender a letra do hino que diz:

"No céu um dia cantarei dos salvos a canção;


E plenamente entenderei quão grande foi o seu perdão"

O perdão nunca será aquilatado, avaliado pelo seu filho se a salvação foi
olhada como dispensável.

Mas se a família vai a Cristo, e você dá condições de poder dizer: "Cri no


Senhor Jesus Cristo e fui salvo, hoje eu e a minha casa servimos ao
Senhor", as coisas serão diferentes. Sua família será outra na consciência e
nas intenções! E começando a paz em casa, então todo o edifício onde o
irmão mora será transformado! Se cada família começa a harmonia em casa,
a rua será transformada! O seu bairro, a sua cidade, num processo de
multiplicação de influências! Quando isso ocorrerá?

QUANDO ENCARARMOS O REINO DE DEUS COMO UM TODO

Ninguém pense no reino de Deus como compartimento separado, estanque.


É o tema mais abordado nos sermões e nas parábolas de Jesus Cristo. Há,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 166


na verdade, toda uma explicação sobre o reino em seções dos Evangelhos, e
nas, assim chamadas "parábolas do reino". É, no entanto, apropriado
lembrar que o que os Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas)
chamam de "reino de Deus", o de João chama de "vida eterna", e as Cartas
de Paulo denominam de um modo muito próprio "senhorio de Jesus Cristo".
Estamos falando, portanto, dos mesmos valores espirituais.

Anunciar o reino de Deus, então, é proclamar o senhorio de Cristo, e fazê-lo,


é transmitir a mensagem redentora, transformadora, modificadora,
regeneradora de vida eterna, de salvação plena, total, aqui e agora e pela
eternidade. Declara a Escritura Sagrada que Deus, o Criador, é Rei, e não o
diz com meias palavras. O Seu senhorio na vida é o Seu domínio como
realidade já, mas é, também, o aguardo da plenitude do reino na esperança
futura. O apóstolo Paulo fala sobre isso: escreve à igreja de Filipos e declara
com muita luz "que também Deus o exaltou [a Cristo] soberanamente, e lhe
deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre
todo joelho dos que estão nos céus, na terra, e toda língua confesse que
Cristo Jesus é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Fp 2.9-11).

Se alguém não rende o coração ao senhorio de Cristo, se não dobra os


joelhos diante de Jesus Cristo confessando que Ele é Senhor, sucederá que
seu coração e vida continuam dentro da situação descrita por João na sua
Primeira Carta: "o mundo inteiro jaz no maligno" (5.19, cf. 2Co 4.4). Mas a
consciência é como uma pedra atirada num lago. Vai formar círculos com o
mesmo centro. Realmente, Jesus Cristo está no centro, e o reino vai
começar em nós, e vai envolver o nosso lar, e vai continuar no exercício da
nossa profissão, e vai avançando cada vez mais consolidado na razão de ser
de nossa esperança. E porque o reino de Deus vai se ampliando, é um reino
de abundância absoluta e um reino de total favor com o soberano dessa
abundância, com o Deus das abundâncias!

REGRAS DO REINO

O que há de extraordinário no reino de Deus são as regras, leis e uma ética


completamente distintas daquelas a que o mundo está acostumado a
obedecer e a seguir. Lá fora, querem levar vantagem em tudo; no reino, no
entanto, o crente permite que Deus o use. Essa é a lógica do reino. Na
gramática humana, dizemos "eu, tu, ele" (porque eu estou em primeiro lugar
na gramática humana, assim aprendemos na escola. E não é interessante
que tudo começa comigo? O indivíduo só começa a pensar em coletivo mais
adiante, depois que sai de si, pois tudo começa na minha pessoa). Mas na
gramática de Deus como é diferente... É reverso, começa com "Ele" (Deus),
passa para o "tu", e só depois eu penso em mim ("eu"): "Ele, tu, eu". Isso,
aliás, Jesus expressou muito claramente no "grande mandamento". Alguém
perguntou,
"Mestre, qual é o grande mandamento na lei?" (Mt 22.36). Jesus ensinou,
"amarás ao Senhor teu Deus [Ele]..."depois "ao teu próximo [tu] como a ti

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 167


mesmo [eu]". Jesus o fez mostrando a gramática divina, por isso dá certo no
reino de Deus! As regras da matemática são outras: quem perde, ganha,
quem põe em zero (Mt 10.34), quem anula recebe cem vezes mais! A ética é
distintamente outra: no mundo exterior, é orgulho; na ética do reino de Deus,
quem se humilha é exaltado (Mt 23.12), quem recebe profeta recebe
recompensa de oferta (Mt 23.41). Pois bem, o mundo será transformado
quando olharmos o reino de Deus como um todo.

QUANDO A OBRA MISSIONÁRIA OCUPAR O PRIMEIRO LUGAR EM NOSSA


VIDA

Sim; o primeiro lugar em nossas prioridades, pois pode até acontecer que
estejamos como indivíduos ou como igreja fazendo outra coisa que não
pregando a Jesus Cristo. Proclamar Jesus Cristo não é falar acerca dEle: é
preciso crer na Sua pessoa. Dogmas, credos, cerimônias dão uma crença
intelectual, uma fé passiva, "eu-faço-porque-os-outros-fazem", "eu-penso-
porque-os-outros-pensam", e "eu-digo-que-creio-porque-todo-mundo-diz-
que-crê".

É preciso, entanto, proclamar a Pessoa de Jesus Cristo como Salvador,


Redentor e Libertador porque nada nem ninguém pode substituir Jesus
Cristo na nossa vida. Pregar a Cristo é proclamar o Seu domínio, o Seu
senhorio sobre os homens, e essa é a nossa prioridade porque nossa
missão! E porque Ele, o Senhor, é o antídoto contra o veneno da idolatria e
da feitiçaria, e do pecado que tomam conta de nosso povo! É por isso que
temos que pregar o Nome de Jesus!

Isto vai acontecer quando a obra missionária ocupar o primeiro lugar em


nosso planejamento. É exatamente por isso que abrimos Núcleos de
Estudos Bíblicos, Grupos Familiares, Grupos de Discipulado, Pontos de
Pregação, Células, Missões/Congregações que venham a se transformar em
igrejas locais. Esse é o motivo porque projetamos em nossos planos,
prioridades e, sobretudo, no nosso coração porque primeiramente o Senhor
colocou bairros, cidades, regiões em nossas mãos. Em segundo lugar, deve
ser destacada a força espiritual das igrejas, da oração nelas realizada que
têm sustentado os obreiros e voluntários que não se cansam no sacrificial e
estafante trabalho de proclamar, anunciar, espalhar a mensagem com noites
mal dormidas, com sacrifício do conforto pessoas muitas vezes. Quando a
obra missionária ocupar o primeiro lugar em nossos investimentos. E o
investimento é no preparo da liderança, e o povo precisa de liderança
espiritual preparada. E a razão é que Satanás quer essa liderança (cf. Mt 4.1-
11)! O diabo deseja a liderança do irmão! Ele quer tomar conta da vida de
sua família! Quer tomar conta da vida das igrejas, razão porque precisamos
de uma liderança altamente preparada. É preparo acadêmico, mas é,
sobretudo, preparo espiritual; são boas condições materiais, é não rebaixar
padrões na igreja, nem padrões de ensino, e muito menos padrões de
conduta, padrões éticos, padrões de comportamento! Porque cada vez que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 168


Satanás põe o dedinho em algo na vida de um crente, o padrão é rebaixado,
e tudo mundo o percebe!

QUANDO NOS COLOCARMOS NO ALTAR DE DEUS

A mensagem do evangelho pode ser recebida de um de dois modos: ou o


irmão/a irmã recebe a palavra sem poder, ou a recebe com poder.

Diz a Palavra de Deus: "Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em
palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em plena convicção,
como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós" (1Ts 1.5). Como
quer receber a palavra e a mensagem do Senhor? Com ou sem poder?

Quando é recebida sem poder, nada vai acontecer de espiritual e


transformador, e sua igreja vai se tornar um clube. Um clube de gente bem
intencionada, porque deixar um dia belíssimo de sol, não ir à praia num
domingo pela manhã, só mesmo sendo gente bem intencionada... Teríamos
na igreja apenas uma utopia, um grupo de amigos e de idealistas, mas sem
poder, com uma mensagem que não atinge as necessidades, e sem
transformação de vida. Entramos e saímos do mesmo modo...

Quando, no entanto, a mensagem tem poder, realiza-se uma mudança tão


radical em nós, e no povo, e na sociedade que pode ser chamada, até, de
uma recriação. E Paulo, apóstolo, escreveu: "Portanto, se alguém está em
Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo" (2Co
5.17). Quando recebida com poder, é uma recriação, e essa capacidade vem
do Senhor e do Seu Espírito.

Colocando-nos no altar divino, o que temos e o que somos, o mundo será


transformado, porque, na realidade, como cristãos só temos um propósito: o
progresso do reino de Deus! Não posso ter outro objetivo na vida a não ser o
de que a vontade de Deus se espalhe, e os homens conheçam a Cristo, e
vivam por Cristo, e louvem o nome de Jesus Cristo. Daí, dedicação.

Mas cuidado para que não se pense que, dando dinheiro, estamos fazendo o
bastante. Não é isso que tem importância: o que Deus quer é a sua vida!
Deus não precisa do seu dinheiro, o irmão/a irmã sabe disso: Deus precisa
dos seus pés, dos seus braços, das suas mãos, do seu talento; Deus precisa
da sua música, da sua voz, do seu coração. Deus precisa do irmão! Precisa,
na verdade, do seu planejamento. O irmão que é bom administrador, trabalhe
na sua igreja nessa área; o bom evangelista, a igreja precisa de você nesse
campo. "Mas eu não sei fazer coisa alguma, pastor..." Abra a sua casa, faça
um Núcleo de Estudos Bíblicos e alguém vai até lá fazer o estudo na sua
casa. Ore. A igreja precisa da sua oração.

O mundo será transformado quando nos colocarmos no altar de Deus certos


de que a vitória não é nossa, nem da nossa igreja local, mas do Senhor! É

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 169


Ele Quem luta as batalhas! Somos apenas os Seus instrumentos, Suas
armas. É Ele Quem vai à frente de Gideão, à frente do Seu povo!

"Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te


amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra". Isso é dito
para o irmão/a irmã, que é filho de Abraão, para a irmã que é filha espiritual
de Abraão e Sara, porque na irmã todas as famílias da terra serão benditas.
Mas sabe o irmão/a irmã deve começar a abençoar com a sua vida? No seu
lar, levando-o a Cristo, e ao seu vizinho da direita, ao da esquerda, ganhando
a sua rua e o seu condomínio para Cristo. Que o Senhor nos abençoe e
ajude, e nos prepare para cometimentos ainda maiores. Amém!
Parte 38.
NAMORO E A VONTADE DE DEUS

"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o
teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu". (Mt 6.9,10)
A vida cristã é fundamentalmente um relacionamento com o Criador. Nesse
relacionamento, através de Jesus Cristo, Deus nos dá abundante vida. Nesse
relacionamento, ainda, o cristão é dependente de Deus, feito uma nova criatura, e
se torna servo para atualizar a vontade de Deus em sua vida. E como o princípio
básico é o serviço, Deus expressa a Sua vontade, e o faz soberanamente, e nós
buscamos cumpri-la,. Para nós, portanto, é uma prioridade. Assim, a Escritura
Sagrada o declara: "aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" .
Isso nos traz a realização de uma promessa que se encontra em Hebreus 10.36:
"Porque necessitais de perseverança, para que, depois de haverdes feito a
vontade de Deus, alcanceis a promessa". Então, onde entra a família, ou o crente
em vias de formar a sua família, o seu lar, em termos de preparo para o
casamento, e de realizar a vontade divina no namoro, e no noivado, e no seu
próprio casamento, tenha ele um, dois anos, alguns meses apenas, ou muito
tempo de casado?

BUSCANDO A VONTADE DE DEUS NO NAMORO (Sl 37.4)

Namoro é coisa moderna. No passado não era assim, em algumas culturas, ainda
hoje, também não é assim; não havia nem há namoro. O casamento era arranjado
pelos pais, pois havia muitas conveniências envolvidas, questões econômicas,
patrimoniais (para que não houvesse divisão de terras, de posses, os casamentos
eram feitos, quantas vezes, dentro das próprias famílias), havia questões políticas.
Gilberto Freyre fala em seu Casa Grande e Senzala a respeito de mocinhas que
se casavam com doze, treze anos com homens bem mais velhos, com trinta e
tantos, quarenta e tantos anos. Ele diz com uma nota de muita tristeza que
quando essas meninotas/esposas estavam com 22, 23 anos já eram mães de
muitos filhos e praticamente mulheres acabadas, sendo que muitas morriam bem
cedo. Pobres bisavós e trisavós nossas.. Até se chegar aos dias de hoje, até,
portanto. à escolha individual do namorado ou namorada, um longo caminho foi
percorrido.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 170


Namoro é uma etapa para conhecimento recíproco da natureza, da consistência e
da estabilidade dos sentimentos que estão envolvidos e dos que a ele deram
origem. Infelizmente, e com freqüência, o namoro se torna uma corrida mal
orientada e desenfreada, que termina com um casamento às pressas. É uma fase
importantíssima pelo fato de conduzir a um aprofundamento de relações que é o
noivado. É uma fase de educação de sentimentos, de abrir muito os ouvidos e os
olhos.

Aliás, "namoro" é palavrinha interessante. Vem do verbo "enamorar-se", ou seja,


"sentir amor por alguém, e inspirá-lo a alguém". É via de mão dupla. Namorar é
buscar amor; é o vestibular do casamento; é período de conhecimento; é período
de relacionamento social, e intelectual, e psicológico, e, também, espiritual. As
famílias começam a se relacionar, e, assim, cada um vai descobrir quais os
valores éticos, morais, comportamentais da família do outro. E não se iluda não,
esses fatores que a família tem vão influenciar no casamento. Como é o lar, como
se conduzem, como se comportam o pai, a mãe, os irmãos?. Em Ezequiel 16.44
está registrado que "tal mãe, tal filha", dito que têm uma variação na sabedoria
popular. Dizem que se você quiser saber como vai ser a sua esposa daqui a vinte
anos, é só olhar para a mãe dela.
Compete aos pais a orientação para o amor. Namoro prematuro, precipitado, pode
ser bonitinho, mas, também, altamente problemático. O envolvimento sentimental
é forte demais para a cabecinha da garota, e para o coração do rapazinho.

É vontade de Deus que você O busque com respeito ao namorado ou a


namorada, pois não o diz Amós: "Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de
acordo?". Isso vale para o namoro também. É por essa razão que é preciso
começar do modo certo. E voltando à Palavra de Deus:

"Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem
a justiça com a injustiça? Ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que
harmonia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o crente com o incrédulo? E
que consenso tem o santuário de Deus com ídolos?
Pois nós somos santuário do Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre
eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Pelo que, saí vós do
meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não toqueis coisa imunda, e eu vos
receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o
Senhor Todo-Poderoso".

É vontade de Deus que Jesus Cristo esteja incluido no namoro, bem no meio de
vocês dois: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa,
fazei tudo para glória de Deus". "...Para a glória de Deus" inclusive o namoro. É
vontade de Deus que você encare o namoro com muita seriedade.
E Ele deve confirmar o namoro? A resposta só pode ser Sim, por isso há
princípios de orientação para quem já está namorando ou se encaminhando para
isso. O primeiro é o senso da vontade de Deus. Porque Deus evidencia o que é
bom e o que não serve, o que tem esperança de mudar, e o que não a tem. Se

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 171


você começa a namorar, e acha que vai ser "missionária" àquele rapaz, e acha
que ele vai mudar, e ele não muda, não case! Nem noive, porque muito
provavelmente seu casamento vai ser problemático como o seu namoro está
sendo. Por esse motivo, a Bïblia usa uma expressão sempre repetida: Esperar No
Senhor." Você precisa "esperar no Senhor"; às vezes, espera-se muito no Antônio,
no João, na Rosinha, mas ninguém quer esperar no Senhor até que Ele apresente
a Sua vontade. Muitos não querem, e pegam o ônibus errado, e se dão mal mais
adiante no casamento: o Senhor mostra o bem e o mal, o certo e o errado.
Outro princípio no namoro é o senso da afinidade mútua de valores. Você precisa
ter os mesmos valores que ela, e vice-versa, o que você aprendeu na escritura
precisa ser o valor também dele ou dela, os espirituais, mentais e físicos. Aí toca o
enorme problema do namoro misto. Deve o rapaz namorar uma moça fora do
círculo cristão? Uma moça crente deve namorar um rapaz fora do seu círculo?
Minha opinião pessoal, referendada na Bíblia é "não", porque a Bíblia diz "Não vos
ponhais em jugo desigual" , pois muita lágrima vai ser derramada, muito coração
vai sangrar quando você, jovem cristão ou cristã, tiver interesse numa atividade
evangelística (o dia de culto mesmo), e ele ou ela vai para outro lugar ou atividade
que sua consciência não está pedindo.

ontra o Espírito; mas Deus se preocupa com esse assunto, e, assim, você não
está só. Naquele momento mais quente do namoro, lembre-se que você não está
só, pois tem o recurso da oração, e de dizer "basta!" Aliás, quem estabelece
limites é a moça, não esqueça! É ela quem vai dando limites, e o primeiro limite da
moça cristã (e, de resto, de qualquer moça) é "Pára aí! Não, senhor; não é hora,
não; não é agora, não; e não é assim, não!" Por outro lado, no namoro tudo deve
ter o aval do Senhor.
Quando Cristo é o Senhor, problemas de abrasamento e precipitação são
controlados e dominados. Sem Jesus Cristo, porém, vai ficar muito difícil, terrível e
desesperançosamente difícil o namoro ter dignidade e propósito.

Parte 39.
NOIVADO E A VONTADE DE DEUS

"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o
teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu". (Mt 6.9,10)

Muito do que foi dito sobre o namoro vale para o noivado. Além do que, vale
ressaltar que o noivado é um misto: última etapa da vida de solteiro, e primeira da
vida a dois. O noivado, no entanto, não confere liberdades; ainda são solteiros
numa época de acertos mais profundos: o casalzinho sente que Deus o guia, e
entende, presume e assume que o casamento vai acontecer. Marca, então, seus
encontros pela qualidade. Noivado é coisa séria: são 2/3 do caminho entre o
namoro e o casamento. Há, até, quem afirme que o ideal é namoro longo, mas
noivado curto.

UM COMPROMISSO SOCIAL

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 172


O noivado é um compromisso social. Quem assume o noivado compromete-se
com muitas pessoas, e não somente com o futuro cônjuge.
O noivado é um compromisso moral. Ele envolve responsabilidade, por isso não é
coisa de criança, e deve ser medido pela consciência de que Deus vê todos os
atos.
O noivado é um compromisso material. Então, não existe isso de dizer "nós nos
amamos, e com ele eu moro até debaixo do viaduto..."
O noivado é um compromisso espiritual. Se não há um ideal marcado pelas coisas
da espiritualidade, vai ficar muito difícil, porque casamento não é apenas uma
linha horizontal, é vertical também. E aí se observa que quando se traça a linha
horizontal do relacionamento do casal e a vertical da relação com Deus, forma-se
uma cruz. O casamento do cristão precisa também ser colocado na cruz de Jesus
Cristo.

PARÂMETROS

Vamos dar parâmetros. Um autor chamado Wilson Grant apresentou os testes


para o amor. Você que é noivo ou noiva, será que vale a pena ir adiante?
l. Teste da resistência. Se o seu amor só traz ansiedade, depressão, e tensão,
repense o futuro com ele ou com ela. Se vocês quando se encontram, há muita
tensão e a despedida é de depressão, e há muita tristeza, pare! Porque a paixão
sufoca, mas o amor vitaliza.
2. Teste da orientação. Paixão (que é um amor infantil) é irracional; paixão é
preocupação em demasia. Mas o verdadeiro amor não exclui as outras pessoas
do círculo, são vocês e os outros.
3. Existe o Teste do hábito. O amor verdadeiro ajuda a aceitar as diferenças e
qualidades indesejáveis. Alguém disse de um modo muito interessante e jocoso:
"Quem está apaixonado nem celulite vê". Mas não é assim, não: quem ama vê, e
aceita; quem ama sabe que há um defeito nele ou nela, e mesmo assim o aceita
porque reconhece que o casamento vai melhorar. Não é ser "missionário" para
tentar mudar hábitos e coisas terríveis, não. Uma bobagenzinha para a qual
podemos fechar os olhos, não há muito problema, não. O caso, porém, é que a
paixão não vê defeitos.
4. Teste do ciúme. A paixào é possessiva, mas o verdadeiro amor confia e é
seguro dos seus sentimentos.
5. Teste do resultado. O amor verdadeiro faz surgir o mais elevado e o mais nobre
no indivíduo. A paixão é especialmente negativa.
6. Teste do tempo. O tempo fortalece o amor, mas sepulta a paixão, e, pior ainda,
ãs vezes sepulta o apaixonado.

É VONTADE DE DEUS...

É vontade de Deus que se acredite no amor. Talvez até aprender a acreditar que o
amor é uma liberdade, é uma alegria, é uma adesão, é uma esperança, é uma
exigência, é um sacrifício. Amar é se fazer ausência de si mesmo, e presença do
outro; amar é uma paz.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 173


É vontade de Deus que o futuro casamento seja vivido como opção de fé. Não se
brinca com o que é sério. E os sentimentos da moça? E os do rapaz? E os das
famílias e dos amigos? Não! Dizem que em Belo Horizonte um rapaz apostou com
os amigos que iria se casar com uma determinada jovem. Ele namorou, noivou,
casou, e anulou o casamento dizendo que fora uma aposta com os amigos. Não!
É como colocou Jean Mouroux: Ä noção de pessoa está no centro de todos os
problemas humanos". Por isso, é olhar o outro (a noiva, o noivo) como pessoa, e
mais, como pessoa a quem respeitar, e ainda mais: como pessoa em quem Jesus
Cristo habita!
Quando Cristo é o Senhor, os planos para o futuro consórcio se encaixam. Mas
sem Jesus Cristo vai ficar muito difícil o seu noivado ter pureza moral e saúde
espiritual.

Parte 41.
CASAMENTO E A VONTADE DE DEUS

"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o
teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu". (Mt 6.9,10)

Se o namoro há de ser posto sob a vontade de Deus, muito mais o noivado, e


mais ainda o casamento como processo de doação e crescimento.

BUSCANDO A VONTADE DE DEUS NO CASAMENTO - I

A vontade de Deus é que o casal seja maduro para o casamento, pois casamento
não é coisa de menino. Pelo contrário, o que a Bíblia diz, e aqui está no seu
primeiro Livro, é o seguinte: "Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e
unir-se-á a sua mulher, e serão uma só carne." Menino não deixa pai e mãe, mas
o adulto, sim. Só adultos deixam pai e mãe, e se tornam pais e mães. A vontade
de Deus, portanto, é que eles se tornem uma só carne.
A vontade de Deus é que Seu Plano de Organização e Métodos seja praticado no
lar. E sabem qual é o plano de O e M que a Escritura apresenta para o lar? Está
em Efésios 5.22 a 6. 9. Diz aí que Cristo é o cabeça do marido, e o Senhor da
família; diz que o marido é cabeça da mulher e autoridade sobre os filhos; diz que
a mulher é ajudadora, cooperadora bem habilitada do esposo em termos de
autoridade e responsabilidade; e diz que os filhos são sujeitos aos pais. Há uma
hierarquia dentro do lar. Fora disso, queira ou não, discuta, argumente, invente
desculpas, ou vá, até mesmo, pelo que dizem algumas Constituições nacionais,
fora desse padrão de O e M, é problema. Os consultórios de psicólogos, de
terapeutas de família, de psicanalistas, de psiquiatras estão lotados de pessoas
com problemas familiares por causa de um revés na autoridade familiar: o pai não
"manda", quem "manda" é a mãe; nem pai nem mãe "mandam", mas, sim, os
filhos. E deste modo, esse revés dentro faz com que o bolso e a economia de
muitos terapeutas e psicólogos engorde.

Mas isso não é fácil: há necessidade de um "filtro" para que esse padrão seja

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 174


colocado dentro do lar. E esse filtro, o filtro de todo relacionamento é Jesus Cristo.
Se você não O tem no lar, é só dor de cabeça. Literalmente! São problemas
psicossomáticos, dores lombares, enxaquecas, dores de coluna, gastrites, colites,
falta de ar, depressão, má disposição, dores estranhas que surgem porque Jesus
Cristo não é o padrão, não é o filtro, não é o Senhor.

A vontade de Deus é que você seja o marido da mulher virtuosa. Veja Provérbios
31.10-31, e quanta coisa de importância fala do marido. Diz que ele é confiante na
esposa, (v.11); homem de influência na palavra, nas ações, nos julgamentos, nos
pareceres (v. 23); é homem reconhecido a Deus pela mulher que Ele lhe deu (v.
29). Afinal, na Escritura está dito de um modo também muito claro que "Casa e
riquezas são herdadas dos pais; mas a mulher prudente vem do Senhor".

A vontade de Deus é que a irmã seja "a mulher virtuosa". Aliás, que extraordinária
mulher essa de Provérbios 31! Que administradora espetacular! Que dona de casa
magnífica! É esse capítulo dos Provérbios um guia para a dona de casa, para a
mulher administradora do seu lar. Tem muita sensibilidade para com o
necessitado (v. 20). É uma negociante sem igual, grande pechincheira para que a
economia doméstica tenha um pouco a mais para empregar em outra coisa (v.
24). É uma boa conselheira (v. 26), é elogiada pelos filhos e pelo marido (vv. 28,
29). É mulher religiosa, piedosa (v. 30). E há muito marido que se orgulha de
descobrir este verso que é Provérbios 31.15: "E quando ainda está escuro, ela se
levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas", e diz para a
esposa "Por que você não faz como a mulher de Provérbios 31.15?" E para a irmã
não ficar por baixo, bem que poderia responder com Provérbios 6.6, "Vai ter com a
formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio".
É vontade de Deus que o marido ame a sua mulher, a ponto de ir para a cruz por
ela, porque Jesus se sacrificou pela Esposa, a Igreja, e foi para a cruz pela Igreja
assim o declara Paulo, apóstolo, em Efésios no capítulo 5.25.

É vontade de Deus que ame de modo a exercer autoridade com humildade, nos
termos de 1Pedro 3.8,9:
Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor
fraternal, misericordiosos, humildes, não retribuindo mal por mal, ou injúria por
injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para
herdardes uma bênção."
Que ame de maneira a cuidar do seu bem-estar espiritual, pois é ele o sacerdote
do seu lar. 1 Pedro 2.9:
Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz",
lembra esse fato que foi tão destacado na vida dos patriarcas: Noé, Abraão,
Labão, Jó. Essa é uma doutrina que Lutero restaurou na Reforma. Como
sacerdote, o irmão há de apresentar seus filhos a Deus, e guiá-los na Sua
Palavra, como em Dt 6.4-9 (Jó 1.5). pelo exemplo (v. 6) e pelo ensino (v.9).

BUSCANDO A VONTADE DE DEUS NO CASAMENTO - II

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 175


A vontade de Deus é que a fé seja praticada dentro do lar, e observada e
transmitida. Ensinar, praticar, observar e transmitir o quê? Diria que a primeira
coisa a observar, praticar e transmitir é o amor integral, e também a esperança, e
diria, mais ainda, o perdão. É preciso ensinar a valorização de cada pessoa em
casa, da netinha à vovó, do vovô ao netinho . Ë preciso observar a boa
comunicação (Rm 10.8-13), e os elevados valores da parte de Deus, Suas ordens
e mandamentos. Por isso, a vontade de Deus é que o casamento, e a família por
extenso, sejam plenos do fruto do Espírito (Gl 5.22,23). Um casamento cristão não
é aquele no qual dois crentes simplesmente se casam. Isso não faz um
casamento cristão, não. Casamento cristão é aquele onde há unidade, e
cooperação, e submissão, e comprometimento, e esforço pela compatibilidade. E
essa unidade começa com a graça de Jesus Cristo. Então, vai valer Efésios 4.5-7,
trecho magistral sobre a unidade da fé.

Não há casamento problemático. O que há, na verdade, são pessoas com


problemas que se casam. E a raiz está no tipo de relacionamento que você tem
com Deus. E aqui vem, igualmente, um padrão para o casamento. Que tal o fruto
do Espírito no casamento? Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio. Que tal colocá-lo no casamento? Amor
não é uma capacidade humana: é fruto do Espírito. Falta alegria nos seu
casamento? E a paz está em baixa no seu lar? Não se exercita mais a paciência
dentro de casa? Nem a benignidade (gentileza, cortesia)? A bondade já foi
embora? E a fidelidade? É difícil a mansidão? O autodomínio?
O milagre no casamento cristão começa quando dois corações procuram o
coração de Jesus Cristo, e quando duas mentes procuram a mente de Jesus
Cristo, e quando dois seres humanos procuram o ser de Cristo, a pessoa de
Cristo, o propósito de Cristo, e o poder do Espírito Santo.

A vontade de Deus é que seu casamento tenha um clima espiritual, e dentro dos
termos de Mateus 18.19,20): "Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra
concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu
Pai, que está nos céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome,
aí estou eu no meio deles." Um estudioso do Novo Testamento explicou que esse
"dois ou três" significa a família (pai, mãe e o filho, ou filhos) reunida em nome de
Jesus Cristo. Quando Jesus Cristo é o Senhor, você olha para sua esposa com
um novo olhar; e quando Jesus Cristo é o Senhor, você olha seu marido com nova
compreensão, mesmo que ele não seja fiel à Palavra de Deus nos termos em que
o Novo Testamento apresenta, mas a Escritura em 1Coríntios 7 diz que a mulher
cristã santifica o marido que não o é, e vice-versa (v. 14).
Quando Cristo é o Senhor, você vê seus filhos com uma nova esperança, e a
família toda vê o futuro com uma nova fé. Mas sem Jesus Cristo vai ficar muito
difícil, terrível e absurda e pensamente difícil o seu lar, o seu casamento, ter
substância e consistência.

Parte 41.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 176


"NISSO PENSAI"
Programa de educação do espírito e da mente segundo a Bíblia Sagrada

"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o
que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se
há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai" (Fp 4.8)

Os pensamentos são um índice e sinal do caráter. Na verdade, reagem


poderosamente no caráter de uma pessoa humana. Um pensamento mesquinho e
pecaminoso repetido na mente fortalecerá a tendência natural para o mal. Por
outro lado, se a paz de Deus dirige o coração, os pensamentos serão santos e
puros; terrenos, se a carne e o mundo habitarem esse mesmo coração.
Pensamento é energia espiritual, é poder. A Bíblia Sagrada afirma que "como o
homem pensa, assim ele é", por esse motivo, é preciso sair do ambiente estreito
das ansiedades, das perturbações e galgar a montanha do pensamento nobre
onde o ar é puro e fresco.

Escrevendo o texto base, Paulo, apóstolo, queria se assegurar de que os irmãos


da igreja de Filipos iam colocar suas mentes nas coisas corretas. É lei da vida que
se alguém pensa com freqüência ou persistência em algo, o momento chegará
quando não mais poderá deixar de pensar nisso. Essa é a razão porque é de
importância máxima que a pessoa humana pense em coisas dignas. O profeta
Isaías expressa a admirável profecia que "Tu [Deus] conservarás em paz aquele
cuja mente está firme em ti, porque ele confia em ti" (26.3; cf. 2Co 10.5). Pense
erradamente e o resultado será um terrível engano, inominável erro.

Paulo dá uma lista dessas coisas. Pensar nessas verdades prepara qualquer um
para realizá-las. Realmente, o uso de listas éticas era comum no pensamento
filosófico estóico. Paulo, no entanto, coloca uma variável que tornou esta lista
absolutamente diferente.

Como anteriormente dito, o pensamento é importante porque se reflete sobre todo


o caráter, bem como nos afeta, porque naturalmente perseguimos nossos ideais.
Um sábio provérbio ensina: "Semeia um pensamento, colherás uma ação; semeia
uma ação, colherás, um hábito; semeia um hábito, colherás um caráter; semeia
um caráter, colherás um destino!" Quando todos pensavam que a Terra fosse um
disco, Colombo perseguiu o pensamento de que seria redonda e... o Novo Mundo
foi descoberto.

Paulo apresenta ideais. Ideais são pensamentos vivos e aspirações nobres que
fascinam os homens através de deveres elevados. Os ideais cristãos vêm de
Deus para elevar a vida das pessoas fiéis. Os ideais mundanos são as posses, o
controle econômico, o exercício do poder, o prazer. A propósito disso, Jesus Cristo
perguntou, "Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua
alma?", motivo porque nossos pensamentos devem ser disciplinados para que se
submetam à Lei de Cristo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 177


Assim é: "Nisso pensai", encoraja o apóstolo Paulo. São bons pensamentos para
que haja boa saúde mental e espiritual. Pensar no que é puro, reto e bom. Não é
por acaso que os conceitos de arrependimento e conversão sejam expressos pela
palavra grega metanóia, ou seja, "mudança de mentalidade", o que quer dizer que
os valores morais da verdade, honestidade, retidão, justiça, bondade, pureza e
respeitabilidade sejam reconhecidos por todos, e não apenas pelos cristãos.

NO QUE PENSAR

"Tudo o que é verdadeiro" (alethê)

O apóstolo se prende ao sentido de ser verdadeiro e falar a verdade. Realmente,


veracidade de palavra e sinceridade de caráter são absolutamente indispensáveis
à santidade, pois o que é verdadeiro é reto e de confiança. O contrário disso é o
irreal, a fantasia, o que não tem substância, a falsidade.

Há no mundo muitas coisas enganadoras e ilusórias. Uma pesquisa indica que, a


respeito de preocupação, só 8% são motivos legítimos; os outros 92% nunca
tinham acontecido, eram fantasiosos ou eram algo fora do controle das pessoas.
Coisas que prometem o que não podem realizar, e dão paz enganadora. A
realidade observável é que o Inimigo-das-nossas-almas é mentiroso (veja-o em
João 8.44), e seu objetivo é a corrupção das mentes (2Co 11.3). Como explica o
Dr. Russell Shedd, "Somente onde a mentira tem valor maior que a virtude e a
verdade, imperam os pensamentos mesquinhos e mentirosos".

Não devemos nos preocupar com o que não resiste à verdade. O apóstolo Paulo
em Efésios 4.25 diz que a mentira é uma violação do contrato social, "Pelo que
deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos
membros uns dos outros".
Na passagem paulina de Filipenses 4.8, a palavra "verdade" não tem a mesma
carga de significados de quando é utilizada num tribunal de justiça ou numa
delegacia de polícia. A verdade é sempre bela, ao passo que nos exemplos
mencionados é repulsiva. Enquanto nos tribunais a verdade se relaciona com
fatos, na Escritura sempre se relaciona com Deus. Assim, o pensamento deve ser
colocado em realidades em que se pode confiar, que não falham nem conduzem
ao fracasso.

Que é, portanto, verdadeiro?


Está na Palavra e na nossa experiência:
· Deus e Suas promessas;
· Cristo, que é Verdade personificada (Cl 3.2);
· Seu evangelho: a verdade sobre Sua vida e sobre Sua morte;
· A santidade.

Há que lembrar que o Espírito Santo nos controla pela verdade (cf. Jô 17.17; 1Jo
5.6), e que sempre que damos crédito a uma mentira, Satã sai vitorioso.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 178


"Tudo o que é honesto" (semnos)

Que palavra boa! Semnos é o que é nobre, respeitável, sério, e ainda "digno de
honra, digno de reverência, digno de culto, honroso e venerável". Paulo a usa em
relação à criação de filhos (1Tm 3.4), aos diáconos e diaconisas (1Tm 3.8,11), que
devem ser respeitáveis, ou seja, devem se dar a respeito, ser exemplares.

O original grego pode ser vertido como "digno de honra, digno de reverência,
digno de culto, respeitável, nobre, honroso e venerável". É palavra usada em
referências a templos.

Aplicada ao ser humano, descreve alguém que se movimenta no mundo como se


todo ele fosse o templo de Deus. Há no mundo coisas triviais, baratas e que
atraentes aa mentes superficiais. O cristão, pelo contrário, deve fazer repousar
sua mente nas que são profundas, sérias e dignas. Há, sem dúvida, muita coisa
que não é digna de respeito. Nelas, sequer devemos pensar, pois nossa atenção
não pode ser despertada e focalizada em coisas indignas. O que lemos, vemos ou
ouvimos, seja na TV ou cinema é respeitável?

"Tudo o que é justo" (dikaia)

Há quem coloque a mente no prazer, no conforto, nas coisas pelos métodos


fáceis. No passado, nós vivíamos nas imaginações dos sentimentos carnais (cf. Ef
2.3). O exemplo perfeito do que nós éramos está em Gênesis 6.5. O cristão, no
entanto, tem a mente de Cristo (1Co 2.16), e por conta disso, pensa no seu dever
para com Deus, e para com o ser humano, Sua imagem e semelhança.

Este mundo se caracteriza pela injustiça. No entanto, nossa mentalidade deve


inspirar-se na justiça. É ler 1João 3.7. Longe de nós, portanto, qualquer ideal que
tenha a marca da injustiça.

Porém, Deus é justo (Sl 11.7), e há quem não seja como bem expresso no Salmo
36.4 (cf. Am 8.4-6). A justiça, ensina a Palavra Santa, faz manter relações corretas
entre as pessoas, permite o equilíbrio entre interesses conflitantes e coordena o
direito de cada um com todos. Justiça fala de relações corretas entre um ser
humano e outro ser humano; fala da palavra do dever assumido e do dever
realizado; fala de dar a cada um o que lhe é devido.

PENSAR EM QUE MAIS?

"Tudo o que é puro" (agná )

Não é puritanismo, palavra e conceito que se minimizaram e depreciaram, porém,


pureza no mais alto sentido do que é moralmente puro e livre de máculas, do não-
poluído, pois é deste modo que o apóstolo Paulo descreve a Igreja de Cristo e, de
modo particular, os crentes (2Co 11.2; Ef 5; 1Jo 3.3).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 179


Estamos falando de pureza moral (a palavra grega, por sinal, pode também ser
vertida como aquilo que é "inocente" (2Co 7.11) e "casto" (2C0 11.2). Pureza de
palavras e de atitude nasce da pureza de pensamento e de intenções;
precisamente o contrário de Efésios 5.3.Afinal, temos a mente de Cristo (1Co
2.16), e a palavra de Jesus nos ensina que "os puros... verão a Deus".

O presente século está repleto de coisas perversas, vis, sujas e obscenas, e


muitas pessoas vivem em tal estado mental que maculam tudo em que pensam. O
que perturba a mente do cristão Paulo descreve como "a prostituição, a impureza,
a paixão, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria" (Cl 3.5), e ainda,
"dissolução... avidez... toda sorte de impureza" (Ef 4.19; cf. 5.3; 1Ts 4.5,6).
Segundo o mesmo apóstolo, isso é o que descreve o ímpio (cf. 1Ts 4.5), ofensa
que o Criador não deixará sem disciplina (v.6).

Os registros históricos dão conta de que na época em que Paulo escreveu esta
Carta, pecava-se tremendamente pela impureza sexual (cf. Rm 1; Ef 4.17-24; 5.8-
12). Mas a mente do cristão se detém no que é puro. Afinal temos a mente de
Cristo (1Co 2.16), e a palavra de Jesus nos ensina que "os puros... verão a Deus".

"Tudo o que amável" (prosphilê)

Há quem planeje mentalmente a vingança e o castigo despertando a amargura e o


medo nos demais. Outros há cujas mentes só se prestam para críticas, censuras e
criação de ressentimentos.

Prosphilê é o que é amável, tem encanto, promove a amizade e se auto-


recomenda. Ter idéia positiva a respeito de quem apreciamos é fácil; tê-las acerca
do concorrente ou rival é quem são elas.
O cristão coloca sua mente em coisas amáveis, como a bondade, a simpatia, a
paciência e o amor. Há, na verdade, um paralelo entre o "ser amável" e o fruto do
Espírito "benignidade". Afinal, pensamentos de benignidade, amáveis, tecem laços
de amizade. Paulo nos convida a tudo o que inspira o amor e para que nada
vulgar ocupe o nosso pensamento.

"Tudo o que é de boa fama" (eupsema)

E aí podemos ter outra grande lista destacando-se a cortesia, a urbanidade, a


temperança, a pureza e o respeito. Afinal, a vida de qualquer pessoa é muito
influenciada por aquilo a que dá atenção. O que tem boa fama é aquilo digno de
que se fale dele.

É o que é tem boa reputação. Observe-se que em nossos dias, famoso é quem
tem poder econômico, é quem manda e desmanda na Bolsa de Valores.

Não é esse o conceito da Bíblia, que apresenta uma grande lista na qual se
destaca a cortesia, a urbanidade, a temperança, a pureza e o respeito. Afinal, a
vida de qualquer pessoa é muito influenciada por aquilo a que dá atenção.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 180


Outra idéia sobre o que é de boa fama são coisas adequadas para serem ouvidas
por Deus. No mundo, palavras baixas, falsas e impuras; nos lábios do cristão e em
sua mente, existem só palavras adequadas para serem ouvidas por Deus.

QUE PRATICAR

"O que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em mim vistes, isso fazei"
(Fp 4.9a).

Sobre tudo isso os filósofos da antiga Grécia e Roma falaram, mas só o evangelho
associa estas virtudes ao agape , que é o amor de Deus; amor de doação, entrega
e compromisso, à mente de Jesus Cristo.

O apóstolo Paulo diz que é o que foi aprendido, recebido, ouvido e visto nele. Na
verdade, Jesus Cristo, nosso Senhor, é o exemplo supremo. Em Paulo, entanto,
temos um mestre que baseou sua vida e conduta no ensino vivo do Mestre por
excelência que é Jesus. Paulo era um mestre de moral. Sua exortação é feita
debaixo de humildade e sinceridade, e com isso, ensina que uma vida de
pensamentos elevados deve traduzir-se em ações nobres.

Outro motivo para essa afirmação é que o apóstolo estava seguro da veracidade
da sua mensagem e também perfeitamente seguro do rumo de sua própria vida.
Religião não pode ser separada da vida de cada dia. Não se pode ser materialista
na segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta e sábado e "religioso" no domingo.
Há sempre o perigo de tornar a religião apenas cerimônias limitando-a dias santos
e ocasiões especiais.

O grande mérito do evangelho de Jesus Cristo é que faz mais do que providenciar
um abrigo para quem é culpado. O evangelho toma os que confessam Cristo
como Salvador sob Sua direção exclusiva.

Diz Paulo: "se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai". É verdade;
se houver qualquer moral e aprovação divina, será objeto de nossa absoluta
consideração.

À LUZ DA OBEDIÊNCIA, UMA PROMESSA

"E o Deus de paz será convosco" (Fp 9b).

Há em Deus perfeita harmonia e paz absoluta. Seu domínio é o da paz, assim o


afirma a Escritura Sagrada (cf. Sl 29.11). A presença constante da paz no coração
da pessoa humana é garantia de Deus. Isso quer dizer que vivendo uma vida
orientada por pensamentos nobres e santos, a pessoa humana tem a bênção do
Deus da paz, e não será assaltado pela perturbação neste mundo. Como Bruce
expressou, "Possuir o Deus de paz é ainda melhor que possuir a paz de Deus".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 181


Todo este texto é um convite a praticar a mordomia do pensamento. Repudiemos
aqueles pensamento que nos rebaixam e afastam de Deus. E, por outro lado,
cultivemos os capazes de transformar a vida (Sl 19.14).

Nossa oração: que a graça divina governe os pensamentos.

Parte 42.
O ARREPENDIMENTO DE DEUS

A palavra hebraica para arrependimento é noham. É usada para indicar tanto o


arrependimento humano quanto o arrependimento de Deus no Antigo Testamento.

É do conhecimento de todos que a Bíblia fala do arrependimento de Deus. Mas


como o arrependimento de Deus deve ser entendido? Será que o arrependimento
humano serve de parâmetro para o arrependimento de Deus? O arrependimento
de Deus é o mesmo dos homens? Deus realmente se arrepende?

Antes de responder a estas perguntas, é preciso observar, primeiramente, que a


Bíblia trata do arrependimento de Deus nas seguintes passagens:

Gênesis 6.5-7 (Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na


terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então se
arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no
coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei,
o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus; porque me arrependo de os
haver feito);

Êxodo 32. 12 (Por que hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para
matá-los nos montes e para consumi-los da face da terra? Torna-te do furor da tua
ira e arrepende-te deste mal contra o teu povo);

I Samuel 15.10,11,35 (Então, veio a palavra do SENHOR a Samuel, dizendo:


Arrependo-me de haver constituído Saul rei, porquanto deixou de me seguir e não
executou as minhas palavras...O SENHOR se arrependeu de haver constituído
Saul rei sobre Israel);

2 Samuel 24.16 (Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém,


para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a
destruição entre o povo: Basta, retira a mão...);

Jeremias 18.7,8 (No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um


reino para o arrancar, derribar e destruir, se a tal nação se converter da maldade
contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe);

Joel 2.13 (Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao


SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 182


Jonas 3.10 (Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e
Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez).

Como entender estas passagens à luz de um contexto bíblico mais amplo?


Cremos que o Dr. James Packer está correto quando diz: "A referência em cada
caso é sobre a anulação de um prévio tratamento dispensado a certos homens,
como conseqüência da reação deles a esse tratamento. Mas não há sugestão de
que essa reação não tenha sido prevista, ou que Deus tenha sido tomado de
surpresa, e que não estivesse estabelecida em seu plano eterno. Não há mudança
alguma em seu propósito eterno quando Ele começa a agir em relação a um
homem de maneira diferente".

Além dos textos bíblicos acima, outras passagens são categóricas em afirmar que
Deus nunca se arrepende:

Números 23.19 (Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para
que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado,
não o cumprirá?);

I Samuel 15.29 (Também a Glória de Israel não mente, nem se arrepende,


porquanto não é homem, para que se arrependa);

Oséias 13.14 (...Meus olhos não vêem em mim arrependimento algum).

Não existe contradição alguma entre os textos que dizem que Deus se arrepende
e os que afirmam de outra maneira. Pelo contrário, essas três últimas passagens
bíblicas estabelecem definitivamente que o arrependimento de Deus nunca deve
ser entendido como o arrependimento humano. E por que não? Simplesmente
porque o arrependimento do homem é causado pelo reconhecimento de uma
atitude precipitada, como resultado da ignorância do que havia de acontecer. Nós
nos arrependemos porque erramos. No caso de Deus é extremamente diferente.
Ele jamais comete erros. Em Deus "não pode existir variação, ou sombra de
mudança" (Tg 1.17).

Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo e mudando sua intenção para com
o homem, "evidentemente é só a maneira humana de falar. Na realidade a
mudança não é em Deus mas no homem e nas relações do homem com Ele" (L.
Berkhof). Pink complementa: "Quando fala de si mesmo, Deus freqüentemente
acomoda a Sua linguagem às nossas capacidades limitadas. Ele Se descreve a si
mesmo como revestido de membros corporais como olhos, ouvidos, mãos, etc.
Fala de Si como tendo despertado (Salmo 78.65) e como ‘madrugando’ (Jeremias
7.13), apesar de que Ele não cochila nem dorme. Quando Ele estabelece uma
mudança em Seu procedimento para com os homens, descreve a Sua linha de
conduta em termos de arrepender-se". Em suma, o arrependimento de Deus não
ocorre por causa de qualquer mudança nEle, mas por causa de nossa mudança
para com Ele.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 183


Parte 43.
O ARREPENDIMENTO PARA A VIDA

A fé e o arrependimento são os dois elementos da conversão. Não há salvação


onde a fé esteja desassociada do arrependimento. John Murray escreveu: "A fé,
desassociada do arrependimento, de fato não seria a fé que conduz à salvação.
(...) a fé sempre existe dentro de um contexto. O arrependimento faz parte integral
desse contexto". A fé e o arrependimento são atos simultâneos da conversão, isto
é, não existe separação cronológica entre eles. Podemos dizer que o pecador creu
em Jesus porque se arrependeu de seus pecados ou, então, que o pecador se
arrependeu de seus pecados porque creu em Jesus.

Mas o que é o arrependimento para a vida?

1. O ARREPENDIMENTO PARA A VIDA

É DOM DE DEUS
E não poderia ser diferente. Se a fé é dom de Deus para a salvação do pecador
(cf. At 13.48; Ef 2.8; Fp 1.29; 2 Tm 3.2; Tt 1.1), o arrependimento também precisa
ser. Porque o arrependimento para a vida, do mesmo modo que a fé, "é uma
graça salvadora".
A expressão "arrependimento para a vida" é extraída de Atos 11.18. Após a
justificativa de Pedro, por ter pregado o evangelho aos gentios, Lucas registra a
atitude dos irmãos da Igreja Primitiva assim: "E, ouvindo eles estas cousas,
apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por
Deus concedido o arrependimento para a vida". Note, é dito que o arrependimento
para a vida "foi por Deus concedido". E a vida ou vida eterna, que é o objetivo do
dom do arrependimento, é aquela qualidade inigualável de vida que só Deus pode
dar. "Vida eterna não é simples existência eterna; significa existir com todas as
faculdades desenvolvidas em plenitude de alegria. Não é existir como a erva seca,
mas sim, como a flor em toda a sua beleza" (Spurgeon).

O tema do arrependimento para a vida como dom de Deus é abordado por Paulo,
direta ou indiretamente, em todas as suas epístolas. Destaquemos dois exemplos.
Escrevendo aos coríntios o apóstolo observa: "Agora me alegro, não porque fostes
contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes
contristados segundo Deus... Porque a tristeza segundo Deus produz
arrependimento para a salvação que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do
mundo produz morte" (2 Co 7.9,10). A tristeza segundo Deus produz
arrependimento de verdade (vida). A tristeza segundo o mundo produz, no
máximo, meros remorsos (morte). O arrependimento para a vida aproxima as
pessoas de Deus. O remorso afasta as pessoas de Deus. Em outras palavras,
arrependido o pecador corre para Deus, sem isto ele corre de Deus.

Podemos ver casos de "tristeza segundo Deus" na Bíblia, como por exemplo, Davi
(2 Sm 12.13; Sl 51), Pedro (Mc 14.72) e o apóstolo Paulo (At 9.1-22); e casos de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 184


"tristeza segundo o mundo", como por exemplo, Esaú (Gn 27.1-40; Hb 12.15-17) e
Judas Iscariotes (Mt 27.3-5). A tristeza de Deus leva o pecador a Cristo. A tristeza
do mundo afasta o pecador de Cristo.

A outra passagem em que Paulo fala do arrependimento como dom de Deus é 2


Timóteo 2.25: "Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura
Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade". Este
arrependimento para a vida é obra de Deus, no entanto, é também uma exigência
de Deus ao pecador, visto que Ele não pode crer e muito menos se arrepender no
lugar do pecador. O ser humano é e sempre será responsável diante de Deus por
seus atos pecaminosos (cf. Tg 1.13-15).

2. O ARREPENDIMENTO PARA A VIDA

É MUDANÇA DE MENTE E DO CORAÇÃO


O excelente Breve Catecismo de Westminster declara que "o pecador, tendo um
verdadeiro sentimento do seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em
Cristo, se enche de tristeza e de horror pelos seus pecados". Isso é verdade,
principalmente quando compreendemos que todos os nossos atos passam
primeiro pela nossa mente e coração. E o que isso significa, em termos práticos?
"O que precisamos compreender", diz James Packer, "é que a consciência pesada
do homem natural de forma alguma é a mesma coisa que convicção de pecado.
(...). Convicção de pecado não é simplesmente sentir-se miserável por causa de si
mesmo, de seus próprios fracassos e de sua incapacidade em enfrentar as
exigências da vida. (...). Ficar convencido do pecado não é simplesmente sentir
que se está em situação embaraçosa, mas perceber que se tem ofendido a Deus,
zombando de Sua autoridade, desafiando-O, opondo-se a Ele, desagradando-O".
Mudança de mente e de coração é isso.

Arrependimento que não produz uma profunda convicção de pecado não é


arrependimento verdadeiro. Para que haja arrependimento de verdade é
necessário que o pecador tenha "um verdadeiro sentimento do seu pecado".

Quando foi a última vez que você ouviu uma pregação que levasse o pecador a se
encher de tristeza e de horror pelos pecados dele? Por que esse tipo de pregação
não é comum nas rádios e tv? Reflita sobre isso enquanto prosseguimos.

Não pregar contra o pecado tem sido uma prática comum em nossos dias. O que
é lamentável. Quando lemos as pregações do Novo Testamento verificamos que o
arrependimento de pecados era o tema central.

Em seu excelente livro O Evangelho Segundo Jesus, o reverendo John MacArthur


faz uma observação interessante: "O evangelho segundo Jesus é, antes de tudo,
uma ordem ao arrependimento. (...). Desde o início do ministério de Jesus, o
centro da sua mensagem foi a chamada ao arrependimento. De fato, quando o
Senhor começou a pregar, a primeira palavra de sua mensagem foi ‘arrependei-
vos’ (Mt 4.17). Esta foi também a primeira palavra da pregação de João Batista

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 185


(Mt 3.2), e foi a própria base do evangelho pregado pelos apóstolos (At 3.19;
20.21; 26.20)". E conclui: "Qualquer que negligenciar a chamada dos pecadores
ao arrependimento não estará pregando o evangelho segundo Jesus".

3. O ARREPENDIMENTO PARA A VIDA

É MUDANÇA DE ATITUDE
Quando um pecador abandona seus pecados, ele se volta para Deus,
inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência. Jesus disse que é pelos
frutos que se conhece a árvore (Mt 12.33). Isto é, a conduta de uma pessoa
determina o que passa em sua mente e em seu coração. A mudança de
comportamento do pecador para obedecer a Deus comprova que realmente houve
uma transformação em seu ser. "É importantíssimo observar essa significação",
diz Murray. "Pois o arrependimento consiste de uma radical transformação de
pensamento, atitude e direção".
Paulo tinha esta "mudança de atitude" em mente quando descreveu a nova vida
dos tessalonicenses. "Deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes
o Deus vivo e verdadeiro" (I Ts 1.9). Veja os três elementos do arrependimento:
voltar-se para Deus; abandonar o erro; propor-se a servir a Deus. É importante
destacar que na língua grega os verbos "deixar", "converter" e "servir" de I
Tessalonicenses 1.9 estão no tempo aoristo. E o que isso significa? Significa que
o que aconteceu na vida dos tessalonicenses foi um ato completo, acabado e
definitivo, iniciado pelo próprio Deus. Veja mais sobre isso num precioso
comentário bíblico que o Dr. William Hendriksen fez desta passagem (Editora
Cultura Cristã).

Como mudança de atitude o arrependimento para a vida é "um redirecionamento


da vontade humana, uma decisão propositada de abandonar toda injustiça e em
seu lugar buscar a retidão" (MacArthur).

"O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa
e deixa, alcançará misericórdia" (Pv 28.13).

A sua mente, o seu coração e as suas atitudes comprovam que você é


verdadeiramente convertido? Poderia relacionar alguns pontos que confirmam o
seu arrependimento para a vida? Que Deus o abençoe e ajude a você e a mim.

Parte 44.
"Não aguento mais viver com ele(a)!"

Em 10 anos como Pastor, tenho ouvido esta frase algumas vezes. Ela vem de
casais, que após várias discussões, brigas e tentativas inglórias de salvar o
casamento, entregam os pontos e partem rumo à separação. As estatísticas
afirmam que dez anos atrás, havia menos de 100.000 divórcios no Brasil. Hoje são
cerca de 200.000, e de cada dez casamentos em pelo menos um deles um dos
cônjuges está se casando pela 2ª vez. Neste artigo, quero refletir com o leitor
sobre o divórcio e gostaria de fazê-lo respondendo a três perguntas:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 186


I) O que é o casamento aos olhos de Deus?
II) O que Deus pensa do divórcio?
III) Quais as causas do divórcio?

I - O que é o casamento?

Não há como discutir a questão do divórcio, sem antes entendermos biblicamente


o casamento. Podemos afirmar que ele é uma instituição que nasceu no coração
de Deus. Este é um princípio bíblico sobre o casamento - ele foi ordenado por
Deus, não se trata de uma opção.

Pensamentos limitados do que seja o casamento:

O casamento é uma cerimônia pública realizada na Igreja.


O casamento é uma exigência legal do país e do meio social.
O casamento é um contrato entre duas partes.
O casamento é uma instituição.
O casamento aos olhos de Deus deve incluir tudo isto, porém vai além. O
casamento é uma aliança. Aliança é o termo Bíblico que descreve a relação
homem e Deus no processo de salvação. Nas Escrituras, uma aliança é um pacto
solene que envolve um soberano e um vassalo. A aliança é imposta ao segundo
pelo primeiro e acarreta bênção quando cumprida e maldição quando quebrada.

Quando alguém entra numa aliança, assume um inescapável compromisso. A


Bíblia fala que Deus fez uma aliança conosco. E essa aliança é um vínculo
inquebrável com Deus. Deus não quebra aliança e não nos permite quebrá-la
também. Quando alguém que está em aliança com Deus, desobedece e não
aceita as condições estipuladas por esta aliança, a conseqüência é a maldição,
mas Deus não quebra Sua aliança.

O casamento, portanto, é nada menos que uma aliança estipulada por Deus.
Malaquias 2:14 se refere ao casamento como uma aliança "E perguntais: Por que?
Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade,
com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua
aliança" e é por isto que Ele odeia o divórcio. No livro de Provérbios (2:17), Deus
adverte contra a adúltera que lisonjeia com palavras, que "deixa o amigo da sua
mocidade e se esquece da aliança com Deus". Note bem, ao deixar com quem ela
se casou, é acusada de quebrar sua aliança.

O casamento é uma aliança, e por isto não podemos tratá-lo a nosso próprio
gosto.

II - O que Deus diz sobre o divórcio?

O pensamento correto sobre a natureza do casamento dá o alicerce para


sabermos o que Deus pensa do divórcio. Se o nosso Deus é um Deus de aliança,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 187


e Ele não quebra nem permite quebra de aliança, também não permite que o
casamento seja quebrado. Como Deus não se divorcia do seu povo, assim ele não
permite que marido e mulher se divorciem. Divorciar-se é quebrar o matrimônio da
Aliança - Lemos em Ml 2:16 "Porque o Senhor Deus de Israel diz que odeia o
divórcio ..."

Precisamos compreender o texto de Mt. 19:1-7 em que Jesus diz que o divórcio é
proibido mas que foi permitido por causa da dureza do coração. Deus nunca
intencionou o divórcio, pois este contraria a essência do casamento como uma
aliança que nunca deverá ser quebrada, anulada. Você então pergunta: Por que
foi dada a permissão para o divórcio conforme Mt. 19:7?

Jesus responde em 19:9 - "Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de
relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério ...". Note bem que a
única razão para o divórcio conforme Jesus é o adultério, e isto para proteger a
parte inocente, e não para dar às pessoas uma maneira fácil de cair fora de um
relacionamento desagradável. Fora do adultério, o casamento só pode ser
dissolvido em honra, somente pela morte. Divórcio é o atestado do pecado
humano.

O casamento é para todo o sempre - Em Mt 19:6 Jesus afirma que "... "aquilo que
Deus ajuntou não separe o homem"

Ele permitiu mas não deu a Sua bênção. Mesmo no caso de adultério, devemos
perceber que o caminho de Deus não é o divórcio mas o perdão. Embora
permitido, não é Seu desejo.

III - As causas do divórcio:

Se divórcio é o atestado do pecado humano, precisamos agora colocar algumas


das mais freqüentes razões humanas para a separação. Quais são as razões ou
causas da separação entre os casais? Gostaria de mencionar pelo menos quatro
causas:

Descuido da vida cristã dos cônjuges


Ausência do perdão
Indisposição à mudanças necessárias
Ausência do amor

1 - Descuido da vida espiritual dos cônjuges:

Um escritor do século passado, certa ocasião disse à sua esposa: "Minha querida,
quando amo mais a Deus, amo você da maneira como deve ser amada". Quanto
há de verdade nesta afirmação! Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais nos
aproximamos do nosso cônjuge.

A crise em um casamento já é sintoma de que há uma crise espiritual. Lemos nas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 188


Escrituras que "se o Senhor não edificar o lar em vão trabalham os que o
edificam" Sl 127:1. Nosso casamento precisa ser regado à oração e leitura da
Palavra. Qual foi a última vez que você orou com seu cônjuge? Quando foi que
vocês sentaram juntos para estudar a Palavra de Deus?

Se não damos lugar a Deus no relacionamento marido-mulher, não há muito o que


fazer para resistir à crescente degradação e enfraquecimento da relação a dois.

2 - Ausência de perdão:

Sem a disposição para o perdão, nenhum casamento consegue sobreviver por


muito tempo. Quantos comentários negativos que aparentemente são inofensivos,
mas vão penetrando sorrateiramente no relacionamento infligindo mágoa e
ressentimento e destruindo os sentimentos mais ardorosos. Quantos problemas
antigos e mal resolvidos sempre voltam às discussões atuais. Quando o cônjuge
permite que os fantasmas do passado continuem assombrando o presente,
reavivando antigas amarguras, eles fazem com que as cicatrizes e feridas
passadas não se fechem e se curem.

Quem não perdoa está matando aos poucos o sonho do casamento. (Cl. 3:13)

3 - Indisposição à mudanças necessárias:

Se formos bem honestos, teremos que admitir que nem tudo em nosso cônjuge
nos agrada. Há hábitos, manias, comportamentos que nos irritam e nos tiram do
sério. Porém isto é normal em qualquer casamento. Precisamos aceitar o fato de
que somos diferentes do nosso cônjuge em muitas coisas, afinal viemos de
famílias diferentes,de costumes e valores que nem sempre são os mesmos. Não
obstante termos diferenças que são de nos mesmos, há muitas coisas em que
precisamos ser mudados, e o que causa tensão no casamento é que os cônjuges
não querem mudar, não se dispõem a mudanças necessárias para o bom convívio
entre marido e mulher; pelo contrário, concentram grande esforço em tentar mudar
o outro. Tal atitude cria fortes resistências, o cônjuge não muda e começa a cobrar
mudanças no outro, acentua os defeitos e minimiza as qualidades.

4 - Ausência de amor:

"Eu não o amo mais". Esta é uma frase comumente usada pelos cônjuges em
crise para dar plausibilidade e legitimidade ao divórcio. Mas como tudo o que é
dito nas Escrituras, o amor também sofre de má compreensão. O amor não é um
sentimento para ser vivido apenas em bons momentos a dois, ou só na lua-de-
mel. Conforme Cristo disse, o marido tem que amar a esposa como Cristo amou a
Sua Igreja - dando sua vida por ela. Amor é a decisão de agir em favor do outro.
Temos que abandonar aquele tipo de amor-fantasia, amor de novela, amor
emocional. Amar é desempenhar atos de amor. Amar é ser gentil com o cônjuge,
é procurar atender às necessidades do outro, é saber ouvir, é ser paciente, é não
procurar seus próprios interesses, é não ser egoísta, é não mentir ao outro, é ter

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 189


palavras de elogio e não de crítica, etc. ... A ausência destas atitudes sufoca e
estrangula o casamento.

O divórcio não oferece uma oportunidade fácil de começar uma vida nova.
Lembre-se que sempre que desobedecemos a Deus sofremos conseqüências.
Você leva cicatrizes do divórcio consigo para sempre.

Note as palavras de um irmão após alguns anos de seu divórcio:

"Acho que a morte é mais fácil de suportar do que um divórcio, porque nela existe
um fim. O divórcio simplesmente não acaba"

A Bíblia afirma inegociavelmente: "aquilo que Deus ajuntou não separe o homem".
Ferir este princípio é atrair desastrosas consequências.

Alguma coisa a mais ainda poderia ser dito aqui sobre este assunto; talvez
algumas medidas de prevenção. Contudo, entendo que a melhor maneira para se
prevenir ao divórcio é começar combatendo as suas causas: Monitore sua vida
espiritual e comece a levar Jesus para dentro de seu casamento, aprenda a
perdoar ao invés de guardar ressentimentos, esteja disposto a promover
mudanças significativas em seu relacionamento, ao invés de cobrar mudanças, e
tome a decisão de amar seu cônjuge.

Que o Deus da aliança abençoe seu casamento ! E lembre-se: Ele odeia o


divórcio.

Parte 45.
O DESERTO É O MELHOR LUGAR!

"Não peço que os tire do mundo, mas que os guardes do mal " - Jo 17:15

Creio que não temos compreendido bem as conseqüências desta oração, por isso
temos nos limitado a justificar os fracos resultados que obtemos em nossa luta
diária nesta vida, com o fato que Jesus em Sua intercessão, rogou ao Pai que nos
guardasse do mal.
Entretanto, aqui estamos, sujeitos a todos os problemas que qualquer ser humano
enfrenta diariamente.
Eu percebo que toda vez que uma pessoa fala dos problemas que todos temos,
este, procura fazer uma distinção entre os filhos de Deus e o mundo, como se
bastasse apenas afirmar que, "apesar dos problemas que estamos passando, o
Senhor tem nos guardado".
Não estou negando que o Senhor nos tem guardado! Ele tem nos guardado e nos
amparado. Mas, gostaria que você fosse sincero me respondendo apenas uma
pergunta:

QUANDO VOCÊ ESCUTA UMA AFIRMAÇÃO DESTA, VOCÊ FICA


SATISFEITO?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 190


Quero dizer: Você se satisfaz plenamente ao ouvir, que apesar de todos os
problemas, o Senhor nos tem guardado? Você não acha, que alguma coisa está
faltando?
Temos ouvido uma palavra que adotamos da Bíblia e que traduz bem esta
situação que estamos vivendo: DESERTO! Sim, muitas vezes parece que
estamos passando pelo deserto.
Eu penso que teria sido muito melhor se o Senhor Jesus tivesse orado para que o
Pai levasse a Sua Igreja ao invés de deixá-la neste mundo. Pense comigo, aqui
estamos nós neste mundo, enfrentando toda a sorte de situações difíceis tais
como: Caos financeiro, político e social. Nós estamos sujeitos às mesmas
dificuldades que o nosso vizinho.
A Bíblia nos diz em Mateus 5:45, que Deus mesmo faz chover sobre justos e
injustos. Quer um exemplo sobre esta afirmação?
"Todos os dias vemos as notícias dos conflitos entre os judeus e os palestinos, um
dia é uma bomba que mata judeus num shopping, outro dia é um grupo de
palestinos mortos pelo exército israelense em uma estrada qualquer. Isto nós já
estamos acostumados a ouvir.
Coisa bem diferente, é quando ouvimos sobre um avião de missionários
derrubado pela força aérea peruana, matando uma mãe e dois filhos de uma
família de missionários americanos, conforme aconteceu a duas semanas atrás. E
o detalhe é que não foi por engano!"

Mas como é possível algo assim acontecer? Não estranhamos o fato de palestinos
e judeus morrerem todos os dias, mas nos sentimos mal ao saber que
missionários foram mortos, não por guerrilheiros e nem por perseguição religiosa,
mas pelas autoridades de um país! Como fica então a oração de Jesus?
Pensemos então, em algo mais, visualize o seguinte quadro:
"Um pai de família, desempregado, com o aluguel de sua casa atrasado,
endividado com a escola de seus filhos, sem a menor condição de pagar o
tratamento dentário de sua família. E se alguém ficar doente, então será um caos!
Há falta de tudo em casa, e o pior é o olhar das crianças quando pedem para
comprar algo, e que será impossível satisfazê-las."

Se isto não for o deserto, então não sei mais o que é!


Talvez você pense que estou forçando uma situação com esta ilustração, mas
olhe para o seu lado, e você verá muitas pessoas nesta mesma situação. Isto é
mais comum do que podemos imaginar.
Por isso pergunto, como fica a oração de Jesus? Será que ela ainda está
valendo? Será que Deus entendeu o que Jesus pediu? Senão, de que adianta
orar, se Deus não respondeu a oração de Jesus, que garantia tenho que Ele
ouvirá a minha?
Pense comigo, nós estamos no mundo, vivemos no mundo, nós a Igreja de Cristo!
Estamos no mundo, e estamos sujeitos a todos os problemas do mundo! Quer um
exemplo mais atual?

"A crise de energia por que está passando o Brasil, os EUA e muitos outros

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 191


países, também nos afeta. Também estamos sujeitos aos apagões, às cotas, à
sobretaxa, e aos cortes."

Pois bem, estamos no mundo, e daí? Algumas pessoas que se alto proclamam
filhos de Deus, afirmam categoricamente, que, "se estamos no mundo, então
devemos nos amoldar ao mundo para mudarmos as circunstâncias. Já que somos
'cidadãos do mundo', não podemos nos 'omitir', nos 'esconder' ou fugir das nossas
responsabilidades com a sociedade da qual fazemos parte. Então temos que nos
envolver na política, nos esquemas financeiros, no comércio, nos trabalhos
sociais, pois se nascemos e vivemos no Brasil, então somos cidadãos brasileiros."
Quando na realidade, para os nascidos de novo, para uma nova vida, nascidos de
Deus em Cristo Jesus para uma nova existência, não se pode dizer que somos
brasileiros e nem cidadãos do mundo. O próprio Senhor Jesus disse em Jo 15:19:
"...vocês não são do mundo, ... eu os escolhi, tirando-os do mundo;...". E em
Efésios 2:19, o Apóstolo Paulo disse: "Portanto, vocês já não são estrangeiros
nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus" de
um, "Reino que não é deste mundo" como está em João 18:36!
Então somos estrangeiros e forasteiros neste mundo. E como não pertencemos
mais a este mundo, nossas obrigações, em primeiro lugar, deveriam ser com o
Reino do qual pertencemos, o Reino dos Céus.

Calma! Eu não estou pregando um boicote quanto às nossas obrigações enquanto


viventes neste mundo, nem com nossas obrigações civis. Mesmo porque, o
próprio Senhor Jesus advertiu aos homens, que "dessem a César o que é de
César". No entanto, Ele também advertiu que "dessem a Deus o que é de Deus",
conforme está em Marcos 12:17.
Se analisarmos corretamente este texto com base naquilo que temos aprendido,
iremos descobrir que temos vivido muito mais para César, muito mais para o
mundo, do que para Deus. Se temos compreendido que a Deus pertencem todas
as coisas, e todas as coisas Lhe são sujeitas, então veremos que a parte de
César, nada mais é do que uma porção daquilo que Deus mesmo nos deu para
cumprirmos com nossas obrigações civis. E portanto, a Deus, devemos dar o todo
e não a sobra. A sobra deve ir para César e não para Deus.
Temos nos esquecido, que foi contra este mundo, que Jesus orou. Este mesmo
mundo que O perseguiu e O matou é o mundo que em vivemos, e que também
nos persegue e quer a nossa morte. E quando se fala de mundo, fala-se da
instituição, fala-se do espírito que governa o mundo. Nunca das pessoas!
No entanto, aqui estamos! E no que diz respeito à oração do Senhor Jesus, de
uma coisa podemos ter a certeza, o mundo poderá e irá nos perseguir assim como
fez com Jesus, mas em Deus estaremos seguros.
Portanto fica claro o fato, que se temos que viver no mundo é por uma razão
maior, que vai além do óbvio, além do "IDE", além do "CHAMADO", além do que
já estamos "cansados" de ouvir.
Vamos então repensar como ficam os nossos problemas, as nossas dificuldades,
os ímpios prosperando e seus negócios dando lucros, seus filhos estudando nas
melhores escolas, possuindo os melhores carros e casas, e nós, os filhos de
Deus, passando pelo deserto diariamente!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 192


Faça comigo uma retrospectiva da sua vida! Coloque em uma coluna os
momentos que você viveu em um oásis ou seja, situação financeira estável,
harmonia em seu lar, segurança nos seus negócios, relacionamentos estáveis,
saúde física e emocional e principalmente, saúde espiritual. E na outra coluna os
períodos que você viveu em um deserto.
Mas não tente se enganar dizendo que em determinada época você viveu uma
vida próspera nas finanças e no trabalho, esquecendo-se dos demais itens
relacionados. A Bíblia indaga em Lc 9:25: "Pois que adianta ao homem ganhar o
mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo? ". Ou seja, para Jesus, ou tem
tudo ou não tem nada.
Se formos honestos, iremos afirmar que temos vivido a maior parte de nossa vida
mais no deserto do que no oásis. E digo mais, a única razão para isso, é porque
"O DESERTO, É O MELHOR LUGAR".

Você vai pensar que eu fiquei maluco, ou que virei um conformista ou ainda que
esta é uma nova doutrina. A doutrina masoquista. Ora, não inventaram a doutrina
da prosperidade?

Volte comigo ao texto de Mc 12:17, e com base no que acabei de falar sobre, ser,
o Deserto o Melhor Lugar, é preciso deixar claro que temos dado muito mais
crédito a César, pelas situações que temos vivido do que propriamente a Deus. Se
temos que dar a César o que lhe corresponde, daquilo que Deus nos dá, e a Deus
o que é de Deus, e se o que é de Deus, é o todo, então porque dar a César o
crédito pelas situações que temos enfrentado quando na verdade o que estamos
passando é pela vontade soberana de Deus?

Agora, nos vemos diante de uma nova possibilidade. Diante de uma nova ênfase
para as circunstâncias que nos cercam e nos envolvem. Uma nova forma de
"encarar" o "deserto" que estamos atravessando. Uma nova postura diante das
circunstâncias que nos é requerida pelo Senhor a partir de agora.

Irei demonstrar pelas Escrituras, que para nós, filhos e filhas de Deus, servos e
servas do Senhor Jesus Cristo, o lugar onde estamos e nas situações em que nos
encontramos, é o lugar onde devemos estar, por ser o melhor!
Nada de conformismo ou determinismo ou masoquismo. Mas uma nova atitude
diante de tudo e de todos como verdadeiras testemunhas de Cristo. Eu sei que
não será fácil, pois nunca é fácil derrubar aquilo que está instituído, como o
pessimismo, como a negação da vontade de Deus por acharmos que o melhor
para nós deve ser segundo o nosso padrão.
Não será fácil, mas uma coisa é certa, que depois do sacrifício de Cristo, tudo o
mais, é menos difícil. Amém?

Desertos na Bíblia

Todos nós já conhecemos ou temos alguma noção de fatos na Bíblia envolvendo


pessoas e desertos. Os mais conhecidos, sem dúvida são: Abrão em viagem até
onde Deus o levasse; José sendo levado como escravo até o Egito, Moisés e o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 193


povo de Israel saindo do Egito; Elias fugindo da ira de Jezabel, se escondeu no
Monte Horebe; Davi fugindo da ira do rei Saul. Temos também, no N.T. Jesus no
deserto para ser tentado e João Batista, um freqüentador assíduo do deserto.
Várias vezes no A.T., vemos situações ocorrendo entre os desertos de PARÃ;
SUR; SIM; SINAI e ZIM. Já no N.T., temos o grande deserto da JUDÉIA.
Rapidamente, vamos relembrar alguns fatos importantes na vida de algumas
pessoas, relacionadas a desertos.
Mas antes, creio ser fundamental ressaltar como princípio o seguinte: as
Escrituras muitas vezes trata determinados assuntos de forma figurada, e não na
exatidão do termo. Temos muitos exemplos disso, tais como a serpente que às
vezes é citada como um réptil mesmo, mas às vezes, ilustrando tanto o mal como
o bem, como no caso da serpente de bronze. Também temos o caso do fermento
figurando o mal, o mundo ou ainda o Reino de Deus, além do sub produto de pão
ou bolos.
E assim, temos vários exemplos que poderíamos relacionar para mostrar que nem
sempre um objeto ou lugar ou animal, pode ter o mesmo significado. Isto acontece
também com o deserto muitas vezes mencionado na Bíblia, pois a palavra pode
tanto aparecer especificando uma área geográfica como uma situação espiritual,
entre outras possibilidades.

A palavra "deserto" não significa necessariamente um deserto como o SAARA ou


o da ARÁBIA, mas um lugar excessivamente solitário. Existia uma forma de
devoção religiosa tanto por homens como por mulheres, por razões
profundamente espirituais, sem a necessidade de quaisquer votos, o retiro ou
isolamento no "deserto".
Assim posto, iremos compreender melhor a situação vivida por muitos servos de
Deus no passado, e com isso, aprendermos uma lição que poderá mudar a nossa
vida, ou no mínimo, aumentar a nossa fé e confiança em Deus.

Comecemos por HAGAR:


Mas quem foi Hagar? Qual a sua importância neste contexto?
Para quem não sem lembra, Hagar era a serva pessoal de Sarai, esposa de
Abrão. Era uma egípcia dada como parte dos despojos do Egito, quando, de
passagem por lá, o faraó tomou Sarai por concubina, imaginando ser, ela, irmã de
Abrão. Após Deus ter ferido o faraó com uma grave doença, eles foram expulsos
do Egito com bens e servos como despojo.
Devido à idade avançada de Sarai, e não crendo na promessa que Deus dera a
Abrão, que faria dele uma grande nação, Sarai convenceu Abrão a se deitar com
Hagar e ter um filho dela que por direito, passaria a ser de Sarai e Abrão. Deste
relacionamento, nasceu Ismael.
Quando Hagar soube que estava grávida, começou a desprezar a esposa de
Abrão, que deu a ela o direito de castigar sua serva como quisesse. Esta, então
acabou fugindo! E para onde foi que ela fugiu?
Para o Deserto de Sur. Ali começa desenrolar o propósito de Deus, tanto na vida
desta desprezada personagem, como por conseguinte, na vida de Abrão. Ali em
meio ao deserto, em meio à solidão, lhe aparece o Anjo do Senhor com uma
ordem - Gn 16:7-9, e uma bênção - Gn 16:10,11. Ela voltou e se humilhou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 194


conforme a ordem que recebeu.
Mas vindo o tempo do cumprimento da promessa de Deus, Sarai concebeu e deu
a luz o filho da promessa, Isaque. Quando este desmamou, Sara, se irrita com
Ismael que ri de Isaque, por isso, Abraão expulsa Hagar e Ismael do
acampamento. Abraão lhes prepara uma provisão de pão e água, e os manda
embora. Para onde desta vez? Para o Deserto de Berseba - Gn 21:14-16.
Ali, onde parece não ter mais saída, onde não há mais esperança, onde não há
mais garantias, e tudo parecia estar perdido, as provisões acabaram, não havia
mais onde se agarrar, só restava aguardar que a morte levasse diante de seus
olhos a Ismael e depois a ela também!
Um Pensamento: Devemos sempre nos lembrar, que: "É no deserto, quando se
pensa em fim de linha, onde brotam fontes de águas e uma nova esperança". - Gn
21:15-21.
MOISÉS:
Qual a maior prova pela qual Deus nos faz passar? A resposta em uma palavra:
ESPERAR. Se Deus lhe falar para escalar uma montanha e alcançar o cume,
você logo vai. Mas se Ele lhe ordenar a sentar-se embaixo, no sopé da montanha,
e esperar, você não suporta. A maior prova da nossa fé é ter que esperar.
Provavelmente o personagem mais maduro de toda a Bíblia é Moisés. Como foi
que ele amadureceu? Através de oitenta anos de deserto. Quer ser como Moisés?
A Bíblia registra uma das maiores tarefas já dadas por Deus a um homem. Quem
era este homem? Seu nome era: "tirado das águas" (Ex 2:1-10), parece até que
seu nome seria uma profecia de sua vida.
O filho adotivo de uma princesa, filha de faraó, deveria ter uma educação de
príncipe, e por isso, foi ele, instruído em toda a literatura egípcia (At 7:22), que
nesse tempo excediam em civilização a qualquer outro povo do mundo.
Moisés estava sendo preparado para, talvez, herdar o trono do faraó. Era
conhecedor de todos os costumes da corte, experimentou a pompa, a riqueza e a
glória de um príncipe do Egito. Mas Deus tinha um propósito muito mais elevado
para Moisés do que o de ser herdeiro do trono dos faraós. Para a grande obra
para o qual fora escolhido - o de libertador de seu povo - era necessário muito
mais do que isso tudo!
Era necessário ter com os escorpiões e serpentes, seria necessário ir para o
deserto. Ali, na escola de Deus, conheceria a dura realidade da vida, ali, veria que
todo o seu conhecimento, toda a sua cultura e força física, de nada serviriam, sem
o devido tratamento que lhe estava destinado.
Outrora, o príncipe do Egito, implacável nos seus atos de príncipe matou um
egípcio, agora um servo, reconhece a sua incapacidade diante da sua chamada,
passa a se transformar de um guerreiro para o homem mais manso sobre a face
da terra e o mais paciente. Capacitado a ouvir a voz do Altíssimo e de estar em
Sua santa presença. Totalmente transformado pela escola de Deus, o deserto.
Antes seu lar eram os palácios do Egito, agora, eram as areias quentes e secas
do deserto de Sinai. É agora que seu nome parece ter mais significado - tirado das
águas, colocado no deserto - seu último lar.
Este tempo no deserto, não seria o de uma etapa, fase ou passagem, este seria o
tempo de sua vida. Dos seus 120 anos ele viveu 80 anos indo e vindo, por vários
desertos.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 195


ELIAS

Jeová é o meu Deus, um dos maiores profetas do A.T., um homem peludo, que
andava cingido sobre os rins com uma cinta de couro, aparece na história de um
dos piores reis de Israel, chamado Acabe e Jezabel a rainha. Mulher idólatra e
dominadora.
Parece que a principal função de Elias, era o de atormentar Acabe e esta mulher
terrível. Na primeira ocasião o profeta aparece em cena, com uma terrível profecia
para o rei e a nação, que viriam anos de seca extrema (1 Rs 17:1). Pela ordem do
Senhor, Elias vai para leste do Jordão junto ao riacho de Querite, onde iniciaria na
escola de Deus (1 Rs 17:2-6)

Ele passa meses por um deserto de solidão e total dependência de Deus. O


Senhor ordenou que ali, ele ficasse, bebendo daquele riacho e sendo alimentado
pelos corvos que lhe traziam comida todos os dias. Para muitas pessoas este não
seria propriamente um deserto, pois ele tinha tudo o que era necessário para
sobreviver em meio a uma estiagem. Sua situação era bem cômoda, não lhe era
exigido nenhum esforço e nenhum trabalho. Era uma vida mansa!

Mas apesar da situação parecer a melhor, ele estava só e na dependência de ser


alimentado por corvos! Você pode imaginar uma situação como esta?
Entretanto, o comodismo e a apatia chegaram! Com o tempo, ele não esperava
mais em Deus, mas sim nos corvos e no riacho que passava logo ali. Por isso,
num belo dia, quando ele acorda como fazia sempre, saiu para beber água e se
lavar, quando teve a sua primeira decepção, o rio que lhe servia com água fresca
todos os dias, secou.
Talvez como as águas daquele rio, começou a secar a sua confiança. E não era
só isso, ele voltou para caverna a fim de tomar o seu café da manhã, quando
então descobriu algo mais. Acabou a sua mordomia! Não havia pássaros não
havia comida, não havia mais nada.

Um Pensamento:

"Este é o momento decisivo por que todos nós passamos em situações de grande
dificuldade. Temos duas decisões a tomar: Ou lutamos com as nossas próprias
forças e decisões a fim de tentar sair do deserto que estamos passando, ou
fazemos como Elias fez, parou diante do ribeiro em meio à seca e da possibilidade
de morrer de fome, para ouvir a voz de Deus a fim de se salvar daquela situação".
(1 Rs 17:8,9)
Pense comigo:
"Se Deus é soberano, e nós reconhecemos e cremos na intervenção e no controle
dEle em todos os assuntos do universo, inclusive os da nossa vida, porque temos
tanta dificuldade em compreender que quando estamos no "deserto" estamos
porque assim Deus O quis! O "deserto" em nossa vida não é uma fase que
estamos vivendo por razões aleatórias à vontade de Deus, mas por intervenção
divina. É a oportunidade que temos para ouvir a voz do Senhor".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 196


"Não foram as minhas mãos que fizeram toda estas coisas?" (At 7:50; Is 66;1,2).
O deserto de Elias não acabou! Passam-se meses, e Elias apresenta-se diante de
Acabe, por ordem do Senhor. Segue-se daí a cena no Monte Carmelo, os profetas
de Baal são mortos por ordem de Elias, e como conseqüência, Jezabel decreta a
morte do profeta que por medo corre para salvar a sua vida (1 Rs 19:3), para o
Deserto de Zim entre Berseba e o Sinai.
Que coisa! Ai está o profeta do Senhor, debaixo de um zimbro, um pequeno
arbusto típico da região desértica do Sinai, que mal serve para dar sombra,
pedindo ao Senhor que lhe tirasse a vida pois já não suportava mais as pressões
do seu encargo (1 Rs 19:4). Estava com medo de ser morto a mando de uma
"louca", e com medo de enfrentar o seu "deserto".

Um Pensamento:

"O deserto pode parecer ruim, mas é o lugar das bênçãos de Deus. Preocupe-se
se você está vivendo muito mais no oásis do que no deserto."
Quando ele só pensava em morrer, assim como nós, quando achamos que o
nosso deserto é o lugar do sofrimento, da angustia, da solidão, sempre vem o
Senhor a fim de trazer a bênção inigualável que só é possível contemplar quando
não há mais forças, mais recursos, mais nada.

Elias, agora é acordado por um anjo que lhe trás comida. Não são mais os corvos,
mas o próprio Senhor que lhe vem em socorro! Em 1 Rs 19:6, é lindo ver, que
enquanto Elias dormia, talvez pensando na morte como solução, o anjo, ao seu
lado, preparava-lhe a comida fresca e saudável no fogo. O que acontece dois dias
seguidos.
O Senhor lhe dava forças não para sair do deserto, mas para prosseguir em uma
longa jornada, de quarenta dias e noites, até o monte do Deus, o monte Horebe no
deserto de Sinai (1 Re 19:8). Aquele homem que outrora só pensava na morte
como solução de seus problemas, contemplou a face de Deus (1 Rs 19:11), se
deleitou com a presença do Altíssimo, foi-lhe restaurado o chamado e a força do
Senhor em sua vida.

Um Pensamento:

"Talvez como Elias, estamos sempre esperando que Deus venha em nosso
socorro com poderosos feitos, milagres como Mar se abrindo diante de nós,
ventos, terremotos e fogo, quando na verdade lá mesmo, no deserto, o Senhor
virá com voz mansa e suave," (1 Rs 19:11,12).
Ainda encontramos muitos outros exemplos como estes, tais como Davi ao fugir
para as cavernas com medo do rei Saul (experiência maravilhosa que iremos
dedicar uma mensagem); Jó em sua tremenda prova; Daniel sozinho na causa do
Senhor; Oséias tendo de tomar sobre si o pecado de Israel, casando-se com uma
prostituta; João o Batista sendo forjado no calor do deserto, tornou-se o maior de
todos os profetas; Paulo em sua cegueira teve que depor todas as suas armas
perante o Senhor Jesus.
E por fim, o próprio Senhor Jesus em seu deserto que não foram apenas quarenta

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 197


dias, mas o tempo de Seu ministério, pois sobre si estavam todos os desertos de
todos os homens! Por isso, só dEle, foi possível dizer como disse Isaías:
"...homem de dores e experimentado no sofrimento..." - Is. 53:3.

