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Temas em Psicologia

ISSN: 1413-389X
comissaoeditorial@sbponline.org.br
Sociedade Brasileira de Psicologia
Brasil

Nogueira de Lira, Aline; Araujo de Morais, Normanda


Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura
Temas em Psicologia, vol. 24, núm. 3, 2016, pp. 1051-1067
Sociedade Brasileira de Psicologia
Ribeirão Preto, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513754280014

Como citar este artigo


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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2016, Vol. 24, nº 3, 1051-1067
DOI: 10.9788/TP2016.3-14Pt

Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais:


Revisão Sistemática de Literatura

Aline Nogueira de Lira1


Normanda Araujo de Morais
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza,
Fortaleza, CE, Brasil

Resumo
Buscou-se caracterizar a produção científica acerca das famílias constituídas por lésbicas, gays e bisse-
xuais, a partir de uma revisão sistemática da literatura nacional e internacional, entre o período de 2009 a
2013. A busca foi feita nas bases Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódicos Eletrônicos
de Psicologia (PePSIC), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Index Psi, PsycINFO e PUBMED, sendo identificados e analisados 145 artigos após a consideração
dos critérios de inclusão e exclusão. Prevaleceram os estudos internacionais, empíricos, transversais,
quantitativos e com ênfase na parentalidade lésbica. A análise de conteúdo dos artigos gerou a elabora-
ção de duas categorias e suas sub-categorias, quais sejam: (a) Parentalidade (expectativas, percepções
e transição para a parentalidade; estratégias de acesso à parentalidade; dinâmica e funcionamentos das
relações pais/mães e filhos; homofobia e; discussões teóricas e metodológicas sobre a parentalidade);
e (b) Conjugalidade (legalização do casamento; dinâmica conjugal; rede de apoio; e homofobia). Esta
revisão ofereceu um panorama atual e abrangente dos estudos, sintetizando-o, lançando um olhar crítico
a esse cenário multifaceado, além de indicar possibilidades para futuras investigações.
Palavras-chave: Família, parentalidade, conjugalidade, homossexualidade, mesmo sexo.

Families Headed by Lesbian, Gays and Bisexuais:


Systematic Literature Review

Abstract
The aim of the present study was to describe the scientific literature on families constituted by lesbian,
gay and bisexual individuals, through a systematic review of national and international studies published
between 2009 and 2013. The following databases were searched: Scientific Electronic Library Online
(SciELO), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Index Psi, PsyINFO and PUBMED. After the application of inclusion
and exclusion criteria, 145 articles were selected for review. Most studies were international, empirical,
cross-sectional and quantitative, with a focus on lesbian parenthood. Content analysis of the articles
revealed two major categories with a series of subcategories each: (a) Parenting (expectations, perceptions
and transition to parenting; routes to parenthood; family dynamics and functioning; homophobia; and
theoretical and methodological issues in the study of parenting in sexual minorities); (b) Marriage
(marriage legalization; marital dynamics; support network; and homophobia). This review provides
an updated and extensive discussion of the research into families headed by sexual minorities. Major
findings are summarized and critically evaluated, and suggestions for future research are described.
Keywords: Family, parenting, marriage, homosexuality, same sex.

1
Endereço para correspondência: Rua Maria Teixeira Joca, 526, Casa 6, Centro, Eusébio, CE, Brasil 61760-000.
Fone: (85) 8726-2118. E-mail: aline.lira09@hotmail.com
1052 Lira, A. N., Morais, N. A.

Familias Compuestas por Lesbianas, Gays y Bisexuales: Revisión


Sistemática de Literatura

Resumen
Se ha buscado caracterizar la producción científica acerca de las familias compuestas por lesbianas,
gays y bisexuales a partir de una revisión sistemática de la literatura nacional e internacional, en el
período 2009-2013. La búsqueda se realizó en las bases Scientific Electronic Library Online (SciELO),
Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), Index Psi, PsycINFO y PUBMED. Se identificaron y se analizaron 145 artículos
tras el examen de los criterios de inclusión y exclusión. Se han prevalecido los estudios internacionales,
empíricos, transversales, cuantitativos y con énfasis en la parentalidad lesbiana. El análisis de conteni-
do de los artículos ha generado dos categorías y sus subcategorías, a ver: (a) Parentalidad (expectati-
vas, percepciones y transición para la parentalidad; estrategias de acceso a la parentalidad; dinámica y
operación de las relaciones padres/madres e hijos; homofobia y; discusiones teóricas y metodológicas
sobre la parentalidad); e (b) Conyugalidad (legalización del matrimonio; la dinámica de la pareja; redes
de apoyo; y homofobia). Esta revisión ofreció un panorama largo y actual de los estudios, de forma a
sintetizarlos con una visión crítica acerca del escenario múltiple, para allá de indicar posibilidades para
futuras investigaciones.
Palabras clave: Familia, parentalidad, conyugalidad, homosexualidad, mismo sexo.

Os estudos sobre as famílias chefiadas por sociais, sistema de saúde, sistema legal, nas
lésbicas, gays e bissexuais (LGB)2 têm florescido escolas (Power et al., 2010). No entanto, um
em número e objetivos nos últimos anos no mun- grande corpo de literatura científica acumu-
do ocidental. As pesquisas sobre esta população lado ao longo de mais de 40 anos, oferece
começaram a ganhar destaque especialmente evidências sobre o bem-estar de crianças em
partir da década de 1970. Nessa época, tinham famílias constituídas por casais do mesmo
como objetivo analisar a saúde mental de mães sexo, registrando que estes filhos não sofrem
lésbicas e o impacto potencialmente negativo prejuízos em seu desenvolvimento psicossocial
quanto ao desenvolvimento psicossexual dos por causa da orientação sexual de seus pais
filhos frente à orientação sexual homossexual (Goldberg & Gartrell, 2014). Os resultados das
(Johnson, 2012). Os estudos da última década, últimas revisões de literatura realizadas sobre
porém, têm avançado nos processos e dinâmicas a parentalidade entre casais do mesmo sexo –
familiares, especialmente das mulheres lésbicas, sobretudo com lésbicas, gays e bissexuais – reve-
registrando não só as dificuldades destas famílias, lam que, aspectos como a pobreza, depressão
mas, sobretudo, considerando os pontos fortes parental, divórcio, abuso de substâncias parental,
destas experiências (Goldberg & Gartrell, 2014). violência doméstica são indicadores de fatores
É consenso na literatura que as famílias de risco para o desenvolvimento sociopsicoló-
constituídas pela população LGB ainda sofrem gico infantil e adulto, mas a orientação sexual dos
discriminação, nos mais variados contextos – pais não está entre eles (Biblarz & Stacey, 2010;
Cecílio, Scorsolini-Comin, & Santos, 2013;
2
A sigla LGB foi utilizada para referir-se, especi- Goldberg & Gartrell, 2014).
ficamente, aos estudos compostos por participan- Sobre a conjugalidade entre casais do mes-
tes lésbicas, gays e bissexuais, e que não incluem mo sexo, pesquisas empíricas demonstram que
a categoria trans (travesti, transexual). A sigla em vários aspectos, este subsistema familiar
LGBT será utilizada para descrever a “comunida-
apresenta questões semelhantes às parcerias
de LGBT” de forma geral ou mesmo para indicar
estudos específicos que incluem todos os subgru- conjugais heterossexuais (Henderson, Lehavot,
pos LGBT. & Simoni, 2009). Os amantes do mesmo sexo
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1053

