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Elisângela Gomes1
Luciene de Oliveira Dias2
RESUMO
Palavras-chave: Capoeira Angola; Samba de Roda; Manifestações culturais negras em Goiânia (GO).
1 INTRODUÇÃO
1
Doutoranda em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) na Universidade
Federal de Goiás (UFG). E-mail: zanzamaio@gmail.com.
2
Doutora em Antropologia (UNB), Professora adjunta da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) e
(PPGPC/PPGCOM) da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: lucienediasufg@gmail.com.
XIV SEMIC - 24 a 26 de Março de 2021 - Goiânia
pluralismo, podemos identificar a existência desses saberes na presença dos povos africanos
na diáspora.
Cheik Anta Diop (2014), antropólogo e historiador Senegalês, apresenta uma
compreensão endógena do continente africano. Através de suas análises mostra
possibilidades para a interpretação de uma unidade cultural africana, sem estereotipar,
folclorizar ou exotizar o continente. Portanto, ao afirmar uma unidade cultural africana não
está generalizando e sim identificando traços culturais comuns entre diferentes povos
africanos.
Amparadas nesse entendimento, afirmamos a existência de um tronco comum
alicerçado em valores civilizatórios africanos que acompanharam o povo africano na
Diáspora Negra. Ainda que atualizados, esses valores permanecem em um ato de
continuidade histórica, que mesmo a travessia transatlântica, não foi capaz de apagar.
Sem objetos que remetessem às memórias de suas vidas antes da travessia, os
africanos e africanas deixaram seus registros vivos no corpo-palavra.
A cultura não pode ser vista como algo estático, “ela tem sempre suas bases em
experiências, prazeres memórias e tradições do povo” (HALL, 2009, p. 322), está em
movimento assim como o corpo diaspórico. Há atualização e reinvenção de acordo as
condições possíveis de existência, mas ainda assim, os valores civilizatórios africanos se
fazem presentes e são encontrados nas manifestações culturais negras na diáspora.
A produção desse artigo é um exercício de localização de fontes bibliográficas e
documentais que abordam a presença da Capoeira Angola e do Samba de Roda na cidade de
Goiânia. Essas manifestações ganham condições de existir, pois esse saber habita na
corporeidade, portanto o corpo se faz memória ancestral em movimento de vida.
O Samba de Roda e a Capoeira Angola, foram manifestações historicamente
perseguidas pelo poder público e figuraram como prática ilegal, mas quando foi
conveniente, foram utilizadas na tentativa da elaboração de uma identidade nacional
brasileira com o objetivo de garantir a manutenção de grupos da elite no poder.
É importante salientar que as bases de formação do Samba de Roda e a Capoeira
Angola fazem parte da herança cultural africana e nela estão estabelecidos valores como:
religiosidade, oralidade, musicalidade, circularidade entre outros que fazem o elo de um
povo africano na diáspora.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Nesse estudo utilizo a abordagem de natureza qualitativa que, de acordo com Flick
(2009, p. 08) é a mais adequada para o tipo de investigação proposta, pois, a partir dela, é
possível observar “experiências de indivíduos e grupos que podem estar relacionadas a
práticas cotidianas e podem ser tratadas analisando-se conhecimento, relatos e histórias do
dia a dia”.
A pesquisa é do tipo documental e bibliográfica. Utilizamos fontes primárias de
informação: fotografias e registros escritos sobre a Capoeira Angola e do Samba de Roda em
Goiânia na plataforma digital blogspot intitulada “colofé3”. Página alimentada desde 2007
com o objetivo de armazenar imagens, entrevistas, vídeos e eventos que contam a trajetória
das tradições negras no estado de Goiás.
3
Colofé: tradição afro-brasileira em Goiás. Disponível em: http://colofe.blogspot.com/. Acesso em:
27 de fev. de 2021.
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Com o levantamento bibliográfico realizado na BDTD, foi possível recuperar duas (02)
dissertações que constam como tema central a Capoeira Angola. A pesquisa intitulada: ‘“Eu
sou angoleiro, angoleiro eu sei que eu sou”: identificações e trajetórias na capoeira angola
em Goiânia’”4, da autora Alessandra Barreiro da Silva. Orientada pelo professor Alecsandro
José Prudêncio Ratts, defendida em 2014 pela Programa de pós-graduação em Antropologia
Social (PPGAS) da Faculdade de Ciências Sociais (FCS).
