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A Metáfora Bíblica do Líder Cristão

como Pastor de Ovelhas


( Texto Original 1 Pe 5:1-4 )

Na perícope ora analisada Pedro utiliza uma metáfora muito


comum no texto bíblico: o pastor de ovelhas como paradigma de
liderança. Quando o apóstolo diz pastoreai o rebanho de Deus,
ele tem como pano de fundo toda uma tradição histórica, social e
escriturística, onde as qualidades do pastor de ovelhas são tidas
como desejáveis aos líderes do povo escolhido por Deus, tanto
no antigo Israel como na igreja nascente.

Desde a experiência dos patriarcas de Israel, que foram


nômades criadores de ovelhas, a metáfora do pastor que conduz
seu rebanho exprime de forma admirável duas características
singulares, e aparentemente contrárias, da experiência da
liderança. O pastor é ao mesmo tempo um chefe e um
companheiro. Léon-Dufour expõe essa dualidade de forma clara
e concisa:
[O pastor] é um homem forte, capaz de defender seu rebanho contra as feras
(Is 17,34-37; cf. Mt 10,16; At 20,29); é também delicado com suas ovelhas,
conhecendo seu estado (Pv 27,23), adaptando-se a sua situação (Gn 33,13s),
levando-as em seus braços (Is 40,11), acariciando esta ou aquela “como sua
filha” (2S 12,3). Sua autoridade é indiscutida, e é baseada no devotamento e no
amor.[1]

A figura do pastor como chefe ou governante é usada freqüentemente no Antigo


Testamento. Ela se aplica a Jeová (Is 40:10), o qual é visto como o pastor de
Israel que pastoreia a seu povo desde o seu trono real (Sl 80:1ss; 95:6ss). A
figura também se aplica aos líderes nacionais de Israel, sendo Davi um exemplo
que se sobressai (2 Sm 5:2; Sl 78:70ss). Também são mencionados Josué (Nm
27:16), os juízes (1 Cr 17:6) e a nobreza em geral (Jr 2:8; 25:34-36). Este último
grupo é condenado por Ezequiel por causa da sua negligência para com as
responsabilidades pastorais (Ez 34:2-10)[2]. Os profetas então começam a falar
do pastor ideal vindouro, que não desamparará suas ovelhas. Esse é
identificado por Miquéias com a figura do Messias (5:2-4) e também por
Ezequiel (34: 22-24; 37:24ss)[3].
Não se deve, porém, dar demasiada importância ao aspecto do governo em
detrimento do aspecto do protetor e companheiro na figura do pastor. Assim
como um pastor que apascenta seu rebanho pega em seus braços os cordeiros,
e os põe sobre seu peito, e leva ao descanso as ovelhas mães (Is 40,11), assim
também o Senhor continua a “conduzir” seu povo (Sl 80,2) em segurança[4]. O
salmo 23 é o grande exemplo das qualidades de Javé como bom pastor: ele é
aquele que faz a provisão das necessidades do rebanho, que orienta, guia e
protege em meio aos caminhos e dificuldades da vida.

Daniel-Roops destaca também o fato de que a vida do pastor não era fácil. Pelo
contrário, era uma profissão que dependia de muita disciplina e abnegada
dedicação.

O cuidado desses rebanhos imensos exigia o máximo de atenção, embora as


ovelhas no geral tivessem uma das pernas presa à cauda, a fim de evitar que
se afastassem (...) sempre havia algumas que se afastavam tanto a ponto dos
cães não poderem levá-las de volta, e então o pastor tinha de fazer ele mesmo
esse serviço. Hienas, chacais, lobos e até ursos surgiam com freqüência, não
sendo incomum a luta entre o pastor e uma fera selvagem (...)Fica evidente que
este trabalho não era nenhuma sinecura. O pastor precisava cuidar também das
ovelhas doentes e das que se feriam, tratar daquelas que se achavam prenhes
e dos cordeirinhos recém-nascidos, castrar os carneiros que não deviam
procriar e dar o dízimo do rebanho segundo a Lei. [5]