também formam laços emocionais profundos e o raio de abrangência das revisões de literatu-
comprometidos, além de enfrentarem problemas ra – que, em sua maioria, referem-se à literatura
semelhantes em relação à intimidade, amor, le- norte-americana e europeia – incluindo artigos
aldade e estabilidade da relação amorosa. No da América Latina e do Brasil, ao mesmo tempo
entanto, esses casais continuam a ser estigma- em que se buscou sistematizar um amplo corpo
tizados como resultado de sua condição de mi- de conhecimentos já produzido sobre o tema.
noria sexual (Frost & Meyer, 2009; Lomando,
Wagner, & Gonçalves, 2011). As experiências Método
de homofobia ostensiva, ocultação da orienta-
ção sexual e homofobia internalizada – fatores Trata-se de uma revisão sistemática de li-
estressores das minorias sexuais (Meyer, 2003), teratura, com o objetivo de delinear a produção
acabam por afetar negativamente a vida desses científica sobre as famílias constituídas pela po-
casais, diminuindo os níveis de satisfação conju- pulação LGB.
gal, de intimidade e ainda afetando o bem-estar
Procedimento
e a saúde mental desta população (Henderson et
al., 2009). Para nortear e sistematizar a execução da re-
Mesmo com o crescente corpo de estudos visão da literatura seguiu-se oito etapas (Costa &
científicos sobre o tema “famílias e homossexu- Zolowski, 2014):
alidade” e ainda o florescimento dos debates so- 1. Delimitação da questão norteadora;
ciais e legais em relação a esta temática, vários 2. Escolha das bases de dados;
mitos continuam a rondar o imaginário social 3. Definição dos descritores para a busca;
acerca da vida dessas famílias, o que acaba por 4. Armazenamento dos resultados;
alimentar o preconceito homofóbico, por exem- 5. Seleção dos artigos pelo resumo, de acordo
plo: o receio de que a orientação dos pais/mães com os critérios de inclusão e exclusão;
possa prejudicar o desenvolvimento psicosso- 6. Obtenção dos dados dos artigos selecionados;
cial dos filhos e que estes filhos se identifiquem 7. Avaliação dos artigos; e
como gays/lésbicas, ou ainda, associações entre 8. Síntese e interpretação dos dados.
a homossexualidade e a promiscuidade (Farias,
2010). Frente a esse cenário marcado pelo pre- Coleta de Dados
conceito é que se justifica a importância da Psi- Elegeu-se as seguintes bases de dados para
cologia avançar na produção de literatura sobre realizar a busca: Scientific Electronic Library
as famílias lideradas pela população LGB, dis- Online (SciELO), Periódicos Eletrônicos de Psi-
cutindo e visibilizando as questões intrínsecas a cologia (PePSIC), Literatura Latino-Americana
esses arranjos familiares. e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
O presente estudo buscou, portanto, carac- Index Psi, PsycINFO e PUBMED. Em portu-
terizar a produção científica acerca das famílias guês foram utilizados os seguintes descritores
constituídas por lésbicas, gays e bissexuais, a de busca com operadores booleanos: “(homos-
partir de uma revisão sistemática da literatu- sexual OR lésbica OR gay OR homoparental OR
ra nacional e internacional, entre o período de lgbt) AND (famílias OR parentalidade OR con-
2009 a 2013. Ofereceu-se um panorama geral e jugalidade OR casamento OR maternidade OR
atual das produções científicas, destacando-se os paternidade)”. Já em inglês foram empregados
avanços, as lacunas e sinalizando áreas-chave os termos em inglês a seguir: “(homosexual OR
que as pesquisas futuras devem responder. Além lesbian OR gay OR lgbt OR same-sex) AND (fa-
disso, realizou-se uma caracterização ampla da milies OR parenting OR parenthood OR mother
literatura, contemplando tanto as questões pa- OR father)”. Em francês aplicou-se o descritor,
rentais, como as conjugais, uma vez que as fa- “homoparentalité”. A busca nas bases de dados
mílias também se constituem pelo par conjugal, foi realizada nos meses de junho e julho de 2014.
sem filhos. Ampliou-se ainda geograficamente Dessa forma, estabeleceu-se o período entre
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2009 e 2013 como referência, com o intuito de pesquisa coordenado pela primeira autora desse
mapear as publicações recentes, dada as trans- artigo sobre famílias constituídas por casais do
formações legais, jurídicas, sociais e acadêmicas mesmo sexo. Em seguida, realizou-se o Teste de
em relação ao tema “família e homossexualida- Relevância (Azevedo, 2010). As exclusões fo-
de” nos últimos cinco anos e ao crescente núme- ram esclarecidas pelos juízes e as divergências
ro de publicações. Além disso, estudos de revi- resolvidas em consenso entre eles. Por fim, os
são, especialmente sobre a parentalidade LGB, estudos selecionados foram lidos na íntegra e a
foram publicados em momentos anteriores, ofe- extração dos dados foi armazenada em planilhas
recendo um olhar retrospectivo do panorama da do Excel.
produção científica, o que justifica ainda mais a
importância desse recorte temporal (e.g. Biblarz Análise dos Dados
& Stacey, 2010; Cecílio et al., 2013; Vecho & Para a síntese e interpretação dos resultados,
Schneider, 2005). Este período foi considerado foram realizadas dois tipos de análises: a primei-
satisfatório para apontar as principais tendências ra, de natureza quantitativa, na qual se buscou
e resultados do tema pesquisado. traçar o perfil da produção científica, conside-
Destacam-se os seguintes critérios de inclu- rando questões como: ano de publicação; nacio-
são: artigos indexados; redigidos nos idiomas nalidade das instituições dos primeiros autores;
português, inglês, espanhol e francês; artigos periódicos; idioma; tipo de estudo; método; deli-
teóricos e empíricos; disponíveis em sua versão neamento; instrumentos; perfil dos participantes
completa; publicados entre os anos de 2009 a e principais arranjos familiares. Na segunda aná-
2013; e realizada com seres humanos. Posterior- lise, de natureza qualitativa, organizou-se e fez-
mente foram analisados os resumos (abstracts), -se uma síntese dos conteúdos temáticos (Bardin,
sendo que foram considerados os critérios de 1977/1979) e somente a posteriori mapearam-se
exclusão listados a seguir: artigos duplicados; duas grandes categorias de análise – parentali-
capítulos de livro; notícias; documentos técni- dade e conjugalidade – e suas subcategorias. A
cos; comentários; outras revisões de literatura identificação das (sub) categorias foi feita a par-
(sistemática e narrativa); dissertações e teses; tir das etapas a seguir: (a) a pré-análise – orga-
publicados fora do período entre 2009 a 2013; e nizou-se as temáticas através de leitura flutuante
estudos cujo objetivo tratava do tema da homos- dos artigos revisados, formulando-se hipóteses,
sexualidade, mas não se relacionava às famílias. objetivos e elaborando indicadores de análise;
Optou-se por não incluir as revisões siste- (b) a exploração dos estudos – os dados foram
mática de literatura no corpus de análise, em explorados e codificados a partir de unidades de
coerência com o objetivo deste estudo que é registro; e, (c) o tratamento dos resultados e in-
caracterizar a produção científica acerca das fa- terpretação – foi realizada a categorização das
mílias constituídas pela população LGB, em ter- temáticas a partir de classificações dos dados, de
mos de objetivos, métodos, temas e resultados. acordo com suas semelhanças e por diferencia-
Outras revisões serviram para situar os achados ção. Após a definição das categorias temáticas,
já publicados com os encontrados no presente os dados foram apresentados e discutidos a partir
trabalho (e.g. Biblarz & Stacey, 2010; Cecílio de relações feitas com a literatura específica da
et al., 2013; Goldberg & Gartrell, 2014; Santos, referida área de estudo.
Scorsolini-Comin, & Santos, 2013).
Após uma primeira seleção, realizada pelo Resultados e Discussão
exame dos resumos de acordo com os critérios
de inclusão e exclusão, os artigos foram recupe- Identificou-se mediante a busca inicial nas
rados por completo e, nesse momento, submeti- bases de dados um total de 4.869 estudos (PUB-
dos à avaliação de dois juízes independentes – MED: 4.589; PsycINFO: 159; SciELO: 42;
uma estudante da graduação e uma estudante da PePSIC: 23; LILACS: 40; IndexPsi: 16). Após
pós-graduação, ambas integrantes do grupo de a leitura dos resumos (abstracts) aplicou-se os
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1055

