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Análise de Métodos para o Diagnóstico de


Falhas Incipientes em Transformadores com
Base na Concentração de Gases no Óleo
Isolante
R. O. de Sousa, M. A. B. Amora, F. R. Barbosa, R. S. T. Pontes, A. P. S. Braga e O. da M. Almeida

tipos de análises foram definidos procedimentos e normas de


Resumo-- Este artigo tem por objetivo expor e analisar as operação e manutenção de equipamentos isolados a óleo [1].
incertezas e imprecisões existentes entre os principais métodos de Para interpretar os dados das análises cromatográficas
diagnóstico de falhas incipientes em equipamentos elétricos, devem-se associar os valores atuais das concentrações a uma
especialmente em transformadores de potência, através da análise
determinada falha que produziu tal formação de gases. Os
da concentração de gases formados por falhas incipientes e
dissolvidos no óleo isolante. A apresentação dos principais métodos convencionais de identificação de falhas através das
métodos e normas é feita assim como a descrição das falhas razões entre as concentrações dos gases foram padronizados
incipientes mais comuns e dos gases gerados nos processos de por normas nacionais e internacionais [1], em [2]-[4]. Vale
falhas citados. Com essas informações expostas uma comparação ressaltar que as normas brasileiras que tratam da interpretação
entre os métodos de diagnóstico das falhas é feita, e com isso a e análise dos gases de transformadores são baseadas em
análise das imprecisões, dos pontos positivos e negativos existentes
em cada um deles. Um método de diagnóstico utilizando redes
normas internacionais [3], [4].
neurais é apresentado. Na isolação de equipamentos e componentes tais como,
transformadores de potência, buchas, reatores e
Index Terms--Análise de gases dissolvidos, falhas incipientes, transformadores de medição é normalmente utilizado o papel
isolação a óleo, normas, redes neurais artificiais, transformadores. impregnado com óleo isolante. O isolamento de papel
impregnado é um isolamento composto de celulose e óleo
I. INTRODUÇÃO isolante, em que cada um dos componentes possui seus

A S condições de funcionamento e integridade de um


equipamento de potência imerso em óleo isolante, como
processos normais de degradação e que, quando em contato,
interagem entre si, podendo alterar parcialmente suas
características individuais. Os principais fatores primários
transformadores, reatores, isoladores e etc., podem ser
estabelecidas a partir da análise do óleo. externos que levam à degradação da celulose e do óleo são o
Transformadores de potência de grande porte são um dos aquecimento, umidade e oxigênio. Os métodos de avaliação da
mais caros e críticos componentes de uma planta elétrica de degradação podem medir diretamente características
transmissão e distribuição. Dessa forma uma grande atenção intrínsecas do isolamento, produtos de sua degradação, ou
deve ser empregada para garantir seu bom funcionamento ainda seus efeitos em parâmetros físicos ou químicos [5].
quanto a evitar possíveis falhas que venham a ocorrer devido Antes que se exponham as imprecisões e incertezas
ao seu ciclo natural de vida ou regimes elétricos a que são existentes entre os métodos de análise de gases dissolvidos
submetidos. associados a uma determinada falha considerados pelas
Sabe-se que um conjunto de análises definidas por normas diversas normas, é importante apresentar as falhas
técnicas permite o diagnóstico das condições de falhas do consideradas assim como os principais gases gerados por tais
transformador. Os métodos mais importantes de diagnóstico falhas.
utilizados na identificação de falhas incipientes em
transformadores de potência são: a avaliação físico-química, II. FALHAS INCIPIENTES
que determina o estado do óleo e a análise cromatográfica, que As falhas incipientes podem ser classificadas em termos dos
verifica possíveis falhas no equipamento. A partir desses dois esforços térmicos, onde sobreaquecimentos são os agentes
principais, e esforços elétricos, relacionados às descargas
internas no equipamento.
R. O. de Sousa, M. A. B. Amora, F. R. Barbosa, R. S. T. Pontes, A. P. S.
Braga e O. da M. Almeida estão com o Departamento de Engenharia Elétrica Conforme a norma IEC 60599[4], as falhas detectáveis pela
da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Campus do Pici, Fortaleza - CE, análise de gases dissolvidos são codificadas da seguinte forma:
Brasil (e-mail: rafael_oliveira@dee.ufc.br; marcio@dee.ufc.br; PD = descargas parciais, D1 = descargas de baixa energia, D2
fabio@dee.ufc.br;; ricthe@dee.ufc.br; arthurp@dee.ufc.br;
otacilio@dee.ufc.br).
