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0A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO

Mateus 18.21-35
Introdução
Muitas comunidades cristãs vivem com dificuldade porque, em vez de levar adiante a proclamação do
Reino de Deus, gastam seu precioso tempo resolvendo problemas que as acompanham há anos.
Geralmente, é uma irmã que se zanga com outra porque uma não aceitou que o lanche da cantina
fosse bolo e não rocambole.
Ou é o um irmão que queria colocar janela de madeira na Igreja, em vez da janela alumínio.
Situações banais que levam vinte ou trinta anos para ser resolvidas.
Enquanto isso, a missão da Igreja fica de lado.
Tudo seria mais fácil se o perdão fosse devidamente utilizado por todos nós.
O problema é que o perdão é um dos princípios básicos do Reino de Deus.
Se não fosse pelo perdão concedido a nós, na morte de Cristo na cruz, não teríamos a oportunidade de
ser reconciliados com Deus e receber a dádiva da vida eterna.
É desse princípio que Jesus trata na parábola do credor incompassivo.
1 - ENTENDENDO A PARÁBOLA
Jesus trata aqui com seus discípulos acerca de como lidar como aqueles que pecam.
Ele deu os parâmetros para que a disciplina fosse aplicada dentro do contexto da Igreja (v.17).
Nesse contexto, Pedro faz uma pergunta: "Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim,
que eu lhe perdoe? Até sete vezes?".
Aparentemente, o desejo de Pedro era conquistar um elogio da parte de Jesus.
Afinal, o discípulo foi além do que os rabinos ensinavam.
Segundo as tradições, uma pessoa tinha que perdoar seu próximo até três vezes.
Pedro vai além e pergunta se o perdão deveria ser até sete vezes.
Jesus conhecia o coração de Pedro.
Aquela pergunta do discípulo "soava como se o espírito de perdão fosse uma mercadoria que se podia
pesar, medir e contar; como se a mesma pudesse ser parcelada pouco a pouco até um limite bem
definido, quando, então, a distribuição tinha de parar".
Jesus usa a linguagem matemática de Pedro para apresentar essa verdade.
O Senhor afirmou: "Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18.22).
"Ele faz isto para mostrar que o espírito genuíno do perdão não conhece fronteiras.
[Perdão] É um estado do coração, e não uma matéria de cálculo.
Perguntar isso seria tão mesquinho quanto perguntar até que ponto devo amar minha esposa, ou
esposo, ou filhos.
Uma parábola que ilustra o perdão
Então, Jesus conta a parábola do Credor Incompassivo para ilustrar como o perdão deveria ser vivido
no Reino de Deus, a fim de ensinar aos seus discípulos o valor do perdão.
Jesus comparou o Reino dos Céus a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
Durante o acerto de contas, foi trazido à sua presença um servo que lhe devia a impressionante cifra
de dez mil talentos.
O talento era o maior valor monetário da época.
Um talento era o equivalente a seis mil denários.
Um denário era o que um trabalhador braçal ganhava por dia trabalhado (Mt 20.2).
Em denários, a dívida do servo era de sessenta milhões.
Para termos uma ideia de como era absurda essa dívida, basta dizer que Herodes, o Grande, recebia
anualmente novecentos talentos de impostos de todo o reino.
Para um trabalhador comum juntar seis mil denários, teria que trabalhar dezesseis anos, sem gastar
absolutamente nada do que ganhou.
Imagine então, juntar os sessenta milhões de denários.
Era uma dívida impagável.
Por isso, "ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a
dívida fosse paga" (v.25).
Diante daquela ordenança terrível, o servo clamou por clemência, prometendo pagar toda a sua dívida
(v.26).
O rei sabia que aquela dívida não poderia ser paga jamais.
Então, movido por compaixão, ele perdoou toda a dívida daquele servo (v.27).
O rei assumiu o prejuízo.
Nesse momento da parábola, Jesus acrescenta um elemento contraditório, marcado pelo advérbio
porém: "saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e,
agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves" (Mt 18.28).
A atitude do servo perdoado para com o seu conservo, não refletiu em nenhum momento a atitude do
rei para com ele.
Antes, o agarrou e o sufocava com raiva e intransigência.
Isso porque seu conservo lhe devia apenas cem denários, nada comparável aos sessenta milhões que
devia ao rei.
O servo perdoado não deu ouvidos ao pedido de clemência de seu conservo.
Aliás, o mesmo pedido que ele próprio havia feito ao rei (v.29 cf. v.26).
Mas, o lançou no cárcere sob a condição de ser libertado somente após o pagamento da dívida (v.30).
Tal acontecimento chega ao conhecimento do rei (v.31).
Ele manda chamar o servo que fora perdoado.
Tratando-o com a maior rigidez possível, o rei afirma:
"Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente,
compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?" (v. 32,33).
Então, a clemência anterior é revogada e a sentença primeira é executada, com um agravante.
O texto informa que o servo foi entregue aos verdugos (v.34).
Este termo aparece somente neste texto.
Os verdugos eram oficiais responsáveis por torturar os criminosos que cometeram atrocidades.
Não era algo comum entregar inadimplentes aos verdugos, e sim, assassinos.
Isso mostra o rigor com o qual aquele homem foi tratado, por ter feito o que fez com seu conservo, não
lhe perdoando a dívida.
Diante desta parábola algumas implicações tornam-se importantes para nossa reflexão.
2 - TODO CRISTÃO É UM DEVEDOR A DEUS
Quando falamos sobre o relacionamento do homem e Deus, nenhuma afirmação é mais abrangente
que a do apóstolo Paulo, que ele diz: "todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.23).