Para finalizar, quero deixar mais alguns pensamentos e textos das Escrituras que
o Senhor têm me dado nestes últimos dias:
"Nós temos nos acostumado entender a experiência de Jó na forma como os fatos
ocorreram. Precisamos aprender a nos colocar nas situações e olhar de vários
ângulos, como este: Temos Jó, um homem muito rico e poderoso de sua época, e
temente a Deus. O diabo vem na presença de Deus, e O acusa de favorecê-lo
com riquezas e abastança, por isso a razão de Jó ser temente a Deus, diz o diabo.
Então Deus permite que o diabo lhe tire tudo, patrimônio, filhos e a saúde, a fim de
se provar a fidelidade de Jó. Segue-se, então, que Jó passa por um grande
deserto.
Imagine agora, se a situação fosse inversa: Jó um homem extremamente pobre,
ou, como costumamos dizer, vivendo continuamente num deserto, mas fosse
temente a Deus. O diabo se aproxima de Deus usando o fato de Jó ser um
homem pobre como a única razão da sua fidelidade. Então Deus lhe permite que
fosse dado a Jó de todas as riquezas do mundo para provar a sua fidelidade.
O deserto não tem haver com escassez ou fartura, nem com saúde plena ou
doenças persistentes.
O deserto, é o lugar onde podemos ver os milagres de Deus. A terra prometida, é
o lugar de descanso, Israel, nunca descansou, porque a terra prometida é a
eternidade com Deus. O deserto é agora onde podemos ver Deus em Sua glória e
soberania, agindo em nossa vida."
"O povo que saiu do Egito, passou 40 anos vagando pelo deserto e não entrou na
terra prometida, porque não aprendeu a ver a mão de Deus agindo a seu favor no
deserto."
"Se você quer entrar na terra prometida, saiba que o caminho é pelo deserto".
Textos:
Deuteronômio 8:15,16 - O Senhor faz com cada um de nós o mesmo que fez com
Israel: "Ele os conduziu pelo imenso e pavoroso deserto, por aquela terra seca e
sem água, de serpentes e escorpiões venenosos..." a fim de provar o Seu imenso
amor e cuidado, como fez: "Ele tirou água da rocha... e os sustentou no deserto
com maná..., para humilhá-los e prová-los, a fim de que tudo fosse bem..." NVI
Deuteronômio 1:31 - "Também no deserto vocês viram como o Senhor, o seu
Deus, os carregou, como um pai carrega seu filho, por todo o caminho que
percorreram até chegarem a este lugar." NVI
Isaías 32:13,15 - "Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e abrolhos
(roseiras bravas) ... Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então o
deserto se tornará em campo fértil (ou pomar), e o campo fértil (pomar) pareça
uma floresta." RA
Isaías 43:19 "Vejam, estou fazendo uma coisa nova! Ela já está surgindo! Vocês
não a reconhecem? Até no deserto vou abrir um caminho e riachos no ermo," NVI
2 Crônicas 20:6 "... Senhor, Deus dos nossos antepassados, não és tu o Deus que
está nos céus? Tu dominas sobre todos os reinos do mundo. Força e poder estão
em tuas mãos, e ninguém pode opor-se a ti." NVI

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 198


Romanos 8:18 - "Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser
comparados com a glória que em nós será revelada." NVI
Leiam também os Salmos que Davi escreveu quando estava no deserto nesta
ordem ao que parece a ordem que foram escritos, entretanto, convém ressaltar,
que a história de Davi em tempos de deserto, são tão ricas em ensinamentos que
deixamos para tratarmos em separado deste estudo:
Salmo 142 - quando se achava prostrado em seu momento mais sombrio;
Salmo 57 - quando estava de joelhos; e
Salmo 34 - quando ficou de pé.
Salmo 63

Parte 46.
O MITO DO SEXO SEGURO
(A Liberação sexual, a aids e os meios de prevenção)

Moralista! Eis ofensa pior do que xingar a mãe. Desde 3 décadas atrás, ser
classificado de moralista, em especial em assuntos sexuais, é ser atingido pela
vergonha. O sexo virou tabu - não porque não se possa falar nele, nem porque
não se possa praticá-lo nas modalidades que fogem às mais ortodoxas, mas, ao
contrário, porque é imprescindível falar nele, alardeá-lo o mais possível,
escancará-lo no cinema, nas letras de música, nas revistas e na TV, e incentivar a
sua prática seja em que modalidade for, homo ou hetero, sozinho ou
acompanhado - é tudo normal, normalíssimo, é o que reza a cartilha do nosso
tempo; tempos pós-modernos. Sexo virou tabu ao contrário. É proibido proibir.
Tentar conter seus impulsos é coisa de velho, atrasado, "careta". É repressão. É
censura.

No dia 13 de junho a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou


nota oficial condenando o uso do preservativo nas relações sexuais. De acordo
com o documento, a camisinha é responsável por "uma vida sexual desordenada".
Nota esta, que provocou um protesto, em vários segmentos da sociedade,
inclusive do Ministério da Saúde. Mas será que a CNBB está de toda errada ?

Muitas vozes na sociedade estão dizendo que a única maneira de evitar a


contaminação pelo vírus da AIDS é praticar o sexo seguro, e isto, segundo elas,
só é possível com o uso da camisinha . Atualmente, "camisinhas" e o "sexo
seguro" são expressões usadas quase como sinônimas. Advoga-se que seu uso
tem contribuído para diminuir o número de contaminação pela doença, e isto,
precisa ser questionado, pois as estatísticas não expressam esta declaração .
Neste artigo, embora correndo o risco de ser rotulado de moralista, ou
preconceituoso, quero defender uma maneira de se fazer sexo 100% seguro.
Diferentemente desta defendida por estas vozes.

Quero e preciso defender uma estratégia que seja realmente eficiente, pois
entendo que, mesmo que as camisinhas venham a reduzir o risco de
contaminação com a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis , as
mesmas não podem impedi-las.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 199


Em nota oficial do Ministério da Saúde, há a confirmação de uma margem, e
segundo eles bem otimista, de apenas 05 % de insegurança, e que o Ministério da
saúde está conseguindo debelar a doença.. Eis a nota : "O Programa Nacional de
Aids, vem debelando o avanço da epidemia no Brasil com campanhas maciças a
favor do uso do preservativo, que comprovadamente oferece 95% de segurança
contra a infecção pelo HIV" .

Isto não é bem verdade. O Programa Nacional de Aids não está tendo o sucesso
que diz Ter. Confira abaixo a realidade numa matéria de Eduardo Nunomura,
falando sobre os órfãos da aids:

"Passadas quase duas décadas de doença, o Brasil enfdesamparados. Entre 1987


e 1999, 30.000 crianças de até 15 anos perderam a mãe para a síndrome, mostra
um estudo do Ministério da Saúde. O cenário é ainda mais sombrio que o
desvendado pelas estatísticas oficiais. O levantamento baseou-se nos registros de
óbito por Aids das mulheres que tinham filhos. Ficaram de fora as crianças
obrigadas a viver longe da família porque a mãe ou ambos os pais, doentes, não
têm como cuidar delas. www.aids.com.br

Esse é um dos lados mais cruéis da mudança de perfil da síndrome. ( veja boxe )
Algumas crianças correm o risco da contaminação ainda no útero materno e todas
vivem sob a ameaça de morte da mãe. Há no país cerca de 200.000 filhos de
mulheres portadoras do HIV. Três em cada dez são crianças cujas mães já
desenvolveram a doença".

Os números da ONU descrevem um futuro sombrio sobre o avanço da AIDS:

Com a divulgação, no final de junho, do relatório da ONU sobre a incidência de


Aids no mundo, um pessimismo fundamentado tomou conta da comunidade
médica mundial. A despeito dos avanços científicos, com a criação de drogas
potentes, o número de doentes cresce assustadoramente. Hoje, 30,6 milhões de
pessoas vivem com o vírus HIV. Cerca de 6 milhões de homens, mulheres e
crianças foram infectados apenas no ano passado - 16.000 novos casos por dia.
E, em cada dez pacientes, nove estão em países pobres, sobretudo na África e na
Ásia.

Em meio a tantas más notícias, a única boa é que , quando se faz uma prevenção
eficiente, os índices de contaminação se estabilizam ou decaem drasticamente.
No Brasil, desde 1995, contabilizam-se os mesmos 17.000 novos casos por ano.
Na Europa Ocidental, entre 1995 e 1997, as notificações de novos casos caíram
38%. Passaram de 23.954 para 14.874. Desde os primórdios da epidemia alerta-
se para a importância da prevenção.

A seguir, três respostas dadas pelo Ministério da Saúde , onde o mesmo declara
que o uso da camisinha não garante 100% e segurança:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 200


"1 - Há risco da camisinha rasgar ou furar durante a relação?

Sim, se a camisinha não for colocada de maneira correta ela pode rasgar ou furar.
O preservativo masculino é, até o momento, a única barreira comprovadamente
eficaz contra a transmissão do HIV (vírus da imunodeficiência humana). Seu uso
correto e consistente pode reduzir substancialmente o risco de transmissão do HIV
e de outras DSTs (doenças sexualmente transmissíveis). O uso regular do
preservativo leva ao aperfeiçoamento da técnica de utilização, reduzindo a
frequência de ruptura e escape, aumentando, consequentemente, sua eficácia. Se
ocorrer ruptura do preservativo durante relação sexual com portador do HIV, é
possível haver transmissão do vírus.

2-O que fazer se a camisinha se romper?

Nesses casos, deve-se interromper a relação sexual, lavar os órgãos genitais e


reiniciar a relação com um novo preservativo. Deve-se procurar fazer
acompanhamento sorológico com aconselhamento. Como a única proteção eficaz
contra a Aids é a camisinha, o consumidor deve ficar atento para comprar um
produto que atenda a todas as normas do Regulamento Técnico de Qualidade
(RTQ) brasileiro, que impõe limites mínimos aos fabricantes para garantia de uso
seguro. Para saber se o produto atende a essas normas, basta procurar na
embalagem do preservativo o símbolo de certificação do Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Apenas as marcas de
camisinha com esse selo passaram por testes que garantem um bom produto. É
preciso atenção a esse detalhe, e também quanto ao prazo de validade do
preservativo (também encontrado na embalagem) e se utilizar lubrificante,
somente os que são a base de água. Os preservativos podem ser adquiridos
gratuitamente em serviços de saúde com autorização para distribuição,
comprados em farmácias ou supermercados.
http://www2.uol.com.br/veja/090200/p-064.html
http://www.fundathos.org.br/radcal/radcal_06/sexo.htm

3 - A camisinha protege as pessoas cem por cento contra a Aids?

O método de uso do preservativo como estratégia de prevenção - de qualquer


agravo à saúde, mesmo quando uma vacina é disponível - pode ser considerada
cem por cento segura. O uso de preservativo é a melhor medida de combate à
disseminação do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Vale
insistir que, entre inúmeros estudos sobre a eficácia do preservativo, o mais
pessimista aponta para uma eficácia mediana de 70% em situações corriqueiras,
incluindo, desse modo, até casos de uso incorreto do preservativo."

Embora o uso da camisinha seja melhor que a falta de seu uso, ninguém deveria
considerá-la absolutamente segura. Na nota acima, o próprio Ministério da Saúde
admite falhas. A verdade é que a camisinha não é uma solução apropriada para
se proteger contra a epidemia da AIDS. Antes, é uma estratégia provisória e de
arranjo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 201


Entendemos que não é mediante o uso de um preservativo, mas ensinando aos
jovens, aos adolescentes e á população a integridade sexual e como usar este
presente da sexualidade humana, conforme ensinado nas Sagradas Escrituras.

Somos a favor do uso do preservativo, desde que usada no contexto do


casamento como um meio de controle de natalidade, ou para evitar doenças
sexualmente transmissíveis, ou outro tipo de doenças, tais como Hepatite "C",
etc...Mas, precisamos nos posicionar contra, se a mesma for utilizada para a
prática sexual fora do casamento, isto porque somos contra, não á camisinha, mas
á fornicação, ao adultério, á imoralidade, á prostituição, etc. Somos contra, não á
camisinha, mas ao sexo desordenado que "indiretamente" está sendo incentivado
pelas campanhas de prevenção á AIDS.

No Brasil, país de sol tropical e do Carnaval, é onde à ardência da carne


corresponde a uma filosofia humanista do deixa estar, deixa fazer. Somos um dos
campeões mundiais de prostituição infantil. Transformamo-nos numa das mecas
do turismo sexual. Pois o sexo é o "deus" mais adorado em nossos dias. Somos
um dos maiores, talvez o maior, exportadores mundiais de travestis. Ocupamos
lugar de destaque nas estatísticas de incidência da Aids. As nossas crianças de
hoje são erotizadas, e vemos isto em programas infantis na televisão. Faz anos
que, consciente ou inconscientemente, algumas apresentadoras de programas
infantis dão aulas de sedução. A Xuxa é a pioneira e merece ser considerada um
símbolo da permissividade da televisão brasileira. Mas Xuxa existe em função de
um contexto. O contexto é uma televisão sem freios, só comércio e busca de
audiência, mais voltada para a formação de consumidores que de seres humanos.

A TV é uma vitrine. Mas há um contraste enorme entre a vitrine e a vida real.


Neste país onde não se vê nada de mais em ensinar às crianças a dança da
garrafa. Nas novelas, programas, filmes, onde o sexo é livre como o vento, natural
como o ar que se respira, tudo é bonito e sempre acaba bem. Só que na vida real
as mães adolescentes têm a saúde debilitada, abandonam a escola, geram bebês
malformados, trazem um encargo a mais à família - quando há família - e agravam
a própria pobreza. O cigarro já não lhe garante um vôo numa Asa Delta ou uma
corrida de Jet Ski, mas um câncer na boca ou nos pulmões. Na vitrine, a bebida
lhe dá o sonho de Ter uma garota sensual e rica ao seu lado, mas a realidade é
um pesadelo; um casamento desfeito ou uma cirrose hepática, ou uma batida de
carro e sem dinheiro para pagar o concerto e também sem aquela mulher bonita
da tela.

E é dentro deste contexto que a única estratégia que se veicula hoje para
combater a AIDS é: você pode fazer sexo com quantas pessoas quiser desde que
use a camisinha.

Isto é permissividade sexual. Veja os resultados desta estratégia arranjada, que


ainda pensa estar combatendo a AIDS adotando "indiretamente" a liberação
sexual:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 202


" No início da epidemia, a doença estava restrita a homossexuais e usuários de
drogas injetáveis que compartilhavam seringas infectadas. No Brasil, em 1988,
quase metade dos portadores de Aids eram gays e um em cinco era usuário de
drogas. Nos últimos cinco anos, as relações heterossexuais passaram a ser a
principal forma de transmissão da doença. O resultado é que aumentou
dramaticamente o número de mulheres atingidas. Na década de 80, havia uma
mulher contaminada para cada dezessete homens na mesma situação. Agora, a
proporção é de uma para dois".

Dentro deste contexto, somos contra a camisinha pois trata-se de uma estratégia
que apresenta vários problemas:

Um desses problemas é que o número de parceiros que alguém tenha realmente


não importa, desde que use a camisinha. Perguntamos ao leitor: em se tratando
de uma enfermidade fatal e transmissível como a AIDS, você poderia se dar ao
luxo de fazer sexo com uma pessoa contaminada apenas usando a camisinha ?
Seja honesto e responda.

Dizer a alguém que ela pode fazer sexo com uma pessoa portadora do vírus hiv e
que ela estará segura desde que use a camisinha, é como dizer a um motorista
que está dirigindo bêbado que use cinto de segurança. Perguntamos: Motorista e
pedestres estarão seguros ?

O próprio Ministério da Saúde, conforme mostramos acima, em nota oficial declara


que a segurança é de 95%Perguntamos ao leitor, se você soubesse que 05 % do
vôos de uma determinada empresa de aviação está caindo , você tomaria um vôo
desta empresa ou embarcaria numa que lhe garantisse 100 % de segurança?

"São só 5 % ! ". Alguém pode argumentar. Pode ser que aquele seu vôo não faz
parte dos 5 %, mas, e se fizer ?

Um outro problema: nenhum médico de renome em qualquer parte do mundo teria


contato sexual, sabedor do fato, com uma pessoa portadora do hiv, simplesmente
porque está usando um preservativo supondo que isto a protegeria da AIDS.

Considere a ironia da situação: Se ambos os parceiros não estão contaminados,


as camisinhas não desempenham qualquer papel no campo da prevenção. Mas
se um dos parceiros está contaminado, nenhum médico encorajaria uma pessoa a
fazer sexo com a outra pessoa infectada, meramente porque está usando
camisinha. Você faria ?

Um terceiro problema: esta estratégia ao invés de resolver o problema da AIDS,


está criando um outro problema - a promiscuidade sexual. Cada ano que passa,
um número muito maior de adolescentes está engravidando e destruindo suas
vidas. 700.000 adolescentes entre 10 e 19 anos deram à luz no ano passado em
hospitais do SUS, segundo o Ministério da Saúde. Dessas, 32.000 tinham entre 10

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 203


e 14 anos. Não entram nesses totais as que recorreram a hospitais particulares ou
clínicas clandestinas. O número de casos extraconjugais tem crescido e em
conseqüência o aumento de separações, divórcios, filhos separados de seus pais,
aumento da prática do aborto clandestino, a prostituição infantil, etc...

Hoje em dia, os jovens estão começando a ter relações sexuais cada vez mais
cedo. Também pudera, viver em nossos dias é tropeçar em sexo em todos os
lugares o tempo todo. Mensagens eróticas, ora refinadas, ora rombudas, escorrem
dos outdoors, de cartazes nos muros, das telas de televisão, de filmes e de
músicas, etc...A intimidade tornou-se uma mercadoria manipulada por artistas,
símbolos sexuais e até por políticos.

A revista Veja, em sua edição 1620, de 20 de outubro de 1999, trás uma


estatística do Ministério da saúde/Sebrap, onde aponta que a razão do aumento
de gravidez de adolescentes deve-se á imaturidade e deles começarem a vida
sexual cada vez mais cedo. A pedagoga Maria Alves de Toledo Bruns, autora do
livro Adolescente e Paternidade, falando sobre a gravidez na adolescência, diz: "O
jovem que faz isto perde grande parte da sua adolescência. É como se
envelhecesse dez anos antes do previsto" . Os efeitos para a gravidez precoce
são devastadores, mas o adolescente no calor da hora, não tem maturidade
suficiente para colocar a razão acima da emoção. O sexo ilícito é apresentado
com charme no cinema, nos programas de televisão e nas revistas. Vamos nos
acostumando e aceitando o sexo desordenado como parte da vida moderna. Mas
é exatamente isto que as campanhas de prevenção de Aids incentiva.

Dizer para um adolescente que ele pode "transar" com quem quiser desde que se
previna, distribuindo para eles camisinhas, é como distribuir entre eles, copos de
água para apagarem um incêndio num prédio. Ou seja, distribuir camisinhas para
os adolescentes e jovens e dizer a eles, façam sexo a vontade desde que usem o
preservativo, é uma tremenda irresponsabilidade. Entender que esta estratégia é
fazer sexo seguro, é o mesmo que colocar um revólver em suas mãos com
apenas uma bala, girar o tambor, mandar que apontem para suas cabeças e que
puxem o gatilho. Talvez a bala não saia no primeiro tiro, nem no segundo, quem
sabe só vai sair no décimo segundo tiro. Sexo com camisinha é como brincar de
roleta russa. Eles podem morrer neste jogo perigoso.

REDUÇÃO OU ELIMINAÇÃO DOS RISCOS ?

A estratégia precisa ser mudada. A solução não é a camisinha e nem a redução


de parceiros. A filosofia de redução de riscos adotada pelo uso do preservativo
aceita uma certa taxa de mortes, mas a filosofia de eliminação de riscos não
aceita nenhuma taxa de morte. Temos a opção de escolher entre a redução do
número de mortes pela contaminação do vírus ou a sua eliminação. Visto que
somos nós e nossos filhos que estão correndo este risco, qual você acha ser a
única escolha certa ? Redução ou eliminação ? Camisinha ou abstnência ?

O único meio 100 % seguro de se fazer sexo é aquele ensinado exatamente por

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 204


quem fez o sexo: DEUS. O único meio 100% seguro de se fazer sexo é a
abstinência até o casamento ou seguir um comportamento sexual monogâmico.

O QUE DEUS DIZ SOBRE O SEXO ? VEJA ALGUMAS RESPOSTAS :

1. O que Deus diz sobre a prática sexual antes do casamento ? I Tes 4:3-8

"Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da


prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus;
e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque o Senhor
contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é
o vingador, porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a
santificação.
Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que
também vos dá o seu Espírito Santo."

2. O que Deus diz sobre a prática sexual extraconjugal ( adultério ) ? Pv 5: 1-


11

"Filho meu, atende a minha sabedoria; à minha inteligência inclina os ouvidos para
que conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento; porque os
lábios da mulher adúltera destilam favos de mel, e as suas palavras são mais
suaves do que o azeite; mas o fim dela é amargoso como o absinto, agudo, como
a espada de dois gumes.
Os seus pés descem à morte; os seus passos conduzem-na ao inferno.
Ela não pondera a vereda da vida; anda errante nos seus caminhos e não o sabe.
Agora, pois, filho, dá-me ouvidos e não te desvies das palavras da minha boca.
Afasta o teu caminho da mulher adúltera e não te aproximes da porta da sua casa;
para que não dês a outrem a tua honra, nem os teus anos, a cruéis; para que dos
teus bens não se fartem os estranhos, e o fruto do teu trabalho não entre em casa
alheia; e gemas no fim de tua vida, quando se consumirem a tua carne e o teu
corpo"

3. O que Deus diz sobre a prática homossexual ? Rm 1:18, 24-27;

"A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens
que detêm a verdade pela injustiça;" v. 18
" Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu
próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a
verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador,
o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres
mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se
inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com
homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro." Vv. 24-27

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 205


4. O que Deus diz sobre a prática sexual com animais ? Lv 18:23

"Nem te deitarás com animal, para te contaminares com ele, nem a mulher se porá
perante um animal, para ajuntar-se com ele; é confusão."

5. O que Deus diz sobre a permissividade sexual ? I Co 6:13,18-20 )

"Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura,
tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente,
não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com
ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao
Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma
pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca
contra o próprio corpo.
Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em
vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso
corpo."

6. O que Deus diz sobre a prostituição ? Pv 7:6-23

"Porque da janela da minha casa, por minhas grades, olhando eu, vi entre os
simples, descobri entre os jovens um que era carecente de juízo, que ia e vinha
pela rua junto à esquina da mulher estranha e seguia o caminho da sua casa, à
tarde do dia, no crepúsculo, na escuridão da noite, nas trevas.
Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de
coração. É apaixonada e inquieta, cujos pés não param em casa; ora está nas
ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os cantos.
Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara impudente lhe diz:
Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer; paguei hoje os meus votos.
Por isso, saí ao teu encontro, a buscar-te, e te achei.
Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do Egito, de várias cores;
já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo.
Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, até pela manhã; gozemos
amores.
Porque o meu marido não está em casa, saiu de viagem para longe.
Levou consigo um saquitel de dinheiro; só por volta da lua cheia ele tornará para
casa.
Seduziu-o com as suas muitas palavras, com as lisonjas dos seus lábios o
arrastou.
E ele num instante a segue, como o boi que vai ao matadouro; como o cervo que
corre para a rede, até que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se
apressa para o laço, sem saber que isto lhe custará a vida"

Não estamos negando a sexualidade, pois esta faz parte dos desígnios de Deus
para nós seres humanos, e não temos como colocar uma camisinha no coração .

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 206


Apenas estamos dizendo que deve-se adiar sua prática para o momento certo. E
adiamento não é a mesma coisa que negação. Não podemos negar nossa
sexualidade. Ela faz parte da essência de nossa personalidade. Deus não fez
nossos corpos para serem as prisões de nossas almas. Temos consciência disto.
Não podemos negar nossos apetites sexuais, mas também não devemos gratificá-
los sempre que tivermos vontade, aderindo assim a promiscuidade.

"Existem ocasiões em que o trabalho precisa ser adiado. Umas boas férias pode
resultar num trabalho melhor. Há épocas em que se deve adiar a comida. Um
prato mais saboroso está sendo preparado. Da mesma maneira, existem
circunstâncias em que as expressões da sexualidade devem ser adiadas" .

Quando se pensa num relacionamento maduro, dentro do casamento, onde o


sexo é muito melhor, e quando se está livre da contaminação do vírus da morte,
creio eu, devem ser motivos suficientes para adiarmos a gratificação da nossa
sexualidade. Dentro da vontade de Deus, o sexo é 100 % seguro. Violar estes
princípios, é colocar a vida em risco. A única proteção eficazmente segura é a
obediência a Deus. Não pratiquem a imoralidade, a fornicação, o adultério, a
prostituição e a homossexualidade .

Em Gálatas 6:7 , Paulo adverte: "Não vos enganeis; de Deus não se zomba: pois
tudo o que o homem semear, isto também ceifará"

Obedeça a Deus e Ele abençoará a tua vida !!

Parte 46.
O NÃO NOSSO DE CADA DIA

Alguém terá pensado que minha eficiente secretária cometeu um erro ao digitar o
título, pois "deveria ser", pensou, "O Pão Nosso..." O título é o que está lá em cima
mesmo. O objetivo é enfatizar que como crentes em Jesus Cristo, nascidos de
novo, nascidos para uma vida de afirmação, vida positiva, muitas e muitas vezes
dizemos "não" a Deus. Pois se Jesus sempre foi muito positivo a nosso respeito,
dizendo "Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt
28.20b); "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim" (Jo 12.32); "Eu
vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10.10b); "Virei outra
vez, e vos tomarei para mim mesmo..." (Jo 14.3b).

Se Jesus nos deu essas preciosas e grandíssimas promessas, como diremos ou


dizemos "Não!" ao Senhor? Isso, porém, tem acontecido...

...QUANDO DIZEMOS SIM AO MEDO E DESÂNIMO, E NÃO À FÉ

Quando esquecemos que "o justo viverá da fé" (Rm 1.17; cf. Hc 2.4; Hb 10.38), e
perdemos a coragem, e vivemos na ansiedade, e nos cobrimos de dúvida. O
medo e o desencorajamento não fazem parte do plano de Deus para nós. Na
realidade, a grande mensagem do evangelho é a de ousadia e coragem. A Bíblia

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 207


registra muitos "não temas" como a Zacarias (Lc 1.13), a Maria (Lc 1.30), aos
pastores (Lc 2.10), aos discípulos (Mt 8.26; 14.27; Lc 12.32), a Jairo, chefe da
sinagoga de Cafarnaum (Mc 5.36). Também no Antigo Testamento: a Abraão (Gn
15.1), a Isaque (Gn 26.24), aos filhos de Israel no deserto (Nm 14.9). Então,
quando entendemos que o medo não está no plano de Deus, aprendemos
igualmente que não enfrentamos problemas sozinhos: "Porque ele mesmo disse:
Não te deixarei, nem te desampararei. De modo que com plena confiança
digamos: O Senhor é quem me ajuda, não temerei; que me fará o homem? (Hb
13.5b, 6); e, "Não se vendem dois passarinhos por um asse? E nenhum deles
cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa
cabeça estão contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos
passarinhos" (Mt 10.29-31), e daí o conseqüente descanso na paz de Jesus
Cristo. Que extraordinária confiança que leva a exclamar: "O Senhor é a minha luz
e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem
me recearei?" (Sl 27.1), assim como, "Em Deus ponho a minha confiança, e não
terei medo; que me pode fazer o homem? (Sl 56.11; cf. Sl 23.4). Isso é fé! E
quando trememos, fraquejamos e desanimamos, estamos dizendo "Não" ao
Senhor.

Fé é um ato de entrega; é adesão consciente a Deus. Alguém até disse "é a


inteligência que crê", daí Romanos 12.1,2: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela
compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a
este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus".

É resposta à chamada de Deus, e é processo que perdura toda a vida. A fé


cresce: "Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo,
porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós transborda de
uns para com os outros" (2Ts 1.3; cf. Ef 4.15). Por essa razão, os apóstolos
pediram a Jesus, "aumenta-nos a fé" (Lc 17.5).

Fé é uma decisão pessoal por Jesus. É compromisso total e engajamento


completo a manifestação de Deus em Cristo: é agir, querer, doar-se; é razão,
inteligência, vontade; é sentimento, confiança e amor; é comunhão de vida: "Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus. O qual me amou, e se
entregou à si mesmo por mim" (Gl 2.20).

Fé é uma atitude. É como orientar-se num determinado sentido, e nasce desse


encontro com o evangelho, que é Jesus proclamado, pregado, anunciado.
Quantos se encontraram com Jesus e disse "eu creio": o pai do menino epiléptico
(Mc 9.21, 22b-24), o cego de nascença (Jo 9.35-38), Marta de Betânia (Jo 11. 25-
27), o centurião de Cafarnaum de quem Jesus disse "Em verdade vos digo que a
ninguém encontrei em Israel com tamanha fé" (Mt 8.10b), a mulher com
hemorragia há já doze anos (Mt 9.20-22).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 208


Pois é; fé é crer que Jesus Cristo é quem diz ser, faz o que promete fazer, e
aguardar que tudo isso aconteça. A fé: conduz à verdadeira vida (Pv 15.24),
produz gratidão (Cl 3.16), elimina o temor (1Jo 4.18), traz alegria espiritual (Jo
15.11), vence aflições (Jo 16.33), dinamiza a vida (Fp 4.13) e gera energias (1Co
16.13).

Fé é vitória sobre o pecado, e sua conseqüência é paz com Deus (cf. Rm 5.1), e
coragem. Coragem é ser perseguido e orar pedindo que Deus perdoe o
perseguidor; é ficar em silêncio quando caluniado; é ser puro num mundo que
exalta o engano, a esperteza, o adultério, o homossexualismo e o lesbianismo
(chamando-os de "preferência sexual") e a libertinagem. Coragem é dignificar a fé
quando atacada, e sustentar a santidade quando mal compreendida. Coragem é
ter fé num mundo materializado, secularizado, massificado, coisificado que só crê
no lógico, no exato, no palpável, e proclamar que fé é a certeza plena e convicção
absoluta de coisas que não podem ser vistas e que são esperadas.

Com fé verdadeira em Deus, há uma mudança de interesse que da terra passa


para os céus, dos homens para Deus, do tempo para a eternidade, dos lucros
terreno para o reino de Deus e Sua justiça. Afinal "as coisas velhas já passaram, e
tudo se fez novo" (2Co 5.17).

QUANDO NÃO BUSCAMOS A PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO

Efésios 5.18 declara que o crente em Nosso Senhor Jesus Cristo precisa se
encher do Seu Espírito. Isso significa que a maior e mais importante necessidade
de qualquer igreja evangélica biblicamente constituída não é ter seu santuário,
alguns com capacidade para milhares, cheio de pessoas, mas ter seus membros
cheios do Espírito Santo, porque a igreja é a comunidade do Espírito Santo, e
precisa viver essa realidade. Encher-se do Espírito é deixar-se usar por Ele: seu
olhar se torna espiritual, seu abraço é espiritual, seu coração e seu aperto de mão
são espirituais, seu falar e seu cantar são espirituais, seu bolso é espiritual, seu
caminhar e seu tempo são espirituais porque o Espírito Santo enche sua vida.

Ser cheio do Espírito significa ser tão controlado e motivado com a presença e o
poder do Espírito de Deus que todo o nosso ser se torna um eterno salmo de
louvor e serviço ao Senhor.

"Encher-se do Espírito" não é uma experiência esporádica, de quando em vez;


não é um êxtase, onde os sentidos são arrebatados, mas, sim, um caminhar
contínuo sob a ação do Espírito Santo. Um desafio diário.

Por que, então, não vivemos essa plenitude, esse enchimento? Sem dúvida, por
ansiedade, fingimento, dissensões e egoísmo; por nos acomodarmos à frieza, ou
melhor, à mornidão espiritual, mais preocupados com os cargos para os quais
fomos eleitos ou que queremos exercer, que com as condições espirituais para
realizá-los. E então, porque ativos, tão "ativos" na igreja, negligenciamos o
cuidado espiritual dos filhos, negligenciamos o relacionamento com a esposa ou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 209


com o marido (especialmente quando esse ou essa não é crente). Crentes que
são péssimos empregados no trabalho, mas "excelentes" membros da igreja,
péssimos estudantes, mas "ativos e consagrados" na igreja; mal-falados,
empregadores injustos e desonestos, porém "exemplos admiráveis"de membros
da igreja.

O mandamento, que é duplo, diz: "não vos embriagueis com vinho", onde há
devassidão, deboche, dissipação, excessos, contendas, descontrole e perdição,
"mas enchei-vos do Espírito". Não há maior caminho para a santidade que Deus
requer de nós (cf. 1Pe 1.15, 16) do que ser repleto, transbordante, saciado, pleno,
copioso, cheio daquele cuja própria natureza e nome é Santo: Espírito Santo!
Enchendo-se não de vinho, mas do Espírito de Deus, haverá uma nova qualidade
de relacionamento do crente consigo próprio pelo testemunho (cf. Ef 5.19:
"falando"), uma nova qualidade de relacionamento com Deus ("dando graças"),
uma nova qualidade de relacionamento com os outros ("sujeitando-vos...").

"Estar cheio" do Espírito de Cristo não é embriaguez espiritual, quando o controle


de si próprio desaparece. Afinal, o fruto desse mesmo Espírito é o domínio próprio,
e, pelo contrário, não o perdemos: nós ganhamos o controle. Mesmo porque o
álcool não é estimulante, mas depressivo; e o Espírito não é depressivo, porém
estimulante. Foi o que aconteceu com os apóstolos após o derramamento do
Espírito em Atos 2 (cf. vv. 4, 12).

É; o álcool faz perder o controle, a sabedoria, o entendimento, o julgamento, o


equilíbrio, e o poder. O Espírito Santo age ao contrário: estimula a alma, a
vontade, a mente, o intelecto e o coração. O álcool desumaniza e o ser humano se
torna uma besta selvagem; o crente cheio do Espírito torna-se como Cristo, e
recebe a Sua mente, pelo fato que na conversão, o crente possui o Espírito; mas
na plenitude, o Espírito possui o crente.

Para ser "sal da terra" e "luz do mundo", cada filho/filha de Deus precisa dessa
influência divina que torne possível a vitória sobre Satanás, a carne e o mundo;
precisa dessa força extra-humana, sobre-humana e sobrenatural que a Bíblia
chama poder e que é ignorado pelo homem natural e descrente: "Jesus, porém,
lhes respondeu: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o Poder de Deus" (Mt
22.29). Prometido, no entanto, ao crente, ao salvo, ao filho de Deus: "E eis que
sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade, até que do alto
sejais revestidos de poder" (Lc 24.49); "Mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em
toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra" (At 1.8); "Finalmente,
fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder" (Ef 6.10; cf. 2Co 12.9; 2Pe 1.3).

O adolescente cristão precisa de poder para conservar seus lábios e coração


intocados pela malícia, maldade e sensualidade; o jovem cristão precisa de poder
para manter sua alma e corpo castos e preservados; a menina, a mocinha, a moça
crente precisam de poder do Espírito para se manterem sem mácula, nem ruga,
mas santas e irrepreensíveis, e resistentes ao fascínio deste sistema mundano e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 210


perverso; o homem cristão precisa de poder espiritual para ser fiel à esposa, à
família; a mãe, membro da Igreja de Cristo, para dirigir sua casa e educar seus
filhos na "disciplina e admoestação do Senhor"; e, assim, o comerciante, o
professor, o militar, o estudante, o funcionário público, o profissional liberal, os
pastores do Corpo de Cristo.

Pois é; Deus tem um projeto de santidade para nós (cf. Ef 5.11). Para isso, é
preciso buscar esvaziar o coração de outros interesses, e enchê-lo com o Espírito
de Deus. Aí virá o louvor, a gratidão, e o serviço a Deus; aí virá equilíbrio na vida,
coerência nos atos, harmonia e paz. Infelizmente, há cristãos

que "permanecem em Cristo" e os que "não permanecem" (cf. 3.6; Jo 6.56; 8.31;
15.10; 1Jo 2.27,28),
os que "andam na luz"e os que "não andam na luz" (1Jo 1.7; Jo 8.12; 12.35; 1Jo
2.11),
os que "andam no Espírito" e os que "andam segundo os homens" (Gl 5.16, 25),
os que "andam em novidade de vida" e os que "andam segundo a carne" (Rm 6.4;
8.13; 2Pe 2.10),
os que "são espirituais" e os que "são carnais" (1Co 3.1),
os que "são cheios do Espírito" e os que "não o são" (At2.4; 4.8,31; 6.3; 7.55;
9.17; 11.24; 13.52).
Para ser pleno, cheio do Espírito Santo, é preciso seguir alguns passos:

É necessário ter sede espiritual, sede da água da vida: "Porque derramarei água
sobre o sedento, e correntes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a
tua posteridade, e a minha bênção sobre a tua descendência" (Is 44.3);
"Respondeu-lhe Jesus se tivesse conhecido o Dom de Deus e quem é o que diz: -
me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva. Replicou-lhe
Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da
água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará
nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor,
dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la" (Jo
4.10, 13-15; cf. Mt 5.6; Zc 13.1).

É necessário limpar o recipiente que o Espírito vai encher. Deus enche vasos de
todos os tipos: de ouro, prata, bronze, vidro, pedra e barro, mas não enche o vaso
sujo. É preciso que seja limpo de tudo o que possa prejudicar a plenitude do
Espírito em nós.

É preciso que cada em nosso Senhor Jesus Cristo se convença que sua igreja
terá luz quando estiver plena do Espírito, e esse acontecimento terá lugar quando
cada um de nós for individualmente enchido. Isso vai melhorar a qualidade de
trabalho em todos os níveis: na EBD, nas organizações de adolescentes, de
jovens e de adultos, na Sociedade Feminina, nos corais, nas comissões, no
evangelismo, nos Ministérios variados.

É difícil ensinar uma classe de Escola Bíblica sem estar cheio do Espírito; pregar

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 211


do púlpito sem estar cheio do Espírito Santo; participar dos corais e cantar como
Deus quer sem estar cheio do Espírito de Jesus Cristo; é difícil ser presidente,
conselheiro, relator de qualquer grupo ou comissão da igreja sem estar cheio do
Espírito de Deus. O problema é querer evangelizar, cantar, ensinar, pregar sem a
plenitude.

Billy Graham conta que pregava numa igreja, e um diácono chegou embriagado. A
igreja se escandalizou, e ele foi excluído. O evangelista perguntou ao pastor se
todos os diáconos vinham aos domingos cheios do Espírito Santo. O pastor disse
que infelizmente não. "Quantos já foram excluídos por isso? Porque o versículo
apresenta duas ordens: "não vos embriagueis"..., e "enchei-vos do Espírito". O
pastor não pôde responder?!

Como seria na sua igreja?

Pois é; vimos duas situações em que o "não nosso de cada dia" se manifesta em
nossas vidas: quando dizemos sim ao medo e ao desânimo, e não à fé, e, no
entanto, o desencorajamento e temor não fazem parte do plano de Deus, pois na
dificuldade e dúvida não estamos sós "Porque ele mesmo disse: Não te deixarei,
nem te desampararei. De modo que com plena confiança digamos: O Senhor é
quem me ajuda, não temerei; que me fará o homem?" (Hb 13.5b, 6); e quando não
buscamos a plenitude do Espírito, desafio diário que nos leva a uma entrega
ampla, geral e irrestrita, e que nos faz permitir que o Espírito Santo controle e
motive nosso ser de tal modo que tudo em nós receba a marca do espiritual.

Há um terceiro e um quarto "não nossos de cada dia" que se revelam como


pecados contra o Espírito de Deus.

QUANDO NÃO ALEGRAMOS O ESPÍRITO DE DEUS.

O mandamento está em Efésios 4.30: "E não entristeçais o Espírito Santo de


Deus, no qual fostes selados para o dia do redenção". O texto não sugere que
devamos buscar o Espírito Santo ou evitar que Ele se vá de nós. Pelo contrário,
afirma Sua presença em nós como selo, e que permanece conosco até a
redenção final de nossas almas. O Espírito Santo é uma Pessoa. O verbo usado
pelo apóstolo Paulo fala de causar dor, aflição e tristeza, exatamente como
acontece com uma pessoa. Que pode, então, entristecer o Espírito de Deus?

A falta de santidade, pois Ele é o Espírito Santo, o "Espírito da santidade" (Rm


1.4). Sempre que o pecado é tolerado na vida do crente, sempre o crente em
Jesus Cristo abriga na vida tudo o que é impuro, sujo ou degradante, o Espírito
Santo não foge dele, mas deixa de exercer Seu ministério através desse crente, e
passa ao ministério da súplica por ele (cf. Rm 8.26, 27; 1Jo 1.9; 2.1). O Espírito
não se afasta, mas se entristece.

Lembremos que depois que alguém é salvo, não vive mais de acordo com os
próprios padrões. Paulo o afirmou ao dizer, "Já estou crucificado com Cristo; e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 212


vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-
a na fé no Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gl
2.20). A fita métrica agora é a de Deus e de Seu Espírito. Então, qualquer uso de
nosso corpo, mente ou espírito para outra finalidade que não a vontade de Deus é
ofensa a Ele. Se confessamos a Jesus como Senhor e vida, como vamos
entristecê-Lo de acordo com as aberrações descritas em Efésios 4.25-31?

Que entristece o Espírito de Deus? A falta de união, pois Efésios 4.4 ensina que
Ele é um só Espírito. Qualquer coisa incompatível com a pureza, santidade e
unidade da igreja, e com sua própria natureza, fere o Espírito Santo; toda quebra
de comunhão entristece o Espírito. Entristecemos o Espírito quando recusamos a
reconciliação. O verso 31 fala em amargura, e daí provém a cólera, a ira, a gritaria
e a blasfêmia: "Mas agora despojai-vos também de tudo isto: da ira, da cólera, da
malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca" (Cl 3.8; cf. Rm 2.8).

É o Espírito da graça (Hb 10.29), que se afaste, portanto tudo o que é indelicado,
duro, amargo para que se assuma o perdão e essa graça que Ele concede. Ele é
o Espírito da verdade (Jo 14.17). Tudo o que é falso, hipócrita e enganoso O deixa
triste. E porque é o Espírito da fé (2Co 4.13), a desconfiança, a dúvida, a
ansiedade e preocupação O entristecem.

Quando entristeço o Espírito, eu mesmo perco a alegria da salvação, o prazer e o


contentamento de ser salvo e chamado filho de Deus: "Restitui-me a alegria da tua
salvação"; O poeta de Israel ainda exclamou: "Porque de dia e de noite a tua mão
pesava sobre mim: o meu humor se tornou em sequidão de estio. Enquanto
guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia
todo." (Sl 51.12a; 32.4,3).

É a ingratidão, a falta de amor a Deus, a negligência na Palavra; e a incredulidade,


a negligência na oração, o fracasso na freqüência aos cultos, quando perdemos a
comunhão, o louvor, e não crescemos; é a fraude, a inveja, a amargura, o rancor,
a ira carnal, a falta de seriedade, o mau testemunho, a impiedade, a blasfêmia, a
malícia, a calúnia, a maledicência, a mentira, o mundanismo.

Pois é; o entristecimento é resultado de um relacionamento errado com o Espírito


de Deus. O Espírito Santo não é um vento despersonificado, como podem sugerir
as palavras ruach e pneuma, respectivamente, hebraico e grego para "vento,
hálito, alento, respiração, sopro, espírito". Não é uma energia impessoal como há
quem pense e pregue. Não é mente fria, sem coração, mas Ele ama, pensa,
planeja, sente, alegra-se, ora por nós e se entristece. Portanto, quando o crente
em Jesus Cristo não está em harmonia com Deus, entristece a Seu Espírito: São
os Ananias e as Safiras de nossas igrejas (cf. At 5.1-10).

QUANDO EXTINGUIMOS O ESPÍRITO

O mandamento se encontra em 1Tessalonicenses 5.19: "Não extingais o Espírito".


Paulo retoma a metáfora do Espírito Santo como fogo ou associado ao fogo. Ela

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 213


aparece em outros textos do Novo Testamento como Mateus 3.11 e Atos 2.3.
Romanos 12.11b fala de ser fervoroso no Espírito. Quando criança, costumava ir
nas férias para a casa do meu avô, no interior de Alagoas, e me impressionava ver
as tias colocando carvão no fogão ou ferro de engomar e assoprando até que
pegava fogo e as lindas e vermelhas chamas apareciam. É disso que Paulo fala:
"sede fervorosos no Espírito" é a idéia de abanar o fogo do Espírito até surgirem
as chamas que esquentarão e aquecerão a vida e serão bênçãos para os outros.

É; o Espírito Santo executa, através de nós, o propósito de Deus. Quando O


extinguimos, Seu poder e Seu amor são abafados. Tire o combustível do fogo, e
ele apaga; tire a oração da vida, tire a leitura e meditação da Palavra de Deus, tire
o testemunho cristão, e o Seu Espírito será abafado.

Pode-se apagar o fogo jogando água, terra, produto químico ou cobertor de modo
a extingui-lo. É o pecado da crítica maldosa, de rebaixar os outros, das palavras
não ponderadas; é o desprezo e o preconceito; é o não querer trabalhar com
certos irmãos porque eles se tornaram uma pedra no sapato.

Citamos há pouco Romanos 12.11 que fala de fervor, ou seja, "fervura". Para que
alguma coisa ferva, é necessário que haja uma fonte de calor (fogo), água e o
vaso. Na vida espiritual, o vaso é o coração (cf. Pv 20.9; 26.23; Ez 36.26); a água
é a Palavra de Deus (cf. Jo 7.37-39), e o fogo, o Espírito Santo (cf. Sl 39.3). O
vaso sem água no fogo não ferve: queima; a água no vaso sem fogo continua fria;
o fogo sem água e sem vaso nada produz e se apaga. Pois extinguir, abafar,
apagar o Espírito é o ponto mais baixo da queda espiritual; e o Espírito se
extingue porque é entristecido por nossos desajustes morais e espirituais (Ef 4.17-
5.18). Nós somos o santuário do Deus Altíssimo (1Co 6.19), e quando o Espírito
não encontra a liberdade de agir em nós, por nós, através de nós, Sua ação se
restringe (cf. Ap 3.16).

Não podemos perder a dimensão do Espírito de Deus operando em nós: na


convicção do pecado, no encaminhamento a Cristo e no sustento de cada dia. Se
a brasa do Espírito está quase por se apagar, lembremos a recomendação de
Paulo a Timóteo: "Por esta razão te lembro que despertes o dom de Deus, que há
em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de
covardia, mas de poder, de amor e de moderação" (2Tm 1.6,7).

Sim; "lembro-te que despertes o dom que há em ti" que reavives, que inflames
esse dom. É nesse Espírito que estamos selados para o dia da redenção (Ef 1.3).
Foi Ele que nos fez retornar à vida em Cristo (Ef 2.5), e nos deu acesso ao Pai em
Cristo (2.18). Ele nos comunica os dons necessários ao seu serviço na Causa de
Cristo (Ef 4.7, 8). Por essa razão, é triste, lamentável dizer "não" a Deus. Lembre-
se que só Cristo pode purificar do pecado, que a confissão é a única condição
para o perdão, purificação e comunhão (1Jo 1. 1-2.2) e que o julgamento de si
próprio evita o castigo: "Mas, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não
seríamos julgados; quando, porém, somos julgados pelo Senhor, somos
corrigidos, para não sermos condenados com o mundo" (1Co 11.31, 32). É dizer

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 214


"sim" a Deus.

"Ajuda-me, Senhor, a Dizer Sim"


Tenho medo, Senhor, de dizer SIM.
Até onde me conduzirás?
Tenho medo de puxar a palha mais comprida,
Tenho medo de assinar ao pé da folha em branco,
Tenho medo do sim que reclama outros sim.
Entretanto, eu não me sinto em paz.
Tu me persegues, Senhor,
Tu me assedias por todos os lados
Procuro o barulho porque receio ouvir-Te,
Mas infiltra-Te num momento de silêncio.
Fujo da estrada, pois vislumbrei-Te ao longe,
Mas na saída do atalho já me esperas quando chego.
Onde esconder-me? Por toda a parte Te encontro:
Então, não é possível escapar de Ti?

...Mas, tenho medo, Senhor de dizer sim.


Medo de dar-Te a mão: na Tua mão a prendes.
Medo de encontrar Teus olhos: Tu és um sedutor.
Medo de Tua exigência: és um Deus ciumento.
Estou acuado, mas escondo-me.
Estou cativo, mas debato-me,
E combato, mesmo sabendo que já estou vencido.
Pois és mais forte, Senhor,
possuis o Mundo e m'o roubas.
Se estendo a mão para pegar pessoas e coisas,
Desvanecem-se a meus olhos.
Não é nada engraçado, Senhor:
nada posso apanhar para mim.
A flor que colho, murcha entre meus dedos.
O riso que esboço em meus lábios se enrijece.
Tudo me parece vazio.
Tudo oco.
Fizeste um deserto em torno de mim.
E tenho fome,
E tenho sede,
O mundo inteiro não bastaria para me alimentar
E, no entanto, Senhor, eu Te amava: que Te fiz eu?
Por Ti eu trabalhava, por Ti eu me dava.
Ó grande Deus terrível, que hás de querer ainda?

Meu filho, quero mais para ti e para o mundo.


Antigamente, o que desdobravas era a tua ação -
Mas nada tenho a fazer com ela.
Convidavas-me a aprová-la, a sustentá-la,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 215


Querias interessar-me em teu trabalho,
Mas, vê, Meu filho, trocavas os papéis...
Acompanhei-te com os olhos, vi tua boa vontade,
Quero mais agora, para ti.
Não é mais tua a ação que vais fazer,
Mas a vontade de teu Pai do Céu.
Dize sim, meu filho.
Preciso do teu sim,
Como precisei do sim de Maria
Para vir à terra.

Pois sou Eu quem deve estar em teu trabalho,


Sou Eu quem deve estar em tua família,
Sou Eu quem deve estar em teu bairro,
E não tu.
Pois é meu olhar que penetra e não o teu,
É minha palavra que faz efeito e não a tua,
É minha vida que transforma e não a tua.
Dá-me TUDO, abandona TUDO.
Preciso de teu sim para esposar-te e descer à terra.
Preciso de teu sim para continuar a salvação do Mundo.

Ó Senhor, tenho medo de tua exigência,


Mas quem Te pode resistir?
Para que venha o teu reino e não o meu,
Para que Tua vontade seja feita e não a minha,
Ajuda-me a dizer SIM.
(Michel Quoist)

Parte 47.
O PAI NOSSO
Oração De Pecado Coletivo

É uma oração enraizadamente judaica e sensivelmente cristã, e não era com


leviandade que os membros da Igreja Antiga a recitavam logo após o batismo,
privilégio, aliás, que só a eles era concedido, razão porque era chamada de
Oração dos Fiéis.
Ao ensinar Jesus a oração que leva o Seu Nome, na realidade ofereceu o modelo
do que deva ser a oração verdadeiramente teocêntrica na sua forma judaico-
cristã: é breve, objetiva, ordenada e universal. Breve e objetiva porque se compõe
de seis pequenas petições; perfeita pela sua ordem, pois o que deve vir primeiro
vem primeiro: as prioridades eternas e depois as solicitações terrenas; sendo
universal, coletiva, fala do que é comum a toda a humanidade. O Pai Nosso é o
mais claro, e, por causa da sua concisão, o mais expressivo resumo da
mensagem Daquele que foi chamado Moreh b'Israel.1
Três expressões pedem nossa atenção: Pai, pão e perdão.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 216


PAI ("Avinu shebashamaim...")2

A palavra-chave da Invocação é Pai, e dá resposta à pergunta "Como é Deus?"


Jesus responde: "Deus é Pai". Para Ele não era apenas uma metáfora, mas a
suprema realidade de Sua própria vida, uma profunda e intensa experiência. Haja
vista Suas declarações:

"Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece


plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o
Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar".3

"Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também".4

Deus não é um Princípio, uma Força, mas uma Pessoa, e mais expressivo ainda:
um Pai. Grande além da nossa compreensão; Santo além além da nossa
concepção, mas um Pai. Admiravelmente bem expressou esse conceito Isaías, o
profeta, em 12.6: "Gadhol... Kiddush Israel" ("Grande é o Santo de Israel"). Deus é
tão pessoal como nós o somos, e preenche o ideal da paternidade pelo seu
cuidado amoroso, o que é expresso pela palavra hebraica hesed ("Rasgai o vosso
coração e, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque
ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e
se arrepende do mal"5) É nesse ponto que o Avinu, o Pai Nosso, acentua as
necessidades emocionais do ser humano: a de segurança, de abrigo, de fé, de
intimidade com Alguém, de ser amado e de amar, posto que o grande valor da
palavra pai é que ela ordena a totalidade dos relacionamentos desta vida. Com o
mundo invisível (quem não tem o Eterno como Pai vive o temor do dia, da noite,
das coisas, das matas, da natureza, das, águas, do mal,..., mudando, porém, tudo
isso desaparece quando se tem a Deus por Pai). Afeta o relacionamento com o
próximo, pois se Deus é meu Pai, também o
E do meu irmão de fé, e pode sê-lo daquele que ainda não o atualizou como real
na existência e motor de suas motivações e intenções. Ter o Eterno como Pai é
crescer emocional e espiritualmente; é Ter uma personalidade íntegra na
amplitude de conceitos expressos pela palavra hebraica shalom: inteireza,
plenitude, perfeição, cura, salvação, sucesso, prosperidade, integridade, paz.

PÃO ("Et lanu haiom lehem hukenu")6

Este pedido tem sido interpretado de muitas maneiras: Jerônimo, teólogo da Igreja
Antiga7, cria ser a Ceia do Senhor. Tertuliano, Cipriano e Agostinho entendiam
que era o alimento espiritual da Palavra de Deus, o ensino correta, a reta doutrina.
Os teólogos da Reforma, como Calvino e Lutero, entenderam que o pão era
símbolo de tudo o que é necessário para a preservação e subsistência da vida: o
alimento, a saúde, a casa, o bom tempo, a família, um bom governo, a paz. São
as necessidades da vida, e não os seus luxos. São as necessidades materiais,
sociais e intelectuais; é saúde, educação, vida digna, justa e perfeita, e justiça
social. Vale a citação de Isaías, o profeta messiânico por excelência, da descrição
da grandeza e da glória do reino do Mashiah (Messias):

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 217


"Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de
coração: Sede fortes, não temais; eis o vosso Deus!... Então os olhos dos cegos
serão abertos, e aos ouvidos dos surdos se desimpedirão. Então o coxo saltará
como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria; porque águas arrebentarão
no deserto e ribeiros no ermo. E a miragem tornar-se-á em lago, e a terra sedenta
em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziamos chacais haverá erva
com canas e juncos. E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o
caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos. Os
caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão... E os resgatados do Senhor
voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças;
gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido".8

Nesta passagem há uma belíssima visão messiânica em que se antecipa "o pão
nosso de cada dia dá-nos hoje", tomado este pedido como o ensino da inteira
dependência do Eterno.
Ser dependente de Deus não é apenas uma expressão pia, mas uma afirmação
prática, pois todos dependemos dos céus. Mesmo quem se diz ateu! Não
podemos dar ordens à plantação, às chuvas, ao tempo, o que só Deus pode fazer,
razão porque "o pão nosso de cada dia" em última análise não vem da
panificadora, nem do moinho, nem do agricultor no Sul do país, mas do Pai, pois

"ele te sustentou com o maná... para te dar a entender que o homem não vive só
de pão...";9

"Do céu lhes deste10e pão quando tiveram fome..."10

"... fartarei de pão os seus necessitados".11

PERDÃO ("Usilach-lanu et-ashmathenu...")12

Perdão de quê? A palavra pecado não é muito popular nestes dias. Na verdade,
muita gente tem idéia errada do que é ser pecador: admite que o ladrão, o
homicida, o adúltero talvez sejam pecadores, mas não homens decentes, livres e
de bons costumes, senhoras de família, gente de vida limpa e respeitável, de
crédito na praça, que nunca foi a tribunal?! Gente assim não pode sentir o peso do
pecado!...
É nesse ponto que vem a iluminadora ajuda da língua hebraica para esclarecer as
coisas. A palavra hatt'ah que quer dizer "errar o alvo". É pecador quem erra o alvo
determinado pelo Eterno para a vida. É um objetivo moral e espiritual, e quando
isso não é satisfeito, pecamos e precisamos pedir perdão: "perdoa-nos as nossas
dívidas..." O perdão é tão indispensável à vida e à saúde da alma quanto o
alimento ao corpo. O pecado é comparado a uma dívida.13 O Eterno perdoa o
pecado, a dívida, e cancela a nota promissória. É o que diz o Salmo 30.4: "Contigo
está o perdão..."; e Neemias 9.17: "Tu, porém, és um Deus pronto para perdoar,
clemente e misericordioso,..."
O perdão, no entanto, não é geral, total e global, pois Deus perdoa a quem se

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 218


arrepende e se volta contrito:

"Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno o seu pensamento; volte-se ao


Senhor, que se compadecerá dele; e para o nosso Deus, porque é generoso em
perdoar".14

Ou seja, para o perdão é preciso rebaixar o orgulho, humilhar-se, arrepender-se


dos erros e pedir o cancelamento da dívida. Este pedido do Pai Nosso fala, então,
de necessidades espirituais e reconhecimento da própria culpa e da necessidade
de perdão, resgate e salvação.

A oração do Avinu é a grande confissão de pecado coletivo, e mais que nunca


precisa de ser colocada no incenso de nossos altares como assentimento de um
Deus Santo (Kadosh) e Grande (Gadhol) que reina sobre a história, e é Pai; de
desejo de satisfação de necessidades tantas e variadas, e lembrete/alerta de que
"se meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a
minha face, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua
terra" .15

É tudo o de que precisamos...

1 "Mestre de Israel", cf. Jo 3.10.


2 Mt 6.9.
3 Mt 11.27.
4 Jo 5.17.
5 Jl 2.13.
6 Mt 6.11.
7 C. 340-420.
8 Isaías 35.3-10.
9 Dt 8.3).
10 Ne 9.15.
11 Sl 132.15.
12 Mt 6.12.
13 Cf. Bíblia Sagrada, Versão Revisada, 2a ed.1Rio, Imprensa Bíblica Brasileira,
1987. Assim também a Bíblia de Jerusalém, a Edição Revista e Atualizada no
Brasil da Sociedade Bíblica do Brasil, a King James Version e a Revised Standard
Version entre outras.
14 (Is 55.7).
15 (2Cr 7.14.

Parte 48.
O SOFRIMENTO

Há muitos e muitos anos o problema da dor e do sofrimento vem sendo estudado


e debatido por vários segmentos da intelectualidade. Biblicamente falando, a
causa do sofrimento não é outra senão o pecado dos nossos primeiros pais. Esta,
que é uma observação deveras óbvia (ou que pelo menos deveria ser), tem

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 219


provocado certa confusão na cabeça de muita gente de bem, principalmente
quando se relaciona todo e qualquer sofrimento a algum pecado que você, eu ou
um de nossos ascendentes mais próximos cometeu.

Neste estudo procuraremos mostrar que todo sofrimento é, de fato, conseqüência


do pecado original, mas não necessariamente resultado de algum pecado
específico e atual. Quando compreendemos a verdadeira relação sofrimento-
pecado, concluímos que embora alguém não tenha cometido um pecado
específico que possa ter provocado a dor de sua enfermidade, provação ou
perseguição, todo sofrimento na vida desse alguém é resultado primário do seu
pecado em Adão, ainda que tal pessoa não seja necessariamente responsável por
seu sofrimento em maior ou menor extensão do que qualquer um de nós.
Por causa da nossa culpabilidade e da gravidade e seriedade do pecado, sempre
que passarmos por alguma modalidade de sofrimento devemos lembrar que
qualquer ato de indignação de nossa parte deve recair sobre nós mesmos (por
sermos pecadores por natureza) e sobre o próprio pecado, e não sobre Deus
como muitas vezes somos tentados a fazer.

O SOFRIMENTO COMO CONSEQÜÊNCIA DE PECADO

''Mais tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado;
não peques mais, para que não te suceda coisa pior'' (Jo 5.14).

O pecado é um agente estranho na vida da humanidade. A Bíblia declara:


''Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos
pecaram'' (Rm 5.12). Por que todo gênero humano caiu com a transgressão de
Adão? Sabemos que o pecado pelo qual nossos primeiros pais caíram do estado
em que foram criados foi o comerem do fruto proibido em desobediência à ordem
de Deus, quebrando a aliança do Senhor (cf. Gn 2.16,15; 3.11,17; Os 6.7). "Visto
que o pacto foi feito com Adão não só para ele, mas também para a sua
posteridade, todo o gênero humano que dele procede por geração ordinária pecou
nele e caiu com ele na sua primeira transgressão'' (Breve Catecismo de
Westminster, XVI).
Os estudiosos dividem o pecado em original e atual. Por causa de nossa ligação
com Adão, após a queda nascemos em condição e estado pecaminosos (cf. Sl
51.5). Este estado pecaminoso é denominado de pecado original e é a raiz de
todos os pecados atuais que corrompem o ser humano. O termo ''pecado atual''
não indica somente pecado que consiste em atos externos, mas também todos os
pensamentos e volições conscientes que procedem do pecado original. São os
pecados que um individuo pratica, em distinção de sua natureza e inclinação
herdadas (Consulte Louis Berkhof, Teologia Sistemática, 2a Seção, IV; Manual de
Doutrina Cristã, p. 131-134). Quanto à chamada ''maldição hereditária", teologia
que trata das conseqüências do pecado como maldição herdada pelos filhos, será
abordada mais adiante.

Passemos agora à questão específica do sofrimento como procedente de pecado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 220


cometido por nós na atualidade. Como já dissemos, nem todo sofrimento é
resultado de algum pecado particular que cometemos. Entretanto, muitas vezes
sofreremos sim as conseqüências de algum ou alguns pecados cometidos por
nós. O texto que citamos acima exemplifica esta afirmação. No capitulo 5 do
Evangelho de João está relatado a história de um paralítico que há trinta e oito
anos aguardava a cura no tanque de Betesda em Jerusalém. Jesus o curou. ''Mas
o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, por haver
muita gente naquele lugar'' (Jo 5.13). João diz que mais tarde Jesus o encontrou
no templo. Naturalmente estava adorando e agradecendo a Deus pela dádiva
recebida. A observação do Senhor é quase que inesperada: ''Olha que já estás
curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior''.
A conclusão imediata e correta que tiramos de tal declaração é que aquele homem
havia cometido algum pecado no passado que, como conseqüência, o deixara
paralítico por 38 anos. Jesus o advertiu de modo que deixou transparecer que a
enfermidade dele fora resultado de seu pecado. A partir de agora o homem
deveria tomar cuidado e não repetir o pecado (ou continuar nele), temendo algo
pior. A coisa pior poderia ser a morte eterna. Jesus estava longe de pensar que a
doença e sofrimento eram necessariamente resultado de pecado; sua reação à
especulação sobre o cego em João 9 é evidência suficiente disto. Mas no caso
deste homem Ele sabia qual era a causa da sua enfermidade, e o fez conhecê-la
(cf. F. F. Bruce, João: Introdução e Comentário, p. 116, 117).

Há vários exemplos bíblicos do sofrimento como conseqüência de pecado.


Lembremos da maldição de Deus sobre Adão e Eva, do castigo sobre os
incrédulos israelitas na peregrinação do deserto, da punição dos reis
desobedientes de Judá e Israel, da morte fulminante de Ananias e Safira, para
citarmos alguns exemplos. Some-se a estes exemplos as constantes exortações e
advertências epistolares e de Jesus nos evangelhos para vivermos a vida cristã
como convém. Tudo que na Bíblia foi escrito, para o nosso ensino foi escrito. As
experiências bíblicas devem nos levar a um auto-exame responsável quando
passarmos por privações e sofrimentos. Muitas vezes vamos ter que colher o que
plantamos.

O SOFRIMENTO COMO AUSÊNCIA DE PECADO

''E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para
que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi
para que se manifestem nele as obras de Deus'' (Jo 9.2,3).

Via de regra, sempre que pecamos iremos de alguma forma pagar por isso. Talvez
não na intensidade que merecemos, visto que Deus é misericordioso em não nos
punir como devemos ser punidos, porém, em algumas ocorrências o sofrimento
que iremos passar não tem qualquer relação com pecado.
A passagem acima ensina que nem sempre sofremos porque pecamos. E eu não
estou dizendo apenas que Deus deixou de nos punir apesar de termos pecado, e
sim, que não foi cometido qualquer pecado que resultasse diretamente em
sofrimento, apesar do sofrimento. Lembremos de Jó, acusado injustamente por

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 221


seus amigos e a favor de quem o próprio Deus testemunhara dizendo que
''ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e
que se desvia do mal'' (Jó 1.8; 2.3). Elifaz, Bildade e Zofar estavam equivocados
em sua presunçosa e errônea avaliação da situação de Jó. Jó não estava
sofrendo por haver pecado (vide Jó 1.1-2.11; 42.7-9). ''Tanto os que sofrem como
os que procuram aconselhar os que sofrem, todos são rápidos demais em nomear
o pecado como a causa padrão para as desgraças'' (John McArthur, Jr., O Poder
do Sofrimento, p. 79).

Muitos judeus, como os amigos de Jó, acreditavam que cada má sorte temporal
era punição de Deus por algum pecado específico. No caso do cego de nascença,
com uma doença congênita, a explicação poderia ser que o pecado tivesse sido
cometido no útero, ou mesmo antes disso, pois de acordo com o ensino filosófico
grego preexistencialista, a alma, que existia antes da concepção, podia ter
cometido algum delito. Ou ainda pelos pais, que com um ato pecaminoso
vitimaram seu filho. Jesus descarta estas idéias como explicações impróprias (Jo
9.3), mas isto não nega que algumas provações são ordenadas por Deus, para
punir ou corrigir certos pecados específicos (p. ex., na vida de Davi, depois de seu
adultério e assassinato, 2 Sm 12-21; veja também Sl 119.67,71). Nem ainda existe
aqui uma negação, por parte de Cristo, da doutrina bíblica do pecado original (Rm
5.12-21), que ensina que todo sofrimento é conseqüência de nosso pecado
coletivo e da rebelião de Adão. Mas não é sábio nem caridoso julgar que os
sofrimentos de outros sejam especificamente punitivos (cf. Mt 7.1). A questão
colocada diante de Jesus apresenta um falso dilema. Só duas possibilidades
foram dadas como razões para as aflições do homem: seus próprios pecados ou o
pecado de seus pais. Jesus oferece uma terceira opção: ''Nem ele pecou, nem
seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus''.

Alguns dos nossos sofrimentos, como os de Jó e do cego de nascença, são para a


glória de Deus, pois ou resultam em nosso próprio aperfeiçoamento espiritual ou
em cura espetacular, como no caso do cego. O propósito de Deus nem sempre
nos é presentemente conhecido, mas é sempre bom (cf. Rm 8.28).

Dificilmente algum servo ou serva de Deus ficará livre de algum tipo de sofrimento,
visto que ele é importante para o crescimento e amadurecimento cristãos. Tiago
diz que é motivo de alegria o passarmos por várias provações (Tg 1.2), porém,
vale ressaltar que não devemos interpretar erradamente as palavras de Tiago. A
causa da alegria é que, apesar do mal, Deus está conosco e pode realizar coisas
positivas em nossa vida, mesmo em meio à provação. Mas a provação, em si, não
é uma coisa boa. Se fosse, nos inclinaríamos a buscar estoicamente o sofrimento.
Evidentemente, nada na Bíblia sugere que façamos isso. De qualquer modo, não
devemos procurar as provações, elas têm maneiras de nos encontrar. Contudo,
resta-nos ainda uma certeza: ''Deus não promete que jamais nos dará uma carga
maior do que aquela que desejamos levar. A promessa de Deus é que ele nunca
porá sobre nós mais do que aquilo que realmente podemos suportar'' (R. C.
Sproul, Surpreendido pelo Sofrimento, p. 74).
O que tem levado muitos em nossas igrejas a defenderem conceitos distorcidos

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 222


acerca da relação sofrimento-pecado? Certamente a falta de um estudo sério da
Bíblia. Por conta disso, falsas teologias tem enganado e confundido muitas
pessoas, causando não poucos estragos. A Confissão Positiva é uma delas.
Nos últimos anos a Confissão Positiva tem invadido nossas igrejas. Os livros que
pregam este ensinamento já venderam milhões de cópias em todo o mundo.
Programas de TV são assistidos, impressionam e atraem os menos esclarecidos.
O Brasil, em especial, se torna um campo aberto para a disseminação das idéias
pregadas pela Confissão Positiva porque os evangélicos brasileiros, apesar de
serem muito ativos, dinâmicos e práticos, não cultivam o hábito do estudo bíblico e
da reflexão, evitando o exercício crítico e a análise profunda do que vêem e
ouvem.
Existem pelo menos duas ramificações da Confissão Positiva que a tornam ainda
mais popular: as chamadas teologias da maldição hereditária e da prosperidade.
Em resumo é o seguinte:

Segundo os defensores da ''maldição hereditária", a pessoa não recebe apenas


herança genética física dos seus genitores e progenitores, mas também herança
espiritual. Afirmam que muitas pessoas não prosperam e vivem uma vida de
opressão, vícios, distúrbios e desacertos, em conseqüência de maldições que em
tempos passados foram lançadas sobre os ancestrais. Apregoam a presença
constante dos chamados ''espíritos familiares'', isto é, espíritos malignos que
acompanham as gerações, escravizando-as tanto espiritual, quanto
materialmente. De acordo com os expositores desta teologia é preciso quebrar a
cadeia de maldições; é preciso declarar rompido o cordão. Ensinam também que
um processo de amaldiçoamento acontece quando os pais dirigem aos filhos
palavras negativas e desestimuladoras, como xingamentos, por exemplo. A idéia
de uma corrente de maldição hereditária não é bíblica. Veja, por exemplo,
Ezequiel 18.1-23 e João 9.3.

A prosperidade em si não é anti-biblica e muito menos pecado, entretanto, a


teologia da prosperidade ensina erroneamente que 1) Deus nunca diz não a seus
filhos, 2) orar mais de uma vez é falta de fé, 3) todo sofrimento indica falta de fé, 4)
Deus cura sempre a todos e, 5) se somos filhos do Rei, não podemos ser pobres.
Estas afirmações não se sustentam mas nem com um estudo superficial das
Escrituras. Por exemplo, o item 1 pode ser facilmente rebatido com Dt 3.23-29; 2
Sm 12.15-23; 2 Co 12.7-9. O 2 com 2 Rs 18.41-45; Mt 26.44; Lc 11.5-8; 18.1-8; 2
Co 12.8. O item 3 com Mt 5.10-12; Jo 16.33; 2 Co 4.8,9; 11.23-29; Hb 11.35-38. O
4 com 2 Rs 13.14; Gl 4.13,14; 1 Tm 5.23; 2 Tm 4.20. E o item 5 com 2 Co 8.9; 1
Tm 6.6-10.

Reconhecer a nossa limitação, fraqueza e impotência, é mais do que um direito: é


uma recomendação bíblica que atesta a nossa condição como seres que carecem
da graça de Deus.

O SOFRIMENTO COMO PREVIDÊNCIA DE PECADO

''E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 223


posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de
que não me exalte'' (2 Co 12.7).

John Feinberg disse corretamente: ''Quando a provação impede que cometamos


atos específicos de pecado, nós nos aproximamos mais do Senhor e vemos as
coisas com a importância que Ele lhes dá'' (Apesar do Sofrimento, p. 88). O
apóstolo Paulo é um exemplo claro dessa declaração.

Você já parou para pensar que às vezes sofrerá para não cometer algum pecado
grave? Deus nos ama e quer o nosso bem. O salmista, compreendendo a
bondade de Deus no sofrimento, disse: ''Foi-me bom ter eu passado pela aflição,
para que aprendesse os teus decretos'' (Sl 119.71). O escritor mostra-se grato
pelos seus sofrimentos, porque estes o levaram a uma nova intimidade com Deus,
afastando-o da transgressão. Até mesmo a respeito de Jesus é dito: ''embora
sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu'' (Hb 5.8). Muitos
cristãos de hoje parecem sofrer mais do que deveriam porque não querem aceitar
o papel que o sofrimento desempenha em suas vidas, ou na vida de seus amigos
e entes queridos. O sofrimento é eminentemente terapêutico. Funciona muitas
vezes como agente neutralizador de pecado. Paulo entendeu esta lição, mas
também a duras penas.

Paulo escreveu sua segunda carta aos coríntios como um homem rejeitado pelas
pessoas que ele mais amava. Derrama seu coração em meio a sérios ataques
contra seu caráter e ministério. Seu apostolado foi posto em dúvida por seus
inimigos. Sua integridade e lealdade, suas habilidades em liderar e seu amor pelos
coríntios foram da mesma maneira questionados. Esta foi provavelmente a maior
tempestade de oposição que Paulo enfrentou em sua vida. No capítulo 11, Paulo
faz uma lista das muitas dificuldades e situações ameaçadoras pelas quais ele
passara por amor ao evangelho. Incluídas em sua lista estão grandes aflições
físicas, aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios, rios
perigosos, assaltantes, perseguição de judeus e gentios, noites mal dormidas, frio
e calor, fome e sede, além da preocupação diária com todas as igrejas.

Paulo era um homem extremamente humilde. Portanto, é com relutância que ele
relata as visões e revelações do Senhor no capítulo 12 como uma das
reivindicações do seu apostolado. Apesar de humilde, mesmo para um homem
como Paulo não seria difícil se ensoberbecer diante de tão gloriosa revelação. A
fim de que se evitasse tamanho pecado, diz ele: ''foi-me posto um espinho na
carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte''
(2 Co 12.7).

Existem várias teorias a respeito da natureza do ''espinho na carne'' de Paulo.


Nenhuma delas é conclusiva. (Consulte Colin Kruse, 2 Coríntios: Introdução e
Comentário, p. 219). Seja como for, está claro que o espinho tinha origem satânica
(Deus usou Satanás como seu instrumento), era algo extremamente doloroso (a
palavra grega para espinho em 2 Co 12.7 é scolops, indicando alguma coisa
pontiaguda como uma estaca). O diabo cravou-lhe essa ''estaca'', se no corpo ou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 224


na alma não sabemos. O que quer que fosse, era algo terrivelmente doloroso que
o incomodava demais. Além disso, o espinho na carne era algo tremendamente
humilhante. Paulo era constantemente humilhado (esbofeteado) pelo ''mensageiro
de Satanás'' para que não se ensoberbecesse com a grandeza das revelações
que recebeu do Senhor Jesus.

A grandeza das revelações que Paulo teve não teria sentido para a vida dele se a
soberba tomasse conta de seu coração. Por isso, ao invés de gloriar-se com a
grandeza daquelas revelações, Paulo passa a gloriar-se na experiência oposta,
que revelava suas fraquezas e total dependência da graça suficiente de Jesus
Cristo (2 Co 12.9,10).
Assim como Paulo, Deus muitas vezes nos humilhará através do sofrimento para
não cometermos o pecado da soberba, ou qualquer outro tipo de pecado que
possa nos levar ao prejuízo espiritual.

Que o Senhor nos ajude a compreender que apesar de todo sofrimento ter sua
motivação primária no pecado de Adão, isto não quer dizer que todo e qualquer
sofrimento que passamos é sempre motivado por um pecado particular que
cometemos. Às vezes o será, daí a importância de sermos sensíveis ao Espírito
Santo e, à luz da Palavra de Deus e em oração, fazermos uma auto-análise com
seriedade para sabermos onde foi que erramos e confessarmos nossa culpa.
Contudo, é importante enfatizar de novo que nem todo sofrimento é conseqüência
de algum pecado específico que cometemos, uma vez que em outras ocasiões
nossos sofrimentos estarão totalmente desassociados de qualquer possibilidade
de algum pecado cometido. Por fim, às vezes sofreremos para que não nos
aconteça coisa pior.

Parte 49.
ORIENTAÇÕES QUANTO AO USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS
Marcos 14.25 e outros textos

Introdução:

Partindo da afirmação de Jesus Cristo, passo aos amados algumas breves


orientações para que os irmãos e irmãs reflitam sobre a manutenção ou não deste
hábito, a bebida alcoólica, que mesmo sendo considerado inofensivo por diversos
crentes, é comprovadamente maléfico e devastador para a família, a sociedade e
a igreja.

O alcoolismo, conforme relatórios da OMS - Organização Mundial da Saúde - é


uma doença hereditária, progressiva e terminal. Passa de pai para filho, aumenta
em sua ação degenerativa com o passar dos anos e, se não interrompido o seu
progresso em tempo hábil, mata. Mata por si só ou devido as chamadas doenças
oportunistas, tal como a cirrose hepática.

Devemos atentar para a afirmação de Jesus em Marcos 14.25, criando uma


espécie de hiato, um interregno ou até mesmo um abismo, entre a celebração do

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 225


memorial da nova Aliança em seu sangue e o tempo em que com ele beberemos
o vinho novo, no esplendor de sua glória lá no Reino do Pai. A afirmação de Jesus
tem uma perspectiva escatológica para a visão da igreja no cumprimento de sua
missão no mundo, a proclamação do Evangelho de salvação.

Vejamos diversos textos bíblicos sobre o assunto.

I - Textos que apresentam o contexto geral da Bíblia contrária ao alcoolismo:

1.1 Levítico 10.8-11 - Deus impõe uma restrição ao sacerdote com relação a
bebida alcoólica com intenção objetiva de preservar sua autoridade para o ensino,
ressaltando que é fundamental a separação entre o profano e o sagrado, o imundo
e o limpo, aquilo que fora santificado, vs. 10. do que concluímos que a bebida
alcoólica faz o homem imundo diante de Deus, tornando imperfeito o seu culto e a
sua adoração e denegrindo o seu sacerdócio.

Se de fato somos salvos em Cristo, e se é verdade a afirmação que lemos em 1


Pedro 2.5 e 9, bem como em Apocalipse 1.6, somos hoje os sacerdotes que Deus
constituiu para o culto e para a proclamação do Evangelho. Podemos, então,
deferir que a bebida alcoólica nos faz imundos diante de Deus e torna imperfeito o
nosso culto, fazendo-nos profanadores do Evangelho e não proclamadores da
salvação como nos é exigido no Texto Sagrado. Motivo suficientemente forte para
nos fazer abandonar este hábito.

1.2 Provérbios 20.1 - O pregador define o vinho, que pelo contexto é


representativo de toda a sorte de aguardente, destilados e fermentados etílicos,
como escarnecedor, que não respeita limites em suas brincadeiras, referências
jocosas e pejorativas, e alvoroçador, criador de contendas e ciosidade de ânimo,
asseverando que aqueles que erram em suas bebedeiras não são sábios. A falta
de sabedoria aqui é relacionada a pouca inteligência, a postura de persistir na
ignorância mesmo depois de ter sido orientado.

A Palavra de Deus nos exorta a pedirmos sabedoria ao Senhor, Tiago 1.5, a fim
de vivermos em sabedoria na comunhão cristã, Colossenses 3.16. Só a sabedoria
de Deus, que é Jesus, Provérbios 8.30 e João 1.1, é que nos capacita a
manifestarmos o Fruto do Espírito Santo, Gálatas 5.22-24, que se contrapõem a
postura escarnecedora e alvoroçadora imposta pelo alcoolismo. Se somos salvos,
filhos de Deus por Jesus, João 1.12, somos exortados a vivermos de tal forma que
sempre se manifeste em nós o Fruto do Espírito, razão pela qual não se justifica a
prática da bebida alcoólica entre nós, pois ela predispõe o homem às obras da
carne.

1.3 Provérbios 23.29-35 - O Texto Sagrado inicia com uma série de perguntas
bem significativas, vs. 29, para aqueles que gostam de beber, que se demoram
perto do vinho, vs. 30. Em seguida condena o vício, que antecede a dependência
alcoólica que é conseqüência do vício, asseverando que mesmo tendo uma
aparência de prazer, vs. 31, o alcoolismo é peçonhento, tem veneno mortal, vs.

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32, provocando alucinações, linguajar ofensivo e destruidor do relacionamento, vs.
33, enjôos estomacais (deitado no meio do mar) e desequilíbrio neurológico
(dormir no topo do mastro) vs. 34. Se não bastasse, o pregador afirma que o
alcoólatra amarga uma ressaca dorida e uma desavergonhada insistência no
alcoolismo, vs. 35, mesmo sentindo-se como que triturado pelo álcool, quando se
sente melhor, volta para a cachaçada.

Devemos observar o ensinamento do Texto Sagrado quando relaciona as


bebedices dentre as obras da carne, Gálatas 5.21, declarando de forma
contundente que os têm tal prática como hábito usual na vida não herdarão o reino
de Deus, isto é vão para o inferno. Se não bastasse, em 1 Coríntios 6.10, na
listagem dos destinados ao inferno, os bêbedos aparecem também como
condenados pela prática usual do alcoolismo. A Palavra de Deus declara de forma
contundente que tais pessoas não têm salvação, estão condenadas ao inferno.
Sei que alguns descordarão de mim peremptoriamente, mas é a Palavra de Deus
que afirma assim, não o pastor.

Se o alcoolismo, as bebedices, é obra da carne, e se os que praticam os desejos


da carne estão mortos em seus delitos e pecados, Efésios 2.1-3, não há
justificativas para um cristão sincero insistir nesta prática nefasta e infernal que é a
bebida alcoólica.

1.4 Isaías 28.7 - O profeta, ao anunciar o castigo imposto por Deus sobre Efraim e
Judá, condena com veemência a prática da bebida alcoólica, ressaltando que tal
prática era perniciosa, desencaminhando, tirando o povo do propósito
estabelecido por Deus na Aliança, por estarem todos, do sacerdote ao indivíduo
mais mequetrefe na fé, cambaleantes, sem firmeza espiritual e física, por isso,
errando na visão, confundindo a visão de Deus com as alucinações alcoólicas, e
tropeçando, cometendo erros grotescos ou relativisando (facilitando a convivência
com o pecado), no juízo, os valores absolutos de Deus, morais e espirituais,
estabelecidos em sua Palavra.

Devemos observar que o estado de cambaleante não é devido ao cristão. Jesus é


o único caminho, João 14.6, e somos exortados a andarmos neste caminho sem
nos desviarmos nem para a direita ou para a esquerda, Josué 1.7, visto que é o
caminho perfeito, Salmo 18.30, indicado pelo próprio Senhor para nós, Salmo
32.8, sendo o único caminho de salvação, Salmo 67.2, que nos faz andar em
santidade diante do Senhor, Salmo 77.2.

Devemos reconhecer que não é um caminho fácil, Mateus 7.14, Jesus mesmo
declarou que o caminho da salvação é estreito, mas também que é o caminho de
paz, Lucas 1.79, e de vida, Atos 2.28, sendo, por isto, o único caminho justo e
verdadeiro, Apocalipse 15.3, pelo qual devemos andar em santidade para
chegarmos ao Pai. Não há outro caminho e "ninguém vem ao Pai se não por
mim", disse Jesus, João 14.6.

Não há justificativas para os descaminhos do alcoolismo na vida do verdadeiro

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cristã.

1.5 Oséias 4.11 - A Palavra de Deus assevera mais uma vez que a bebida
alcoólica, em qualquer uma de suas variações ou graduação alcoólica, tira o
entendimento, isto é, faz do homem um ser tal qual os irracionais.

A Teologia reconhece que somente o homem tem capacidade de raciocínio e que


nesta capacidade de pensar e de refletir reside parte da imagem e semelhança de
Deus no homem, Gênesis 1.26. A consciência moral, que deriva da santidade de
Deus, o espírito que nos foi soprado por Deus fazendo-nos alma vivente, a
competência do indivíduo (capacidade de tomar decisões próprias) e a reflexão
constituem parte de nossa imagem semelhança com o Criador.

Sabemos, pelo relato bíblico, que a imagem de Deus é corrompida no homem pelo
pecado, Romanos 1.18-25, e que Cristo morreu por nós para nos reconciliar com
Deus, Romanos 5.10, por isso não podemos admitir a insistência de alguém que
se diz salvo, mas que deseja permanecer na prática de algo que distorce a
imagem de Deus em nós, visto que tal distorção é pecado e pecado é separação
entre Deus e o homem, Romanos 3.23.

Lamentavelmente estes ensinamentos bíblicos não são suficientes para demover


alguns irmãos de seu costume, ou até mesmo do seu vício, de bebericar
socialmente ou, encastelados em suas casas, "tomarem todas", "enchendo o pote"
e a paciência da família. Temos até mesmo aqueles que buscam em alguns
textos, dissociados de contexto geral da Bíblia, justificativas para persistirem na
prática da bebericagem. Vejamos algumas das mais costumeiras e infundadas
justificativas, que sem medo de errar afirmo que passa pela mente de alguns aqui,
e as refutações bíblicas e teológicas devidas.

II - Justificativas infundadas e dissociadas do contexto geral da Palavra de


Deus:

2.1 O primeiro milagre de Jesus - João 2.1-11: Observe que o texto em momento
algum afirma que Jesus bebeu naquela festa ou que tenha distribuído a bebida
autorizando a prática. Jesus mandou entregar ao mestre-sala, vs. 8, que era o
responsável pela festa. Na verdade, Jesus se permitiu àquele momento para
demarcar, por sinais visíveis, vs. 11, o início de seu ministério, com objetivo
específico de manifestar a glória de Deus investida nele e, com isso, despertar a
fé dos discípulos.

O pastor Isaltino Gomes Coelho Filho assevera que a chave para a interpretação
deste milagre é o vs. 10. Neste verso vemos a clara distinção entre o velho e o
novo vinho, como sendo uma alusão ao velho pacto, firmado na Aliança abrâmica,
e ao novo pacto, firmado no sangue de Jesus, Lucas 22.20. Compare o verso 11
de João com os ensinamentos do livro de Hebreus sobre a substituição do velho
pacto que se mostrara ineficaz, Hebreus 8 e 9.

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2.2 A censura a Jesus como beberrão - Mateus 11.19 e Lucas 7.34: Deve-se
ressaltar que o texto não afirma que Jesus tinha como prática usual a bebida
alcoólica, o vinho na época, mas que seus interlocutores o acusavam de ser um
bebedor movido por um demônio. Vale observar ainda que em Lucas a declaração
de que Jesus comia e bebia vinho é uma declaração da humanidade de Jesus e
não uma afirmação de vício ou uma justificativa para tal. Os perseguidores de
Jesus o acusaram de fazer milagres e de se comportar como um ser humano
perfeito a partir de motivação demoníaca, o que o próprio Jesus refutou
declarando que atribuir as obras ao diabo é blasfêmia contra o Espírito Santo, e
que toda palavra dirigida a ele, o Filho do Homem, desta forma, é pecado
imperdoável.

Vale destacar que Jesus tinha plena consciência de seu ministério e de seu
sacerdócio, que deveria ser sem mácula, sem pecado, Hebreus 4.14-16, e assim o
foi, 1 João 3.5, e que tentar denegrir o caráter santo de Jesus para justificar a
permanência no pecado é blasfêmia, é morte, Mateus 12.22-32 e correlatos.

2.3 A orientação de Paulo aos diáconos - 1 Timóteo 3.8: Paulo afirma, escrevendo
a Timóteo, que pastoreava a igreja de Éfeso, que o candidato ao diaconato não
deve ser dado a muito vinho, o que pressupõe a permissão para que se beba
pouco vinho.

Neste caso estamos diante do que se classifica como uma possível discrepância
teológica. Talvez Paulo tenha cedido a pressão movida pela prática usual na igreja
de Éfeso, a turma lá gostava de uma birita, o que não esvazia o princípio teológico
que rege todo o contexto bíblico, que é contrário à prática da bebida alcoólica.

Vale ressaltar ainda que há um contra-senso teológico, uma discrepância mesmo,


pois o mesmo Paulo que cede a uma possível pressão já escrevera àquela igreja
exortando quanto a necessidade de se abandonar a bebericagem para que, em
contra partida, se enchessem do Espírito Santo, Efésios 5.18. No vinho há
devassidão, que é pecado.

A teologia, em qualquer matiz, orienta aos estudantes, bem como a igreja, que
sempre quando nos deparamos com uma discrepância teológica o correto é fazer
opção pelo ensino que expressa com mais precisão a unidade do texto bíblico. A
Bíblia é contrária ao alcoolismo e o diaconato é ministério dado a igreja pelo
Espírito Santo, logo a opção deve ser por este ensinamento. Seja pelo sacerdócio
universal ou pelo ministério diaconal a partir da investidura do Espírito de Deus, o
bíblico, o correto, é não beber vinho ou qualquer outra bebida alcoólica.