= descargas de alta energia, T1 = falhas térmicas de
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temperatura < 300 °C, T2 = falhas térmicas de temperatura Falha térmica no óleo: produtos da decomposição incluem
300 °C < T < 700 °C, T3 = falhas térmicas de temperatura > etileno ou eteno (C2H4 – cerca de 63%) e metano (CH4 –
700 °C [6]. 16%), junto com menor quantidade de hidrogênio (H2 – 2%) e
As falhas classificadas conforme [4] podem ser etano (C2H6 – 19%). Traços de acetileno (C2H2) podem ser
identificadas de forma confiável por inspeção visual do formados se a falha for severa ou envolver contatos elétricos.
equipamento após a falha ter ocorrido em operação: descargas O gás principal, como mostrado pelas proporções, é o etileno.
parciais (PD) do tipo plasma frio (corona) com possível Falha térmica na celulose: grandes quantidades de
formação de X-wax e do tipo centelhamento induzindo monóxido de carbono (CO – 92%) e dióxido de carbono (CO2)
pequenas perfurações carbonizadas no papel; descargas de são desenvolvidas do sobreaquecimento da celulose. Gases
baixa energia (D1), evidenciadas por perfurações maiores no hidrocarbonetos, tais como etileno e metano, serão formados
papel, trilhamento, ou partículas de carbono no óleo; descargas se a falha envolve uma estrutura impregnada de óleo. O gás
de alta energia (D2), com energia contínua, evidenciada pela principal é o monóxido de carbono.
larga carbonização, fusão de partes metálicas e possível Descarga parcial: produz hidrogênio (85%) e metano
obstrução do equipamento; falhas térmicas abaixo de 300 °C (13%), com pequenas quantidades de etano e etileno.
(T1) se o papel se tornou amarronzado, acima de 300 °C (T2) Quantidades comparáveis de monóxido e dióxido de carbono
se o papel carbonizou; falhas térmicas acima de 700 °C (T3), podem resultar de descargas na celulose. O gás principal é o
evidenciado pela carbonização do óleo, coloração metálica, ou hidrogênio.
fusão [7]. Falha por arco elétrico: grandes quantidades de hidrogênio
(60%) e acetileno (30%) são produzidas, com menores
III. MÉTODOS PARA DIAGNÓSTICOS BASEADOS NA quantidades de metano (5%) e etileno (3%). Dióxido e
CONCENTRAÇÃO DE GASES NO ÓLEO ISOLANTE monóxido de carbono podem também ser formados se a falha
As várias técnicas para interpretação da análise envolve celulose. Óleo pode ser carbonizado. O gás principal é
cromatográfica visam diagnosticar a condição atual do sistema o acetileno.
de isolamento do transformador. Dentre os métodos mais B. Métodos das Razões de Dörnenburg
conhecidos estão: método do gás chave, triângulo de Duval,
O uso de razões entre as concentrações dos gases para
método das razões de Dörnenburg e método das razões de
indicar um tipo possível de falha é um processo empírico
Rogers. Cada um deles será aqui comentado.
baseado na experiência de cada pesquisador de forma
Esses métodos derivam do modelo termodinâmico proposto
individual correlacionando as análises de gases de muitas
por Halstead. Ele propôs um modelo termodinâmico para
unidades com o tipo de falha posteriormente determinada
descrever a relação entre temperatura de falha e características
como a causa para o distúrbio ou falha quando a unidade foi
dos gases, o qual supõe que todos os hidrocarbonetos no óleo
examinada. Esse processo foi atribuído a Dörnenburg e
são decompostos no mesmo produto e cada produto está em
posteriormente confirmado por Rogers em sistemas Europeus,
equilíbrio com todos os outros. De acordo com o modelo, a
dos quais a maior parte da correlação do diagnóstico é obtida
taxa de evolução de cada gás pode ser calculada em qualquer
[3].
temperatura, tal que uma relação entre geração de gás e
As teorias de diagnósticos baseadas nos princípios de
temperatura pode ser obtida para cada gás. Os estudos dessas
degradação térmica empregam um conjunto de relações de
relações mostram que os gases são gerados na seguinte ordem
certos gases combustíveis chave como os indicadores do tipo
com um aumento de temperatura: H2 → CH4 → C2H6 → C2H4
de falha. As cinco relações são mostradas na Tabela I [3].