critérios de inclusão e exclusão, chegando aos Acerca das questões metodológicas foram
seguintes dados: artigos duplicados (n = 48); recuperados 122 artigos empíricos e 23 estudos
artigos fora do período entre 2009 a 2013 (n teóricos. Nos estudos empíricos percebeu-se
= 3.698); artigos com não humanos (n = 101); que a maioria é de delineamento transversal (n
abstracts não acessíveis nas bases de dados (n = 110), embora 12 estudos sejam longitudinais.
= 77); literatura cinza (n = 87) estudos que não Quanto às pesquisas nacionais, localizaram-se 7
problematizavam o tema “família e homossexu- artigos teóricos e 8 artigos empíricos (todos com
alidade” (n = 563). delineamento transversal), sinalizando um cres-
Após esta primeira seleção, chegou-se a cimento nas investigações empíricas nos últimos
um número de 295 estudos, e mesmo depois de anos. Predominaram as abordagens quantitativas
utilizar o serviço de comutação bibliográfica e (n = 62), sendo qualitativo (n = 53). Apenas 7
de entrar em contato com alguns autores, só foi artigos utilizaram a abordagem de multiméto-
possível recuperar o texto completo de 289 ar- dos. Sobre os instrumentos de coleta de dados,
tigos, representando significativamente, 97,96% nos estudos empíricos quantitativos, sobressaiu
da amostra. o uso de escalas, questionários padronizados e
Estes artigos foram encaminhados aos juízes inquéritos auto-aplicados de estilo psicométrico.
e submetidos ao teste de relevância (Azevedo, Para o exame dos estudos quantitativos predo-
2010). Dentre os principais motivos de exclusão minaram as análises de qui-quadrado, análises
após a análise dos juízes destacam-se: artigos multivariadas e análises de regressão. Dois es-
que não incluíam nos seus objetivos questões fa- tudos desenvolveram e validaram escalas acer-
miliares, mas apenas tratavam de temas ligados à ca da parentalidade: por exemplo, Scale Beliefs
identidade LGBT (por exemplo, suicídio em jo- about Children’s Adjustment on Same-sex Fa-
vens homossexuais) ou ainda artigos que inves- milies – SBCASSF (Frias-Navarro & Monter-
tigavam as relações conjugais, mas a população de-i-Bort, 2012). Ressalta-se a importância de
era composta somente por casais solteiros sem validar mais escalas com população LGB, uma
filhos; e ainda, pela falta de clareza entre os ob- vez que muitos dos instrumentos de coleta fo-
jetivos do estudos e seu alcance. Por fim, foram ram desenvolvidos para a população heterosse-
incluídos 145 estudos que compuseram o corpo xual. Já nas abordagens qualitativas, utilizou-se,
de análise deste trabalho, sendo: PUBMED (n = predominantemente, entrevistas (estruturadas e
109); PsycINFO (n = 17); SciELO (n =10); PeP- semi-estruturadas). Para a análise dos dados, no
SIC (n = 7); LILACS (n = 1) e IndexPsi (n = 1). geral, realizou-se análise de conteúdo por temas.
As referências completas dos estudos incluídos O tamanho das amostras/participantes dos
nesta revisão sistemática, estão destacadas com estudos variou de 1 a 6.864 pessoas. Pesquisas
asterisco (*). com lésbicas (solteiras, casadas, divorciadas)
predominaram nesta revisão, especialmente,
Perfil Quantitativo das Produções quando enfocavam a parentalidade (n = 33),
Científicas seguido por gays (n = 23). Apesar de não ter
A Tabela 1 apresenta a caracterização quan- sido utilizado o descritor transgênero na busca
titativa dos artigos analisados. A maioria dos nas bases de dados, três estudos incluíram esta
estudos foi redigida no idioma inglês (n=125), população nos dados empíricos, discutindo-os
seguido por 16 artigos em português. Quanto às no contexto da homossexualidade (Chapman et
instituições de origem dos autores dos artigos, a al., 2012; Knoble & Linville, 2012; Zanghellini,
maioria, é proveniente dos Estados Unidos (n = 2010). Sobre as pesquisas com filhos, foram lo-
77), seguida pelo Brasil (n = 15) e Reino Unido calizados 19 estudos, sendo crianças (n = 6), ado-
(n = 11). Quanto ao período das publicações, no lescentes e adultos jovens (n = 11), adultos (n = 1)
ano de 2013 foram publicados 31 artigos. Em e idosos (n = 1). É notável o crescimento de estu-
2012 foram 31 artigos, em 2011 (n = 28), 2010 dos que abordam a vida dos filhos da população
(n = 30) e 2009 (n = 25). LGB, embora ainda seja muito pequeno o núme-
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ro pesquisas, principalmente, com filhos adultos. pais nos níveis de ajustamento psicossocial das
Foram localizados, ainda, estudos com amostras crianças (Biblarz & Stacey, 2010; Santos et al.,
compostas por adultos heterossexuais – consu- 2013). Sobre os principais arranjos familiares in-
midores, cristãos, estudantes universitários, pro- vestigados na literatura nos últimos cinco anos,
fissionais da saúde e da área escolar (n = 17). referem-se notadamente à reprodução assistida
Dois grandes temas podem caracterizar a e adoção. Foram localizados dois estudos com
produção científica das famílias constituídas por enfoque na coparentalidade (Tarnovski, 2011,
pela população LGB: estudos sobre a parentali- 2013). É possível indicar que estes resultados es-
dade (n = 92) e sobre a conjugalidade (n = 53). tão relacionados à crescente mudança nas ques-
O predomínio, sobretudo, de pesquisas sobre a tões legais, jurídicas e tecnológica nos últimos
parentalidade, pode estar relacionado às preocu- anos, tendo um impacto nas definições e arranjos
pações com os efeitos da orientação sexual dos familiares.

