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Resumo
O distanciamento entre os paradigmas ou as representações sociais con-
vencionadas para as mulheres e os seus verdadeiros comportamentos e
atributos está na origem de ideias, de [pre]conceitos e de imagens des-
favoráveis sobre a feminilidade e coloca em causa os papéis de género. É
esse o território propício para o antifeminismo.Ultrapassando o sentido
restrito que o associa à oposição ao feminismo e às intenções de emanci-
pação e de reivindicação de direitos, o antifeminismo engloba as inter-
pretações, os estereótipos e as tradições enraizadas sobre a natureza
imperfeita e a inferioridade femininas. O artigo centra-se no registo
humorístico explorando os significados diretos e implícitos que o riso
sobre o feminino e as mulheres proporcionam enquanto objetos risíveis.
FACES DE EVA, N.º 32, Edições Colibri / Universidade Nova de Lisboa (2014): 93-111
94 Faces de Eva – Estudos
Abstract
The distance between the paradigms or representations socially defined for the
women and their behaviors, as well as their attitudes and attributes is the
source of ideas, prejudices and unfavorable images about the femininity, in the
same way that endangers the gender roles. That is the propitious territory for
antifeminism. Overcoming the narrow sense of the term that identifies it as the
opposition to feminism and the intentions of emancipation and vindication of
women rights, antifeminism also includes interpretations, stereotypes and
rooted traditions about the female imperfect nature and inferiority. In this arti-
cle, emphasis is placed on the satirical writing and cartoons, exploring the di-
rect and implicit meanings that laughter about femininity and the women pro-
vide as risible objects.
Conclusão
O antifeminismo, enquanto conceito e prática social adversa às
mulheres, nas suas diferentes vertentes, insere-se num jogo de identida-
des e de manifestações em torno das imagens e da realidade do universo
feminino, num determinado momento. Por este facto, não pode ser redu-
zido ao seu significado restrito, enquanto opositor do feminismo e das
ideias feministas que proliferam na transição do século XIX para o século
XX, mas, pelo contrário, englobar os discursos e as imagens negativas, de
censura e reparo, sobre o género feminino e sobre a sua forma de ser e
agir, as quais se fundam na tradição cultural e nas regras assentes pelos
grupos dominantes. Mais do que antifeminismo devem, assim, conside-
rar-se as reações e as linhas de pensamento antifemininas, as quais, para
além de ridicularizarem e subjugarem as mulheres, podem querer escon-
der ou impedir que se autonomizem os valores femininos, garantindo,
desta forma, a manutenção da ordem social, dos papéis de género con-
vencionados e o ancestral domínio masculino.
A sociedade em mudança neste fim de século questiona-se sobre os
seus atos e os seus intervenientes com o intuito de atingir a perfeição e
expulsar os agentes que motivam os seus males. Nesta ambivalência,
entre as representações sociais e a realidade, há um hiato que dá corpo a
manifestações de oposição a grupos e a instituições dando maior expres-
são ao antifeminismo.
A imprensa com o seu caráter informativo e formador de opiniões
tem responsabilidades crescentes neste processo contribuindo para cons-
truir o género e estabelecer as representações e diferenças entre o mascu-
lino e o feminino à luz dos valores dominantes. No fundo, a imprensa
atua como um mecanismo que desperta, combate e educa a sociedade
realizando, em simultâneo, a sua autoanálise, uma vez que o emissor, a
mensagem e o recetor integram o mesmo grupo, ainda que nem sempre
no mesmo quadrante. A denúncia, os reparos e as críticas antifeministas
visam atingir os setores que não cumprem os ditames e repor a ordem,
podendo fazê-lo num discurso moralizador construtivo ou que, pelo con-
trário, ridiculariza as mulheres.
Gabriela Mota Marques – A “maior humorista de todos os tempos” 107
Referências bibliográficas
Abreu, L. (2004). Os estereótipos na prática discursiva do anticlericalismo. In
A. Baker, (Coord.), O Poder e a persistência dos estereótipos (pp. 71-79).
Aveiro, Portugal: Universidade de Aveiro.
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