2.4 A orientação de Paulo para Timóteo beber um pouco de vinho - 1 Timóteo


5.23: Aqui, além de estarmos diante de uma circunstância tal qual a anterior, não
se pode desvirtuar o texto que, neste caso específico, tem uma conotação
puramente terapêutica, medicinal mesmo.

Talvez alguns queiram argumentar sobre os benefícios do vinho para a saúde, o

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que não se pode negar, assim como não podemos negar os malefícios do álcool
para a saúde, e como não sabemos se temos predisposição para desenvolver o
alcoolismo, o melhor é não arriscar. O vinho, nos tempos bíblicos, não continha
adição etílica e era fermentado pelas próprias características de fermentação da
uva, além do que, hoje temos inúmeros medicamentos da alopatia e da
homeopatia que produzem efeitos, cientificamente reconhecidos, mais eficazes do
que o oferecido pelo vinho etílico.

Se aceitarmos a orientação terapêutica de Paulo a Timóteo como justificativa para


o hábito da bebida alcoólica, teremos de usar a pasta de figos, 2 Reis 20.7, o óleo
para a unção, Tiago 5.14 e o mergulho em águas de rios poluídos, 2 Reis 5.9-14,
no tratamento terapêutico dos enfermos de nossas igrejas, bem como deveríamos
usar o cuspe, Marcos 7.31-35, o lodo, João 9.5-7 e o sopro, que tanto
combatemos sua prática nos movimentos neopentecostais, pois estes métodos
foram utilizados por Jesus, o que pode não ser uma justificativa plausível para os
dias de hoje.

Conclusão:

Concluindo, entendo que este tema pode gerar acirrado debate, do que não me
esquivaria, desde que o irmão ou a irmã, com bases bíblicas sólidas e não apenas
baseando-se em aspectos culturais ou em idéias isoladas, negando o
ensinamento da Palavra de Deus em seu contexto geral.

Também devo reconhecer que a igreja não pode proibir, coercitivamente, ninguém
de beber, visto que no decorrer da história temos esvaziado a autoridade espiritual
do pastor, principalmente nas igrejas conservadoras. Neste ponto alguns grupos
pentecostais devem ser admirados, pois o pastor ainda tem autoridade espiritual
sobre o rebanho, o que é bíblico. A Palavra de Deus assevera que as ovelhas
devem obediência ao pastor, Hebreus 13.17.

Quanto a mim, estou em paz diante de Deus, pois minha posição sobre bebida
alcoólica é de contrariedade e de rejeição contundente. A bebida alcoólica é um
fator de escravidão satânica em nossa sociedade, destruindo famílias e
personalidades, devendo ser banida do seio da igreja de Cristo Jesus a prática da
bebericagem que muitos cinicamente justificam como social. Não podemos
evangelicalizar práticas sociológicas malignizadas.

Quanto aos que discordam deste posicionamento e insistirem nesta prática


diabólica, estarei orando para que Deus os abençoe com a libertação em nome de
Jesus.

Amém.

Parte 50.
OBJETIVOS QUE TRAZEM BENÇÃO E MALDIÇÃO
Um Estudo sobre o Uso de Objetos e a Fé

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 230


Um assunto que tem provocado muita polêmica em nossos dias é o ensino do
moderno movimento de batalha espiritual acerca de objetos que têm o poder de
abençoar e amaldiçoar aqueles que os tocam ou possuem. Nesse pequeno artigo,
procuro compreender esse ensino e oferecer uma avaliação.

Objetos que Trazem Bênção


Nos cultos de muitas igrejas de libertação, objetos variados são empregados como
canais de bênção. Eles são ungidos (abençoados) nos cultos com o objetivo de
passarem ao fiel algum tipo de benefício. Os mais comuns são a água fluidificada
(colocada sobre o rádio ou TV durante a oração do "homem de Deus"), a rosa
ungida, ramos de arruda, sal grosso, óleo, água, vinho, pedrinhas trazidos da
"terra santa" (Israel), fitinhas, pulseiras e lenços.

Embora os líderes dessas igrejas insistam que esses objetos abençoados


funcionam apenas como apoio para a fé dos crentes, ao fim, acabam sendo
usados como talismãs, fetiches e outros objetos "carregados" de poder espiritual.
Os seus possuidores devem usá-los de acordo com algum tipo de ritual, após o
culto. A água pode ser bebida em casa, após a oração de consagração. O "cajado
de Moisés" deve ser usado para bater naquilo que o crente gostaria de ter (um
carro novo, por exemplo). Lenços ungidos devem ser carregados junto ao corpo
por determinado tempo, geralmente durante o tempo de uma corrente de
oração.(1)

Muitas vezes objetos são "abençoados" nessas igrejas com o objetivo de


espantarem e expelirem demônios. A idéia que está por detrás desse uso religioso
de artigos e objetos é o de que as entidades espirituais (anjos e demônios) podem
ser atingidas através dos sentidos como cheiros, cores, gosto e vozes. Nesse
ponto os cristãos do primeiro século se afastaram significativamente das práticas
exorcistas do Judaísmo da sua época, que foram desenvolvidos no período
intertestamentário. Os métodos rabínicos de tratar com demônios incluía o uso de
tochas de fogo à noite, amuletos, filactérios,(2) fórmulas mágicas, fumigações,
entre outros. A idéia era que essas coisas teriam em si algum tipo de poder
mágico contra os demônios.(3) No cristianismo primitivo, entretanto, a idéia de que
demônios pudessem ser atingidos através de sons, cheiros ou coisas materiais e
tangíveis, está ausente.

É importante dizer que não duvido da sinceridade e da boa-fé dos que empregam
esses objetos. Entretanto, podemos estar sinceramente enganados no que diz
respeito ao culto a Deus, como os judeus na época de Paulo (Rm 10.1-2). É minha
convicção que o uso desses objetos como apoio para fé ou canal de bênçãos não
faz parte do culto agradável a Deus que nos é ensinado nas Escrituras.

Entendendo o uso de objetos na Bíblia


Salta aos olhos de quem conhece as práticas religiosas populares que o uso de
objetos ungidos pelas igrejas de libertação é bastante semelhante ao benzimento
de objetos no baixo espiritismo, artes mágicas e no ocultismo em geral.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 231


Entretanto, essas igrejas argumentam que a prática tem base na Bíblia.
Provavelmente a passagem bíblica mais citada é Atos 19.12, onde se relata o uso
dos aventais e lenços de Paulo para expulsar demônios em Éfeso. É preciso
salientar, entretanto, que esse acontecimento é o único do gênero que temos
registrado no Novo Testamento. Fez parte dos "milagres extraordinários" que o
Senhor realizou em Éfeso pelas mãos de Paulo (At 19.11).

Devemos interpretar essa passagem da mesma forma como interpretamos os


relatos do Antigo Testamento sobre o cajado de Moisés (Ex 8.5,16) e o manto de
Elias (2 Re 2.8,14). Esses objetos foram veículos materiais do poder miraculoso
desses homens. O propósito das narrativas acerca do poder que havia neles foi
mostrar o extraordinário poder de Deus nas vidas dos seus possuidores,
comprovando que a sua mensagem vinha realmente da parte de Iavé. O ponto é
que esse poder era tão grande que até as coisas com as quais Moisés e Elias
tinham contato diário se tornavam canais através dos quais ele era transmitido.

Além dessas ocorrências no Antigo Testamento mencionadas acima, outros


eventos são citados como justificativa para o uso de objetos como veículos do
poder divino. Moisés fez uma serpente de bronze (Nm 21.9). Eliseu usou um prato
novo com sal para miraculosamente sanar as águas de Jericó (2 Re 2.19-22), um
pouco de farinha para purificar uma comida envenenada (2 Re 4.38-41), um pau
para fazer flutuar um machado que caiu no rio (2 Re 6.1-7). Sob seu comando, as
águas do Jordão serviram para curar a lepra de Naamã (2 Re 5.1-14). Seu bordão
parece que era usado para realizar milagres (2 Re 4.29) e seus ossos
ressuscitaram um morto (2 Re 13.20-21). O profeta Isaías usou uma pasta de
figos para curar Ezequias (2 Re 20.7).

Alguns eventos narrados no Novo Testamento são também citados como prova.
As vestes de Jesus tinham poder curador. Não somente a mulher com um fluxo de
sangue foi curada ao tocá-las (Lc 8.43-46), mas muitas outras pessoas doentes
(Mt 14.36; Mc 6.56; cf. Lc 6.19). Em pelo menos duas ocasiões, Jesus usou saliva
para curar cegos (Mc 8.22-26; Jo 9.6-7), e em outra, para curar um mudo (Mc
7.33). Aparentemente, a sombra de Pedro, após o Pentecostes em Jerusalém,
acabava por curar a quem atingisse (At 5.15).

Devemos entender, entretanto, qual o objetivo dessas narrativas. Em todas elas, o


conceito é sempre o mesmo. Jesus e os apóstolos eram tão cheios do poder de
Deus que as coisas com as quais tinham contato íntimo se tornavam como que
em extensões deles, para curar e abençoar as pessoas. O objetivo é idêntico:
enfatizar a enormidade do poder de Deus em suas vidas, e assim, atestar que a
mensagem pregada por eles, bem como pelos profetas do Antigo Testamento,
vinha de Deus. A prova eram os poderes miraculosos tão extraordinários que até
mesmo vestes, bordões, ossos, saliva, sombra e lenços desses homens
transmitiam o poder curador de Deus que neles havia. É dessa forma que
devemos entender o relato de Atos 19 sobre o poder curador dos lenços e
aventais de Paulo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 232


Evidentemente, essas passagens não servem como prova de que, hoje, as igrejas
evangélicas podem abençoar objetos e usá-los para expelir demônios, proteger
seus possuidores contra forças negativas e curar moléstias. Notemos as principais
diferenças entre o uso destes objetos nos relatos bíblicos e o uso que é feito hoje
pelas igrejas de libertação.

1. Foram usados como símbolos - Em vários casos, o papel de objetos na


execução dos milagres bíblicos é melhor entendido como tendo sido simbólico. De
alguma forma estavam relacionados à natureza do milagre: uma serpente de
bronze para curar mordeduras de serpentes, um pedaço de pau para fazer um
machado flutuar, sal e farinha para purificar águas e comida (os dois elementos
eram usados nos sacrifícios), ossos para trazer vida e água do Jordão para
"limpar" a lepra. Nas igrejas de libertação, muito embora se diga que os objetos
funcionam simbolicamente como apoio para a fé, acabam sendo aceitos pelos fiéis
menos avisados como possuindo em si mesmos alguma virtude ou poder.

2. A natureza dos milagres em que foram empregados - Os objetos fizeram parte


de milagres que não vemos serem repetidos hoje. A melhor maneira de provar que
o uso de objetos ungidos hoje opera a mesma liberação do poder divino como nos
eventos relatados na Bíblia, seria abrir rios, ressuscitar mortos, curar leprosos,
cegos e aleijados, sanear águas amargas e limpar comidas envenenadas usando
objetos pessoais dos missionários e obreiros dessas igrejas. Entretanto, os
"milagres" efetuados pelos objetos ungidos nas igreja de libertação nem de perto
se assemelham aos prodígios extraordinários narrados nas Escrituras.

3. Seu uso limitou-se ao momento do milagre - Nenhum dos objetos empregados


na Bíblia preservaram algum "poder" em si mesmos após o milagre ter ocorrido. A
serpente de bronze, até onde sabemos, não foi mais usada para curar mordidas
de serpentes após o incidente no deserto, muito embora os judeus supersticiosos
passassem a adorá-la como a um deus. É natural supor que Eliseu, após usar o
manto de Elias para abrir as águas, usou-o normalmente como peça do seu
vestuário, sem que o mesmo exercesse qualquer poder mágico nas coisas em que
tocava. O sal, a farinha e o pedaço de pau que ele usou para fazer milagres foram
tirados da vida normal e retornaram a ela após seu uso. Não retiveram qualquer
propriedade miraculosa em si mesmos. Semelhantemente, os lenços e aventais
de Paulo tiveram um uso especial somente em Éfeso, e provavelmente somente
durante um determinado período, ao longo dos três anos que o apóstolo passou
ali. Em contraste, as igrejas da libertação ungem e abençoam objetos e atribuem a
eles efeitos que permanecem muito tempo após a cerimônia. É algo bem diferente
do uso ocasional feito pelos profetas e apóstolos.

4. Os objetos estavam ligados à pessoa dos homens de Deus - Alguns dos objetos
usados eram coisas pessoais dos homens de Deus, como a capa de Elias, o
bordão de Eliseu, as vestes de Jesus, os lenços e aventais de Paulo e, num certo
sentido, a sombra de Pedro. Eles só foram empregados por isso. O alvo era
mostrar o extraordinário poder de Deus sobre tais homens. Quando refletimos no
fato de que somente coisas pessoais dos profetas, do Senhor Jesus e dos

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apóstolos foram usadas, perguntamo-nos se nossos objetos pessoais teriam o
mesmo poder. A resposta humilde deve ser "não". Os profetas, o Senhor e os
apóstolos foram pessoas especiais e pertenceram a uma época especial e única
dentro da história da revelação. A suspeita de que nossos objetos pessoais são
impotentes para realizar milagres fica ainda mais fortalecida quando não
descobrimos nas Escrituras qualquer exemplo de coisas dos crentes comuns
sendo usadas com esse fim.(4)

5. Nenhum dos objetos empregados foi ungido ou abençoado - Essa é uma


diferença fundamental. Nas igrejas de libertação, os objetos são ungidos,
abençoados, fluidificados e consagrados através da oração e da imposição de
mãos dos pastores e obreiros, depois do que, passam supostamente a ter poderes
especiais. No entanto, em nenhum dos casos mencionados nas Escrituras, os
objetos empregados nos milagres passaram, antes, por uma cerimônia de
consagração. A Bíblia desconhece totalmente a "unção" de coisas com o fim de
serem empregadas em atos miraculosos, para atrair as bênção de Deus, ou ainda,
para expelir demônios e doenças. É verdade que no Antigo Testamento alguns
objetos, utensílios e mobília do tabernáculo, e depois, do templo, foram ungidos
com sangue e óleo. Mas o propósito não era investir essas coisas de poderes
especiais, e sim separá-las do seu uso comum para o uso sagrado nos rituais de
sacrifício. Eliseu não ungiu nem consagrou, pela oração, o sal, a farinha e o
pedaço de árvore que usou para operar milagres. Nem Isaías ungiu a pasta de
figo para curar a úlcera de Ezequias. Nem mesmo a serpente de bronze passou
por uma consagração, antes de ser erigida diante do povo envenenado pelas
serpentes. Os lenços e aventais de Paulo não passaram pela imposição de mãos
do apóstolo antes de serem levados aos doentes e endemoninhados. O que dava
"poder" àqueles objetos era o fato de que pertenciam, ou foram manipulados, por
pessoas sobre quem o poder de Deus repousava de forma extraordinária.

A conclusão inescapável é que não existe qualquer fundamento bíblico para que,
hoje, unjamos e abençoemos objetos com o propósito de transmitir, através deles,
uma medida do poder de Deus. Mais uma vez repito: creio que Deus faz milagres
hoje. Creio que ele poderia usar o que quisesse para fazer isso. Entretanto, creio
também que Deus nos revela em Sua Palavra os seus caminhos e seus meios de
agir, para que não sejamos iludidos pelo erro religioso. E se vamos usar as
Escrituras como regra da nossa prática, bem como critério para discernirmos a
verdade do erro, acabaremos por rejeitar a idéia de que, pela oração e unção,
determinados objetos repassam uma bênção de Deus aos seus possuidores.

Objetos que Trazem Maldição


Tratemos agora de outro ensino ainda relacionado com o uso de objetos no
campo religioso. Segundo adeptos do movimento de "batalha espiritual", objetos
utilizados em qualquer forma de magia, ocultismo ou religião idólatra ficam
impregnados de emanações malignas, como se demônios de fato residissem nos
mesmos. Para usar a linguagem de alguns do movimento, esses objetos estariam
"demonizados". Esse conceito é similar ao praticado na magia. Objetos
magicamente "carregados" são considerados como transmissores do poder da

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mágica que representam, e afetam aos que os tocam.

Portanto, caso um cristão venha a ter em sua casa, escritório ou local de trabalho,
qualquer um desses objetos, estará dando ocasião para que os demônios (as
verdadeiras entidades espirituais associadas com esses objetos) prejudiquem sua
vida material e espiritual. A idéia é que objetos como ídolos, imagens, esculturas,
quadros e fotos se tornam pontos de contato para os demônios, que sempre estão
procurando materializar-se através de alguma coisa e assim atormentar os
homens.(5) Admitir tais coisas dentro de casa, seria convidar os demônios a entrar
e nos atormentar. Nas palavra de Jorge Linhares,

Não basta que abençoemos os nossos bens, nossos pertences. precisamos


verificar se não temos permitido adentrar em nosso lar objetos que são por
natureza amaldiçoados - objetos que temos de lançar fora e de preferência,
queimar ou destruir.(6)

Uma outra coisa que segundo o pensamento da "batalha espiritual" permite a


entrada de demônios na vida da pessoa é o ingerir comidas "trabalhadas" em
centros de umbanda. Num capítulo entitulado "Como os demônios se apoderam
das pessoas", do livro Orixás, Caboclos & Guias, Edir Macedo inclui comidas
sacrificadas a ídolos como um desses meios. Ele conta o caso de um homem que
ingeriu uma comida "trabalhada" e foi atacado por um espírito maligno que o fazia
sofrer do estômago. Ele conclui dizendo, "Todas as pessoas que se alimentam
dos pratos vendidos pelas famosas 'baianas' estão sujeitas, mais cedo ou mais
tarde a sofrer do estômago."(7)

Mark Bubeck, que ficou conhecido no Brasil por seu livro O Adversário, escreveu
recentemente um outro livro sobre como podemos criar nossos filhos em meio aos
constantes ataques que os demônios fazem ao nosso lar. Ao fim do livro, Bubeck
adicionou um apêndice, contendo questionários cujas perguntas procuram levar os
leitores a descobrir as portas pelas quais têm permitido aos demônios entrarem no
lar e atacar os filhos. Uma das portas é a presença em casa de objetos
amaldiçoados, como amuletos, fetiches e talismãs, livros sobre ocultismo,
bruxaria, astrologia, mágica, adivinhação, e utensílios ou objetos usados em
templos pagãos, rituais de feitiçaria, ou ainda na prática da adivinhação, mágica
ou espiritismo. A sugestão de Bubeck é que a presença dessas coisas no lar
permite aos demônios que penetrem na casa e atormentem os filhos.(8)

Uso de objetos no paganismo


A lista de Bubeck é bem modesta. Os objetos considerados "amaldiçoados" por
muitos cristãos são via de regra aqueles usados nas religiões afro-brasileiras, nas
práticas ocultas e no catolicismo popular. Nas religiões populares que empregam
artes mágicas e práticas ocultas, objetos religiosos desempenham importante
papel no culto e na fé dos participantes. São usados, por exemplo, em despachos
e trabalhos feitos pelos pais-de-santos da umbanda. Objetos como o sal grosso, a
rosa ungida, a água fluidificada, fitas e pulseiras especiais (como a do chamado
"Senhor" do Bonfim) e ramos de arruda são bastante populares. Ainda podemos

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incluir talismãs e amuletos do tipo "pé-de-coelho". Para não mencionar ainda os
fetiches usados na magia e no candomblé, as relíquias e imagens do catolicismo
popular.(9) Na feitiçaria, velas coloridas são usadas para evocar vibrações
energéticas das cores e promover transformações pessoais. Amuletos são
empregados na proteção contra maus espíritos. Ainda são usados óleos
especiais, incensos, cremes, pó, cristais, pirâmides, pêndulos, pulseiras, brincos e
pendentes, colares contendo saquinhos com fórmulas mágicas e encantamentos,
e muito mais.(10) As gárgulas (imagens de animais grotescos) são
freqüentemente associadas com demônios.(11) Esses objetos são ungidos,
benzidos, abençoados, purificados, fluidificados com o objetivo de passar ao seu
possuidor alguma espécie de poder ou proteção. Ou ainda, são usados em rituais
de magia associados com encantamentos, feitiços, despachos e trabalhos
espirituais em geral. Em alguns casos, esses objetos são associados com os
nomes das entidades espirituais aos quais são dedicados.(12)

Maldições trazidas por objetos consagrados a demônios


Como dissemos acima, para os aderentes do movimento de batalha espiritual a
ingestão, a posse e mesmo o contato com coisas que foram oferecidas e
consagradas aos demônios trazem maldição aos crentes. Um caso sempre
mencionado é o do missionário que, ao regressar ao seu país de origem, trouxe
da tribo africana onde trabalhava um pequeno fetiche (objeto usado nos rituais
religiosos) como recordação. O missionário, evidentemente, não tinha qualquer
atitude religiosa para com o objeto, como os africanos; trouxe-o apenas como
lembrança, um souvenir. O fetiche foi colocado na estante da sala, em sua casa.
Não muito tempo depois, sua filha ficou doente. Sua situação financeira foi de mal
a pior. Havia uma "opressão espiritual" no ar, dentro da casa. Nada mais dava
certo. Vozes e ruídos eram por vezes ouvidos à noite. Um dia, uma profetiza de
uma igreja carismática veio visitar a família. Dirigiu-se imediatamente à estante
onde estava o fetiche. Sem hesitar, declarou que a casa estava amaldiçoada por
causa do objeto. Era preciso quebrar a maldição. Os passos necessários seriam:
confissão do pecado de trazer para casa um objeto amaldiçoado, a quebra do
mesmo e a total renúncia dos laços com os espíritos malignos. Esses laços
haviam sido estabelecidos, mesmo inconscientemente, no momento que o
missionário trouxe o objeto para dentro de casa. Os demônios adquiriram a
autoridade de invadir a casa e oprimir seus moradores.

Timothy Warner conta a história de uma estudante crente, por natureza uma
pessoa bem ativa e enérgica, que começou a ficar mais e mais deprimida, tendo
dificuldade em dormir e estudar, durante seus estudos de francês, em preparação
para o trabalho missionário na África. Um missionário descobriu, após examinar o
dormitório onde ela morava, que o ocupante anterior havia escondido no mesmo
diversos objetos ocultistas. Warner então explica: "alguns dos demônios
associados com os objetos haviam se apegado ao quarto e à mobília". O
missionário orou determinando aos demônios que fossem embora, e a moça pode
voltar a dormir normalmente.(13)

O pressuposto por detrás desse tipo de relato é que esses objetos abrem a porta

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 236


para os demônios, visto que foram consagrados a eles nos rituais de magia e
ocultismo, e mesmo no catolicismo. O fato de que uma pessoa é crente não
evitará que seja oprimida pelos espíritos associados a objetos deste tipo.

Existem algumas dificuldades com esse conceito. No que se segue, vamos


explicar algumas delas.

1) O conceito da habitação de demônios em objetos físicos. Warner conta a


história de uma família de missionários nas Filipinas cujo filho era assediado por
um demônio que morava numa árvore do jardim da casa onde moravam.(14) O
conceito de entidades espirituais morando em árvores remonta à mitologia grega e
ao paganismo em geral. As Escrituras desconhecem esse conceito e falam dos
demônios como atuando especificamente em seres vivos, humanos ou animais.
Entretanto, é comum lermos na literatura do movimento de "batalha espiritual" que
espíritos malignos podem habitar em coisas como árvores, imagens, objetos,
casas, etc.

Às vezes Apocalipse 18.2 é citado como prova de que demônios podem morar em
lugares amaldiçoados:

Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se
tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e
esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável.

Aqui temos o anúncio da queda de Babilônia feito por um anjo de Deus. Notemos,
porém, o seguinte, antes de concluirmos que o texto prova que demônios moram
em ruínas! (1) A passagem é evidentemente alegórica. Nos dias de João,
Babilônia já não mais existia. (2) João está citando Jeremias 50.39 e Isaías 13.21.
Esses dois profetas referem-se à queda e destruição da cidade de Babilônia que
existiu em seus dias. A desolação que lhe haveria de sobrevir, como resultado do
castigo divino, ia ser tão grande, que a grande cidade, outrora populosa e
opulenta, iria se tornar em um grande montão de ruínas. Com o propósito de
enfatizar a desolação, os profetas descrevem as ruínas como sendo habitadas por
feras e animais do deserto: chacais, avestruzes, corujas e hienas. A Septuaginta,
ao traduzir o texto hebraico de Isaías 13.21, traduziu "bodes" por "demônios".(15)
O apóstolo João, ao citar essas passagens e aplicá-las figuradamente à Babilônia
espiritual, o reino das trevas que será destruído por Cristo, acrescenta, além dos
animais mencionados pelos profetas, os demônios e espíritos imundos, seguindo
a tradução da Septuaginta (Ap 18.2). (3) Evidentemente, a passagem não está
dizendo que essas entidades habitam em ruínas de cidades. Seu sentido óbvio é
que Deus entrega a humanidade ímpia e endurecida que o rejeita à desolação
espiritual e aos demônios. (4) Lembremos ainda que o Senhor Jesus ensinou que
os espíritos imundos não encontram repouso em lugares áridos (Mt 12.43-45). A
conclusão é que não existe argumentos bíblicos suficientes para provar que
espíritos imundos moram e habitam em coisas como objetos, casas, árvores, etc.

2) O estabelecimento de um pacto com esses demônios pela posse de objetos a

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eles consagrados. Nenhum adepto do movimento de "batalha espiritual" estaria
disposto a admitir que um incrédulo entra em algum tipo de pacto ou concerto com
Deus simplesmente por ter uma Bíblia em casa, ou mesmo por ter participado
inadvertidamente da Ceia do Senhor numa igreja evangélica. Entretanto, está
pronto a afirmar que cristãos verdadeiros podem ser atacados, amaldiçoados e
demonizados se tiverem em casa livros sobre ocultismo ou objetos ocultistas, para
com os quais não tenha nenhuma atitude religiosa. É óbvio que a simples posse
desses objetos não nos expõe a ataques satânicos da mesma forma que a posse
de uma Bíblia não expõe um incrédulo às investidas do Espírito Santo, a não ser
que abra suas páginas e comece a ler, com seu coração aberto e desejoso de
aprender as coisas de Deus.

3) Uma outra dificuldade é o conceito de que crentes, que nem estão conscientes
de que esses objetos foram usados em rituais ocultistas, possam ser oprimidos
pelos demônios associados com esses objetos. Não é suficiente escutarmos os
relatos e as experiências, como a do missionário acima. Como já insistimos em
quase cada capítulo desse livro, por mais sérias e válidas que sejam, experiências
não podem servir como autoridade final nessa questões. É preciso examinar as
Escrituras, seguindo as regras simples de interpretação, que procuram deixar o
texto sagrado falar livremente. E o que encontramos nelas pode ser resumido nas
palavras de Balaão, falando pelo Espírito de Deus: "Pois contra Jacó não vale
encantamento, nem adivinhação contra Israel" (Nm 23.23).

Coisas amaldiçoadas na Bíblia


É preciso reconhecer que, para alguns defensores da "batalha espiritual", existe
suficiente apoio na Bíblia para defender o conceito de maldição através de
objetos. Examinemos os dois principais argumentos.

1) Passagens que condenam o uso de amuletos. É defendido que os pendentes


de ouro que as mulheres israelitas traziam nas orelhas, ao sair do Egito, e com os
quais se fez o bezerro de ouro, eram amuletos (Ex 32.2-4), bem como as
arrecadas (brincos) que Jacó arrancou das orelhas da sua família, junto com os
ídolos (Gn 35.1-4).(16) O uso de cordões ou cadeias com pendentes é chamado
pelo profeta Oséias de "adultério entre os peitos" (Os 2.2). A atitude das Escrituras
em relação a esses objetos é de condenação e rejeição. O profeta Isaías, ao
condenar a vaidade do vestuário das mulheres israelitas, faz referência às luetas
que elas traziam em seu pescoço (Is 3.18). Eram cordões ou cadeias de ouro com
o símbolo da lua crescente, usados para proteger contra maus espíritos. Esse era
um costume pagão. Eles usavam amuletos assim até mesmo no pescoço de
camelos (Jz 8.21,26).

É preciso notar, entretanto, que condena-se não tanto o uso em si desses objetos,
mas a atitude religiosa que os israelitas tinham para com eles. Eles o usavam
conscientemente como amuletos protetores, como fetiches mágicos, como se
fossem encantamentos contra maus espíritos. Foi contra essa prática de magia e
ocultismo que os profetas falaram. Evidentemente, ter objetos desse tipo em casa
pode não ser conveniente ao cristãos por vários motivos (veja a conclusão desse

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 238


capítulo). Entretanto, se eles não têm qualquer sentido, significado ou relação
religiosos, o cristão não se enquadra na condenação emitida pelos profetas.

2) Passagens que condenam imagens. Existem inúmeras passagens nas


Escrituras que condenam a idolatria, isso é, o ato de prestar culto à imagens bem
como às realidades espirituais que elas representam. Um fator que contribui
significativamente para essa condenação é a relação entre a idolatria e os
demônios. Nos tempos antigos, mágica, adivinhação, feitiçaria, bruxaria e
necromancia (invocação de mortos) estavam tão intimamente ligados à idolatria,
que era quase impossível separar uma coisa da outra. Moisés identifica os deuses
pagãos com demônios (Dt 32.17; cf. Sl 106:36-37). O mesmo faz Paulo (1 Co
10.19-20) e o apóstolo João (Ap 9.20). Acredito que o mesmo é verdade ainda
hoje. Por detrás da moderna idolatria estão os antigos demônios.

Entretanto, mais uma vez é preciso observar que as Escrituras condenam


propriamente o confeccionar e possuir imagens de entidades pagãs com propósito
religioso:

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura,
nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra,
nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque
eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos
filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos (Ex 20.3-6).

Os puritanos entenderam esse mandamento como determinando que nos


livrássemos, se possível, de todos os monumentos à idolatria, e proibindo o culto a
imagens representativas de Deus ou de falsos deuses e o possuir
supersticiosamente artigos ou objetos.(17) A preocupação sempre é contra a
idolatria em si. O mandamento contra a idolatria não dever ser entendido como
proibindo esculturas, representações, quadros e outros objetos artísticos em geral.
O fato de que o culto a Deus deve ser em Espírito (Jo 4.24) não quer dizer, nem
mesmo, que Deus proíba a confecção de objetos representativos de realidades
espirituais. Ele próprio determinou que os israelitas fizessem imagens de ouro de
querubins, que deveriam ser colocadas sobre a tampa da arca, o propiciatório (Ex
25.18-20). Noutra ocasião, mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze
(Nm 21.8-9). Ela foi mais tarde destruída somente por que os israelitas passaram
a adorá-la, provavelmente como uma relíquia provinda dos tempos de Moisés (2
Re 18.4). O motivo pelo qual o Senhor determinou que os israelitas destruíssem
totalmente as imagens dos deuses cananitas, ao se apossarem da terra, foram
evitar que os israelitas fossem atraídos à idolatria (Dt 7.1-5) e evitar a cobiça para
com o ouro e a prata que revestiam essas imagens. Por esses motivos, não
deveriam meter esses ídolos dentro de suas casas, pois eram amaldiçoados por
Deus e representariam uma tentação para praticarem a idolatria (Dt 7.25-26). Mais
uma vez percebemos que é o perigo da idolatria que o Senhor queria prevenir. As
imagens em si mesmo nada eram.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 239


Preciso reiterar minha convicção de que os cristãos deveriam evitar possuir
qualquer objeto relacionado com a idolatria e práticas ocultas. Entretanto, acredito
que isso deve ser feito pelas razões corretas e não por mera superstição e
crendice.

Atos 19 e a quebra de maldições de objetos


Talvez a passagem mais citada para justificar a quebra de maldições desses
objetos seja Atos 19.18-19:

Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas


próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo
os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-
se que montavam a cinqüenta mil denários.

As "artes mágicas" no mundo antigo incluíam a adivinhação, o exorcismo, o uso


de fórmulas secretas, a conjuração e a invocação dos mortos, pactos com
entidades espirituais, encantamentos e rituais com o objetivo de ganhar o favor
dos espíritos. Essas coisas eram usadas tanto para atingir e ferir inimigos quanto
para curar doentes. Elas são bastante populares ainda hoje.

Havia muitos magos e bruxos no mundo do século I, na época de Jesus e dos


apóstolos. Um exemplo é Simão Mago, que iludia o povo de Samaria com artes
mágicas (At 9.9). A cidade de Éfeso, por sua vez, era um conhecido centro dessas
artes. Ali, no início do reinado de Nero, um homem chamado Apolônio Tianeo
abriu uma escola e ensinava artes mágicas e coisas do gênero. Taciano, em sua
obra Contra Graecos, menciona que a deusa Diana dos efésios era considerada
como sendo praticante de magia.

Lemos em Atos 19 que os ex-adeptos da magia em Éfeso que haviam se


convertido ao cristianismo pela pregação de Paulo, queimaram seus livros
publicamente. Esses "livros" eram obras onde se ensinava a prática dessas artes.
Continham encantamentos, símbolos secretos e mágicos, passos para a
invocação de mortos e métodos para esconjurar demônios. Provavelmente
continham tabelas e fórmulas essenciais para a prática da astrologia. Os "Papiros
Mágicos", encontrados no Egito na década de 50 desse século, continham
pedaços de pergaminhos com símbolos e fórmulas mágicas chamados "cartas de
Éfeso", que eram usados como amuletos ou talismãs.(18)

É alegado por alguns da "batalha espiritual" que a queima dos livros de magia em
Éfeso foi necessária pois a posse de tais livros continuaria a dar validade aos
pactos feitos pelos efésios com entidades malignas e a dar autoridade a essas
entidades sobre suas vidas, mesmo que eles agora se tornaram cristãos. Queimar
os livros fazia parte da quebra das maldições que pesavam sobre eles por terem
praticado artes mágicas antes da sua conversão. Na cerimônia da queima dos
livros, eles renunciaram publicamente a todos esses compromissos e pactos que
fizeram com os espíritos malignos.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 240


Evidentemente, a queima dos livros de magia representou o rompimento oficial e
público dos efésios crentes com seu passado de ocultismo. Entretanto, nada há no
texto que apoie a idéia de que o evento foi uma espécie de cerimônia de quebra
de maldições. A queima dos livros foi o resultado da consciência que os efésios
agora tinham de que tais artes mágicas era iniquidade diante de Deus, e que os
livros que ensinavam essa coisas eram perniciosos à humanidade e que, por mais
caros que fossem (cerca de cinqüenta mil moedas de prata), deveriam ser
destruídos para não causar mais danos a outros. O verso 19 que narra a queima
dos livros deve ser entendido à luz do verso 18, onde se diz que os efésios vieram
confessar seus pecados e revelar as suas obras más. A queima dos livros foi uma
amostra de seu genuíno arrependimento.

Comentando nessa passagem, John Gill, um estudioso puritano, diz o seguinte:

Eles queimaram seus antigos livros de mágica para mostrar o quanto agora os
detestavam. Também, para mostrar a genuinidade de seu arrependimento pelos
pecados cometidos nessa área, para evitar que esses livros não se tornassem
uma armadilha para eles no futuro e para que não fossem usados por outros.(19)

Os livros, portanto, não foram queimados porque possuíam qualquer poder


maléfico intrínseco em si mesmos. Os motivos mencionados por Gill para a
queima estão em harmonia com o ensino das Escrituras em geral, com o bom
senso e com o que tem sido a prática normal da Igreja na história, além de ser a
interpretação mais natural e óbvia da passagem.(20)

Existe ainda um outro motivo para a queima dos livros. Uma parte essencial da
prática de artes mágicas daquela época era o exorcismo, a expulsão de espíritos
malignos. Acreditava-se (como também se acredita hoje em alguns círculos
protestantes) que todas as doenças - particularmente as mentais - eram causadas
por espíritos maus que entravam nos homens. Grande parte do trabalho dos
exorcistas era tentar curar essas doenças pela expulsão dos espíritos maus que
as infligiam. Nos seus livros mágicos haviam fórmulas especiais para esconjurar
esses espíritos.

Quando Paulo chegou em Éfeso, duas coisas aconteceram que vieram contribuir
para a queima dos livros: (1) Ele curou as enfermidades e expulsou demônios
usando apenas o nome de Jesus (At 19.11-12), em contraste com os rituais
elaborados e complicados dos exorcistas da época, como se encontravam nos
livros; (2) quando alguns exorcistas tentaram usar o nome de Jesus e de Paulo
para expelir um demônio de um homem, fracassaram redondamente. O próprio
demônio atestou a autoridade que havia no nome de Jesus (At 19.13-16).(21) É
possível que alguns dos efésios que haviam se convertido ainda mantinham algum
tipo de contato com artes mágicas. O episódio dos exorcistas acabou por
convencê-los. Ficou evidente a todos que a mágica ensinada nos livros não
passava de fórmulas vazias e inúteis. Como escreve Marshall,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 241


A demonstração da futilidade das tentativas pagãs de dominarem os espíritos
maus levou muitos dos convertidos efésios de Paulo a reconhecerem que a magia
pagã, com a qual ainda tinham contatos, era tão inútil quanto pecaminosa. Como
conseqüência, trouxeram os vários manuais de magia e as compilações de
invocações e fórmulas que ainda tinham, e fizeram com eles um rompimento
final.(22)

O verdadeiro poder contra Satanás estava apenas no nome de Jesus. A queima


dos livros, portanto, foi um testemunho do poder inigualável de Jesus Cristo sobre
as obras das trevas. Somente ele era o Senhor. Quanto a isso, os efésios cristãos
não tinham mais qualquer dúvida.

O ensino de Paulo sobre coisas sacrificadas a demônios


Examinemos, agora, 1 Coríntios 8-10, a passagem da Bíblia que aborda de forma
mais direta e clara a questão que estamos discutindo. Nesses capítulos, o
apóstolo Paulo trata da atitude dos cristãos para com a carne de animais
sacrificados como oferendas aos deuses pagãos. A questão que Paulo tratou
nessa passagem era bem complexa. Os cristãos em Corinto (bem como nas
demais cidades do mundo greco-romano) sempre corriam o risco de comer esse
tipo de carne. O sacrifício de animais e o consumo da sua carne fazia parte do
ritual religioso nos templos pagãos da época. Corinto não era exceção.

Modernamente, podemos nos referir ao caso das comidas "trabalhadas" nos


terreiros de umbanda. De acordo com as crenças do candomblé, umbanda e
quimbanda, os orixás exigem comidas variadas, que devem ser preparadas de
acordo com rituais apropriados. Por exemplo, Exú gosta de cebola e mel
entregues no mato com velas acesas e aguardente. Ogum gosta de feijoada,
xinxim, acarajé e milho branco. Oxóssi, de peixe de escamas, arroz, feijão e
dendê.(23) Essas comidas são feitas de acordo com as indicações dos demônios
e a eles oferecidas. Para muitos cristãos, é uma questão aguda se algum mal vai
lhes ocorrer se acabarem por ingerir uma comida que foi "trabalhada". Os coríntios
estavam perturbados por um problema similar. Eles escreveram uma carta a Paulo
com várias perguntas, entre elas, se era lícito comer carne de animais que haviam
sido consagrados aos deuses pagãos.(24) Os coríntios tinham em mente três
situações:

1. Era lícito participar de um festival religioso num templo pagão e comer a carne
dos animais sacrificados aos deuses? Na antigüidade, o sacrifício de animais aos
deuses fazia parte da vida pessoal, familiar e social. O sacrifício ocorria nos
templos e a carne do animal sacrificado era dividida em três partes. Uma parte,
geralmente simbólica (podendo ser até uma mecha dos pelos!), era queimada no
altar em homenagem aos deuses. A segunda parte, incluindo costelas e músculos,
ia para o sacerdote. A terceira parte ficava com o ofertante, e com ela, oferecia um
banquete, geralmente em casamentos. Muitas vezes, essas festas ocorriam no
templo, no qual o sacrifício fora feito.(25) Os crentes de Corinto certamente
mantinham relacionamentos com amigos não-crentes, e sempre havia a
possibilidade de serem convidados a participar de uma destas festas no templo,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 242


onde havia muita carne e bebida. Alguns daqueles cristãos não tinham quaisquer
escrúpulos de consciência em participar e comer carne dos ídolos no templo dos
ídolos, uma atitude que estava provocando os de consciência mais fraca.

2. Era lícito comer carne comprada no mercado público? A carne ali comprada
poderia ser de animais sacrificados aos deuses, cujo excedente dos altares havia
sido repassado pelos sacerdotes aos açougueiros da cidade. Devido à enorme
quantidade de animais sacrificados, uma parte deles acabava no mercado público,
onde eram vendidos como carne boa e barata.

3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra? Como na situação


anterior, um crente poderia ser convidado por um amigo pagão para comer um
churrasco em sua casa. A carne provavelmente seria de um animal que o amigo
havia primeiro consagrado ao seu deus, lá no templo. Um papiro grego muito
antigo contém um convite para uma dessas festas, nos seguintes termos:
"Antônio, filho de Ptolomeu, convida-o para cear com ele à mesa de nosso senhor
Serápis."(26) Quem quer que tenha sido o convidado, ele sabia que ao sentar-se à
mesa de Antônio, estaria comendo carne de um animal que havia sido sacrificado
ao deus Serápis.

A questão aguda era se um crente poderia comer carne em Corinto, correndo


assim o risco de contaminar-se. William Barclay, um autor bastante conhecido e
citado, sugere que o problema era a crença, muito difundida na antigüidade, de
que os demônios estavam sempre procurando uma brecha para entrar nos
homens, para destruir seus corpos e mentes. Uma das maneiras pela qual faziam
isso era através da comida. Tais espíritos se alojavam na comida e quando a
pessoa a engolia, os demônios entravam nela. Por esse motivo, diz Barclay, as
pessoas consagravam os alimentos - especialmente a carne - a algum deus bom.
Acreditava-se que a presença de um deus bom na carne formava uma barreira
contra os maus espíritos.(27)

O assunto dos sacrifícios de animais aos deuses é bem complexo, e não poucos
estudiosos discordariam de Barclay. Essa não parece ser a razão primordial pela
qual os pagãos consagravam comida aos seus deuses. Sacrifícios eram
praticados nas religiões de quase todas culturas antigas, e no geral, visavam
honrar uma divindade, apaziguá-la ou santificar a oferta. Em algumas destas
culturas, os sacrifícios estavam relacionados com o culto aos ancestrais, alimentar
os deuses e mesmo "comer os deuses".(28) Paulo, ao discutir o assunto, em
momento algum sugere que haveria o risco de demônios penetrarem mesmo
naqueles que comessem a carne consagrada aos demônios nos próprios templos
dos deuses pagãos. A questão que incomodava os coríntios não era se estariam
comendo demônios, mas se não estariam participando direta ou indiretamente do
culto ao ídolo. Note ainda que quem introduz o conceito de que os demônios estão
por detrás da idolatria é Paulo. Provavelmente os coríntios nem estavam
pensando nesses termos. A explicação de Barclay, portanto, é menos do que
convincente.(29)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 243


Os crentes de Corinto estavam divididos quanto ao assunto. Um grupo deles
estava passando por grande aflição. Eram ex-freqüentadores dos templos, recém
convertidos ao Evangelho. Por vezes, acabavam caindo no velho costume de
comer carne, encorajados pelo exemplo dos que achavam que não havia nada de
errado com isso. Como resultado, suas consciências os acusavam: eles haviam
acabado de consumir carne espiritualmente contaminada, consagrada aos
demônios em um templo pagão. Paulo, no tratamento que faz do assunto,
considera-os como "fracos", pois suas consciências eram "fracas" (1 Co 8.7,9-12).
O grupo contrário, a quem Paulo chama de "dotados de saber" (1 Co 8.10), tinha
já plena consciência de que os ídolos dos templos pagãos nada eram nesse
mundo, e que os animais a eles ofertados, na verdade, continuavam a ser de
Deus, o criador e Senhor de todas as coisas. Assim, sentiam-se livres para comer
carne, até mesmo nos festivais pagãos nos templos. Os "fracos", estimulados por
esse exemplo, tentavam usar da mesma liberdade, mas com resultados
desastrosos - suas consciências não eram fortes o suficiente para permitir que
comessem carne livremente.

O problema parece que girava em torno de duas questões. Primeira, a relação


entre os animais e os deuses, diante de cujas imagens os animais eram
consagrados, oferecidos e sacrificados. A carne desses animais continuava a
"pertencer" aos deuses após o ritual no templo, quando estava pendurada no
açougue público para ser vendida? Quem comesse dessa carne estaria, mesmo
de forma inconsciente, fazendo um pacto com os deuses? Segunda, comer essa
carne não implicaria numa espécie de participação à distância dos crentes na
adoração pagã e no culto aos deuses? Não deveríamos evitar a todo custo aquilo
que tem relação com os cultos idólatras?

As respostas de Paulo são surpreendentes. O apóstolo concorda com os "fortes"


quanto ao conhecimento de que Deus é o Senhor de tudo e que não há outros
deuses ou senhores (1 Co 8.4-6). Mas condena a falta de amor dos "fortes" para
com os "fracos" (1 Co 8.9-13). Deveriam limitar sua liberdade pela consideração à
consciência dos outros. Após dar o exemplo de como abriu mão dos seus direitos
como apóstolo de receber sustento por amor do Evangelho (1 Coríntios 9), e após
alertar os "fortes" contra a arrogância, usando o exemplo de Israel no deserto (1
Co 10.1-15), Paulo responde às três principais indagações dos Coríntios já
mencionadas acima.

O fato de que Paulo não invoca aqui a decisão do concílio de Jerusalém (Atos 15)
para resolver o assunto de vez tem intrigado os estudiosos. Conforme lemos no
livro de Atos, o concílio havia se reunido para tratar das condições sob as quais os
não-judeus poderiam ser salvos e recebidos na Igreja. A polêmica havia sido
causada por alguns judeus cristãos da Judéia que foram até as igrejas gentílicas
forçar os gentios a se circuncidarem, e a guardar as leis de Moisés (naquela
época, as mais importantes eram as leis dietárias e o calendário religioso). Paulo e
Barnabé resistiram e houve uma grande discussão. O assunto foi levado aos
apóstolos e presbíteros em Jerusalém. Alguns fariseus que haviam crido em Cristo
insistiam na circuncisão e nas leis de Moisés para os gentios, mas Paulo, Pedro e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 244


Tiago, através de seus testemunhos e do apelo às Escrituras, convenceram o
concílio de que os gentios eram salvos pela fé sem as obras da lei (como também
os judeus o eram), e que não precisavam se tornar judeus para poder pertencer à
Igreja de Cristo. O concílio, entretanto, em sua decisão, resolveu incluir algumas
condições éticas, entre elas, a de os gentios se absterem das coisas sacrificadas
aos ídolos (At 15.29).

O concílio havia acontecido uns poucos antes de Paulo escrever 1 Coríntios. O


apóstolo estava perfeitamente consciente do conteúdo da sua decisão. A pergunta
é, por que não invocou aquela decisão para acabar de vez com o problema em
Corinto? Algumas respostas tem sido dadas. Peter Wagner, por exemplo, sugere
que Paulo não havia ficado satisfeito com essa decisão, considerando-a
inadequada e superficial. Para Wagner, a decisão do concílio havia sido
equivocada por tratar o comer carne sacrificada aos ídolos como algo imoral,
quando na verdade era algo neutro.(30) Entretanto, a melhor solução tem sido
observar que as condições éticas requeridas pelo concílio eram para ser
observadas num ambiente onde houvesse judeus e gentios. Eram regras a ser
seguidas pelos gentios cristãos numa igreja onde houvesse judeus cristãos. Elas
não eram uma lei moral geral e válida em todas as circunstâncias, mas uma
orientação para quando a abstinência se fizesse necessária para preservar a
unidade, conforme sugere Calvino em seu comentário em Atos 15.

A situação de Corinto era diferente. O problema lá não era o mesmo tratado no


concílio de Jerusalém. O problema não era os escrúpulos de judeus cristãos
ofendidos pela atitude liberal de crentes gentios quanto à comida oferecida aos
ídolos. Portanto, a solução de Jerusalém não servia para Corinto. É
provavelmente por esse motivo que o apóstolo não invoca o decreto de
Jerusalém.(31) Antes, procura responder às questões que preocupavam os
coríntios de acordo com o princípio fundamental de que só há um Deus vivo e
verdadeiro, o qual fez todas as coisas; que o ídolo nada é nesse mundo; e que
fora do ambiente do culto pagão, somos livres para comer até mesmo coisas que
ali foram sacrificadas.

1. A primeira pergunta dos coríntios havia sido: era lícito participar de um festival
religioso num templo pagão e ali comer a carne dos animais sacrificados aos
deuses? Não, responde Paulo. Isso significaria participar diretamente no culto aos
demônios onde o animal foi sacrificado (1 Co 10.16-24). Paulo havia dito que os
deuses dos pagãos eram imaginários (1 Co 10.19). Por outro lado, ele afirma que
aquilo que é sacrificado nos altares pagãos é oferecido, na verdade, aos demônios
e não a Deus (10.20). Paulo não está dizendo que os gentios conscientemente
ofereciam seus sacrifícios aos demônios. Obviamente, eles pensavam que
estavam servindo aos deuses, e nunca a espíritos malignos e impuros. Entretanto,
ao fim das contas, seu culto era culto aos demônios. (32) Paulo está aqui
refletindo o ensino bíblico do Antigo Testamento quanto ao culto dos gentios:

Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus... (Dt 32.17). ...pois imolaram
seus filhos e suas filhas aos demônios (Sl 106.37).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 245


O princípio fundamental é que o homem não regenerado, ao quebrar as leis de
Deus, mesmo não tendo a intenção de servir a Satanás, acaba obedecendo ao
adversário de Deus e fazendo sua vontade. Satanás é o príncipe desse mundo.
Portanto, cada pecado é um tributo em sua honra. Ao recusar-se a adorar ao
único Deus verdadeiro (cf. Rm 1.18-25), o homem acaba por curvar-se diante de
Satanás e de seus anjos.(33) Para Paulo, participar nos festivais pagãos acabava
por ser um culto aos demônios. Por esse motivo, responde que um cristão não
deveria comer carne no templo do ídolo. Isso eqüivaleria a participar da mesa dos
demônios, o que provocaria ciúmes e zelo da parte de Deus (1 Co 10.21-22).
Paulo deseja deixar claro para os coríntios "fortes", que não tinham qualquer
intenção de manter comunhão com os demônios, que era a atitude deles em
participar nos festivais do templo que contava ao final. Era a força do ato em si
que acabaria por estabelecer comunhão com os demônios.(34)

2. Era lícito comer carne comprada no mercado público? Sim, responde Paulo.
Compre e coma, sem nada perguntar (1 Co 10.25). A carne já não está no
ambiente de culto pagão. Não mantém nenhuma relação especial com os
demônios, depois que saiu de lá. Está "limpa" e pode ser consumida.

3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra? Sim e não, responde
Paulo. Sim, caso não haja, entre os convidados, algum crente "fraco" que alerte
sobre a procedência da carne (1 Co 10.27). Não, quando isso ocorrer (1 Co 10.28-
30).

O ponto que desejo destacar é que para o apóstolo Paulo a carne que havia sido
sacrificada aos demônios no templo pagão perdia a "contaminação espiritual"
depois que saia do ambiente de culto. Era carne, como qualquer outra. É verdade
que ele condenou a atitude dos "fortes" que estavam comendo, no próprio templo,
a carne sacrificada aos demônios. Mas isso foi porque comer a carne ali era parte
do culto prestado aos demônios, assim como comer o pão e beber o vinho na Ceia
é parte de nosso culto a Deus. Uma vez encerrado o culto, o pão é pão e o vinho é
vinho. Aliás, continuaram a ser pão e vinho, antes, durante e depois. A mesma
coisa ocorre com as carnes de animais oferecidas aos ídolos. E o que é verdade
acerca da carne, é também verdade acerca de fetiches, roupas, amuletos,
estátuas e objetos consagrados aos deuses pagãos. Como disse Calvino,

Alguma dúvida pode surgir se as criaturas de Deus se tornam impuras ao serem


usadas pelos incrédulos em sacrifícios. Paulo nega tal conceito, porque o senhorio
e possessão de toda terra permanecem nas mãos de Deus. Mas, pelo seu poder,
o Senhor sustenta as coisas que tem em suas mãos, e, por causa disto, ele as
santifica. Por isso, tudo que os filhos de Deus usam é limpo, visto que o tomam
das mãos de Deus, e de nenhuma outra fonte.(35)

CONCLUSÃO
Ao fim desse capítulo, espero ter dado evidências claras de que não há como
justificar hoje a prática no culto cristão de ungir e abençoar objetos, quaisquer que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 246


forem os propósitos. Também, que não há como provar biblicamente que objetos
usados e consagrados aos demônios nos cultos idólatras e ocultistas têm algum
poder especial de "amaldiçoar" os crentes verdadeiros que os tocam, ingerem,
usam ou acabam por possui-los fora do contexto de adoração e devoção a essas
entidades.

Devemos sempre nos lembrar da diferença fundamental entre o conceito pagão e


o conceito cristão quanto ao emprego de "coisas" com sentido religioso. As
religiões empregam objetos e utensílios em seus cultos ou práticas como símbolos
de realidades espirituais ou portadores de poderes mágicos. O culto cristão, em
contraste, é bem mais simples. Ele emprega apenas dois símbolos materiais, a
água do batismo e os elementos da Ceia (pão e vinho). A atitude do paganismo
para com esses objetos é também diferente da atitude dos evangélicos para com
seus símbolos (batismo e Ceia). Enquanto que para os evangélicos a água, o pão
e o vinho são símbolos que têm seu valor e sua função apenas no momento da
ministração dos sacramentos, na prática da magia, no ocultismo, nas religiões
afro-brasileiras e no catolicismo popular, os objetos cúlticos continuam a manter
uma relação vital para com as entidades e realidades espirituais aos quais estão
associados, mesmo após a sua consagração durante os rituais. Por exemplo, uma
rosa que foi ungida continua a emanar forças positivas mesmo após o ritual de
consagração. Um amuleto que foi "carregado" de fluidos positivos continuará a
emaná-los ad infinitum. Uma comida que foi "trabalhada" por uma mãe de santo
num terreiro de umbanda vai afetar quem a comer, fora do terreiro. Para os
evangélicos, em contraste, uma vez encerrada a Ceia, o pão é pão comum e o
vinho, vinho comum. Na verdade, eles permaneceram sendo vinho e pão comuns
durante a celebração da Ceia. Aquele uso especial para o qual foram separados,
cessa após a celebração. Nenhum pastor pode, fora do momento da celebração
(suponhamos, durante o jantar em casa de amigos), tomar pão e declarar: "Disse
Jesus, isso é o meu corpo, comei deles todos". Água, pão e vinho perdem sua
simbologia fora do culto. Para o paganismo, entretanto, a profunda relação entre
objetos cúlticos e as realidades e entidades espirituais associadas a eles é
permanente.

Portanto, os evangélicos que conhecem a sua Bíblia não são superticiosos quanto
a objetos oriundos de outras religiões. Entretanto, acredito que devemos ter
bastante cautela quanto a objetos assim. Eu mesmo não guardo em casa ou no
ambiente de trabalho nenhuma dessas coisas. Não que tenha receio que elas
poderão dar aos demônios, a quem foram oferecidas, algum tipo de poder sobre
mim e minha família. Estou seguro e protegido no poder do meu Salvador Jesus
Cristo. Mas, pelas seguintes razões, que ofereço como orientação geral quanto ao
uso desses objetos:

1) Devemos evitar ter e exibir esses objetos quando os mesmos forem uma
tentação real para a idolatria ou ocultismo. Novos convertidos egressos da
idolatria e cultos afro-brasileiros poderão ser tentados a retornar às práticas
antigas, estimulados pelos símbolos do seu passado religioso. Devemos evitar
toda e qualquer possibilidade de sermos tentados nessa área, bem, como evitar

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 247


sermos causa de tropeço para outros. Foi isso que o apóstolo Paulo recomendou
aos "fortes" de Corinto (1 Co 10.31-33).

2) Devemos evitar esses objetos se os mesmos evocam lembranças do nosso


passado. Muitos de nós gostariam de esquecer períodos e eventos acontecidos
nos tempos de ignorância. Deus nos deu a bênção do esquecimento. Livremo-nos,
pois, de tudo que mantém vivas lembranças assim.

3) Devemos evitar esses objetos se os mesmos servirem de estímulo a outros a


que façam o mesmo, sem que estejam firmes em suas consciências de que tais
objetos, em si, nenhum mal trazem.

Notas
1 Para um estudo mais detalhado das práticas das igrejas de libertação, veja a
análise feita por Leonildo Silveira Campos, 'Teatro', 'Templo' e 'Mercado': Uma
análise da organização, rituais, marketing e eficácia comunicativa de um
empreendimento neopentecostal - Igreja Universal do Reino de Deus, tese
publicada pelo Instituto Metodista de Ensino Superior, 1996. Veja também o
relatório da Comissão de Doutrina da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre a Igreja
Universal do Reino de Deus (Igreja Universal do Reino de Deus [São Paulo: CEP,
1998] 58-61).

2 Filácterio era uma pequena caixa de couro, quadrangular, contendo cédulas de


pergaminho com passagens da Escritura, que os judeus traziam atadas uma na
cabeça e uma no braço esquerdo durante a oração da manhã.

3 Cf. Merril Unger, Biblical Demonology (Wheaton, IL: Scripture Press, 1952; 7a.
edição, 1967) 33.

4 Os milagres operados pelo Senhor Jesus eram sinais que apontavam para Sua
pessoa e obra (Jo 20.30-21). A promessa de que seus seguidores fariam obras
similares e até maiores parece que não incluía curas através de saliva e vestes
por parte de todos os crentes. Somente os apóstolos - e mesmo assim, somente
Pedro e Paulo - realizaram sinais similares, que por sua vez, eram sinais dos
apóstolos, visavam autenticar seu apostolado e estabelecer a mensagem (2 Co
12.12). A passagem de Marcos 16.17-18 (sem considerarmos os problemas
textuais) não se refere ao uso de objetos.

5 Essa idéia estranha é defendida por Robson Rodovalho, Por Trás das Bênçãos
e Maldições (Brasília: Koinonia, 1995) 32. Ele conta uma história na qual atribui a
objetos amaldiçoados o poder de rachar uma ponte do Plano-Piloto em Brasília,
mesmo após a quebra de maldições (Ibid., 33).

6 Linhares, Bênção e Maldição, 41.

7 Cf. Edir Macedo, Orixás, Caboclos & Guias: Deuses ou Demônios? (Rio de
Janeiro: Universal, 1996; 13a. edição) 48.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 248


8 Mark I. Bubeck, Raising Lambs Among Wolves: How to Protect Your Children
from Evil (Chicago: Moody Press, 1997) 237-39.

9 Ver a excelente discussão de Loraine Boettner sobre o uso de objetos no culto


católico, incluindo rosários, crucifixos, escapulários, e relíquias que vão desde
pedaços da cruz de Cristo, da coroa de espinhos e o Santo Sudário, até roupas e
frascos de leite da Virgem Maria!!! (Roman Catholicism [Phillipsburg, NJ:
Presbyterian and Reformed, 1962; 9a. edição de 1980] 284-95).

10 Kurt Koch afirma que alguns mosteiros católicos na Suíça distribuem amuletos
ou fetiches ao povo, para protegê-los contra doenças e epidemias. Esses
amuletos são geralmente pequenos sacos, contendo, em alguns casos, pedaços
de unhas e de casca de ovos. Cf. Kurt Koch, Between Christ and Satan (Michigan:
Kregel Publications, 1962) 87.

11 Existem lojas virtuais pela Internet onde toda a parafernálias usada nos rituais
mágicos e de bruxaria estão acessíveis e podem ser facilmente adquiridos com
cartão de crédito.

12 O conceito pagão por detrás dessas práticas é o de transferência de poderes


espirituais para objetos. James Fraser argumenta que essa idéia está presente
nas religiões mais antigas e primitivas e consiste basicamente em transferir para
objetos ou animais toda dor, culpa e sofrimento, bem como os maus espíritos que
os produzem. Fraser dá vários exemplos interessantes, como por exemplo, a
prática de povos indianos de curar epilepsia aplicando folhas de determinadas
plantas ao paciente e depois lançando-as fora. Acredita-se que a doença passa
para as folhas e depois vai embora com elas (James G. Fraser, The Golden
Bough: A Study in Magic and Religion [Nova York: Mcmillan, 1925] 538-40)

13 Warner, Spiritual Warfare, 94.

14 Ibid., 94-95.

15 A palavra hebraica para "bodes", ocorre mais de 40 vezes no Antigo


Testamento. Em 4 dessas ocorrências, foi traduzida pela versão Almeida
Atualizada (bem como outras versões importantes) como "demônios" ou "sátiros":

Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se
prostituem; isso lhes será por estatuto perpétuo nas suas gerações (Lv 17.7)
Jeroboão constituiu os seus próprios sacerdotes, para os altos, para os sátiros e
para os bezerros que fizera (2 Cr 11:15) Porém, nela, as feras do deserto
repousarão, e as suas casas se encherão de corujas; ali habitarão os avestruzes,
e os sátiros pularão ali (Is 13.21) As feras do deserto se encontrarão com as
hienas, e os sátiros clamarão uns para os outros; fantasmas ali pousarão e
acharão para si lugar de repouso (Is 34.14)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 249


O sátiro era um figura da mitologia grega, uma fera do deserto, metade homem e
metade bode. Na antigüidade, era associada ao deus Dionísio. É provável que no
período do Antigo Testamento existisse um culto aos sátiros, tendo origem no
Egito, e com o qual os israelitas tivessem alguma familiaridade quando ali
estiveram como escravos (cf. Js 24.14). Segundo Harrison nos informa, essa seita
egípcia floresceu na região oriental do Delta e seu ritual incluía bodes copulando
com mulheres adeptas (cf. R. K. Harrison, Levítico: Introdução e Comentário, em
Série Cultura Bíblica [São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1980] 165-166).
Assim sendo, a tradução de Levítico 17.7 poderia ser simplesmente "Nunca mais
oferecerão os seus sacrifícios aos sátiros (ou, deus-bode)". A tradução "demônios"
é interpretativa, e pode dar a sugestão de que realmente existiam demônios em
forma de bode que assombravam os desertos. O texto hebraico não se refere a
demônios, mas ao culto aos sátiros praticado naquela época por alguns israelitas.

16 Warner, Spiritual Warfare, 113.

17 Ver Catecismo Maior, pergunta 109.

18 Cf. G. Adolf Deissmann, Bible Studies (Edimburgo: T. & T. Clark, 1901), 323.

19 John Gill's Expositor, in loco.

20 Por outro lado, não quero com isso apoiar irrestritamente os movimentos entre
os jovens para queimar discos e fitas de rock evangélico, considerados
espiritualmente perniciosos por alguns líderes evangélicos (cf. Rick Lawrence,
"Gothard slams Christian rock", em Group, Set. 1990, 41-42). Em geral, sou
emocionalmente contra a iconoclastria (destruição de ídolos) por cristãos, como
por exemplo, a ocorrida na Escócia, sob os auspícios de John Knox, quando o
povo entrou nas igrejas católicas e quebrou todas as imagens, utensílios e objetos
ligados ao culto idólatra. Se tivermos, porém, de queimar alguma coisa, a queima
de horóscopos poderia fazer algum bem - numa pesquisa de 1992, 11% dos
crentes americanos disseram consultar horóscopos e acreditar em astrologia
("Most Americans believe in moral absolutes...", em National & International
Religion Report, 13 de Julho de 1992, p. 8).

21 Segundo Barclay nos informa, um dos métodos usados pelos exorcistas era
conhecer o nome de um espírito mais poderoso do que aquele que estava no
doente, e invocá-lo contra esse espírito de doença. Cf. William Barclay, "Hechos
de los Apostoles", em El Nuevo Testamento Comentado por William Barclay, vol. 7
(Argentina: La Aurora, 1974) 154-55.

22 I. Howard Marshall, Atos: Introdução e Comentário, em Série Cultura Bíblica


(São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1982) 294.

23 Ver a descrição detalhada (inclusive com fotos) em Macedo, Orixás, Caboclos


& Guias, 106-8.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 250


24 Aparentemente, a comunidade havia preparado algumas perguntas para Paulo
sobre questões práticas Esta carta havia sido possivelmente trazida por uma
delegação (1 Co 16.17). Em 1 Coríntios Paulo responde algumas dessas
perguntas. Podemos detectá-las nas partes da carta que Paulo começa com a
expressão "com relação à....", ver 7:1, 25, 8:1, 12:1, 16:1, 16:12.

25 Barclay, I & II Corintios, 83-84.

26 Ibid., 84. Serápis era uma divindade do Egito, importada da Grécia. Era o deus
dos mortos e da cura. Um dos seus adoradores mais famosos foi o rei Ptolomeu I,
considerado também o iniciador do culto a esse deus.

27 Ibid.

28 Cf. Fraser, The Golden Bough, onde ele discute esse assunto em relação ao
culto de Diana.

29 Os que estão familiarizados com os comentários de Barclay percebem como


freqüentemente ele apela para a antiga crença pagã em um mundo povoado de
demônios para explicar passagens bíblicas onde demônios são mencionados,
sugerindo que os cristãos primitivos, bem como os autores bíblicos, partilhavam
das superstições pagãs quanto aos demônios, as quais seriam, diz Barclay,
incompatíveis com os conceitos modernos de psicologia e da ciência. Infelizmente,
ao fim de sua carreira, Barclay abandonou as principais doutrinas do cristianismo
histórico, revelando que esse tipo de tendência tinha raiz mais profunda. No seu
livro, A Spiritual Autobiography (Grand Rapids: Eerdmans, 1975) onde ele narra
sua vida e ministério, os evangélicos ficarão desapontados ao ver o quanto ele se
distancia do Cristianismo ortodoxo. Ele se declara universalista (p. 58); declara
que o Novo Testamento nunca identifica Jesus como Deus (p. 50); nega a
ressurreição literal e física de Jesus (p. 108); identifica o Espírito Santo com o
Cristo ressurrecto (p. 109); e declara que "os milagres geralmente não foram
histórias do que Jesus fez, mas símbolos do que ele ainda pode fazer" (p. 45).
Evidentemente podemos aprender muitas coisas de suas obras, mas o leitor
deverá lê-las com discrição e discernimento.

30 C. Peter Wagner, Se Não Tiver Amor (Curitiba: Luz e Vida, 1982) 67-68.

31 Note que Paulo não teve qualquer problema em anunciar o decreto em


Antioquia, o que produziu muito conforto entre os irmãos (At 15.30-31).

32 Não somente Paulo, mas os cristãos em geral tinham esse conceito. João
escreveu: "Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos,
não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios
e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver,
nem ouvir, nem andar" (Ap 9.20).

33 Cf. Charles Hodge, A Commentary on 1 & 2 Corinthians (Carlisle, PA: Banner

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 251


of Truth, 1857; reimpressão 1978) 193.

34 Hodge (1 & 2 Corinthians, 194) chama a nossa atenção para o fato de que o
mesmo princípio se aplica hoje aos missionários que, por força da
"contextualização", acabam por participar nos festivais pagãos dos povos.
Semelhantemente, os protestantes que participam da Missa católica, mesmo não
tendo intenção de adorar a hóstia, acabam cometendo esse pecado, ao se curvar
diante dela.

35 João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, em Comentário à Sagrada Escritura,


trad. Valter G. Martins (São Paulo: Paracletos, 1996) 320.

36 Essa diferença fundamental não foi notada por Kurt Koch em seu livro sobre
magia e ocultismo. Ele diz que "O uso de fetiches, isto é, objetos carregados de
magia, corresponde talvez ao uso da água no batismo ou do pão e vinho na Ceia
do Senhor" (Between Christ and Satan, 85).

Parte 51.
OS VERDADEIROS ADORADORES

No evangelho segundo João 4.23,24 o Senhor Jesus, em seu clássico diálogo


com a mulher samaritana, declara: Mas vem a hora e já chegou, em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são
estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os
seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.

Hoje, há quase dois mil anos após aquela declaração, Deus continua contando
com verdadeiros adoradores. Quem são os verdadeiros adoradores?

1. OS VERDADEIROS ADORADORES SÃO AQUELES QUE CONHECEM A


DEUS E SÃO CONHECIDOS POR DEUS

Deus não vive numa busca desenfreada por qualquer tipo de adorador que o
adore de qualquer maneira. Ele é e sempre será adorado de verdade por aqueles
que verdadeiramente lhe pertencem. O verbo grego zhte/w (procurar, buscar)
sugere exatamente isso. O Pai busca seus eleitos com o intuito de torná-los seus
adoradores.

Lembremos da história do profeta Elias e de seu lamento. Por duas vezes ele se
queixou a Deus: Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os
filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os
teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida (I Rs 19.10,14).
É como se Elias dissesse assim para Deus: "Senhor, está um caos tremendo em
Israel, e eu mesmo não vejo solução para esse país. E tem mais, o Senhor
também está com um problemão porque ninguém mais pensa em te adorar, a não
ser eu é claro". A resposta de Deus ao profeta desmotivado foi: Conservei em
Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 252


o beijou (I Rs 19.18). Mais tarde o apóstolo Paulo vai se utilizar desse episódio
para falar do futuro de Israel:

Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum!
Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de
Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não
sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus
contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus
altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a
resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os
joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive
um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas
obras; do contrário, a graça já não é graça (Rm 11.1-6).

Ainda hoje o Senhor conta com o remanescente fiel, não só de judeus, mas
também de gentios que formam, juntos, a verdadeira igreja do Deus vivo.
Portanto, não se iluda, o Senhor conhece os que lhe pertencem (cf. 2 Tm 2.19) e
por esses (você é um deles?) sempre será verdadeiramente adorado.

Não se esqueça: É importante e fundamental conhecer a Deus para que ele seja
verdadeiramente adorado, porém, mais importante do que conhecer a Deus é ser
conhecido por Deus (veja Mt 7.21-23; Tt 1.16).

E como os verdadeiros adoradores adoram o Pai?

2. OS VERDADEIROS ADORADORES ADORAM EM ESPÍRITO E EM


VERDADE

Nosso Senhor ensinou à samaritana que quem conhece Deus de fato, só pode
adorá-lO em espírito e em verdade. Estudiosos da Bíblia têm dado diversas
interpretações para a expressão "em espírito e em verdade" de João 4.23,24.1
Parece razoável entendermos que ao estabelecer o modo correto de adorar a
Deus, isto é, em espírito e em verdade, Jesus estava criticando o culto judaico e o
culto samaritano.

Os samaritanos acreditavam que adoravam o mesmo Deus dos judeus, mas não
aceitavam as mesmas Escrituras dos judeus, a não ser os cinco primeiros livros, o
Pentateuco de Moisés. Como não aceitavam os demais livros da revelação divina
(por acharem que eram invenções dos judeus), o culto dos samaritanos era
defeituoso. Por isso Jesus disse à mulher: "Vós adorais o que não conheceis, nós
adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus" (v22). Os
samaritanos adoravam "em espírito", isto é, adoravam aquele que eles não
conheciam "com alegria e verdadeiro entusiasmo". Mas e daí? Não adoravam "em
verdade" porque rejeitavam 34 livros do Velho Testamento, a Bíblia de então. A
revelação de Deus nas Escrituras é progressiva; portanto, é impossível conhecê-
lO verdadeiramente ficando apenas com os cinco primeiros livros da Bíblia. Por
outro lado, os judeus aceitavam toda Escritura. Por isso conheciam Deus e tinham

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 253


tudo para adorá-lO corretamente. "Tinham tudo", mas não o faziam. Os judeus se
limitavam à formalidade de um culto onde o espírito não estava presente.
Faltavam emoção, vida e alegria no culto judaico.

Contudo, uma nova era estava surgindo para a adoração. Logo, logo tanto judeus
como samaritanos compreenderiam que para adorar a Deus o que menos
importava era o espaço físico. O que conta "não é onde se deve adorar, mas a
atitude do coração e da mente, e a obediência à verdade de Deus quanto ao
objeto e o método de adoração. Não é o onde, mas o como e o quê o que
realmente importa".2 Deus quer homens e mulheres que O adorem com o espírito
dos samaritanos e a verdade dos judeus.3

1. Consulte os comentários bíblicos sobre João 4.23,24.

2. G. Hendriksen, El evangelio según San Juan (SLC, 1987), pp. 178,9.

3. É importante observar, porém, que os judeus aceitavam todo o VT, tendo a


oportunidade de conhecer tudo o que de Deus se podia conhecer "naquela
época". Entretanto, hoje já não é possível dizer que os judeus conhecem
verdadeiramente a Deus porque rejeitam a revelação de Deus em Cristo Jesus,
conforme nos é ensinado no Novo Testamento.

XXXXXIII
PLANEJAMENTO FAMILIAR
fundamentos bíblicos

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

Temos diante de nós uma tarefa hermenêutica: trazer para hoje a interpretação de
algo sobre o qual a Bíblia é muito econômica.

Há todo um quadro sociológico, psicológico, de valores espirituais, e


determinantes teológicas que não é o nosso à luz da clareza do evangelho, dos
ensinos de Jesus e da Igreja apostólica.

Temos dois diferentes problemas que se entrançam: o da contracepção e o do


planejamento familiar. O primeiro não é novo. As Escrituras Sagradas mencionam
o caso de Onã, neto de Jacó, filho de Judá com uma mulher cananéia (Gn 38.1-9).
Tendo morrido seu irmão Er, Onã assume o seu lugar junto à viúva, com o objetivo
legal de deixar descendência para o irmão Diz o texto "que toda vez que se unia à
mulher de seu irmão, derramava o sêmen no chão para dar descendência a seu
irmão" (v.9). Realizava ele o que é chamado "coito interrompido", considerado no
texto como um mal. Aliás, a análise dos métodos anticoncepcionais considera
como "um dos menos eficazes" . Quanto ao caso seguinte, ou seja, de
planejamento familiar, a Bíblia menciona em Gênesis 30.14 algo nos domínios da

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medicina popular,

"saiu Rúben nos dias de ceifa do trigo e achou mandrágoras no campo, e as


trouxe a Léia, sua mãe. Então disse Raquel a Léia. Dá-me, peço das mandrágoras
de teu filho".

Também Oséias 1.8 relata algo que se enquadra ao que a medicina ensina a
respeito da esterilidade por ocasião do aleitamento:

"ora depois de haver desmamado a Lo-Ruama, concebeu e deu à luz um filho",

onde, além de nutrição do recém-nascido, era forma de controle da natalidade e


de planejamento da família. Nesse sentido, o problema é novo:

"As trinta mil gerações humanas que nos precedem sempre consideraram que a
procriação freqüente era a primeira garantia da família e da sobrevivência do
grupo. Nosso problema não preocupou mais que as últimas doze gerações da
espécie humana. Não nos deve estranhar, portanto, que seja difícil mudar um
hábito mental e moral tão antigo".

O QUADRO BÍBLICO

A Bíblia não fala de controle de nascimentos. Discute, sim, sobre filhos,


responsabilidade familiar e questões de sexualidade.

Relações sexuais entre os cônjuges são perfeitamente corretas: "Honrado seja


todos o matrimônio e o leito sem mácula; pois aos devassos e adúlteros, Deus os
julgará"(Hb 13.4). e, "Seja bendito o teu manancial; e regozija-te na mulher da tua
mocidade. Como corça amorosa, e graciosa cabra montesa saciem-te os seus
seios em todo o tempo; e pelo seu amor sê encantado perpetuamente" (Pv.
5.18,19).

O relacionamento sexual no casamento é um dever e um privilégio. Dessa forma,

"O marido pague à mulher o lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido.
A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e
também da mesma sorte o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo,
mas sim a mulher. Não vos negueis um ao outro senão de comum acordo por
algum tempo, a fim de vos aplicardes à oração e depois vos ajuntardes outra vez,
para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência" (I Co 7.3-5).

O sexo há de ser apreciado e valorizado:

"O meu amado é para mim como um saquitel de mirra, que repousa entre os meus
seios. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita
me abrace" (Ct 1.13; 2.6).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 255


Mas o problema proposto é "quantos filhos?" A Bíblia não responde, apenas diz:

"Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu
galardão. Como flechas na mão dum homem valente, assim são os filhos da
mocidade. Bem-aventurado o homem que enche a sua aljava; não serão
confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta" (Sl.127.3-5);

e, também:

"Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e


sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre os
animais que arrastam sobre a terra." (Gn. 1.28; (Cf. Gn 9.1; Sl. 128 3,4).

Daí em diante, entra a inteligência nossa no discernimento, e de outros na


orientação e ajuda. É deduzir do estudo da Palavra de Deus, e nos conduzirmos
nos seus parâmetros.

Não podemos esquecer a origem nômade do povo hebreu. Nesse quadro, havia
um caráter tríplice que tornava a geração de filhos um dever sagrado:

caráter pastoril,
o tribal, e
o patriarcal.
Crescia o clã, crescia a tribo e a importância da nação. Havia, portanto,
necessidade de renovação e ampliação. Por isso:

"Então o levou para fora, e disse: Olha agora para o céu, e conta as estrelas, se
as podes contar, e acrescentou-lhe: Assim será a tua descendência" (Gn. 15.5),

E,

"Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu
galardão." (Sl. 127.3)

Como resultado, vinha o respeito ao homem rico, à mãe de família numerosa, ao


idosos, às pessoas de vida longa. E o conseqüente desprezo ao pobre, às
mulheres estéreis, e ao doente. É ler,

"E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se puder ser
contado o pó da terra, então poderá ser contada a tua descendência" (Gn13.16);

"Disse Deus a Abraão: Quanto a Sarai, tua mulher, não lhe chamarás mais Sarai,
porém Sara será o seu nome. Abençoá-la-ei, e também dela te darei um filho; sim,
abençoá-la-ei, e ela será mãe de nações; reis de povos sairão dela. Ao que se
prostrou Abraão com o rosto em terra, e riu-se, e disse no seu coração: A um
homem de cem anos há de nascer um filho? Dará a luz Sara, que tem noventa
anos?" (Gn 17.15.17);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 256


"E Abraão expirou, morrendo em boa velhice, velho e cheio de dias; e foi
consagrado ao seu povo" (Gn 25.8).

Para o hebreu que morresse sem deixar filhos, foi criada a já mencionada lei do
levirato encontrada em Deuteronômio 25.5-10.

O Antigo Testamento insiste no dever de gerar filhos, ou seja, na bênção divina


que representa um nascimento (Cf. Gn. 13.16; 12.3b). Rico em filhos, rico em
força de trabalho, prestígio social, autoridade no presente, segurança no futuro.
Por isso, a suprema miséria, é não ter filhos ou propriedade. A esterilidade é um
drama teológico. Segundo o Talmude da Babilônia, a esterilidade da mulher aos
dez anos de casamento dava ao marido o direito do divórcio. E, no entanto, o
"tema da mulher estéril" é freqüente no Antigo e no Novo Testamentos, haja vista
as esposas dos patriarcas - Sara (Gn 11.30; 16.2), Rebeca (Gn 25.21) Raquel (Gn
29.13) - e também a mãe de Sansão (Jz 13.24), Ana (1 Sm 1.6), Isabel (Lc 1.7).
Tão importante é a descendência que há bênçãos que atingem até a quarta
geração.

Quanto ao cristianismo, o Novo Testamento não tem textos que falem sobre
planejamento familiar e/ou controle da natalidade. Na verdade, a fé na vinda do
Messias mudou a perspectiva da necessidade de descendência. No judaísmo, a
mulher queria filhos para ser mãe do Messias, mas no cristianismo, a doutrina era
que os tempos se haviam cumprido. Então, para que prolongar a espécie
humana? Para que filhos? Deu-se o contrário: a abstinência, ou como colocou
André Dumas, teólogo protestante francês: "a abstinência veio por entusiasmo
escatológico".

Há no entanto, dois versículos no Novo Testamento em que é feita recomendação


às esposas cristãs de terem filhos, visto que estavam demasiadamente tendentes
a se libertarem da condição de mães:

"... a mulher... salvar-se-á, todavia, dando à luz filhos..." (1 Tm 2.15);

"Quero pois que as mais novas se casem, tenham filhos..." (1 Tm 5.14).

A geração de filhos antes do nascimento de Jesus era uma sagrada esperança;


depois depois de Cristo era dever para calar, os que acusavam os cristãos de
abandonar a família e o trabalho. Nada disso, porém, ensina sobre o controle da
natalidade, ou mesmo o planejamento da família, e especialmente sobre as
motivações atuais.

O Novo Testamento combate o exagero da continência (1 Co. 7.5), o menosprezo


do casamento.

"Mas o Espírito expressamente diz em tempos posteriores alguns apostarão da fé,


dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina de demônios,... proibindo o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 257


casamento,..." (1 Tm 4.1,3a),

e exorta contra perversões (adultérios, fornicação, homossexualidade,


prostituição). Nem ascetismo nem libertinagem carnal. As heresias gnósticas
condenavam a procriação porque significava criar corpos materiais que eram
maus e que encarcerariam as almas que eram boas.

O DESPERTAMENTO PARA O PROBLEMA

A reforma Protestante do século XVI trouxe mudanças na compreensão cristã da


sexualidade e do casamento. A ética protestante sempre foi mais favorável à
natalidade por ver no casamento uma vocação religiosa preferível ao celibato. Daí
porque, enquanto os católicos romanos louvam a virgindade e o celibato (veja-se o
ministério religioso entre os padres, freiras, frades, eremitas), entre os
evangélicos, olha-se com desconfiança o pastor não casado, a não ser que haja
vocação para isso (Cf. 1 Co. 7.7; Mt. 19.12b)

Também não há entre os evangélicos o tom sacramental que caracteriza o


casamento católico romano.

Igualmente está modificada a doutrina dos fins do casamento que ensina ser
unicamente para a procriação. Afirmamos os evangélicos que a procriação
acompanha e coroa a companhia mútua dos cônjuges (esse o sentido de Gênesis
2.24: 'Portanto, deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e uni-se-á à sua mulher,
e serão uma só carne".

O consenso nas Igrejas Protestantes e Evangélicas é sobre a legitimidade do


controle de nascimentos sem distinguir, em princípio, entre os diversos métodos,
desde que os casais o pratiquem de modo responsável e em comum acordo.

Algumas importantes datas são:

1910 - Lançado em Nova Iorque o movimento para o Planejamento Familiar por


Margaret Sanger.

1923 - Fundada em Londres a primeira clínica de controle da natalidade, e


autorizada pela Câmara dos Lordes o ensino do mesmo nos centros comunitários
da Grã-Betanha (os Welfare Centres).

1930 - A Assembléia de Lambert da Igreja Anglicana (Epscopal) expressou o


reconhecimento do conceito de limitações da família (a partir de 1930 houve
consenso favorável nas esferas protestantes sobre a geração responsável de
filhos).

1958 - realização de outras Assembléias de Lambert que emitiu uma declaração


instituída A Família do Dia de Hoje, que, entre outras coisas diz:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 258


"É preciso voltar a insistir sobre o Planejamento Familiar como resultado de uma
decisão cristã pensada em oração. Assim, os maridos e mulheres cristãos não
devem vacilar em oferecer humildemente sua decisão a Deus e seguí-la com clara
consciência"(Cit. Dumas, p.54)

Lambert utilizou o conceito de "paternidade responsável", evitando expressões


como "controle da população", "regulação da fertilidade", "prevenção da
natalidade", entre outras. A expressão "paternidade responsável" nasceu no meio
protestante-evangélico, falando do papel central do casal, papel que não pertence
ao estado, às Igrejas, ou a um só cônjuge.

PATERNIDADE RESPONSÁVEL

O conceito é pertinente, autêntico, nobre e bíblico. Afinal, os pais são


admoestados na Bíblia a fazer provisão para a sua família:

"Se alguém não cuida... da sua família, tem negado a fé, e é pior que um
incrédulo." (I Tm 5.8),

e daí as lições:

"Instrui o menino no caminho em que deve andar, até quando envelhecer não se
desviará dele" (Pv. 22.6; cf. Dt. 6.6,7).

Por isso, a paternidade deve ser planejada, e deve-se prover o bem-estar dos
filhos financeira, acadêmica, social (através da disciplina e amor) e
espiritualmente. Se não pode fazê-lo, deve considerar seriamente se está
realmente honrado a Deus colocando filhos no mundo. E porque a Bíblia não fala
especificamente sobre o Planejamento Familiar, deu-nos a responsabilidade de
usar a inteligência, porque os casais têm problemas e sensibilidades diferentes.
Não é nossa responsabilidade julgar, mas ensinar e instruir.

São condições que o casal deve possuir para a paternidade consciente e


responsável: felicidade e harmonia (espiritual, psicológica e sexual) que
assegurem ambiente emocionalmente equilibrado nas relações familiares; saúde
física e psíquica; disposição para uma preparação constante tanto para a
paternidade quanto para a educação; capacidade de modificar psicossocialmente
o pensamento para assimilar novas idéias.

Interessante aplicação do verso cinco do Salmo 127 ("Bem-aventurado o homem


que enche [de filhos] a sua aljava...") pode ser feita nos seguintes termos: a aljava
(depósito de flechas) era proporcional ao tamanho e peso do portador. Assim, o
pai deve colocar no mundo tantos filhos quantos possa sustentar, criar e educar
adequadamente. Cada casal cristão responsavelmente dará a resposta à pergunta
"quanto filhos?" que corresponda a suas possibilidades. Quem tem capacidade
para cinco filhos, cinco; para dois, dois para um, um. O princípio bíblico a ser
adicionado será o de Lucas 12.48a: "a quem muito é dado, muito se lhe

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 259


requererá", pois que o planejamento familiar e a Paternidade Responsável levam
em conta não só o número de filhos e sua educação, mas também o próprio
relacionamento familiar e suas necessidades morais e religiosas. Ao casal com
uma consciência bem orientada compete decidir quanto ao tamanho da família, e
qual o método a ser adotado.

Por outro lado, a Paternidade Responsável leva em consideração a qualidade de


vida familiar. Ou seja, é melhor cinco filho que dez, e dois, que cinco. Não
podemos, então esquecer a espiritualidade da procriação, quando o ser humano é
co-criador (cf. Gn 1.26-28).

O Planejamento Familiar deve nascer a rigor no namoro porque será sábio o


casamento sem que haja temor de gravidez prematura, seja emocional ou
economicamente. E visto que os meios de Planejamento Familiar são, em grande
medida, questão de escolha médica e estética, desde que admissível à
consciência cristã, impõe-se a formação da consciência. Quer dizer que a privação
voluntária da relação sexual por parte de um dos cônjuges não pode ser aprovada
porque nega as intenções do casamento; meios que interrompam ou impeçam o
cumprimento do ato sexual, e assim que ele chegue ao seu apogeu, também; o
aborto provocado, o feticídio, a não ser que seja imperativo para a vida da mãe e
por inegável necessidade médica. O uso de método contraceptivos deve honrar o
vínculo do matrimônio e enriquecê-lo moral e espiritualmente, porque o
Planejamento Familiar deve ser meio de ajudar a família a encontrar seu
equilíbrio.

O AMOR...

Não haverá família de verdade senão onde reinar o amor entre marido e mulher.
Por isso, São Paulo ensina, "Todos os vossos atos sejam feitos com amor" (1Co
16.14 AR)

O filho deve ser desejado, recebida com alegria, bem-vindo, pois há diferença
entre controle da maternidade e o controle consciente da natalidade, caso em que
são levados em consideração os valores humanos.

Fontes Primárias
1. DUMAS, André. El Control de los Nascimentos en el Pensamiento Protestante.
Buenos Aires, La Aurora, 1968. Tead A F. Sosa, 191p.
2. HAVEMANN, Ernest et al. (orgs). Control de la Natalidad. Países-Baixos, Time-
life, 1967. 118 p.
3. KELLY, George A. Manual do Matrimônio Católico, São Paulo, Dominus, 1963.
219 p.
4. NARRAMORE, Clyde M. A Christian View of Birth Control, 3ª impr 1961. 30 p.
5. RODRIGUES, Walter. Planejamento Familiar, 2ª ed. Rio, Departamento da
Infância e Educação (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), s.d. 60 p.

