Você está na página 1de 4

CAMPO DA BARRANCEIRA E QUEBRA MORRO DO GALO

Defesa do projeto de intervenção arquitetônica VIDA E VERDE NO MORRO


DO GALO ATITUDE DA LIDERANÇA DE WALDECREI CABRAL- CATEGORIA:
LIDERANÇAS NEGRA DE ATITUDE.

Justificativa

A Lei Federal 11.888/2008, que tem como um dos seus fundamentos o


direito humano à moradia, foi denominada Lei de ATHIS, que é a sigla de
Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social, uma garantia expressa na
Constituição Federal, ações voltadas para a luta do Direito à Cidade e,
principalmente, aquelas destinadas à conquista da Moradia Digna, garantem que
famílias com renda de até três salários mínimos, em áreas urbanas e rurais,
recebam assistência técnica pública e gratuita, prestada por profissionais
habilitados para a elaboração de projetos, acompanhamento e execução de obras
necessárias para a edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária de
suas moradias.
Na Cidade do Rio de Janeiro, as remoções de favelas, enquanto política e
tecnologia governamental, afetaram de diversas maneiras a vida dos moradores
de muitos espaços e territórios. Durante o Século XX, a Zona Sul e o Centro da
cidade eram os principais alvos da política de remoção de favelas, à medida em
que o capital imobiliário avançava na região.

As pesquisas sobre o tema demonstraram que, ao longo da história


urbana da Cidade Maravilhosa, diferentes governos acionaram diversas técnicas e
estratégias para promover a expulsão de famílias das terras onde habitavam há
décadas. Os cálculos de indenização, os cadastramentos de moradores e o
discurso do risco, além da desinformação e da produção de cenários de miséria
marcados por falta de coleta e lixo acumulado, escombros, esgotos à "céu
aberto", entulhos e poeira, são algumas das consequências da política
remocionista.

Os despejos e expulsão de pessoas para as zonas periurbanas marcam a


história urbana da nossa cidade desde o início do século XX com a
conhecida retirada de cortiços do centro no "Bota Abaixo" do prefeito Perteira
Passos. Em meados dos anos 70, é sabido que 140 mil moradores
haviam sido removidos de cerca de 90 favelas, devido à intensificação
da política remocionista durante a ditadura militar.

Normalmente, durante um processo de remoção ocorrem muitas violações


de direitos humanos, na medida em que os próprios dispositivos legais não são
respeitados pelos agentes estatais. Desconsideram direitos, como o direito à
posse da terra, assim como utiliza-se o aparato estatal para promover repressão.
A tortura psicológica é algo comumente narrado por moradores que vivenciam
processos de remoção. A demolição das casas e dos equipamentos comunitários
equivale à destruição de histórias de autoconstrução de moradias e infraestrutura
urbana pelos que habitam as localidades.

A remoção promove uma ruptura na vida dos moradores de favelas,


desfazendo vínculos e relações sociais, afetivas e espaciais, já que, normalmente,
o reassentamento ocorre em lugares distantes do lugar originário de moradia.
Longe de ser uma particularidade da cidade do Rio de Janeiro, a remoção de
favelas é parte constitutiva da lógica de funcionamento do capitalismo em território
urbano. Cabe ressaltar que a história das remoções de favelas é também uma
história de resistência popular contra essa forma estatal de governo.

Assegurar a construção de moradias em áreas adequadas em


conformidade com a legislação urbanística e ambiental, qualificando o espaço
urbano, assim como a inclusão da população de baixa renda em políticas sociais
e no mercado formal por meio da regularização do imóvel, são ações
fundamentais para garantir moradia digna nas comunidades carentes, assim como
a promoção da construção civil de pequena escala associada à habitação popular
a partir da melhora da qualidade de vida e da produtividade da população, no
ambiente escolar e no trabalho. Da compra de materiais à contratação de mão de
obra local, são ações que determinam a redução dos custos com saúde pública.
Casas bem iluminadas, ventiladas e com uma boa infraestrutura instalada
previnem o surgimento de doenças e aumentam a autoestima das famílias de
baixa renda em situação de vulnerabilidade social.