Tabela 1
Caracterização Quantitativa dos Estudos Recuperados (n = 145)

Categorias Amostra Amostra


Quantitativas (Geral) (Brasil)

2013 (n = 31) 2013 (n = 2)


2012 (n = 31) 2012 (n = 2)
Ano 2011 (n = 28) 2011 (n = 5)
2010 (n = 30) 2010 (n = 2)
2009 (n = 25) 2009 (n = 4)

EUA (n = 77)
Brasil (n = 15)
Nacionalidade Reino Unido (n = 11) São Paulo (n = 5)
de origem do Austrália (n = 10) Rio de Janeiro (n = 4)
primeiro autor/ Canadá (n = 7) Mato Grosso e Recife (n = 2)
Estados no Portugal (n = 4) Minas Gerais, Paraíba,
Brasil Holanda, Espanha e Israel (cada país, n = 3) Porto Alegre (n = 1)
Suécia, Noruega e Bélgica (n = 2)
Dinamarca, China, Colômbia, França, Hungria e Taiwan (n = 1)

Empírico (n = 122) Empírico (n = 8)


Tipo de estudo
Teórico (n = 23) Teórico (n = 7)

Transversal (n = 110) Transversal (n = 9)


Delineamento
Longitudinal (n = 12) Longitudinal (n = 0)

Quantitativo (n = 62)
Método de Quantitativo (n = 1)
Qualitativo (n = 53)
análise Qualitativo (n = 8)
Multimétodos (n = 7)

Gays (n = 23) Gays (n = 3)


Lésbicas (n = 33) Lésbicas (n = 2)
Filhos (n = 19) Filhos (n = 1)
Amostra/
Gays e Lésbicas (n = 22) Gays e Lésbicas (n = 2)
Participantes
Gays, lésbicas, bissexuais e heterossexuais (n = 11) Profissionais de saúde,
Transgêneros (n = 3) educadores,
Profissionais de saúde, educadores, universitários (n = 17) universitários (n = 1)

Questionários e escalas (n = 44) Questionários e escalas (n = 1)


Instrumento
Entrevistas (n = 51) Entrevistas (n = 8)

Parentalidade (n = 92) Parentalidade (n = 12)


Tema
Conjugalidade (n = 53) Conjugalidade (n = 3)
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1057

Caracterização Qualitativa dos Estudos mostraram-se confiantes em superar as dificul-


A análise qualitativa dos estudos teve como dades – legais, econômicas e sociais – para a rea-
critério a classificação dos artigos que aborda- lização da parentalidade, principalmente quando
vam o conjunto de temas relacionados às vivên- se trata da adoção, mais do que através da pa-
cias familiares da população LGB – parentais e rentalidade biológica (Riskind et al., 2013). As
conjugais – destacando os seus principais resul- mulheres lésbicas mostram-se mais propensas a
tados. Ofereceu-se, ainda, uma perspectiva crí- realizarem adoções inter-raciais, quando compa-
tica do material revisto, evidenciando os pontos radas com os casais heterossexuais, mesmo que
fortes, bem como os limites e direções para futu- estejam conscientes dos desafios que envolvem a
ras investigações. sua condição (Goldberg, 2009).
Parentalidade em Lésbicas, Gays e Bisse- Ainda é limitado o número de estudos que
xuais. A partir da categoria parentalidade, che- têm enfocado a questão da transição da paren-
gou-se aos seguintes subtemas: (a) expectativas, talidade em famílias formadas pela população
percepções e transição quanto à parentalidade (n LGB, um momento tão significativo para a vida
= 13); (b) estratégias de acesso à parentalidade de qualquer família. No geral, os estudos desta
(n = 23); (c) dinâmicas e funcionamentos das re- revisão sugerem que os pais/mães gays e lésbi-
lações pais/mães-filhos (n = 22); (d) vivências de cas apresentam questões semelhantes à transição
preconceito e o impacto da homofobia na vida aos pais heterossexuais, por exemplo: a saúde
das famílias homoparentais (n = 25); (e) discus- mental e a qualidade conjugal podem diminuir
sões teóricas e metodológicas sobre a parentali- com a chegada dos filhos (Goldberg & Smith,
dade (n = 9). A Tabela 2 apresenta exemplos de 2011); a paternidade, porém, pode aumentar
referências para cada subcategoria, assim como a dedicação do cônjuge ao seu relacionamento
a frequência de artigos encontrados em cada primário e reduzir o tempo e a sua energia para
uma delas. a manutenção de relacionamento amoroso, fato
Sobre as expectativas, percepções e transi- geralmente relacionado à diminuição da satisfa-
ção quanto à parentalidade, quando compara- ção sexual (Goldberg & Smith, 2009).
dos com os casais heterossexuais, os estudos in- Apesar dos avanços, as pesquisas relaciona-
dicam que gays e lésbicas mostraram-se menos das às expectativas, percepções e transição para
propensos a expressarem os desejos de parenta- a parentalidade, como por exemplo, com inclu-
lidade - sobretudo pelos desafios legais e preocu- são da população gay nas amostras investigadas,
pações quanto ao desenvolvimento psicossocial algumas questões ainda precisam ser respondi-
dos filhos - no entanto, aprovaram o valor da pa- das, a saber: quais as expectativas de pais/mães
ternidade/maternidade tão fortemente como fez sobre a parentalidade de pessoas solteiras e de
participantes heterossexuais, além de se perce- casais? E como é a experiência de transição de
beram habilitados para o exercício parental (e.g. parentalidade quando uma da díade do casal já
Goldberg & Smith, 2009; Riskind & Patterson, tem filhos? Como as minorias sexuais atraves-
2010). De modo geral, os estudos indicam que os sam a parentalidade em termos de recursos fi-
principais obstáculos para gays e sobretudo para nanceiros e educacionais? E como estas famílias
as mulheres lésbicas decidirem ter filhos são: os têm buscado apoio para aliviar o estresse nesse
desafios legais e jurídicos (Ryan, 2013), as pre- momento de transição de suas vidas? (Goldberg
ocupações quanto à dificuldade de engravidar & Gartrell, 2014).
pela falta de apoio social durante o processo de Sobre as principais estratégias de acesso à
concepção (Yager, Brennan, Steele, Epstein, & parentalidade destacam-se a parentalidade pla-
Ross, 2010) e as preocupações sobre o próprio nejada, através da reprodução assistida (doação
exercício da parentalidade, especialmente quan- de espermas e barriga de aluguel) e da adoção,
to ao desenvolvimento psicossocial dos filhos sobretudo nos estudos publicados a partir do fi-
(Riskind & Patterson, 2010; Riskind, Patterson, nal da década de 1990 e início dos anos 2000.
& Nosek, 2013). No entanto, lésbicas e gays Tal fato representa uma mudança significativa
1058 Lira, A. N., Morais, N. A.