→ C2H2. O gás hidrogênio é gerado em baixas temperaturas e
sua quantidade aumenta de forma constante, enquanto o TABELA I
acetileno é gerado em temperaturas muito altas (próximo a RAZÕES ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DOS GASES
1000 °C) e também apresenta aumento constante de sua
Razão CH4 /H2 C2H2/C2H4 C2H2/CH4 C2H6 /C2H2 C2H4/ C2H6
quantidade [8].
Notação R1 R2 R3 R4 R5
A. Método do Gás Chave
O método do gás chave faz uso do valor percentual dos O método de Dörnenburg utiliza as razões R1, R2, R3 e R4
gases para diagnosticar falhas incipientes em transformadores. para indicar uma determinada falha dentre três tipos gerais
A essência do método leva à formalização da base qualitativa a sugeridos: sobreaquecimento, descargas de baixa energia
partir do conhecimento da temperatura onde um gás é (corona) e descargas de alta energia (arco elétrico).
predominantemente gerado e correlação dessa temperatura, e Se no mínimo uma das concentrações dos gases em µL/L
conseqüentemente do gás, a uma determinada falha. O gás (p.p.m.), para H2, CH4, C2H2 e C2H2, excederem duas vezes os
predominante é o gás chave ou principal [9]. valores para o limite L1 (Tabela II) e um dos outros gases
Em [3], as falhas incipientes, para o método descrito nesta excederem os valores para o limite L1, a unidade é
subseção, são divididas em quatro tipos: falha térmica no óleo, considerada defeituosa. Se no mínimo um dos gases em cada
falha térmica na celulose, descargas parciais e falha por arco relação exceder o limite L1, o procedimento das razões é
elétrico. considerado válido, caso contrário, as razões não são
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significativas e a unidade deveria ter novas amostras retiradas energia


e ser investigada por processos alternativos [3]. Descargas de alta energia >0.1 e <1.0 >0.75 >0.3 <0.4
Os valores de concentrações apresentados pela Tabela II, C. Métodos das Razões de Rogers
que seguem [3], norma do ano de 2008, diferem dos valores
O método das razões de Rogers segue o mesmo
encontrados na versão anterior de [3], do ano de 1991,
procedimento geral utilizado no método de Dörnenburg,
apresentados na Tabela III, e dos valores de Dörnenburg para exceto pelo fato que as razões utilizadas são: R1, R2 e R5. A
validação do seu método (Tabela IV). A diferença apresentada
validade desse método é baseada na correlação dos resultados
entre os valores limites nas tabelas se deve a atualizações
de um grande número de testes de falhas com a análise dos
nesses limites, visando um maior rigor entre as avaliações de
gases para cada caso. A Tabela VI apresenta os valores para as
normalidade e não normalidade. três relações de gases chave correspondendo ao diagnóstico
TABELA II sugerido (caso) [3].
CONCENTRAÇÕES LIMITE DE GASES DISSOLVIDOS CONFORME [3] Os primeiros trabalhos de Rogers utilizavam quatro
relações de gases. Em [3] é sugerido a utilização do método de
Gás chave Concentrações L1 [µL/L (p.p.m.)] Rogers com três relações de concentração de gases e cinco
Hidrogênio (H2) 100 gases. Esse critério elimina a relação C2H6/CH4 que era
Metano (CH4) 120 utilizada para identificação de sobreaquecimento de baixa
Acetileno (C2H2) 1 temperatura [5]. A revisão de [10], 1999, sugere a utilização
Etileno (C2H4) 50 do método de Rogers com um formato similar ao acima
Etano (C2H6) 65 exposto utilizando uma revisão em que o valor do limite
mínimo da relação C2H2/ C2H4 é alterado.
TABELA III
CONCENTRAÇÕES LIMITE DE GASES DISSOLVIDOS CONFORME VERSÃO TABELA VI
ANTERIOR A [3] DE 1991 FAIXAS DAS RAZÕES PARA OS GASES CHAVES – ROGERS

Gás chave Concentrações L1 [µL/L (p.p.m.)]