Nos tempos do Novo Testamento, entretanto, a reputação dos pastores tinha


sido bastante alterada. Em nome de uma Lei, que mal podiam cumprir, eles
eram comparados a ladrões e assassinos[6]. Os pastores não eram olhados
com grande confiança; havendo até mesmo um ditado popular que incluía o seu
mister entre as profissões que o judeu não devia ensinar a seu filho[7]

Todavia, seguindo a tradição profética e trazendo de volta à memória do povo a


profecia sobre o Pastor futuro, Jesus se apresenta como o “Bom Pastor”. Esta
figura é detalhada de maneira maravilhosa no capítulo 10 do evangelho de
João. Como pastor, ele guia as ovelhas, as salva e alimenta (v. 9) e lhes dá a
vida eterna (v. 10, 28) através de um sacrifício voluntário e vicário de si mesmo
(v. 11, 15, 18) [8].

Também no Novo Testamento a figura se aplica aos líderes da igreja. Os


presbíteros de Éfeso pastoreavam a igreja (At 20:28; Ef 4:11). Os presbíteros
das igrejas da Ásia Menor também são orientados a pastorear o rebanho de
Deus com humildade e dedicação (cf. os v. 2 e 3 da perícope ora analisada).
Contudo, nem sempre as igrejas do Novo Testamento tiveram pastores assim
dedicados (At 20:29ss; Jd 12)[9].

Não obstante, o importante é que a parábola do pastor aplicada aos líderes da


igreja implica em que eles devem seguir o exemplo de Cristo. Devem buscar a
ovelha perdida (Mt 18:12ss), vigiar contra os lobos vorazes que não poupam o
rebanho, apascentar a igreja de Deus desinteressadamente e com entusiasmo
de coração e, sobretudo, esforçarem-se por se tornar modelos do rebanho[10].

CONCLUSÃO:

A primeira antítese é a que fala de voluntariedade versus constrangimento.


Ainda que muitos fatores possam levar uma pessoa ao exercício do ministério
cristão, o pastor genuíno é aquele que pastoreia com amor e disponibilidade de
coração. Suas motivações não são exteriores, são interiores. Ele não é
constrangido a isso pelos anseios da comunidade ou por sua própria
necessidade de auto-afirmação. O que o constrange é o amor de Cristo, que o
leva a amar as ovelhas e a servir voluntariamente, de conformidade com a
vontade de Deus.
A seguir Pedro analisa a abnegação e boa vontade versus a cobiça e avareza.
O pastor recrutado por Cristo para o serviço cristão não pode olhar para as
ovelhas como fonte de lucro e riqueza. Seu objetivo maior é servir ao rebanho e
não servir-se do rebanho. Este tipo de atitude é chamado pelo apóstolo de
sórdida ganância, o tipo mais corrupto de desonestidade, que é ganhar dinheiro
explorando a fé dos pequeninos. Ao contrário disto, o líder cristão deve ter uma
atitude abnegada, uma vida simples de serviço e proteção ao rebanho, atitude
essa movida pelo zelo do amor de Cristo que arde em seu coração.

A última antítese trata da humildade e exemplo versus a tirania e o


autoritarismo. Os presbíteros devem lembrar-se de que não são donos do
rebanho, e que por isso não podem dispor das ovelhas como bem entendem. O
propósito de Pedro aqui é lembrar aos líderes que a modéstia, humildade e bom
exemplo são virtudes cardeais para qualquer um que deseje exercer autoridade
sobre o rebanho de Deus. A autoridade do líder cristão não vem do seu poder
despótico de obrigar as pessoas a fazer a sua vontade, mas da sua disposição
em imitar a Cristo e tornar-se ele mesmo, exemplo para o rebanho.

Ao final da perícope os presbíteros ainda são lembrados de que sobre eles está
a autoridade do Sumo-Pastor, o qual no dia da sua volta irá outorgar-lhes a
coroa da glória, verdadeira recompensa do pastor fiel.

