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Treino para o Mock Test

Leia o texto e responda a pergunta orientadora

Opinião: Avatar 2 pode consolidar transformação


do cinema num lazer para poucos

A revolução tecnológica da vez viria para dividir e não


democratizar

MARCELO HESSEL
28.04.2022, ÀS 13H25

Após a revelação do primeiro trailer de Avatar 2, fica mais dramática a dúvida que
deve acompanhar o novo filme de James Cameron até a estreia, em dezembro: um
relâmpago pode cair duas vezes no mesmo lugar?
Em termos de impacto e legado, o primeiro Avatar é menos um fenômeno cultural do
que um marco tecnológico. Lançado quando o 3D estereoscópico voltou renovado como
uma tábua de salvação das salas de cinema, o épico dos Na’vi foi o impulso para a
modernização das salas; hoje o 3D perdeu o apelo de novidade no cinema mas a tecnologia
persevera na indústria dos games, onde a ideia de imersividade permanece sendo um
norte. Talvez isso não fosse possível sem Avatar testar, antes, as águas do entretenimento
de massa com sua tecnologia.
Qual seria então o potencial impacto e eventual legado de Avatar: O Caminho da
Água? Meu palpite é que a tecnologia continuará sendo a questão central, mas de modo
invertido: não no sentido de uma padronização, mas de exclusão. Avatar 2 (e suas
continuações) não viria para sacudir a indústria ou levar multidões em fila ao multiplex mas
sim para consolidar a transformação, já em curso, da experiência da sala de cinema em um
artigo de luxo.
Desde que George Lucas previu em 2013 que ir ao cinema se tornaria cada vez
mais caro, similar à experiência de concorrer aos ingressos de um musical na Broadway,
essa previsão tem se intensificado, acelerada pela pandemia. Apesar dos seus US$ 2,8
bilhões, Avatar não conseguiu reverter um fenômeno que acompanha o cinema há pelo
menos 40 anos, que é o constante refluxo de pagantes à sala de cinema. O número anual
de ingressos vendidos é cada vez menor, na base americana, e talvez estejamos mais
próximos de uma realidade em que ir ao cinema é mesmo como ir à Broadway: um fim em
si mesmo, uma experiência mais bissexta e exclusiva, ditada não pelos filmes em cartaz
mas pela própria excepcionalidade de voltar à sala escura.
Hoje, falta aos filmes da Marvel (que afinal dominam o cartaz) o aspecto de
excelência ou novidade técnica que poderia consumar de vez a conversão do cinema numa
experiência essencialmente tecnológica. A julgar pelas falas de James Cameron e do
produtor Jon Landau na CinemaCon nesta semana, Avatar 2 se candidata à tarefa. No
evento - organizado por redes exibidoras, onde os estúdios de cinema levam prévias dos
seus próximos lançamentos para cortejá-las - salientou-se acima de tudo que O Caminho
da Água é o filme “com mais versões já lançado”, em referência às especificações distintas
de 4K, 3D, frame rate, idiomas, sistemas de som e tamanho de tela que Avatar 2 comporta,
dependendo do nível de equipamento de cada sala.
Ou seja, o aspecto técnico tem o protagonismo. Faz sentido que Avatar 2 seja
vendido assim, porque afinal (e 13 anos depois…) a pegada cultural do filme de 2009 é
mínima comparada às mitologias de Marvel, Star Wars e Harry Potter que dominam fan
fictions, memes, discussões culturais nas redes e o imaginário infantil. Ninguém vai a
convenções vestido de Na’vi e quando um cosplay de Avatar aparece numa obra de ficção,
como no recente episódio de WeCrashed com Anne Hathaway, é em forma de piada. Resta
a Avatar se refugiar no imaginário que James Cameron controla pelo menos desde O
Segredo do Abismo (1989), que é o domínio do pioneirismo tecnológico.
O problema é que Avatar 2 não parece vir para causar uma revolução de inovação
como o filme de 2009, cujo choque fez toda a indústria exibidora correr para se adequar, se
modernizar - e ajustar o preço dos seus ingressos de acordo. No lugar dessa urgência, o
lançamento de Avatar 2 em 2022 parece impor um movimento silencioso de
quem-pode-mais, uma coisa similar a ter a melhor build de PC gamer para comportar jogos
de ponta. O espectador que assistir a The Way of Water numa sala menos equipada vai
conviver com a sombra da experiência incompleta, enquanto as salas VIP com o melhor
som Dolby (e pipoca trufada) enfim justificarão o preço do ingresso com um filme em cartaz
projetado para ser uma experiência elitista de tecnologia.
Quando a trilogia O Hobbit de Peter Jackson chegou aos cinemas, houve uma
corrida parecida pela “melhor experiência”. Na época, o frame rate de 48 quadros por
segundo era o grande chamariz, e eu, que não sou um grande fã de O Senhor dos Anéis,
procurei com certa ansiedade um IMAX gringo para assistir ao primeiro filme uma segunda
vez, em 48fps. Na comparação, O Hobbit ainda tem um selo de mítica diferenciado; um fã
da Terra-média talvez não se importe com especificações técnicas porque afinal ver J.R.R.
Tolkien adaptado às telas é o essencial. Agora, qual é a mítica de Avatar, um universo
eternamente definido e assombrado por seu caráter de novidade?

Avatar 2 tem estreia prevista para 16 de dezembro. As continuações estão planejadas para
2024, 2026 e 2028.

HESSEL, Marcelo. Opinião: Avatar 2 pode consolidar transformação do cinema num lazer para
poucos. Disponível em:
<https://www.omelete.com.br/filmes/opiniao-avatar-2-pode-consolidar-transformacao-do-cinema-num-
lazer-para-poucos> acesso em 20 de junho de 2022.

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