Caso R2 R1 R5 Diagnóstico de falha
Hidrogênio (H2) 100 >0.1 a
0 <0.1 <1.0 Unidade Normal
Metano (CH4) 120 <1.0
Descarga de baixa
Acetileno (C2H2) 35 1 <0.1 <0.1 <1.0
energia
Etileno (C2H4) 50 0.1 a
2 0.1 a 1.0 >3.0 Descarga de alta energia
Etano (C2H6) 65 3.0
>0.1 a Falha térmica de baixa
3 <0.1 1.0 a 3.0
<1.0 temperatura
TABELA IV
4 <0.1 >1.0 1.0 a 3.0 Falha térmica < 700 °C
CONCENTRAÇÕES LIMITE DE GASES DISSOLVIDOS DE ACORDO COM
5 <0.1 >1.0 >3.0 Falha térmica > 700 °C
DÖRNENBURG [5]

Gás chave Concentrações L1 [µL/L (p.p.m.)] É possível observar que as faixas de variação das relações
Hidrogênio (H2) 200 apresentam superposições, não permitindo uma interpretação
Metano (CH4) 50 única. Também em muitos casos não existe um diagnóstico
Acetileno (C2H2) 15 definido, pois as combinações de variações que podem ocorrer
Etileno (C2H4) 60 nas relações são maiores que aquelas definidas na tabela do
Etano (C2H6) 15 método. Esse fato ocorre com todas as variantes dos métodos
[5].
Como pode ser observado nas tabelas, entre os valores das D. Triângulo de Duval
duas versões da norma, há diferença apenas no valor para o Este método foi desenvolvido por Michel Duval em 1974 e
acetileno, enquanto que para os valores originais de está descrito no apêndice B do IEC 60599 [4].
Dörnenburg em relação às normas, há diferenças em todos os O procedimento de aplicação desse método se inicia com o
limites. cálculo das percentagens dos gases metano (CH4), etileno
As faixas das razões R1, R2, R3 e R4, definidas no método (C2H4) e acetileno (C2H2) em relação à soma das
de Dörnenburg, e a respectiva falha associada são apresentadas concentrações desses gases gerados em p.p.m. – partes por
na Tabela V. milhão – (CH4 + C2H4 + C2H2). Uma vez obtidos os
percentuais (%CH4, %C2H4, %C2H2), estes servem para
TABELA V
FAIXAS DAS RAZÕES PARA OS GASES CHAVES – DÖERNENBURG [3] identificação de um ponto em um sistema de coordenadas
triangulares. O triângulo de Duval é geograficamente
Falha Incipiente R1 R2 R3 R4 subdividido em zonas que representam as falhas. As
Decomposição térmica >1.0 <0.75 <0.3 >0.4 coordenadas triangulares correspondentes ao resultado da
Descargas de baixa <0.1 - <0.3 >0.4
análise de gases dissolvidos em p.p.m. podem ser calculadas
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como segue [6]: %C2H2 = 100x/(x+y+z); %C2H4 = tomando-se como base os valores históricos. Isso é
100y/(x+y+z); %CH4 = 100z/(x+y+z), com x = (C2H2); y = implementado através de coletas periódicas de amostras de
(C2H4); z = (CH4), em p.p.m.. óleo, análise cromatográfica para determinar as concentrações
A Fig. 1 ilustra de forma gráfica o método do triângulo de dos gases e formação de um banco de dados com o histórico
Duval, bem como a composição das coordenadas e as zonas do transformador.
das respectivas falhas, cujos códigos: PD, D1, D2, T1, T2 e T3 O tipo de equipamento e seu projeto têm influência no
já foram descritos na seção II. O código DT, contido no volume de gases gerados. Tradicionalmente a análise de gases
triângulo, está relacionado à combinação de falhas térmicas e é utilizada em transformadores de potência. Entretanto, é uma
elétricas associadas principalmente com transformadores com técnica recomendada para qualquer equipamento que utilize
OLTC - On Load Tap Changer (comutador de tap em carga). isolamento de papel impregnado imerso em óleo. A
recomendação da IEC 60599 para análise de gases dissolvidos
reconhece um comportamento diferenciado entre os
equipamentos quanto à geração de gases, estabelecendo
diferentes limites por tipo de equipamento. É importante
salientar que para baixas concentrações de gases a incerteza é
significativa, e no cálculo das relações entre os gases pode
representar uma variação de até 40%. Esse fato é
particularmente importante para transformadores de medição
que apresentam normalmente baixas concentrações de gases
[5].
