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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

Fernanda Benedita da Silva Gomes, Luiz Henrique Fonseca da Silva, Maria Conceição
Aparecida Pereira de Almeida e Natalie Andrade Albuquerque Dantas e Araujo.

Manhã Jusliterária

Antígona – Sófocles

CUIABÁ - MT
2022
Fernanda Benedita da Silva Gomes, Luiz Henrique Fonseca da Silva, Maria Conceição
Aparecida Pereira de Almeida e Natalie Andrade Albuquerque Dantas e Araujo.

Manhã Jusliterária

Antígona – Sófocles

Atividade avaliativa apresentada á disciplina Filosofia do


Direito, ministrada pelo professor Felipe Rodolfo de
Carvalho, com o intuito de destrinchar sobre a obra
Antígona de Sófocles, baseado no questionamento dos
benefícios da literatura para a compreensão do Direito.

Cuiabá – MT
2022
A obra “Antígona” de Sófocles, retrata a história de uma jovem chamada Antígona que
confronta o decreto do rei Creonte, seu tio, no qual promulgou uma lei que proibia o
sepultamento de Polinice, irmão da protagonista, após ele trair a cidade de Tebas, determinando
pena de morte a quem desobedecesse às suas ordens. Entretanto, à Etéocles, seu outro irmão
que veio a falecer em confronto direto com Polinice, o rei determinou que fossem dadas tais
honrarias fúnebres. Diante disso, Antígona motivada pelo sentimento para com seu irmão,
Polinice, e sabendo que, de acordo com suas crenças haveriam consequências espirituais nas
quais a alma do seu irmão vagaria eternamente sem destino, a jovem desobedeceu ao decreto
imposto e sofreu severas penalidades. Após condenar Antígona à morte pela sua desobediência,
Creonte sofreu a perda de seu filho Hémon, noivo de Antígona, que tirou sua própria vida e de
sua esposa Eurídice, que também se suicidou após saber da morte do filho. Envolto sob a ótica
dessa literatura ocidental, evidencia-se a dicotomia entre a adoção das normas impostas, em
contradição com os costumes religiosos, dado que essa divisão está presente em diversas
correntes e traz importantes apontamentos para compreensão do direito.

Nesse contexto, a compreensão do direito se dá de diversas formas através da literatura, a


exemplo do senso crítico, visto que no decorrer da leitura da obra o leitor é levado a refletir
sobre o poder de atuação do Estado, de um lado o poder absoluto do Rei Creonte em contraponto
com a tradição religiosa reivindicada por Antígona. Em detrimento disso, a visão positiva da
ação de Creonte se dá pelo fato de o rei não deixar impune nem a sua família frente à traição da
pátria, já a visão negativa trata do poder centrado na mão de apenas um indivíduo, deixando
toda a população à mercê de sua vontade. No que se refere à Antígona, é apreciado sua
insubmissão diante de um decreto que ia contra a tradição consolidada, em contrapartida, o
desrespeito às normas impostas influencia outros à infligirem as leis, o que acarreta em
desobediência coletiva, desta maneira, impedindo a convivência em sociedade. O senso crítico
adquirido na literatura é o ponto inicial para o desenvolvimento de novas visões e correntes do
direito, como o sepultamento do personagem relatado na obra que é um direito inerente à pessoa
humana, o que nos direciona ao ideal jusnaturalista. Ademais, a posição de Creonte como
criador das leis e aplicador de sanções de acordo com a norma posta, justifica a condenação de
Antígona, em coerência com os princípios juspositivistas.

Além disso, a literatura sensibiliza o leitor/jurista aos problemas sociais, políticos e culturais,
fazendo com que alcance novas visões de mundo. A exemplo disso, a sanção que a jovem
presente na obra estudada sofreu pelo simples fato de querer sepultar seu irmão, cumprindo
com sua crença, o que foi considerado ato de “rebeldia”. Por outro lado, Creonte não aceita
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revogar o decreto que proibia o sepultamento de Policine, em virtude de exercer poder absoluto
sobre aquela sociedade e devido a tal pedido ter sido feito por uma mulher. A figura feminina
na época era vista como um objeto, não tinha poder de opinião, era sempre subjugada, devendo
sempre obedecer às ordens declaradas pelos homens. Embora na atualidade muita coisa tenha
mudado, a mulher ainda sofre muita violência e preconceito, especialmente na área de trabalho,
onde quase sempre é julgada incapaz, frágil e menos competente que um homem. Vale destacar
também o fato de o poder estar concentrada unicamente e inteiramente na mão de Creonte, visto
que ao proibir um ritual tradicional, ele interfere diretamente nos costumes de uma nação, o que
torna seu governo arbitrário, deixando visível o quão problemático e perigoso é o poder estar
concentrada na mão de uma só pessoa, nos levando a entender sobre as divisões de funções e
atribuições dos poderes que temos no Brasil. Em última análise, é válido destacar de como o
direito deve estar em constante diálogo com suas fontes como os costumes, doutrina, analogia,
isonomia e outros, não se utilizando apenas da lei seca.

Em síntese, o presente trabalho busca alcançar as possíveis conexões entre dois importantes
campos cognitivos, o direito e a literatura, que devem ser seguidos por linhas contínuas envolto
de uma camada que une esses dois eixos para beneficiar o recém estudante de Direito que já
conhece a literatura ao longo do seu ensino médio e, mais uma vez, pode apreciar dessa ciência
em seus estudos acadêmicos. Na obra de Sófocles, a trama é destacada pela inquietude de
Antígona, que infringiu uma ordem do rei para sepultar o seu irmão, e os benefícios dessa
literatura grega é justamente o enriquecimento do senso crítico e cultural ao futuro jurista, pois
o direito não se baseia somente em memorizar manuais, código e normas, mas sim em estimular
a compreensão dos valores morais da sociedade, pois, é por meio dela que esses princípios são
aprofundados e positivados, direcionando e consolidando as mudanças da sociedade. Sendo
assim, essa compreensão permite ao jurista novas interpretações das questões globais,
ponderando novas ideias e possibilidades, o que instiga a constante evolução do Direito de
forma íntegra.

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Referência Bibliográfica:
Sófocles, ANTÍGONE, tradução J.B. de Mello e Souza, versão para eBook, 2005.

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