Chegamos ao nosso último tema. Já estudamos vários assuntos relacionados à natureza e aos atributos de Deus. Vimos também, que esses atributos se relacionam diretamente com a nossa vida, e em momento oportuno, vimos que eles se relacionam com a história da igreja evangélica inclusive no Brasil. A essa altura do estudo é relevante aprender que Deus não muda. Seus atributos são e permanecerão para sempre. Sendo assim, temos a certeza de que aquilo que aprendemos sobre Deus é o que ele foi ontem, é hoje, e será eternamente. Isso acontece porque um dos atributos de Deus é a imutabilidade. I. DEUS É IMUTÁVEL EM SEU SER Uma coisa ou uma pessoa pode mudar por duas razões. Primeiramente, ela pode mudar por receber algum complemento; algo que lhe faltava. Nesse caso, essa coisa ou pessoa muda para melhor. Em segundo lugar, a mudança também é possível quando ela sofre alguma perda daquilo que possuía. Nesse caso, essa coisa ou pessoa muda para pior. Deus é perfeitamente completo. Não há nada que lhe possa ser acrescentado, por que nada lhe falta. Sendo assim, Deus não pode mudar para melhor, pois ele já é absolutamente perfeito. Nada também pode ser tirado dele, sem que ele deixe de ser Deus. Assim, Deus também não pode mudar para pior, pois se fosse sujeito à degradação, deixaria de ser perfeito, como a Escritura diz que ele é. A imutabilidade de Deus pode ser definida como a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em seu Ser, mas também em suas perfeições, em seus propósitos e em suas promessas. Tudo o que conhecemos tem a tendência de se deteriorar. Não há nada que, por si mesmo, permaneça para sempre. No entanto, o Criador não é igual à sua criação. Tudo passa, mas Deus permanece eternamente. Deus é imutável em seu ser. Tg l. 17 SI 102.26,27 Deus também é imutável em seu conselho. Quando um ser humano muda de opinião, o motivo da mudança é uma das seguintes possibilidades: 1) ele não planejou bem de modo a prever e evitar todos os riscos, e então precisou mudar para evitar que seu projeto falhasse, 2) o planejamento foi perfeito, mas ele não teve poder para realizar o que planejou, por falta de recursos, habilidade ou meios. Deus não está sujeito a essas possibilidades porque ele conhece todas as coisas; conhece o fim desde o começo. Por isso, jamais se pode atribuir falhas a seu planejamento. Deus também não pode sofrer de falta de poder, recursos ou meios. Ele reina sobre todo o universo e é a fonte inesgotável de todo poder. SI 33.11 Assim como a onisciência de Deus, sua imutabilidade possui uma dupla aplicação. Ela traz consolo para o crente e advertência para o ímpio. Nós, crentes, sabemos que podemos confiar seguramente em Deus, que nunca muda nem se abala. Ele é a rocha na qual podemos nos firmar. Os montes se retirarão e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o Senhor, que se compadece de ti Is 54.10 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão Lc 21.33 Toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece para sempre lPe 1.24, 25 A imutabilidade de Deus assegura tanto o cumprimento de sua terrível justiça sobre os ímpios, quanto à concretização de suas promessas bondosas sobre os seus filhos. II. DEUS É FIEL Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos Dt 7.9 A imutabilidade de Deus é a base de sua fidelidade. Por ser imutável, Deus nunca se esquece nem deixa de cumprir sua palavra. Ele sempre se mantém fiel a cada compromisso firmado por meio de promessa ou profecia. Nm 23.19 O cumprimento das profecias de Deus na história é uma amostra de que tem a história em suas mãos e cumpre aquilo que prometeu por intermédio dos profetas. Observando o cumprimento das profecias de Deus no decorrer da história o crente fortalece e renova sua confiança no fato de que Deus, no devido tempo, cumprirá cada uma de suas promessas. A fidelidade de Deus é testemunhada ainda pela chegada de cada ano novo e por suas estações. Há milhares de anos ele disse: enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno Gn 8.22 Ela é anunciada a cada manhã, pois... as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade Lm 3.22, 23 Nós precisamos fazer mais que compreender esta verdade. É preciso dar um passo adiante e aprender a agir com base nela. Precisamos aprender a considerar a fidelidade de Deus em nossa vida diária e em nosso relacionamento pactual com ele. A fidelidade de Deus deve nos dar segurança e nos fazer descansar em suas promessas. Há ocasiões em que crer na fidelidade de Deus não é fácil, mesmo para os cristãos mais piedosos. Há