Em [3], [4], é especificado que quando as relações ou
concentrações de gases excedem seus respectivos valores
típicos, uma tentativa de diagnóstico pode ser feita aplicando
Fig. 1. Representação gráfica do método do triângulo de Duval [6]. um dos métodos padrões de diagnóstico de análise de gases
dissolvidos (métodos de Dörnenburg e Rogers) [11]. Essa
IV. IMPRECISÕES E INCERTEZAS DAS METODOLOGIAS DE característica já acrescenta uma limitação aos métodos.
ANÁLISE DE GASES DISSOLVIDOS Esses métodos levam a um número significativo de casos
A base das técnicas de análise de gases dissolvidos é o onde nenhum diagnóstico pode ser dado, porque os valores das
processo de cromatografia laboratorial a qual a amostra do relações ficam fora da faixa de falhas. O método do gás chave
óleo isolante do transformador é submetida. Esse processo tem leva a um grande número de diagnósticos errados. O método
como produto resultante uma estratificação das concentrações triângulo de Duval é uma abordagem gráfica, com menos
dos gases dissolvidos no óleo e a partir desses valores erros, que gera coordenadas normalizadas em um sistema de
quantificadores aplica-se uma técnica de interpretação dos coordenadas triangulares, tal que os pontos de dados caem
dados. Esses dados podem ser expressos na forma de dentro de uma zona correspondendo a um tipo de falha [11].
concentrações individuais de cada gás, através de razões entre
as concentrações dos gases ou ainda como porcentagens em V. RESULTADOS DE CÁLCULOS DAS IMPRECISÕES DOS
MÉTODOS DE ANÁLISE DE GASES DISSOLVIDOS
relação à concentração total de gases combustíveis.
O processo de falha está intrinsecamente relacionado com Com base no banco de dados gerais de diagnósticos de
as temperaturas esperadas no óleo em função de seus casos testados, da IEC TC 10 [7], foram feitos cálculos
mecanismos. São estabelecidas faixas de temperatura para as utilizando os principais métodos de diagnósticos de falhas
quais existe uma maior probabilidade da ocorrência de um incipientes, para se obter a percentagem de acertos de tais
determinado processo. Estabelecida a correlação entre a métodos, e assim verificar a sua confiabilidade. Os valores
temperatura, o processo de falha e sua intensidade, os encontrados são mostrados na Tabela VII.
processos envolvidos e faixas de temperaturas esperadas para Para cada conjunto de gases medidos a condição dos
falhas específicas nos equipamentos, podem ser estimados. equipamentos foi determinada através de medições específicas
Essa é a forma usual de estabelecer uma correlação entre a e inspeções visuais feitas por especialistas. Essa base de dados
formação de gases no óleo e processos ou falhas específicas apresenta vários conjuntos de dados relativos a diferentes
[5]. equipamentos, sendo organizada por tipo de falha e
A interpretação de uma análise individual pode não ser identificada por tipo de equipamento [5]. Os cálculos foram
muito efetiva, pois, mais de uma falha pode estar ocorrendo ao feitos com os dados em conjunto.
mesmo tempo ou ainda um tipo de falha pode progredir para
outro, tal como ocorre com alguns problemas elétricos que têm TABELA VII
RESULTADOS DE APLICAÇÃO DOS MÉTODOS
origem em problemas térmicos. Portanto, é de fundamental
importância estabelecer uma base de dados para servir como Método Acerto (%)
valores de referência, de forma tal que se torna possível
Rogers conforme IEC 599 - 1978 49,57
determinar a evolução temporal das concentrações dos gases,
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Rogers IEC 599 - 1978 com extensões [9] 56,41 o backpropagation [17] aprendem a relacionar entradas com
Rogers IEEE C57.104 - 1991 53,85 saídas, a partir de dados fornecidos à MLP, ao ajustar estes
Rogers IEEE C57.104 - 2008 53,85 pesos wji e βkj – o que permite aproximar uma função entre
Dörnenburg original 63,25 entrada e saída apenas a partir de dados coletados.
