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A Ação Integralista Brasileira, AIB, é um capítulo pouco conhecido na história do país.

Isso se deve, em parte, à sua brevíssima existência. Foram apenas cinco anos de atividade,
desde que Plínio Salgado publicou o Manifesto de Outubro, em 1932, até sua extinção,
junto com todos os demais partidos políticos, pelo Estado Novo de Getúlio Vargas. O
relativo esquecimento do integralismo também é resultado de sua identificação com o
fascismo italiano e com o nazismo alemão. Depois da II Guerra Mundial, quando as
atrocidades comandadas por Hitler e Mussolini se tornaram públicas, a AIB foi confinada
aos porões da história.

Inspirados pelos seus congêneres europeus, os integralistas -- também conhecidos como


camisas-verdes, em razão do uniforme que usavam -- eram anti-semitas e defendiam um
Estado autoritário. Até hoje não se sabe, com exatidão, quantas pessoas se filiaram ao
movimento. As estimativas variam de 100.000 a 1 milhão. O fato é que nas eleições de
1936 a AIB fez 3000 vereadores, vinte prefeitos e quatro deputados estaduais.

Há alguns aspectos espantosos, como a participação maciça de mulheres no movimento.


"Não deixa de ser surpreendente que a mulher tenha sido incorporada à militância, numa
organização que tendia a vê-la como mera reprodutora", aponta o historiador paulista
Roney Cytrynowicz. Embora não fizessem parte do comando nacional do partido, elas
participavam das decisões regionais. E como explicar a presença considerável de negros na
AIB, que tinha como um de seus principais líderes Gustavo Barroso, defensor da eugenia e
repetidor das idéias racistas do nazi-fascismo? O que dizer ainda da adesão de intelectuais
Em 22 de agosto de 1942, Vargas reúne-se com seu novo ministério: " diante da comprovação
de dos atos de guerra contra a nossa soberania, foi reconhecida a situação de beligerância entre
o Brasil e as nações agressoras - Alemanha e Itália". Em 31 de agosto foi declarado o estado de
guerra em todo o território nacional. respeitáveis como Miguel Reale e Santiago Dantas?

É preciso entender o período para responder às perguntas. A popularização política da


época opunha comunistas e integralistas. De um lado estava o internacionalismo verde. Ao
comunismo aderiam principalmente operários, grande parte de imigrantes ou seus
descendentes. Era uma classe razoavelmente organizada. À outra parte da população,
desorganizada, o integralismo apareceu como alternativa pelo seu ideário moralista. Mais
do que um partido político, representava um conjunto de códigos éticos e comportamentais,
com disciplina rígida. Do batizado ao enterro, tudo deveria obedecer a um protocolo. A
AIB também dava às mulheres e negros a chance de participar da vida política nacional.

O assistencialismo era um dos principais chamarizes do fascismo tupiniquim. A AIB


construía escolas e ambulatórios, em que médicos devidamente fardados atendiam a
população. Distribuía cestas de alimentos aos mais pobres. Tinha a simpatia de prelados da
Igreja, como o arcebispo cearense dom Hélder Câmara, que estimulava a entrada de
católicos na AIB. A participação de jovens, os "plinianos", também era incentivada. "Essa é
outra característica de movimentos fascistas, que usam a juventude como símbolo de força,
de renovação", diz Cytrynowicz. Aos intelectuais, atraía a ênfase que o integralismo dava
ao nacionalismo. O próprio grito de saudação, "anauê", significa "você é meu parente" em
tupi-guarani. "O que nós queríamos era uma cultura nacional, em vez de idéias que
chegavam ao Brasil de navio", lembra o jurista Miguel Reale, ex-membro do Conselho
Supremo do AIB. "Foi com o susto do nazismo que revi minha posição, embora não a
renegue. É preciso compreender aquele tempo".

Mobilização - As passeatas serviam para exibir a disciplina e força dos integralistas. Plínio
Salgado, chefe nacional da AIB, acreditava que Getúlio Vargas era simpatizante da causa
integralista. Não era. Depois do golpe, militantes foram perseguidos e Salgado partiu para o
exílio em Portugal. Voltaria ao Brasil em 1945, para fundar o Partido de Representação
Popular -- mas depois do holocausto, as idéias integralistas perderam interesse.

Excluídos - "Cada integralista faria uma interpretação particular do movimento", diz o


sociólogo Marcos Chor Maio. Assim, mesmo com o racismo da AIB, negros eram
incentivados a participar. Outros grupos excluídos da vida política, como mulheres e
crianças, também eram atraídos.

Assistencialismo - A AIB foi o partido que inaugurou o assistencialismo como métoco de


persuasão política. Em vez de dar dentaduras à população carente, construía ambulatórios,
escolas e promovia distribuição de alimentos.

Cerimônias - Como todo movimento fascista, o integralismo dizia buscar a formação de um


novo homem, comprometido com Deus, com a pátria e com a família. Mesmo cerimônias
religiosas, como casamento, enterro e batizado, seguiam as normas rígidas da AIB -- no
casamento, apenas a noiva podia dispensar o uniforme verde.

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