no modo como as famílias lideradas pela popu- Trowse, & White, 2013). Além disso, estudos
lação LGB têm seus filhos, já que anteriormente apontam a estreita relação entre o crescente nú-
prevaleciam as investigações acerca da experi- mero de homens gays que procuram tratamento
ência de pais e mães que tiveram seus filhos em de fertilidade e a legalização do casamento (e.g.
relações heterossexuais, anteriores às vivências Grover et al., 2013). Uma das perguntas ainda
amorosas homossexuais, conforme destacado sem reposta neste cenário é como as crianças
pelo estudo de revisão de Biblarz e Stacey (2010). nascidas através de um acordo de sub-rogação
Um dos arranjos familiares que mais ga- se sentem em relação as suas mães de aluguel?
nhou visibilidade na literatura nos últimos anos, É importante destacar que tanto os estudos
especialmente, pelo avanço e acesso às tecnolo- que envolvem a doação de espermas (no caso
gias reprodutivas e as mudanças legislativas re- das lésbicas), como a barriga de aluguel/solidá-
centes, foram os estudos sobre a experiência de ria (com os gays) são voltados, quase que exclu-
mulheres lésbicas que se utilizam da reprodução sivamente, para homens e mulheres que têm ele-
assistida para ter filhos (e.g. Grover, Shmorgun, vadas condições socioeconômicas. É necessário,
Moskovtsev, Baratz, & Librach, 2013; Moás & portanto, a realização de novas pesquisas que
Correa, 2010), com enfoque nos aspectos éticos, explorem os demarcadores econômicos, raciais,
legais e de intimidade do casal quanto à decisão de classe e de gênero envolvidos nessa tomada
sobre o uso do esperma do doador (conhecido ou de decisão, para ampliar a representatividade das
desconhecido), e as implicações desta escolha amostras e então chegar a novos achados da li-
para a conjugalidade e o desenvolvimento psi- teratura.
cossocial dos filhos (e.g. Bos & Gartrell, 2010a). Sobre a adoção, as evidências mais notáveis
A eleição por doadores desconhecidos é decor- encontradas nesta revisão apontam que os laços
rente, principalmente, na tentativa de evitar um emocionais entre pais/mães e filhos adotivos, os
terceiro envolvido na vida do filho e do casal e resultados de ajustamento psicossocial das crian-
o receio de que o doador possa requerer a custó- ças adotadas na primeira infância e as habilida-
dia dos filhos (e.g. Goldberg & Allen, 2013). Já des parentais durante a transição para a parenta-
a escolha pelo doador conhecido pode ser mo- lidade adotiva, parecem não variar com base no
bilizada pela ideia de que seus filhos merecem gênero ou orientação sexual dos pais/mães (e.g.
ter acesso ao seu patrimônio genético ou mes- Goldberg & Smith, 2013). A parentalidade ado-
mo para que suas crianças tenham pelo menos tiva de pais/mães gays e lésbicas se constroem
um modelo masculino (e.g. Goldberg & Allen, no cotidiano, inclusive para alguns pais desde
2013). Em conjunto, a literatura ressalta que o o primeiro momento que iniciam a relação com
acesso à informação sobre as origens de doado- a crianças adotadas (Amazonas, Veríssimo, &
res de uma criança é importante para alguns pais Lourenço, 2013). Outro dado relevante e que
e tem consequências potencialmente positivas corrobora o que estudos anteriores vêm apontan-
para os filhos, aumentando o senso de identidade do, é sobre a presença do alto estresse parental
destes (e.g. Freeman, Jadva, Kramer, & Golom- de pais/mães LGB adotivos – frente ao contexto
bok, 2009). Ressalta-se o crescimento de estudos marcado pela discriminação social, legal, fami-
que examinam a vida dos filhos adolescentes e liar (e.g. Tornello, Farr, & Patterson, 2011). No
jovens adultos de mães lésbicas que foram con- entanto, um importante avanço nas investiga-
cebidos através da reprodução assistida e como ções é sobre como os pais e mães homossexu-
eles foram criados e conheceram o significado e ais respondem à discriminação no processo de
construíram suas relações com os doadores co- adoção e as estratégias encontradas por eles para
nhecidos (e.g. Goldberg & Allen, 2013). enfrentarem o preconceito e adotar os seus filhos
Sobre a barriga de aluguel/solidária, os es- (Bos & Gartrell, 2010b).
tudos registram que esta tem sido uma estraté- Sobre as dinâmicas e funcionamento dos
gia utilizada por gays – em parcerias conjugais pais/mães e seus filhos, as produções científi-
ou solteiros – para construírem suas famílias cas mais recentes continuam a ratificar o que a
(e.g. Greenfeld & Seli, 2011; Smith, Willmott, literatura já vem dizendo ao longo das décadas
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1059

anteriores (Biblarz & Stacey, 2010; Goldberg & mente para as mães lésbicas e crianças do sexo
Gartrell, 2014): os filhos de famílias homopa- feminino. As investigações científicas longitudi-
rentais parecem não sofrer prejuízos em seu de- nais realizadas por Gartrell et al. (2011), também
senvolvimento sócio-cognitivo-psico-sexual em indicaram que as filhas adolescentes de mães
virtude da orientação sexual dos pais (e.g. Bos lésbicas são mais propensas a se envolverem em
& Gartrell, 2010a; Farr, Forssell, & Patterson, comportamento do mesmo sexo e se identificar
2010). No geral, as pesquisas sobre o ajustamen- como bissexual. O que a literatura não explica
to psicossocial centraram-se, principalmente, em é se as filhas de lésbicas são mais propensas a
fazer análises comparativas com as famílias he- vivenciarem relações do mesmo sexo influencia-
terossexuais, demonstrando, de modo geral, que das pela orientação sexual de suas mães, ou pela
os mesmos fatores que estão ligados ao desen- possibilidade de que os adolescentes com mães
volvimento positivo dos filhos de pais heteros- lésbicas podem demonstrar noções mais expan-
sexuais, também estão relacionados aos filhos sivas e menos categóricas acerca da sexualidade
de famílias homoparentais: qualidade relacional (Cohen & Kuvalanka, 2011).
entre os membros da família (proximidade e boa Sobre o desempenho da parentalidade dos
comunicação entre pais e filhos, satisfação con- gays, lésbicas e bissexuais – incluindo as com-
jugal); a força na segurança de apego; compe- petências e a qualidade das relações entre pais
tências parentais; os índices de saúde mental dos e filhos – foram identificadas, sobretudo, muitas
pais/mães (por exemplo, ausência de depressão semelhanças entre as famílias homoparentais e
parental); ausência de violência doméstica; não as famílias compostas por pares heterossexuais,
abuso de substâncias psicoativas (e.g. Gartrell & evidenciando que a orientação sexual dos pais/
Bos, 2010). Sobre essa categoria, um importante mães não está relacionada às consequências ou
avanço metodológico e teórico dos últimos anos aos resultados do exercício parental (Farr &
refere-se à realização de pesquisas longitudinais Patterson, 2013). Quando existem diferenças,
centradas nos processos de desenvolvimento e contudo, estas parecem favorecer aos casais do
não somente nos resultados, de modo a conside- mesmo sexo – especialmente composto por mu-
rar a influência de múltiplas interações (sociais, lheres lésbicas – em várias competências, como:
culturais, legais, situações de vida, familiares) e casais de lésbicas mostraram-se mais igualitárias
variações de fatores (protetivos e de risco) que se na divisão de tarefas domésticas, na interação e
intercruzam e colaboram para o ajustamento psi- cuidados com os filhos, nos processos de tomada
cossocial dos filhos (e.g. Gartrell, Bos, Peyser, de decisão e na participação em atividades com
Deck, & Rodas, 2012). Além disso, as pesquisas os filhos, quando comparadas aos casais heteros-
têm incluído a percepção que os filhos (crianças sexuais (e.g. Farr & Patterson, 2013). Ressalta-
e adolescentes e adultos jovens) têm a respeito -se, porém, que é preciso ter cuidado com essa
de suas famílias, assinalando uma diferença sig- concepção de igualitarismo presente nas famí-
nificativa, relativa ao paradigma inicial das in- lias lésbicas, negligenciando as suas diferenças e
vestigações, o qual se centrava exclusivamente ainda acreditando que o compartilhamento equi-
na percepção dos pais/mães acerca de seus filhos tativo entre os cônjuges é a melhor opção para
(e.g. Gartrell, Bos, & Goldberg, 2011). todas as famílias (Goldberg & Gartrell, 2014).
Acerca da influência dos pais/mães na orien- Alguns casais podem não se encaixar nesse mo-
tação sexual dos seus filhos, apesar da literatura delo, e assumir papéis diferenciados e especí-
não ter encontrado diferenças relevantes entre fi- ficos de acordo, por exemplo, com a facilidade
lhos de pai/mães do mesmo sexo e filhos de pais para a execução das tarefas ou mesmo de acordo
heterossexuais, em sua auto-identificação como com o contexto familiar em que os filhos foram
gays/lésbicas (Tasker & Golombok, 1997), nesta concebidos (e.g. Martinez & Barbieri, 2011).
revisão os estudos de Schumm (2010) sugerem Ainda sobre a parentalidade, considerável
que haja uma tendência em haver transferência número de pesquisas registram que as vivências
intergeracional da orientação sexual, especial- de preconceito e o impacto da homofobia na vida
1060 Lira, A. N., Morais, N. A.