Dörnenburg IEEE C57.104 - 1991 64,10 B. Método de Diagnóstico Utilizando Redes Neurais
Dörnenburg IEEE C57.104 - 2008 65,81
Os sistemas de monitoramento e diagnóstico de
Triângulo de Duval (IEC 599 - 1999) 88,03 transformadores possuem geralmente, duas funções que,
embora distintas por definição, evoluem e são utilizadas em
Os métodos clássicos apresentam uma taxa de acerto conjunto. O monitoramento tem por fim a aquisição de um
relativamente baixa, sendo o triângulo de Duval o método com conjunto de dados relativos ao funcionamento do
melhor taxa de acerto entre os estudados (88,03% pela Tabela transformador e cuja coleta envolve modernas tecnologias em
VII). Além disso, os métodos de Rogers e Dörnenburg sensores, técnicas de aquisição de dados e dispositivos digitais
apresentam problemas de não diagnóstico (vide Seção IV). ou analógicos utilizados. O diagnóstico, por sua vez, está mais
Uma possibilidade de aumentar a taxa de acerto no diagnóstico relacionado à interpretação dos dados e pode ser realizado por
de transformadores seria a utilização de inteligência artificial, um especialista ou por um software especialmente
como por exemplo, as redes neurais artificiais. desenvolvido para este fim. Atualmente observa-se a
tendência da substituição do diagnóstico feito por um
VI. APLICAÇÃO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS AO especialista, por sistemas automáticos de diagnóstico que
DIAGNÓSTICO DE ANÁLISE DE GASES DISSOLVIDOS incorporam uma forte parcela de técnicas inteligentes para
representar entre outros conhecimentos, aquele acumulado
A. Redes Neurais Artificiais
com a experiência de um especialista [14]-[16].
Uma rede neural artificial (RNA) consiste basicamente de Diversos trabalhos vêm propondo sistemas inteligentes no
um sistema formado por um grande número de elementos de diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de
processamento simples (os neurônios) interconectados por potência imersos em óleo utilizando redes neurais artificiais
ligações (sinapses) ponderadas. Há diversos modelos de RNAs [8], [12]. Como forma de demonstrar os ganhos desta
que diferem em aspectos como, por exemplo [12], [17]: (i) o abordagem, em comparação com os métodos descritos
padrão das conexões entre os neurônios (arquitetura), e (ii) o anteriormente, no diagnóstico de falhas incipientes em
método de determinação dos pesos das conexões (treinamento transformadores, este trabalho treinou uma rede MLP com as
ou aprendizado). A Fig. 2 apresenta um exemplo de modelo de seguintes características: 3 neurônios na camada de entrada (as
RNA muito utilizado na literatura: o perceptron de múltiplas razões de gases R1, R2 e R5 – conforme Tabela I), uma
camadas (MLP – Multilayer Perceptron) [17]. camada escondida com apenas 10 neurônios (configuração que
apresentou os melhores resultados em termos de redução de
erro e generalização nas simulações realizadas) e 1 neurônio
na camada escondida (o valor de saída codifica a falha
diagnosticada). Utilizando os mesmos dados da IEC TC 10
empregados para gerar a Tabela VII, sendo 70% dos dados
apresentados para treinamento e 30% para testes, obteve-se
com a RNA um percentual de acerto de 100% tanto na fase de
treinamento quanto na fase de teste.

VII. CONCLUSÕES
Apesar de versões mais recentes dos métodos indicados
pelas normas (Seção III) para diagnóstico de falhas insipientes
Fig. 2. RNA feedforward [13]. em transformadores com óleo isolante terem melhorado a
precisão nos acertos, os mesmos ainda apresentam muitos
Na MLP os neurônios são organizados em camadas erros de diagnóstico. Muitos trabalhos buscam reduzir ainda
(entrada, escondida e saída). A informação flui neste tipo de mais esses erros utilizando métodos de inteligência artificial
RNA da camada de entrada, passa pela(s) camada(s) (IA), como as RNAs, no diagnóstico e inclusive incorporando
escondida(s) e gera uma resposta na camada de saída [17]. conhecimentos de especialistas. Enquanto vários dos métodos
Considerando na Fig.2 n neurônios na camada de entrada tradicionais de diagnóstico apresentam intervalos associados
(x1, ..., xn), h neurônios na camada escondida (z1, ..., zh), e m às razões de gases, onde não apresentam decisão/resultado, ou
neurônios na camada de saída (y1, ..., ym), denomina-se: wji o mesmo podem apresentar diagnósticos superpostos, o uso de
peso da conexão entre a entrada xi e o neurônio zj da camada ferramentas de IA pode preencher esses intervalos e resolver
escondida, e βkj o peso da conexão entre o neurônio zj e o as superposições através de extrapolação e delimitação mais
neurônio de saída yk [13]. Algoritmos de aprendizagem como precisa de fronteiras durante o processo de aprendizagem.