momentos em que nossa fé é provada dolorosamente e nossos olhos derramam rios de lágrimas que nos impedem de enxergar a presença e a fidelidade do Senhor além delas. Falo dos momentos em que sonhos acalentados por anos a fio são desfeitos, nossos projetos são frustrados, amigos nos deixam em falta, ou temos de sepultar entes queridos. Nesses momentos, tudo o que podemos fazer é confiar em Deus e esperar que ele nos dê mais luz para que possamos encontrá-lo no meio de tantas angústias. Isso é o que ele mesmo nos ensina a fazer: Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus Is 50.10 No meio das enxurradas da vida, o Senhor é a rocha inabalável sobre a qual podemos nos apoiar até que tudo passe. A fidelidade de Deus é algo a que devemos nos apegar também quando passamos por aflições. A alma que leva em conta a fidelidade de Deus deve silenciar suas preocupações, fechar os lábios para a murmuração, e descansar no Senhor. Quando entregamos todos os nossos assuntos nas mãos de Deus, conseguimos enxergar sua providência amorosa em tudo o que nos acontece. III. APARENTES MUDANÇAS EM DEUS Embora Deus seja imutável em seu ser, natureza, atributos, decretos e promessas, ele não é estático. Deus age. A Escritura menciona incontáveis ações de Deus. Não há problemas quanto a isso. No entanto, há textos na Escritura que parecem mostrar uma mudança de atitude em Deus. Um dos casos mais conhecidos é o do rei Ezequias (Is 38.1 -8). Ele enfrentou uma enfermidade, orou, e foi agraciado por Deus com a dádiva de mais 15 anos de vida. Deus não alterou seus planos com relação à vida do rei. A sobrevida de Ezequias estava no plano de Deus, que inclui não somente os fins, mas também os meios; o arrependimento dos seus filhos, a mudança de atitude deles, suas orações e etc. O Senhor não altera seus decretos por causa do homem, mas determina realizar algumas coisas na vida dele usando as orações, pedidos, e atitudes dos mesmos. Quando alguém muda de atitude em relação a Deus, Deus muda em relação a ele. No entanto, ambas as mudanças já estavam determinadas pelo eterno decreto do Senhor. Não podemos nos esquecer que ele é onisciente o que significa que ele sabe tudo e não pode ser pego de surpresa. Mas existem vários textos da Escritura que afirmam Deus se arrependeu. (Gn 6.5, 6; Êx 32.10-14; Jr 18.8, 10; 26.13; Jn 3.9, 10, 42; Am 7.1-3). Alguns desses textos se referem a uma mudança de atitude como a que foi mencionada acima, enquanto outros parecem indicar uma mudança mais profunda no ser de Deus, como em Gênesis 6.5, 6 Aqui o texto parece ensinar que Deus passou a considerar como má ideia, o fato de ter criado o homem. Como entender textos como esses, se a Bíblia afirma que Deus não planeja mal e não erra? A glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa 1 Sm 15.29 O Senhor jurou e não se arrependerá SI 110.4 Isso se deve ao uso de um recurso de linguagem chamado de antropopatismo. É a atribuição de sentimentos humanos a Deus. No entanto, podemos dizer, com toda certeza, que esse “arrependimento” de Deus não se deve a mudanças em seu caráter, ou mudanças nas circunstâncias desconhecidas por ele. O “arrependimento” divino é diferente do arrependimento humano (Nm 23.19), Devemos levar em conta o fator de acomodação da revelação. A Bíblia é a revelação do Deus eterno e ilimitado, ao homem temporal e limitado. Por isso, devemos considerar que a linguagem humana é insuficiente para abarcar a grandeza de Deus. Assim, aqueles que escreveram os livros da Bíblia tiveram uma tarefa difícil; eles precisavam falar dos sentimentos próprios de Deus de uma forma que os homens pudessem entender. Para isso, eles fizeram uso de uma linguagem humana, que expressa sentimentos humanos. Nesses casos, portanto, os escritores bíblicos usaram uma palavra que expressa sentimentos próprios dos seres humanos, para expressar um sentimento que é próprio de Deus. CONCLUSÃO A imutabilidade de Deus é a base de sua fidelidade e, consequentemente, de nossa confiança nele. Podemos confiarem Deus e buscar refúgio nele porque sabemos que ele não muda. Ele é e será para sempre o mesmo Deus. Por causa desse de Deus, a imutabilidade, o crente pode dizer adorar dizendo: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu em quem confio SI 91.2 APLICAÇÃO Quando você ou algum membro de sua família é atingido pela enfermidade ou pela morte, a quem você recorre? Quando o amanhã traz insegurança, em quem você procura solidez? Na inconstância dos seres humanos ou na rocha eterna? Descanse no Deus imutável que cumpre as suas promessas.