A dissertação buscou compreender as identificações da Capoeira Angola em Goiânia
a partir do trabalho de campo realizado em três grupos apresentando as trajetórias dos (as)
angoleiros (as) com ênfase no percurso dos mestres. Refletiu sobre a presença feminina na
4
SILVA, Alessandra Barreiro da. Dissertação disponível na íntegra em:
http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/6311. Acesso em: 27 de fev. de 2021.
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5
TUCUNDUVA, Tatiana. Dissertação disponível na íntegra em:
http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/4425 Acesso em: 27 de fev. de 2021.
6
ALMEIDA, Natália Rita de. Dissertação disponível na íntegra em:
http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/6598 Acesso em: 27 de fev. de 2021.
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Ana Rita Vidica (FIC/UFG) e de integrantes Afoxé Asè Omo Odé, casas de Candomblé e
Umbanda de Goiás, grupos de Capoeira e Congada.
Utilizado como fonte documental, nele foi possível encontrar fotografias, divulgação
e textos dos seguintes eventos:
Caminhada em homenagem aos mestres e mestras da cultura afro-brasileira de 2009,
que ocorre no Setor Pedro Ludovico. As pessoas homenageadas desse ano são: Pai João de
Abuque, o mais antigo babalorixá e primeiro ancestral do candomblé goiano; Mestre Bimba,
criador da Capoeira Regional e Mestre Pastinha, símbolo da Capoeira Angola.
Chamada de Tambores, terceira edição em 2010, Consolidado em Goiânia como um
momento de protesto contra o preconceito racial e a intolerância religiosa em Goiás, a
Chamada dos Tambores destaca nessa terceira edição a luta pela valorização da tradição
afro-brasileira. No dia 20 de novembro, dia Nacional da Consciência Negra, o evento teve
como proposta mostrar a herança africana que deu ritmo e movimento ao mundo. O samba
de roda, o ensaio do Afoxé Asè Omo Odé e a roda de capoeira fizeram parte da
programação.
Caminhada em homenagem aos mestres e mestras da cultura afro-brasileira de 2010,
contou com um texto de apresentação da Professora, Jornalista e Antropóloga, Luciene de
Oliveira Dias, com fotos de Ana Rita Vidica e José Jair Bázan (FIC/UFG).
Projeto “Iê, Viva Zumbi!” edição de 2011, realizado todos os anos em reverência à
data de falecimento (13/11/1981) de um dos maiores representantes da Capoeira Angola,
Mestre Pastinha. A atividade foi promovida pelo Grupo Calunga, em parceria com o Grupo
de Mulheres Negras Dandara do Cerrado.
Em 2014, sexto ano da Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da
Tradição Afro-brasileira, o repositório disponibilizou um texto de apresentação e três
entrevistas com as pessoas homenageadas do ano: Mestre Guaraná e Mestre Goiano, ambos
mestres de Capoeira Angola e Vó Elza, Candomblecista. Em 2018, o repositório lançou um
texto com o histórico da Caminhada com contribuição de Lohana Kárita.
Importante destacar que embora o foco dessa pesquisa seja o levantamento
documental e bibliográfico produzido em Goiás sobre o Samba de Roda e a Capoeira Angola,
o repositório Colofé tem um acervo mais abrangente, apresentando manifestações da
Congada e do Afoxé.
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Figura 1: Caminhada
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABSTRACT
This article is an attempt to locate bibliographic and documentary sources on the presence of
Capoeira Angola and Samba de Roda in the city of Goiânia. The research is documental and
bibliographical. I used primary sources of information: photographs and written records about
Capoeira Angola and Samba de Roda in Goiânia on the digital blogspot platform called "colofé". As a
bibliographic source, I surveyed theses and dissertations on the presence of Capoeira Angola and
Samba de Roda in Goiânia, a central theme and focus of analysis, at the Universidade Federal de
Goiás (UFG) Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD). The purpose of this survey is to find
primary documentary and bibliographic sources on the history of Capoeira Angola and Samba de
Roda in Goiânia, in order to guide my ongoing doctoral research, in which I intend to investigate how
African civilizational values remain alive in the black diaspora. The hypothesis is that there is an
established African cultural unity (DIOP, 2014) that remains even after the diasporic process of
African peoples in the Americas.
Keywords: Capoeira Angola; Samba de Roda; Black cultural manifestations in Goiânia (GO).
REFERÊNCIAS
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de roda goiano e questões de direitos humanos. 2016. 100 f. Dissertação (Mestrado em
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XIV SEMIC - 24 a 26 de Março de 2021 - Goiânia
SILVA, Alessandra Barreiro da.“Eu sou angoleiro, angoleiro eu sei que eu sou”:
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