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Como trabalhos futuros, pretende-se utilizar ferramentas de de Engenharia Elétrica, com ênfase em Transformadores de Potência, e
Sistemas de Transmissão e Distribuição, atuando principalmente nos
IA e de extração de regras de conhecimento para propor seguintes temas: Modelagem termo-eletromagnética de transformadores,
melhorias nas regras de decisão indicadas nas normas. projetos de transformadores e lavagem de isoladores.

VIII. REFERÊNCIAS Márcio André Baima Amora graduado em


engenharia elétrica pela Universidade Federal do
[1] F. R. Barbosa, “Monitoramento e diagnóstico inteligente da qualidade
Pará (1998), mestrado em engenharia elétrica pela
dielétrica do isolamento líquido de transformadores de potência,”
Universidade Federal do Pará (2001). É atualmente
Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Centro de Tecnologia,
professor assistente na Universidade Federal do
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2008.
Ceará. Tem experiência na área de Engenharia
[2] Amostragem de Gases e Óleo Mineral Isolantes de Equipamentos
Elétrica, com ênfase em inteligência computacional
Elétricos e Análise dos Gases Livres e Dissolvidos - NBR – 7070: 1981.
aplicada, trabalhando principalmente nas seguintes
[3] IEEE Guide for the Interpretation of Gases Generated in Oil-Immersed
áreas: diagnósticos de falhas incipientes em
Transformers, IEEE Standard C57.104-2008, Sept. 2008.
transformadores, análise de carga de transformadores de potência, geração de
[4] IEC Mineral Oil-Impregnated Electrical Equipment in Service – Guide
energia eólica, análise de estabilidade transitória.
to the Interpretation of Dissolved and Free Gases Analysis, IEC 60599
– 2008.
[5] R. Zirbes, J. G. Rolim e H. H. Zürn, “Metodologias para avaliação e Fábio Rocha Barbosa formação técnica em
diagnóstico do estado de isolamentos de papel impregnado com óleo eletrotécnica pelo Centro Federal de Educação
mineral,” Revista Controle & Automação, Vol. 16, Nº 3, pp. 318-330, Tecnológica do Ceará (1999), graduado em
Jul./Ago./Set. 2005. engenharia elétrica pela Universidade Federal do
[6] M. Duval, “A Review of Faults Detectable by Gas-in-Oil Analysis in Ceará (2004), mestrado em engenharia elétrica pela
Transformer,” IEEE Electrical Insulation Magazine, Vol. 18, Nº 3, pp. Universidade Federal do Ceará (2008). Tem
8-17, May/June 2002. experiência na área de Engenharia Elétrica, com
[7] M. Duval e A. de Pablo, “Interpretation of Gas-in-Oil Analysis Using ênfase em inteligência artificial aplicada à
New IEC Publication 60599 and IEC TC 10 Databases,” IEEE engenharia. Atualmente é estudante de doutorado em
Electrical Insulation Magazine, Vol. 17, Nº 2, pp. 31-41, March/April Engenharia Elétrica na Universidade Federal do
2001. Ceará e desenvolve pesquisa na área de monitoramento e diagnóstico de
[8] Z. Wang, “Artificial intelligence applications in the diagnosis of power transformadores de potência imersos em óleo isolante.