Parte 52.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 260


PRIMEIRO DE ABRIL - DIA DA MENTIRA

Introdução:

O espelho não mente. Quando se olha no espelho vê-se o que está à sua frente,
sem retoques. Ao olharmos no espelho vemos a nossa própria imagem, como
somos na realidade e, assim como o espelho deveríamos ser, como cristãos,
autênticos e verdadeiros.

Essa semana padecemos o chamado Dia da Mentira, primeiro de abril, que surgiu
no século XVI, por volta de 1564, quando Carlos IX, rei de França, determinou que
o ano começasse no dia primeiro de janeiro, no que foi seguido por outros países
da Europa. Antes, a virada do ano era comemorada do dia vinte e cinco de março
ao dia primeiro de abril.

É claro que, no início, a confusão foi geral, uma vez que os meios de comunicação
ainda eram inexistentes. As pessoas custaram a se acostumar com a troca. Muitas
ainda achavam que o Ano Novo era no dia primeiro de abril e, por isso, eram
chamadas de “bobos de abril”. Elas eram vítimas do Dia da Mentira e recebiam
convites para festas que não existiam e ganhavam cartões e presentes esquisitos.

O Dia da Mentira persiste até hoje em nossa sociedade, sendo muito comum as
pessoas pregarem peças nas outras, mentindo deslavadamente, e justificando,
depois, com o primeiro de abril. A questão é tão séria que foi motivo de
reportagens e de entrevistas de psicólogos.

Lamentavelmente a mentira é considerada um traço social nas culturas ocidentais.


Porém, quando consultamos o Dicionário Aurélio, vemos que mentir “é afirmar
coisa sabidamente contrária à verdade”. A mentira é “engano, fraude e falsidade”.

Não é diferente no Dicionário Houaiss, que classifica a mentira como “ato ou efeito
de mentir; engano, falsidade, fraude, afirmação contrária à verdade a fim de
induzir a erro; qualquer coisa feita na intenção de enganar ou de transmitir falsa
impressão; pensamento, opinião ou juízo falso; aquilo que é enganador, que ilude,
que se aproxima da verdade ou é real apenas na aparência”.

No Dicionário Internacional de Teologia vemos que a mentira, ????????,


pseudomai, é a antítese da verdade, sendo sempre contrária ao que é verdadeiro.

Na Enciclopédia Histórico-Teológica vemos que mentira é engano ou falsidade,


sempre intencional. É transmitir de modo ativo e intencional uma falsidade.

Em suma, a mentira é sempre mentira, não importando a intenção do mentiroso.


Por isso, vamos estudar sobre esse assunto que, infelizmente, tem sido comum
também dentro da igreja, mas que tem destroçado a vida de muitos cristãos.

Vejamos o que nos diz Deus a respeito deste assunto.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 261


1. A prática da mentira antes da conversão:

O mundo mente por que precisa enfeitar com falsidades a realidade infernal na
qual se encontra.
Sabemos que a mentira é um recurso amplamente usado pelos não salvos, pelo
mundo, para inclusive justificar suas “verdades”.
A psicologia admite a prática da mentira na infância, mas alerta para o fato de que
a prática da mentira pode ser sintoma de insegurança, de necessidade de auto-
afirmação e de aceitação num grupo, de um certo grau de esquizofrenia (dupla
personalidade) e de um grave desvio de caráter.
Ou seja, conforme a psicologia, a mentira pode ser três coisas, um desajuste
emocional, uma patologia psíquica ou um traço do mau-caratismo mesmo.
Vejamos no Texto Sagrado, porquê as pessoas mentem:

a) Gênesis 3 – Desde o início a humanidade caiu no engodo, na mentira, de


satanás, aceitando a influência do diabo.
b) Atos 5.1-5 – Há uma excitação por parte do diabo na vida das pessoas, para
que elas mintam.
c) João 8.43-45 – A origem da mentira é no coração, digamos assim, de satanás.
A mentira é filha do diabo.
d) Salmo 58.3 – Os ímpios, ou seja, aqueles que não obedecem a Deus, são
dados a mentira desde a infância.
e) 1 João 5.19 – O mundo está morto no maligno, no diabo, e, por isso, a mentira
é aceita com naturalidade e tida como um traço sociológico (todo mundo mente).
f) Efésios 2.1-3 – Quem anda segundo o curso do mundo, praticando a mentira,
anda, na verdade, segundo o príncipe das potestades, que é o diabo.

Considerando estes textos e seus correlatos, verificamos que antes da conversão


mentíamos porquê éramos ímpios, andando segundo o curso do mundo que está
morto e sepultado no diabo, que exerce influência sobre a humanidade e excita o
coração do homem sem Cristo para a prática da mentira.

Vejamos em seguida um outro aspecto desse tema tão sério, a mentira, que deve
ser uma preocupação particular de todo salvo.

2. A prática da mentira depois da conversão:

Em Levítico 19.2 lemos o seguinte: “Sejam santos, porque eu, o Senhor, o Deus
de vocês, sou santo” (NVI). Se cremos na Palavra de Deus e somos servos de
Deus, porquê então os salvos, mentem? Será que não somos salvos? Ou, se
somos, será que não somos santos?

Talvez nunca encontremos respostas para essas perguntas, mas vejamos na


Bíblia Sagrada o que Deus tem a nos dizer sobre essa questão:

a) Levítico 19.11 e Colossenses 3.5-11 – A mentira é proibida por Deus para os

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 262


seus filhos.
Cada vez que mentimos afrontamos o caráter santo do nosso Deus.
b) Provérbios 6.16-19 – A mentira é odiosa a Deus.
c) Isaías 59.1-3 – A mentira é um obstáculo para as nossas orações. Deus não
nos ouve se permitimos que a mentira permaneça em nossos lábios.
d) Provérbios 12.22 – A mentira é abominável ao Senhor.
e) Efésios 4.25 – A mentira deve ser abandonada, desprezada, pelos salvos.
f) Romanos 1.24-25 – A mentira gera abandono em relação a Deus e, por isso, a
nossa depravação.
g) Provérbios 25-18 e Provérbios 26.18-19 – A mentira é uma arma pontiaguda
que destrói relacionamentos comunitários e interpessoais e que não deve ser
usada nem de brincadeira. A orientação bíblica é para não mentirmos nunca, nem
de brincadeira. (O primeiro de abril é uma maldição).
A Palavra de Deus deixa bem claro que a mentira não nos cabe, como salvos.
Porém, devemos ainda ressaltar os textos sobre a condenação de Deus para o
mentiroso, a fim de reforçar em nossas mentes e corações o fato de que devemos
evitar, abandonar, rejeitar, combater e jamais praticar a mentira. Vejamos esses
textos:

h) Salmo 63.11 – Os mentirosos terão a boca tapada.


i) Provérbios 19.5 e 9 – O mentiroso não ficará impune, perecerá.
j) Isaías 44.25 – Deus desfaz a falsidade envergonhando aos mentirosos.
k) Apocalipse 21.8 e Apocalipse 22.15 – Nestas duas listas, os mentirosos estão
entre aqueles que vão para o inferno. (Se morrerem na prática da mentira não tem
salvação).

Sabedores disso, nós os santos, ou seja, todos aqueles que temos a certeza da
salvação, devemos:

l) Salmo 119.63 – Abominar a mentira, a falsidade.


m) Sofonias 3.13 – Evitar a mentira para que sejamos guardados por Deus e
apascentados por ele.
n) Salmo 40.4 – Não obedecer ao mentiroso, para sermos felizes.
o) Salmo 101.7 – Rejeitar o mentiroso e a sua mentira.
p) Salmo 119.29 – Orar para que sejamos livres da mentira.
q) Provérbios 30.8 – Ficar bem longe da mentira.
Diante desses ensinamentos da Palavra de Deus, qual seria o caminho? O que
devemos fazer? Vejamos o que O Texto Sagrado nos indica.

3. A Verdade é o Caminho de Deus para os seus filhos:

Mentir é errado por que nos afasta de Deus e da própria verdade. Deus é verdade.
A oposição bíblica a toda mentira tem a sua origem no fato de que o povo de Deus
deve sua vida, sua salvação e sua lealdade ao “único Deus verdadeiro”, João 17.3
(NVI).

Por essa razão, nada melhor do que continuarmos trilhando pelo Texto Sagrado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 263


para verificarmos o Caminho de Deus para nós. Vejamos:

a) Números 23.19 e Hebreus 6.18 – Deus não mente em hipótese alguma.


b) Jeremias 10.10 – Deus é o verdadeiro Deus.
c) Deuteronômio 32.3-4 – Deus é um Deus de verdade.
d) Zacarias 8.16-17 – Deus exige o falar a verdade como prática de vida
santificada e santificadora
e) João 14.6; 1.14; 8.45 - Cristo é cheio de verdade, falou a verdade e é a
Verdade. f) João 8.31-32; 14.6 – A verdade liberta o homem do inferno e Cristo é a
Verdade libertária de Deus para nós. Uma vez livres, não podemos viver como
que se ainda fôssemos escravos do pecado, Romanos 6.6 e 16-18.
g) João 16.13 – O Espírito Santo é o Espírito da verdade e nos guia para toda a
Verdade de Deus. O Espírito Santo habita em nós para exercer este ministério.
h) Efésios 4.25 – Somos exortados a falar sempre a verdade.
i) Mateus 5.33-37 – Objetividade e verdade ao falar são exigidos do salvo. (Sim,
sim. Não, não. Além disso, é do diabo, disse Jesus).
j) Daniel 10.21 e João 17.17 – A Palavra de Deus é a verdade que nos santifica.
k) Salmo 15.3-4 – O salvo que fala a verdade sempre é cidadão do céu e tem a
sua morada garantida lá (veja também o Salmo 24.3-4).
Pois bem amados, não existe alternativa. Temos um Deus verdadeiro que fala
verdades e exige que também falemos a verdade sempre.

Somos salvos por Cristo que é cheio da verdade e que não só falou a verdade
como é ele mesmo a Verdade de Deus revelada para a nossa salvação.

Somos libertos do pecado por essa Verdade e recebemos a promessa de que o


Espírito Santo, o Espírito da Verdade, nos guiaria por toda e para toda a verdade
de Deus revelada na Bíblia Sagrada e em Cristo Jesus, Hebreus 1.1-2.
Temos nas mãos a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, que é verdade absoluta e
inerrante, e temos o próprio Senhor Jesus Cristo em nós, pelo Espírito Santo que
em nós habita. Se lemos a Bíblia e se cremos nela como Palavra de Deus; e se
nela aprendemos de Deus, seus mandamentos, estatutos e ordenanças; e ainda,
se nela aprendemos sobre Jesus e se cremos nele como o nosso Salvador e
Senhor, pelo Espírito Santo, que passa a ser, a partir do momento da nossa
conversão, o nosso Guia, sejamos verdadeiros, falando sempre e somente a
verdade.

Seja em nossas conversas, em um discurso, no cotidiano, nas coisas mais


simples e nas mais importantes, e até mesmo em nossas brincadeiras, devemos
sempre "falar a verdade, nada mais do que a verdade, em nome de Deus”.

Conclusão:

Amados irmãos e irmãs e queridos que estamos aqui nesta noite, Deus sabe as
mentiras que vivemos, que falamos e praticamos no passado, bem como as do
presente.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 264


Muitas vezes prejudicamos alguém com as nossas mentiras. Quem sabe um falso
testemunho, uma calúnia, uma brincadeirinha de primeiro de abril, uma mentirinha
para ajeitar uma situação e até para proteger alguém? Quem sabe uma mentira
deliberada contra um irmão ou irmã, ou até mesmo contra o nosso pastor? Uma
acusação infundada apenas para esquentar o clima e colocar o “querido e amado”
irmão em uma “saia justa”, como se diz.

Será que temos tido arrependimento sincero por causa dessas atitudes e mentiras
diabólicas? Já confessamos isso a Deus, pedindo perdão, restauração e libertação
disso? Já estendemos as mãos pedindo perdão à pessoa a quem ofendemos com
as nossas mentiras?

Se ocultamos alguma mentira ou se protegemos um mentiroso e, por isso, outras


pessoas foram prejudicadas, já nos arrependemos e pedimos perdão a Deus e a
pessoa ofendida?

Minha oração é no sentido de que como filhos amados de Deus, verdadeiramente


salvos em Cristo Jesus e cheios, não só do Espírito Santo, mas também do seu
poder e de sua unção, bem como guiados por este mesmo Espírito, nos
arrependamos e confessemos toda a mentira e todo o engano que ainda persiste
em nossas vidas.

Se em algum momento de nossas vidas, antes da conversão ou mesmo depois,


estivemos envolvidos com mentiras, das quais ainda não nos arrependemos e, por
isso, o mau causado não foi ainda reparado, carecemos de libertação. Enquanto
essa amarra do diabo não for cortada em nossas vidas, não estamos aptos para
uma vida cristã frutífera e nem para o testemunho.

Hoje, temos de Deus o ensinamento da Palavra e a oportunidade para


confessarmos e para renunciarmos, diante de Deus, dos anjos, dos homens e dos
demônios o pacto que fizemos com a mentira, firmando assim uma aliança
inquebrável e eterna com a Verdade, Jesus Cristo.

Que Deus nos ajude. Amém.


Parte 53.
PORNOGRAFIA?
Qual é o problema em gostr um pouco de pornografia?

Afinal, o que é pornografia mesmo?

Alguém já disse que é mais fácil reconhecer a pornografia do que defini-la. Os


dicionários nos dizem que pornografia é o caráter imoral ou obsceno de uma
publicação. Material pornográfico é aquele que descreve ou retrata atos ou
episódios obscenos ou imorais. Essas definições não ajudam muito pois conceitos
como "obscenos" e "imorais" são bastante subjetivos no mundo de hoje.
Classificar material pornográfico em "soft" (nudez e sexo implícito) e "hardcore"
(sexo explícito contendo cenas de degradação, violência e aberrações) só ajuda

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 265


didaticamente. Para muitos, Playboy é uma revista pornográfica. Para outros, não.
Entretanto, da perspectiva da ética bíblica, definição acima é mais que suficiente.

A popularidade da pornografia

É exatamente pela complexidade do assunto, agravado pela omissão de boa parte


das igrejas no Brasil, que muitos evangélicos estão confusos quanto ao mesmo, e
não poucos são viciados em alguma forma de pornografia. Aqui estão as minhas
razões para essa constatação:

1) A tremenda popularidade da pornografia no mundo de hoje. Uma estatística de


1995 revelou que os americanos gastam mais em pornografia do que em Coca-
Cola. Não é difícil de imaginar que a situação no Brasil não seria muito diferente.
Até países antigamente fechados, como a China, em 1993 assistiu a uma
enxurrada de material pornográfico em seus limites, após ter aberto, mesmo que
um pouco, as suas fronteiras para receber ajuda estrangeira. Mensalmente, cerca
de 8 milhões de cópias de revistas pornográficas circulam no Brasil. Em 1994 a
venda de vídeos pornôs chegou perto de 500 milhões de dólares. Não é de se
admirar que as locadoras reservam cada vez mais espaço nas prateleiras para
vídeos pornôs. Segundo uma pesquisa, em 1992, 1 a cada 4 brasileiros assistiu a
um filme de sexo explícito. O mesmo fizeram 13% das mulheres entrevistadas. Em
1995 esse número dobrou para os homens e aumentou um pouco em relação às
mulheres.

2) A imensa facilidade para se conseguir material pornográfico no mundo de hoje.


Como na maioria dos demais países "civilizados" (uma conhecida exceção é o Irã)
material pornográfico pode ser encontrado e consumido facilmente no Brasil em
diversas formas: cinema, canais abertos de televisão, televisão a cabo e no
sistema "pay-per-view", Internet, fitas de vídeo, CD-ROMs com material
pornográfico, gravuras, exposições de arte erótica, livros, revistas e vídeogames,
entre outros. Parece não haver fim à criatividade do homem em utilizar-se dos
avanços tecnológicos para a difusão da pornografia. Como disse o escritor francês
Restif de la Bretone no século 18, "La dépravation suit le progrès des lumières" ("A
depravação segue o progresso das luzes").

O que tem de mais em ver pornografia?

Muito embora os evangélicos em geral sejam contra a pornografia (alguns apenas


instintivamente) nem todos estão conscientes do perigo que ela representa.
Menciono alguns deles em seguida:

1) Consumir deliberadamente material pornográfico é violar todos os princípios


bíblicos estabelecidos por Deus para proteger a família, a pureza e os valores
morais. A própria palavra "pornografia" nos aponta esse realidade. Ela vem da
palavra grega pornéia, que juntamente com mais outras 3 palavras (pornos, pornê
e pornéuo) são usadas no Novo Testamento para a prática de relações sexuais
ilícitas, imoralidade ou impureza sexual em geral. Freqüentemente essas palavras

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 266


de raiz porn- aparecem em contextos ou associadas com outras palavras que
especificam mais exatamente o tipo de impureza a que se referem: adultério,
incesto, prostituição, fornicação, homossexualismo e lesbianismo. O Novo
Testamento claramente condena a pornéia: ela é fruto da carne, procede do
coração corrupto do homem, é uma ameaça à pureza sexual e devemos fugir
dela, pois os que a praticam não herdarão o reino de Deus. A pornografia explora
exatamente essas coisas — adultério, prostituição, homossexualismo,
sadomasoquismo, masturbação, sexo oral, penetrações com objetos e — pior de
tudo — pornografia infantil, envolvendo crianças de até 4 anos de idade.

2) Consumir deliberadamente material pornográfico é contribuir para uma das


indústrias mais florescentes do mundo e que, não poucas vezes, é controlada pelo
crime organizado. Segundo um relatório oficial em 1986, a indústria pornográfica
nos Estados Unidos é a terceira maior fonte de renda para o crime organizado,
depois do jogo e das drogas, movimentando de 8 a 10 bilhões de dólares por ano.
Acredito que o quadro é ainda pior hoje. A indústria da pornografia apoia e
promove a indústria da prostituição e da exploração infantil. O dinheiro que pais de
família gastam com pornografia deveria ir para o sustento de sua família. Alguns
podem alegar que consomem apenas material soft contendo somente cenas de
nudez — esquecendo que esse material é produzido pela mesma indústria ilegal
que produz e distribui a pornografia infantil.

Pornografia e a escalada da violência

Não são poucos os relatórios feitos por comissões de pesquisadores que


denunciam a estreita relação entre a pornografia e a crescente onda de estupros,
assédio sexual e exploração infantil nos países "civilizados". Vários dos temas
mais comuns em pornografia do tipo hardcore incluem cenas de seqüestro e
estupro de mulheres, geralmente com espancamento e tortura, além de outras
formas obscenas de degradação. A mensagem que a pornografia passa aos
consumidores é que quando a mulher diz "não" na verdade está dizendo "sim", e
que se o estuprador insistir, ela não somente aceitará como também passará a
gostar. Assim, a violência contra a mulher é exposta como algo válido e normal. A
mulher é vista como objeto sexual a ser usado ao bel-prazer dos homens.

Uma outra forma de hardcore é a pornografia infantil. Esse material exibe cenas
de sexo envolvendo crianças e adolescentes. Em alguns casos, crianças
aparecem assistindo a cenas de sexo oral por adultos, Noutras, são violentadas e
estupradas por adultos. Noutras, fazem sexo entre si. Esse material ilegal,
mórbido, desumano e obsceno está disponível pela Internet até mesmo em
servidores estacionados em universidades federais, conforme denúncias de
jornais em dias recentes. Grandes provedores têm seções onde usuários podem
bater papo sobre sexo e trocar imagens de sexo explícito com crianças, algumas
delas tão degradantes, segundo uma denúncia feito pelo Instituto Gutemberg em
Julho de 1997, que faz da revista "Penetrações Profundas" uma publicação para
freiras.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 267


Associado com a pornografia hardcore está o surto de violência sexual contra as
mulheres e crianças nas sociedades modernas onde esse material pode ser obtido
facilmente. Estudos por especialistas americanos mostram que existe uma estreita
relação entre pornografia e a prática de crimes sexuais. Eles afirmam que 82%
dos encarcerados por crimes sexuais contra crianças e adolescentes admitiram
que eram consumidores regulares de material pornográfico. O relatório oficial do
chefe de polícia americano em 1991 diz: "Claramente a pornografia, quer com
adultos ou crianças, é uma ferramenta insidiosa nas mãos dos pedofílicos
[viciados em sexo com crianças]". A pornografia está estreitamente associada ao
crescente número de estupros nos países civilizados. Só nos Estados Unidos, o
número conhecido pela polícia cresceu 500% em menos de 30 anos, que
corresponde ao aumento da popularidade e facilidade em se encontrar material
pornográfico. Cerca de 86% dos condenados por estupro admitiram imitação
direta das cenas pornográficas que assistiam regularmente.

Crentes "voyeurs"?

Há boas razões para acreditarmos que o número de evangélicos no Brasil que são
viciados em pornografia é preocupante. Pesquisadores estimam que nos Estados
Unidos cerca de 10% dos evangélicos estão afetados. Considerando que no Brasil
a facilidade de se obter material pornográfico é a mesma — ou até maior — que
nos Estados Unidos, considerando que a igreja evangélica brasileira não tem a
mesma formação protestante histórica da sua irmã americana, considerando a
falta de posição aberta e ativa das igrejas evangélicas brasileiras contra a
pornografia, como acontece nos Estados Unidos, não é exagerado dizer que
provavelmente mais que 10% dos evangélicos no Brasil são consumidores de
pornografia. Talvez esse número seja ainda conservador diante do fato conhecido
que os evangélicos no Brasil assistem mais horas de televisão por dia que muitos
países de primeiro mundo, enchendo suas mentes com programas que promovem
a violência e o erotismo, e assim abrindo brechas por onde a pornografia penetre
e se enraize.

Mais preocupante ainda é a probabilidade de que grande parte desse percentual é


de jovens evangélicos adolescentes. Uma pesquisa feita por Josh McDowell em
22 mil igrejas americanas revelou que 10% dos adolescentes havia aprendido o
que sabiam sobre sexo em revistas pornográficas. 42% deles disse que nunca
aprendeu qualquer coisa sobre o assunto da parte de seus pais. E outros 10%
confessaram ter assistido a um filme de sexo explícito nos últimos 6 meses. Uma
extrapolação, ainda que conservadora, para a realidade das igrejas brasileiras é
de deixar pastores e pais em estado de alarma.

O escândalo envolvendo o pastor Jimmy Swaggart em 1988 revelou abertamente


uma outra face do problema, que há pastores evangélicos que também são
viciados em pornografia. Uma pesquisa feita em 1994 entre pastores evangélicos
americanos revelou uma relação estreita entre o consumo de pornografia e a
infidelidade conjugal. Por causa do receio de serem apanhados e de estragarem
seus ministérios, muitos pastores optam por consumir pornografia como voyeurs a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 268


praticar o adultério de fato, embora alguns acabem eventualmente caindo na
infidelidade prática. Quando eu me preparava para escrever esse ensaio, li
diversos artigos sobre pornografia publicados em revistas americanas e européias
de aconselhamento pastoral. Muitos deles são abertamente dirigidos para ajudar
pastores viciados em pornografia.

Falta de decência

Infelizmente parece que estamos nos acostumando à falta de decência. Tornamo-


nos como os pagãos. Temos a mesma atitude que eles têm para com a nudez e a
exposição dos órgãos sexuais. A arqueologia revelou que em muitas das paredes
dos templos pagãos cananitas, que foram destruídos pelos israelitas quando
conquistaram a terra (Lv 26.1; Nm 33.52), havia desenhos de órgãos sexuais
masculinos e femininos. Essas são as formas mais antigas de pornografia que
conhecemos. Os cananitas aparentemente representavam os órgãos genitais nas
paredes para excitar os adoradores e estimulá-los à prática da prostituição
sagrada. Os israelitas, em contraste, tinham uma atitude totalmente diferente
quanto à exposição dos órgãos sexuais. Em suas Escrituras Sagradas estava
escrito que Deus cuidou em cobrir a nudez do primeiro casal após a queda (Gn
2:25; 3:7-10). Havia uma preocupação em que as vestimentas cobrissem os
órgãos genitais, ao ponto de que havia uma determinação na lei de Moisés de que
o sacerdote deveria ter cuidado para não subir as escadas do altar de forma a
deixar que seus órgãos genitais ficassem expostos (Dt 20:26). Cão, o filho de Noé,
foi condenado por ter visto a nudez de seu pai. A própria Bíblia se refere à
genitália de forma reservada, usando às vezes eufemismos como "nudez" (Lv 18),
"pele nua" (Ex 28.42), "membro viril" (Dt 23.1), "entre os pés" (Dt 28.57) e "parte
indecorosa" (1 Co 12.23), só para citar alguns exemplos.

Podemos fazer alguma coisa, sim!

Acredito que os pastores e as igrejas evangélicas no Brasil podem fazer algumas


coisas: ler os estudos e relatórios sobre os efeitos da pornografia feitos por
comissões especializadas; pregar sobre o assunto e especialmente dar estudos
para grupos de homens; desenvolver uma estratégia pastoral para ajudar os
membros das igrejas que são adictos à pornografia; não esquecer que muitos
pastores podem precisar de ajuda eles mesmos; criar comissões que se
mobilizem ativamente contra a pornografia, utilizando-se dos dispositivos legais
que o permitam (uma possibilidade é encorajar os políticos evangélicos a tomar
posições bem definidas contra a pornografia); desenvolver uma abordagem que
trate da sexualidade de forma bíblica, positiva e criativa; tratar desses temas
desde cedo com os adolescentes da Igreja expondo o ensino bíblico de forma
positiva; orar especificamente pelo problema.

Não estou pregando uma cruzada de moralização, embora evidentemente a igreja


evangélica brasileira poderia tirar bastante proveito de uma. A pornografia é um
mal de graves conseqüências espirituais e sociais embora não acredite que
devamos fazer dela o inimigo público número 1, como algumas organizações

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 269


moralistas e fundamentalistas dos Estados Unidos. Afinal das contas, a raiz desse
problema — e de outros — é o coração depravado e corrompido do homem, que
só pode ser mudado pelo Evangelho de Cristo. Hitler conseguiu em 4 anos banir
da Alemanha todas as formas de pornografia e perversão e incutir na geração
jovem de sua época a aspiração por altos valores morais e pela pureza da raça
ariana. Os motivos eram errados e o projeto de Hitler acabou no desastre que
conhecemos. Não acabaremos com a depravação moral somente com leis e
discursos políticos. Jack Eckerd, um empresário milionário dono de um negócio
que rendia mais de 2,5 milhões de dólares por ano, ao se converter a Cristo em
1986, determinou que todas as publicações pornográficas vendidas em suas 1.700
lojas fossem retiradas, mesmo que isso significasse a perda de alguns milhões de
dólares anuais. Quando o coração é mudado as mudanças morais seguem
atreladas.

Fonte: Revista Fides Reformata


Parte 54.
QUANDO O ALVO É CRESCER

"Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus


Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade." (2Pe
3.18)

Quando se recebe a Jesus Cristo como Salvador, duas coisas acontecem. A


primeira é que se nasce na família de Deus. A Escritura Sagrada está repleta de
textos registrando essa bênção (cf. Jo 1.12, 13; 1 Jo 5.18; Tg 1.18; Ef 2.19; 3.15).
A outra grande realidade é que aquele que nasce na família de Deus recebe tudo
o de que necessita para viver uma vida abundante (cf. 1Jo 3.9; 4.7; 1Co 12.4; Ef
4.8; Tg 1.17). Isso não significa, porém, que porque alguém nasceu na família de
Deus e recebeu a Jesus como Salvador, é uma pessoa espiritualmente
amadurecida, como alguém que já vem caminhando, por exemplo, há dez, quinze,
vinte, quarenta anos com Jesus. Quem nasce em Jesus Cristo é um bebê
espiritual, e precisa crescer na maturidade cristã. Aliás, estamos usando termos
rigorosamente bíblicos, pois que encontramos na Escritura: "desejai como
meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a
salvação" (1Pe 2.2; cf. Hb 5.13,14; Ef 4.14-16).

Assim, como a vida física requer alimento, ar, exercícios e repouso, a vida
espiritual também requer certas coisas para que haja crescimento e
desenvolvimento: "antes crescei na graça e no conhecimento de nosso senhor e
Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18a). E já que o alimento físico é necessário à vida
física (porque sem alimento, o corpo enfraquece, adoece, fenece), sem alimento
espiritual, o espírito se debilita e fica enfermo (Mt 4.4). Por essa razão, ninguém
pode ficar por uma semana (nem mesmo por um dia ou dois) sem alimento, seja
material ou espiritual.

Os três primeiros elementos que nos ajudam a crescer são mencionados a seguir,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 270


TRÊS ELEMENTOS

O primeiro é a Bíblia Sagrada porque vivemos do alimento espiritual. A Escritura


Sagrada é uma das bandeiras da Reforma Protestante do século 16. O plano de
Deus tem registro na Palavra de Deus, e se não está na Palavra, não aceitamos.
É importante que ela seja lida, estudada e aplicada à vida. A Bíblia é uma mina de
conforto. É o caso de alguém estar em grande e profunda tristeza. Alguém
compartilhou comigo de uma atribulação muito grande: um problema de
enfermidade. Trata-se de uma jovem que foi minha ovelha em outra igreja, e está
humanamente fadada a terminar seus dias em pouco tempo. Que tristeza para
seu esposo, e familiares, e para os amigos, para seus irmãos na fé! É quando fala
a Bíblia:

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa
de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou
preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei
para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (Jo 14.1-3).

No momento de tristeza, o coração do crente não pode se perturbar, mas, sim,


buscar o próprio coração de Deus: "Credes em Deus, crede também em mim".

E quando outras pessoas nos decepcionam? Quase todo mundo já passou pela
experiência de uma decepção. Ou foi o namoro que acabou quando você tinha
tantas esperanças de que no fim do ano ia receber uma aliança para colocar na
mão direita, ou o noivado que prometia trocar a aliança para a mão esquerda, e
tornou-se numa decepção; aquele emprego que você queria virou foi para outro; o
vestibular que foi mal-sucedido! Ou decepção a nível pessoal. E encontramos na
Palavra de Deus e vejo que quando os outros nos decepcionarem, o poeta de
Israel nos deixou:

"O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? [ a ninguém, é a


resposta!]

O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?"

E Davi tinha uma linguagem que era muito direta, não tinha rodeios, não (isso é,
aliás, coisa própria da linguagem hebraica, não há rodeios, não), o que tem que
dizer diz logo:

"Quando os malvados investiram contra mim, para comerem as minhas carnes,


eles meus adversários e meus inimigos, tropeçaram e caíram".

Aí, ele dá o texto que todos conhecem:

"Ainda que um exército se acampe contra mim, o meu coração não temerá; ainda
que a guerra se levante contra mim, conservarei a minha confiança" (Sl 27.1-3).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 271


Isso quando os outros vieram nos decepcionar.

E quando estamos preocupados, sem saber como resolver o dia de amanhã. A


Escritura mais uma vez nos socorre:

"Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino,
seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos
dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos
perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-
nos do mal. [Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre. Amém.] (Mt
6.9-13).

Quando preocupado, volte-se para o Senhor santificando o Seu Nome.

E em perigo, que você vai fazer? O que é deve acontecer? E no Salmo 91 tenho a
expressão: "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo
Poderoso descansará" (v. 1). Esse é o tipo de conforto que a Bíblia traz para nós.

E quando parece que Deus está tão longe, parece que é aquele Deus
transcendental, distante, despreocupado, até, com as minhas preocupações, vou
à Sua Palavra e me deparo com: "Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu
conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento."
Isso é de longe. Agora de perto: "Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e
conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua,
eis que, ó Senhor, tudo conheces." (Sl 139.1-4). Parece, somente parece que
Deus está distante de nós.

E quando se está solitário? A expressão que vejo é esta: "Deus faz que o solitário
viva em família; liberta os presos e os faz prosperar; mas os rebeldes habitam em
terra árida" (Sl 68.6).

Poderíamos continuar com muito outros exemplos. Por isso, o primeiro elemento
que eu vejo para o crescimento espiritual é a Bíblia Sagrada.

Outro elemento é a oração. E tem gente que se apronta todo para entrar em
oração. Mas oração é conversar com o Pai; é conversar com Deus; são os seus
lábios nos ouvidos de Deus; é o seu coração apertado junto ao coração de Deus.
Isso é oração, e poucas experiências podem ser iguais à experiência da oração
em dar poder às igrejas para ajudá-las a se elevarem acima dos problemas. Por
isso, oramos quando há problemas.

A palavra de Deus nos diz que devemos orar por tudo (cf. Fp 4. 6,7); diz que
devemos orar continuamente (cf. 1Ts 5.17); e diz que devemos pedir a Deus
especificamente por novas necessidades ( cf. Jo 16.24). Além disso, quanto mais
temos uma vida de oração, maior nossa relação com Cristo se torna, que se torna,
também, cada vez mais íntima, maior é o nosso relacionamento com Ele. Alguém
escreveu os "Sinais de uma oração respondida". Você sabe quando a sua oração

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 272


é respondida?

Se te levantas da oração perdoado e limpo em tua alma,

tua oração foi respondida.

Se te levantas mais consciente da grandeza, bondade,

misericórdia, amor e proximidade de Deus,

tua oração foi respondida.

Se te levantas com um amor e compaixão maiores por outras pessoas,

a oração respondida transformou a natureza egoísta.

Se te levantas com um senso abundante de paz e pesar dos

grandes problemas que perturbam tua vida, Deus te respondeu

preparando-te para confrontar as dificuldades.

Se te levantas com uma visão mais clara, com propósitos maiores,

com uma perspectiva positiva, força renovada, fica seguro que

tua oração foi respondida.

Há um outro elemento muito importante para o nosso crescimento na graça e no


conhecimento de Jesus. É a obediência à vontade de Deus. Por isso que a leitura
da Bíblia e a oração não vão ter valor algum se não houver obediência à vontade
de Deus. De modo que é bobagem, profunda tolice ser desobediente Àquele que
nos ama, e sabe o que é o melhor para nós.

A desobediência a Deus, aliás, tem um nome na Bíblia. Está em Romanos 5.19:


"Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão
constituídos justos." O nome da desobediência na Bíblia é pecado (cf. Tt 3.3; Hb
2.2,3; 1Pe 2 .8; 4.17).

Mas tem uma solução. Graças a Deus! E é que seja confessado a Deus. E
novamente a Santa Palavra nos ensina: "Se confessarmos os nossos pecados, ele
é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo
1.9). Que coisa maravilhosa!

OUTROS ELEMENTOS

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 273


Para que se cresça, é preciso contar aos outros o que Deus está fazendo na sua
vida, e como podem eles experimentar, também, o poder de Deus. Sabe como
isso se chama? Testemunho. Você precisa ser testemunha. Assim, testificar,
testemunhar é contar o que você viu, ouviu, e compartilhar a própria experiência
com Jesus (cf. 1Jo 1.1). E todos os que têm uma relação de vida com Cristo
podem ser Suas testemunhas. E à medida que a nossa vida fica cheia com a
presença do Senhor, não podemos fazer outra coisa a não ser compartilhar essa
experiência linda, maravilhosa, extraordinária com os outros.

Que acontece quando somos fiéis ao testemunho? Vou passar-lhes o que alguém
escreveu:

Os Resultados da Fidelidade

Um rapazinho deu seu almoço a Jesus - e cinco mil pessoas foram alimentadas!
Uma mocinha escrava conversou com sua senhora sobre Deus - e seu senhor,
curado de lepra, se tornou um servo do Deus Altíssimo!
André contou a Pedro acerca de Jesus - e três anos depois, Pedro pregou um
sermão que foi instrumento em trazer 3.000 pessoas à Igreja.
Um professor da EBD visitou Dwight Moody na loja onde ele trabalhava - e Moody
se tornou um poderoso evangelista que levou milhares à cruz de Cristo.
Um pequeno grupo de estudantes se reuniu para orar pelas terras onde o
evangelho ainda não havia sido pregado - e o grande movimento de missões
mundiais americanas foi lançado.
Pois é; testemunho fiel pode produzir resultados espantosos! Fale a alguém sobre
Jesus Cristo, seja uma testemunha fiel crescendo, assim, na graça e no
conhecimento de Jesus, e deixe os resultados para Deus.

Por isso, quando o alvo é crescer, nós levamos a sério todos esses fatores
mencionados. E devemos crescer porque nossa utilidade no reino de Deus o
exige; devemos crescer porque separação para Deus, reserva para Deus,
santidade tem a ver com obediência. Frances Roberts, uma escritora, disse: "A
santidade não é um sentimento, é o produto final da obediência." ( Mas isso só
acontece quando o alvo nosso é crescer! ) Amém

Parte 54.
QUE FALTA NOS FAZ JOÃO BATISTA!

Vivesse ele entre nós - e aqui não faço nenhuma associação com a antibíblica
doutrina da reencarnação - certamente os políticos passariam por alguns
vexames.

Para relembrar, João Batista foi aquele servo que se distanciou do sistema
mundano e refugiou-se no deserto. Rejeitou até as iguarias comuns a todos os
homens da época. Com intrepidez, ousadia e destemor combateu os males do seu
tempo. À multidão que se apresentava para ser por ele batizada, dizia:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 274


"Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi
frutos dignos de arrependimento. Já está posto o machado à raiz das árvores;
toda árvore, pois, que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo" (Lc 3.7-9).

Como precursor de Cristo, anunciou: "Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas
eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de
desatar a correia das suas sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e
com fogo" (Lc 3.16). Esse grande João Batista teve a audácia de repreender o rei
Herodes, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe. Disse-lhe João: "Não
te é lícito possuir a mulher de teu irmão" (Mc 6.18).

Apesar de destemido, "a voz que clama no deserto" deixou-nos um belo exemplo
de humildade. Quando lhe informaram que Jesus estava batizando, em vez de
sentir inveja, respondeu: É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30).
Esse tipo de conduta é muito difícil nos dias atuais.

Fico a imaginar o que faria João Batista - se estivesse entre nós - ao tomar
conhecimento das bruxarias realizadas nos porões do palácio presidencial, como
ocorreu há alguns anos. É possível que subisse a rampa do palácio para um
encontro pessoal com o presidente. Com o indicador em riste, talvez dissesse:
"Não te é lícito usares a Casa do Povo para trabalhos de feitiçaria, contrariando a
vontade de Deus. Arrependa-te de tuas feitiçarias, porque do contrário Deus
passará teu cajado para outro". É possível que sua prisão fosse decretada por
desrespeito à autoridade, tal como nos tempos de Herodes. Mas o intrépido João
não olhava para as circunstâncias. Sua vontade irremovível era dar testemunho da
verdade. Não foi por menos que Jesus declarou o seguinte a seu respeito: "Entre
os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista"
(Mt 11.11). Hoje em dia políticos há que mudam de parceira como mudam de
camisa, e mesmo assim recebem o aval dos eleitores da comunidade cristã.

Fico a imaginar qual seria a reação desse homem ao ver a agressão que o
Evangelho de Jesus vem sofrendo hoje em dia. Agressão violência, mutilação.
Será que ele ficaria apenas envergonhado, enojado, insatisfeito, de cara fechada?
O que diria e o que faria ele ao ver, por exemplo, homens, mulheres e crianças
tocando cornetas na Casa de Deus para que os muros de Jericó caiam? O que
faria ele ao ver tantas ovelhas sofrendo violenta pressão psicológica para
aumentarem mais e mais as ofertas para a Igreja?

João Batista iria incomodar muito. E não adiantaria falar em perseguições, em


divisão do Corpo de Cristo, em "não toqueis em meus ungidos". Talvez ele
dissesse que o que mais divide o Corpo são as heresias, os modismos, as
extravagâncias, a ganância, o outro Evangelho, que se apresentam com a marca
da teologia da prosperidade.

Qual a resposta de João a um filho do evangelho do sucesso que lhe afirmasse:


"Eu quero ser rico, ter carro importado, boa poupança, comer em bons
restaurantes. Se não for assim, para que me serve ser cristão?" Eu não gostaria

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 275


nem de estar perto para ouvir a repreensão daquele que deu a vida por causa da
verdade.

Que falta nos faz.

Parte 55.
SEXO ENTRE NÃO CASADOS

Tentarei apresentar os requisitos bíblicos que condenam a prática sexual fora do


casamento, ou seja, que limitam a intimidade sexual ao matrimônio.

Gênesis 2.24 diz que homem e mulher se tornam uma só carne quando se casam,
ou seja, quando deixam pai e mãe e vão viver juntos. A prescrição divina para o
casamento é de um só homem e uma só mulher unidos pelos laços do casamento.
Não há como admitir a relação sexual, que é a maior intimidade entre um homem
e uma mulher, sem que haja o mútuo compromisso, diante de Deus e dos
homens, de consolidação da vida a dois.

A simples intenção de casar-se, ainda que com o vínculo do noivado, não abre a
possibilidade para que os enamorados iniciem, já, a prática sexual. "Deixará o
homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e SERÃO OS DOIS UMA
SÓ CARNE". Aqui está a consumação do casamento. Somente mediante o
matrimônio homem e mulher tornam-se uma só carne, e assim podem desfrutar
das delícias do ato sexual.

Houvesse a exceção para o sexo livre, estaríamos diante de uma situação em que
o homem, bem intencionado, praticaria o sexo com sua namorada. Passado algum
tempo, se o casamento, por qualquer motivo, não se efetivasse, ele passaria a
namorar outra moça com as mesmas "boas" intenções, e também praticaria sexo
com esta. Não é outro o costume da sociedade depravada.

Em Cantares 4.12, lemos: "Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha,
manancial fechado, fonte selada". Nota da Bíblia Estudo Pentecostal: "As três
figuras de linguagem deste versículo salientam a verdade de que a jovem sulamita
permaneceu virgem e sexualmente pura até casar-se. Manter a virgindade e a
abstinência sexual é o padrão bíblico da pureza sexual para todos os jovens, do
sexo masculino e feminino. Violar este padrão santo de Deus é profanar o espírito,
o corpo e a consciência, e depreciar o valor do ato da consumação do
casamento". (cf Ct 2.7; 3.5).

Jesus disse: "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu,
porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no
coração já cometeu adultério com ela" (Mt 5.27-28). Jesus referiu-se à mulher com
a qual o homem não é uma só carne. Qual seria a intenção impura? A intenção de
com ela praticar o ato sexual. Nesta palavra estaria aberta a possibilidade de o
homem fazer sexo com a sua namorada? Nem com a sua namorada, nem com a
mulher de outro homem.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 276


O entendimento é que a proibição do adultério (Êx 20.14) abrange a imoralidade e
todos os demais pecados sexuais. O adultério era punido com pena de morte (Lv
20.10); Dt 22.22).

O adultério acarreta conseqüências permanentes e graves (2 Sm 11.1-7; 12.14; Jr


23.10,11; 1 Co 6.16-18); o adúltero levará o opróbrio disso por toda a vida: "O que
adultera com uma mulher tem falta de entendimento; o que tal faz destrói a sua
alma; açoites e ignomínia encontrará, e o seu opróbrio nunca se apagará" (Pv
6.32,33).

A imoralidade dentro da igreja não pode ser tolerada: "Já por carta vos escrevi que
não vos associeis com os que se prostituem" (1 Co 5.1-13).

"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são
lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. Fugi da prostituição.
Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o que se prostitui peca
contra o seu próprio corpo" (1 Co 6.12,18).

Em Atos 15.29, em algumas versões da Bíblia, aparece a palavra fornicação: "Que


vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne
sufocada, e da fornicação; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Bem vos
fará". De acordo com o dicionário da Bíblia On-line, fornicação significa relações
sexuais ilícitas.

Conforme o dicionário Aurélio, fornicar significa "praticar o coito; copular". Deus


não iria proibir a prática sexual entre casados. A fornicação se estabelece entre
não casados. Namoro não é casamento.

"Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne para descobrir a


sua nudez" (Lv 18.6-30; 20.11,17,19-21). A única interpretação que podemos fazer
desses versículos é que proíbem, explicitamente, "descobrir a nudez" ou "ver a
nudez" de qualquer pessoa a não ser entre marido e mulher legalmente casados.
Tal proibição inclui, também, as carícias íntimas, ainda que não consumado o ato
sexual propriamente dito.

O "domínio próprio" faz parte do fruto do Espírito, "e os que são de Cristo Jesus
crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências". Entre as obras da
carne estão a prostituição, a lascívia e a impureza (Gl 5.19-24).

Vejamos alguns exemplos de tradução da palavra grega "porneia":

Prostituição - "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: a prostituição, a


impureza, a paixão, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; por essas
coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Cl 3.5-6. V.1 Ts 4.3; 2
Co 12.21; Mt 15.19).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 277


Impureza - "Fugi da impureza [prostituição]" (1 Co 6.18; Ef 5.3).

Relações sexuais ilícitas, uniões ilegítimas, imoralidade sexual, prostituição -


Dependendo da versão utilizada, a palavra porneia é traduzida dessa forma. A
Bíblia de Jerusalém usa a expressão "uniões ilegítimas" nos versículos de Atos
15.20, 29; 21.25. Em Mateus 5.32 e 19.9, usa o termo "fornicação".

Deus considera legítima a prática do sexo entre namorados, sem o vínculo


conjugal? Vejamos o que Paulo diz: "Mas, por causa da prostituição, cada um
tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido" (1 Co 7.2). O
apóstolo indica o leito conjugal como única forma de evitar-se o relacionamento
ilegítimo, seja usado o termo fornicação, impureza ou prostituição. Ou seja: para
que não cometam impurezas sexuais, casem-se. Mais adiante (v.9) ele arremata:
"Se não podem conter-se, casem-se; porque é melhor casar do que ficar ardendo
em desejos [abrasar-se]". Então, a única forma de darmos curso aos desejos
sexuais é no matrimônio: "Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem
como o leito sem mácula, pois aos devassos [os que se dão à prostituição] e
adúlteros Deus os julgará" (Hb 13.4). Logo, se os namorados não se sentem
seguros na guarda da virgindade; se não há como conter os impulsos sexuais,
melhor será que se casem.

"Se não podem conter-se..." - Esta condição revela a obrigatoriedade da


abstinência sexual antes do matrimônio. Com essas palavras Paulo adverte os
solteiros da necessidade de continuarem virgens. "Casem-se" - esta é a única
forma de o crente satisfazer seus desejos sexuais.

Não se encontra na Bíblia nenhuma palavra que dê apoio a uma relação sexual
fora do casamento. O conselho do apóstolo é que as "viúvas mais jovens se
casem, tenham filhos, administrem suas casas, e não dêem ao inimigo nenhum
motivo para maledicência. Algumas, na verdade, já se desviaram, para seguir a
Satanás" (1 Tm 5.14). Embora se saiba que o assunto diga respeito a um caso
específico na igreja de Corinto, a ênfase está no aconselhamento para que se
casem.

"Esta é a vontade de Deus para a vossa santificação: que vos abstenhais da


prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra; não no desejo da lascívia, como os gentios, que não conhecem a Deus" (1
Ts 4.3-5). Paulo compara a prostituição à lascívia. A palavra grega "epithymia" é
traduzida com o significado de "desejo incontrolado" (Lc 22.15); "concupiscência"
(Rm 1.24; 7.8; 13.14; Gl 5.16, 24; Ef 4.22; 1 Pe 4.3; 1 Jo 2.16,17), "inclinações da
carne", (Ef 2.3), "paixões carnais e mundanas (Rm 6.12; 2 Tm 2.22; 3.6; Tt 2.12;
3.3). E, como vimos anteriormente, "porneia" é traduzida como "prostituição",
"imoralidade", e "relações sexuais ilícitas". Logo, não cabe o argumento de que a
prostituição se refere tão somente ao comércio do sexo.

Com o título "Padrões de Moralidade Sexual", a Bíblia de Estudo Pentecostal


assim se define em alguns tópicos:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 278


"A imoralidade e a impureza sexual não somente incluem o ato sexual ilícito, mas
também qualquer prática sexual com outra pessoa que não seja seu cônjuge. Há
quem ensine, em nossos dias, que qualquer intimidade sexual entre jovens e
adultos solteiros, tendo eles mútuo "compromisso", é aceitável, uma vez que não
haja ato sexual completo. Tal ensino peca contra a santidade de Deus e o padrão
bíblico da pureza".

"O crente deve ter autocontrole e abster-se de toda e qualquer prática sexual
antes do casamento. Justificar intimidade premarital em nome de Cristo,
simplesmente com base num "compromisso" real ou imaginário, é transigir
abertamente com os padrões santos de Deus. É igualar-se aos modos impuros do
mundo e querer deste modo justificar a imoralidade. Depois do casamento, a vida
íntima deve limitar-se ao cônjuge. A Bíblia cita a temperança como um aspecto do
fruto do Espírito, no crente, isto é, a conduta positiva e pura, contrastando com
tudo que representa prazer sexual imoral como libidinagem, fornicação, adultério e
impureza. Nossa dedicação à vontade de Deus, pela fé, abre o caminho para
recebermos a bênção do domínio próprio: temperança (Gl 5.22-24)".

"Fornicação (gr. porneia), descreve uma ampla variedade de práticas sexuais, pré
ou extramaritais. Tudo que significa intimidade e carícia fora do casamento é
claramente transgressão dos padrões morais de Deus para seu povo (Lv 18.6-
30);20.11,12,17,19-21; 1 Co 6.18; 1 Ts 4.3)".

"A lascívia (gr. aselgeia) denota ausência de princípios morais, principalmente o


relaxamento pelo domínio próprio que leva à conduta virtuosa. Isso inclui a
inclinação à tolerância quanto a paixões pecaminosas ou ao seu estímulo, e deste
modo a pessoa torna-se partícipe de uma conduta antibíblica (Gl 5.19; Ef4.19;1 Pe
2.2,18)".

O sexo livre, descomprometido, interessa ao diabo, que tenta por todos os meios
invalidar o casamento instituído por Deus. O diabólico plano do Movimento Nova
Era trabalha nesse sentido, pois ensina a criação de colônias ou núcleos onde
todas as mulheres pertencem a todos os homens, e os filhos são criados pela
comunidade. Nos anos 60, os hippies deram o primeiro passo nesse sentido.

Devemos ser guiados não pelo ensino do sistema mundano, pelo deus deste
século, pelo modus vivendi dos devassos, incautos, incrédulos e inimigos da
Palavra: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). O crente deve andar na
contramão dos desobedientes. Tentar ajustar a Palavra aos nossos pecados é um
sinal de rebeldia e falta de compromisso com Deus. Devemos, ao contrário,
ajustar a nossa vida ao padrão da Palavra de Deus, como submissos à Sua
soberana vontade.

"Não imitareis os costumes do Egito, onde habistastes, nem os da terra de Canaã,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 279


para a qual vos conduzo, nem andareis segundo os seus estatutos. Praticareis os
meus juízos, e guardareis os meus estatutos, para andares neles. Eu sou o
Senhor vosso Deus" (Lv 18.3-4).

Sabemos que a depravação está sem limites; que as crianças, desde a tenra
idade, passam a receber uma enorme carga de mensagens eróticas; que elas
chegam aos doze, treze ou catorze anos com grande desejo de se iniciarem no
sexo; sabemos que a televisão, principalmente - afora teatros, livros, revistas,
danças e músicas profanas -, ensina e estimula o relacionamento sexual entre não
casados. Mas sabemos também que já saímos do Egito; que as vestes do velho
homem caíram na caminhada; que agora não somos nós que vivemos, mas Cristo
vive em nós; que fomos resgatados por elevado preço para um viver santo; para
que possamos dizer com Paulo:

"A minha ardente expectativa e esperança é de em nada ser confundido, mas ter
muita coragem para que agora e sempre, Cristo seja engrandecido no meu corpo,
quer pela vida, quer pela morte, pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro"
(Fp 1.20-21).

Parte 57.
SEXO E PECADO

"Geralmente, se ouve que há entre vós fornicação e fornicação tal, qual nem ainda
entre os gentios como é haver quem abuse da mulher de seu pai". (1 Co 5).

"Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula,
pois aos devassos e adúlteros Deus os julgará" (Hb 13.4).

A relação sexual ENTRE NÃO CASADOS é pecado, ainda que sejam namorados,
noivos ou comprometidos. O ADULTÉRIO, proibido pelo sétimo Mandamento (Êx
20.14), abrange os vários tipos de imoralidade e pecados sexuais. Homens e
mulheres, adolescentes, jovens e adultos, devem permanecer puros, abstendo-se
de qualquer atividade sexual que não seja no compromisso do matrimônio. "Fugi
da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o que
se prostitui peca contra seu próprio corpo". (1 Co 6.18).

Os jovens devem seguir o caminho estreito que leva à vida eterna. A mídia, os
amiguinhos, os ímpios, os entrevistadores televisivos sem compromisso com a
Palavra, afirmam que o sexo entre jovens é normal, principalmente quando há
compromisso formal. Esta é a palavra do mundo. Os cristãos verdadeiros não
fazem parte desse sistema mundano. Somos guiados, orientados e conduzidos
pela palavra de Deus.

Deus considera ilícito o ato sexual realizado entre não casados, e a isto dá-se
também o nome de imoralidade ou impureza sexual. Não só o ato sexual
propriamente dito deve ser evitado por quem deseja consagrar-se a Deus e
crescer em santidade; as carícias que envolvem toques e outras práticas impuras

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 280


não são compatíveis com a vida cristã.

No mundo atual o sexo é banalizado e não raro confundido com amor. Daí a
expressão "fazer amor" referindo-se a um relacionamento íntimo. A prática sexual
entre jovens está de tal forma disseminada que os líderes religiosos, desavisados,
negligentes, claudicantes, fracos na fé, ficam por vezes confusos e titubeantes no
aplicar corretamente a Palavra, no transmitir a orientação correta. Sucumbem
diante da avalanche de depravação e das práticas imorais. Casos há em que eles
próprios deixam-se levar pelo grito da carne. Tais desvios chegam ao ponto em
que denominações que se dizem cristãs acolherem homossexuais em suas
fileiras, não para os evangelizá-los; não para lhes combater a imoralidade; não
para indicar-lhes o caminho da santidade, mas para acariciar seus pecados; para
tolerar a perversão sexual que praticam.

Homens e mulheres, da Igreja de Cristo, devem permanecer castos, livres da


impureza sexual, até o casamento. Sei que essas palavras soam como uma
aberração nos ouvidos da maioria. As palavras do destemido João Batista também
soaram esquisitas aos ouvidos do rei Herodes: "Não te é lícito possuir a mulher do
seu irmão Filipe" (Mt 14.3-4). O precursor de Jesus foi encarcerado e perdeu a
vida, mas cumpriu a missão de anunciar a verdade, sem recuo, sem medo, sem
fraqueza, sem covardia.

O exemplo de João Batista deve ser seguido. Não devemos temer o esvaziamento
da congregação, a saída daqueles que não aceitam a correção. Os que assim se
comportam não são Igreja, não são Corpo. O que importa é dizermos a verdade.

Programas de televisão, danças sensuais, peças teatrais, revistas e filmes


pornográficos de várias formas produzem nos jovens uma erotização tal que aos
13 ou 14 anos - ou em até menos idade - são despertados para a prática do sexo.
Daí decorrem os abortos, as doenças, as crises conjugais e existenciais. A
televisão apresenta todos os dias programas especiais sobre sexo, ditos de
orientação sexual, ensinando aos adolescentes a livre prática sexual, a liberdade
total, com quem quiser, como quiser, desde que usem camisinha. Essa é a voz do
mundo depravado.

Todos os dias, também, devemos ensinar em nossas igrejas que a Palavra de


Deus mostra caminhos diferentes. Deixemos que o mundo, dominado pelo deus
deste século, proceda conforme a vontade de seu senhor. Mas nós, cristãos,
devemos fazer a vontade do nosso Senhor. E o Senhor Jesus disse: "Qualquer
que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com
ela" (Mateus 5.28). Deus recomenda que o ato sexual seja praticado entre
casados. "A imoralidade e a impureza sexual não somente incluem o ato sexual
ilícito, mas também qualquer prática sexual com outra pessoa que não seja seu
cônjuge. O adultério, a fornicação, o homossexualismo, os desejos impuros e as
paixões degradantes são pecados graves aos olhos de Deus por serem
transgressões da lei do amor" (Bíblia de Estudos Pentecostal, pg 1921). Vejam as
advertências:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 281


"Esta é a vontade de Deus para vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra; não no desejo da lascívia, como os gentios, que não conhecem a Deus" (1
Ts 4.3-5).

"Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e
serão ambos uma carne" (Gn 2.24). O sexo é permitido, então, somente quando
ambos, homem e mulher, estão unidos pelo matrimônio, formando uma só carne.

"Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem
impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas...herdarão o reino de Deus" (1 Co 6.9). "Com homem não te deitarás,
como se fosse mulher; é abominação"(Lv 18.22; 20.13).

Homossexualismo

O homossexualismo é assim denunciado por Paulo: "Por causa do que essas


pessoas fazem, Deus as entregou às paixões vergonhosas. Pois até as mulheres
trocam as relações naturais pelas que são contra a natureza. E também os
homens deixam as relações naturais com as mulheres e se queimam de paixão
uns pelos outros. Homens têm relações vergonhosas uns com os outros e por isso
recebem em si mesmos o castigo que merecem por causa da sua maldade" (Bíblia
na Linguagem de Hoje, Rm 1.26).

Deus criou HOMEM e MULHER e lhes dotou de órgãos específicos e


especialmente destinados à reprodução da espécie, chamados órgãos sexuais ou
genitais. "Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou.
MACHO e FÊMEA os criou" (Gênesis 1.27).

Homem e mulher possuem genitália apropriada à reprodução. Notem que Deus


não criou meio termo, não criou um ser humano que em determinado momento
pudesse assumir funções híbridas. Deus não criou um homem com possibilidades
sexuais de desempenhar o papel da mulher no ato sexual, e vice-versa. Ocorre
que a natureza pecaminosa em função da queda no Éden coloca o homem em
rebeldia contra Deus. Pela influência do diabo, o homem continua se rebelando
contra o Criador e Sua palavra. Daí as perversões na área sexual.

A homossexualidade surgiu em decorrência dessa rebeldia. Se o homem assume


postura própria de mulher; se a mulher assume funções próprias do homem no ato
sexual, caracteriza-se um comportamento contrário à vontade do Criador. Deus
nos criou para uma relação heterossexual. Dizer que quem nasce gay morre gay;
quem nasce lésbica morre lésbica; que se trata de uma opção sexual válida; que o
homossexualismo é uma opção dentre outras; que tudo é permitido desde que
satisfaça as partes envolvidas; que não existe pecado; que tudo é válido quando
existe amor; que o homossexualismo é genético e por isso irreversível; que a
única saída para os pais é aceitar a opção sexual de seus filhos, e tantos outros

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 282


argumentos semelhantes, são vozes de pessoas que não vivem segundo os
preceitos de Deus. São pessoas que estão sob o senhorio do mundo; são servos
do mundo; fazem a vontade do deus-diabo, que cegou-lhes o entendimento.

Parte 58.
SHALOM
Leitura Básica: Lucas 8.26-30; 35-39

Nosso propósito não é refletir sobre a natureza da enfermidade deste pobre


homem conhecido o "Endemoninhado Geraseno"; nem sobre o processo de cura
usado por Jesus Cristo. Na verdade, desejamos analisar os conceitos expostos
por uma palavra muito usada nas Escrituras, e que, geralmente, traduzimos como
"paz". É a palavra Shalom, tão utilizada em livros, jornais, revistas, camisetas,
canções e nomes de conjuntos vocais.

Shalom é um conceito muito rico que toca em todos os aspectos da experiência


humana porque experimentar shalom é conhecer a vida como Deus planejou que
fosse vivida. Queremos, então, usar a experiência deste homem da região de
Gerasa (modernamente na Jordânia) com Jesus como modelo do que acontece
quando o shalom de Deus toma conta da vida de alguém.

SHALOM COMO RELACIONAMENTO CONSIGO MESMO

Aqui está o Geraseno absolutamente alienado de si mesmo: "Perguntou-lhe


Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele
muitos demônios" (v.30).

Jesus pergunta seu nome, e o homem dá uma resposta que é, ao mesmo, sua e
dos espíritos imundos porque nesse caso são inseparáveis. O homem, cotado,
não tem um nome comum, nem um daqueles sonoros nomes hebraicos: Davi,
Moisés, José ou Salomão. Mas respondeu de acordo com o relato de Marcos:
"Legião é o meu nome, porque somos muitos" (5.9).

Há uma explicação para o desejo de saber o nome do homem por parte de Jesus.
Na cultura oriental, conhecer o nome de alguém era ter domínio sobre aquela
pessoa. Um exemplo pode ser lido em Gênesis 32.22-29, quando Jacó luta com o
anjo de Deus. Jacó diz o seu nome (v.27), mas o anjo não se dá a identificar (v.29)

Também a resposta do homem pode ser explicada. Uma legião no exército


romano tinha seis mil soldados. Para o geraseno, este nome representa o grande
número de demônios que o atormentavam.

Aqui está pessoa de hoje atormentada pelos espíritos imundos da ansiedade,


culpa e cansaço moral e espiritual, lutando batalhas que Deus já venceu por ele
ou por ela.. A mensagem do evangelho é que Deus trouxe shalom ao mundo, isto
é, um relacionamento correto que alguém pode ter consigo mesmo. Uma
sensação de paz e descanso, um senso de integridade pessoal.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 283


Shalom fala de um novo nascimento, de uma vida novinha em folha. E, muitas
vezes, mesmo um crente em Jesus Cristo vive uma vida de carga e de culpa,
porque apesar de Deus o haver perdoado, ele, o crente, ou ela, a irmã em Cristo,
ainda não se perdoou.

Para ilustrar o shalom como um relacionamento correto consigo próprio, ou o


senso de integridade restaurada, repassamos a experiência que tivemos em
ministrar a uma senhora da Igreja Hispana por nós pastoreada nos Estados
Unidos. Vamos chamá-la de Maria del Carmen.
Num domingo, apareceu na igreja com duas crianças, uma de dez e outra de nove
anos, e se sentaram uns cinco bancos depois dos bancos normalmente ocupados.
Eram suas filhas. Estávamos debatendo o assunto da EBD numa classe única, de
modo que, após a Escola Bíblica, convidei-a a vir sentar à frente. Veio.

Ao ser apresentada no Culto, explicou que era hondurenha, e era nova em Fort
Knox (enorme complexo do Exército Norte-americano) onde ministrávamos, pois
era casada com um militar norte-amaericano.

Cerca de uma semana depois, fomos, minha esposa e eu visitá-la. Em sua casa,
contou-nos sua história. Aos dezesseis anos, tivera sua primeira filha (agora com
dez anos) fora do casamento. Depois disso, sua vida fui pular de quarto em
quarto, tendo ficado grávida da segunda garotinha. Há mais ou menos um ano,
havia se casado com um sargento do exército que adotou suas duas filhas dando-
lhes o próprio sobrenome. Contou, ainda, que em Tegucigalpa freqüentara uma
igreja evangélica, mas nunca fizera uma decisão de seguir a Cristo por achar que
para ela não podia haver perdão. Era o gancho que eu esperava para entrar com
a ministração da Palavra.

Perguntei-lhe se tinha uma Bíblia. Respondeu afirmativamente e foi buscá-la.


Pedi-lhe que lesse 1João 1.8,9: "Se dissermos que não temos pecado nenhum,
enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de
toda injustiça". Indaguei-lhe se havia compreendido o que o texto dizia; destaquei
o fato de ela haver dito que sua vida fora de pecado, portanto, não ignorava o fato
de que precisava de perdão. Sua resposta foi que sim.
Em seguida, mencionei que o texto falava de confissão e que a purificação vem
desse sentimento de indignidade, dependência de Deus e entrega. Ela ficou
pensativa. Leu o texto outra vez, as lágrimas escorreram pela face morena, e ela
exclamou: "Alabado sea Dios, porque hay perdón para mi!" E o shalom de Deus, o
senso de inteireza se fez na sua vida, agora restaurada para o evangelho e lavada
pelo sangue de Jesus que nos purifica de todo o pecado.

Que aconteceu ao geraseno? A Escritura diz que após seu encontro com Jesus
não foi mais o mesmo. Ninguém é o mesmo depois de se defrontar com Jesus
Cristo. Os pastores em Belém não foram mais as mesmas pessoas depois de
verem a Jesus (Lc 2.20). Leprosos, paralíticos, outros deficientes físicos não foram

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 284


mais os mesmos depois de serem tocados por Jesus (Lc 5.13; 6.10). A mulher
samaritana não foi mais a mesma depois de conversar com Jesus.

Ninguém é mais o mesmo depois de experimentar a dimensão de recobrar sua


própria integridade, pois integridade em todos os níveis. Inteireza, plenitude,
shalom, em todos os níveis.

SHALOM COMO RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO

Na história do geraseno, aprendemos que sua residência era entre os túmulos.


Havia uma crença popular que cemitérios, florestas, jardins e casas vazias eram
assombradas por demônios. O geraseno vivia entre os túmulos e nas montanhas
sempre gritando e se ferindo com as pedras. Era uma pessoa alienada de sua
família e de sua comunidade. Não tinha vida social, era violento e incontrolável.
Para ele, não havia diferença entre dia e noite. Seus gritos eram ouvidos todo o
tempo na cidade.

Shalom como dom de Deus tem muito a ver com o amor. Não é de impressionar
que em seu progresso e avanço, o ser humano se encontra com o espaço sideral
mas não com o seu semelhante? Isso porque o homem vê no outro uma ameaça,
e esse medo do outro explica as tensões, conflitos raciais e sociais, e assim por
diante.

Para esclarecer este ponto de shalom como um relacionamento correto com o


outro, registramos a história do Evangelista Narciso Lemos, um ex-cangaceiro.

Logo após o desaparecimento dos bandos de cangaceiros no nordeste de nosso


país, um destes ex-cangaceiros conheceu o evangelho e, tendo sido convertido
pela ação do Espírito Santo, dedicou-se à venda de Bíblias e Novos Testamentos
(colportagem) e à evangelização. Seu nome Narciso Lemos.

Reunida uma assembléia convencional no Rio de Janeiro, Narciso deu seu


testemunho de conversão, narrando fatos de sua vida de bandidagem nas terras
pernambucanas. Após a reunião, uma senhora aproximou-se dele identificando-se
como sendo pernambucana e indagando se conhecia uma fazendo por nome
Zumbi, naquele estado. "Sim, conheci", respondeu Narciso. "Então, conheceu um
homem chamado João Caboclo, dono daquela fazenda". Resposta positiva do ex-
cangaceiro. Diz a nossa irmã que João Caboclo era seu pai, e havia sido
assassinado por um cangaceiro, e começou a chorar. E Narciso Lemos, homem
acostumado à rudeza da vida de cangaceiro e de sertanejo, também começou a
chorar. A surpresa irmã nossa diz-lhe: "Um momento... eu estou chorando porque
meu pai foi brutalmente morto, mas por que o senhor está chorando?" Resposta
de Narciso: "... Porque fui eu quem... matou... seu pai".

Que terror na face da jovem senhora, que deu um passo atrás. Narciso a segura e
pelos braços, e diz "Mas o que eu fiz foi na ignorância em que vivia sem conhecer
o amor de Deus e a salvação em Jesus Cristo. Agora sou uma nova criatura. A

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 285


irmã me perdoa?" Alguns segundos de hesitação e aquela senhora crente abraça
o assassino de seu pai, agora seu irmão na fé em Cristo Jesus, e diz: "O sangue
de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado..." Esse relato faz compreender Isaías
11.6: "O leão viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro,
o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará"

Quanto ao geraseno, ele expressou o desejo de acompanhar Jesus, o Qual, no


entanto, ordenou-lhe voltar para casa e lhe deu uma missão e uma
responsabilidade social: contar à família o que Deus tinha feito em seu favor.

SHALOM COMO RELACIONAMENTO CORRETO COM DEUS

Shalom é um processo divino porque é um estado de reconciliação com Deus. O


geraseno estava alienado de Deus. Lucas recorda sua exclamação quando ele viu
a Jesus: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não
me atormentes" (8.28).

Sem o shalom de Deus perde-se a dimensão espiritual da vida, e as


preocupações se tornam puramente materiais. Essa é a razão porque Jesus nos
ensinou a buscar primeiramente o reino de Deus e sua justiça, porque as outras
coisas seriam igualmente nossas (cf. Mt 6.33).

O mundo está enfermo, e seu mal se chama pecado e os sintomas dessas


enfermidade são a ira, a luxúria, o deboche, o preconceito e outros tantos que se
manifestam dia a dia.

Lucas nos diz que o geraseno teve seu relacionamento com Deus corrigido, e
adquiriu um novo horizonte, uma nova missão, e um novo propósito para sua
experiência espiritual. Esse é o motivo porque logo adiante está dito que "... ele foi
apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito" (v. 39b).
Uma claríssima verdade do evangelho: o shalom de Cristo acalma as tempestades
da alma, o cansaço espiritual e traz harmonia à vida.

O shalom do evangelho começa por um encontro com Jesus. Assim aconteceu


com Nicodemos, o erudito mestre judeu; assim aconteceu com a mulher
samaritana, e tudo nos ensina que não importa quão correta é uma pessoa ou
degradada nas suas circunstâncias de vida, Deus ama a todas. Paulo declara
essa suprema verdade ao dizer que "[Cristo] é a nossa paz", é o nosso shalom (Ef
2.14).

Parte 58.
SUPERFICIALIDADE

Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos
mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que, edificando uma
casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs os alicerces sobre a rocha; e vindo a
enchente, bateu com ímpeto a torrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 286


tinha sido bem edificada. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um
homem que edificou a su a casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com
ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa" (Lc 6.47-49)

Uma pequena trova escrita por Cleómenes Campos e intitulada Fábula diz:

No começo do mundo, quando tudo falava,


um Monte, certo dia, interrogou a um Vale,
a quem mal conhecia:
- "Quem é mais alto de nós dois?"
O vale respondeu-lhe admirado, depois:
- Eu só sei te dizer quem é o mais profundo...

É o nosso assunto: a superficialidade do Monte e a profundidade do Vale. Vamos


trazer três temas em que, lamentavelmente, o cristão pode ser muito superficial.
Adoração é o primeiro.

ADORAÇÃO SUPERFICIAL (Ez 33.30-32)

Vamos a Ezequiel 33, versos 30 a 32: "Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do
teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o
outro, cada qual a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra
que procede do Senhor. E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam
diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por
obra; pois com a sua boca professam muito amor, mas o seu coração vai após o
lucro. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de quem
tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as
põem por obra."

O registro bíblico relata que a palavra do Senhor veio a Ezequiel, o profeta. A


circunstância do seu ministério era a seguinte: os judeus estavam sem vida
nacional, sem pátria, sem Templo, e exilados na Babilônia. A eles, Ezequiel
dedicou os melhores anos da sua vida, pois fora levado para aquela terra com as
classes socialmente mais elevadas da nação judaica em 598 a.C.

Durante cinco anos, ficaram os dez mil judeus no exílio, até que, em 593, Ezequiel
iniciou o seu ministério profético. Condenava ele na sua pregação as predições
dos falsos profetas, que falavam de um breve retorno dos exilados a Jerusalém. É
neste contexto, que surge uma condenação à presunção de Israel e à quebra das
leis rituais e de pureza. É somente ler Ezequiel 33.25: "Dize-lhes portanto: Assim
diz o Senhor Deus: Comeis a carne com o seu sangue, e levantais vossos olhos
para os vossos ídolos, e derramais sangue! Porventura haveis de possuir a terra?"

Por outro lado, a atenção é colocada nos remanescentes do Egito, e Ezequiel, ele
mesmo, se tornou um ídolo, visto que era um extraordinário pregador! Quando
falava, todos se encantavam com suas bonitas e profundas palavras, e com as
vigorosas imagens. Sem dúvida, Ezequiel era uma atração para o povo, e tratado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 287


como uma celebridade. Todos falavam elogiosamente dele; era um verdadeiro
ídolo popular; é assunto de conversas, aplaudido, admirado, procurado.

Nessa situação chega a advertência divina sobre a adoração, o louvor e o culto


superficial. O que o Senhor está dizendo em Ezequiel 33.30ss é o que o pregador
é ouvido como quem ouve um concerto ("Ah, vai haver uma apresentação na
Concha Acústica Sábado vindouro; vamos?", e o povo vai). E assim acontecia
com Ezequiel: era muito procurado, e ouvido como se ouve um concerto. E
quantos irmãos nossos, infelizmente, vêm à igreja porque a cantora Fulana de Tal
vai cantar. Não é precisamente o que diz o texto?

"E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu
povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois com a sua boca
professam muito amor, mas o seu coração vai após o lucro. E eis que tu és para
eles como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave, e que bem
tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra" (vv. 31, 32).

As palavras do pregador passam sobre as cabeças das pessoas, mas não


permanecem. E o povo, segundo o texto, escutava bem, e falava até com muito
carinho daquele extraordinário pregador chamado Ezequiel (v. 31). Só tem uma
coisa: esse mesmo povo que ouvia com tanta ansiedade era traído pelas ações,
porque a prioridade era o lucro. Ninguém tinha interesse em cumprir a vontade de
Deus; ouvia apenas, e apenas ouvia, e mais nada. Mas ninguém tinha interesse
em praticar a Palavra do Senhor.

Interesse, intelectual ou teológico não é sinal de adoração. Se a pregação não


leva à prática, falhou: "E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos" (Tg 1.22). O culto superficial discute a pessoa do
mensageiro, do pregador
("Parabéns, Pastor, o sermão foi maravilhoso!", ou então, "Pastor, o senhor se
esqueceu de falar de tal assunto assim e assim"). Em lugar da mensagem,
discute-se o pregador. Ouvir é fácil, obedecer é outra história; receber a
mensagem é agradável, difícil é criar novos hábitos a partir do que se ouve é
atualizá-la a partir do que partiu do púlpito.

É possível ouvir a Palavra do Senhor, até com atenção, porém minimizá-la. E isso
pode acontecer pelo menos de duas maneiras: pela resistência (ouve-se a
Palavra, mas se resiste a ela), ou tendo sua eficácia invalidada (você não acredita
que seja transformadora porque é buscada apenas como recurso de oratória, é
uma peça artística, ou uma distração momentânea, ou modo de passar uma parte
da manhã ou da noite, um hábito).

A Palavra de Deus há de ser acolhida e transformada em ação. Há inúmeros


exemplos a propósito (cf. Dt 18.21: Jr 28.9; Is 55.6-11; 5.1-6). Jesus Cristo
ensinou que o culto divino se dá "em espírito e em verdade"(Jo 4.24). É adoração
que tem a ver com a vida, com a conduta, com o caráter do cultuante. Não é
formal, é vital; não é material, é espiritual. É participação pessoal do crente, razão

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 288


porque o crente não "assiste" ao culto (não é linguagem correta, não!), ele
participa do culto. Há quem diga "Vou assistir o culto na Igreja Tal" (comete dois
pecados: um contra a gramática porque deve ser "assistir ao", e outro contra a
prática teológica, porque o crente em Jesus Cristo não "assiste ao culto", mas
"participa do culto").

Ele se envolve no culto em louvor, em dedicação, sem barreiras e sem reservas


porque o local do culto é transformado num santuário, não num teatro, não num
circo não num auditório qualquer. E, aí, fazemos do louvor um exercício de fé, de
amor, um ato de gratidão, de entrega, de harmonia, de unanimidade. Por isso que,
no culto evangélico, a função não é só do pastor, ou do pregador, mas do povo, o
que faz lembrar 1Crônicas 25. 1,3:

'Também Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o serviço


alguns dos filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedútun, para profetizarem com
harpas, com alaúdes, e com címbalos. Este foi o número dos homens que fizeram
a obra segundo o seu serviço: De Jedútun, os filhos de Jedútun: Gedalias, Zeri,
Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, a cargo de seu pai, Jedútun, que profetizava
com a harpa, louvando ao Senhor e dando-lhe graças".

Observaram? Davi era o rei, os capitães do exército eram militares, e eles


separaram para o serviço alguns dos filhos de Asafe, que eram músicos, e de
Hemã, que eram músicos, e de Jedútun, que também eram músicos "para
profetizarem com harpas" e outros instrumentos. No final do verso 3 diz que entre
eles estava o já mencionado "Jedúton, que profetizava com a harpa, louvando ao
Senhor e dando-lhe graças". Isso quer dizer que a música no culto não é apenas
um acessório, ou um modo de separar a leitura da Bíblia do sermão. A música no
culto é profecia; é pregação, e assim precisa de ser encarada. Não pode ser de
qualquer maneira, não pode ser de improviso, não pode ser de última hora, mas,
sim, muito bem preparada, uma grande música para um grande Deus.

Adoração em profundidade compreende que o santuário principal onde habita o


Espírito Santo de Deus é o da vida interior, onde cada cristão exerce um
permanente sacerdócio (cf. Rm 12.1).

Esse o primeiro tema, e agora vamos ao do

ALICERCE SUPERFICIAL (Lc 6.47-49)

No Sermão do Monte, ou, no Sermão da Planície (cf. Lc 6.17), depende do ponto


de vista, está narrado que dois homens resolveram construir as suas casas. Um a
construiu sobre bom alicerce: era uma rocha firme e segura; o outro, sobre a areia,
alicerce, portanto, inadequado e defeituoso. E o contraste entre esses dois
homens está em que um fez do alicerce uma questão de planejamento, enquanto
o outro não pára para pensar, e levanta a sua casa de qualquer maneira. O
primeiro é cuidadoso, planejador, esmerado, meticuloso, mas o outro foi irrefletido,
desatento e superficial. O prudente olha para o futuro; tem, até, dificuldades, tem

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 289


momentos suados para encontrar a rocha, ele prevê as tempestades e toma
cuidado. Mas o outro é imediatista: se está bem hoje, não precisa se preocupar
com o amanhã, não pensa no futuro, e só olha para as aparências.

Não é interessante que as circunstâncias da vida são exatamente as mesmas? Os


dois homens ouvem as mesmas palavras, os dois constróem o mesmo tipo de
casa, os dois sofrem do mesmo problema (a tempestade que se abatem), mas o
resultado foi diferente por causa dos alicerces. Afinal, cavar, abrir vala profunda,
lançar alicerce sobre a rocha é obra essencial para construir solidamente, mas
demanda tempo, requer trabalho pesado. Mas há quem evite isso, não quer muito
trabalho. Mas, na enchente, a casa vai ser derrubada, e o trabalho pesado vai
valer a pena.

O paralelo com a vida espiritual é claríssimo. Um apreciado escritor, A.W. Tozer


,diz que nós vivemos numa época em que tudo é instantâneo: café instantâneo,
leite instantâneo, sopa instantânea, comidas congeladas, e não é que já existe um
cristianismo instantâneo também E esse já conhecemos: é o evangelho sem
alicerces, é o evangelho sem fundações, é aquele que dispensa o passado, e dá
apenas uma "idéia" do futuro, e ao chamado "cristão" oferece liberdade para
seguir o que quiser, pensar o que desejar sem barreiras, sem restrições e sem
limites. O evangelho instantâneo e superficial abafa o anseio de progresso
espiritual. E estamos envolvidos tantas vezes por essa qualidade de evangelho
apenas num certo momento, e logo saio dele, e já nada mais sou, não tenho
esperanças mais! Para que construir se posso comprar pronto? É o evangelho
sem levar a cruz, é o evangelho sem sofrimento, e sem obediência, é o evangelho
do conforto! E como estão pregando por aí o evangelho que não tem sofrimento...

No entanto, toda a experiência dos grandes servos de Deus, inclusive Paulo, e


mesmo, Jesus falava de sofrimento, de sangue transformado em suor! "Evangelho
de conforto", esquecido de que Cristo não tinha sequer onde reclinar a cabeça... É
o evangelho à moda do Gérson ("Leve vantagem você também"), do lucro rápido,
da facilidade, de passar à frente dos outros, evangelho sem crescimento,
evangelho da complacência. Porque é mais fácil, muito mais fácil orar "Senhor,
ajuda-me a levar a minha cruz"do que tomar a cruz e seguir a Cristo, como Ele
mesmo ensinou.

Porém, temos o alicerce da iluminação do Espírito Santo, temos o alicerce da


humildade, o alicerce da fé, e da oração, e da meditação, e da reflexão na
Escritura, o alicerce da obediência. Realmente, as casas construídas são os
nossos caracteres. E caráter não se constrói nas cerimônias, nem nos ritos, nem
nos sentimentos, nem nas emoções da hora. O segredo da segurança é um
caráter construído na rocha firme, na palavra e na pessoa de Jesus Cristo!

Temos o tema do doutrinamento.

DOUTRINAMENTO SUPERFICIAL (Ef 4.14)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 290


Efésios 4.14 diz: "Para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao
redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia
tendente à maquinação do erro". Esse é o problema de ter convicções apenas na
epiderme, pois convicções superficiais não levam à maturidade.

E aí a pergunta: irmão amado, querida irmã que crê você, ensina e vive sobre
Deus, sobre Jesus Cristo, sobre o Espírito Santo, sobre a salvação, sobre o reino
de Deus? Que crê você sobre a Igreja e sua tarefa evangelizadora? Que crê sobre
a vida futura? E sobre a Bíblia como guia da vida? E, nesse ponto, quero lembrar-
lhe que doutrinamento superficial, epidérmico, leva ao desequilíbrio religioso. Há
um livrinho muito interessante e esclarecedor editado pelo Dr. Wayne Oates,
professor da Escola de Aconselhamento Pastoral do Seminário Teológico Batista
do Sul dos EUA. O título é Quando a Religião Fica Doente (When Religion Gets
Sick). Ali, fala o autor sobre psicopatias em nome da religião, e, mesmo, em nome
de Cristo, os desvios de comportamento em nome do evangelho, as neuroses e os
fanatismos.

Maturidade cristã deve ser adquirida por uma fé em Jesus Cristo que seja
inteligente, pois há de ser baseada no conhecimento (Ef 4.13), para não se tornar
fanática; verdadeira fé resulta de convicção, de profunda consciência da verdade.
Maturidade cristã há de ser desenvolvida pela imitação de Cristo, e mantida e
fortalecida por constante fidelidade ao Mestre; é um crescimento contínuo na
verdade e amor do Salvador (Ef 4.15,16).

O tema de Efésios 4.13-16 é crescimento, reconhecido, bem como a profundidade


das convicções, pelo fato de que os crentes não permanecerão crianças
espirituais (cf. v.13). Não faltará estabilidade, equilíbrio e senso de direção quando
sujeitos às tensões e pressões da vida. Haverá uma nova visão, um novo
horizonte espiritual, pois as coisas espirituais só se discernem espiritualmente
(1Co 2.14,15).

Adoração superficial, caráter superficial, convicções periféricas precisam de ser


superados. Que em nossa vida de crentes em Jesus Cristo não se apliquem as
palavras de Francisco Otaviano em sua trova Ilusões da Vida, aqui parodiada com
uma pequena alteração:

Quem passou pela vida em branca nuvem


E em plácido repouso adormeceu;
quem não sentiu o frio da desgraça,
quem passou pela vida e não sofreu
foi espectro de crente, não foi crente:
só passou pela vida: - não viveu!

Parte 59.
UMA DOR RECUPERADA - PARTE 2
CASOS BÍBLICOS - No Antigo Testamento

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 291


Há três casos de pessoas no Antigo Testamento que perderam seus filhos
Batseba (2Sm 12.15-23)
Temos a história de uma criança nascida como conseqüência de um adultério e
que terminou em homicídio. O texto bíblico diz que a criança foi atingida com uma
doença fatal, e Davi, seu pai, iniciou uma experiência de luta com Deus pela vida
do filho. Ele passava os dias em oração, jejum e penitência. Digno de nota é que a
experiência de dor de Davi se encerra com a morte do menino.

H. W. Hertzberg em seu comentário de 1 e 2Samuel sugere que após isso, “com a


absolvição pronunciada sobre Davi e a morte de seu filho seus pecados são
considerados expiados”, opinião que é respaldada por R. D. Gehrke que vê a
morte do bebê como garantia pessoal de perdão de seus pecados. A isso,
Hertzberg completa, “a criança foi como que aceita como um sacrifício”. A dor de
Batseba não é mencionada exceto no v. 24, que diz que o rei, seu marido, a
confortou.

A Viúva de Sarepta (1Reis 17.17-24)

Elias estava em Sarepta como hóspede na casa de uma viúva carente, quando o
jovem da casa ficou enfermo. Na sua teologia, como corrente na época, a viúva
entendeu que a doença era devido a castigo por pecado oculto. Neste sentido, ela
expressou sua dor: “Então disse ela a Elias: Que tenho eu contigo, ó homem de
Deus? Vieste tu a mim para trazeres à memória a minha iniqüidade, e matares
meu filho?” (cf. v.18). Em vez de ser a mãe, é o profeta Elias quem ora pela vida
do rapaz: “E, clamando ao Senhor, disse: ó Senhor meu Deus, até sobre esta
viúva, que me hospeda, trouxeste o mal, matando-lhe o filho?” (v.20).

A Sunamita (2Rs 4.15-37)

É a história do nascimento de uma criança na casa de pais idosos como


recompensa pela hospitalidade. Quando o menino cresceu, morreu
repentinamente. A dor de sua está expressa nos versos 27 e 28: “Mas quando
chegou junto a Eliseu, no monte, caiu com o rosto em terra, e agarrou-se aos seus
pés. Geazi aproximou-se para tentar afastá-la, mas o profeta disse-lhe: Deixa-a
em paz; a sua alma está carregada de amargura, e o Senhor não me disse o que
se passa. Depois ela falou: Foste tu quem me disse que havia de ter um filho. E eu
pedi-te que não me enganasses!” (O Livro).

No Novo Testamento

Ocorrem, igualmente, situações do mesmo porte nos registros evangélicos. A


Viúva da cidade de Naim (Lc 7.11-16)

É narrada a história do funeral de um jovem arrimo de família. Sua mãe era uma
viúva, e sua aflição é atestada no verso 13 quando Lucas, o evangelista,
menciona suas lágrimas: “Logo que o Senhor a viu, encheu-se de compaixão por
ela, e disse-lhe: Não chores”.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 292


Jairo, o chefe da sinagoga (Lc 8.40-42, 49)

A filha única de doze anos do Rosh da sinagoga de Cafarnaum havia falecido.


Jairo volta sua fé para Jesus, Senhor da vida e da morte. O ambiente está muito
carregado de tristeza, emoção e dor, como atesta o verso 52: “E todos choravam e
pranteavam; ele, porém, disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme.”

Maria (Jo 19.25, 28-30)

O Quarto Evangelho é o único que menciona Maria, mãe de Jesus, junto à cruz.
William Barclay esclarece que “Talvez ela não pudesse entender, mas podia amar.
Sua presença lá era a coisa mais natural do mundo para uma mãe. Jesus podia
ser um criminoso aos olhos da lei, mas era seu filho.”

SUAS RECOMPENSAS

O estudo de cada caso mostra que sempre há uma solução direta ou indireta da
parte de Deus.

Batseba

A solução está em 2Samuel 12.24b: “E teve ela um filho, e Davi lhe deu o nome
de Salomão. E o Senhor o amou”. Uma triste e enlutada Batseba foi confortada
por Davi gerando um filho que foi posto no lugar do que havia perdido.
Há uma paralelismo antitético entre os relatos das duas crianças. A criança morta
“desagradou ao Senhor” (2Sm 11.27b), e Salomão “o Senhor o amou” (2Sm
12.24b). Deste modo, Deus substituiu a criança morta de um relacionamento
incorreto pelo “filho da paz”, que é o significado de sh’lomo (Salomão) da raiz
shalom, que é “plenitude, integridade e paz”. O profeta Natã dá à criança o nome
de Jedidias, que tem como significado “amado do Senhor”.

