O Direito de Família é um conjunto de normas jurídicas que organizam as relações
familiares, parentais e conjugais (PEREIRA, 2021). Como ramo do Direito Civil, o Direito de Família tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos jurídicos: casamento, união estável, relações de parentesco, filiação, reconhecimento de filhos, alimentos, bem de família, tutela, curatela e guarda (TARTUCE, 2017). O Direito de Família é constituído por normas de ordem pública, relacionadas com o direito pessoal e existencial, porém, há normas de ordem privada no tocante aos direitos patrimoniais (TARTUCE, 2017). A família é o locus da formação e estruturação do sujeito e desempenha um papel primordial de formação de valores e transmissão da cultura (PEREIRA, 2021). Ademias, a família é um gênero que comporta duas espécies em sua constituição: a conjugal e a parental. A família conjugal se estabelece apoiada em uma relação afetiva, envolvendo a sexualidade e pode gerar ou não filhos. Essa relação pode ser heteroafetiva ou homoafetiva, pelo casamento ou união estável, pode ater ser simultânea à outra, rompendo o princípio da monogamia, ou não. Já a família parental advém da formação de laços consanguíneos ou socioafetivos. Pode ser por inseminação natural ou artificial, geradas em útero próprio ou de substituição (barriga de aluguel) (PEREIRA, 2021). Para acompanhar essas novas estruturas parentais e conjugais em curso, o Direito de Família também vem passando por mudanças estruturais, diante de novos princípios que lhe são aplicáveis, a exemplo de: a) princípio de proteção da dignidade da pessoa humana, incluindo a ideia de busca pela felicidade (art. 1.º, III, da CF/1988); b) princípio da solidariedade familiar (art. 3.º, I, da CF/1988); c) princípio da igualdade entre filhos (art. 227, § 6.º, da CF/1988 e art. 1.596 do CC); d) princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros (art. 226, § 5.º, da CF/1988 e art. 1.511 do CC); e) princípio da igualdade na chefia familiar (arts. 226, § 5.º, e 226, § 7.º, da CF/1988 e arts. 1.566, III e IV, 1.631 e 1.634 do CC); f) princípio da não intervenção ou da liberdade (art. 1.513 do CC); g) princípio do melhor interesse da criança (art. 227, caput, da CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC); h) princípio da afetividade; i) princípio da função social da família; e j) princípio da boa-fé objetiva (TARTUCE, 2017). Importante destacar que a Constituição possui um capítulo próprio, capítulo VII, que trata da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso. O art. 226 da Constituição/88 traz o seguinte: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. (BRASIL, Destaca-se que essa concepção constitucional de família tem sido ampliada, tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência, para situações não tratadas especificamente pelo Carta Magna (TARTUCE, 2017). Nessa linha, temos as seguintes formas de entidades familiares: a) família matrimonial: decorrente do casamento; b) família informal: decorrente da união estável; c) família homoafetiva: decorrente da união de pessoas do mesmo sexo, já reconhecida por nossos Tribunais Superiores, inclusive no tocante ao casamento homoafetivo (ver Informativo n. 486 do STJ e Informativo n. 625 do STF); d) família monoparental: constituída pelo vínculo existente entre um dos genitores com seus filhos, no âmbito de especial proteção do Estado. e) família anaparental: decorrente “da convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade e propósito; e f) família eudemonista: conceito que é utilizado para identificar a família pelo seu vínculo afetivo, busca a felicidade individual vivendo um processo de emancipação dos seus membros (TARTUCE, 2017). Além dessas listadas anteriormente, Pereira (2021) ainda elenca as seguintes entidades familiares: a) família democrática: não há superioridade de um gênero sobre o outro, as crianças e adolescentes são sujeitos de direito tanto quanto os adultos, embora tenham lugares e funções diferente; b) família unipessoal: formadas por pessoas que optaram por viver sozinhas; c) família multiparental: que tem múltiplos pais/mães; d) família substituta: expressão introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/90), para dizer que a família biológica ou originária, pode ser substituída por outra, seja por meio da adoção, pela guarda ou tutela; e) família extensa: vai além do seu núcleo pai, mãe, filhos, estendendo –se a outros parentes, como avós, tios e primos; f) família ectogenética: é a família com filhos decorrentes das técnicas de reprodução assistida; g) família socioafetiva: formada pelos laços de afeto, com ou sem vínculo biológico; h) famílias mútuas: situação de duas famílias que descobriram a troca de seus filhos na maternidade; i) família coparental: É a família parental, cujos pais se encontram apenas para ter filhos, de forma planejada, para criá-los em sistema de cooperação mútua, sem relacionamento conjugal ou mesmo sexual, entre eles; j) família nuclear: constituída pelo casal e sua prole; k) família binuclear: formada por dois núcleos de um núcleo originário; l) família avuncular: formada entre tio e sobrinha ou sobrinho e tia, parentes colaterais em terceiro grau; m) família mosaico: se constitui de pessoas oriundas de núcleos familiares diversos, formando um verdadeiro mosaico; n) família recomposta ou reconstituída: constituída de pessoas que dissolveram o vínculo conjugal pretérito e constituíram uma nova entidade familiar; o) família fissional: composta por pessoas que fizeram a opção, ou por circunstâncias da vida, de viverem juntas somente nos finais de semanas ou por períodos de férias, viagens ou lazer; p) família simultânea ou paralela: é aquela que se constitui simultaneamente a outra família; q) família poliafetiva: é a união conjugal formada por mais de duas pessoas convivendo em interação e reciprocidade afetiva entre si; e r) família multiespécie: vínculo afetivo constituído entre seres humanos e animais de estimação (PEREIRA, 2021). Assim, ante a todos esses novos modelos de família é que se que se tem entendido que a família não pode se enquadrar numa moldura rígida, em um suposto rol taxativo, como aquele constante da Constituição de 1988 (TARTUCE, 2017). REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. On line, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm , acesso em 14/12/2021. PEREIRA, R. C. Direito das Famílias. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. TARTUCE, F. Direito civil, v. 5: Direito de Família. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.