das famílias homoparentais como resultado de formas de pensar a família, ultrapassando as


sua orientação sexual dos pais/mães (Bos & Gar- identidades cristalizadas centradas no modelo
trell, 2010b; Rodriguez & Paiva, 2009). Gays, heterossexista (e.g. Rodriguez & Gomes, 2012;
lésbicas, transgêneros e seus filhos podem sofrer Vilhena, Souza, Uziel, Zamora, & Novaes,
discriminação ou disparidade, por exemplo, nos 2011). Outros trabalhos validaram escalas sobre
serviços de saúde – no período pré e pós-natal parentalidade (e.g. Frias-Navarro & Monterde-
ou no acesso ao seguro de saúde privado entre os -i-Bort, 2012) e apresentaram panoramas dos
filhos de casais do mesmo sexo, na assistência projetos teóricos e metodológicos de estudos
social, na educação e nos sistemas jurídicos (e.g. longitudinais (e.g. Power et al., 2010).
Chapman et al., 2012). Teorias de efeitos estres- Conjugalidade em Lésbicas, Gays e Bisse-
sores sobre minorias sexuais foram analisadas e xuais. Quatro temas principais caracterizaram as
continuam a indicar categoricamente que o im- produções científicas do período de 2009-2013
pacto da homofobia (externa e/ou interna) pode quanto à conjugalidade em casais do mesmo
repercutir negativamente na saúde física e men- sexo: (a) legalização do casamento (n = 17); (b)
tal da população LGB (Meyer, 2003), ou mesmo dinâmica das relações conjugais (n = 19); (c) rede
no bem-estar psicológico dos filhos (e.g. Bos & de apoio (n = 10) e; (d) homofobia e o seu impacto
Gartrell, 2010 a), ao lidarem com os contextos na vida dos cônjuges (n = 9). A Tabela 2 apresenta
legais e sociais, que nem sempre dão suporte às exemplos de referências para cada subcategoria.
relações conjugais e parentais. No entanto, com As discussões em torno da legalização do
base nos achados da literatura desta revisão, casamento entre pessoas do mesmo sexo têm
sugere-se que efeitos adversos da homofobia se concentrado, de modo geral, em justificar ou
podem ser amortecidos pelo fortalecimento da combater a ideia de que o status legal do casa-
rede de apoio, seja no sistema intrafamiliar (na mento para esses casais pode enfraquecer a ins-
interação pais-filhos, no sistema conjugal), na tituição familiar e que isto prejudicaria o desen-
família de origem, no trabalho, com os amigos, e volvimento psicossocial dos seus possíveis filhos
ainda no âmbito legal e institucional (e.g. Bos & (e.g. Knauer, 2012). As evidências científicas,
Gartrell, 2010b; Lomando et al., 2011). no entanto, sugerem que a oficialização jurídi-
Ainda sobre o preconceito, as pesquisas ca do casamento pode oferecer efeitos positivos
apontam que o consenso público – expresso por na promoção do bem-estar físico e psicológico,
profissionais de saúde e da área escolar, por es- diminuindo as disparidades em saúde mental en-
tudantes universitários, por cristãos, pela popu- tre lésbicas, gays, bissexuais e heterossexuais e
lação em geral heterossexual – é esmagador de promovendo benefícios tangíveis às suas vidas
que crianças criadas por famílias heterossexuais (Wight, LeBlanc, & Lee Badgett, 2013), o que
se desenvolvem com mais sucesso do que os pode colaborar para o exercício saudável da
filhos de gays e lésbicas (e.g. Ferreira, Cadete, parentalidade. Após o reconhecimento legal do
& da Silva, 2012; Gato & Fontaine, 2013). Os casamento, gays e lésbicas, por exemplo, dimi-
resultados desta revisão continuam a ser consis- nuíram significativamente o uso de assistência
tentes com estudos anteriores (e.g. Herek, 2000) médica e utilização dos serviços de saúde men-
em que as atitudes das pessoas eram mais nega- tal (Hatzenbuehler et al., 2012); houve também,
tivas em relação à parentalidade gay do que as redução dos índices de mortalidade entre gays e
das lésbicas, sugerindo que o padrão das atitudes lésbicas, apesar dessas taxas de mortalidade ain-
variam de acordo com o sexo das minorias se- da superarem as da população em geral (Frisch
xuais (e.g. Costa et al., 2013). & Brønnum-Hansen, 2009); e, por fim, gays e
Por fim, alguns artigos científicos abordam lésbicas revelaram menos estresse psicológico
de forma abrangente discussões teóricas e me- (menores índices de homofobia internalizada, de
todológicas acerca das questões familiares da sintomas depressivos e estresse) e maior bem-es-
população LGBT. Resumidamente, estes estu- tar psicológico (e.g. Riggle, Rostosky, & Horne,
dos apontam reflexões teóricas sobre as novas 2010). De acordo com a análise dos artigos revi-
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1061