A Viúva de Sarepta

Declara a Escritura (1Rs 17.22) que o espírito da criança retornou, porque o


Senhor ouviu a voz do profeta. A aflição da viúva foi transformada em alegria por
causa das palavras de Elias, “Vês aí, teu filho vive” (v. 23). A Sunamita

Também o seu filho foi ressuscitado (2Rs 4.34,35). Sua dor foi aliviada pelas
palavras de Eliseu, “Toma o teu filho” (v. 36). A Viúva da cidade de Naim

Lucas 7.14,15 mostra como Jesus enxugou as lágrimas e a tristeza trazendo o


jovem à vida. Jairo

Sua filha teve o espírito de volta. A ordem simples e firme, “Menina, levanta-te” (Lc
8.54) foi o bastante. Evidencia-se nela Jesus, o Senhor da vida e da morte. Maria

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 293


Seu Filho voltou à vida pela ressurreição e vitória sobre a morte (Lc 24.1-10). Em
todas estas histórias, há uma evidente prova do amor e cuidado de Deus. Sim,
Deus tem uma solução para a tristeza, a aflição e a dor. LIÇÕES

Da experiência da dor e sofrimento, vêm-nos relevantes lições. O sofrimento


é real

Os psicanalistas chamam de depressão reativa, e dizem que passa por três


etapas: choque, sofrimento e recuperação lenta. A Bíblia tem o seu lugar como
Palavra de Deus e recurso terapêutico no todo desta experiência. A própria Santa
Palavra deixa esclarecido que isso ocorre “para que, pela constância e pela
consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4)

Uma excelente passagem para pessoas que estão magoadas e em sofrimento


base para um momento de oração com a pessoa perturbada.

A tristeza não é para ser evitada

De fato, a pessoa que está em dor precisa expressar o seu sofrimento tanto
através das lágrimas quanto falando a respeito do que sente. Outros sentimentos
como hostilidade e culpa precisam ser expressos em palavras.

Joshua Liebman apresenta leis para a administração dos casos de pesar, sendo
que a primeira que alguém deve expressar tanta dor como realmente a sente: não
ficar envergonhada de suas emoções.

A dor mostra que quem sofre está vivo O próprio fato da tristeza, depressão e dor
é uma demonstração que o aflito está vivo, e deve permitir que a sua humanidade
aflore e se desenvolva. 2Coríntios 4.16-18 é um excelente lembrete desse fato:
“Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja
consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um
eterno peso de glória; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas
que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não
vêem são eternas.”

As pessoas, inclusive os fiéis, podem dirigir sua raiva para Deus quando sentirem
um grande sofrimento. Jó é um exemplo disso: “Clamo a ti, e não me respondes;
ponho-me em pé, e não atentas para mim. Tornas-te cruel para comigo” (30.20). É
igualmente o caso de Jonas (“perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por
causa da aboboreira? Respondeu ele: É justo que eu me enfade a ponto de
desejar a morte”, 4.4). Expressões semelhantes podem ser encontradas nos
Salmos (10.11; 13.1; 44; 74).

Interromper as orações é uma deixa para a ira em relação a Deus. Mas de tudo
isso podemos aprender que Deus é amor e que Ele cuida de nós. Apesar de Jó
estar zangado com Deus, é chamado de “íntegro e reto, que temia a Deus e se

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 294


desviava do mal” (1.1). Deus é digno de confiança porque é amor, e cuida porque
somos seus filhos. O Salmo 37.5-5 nos oferece uma excelente plataforma de Deus
em relação a nós:

“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. E ele fará
sobressair a tua justiça como a luz, e o teu direito como o meio-dia. Descansa no
Senhor, e espera nele; não te enfades por causa daquele que prospera em seu
caminho, por causa do homem que executa maus desígnios.”

Quando nos entregamos a Ele, a solução vem;


Ele fará a justiça e o direito da pessoa sobressair como a luz;
Nele podemos esperar e ficar descansados.
Quem está perturbado precisa de apoio
Há necessidade por parte do enlutado, aflito, dolorido e deprimido de apoio
espiritual, moral e emocional de outras pessoas. Sobre esse assunto, Paul Irior
reflete que “Quando nos defrontamos com uma pessoa enlutada logo após a
perda [de um ente querido], podemos encontrá-la em um silêncio fora do comum
que devemos respeitar.”
Nessa linha, o livro de Jó diz que quando seus amigos o viram na situação em que
se encontrava, sentaram-se com ele no solo em silêncio por uma semana “pois
viam que a dor era muito grande” (2.13).

Quem está perturbado precisa de paz

Harriet Schiff esclarece esse ponto ao dizer que “as pessoas mais afortunadas são
as que podem encontrar paz no conceito de que seus filhos estão com Deus”.
Sem dúvida, este é um tema que só pode ser considerado à luz da fé.
Necessitamos de uma fé que seja maior que a nossa dor; que a coragem
aceitação, mudança, serenidade e sabedoria não sejam apenas idéias, mas
expressões reais em nossa experiência com Deus. Ou para colocar tudo em
ordem fazer a oração de Reinhold Niebuhr que diz
“Meu Deus, concede-me a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar,
a coragem de mudar as coisas que posso
e a sabedoria de perceber a diferença.
Vivendo um dia de cada vez;
apreciando um momento de cada vez;
aceitando os reveses como caminho para paz;
percebendo, como Jesus fez,
este mundo perverso como ele é,
não como eu gostaria que fosse;
confiando que endireitarás as coisas,
se eu me entregar à tua vontade;
para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida
e supremamente feliz contigo para sempre na outra.
Amém.”

Sim, antes que me esqueça: cerca de dois anos depois deste incidente, Yolanda e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 295


Kevin se alegraram com a chegada de Yasmina, linda branquinha de cabelos
negros como a graúna, mistura perfeita das duas etnias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARCLAY, William. The Gospel of John. Ed. Rev. Philadelphia, Westminster,


1956.
BERNSTEIN, Joanne E. Loss and How to Cope with it. NY, Seabury, 1977.
BORG, Susan e LASKER, Judith. When Pregnancy Fails. Boston, Beacon, 1981.
DEFRAIN, John et al. (Orgs). Coping with Sudden Infant Death. Lexington,
Lexington Books, 1982.
DONNELLY, Katherine Fair. Recovering from the Loss of a Child. NY, McMillan,
1982.
GEHRKE, R.D. 1 & 2 Samuel. St. Louis, Concordia, 1968.
GRAY, John. I & II Kings – a commentary. 2ª Ed. Rev. Philadelphia, Westminster,
1970.
HERTZBERG, H.W. I and II Samuel – a commentary. Philadelphia, Westminster,
1964.
IRIOR, Paul E. “The Church and the Bereaved”. In: REEVES, Robert B. et al.
(Orgs.). Pastoral Care of the Dying and Bereaved: selected readings. NY, Health
Sciences, 1973.
JIMENEZ, Sherry Lynn Mims. The Other Side of Pregnancy. Englewood Cliffs,
Prentice-Hall, 1982.
KREIS, Bernardine e PATTIE, Alice. Up from Grief. NY, Seabury, 1969.
LESTER, Andrew D. Coping with your Anger. Philadelphia, Westminster, 1983.
LIEBMAN, Joshua Loth. Peace of Mind. NY, Simon and Schuster, 1946.
OATES, Wayne E. The Bible in Pastoral Case. Philadelphia, Westminster, 1953.
OGLESBY JR., William B. Biblical Themes for Pastoral Care. Nashville, Abingdon,
1980.
SCHIFF, Harriet Sarnoff. The Bereaved Parent. NY, Crown, 1977.
(Estudo baseado em Monografia Verbatim apresentada em seminário de
doutorado)

Parte 60.
UMA DOR RECUPERADA - PARTE 1

Fui pastor de uma Congregação Hispana nos Estados Unidos. Cerca de setenta
pessoas freqüentavam os seus trabalhos. Entre os membros batizados estava a
jovem esposa de um militar norte-americano, Yolanda (os nomes são fictícios),
com 27 anos de idade. Ela era do Panamá, onde ele havia servido, e haviam se
conhecido. Ele não era batizado nem freqüentava as reuniões.

Yolanda estava esperando pela segunda vez um bebê, pois havia abortado na
primeira gravidez cerca de um ano e meio antes. Ela estava tendo um severo pré-
natal.

Recebi uma chamada interurbana de uma das senhoras numa quarta-feira pela

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 296


manhã relatando que Yolanda havia dado à luz um menino, e estava no Hospital
Militar de Fort Knox. a cidade onde a Congregação se situa, Radcliff, fica a cerca
de uma hora de automóvel de Louisville, Kentucky.

Minha esposa e eu decidimos visitá-la antes do nosso estudo bíblico semanal, e


nos dirigimos à maternidade. Ali chegando, soubemos que fora prematuro, e que o
bebê tinha problemas de circulação. De fato, uma cirurgia fora realizada no dia
seguinte ao nascimento. O esposo de Yolanda, Kevin, estava com ela, e explicou-
nos o que havia acontecido com o neném. Oramos, e saímos.

No sábado seguinte, estávamos realizando visitas a alguns membros e


interessados da Congregação, e decidimos telefonar para Yolanda ou para Kevin.
Ele atendeu, e quando perguntamos sobre a saúde do bebê, ele passou o telefone
para a esposa. Ela nos disse que a criança havia falecido na quinta-feira, e seria
sepultada na segunda-feira. Dissemos-lhe que estaríamos com eles em poucos
minutos, visto que estávamos na área.

Toda informação que tínhamos acerca de Yolanda nos foi dada pelo ex-pastor da
Missão (brasileiro, por sinal). Sabíamos que quando ela e Kevin se casaram, nem
podiam conversar: ela não falava inglês, e ele não falava espanhol. Tiveram um
seriíssimo problema de comunicação nos primeiros meses de casados, e o ex-
pastor teve que interferir muitas vezes para acalmar a situação, e servir de
mediador traduzindo de uma língua para a outra.

Havíamos conhecido Kevin quando a visitamos no hospital, porque numa visita


anterior ele estava de serviço no quartel, e ela nos mostrara a sua foto.

A conversa com eles foi muito carregada de dor e mágoa. Quando entramos no
pequeno apartamento do casal, ele estava à mesa almoçando e não se levantou,
mas assegurou-nos que estaria conosco em alguns minutos.

Pedimos a Yolanda que nos contasse o que havia acontecido. Com uma voz muito
pausada, ela narrou que o bebê havia passado pela cirurgia, e que, apesar de
passar bem a quarta-feira, falecera no dia seguinte, e repetiu a expressão (“si, él
murió...). A essa altura, Kevin havia se reunido ao grupo, por isso, fiz-lhe a
pergunta em seu idioma. Disse-nos, então, que a criança havia tido problemas de
circulação, razão porque fora operada. Relatou que o médico havia prevenido que
a criança teria estes problemas por, pelo menos, dois anos. Como o estado havia
se agravado, não resistira.

Dissemos que compreendíamos a dor do casal, e que, em vez de palavras


humanas, melhor seria prestar atenção à Palavra de Deus. Lemos o Salmo 42,
chamando a atenção para o verso 6a, “Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma
está abatida”. Yolanda tinha lágrimas nos olhos.

Asseguramos-lhe que não queríamos insistir na dor e na tristeza, mas, sim,


mostrar que Deus nos ama e quer o nosso bem-estar. Lemos o verso 5 do mesmo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 297


Salmo: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de
mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua
presença”. Lembramos que era um casal jovem, e deveriam colocar a esperança
no Senhor no dias que se seguiriam. Yolanda reagiu dizendo com muita tristeza:
“É... Ele tem dois filhos meus... é...”

Falamos-lhe de uma prima nossa no Brasil que teve um problema semelhante ao


dela, fez um tratamento muito severo por um pouco mais de um ano, ficou grávida,
teve um menino, e que havíamos recebido um cartão anunciando o nascimento de
uma menininha.

Kevin respondeu que o médico já havia falado em tratamento. Yolanda estava


ressentida porque quando ocorreu o primeiro aborto, o médico nada havia dito.
Kevin cortou a conversa dizendo que o funeral seria na segunda-feira no cemitério
chamado Memorial Gardens, e pediu-me que desse algumas palavras na ocasião,
o que aconteceu.

REFLETINDO SOBRE O ASSUNTO

Susan Borg em seu livro When Pregnancy Fails diz que “O bebê que está vivo no
nascimento mas criticamente enfermo, se vive por algumas horas, dias, semanas
ou, mesmo, meses, cria para os pais um doloroso tempo de espera. Eles são
atormentados pela incerteza, e pelo temor do que pode acontecer.”

Luto, Tristeza E Dor

Na experiência de Yolanda, o primeiro tema a ser destacado é a sua profunda dor


e tristeza.

De fato, qualquer um pode entender o profundo desapontamento que surge


quando a gravidez termina em tragédia, que parece ser uma perda de esperanças
e planos. Yolanda havia investido emocionalmente de modo pesado nesta
segunda gravidez para permitir-se desistir de seu luto e desapontamento. É o que
Sherry Jimenez denomina de “Nascimento sem alegria”. Após a cerimônia,
Yolanda ficou junto à cova por três ou quatro minutos olhando o pequeno caixão
(em alguns lugares dos Estados Unidos, o caixão não é enterrado na presença
dos familiares: saem todos, e depois os coveiros fazem o sepultamento). Minha
impressão é que aquela pobre mãe estava vendo uma parte de si mesma (sua
carne, sangue, senso de humor, jovialidade) sendo sepultada.

Falha

Um forte sentimento de falha se apresentou quando Yolanda pensou que havia


falhado em cumprir o que toda mulher grávida teria feito. Ela achou que tinha
falhado em cumprir as expectativas de outras pessoas, como parentes e amigos.
Essa falha também traz desapontamento e certa vergonha. Neste drama da vida
real, todos são vítimas. O bebê foi uma vítima de sua condição humana; Yolanda

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 298


foi uma vítima de seus sentimentos; Kevin foi uma vítima das circunstâncias.

Raiva

“Por que outras mulheres têm seus bebês e eu não?” é uma pergunta muito
antiga. É possível que Yolanda estivesse com um misto de inveja e ciúme de
outras mulheres que não tinham problemas em gerar filhos. Katherine Donnely
fala de uma mulher cujo filhinho de cinco meses morrera em seus próprios braços,
e declara que “Quando ela avistava uma mulher grávida, tinha terríveis ciúmes
porque aquela mulher ia ter um filho”.

Yolanda havia também expressado raiva em relação ao médico, e, em certo


sentido, uma raiva em relação a Deus disfarçada na aceitação do seu destino. Um
detalhe a ser acrescentado é que após a morte da criança, Yolanda só voltou à
igreja apenas uma vez. Não importava quantas vezes eu a tivesse visitado,
sempre prometia que estaria no domingo seguinte, mas não aparecia. Isso é
absolutamente contrário ao que afirma Harriet Schiff, “Muitas famílias, após a
morte de uma criança, parecem se voltar inteiramente para uma religião
organizada como uma âncora – algo em que se apegar ou algo que se prende a
elas”.

Perda de Identidade

A já mencionada Susan Borg salienta que “quando pais marinheiros de primeira


viagem experimentam a perda de um filho, seu próprio sentido de identidade pode
ser ameaçado. Afinal, para a maioria das pessoas tornar-se pai ou mãe é parte de
ser adulto. ... Quando a gravidez é interrompida, este sentido de ser aprovado por
todos os outros pode facilmente se tornar uma reprovação, um senso de haver
falhado em fazer o que se espera de uma mulher.”
(Continua)
Parte 61.
UMA QUESTÃO DE ESCOLHA
sobre pais e filhos
"Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. E vos designei
para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo o que
em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda"(Jo 15.16)

Jesus Cristo Se identifica com uma videira, razão porque afirmou, "Eu sou a
videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não dá fruto
ele o corta, e todo ramo que produz fruto ele o poda, para que produza mais fruto
ainda" (vv.1,2), e daí expande o ensino para dizer, "Vós não me escolhestes a
mim, mas eu vos escolhi a vós... para que... deis fruto." Ressalta o Mestre o fato
básico de uma escolha, e a sua conseqüência que é o serviço.

Quanto à escolha, passaríamos longo tempo discorrendo sobre a profunda e bela


doutrina da eleição (cf. Rm 1.6; 8.29,30, 33; 11.5). Então, não somos nós que
escolhemos, mas tudo acontece nos termos estabelecidos por Jesus, no que foi

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 299


Ele enfático, "Não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós." A Bíblia
Sagrada diz, até, que "nós amamos, porque ele nos amou primeiro" (1Jo 4.19,
itálico nosso).

Tudo vem do coração de Deus, nasce no coração de Deus, parte do íntimo do ser
de Deus. E é esse coração, que é todo amor (cf. 1Jo 4.16), que nos escolheu para
uma especialíssima tarefa: o Seu serviço.

Sobre o tema do serviço, aprendemos com a Escritura Sagrada e com a palavra


de Jesus Cristo que é algo muito exclusivo. No Sermão do Monte, Jesus
especificou que "ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de odiar a um e
amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro" (Mt 6.24). Não podemos
ter o coração dividido, nem ser esquizofrênicos ao ponto de ter a personalidade
fragmentada, dizendo, "Segunda, terça, quarta, quinta, sexta-feiras e sábado, sou
servo do Outro; domingo visto uma roupa de santo e máscara de fiel, e sou do
reino de Deus." Isso é o que se chama de esquizofrenia espiritual, sobre a qual
Jesus deu uma extraordinária lição, a de que "ninguém pode servir a dois
senhores" (cf. Gl 1.10; 1Jo 2.15).

Esse foi o motivo porque Jesus também afirmou, "Buscai primeiro o seu reino [de
Deus] e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas"(Mt 6.33). O
reino de Deus é a Sua vontade, Seu reinado, Seu governo soberano sobre nós. E
a justiça é a retidão que vem desse governo. As coisas, que não são prioridade,
no dizer de Jesus, serão acrescentadas (cf. 1Rs 3.13).

Algo mais que descobrimos acerca do serviço é que devemos servir unicamente a
Deus. Aliás, a Bíblia toda fala a respeito de como prestar-lhe serviço. Há, porém,
uma coisa: o cristão descobre que o serviço a Deus não é ritual, mas é exercido,
sobretudo, quando servimos ao próximo, a única maneira pela qual podemos
mostrar que amamos a Deus. Por isso, 'Eu vos escolhi a vós... para servir."

"... para que vades e deis fruto"

Do que acabamos de ler, retiramos outras duas importantes lições. Uma é a lição
de uma comissão, e a outra, de uma ordenança. A comissão é ir, a ordenança é
dar fruto.

Temos uma ordem de Jesus baseada no comando de ir. Outra coisa mais: somos
eleitos e chamados, assim diz o texto, primeiramente para que sejamos
embaixadores de Jesus Cristo. Isso significa que temos uma enorme, grave
responsabilidade de representá-Lo e a Seu reino. Seja o que for que façamos na
vida, primeiramente, somos cristãos. Não se é, primeiramente, um professor para
depois ser cristão. Em primeiro, lugar você é cristão para depois ser professor.
Você é profissional somente depois de assumir a sua identidade como discípulo
de Jesus, e assim o fazendo, está na qualidade de embaixador do reino de Deus.

A outra é que somos anunciadores de Jesus Cristo, Seus porta-vozes: "para que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 300


deis fruto", diz o texto. A única maneira de passarmos o evangelho de Jesus
Cristo, de difundirmos o Seu evangelho é sendo cristão. Não há outro modo. Aliás,
não existe cristão de segunda mão. Ou se o é de primeira mão, ou não se o é de
forma alguma. É falsidade passar na cabeça de alguém, "Eu sou cristão porque...
(meu bisavô era cristão, meu avô era cristão, meu pai é cristão...)." Ou você é, ou
não é. E sendo, precisa dar fruto.

Dr. W. C. Taylor em seu comentário de Mateus traduziu este texto dizendo, "para
que continuamente vades, e para que continuamente deis fruto." Cristo anunciado:
não a mensagem de cada um, não a mensagem de uma igreja específica, mas a
de Jesus Cristo, que um dia nasceu no coração, mensagem que há de alcançar,
sem dúvida, outros porque somos embaixadores e porta-vozes.

"... e o vosso fruto permaneça"

Que fruto permanece? Que fruto tem substância, e por isso se mantém? O
primeiro deles é o fruto do arrependimento. Assim diz a Escritura, "produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento" (Mt 3.8). O passo do arrependimento é, em
resumo, uma "meia volta, volver!" na vida. O indivíduo segue por um determinado
caminho e percebe que o seu é fim é destrutivo; dá meia volta, e retorna para o
coração de Deus. Isso é arrependimento,

Outro é o fruto da confissão, por isso que em Hebreus 13.15 está enfatizado:
"Ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de
lábios que confessam o seu nome." A confissão anda a par com o louvor, motivo
porque nós que confessamos o Nome de Jesus iniciamos nossas reuniões de um
modo muito natural: com louvor.

O terceiro fruto que permanece é o da justiça. Não estamos falando da figura da


Justiça-com-olhos-vendados-espada-na-mão-e-balança-na-outra, não. Falamos
de retidão, que é o significado desse conceito no Novo Testamento (cf. 2Co 9.10;
Hb 12.11; Tg 3.18). Essa justiça ocorre porque primeiro veio o arrependimento, do
qual nasceu a confissão e o louvor. Justiça é caminho sem desvios, atalhos e
encruzilhadas.

Outro fruto que deve permanecer é o da santificação. Paulo, o apóstolo, disse em


Romanos 6.22, "Agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o
vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna."

Santificação é uma palavra interessante, mas que precisa ser bem compreendida.
Devemos nos afastar de uma certa teologia popular que imagina ser a santificação
algo que se faz, permanece fazendo, precisa fazer, talvez isentando-se de uma
tantas coisas ou ausentando-se de uma quantas outras. Não é esse o conceito
bíblico. Na verdade, quando a Bíblia fala em santificação, tanto no Antigo quanto
no Novo Testamento, está falando de separação, de ser diferente, de
exclusividade em relação a Deus. Vamos ilustrar: alguém é fabricante de vinhos;
tem uma adega bem abastecida onde o produto está maturando. Em determinado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 301


lugar, coloca um armário, separado, onde algumas garrafas são reservadas. Todo
o restante pode ser vendido, menos o que está guardado porque aquele lote
escolhido é especial. É esse o conceito de santidade de acordo com a Bíblia (cf.
Ex 13.2; Lv 11.44; Dt 15.19; 1Rs 9.3; Jr 2.3).

Nós somos uma reserva especial de Deus; somos "santificados", separados para
o Seu serviço. Esse é o sentido, portanto, da palavra santificação, e é nessa
ênfase que devemos dar frutos.

Ainda vemos outro tipo de fruto que permanece, o da perseverança. Em Lucas


8.4-15, encontra-se a Parábola do Semeador que diz que um homem começou a
semear na sua fazenda. Usava o artesanal método de jogar a semente. Parte das
sementes caiu entre os leirões (v.5), e vieram as aves e as levaram. Outras
sementes caíram em terra rasa, que tinha por baixo uma grande pedra; nasceu a
raiz, mas sem poder se aprofundar, como o calor , secou e a plantinha feneceu
(v.6).Outra parte foi jogada onde havia boa terra, mas havia tanto carrapicho que a
semente foi sufocada (v. 7). Conta a história que outra parte das sementes caiu
em excelente terra, limpa, adequada, e essa produziu abundantemente (v. 8a).
Adiante, Jesus explica que "a que caiu em boa terra são os que, ouvindo a
palavra, a retêm num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança"
(v.15).

E, por fim, temos outra palavra acerca do fruto que permanece. É o fruto que tem
o objetivo de se voltar completamente para Deus. Aqui está, "Assim, meus irmãos,
também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de
outro, daquele que ressurgiu dentre os mortos, a fim de darmos fruto para
Deus"(Rm 7.4). Não tem pertinência alguém se chamar discípulo de Jesus Cristo e
não produzir frutos que permaneçam.

"... a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu Nome, Ele vo-lo conceda"

Três palavras-chaves há nesta expressão final. A primeira é o verbo pedir; a


segunda, a expressão nome [de Jesus]; e a terceira, o verbo conceder.

O conceito cristalizado na expressão "pedirdes ao Pai" nos faz refletir sobre o que
devemos pedir a Deus. No Salmo 27, pede-se para morar na casa do Senhor (cf.
v.4); ou, como em Provérbios 30, para não ser falso, nem mentiroso, nem pobre
demais, nem rico demais (cf. v.8): tudo na medida. Que haja o pão de cada dia, é
o ensino deste texto. Quem sabe, poderíamos, alargar a reflexão com uma
expressão encontrada em 1Reis e dirigida a Salomão: "peça o que quiser" (v.5).
Vamos pensar em termos de família e de casal. Que devemos pedir olhando por
essa ótica?

A primeira bênção a pedir ao Senhor pode e deve ser sabedoria. Tiago 1,5,6a tem
uma instrução que diz, "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente, e não censura, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com
fé, não duvidando" Pedir sabedoria tanto como pais quanto como cônjuges; pedi-la

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 302


para as nossas decisões, para nossa palavra, para o nosso agir.

Podemos pedir a Deus mais amor. A Bíblia tem uma ordenança tanto para os
maridos quanto para as mulheres. Para os maridos, o nunca bastante comentado
texto de Efésios 5.25 que recomenda, "Vós, maridos, amai a vossas mulheres,
como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (cf. Cl
3.19).

Na Escritura, além dos maridos pedirmos a Deus mais amor, podemos rogar ao
Senhor que nos seja dada compreensão. Está em 1Pedro 3.7a, "Igualmente, vós,
maridos, vivei com elas com entendimento."

Para as mulheres também. Em Tito 2 há uma determinação, "as mulheres


idosas... ensinem as mulheres novas a amarem aos seus maridos e filhos" (vv. 3,
4). Vezes tantas o amor tem ido embora junto com a paciência...

Diz, ainda, a Escritura para as mulheres que, além, de mais amor, podem pedir ao
Senhor submissão. Não está na Escritura? "Vós, mulheres, submetei-vos a vossos
maridos, como ao Senhor" (Ef 5.22). Há, na verdade, muitos textos paralelos a
este quanto à submissão feminina (cf. Cl 3.18; 1Pe 3.1; Tt 2.4,5). Infelizmente,
esta palavra tem sido muito mal compreendida porque passa na cabeça de alguns
desavisados que o apóstolo Paulo está ensinando a mulher a ser tapete do
marido. Não é isso o que a Bíblia está dizendo.

Submissão não significa que a mulher deva abaixar a cabeça quando o santo que
tem dentro de casa der um grito. Analisemos a palavra: sub significa "sob, debaixo
de", missão é a comissão que nos é confiada por Deus como esposos e pais.
Estamos, portanto, marido e sua mulher, "debaixo da mesma missão". A esposa
há de entender que a sua missão é a mesma do marido: olhar para o Pai e criar
seus filhos na retidão e na lei do Senhor. A submissão é uma coroa na cabeça
feminina porque compreende, entende e vive a esposa na mesma consignação do
marido que Deus lhe deu.

Que tal pedir santificação para o marido, para a mulher? Também está na Palavra
de Deus: "O marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é
santificada pelo marido crente"(1Co 7.14). É o texto que responde a perguntas
sobre o casamento, e diz que há uma responsabilidade imensa na mulher cristã,
no marido cristão, cujo cônjuge não segue os mesmos padrões. E a
responsabilidade é dele ou dela, crente em Jesus Cristo, de santificar o seu
casamento.

Ou pedir-Lhe mais zelo pela família? Voltemos a 1Timóteo, onde se lê, "se alguém
não cuida dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior que
o incrédulo". Podemos pedir ao Senhor que dê um coração mais aberto para a
família. Quantas vezes temos o coração aberto para a família dos outros, menos
para a nossa. Peçamos a Deus mais zelo, carinho, cuidado.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 303


E mais vida espiritual no lar? A linda e ética Carta aos Efésios diz em 6.4, "Pais,
não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na disciplina e instrução do
Senhor." Altar restaurado, mais vida espiritual na família.

A segunda palavra-chave é nome, a expressão que Jesus usa é "em meu nome".
Pedir no Nome de Jesus é uma afirmação fundamental acerca da oração, pois não
se pode falar de oração deixando de falar no Nome de Jesus. No entanto, parece
que há uma expectativa de que tudo o que se pede é atendido em regime de
urgência urgentíssima como se obrigação fora da parte Daquele que concede as
bênçãos. Há quem assim pense. A Escritura Sagrada, porém, apresenta leis
espirituais para o fato oração.

A primeira lei da oração é que ela deve ser feita com fé, ou nas próprias palavras
de Jesus, "E tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis" (Mt 21.22).
Sendo a oração só formalidade para cumprir programa, ou repetição ritual, nada
vai acontecer, razão pela qual é preciso cuidado para não ter "fé na fé", que tem
apresentado tantos exemplos. É preciso "fé em Jesus Cristo", fé em que Ele nos
vai conceder o que Lhe pedimos. E nada acontecerá se não for dentro desse
ditame. Até porque lemos na Palavra de Deus: "Nada tendes porque não pedis.
Pedis e não recebeis, porque pedis mal" (cf. Tg 4.2b, 3a). Não havendo fé, o que é
chamado de oração é tão somente um pedido sem substância e sem resposta.

A próxima lei da oração é que ela deve ser feita em nome de Jesus, o qual é a
Sua autoridade divina, Sua dignidade como Messias. O Nome de Jesus é tudo
aquilo por que Ele passou em Sua paixão por nós; são as bênçãos que decorrem
do Seu ministério. O Nome de Jesus é Ele mesmo porque é o Seu caráter como
Filho de Deus. Por esse motivo, não podemos orar por coisas que Jesus não
aceita: causas mesquinhas, ambição pessoal, prejuízo para o outro, vingança em
nome Daquele que ensinou a amar o inimigo. Para orar em nome de Jesus é
preciso confessá-Lo e comprometer-se com Ele.

Há uma terceira lei na oração: ela deve ser segundo a vontade de Deus. À
Escritura mais uma vez: "Esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos
alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve"(1Jo 5.14). Isso ocorre porque
não sabemos mais do que Deus. Se não sabemos mais que o nosso Pai, não
podemos pedir fora da Sua vontade. A oração cristã não pode ser "envia, Senhor,
o que eu quero", mas, "faze-me aceitar o que tu queres." Em outras palavras, e
para usar das palavras de Jesus: "'seja feita a tua vontade' na minha vida como
entre os anjos lá no céu" (Lc 22.42; cf. Jo 5.30; 6.38).

A lei seguinte é que oração deve acontecer com a nossa permanência na palavra.
E quando isso acontece, vai suceder o que está em Romanos 8.26, a ajuda do
Espírito Santo: "Da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas.
Não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito intercede por
nós com gemidos inexprimíveis."

A palavra-chave seguinte é "Ele vo-lo conceda". O texto disse, "copiar Jo 15.16)"

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 304


(Jo 15.16). Que queremos que Ele nos conceda? Uma vida conjugal amorosa. Ou
não? É uma vida conjugal aquecida. O que queremos é uma vida familiar bem
estruturada. Vida familiar bem organizada; filhos e filhas criados debaixo da
sujeição e disciplina do Senhor, louvando o Nome do Senhor, e que sejam cartões
de visita (porque todo filho é um cartão de visita nosso) de pais que amam
profundamente ao Senhor e Sua Causa

UM PASSO ALÉM... DA AMARGURA


Há poucos anos, um acidente no estacionamento de um dos educandários
evangélicos do nordeste de nosso país causou a morte de um garotinho, de
família de uma das igrejas da cidade. A criança tentara se pendurar no ônibus de
transporte escolar ("amorcegar", na linguagem regional), caiu e foi esmagada pelo
veículo. Logo apareceu quem procurasse induzir a família a processar o colégio, o
que foi recusado pelos chorosos, porém confiantes pais.

Processou-se o funeral do meninozinho debaixo da saudade dos familiares e do


conforto de Deus. Ao contrário do desespero, a esperança; ao contrário da dor,
amor. Amor que foi provado pela bolsa de estudos que a família ofereceu à escola
para que uma criança carente pudesse estudar, e aquilo que teria todos as
condições para se transformar numa existência de amargura, tornou-se um hino
de adoração a Deus.

E POR FALAR EM MOTIVOS...

São inúmeros os motivos porque alguém leva uma vida amarga e torna amarga a
vida de outras pessoas. O mau relacionamento é um deles, e pode ser encontrado
em todos os níveis e segmentos. Pessoas existem cuja vida de amargura se
explica pelo mau relacionamento com alguém no emprego, visto que há situações
em que estão em contato permanente com pessoas que as irritam. Se esse é o
seu caso, lembre-se de duas coisas: nem todo mundo vai gostar de você, e, por
sua vez, você não vai gostar de todo mundo. Na realidade, você pode respeitar e
valorizar a vida humana, mas não vai ter afinidade com todos. Há choque de
personalidades, diferenças de objetivos, de pontos de vista, de gostos e de
valores. Nossos antepassados romanos diziam que "De gustibus et coloribus non
dispuntandur" ("Acerca de gostos e de cores não se disputa"), razão porque você
não pode inimizar com alguém só porque ele gosta do amarelo e você, do verde;
ele gosta de sorvete de coco, e você, de umbu. Mas quando se trabalha dia a dia,
um ano, dois anos inteiros; quando você precisa da aprovação dessa pessoa que
é o seu chefe, então é difícil gostar do amarelo ou do azul ou do lilás, pois quando
o choque surge, surge a amargura também.

Com a família a coisa é pior, porque você pode mudar de filial da empresa, de
agência do banco, ir para outro estado, deixar o emprego, mas não pode se
desfazer da família.

O pior que pode acontecer é o que se chama relação amor-ódio. Você tem
momentos quando odeia a pessoa querida: sua mãe, seu pai, sua irmã, seu

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 305


marido, sua mulher, mas não pode abandoná-la, deixá-la, largá-la, e aí vem o
amor mesclado com o ódio, o prazer-desprazer. É o caso de ter um alcoólatra em
casa: o pai, um filho, um irmão. Não é fácil viver com um alcoólatra: é vergonhoso
e deprimente. Há o caso da irresponsabilidade, do gasto econômico, do pão que
deveria estar à mesa e nunca foi comprado. E porque é uma situação sistêmica, a
família do alcoólatra é toda ela afetada. Walter Krusich, um sociólogo, forneceu
uma estatística que diz que se doze pessoas começarem a beber juntas
socialmente, dentro de dez anos, uma se tornará alcoólatra e três outras terão
problemas com a bebida.

Amargura surge por causa do conflito entre o pai e o filho/a filha adolescente. É
comum, e aparece porque o jovenzinho ou a mocinha é o que o nome diz: está
adolescendo, é um botão se tornando flor. O adolescente é aquele que não é mais
criança, mas ainda não é adulto; quer ser independente, mas não sabe como nem
até onde; "não é carne nem é peixe", não sabe controlar as emoções, e aí tem
tiradas de mau gênio; questiona os valores que os pais amam e ensinam. O
problema de muita gente é não conseguir superar esse estágio da vida, e continua
arrastando pela existência a fora esse conflito natural, mas que deveria acabar
quando se passa dos dezoito anos, e por isso essas pessoas perdem de gozar a
juventude e entram na vida adulta adolescentes por dentro.

Outro motivo é o fracasso. Há pessoas amarguradas porque o casamento não foi


o que sonhou quando ainda era noivo/noiva da pessoa com quem casou. O
casamento foi um fracasso, ou está sendo um desmantelo. Ou o problema terá
sido um fracasso no empreendimento comercial onde as economias foram
investidas e tudo foi perdido.

OUTROS MOTIVOS

Amargura por causa de um trauma. Talvez experiências sexuais fora de tempo,


fora de lugar, com a pessoa errada e fora do plano de Deus. Pelo filho que morreu
e você ainda o chora; pelo filho que não veio. Ana, antes de ser a mãe de Samuel
é apresentada como uma mulher amarga (cf. 1 Sm 1.10). Sem dúvida, aquele
filhinho que faz falta no aconchego do seu seio pode ser um motivo de amargura,
mas se eu entendo bem as lágrimas no meu Gabinete Pastoral, a maior amargura
é pela cobrança e opressão injusta de parentes e amigos.

Outro sério motivo para algumas pessoas é porque estão envelhecendo. Isso não
é fácil; o problema, porém, não envelhecer: é não saber envelhecer! Ocorre que
saber envelhecer é uma bênção. E porque muitos não souberam envelhecer,
caíram na amargura. Há quem tenha medo de perder a capacidade física e
mental, e não se dão se dão conta das novas capacidades que a velhice traz,
substituindo aquelas. Há que se recordar o preparo para a velhice. Quando? Aos
47? Aos 55? A Bíblia alerta para o agora: "Lembra-te do teu Criador nos dias da
tua mociedade..."

Há quem se amargure por ser rejeitado, por ter problemas profundos de rejeição,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 306


e, até, não se aceitam. Há quem se ache feio, e isso afeta a homens e a mulheres.
Realmente, nem todo mundo é como Absalão de quem diz a Escritura: "Não havia
em todo o Israel homem tão admirado por sua beleza como Absalão. Da planta do
pé ao alto da cabeça, não havia nele defeito algum" (2Sm 14.25).

Por outro lado, nem sempre a beleza física, a beleza do rosto, é sinal de beleza
integral, pois "Como jóia de ouro no focinho de porca, assim é a mulher formosa
que se aparta da discrição" (Pv 11.22).

Há quem se sinta rejeitado por ter sido adotado. Aliás, uma incoerência, pois foi
adotado por pessoas que o amaram ou a amaram no primeiro momento em o que
o viram bebezinho. Amargurado por não saber quem são os pais biológicos,
quando os verdadeiros pais são aqueles que deram afeição, carinho, horas da
noite quando você chorava de fome, de barriguinha seca, ou com aquelas
colicazinhas que que têm os nenens. Verdadeiros pais são aqueles que nutriram,
sustentaram, amaram durante toda a vida, aqueles que o geraram no coração;
não os pais biológicos. Não houve abandono mas acolhimento, amparo, e ,
sobretudo, amor. Um sentimento de pretensa rejeição é mesquinhez e falta de
amor a Deus que colocou essas pessoas no seu caminho, e falta de amor a seus
pais. Rejeitado foi Jesus, o Filho de Deus de Quem diz o profeta: "... quando
olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era
desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos
sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado,
e não fizemos dele caso algum" (Is 53.2b,3).

UM PASSO ALÉM DA AMARGURA

Não devem ser encontradas nos lábios de crentes em Jesus Cristo expressões
cheias de fel como, "Minha vidas só me dá desgosto; por isso darei vazão à minha
queixa e de alma amargurada me expressarei" (Jó 10.1 NVI). Um passo além da
amargura é a aceitação do convite de Jesus Cristo em Mateus 11.28: "Vinde a
mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei".

É um convite tão completo para a salvação que implica em ser liberto e continuar
liberto; um convite a entregar as antigas e pesadas cargas e viver a vida sem
sobrecargas, sem complexos, sem frustrações e sem amarguras.

A segunda coisa a ser percebida é o convite para uma entrega confiante e total ao
Deus que já nos salvou de nossas culpas passadas, que dá-nos forças para o
presente e esperança para o futuro. Ensina o Salmo 32.10 que "O ímpio tem
muitas dores, mas aquele que confia no Senhor, a misericórdia o cerca". Quer
dizer, "muitas dores", ou seja, muitas angústias, muitas amarguras. O crente em
nosso senhor Jesus Cristo, lavado pelo sangue do Cordeiro não é um ímpio, por
isso é cercado de misericórdias, e não tem razão para temores.

Parte 62.
UM PASSO ALÉM ... DA CULPA

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 307


"Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto.
Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui a iniqüidade, e em cujo
espírito não há dolo" (Sl 32.1,2).

O fato é que nós vivemos com mais ou menos sentimentos de culpa. E nem
sempre esses sentimentos são maus e mesquinhos, pois eles podem nos
estimular a mudar o comportamento, e buscar o perdão de Deus e de outros.
Podem, no entanto, ser destrutivos e inibidores. O escritor Lloyd Jonh Ogilvie
conta do comentário feito por uma senhora acerca de um sermão: "Foi uma
grande mensagem; senti-me tão culpada!" Para aquela pobre irmã nossa, o
modelo de um excelente sermão era o que a fizesse se sentir mal consigo mesma,
e não o que a confortava.

O sentimento de culpa constitui um sério problema psicológico e espiritual. É o


sentido acusador de fracasso pessoal e interpessoal. Assim, sob a tensão da
culpa que se volta contra o irmão, podem ser desenvolvidos padrões neuróticos,
ansiedades, temores, auto-rejeição, atitudes defensivas que se expressam em
agressão, e outras mazelas. A culpa pode ser um distúrbio, um fardo insuportável,
machucando quem é sensível, e prejudicando as relações pessoais; pode ser uma
prisão de ansiedade e hostilidade.

CULPA É...

Há vários tipos de culpa que estão subordinados a duas classes: a culpa objetiva
e a subjetiva. Interessa-nos o segundo tipo: sentimento desconfortável de
remorso, pesar, vergonha e autocondenação que surge quando fazemos ou
deixamos de fazer o que deveria ter sido feito. Com freqüência, surge o desânimo,
a ansiedade, o medo de castigo, o sentido de desolação, e o que é pior: tudo ao
mesmo tempo. A separação da comunhão com Deus tem resultado em
sentimentos de culpa ou específica por pecados específicos, ou generalizada pelo
pecado da separação.

Culpa é a recusa a receber o amor de Deus, a falha em nos amar a nós mesmos
como somos amados por ele, e amar aos outros como Ele nos amou. Culpa é
perda da saúde espiritual. Em Cristo e Seu perdão, desaparece o temor do
castigo, e vai-se a ansiedade da rejeição. O perdão de Cristo diz que você tem
valor inestimável diante de Deus: "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é
perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor
não atribui a iniqüidade, e em cujo espírito não há dolo." (Sl. 32.1,2).

MOTIVOS

Três sérios motivos de culpa: pecados já perdoados por Jesus Cristo, porém não
perdoados pelos outros, ou seja, você é freqüentemente cobrado por pecados dos
quais você já está limpo pela justificação.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 308


Pecados já perdoados por Jesus Cristo, mas não por você mesmo. Não é terrível,
tendo adquirido o perdão de Deus através de Jesus, a pessoa não se perdoar? E
viver alimentando e remoendo uma culpa já perdoada por Deus é viver com um
pequeno inferno dentro de você, quando Deus o chamou e ofereceu as bênçãos
da segurança, tranqüilidade e paz de espírito?

O terceiro caso é o dos pecados não perdoados (pecados ocultos). Há quem não
durma por causa de pecados passados ou presentes; tremendos sentimentos de
culpa pelo sexo mal praticado. A revista Cláudia trouxe certa ocasião um artigo
intitulado "Crianças brincando de sexo". A idéia central é que os pais não devem
se assustar porque isso é saudável e educativo?!

Se seu pecado ocorreu antes de sua conversão, alegre-se, louve a Deus porque já
foi apagado pelo sangue de Jesus que "nos purifica de todo o pecado". Mas não é
só de pecado sexual que o crente deve chorar, ou apropriação indébita ou
violência de punhos. Somos violentos com as palavras pretendendo que somos
francos, ou justificando que "é o meu jeito!" Pode até ser, mas não é educado,
compatível com as regras do bom viver em sociedade. Somos violentos através do
silêncio; ou a culpa vem por não trabalhar para Deus, ou não trabalhar para e
pelos outros.

Muito crente se sente deprimido e derrotado por falhas do passado, muito crente
que aprendeu que Deus perdoa seus pecados pela graça de Cristo, mas se
recusa a se perdoar a si mesmo. Já que você vive pela fé, para ser vitorioso, deixe
as falhas e desapontamentos dos passado no passado, e busque a face de Deus.
Paulo, o apóstolo, nos dá uma lição nesse sentido: "Irmãos, quanto a mim, não
julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o
alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.13,14). Ele
teve que deixar duas experiências no passado: o apedrejamento de Estevão

(At 7.60b), e sua teimosia (At 15.36-40). O primeiro caso ele até o relembra em
Atos 22.20 e 26.9,10. O segundo, foi o conflito com Barnabé por causa de João
Marcos. Não sabemos porque Marcos os deixou na primeira viagem missionária,
mas Paulo não o achou digno de acompanhá-los na segunda, embora Barnabé
quisesse dar uma nova oportunidade. Muitos anos depois, já encontramos um
Paulo com a atitude mudada (cf. 2 Tm 4.11). Paulo cometeu um erro, mas
aprendeu que a única maneira de lidar com um erro e deixá-lo para trás e
aprender da experiência.

Nosso passado está cheio de falhas e erros, mas Deus não pretende que vivamos
no passado. Se temos pedido que Deus perdoe os nossos pecados, devemos
caminhar sempre à frente.

Há quem tenha a horrenda e antibíblica idéia de que Deus se agrada quando nos
castigamos por algo que aconteceu anos atrás. Essa não é a lei da graça, não é a
do evangelho. Pecados devem ser confessados, e quando os confessamos a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 309


Deus, Ele os perdoa: perdoa e esquece.

Confesse o motivo de sua culpa a Jesus Cristo, e, se for o caso, a outros


(restituição). Isso é bíblico: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1.9); e
também, "Confessai, portanto os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos
outros, para serdes curados" (Tg 5.16a).

E creia que com a ajuda do Espírito de Deus somos perdoados e aceitos por Ele.
Você pode escolher entre ser um perdedor encobrindo pecados, ou ser um
vencedor confessando a Deus, e vivendo a paz de Jesus Cristo: "Justificados pela
fé temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" ( Rm. 5.1 ).

Culpa enterrada, pecado escondido farão de você um infeliz, um crente nervoso,


neurótico, sem o equilíbrio que o controle do Espírito Santo dá. O segredo está no
Salmo 32.1, "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo
pecado é coberto". Só o sangue de Jesus Cristo nos purifica, pois Deus não usa
panos sujos nas nossas feridas. Um dos melhores exemplos de culpa perdoada é
a história do rapaz perdulário em Lucas 15.11-24. Tinha culpa para com Deus (v.
18 ), para com o pai ( v.18 ), para consigo mesmo (v. 19 ). Guardar os porcos, na
sua experiência, é comparável à fome e solidão da culpa em relação à abundância
e amor do perdão do Pai.

A conversão é obra do Espírito Santo, e assim há de continuar: a vida cristã deve


ser preenchida pelo Espírito de Deus. A alma é justificada (Rm 5.1), há uma
mudança metafísica e a alma sai da falsa segurança do eu, e se volta para Deus.
Daí a paz que resulta da justificação. Fomos salvos pelo sangue de Jesus e, até
onde sei, o sangue de Jesus não perde o poder de redimir, expiar e purificar.

Em resumo: para a remoção da culpa, os passos são:

Confrontação ou autoconfrontação, ou seja, alguém lhe diz, ou você diz a si


mesmo, e, inserido na confrontação, o arrependimento olha para o futuro com
esperança;
Confissão ( cf. Salmo 32.1-5 ). O pecado é secreto, mas a confissão é purificadora
e libertadora;
Perdão, porque restaura a harmonia. Sua harmonia com Deus, com o ofendido e
com o seu interior;
Restituição (ou reparação) com a conseqüente mudança de comportamento
destrutivo, pois restituição é o ato de compensar o erro ou injúria.
Dando uma paz além da culpa, ou seja, caindo nos braços de Deus, você não
mais vai precisar de sedativos, nem ter o sono sem paz, nem acordar já cansado,
e sua expressão de louvor há de ser: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu
, Senhor, me fazes habitar em segurança" (Sl 4.8).

Parte 63.
UM PASSO ALÉM ... DA DEPRESSÃO

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 310


"As minhas lágrimas servem-me de alimento de dia e de noite, enquanto me dizem
constantemente: Onde está o teu Deus? Lembro-me destas coisas enquanto
dentro em mim derramo a minha alma: de como eu ia com a multidão, guiando a
procissão à casa de Deus, com gritos de alegria, e louvor entre a multidão festiva.
Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas em mim? Espera em
Deus, pois ainda o louvarei, meu Salvador e meu Deus. Ó meu Deus, dentro em
mima minha alma está abatida" (Sl 42.3-6a)

Talvez o melhor seja idealizar alguém em depressão. Vamos chamá-la de Rosa


Maria. Rosa Maria não se importa com o que lhe acontece, não cuida da
aparência, não troca de roupa, não penteia direito os cabelos, não prepara as
comidas, e prefere sentar-se diante da TV ou escapar da vida dormindo. Dorme
muito, ou passa a maior parte do dia sonhando de olhos abertos. Tem pensado na
morte. É como milhões de outras pessoas no mundo, entre elas Van Gogh,
Humberto de Campos e Augusto dos Anjos.

Alguém chamou a depressão de "inferno particular". O que o é, na verdade, para


muita gente, apesar de que seja normal que de vez em quando nos sintamos em
altos e baixos, pois como a solidão faz parte da vida. Todos sofremos o seu
impacto vez por outra. Porém, quando nos sentimos em baixo ('na fossa", ou "em
baixo astral", na linguagem da Nova Era), a maioria das vezes, ou choramos à
menor provocação, aí temos um caso clínico de depressão. Nessa situação quem
está deprimido não quer saber de alimentos, de deveres conjugais, ou até de ver
outras pessoas. Nada parece dar certo, e até parece que Deus se esqueceu de
nós.

Há quem se deprima com um céu cinzento, com alguém pedindo esmola, e


alguém me disse que fica deprimido quando passa pelo Maciel . É isso: na estrada
da vida, há obstáculos e perigos. Um deles é o vale da sombra da morte, outro é
um abismo chamado Depressão.

O deprimido é alguém que se torna abatido, triste, cheio de melancolia,


desanimado porque do alto foi empurrado para baixo. Geralmente, as mulheres
sofrem mais que os homens. Lembremos, no entanto, que a depressão de uma
pessoa pode parecer totalmente diferente da de outra. Por isso, as reações
variam: um pensa em morrer, outro quer viver, outro acha que todos o estão
traindo.

As diferenças acontecem porque as pessoas são diferentes: uma pessoa histérica


vai ficar mais histérica ou hostil, um obsessivo mais obcecado, um desconfiado
ficará com a confiança incrementada. A oração do salmista é a que se encontra no
Salmo 77.1-10

OS SINTOMAS

Convém reconhecê-los porque quase todos nós temos uma migo ou parente que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 311


apresenta esses sintomas:
¨ Insônia ou comportamento irregular do sono, resultando que a pessoa afetada
acorda cansada;
¨ Apatia, pouca concentração, não lembrando, sequer, o que leu;
¨ Perda de apetite a comida parece sem sabor;
¨ Cansaço crônico;
¨ Indecisão, tornando-se impraticável decidir até sobre pequenas coisas;
¨ O amor e a afeição diminuem, pois o deprimido considera os amigos mais
chegados como antipáticos; há um desejo de se afastar dos outros;
¨ Diminuição ou perda total de interesse nas pessoas, coisas, idéias, igreja, coisas
espirituais;
¨ Irritabilidade, agressividade, comportamento explosivo, dando como
conseqüência que o deprimido não pode controlar a sua irritabilidade sobre coisas
pequenas do dia a dia;
¨ Remorso pelo passado, por coisas que não deveria fazer, mas fez;
¨ Choro involuntário;
¨ Desespero; aliás, ensina um estudioso do assunto que são três os estágios da
depressão: Ameno, quando se dá o desalento; Sério, ao vir o abatimento; Grave,
quando cai o desespero. Dizem ser "difícil continuar vivendo", expressão muito
ouvida, por sinal;
¨ Auto-depreciação, com expressões do tipo "Tudo o que eu faço sai errado";
¨ Baixa auto-estima, ou seja, a sensação de não ser amado ou que ninguém se
interessa por nós.

A depressão é coisa séria, sendo que outros sintomas são: perda de energia,
pessimismo, hipocondria, autocrítica; sentimentos de culpa, de vergonha, de
desamparo; sentimento de que não é digno; perda de interessa no trabalho e/ou
na vida sexual, tensão, tendência a acidentes, trabalho compulsivo ("ergolatria").

CAUSAS DA DEPRESSÃO

A situação existencial está entre as principais causas deste mal. É como se vive
no trabalho, no lar, na escola. O emprego que não oferece recompensa, mas não
pode ser deixado porque não há outro em vista; muita tensão de horários e
prazos; tensão doméstica, econômica, déficit de sono, pouco exercício físico,
problemas pessoais, problemas de criação, problemas na infância, problemas de
relacionamento, distância de Deus, a meia-idade (difícil para o homem, ainda mais
difícil para a mulher), desapontamentos, enfermidade, depressão após o parto,
rejeição, alimentação inadequada, efeito de entorpecentes, perda de emprego,
perda de posição, perda de pessoas queridas por morte, divórcio, abandono, etc.,
etc.

Outras depressões não têm sentido aparente, porém, na verdade, são provocadas
por um desequilíbrio interno, como desordens glandulares ou hipoglicemia.

A verdade é que a depressão é uma condição da qual Satanás se aproveita para


tornar o povo de Deus inútil para a Obra do Mestre, e o Inimigo usa o estado de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 312


pressão para levar a sentimentos de culpa, e mesmo o conhecimento da graça e
da misericórdia do Pai não parece Ter poder para ajudá-los. Assim vem a
autocondenação. Entende o cristão deprimido que Deus dá perdão, mas não o
experimentou ou acha que não foi salvo ou que perdeu a salvação (coisa que a
Bíblia não ensina), ou ainda que cometeu o pecado imperdoável (sem saber
defini-lo).

Satã ataca o cristão com o cansaço que deprime, e, assim, vem o sentimento de
fraqueza, ansiedade e medo. Medo da morte, medo do amanhã, mede de gente,
medo de coisas específicas, e medos maldefinidos também.

A BÍBLIA E A DEPRESSÃO

A Bíblia não discute a depressão, mas há narrativas e exclamações que deixam


transparecê-la. É ocaso do Salmo 69, do 88 e do 102. A Palavra de Deus se
caracteriza pelo realismo, razão porque não esconde o sofrimento da depressão.
Jó (capítulo 3), Moisés (Números 11.10-15), todo o Povo de Israel (Êxodo 6.9),
Elias (1Reis 19), Jonas (4.1-3), Jeremias (as Lamentações), Pedro (Mateus
26.75), Jesus no Getsêmani (Mateus 26.37,38). O Novo Testamento Vivo verte a
experiência de Jesus do seguinte modo: "... (Jesus) levou Pedro e os dois filhos de
Zebedeu, Tiago e João com Ele, e começou a sentir-se cheio de angústia e
tristeza. Então disse-lhes: 'Minha alma está cheia de pavor e tristeza, a ponto de
morrer... fiquem aqui... fiquem acordados comigo'".

No entanto, em todos os casos acima o que levaria ao desespero cede lugar à


esperança, e repousa na fé inabalável em Deus, e na certeza da vida abundante.
É tão somente recorrermos às expressões do Salmo 34.15-17 ou Mateus 5.11,12,
João 14.1; Romanos 8.28, e a palavra de Paulo, apóstolo, em Romanos 15.13:
"Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa crença, para
que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo".

UM PASSO ALÉM DA DEPRESSÃO

Deus não quer que soframos e nos dá ajuda a quem se acha deprimido.
A primeira coisa que o crente tem de compreender (podemos chamá-la de
primeira etapa ou primeiro passo) é que necessita de Deus porque não pode
ajudar-se a si próprio. Um bom lembrete são as palavras do Salmo 23: "O Senhor
é o meu pastor... guia-me... tu estás comigo". O de que necessitamos é
dependência de Deus. Ele prometeu Sua presença viva e constante conosco:

"Quando passares pelas águas, estarei contigo, e quando passares pelos rios,
eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a
chama arderá em ti"(Is 43.2).

Jesus ensina que veio para que tenhamos uma vida plena, diferente, melhorada,
especial, rica de bênçãos, ou, para usar suas próprias palavras, "vida abundante".
Por essa razão, não podemos entender como pode um crente em Jesus Cristo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 313


recusar a maravilha dessa vida especial e diferente que Cristo oferece para viver
na pequenez e limitação de uma vida cheia de depressão?!

O segundo passo é o seguinte: se vier a depressão física, será preciso um


tratamento médico. Se a causa for outra, busque um terapeuta, um psiquiatra
cristão, um psicanalista, ou um pastor treinado em aconselhamento. No entanto,
como cristãos temos algo a nosso favor: é um conhecimento de nós mesmos, e de
Deus e de Sua graça.

A terceira coisa é que a depressão deve ser combatida com armas espirituais. Em
depressão, não fique só:
¨ Busque companhia, um amigo, um confidente com quem dividir a carga;
¨ Trabalhe; a atividade física há de aliviar a tensão;
¨ Transforme a tristeza em algo criativo; empregue seu tempo;
¨ Aja com fé; a fé crê que Deus está presente mesmo nas trevas.

O quarto passo: não fique remoendo injustiças ou fracassos. Peça a Deus que o
ajude a esquecer o passado, a perdoar os que pecaram contra você e a se
perdoar.

Uma quinta etapa é usar a arma do louvor, pois é uma terapia espiritual. Aliás, a
sabedoria popular até ensina que "Quem canta seus males espanta". Quando
louvamos, adoramos; quando louvamos, oramos; quando louvamos,
agradecemos; quando louvamos, pedimos. Louvamos a Deus pelo que Ele é e
pelo que fez em Jesus Cristo.

Um exemplo de depressão vencida é a história do profeta Elias. Por três anos,


batalhou vitoriosamente contra os quatrocentos e cinqüenta profetas do deus Baal.
Recebeu uma ameaça de morte da rainha Jezabel (1Rs 19.2), entrou em
depressão (v.4), esqueceu-se do poder de Deus e fugiu cento e cinqüenta
quilômetros no deserto.

Na sua história, há quatro fatores para vencer a depressão:


¨ Descanso (vv.5-8). Elias descansou, alimentou-se e viajou mais quarenta dias;
¨ Desabafo (vv. 9,10). Deus lhe disse, "Elias, conte-me o que aconteceu com
você", e ele desabafou. Faça o mesmo: conte a Deus, conte a um bom amigo que
lhe seja instrumento de Deus;
¨ Elias tece uma nova consciência de Deus (vv. 11,12). Na entrada da caverna
estava Elias: o vento forte quebrou as pedras, o terremoto deslocou os montes e o
fogo foi devastador. São todos demonstrações poderosíssimas da grandeza,
majestade e força do Criador, "mas o Senhor não estava lá" veio uma brisa
tranqüila, suave e calma... e Deus ali estava. Elias, portanto, não estava só!

Se assim é, volte à atividade! Volte à vida! (vv. 13-16). Deus diz a Elias duas
coisas:
(1) você foi chamado para ser profeta, por isso irá ungir três homens, um dos
quais irá sucedê-lo, e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 314


(2) Deus lhe assegura que sete mil fiéis estão do seu lado. Você, meu irmão em
Jesus Cristo, está na mesma condição: foi chamado para as riquezas da graça de
Cristo, recebeu a unção do Espírito Santo, tem ao seu lado a unidade dos fiéis, da
igreja que o ama e ora por você.

Parte 64.
UM PASSO ALÉM ... DA DÚVIDA

(Pregado em 03/abr/94)

"Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os


discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus,
pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e
o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor. Disse-lhes, então,
Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu
vos envio a vós. E havendo dito isto, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e
àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos. Ora, Tomé, um dos doze,
chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Diziam-lhes, pois, os
outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o
sinal dos cravos nas suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não
meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei. Oito dias depois estavam
os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as
portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. Depois disse a
Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a
no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-lhe Tomé:
Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-
aventurados os que não viram e creram." ( Jo 20.19-29).

Diariamente somos atormentados pela dúvida: "Não creio que...", dizemos; "Isso é
impossível...", e assim seguimos. Homens começam a duvidar de si mesmos
quando chegam aos quarenta, e já precisam de bifocais, e começam a ficar
calvos, e pensam que estão perdendo a virilidade. Mulheres vivem o pesadelo de
imaginar que perderam a feminilidade porque alcançaram certa idade.

Na verdade, a dúvida nos diz que não podemos descansar no poder de Deus, e,
por isso, viramos uma pilha humana, um feixe de nervos sem confiança em coisa
alguma e com uma vida cheia de apreensões. A dúvida enfraquece nosso
testemunho por Cristo. Lemos acima João 20.19-29, onde Tomé é encarado como
a síntese da incredulidade. Podemos aprender com ele que não é pecado ter uma
dúvida intelectual, uma dúvida honesta, mas pecado é persistir na descrença.

DÚVIDA E DÚVIDA

O belíssimo campo da Filosofia nos ensina sobre Descartes e a dúvida filosófica.


No processo do pensar, é necessário fazer uma pausa para que se continue o
caminho. Essa pausa é a dúvida, quando se suspende todo assentimento ou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 315


negação para que a caminhada do pensar seja retomada com mais vigor.

A dúvida científica é metódica; é o processo de laboratório, de estúdio, de


escritório, no qual o cientista, seja ele um químico, um físico, um matemático, um
cientista social utiliza o erro-e-acerto: "vou acrescentar (ou retirar) isto. Dará certo?

Ä dúvida cética é uma "atitude diante de tudo o que o ser humano considera
verdadeiro, desde as percepções sensoriais até as convicções religiosas" (Paul
Tullich em Dinâmica da Fé). É verdade; existe a dúvida incredulidade e a dúvida
honesta, de caráter intelectual; a dúvida-coração duro, de pedra, e a dúvida que
pode atingir até o salvo, ou como citado Tillich afirmou "a dúvida se encontra
encerrada no risco da fé". É preciso ser corajoso para ter fé, e é isso o que torna a
fé uma virtude altamente dinâmica. Jesus nos exorta a crer: "Tende fé em Deus"
(Mc 11.22). É sinal de orgulho, portanto, nos colocarmos acima da Palavra de
Deus baseando-nos no que pensamos ser a certeza das nossas opiniões,
pensamentos, julgamentos, e rejeitarmos as promessas de Deus.

Então, a dúvida cética, dúvida-incredulidade, a dúvida-coração-altivo faz com que


não saibamos o que fazer ou que caminho tomar. Duvidamos de nós mesmos, de
amigos, de nossa fé na escritura, duvidamos de Deus, e disso saimos derrotados,
desencorajados e destruidos. A fé, pelo contrário, constrói, eleva e fortalece, como
salienta Paulo, o apóstolo:

"No evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus..." (Rm 1.17a)

A dúvida é um problema porque leva à falta de confiança, à insegurança, à


angústia, e ao sentimento de culpa.

"Como a Astronomia nos libertou das superstições da Astrologia; como a Química


nos libertou das superstições da Alquimia; o Evangelho nos libertou do erro e
superstições camufladas em tradições e crenças populares" (Paul E. Johnson em
Psicologia da Religião).

A fé traz sorriso à tristeza, luz aos desespero, e bênção ao faminto de coração.

MOTIVOS

São muitos os motivos de dúvida. Há perguntas, dúvidas, sobre a vida e sobre a


morte. Há quem duvide de Deus porque as circunstâncias da vida foram ou são
difíceis. O momento que vivemos em nossa Pátria leva-nos a duvidar; há quem
duvide pela perda de saúde, como na dolorida pergunta do Salmo 77.9:

"Esqueceu-se Deus de ser compassivo. Ou na sua ira encerrou ele as suas ternas
misericórdias?"

(a palavra de fé logo adiante é de um conforto e segurança inestimáveis: "O teu


caminho, ó Deus, é em santidade; que deus é grande como o nosso Deus?", (v.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 316


13); há quem duvide pela perda da felicidade e de santidade, pois o pecado nos
leva ao desespero e a duvida:

"O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará; mas o que as confessa
e deixa, alcançará misericórdia." ( Pv 28.13).

Um tipo de dúvida diz respeito à maldade que impera no mundo. Lembremos que
a violência, a culpa de sangue, o levantar-se contra o irmão é coisa tão antiga
quanto à própria civilização:

"Falou Caim com o seu irmão Abel. E, estando eles no campo, Caim se levantou
contra o seu irmão Abel, e o matou." (Gn 4. 8);

"Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a
imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente. Estas são
as gerações de Noé. Era ele homem justo e perfeito em suas gerações e andava
com Deus. A terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de
violência. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne
havia corrompido o seu caminho sobre a terra." (Gn 6.5, 9, 11, 12).

e João nos relembra que "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro
jaz no Maligno." (1Jo 5.19).

Os teólogos ensinam que entre o estabelecimento do reino de Deus com o início


do ministério de Jesus e a sua plenitude com Sua segunda vinda há uma tensão
existencial, física e metafísica. Por isso que "somos de Deus e o mundo (ainda)
jaz no maligno" (cf. 1Jo 5. 19), e, assim, sofremos na alma, no corpo e no espírito
os terríveis efeitos da maldade que permeia nossa sociedade.

Outra dúvida intelectual é por que Deus permite o sofrimento? O sofrimento é uma
verdade e não pode ser tratado de maneira simplista. Há muitas posições quanto
ao tratamento ser dado ao sofrimento: os docetas (que negavam a natureza
humana de Jesus) diziam que o sofrimento é uma ilusão. Para eles o sofrimento
não é curado, mas negado. Os estóicos ensinavam que o sofrimento deve ser
enfrentado com aceitação passiva. Os hedonistas dizem que a dor deve ser
equilibrada ou vencida intoxicando-se a pessoa de prazer. Os existencialistas no
seu tipo mais radical afirmam ser a vida um absurdo, por isso o sofrimento deve
ser desafiado com intrepidez.

A Bíblia ensina que o sofrimento está ligado à queda do ser humano, da qual é
produto; ensina que somos chamados a participar do sofrimento de Jesus Cristo
que nos alerta:

"No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo"( Jo
16.33),

onde não há talvez, mas uma afirmação.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 317


Há quem duvide da segurança da salvação, lançando para trás todo o ensino
sobre a perseverânca dos verdadeiros crentes e o modo seguro como Jesus
Cristo nos tem na mão( cf. Jo 10.27, 28). Além disso, Paulo apresenta em
Romanos 8.31-39 um felicíssimo e inspirado hino de vitória, onde se destacam:

"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a


perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Mas em todas
estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque
estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem
coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a
profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (vv. 35. 37-39).

Duvidar da salvação eterna e pregar que o crente pode perdê-la é negar o ensino
do evangelho (cf. Jo 3.36), e recusar-se a crer que a Bíblia é a Palavra de Deus
(cf. Jo 5.24).

Há, sem receio de dizer, muitas outras dúvidas que, apesar de movidas pela
ignorância, são honestas e recebem resposta da Bíblia Sagrada. É a idéia de que
todo caminho leva ao céu; a questão sobre o que acontecerá a quem nunca ouviu
falar do evangelho; ou as indagações sobre a vida além da morte.

Qua fazer? Devemos voltar à história de Tomé e sua dúvida (Jo 2019-29). Admita
as dúvidas com honestidade. Tomé o fez, "Diziam-lhes, pois os outros discípulos:
Vimos o Senhor. Ele , porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas
suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos cravos, e meter a mão no seu lado,
de maneira nenhuma crerei" (v. 25).

Busque a comunhão de seus irmãos de fé. Isso Tomé não fêz, "Ora, Tomé, um
dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus" (v. 24).
Havendo Jesus sido crucificado, Tomé se isolara e, assim, não recebeu a bênção
do posterior encontro com o Salvador.

Lembre-se das promessas e do poder de Deus. Tomé se esquecera de que Jesus


havia prometido ressuscitar.

Leve suas dúvidas ao Senhor. Não é pecado fazer a pergunta que queima o
coração. Mesmo Jesus exclamou, "Meu Deus, por que me desamparaste?

Colhemos o que semeamos: se você planta dúvida, colhe incerteza e insatisfação


espiritual; se planta fé, colhe crescimento. Portanto, creia na palavra de Deus, pois
"a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo". Na tentação, a resposta de
Jesus foi sempre com a Palavra de Deus (cf. Mt 4.3-11). A dúvida honesta,
confrotada pela Palavra de Deus e pela fé, disciplinará o coração e a mente.

Parte 66.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 318


UM PASSO ALÉM ... DA FRAQUEZA

"É necessário gloriar-me, embora não convenha; mas passarei a visões e


revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos se no
corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro
céu. Sim, conheço o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o
sabe), que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é
lícito ao homem referir. Desse tal me gloriarei, mas de mim mesmo não me
gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Pois, se quiser gloriar-me , não serei
insensato, porque direi a verdade; mas abstenho-me, para que ninguém pense de
mim além daquilo que em mim vê ou de mim ouve. E, para que me exaltasse
demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a
saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de eu não me exalte
demais; acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o afastasse de mim; e ele
me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que
repouse sobre mim o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades. Nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.
Por que quando estou fraco, então é que sou forte" ( 2 Co 12.1-10 )

Nossa fraqueza (e toda opressão que dela nasce) é sentida em todas as esferas
de nossa vida: somos fracos para superar nossas ansiedades, receios e
complexos; somos fracos para superar a ira, o ódio, a vingança, o ciúme; somos
fracos para exercer influência. Por isso, fraqueza é o sentimento de que ninguém
nos dá atenção, ninguém nos ouve, e nossa voz se perde. A fraqueza é uma
decorrência da nossa finitude. Daí, o cansaço, o medo diante da dor, as
expectativas que se transformam em angústia.

Mas o plano de Deus para nós não inclui a fraqueza como pode ser plenamente
atestado em 2Coríntios 2.14: "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos
conduz em triunfo, e por meio de nós difunde em todo lugar o cheiro do seu
conhecimento".

FRAQUEZAS

Temos que partir do pressuposto que nossa fraqueza é necessária para que em
nós se manifeste a grandeza do Senhor. Assim aconteceu com o apóstolo Paulo,
extraordinário instrumento de Deus para levantar a Igreja de Jesus Cristo naquele
mundo pagão, ímpio, gentio. E, no entanto, Paulo tinha tantas fraquezas. Uma
delas era uma enfermidade que não foi especificada, "E, para que me não
exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na
carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu
não me exalte demais; acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o
afastasse de mim" (2 Co 12.7, 8). Há muitas idéias sobre o que era o espinho da
carne do apóstolo Paulo: alguém disse que era um problema de vista, causado por
aquela visão tão marcante no caminho de Damasco (At. 9.1-19): A luz tão
grandiosa fê-lo ficar com problemas, cego, na verdade (cf. Vv. 8,12 ). Dizem os

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 319


estudiosos que por causa disso ficou com uma doença crônica na vista. Sugerem
que para atestar, Paulo deixou registrado em Gálatas 6.11: "Vede com que
grandes letras vos escrevo..." (cf. Gl 4.15b); tudo resultado do seu problema de
vista. Outro estudioso disse que o problema de Paulo era epilepsia, ele teria
convulsões, crise epiléptica. Alguém disse que o espinho na carne era a mulher
dele; ou, quem sabe, sua sogra... Realmente, qual era o espinho na carne não
sabemos, mas o fato é que ele tinha esse impedimento, e o apresenta ao Senhor,
e diz, "roguei ao Senhor que o afastasse de mim" (2 Co 12.8).

Foi criticado pelas ovelhas: "As cartas dele são graves e fortes, mas a sua
presença corporal é fraca e a sua palavra desprezível" (2 Co 10.10 ). Quando
Paulo falava, não era um orador como Apolo (cf. At 18.24-28); quando de
apresentava, dizem que era muito feio, e que também não era muito simpático à
primeira vista. Mas quando escrevia, era portentoso, e quando trabalhava , mais
que um gigante na causa do Senhor. Ciente Paulo, portanto, perfeitamente
consciente que seu corpo, nosso corpo, é fraco e corruptível, no entanto, na
inspiração do Espírito de Deus, escreve o hino sobre a ressurreição, onde fala do
corpo que é fraco e natural, corruptível no presente, mas incorruptível na
eternidade, e de desonra a ser revestido de gloria, e sendo fraco, será revestido
de poder, e de natural passará a corpo espiritual. Poderão ler em 1 Coríntios 15,
versos 42 a 44, esse belíssimo hino acerca da ressurreição.

O apóstolo Pedro foi fraco também, meus irmãos. Jesus Cristo havia sido preso,
então Pedro fugiu, desapareceu (Mt 26.56), escondeu-se (Mt 26.58), negou (Mt
26.69-74). Três horrorosas fraquezas: fugiu, escondeu-se e negou a Jesus Cristo.
Voltemos ao apóstolo Paulo que vai dizer, como já lemos atrás (2Co 12.10) de
quatro qualidades de fraquezas: injúrias, ou seja, insultos, abusos verbais, maus-
tratos de natureza física ou psicológica; necessidades, aflição, calamidade,
privações ( cf. 2 Co 1.27 ); perseguições, apedrejamentos, encarceramentos por
inimigos do evangelho ( cf. 2 Co 11.23-26 ); angústias, circunstâncias prementes,
tribulações ( cf. 2 Co 6.4 ).

Por isso só temos que aprender uma grande lição: que as fraquezas nos
resguardam do orgulho e exaltação anticristãs conservando-nos na humildade,
pois "Deus... dá... graças aos humildes" (Tg 4.6; cf. 1 Pe 5.5; Lc 1.52; Sl 147.6).

FRAQUEZAS E VITÓRIAS

A Bíblia declara que "o poder pertence a Deus" (Sl 62.11b). Não há poder
separado do poder do Criador, porque poder não é algo que Deus tem, mas, sim o
que Deus é, como sua essência é amor, sabedoria e perfeição. A.W. Tozer
completa: "O poder de Deus é o Seu Santo Ser em ação".

Sobre fraqueza e poder (fraqueza humana x poder divino; fragilidade da pessoa


humana x atos poderosos de Deus), Paulo se expressou inúmeras vezes, como
em Filipenses 4.11-13, onde fala de um poder inesgotável e invencível: "Não digo
isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 320


circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter
abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto
em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer
necessidades. Posso todas as coisas naquele que me fortalece", ou em 2Coríntios
3.5b, "a nossa capacidade vem de Deus", onde afirma com clareza máxima que
nossa suficiência e habilidade vêm unicamente do Pai, mostrando com isso que
em fraqueza somos fortes, e essa vitória é de natureza espiritual porque depende
não das condições nossas (quem somos nós?) mas do Espírito (cf. 2Co 12.9). É
poder para resistir à fraqueza da tentação e ter vitória sobre o pecado, nos termos
de 1Coríntios 10.13, "Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana; mas
fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir,
antes com a tentação dará também o meio de saída, pra que a possais suportar",
por isso, "em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos
amou." (Rm 8.37).

É nesse ponto que somos lembrados da extraordinária ajuda dada por Jesus
Cristo : "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se
das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado." (Hb 4.15). Nosso Sumo Sacerdote não é insensível, frio e anestesiado
diante das nossas dores e fraquezas, "Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao
trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de
sermos socorridos no momento oportuno" (Hb 4.16). Esse é o nosso Sumo
Sacerdote: é Cristo Jesus, Que tem identidade completa com a nossa
humanidade, porque tudo Ele suportou! Tudo o que um ser humano pode suportar
Ele suportou, e por ser vencedor, pode compadecer-se de nossas fraquezas, e
podemos cantar: "Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive contudo
pelo poder de Deus. Pois nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele
pelo poder de Deus para convosco."

Sim; somos reconhecidos por nossas fraquezas. Reconheçamos, então, que


enfraquecemos às vezes, no entanto, isso é parte da nossa condição humana. Até
quando queremos aparentar uma extrema fortaleza? Querem exemplos retirados
da própria Escritura? Abraão por duas vezes escondeu parte da verdade a
respeito de Sara, sua esposa, pedindo que não dissesse que era sua mulher, mas
tão somente sua irmã (cf. Gn 12.11-13; 20.2). Moisés ficou fraco murmurando ele
mesmo (Nm 11.11-14). Elias, o profeta, que depois de uma extraordinária vitória
de Deus no Monte Carmelo, ficou com medo de uma mulher, enfraqueceu e
fugiu?! (1Rs 19.3ss). No fim, todos foram vencedores com a ajuda do Senhor, e
essa é uma grande lição: a nossa fraqueza vai fazer com que o poder de Deus se
manifeste de um modo muito mais claro!

É verdade que enfraquecemos, mas não temos que viver nessa fraqueza.
Precisamos de confiança, de dependência renovada de Deus. Que linda
expressão da Escritura Sagrada a que diz: "Por que estás abatida, ó minha alma,
e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela
salvação que há na sua presença" (Sl 42.5; cf. Jó 13.13b, 15b). É deixar que Deus
aja, pois, "Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 321


nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).

O lema do apóstolo Paulo era, sem dúvida, Filipenses 4.13: "Posso todas as
coisas naquele que me fortalece!" Em outras palavras, "Eu posso tudo através de
Jesus Cristo!" Um tradutor na Bíblia (J. B. Phillips) parafraseando este texto disse
assim: "Eu estou pronto para tudo pela força daquele que vive em mim". Na Bíblia
Viva, deste modo foi traduzido: "Eu posso fazer tudo o que Deus me pede, com a
ajuda de Cristo que me dá a força e o poder". Na Bíblia Ampliada foi expresso, "Eu
sou auto-suficiente na suficiência de Cristo". E o Pr. Russell Shedd assim verteu
este texto: "Eu posso agüentar todas as coisas ou circunstâncias naquele que me
está fortalecendo". Seja qual for a tradução, todas dizem a mesma coisa: o cristão
tem dentro de si todo o poder de que necessita para estar apto, pronto, habilitado
a enfrentar as exigências e demandar dessa vida tão ingrata e cruel. Só
precisamos liberar esse poder pela fé, é o que Jesus Cristo ensina em João 15.5,
"Sem mim nada podeis fazer".

Temos a oferecer a Deus a nossa fraqueza, pois Ele nos oferece a Sua força. Foi
o que fizeram os chamados "heróis da fé" em Hebreus, capítulo 11. Nesse texto, a
descrição de lutas, perseguições, provações, dificuldades! Na fraqueza, olhemos
para trás, e recuperemos o ânimo porque é essa a expressão que encontramos na
lista dos heróis da fé: "apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da
fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na guerra, puseram em fuga
exércitos de estrangeiros" (Hb 11.34). Que Deus nos abençoe!

Parte 67.
UM PASSO ALÉM ... DA IRA

"Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para
falar e tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus" (Tg
1.19, 20).

Um psicólogo especializado em psicologia infantil fez um estudo de


comportamento emocional de crianças bem pequeninas tendo chegado à
conclusão de que a ira é uma das emoções que mais cedo acontecem. Como
adultos, temos em muitas ocasiões experimentado a ira. Uns a têm experimentado
mais que outros, e quantas vezes tem sido difícil, muito difícil, controlar o
temperamento.

SIGNIFICADO DA IRA

A ira é uma experiência tão comum que nem precisa ser definida. Duas
características, porém, podem ser destacadas. É uma reação emocional que de
algum modo precisa ser expressa. Uma pessoa se ira porque se sente ameaçada,
agredida ou, mesmo, envergonhada. Crianças choram, gritam, esperneiam;
adultos a evidenciam em suas faces, no tom de voz, por palavras, e, muitas vezes,
por violência física.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 322


A segunda característica da ira é que ela é também motivadora porque numa
situação difícil, podemos ter uma destas três reações: atacar a situação, fugir ou
nos colocar acima dela.

Em Efésios 4.30,31 há um conceito de ira, Paulo diz que não devemos entristecer,
através dela, o Espírito Santo. Quando o irmão permite que a ira e a amargura
dirijam a sua vida, Deus é ferido; a habitação do Espírito Santo, que é o próprio
irmão, é afetada pela atitude de raiva, ódio e ira. Há cinco palavras nesta
passagem que nos dão um conceito interessante, embora elástico, da ira:

"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da
redenção. Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas
dentre vós, bem como toda a malícia" (Ef 4.30,31).

Amargura (piknia), ou seja, guardar no peito o amargor de uma experiência, o


rancor, e, por isso, viver amargurado com outra(s) pessoa(s);
Cólera (thumos) é a ira repentina que logo se acaba, como um fósforo;
Ira (arge) é a cólera que termina em vingança;
Gritaria (krauge) também pode ser falar mal, dizer mal (maldizer);
Blasfêmia ou maledicência é toda palavra que se usa com o propósito de ferir
pessoalmente a alguém.
Em Colossenses 3.8 são usadas as mesmas palavras, a idéia, porém, é que a
expressão de raiva e ira são como roupas velhas que devem ser jogadas no lixo e
queimadas em seguida.

Os dias que vivemos são causadores de amargo estresse e profunda tensão: As


sirenes dos carros de polícia da ambulâncias parecem mais altas do que nunca;
os ônibus, mais cheios do que sempre; os acontecimentos, os crimes arrepiantes;
a preocupação com a perda do emprego, o dinheiro que não dá a partir da
terceira, talvez da segunda semana; a elevação dos preços. Estamos rodeados de
pessoas tão sujeitas a tensões e estresse quanto nós, e freqüentemente reagem e
nos tratam com raiva e rudeza.

Façamos, no entanto, distinção, pois a raiva (cólera, na definição do Novo


Testamento) é uma ira momentânea, uma emoção da hora, enquanto a ira
propriamente dita é a cólera alimentada, sustentada, mantida, acarinhada até; é a
cólera crônica que termina, quase sempre, em tragédia. A Escritura na sua
sabedoria adverte: "Quem facilmente se ira fará doidices; mas o homem discreto é
paciente" ( Pv 14.17), e também,"Pesada é a pedra, e a areia também; mas a ira
do insensato é mais pesada do que elas ambas" ( Pv 27.3);

A IRA É DESTRUIDORA

A ira destrói tanto no campo físico quanto no espiritual. Um psicólogo cristão


sugere que há três maneiras de se lidar com a raiva: expressá-la, reprimi-la e
perdoar quem no-la causou.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 323


No primeiro caso, pode-se fazê-lo de maneira construtiva ou destrutiva.
Destrutivamente é gritando, insultando, proferindo palavrões, agredindo
fisicamente, matando. Uma criança com seus três anos e que sempre recebeu
atenção exclusiva dos pais tem, agora, que dividi-la com o irmãozinho que nasceu.
Quando sua necessidade de atenção é temporariamente ignorada pela mãe que
está ocupada com o bebê, pega um brinquedo e o joga no berço do irmãozinho. A
mãe se assusta, fica enraivecida, bate na mão do nenen, e o repreende: começa
um círculo de ira que conduz a frustração e mais ira!

Pode-se agir destrutivamente resmungando, rezingando ou, de modo sutil,


solapando, minando a personalidade ou influência de alguém. Também se pode
destruir outra pessoa sem sequer levantar a voz. Basta o mexerico, a crítica
destrutiva, o sarcasmo, o levar-se o outro ao ridículo, pois em raiva é possível
depreciar a personalidade, a inteligência, as habilidades e a dignidade do outro.

Mas é possível expressar-se a raiva construtivamente. Em vez de atacar física ou


verbalmente a outra pessoa, podemos dizer: "estou com raiva porque você não
veio almoçar e não me avisou". Não diga à criança para não se zangar: melhor
será ensiná-la a verbalizar.

A segunda maneira de lidar com a raiva é reprimindo-a. No entanto, enterrá-la é


um tremendo erro. Há quem pense que o bom crente assim deve fazer. Sabe o
que acontece? O corpo se intoxica, e se vinga com as doenças chamadas
psicossomáticas. Quer dizer, a doença é real, mas se baseia numa condição
emocional. É aquele que não suporta o patrão e sua reclamação, e cria então
úlceras, colite, tosse, problemas de pele, hipertensão, enxaquecas e distúrbios
cardíacos. Ou chega à situação de explodir como uma panela de pressão com a
válvula entupida!

Há um terceiro modo de se lidar com a raiva, e dele trataremos mais adiante.

A IRA E O CRENTE EM JESUS CRISTO

É preciso distinguir entre ira e ira. Há todos esses aspectos pecaminosos da ira já
apresentados (cf. Efésios 4.30,31). Por isso, de acordo com a Bíblia, a ira é
inaceitável quando é apressada (Provérbios 14.17), sem motivo (Mateus 5.22) ou
de longa duração (Eclesiastes 7.9). A Escritura nos ensina a não abrigar a
vingança (cf. Provérbios 19.11), nem a manter companhia com pessoas que vivem
sempre furiosas e enraivecidas (cf. Provérbios 22. 24).

E mais uma vez salientamos que é preciso fazer diferença entre ira e ira. A Bíblia
fala da ira de Deus, o "Dia da Ira"; fala que Jesus se irou com a falta de fé dos
homens (Marcos 3.5), e no templo com os cambistas (Marcos 11. 15-19), e o
próprio Paulo escreve em Efésios 4.26, 27: "Irai-vos, e não pequeis: não se ponha
o sol sobre a vossa ira; nem deis lugar ao Diabo". Paulo zangou-se quando
Marcos o deixou, mas depois não mostrou rancor, porém o amou e respeitou (cf.
Atos 13.13; 15.37-39; 1Timóteo 4. 11). Então é preciso mesmo estabelecer

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 324


diferença entre a ira-pecaminosa e a ira-que é-indignação-e-reação-ao-pecado.

A LIBERTAÇÃO DA IRA

Em Efésios 4. 32 está a chave para a libertação porque Deus nos perdoou de todo
pecado e nos dá força para perdoar aos outros: "Antes sede bondosos uns para
com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus
vos perdoou em Cristo."

Muitas vezes você é insultado e injuriado. Na próxima vez em que isso acontecer,
faça o seguinte; veja essa (má) experiência como uma maneira de crescer na
graça de Deus. Você não pode crescer no amor e perdão a não ser que sua vida
seja tentada. Cada insulto é uma oportunidade que Deus lhe dá para ser
semelhante a Jesus Cristo, pois, além dos resultados físicos e emocionais, há um
terrível dano espiritual: "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria,
e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia. Antes sede
bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus vos perdoou em Cristo" (Ef 4. 30-32), por isso: "Irai-vos, e não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira" (Ef 4. 26), porque raiva não se
guarda: é lixo.

Lembre-se de que cada vez que você é insultado e levado ao ridículo, Deus lhe
está dando a oportunidade de mostrar que Cristo realmente pode fazer diferença
na vida humana. Se você paga o insulto com insulto, ira e ressentimento está
dizendo ao mundo que Cristo não fez nada na sua vida.

O REMÉDIO

Há quatro coisas que você deve fazer para curar a ira:

Encare-a como um pecado e confesse-o a Deus. A ira sempre será um problema


na sua vida se não admitir que a amargura, a raiva e o ressentimento são pecados
(cf. 1Jo 1.9). A. W. Tozer conta de um crente poderosamente usado por Deus na
oração pelos enfermos. Como resultado de seu ministério, era chamado fora de
horas. Certa ocasião, depois da meia-noite, foi chamado por alguém. Reclamou
com Deus a falta de consideração, Deus lhe tirou o dom.

Se você for ofendido ou insultado por alguém, lembre-se que seus pecados contra
Deus são maiores que os cometidos contra você (Ef 4.32).

Quando ofendido por outra pessoa, recorde-se sempre que o problema pertence a
Deus e não a você (Rm 12.17-19).

Quando ofendido, agradeça a Deus (1Ts 5.18). Por que fazê-lo? A ofensa é uma
oportunidade para crescer no caráter de Cristo. A maturidade espiritual de um
crente em Jesus Cristo não é determinada por quantas pessoas ele não ofende,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 325


mas pelo modo como reage ao que o ofende.

E aqui o prometido terceiro método de lidar com a ira: perdoando, pois é o da


Bíblia. Na cruz, Jesus Cristo exclamou: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o
que fazem" (Lc 23.34), porque compreendera as fraquezas, faltas e limitações
humanas. É mais fácil perdoar quando primeiramente tentamos compreender.

Jesus Cristo faz a diferença. A pergunta é: que tipo de relacionamento tem você
com o filho de Deus? É Ele Seu Salvador? Já entregou sua vida a Cristo para que
Ele a governe e a torne uma bênção para os outros.