Desde a queda, com a exceção de Jesus, nenhum homem ou mulher nascido nesse mundo deixou de
trazer sobre os seus ombros o peso dessa dívida com Deus.
O pecado é uma realidade.
O pecado afasta o homem de Deus e de sua glória (Is 59.2).
O pior dessa dívida é que ela é impagável.
Ela não pode ser contabilizada em cifrões, mas é caríssima (SI 49.7,8).
Nada que o homem fizer poderá justificá-lo diante de Deus (Rm 3.20).
Como credor Deus decidiu não executar a nossa dívida, mas perdoá- la em Jesus Cristo (Rm 5.6-8).
Paulo descreve esse ato, quando escreve aos colossenses:
"... a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne,
vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de
dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o
inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os
expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz"
(Cl 2.13-15).
A ideia de Paulo é que havia uma nota promissória em nosso nome.
Mas, Deus preferiu não executá-la, oferecendo ele próprio o pagamento na pessoa de seu Filho
Amado.
Assim, "justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo"
(Rm 5.1).
Da mesma maneira que o rei perdoou o servo endividado, Deus também nos perdoa uma dívida
impagável.
Ainda que não haja um paralelo na parábola quanto à morte expiatória de Cristo, há o elemento
implícito do assumir as consequências do perdão.
O rei da parábola deixou de receber uma fortuna.
Deus entregou seu Unigênito. Isso é graça.
Mais que um favor imerecido, graça é a ação de Deus em ir ao encontro do homem morto em seus
delitos e pecados, tirando-o dessa terrível situação (Ef 2.1-4).
3 - QUEM FOI PERDOADO DEVE PERDOAR
Houve um dia, na vida de todo verdadeiro cristão, em que foi inicialmente experimentado o perdão.
Significou a possibilidade de reconciliar-se com Deus.
Sem o perdão de Deus todos nós ainda estaríamos mortos em nossos delitos e pecados, vivendo sem
Deus no mundo (Ef 2.1,12).
Logo, todo cristão sabe o que é ser perdoado e compreende perfeitamente o valor do perdão.
Portanto, o que se espera de cada cristão é que ele perdoe aquele que o ofendeu.
A máxima da parábola "é que todo aquele que recebeu perdão deve estar pronto a perdoar quem quer
que esteja em débito com ele, e deve fazê-lo de todo o coração".
Menhum exemplo é maior que o do próprio Jesus.
Já crucificado e pouco antes de seu último suspiro, rogou ao Pai que perdoasse seus algozes, pois não
sabiam o que estavam fazendo (Lc 23.34).
Na oração dominical, Jesus ensinou que o cristão deve buscar o perdão de Deus, entendendo que
deverá da mesma forma perdoar seu ofensor (Mt 6.12).
O perdão é algo que se recebe e que se dá.
É a ação graciosa de Deus ao longo da nossa vida, a fim de nos tornar mais parecidos com o Senhor
Jesus. Portanto, ainda que sejamos ofendidos, devemos estar prontos a perdoar, mesmo que aquele que
nos ofendeu não reconheça seu erro.
Somos orientados a procurar aquele que pecou contra nós, a fim de argui-lo para a reconciliação (Mt
18.15). Infelizmente, poucos procuram seus ofensores para a reconciliação.
Alguns quando o fazem, é para provar que o seu ofensor está errado e lhe deve desculpas.
Quase sempre não há reconciliação.
Cristãos devem exercer o perdão, como prática comum em suas vidas e como uma demonstração da
sua redenção em Cristo Jesus.
A salvação não é por obras, mas aquilo que fazemos é importante para o testemunho do que Cristo fez
por nós.
CONCLUSÃO
E lamentável haver crentes que se comportam como verdadeiros inimigos.
Onde o comportamento de todos nutre uma cultura de inimizade e falta de perdão, coisas pequenas se
tornam gigantescas.
E a possibilidade de se viver o evangelho de Cristo é quase impensável.
O diagnóstico é terrível.
Muitas comunidades cristãs estão doentes e o remédio é o perdão.
O problema é que muitos não estão abertos para que o médico dos médicos administre tal remédio, a
fim de que a cura das inimizades alcance e transforme a sua igreja.
Enquanto vivermos uma cultura de falta de perdão, a pregação do evangelho do Reino estará
comprometida.
Que o Senhor do perdão encha sua igreja com sua graça, para que a cultura de falta de perdão dê
espaço para um tempo em que o perdão seja ministrado naturalmente entre os seus filhos.
Aplicação
• Alguém na igreja que têm algo contra você?
• Como você poderá mudar isso?
• Suas atitudes em relação ao perdão têm contribuído para estabelecer uma cultura de falta de
perdão ou uma cultura de graça?
• Você pode fazer a Oração do Senhor, declarando com sinceridade: "perdoa as minhas dívidas,
assim como eu tenho perdoado aos meus devedores?"
Percebemos em nós mesmos uma atitude bem diferente daquela observada nos crentes da igreja
apostólica.
Parece que perdemos nossa visão evangelizadora.
O objetivo de resgatar os perdidos deu lugar à manutenção daqueles que já foram salvos.
Podemos nos contentar em fazer da igreja um clube social.
A preocupação pode estar direcionada a fornecer aos membros um serviço de qualidade.
Eles têm de estar confortáveis na igreja.
Seus filhos têm de ter um ambiente agradável.
Cada vez mais, nos especializamos em atender os "sãos" e somos incapaz de cuidar dos "doentes", ao
contrário do que fez e ensinou Jesus.

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