sados, os efeitos potencialmente positivos com o bem-estar físico e psicológico dos casais do
a legalização do casamento podem ocorrer em mesmo sexo.
decorrência dos benefícios econômicos tangí- Apesar de escassas, no geral, as pesquisas
veis; de um senso de estabilidade no relaciona- sobre a satisfação sexual de casais de lésbicas
mento associado com o reconhecimento legal do apontaram um conjunto de fatores preditores
compromisso matrimonial; dos efeitos positivos homólogos, tanto na vida de mulheres lésbicas,
de intimidade e proximidade; bem como a par- bissexuais, como nas mulheres heterossexuais,
tir de um maior apoio emocional e auto-estima a saber: satisfação conjugal, rede de apoio so-
conferido ao casamento (e.g. Wight et al., 2013). cial (inclusive com a legalização do casamento),
Futuras pesquisas precisam, entretanto, investi- funcionamento e prazer sexual e ausência de sin-
gar de que forma o status de legalidade e ajusta- tomotalogia depressiva (e.g. Henderson et al.,
mento psicossocial dos cônjuges (uso de drogas, 2009). Em lésbicas e bissexuais a homofobia in-
bem-estar subjetivo, satisfação de vida, dentre ternalizada, assim com a carência das condições
outras) estão relacionados. Além disso, o impac- socioeconômicas foram citadas como aspectos
to desta legalização para a saúde física e psico- que influenciam negativamente os índices de sua
lógica dos filhos desses casais também merece satisfação sexual (Henderson et al., 2009).
atenção. Estudos longitudinais são indicados No âmbito das relações domésticas, com-
para esta temática. panheiras lésbicas relataram viver relações mais
Sobre a dinâmica das relações conjugais igualitárias na divisão de finanças e na comuni-
homossexuais, estudos demonstram que mu- cação, e apoio entre as cônjuges mais equitativos
danças legais relacionadas ao casamento podem quando comparados aos casais heterossexuais.
ter influenciado a maneira que as gerações mais Já os gays relataram menos igualdade de comu-
jovens de casais do mesmo sexo conceituam e nicação, menor compartilhamento de apoio, e
vivem seus relacionamentos. Evidencia-se, por menos equidade na tomada de decisão do que os
exemplo, que acordos não monogâmicos têm homens heterossexuais (Gotta et al., 2011).
diminuído entre estes casais, que aspiram ter Evidências científicas nesta revisão infor-
relacionamentos estáveis, exclusivos e de lon- mam que a rede de apoio (social, jurídica, fa-
go prazo com os/as parceiros/as (Gotta et al., miliar) é importante fator preditivo para a sa-
2011). Ressalta-se, no entanto, que a literatura tisfação conjugal e relaciona-se diretamente ao
registra que as relações monogâmicas não estão bem-estar dos cônjuges, podendo amortecer o
diretamente associadas à satisfação sexual entre impacto negativo do estresse advindo, espe-
os cônjuges. Mas, a quebra dos acordos sexuais cialmente do preconceito (e.g. Lomando et al.,
entre os parceiros (e.g. acordos de não envolvi- 2011). Observou-se a importância da rede de
mento emocional, apenas de sexo casual) e as apoio em situações, por exemplo, em que os côn-
discrepâncias de vivências entre eles (e.g. um juges podiam contar efetivamente com a ajuda e
dos parceiros vive mais experiências extraconju- apoio socioemocional da família de origem; ou
gais do que o outro parceiro) podem afetar tanto mesmo diante de situações de doenças, como o
a satisfação conjugal, como a satisfação sexu- câncer de mama; ou mesmo para ajudar gays em
al dos cônjuges (Mitchell, Harvey, Champeau, situações de luto, ao perderem seus parceiros por
Moskowitz, & Seal, 2012). causas não relacionadas ao HIV (e.g. Hornjatke-
Os principais fatores associados aos níveis vyc & Alderson, 2011). O apoio social pode ser,
de satisfação conjugal encontrados nesta revi- portanto, um fator de proteção importante diante
são foram: exteriorização da orientação sexual, das adversidades que os casais do mesmo sexo
respeito aos acordos sexuais entre os parceiros/ possam vivenciar, protegendo-os de uma varie-
as, comunicação, coesão, funcionamento sexual dade de fatores negativos advindos da discrimi-
e a rede de apoio social (e.g. Knoble & Linvil- nação homofóbica.
le, 2012). Por sua vez, os altos níveis de satisfa- Os estudos analisados na presente revisão
ção conjugal podem ter efeitos positivos sobre avançam sobre a compreensão da homofobia
1062 Lira, A. N., Morais, N. A.

e o seu impacto na vida dos cônjuges do mes- rém, que alguns casais de gays e lésbicas viven-
mo sexo, bem como nas estratégias encontradas ciaram o estigma, como uma oportunidade para
por eles para superar os efeitos da discrimina- (re) definir noções de compromisso e legitimi-
ção (Frost, 2011). A homofobia tanto pode ser dade relacional, além de ser uma oportunidade
vivenciada externamente, através da discrimina- para aproximá-los aos seus parceiros e fortalecer
ção ostensiva, como pode ser internalizada pe- o vínculo dentro de seus relacionamentos (Frost,
las minorias sexuais (Meyer, 2003). Os estudos 2011). Os resultados desta revisão sugerem, por-
desta revisão registram uma correlação positiva tanto, que lidar com o estigma sexual – interno
entre a homofobia internalizada (na medida em e externo – é fundamental para o bem-estar psi-
que as minorias sexuais internalizam atitudes ne- cológico e engajamento social dos amantes do
gativas sobre a homossexualidade), e efeitos na mesmo sexo. Novas pesquisas precisam avançar
saúde mental em homens e mulheres homosse- nos estudos sobre a homofobia internalizada,
xuais (Frost & Meyer, 2009). Verificou-se, po- pois ela pode ser um indicador chave da saúde
mental (Frost & Meyer, 2009).

Tabela 2
Principais Subcategorias e Exemplos de Referências nos Estudos Recuperados sobre a Parentalidade e
Conjugalidade

Temáticas sobre a Parentalidade LGB Exemplos de Referências

1. Estudos sobre expectativas, percepções e transição Goldberg & Smith, 2009, 2011; Naziri
para a parentalidade (n = 13) & Feld-Elzon, 2012; Riskind & Patterson, 2010

2. Principais formas de acesso à parentalidade Amazonas et al., 2013; Bos & Gartrell, 2010b;
(reprodução assistida, adoção e coparentalidade; n = 23) Freeman et al., 2009; Goldberg & Allen, 2013;
Greenfeld & Seli, 2011; Moás & Correa, 2010

3. Dinâmicas e funcionamento das vivências dos filhos, Bos & Gartrell, 2010a; Cohen & Kuvalanka, 2011;
dos pais/mães e a relação entre eles (ajustamento Farr et al., 2010; Gartrell et al., 2011; Martinez &
psicossocial dos filhos, desempenho dos papéis parentais, Barbieri, 2011; Schumm, 2010
orientação sexual dos pais/mães e os filhos; n = 22)

4. Vivências de Preconceito (o impacto da homofobia Bos & Gartrell, 2010b; Chapman et al., 2012;
na vida das famílias, atitudes e crenças em relação Ferreira et al., 2012; Gato & Fontaine, 2013;
a parentalidade LGB; n = 25) Rodriguez & Paiva, 2009

5. Discussões teóricas e metodológicas sobre Frias-Navarro & Monterde-i-Bort, 2012;


a parentalidade (discussões teóricas gerais sobre Vilhena et al., 2011
as famílias homoparentais; métodos de pesquisa
e validação de escalas na parentalidade; n = 9)

Temáticas sobre a Conjugalidade LGB Exemplos de Referências

1. Debates acerca da legalização do casamento Hatzenbuehler et al., 2012; Riggle et al., 2010;
homossexual e implicações destas mudanças Wight et al., 2013
na saúde física e mental dos cônjuges (n = 17)

2. Dinâmica do relacionamento entre os pares Gotta et al., 2011; Henderson et al., 2009;
do mesmo sexo (satisfação conjugal, satisfação sexual, Knoble & Linville, 2012; Mitchell et al., 2012
tarefas domésticas; n = 19)