Parte 68.
UM PASSO ALÉM ... DO MEDO

"Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração, e não te escondas da minha súplica.


Atende-me, e ouve-me; agitado estou, e ando perplexo, por causa do clamor do
inimigo e da opressão do ímpio; pois lançam sobre mim iniqüidade, e com furor
me perseguem. O meu coração constrange-se dentro de mim, e terrores de morte
sobre mim caíram. Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu." (Sl 55.
1- 5)

O texto bíblico disse "temor e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu". Há


quem pense que medo é coisa de menino: menino tem medo de bicho-papão, tem
medo do escuro, tem medo de ficar só. No entanto, a criança cresce, e o bicho-
papão toma outro nome: desemprego; o medo do escuro se torna medo do
fracasso, e o medo de ficar só permanece.

O medo é, sem dúvida, uma das expressões humanas mais comuns. Aprendemos
com a Bíblia, no entanto, que ele pode ser vencido.

MOTIVOS

Aliás, há todo um capítulo sobre o medo em livros de psicologia. As fobias são


interessantíssimas. Quem tem medo do escuro sofre de nictofobia; medo de lugar
fechado (conheço uma senhora que não entra em elevador; se tiver de subir dez
andares, ela o faz pela escada) é claustrofobia. Há pessoas que têm medo de
lugares amplos, abertos, espaçosos (uma praça, por exemplo): é agorafobia. E
quando fica a pessoa num lugar muito alto (nunca lhe deu uma zonzeira lá em
cima, quase lhe empurrando para cair na avenida?) Chama-se acrofobia. E medo
de gente morta? É a necrofobia. Você tem medo de aranha? O nome é
aracnofobia. Dizem que uma em cem pessoas sofre de um tipo qualquer de fobia,
tem medo de alguma coisa.

É normal o medo da guerra. Afinal, na I Grande Guerra (1914-1918), 65 milhões


de homens foram mobilizados; 8,5 milhões deles foram mortos; 21 milhões
voltaram feridos para suas terras; 7,7 milhões foram aprisionados. Na II Guerra

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 326


Mundial (1939-1945), foram mobilizados 100 a 125 milhões de homens (duas
vezes mais que na I Guerra); 52 milhões de seres humanos foram mortos (seis
vezes mais que na guerra anterior); 27 milhões de soldados de ambos os lados
foram aprisionados; 25 milhões de civis foram mortos, e destes 6 milhões eram
judeus. Uma III Guerra Mundial destruiria a população do mundo. Em 1939, a
bomba mais poderosa que existia tinha meia tonelada de TNT; vinte e dois anos
depois (1961), a bomba mais forte tinha 50 milhões de toneladas de TNT. E
muitos países hoje ainda mantém arsenal atômico; não tanto quanto na guerra
fria, mas, ainda assim, amedrontador. Por isso, Oppenheimer, físico germano-
americano falecido em 1967 disse que "ninguém dentre nós pode esperar que
fiquem vivos bastantes para enterrar os mortos".

Há quem tenha medo do passado; há quem tenha medo do futuro; há quem tenha
medo da noite, e do dia; há quem tema a pobreza, a morte, a doença. Conheci
alguém que tinha uma extrema mania de limpeza (a palavra mania é técnica). Ela
não almoçava na casa dos outros porque dizia não saber como era limpeza da
cozinha.

Há quem tenha medo do desconhecido; há quem tenha medo de pessoas, e isso


é sentimento de inferioridade. Há uma historieta que diz que um homem foi ao
psicólogo, e na sessão de terapia, o psicólogo lhe disse: "Você não tem complexo
de inferioridade, não. Você é inferior mesmo". Isso só vale como piada, porque um
psicólogo nunca diria algo desse teor, e o evangelho afirma a dignidade e
superioridade da pessoa humana, de qualquer pessoa humana.

Há quem tenha medo de amar, de externar os sentimentos; medo de morrer


dormindo. Há quem tenha medo do "pecado imperdoável", sem nem saber qual é.
Alguém me disse ter medo de participar da Ceia do Senhor e tomá-la
indignamente.

Há quem tenha medo do Dia do Juizo. Abraão teve medo do rei do Egito e mentiu
(Gn 12.10-13; cf. 20.13). Sara teve medo de não ter herdeiros, e deu como
concubina ao marido uma escrava (Gn 16.1,2). Isaque teve medo do rei dos
filisteus e mentiu como o pai havia feito (Gn 26.1, 6, 7). Jacó teve medo do irmão,
Esaú, e fugiu; depois teve medo do tio/sogro, Labão, e fugiu. Quando o sistema
biológico-psíquico-espiritual está fora de equilíbrio, surgem temores como
aconteceu com estes acima. Moisés teve medo de Faraó e fugiu. Saul teve medo
de Davi; Davi teve medo do filho, Absalão; os apóstolos tiveram medo de Jesus
que vinha andando sobre o mar. As nações se armam porque têm medo umas das
outras.

MEDO E MEDO/ EFEITOS

O medo em si não é errado, por isso há que distinguir entre medo e medo. Há,
pelo menos, três acepções da palavra medo.

A primeira é que é um sentimento de ansiedade causado pela presença ou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 327


proximidade de perigo (a criança faz algo errado, tem medo que a mãe descubra).
Há outro tipo de medo que é o sentimento de desconforto, de desassossego como
quando o filho sai à noite e a mãe, o pai fica sem sossego até que ele volte. Dá 10
horas, 10h30, 11h e ele não chegou, deu 11h30, e ele não deu notícia; vem
aquele desassossego no coração.
E existe o medo que é um sentimento de pavor (encontro com uma cobra, ou
quando alguém se defronta com um cão que late).
Os mecanismos de defesa, alerta e segurança do nosso ser disparam o medo
para nos prevenir das ameaças, e, precisamente, para que possamos dar um
passo atrás, e tomar defesa. Em certo sentido, as invenções e as descobertas são
produtos de temores nossos. O medo do escuro, por exemplo, tornou possível o
uso do fogo, e depois da lâmpada incandescente e da fluorescente. Por causa da
dor, a medicina faz uso da anestesia. Que progresso no campo da anestesia!

Há o medo desejável e o indesejável. O desejável é a emoção que


experimentamos em presença do perigo real, seja físico ou não, mas sempre
verdadeiro. É uma prevenção, uma segurança para nós. O medo indesejável é
aquele em excesso, ou a preocupação no limite da neurose; aquele que deixa a
pessoa à beira de um ataque de nervos. Medo de cobras numa mata é coisa
normal, medo de cobras debaixo da cama é uma neurose.

Há quem procure vencer o medo reprimindo-o: é pior, vai para o inconsciente, e os


efeitos dessa repressão vão ser as palpitações, as enxaquecas, as cãibras, as
convulsões, os tremores, o descontrole dos nervos, as doenças psicossomáticas,
dores de estômago, prisão de ventre (ou diarréia), os vômitos, a hipertensão (que
pode levar à parada cardíaca), as neuroses, a destruição da personalidade, o
suicídio, complexos, crimes, mau gênio, abatimento, fantasias, superstição. Creio
que foi numa situação dessas que Davi (que andava perseguido) escreveu "temor
e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu" (Sl 55.5).

QUE DIZ A BÍBLIA?

A Bíblia diz que a origem do medo não está em Deus. Pelo contrário, em 2Timóteo
1.7, o apóstolo Paulo ensina que "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de
poder, amor e moderação" (ARC). A Bíblia diz que o medo surgiu quando foi
cometido o primeiro pecado; então, esse medo é anormal, e aqui está: o Senhor
chamou o homem, e "respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive
medo, porque estava nu; e escondi-me" (Gn 3.10). É a primeira vez em que
aparece a palavra medo na Escritura Sagrada, e a pessoa dominada pelo medo e
obcecada pelo temor não possui uma mente livre, nem pode tê-lo. Por isso, além
dos problemas físicos já enumerados, além dos problemas emocionais já
descritos, há um sério problema espiritual, porque a fé é paralisada, imobilizada.
Ora, cristão com medo significa beirar as trevas, porque não admite o evangelho
que o crente em Jesus Cristo continue remexendo culpas passadas e que já foram
perdoadas, e memórias já purificadas

Realmente, todos cometemos erros, mas devemos olhar, não para os erros, mas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 328


para a cruz de Jesus Cristo, e o apóstolo Paulo tem uma palavra tão explicativa,
clara e modelar para nós: "Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas
que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo
prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus." (Fp 3.13, 14). Que
extraordinário! É deixar para trás o que tem de ficar no lixo, meus irmãos, e olhar,
e caminhar, e avançar para a cruz, olhando para a luz do Senhor Jesus Cristo!

UM PASSO ALÉM DO MEDO

O evangelho não é religião de temor, de receios, de medo, mas de amor: Leio na


Escritura, e observo que quando João escreveu sua primeira carta, ele disse "No
amor, não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo
envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor." (1Jo 4.18).
Vejam bem, João não colocou medo de um lado, e coragem do outro, ele falou em
amor. Quando temos o amor no coração, esse amor que um dia nos cobriu, esse
amor que um dia encheu a nossa vida, esse amor que tomou conta do nosso
espírito, esse amor que nos salvou, deixamos o medo para trás. Não mais existe,
porque daí vêm todas as virtudes que nascem do coração. Saibam que essas
virtudes geralmente trazem a partícula cor (lat.,coração)? Cordialidade,
misericórdia, concórdia, coragem. E por isso: não precisa falar em coragem, basta
falar em amor!

Assim é porque o medo é negativo, o amor é positivo; o medo é destruidor, mas o


amor constrói, razão porque a Bíblia diz que "No amor não há medo antes o
perfeito amor lança for o medo" (1Jo 4.18).

Não devemos confundir o medo patológico, o temor/medo com o "temor do


Senhor", porque a palavra de Deus diz que "o temor do Senhor é o princípio da
sabedoria" (Pv 1.7 ARC; Jó 28.28), e que é a "fonte de vida" (Pv 14.27). Não há
lugar na vida do crente em Jesus Cristo para patologias do medo! Afinal, já fomos
perdoados dos pecados. Fora com o medo-culpa! No lixo, o medo-pavor, o medo-
terror! E verifico nas Escrituras que a primeira mensagem evangélica foi a do anjo
de Deus que dizia: "Não temais [não tenham medo], porquanto vos trago novas de
grande alegria que o será para todo o povo" (Lc 2.10). E, então o medo se tornou
adoração! A Bíblia diz que logo que os anjos se retiraram dos pastores, "diziam os
pastores uns aos outros: Vamos já até Belém, e vejamos isso que aconteceu e
que o Senhor nos deu a conhecer. Foram, pois, a toda a pressa, e acharam Maria
e José, e o menino deitado na manjedoura" ( Lc 2.15, 16). Esse medo inicial
tornou-se, na verdade, adoração: "e voltaram os pastores, glorificando e louvando
a Deus" (Lc 2.20; cf Ap 1.10-17).

Essa é a função do evangelho: libertar o ser humano dos seus conflitos, das suas
fraquezas, das suas culpas, das suas dificuldades, da falta de encontro consigo
próprio, e dar-lhe uma vida forte, livre, nova, sã e abençoada! Portanto, para dar
um passo além do medo, é preciso reconhecer que o medo não faz parte do plano
de Deus para a sua vida. Ninguém é liberto do medo tomando tranqüilizantes, não!
Mas, sim, com a atitude espiritual correta diante do altar divino.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 329


A outra coisa de que você precisa é reconhecer que sozinho você não pode
enfrentar os problemas. A Bíblia Sagrada mostra que o servo do Senhor
compreendeu isso, e até disse: "Olhai para ele, e sede iluminados: e os vossos
rostos jamais serão confundidos. O anjo do Senhor, acampa-se ao redor dos que
o temem, e os livra" (Sl 34.5,7; cf. Hb 13.5b, 6).

Há algo mais: Você precisa voltar ao Calvário, porque na cruz o amor de Deus se
fez imperativo, e o mundo e o medo foram vencidos, E, lendo na Palavra de Deus,
a expressão é de uma clareza impressionante: "... para que [Cristo] pela morte
derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo; e livrasse todos
aqueles que com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão"
(Hb 2.14b, 15).

Essa é a suprema notícia do evangelho: a de que podemos ter a liberdade, a


libertação do medo. E se até agora você vinha vivendo apavorado com o futuro,
ou com o presente, talvez com o seu passado, vinha remoendo dificuldades e
culpas, esta é o momento de se libertar de tudo isso, o momento em que Deus o
convida!

Parte 69.
UM PASSO ALÉM ... DA MORTE
Gênesis 5. 3-31

Uma sensação esquisita de desconforto e ansiedade invade muitas pessoas


quando se trata do assunto morte. Há quem fique nervoso e impaciente desejando
que acabe logo a conversa (ignorando a morte, ela se retire, talvez pense). Nosso
desejo é que esta mensagem dê forças para a vida e segurança para o futuro que
não deve ser para o cristão esse desconhecido que tanto terror dá ao incrédulo.
Afinal, só tem motivo para temer a morte quem não teme a Deus, quem nunca
confiou em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e desconhece, portanto, Suas
gloriosas promessas.

A morte entrou no mundo com uma nota de rebeldia e ódio (cf. Gn 3.3, 4, 17-19;
4.8), e daí passou a toda a humanidade com um tom de tragédia pela visão do
corpo inerte, pelo cessar da respiração, e pela decomposição das estruturas que
voltam ao pó. A morte não respeita grandes nem pequenos, ricos nem pobres,
idosos, jovens ou gente mal começando a vida. A seção fúnebre do Jornal A
TARDE (de Salvador, BA) compulsado registra o falecimento de uma senhora de
79 anos, de um moço de 29, de uma mocinha de 14 anos, de um menino de seis e
de um bebê de cinco dias. Achamos que ela é natural para um doente, mas não
para uma pessoa com saúde ou com juventude ("eu morrer?!"). Alguém
apropriadamente externou, "Não estamos prontos para viver até que aceitemos a
nossa própria morte".

QUE DIZ A BÍBLIA?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 330


Novo Testamento dá uma nova visão da morte por causa do conceito que Jesus
tinha não só da morte como fato humano, mas também do significado de Sua
própria morte. Sabemos o que acontece ao corpo porque após a morte começa o
processo de decomposição da matéria, o que é plena e biologicamente natural. A
Bíblia chama a isso, "o pó volta à terra, como antes" (Ec 12.7 BJ ). Porém, que
acontece ao espírito entre a morte e a ressurreição? Há quem chame a esse
estágio de estado desincorporado ou estado intermediário. Que acontece ao justo
e ao injusto? Grupos existem que ensinam a heresia de que o espírito passa por
uma "terapia de cura", uma catarse, uma purificação, uma limpeza dos pecados
num lugar/estado sem qualquer base bíblica ao qual denominam Purgatório
(literalmente, "lugar de purificação"). No entanto, um eminente ex-teólogo
contemporâneo da Igreja Católica Romana expressa em obra que ainda recebia o
imprimatur da censura episcopal que "em vão buscamos uma passagem bíblica
que fale formalmente do purgatório" (Leonardo Boff). Tem razão; não há mesmo.
A doutrina implica que as orações dos fiéis na terra podem ajudar os que já
partiram. Mas se o espírito do salvo entra imediatamente na presença do Senhor
após a morte, como ensina o Novo Testamento, não há lugar para um
purificatório, o Purgatório.

Quanto à insanidade da "Reencarnação", ao pé-da-letra "retorno à carne",


significa a purificação do espírito por tantas existências quantas necessárias,
sendo que depois da última encarnação o espírito se torna "bem-aventurado, puro
espírito" indo para outro planeta. Cada vida humana é explicada como período de
expiação por culpas cometidas em existência anterior. Querem até ver casos de
"reencarnação" na Bíblia:

João Batista, seria a "reencarnação" de Elias (Mt 11.14); no entanto, a Bíblia diz
que Elias não desencarnou (2Rs 2.11)! Se não passou pela morte, como iria
"reencarnar"? Realmente, João veio "no espírito e poder de Elias" (Lc 1.17).
O cego de nascença, que segundo os defensores da doutrina seria a
"reencarnação" de um infeliz pecador de geração passada (Jo 9.2).
E para coroar querem ver na expressão de Jesus em João 3.3 uma prova da
"reencarnação" no desconhecimento do sentido do que seja "nascer da água e do
Espírito (de Deus)".
A Bíblia ensina, "o pó volte para a terra como o era e o espírito volte a Deus que o
deu" (Ec 12.7); "Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois
disso o juízo ( Hb 9.27; cf. 2Pe 2.9). No entanto, a "reencarnação" não considera
que a alma se una a um corpo em união essencial, não considera a
individualidade e personalidade do ser humano.

Com respeito à terceira heresia, a do sono da alma, ou seja um estado de


inconsciência do espírito entre a morte e a ressurreição, não existe, igualmente,
qualquer base bíblica para o seu ensino, e a distorção decorre de um erro de
interpretação e desconhecimento de uma figura de linguagem chamada metáfora
que é o emprego de uma palavra em lugar de outra por uma semelhança que se
subentende, como por exemplo "você é uma flor", ou, no Novo Testamento, "Eu
sou o pão de vida", "Isto é o meu corpo". Assim, "Os sepulcros se abriram, e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 331


muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados" (Mt 27.52); "E
muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão..." ( Dn 12.2; cf. Mt 9.24; 1Co
15.6,18,20,51; 1Ts 4.14).

É mau procedimento teológico, má hermenêutica, fazer doutrina em cima de


metáfora, pois Jesus usou a palavra "sono" e o verbo "dormir" como uma figura da
morte como descanso (cf. Mc 5.39; Jo 11.11). E para Ele a morte era algo que
trazia sossego e descanso e não uma inconsciência do espírito. Nem para Jesus
nem para Paulo a idéia de uma alma "dormindo" é coerente, pois, no caso de
Paulo, partir desta vida significava presença e comunhão imediata com o Senhor
(cf. Fp 1.21-23). Por essa razão, é interessante observar que o conceito de dormir
em relação à morte tem em mente não o sono da alma, mas o descanso das
canseiras e enfados desta vida (cf. Mt 27.52). Essa é, no entanto, a crença dos
Adventistas do Sétimo Dia.

Para as Testemunhas de Jeová, o criminoso na cruz morreu (Lc 23. 4-43), e assim
ficará até a ressurreição. O texto "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso" é traduzido de duas maneiras pelas Testemunhas de Jeová: "Neste dia
eu solenemente te faço uma pergunta, estarás comigo no Paraíso?" ou, "Deveras
eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso" (NM)

Para isso querem se basear em Eclesiastes 3.19, 20; 9. 2,3,5,10, e se esquecem


de 12.7: "E o pó volte à terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu".

Como harmonizar o "sono da alma", a inconsciência do espírito, com textos que


falam dos remidos experimentando plenitude de alegria diante de Deus enquanto
dormem? (cf. Sl 16.11). E, na parábola contada por Jesus, o rico implorando
socorro para seus parentes vivos imediatamente após a morte e, enquanto isso,
"dormindo"? (Lc 16.22-24). E quanto a Lázaro, o mendigo, sendo confortado
também "dormindo"(Lc 16. 22, 23,25). E, conforme os capítulos 4.5,7 e 12 do Livro
do Apocalipse, coros celestiais louvando com cânticos sonoros e majestosos
estando os salvos que os cantam "dormindo"? E as almas dos mártires sentadas
em tronos reinando com Cristo e "dormindo"? (Ap 20.4). Não, queridos, bem
compreenderam os poetas cristãos quando escreveram estes hinos que
apreciamos cantar:

"Pátria minha, por ti suspiro;


Quando no teu bom descanso chegarei?
Os patriarcas, de Deus amigos,
E os bons profetas, fiéis antigos,
Já entraram na tua glória,
Contemplando, em esplendor, o grande rei."

"Os remidos tão perseguidos,


Pelo sangue já venceram o Dragão,
Por Jesus Cristo são vencedores,
E agora cantam os seus louvores;

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 332


Pátria santa, desejo ver-te,
Ver com Cristo a redimida multidão".
(John Boyle, hino 483 CC),

ou, ainda:

"Não sei que morada Jesus me vai dar,


E nem qual o nome que eu hei de ganhar;
Mas eu sei que o "bem-vindo" dEle hei de escutar!
Só isso será céu pra mim!"
(Philip Bliss, hino 489 CC)

Leia também o hino 488 CC. Uma coisa eu sei: não vou escutar as boas-vindas de
Jesus dormindo!

Em resumo, a Bíblia fala de duas situações após a morte: Para os ímpios o


Hades, em seguida o Juízo e depois a Eterna Separação (cf. Lc 16.23; At 2.27; Mc
3.29; Ap 20.6; Dn 12.2). Para os salvos: o Paraíso, depois o Juízo e, por fim, a
Vida Eterna (cf. Lc 23.43; Jo 3.16; 5.24). A esperança do crente não se centraliza,
entanto, num estado intermediário (que necessariamente seria incompleto), mas
no glorioso fato da ressurreição e da vida eterna em comunhão com os remidos e
na presença do Senhor Jesus (Jo 5.28, 29; 11.23-26; Rm 6.5; 8.11; 1Co 6.14; 15;
2Co 4.10,11, 14; Cl 3.4).

A parábola do Rico e de Lázaro já mencionada ilustra de modo claríssimo o ensino


do evangelho (cf. Lc 16.19-31):

mendigo Lázaro entrou imediatamente num estado de bem-aventurança, e o rico


anônimo num estado de miséria e afastamento.
No Calvário, Jesus promete ao criminoso, "Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso" (Lc 23.43).
Não há sugestão de purificar os pecados (Purgatório); não há o desespero da
Reencarnação. Não há a mínima idéia de alma que esteja dormindo, o Sono da
Alma.
Há um ser humano que crê em Jesus Cristo, por isso é salvo, e a quem é
prometida a bem-aventurança imediata da presença com Deus.
Aí está o ensino da Bíblia. Na morte do crente em Jesus Cristo, seu corpo volta à
terra, seu espírito, porém, entra num estado de felicidade, bem-aventurança
consciente (ele sabe o que lhe acontece). Na morte do incrédulo, seu corpo volta à
terra, e seu espírito entra num estado de infelicidade, castigo e separação
consciente.

De acordo com a vontade soberana de Deus Pai, Jesus Cristo voltará num dia
desconhecido e acontecerá o Julgamento Final do qual os crentes já estão livres,
pois diz o Novo Testamento: "Portanto, agora nenhuma condenação há para os
que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1), e, "Quem crê nele não é julgado; mas quem
não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do Unigênito Filho de Deus"

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 333


(Jo 3. 18), e ouvirão, "Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que
vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34). Os ímpios, no
entanto: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
Diabo e seus anjos ... E irão estes para o castigo eterno..." (Mt 25. 41,46).

O ensino da Palavra de Deus é que "o pó volta para a terra como era, e o espírito
volta a Deus que o deu" (Ec 12.7). Por sua vez, Hebreus 9.27 ensina que "aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo".

O sofrimento eterno é a eterna separação de Deus do qual já se haviam separado


na vida terrena, pois a morte prova que a vida terrena tem um significado porque
revela que as virtudes e as bondades praticadas aqui encontram o seu
complemento na eternidade, bem como os vícios e maldades.

O ensino do Novo Testamento é o da ressurreição do corpo na Parousia (Segunda


Vinda) de Cristo, na qual a natureza mortal do ser humano será completamente
revestida pela imortalidade (1Co 15.51-53), e a imortalidade e a vida eterna é o
que a pessoa humana deve buscar (cf. Rm 2.7), e assim receberemos o corpo
ressuscitado, de glória, perfeitamente adaptado à vida espiritual, como o corpo
atual, de carne, está perfeitamente adaptado à vida terrena (cf. 1Co 15.50-53).

ALGUMAS PERGUNTAS

1. Vamos conhecer nossos queridos, parentes e amigos? Respondemos com um


sonoro SIM. Afinal, o rico no Hades reconheceu a Lázaro no Paraíso ("seio de
Abraão"), quanto mais os salvos no céu?! (cf. Lc 23.43; Ap 7.9-17). A esperança
de nos vermos outra vez é a tônica do cristão e dos seus poetas que a cantaram
em seus versos:

"Nessa pátria de esplendor


hei de amigos encontrar,
Meus irmãos em Cristo lá hei de rever,
Mas primeiro que os irmãos
Quando ali no céu chegar,
Meu Jesus é quem eu mais anseio ver"
(Hino nº 509 CC).

Veja igualmente todo o hino 515 CC. Ali espero rever meu pai, tios meus, amigos
de juventude hoje falecidos, colegas de ministérios com quem privei e com quem
não privei mas admiro, ex-professores de Seminário.

2. "E o problema de meu pai com duas esposas?", pergunta de uma senhora um
destes dias. Deixem-me colocar na minha própria situação: minha mãe com o
primeiro esposo falecido (meu pai) e casada pela segunda vez? E um ex-professor
meu hoje falecido que se casou três vezes? A pessoa que me falou levantou o que
entendia ser um problema moral. No entanto, isso não existe porque a vida eterna,
a vida do reino, a vida celeste é de outro nível. Fizeram a mesma pergunta a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 334


Jesus (cf. Mc 12. 19-23), o Qual respondeu com o verso 25: "ao ressuscitarem dos
mortos, nem se casam, nem se dão em casamento..." O nível é outro, livre, isento
de categorias humanas.

UM PASSO ALÉM... DA MORTE

Vamos a um passo além da morte:

1ª etapa: é preciso considerar a morte como uma passagem para a eternidade.


Afinal, nossos dias são contados (cf. Sl 90.10).

2ª etapa: necessário é lembrar que a morte representa uma promoção, e não


destruição de esperança. Realmente, vamos morrendo numa ordem para
ingressar em outra:

morre o bebê, surge a criança;


morre a criança, nasce o adolescente;
morre o adolescente, desponta o jovem;
morre o jovem, vem o adulto;
morre o ser no nível terreno, surge o ser no nível eterno.
Para o apóstolo Paulo, morrer era uma promoção, pois morrer era melhor que
viver, e Paulo não apresentava características necrófobas, paranóicas, mórbidas;
não era um doente (cf. Fp 1.21, 23).

3ª etapa: lembre-se que a morte foi conquistada pela vida. E, assim, não é a
cessação permanente da vida, porém transferência para outra esfera de
existência. Peter Bilhorn o cantou:

"Oh! quando o momento chegar


De eu ir com Jesus habitar,
Em paz eu verei meu Senhor
Em todo o seu esplendor.
Excelsa paz
Hei de gozar afinal,
Quando eu com Jesus me encontrar
No reino celestial".
(Hino nº 514 CC)

Leia também os hinos 517 CC e 518 CC. Jesus Cristo é a vida, e Sua vida
conquista a morte (Jo 1.4; 11.25; 14.6; 1Co 15.56,57), razão porque quando
oprimido por pensamentos de morte, consulte as escrituras para encontrar o
conforto nas maravilhosas promessas: "... ali repousam os cansados" ( Jó 3.17b);
"Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem
comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18; cf. Jo 5.25; Rm
6. 8-11; 2Tm 4.7; Ap 2.7). Amém!

Parte 69.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 335


UM PASSO ALÉM ... DO PECADO

"Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante


de mim" (Sl 51.3)

Houve um dia tremendamente escuro na vida de Davi. Tinha prosperidade,


sucesso, bênção, poder, fama e fortuna, e essas coisas podem ser uma tentação
pior que a adversidade. A tentação de Davi veio na forma de uma linda mulher que
se banhava numa casa próxima. A história é contada em 2Samuel 1.11. Seu nome
era Bate-Seba, filha de Eliã, e esposa de um oficial do exército israelita.O pecado
do adultério levou-o a outros pecados, ou como diz Jeremias, "destruição sobre
destruição" (4.20a), ou os filhos de Corá, "um abismo achama outro abismo" (Sl
42.7a). E, assim, o adultério trouxe o planejamento da morte do inocente General
Urias, esposo de Bate-Seba.Graças a Deus, a história de Davi não fez ponto final
no pecado. Houve todo um processo de arrependimento, de confissão, de pranto,
e de quebrantamento, que está registrado no Salmo 51:

"Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas


transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me
completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu
conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos.
Purifica-me com hissipo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a
neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, pra que se regozijem os ossos que
esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados, e a paga todas as minhas
iniqüidades. O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (vv 1-4a, 7-9, 17).

NOSSOS PECADOS

É como diz Watchman Nee, "todos temos algum pecado particular que nos
atrapalha". Alguns ficam perturbados por eles, e outros nele caem. Pode ser o
orgulho, o ciúme, o mau gênio, a mesquinhez, a concupiscência da carne. É o
crente que tem em si o conhecimento da verdade de Romanos 6. 14a ("pois o
pecado não terá domínio sobre vós"), mas não a põe em prática.

Nem sempre os pecados são ativos porque existem os de omissão. Há quem


prefira ouvir cinqüenta sermões, e não praticar um deles sequer. Há quem prefira
a Novela das Oito ao Culto de Oração do meio da semana. Há quem prefira
criticar o pastor, a liderança da igreja ou o professor da Escola Bíblica a orar pelo
seu sucesso. Há quem considere preferível falar de mil pecados no seu irmão a
mortificar um só pecado em si próprio. Jesus considera isso tão sério que ensina
no Sermão do Monte, "E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não
reparas na trave que está no teu olho?" (Mt 7.3).

A verdade é que as tentações do crente são as tentações de Jesus Cristo:


"Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 336


são tentados" (Hb 2.18), porque antes de ser uma luta carnal é espiritual (cf. Ef
6.12). A Moisés, o príncipe, foi oferecido o poder, honras, glórias e riquezas do
Egito. No entanto, Moisés, "recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que ter por algum tempo
o gozo do pecado, tendo por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os
tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa" (Hb 11.24b-26). A Daniel,
as facilidades, bens e vantagens do palácio real da Babilônia. No entanto, "Daniel,
porém, propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do
rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe
concedesse não se contaminar" (Dn 1.8).

O crente que luta contra as antigas paixões e os apetites naturais que desejam
sobrepujar a graça do Espírito é feito herdeiro de Deus, companheiro de Jesus
Cristo na herança do Pai (cf. Rm 8.17) e compreende o valor do invisível: "Não
atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que não vêem; porque as
que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas" (2Co
4.18).

O IMPORTANTE É PREVENIR

O importante é prevenir, e um modo de o crente evitar o pecado é não dividir a


vida em duas áreas: a sagrada e a secular. Nossa unidade interior, a unidade do
corpo e espírito se desintegrará se o fizermos, pois não se pode separar o secular
do sagrado na vida cristã. Daí o cairmos em pecado. Pecamos quando
esquecemos que somos filhos de Deus, que somos lavados pelo sangue de
Cristo, ungidos pelo Espírito, aceitos na comunhão dos santos, e feitos sacerdotes
do Deus Altíssimo, povo santo, propriedade exclusiva de Deus, e agimos no
"secular" dicotomizado, separado do "sagrado". Tentar fazê-lo constitui-se no que
se chama pecado. O uso indiscriminado dos instintos humanos, sua corrupção,
seu desregramento não honram a Deus: é pecado!

O importante é prevenir! Nesse sentido, João escreveu sua primeira Carta: "Meus
filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis" (1Jo 2.1a). A Bíblia
atesta com numerosos e dolorosos exemplos que o pecado é universal. Ninguém
pode escapar, e quem disser que não peca é mentiroso (cf. 1Jo 1.8, 10). Apesar
disso, há perdão mediante o que Cristo fez e faz pelo ser humano. Alguém pode
até querer pensar levianamente sobre o pecado, "se todos pecamos, qual é a
vantagem em lutar contra o que é parte inevitável de nossa experiência como
pessoas humanas?" E aí João nos ensina duas coisas: o crente em Jesus Cristo é
uma pessoa que veio a conhecer a Deus, por isso deve ser obediente; e aquele
que diz que permanece em Deus e em Jesus Cristo (v. 6) deve viver o mesmo tipo
de vida que Jesus viveu: deve ser imitador de Jesus Cristo.

A vida de santidade é um equilíbrio entre a ética e a experiência, a teoria e a


prática; equilibramos a crise e o processo, o quebrantamento e o levantar-se.
Então, não é apenas a fórmula simplista: eu-erro; peço-perdão; tudo-fica-bem;
volto-à-vida-leviana; peço-perdão; etc. A fórmula há de ser: se-eu-erro, eu-me-

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 337


quebranto; peço-perdão; sou-perdoado; cresço; digo como Paulo, "esquecendo-
me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo
para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.13b,
14).

UM PASSO ALÉM DO PECADO

Tudo começa com a tentação, que, aliás, tem um roteiro:

ela chama a atenção,


cria interesse,
forma desejos e
leva à ação.
Nesse caso, que fazer quando vier a tentação? George Foster em artigo sobre o
assunto diz, "Mude de canal". Quer dizer, depois de conhecer as fontes da
tentação, "Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não
pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a
concupiscência havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo
consumado, gera a morte". (Tg 1.13-15), fique longe delas, "mude de canal" como
quando não quer ver um comercial na TV, e aprenda a resistir-lhe (cf. Tg 4.7).

E havendo pecado, que fazer? Todo e qualquer pecado entristece o Espírito Santo
(Ef 4.30), mas a Bíblia sempre fala em oferta:

para o descrente, oferta de perdão para os pecados;


para o crente, oferta de perdão para a queda,
e sempre através da confissão (1Jo 1.9). Não entendo como há crentes que não
sentem o peso da mão de Deus. Às vezes, o peso é duro, "Enquanto guardei
silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo. Por
que de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em
sequidão de estio" (Sl 32.3,4): uma dor constante da alma.

Em havendo pecado, que fazer? Voltemos a 1João 2.1b, "Se alguém pecar, temos
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". João está escrevendo a
crentes, e para o crente há um remédio para o pecado: um advogado que é Jesus
Cristo, o Justo, O propósito de João é claro: impedir o pecado, não desculpá-lo,
pois horror ao pecado, ódio, repúdio impregnam toda a carta. Jesus ensina "não
pequeis mais"; assim disse ao paralítico do tanque de Betesda (cf. Jo 5.14), e à
adúltera de Jerusalém (cf. Jo 8.11). Mas, "se alguém pecar", se houver um
fracasso moral, desonestidade, qualquer que seja o nome do pecado, deve haver
confissão, razão porque Agostinho disse, "a confissão de obras más é o primeiro
começo de boas obras". Devemos olhar para Cristo e para a Sua morte: "Porque
se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida"
(Rm 5.10).
Reconhecê-Lo ao nosso lado. Aliás, isso é o que significa ser o nosso advogado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 338


(a palavra é paráclito = alguém chamado ao lado para dar conselho, ajuda e
representação). Ou, voltando à fórmula, se-eu-erro, eu-me-quebranto; peço-
perdão; sou-perdoado; cresço; e digo como Paulo: "Irmãos, quanto a mim, não
julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o
alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3. 13, 14), e
avanço para a nova experiência de crescer no caminho da santificação. Amém
Parte 70.
UM PASSO ALÉM ... DO PECADO
"Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante
de mim" (Sl 51.3)

Houve um dia tremendamente escuro na vida de Davi. Tinha prosperidade,


sucesso, bênção, poder, fama e fortuna, e essas coisas podem ser uma tentação
pior que a adversidade. A tentação de Davi veio na forma de uma linda mulher que
se banhava numa casa próxima. A história é contada em 2Samuel 1.11. Seu nome
era Bate-Seba, filha de Eliã, e esposa de um oficial do exército israelita.O pecado
do adultério levou-o a outros pecados, ou como diz Jeremias, "destruição sobre
destruição" (4.20a), ou os filhos de Corá, "um abismo achama outro abismo" (Sl
42.7a). E, assim, o adultério trouxe o planejamento da morte do inocente General
Urias, esposo de Bate-Seba.Graças a Deus, a história de Davi não fez ponto final
no pecado. Houve todo um processo de arrependimento, de confissão, de pranto,
e de quebrantamento, que está registrado no Salmo 51:

"Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas


transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me
completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu
conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos.
Purifica-me com hissipo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a
neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, pra que se regozijem os ossos que
esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados, e a paga todas as minhas
iniqüidades. O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (vv 1-4a, 7-9, 17).

NOSSOS PECADOS

É como diz Watchman Nee, "todos temos algum pecado particular que nos
atrapalha". Alguns ficam perturbados por eles, e outros nele caem. Pode ser o
orgulho, o ciúme, o mau gênio, a mesquinhez, a concupiscência da carne. É o
crente que tem em si o conhecimento da verdade de Romanos 6. 14a ("pois o
pecado não terá domínio sobre vós"), mas não a põe em prática.

Nem sempre os pecados são ativos porque existem os de omissão. Há quem


prefira ouvir cinqüenta sermões, e não praticar um deles sequer. Há quem prefira
a Novela das Oito ao Culto de Oração do meio da semana. Há quem prefira
criticar o pastor, a liderança da igreja ou o professor da Escola Bíblica a orar pelo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 339


seu sucesso. Há quem considere preferível falar de mil pecados no seu irmão a
mortificar um só pecado em si próprio. Jesus considera isso tão sério que ensina
no Sermão do Monte, "E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não
reparas na trave que está no teu olho?" (Mt 7.3).

A verdade é que as tentações do crente são as tentações de Jesus Cristo:


"Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que
são tentados" (Hb 2.18), porque antes de ser uma luta carnal é espiritual (cf. Ef
6.12). A Moisés, o príncipe, foi oferecido o poder, honras, glórias e riquezas do
Egito. No entanto, Moisés, "recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que ter por algum tempo
o gozo do pecado, tendo por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os
tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa" (Hb 11.24b-26). A Daniel,
as facilidades, bens e vantagens do palácio real da Babilônia. No entanto, "Daniel,
porém, propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do
rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe
concedesse não se contaminar" (Dn 1.8).

O crente que luta contra as antigas paixões e os apetites naturais que desejam
sobrepujar a graça do Espírito é feito herdeiro de Deus, companheiro de Jesus
Cristo na herança do Pai (cf. Rm 8.17) e compreende o valor do invisível: "Não
atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que não vêem; porque as
que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas" (2Co
4.18).

O IMPORTANTE É PREVENIR

O importante é prevenir, e um modo de o crente evitar o pecado é não dividir a


vida em duas áreas: a sagrada e a secular. Nossa unidade interior, a unidade do
corpo e espírito se desintegrará se o fizermos, pois não se pode separar o secular
do sagrado na vida cristã. Daí o cairmos em pecado. Pecamos quando
esquecemos que somos filhos de Deus, que somos lavados pelo sangue de
Cristo, ungidos pelo Espírito, aceitos na comunhão dos santos, e feitos sacerdotes
do Deus Altíssimo, povo santo, propriedade exclusiva de Deus, e agimos no
"secular" dicotomizado, separado do "sagrado". Tentar fazê-lo constitui-se no que
se chama pecado. O uso indiscriminado dos instintos humanos, sua corrupção,
seu desregramento não honram a Deus: é pecado!

O importante é prevenir! Nesse sentido, João escreveu sua primeira Carta: "Meus
filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis" (1Jo 2.1a). A Bíblia
atesta com numerosos e dolorosos exemplos que o pecado é universal. Ninguém
pode escapar, e quem disser que não peca é mentiroso (cf. 1Jo 1.8, 10). Apesar
disso, há perdão mediante o que Cristo fez e faz pelo ser humano. Alguém pode
até querer pensar levianamente sobre o pecado, "se todos pecamos, qual é a
vantagem em lutar contra o que é parte inevitável de nossa experiência como
pessoas humanas?" E aí João nos ensina duas coisas: o crente em Jesus Cristo é
uma pessoa que veio a conhecer a Deus, por isso deve ser obediente; e aquele

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 340


que diz que permanece em Deus e em Jesus Cristo (v. 6) deve viver o mesmo tipo
de vida que Jesus viveu: deve ser imitador de Jesus Cristo.

A vida de santidade é um equilíbrio entre a ética e a experiência, a teoria e a


prática; equilibramos a crise e o processo, o quebrantamento e o levantar-se.
Então, não é apenas a fórmula simplista: eu-erro; peço-perdão; tudo-fica-bem;
volto-à-vida-leviana; peço-perdão; etc. A fórmula há de ser: se-eu-erro, eu-me-
quebranto; peço-perdão; sou-perdoado; cresço; digo como Paulo, "esquecendo-
me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo
para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.13b,
14).

UM PASSO ALÉM DO PECADO

Tudo começa com a tentação, que, aliás, tem um roteiro:

ela chama a atenção,


cria interesse,
forma desejos e
leva à ação.
Nesse caso, que fazer quando vier a tentação? George Foster em artigo sobre o
assunto diz, "Mude de canal". Quer dizer, depois de conhecer as fontes da
tentação, "Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não
pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a
concupiscência havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo
consumado, gera a morte". (Tg 1.13-15), fique longe delas, "mude de canal" como
quando não quer ver um comercial na TV, e aprenda a resistir-lhe (cf. Tg 4.7).

E havendo pecado, que fazer? Todo e qualquer pecado entristece o Espírito Santo
(Ef 4.30), mas a Bíblia sempre fala em oferta:

para o descrente, oferta de perdão para os pecados;


para o crente, oferta de perdão para a queda,
e sempre através da confissão (1Jo 1.9). Não entendo como há crentes que não
sentem o peso da mão de Deus. Às vezes, o peso é duro, "Enquanto guardei
silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo. Por
que de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em
sequidão de estio" (Sl 32.3,4): uma dor constante da alma.

Em havendo pecado, que fazer? Voltemos a 1João 2.1b, "Se alguém pecar, temos
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". João está escrevendo a
crentes, e para o crente há um remédio para o pecado: um advogado que é Jesus
Cristo, o Justo, O propósito de João é claro: impedir o pecado, não desculpá-lo,
pois horror ao pecado, ódio, repúdio impregnam toda a carta. Jesus ensina "não
pequeis mais"; assim disse ao paralítico do tanque de Betesda (cf. Jo 5.14), e à
adúltera de Jerusalém (cf. Jo 8.11). Mas, "se alguém pecar", se houver um

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 341


fracasso moral, desonestidade, qualquer que seja o nome do pecado, deve haver
confissão, razão porque Agostinho disse, "a confissão de obras más é o primeiro
começo de boas obras". Devemos olhar para Cristo e para a Sua morte: "Porque
se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida"
(Rm 5.10).

Reconhecê-Lo ao nosso lado. Aliás, isso é o que significa ser o nosso advogado
(a palavra é paráclito = alguém chamado ao lado para dar conselho, ajuda e
representação). Ou, voltando à fórmula, se-eu-erro, eu-me-quebranto; peço-
perdão; sou-perdoado; cresço; e digo como Paulo: "Irmãos, quanto a mim, não
julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o
alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3. 13, 14), e
avanço para a nova experiência de crescer no caminho da santificação. Amém

Parte 71.
UM PASSO ALÉM ... DE SI MESMO

"E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça: porque a


vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui. Propôs-lhes
então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com
abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? pois não tenho onde
recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e
edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e
direi à minha alma: "Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos;
descansa, come, bebe, regala-te, Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te
pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?" (Lc 12.15-29)

Jesus contou uma pequena história, dando-nos com ela um resumo do significado
da vida. Ele fala da vida aqui, e da vida além; refere-se a investimentos espirituais
e morais neste plano de vida, e mencionou dividendos em termos de eternidade.
Uma pequena história, uma simples parábola, e algumas preciosas lições.

ASPECTOS

Que não se diga que só há aspectos negativos. Por inferência, extraímos alguns
fatos importantes:

A fazenda produziu em abundância (cf. v. 16b). É sinal de trabalho árduo,


planejado, boas sementes, tempo dedicado, amor ao ofício. Bom sinal!
O fazendeiro é previdente e bom planejador (v. 18). Se seus armazéns não são
suficientemente espaçosos, fará maiores. Não há mal algum nisso!
Entanto, ao lado do positivo há aspectos negativos:

Tremendo egocentrismo. É somente observar como o fazendeiro repete eu, meu,


minha, sinal do egoísta inveterado. No Oriente, o habitante sempre tem uma

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 342


comunidade ao seu redor por ser essencialmente gregário. Isso acontece na
alegria ou na tristeza. A Escritura tem exemplos desse fato: quando o pastor
encontrou a sua ovelha perdida, reuniu os amigos e celebrou (Lc 15.5,6); quando
a dona de casa encontrou a moeda perdida, alegrou-se com as amigas e vizinhos
(Lc 15.8,9); quando o filho perdido voltou para casa, houve uma celebração (Lc
15.22,23): Na morte de Lázaro, "muitos dos judeus tinham vindo visitar Marta e
Maria, para as consolar" (Jo 11.19). No entanto, este homem está só: seu único
auditório era sua própria alma.
O outro aspecto negativo é a sua indiferença para com Deus, e para com o seu
próximo. Sua preocupação é auto-satisfazer-se. Assim, não dá um passo além de
si mesmo: era rico para si, e vazio diante de Deus.
Neste ponto está uma linha de compreensão do problema: de um lado, uma
riqueza que se fecha sobre aquele homem (que pode ser qualquer pessoa),
convertendo-o num simples momento do complexo sistema do universo; por outro
lado, a riqueza para Deus, ou seja, a que abre a vida das pessoas humanas ao
mistério, para além dos limites desta vida.

Duas coisas naquele primeiro momento se destacam:

nunca olhava para além de si mesmo, ou seja, todos os seus planos começam e
terminam nele mesmo: "e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens
para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te" ( Lc 12.19).
E a outro é que não olhava além deste mundo, vale dizer, todos os seus planos
nesta vida teriam limitação: "Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a
tua alma; e o que tens preparado, para quem será?" (Lc 12.20).
ANALISANDO
Voltemos ao texto, o verso 15 diz "Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de
cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que
possui". Na realidade, a vida não se possui, não se compra nem se vende. "E direi
à minha alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe, regala-te" (v.19). É um sumário de insensatez! Quantos esquecimentos ao
mesmo tempo! Esqueceu-se do doador, por essa razão fala tanto em "meus
frutos", "meus bens", "eu". Usou doze vezes, explícita ou implicitamente, os
pronomes relacionados com a sua pessoa, e esqueceu-se de que Deus foi o
doador, esqueceu-se do próximo, reservando cobiçosamente tudo para si próprio.
Esqueceu-se de sua alma, e imaginou que coisas como essas poderiam servir de
alimento para alma. Esqueceu-se da morte. Além de tudo o mais, iludiu-se a si
próprio, e alimentou-se de falsas esperanças:

"Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite de pedirão a tua alma: e o que tens
preparado, para quem será?" (v. 20). Essa é a nossa história, a história de
qualquer ser humano! Hoje mesmo, a alma pode ser pedida, e se a pessoa não se
lembra de Deus, é insensata! Ë o ser humano cuja vida está pendurada por um fio,
podendo ser chamada a qualquer instante para prestar contas de si mesmo.
Torna-se necessário que soe a voz de Deus para penetrar no isolamento criado
pelo próprio ser humano, e confrontá-lo com uma visão de si próprio!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 343


"Assim é aquele que para si ajuntou tesouros, e não é rico para com Deus' V. 21).
E, assim, Jesus Cristo dá a moral da história: é rico, no que diz respeito a Deus,
quem busca o governo de Deus, o reino de Deus, a vontade de Deus em primeiro
lugar.

Dar um passo além de si mesmo é tocar a Deus, é tocar o próximo. Eis, portanto,
outra linha para entender o tema que Jesus está discutindo: rico para o mundo é
quem vive escravizado em si mesmo e no que tem; rico para com Deus é quem
sabe que o ser humano é sempre mais do que aquilo que tem, e busca sua
plenitude na confiança, no serviço, no amor. O rico se deleita na fortuna seja ela
material, intelectual, e, até, religiosa; o pobre morre de fome, seja material, seja de
significado, ou espiritual. Temos, então, o que um teólogo (Javier Pikaza) chamou
de escatologia individual: não se precisa esperar o fim do mundo para se chegar
ao fracasso ou à realização.

UM PASSO ALÉM DE SI MESMO

Estes passos podem ser aplicados também na vida de quem já confessou a Jesus
Cristo como Salvador:

Olhe para a sua vida através dos olhos de Jesus Cristo, e dela afaste tudo o que
Ele não aprova. Faça confissão. Talvez você seja tentado a confessar pecados
marginais, e a deixar pecados centrais sem serem tocados. Vá ao cerne de seu
problema: isso é arrependimento, realidade de que até o já crente precisa estar
ciente e alerta (cf. Pv 15.24: Lc 22.32).
Volte-se para Jesus Cristo com tudo o que você é e tem. Olhe para seus
relacionamentos, e vá com eles a Jesus Cristo: seu lar, seus negócios, suas
relações sociais, tudo! Vá a Cristo em confiança e fé, e creia que Ele o recebe , e
você O recebe!
Não se esqueça de que dar um passo além de si mesmo é andar na fé. Isso não é
um destino, não é um ponto final, não é fim de linha. É uma viagem, uma
continuidade. Atos 2.42 diz que os discípulos em Jerusalém "perseveravam". Sair
de si mesmo é perseverar no Senhor e no Seu caminho!
Parte 72.
UM PASSO ALÉM ... DO SENTIMENTO DE INFERIORIDADE

"Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado de
apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que
sou" (1 Co 15.9,10)

Conheço gente que não ora em público, que não canta em público; conheço gente
que se sente envergonhada porque é gordinha, ou magrinha, porque não tem o
cabelo da moda, porque o tem crespo, ou porque é liso demais. Conheço gente
que se sente diminuída porque não estudou; conheço gente que se sente mal
porque é branca demais, ou porque é de outra etnia. Tive uma aluna no Recife,
linda jovem de origem japonesa, que conversando comigo confessou que se
sentia muito mal porque "não era como as outras meninas", dizia, porque não

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 344


tinha traços ocidentais. Todas essas pessoas têm o que é chamado de sentimento
de inferioridade.

Mesmo na Bíblia há casos de pessoas com sentimento de diminuição. Moisés, o


grande líder do povo de Deus, dá-nos um exemplo disso aliado, por sinal, ao
medo, quando de sua convocação para tirar o povo de Israel do Egito. Em Êxodo
4.1 apresenta uma primeira desculpa por causa da inferioridade que sentia: "Então
respondeu Moisés, e disse: Mas eis que não crerão, nem ouvirão a minha voz,
porque dirão: O Senhor não te apareceu.". "Você é um mensageiro!" diriam,
pensava ele. Aí, o Senhor falou para ele e argumentou que devia ir, e Moisés deu
uma segunda desculpa: "Então disse Moisés ao Senhor: Ah Senhor! Eu não sou
homem eloqüente, nem de ontem nem de ante-ontem , nem ainda desde que tens
falado ao teu servo; porque sou pesado de boca, e pesado de língua." (v.10). O
Senhor fala novamente, e vem outra desculpa: "Ele porém disse: Ah Senhor!
Envia por mão daquele a quem tu hás de enviar." (v.13). Viram? Há também o
caso de Jeremias quando foi convocado para o ministério profético, deu a seguinte
resposta a Deus: "Então disse eu: Ah Senhor Jeová! Eis que não sei falar; porque
sou uma criança." (Jr 1.6). Ele era bem jovem, e se diminuiu ainda mais diante do
Senhor: "eu sou um menino". Não disse, "Eu sou um rapaz apenas", "Eu sou um
adolescente". E o Senhor lhe respondeu: "Não digas: eu sou uma criança; porque
aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás." (v.7)

Uma estatística diz, que pelo menos, 95% das pessoas têm problemas de
inferioridade, o que está pegando praticamente todo mundo, e por isso ficam
impedidas de se realizarem e terem alegria na vida. Tomara que sejamos os 5%
que não têm esse problema...

Que leva uma pessoa a ter um sentimento de inferioridade?

MOTIVOS

O psiquiatra austríaco Alfred Adler, tentou analisar o pensamento de crianças bem


pequeninas. E estudando-as, chegou à conclusão que essas pobres criaturinhas
são constantemente lembradas que são pequenas, que não podem fazer, são
menos capazes, não sabem direito as coisas, vão quebrar os pratos, e assim por
diante. Essas crianças já ficam inferiorizadas num mundo de gente grande. Aliás
(felizmente acabou), lembro aos irmãos que havia um programa infantil de
auditório em que as pobres das iludidas crianças iam para as gravações. E a
apresentadora as chamava constantemente de "baixinhos". Que estava ela
passando para as crianças no estúdio e em casa? Estava dizendo às crianças que
lugar de criança é lá em baixo, mesmo. Adler estudou tudo isso, e disse que,
como resultado desse condicionamento, as crianças desenvolvem o que ele
chamou de "sentimento de inferioridade". Ele foi até mais adiante, e disse que
todos nós em certo sentido, e até certo ponto, nos sentimos inferiores. E, na
realidade, o sentimento de inferioridade normalmente não tem base em fatos
reais, mas em idéias que alimentamos. O problema são as comparações, quando
entendemos que determinada pessoa ou grupo de pessoas tem qualidades e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 345


habilidades que nào temos, e, dessa maneira, motivamos em nós mesmos os
sentimentos de diminuição e de menosprezo.

E não é verdade? Não há quem se sinta inferior a outro(a) por causa da


aparência? A mocinha que se acha feia numa classe onde há outras mocinhas
que são esbeltas e glamourosas. Ou aquele garoto que vive chateado porque tem
que usar óculos e é apelidado de "Quatro Olhos" pelos colegas. Ou a moça ou o
rapaz cujo rosto está marcado por cicatrizes de espinhas ou pelas próprias. Ora,
cada um tem uma idéia, um conceito de si mesmo, um retrato do que é e como é.
Se você diz, "sou um bom filho", ou se diz "eu sou feio", se você diz "eu sou
magra", ou "sou gorda", ou "meu nariz é muito comprido", isso é a imagem que
você fez de você mesmo, sua auto-imagem, mas necessariamente os outros não
fazem essa imagem.

Há quem se sinta inferior a outros por que não tem certas habilidades. "Não toco
piano como Paulinho Brasil", aí se sente inferior por isso. "Minha voz não é como
a de Zildeth", aí se sente mal porque não canta bonito. Realmente, em muitos
aspectos somos inferiores a outras pessoas. Se me chamarem para um "baba" ,
não tem jeito: não consigo chutar como Romário, mesmo que treinasse muito.
Então, vou ser um problema para o time em que eu estiver, porque não sei o que
fazer com a bola. Eu não posso correr como os Barrichellos, e outros grandes
corredores nossos. São habilidades que não tenho, mas não me incomodo com
isso. O problema é se isso afeta uma área que me interessa. É o adolescente que
quer ser bom no time de futebol do colégio, e não consegue. É a moça que quer
casar mas não se acha muito atraente, e botou na cabeça que não atrai os
rapazes. É o homem que tudo o que faz dá errado. Até na Bíblia temos casos
assim: é Raquel, a mulher de Jacó, que se sentia inferiorizada porque não tinha
filhos, quando sua irmã, Léa, já tinha quatro (Gn 30.1); Ana, a mulher de Elcana,
não tinha filhos, enquanto Penina a provocava porque tinha vários filhos (1 Sm
1.2, 4, 6).

Há quem se sinta diminuído por outra razão: fatores de personalidade. É aquele


que é retraído, caladão, tímido, não é muito dado a certo espírito aventureiro, é,
mesmo, um tanto caseiro. Sabia que até o nosso lugar dentro da família, na ordem
dos filhos, faz diferença, entre você e seu irmão? Os terapeutas de família
trabalham com isso, procuram logo saber "Quem é você na ordem dos filhos?"
"Ah, eu sou o mais velho"; "eu sou o mais novo"; "eu sou o do meio". Se você é o
mais velho, o caçula, ou o do meio; se é filho de uma família de dois, ou de
quatorze, isso faz diferença na sua vida posterior. Se você fosse o do meio, e não
o mais velho ou caçula, talvez sua personalidade fosse diferente, sabia disso? É o
perfeccionista que pensa assim: "Se eu for perfeito no que eu fizer, todo mundo
vai me amar". Aí, não recebe o amor de todos, e começa a se sentir inferior, por
que o perfeccionista não se aceita se falhas acontecerem. É a super-tímida que
quando a atenção dos outros está sobre ela, fica toda vermelha, com as mãos
suando, o coração batendo acelerado, a mente em curto-cicuito, e na hora em que
se faz uma pergunta, a voz desaparece, ou esquece tudo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 346


Há que se sinta inferior porque pensa sinceramente que é inferior. Dízem que um
moço foi ao psicólogo e lá começou a contar a história: "Eu tenho um problema de
inferioridade na minha vida", e contou a vida toda, seus problemas, dramas,
desilusões, etc. E o psicólogo ouviu com toda paciência, e depois disse: "Você não
tem sentimento de inferioridade, não; você é inferior mesmo." Isso é só uma
história. O que pensa com sinceridade que é inferior é aquele que é capaz e
ninguém crê nele. São diminuídos pelos outros: pais, professores, irmãos, pelo
marido, pela esposa que fica repetindo (e repetindo muitas e muitas vezes) que
ele é estúpido, não tem jeito para ele, você é burro, não vai conseguir notas
melhores, e daí por diante.

Há quem se sinta inferior porque foi empurrado (literalmente empurrado) além das
suas capacidades por pais ou por outros adultos bem-intencionados, porém sem
sensibilidade colocando padrões altos demais. É aquele que coloca o filho para
fazer caratê pela manhã, à tarde vai para a escola, tem aula de piano, tem aula de
inglês não sei onde e também informática. A pobre da criança é empurrada além
de suas forças. Por que tem que fazer quatro coisas, quando só pode fazer duas?

É o idoso que vê o moço tomar o seu lugar no emprego.

Há quem se sinta diminuído por causa da superproteção de pais que dominam,


reprimem, e asfixiam os filhos, impedindo que aprendam até pelo erro. O erro é
pedagógico, é preciso às vezes que tropecemos para aprender a se sustentar.

RESULTADOS

Como resultado de toda essa situação, a nossa auto-estima diminui, nós ficamos
ressentidos, hostis, temos pena de nós mesmos: Ou, então, é a ansiedade, é a
depressão, é o medo de falhar, é a culpa, é o perfeccionismo, é a timidez, é a
perda de significado porque a auto-imagem se abala quando o sentimento de que
é inferior se instala no coração de alguém. E você é o que você pensa. Aí, quem
se sente inferiorizado começa a fantasiar, a criar, a sonhar, a entrar em devaneio,
e se afasta dos outros, dos amigos, do grupo, e começa a atacar a família
(principalmente se tem reservas ou vergonha da família), começa a atacar o grupo
de amigos, e atacar a igreja.

Já conheceram pessoas que dizem que a Igreja tal não é hospitaleira, e que a
Igreja qual é fechada, que não recebe bem? Na imensa maioria das vezes, o
problema não está na Igreja, mas na pessoa. Já houve quem me dissesse que
não ia ficar na nossa igreja porque é uma igreja muito fechada, na qual o povo não
falava com os outros, onde não se recebia bem. Outros, no gabinete, já afirmam
que resolveram ficar aqui porque se sentiam muito bem ("Que igreja amorosa!",
disseram). É a mesma igreja, não mudou, não. Mas o problema está em alguém
que deseja tanta atenção que se uma pessoa der toda atenção possível, ainda é
pouco. Às vezes é o contrário: quem se sente inferiorizado passa a idolatrar
alguém (longe ou distante) que é visto com as qualidades que gostaria de ter.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 347


VAMOS À BÍBLIA

A primeira grande lição da Escritura Sagrada é que não pode ser inferior quem é
objeto do amor eterno de Deus. Não pode ser inferior aquele por quem Jesus
Cristo morreu! Não pode ser inferior quem tem todas as potencialidades de ser
imagem de Jesus Cristo, o filho de Deus! Não pode ser inferior quem é santuário
do Espírito Santo! E o sentimento de inferioridade, então, induz a falta de
confiança, e é isso que Satanás quer. É deixar você abalado, ele não quer que
você tenha fé, por isso, coloca no seu coração essa idéia: "eu sou inferior!".

Talvez você precise fazer um check-up médico; ou de algumas vitaminas, ou uma


dieta para melhorar sua condição física. São coisinhas práticas. Quem sabe, você
precisa se vestir melhor? Pense nisso. Não sou especialista nessa área, mas
cuidado, por exemplo, com a combinação de roupas. Sabia que as listras podem
emagrecer ou engordar a pessoa? Isso todo mundo sabe. Então, você que diz,
"Acho que sou meio gordinha" resolve usar listras horizontais fica mais gordinha
ainda. E você diz "estou me achando tão magra..." e usa um vestido com listra
verticais, vai ficar ainda mais magra... Outra coisa, rapazes e moças: cuidado para
não misturar os padrões. Se usou um tipo de listra na blusa, a calça deve ser
sólida, ou seja, de uma cor só, combinando com a blusa. Mas não vá usar paletó
listrado de um jeito, com calça listrada de outro jeito.

Que tal um pouquinho de maquiagem nas profundas e românticas olheiras? Um


pouquinho não faz mal a ninguém. Mas não exagere: não vá andar parecendo
doente de anemia, mas também não vá andar parecendo Jezabel. Deus quer suas
filhas bonitas.

No entanto, nada disso vai adiantar, se você não tiver um relacionamento correto
com Deus. Por isso, você deve se olhar à luz da palavra de Deus, onde, no Salmo
8 está dito "Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem
para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que "os anjos, e da glória e
de honra o coroaste" (v.v. 4,5). Querem outra palavra: "E Deus criou o homem à
sua imagem: a imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou" (Gn. 1:27). A
Palavra de Deus tem muitas outras expressões a respeito da sua dignidade.

E mais: você deve se olhar à luz da Palavra de Jesus Cristo. E aqui temos uma
palavra interessante no Evangelho de Lucas, capítulo 7. É apresentado um oficial
do exército romano, homem de patente. Ele estava comandando a guarnição, e
diz a Bíblia que ele procurou a Jesus porque seu servo estava enfermo. E queria
que Jesus dissesse uma palavra, só uma palavra para que seu servo fosse
curado. E veja o que ele disse de si mesmo, sua auto-imagem; "Eu mandei
alguém porque nem me julguei digno de ir a tua presença" (v.6, 7). " Eu não me
julguei digno!" Ele não se julgava digno, um oficial bem vestido com aquele
uniforme do exército romano, a capa vermelha nos seus ombros, a espada na
cintura, o elegante capacete. E essa autoridade se volta para Jesus, e diz "Eu não
me julguei digno". Olha o que o povo dizia dele: "Ele é digno de que lhe concedas
isto" (v.4). Na mesma história ele diz, "Eu não sou digno", o povo dizia: "Ele é

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 348


digno". E Jesus disse: "Ele é digno!" Jesus comprovou a dignidade daquele oficial
do exército de Roma. É assim que Jesus vê você também. Você é digno, aos
olhos de Deus, de receber o Senhor, de ter a vida eterna, de ter a salvação.

Você deve se olhar à luz do amor eterno de Deus como já foi destacadoLembre-se
do texto de João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que entregou
seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna". O "todo-aquele-que-nele-crê" é você. O "mundo-que-Deus-amou" é você,
pois Deus o ama de um modo tão intenso que deu Seu filho para que você,
recebendo-O pela fé, tenha a vida eterna. Quando Jesus deu a Simão um novo
auto-conceito simbolizado pele nome Pedro, que quer dizer "rochado, pedra",
estava ajudando-o a se tornar Simão, a Pedra; Simão, a Rocha; Simão, o
Rochedo. É por isso que a grande notícia do evangelho de Jesus Cristo é que nós
podemos mudar, você pode mudar, é que não temos que arrastar pela vida a fora
o resultado dos condicionamentos que nos impuseram, e, pelo Seu Espírito, Deus
nos ajuda a mudar.

O apóstolo Paulo podia ter desenvolvido um tremendo sentimento de inferioridade.


Sabe o que disseram a Paulo? Está em 1Coríntios 10.10, na Tradução na
Linguagem de Hoje: "Alguém vai dizer: As cartas de Paulo são severas e fortes,
mas quando ele está conosco, é tímido e é um fracasso quando fala". Os
intrigantes disseram isso do apóstolo, e já vimos um texto que disse, "Que eu sou
o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que
persegui a igreja de Deus (1. Co 15:9)". E, no entanto, ele completa: "mas pela
graça de Deus sou o que sou (v.10 a)".

Você precisa se ver, então, como potencialmente uma personalidade altamente


eficiente, e que tem habilidade para dar e receber amor, e realizar muito mais do
que pode imaginar. Então, é a moça crente que não arranja namorado; é o rapaz
que não consegue namorada, ou, se arranja, só dura uma semana, não arranja na
igreja, e vai buscar lá fora. Por favor, meu jovem, não faça isso, não. Para isso
existem os intercâmbios, os congressos, os acampamentos. Movimente-se!
Procure dentro do povo de Deus um filho de Deus ou uma filha de Deus. Já vi
muito casamento nascer de intercâmbios, mas quando arranjar em outra igreja,
traga para a sua.

UM PASSO ALÉM DO SENTIMENTO DE INFERIORIDADE

É a nossa proposta. Lembre-se que qualquer atitude da inferioridade pode ser


removida. Repetimos o que diz a Bíblia: "Como (o homem) pensa consigo mesmo,
assim é" (Pv. 23.7 a).

Então, para que uma pessoa se torne bem sucedida, não é preciso grandes
talentos ou grandes idéias, mas, sim, uma grande semelhança com Jesus Cristo.
Tiago nos dá um excelente e oportuno conselho, "Humilhai-vos perante o Senhor"
e logo nos lembra, "E ele vos exaltará" (4:10).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 349


Por fim, contra esse tipo de sentimento, temos a lição e a solução da Palavra de
Deus: "Confortai as mãos fracas, e fortalecei os joelhos trementes. Dizei aos
turbados de coração: Esforçai-vos, não temais; eis que o vosso Deus virá com
vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos
cegos serão abertos, e os ouvidos do surdo se abrirão. Então os coxos saltarão
como cervos, e a língua do mudo cantará; porque as águas arrebentarão no
deserto e ribeiros no ermo".(Is. 35: 3-6).
Será que a vida tem sido um deserto por causa desse sentimento de
inferioridade?

Parte 72.
UM PASSO ALÉM ... DA SOLIDÃO

"Os meus olhos estão postos continuamente no Senhor, pois ele tirará do laço os
meus pés. Olha para mim, e tem misericórdia de mim, porque estou desamparado
e aflito. Alivia as tribulações do meu coração; tira-me das minhas angústias, olha
para a minha aflição e para a minha dor, e perdoa todos os meus pecados" (Sl 25.
15-18).

Um homem afirmou ter faturado no ano que passara mais do que seu pai em toda
a sua vida; de dois em dois anos, trocava de automóvel; nunca saía sem seu
cartão de crédito; barbeava-se duas vezes ao dia porque não sabia quem iria
encontrar; cria em Deus, mas não necessariamente na igreja; disse ter tudo o que
o dinheiro podia comprar, mas estava só, terrivelmente só!

Com certeza, a palavra "solidão" descreve a história de muita gente. É um


sentimento que não escolhe suas vítimas. Jovens e idosos, ricos e pobres, santos
e pecadores são seu alvo. T. S. Elliot expressou em um de seus poemas:

"Não é que queira estar sozinho,


Mas é que todos estão sós -
Ou assim parecem..."

É solitária a criança que sente não ser amada pelos pais; o adolescente que se
sente rejeitado pelos outros; é solitário quem é alvo de risadas por um defeito
físico, feiúra, retardamento mental ou excentricidade qualquer; vive em solidão a
mocinha que pensa ser feia; o filho de pais separados que passa a semana com
um e o fim de semana com o outro; são solitários os casados que só tem em
comum o leito que nem conjugal é mais, e nem mais conversam, apenas se
agüentam. Por essa razão, Rollo May diz ser a solidão "uma característica das
pessoas modernas", e William Fletcher conta do passageiro de um táxi em Nova
York que recebeu um bilhete passado pelo motorista: "Em vez de gorjeta, prefiro
que converse. Sinto-me solitário. (a) o Motorista".

Na verdade, o único aspecto da criação original que Deus não considerou bom foi,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 350


segundo Gênesis 2.18, a solidão: "Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o
homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea." Por isso, ocorreu
o encontro de Adão e Eva, o encontro do homem com a mãe de todos os viventes
(3.20), e de cada homem particular com sua esposa.

HÁ SOLIDÃO E HÁ SOLIDÃO

Observe-se, no entanto, que nem sempre a solidão é um mal, pois existe a


solidão-recolhimento, fuga-das-multidões, retiro. Jesus a buscou. Antes do início
de Seu ministério, esteve em solidão no deserto (4.1,2, 14; cf. Mt 14.23; Mc 1.35;
Lc 5.16; Jo 6.15), bem como antes de escolher os apóstolos (Lc 6.12, 13); ao
saber da morte de João, o Batista (Mt 14.13). Também a recomendou aos
apóstolos quando retornaram da missão enviada (Mc 6.30-32).

"Estar a sós" e "sentir-se só" não são a mesma coisa. Ficar algum tempo a sós é
necessário para que haja uma trégua das pressões da vida, e pode, mesmo, ser
altamente produtivo, pois o tempo a sós deve ser considerado como uma
oportunidade de construir um relacionamento com você mesmo. Aprenda a
meditar, a pensar ou, até, a abstrair-se de qualquer pensamento. No entanto,
muita gente não sente serem momentos de solidão positivos e produtivos porque
essa é uma solidão emocional, vem de dentro. Ela se torna terrível quando não há
fé. Foi o caso de Judas Iscariotes. Homem de nome tão significativo (Ioudas, gr. <
Judah, hebr. = "louvor"), mas que caráter tão diferente do geral do grupo dos
apóstolos: mesquinho (Jo 12.4, 5), traidor (Jo 6.64), ladrão (Jo 12.4-6). Sem fé,
tornou-se um solitário no sentimento, no espírito; com remorso, matou-se (Mt 27.5)
. Almas solitárias sem fé escolhem uma de duas saídas: tornam-se agressivas e
odeiam as pessoas ou são misantropas, fogem de tudo e isolam-se.

CAUSAS

Não há dois casos iguais. Há incontável número de pessoas com problemas


especiais de solidão. É a mulher solitária porque o marido não a acompanha a
igreja; é o marido que se sente só porque a mulher se dedicou tanto aos filhos que
se esqueceu do primeiro amor.

As causas são muitas: morte de um ente querido, traição por parte de um amigo,
sentimento de estar atrapalhando após anos de produtividade ("síndrome do
aposentado"), privação da personalidade (viramos apenas um número: Para a
Secretaria da Receita Federal a pessoa se torna o 002.148.757-41, ou a conta
361.439-8 do banco no qual recebe o pagamento); separação espiritual de Deus.
Há um triste caso de solidão na Bíblia : Jó (cf. Jó 19.13-19). Irmãos, parentes,
amigos e conhecidos o desprezaram (cf. vv. 13, 14), empregados, a esposa (cf.
vv. 15-17), mesmo as crianças (cf. v. 18) e amigos íntimos (v. 19) o
abandonaram?! Que tremendo caso de abandono e solidão, pois por todos foi
achado repulsivo, e tratado como estranho sem reconhecimento de autoridade e
posição.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 351


A solidão traz medo, senso de abandono e perda da dignidade. Por causa da
solidão muita gente é levada ao alcoolismo, aos tóxicos, a comer
demasiadamente, a dormir em excesso, ao suicídio.

A SOLIDÃO NÃO FAZ ESCOLHAS

Dissemos no início que a solidão não faz escolhas, e todos são atingidos. É ver os
exemplos; Elias fora ameaçado pela ímpia Jezabel (1Rs 19.1, 2) e fugiu (v. 3),
tendo entrado em profunda depressão (v. 4). Quarenta dias depois, ainda se
sentia só (vv. 10, 14). A realidade é que não estava só: havia sete mil fiéis ao
Senhor em Israel (v. 18). Davi fugia da perseguição movida pelo rei Saul.
Escreveu na ocasião o Salmo 13 (cf. vv. 1-4). No Salmo 69.1-4, 18:

"Salva-me, ó Deus, pois as águas me sobem até o pescoço. Atolei-me em


profundo lamaçal, onde não se pode firmar o pé; entrei na profundeza das águas,
onde a corrente me submerge. Estou cansado de clamar; secou-se-me a
gargante; os meus olhos desfalecem de esperar por meu Deus. Aqueles que me
odeiam sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça; poderoso são
aqueles que procuram destruir-me, que me atacam com mentiras; por isso tenho
de restituir o que não extorqui. Aproxima-te da minha alma, e redime--a; resgata-
me por causa dos meus inimigos.

Mesmo Jesus ficou só:

"Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmane, e disse aos
discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E levando consigo Pedro e
os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então lhes
disse: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo." (Mt 26. 36-
38).

Voltando, verificou estar sozinho, pois os discípulos dormiram: "Voltando para os


discípulos achou-os dormindo; e disse a Pedro: Assim nem uma hora pudeste
vigiar comigo?" (v. 40).

Paulo:

"Procura vir ter comigo breve: pois Demas me abandonou, tendo amado o mundo
presente, e foi para Tessalônica, Crescente para a Galácia, Tito para a Dalmácia;
só Lucas está comigo, porque me é muito útil para o ministério. Na minha primeira
defesa ninguém me assistiu, antes todos me desampararam. Que isto não lhes
seja imputado." (2Tm 4.9-11, 16).

E, no entanto, todos venceram a solidão, Elias: "E depois do terremoto um fogo,


porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e
delicada." (1Rs 19.12). Davi: "Vejam isto os mansos, e se alegrem; vós que
buscais a Deus, reviva o vosso coração. Porque o Senhor ouve os necessitados, e
não despreza os seus, embora sejam prisioneiros." ( Sl 69.32, 33); Jesus:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 352


"Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode
passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade." ( Mt 26.42);

Paulo: "Mas o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim
fosse cumprida a pregação, e a ouvissem todos os gentios; e fiquei livre da boca
do leão. E o Senhor me livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu
reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém" (2Tm 4.17, 18).

UM PASSO ALÉM DA SOLIDÃO

Entendamos que a solidão não é o objetivo de Deus para nós: "Disse mais o
Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2.18a); "Deus faz que o
solitário viva em família; liberta os presos e os faz prosperar; mas os rebeldes
habitam em terra árida" (Sl 68.6; cf. Jo 8.29).

John Donne muito bem o expressou numa sentença que se tornou clássica:
"Nenhum homem é uma ilha, inteiramente de si mesmo; todo homem é um pedaço
do continente, uma parte do mar..."

Então, para lidar com a solidão:

Primeira etapa: é preciso uma compreensão clara, ativa, positiva de que Deus é
soberano. Ele tem um plano para cada um de nós, e Seu plano é sempre bom.
Podemos contar com Sua providência para afastar de nós a solidão, a dor, a
tristeza, e torna-las em bênção. Assim, reconheça que você nunca está sozinho; a
todos os que conhecem a Cristo, Deus concedeu a Sua presença.

A Josué: "Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida. Como fui com
Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei." (Js 1.5); aos
cristãos:

"Não vos deixarei órfãos; voltareii a vós." (Jo 14.18).

Segunda etapa: aceite que nada acontece por acaso aos olhos do cristão. Tudo é
ordenado por Deus que ama e que é soberano. Na verdade, é na solidão que você
tem oportunidade de conhecer melhor a Deus, de ler a Bíblia, de orar, e de
compreender que existe uma companhia que jamais nos deixará.

Terceira etapa: pratique a arte de se comunicar em níveis espirituais mais


profundos com outras pessoas. Ore para que o Espírito Santo conforte e encha o
vazio do coração. Chore, se for o caso; lave o coração e a alma com essa válvula
de escape que Deus lhe deu. Aprenda sobre a promessa especial da Escritura:
"Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos
de paz. E não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança." (Jr 29.11).

Quarta etapa: Peça a Deus que ponha na sua vida alguém mais necessitado que
você e que lhe ensine a ministrar a essa pessoa. A solidão só pode ser curada

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 353


pelo amor. Você que não é solitário busque alguém, viva, dê amor. A solidão é
superada através da oração por outros porque quando oramos pelos outros,
começamos a amá-los.

A resposta final à solidão se encontra numa comunhão íntima, sólida com Deus.
Samuel Rutheford disse com muita felicidade que "Nossas necessidades nos
qualificam melhor para Cristo". Envolva-se no projeto de Jesus Cristo: a expansão
do Seu reino: "Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de
Deus e edifício de Deus." (1Co 3.9). Amém!

Parte 73.
UM PASSO ALÉM ... DAS SOMBRAS

"Ó Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor. O meu coração está
ferido e seco como a erva, pelo que até me esqueço de comer o meu pão. Os
meus dias são como a sombra que declina, e eu, como a erva, me vou secando"
(Sl 102.1,4,11).

Crente em nosso Senhor Jesus Cristo, salvo pelo sangue do Calvário, liberto pela
cruz, contudo vivendo nas sombras espirituais. Vivendo no pó (cf. v. 9), na cinza,
no desamparo, na tristeza, na escuridão. Nem parece que já recebeu a luz de
Cristo Jesus! Há que sair dessa penumbra para a alegria de Cristo, para a alegria
da salvação, da plenitude espiritual. Há que fazer reviver o próprio coração, os
sentimentos espirituais, a consciência; há que caminhar para a claridade, para a
certeza, para os alvos, para o crescimento na expressão de Paulo em Efésios
5.14: "Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e
Cristo te iluminará".

HÁ QUE SE AVIVAR A CHAMA DA SANTIDADE

"Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes


tínheis na vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós
também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis
santos, porque eu sou Santo"
(1 Pe 1.14-16).

Tudo começa com a santidade que não é, como muitos pensam, conseqüência,
resultado da vida cristã, mas seu início, porque ser santo quer dizer ser separado
especialmente para Deus, consagrado para o Senhor, reservado para algo
especial (Ex 19.5,6; Lv 20.7,8; 1 Pe 2.9). No Antigo Testamento, Deus usou de
meios altamente dramáticos, gráficos para ensinar ao povo que havia objetos que
só podiam ser tocados pelos sacerdotes, pois eram objetos santos, separados,
especiais. Ainda mais; havia um lugar no tabernáculo e no templo onde nem os
sacerdotes, que eram homens escolhidos, entravam; só o Sumo-sacerdote, e,
mesmo assim, apenas uma vez por ano. Observe, então, que tudo o que pertence
ao âmbito do culto é santo: há objetos santos (reservados para o culto), ocasiões
santas (ocasiões especiais), lugares santos, uma cidade santa, Jerusalém, há um

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 354


Livro santo (a Escritura Sagrada), há pessoas santas (dedicadas ao serviço e
missão do Senhor).

No Novo Testamento, o sagrado não pertence a coisas, lugares, objetos ou ritual,


mas às manifestações do estilo de vida que o Espírito Santo produz. Na Nova
Aliança, somos todos seres especiais, elevados ao sacerdócio; quem tem a Cristo
é santo, quem tem a Cristo é diferente. Dentro da mesma esfera do ser santo, é
experiência de santificar-se, porque além da idéia da separação, do ser diferente,
há o conceito do encontro com Deus que exige uma resposta nossa. Por essa
razão, o Salmo 24.3 faz uma pergunta respondida com o verso seguinte: "Quem
subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?" (Sl 24.3);
"Aquele que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega a sua alma à
vaidade, nem jura enganosamente" (Sl 24.4).

Santidade não é legalismo (a idéia de que se respeitarmos regras, ganhamos o


favor de Deus, ou seja, "faça tal coisa e será santificado"). Santidade não é
questão de dieta, ritual, costume; não é algo negativo ("não faça isso, faça
aquilo"); não é um banho de emoção, não é trauma psicológico, não é euforia de
momento. Não pode o crente ser separado para Deus, e, ao mesmo tempo,
envolvido com o mundo. A fórmula de santificação está na Sagrada Escritura:

"Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes


tínheis na vossa ignorância; mas , como é santo aquele que vos chamou, sede
vós também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis
santos, porque Eu sou Santo"
(1Pe 1.14-16);

"Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos


abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em
santidade e honra. E o próprio Deus de paz vos santifique complemente; e o
vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente Conservados irrepreensíveis
para a vinda De nosso Senhor Jesus Cristo" (1Ts 4.3,4; 5.23).

Numa reunião de oração, um crente orou várias vezes: "Senhor, tira da minha vida
as teias de aranha". Outro irmão, depois de ouvir a insistência, disse: "Senhor,
mata a aranha!" Pois ser santo e santificar-se e nem deixar que a aranha faça
teias na vida.

HÁ QUE SE AVIVAR A CHAMA DA PUREZA

"Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o


coração, purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa" (Hb
10.22)

"E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é
puro" (1Jo 3.3)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 355


Quando a santidade de vida é reavivada, a pureza de vida é ressaltada. Um
avivamento profundo e real mexe com todas as áreas de nossa vida, mesmo as
mais íntimas. Pecados são confessados, relacionamentos familiares e conjugais
são restaurados, problemas de abrasamento, de casamento, de impaciência, de
falta de controle são resolvidos. Estamos entrando no campo da ética particular,
ou seja, os deveres de um crente para consigo mesmo, tais como o respeito
próprio e a própria aceitação, além de evitar tudo o que seja prejudicial ao seu
espírito, ao seu corpo, ao seu crescimento como filho de Deus.

A chama da pureza avivada mexe com a ética sexual quando a "nova moralidade"
(que Billy Graham chamou de "a velha imoralidade") aceita como normal as
relações prematrimoniais, extraconjugais e homossexuais.

A chama da pureza avivada mexe com a ética conjugal e dos atentados à


santidade do casamento, e com a ética familiar ressaltando a perenidade do amor
com respeito entre pais e filhos, e o exercício da autoridade dos pais.

HÁ QUE SE AVIVAR A CHAMA DA FORÇA ESPIRITUAL

"Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém ministra,

ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja
glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio para
todo sempre. Amém"
(1 Pe 4.11)

Este momento pede crentes que sejam fortes em oração. O Espírito Santo é
entristecido quando o irmão deixa de orar; e há crentes que não oram, não
crescem, não recebem bênçãos, vivem em anemia e esgotamento espiritual.

Sobre a oração, as religiões têm opiniões variadas e curiosas. Os dervixes


muçulmanos repetem a palavra Deus em árabe (Allah) enquanto rodopiam até que
entram em êxtase. Os budistas têm duas práticas: usam a roda-de-oração, ou,
repetem por dias inteiros a sílaba OM (supostamente o vocábulo que deu início ao
mundo).

Oração não é um ritual que o crente pratica; é uma atitude, um estilo de vida. A
oração evangélica é dinâmica; é ação, ou, ainda melhor, é interação: Deus e o
crente interagem. A oração reavivada inclui trabalho: quando você canta, está
orando; quando tem comunhão com os outros, está orando; o modo como você
gasta o seu dinheiro é oração, porque reflete o que tem prioridade na sua vida.
Que faz você? Dá o seu tempo ao evangelismo ou ao estádio de futebol? E seu
dinheiro à bilheteria do cinema ou a missões? Que tem o primeiro lugar na sua
vida?

HÁ QUE SE AVIVAR A CHAMA DA OPEROSIDADE

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 356


"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na
obra do Senhor, sabendo que o vosso não é vão no Senhor" (1Co 15.58).

Que é ser cristão? Há quem pense que é realizar alguma coisa por Cristo, mas, na
verdade, é o que Ele, pelo Seu Espírito, faz na sua vida: "Posso todas as coisas
naquele que me fortalece" ( Fp 4.13; 2 Co 5.15 ).

O serviço cristão é o que o Espírito Santo faz por meio do irmão. Ora, o incrédulo,
dominado pelo pecado, faz o que o pecado ordena; diferente é o crente em nosso
Senhor Jesus Cristo que, obediente ao Espírito de Deus, segue os Seus planos.
Compete ao irmão ser operoso, firme, constante, abundante na Causa.
Sucedendo essa obediência entre nós, o Santo Espírito irá energizar as
campanhas, os planos e esforços do povo de Deus. E essa visitação do Espírito
resultará positivo, excelente e bendita. Evangelicamente falando, o senso
reavivado de utilidade é descer o vale depois de se estar no monte da
Transfiguração (cf. Mt 17.1-13). E o erro de Pedro (v.4) foi querer permanecer em
visão beatífica quando havia uma multidão no vale da necessidade humana e
existencial a aguardá-los (vv. 9,14,15).

UM PASSO ALÉM DAS SOMBRAS

Todo o segredo é manter a chama acesa: a chama da distinção, da separação, da


diferença, da exclusividade; a chama da limpeza da alma, da purificação, do
respeito, do caminho varrido. Todo o segredo é manter a chama acesa: a chama
da oração, da busca de crescimento, da dinâmica, do ritmo, do louvor; a chama do
trabalho, da atividade, e do permitir que o Espírito Santo o use como instrumento
Seu, como agente do Alto!

O segredo de tudo é o binômio: oração e ação, orar e vigiar, meditar e fazer, ser e
agir, querer e efetuar. O segredo é a renovação de aliança com o Senhor, firmar-
se na rocha eterna. Jesus Cristo, e buscar o controle do Espírito, se queremos sair
das sombras da inutilidade, da acomodação, da fraqueza para a glória reservada
aos santos!

Parte 74.
UM PASSO ALÉM ... DO VAZIO ESPIRITUAL

"Salva-me, ó Deus, pois as águas me sobem até o pescoço. Atolei-me em


profundo lamaçal, onde não se pode firmar o pé; entrei na profundeza das águas,
onde a corrente me submerge. Tira-me do lamaçal, e não me deixes afundar; seja
eu salvo dos meus inimigos, e das profundezas das águas. Não me submerja a
corrente das águas e não me trague o abismo, nem cerre a cova a sua boca sobre
mim. Afrontas quebrantaram-me o coração, e estou debilitado. Esperei por alguém
que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os
achei". (Sl 69.1, 2, 14, 15, 20).

Não é fácil viver com o coração vazio. Na verdade, muita gente que se queixa de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 357


coração vazio o tem cheio de amarguras, de tristezas, de ilusões e de desânimo.
Vazio de Deus, está superlotado de pensamentos negativos. A Bíblia ensina que
Deus nos criou do vazio (cf. Gn 1.1,2a), e tudo indica que alguns voltam a esse
vazio inicial, o que levou Henry Thoreau, escritor e filósofo americano do século
passado, a dizer que "a maioria dos seres humanos leva uma vida de desespero
quieto".

Uma maneira segura de medir o vazio interior é pelo tédio sentido. A pessoa
entediada vive no vácuo; o seu eu é um vácuo, e é lei do universo que o vácuo
tem que ser imediatamente preenchido. Daí o anteriormente dito sobre encher o
coração de dor, desilusão e amargura porque a pessoa humana quer se encher de
pão, mas não da Palavra de Deus. É vazio espiritual pela perda de significado.
Viktor Frankl, criador da Logoterapia, estudou esse assunto no seu O Homem em
Busca de Significado. Dr. Frankl era prisioneiro num campo de concentração
nazista. Homem de ciência, fez do campo seu laboratório. Observou que os
prisioneiros que perdiam o significado de si mesmo e do referencial da vida
perdiam igualmente a vida, diferentemente daqueles que se ocupavam em viver, e
fazer de cada minuto uma oportunidade criativa.

Um homem disse ao Pr. Creath Davis, especialista em aconselhamento: "Não


tenho futuro. A vida não tem nada para mim... Tudo é sem sentido!" O ser humano
perde seu significado se não tem a Deus e quando não compreende ser imagem e
semelhança do Criador porque toda a vida está cheia de significado; nada
acontece sem sentido (cf. Mt 10.30,31), e, assim, quanto mais se busca a
felicidade no mundo exterior, mais se arrisca a paz interior.