transformer incipient faults,” Ph. D. dissertation, Faculty of the Virginia
Polytechnic Institute and State University, Blacksburg, 2000. Ricardo Silva Thé Pontes nasceu em Fortaleza –
[9] S. E. U. de Lima, “Diagnóstico inteligente de falhas incipientes em Ceará no Brasil. Possui graduação em Engenharia
transformadores de potência utilizando a análise dos gases dissolvidos Elétrica pela Universidade Federal do Ceará (1979),
em óleo,” Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Centro de mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade
Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. de Brasília (1983) e doutorado em Engenharia
[10] ABNT NBR 7274: Interpretação da Análise dos Gases de Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia
Transformadores em Serviço. Rio de Janeiro, 1982. (2002). É o coordenador e principal responsável pelo
[11] M. Duval e J. Dukarm, “Improving the Reliability of Transformer Gas- LAMOTRIZ/UFC – Laboratório de Eficiência
in-Oil Diagnosis,” IEEE Electrical Insulation Magazine, Vol. 21, Nº 4, Energética em Sistemas Motrizes Industriais.
pp. 21-27, July/August 2005. Atualmente é Professor Associado II do
[12] D. R. Morais, “Ferramenta inteligente para a detecção de falhas Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará. Tem
incipientes em transformadores baseada na análise de gases dissolvidos experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Máquinas
no óleo isolante,” Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Elétricas, Automação industrial e Eficiência energética, atuando
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. principalmente nos seguintes temas: eficiência em força motriz, máquinas de
[13] M.A.B. Amora, O.M. Almeida, A.P.S. Braga, F.R. Barbosa, , S.S. Lima, indução linear, máquinas elétricas de relutância, modelagem eletromagnética
V. B. L. Benigno, L. A. C. Lisboa, “Estudo de métodos para obtenção de máquinas elétricas, modelagem termo-eletromagnética de transformadores
de conhecimento de redes neurais,” IX SBAI Simpósio Brasileiro de e monitoramento digital de sistemas ambientais.
Automação Inteligente, 2009, Brasília. Anais do IX SBAI , 2009.
[14] M.A.B. Amora, et al. “Decompositional Rule Extraction from Artificial Arthur Plínio Souza Braga graduado em engenharia
Neural Networks and Application in Analysis of Transformers,” elétrica pela Universidade Federal do Ceará (1995),
Intelligent System Applications to Power Systems, 2009. ISAP '09. 15th mestrado em engenharia elétrica pela Universidade de
International Conference on. São Paulo (1998), doutorado em engenharia elétrica
[15] F.R. Barbosa, O.M. Almeida, A.P.S. Braga, C.M. Tavares, M.A.B. pela Universidade de São Paulo [S. Carlos] (2004),
Amora, F.A.P. Aragao, P.R.O. Braga, S.S. Lima, “Artificial Neural pós-doutorado pela Universidade de São Paulo / São
Network Application in Estimation of Dissolved Gases in Insulating Carlos - USP / SC (2006). É atualmente professor
Mineral Oil from Physical-Chemical Datas for Incipient Fault Adjunto da Universidade Federal do Ceará,
Diagnosis,” Intelligent System Applications to Power Systems, 2009. trabalhando principalmente nas seguintes áreas:
ISAP '09. 15th International Conference on. aprendizagem por reforço, agentes autônomos, redes
[16] A.A.C. Freitas, “Redes Neurais Artificiais Aplicadas em neurais, inteligência artificial, mapas auto-organizáveis.
Transformadores de Distribuição Imersos em Óleo”, Tese de Mestrado,
UNESP/FE/DEE, Bauru-SP, 2000.
Otacílio da Mota Almeida graduado em engenharia
elétrica pela Universidade Federal do Ceará (1987),
IX. BIOGRAFIAS mestrado em engenharia elétrica pela Universidade
Estadual de Campinas (1990), doutorado em
engenharia elétrica pela Universidade Federal de
Rafael Oliveira de Sousa nasceu em Brasília - Distrito Santa Catarina (2002). É atualmente professor
Federal no Brasil em 1983. Possui graduação em Adjunto da Universidade Federal do Ceará. Tem
Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará experiência na área de Engenharia Elétrica, com
(2007), mestrado em Engenharia Elétrica pela ênfase em automação de sistemas de potência e
Universidade Federal do Ceará (2010). Atualmente é processos elétricos industriais, trabalhando
estudante de doutorado em Engenharia Elétrica na principalmente nas seguintes áreas: modelagem e controle de processos,
Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área controle de processos industriais, sistemas inteligentes.

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