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Proclamação de Eduardo Angelim (agosto de 1836):

"Corajosos Paraenses, valentes defensores da Pátria e da Liberdade! Depois de nove dias


de fogo mortífero com outras tantas noites, estamos senhores da formosa Belém,
capital da província! Os dois estrangeiros Manuel Jorge Rodrigues e João Taylor lá se vão
de fugida e duma maneira vergonhosa: o primeiro à frente de seus aguerridos e briosos
batalhões de voluntários, e o segundo à frente de sua esquadra de intrépidos
marinheiros! Esta cidade, que ainda há poucos dias era governada por um presidente
rebelde, apresentava um quadro risonho e encantador. Girava o comércio, funcionavam
todas as repartições públicas, havia sossego, paz e ordem. Hoje o que vemos nós? Com
dor o digo, esta tão bela cidade, tão cheia de encantos, está reduzida a um montão de
ruínas! Para todas as partes, onde lançamos as nossas vistas, só vemos a imagem da dor
e da tristeza!
"Amados patrícios! Seremos nós os responsáveis perante Deus por tantos males que
hoje pesam sobre o Pará? Certamente que não. Os dois monstros e fugitivos
estrangeiros Jorge e Tayior serão os únicos responsáveis diante do Ser Supremo e
perante a história, pelas grandes desgraças que hoje pesam sobre a inocente família
paraense! Amparo e proteção para milhares de famílias inocentes, que neste momento
estão sob nossa guarda! Seja cada um de vós um pai, um protetor da inocência
desvalida! Procedendo assim bem teremos merecido da pátria e das gerações futuras.
"Meus amados patrícios! Eu vos afiancei que o infame e opressor jugo estrangeiro havia
de cair por terra e que seríamos os vencedores. Realizaram-se os meus bons desejos e
gratas esperanças. Vós sois dignos do nome paraense! Vós todos, soldados da liberdade,
estais coberto de glória pelo vosso patriotismo, valor e constância! Os nossos inimigos
são os primeiros a confessar o vosso valor e heroismo! Nos combates desesperados que
sustentamos, eu fui o que menos fiz: porém sempre me achei ao vosso lado e onde havia
perigo. Era um dever de honra a cumprir. A nossa obra ainda não está concluída, ainda
resta muito a fazer. Antes de tudo, peço-vos que modereis o vosso ardor guerreiro, e
amanhã ou depois teremos que aclamar um presidente que mereça a nossa estima,
confiança e respeito. Dignos chefes de todas as colunas, vós todos sois merecedores dos
maiores louvores e elogios pelo vosso valor, firmeza de caráter e lealdade. Vivam os
descendentes dos Ajuricabas e Anagaíbas! Vivam os paraenses livres! Viva o Pará!"

Disponível em <https://noamazonaseassim.com/a-revolta-dos-cabanos-a-cabanagem/>. Acesso:


03.09.2019.

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