O VAZIO DE DEUS

Qualquer compreensão da pessoa humana parte da suposição de que há de ser


interpretada a partir de um nível. Eu parto do nível da esperança; sua falta é a
desesperança, o desespero. Mas parto, igualmente, do fato de que Deus embasa
a esperança; não tê-la é não ter a Deus; não tê-Lo é não ter esperança:

"Estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e


estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo".
(Ef 2. 12)

O ser humano torna-se vazio do divino porque não compreende ser Deus o
"fundamento do ser", a raiz absoluta onde se insere nossa vida e a de tudo o que
existe. O ser humano, porém, é um ser-para-a-esperança. Quando esta
desaparece, é o vazio: é o vazio da segurança, o vazio de Deus. O livro de
Eclesiastes é sobre isso. Seu refrão "Vaidade de vaidades"(1.2; 12.8). Nada mais
é que "tudo é vazio", e seu final é a afirmação de que Deus preenche esse vazio.
Por outro lado, o ser humano é um ser histórico, não apenas físico, emocional ou
religioso. Não é um produto acabado num mundo materializado, secularizado,
coisificado, massificado. Ele se torna o que é através da história do seu
relacionamento com seu ambiente. O filósofo espanhol Ortega Y Gasset o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 358


expressou com as seguintes palavras: "o homem é ele e suas circunstâncias".
Você não é hoje o que foi ontem, mas não é hoje o que será amanhã.

Vivemos numa sociedade que se desintegra moralmente com extrema facilidade.


O que não é novidade: o ciclo da história se repete (observe Gn 6.5, 11, 12; 18.
20; 19.4-9; Rm 1.18-32; Ef 4.17-24). Quer dizer que o que hoje acontece já é
história contada. Os livros de história falam da degradação de culturas como a
grega e a romana. Quanto à nossa sociedade, nem é preciso compulsar os livros:
é só ler jornais, as novelas. Em nossa cultura, quando se chega a pensar sobre o
pecado, dá-se o nome de "realismo". Perdeu-se o respeito, perderam-se os
valores, há uma obsessão pelo sexo e pela pornografia, o que sempre tem sido
marca de civilização em decadência. A devassidão não exige pensamento, nem
caráter, nem freios: é o que acontece com pretensos programas humorísticos. Não
é de admirar que uma juventude, uma sociedade que se alimenta de podridão
vomite em cima de si mesma essa mesma imundície:

"Porventura se envergonharam por terem cometido abominação? Não, de maneira


alguma; nem tampouco sabem que coisa é envergonhar-se. Portanto cairão entre
os que caem; quando eu os visitar serão derribados, diz o Senhor." (Jr 6.15).

E nunca se falou tanto de religião quanto hoje. O rádio, a TV, as praças estão
repletos de programas religiosos católicos, evangélicos e outros, e o povo surdo à
mensagem de esperança de Jesus Cristo (cf. Rm 1.21, 22).

C. J. Jung diz ter tratado centenas de pacientes, sendo que, em todos os casos, o
último recurso que ele apontava era a perspectiva religiosa da vida. E nenhum
paciente ficou realmente curado a não ser quando recuperou sua fé. O senso do
santo parece ter desaparecido da sensibilidade moderna, deixando um vazio que
é uma das feridas mais cruéis, o que torna Deus um estranho ao ser humano, e
termina por fazer os homens estranhos entre si.

Pensemos na situação do drogado. Alguém pode até imaginar que a experiência


de drogas seja um ato de existencialismo. Seria, então, um ato de vivência, um ato
próprio, uma mensagem de que se existe. Afinal, inconscientemente o viciado
admite o fato que sente, tem esperanças, ama e odeia. Portanto existe. Não
baseia sua vida na razão, mas no ser-que-existe, e nessa ânsia de se fazer
presente, notado, é imediatista ("Olhem, estou usando drogas, portanto [ainda]
existo!").

Na verdade, o que existe é uma imensa crise no mundo; aliás, crises. Crises que
se unem como fios de uma teia de aranha. É a crise de identidade, a crise de
autoridade, a crise de valores, por isso, a "era da ansiedade", como bem o
expressou W. H. Auden. O ser

humano não sabe se é um verme, um rato, uma pessoa ou um semideus.

Um moço disse ao Pastor Billy Graham: "Perdi a minha fé". Ele respondeu: "Não,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 359


a fé que você perdeu não era a sua. Era de seus pais. Saia e conquiste sua fé
pessoal". É o que falta.

PROPOSTA

Todos os projetos para mudar o mundo se reduzem a dois: reforma das


instituições e reforma da pessoa humana. Assim é com o capitalismo, com o que
resta do comunismo, com as teologias da libertação (latina, africana, asiática,
feminina), assim com as utopias sociais e políticas.

Trago a proposta do evangelho: a reforma do mais íntimo do ser humano, o


preenchimento do seu vazio interior. Se quisermos refazer o mundo, temos que
começar por refazer o indivíduo, então as instituições serão boas.

O ser humano tem um papel privilegiado na terra:

"Que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o
visites? Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste.
Deste-lhe domínio sobre às obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus
pés; todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves do céu, e
os peixes do mar, tudo o que passa pelas veredas dos mares." (Sl 8.4-8).

"Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos;
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu
e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra." (Gn 1.27, 28)

"Que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?" (Mt
16.26).

Essa é a enorme pergunta a nós lançada desde os séculos. O mundo está cheio
de profetas da desgraça, do desespero. No entanto, há uma alternativa ao
desespero: é Deus. SØren Kierkegaard, teólogo protestante precursor do moderno
existencialismo cristão, falou que o desespero (experiência existencial) encontra
resposta na confiança radical (o "salto da fé"). É disso que o angustiado precisa.
Outro existencialista cristão, Paul Tillich, diz que em lugar de tomar a estrada do
desespero e falta de sentido (solução do existencialismo ateu), em sua ansiedade,
o ser humano está no ponto em que Deus pode alcançá-lo. Quando aceita sua
limitação e a ansiedade que ela traz, e tem coragem de ser ele mesmo, Deus o
redime. O que quer dizer que os problemas da vida são resolvidos não pela
conformação, mas pela reação e ação.

Há um remédio para o vazio espiritual. Encontra-se em Efésios 5.18: "enchei-vos


do Espírito". Não poderá haver paz no mundo se não houver paz na alma. No
Antigo Testamento, a pessoa humana é uma unidade. Jesus Cristo mostra a
unidade do ser humano quando da realização das curas sempre ligadas ao bem-
estar total. Outrossim, Ele mesmo exclamou nos termos de uma parábola:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 360


"Insensato, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado, para quem
será? ( Lc 12. 20) Pois é; a Escritura mostra o ser humano uno. Hoje, no entanto,
parece ser apenas nervos e complexos. É frustrado porque espiritualmente vazio;
é alienado por ser vazio espiritualmente.

O encontro de um homem endemoninhado em Gadara, acontecimento narrado em


Marcos 5.1-20, é a típica história da pessoa vazia de Deus: alienada de Deus (v.
7), de si (v. 9), dos outros (v. 3). O encontro com Jesus, no entanto, transformador
como é, traz um encontro com Deus (v. 19), consigo (v. 15) e restaura a vida
social (v. 19). De vazio a pleno espiritualmente falando pelo evangelho.

Parte 74.
"VENDO O INVISÍVEL"

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas
que não se vêem. Porque por ela os antigos alcançaram bom testemunho". (Hb
11.1,2)

Há quem queira ver em Hebreus 11.1 uma definição da fé. Não temos aqui uma
descrição da fé no sentido teológico rigoroso, mas uma descrição dos seus efeitos
na vida de personagens da história sagrada. Lendo os seus quarenta versículos,
encontramos o que a fé realizou nas suas vidas.

A fé é operativa. Ela traz para o presente as coisas que Deus já preparou para nós
no futuro. Que coisas, então, são essas que nos estão reservadas? Que coisas
são essas que Deus colocou no futuro, mas que para nós se tornam presentes?
Para o que crê, tornam-se presentes as futuras bênçãos da volta de Jesus Cristo;
para o que crê, tornam-se presentes a glorificação final do crente, a sua entrada
no descanso celestial, e outros benefícios da culminação do ato salvador de Cristo
(cf. Hb 9.28). E tudo isso nos ensina que a fé não é uma emoção passageira; tudo
nos ensina que ela é a firme certeza de que as melhores bênçãos dos céus ainda
estão no futuro, apesar de já termos recebido quantas e quantas bênçãos no
presente.

Habacuque, o profeta, repetido pelo apóstolo Paulo, diz que "o justo viverá da fé"
(Hc 2.4; Rm 1.17; Gl 3.11). É esse viver que explica a lista de chamada dos
"heróis da fé", e esclarece um certo número de características do crente de todos
os tempos, da época patriarcal até hoje, da crente da Igreja Primitiva ao do século
20. São essas características que serão destacadas. São coisas impossíveis, e a
primeira característica daquele que crê é:

A CAPACIDADE DE VER O INVISÍVEL

Hebreus 11.24 registra que:

"Pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 361


escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que ter por algum tempo
o gozo do pecado, tendo por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os
tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé deixou o Egito,
não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como quem vê aquele que é invisível"
(Hb 11.24-27).

Aí está a primeira capacidade de quem tem fé: ver o invisível! Que figura
extraordinária a de Moisés, e que notável característica foi a sua intimidade com
Deus! No livro do Êxodo, e no seu capítulo 33.9-11 encontramos: "Quando Moisés
entrava na tenda tenda, ... todo o povo, levantando-se, se inclinava cada um à
porta da sua tenda... Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala
com o seu amigo". De onde tiramos a profunda lição que quando realizamos uma
tarefa diretamente na presença de Deus nada, absolutamente nada pode nos
derrotar!

Estou falando de visão espiritual! E nessa visão é que lemos Hebreus 11.27:
Moisés "deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como quem
vê aquele que é invisível". E ele seguiu para onde Deus o mandou.

Ver o invisível é ver a Deus em glória e santidade. A Bíblia fala sobre isso, e como
Deus foi visto em glória e santidade pelo profeta Isaías, e isso aconteceu antes da
sua chamada para porta-voz do Senhor. A Bíblia diz "No ano em que morreu o rei
Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu
manto enchiam o templo" (Is 6.1). Ele viu a Deus naquela majestosa visão quando
no templo. Sem dúvida, ele viu a glória de Deus! Kavod, a glória de Deus, a honra
de Deus, a santidade de Deus! Sim, é nessa visão que podemos ver também.

Nosso Deus tem o governo da História em Suas mãos, e foi desta maneira que de
uma família fez uma nação, e de uma nação retirou Aquele que profetas da Antiga
Aliança salientaram como sendo o Messias prometido. Por isso, o povo de Deus
celebra o Seu Nome! Porque olhamos o Invisível!

Ver o invisível é difícil para quem não fala a linguagem da fé. Ver o invisível é ver
a Sua graça, que é sempre o melhor para nós, razão porque é preciso a ela
responder, atender ao evangelho, que é religião do coração, e, por esse motivo,
atinge no íntimo o ser humano. Não importa se é alguém de cultura urbana ou um
silvícola que mora numa taba; por baixo dessa pele, no fundo da alma é o mesmo
ser humano a quem o Espírito Santo fala, e que precisa dar-lhe respostas.

Aprendemos, ainda, na Escritura que há outra capacidade daquele que crê, e é:

A CAPACIDADE DE OUVIR O INAUDÍVEL

Aquilo que nimguém mais pode ouvir, o que crê ouve. Aliás, há quem seja incapaz
de ouvir a voz do Senhor por rebeldia, talvez, por presunção, quem sabe. A
Escritura fala sobre isso. Vamos ao profeta Jeremias: "A quem falarei e
testemunharei, para que ouçam? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos, e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 362


eles não podem ouvir; eis que a Palavra do Senhor se lhes tornou em opróbrio;
nela não têm prazer" (Jr 6.10). A palavra do Senhor se tornou em peso, em
pecado, em vergonha! Que coisa horrenda é uma pessoa ter os ouvidos surdos
para a palavra do Senhor!

Outro profeta, Zacarias, diz: "Eles, porém, não quiseram escutar, e me deram o
ombro rebelde, e taparam os ouvidos, para que não ouvissem"(Zc 7.11). É isso o
que tem acontecido: as pessoas têm preferido ser surdas à voz do Senhor, e, no
entanto, há bem-aventuranças para o que houve a palavra do Senhor, pois que
"ouvir" e "obedecer", no Antigo Testamento, é a mesma coisa: Feliz é aquele que
ouve, aquele que obedece! Ouvir é, então, imperativo para a vida espiritual forte e
que dê frutos. Há que identificar-se no ouvir o inaudível o senso de chamada que
deve orientar o fiel. E na lista dos heróis da fé encontramos outra extraordinária
figura: Noé.

A Bíblia diz, em Hebreus 11.7 que "Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas
que ainda não se viam, sendo temente a Deus, preparou uma arca para o
salvamento da sua família; e por esta fé condenou o mundo, e tornou-se herdeiro
da justiça que é segundo a fé". Toda a sua vida foi um preparo constante e
concentrado para o que Deus lhe havia dito que aconteceria. Noé atendeu à
advertência divina, e por isso se salvou. Essa mesma advertência que nos vem de
várias maneiras:

Deus pode nos falar pela consciência; Ele toca a consciência cauterizada, aquela
consciência que, como diz Zacarias, dá "o ombro rebelde" (7.11), dá as costas,
não quer ouvir a Deus, mas Ele toca!
Ele pode falar de um modo direto a nossas vidas;
Ele pode falar pelo conselho e exortação;
pela Bíblia, alguém abre a Escritura, lê, aprende e obedece.
há quem ouça o Senhor através de um sermão;
ou, talvez, pela dor; o povo tem um provérbio que diz que "quem não vem pelo
amor vem pela dor". Inúmeras vezes o Senhor tem tocado o Seu dedo na vida de
pessoas que precisam deixar a rebeldia, o pecado para se voltar para a santidade
e para Sua glória.
É daí que Jesus adverte com essas palavras: "Bem-aventurados os vossos olhos,
porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16).

Sim, há uma abençoada bem-aventurança em ouvir, e ao lado dela, encontramos


como é incrível a vida daquele que tem fé. É um paradoxo ser incrível a vida
daquele que tem fé, mas assim é porque não somente vê o invisível, como ouve o
inaudível.

Outra característica daquele que crê é a

CAPACIDADE DE TRANSPOR O INTRASPONÍVEL

Imaginem uma grande pedra colocada no meio do caminho. Carlos Drummond de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 363


Andrade até disse que

"no meio do caminho tinha uma pedra


Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra...

Não há como transpô-la, mas em Hebreus 11 há expressões que são elucidativas:

"Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, saindo para um lugar que havia de
receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé peregrinou na terra
da promessa, como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó,
herdeiros com ele da mesma promessa; Pela fé até a própria Sara recebeu a
virtude de conceber um filho, mesmo fora da idade, porquanto teve por fiel aquele
que lho havia prometido. Pelo que também de um, e esse já amortecido,
descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia
inumerável que está na praia do mar." (vv 8,9,11,12)

Isso é transpor o intransponível! E, para fazê-lo, é preciso muito mais além da fé


intelectual, da fé que diz "eu creio", "acredito no que está descrito aqui". Fé que é
interessante, mas é morta, não é operativa. Precisamos de uma fé viva, criadora,
e inabalável, fé-decisão de seguir as ordens da Graça Divina que nos coloca
tantas vezes diante de tarefas aparentemente intransponíveis!

Foi o caso de Moisés que recebeu a incumbência de formar de um povo incrédulo,


duro de coração, rebelde, até, uma nacão: o povo de Deus! E não foi mesmo o
que aconteceu? Quando ele tirou o povo do Egito, e chegou ao deserto, a primeira
situação de rebeldia foi aquele desejo, aquela fome dos temperos do Egito (cf. Nm
11.5): "Nós queremos os alhos e as cebolas, essa comida não tem graça sem o
tempero do Egito!" Primeira rebeldia!

A reprodução do boi Ápis, cultuado no Egito, o bezerro de ouro. Povo rebelde!


Mas o Senhor precisava fazer desse o Seu povo santo, separado, exclusivo,
único! E Moisés recebeu a ordem de levar milhares de pessoas, crianças e
adultos, jovens e anciãos, por uma terra árida e deserta numa viagem até Canaã.
E Josué, lugar-tenente de Moisés, de um povo despreparado teve de formar um
exército de conquista, e com essa missão e o senso de socorro divino
transpuseram ambos, Moisés e Josué, o intransponível, porque a escravidão foi
quebrada, o mar se abriu, o povo foi alimentado e mitigada a sua sede, chegou a
Canaã, conquistou a terra, e se estabeleceu na Palestina! Daí Jesus poder afirmar
que "as coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus"
(Lc 18.27).

E que outro personagem, senão Abraão, excelente exemplo de transpor o


intransponível, porque deixou uma vida estabelecida e uma grande cidade que
vivia de importação e exportação, uma família de comerciantes em Ur da Caldéia.
Há uma tradição judaica que diz que Abraão e seus parentes viviam da fabricação
e comércio de ídolos. Em Josué, no capítulo 24, apresenta-se isso no verso 15.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 364


Ele se lançou numa aventura espiritual (cf. Hb 11.8,9). Partiu sem saber para onde
ia; não sabia o que o esperava naquela terra (que nem sabia qual era), mas
reconhecia que Deus estava com ele e partiu para ser uma bênção!

É verdade ! Transpor o intransponível, e somos chamados para fazê-lo também.


Temos no hinário O Cantor Cristão esse mesmo senso de separação no hino 477
que diz:

"Peregrinos, quais estrangeiros,


Nós seguimos pelo mundo a viajar;
Aqui há trevas e iniqüidades,
Aqui há lutas contra a maldade;
Peregrinos, quais estrangeiros,
Nós seguimos pelo mundo a viajar."

Encontramos também, como o povo de Israel, dificuldades na jornada, razão


porque outro hino diz;

"Nesta terra de inimigos


Ando ás vezes com pavor;
Pelo meio dos perigos
Guia-me , meu Salvador"
(482 CC 2a estr.)

E ainda:

"Do adversário, aqui é o reino.


É com ele que nós temos de lutar.
Astucioso, é também malvado,
E nos incita para o pecado
Quais bons servos
Quais bons soldados,
Nosso Rei nos manda pelejar"
(477 CC, 2a estr.)

Sim, somos chamados para o discipulado que é uma caminhada espiritual, uma
aventura espiritual.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e aprova das coisa
que não se vêem. Porque por ela os antigos alcançaram bom testemunho" (Hb
11.1,1)

Mas temos, também, outra capacidade espiritual como crentes em Jesus Cristo. É
a

CAPACIDADE DE SUPORTAR O INSUPORTÁVEL

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 365


Já pensaram nisso? As dores físicas pelas quais nós passamos, e o fazemos
olhando sempre para a frente, sem desistir, e sabendo que o Senhor alimenta
nossa alma. Já pensaram nas dores morais, muitas vezes, como somos
difamados, e, no entanto, tudo suportamos pelo reino de Deus! Vamos ser
francos: Jesus Cristo nos prometeu uma vida fácil? Não! Pelo contrário, o que
encontramos na palavra de Jesus Cristo é, "No mundo tereis aflições, mas tende
bom ânimo, porque eu venci o mundo" (Jo 16.33 ARC). Que coisa linda é saber
que o Senhor é vitorioso, e nos dá a vitória! Lemos ainda, "vem a hora em que
qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus. E isto vos farão,
porque não conheceram ao Pai nem a mim" (Jo 16.2,3).

Tudo isso tem acontecido. Nossos irmãos da Igreja Primitiva sofreram


inimagináveis torturas cujo objetivo era forçá-los a negar o evangelho, forçá-los a
delatar. Eles foram açoitados, queimados, amarrados a postes iluminando
avenidas, foram jogados às feras, seus torturadores usaram pentes, garfos e
garras de ferro para dilacerarem os seus corpos; as suas peles foram queimadas
com óleo fervente sobre partes delicadas dos corpos; moças e mulheres
violentadas, e o suplício atingiu idosos, adolescentes e crianças; suas pernas
foram quebradas, foram pendurados de cabeça para baixo e asfixiados com
fumaça, agulhas foram colocadas debaixo de suas unhas! Por tudo isso, nossos
irmãos da Igreja Primitiva passaram; suportaram o insuportável!

Voltemos à figura de nosso pai na fé, Abraão, porque a Bíblia diz que "Pela fé
Abraão, sendo provado, ofereceu Isaque; sim, ia oferecendo o seu unigênito
aquele que recebera as promessas, e aquém se havia dito: Em Isaque será
chamada a tua descendência, julgando que Deus era poderoso para até dos
mortos o ressuscitar; e daí também em figura o recobrou."(Hb 11.17-19, cf. Gn
22.1ss). O relato nos ensina que por lealdade a Deus, devemos estar dispostos a
sacrificar o que nos seja mais caro! Foi o que aconteceu com Abraão. O que era
mais querido em sua vida era o filho da promessa, o que fez Sara rir, Itzhak
("Aquele-que-provoca-riso"), um amor maior que é o amor de Deus. E recobrou o
seu filho...

Sim, amados, vezes tantas temos que deixar o conforto, posições ou relações
pessoais. Albert Schweitzer era médico, pastor, professor universitário na
Alemanha, no entanto, tudo isso abandonou, no começo deste século, e foi para
um lugarzinho chamado Lamberene, no meio da África francesa, onde nada havia,
para montar um hospital e atender as tribos daquela região. E seu primeiro
ambulatório foi construído num galinheiro abandonado?!

Abraão é o modelo da pessoa que aceita o que não pode entender. Depois que
abandonou os seus parentes e foi para aquela terra desconhecida, teve que
aceitar que seria pai de uma criança apesar da idade. E, finalmente, teve que
sacrificar o filho com cerca de doze anos, o filho da fé, o filho da promessa.
Mesmo percebendo que a eliminação de Isaque seria a negação das promessas,
ele o levou a Moriá. Um dos grandes pregadores da Igreja Antiga chamado
Crisóstomo disse "as coisas de Deus pareciam lutar contra as coisas de Deus, a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 366


fe’contra afé, e a ordem contra a promessa." Quando o crente não compreende,
só há uma coisa a fazer: submeter-se, aceitar, obedecer! Reconhecenos que nem
todos os crentes, e menos, ainda, os incrédulos, compreendem a bênção que é o
insuportável, e como pode trazer bênçãos, porque preferem uma teologia do
conforto, uma teologia do ócio, uma teologia da "maré-mansa". Mas a palavra de
Jesus é realista: "No mundo tereis aflições", lembrando-nos que Ele venceu o
mundo (Jo 16.33b)!

Ao lado disso, a experiência dos servos do Senhor tem sido como esta "Bênção
de Moisés" aos filhos de Israel: "De Benjamim disse: O amado do Senhor habitará
seguro junto a ele; e o Senhor o cercará o dia todo, e ele habitará entre os seus
ombros" (Dt 33.12). Que é "habitar entre os ombros" senão habitar no próprio
coração do Senhor? Que Deus nos abençoe!

Parte 74.
VIDA CRISTÃ: QUAL SERIA A ATITUDE DE JESUS?

Pelos depoimentos que me chegam às mãos, não são poucos os irmãos em


dúvida quanto ao que pode e ao que não pode fazer, ao que é ou não é pecado.
Angustiam-se por não ter certeza se estão satisfazendo a vontade de Deus. A
Bíblia não relaciona todos os pecados, mas estabelece princípios, recomenda o
respeito às leis, às autoridades constituídas, o constante aperfeiçoamento dos
santos, e faz muitas outras advertências.

A Palavra ensina, dentre outras, a prática da honestidade em todos os seus


aspectos; a sinceridade de coração, o respeito pelas fraquezas alheias, o amor ao
próximo, correção em atos e palavras, segundo os padrões bíblicos. Enfim, que
sejamos irrepreensíveis. O padrão é muito elevado, mas optamos por aceitá-lo. A
Nova Aliança nos ensina a não entrarmos em associação com as trevas, não
tomarmos a fôrma do mundo, tal como um bolo que toma a forma da respectiva
fôrma. O sentido de Romanos 12.2 é também o de que estejamos sempre
inconformados com o sistema pecaminoso.

Um modo prático de vencermos essas indagações é fazermos a seguinte


pergunta: Como Jesus faria numa situação dessas? Ele agiria da mesma forma
como estou agindo ou como estou planejando? Sabemos que o cristão vive em
constante batalha interior para superar desejos carnais. O Apóstolo Paulo revelou
essa preocupação, “pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero,
esse faço” (Rm 7.19). É compreensível que, vez por outra, ocorram conflitos dessa
natureza no meio do povo de Deus. Mas o objetivo da minha palavra é dar alguma
luz aos que estão indecisos sobre o que é certo e o que é errado.

Como disse no início, a Bíblia não faz um registro detalhado de todos os pecados,
até porque novas formas de pecar surgem a cada dia. Em Romanos 13.8,9 e 13, 1
Coríntios 6.10, Gálatas 5.19-21 e Apocalipse 21.8 temos a descrição de alguns
pecados. Assim como os olhos do homem nunca se fartam, os pecadores
continuam criando novas formas de contrariar a vontade de Deus. Sem

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 367


desmerecer o indispensável exame das Escrituras e a ajuda do Espírito Santo,
que nos convence de nossas transgressões, vejamos alguns casos em que
podem ocorrer dúvidas.

É pecado tentar subornar um guarda de trânsito para que não emita uma multa,
ainda que estejamos com razão? Jesus agiria dessa forma ou se conformaria com
a decisão do guarda, revestido de autoridade, para depois apresentar recurso a
quem de direito?

É pecado emitir notas fiscais frias ou de valor inferior ao preço ajustado, para
sonegar impostos, com a desculpa de que ninguém mais suporta a carga
tributária? Jesus daria razão aos sonegadores?

É contra a vontade de Deus que ignoremos os sinais de trânsito, por exemplo,


avançar o sinal vermelho, desenvolver velocidade superior à permitida e não usar
o cinto de segurança? Jesus agiria de que forma?

É contra a vontade de Deus a nossa participação em desfile carnavalesco com a


intenção de evangelizar? Jesus se acomodaria bem numa situação assim, vestido
de pierrô, com seus apóstolos em trajes condizentes com a festa, com o objetivo
de cantar hinos de louvor ao Pai, ou anunciar as Boas Novas?

É contra a vontade de Deus provocar o aborto no caso de gravidez por estupro?


Como Jesus aconselharia uma mulher nessas condições? Mandaria que ela
tivesse a criança e glorificasse o Pai, ou que ela matasse o embrião?

É contra a vontade de Deus que seus filhos pratiquem a compra e venda de


bebidas alcoólicas para aumentar a renda familiar? Jesus autorizaria os apóstolos
a praticarem o comércio de cachaça, uísque e cerveja? Ele mesmo faria isso? Ou
Jesus simplesmente abominaria esse tipo de atividade que facilita a iniciação de
jovens ao alcoolismo?

É pecado arriscar a sorte na loteca, sena, jogo-do-bicho ou em qualquer jogo de


azar? Jesus mandaria Pedro fazer uma fezinha na sena acumulada, na federal ou
na esportiva?

Não faz bem aos crentes jogar um carteado para passar o tempo, por lazer, sem
apostas em dinheiro? Jesus andaria sempre com um baralho novo no bolso,
ansioso para chegar a hora de dar uma relaxada com Tiago, João e Pedro, num
carteado leve, porque afinal ninguém é de ferro?

É pecado omitir ou falsificar informações na declaração anual do Imposto de


Renda? Jesus aconselharia seus apóstolos a fazer declarações que não
espelhassem a verdade, com vistas a pagar menos imposto?

Os santos do Senhor podem apresentar falsos atestados médicos aos seus


respectivos patrões para justificar ausências? Jesus, embora estivesse com saúde

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 368


perfeita, usaria desse expediente, ou aprovaria ato semelhante de seus
discípulos?

Podem os crentes contrair matrimônio com pessoas que não sejam da mesma fé?
Jesus não se importaria se alguns de seus discípulos se casassem com filhas de
fariseus ou de escribas, aos quais chamou de sepulcros caiados? Ou Jesus
aconselharia a não associação com as trevas?

Por não haver específica recomendação bíblica, o crente pode participar da Festa
das Bruxas, evento que acontece a cada ano? Jesus e seus apóstolos se
vestiriam de preto e vermelho e cairiam na gandaia?

Poderíamos continuar citando outros exemplos. Sabemos que há casos


polêmicos, que não temos a perfeição de Jesus, que somos santos pecadores,
que estamos sujeitos a pecar por pensamentos, palavras e obras. Mas não
podemos desprezar as advertências de Deus para vivermos segundo a Sua
vontade. Refletir sobre o que Jesus faria em idêntica situação é tão somente um
facilitador para tomarmos uma decisão, num momento de dúvida. Cabe-nos, pois,
refletir sobre as recomendações a seguir:

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do
vosso entendimento” (Rm 12.2).

“Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há autoridade que
não venha de Deus. As autoridades que há foram ordenadas por Deus; quem
resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).

“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a
justiça com a injustiça: E que comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Co 6.14).

“Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E
não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”
(Ef 5.17-18).

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as
astutas ciladas do diabo” (Ef 6.11).

“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da


prostituição” (1 Ts 4.3). “Sem a santificação ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma,
e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).

“Tendo, porém, sustento e com que nos vestir, estamos contentes, mas os que
querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências
loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição” (1 Tm 6.8-

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 369


9).

“Qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4b;
cf Mt 6.24).

“Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a
vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou
santo” (1 Pe 1.15-16).

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor
do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne,
a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1
Jo 2.15-16).

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave,
e o meu fardo é leve” (Mt 11.29-30).

Parte 74.
VIVER A VONTADE DE DEUS
Texto: Rm. 12:2, 1 Ts. 5:17-19, 4:3ss., 1 Pd. 2:15

:Introdução

Uma das frases mais comuns entre crentes e descrentes também é "se Deus
quiser". Mas esta frase apresenta um problema: como saber se Deus realmente
quer?

Todos nós temos preocupações com a "vontade de Deus". Parece-me que nos
últimos anos esta preocupação tem aumentado cada vez mais, talvez pelo fato de
que vivemos numa das épocas mais complicadas na história do mundo. É uma
preocupação muito natural, e até sadia.

Namoro
Vestibular
Carreira
Moradia

Ter filhos; uantos


Aposentadoria
Fazer cirurgia?
Ministério?

Ministério
Quando estudar
Onde estudar
Compras

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 370


De fato, a Palavra de Deus nos dá ordens para conhecer e fazer a vontade de
Deus:

Ef. 5:17-21
Rm. 12:1,2

:Ilustração:
Dani foi um rapaz que sabia o que é viver bem. Um jovem simpático, forte, bonito,
ele era de uma família nobre, de bastante influência na terra. Foi educado nas
melhores escolas particulares, e estava se preprando para prestar vestibular em
medicina quando seu mundo desmoronou.

Sua terra foi invadido por um povo inimigo. Depois de dias e semanas de guerra,
fuga, noites sem dormir, terror de dia e de noite, o pior aconteceu. A sua cidade
caiu. Ele nunca podia esquecer dos gritos de mulheres sendo separadas de seus
maridos e crianças, da morte de pais perante os olhos dos seus filhos, da fuga
desesperada de milhares de pessoas tentando escapar da destruição.

Naquela hora, todo o dinheiro da sua família não valia nada. Dani assistiu
enquanto o inimigo saqueou sua casa, estrupou a sua mãe, matou seu pai, e
levou o melhor da casa embora. E como um jovem forte de 17 anos, "o melhor"
incluia ele mesmo. Dani foi levado como prisioneiro de guerra.

Foi então que sua sorte mudou. Por ser um jovem forte, bonito, capaz, Dani foi um
dos poucos escolhido para ser treinado para uma posição oficial no governo do
país inimigo. Mas primeiro, teria que passar por uma série de provas, depois de 3
anos prestando "vestibular". Havia somente um problema: Dani teria que se tornar
um do inimigo, conformando-se em tudo com eles. Envolvia uma mudança de
língua, de roupa, e de costumes. Em termos gerais, isso não apresentava nenhum
problema. Mas logo ele descobriu que também implicava numa outra mudança--da
sua fé. Ele teria que largar alguns princípios da sua religião para ser aceito e
ganhar a sua posição no governo. Isso ele recusava fazer. E todos pensaram que
ele era louco. Os outros cativos tentaram persuadi-lo. O homem responsável por
ele fez de tudo para ele mudar de idéia. Mas Dani não voltou para trás. Chegou ao
ponto que arriscava sua própria vida por não "dar um jeitinho" na sua fé. Ele ficou
praticamente sozinho, e jogou fora da janela a sua última esperança . . . tudo
porque ele recusava se conformar com atitudes e expectativas que violavam sua
fé resoluta . . .

(Talvez você reconheceu o jovem desta história: Daniel...)

Moral:
Sabendo a vontade de Deus para sua vida, Daniel resistia a tentação de "dar um
jeito" e ser conformado ao padrões do mundo. O pré-requisito para saber a
vontade de Deus para sua vida é não adotar os padrões do mundo, mas sim, de
Deus, e ser transformado em seu pensamento pela Palavra de Deus!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 371


Rm. 12:1,2:
A vontade de Deus e conformidade com o mundo

Ilustração: Massa moldada


Para saber e experimentar a vontade de Deus para nossas vidas, não podemos
nos conformar com os padrões deste mundo!

O que eu não entendo é como em nossos dias temos feito desta busca pela
vontade de Deus um exercício em misticismo! Nosso conceito de Deus e da Sua
vontade está totalmente errado! Imaginamos que Ele é aquele "velho mal-
humorado no céu" que não tem maior prazer do que esconder dos seus as
informações tão necessárias para seu bem-estar. Achamos que somente com
muito suor e grandes lutas que vamos descobrir o plano que Ele tem para nossas
vidas. Ou talvéz pensemos que descobrimos aquela vontade através de
revelações especiais, profecias, visões, sonhos.

Mas estamos nos enganando! Deus é um Deus de graça e misericórdia, que não
deixa seus filhos perdidos num labirinto de vida como ratinhos vendados! Gostaria
de afirmar que 99% da vontade de Deus para minha vida já foi revelada! Está
debaixo do meu nariz!
66 livros
1189 capítulos
31.173 versículos

todos inspirados por Deus, para nós sabermos como conduzir as nossas vidas no
temor do Senhor! Esta é a razão de existir da Bíblia! Contém a vontade de Deus!
Deus está interessado nos mínimos detalhes da sua vida! Quer revelar a Sua
vontade para você!

Mas está na moda em nossos dias uma preocupação demasiada por novas
revelações, por sonhos, profecias, revelações. Mas depois de 2000 anos ainda
não compreendemos toda a vontade já revelada!

Tese: Gostaria de sugerir que devemos nos preocupar muito mais com o 99% da
vontade de Deus que já foi revelada, e vamos descobrir que aquele outro 1% que
nos aflige tanto Deus tomará conta.

Sl. 37:4 Rm. 12:1,2 Pv. 3:5,6

Em vez de andar preocupados, procurando um "sinal" de Deus para seu futuro,


devemos andar como Caçadores de Sabedoria na Palavra de Deus, obedientes a
vontade dEle já revelada!

É absurdo pensar que podemos ignorar o que Deus já revelou, e imaginar que Ele
vai nos dar informação particular, especial. Por quê Deus faria tal coisa!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 372


Ilustração:
Um exame final na matematica. No semestre inteiro você não fez nenhuma tarefa
de casa, não leu o livro texto, não frequentou as aulas. No dia da prova você
chega para o professor, fala o quanto você gosta dele, e pede as respostas do
exame. Absurdo!

A vontade de Deus para sua vida não é mística, obscura, difícil de achar. Começa
seguindo os padrões que Deus já estipulou na Sua Palavra!

Idéia:
A vontade de Deus se conhece quando a Palavra de Deus se obedece.

Transição Inicial: Embora poderíamos alistar "x" textos da Palavra que contêm a
vontade de Deus para nossas vidas, gostaria de destacar três textos principais
que falam expressamente qual a vontade de Deus para nossas vidas. No mínimo
devemos prestar bastante atenção a estes textos, se realmente estamos
preocupados com a vontade de Deus para nossas vidas. São três expressões
claras da vontade de Deus para sua vida e minha vida.

I. A Vontade de Deus é que Vivamos em Constante Comunhão com Ele (1 Ts.


5:16-18)

A. Explicação: O que estes três versículos têm em comum? Porque são colocados
juntos como sendo a vontade de Deus para as nossas vidas? Creio que os três
representam um conjunto de atitudes que refletem uma vida de constante
comunhão com Deus. Refletem uma vida de contentamento, satisfação, alegria,
apesar das circunstâncias!

"regozijai-vos sempre" mesmo em sofrimento, grato porque Deus tem tudo sobre
controle. Esta é a vontade de Deus! Uma decisão de manter comunhão com Deus
como a coisa mais importante na minha vida. Ninguém pode roubar. Por isso, fico
alegre, seguro, contente.

"orai sem cessar" tosse constante = atitude de dependência, comunhão, amizade,


reverência (cf. Neemias), capaz de escapar a qualquer momento, a qualquer hora,
com a mínima de provocação. Esta é a vontade de Deus.

"em tudo dai graças" atitude que é um privilégio ser vivo, um filho de Deus, não
merecedor de nada mas receptor de todas a bençãos celestais em Cristo Jesus.
Uma filosofia de vida, uma estrategia de comunhão com Deus constante.

B. Ilustração: Na moda (EUA): ter uma "atitude". Rebeldia, filhos contra seus pais,
jovens contra adultos (parece os anos 60) . . . atitude de ingratidão, insatisfação,
descontentamento, murmuração.
Ilust: Gastar semanas e horas procurando aquele presente de Natal . . . só para a
criança reclamar que não é a cor que ele queria . . . Revela sérios problemas de
relacionamento, obstáculos, além da má educação. É assim em termos do nosso

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 373


relacionamento com Deus, nosso Pai!

C. Aplicação: As pressões do mundo são muitas! Satanás não quer que sigamos
este modelo! A mentira de Satanás: Deus nos deve! Riqueza, saúde,
prosperidade, e não vou ficar contente, alegre até receber tudo que mereço! Mas a
vontade de Deus é que mantenhamos comunhão com Ele apesar das
circunstâncias, que reconheçamos o quanto Ele já nos presenteou!

Poderíamos alistar muitas maneiras de manter comunhão com Deus:

ler a Bíblia
fazer uma oração
assistir os cultos da igreja
Mas gostaria de sugerir que estes versículo vão muito além destas "atividades",
que muitas vezes acabam sendo pesadas em nossas vidas. Um relacionamento
com Deus não deve ser um jugo, um peso, uma atividade, um ítem em nossa
agenda espiritual, mais um "afazer" para os nossos dias tão corridos. A ênfase
deste aspecto da vontade de Deus para nos não é tanto uma atividade quanto
uma amizade. Não é tanto uma disciplina quanto uma dependência. Não é tanto
uma agenda quanto uma atitude! Não é tanto uma estratégia devocional quanto
uma filosofia de vida!

Transição: A primeira expressão da vontade de Deus para as nossas vidas é que


vivamos em constante comunhão com Ele, gratos por tudo que Ele tem realizado
em nossas vidas! A segunda expressão da vontade de Deus é mais específica
ainda:

II. A Vontade de Deus é que Mantenhamos Pureza Moral (1 Ts. 4:3-8)

Parafrasear:

A. Explicação:

Contexto: Crescimento espiritual mais e mais


Santificação = separação (afastamento!) cf. 1 Co. 6:18
"Prostituição" = qualquer forma de pecado sexual (antes e depois do casamento)
pornografia
pensamentos impuros (cf. Jesus)
sexo ilícito
"ninguém ofenda nem defraude o seu irmão
Deus o vingador
vs. 8 Cuidado!
A Mentira de Satanás! "Todo mundo faz!" "Não faz mal" Se Satanás não consegue
impedir que você vá até Cristo, pelo menos pode tentar levar você até o mundo. "A
voz do povo é a voz de Deus." FALSO! A maioria vive no reino das trevas!

B. Ilustração:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 374


José: nenhuma razão porque não se entregar! Já perdeu tudo (como Daniel):
família, terra, futuro, língua; porque não? Gn. 39:9 "como . . . pecaria contra
Deus?"

"É tolo aquele que dá o que deve guardar, para ganhar o que certamente vai
perder"

C. Aplicação:
(As pressões do mundo para nos conformar...)

Escola: "ficar", beber ("encher o caco"), colar, usar roupas questionáveis


Serviço: relaxar no serviço; mentir ao patrão; "emprestar" ferramentas para uso
pessoal
Mídia: comprar, brincar, beber, adulterar, etc. "Todo mundo faz!" = mentira de
Satanás! 7000 ainda não dobraram o joelho para Satanás! Você não está sozinho!

Ficar--a nova instituição brasileira


Entretenimento--cuidado
Pensamentos puros--Jó 31:1
Fugi da impureza! 1 Co. 6:18 (pessoas aqui sendo tentadas nesta área)
Transição: A primeira expressão da vontade de Deus é que mantenhamos
comunhão constante com Ele, apesar das circunstâncias, não deixando que o
mundo nos pressione para conformarmos ao seu padrão. A segunda é que
mantenhamos pureza moral. Mas existe mais uma expressão bem especifica da
vontade de Deus para nossas vidas, onde devemos fazer um "cheqagem" para
verificar se estamos andando em terreno sólido.

III. A Vontade de Deus é que Obedeçamos às Autoridades em Nossas Vidas (1


Pd. 2:13-15)

Parafrasear:

A. Explicação:

Contexto-governo ruim! Injustiça, sofrimento, perseguição! Impostos para pagar


pelos "death squads" contra crentes acusados falsamente como malfeitores (vs.
12). Mas Pedro diz que o cristão deve manter um testemunho tão exemplar que
ninguém podia acusá-lo de mal.
Situação de calúnia, intervenção policial, e ostracismo social.
"pela prática do bem" = vs. 13 "sujeitai-vos a toda instituição humana"
cf. Ef. 6:1 ("no Senhor")
Autoridades instituídas por Deus, usadas por Ele para revelar a Sua vontade para
nós, mesmo que seja desagradável! Se não for anti-bíblico, devemos obedecer!
Deus é soberano. Se Ele constituiu tal autoridade, também tem o poder de
removê-lo. Uma palavra de cautela para todos nós que nos achamos em posições
de autoridade: Cuidado! Devemos desempenhar bem a nossa função como

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 375


embaixador/representante de Deus na vida de outros. Pais, pastores/líderes/,
governantes. Se não liderarmos como Deus requer, podemos ser retirados!
B. Ilustração:

SBPV--aprovação dos pais (Mirian)


Nosso noivado
C. Aplicação:
(As pressões do mundo para nos conformar...)

4 níveis: (veja a mentira de Satanás)


1) Governo (leis, imposto, trânsito, etc.) (O mundo diz "são bobos. . .são
desonestos; dão para si aumentos salariais absurdos enquanto nós passamos
fome)
2) Pais (namoro, escola, etc.) (O mundo diz . . ."são quadrados, ultrapassados,
todo mundo faz, o que não sabem não pode machucá-los")
3) Marido/esposa (O mundo diz . . ."mulheres, tomem seus direitos!" "não sejam
omprimidas")
4) Liderança da Igreja (cf. Hb. 13:17)

Conclusão: (Terminar a história de Daniel, José: abençoados por Deus na sua


firmeza moral! Deus cuidou deles! A voz do povo não é a voz de Deus! Deus mais
um constitui uma maioria! Confiar neste Deus apesar das circunstâncias.

A vontade de Deus é que andemos de conformidade com os padrões de Deus


apesar do palpite do mundo!

Poderíamos alistar inúmeros aspectos da vontade de Deus que são claramente


revelados na Palavra de Deus:

Jugo desigual
dízimo/oferta
instruir os filhos na fé
evangelizar
edificar os santos
servir a outros
E aquele 1% desconhecido da vontade de Deus em nossas vidas? A graça de
Deus é muito maior que as nossas fraquezas! Ele nos ama, e mesmo que erremos
muito, ainda nos guia como suas ovelhas perdidas. Às vezes demoramos para
chegar ao nosso destino, pois bobiamos muito. Mas eventualmente chegamos lá.

O que quero afirmar é que devemos nos preocupar muito mais com aquela
vontade que já foi revelada na Palavra de Deus, e deixar que Deus cuide da outra
parte. Ele é um Bom Pastor, e quer o melhor para suas ovelhas.

Recapitulação:
1) viver em constante comunhão com Ele
2) abster da imoralidade em todas as suas formas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 376


3) obedecer as autoridades em sua vida

Não garanto que, se você andar de acordo com estes três princípios você vai
sempre saber qual a vontade de Deus para o sapato que você deve usar para
aquele dia. Mas creio que estará muito mais perto do que se não.

Aplicação Final: Você está dentro da vontade de Deus claramente expressa na


Palavra?

Você está resistindo as pressões do inimigo na escola? no escritório? no serviço?


na mídia?
Você é uma pessoa alegre, grata, com uma amizade contínua com Deus?
Você está brincando com o fogo de imoralidade?
Você está sendo submisso às autoridades que Deus colocou em sua vida?
Idéia: A vontade de Deus se conhece quando a Palavra de Deus se obedece.

Hb. 13:20,21 (benção)

"Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor,
o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em
todo bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável
diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém."

Parte 75.
Casamento Misto: Considerações gerais

Entende-se por casamento misto a união matrimonial de quem confessa


verdadeiramente a Cristo como seu Senhor e Salvador com alguém que não
professa a mesma fé.

Por esta razão, há várias exortações na Bíblia contra o casamento misto, como
Êxodo 34.16; Deuteronômio 7.3,4; Js 23.12,13; 1Rs 11.1-8; Ed 9.1-3; Ne 13.23-27;
1Co 7.39, etc.

A lei mosaica não permitia aos israelitas casar-se com mulheres estrangeiras
porque elas adoravam outros deuses. Duas louváveis exceções foram Rute e
Raabe, porque se dispuseram a renunciar a sua pátria com seus costumes e
crenças para servirem o Deus vivo e verdadeiro (cf. Rt 1.15,16; Hb 11.31).

No Novo Testamento Paulo foi um dos mais incansáveis no combate ao


casamento misto. Paulo tinha prescrições para um casamento que se tornou misto
(cf. 1Co 7.12-14), mas nenhuma recomendação positiva para um casamento que
começaria misto. Para o apóstolo, casamento abençoado é “somente no Senhor”
(1Co 7.39).
Infelizmente, para alguns, casar-se “no Senhor” significa simplesmente receber a
bênção matrimonial na igreja, ou algo parecido, independente de serem ambos os
nubentes servos do Senhor. Casar-se no Senhor, no conceito paulino, é o oposto

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 377


do que o casamento misto significa. A exemplo do Antigo Testamento, o apóstolo
ensina que o servo de Deus deve casar-se somente com alguém que comungue a
mesma fé e prática em Cristo Jesus (cf. 1Co 7).

A Confissão de Westminster, um dos maiores símbolos de fé das igrejas


reformadas, observa que “é dever dos cristãos casar-se somente no Senhor;
portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se
com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se a
jugo desigual por meio do casamento com os que são notoriamente ímpios em
suas vidas, ou que mantêm heresias perniciosas” (CFW, XXIV, 3).

À luz do que vimos até aqui, o casamento misto é um ato de desobediência à


Palavra de Deus. No entanto, não são poucas as “justificativas” para a sua
realização. De um lado temos alguns jovens que afirmam possuir fé suficiente
para levar o outro a Cristo, ou que em breve ele ou ela vai se converter a Jesus.
Não negamos a sinceridade de uma declaração como essa e que Deus, na sua
misericórdia e graça, possa fazer tal obra no futuro; porém, a experiência tem
mostrado que a conversão de um dos cônjuges raramente acontece, ou quando
ocorre, vem depois de muito sofrimento. Bênçãos posteriores, como a conversão
do cônjuge incrédulo, não ocorrem por causa da desobediência, mas apesar dela.

Do outro lado temos as “justificativas” dos celebrantes. Aqueles que celebram


casamento misto argumentam que “casamento não é sacramento”, ou “quem vai
abençoar ou não, de fato, o casamento, é Deus e não o celebrante”. É evidente
que para nós, evangélicos, casamento não é sacramento e só Deus tem o poder
de abençoá-lo ou não. A questão aqui é outra: aquele que consente em celebrar
casamento misto está desobedecendo a Palavra de Deus. Como eu poderia
invocar a bênção do Senhor sobre um ato de desobediência que ele não prometeu
abençoar?

É dever dos pastores doutrinar suficientemente suas igrejas sobre casamentos


mistos, declarando que as Sagradas Escrituras são bastante precisas em salientar
a inconveniência de tais casamentos, intensificando a propaganda no sentido de
evitar os grandes perigos decorrentes dessas uniões.
Do seu amigo e irmão em Cristo,

Parte 75.
A Oração do Pai Nosso: Considerações Gerais

A Oração do Pai Nosso, conhecida também como Oração do Senhor e Oração


Dominical, foi considerada por Agostinho, Lutero e outros gigantes do passado
como “a coisa mais maravilhosa de toda a Bíblia”.

O presente estudo trata-se de uma pequena introdução à oração que o Senhor


Jesus ensinou. Nosso propósito é verificar porque ela é o modelo ideal para todas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 378


as outras orações e quais são os seus principais objetivos.

° O modelo perfeito de oração

De acordo com o Catecismo Maior de Westminster, “Toda a Palavra de Deus é útil


para nos dirigir na prática da oração; mas a regra especial é aquela forma de
oração que nosso Senhor Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos, geralmente
chamada “Oração do Senhor” (ou “Dominical”, conforme o Breve Catecismo).

Segundo Mateus, Jesus ensinou a Oração do Pai Nosso como um modelo a ser
copiado (“Portanto, vós orareis assim...”); de acordo com Lucas, uma forma para
ser usada (“Quando orardes, dizei...”). Assim, podemos utilizar a Oração do
Senhor como ela é, e também como modelo para as nossas próprias orações.
“Tudo o que é necessário para a alma e para o corpo, nosso Senhor Jesus Cristo
incluiu na oração que ele mesmo nos ensinou”, declararam Zacarias Ursino e
Gaspar Oleviano no Catecismo de Heidelberg.

A Oração Dominical é o modelo perfeito para as nossas orações por duas razões
principais: 1º) Foi dada aos discípulos ( e por extensão a todos os filhos de Deus)
pelo próprio Deus. O que a distinguia, sobremaneira, da oração hipócrita e
mecânica dos fariseus e pagãos, respectivamente (Mt 6.5-7). “A economia de
palavras, a maneira de sumariar aquilo que realmente importa, reduzindo tudo a
algumas poucas sentenças, é algo que verdadeiramente proclama o fato que
quem ensinou essa oração não foi outro senão o próprio Filho de Deus” (D. M.
Lloyd-Jones). Enfim, é uma oração celestial que jamais foi ensinada por homem
algum (Lc 11.1). 2º) Nela encontramos os princípios fundamentais para todas as
outras orações. Ou se preferir, essa oração é uma espécie de esboço no qual
todas as outras orações devem seguir a estrutura estabelecida, isto é, sendo curta
ou longa toda oração deve conter os mesmos princípios centrais da Oração do Pai
Nosso. Na Oração Dominical “encontramos uma perfeita sinopse das instruções
de nosso Senhor sobre como se deve orar e sobre o que se deve orar” (Jones).

° As partes integrantes da Oração do Pai Nosso

A Oração do Pai Nosso divide-se em duas partes distintas. A primeira contém um


prefácio e três petições; a segunda, três petições e uma conclusão. A oração
segue o mesmo esquema em Mateus 6.9-13 e Lucas 11.1-4, embora seja mais
condensada neste último.

I. A primeira parte da Oração do Pai Nosso


Prefácio: “Pai nosso que estás nos céus”.
1. Primeira petição: “Santificado seja o teu nome”.
2. Segunda petição: “Venha o teu reino”.
3. Terceira petição: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”.

II. A segunda parte da Oração do Pai Nosso

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 379


1. Quarta petição: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.
2. Quinta petição: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos
perdoado aos nossos devedores”.
3. Sexta petição: “Não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal”.

Conclusão: “Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.”

° Os objetivos da Oração do Pai Nosso

Oração ao Pai, visando a sua glória.

O prefácio, as três primeiras petições e a conclusão tratam de Deus e sua glória;


ou seja, a glória de seu nome, reino e vontade. Oração ao Pai, visando as
necessidades de seus filhos. As três últimas petições contemplam os filhos de
Deus e suas necessidades materiais, morais e espirituais.

Como vimos, a Oração do Pai Nosso é o padrão por excelência para todas as
nossas orações. Contudo, nada impede que ela seja repetida com freqüência,
desde que sejamos cuidadosos em fazê-la com entendimento e coração, para que
não se torne uma oração meramente formal e friamente mecânica; pecados que o
Senhor Jesus tanto condenou. Sendo assim, amados, não somente a Oração
Dominical, mas todas as nossas orações sejam verdadeiras expressões de
glorificação a Deus e de nossas necessidades.

Parte 76.
A pedagogia do sofrimento
- Quando Deus trabalha em nós -

O sofrimento é uma verdade tanto para o mal quanto para o bem. Satanás usa o
sofrimento para destruir sem dó e sem piedade; Deus se utiliza do sofrimento para
construir em nós uma nova criatura em amor.

Focalizando os filhos e as filhas de Deus em especial, podemos dizer que na dor


(física e/ou da alma) o Espírito Santo trabalha em nós visando o aprimoramento
da nossa fé. Na vida cristã não existe crescimento e amadurecimento na verdade
sem as tribulações que nos são impostas por Deus. Os heróis e heroínas dos
tempos bíblicos sofreram muito. Eles não tiveram vida mansa, assim como não
tem aqueles que nos dias de hoje padecem por causa do evangelho, ou por outro
motivo que só Deus sabe. Certamente ninguém sofre por acaso.

O sofrimento que vem de Deus é pedagógico e terapêutico em si mesmo. Por


exemplo: ''Quando a provação impede que cometamos atos específicos de
pecado, nós nos aproximamos mais do Senhor e vemos as coisas com a
importância que ele lhes dá'' (J. Feinberg).

Você já parou para pensar que às vezes sofrerá para não cometer algum pecado
grave? Deus nos ama e quer o nosso bem. O salmista, compreendendo a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 380


bondade de Deus no sofrimento, disse: ''Foi-me bom ter eu passado pela aflição,
para que aprendesse os teus decretos'' (Sl 119.71). O escritor mostra-se grato
pelos seus sofrimentos, porque estes o levaram a uma nova intimidade com Deus,
afastando-o da transgressão. Até mesmo a respeito de Jesus é dito: ''Embora
sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu'' (Hb 5.8). “Isso não
quer dizer que Jesus progrediu da desobediência para a obediência. O mesmo
escritor diz que ele nunca pecou (Hb 4.15).

Significa que o processo pelo qual ele demonstrou obediência cada vez mais
profunda foi o sofrimento” (John Piper). “É digno de nota o fato de que, sempre
que o exemplo de Cristo nos é apresentado nas Escrituras para nossa imitação, é
seu exemplo no sofrimento que é citado” (W. Fitch). Contudo, muitos cristãos de
hoje parecem sofrer mais do que deveriam porque não querem aceitar o papel que
o sofrimento desempenha em suas vidas, ou na vida de seus amigos e entes
queridos.

O apóstolo Paulo é outro exemplo de como o sofrimento pode ser uma bênção.
Paulo escreveu sua segunda carta aos coríntios como um homem rejeitado pelas
pessoas que ele mais amava. Nela ele derrama seu coração em meio a sérios
ataques contra seu caráter e ministério. Seu apostolado foi posto em dúvida por
seus inimigos. Sua integridade e lealdade, suas habilidades em liderar e seu amor
pelos coríntios foram da mesma maneira questionados. Essa foi provavelmente a
maior tempestade de oposição que o apóstolo enfrentou em sua vida. No capítulo
11 da mesma epístola, Paulo faz uma lista das muitas dificuldades e situações
ameaçadoras pelas quais ele passara por amor ao evangelho. Incluídas em sua
lista estão grandes aflições físicas, aprisionamentos, espancamentos,
apedrejamentos, naufrágios, rios perigosos, assaltantes, perseguição de judeus e
gentios, noites mal dormidas, frio e calor, fome e sede, além da preocupação
diária com todas as igrejas.

Paulo era um homem extremamente humilde. Portanto, é com relutância que ele
relata as visões e revelações do Senhor no capítulo 12 como uma das
reivindicações do seu apostolado. Apesar de humilde, mesmo para um homem
como Paulo não seria difícil se ensoberbecer diante de tão gloriosa revelação. A
fim de que se evitasse tamanho pecado, diz ele: ''foi-me posto um espinho na
carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte''
(2Co 12.7).

Assim, a grandeza das revelações que Paulo teve não teria sentido para a vida
dele se a soberba tomasse conta de seu coração. Por isso, ao invés de gloriar-se
com a grandeza daquelas revelações, Paulo passa a gloriar-se na experiência
oposta, que revelava suas fraquezas e total dependência da graça suficiente de
Jesus Cristo (2Co 12.9,10). Como Paulo, Deus muitas vezes nos humilhará
através do sofrimento para não cometermos o pecado da soberba, ou qualquer
outro tipo de pecado que possa nos levar ao prejuízo espiritual.

Parte 76.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 381


Vinho Embriagante na Ceia do Senhor: Correto?

Os protestantes são criticados por usarem suco de uva na ceia do Senhor. A


Igreja Católica usa bebida embriagante, isto é, vinho fermentado, como
representativo do sangue de Jesus. Qual o procedimento mais consentâneo com a
revelação bíblica? As respostas estão no estudo a seguir.

O Vinho nos Tempos do Novo Testamento

Vinho fermentado ou não fermentado? Segue-se um exame da palavra bíblica


mais comumente usada para vinho. A palavra grega para “vinho”, em Lc 7.33, é
oinos. Oinos pode referir-se a dois tipos bem diferentes de suco de uva: (1) suco
não fermentado, e (2) vinho fermentado ou embriagante. Esta definição apóia-se
nos dados abaixo.

(1) A palavra grega oinos era usada pelos autores seculares e religiosos, antes da
era cristã e nos tempos da igreja primitiva, em referência ao suco fresco de uva
(ver Aristóteles, Metereologica, 387.b.9-13). (a) Anacreontes (c. de 500 a.C.)
escreve: “Esprema a uva, deixe sair o vinho [oinos]” (Ode 5). (b) Nicandro (século
II a.C.) escreve a respeito de espremer uvas e chama de oinos o suco daí
produzido (Georgica, fragmento 86). (c) Papias (60-130 d.C.), um dos pais da
igreja primitiva, menciona que quando as uvas são espremidas produzem “jarros
de vinho” [oinos] (citado por Ireneu, Contra as Heresias, 5.33.3-4). (d) Uma carta
em grego escrita em papiro (P.Oxy, 729; 137 d.C.), fala de “vinho [oinos] fresco,
do tanque de espremer” (ver Moulton e Milligan, The Vocabulary of the Greek
Testament, p. 10). (e) Ateneu (200 d.C.) fala de um vinho [oinos] doce, que “não
deixa pesada a cabeça” (Ateneu, Banquete, 1.54). Noutro lugar, escreve a
respeito de um homem que colhia uvas “acima e abaixo, pegando vinho [oinos] no
campo” (1.54). Para considerações mais pormenorizadas sobre o uso de oinos
pelos escritores antigos, ver Robert P. Teachout: “O emprego da Palavra Vinho no
Antigo Testamento”. (Dissertação de Th.D. no Seminário Teológico de Dallas,
1979).

(2) Os eruditos judeus que traduziram o AT do hebraico para o grego cerca de 200
a.C. empregaram a palavra oinos para traduzir várias palavras hebraicas que
significam vinho. Noutras palavras, os escritores do NT entendiam que oinos pode
referir-se ao suco de uva, com ou sem fermentação.

(3) Quanto à literatura grega secular e religiosa, um exame de trechos do NT


também revela que oinos pode significar vinho fermentado, ou não fermentado.
Em Efésios 5.18, o mandamento: “não vos embriaguez com vinho [oinos] refere-se
ao vinho alcoólico. Por outro lado, em Ap 19.15 Cristo é descrito pisando o lagar.
O texto grego diz: “Ele pisa o lagar do vinho” [oinos]; o oinos que sai do lagar é
suco de uva (ver Is 16.10; Jr 48.32,33). Em Ap 6.6, oinos refere-se às uvas da
videira como uma safra que não deve ser destruída. Logo, para os crentes dos
tempos do NT, “vinho” (oinos) era uma palavra que podia ser usada para duas
bebidas distintivamente diferentes, extraídas da uva: o vinho fermentado e o não

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 382


fermentado.

(4) Finalmente, os escritores romanos antigos explicam com detalhes, vários


processos usados para tratar o suco de uva recém-espremido, especialmente as
maneiras de evitar sua fermentação. (a) Columela (Da Agricultura, 12.29, sabendo
que o suco de uva não fermenta quando mantido frio (abaixo de 10 graus C.) e
livre de oxigênio, escreve da seguinte maneira: “Para que o suco de uva sempre
permaneça tão doce como quando produzido, siga estas instruções: Depois de
aplicar a prensa às uvas, separe o mosto mais novo [i.e., suco fresco], coloque-o
num vasilhame (amphora) novo, tampe-o bem e revista-o muito cuidadosamente
com piche para não deixar a mínima gota de água entrar; em seguida, mergulhe-o
numa cisterna ou tanque de água fria, e não deixe nenhuma parte da ânfora fica
acima da superfície. Tire a ânfora depois de quarenta dias. O suco permanecerá
doce durante um ano” (ver também Columela: Agricultura e Árvores; Catão: Da
Agricultura). O escritor romano Plínio (século I d.C.) escreve: “Tão logo tiram o
mosto [suco de uva] do lagar, colocam-no em tonéis, deixam estes submersos na
água até passar a primeira metade do inverno, quando o tempo frio se instala”
(Plínio , História Natural, 14.11.83). Este método deve ter funcionado bem na terra
de Israel (ver Dt 8.7; 11.11,12; Sl 65.9-13). (b) Outro método de impedir a
fermentação das uvas é fervê-las e fazer um xarope (para mais detalhes, ver o
próximo estudo “O Vinho nos Tempos do Novo Testamento”). Historiadores
antigos chamavam esse produto de “vinho” (oinos). O Cônego Farrar (Smith´s
Bible Dictionary), p. 747) declara que “os vinhos assemelhavam-se mais a xarope;
muitos deles não eram embriagantes”. Ainda, O Novo Dicionário da Bíblia (p.
1665) observa que “sempre havia meios de conservar doce o vinho durante o ano
inteiro”.

O uso do Vinho na Ceia do Senhor

Jesus usou uma bebida fermentada ou não fermentada de uvas, ao instituir a Ceia
do Senhor (Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.17-20; 1 Co 11.23-26)? Os dados
abaixo levam à conclusão de que Jesus e seus discípulos beberam no dito ato
suco de uva não fermentado.

(1) Nem Lucas nem qualquer outro escritor bíblico emprega a palavra “vinho” (gr.
oinos) no tocante à Ceia do Senhor. Os escritores dos três primeiros Evangelhos
empregam a expressão “FRUTO DA VIDE” (Mt 26.29; Mc 14.25, Lc 22.18). O
vinho não fermentado é o único “fruto da vide” verdadeiramente natural, contendo
aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool. A fermentação destrói boa
parte do açúcar e altera aquilo que a videira produz. O vinho fermentado não é
produzido pela videira [não é “fruto da vide”].

(2) Jesus instituiu a Ceia do Senhor quando Ele e seus discípulos estavam
celebrando a Páscoa. A lei da Páscoa em Ex 12.14-20 proibia, durante a semana
daquele evento, a presença de seor (Ex 12.15), palavra hebraica para fermento ou
qualquer agente fermentador. Seor, no mundo antigo, era frequentemente obtido
da espuma espessa da superfície do vinho quando em fermentação. Além disso,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 383


todo o hametz (i.e., qualquer coisa fermentada) era proibido (Êx 12.19; 13.7).
Deus dera essas leis porque a fermentação simbolizava a corrupção e o pecado
(cf. Mt 16.6,12; 1 Co 5.7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as
suas exigências (Mt 5.17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa, e
não teria usado vinho fermentado.

(3) Um intenso debate perpassa os séculos entre os rabinos e estudiosos judaicos


sobre a proibição ou não dos derivados fermentados na videira durante a Páscoa.
Aqueles que sustentam uma interpretação mais rigorosa e literal das Escrituras
hebraicas, especialmente Ex 13.7, declaram que nenhum vinho fermentado devia
ser usado nessa ocasião.

(4) Certos documentos judaicos afirmam que o uso do vinho não fermentado na
Páscoa era comum nos tempos do NT. Por exemplo: “Segundo os Evangelhos
Sinóticos, parece que no entardecer da quinta-feira da última semana de vida
aqui, Jesus entrou com seus discípulos em Jerusalém, para com eles comer a
Páscoa na cidade santa; neste caso, o pão e o vinho do culto de Santa Ceia
instituído naquela ocasião por Ele, como memorial, seria o pão asmo e o vinho
não fermentado do culto Seder (ver “Jesus”, The Jewish Encyclopaedia, edição de
1904, V.165).

(5) No AT, bebidas fermentadas nunca deviam ser usadas na casa de Deus, e um
sacerdote não podia chegar-se a Deus em adoração se tomasse bebida
embriagante (Lv 10.9). Jesus Cristo foi o Sumo Sacerdote de Deus do novo
concerto, e chegou-se a Deus em favor do seu povo (Hb 3.1; 5.1-10).

(6) O valor de um símbolo se determina pela sua capacidade de conceituar a


realidade espiritual. Logo, assim como o pão representava o corpo puro de Cristo
e tinha que ser pão asmo (i.e., sem a corrupção da fermentação), o fruto da vide,
representando o sangue incorruptível de Cristo, seria melhor representado por
suco de uva não fermentado (cf. 1 Pe 1.18-19). Uma vez que as Escrituras
declaram explicitamente que o corpo e sangue de Cristo não experimentaram
corrupção (Sl 16.10; At 2.27; 13.37), esses dois elementos são corretamente
simbolizados por aquilo que não é corrompido nem fermentado.

(7) Paulo determinou que os coríntios tirassem dentre eles o fermento espiritual,
i.e., o agente fermentador “da maldade e da malícia”, porque Cristo é a nossa
Páscoa (1 Co 5.6-8). Seria contraditório usar na Ceia do Senhor um símbolo da
maldade, i.e., algo contendo levedura ou fermento, se considerarmos os objetivos
dessa ordenança do Senhor, bem como as exigências bíblicas para dela
participarmos (Fonte: Bíblia de Estudo Pentecostal, p.1517-19).

Portanto, o suco de uva não embriagante e não fermentado é a bebida mais


apropriada para representar o sangue de Jesus na Ceia do Senhor. Por coerência,
o pão, representativo do corpo de Cristo, deve ser sem fermento. O vinho
fermentado é uma bebida alcoólica. Um sacerdote que tome vários goles de vinho
dessa natureza por dia, em celebrações várias, tende a se tornar viciado.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 384


Qualquer espécie de bebida que contenha álcool é considerada uma droga, capaz
de levar a dependência. A cachaça, por exemplo, é uma droga. Os ex-alcoólatras
são orientados para não tomarem o primeiro gole, a fim de não desencadear um
impulso incontrolável. O fornecimento de bebida embriagante a irmãos nessa
situação, por ocasião da Ceia, seria desaconselhável.

Parte 76.
As faces do tempo

O tempo pode ser definido como “1. A sucessão dos anos, dias, horas, etc., que
envolve a noção de presente, passado e futuro. 2. Momento ou ocasião
apropriada para que uma coisa se realize. 3. Época, estação” (Aurélio).

Há quatro coisas que podemos considerar acerca do tempo.

O tempo cura

Há um antigo ditado popular que diz: “O tempo é o melhor remédio”. E é mesmo!


Nada melhor que o tempo para curar a dor de um coração abatido e dilacerado
por uma perda significativa. As feridas da dor geralmente são cicatrizadas pela
soma dos dias. Graças ao tempo suportamos as tristes lembranças do passado e
adquirimos forças para seguirmos em frente. É no decorrer do tempo que somos
motivados a continuar vivendo sem perder a esperança .

O tempo ensina

“O tempo é o melhor mestre”, disse Johannes Peter Schimitt. O tempo nos ensina
a crescer e nele aprendemos com nossos erros e acertos. O tempo nos torna
maduros e experientes. Além disso, o tempo mostra que vale a pena prosseguir
adiante apesar dos percalços da vida. Ele indica que quando uma porta se fecha
muitas outras se abrem. São as oportunidades que surgem como bálsamo da
alma. Nada nos acontece por acaso. As lições do tempo são para uma vida
melhor e feliz. O tempo é um instrumento de Deus para o aperfeiçoamento e
progresso da nossa vida enquanto ainda estamos neste mundo.

O tempo não erra

O tempo não erra e nem comete injustiça. Cedo ou tarde a verdade aparece, pois
não há nada encoberto que não seja revelado (cf. Lc 12.2). O que fizemos ou
recebemos de certo ou errado um dia será recompensado ou condenado. O tempo
é justo. James Balmes disse corretamente que o tempo é o grande juiz de todas
as opiniões. E isso não é tudo: Às vezes não entendemos porque certas coisas
nos acontecem, e porque de repente tudo parece virar de ponta cabeça. Mas um
dia vamos ter a resposta. Por isso, para quem se sente injustiçado e prejudicado
por alguém, tirar desforra de ofensa não é a melhor saída. É preciso ser paciente,
confiar e descansar em Deus, pois ele é o Senhor do tempo e da justiça.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 385


O tempo é valioso

“O tempo é a moeda de sua vida. Tenha cuidado para não deixar que os outros a
gastem por você” (Carl Sandburg). “O tempo realmente vale ouro. Matar o tempo é
um crime” (Monteiro Lobato). “O tempo passa rapidamente. Não podemos
economizá-lo nem comprá-lo. Resta-nos utilizá-lo de uma maneira saudável
enquanto ele transcorre” (Paul E. Holdcraft). Uma das coisas mais desperdiçadas
na vida é o tempo. O tempo exige disciplina a fim de ser bem administrado. “Os
homens eminentes nunca se queixaram de falta de tempo. Alexandre, o Grande, e
João Wesley realizaram todas as suas gigantescas obras nas comuns 24 horas de
cada dia” (Fred Smith). Tanto o jovem quanto o idoso precisam utilizar o tempo
com inteligência e sabedoria. Assim orou Moisés: “Ensina-nos a contar os nossos
dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Não desperdice seu tempo.
“A própria eternidade não poderia recobrar os minutos já perdidos” (Johann
Schiller). “Se amais a vida, não desperdiceis o tempo, que é a teia da existência. A
preguiça tudo dificulta; o trabalho tudo facilita” (Benjamin Franklin).

“O tempo é demasiadamente lento – para os que esperam; veloz – para os que


temem; prolongado – para os que sofrem; curto – para os que se divertem; mas,
para os que amam, o tempo não conta” (Henry van Dyke).

Parte 77.
O resgate da verdadeira Missão da Fé Cristã
Responsabilidades da fé cristã para com as questões ecológicas dos dias atuais

Autor(a): PR. RIVANILDO SEGUNDO PEREIRA GUEDES

Auxiliar do Templo Batista Bíblico em Jacareí, Graduação em Teologia no


Seminário Bíblico Palavra da Vida

Sem dúvida este é um tema bastante pertinente, tendo em vista a situação atual
pela qual a fé cristã tem passado no tocante à falta de clareza quanto à essência
de sua missão enquanto porta voz do Reino de Deus, pois a fé cristã, refletida e
posta em prática pela Igreja de Jesus – (I Pd 1:9), tem como incumbência agir em
prol da mudança da sociedade. Ademais, é importante denunciar a insistência da
fé cristã em pensar de forma platônica, ou seja, tendo em mente “apenas” as
questões metafísicas e abstratas. Ao contrário, a fé realmente cristã se manifesta
para a sociedade revelando o Reino de Deus o qual se caracteriza pela
“concretude” de suas propostas. Ela – a fé cristã - não consegue se fechar em seu
gueto “religioso”, mas, vai até onde existe o caos e propõe mudanças reais e
práticas.

Para que se entenda corretamente o que será tratado neste texto faz-se mister de
ante mão definir o termo Ecologia. A etimologia da palavra é: ecos - casa e logos -
estudo; ou seja, é a análise ou o estudo das relações e inter-relações entre toda a
criação no Universo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 386


O termo ecologia não se resume “apenas” à natureza, e sim, também, a toda
sociedade, conforme palavras de Leonardo Boff. Portanto, a ecologia se refere a
todo o sistema criado por Deus merecendo, portanto, toda a atenção da fé cristã.

Muitos fatores contribuíram para os problemas ecológicos da atualidade. Alguns


deles seriam: Primeiro, o pecado que adentrou na raça humana (e na própria
natureza, pois ela geme até hoje esperando ser liberta do pecado – Rm 8) por
meio de Adão invertendo, assim, o papel do homem de Vice-Gerente da criação –
(Van Groningen), para o de destruidor e degradador de tudo com o fim do
benefício próprio. O segundo fator seria o capitalismo “selvagem” que “coisifica“ o
ser humano resumindo-o a apenas um meio de enriquecer os já ricos e, tirando
dos mais pobres o seu valor de pessoa criada à imagem e semelhança de Deus.
O terceiro fator seria o do processo de Urbanização das cidades.

Segundo o IBGE hoje quase 80% da população brasileira vive nas cidades e, este
número tende a crescer ainda mais. A Urbanização é uma das principais causas
da pobreza, prostituição, violência e desigualdade social. E, por fim, um quarto e
último fator que tem causado a destruição do “habitat do homem” é a negligência
por parte da Igreja de Jesus a qual tem se eximido de sua voz profética e do seu
papel de embaixadora de Deus no mundo. Então, em suma, as questões
ecológicas dos dias atuais para as quais a fé cristã deve voltar a sua atenção,
seriam: I – A degradação da natureza e o desequilíbrio da mesma; II – A pobreza
e a injustiça social e III – As doenças, catástrofes (tsunamis, terremotos etc.) e
desgraças as quais têm atingido o homem.

A fé cristã tem por responsabilidades para com os problemas ecológicos da


atualidade também promover o diálogo com a sociedade de modo a trabalharem
juntas na mitigação dos problemas ambientais e sociais; ela tem que, com uma
certa urgência, assumir o caráter político que é inerente a si, porquanto ela
necessita se ver como o veículo de Deus na construção de um “novo mundo”, por
mais que esta ainda não seja a morada definitiva do homem. A teologia da criação
deve ser reformulada pela fé cristã, pois a fé que é realmente cristã entende que a
criação de Deus carece de ser conservada e protegida contra abusos. Isto é, a fé
cristã precisa resgatar as suas raízes judaico-cristãs as quais dão real sentido e
direção a ela no que diz respeito a uma “contemplação” e uma “amizade” com
todo o cosmos, pois como disse Schaeffer, a natureza é “companheira” do ser
humano porquanto os dois foram criados pelo mesmo Deus.

Então, se vendo como a forma pela qual a Igreja atua, a fé cristã compreenderá
que, o mundo não depende dos Governos humanos necessariamente (por mais
que o Estado seja uma criação de Deus sendo, portanto, Seu servo) para ser
transformado, e sim, da Igreja de Jesus, pois como disse Bonhoeffer, a Igreja tem
uma mensagem (fé cristã) que ultrapassa e transcende qualquer poder humano.
Portanto, a verdadeira essência da Missão da fé cristã é a de propor mudanças e
engajar-se na execução de suas propostas.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 387


Parte 78.
Par não trocar gato por lebre... Tenha um mínimo de senso crítico!

Como enfrentar o desafio de ajudar o estudante a pensar com criticidade, a


explicitar uma argumentação de maneira lógica, precisa e convincente? O autor de
Senso Crítico optou pelo procedimento pedagógico mais eficaz: experimentar essa
problemática com alunos.

A quem interessará o livro? A testagem da obra em cursos para estudantes de


nível universitário recomenda-a para utilização em outras condições de
aprendizagem: em cursos de 2º. Grau, em programas intensivos de formação ou
de reciclagem de professores de 1º. e 2º. Graus (cursos de extensão ou de
especialização) ou de bacharelado, nas diversas habilitações na área de ciências
humanas.
“Em questões de ciência, a autoridade de mil pessoas não tem o
mesmo valor que o raciocínio humilde de um só indivíduo”
(Galileo)

Enquanto o leigo procura “quebrar o galho” intelectualmente, resolver ou eliminar o


problema na hora sem voltar a ele, o cientista social com senso crítico tem
interesse em construir sistemas explicativos amplos que possam lidar com um
número muito grande de fenômenos.

Um indivíduo que possui a capacidade de analisar e discutir problemas inteligente


e racionalmente, sem aceitar, de forma automática, suas próprias opiniões ou
opiniões alheias, é um indivíduo dotado de senso crítico. O senso crítico refere-se
a habilidades já desenvolvidas (e não apenas potenciais), presumivelmente
através de leitura, reflexão e da própria prática.

Considera-se brevemente a questão da curiosidade intelectual. Curiosidade


intelectual envolve um estilo de abordar problemas na vida diária e na vida
profissional. O pensador crítico questiona e analisa as coisas não porque alguém
exige que ele o faça, mas porque, no fundo, ele tem um desejo de compreender,
um interesse em descobrir, por si mesmo, as respostas à interrogações nascidas
do contato com as pessoas e coisas... A curiosidade assume caráter
definidamente intelectual quando, um alvo distante controla uma sequência de
investigações e observações, ligando-as uma à outra como meios para um fim.

A leitura crítica exige que se reflita, por exemplo, sobre como os jornais
apresentam informações, possivelmente demonstrando tendenciosidade e
favorecendo certas posições.

Muitas vezes, no dia-a-dia, respondemos a perguntas sem esclarecer nada... o


simples fato de termos uma opinião, por mais firme que seja, não deve levar-nos a
aceitá-la como se fosse um fato evidente.

Portanto, o sucesso da formação do aluno como cientista social dependerá, em

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 388


grande parte, do grau em que ele desenvolva uma nova forma de pensar e
apresentar suas idéias.

1. ARGUMENTAÇÃO – Quando uma pessoa apresenta e defende idéias diante de


outros ela está fazendo argumentação.
2. A PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO – O significado depende da função social
que a afirmativa serve no momento.
3. A ARGUMENTAÇÃO PSICOLÓGICA – Com duas características:
Comprometimento forte e Emocionalidade. Para o falante, as conclusões não são
o resultado de uma avaliação das evidências, por mais que se insista que o sejam,
mas, sim, o próprio ponto de partida do argumento.
4. CRIAÇÃO E DEFESA DE IDÉIAS – Para persuadir o outro, necessita-se de
argumentos e temas aos quais o outro é sensível.
5. DIFERENÇAS ENTRE LEIGOS E CIENTISTAS – Sugerimos que uma
característica essencial do cientista bem preparado é seu senso crítico. Além de
adquirir conhecimentos na sua área de especialização, a pessoa com senso crítico
levanta dúvidas sobre aquilo em que se comumente acredita, explora
rigorosamente alternativas através da reflexão e avaliação de evidências, com a
curiosidade de quem nunca se contenta com o seu estado atual de conhecimento.
Assim, ela tende a ser produtora ao invés de apenas consumidora do
conhecimento, não podendo aceitar passivamente a idéia dos outros. Enquanto
um cientista procura conhecimento que servirá para uma gama de situações e
condições diferentes, o leigo, frequentemente, busca explicações para eliminar
dúvidas na hora, para “quebrar o galho”. Com isto, os dados serão interpretados
sempre obedecendo a duas qualificações importantes: a) Fundamentação – O
autor precisa justificar suas conclusões, indicando os pressupostos dos quais ele
partiu; b) Pluralismo – O autor deve avaliar e apresentar outros pontos de vista de
uma maneira não parcial, mesmo se não os aceitar.
6. AS DUAS MENTES – Deve-se tomar cuidado com a timidez intelectual. O
pensador crítico precisa, além de clareza e rigor no seu pensamento, da coragem
de adotar uma perspectiva ampla dos problemas que ele está estudando. Ser
cientista e, portanto, pensador crítico envolve manter em equilíbrio duas mentes –
uma para análise e reflexão e outra, uma mente criadora. Saber trabalhar como
cientista envolve o discernimento de saber quando uma ou outra mente é
apropriada à situação.
Uma falácia é um erro de raciocínio que contamina a argumentação, tornando-a
sem fundamento apropriado. O reconhecimento de quando se está distorcendo os
fatos ou a análise através do uso de falácias é uma das características de um
pensador crítico. Alguns tipos de falácias são: a) Tendenciosidade; b) A Sugestão;
c) Sugestão e Socialização; d) Conscientização e Influência Social; e) Falácias
Lógicas (O erro do apelo à autoridade consiste em aceitar como verdadeira uma
idéia porque uma autoridade ou especialista renomado a defende) .

O indivíduo com conhecimento de lógica tem mais facilidade em organizar e


apresentar suas idéias. A lógica facilita a análise das idéias apresentadas por
outros.
Por uma questão de simplicidade e tradição desde Aristóteles, muitos filósofos da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 389


lógica preferem utilizar um argumento padrão com duas premissas e uma
conclusão: o silogismo.

Naturalmente, o indivíduo com senso crítico muito aprimorado encontrará mais


erros ou razões para dúvida em argumentos do aquele que não tende a refletir
sobre suas próprias comunicações e as dos outros.

A lógica nos permite organizar nossas idéias e ver com maior clareza se podemos
chegar às conclusões às quais acreditamos poder chegar, a partir de nossas
idéias. O pensador crítico exige a coerência que a lógica fornece mas reconhece
seus limites. Para pensar criticamente, é necessário ser perspicaz, enxergar além
da superfície, questionar onde não há perguntas já formuladas e ver facetas que
outros não estão considerando. Pressupostos semânticos são idéias não
expressas explicitamente mas, de alguma forma, contidas no próprio significado
das palavras. Idéias subentendidas de comunicações referem-se àquelas não
faladas explicitamente que, por uma questão de costumes sobre o uso linguagem,
fazem parte íntegra das afirmativas em questão. Premissas subjacentes são idéias
necessárias para compreendermos adequadamente o significado das
comunicações e cuja descoberta exige uma análise daquilo em que o autor
baseou seu raciocínio.

Mesmo que não se possa determinar definitivamente a solução do problema,


parece-nos razoável supor que uma posição mais refletida seria mais promissora
do que uma posição não questionada.

Uma grande parte das comunicações, seja nas Ciências ou não, baseia-se em
idéias implícitas. A análise inteligente de artigos, relatórios e palestras exige,
portanto, a descoberta do implícito para que nós possamos avaliá-lo.

Uma lógica é aberta na medida em que leva em consideração as múltiplas facetas


dos fenômenos em estudo e é fechada na medida em que não considera aspectos
importantes dos fenômenos. Portanto, os argumentos, além de serem sólidos no
sentido normalmente dado, precisam ser abrangentes e inteligentemente
formulados.
O mundo sem conceitos seria um mundo sem linguagem, sem comunicação e
sem explicações dos fenômenos que nele ocorrem. Mas, se todos nós usamos
conceitos em nossa comunicação diária, qual a vantagem de estudarmos os
conceitos? Não é natural usar conceitos, como é natural respirar, comer ou
dormir? São-nos oferecidas três respostas a essa observação:

1. O Realismo Ingênuo – O homem confia em seus sentidos. Ele acha que o que
percebe através dos sentidos é a realidade. Ele imagina que o que vê é a
realidade. Ele acha que não interpretou nada; ele viu. O realista ingênuo tende a
tratar os assuntos cotidianos como se fossem questões de fato verificáveis através
dos sentidos.

Perguntamos se o outro “está percebendo”, se “está vendo” nossas idéias. O

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 390


realista ingênuo leva o indivíduo a encarar os conceitos como se fossem
características reais dos objetos e eventos. Por isso, ele tende a ignorar a
possibilidade de conceber os fenômenos de outras maneiras e a partir de outras
perspectivas. Essa tendência restringe sua habilidade de analisar o mundo de
modo flexível e inteligente.

2. Conceitos Simples e Abstratos – Na verdade, a solidez de nossas idéias


depende dos conceitos que escolhemos para organizá-las. Os conceitos mais
simples são aqueles tipicamente discutidos por filósofos e cientistas que querem
evitar discussões complicadas. Muitos dos termos utilizados comumente nas
ciências sociais referem-se a conceitos abstratos. Não possuem atributos
criteriais, nem correspondem diretamente – isto é, de maneira óbvia – a objetos ou
situações concretas. Lembramos que definições não são conceitos, mas apenas
descrições rápidas deles. Conceitos simples podem ser adequadamente definidos
por meio de verbetes num dicionário, enquanto os conceitos complexos apenas
são vagamente descritos por meio de definições. As definições são úteis para
eliminar dúvidas básicas sobre termos, quando o usuário tem pouca noção do seu
significado.

O realismo ingênuo leva o indivíduo a acreditar que está em contato direto com a
realidade e que seu conhecimento é dado pela experiência. Porém, o senso crítico
exige o reconhecimento de que nossas idéias não são fatos. Ao apresentarmos
nossas idéias como fatos, nós as colocamos acima de qualquer discussão. Fatos
são respostas certas a questões de fato.

Algumas afirmativas, por mais razoáveis que pareçam, são expressões de valores
ao invés de fatos. Fatos não são valores e valores não são fatos. Pode ser um fato
que eu acredito que a democracia seja desejável, mas isto não implica em que a
democracia seja desejável. Nem tudo que é defensável é fato.

Por mais que se tente justificar valores e sistemas éticos com base apenas em
fatos, os fatos não são suficientes para justificar os valores. Os valores envolvem
tomadas de posição sobre o que é bom, desejável, correto ou incorreto. Fatos não
são valores e não nos deixam provar a validade de nossos juízos de valores, mas
os fatos podem ter implicações para os valores.

Se não questionarmos nossas idéias e as dos outros, é bem provável que


encontraremos dificuldade em saber quais são as opiniões mais válidas num
debate sobre um assunto.

Não há procedimentos automáticos para descrever o uso do senso crítico em


discussões profissionais. Quando a posição analisada distorce um assunto ou
apenas aborda algumas facetas dele, o pensador crítico sente necessidade de
recaracterizar as questões ou até levantar novas questões, ignoradas por outros.
Essa estratégia permite que o indivíduo não trabalhe apenas dentro da lógica do
problema como construído pelo outro.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 391


O pensador crítico não é livre de valores e nem pretende ser. Ele pode ter
convicções e assumir compromissos fortes. Mas a diferença entre ele e o
pensador comum é que o primeiro atua para que sua visão não seja embaralhada
pelos valores. Ele valoriza a coerência, a clareza de pensamento, a reflexão e a
observação cuidadosa porque deseja compreender melhor a realidade social, sem
o que a ação responsável é condenada ao fracasso.

“Uma filosofia é caracterizada mais pela formulação de


seus problemas do que pela solução deles.”
S. Langer. Philosophy in a New Key.

Existe também, para a pesquisa crítica, o positivismo lógico. O cerne do sistema


positivista de suposições encontra-se numa teoria de significação denominada
verificacionismo. Na área da inteligência humana, o positivista radical mantém que
o significado do termo inteligência está nos próprios procedimentos utilizados para
avaliar a mesma: isto é, que a inteligência é aquilo que os testes de inteligência
medem.
“Decretar uma definição” de um fenômeno – que através do operacionalismo, quer
através da recusa em levar em consideração outras possíveis definições do termo
– é, no fundo, anticientífico na medida em que essa atividade ignora certos
princípios importantes.

É comum, nas ciências humanas, o professor ser procurado por estudantes para
orientação concernente a projetos cuja metodologia foi determinada sem que
razões claras tivessem sido encontradas para justificar a realização da pesquisa.
Quando confrontado para apresentar a justificativa do projeto, o aluno costuma
oferecer uma explicação assim: “Quem sabe, talvez os resultados sejam
interessantes; afinal, ninguém fez este estudo até hoje”. Quando o investigador
inicia a pesquisa sem uma noção clara do porquê ele está abordando o problema
de um modo determinado, quando não consegue explicar o contexto mais amplo
do problema que está pesquisando, seus esforços são quase sempre em vão.

O problema maior que se apresenta a futuros pesquisadores é o de saber que os


aspectos da problemática deveriam ser efetivamente estudados, ou, em suma,
quais as questões reais numa dada área de conhecimento.