Coroa imperecível:

Adoniran Judson, missionário norte-americano para a antiga Birmânia, tornou-


se lendário no cristianismo do século XIX. Sua vida se agiganta como exemplo
de santa obstinação. Quando ele e a esposa, Nancy, chegaram a Rangoon,
contemplaram as ruas estreitas e sujas com cabanas estragadas e um sendo
de opressão escondido nos sorrisos alegres daqueles que os receberam. Suas
tribulações começaram logo, pois o clima político no país era de revolta contra
os estrangeiros.

Nancy foi acometida das doenças que assolavam o país e logo precisou voltar
aos Estados Unidos para tentar curar-se das constantes febres. Durante sua
ausência, a Birmânia rompeu relações políticas com a Inglaterra e todos os
estrangeiros foram presos.

Adoniran, mesmo sendo norte-americano, acabou preso junto com outros


missionários. Foram confinados numa cela de morte, onde aguardavam a
execução.

A vida na prisão era medonha. Adoniran precisou conviver com criminosos


comuns em uma cadeia suja. A noite os guardas da prisão (que eram
criminosos anteriormente), içavam os presos com correntes pendurando-os
pelos pés, até que apenas as cabeças e os ombros pousassem no chão. Pela
manhã Adoniran se achava entorpecido e duro, mas o dia trazia pouco alivio. A
cada dia executavam novos presos, e os prisioneiros não sabiam quem seria o
próximo. Nancy descobriu que estava grávida enquanto seu marido definhava
na prisão. É inimaginável o impacto que o missionário sentiu quando recebeu a
primeira visita de sua mulher, meses depois . Já na primeira visita , Nancy levou
a filhinha, chamada Maria.

Depois de quase um ano preso e sem nenhum exercício físico. Adoniran e


todos os outros presos foram transferidos para outra penitenciária. Forçado a
marchar sob sol escaldante, seus pés ficaram em carne viva. Ao caminhar por
um despenhadeiro, sua dor era tanta que Adoniran se sentiu tentado a pular e
acabar com tudo. Parecia o meio mais fácil de fugir da dor, mas ele venceu a
tentação e perseverou, apenas para continuar preso.
Depois e solto enfrentou um breve descanso. Logo Adoniran recebeu noticias
que a esposa, a quem não via a muito tempo, morrera de febre. Alguns meses
depois também morreu sua filhinha Maria. Sua tristeza quase o levou a loucura.
Mas sua determinação de não desistir do projeto de traduzir a Bíblia para o
birmanês o manteve trabalhando mesmo sentido-se perto de um colapso.
Catorze anos após a morte de Nancy, ele enviou a última página de Bíblia
birmanesa ao impressor. Casou-se novamente, mas a esposa, Sarah, faleceu
em 1845, a caminho dos Estados Unidos.[11]

Por causa de sua determinação, os birmaneses ganharam a Bíblia em sua


própria língua. Em 1850 em apenas uma tribo, os Karens, havia mais de dez mil
convertidos ao cristianismo. Hoje, calcula-se que haja cerca de cem mil crentes
batizados entre os karens.[12]

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[1] Xavier LÉON-DUFOUR, Vocabulário de Teologia Bíblica, p. 724.


[2] Everet F. HARRISON, Diccionario de Teologia, p. 398.
[3] Ibidem.
[4] LÉON-DUFOUR, Op. cit., p. 724.
[5] Henri DANIEL-ROOPS, A Vida Diária nos Tempos de Jesus, p. 150-151.
[6] LÉON-DUFOUR, Op. cit., p. 724.
[7] DANIEL-ROOPS, Op. cit., p. 150.
[8] HARRISON, Op. cit., p. 398.
[9] Ibidem.
[10] LÉON-DUFOUR, Op. cit., p. 727.
[11] Ruth Tucher,Até aos confins da Terra, São Paulo, Vida Nova, 1986,p.128.
[12] Gondin, Ricardo, Como Vencer a Inconstância,São Paulo,Editora
Vida,2004,p.30-31
[13]Adriano Coelhov

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