3. Rede de apoio social aos casais Hornjatkevyc & Alderson, 2011;


homoconjugais (n = 10) Lomando et al., 2011

4. Homofobia e o seu impacto na vida dos casais (n = 9) Frost, 2011; Frost & Meyer, 2009
Famílias Constituídas por Lésbicas, Gays e Bissexuais: Revisão Sistemática de Literatura. 1063

Considerações Finais Quanto à conjugalidade, acompanhando as


mudanças legais em torno do casamento homos-
Este estudo teve como objetivo apresentar sexual, as produções científicas têm dedicado
um panorama atual da produção científica acerca atenção aos efeitos positivos que a legalização
das famílias constituídas pela população LGB, do casamento pode trazer para a vida dos casais
no cenário nacional e internacional. Houve um do mesmo sexo, estando diretamente associada
florescimento em número e alcance da produção ao bem-estar físico e psicológico dos cônjuges.
científica nos últimos cinco anos (2009-2013) Além disso, a literatura aponta que casais do
em torno desta temática. No geral, predominam mesmo sexo aspiram viver relacionamentos mo-
os estudos internacionais, empíricos, transver- nogâmicos, duradouros e apresentam questões e
sais, quantitativos e que utilizam as entrevistas dilemas semelhantes às parcerias heterossexuais
(em pesquisas qualitativas) e escalas e questio- (Frost, 2011; Gotta et al., 2011; Henderson et al.,
nários padronizados (em estudos quantitativos), 2009). A homofobia, e o seu impacto na vida dos
como principais técnicas de coletas de dados. casais do mesmo sexo parece exercer influência
No cenário brasileiro, verificou-se que apesar na saúde mental da população LGB, tendo con-
das pesquisas estarem em franca expansão, os sequência nos níveis de bem-estar psicológico e
estudos ainda são muito teóricos e quando em- engajamento social.
píricos, em sua maioria, são qualitativos, com Apesar dos notáveis avanços em termos
populações pouco representativas. do tamanho e da representatividade das amos-
Sobre os participantes, prevalece o número tras (participantes) e considerações sobre os
de estudos que investigam a maternidade lésbi- processos de desenvolvimento – especialmente
ca, apesar do crescimento de estudos com gays e através dos estudos longitudinais – uma varie-
também com os filhos das minorias sexuais. Os dade de problemas metodológicos caracterizam
estudos sobre a população bissexual e de trans- as pesquisas sobre a população LGB. A maio-
gênero, bem como os seus filhos (especialmen- ria dos estudos é composta por amostras pouco
te adultos), encontram-se ainda mais limitados representativas – realizados predominantemente
e merecem atenção futura. Sobre os principais com adultos gays e lésbicas, brancos, que têm
temas de investigação científica, predominaram condição socioeconômica mais elevada e que
os estudos acerca da parentalidade em detrimen- são residentes de regiões metropolitanas. Estes
to da conjugalidade. Houve um crescimento no estudos, portanto, não podem ser generalizados
número de estudos que investigavam os arranjos à população bissexual e trans (transgêneros,
familiares construídos através da parentalidade transexuais e travestis), à população de idosos,
planejada: reprodução assistida e adoção. às minorias sexuais negras, de baixa renda e resi-
No cenário da parentalidade, evidencia-se, dentes de áreas rurais que podem viver em dupla
com base na racionalidade científica dos últimos condição de minorias. Além disso, predominam
anos, que os níveis de ajustamento psicossocial os estudos com corte transversal, portanto, os
e bem-estar psicológico de crianças e adolescen- efeitos causais não podem ser assumidos nesses
tes parecem não estar relacionados à orientação estudos.
sexual dos pais/mães. A qualidade da dinâmica Além disso, vários temas específicos têm re-
relacional familiar entre pais/mães e seus filhos, cebido pouca ou nenhuma atenção na literatura
são os principais preditores para avaliar as com- dos últimos anos, por exemplo: vivências de luto
petências parentais. No entanto, a homofobia (dos parceiros íntimos ou mesmo dos filhos); di-
(externa e/ou interna) pode ser um indicador vórcio e recasamentos; violência pelo parceiro
chave nos índices de saúde física e mental dos íntimo em casais de lésbicas (Hardesty, Oswald,
pais/mães ou mesmo no bem-estar psicológico Khaw, & Fonseca, 2009); com filhos adultos;
dos filhos (Bos & Gartrell, 2010a; Goldberg & tentativas inexitosas de reprodução assistida;
Smith, 2009). funcionamento da família quando um ou ambos
1064 Lira, A. N., Morais, N. A.

os pais LGB tem HIV / AIDS ou uma doença gical adjustment. Human Reproduction, 26(3),
crônica; impacto da legalização do casamento na 630-637. doi:10.1093/humrep/deq359
vida dos filhos; como os pais dialogam com os *Bos, H. M. W., & Gartrell, N. K. (2010b).
filhos sobre a sexualidade; e estudos com popu- Adolescents of the USA National Longitudinal
lações de casais constituídos por pessoas mais Lesbian Family Study: Can family charac-
velhas. Por fim, sugere-se a realização de estu- teristics counteract the negative effects of
dos que considerem, de forma integrada, a parti- stigmatization? Family Process, 49(4), 559-572.
doi:10.1111/j.1545-5300.2010.01340.x
cipação de todos os membros da família.
Uma das principais limitações desta revisão *Cecílio, M. S., Scorsolini-Comin, F., & Santos, M.
refere-se à eleição de descritores que deram ên- A. D. (2013). Scientific production on adoption
by gay couples in Brazilian context. Estudos de
fase a gays e lésbicas, não incluindo os trans-
Psicologia (Natal), 18(3), 507-516. doi:10.1590/
gêneros, travestis e transexuais. Talvez por isso,
S1413-294X2013000300011
evidenciou-se um pequeno número de estudos
sobre esta população. Por outro lado, como os *Chapman, R., Wardrop, J., Freeman, P., Zappia,
T., Watkins, R., & Shields, L. (2012). A
descritores em sua maioria faziam referência à
descriptive study of the experiences of lesbian,
homossexualidade, parece que os estudos não gay and transgender parents accessing health
incluem essa população nesta categoria. services for their children. Journal of Clinical
Frente à natureza exploratória do presente Nursing, 21(7‐8), 1128-1135. doi:10.1111/
estudo e a crescente expansão das publicações j.1365-2702.2011.03939.x
científicas em torno das famílias formadas por *Cohen, R., & Kuvalanka, K. A. (2011). Sexual
lésbicas, gays e bissexuais, ressalta-se que a mais socialization in lesbian-parent families: An
notável contribuição desta revisão foi oferecer exploratory analysis. American Journal of
um panorama atual e abrangente dos estudos, Orthopsychiatry, 81(2), 293. doi:10.1111/
sintetizando-o, lançando um olhar crítico a esse j.1939-0025.2011.01098.x
cenário complexo e multifaceado, além de indi- Costa, A. B., & Zolowski, A. P. C. (2014). Como es-
car possibilidades para futuras investigações. crever um artigo de revisão sistemática. In S. H.
Koller, M. C. P. P. Couto, & J. Von Hohendorff
Referências (Eds.), Manual de Produção Científica (pp. 55-
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