O projeto de cidade excludente e voltado para os interesses dos


empresários, em detrimento dos da população, é perpetuado a cada gestão que
se sucede. Decretos de habitação são reeditados uns após os outros de forma a
abrir precedentes para a realização de remoções forçadas. Há um tempo que no
Rio de Janeiro se tenta resolver o problema da moradia com políticas de
assistência, como a do aluguel social, dotada de um caráter provisório, além de
reproduzir desigualdades e não resolver os problemas urbanos estruturais. O
capital segue se expandindo na cidade e as parcerias entre o poder público e os
agentes privados contribuem para que as terras sejam cada vez mais tomadas de
seus moradores, esse é o resultado do fenômeno da gentrificação nas favelas.

As expectativas de futuro em relação ao tema da moradia popular não são


animadoras. Os fundos de políticas pensadas para o investimento em habitação
de especial interesse social são desviados e desmontados. A única esperança que
desponta no horizonte encontra-se na sistematização de críticas e propostas feita
pelos movimentos de favelas e de luta pela moradia. As experiências de
ocupações urbanas apontam que a saída para a o ciclo vicioso da especulação
imobiliária é a autogestão dos recursos. À medida em que o capital avança
materializado em políticas urbanas de expulsão e exclusão, a experiência e a
consciência de coletivos de moradores e movimentos sociais se desenvolvem. A
história das remoções de favelas é também uma história da resistência.

Esta é a argumentação do projeto

texto elaborado por Nato Kandhall baseado em pesquisa bibibliográfica

Referências bibliográficas

ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais: o caso do movimento


porjustiça ambiental. Estudos Avançados, v.24, n.68, p.103-119, 2010.
AMARAL, Lilian. Curicica: de fim do mundo a Barra Olímpica. Dissertação
demestrado, CPDOC/FGV, Rio de Janeiro, 2014.

AZEVEDO, Lena e FAULHABER, Lucas. SMH 2016: remoções no Rio Olímpico.


Rio de Janeiro: Mórula, 2015.

GONÇALVES, Rafael. Da política da‘contenção’ à remoção: aspectos jurídicos


das favelas cariocas. In: MELLO, Marco Antonio et al. (org). Favelas cariocas
ontem e hoje. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.

GONÇALVES, Rafael; NETO, Nelson.“La noción de riesgo y el regresso de lasremociones


de favelas em tiempos de grandes eventos esportivos em Rio de Janeiro”. In: ICongresso
Latinoamericano de ecologia urbana, Buenos Aires, 2012.

HARVEY, David. O direitoàcidade. Lutas Sociais, São Paulo, n29, p.73-89, 2012.

HOLSTON, James. Autoconstruction in working‐class Brazil. Cultural Anthropology vol.6,


nº4. Wiiley on behalf of the American Anthropological Association. p.447-465, 1991.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. A continuidade do problema da favela. In: Oliveira,


Lúcia Lippi (org.), Cidade: História e Desafios. Rio de Janeiro: FGV, 2002.

MAGALHÃES, Alexandre. O “legado” dos megaeventos esportivos: a reatualização


daremoção de favelas no Rio de Janeiro. Revista Horizontes Antropológicos, vol.19, n.40,
p.89-118, 2013a.

_______. Transformações no “problema favela” e a reatualização da “remoção” no Rio de


Janeiro. Tese de doutorado em Sociologia. Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
213b.

MAGALHÃES, Alexandre; LAGE, Victor Coutinho. Produção de sujeitos na cidade do Rio


de Janeiro através da “pacificação”e da“remoção”. Anais 40 Encontro Anual de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, 2016.

MAGALHÃES, Alexandre; PETTI, Daniela. “Nossa casa estácondenada”: o


recursoàtécnica como o modo de gerir populações no Rio de Janeiro. Revista de
Antropologia da UFSCar, 10 (1), jan./jun., 2018.

OLIVEIRA, Nelma. O poder dos jogos e os jogos de poder: interesses na produção da


cidade para o espetáculo esportivo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2015

VALLADARES, Licia. A gênese da favela: a produção anterioràs Ciências Sociais. São


Paulo: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.15, nº 44, 2000.

______. Passa-se uma casa: análise do programa de remoção de favelas do Rio de


Janeiro. Zahar, 1980.

Você também pode gostar