Aos que ainda preferem receber orientação sob a forma de regras, oferece-se as
Três Regras de Mark Twain para a “Redação Clara”, que se aplicam muito bem a
todas as fases de trabalho de pesquisa (inclusive na fase de redação final do
relatório):

1. Revisar;
2. Revisar;
3. Revisar.

BIBLIOGRAFIA

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 392


CARRAHER, David William. SENSO CRÍTICO: Do Dia-a-Dia às Ciências
Humanas. Thomson – Pioneira.

Parte 79.
O Tempo não para... Nem a Teologia!
Uma conversa sobre teologia e história

APONTAMENTOS SOBRE O LIVRO “PERSPECTIVAS DA TEOLOGIA


PROTESTANTE NOS SÉCULOS XIX E XX” – PAUL TILLICH – 2ª EDIÇÃO – SÃO
PAULO: ASTE, 1999.

COMENTÁRIO DE CARL E. BRAATEN SOBRE “PAUL TILLICH E A TRADIÇÃO


CRISTÃ CLÁSSICA”

Referindo-se ao radicalismo de Paul Tillich, Braaten diz que o profeta pretende


chegar ao coração do problema com a espada de seu protesto radical. O falso
profeta é conhecido pela tradição como aquele que corta o próprio coração. Desta
forma, Tillich é considerado como um profeta radical. Embora Tillich sempre
confessasse pertencer à igreja luterana, “por nascimento, educação, experiência
religiosa e reflexão teológica”, nunca se sentiu muito à vontade dentro das
diferentes formas de luteranismo. Transcendia tanto quanto possível os limites da
herança imediata.

Sua teologia sistemática foi construída segundo o ritmo de perguntas e respostas


advindas da situação existencial. Recebeu até a fama que lhe veio em certos
círculos de teólogo especulativo. Raramente escreveu no ramo da teologia
histórica. Mas, os alunos de Tillich maravilhavam-se com a capacidade que tinha
de traçar de cor a história das idéias percorrendo os diversos estágios de seu
desenvolvimento e até mesmo observando mudanças sutis de significado em
determinados momentos. De fato, grande parte da carreira docente de Tillich
constou de aulas e seminários sobre a história do pensamento.

No que tange à interpretação da história, Paul Tillich dizia que, se o historiador


não se envolver com o material da sua interpretação não haverá verdadeira
compreensão da história. <>. Para se interpretar a história é preciso envolvimento
e participação. Tillich não podia imaginar a possibilidade de se chegar ao
significado da história por meio de pesquisas de fatos do passado sem qualquer
envolvimento pessoal do historiador. Desta maneira, tomado pelo zelo profético,
fez ressoar o tema do kairos, desse momento no tempo em que o eterno irrompe
na história. Para se agir no presente é preciso entender-se a própria situação e,
para isso, recapitular o processo de onde essa situação surgiu. Tillich diz que o
propósito de suas aulas sobre teologia protestante é demonstrar “como chegamos
na presente situação”, ou em outras palavras, “para que nos entendamos a nós
mesmos”.

Paul Tillich tinha em alta estima os dogmas da Trindade e de Cristo e os


considerava adequados à recepção da mensagem cristã nas categorias da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 393


filosofia helenista. Ele foi também um ardoso defensor do conceito do Logos dos
primeiros pais gregos. Os escritos apologéticos de Tillich demonstram sua
participação na convicção dos apologistas de que os cristãos não têm de maneira
alguma o monopólio da verdade, e que a verdade, onde quer que apareça,
pertencerá essencialmente aos cristãos.

Para Tillich, na realidade, qualquer definição cria exclusões. Pressionada pelas


heresias para se defender, a igreja tinha que se definir. Toda a história do dogma
cristão é um constante fechamento, mas ao mesmo tempo uma tarefa de criação
de definições. O dogma, e portanto, o desenvolvimento dogmático, não é algo
lamentável e mau. Foi a forma necessária por meio da qual a igreja manteve a sua
identidade. O elemento trágico em toda a história é que quando coisas desse tipo
precisam ser feitas, logo vêm as consequências de estreitamento e de exclusão
de elementos também muito valiosos. Com isto, o conselho nos dado é que, não
existe solução para o problema da auto-redução da igreja por meio de auto-
definição a ser por meio da constante reforma da igreja (ecclesia semper
reformanda). Para Tillich, e para a linha profética de interpretação, o futuro é
portador de importantíssimo novo sentido para o qual o passado e o presente são
meras preparações. A igreja conservadora, por medo das revoluções, tem tentado
inibir este espírito profético.

Uma das mais famosas formulações de Tillich diz que a cultura provê as formas
da religião e a religião, a substância da cultura. Porém, no fim da Idade Média,
religião e cultura separam-se, criando assim, a separação entre a teologia e a
filosofia. Para alguns estudiosos deste período, onde pára a razão aí começa a fé.

Tillich também reclamou a retirada do misticismo nas religiões. Para ele, o


cristianismo tornar-se-ia em deserto sem o enriquecimento trazido pelo misticismo.
Paul Tillich só condenava o misticismo como método de auto-salvação em nome
do princípio reformado da sola gratia, pois a salvação não vem de méritos
humanos.

Assim, diz Tillich que a justificação também é para os que duvidam, porque estes
não estão separados de Deus. A justificação pela graça por meio da fé é
interpretada como aceitação apesar de sermos inaceitáveis. Paul Tillich tinha
percebido que a fé tinha se tornado a base da salvação, no pensamento de
alguns, e não o meio da justificação. Ele também acreditava que a lei dos
contrastes na doutrina de Deus era de fundamental importância para que não se
racionalizasse a imagem de Deus.

Quando Tillich estudava Schleiermacher e Hegel, contrariava os teólogos da


época, pois estes os desprezavam. Tillich, na verdade, tinha uma atitude dialética
diante do liberalismo e não um conformismo. Prova disto, é que ele criticou o
programa de desmitologização bultmaniana.

O interessante e exótico em Tillich, é que ele se comunicava melhor com pessoas


dotadas de mentalidade filosófica e demonstrava certo zelo quase evangelístico

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 394


para transmitir a mensagem cristã aos intelectuais duvidadores e aos que
desprezavam a fé. Dizia até que era por causa deles que ele estava no mundo.

Tillich nos levou a um tipo de teologia fundamentada na revelação universal de


Deus na história das religiões e purificada pelo evento concreto do cristianismo
enquanto religião particular. Jamais pediu para que tivessem sua teologia como
insuperável, mas sempre encorajou a todos, a que tivessem a liberdade para ir
além dos limites de seu próprio sistema teológico.

INTRODUÇÃO: PROBLEMA E MÉTODO

Paul Tillich assevera, referindo-se à sua aula, que o principal propósito do curso é
nos dar a entender nossos próprios problemas procurando descobrir as raízes no
passado, para mostrar-nos como chegamos à situação presente. Na verdade, ele
queria demonstrar que teologia é um processo infindável na história, e não um
conhecimento estagnado, congelado e imutável.

I. ÊNFASES SUCESSIVAS: ORTODOXIA, PIETISMO E RACIONALISMO

Logo depois da Reforma, aconteceu o desenvolvimento da ortodoxia. O termo


“ortodoxia” em grego, significa apenas “opinião correta”, mas na ortodoxia oriental
conota “tradição clássica”. A tradição expressa-se nos concílios, nos credos, no
reconhecimento dos pais da igreja, e no desenvolvimento litúrgico.
A ortodoxia protestante, segundo Tillich, era construtiva, pois os teólogos
ortodoxos trabalharam objetiva e construtivamente, procurando apresentar a
doutrina pura e completa de Deus, do homem e do mundo. Com isto, percebe-se
que a ortodoxia teve sua importância no seu período. Melhor, é através das
sistematizações ortodoxas que criamos as bases de discussões sobre os assuntos
bíblicos. Se ninguém principiasse a discussão, não teríamos como
desenvolvermos as conclusões. Contudo, a ortodoxia clássica é mais admirada
por Tillich, pois esta mantém a discussão com todos os séculos do pensamento
cristão, porém, é claro que esta ortodoxia teve suas debilidades! E isto, Tillich
reconheceu! Creio que Paul Tillich pensa em um tipo de teologia progressista.

Comentando sobre os ensinos dos reformadores, Tillich diz que o princípio da


Reforma é a doutrina da justificação pela graça por meio da fé. E explica esta
doutrina tirando as más interpretações que provém dela, mencionando que o
poder justificador é a graça divina; o canal por meio do qual as pessoas recebem
essa graça. A fé não é jamais a causa, mas apenas o canal. E, se referindo a
Lutero, Tillich diz que o próprio reformador alemão não se cansou de repetir com
clareza que fé é sempre ato receptor e nada mais; ela nada produz. A primeira
coisa é abrir-se a graça divina e não tentar produzi-la.
O sistema ortodoxo teve suas complicações também, conforme comentado pelo
autor aqui em apreço, quando optou pelo princípio “formal”, que é o princípio das
Escrituras que se tornou fixo e rígido. As pessoas criam na tradução da Bíblia
autorizada pela igreja apenas, criando assim, uma prisão interpretativa.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 395


Um outro elemento perigoso na ortodoxia clássica, para Paul Tillich, é a imagem
de seu universo de dois andares. O andar de baixo chama-se “teologia natural”
trabalhando com a razão, e o de cima, “teologia revelada”. Durante o iluminismo o
andar de baixo do edifício teológico se revoltou contra o de cima. o andar de baixo
queria ser o edifício todo, e é o que se chama de “racionalismo”.

No começo de sua carreira, Lutero fôra muito influenciado por elementos místicos.
O caráter explosivo de seu ensino que transformou a face da terra foi produzido
por sua experiência de Deus. Tratava-se da explosão de uma relação pessoal com
Deus.

O pietismo também tinha a sua teologia, mas uma teologia que em geral aceitava
a tradição ortodoxa. Entretanto, o pietismo lutou contra a ortodoxia na própria base
da ortodoxia. Uma diferença básica entre as duas linhas de pensamento, como
explica Tillich, é que os ortodoxos diziam que qualquer pessoa poderia escrever
teologias perfeitamente válidas sem a necessidade do novo nascimento. O
pietismo dizia: “Não, isso é impossível; é preciso que o teólogo tenha nascido de
novo em relação a tudo o que faz e fala; só se pode ser teólogo depois da
experiência da regeneração”. Desta maneira, Tillich deixa uma pergunta
interessante para a teologia moderna: “Para se entender os problemas teológicos
e respondê-los não será preciso que o teólogo participe neles existencialmente?”
E ele mesmo responde que sim.
Continuando a história teológica, Paul Tillich diz que a teologia da Reforma
suscitou um problema educacional próprio que a levou para o racionalismo. E
menciona que no catolicismo romano a pessoa é salva ao acreditar no que a igreja
acredita. É o que se chama de fides implicita (fé implícita). E, na verdade, essa foi
uma das práticas contra as quais a Reforma se rebelou. No racionalismo, tudo
deve ser simplificado para que todos entendam, racionalizem. E é deste tipo de
educação religiosa que Paul Tillich diz que surgiu o iluminismo, tornando o homem
mais independente da igreja.

Tillich esclarece-nos que, a teologia ortodoxa baseia-se na teologia natural, e a


teologia natural é a teologia racional. Conclui-se, daqui, que teologia ortodoxa,
natural e racional, são galhos de uma mesma árvore!

Agora, se há algo que Tillich menciona sobre este assunto que podemos
considerar exótico, é sua conclusão de que o racionalismo e o misticismo não se
contradizem como, em geral, se pensa. Para ele, tanto na cultura grega como na
moderna o racionalismo nasce do misticismo. A razão aparece a partir da
experiência mística, que é a experiência da presença divina em nós. Vejo aqui, a
afirmação implícita de que, se não houver a experiência mística, não haverá
concomitantemente a experiência racional!
Os movimentos espiritualistas da época da Reforma chamavam-se “movimentos
evangélicos radicais”. E quanto a este movimento, Tillich o tem como anterior a
esta época, pois na verdade, Paulo foi o mais importante teólogo do Espírito
divino. Assim, Paul Tillich remonta este movimento ao tempo paulino, dizendo que
o Espírito, ou o movimento espiritualista, estava no centro da teologia de Paulo.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 396


Findando este assunto, Paul Tillich esclarece-nos que misticismo quer dizer
interioridade, participação na Realidade Suprema por meio de experiência interior.
É a experiência da presença de Deus em nós. Sem este aspecto experimental,
então, não teremos religião. E esta luz interior, todos os seres humanos tem, para
Tillich, pois todos pertencem a Deus. Assim, o que se faz necessário, é a
proclamação da Palavra de Deus, porque a capacidade de recepção todos
possuem.

II. O ILUMINISMO E SEUS PROBLEMAS

Kant definia o iluminismo como a conquista humana do estado de imaturidade


criado pelo próprio homem. A essência do iluminismo é o uso livre da razão. É
precisamente esse o significado de autonomia. Tillich explica que a palavra
“autonomia” exige um pouco de interpretação. Assim, ele diz que ela vem de dois
vocábulos gregos, autos, que significa “si próprio”, e nomos, “lei”. Então,
autonomia significa “ser lei para si mesmo”. Poderíamos, segundo Tillich, definir
autonomia como a memória humana de sua bondade criada. Na autonomia
seguimos a lei natural de Deus implantada em nosso ser. Assim, a Bíblia ganha
autoridade, através do testemunho interno que o Espírito Santo nos concede,
garantindo-nos esta autoridade. Quando a autonomia adquire consciência de seu
fundamento divino, passa a ser teonomia. De um ponto de vista espiritual, o
iluminismo foi a revolução das potencialidades autônomas do homem contra os
poderes heterônomos que não mais lhe convenciam.
Tratando sobre o conceito de razão, Paul Tillich ensina que existem, na verdade,
quatro diferentes conceitos, os quais são:

1) Razão Universal – significa logos universal. O logos é o princípio por meio do


qual Deus criou o mundo, que foi pela “palavra”. O universo foi criado por um
poder inteligente, o fundamento divino, e desde que o mundo foi assim
inteligentemente feito, a inteligência pode apreendê-lo;

2) Razão Crítica – na revolução francesa, por causa do conflito com o catolicismo,


a razão se fez radical e até mesmo anti-religiosa. Nada tem a ver com razão
calculista. Mas, é a completa ênfase na bondade essencial do homem,
apaixonada e revolucionária, em nome do princípio da justiça;

3) Razão Intuitiva – também chamada de razão fenomenológica. Essa escola


remonta ao platonismo. Entende, basicamente, que a mente humana pode intuir
as essências. Razão intuitiva quer dizer busca de significados, procurando
entender os objetos; não é análise de objetos, sejam eles físicos ou psíquicos;
4) Razão Técnica – analisa os menores elementos da realidade para chegar aos
maiores. O poder da razão técnica está em sua capacidade de analisar a
realidade e daí fazer instrumentos. Todos nós vivemos a partir dela. Inclusive os
teólogos.

O conceito de harmonia, como explica Tillich, fazia parte da crença fundamental

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do iluminismo. E, para ele, equivale este termo à “preocupação suprema”. Tinha
que ser caracterizado pela expressão “apesar de”.

No iluminismo, acreditava-se que Deus educava a humanidade por etapas, e que


agora, nesse grande século, o século do iluminismo, despontava a época da
maturidade. Deus alcançava, afinal, o seu alvo educacional.

Tratando da variedade de denominações, o ilusionismo chegava à conclusão que,


existe certo tipo de unidade. Essa crença expressa o princípio da harmonia,
embora sempre acompanhada da qualificação presente nas palavras “apesar de”.
Porém, o conceito de harmonia é paradoxal. Nenhum de nós é harmonioso. Não
temos harmonia entre nós e nem com Deus, mas, somos harmonizados conosco
mesmo, com o próximo e com Deus, apesar de tudo.
Tillich diz que o iluminista é burguês. Burguês significa “quem vive dentro dos
muros da cidade”. O burguês é calculista e racionalista. O conceito de vocação era
patente no pensamento dos medievais. Cada um tinha sua maneira de vida, por
mais horrível que esteja esta, por vocação divina. Essa foi a maneira da burguesia
explicar a realidade. O elemento irracional foi excluído, tudo era calculável. Desta
forma, uma intervenção de Deus, poria em riso a calculabilidade. Os jesuítas
apoiavam esta sociedade burguesa. Os adeptos do iluminismo também não viam
a necessidade de orar, pois esta atitude poderia fugir do calculável por tentar-se
comunicar com o transcendente.

O elemento básico da moral iluminista era a tolerância. E quanto a isto, Tillich


opina que é provável que o espírito de tolerância tenha surgido com a Reforma.
Porém, não era uma tolerância sem limites, pela existência ainda de fanatismos
religiosos.
O racionalismo dizia que as emoções deveriam ser excluídas da racionalidade,
pois as emoções fogem ao cálculo. Isto fez, na verdade, não com que o
emocionalismo desaparecesse, mas, pior ainda, fez com que surgisse um
emocionalismo selvagem!
Paul Tillich comenta, contudo, que houveram conflitos dentro do próprio
iluminismo. E estes foram:

1) Pessimismo cósmico – tratava-se de reações a eventos naturais de proporções


catastróficas. Assim, tomou-se o rumo do otimismo teológico. Tudo era teológico e
tinha um propósito para a raça humana. Cria-se a teodicéia ( justificar Deus em
face dos males do mundo). Porém, a reação pessimista, não cria que Deus havia
feito o melhor mundo possível;

2) Valores culturais – respondendo-se a grande pergunta: de que maneira se dá o


progresso na sociedade burguesa?;
3) Vícios pessoais – que eram os desejos de compras despertados na sociedade,
para sustentar a sociedade capitalista. Emprega-se aqui a palavra “materialismo”.
Surge aqui o elemento de poder, que pregava até assassinatos, se fossem
preciso, para o bem do Estado. Friedrich Nietzsche fez com que essa idéia viesse
à tona;

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 398


4) Progresso baseado na imoralidade – era o naturalismo demônico. Expressa-se,
principalmente por meio de idéias sexuais, negando-se os princípios éticos, pois a
necessidade das trocas econômicas exigia da sociedade a satisfação de seus
instintos e prazeres.

Os principais conceitos teológicos do iluminismo eram Deus, liberdade e


imortalidade. Através destes conceitos, o positivismo surgido quer dizer que,
devemos aceitar o positivamente dado, observando-o e descrevendo-o sem
criticá-lo e sem tentar construir um sistema a partir desse dado.

Kant criticava a teologia racionalista, que tentava explicar a Deus por argumentos
racionais. Dizia que isto não era possível, pelo fato do homem ser finito, enquanto
Deus é infinito. Kant passou, com isto, a ser considerado o demolidor da teologia
racional do iluminismo. Porém, Kant encerrava o homem na prisão do finito, mas,
como pergunta Paul Tillich: não é o homem mais do que finito? Sim, ao contrário
do que pensava Kant, o infinito pode, com certos limites, envolver-se com o finito.
Na verdade, Tillich diz que Kant ajudou a desenvolver o iluminismo, até certo
ponto, mas, o superou.

III. A REAÇÃO CLÁSSICO-ROMÂNTICA CONTRA O ILUMINISMO

Lessing, poéta, filósofo e teólogo, editou a obra de Reimarus, que iniciou a


moderna pesquisa a respeito do Jesus histórico, ocasionando assim, uma
tempestade teológica. Foi desta maneira que o problema da crítica histórica
apareceu na metade do século dezoito.
Lessing também levanta uma idéia fascinante, que é a de reencarnação dos
homens. Todos os que morreram antes do surgimento da era da razão, para
Lessing, retornariam para participar dela.
Já Kant, critica sempre a partir da finidade do homem e da incapacidade de jamais
alcançar o infinito. Para ele, deveríamos abandonar o princípio da identidade,
aceitar a finidade e nos contentar com uma religião limitada pela obediência moral.
Essa é a grande síntese de Kant e Espinosa, que reunia os princípios de
identidade e de distanciamento ou contraste.

Lutero dizia que Deus, infinito, estava também próximo às coisas, finitas. Este é o
princípio de relação entre o infinito e o finito. E é considerado como o primeiro
princípio do romantismo. Goethe resolve este problema em seu breve período
clássico.
Paul Tillich diz-nos que o romantismo era a filosofia da imaginação. E isto, devido
ao fato de que a cultura é criatividade humana, e que essa criatividade é infinita na
linha horizontal. Desta maneira, o romantismo sempre esteve envolvido com a
compreensão da história.

A emoção romântica não é sentimental, mas reveladora e cheia do eros platônico.


O romantismo olha para o mundo por meio de categorias estéticas. Desta forma, a
arte tomava o lugar da religião. O romantismo queria restabelecer a idéia de
autoridade, voltando-se à Idade Média.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 399


Existiram dois períodos no romantismo, os quais foram:

1) Romantismo negativo – onde salientava-se a presença do infinito no finito;


2) Romantismo demônico – onde a dimensão do infinito não permanece apenas
no divino, mas desce ao demônico.

O conceito do inconsciente vai ter importância decisiva desde então até nossos
dias. O elemento negativo transforma-se em elemento demônico no romantismo.
Friedrich Schleiermacher é considerado o pai da teologia protestante moderna.
Tillich diz que Schleiermacher representa a grande síntese no terreno teológico, e
que ele pode ser considerado um grande vitorioso sobre o iluminismo, não porque
o negou, mas porque o superou. A teologia de Schleiermacher respondia às
pessoas cultas. Dizia ele que a religião não era conhecimento teórico e nem ação
moral: religião era sentimento, sentimento de dependência absoluta. Mas, quando
a religião começou a ser pregada como sentimento, os homens deixaram de ir aos
cultos. Schleiermacher reagia contra sacerdotes e autoridades; para ele, não eram
necessários, uma vez que todas as pessoas eram chamadas ao sacerdócio e
podiam receber o Espírito divino. E, tecendo seu parecer sobre este assunto
emocional, Tillich ensina aos seus alunos o seguinte: “podemos dizer que embora
o elemento emocional esteja sempre presente em nossas experiências, não
podemos igualmente dizer que essas experiências se reduzem a emoções.
Tomemos a experiência do amor. Não podemos dizer que amor seja emoção. O
amor inclui emoção, por certo, mas não é puramente emoção.

Entre tantas coisas que Schleiermacher disse que faz do cristianismo a religião
superior, creio que é de principal destaque a salvação por meio de Jesus de
Nazaré. Esta salvação é feita por Cristo. Como ele não precisava de salvação,
tornou-se o salvador. Para Schleiermacher, a idéia trinitária vem da experiência do
Deus vivo ao lado da experiência do Deus salvador. Quanto à experiência do
pecado, Schleiermacher diz que não seria um “não”, mas um “ainda não”, de
nossa parte.

George W. F. Hegel realizou a síntese filosófica universal. A filosofia é


apresentada aqui, como uma luta terrível entre forças. Não se põe o filósofo numa
redoma de vidro para pensar num tempo determinado, pois a filosofia é algo
involuntário. Este período é chamado de “clássico”. Passou então para o período
romântico, dependendo muito de Schelling. Porém, superou o romantismo. Hegel
sintetizou os elementos presentes na história do pensamento teológico. A partir de
sua síntese, conhecer Deus significa a união do espírito humano com o Espírito
divino, voltando à antropologia. Comentando sobre isto, Paul Tillich diz que está
numa campanha para recuperar a palavra espírito com “e” minúsculo.

Quando ama-se o que se faz, ama-se a si mesmo, então, quando Deus ama o
homem, na verdade, segundo Hegel, Deus está se amando, é o processo pelo
qual Deus se conhece a si mesmo. Daí Tillich menciona que o existencialismo
moderno nasceu como um protesto contra o essencialismo de Hegel.
Para Hegel, Deus não faz parte da realidade, ele a possui. Deus é o fundamento

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 400


de todas as coisas existentes, e não um dentre todas as coisas. Pelo fato da
natureza estar corrompida, Deus se afasta dela, porém, Hegel chegou a uma
filosofia da reconciliação. E isto é o que posteriormente o existencialismo nega.
Hegel cria que Deus tomou o risco quando criou o mundo com a possibilidade da
queda.
Diferenciando-se a religião da filosofia, Tillich comenta que:

Na religião – pensa-se por meio de imagens, em mitos e símbolos;


Na filosofia – interpreta-se essas imagens ou símbolos em termos de
conceitualização dos conteúdos religiosos.

Hegel, referindo-se à síntese de Estado e Igreja, diz que Estado é o divino na


terra. Mas, o Estado ao qual Hegel menciona, é a igreja, que é o corpo de Deus na
terra. Daqui, alguns seguidores de Hegel chegaram à conclusão de que não
precisava de haver igreja na terra. Tudo na história, conforme a doutrina
hegeliana, passa a ser revelação divina. Mas, não significa isto que, como disse
Hegel, “todas as coisas reais são racionais”, pois o mistério da vida está além de
tudo o que acontece. Parece que Hegel pregava um Deus como um Criador da
história desapaixonado pelo indivíduo, pois o seu compromisso maior, seria com a
historicidade em si. Foi daqui que surgiu a hybris (orgulho) que levou a síntese de
Hegel à dissolução.

Algo de importante em Hegel, foi a sua tentativa de combinar todos os elementos


de sua época com a afirmação cristã de que Jesus é o Cristo. Jesus é a
reconciliação do infinito com o finito, para Hegel, pois Jesus é ao mesmo tempo
um indivíduo e também universal, é infinito e finito. Mas, para Tillich, este é um
problema ainda existente.

IV. A RUPTURA DA SÍNTESE UNIVERSAL

A ruptura começou na própria escola hegeliana. Surgiu a seguinte pergunta:


podemos, de fato, confiar nos relatos históricos a respeito de Cristo? Desta
maneira, David Friedrich Strauss demonstrou que os autores dos evangelhos não
eram os tradicionalmente conhecidos como tais. E esta descoberta ocasionou um
tremendo choque em seu tempo e, conforme Tillich expressa, este problema
permanece.
Pelo compromisso que Strauss tinha com a burguesia, apresentou um Jesus
domesticado, que não interferia na vida burguesa. Assim, um discípulo de Hegel,
chamado Ferdinand Christian Baur funda a escola de Tübingen, destinada à
pesquisa sobre o Novo Testamento.

Já no problema antropológico, Paul Tillich menciona Ludwig Feuerbach, que dizia


que o homem é quem criava Deus em si mesmo. Esta sua teoria foi denominada
de teoria da projeção. Daí foi que Karl Marx tirou a idéia de que Religião era
projeção. Tillich ensina que estes pensadores pertencem ao que se chama de
esquerda hegeliana, e contra eles levantaram-se teólogos pertencentes à direita
hegeliana.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 401


Friedrich Schelling pode ser considerado o predecessor de todos os
existencialistas. Paul Tillich até nos lembra que Schelling antecedeu a
Kierkegaard. Mas, Schelling se tornou o filósofo do romantismo, pois manteve-se
em dia com as diversas mudanças deste movimento, tendo sido decisivo o
momento em que o romantismo começou a se transformar em existencialismo.
Usou o essencialismo de Hegel, e superou isto com o existencialismo. Porém, o
existencialismo tem como base a filosofia essencialista.
Posteriormente, Schelling acabou revoltando-se contra o pensamento existencial
de Fichte, e entrou na filosofia da natureza. Sua teologia, com isto, foi considerada
muito mais como uma teologia da graça, onde a realidade divina vem a nós antes
de nossos próprios méritos. Depois, Schelling ultrapassou essa filosofia da
natureza, chegando à compreensão filosófica da realidade por meio das artes. O
elemento estético passa a impor em sua filosofia daqui em diante. Mas,
finalmente, Schelling terminou este período voltando-se para o que chamou de
filosofia da identidade.

Assim, para ele, a queda é um ato contemporâneo, então um fato no passado. A


possibilidade do bem e do mal, para Schelling é dada por dada por Deus.
Encontra-se, em seus escritos, distinção entre dois tipos de filosofia:

1) A filosofia negativa – era a filosofia da identidade ou o essencialismo. Se


abstraia da situação concreta como fazem todas as ciências;
2) A filosofia positiva – é o existencialismo. É um tipo de filosofia pessimista.

Por volta de 1830, Tillich diz que surgiu o “movimento de avivamento” na Europa e
que se estendeu aos Estados Unidos. Em geral, estes se reuniam em pequenos
grupos ao redor da Bíblia. Para eles, os princípios cristãos eram aceitos com
grande seriedade. Esta era uma onda de pietismo, com grande preocupação
missionária. No raciocínio deles, não havia nenhum apelo à revolução, mas sim,
uma responsabilidade para com os desfavorecidos. Porém, algumas igrejas
começaram a achar, a partir deste pensamento, que bastava o exercício de
caridade pessoal para cumprir-se a vontade de Deus cabalmente.
Uma das consequências do movimento avivalista, foi o reavivamento da teologia
tradicional. Esta era uma teologia de restauração, ou como Tillich a chamou, uma
teologia conservadora em oposição à liberal. Mas, Paul Tillich nos lembra que,
entretanto, nenhuma teologia de restauração consegue subsistir, porque a história
caminha para a frente, não para trás. A teologia de restauração não aceitava a
crítica histórica da literatura bíblica.

O naturalismo mecânico ou mecanicista, por conseguinte, ameaçava a teologia


cristã, obrigando-a a se defender. O darwinismo foi um exemplo deste tipo de
naturalismo que chocou os teólogos neste período. Mas, os teólogos passaram a
preencher os vazios deixados pela ciência, com Deus, criando assim, suas
apologéticas deste período. Porém, os teólogos, posteriormente, descobriram que
a ciência não poderia interferir em assuntos teológicos, e que a teologia não
poderia interferir em assuntos científicos, mas que, todas as coisas interessam à
teologia, inclusive as descobertas científicas. Tillich chama isto de “relacionamento

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 402


justo”.
Paul Tillich, passa a comentar sobre “a teologia existencial de Kierkegaard”, como
continuação dos fatos. Esta teologia combinava o pietismo luterano de tipo
avivalista com as categorias existencialistas de Schelling. Kierkegaard, na
verdade, critica bastante Hegel. Para ele, Hegel fez uma confusão entre essência
e existência. Para Kierkegaard, o homem é um ser solitário diante de Deus, pois o
ser é alienado. Diz ele que por isso, vivemos em ansiedade e desespero. E ainda
menciona a respeito de dois tipos de ansiedade:

1) O primeiro relaciona-se com a sua teoria da queda. Trata-se da ansiedade da


realização da própria liberdade, que é uma ansiedade dupla:

a) A de não alcançá-la;
b) E a de obtê-la.

2) A Segunda vem depois da queda, que é um outro tipo de ansiedade, que é a


culpa. O ponto extremo da ansiedade da culpa é o desespero, surgindo a
desorientação.

A partir daí, Tillich diz que Kierkegaard formula a doutrina do “salto”. A ansiedade
leva o homem à decisão a favor ou contra a sua realização. Tal decisão é um
salto; não vem da lógica. Para Kierkegaard, a queda do homem fora um salto de
tipo irracional, incapaz de ser entendido pela necessidade lógica. Mas, temos
também, por esta doutrina, o salto oposto, o salto da fé, que para ele, é um salto
também irracional.

Na época de Kierkegaard, Jesus e Sócrates eram professores existenciais, pois


não só ensinaram algo para as pessoas, mas fizeram algo pelas pessoas. Porém,
os dois tipos de religião não são idênticos. O mestre existencial fazia nascer o que
já estava dentro da pessoa, já Jesus transformava a realidade pessoal de cada
um. Deus, em Cristo, não vem ao homem de dentro para fora, mas sim, como se
fez necessário por causa da situação interna humana, Deus vem em Cristo, de
fora para dentro na humanidade. E assim, Kierkegaard diz que Deus vem de fora,
ou de cima. Contudo, Tillich não vê a teologia do “salto” como a resposta final do
problema apresentado pela crítica histórica, pois, surge uma outra pergunta: em
que direção devo saltar? E isto, partindo do princípio que estamos em trevas! A
única forma de se dar um salto correto, é através do Espírito de Cristo, segundo
Paul Tillich.

Kierkegaard atacava bastante os ministros eclesiásticos, pois achava que eles se


consideravam mais como empregados do que como vocacionados. Mas, não
indicava a resolução deste conflito. Também fazia ataques contra a teologia, pois
achava que esta partia do existencialismo, fato que não é exagero.

Enfim, para Kierkegaard, Jesus não era simples mestre existencial como Sócrates.
Era o Salvador que viera para acabar com a distância entre Deus e homem.
Paul Tillich considerou Karl Marx como um teólogo, e ainda, o teólogo de maior

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sucesso desde a Reforma. Marx criticou o materialismo de Feuerbach, dizendo
que este não era muito melhor do que o idealismo. Assim, Marx atacava tanto os
materialistas como os idealistas. Porém, para entender-se melhor o materialismo,
Tillich explica que há três significados para esta palavra:

1) Materialismo ontológico ou metafísico – também se chama de naturalismo


reducionista. Já ultrapassado pelo marxismo;
2) Materialismo ético – interessado apenas em bens materiais de consumo,
dinheiro, etc. O marxismo era exatamente o contrário disso;
3) Materialismo histórico – é esse o materialismo marxista. Também pode ser
chamado de materialismo econômico.

A Alemanha sempre seguiu o conceito luterano de que sua situação social era
ordenada por Deus. Desta maneira, evitava-se qualquer análise sociológica. O
indivíduo existindo por si mesmo era inconcebível. Marx enfatizava o nosso estado
como membros de grupos sociais. Marx pregava a alienação social do homem. E
esta alienação, para ele, era a estrutura da sociedade capitalista. O homem teria
então que seguir o verdadeiro humanismo, voltando a ser o que é originalmente. A
teologia cristã afirma que já sabemos o que o homem é essencialmente, porque o
homem essencial já apareceu em Cristo, e nos deu a possibilidade para tal.

Karl Marx dizia que as igrejas deveriam suspeitar de si mesmas para não formular
verdades que não passam de meras expressões de sua vontade de poder. Ele
considerava a religião como ópio de povo, porque achava que os burgueses
usavam os ensinos sobre as coisas celestes, para que as pessoas não
desejassem coisas terrenas. Coisa esta que Tillich não concorda.

Na verdade, a presença do existencialismo é muito grande em Marx. E isto,


segundo Tillich, se caracteriza pelo fato de que não podemos conhecer a verdade
da situação humana sem participação existencial na estrutura social em que
estamos vivendo. Desta forma, há semelhanças entre existencialismo e
pragmatismo.
Paul Tillich nos adverte a que não devemos ignorar o tom messiânico dos escritos
de Marx. A idéia bíblica profética do remanescente, também esteve presente nos
escritos marxistas.

O voluntarismo é o último dos movimentos que contribuem para o colapso da


grande síntese de Schleiermacher e Hegel. Nessa filosofia a vontade é
fundamental. Começou no século dezenove com Schelling. O ser não é
considerado uma coisa, nem uma simples pessoa, mas, é vontade, atualmente,
esta teoria diz que o homem é “instinto inconsciente”. Schopenhauer representou
o voluntarismo no século dezenove, a partir das idéias de Schelling. A
característica do voluntarismo, era o pessimismo, mas, Nietzsche, grande
discípulo e crítico de Schopenhauer, não era de todo pessimista.
O voluntarismo, segundo Paul Tillich, aparece pela primeira vez em Agostinho,
que pregava a principal vontade, que era o amor. O amor, para ele, é o ser
original. Os franciscanos foram os representantes desta idéia agostiniana na Idade

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Média (a vontade precedia o intelecto), enquanto os dominicanos representavam
as idéias aristotélicas (o intelecto precedia a vontade). Para Jacob Boehme,
filósofo e sapateiro, até o poder demônico era considerado como a vontade do
próprio Deus. Como se houvesse uma tensão, um conflito em Deus. A insatisfação
da vida, vem exatamente do não alcançar o que se quer.

Schopenhauer é considerado o filósofo que superou o otimismo progressivista de


Hegel e preparou o caminho para o pessimismo existencialista do século vinte.
Porém, mais importante do que ele, conforme Paul Tillich, foi Friedrich Nietzsche,
que preferia a palavra “vida” em vez de “vontade”. Para Nietzsche, poder é a
autoafirmação do ser.
Referindo-se à Nietzsche, Tillich nos aconselha a que, se quisermos descobrir sua
idéia de Deus, não devemos primeiramente buscar sua declaração de que “Deus
morreu”.

Para Nietzsche, as normas da vida vêm da doutrina do ressentimento. É a


revolução do ressentimento. Segundo essa doutrina, todas as idéias de justiça,
igualdade, democracia, liberalismo, etc. surgiram do ressentimento das massas, e
as religiões judaica e cristã são as principais responsáveis por esse
ressentimento. Ele lutou contra a idéia sentimentalizada do amor, que reduz amor
a compaixão. Para Nietzsche, este tipo de amor gera acomodação dos mais
fracos à opressão dos mais fortes.

Referindo-se ao conceito de “morte de Deus” nietzscheliana, Paul Tillich diz que é


um símbolo meio poético e meio profético. Para ele, isto não é a disseminação do
ateísmo. Na verdade, Tillich diz que Nietzsche estava pensando mais no sentido
de que, quando cai a idéia tradicional de Deus, algo mais também cai com ela.
Então, a “teologia da morte de Deus” trata-se, naturalmente, de um símbolo, pois
só se pode dizer que Deus morreu na consciência do homem. Morreu, na verdade,
na consciência do homem, a idéia tradicional do absoluto ou supremo. Daí, quem
deve ocupar esse lugar é o próprio homem.

O problema apresentado por Tillich quanto a isto, é que uma idéia dessas tem
inúmeras implicações. Por exemplo, quem é esse homem que ocupa o lugar do
absoluto? Tillich menciona que Nietzsche nunca considerou o homem em tão alta
estima! Daqui, desta necessidade de um homem especial que assumisse este
lugar, Nietzsche cria a idéia de um homem superior, um “super-homem”. E, de
onde viria este homem superior? Nietzsche cria que vem do desenvolvimento da
humanidade num sentido darwinista. A questão é que essa ideologia foi muito bem
recebida pelos fascistas e nazistas, tirando o seu lado espiritual, o qual não
gostavam. Mas, Tillich nos assevera que não podemos dizer que o nazismo surgiu
de Nietzsche. A doutrina nietzscheliana pregava uma evolução humana vertical,
com diferenças éticas, enquanto o nazismo pregava uma evolução horizontal, com
diferenças étnicas.

Paul Tillich critica em Nietzsche, a sua falta de normas, por causa de seu
pensamento sobre a arbitrariedade absoluta do homem. Para Nietzsche, a

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vontade do homem é a norma suprema. Tillich critica também a idéia de Nietzsche
sobre a doutrina do eterno retorno, que dizia que existia uma volta à noção
clássica circular da repetição do tempo. Para Nietzsche, o tempo é circular. E,
uma terceira crítica de Tillich a Nietzsche, centraliza-se na idéia do homem
superior. Para Paul Tillich, o aumento da perfeição biológica não aumenta as
dimensões espirituais do homem. Além disso, Tillich ainda diz que a idéia da
morte de Deus em Nietzsche, é apenas relativamente verdadeira, pois o Deus
tradicional permanece vivo, quem criou outro Deus, na verdade, foi o próprio
Nietzsche!
Para Tillich, Nietzsche jamais foi ateu no sentido absurdo e popular do termo. Seu
Deus, porém, é diferente do Deus da tradição religiosa, especialmente da tradição
cristã. Ele é considerado por Paul Tillich como um profeta irracional e naturalista,
porém, os teólogos cristãos podem aprender muito com ele. O único grande
lamento de Tillich para com a doutrina nietzscheliana, é a sua mal utilização pelo
nazismo.

V. NOVAS FORMAS DE MEDIAÇÃO

Paul Tillich passa agora a examinar um grande número de teólogos os quais ele
considera altamente inteligentes, eruditos e piedosos, classificados em geral como
teólogos da mediação. Aliás, para Tillich, pode-se dizer que a teologia, por
definição, é sempre de mediação. Qualquer teologia que deixe de mediar a
tradição já não é mais teologia, principalmente porque para Paul Tillich, teologia
não é repetição.
Se tudo caíra sob a mira da crítica, como seria possível restabelecer a certeza no
campo religioso? Tillich diz que o retorno ao conceito de consciência religiosa de
Schleiermacher foi uma das respostas a essa busca de certeza. Muito usou este
conceito, a escola de Erlangen, na Alemanha, partindo da experiência, que é um
tipo de sinônimo de “realidade”. Tillich prefere, ao invés de “realidade” ou
“experiência”, a palavra “encontro”. Para estes teólogos, a certeza a respeito de
Deus vinha de um ponto de participação imediata. A realidade do evento passado
é garantida pelo efeito que produz em mim. Estamos em Cristo, enquanto ele está
em nós por meio do Espírito, assim como o conceito de “salto” de Kierkegaard.
Entretanto, depois de tantas perguntas e respostas, Tillich diz que ainda pode
indagar-se com a seguinte pergunta: até que ponto minha experiência religiosa
garante, de fato, o acontecimento histórico fora de mim? A esta pergunta ele não
responde, mas diz que deixará para nós a resposta.
Surgiu também nesta época, segundo Paul Tillich, um outro teólogo tratando do
mesmo problema, mas dando respostas diferentes. Era Martin Kähler, também
teólogo da mediação. Para ele, a dúvida faz parte da situação humana contínua.
Dizia também, este teólogo, que o objetivo e o subjetivo podiam se reunir, mas
não em termos absolutos! Queria dizer com isto, que não é possível jamais
chegarmos à certeza absoluta. Desta maneira, Deus aceita não apenas os que
pecam no sentido moral, mas também os que duvidam, que é a forma intelectual
do pecado, assim, a dúvida não é considerada como objeto separador entre o
homem e Deus.

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A outra contribuição de Kähler, para Tillich, foi no campo da crítica histórica. Ele
enfrentava o problema do tratamento histórico da Bíblia fazendo clara distinção
entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Para Kähler, ambos não poderiam ser
separados religiosamente, mas, apenas intelectualmente. A fé une as duas
panorâmicas.
Surgiu, então, um movimento de volta a Kant, segundo Paul Tillich. Este
movimento dizia que só se fala em Deus em termos de “como se”. Era a
aceitação, novamente, da filosofia kantiana de finidade humana em oposição à
infinidade divina. Este movimento era extremamente hostil às teologias da
experiência. A escola neo-kantiana não aceitava a idéia do Deus em nós. Assim,
restava apenas a relação do finito com o infinito através da pesquisa histórica e
pela religião, num sentido de auto-realização moral.
A partir do sentimento anti-ontológico de Ritschl surgiu uma doutrina de Deus que
negava o poder de Deus ou o reduzia a quase nada. Daí, o pensador mais
importante da escola ritschliana foi Adolf von Harnack. Era considerado
basicamente como um historiador da igreja. Ele levantou questões que são
debatidas até hoje, como por exemplo a relação entre o cristianismo e o
gnosticismo. Tillich, porém, diz que o cristianismo rejeitou o gnosticismo porque
estes não aceitavam o Antigo Testamento, a idéia de criação e nem a bondade do
mundo. Na verdade, Tillich diz que depois da época de influência do gnosticismo,
os cristãos passaram a época que chama-se de helenista. E foi daqui, desta
época helenizada transformada pelo cristianismo, onde surgiram os termos e
conceitos teológicos do cristianismo primitivo. Na verdade, até o judaísmo tinha se
adaptado a esta nova situação. O problema de Harnack está em que ele não viu a
necessidade deste processo, segundo Paul Tillich. Harnack inventou uma fórmula
que distinguia o evangelho de Jesus e o evangelho sobre Jesus. Esta era a forma
clássica da teologia liberal.
Outros movimentos teológicos apresentados por Tillich, são:

1) A renascença luterana – que começou na escola ritschliana, dando-lhe nova


profundidade. Para Lutero, Deus era desconhecido, oculto, fontes das trevas bem
como da luz e da vida;
2) O realismo bíblico – reagindo contra o ritschlianismo, a partir de um biblicismo
realista, livre da doutrina da inspiração, e de outros elementos fundamentalistas.
Martin Kähler foi o principal responsável pelo realismo bíblico. Eles resistiam à
crítica histórica, apesar de seu realismo;
3) A crítica radical – que minava os pressupostos de Harnack e de toda a teologia
liberal. O A.T. era lido como uma série de acontecimentos históricos reais, como a
história da revelação. Jesus, para este movimento, teria se considerado a si
mesmo uma figura escatológica, apocalíptica, identificada com o Filho do Homem,
no sentido encontrado em Daniel;
4) Rudolph Bultmann – onde há uma nova busca do Jesus histórico, desenvolvida
por alguns discípulos de Bultmann. Para ele, nosso conhecimento da figura
histórica de Jesus nunca irá além de probabilidades. Bultmann chamou este
conceito de “desmitologização”. Conceito pelo qual, segundo eles, levava o
homem moderno a crer novamente em Deus e na Bíblia. Quanto a isto, Tillich diz
que Bultmann não conhecia o real significado do mito e nem sabia que a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 407


linguagem religiosa é e sempre deverá ser mitológica. Diz-nos Paul Tillich que, ele
havia sugerido a Bultmann, ao invés de uma desmitologização, uma
“desliteralização”;
5) O método da história das religiões – criada por Hermann Gunkel, que era, antes
de tudo, um estudioso do A.T. Este método procurava descobrir até que ponto o
Antigo e o Novo Testamento dependiam do simbolismo religioso das religiões dos
arredores;
6) Ernst Troeltsch – era um filósofo da religião. Estava preocupado com o sentido
da religião no contexto do espírito humano ou da estrutura mental humana. Era
homem de grande visão histórica. Para ele, o mero historicismo era apenas uma
observação do passado. Troeltsch via propósito de Deus na história. O fim da
história determinava seu real significado. Ele não se conformava em ser mero
observador; queria também transformar a história. Negava também o caráter
absoluto do cristianismo;
7) Socialismo religioso – pode ser visto como tentativa de superação das
limitações do esforço de Troeltsch de ir além do historicismo. Entendiam que Deus
se relaciona com o mundo, e não apenas com o indivíduo e sua vida interior. A
atividade de Deus também não se restringe apenas à igreja. Eles acentuavam a
liberdade de Deus para agir fora da igreja. O minstério da cura, praticado por
Blumhardt, em Württemberg, foi visto por seu filho como a realidade social do
amor de Deus pelo mundo. Idéias estas, que permearam o movimento socialista
religioso. Para este movimento, Deus também falava à igreja, através dos inimigos
da igreja, fora dela. Surge, desta situação, dois conceitos básicos: a) O conceito
do ‘demônico’ – que serve para descrever as estruturas destruidoras; b) O
conceito de ‘kairos’ – que é o tempo qualitativo, em contraste com ‘chronos’, que é
o tempo quantitativo. Kairos queria dizer que o eterno pode entrar no temporal e
iniciar uma nova era e, c) O conceito de teonomia – pregando um estado teônomo
da sociedade. Este estado transcende a autonomia.
8) Karl Barth – ele percebeu o perigo, que realmente apareceu, no abuso do
socialismo religioso pelo nacionalismo religioso, identificando a mensagem cristã
com determinada idéia política ou social. Apesar de que Tillich também considerou
a atitude de Barth perigosa, pois ele acabou com a tentativa de qualquer
relacionamento entre a teologia e o movimento trabalhista revolucionário na
Alemanha. Sua teologia, posteriormente, mostrou-se importante, e foi chamada de
neo-reformada. Também foi chamada, no começo, de teologia da crise. Todos os
esforços para se chegar a Deus, para este movimento, era considerado religião. E
o homem, por seu pecado, havia destruído inteiramente a imagem de Deus em si
mesmo. Para Barth, o Espírito nunca poderia estar em mim, mas sempre contra
mim. Esta teologia também tem sido chamada de dialética, coisa que Tillich não
concorda, pois na de Barth não há progressão. Ignorou a questão do Jesus
histórico. Barth também escreveu uma carta pedindo para que os cristãos se
opusessem a Hitler, apesar de no início parecer simpatizante deste;
9) Existencialismo – não é simplesmente uma revolta, mas também um estilo.
Trata-se de um modo de ver o homem. Olha para a situação do homem no tempo
e no espaço, percebendo o conflito entre o que existe no tempo e no espaço e o
que é essencialmente dado. Para o existencialista, a situação é universal, mas o
homem é responsável por ela. A redescoberta do existencialismo, para Tillich, teve

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muita importância para a teologia. Na verdade, Tillich diz que o existencialismo e a
psicologia psicoterapêutica sempre trabalharam juntos. Desta forma, Tillich chega
a dizer que se considera cinquenta por cento existencialista, pois para ele, o
essencialismo e o existencialismo andam juntos. E, findando seu estudo, ele diz
que a teologia precisa considerar os dois lados da moeda: a) A natureza essencial
do homem – boa, e b) A condição existencial do homem – má.

Parte 79.
O HOMEM É AQUILO QUE LÊ: o crente e sua confiança na Palavra de Deus

INTRODUÇÃO

“Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de
dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e
julga os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)

Dizem que o homem é aquilo que come. A Palavra de Deus é considerada como
alimento espiritual à humanidade (Mt 4.4). Então, pode-se também dizer
acertadamente que o homem é aquilo que lê. Tudo o que somos e viremos a nos
tornar, dependerá da obediência e da intimidade que temos para com a Palavra de
Deus, pois Jesus disse que todas as coisas passarão, mas as Suas Palavras não
haveriam de passar (Mt 24.35). A Palavra de Deus permanece firme, em forma
didática, profética, poética, legal, etc., explicando-nos o passado, ensinando-nos
no presente e contando-nos do futuro. Tudo isto, para mostrar-nos que Deus está
sobre o controle de todas as coisas.

Assim, vidas secas são aquelas que não matam a sede nas águas da Bíblia; vidas
famintas são aquelas que não se alimentam das iguarias da Bíblia (Is 55.1,2). Há
uma caminhada a ser percorrida por todos os seres humanos, e esta caminhada
deve ser feita na rua da vida terrena. Nesta terra, somos considerados peregrinos,
viajantes, pois não é aqui o nosso destino final. O nosso alvo é o céu, estar junto
de Deus. Muitas vezes, os alimentos que nos oferecem são porções
contaminadas, que acabam por prejudicar-nos espiritualmente (Dn 1.8). Contudo,
Deus preparou-nos a alimentação pura que nos dará uma aparência varonil diante
das situações difíceis da vida (Dn 1.15). Alimente-se de Cristo sentado à mesa do
Senhor. Ali o suprimento de pão jamais acaba. Esta mesa farta é a Palavra de
Deus!

I. O VALOR DA BÍBLIA EM NOSSA VIDA ESPIRITUAL

“Orei pedindo fé, e pensei que algum dia ela cairia e me atingiria como um raio.
Mas parecia que a fé não vinha.
Um dia li no capítulo 10 de Romanos que a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela
Palavra de Deus. Tinha fechado minha Bíblia e orara pedindo fé. Mas então abri a
Bíblia e comecei a estudá-la. Desde então a minha fé vem sempre aumentando.”
(D. L. Moody)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 409


O vigor de nossa vida espiritual está na proporção exata do lugar que a Bíblia
ocupa em nossa vida e em nossos pensamentos. Se simplesmente admitirmos
que a Bíblia é exatamente aquilo que se apresenta ser, se estudarmos seus livros
para lhes conhecer o conteúdo, acharemos nela uma unidade de pensamento a
indicar que uma mente única inspirou a escrita e a compilação de toda a série dos
seus livros, que ela traz em si a marca do seu Autor, que é, em sentido único e
distintivo, a Palavra de Deus.
Toda pessoa deve amar a Bíblia. Toda gente deve lê-la assiduamente. Todos
devem esforçar-se por viver seus ensinos. A Bíblia precisa ocupar o centro da vida
e da atuação de cada igreja, como também de cada crente individualmente. Ela
tem a solução da vida. Ela fala do Melhor Amigo que a humanidade já teve, o mais
nobre, o mais terno, o mais verdadeiro Homem que já pisou na terra – Jesus.

A maioria das pessoas há de pensar, seriamente, como há de ser quando o fim


chegar. Não adianta sorrir menosprezando, passar adiante desse assunto, esse
Dia há de vir, diz a Bíblia (Is 46.10), e o que acontecerá então? A Bíblia dá a
resposta! É resposta inequívoca: há um Deus. Há um céu. Há um inferno. Há um
Salvador. Haverá um dia de juízo. Feliz do homem que, enquanto vivo, fizer suas
pazes com o Cristo da Bíblia e se preparar para esse fim.

Como pode uma pessoa sensata deixar de entusiasmar-se com Cristo, e com a
Bíblia que de Cristo fala? Todos devemos amar a Bíblia. Procuramos saber de
tudo do mundo. Por que não, também, acerca do Criador do Mundo? Alguns
sabem nomes de artistas famosos, nomes de políticos, procuram até mesmo
interpretar as atitudes, palavras, arte, etc. dos seres humanos passados e
presentes, porém, muitos nem sequer sabem os nomes dos livros pertencentes à
Bíblia, ou onde pode-se localizá-los quando pede-se para lermos o seu conteúdo.

Se amamos uma pessoa, gostamos de saber a seu respeito não é fato? Quantas
vezes pessoas lêem com afinco biografias de seres humanos, até mesmo quando
sentem-se cansados, com sono, sem tempo, etc.?! Mas, quantas dessas pessoas
negligenciam ler a Biografia de Deus, que é a Bíblia Sagrada!? Dizem que não
têm tempo de ler a Biografia do Dono do Tempo! Dizem cansados para aprender
sobre Aquele que revigora! Dizem sonolentos para entender o que diz o Deus que
não dorme em serviço!
O contato individual direto com a Palavra de Deus é o principal meio de
crescimento cristão e humano. Os grandes homens de Deus, em toda a história,
foram e são leitores assíduos da Bíblia. Através da Bíblia tornam-se nítidas em
nossas mentes o modelo de vida que Deus tem para nós (Rm 12.2). Nossa vida é
produto de nossos pensamentos. Para vivermos certo, precisamos pensar certo!
Leiamos mais a Bíblia! Nossos pensamentos serão inundados com a Palavra de
Deus, e viveremos como Ele quer.

II. DEUS FALA COM VOCÊ ATRAVÉS DA BÍBLIA

Cremos que a Bíblia é, não o relato do homem sobre seus esforços por encontrar
a Deus, mas a narração do esforço de Deus por Se revelar ao homem! É o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 410


registro do próprio Deus quanto ao Seu trato com os homens na revelação que de
Si mesmo fez à humanidade.

Deus fala com você através de Seu Livro Especial, a Bíblia Sagrada. É esta a
maneira mais segura de aprender a mensagem divina. As pessoas nem sempre
entendem a vontade de Deus para você. Às vezes podem nos dar conselhos bem
intencionados, mas errados. Sonhos, visões e profecias são bem-vindos, mas
devem ser provados, deve haver uma forma de medi-los, um tipo de crivo absoluto
e perfeito! Este “crivo”, esta “medida” é a Palavra de Deus (Ez 40.3).

Há uma pergunta intrigante que passa pela mente de algumas pessoas, esta
pergunta é: como pois reconheceremos a voz do Senhor? Graças a Deus temos à
nossa disposição a mensagem divina em forma escrita – a Bíblia Sagrada. Através
dela provamos todos os nossos impulsos e todos os conselhos de outras pessoas.
Porém, a Bíblia não deve ser apenas um livro de teorias e de consultas
intelectuais, mas sim, um livro prático (Tg 1.22-25).

Podemos, com certeza, absorver a verdade cristã em certo grau, participando dos
cultos, ouvindo sermões, lições bíblicas, testemunhos e lendo literatura cristã.
Mas, por mais que estas coisas sejam boas e úteis, não podem tomar o lugar da
leitura individual da própria Bíblia, da fundamentação por nós mesmos de nossa
fé, esperança e vida diretamente na Palavra de Deus.

III. COMO OUVIR A VOZ DE DEUS

Antes de sintonizar determinada rádio-emissora, você precisa mexer


cuidadosamente com os botões do seu aparelho. Assim sendo, como é que
devemos fazer para sintonizarmos a voz de Deus com clareza? Algumas
sugestões são: 1) Ler a Bíblia diariamente, 2) Meditar na Palavra de Deus,
pensando muito naquilo que lê e 3) Reler e procurar gravar versículos ou trechos
bíblicos.

Não queremos dizer que devemos cultuar a Bíblia como se fosse um “amuleto da
sorte”, mas, adoramos o Deus e o Salvador de quem a Bíblia nos fala. E, porque
amamos nosso Deus e Salvador, amamos terna e devotadamente o Livro que
Dele procedeu e Dele se ocupa! Não queremos ainda dizer com tudo o que foi
exposto, que o hábito de ler a Bíblia é em si uma virtude, porque é possível lê-la
sem aplicar seus ensinos à vida. Contudo, as exceções não inutilizam a regra de
quem lê caminha melhor na vida (Sl 119.105).

A Bíblia é a própria Palavra de Deus, e nenhum outro livro ou alguém pode tomar
o seu lugar. Devemos aceitá-la exatamente como ela é, pelo que ela afirma ser.
Não devemos nos inquietar com as teorias dos críticos. As críticas passam, a
Bíblia permanece!

CONCLUSÃO

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A Igreja e a Bíblia andam juntas. A Igreja existe para proclamar e exaltar o Cristo
da Bíblia. Se todas as igrejas pudessem levar todo o seu povo à leitura devota da
Palavra de Deus, haveria uma revolução nas vidas, nos lares, nas cidades, enfim,
no mundo! Que melhor tarefa poderia uma igreja assumir do que a de fazer de sua
comunidade uma comunidade leitora da Bíblia? Afinal de contas, somos o povo da
Bíblia e não o povo das experiências!

A Bíblia Sagrada é o manancial, o suprimento de energia para o ser humano que


desgasta-se na lida. Um automóvel não pode mais prosseguir se não for-lhe
colocado constantemente seu combustível apropriado; uma planta não conseguirá
mais desenvolver-se se não for-lhe colocado o adubo necessário; uma criança não
crescerá saudável se não derem-lhe o leite materno; o ser humano não terá a vida
abundante na terra e nem a vida eterna no céu se não atentar à Palavra de Deus.

Só algo que tem vida em si mesmo pode gerar vida em outros; a Palavra de Deus
é viva e eficaz (Hb 4.12). Deixe-a penetrar em seu ser e desvendar-lhe a
intimidade. Permita-lhe discernir seus pensamentos, suas intenções mais
secretas, pois é ela um tribunal que desmascara o erro, corrige o arrependido e
levanta o caído (Sl 20.8). Deixemos a Bíblia ser a Bíblia. Ela nunca poderá ser
julgada sob as lentes do “microscópio teológico”, pois ela é o próprio
“microscópio”.

Parte 80.
E Quando não me sinto criativo?
“Criatividade, processo criador e as emoções que permeiam a criação”–
Monografia por Érima Castelo Branco de Andrade, terapeuta ocupacional – Insight
– Psicoterapeuta – lemos Editorial &Gráficos Ltda. Ano VII–N. 79 – NOV. 1997. –
PP. 3, 22-31

“...A humanidade não é uma descrição física, é uma meta espiritual. Não é uma
coisa que nos é dada, é algo que conquistamos.”
(Richard Bach)

A lenda do “Menino Lobo” é uma prova de que “ao mesmo tempo em que somos
seres individuais, só nos desenvolvemos plenamente em contato com outros...”
Érima mostra, em seu trabalho que aqui será comentado, a relação da criatividade
com a alegria de viver, e também a relação da criatividade com a necessidade do
“outro” no processo de avaliação e satisfação pessoal.

INTRODUÇÃO

O objetivo da autora, segundo ela mesma, é o de compreender os sentimentos


que permeiam o processo de criação. Para tal, ela fez pesquisa bibliográfica e
respostas dadas por vinte e dois entrevistados. Érima escolheu pessoas que
estivessem ligadas à área da saúde ou da cultura, separando-as de acordo com
sua área de atuação. Porém, como ela mesma percebeu, no processo de criação,
todos tiveram os mesmos princípios, sendo até mesmo difícil de construir uma

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 412


linha divisora entre os entrevistados.

A questão apresentada nesta obra é a de descrever as emoções vividas por quem


está criando. E creio ser isto de fundamental importância para nossas vidas, pelo
fato de que muitos desanimam-se em meio às circunstâncias por não terem
criatividade, ou pelo menos por terem medo de criar uma saída. Como cristão
evangélico, vejo o inimigo de nossas almas prendendo pessoas, através de
situações embaraçosas, que parecem sem saída, e muitas vezes, estas ficam
como se estivessem num poço, cercadas por todos os lados! Mas, ainda que o
inimigo consiga nos colocar dentro do poço, Deus não o permitirá colocar a tampa!
A saída está em cima. A saída, na maioria das vezes, não está no lado objetivo –
o que alguém ou algo pode fazer por mim, mas sim, no subjetivo – o que Deus e
eu mesmo posso fazer por mim.

CRIATIVIDADE E PROCESSO CRIADOR

TEORIA

Érima inicia sua teoria, mostrando que criar é uma característica humana, ou seja,
é um processo natural da humanidade. Isto significa, ao meu ver, que Deus
colocou em todos os seres humanos a capacidade para a criatividade. Isto veio
através da imagem e semelhança com Deus, que é o Criador-mor. A questão é
que, pelo pecado original, perdemos a clareza criativa inserida em nós,
necessitando assim de nos religarmos a Deus através de Jesus Cristo. Mas, o que
dizer de crentes já antigos no Evangelho que se encontram emaranhados nas
situações cotidianas, sem ter uma saída? Eles já não se religaram com Cristo?
Não lhes foi devolvida a imagem de Deus perdida? Sim, mas é do ser humano
esquecer-se de sua posição real, por isto, Deus disse em II Crônicas 7:14: “e se o
meu povo ... se converter dos seus maus caminhos...”

A criatividade, como diz a terapeuta Érima, não é considerada uma exclusividade


do artista. Outra coisa importante lembrada por ela, é que criar também não é a
busca de formas inéditas, especiais, únicas. “A criatividade é uma maneira
pessoal de compreender e relacionar os fenômenos que ocorrem em qualquer
campo da atividade humana.” Está dentro do ser humano, embutido por Deus,
basta descobrirmos como colocá-la em ação. Podemos ser criativos no nosso dia-
a-dia, para que este não seja apenas mais um dia, e assim possamos viver a vida
e não apenas sobreviver à vida. O próprio Jesus disse: “...eu vim para que tenham
vida e a tenham com abundância.” (Jo. 10:10). A sobrevivência é aquela que se
instala e vira rotina sem percebermos, e quando nos damos por conta, estamos
vivendo por viver, é a tarefa pela tarefa, o trabalhar pelo trabalhar, o estar pelo
estar. A vida com abundância é a capacidade de criar em nosso dia-a-dia, em
meio às situações imprevistas, desconhecidas, novas, que exigem uma resposta
imediata, etc., atitudes criativas inconscientes e outras conscientes.

O texto de Érima afirma que o medo pode bloquear os processos de criação. “O


medo do novo, o medo do desconhecido, acabam por criar maneiras rígidas de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 413


agir, algumas vezes, obsessivas, que tornam o fazer uma rotina mecânica e
transformam a inteligência apenas num amontoado de informações
armazenadas...” Cita-se, nesta parte, a explicação de Rollo May, que diz o
seguinte: “a mecanização requer uniformidade, previsibilidade e ordem; e o ato
criativo, pelo simples fato de ser um fenômeno do inconsciente, original e
irracional, representa uma ameaça à ordem e à uniformidade.” Vejo aqui o alerta a
cada um de nós ao fato de que inconscientemente, queremos reagir às
circunstâncias, mas que, por algum motivo exterior, ficamos estagnados na
situação, numa atitude passiva, covarde e desesperadora. “Criar, é lutar contra os
limites”, é o que nos lembra a autora. É o remar contra a maré se for necessário,
para que possamos sobreviver à queda no precipício. “É uma luta que requer
coragem, coragem para enfrentar o novo, para suportar o impacto do
desconhecido, para destruir o velho”. Para tal, Érima não pensa em coragem
como ausência do medo, mas como ação apesar do medo. Creio que o medo aqui
funciona mais como precaução para não agirmos precipitadamente, do que como
freio, como um estacionar na vida.

A autora reforça a atitude de mudança numa determinada situação indesejada,


nos propondo o seguinte: “Para que algo novo tome forma, é necessário que o
velho deixe de existir da maneira como vinha existindo.” Ela cita Picasso, quando
disse que todo ato de criação é antes de tudo um ato de destruição. É claro que
não vejo aqui um pedido para a destruição do ser em si, como se fôssemos
reexistir, tendo até mesmo, quem sabe, que trocar o nome e daí por diante! Mas,
vejo sim, uma destruição num sentido muito além da aniquilação do “eu”. Percebo
nisto uma proposta de metamorfose, como o da lagarta-borboleta. A lagarta
sempre foi uma borboleta, a questão era o de se descobrir, e a descoberta estava
dentro de si mesma. Desta forma, destrói-se a capa e permanece o conteúdo real.
Ninguém está perdido pelo que acontece em sua volta, o que nos confunde é a
falta de criatividade interna. Assim como disse Sêneca, filósofo latino (4 a.C. – 65
d.C.): “Se o homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será
favorável.”

Por mais que a nossa vida pareça estar um caos, Érima aconselha que “o criar
nasce dentro desse caos, na busca de ordem, significado e respostas”. Rollo May,
sendo citado mais uma vez, diz sobre “um sofrimento que antecede o nascimento
da nova idéia”. Assim sendo, a terapeuta aqui comentada, assevera-nos que “criar
não é uma fuga, é uma intensificação, é a transformação da realidade numa nova
realidade”. Relembrando o que comentei acima, sobre o “remar contra a maré”, o
criar não é sair do rio, mas a possibilidade de mudar o meu curso dentro do
mesmo rio, é a capacidade de desviar-me de pedras e obstáculos e também de
mudar o meu rumo, pegando uma outra entrada quem sabe, ou apenas escolher a
melhor forma de descer o precipício sem morrer.

Surge agora uma nova situação proposta por Érima C. B. de Andrade, que é a do
“homem como sendo um ser social, que necessita do ato criativo, mas também da
compreensão do outro ao seu ato criativo”. Segundo a autora, “a comunicação só
acontecerá quando alguém decodificar essa mensagem. Todo ato criador é uma

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mensagem esperando alguém que a decodifique. O ato criador pode ser dividido
em dois momentos distintos”:

1) Ato de Fazer a Obra – O de produção. Aqui se vive a emoção de estar criando,


de estar experimentando. Surgem novas percepções, novos contextos, etc.;
2) Momento em que a Obra é Mostrada, Compartilhada – É o da comunicação. “O
fazer não parece suficiente, ele precisa vir acompanhado do mostrar”. Paulo disse
aos Filipenses: “Seja a vossa eqüidade notória a todos os homens.” (Fp. 4:5). É a
emoção que sente-se ao mostrar a obra, “oferecer para que seja olhada,
comentada, criticada, acolhida, aprovada, rejeitada, enfim, para que seja dividida
com o outro...” A obra deve ser apreciada por um outro além do seu próprio
criador. Creio que isto é necessário pelo fato de que instintivamente, somos
levados a “jogarmos confete em si mesmos”, e com isto, esquecemo-nos de
andar, de seguirmos adiante. O lutador que só pensa em atacar esquece-se de se
defender, deixando a guarda aberta. “Louve-te o estranho, e não a tua boca, o
estrangeiro, e não os teus lábios.” (Pv. 27:2).

PROCESSO CRIADOR E PSICOTERAPIA

“Criar, também, é construir uma identidade, um estilo pessoal de estar no mundo”.


A criação, nesta perspectiva, é a capacidade de administrar as várias
possibilidades de ação em uma situação, surgindo assim, um estilo próprio, sem
imitações cegas e desprovidas de fundamentos pessoais.

O processo criador, como apresentado por Érima, não é efetuado num passe de
mágica, onde a pessoa perde até mesmo sua identidade primária, mas sim, num
processo paulatino onde a pessoa atravessa uma situação com glória, i.e.,
crescendo interiormente, “procurando manter as funções que estão preservadas,
desenvolver o que está deficitário e estimular a descoberta de novas
habilidades...”

Quando este processo passa a ser tratado no âmbito terapêutico, Érima diz que a
pessoa em atendimento (cliente) é o codificador, o terapeuta ocupacional é o
decodificador. Se assim se procede, ao meu ver, o terapeuta descobrirá o que
está por trás de cada palavra dita pelo cliente, cada postura, gesto, atitude, etc. “O
terapeuta-decodificador vai estar sempre tentando entender o significado das
mensagens enviadas”, tentando aprender esse novo código, sabendo também que
atitudes, interesses e habilidades diferem de pessoa para pessoa.

Os sentimentos expressos por uma pessoa podem não revelar quem elas
realmente são, pois, como disse Érima, “as pessoas deixam de pensar como
realmente são e passam a pensar em como deveriam ser, e o que podem fazer
para corresponder aos padrões propostos. Por isso, reconhecer um sentimento é
tão importante quanto entender um discurso. Os sentimentos são expressos pela
postura, pelo caminhar...” Entendo que aqui está sendo exposto a seguinte teoria:
faça com que o ambiente entre cliente-terapeuta seja o mais natural possível, pois
se assim não o fizer, o cliente encontrará posturas fictícias para se adequar à

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 415


situação, quem sabe poderíamos até mesmo denominar esta situação como
atitude-camaleão. E ainda vejo aqui o alerta quanto ao fato de que o cliente, por
mais que fizermos do ambiente da entrevista um momento bem natural, tentará,
mesmo que inconscientemente, apresentar um “eu imaginário”, se é que posso
denominá-lo assim. Desta forma, o terapeuta terá que “ler” suas atitudes, muito
mais do que palavras.

No texto de Érima vê-se que “as mudanças no comportamento e na forma pessoal


de se expressar devem acontecer de maneira voluntária, natural e tranqüila...
Impor um caminho para mudanças é ignorar esse desejo, valorizando o dever,
como se houvesse uma obrigação de mudar.” O que se tira disto é que quanto
mais artificial forem as atitudes do terapeuta, mais fictícias serão as respostas do
cliente, construindo neste, um caráter defensivo falso para que se proteja de
supostas ameaças contra sua maneira de viver. O conselho de Érima, portanto, é
que “o terapeuta-decodificador funciona apenas como um instrumento, para que
cada um trabalhe por si próprio. (...) ... a responsabilidade da mudança pertence à
pessoa em atendimento e não ao terapeuta. (...)” As mudanças “devem nascer de
um desejo interno e não de uma sugestão externa.” O terapeuta apresentado
neste texto, para mim, é um estimulador invisível, e além de tudo, inspirador de
atitudes e não ditador.

Quando este processo começa a ser colocado em prática, “aos poucos a pessoa
se sente mais capacitada para enfrentar suas dificuldades, para ser menos
passivo diante da vida...” Parece-me que foi isto o que Jesus mostrou ao pai do
jovem lunático em Marcos 9:14-25. O pai do lunático estava acostumado a correr
ao seu filho para auxiliá-lo quando este se contorcia, mas, um dia ele resolveu
tomar uma atitude de mudança, foi atrás dos discípulos procurando ajuda, e estes
não puderam ajudá-lo. Quando Jesus se aproxima e conversa com o pai, o jovem
se debate, porém, Jesus lança uma pergunta ao pai do rapaz, e este muda seu
hábito diante da situação, faz algo novo que é ficar parado ao invés de correr e
socorrer o filho. Neste momento, o pai conta a Jesus a história do filho e roga-lhE,
lançando a responsabilidade de amenizar a situação em Cristo, dizendo: “se tu
podes ... ajuda-nos”. Com isto, Jesus, sabiamente, mostra que a responsabilidade
para gerar mudanças na situação está sobre o próprio pai, e não sobre si,
dizendo: “Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê.” (Mc. 9:23). Devemos
“oferecer várias possibilidades de se expressar, permitir que experimente várias
possibilidades, que crie várias alternativas... A criação é um bom remédio.” Este é
o conselho que nos é dado por Érima.

Quando estamos sendo criativos, mesmo em maus momentos, estamos reagindo


à uma situação opressora e não bem vinda, isto é, estamos vivendo em meio às
lutas, que para mim, é diferente de sobreviver, pois o sobreviver é viver
passivamente, é aceitar com covardia. Assim, Edith G. Neisser, comentada por
Érima, escreve: “Do ponto de vista da personalidade formada e saúde mental, é
muito melhor participar com elevo e gosto, mesmo em espetáculos maus, do que
ser sempre um simples espectador, ainda que na mais inspirada representação.”
Vendo por este lado, percebo que, se Deus permite adversidades em nossas

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 416


vidas, devemos saber administrar a situação, mesmo que seja ruim, assim como
José administrou sua situação como presidiário, e teve sucesso no que fez,
administremos a nossa própria situação, porque é através dela que ganharemos
experiência e crescimento espiritual.

O que Érima quer nos ensinar, não é que devemos viver a situação ruim como se
não estivesse ruim! Ela mesma defende-se quando escreve: “não estamos
buscando a perfeição da atividade, e sim, a participação interessada nas
atividades propostas.” Um bom conselho aqui, talvez seria o de, se é para passar
pela luta, passemos ao menos com sabedoria, ao invés de ficarmos chorando nos
cantos, com medo de agir! Trabalhemos, coloquemos mãos à obra! Diz-se que é
melhor nos arrependermos pelo que fizemos do que pelo que não fizemos. Se a
situação está ruim, ao invés de esperar a ruína final passivamente, o que custa
tentar? Não adianta também marcar hora e lugar para a criatividade de alguém
começar, segundo Érima, pois o ato de criar não respeita normas ou convenções
sociais, simplesmente acontece, mas pode ser educada, estimulada, direcionada.
Ao meu ver, o terapeuta passa a ter o papel de inspirador neste ponto, e não o de
“empurrador”.

CRIATIVIDADE E PROCESSO CRIADOR

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Nesta parte de sua obra, Érima Castelo Branco de Andrade apresenta os


resultados oficiais de cada uma das vinte e duas pessoas entrevistadas. Uma
conclusão a qual ela chega, aqui, é que “é consenso que a criatividade é a busca
do novo, é a liberdade e a coragem de tentar uma maneira pessoal do fazer e do
entender o mundo.” Penso até que isto pode ser ligado com o ato de se obter uma
identidade pessoal, mencionada mais acima, onde criamos um estilo próprio de
resolver a situação, em meio a um determinado problema. Este termo usado por
Érima, o “NOVO” , não se refere a novo no sentido do inédito, como ela mesma
explica, mas sim, no sentido real do novo na vida de cada uma das pessoas. É
novo, então, porque mudou a situação. É a “criatividade como transformação do
cotidiano, como uma forma pessoal de interpretá-lo...”, e desta nova forma de
interpretação, surgem novos meios de ação.

A vida vivida como uma novidade diária, nos revigora as esperanças. Assim, um
comentário interessante feito no texto ao qual estamos a comentar, diz-nos que
“cada ano, cada dia que a gente passa, parece que reinicia tudo...” Vejo até que é
isto o que Paulo nos aconselha em Filipenses 3:12-14 quando disse: “Não que já a
tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o
que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o
haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que
atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo,
pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Nada como um dia
após o outro. Se o dia que vivemos é de derrota, prossigamos, não olhemos para
trás, se é de vitória, também não devemos ficar parados, perdendo tempo, a noite

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 417


se aproxima. Ouvi uma frase certa vez que dizia o seguinte: “Não há mal que
nunca acabe e nem bem que nunca chegue.” E acredito nesta frase. E ainda que
você não consiga resolver definitivamente o seu problema, ao menos não aceite
ser mais um corpo lançado na arena, lute! Faça a diferença!

Às vezes parece até que falta a criatividade para criar, mas, como dito no texto de
Érima, “existe o criar, existe o recriar, enfim, existem várias formas de
criatividade.” Basta nós nos mexermos. Lembro-me até mesmo da história do
cavalo que caiu num buraco apertado, e caiu de lado, sendo impedido seus
movimentos para se levantar, porém, quando ele se movimentava, a areia do lado
do buraco caía para baixo dele, fazendo com que fosse pouco a pouco se
elevando, até que chegou próximo às pessoas, e estas o tiraram dali. Edmund
Burk, político e escritor britânico (1729-1797) disse que “para o triunfo do mal
basta que os bons fiquem de braços cruzados.”

Se referindo aos entrevistados, Érima disse que, “quando falaram das emoções
vividas no processo criador, todos falaram de uma angústia inicial, de uma
sensação de estar perdido, do medo de não ser capaz, da dificuldade para
começar, seguida por um prazer de estar criando, por uma sensação de poder, de
realização, de capacidade para se superar, culminando com a alegria de ver o
trabalho concluído.” E até vejo que, é neste processo de confusão e satisfação
onde surge o processo criativo. A minha opinião é que o homem pensa mais na
necessidade. Um exemplo claro disto, foram os primeiros socorros, que só foram
criados após a Primeira Guerra Mundial, após a perca demasiada de soldados
feridos por falta dos primeiros momentos no socorro prestado a eles.

O texto de Érima, nesta altura, chega a um ponto culminante, onde ela nos mostra
que “os sentimentos vividos no processo criador podem ser divididos em etapas”,
as quais são apresentadas em seis momentos, como a seguir:

1) A Idéia ou Inspiração – É o “click” inicial. Este “click” é considerado inexplicável,


pois “é o momento de um estalo espontâneo, que vem não se sabe de onde.”
Porém, para nós, que servimos a Deus, nos é explicado de onde vem este “click”:
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como e efetuar, segundo a sua
boa vontade.” (Fp. 2:13). O nosso papel, nesta obra, é deixarmos Deus nos
estimular, e “o estímulo significa basicamente prestar atenção, sem ansiedade,
sem tensão, apenas observar o mundo ao redor.” E creio que devemos observar
porque a vida é feita de momentos, é como precisar de pegar um trem, quando
este chega à estação, devemos correr e pegá-lo, pois se o perdermos, teremos
que esperar o próximo. Desta forma, um dos entrevistados de Érima diz que estas
situações o ajudam a chegar a um “start” no processo criador. O que devemos
fazer, nesta situação, segundo a terapeuta, é “apenas sentar, ver e ser quem você
é.” Devemos encontrar “um momento, onde não haja necessidade de se justificar,
onde seja possível olhar para o que está brotando, deixar surgir a idéia.” E mesmo
quando estivermos com dúvidas, sabermos, ao que percebo, que a dúvida tem
tudo a ver com a fé, pois é por meio de uma mente inquiridora que repousa as
certezas. Para mim ter certeza, normalmente, tenho que duvidar, pois na dúvida

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 418


eu procuro apoio, por perceber que a areia está sendo tirada de baixo dos meus
pés.

2) O Início do Processo – Este momento é apresentado por Érima, como um


estágio de “profunda angústia... sensação de estar perdido onde está o que eu
quero... Apesar de saber aonde quer chegar, vive-se a angústia de não saber
como chegar.” Mas, isto não é ruim, é muito bom, pois esta etapa “estimula a
busca das possibilidades” e “leva à próxima etapa.”

3) A Expressão da Idéia – Nesta etapa, pode ocorrer duas coisas: a) “Acontece, às


vezes, ao expressar a idéia, que o caminho surja claro, definido, e sai tudo num
jorro só.” Talvez até ao ponto de dizermos que estava tudo ali mesmo, debaixo do
nosso nariz. b) Em outras situações, tem início a expressão da idéia, sem saber
muito bem aonde aquilo vai levar, mas com a certeza de reconhecer o destino,
quando chegar lá.” Observo aqui uma semelhança com o caso de Abrão, que não
sabia para onde ia exatamente, mas sabia que reconheceria o local descrito por
Deus, e também sabia o que ia fazer quando chegasse lá. “Esta é uma etapa, em
que os sentimentos foram descritos como sendo os de ansiedade, irritação,
curiosidade, expectativa, tensão. Uma etapa sem angústia, mas com muita
ansiedade.”

4) A Formalização da Idéia – Esta é descrita como uma etapa “vivida com muita
satisfação. É a etapa da sensação de poder... onde se tem a confiança, a fé, de
que vai chegar, de que está no caminho certo.” Menciona-se no texto, uma
entrevistada que disse até mesmo que quando ela estava criativa, ela tinha muita
fé, e que quando ela estava sem criatividade, ficava cética, fria. E vejamos se não
é isto o que ocorre conosco! Quando está-se sem criatividade, parece que
estamos mortos para Deus, pois a fé esvai-se. O apóstolo Paulo disse que isto
ocorre “Porque nele (Jesus) se descobre a justiça de Deus de fé em fé; como está
escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Rm. 1:17). Ao que percebe-se, por este
versículo, é que o ato criativo da descoberta tem tudo a ver com a fé.

5) A Concretização da Idéia – Eis aqui, segundo Érima, a etapa mais racional. “É


quando se analisa a obra, faz ajustes, retoques.” É como se fosse tivéssemos
passado pelo processo da hipótese, tese, antítese e, por fim, chegamos na
síntese. “É vivida com frustração, principalmente quando não conseguimos deixar
da maneira como imaginamos. É a fase da adequação, da idéia, as possibilidades
reais de concretizá-la.” Conheço até casos de pessoas que desistem aqui, nesta
etapa, na parte final, por achar que não saiu como o esperado, que pra mim, foi o
caso do “mancebo de qualidade” que conversou com Jesus em Mateus 19:16-22.
“Em algumas obras, esta é a fase final. Ela traz a sensação de dever cumprido...”
O interessante é que, ao falar desta etapa, Érima também diz que esta “traz alívio
e às vezes um cansaço enorme, uma vontade, passageira, de nunca mais passar
por isto.”

6) A Conclusão do Processo – Em algumas obras, chega-se até esta etapa. “É


quando a obra está pronta, concluída, e algumas vezes, melhor do que foi

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 419


imaginada.” Parece-me que é um processo bem superior ao passado, pois aqui,
apesar de não sair exatamente como imaginava-se, tem-se logo de cara a
sensação de que está melhor do que o imaginado. “É a etapa da sensação de
sucesso.” Nesta etapa, o “outro” tem muita importância, segundo Érima. Pois o
“outro” torna-se, ao que parece, o avaliador da conclusão. “Não importa muito, do
ponto de vista do processo em geral se é uma boa ou má crítica.” O importante é
ter um espectador. Porém, o aviso no texto da Terapeuta Érima, é que o “outro”
pode valorizar nossas conquistas, enquanto um “outro” pode nos magoar, não
entendendo aquilo que para nós, era uma idéia maravilhosa. “E se ele não
compreende, aquilo põe você em dúvida quanto à genialidade da idéia... (...) ... A
mágoa surge da má receptividade ao que você considera uma idéia importante.
Surge de uma crítica a alguma coisa que você se envolveu por inteiro para fazer,
aquela obra em que se jogou de corpo e alma. É uma crítica descrita como difícil
de aceitar.” Mas é necessário para nós! Pois acho que quando somos
depreciados, é para nos mostrar que a perfeição está com Deus, e não conosco.
Deus é, tem, cria, ensina, etc. a verdade absoluta, a nossa verdade, a nossa
descoberta, é relativa.

“Algumas pessoas vivem também”, como disse Érima, “um outro momento de
angústia e medo.” Este outro momento é o dos intervalos entre os momentos
criativos. A pessoa às vezes acha que não vai fazer mais nada. “É a fase entre
uma e outra obra, onde nada brota, nada surge. É um momento de estiagem da
criatividade. Onde as coisas são feitas, porque sabe-se fazê-las, mas não existe a
motivação...” Creio que aqui incorremos no perigo de tornarmos a nossa vida em
uma monotonia, onde fazemos por hábito, e não por gosto. Surge daqui, na minha
opinião, também o perigo de sobrevivermos a esta situação, e não de vivermos,
de termos vida, e vida com abundância.

Nesta situação, a pessoa fica angustiada! “Angústia por não se sentir eletrizado
por aquilo que está fazendo. Até surgir uma nova inspiração e tudo recomeçar.” O
conselho bíblico que eu daria a uma pessoa nesta situação, está em Salmos 30:5:
“...o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Nada como um
dia após o outro.
Érima conclui dizendo que “criar foi considerado um excelente estímulo para
manter a saúde mental.” Vejo que tem gente em nosso meio mau humorado por
não estar bem consigo mesmo. “Criar é uma vivência cheia de altos e baixos, mas
muito gostosa.” Pois é melhor passar por altos e baixos com atitudes criativas do
que passar com uma passividade destrutiva. Criar é “uma maneira maravilhosa de
transformar a própria vida numa obra de arte.” Isto, evangelicamente falando,
pode ser denominado de Terapia da Fé, pois a fé, segundo a Palavra de Deus,
não é morta, não está estagnada, mas sim, é viva, põe em movimento a
maquinaria que parece emperrar em meio às dificuldades.

Parte 81.
Preciso de solução para meus problemas!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 420


Conta-se que certo homem estava muito individado e com muitos outros
problemas decorrentes de suas dívidas e já não sabia mais o que fazer, estava
muito desesperado e resolveu livrar-se de todos os seus problemas, então
contratou um profissional especializado em solução de problemas, pagando ao
mesmo um salário de R$ 10.000,00 (dez mil reais), Ao contar sua situação a um
amigo, o mesmo lhe perguntou: - Você está louco, você tem como paga-lo? Não!
Respondeu o amigo, então como vai resolver mais esse problema? Esse
problema não é mais meu, mas da pessoa que contratei para solucionar meus
problemas. Com certeza essa seria uma solução ideal, se tão profissional
existisse.

Mas, o que fazer diante dos problemas que parecem não ter solução? Observe
que usei a palavra: Parece, é porque apenas parece que não tem solução, mais
todo problema tem solução sim. Quando os problemas surgem lembre-se em
primeiro lugar que eles fazem parte da vida, não há ninguém no mundo que viva
sem problema, nem você.

Às vezes achamos que nossos problemas são os maiores do mundo, o que


também não é verdadeiro, sempre existirá alguém com problema maior que o
nosso.
Há um provérbio popular que diz: “Estava triste por que caminhava e não tinha
sapatos, até que vi alguém que não tinha os pés”. A primeira solução para o
problema é saber que posso resolvê-lo, senão sozinho mas com ajuda.

A persistência do problema às vezes está na forma de como busco a solução.


Aprendi estudando física, que a solução para um problema está na linha de
raciocínio para resolvê-lo, se de um jeito não dá certo, devo tentar de outro, e de
outro, até achar a solução.

Não se entregue aos problemas. Entregue-se a Deus. O homem precisa aprender


a buscar Deus em Primeiro lugar (Mateus 6.33), Aí está a chave de solução para
todo o problema do ser humano, “Buscar em primeiro lugar o reino de Deus”.
Buscando ao Senhor você aprenderá a dizer como o apostolo Paulo: “Posso todas
as coisas naquele que me” fortalece. Você já imaginou que problema tinha o povo
de Israel? Atrás o exercito e a frente o mar? Quem imaginaria na solução que veio
de Deus? Pois é, o mar se abriu quando o povo Buscou a Deus em primeiro lugar.
Já Para Estevão, o mar não se abriu, mas foram abertos os seus olhos e Ele
quando era apedrejado teve uma maravilhosa visão dos céus e viu Jesus em pé à
direita do Pai, O Senhor o anestesiou e Venceu aquela luta.

Precisa de solução para seu problema? Busque ao Senhor, de a Ele o primeiro


lugar de sua vida, viva para o Senhor, com certeza todos os seus problemas serão
resolvidos, está é a promessa de Jesus, Ele trará alivio para vossas almas. Não se
desespere, não reclame, não desista. Adore ao Senhor, e receba a unção do
profeta Habacuque “Ainda que a figueira não floresça..., (mesmo assim louvarei o
Deus da minha Salvação)” lembre-se o problema tem o tamanho que você dá a

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Ele. Há um pensamento que Diz: Nunca diga para Deus Que tem um grande
problema, mas diga ao problema que você tem um grande Deus.

Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.000 Cursos Grátis Pelo Sistema
de Ensino a Distancia – SED
CNPJ º 21.221.528/0001-60
Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº, Fundada
em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira

APOSTILA Nº. 422/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 06 PAGINAS.

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